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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA A LUDICIDADE NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL GRACINEIDE BARROS SANTOS São Cristóvão-SE 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS ... · matemática ha señalado la tendencia teórica y metodológica de las matemáticas como la producción sociocultural,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE

CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

A LUDICIDADE NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

GRACINEIDE BARROS SANTOS

São Cristóvão-SE

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE

CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

A LUDICIDADE NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

GRACINEIDE BARROS SANTOS

São Cristóvão-SE

2016

GRACINEIDE BARROS SANTOS

A LUDICIDADE NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, da

Universidade Federal de Sergipe, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino

de Ciências e Matemática.

Linha de Pesquisa: Currículo, didáticas e métodos de

ensino das Ciências Naturais e Matemática.

Orientadora: Prof.ª Drª. Maria Batista Lima

São Cristóvão-SE

2016

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S237l

Santos, Gracineide Barros

A ludicidade na aprendizagem matemática nos anos iniciais do

Ensino Fundamental / Gracineide Barros Santos; orientadora

Maria Batista Lima. - São Cristóvão, 2016.

128 f.

Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências Naturais e

Matemática) - Universidade Federal de Sergipe, 2016.

1. Matemática - Estudo e ensino. 2. Jogos no ensino de

matemática. 3. Matemática recreativa. 4. Matemática (Ensino

Fundamental). l. Lima, Maria Batista, orient. lI. Título.

CDU 51-8:37.091.33

GRACINEIDE BARROS SANTOS

A LUDICIDADE NA APRENDIZAGEM ATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

APROVADA EM: 30/03/2016

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da

Universidade Federal de Sergipe, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino

de Ciências e Matemática, pela banca examinadora

compostas pelos membros

___________________________________________________

Prof.ª Drª Maria Batista Lima (Orientadora)

__________________________________________________

Prof.ª Drª. Denize da Silva Souza (Membro Interno)

___________________________________________________

Prof.ª Drª. Rita de Cássia Pistóia Mariani (Membro Externo)

SÃO CRISTÓVÃO-SE

2016

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família, pois vocês fomentaram o meu desejo de crescer, sonhar

e realizar, provando que os laços que nos unem estão na felicidade do outro.

ROSEVALDO INÁCIO DOS SANTOS (ESPOSO)

RAIMUNDO INÁCIO DOS SANTOS NETO (FILHO)

ANDRÉ LUIZ BARROS INÁCIO DOS SANTOS (FILHO)

MARIA GRACIETE DE BARROS (MÃE)

JOÃO LUIZ DOS SANTOS (PAI)

JAMISON LUIZ DOS SANTOS (IRMÃO)

MARIA LOURDES DE BRITO BARROS (AVÓ)

CORINA DOS SANTOS (TIA)

NATÉRCIA DOS SANTOS (TIA)

DALVINA DOS SANTOS (TIA)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dotado com a capacidade de superar qualquer dificuldade, que as

curvas do caminho me impõem;

Minha gratidão às pessoas da minha família, que torcem, respeitam e acreditam em meus

sonhos. A minha mãe Maria Graciete de Barros e ao meu pai João Luiz dos Santos, que

decidiram pelos meus estudos, abrindo portas não só para o mundo do trabalho, mas pela

coragem de singrarmos a comodidade e aprendermos com aquilo que vivemos, o que me fez

chegar até aqui. Ao meu irmão Jamison Luiz Barros Santos, que me inspirou e me deu forças

para que seguisse essa estrada. Hoje olho para traz e vejo que enveredei num caminho sem volta

e, no futuro, quando eu crescer, quero ser igual a você, meu irmão: sinônimo de superação e

coragem. A meu esposo Rosevaldo Inácio dos Santos, meu fiel escudeiro, a certeza que nós

escolhemos mutuamente para sermos muito mais do que marido e mulher, mas pela

cumplicidade que envolve nossa existência;

A minha orientadora Maria Batista Lima, que de forma marcante, me mostra a grandeza

da humildade e do tratamento afetuoso quase familiar, empreendendo assim uma parceria

frutífera. A generosidade manifestada pelos seus gestos, sem dúvida é uma lição a ser guardada.

Dizer obrigada seria muito pouco para a importância que você teve nessa etapa da minha vida;

As professoras que compõe a banca desse trabalho Denize da Silva Souza e Rita de Cássia

Pistóia Mariani pelas contribuições pertinentes e ricas;

Aos professores e professoras do PPGECIMA, agradeço os ensinamentos e a

responsabilidade em operá-los, marcando a minha vida acadêmica;

Aos meus colegas de turma. Alguns a realidade do dia a dia não permitiu chegar até

aqui, mas o que vivemos foi tão significativo, que o tempo não apaga suas presenças marcantes

nesse processo, de modo especial a Emerson Nascimento pelo carinho e colaboração nessa

jornada, pois a distância não impediu de darmos forças um ao outro nos momentos difíceis;

Às alunas e ao alunos da turma do 5º ano do Ensino Fundamental, da escola campo da

pesquisa, pela participação e carinho depositado nesse processo, pois desde o primeiro contato

já esperavam ansiosos pela minha chegada à turma;

Aos professores e professoras da referida escola pela colaboração e aceitação em relação

a este trabalho; de modo especial a professora da turma foco da pesquisa, que nos acolheu e

disponibilizou sua colaboração, seu tempo-atuação na referida turma para realização deste

estudo.

Aos meus amigos e amigas, que sempre torcem por mim- citar nomes, geraria uma, lista

infindável ou abriria um precedente injusto, vez que são muitos- e eu me torno uma pessoa rica

por tamanho tesouro. Sei que sou rodeada de pessoas queridas e devo dizer OBRIGADA a

todos e todas e, por serem assim tão especiais. Quero que aqui fique registrado essa minha

gratidão, como reconhecimento àqueles que não me deixaram sozinha nessa saga; saga esta em

prol de um sonho que me torna um instrumento a mais de acesso ao conhecimento e de continuar

em frente, por mais insuportável que seja a dor e a pressão. Com a força de vocês eu aprendi e

acreditei que tudo isso seria possível.

Brincar com a criança não é perder tempo, é ganhá-lo; se é

triste ver menino sem escola, mais triste ainda é vê-los

sentados, tolhidos e enfileirados em uma sala de aula sem

ar, sem atividades mecanizadas, exercícios estéreis, sem

valor para a formação dos homens críticos e

transformadores de uma sociedade.

(Carlos Drummond de Andrade)

RESUMO

A Matemática, apesar de estar presente constantemente na vida das pessoas, tem em seu ensino

e em sua aprendizagem um desafio para as várias dimensões educacionais. Esse contexto

também tem gerado uma ampliação dos estudos científicos sobre essa problemática. É nesse

cenário que se inserem os estudos sobre o lúdico como dimensão das ações educativas. Parte-

se da premissa de que a presença do lúdico na escola deveria se dar por seu valor educativo e

de que, se assim o for considerado, poderá ser um relevante instrumento pedagógico que

configurará uma dimensão mais humana da educação escolar, por sua contextualização e

articulação com o contexto sociocultural do qual a escola faz parte. Estudos na perspectiva da

Educação Matemática tem apontado a tendência teórico-metodológica da Matemática como

produção sociocultural, portanto na/da vida, vida na qual a vivência do lúdico está também

imbricada no conhecimento matemático e vice-versa. Por essa via a aprendizagem matemática

na escola também pode ser significada, contextualizada e potencializada pela consideração

dessa relação entre o lúdico e a matemática. Nessa dimensão reflexiva nasce o problema que

nos mobiliza para este estudo, traduzido na questão sobre “Quais as possíveis contribuições do

uso de atividades e/ ou estratégias lúdicas para aprendizagem matemática no 5° do Ensino

Fundamental (EF)?”. Buscando entender a problemática em torno dessa questão central definiu-

se como objetivo geral dessa pesquisa analisar possíveis contribuições do uso de atividades e/

ou estratégias lúdicas para a aprendizagem matemática, a partir do contexto de uma turma do

5° ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública do Município de Gararu-SE. Entre

os aportes teóricos desse estudo destacam-se: Maluf, Cunha, Kishimoto, Machado, Grando,

Winnicott, Bustamante, Nacarato, Mengali e Passos, Danyluk, Smole, Mendes, Brenelli, Silva

e Kodama, Justo e Dorneles, entre outros. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, no

qual foram utilizados os seguintes procedimentos de coleta de dados: a) Aplicação de

questionários aos alunos e alunas da turma foco da pesquisa; b) Aplicação de questionário com

a professora da turma; c) Realização de entrevistas semiestruturadas com os alunos e alunas da

referida turma; d) Observação de atividades de ensino desenvolvidas com foco nas aulas de

Matemática da turma investigada. A análise dos dados aponta uma predominância de

percepções negativas dos sujeitos da pesquisa na relação com a Matemática, seja na relação

afetiva negativa estabelecida com esta disciplina, seja na atribuição de alto nível de dificuldade

da mesma, bem como autoculpabilização dos alunos e alunas pelas dificuldades de

aprendizagem dos seus conteúdos. Quanto a relação do lúdico com a Matemática, alunos e

alunas apontam a presença desse lúdico no seu cotidiano, no entanto também explicitam a

incipiência do uso dessa dimensão na sala de aula. Enfim, os dados do campo, expressos em

falas, escritas e práticas observadas, apontam para limites consideráveis de uso do lúdico na

potencialização da aprendizagem matemática, limites estes dos quais destacamos a percepção

reducionista em relação à Matemática, ignorando-se que esta é uma ciência viva e dinâmica,

socioculturalmente imbricada no cotidiano, como apontam Koch e Ribeiro (2001). No entanto,

os estudos utilizados como aporte teórico deste trabalho também evidenciam que o ensinar,

assim como o aprender, é espaço-tempo de múltiplas possibilidades, o que tem possibilitado

avanços em relação ao ensino de Matemática.

Palavras-chave: Ludicidade. Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Matemática.

RESUMEN

Matemáticas, a pesar de ser una presencia constante en la vida de las personas, tiene en su

enseñanza y su aprendizaje de un reto para las diversas dimensiones educativas. Este contexto

también ha generado una expansión de los estudios científicos sobre este tema. Es en este

escenario que caen estudios sobre la dimensión lúdica de las acciones educativas. Se inicia con

la premisa de que la presencia lúdica en la escuela se debe dar por su valor educativo y que en

su caso se considera, puede ser una importante herramienta educativa para configurar una

dimensión más humana de la educación escolar, en su contexto y conjuntamente con el contexto

socio-cultural en el que pertenece a la escuela. Los estudios desde la perspectiva de la educación

matemática ha señalado la tendencia teórica y metodológica de las matemáticas como la

producción sociocultural, por lo que en / de la vida, en el que la experiencia de la obra también

se imbrica en el conocimiento matemático y viceversa. De esta manera aprendizaje de las

matemáticas en la escuela también pueden ser destinados, contextualizados y aumentada por la

consideración de la relación entre lo lúdico y las matemáticas. En esta dimensión reflexiva viene

el tema que nos moviliza para este estudio, traducido a la pregunta "¿Cuáles son las posibles

contribuciones de la utilización de las actividades y / o jugar estrategias para el aprendizaje de

las matemáticas en la 5º grado de la Educación Básica (EF)?". Tratando de entender los

problemas en torno a este tema central se define como un objetivo general de esta investigación

para estudiar las posibles contribuciones de la utilización de las actividades y / o estrategias de

juego para el aprendizaje de las matemáticas, a partir del contexto de una clase de quinto grado

de la escuela elemental (EF) a una escuela pública en la ciudad de Gararu-SE. Entre las

aportaciones teóricas de este estudio destacan: Maluf, Cunha, Kishimoto, Machado, Grando,

Winnicott, Bustamante, Nacarato, Mengali y Pasos, Danyluk, Smole, Mendes, Brenelli, Silva

y Kodama, Feria y Dorneles, entre otros. Se trata de un estudio de enfoque cualitativo, en el

que se utilizaron los siguientes procedimientos de recolección de datos: a) aplicación de

cuestionarios a estudiantes y alumnos de la clase de enfoque de la investigación; b) aplicación

del cuestionario con el maestro de la clase; c) la realización de entrevistas semiestructuradas

con los estudiantes y los estudiantes de esa clase; d) Observación de las actividades educativas

se centró en las clases de matemáticas del grupo investigado. El análisis de los datos indica un

predominio de las percepciones negativas de los sujetos de investigación en relación con las

matemáticas, ya sea en la relación afectiva negativa establecida con esta disciplina, ya sea en la

asignación de alto nivel de dificultad de la misma, así como autoculpabilização de los alumnos

por las dificultades el aprendizaje de su contenido. Como una relación lúdica con las

matemáticas, los niños y niñas indican la presencia de esta lúdica en su vida cotidiana, pero

también explican la escasez de la utilización de esta dimensión en el aula. Por último, el campo

de datos, expresado en discursos, escritos y prácticas observadas, indican los límites

considerables de uso recreativo en la potenciación del aprendizaje de las matemáticas, limita

éstas de las que podemos destacar la percepción reduccionista hacia las matemáticas, ignorando

el hecho de que se trata de una ciencia viva y dinámica, socioculturalmente entrelazada en la

vida diaria, como se muestra por Koch y Ribeiro (2001). Sin embargo, los estudios utilizados

como marco teórico de este estudio muestran también que la enseñanza y el aprendizaje, es

múltiples posibilidades de espacio-tiempo, lo que ha permitido avances en relación con la

enseñanza de las matemáticas.

Palabras clave: Lúdica. Años iniciales de la escuela primaria. Matemáticas.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EF – Ensino Fundamental

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PDE – Plano de Desenvolvimento da Escola

PISA – Programa Internacional de Avaliações de Estudantes

PNE – Plano Nacional de Educação

PROFORMAÇÃO – Programa de Formação de Professores em Exercício

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Praça da Matriz

FIGURA 2- Distribuição de alunos e alunas por turma

FIGURA 3 – Sala de aula 5º ano

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Distribuição de professores e professoras por área de atuação

QUADRO 2 – Disciplina preferida

QUADRO 3 – Disciplina que menos gosta (ou não gosta)

QUADRO 4- Relação afetiva com a Matemática

QUADRO 5- Justificativa para dificuldade (ou não) da Matemática

QUADRO 6- Razões da Importância da Matemática

QUADRO 7- Justificativa em relação às dificuldades para aprender Matemática

QUADRO 8- Todas as pessoas são capazes de aprender Matemática

QUADRO 9- Justificativa sobre quem tem mais dificuldades para aprender Matemática

QUADRO 10- Atividades preferidas

QUADRO 11- Utilidades da Matemática

QUADRO 12- Para aprender a Matemática é preciso

QUADRO 13- O uso da Matemática escolar no cotidiano

QUADRO 14- O uso da Matemática cotidiana no espaço escolar

QUADRO 15- O uso da Matemática no brincar e nas brincadeiras

QUADRO 16- Durante as brincadeiras eu uso a Matemática quando

QUADRO 17- Relação da Matemática com o crescimento social

QUADRO 18- Percepção da Matemática na localidade

QUADRO 19- Percepção da Matemática nas brincadeiras

QUADRO 20- Matemática como atividade cotidiana

QUADRO 21- Percepção da Matemática cotidiana e a Matemática escolar

QUADRO 22- Conhecimento Matemático construído fora do espaço da escola

QUADRO 23- Existência do lúdico nas aulas de Matemática da turma

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Questionário (gestor)

APÊNDICE 2 – Questionário (professora)

APÊNDICE 3 – Questionário (alunos e alunas)

APÊNDICE 4 – Roteiro de entrevista (alunos e alunas)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...........................................................................................................16

CAPÍTULO 1 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ...............................................22

1.1 A Pesquisadora e o Objeto de Estudo .....................................................................22

1.2 Metodologia e Procedimentos da Pesquisa .............................................................26

1.3 Caracterização do Campo da Pesquisa ....................................................................30

1.3.1 Gararu............................................................................................................30

1.3.2 Rede Municipal de Ensino ......................................................................32

1.3.3 Escola ......................................................................................................33

1.4 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa..................................................................37

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: ...................................................39

2.1 Ludicidade e Aprendizagem: Aportes Teóricos e Possibilidades Pedagógicas........39

2.2 Aprendizagem Matemática e Ludicidade: Contextos, Desafios e Possibilidades......51

CAPÍTULO 3 DIALOGANDO COM OS DADOS .....................................................69

3. 1 Relação com a Matemática .........................................................................................69

3. 2 Matemática, Ludicidade e Cotidiano...........................................................................87

CONSIDERAÇÕES .......................................................................................................104

REFERÊNCIAS...............................................................................................................108

APÊNDICES ...................................................................................................................112

16

INTRODUÇÃO

A Matemática, apesar de estar presente constantemente na vida das pessoas, tem em seu

ensino e em sua aprendizagem na escola, um desafio cujos resultados negativos tem inquietado

tanto agentes da política educacional em nível macro, como profissionais do cotidiano da

escola. A relação afetiva negativa com a matemática escolar e as dificuldades em entendê-la

tem contribuído para sua denominação como disciplina difícil, que causa temor nos alunos e

alunas, assim como desânimo em muitos professores e professoras. Esse quadro tem sido

ratificado por resultados de avaliações institucionais de desempenho escolar, tais como os

realizados pelo SAEB1 e pelo PISA2, que confirmam os problemas de rendimento escolar,

especialmente em Matemática, destacando possíveis caminhos de avaliações das políticas

educacionais em curso no país, enfatizando assim áreas que precisam ser consideradas para

melhoria da qualidade de ensino (BURIASCO E SOARES, 2008). Para Berényi e Neumann

(2010) a avaliação é um instrumento que deve ser utilizado para corrigir as direções e o

pensamento no futuro e não o fim em si mesma. Para isso é preciso que os resultados sejam

pautados em espaços de discussão que contemplem o cotidiano social no qual alunos e alunas

estão inseridos(as).

Nesse contexto, o ensino de Matemática tem sido marcado pelo fracasso escolar, como

apontam os resultados de avaliações de desempenho de aprendizagem. Para Perrenoud (2000)

o fracasso escolar tem como possíveis causas fatores internos e externos à escola, evidenciando-

se esse fracasso nas dificuldades de aprendizagem e ausência de determinadas competências e

conhecimentos. Nesse sentido, Lira afirma que

[...] o fracasso escolar se efetiva quando o processo ensino-aprendizagem não

acontece satisfatoriamente, quando não se efetiva uma transformação

qualitativa nos sujeitos aprendentes, quando não se acolhem as diferenças,

quando não se opta por uma pedagogia que não tenha medo da estranheza do

diferente, do outro. (LIRA, 2008, p. 12).

1 SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), conforme estabelece a Portaria n.º 931, de 21 de março

de 2005, é composto por dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional

do Rendimento Escolar (Anresc). A Aneb é realizada por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da

Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais. Por manter as mesmas características, a Aneb recebe

o nome do Saeb em suas divulgações. A Anresc é mais extensa e detalhada que a Aneb e tem foco em cada unidade

escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil em suas divulgações. Fonte: 2 PISA - Programme for International Student Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de

Estudantes - é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se

pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e

coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em cada país

participante há uma coordenação nacional. No Brasil, o Pisa é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Fonte:

17

É nesse cenário de inquietações pelas problemáticas do ensino e da aprendizagem

matemática e da percepção de que esse cenário e seus fatores constituintes é bem mais

complexo e multidimensional do que parece à primeira vista que faz-se necessário considerar-

se a relevância de estudos científicos que analisem e apontem os entrelaces, assim como às

práticas, sentidos e possibilidades de avanços desses contextos. Assim, essas inquietações do/no

cenário educacional também tem gerado uma ampliação dos estudos científicos sobre essas

problemáticas. Como focos desses estudos e/ou dos debates e embates políticos e pedagógicos

acerca do ensino de da aprendizagem matemática, destacam-se diversas temáticas, que vão

desde problemas referentes à história da Matemática, formação de professores e professoras de

matemática, ampliando-se para questões referentes aos aspectos didático-metodológicos do seu

ensino e da aprendizagem nos diferentes níveis e modalidades da educação escolar.

É nesse último contexto apontado que se inserem os estudos sobre as novas tendências

da Educação Matemática, que focalizam estudos sobre a relação da matemática com o

cotidiano, com a cultura e com seus diversos repertórios. Portanto, trata-se de uma perspectiva

sociocultural da Matemática, em que esta se configura como uma construção humana,

dinâmica, presente nas diversas esferas da vida humana, utilizada nestas e influenciada pelas

diferentes dimensões do cotidiano dessa humanidade.

Nesse sentido, se insere o lúdico como dimensão presente nas ações educativas,

considerando-se este como elemento da constituição humana, que o vivencia tanto na infância

como em diversas atividades da vida adulta.

Em relação à educação, tem se ampliado o interesse acadêmico e pedagógico sobre a

relação desse lúdico com a aprendizagem. Se o lúdico é parte da vida humana e a educação

escolar também tem sua atuação voltada para a formação desse humano, cabe perguntar qual o

lugar desse lúdico na prática pedagógica. Parte-se da premissa de que a presença do lúdico na

escola deveria se dar por seu valor educativo e de que, se assim o for considerado, poderá ser

um relevante instrumento pedagógico que configurará uma dimensão mais humana da educação

escolar, por sua contextualização e articulação com o contexto sociocultural do qual a escola

faz parte.

Em se tratando da aprendizagem matemática, estudos na perspectiva da Educação

Matemática tem apontado a tendência teórico-metodológica da Matemática como produção

sociocultural, portanto na/da vida, vida na qual a vivência do lúdico está também imbricada no

conhecimento matemático e vice-versa. Por essa via a aprendizagem matemática na escola

18

também pode ser significada, contextualizada e potencializada pela consideração dessa relação

entre o lúdico e a matemática.

Partindo desse pressuposto, acredita-se que a prática educativa possivelmente se dá

através da construção e ampliação do conhecimento, para tanto é preciso oferecer condições e

alternativas que viabilizem a participação efetiva, enriquecendo as experiências culturais e

sociais dos/as alunos/as, ajudando-os a vencer as dificuldades de aprendizagem.

Essa postura pedagógica implica em se considerar que reconstruir o conhecimento

matemático relaciona-se a capacidade de utilização das diferentes formas de aprendizagem em

foco a ludicidade, para a construção de novos saberes matemáticos. Nesse sentido, as situações

que levam o sujeito a uma reflexão e análise do próprio raciocínio, precisam ser valorizadas no

processo de ensino e aprendizagem da matemática, e o jogo propicia uma dinamização desse

processo. Como apontam Smole, Diniz e Milani (2007, p. 09)

Em se tratando de aulas de matemática, o uso de jogos implica uma mudança

significativa nos processos de ensino e aprendizagem que permite alterar o

modelo tradicional de ensino, que muitas vezes tem no livro e em exercícios

padronizados seu principal recurso didático. O trabalho com jogos nas aulas

de matemática, quando bem planejado e orientado, auxilia o desenvolvimento

de habilidades como observação, análise, levantamento de hipóteses, busca de

suposições reflexão, tomada de decisão, argumentação e organização, as quais

estão estreitamente relacionadas ao assim chamado raciocínio lógico.

A abordagem pedagógica poderá desenvolver oportunidades relacionadas à

investigação e à reflexão a partir de novas estratégias que possibilitem as bases necessárias para

o desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos. Entende-se com isso que a utilização do

lúdico no fazer pedagógico torna o ensino de matemática mais consistente, promovendo

desenvolvimento das habilidades lógico-matemáticas, interpretativas e relacionais, diante de

situações-problema e outras situações matemáticas, contribuindo para novas situações de

aprendizagem.

A aprendizagem matemática perpassa necessariamente pela aproximação dessa área de

conhecimento com o grande desafio de superar as resistentes frustações de aprender essa

disciplina. Nesse contexto, Silva (2009, p.61) nos afirma que

[...] o desafio é fazer com que [...] entendam que podem gostar da matemática,

podem passar a ser bem-sucedidos e, portanto, que a matemática pode se

tornar “fácil”. Para tanto, a atuação do professor é essencial. A questão

fundamental é esta: quais atividades de aprendizagem podem dar sentido ao

estudo da matemática, levar o aluno ao prazer de aprender e de saber[...].

19

Esta abordagem, da relevância da contextualização do ensino com o cotidiano, com a

cultura como forma de tornar a aprendizagem prazerosa e conferir sentido ao aprender, parece

encontrar ressonância em Mandarino e Belfort ao considerarem que

A Matemática é uma construção humana, e uma das práticas de seu

desenvolvimento são as necessidades práticas. Assim, ao longo do processo

histórico de escolarização dos conteúdos matemáticos, sempre foi dado

grande valor a habilidades relativas a números e suas operações, pois eles são

essenciais para contar e medir, atividades tão antigas quanto a civilização. Nos

primeiros séculos do ensino no Brasil, a escola destinada às crianças tinha

como objetivos principais ensinar a ler, escrever, contar e fazer quatro

operações básicas. De lá para cá, as aplicações da Matemática não param de

se expandir, mesmo nas ações mais simples de nosso cotidiano, e a escola tem

sido desafiada a se adaptar às novas exigências de formação. Além disso, do

ponto de vista metodológico, ensinar a contar e a operar ganhou novas

configurações e exigências (MANDARINO, BELFORT, 2005, p.97).

Uma tendência relevante explicitada nos argumentos de Alsina (2009, p.13) destaca que

sempre que se introduza uma nova competência matemática, a melhor estratégia de

favorecimento da aprendizagem seria incluir o manuseio com diferentes materiais, visto que só

com uma abordagem dinâmica, de relação teórico-prática, de fontes diversificadas, rica em

recursos e estratégias no trato de um mesmo conteúdo, conseguir-se-ia tornar a aprendizagem

matemática significativa. Nesse sentido, se entende que aprender matemática é apropriar-se de

novas práticas sociais vinculadas à construção de saberes e ações inovadoras, nas quais se

expressam identidades e interesses nos processos de ensino e aprendizagem.

Nesse contexto reflexivo nasce o problema que nos mobiliza para esta estudo, traduzido

na questão sobre “Quais as possíveis contribuições do uso de atividades e/ ou estratégias lúdicas

para aprendizagem matemática no 5° do Ensino Fundamental (EF)?”.

Buscando entender a problemática em torno dessa questão central definiu-se como

objetivo geral dessa pesquisa analisar possíveis contribuições do uso de atividades e/ ou

estratégias lúdicas para a aprendizagem matemática, a partir do contexto de uma turma do 5°

ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública do Município de Gararu-SE.

Buscando-se operacionalizar o objetivo geral proposto, estabeleceu-se os seguintes

objetivos específicos : a) Caracterizar a relação de alunos, alunas e da professora de uma turma

do 5° ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública do Município de Gararu-SE com

a matemática; b) Caracterizar a relação de alunos, alunas e da professora de uma turma do 5°

ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública do Município de Gararu-SE com o

lúdico; c) Identificar aspectos da relação da Matemática com o lúdico a partir das percepções

de alunos, alunas e professora de uma turma do 5° ano do Ensino Fundamental (EF) de uma

20

escola pública do Município de Gararu-SE; d) Analisar possibilidades e limites do uso do

lúdico na aprendizagem matemática escolar.

Para fundamentar a pesquisa em tela destaca-se os seguintes aportes teóricos: Maluf

(2007), Kishimoto (2002, 2008), Machado (1995), Santos (1997, 2002, 2006, 2015), Silva

(2004), Schwartz(2004), Grando (2000), Winnicott (195, 1977), Bustamante (2004), Almeida

(2003), Nacarato, Mengali e Passos (2009), Melo (2002), Danyluk (1998), Smole (2000)

Mendes, Cunha e Teles (2012), Fontana (2015), Brenelli (2003), Silva e Kodama (2004), Cabral

(2006), Justo e Dorneles (2012), além de outras referências teóricas e documentos educacionais,

tais como os PCN (BRASIL, 2001).

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, no qual foram utilizados os seguintes

procedimentos de coleta de dados: a) Aplicação de questionários aos alunos e alunas da turma

foco da pesquisa; b) Aplicação de questionários com professora da turma-foco da pesquisa, na

tentativa de buscar uma compreensão da visão da docente sobre o lúdico na aprendizagem em

Matemática; c)Realização de entrevistas semiestruturada aos alunos e alunas da turma foco da

pesquisa; d) Observação de atividades de ensino desenvolvidas no âmbito das aulas de

Matemática da turma investigada. Para tanto, buscou-se perceber se há valorização do aspecto

lúdico no ensino relacionado a esta disciplina, procurando considerar os conhecimentos

socialmente construídos pelas crianças, necessariamente mais próximos de seu cotidiano.

.

Esta dissertação apresenta a seguinte configuração organizacional: Elementos pré-

textuais, introdução, três capítulos textuais, considerações, referências e elementos pós-

textuais.

Incialmente, após os elementos pré-textuais, encontra-se essa introdução, na qual

apresentação uma breve contextualização da problemática e do objeto de estudo, explicitação

do problema, dos objetivos, dos procedimentos metodológicos, dos principais referenciais, bem

como da própria apresentação da estrutura do trabalho.

O primeiro capítulo, denominado Trajetória Metodológica, apresenta a relação da

pesquisadora com o objeto de estudo, expressando reflexões sobre a relação com a

Matemática e o lúdico na trajetória pessoal e profissional. A partir daí reafirma o objetivo

de estudo e de forma mais contextualizada e fundamentada reapresenta a metodologia e

21

procedimentos metodológicos e a interface interativa entre teoria e prática, através de

observações e reflexões teóricas no campo da pesquisa. Em seguida traz a caracterização

do campo da pesquisa com uma sucinta apresentação do município de Gararu, da Rede

Municipal de Educação de Gararu, da escola foco da pesquisa e dos sujeitos da pesquisa, a

turma do 5º ano da referida turma.

O segundo capítulo, intitulado “Fundamentação Teórica”, apresenta o aporte teórico da

pesquisa em tela, discutindo os eixos centrais do trabalho, a partir desses referenciais,

Inicialmente discute-se acerca dos referenciais teóricos e das possibilidades pedagógicas da

ludicidade no ensino e na aprendizagem, sob o item “A Ludicidade no Ensino e Aprendizagem:

Aportes Teóricos e Possibilidades Pedagógicas”. Em seguida o segundo item, denominado

“Aprendizagem Matemática e Ludicidade: contexto, desafios e possibilidades”, traz um

discussão, a partir das referências teóricas e da legislação educacional sobre contextos, desafios

e possibilidade do uso do lúdico na aprendizagem matemática.

