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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR POLYDORO ERNANI DE SÃO THIAGO MESTRADO PROFISSIONAL GESTÃO DO CUIDADO EM ENFERMAGEM ÁREA TEMÁTICA: POLÍTICAS E GESTÃO DO CUIDADO GISELE VIEIRA COMICHOLI GERENCIANDO AS AÇÕES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE SUBMETIDO À HEMODIÁLISE FLORIANÓPOLIS 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA …€¦ · Gerenciando as ações de cuidados de enfermagem ao paciente submetido à hemodiálise / Gisele Vieira Comicholi ; orientadora,

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    HOSPITAL UNIVERSITRIO PROFESSOR POLYDORO

    ERNANI DE SO THIAGO

    MESTRADO PROFISSIONAL GESTO DO CUIDADO EM

    ENFERMAGEM

    REA TEMTICA: POLTICAS E GESTO DO CUIDADO

    GISELE VIEIRA COMICHOLI

    GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE

    ENFERMAGEM AO PACIENTE SUBMETIDO

    HEMODILISE

    FLORIANPOLIS

    2013

  • Gisele Vieira Comicholi

    GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE

    ENFERMAGEM AO PACIENTE SUBMETIDO

    HEMODILISE

    Dissertao apresentada ao Programa

    de Ps-Graduao em Enfermagem, da

    Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito bsico para

    obteno do ttulo de Mestre Profissional em Gesto do Cuidado em

    Enfermagem - rea de Concentrao: Polticas e Gesto do Cuidado.

    Orientadora: Dra. Alacoque

    Lorenzini Erdmann

    Linha de Pesquisa: Administrao em Enfermagem e Sade

    FLORIANPOLIS

    2013

  • Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor,

    atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.

    Comicholi, Gisele Vieira Gerenciando as aes de cuidados de enfermagem ao

    paciente submetido hemodilise / Gisele Vieira Comicholi

    ; orientadora, Dr Alacoque Lorenzini Erdmann -

    Florianpolis, SC, 2013.

    124 p.

    Dissertao (mestrado profissional) - Universidade

    Federal de Santa Catarina, Centro de Cincias da Sade.

    Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.

    Inclui referncias

    1. Enfermagem. 2. Doena renal crnica. 3. Dilise renal.

    4. Cuidado de enfermagem. 5. Planejamento de assistncia

    ao paciente. I. Erdmann, Dr Alacoque Lorenzini. II.

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem. III. Ttulo.

  • Gisele Vieira Comicholi

    GERENCIANDO AS AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM

    AO PACIENTE SUBMETIDO HEMODILISE

    Esta Dissertao foi submetida ao processo e avaliao pela Banca

    Examinadora para obteno de Ttulo de: MESTRE PROFISSIONAL

    EM GESTO DO CUIDADO EM ENFERMAGEM

    ________________________________________

    Prof Dra. Francine Lima Gelbeck

    Coordenadora do Programa

    Banca examinadora:

    ________________________________________

    Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann

    Presidente

    ________________________________________

    Dra. Lucia Nazareth Amante

    Membro

    ________________________________________

    Dra. Jordelina Schier

    Membro

    ________________________________________

    Dra. Juliana Balbinot Reis Girondi

    Membro

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecer pelo apoio, incentivo e dedicao de pessoas que se

    fizeram presente nesta caminhada mais que necessrio, uma

    obrigao. Sou grata a todos que fizeram parte deste processo.

    Primeiramente agradeo a Deuspor se fazer presente em todos os

    momentos da minha vida, dando-me fora e coragem para enfrentar as

    dificuldades.

    Ao meu filho HIGOR, minha maior conquista, meu grande amor

    e minha razo de viver.

    Aos meus pais OSCAR COMICHOLI FILHO e ELITE

    VIEIRA COMICHOLI pelo amor, carinho, dedicao e pelo exemplo

    de ser humano que vocs representam para mim.

    Ao meu irmo WILLIAM VIEIRA COMICHOLI pelo apoio,

    convvio e ao meu sobrinho NATHAN CHEREM VIEIRA

    COMICHOLI, a quem tanto amo.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA,

    instituio que proporcionou a minha formao, na graduao, na

    especializao, no mestrado, e na qual sou servidora com muito orgulho.

    Ao HOSPITAL UNIVERSITRIO PROFESSOR

    POLYDORO ERNANI DE SO THIAGO e DIREO DE

    ENFERMAGEM, pelo empenho e incentivo na busca da capacitao

    dos profissionais de enfermagem.

    professora Dra. ALACOQUE LORENZINI ERDMANN

    que me orientou nesse estudo, compartilhou comigo seus

    conhecimentos, incentivou e acreditou em meu potencial.

    Dra. ALINE LIMA PESTANA MAGALHES que foi uma

    grande companheira em todo o processo, no medindo esforos para se

    fazer presente nos momentos de dificuldade.

    s professoras Dra. JULIANA BALBINOT REIS GIRONDI,

    Dra. JORDELINA SCHIER, Dra. LUCIA NAZARETH AMANTE

    e Dra. SUZINARABEATRIZ SOARES DE LIMA,componentes da

  • banca examinadora que se dispuseram a contribuir e a orientar,

    possibilitando o desenvolvimento deste estudo. Fui privilegiada de

    poder escolher pessoas que admiro como profissional e ser humano.

    Aos COLEGAS DO MESTRADO que me acolheram,

    apoiaram, compartilharam suas experincias, alegrias e angstias.

    Aos colegas do GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM

    ADMINISTRAO E GERNCIA DO CUIDADO EM ENFERMAGEM (GEPADES) pela convivncia, amizade e

    companheirismo.

    Aos COLEGAS DA UNIDADE DE TRATAMENTO

    DIALTICO pelo apoio e incentivo durante todo o processo. Agradeo

    especialmente s Enfermeiras ALZIRA TESTONI e NGELA

    LUCKNER GOULART CARDOSO pela ateno, compreenso,

    estmulo e principalmente pela ajuda oferecida nas coberturas de escala.

    O apoio de vocs foi muito importante para a concluso deste curso.

    Aos Enfermeiros das UNIDADES DE INTERNAO

    MDICA E CIRRGICA que se dispuseram a participar e contribuir

    com o estudo.

    Enfermeira Dra. JOSIANE DE JESUS que me incentivou e

    acompanhou nesta caminhada.

    s amigas ALICIANA DA SILVA LOPES, MICHELI

    EDIANEZ GAIESKI E FABIANA MINATTI DE PINHO que

    sempre se fizeram presentes nos momentos de dificuldade e de angstia,

    levando ateno e carinho.

    A todas as pessoas que no foram aqui citadas, mas que de

    alguma forma contriburam para o xito dessa jornada, o meu muito

    obrigada!

  • COMICHOLI, Gisele Vieira. Gerenciando as aes de cuidados de

    enfermagem ao paciente submetido hemodilise. 2013. 124p.

    Dissertao (Mestrado Profissional Gesto do Cuidado em

    Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem,

    Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2013.

    Orientadora: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann

    Linha de Pesquisa: Administrao em Enfermagem e Sade

    RESUMO

    As transformaes econmicas e sociais do Brasil ocasionaram

    modificaes no perfil demogrfico e de morbimortalidade da

    populao, aumentando a expectativa de vida e a ascenso das doenas

    crnicas, dentre as quais se destaca a doena renal. O portador de

    doena renal crnica pode ser tratado conservadoramente, enquanto a

    qualidade de vida estiver preservada. As modalidades para o tratamento

    da doena renal crnica so a hemodilise, dilise peritoneal ou

    transplante renal. Em face aos aspectos inerentes ao cuidado do paciente

    com doena renal crnica em hemodilise, fundamental conhecer a

    percepo dos enfermeiros quanto aos cuidados oferecidos a esses

    pacientes durante a hospitalizao. A hemodilise exige cuidado

    especializado, sendo um grande desafio para os enfermeiros. Esta

    pesquisa teve como objetivo construir coletivamente um plano de aes

    de cuidados de enfermagem pr e ps-dilise ao paciente hospitalizado

    submetido Hemodilise. Trata-se de um estudo de carter descritivo e

    construtivo com abordagem qualitativa, inspirado nos fundamentos e

    instrumentos da pesquisa-ao. Para uma melhor compreenso e

    sustentao terica, foi fundamentado tambm no pensamento complexo

    proposto principalmente por Edgar Morin. Para a coleta de dados foi

    utilizado um roteiro semiestruturado constitudo de duas partes: a

    primeira referente a caractersticas sciodemogrficas e profissionais

    dos participantes e a segunda com perguntas abertas para conduzir o

    grupo focal. Esse foi desenvolvido em dois momentos. O primeiro foi

    realizado com o intuito de identificar a percepo dos enfermeiros em

    relao ao cuidado de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido

    hemodilise, bem como os cuidados de enfermagem pr e ps-dilise.

    O segundo momento consistiu em elaborar, implementar e avaliarum

    plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado

    com doena renal crnica submetido Hemodilise. A pesquisa foi

  • realizada em um hospital escola do sul do pas, no perodo de novembro

    de 2012 a julho de 2013. Participaram treze enfermeiros que atuam nas

    unidades de internao mdica I, II e III e unidade de internao

    cirrgica I e II. Para anlise dos dados qualitativos foram utilizados os

    princpios da Anlise de Contedo descrita por BARDIN. A partir dos

    relatos construram-se os seguintes manuscritos: I - Cuidado de

    enfermagem ao paciente hospitalizado submetido hemodilise:

    percepo dos enfermeiros e II - Aes de cuidado de enfermagem ao

    paciente hospitalizado submetido hemodilise: uma construo

    coletiva. Conclui-se que a complexidade do sistema de sade, a falta de

    acesso para o diagnstico e tratamento, a mudana no estilo de vida do

    paciente e da famlia geram grande angstia no s ao paciente como

    para toda equipe de sade por sentir a necessidade de uma rede de apoio

    e por perceber uma expectativa frustrada de cura por parte dos pacientes.

    O estudo realizado possibilitou aos enfermeiros a oportunidade de

    repensar a prtica. Os enfermeiros necessitam de instrumentalizao

    para cuidar e planejar o cuidado, sendo que o plano de aes de

    cuidados de enfermagem elaborado mostrou-se um aliado para

    sistematizao da assistncia de enfermagem de qualidade, orientando

    as aes necessrias para o cuidado ao paciente com doena renal

    crnica submetido hemodilise.

    Descritores: Enfermeiros. Insuficincia renal crnica. Dilise renal.

    Cuidado de enfermagem. Unidade de internao. Planejamento de

    assistncia ao paciente.

