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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
HOSPITAL UNIVERSITRIO PROFESSOR POLYDORO
ERNANI DE SO THIAGO
MESTRADO PROFISSIONAL GESTO DO CUIDADO EM
ENFERMAGEM
REA TEMTICA: POLTICAS E GESTO DO CUIDADO
GISELE VIEIRA COMICHOLI
GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE
ENFERMAGEM AO PACIENTE SUBMETIDO
HEMODILISE
FLORIANPOLIS
2013
Gisele Vieira Comicholi
GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE
ENFERMAGEM AO PACIENTE SUBMETIDO
HEMODILISE
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Enfermagem, da
Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito bsico para
obteno do ttulo de Mestre Profissional em Gesto do Cuidado em
Enfermagem - rea de Concentrao: Polticas e Gesto do Cuidado.
Orientadora: Dra. Alacoque
Lorenzini Erdmann
Linha de Pesquisa: Administrao em Enfermagem e Sade
FLORIANPOLIS
2013
Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor,
atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.
Comicholi, Gisele Vieira Gerenciando as aes de cuidados de enfermagem ao
paciente submetido hemodilise / Gisele Vieira Comicholi
; orientadora, Dr Alacoque Lorenzini Erdmann -
Florianpolis, SC, 2013.
124 p.
Dissertao (mestrado profissional) - Universidade
Federal de Santa Catarina, Centro de Cincias da Sade.
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.
Inclui referncias
1. Enfermagem. 2. Doena renal crnica. 3. Dilise renal.
4. Cuidado de enfermagem. 5. Planejamento de assistncia
ao paciente. I. Erdmann, Dr Alacoque Lorenzini. II.
Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem. III. Ttulo.
Gisele Vieira Comicholi
GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM
AO PACIENTE SUBMETIDO HEMODILISE
Esta Dissertao foi submetida ao processo e avaliao pela Banca
Examinadora para obteno de Ttulo de: MESTRE PROFISSIONAL
EM GESTO DO CUIDADO EM ENFERMAGEM
________________________________________
Prof Dra. Francine Lima Gelbeck
Coordenadora do Programa
Banca examinadora:
________________________________________
Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann
Presidente
________________________________________
Dra. Lucia Nazareth Amante
Membro
________________________________________
Dra. Jordelina Schier
Membro
________________________________________
Dra. Juliana Balbinot Reis Girondi
Membro
AGRADECIMENTOS
Agradecer pelo apoio, incentivo e dedicao de pessoas que se
fizeram presente nesta caminhada mais que necessrio, uma
obrigao. Sou grata a todos que fizeram parte deste processo.
Primeiramente agradeo a Deuspor se fazer presente em todos os
momentos da minha vida, dando-me fora e coragem para enfrentar as
dificuldades.
Ao meu filho HIGOR, minha maior conquista, meu grande amor
e minha razo de viver.
Aos meus pais OSCAR COMICHOLI FILHO e ELITE
VIEIRA COMICHOLI pelo amor, carinho, dedicao e pelo exemplo
de ser humano que vocs representam para mim.
Ao meu irmo WILLIAM VIEIRA COMICHOLI pelo apoio,
convvio e ao meu sobrinho NATHAN CHEREM VIEIRA
COMICHOLI, a quem tanto amo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA,
instituio que proporcionou a minha formao, na graduao, na
especializao, no mestrado, e na qual sou servidora com muito orgulho.
Ao HOSPITAL UNIVERSITRIO PROFESSOR
POLYDORO ERNANI DE SO THIAGO e DIREO DE
ENFERMAGEM, pelo empenho e incentivo na busca da capacitao
dos profissionais de enfermagem.
professora Dra. ALACOQUE LORENZINI ERDMANN
que me orientou nesse estudo, compartilhou comigo seus
conhecimentos, incentivou e acreditou em meu potencial.
Dra. ALINE LIMA PESTANA MAGALHES que foi uma
grande companheira em todo o processo, no medindo esforos para se
fazer presente nos momentos de dificuldade.
s professoras Dra. JULIANA BALBINOT REIS GIRONDI,
Dra. JORDELINA SCHIER, Dra. LUCIA NAZARETH AMANTE
e Dra. SUZINARABEATRIZ SOARES DE LIMA,componentes da
banca examinadora que se dispuseram a contribuir e a orientar,
possibilitando o desenvolvimento deste estudo. Fui privilegiada de
poder escolher pessoas que admiro como profissional e ser humano.
Aos COLEGAS DO MESTRADO que me acolheram,
apoiaram, compartilharam suas experincias, alegrias e angstias.
Aos colegas do GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
ADMINISTRAO E GERNCIA DO CUIDADO EM ENFERMAGEM (GEPADES) pela convivncia, amizade e
companheirismo.
Aos COLEGAS DA UNIDADE DE TRATAMENTO
DIALTICO pelo apoio e incentivo durante todo o processo. Agradeo
especialmente s Enfermeiras ALZIRA TESTONI e NGELA
LUCKNER GOULART CARDOSO pela ateno, compreenso,
estmulo e principalmente pela ajuda oferecida nas coberturas de escala.
O apoio de vocs foi muito importante para a concluso deste curso.
Aos Enfermeiros das UNIDADES DE INTERNAO
MDICA E CIRRGICA que se dispuseram a participar e contribuir
com o estudo.
Enfermeira Dra. JOSIANE DE JESUS que me incentivou e
acompanhou nesta caminhada.
s amigas ALICIANA DA SILVA LOPES, MICHELI
EDIANEZ GAIESKI E FABIANA MINATTI DE PINHO que
sempre se fizeram presentes nos momentos de dificuldade e de angstia,
levando ateno e carinho.
A todas as pessoas que no foram aqui citadas, mas que de
alguma forma contriburam para o xito dessa jornada, o meu muito
obrigada!
COMICHOLI, Gisele Vieira. Gerenciando as aes de cuidados de
enfermagem ao paciente submetido hemodilise. 2013. 124p.
Dissertao (Mestrado Profissional Gesto do Cuidado em
Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2013.
Orientadora: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann
Linha de Pesquisa: Administrao em Enfermagem e Sade
RESUMO
As transformaes econmicas e sociais do Brasil ocasionaram
modificaes no perfil demogrfico e de morbimortalidade da
populao, aumentando a expectativa de vida e a ascenso das doenas
crnicas, dentre as quais se destaca a doena renal. O portador de
doena renal crnica pode ser tratado conservadoramente, enquanto a
qualidade de vida estiver preservada. As modalidades para o tratamento
da doena renal crnica so a hemodilise, dilise peritoneal ou
transplante renal. Em face aos aspectos inerentes ao cuidado do paciente
com doena renal crnica em hemodilise, fundamental conhecer a
percepo dos enfermeiros quanto aos cuidados oferecidos a esses
pacientes durante a hospitalizao. A hemodilise exige cuidado
especializado, sendo um grande desafio para os enfermeiros. Esta
pesquisa teve como objetivo construir coletivamente um plano de aes
de cuidados de enfermagem pr e ps-dilise ao paciente hospitalizado
submetido Hemodilise. Trata-se de um estudo de carter descritivo e
construtivo com abordagem qualitativa, inspirado nos fundamentos e
instrumentos da pesquisa-ao. Para uma melhor compreenso e
sustentao terica, foi fundamentado tambm no pensamento complexo
proposto principalmente por Edgar Morin. Para a coleta de dados foi
utilizado um roteiro semiestruturado constitudo de duas partes: a
primeira referente a caractersticas sciodemogrficas e profissionais
dos participantes e a segunda com perguntas abertas para conduzir o
grupo focal. Esse foi desenvolvido em dois momentos. O primeiro foi
realizado com o intuito de identificar a percepo dos enfermeiros em
relao ao cuidado de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido
hemodilise, bem como os cuidados de enfermagem pr e ps-dilise.
O segundo momento consistiu em elaborar, implementar e avaliarum
plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado
com doena renal crnica submetido Hemodilise. A pesquisa foi
realizada em um hospital escola do sul do pas, no perodo de novembro
de 2012 a julho de 2013. Participaram treze enfermeiros que atuam nas
unidades de internao mdica I, II e III e unidade de internao
cirrgica I e II. Para anlise dos dados qualitativos foram utilizados os
princpios da Anlise de Contedo descrita por BARDIN. A partir dos
relatos construram-se os seguintes manuscritos: I - Cuidado de
enfermagem ao paciente hospitalizado submetido hemodilise:
percepo dos enfermeiros e II - Aes de cuidado de enfermagem ao
paciente hospitalizado submetido hemodilise: uma construo
coletiva. Conclui-se que a complexidade do sistema de sade, a falta de
acesso para o diagnstico e tratamento, a mudana no estilo de vida do
paciente e da famlia geram grande angstia no s ao paciente como
para toda equipe de sade por sentir a necessidade de uma rede de apoio
e por perceber uma expectativa frustrada de cura por parte dos pacientes.
O estudo realizado possibilitou aos enfermeiros a oportunidade de
repensar a prtica. Os enfermeiros necessitam de instrumentalizao
para cuidar e planejar o cuidado, sendo que o plano de aes de
cuidados de enfermagem elaborado mostrou-se um aliado para
sistematizao da assistncia de enfermagem de qualidade, orientando
as aes necessrias para o cuidado ao paciente com doena renal
crnica submetido hemodilise.
Descritores: Enfermeiros. Insuficincia renal crnica. Dilise renal.
Cuidado de enfermagem. Unidade de internao. Planejamento de
assistncia ao paciente.
COMICHOLI, Gisele Vieira. Managing the actions of nursing care to
patients undergoing hemodialysis. 2013. 124p. Dissertation (Master
Professional Nursing Care Management) Post-Graduate program in
Nursing, Federal University of Santa Catarina, Florianpolis, 2013.
Advisor: Dr. Alacoque Lorenzini Erdmann.