No capítulo três, são apresentados os dados empíricos da pesquisa, bem como sua

análise, a partir da categorização dos referidos dados Por fim, o trabalho traz considerações

finais a partir das análises realizadas e dos objetivos e problema propostos.

Na sequência, o trabalho em tela apresenta as referências utilizadas e os elementos pós-

textuais (apêndices).

Esperamos que o presente trabalho possa contribuir para o campo de estudos sobre

aprendizagem e ensino de Matemática e de Formação de Professoras e Professores,

especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

.

22

CAPÍTULO 1 - TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

1.1 A Pesquisadora e o Objeto de Estudo

As brincadeiras sempre fizeram parte do cotidiano da minha infância. A ação de brincar

era muito prazerosa e cada brincadeira nova que surgia era motivo de momentos de satisfação,

junto aos colegas da rua na qual eu morava, da sala de aula e da escola. Lembro o quanto gostava

de brincar de jogos e brincadeiras como queimado3, esconde esconde4, pedras5, chicotinho

queimado6, macacão7 e as cantigas populares que entoávamos tanto na rua em que morávamos

quanto na escola na hora do recreio. Dentre as mais conhecidas e recorrentes eram

“Carrocinha”, “Meu chapéu” e “Indiozinhos”, cujas letras compartilhamos a seguir.

Apresentamos consecutivamente, a letra dessas cantigas e sua relação com a ludicidade no

ensino da Matemática.

CARROCINHA

A carrocinha pegou

Três cachorros de uma vez.

Trá-lá-á –lá -lá que gente é essa?

Trá-lá-á –lá -lá que gente má!

MEU CHAPÉU

O meu chapéu tem três pontas

Tem três pontas o meu chapéu.

Se não tivesse três pontas

Não seria o meu chapéu.

INDIOZINHOS

Um, dois, três indiozinhos

Quatro, cinco. Seis indiozinhos.

Sete, oito, nove indiozinhos.

Dez num pequeno bote.

Vinham navegando pelo rio abaixo

Quando um jacaré se aproximou.

E o pequeno bote com os

3 Queimado – divisão de dois grupos numa determinada área, cujo objetivo é atingir o componente do grupo oposto

com uma bola. Vence o grupo o que conseguir eliminar todos os participantes do grupo adversário. 4 Esconde esconde – atividade coletiva onde é escolhido um participante para encontrar os demais membros que

estarão escondidos em diferentes ambientes. 5 Pedras – jogo em dupla com cinco pedras pequenas onde cada indivíduo terá que executar seis ações sem deixar

derrubar nenhuma das pedras. Vence quem obter o maior número de acertos entre as ações executadas. 6 Chicotinho queimado – Atividade coletiva em forma de círculo, onde um participante gira entre os colegas

sentados deixando um ramo entre as contas de um deles. Para que seja trocado de lugar, o mesmo terá que perceber

que o ramo está nas suas costas e correr para bater naquele que deixou o ramo, para que o mesmo não sente em

seu lugar. 7 Macacão – conhecida atualmente como amarelinha, trata-se de uma atividade coletiva, que faz a criança pular

ora de um pé só, ora com os dois, sobre quadro riscados no chão, evitando pisar na casa onde foi lançada a pedra

com que se marca a progressão ao céu, que por sua vez é o ponto final da brincadeira.

23

Indiozinhos

Quase, quase virou.

Mas não virou!

Essas cantigas possibilitavam em mim, o desenvolvimento de habilidades como

contagem e sequenciação numérica compreensão de algumas noções das operações de adição e

subtração, relação entre o número e numeral, assim como a realização de movimentos corporais

que favorecem o desenvolvimento de conceitos relacionados à lateralidade, espacialidade, entre

outros. As reflexões acerca dessas experiências me possibilita entender hoje que, independente

da exploração dessas brincadeiras ou não no espaço da aula, a matemática sempre esteve lá.

Por outro lado, vejo o quanto essas brincadeiras poderiam ser aproveitadas de uma

forma mais positiva na sala de aula, já que sempre estávamos utilizando a matemática de uma

forma tão espontânea e natural ao mesmo tempo que enfrentava dificuldades e empatia pela

disciplina Matemática em sala de aula. No início da minha formação nas séries iniciais

(atualmente anos iniciais) do Ensino Fundamental vivenciei grandes dificuldades no processo

de aprendizagem da Matemática, quando sentia o desespero de não conseguir aprender os

conteúdos desta disciplina, achava as aulas chatas e não apresentava interesse em desenvolver

habilidades matemáticas.

Rememorando essa fase inicial, é preciso destacar que as aulas de matemática na

terceira série do ensino fundamental (atualmente quarto ano) foi a série na qual senti mais

dificuldade de aprender, talvez pelo fato do insucesso nas avaliações e/ ou dos procedimentos

metodológicos extremamente repetitivos e centrados em uma perspectiva tecnicista condizente

com o conceito de educação bancária definido por Paulo Freire (1974). As aulas eram

desenvolvidas por meio de cópias e explicações orais e o aprendizado era frequentemente

avaliado através de exercícios de fixação e memorização, sem levar em consideração os

aspectos interpessoais e sobretudo as experiências, sendo estes últimos fatores pertinentes a

uma perspectiva educacional sócio histórica que considere os alunos e alunas também como

protagonistas do processo de construção do conhecimento.

Ao iniciar nas séries finais (atualmente anos finais) do Ensino Fundamental, tive uma

única professora na disciplina Matemática. Uma vez que não existia professor/professora

formado/a na respectiva área. A mesma tinha formação em Magistério em nível médio e fazia

parte do contingente de professores e professoras que lecionavam (e ainda ocorre) através de

título precário8.

8 Título precário é a permissão temporária prevista em lei (ato normativo) que concede ao profissional do

magistério lecionar disciplinas ou séries diferentes de sua formação, mas com formação em áreas afins.

24

Em relação ao Ensino Médio, tive bons professores e boas professoras, que

desenvolviam nos alunos e alunas atitudes positivas no processo de ensinar e aprender

matemática, embora ainda existisse uma rejeição muito grande da minha parte diante da

Matemática, devido, principalmente, à forma como se deu o início da minha aprendizagem

matemática no Ensino Fundamental. Ou seja, a tentativa de ensinar as operações fundamentais,

com a memorização mecânica por meio da tabuada9, marcou a minha relação com a matemática,

consequentemente com a aprendizagem, afinal foi um período da minha vida escolar na qual a

sabatina10 provocava-me temor, nervoso e sentimento de fracasso, traduzindo-se esses fatos

também em elementos constituintes da minha identidade docente. Assim essas vivências me

conduziram a busca da compreensão dessa relação do aprender com o ensinar, com foco no

objeto desse estudo, como possibilidade de construir outras histórias.

Ao ingressar no curso superior (Licenciatura Plena em Pedagogia), uma disciplina me

chamou atenção, Metodologia do Ensino da Matemática, uma vez que o professor trabalhava

os conteúdos através de atividades lúdicas, entendendo o lúdico aqui na perspectiva de Santos

(1999) como possibilidade de interação do indivíduo com seu meio. A partir das atividades

lúdicas é possível assimilar valores, adquirir conhecimentos, desenvolver comportamentos e

ações motoras. É com essas questões que a aprendizagem através do lúdico estimula a

participação efetiva e crítica do indivíduo, na qual o querer aprender é resgatado mediante

situações motivadoras e prazerosas.

Foi muito motivador e envolvente confeccionar e utilizar juntos na sala de aula alguns

jogos. Lembro-me que confeccionamos o tangram11 e o quanto o seu uso tornava as condições

do aprender mais prazerosas, motivadoras e favoráveis. Daí socializávamos nossas produção,

práticas e descobertas. Assim, a aula de geometria tornou-se mais produtiva através de

procedimentos que foram significados pela produção e prática coletiva nas quais os aspectos

lúdicos se manifestavam. Isso contribuiu para tornar os saberes ali constituídos mais

socialmente relevantes para nossa formação sociocultural.

As brincadeiras também davam um teor lúdico às aulas de Metodologia do Ensino de

Matemática. Eram bastante divertidas, a exemplo da cabra cega12, na qual todos/as tentavam

9 Tabuada – tabela usada para definir uma operação de multiplicação de um sistema algébrico. 10 Na sala de aula regular a sabatina se constituía como uma arguição com perguntas e respostas, em que ao errar

se tinha penalização na nota (desconto de pontos) e na aula de reforço (denominada como “banca”), havia o uso

de palmatória, artefato de madeira com a qual a professora batia nas mãos (denominava-se “bolos”) quando não

se acertava as respostas. 11 Tangram- Jogo de tabuleiro, conhecido também como jogo das sete peças. Facilita o estudo da matemática,

podendo ser trabalhado a geometria, a criatividade e raciocínio lógico. 12 Cabra cega - Brincadeira onde um dos participantes deve ser a cabra cega e ter os olhos vendado com o lenço,

tentando pegar um dos participantes e descobri através da audição quem é, falando o seu nome.

25

fugir e correr para não serem pegos. A atenção era fundamental para o desenvolvimento dessa

atividade, que favorecia também desenvolvimento de noções de esquemas corporais e de

espaço, sem falar o quanto a alegria contagiava toda turma e assegurava um espaço de

descontração, apropriados a uma perspectiva construtiva na aprendizagem matemática.

Essas estratégias foram desenvolvidas, procurando despertar o potencial existente de

cada um, num processo que prima pelas experiências fundadas na reflexão sobre as práticas

educativas e pela importância da ludicidade no processo de construção do conhecimento. É

importante enfatizar ainda, que alguns colegas de turma já exerciam à docência e outros/as

como eu almejava ser professor/professora. Desse modo, refletir sobre o processo de formação

através das situações pedagógicas desenvolvidas contribuiu para relacionar a identidade do

trabalho (atuação) e a compreensão da realidade no espaço educativo.

Ao concluir o curso de Pedagogia, prestei concurso público, dando início a minha

trajetória docente, na rede municipal de ensino de Gararu-SE, tendo exercido, no entanto

diversas funções como sujeito do contexto escolar, sendo um dos grandes desafios de profissão

ser tutora do Programa de Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÃO)13, com

uma turma de oito alunos/alunas apenas, sendo que naquela época era usado o termo

“Qualificação de professores em nível de Ensino Médio (Magistério)”.

A experiência com os alunos professores e alunas professoras foi relevante na minha

trajetória profissional, uma vez que foi possível estabelecer um olhar mais próximo entre o

conhecimento construído e à prática pedagógica. O curso tinha duração de dois anos, sendo

trabalhadas algumas áreas específicas como por exemplo: linguagens e códigos, Matemática e

lógica, organização do trabalho pedagógico, entre outras. Focalizando no ensino da

Matemática, eram propostas atividades lúdicas envolvendo músicas, confecção de jogos,

respectivamente os guias de estudo eram trabalhados através de módulos e unidades, nas quais

se procurava dar subsídios aos professores e professoras para ampliarem seus conhecimentos,

habilidades e experiências. Eram apresentadas atividades contextualizadas, considerando a

necessidade de estabelecer conexão a partir do cotidiano de alunos e alunas, o que possibilitava

de certa forma a compreensão das situações didáticas num processo de construção de novos

significados. O registro das experiências dos professores e professoras cursistas, através dos

seus memoriais, era pertinente para descrição das dificuldades encontradas em estudar

determinados conteúdos, da forma encontrada para superá-las e dos comentários dos seus

13 PROFORMAÇÃO foi um Programa de Formação de Professores em exercício (leigos), implementado no ano

de 1999 com o objetivo de habilitar para séries iniciais os/as professores/as de carreira que não possuíam formação

pedagógica. Uma ação governamental para erradicar a existência de professores leigos em exercício.

26

alunos e alunas sobre as atividades desenvolvidas e a utilização (ou não) do conhecimento

destas no seu dia a dia. No entanto, esses discursos aos poucos foram sendo modificados à

medida que eram mencionados as novas concepções de aprendizagem e a contribuição do curso

na construção da identidade como profissionais da educação, consequentemente favorecendo

maior compreensão do conhecimento matemático no processo aprendizagem dos alunos e

alunas.

No contexto das reflexões aqui estabelecidas com minha trajetória pessoal, estudantil e

profissional, percebo o quanto a relação com o lúdico e com a matemática estiveram presentes

nesta estrada, de modo que a percepção dos distanciamentos presentes nesta relação (entre

matemática escolar e ludicidade) foi gerando cada vez mais inquietações sobre esse campo de

estudo e sua relação com minha prática docente. Faz-se necessário ressaltar que o ensino da

Matemática costuma produzir inquietações tanto por parte de quem ensina, como por parte de

quem aprende. A insatisfação diante de resultados negativos interfere no desenvolvimento do

processo de aprendizagem, que nos revela problemas a serem enfrentados, tais como a

necessidade de repensar a forma de ensinar, de rever o uso de procedimentos mecânicos,

descontextualizados e desprovidos de motivação, interação social e ludicidade para que esse

ensino favoreça em alunos e alunas, como apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN

(BRASIL, 2001), o sentido de coletividade, o desenvolvimento da criatividade, da autonomia

e da confiança na capacidade de enfrentar desafios, contribuindo para que estes alunos e alunas

se tornem casa vez mais protagonistas na (re)construção do conhecimento.

Mediante as reflexões inquietantes aqui compartilhadas a partir da minha trajetória, que

me aproximaram da percepção de situações relacionadas aos problemas de aprendizagem em

Matemática, especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental é que, desenvolvemos o

interesse pela questão que se configura como problema de pesquisa do trabalho aqui

apresentado, saber: “Quais as possíveis contribuições do uso de atividades e/ ou estratégias

lúdicas para aprendizagem matemática no 5° do Ensino Fundamental (EF)? Para levar a termo

o trabalho que busca responder esta questão central, o item seguinte traz uma descrição

fundamentada dos procedimentos metodológicos da pesquisa em apresentação.

1.2 Metodologia e Procedimentos da Pesquisa

Para responder ao problema desta pesquisa, foi desenvolvido um estudo de abordagem

qualitativa, que permite a consideração de um amplo universo de significados na elucidação do

objeto de estudo. Conforme apontam Bogdan e Biklen (1994) a pesquisa qualitativa tem como

principais características: a) o ambiente natural como sua fonte direta dos dados e o pesquisador

27

ou pesquisadora como instrumento-chave de sua coleta; b) trata-se de uma pesquisa

predominantemente descritiva; c) ênfase no processo e não simplesmente nos resultados ou

produto final; d) uso predominante do método indutivo; e) ênfase no significado ou sentidos

atribuídos pelos sujeitos.

Considerando as características acima descritas, analisar possíveis contribuições do uso

de atividades e/ ou estratégias lúdicas para a aprendizagem matemática, a partir do contexto de

uma turma do 5° ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública do Município de

Gararu-SE, significa que a partir da nossa ação direta como pesquisadora em relação com os

sujeitos da pesquisa (discente e docente da turma), usamos da escuta sensível e do olhar atento

para interpretar os discursos e ações dos sujeitos, considerando o lugar de onde falam e as

intermediações do lugar de onde me coloco. Nesse sentido, os instrumentos de coleta se

constituem em veículo de acesso às percepções e práticas dos referidos sujeitos. Entre os

procedimentos de utilização desses instrumentos destacamos os questionários, entrevistas, além

da observação direta das ações em processo no campo da pesquisa.

(A pesquisa teve como foco uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola

de Ensino Fundamental do município de Gararu-SE, sendo sujeitos centrais da referida pesquisa

os alunos e alunas e sua professora. Os procedimentos de coleta de dados utilizados foram:

a) Observação de campo - Triviños (1987, p.154), por exemplo postula que “na pesquisa

qualitativa, o registro das informações representa um processo complexo, não exclusivamente

pela importância que nesse tipo de investigação adquirem o sujeito e o

investigador/investigadora, mas também pelas dimensões explicativas que os dados podem

exigir”. O que do ponto de vista das representações identificáveis, é elementar para melhor

nível de compreensão das informações coletadas em determinado momento.

O desenvolvimento dessa técnica na realização desta pesquisa contribuiu para dar

sentido ao segmento das questões provenientes da construção do conhecimento e no que

concerne à relação do professor/professora com o aluno/aluna, ritmo, a metodologia, as opções

das necessidades que emergirão de situações apresentadas com graus de complexidade diversas

e de novos padrões de interação social. As observações permitem acessar dados referentes ao

objeto de estudo em situações destinadas a entrada e saída de alunos e alunas, destes/as na

relação com a professora, em possíveis relações destes/as com a ludicidade e com a matemática

no tempo intra e extra sala de aula, sendo utilizado o diário de campo para os registros das

informações.

As observações realizadas contribuíram para o alcance de vários dos objetivos

específicos propostas, contribuindo para a elucidação do problema proposto. Entre os objetivos

28

para os quais a referida observação contribuiu destacam-se: sobre caracterizar a relação de

alunos, alunas e da professora de uma turma do 5° ano do Ensino Fundamental (EF) de uma

escola pública do Município de Gararu-SE com a matemática e com o lúdico e sobre analisar

possibilidades e limites do uso do lúdico na aprendizagem matemática escolar, a partir da

percepção do que é realizado ou indiciado na turma pesquisada e do que poderia ser ampliado

como possibilidade.

b) Questionário14 - Em relação ao questionário Gil (1999, p.129), nos instrumentaliza

teoricamente ao colocar que

Pode- se definir o questionário como a técnica de investigação composta por

um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às

pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,

interesses, expectativas, situações vivenciadas etc. Os questionários aplicados (a alunos, alunas e professora da turma), bem como ao gestor

como fonte complementar de dados referentes à escola, se constituíram como principais

instrumento de coleta de dados, contribuindo para a efetivação dos diferentes objetivos. Foram

aplicados três questionários com perguntas abertas e fechadas. Um foi aplicado aos alunos e

alunas sujeitos da pesquisa e o segundo aplicado à professora do 5º ano do Ensino Fundamental,

também sujeito da pesquisa. O terceiro questionário foi utilizado com o gestor da escola, que

embora não seja sujeito do estudo, nos forneceu informações para caracterização básica do

campo da pesquisa.

Os questionários destinados à professora e aos alunos e alunas abordaram inicialmente

aspectos de identificação do sujeito e em seguida aspectos didático pedagógicos, com foco no

objeto de estudo (da relação com a Matemática, da relação da Matemática com o lúdico). O

questionário aplicado ao gestor destinou-se a coletar dados básicos relativos à aspectos legais

da escola, informações didático- pedagógicas gerais, sendo o mesmo aplicado na fase

exploratória do estudo. Maiores detalhamentos sobre as questões abordadas nos questionários

dos alunos, alunas e professora no capítulo 3, da análise dos dados.

14 O questionário inspirou-se em instrumento produzido e validado pelo subprojeto de pesquisa Saberes e

Práticas de Matemática e Ciências Naturais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Um estudo em diferentes

contextos escolares da Microrregião do Agreste de Itabaiana SE, desenvolvido no âmbito do Projeto

Compartilhando as Diferenças e Promovendo a Equidade na Educação Sergipana, do Grupo de Estudos e Pesquisas

Identidades e Alteridades: Diferenças e Desigualdades na Educação GEPIADDE/UFS), do qual participamos. O

referido subprojeto também fez parte do Programa Especial de Inclusão em Iniciação Científica –

PIIC/POSGRAP/PROEST/UFS. O questionário original teve como base de elaboração o Questionário do Projeto

de Pesquisa “Relação com o Saber” (Subgrupo Universidade), coordenado pelo Pesquisador Bernard Charlot.

29

:

c) Entrevista semiestruturada – aplicada aos alunos e alunas com função de explicitação

(complementação e aprofundamento) das questões referentes ao objeto de estudo pesquisado.

Segundo Trivinõs (1987, p. 146), a entrevista semiestrutura é,

em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em

teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem

amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à

medida que se recebem as respostas do informante.

A execução da entrevista atendeu as condições de tempo favoráveis aos entrevistados e

entrevistadas, (alunos da turma do 5º ano), conforme a disponibilidade dos mesmos e a

autorização para sua execução. As entrevistas foram realizadas no segundo semestre de 2015,

após a aplicação e organização inicial dos dados dos questionários.

O trabalho que ora apresentamos é resultado de uma análise e interpretação sistemática

dos dados, com o procedimento de categorizar os resultados a partir das informações que

emanaram das fontes. Os sujeitos da pesquisa estão identificados de forma anônima, com o

intuito de preservar sua identidade pessoal. Desse modo, o gestor, que foi informante de dados

de caracterização do campo da pesquisa, está identificado com a nomenclatura “Gestor”. A

professora da turma foco da pesquisa está identificada no texto como Professora. Já os alunos

e alunas estão identificados no texto com a de A1 até A13. Embora a turma tenha 16 (dezesseis)

alunos e alunas apenas 1 3 (treze) estavam frequentando e responderam ao questionário

aplicado.

Os dados dos questionários da professora (Professora) e dos alunos e alunas (A1,

...A13), bem como das entrevistas desses/as últimos foram categorizados e analisados à luz da

teoria, permitindo-nos, na medida do possível, atender aos objetivos e problemas estabelecidos.

Em sequência é apresentado o campo da pesquisa, iniciando com uma breve

apresentação macro do município, da rede de ensino e da escola nas quais se insere a turma que

se constitui como sujeito deste estudo.

30

1.3 Caracterização do Campo da Pesquisa

1.3.1 Gararu

Figura 01 – Praça da Matriz

Fonte: (Rum, abril, 2012)

O município de Gararu está situado no alto sertão sergipano, mais especificamente na

Microrregião de Sertão do São Francisco, na área noroeste do estado, a 161 km da capital

Aracaju, ocupando uma área aproximadamente 600 km2. Limita- se ao norte com o Estado de

Alagoas, sendo separado pelo Rio São Francisco (também conhecido como o Rio da Unidade

Nacional); ao sul com o município de Graccho Cardoso; ao leste com o município de Nossa

Senhora de Lourdes e Itabi; e a oeste com o município de Porto da Folha e Nossa Senhora da

Glória. De acordo com a publicação sobre a I Feira Cultural e Artística dos Municípios de

Sergipe (SERGIPE, 1999), publicada pela secretaria de Estado da Educação e do Desporto e

Lazer, esta região era inicialmente chamada de “Curral de Pedras”, dado a existência de currais

com muros de pedras, hábil e seguramente arrumadas, utilizadas pelos fazendeiros locais para

prender seus rebanhos e animais, sendo modificado de acordo com a Portaria nº1003 de 28 de

março de 1876, em homenagem ao cacique Gararu que chefiava a tribo indígena que se fixou

na confluência de um riacho nessas terras. O acesso a cidade de Gararu pode se dá pela rodovia

federal BR 101, passando por Propriá e depois pela rodovia estadual SE 202, ou ainda pelo

Sertão, passando por Porto da Folha, tomando a rodovia estadual SE 200. De acordo com o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), a população Gararuense é de

aproximadamente 11.405 habitantes.

31

Segundo Silva (2006), grande parte da população Gararuense tem como fonte de renda,

os serviços públicos municipais e estaduais. A pesca é uma das atividades econômicas

extrativistas da região. Outra fonte de renda é a extração de pedras em forma de brita e

paralelepípedos utilizadas na construção. No setor primário, apresenta-se a agricultura com o

cultivo de milho e feijão. A pecuária é bastante desenvolvida na região, destacando- se a criação

de gado bovino de corte e de leite, onde existem fábricas de laticínio, o que proporciona a

criação de suínos para o aproveitamento do soro resultando no beneficiamento do leite. Muitos

fazendeiros, ainda, vendem sua produção de leite para outros municípios.

Fundamentando-se nos estudos de Silva (2006), a localização do município às margens

do rio São Francisco é um fator muito importante para o desenvolvimento do turismo. A cidade

tem duas orlas que valorizam a sua paisagem ribeirinha. Devido as secas enfrentadas no

Nordeste, o rio encontra-se com o seu nível abaixo do esperado, formando assim, grandes

bancos de areia no meio do seu estuário. Quanto aos aspectos culturais destaca-se as danças

folclóricas como o pastoril, samba de coco e a quadrilha junina. Nas manifestações culturais,

estão presente o artesanato (crochês, ponto cheio, ponto de cruz, redendê), redes de pesca, covos

para capturar crustáceos, miniaturas de canoas; corridas de barcos; culinária, sendo os pratos

de maior destaque: buchada, moqueca de peixe, moqueca de camarão, pirão de galinha de

capoeira; peixe frito, peixe com coco, camarão torrado, pitu torrado.

As corridas de barcos a vela, movido pelo vento, também desenvolvida há mais de vinte

anos na cidade e em alguns povoados são atividades praticadas no município de Gararu- SE,

nas quais conhecimentos matemáticos se fazem presentes. A diversão envolve a maioria da

população, pois quem não está diretamente envolvido encontra-se na apreciação e na torcida

pelos participantes. Certamente as cores, as distâncias, as posições, as formas e tantos outros

aspectos se constituem em elementos matemáticos do jogo da vida, que poderiam ser

potencializados em atividades pedagógicas nas salas de aulas, com uma aproximação positiva

em relação a aprendizagem Matemática. Provavelmente este é um caminho para o

desenvolvimento articulado de objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais nesta área na

qual estabelecer sentido entre conhecimento escolar e cotidiano pode ser a diferença para

qualificação da aprendizagem. O interesse em desenvolver essa pesquisa no município de

Gararu caracteriza-se no amplo campo das relações culturais que tenho com essa cidade.

Nascida e criada nessa terra que muito a estimo e como professora das esferas Municipal e

Estadual, penso que a educação é um caminho que transforma a vida das pessoas, pelo que

representa sobre aspectos da realidade ou sobre nós mesmos. Estritamente falando, as diferentes

dimensões motivam uma melhor compreensão das propostas concretas de intervenção

32

educativa dirigidas à modificação e à otimização diretamente relacionados com a aprendizagem

e o ensino da matemática. É evidente a presença da matemática e do lúdico na vida cotidiana

Gararuense e ao focalizar as crianças deste espaço destaca-se a forma como estas vivenciam

esta relação (matemática e o lúdico) no seu contexto cultural em brincadeiras locais que

ocorrem cotidianamente nas ruas da cidade e nos espaços dos povoados. Entre estas destacam:

cantigas de roda, chicotinho queimado, bicho pega-pega e nos jogos como, queimado, baralho.

Ao se pensar nas singularidades que caracterizam essas experiências supõe-se que a construção

significativa dos saberes matemáticos mediada pela ludicidade no espaço escolar poderá

favorecer o desenvolvimento de alunos e alunas no enfrentamento das dificuldades que se

apresentam em diferentes situações de aprendizagem. Assim, a ação do lúdico no processo de

aprendizagem ganham entornos significativos, por este lúdico trazer características próprias das

vivências destes alunos e alunas na relação que essas atividades trazem com a matemática.

1.3.2 Rede Municipal de Ensino

Segundo Lima (2014), o ensino no município de Gararu nasceu de maneira informal,

com dificuldades geradas pelo próprio sistema, funcionando em ambientes não apropriados.

Com o crescimento da população surgiu a necessidade das primeiras letras, ensino este ofertado

de forma precária, onde não havia professores com formação, sendo transmitidos apenas a

prática de ler e escrever o próprio nome, com objetivo específico de tirar documentos pessoais.

Atualmente, a rede de ensino do município conta com 18 unidades escolares, uma na

sede e as demais distribuídas nos povoados, sendo que 14 (catorze) destas unidades atendem da

Educação Infantil (a partir dos 4 anos) ao 5º ano do Ensino Fundamental (EF) e 4 (quatro)

atendem da Educação Infantil ao 9º ano do Ensino Fundamental. O corpo discente da rede

municipal é composto por 840 alunos e alunas da Educação Infantil, 570 dos anos iniciais do

EF e 430 dos anos finais do EF.

Importante salientar que não há nenhuma sala de aula que atenda as especificidades

estruturais da Educação Infantil, pois o mobiliário e espaço reduzido no qual estudam as

crianças do Ensino Fundamental é o mesmo utilizado pelas turmas da Educação Infantil. Nesse

contexto há uma dificuldade com disponibilidade de estrutura física adequada às atividades

lúdicas no espaço da escola, inclusive na única escola da sede do município.

A rede de ensino conta com um corpo docente de 153 professores e professoras, sendo

a maioria desses profissionais oriundos de cidades circunvizinhas como Porto da Folha, Nossa

Senhora de Lourdes, Itabi e uma pequena parte da capital sergipana. Entre as áreas de formação

33

e atuação, estão distribuídos entre os seguintes cursos: Pedagogia, Matemática, Língua

Portuguesa- Inglês, História, Geografia, Química, Educação Física e Ciências Biológicas, cujas

Instituições de Formação destes docentes variam entre as Universidade Federal de Sergipe,

Universidade Tiradentes, Universidade Vale do Acaraú- UVA e Faculdade de Formação de

Professores de Penedo/AL.

Quanto à política de formação continuada da Rede de Ensino, a mesma se restringe a

oferta de uma palestra no início do ano letivo, durante a semana de planejamento, assim

percebe-se que a formação continuada não é uma prática na qual o município invista, inclusive

não há equipe de orientação e acompanhamento pedagógico. Nesse contexto, verifica-se a quase

ausência de encaminhamento gestor ou acompanhamento pedagógico em relação às aspectos

didático-pedagógicos como linhas metodológicas, práticas de ensino e desenvolvimento da

aprendizagem. Assim, aspectos relacionados ao que, porque e como ensinar fica à mercê de

cada um/uma definição coletiva mínima. Embora todos os professores e professoras do quadro

do magistério tenham formação pedagógica (a maioria com licenciatura em Pedagogia e uma

minoria com formação em Magistério em Nível Médio), faz-se necessário destacar-se que a

formação continuada é um direito do profissional da educação, assegurado na Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB) e importante instrumento de qualificação da educação,

sendo que sua ausência se constitui em prejuízo para o ensino e a aprendizagem.

No que se refere a oferta de material didático para o desenvolvimento das atividades

pedagógicas na escola, observamos uma pequena disponibilização de materiais, sendo

ofertados entre estes, os jogos de dama, cordas e bolas esportivas, que são utilizados por parte

de alguns professores como aula recreativa, em especificidade nas aulas de Educação Física.

1.3.3 A Escola

Essa pesquisa teve como lócus a Escola Municipal Olga Barros15, situada na sede do

município de Gararu (Sergipe). A referida Escola Municipal funciona nos turnos da manhã,

tarde e noite, tendo como níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental do 1° ao 9°

ano e Educação de Jovens e Adultos I e II, tendo aproximadamente 350 alunos matriculados no

ano de 2015.