  • COMICHOLI, Gisele Vieira. Managing the actions of nursing care to

    patients undergoing hemodialysis. 2013. 124p. Dissertation (Master

    Professional Nursing Care Management) Post-Graduate program in

    Nursing, Federal University of Santa Catarina, Florianpolis, 2013.

    Advisor: Dr. Alacoque Lorenzini Erdmann.

    ABSTRACT

    Social and economic transformations of Brazil caused changes in the

    demographic profile and in the morbidity and mortality of the

    population, increasing life expectancy and the rise of chronic diseases,

    where it is highlighted the kidney disease. The bearer of chronic kidney

    disease can be treated conservatively, while the quality of life is

    preserved. The modalities for the treatment of chronic kidney disease

    are hemodialysis, peritoneal dialysis or kidney transplant. In relation to

    aspects inherent in the care of the patient with chronic kidney disease on

    hemodialysis, it is essential to meet the nurses' perception as to the care

    offered to these patients during hospitalization. Hemodialysis requires

    specialized care being a big challenge for nurses. This research aimed to

    build collectively a plan of nursing care actions pre and post dialysis to

    hospitalized patients undergoing hemodialysis. This is a descriptive and

    constructive character study with a qualitative approach, inspired in the

    foundations and instruments of action research. For a better

    understanding and theoretical support, it was based on the proposed

    Edgar Morins complex thinking. For data collection a semi-structured

    script consisting of two parts was used: the first concerns the socio

    demographic and professional characteristics of the participants and the

    second with open-ended questions to conduct the focus group. This one

    it was developed in two phases. The first was conducted in order to

    identify the perceptions of nurses in relation to nursing care for

    hospitalized patients undergoing hemodialysis and nursing care pre and

    ost-dialysis. The second time was to develop, implement and evaluate

    an action plan of nursing care to hospitalized patients with chronic

    kidney disease undergoing Hemodialysis. The research was carried out

    in a teaching hospital in the south of the country, in the period of

    November 2012 to July 2013. Thirteen nurses working in inpatient units

    I, II, and III medical and surgical inpatient unit I and II have

    participated. For the analysis of qualitative data the principles of

    Content Analysis described by BARDIN were used. From the reports

    the following manuscripts were built: I - Nursing Care for hospitalized

  • patients undergoing hemodialysis: perceptions of nurses and II - Nursing

    care actions to hospitalized patients undergoing to hemodialysis: a

    collective construction. It is concluded that the complexity of the health

    system, the lack of access to diagnosis and treatment, the change in the

    lifestyle of the patient and family generate great anxiety not only to the

    patient as to all health team for feeling the need for a support network

    and by realizing a frustrated expectation of cure on the part of patients.

    The study made it possible to nurses the opportunity to rethink the

    practice. Nurses need to take care of instrumentalization and plan for

    care, and the elaborated nursing care plan of action was an ally for

    systematization of nursing care quality, guiding the actions needed for

    the care of the patient with chronic renal disease undergoing to

    hemodialysis.

    Key Words: Nurses. Chronic renal failure.Kidneydialysis.Nursing

    care.Inpatient unit.Planning of patientcare.

  • COMICHOLI, Gisele Vieira. Administrando las acciones de los

    cuidados de enfermera al paciente sometidos a hemodilisis. 2013. 124p. Tesis (Maestra Profesional en Gestin del Cuidado en

    Enfermera) Programa de Posgrado en Enfermera de la

    Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2013.

    Asesora: Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann.

    RESUMEN

    Los cmbios econmicos y sociales en Brasil provocaron cambios en el

    perfil demogrfico y de morbilidad de la poblacin, aumentando la

    expectativa de vida y el aumento de las enfermedades crnicas, entre las

    que se destaca la enfermedad renal. El titular de la enfermedad renal

    crnica puede ser tratada de forma conservadora, mientras que la calidad

    de la vida se conserva. Las modalidades para el tratamiento de la

    enfermedad renal crnica son la hemodilisis, la dilisis peritoneal o

    trasplante renal. En relacin con los aspectos inherentes a la atencin de

    los pacientes con enfermedad renal crnica en dilisis, es esencial

    conocer la percepcin de los enfermeros con respecto a la atencin

    prestada a estos pacientes durante la hospitalizacin. La hemodilisis

    requiere atencin especializada siendo un gran desafo para los

    enfermeros. Esta investigacin tuvo como objetivo construir

    colectivamente un plan de accin de la atencin pre y post-dilisis al

    paciente hospitalizado sometido a hemodilisis. Se trata de un estudio

    descriptivo con un carcter cualitativo y enfoque constructivo, inspirado

    en los fundamentos y herramientas de la investigacin-accin. Para una

    mejor comprensin y apoyo terico, fue fundamentado tambin en el

    pensamiento complejo propuesto principalmente por Edgar Morin. Para

    la recoleccin de datos fue utilizado unguin semiestructurado

    constituido de dos partes: el primero relacionado con las caractersticas

    socio demogrficas y profesionales de los participantes y el segundo con

    preguntas abiertas para guiar el grupo focal. Esta se desarroll en dos

    momentos. El primero fue realizado con el fin de identificar la

    percepcin de los enfermeros al paciente hospitalizado sometido a

    hemodilisis, y tambin los cuidados de enfermera de pre y post-

    dilisis. En el segundo momento consisti en el desarrollo,

    implementacin y evaluacin de un plan de accin de cuidados de

    enfermera a los pacientes hospitalizados con enfermedad renal crnica

    sometidos a hemodilisis. La investigacin se realiz en un hospital

    universitario en el sur de Brasil, a partir de noviembre 2012 hasta julio

  • 2013. Participaron trece enfermeros que trabajan en unidades de

    hospitalizacin mdica I, II y III y la unidad de hospitalizacin

    quirrgica I y II. Para el anlisis de datos cualitativos se utilizaron los

    principios de anlisis de contenido descrita por BARDIN. Por medio de

    los informes se construyeron en los siguientes manuscritos: I - El

    cuidado de enfermera al paciente hospitalizado sometido a

    hemodilisis: percepciones de los enfermeros y II - Las acciones de

    cuidado de enfermera al paciente hospitalizado sometido a

    hemodilisis: una construccin colectiva. Se conclu que la complejidad

    del sistema de salud, la falta de acceso al diagnstico y tratamiento, el

    cambio en el estilo de vida del paciente y su familia provoca gran

    angustia no slo para el paciente sino para todo el equipo de salud a

    sentir la necesidad de una red de apoyo y por percibir una expectativa

    frustrada de curacin por parte de los pacientes. El estudio permiti a los

    enfermeros la oportunidad de repensar la prctica. Los enfermeros

    necesitan de herramientas para cuidar y planear el cuidado, siendo que

    el plan de acciones de cuidados de enfermera elaborado se result ser

    un aliado para la sistematizacin del cuidado de enfermera de calidad,

    orientando las acciones necesarias para el cuidado al paciente con

    enfermedad renal crnica sometidos a hemodilisis.

    Descriptores: Enfermeros. La insuficiencia renal crnica. Dilisis renal.

    Cuidado de enfermera. Unidad de hospitalizacin. Planificacin de la

    atencin al paciente.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAAE Certificado de Apresentao para Apreciao tica

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CNS Conselho Nacional de Sade

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    DCNTs Doenas Crnicas No Transmissveis

    DP Dilise Peritoneal

    DRA Doena Renal Aguda

    DRC Doena Renal Crnica

    DRCT Doena Renal Crnica Terminal

    EMG Emergncia

    FAV Fstula Arteriovenosa

    HD Hemodilise

    HU Hospital Universitrio

    MP/PEN Mestrado Profissional/Programa de Ps Graduao em

    Enfermagem

    MS Ministrio da Sade

    PA Presso Arterial

    PE Processo de Enfermagem

    PNSP Programa Nacional de Segurana do Paciente

    SAE Sistematizao de Assistncia de Enfermagem

    SF Soro fisiolgico

    SN Se Necessrio

    SUS Sistema nico de Sade

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TRS Terapia Renal Substitutiva

    UFSC Universidade do Estado de Santa Catarina

    UI Unidade de Internao

    UIC Unidade de Internao Cirrgica

    UIM Unidade de Internao Mdica

    UTD Unidade de Tratamento Dialtica

    UTI Unidade de Terapia Intensiva

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Descrio das etapas da coleta de dados. ........................... 52 Quadro 2 Ficha de Caracterizao ................................................... 112 Quadro 3 Perguntas Grupo Focal ..................................................... 113 Quadro 4 Roteiro da Avaliao ........................................................ 114 Quadro 5 Identificao ..................................................................... 115 Quadro 6 Aes de Cuidado Pr-Dialtico ....................................... 115 Quadro 7 Evoluo Transdilise ...................................................... 116 Quadro 8 Aes de Cuidado Ps-Dialtico ...................................... 117 Quadro 9 Parecer Consubstanciado (parte I).................................... 119 Quadro 10 Parecer Consubstanciado (parte II) ................................ 120 Quadro 11 Parecer Consubstanciado (parte III) ............................... 121 Quadro 12 Instruo Normativa ....................................................... 122

  • SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................ 14

    LISTA DE QUADROS ....................................................................... 16

    1 INTRODUO ............................................................................. 21

    2 OBJETIVO..................................................................................... 25 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................ 25

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................. 25

    3 REVISO DE LITERATURA .................................................... 26 3.1 TRATAMENTO ...................................................................... 28

    3.1.1 Dilise ............................................................................ 28

    3.1.1.1 Hemodilise ..................................................... 28

    3.1.1.2 Dilise Peritoneal ............................................ 29

    3.1.2 Transplante Renal ........................................................... 29

    3.2 PROCESSO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA ................ 30

    4 REFERENCIAL TERICO ........................................................ 33

    5 MARCO CONCEITUAL .............................................................. 38

    5.1 SER HUMANO ....................................................................... 38

    5.2 CUIDADO ............................................................................... 39

    5.3 ENFERMAGEM ..................................................................... 39

    5.4 CUIDADO EM ENFERMAGEM ........................................... 40

    5.5 AMBIENTE DE CUIDADO ................................................... 41

    5.6 DOENA RENAL CRNICA ............................................... 41

    5.7 PLANO DE AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA

    SUBMETIDO HEMODILISE .......................................... 41

    5.8 COMPLEXIDADE DO CUIDADO AO PACIENTE COM

    DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO

    HEMODILISE ...................................................................... 42

    6 METODOLOGIA .......................................................................... 43

    6.1 TIPO DE ESTUDO ................................................................... 43

    6.2 LOCAL DO ESTUDO ............................................................ 44

    6.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ........................................... 46

    6.4 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ........ 47

    6.5 PROGRAMAO DAS AES NO GRUPO FOCAL ........ 47

    6.5.1 Primeira Etapa ................................................................ 48

    6.5.2 Segunda Etapa ................................................................ 49

    6.6 ANLISE DOS DADOS ........................................................ 52

    6.7 ASPECTOS TICOS DA PESQUISA-AO ....................... 53

    7 RESULTADOS .............................................................................. 54

  • 7.1 MANUSCRITO 1: CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE HOSPITALIZADO SUBMETIDO

    HEMODILISE: PERCEPO DOS ENFERMEIROS ....... 54

    7.2 MANUSCRITO 2: CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE HOSPITALIZADO SUBMETIDO

    HEMODILISE: UMA CONSTRUO COLETIVA .......... 77

    8 CONSIDERAES FINAIS ........................................................ 97

    REFERNCIAS .................................................................................. 98

    APNDICES ...................................................................................... 109

    ANEXOS ............................................................................................ 118

  • 21

    1 INTRODUO

    O cuidado envolve atos humanos no processo de assistir o sujeito,

    a famlia ou a sociedade, de tal forma, que envolve de maneira

    igualitria, o relacionamento interpessoal fundamentado em valores

    humansticos e em conhecimento cientfico (SILVA; CAMPOS;

    PEREIRA, 2011).

