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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS PIMES/PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DOUTORADO EM ECONOMIA PAULO JOSÉ KÖRBES OS CONDICIONANTES DA CONCENTRAÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO Projeto de Tese Recife-PE Maio de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

PIMES/PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DOUTORADO EM ECONOMIA

PAULO JOSÉ KÖRBES

OS CONDICIONANTES DA CONCENTRAÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

Projeto de Tese

Recife-PE Maio de 2016

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PAULO JOSÉ KÖRBES

OS CONDICIONANTES DA CONCENTRAÇÃO DO MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO

Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Pernambuco, em cumprimento às exigências da obtenção do grau de Doutor em Economia.

Orientador: Prof. Dr. José Lamartine Távora Júnior

Recife-PE Maio de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

PIMES/PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DOUTORADO EM ECONOMIA

PARECER DA COMISSÃO EXAMINADORA DE DEFESA DE TESE DO DOUTORADO EM ECONOMIA DE

PAULO JOSÉ KÖRBES A comissão examinadora composta pelos professores abaixo, sobre a presidência do primeiro, considera o candidato______________________. Recife, 31/05/2016

____________________________________ Prof. Dr. José Lamartine Távora Júnior

Orientador

____________________________________ Prof. Dr. Yony de Sá Barreto Sampaio

Examinador Interno

____________________________________ Prof. Dr. Ricardo Chaves Lima

Examinador Interno

____________________________________ Prof. Dr. Charles Ulises de Montreuil Carmona

Examinador Externo

____________________________________ Prof. Dr. Paulo Glício da Rocha

Examinador Externo

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Dedicatória

Aos meus mestres, familiares e amigos...

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Agradecimentos

Ao Programa de Pós Graduação em Economia, da Universidade Federal de

Pernambuco - PIMES;

À Universidade Federal de Mato Grosso, por viabilizar o Dinter UFPE/UFMT

À Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT

À Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da UNEMAT – FACISA

Ao Curso de Ciências Econômicas da FACISA

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Lamartine Távora Júnior

Aos mestres que me auxiliaram nessa jornada;

Aos amigos e colegas, que a tornaram mais branda;

Aos familiares, pela compreensão;

A todos.

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A sabedoria popular indica ser melhor para a reputação

fracassar junto com o mercado do que vencer contra ele.

John Maynard Keynes

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RESUMO

Assim como os demais setores da economia, o mercado financeiro divulga

índices de desempenho que servem de parâmetros para a tomada de decisão dos

agentes, bem como refletem as tendências predominantes do mercado financeiro

em particular, e do ambiente econômico de modo geral. No Brasil, a BM&FBovespa

centraliza o mercado organizado de títulos e, desde janeiro de 1968 divulga como

seu principal indicador o Ibovespa, índice que se tornou referência do mercado

acionário brasileiro. O Ibovespa adotava como metodologia, até dezembro de 2013,

a ponderação pelo índice de negociabilidade dos ativos componentes de sua

carteira teórica. A partir de janeiro de 2014, esta metodologia foi substituída pela

ponderação pelo valor de mercado. Para avaliar ambas metodologias, construiu-se

um índice alternativo, que adota a ponderação pelo valor de mercado, para

comparar a série histórica obtida (de janeiro de 2001 a setembro de 2015) com a

série histórica do Ibovespa. Adicionalmente, a partir de janeiro de 2014, continuou-

se a série histórica do Ibovespa desconsiderando a mudança na metodologia, o

que se passou a denominar Ibovespa Velho. De posse das três séries históricas,

de 2001 a 2015, aplicou-se as mesmas, alternadamente, como indicadores de

mercado em modelos de precificação de ativos, analisando os resultados obtidos

para chegar à conclusões acerca de ambas as metodologias. Concluiu-se que a

antiga metodologia do Ibovespa constituía-se, na prática, em um mecanismo

realimentador da concentração do mercado acionário brasileiro.

Palavras Chaves: BM&FBovespa, Índices de Bolsas de Valores, ponderação pelo

índice de negociabilidade, ponderação pelo valor de mercado

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ABSTRACT

Like other sectors of the economy, the financial market announces

performance indexes that serve as parameters for the agents decisions, as well as

reflect predominant trends in the financial market in particular, and the economic

environment in General. In Brazil, the BM&FBovespa centralizes organised market

of shares traded on the stock exchange market and, since January 1968 discloses

as its main indicator the Ibovespa index, which has become a reference in the

Brazilian stock market. Until December 2013, the Ibovespa index as adoptet by

methodology the liquidity value weight criteria to consider the weight of the stocks

that comprised its theoretical portfolio. From January 2014, this methodology has

been replaced by the weighting method based on the market value of the

companies. To evaluate both methodologies, we build an alternative index, which

adopts the market weighted by value, to compare your historical series obtained

(from January 2001 to September 2015) with the historical series of the Ibovespa

index. Additionally, since January 2014, we continue to calculate the historical

series of the Ibovespa index, but without considering the change in methodology

that occurred from 2014, what we call Old Ibovespa. With these three historical

series beginning in 2001 and continue to 2015, we use these series as indicators of

market in asset pricing models, and analyze the results obtained to be able to get to

conclusions regarding the two methodologies. We conclude that the ancient

Ibovespa's index methodology was, in practice, a mechanism that strengthened

even more the concentration of the Brazilian stock Market.

Key Words: BM&FBovespa, Stock Exchange Indexes, liquidity value weight, market value weigth

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Lista de Tabelas

Tabela 3.1 - Resumo da Carteira Teórica do Índice Unemat-200 – janeiro de 2001.................................................................................................................. 43

Tabela 4.1 - Amostra das 50 ações mais negociadas na Bovespa – 2013 – Liquidez e Beta das ações .............................................................................................. 52

Tabela 4.2 - Amostra das 50 ações mais negociadas na Bovespa – 2014 – Liquidez e Beta das ações ............................................................................................. 58

Tabela 4.3 - Amostra das 50 ações mais negociadas Bovespa – Jan/Set 2015 – Liquidez e Beta das ações ............................................................................... 60

Tabela 4.4 - Betas médios obtidos através dos índices Unemat200 e Ibovespa – 2013 a 2015 ...................................................................................................... 62

Tabela 4.5 - Retornos anuais nominais das ações, dos índices Unemat200 e Ibovespa e da Selic – 2008 a 2011 .................................................................... 64

Tabela 4.6 - Retornos anuais do ativo ABEV3 e do Ibovespa – 2008 a 2011... 66

Tabela 4.7 - Retornos anuais do ativo ABEV3 e do Unemat200 – 2008 a 2011 67

Tabela 4.8 - Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – 2012 a 2015 – Retornos Anuais ....................................................................................... 68

Tabela 4.9 - Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – Setembro 2013 e 2014 – Retornos Mensais ......................................................... 71

Tabela 4.10 - Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – Outubro 2013 e 2014 – Retornos Mensais ........................................................... 72

Tabela 4.11 - Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – Retornos Anuais, de 2012 a 2015 – Valores Nominais ...................................................................................... 73

Tabela 4.12 - Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – Retornos Mensais, de Janeiro de 2014 a Setembro de 2015 - Valores Nominais .................................... 75

Tabela 4.13 – Cotações e participações no Ibovespa – ações do Grupo X – 2012 ....... 86

Tabela 4.14 – Cotações e participações no Ibovespa – ações do Grupo X – 2013 ....... 86

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Lista de Gráficos ou Figuras

Gráfico 3.1 - Ibovespa e Unemat-200 – janeiro de 2013 a outubro de 2014 ... 45

Gráfico 4.1 - Ibovespa, Ibovespa Velho e Unemat-200 – jan/2001 a out/2014 (Base 100 = 28/12/00) ................................................................................................. 47

Gráfico 4.2 - Índice Dow Jones e Standar&Poor’s500 – jan/2001 a out/2014 (Base 100 = 28/12/00) .................................................................................................. 48

Gráfico 4.3 - Cotação de Ibovespa e Vale5 – 02jan a 30dez de 2013 (Base 100 = 02/01/13) ............................................................................................................ 54

Gráfico 4.4 - Cotação de Unemat200 e Vale5 – janeiro a dezembro de 2013 (Base 100 = 02/01/13) .................................................................................................. 55

Gráfico 4.5 - Oscilação Ibovespa, Unemat200 e Sanb11, jan a dez de 2013 (Base

100 = 02/01/13) .................................................................................................. 56

Gráfico 4.6 - Oscilação Ibovespa, Unemat200 e BBDC3, jan a dez de 2013 (Base

100 = 02/01/13) ................................................................................................... 57

Gráfico 4.7 - Reta Característica ........................................................................ 63

Gráfico 4.8 - Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – 2012 a 2015 – Valores Nominais ............................................................................................................... 74

Gráfico 4.9 - Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – Dados mensais de janeiro de 2014 a setembro de 2015 - Valores Nominais ...................................................... 76

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13

1.1 TEMA DA PESQUISA .............................................................,............ 16

1.2 PROBLEMA ......................................................................................... 17

1.3 PERGUNTAS DA PESQUISA ................................................................ 19

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Final . .......................................................................................... 20

1.4.2 Intermediários............................................................................... 20

1.5 ESTRUTURA DA TESE .......................................................................... 20

CAPÍTULO 2

CONTEXTUALIZAÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................. 21

2.1 BOLSAS DE VALORES: Histórico e Perspectivas .................................... 21

2.2 RETORNO E RISCO DE ATIVOS FINANCEIROS ................................... 27

2.2.1 A Hipótese de Eficiência dos Mercados .......................................... 27

2.2.2 Cálculo das Taxas de Retorno.......................................................... 28

2.2.3 Mensuração do Componente Risco ................................................. 29

2.2.4 A Fronteira Eficiente de Markowitz ................................................... 31

2.2.5 O Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (CAPM) ................ 33

2.2.5 A Carteira de Mercado ..................................................................... 38

2.3 TEORIA DOS NÚMEROS ÍNDICES ........................................................... 39

2.4 ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES ........................................................ 40

2.5 DISCUSSÕES RECENTES ....................................................................... 41

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CAPÍTULO 3

METODOLOGIA E MÉTODOS ......................................................................... 45

CAPÍTULO 4

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................. 50

4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................. 50

4.2 O COEFICIENTE BETA (β) DOS ATIVOS................................................ 52

4.3 O MODELO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS FINANCEIROS – CAPM 65

4.4 O VALOR DE MERCADO DAS EMPRESAS ........................................... 73

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 81

NOTA TÉCNICA ................................................................................................ 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 88

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CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO

As bolsas de valores consistem, na prática, em um local no qual tanto

compradores quanto vendedores de títulos manifestam suas intenções via preço,

bem como têm a possibilidade de contemplar as intenções dos demais agentes

participantes do mercado. Segundo Assaf Neto (2008), resumem-se num mercado

organizado no qual são negociados títulos emitidos por empresas de capital aberto.

A formação dos preços dos títulos (ações) é, em última instância, o resultado

do conflito de expectativas dos agentes. Enquanto agentes racionais, os

compradores têm expectativas otimistas com relação ao título que almejam, mas

buscam pagar o menor preço possível. Já os vendedores têm expectativas

opostas, porquanto buscam obter o maior preço possível. Em suma, consiste na

essência da lei da oferta e demanda.

Como em um mercado organizado a quantidade de títulos disponibilizados

para negociação é vasta, bem como pode ser um tanto quanto turbulenta a

movimentação do conflito de expectativas dos agentes, os investidores

normalmente buscam por uma espécie de proxy do mercado, uma bússola que

indique a direção das expectativas e tendências predominantes, em um

determinado período do tempo. E, nestas circunstâncias, o ideal seria que o

investidor tivesse acesso a uma carteira de mercado, que contivesse os preços de

todos os ativos negociados no mercado.

A carteira de mercado ideal deveria conter os preços de todos os ativos

disponíveis. Não apenas títulos privados ou públicos, mas também preços de

commodities, bens imóveis, obras de arte, joias e raridades, enfim, o preço de

todas as alternativas de investimentos disponíveis ao investidor. Por si só, e por

sua abrangência e dificuldade de aferição, conclui-se que a carteira de mercado

ideal não é possível de concretização. Se de difícil construção momentânea

(estática), impossível de forma temporal (dinâmica).

Diante da dificuldade da construção/divulgação de uma carteira de mercado

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ideal para nortear a tomada de decisão dos investidores, Harry Markowitz (1952)

introduziu o conceito de carteira de mercado, ou a “Teoria das Carteiras”,

assumindo por base uma carteira formada por ativos negociados em bolsas de

valores, que servisse de proxy, ou referência (benchmark)1 para todo o mercado de

capitais.

Embora o objetivo maior de Markowitz fosse analisar a relação risco/retorno

de investimentos, seu conceito de carteira de mercado, representada pelos índices

de bolsas de valores constitui-se, na prática, em uma referência para os

investidores. Segundo Leite & Sanvicente (1995), os índices de bolsas prestam-se

como fiéis termômetros das expectativas sentidas pelos investidores em relação ao

futuro desempenho da economia. Se as oscilações das cotações são resultantes

do conflito de expectativas dos agentes, as oscilações dos índices de mercado

refletem as tendências destas expectativas.

Para o mercado de capitais brasileiro, o índice de ações divulgado pela

BV&F Bovespa, o Ibovespa – definido como um índice de lucratividade de uma

carteira de ações hipotética, cuja representação gráfica constitui instrumento

utilizado pelos analistas para a avaliação das tendências futuras dos negócios em

bolsa - assumiu o papel de benchmark1 do mercado acionário brasileiro.

Apesar desta consagração e reconhecimento como o mais representativo

indicador do mercado acionário brasileiro, por sua metodologia de cálculo peculiar

– que adotava a ponderação da carteira teórica pelo índice de liquidez em bolsa de

seus ativos componentes2 – o Ibovespa também abria margens a críticas por seu

elevado grau de concentração. E, paralelamente a estas, introduz-se a discussão

acerca da metodologia mais apropriada para a construção de índices de ações: a

ponderação pelo valor de mercado (value weighted) versus ponderação pelo índice

de liquidez dos ativos (liquidity weighted).

Devido à sua tradição e representatividade, correntes pró-ponderação pela

1 O termo benchmark é usado para referir-se a um padrão tomado como base para se avaliar a evolução de uma

carteira de investimentos.

2 Em janeiro de 2014 a Bovespa mudou a metodologia de cálculo do seu índice, passando a adotar a ponderação

pelo valor de mercado das empresas emissoras.

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liquidez afirmam que a discussão presente nos critérios para a formação da

carteira teórica do Ibovespa não questiona a sua metodologia, mas o alto grau de

concentração do mercado em um número reduzido de ações. Assim, entendem

que a concentração do índice é meramente uma reprodução da estrutura

econômica, e que a lógica da formação da carteira teórica atendia a regras

técnicas e claras, ou seja, inclusões e exclusões impessoais, determinadas pela

negociabilidade indicada pelo mercado. Desta forma, o índice prestava-se apenas

a refletir fielmente os pregões, cumprindo na íntegra o objetivo a que se propunha.

Por outro lado, exposta à luz dos quesitos teóricos, a metodologia e critérios

de ponderação do índice sugeria que sua influência sobre o comportamento dos

agentes do mercado acabava transcendendo a mera função de refletir os

movimentos destes. Mais do que isto, a ponderação pelo índice de liquidez das

ações revelava-se inadequada não apenas por ponderar os ativos de forma distinta

à exigida pela concepção de carteira de mercado, introduzida pela moderna teoria

de finanças, mas também por acabar exercendo a função de uma espécie de

mecanismo realimentador do processo de concentração3.

Com base no exposto, assume-se a hipótese de que a rentabilidade

apontada pelo Ibovespa, enquanto carteira teórica representativa da carteira de

mercado, e cujo objetivo principal consiste em reproduzir os movimentos ou

tendências das oscilações médias do conjunto de ações negociadas na Bolsa de

Valores de São Paulo, acabava sofrendo influência demasiada da concentração do

mercado, justamente por adotar a ponderação pelo índice de liquidez dos ativos

componentes, e não a ponderação pelo valor de mercado. Outrossim, esta

metodologia acabava fortalecendo a dinâmica da concentração, refletindo com

distorções os movimentos do mercado. A partir destas premissas, decidiu-se

verificar esta hipótese, frente à comparação entre a série histórica do Ibovespa e a

de um índice alternativo, cuja metodologia contemple a ponderação pelo valor de

mercado dos ativos componentes de sua carteira teórica.

3 As evidências empíricas de tal mecanismo podem ser observadas na prática pela crescente difusão de fundos de

ações cuja carteira objetiva replicar o Ibovespa, também conhecidos como fundos indexados.

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1.1. TEMA DA PESQUISA

A análise comparativa entre as metodologias de ponderação dos ativos da

carteira teórica pelo índice de negociabilidade ou pelo valor de mercado das

empresas, constituirá o tema deste trabalho

A construção de índices de bolsas de valores, representativos da carteira de

mercado - ou das alternativas de investimento em ativos com risco disponíveis no

mercado – requer, segundo a Moderna Teoria de Finanças, que os seus pesos

relativos na carteira teórica sejam ponderados pelos seus respectivos valores de

mercado. Esta prática é adotada pelos índices representativos das principais

bolsas de valores do cenário internacional, dentre as quais podemos citar o

Standard & Poor’s 500 (S&P500, Bolsa de Nova York), Financial Times Stock

Exchange (FTSE100 - Bolsa de Londres), Tokyo Price Index (Topix – Bolsa de

Tóquio), e Compagnie des Agents de Change (CAC240 – Bolsa de Paris). As

principais exceções ficam por conta dos índices Dow Jones (Bolsa de Nova York),

e do Ibovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), até janeiro de 2014.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) foi lançado em 02 de

janeiro de 1968, e até fins de dezembro de 2013 não havia sofrido nenhuma

mudança em sua metodologia de cálculo ou critérios de seleção das ações

componentes de sua carteira teórica. Durante este período, sofreu diversos cortes

de zeros, sendo dividido o número índice por 10, sem prejuízo à sua metodologia

de cálculo, realizados unicamente com o objetivo de reduzir o seu número de

dígitos, elevado sobremaneira durante o processo inflacionário.

Da análise da metodologia peculiar do Ibovespa, no período compreendido

entre janeiro de 1968 a dezembro de 2013, emerge uma questão fundamental para

a compreensão dos reais motivos da concentração do mercado acionário brasileiro:

se a adoção do Ibovespa como índice representativo da carteira de mercado, em

modelos que se proponham a avaliar a relação risco/retorno de carteiras de

investimento, pode resultar em análises viesadas, então o índice não era

concentrado apenas por limitar-se a espelhar a estrutura de um mercado

tradicionalmente concentrado. A influência do índice sobre o comportamento dos

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agentes do mercado transcendia a mera função de indicador, exercendo o papel de

mecanismo realimentador da concentração.

Na prática, o trabalho do gestor de carteiras de ações que objetive obter

rentabilidade próxima à média do mercado, não precisava passar por complexas

análises fundamentalistas, técnicas ou aplicações de modelos de precificação de

ativos. Bastava “carregar” sua carteira com ativos de maior peso na carteira teórica

do índice. Este procedimento contribuía para a realimentação do processo de

concentração do mercado, e só era possibilitado devido à metodologia de

ponderação do Ibovespa.

Destarte, pretende-se comparar os resultados da aplicação da série histórica

do Ibovespa em modelos de precificação de ativos, comparativamente aos obtidos

utilizando-se um índice alternativo, que utilize como critério de ponderação dos

ativos em sua carteira teórica o valor de mercado das respectivas empresas

emissoras.

1.2. PROBLEMA

A antiga metodologia de ponderação dos ativos da carteira teórica pelos

seus respectivos índices de negociabilidade, adotada pelo Ibovespa, constituía-se,

na prática, em um mecanismo de fomento à concentração do mercado de ações

brasileiro.

De acordo com Assaf Neto (2008), com o objetivo de atualizar a carteira

teórica, tornando-a mais representativa do mercado, quadrimestralmente a

Bovespa recompõe a carteira teórica do índice, incluindo os papéis mais

representativos dos últimos 12 meses anteriores à recomposição, e excluindo

aqueles com menor participação.