ABSTRACT
Social and economic transformations of Brazil caused changes in the
demographic profile and in the morbidity and mortality of the
population, increasing life expectancy and the rise of chronic diseases,
where it is highlighted the kidney disease. The bearer of chronic kidney
disease can be treated conservatively, while the quality of life is
preserved. The modalities for the treatment of chronic kidney disease
are hemodialysis, peritoneal dialysis or kidney transplant. In relation to
aspects inherent in the care of the patient with chronic kidney disease on
hemodialysis, it is essential to meet the nurses' perception as to the care
offered to these patients during hospitalization. Hemodialysis requires
specialized care being a big challenge for nurses. This research aimed to
build collectively a plan of nursing care actions pre and post dialysis to
hospitalized patients undergoing hemodialysis. This is a descriptive and
constructive character study with a qualitative approach, inspired in the
foundations and instruments of action research. For a better
understanding and theoretical support, it was based on the proposed
Edgar Morins complex thinking. For data collection a semi-structured
script consisting of two parts was used: the first concerns the socio
demographic and professional characteristics of the participants and the
second with open-ended questions to conduct the focus group. This one
it was developed in two phases. The first was conducted in order to
identify the perceptions of nurses in relation to nursing care for
hospitalized patients undergoing hemodialysis and nursing care pre and
ost-dialysis. The second time was to develop, implement and evaluate
an action plan of nursing care to hospitalized patients with chronic
kidney disease undergoing Hemodialysis. The research was carried out
in a teaching hospital in the south of the country, in the period of
November 2012 to July 2013. Thirteen nurses working in inpatient units
I, II, and III medical and surgical inpatient unit I and II have
participated. For the analysis of qualitative data the principles of
Content Analysis described by BARDIN were used. From the reports
the following manuscripts were built: I - Nursing Care for hospitalized
patients undergoing hemodialysis: perceptions of nurses and II - Nursing
care actions to hospitalized patients undergoing to hemodialysis: a
collective construction. It is concluded that the complexity of the health
system, the lack of access to diagnosis and treatment, the change in the
lifestyle of the patient and family generate great anxiety not only to the
patient as to all health team for feeling the need for a support network
and by realizing a frustrated expectation of cure on the part of patients.
The study made it possible to nurses the opportunity to rethink the
practice. Nurses need to take care of instrumentalization and plan for
care, and the elaborated nursing care plan of action was an ally for
systematization of nursing care quality, guiding the actions needed for
the care of the patient with chronic renal disease undergoing to
hemodialysis.
Key Words: Nurses. Chronic renal failure.Kidneydialysis.Nursing
care.Inpatient unit.Planning of patientcare.
COMICHOLI, Gisele Vieira. Administrando las acciones de los
cuidados de enfermera al paciente sometidos a hemodilisis. 2013. 124p. Tesis (Maestra Profesional en Gestin del Cuidado en
Enfermera) Programa de Posgrado en Enfermera de la
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2013.
Asesora: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann.
RESUMEN
Los cmbios econmicos y sociales en Brasil provocaron cambios en el
perfil demogrfico y de morbilidad de la poblacin, aumentando la
expectativa de vida y el aumento de las enfermedades crnicas, entre las
que se destaca la enfermedad renal. El titular de la enfermedad renal
crnica puede ser tratada de forma conservadora, mientras que la calidad
de la vida se conserva. Las modalidades para el tratamiento de la
enfermedad renal crnica son la hemodilisis, la dilisis peritoneal o
trasplante renal. En relacin con los aspectos inherentes a la atencin de
los pacientes con enfermedad renal crnica en dilisis, es esencial
conocer la percepcin de los enfermeros con respecto a la atencin
prestada a estos pacientes durante la hospitalizacin. La hemodilisis
requiere atencin especializada siendo un gran desafo para los
enfermeros. Esta investigacin tuvo como objetivo construir
colectivamente un plan de accin de la atencin pre y post-dilisis al
paciente hospitalizado sometido a hemodilisis. Se trata de un estudio
descriptivo con un carcter cualitativo y enfoque constructivo, inspirado
en los fundamentos y herramientas de la investigacin-accin. Para una
mejor comprensin y apoyo terico, fue fundamentado tambin en el
pensamiento complejo propuesto principalmente por Edgar Morin. Para
la recoleccin de datos fue utilizado unguin semiestructurado
constituido de dos partes: el primero relacionado con las caractersticas
socio demogrficas y profesionales de los participantes y el segundo con
preguntas abiertas para guiar el grupo focal. Esta se desarroll en dos
momentos. El primero fue realizado con el fin de identificar la
percepcin de los enfermeros al paciente hospitalizado sometido a
hemodilisis, y tambin los cuidados de enfermera de pre y post-
dilisis. En el segundo momento consisti en el desarrollo,
implementacin y evaluacin de un plan de accin de cuidados de
enfermera a los pacientes hospitalizados con enfermedad renal crnica
sometidos a hemodilisis. La investigacin se realiz en un hospital
universitario en el sur de Brasil, a partir de noviembre 2012 hasta julio
2013. Participaron trece enfermeros que trabajan en unidades de
hospitalizacin mdica I, II y III y la unidad de hospitalizacin
quirrgica I y II. Para el anlisis de datos cualitativos se utilizaron los
principios de anlisis de contenido descrita por BARDIN. Por medio de
los informes se construyeron en los siguientes manuscritos: I - El
cuidado de enfermera al paciente hospitalizado sometido a
hemodilisis: percepciones de los enfermeros y II - Las acciones de
cuidado de enfermera al paciente hospitalizado sometido a
hemodilisis: una construccin colectiva. Se conclu que la complejidad
del sistema de salud, la falta de acceso al diagnstico y tratamiento, el
cambio en el estilo de vida del paciente y su familia provoca gran
angustia no slo para el paciente sino para todo el equipo de salud a
sentir la necesidad de una red de apoyo y por percibir una expectativa
frustrada de curacin por parte de los pacientes. El estudio permiti a los
enfermeros la oportunidad de repensar la prctica. Los enfermeros
necesitan de herramientas para cuidar y planear el cuidado, siendo que
el plan de acciones de cuidados de enfermera elaborado se result ser
un aliado para la sistematizacin del cuidado de enfermera de calidad,
orientando las acciones necesarias para el cuidado al paciente con
enfermedad renal crnica sometidos a hemodilisis.
Descriptores: Enfermeros. La insuficiencia renal crnica. Dilisis renal.
Cuidado de enfermera. Unidad de hospitalizacin. Planificacin de la
atencin al paciente.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAAE Certificado de Apresentao para Apreciao tica
CEP Comit de tica em Pesquisa
CNS Conselho Nacional de Sade
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
DCNTs Doenas Crnicas No Transmissveis
DP Dilise Peritoneal
DRA Doena Renal Aguda
DRC Doena Renal Crnica
DRCT Doena Renal Crnica Terminal
EMG Emergncia
FAV Fstula Arteriovenosa
HD Hemodilise
HU Hospital Universitrio
MP/PEN Mestrado Profissional/Programa de Ps Graduao em
Enfermagem
MS Ministrio da Sade
PA Presso Arterial
PE Processo de Enfermagem
PNSP Programa Nacional de Segurana do Paciente
SAE Sistematizao de Assistncia de Enfermagem
SF Soro fisiolgico
SN Se Necessrio
SUS Sistema nico de Sade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TRS Terapia Renal Substitutiva
UFSC Universidade do Estado de Santa Catarina
UI Unidade de Internao
UIC Unidade de Internao Cirrgica
UIM Unidade de Internao Mdica
UTD Unidade de Tratamento Dialtica
UTI Unidade de Terapia Intensiva
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Descrio das etapas da coleta de dados. ........................... 52 Quadro 2 Ficha de Caracterizao ................................................... 112 Quadro 3 Perguntas Grupo Focal ..................................................... 113 Quadro 4 Roteiro da Avaliao ........................................................ 114 Quadro 5 Identificao ..................................................................... 115 Quadro 6 Aes de Cuidado Pr-Dialtico ....................................... 115 Quadro 7 Evoluo Transdilise ...................................................... 116 Quadro 8 Aes de Cuidado Ps-Dialtico ...................................... 117 Quadro 9 Parecer Consubstanciado (parte I).................................... 119 Quadro 10 Parecer Consubstanciado (parte II) ................................ 120 Quadro 11 Parecer Consubstanciado (parte III) ............................... 121 Quadro 12 Instruo Normativa ....................................................... 122
SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................ 14
LISTA DE QUADROS ....................................................................... 16
1 INTRODUO ............................................................................. 21
2 OBJETIVO..................................................................................... 25 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................ 25
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................. 25
3 REVISO DE LITERATURA .................................................... 26 3.1 TRATAMENTO ...................................................................... 28
3.1.1 Dilise ............................................................................ 28
3.1.1.1 Hemodilise ..................................................... 28
3.1.1.2 Dilise Peritoneal ............................................ 29
3.1.2 Transplante Renal ........................................................... 29
3.2 PROCESSO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA ................ 30
4 REFERENCIAL TERICO ........................................................ 33
5 MARCO CONCEITUAL .............................................................. 38
5.1 SER HUMANO ....................................................................... 38
5.2 CUIDADO ............................................................................... 39
5.3 ENFERMAGEM ..................................................................... 39
5.4 CUIDADO EM ENFERMAGEM ........................................... 40
5.5 AMBIENTE DE CUIDADO ................................................... 41
5.6 DOENA RENAL CRNICA ............................................... 41
5.7 PLANO DE AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA
SUBMETIDO HEMODILISE .......................................... 41
5.8 COMPLEXIDADE DO CUIDADO AO PACIENTE COM
DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO
HEMODILISE ...................................................................... 42
6 METODOLOGIA .......................................................................... 43
6.1 TIPO DE ESTUDO ................................................................... 43
6.2 LOCAL DO ESTUDO ............................................................ 44
6.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ........................................... 46
6.4 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ........ 47
6.5 PROGRAMAO DAS AES NO GRUPO FOCAL ........ 47
6.5.1 Primeira Etapa ................................................................ 48
6.5.2 Segunda Etapa ................................................................ 49
6.6 ANLISE DOS DADOS ........................................................ 52
6.7 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA-AO ....................... 53
7 RESULTADOS .............................................................................. 54
7.1 MANUSCRITO 1: CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE HOSPITALIZADO SUBMETIDO
HEMODILISE: PERCEPO DOS ENFERMEIROS ....... 54
7.2 MANUSCRITO 2: CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE HOSPITALIZADO SUBMETIDO
HEMODILISE: UMA CONSTRUO COLETIVA .......... 77
8 CONSIDERAES FINAIS ........................................................ 97
REFERNCIAS .................................................................................. 98
APNDICES ...................................................................................... 109
ANEXOS ............................................................................................ 118
21
1 INTRODUO
O cuidado envolve atos humanos no processo de assistir o sujeito,
a famlia ou a sociedade, de tal forma, que envolve de maneira
igualitria, o relacionamento interpessoal fundamentado em valores
humansticos e em conhecimento cientfico (SILVA; CAMPOS;
PEREIRA, 2011).