A partir do primeiro contato com o gestor, em junho de 2015, não encontramos nenhuma

reação contrária para desenvolvimento desta pesquisa, na Instituição de Ensino. Em síntese, foi

apresentado a importância da participação do gestor no que se refere ao levantamento de dados,

15 Optamos por utilizar nome fictício da escola, garantindo a não identificação dos sujeitos envolvidos nessa

pesquisa.

34

tais como questões relacionadas aos dados legais da escola, estrutura física e informações

didático-pedagógicas. De acordo com o gestor “a escola não possui seu ato de criação e

desconheço a sua existência, o que se sabe pelos administradores anteriores é que iniciou suas

atividades pedagógicas em 1998, conforme a placa mostra”. (Questionário Gestor, Junho,

2015). Somente lhe é conferido o processo de autorização de funcionamento que se encontra

em tramitação no Conselho Municipal de Educação de Gararu- SE (não ativado desde o ano de

2013). A escola não possui o ato de reconhecimento. Apresentamos a seguir a estrutura física

através da situação de funcionamento avaliada pela direção.

A escola foco da pesquisa conta com a seguinte estrutura física: 07 salas de aulas, 01

sala de diretoria, 01 laboratório de informática, 02 banheiros e 04 sanitários para estudantes e

01 laboratório de informática, sendo estes cômodos considerados pelo diretor como em estado

regular (Questionário Gestor, junho, 2015). Além desses, existem 01 banheiro e 01 sanitário

para os/as docentes, sendo estes cômodos considerados como em bom estado pelo referido

diretor. Já a cozinha é avaliada pelo referido profissional como em estado “ruim”. Chama

atenção o fato de inexistência de sala de professores/professoras (espaço de convívio coletivo),

refeitório, sala de leitura ou biblioteca ou de quaisquer espaço de lazer, sem contar com o fato

de que algumas salas tem espaço diminuto, como é o caso da sala onde funciona o 5º ano do

Ensino Fundamental, turma foco do presente estudo.

É importante salientar que na diretoria funciona também a secretaria e a sala de

professores e professoras. A escola não disponibiliza de quadra de esportes, bem como de

espaço suficiente para desenvolver atividades pedagógicas que envolva toda a comunidade

escolar. Segundo o gestor “espaços como ginásio de esportes, clube municipal vem sendo

solicitado através de ofício à prefeitura municipal, e sempre fomos atendidos para

desenvolvermos os projetos como jogos internos, consciência negra, festival de cultura e outras

atividades são desenvolvidas dentro da sala de aula”. (Questionário Gestor, junho, 2015).

Nesse espaço educativo convivem 350 alunos, (no turno da manhã são 88 alunos, à tarde

117 alunos e a noite 145 alunos), 01 gestor, 01 coordenador pedagógico, 01 secretária, 29

professores e professoras, 03 assistentes administrativos, 03 merendeiras, 02 porteiros e 03

profissionais de serviços gerais. Em relação ao quantitativo de alunos e alunas o gestor faz a

seguinte afirmação “Houve uma queda significativa na matrícula esse ano, perdemos muitos

alunos”. (Questionário Gestor, junho, 2015).

Ainda segundo a mesma fonte as reuniões pedagógicas ocorrem bimensalmente, porém

cada um em seu turno, devido à falta de compatibilidade de horários dos professores e

35

professoras. Desse modo, pedagogas e professoras e professores, Fundamental, não se

encontram nas discussões da escola.

É preciso evidenciar que, embora a estrutura física da escola apresente a ausência de

espaços adequados ao desenvolvimento de atividades lúdicas, como quadra de esporte e área

de lazer, outras alternativas são disponibilizadas para tornar possível situações favoráveis para

o desenvolvimento dessas atividades, como por exemplo a orla municipal, o ginásio de esportes

da cidade e o clube municipal.

Em seguida apresentamos um organograma com a distribuição de alunos e alunas da

escola, por turma.

Figura 2 – Distribuição de alunos por turma

FONTE: Questionário Gestor (junho, 2015)

Tomando- se por base o número de alunos e alunas dos anos iniciais, é possível analisar

sobre as condições favoráveis de aprendizagem, no sentido de propor uma ação articulada entre

o lúdico e a Matemática, na qual essa relação tenha significado para alunos e alunas na

construção do conhecimento. Como apontam estudos sobre condições de ensino, sala de aulas

extremamente lotadas dificultam, de certa forma, o desenvolvimento de algumas atividades,

que não é o caso aqui apresentado. No entanto, embora a maioria das turmas tenha um número

NÍVEL/MODALIDADE

Ed. Infantil

Turma 02

10

Turma 01

06

Ens. Fundamental

(anos iniciais)

1º ano

08

2º ano

21

3º ano

13

4º ano

13

5º ano

16

Ens. Fundamental

(anos finais)

6º ano

69

7º ano

35

8º ano

24

9º ano

29

Ed. Jovens e Adultos

(Ens. Fundamental)

1ª fase

(anos iniciais)

36

2ª fase

(anos finais)

69

36

reduzido de alunos e alunas, faz-se necessário salientar que a maioria das salas tem tamanho

inadequado, não cabendo devidamente nem 20 (vinte) carteiras. No caso da turma foco deste

estudo, com 13 (treze) alunos e alunas frequentando regularmente, mesmo com esse número

reduzido de alunos e alunas a sala não oferecia espaço adequado para atividades lúdicas com

mobilidade, conforme podemos observar na imagem que se segue (figura 3). A saída, neste

caso para este tipo de atividades seria utilizar espaço externo à escola, conforme já mencionado.

Figura 03- Sala de aula (5° ano)

FONTE (acervo da pesquisadora, maio, 2015)

Quadro 1 – Distribuição de Professores e Professoras por Área de Atuação.

Área de atuação Quantitativo

Pedagogia 09

Matemática 03

Língua Portuguesa 05

Redação 05

Ciências 03

Artes 03

Inglês 02

Em. Religioso 04

Ed. Física 02

Geografia 02

História 02 Fonte: Questionário Gestor (junho, 2015)

Em relação aos professores e às professoras regentes há apenas um professor contratado

(substituindo um professor de Matemática, que se encontra cursando mestrado). Diante do

quadro acima, podemos analisar que nessa distribuição, para os que atuam em Matemática,

37

apenas um não é graduado na área, mas atua há mais 15 anos na mesma, através de título

precário; constituindo assim o quadro de professores/professoras desta instituição de ensino.

1.4 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa

Constitui-se sujeito desta pesquisa a turma do 5º ano do Ensino Fundamental da escola

já mencionada, sendo seus membros os alunos e alunas e sua professora.

O primeiro contato com a turma foi no dia 12 de maio de 2015, quando fui apresentada

às mesmas e apresentei o objetivo pelo qual ali me encontrava, sendo que o contato com a

professora se deu em encontros anteriores quando a mesma se dispôs a disponibilizar a sua

turma para minha pesquisa.

A turma, que funcionou em 2015 no turno vespertino, tinha um quantitativo de 16 alunos

matriculados e um assistente, sendo 10 meninas e 7 meninos com a idades que variavam entre

10 e 13 anos. Quanto à auto identificação étnico-racial, dos 13 alunas e alunos que responderam

o questionário, 05 se identificaram como brancos/as, 03 como negros/as e 04 como moreno/a e

01 como pardo/a, estas últimas categorias escritas pelos/as mesmos/as na categoria “outros”.

Chamou nossa atenção o fato de uma aluna que se identificou como branca apresentar fenótipo

expressivamente negro (pele preta e cabelos bem crespos), levando-nos a buscar mais

informações sobre a mesma. Verificamos que a mesma é filha de mãe branca com pai negro,

sendo meia-irmã de duas garotas brancas, filhas da mãe com outro pai (branco). Isso nos leva

a levantar algumas hipóteses sobre essa relação com a própria identidade a partir da relação

familiar. Uma delas talvez seja o fato da negação de si mesma como tentativa de

autovalorização. Trata-se de uma das alunas com maior dificuldade em todas as disciplinas, o

que merece talvez uma investigação sobre até que ponto essa relação com a própria identidade

contribui para sua relação com a aprendizagem e com suas relações na escola. Como esse não

é o foco do nosso estudo, registramos esse fato no intuito de compartilhar uma reflexão que

talvez possa motivar outros estudos.

Em relação a caracterização sociocultural, todos os pais dos alunos e alunas possui

atividade remunerada, quase todos tem casa própria. Em termos de profissão, as opções são

bem variadas, desde pedreiro, comerciante, vaqueiro, motorista, feirante, vaqueiro, gari a

policial e aposentado.

Quanto à profissão ou ocupação das mães, a maioria trabalha em casa, cuidando dos

afazeres domésticos (oito delas), sendo que três trabalham como empregadas domésticas, uma

como lavadeira e uma delas já falecida. A maioria delas, assim como os pais, tem apenas o

38

Ensino Fundamental Incompleto, sendo que apenas um pai e uma mãe tem nível superior (o

policial e a lavadeira).

Em relação ao nosso ingresso na escola, a receptividade dos alunos e alunas da turma

foi muito entusiasmada. Mostraram-se animados com a possibilidade de ter mais alguém na

sala, o que ficou evidente pelo interesse em interagir e pelas perguntas ansiosas sobre minha

volta nos dias seguintes, além da receptividade na chegada.

Ao observar a turma, percebemos que a maioria dos alunos e alunas não reside na

cidade, mas nos povoados vizinhos. No entanto o que realmente nos chamou atenção foi que

este nível escolar também é ofertado nos povoados onde os mesmos residem. O que levaria

esses alunos a se deslocarem de suas comunidades, tendo que usar o transporte escolar para

chegar até a escola da sede? A resposta foi imediata, segundo A9 “meus pais me colocaram

aqui porque o estudo daqui é mais puxado. Lá o professor só manda a gente fazer de um até

mil, não está nem aí se a gente aprende” (Diário de Campo, junho, 2015).

Apesar da percepção da aluna de que seus pais avaliam a escola como uma melhor opção

de formação para seus filhos, logo no nosso primeiro dia em sala a professora da turma inicia a

sua fala colocando que: “é muito difícil trabalhar sem a participação efetiva dos pais, no

processo ensino e aprendizagem dos alunos, pois, muitos só aparecem na escola para outras

finalidades”. (Diário de Campo, maio, 2015). Essa fala nos apontou uma certa negatividade

no que se refere a relação escola-comunidade, o que pode talvez seja um fator de fragilidade na

busca de soluções para os problemas de aprendizagem da turma. Ao pensar no teor das duas

falas entendemos que a necessidade de maior diálogo com pais e mãe por parte da professora

encontra-se com a perspectiva de que pais e mães também tem a percepção da importância da

escola para a vida de seus filhos e filhas.

Em relação à professora, esta tem 56 anos de idade, cursou licenciatura plena em

Pedagogia, tem 8 anos de docência, sendo três nesta instituição, tendo sempre estudado em

escola pública. É aposentada como agente administrativo na Rede Estadual de Ensino e

trabalha apenas um turno.

Percebemos que a professora alega preocupação pela aprendizagem dos alunos. No

entanto, suas aulas diárias são na maioria expositivas (quadro negro, giz e livro didático), o que

resulta pouca participação e interesse efetivo por parte dos alunos e alunas. As carteiras são

arrumadas uma atrás da outra, talvez, pelo pouco espaço da sala de aula, o que dificulta o

trabalho com as mesmas em círculos.

39

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação. (Winnicott)

2.1 Ludicidade e Aprendizagem: Aportes Teóricos e Possibilidades Pedagógicas

A preocupação com a qualidade da educação é cada vez mais crescente. Por isso, o

cenário exige situações pertinentes ao desenvolvimento de alunos e alunas com bases em

valores como compromisso social, o que nos indica a necessidade de aprender sempre, ou seja,

à autonomia de construir e reconstruir o conhecimento de forma que possamos analisar, refletir,

produzir discussões e trocar ideias que promovam uma possível atividade intelectual. A

aprendizagem é uma necessidade própria do desenvolvimento de todo indivíduo, a qual

transcorre durante toda sua vivência, seja ela constituída no espaço escolar ou nos demais

espaços da nossa vida cotidiana.

No espaço escolar essa aprendizagem é fonte de muitos questionamentos, estudos,

inquietações e tantas outras problemáticas de cunho políticos, acadêmicos e pedagógicos. Entre

as problemáticas históricas dessa questão encontra-se a relação entre o ensinar e o aprender, o

que traz questionamentos como o que ensinar, para que ensinar modo especial, como ensinar,

esse último relacionado ao aspecto didático-metodológico do ensinar e do aprender. Nessa

perspectiva a relação desses atos (de ensinar e aprender) com aspectos da trajetória sociocultural

de vida dos indivíduos, sendo que entre estes podemos destacar a relação com o brincar, ato

visto como relevante por diversos autores e autoras que pesquisam sobre infância e

desenvolvimento, ensino e aprendizagem e outras temáticas relacionadas à educação, entre

estas Maluf (2007), Cunha (1988), Kishimoto (2007), Machado (1995), Santos (2002), Silva

(2004), Schwartz(2004).

Conforme Maluf (2007) o brincar é uma atividade espontânea propicia a seres humanos

de quaisquer idades ou classes sociais, sendo fonte de prazer para a vivência. Para a autora o

brincar é:

Comunicação e expressão, associando pensamento e ação; um ato instintivo

voluntário; uma atividade exploratória; ajuda às crianças no seu

desenvolvimento físico, mental, emocional e social; um meio de aprender a

viver e não um mero passatempo. (MALUF, 2007, p. 17)

40

Corroborando com Maluf, Silva (2004) aponta a relevância do brincar como

instrumento de formação humana, em aspectos dessa formação que também fazem parte dos

objetivos da educação escolar, como podemos ver na citação a seguir:

Por meio da arte do brincar, a criança possui variadas maneiras de se

comunicar, utilizando sua imaginação e processos criativos, desenvolvendo

sua socialização, a qual a encaminha a experiências com regras e papéis

diferenciados, como também a direciona a buscar livremente soluções para

seus problemas, permitindo a aquisição de novas maneiras de pensar e agir.

(SILVA, 2004, p. 115).

Como indica a autora citada, o brincar é uma atividade humana de significativa

relevância para desenvolvimento de diversas de suas potencialidades, entre estas o raciocínio,

a linguagem, a afetividade e a interação, entre outros aspectos considerados fundamentais na

formação e vivência humana.

Na perspectiva supracitada a ação do brincar tem sido tratada no campo dos estudos na

perspectiva da ludicidade, como característica a ser considerado, inclusive no campo de estudos

sobre ensino e aprendizagem. Nesse sentido, a ludicidade pode ser entendida como atividade

que envolve brincadeiras, jogos, brinquedos, atividades que podem potencializar

desenvolvimento de aspectos como socialização/interação, raciocínio, motivação, criatividade,

linguagem e a própria aprendizagem e capacidade de compreender, interpretar e agir no mundo,

contribuindo para a re(construção) do conhecimento que (re)constitui a existência sociocultural

cotidiana dos sujeitos e da sociedade. Como diz Santos (1997, p. 09:

A palavra lúdica vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão

incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e relativos também a conduta

daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez a função educativa

do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento

e sua compreensão do mundo.

Nesse contexto, ao lidar com o conhecimento através da ludicidade, acreditamos que

o espaço educacional tende a oferecer aos alunos e alunas oportunidades de construir novos

conhecimentos a partir dos conceitos já existentes.

Segundo Ferrari, Savenhaco, Trevisol (2004, p. 17)

O lúdico tem um papel importante no ato de criar, pois é nas brincadeiras que

a criatividade emerge, mas a criação não vem do nada, é preciso ter

experiências anteriores a serem reinventadas, ressignificadas e por assim

dizer, recriadas.

Grando (2000) indica que o desenvolvimento de atividades lúdicas encontra-se nas

diversas formas como as pessoas representam suas necessidades, nas diversas situações das

41

suas vidas. A observação dessas atividades diárias permite a identificação das diversas

atividades lúdicas sendo praticadas como por exemplo: a caminhada pelas ruas, o ritmo

utilizado para controlar os passos, ouvindo músicas, cantando.

Em perspectiva semelhante Huizinga (2000) contextualiza o lúdico como repertório da

cultura, que se encontra nas diversas formas de organização social, das mais simples às mais

complexas. Atribui a esse lúdico uma função e um sentido que vão além do material,

transcendendo as necessidades imediatas da vida ao possibilitar a recriação metafórica da

realidade e seus elementos. Assim, a ludicidade está presente tanto na brincadeira de

“amarelinha/macacão” vivenciada pelas crianças quanto no prazer de uma aula passeio, no jogo

de futebol de final de semana, no jogo virtual pela internet, em uma visita ao museu, no ato de

assistir um filme e muito além disso, pois as dimensões do lúdico vão muito além da clausura

de conceitos, procedimentos e atitudes relativos ao que seja lazer e prazer.

No que se refere as dimensões relacionadas ao conceito de jogo, brincadeira e

brinquedo, lançamos mão de alguns trabalhos que permitem uma melhor compreensão da

ludicidade, considerando as características do aprender e as formas como se estabelece em

determinados contextos socioculturais.

Autores e autoras definem o jogo como atividade física ou mental desenvolvida com

sistema de regras, na maioria das vezes em perspectiva de competição. Já a brincadeira refere-

se à ação de brincar e, por fim o termo brinquedo significa um objeto que serve para se brincar.

Nota-se que as definições de brincadeira e de brinquedo estão intrinsecamente vinculadas ao

ato de brincar enquanto o conceito de jogo aparece vinculado ao aspecto competitivo, de

definição de regras, por vezes vinculado a um dualismo de perder e ganhar. No entanto, autoras

como Kishimoto (2002, 2008), Grando (2000), assim como outras e outros estudiosos (as) dessa

temática, trazem contribuições mais ricas, amplas e pertinentes a essa relação entre os referidos

conceitos, inclusive apontando a complexidade dessas definições.

Segundo Kishimoto (2008), definir o jogo não é uma atividade fácil, tendo em vista que cada

pessoa pode entendê-la de uma forma diferente, uma vez que o jogo pode assumir a mesma definição

mas apresentar especificidades distintas. Entre várias atividades apresentadas como o jogo do baralho,

jogo político, merece aqui destaque a forma que o observador externo analisa a ação da criança indígena

no uso do arco e flecha, em animais pequenos, ou seja, o que lhe parece ser uma brincadeira, para os

indígenas é uma atividade de subsistência própria da sua cultura. Nesses termos podemos constituir o

conceito de jogo mediante os valores e as vivências manifestadas por meio da linguagem. Já Huizinga

(2000), explica que o jogo representa mais que um reflexo psicológico ou um fenômeno fisiológico. Os

42

limites das atividades ultrapassam integralmente as funções físicas ou biológicas, dada a sua função

significativa, ou seja, o jogo apresenta algo que transcende as necessidades imediatas da vida,

verificando o sentido da ação.

De acordo com Sommerthalder e Alves (2011)

O jogo é produção da cultura, ou seja, representa símbolos, signos, valores,

hábitos e costumes, comportamentos e objetos produzidos pela sociedade,

pela coletividade, antecedendo e transcendendo os indivíduos que dela fazem

parte. O jogo traz consigo elementos de nossa identidade pessoal e coletiva.

(SOMMERTHALDER e ALVES, 2011, p.12)

Os aspectos abordados sobre o conceito de jogo nos remete à necessidade de

compreender as relações estabelecidas entre a realidade e a construção do conhecimento, a

relação deste, com o ensino e a aprendizagem. Schwartz(2004) vê no jogo um possível caminho

para transcorrer entre o real, o imaginário e o simbólico, no sentido que a educação

transformadora, nos aponte através do desejo a necessidade de sonhar coisa possíveis e

impossíveis. Outra visão do jogo é a trazida por Oliveira e Guimarães (2015), que define o jogo

como “um recurso que encanta pessoas de qualquer idade, e, de modo geral, tem aspectos

típicos que podem ser grandes aliados da educação” (p.161,162), propiciando assim a

construção e a manutenção de novos conhecimentos de forma que se aplica também a qualidade

de abordar temas com maior complexidade.

Em relação à brincadeira, segundo Machado (1995) esta pode ser

desenvolvida de forma espontânea, partindo da própria criança ao fazer suas escolhas do brincar

e fazendo uso das condições existentes para organizar os brinquedos e materiais, o espaço,

regras e papéis. Isso implica de certa forma em possibilidades de atitudes relativamente mais

espontâneas e livres que favorecem na criança uma aprendizagem significativa para si,

contribuindo para que ela possa lidar com o mundo à sua maneira, sem ser atropelada.

Já Winnicott evidencia o lugar da brincadeira como facilitador do desenvolvimento a

partir do seu papel na comunicação consigo mesmo e com os outros, conforme a citação a seguir

[...] é a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita

o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos

grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia;

finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente

especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os

outros. (WINNICOTT, 1977, p.63).

Ainda Winnicott (1977) torna a termo, o brincar como uma forma necessária para a vida,

contemplando a experiência criativa e a experiência na continuidade do espaço-tempo.

43

Dando valor as brincadeiras, Schwartz (2004) propõe o brincar como um instrumento

de resgate da humanidade ao possibilitar o contato com a sensibilidade e a criatividade

esquecidas, na tensão entre o anseio pela transformação e o apego à perspectiva tradicional da

repetição e da mesmice pelo medo do novo, ainda que o rompimento desse medo da mudança

seja o caminho da sobrevivência da humanidade.

A autora acrescenta que o jogo, como ponto entre o real, o imaginário e o simbólico,

pode contribuir para uma educação transformadora, a partir da dimensão do desejo de alimentar

sonhos (im)possíveis.

Sobre o brinquedo Kishimoto (2008) argumenta que “o brinquedo supõe uma relação

íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso” (p.18), o que significa dizer que sua

utilização não está condicionada, a priori, a um sistema de regras, o que difere do jogo. A boneca

por exemplo possibilita brincadeiras de diferentes formas, sejam ela desenvolvidas na

manipulação e até mesmo o brincar de “mamãe” e “filhinha”. As representações e as expressões

de imagens são estimuladas pelo brinquedo, em uma relação na qual são desenvolvidas na

criança aspectos da realidade a partir de mediatização entre o real, o imaginário e o simbólico

Nessa ótica, Machado(1995) nos propõe o entendimento acerca do conceito de

brinquedo e a importância dada a este na forma como as crianças brincam. A validação dos

brinquedos, sejam eles fabricados industrialmente ou de forma artesanal, só será efetivamente

estabelecida se os adultos permitirem que as crianças os utilizem a seu modo, ou seja, dando

condições ao brincar natural, sem necessariamente seguir as regras estabelecidas ou as

instruções das embalagens.

Nesse sentido, o lúdico pode ser considerado como uma estratégia de interação social

em situações diversas, no qual o processo de incorporação dos conceitos científicos é

influenciado pelos conceitos cotidianos e vice-versa. Não se trata simplesmente na utilização

do lúdico como recurso metodológico, mas de analisar o brincar como um dos aspectos

socioculturais que permite a reflexão dos processos cognitivos e das possibilidades e estratégias

a partir do elo entre a estrutura lúdica e o conhecimento.

Na perspectiva apresentada, a ludicidade pode ser considerada como um instrumento

didático-pedagógico de relevância para a aprendizagem escolar, visto como elemento

potencializador de aspectos importantes para essa aprendizagem, tais como criatividade,

raciocínio, motivação, entre outros, conforme já referido no desenvolvimento deste item.

É preciso entender, nesse sentido, que o lúdico não é um “pedagogismo”, mas uma

prática que busca proporcionar a participação ativa, capaz de desenvolver nos alunos e alunas

atitudes que correspondam as suas possibilidades e limitações. Todavia, é preciso enfatizar que

44

não existe métodos ou processos definitivos, mas sim a procura de sentido no trabalho

pedagógicos a partir de tentativas e experimentos de novos procedimentos que interessem à

alunas e alunos.

Para Piaget (1978) apud Brenelli (2003, p. 21), o jogo na escola tem sua relevância

quando revisitado de seu significado funcional. Isto porque muitas vezes seu uso no ambiente

escolar foi negligenciado por ser visto apenas como atividade de descanso e não como uma

atividade que a criança assimila e/ ou interpreta a realidade a si própria. O jogo é algo diferente

do que acontece no cotidiano escolar e dentro do aspecto de desenvolvimento, acreditamos que

uma das suas principais características é tornar o aprendizado interessante e significativo,

contribuindo na superação das limitações e no interesse pela matemática (ou conhecimentos de

outras áreas) por parte de alunas e alunos.

É interessante perceber que quanto ao aspecto de motivação as atividades lúdicas, sejam

elas desenvolvidas através de jogos, brincadeiras e brinquedos, podem permitir o

desenvolvimento de uma aprendizagem de forma mais interativa e prazerosa, estabelecendo

relações necessárias ao desenvolvimento das habilidades dos sujeitos que as vivenciam; da

cooperação e da construção dos saberes. Assim, podemos dizer que o papel da escola não se

enquadra apenas a função de transmitir determinados conhecimentos, mas, dialogar e responder

as transformações que os alunos e alunas vivem na sua vida diária em sociedade. Para

Kishimoto (2002, p.84) a atividade lúdica passa a ser orientadora no sentido de criar

possibilidades de intervenção que permitem elevar o conhecimento de alunas e alunos.

Para Winnicott (1975, p.80) é apenas no brincar que o indivíduo, o adulto ou a criança

pode desenvolver a criatividade e utilizar plenamente sua personalidade, ou seja, só é possível

o indivíduo descobrir o seu eu através da criatividade. Ainda Wnnicott (1975, p.75) faz

referência ao ato de brincar como uma “uma experiência, sempre uma experiência na

continuidade espaço-tempo, uma forma básica de viver”. Sobre esse aspecto Sommerhalder e

Alves(2011) asseguram que

Quando pensamos em jogos e brincadeiras, inevitavelmente nos reportamos à

infância, ou mais propriamente à criança. É difícil imaginar uma criança que

não goste de brincar e/ou jogar, tamanho é o prazer com o qual se entrega a

suas atividades lúdicas. Aliás, é próprio de nossa humanidade esse desejo para

o jogo, de modo que se engana aquele que acha que um dia deixamos de jogar

e/ou brincar como fazíamos na infância. Apenas trocamos a simplicidade das

brincadeiras infantis por outras mais complexas como o esporte e a dança, à

medida que vamos crescendo e se desenvolvendo. (SOMMERHALDER e

ALVES, 2011, p. 12)

45

Machado (2004) diz

A cultura hoje necessária nas relações de trabalho, segundo os efeitos da

globalização, é a cultura da criatividade e da mudança. Conhecer a cultura do

seu povo permite ter maior entendimento dos fatos cotidianos e dá fomentos

na busca por alternativas para lhe dar com os problemas sociais de grande ou

pequena escala, bem como possibilita, por meio do convívio social, a

transmissão e a disseminação dos conceitos atuais sobre os aspectos criativos

e lúdicos, entre outros. (MACHADO, 2004, p.173)

Nessa perspectiva, percebe-se que o pensamento de Sommerhalder e Alves e de Machado

apontam que a ludicidade tem cada vez mais relevância nas diversas dimensões da vida em sociedade.

Essa ludicidade presente no brincar é um elemento que contribui para o desenvolvimento da criatividade,

cada vez mais necessária para lidar com as características do mundo contemporâneo. Entre estas

características destaca-se a dinâmica acelerada das transformações que atinge todos os campos da vida

social, seja no trabalho, na educação, nas relações pessoais mediatizadas pela comunicação, entre outras.

Assim a relação cultura e sociedade também é mediatizada pelo lúdico presente no brincar, tanto nos

jogos e brincadeiras infantis quanto em outras atividades culturais na fase adulta.

Nesse contexto, Kishimoto(2008) aponta que o jogo contribui para a aproximação da

criança com o conhecimento científico e, consequentemente, para o desenvolvimento desse

conhecimento pela e na criança. Segundo a referida autora, jogos e brincadeiras educativas

potencializam o desenvolvimento cognitivo, instrumento este essencial para a produção e

aquisição do conhecimento científico, sendo que uma dimensão desse desenvolvimento se dá

na (re)produção do conhecimento escolar, mediatizado pela cultura na qual jogos e brincadeiras

se inserem. Assim, vida, ensino e aprendizagem se articulam, intrinsicamente, como elementos

do processo de reflexão acerca da relação educação escolar e vida cotidiana e em, uma micro

dimensão, sobre os avanços, dificuldades e possibilidades de alunos e alunas no processo de

(re)construção do conhecimento.

Em perspectiva semelhante já apontava Moura (1991) a importância do jogo e do brincar

como instrumento de aproximação da criança com o conhecimento científico pela vivência de

situações-problema, vivência esta na qual as ações das crianças são mediadas pela seu

imaginário, sendo que independente do real, essas representações simbólicas atribuídas lhes

possibilitam (des)(re)organizar, refletir e (re)construir o mundo a seu modo, desenvolvendo

nessa prática a habilidade de decisão e os limites e possibilidades do seu papel social no mundo.

Sobre o lúdico como parte da cultura escolar, Bustamante (2004) destaca a necessidade

de pensar as práticas escolares para além das paredes das salas de aula, bem como se perguntar

se essas práticas têm contribuído para uma formação humana prazerosa, para a qual o olhar para

46

o lúdico como parte importante dessa formação nos parece pertinente. Assim, conforme o

referido autor

Ao compreender o lúdico como manifestação integrante da cultura escolar,

considero importante destacar sua expressão não só no contexto das salas de

aula, mas num espaço mais amplo, no qual se estabelece todo e qualquer tipo

de relação humana. É preciso que pensemos se as diversas práticas escolares

realmente condizem, contribuem e conspiram para uma formação humana

prazerosa, criando um ambiente favorável a essas manifestações.