Como o objetivo de muitos agentes, e em especial os investidores

institucionais, consiste em obter uma rentabilidade pelo menos próxima à obtida

pela média do mercado (o que é refletido pela rentabilidade de seu índice

representativo), é natural deduzir que estes agentes procuram destinar a maior

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parte dos recursos disponíveis para a aquisição de papéis com maior peso na

carteira teórica do índice. E, na medida em que outros agentes adotam a mesma

estratégia ou comportamento, é natural que os papéis que detinham o maior peso

relativo na carteira teórica, serão os mais negociados no período e,

consequentemente, terão elevados seus respectivos índices de negociabilidade.

Assim, no quadrimestre seguinte, por ocasião da recomposição da carteira

teórica do índice realizado pela bolsa, estes papéis que tinham maior peso, passam

a ter peso maior ainda, aumentando sua participação relativa na composição do

índice. Como consequência deste processo, fruto da metodologia adotada, os

negócios passam a se concentrar em apenas alguns poucos papéis.

E no lado real da economia, os impactos negativos desse processo

pejorativo de concentração passa a ser percebido pelas empresas cujos papéis

tem baixo ou inexpressivo índice de liquidez em bolsa, por ocasião de subscrição

de novas ações com o objetivo de captar recursos financeiros junto ao mercado

que financiem seus projetos de expansão.

De fato, diante da possibilidade de uma subscrição (emissão de novas ações

para captar recursos não exigíveis junto ao mercado) mal sucedida, muitas

empresas engavetam projetos de expansão, o que inibe a atividade econômica e

os níveis de produção, emprego, renda, etc. Em suma, o processo de concentração

do mercado de ações acaba transgredindo a principal função do mesmo, que se

resume em intermediar a alocação de recursos financeiros entre unidades

superavitárias e unidades deficitárias.

Portanto, avaliar se a antiga metodologia do Ibovespa contribuiu para com a

concentração do mercado acionário brasileiro e, consequentemente, com a inibição

do desenvolvimento da economia, constitui-se no escopo deste trabalho.

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1.3. PERGUNTAS DA PESQUISA

Dadas as considerações anteriores, levando em conta a antiga metodologia

de ponderação adotada pelo Ibovespa, alguns questionamentos emergem da

pesquisa, a saber:

i) A metodologia de ponderação dos ativos componentes da carteira

teórica pelo índice de negociabilidade dos mesmos, contribuiu com a

concentração do mercado de ações brasileiro em alguns poucos

papéis?

ii) Se o índice de bolsa utilizado em modelos de precificação de ativos

for viesado, as análises resultantes em consequência do uso do

mesmo como índice representativo dos retornos médios do mercado

também resultam viesadas?

iii) A metodologia peculiar adotada pelo Ibovespa, até dezembro de

2013, exerceu alguma influência sobre o comportamento dos agentes

de mercado?

Para buscar respostas às mesmas, precisamos fazer análises comparativas,

aplicando ao mesmo modelo, no mesmo período de tempo, outro índice de

mercado que adote metodologia de ponderação diferenciada à do Ibovespa.

Para tanto, construiu-se um índice alternativo, cuja metodologia de

ponderação contemplasse a mesma adotada pelos principais índices

representativos dos retornos médios das principais bolsas de valores do mercado

internacional, ou seja, a ponderação dos ativos de acordo com o valor de mercado

das respectivas empresas emissoras dos ativos negociados no mercado de ações

brasileiro.

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1.4. OJETIVOS

1.4.1 - Objetivo final:

Avaliar se a metodologia de ponderação dos ativos da carteira teórica pelo

índice de negociabilidade, utilizada pelo Ibovespa até dezembro de 2013, contribuiu

para com o processo de concentração do mercado acionário brasileiro.

1.4.2 - Objetivos Intermediários:

Revisão da literatura: conceitos de números índices, índices de bolsas,

metodologia Ibovespa

construir um índice alternativo (Unemat-200) com ponderação pelo valor de

mercado, de janeiro de 2001 a dezembro de 2015

Análise comparativa usando alternadamente ambos índices em modelos

(CAPM), cálculo do beta dos ativos, movimentos e tendências do mercado

1.5. ESTRUTURA DA TESE

Este trabalho será subdividido em cinco seções. Na primeira, faz-se a

apresentação do tema da pesquisa e sua justificativa, bem como apresenta-se as

motivações e objetivos da mesma; na seção seguinte, faz-se uma contextualização

do tema, abordando o papel das bolsas de valores, seu histórico de evolução, sua

situação atual e perspectivas futuras. Também introduz-se conceitos tais como

retorno e risco de ativos financeiros, a teoria dos números índices, índices de

bolsas de valores, evidências empíricas e as conclusões da seção; a terceira seção

apresenta a metodologia para o cálculo dos índices Ibovespa e Unemat 200 e suas

diferentes etapas de construção, as fontes dos dados e os softwares utilizados; na

quarta seção é feita a apresentação e análise dos resultados, a comparação da

aplicação dos modelos usando alternadamente o Ibovespa e o Unemat 200 e as

conclusões e sugestões da seção; finalmente, na última seção, apresenta-se as

conclusões e recomendações do trabalho.

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CAPITULO 2

2. CONTEXTUALIZAÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 BOLSAS DE VALORES: Histórico e Perspectivas Futuras

O Mercado de Capitais em geral, e as Bolsas de Valores em particular, têm

estreita relação com o desenvolvimento da economia. Através de seus

mecanismos de negociação de títulos emitidos por empresas de capital aberto,

permitem aos agentes superavitários (investidores) transferirem recursos aos

agentes deficitários (empresas), possibilitando que projetos de expansão/produção

sejam viabilizados.

As sociedades anônimas, também conhecidas por sociedades por ações ou

empresas de capital aberto, surgiram em decorrência de grandes

empreendimentos destinados à exploração colonial, ainda no início do século XVII.

A primeira das sociedades anônimas conhecida foi a Companhia Holandesa das

Índias Orientais, que data de 1602. Foi a política colonialista, juntamente com o

capitalismo mercantil que visavam o domínio das terras na América, Índia e África,

que moldaram o berço das sociedades anônimas..

As sociedades anônimas também exerceram papel fundamental durante o

período da conquista do oeste dos Estados Unidos da América. Em 1862,

enquanto o governo americano encontrava-se envolvido com a guerra civil (1861 a

1865), empresas ferroviárias constituídas na forma de sociedades anônimas, tais

como a Union Pacific, graças à captação de recursos junto a investidores diluídos

pelo mercado, estendiam seus trilhos a partir de Chicago, para além do Rio

Mississipi, até atingir a Costa Oeste. Empreendimentos de tal porte só se tornaram

possíveis graças aos mecanismos de captação de recursos financeiros não

exigíveis junto a investidores. Ao mesmo tempo em que permite o financiamento do

empreendimento, essa captação de recursos via chamada de novos sócios

também se consiste numa forma de diluir os riscos do empreendimento.

No Brasil, a primeira sociedade anônima da qual se tem notícia é a Cia. De

Comércio do Brasil S.A. (1636), e a segunda, o Banco do Brasil S.A. (1808). Mas,

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pode-se afirmar que a trajetória da economia brasileira confunde-se com a do seu

mercado de capitais, aqui particularmente representado pela Bolsa de Valores de

São Paulo (Bovespa). Criada ainda no fim do Império (1890), a Bovespa resistiu a

períodos de intensa turbulência, que marcaram a primeira metade do século XX

(Crash da Bolsa de Nova York, em 1929, e conflitos bélicos). Testemunhou o

processo de transição de uma economia meramente agroexportadora para uma

economia industrial promissora, além de registrar participação ativa no processo de

reformulação do sistema financeiro nacional (anos de 1960).

Durante os anos 70, do século passado, enquanto o país vivia a euforia do

milagre econômico, a Bovespa apostou na transparência e divulgação de

informações a respeito do mercado. Já nos anos 80, considerada a década

perdida, o país buscava resolver seus problemas econômicos. Iniciava-se a era dos

planos econômicos, que culminaria com a implantação do Plano Real, em meados

da década seguinte.

Superada a fase de instabilidade, a Bovespa desponta como expoente do

mercado acionário brasileiro e consolida sua posição de liderança, chegando ao

século XXI dominando praticamente a totalidade das transações bursáteis

brasileiras. E, seguindo a tendência observada no cenário internacional, abre suas

portas aos demais mercados, tendo como meta consolidar sua posição de

referencial para o mercado acionário latino-americano.

Embora notória a contribuição do mercado de capitais, e dos mecanismos

que permitem a negociação de ações em bolsas de valores, para o

desenvolvimento de economias capitalistas, no Brasil este mercado ainda era

apresentado revestido de uma espécie de “tabu”, segundo o qual operações desta

natureza são reservadas a grandes agentes ou dealers que dispõem de muito

capital, longe do alcance, portanto, do pequeno investidor.

Esta concepção era alicerçada basicamente por duas razões distintas: i)

uma espécie de trauma resultante da era do milagre econômico brasileiro (primeira

metade da década de 70)4, que expulsou milhares de pequenos investidores do

4 Nesta ocasião, muitos investidores, embalados pela euforia da conjuntura econômica do país, desfizeram-se de

ativos imobiliários para aplicá-los em títulos de empresas negociadas em bolsas de valores. Mas, em função do primeiro

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seio do mercado de capitais, popularizando o ditado segundo o qual “bolsa de

valores é um mercado onde muitos perdem pouco... e poucos ganham muito”; ii) a

histórica instabilidade econômica cerceou o fortalecimento de uma cultura

poupadora e, aliada à criação dos mecanismos de correção monetária, iludia o

pequeno investidor, direcionando suas poupanças a produtos financeiros mais

populares e/ou tradicionais.

Neste contexto, as operações em bolsas de valores ficaram resumidas,

durante as décadas de 70, 80 e até meados dos anos 90, basicamente a

instituições financeiras (bancos comerciais e múltiplos, corretoras, DTVMs5 e

sociedades financeiras), investidores institucionais (Cias. seguradoras, fundos de

pensão, fundos de seguridade, fundos mútuos e clubes de investimentos) e

investidores estrangeiros. A participação de pessoas físicas no montante total dos

negócios à vista dificilmente ultrapassavam a marca dos 7%, conforme relatórios

publicados na Revista Bovespa6. E, mesmo assim, certamente deste montante a

participação de pequenos investidores tenha sido inexpressiva.

Em meados da década de 90, este cenário passa a ser paulatinamente

modificado. Com a relativa estabilidade da economia, a partir da implantação do

Plano Real (julho de 1994) e, consequentemente, com o fim da ilusão

proporcionada pela correção monetária, grande parte de pequenos investidores

passou a se mostrar insatisfeita com a rentabilidade de suas poupanças, partindo

em busca de alternativas mais atraentes para seus investimentos.

Concomitantemente, a evolução de novas tecnologias, particularmente a difusão da

internet, constituiu-se num atalho que permitiu ao pequeno investidor o acesso a

um mercado até então tido como “exclusivo” a grandes investidores.

Fatores conjunturais, como as sucessivas crises financeiras internacionais7,

também contribuíram para a popularização dos investimentos em bolsa, uma vez

que afugentaram grande parcela dos investidores estrangeiros, forçando a adoção

choque do petróleo (dezembro de 1973), as bolsas de valores brasileiras passaram por uma forte reversão de tendência,

culminando em significativos prejuízos para pequenos investidores, tradicionalmente os de curto prazo.

5 Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários

6 Revista Bovespa. Publicação mensal da Bolsa de Valores de São Paulo, várias edições.

7 Crise Asiática (1997), Crise Russa (1998), Crise Cambial Brasileira (1999), Crise Argentina (2000), Crise da

Economia dos EUA (2001), e a Crise Financeira Global (2008).

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de medidas institucionais8 para atrair os investidores domésticos. Assim, em maio

de 2008 a Bovespa (bolsa de ações) funde-se com a tradicional BM&F (bolsa de

derivativos), consolidando-se numa das principais bolsas mundiais.

Assim, no limiar do século XXI, com os avanços tecnológicos derrubando as

antigas barreiras à entrada aos pequenos investidores9 e, considerando-se que

este mercado apresenta-se como uma alternativa promissora à constante busca de

investimentos mais atraentes, entendemos que o direcionamento das poupanças

individuais à compra de ações de empresas em bolsas de valores é um mercado

ainda muito promissor, por duas razões muito simples:

i) primeiro, porque acreditamos que nenhuma economia se desenvolve

à margem de um mercado de capitais forte. Entendemos que os

ganhos líquidos dos investidores do mercado de ações tendem a

refletir ganhos efetivos para a comunidade (expressos através do

aumento na produção de bens e serviços, o consequente aumento

nos níveis de empregos, salários e renda), contribuindo para o

desenvolvimento da economia. Em suma, compartilhamos da opinião

de OLIVEIRA (1980), segundo o qual, o mercado bursátil impulsiona

um mercado amplo de ações que beneficia as empresas10.

ii) Segundo, porque entendemos que o pequeno investidor tem papel

fundamental na consolidação do mercado acionário brasileiro e,

portanto, não pode ficar à mercê de traumas semelhantes ao da

geração da década de 7011, vendo frustradas suas investidas neste

8Dentre estas medidas, podemos citar o lançamento do sistema “home broker” da Bovespa, que possibilita a

negociação de ações via internet; o “after market”, ou seja, a ampliação do horário para operações eletrônicas após o

fechamento do mercado; os leilões de ações de empresas estatais (Vale do Rio Doce e Petrobrás), nos quais os

trabalhadores puderam usar recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; dentre outras iniciativas institucionais

(como a campanha “Bovespa vai à praia”), cujo objetivo consiste na popularização deste tipo de investimento.

9A maioria dos grandes bancos comerciais já disponibiliza o acesso às operações no mercado eletrônico da Bovespa

aos seus correntistas.

10Segundo este raciocínio, quem empresta dinheiro a juros, recebe uma taxa de remuneração que lhe permite acesso

ao produto social, sem que necessariamente seu capital tenha contribuído para o aumento deste produto social. Em

contrapartida, quem compra ações de empresas para receber dividendos, assume riscos. Portanto, só terá direito a participar

do produto social se sua poupança for efetivamente alocada numa atividade realmente produtiva, e se contribuir para a

formação do produto social.

11Ver Nota de Rodapé nº 4

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mercado, basicamente por encontrar-se desprovido de ferramentas

ou parâmetros que o auxiliem por ocasião da tomada de decisão em

investir seus recursos financeiros.

E, uma das principais ferramentas à disposição dos investidores resume-se

nos índices de desempenho, ou índices de bolsas de valores. Estes servem como

parâmetro de referência e permitem aos investidores avaliarem seus investimentos

em tempo real.

Aliado à performance da BM&FBovespa S.A., o índice de ações por ela

divulgado, Ibovespa assume o papel de principal referência do mercado acionário

brasileiro. Apesar desta consagração e reconhecimento, sua metodologia de

cálculo peculiar – que adotava a ponderação da carteira teórica pelo índice liquidez

em bolsa de seus ativos componentes – o Ibovespa também abria margens a

críticas por seu elevado grau de concentração. Estas críticas eram ainda mais

contundentes antes da era das privatizações de empresas estatais, durante os

anos de 1990, período em que apenas uma estatal chegava a concentrar quase

70% dos pesos do Ibovespa.

A rentabilidade divulgada pela bolsa “(...) representa, na verdade,

uma ilusão estatística. Ela espelha o chamado índice Bovespa, cuja

variação é influenciada apenas por uns poucos papéis, principalmente

os de empresas estatais, e não pela maioria das ações negociadas

nos pregões” (Exame, ed. 627, p.52); “(...) Com a concentração, o

índice Bovespa deixou de ser um bom termômetro para medir o

comportamento da economia brasileira”, (Ídem, p.53); “A grande

concentração do Ibovespa faz com que uma mudança num único

papel possa derrubar ou levantar muito o índice”, (Ibidem, p.53); “(...)

Os negócios com as ações ordinárias e preferenciais da Telebrás

respondem, em média, por 70% da movimentação da Bolsa de

Valores de São Paulo. (...) Esta concentração nos papéis da estatal

de telecomunicações acaba influenciando decisivamente o

comportamento dos índices das bolsas brasileiras”. (Gazeta Mercantil,

25/02/97, p. C-6); “(...) Quem pensa que o Ibovespa é o parâmetro do

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mercado está muito enganado”, (Exame, ed. 608, p.124-132).

E, paralelamente a estas críticas, introduz-se a discussão acerca da

metodologia mais apropriada para a construção de índices de ações: a ponderação

pelo valor de mercado (value weighted) versus ponderação pelo índice de liquidez

dos ativos (liquidity weighted).

Com base no exposto, assume-se a hipótese de que a rentabilidade

apontada pelo Ibovespa, enquanto carteira teórica representativa da carteira de

mercado, e cujo objetivo principal consiste em reproduzir os movimentos ou

tendências das oscilações médias do conjunto de ações negociadas na Bolsa de

Valores de São Paulo, acabava sofrendo influência demasiada da concentração do

mercado, justamente por adotar, até dezembro de 2013, a ponderação pelo índice

de liquidez dos ativos componentes, e não a ponderação pelo valor de mercado.

Outrossim, esta metodologia acabava fortalecendo a dinâmica da concentração,

refletindo com distorções os movimentos do mercado.

Em janeiro de 2014, influenciada pelo mau desempenho do índice no ano

anterior, em função do “derretimento” das ações de empresas de um empresário e

que, por serem muito negociadas, tinham grande peso na carteira teórica do

Ibovespa, a Bovespa decidiu mudar sua metodologia de cálculo, passando a adotar

a ponderação dos ativos componentes da carteira teórica do índice pelo valor de

mercado das suas respectivas empresas emissoras.

Assim, com a mudança na metodologia de ponderação adotada pelo

Ibovespa, a partir de janeiro de 2014, acredita-se que as perspectivas futuras para

o mercado de capitais brasileiro altera-se significativamente para melhor.

Primeiro, porque com a eliminação do mecanismo realimentador da

concentração (a ponderação pelo índice de negociabilidade), deverá ocorrer uma

mudança no comportamento dos agentes, pois terão que recorrer a análises ou

estratégias distintas para a tomada de decisão, processo que não mais se resumirá

em comprar ativos de maior peso no índice.

Segundo, porque com a redução significativa da concentração, a

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canalização de recursos às empresas de menor porte, por ocasião de subscrição

de novas ações, não enfrentará o entrave da reduzida liquidez em bolsa de seus

ativos, antes ocasionada pela forte concentração do mercado em apenas alguns

poucos ativos.

2.2 RETORNO E RISCO DE ATIVOS FINANCEIROS

A moderna teoria de finanças, nos moldes em que é conhecida atualmente,

tem seus pilares fundamentados na hipótese da eficiência dos mercados. E,

certamente, um dos marcos de seu desenvolvimento foram as contribuições de

Markowitz, a partir das quais novos trabalhos foram desenvolvidos, suscitando

diversos estudos referentes à adaptação de teorias matemáticas e estatísticas à

avaliação de decisões financeiras em condições de risco.

No presente capítulo, tendo por base principalmente livros texto como os de

Assaf Neto (2000), Ross (1995) e Sanvicente & Mellagi Filho (1992), bem como

artigos e textos pertinentes ao tema, far-se-á uma revisão teórica acerca dos

fundamentos da moderna teoria de finanças, buscando fornecer ao leitor uma ideia

geral sobre a mesma. O próximo item trata da hipótese de eficiência dos mercados;

em seguida, uma abordagem acerca do cálculo de taxas de retorno e mensuração

do componente risco; o quarto discorre sobre a fronteira eficiente, enquanto o

seguinte enfatiza o modelo de precificação de ativos (CAPM); finalmente, no último

item da seção serão apresentadas as considerações finais do capítulo.

2.2.1 – A Hipótese da Eficiência dos Mercados

Um dos conceitos básicos da Teoria de Finanças consiste na hipótese da

eficiência dos mercados, segundo a qual os preços dos ativos financeiros fornecem

sinais suficientemente adequados para a alocação de recursos. Conforme ilustrado

em seu artigo, Fama (1970) descreve o mercado como um ambiente no qual as

empresas ou unidades produtivas tomam decisões relativas à produção e

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investimentos, e investidores decidem quanto à posse dos ativos destas mesmas

empresas, sob a prerrogativa de que os preços dos ativos refletem

instantaneamente todas as informações relevantes disponíveis.