    Boff (2005) define o cuidado como desvelo, solicitude,

    diligncia, zelo e ateno. Implica num modo de ser mediante o qual a

    pessoa sai de si e se centra no outro. um modo de estar com o outro,

    no que se refere s questes especiais da vida dos cidados e de suas

    relaes sociais, dentre estas o nascimento, a promoo e a recuperao

    da sade e a prpria morte (SOUZA et al, 2005).

    Para Waldow (2007) o cuidado consiste em uma forma de viver,

    ser, expressar-se, sendo uma postura tica e esttica frente ao mundo.

    Torna-se um compromisso com o estar no mundo, contribuindo para o

    bem estar geral, para a preservao da natureza, para a promoo das

    potencialidades da dignidade humana e da espiritualidade. Na histria

    da civilizao humana o cuidar sempre esteve presente nas diferentes

    dimenses do processo de viver, adoecer e morrer, mesmo antes do

    surgimento das profisses.

    Na Enfermagem, o cuidado humano e o cuidar so vistos como

    o ideal moral. Cuidado consiste de esforos transpessoais, de ser

    humano para ser humano, no sentido de proteger, promover e preservar

    a humanidade, ajudando pessoas a encontrarem significado na doena,

    no sofrimento, na dor e na prpria existncia (WALDOW, 2007).

    Na perspectiva da complexidade, o cuidado de enfermagem

    transcende as aes tcnico-prescritivas, pontuais e lineares e alcana as

    questes que envolvem o cuidar do outro e do ambiente onde est

    inserido, valorizando a singularidade dos seres humanos, na tentativa de

    discutir o cuidado de forma ampla e contextualizada (PIEXAK;

    BACKES; SANTOS, 2013).

    O processo de trabalho do enfermeiro constitui-se de diferentes

    dimenses complementares, dentre as quais se ressaltam a dimenso

    assistencial e a gerencial. Na primeira, o enfermeiro adota como objeto

    de interveno as necessidades de cuidado de enfermagem e tem por fim

    o cuidado integral; na segunda, o enfermeiro adota como objeto a

    organizao do trabalho e os recursos humanos em enfermagem, com o

    intuito de criar e praticar condies adequadas de cuidado aos pacientes

    e de desempenho para os trabalhadores (FELLI; PEDUCCI, 2005).

  • 22

    Willig, Lenardt e Trentini (2006) identificaram que o

    gerenciamento do cuidado visto como sistematizao, avaliao,

    planejamento e suporte para um cuidado eficaz. Isto evidenciado

    como sendo um cuidar sistematizado, amplo, que inclui gerncia,

    assistncia, educao e pesquisa.

    Azzolin e Peduzzi (2007) distinguiram gerenciamento do cuidado

    e gerenciamento da assistncia sade, considerando que, em ambos os

    sentidos, tornam-se indispensveis articulao das duas dimenses que

    so complementares e interdependentes gerenciar e cuidar. Deste

    modo, o enfermeiro gerencia o cuidado quando o planeja, delega ou

    executa, quando prev e prov recursos, capacita sua equipe, educa o

    paciente, interage com outros profissionais, ou seja, em todas as

    atividades realizadas para que se concretizem o cuidado.

    O enfermeiro gerente assume a organizao do trabalho da equipe

    de enfermagem, envolvendo aes de cuidado direto e indireto, ou seja,

    volta-se para a gerncia do cuidado, possibilitando o desenvolvimento

    de uma prtica profissional distinta (TORRES et al, 2011).

    A Sistematizao da Assistncia em Enfermagem (SAE) tem

    apresentado-se como um caminho promissor para o desenvolvimento do

    trabalho da enfermagem. Muitos enfermeiros vm aliando o

    conhecimento implcito decorrente da prtica com o conhecimento

    cientfico, para identificar nos pacientes necessidades no atendidas ou

    atendidas inadequadamente, para planejar e implementar aes e

    intervenes efetivas, avaliar os resultados dos cuidados e possibilitar

    um registro adequado dos cuidados prestados. A construo e utilizao

    de um instrumento de coleta de dados de enfermagem almeja a

    sistematizao da prtica assistencial, possibilitando maior visibilidade

    das aes de enfermagem implementadas, excelncia no cuidado e

    principalmente valorizao da profisso (NETO; FONTES; NOBREGA,

    2013).

    Enquanto processo organizacional, a SAE oferece subsdio para

    desenvolver mtodos ou metodologias interdisciplinares e humanizadas

    de cuidado. Assim necessrio que o profissional amplie e aprofunde os

    saberes especficos de sua rea de atuao, sem esquecer o enfoque

    interdisciplinar e/ou multidimensional. A busca pelo aprimoramento

    contnuo de sua prtica contribui para que as aes de cuidado de

    enfermagem sejam cada vez mais embasadas em princpios cientficos,

    o que refletir na melhor qualidade da assistncia (NASCIMENTO et al,

    2008).

    No contexto da hemodilise, Prata (2011) relata que o cuidado de

    enfermagem aos pacientes com Doena Renal Crnica (DRC)

  • 23

    caracteriza-se por aes que necessitam de um conhecimento tcnico-

    cientfico qualificado ao se utilizar de tecnologias especficas.

    Prata (2011) pontua ainda que os pacientes com doena renal

    demandam uma ateno especializada, tendo em vista as vrias

    internaes, dificuldade do paciente em aceitar o diagnstico, presena

    de leses degenerativas/crnicas, modificaes no cotidiano do paciente

    e dos familiares, informao insuficiente sobre sua patologia e o

    manuseio de tecnologias de ponta durante a assistncia, as quais

    demandam atualizaes constantes do conhecimento terico e prtico na

    realizao.

    O cuidado transcende a dimenso tcnica, sendo necessrio o

    estabelecimento de relao teraputica e de confiana (RODRIGUES;

    BOTTI, 2009).

    Entretanto, a enfermagem adequou o processo de trabalho aos

    procedimentos, tcnicas e rotinas institucionalizadas nos servios,

    distanciando-se do cuidado, e das mudanas que seriam necessrias no

    cotidiano da assistncia e do cuidado, do ensino e da pesquisa para a

    valorizao e crescimento da SAE como instrumento para sua prtica

    (PEREIRA et al, 2009).

    A autora deste trabalho atua como enfermeira assistencial em um

    hospital universitrio h dez anos, sendo que anteriormente atuou por

    seis anos em uma Unidade de Internao Mdica (UIM), dois anos na

    Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e atualmente desenvolve atividades

    como enfermeira assistencial na Unidade de Tratamento Dialtico

    (UTD).

    Durante sua atuao como enfermeira percebia uma lacuna no

    conhecimento e na prtica assistencial no que se refere ao cuidado ao

    paciente hospitalizado que necessitava de Terapia Renal Substitutiva

    (TRS), em especial os que requeriam hemodilise (HD). Apesar de a

    UTD disponibilizar um manual de normas e rotinas, foi observada uma

    carncia de informao e aes de cuidados de enfermagem

    diferenciadas entre as Unidades de Internao (UIs).

    Os pacientes internados na UI que necessitam de HD so

    encaminhados UTD conforme programao da unidade de dilise

    momento no qual dvidas em relao aos cuidados emergiam, sendo que

    muitas vezes, fazia-se necessrio o contato com a enfermeira da UTD

    para alguns esclarecimentos.

    Durante sua atuao na UTD, a referida autora vivenciou grandes

    transformaes, como o aumento crescente da demanda de pacientes em

    HD, a aquisio de novos equipamentos, a ampliao do espao fsico e

    consequentemente a reestruturao do servio. Nesse momento, a

  • 24

    equipe passava por um processo de capacitao e atualizao. No

    entanto, foi percebida ainda a necessidade de compartilhar o

    conhecimento com os profissionais que atuam nas UIs pelo fato de que

    alguns dos cuidados iniciam no pr-dilise e outros so continuados no

    ps-dilise, que so realizados nas UIs.

    Nesse contexto, a autora passou ento a refletir sobre o cuidado

    que esses pacientes recebiam antes e aps a HD nas unidades em que se

    encontravam internados. Foi a partir desta reflexo que surgiu o

    interesse em desenvolver este estudo por acreditar que se faz necessria

    a uniformizao das aes, oportunizando um cuidado mais seguro e de

    qualidade.

    A partir do cenrio exposto, apresenta-se a seguinte pergunta de

    pesquisa: Quais so os cuidados de enfermagem pr e ps-dialticos

    que compem o plano de aes de cuidados de enfermagem ao

    paciente hospitalizado submetido HD? A construo coletiva de um plano de aes de cuidados de

    enfermagem possibilitar ao enfermeiro selecionar aes adequadas

    baseadas nas evidncias cientficas, bem como nas necessidades

    individuais do paciente. Fornecer ainda subsdios que contribuam para

    a (re)organizao do servio e da qualificao da assistncia,

    beneficiando tanto os pacientes em condies crnicas quanto a equipe

    que atua na prestao desse atendimento.

    A uniformizao e padronizao das aes de enfermagem no

    deve ser vista apenas como benefcio para a assistncia ao paciente

    hospitalizado submetido HD, mas, tambm, para subsidiar o ensino e a

    pesquisa em enfermagem.