(BUSTAMANTE, 2004, p.63)

Essa ação do lúdico na sala de aula favorece, assim, a ampliação da própria configuração

do fazer escolar, em uma visão de ação pedagógica para além da perspectiva denominada por

Paulo Freire como Educação Bancária. Favorece o entrecruzamento das múltiplas culturas que

coabitam na sociedade, tais como as culturas infantis, a cultura escolar, a cultura local, entre

outras. Possibilita alcançar aspectos relacionados a realidade de alunos e alunas, de forma que

esses saberes venham ser contextualizados em diversas áreas do conhecimento, favorecendo a

construção do pensamento crítico frente as dificuldades e as mudanças decorrentes das relações

sociais e das peculiaridades apresentadas em determinadas situações, conforme alguns aspectos

apontados também por Almeida na citação a seguir:

A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus

objetivos, além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu

contexto histórico, social, cultural, psicológico, enfatizam a libertação das

relações pessoais passivas, técnicas para as relações reflexivas, criadoras,

inteligentes, socializadoras, fazendo do ato de educar um compromisso

consciente intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de

satisfação individual e modificador da sociedade. (ALMEIDA, 2003, p.31-32)

Sobre esse aspecto entendemos que o trabalho da professora e do professor implica na

possibilidade de estabelecer uma relação formadora prazerosa e produtiva entre e com alunos e

alunas, em sala de aula e em outros espaços que facilitem o trabalho pedagógico com o lúdico

em consonância com as expressões culturais apresentadas no contexto. Isso contextualiza a

aprendizagem em situações interessantes e significativas para alunos e alunas. Para tanto

Santos(2006) nos assegura que

A educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura existencial

cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando, inspirado numa

concepção de educação para além da instrução. Para que isso aconteça é

preciso que os profissionais da educação reconheçam o real significado do

lúdico para aplica-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brincar

e o aprender. (SANTOS, 2006, p.24)

47

Atualmente um dos principais desafios da educação é construir historicamente o

conhecimento a partir da formação dos sujeitos e sua inserção social. Nessa abordagem, o

processo de ensino e aprendizagem não se limita a simples transmissão de ideias ou práticas,

mas necessariamente a reelaboração de conceitos e significados culturalmente difundidos,

considerando-se os ritmos de desenvolvimento de cada sujeito no tocante as transformações

sociais, culturais e tecnológicas.

As discussões sobre os processos de desenvolvimento do fazer pedagógico focalizam

as relações sociais fundamentadas na qualidade da efetivação do aprendizado, de forma que o

desenvolvimento do pensamento esteja integrado à construção autônoma do saber construído.

Dessa forma, os efeitos da prática de hoje vão se manifestar no futuro e as reflexões das teorias

elucidadas ajudarão a rever, reformular, aprimorar o saber/fazer que orienta a nossa

prática/ação.

A relação entre o conhecimento e os sujeitos nos faz ampliar nossa capacidade de

reflexão na tentativa de solucionar as situações conflituosas que ocorrem no âmbito educacional

e nas dificuldades em relação à aprendizagem. É importante o entendimento de que a escola

deve apresentar-se como um espaço educativo, fundamentada no trabalho docente e na

correlação do conhecimento prévio do aluno e do saber científico.

Nessa rede de relações, é necessário observar o desejo do saber e o gosto pela construção

do saber em diferentes contextos de investigação. É preciso ressaltar que a escola, por ser um

espaço dinâmico, está relacionada aos conflitos de ordem política, cultural e social entre os

sujeitos, resultante, entre outras coisas, do estímulo, incentivo ou potencialização recebidas ao

longo de sua experiência. Assim, é preciso levantar questões a respeito do que se pensa e o que

se faz na educação.

Fonseca (2010) postula a seguinte afirmação:

[...] A sala de aula é um espaço de experiências. Os saberes, os valores

culturais e políticos e os hábitos são construídos e reconstruídos na escola por

sujeitos históricos, que trazem consigo um conjunto de crenças, significados,

valores, atitudes e comportamentos construídos nos vários espaços de

vivência, antes e durante o processo de escolarização. Isso tem várias

implicações (FONSECA, 2010, p.400).

Por outro lado, os conflitos ideológicos nos permitem diferentes olhares tanto na

organização dos níveis de ensino quanto aos objetivos voltados ao desenvolvimento de atitudes

crítica da realidade e das diferenças, sobre o qual se repercutem no posicionamento pessoal frente

às exigências da sociedade e do campo educacional. Além dessas tendências apontadas, é preciso

48

considerar o processo de incorporação dos conceitos científicos influenciados pelas

representações pessoais que o sujeito possui e na incorporação influenciada pelos conceitos

cotidianos constituídos a partir de elaborações e resoluções de situações problemas da vida

cultural.

Explicitando essa ideia numa formulação mais complexa é preciso que se estabeleça nos

currículos um plano que possibilite a junção entre o conteúdo e a realidade de alunos e alunas,

com o intuito de que esse conhecimento possa ser constituído de manifestações internas e

externas: validação do conhecimento, função político-pedagógica da comunidade escolar,

objetivos da educação no contexto social, cultural e tecnológico. Pode-se, pois, afirmar que

para viabilizar a democratização do ensino, é preciso estabelecer significados na relação entre

o sujeito e a sociedade, para atingir os sentidos na transmissão e assimilação dos saberes.

Quando se fala em termos de “continuidades” e “mudanças”, procuramos compreender

os princípios do processo de aprendizagem nas situações representativas que abrange todas suas

modificações, bem como aos que procede em direções contínuas nas situações de

aprendizagem, contudo, vale destacar que a educação não se limita apenas à escola, vez que o

processo educativo se dá dentro e fora do cenário escolar.

Sob este ângulo, é preciso alcançar um equilíbrio entre o conhecimento adquirido no

espaço escolar e os aspectos da realidade do/a aluno e aluna, trazendo situações que lhes

permitam desenvolver atitudes conceituais e as relações que se estabelecem entre si. Essa busca

envolve ações que busca favorecer a participação mediante o seu desenvolvimento social e

cultural. Nessa lógica, é importante estabelecer situações favoráveis para a aprendizagem e que,

necessariamente, atendam às necessidades dos/as alunos e alunas, auxiliando-as no

desenvolvimento de habilidades significativas no ato de aprender, da mesma forma que

estabeleça a atuação efetiva mediante as mudanças na atualidade.

A aprendizagem desenvolvida através de atividades prazerosas e envolventes, portanto,

lúdicas, permitem a inserção de habilidades intelectuais, da mesma forma que promove o

processamento das informações através da aplicabilidade espontânea do saber aprendido. Por

este prisma, as atividades lúdicas desenvolvidas na sala de aula, poderão favorecer a

participação de forma efetiva frente as suas descobertas com vistas no prazer de aprender. É

assim que, de acordo com Machado (1995)

Brincar é nossa primeira forma de cultura. A cultura é algo que pertence a

todos e que nos faz participar de ideias e objetivos comuns. A cultura é o jeito

de as pessoas conviverem, se expressarem, é o modo como as crianças

brincam, como os adultos vivem, trabalham, fazem arte. Mesmo sem estar

brincando com o que denominamos “brinquedo” a criança brinca com a

cultura.

49

No brincar, a criança lida com sua realidade interior e sua tradução livre da

realidade exterior[...] (MACHADO, 1995, p.21, 22)

Nesse contexto, a inserção do lúdico na relação pedagógica envolvem aspectos

vinculados a realidade dos/as alunos e alunas, ou seja, a brincadeira é algo que faz parte do

universo cultural da criança, de um conjunto de interações consigo mesmo, com os outros e

com o mundo. Além disso, afirma Machado (1995, p.23) “que antes do brincar com os objetos,

vem o brincar consigo mesmo e com as pessoas. Antes mesmo de ser capaz de segurar algo nas

mãos, o bebê já brinca de abrir e fechar os olhos, fazendo o mundo aparecer e desaparecer”.

Em outros termos, trata- se de considerar a importância da ludicidade na formação dos

sujeitos, visando o favorecimento de situações propícias a todo procedimento que envolve a

aprendizagem e das relações constituídas dentro e fora do espaço escolar. É preciso discutir,

pois, sobre a apropriação do conhecimento através das experiências proporcionadas pelo

desenvolvimento da atividade lúdica, sob a perspectiva de serem considerados os

conhecimentos que os/as alunos e alunas já possuem. A atenção que se dá nessa reflexão está

no reconhecimento das necessidades e características próprias de cada vivência, o que contribui

de forma preponderante para que a escola garanta espaços de discussões coletivas e desperte o

interesse dos/as alunos e alunas a partir da compreensão diante dos níveis de aprendizagem e

das dificuldades partilhadas. Portanto, é do contexto sociocultural, no sentido de responder as

particularidades de cada aluno e aluna.

Nesse contexto os atos de ensinar/ aprender ganham entornos significativos no

desenvolvimento de uma consciência global, que respeite as singularidades e que resulte em

ações que produzam a construção de novos saberes. Ação e prática estabelecem nova forma de

relação do sujeito com os objetos, imprimindo-lhes identidades próprias e compreendendo o

sentido da necessidade de ampliar o conhecimento do sujeito nas mais diversas dimensões e

significações.

Essas referências encaminham-nos para a reflexão sobre aprendizagem matemática e

sua relação com os aspectos da ludicidade. A Matemática apesar de estar presente

constantemente na vida das pessoas é algo estranho à maioria daqueles que não a compreendem,

chegando mesmo a temer ou odiá-la. Habitualmente, são adotadas práticas de ensino centradas

na abordagens dos conteúdos de forma descontextualizada, com aulas expositivas e exercícios

repetitivos, reprodução de regras e fórmulas, favorecendo o desinteresse de parte significativa

do alunado. Será que a utilização do lúdico nas aulas poderá melhorar o processo de ensino e

aprendizagem da Matemática?

50

As dificuldades encontradas por alunas e alunos, professoras e professores no processo

de ensino e aprendizagem de Matemática são muitas e conhecidas. Se por um lado alunos e

alunas não conseguem entender a matemática que a escola ensina, muitas vezes sendo

reprovado, por outro, mesmo sendo aprovado, sente dificuldades em fazer relações daquilo que

estudou na escola com o dia a dia.

Nesta perspectiva o lúdico poderá trazer benefícios ao desenvolvimento de alunas e

alunos na medida em que os mesmos expressem o que pensam de forma confiante e que aos

poucos percam o medo de errar, caminho esse necessário para se chegar ao acerto. Durante o

brincar, o problema matemático não é aplicado de forma restrita, em uma direção única mas

apresenta um universo de situações que envolvem coletivamente todos os envolvidos, de forma

que os processos e problemas possam ser discutidos e validados, concebendo a ligação entre a

atividade lúdica e a construção do saber matemático, tema a ser discutido no próximo item

desse capítulo.

2.2 Aprendizagem Matemática e Ludicidade: Contextos, Desafios e Possibilidades

Este item apresenta uma reflexão teórica acerca da aprendizagem matemática e a

relevância e possibilidades da ludicidade nessa aprendizagem matemática. Parte-se do

pressuposto de que o uso da ludicidade no ensino de Matemática pode contribuir para a

motivação para a aprendizagem nessa área de ensino a partir do desenvolvimento de uma

relação prazerosa com o aprender. Essa relação pode favorecer a autoconfiança de alunos e

alunas e a potencialização da sua capacidade de resolver problemas, uma vez que a Matemática

é uma disciplina escolar que também focaliza a resolução de problemas.

Não há dúvidas quanto à importância da Matemática no currículo escolar, considerando-

se os seus saberes práticos e instrumentais que se encontram na vida cotidiana da sociedade,

bem como os aspectos de desenvolvimento intelectual, como o raciocínio, a lógica, a exatidão

e a objetividade, a ela associada e muito valorizada na educação escolar. No entanto a

construção dessa relevância da Matemática tem ao longo da história de Educação se revestido

de uma reificação, utilizada como instrumento de seleção, exclusão e hierarquização, com

produção de fracasso para parte significativa de alunos e alunas. A problemática do fracasso

escolar em Matemática atinge índices que contribuem para o fracasso da educação escolar como

um todo em todos os níveis de ensino, conforme aponta Araújo (2005).

51

Nesse contexto destaca-se os índices de desempenho em Matemática resultantes das

avaliações institucionais de índices de aprendizagem, tais como PISA e Prova Brasil. O PISA-

(Programme for International Student Assessment/- Programa Internacional de Avaliação de

Estudantes ) - é uma “iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15

anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos

países.”, tendo aplicação trienal. Os resultados desta avaliação na edição de 2012 (5ª

participação do Brasil) apontam que este é o país com maior avanço absoluto na proficiência

em Matemática, comparando-se os dois últimos exames nessa área do conhecimento entre 2003

(356 pontos) e 2012 (391 pontos). O país também apresentou a terceira maior evolução no

desempenho global do exame até 2009. (BRASIL, 2015). Em 2000 a pontuação do país foi de

334. No entanto, essa melhoria ainda está aquém da média geral de desempenho, sendo que

apesar da evolução do país nas últimas edições, estudantes brasileiros e brasileiras ainda

ocupam as últimas posições do ranking do Pisa.

Em relação à Prova Brasil, trata-se de uma avaliação de desempenho que compõe o ideb

(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), juntamente com outros indicadores (tais

como a taxa de rendimento escolar (aprovação), obtida a partir do Censo Escolar, realizado

anualmente pelo Inep. Tratando-se de desempenho em Matemáticas nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, os dados mostram que, apesar da evolução do índice de desempenho de

estudantes nas últimas quatro edições da Prova Brasil, tem ocorrido uma desaceleração no

crescimento, pois ainda que o índice de desempenho em Matemática para o 5º ano tenha

passado de 22% (em 2007) para 34,6% (em 2013), mas na comparação com 2011 (33%), o

crescimento foi menos de dois pontos percentuais. (BRASIL, 2015)

No contexto desse quadro problemático da aprendizagem matemática, vários fatores são

fontes de estudos acadêmicos e embates e debates políticos e pedagógicos. Dentre estes as

questões referentes: à formação docente, às concepções relativas à disciplina Matemática e aos

seus saberes, às metodologias de ensino e as formas de aprender, sendo esta última a dimensão

em que se insere nosso trabalho, na busca de compreender as possibilidades do lúdico na

aprendizagem matemática.

Segundo Brasil (2001), historicamente, a prática mais frequente no ensino da

Matemática, conforme apontam autores e autoras desse campo de estudo, tem sido aquela em

que professor ou professora apresentava (ou apresenta) o conteúdo oralmente, partindo das

definições, exemplos, demonstrações de propriedades seguidas de exercícios de fixação e de

aplicação, consequentemente propondo que o aluno e aluna aprendam pela reprodução. Essa

52

prática de ensino tem se mostrado ineficaz, pois enfatiza a memorização pela repetição e não a

compreensão e interpretação dos dados/conteúdos e seus contextos de produção e uso.

Nessa perspectiva, Nacarato, Mengali e Passos (2009, p.32) destacam que

As professoras polivalentes, em geral, foram e são formadas em contextos

com pouca ênfase em abordagens que privilegiem as atuais tendências

presentes nos documentos curriculares de matemática. Ainda prevalecem a

crença utilitarista ou a crença platônica da matemática, centradas em

cálculos e procedimentos.

Desse modo, as novas perspectivas e abordagens teórico-metodológicas no contexto da

Educação Matemática, tais como a Alfabetização Matemática, a Etnomatemática, Modelagem

Matemática, entre outras, continuam a serem ignoradas na maioria do contexto de formação e práticas

relativas ao ensino e aprendizagem matemática, apesar do avanço das últimas décadas.

Grando (2000) afirma nessa direção que “a matemática se tornou, para os alunos das

escolas, “fazer contas”, seguir fórmulas e regras de soluções pré-determinadas, ou seja, uma

ciência pronta, acabada e incontestável”. As práticas de ensino se constituem, em sua maioria

como práticas reprodutivas, mecanizadas, amorfas e isentas de contextualização, dinamismo,

sentido e de ludicidade. Melo(2002) nos apresenta a esse respeito dois pontos importantes

[...] talvez, o fato do não envolvimento com matemática ocorra pelo próprio

tipo de formação dos educadores, que leva muitos deles a fugir da questão da

matemática por não terem recebido uma orientação sólida em termos de

conteúdo matemático. Um outro fator desencadezador dessa lacuna é a idéia

(sic) de que alfabetizar é ensinar a ler e escrever a língua materna, ficando,

dessa forma, privilegiada na escola a área da língua portuguesa em detrimento

da matemática[...] a atividade com crianças pré-escolares está centrada na

figura do professor, visto que é ele quem decide quando e como elas devem

aprender. (MELO, 2002, p.16)

Nesse enfoque, Melo (2002), nos chama a atenção para o desenvolvimento ainda

comum, na escola de Educação Infantil, de atividades envolvendo a memorização de algarismos

isolados e a preocupação com a posição correta do seu traçado. Muitas dessas práticas reforçam

o ato de repetir e memorizar, e em consequência disso, o espaço torna-se pouco para que a

criança possa construir os conceitos matemáticos. Por vezes a própria professora ou professor

não se atenta para a relevância de favorecer o ambiente de alfabetização matemática, sob a

perspectiva de desafiar a criança a solucionar situações matemáticas significativas. Faz-se

necessário ressaltar-se que esse fazer pedagógico se prorroga para os anos iniciais do Ensino

Fundamental (identificadas no trabalho da autora como séries iniciais do Ensino Fundamental)

na qual os conteúdos trabalhados na Matemática se apresentam numa sequência direta e

descontextualizada.

53

Nacarato, Mengali e Passos (2009) apontam a demanda por transformações contínuas,

a partir de perspectivas contemporâneas que reconfigurem o ensinar e aprender Matemática e,

consequentemente, as concepções e práticas educacionais na escola. Na entendimento das

referidas autoras

Os relatórios de exames externos (PISA, ENEM, SAEB) sobre as

competências matemáticas, divulgados recentemente, evidenciam que as

competências de cálculo não bastam, pois não atendem às exigências da

sociedade contemporânea. O mundo está cada vez mais matematizado, e o

grande desafio que se coloca à escola e aos seus professores é construir um

currículo de matemática que transcenda o ensino de algoritmo e cálculos

mecanizados, principalmente nas séries iniciais, onde está a base da

alfabetização matemática. (NACARATO, MENGALI e PASSOS, 2009,

p.32)

Ao se referir ao termo “matematizar”, as autoras citadas tomam como referência a

definição de Skovsmose (2001, p.51) apud Nacarato, Mengali e Passos (2009, p.32) para quem

“Matematizar significa, em princípio, formular, criticar e desenvolver maneiras de

entendimento. Ambos, estudantes e professores devem estar envolvidos no controle desse

processo, que, então, tomaria uma forma mais democrática.”

A alfabetização matemática, conceito apontado por Melo, bem como por Nacarato,

Mengali e Passos (2009), na perspectiva de composição de um ambiente propício para

aprendizagem matemática, tem uma relativa trajetória de estudos no em sua defesa como

possibilidade de repensar a prática de ensino de Matemática, a exemplo dos trabalhos de

Danyluk. Fundadora da Sociedade Brasileira de Educação Matemática/SBEM, a autora defende

dissertação de Mestrado em Educação Matemática pela UNESP, em 1988, intitulada “Um

estudo sobre o significado da alfabetização matemática” e tese pela UFRGS, em 1997, com o

tema “Alfabetização Matemática: a escrita da linguagem matemática no processo de

alfabetização”. Para a mesma a alfabetização matemática “diz respeito aos atos de aprender a

ler e a escrever a linguagem matemática, usada nas séries iniciais da escolarização.”

(DANYLUK, 1998, p.20).

Também Nacarato, Mengali e Passos (2009) compartilham suas posições acerca da

alfabetização matemática a partir das ideias de Skovsmose (2001), que defende que “A

alfabetização não é apenas uma competência relativa à habilidade de leitura e escrita, uma

habilidade que pode ser simultaneamente testada e controlada; possui também uma dimensão

crítica. (SKOVSMOSE, 2001, p.66 apud NACARATO, MENGALI e PASSOS, 2009, p.32 )”

Segundo Nacarato, Mengali e Passos (2009), na perspectiva crítica de Skovsmose

(2001) a alfabetização matemática deve pautar-se num “[...]projeto de possibilidades que

54

permitam às pessoas participar no entendimento e na transformação de suas sociedades e,

portanto, alfabetização matemática viria a ser um pré-requisito para emancipação social e

cultural. (SKOVSMOSE, 2001, p.67 apud NACARATO, MENGALI e PASSOS (2009, p.33)

Nesse contexto, podemos conceber a alfabetização matemática como uma condição

necessária ao processo de aprendizagem, uma vez que possibilita não só a interpretação dos

dados, mas principalmente, entender, aprofundar e utilizar o conhecimento construído, a fim de

estabelecer situações oportunas para o desenvolvimento da leitura e escrita, bem como para a

interpretação e relação dos conhecimentos matemáticos com seu contexto sociocultural de

produção.

É preciso considerar o papel da mediação como favor de potencialização da

aprendizagem, mediação esta que se dá pelas vias das linguagens. Articular as linguagens que

coabitam na nossa vida em sociedade no processo educacional que se dá na escolarização é

trazer para esse âmbito a perspectiva de considerar alunos e alunas como sujeitos ativos da

aprendizagem e ao mesmo tempo favorecer a transformação das concepções e práticas da

educação escolar e seus reflexos na sociedade. Nessa mediação de conceitos, é importante

ressaltar que educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele

que professor ou professora considera mais correto, mas é favorecer em alunos e alunas a auto

percepção do seu potencial nas diversas dimensões da sua vida, é contribuir para a construção

de uma relação afetiva positiva com a aprendizagem, de modo especial com a educação

matemática, cuja trajetória histórica herdou os ranços de uma perspectiva ideológica de

educação dicotômica, dualista e excludente.

Assim, faz-se necessário salientar a relação intrínseca entre a linguagem vernácula e a

linguagem matemática e a importância do diálogo entre essas duas na prática de ensino e no

processo de aprendizagem, diálogo este mediado pela leitura de mundo a partir dos múltiplos

repertórios socioculturais dos diferentes sujeitos da educação. Nessa ação qualquer área de

conhecimento requer a leitura como instrumento de aprendizagem. Acreditamos que as

condições de letramento matemático incorporam certa autonomia no ato de aprender, pois exige

daquele que ler buscar novas compreensões. É preciso propor um ensino de Matemática

mediante atividades relacionadas à observação, a compreensão e a contextualização de fatos da

vida cotidiana.

De acordo com Smole (2000)

O ato de ler está fundamentado nos atos humanos de compreender e

interpretar o mundo, pois deve ser uma combinatória de experiências,

informações, leituras e imaginações. A escola deveria tomar para si a

responsabilidade de ensinar leitura para os alunos nessa perspectiva, e isso

55

poderia ser feito em todas as áreas, inclusive em matemática, uma vez que o

discurso matemático pode ser tomado como a articulação ou a

inteligibilidade possível das idéias(sic) matemáticas que o homem

compreende, interpreta e comunica em uma linguagem. (SMOLE, 2000, p. 72)

Sobre esse aspecto Nacarato, Mengali e Passos (2011) aponta que não se pode negar

que o Brasil nesses últimos trinta anos tem promovido algumas reformas nos currículos de

Matemática. Destaca, por exemplo, que os estados brasileiros por exemplo, na década de 1980,

apresentou propostas curriculares voltadas para o atendimento da necessidade interna do país e

buscou acompanhar o movimento mundial de reformas educacionais. É preciso destacar que os

currículos de Matemática nesse período apresentam, em grande parte dos países, alguns

aspectos em comum ou, porque não dizer inéditos, em relação a Matemática, tais como: a

alfabetização matemática, a aprendizagem com significado e a linguagem matemática.

Nesse sentido, os PCN (BRASIL, 2001) também evidenciam essas mudanças

significativas ocorridas a partir dos anos 80 em relação a perspectiva do ensino de Matemática,

com destaque para as recomendações do documento “Agenda para Ação”, elaborado pelo

National Council of Teachers of Mathematics — NCTM —, dos Estados Unidos, em 1980, que

apresentou recomendações para o ensino de Matemática. O referido documento enfatiza a

resolução de problemas como foco do ensino da Matemática, bem como a relevância de

aspectos sociais, antropológicos, linguísticos em sua aprendizagem, contribuindo para o

fortalecimento de novos rumos nas discussões curriculares para esta área de ensino.

Segundo o documento em tela (BRASIL, 2001) as ideias disseminadas a partir desse

documento influenciaram as reformas que ocorreram mundialmente, a partir de então, pois as

propostas produzidas em diferentes países a partir de desse momento (constituindo a fase

1980/1995), apresentaram pontos de convergência, no que se refere a uma nova configuração

teórico-metodológica. Como exemplos de encaminhamentos nesse sentido os PCN (BRASIL,

2001, p. 22) destacam

direcionamento do ensino fundamental para a aquisição de competências

básicas necessárias ao cidadão e não apenas voltadas para a preparação de

estudos posteriores; importância do desempenho de um papel ativo do aluno

na construção do seu conhecimento; ênfase na resolução de problemas, na

exploração da Matemática a partir dos problemas vividos no cotidiano e

encontrados nas várias disciplinas; importância de se trabalhar com um amplo

espectro de conteúdos, incluindo-se, já no ensino fundamental, elementos de

estatística, probabilidade e combinatória, para atender à demanda social que

indica a necessidade de abordar esses assuntos; necessidade de levar os alunos

a compreenderem a importância do uso da tecnologia e a acompanharem sua

permanente renovação.

56

Percebe-se nas referidas propostas encaminhamentos para a potencialização de abordagens de

contextualização sociocultural, indícios de interdisciplinaridade e da “Pedagogia da Autonomia” na

perspectiva defendida por Paulo Freire (FREIRE, 1996), na qual o protagonismo discente soma-se a

uma postura docente socioculturalmente articulada sobre “o que ensinar”, “a quem ensinar”, “para que

ensinar”, “como ensinar” e em qual contexto se dão as ações em questão. Trata-se de uma via de

fortalecimento do empoderamento da perspectiva da Educação Matemática e as novas tendências

teórico-metodológicas no ensino de Matemática.

Nesse contexto, algumas dessas ideias vem sendo crescentemente discutidas, incorporadas por

propostas curriculares de Secretarias de Estado e Secretarias Municipais de Educação, bem como tem

alavancado ações de pesquisas e extensão, além de debates e embates no campo dos encaminhamentos

em políticas públicas no Brasil. Apesar da resistência à novas possibilidades ainda muito presente nas

práticas de ensino em Matemática, o que mantém a predominância de práticas que dificultam a

aprendizagem matemática, há avanços nos estudos e em experiências de práticas que incorporam as

novas tendências em Educação Matemática. Podemos destacar como evidência desse fato a ampliação

significativa das produções acerca do ensino e da aprendizagem matemática conferida pela criação dos

mestrados em Ensino de Ciências e Matemática e a presença crescente de abordagens acerca das novas

e diversificadas tendências teórico-metodológicas do campo, tais como sobre etnomatemática,

modelagem matemática, resolução de problemas, aspectos socioafetivos na aprendizagem, entre outros.

Nesse contexto, vale destacar o Programa Etnomatemática, que segundo Brasil (2001, p. 23)

[...]contrapõe às orientações que desconsideram qualquer relacionamento

mais íntimo da Matemática com aspectos socioculturais e políticos — o que a

mantém intocável por fatores outros a não ser sua própria dinâmica interna.

Do ponto de vista educacional, procura entender os processos de pensamento,

os modos de explicar, de entender e de atuar na realidade, dentro do contexto

cultural do próprio indivíduo. A Etnomatemática procura partir da realidade e

chegar à ação pedagógica de maneira natural, mediante um enfoque cognitivo

com forte fundamentação cultural.

Na perspectiva supracitada, vale ressaltar que contextualizar o ensino e a aprendizagem

matemática nos aspectos socioculturais e políticos possibilita entender a relevância da

ludicidade no ensino e na aprendizagem, considerando-se que a ludicidade é um aspecto

relevante presentes nas diversas práticas sociais do ser humano nas múltiplas fases de sua vida.

As diversas formas de brincadeiras, jogos e demais atividades culturais e/ou artísticas estão

presentes nas diversas dimensões da vida em sociedade, inclusive na forma de lidar com os

diferentes conhecimentos nas diferentes áreas de estudo. A esse respeito podemos citar a

dissertação de Santos (2015), intitulada “Pintando o Sete: Matemática e Artes nos Anos Iniciais

do Ensino Fundamental”, na qual evidencia-se a relação entre Matemática e Artes e o aspecto lúdico

57

e produtivo do uso das artes no ensino da Matemática. Também Santos (2006) já destacava a

importância da arte como instrumento de aproximação entre a ludicidade e a educação.

Pensando nas possibilidades de relação entre o lúdico e a Matemática, relação mediada

por uma dimensão da Matemática como contexto de linguagens, concepções e práticas que dialogam

com outras, de semelhante multiplicidade, entendemos a pertinência do pensamento de Mendes,

Cunha e Teles(2012) sobre as possibilidades e pertinência de se ensinar Matemática na perspectiva

de interpretação textual mediante a utilização da ludicidade, esta como via potencializadora da

aprendizagem. Segundo as referências apontadas

É possível ainda ensinar matemática e interpretação textual ao mesmo tempo

mediante a utilização de estratégias lúdicas, em situações que requeiram

conhecimentos relacionados a grandezas e medidas ou na identificação de

dados em tabelas ou textos, para solucionar problemas. Por outro lado, ao

construir uma história matemática, por exemplo, a criança faz uso de recursos

próprios da linguagem, para compreende a operação e expressar seu resultado.

São inúmeras as possibilidade que se tem de imbricar conhecimentos, tendo o

ensino da língua materna como pano de fundo. (MENDES, CUNHA e

TELES, 2012, p. 08)

Apresentam-se aí dois valores importantes no desenvolvimento da aprendizagem

Matemática: a Alfabetização Matemática, em que se estabelece a condição necessária para que

o aluno e a aluna possam fazer a leitura interpretativa dos problemas matemáticos, desenvolver

ação independente sobre os fatos e interagir uns com os outros, socializando o conhecimento

construído. O outro fator é a ludicidade, que favorece novas possibilidades educativas de

aproximação entre o conhecimento matemático escolar e os repertórios socioculturais dos

alunos, alunas e seus grupos sociais, conferindo uma dimensão contextualizadora, condizente

com recursos próximos a sua realidade e dar um significado no ato de aprender a Matemática.

De acordo com Smole, Diniz e Milani (2007, p.9) quando nos referimos as aulas de matemática,

a aplicação de jogos torna significativas e prazerosas as ações de aprender e ensinar. Essa

mudança pode contribuir para possíveis alterações nas concepções e práticas educacionais que

ainda mantém fortes indícios do modelo de ensino tradicional conservador, que se arvora(va)

na reprodução do livro didático e na padronização de exercícios repetitivos como principais

recursos de aprendizagem.