Recentemente o tema tem sido objeto de inúmeros estudos12 que objetivam

colocar sob análise a eficiência dos mercados, a partir de evidências apontadas por

hipóteses como a da previsibilidade dos preços, teoria do caos, redes neurais, e

até mesmo anomalias de calendários (por exemplo, efeitos janeiro e segunda-

feira). Todas estas iniciativas, embora revelando indícios de eventuais ineficiências,

obtidos através de técnicas sofisticadas e aliados à evolução da informática, têm se

mostrado incapazes de rejeitar a hipótese de mercados eficientes, ou seja, aqueles

nos quais os indivíduos agem de forma racional e cujas informações relevantes

estão constantemente refletidas nos preços dos ativos financeiros.

Portanto, embora algumas evidências empíricas apontem para anomalias e

contestem a eficiência dos mercados, estas normalmente são assumidas como

falha de especificação do modelo de avaliação. Por outro lado, a hipótese da

eficiência dos mercados é assumida na grande maioria dos modelos de avaliação

de ativos, dentre os quais destacam-se os realizados por , Sharpe (1964), Lintner

(1965) e Black (1972); Ross (1976); Merton (1973); Rubinstein (1976); Lucas

(1978); Breeden (1979) e Cox, Ingersoll, Ross (1985).13

2.2.2 – Cálculo das Taxas de Retorno

No contexto das finanças, o retorno sobre ativos financeiros de qualquer

natureza consiste na relação entre seu fluxo monetário total e o seu preço, de

modo que qualquer investimento em títulos somente seja efetivado se houver a

expectativa, por parte dos agentes, de obterem retornos futuros que compensem a

postergação do consumo presente. Esta compensação, ou retorno adicional

exigido, também conhecida por prêmio pelo risco, consiste num ganho de capital

12

Para uma síntese dos trabalhos empíricos que negam a eficiência dos mercados, bem como dos que a

atestam, ver Bruni e Famá (1998).

13 Para uma análise mais detalhada destes modelos, ver Fama (1991).

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que justifica a exposição a maiores níveis de risco. O cálculo das taxas de retorno

pode ser efetuado da seguinte forma:

100*11

t

ttt

P

PPR (2.1)

Onde: Rt+1 = Retornos no período t+1; Pt = Preço do ativo no período inicial; Pt+1 = Preço do ativo no período final.

Considerando-se que, além do ganho de capital decorrente da oscilação dos

preços, no mercado acionário o investidor também pode, eventualmente, auferir

ganhos decorrentes de pagamentos de dividendos por parte das empresas

emissoras dos títulos, a equação (2.1) pode ser reescrita da seguinte forma:

100*11

1

t

tttt

P

DivPPR (2.2)

Onde:

Divt+1 = Dividendos recebidos no período.

Portanto, ao optar por um investimento em títulos de risco, ao investidor

compete avaliar o comportamento de dados passados do ativo, bem como

indicadores econômicos e financeiros da empresa, da indústria e até mesmo da

conjuntura, de modo a certificar-se de que exista forte expectativa de que o preço

futuro (Pt+1) seja superior ao preço inicial (Pt), gerando o ganho financeiro

esperado.

2.2.3 – Mensuração do Componente Risco

Por mais detalhada que seja a avaliação do investimento, nada garante ao

investidor que suas expectativas se realizem, ou seja, a análise seletiva do ativo

não elimina o fator risco. A existência deste, por sua vez, justifica a exigência de

retornos mais elevados. Conforme noção introduzida por Knight (1921),

investimentos em setores ou atividades da economia com níveis de risco mais

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elevados devem exigir, em contrapartida, retornos mais elevados, de forma que

possam atrair os recursos de que necessitam14.

O modo mais prático de mensurar o risco ao qual o investidor está exposto,

ao adquirir um título, consiste em calcular a variância ( 2 ) e o desvio padrão ( )

dos retornos de n períodos passados do mesmo, normalmente distribuídos. A

variância pode ser obtida através da equação abaixo, enquanto o desvio padrão é

sua raiz quadrada:

2

1

2

1

1

n

i

i RRn

(2.3)

Onde:

2 = Variância dos retornos do ativo; Ri = Taxas de retornos do ativo no período i até t;

R = Retorno médio do ativo no período i até t; n = número de observações.

Uma vez que os retornos do ativo tenham uma distribuição normal, e

conhecendo a variância e o desvio-padrão do mesmo (este último apresentado na

mesma unidade da variável), o investidor pode mensurar o risco a que estará se

expondo ao efetuar o investimento. Isto permite que minimize o grau de risco total

de seu investimento através da escolha de ativos de menor nível de dispersão da

distribuição normal de sua própria média histórica de retornos.

A intuição do cálculo da variância de um título consiste em refletir o grau de

incerteza do investidor. Conforme Ross (1995), quando a distribuição da série

histórica dos retornos do ativo apresentar uma dispersão muito elevada em relação

à sua média, a expectativa dos retornos futuros é muito incerta. Em situação

análoga, quando a distribuição dos retornos apresentar uma pequena dispersão,

pode indicar um elevado grau de confiança nos resultados esperados.

14

Aqui vale lembrar que existe diferença entre as noções de risco e incerteza. Sob condições de risco, a cada

evento possível é assegurada uma probabilidade de ocorrência. Logo, admite-se que a distribuição da probabilidade é

conhecida, enquanto que em condições de incerteza tal distribuição é desconhecida.

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2.2.4 – A Fronteira Eficiente de Markowitz

A noção de risco associada à variância de cada título individual foi consenso

no contexto das finanças, até o surgimento do conceito básico da moderna teoria

do portfolio, a partir de Markowitz15 (1952). Estas indicam que o gerenciamento do

risco/retorno de uma carteira deve estar voltado à sua composição total, e não

individualmente a cada título componente.

Markowitz fundamenta sua teoria com base no comportamento racional dos

investidores, ou seja, se existem dois ativos com os mesmos níveis de risco, mas

com diferentes expectativas de rentabilidade, eles preferem escolher o de maior

rentabilidade; da mesma forma, se existem dois ativos com a mesma expectativa

de retorno, mas com diferentes níveis de risco, preferem o de menor risco.

Também considera que os investidores estão de acordo quanto às distribuições de

probabilidades das taxas de retorno dos ativos.

A partir destas premissas, introduziu o conceito de fronteira eficiente da

relação risco versus retorno. Em essência, classificou como carteiras eficientes

aquelas cuja rentabilidade não mais possa ser incrementada sem que para tanto se

aumente sua exposição ao risco, ou cuja exposição ao risco não possa ser

diminuída sem que se reduza sua rentabilidade. A Figura 2.1, abaixo, ilustra a

situação descrita, onde a fronteira eficiente é a parte superior (em negrito) do

conjunto:

Risco (p )

Risco

15

Por desenvolver um modelo que ficaria conhecido por Moderna Teoria de Carteiras, Harry Markowitz recebeu

o Prêmio Nobel de Economia, em 1990.

Figura 2.1

Conjunto de Oportunidades de Investimento em Ativos com Risco

Risco

E(R)= R p

(Retorno Esperado)

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A partir do conceito de fronteira eficiente, Markowitz (1959) afirma que a

diversificação da carteira, com o objetivo da redução de risco, só é eficiente quando

constatada correlação inferior à unidade entre os retornos dos títulos envolvidos.

Neste caso, a carteira como um todo apresentaria menor variação – e

consequentemente menor risco - do que qualquer um dos títulos individuais. Em

essência, constata que enquanto a variância de um ativo qualquer representa o

risco associado ao mesmo, numa carteira, composta por mais de um ativo, as

variâncias individuais de cada um podem ser minimizadas – a partir da

diversificação ou inclusão de novos ativos – de modo que a variância global da

carteira passe a ser representada por sua covariância média. A figura 2.2 ilustra o

exposto.

Conforme a figura 2.2, observa-se que na medida em que aumenta a

quantidade de títulos na carteira, a variância da mesma tende a se aproximar

assintoticamente do piso mínimo dado pela covariância entre os retornos de cada

par de títulos, uma evidência do efeito de diversificação, ou seja:

Variância do retorno da carteira (quando n ) = Cov

* Pressupõe-se que todos os títulos adicionados à carteira tenham a mesma variância, covariância e o mesmo peso.

Número

de Títulos

Variância do

Retorno da

Carteira

Risco diversificável

Risco não diversificável

___ Var

___

Cov

Figura 2.2

Relação entre a variância do retorno de uma carteira e o

número de títulos nela contidos*

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Assim, o risco não sistemático, isto é, a parcela de risco total inerente a cada

ativo individual, pode ser eliminado a partir da diversificação16, uma vez que é

representado pela diferença entre a variância individual do ativo e a covariância

dos ativos da carteira.

A outra parcela componente do risco total da carteira, o risco sistemático ou

não diversificável, relacionada a fatores estruturais da economia como um todo, ou

seja, em função das oscilações do mercado associadas a macroeventos, é

exógena e foge ao controle do investidor.

2.2.5 – O Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (CAPM)

As conclusões de Markowitz (1959), baseadas no modelo da fronteira

eficiente, indicam o modo pelo qual os investidores comparam retorno esperado e

risco, assim como a forma pela qual podem eliminar a parcela do risco não-

sistemático a partir da diversificação. Porém, não descreve a maneira pela qual o

investidor possa mensurar a parcela do risco sistemático, nem tampouco sua

influência sobre o risco total da carteira.

Para tanto, surge na década de 60 o modelo de precificação de ativos

financeiros (CAPM), proposto inicialmente por Treynor (1961), Sharpe (1964) e

Lintner (1965), que em sua versão mais simplificada adicionou algumas hipóteses

ao modelo descrito por Markowitz. Primeiro, a de que todos os ativos são

perfeitamente divisíveis; depois, que existe um ativo sem risco no mercado à

disposição dos investidores; finalmente, os custos de transação são

desconsiderados. Sob estas condições, os investidores têm expectativas

homogêneas e podem tomar emprestado e emprestar à uma taxa livre de risco.

A fronteira eficiente (Figura 2.1), supõe que todas as carteiras sejam

compostas por combinações de ativos com risco. Ao adicionar um componente

livre de risco, Sharpe pressupõe que, alternativamente, o investidor possa

16

Segundo Statman (1987), uma carteira contendo aproximadamente 30 ativos é suficiente para se atingir a diversificação

ótima. Ao que tudo indica, porém, este não é um consenso generalizado, e depende das peculiaridades de cada mercado.

Para o caso do brasileiro, Brito (1981) verificou que os ganhos de diversificação são desprezíveis para carteiras com mais

de 15 ativos, sendo que resultados satisfatórios podem ser obtidos com carteiras contendo apenas 8 ações.

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combinar ativos com risco e sem risco (por exemplo, um mix entre ações de

empresas e títulos do tesouro) na composição de seu portfolio.

Por definição, a taxa de retorno de um ativo sem risco (Rf) é constante, ou

seja, a variância e covariância de uma carteira composta somente por ativos sem

risco é zero. Daí resulta que a taxa de retorno esperado E[Rf] = Rf.

Consequentemente, Rf assume a condição de intercepto da linha de mercado de

capitais, que representa o conjunto eficiente de todos os ativos, tanto com risco

quanto sem risco, à disposição dos agentes para a formação de suas respectivas

carteiras de investimento.

Desta forma, existindo um ativo sem risco à disposição, é necessário que a

expectativa do retorno de uma carteira de investimentos que contemple ativos com

risco e o ativo livre de riscos seja ligeiramente superior aos retornos obtidos com

uma carteira composta somente por este último. Logo, a relação entre a taxa

esperada de retorno e risco de uma carteira composta por ambos tipos de ativos

disponíveis é linear, conforme ilustrado pela reta RfT na figura 2.3, que tangencia o

conjunto de oportunidades de investimentos em ativos com risco denotado pelo

ponto M da mesma figura (fronteira eficiente). Evidentemente, as possibilidades de

combinações possíveis entre ativos com risco disponíveis no conjunto de

oportunidades com o ativo sem risco, permitem que a composição da carteira

alcance qualquer ponto no conjunto, como por exemplo o ponto Z da figura abaixo.

Entretanto, esta não seria uma combinação ótima, e estaria ferindo o princípio das

expectativas racionais.

M

R

f A Z

Linha de Mercado

de Capitais

Figura 2.3

Relação entre retorno esperado e risco de uma carteira

contendo ativos com risco e o ativo livre de risco

Risco

(p )

E(R) = R p

T

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35

De fato, assumindo-se a hipótese das expectativas homogêneas (todos os

investidores tem as mesmas expectativas quanto a retornos, variâncias e

covariâncias), é razoável supor que, havendo a possibilidade de captar e aplicar à

taxa livre de risco, a carteira de ativos com risco possuída por qualquer investidor

será sempre o ponto M (a tangência entre a taxa livre de risco e o conjunto de

ativos com risco), que oferece expectativa de retorno superior a qualquer

combinação da fronteira eficiente, ou mesmo do conjunto de alternativas,

representado pelo ponto Z.

Já no âmbito das decisões individuais, denominado pelos economistas como

princípio da separação, restaria a cada investidor decidir quanto à melhor

combinação entre ativos com risco e ativo sem risco, de acordo com seu perfil ou

aversão/propensão ao próprio risco.

A figura 2.4 ilustra as curvas de indiferença de dois investidores, denotadas

por I1 e I2. Curvas de indiferença representam as preferências de cada investidor

frente à relação risco/retorno, ou seja, oferecem maior nível de satisfação quando

se deslocam para cima e para a esquerda. Por outro lado, denotam uma crescente

aversão ao risco quanto mais inclinadas se apresentarem. Observe-se, na figura

2.4, que o investidor I1 apresenta maior aversão ao risco, ou seja, exige maior

retorno esperado para o nível de risco adicional assumido do que o investidor I2.

Assim, para um investidor completamente avesso ao risco, é oferecida a

possibilidade de investir somente em ativos sem risco, denotada por Rf. Por outro

lado, a um investidor disposto a aplicar seus recursos disponíveis totalmente em

ativos com risco, a melhor alternativa oferecida é o ponto M da figura 2.4, conforme

conceito anteriormente explanado de fronteira eficiente. Já o segmento formado por

RfM representa todas as combinações possíveis de investimentos em ativos sem

risco e ativos com risco, mais apropriada para o perfil do investidor I1 . Para este

último, uma carteira combinando 80% dos recursos disponíveis em ativos com risco

e os 20% restantes em ativos sem risco, poderia ser representada pelo ponto A de

RfM, por exemplo, conforme ilustrado na figura 2.4:

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36

Finalmente, as carteiras formadas à direita de M, denotadas pelo ponto Z do

segmento MT, consistem nas combinações formadas pelo investidor I2, menos

avesso ao risco. São possíveis de ser obtidas se o mesmo conseguir captar

recursos no mercado à taxa livre de risco, e aplicar esses fundos adicionais em

ativos com risco contidos em M.

Conforme ilustrado na figura 2.4, fica explícito que na reta RfT, também

denominada linha de mercado de capitais, situam-se todas as carteiras ótimas

formadas a partir de qualquer combinação de ativos com risco e livres de risco

possíveis, sendo que M representa a carteira mais indicada de ser selecionada, por

situar-se exatamente na tangência com a fronteira eficiente. Daí Sharpe concluiu

que a carteira de ativos com risco possuída por qualquer investidor, independente

do seu grau de aversão ou propensão ao risco, sempre será o ponto M ilustrado na

figura 2.5.

Em essência, o ponto M da figura 2.5 consiste numa carteira diversificada

que contém todos os ativos com risco, na exata proporção em que estão

disponíveis no mercado, ou seja, a carteira de mercado17. Note-se que, na figura

2.5, o intercepto vertical da linha de mercado de títulos corresponde a Rf. Como o

retorno esperado de qualquer título com beta igual a 1 é Rm, a inclinação, ou

coeficiente angular, da linha é dada por Rm–Rf. Desta forma, Sharpe definiu

17

Uma explicação mais detalhada acerca da “carteira de mercado”, ou seja, do fato de não poder haver ativo sem

risco que não esteja em M, pode ser obtida em SANVICENTE, A. Z. & MELLAGI FILHO (1992).

M

R

f A

Linha de

Mercado

de Capitais

Figura 2.4

Carteiras formadas com ativos com risco e

sem risco

Risco

(p )

E( R)= R p

T

Z

A

I

1

I

2 Curvas de

indiferença

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algebricamente a seguinte relação entre retorno esperado e risco:

)(____

fMf RRRR (2.4)

Esta equação, que descreve a linha de mercado de títulos, constitui o

resultado básico do CAPM. Note-se, ainda, que o coeficiente beta () mede o risco

sistemático ou de mercado do ativo i em relação à variável representativa dos

retornos médios do mercado (já deduzida a taxa livre de risco), podendo ser obtida

pela equação:

)(

),(2

M

Mi

iR

RRCov

(2.5)

Onde:

i = Beta do ativo i;

Cov(R i,R M) = Covariância dos retornos do ativo i em relação aos da carteira de mercado;

2(R M) = Variância dos retornos da carteira de mercado.

Assim, o coeficiente beta ( ) do ativo passa a ser utilizado como indicador

do risco sistemático do investimento, porque considera em seu cálculo as variações

do retorno do mercado que trazem intrínseca a parcela do risco não eliminável

através da diversificação. Outra vantagem do coeficiente beta é que pode

facilmente ser estimado por regressão linear, conforme a equação de regressão

que segue:

Ri - Rf = + (Rm - Rf )+ i,t (2.6)

Onde:

Ri = Retorno do ativo i ; Rf = Taxa de juros de títulos livres de risco (risk free);

= intercepto linear da reta de regressão;

1

E( Ri)= R i

M

R

f

R

m

A

B

Linha de Mercado de Títulos

Figura 2.5

Relação entre retorno esperado e beta de um título individual

Beta do título

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= coeficiente angular da reta de regressão; Rm = Retorno da carteira de mercado;

i = termo erro da regressão, com média zero e variância 1.

Na prática, a carteira de mercado é normalmente representada pelo

comportamento de índices de preços de ações. Assim, sendo o beta a medida de

risco sistemático ou de mercado, sua interpretação intuitiva revela a sensibilidade

de resposta de um ativo em relação à média dos retornos do mercado, ou seja, a

intensidade com a qual a taxa de retorno do ativo está associada a variações

sistêmicas ou inerentes às forças do mercado (exógenas).

Esta revisão acerca dos fundamentos da moderna Teoria de Finanças18, fez-

se necessária por explicitar a importância da carteira de mercado, ou do índice

representativo da mesma, em modelos que se proponham a avaliar a relação

risco/retorno de ativos financeiros.

2.2.6 – A Carteira de Mercado

A respeito das conclusões de Markowitz acerca da carteira de mercado,

Ross (1995, p. 222) afirma:

“Se todos os investidores escolherem a mesma carteira de ativos com risco, será possível determinar de que carteira se trata. O senso comum nos diz que é uma carteira contendo todos os títulos existentes, ponderada pelo valor de mercado. É a carteira de mercado19. (...)Na prática, os economistas usam um índice amplo de ações como representativo da carteira de mercado.”

Teoricamente, a carteira de mercado deveria conter a combinação de todos

os ativos com riscos existentes, na proporção correspondente aos seus respectivos

valores de mercado. Evidentemente, a aferição desta carteira não seria tarefa das

mais simples, até mesmo porque muitos ativos com risco presentes no mercado

apresentam liquidez limitada, ou seus preços não são conhecidos por todos os

18

Ressalte-se que o conceito de Moderna Teoria de Finanças, introduzido a partir do modelo de fronteira eficiente de

Markowitz, fundamenta-se no princípio de mercados eficientes, compostos por agentes racionais, nos quais os preços

refletem todas as informações relevantes, e inexistem oportunidades de ganhos excepcionais.

19 Grifo nosso

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39

agentes. Logo, pelo menos no mercado bursátil, parece-nos sensato que a carteira

de mercado seja representada por um índice de preços de ações, cuja carteira

teórica represente as oscilações médias do conjunto de ações negociadas no

mesmo. E, de modo geral, o contexto das finanças e, particularmente, o mercado

acionário têm adotado esta prática.

O mercado acionário brasileiro não é exceção à regra. A Bolsa de Valores

de São Paulo – BM&FBovespa, a maior bolsa da América Latina, divulga as

oscilações dos papéis nela negociados através do seu índice, o Ibovespa,

consagrado como mais importante indicador do mercado acionário brasileiro. A

respeito deste último, enquanto representativo da carteira de mercado, Sanvicente

& Mellagi Filho (1992, p. 45) afirma:

“(...) no Índice Bovespa os pesos correspondem à participação no volume de negócios, o que não é bem o que exige a teoria. Isso ocorre porque o Índice Bovespa, por exemplo, é ponderado a partir da participação das diferentes ações no volume total de negócios, e não no valor total de mercado dos ativos, como o quer a teoria. Até certo ponto, por causa disso o uso de um índice teoricamente incorreto nesses modelos provoca um viés ou erro devido ao que os especialistas em Econometria denominam “erro ou viés de especificação” (...)”.