  • 25

    2 OBJETIVO

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Construir coletivamente um plano de aes de cuidados de

    enfermagem pr e ps-dilise ao paciente hospitalizado submetido

    hemodilise.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar, a partir da prtica assistencial dos enfermeiros

    atuantes nas unidades de internao, qual a percepo em

    relao aos cuidados de enfermagem ao paciente

    hospitalizado submetido hemodilise;

    Elaborar coletivamente um plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido

    hemodilise, a partir das necessidades identificadas pelos

    enfermeiros das unidades de internao;

    Implementare avaliar o plano de aes de cuidados de enfermagem ao paciente hospitalizado submetido

    hemodilise juntamente com os enfermeiros atuantes nas

    unidades de internao.

  • 26

    3 REVISO DE LITERATURA

    As transformaes econmicas e sociais no Brasil ocasionaram

    modificaes no perfil demogrfico e de morbimortalidade da

    populao com o aumento da expectativa de vida. As doenas

    infecciosas e parasitrias, principais causas de morte no incio do sculo

    passado, cederam lugar s Doenas Crnicas No Transmissveis

    (DCNTs). Elas so as principais causas de mortalidade e incapacidade,

    caracterizadas como problemas de sade que acompanham o indivduo

    por longo perodo de tempo, necessitando de uma ateno contnua dos

    profissionais de sade (BRASIL, 2006).

    As doenas crnicas so afeces de sade que acompanham as

    pessoas por longo perodo de tempo, podendo apresentar perodos de

    piora (episdios agudos) ou melhora (BARROS et al, 2006).

    Entre as doenas crnicas que afetam a populao est a doena

    renal, que consiste em perda progressiva e geralmente irreversvel da

    funo dos rins. Em sua fase mais avanada, definida como Doena

    Renal Crnica Terminal (DRCT), os rins no conseguem mais manter a

    homeostasia do meio interno do organismo, acarretando que o indivduo

    se submeta terapia renal substitutiva (ROMO JR, 2004), (RIELLA;

    PECOITS-FILHO, 2010).

    A incidncia e a prevalncia da DRCT tm aumentado

    progressivamente, a cada ano, no Brasil e em todo o mundo. Por se

    tratar de uma doena assintomtica nos estgios iniciais, muitas vezes

    detectada tardiamente, podendo comprometer seu controle e tratamento,

    desencadeando mortalidade precoce (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011).

    De acordo com as informaes da Sociedade Brasileira de

    Nefrologia (2012), no ano de 1994 havia aproximadamente 24.000

    pacientes em tratamento dialtico, elevando-se para mais de 70.000 em

    2006 e para 73.605 em 2007. No ano de 2012 foram registrados 97.586

    pacientes de uma populao de 193,94 milhes.

    A DRC insidiosa e pode evoluir por muitos anos sem

    manifestar grandes sintomas, at atingir suas fases finais. Esta

    particularidade decorre de uma propriedade fundamental do parnquima

    renal, pois embora os rins sejam imprescindveis sobrevivncia do

    organismo, sua capacidade funcional amplamente superior ao mnimo

    necessrio (ZATS, 2010). Ainda, para o mesmo autor, outra

    caracterstica importante a capacidade dos nfrons remanescentes de

    se adaptarem a uma nova condio biolgica. No caso de perda

    considervel do parnquima renal, esses nfrons multiplicam vrias

    vezes seu ritmo de trabalho, mantendo assim nveis funcionais

  • 27

    aceitveis, ou seja, continuam eliminando os produtos indesejveis do

    metabolismo, mantm o volume extracelular, a concentrao de

    eletrlitos, a acidez e a presso osmtica constante, produzindo, ainda,

    eritropoietina e vitamina D, na sua forma ativa.

    Riella e Pecoits-Filho (2010) apresentam as quatro fases da

    reduo da capacidade renal:

    Na primeira fase h reduo de 25% da funo renal, no havendo habitualmente elevao da ureia plasmtica

    (azotemia), graas ao processo adaptativo dos nfrons

    remanescentes;

    Na segunda fase h reduo de at 75% da funo renal, ocorrendo moderada elevao da ureia plasmtica

    (azotemia), na qual o rim j no capaz de manter a

    homeostasia interna;

    Na terceira fase a funo renal fica abaixo de 20%, geralmente, as anormalidades do meio interno so mais

    graves, com azotemia severa, anemia, acidose metablica,

    hiperfosfatemia e hipercalemia;

    Na quarta fase ou tambm chamada de fase terminal, os sinais e sintomas de uremia so intensos, havendo

    necessidade de um tratamento substitutivo da funo renal,

    na forma de dilise ou transplante. Esto presentes na

    uremia sinais e sintomas, tais como:

    Distrbios hidroeletrolticos e cido-bsico: excesso de volume circulante, que se pode traduzir em

    hipertenso arterial, edema e insuficincia cardaca,

    hiperpotassemia, distrbios do clcio e do fsforo;

    Manifestaes gastrintestinais: nuseas, vmitos, anorexia, hlito urmico, sangramento gstrico;

    Manifestaes neurolgicas: parestesias, sndrome da perna irrequieta, conduo nervosa prolongada e

    paralisias;

    Manifestaes hematolgicas: anemia, que pode ser agravada pela perda de sangue nos dialisadores,

    sangramentos entre outros;

    Manifestaes cardiovasculares e pulmonares: hipertenso arterial, pleurites, coronariopatias,

    pericardites, pulmo urmico, dentre outros;

  • 28

    Alteraes sseas e articulares: podem ocorrer dores, fraturas sseas, calcificaes cutneas,

    articulares e viscerais e hiperparatireoidismo;

    Manifestaes dermatolgicas, oculares, endcrinas e psicolgicas: depresso, ansiedade e psicose.

    Esses sinais e sintomas caracterizam a Doena Renal Aguda

    (DRA) que definida pela reduo abrupta da taxa de filtrao

    glomerular que se mantm por perodos variveis de tempo, resultando

    na incapacidade dos rins para exercer as funes de excreo, manter o

    equilbrio cido-bsico e homeostase hidroeletroltico do organismo.

    Suassuna et al (2010) afirmam que 6% dos pacientes com doena crtica

    sofrem com a DRA, passvel de necessitar de Terapia Renal Substitutiva

    (TRS), sendo que a maioria dos casos ocorre em pacientes internados

    em UTI.

    3.1 TRATAMENTO

    O paciente com DRC pode ser tratado conservadoramente,

    enquanto a qualidade de vida estiver preservada. A TRS (hemodilise,

    dilise peritoneal ou transplante) somente indicada quando o paciente

    apresenta sinais de desnutrio, excesso de volume extracelular, sinais

    de neuropatia perifrica e sintomas urmicos, como nuseas e vmitos

    (RIELLA; PECOITS-FILHO, 2010).

    3.1.1 Dilise

    O tratamento dialtico uma modalidade que tem por objetivo

    remover resduos sanguneos e o excesso de lquidos, alm de manter o

    equilbrio dos eletrlitos no organismo. Este processo ocorre atravs de

    uma membrana semipermevel que pode ser artificial, como a

    hemodilise; ou biolgica, como na dilise peritoneal (FERMI, 2010).

    3.1.1.1 Hemodilise

    A hemodilise um tipo de tratamento dialtico em que a

    circulao do paciente extracorprea e o sangue, com o auxlio de uma

    bomba, passa por dentro de um dialisador (membrana artificial) que em

    contato com a soluo de dilise preparada na mquina promover a

    filtrao do sangue (FERMI, 2010).

    Para que a HD se efetive, faz-se necessrio que se tenha um

    acesso ao sistema circulatrio que permita a circulao extracorprea.

  • 29

    Uma das vias utilizadas para realizar HD so os cateteres de dupla luz,

    implantados na veia subclvia ou jugular interna. Esses cateteres podem

    ser temporrios ou permanentes. Uma alternativa a Fstula

    Arteriovenosa (FAV) que uma anastomose de uma artria a uma veia,

    muito usada em pacientes crnicos (DARONCO, 2007).

    Os pacientes submetidos HD podem apresentar algumas

    complicaes no transdilise como embolia gasosa, cimbras, reao

    pirognica, hiponatremia, hipotenso, hipoglicemia, alterao do nvel

    de conscincia, entre outros. Assim, fundamental que a equipe de

    enfermagem tenha um treinamento bsico a fim de receber instrues e

    desenvolver competncias necessrias para o exerccio de assistncia de

    enfermagem (DARONCO, 2007).

    3.1.1.2 Dilise Peritoneal

    A dilise peritoneal (DP) uma terapia na qual se utiliza a

    membrana do peritnio como membrana de troca. Uma soluo

    hipertnica infundida na cavidade peritoneal, por meio de um cateter

    (rgido ou flexvel), onde ocorre o transporte transcapilar de gua e

    solutos. Durante a DP, o peritnio funciona como uma membrana

    semipermevel para depurao de toxinas urmicas, mediante a difuso

    de solutos e ultrafiltrao induzida por agentes osmticos (PASQUAL,

    2004).

    A peritonite a principal complicao do tratamento. Episdios

    frequentes de peritonite podem inviabilizar essa tcnica de tratamento.

    A terapia exige dedicao do paciente e de sua famlia, sendo assim a

    deciso pelo mtodo deve ser conjunta (equipe de sade, paciente e

    famlia). Alm disso, devem ser levados em considerao aspectos como

    educao, higiene, moradia e estilo de vida do paciente e da famlia, que

    podem interferir no sucesso da terapia (RIELLA; PECOITS-FILHO,

    2010).

    3.1.2 Transplante Renal

    O transplante renal consiste na substituio do rim doente por um

    rim saudvel. hoje um procedimento amplamente utilizado no

    tratamento de pacientes portadores de DRC (FERMI, 2010).

    Nas ltimas dcadas, o transplante renal tem sido a melhor opo

    de tratamento da DRC tanto para pacientes em tratamento dialtico

    quanto para pacientes em tratamento conservador. Esse cenrio se d

  • 30

    pela evoluo dos agentes imunossupressores e, consequentemente,

    melhor tratamento e preveno das complicaes (PASQUAL, 2004).

    Para muitos pacientes, segundo Pasqual (2004), o transplante a

    esperana por uma vida melhor, de maior liberdade, ou seja, o fim das

    difceis sesses de HD ou de DP e da dependncia de mquinas e

    equipamentos. Esses tratamentos, ao mesmo tempo em que tornam

    possvel a sobrevivncia, escravizam e segregam. No entanto, a angstia

    de ter de encontrar um doador compatvel na famlia (doador vivo

    parente), com os amigos e conhecidos (doador vivo no parente) ou por

    meio da Central de Transplante (doador cadver) uma constante. A

    demora ou a dificuldade de encontrar um doador faz com que a

    desesperana tome conta do cotidiano do paciente, o que no raramente

    o faz desistir de lutar, s vezes, resignado e conformado com sua

    condio e seu tratamento, outras vezes, recusando-se a cumprir as

    orientaes e condutas estabelecidas, renunciando vida.