Assim, o brincar pode ser visto como recurso mediador no processo ensino e

aprendizagem, tornando-o mais fácil, enriquecendo a dinâmica das relações sociais na sala de aula e

possibilitando o fortalecimento da relação entre o professor e os alunos. A partir da perspectiva

didática buscamos identificar a relação entre o ensino da Matemática e o uso da ludicidade no

58

processo de aquisição do conhecimento, ou seja, as possibilidades de utilização do lúdico na

construção de novas práticas educativas.

Vale ressaltar, que a dinâmica do brincar no fazer pedagógico deve apresentar sempre

um caráter desafiador para o aluno e aluna e contar com uma organização com objetivos

propostos pelo educador ou educadora. Nesse sentido, observa- se a importância de novas

situações de aprendizagem, de modo que as discussões coletivas possam desenvolver novos

interesses como respeito, senso cooperativo e críticas, ou seja, nas relações interpessoais o

desenvolvimento cognitivo é desafiado a partir do pensar o que fazer e como fazer nas situações

propostas. Smole (2000) afirma que:

Sem a interação social, a lógica da criança não se desenvolve plenamente,

porque é nas situações interpessoais que a criança se sente obrigada a ser

coerente. Sozinha, a criança poderá dizer e fazer o que quiser pelo prazer e

contingência do momento, mas em grupo, diante de outras pessoas, ela sentirá

a necessidade de pensar naquilo que vai dizer, que vai fazer, para que possa

ser compreendida. (SMOLE, 2000. p.135)

A interação social é um meio fundamental para a transmissão e (re)construção do

conhecimento social, histórico e culturalmente, onde poderá possibilitar o sujeito estabelecer

relações necessárias entre outras pessoas seja por meio do conhecimento dado na escola e/ou

com o que ele constrói em seu meio: casa, rua, igreja, entre outros. Sabemos que ninguém vive

isoladamente e, portanto, não podemos pensar em uma aprendizagem significativa sem fazer

referência ao processo de socialização. Há uma multiplicidade de possibilidades de mediação

para a construção do conhecimento matemático, porém destacamos o quanto o trabalho didático

com o lúdico poderá facilitar no processo de desenvolvimento da aprendizagem.

Nessa perspectiva, a motivação promovida pelas atividades lúdicas, pode aguçar a

curiosidade, a criatividade, a atividade intelectual e a participação do aluno ou da aluna na

aprendizagem matemática. Ainda que a princípio o/a mesmo/mesma não demonstre interesse,

ao interagir com os demais colegas, será instigado a participar, de forma que essa participação

ativa poderá, pela ação prazerosa e desafiadora contribuir para a melhoria da aprendizagem.

Nessa condição, acreditamos ser pertinente trabalhar a utilização da ludicidade no

ensino e na aprendizagem da Matemática, podendo ser esta uma prática pedagógica construtiva,

o que significa dizer que essa tendência busca favorecer o processo de construção do

conhecimento e, a partir daí fazer com que o aluno atinja os níveis mais avançados de

desenvolvimento. Entre as atividades lúdicas possíveis um dos destaques na Matemática são

os jogos. Segundo Tahan (1965), para que os jogos produzam os efeitos desejados na

aprendizagem é preciso que sejam, de certa forma, organizados e coordenados pelos educadores

59

e educadoras, partindo do princípio de que as crianças pensam diferente dos adultos e que é

preciso observar as questões apresentadas a fim de auxiliá-las a construir regras e a pensar de

modos que elas entendam.

De acordo com os PCN (BRASIL, 2001), em estágio mais avançado é importante

utilizar convenções e regras no processo de ensino e aprendizagem. Essa compreensão favorece

a integração dos alunos a situações mais complexas, pois neles o fazer e o compreender

constituem faces de uma mesma moeda. As situações são consideradas importantes justamente

por serem elementos estimuladores do desenvolvimento e da responsabilidade de se cumprir as

normas estabelecidas.

São ainda os PCN de Matemática (BRASIL, 2001, p. 48-49) que apontam para a

importância do lúdico para a formação da criança, de modo específico, destaca o jogo como

artefato pedagógico no ensino de Matemática, sendo, além de um objeto sociocultural em que

a Matemática está presente, uma atividade natural no desenvolvimento dos processos

psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande

exigências, normas e controle. Segundo a referência citada

No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imaginado, desenvolve-

se o autoconhecimento — até onde se pode chegar — e o conhecimento dos

outros — o que se pode esperar e em que circunstâncias. Para crianças

pequenas, os jogos são as ações que elas repetem sistematicamente mas que

possuem um sentido funcional (jogos de exercício), isto é, são fonte de

significados e, portanto, possibilitam compreensão, geram satisfação, formam

hábitos que se estruturam num sistema. Essa repetição funcional também deve

estar presente na atividade escolar, pois é importante no sentido de ajudar a

criança a perceber regularidades. Por meio dos jogos as crianças não apenas

vivenciam situações que se repetem, mas aprendem lidar com símbolos e a

pensar por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a

ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de

linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem a

regras e dar explicações. Além disso, passam a compreender e a utilizar

convenções e regras que serão empregadas no processo de ensino e

aprendizagem. Essa compreensão favorece sua integração num mundo social

bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com futuras

teorizações. Em estágio mais avançado, as crianças aprendem a lidar com

situações mais complexas (jogos com regras) e passam a compreender que as

regras podem ser combinações arbitrárias que os jogadores definem;

percebem também que só podem jogar em função da jogada do outro (ou da

jogada anterior, se o jogo for solitário). Os jogos com regras têm um aspecto

importante, pois neles o fazer e o compreender constituem faces de uma

mesma moeda.

Como se pode ver, os jogos como artefatos lúdicos e pedagógicos na perspectiva apresentada

na referência citada, possibilitam o desenvolvimento de múltiplas dimensões da formação humana, tais

como a dimensão social, afetiva, cognitiva, cultural, entre outras, sendo uma relação que favorece o

60

prazer e a criatividade e a construção de limites entre o convencional e as inovações, potencializando o

raciocínio lógico, conforme aponta Brasil (ibdem)

A participação em jogos de grupo também representa uma conquista

cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o

desenvolvimento do seu raciocínio lógico. Finalmente, um aspecto relevante

nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno,que gera interesse

e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar,

cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos

diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver.

Considerando a importância dos jogos para a formação humana, conforme indiciado pelos PCN

e fundamentado por diversos referenciais teóricos da educação apresentados ao longo deste texto,

importante frisar a predominância dos usos desses jogos na ensino e na aprendizagem matemática e a

dimensão lúdica agregada ao desenvolvimento destes. Em relação a estes jogos, especialmente aos

trabalhados em sala de aula, Brenelli (2003), além de enfatizar a existências de regras em seu uso,

os classificam em três tipos: a) Jogos estratégicos, nos quais são trabalhadas as habilidades que

compõem o raciocínio lógico. Com eles, os alunos e alunas leem as regras e buscam caminhos

para atingirem o objetivo final, utilizando estratégias para isso; b) Jogos de treinamento, os

quais são utilizados quando o professor ou professora percebe o esforço de alguns alunos e

alunas em um determinado conteúdo e quer substituir as cansativas listas de exercício. Neles,

quase sempre o fator sorte exerce um papel preponderante e interfere nos resultados finais; c)

Jogos geométricos, que tem por objetivo desenvolver a habilidade de observação e o

pensamento lógico. Como diz a própria denominação, com estes trabalha-se figuras

geométricas, semelhanças de figuras, ângulos e polígonos.

Diante disso, é preciso aqui discorrer sobre a importância que os jogos estratégicos,

jogos de treinamento e jogos geométricos apresentam no desenvolvimento das brincadeiras de

roda e sua relação com a Matemática. O aprendizado poderá ser bastante estimulado,

possibilitando a prática de atividades que permitem alunos e alunas constituir conceitos sobre

a forma em que se apresentam, organizam, contam e se relaciona com os outros e com os

objetos. Nessa relação, a Matemática se torna mais divertida e dinâmica, na qual, as atividades

favorecem não só a participação do aluno e da aluna, mas principalmente sua percepção sobre

as representações estabelecidas nos conteúdos matemáticos.

É interessante perceber que ao cantar músicas e até mesmo a forma em que se organiza

as brincadeiras, é possível trabalhar conteúdos matemáticos de forma atrativa e significativa

para alunos e alunas, pois a maneira como são expressados os movimentos do corpo pode

possibilitar o trabalho com o espaço e a noção do tempo, assim como as noções de lateralidade,

61

ligadas a distinção do que seja direita e esquerda; frente e traz, dentro e fora e até noções de

jogos geométricos, como exemplo na cantiga “ o meu chapéu” na qual pode ser construído um

chapéu para que as crianças possam e reconhecer a forma geométrica que ele representa.

Segundo os PCN (BRASIL, 2001), os conteúdos de Matemática para o Primeiro Ciclo

do Ensino Fundamental, traz o trabalho com atividades que permitem uma aproximação do

aluno com as operações, os números, as medidas, as formas e espaço e a forma como as

informações são organizadas, sobre as quais sejam estabelecidos uma ligação dos

conhecimentos com o que ele chega no espaço escolar. Assim, apresenta a sequência de

conteúdos conceituais e procedimentais como: Números Naturais e Sistema de Numeração

Decimal, Operações com Números Naturais, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas, Tratamento

da Informação. Importante aqui destacar, alguns objetivos do ensino da Matemática nesse

Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental, segundo os PCN (BRASIL, 2001, p. 48)

a) Construir o significado do número natural a partir de seus diferentes

usos no contexto social, explorando situações-problema que envolvam

contagens, medidas e códigos numéricos; b) Estabelecer pontos de referência

para situar-se e deslocar- se no espaço, bem como para identificar e deslocar-

se no espaço, bem como para identificar relações de posição entre objetos no

espaço; c) Interpretar e fornecer instruções, usando terminologia adequada; d)

Identificar o uso de tabelas e gráficos para facilitar a leitura e interpretação de

informações e construir formas pessoais de registros para comunicar

informações coletadas.

No que se refere aos objetivos que ora apresentamos, buscamos tecer uma compreensão

sobre o ensino da Matemática e o desenvolvimento de habilidades de pensamento. Nessa

perspectiva, lançamos mão do uso do lúdico para favorecer situações que assegurem os o

alcance dos objetivos da Matemática no primeiro ciclo do Ensino Fundamental, alcance este

que, certamente, contribuirá para uma formação humanamente e mais qualificada, na qual se

articulam as dimensões cognitivas, psicossociais, entre outras.

Apesar da existência de referências acerca do lúdico no ensino, esta ainda não é uma

prática muito difundida e aceita na sala de aula. Entretanto, é preciso entender que o mundo

vive um tempo de acelerado desenvolvimento e diante dos processos de transformação e

(re)construção da realidade, faz-se necessário que a escola esteja aberta a incorporar novos

hábitos, comportamentos, percepções e demandas. Diante desse quadro, entrevemos a

possibilidade de utilizar os jogos matemáticos como um recurso didático que poderá conferir

eficiência, eficácia e prazer no processo de aprendizagem. Estando no ápice do

desenvolvimento científico e tecnológico e, em contrapartida, no desenvolvimento e

62

insatisfação dos alunos, a escola tem a função de procurar discutir novas estratégias, sobretudo

na construção do conhecimento e nos padrões de interação social.

É muito comum nos depararmos com situações em que o aluno consegue perfeitamente

dar um troco, cuidar de sua “mesada”, e por outro lado não consegue resolver problemas

envolvendo operações numéricas na escola. A aplicação de jogos trazendo situações do

contexto de alunos n e alunas, buscam, de certa forma, contemplar o conhecimento construído

fora da escola e que não pode ser ignorado em sala de aula. De acordo com Murcia (2005) o

jogo potencializa no ser humano interesse pelo conhecimento, desenvolvimento de atitudes

ativas, positivas e críticas, que favorecem sua integração gradativa na família, na escola e na

vida em sociedade.

É preciso considerar que as brincadeiras fazem parte da vivência do ser humano e é por

meio delas que se desenvolve o pensamento criativo e emocional, associados aos aspectos da

construção da sua identidade, do contexto educacional e das oportunidades de agir e interagir

em situações concretas de desenvolvimento.

Segundo Benjamin (1984)

[...] nada é mais adequado à criança do que irmanar em suas construções os

materiais mais heterogêneos- pedras, plastilina, madeira, papel. Por outro

lado, ninguém é mais sóbrio em relação aos materiais do que crianças: um

simples pedacinho de madeira, uma pinha ou uma pedrinha reúne em sua

solidez, no monolitismo de sua matéria, uma exuberância das mais diferentes

figuras. (BENJAMIN, 1984, p. 69)

Desse modo, as atividades lúdicas, poderão conduzir oportunidades de alunos e alunas

desenvolverem uma relação positiva e familiar na aquisição do conhecimento matemático, de

forma que vai adquirindo autoconfiança e a efetiva participação na construção do seu próprio

saber, ou seja, analisando suas descobertas, questionando e superando suas dificuldades.

Winnicott (1975) afirma que “[...] é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança

ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral[...]”. Em termos gerais, o

brincar é essencial a toda atividade humana, pois, consiste em sua essência concepções

construídas em diferentes contextos sociais.

Kishimoto (2008) diz que

O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a

relevância desse instrumento para situações de ensino- aprendizagem e de

desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende

de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos,

envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e

interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância

para desenvolvê-la( KISHIMOTO, 2008,p. 36)

63

Nesse contexto, a utilização do lúdico quando se integram com os conteúdos a

serem desenvolvidos proporciona momentos satisfatórios ao processo de aprendizagem

matemática. É necessário, contudo, perceber e refletir sobre as possibilidades de

superação das dificuldades, o desenvolvimento da autoconfiança e compreensão das

informações. Segundo Silva e Kodama (2004)

Num contexto de jogo, a participação ativa do sujeito sobre o seu saber é

valorizado por dois motivos. Um deles deve-se ao fato de oferecer uma

oportunidade para os estudantes estabelecerem uma relação positiva com a

aquisição de conhecimento, pois conhecer passa a ser percebido como real

possibilidade. Alunos com dificuldades de aprendizagem vão gradativamente

modificando a imagem negativa (seja porque é assustadora, aborrecida ou

frustrante) do ato de conhecer, tendo uma experiência em que aprender é uma

atividade interessante e desafiadora. Por meio de atividades com jogos, os

alunos vão adquirindo autoconfiança, são incentivados a questionar e corrigir

suas ações, analisar e comparar pontos de vista, organizar e cuidar dos

materiais utilizados. Outro motivo que justifica valorizar a participação do

sujeito na construção do seu próprio saber é a possibilidade de desenvolver

seu raciocínio. (SILVA; KODAMA, 2004, p.3)

A aplicação da aprendizagem matemática em contextos diferentes em que se era comum

desenvolver como a simples decoração ou resolução de exercícios de fixação, podem se

constituir em um novo ponto de partida, acerca de como superar as dificuldades enfrentadas

nesta disciplina e as concepções negativas que dela se tem. Tratamos nesse sentido fundamentar

o trabalho com o lúdico na construção do conhecimento e na forma de organizar situações que

propiciem o desenvolvimento cognitivo, na qual seja possível estabelecer a mediação entre o

saber matemático. Acreditamos que nessa relação é possível que os\as alunos e alunas

manifestem o seu pensamento fazendo suas próprias observações e estabelecendo de certo

modo um equilíbrio entre o concreto e os saberes matemáticos. Do mesmo modo, para situar os

desafios postos aos alunos e alunas é necessário proporcionar o acesso ao conhecimento em um

ambiente alfabetizador de matemática, criando condições para que a aprendizagem atenda às

necessidades e consequentemente o conhecimento adquirido possa estabelecer situações que

deem significado para os\as alunos\as.

Nesse contexto, entendemos que a interpretação é fundamental para a aprendizagem

matemática, pois poderá favorecer condições independentes para o desenvolvimento crítico e

social de alunos e alunas. Assim, convém ressaltar que o lúdico contribui para desenvolver o

interesse pelo conhecimento de forma efetiva, e, consequentemente por fazer parte de nossas

raízes e vivências socioculturais, propicia situações em que alunos e alunas sejam despertados

a pensar e encontrar respostas para os problemas que se manifestam no seu dia a dia,

favorecendo a efetivação de uma prática educacional contextualizada na qual seus sujeitos se

64

vejam como protagonistas do processo. Essa articulação do lúdico com o ensino e a

aprendizagem também favorece a interdisciplinaridade à medida em que potencializa e auxilia

o uso de múltiplas linguagens, das quais estes sujeitos fazem uso para se posicionar no mundo.

Nesse sentido, corrobora o pensamento de Cabral (2006) e Cunha e Silva (2012) para quem

[...] através dos jogos, é possível desenvolvermos no aluno, além de

habilidades matemáticas, a sua compreensão, a sua curiosidade, a consciência

de grupo, o coleguismo, o companheirismo, a sua autoconfiança e sua auto-

estima. Para tanto, o jogo passa a ser visto como um agente cognitivo que

auxilia o aluno a agir livremente sobre suas decisões fazendo com que ele

desenvolva além do conhecimento matemático também a linguagem, pois em

muitos momentos será instigado a posicionar-se criticamente frente a alguma

situação. (CABRAL,2006, p.19, 20)

Nessa perspectiva Cunha e Silva (2012) diz que

A Matemática lúdica é uma ferramenta essencial pronta a atender à

necessidade de elaborar pedagogicamente aulas com maior aproveitamento e

entretenimento, ajudando o aluno a analisar, compreender e elaborar situações

que possam resolver determinados problemas que sejam propostos pelo

professor permitindo a análise e compreensão da proposição exposta pelo

aluno – o resultado – e assim adquirir conhecimento, interpretar e articular

métodos para argumentar e concretizar problemas.(SILVA, CUNHA, 2012,

p.2)

Já Fontana, em trabalho sobre a importância do lúdico no ensino da Matemática e estatística no

Ensino Fundamental, enfatiza, entre as possibilidades potencializadas por este lúdico a amplitude dos

benefícios para o desenvolvimento global da criança, desde sua corporeidade, sua criatividade, a

responsabilidade e porque não dizer, com isso favorecer o seu desenvolvimento cognitivo. Assim,

segundo a autora

O lúdico e os jogos matemáticos possibilitam uma aprendizagem divertida na

infância, pois o estímulo é fundamental para o desenvolvimento da criança

como um todo, ou seja, a corporeidade. Os jogos, as brincadeiras, as atividades

lúdicas despertam o interesse, o movimento e a criatividade das mesmas. É

importante respeitar cada etapa do desenvolvimento infantil, a fim de que se

tornem aptos a enfrentarem quaisquer problemas com responsabilidade.

(FONTANA, 2015, p. 2)

Quando falamos em ludicidade no processo aprendizagem da Matemática, pretende- se

também despertar prudência em todos os envolvidos nesse processo, ou seja, com relação as

ações e expectativas no tocante as dificuldades no aprendizado da Matemática e os possíveis

caminhos de superá-las. Assim é importante aqui destacar a importância do papel do professor

e da professora nesse processo de construção do conhecimento. Nesse sentido, os PCN

(BRASIL, 2001) destaca em um dos seus capítulos denominado “Aprender e Ensinar

65

Matemática no Ensino Fundamental”, a necessidade de reflexão sobre o ensino da Matemática

por parte do professore da professora, fazendo menção aos seguintes aspectos:

a)Identificar as principais características dessa ciência, de seus métodos,

de suas ramificações e aplicações; b) Conhecer a história de vida dos

alunos, sua vivência de aprendizagens fundamentais, seus conhecimentos

informais sobre um dado assunto, suas condições sociológicas,

psicológicas e culturais; c) Ter clareza de suas próprias concepções sobre

a Matemática, uma vez que a prática em sala de aula, as escolhas

pedagógicas, a definição de objetivos e conteúdos de ensino e as formas

de avaliação estão intimamente ligadas a essas concepções.

Nesse mesmo contexto, quando se discute sobre a aprendizagem matemática, Nacarato,

Mengali, Passos(2009) nos diz que “A matemática precisa ser compreendida como um

patrimônio cultural da humanidade, portanto como um direito de todos. Daí a necessidade de

ser inclusiva”. O que demanda o avanço nas suas práticas a partir do fortalecimento do diálogo

com as novas tendências teórico-metodológicas, entre estas com a etnomatemática, com a

perspectiva da relação aprendizagem e afetividade e ensino/aprendizagem matemática e

ludicidade, este último foco desta pesquisa.

Ainda segundo Nacarato, Mengali e Passos (2009) em relação ao trabalho do professor

das séries iniciais, (atualmente anos iniciais), é necessário que o conhecimento profissional

tenha por base não só o saber pedagógico como também vários saberes, as quais apresentam os

seguintes:

Saberes de conteúdo matemático. É impossível ensinar aquilo sobre o que não

se tem um domínio conceitual; saberes pedagógicos dos conteúdos

matemáticos. É necessário saber, por exemplo, como trabalhar com os

conteúdos matemáticos de diferentes campos: aritmética, grandezas e

medidas, espaço e forma ou tratamento da informação. Saber como relacionar

esses diferentes campos entre si e com outras disciplinas, bem como criar

ambientes favoráveis à aprendizagem dos alunos; Saberes curriculares. É

importante ter claro quais recursos podem ser utilizados, quais materiais estão

disponíveis e onde encontrá-los; ter conhecimento e compreensão dos

documentos curriculares; e, principalmente, ser uma consumidora crítica

desses materiais, em especial, do livro didático. (NACARATO, MENGALI,

PASSOS, 2009, p.35, 36)

Cabe ressaltar, que o aprender e ensinar precisa acontecer em um espaço dinâmico, em

que a relação de aprendizagem seja desenvolvida a partir da reflexão diária por parte de quem

ensina. Por essa razão, Justo e Dorneles(2012) nos indica que é necessário que as crianças

tenham não só uma boa escola como também um bom professor ou boa professora, a qual

apresente certos domínios de conhecimento, sejam eles no contexto didático, de conteúdo e

principalmente as situações favoráveis em que o aluno consegue aprender. Outras reflexões

apresentadas por Justo e Dorneles(2012) está na formação da professora ou professor

66

polivalente, que não deixa de ter igual importância no processo de aprendizagem dos alunos e

alunas. Nesse contexto, os autores nos diz que

O professor polivalente em formação precisa modificar as suas crenças e

sentimentos ruins em relação à matemática, rompendo com saberes durante a

sua trajetória estudantil. Um professor que gosta e conhece o objeto de ensino,

mais facilmente ensina, e o seu aluno, possivelmente, aprende mais. (JUSTO

e DORNELES, 2012, p.94)

Nessa abordagem Koch e Ribeiro (2001, p.40)) remete a importância a ser dada a

didática no processo de Estágio, ou seja, que tipo de orientação são dadas ao professor e a

professora em formação, uma vez que deve se levar em consideração os conceitos que se tem

do conhecimento, a partir de uma orientação que atenda não somente a atividades de práticas

relevantes como também a ação seja posta a refletir como a Matemática é importante nos dias

atuais. As autoras reforçam ainda que

As crenças e as atitudes dos professores em relação à Matemática influem no

tipo de organização das atividades em sala de aula. Os professores que

acreditam que essa disciplina é uma ciência viva e dinâmica, em contínuo

crescimento, transformam a situação de aprendizagem, tornando a

Matemática acessível a todos os alunos através de um ensino em contextos

que sejam significativos e relevantes para quem está aprendendo. (KOCH,

RIBEIRO, 2001, p.23)

Nessa rede de relações, é interessante perceber que a aprendizagem matemática ganha

entornos significativos no seu desenvolvimento quando apresentada de aspectos que despertam

a curiosidade, o interesse e a participação efetiva do aluno e da aluna nas diferentes situações

do seu contexto social e que tenham a oportunidade de aprender àquilo que faz sentido e não

através de algo que lhe cause estranheza e desinteresse.

Outra discussão que merece respaldo está na utilização do livro didático como único

recurso de trabalho do professor e de fonte de aprendizagem para o\a aluno\a, em que

necessariamente são seguidos a sequência diária de conteúdos através de aulas expositivas, e

que apresenta uma certa limitação de atividades que possibilite o aprender de forma dinâmica

efetiva e, portanto, vivenciada por eles no seu contexto cultural.

Diante dos desafios apresentados, as concepções que se tem sobre a Matemática e dos

objetivos quanto ao seu ensino e aprendizagem, pode constituir um ponto de partida para uma

estratégia de ação voltada para o desenvolvimento do conhecimento matemático a partir do que

é ensinado e de como se constitui esse processo. Sobre esse aspecto, Melo (2002) aponta que

quando o professor ou a professora consegue aprender a forma como as crianças registram o

sistema numérico, é possível se levar em conta didaticamente o que os alunos e alunas

compreendem em relação aos números, bem como os questionamentos que se manifestam e

67

situações conflituosas que precisam ser superadas. Quanto as propostas de trabalho do professor

e da professora, partilhamos ainda das ideias de Melo (2002) ao afirmar que

O papel do educador é fundamental na busca de propostas de trabalho que

desafiem a criança a pensar por si mesma, a ter autonomia nas situações,

fatores primordiais para o conhecimento lógico-matemático e social. O

educador pode ajudar as crianças a explicitarem esse conhecimento

matemático que ali está, encorajando-as a quantificar objetos, comparar

conjuntos e fazer agrupamentos com objetos móveis; pode proporcionar-lhes

situações de jogos em grupos em situações reais, que favoreçam a troca de

opiniões e motivem-nas a realizar contagens e registros de pontos, utilizando-

se da notação como mais um registro na compreensão do sistema numérico.

(MELO, 2002, p.15)

As reflexões por ora apresentadas, coloca em destaque a relevância do uso do lúdico no

processo de aprendizagem matemática, sendo este, um elemento dinâmico, no qual os alunos e

alunas possam dá significado ao que se aprende. É preciso salientar que o ensino fundamentado

em atividades de desenvolvimento intelectual, exige de certa maneira a necessidade de fazer

relação entre a re(construção) do saber matemático e as situações de aprendizagem mediadas

na sala de aula. Fundamentar essa questão, significa dizer que esse procedimento requer por

parte de quem ensina fazer inferências sobre o que pode ser observado nos conceitos prévios

que os alunos e alunas estabelecem nas atividades e como as utilizam na sua vivência. Essa

postura teórico-didático-metodológica, entendendo que o fazer pedagógico está imbrincado

nessa tríade fundamental, possibilita entender que considerar a relação ludicidade e matemática

alarga os caminhos possíveis para a ressignificação da Matemática na perspectiva de

consolidação de uma educação matemática inclusiva, contextualizada. Os desafios são muitos,

mas como aponta a maioria das referências apresentadas e discutidas nesse trabalho, as

possibilidades do uso prazeroso e proveitoso do lúdico na educação matemática existem e se

encontram em processo nos diversos espaço-tempos desse imenso Brasil, em experiências

pedagógicas, em pesquisas que se ampliam com a consolidação de programas de pós-graduação

na área de ensino de Matemática, em embates políticos pedagógicos e outras iniciativas, que

retroalimentam as esperanças e expectativas de que estamos nesse campo como sujeitos

protagonistas da dinâmica histórica do fazer educação.

68

CAPÍTULO 3: DIALOGANDO COM OS DADOS

Nesse capítulo postula-se analisar elementos constitutivos do objeto de estudo.

Acreditamos, que a análise dos elementos traz contribuições relevantes para reflexão e

discussão dos problemas, bem como, contribui para a compreensão sobre os efeitos negativos

e alternativas para superar as dicotomias entre a teoria e prática no ensino e na aprendizagem

matemática.

Para efeito de melhor compreensão os dados deste estudo estão apresentados e

analisados considerando-se os instrumentos de coleta e seus procedimentos a partir dos

discursos e das práticas dos sujeitos deste trabalho. A categorização dos dados e sua análise

estão organizadas em dois eixos. O primeiro refere-se à relação dos sujeitos da pesquisa com a

Matemática e o segundo trata da relação Matemática, ludicidade e cotidiano, a partir das vozes

dos referidos sujeitos e da interpretação da pesquisadora em relação às práticas observadas. Nos

dois eixos tratados inicialmente são apresentados e analisados dados referentes aos

questionários aplicados aos sujeitos centrais desse estudo (os treze alunos e alunas que

frequentavam as aulas) em diálogo com os dados do diário de campo, fruto das observações

realizadas no decorrer do estudo, bem como com os dados das entrevistas de explicitação

desenvolvidas com os referidos alunos e alunas, sujeitos dessa pesquisa. Também são

estabelecidos diálogos com os dados do questionário aplicado à professora da turma, também

sujeito deste estudo, levando-se em conta seu papel ativo no processo de aprendizagem dos

demais sujeitos. Finalmente, apresenta-se uma síntese analítica dos dados a partir da

apresentação e análise inicial dos itens anteriores.

3.1 Relação com a Matemática

Os dados dos questionários aplicados aos alunos e alunas são apresentados e analisados

em eixos temáticos definidos a partir das questões que compõem o referido instrumento de

pesquisa. Essas questões estão agrupadas em três tópicos: I) Caracterização dos sujeitos; II)

Relação com a Matemática e; III) Matemática, Ludicidade e Cotidiano. Os dados do tópico “I”,

foram utilizados na elaboração do item “Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa”, no primeiro

capítulo deste trabalho. Entre as informações deste tópico destacam-se idade, sexo, identidade

étnico-racial, atividade profissional dos pais. As questões que compõem o tópico “II” são: 1) A

69

disciplina que você mais gosta é? 2) A disciplina que você menos gosta é? 3) Qual a sua relação

afetiva com a Matemática? (Eu gosto muito de Matemática, Eu gosto de Matemática, Eu gosto

um pouco de Matemática, Eu não gosto de Matemática); 4) Você considera a Matemática uma

disciplina difícil? Por quê? 5) Você considera a Matemática uma disciplina importante? (Sim,

Não, Mais ou menos). Por quê; 6) Você tem dificuldades para aprender Matemática? Por quê?