Esta afirmação do autor, particularmente no que diz respeito ao Ibovespa,

induz à suspeita de que o mercado acionário brasileiro tenha adotado um índice de

ações representativo da carteira de mercado, cuja metodologia de cálculo esteja

em dissonância com os quesitos teóricos. Consequentemente, modelos que se

proponham a avaliar a relação risco/retorno (CAPM, cálculo de betas dos ativos), e

que adotem o Ibovespa como parâmetro representativo da carteira de mercado,

podem vir a apresentar resultados viesados ou distorcidos.

2.3 A TEORIA DOS NÚMEROS ÍNDICES

Índices econômicos compreendem construções estatísticas que permitem

investigar o comportamento de determinado fenômeno, num período de tempo

estabelecido. Segundo Hoffmann (1991, p. 309),

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“Os números-índices (...) são proporções estatísticas, geralmente expressas em porcentagem, idealizadas para comparar as situações de um conjunto de variáveis em épocas ou localidades diversas”. (Hofmann, 1991, p.309)

Muito embora Leite & Sanvicente (1995, p. 27) tenham afirmado que “nunca

atingir a perfeição parece ser o destino dos índices de mercado”, Hoffmann (1991,

p. 309 ) argumenta que o conhecimento dos “(...) métodos de cálculo (...) permite

interpretar melhor e avaliar as limitações dos índices publicados”.

Conforme Allen (1970, p.104), “A definição clássica de número índice é

fornecida por Edgeworth que afirma que ele mostra por suas variações as

mudanças em uma magnitude que não é suscetível nem de medição exata em si

própria nem de avaliação direta na prática. Um número índice é uma medida

indireta de alguma coisa, um conceito estatístico (...)”.

Para SAPORITO (1989, p. 188), “O acompanhamento de preços com base

em índices é uma técnica internacionalmente consagrada e o mercado de ações é

um dos segmentos que lhe atribui maior importância. A exemplo de outros países,

o mercado acionário brasileiro faz uso de alguns índices (...)”. O principal deles é o

Índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa.

2.4 ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES

Numa era notadamente caracterizada pela globalização da economia, as

bolsas de valores cumprem a função de estimular fluxos de poupanças para

investimentos produtivos. Desta forma, a dimensão econômica e social das bolsas

de valores acaba excedendo o espaço físico restrito aos agentes intermediários do

mercado, constituindo-se em uma importante referência para as autoridades

governamentais e para os agentes econômicos em suas tomadas de decisão, por

desempenhar uma função sinalizadora que reflete o ambiente econômico e político

da nação.

Esta função sinalizadora materializa-se nos índices divulgados pelas bolsas,

definidos como índices de lucratividade de carteiras de ações, hipotéticas e

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supostas, pertencentes ao mercado. A evolução destes índices mostra a evolução

dos ganhos do mercado como um todo, e a sua representação gráfica constitui

instrumento utilizado pelos analistas para a avaliação das tendências futuras dos

negócios em bolsa. A confiabilidade de um índice permite que se detecte, por trás

de uma reversão de tendência, aspectos ou fatos importantes que estão para

acontecer e que já foram percebidos pelos sensores apurados do mercado.

Os índices de bolsas de valores são fundamentais para o mercado de ações,

pois ao mesmo tempo em que funcionam como barômetros das expectativas dos

investidores em relação ao desempenho da economia, permitem aos mesmos

acompanhar o desempenho de suas carteiras em tempo real.

De acordo com as flutuações dos preços das ações componentes da carteira

teórica, as variações verificadas no índice podem ser observadas no mesmo

instante, fornecendo aos seus usuários uma noção das flutuações das cotações, ou

seja, refletindo as tendências presentes no mercado acionário. Se as oscilações

das cotações refletem o confronto de expectativas dos investidores, as oscilações

dos índices de mercado refletem as tendências destas expectativas.

2.5 DISCUSSÕES RECENTES

Com relação às diferentes metodologias para a construção de índices de

bolsas de valores, emergem na literatura autores que argumentam ser a

ponderação pelo valor de mercado (Market Capitalization-Weighted Index) a mais

apropriada para o propósito de refletir o comportamento médio do conjunto de

ações negociadas em um determinado mercado. Também encontram eco na

literatura autores que defendem ser a metodologia de ponderação pelo preço

(cotação) das ações (Price Weighted Indexes) a mais adequada para tal finalidade.

E, mais recentemente, uma corrente que defende a metodologia de ponderação

igualitária (Equal Weighted Indexes) também ganha força. Independentemente da

metodologia preponderante, é fato que não se encontra na literatura autores que

defendam a metodologia de ponderação pelo índice de negociabilidade dos ativos

(Liquidity Weighted), a metodologia abandonada pelo Ibovespa, em janeiro de

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42

2014.

Dentre as diferentes metodologias de construção de índices de bolsas de

valores, as mais comuns adotam a ponderação pelo valor de mercado das

empresas emissoras, ou a ponderação pela cotação das ações componentes de

suas respectivas carteiras teóricas. Qualquer que seja o critério usado para o

cálculo dos índices, este tem um impacto fundamental sobre sua configuração e

característica.

Embora não exista consenso a respeito da perfeição de qualquer

metodologia, Reilly e Brown (2013) apresentam as diferenças e eventuais pontos

fracos entre ponderação pelo valor de mercado, frente à ponderação pelo preço

dos ativos, especificamente para o mercado de ações da Bolsa de Valores de Nova

York (Nyse). Para tanto, comparam dois índices que cumprem a função de

representar aquele mercado, a saber: o Índice Dow Jones (DJIA) e o S&P500,

divulgado pela agência Standard & Poor’s.

O primeiro adota a metodologia de ponderação pelo preço das ações (Price-

Weighted Index), ou seja, uma ação componente de sua carteira teoria que seja

negociada a US$ 100,00 tem duas vezes o peso de outra, negociadas a US$

50,00. De acordo com esta metodologia, no início da série histórica do índice seu

valor em pontos se igualaria ao somatório dos preços de suas ações componentes

da carteira teórica. Assim, a oscilação do índice ao longo do tempo consistiria na

oscilação dos preços de suas ações na Bolsa. Os autores destacam, porém, que o

DJIA apresenta severas limitações enquanto indicador de mercado, em função de

sua reduzida quantidade de ações componentes da carteira teórica.

No mesmo estudo, os autores argumentam que, ao longo do tempo, em

resposta à necessidade de buscar um índice com mais fundamentação científica, e

cuja carteira teórica fosse mais diversificada, os agentes passaram a usar o

S&P500, índice lançado em 1923, mas cuja formatação atual foi construída em

1957.

Na prática, o S&P500 escolhe 500 grandes empresas para representar

amplamente o mercado. E adota como critério de ponderação o valor de mercado

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das empresas emissoras (Market Capitalization-Weighted Index). Assim, para a

definição do valor de mercado da empresa, multiplica-se (em tempo real) a cotação

da ação pela quantidade de ações emitidas.

Em índices calculados por esta metodologia, empresas com maior valor de

mercado têm maior impacto sobre a oscilação dos índices. Ainda segundo os

autores, este método é utilizado para calcular a maioria dos índices das principais

bolsas de valores mundiais.

Mas Reilly e Brown (2013), assim como apontam como ponto fraco do DJIA

o tamanho significativamente reduzido de sua amostra (carteira teórica),

igualmente afirmam que em uma carteira teórica formada especificamente por

ações de empresas de elevado valor de mercado (o caso do S&P500), a oscilação

das ações de empresas de menor porte (Small Caps) podem ser sub

representadas na oscilação do índice.

Uma terceira metodologia de ponderação que veio à tona mais

recentemente, consiste na ponderação por igual peso para a totalidade de ações

componentes da carteira teórica de um índice de bolsa de valores. Esta

metodologia é discutida por Edwards e Lazzara (2014), segundo os quais o método

de ponderação igualitária (Equal Weighted Index) amenizaria o problema da sub

representação das oscilações de ações de empresas menores (Small Caps).

Segundo os autores, no caso do S&P500, a metodologia atribuiria peso de

0,2% (1/500) a todas as quinhentas ações componentes de sua carteira teórica. E,

o conjunto ou somatório das oscilações das mesmas refletiria a oscilação do índice.

Da mesma forma, Leal e Campani (2015) argumentam que carteiras

igualmente ponderadas podem ser padrões de desempenho relevantes,

particularmente para investidores sem sofisticação, por apresentarem

desempenhos superiores à maioria dos fundos de ações nacionais disponíveis no

mercado financeiro.

Por sua vez, Dash e Loggie (2008), em estudo realizado por ocasião do

quinto aniversário da introdução do índice S&P500 Equal Weighted Index (EWI),

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demonstram que a metodologia de ponderação igualitária oferece poucas

evidências de que a mesma ofereça aos investidores melhores retornos ajustados

aos riscos do que a tradicional metodologia do S&P500.

A respeito destas discussões, aparenta-nos ser profética a afirmação de

Leite e Sanvicente (1995, p.27), segundo a qual “(...) nunca atingir a perfeição

parece ser o destinos dos índices de mercado”. Porém, quer usando a ponderação

pelo valor de mercado, quer pela ponderação igualitária, ou pela ponderação pelo

preço da ação, pode-se construir índices que reflitam, minimamente, o

comportamento médio do conjunto de ações negociadas em um mercado.

O fato é que a ponderação pelo índice de negociabilidade, metodologia

adotada pelo Ibovespa até recentemente, não encontra defensores na literatura

disponível sobre indicadores de mercado. Fato compreensível pois, de acordo com

esta metodologia atípica, imaginando-se que uma empresa venha a apresentar

algum problema operacional, seus reflexos ocorrerão na redução dos preços de

suas ações negociadas na bolsa. Neste caso, a liquidez das ações pode aumentar,

pois os agentes tendem a vendê-las. Com isso, apesar de começar a perder

importância, a ação dessa empresa tenderia a ganhar maior peso sobre o índice,

uma vez que ocorreu aumento significativo do número de negócios com a mesma.

Já através da metodologia de ponderação pelo valor de mercado, como o mesmo

diminuiria em função da diminuição do preço da ação, o peso da ação no índice

também diminuiria.

Por ser atípica e por nós considerada um fator de realimentação da

concentração do mercado acionário, em nosso trabalho realizaremos uma análise

comparativa entre as metodologias de ponderação pelo índice de negociabilidade,

frente à ponderação pelo valor de mercado das empresas emissoras (a mais

usual). Os resultados desta análise serão apresentados no Capítulo 4 deste

trabalho.

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CAPITULO 3

3. METODOLOGIA E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido utilizando-se como base de dados primários

(cotações de ações) o software Economatica20 (Economatica Softwares para

Investidores Ltda, São Paulo-SP), bem como na utilização de um referencial

bibliográfico pertinente ao tema, tais como publicações em mercado de capitais,

estatísticas, periódicos especializados, publicações da Bolsa de Valores de São

Paulo, Comissão de Valores Mobiliários, entre outros.

O método utilizado foi o analítico-comparativo, segundo o qual foram

constatados fatos observados (preços de fechamento de ações das empresas

listadas na Bovespa) através de levantamentos, análises e comparações.

Através do software Economatica, buscou-se definir as carteiras teóricas

trimestrais do índice alternativo a ser construído (Unemat 200), iniciando em 02 de

janeiro de 2001, selecionando-se em cada período as 200 empresas de maior

índice de liquidez em bolsa, calculado com base na relação entre a raiz da

quantidade de negócios da ação e a quantidade total de negócios realizados na

bolsa, nos doze meses imediatamente anteriores, multiplicada pela relação do

volume monetário movimentado pela ação e o volume monetário total negociado

na bolsa, no mesmo período. Conforme a Bovespa, o índice de liquidez em bolsa é

obtida através da seguinte equação:

Liquidez em Bolsa = n

N

v

V (4.1)

onde: n número de negócios com a ação, realizados no mercado a vista, nos últimos 12 meses.

N número de negócios total do mercado a vista, dos últimos 12 meses v valor em moeda corrente movimentado com a ação no mercado a vista, nos últimos 12 meses. V valor em moeda corrente total do mercado a vista, nos últimos 12 meses.

20

www.economatica.com.br

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Obtida a relação das 200 empresas mais líquidas, com base em seus

respectivos desempenhos em bolsa durante o ano de 2000, somou-se o total do

valor de mercado das mesmas (quantidade de ações emitidas pela empresa

multiplicada pelo seu preço de mercado, ou cotação dos ativos em bolsa), com

base nos dados dos balanços do trimestre imediatamente anterior e das cotações

de fechamento do último pregão do trimestre imediatamente anterior.

Um resumo da primeira carteira teórica do índice alternativo Unemat-200, de

janeiro de 2001, pode ser visualizada a seguir:

A coluna “A” apresenta a quantidade de ativos componentes da carteira

teórica do índice. As colunas “B” e “C” apresentam, respectivamente, o nome e o

código dos ativos. Já a coluna “D” apresenta o cálculo da liquidez em bolsa de

cada ativo, conforme equação (4.1), enquanto a coluna “E” revela o valor de

mercado da empresa emissora, referente ao trimestre imediatamente anterior.

Tanto liquidez em bolsa dos ativos quanto o valor de mercado das empresas

emissoras são dados obtidos via base de dados do software Economatica.

A célula referente à linha 20 e coluna “E” apresenta o somatório do valor de

mercado das empresas emissoras de todos os 200 ativos componentes da carteira

Tabela 3.1

Resumo da Carteira Teórica do Índice Unemat-200 – janeiro de 2001

A B C D E F G H I

1 n Ativo Código Liquidez Valor Mercado

(Em R$ 1.000,00) Peso % Vlr Cart.Teór. Cotação 28/12/00

Quant Teórica

2 1 Petrobras PETR3 3,4908 30.757.148,00 9,3169 28.139,1490 3,48 8.085

3 2 Petrobras PETR4 8,1949 20.689.630,00 6,2673 18.928,5620 2,95 6.416

4 3 Eletrobras ELET3 1,7935 16.313.049,00 4,9415 14.924,5085 7,72 1.933

5 4 ItauUnibanco ITUB3 0,2963 12.319.287,00 3,7317 11.270,6891 3,37 3.344

6 5 Vale VALE3 0,1319 11.624.210,00 3,5212 10.634,7759 2,07 5.138

7 6 Ambev S/A AMBV4 1,1542 10.654.780,00 3,2275 9.747,8623 1,05 9.284

8 7 Telemar TNLP4 8,8734 10.413.132,00 3,1543 9.526,7829 18,77 508

9 8 Bradesco BBDC4 4,6211 9.601.321,00 2,9084 8.784,0720 3,30 2.662

10 9 ItauUnibanco ITUB4 1,8800 9.199.494,00 2,7867 8.416,4479 3,55 2.371

11 10 Telef Brasil VIVT4 0,6057 9.057.985,00 2,7438 8.286,9839 5,77 1.436

12 11 Unibanco UBBR3 0,0190 8.593.790,00 2,6032 7.862,3004 4,47 1.759

13 12 Bradesco BBDC3 0,4069 8.262.862,00 2,5030 7.559,5405 2,73 2.769

14 13 Ambev S/A ABEV3 0,1971 7.508.877,00 2,2746 6.869,7335 1,00 6.870

15 14 Vale VALE5 2,7803 6.405.859,00 1,9405 5.860,6026 2,03 2.887

16 15 Embratel Part EBTP4 3,8142 6.173.080,00 1,8699 5.647,6374 0,01 564.764

17 . . . . . . . . .

18 . . . . . . . . .

19 200 Unibanco UBBR11 0,1686 1.268,00 0,0004 1,1601 3,77 0,31

20 330.121.303,00 100,00 302.021,91

Fonte: Economatica e elaborada pelo autor

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teórica, totalizando 330,12 bilhões de reais.

Para calcular a participação relativa de cada ativo na carteira teórica do

índice, divide-se o valor de mercado da empresa emissora pelo somatório do valor

de mercado total, e multiplica-se o resultado por 100 para transformar em

percentual. Os resultados são apresentados na coluna “F”.

A linha 20 com coluna “G” apresenta o valor de 302.021,91 pontos. Este é o

valor de fechamento, em pontos, do índice, em 28 de dezembro de 2000. Por se

tratar da construção de um índice novo, este valor poderia ser arbitrado em

100.000 pontos. Mas, como já havia uma série histórica do índice21 que iniciou em

janeiro de 1996 e fechou neste valor em fins de 2000, decidiu-se atribuir esta

pontuação ao índice, para dar continuidade à série histórica, muito embora neste

trabalho utilizar-se-á apenas a série a partir de janeiro de 2001.

O total de 302.021,91 pontos pode ser considerado como o total de recursos

disponíveis para ”comprar” ativos componentes da carteira teórica. E, o quanto

deste montante será utilizado para a “compra” de cada ativo é definido pelo seu

peso relativo observado na coluna “F”. Assim, para se obter o valor em pontos da

carteira teórica destinada à “compra” de cada ativo, multiplica-se o total de

302.021,91 pontos por seu peso percentual. Os resultados são apresentados na

coluna “G”.

A coluna “H” apresenta as cotações de fechamento de cada ativo no último

pregão do trimestre imediatamente anterior, ou seja, os preços de fechamento do

dia 28 de dezembro de 2000.

Finalmente, a coluna “I” apresenta a quantidade teórica de cada ativo que

comporá a carteira teórica do Índice Unemat-200. Esta quantidade teórica é obtida

dividindo-se o valor da carteira teórica de cada ativo por seu respectivo preço de

fechamento do último pregão do trimestre anterior, ou seja, (I=G\H). Esta

quantidade teórica permanecerá constante durante o trimestre de vigência da

21

Índice Nispe-200, construído pelo autor por ocasião do desenvolvimento da dissertação de

mestrado (UFSC/PPGE, 2000), com série histórica iniciada em 02 de janeiro de 1996 a 28 de fevereiro de

2000.

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carteira teórica, e as oscilações do índice poderão ser obtidas em tempo real, pelo

somatório obtido da multiplicação de cada quantidade teórica pelo respectivo preço

do ativo, conforme a fórmula que segue:

Unemat-200 ti

n

i

ti QP ,

1

,

onde: Unemat 200 = índice Unemat-200 no instante t n número total de ações componentes da carteira teórica P último preço da ação i no instante t Q quantidade teórica da ação i na carteira, no instante t

A ilustração gráfica que segue apresenta a evolução do Índice Unemat-200,

comparativamente ao Ibovespa, no período de 2 de janeiro de 2013 a 21 de

outubro de 2014:

Gráfico 3.1

Ibovespa e Unemat-200 – janeiro de 2013 a outubro de 2014

Fonte: elaborado pelo autor

A Figura 3.1 apresenta a evolução gráfica dos Índices Ibovespa e

Unemat200, de janeiro de 2013 a outubro de 2014. A série em vermelho, apresenta

a evolução do Ibovespa no período, caso não tivesse mudado sua metodologia de

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ponderação, que até dezembro de 2013 era pelo índice de negociabilidade, e a

partir de janeiro de 2014 passou a adotar a ponderação pelo valor de mercado. A

série em preto apresenta os efeitos da mudança da metodologia.

Note-se que o Ibovespa, a partir da mudança da metodologia, converge para

a série do Unemat200, enquanto a série que chamamos de Ibovespa “Velho” (que

representa a evolução do Índice caso tivesse mantido a antiga metodologia de

ponderação) continua divergindo do Unemat200.

Esta evidência visualizada na representação gráfica da trajetória de ambos

os índices (Ibovespa antes e pós mudança de metodologia), reforça nossa hipótese

que o principal índice representativo do mercado acionário brasileiro era viesado

em função de sua metodologia concentradora. E, portanto, viesadas seriam as

análises da relação risco/retorno de ativos, que usassem como parâmetro

representativo do mercado o índice Ibovespa.

Estas eventuais distorções consistem no escopo desta tese, através da qual

adotar-se-á alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 como índices

representativos do mercado acionário brasileiro, em modelos de precificação de

ativos financeiros. Os resultados obtidos são apresentados na seção que segue.