    3.2 PROCESSO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA

    O cuidado ao paciente com doena renal crnica exige do

    enfermeiro conhecimento das prticas que compem o sistema de

    cuidado, utilizando como ferramenta de trabalho a sistematizao da

    assistncia de enfermagem (SAE). Esta contribui para a autonomia e a

    cientificidade da profisso, sendo um instrumento facilitador da

    qualidade da assistncia (FORTES; GREGGIANIN; LEAL, 2006).

    A SAE um importante instrumento gerencial empregado para o

    planejamento, execuo, controle e avaliao das aes de cuidado de

    enfermagem direto e indireto aos pacientes (GONALVES et al, 2007).

    Como cincia, a enfermagem tem buscado a estruturao dos seus

    valores profissionais, abandonando o uso de intervenes ao acaso, sem

    planejamento, justificativa cientfica e reflexo. O processo de cuidado

    de enfermagem a representao maior do mtodo cientfico da

    profisso, sendo direcionado pela SAE, atravs da qual ocorre o

    desenvolvimento e organizao do trabalho da equipe onde o enfermeiro

    responsvel. Por meio da SAE possvel detectar as prioridades de

    cada paciente em relao as suas necessidades, fornecendo assim, uma

    direo para as provveis intervenes, correlacionando-as com a

    realidade em que atua (MARIA; QUADROS; GRASSI, 2012).

    O trabalho do enfermeiro regido por vrias leis, entre elas, a

    Resoluo N 358 do COFEN que institui a implantao da SAE em

  • 31

    todas as unidades de atendimento de sade que forneam assistncia de

    enfermagem (COFEN, 2009).

    A SAE empregada como metodologia assistencial,

    compreendida como aplicao prtica de uma teoria de enfermagem na

    assistncia aos pacientes, podendo utilizar ou no o Processo de

    Enfermagem (PE) ou partes do mesmo. todo o planejamento

    registrado da assistncia que compreende desde a criao e

    implementao do manual de normas e rotinas das unidades descrio

    padronizada, at a adoo do PE (COFEN, 2009).

    Desenvolver o pensamento crtico e tambm a capacidade de

    tomada de deciso so aes importantes dos enfermeiros, pois estes so

    reconhecidamente agentes de mudana das condies de vida, atuando

    diretamente no processo sade-doena e no bem-estar dos pacientes,

    famlias e comunidade. O cuidado de enfermagem deve ser planejado e

    realizado de forma sistematizada, podendo ocorrer por meio da

    implementao do PE (LIMA, 2009).

    O PE caracterizado como um instrumento metodolgico

    utilizado para as aes do cuidado. Atravs do PE o enfermeiro

    identifica os problemas de sade, planeja, implementa as aes e avalia

    os resultados (PEREIRA et al, 2009).

    O PE composto por cinco fases: investigao, diagnsticos de

    enfermagem, planejamento, implementao e avaliao (BETEGHELLI

    et al, 2005).

    Oliveira et al (2008) ressaltam que o cuidado de enfermagem, em

    especial aos que realizam HD, tem como objetivo identificar e monitorar

    os efeitos adversos desta terapia e complicaes decorrentes da prpria

    doena, desenvolvendo aes educativas de promoo, preveno e

    tratamento.

    O paciente submetido HD necessita de um cuidado que muitas

    vezes desafiador para a enfermagem, pois ocorrem grandes

    transformaes e este passa de uma condio de ser saudvel para outra,

    tornando-se dependente do atendimento constante e permanente de um

    servio de sade, de uma mquina, de uma equipe multiprofissional e a

    necessidade de orientao que se torna constante. Quando este paciente

    toma conscincia da perda de autonomia, este perde a esperana pelo

    fato de que a doena crnica no tem cura e que a curto ou longo prazo

    conduz morte. Assim, o cuidado ao paciente com DRC tem mostrado-

    se um processo complexo pelas mais variadas adaptaes, bem como

    repercusses de variadas ordens, tais como asincapacidades fsicas e

    emocionais que interferem na vida das pessoas, limitando ou impedindo

    a realizao de suas atividades dirias. (SANTOS; ROCHA;

  • 32

    BERARDINELLI, 2011).

    No cotidiano percebe-se a necessidade de compreender, criar

    condies e auxiliar na mudana de hbitos para que o paciente se sinta

    mais confortvel, bem como seus familiares possam reorganizar sua

    dinmica diria e familiar. necessrio compreenso e compromisso,

    pois medida que a doena progride as necessidades de cuidado e

    ateno aumentam.

    Para Erdmann, Nascimento e Ribeiro (2005) o cuidado um

    processo interativo, dinmico, solidrio, criativo e um componente

    importante do ser/fazer da Enfermagem. Tem amparo em

    conhecimentos prprios, em tecnologias e num trabalho que realizado

    por seres humanos, nos quais so utilizados como instrumentos as

    habilidades, atitudes, modos de ser, e estruturas cognitivas do

    enfermeiro. A Enfermagem, por sua vez, promove a sade e a vida,

    sendo realizada de forma compartilhada, de ajuda mtua e em equipe.

    Est atenta segurana bem como caminha para uma melhor

    compreenso do ser e viver mais saudvel. um trabalho que demanda

    tcnicas especficas, equipamentos, materiais apropriados e,

    principalmente, muita sensibilidade humana.

    Lanzoniet al (2011) entendem que o enfermeiro precisa constituir

    uma relao de proximidade com os pacientes para cuidar, resultando

    em um processo interativo no qual o contato e o dilogo so valorizados,

    estando embasados na tica e respeito da condio do ser. Entender o

    que ocorre no processo de cuidar necessita que o profissional reconhea

    as particularidades inerentes subjetividade dos sujeitos, como os

    sentimentos envolvidos no processo.

  • 33

    4 REFERENCIAL TERICO

    Em busca de uma melhor compreenso e sustentao terica, este

    estudo ser fundamentado tambm no pensamento complexo proposto

    principalmente por Edgar Morin, o qual prope uma forma de pensar

    modificada, questionando os modelos cartesianos nas distintas reas

    sociais (MARCHI; WITTIMANN, 2008).

    Para Silva e Camillo (2007), a teoria da complexidade surgiu para

    interrogar a fragmentao e o esfacelamento do conhecimento, em que o

    pensamento linear, originrio do sculo XVI, colocava o

    desenvolvimento da especializao como supremacia da cincia,

    contrapondo-se ao saber generalista e globalizante.

    A base da epistemologia da complexidade advm de trs teorias

    que se inter-relacionam: a teoria da informao, a ciberntica e a teoria

    dos sistemas. A teoria da informao analisa problemas relativos

    difuso de sinais no processo comunicacional. A ciberntica a cincia

    que estuda as comunicaes e o sistema de controle dos organismos

    vivos e mquinas em geral. Compreende a ideia de retroao, que

    substitui a causalidade linear pela curva causal. A teoria dos sistemas

    assegura que o todo mais que a soma das partes, sugerindo a existncia

    de qualidades emergentes que surgem da organizao do todo e que

    podem retroagir sobre as partes. No conceito de sistema est presente a

    ideia de rede relacional, onde os objetos do lugar aos sistemas e as

    unidades simples do lugar s unidades complexas (VIEIRA et al,

    2009).

    Morin (2004) apresenta os sete princpios do pensamento

    complexo que se encontram descritos a seguir:

    1. Princpio sistmico ou organizacional: une o conhecimento das partes ao conhecimento do todo

    considerando impossvel conhecer as partes sem conhecer

    o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer,

    particularmente, as partes. A ideia sistmica, oposta ideia

    reducionista que o todo mais do que a soma das partes.

    O todo , igualmente, menos que a soma das partes, cujas

    qualidades so inibidas pela organizao do conjunto.

    2. Princpio hologrfico: coloca em evidncia o paradoxo das organizaes complexas, em que no apenas a parte

    est no todo, como o todo est inscrito na parte.

    3. Princpio do circuito retroativo: este princpio permite o conhecimento dos processos autorreguladores, rompendo

  • 34

    com o princpio da causalidade linear: a causa age sobre o

    efeito e o efeito age sobre a causa.

    4. Princpio do circuito recursivo: transpe a noo de regulao com as de autoproduo e auto-organizao.

    um circuito gerador em que os produtos e os efeitos so

    produtores e causadores daquilo que o produz.

    5. Princpio da autonomia/dependncia (auto-organizao): os seres vivos so seres auto-organizadores,

    que no param de se autoproduzir e, por isso mesmo,

    gastam energia para manter sua autonomia. Vale

    especificamente para seres humanos, que desenvolvem sua

    autonomia na dependncia de sua cultura e para as

    sociedades que se desenvolvem na dependncia de seu

    meio geolgico. Um aspecto chave da autoeco-organizao

    viva que ela se regenera permanentemente a partir da

    morte de suas clulas.

    6. Princpio dialgico: une dois princpios ou noes que deviam excluir-se reciprocamente, mas so indissociveis

    em uma mesma realidade. Sob as mais diversas formas, a

    dialgica est constantemente em ao nos mundos: fsico,

    biolgico e humano. Este princpio permite assumir

    racionalmente a inseparabilidade de noes contraditrias

    para conceber um mesmo fenmeno complexo.

    7. Princpio da reintroduo do conhecimento em todo conhecimento: opera a restaurao do sujeito e revela o

    problema cognitivo central: da percepo teoria

    cientfica, todo conhecimento uma reconstruo/traduo

    feita por uma mente/crebro, em uma cultura e pocas

    determinadas.

    Os sete princpios da complexidade, de acordo com Morin

    (2004), so complementares e interdependentes entre si, auxiliando na

    compreenso do ser, viver e conviver em um ambiente sistema, ou

    num ambiente de cuidados, possibilitado pelas mltiplas relaes e

    interaes.

    O enfermeiro tem procurado a atualizao e a capacitao para o

    desempenho de suas atividades, visualizando seu ambiente de trabalho

    com o olhar de um sistema complexo. Assim, vem procurando

    qualificar-se em diferentes especialidades, desde enfermagem neonatal

    at os cuidados geritricos. Nesta perspectiva, h de se ressaltar que a

    enfermagem como um sistema complexo pode encontrar-se em

    diferentes locais e com diferentes papis, como nos ambulatrios e

  • 35

    hospitais com a prestao do cuidado ao paciente; nas empresas

    mediante atividades de promoo sade e segurana do trabalhador;

    at nos meios acadmicos, a partir das atividades de ensino, pesquisa e

    extenso (VIEIRA et al, 2009).