7) Você considera que todas as pessoas são capazes de aprender a Matemática? Por quê? 8) Em

sua opinião, quem tem mais dificuldade para aprender Matemática? Por quê? 9) Quais as

atividades de Matemática que você prefere? 10) Para que serve a Matemática? 11) Para

aprender a Matemática é preciso;

Em sequência apresentam-se as questões que compõem o tópico “III” (Matemática,

Ludicidade e Cotidiano), identificadas com os numerais de 12 a 16. Este tópico, em diálogo

com as demais fontes de dados do estudo é a base do item 3.2 deste capítulo. As questões do

tópico “III” em tela são: 12) O que aprendo em Matemática na escola eu uso no meu dia a dia

para? 13) O que você aprende em Matemática no seu dia a dia é usado na escola? (Sim, Não,

Mais ou menos). Para as opções sim ou mais ou menos explique como isso acontece; 14) Em

sua opinião, enquanto brinca você utiliza Matemática (Sim, Não, mais ou menos). Em caso

afirmativo, cite algumas brincadeiras em que você usa Matemática? 15) Durante as brincadeiras

eu uso a Matemática quando? 16) Você relaciona a Matemática ao crescimento social da

pessoa?

Os alunos e alunas que se constituem como sujeitos centrais dessa pesquisa são

identificados no texto a partir da nomenclatura A1 a A13, considerando-se o número de alunos

e alunas que frequentavam as aulas. Parece-nos pertinente fazer referência as percepções dos

alunos e alunas sobre experiências de relação da Matemática com o lúdico, a fim de analisar

qual o lugar do brincar no seu contexto cultural e deste com a aprendizagem matemática escolar.

Nossa intenção aqui é postular a compreensão da relação das experiências com o processo de

aprendizagem escolar.

Na apresentação e análise dos dados, inicialmente são expostos os quadros com a

categorização das falas dos sujeitos, sendo em seguida apresentados, comentados e analisados

os referidos dados.

70

Quadro 2: Disciplina Preferida

Aluno\Aluna Categoria Frequência

A4; A6; A7; A10; A12;13 Matemática 6

A2; A3; A5; A8; A11 Português 5

A1 Geografia 1

A9 História 1 Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

No que se refere a disciplina preferida, 6 (seis) sujeitos escolheram a Matemática, o que

corresponde a 46,1%. Em seguida destaca-se a disciplina Português, escolhida por 5 (cinco)

dos sujeitos, ou seja, 38,5% do total. As disciplinas Geografia e História tiveram o mesmo

quantitativo de escolha, ou seja 7,7% para cada. Embora não seja o nosso objeto de estudo é

interessante percebermos que dos seis sujeitos que escolheram a Matemática, cinco são

meninas, o que nos leva a pensar nas possíveis mudanças de paradigmas quanto à questão de

gênero e as denominadas ciências exatas. Fica a sugestão para estudos futuros da relação da

Matemática com gênero, tema tratado em trabalhos existentes.

Quadro 3: Disciplina que Menos Gosta (ou não Gosta)

Aluno/Aluna Categoria Frequência

A1; A2; A3; A5; A8; A9; A11 Matemática 7

A6; A7, A12, A13 História 4

A4 Ciências 1

A10 Arte 1

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação a disciplina que menos gostam (ou não gostam), 7 (sete) dos sujeitos

afirmaram ser a disciplina Matemática, o que corresponde a 53, 8% do total. Em seguida a

disciplina História com 4 (quatro) sujeitos, sendo 30,8%. As disciplinas Arte e Ciências tiveram

o mesmo número de escolha, ou seja, 1(uma), tendo o percentual de 7,7% apenas.

Embora no conjunto de disciplinas a Matemática tenha um percentual elevado de

preferência, este é superado pelo percentual como disciplina que menos gostam, o que aponta

para uma predominância de relação negativa com a disciplina. Faz-se necessário buscarmos

possíveis fatores que contribuem para esta relação entre os sujeitos e a disciplina em questão, o

que, talvez, possa ser indiciado nas questões seguintes.

71

Quadro 4: Relação Afetiva com a Matemática

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Ainda sobre a relação afetiva com a Matemática, orientados a caracterizar essa relação

obteve-se uma predominância de relação afetiva pouco positiva com a Matemática, já que,7

(sete) dos 13 (treze) sujeitos indicaram gostar somente um pouco de Matemática, equivalente a

53,8%; Por sua vez, 2 (dois) disseram não gostar de Matemática, perfazendo 15,4% do total; 3

(três) disseram gostar muito da disciplina, o que corresponde a 23,1%, sendo que apenas 1

(um) alegou gostar de Matemática, no qual tem a equivalência de 7,7%.

Os dados desse recorte indicam afetividade negativa em relação à disciplina

Matemática. E para que se possa mudar essa insatisfação ou mesmo rejeição, é preciso que se

estabeleça critérios de análise quanto ao desenvolvimento de situações em que a aprendizagem

Matemática aconteça de forma efetiva e tenha sentido para os alunos e as alunas. Para definir

esses critérios tomamos por base dois pontos tratados por Silva e Kodama (2004): 1.Oferecer

condições aos estudantes para que possam desenvolver atitudes positivas na apropriação do

conhecimento; 2.Valorização do sujeito e sua efetiva participação no processo de construção

do seu próprio saber. Esses critérios apontados pelos autores indicam ainda que em situações

envolvendo atividades com jogos é possível que as imagens negativas estabelecidas pelos

estudantes possam ser modificadas. Nessa ótica, é possível considerar a relevância do lúdico na

construção do conhecimento matemático que se refere diretamente ao nosso objeto de estudo.

Quadro 5: Justificativa para Dificuldade (ou não) da Matemática

Aluno/

Aluna Respostas Categorias

A1 (Sim). Porque eu nunca

aprendo esse negócio, como

é? Divisão.

Relativo a própria dificuldade de aprendizagem do

conteúdo ou de resolução das atividades propostas

Relativo a dificuldade em conteúdo específico

A2 (Sim). Porque nós ainda

sabe(sic) pouco.

Relativo a pouco ou nenhum conhecimento sobre a

disciplina.

A3 (Sim). Porque para quem

não sabe é.

Relativo a pouco ou nenhum conhecimento sobre a

disciplina

A4 (Não) Porque a professora

passa dever e eu faço sozinha

Relativo ao domínio da disciplina e/ou de

conteúdos da mesma

Relativo ao apoio familiar

Aluno/Aluna Respostas-Categorias Frequência

A1; A11 Eu não gosto de Matemática 2

A2; A3; A5; A8; A9; A12; A13 Eu gosto um pouco de Matemática 7

A4; A6; A7 Eu gosto muito de Matemática 3

A10 Eu gosto de Matemática 1

72

e pergunto a minha mãe e ela

e diz que tá certo.

A5 (Sim) Porque não consigo

fazer.

Relativo a própria dificuldade de aprendizagem do

conteúdo ou de resolução das atividades propostas

A6 (Mais ou menos) Porque é

um pouco difícil.

Resposta vaga, sem precisão

A7 (Não)Porque pode aprender

de repente se a gente estudar

muito.

Relativo a prática de estudo

A8 (Sim)Porque é difícil de

responder.

Relativo a própria dificuldade de aprendizagem do

conteúdo ou de resolução das atividades propostas

A9 (Sim). Por causa que tem

divisão, de dividir assim....

Relativo a própria dificuldade de aprendizagem do

conteúdo ou de resolução das atividades propostas

A10 (Não). Porque causa que

multiplicar, conta de mais,

de menos é fácil.

Relativo ao domínio de conteúdo específicos

A11 (Sim). Porque é difícil. Resposta vaga, sem precisão

A12 (Não). Porque eu sei. Relativo ao domínio da disciplina e\ou de

conteúdos da mesma

A13 (Não). Porque tem coisas

que é fácil

Resposta vaga, sem precisão

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação ao nível de dificuldade da Matemática, maior parte dos alunos e alunas, 7 (sete),

considera que a matemática é uma disciplina difícil, o que corresponde a 53, 85 % do total. Em

sequência 5 (cinco) alunos e alunas não consideram a disciplina difícil, totalizando um percentual

de 38,45 %. Apenas 1(uma) aluna considera a disciplina mais ou menos difícil, apresentando 7,7%.

Quanto aos indicadores que tornam a Matemática difícil destacam-se, na percepção dos

sujeitos da pesquisa, algumas categorias. Entre as categorias com maior frequência é a categoria

“Relativa a própria dificuldade de aprendizagem do conteúdo ou de resolução das atividades

propostas”, com três apontamentos, entre estes; “Porque eu nunca aprendo esse negócio, como é?

Divisão” (A1); “Porque não consigo fazer” (A5);” Por causa que tem divisão, de dividir assim”

(A9). Com o mesmo quantitativo encontra-se a categoria” Resposta vaga, sem precisão”, na qual

corresponde aos três indicativos seguintes:” Porque é um pouco difícil” (A6); “Porque é difícil”

(A11); “Porque tem coisas que é fácil” (A13). Outra categoria a se considerar é a categoria” Relativa

a pouco ou nenhum conhecimento sobre a disciplina”, em que se apresenta dois indicativos nas

seguintes falas: “Porque nós ainda sabe pouco” (A2), “Porque para quem não sabe é” (A3).

73

Em relação aos sujeitos que não consideram a Matemática uma disciplina difícil destaca-se

a categoria “Relativa ao domínio da disciplina e/ou de conteúdos da mesma”, as quais apresentam

duas incidências: “Porque a professora passa dever e eu faço sozinha e pergunto a minha mãe e ela

diz que tá certo” (A4); “Porque eu sei” (A12). Apresenta-se também duas categorias com menor

incidência, ou seja, apenas uma indicação para cada uma. As referidas categorias são: Relativa ao

apoio familiar (“Porque a professora passa dever e eu faço sozinha e pergunto a minha mãe e ela

diz que tá certo”) e Relativa a prática de estudo (“Porque pode aprender de repente se a gente estudar

muito”).

Por outro lado, quando questionada sobre a disciplina que os alunos e alunas sentem maior

dificuldade a professora faz a seguinte afirmação: “A disciplina é Matemática e a razão de não

aprenderem é por falta de estudo mesmo”. (Questionário Professora, Junho, 2015).

Percebe-se na fala acima que o fracasso na aprendizagem matemática é atribuído, pela

professora, ao próprio aluno/aluna, pois no entendimento desta eles/elas tem dificuldades na

disciplina por “falta de estudo”. Nessa colocação simplista outros fatores deixam de ser

considerados, tais como a própria relação da docente com a disciplina, questões metodológicas, a

própria concepção histórica da Matemática, entre outros.

A partir da comparação dos resultados obtidos pode se analisar a influência que cada

indicativo representa em relação às dificuldades de aprendizagem Matemática, o que nos remete a

pensar na necessidade de desmistificar o sentido da Matemática, não só como uma disciplina, mas

que ela apresente aspectos voltados à construção da cidadania.

É preciso que os alunos e alunas construam o conhecimento Matemático por meio de

atividades que lhe permitam desenvolver a aprendizagem com atitudes favoráveis em relação à

aprendizagem e que a referida disciplina não seja vista como uma disciplina difícil de aprender.

Cabe aqui destacar o seguinte episódio, registrado no diário de campo:

Ao apresentar atividades relacionadas com a multiplicação, a professora da turma

apresenta no quadro negro a seguinte questão: Leia o texto e complete: a) Maria comprou 2

caixas de mangas, contendo em cada uma 7 mangas. Quantas mangas Maria comprou?

O sujeito (A1), se disponibiliza a tentar resolver o problema, utilizando da escrita e

contagem de” pauzinhos16”, contudo, passado aproximadamente 10 (dez) minutos, não

conseguiu realizar o problema. A professora, se direciona a (A1) e diz: “Vai tentando fazer no

seu caderno”. (Diário de Campo, 15/06/2015).

16 Registro realizado através de riscos para representar quantidades.

74

Nesse contexto, convém ressaltar o questionamento feito à professora, no questionário

aplicado, sobre que recursos pedagógicos a professora utiliza para ensinar a Matemática aos

seus alunos e alunas, na qual foram apresentadas as seguintes respostas (“Atividades escritas,

livro, quadro, pincel, etc.”), (Questionário Professora, Junho, 2015).

Embora no episódio descrito o sujeito não tenha conseguido resolver o problema, a

professora não apresenta condições favoráveis ao processo de aprendizagem do mesmo.

Acreditamos que a construção do conhecimento matemático nessa atividade proposta pela

professora, poderia desencadear situações mais proveitosas, se desenvolvidas em um contexto

lúdico em que se constitui nosso ponto de discussão.

Nesse sentido, corroboramos das ideias de Cunha e Silva (2012), ao abordar a questão

da importância da Matemática lúdica no desenvolvimento pedagógico, a qual destaca ser uma

ferramenta relevante que permite maior aproveitamento do aluno/aluna, auxiliando-o/a na

compreensão de situações propostas pelo professor/professora. Ainda sobre esse contexto, Justo

e Dorneles (2012), aponta a importância das crianças terem não somente uma escola boa, mas

também uma boa professora ou um bom professor, e, este ou esta, tenha domínio relativo ao

conhecimento e que tragam situações em que os alunos e alunas se envolvam produtivamente

na realização de atividades que favoreçam a aprendizagem.

Quadro 6: Matemática é Importante? Razões da Importância da Matemática.

Aluno\

Aluna

Resposta Categoria

Subcategoria

A1 (Sim). Porque é boa para aprender a

multiplicar e dividir, mas é difícil.

Relativo ao conteúdo e atividades da

disciplina.

A2 (Sim). Porque aprende e sabe comprar

quando a mãe manda ir ao mercadinho e dar

o troco do dinheiro a mãe.

Relativo a atividades da vida

cotidiana

A3 (Sim). Porque para aprender contar. Relativo ao conteúdo e atividades da

disciplina

A4 (Sim). Porque aprende quando vai para rua

conta o dinheiro certo e ensino a crianças de

6 anos quando conta errado.

Relativo a atividades da vida

cotidiana

Relativo a socialização do

conhecimento

A5 (Sim). Porque ela ensina a contar. Relativo ao conteúdo e atividades da

disciplina

A6 (Sim). Porque a gente pode aprender e

quando for comprar alguma coisa sabe.

Relativo a atividades da vida

cotidiana

A7 (Sim). Porque ensina a gente a desenvolver

e quando vamos destrocar um dinheiro a

gente consegue e ainda ensina aos outros.

Relativo a atividades da vida

cotidiana

Relativo a socialização do

conhecimento

75

A8 (Sim)Porque aprende os povo (sic) fazer as

compras.

Relativo a atividades da vida

cotidiana

A9 (Sim). Porque faz divisão, vezes. Essas

coisas.

Relativo ao conteúdo e atividades da

disciplina

A10 (Sim). Porque a matemática através dela a

pessoa aprende a subtrair, multiplicar e

dividir.

Relativo ao conteúdo e atividades

da disciplina

A11 (Sim). Porque se não aprendemos a

matemática, nós não podemos ser nada:

professor.

Relativo a perspectiva de futuro

profissional

A12 (Sim). Porque ela é boa. Resposta vaga, sem precisão

A13 (Mais ou menos). Porque não é pra todo

mundo não que é fácil, tem gente que não

sabe, muitas pessoas.

Relativo a dificuldade quanto a

disciplina (razão dela ser mais ou

menos importante) Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Sobre a importância da disciplina Matemática todos os sujeitos reconhecem ser esta

importante, sendo que 12 (doze) destes disseram que sim, correspondente a 92% do total e

1(uma) apenas indicou ser esta mais ou menos importante, com equivalência de 8%.

Em relação as razões dessa importância, categorizamos as justificativas considerando

os indicadores presentes nas respostas. Desse modo, o quantitativo de respostas corresponde ao

número de categorias e não ao número de sujeitos. Destacam-se duas categorias pelo mesmo

quantitativo de incidências que são: a) “Relativa ao conteúdo e atividade da disciplina”

apresentadas nas falas dos seguintes sujeitos: “Porque é boa para aprender a multiplicar e

dividir, mas é difícil” (A1); “Porque para aprender contar” (A3); “Porque ela ensina a contar”

(A5); “Porque faz divisão, vezes. Essas coisas” (A9); “Porque a matemática através dela a

pessoa aprende a subtrair, multiplicar e dividir” (A10). b) Categoria “ Relativa a atividades da

vida cotidiana”, nesta são evidenciados também cinco indicadores: “Porque aprende e sabe

comprar quando a mãe manda ir ao mercadinho e dar o troco do dinheiro a mãe”(A2); “Porque

a gente pode aprender e quando for comprar alguma coisa sabe”(A6); “porque ensina a gente a

desenvolver e quando vamos destrocar um dinheiro a gente consegue e ainda ensina aos

outros”.(A7); “ porque aprende os povo fazer as compras”.(A8); Porque aprende quando vai

para rua, conta o dinheiro certo e ensino a criança de seis anos quando conta errado”(A4).

Outra categoria que se apresenta é a “Relativa a socialização do conhecimento” que traz

dois indicadores: “Porque aprende quando vai para rua, conta o dinheiro certo e ensino a criança

de seis anos quando conta errado” (A4); “Porque ensina a gente a desenvolver e quando vamos

destrocar um dinheiro a gente consegue e ainda ensina aos outros” (A7). Apresentam- se

também mais três categorias com uma inferência apontada em cada uma delas,

respectivamente, “ Relativa a perspectiva de futuro profissional”(“ Porque se não aprendemos

76

a Matemática, nós não podemos ser nada: professor”), (A11); “ Relativa a dificuldade quanto a

disciplina( razão dela ser mais ou menos importante)”, com a inferência de que “ Porque não é

prá (sic) todo mundo não que é fácil, tem gente que não sabe, muitas pessoas”(A13) e apenas

uma categoria de “ Resposta vaga, sem precisão” , dada a seguinte inferência: “ porque ela é

boa”. (A12).

Os fatores apontados nos dados expostos apresentam a forma pela qual alunos e alunas

abordam a relevância da disciplina aos seus interesses pessoais, na relação que faz com os

saberes cotidianos e escolares. Assim, a construção do conhecimento matemático, decorrente

da interação dos alunos com o meio em que vive, passam a dá sentido as ações direcionadas ao

que está relacionado a sua importância. Para definir esses critérios, baseamo-nos no trabalho de

Nacarato e Mengali, Passos (2009), ao considerar a Matemática um direito de todas as pessoas,

a qual é preciso compreendê-la como patrimônio cultural. Partindo desse pressuposto, parte a

necessidades de ser inclusiva, ou seja, que possa ser utilizada de forma contextual nas interações

sociais em que os sujeitos estão intrinsicamente relacionados. Apresentamos nesse sentido, o

seguinte episódio:

Ao chegar na sala de aula, às 13(treze) horas, a professora da turma ainda não havia

chegado. Alguns alunos e alunas já se encontravam na sala e assim aproveitei o momento para

estreitar laços com a turma para que me olhassem, não como uma estranha, mas como uma

pessoa para interagir. O sujeito A2 relata que domingo foi para a uma festa no povoado assistir

a “pega de galinha no mato"17, diz que não havia espaço para tanta gente. Falava também sobre

as premiações para quem conseguisse capturar as galinhas. “Teve gente que conseguiu pegar

até 3 (três)galinhas e ganhou 150 de dinheiro”. E aí perguntei quanto era o valor oferecido a

cada galinha capturada. Ele diz” claro que 50, né”. (Diário de Campo, 18/06/2015). Através

dessa atividade A2 conseguiu realizar operações com números naturais (adição, multiplicação

e divisão); a questão do tempo (grandezas e medidas), espaço, entre outras situações

relacionadas a aprendizagem Matemática. Observa-se que a presença do lúdico no contexto

cultural da criança, favorecem situações de aprendizagem significativas e pertinentes ao

desenvolvimento humano e que enfatiza a afetividade do aluno e aluna a experimentar

diferentes possibilidades de crescimento cognitivo.

17 Atividade desenvolvida coletivamente, em propriedades rurais, no qual algumas galinhas são soltas em espaços

de mata fechada, ganhando premiações a quem conseguir capturá-las.

77

Quadro 7: Tem dificuldade para aprender Matemática? Justificativa em relação às

dificuldades para aprender Matemática

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias

Subcategorias

A1 Sim, porque sou burro. Relativa a baixa autoestima

A2 Um pouco Sim, sem justificativa

A3 Um pouco Sim, sem justificativa

A4 Não, porque gosto muito Relativa à relação afetiva positiva com a disciplina

A5 Um pouco Sim, sem justificativa

A6 Não, eu gosto muito Relativa à relação afetiva positiva com a disciplina

A7 Gosto muito Não entendeu a pergunta

A8 Um pouco Sim, sem justificativa

A9 Eu gosto um pouco Não entendeu a pergunta

A10 Eu gosto Não entendeu a pergunta

A11 Eu não gosto Não entendeu a pergunta

A12 Eu gosto um pouco Não entendeu a pergunta

A13 Eu gosto um pouco Não entendeu a pergunta Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação às dificuldades em aprender a Matemática 5 (cinco) alunos e alunas

responderam que sim, considerando a resposta sim, quando fala “um pouco” correspondendo a

38,5 % do total. Apenas 2 (duas) alunas dizem não apresentarem dificuldades na disciplina,

totalizando um percentual de 15,4 %. Nesta questão um número significativo de sujeitos, 6 (seis),

não compreenderam a pergunta, o que corresponde a 46,1%.

Dentre aqueles que responderam sim, é importante aqui destacar, que três desses não

apresentaram justificativa nas respostas. Dos que justificaram um está relacionado a “Categoria

Relativa a baixa autoestima”, apresentando a seguinte indicação: “Porque sou burro” (A1). Na

categoria “Não entendeu a pergunta” encontram-se respostas como: “Eu gosto um pouco”

(A12); “Eu gosto” (A10), “Eu não gosto”. (A11). Considerando os parâmetros de análise que

apresentamos, podemos perceber que apesar dos sujeitos, na sua maioria, sentirem dificuldades

na disciplina, pouco são expressadas as razões dessas dificuldades. Relatamos para melhor

entender esse contexto, o seguinte episódio.

A aula iniciou com a correção da atividade para casa. Quando a professora pergunta

quem respondeu o dever?

(A10) não respondi porque mainha saiu;

(A4) não respondi porque não fui prá(sic) banca;

(A12) respondi sozinha sem ajuda de ninguém;

78

Quanto aos demais sujeitos permaneceram calados e percebe-se que também não

responderam a atividade. Logo, a professora copia as questões no quadro e convida os alunos e

alunas para responder no quadro. Entre as questões aplicadas podemos destacar o seguinte

cálculo mental: 2 x 25= --------x10 = --------.

O sujeito A7 pediu para ir ao quadro responder, mas não conseguiu resolver o cálculo

completamente, apenas a 1ª parcela, ou seja, 2 x 25= 50, em sequência foram os sujeitos (A2) e (A6),

que também não conseguiram responder à questão. Percebe- se que mesmo os sujeitos não

conseguindo realizar o cálculo outros eram chamados a resolver e que também não obtinham

sucesso. Até que apenas (A12) foi ao quadro e respondeu corretamente à questão. Parece-nos

que de forma impensada a professora faz comparações entre A12 e os demais sujeitos que não

conseguiram responder o cálculo. (Diário de Campo, 20/07/2015).

É importante ressaltar aqui que embora a professora considere que a sua formação

inicial contribuiu bastante para o seu desempenho no ensino da matemática, justificando sentir-

se segura ao ensinar a Matemática, a mesma afirma que quando estudante, a disciplina que mais

sentia dificuldade era Matemática como também a disciplina que não gostava ou menos

gostava. (Questionário professora, Junho, 2015).

No contexto descrito, cabe um diálogo com Nacarato, Mengali, Passos (2009), que

ressaltam a importância do trabalho do professor e da professora, embasado não apenas aos

saberes pedagógicos, mas necessariamente em outros saberes relacionados a forma de trabalhar

os conteúdos em vários campos. Faz-se necessário criar-se ambientes que favoreçam o

aprendizado dos alunos e alunas, que explicitem os recursos que podem ser utilizados, quais

estão disponibilizados e de que forma podem ser encontrados, além da visão crítica que se deve

ter em relação ao livro didático. As autoras reforçam ainda que geralmente a formação das

professoras dos anos iniciais acontece em dimensões mínimas e que não enfatizam as

tendências da atualidade nos referenciais da Matemática, na qual ainda persiste crenças

arraigadas no desenvolvimento de procedimentos e cálculos a partir de concepções utilitárias e

mecanizadas.

Percebemos através das respostas dos sujeitos, o nível de dificuldades elevado em

relação a aprendizagem Matemática, em que a questão gerou pouca discussão e entusiasmo por

parte dos alunos e alunas, o que significa dizer que, quando propomos novas possibilidades de

atividades que favoreçam um ambiente dinâmico e porque não dizer a ação do lúdico, os

recursos passam ser atrativos ao processo de aprendizagem como também um possível

caminho para dificuldades que se estabelecem.

79

Quadro 8: Todas as Pessoas são Capazes de Aprender Matemática? Justificativa.

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias

Subcategorias

A1 (Sim). Porque se todo mundo se

interessar aprende.

Relativa ao nível de exigência

pessoal

A2 Sim). Porque sim. Resposta vaga, sem precisão

A3 (Sim). Porque se um sabe todos

podem saber.

Relativa a Perspectiva de amplas

possibilidades

A4 (Sim). Porque é só estudar. Relativa ao nível de exigência

pessoal

A5 (Sim). Não sei. Resposta vaga, sem precisão

A6 (Sim). Porque um é capaz todos é

capaz.

Relativa a Perspectiva de amplas

possibilidades

A7 (Sim). Porque se estudar aprende. Relativa ao nível de exigência

pessoal

A8 (Sim). Porque tem que se esforçar. Relativa ao nível de exigência

pessoal

A9 (Sim). Porque se estudar aprende. Relativa ao nível de exigência

pessoal

A10 (Sim). Por causa que se estudar

aprende.

Relativa ao nível de exigência

pessoal

A11 (Sim). Porque se todos estudarem

aprendem.

Relativa ao nível de exigência

pessoal

A12 (Sim). Porque tem que aprender ler,

se não saber ler não faz nada.

Relativa ao nível de exigência

pessoal

A13 (Mais ou menos). Porque não é pra

todo mundo que é fácil. Tem gente

que não sabe.

Relativa a dificuldade quanto a disciplina

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação à questão se todas as pessoas são capazes de aprender a Matemática,

consideramos um número significativo de 12 (doze) respostas sim, no qual corresponde a 92%

do total e apenas 1(uma) resposta mais ou menos que indica um percentual de 8%.

Quanto as categorias analisadas nessa questão, encontramos um quantitativo superior

na “Categoria relativa ao nível de exigência pessoal”, no qual são apresentadas as seguintes

falas: “porque se todo mundo se interessar aprende” (A1); “porque é só estudar “(A4); “porque

se estudar aprende” (A7); “Porque tem que se esforçar” (A8); “Porque se estudar aprende”

(A9); “Por causa que se estudar aprende” (A10); “Porque se todos estudarem aprendem” (A11).

Outra categoria apresentada corresponde a “Resposta vaga, sem precisão”, correspondente a

duas incidências: “Porque sim” (A2); “Não sei” (A5). Apresentam-se ainda duas categorias

com uma inferência cada uma, que são a “Relativa a Perspectiva de amplas possibilidades”

(“Porque se um sabe todos podem saber”, A3) e a “Relativa a dificuldade quanto a disciplina

(“porque não é pra todo mundo que é fácil. Tem gente que não sabe, A13).

80

Esta tabela apresenta um elevado percentual em relação à categoria “Relativa ao nível

de exigência pessoal” dos alunos e alunas, o que nos remete a pensar a forma como atribuem a

responsabilidade de aprender aos seus esforços pessoais e que reforça essa ideia na fala da

professora quando questionada sobre qual o perfil do aluno e aluna mais apto para aprender

matemática.

A resposta apresentada foi a seguinte: “alunos preocupados, interessados,

acompanhamento dos pais” (Questionário Professora, Junho, 2016). É possível que exemplos

desse tipo possam estar relacionados à forma como os alunos e alunas são conduzidos a assumir

a parcela de responsabilidade para aprender. Nesse sentido, a intenção aqui é comparar

resultados para que possamos fazer uma reflexão coletiva sobre o desenvolvimento e

possibilidades de atividades propícias ao aprendizado dos alunos e alunas, levando-se em

consideração as condições e interesses da turma e das atividades desenvolvidas. Assim,

pensamos como o uso do lúdico poderá se constituir em elementos necessários ao processo de

aprendizagem, tais como: a afetividade, a cultura, relações escolares e cotidianas, estímulo e a

forma de compreender o processo de construção do conhecimento.

Segundo Bustamante (2004), é necessário estabelecer uma compreensão da ludicidade

como parte integrante do contexto cultural da escola, porém, que se constituem também em

outros espaços além da sala de aula, a qual se manifestam em toda e qualquer relação entre os

sujeitos e o seu meio, o que nos remete a pensar sobre de que forma as práticas estabelecidas

no ambiente escolar apresentam características condizentes, favoráveis, prazerosas e que

garanta uma mudança significativa na construção do conhecimento.

Quadro 9: Justificativa sobre quem tem mais Dificuldades para Aprender Matemática

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias

Subcategorias

A1 Eu. Porque eu acho difícil

muito a Matemática

Relativa ao nível de dificuldades da disciplina

A2 Eu. Porque Sem resposta

A3 Minha mãe e eu. Porque Sem resposta

A4 Ninguém Sem resposta

A5 Eu. Porque é muito difícil Relativa ao nível de dificuldades da disciplina

A6 Não sei. Sem resposta

A7 Todos. Porque é só estudar Resposta vaga, sem precisão

A8 Eu. Porque é difícil para me,

mas para outros é boa.

Resposta vaga, sem precisão

A9 Eu e alguns também. Porque

quando a professora pergunta

Relativa as evidências das dificuldades na

disciplina

81

tem uns que não diz. E os que

diz, diz errado.

A10 A7. Não sei porque. Sem resposta

A11 A8. Porque não estuda Relativa a ação de não estudar

A12 Todo mundo. Porque tem uns

que sabe ler e outros não. Tudo

burro.

Relativa ao não domínio de leitura

Relativa a auto atribuição de incapacidade

A13 Muitas pessoas que não sabem

ler. Porque não sabem ler.

Relativa a não domínio de leitura

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação a quem tem mais dificuldades para aprender a Matemática 4 (quatro) dos

sujeitos se auto denominam como pessoas com maiores dificuldades, correspondente a 30, 8%

do total. Outro valor significativo, está relacionado a muitas pessoas ou todo mundo, com o

quantitativo de 3 (três) respostas, equivalente a 23%. Apresentam-se 2 (duas) respostas

atribuídas aos colegas de turma, a qual representa 15,4% e 2(duas) categorias ao não domínio

da leitura, com o mesmo percentual de 15,4%. Foram atribuídos também resposta como: de não

saber responder, 1(um) sujeito apenas, equivalente a 7,7%. Apenas um sujeito também diz que

ninguém tem dificuldades, que consequentemente corresponde ao mesmo percentual de 7,7%.