Boff (2005) define o cuidado como desvelo, solicitude,
diligncia, zelo e ateno. Implica num modo de ser mediante o qual a
pessoa sai de si e se centra no outro. um modo de estar com o outro,
no que se refere s questes especiais da vida dos cidados e de suas
relaes sociais, dentre estas o nascimento, a promoo e a recuperao
da sade e a prpria morte (SOUZA et al, 2005).
Para Waldow (2007) o cuidado consiste em uma forma de viver,
ser, expressar-se, sendo uma postura tica e esttica frente ao mundo.
Torna-se um compromisso com o estar no mundo, contribuindo para o
bem estar geral, para a preservao da natureza, para a promoo das
potencialidades da dignidade humana e da espiritualidade. Na histria
da civilizao humana o cuidar sempre esteve presente nas diferentes
dimenses do processo de viver, adoecer e morrer, mesmo antes do
surgimento das profisses.
Na Enfermagem, o cuidado humano e o cuidar so vistos como
o ideal moral. Cuidado consiste de esforos transpessoais, de ser
humano para ser humano, no sentido de proteger, promover e preservar
a humanidade, ajudando pessoas a encontrarem significado na doena,
no sofrimento, na dor e na prpria existncia (WALDOW, 2007).
Na perspectiva da complexidade, o cuidado de enfermagem
transcende as aes tcnico-prescritivas, pontuais e lineares e alcana as
questes que envolvem o cuidar do outro e do ambiente onde est
inserido, valorizando a singularidade dos seres humanos, na tentativa de
discutir o cuidado de forma ampla e contextualizada (PIEXAK;
BACKES; SANTOS, 2013).
O processo de trabalho do enfermeiro constitui-se de diferentes
dimenses complementares, dentre as quais se ressaltam a dimenso
assistencial e a gerencial. Na primeira, o enfermeiro adota como objeto
de interveno as necessidades de cuidado de enfermagem e tem por fim
o cuidado integral; na segunda, o enfermeiro adota como objeto a
organizao do trabalho e os recursos humanos em enfermagem, com o
intuito de criar e praticar condies adequadas de cuidado aos pacientes
e de desempenho para os trabalhadores (FELLI; PEDUCCI, 2005).
22
Willig, Lenardt e Trentini (2006) identificaram que o
gerenciamento do cuidado visto como sistematizao, avaliao,
planejamento e suporte para um cuidado eficaz. Isto evidenciado
como sendo um cuidar sistematizado, amplo, que inclui gerncia,
assistncia, educao e pesquisa.
Azzolin e Peduzzi (2007) distinguiram gerenciamento do cuidado
e gerenciamento da assistncia sade, considerando que, em ambos os
sentidos, tornam-se indispensveis articulao das duas dimenses que
so complementares e interdependentes gerenciar e cuidar. Deste
modo, o enfermeiro gerencia o cuidado quando o planeja, delega ou
executa, quando prev e prov recursos, capacita sua equipe, educa o
paciente, interage com outros profissionais, ou seja, em todas as
atividades realizadas para que se concretizem o cuidado.
O enfermeiro gerente assume a organizao do trabalho da equipe
de enfermagem, envolvendo aes de cuidado direto e indireto, ou seja,
volta-se para a gerncia do cuidado, possibilitando o desenvolvimento
de uma prtica profissional distinta (TORRES et al, 2011).
A Sistematizao da Assistncia em Enfermagem (SAE) tem
apresentado-se como um caminho promissor para o desenvolvimento do
trabalho da enfermagem. Muitos enfermeiros vm aliando o
conhecimento implcito decorrente da prtica com o conhecimento
cientfico, para identificar nos pacientes necessidades no atendidas ou
atendidas inadequadamente, para planejar e implementar aes e
intervenes efetivas, avaliar os resultados dos cuidados e possibilitar
um registro adequado dos cuidados prestados. A construo e utilizao
de um instrumento de coleta de dados de enfermagem almeja a
sistematizao da prtica assistencial, possibilitando maior visibilidade
das aes de enfermagem implementadas, excelncia no cuidado e
principalmente valorizao da profisso (NETO; FONTES; NOBREGA,
2013).
Enquanto processo organizacional, a SAE oferece subsdio para
desenvolver mtodos ou metodologias interdisciplinares e humanizadas
de cuidado. Assim necessrio que o profissional amplie e aprofunde os
saberes especficos de sua rea de atuao, sem esquecer o enfoque
interdisciplinar e/ou multidimensional. A busca pelo aprimoramento
contnuo de sua prtica contribui para que as aes de cuidado de
enfermagem sejam cada vez mais embasadas em princpios cientficos,
o que refletir na melhor qualidade da assistncia (NASCIMENTO et al,
2008).
No contexto da hemodilise, Prata (2011) relata que o cuidado de
enfermagem aos pacientes com Doena Renal Crnica (DRC)
23
caracteriza-se por aes que necessitam de um conhecimento tcnico-
cientfico qualificado ao se utilizar de tecnologias especficas.
Prata (2011) pontua ainda que os pacientes com doena renal
demandam uma ateno especializada, tendo em vista as vrias
internaes, dificuldade do paciente em aceitar o diagnstico, presena
de leses degenerativas/crnicas, modificaes no cotidiano do paciente
e dos familiares, informao insuficiente sobre sua patologia e o
manuseio de tecnologias de ponta durante a assistncia, as quais
demandam atualizaes constantes do conhecimento terico e prtico na
realizao.
O cuidado transcende a dimenso tcnica, sendo necessrio o
estabelecimento de relao teraputica e de confiana (RODRIGUES;
BOTTI, 2009).
Entretanto, a enfermagem adequou o processo de trabalho aos
procedimentos, tcnicas e rotinas institucionalizadas nos servios,
distanciando-se do cuidado, e das mudanas que seriam necessrias no
cotidiano da assistncia e do cuidado, do ensino e da pesquisa para a
valorizao e crescimento da SAE como instrumento para sua prtica
(PEREIRA et al, 2009).
A autora deste trabalho atua como enfermeira assistencial em um
hospital universitrio h dez anos, sendo que anteriormente atuou por
seis anos em uma Unidade de Internao Mdica (UIM), dois anos na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e atualmente desenvolve atividades
como enfermeira assistencial na Unidade de Tratamento Dialtico
(UTD).
Durante sua atuao como enfermeira percebia uma lacuna no
conhecimento e na prtica assistencial no que se refere ao cuidado ao
paciente hospitalizado que necessitava de Terapia Renal Substitutiva
(TRS), em especial os que requeriam hemodilise (HD). Apesar de a
UTD disponibilizar um manual de normas e rotinas, foi observada uma
carncia de informao e aes de cuidados de enfermagem
diferenciadas entre as Unidades de Internao (UIs).
Os pacientes internados na UI que necessitam de HD so
encaminhados UTD conforme programao da unidade de dilise
momento no qual dvidas em relao aos cuidados emergiam, sendo que
muitas vezes, fazia-se necessrio o contato com a enfermeira da UTD
para alguns esclarecimentos.
Durante sua atuao na UTD, a referida autora vivenciou grandes
transformaes, como o aumento crescente da demanda de pacientes em
HD, a aquisio de novos equipamentos, a ampliao do espao fsico e
consequentemente a reestruturao do servio. Nesse momento, a
24
equipe passava por um processo de capacitao e atualizao. No
entanto, foi percebida ainda a necessidade de compartilhar o
conhecimento com os profissionais que atuam nas UIs pelo fato de que
alguns dos cuidados iniciam no pr-dilise e outros so continuados no
ps-dilise, que so realizados nas UIs.
Nesse contexto, a autora passou ento a refletir sobre o cuidado
que esses pacientes recebiam antes e aps a HD nas unidades em que se
encontravam internados. Foi a partir desta reflexo que surgiu o
interesse em desenvolver este estudo por acreditar que se faz necessria
a uniformizao das aes, oportunizando um cuidado mais seguro e de
qualidade.
A partir do cenrio exposto, apresenta-se a seguinte pergunta de
pesquisa: Quais so os cuidados de enfermagem pr e ps-dialticos
que compem o plano de aes de cuidados de enfermagem ao
paciente hospitalizado submetido HD? A construo coletiva de um plano de aes de cuidados de
enfermagem possibilitar ao enfermeiro selecionar aes adequadas
baseadas nas evidncias cientficas, bem como nas necessidades
individuais do paciente. Fornecer ainda subsdios que contribuam para
a (re)organizao do servio e da qualificao da assistncia,
beneficiando tanto os pacientes em condies crnicas quanto a equipe
que atua na prestao desse atendimento.
A uniformizao e padronizao das aes de enfermagem no
deve ser vista apenas como benefcio para a assistncia ao paciente
hospitalizado submetido HD, mas, tambm, para subsidiar o ensino e a
pesquisa em enfermagem.
25
2 OBJETIVO
2.1 OBJETIVO GERAL
Construir coletivamente um plano de aes de cuidados de
enfermagem pr e ps-dilise ao paciente hospitalizado submetido
hemodilise.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Identificar, a partir da prtica assistencial dos enfermeiros
atuantes nas unidades de internao, qual a percepo em
relao aos cuidados de enfermagem ao paciente
hospitalizado submetido hemodilise;
Elaborar coletivamente um plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido
hemodilise, a partir das necessidades identificadas pelos
enfermeiros das unidades de internao;
Implementare avaliar o plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido
hemodilise juntamente com os enfermeiros atuantes nas
unidades de internao.