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50

CAPITULO 4

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Para averiguar se a antiga metodologia de ponderação do Ibovespa

propiciava a concentração do mercado acionário brasileiro, precisa-se comparar

sua evolução gráfica ao longo do tempo com outro indicador, cuja metodologia de

ponderação dos ativos componentes de sua carteira teórica diferisse da do

Ibovespa.

Esta etapa de construção de um índice alternativo para refletir as oscilações

do mesmo mercado (Bolsa de Valores de São Paulo), foi descrita na seção

anterior. Da mesma forma, após a adoção de nova metodologia que contempla a

ponderação pelo valor de mercado das empresas emissoras das ações

componentes da carteira teórica, por parte do Ibovespa, continuou-se a série

desconsiderando a mudança da metodologia, ou seja, continuou-se a série

histórica do que passou-se a considerar o Ibovespa Velho, isto é, a continuação da

série histórica do Ibovespa, construída a partir de sua metodologia original. A

ilustração gráfica das três séries (Ibovespa, Ibovespa Velho e Unemat200),

referente ao período em análise (janeiro de 2001 a setembro de 2015) pode ser

visualizada na figura 4.1, que segue:

Gráfico 4.1

Ibovespa, Ibovespa Velho e Unemat-200 – jan/2001 a set/2015 (Base 100 = 28/12/00)

Fonte: elaborado pelo autor

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51

Pela visualização gráfica apresentada pela Fig. 4.1, nota-se que não há a

necessidade de submeter as séries a complexos modelos econométricos para

chegar à conclusão de que, ao longo do tempo, elas tendem a se dispersar. E,

como são indicadores que se propõe a refletir o comportamento (oscilações) do

conjunto de ativos de um mesmo mercado, o resultado esperado seria de que as

séries “andassem juntas” ao longo do tempo. Se não perfeitamente

correlacionadas, ao menos que apresentassem comportamento semelhante aos

indicadores Standard&Poor’s (S&P500) e Dow Jones, índices representativos da

Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Para efeito de comparação, a figura 4.2

apresenta a ilustração gráfica destes dois últimos, durante o mesmo período:

Gráfico 4.2

Índice Dow Jones e Standar&Poor’s500 – jan/2001 a out/2014 (Base 100 = 28/12/00)

Apesar de sua rigidez nos critérios de seleção das ações que compõem sua

carteira teórica, e das críticas em relação à limitação de sua amostra

(tradicionalmente fixada em 30 ações), bem como à falta de transparência ou

divulgação dos critérios de seleção, o índice Dow Jones é o primeiro índice de

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52

bolsas de valores mundialmente divulgado22, e o principal beanchmark do mercado

acionário norte-americano. Por sua vez, o índice divulgado pela agência de

notícias, de riscos e de mercado de capitais Standard & Poor’s, também divulga um

índice de acompanhamento do mercado acionário da Bolsa de Valores de Nova

York. Sua carteira teórica e fixada por 500 ações, que são selecionadas por um

comitê independente, que escolhe para a composição da carteira teórica do índice

as ações mais representativas da economia norte-americana.

Apesar de construídos através de metodologias distintas, ambos refletem

com precisão o mesmo mercado, a Bolsa de Valores de Nova York, conforme

visualizado na Fig. 4.2, acima. Note-se que ambas as séries aparentam forte

correlação, diferente do que se observa na Fig. 4.1, na qual indicadores com

metodologias distintas, mas que buscam refletir o comportamento do mesmo

mercado, visivelmente apresentam dispersão, como se se referissem a mercados

distintos.

4.1 O COEFICIENTE BETA (β) DOS ATIVOS

Conforme explanado no Capítulo 2, sob o pressuposto da aversão ao risco,

uma maior variância deve ser compensada com uma rentabilidade média cada vez

mais elevada. A aversão ao risco explica a diversificação, que elimina o risco não-

sistemático. Uma vez que para o investidor interessa a rentabilidade da carteira em

seu conjunto, e não em seus componentes individuais, resta-lhe avaliar a

contribuição de um componente ao risco total da carteira, ou seja, obter uma

medida do risco sistemático ao qual sua carteira está exposta.

A forma mais prática de mensurar o risco sistemático do portfolio é

apresentada através do modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM),

proposto por Sharpe (1964). Esse modelo indica a relação linear entre o retorno de

22

Em parceria com Edward Jones, Charles Henry Dow fundou, em 1882, a Dow Jones & Co., uma empresa

especializada em divulgar índices da Bolsa de Nova York. No princípio, Dow selecionou 11 empresas ferroviárias e 2

empresas industriais negociadas na NYSE e, somando suas cotações de fechamento e dividindo o total por 11, passou a

divulgar um índice que refletia o conjunto de ações negociadas naquele mercado.

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capital e risco do ativo. O coeficiente beta obtido nesta relação, indica a

sensibilidade dos retornos do ativo em relação aos retornos da carteira de

mercado, comumente representada por índices de ações. A fórmula de cálculo do

coeficiente beta, conforme exposto anteriormente (5), é dada por:

(4.1)

Alternativamente, conforme aplicado em Costa Jr. et alii (1993), o coeficiente

beta também pode ser estimado através da regressão linear entre os retornos

históricos observados da ação e os retornos históricos da carteira de mercado,

durante uma amostra de tempo considerada típica para refletir o relacionamento

entre a ação e a carteira de mercado. A equação da regressão linear é dada por:

Ri - Rf = + (Rm - Rf )+ i,t (4.2)

Neste sentido, um ativo i é dito agressivo se o coeficiente beta da regressão

for superior à unidade; nulo quando for igual à unidade; moderado, quando não

nulo e inferior à unidade; e finalmente, quando o coeficiente beta resultante for

negativo, ativo e mercado deslocam-se em direções opostas.

>1 => ativo agressivo

=1 => ativo moderado

<1 => ativo conservador

<0 => ativo apresenta comportamento oposto ao mercado

Na prática, o uso do beta como coeficiente determinante do risco sistemático

do portfolio defronta-se com o problema de pouca liquidez de alguns ativos.

Consequentemente, a covariância dos retornos desses ativos com os retornos do

índice de ações será subestimada, resultando com que o beta dessas ações

também seja subestimado. Para tentar superar este problema, alguns estudos

realizados sugerem metodologias alternativas para o seu cálculo23.

23

Ver Costa Jr., Menezes e Lemgruber (1993)

)(

),(

M

Mi

iRVar

RRCov

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Um outro problema que pode ocasionar a subestimação ou superestimação

dos betas de ativos, que é o foco deste trabalho, consiste na pouca

representatividade do índice de ações utilizado para substituir a carteira de

mercado. Sendo o beta a relação entre a covariância dos retornos da ação e os

retornos do mercado, com a variância dos retornos do mercado, se o índice de

ações representativo dos retornos do mercado estiver viesado, o beta do ativo

resultante pode, também, estar viesado.

O mercado acionário brasileiro tem por prática comum adotar o Ibovespa

como índice representativo da carteira de mercado. Em razão de sua metodologia

peculiar, aparentemente concentradora, decidiu-se comparar sua série histórica a

de um índice alternativo, cuja metodologia contemple a ponderação pelo valor de

mercado, como o quer a teoria. A visualização gráfica da evolução das séries é

apresentada na Fig. 4.1.

Apesar da correlação entre as séries, ao longo do tempo elas apresentam

uma dispersão considerável. No período analisado (jan/2001 a set/2015), a

diferença entre elas superava a marca dos 140 pontos percentuais. De fato, no

período em análise, o Ibovespa valorizou-se 195,29%. O Ibovespa Velho acumulou

ganhos de 143,23%, enquanto o Unemat200 acumulou uma rentabilidade de

614,75%. Para efeitos de comparação, observe-se que, durante o mesmo período,

o Índice Dow Jones valorizou 63%, contra 57% do S&P500. A diferença entre estes

últimos limita-se em 10,5 pontos percentuais, conforme visualizado na Figura 4.2.

A significativa diferença observada entre a evolução gráfica das séries

históricas do Ibovespa, Ibovespa Velho e Unemat200, ao longo do tempo, leva à

suspeita de que uma das metodologias deve estar viesada ou sendo afetada por

influências que acabam por desviar sua trajetória ao longo do tempo. Naturalmente,

apesar de adotarem metodologias de cálculo distintas, propõe-se a representar o

comportamento do mesmo mercado. Assim, a trajetória temporal de ambas

deveria, teoricamente, ser mais semelhante ou, em outras palavras, suas séries de

retornos deveriam andar mais próximas ao longo do tempo.

De qualquer forma, independente da metodologia de cálculo utilizada, a

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função ou finalidade maior dos índices de ações, em conformidade com a teoria

das finanças, consiste em representar a carteira de mercado, descrita no modelo

CAPM. Assim, para efeitos de comparação da eficiência da representatividade dos

índices do mercado acionário brasileiro, objeto de análise neste trabalho, decidiu-

se tomar uma amostra de ações representativa do mercado acionário brasileiro, ou

seja, uma carteira composta pelas 50 ações mais negociadas na Bolsa de Valores

de São Paulo, durante o período compreendido entre janeiro a dezembro de 2013,

ano imediatamente anterior à mudança de metodologia.

Tabela 4.1 Amostra das 50 ações mais negociadas na Bovespa – 2013 – Liquidez e Beta das ações

Nome Código Setor Liquidez

2013 Liquidez

Acumulada Beta β

Ibovespa Unemat200

Vale VALE5 Mineração 6,05 6,05 1,03 1,35

Petrobras PETR4 Petróleo e Gas 5,93 11,98 1,17 1,61

ItauUnibanco ITUB4 Finanças e Seguros 3,67 15,65 0,79 1,17

Bradesco BBDC4 Finanças e Seguros 2,9 18,55 0,81 1,26

OGX Petroleo OGXP3 Petróleo e Gas 2,54 21,09 3,55 2,18

Petrobras PETR3 Petróleo e Gas 2,32 23,41 1,30 1,86

BmfBovespa BVMF3 Finanças e Seguros 2,3 25,71 0,86 1,08

Brasil BBAS3 Finanças e Seguros 2,29 28 0,72 1,07

Itausa ITSA4 Outros 2,09 30,09 0,77 1,16

Vale VALE3 Mineração 1,91 32 1,03 1,38

Gerdau GGBR4 Siderur & Metalur 1,85 33,85 0,85 1,07

PDG Realt PDGR3 Construção 1,47 35,32 1,45 1,37

Usiminas USIM5 Siderur & Metalur 1,42 36,74 1,37 1,43

CCR SA CCRO3 Transporte Serviç 1,35 38,09 0,52 0,72

Sid Nacional CSNA3 Siderur & Metalur 1,28 39,37 1,29 1,37

BR Malls Par BRML3 Outros 1,27 40,64 0,76 1,00

Cielo CIEL3 Software e Dados 1,22 41,86 0,35 0,57

BRF SA BRFS3 Alimentos e Beb 1,19 43,05 0,33 0,51

Cemig CMIG4 Energia Elétrica 1,17 44,22 0,71 0,92

Oi OIBR4 Telecomunicações 1,1 45,32 1,22 1,17

Hypermarcas HYPE3 Outros 1,02 46,34 0,62 0,81

Tim Part S/A TIMP3 Telecomunicações 1,01 47,35 0,66 0,88

MRV MRVE3 Construção 0,97 48,32 1,33 1,38

Cyrela Realt CYRE3 Construção 0,96 49,28 0,79 0,95

Gafisa GFSA3 Construção 0,86 50,14 1,72 1,80

Kroton KROT3 Outros 0,86 51 0,30 0,51

Santander BR SANB11 Finanças/Seguros 0,86 51,86 0,64 0,97

Natura NATU3 Comércio 0,85 52,71 0,54 0,73

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Suzano Papel SUZB5 Papel e Celulose 0,82 53,53 0,64 0,84

JBS JBSS3 Alimentos e Beb 0,8 54,33 0,77 1,07

BR Propert BRPR3 Outros 0,79 55,12 0,66 0,83

Cia Hering HGTX3 Textil 0,78 55,9 0,66 0,86

Embraer EMBR3 Veiculos e peças 0,77 56,67 0,35 0,63

Telef Brasil VIVT4 Telecomunicações 0,77 57,44 0,50 0,71

P.Acucar-Cbd PCAR4 Comércio 0,74 58,18 0,49 0,78

Cetip CTIP3 Finanças e Seguros 0,72 58,9 0,51 0,64

Bradesco BBDC3 Finanças/Seguros 0,71 59,61 0,75 1,22

BBSeguridade (*) BBSE3 Finanças e Seguros 0,7 60,31 - -

Sabesp SBSP3 Outros 0,7 61,01 0,75 1,00

Lojas Renner LREN3 Comércio 0,69 61,7 0,76 0,95

Rossi Resid RSID3 Construção 0,68 62,38 1,64 1,82

Ultrapar UGPA3 Química 0,67 63,05 0,37 0,53

Rumo Log ALLL3 Transporte Serviç 0,67 63,72 0,69 0,84

Lojas Americ LAME4 Comércio 0,66 64,38 0,75 1,01

Estacio Part ESTC3 Outros 0,66 65,04 0,35 0,52

Fibria FIBR3 Papel e Celulose 0,66 65,7 0,60 0,84

Cosan CSAN3 Alimentos e Beb 0,65 66,35 0,46 0,68

Klabin S/A KLBN4 Papel e Celulose 0,65 67 0,59 0,78

Bradespar BRAP4 Outros 0,63 67,63 1,15 1,48

Braskem BRKM5 Química 0,62 68,25 0,81 0,99

Beta Médio = 0,85 1,05

(*) BBSE3 abriu o capital em 26/04/2013

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Segundo a Tab. 4.1, durante o ano de 2013, ano que antecede a mudança

de metodologia do Ibovespa, e utilizando-se este como parâmetro do cálculo do

coeficiente beta dos ativos alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 como

índices representativos dos retornos médios do mercado, algumas diferenças

significativas podem ser observadas. Note-se que os 50 ativos mais negociados da

Bovespa, em 2013, acumulam índice de negociabilidade de 68,25. Ou seja,

praticamente representam em torno de 70% de tudo o que aconteceu na bolsa

paulista, em termos de número de negócios realizados e volume financeiro

envolvido nos mesmos.

Ao se utilizar o Ibovespa como parâmetro dos retornos médios do mercado,

o cálculo do beta médio dos ativos retorna 0,85. Isto significa que, em média,

quando o mercado subiu 1%, estas 50 ações mais negociadas mostraram-se

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ligeiramente mais conservadora, subindo em média 0,85%. Da mesma forma, em

mercado baixista, quando a média do mercado obteve retorno negativo de 1%,

estas 50 ações mais negociadas na Bovespa teriam caído apenas 0,85%.

Já ao se utilizar o Unemat200 para cumprir o papel de parâmetro dos

retornos médios do mercado, o beta médio calculado retorna levemente superior à

unidade, ou seja, beta médio igual a 1,05. Isto significa que estes ativos mais

líquidos, que juntos totalizam um índice de negociabilidade de 68,25, apresentaram

retornos médios próximos aos retornos médios do mercado como um todo.

Alguns casos pontuais chamam a atenção, tal como o ativo preferencial da

empresa Vale (Vale5). Seu beta calculado, para o ano de 2013, foi de 1,03 ao se

utilizar o Ibovespa como parâmetro. Isto significa que o comportamento de Vale, ou

seja, a sensibilidade dos retornos da Vale5 em relação aos retornos de mercado

deveria ser próximo à unidade (1,03), ou seja, ambas as séries (Vale5 e Ibov)

deveriam andar muito próximas durante o período analisado. Mas não é o que se

visualiza no gráfico 4.3, que segue:

Gráfico 4.3

Cotação de Ibovespa e Vale5 – 02jan a 30dez de 2013 (Base 100 = 02/01/13)

Fonte: Economatica

Ocorre que visualmente nota-se que o ativo Vale5 mostrou-se mais

agressivo do que os retornos do mercado representados pelos retornos médios do

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Ibovespa. De fato, em períodos de baixa, Vale5 caiu mais forte. Já em períodos de

alta, o mesmo ativo subiu mais forte. Este é, notadamente, o comportamento de

um ativo mais agressivo, ou seja, um ativo cujo beta em relação aos retornos do

mercado é superior à unidade (1,00).

Calculando-se o coeficiente beta de Vale5, durante o ano de 2013, mas

utilizando-se agora o Unemat200 como parâmetro representativo dos retornos de

mercado, obtém-se um beta igual a 1,35, ou seja, superior à unidade, o que denota

tratar-se de um ativo agressivo, confirmando a representação gráfica acima.

Gráfico 4.4

Cotação de Unemat200 e Vale5 – janeiro a dezembro de 2013 (Base 100 = 02/01/13)

Fonte: elaborado pelo autor

Conforme visualizado no Gráfico 4.4, durante o ano de 2013, e colocando

ambas as séries na base 100 em 02 de janeiro de 2013, o índice Unemat200

fechou o ano em 30 de dezembro de 2013 em 96,20. Já Vale5 fechou o ano em

81,33, ou seja, enquanto o índice Unemat200 acumulou retorno negativo de 3,8%,

o ativo Vale5 recuou 18,87%. Portanto, Vale5 caiu mais forte do que o indicador do

mercado Unemat200, o que denota que, adotando-se este indicador como

parâmetro representativo dos retornos médios do mercado, Vale5 apresentou

comportamento agressivo no período.

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Outro exemplo, o ativo Santander BR (SANB11), apresentou beta (em 2013)

calculado pelo Ibovespa como conservador (beta = 0,64). Já calculado através do

Unemat200, o mesmo retornou um beta moderado (beta = 0,93), muito próximo à

unidade, denotando que o ativo apresentou retornos próximos aos do mercado em

2013. Isto é confirmado visualmente através do gráfico 4.5, que apresenta a

evolução do ativo, do Ibovespa e do Unemat200, ao longo do ano de 2013, com

base 100 definida em 02 de janeiro:

Gráfico 4.5

Oscilação Ibovespa, Unemat200 e Sanb11, jan a dez de 2013 (Base 100 = 02/01/13)

Fonte: elaborado pelo autor

De fato, a visualização gráfica permite deduzir que o ativo apresentou

retornos muito próximos aos obtidos pelo mercado, ao longo de 2013. A relevância

desta constatação, qual seja, o beta deste ativo calculado via Ibovespa revelar-se

conservador (β=0,64) e, calculado via Unemat200 ser considerado relativamente

moderado (β=0,97), reside na dificuldade causada aos gestores de carteiras ou

portfolios. Supondo que um gestor, que contenha em carteira um ativo considerado

muito agressivo, e que deseje reduzir sua exposição ao risco de eventuais

períodos de tendência baixista do mercado, via diversificação, de acordo com a

análise do beta do ativo calculado via Ibovespa, poderia incluir o mesmo em

carteira, reduzindo teoricamente seu risco. Porém, se calculado através do

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Unemat200, a análise revelaria que a inclusão do mesmo na carteira não resultaria

no efeito desejado, uma vez que o mesmo indica ter comportamento semelhante

ao do mercado.

Um caso ainda mais grave envolve a ação ordinária do Bradesco (Bbdc3),

ao longo de 2013. Seu beta calculado via Ibovespa é considerado moderado

(β=0,75). Já calculado pelo Unemat200, pode ser considerado agressivo (β=1,22).

A ilustração gráfica que segue revela que, em 2013, o ativo de fato revelou-se

agressivo, uma vez que obteve retornos superiores ao Unemat200. E, em relação

ao Ibovespa, revelou-se ainda mais agressivo, uma vez que apresentou retornos

bem superiores ao do índice da bolsa paulista.

Gráfico 4.6

Oscilação Ibovespa, Unemat200 e BBDC3, jan a dez de 2013 (Base 100 = 02/01/13)

Fonte: elaborado pelo autor

Em suma, ao se calcular o coeficiente beta dos ativos utilizando-se como

parâmetro representativo dos retornos médios do mercado o Ibovespa, enquanto

este ainda utilizava a metodologia de ponderação pelo índice de negociabilidade

dos mesmos, o beta calculado eventualmente retornava viesado.