    O pensamento complexo prope uma educao emancipadora

    justamente porque favorece a reflexo do cotidiano, o questionamento e

    a transformao social. Ao passo que concepes reducionistas,

    revestidas de pensamentos lineares e fragmentados, valorizam o

    consenso de uma pedagogia que acaba por estimular a domesticao e a

    acomodao. A educao precisa ser repensada a partir de uma viso

    totalizadora, para que no permanea na inrcia da fragmentao e da

    excessiva disciplinarizao, compreendendo a vida em todas as suas

    possibilidades e limitaes por meio da utilizao justaposta de

    conceitos contraditrios, de modo dialgico. Sendo essa a viso que

    compreende a complexidade do real, remetendo-nos a um pensamento

    que aceite as ambivalncias, o uso de contradies e as incertezas em

    todas as dimenses (VIEIRA et al, 2009).

    A Enfermagem tem como princpio difundido nas instituies de

    ensino, assistir o indivduo como ser biopsicossociocultural, no entanto

    priorizada a dimenso biolgica (BACKES et al, 2008).

    A formao no pode adotar como referncia apenas a busca

    eficiente de evidncias ao diagnstico, cuidado, tratamento, prognstico,

    etiologia e profilaxia das doenas e agravos. Faz-se necessrio o

    atendimento global, das pessoas e populaes, da gesto setorial e do

    controle social em sade, redimensionando o desenvolvimento da

    autonomia das pessoas at a condio de influncia na formulao de

    polticas do cuidado (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).

    Para Ceccim e Feuerwerker (2004), a atualizao tcnico-

    cientfica somente um dos aspectos da qualificao das prticas e no

    seu foco principal, onde a formao engloba aspectos de produo de

    subjetividade, produo de habilidades tcnicas e de pensamento e o

    adequado conhecimento do Sistema nico de Sade (SUS). A formao

    para a rea da sade necessitaria ter como objetivos a transformao das

    prticas profissionais e da prpria organizao do trabalho,

    estruturando-se a partir da problematizao do processo de trabalho e

    sua capacidade de dar acolhimento e cuidado s diversas dimenses e

    necessidades de sade das pessoas, dos coletivos e das populaes.

    Ceccim e Feuerwerker (2004) colocam que o SUS tem assumido

    papel ativo na reorientao das estratgias e modos de cuidar, tratar e

    acompanhar a sade individual e coletiva. Tem sido capaz de provocar

    importantes repercusses nas estratgias e modos de ensinar e aprender,

  • 36

    incentivando o desenvolvimento do pensamento crtico e estimulando o

    fortalecimento do movimento por mudanas no processo de formao.

    Uma proposta estratgica para transformar a organizao dos

    servios e dos processos formativos implicaria num trabalho articulado

    entre o sistema de sade (em suas vrias esferas de gesto) e as

    instituies formadoras. Transformar a formao e a gesto do trabalho

    em sade envolve mudana nas relaes, nos processos, nos atos de

    sade e, principalmente, nas pessoas. So questes tecnopolticas que

    implicam na articulao de aes para dentro e para fora das instituies

    de sade, na perspectiva de ampliao da qualidade da gesto, do

    aprimoramento da ateno integral, do domnio do conceito ampliado de

    sade e do fortalecimento do controle social no sistema.

    Para Vieira et al (2009), a complexidade caracteriza-se por

    englobar diferentes disciplinas cientficas e por assumir um papel multi

    e interdisciplinar na busca de respostas a algumas perguntas

    fundamentais sobre a vida. Para as autoras, a enfermagem considerada

    um sistema complexo, s que em menor tamanho, uma vez que tal

    servio encontra-se inserido em um sistema complexo maior: a sade.

    Assim como a sade com sua evoluo, a enfermagem vista como um

    sistema em constante interao com os outros sistemas, ou seja, com os

    servios mdicos, odontolgicos, psicolgicos, entre outros. Tais

    interaes, intercmbios de ideias e flexibilidade entre o servio de

    enfermagem com os demais servios fazem hoje a enfermagem crescer e

    evoluir, caracterizando-se como um sistema complexo adaptativo.

    O pensamento complexo permite o desenvolvimento de olhares

    mais crticos e criativos sobre a realidade, ou seja, sobre as prticas nas

    quais se estabelecem as interaes e associaes de cuidado. De outro

    modo, o pensamento complexo estimula a desconstruo de padres

    culturais objetivos e a construo de estratgias epistemolgicas e

    prticas interdisciplinares reflexivas e crticas (VASCONCELOS, 2004).

    Compreender a lgica do cuidar/cuidado sob a tica da

    complexidade pressupe um olhar distinto sobre as premissas

    ontolgicas, epistemolgicas e metodolgicas, para compreender o

    cuidado como fruto de mltiplas relaes e interaes sistmicas.

    necessrio, no entanto, expandir gradativamente o entendimento de

    cuidado, seja no plano ontolgico como um fenmeno inerente ao

    processo de viver humano, ou na dimenso epistemolgica, atravs da

    interface entre o saber existente e o que pode vir a ser conhecido no

    sistema de cuidados em sade pela inovao e ampliao de

    metodologias operacionais capazes de se agregarem na teia complexa da

    vida (BACKES, 2011).

  • 37

    Backes (2011) afirma que a complexidade do cuidado das

    interaes interpessoais, sociais e ambientais ser capaz de transpor o

    modo de ser trabalho, a fim de alcanar o modo de ser relacional. Sendo

    assim, o cuidado s ser absoluto na sua dimenso ontolgica,

    epistemolgica e metodolgica, quando no modo de ser relacional

    permitir as conexes dos opostos e antagnicos, a partir das interaes e

    associaes complexas.

    Diante do exposto, Erdmann et al (2007) reforam que o

    pensamento complexo retrata um processo social, individual e

    ecolgico, dinmico e gradual, que demanda tempo, atitude,

    comportamento, e um esforo incansvel pela busca de novas formas de

    ao e interao.

    O cuidado em sade e enfermagem, na perspectiva da

    complexidade, precisa ser expandido para a dimenso ecolgica e

    planetria, numa relao de complementariedade e interatividade, sem

    se restringir apenas ao espao hospitalar e aos servios de sade. Os

    profissionais de sade, por sua vez, precisam expandir os seus modos de

    ser, ver e agir para alm do seu local de trabalho, como sujeitos

    proativos, ticos e comprometidos com o todo (BACKES; ERDMANN;

    BACKES, 2009).

    O paciente com DRC terminal que realiza hemodilise carece no

    s dos cuidados referentes s necessidades biolgicas, como

    principalmente s psicolgicas, sociais e espirituais. Estes esto

    envolvidos num sistema complexo de cuidado onde so utilizadas

    tecnologias de ponta e a exposio s complicaes relacionadas a esta

    terapia so maiores. Alm das mudanas ocasionadas no estilo de vida

    do paciente e sua famlia, as internaes referentes s complicaes

    tambm interferem na dinmica familiar, principalmente quando estes

    tm que lidar com a finitude da vida, gerando novas demandas de

    cuidado.

    Uma rede de apoio envolvendo uma equipe multidisciplinar e a

    famlia de extrema importncia para o tratamento. Quando um desses

    no se faz presente ou se faz de maneira ineficaz pode-se evidenciar um

    comprometimento no cuidado.

    Assim, conclui-se que o cuidado que envolve o paciente com

    DRC terminal que realiza HD nada mais do que um sistema complexo,

    onde o todo deve compreender e articular as partes, assim como as

    partes deve compreender o todo.

  • 38

    5 MARCO CONCEITUAL

    O marco conceitual ou modelo terico so instrumentos que

    possibilitam a operacionalizao da assistncia de enfermagem atravs

    da aquisio de um referencial terico e de sua utilizao na construo

    de mtodos que possam direcionar e organizar o processo assistencial de

    enfermagem (NEVES; ZAGONEL, 2006).

    Os pressupostos descritos a partir da reviso de literatura e do

    referencial terico so:

    O enfermeiro necessita de constante atualizao dos conhecimentos tcnicos e cientficos;

    O ambiente de cuidado complexo e um campo rico que proporciona condies para estudos e pesquisas;

    As aes de cuidado de enfermagem uma importante ferramenta para a manuteno da qualidade da assistncia,

    bem como proporciona a uniformizao das aes;

    O paciente com DRC, submetido HD, precisa de um cuidado especializado de forma que atenda as suas

    diversas necessidades apresentadas em decorrncia da

    doena, da teraputica e das alteraes no estilo de vida.

    Os conceitos que embasaro este estudo so: Ser humano,

    Cuidado, Enfermagem, Cuidado em Enfermagem, Ambiente de

    Cuidado, Doena Renal Crnica, Plano de Aes de cuidado de

    enfermagem ao paciente com doena renal crnica submetido

    hemodilise, Complexidade do Cuidado ao paciente com doena renal

    crnica submetido hemodilise.

    5.1 SER HUMANO

    Erdmann (1996) define o ser humano como um ser de relaes e

    de interaes sociais com o meio ambiente em que esto inseridos. Estes

    interagem e relacionam-se com o outro, desenvolvendo uma troca de

    experincias para seu crescimento e realizao pessoal. Nessas relaes

    eles cooperam, competem, colaboram, contribuem e exploram. Eles

    tambm agem, reagem, interagem, pertencem, associam-se, partilham,

    interdependem, ajudam-se, trocam experincias/energias, diferenciam-se e integram-se, aproximam-se e distanciam-se, articulam-se, envolvem-se

    e negociam, convivendo com a harmonia conflitual.

    Para Morin (2008) o ser humano um indivduo que apresenta

    caractersticas de sua realidade humana que so multidimensionais e

  • 39

    englobam aspectos biolgicos, psicolgicos, sociais, espirituais,

    econmicos, sociolgicos, histricos, dentre outros. Estas

    caractersticas, mesmo distintas, esto vinculadas inteirando o mesmo

    ser humano e tornando-o complexo.

    Nesse contexto, o ser humano em evidncia nesta investigao

    o enfermeiro, que atua nas UIse que acompanha o paciente portador de

    DRC no seu processo teraputico durante a hospitalizao. Este prepara,

    encaminha os pacientes ao programa de HD e recebe-o de volta na

    unidade, dando continuidade ao cuidado.

    5.2 CUIDADO

    O cuidado definido como preocupao, zelo, proteo,

    solidariedade ao ser enfermo. Significa cuidar com empatia e

    sensibilidade entendendo, percebendo, desenvolvendo esse cuidado,

    considerando a complexidade do ser. Cuidar do outro implica na

    valorizao dos aspectos biolgicos, sociais, culturais, espirituais, seja o

    cliente/paciente, familiar, colega, amigo, pai, me, esposo(a), filho(a)

    e/ou outros, que compem uma organizao complexa de relaes

    humanas de cuidado (BAGGIO, 2008).