26
3 REVISO DE LITERATURA
As transformaes econmicas e sociais no Brasil ocasionaram
modificaes no perfil demogrfico e de morbimortalidade da
populao com o aumento da expectativa de vida. As doenas
infecciosas e parasitrias, principais causas de morte no incio do sculo
passado, cederam lugar s Doenas Crnicas No Transmissveis
(DCNTs). Elas so as principais causas de mortalidade e incapacidade,
caracterizadas como problemas de sade que acompanham o indivduo
por longo perodo de tempo, necessitando de uma ateno contnua dos
profissionais de sade (BRASIL, 2006).
As doenas crnicas so afeces de sade que acompanham as
pessoas por longo perodo de tempo, podendo apresentar perodos de
piora (episdios agudos) ou melhora (BARROS et al, 2006).
Entre as doenas crnicas que afetam a populao est a doena
renal, que consiste em perda progressiva e geralmente irreversvel da
funo dos rins. Em sua fase mais avanada, definida como Doena
Renal Crnica Terminal (DRCT), os rins no conseguem mais manter a
homeostasia do meio interno do organismo, acarretando que o indivduo
se submeta terapia renal substitutiva (ROMO JR, 2004), (RIELLA;
PECOITS-FILHO, 2010).
A incidncia e a prevalncia da DRCT tm aumentado
progressivamente, a cada ano, no Brasil e em todo o mundo. Por se
tratar de uma doena assintomtica nos estgios iniciais, muitas vezes
detectada tardiamente, podendo comprometer seu controle e tratamento,
desencadeando mortalidade precoce (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011).
De acordo com as informaes da Sociedade Brasileira de
Nefrologia (2012), no ano de 1994 havia aproximadamente 24.000
pacientes em tratamento dialtico, elevando-se para mais de 70.000 em
2006 e para 73.605 em 2007. No ano de 2012 foram registrados 97.586
pacientes de uma populao de 193,94 milhes.
A DRC insidiosa e pode evoluir por muitos anos sem
manifestar grandes sintomas, at atingir suas fases finais. Esta
particularidade decorre de uma propriedade fundamental do parnquima
renal, pois embora os rins sejam imprescindveis sobrevivncia do
organismo, sua capacidade funcional amplamente superior ao mnimo
necessrio (ZATS, 2010). Ainda, para o mesmo autor, outra
caracterstica importante a capacidade dos nfrons remanescentes de
se adaptarem a uma nova condio biolgica. No caso de perda
considervel do parnquima renal, esses nfrons multiplicam vrias
vezes seu ritmo de trabalho, mantendo assim nveis funcionais
27
aceitveis, ou seja, continuam eliminando os produtos indesejveis do
metabolismo, mantm o volume extracelular, a concentrao de
eletrlitos, a acidez e a presso osmtica constante, produzindo, ainda,
eritropoietina e vitamina D, na sua forma ativa.
Riella e Pecoits-Filho (2010) apresentam as quatro fases da
reduo da capacidade renal:
Na primeira fase h reduo de 25% da funo renal, no havendo habitualmente elevao da ureia plasmtica
(azotemia), graas ao processo adaptativo dos nfrons
remanescentes;
Na segunda fase h reduo de at 75% da funo renal, ocorrendo moderada elevao da ureia plasmtica
(azotemia), na qual o rim j no capaz de manter a
homeostasia interna;
Na terceira fase a funo renal fica abaixo de 20%, geralmente, as anormalidades do meio interno so mais
graves, com azotemia severa, anemia, acidose metablica,
hiperfosfatemia e hipercalemia;
Na quarta fase ou tambm chamada de fase terminal, os sinais e sintomas de uremia so intensos, havendo
necessidade de um tratamento substitutivo da funo renal,
na forma de dilise ou transplante. Esto presentes na
uremia sinais e sintomas, tais como:
Distrbios hidroeletrolticos e cido-bsico: excesso de volume circulante, que se pode traduzir em
hipertenso arterial, edema e insuficincia cardaca,
hiperpotassemia, distrbios do clcio e do fsforo;
Manifestaes gastrintestinais: nuseas, vmitos, anorexia, hlito urmico, sangramento gstrico;
Manifestaes neurolgicas: parestesias, sndrome da perna irrequieta, conduo nervosa prolongada e
paralisias;
Manifestaes hematolgicas: anemia, que pode ser agravada pela perda de sangue nos dialisadores,
sangramentos entre outros;
Manifestaes cardiovasculares e pulmonares: hipertenso arterial, pleurites, coronariopatias,
pericardites, pulmo urmico, dentre outros;
28
Alteraes sseas e articulares: podem ocorrer dores, fraturas sseas, calcificaes cutneas,
articulares e viscerais e hiperparatireoidismo;
Manifestaes dermatolgicas, oculares, endcrinas e psicolgicas: depresso, ansiedade e psicose.
Esses sinais e sintomas caracterizam a Doena Renal Aguda
(DRA) que definida pela reduo abrupta da taxa de filtrao
glomerular que se mantm por perodos variveis de tempo, resultando
na incapacidade dos rins para exercer as funes de excreo, manter o
equilbrio cido-bsico e homeostase hidroeletroltico do organismo.
Suassuna et al (2010) afirmam que 6% dos pacientes com doena crtica
sofrem com a DRA, passvel de necessitar de Terapia Renal Substitutiva
(TRS), sendo que a maioria dos casos ocorre em pacientes internados
em UTI.
3.1 TRATAMENTO
O paciente com DRC pode ser tratado conservadoramente,
enquanto a qualidade de vida estiver preservada. A TRS (hemodilise,
dilise peritoneal ou transplante) somente indicada quando o paciente
apresenta sinais de desnutrio, excesso de volume extracelular, sinais
de neuropatia perifrica e sintomas urmicos, como nuseas e vmitos
(RIELLA; PECOITS-FILHO, 2010).
3.1.1 Dilise
O tratamento dialtico uma modalidade que tem por objetivo
remover resduos sanguneos e o excesso de lquidos, alm de manter o
equilbrio dos eletrlitos no organismo. Este processo ocorre atravs de
uma membrana semipermevel que pode ser artificial, como a
hemodilise; ou biolgica, como na dilise peritoneal (FERMI, 2010).
3.1.1.1 Hemodilise
A hemodilise um tipo de tratamento dialtico em que a
circulao do paciente extracorprea e o sangue, com o auxlio de uma
bomba, passa por dentro de um dialisador (membrana artificial) que em
contato com a soluo de dilise preparada na mquina promover a
filtrao do sangue (FERMI, 2010).
Para que a HD se efetive, faz-se necessrio que se tenha um
acesso ao sistema circulatrio que permita a circulao extracorprea.
29
Uma das vias utilizadas para realizar HD so os cateteres de dupla luz,
implantados na veia subclvia ou jugular interna. Esses cateteres podem
ser temporrios ou permanentes. Uma alternativa a Fstula
Arteriovenosa (FAV) que uma anastomose de uma artria a uma veia,
muito usada em pacientes crnicos (DARONCO, 2007).
Os pacientes submetidos HD podem apresentar algumas
complicaes no transdilise como embolia gasosa, cimbras, reao
pirognica, hiponatremia, hipotenso, hipoglicemia, alterao do nvel
de conscincia, entre outros. Assim, fundamental que a equipe de
enfermagem tenha um treinamento bsico a fim de receber instrues e
desenvolver competncias necessrias para o exerccio de assistncia de
enfermagem (DARONCO, 2007).
3.1.1.2 Dilise Peritoneal
A dilise peritoneal (DP) uma terapia na qual se utiliza a
membrana do peritnio como membrana de troca. Uma soluo
hipertnica infundida na cavidade peritoneal, por meio de um cateter
(rgido ou flexvel), onde ocorre o transporte transcapilar de gua e
solutos. Durante a DP, o peritnio funciona como uma membrana
semipermevel para depurao de toxinas urmicas, mediante a difuso
de solutos e ultrafiltrao induzida por agentes osmticos (PASQUAL,
2004).
A peritonite a principal complicao do tratamento. Episdios
frequentes de peritonite podem inviabilizar essa tcnica de tratamento.
A terapia exige dedicao do paciente e de sua famlia, sendo assim a
deciso pelo mtodo deve ser conjunta (equipe de sade, paciente e
famlia). Alm disso, devem ser levados em considerao aspectos como
educao, higiene, moradia e estilo de vida do paciente e da famlia, que
podem interferir no sucesso da terapia (RIELLA; PECOITS-FILHO,
2010).
3.1.2 Transplante Renal
O transplante renal consiste na substituio do rim doente por um
rim saudvel. hoje um procedimento amplamente utilizado no
tratamento de pacientes portadores de DRC (FERMI, 2010).
Nas ltimas dcadas, o transplante renal tem sido a melhor opo
de tratamento da DRC tanto para pacientes em tratamento dialtico
quanto para pacientes em tratamento conservador. Esse cenrio se d
30
pela evoluo dos agentes imunossupressores e, consequentemente,
melhor tratamento e preveno das complicaes (PASQUAL, 2004).
Para muitos pacientes, segundo Pasqual (2004), o transplante a
esperana por uma vida melhor, de maior liberdade, ou seja, o fim das
difceis sesses de HD ou de DP e da dependncia de mquinas e
equipamentos. Esses tratamentos, ao mesmo tempo em que tornam
possvel a sobrevivncia, escravizam e segregam. No entanto, a angstia
de ter de encontrar um doador compatvel na famlia (doador vivo
parente), com os amigos e conhecidos (doador vivo no parente) ou por
meio da Central de Transplante (doador cadver) uma constante. A
demora ou a dificuldade de encontrar um doador faz com que a
desesperana tome conta do cotidiano do paciente, o que no raramente
o faz desistir de lutar, s vezes, resignado e conformado com sua
condio e seu tratamento, outras vezes, recusando-se a cumprir as
orientaes e condutas estabelecidas, renunciando vida.
3.2 PROCESSO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA
O cuidado ao paciente com doena renal crnica exige do
enfermeiro conhecimento das prticas que compem o sistema de
cuidado, utilizando como ferramenta de trabalho a sistematizao da
assistncia de enfermagem (SAE). Esta contribui para a autonomia e a
cientificidade da profisso, sendo um instrumento facilitador da
qualidade da assistncia (FORTES; GREGGIANIN; LEAL, 2006).