Para comparar, passa-se a calcular o coeficiente beta dos 50 ativos mais

negociados na Bovespa em 2014, ano da implantação da nova metodologia, ou

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seja, a ponderação pelo valor de mercado das respectivas empresas emissoras

dos ativos. Nota-se que não ocorre nenhuma discrepância com relação a eventuais

classificações dos ativos. Ou seja, um ativo que use o Ibovespa como parâmetro

dos retornos médios do mercado, e que seja considerado moderado, também o

será se utilizado o Unemat200 para o mesmo cálculo do parâmetro beta.

Tabela 4.2 Amostra das 50 ações mais negociadas na Bovespa – 2014 – Liquidez e Beta das ações

Nome Código Setor Liquidez

2014 Liquidez

Acumulada Beta β

Ibovespa Unemat200

Petrobras PETR4 Petróleo e Gas 8,5 8,5 1,93 2,09

Vale VALE5 Mineração 4,49 12,99 0,64 0,68

ItauUnibanco ITUB4 Finanças e Seguros 4,47 17,46 1,21 1,31

Petrobras PETR3 Petróleo e Gas 3,49 20,95 1,86 2,02

Bradesco BBDC4 Finanças e Seguros 3,3 24,25 1,34 1,46

Ambev S/A ABEV3 Alimentos e Beb 2,92 27,17 0,62 0,74

Brasil BBAS3 Finanças e Seguros 2,72 29,89 1,55 1,71

BmfBovespa BVMF3 Finanças e Seguros 2,6 32,49 1,32 1,43

Itausa ITSA4 Outros 2,43 34,92 1,19 1,29

Vale VALE3 Mineração 1,91 36,83 0,66 0,71

BBSeguridade BBSE3 Finanças e Seguros 1,84 38,67 0,62 0,71

Kroton KROT3 Outros 1,71 40,38 0,72 0,79

Cielo CIEL3 Software e Dados 1,67 42,05 0,50 0,57

Gerdau GGBR4 Siderur & Metalur 1,51 43,56 0,65 0,69

CCR SA CCRO3 Transporte Serviç 1,4 44,96 0,97 1,09

BRF SA BRFS3 Alimentos e Beb 1,39 46,35 0,59 0,66

Oi OIBR4 Telecomunicações 1,31 47,66 0,82 0,88

Cemig CMIG4 Energia Elétrica 1,28 48,94 0,93 0,99

Estacio Part ESTC3 Outros 1,23 50,17 0,54 0,59

Usiminas USIM5 Siderur & Metalur 1,19 51,36 0,89 0,92

Sid Nacional CSNA3 Siderur & Metalur 1,15 52,51 1,03 1,08

JBS JBSS3 Alimentos e Beb 1,08 53,59 1,11 1,20

Tim Part S/A TIMP3 Telecomunicações 0,99 54,58 0,55 0,60

Suzano Papel SUZB5 Papel e Celulose 0,98 55,56 0,14 0,14

Ultrapar UGPA3 Química 0,92 56,48 0,80 0,88

BR Malls Par BRML3 Outros 0,91 57,39 1,20 1,31

Qualicorp QUAL3 Outros 0,83 58,22 0,55 0,61

Santander BR SANB11 Finanças e Seguros 0,82 59,04 0,43 0,46

P.Acucar-Cbd PCAR4 Comércio 0,8 59,84 0,60 0,67

Hypermarcas HYPE3 Outros 0,79 60,63 0,69 0,76

Cyrela Realt CYRE3 Construção 0,79 61,42 0,87 0,92

Embraer EMBR3 Veiculos e peças 0,78 62,2 0,18 0,19

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Cetip CTIP3 Finanças e Seguros 0,73 62,93 0,50 0,56

Cosan CSAN3 Alimentos e Beb 0,71 63,64 0,93 1,03

MRV MRVE3 Construção 0,71 64,35 1,01 1,08

Rumo Log ALLL3 Transporte Serviç 0,7 65,05 0,82 0,91

Telef Brasil VIVT4 Telecomunicações 0,69 65,74 0,54 0,60

Natura NATU3 Comércio 0,67 66,41 0,72 0,79

Fibria FIBR3 Papel e Celulose 0,64 67,05 0,11 0,10

Lojas Americ LAME4 Comércio 0,64 67,69 0,70 0,77

Bradesco BBDC3 Finanças e Seguros 0,64 68,33 1,32 1,46

PDG Realt PDGR3 Construção 0,63 68,96 1,28 1,35

BR Propert BRPR3 Outros 0,61 69,57 0,88 0,95

Sabesp SBSP3 Outros 0,6 70,17 0,80 0,89

Cia Hering HGTX3 Textil 0,59 70,76 0,67 0,73

Lojas Renner LREN3 Comércio 0,58 71,34 0,72 0,78

Bradespar BRAP4 Outros 0,58 71,92 0,78 0,84

Souza Cruz CRUZ3 Outros 0,57 72,49 0,62 0,70

Braskem BRKM5 Química 0,56 73,05 0,46 0,47

Localiza RENT3 Outros 0,56 73,61 0,73 0,78

Beta Médio = 0,83 0,90

Os 50 ativos mais negociados em 2014, acumulam índice de

negociabilidade de 73,61, o que significa deduzir que em torno de 73,6% do que

aconteceu na Bovespa, em 2014, dizia respeito a estes, em termos de número de

negócios e volume financeiro envolvido.

Note-se que, em 2013, a diferença entre os betas médios apurados usando-

se o Ibovespa ante ao apurado usando-se o Unemat200, era de 12%. Já em 2014

esta diferença caiu para 8,43%. Mas há de se ressaltar que ainda em 2014, a

mudança da metodologia do Ibovespa não ocorreu de forma brusca. Na primeira

recomposição quadrimestral (janeiro a abril de 2014), a Bovespa ponderou os

ativos de sua carteira teórica por meio de um mix de metodologias, ou seja, ainda

considerou a ponderação pelo índice de negociabilidade na ponderação,

contrabalanceada pela metodologia de ponderação pelo valor de mercado.

Já em 2015, a ponderação ocorreu pelo valor de mercado das empresas

emissoras. Assim, a Tabela 4.3 apresenta os betas médios dos 50 ativos mais

negociados entre 02 de janeiro de 2015 a 30 de setembro de 2015, data da última

atualização da base de dados deste trabalho:

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Tabela 4.3 Amostra das 50 ações mais negociadas Bovespa – Jan/Set 2015 – Liquidez e Beta das ações

Nome Código Setor Liquidez

2015 Liquidez

Acumulada Beta β

Ibovespa Unemat200

Petrobras PETR4 Petróleo e Gas 7,36 7,36 1,96 2,19

ItauUnibanco ITUB4 Finanças e Seguros 5,3 12,66 1,16 1,29

Vale VALE5 Mineração 4,88 17,54 1,37 1,45

Bradesco BBDC4 Finanças e Seguros 3,41 20,95 1,25 1,37

Petrobras PETR3 Petróleo e Gas 3,24 24,19 2,12 2,36

Itausa ITSA4 Outros 3,13 27,32 1,07 1,18

Ambev S/A ABEV3 Alimentos e Beb 3,07 30,39 0,51 0,62

Kroton KROT3 Outros 2,82 33,21 1,10 1,19

BmfBovespa BVMF3 Finanças e Seguros 2,36 35,57 1,07 1,20

Brasil BBAS3 Finanças e Seguros 2,17 37,74 1,44 1,66

Cielo CIEL3 Software e Dados 2,13 39,87 0,64 0,76

Vale VALE3 Mineração 2,07 41,94 1,60 1,71

BBSeguridade BBSE3 Finanças e Seguros 2,05 43,99 0,99 1,15

JBS JBSS3 Alimentos e Beb 1,83 45,82 0,69 0,74

BRF SA BRFS3 Alimentos e Beb 1,68 47,5 0,43 0,50

Suzano Papel SUZB5 Papel e Celulose 1,54 49,04 -0,02 -0,01

CCR SA CCRO3 Transporte Serviç 1,52 50,56 1,01 1,17

Gerdau GGBR4 Siderur & Metalur 1,41 51,97 1,13 1,20

Telef Brasil VIVT4 Telecomunicações 1,23 53,2 0,69 0,79

Ultrapar UGPA3 Química 1,12 54,32 0,67 0,78

Cemig CMIG4 Energia Elétrica 1,04 55,36 0,95 1,09

P.Acucar-Cbd PCAR4 Comércio 1 56,36 0,78 0,86

Fibria FIBR3 Papel e Celulose 1 57,36 0,08 0,08

Estacio Part ESTC3 Outros 0,99 58,35 0,79 0,92

Qualicorp QUAL3 Outros 0,96 59,31 0,68 0,74

Embraer EMBR3 Veiculos e peças 0,9 60,21 0,39 0,44

BR Malls Par BRML3 Outros 0,9 61,11 1,16 1,30

Hypermarcas HYPE3 Outros 0,88 61,99 0,58 0,69

Cetip CTIP3 Finanças e Seguros 0,88 62,87 0,51 0,59

Klabin S/A KLBN11 Papel e Celulose 0,86 63,73 0,31 0,37

Tim Part S/A TIMP3 Telecomunicações 0,78 64,51 0,75 0,84

Usiminas USIM5 Siderur & Metalur 0,77 65,28 0,93 0,94

Lojas Renner LREN3 Comércio 0,76 66,04 0,76 0,85

Equatorial EQTL3 Energia Elétrica 0,76 66,8 0,63 0,70

Sid Nacional CSNA3 Siderur & Metalur 0,73 67,53 1,61 1,69

Lojas Americ LAME4 Comércio 0,7 68,23 0,95 1,11

RaiaDrogasil RADL3 Comércio 0,68 68,91 0,51 0,59

Rumo Log ALLL3 Transporte Serviç 0,67 69,58 1,22 1,41

Bradespar BRAP4 Outros 0,66 70,24 1,43 1,53

Bradesco BBDC3 Finanças e Seguros 0,65 70,89 1,12 1,24

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Braskem BRKM5 Química 0,64 71,53 0,85 0,94

Cosan CSAN3 Alimentos e Beb 0,61 72,14 0,88 1,03

Multiplan MULT3 Outros 0,61 72,75 0,84 0,95

Gerdau Met GOAU4 Siderur & Metalur 0,6 73,35 1,50 1,58

Smiles SMLE3 Outros 0,58 73,93 0,55 0,64

Cyrela Realt CYRE3 Construção 0,57 74,5 0,67 0,76

MRV MRVE3 Construção 0,56 75,06 0,87 0,95

Localiza RENT3 Outros 0,53 75,59 0,74 0,83

Oi OIBR4 Telecomunicações 0,53 76,12 1,30 1,46

CPFL Energia CPFE3 Energia Elétrica 0,53 76,65 1,05 1,17

Beta Médio = 0,93 1,03

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Note-se que os resultados obtidos nos cálculos dos betas dos ativos mais

negociados na Bovespa, de janeiro a setembro de 2015, são semelhantes aos

obtidos no ano de 2014. Isto é, as características quanto ao perfil (agressivo,

moderado, conservador e de comportamento opostos) dos ativos permaneceram

relativamente semelhantes. Isso denota que a metodologia de ponderação pelo

valor de mercado das empresas emissoras dos ativos componentes das

respectivas carteiras teóricas apresenta-se, aparentemente, mais adequado para

cumprir a função de indicador do mercado acionário brasileiro.

Uma vez selecionada a amostra das 50 ações mais negociadas nos anos de

2013, 2014 e 2015 (até 30 de setembro), efetuou-se o cálculo de seus respectivos

coeficientes beta. Aqui vale lembrar que, na aplicação prática a intuição básica por

trás do coeficiente beta é a de que mede a sensibilidade de uma variação do

retorno de um título individual à variação da carteira de mercado, ou seu índice

representativo. Assim, o beta médio de todos os ativos com risco disponíveis no

mercado, quando ponderado pela proporção entre o valor de mercado de cada

título e o da carteira de mercado, é igual à unidade, ou seja:

N

i

iiX1

1 (4.3)

Logo, o beta de um título é a covariância padronizada entre o retorno deste

título e o retorno do mercado. A tabela 4.4 revela os betas calculados da amostra

das 50 ações mais negociadas na Bovespa, durante os períodos analisados,

usando-se como variável representativa da carteira de mercado ora o Ibovespa, ora

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o Unemat200. Os resultados são apresentados pela tabela resumida Tab. 4.4, que

segue:

Tabela 4.4

Betas médios obtidos através dos índices Unemat200 e Ibovespa – 2013 a 2015

Ano/Beta Médio Ibovespa Unemat200

2013 0,85 1,05

2014 0,83 0,90

2015* 0,93 1,03

Fonte: elaborada pelo autor

* Dados até 30 de setembro de 2015

Note-se que uma das propriedades úteis do coeficiente beta é a de que o

beta médio de todos os títulos, quando ponderado pela proporção entre o valor de

mercado de cada título e o da carteira de mercado (ou índice representativo), é

igual à unidade. Logo, de acordo com os resultados obtidos no cálculo do mesmo

para a amostra de ativos selecionada, o beta médio calculado com base no índice

Unemat200 chegou mais próximo da unidade, demonstrando seguir mais de perto

a definição do que é carteira de mercado, consequentemente situando-se mais

próximo da fronteira eficiente do que o Ibovespa.

4.2 O MODELO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS FINANCEIROS - CAPM

Conforme exposto no capítulo 2, equação (2.6), o Modelo de Precificação de

Ativos Financeiros (CAPM) permite a mensuração do risco sistemático de uma

carteira de investimentos, através do cálculo do coeficiente beta do(s) ativo(s)

componente(s), que pode ser obtido por regressão linear através da equação

abaixo:

Ri - Rf = + (Rm - Rf )+ i,t (4.4)

Esta regressão resulta na reta característica, que permite que se relacione o

comportamento de um título (ou o conjunto de títulos componentes de uma carteira

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66

de investimentos) com a carteira de mercado. A demonstração gráfica da

regressão é apresentada na figura 4.7, que segue:

Gráfico 4.7 - Reta Característica

O gráfico anterior ilustra a reta característica da regressão, apresentando os

retornos de um ativo, para cada período considerado, como uma função linear do

comportamento do mercado, ou seja, o eixo horizontal identifica os retornos da

carteira de mercado, enquanto o eixo vertical identifica os retornos do ativo

(ilustrados pelos pontos denotados por cada período considerado), ambos em

relação aos retornos do ativo sem risco (Rf). Note-se, ainda, que o termo erro da

regressão linear, denotado por i,t na equação (4.4) que expressa a reta

característica, consiste nos resíduos dos retornos não correlacionados com o

mercado, definido como risco não sistemático ou eliminável pela diversificação

Adicionalmente, são identificados os coeficientes alfa e beta,

respectivamente os coeficientes linear e angular (inclinação) da reta de regressão.

O primeiro revela o prêmio pelo risco oferecido pelo ativo, ou seja, o retorno

esperado do ativo em relação à taxa livre de risco quando Rm – Rf = 024. O

segundo, conforme já mencionado, revela o risco sistemático da carteira, ou seja, a

sensibilidade de resposta do ativo em relação ao comportamento da carteira de

mercado.

Para efeito de aplicação prática, efetuou-se a regressão dos retornos de

vinte ações mais líquidas, de diferentes setores da economia brasileira para,

aplicando o CAPM, estimar-se as taxas de retornos exigidas pelos investidores

24

Sobre o coeficiente alfa, ver Van Horne (1998), para o qual o valor de alfa de uma ação

deve ser zero, ou seja, a reta característica, num processo de equilíbrio, passa pela origem.

Ri - Rf

Rm - Rf

Risco Diversificável

Reta

Característica

Fonte: Assaf Neto (2008)

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67

para estes ativos, ao longo do ano de 2012, notadamente dois anos antes da

metodologia do Ibovespa. Como índice representativo dos retornos médios do

mercado utiliza-se, alternadamente, o Ibovespa e o Unemat200.

O mesmo procedimento dá-se nos três períodos seguintes, isto é, estima-se

os retornos exigidos para o ano de 2013 (ano que antecede a mudança da

metodologia do Ibovespa), para o ano de 2014 (ano da mudança da metodologia)

e, finalmente, para o ano de 2015 (segundo ano após a mudança de metodologia.

Para aplicar o Modelo CAPM, precisamos dos retornos anuais do ativo de

períodos anteriores, o retorno da taxa livre de risco (Rf) e o retorno médio do

mercado representado por um índice de bolsa, conforme equação (4.4). Para

estimar os retornos dos ativos para o ano de 2012, dois anos antes da mudança de

metodologia do Ibovespa, apuramos os retornos de quatro anos anteriores, ou seja,

os retornos anuais nominais dos ativos para os anos de 2008 a 2012.

As vinte ações selecionadas, representativas dos seus setores de atividade,

bem como os seus respectivos retornos anuais nominais, de 2008 a 2011 são

apresentadas na tabela 4.5, que apresenta também os retornos anuais dos índices

Ibovespa e Unemat200, e os retornos anuais da taxa de juros de títulos livres de

risco25 (Rf), no mesmo período:

Tabela 4.5

Retornos anuais nominais das ações, dos índices Unemat200 e Ibovespa e da Selic – 2008 a 2011

Nome Código Setor Retorno

2008 Retorno

2009 Retorno

2010 Retorno

2011

Ambev S/A ABEV3 Alimentos e Beb -0,2878 0,824 0,537 0,3091

BmfBovespa BVMF3 Finanças e Seguros n/d 1,1063 0,116 -0,2126

Brasil BBAS3 Finanças e Seguros -0,4905 1,1699 0,1271 -0,1899

Braskem BRKM5 Química -0,5979 1,5369 0,4467 -0,3479

BRF SA BRFS3 Alimentos e Beb -0,3171 0,5334 0,2187 0,3639

CCR SA CCRO3 Transporte Serviç -0,094 0,7785 0,2317 0,0839

Cemig CMIG4 Energia Elétrica 0,049 0,3142 0,0226 0,3723

Cia Hering HGTX3 Textil -0,23 2,8721 1,8315 0,223

Cielo CIEL3 Software e Dados n/d n/d -0,0555 0,5332

Cyrela Realt CYRE3 Construção -0,6192 1,6998 -0,0877 -0,3067

25

Nesta aplicação prática, optou-se por adotar como Rf as Letras do Tesouro Federal (LFT), lastreadas

na taxa Selic.

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Embraer EMBR3 Veiculos e peças -0,5484 0,1077 0,2802 0,0173

Gerdau GGBR4 Siderur & Metalur -0,3992 0,9586 -0,2094 -0,3463

JBS JBSS3 Alimentos e Beb -0,1772 0,8931 -0,2282 -0,152

Klabin S/A KLBN4 Papel e Celulose -0,4717 0,6658 0,1475 0,4253

Lojas Americ LAME4 Comércio -0,5957 1,4922 -0,0089 -0,0334

Natura NATU3 Comércio 0,1803 1,0194 0,3674 -0,2037

Oi OIBR4 Telecomunicações -0,1952 0,228 -0,2464 -0,0751

Petrobras PETR4 Petróleo e Gas -0,4611 0,6593 -0,2296 -0,1832

Vale VALE5 Mineração -0,5113 0,8194 0,1723 -0,1652

Weg WEGE3 Máquinas Indust -0,4909 0,5189 0,2203 -0,1126

Ibovespa IBOV Índice de Ações -0,4122 0,8266 0,0104 -0,1811

Unemat200 U200 Índice de Ações -0,3863 0,581 0,0129 -0,0931

Selic LFT Acum. Taxa Livre de Risco 0,2227 -0,3672 0,2335 0,0225

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Note-se que a Tabela 4.5, acima, ilustra dados históricos dos retornos das

variáveis em questão, que serão utilizados para uma aplicação prática da

determinação da reta característica (ou Linha de Mercado de Títulos). Ressalte-se

que, conforme oportunamente observado por Assaf Neto (2000), essas situações

requerem certas similaridades entre os fatos ocorridos e aqueles previstos na

economia, ou seja, os diversos eventos verificados no passado de alguma forma se

repetirão no horizonte de planejamento.

Notadamente, o período em análise (jan/2008 a dez/2011) ficou a mercê de

eventos considerados – no jargão do mercado – como extraordinários, já que os

retornos observados sofreram influência de uma crise financeira de âmbito

internacional. De qualquer forma, embora as expectativas dos retornos esperados

possam ter sido influenciadas pela mesma, prosseguimos com nossa aplicação

prática, até mesmo porque o impacto causado pela crise tende a ser o mesmo nas

duas séries dos índices representativos do mercado.