    Assim, o cuidado deve ser visto como um processo que envolve

    sentimentos, valores, atitudes e princpios cientficos, deixando de ser

    um ato nico, bem como a soma de procedimentos tcnicos,

    satisfazendo a necessidades dos seres envolvidos (PESTANA, 2011).

    Minuzzi (2006) caracteriza o cuidado como troca de experincias,

    conhecimentos, sentimentos e, especialmente, o respeito s crenas e

    valores de cada elemento envolvido, de forma que permite melhorar,

    harmonizar, o viver ou ainda proporcionar condies para morrer com

    dignidade.

    Desse modo, entende-se que o cuidado no est restrito apenas

    dimenso biolgica. Ele vai para alm deste aspecto, envolvendo

    atitudes, valores, empatia, tica, princpios tcnicos e cientficos de

    modo a enxergar o outro como prioridade, buscando atender suas

    necessidades e de modo a restabelecer seu bem-estar, no

    necessariamente a sade, como no caso das condies crnicas.

    5.3 ENFERMAGEM

    A Enfermagem uma profisso que cuida do ser humano como

    um ser complexo em um sistema de cuidado, mediante modos prprios,

    compartilhando num processo dinmico de interao entre o cliente, sua

  • 40

    famlia, a comunidade e junto com outros profissionais (MINUZZI,

    2006, p. 47).

    Baggio (2008)complementa dizendo que a enfermagem uma

    profisso que capacita o profissional atravs de suas competncias,

    responsabilidades e aptides intrnsecas profisso para realizar o

    cuidado aos seres humanos considerando a multidimensionalidade e o

    contexto do ser.

    A enfermagem uma cincia que tem como foco o cuidado,

    sendo este a essncia da profisso. O enfermeiro realiza aes que

    envolvem a sensibilidade dos sentidos, a subjetividade e a comunicao

    nas mltiplas relaes.

    5.4 CUIDADO EM ENFERMAGEM

    Vale e Pagliuca (2011) conceitua o cuidado de enfermagem como

    um fenmeno intencional e necessrio vida, que acontece no encontro

    de seres humanos que interagem, atravs de atitudes que envolvem

    conscincia, zelo, solidariedade e amor. Esse cuidado expressa um

    "saber-fazer" que deve estar embasado na cincia, na arte, na tica e na

    esttica, direcionado s necessidades do indivduo, da famlia e da

    comunidade.

    Borges et al (2012) define o cuidado de enfermagem como aes,

    baseado em conhecimento cientfico, que tem por objetivo atender as

    necessidades humanas bsicas, realizando um trabalho em equipe e,

    sendo assim, um processo amplo e interativo.

    As relaes de cuidado, segundo Baggio (2008), podem ser

    compreendidas como sistemas abertos, que so sustentados pelas trocas,

    interaes, associaes com o meio a que pertencem. Os seres de

    relao interagem com o meio e entre si, dependendo dessas trocas,

    interaes e associaes para autocuidado, para o cuidado dos seus e

    para sentirem-se cuidados.

    Na perspectiva da complexidade, o cuidado de enfermagem,

    segundo Piexak; Backes e Santos (2013), transcende as aes tcnico-

    prescritivas, pontuais e lineares e alcana as questes que abrangem o

    cuidar do outro e do ambiente no qual est inserido, valorizando a

    singularidade dos seres humanos, na tentativa de discutir o cuidado de

    forma ampla e contextualizada.

  • 41

    5.5 AMBIENTE DE CUIDADO

    O ambiente de cuidado visto como um sistema complexo

    adaptativo que serve de cenrio para constantes e expressivas

    experincias, incorporando aspectos cientficos com fontes de reflexes,

    que so influenciadas pelas diversas culturas, normas, leis e tecnologias

    que a compem. Em alguns momentos este ambiente acolhe, traz a luz a

    recuperao, o milagre da (sobre) vivncia e com ela o sentimento de

    vitria da equipe profissional; em outros se torna um ambiente que

    incomoda, em que a inquietao se faz presente, os rudos predominam

    e a insalubridade assume o comando (KLOCK, 2009).

    O ambiente de cuidado neste estudo refere-se s unidades de

    internao mdica e cirrgica, onde se encontram pacientes com

    alterao da funo renal, em situaes crnicas ou agudas, com

    indicao de tratamento dialtico. Este cenrio dispe de uma equipe

    multidisciplinar, bem como de tecnologias necessrias para o cuidado.

    5.6 DOENA RENAL CRNICA

    A doena crnica caracteriza-se por alteraes do estado de sade

    do indivduo. Estas alteraes no so temporrias e muitas vezes so

    limitantes, atribuindo ao indivduo vrias transformaes no seu estilo

    de vida e no contexto familiar (PASQUAL, 2004).

    As doenas crnicas demandam estratgias de cuidado especiais

    que auxiliem os pacientes a despertar a conscincia para o autocuidado.

    Alm do tratamento mdico, necessrio envolver e estimular o

    paciente a participar desse cuidado de forma ativa, aprendendo a

    interagir com as organizaes de sade (TRENTINI; CUBAS, 2005).

    Bastos e Kirsztajn (2011) ressaltam que a DRC um problema de

    grande importncia, sendo reconhecida como uma doena complexa que

    demanda mltiplas abordagens no seu tratamento. Embora se faam

    necessrios mais estudos nessa rea, o que se percebe que o modelo de

    atendimento interdisciplinar a forma mais adequada de tratar a DRC.

    5.7 PLANO DE AES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO

    PACIENTE COM DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO

    HEMODILISE

    A elaborao de um plano de cuidados de enfermagem,

    fundamentado em uma teoria, um instrumento que viabiliza a

    sistematizao da prtica assistencial conferindo maior visibilidade s

  • 42

    aes de enfermagem implementadas, valorizao da profisso e,

    principalmente, excelncia no cuidado prestado (NETO; FONTES;

    NOBREGA, 2013).

    O cuidado de enfermagem ao paciente com DRC submetido

    HD caracteriza-se por um cuidado que necessita de um conhecimento

    tcnico-cientfico qualificado, respeitando as caractersticas individuais

    do ser humano, considerando o contexto em que se encontra inserido. O

    plano de ao um instrumento para direcionar esse cuidado,

    respeitando princpios cientficos e ticos, bem como o fazer.

    5.8 COMPLEXIDADE DO CUIDADO AO PACIENTE COM

    DOENA RENAL CRNICA SUBMETIDO

    HEMODILISE

    O cuidado por si s complexo e amplo, que envolve ao,

    conhecimento especfico, habilidade tcnica e sensibilidade por parte do

    profissional de oferecer um cuidado individualizado.

    O paciente com DRC submetido HD complexo e

    multidimensional que necessita de um olhar multidisciplinar para

    atender as dimenses que o constituem.

    Contrapondo ao modelo biomdico atual, percebe-se a

    necessidade de direcionar a assistncia ao indivduo de modo sistmico,

    no se limitando a assistir apenas doena em questo.

    Desta forma, o cuidado de enfermagem aos pacientes que

    necessitam de HD deve transcender o tratamento tradicional, atendendo

    as especificidades do paciente como um todo, colaborando, assim, para

    a melhoria na qualidade de vida (BARBOSA; VALADARES, 2009).

    Para os autores acima citados, o paciente que realiza HD sofre o

    impacto inicial no momento em que percebe as alteraes provocadas

    pela doena, emergindo um turbilho de emoes. Passado o impacto

    inicial, o paciente que teve a sua rotina alterada e segue com o

    tratamento hemodialtico passa a buscar outras atividades sociais, seja

    para ocupar seu tempo e esquecer os sentimentos que antes o afligiam,

    seja para interagir com outros pacientes que vivenciam a mesma

    condio. Dessa forma, esses pacientes compartilham experincias e

    buscam aprendizado e novas formas de se cuidar. Assim, a assistncia

    de enfermagem a esses pacientes torna-se um desafio aos enfermeiros

    que precisam garantir a qualidade do cuidado possibilitando que esses

    pacientes tenham suas especificidades atendidas e tornando possvel a

    compreenso da sua condio de sade.

  • 43

    6 METODOLOGIA

    Nesta etapa so descritos os procedimentos metodolgicos que

    foram utilizados em funo do tema, do problema e dos objetivos do

    estudo. O presente estudo inspirou-se nos fundamentos e instrumentos

    da pesquisa-ao como referencial metodolgico.

    6.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de um estudo de carter construtivo, descritivo e com

    abordagem qualitativa, com foco na construo de um plano de aes de

    cuidados de enfermagem no pr e ps-dilise, ao paciente hospitalizado

    submetido HD.

    A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2003), firma-se na

    capacidade de incorporar os atos, as relaes, as estruturas e as

    representaes sociais construdas coletivamente ao longo da vivncia

    entre diversos atores que compem um determinado segmento da

    sociedade.

    A pesquisa-ao considerada por Thiollent (2011), socilogo

    francs radicado no Brasil e um dos estudiosos do mtodo como sendo:

    Um tipo de pesquisa social com base emprica, concebida e realizada em estreita associao com

    uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os

    participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo participativo

    (THIOLLENT, 2011, p. 20).

    Este tipo de pesquisa geralmente ocorre em situaes em que

    tambm se atua na prtica e deseja-se melhorar a compreenso desta. A

    pesquisa e a ao podem e devem caminhar juntas quando se pretende

    uma transformao. um tipo de pesquisa participante, em oposio

    pesquisa tradicional. Tem como principal caracterstica a interveno na

    prtica de modo inovador no decorrer do prprio processo de pesquisa

    (FRANCO, 2005).

    Um dos pioneiros da pesquisa-ao foi o psiclogo alemo Kurt

    Lewin (1890-1947). Na dcada de 1960, na rea de Sociologia, este mtodo rapidamente se expandiu, no entanto, alm de sua aplicao em

    cincias sociais e psicologia, a pesquisa-ao , hoje, amplamente

    aplicada tambm na rea do ensino (FRANCO, 2005).

  • 44

    Alguns aspectos citados por Thiollent (2011) so levados em

    considerao quando se diz que a pesquisa-ao uma estratgia

    metodolgica da pesquisa. So elas:

    Existe uma grande interao entre o pesquisador e as pessoas envolvidas na situao investigada;

    Como resultado desta interao so ordenadas as prioridades dos problemas, bem como das solues a

    serem encaminhadas;

    A situao e os diferentes problemas encontrados que so objeto de investigao, e no as pessoas;

    Durante todo o processo feito um acompanhamento das decises, aes e de todas as atividades realizadas;

    Alm da ao, a pesquisa procura ampliar o conhecimento do pesquisador e das pessoas ou grupos envolvidos.