A SAE um importante instrumento gerencial empregado para o
planejamento, execuo, controle e avaliao das aes de cuidado de
enfermagem direto e indireto aos pacientes (GONALVES et al, 2007).
Como cincia, a enfermagem tem buscado a estruturao dos seus
valores profissionais, abandonando o uso de intervenes ao acaso, sem
planejamento, justificativa cientfica e reflexo. O processo de cuidado
de enfermagem a representao maior do mtodo cientfico da
profisso, sendo direcionado pela SAE, atravs da qual ocorre o
desenvolvimento e organizao do trabalho da equipe onde o enfermeiro
responsvel. Por meio da SAE possvel detectar as prioridades de
cada paciente em relao as suas necessidades, fornecendo assim, uma
direo para as provveis intervenes, correlacionando-as com a
realidade em que atua (MARIA; QUADROS; GRASSI, 2012).
O trabalho do enfermeiro regido por vrias leis, entre elas, a
Resoluo N 358 do COFEN que institui a implantao da SAE em
31
todas as unidades de atendimento de sade que forneam assistncia de
enfermagem (COFEN, 2009).
A SAE empregada como metodologia assistencial,
compreendida como aplicao prtica de uma teoria de enfermagem na
assistncia aos pacientes, podendo utilizar ou no o Processo de
Enfermagem (PE) ou partes do mesmo. todo o planejamento
registrado da assistncia que compreende desde a criao e
implementao do manual de normas e rotinas das unidades descrio
padronizada, at a adoo do PE (COFEN, 2009).
Desenvolver o pensamento crtico e tambm a capacidade de
tomada de deciso so aes importantes dos enfermeiros, pois estes so
reconhecidamente agentes de mudana das condies de vida, atuando
diretamente no processo sade-doena e no bem-estar dos pacientes,
famlias e comunidade. O cuidado de enfermagem deve ser planejado e
realizado de forma sistematizada, podendo ocorrer por meio da
implementao do PE (LIMA, 2009).
O PE caracterizado como um instrumento metodolgico
utilizado para as aes do cuidado. Atravs do PE o enfermeiro
identifica os problemas de sade, planeja, implementa as aes e avalia
os resultados (PEREIRA et al, 2009).
O PE composto por cinco fases: investigao, diagnsticos de
enfermagem, planejamento, implementao e avaliao (BETEGHELLI
et al, 2005).
Oliveira et al (2008) ressaltam que o cuidado de enfermagem, em
especial aos que realizam HD, tem como objetivo identificar e monitorar
os efeitos adversos desta terapia e complicaes decorrentes da prpria
doena, desenvolvendo aes educativas de promoo, preveno e
tratamento.
O paciente submetido HD necessita de um cuidado que muitas
vezes desafiador para a enfermagem, pois ocorrem grandes
transformaes e este passa de uma condio de ser saudvel para outra,
tornando-se dependente do atendimento constante e permanente de um
servio de sade, de uma mquina, de uma equipe multiprofissional e a
necessidade de orientao que se torna constante. Quando este paciente
toma conscincia da perda de autonomia, este perde a esperana pelo
fato de que a doena crnica no tem cura e que a curto ou longo prazo
conduz morte. Assim, o cuidado ao paciente com DRC tem mostrado-
se um processo complexo pelas mais variadas adaptaes, bem como
repercusses de variadas ordens, tais como asincapacidades fsicas e
emocionais que interferem na vida das pessoas, limitando ou impedindo
a realizao de suas atividades dirias. (SANTOS; ROCHA;
32
BERARDINELLI, 2011).
No cotidiano percebe-se a necessidade de compreender, criar
condies e auxiliar na mudana de hbitos para que o paciente se sinta
mais confortvel, bem como seus familiares possam reorganizar sua
dinmica diria e familiar. necessrio compreenso e compromisso,
pois medida que a doena progride as necessidades de cuidado e
ateno aumentam.
Para Erdmann, Nascimento e Ribeiro (2005) o cuidado um
processo interativo, dinmico, solidrio, criativo e um componente
importante do ser/fazer da Enfermagem. Tem amparo em
conhecimentos prprios, em tecnologias e num trabalho que realizado
por seres humanos, nos quais so utilizados como instrumentos as
habilidades, atitudes, modos de ser, e estruturas cognitivas do
enfermeiro. A Enfermagem, por sua vez, promove a sade e a vida,
sendo realizada de forma compartilhada, de ajuda mtua e em equipe.
Est atenta segurana bem como caminha para uma melhor
compreenso do ser e viver mais saudvel. um trabalho que demanda
tcnicas especficas, equipamentos, materiais apropriados e,
principalmente, muita sensibilidade humana.
Lanzoniet al (2011) entendem que o enfermeiro precisa constituir
uma relao de proximidade com os pacientes para cuidar, resultando
em um processo interativo no qual o contato e o dilogo so valorizados,
estando embasados na tica e respeito da condio do ser. Entender o
que ocorre no processo de cuidar necessita que o profissional reconhea
as particularidades inerentes subjetividade dos sujeitos, como os
sentimentos envolvidos no processo.
33
4 REFERENCIAL TERICO
Em busca de uma melhor compreenso e sustentao terica, este
estudo ser fundamentado tambm no pensamento complexo proposto
principalmente por Edgar Morin, o qual prope uma forma de pensar
modificada, questionando os modelos cartesianos nas distintas reas
sociais (MARCHI; WITTIMANN, 2008).
Para Silva e Camillo (2007), a teoria da complexidade surgiu para
interrogar a fragmentao e o esfacelamento do conhecimento, em que o
pensamento linear, originrio do sculo XVI, colocava o
desenvolvimento da especializao como supremacia da cincia,
contrapondo-se ao saber generalista e globalizante.
A base da epistemologia da complexidade advm de trs teorias
que se inter-relacionam: a teoria da informao, a ciberntica e a teoria
dos sistemas. A teoria da informao analisa problemas relativos
difuso de sinais no processo comunicacional. A ciberntica a cincia
que estuda as comunicaes e o sistema de controle dos organismos
vivos e mquinas em geral. Compreende a ideia de retroao, que
substitui a causalidade linear pela curva causal. A teoria dos sistemas
assegura que o todo mais que a soma das partes, sugerindo a existncia
de qualidades emergentes que surgem da organizao do todo e que
podem retroagir sobre as partes. No conceito de sistema est presente a
ideia de rede relacional, onde os objetos do lugar aos sistemas e as
unidades simples do lugar s unidades complexas (VIEIRA et al,
2009).
Morin (2004) apresenta os sete princpios do pensamento
complexo que se encontram descritos a seguir:
1. Princpio sistmico ou organizacional: une o conhecimento das partes ao conhecimento do todo
considerando impossvel conhecer as partes sem conhecer
o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer,
particularmente, as partes. A ideia sistmica, oposta ideia
reducionista que o todo mais do que a soma das partes.
O todo , igualmente, menos que a soma das partes, cujas
qualidades so inibidas pela organizao do conjunto.
2. Princpio hologrfico: coloca em evidncia o paradoxo das organizaes complexas, em que no apenas a parte
est no todo, como o todo est inscrito na parte.
3. Princpio do circuito retroativo: este princpio permite o conhecimento dos processos autorreguladores, rompendo
34
com o princpio da causalidade linear: a causa age sobre o
efeito e o efeito age sobre a causa.
4. Princpio do circuito recursivo: transpe a noo de regulao com as de autoproduo e auto-organizao.
um circuito gerador em que os produtos e os efeitos so
produtores e causadores daquilo que o produz.
5. Princpio da autonomia/dependncia (auto-organizao): os seres vivos so seres auto-organizadores,
que no param de se autoproduzir e, por isso mesmo,
gastam energia para manter sua autonomia. Vale
especificamente para seres humanos, que desenvolvem sua
autonomia na dependncia de sua cultura e para as
sociedades que se desenvolvem na dependncia de seu
meio geolgico. Um aspecto chave da autoeco-organizao
viva que ela se regenera permanentemente a partir da
morte de suas clulas.
6. Princpio dialgico: une dois princpios ou noes que deviam excluir-se reciprocamente, mas so indissociveis
em uma mesma realidade. Sob as mais diversas formas, a
dialgica est constantemente em ao nos mundos: fsico,
biolgico e humano. Este princpio permite assumir
racionalmente a inseparabilidade de noes contraditrias
para conceber um mesmo fenmeno complexo.
7. Princpio da reintroduo do conhecimento em todo conhecimento: opera a restaurao do sujeito e revela o
problema cognitivo central: da percepo teoria
cientfica, todo conhecimento uma reconstruo/traduo
feita por uma mente/crebro, em uma cultura e pocas
determinadas.
Os sete princpios da complexidade, de acordo com Morin
(2004), so complementares e interdependentes entre si, auxiliando na
compreenso do ser, viver e conviver em um ambiente sistema, ou
num ambiente de cuidados, possibilitado pelas mltiplas relaes e
interaes.
O enfermeiro tem procurado a atualizao e a capacitao para o
desempenho de suas atividades, visualizando seu ambiente de trabalho
com o olhar de um sistema complexo. Assim, vem procurando
qualificar-se em diferentes especialidades, desde enfermagem neonatal
at os cuidados geritricos. Nesta perspectiva, h de se ressaltar que a
enfermagem como um sistema complexo pode encontrar-se em
diferentes locais e com diferentes papis, como nos ambulatrios e
35
hospitais com a prestao do cuidado ao paciente; nas empresas
mediante atividades de promoo sade e segurana do trabalhador;
at nos meios acadmicos, a partir das atividades de ensino, pesquisa e
extenso (VIEIRA et al, 2009).