Com base nos dados da Tabela 4.5, procedemos os cálculos de regressão

linear dos retornos dos ativos em questão, com o objetivo de obter o retorno

exigido para cada um deles, em relação à carteira de mercado, esta última

representada tanto pelo índice Unemat200 quanto pelo Ibovespa. Inicialmente,

limitamo-nos a calcular o retorno esperado do ativo ABEV3, em relação ao índice

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Bovespa. Posteriormente, para efeitos de análise comparativa, efetuaremos o

mesmo cálculo, substituindo o Ibovespa pelo Unemat200.

Para efeito de simplificação, doravante passaremos a denominar a série de

retornos anuais do ativo ABEV3 como variável dependente “Y”, e a série dos

retornos anuais do Ibovespa como variável independente “X”. Assim, com base nos

dados da Tabela 4.5, e lembrando que os retornos tanto do ativo quando do índice

de mercado têm descontada a taxa livre de risco, desenvolvemos os cálculos

necessários à aplicação prática, conforme demonstrado na tabela 4.6:

Tabela 4.6 Retornos anuais do ativo ABEV3 e do Ibovespa – 2008 a 2011.

(Y) (X) (A) (B)

(RAbev3 - Rf) (RIbov - Rf) XY Y2 X

2 (X-Xméd) (X-Xméd)

2 (Y-Yméd) (Y-méd)

2 A x B

2008 -0,4126 -0,537 0,22 0,17 0,29 -0,4884 0,24 -0,64865 0,42 0,32

2009 0,7247 0,7273 0,53 0,53 0,53 0,7759 0,60 0,48865 0,24 0,38

2010 0,4392 -0,0874 -0,04 0,19 0,01 -0,0388 0,00 0,20315 0,04 -0,01

2011 0,1929 -0,2973 -0,06 0,04 0,09 -0,2487 0,06 -0,04315 0,00 0,01

Total 0,9442 -0,1944 0,65 0,93 0,91 0,9039 0,7027 0,6988

Média 0,23605 -0,0486

Fonte: Elaborada pelo autor

Com base nos dados processados na tabela acima, podemos obter:

Retorno Médio da Abev3 (Y), no período = 0,23605

Retorno Médio do Ibovespa (X), no período = -0,0486

475371,04

9039,0X

419123,04

7027,0Y

VARX = (0,475371)2 = 0,225978

VARY (0,419123)2 = 0,175664

COVX,Y = (0,6988/4) = 0,174698

= (0,174698/0,225978) = 0,773076

= 0,23605 – 0,773076 (-0,0486) = 0,273621

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70

Note-se que os coeficientes obtidos têm por base retornos anuais

observados, já descontada a taxa livre de risco observada para cada período, tanto

para os retornos do ativo quanto para os retornos do índice.

Considerando-se que o retorno médio anual da taxa livre de risco Selic,

entre 2008 a 2011 foi de 0,109525, ou 10,95% a.a. e, uma vez calculados os

coeficientes, e admitindo-se uma taxa livre de risco média para o ano 2012 de

10,95% a. a., e considerando-se que as taxas médias calculadas sejam confiáveis

e representativas de projeções futuras, isto é, que os eventos verificados no

passado de alguma forma se repitam no horizonte de planejamento ( )(__

jj RER e

)(__

mm RER ) , pode-se calcular o retorno exigido pelos investidores para as ações

da ABEV3, para o ano de 2012, a partir da reta de regressão:

)(__

fmjjj RRR (4.5)

Com efeito: E(RJ) = (0,273621 + 0,109525) + (0,773076 x (-0,0486 – 0,109525)) E(RJ) = 0,2609 ou 26,09% a. a.

Logo, adotando-se o Ibovespa como índice representativo da carteira de

mercado, o retorno esperado pelos agentes para um investimento no ativo ABEV3,

já descontada a taxa livre de risco, equivale a um retorno esperado de 26,09% para

o ano de 2012. Para efeitos de comparação, procedemos o mesmo cálculo, desta

vez adotando o Unemat200 como variável independente. A tabela 4.7 sintetiza os

cálculos necessários para a estimação dos coeficientes:

Tabela 4.7 Retornos anuais do ativo ABEV3 e do Unemat200 – 2008 a 2011

(Y) (X) (A) (B)

(RAbev3 - Rf) (RU200 - Rf) XY Y2 X

2 (X-Xméd) (X-Xméd)

2 (Y-Yméd) (Y-méd)

2 A x B

2008 -0,4126 -0,5111 0,21 0,17 0,26 -0,4302 0,19 -0,64865 0,42 0,28

2009 0,7247 0,4817 0,35 0,53 0,23 0,5626 0,32 0,48865 0,24 0,27

2010 0,4392 -0,0849 -0,04 0,19 0,01 -0,004 0,00 0,20315 0,04 0,00

2011 0,1929 -0,2093 -0,04 0,04 0,04 -0,1284 0,02 -0,04315 0,00 0,01

Total 0,9442 -0,3236 0,48 0,93 0,54 0,5181 0,7027 0,5587

Média 0,23605 -0,0809

Fonte: Elaborada pelo autor

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71

Com base nos dados processados na tabela acima, podemos obter:

Retorno Médio da Abev3 (Y), no período = 0,23605

Retorno Médio do Unemat200 (X), no período = -0,0809

359893,04

5181,0X

419123,04

7027,0Y

VARX = (0,359893)2 = 0,129523

VARY (0,419123)2 = 0,175664

COVX,Y = (0,5587/4) = 0,139672

= (0,139672/0,129523) = 1,078360

= 0,23605 – (1,078360 x -0,0809) = 0,322893

Assim, considerando-se a mesma taxa livre de risco,

E(RJ) = (0,323289 + 0,109525) + (1,07836 x (-0,0809 – 0,109525)) E(RJ) = 0,2275 ou 22,75% a. a.

Logo, adotando-se o Unemat200 como índice representativo da carteira de

mercado, o retorno esperado pelos agentes para um investimento no ativo ABEV3,

é de 22,75% para o ano de 2012. A diferença entre os retornos esperados, tendo

por índice representativo do mercado O Ibovespa (26,09%), ou alternativamente o

Unemat200 (22,75%), é de 14,68 pontos percentuais. A Tabela 4.8 que segue,

apresenta os retornos esperados da amostra de ações da Tabela 4.5, para os anos

de 2012 a 2015:

Tabela 4.8 Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado

Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – 2012 a 2015 – Retornos Anuais

Nome Código E(Rj) 2012 E(Rj) 2013 E(Rj) 2014 E(Rj) 2015

Ibov U200 Ibov U200 Ibov U200 Ibov U200

Ambev S/A ABEV3 0,2609 0,2275 0,5469 0,5172 0,1936 0,2396 0,1447 0,0654

BmfBovespa BVMF3 0,1405 0,1124 0,2183 0,1424 -0,2035 -0,1850 -0,2651 -0,2270

Brasil BBAS3 0,0080 -0,0374 0,1491 0,0763 -0,1055 -0,0690 -0,1173 -0,0767

Braskem BRKM5 0,0692 0,0104 0,1992 0,1116 0,0279 0,1195 0,0411 -0,0526

BRF SA BRFS3 0,1408 0,1147 0,3101 0,2968 0,2825 0,2746 0,2921 0,2997

CCR SA CCRO3 0,1729 0,1489 0,3826 0,3364 0,0295 0,0104 -0,0480 -0,0966

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Cemig CMIG4 0,1722 0,1640 0,1570 0,1546 0,2112 0,1993 0,2454 0,2287

Cia Hering HGTX3 0,9038 0,8165 0,9949 0,8966 -0,0557 0,4986 0,0219 -0,0903

Cielo CIEL3 0,1332 0,1311 0,2489 0,2622 0,5047 0,3585 0,4996 0,4320

Cyrela Realt CYRE3 -0,0366 -0,0981 0,1647 0,0472 -0,2568 -0,2677 -0,3072 -0,2982

Embraer EMBR3 -0,0786 -0,1006 0,1571 0,1560 0,1313 0,1439 0,1184 0,1720

Gerdau GGBR4 -0,1263 -0,1617 0,0027 -0,0770 -0,1897 -0,2546 -0,2443 -0,3596

JBS JBSS3 -0,0182 -0,0455 0,0043 -0,0613 0,1055 -0,0052 0,0989 0,1518

Klabin S/A KLBN4 0,1127 0,0785 0,4418 0,4141 0,2725 0,2036 0,2253 0,2102

Lojas Americ LAME4 0,0350 -0,0218 0,3137 0,2177 -0,0748 -0,1153 -0,1312 0,0349

Natura NATU3 0,2493 0,2280 0,3622 0,2947 -0,2385 -0,1754 -0,3341 -0,3254

Oi OIBR4 -0,1106 -0,1221 -0,0229 -0,0505 -0,2458 -0,2782 -0,2928 -0,4794

Petrobras PETR4 -0,1515 -0,1819 -0,0762 -0,1274 -0,1519 -0,1788 -0,1551 -0,2456

Vale VALE5 -0,0347 -0,0723 0,1197 0,0696 -0,1772 -0,1058 -0,1924 -0,2738

Weg WEGE3 -0,0483 -0,0781 0,2180 0,1821 0,0027 -0,0064 -0,0525 0,0476

Total = 1,7937 1,1125 4,8921 3,8593 0,0620 0,4066 -0,4526 -0,8829

Média = 0,0897 0,0556 0,2446 0,1930 0,0031 0,0203 -0,0226 -0,0441

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Note-se que a aplicação do Modelo CAPM, com o objetivo de estimar os

retornos esperados E(Rj) dos ativos para os anos de 2012 a 2015, utilizando-se

alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 como índices representativos dos

retornos médios do mercado, resulta em valores diferentes, e em alguns casos

pontuais muito diferentes.

Esta constatação empírica é explicada pelo que Sanvicente & Mellagi Filho

(1992) classificaram como erro ou viés de especificação, decorrente do uso de um

índice teoricamente incorreto. A intuição por trás dos resultados obtidos com a

aplicação do CAPM revela que o Ibovespa tende a contribuir para com a

concentração no mercado, na medida em que distorce as expectativas dos retornos

exigidos para títulos individuais.

Contudo, a realidade cotidiana dos agentes do mercado revela que a

utilização do CAPM não é prática comum por ocasião da tomada de decisão. Com

efeito, a composição de uma carteira com o objetivo de replicar os retornos do

mercado tem sido a prática mais usual, pelo menos até a mudança da metodologia

do Ibovespa, que ocorreu em janeiro de 2014. Até esta data, a tomada de decisão

resumia-se em carregar a carteira com o(s) ativo(s) de maior peso na carteira

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teórica do índice. E em assim se comportando, os agentes tornavam os ativos de

maior peso na carteira teórica do índice ainda mais líquidos. Com isso, na

recomposição quadrimestral da carteira teórica do Ibovespa, os ativos mais líquidos

tendiam a se tornar ainda mais líquidos com o passar do tempo. E, como resultado

dessa dinâmica, deduz-se ter sido o Ibovespa um dos principais responsáveis pelo

elevado grau de concentração do mercado acionário brasileiro, em função da sua

então metodologia peculiar de ponderação dos ativos componentes da carteira

teórica por seus respectivos índices de negociabilidade.

Notadamente, na aplicação prática do modelo CAPM, a relação entre os

retornos dos ativos supracitados e os retornos da carteira de mercado foi

desenvolvida através das séries históricas dos ativos e dos índices de bolsas em

questão, admitindo-se que os retornos verificados no passado sejam

previsivelmente repetidos no futuro. Observe-se que, dependendo do índice de

bolsa utilizado como parâmetro do mercado, ocorre uma significativa dissonância

entre as expectativas dos retornos de cada título. Portanto, aparentemente não é

possível afirmar que um ou outro índice tenha se mostrado mais apropriado ao

modelo, uma vez que em determinado período o uso de um índice indica retornar

expectativas de retornos esperados superiores ao uso de outro índice, enquanto

que em outros períodos a situação se inverte.

Note-se que os retornos esperados para o ano de 2015 (E(Rj) 2015), obtidos

via aplicação do Modelo CAPM, apresentados na Tabela 4.8, são calculados com

base nos retornos dos ativos nos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014. E, apenas este

último contempla a mudança de metodologia por parte do Ibovespa.

Por isso, decidiu-se aplicar o Modelo CAPM em uma base contendo dados

mensais. Assim, com base nos retornos dos ativos, do Ibovespa (que à época

ainda adotava a antiga metodologia de ponderação), do Unemat200 e da taxa Selic

de janeiro a agosto de 2013, estimou-se, via CAPM, os retornos esperados para

setembro de 2013. Adicionalmente, procedeu-se da mesma forma para estimar os

retornos esperados para setembro de 2014. Note-se que, em 2014, os retornos do

índice Ibovespa já contemplavam a nova metodologia de ponderação. O mesmo

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procedimento foi efetuado para estimar os retornos dos meses de outubro,

respectivamente de 2013 e 2014. Os resultados são apresentados a seguir:

Tabela 4.9 Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado

Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – Setembro 2013 e 2014 – Retornos Mensais

Nome Código E(Rj) Set2013

Nome Código E(Rj) Set2014

Ibov U200 Ibov U200

Ambev S/A ABEV3 0,0006 0,0005 Ambev S/A ABEV3 -0,0071 -0,0099

BmfBovespa BVMF3 -0,0516 -0,0541 BmfBovespa BVMF3 0,0522 0,0430

Brasil BBAS3 -0,0189 -0,0217 Brasil BBAS3 0,1165 0,0998

Braskem BRKM5 -0,0045 -0,0044 Braskem BRKM5 0,0000 -0,0051

BRF SA BRFS3 0,0204 0,0196 BRF SA BRFS3 0,0409 0,0321

CCR SA CCRO3 -0,0312 -0,0332 CCR SA CCRO3 0,0367 0,0311

Cemig CMIG4 -0,0352 -0,0372 Cemig CMIG4 0,0714 0,0638

Cia Hering HGTX3 -0,0712 -0,0739 Cia Hering HGTX3 0,0430 0,0259

Cielo CIEL3 0,0217 0,0216 Cielo CIEL3 0,0302 0,0257

Cyrela Realt CYRE3 -0,0470 -0,0485 Cyrela Realt CYRE3 0,0140 0,0060

Embraer EMBR3 0,0301 0,0299 Embraer EMBR3 0,0155 0,0210

Gerdau GGBR4 0,0001 0,0012 Gerdau GGBR4 -0,0017 -0,0004

JBS JBSS3 0,0013 -0,0013 JBS JBSS3 0,0488 0,0423

Klabin S/A KLBN4 -0,0315 -0,0336 Klabin S/A KLBN4 -0,0041 -0,0075

Lojas Americ LAME4 -0,0432 -0,0450 Lojas Americ LAME4 0,0394 0,0329

Natura NATU3 -0,0209 -0,0219 Natura NATU3 0,0183 0,0145

Oi OIBR4 -0,5540 -0,0537 Oi OIBR4 -0,0487 -0,0579

Petrobras PETR4 -0,0575 -0,0615 Petrobras PETR4 0,0847 0,0756

Vale VALE5 -0,0217 -0,0202 Vale VALE5 -0,0004 0,0001

Weg WEGE3 0,0185 0,0172 Weg WEGE3 0,0151 0,0090

Total = -0,8957 -0,4202 Total = 0,5647 0,4420

Média = -0,0448 -0,0210 Média = 0,0282 0,0221

Dif % = -53,09

Dif % = 27,76

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Tabela 4.10 Cálculo do CAPM da Amostra de Ativos Utilizando o Índice de Retornos Médios do Mercado

Alternadamente o Ibovespa e o Unemat200 – Outubro 2013 e 2014 – Retornos Mensais

Nome Código E(Rj) Out2013

Nome Código E(Rj) Out2014

Ibov U200 Ibov U200

Ambev S/A ABEV3 0,0070 0,0022 Ambev S/A ABEV3 0,0006 0,0026

BmfBovespa BVMF3 -0,0419 -0,0347 BmfBovespa BVMF3 0,0162 -0,0038

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Brasil BBAS3 0,0138 0,0283 Brasil BBAS3 0,0662 0,0357

Braskem BRKM5 0,0106 0,0135 Braskem BRKM5 0,0214 0,0266

BRF SA BRFS3 0,0147 0,0268 BRF SA BRFS3 0,0496 0,0441

CCR SA CCRO3 -0,0134 -0,0750 CCR SA CCRO3 -0,0010 -0,0116

Cemig CMIG4 -0,0243 -0,0257 Cemig CMIG4 0,0487 0,0197

Cia Hering HGTX3 -0,0392 -0,0201 Cia Hering HGTX3 0,0350 0,0328

Cielo CIEL3 0,0212 0,0233 Cielo CIEL3 0,0090 0,0135

Cyrela Realt CYRE3 -0,0173 -0,0128 Cyrela Realt CYRE3 -0,0171 -0,0190

Embraer EMBR3 -0,0272 -0,0325 Embraer EMBR3 0,0364 0,0436

Gerdau GGBR4 0,0434 0,0573 Gerdau GGBR4 -0,0134 -0,0215

JBS JBSS3 -0,0131 -0,0009 JBS JBSS3 0,0428 0,0282

Klabin S/A KLBN4 -0,0279 -0,0039 Klabin S/A KLBN4 0,0288 0,0309

Lojas Americ LAME4 -0,0153 -0,0118 Lojas Americ LAME4 0,0200 0,0089

Natura NATU3 0,0016 0,0101 Natura NATU3 -0,0024 -0,0038

Oi OIBR4 0,0732 0,0633 Oi OIBR4 0,0066 0,0399

Petrobras PETR4 -0,0284 -0,0108 Petrobras PETR4 0,0389 0,0122

Vale VALE5 0,0180 0,0309 Vale VALE5 -0,0015 -0,0159

Weg WEGE3 -0,0095 -0,0101 Weg WEGE3 0,0212 0,0253

Total = -0,0540 0,0174 Total = 0,4060 0,2884

Média = -0,0027 0,0009 Média = 0,0203 0,0144

Dif % = -132,22

Dif % = 40,78

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Note-se que, em média, a diferença entre a estimativa dos retornos

esperados mensurados alternadamente pelo Ibovespa e pelo Unemat200 como

índices representativos do mercado, é menor em ambas análises no ano de 2014

(Retornos de setembro e outubro de 2014), ano no qual o Ibovespa já havia

alterado sua metodologia. De qualquer forma, a aplicação do Modelo CAPM não é

conclusiva sobre o viés de um ou outro índice de mercado, quer o Ibovespa, quer o

Unemat200.

Para tentar capturar indícios de um possível viés do Ibovespa, antes da

mudança de metodologia, decidiu-se analisar o que de fato aconteceu com as

empresas brasileiras, em termos de valor de mercado, durante o período

compreendido pela base de dados deste trabalho, qual seja, de janeiro de 2001 a

setembro de 2015. Para tanto, utilizando-se a base de dados do Sistema

Economatica, somou-se os valores de mercado de todas as empresas listadas na

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Bovespa, em cada ano do período de análise, para efeitos de mensurar a variação

ocorrida. Concomitantemente, para efeitos de análise comparativa, apurou-se a

variação nos índices Ibovespa e Unemat200. A Tabela 4.11 apresenta os

resultados obtidos:

Tabela 4.11 Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa,

Ibovespa e Unemat200 – Retornos Anuais, de 2012 a 2015 – Valores Nominais

ANO Σ VLR MERC CIAS BR (em R$) Var. % Ibov Var % U200 Var %

2000 506.546.007.663,77 - 15.259 - 302.022 -

2001 511.587.516.158,42 1,00 13.577 -11,02 315.783 4,56

2002 506.717.737.669,75 -0,95 11.268 -17,01 333.997 5,77

2003 871.171.698.898,36 71,92 22.236 97,34 596.702 78,65

2004 1.161.852.839.941,46 33,37 26.196 17,81 802.897 34,56

2005 1.540.278.542.907,08 32,57 33.455 27,71 1.075.921 34,00

2006 2.238.489.024.040,46 45,33 44.473 32,93 1.484.763 38,00

2007 3.481.339.010.504,24 55,52 63.886 43,65 2.298.146 54,78

2008 2.185.264.468.701,07 -37,23 37.550 -41,22 1.383.441 -39,80

2009 3.736.460.138.524,31 70,98 68.588 82,66 2.331.822 68,55

2010 4.053.648.882.459,44 8,49 69.304 1,04 2.406.219 3,19

2011 3.570.253.675.621,43 -11,92 56.754 -18,11 2.198.037 -8,65

2012 3.848.489.665.002,15 7,79 60.952 7,40 2.544.775 15,77

2013 3.719.574.698.468,53 -3,35 51.507 -15,50 2.491.358 -2,10

2014 3.381.555.732.075,88 -9,09 50.007 -2,91 2.328.124 -6,55

2015 3.025.731.276.250,42 -10,52 45.059 -9,89 2.158.692 -7,28

Variação % no Período = 497,33 195,29 614,75

Diferença em pontos percentuais = -302,03 117,42

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

De acordo com a Tabela 4.11, com exceção dos anos de 2012 e de 2015,

em todos os demais (14 anos) a variação percentual dos pontos do Unemat200

tem sido mais próxima à variação do valor de mercado do somatório das empresas

listadas na bolsa brasileira. Considerando-se que o valor de mercado é resultado

do preço dos ativos no mercado secundário multiplicado pela quantidade de ações

emitidas pelas empresas, e que esta quantidade é considerada relativamente

constante26, o valor de mercado muda quando muda o preço dos ativos. E,

considerando-se que o objetivo dos índices de bolsas de valores consiste em

26

A quantidade de ações emitidas só é alterada por ocasião da emissão de novas ações

(underwriting) ou pela recompra de suas próprias ações (buy back), por parte das empresas.