    Na pesquisa-ao dois tipos de objetivos se relacionam entre si: o

    prtico e o conhecimento. O objetivo prtico contribui para o

    equacionamento do problema, com levantamento de solues e proposta

    de aes. J o objetivo de conhecimento preocupa-se em obter

    informaes e expandir esse conhecimento.

    Thiollent (2011) afirma que a pesquisa-ao no limita suas

    investigaes aos aspectos acadmicos e burocrticos como na maioria

    das pesquisas convencionais. Os pesquisadores exercem um papel ativo

    na prpria realidade dos fatos analisados. Segundo o mesmo autor, a

    pesquisa-ao tambm ganhou espao nas cincias ambientais e cincias

    da sade, em especial a enfermagem, promoo da sade e medicina

    coletiva. Na Enfermagem, vrios estudos tm utilizado a pesquisa-ao

    como referencial metodolgico, tais como: Alencar (2007), Coscrato

    (2010), Santos (2011), Souza (2010), Torres (2008) entre outros.

    6.2 LOCAL DO ESTUDO

    O estudo teve como cenrio as Unidades de Internao Mdica

    (UIMs) I, II e III e Unidades de Internao Cirrgica (UICs) I e II do

    Hospital Universitrio Dr. Ernani Polydoro So Thiago inserido na

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

    O Hospital Universitrio (HU) Prof. Polydoro Ernani de So Thiago foi fundado em 2 de maio de 1980, pelo Prof. Polydoro Ernani

    de So Thiago com atendimento 100% pblico, pelo SUS, tendo

    tambm sua ateno voltada ao ensino e pesquisa (HU/UFSC, 2012).

  • 45

    Atuando nos trs nveis de assistncia, o bsico, o secundrio e o

    tercirio, o HU tambm referncia estadual em patologias complexas,

    clnicas e cirrgicas, com grande demanda na rea de cncer e cirurgia

    de grande porte, nas diversas especialidades. Seu corpo clnico

    constitudo de professores dos Departamentos do Centro de Cincias de

    Sade que utilizam o HU como centro de ensino e de pesquisa; os

    mdicos e demais profissionais da Enfermagem, Farmcia, Bioqumica,

    Fisioterapia e Fonoaudiologia, Nutrio, Servio Social, Odontologia,

    Psicologia e Engenharia Biomdica que possuem elevados ndices de

    qualificao e titulao. Aliados ao grande interesse na pesquisa e

    prtica clnicas, estes profissionais conferem ao HU grande fora,

    prestgio social e comunitrio (HU/UFSC, 2012).

    O HU atualmente atende nas reas de Clnica Mdica, Clnica

    Cirrgica, Terapia Intensiva, Tratamento Dialtico, Pediatria,

    Ginecologia, Obstetrcia e Neonatologia, Centro Cirrgico, Servio de

    Ambulatrio geral e especializado, Hemodinmica e Onco-hematologia.

    Possui tambm servio de Emergncia Adulto, Infantil e Gineco-

    obstetrcia, Centro Obsttrico, Centro de Incentivo ao Aleitamento

    Materno e Centro de Esterilizao.

    As UIMs I, II, III e UIC I e II, esto localizadas no 3 e 4 andares

    do HU, respectivamente. Com caractersticas fsicas semelhantes,

    possuem trs quartos com quatro leitos, oito quartos com dois leitos e

    um quarto de isolamento, todos com banheiro. Ainda em relao

    estrutura fsica, possui posto de enfermagem, sala de preparo de

    medicao, sala de procedimentos, banheiro para funcionrios, sala de

    repouso de enfermagem e copa.

    As instalaes da UIM I, em razo de uma reforma, esto

    provisoriamente em uma rea fsica com capacidade para 19 leitos e

    aptas para a internao de pacientes nas especialidades de

    gastroenterologia, pneumologia e clnica mdica geral. A UIM II possui

    29 leitos, distribudos entre as especialidades de hematologia,

    endocrinologia, neurologia e cardiologia. Na UIM III h tambm 29

    leitos divididos nas especialidades de reumatologia, gastroenterologia,

    neurologia, nefrologia, pneumologia e clnica mdica geral. Em maio

    de 2013, a UIM III foi fechada por falta de recursos humanos, havendo

    uma redistribuio dos leitos para as outras unidades.

    A UIC I tem 30 leitos e atende as especialidades de cirurgia geral,

    cabea e pescoo, gastroenterologia e buco-maxilo. A UIC II tambm

    tem 30 leitos e atende as especialidades de proctologia, cirurgia plstica,

    queimados, urologia e cirurgia vascular.

  • 46

    A UTD est localizada no 4 andar do HU e foi inaugurada em

    julho de 1991, iniciando com atividades em DP intermitente e HD em

    novembro de 1991 com trs mquinas. Em abril de 2003, a unidade

    passou por uma ampla reforma estrutural e tcnica recebendo cinco

    mquinas novas do Ministrio da Sade e um novo tratamento de gua,

    com Osmose Reversa. Na poca, a capacidade de atendimento era de 12

    pacientes para HD, distribudos em trs turnos, mantendo uma mquina

    reserva para atendimento dos pacientes da UTI e da Emergncia (EMG),

    mais dois leitos disponveis para DP. Esta deixou de ser realizada em

    2006 por conta do quadro funcional deficiente e pela demanda reduzida

    na poca.

    Atualmente, com a aquisio de mais quatro mquinas de HD e

    uma osmose reversa em abril de 2012, a unidade tem capacidade para

    atender 21 pacientes por dia distribudos em trs turnos e mais trs

    pacientes na UTI, ficando duas mquinas permanentemente nesta

    unidade. Esta unidade conta com um quadro funcional de quatro

    mdicos nefrologistas, trs enfermeiras, dez tcnicos de enfermagem e

    dois auxiliares de enfermagem. Como suporte h ainda o servio de

    nutrio, psicologia e servio social.

    A UTD atende os pacientes crnicos em programa de

    hemodilise de segunda sexta-feira e ainda os pacientes adultos

    hospitalizados no HU com indicao de hemodilise.

    Nos finais de semana segue uma escala de sobreaviso, ficando

    um mdico nefrologista, um enfermeiro e um tcnico de enfermagem

    para atender os casos de emergncia com avaliao prvia do

    nefrologista.

    6.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO

    Os participantes envolvidos nesta atividade foram os enfermeiros

    das UIMs I, II e III e UICs I e II. Dos 40 enfermeiros lotados nas UIMs

    e UICs seis estavam de frias neste perodo, sendo realizado o convite

    pessoalmente pela pesquisadora a 34 enfermeiros, onde foram expostos

    o objetivo e os mtodos a serem utilizados na pesquisa. Participaram 11

    enfermeiros, sendo nove do sexo feminino e dois do sexo masculino. A

    faixa etria do grupo variou entre 25 e 57 anos. Em relao ao tempo de

    profisso, a maioria tinha de um a cinco anos, sendo que o mais

    experiente possua 32 anos de atividade.

    Todos tinham ps-graduao lato sensu, sendo que sete buscaram ps-graduao stricto sensu, um doutorado finalizado e outro em

    andamento, um mestrado acadmico em andamento e quatro mestrados

  • 47

    profissionais em andamento. Todos os participantes so servidores

    pblicos federais, sendo que dois tambm tinham outro vnculo

    empregatcio.

    Como critrio de incluso estabeleceu-se o tempo mnimo de trs

    meses de atuao nas respectivas unidades de estudo, pois nesse perodo

    o participante j estaria familiarizado com a dinmica da unidade.

    Foram excludos do estudo os enfermeiros que estavam em frias ou

    afastados para tratamento de sade no perodo de coleta de dados.

    6.4 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

    Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado

    elaborado pela autora deste estudo, sendo constitudo de duas partes: a

    primeira referente a caractersticas sciodemogrficas e profissionais

    dos participantes e a segunda com perguntas abertas (APNDICE B)

    para conduzir o grupo focal com finalidade de identificar a percepo

    dos enfermeiros em relao s aes de cuidados de enfermagem ao

    paciente com DRC submetido HD e as necessidades de cuidados que

    orientaram a construo do plano de ao.

    A opo pelo grupo focal como tcnica de coleta de dados

    justifica-se pela possibilidade de uma melhor interao entre

    pesquisador e participantes.

    O grupo focal como tcnica de coleta e de anlise de dados

    representa uma nova possibilidade metodolgica para as pesquisas

    qualitativas. Constitui uma importante estratgia pela sua capacidade

    interativa e problematizadora, inserindo os participantes da pesquisa no

    contexto das discusses de anlise e sntese que contribuem com o

    repensar de atitudes, concepes, prticas e polticas sociais. Tambm

    considerado uma ferramenta de gesto, sendo um mtodo que pode

    auxiliar na organizao do processo de trabalho da enfermagem e sade,

    pela possibilidade de analisar as potencialidades e fragilidades internas,

    assim como as oportunidades e desafios externos, que requerem

    adaptaes (BACKES et al, 2011).

    6.5 PROGRAMAO DAS AES NO GRUPO FOCAL

    Neste estudo, todas as reunies do grupo focal aconteceram no

    HU, em sala pr-definida, com cadeiras dispostas em crculo,

    objetivando propiciar uma melhor interao do grupo. A durao mdia

    foi de uma hora uma hora e trinta minutos utilizando-se o gravador

    como recurso para auxiliar no registro das falas.

  • 48

    Em um primeiro momento a pesquisadora realizou o convite e

    apresentou a proposta do trabalho, de forma individual, aos enfermeiros

    das UIs, sendo que neste abordagem foi observada boa aceitao.

    Muitos relataram e demonstraram grande interesse pela temtica

    acreditando ser uma oportunidade de aprendizado, discusso e reflexo,

    pois j nesse momento alguns relataram sentir a necessidade de uma

    padronizao dos cuidados de enfermagem ao paciente submetido HD.

    Posteriormente, foi agendado o dia, horrio e local para as

    reunies, sendo que estas foram realizados no turno da tarde e em dois

    horrios: s 14 horas e s 17 horas. A proposta inicial era realizar os

    encontros por turno de trabalho, no entanto, quando os

    convitesindividuais foram feitos, os enfermeiros do turno da manh

    sugeriram que os encontros ocorressem aps a passagem de planto e

    preferiram se organizar para participar das reunies no horrio das 14 ou

    17 horas a vir em outro horrio. J os enfermeiros do turno da noite

    destacaramque em alguns plantes seria invivel a ausncia do

    enfermeiro da unidade, mesmo que por pouco tempo e ento sugeriram

    que os encontros acontecessem antes da passagem de planto do

    noturno. Assim, em consulta com aqueles que demonstraram interesse

    em participar da pesquisa esta pareceu a melhor opo encontrada.

    Outro aspecto que se observou foi que muitos dos in