O pensamento complexo prope uma educao emancipadora
justamente porque favorece a reflexo do cotidiano, o questionamento e
a transformao social. Ao passo que concepes reducionistas,
revestidas de pensamentos lineares e fragmentados, valorizam o
consenso de uma pedagogia que acaba por estimular a domesticao e a
acomodao. A educao precisa ser repensada a partir de uma viso
totalizadora, para que no permanea na inrcia da fragmentao e da
excessiva disciplinarizao, compreendendo a vida em todas as suas
possibilidades e limitaes por meio da utilizao justaposta de
conceitos contraditrios, de modo dialgico. Sendo essa a viso que
compreende a complexidade do real, remetendo-nos a um pensamento
que aceite as ambivalncias, o uso de contradies e as incertezas em
todas as dimenses (VIEIRA et al, 2009).
A Enfermagem tem como princpio difundido nas instituies de
ensino, assistir o indivduo como ser biopsicossociocultural, no entanto
priorizada a dimenso biolgica (BACKES et al, 2008).
A formao no pode adotar como referncia apenas a busca
eficiente de evidncias ao diagnstico, cuidado, tratamento, prognstico,
etiologia e profilaxia das doenas e agravos. Faz-se necessrio o
atendimento global, das pessoas e populaes, da gesto setorial e do
controle social em sade, redimensionando o desenvolvimento da
autonomia das pessoas at a condio de influncia na formulao de
polticas do cuidado (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).
Para Ceccim e Feuerwerker (2004), a atualizao tcnico-
cientfica somente um dos aspectos da qualificao das prticas e no
seu foco principal, onde a formao engloba aspectos de produo de
subjetividade, produo de habilidades tcnicas e de pensamento e o
adequado conhecimento do Sistema nico de Sade (SUS). A formao
para a rea da sade necessitaria ter como objetivos a transformao das
prticas profissionais e da prpria organizao do trabalho,
estruturando-se a partir da problematizao do processo de trabalho e
sua capacidade de dar acolhimento e cuidado s diversas dimenses e
necessidades de sade das pessoas, dos coletivos e das populaes.
Ceccim e Feuerwerker (2004) colocam que o SUS tem assumido
papel ativo na reorientao das estratgias e modos de cuidar, tratar e
acompanhar a sade individual e coletiva. Tem sido capaz de provocar
importantes repercusses nas estratgias e modos de ensinar e aprender,
36
incentivando o desenvolvimento do pensamento crtico e estimulando o
fortalecimento do movimento por mudanas no processo de formao.
Uma proposta estratgica para transformar a organizao dos
servios e dos processos formativos implicaria num trabalho articulado
entre o sistema de sade (em suas vrias esferas de gesto) e as
instituies formadoras. Transformar a formao e a gesto do trabalho
em sade envolve mudana nas relaes, nos processos, nos atos de
sade e, principalmente, nas pessoas. So questes tecnopolticas que
implicam na articulao de aes para dentro e para fora das instituies
de sade, na perspectiva de ampliao da qualidade da gesto, do
aprimoramento da ateno integral, do domnio do conceito ampliado de
sade e do fortalecimento do controle social no sistema.
Para Vieira et al (2009), a complexidade caracteriza-se por
englobar diferentes disciplinas cientficas e por assumir um papel multi
e interdisciplinar na busca de respostas a algumas perguntas
fundamentais sobre a vida. Para as autoras, a enfermagem considerada
um sistema complexo, s que em menor tamanho, uma vez que tal
servio encontra-se inserido em um sistema complexo maior: a sade.
Assim como a sade com sua evoluo, a enfermagem vista como um
sistema em constante interao com os outros sistemas, ou seja, com os
servios mdicos, odontolgicos, psicolgicos, entre outros. Tais
interaes, intercmbios de ideias e flexibilidade entre o servio de
enfermagem com os demais servios fazem hoje a enfermagem crescer e
evoluir, caracterizando-se como um sistema complexo adaptativo.
O pensamento complexo permite o desenvolvimento de olhares
mais crticos e criativos sobre a realidade, ou seja, sobre as prticas nas
quais se estabelecem as interaes e associaes de cuidado. De outro
modo, o pensamento complexo estimula a desconstruo de padres
culturais objetivos e a construo de estratgias epistemolgicas e
prticas interdisciplinares reflexivas e crticas (VASCONCELOS, 2004).
Compreender a lgica do cuidar/cuidado sob a tica da
complexidade pressupe um olhar distinto sobre as premissas
ontolgicas, epistemolgicas e metodolgicas, para compreender o
cuidado como fruto de mltiplas relaes e interaes sistmicas.
necessrio, no entanto, expandir gradativamente o entendimento de
cuidado, seja no plano ontolgico como um fenmeno inerente ao
processo de viver humano, ou na dimenso epistemolgica, atravs da
interface entre o saber existente e o que pode vir a ser conhecido no
sistema de cuidados em sade pela inovao e ampliao de
metodologias operacionais capazes de se agregarem na teia complexa da
vida (BACKES, 2011).
37
Backes (2011) afirma que a complexidade do cuidado das
interaes interpessoais, sociais e ambientais ser capaz de transpor o
modo de ser trabalho, a fim de alcanar o modo de ser relacional. Sendo
assim, o cuidado s ser absoluto na sua dimenso ontolgica,
epistemolgica e metodolgica, quando no modo de ser relacional
permitir as conexes dos opostos e antagnicos, a partir das interaes e
associaes complexas.
Diante do exposto, Erdmann et al (2007) reforam que o
pensamento complexo retrata um processo social, individual e
ecolgico, dinmico e gradual, que demanda tempo, atitude,
comportamento, e um esforo incansvel pela busca de novas formas de
ao e interao.
O cuidado em sade e enfermagem, na perspectiva da
complexidade, precisa ser expandido para a dimenso ecolgica e
planetria, numa relao de complementariedade e interatividade, sem
se restringir apenas ao espao hospitalar e aos servios de sade. Os
profissionais de sade, por sua vez, precisam expandir os seus modos de
ser, ver e agir para alm do seu local de trabalho, como sujeitos
proativos, ticos e comprometidos com o todo (BACKES; ERDMANN;
BACKES, 2009).
O paciente com DRC terminal que realiza hemodilise carece no
s dos cuidados referentes s necessidades biolgicas, como
principalmente s psicolgicas, sociais e espirituais. Estes esto
envolvidos num sistema complexo de cuidado onde so utilizadas
tecnologias de ponta e a exposio s complicaes relacionadas a esta
terapia so maiores. Alm das mudanas ocasionadas no estilo de vida
do paciente e sua famlia, as internaes referentes s complicaes
tambm interferem na dinmica familiar, principalmente quando estes
tm que lidar com a finitude da vida, gerando novas demandas de
cuidado.
Uma rede de apoio envolvendo uma equipe multidisciplinar e a
famlia de extrema importncia para o tratamento. Quando um desses
no se faz presente ou se faz de maneira ineficaz pode-se evidenciar um
comprometimento no cuidado.
Assim, conclui-se que o cuidado que envolve o paciente com
DRC terminal que realiza HD nada mais do que um sistema complexo,
onde o todo deve compreender e articular as partes, assim como as
partes deve compreender o todo.
38
5 MARCO CONCEITUAL
O marco conceitual ou modelo terico so instrumentos que
possibilitam a operacionalizao da assistncia de enfermagem atravs
da aquisio de um referencial terico e de sua utilizao na construo
de mtodos que possam direcionar e organizar o processo assistencial de
enfermagem (NEVES; ZAGONEL, 2006).
Os pressupostos descritos a partir da reviso de literatura e do
referencial terico so:
O enfermeiro necessita de constante atualizao dos conhecimentos tcnicos e cientficos;
O ambiente de cuidado complexo e um campo rico que proporciona condies para estudos e pesquisas;
As aes de cuidado de enfermagem uma importante ferramenta para a manuteno da qualidade da assistncia,
bem como proporciona a uniformizao das aes;
O paciente com DRC, submetido HD, precisa de um cuidado especializado de forma que atenda as suas
diversas necessidades apresentadas em decorrncia da
doena, da teraputica e das alteraes no estilo de vida.
Os conceitos que embasaro este estudo so: Ser humano,
Cuidado, Enfermagem, Cuidado em Enfermagem, Ambiente de
Cuidado, Doena Renal Crnica, Plano de Aes de cuidado de
enfermagem ao paciente com doena renal crnica submetido
hemodilise, Complexidade do Cuidado ao paciente com doena renal
crnica submetido hemodilise.
5.1 SER HUMANO
Erdmann (1996) define o ser humano como um ser de relaes e
de interaes sociais com o meio ambiente em que esto inseridos. Estes
interagem e relacionam-se com o outro, desenvolvendo uma troca de
experincias para seu crescimento e realizao pessoal. Nessas relaes
eles cooperam, competem, colaboram, contribuem e exploram. Eles
tambm agem, reagem, interagem, pertencem, associam-se, partilham,
interdependem, ajudam-se, trocam experincias/energias, diferenciam-se e integram-se, aproximam-se e distanciam-se, articulam-se, envolvem-se
e negociam, convivendo com a harmonia conflitual.
Para Morin (2008) o ser humano um indivduo que apresenta
caractersticas de sua realidade humana que so multidimensionais e
39
englobam aspectos biolgicos, psicolgicos, sociais, espirituais,
econmicos, sociolgicos, histricos, dentre outros. Estas
caractersticas, mesmo distintas, esto vinculadas inteirando o mesmo
ser humano e tornando-o complexo.
Nesse contexto, o ser humano em evidncia nesta investigao
o enfermeiro, que atua nas UIse que acompanha o paciente portador de
DRC no seu processo teraputico durante a hospitalizao. Este prepara,
encaminha os pacientes ao programa de HD e recebe-o de volta na
unidade, dando continuidade ao cuidado.
5.2 CUIDADO
O cuidado definido como preocupao, zelo, proteo,
solidariedade ao ser enfermo. Significa cuidar com empatia e
sensibilidade entendendo, percebendo, desenvolvendo esse cuidado,
considerando a complexidade do ser. Cuidar do outro implica na
valorizao dos aspectos biolgicos, sociais, culturais, espirituais, seja o
cliente/paciente, familiar, colega, amigo, pai, me, esposo(a), filho(a)
e/ou outros, que compem uma organizao complexa de relaes
humanas de cuidado (BAGGIO, 2008).