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refletir as oscilações (preços) do conjunto de ações negociadas num determinado

mercado, deduz-se que o Unemat-200 representou com mais fidelidade o que de

fato ocorreu no mercado real, ou seja, com o valor de mercado das empresas

emissoras das ações. O Gráfico 4.8 permite melhor visualizar o comportamento

das séries, ao longo do período em análise:

Gráfico 4.8

Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – 2012 a 2015 – Valores Nominais

Fonte: elaborado pelo autor

Conforme a ilustração gráfica acima, nota-se que a série do Unemat200

acompanha bem mais próxima a série referente à variação do valor de mercado

das empresas. Em outros termos, pode-se deduzir que o Ibovespa tem se

mostrado viesado na maior parte do período analisado, uma vez que apresentava

um comportamento do mercado muito distante do que de fato ocorreu no mercado

real. Daí, deduz-se que o Unemat200, construído com base na metodologia de

ponderação dos ativos componentes de sua Carteira Teórica pelo valor de

mercado das respectivas empresas emissoras, tem se mostrado mais adequado

para refletir o comportamento do mercado real, comparativamente ao Ibovespa.

Se a análise fosse interrompida a esta altura, poder-se-ia deduzir que o

Ibovespa é viesado e, portanto, não adequado para ser utilizado como índice

representativo dos retornos médios do mercado. Porém, aqui vale lembrar que a

bolsa de São Paulo alterou sua metodologia de ponderação em janeiro de 2014.

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Com isso, averiguou-se o comportamento das séries (Somatório do valor de

mercado das empresas listadas na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200) dos

respectivos retornos mensais, a partir de janeiro de 2014, até o final da série, em

setembro de 2015. Os resultados são apresentados na Tabela 4.12:

Tabela 4.12 Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa,

Ibovespa e Unemat200 – Retornos Mensais, de Janeiro de 2014 a Setembro de 2015 Valores Nominais

MÊS Σ VLR MERC CIAS BR Var. % Ibov Var % U200 Var %

dez/13 3.719.574.698.468,53 - 51.507 - 2.491.358 -

jan/14 3.408.860.368.301,27 -8,35 47.638 -7,51 2.287.897 -8,17

fev/14 3.366.539.855.512,93 -1,24 47.094 -1,14 2.278.081 -0,43

mar/14 3.560.234.451.630,32 5,75 50.414 7,05 2.425.692 6,48

abr/14 3.625.257.243.806,79 1,83 51.626 2,40 2.475.272 2,04

mai/14 3.593.812.565.249,68 -0,87 51.239 -0,75 2.429.615 -1,84

jun/14 3.672.161.297.380,40 2,18 53.168 3,76 2.472.515 1,77

jul/14 3.842.289.953.440,63 4,63 55.829 5,00 2.558.721 3,49

ago/14 4.169.840.977.817,77 8,52 61.288 9,78 2.799.213 9,40

set/14 3.729.642.705.712,00 -10,56 54.115 -11,70 2.495.362 -10,85

out/14 3.684.394.486.447,91 -1,21 54.628 0,95 2.509.265 0,56

nov/14 3.687.496.291.160,06 0,08 54.724 0,18 2.519.446 0,41

dez/14 3.381.555.732.075,88 -8,30 50.007 -8,62 2.328.124 -7,59

jan/15 3.183.648.826.924,03 -5,85 46.907 -6,20 2.216.829 -4,78

fev/15 3.449.965.063.553,21 8,37 51.583 9,97 2.411.231 8,77

mar/15 3.418.521.293.841,61 -0,91 51.150 -0,84 2.409.804 -0,06

abr/15 3.776.103.807.252,81 10,46 56.229 9,93 2.613.260 8,44

mai/15 3.583.837.995.843,25 -5,09 52.760 -6,17 2.474.827 -5,30

jun/15 3.640.220.153.189,30 1,57 53.080 0,61 2.508.476 1,36

jul/15 3.478.846.053.174,06 -4,43 50.864 -4,17 2.421.196 -3,48

ago/15 3.187.947.948.658,21 -8,36 46.625 -8,33 2.235.921 -7,65

set/15 3.025.731.276.250,42 -11,49 45.059 -11,91 2.158.692 -10,42

Variação % no Período = -18,65 -12,52 -13,35

Diferença em pontos percentuais do Valor de Mercado = 6,14 5,30

Fonte: Base de dados Economatica, elaborada pelo autor

Dif Ibov U200 = -0,83

Note-se que ambos indicadores apontaram desvalorização muito próxima,

de -12,52% e -13,35%, respectivamente do Ibovespa e Unemat200, uma diferença

de apenas 0,83 pontos percentuais, enquanto o somatório valor de mercado de

todas as empresas listadas na BM&FBovespa, no período de janeiro de 2014 a

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setembro de 2015, encolheu 18,65%. Este resultado é melhor visualizado na

ilustração gráfica que segue:

Gráfico 4.9

Variação Percentual do Valor de Mercado do Total de Empresas Listadas Na BM&FBovespa, Ibovespa e Unemat200 – Dados mensais de janeiro de 2014 a setembro de 2015

Valores Nominais

Fonte: elaborado pelo autor

Perceba-se que, apesar de metodologias de seleção da amostra distintas,

ou seja, enquanto o Unemat200 conta com a quantidade fixa das 200 ações mais

líquidas em sua carteira teórica, enquanto o Ibovespa seleciona as ações

componentes de uma relação (em ordem decrescente) cujo somatório do índice de

negociabilidade atinja 85% do total, ambos índices representaram com satisfatória

precisão o comportamento da variação do valor de mercado das empresas. Isto

leva à conclusão de que, se antes da mudança da metodologia o Ibovespa era

viesado, após a implantação da mudança da metodologia este viés tem sido

corrigido.

Adicionalmente, considera-se positiva a alteração da metodologia de cálculo

do Ibovespa, implantada a partir de 2014. Também se considera que esta nova

metodologia inibe o comportamento dos agentes por ocasião da tomada de

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decisão, que se resumia predominantemente em selecionar ativos com maior peso

na Carteira Teórica do Ibovespa. A partir da implantação da nova metodologia, os

agentes precisam fazer uso de novos métodos de avaliação dos ativos,

comportamento este que, acredita-se, contribuirá para minimizar o problema da

clássica concentração do mercado acionário brasileiro.

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CAPITULO 5

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O Mercado de Capitais brasileiro é notadamente concentrado em alguns

poucos ativos. E esta concentração é prejudicial ao mercado real, por constituir-se

em um empecilho ao cumprimento de seu objetivo primordial, qual seja, constituir-

se numa alternativa às fontes de financiamentos empresariais.

Partindo da premissa da evidência da concentração, suspeitou-se haver uma

relação entre esta última e a antiga metodologia de ponderação de seu principal

indicador de mercado, o Ibovespa. Desde sua construção e divulgação (janeiro de

1968), o Ibovespa adotava como metodologia de ponderação dos ativos

componentes de sua Carteira Teórica o índice de negociabilidade dos ativos

(liquidity weighted), em detrimento a metodologia dos principais índices das

principais bolsas mundiais, que adotam a ponderação pelo valor de mercado das

respectivas empresas emissoras (value weighted).

A hipótese de a metodologia do Ibovespa não ser a mais adequada para

refletir o comportamento médio do conjunto de ações negociadas na bolsa paulista

fomentou o questionamento: qual seria o comportamento de um índice que

utilizasse metodologia diferente do Ibovespa, e que se propusesse a refletir o

comportamento do mesmo mercado? Esta indagação estimulou-nos a construir um

índice alternativo, o Unemat200, composto pelos 200 ativos mais líquidos

negociados na BM&FBovespa, mas cuja ponderação considera não o índice de

negociabilidade dos mesmos, mas sim o valor de mercado de suas respectivas

empresas emissoras.

Iniciada a série em 28 de dezembro de 2000, quando comparada sua

evolução gráfica ao Ibovespa, a diferença observada demonstrou-se inaceitável.

De fato, partindo da base 100 em 02 de janeiro de 2001 e findando a série em 30

de setembro de 2015, o Ibovespa iniciou o período em 15.259 pontos, e chegou à

data final do mesmo totalizando 45.059 pontos. Acumulou ganhos de 195,29%.

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Por sua vez, o Unemat200 iniciou a série com 302.021 pontos e finalizou a

mesma com 2.158.692 pontos. Um ganho acumulado de 614,75%. A suspeita de

viés tornou-se fato. Ao se propor refletir o comportamento médio do conjunto de

ações negociadas no mesmo mercado, as séries históricas de ambos índices não

poderiam divergir nestas proporções. De fato, a diferença observada entre os

pontos de ambos os índices foi de 419,46 pontos percentuais, no período

analisado. E, uma simples visualização gráfica das séries leva à conclusão de que

a tendência predominante das mesmas indica divergirem ainda mais, ao longo do

tempo.

Para confirmar a existência de viés em um dos índices, observou-se o que

ocorre com indicadores com metodologias distintas, igualmente propondo-se a

refletir o mesmo mercado, a Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). Para tanto,

usou-se o índice Dow Jones, cuja metodologia de composição da carteira teórica

não é divulgada, mas que sabe-se não contém muito mais do que 30 ações na

amostra. O índice Dow Jones fechou o pregão de 29 de dezembro de 2000

apontando 10.787 pontos. E em 30 de setembro de 2015 fechou com 16.285

pontos, uma variação de 50,97%. Por sua vez, o índice Standar & Poor’s

(S&P500), que conta em sua carteira teórica com as 500 ações mais líquidas da

Nyse, ponderadas pelo valor de mercado das empresas emissoras, iniciou a série

com 1.320,28 pontos, e findou a mesma com 1.920,03 pontos, apontando uma

valorização de 45,43%. A diferença entre ambos índices, apesar de adotarem

metodologias totalmente distintas, resumiu-se em apenas 5,54 pontos percentuais,

uma diferença plenamente aceitável, dado o tamanho do mercado que se propõe a

refletir e suas metodologias distintas.

Durante o ano de 2013, o Ibovespa sofreu forte influência baixista em

função da insolvência e (quase) falência de um grande grupo empresarial

brasileiro, cujas ações das empresas eram participantes da carteira teórica do

índice, com forte peso por conta de sua elevada liquidez. Com isso, o Ibovespa

fechou o ano apontando baixa de 15%, sendo que na média as perdas acumuladas

pelo mercado foram bem inferiores. Em função desse fato atípico, a bolsa brasileira

decidiu alterar sua metodologia, passando a ponderar o peso das ações

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componentes de sua carteira teórica pelo valor de mercado das empresas

emissoras.

Diante dessa alteração, continuamos a série histórica do Ibovespa com a

antiga metodologia, o que passamos a denominar “Ibovespa Velho”, para fins de

comparação da mesma com a do Ibovespa (com a nova metodologia) e o

Unemat200. O Gráfico 3.1 (pág. 45) apresenta as três séries e, nitidamente,

percebe-se que a trajetória do Ibovespa Velho continua divergindo da série do

Unemat200, enquanto a série do Ibovespa (já com a nova metodologia) passa a

convergir para esta última.

Com a base de dados composta pela série histórica do Ibovespa e do

Unemat200, de janeiro de 2001 a setembro de 2015, calculou-se os betas de uma

amostra de ativos. Usando-se o Unemat200 como índice representativo do

mercado, o beta médio dos ativos aproximou-se muito da unidade (B=1), enquanto

que o obtido utilizando-se do Ibovespa ficou inferior à unidade (B<1).

Daí deduz-se tratar-se o Unemat200 mais adequado para representar o

mercado, uma vez que o beta médio do conjunto total de ações negociadas no

mercado deve resultar na unidade (B=1).

Também calculou-se a expectativa de retornos de uma amostra dos ativos

mais representativos de seus respectivos setores de atividade, através da

aplicação do Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (CAPM). Tanto no

cálculo de retornos anuais, quanto no de retornos mensais, os resultados, embora

não conclusivos a respeito da identificação de viés em um ou outro índice de

mercado, revelaram diferença significativa nos retornos esperados quando utilizado

no cálculo do CAPM o Ibovespa como índice representativo dos retornos médios

do mercado, comparativamente ao uso do Unemat200 para tal função.

Adicionalmente, fez-se uma análise comparativa com relação à evolução do

valor de mercado do total de empresas listadas na BM&FBovespa com os índices

representativos deste mercado, o Ibovespa e o Unemat200. Os resultados

demonstram claramente que aconteceu algo, ao longo do tempo, no mercado real,

fenômeno expresso pela oscilação do valor de mercado das empresas, empresas

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componentes do mercado real da economia brasileira. O índice Unemat200 refletiu

algo semelhante a este fenômeno, enquanto o Ibovespa refletiu algo muito distante.

Esta constatação consolidou a suspeita de tratar-se o Ibovespa de um índice

viesado.

Porém, após a mudança da metodologia de ponderação do Ibovespa,

implantada a partir de janeiro de 2014, uma nova análise, considerando apenas o

período pós mudança (janeiro de 2014) até o final da série deste estudo (setembro

de 2015), revelou que o suposto viés foi corrigido, uma vez que tanto Ibovespa

quanto o Unemat200 refletiram com aceitável precisão o comportamento da

variação mensal do valor de mercado das empresas brasileiras de capital aberto,

listadas na bolsa brasileira.

Destarte, conclui-se que a decisão de alterar (adequar) a metodologia do

Ibovespa foi acertada e que, se existiu viés, este foi devidamente corrigido. Assim,

sugere-se à BM&FBovespa que mantenha a atual metodologia, por considerar-se

ser a mais adequada a um índice representativo do mercado acionário brasileiro.

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6. NOTA TÉCNICA

Conforme notícia divulgada pelo jornal Valor Econômico (12/09/2013), a

BMFBovespa anunciou, na noite do dia 11 de setembro que passará a promover

mudanças na metodologia de cálculo do Ibovespa, a partir de janeiro de 2014. De

acordo com a notícia divulgada, o valor de mercado das ações em circulação

passará a ser o principal fator de ponderação dos papéis que farão parte do

Ibovespa.

A implementação não será imediata, como queria parte do mercado. A bolsa

optou por uma média das duas metodologias – nova e antiga – apenas para a

carteira que entrará em vigor em janeiro de 2014. A partir de maio, o novo cálculo

passa a valer integralmente para o Ibovespa.

A escolha das ações da carteira continuará sendo feita a partir do chamado

índice de negociabilidade (IN). Farão parte do novo Ibovespa os papéis que

representarem, em conjunto, 85% desse indicador, que também terá mudanças no

cálculo. O objetivo também é dar mais ênfase ao volume financeiro do que no

número de negócios. Essa alteração afeta não só o Ibovespa como todos os

índices da bolsa que se valem do IN na metodologia.

Na ponderação das ações na arteira do Ibovespa pelo valor de mercado, a

bolsa estabeleceu um limite de duas vezes o índice de negociabilidade (IN). A

participação máxima que uma empresa poderá ter no índice será de 20%,

considerando todas as classes de ações.

A bolsa também confirmou a exclusão no Ibovespa das chamadas “penny

stocks”, ações cujo valor unitário é inferior a R$ 1,00. Com isso, os papéis da OGX

Petróleo devem deixar o índice a partir de janeiro de 2014, caso não recuperem o

valor ou a companhia faça um agrupamento dos papéis.

A BMFBovespa sempre manifestou reação à mudança da metodologia do

Ibovespa, a fim de preservar o histórico do índice, criado em 1968. Porém, em

função de dificuldades operacionais do Grupo X (do empresário Eike Batista), a

partir de 2012, que controlava cinco empresas de capital aberto listadas na bolsa

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de São Paulo, das quais três faziam parte da carteira teórica do Ibovespa, a bolsa

não teve outra alternativa a não ser, finalmente, alterar a metodologia do índice.

De fato, as três empresas do grupo somavam peso significativo na carteira

teórica do índice. Com a derrocada dos preços de seus papéis, o Ibovespa fechou

o ano de 2013 apresentando rentabilidade negativa de 15,5% . Este resultado

negativo apresentou-se muito distante do que de fato aconteceu no mercado

naquele ano, uma vez que o valor de mercado do total de empresas listadas na

bolsa recuou apenas 3,35%, enquanto o Índice Unemat200 apresentou queda de

2,10% (vide Tab. 4.11).

As tabelas 4.13 e 4.14, que seguem, apresentam as oscilações das

cotações das ações do Grupo X, bem como seus pesos na carteira teórica do

Ibovespa, para os anos de 2012 e 2013, que antecederam a mudança da

metodologia:

Note-se que a empresa MMX Miner teve seu preço reduzido em 90,04%, de

janeiro de 2012 a dezembro de 2013, enquanto que a redução no peso de sua

participação no índice foi de apenas 57,73%, no mesmo período. Os preços da

OGX Petroleo caíram 98,25% neste período, enquanto que seu peso no índice

recuou apenas apenas 49,88%. E as ações da empresa de logística do grupo

caíram 61,58%, enquanto sua participação no peso do índice aumentou em

Tab. 4.13 - Cotações e participações no Ibovespa - ações do Grupo X - 2012

Cotações Participação no Ibovespa

Nome Código Setor 02/01/2012 28/12/2012 jan/12 mai/12 set/12

MMX Miner MMXP3 Mineração R$ 42,18 R$ 26,70 1,3033 1,004 1,0849

OGX Petroleo OGXP3 Petróleo e Gas R$ 13,75 R$ 4,38 5,6834 4,2944 4,9267

LLX Log LLXL3 Logística/Portos R$ 28,11 R$ 20,14 0,4109 0,3933 0,5004

Fonte: BMFBovespa, elaborada pelo autor

Peso Total = 7,3976 5,6917 6,512

Tab. 4.14 - Cotações e participações no Ibovespa - ações do Grupo X - 2013

Cotações Participação no Ibovespa

Nome Código Setor 02/01/2013 30/12/2013 jan/13 mai/13 set/13

MMX Miner MMXP3 Mineração R$ 27,12 R$ 4,20 0,9443 0,8354 0,5509

OGX Petroleo OGXP3 Petróleo e Gas R$ 4,76 R$ 0,24 4,3061 3,958 2,8487

Prumo (*) PRML3 Logística/Portos R$ 21,48 R$ 10,80 0,556 0,5284 0,5852

Fonte: BMFBovespa, elaborada pelo autor

Peso Total = 5,8064 5,3218 3,9848

(*) A empresa LLX Logística (LLXL3) alterou seu nome para Prumo Logística (PRML3) em 10/12/2013

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42,42% no período. Em média, os preços das ações do grupo recuaram 83,29%,

enquanto que sua participação no índice recuou apenas em 21,73%.

Assim, em função da antiga metodologia de ponderação pelo índice de

negociabilidade, a queda acentuada no preço das ações do grupo que faziam parte

do índice, acabaram afetando negativamente a rentabilidade do Ibovespa.

Com a mudança da metodologia, estas anomalias não mais deverão ocorrer,

porque se os preços de uma empresa, participante da carteira teórica do índice,

despencarem bruscamente, seu peso no índice também deverá ser reduzido na

mesma proporção, uma vez que igualmente seria reduzido o valor de mercado das

empresas emissoras.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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