Ainda em relação às categorias analisadas nessa questão há um número significativo

da categoria” Sem resposta”, atribuídos a 5 (cinco) sujeitos que não responderam (tendo-se a

hipótese de que não compreenderam a questão ou não quiseram responder). Apresenta-se

também a categoria de “Respostas vagas”, conforme nos mostra as seguintes falas:”. Porque é

só estudar” (A7); “Porque é difícil para me, mas para outros é boa”. (A8). Uma outra categoria

a ser destacada é a “Relativa ao nível de dificuldade na disciplina”, nas quais, duas inferências

são evidenciadas: “Porque é muito difícil” (A5), Porque eu acho difícil muito a Matemática

(A1). Destacam-se também mais quatro categorias nesta questão, que são: “Relativa ao não

domínio da leitura”, com os indicativos “Porque tem uns que sabe ler e outros não”( A12);

“Porque não sabem ler”(A13); “Relativa a auto atribuição de incapacidade”, com a seguinte

inferência: “Tudo burro”(A12) e a “Relativa as evidências dificuldades na disciplina”, com uma

inferência: “Porque quando a professora pergunta tem uns que não diz. E os que diz, diz errado”

(A9).

Percebemos que, de acordo com os critérios estabelecidos, as dificuldades atingem

aspectos relacionados à forma como alunos e alunas identificam suas próprias dificuldades,

bem como dos colegas de sala de aula, atribuindo inferências de várias ordens como foram

citadas. No entanto, é preciso aqui destacar a categoria “Relativa ao não domínio da leitura”, a

82

qual apresenta-se também associada ao trabalho com o lúdico na construção do conhecimento

matemático. Analisamos assim, o episódio abaixo:

Após copiar o conteúdo no quadro referente a propriedades da multiplicação, a

professora pede para alguém responder o seguinte problema:

Leia o texto e complete:

Contaremos as maçãs da caixa de duas formas diferentes:

O O O 3 O O O

O O O 3 O O O

2 x 3 = 6 2x3= 6

O sujeito A5, diz que vai responder, mas não consegue compreender o enunciado da questão,

posteriormente A6, também tenta responder mas diz não está entendendo. Os alunos e alunas

são orientados pela professora a observarem atentamente o problema e registrarem o que

perceberam na ordem das parcelas, contudo, não se apresentou clara a compreensão dos

mesmos em relação a atividade proposta (Diário de Campo, 04/08/2015).

Nesse sentido, cabe aqui destacar a resposta da professora quanto à disciplina em que

sente-se menos a vontade para ensinar, a qual destaca a disciplina Português (Questionário

Professora, Junho, 2015), o que talvez tenha possível ligação as dificuldades de interpretar os

dados matemáticos nas diferentes situações de aprendizagem.

A partir dessa situação cabe aqui analisar os pontos relacionados à alfabetização

matemática e, para tanto, faremos uso das ideias de Smole (2000), ao considerar o ato de ler

como parte integrante da ação humana, ou seja, a forma que se estabelece a compreensão sobre

o mundo e a forma de interpretá-las, posto que é necessário uma ação combinatória que

configuram-se nas experiências, práticas de leitura, entre outros. No mesmo sentido, tomamos

como referência Mendes, Cunha e Teles(2012), ao postular as possibilidades do ensino da

matemática através de interpretações textuais e utilizando-se de procedimentos lúdicos,

apresentadas nas propostas de atividades que envolvam determinados conhecimentos, como por

exemplo a resolução de problemas.

83

Quadro 10: Atividades Preferidas

Aluno/Aluna

Respostas

Categorias

A1; A2; A3; A7; A8;

A9; A10; A11; A12

Multiplicação Relativo a conteúdo específico

A4; A6 Divisão Relativo a conteúdo específico

A5 Problemas Relativo a resolução de problemas

A12 Multiplicação, adição e

subtrair

Relativo a conteúdos específicos

A13 Todas Resposta vaga, sem precisão Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação às atividades de Matemática preferidas pelos sujeitos há uma

predominância de indicação de conteúdos ao invés de atividades. Neste caso, esta indicação

constitui a categoria “Relativo a conteúdo específicos” com indicação de 12 (doze) dos sujeitos,

equivalente a 92% do total, e, apenas 1 (um) sujeito na categoria de “Resposta vaga, sem

precisão”, (A13), equivalente a 8%. Apresentam-se um quantitativo de 10 (dez) indicativos nos

conteúdos de multiplicação; 2 (dois) indicativos nos conteúdos de divisão; 1 (um) indicativo

nos conteúdos de adição e 1 (um) indicativo para subtração. Embora a professora considere a

Matemática a disciplina em que sente-se mais à vontade para lecionar (Questionário Professora,

Junho, 2015), consideramos que o fato dos alunos e alunas confundirem atividades preferidas

com conteúdos, se dê, talvez, pelo fato da efetuação instrumental dessas operações se

apresentarem quase que diariamente, de forma repetitiva e descontextualizada, nas aulas, sem

jogos, brincadeiras e contextualização situacional. Conforme destaca Nacarato; Mengali e

Passos (2009), em relação as competências matemáticas, os exames como PISA, ENEM e

SAEB, apontam que as habilidades com cálculos não asseguram a demanda da atual sociedade,

pois a matemática está cada vez mais relacionada com o mundo. Assim, tanto as escolas como

professores e professoras estão desafiados a participarem da construção de um currículo que

ultrapasse a ideia de ensinar aos seus alunos e alunas de forma mecânica, uma vez que é nas

séries iniciais (atualmente anos iniciais), onde está a base de sustentação da alfabetização

matemática.

84

Quadro 11: Utilidade da Matemática

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias Subcategorias

A1 Para aprender a multiplicar, subtrair e

dividir

Relativa aos conteúdo específicos

A2 Para aprender Resposta, vaga sem precisão

A3 Para estudar e aprender Resposta vaga, sem precisão

A4 Para aprender Resposta, vaga sem precisão

A5 Para aprender Resposta, vaga sem precisão

A6 Para tudo Resposta vaga sem precisão

A7 Para aprender cada vez mais Resposta, vaga sem precisão

A8 Para fazer conta e também contar os

dinheiros que tiver

Relativa as atividades do cotidiano

A9 Para comprar alguma coisa. Comprar

com o tanto do dinheiro.

Relativa as atividades do cotidiano

A10 Para ter o aprendizado melhor. Para

contar as coisas.

Relativo ao crescimento pessoal

Relativa as atividades do cotidiano

A11 Sem a Matemática nós não somos nada Resposta vaga, sem precisão

A12 Para estudar Resposta, vaga sem precisão

A13 Para aprender Resposta, vaga sem precisão Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Quanto às concepções dos sujeitos no que refere a utilidade da Matemática, obtivemos

9 (nove) categorias com “Respostas vagas, sem precisão, 3 (três) categorias “Relativa as

atividades do cotidiano, 1 (uma) categoria” Relativa aos conteúdo específicos e 1 (uma)

categoria “Relativa ao crescimento pessoal”, correspondente ao mesmo percentual.

Acreditamos que as concepções dos alunos e alunas em relação à utilidade da Matemática

requer a compreensão dos limites e das possibilidades das expressões matemáticas na vida

escolar, mas também na vida cotidiana. Vejamos o episódio a seguir:

Hoje a professora chega na sala de aula, dá boa tarde aos alunos e alunas e pede para

que peguem o caderno de matemática. As atividades são apresentadas através de textos

apresentando problemas de multiplicação e divisão. Embora a professora explique as questões

várias vezes pouco se ver o entusiasmo dos alunos e alunas em desenvolver aqueles problemas.

Logo, o gestor chega até a sala e avisa aos alunos e alunas que naquele dia haveria aula na orla

com o professor de Educação Física e a animação tomou conta da sala. (A1) grita Êba! E os

demais o acompanham batendo palmas. Depois do intervalo, a professora da turma e o professor

de Educação Física seguem para a orla com os alunos e alunas. Foram desenvolvidas várias

brincadeiras e jogos de forma coletiva. Entre as brincadeiras podemos citar: pula corda,

macacão, cantigas de roda, paradinho 1, 2, 3. Quanto aos jogos foram desenvolvidos futsal e

queimado. Nessas atividades era notória tamanha satisfação dos alunos e alunas no

85

desenvolvimento das atividades lúdicas, também sendo possível visualizar conhecimentos da

aprendizagem matemática de forma significativa e prazerosa nas atividades desenvolvidas.

Foram trabalhados conteúdos de divisão na formação dos grupos, espaços, direita e esquerda,

números ordinais, (ordem dos alunos e alunas nas atividades) movimentos, distância, utilizando

operações de adição na contagem e soma de pontos (Diário de Campo, O5/08/2015).

Retomando o uso do lúdico como proposta na construção do conhecimento matemático, nos

embasamos em Fontana (2015) quando esta aponta que jogos, brincadeiras e atividades lúdicas

desenvolvem na criança atitudes positivas em relação à aprendizagem, proporcionando a

participação efetiva e criativa no seu desenvolvimento, além de contribuir para o enfrentamento,

de forma responsável, dos problemas que surgem em diferentes contextos sociais.

Também recorremos a Winnicott (1975) para pensar o brincar como uma atividade

fundamental em quaisquer atividades desenvolvidas pelos sujeitos, possibilitando a ação

criativa e o desenvolvimento integral da sua personalidade, seja ele adulto ou criança. Segundo

Machado (2004), a cultura atualmente mais necessária é a cultura da criatividade e da mudança,

resultante do trabalho a partir da globalização sobre dimensões de caráter que apresentam a

criatividade e a ação lúdica. Nesse enfoque, a ludicidade apresenta possibilidades de

enriquecimento e favorecimento da aprendizagem do conhecimento matemático, na perspectiva

de tornar possível o aprender brincando. Acreditamos que os elementos constitutivos da ação

lúdica trará contribuições relevantes para as relações que envolvem o processo de aprendizagem

em diferentes níveis.

Quadro 12: Para aprender a Matemática é preciso

Aluno/ Aluna Respostas Categorias Subcategorias

A1; A2; A3; A4; A5; A6; A7;

A8; A9; A10; A11; A12.

Estudar Relativa ao esforço pessoal

A12 Calcular e

estudar

Relativa ao esforço pessoal

Relativo ao desenvolvimento de habilidades

A13 Ler Relativa ao domínio da leitura Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação à questão sobre o que é necessário para aprender Matemática, um número

significativo de 11(onze) sujeitos responderam estudar, o que corresponde a 84,6% do total.

Sendo que 1(um) sujeito respondeu calcular e estudar, equivalente a 7,7% do percentual e 1(um)

outro respondeu ler, o que representa esse mesmo percentual de 7,7%. Apresentam-se um

número significativo na categoria” Relativa ao esforço pessoal, no total de onze, com a mesma

inferência apresentada pelos sujeitos “estudar” (A1 até A11). Outra categoria é a “Relativa ao

86

desenvolvimento de habilidades, com a inferência” calcular e estudar” (A12) e a outra

corresponde a categoria “Relativa ao domínio da leitura” (A13). De modo geral, a estrutura em

que se estabelece a aprendizagem, estão estreitamente definidas pelas necessidades e

experiências dos alunos e alunas, a qual se constitui de conceitos relacionados ao nível de

aprendizagem e das suas dificuldades. Embora a maioria dos alunos e alunas atribua maior

número de incidências relativas ao seu esforço pessoal, em relação ao que se deve fazer para

aprender a matemática, a professora entende que para aprender matemática é necessário o

“interesse por conta das famílias, que não participam da vida escolar dos seus filhos”.

(Questionário Professora, Junho, 2015). No entanto, apesar da professora destacar em sua

escrita, sua relação afetiva positiva com a Matemática, na questão “Você gosta desta

disciplina?”, não se percebe nenhum indício apresentado pela professora sobre possíveis

mudanças na rotina de atividades, ou seja, uma reflexão sobre a participação efetiva dos alunos

e alunas em uma aprendizagem matemática e/ou prazerosa e contextualizada.

Procurando entender a natureza desse processo lançamos mão das ideias de Nacarato,

Mengali e Passos (2009) ao destacarem a importância do trabalho de professores e professoras

das séries iniciais (atualmente anos iniciais). A reflexão que as autoras fazem destaca a

relevância da articulação didática entre diferentes saberes e não apenas embasados no saber

pedagógico para favorecer a aprendizagem. Faz-se necessário articular o domínio do

conhecimento específico com os conhecimentos pedagógicos. As autoras destacam a

necessidade dos saberes de conteúdo matemático, postulando que não se pode ensinar conteúdo

sem que se tenha o domínio conceitual. Faz-se necessário trabalhar os múltiplos campos do

conhecimento relacionando-os entre si e com as demais disciplinas, além de contextualizá-los

no contexto mais amplo da conjuntura sociocultural. Quanto aos saberes curriculares, faz

menção à disponibilidade de recursos que podem ser trabalhados e que nos põe a configurar

nesse critério, a abordagem lúdica na perspectiva de desenvolver atitudes positivas em relação

à aprendizagem matemática.

87

3.2 Ludicidade, Matemática e Cotidiano

Quadro 13: O uso da Matemática Escolar no Cotidiano

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias

A1 Comprar alguma coisa quando

vou no mercadinho, eu sei que

duas pipocas é 0,60, se levo um

real sobra 0,40.

Relativa a atividades de compras de produtos

para uso cotidiano.

A2 Brincar e estudar Relativa ao lúdico

Relativo ao estudo fora da escola

A3 Brincar e comprar no

mercadinho

Relativa ao lúdico

Relativa a atividades de compras de produtos

para uso cotidiano

A4 Brincar de escola, dividir as

coisas, deixa eu ver mais, acho

que só

Relativa a atividades operacionais do dia a dia

Relativa ao lúdico

A5 Para aprender Resposta vaga, sem precisão

A6 Para tudo Resposta vaga, sem precisão

A7 Para aprender cada vez mais Resposta vaga, sem precisão

A8 Para fazer contas e também

contar dinheiro que tiver

Relativa a atividades operacionais do dia a dia

A9 Para comprar alguma coisa,

comprar com o tanto do

dinheiro

Relativa a atividades operacionais do dia a dia

Relativa a atividades de compras de produtos

para uso cotidiano

A10 Para ter o aprendizado melhor,

a contar as

Coisas

Relativa a atividades operacionais do dia a dia

Relativo ao estudo fora da escola

A11 Sem a matemática nós não

somos nada

Resposta vaga, sem precisão

A12 Para estudar Relativo ao estudo fora da escola

A13 Para aprender Resposta vaga, sem precisão Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação ao que se aprende na escola e é utilizado no cotidiano dos sujeitos, houve

uma predominância da categoria correspondente a “Respostas vagas, sem precisão”,

apresentadas nas seguintes falas dos sujeitos: “Para aprender” (A5); “Para tudo” (A6); “Para

aprender cada vez mais” (A7). Outra categoria com número significativo é a “Relativa a

atividades operacionais do dia a dia”, a qual apresenta-se as seguintes inferências: “Brincar de

escola, dividir as coisas, deixa eu ver mais, acho que só” (A4); “Para fazer contas e também

contar dinheiro que tiver” (A8); “Para comprar alguma coisa, comprar com o tanto do dinheiro”

(A8); “Para ter o aprendizado melhor, a contar as coisas” (A9).

88

Apresenta-se também a categoria “Relativa ao lúdico”, com as seguintes inferências

“Brincar e estudar” (A2); “Brincar e comprar no mercadinho” (A4); “Brincar de escola,

dividir as coisas, deixa eu ver mais, acho que só” (A). Destacam-se ainda mais duas categorias

com duas inferências cada uma, que são: “Relativa a atividades de compras de produtos para

uso cotidiano. “Comprar alguma coisa quando vou no mercadinho, eu sei que duas pipocas é

0,60, se levo um real sobra 0,40” (A1); “Para comprar alguma coisa, comprar com o tanto do

dinheiro” (A9) e a outra categoria “Relativo ao estudo fora da escola”: “Brincar e estudar”

(A2); “Para estudar” (A12).

Essas respostas estabelecem relações nas experiências vivenciadas pelos alunos e

alunas, o que de certa forma nos revelam a importância da construção do saber matemático na

situação social em que os mesmos estão inseridos. Partindo desse pressuposto, é interessante a

realização de atividades que permitam relacionar o aprender matemático na escola com as

situações do dia a dia.

A rotina diária na chegada dos alunos e alunas costuma apresentar uma grande

movimentação no espaço da escola dentre elas podemos observar as seguintes situações:

socialização de conversas, cumprimento a funcionários, idas ao banheiro e principalmente ao

bebedouro, este último, parecem estar com sede todos e todas ao mesmo tempo, ficando o

espaço muito aglomerado, dificultando a passagem para os espaços da sala de aula e banheiros,

uma vez que a instalação do mesmo fica nas proximidades desses espaços. Nota-se que os

alunos e alunas costumam chegar antes dos professores e professoras, sendo importante

ressaltar que a maioria desses alunos e alunas vem de transporte escolar, deslocando-se de

povoados.

As atividades desenvolvidas em sala de aula, seguem uma rotina diária. Inicialmente

a professora dá boa tarde aos alunos e alunas e em seguida faz a “chamada”18 colocando

presença para os presentes através de um ponto(.) e falta aos ausentes através da letra (F).

Acreditamos que essa atividade poderia ser mais aproveitada já que poderia ser explorados

algumas noções matemáticas como mais ou menos, quantidade de ausentes e presentes, entre

outros, uma vez que a chamada é uma atividade no qual todos alunos e alunas participam de

forma espontânea, respondendo quando seu nome é anunciado e pela ausência dos colegas e

das colegas ausentes no determinado dia.

Durante o recreio, maior parte dos alunos e alunas gosta de ficar dentro da própria sala

de aula, conversando sobre as atividades que desenvolve durante o dia, das brincadeiras que

18 Diz-se frequência utilizada para registrar a ausência ou presença dos alunos e alunas na sala de aula.

89

participam como: futebol, pega- pega. O sujeito A9 gosta de trazer baralho e brincar com os

colegas, revezando de parceiros à medida em que o sujeito for perdendo no jogo. Geralmente

formam duplas e quem perde é substituído. Essa atividade permite a contagem de pontos através

de cálculos de adição e subtração, o agrupamento de cartas iguais e principalmente atitudes

favoráveis a construção do conhecimento matemático. Apresentamos aqui o seguinte episódio:

Hoje mais uma vez a professora chegou atrasada, o que parece ser uma rotina diária

por parte de professores e professoras desta escola. Alguns alunos e alunas estão dentro da sala

e outros nas dependências da escola tais como: banheiros, corredores ou tomando água.

Inicialmente a professora pergunta quem respondeu a atividade para casa. Muitos alunos nem

abrem a boca e o A10 diz que a mãe está com depressão e por isso não fez. A7 diz que tentou

fazer mas não conseguiu. A professora se direciona ao quadro e diz aos alunos e alunas que é

preciso agrupar os fatores para facilitar o cálculo, mostrando os seguintes exemplos: a)2x3x5

(6x5=30 ou 2x15=30); b) 2x9x3(18x3=54 ou 2x27=54). A medida que se foi realizando os

cálculos, a professora começa a perguntar quanto é 2x3, o sujeito A9 responde 14; A6 responde

1000. A professora se irrita e diz aos alunos e alunas que ali não era adivinhação e que eles

tinham que saber. (Diário de Campo, 19/06/2016).

Retomando a análise do questionário é preciso confrontar aqui a resposta da professora

na seguinte questão: Durante as aulas de Matemática, você consegue estabelecer relação entre

a Matemática processada na escola e aquela utilizada pelos/as estudantes no seu cotidiano?

(“Sim. Somando valores e objetos, multiplicando ou dividindo). (Questionário Professora,

Junho, 2015).

Nossa intenção aqui é refletir sobre o desenvolvimento de atividades que contribuam

para a relação do conhecimento escolar no cotidiano, considerando importante ressaltar que

essa interação implica necessariamente na interação de alunos e alunas, professores e

professoras, o que configura o desenvolvimento em diferentes níveis e situações. Dessa forma,

como esse trabalho foca-se na ludicidade como possibilidade didática na construção do

conhecimento matemático e sua aplicabilidade em diferentes contextos sociais, podemos

sugerir na atividade desenvolvida com operações com números naturais a utilização de

materiais lúdicos de forma que possam serem utilizadas nas representações culturais em que os

alunos e alunas se relacionam com o meio em que vive. Nessa direção Melo (2002) discute a

importância do papel do professor/professora, na procura de condições de trabalho propícias e

desafiadoras, em que permitem a criança desenvolver a capacidade de agir de forma autônoma

e pensar por si própria, além de estabelecer condições de aprendizagem lógico-matemática.

Para tanto, o professor ou professora poderá auxiliar os conhecimentos existentes, estimulando

90

alunos a alunas a desenvolverem atividades que nas quais possam realizar comparações,

quantificar, agrupar, entre outros. Uma outra contribuição a esse respeito nos traz os PCN

(BRASIL, 2001) ao abordar a relação do aprender e ensinar Matemática no Ensino

Fundamental, apresentando critérios ao trabalho do professor ou professora, entre outras, sendo

que destacam-se como relevantes as concepções que o professor ou professora tem sobre a

Matemática, ou seja, a escolha das práticas pedagógicas, dos objetivos, conteúdos e o processo

avaliativo estão estreitamente ligados à determinadas formas de pensar e agir.

Quadro 14: O uso da Matemática Cotidiana no Espaço Escolar

Aluno/

Aluna

Respostas Categorias

Subcategorias

A1

Sim, fazendo contas do que a gente

compra numa loja ou mercadinho, pra

ver quanto fica.

Relativa a compra no comércio

A2 Sim, nas brincadeiras. Relativo a atividade lúdica

A3 Sim, fazendo contas Resposta vaga, sem precisão

A4 Sim, dia de quarta minha mãe trabalha

na churrascaria e eu entrego quentinha e

pego o dinheiro certo.

Relativa a atividade profissional

familiar

A5 Sim. Resposta afirmativa, sem justificativa

A6 Sim. Aprendendo aqui e lá Resposta vaga, sem precisão

A7 Sim. Brincando de escolinha. Relativa a atividade lúdica

A8 Não. Resposta negativa, sem justificativa

A9 Sim, para multiplicar no caderno. Resposta vaga, sem precisão

A10 Sim. Aprendendo a subtrair, saber mais

as coisas.

Resposta vaga, sem precisão

A11 Sim. Fazendo multiplicação e dividindo Resposta vaga, sem precisão

A12 Sim, nas brincadeiras Relativa a atividade lúdica

A13 Sim, estudando. Resposta vaga, sem precisão Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Quanto à questão se os conhecimentos adquiridos da Matemática no dia a dia são

utilizados na escola, estes apresentam um número significativo de respostas sim, em um total

de 12 (doze) sujeitos com resposta afirmativas, que corresponde a 92% e apenas 1(uma) com

resposta negativa com o percentual de 8%.

Sobre a forma como os saberes do cotidiano são utilizados pela escola, há um alto índice

na categoria “Respostas Vagas”, dentre as quais destacamos: “Para multiplicar no caderno”

(A9);” Fazendo conta” (A3). Outra categoria apresentada, sendo esta, o nosso objeto de estudo

é a “Relativa a atividades lúdica”, na qual três inferências são evidenciadas nas seguintes falas:

“Nas brincadeiras” (A2); “Brincando de escolinha” (A7); “Nas brincadeiras” (A12). Destacam-

91

se também mais duas categorias com um indicativo cada uma, que são: “Relativa a compra no

comércio” (“Fazendo contas do que a gente compra numa loja ou mercadinho, pra ver quanto

fica”), (A1)) e a outra “Relativa a atividade profissional familiar”. (“Dia de quarta minha mãe

trabalha na churrascaria e eu entrego quentinha e pego o dinheiro certo”), (A4).

Nesse contexto, as experiências observadas dá significado à reflexão sobre a forma que

ocorre o processo de aprendizagem nas dimensões aqui colocadas. Vejamos o seguinte

episódio:

Os alunos chegam pontualmente na escola, mas ficam aguardando a chegada da

professora, aproximadamente quinze minutos. Ao chegar na sala de aula a professora dá boa

tarde e pergunta como foi o final de semana. O sujeito A13 diz que foi passar o final de semana

na casa da avó, mas o ruim foi a caminhada que deu de uma hora para poder chegar. Diz ainda

que brincou muito com os primos de bola no terreiro. A3 diz “Eu brinquei de brincadeiras de

pega-pega e ninguém conseguiu me pegar, dei cada carreira”. Já A1 diz que foi para vaquejada

ver o pai pegar “Boi no mato”, mas que o pai não ganhou nenhum prêmio em dinheiro, mas sim

uma bezerra que valia 500 reais. (Diário de Campo, 21/07/2015).

As atividades apresentadas nos mostram a relação que alunos e alunas fazem com o

conhecimento matemático e principalmente o lúdico presente nessa construção. Destacamos

assim a matemática manifestada na forma de quantificar, de identificar horas, tempo,

reconhecer dinheiro, entre outros. Grando (2000), descreve que o lúdico tem se apresentado

nas mais diversas atividades cotidianas, manifestadas a partir das necessidades, como:

caminhar, dançar, entre outras. Assim, consideramos também, que as atividades lúdicas no

processo de aprendizagem Matemática favorecem a ação do sujeito na realização de atividades

que se constitui em diferentes situações de aprendizagem.

Quadro 15: O uso da Matemática no Brincar e as Brincadeiras

Brincadeiras-

Categorias

Aluno Aluna Frequência

Esconde esconde A1, A2, A4, A5, A6, A8, A10 07

Pega pega19 A1, A2, A4, A5, A10, A11 06

Escolinha A2, A3, A4, A5, A7 05

Amarelinha A2, A3, A8 03

Tubarão vermelho20 A4, A5 02

19 Pega-pega- Brincadeira coletiva, onde um participante terá que tocar no outro, até conseguir tocar em todos os

participantes. O primeiro a ser tocado, dará continuidade na próxima rodada. 20 Tubarão vermelho –Brincadeira coletiva, onde um participante deverá ser escolhido como tubarão vermelho, as

demais, deverão passar de um lado para outro em uma área demarcada. O primeiro que o tubarão conseguir pegar,

assumirá assim a nova posição de tubarão.

92

Paradinho 1, 2, 321 A4, A5 01

Para tudo22 A6 01

Bola A10 01

Pula corda A10 01

Baralho A8 01

Não entenderam a pergunta A10(perguntando números aos amigos);

nas brincadeiras, A12(nas brincadeiras);

A13(estudando).

03

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Quanto à questão do brincar ser utilizado na Matemática os 13 (treze) sujeitos

responderam que sim, o que corresponde a 100% do total. As brincadeiras apresentadas

destacam-se na seguinte ordem: 7 (sete) sujeitos disseram que utilizam a Matemática na

brincadeira de esconde esconde, 6 (seis) disseram pega pega; 5 (cinco) disseram escolinha; 3

(três) disseram Amarelinha; 3 (três) sujeitos não entenderam a pergunta; 2 (dois) tubarão

vermelho; 1(um) para tudo; 1 (um) bola; 1(um) pula corda e 1(um) para baralho com o mesmo.

Quanto ao nível de referência das brincadeiras em relação ao uso da Matemática

podemos observar algumas possibilidades de conteúdos que podem ser trabalhados a partir

dessa relação. Nas brincadeiras de esconde esconde, por exemplo, podem ser abordados

contagem, espaço, localização e outros. Na brincadeira de pega pega podem ser trabalhados

conhecimentos sobre velocidade, movimentos corporais de direita e esquerda, para cima e para

baixo, longe e perto, entre outros. Na escolinha, por exemplo, o sujeito desenvolve conteúdos

atitudinais como a troca de informações, afetividade na aprendizagem, autonomia nas decisões.

A brincadeira Amarelinha podem ser trabalhados números ordinais, contagem, lateralidade e

formas. De uma forma geral podemos destacar nas brincadeira de paradinho 1, 2, 3; para tudo;

bola, pula corda e baralho, o trabalho com conteúdos relacionados a cálculos de adição,

subtração, divisão e multiplicação, agrupamentos, espaço, quantidades, maior e menor, entre

outras.

Das características apontadas é notável o uso da Matemática nas brincadeiras

desenvolvidas pelos alunos e alunas, mesmo sendo utilizadas involuntariamente no processo da

construção do conhecimento matemático ocupa um lugar significativo no processo de

aprendizagem. Isso mostra a familiarização que eles apresentam, ainda que não seja conferido

a aplicabilidade do lúdico no espaço da sala de aula. Um dos aspectos a ser considerado está

21 Paradinha 1, 2, 3 – Jogo coletivo, em forma de círculo, passando a bola de mão em mão. Quem derrubar a bola,

contará 1, 2, 3, e lançará a bola para atingir o colega. Acertando, permanece no jogo, errando sairá e o jogo terá

continuidade com os demais participantes. 22 Para tudo – Possui as mesmas características de paradinha 1, 2, 3.

93

na relação do uso do lúdico na aprendizagem Matemática, assim para melhor entender essa

questão corroboramos das ideias de Sommerhalder e Alves (2011) ao colocar em questão a

dificuldade de se pensar em uma criança que não queira brincar e jogar, pois as atividades que

envolvem a ludicidade permitem que se entreguem de forma prazerosa, aprendendo enquanto

brincam ou brincando enquanto aprendem. As autoras ressaltam ainda que o brincar faz parte

das atividades humanas, não só na infância, mas que permanecem. Contudo, as atividades

desenvolvidas na infância dão espaço a outras com maior grau de complexidade. A seguir

apresentamos os seguintes episódios:

No momento do intervalo o professor da área de Matemática nos anos finais, procurou

a professora da turma para propor o desenvolvimento de um projeto elaborado por ele, sobre o

jogo do xadrez nas aulas de Matemática, a qual as turmas envolvidas seriam os 6º, 5º e 4º ano

do Ensino Fundamental, que participariam de um campeonato. O professor colocou a

importância da professora sensibilizar os alunos e alunas sobre sua participação, bem como que

os seus alunos e alunas da turma do 6º “A”, seria os instrutores das duas turmas, sob sua

orientação e acompanhamento da professora. Ressaltou que seriam três dias de instrução com

duração de uma hora para cada turma, no sentido de que os alunos e alunas pudessem se

familiarizar com esse jogo. A professora concordou e ao término do intervalo comunicou aos

alunos e alunas para participarem do campeonato de xadrez. O A1 questiona a professora,

dizendo o seguinte: “Desse jeito vai ser ruim prá(sic) gente, porque não sabemos esse jogo”.