Assim, o cuidado deve ser visto como um processo que envolve
sentimentos, valores, atitudes e princpios cientficos, deixando de ser
um ato nico, bem como a soma de procedimentos tcnicos,
satisfazendo a necessidades dos seres envolvidos (PESTANA, 2011).
Minuzzi (2006) caracteriza o cuidado como troca de experincias,
conhecimentos, sentimentos e, especialmente, o respeito s crenas e
valores de cada elemento envolvido, de forma que permite melhorar,
harmonizar, o viver ou ainda proporcionar condies para morrer com
dignidade.
Desse modo, entende-se que o cuidado no est restrito apenas
dimenso biolgica. Ele vai para alm deste aspecto, envolvendo
atitudes, valores, empatia, tica, princpios tcnicos e cientficos de
modo a enxergar o outro como prioridade, buscando atender suas
necessidades e de modo a restabelecer seu bem-estar, no
necessariamente a sade, como no caso das condies crnicas.
5.3 ENFERMAGEM
A Enfermagem uma profisso que cuida do ser humano como
um ser complexo em um sistema de cuidado, mediante modos prprios,
compartilhando num processo dinmico de interao entre o cliente, sua
40
famlia, a comunidade e junto com outros profissionais (MINUZZI,
2006, p. 47).
Baggio (2008)complementa dizendo que a enfermagem uma
profisso que capacita o profissional atravs de suas competncias,
responsabilidades e aptides intrnsecas profisso para realizar o
cuidado aos seres humanos considerando a multidimensionalidade e o
contexto do ser.
A enfermagem uma cincia que tem como foco o cuidado,
sendo este a essncia da profisso. O enfermeiro realiza aes que
envolvem a sensibilidade dos sentidos, a subjetividade e a comunicao
nas mltiplas relaes.
5.4 CUIDADO EM ENFERMAGEM
Vale e Pagliuca (2011) conceitua o cuidado de enfermagem como
um fenmeno intencional e necessrio vida, que acontece no encontro
de seres humanos que interagem, atravs de atitudes que envolvem
conscincia, zelo, solidariedade e amor. Esse cuidado expressa um
"saber-fazer" que deve estar embasado na cincia, na arte, na tica e na
esttica, direcionado s necessidades do indivduo, da famlia e da
comunidade.
Borges et al (2012) define o cuidado de enfermagem como aes,
baseado em conhecimento cientfico, que tem por objetivo atender as
necessidades humanas bsicas, realizando um trabalho em equipe e,
sendo assim, um processo amplo e interativo.
As relaes de cuidado, segundo Baggio (2008), podem ser
compreendidas como sistemas abertos, que so sustentados pelas trocas,
interaes, associaes com o meio a que pertencem. Os seres de
relao interagem com o meio e entre si, dependendo dessas trocas,
interaes e associaes para autocuidado, para o cuidado dos seus e
para sentirem-se cuidados.
Na perspectiva da complexidade, o cuidado de enfermagem,
segundo Piexak; Backes e Santos (2013), transcende as aes tcnico-
prescritivas, pontuais e lineares e alcana as questes que abrangem o
cuidar do outro e do ambiente no qual est inserido, valorizando a
singularidade dos seres humanos, na tentativa de discutir o cuidado de
forma ampla e contextualizada.
41
5.5 AMBIENTE DE CUIDADO
O ambiente de cuidado visto como um sistema complexo
adaptativo que serve de cenrio para constantes e expressivas
experincias, incorporando aspectos cientficos com fontes de reflexes,
que so influenciadas pelas diversas culturas, normas, leis e tecnologias
que a compem. Em alguns momentos este ambiente acolhe, traz a luz a
recuperao, o milagre da (sobre) vivncia e com ela o sentimento de
vitria da equipe profissional; em outros se torna um ambiente que
incomoda, em que a inquietao se faz presente, os rudos predominam
e a insalubridade assume o comando (KLOCK, 2009).
O ambiente de cuidado neste estudo refere-se s unidades de
internao mdica e cirrgica, onde se encontram pacientes com
alterao da funo renal, em situaes crnicas ou agudas, com
indicao de tratamento dialtico. Este cenrio dispe de uma equipe
multidisciplinar, bem como de tecnologias necessrias para o cuidado.
5.6 DOENA RENAL CRNICA
A doena crnica caracteriza-se por alteraes do estado de sade
do indivduo. Estas alteraes no so temporrias e muitas vezes so
limitantes, atribuindo ao indivduo vrias transformaes no seu estilo
de vida e no contexto familiar (PASQUAL, 2004).
As doenas crnicas demandam estratgias de cuidado especiais
que auxiliem os pacientes a despertar a conscincia para o autocuidado.
Alm do tratamento mdico, necessrio envolver e estimular o
paciente a participar desse cuidado de forma ativa, aprendendo a
interagir com as organizaes de sade (TRENTINI; CUBAS, 2005).
Bastos e Kirsztajn (2011) ressaltam que a DRC um problema de
grande importncia, sendo reconhecida como uma doena complexa que
demanda mltiplas abordagens no seu tratamento. Embora se faam
necessrios mais estudos nessa rea, o que se percebe que o modelo de
atendimento interdisciplinar a forma mais adequada de tratar a DRC.
5.7 PLANO DE AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO
PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO
HEMODILISE
A elaborao de um plano de cuidados de enfermagem,
fundamentado em uma teoria, um instrumento que viabiliza a
sistematizao da prtica assistencial conferindo maior visibilidade s
42
aes de enfermagem implementadas, valorizao da profisso e,
principalmente, excelncia no cuidado prestado (NETO; FONTES;
NOBREGA, 2013).
O cuidado de enfermagem ao paciente com DRC submetido
HD caracteriza-se por um cuidado que necessita de um conhecimento
tcnico-cientfico qualificado, respeitando as caractersticas individuais
do ser humano, considerando o contexto em que se encontra inserido. O
plano de ao um instrumento para direcionar esse cuidado,
respeitando princpios cientficos e ticos, bem como o fazer.
5.8 COMPLEXIDADE DO CUIDADO AO PACIENTE COM
DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO
HEMODILISE
O cuidado por si s complexo e amplo, que envolve ao,
conhecimento especfico, habilidade tcnica e sensibilidade por parte do
profissional de oferecer um cuidado individualizado.
O paciente com DRC submetido HD complexo e
multidimensional que necessita de um olhar multidisciplinar para
atender as dimenses que o constituem.
Contrapondo ao modelo biomdico atual, percebe-se a
necessidade de direcionar a assistncia ao indivduo de modo sistmico,
no se limitando a assistir apenas doena em questo.
Desta forma, o cuidado de enfermagem aos pacientes que
necessitam de HD deve transcender o tratamento tradicional, atendendo
as especificidades do paciente como um todo, colaborando, assim, para
a melhoria na qualidade de vida (BARBOSA; VALADARES, 2009).
Para os autores acima citados, o paciente que realiza HD sofre o
impacto inicial no momento em que percebe as alteraes provocadas
pela doena, emergindo um turbilho de emoes. Passado o impacto
inicial, o paciente que teve a sua rotina alterada e segue com o
tratamento hemodialtico passa a buscar outras atividades sociais, seja
para ocupar seu tempo e esquecer os sentimentos que antes o afligiam,
seja para interagir com outros pacientes que vivenciam a mesma
condio. Dessa forma, esses pacientes compartilham experincias e
buscam aprendizado e novas formas de se cuidar. Assim, a assistncia
de enfermagem a esses pacientes torna-se um desafio aos enfermeiros
que precisam garantir a qualidade do cuidado possibilitando que esses
pacientes tenham suas especificidades atendidas e tornando possvel a
compreenso da sua condio de sade.
43
6 METODOLOGIA
Nesta etapa so descritos os procedimentos metodolgicos que
foram utilizados em funo do tema, do problema e dos objetivos do
estudo. O presente estudo inspirou-se nos fundamentos e instrumentos
da pesquisa-ao como referencial metodolgico.
6.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo de carter construtivo, descritivo e com
abordagem qualitativa, com foco na construo de um plano de aes de
cuidados de enfermagem no pr e ps-dilise, ao paciente hospitalizado
submetido HD.
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2003), firma-se na
capacidade de incorporar os atos, as relaes, as estruturas e as
representaes sociais construdas coletivamente ao longo da vivncia
entre diversos atores que compem um determinado segmento da
sociedade.
A pesquisa-ao considerada por Thiollent (2011), socilogo
francs radicado no Brasil e um dos estudiosos do mtodo como sendo:
Um tipo de pesquisa social com base emprica, concebida e realizada em estreita associao com
uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os
participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo participativo
(THIOLLENT, 2011, p. 20).
Este tipo de pesquisa geralmente ocorre em situaes em que
tambm se atua na prtica e deseja-se melhorar a compreenso desta. A
pesquisa e a ao podem e devem caminhar juntas quando se pretende
uma transformao. um tipo de pesquisa participante, em oposio
pesquisa tradicional. Tem como principal caracterstica a interveno na
prtica de modo inovador no decorrer do prprio processo de pesquisa
(FRANCO, 2005).
Um dos pioneiros da pesquisa-ao foi o psiclogo alemo Kurt
Lewin (1890-1947). Na dcada de 1960, na rea de Sociologia, este mtodo rapidamente se expandiu, no entanto, alm de sua aplicao em
cincias sociais e psicologia, a pesquisa-ao , hoje, amplamente
aplicada tambm na rea do ensino (FRANCO, 2005).
44
Alguns aspectos citados por Thiollent (2011) so levados em
considerao quando se diz que a pesquisa-ao uma estratgia
metodolgica da pesquisa. So elas:
Existe uma grande interao entre o pesquisador e as pessoas envolvidas na situao investigada;
Como resultado desta interao so ordenadas as prioridades dos problemas, bem como das solues a
serem encaminhadas;
A situao e os diferentes problemas encontrados que so objeto de investigao, e no as pessoas;
Durante todo o processo feito um acompanhamento das decises, aes e de todas as atividades realizadas;
Alm da ao, a pesquisa procura ampliar o conhecimento do pesquisador e das pessoas ou grupos envolvidos.
Na pesquisa-ao dois tipos de objetivos se relacionam entre si: o
prtico e o conhecimento. O objetivo prtico contribui para o
equacionamento do problema, com levantamento de solues e proposta
de aes. J o objetivo de conhecimento preocupa-se em obter
informaes e expandir esse conhecimento.
Thiollent (2011) afirma que a pesquisa-ao no limita suas
investigaes aos aspectos acadmicos e burocrticos como na maioria
das pesquisas convencionais. Os pesquisadores exercem um papel ativo
na prpria realidade dos fatos analisados. Segundo o mesmo autor, a
pesquisa-ao tambm ganhou espao nas cincias ambientais e cincias
da sade, em especial a enfermagem, promoo da sade e medicina
coletiva. Na Enfermagem, vrios estudos tm utilizado a pesquisa-ao
como referencial metodolgico, tais como: Alencar (2007), Coscrato
(2010), Santos (2011), Souza (2010), Torres (2008) entre outros.
6.2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo teve como cenrio as Unidades de Internao Mdica
(UIMs) I, II e III e Unidades de Internao Cirrgica (UICs) I e II do
Hospital Universitrio Dr. Ernani Polydoro So Thiago inserido na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O Hospital Universitrio (HU) Prof. Polydoro Ernani de So Thiago foi fundado em 2 de maio de 1980, pelo Prof. Polydoro Ernani
de So Thiago com atendimento 100% pblico, pelo SUS, tendo
tambm sua ateno voltada ao ensino e pesquisa (HU/UFSC, 2012).
45
Atuando nos trs nveis de assistncia, o bsico, o secundrio e o
tercirio, o HU tambm referncia estadual em patologias complexas,
clnicas e cirrgicas, com grande demanda na rea de cncer e cirurgia
de grande porte, nas diversas especialidades. Seu corpo clnico
constitudo de professores dos Departamentos do Centro de Cincias de
Sade que utilizam o HU como centro de ensino e de pesquisa; os
mdicos e demais profissionais da Enfermagem, Farmcia, Bioqumica,
Fisioterapia e Fonoaudiologia, Nutrio, Servio Social, Odontologia,
Psicologia e Engenharia Biomdica que possuem elevados ndices de
qualificao e titulao. Aliados ao grande interesse na pesquisa e
prtica clnicas, estes profissionais conferem ao HU grande fora,
prestgio social e comunitrio (HU/UFSC, 2012).
O HU atualmente atende nas reas de Clnica Mdica, Clnica
Cirrgica, Terapia Intensiva, Tratamento Dialtico, Pediatria,
Ginecologia, Obstetrcia e Neonatologia, Centro Cirrgico, Servio de
Ambulatrio geral e especializado, Hemodinmica e Onco-hematologia.
Possui tambm servio de Emergncia Adulto, Infantil e Gineco-
obstetrcia, Centro Obsttrico, Centro de Incentivo ao Aleitamento
Materno e Centro de Esterilizao.
As UIMs I, II, III e UIC I e II, esto localizadas no 3 e 4 andares
do HU, respectivamente. Com caractersticas fsicas semelhantes,
possuem trs quartos com quatro leitos, oito quartos com dois leitos e
um quarto de isolamento, todos com banheiro. Ainda em relao
estrutura fsica, possui posto de enfermagem, sala de preparo de
medicao, sala de procedimentos, banheiro para funcionrios, sala de
repouso de enfermagem e copa.
As instalaes da UIM I, em razo de uma reforma, esto
provisoriamente em uma rea fsica com capacidade para 19 leitos e
aptas para a internao de pacientes nas especialidades de
gastroenterologia, pneumologia e clnica mdica geral. A UIM II possui
29 leitos, distribudos entre as especialidades de hematologia,
endocrinologia, neurologia e cardiologia. Na UIM III h tambm 29
leitos divididos nas especialidades de reumatologia, gastroenterologia,
neurologia, nefrologia, pneumologia e clnica mdica geral. Em maio
de 2013, a UIM III foi fechada por falta de recursos humanos, havendo
uma redistribuio dos leitos para as outras unidades.
A UIC I tem 30 leitos e atende as especialidades de cirurgia geral,
cabea e pescoo, gastroenterologia e buco-maxilo. A UIC II tambm
tem 30 leitos e atende as especialidades de proctologia, cirurgia plstica,
queimados, urologia e cirurgia vascular.
46
A UTD est localizada no 4 andar do HU e foi inaugurada em
julho de 1991, iniciando com atividades em DP intermitente e HD em
novembro de 1991 com trs mquinas. Em abril de 2003, a unidade
passou por uma ampla reforma estrutural e tcnica recebendo cinco
mquinas novas do Ministrio da Sade e um novo tratamento de gua,
com Osmose Reversa. Na poca, a capacidade de atendimento era de 12
pacientes para HD, distribudos em trs turnos, mantendo uma mquina
reserva para atendimento dos pacientes da UTI e da Emergncia (EMG),
mais dois leitos disponveis para DP. Esta deixou de ser realizada em
2006 por conta do quadro funcional deficiente e pela demanda reduzida
na poca.
Atualmente, com a aquisio de mais quatro mquinas de HD e
uma osmose reversa em abril de 2012, a unidade tem capacidade para
atender 21 pacientes por dia distribudos em trs turnos e mais trs
pacientes na UTI, ficando duas mquinas permanentemente nesta
unidade. Esta unidade conta com um quadro funcional de quatro
mdicos nefrologistas, trs enfermeiras, dez tcnicos de enfermagem e
dois auxiliares de enfermagem. Como suporte h ainda o servio de
nutrio, psicologia e servio social.
A UTD atende os pacientes crnicos em programa de
hemodilise de segunda sexta-feira e ainda os pacientes adultos
hospitalizados no HU com indicao de hemodilise.
Nos finais de semana segue uma escala de sobreaviso, ficando
um mdico nefrologista, um enfermeiro e um tcnico de enfermagem
para atender os casos de emergncia com avaliao prvia do
nefrologista.
6.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO
Os participantes envolvidos nesta atividade foram os enfermeiros
das UIMs I, II e III e UICs I e II. Dos 40 enfermeiros lotados nas UIMs
e UICs seis estavam de frias neste perodo, sendo realizado o convite
pessoalmente pela pesquisadora a 34 enfermeiros, onde foram expostos
o objetivo e os mtodos a serem utilizados na pesquisa. Participaram 11
enfermeiros, sendo nove do sexo feminino e dois do sexo masculino. A
faixa etria do grupo variou entre 25 e 57 anos. Em relao ao tempo de
profisso, a maioria tinha de um a cinco anos, sendo que o mais
experiente possua 32 anos de atividade.
Todos tinham ps-graduao lato sensu, sendo que sete buscaram ps-graduao stricto sensu, um doutorado finalizado e outro em
andamento, um mestrado acadmico em andamento e quatro mestrados
47
profissionais em andamento. Todos os participantes so servidores
pblicos federais, sendo que dois tambm tinham outro vnculo
empregatcio.
Como critrio de incluso estabeleceu-se o tempo mnimo de trs
meses de atuao nas respectivas unidades de estudo, pois nesse perodo
o participante j estaria familiarizado com a dinmica da unidade.
Foram excludos do estudo os enfermeiros que estavam em frias ou
afastados para tratamento de sade no perodo de coleta de dados.
6.4 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado
elaborado pela autora deste estudo, sendo constitudo de duas partes: a
primeira referente a caractersticas sciodemogrficas e profissionais
dos participantes e a segunda com perguntas abertas (APNDICE B)
para conduzir o grupo focal com finalidade de identificar a percepo
dos enfermeiros em relao s aes de cuidados de enfermagem ao
paciente com DRC submetido HD e as necessidades de cuidados que
orientaram a construo do plano de ao.
A opo pelo grupo focal como tcnica de coleta de dados
justifica-se pela possibilidade de uma melhor interao entre
pesquisador e participantes.
O grupo focal como tcnica de coleta e de anlise de dados
representa uma nova possibilidade metodolgica para as pesquisas
qualitativas. Constitui uma importante estratgia pela sua capacidade
interativa e problematizadora, inserindo os participantes da pesquisa no
contexto das discusses de anlise e sntese que contribuem com o
repensar de atitudes, concepes, prticas e polticas sociais. Tambm
considerado uma ferramenta de gesto, sendo um mtodo que pode
auxiliar na organizao do processo de trabalho da enfermagem e sade,
pela possibilidade de analisar as potencialidades e fragilidades internas,
assim como as oportunidades e desafios externos, que requerem
adaptaes (BACKES et al, 2011).
6.5 PROGRAMAO DAS AES NO GRUPO FOCAL
Neste estudo, todas as reunies do grupo focal aconteceram no
HU, em sala pr-definida, com cadeiras dispostas em crculo,
objetivando propiciar uma melhor interao do grupo. A durao mdia
foi de uma hora uma hora e trinta minutos utilizando-se o gravador
como recurso para auxiliar no registro das falas.
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Em um primeiro momento a pesquisadora realizou o convite e
apresentou a proposta do trabalho, de forma individual, aos enfermeiros
das UIs, sendo que neste abordagem foi observada boa aceitao.
Muitos relataram e demonstraram grande interesse pela temtica
acreditando ser uma oportunidade de aprendizado, discusso e reflexo,
pois j nesse momento alguns relataram sentir a necessidade de uma
padronizao dos cuidados de enfermagem ao paciente submetido HD.
Posteriormente, foi agendado o dia, horrio e local para as
reunies, sendo que estas foram realizados no turno da tarde e em dois
horrios: s 14 horas e s 17 horas. A proposta inicial era realizar os
encontros por turno de trabalho, no entanto, quando os
convitesindividuais foram feitos, os enfermeiros do turno da manh
sugeriram que os encontros ocorressem aps a passagem de planto e
preferiram se organizar para participar das reunies no horrio das 14 ou
17 horas a vir em outro horrio. J os enfermeiros do turno da noite
destacaramque em alguns plantes seria invivel a ausncia do
enfermeiro da unidade, mesmo que por pouco tempo e ento sugeriram
que os encontros acontecessem antes da passagem de planto do
noturno. Assim, em consulta com aqueles que demonstraram interesse
em participar da pesquisa esta pareceu a melhor opo encontrada.
Outro aspecto que se observou foi que muitos dos in