A professora logo aborda que o professor e sua turma irão auxiliá-los na condução do jogo.

Nesse momento o professor e os alunos e alunas da turma do 6º ano chegam a sala e explicam

como vão desenvolver os passos para que possam aprender as regras do jogo. Logo, os alunos

e alunas formam duplas, mostrando-se interessados e procurando formar suas duplas para

brincar. Depois de uma hora, os alunos e alunas e o professor se despedem da turma e combinam

para o dia seguinte. O sujeito A2 fala que “o tempo é pouco para aprender e que a disputa vai

ser eles que vai ganhar, porque não vai dar tempo de aprender tudo”. O sujeito A10 disse que

é só praticar prestando atenção que é fácil. A professora se manifesta dizendo para os alunos

e alunas que o importante é participar. (Diário de Campo, 11/08/2015). A partir dessa

experiência pode ser discutido o quanto o jogo desenvolvido coletivamente desperta no

comportamento dos alunos e alunas atitudes, desafiadoras e o sentido crítico que se dá nas

diferentes dimensões e aspectos relacionados ao seu desenvolvimento. Segundo PCN

(BRASIL, 2001), os jogos desenvolvidos em grupos além de favorecer o raciocínio lógico da

criança representar um ganho significativo nos aspectos cognitivos, morais, sociais e

emocionais, o que se torna relevante a sua efetividade no contexto cultural da escola.

94

No dia seguinte, os alunos e alunas e o professor do 6º ano falam com a professora da

turma do 5º ano para levar os alunos e alunas para a sala de laboratório de informática para que

deem sequência às atividades com o jogo de xadrez. Logo, já se ver a correria em guardar os

cadernos e materiais, para se direcionarem à sala de informática. A organização se deu através

das duplas e um aluno ou aluna do 6º ano orientando com acompanhamento do professor do 6º

ano. Quanto à professora, cuidava para controlar os alunos e alunas que conversavam alto.

Observa- se que ao jogar os alunos e alunas desenvolvem o pensamento lógico, a movimentação

das peças, o valor que cada peça representa, a soma de pontos e que satisfatoriamente percebe-

se o trabalho com conteúdo da adição, subtração, divisão e multiplicação, como também a

questão de lateralidade frente, traz, direita, esquerda. (Diário de Campo, 12/08/2015).

Sobre esse aspecto abordado no episódio descrito, recorremos a Kishimoto (2008), que

considera que os jogos e brincadeiras fortalecem a cognição da criança, de forma que

possibilitam tanto na sua forma de produzir quanto na forma de adquirir o conhecimento

científico.

Quadro 16: Durante as brincadeiras eu uso a Matemática quando

Categorias Aluno/Aluna Frequência

Relativa a contagem

numérica

A1, (vamos contar alguma coisa); A3,

(contando); A6(conto); A9(estou contando)

04

Relativa a cálculos A12(estou calculando) 01

Não Entenderam a

pergunta

A2, (estou brincando) A4, (estou brincando e

estudando) A5, (é preciso)

A7, (estou em casa e na escola) A8, (brinco)

A10, (brincamos) A11, (para brincar)

A13(brinco de escolinha)

08

Fonte: Questionário alunos e alunas, (Junho, 2015).

Quanto à Matemática utilizada nas brincadeiras, a categoria que mais se destacou foi

a “Não entenderam a pergunta”, com 8 (oito) respostas. Apresenta-se também a categoria

“Relativa a contagem numérica com 4 (quatro) respostas e a categoria” Relativa a cálculos”

com 1(uma) resposta apenas. Esta tabela apresenta situações de como os alunos percebem o uso

da Matemática nas brincadeiras. A primeira questão que surge para a interpretação desse

questionamento é o modo como percebem e dão sentido às representações matemáticas, como

por exemplo, a contagem dos números naturais no desenvolvimento das brincadeiras,

calculando valores a partir de cálculos envolvendo a adição e subtração. Apresentamos o

seguinte episódio:

95

No intervalo das aulas, alguns alunos e alunas, ficam na sala de aula jogando baralho,

observa-se nessa brincadeira que conseguem contar as jogadas, agrupar cartas iguais e separar

as diferentes, realizar cálculos de adição e subtração à medida que somam os pontos adquiridos

e subtraem para saber quem foi o ganhador, ou seja, relacionando também quem fez mais ou

menos pontos. A ordem dos jogadores também são apresentados os números ordinais, a qual

está relacionada na fala do sujeito(A4): “Quem jogou primeiro foi (A6) e o segundo é (A9).

(Diário de Campo, 22/07/2015).

As possibilidades de aprendizagem Matemática através de atividades lúdicas favorece

a efetiva participação dos alunos e alunas na construção do conhecimento, o que permite de

certa forma desenvolver atitudes positivas nesse processo e estabelecer novas direções ao

conhecimento e experiências já existentes. Assim, a busca prazerosa no ato de aprender

favorece significado a apropriação de novos conhecimentos, o que de certa forma evidencia as

relações e a compreensão sobre o brincar na aprendizagem matemática. Porém, é necessário

estarmos atentos e postos à reflexão sobre a construção do conhecimento em diferentes

contextos de desenvolvimento, seja através dos instrumentos de trabalho e/ ou dos significados

dados às experiências coletivas que se processam no seu cotidiano. Para tanto Bustamante

(2004) aponta para a reflexão sobre o lúdico como parte constituinte do processo cultural da

escola. Nesses sentido, é necessário que o ambiente escolar apresente condições propícias e

condizentes no processo de formação dos sujeitos e os caminhos que determinam a ação efetiva

na construção do conhecimento.

Quadro 17: Relação da Matemática com o crescimento social

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação a Matemática está relacionada ao crescimento social da pessoa, obteve- se

um número significativo de respostas positivas, na qual 10(dez) sujeitos responderam que sim,

o que representa um percentual de 77% do total. Enquanto 3 (três) sujeitos, responderam mais

ou menos, equivalente a 23%. Para definir esse critério baseamo-nos na ideia de Melo (2002),

ao dá ênfase na importância do educador procurar trabalhar situações em que a criança possam

adquirir atitudes independentes e desenvolver seu próprio pensamento, a qual atribui ser a

Aluno/ Aluna Respostas

A1; A8; A13 Mais ou menos

A2; A3; A4; A5; A6; A7;

A9; A10; A11; A12;

Sim

96

direção primordial na construção do conhecimento lógico- matemático e nos aspectos sociais

que se apresentam. Apresentamos nesse sentido o episódio que trata desses aspectos:

Ao iniciar a aula o professor o professor do 6º ano convida os alunos e alunas, bem

como a professora, para irem a sala de informática, pois iniciaria naquele dia a lista de

classificação de alunos e alunas. Foram organizadas as mesas e os sorteios de duplas e rodadas,

a qual 4 alunos e alunas do5º ano foram classificados. Percebe- se como a autoestima dos alunos

e alunas ganham entornos significativos, a integração que se estabelece entre eles, seja a cada

ponto que se ganha ou se perde nas jogadas, na torcida pelos colegas que ainda estavam na

disputa. (Diário de Campo, 13/08/2015). Sobre esse aspecto Cabral (2006) aponta que o

trabalho com o jogo possibilita ao aluno e à aluna desenvolver entre muitas coisas aspectos

relevantes para o seu desenvolvimento. Dentre estas possibilidades destacam-se compreender

o contexto social do qual faz parte, atribuir significados a sua efetiva participação em diferentes

situações de aprendizagem, entre outras. Entre essas situações estão as desenvolvidas na relação

entre os colegas, no olhar que tem sobre determinadas coisas, na curiosidade, entre outras

possibilidades, que permitem que os alunos e alunas desenvolvam não só o conhecimento da

matemática como o da própria linguagem, podendo desenvolver seu pensamento crítico em

qualquer contexto ou situação.

Entrevistas

Pensamos no desenvolvimento da entrevista como ponto de reflexão sobre o pensar

dos alunos e alunas e sua relação com a Matemática e a ludicidade, sendo este o nosso objeto

de estudo, queremos aqui registrar as impressões e sentimentos registradas nas falas, a partir

das questões apresentadas. Para tanto, a organização das perguntas se dá na seguinte ordem:

1)Em que que situações, no município de Gararu, você percebe a Matemática; 2) Somente há

Matemática na escola?; 3) Nas brincadeiras, há Matemática?; 4) Nas atividades diárias

realizadas dentro e fora de casa há Matemática?; 5) Você acha que nos outros espaços da

comunidade de Gararu, que não seja a escola, há uma Matemática diferente daquela trabalhada

na escola?; 6) A Matemática usada pelas pessoas no dia a dia é a mesma trabalhada na escola

pelos/as professores/as?; 7)As pessoas que nunca estudaram em uma escola sabem Matemática?

Esta Matemática é igual na escola? Por que? 8) Nas aulas de Matemática de sua turma na escola

costuma ter brincadeiras, brinquedos ou jogos? No caso de resposta afirmativa (sim), a) quais

são elas; b) Quando acontece? c) Como acontece – quais brincadeiras, jogos ou brinquedos?

d) Você gosta quando acontece?

97

A entrevista realizada aconteceu no 21 de junho de 2015 às 15:00, no espaço

denominado “Cantinho de Leitura” da escola. Compareceram nesse dia apenas 10(dez) alunos

e alunas, sendo a entrevista realizada em grupo. Organizamo-nos sentados no chão, em

círculos, para que os alunos e alunas pudessem se sentir à vontade e registrar suas impressões

acerca das questões apresentadas, sendo a entrevista gravada e depois transcrita. Apresentamos

assim o roteiro de perguntas e as respostas dos alunos e alunas.

Quadro 18:Percepção da Matemática na localidade

Categorias Alunos/Alunas Frequência

Brincadeiras e outras

Atividades culturais da comunidade

A1(Correr boi no mato23);

A2(Comprar algo no

supermercado, brincadeiras);

A3(Na feira, brincadeiras); A4(No

troco errado a mulher diz ei

menina o troco tá errado,

brincadeiras); A5(Brincadeiras,);

A6(brincadeiras);

A7(brincadeiras);

A8(brincadeiras);

A9(brincadeiras); A10 (,

brincadeiras)

10

Artefatos tecnológicos A7(Internet); A8(celular,

brincadeiras) 02

Objetos pessoais A5(Brincadeiras, no meu tênis que

tem 31 e 32) 01

Objetos relacionados a leitura e \ou

estudo

A6(Nos livros também,

brincadeiras) 01

Atividades de compra A2(Comprar algo no

supermercado, brincadeiras);

A3(Na feira, brincadeiras);

A4(No troco errado aí a mulher

diz ei menina o troco tá errado,

brincadeiras);

03

Não entendeu a pergunta A10 (Nas professoras,

brincadeiras) 01

Fonte: Entrevista alunos e alunas (Junho, 2015).

Esse quadro apresenta o resultado de uma análise quanto a percepção dos alunos e

alunas em situações em que a Matemática se manifestam. É significativo a frequência em que

as brincadeiras se apresentam, ou seja, 100% dos alunos e alunas reconhecem a presença da

Matemática no brincar. Segundo Silva (2004), através do brincar, a criança desenvolve sua

comunicação em várias formas, sejam elas apresentadas na criatividade, na interação ou no

23 Esporte onde o homem montado a um cavalo corre atrás de um boi e/ou vaca, libertados/as em mata fechada.

98

imaginário, a qual permite desenvolver seu pensamento e ação em diversas situações. Nesse

sentido, Huizinga (2000) caracteriza o lúdico como parte integrante da cultura, a qual se

manifesta nas mais variadas formas que se encontram e que socialmente se organizam, sejam

elas em situações com níveis de maior complexidade ou nas relações de simplicidade. É preciso

ressaltar que os alunos e alunas interagem em espaços e situações de socialização, ao mesmo

tempo em que essa relação contribui para o desenvolvimento intelectual e social. Pretendemos

levantar aqui como a brincadeira ou o ato de brincar aparecem nas situações cotidianas e

configuram-se na relação com a Matemática.

A Matemática Somente na Escola

Sobre a existência da Matemática somente na escola, todos os 10(dez) sujeitos

responderam que não, o que corresponde a 100% do total, o que significa dizer os alunos e

alunas reconhecem a existência da matemática fora do espaço escolar. Essa respostas fazem

sentido, quando se observa situações apresentadas em outros contextos, a qual os alunos e

alunas conseguem apropriar-se do uso da Matemática em diferentes relações, sejam elas

desenvolvidas em casa, na rua que, o que de certa forma estabelece aspectos relevantes quanto

a sua percepção sobre as coisas. Cabe aqui ressaltar a importância que os aspectos da ludicidade

se apresentam no contexto cultural dos alunos e alunas, ou seja, ao desenvolver a Matemática

através de jogos e brincadeiras, é possível que a aprendizagem dos alunos e alunas apresentem-

se em contextos favoráveis ao desenvolvimento cognitivo e sua compreensão nas diferentes

situações em que a Matemática se apresenta. Nesse sentido, apresentamos o episódio seguinte:

Próximo ao intervalo, A6 e A9 pedem a professora para sair. Ao retornarem à sala

chegam dizendo: A merenda hoje é salada de frutas e A12 responde: _ Que bom! Adoro salada

de frutas! Nesse contexto, os alunos e alunas começam a falar que era bom se o lanche tivesse

bolo. Daí A8 relata a seguinte situação: Ontem na minha casa eu fiz um bolo e gastei 6(seis)

ovos, açúcar, manteiga. A1 questiona: “Você sabe quanto pega de cada coisa?” A8 responde:

“Claro que sei, é só medir o leite, a farinha e o resto das coisas e marcar as horas pra assar”.

(Diário de Campo, 23/07/2015).

Um dos aspectos dessa discussão descrita nos mostra como a Matemática se aplica nas

diferentes situações de brincadeiras e ações cotidianas, como na simples receita de um bolo.

Como percebemos foram trabalhados conteúdos matemáticos como: dúzia e meia dúzia, litro,

quilo, horas e a leitura e interpretação da receita. Atenta-se para o fato que o brincar exerce uma

influência relevante ao desenvolvimento social e cultural dos alunos e alunas e que o lúdico

pode encontrar-se em quaisquer situações prazerosas. Assim, como nos diz Wnnicott (1975) o

99

brincar faz parte da nossa vivência, a qual se caracteriza como uma experiência que acontece

de forma gradativa em determinado espaço-tempo.

Quadro 19: Percepção da Matemática nas brincadeiras

Categorias Aluno- Aluna Frequência

Sim com

justificativa

A1(sim, esconde esconde); A2(sim, pega pega);

A3(sim, pega pega); A5(Sim, amarelinha);

A6(Sim, para contar); A7(Sim, brincando de

esconde- esconde)

06

Sim sem

justificativa

A4(Sim); A8(Sim); A9(Sim); A10(Sim) 04

Fonte: Entrevista alunos e alunas, (Junho, 2015).

Quando analisamos se os alunos e alunas reconhecem a Matemática nas brincadeiras,

destacam-se duas categorias: “Sim, com justificativa”, com 6 (seis) resposta equivalente a 60%

do total e 4 (quatro) “Sim, sem justificativa”, com o percentual de 40%. É interessante perceber

que esse resultado indica um número significativo dos reflexos que os sujeitos tem sobre as

brincadeiras e sua relação com a Matemática. Discorremos aqui sobre atividades que favoreçam

o processo aprendizagem, a qual procuramos aprofundar conhecimentos direcionados ás

reflexões acerca do nosso objeto de estudo, a ludicidade. Em outras palavras, o brincar faz parte

do contexto cultural dos alunos e alunas, o que nos leva a pensar nas possibilidades de

construção do conhecimento a partir de situações que propicie espaços oportunos ao

aprendizado, ao mesmo tempo que tenha significado nas manifestações ligadas à Matemática e

às atividades lúdicas. Lembrando que, à medida em que alunos e alunas apresentam situações

em que estabelecem a Matemática nas brincadeiras, conforme destacado em outros momentos,

no desenvolvimento de cálculos e contagem, torna-se evidente a possibilidade de novos

recursos para dar significado aos conteúdos estudados e, principalmente, perceber que a

construção do conhecimento pode acontecer com a participação efetiva dos sujeitos discentes,

assegurando a compreensão e os valores que se constituem no processo de formação. Segundo

Kishimoto (2008), atividades educativas como jogos e brincadeiras propiciam o

desenvolvimento da capacidade cognitiva, a qual é um dispositivo elementar que permite ao

sujeito produzir cientificamente o conhecimento, configurando-se no conhecimento escolar a

partir das representações culturais inseridos nas brincadeiras e jogos.

100

Quadro 20: Matemática como Atividade Cotidiana

Categorias Aluno- Aluna Frequência

Sim A1; A2; A3; A4; A5; A6; A7 07

Não A8; A9; A10 03

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação a Matemática cotidiana, obtivemos 7 (sete) resposta sim, equivalente a 70%

do total, a qual os alunos e alunas reconhecem o uso da Matemática nas atividades diárias e 3

(três) resposta não, correspondendo a 30%. Observa-se que há uma percepção significativa da

Matemática com as atividades do dia a dia e que já se apresentaram nas falas dos alunos e

alunas, nas práticas relacionadas a atividades de compras no comércio, atividades profissionais

e nas brincadeiras. Com base nesses fatores, é preciso considerar que a aprendizagem visualiza-

se pelos aspectos socioculturais, a qual o conhecimento construído parte das situações vividas

em diferentes contextos.

De acordo com Machado (2004), é necessário que se conheça os aspectos culturais do

seu povo, sendo que a autora aponta ser este um caminho possível para entender os

acontecimentos do dia a dia e buscar soluções para os problemas que se apresentam. Ela destaca

nesse sentido, a importância do convívio social com base em concepções da atualidade,

referentes à representatividade do lúdico e da criatividade. Ainda consideramos que a

contextualização da Matemática escolar com atividades do cotidiano possibilita a

potencialização do desenvolvimento e da formação humana de maneira geral. Para isso faz-se

necessário abordar questões relacionadas, sobretudo, ao desenvolvimento de atividades

significativas, proporcionando aspectos de afetividade e de desenvolvimento cognitivo,

considerando conceitos manifestados pelos alunos e alunas no desenvolvimento das atividades.

É importante ressaltar que, com isso, a professora poderá identificar ações/situações quotidianas

dos/as estudantes e/ou de suas famílias nas quais uma matemática diferente daquela processada

na escola seja utilizada. Entre essas atividades nas quais a Matemática se faz presente destacam-

se: as atividades desenvolvidas no comércio, seja elas no supermercado ou lojas, no passar e

dar troco, entre outras coisas. (Questionário Professora, Junho, 2015).

Diferença da Matemática Trabalhada em Espaços da Comunidade e da Escola

Em relação as diferenças entre a Matemática utilizada em outros espaços da

comunidade de Gararu e a Matemática trabalhada na escola, todos os alunos e alunas

responderam que sim, reafirmando essa diferença. As respostas afirmativas compõem 100% do

total. Este resultado conduz a uma reflexão sobre a importância da ludicidade na aprendizagem

101

dos alunos e alunas, o que reforça nas suas falas a ausência de atividades lúdicas desenvolvidas

na sua turma, exceto quando desenvolvidas pelo professor de Educação Física no espaço da

orla. Entendemos que ao explorar a Matemática que aparece nas atividades diárias como jogos

e brincadeiras no espaço escolar, pode-se desenvolver o raciocínio lógico, ou seja, a abordagem

dos conteúdos torna-se mais favorável a aprendizagem. As atividades lúdicas envolvem

diversas situações significativas no aprender, como por exemplo desenvolvimento criativo e

autônomo nas relações que exigem a efetiva participação do sujeito na construção do seu

próprio saber. Segundo Ferrari; Savenhaco e Trevisol (2004) o lúdico se destaca por apresentar

aspectos relevantes à criatividade, os quais se manifestam nas brincadeiras. Contudo, é preciso

considerar que o criar não surge do nada, mas de experiências vividas anteriormente que podem

favorecer, com a devida intervenção pedagógica, novos significados do aprender Matemática,

por exemplo.

Quadro 21: Percepção da Matemática cotidiana e a Matemática escolar

Categorias

Aluno/Aluna Frequência

Sim A1; A2; A6; A8; A10 05

Não A3; A4; A5; A7; A9 05

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Quanto à percepção dos alunos e alunas sobre a Matemática cotidiana ser a mesma

trabalhada na escola pelos/as professores e professoras, 5 (cinco) responderam que sim,

equivalente a 50% do total e 5 (cinco) responderam que não, correspondendo aos outros 50%.

Esse resultado explicita uma diferença de percentual quanto as discussões anteriormente

apresentadas sobre o uso da Matemática cotidiana no espaço escolar, em que apresenta-se um

número maior de respostas sim, embora a categoria que mais se destaca seja “Resposta vaga

sem precisão.”

A partir desses resultados acreditamos que o equilíbrio das respostas se deu pelo fato

de serem desenvolvidas nas aulas de Educação Física atividades que fazem parte do contexto

cultural dos alunos e alunas e que se apresentam no desenvolvimento da Matemática, sejam

eles nos aspectos lúdicos (jogos e brincadeiras) e/ou apresentados nos conteúdos trabalhados

na sala de aula. É interessante perceber que nas situações em que o aluno é estimulado a pensar,

a aplicação do conhecimento pode ser desenvolvido de forma significativa, tanto na escola

quanto nas atividades desenvolvidas no cotidiano, de forma que permite organizar as diferentes

situações e contextos em que a Matemática se apresenta.

102

Quadro 22: Conhecimento Matemático construído fora do espaço da escola

Categorias Aluno- Aluna Frequência

Sim com justificativa A3(só é querer aprender); A4(todo mundo sabe,

quem não sabe) 02

Sim sem justificativa A1, A2; A3; A6; A7; A8; A9, A10 08

Fonte: Questionário aplicado aos alunos e alunas (junho, 2015).

Quanto às pessoas que nunca frequentaram uma escola saber Matemática,

apresentaram-se duas categorias: “Sim, com Justificativa”, a qual apresenta-se com 2 (duas)

justificativas, equivalente a 20% do total e 8 (oito) na categoria “sim, sem justificativa”

correspondendo a 80%. Os resultados apresentados evidenciam a percepção que os alunos e

alunas têm em relação com a aprendizagem construída em diferentes espaços que não seja a

escola, o que confirma o resultado que aponta que há Matemática para além da escola, ou seja,

os alunos e alunas percebem o uso da Matemática nas atividades diárias, seja elas desenvolvidas

nas atividades relacionadas ao comércio, na contagem de dinheiro e nas brincadeiras

desenvolvidas na comunidade.

A partir dessa experiência é possível inferir que para resolver problemas Matemáticos

as pessoas se utilizam dos seus conhecimentos cotidianos, o que nos remete a importância do

conhecimento prévio que se tem e dos valores culturais existentes para desenvolvimento da

aprendizagem escolar. Notamos que essa questão nos oferece a reflexão de que o conhecimento

Matemático se constituiu de elementos presentes no cotidiano dessas pessoas, o que nos leva a

pensar no uso de atividades que fazem parte da cultura dos alunos e alunas, como o brincar, que

faz parte do universo cultural dos sujeitos, como elemento potencializador do desenvolvimento.

Assim, acreditamos que o uso do lúdico poderá proporcionar situações eficazes e pertinentes

ao processo de aprendizagem. Segundo Maluf (2007) o brincar faz parte de nossa vida

cotidiana, sendo uma atividade que se apresenta de forma espontânea, independente de idade

ou classe social.

103

Quadro 23: Existência do Lúdico nas aulas de Matemática da Turma

Categorias

Aluno/Aluna Frequência

Não com

justificativa

A1(Não, só quando a gente vai para orla jogar bola,

queimado, vôlei. A gente gosta muito.);

A4(Não, de vez em quando pular corda); A6(Não, só

quando a gente vai para orla);

A7(Não, só quando a gente tem aula de educação física);

A8(Não, só quando a gente estudava com a professora do

4º ano); A9(Não, só em educação física)

06

Não sem

justificativa

A2; A3; A5; A10 04

Fonte: Questionário alunos e alunas (Junho, 2015).

Em relação a prática de atividades lúdicas na escola nas aulas de Matemática,

apresenta-se o percentual de 100% de respostas não, considerando que 60% não, com

justificativa e 40% não, sem justificativa, embora observa-se a presença dessas atividades

desenvolvidas na orla, nas aulas de Educação Física. Essas respostas nos levam a pensar que as

práticas descontextualizadas do lúdico e do cotidiano na prática em sala de aula, com a

professora titular da turma tem uma primazia na forma que alunos e alunas enxergam a escola

e sua prática de ensino, já que as atividades com esta professora constituem a maioria absoluta

da ação de aprendizagem escolar. A partir desses resultados podemos definir esse critério nas

considerações apontadas pela professora quando questionada sobre o desenvolvimento de

brincadeiras, brinquedos ou jogos nas aulas de Matemática de sua turma. A referida profissional

diz que raramente utiliza essas estratégias, alegando a falta de tempo e material para

confeccionar e planejar atividades lúdicas, embora na sua fala coloque reconhecer a importância

do lúdico na aprendizagem dos alunos e alunas (Questionário Professora, Junho, 2015).

Sobre essa questão Nacarato; Mengali e Passos (2009), nos revela que de forma geral,

a formação das professoras polivalentes não abrange tendências da atualidade, constituídas nas

bases dos currículos de Matemática, ou seja, ainda apresenta-se por meio de métodos centrados

na resolução de cálculos. Ainda sobre essa questão Brasil (2001), aponta que o trabalho do

professor ou professora através de atividades orais, repetição de sequência de exercícios que

propõe ao aluno e aluna reproduzirem conteúdos de forma mecanicista, se mostram inoperantes

por reforçar a repetitividade ao invés estabelecer situações em que a compreensão dos dados dê

sentido ao conhecimento construído.

É preciso ressaltar, que o lúdico provoca uma mudança na dinâmica da aula. Embora

tenha ocorrido em outro espaço que não seja a sala de aula, nas aulas de Educação Física e nas

104

atividades com o Professor do 6º ano (Campeonato de Xadrez). Os alunos e alunas vivenciaram

situações prazerosas e significativas na construção do conhecimento matemático, utilizando-se

de jogos e brincadeiras no desenvolvimento de habilidades e reforçando conteúdos, a qual

destacamos lateralidade, operações de adição e subtração, entre outros que foram apresentados

nas discussões anteriores.

105

CONSIDERAÇÕES

O desenvolvimento deste trabalho permitiu analisar possíveis contribuições do lúdico

na aprendizagem matemática, tendo como espaço-tempo uma turma do 5° do Ensino

Fundamental de uma escola do município de Gararu-Sergipe, Brasil. Os estudos teóricos acerca

do objeto de estudo apontaram que, de fato, a Matemática tem sido, historicamente

predominantemente caracterizada como um dos grandes desafios no ensino e na aprendizagem

dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ainda tratada como disciplina difícil, reificada como

destinada à aprendizagem de poucos, supervalorizada pela perspectiva da exclusão,

costumeiramente, de forma inconsciente nos níveis iniciais de formação. Trata-se de uma

disciplina cuja aprendizagem está ligada a adjetivos que denotam situações de insatisfação,

medo, limitações e outras dimensões que envolvem desafios e dificuldades na construção do

conhecimento.

Sendo assim, o intuito deste estudo, de analisar as possibilidades desse lúdico como

instrumento contribuinte para a ressignificação do aprender Matemática passa pela trajetória

dos aspectos específicos investigados na perspectiva de: caracterizar a relação dos sujeitos da

pesquisa com a matemática e com o lúdico; identificar aspectos da relação da Matemática com

o lúdico a partir das percepções desses sujeitos e analisar possibilidades e limites do uso do

lúdico na aprendizagem matemática escolar.

Com base nos aspectos mencionados, é importante ressaltar, que nem todas as

aplicações da matemática são fáceis de serem percebidas e analisadas, o que nos remete a

refletir de que maneira alunos e alunas relacionam o conhecimento escolar com a sua vida

cotidiana. Partindo desse pressuposto, acreditamos em possibilidades de superação das

dificuldades no processo aprendizagem na medida em que os desafios sejam melhor

compreendidos diante das necessidades emergentes no espaço educativo. Faz-se necessário, ao

nosso ver, pensar na valorização dos conhecimentos prévios dos alunos e alunas, pois sabemos

o quanto as suas experiências de vida, em que a Matemática se apresenta, são construídas de

significados que fazem parte da realidade com múltiplas dimensões (políticas, culturais e

sociais), que se entrelaçam e dialogam na constituição de diferentes conhecimentos que estão

na vida e para a vida.

Nossa intenção foi discutir caminhos para compreensão da dimensão do processo de

construção do conhecimento matemático através da ludicidade. Para isso é relevante c

compreender as relações em que se realizam a produção do conhecimento e a interpretação das

diferentes situações em que aprendizagem acontece.

106

Ao trabalhar com situações que fazem parte do contexto cultural dos alunos e alunas, é

possível contribuir para o desenvolvimento da capacidade crítica, afetiva e criativa na forma de

pensar e re(construir) o conhecimento. Desta forma, o que inicialmente devemos levar em

consideração é a forma em que os alunos e alunas interagem com o meio em que vive e

estabelece relação com o desenvolvimento do processo de aprendizagem. Neste sentido,

buscamos possibilitar a construção do conhecimento a partir dos significados que os alunos e

alunas fazem estabelecem com suas experiências da vida, o que significa dizer que as ideias se

constituem dos resultados dessa relação com os desafios da atualidade. O trabalho de análise

reforça a compreensão da aprendizagem Matemática por meio de atividades lúdicas, que podem

favorecer o desenvolvimento reflexivo a partir de uma relação prazerosa com o aprender e da

aproximação da aprendizagem escolar com o contexto social em que estão inseridos os sujeitos

desse aprender. Nesse contexto, faz-se necessário que a escola trabalhe com os conhecimentos

prévios de alunos e alunas, constituindo uma relação de aprendizagem contextualizada na

relação com o cotidiano e favorecendo uma relação significativa neste processo.

A constatação de que existem convergências e divergências entre aspectos relacionados

a aprendizagem Matemática, não impede, contudo, que se busquem, através de atividades

prazerosas e significativas, (re)construir o conhecimento, de forma que a aproximação com a

ludicidade favoreça a ação educativa.

No que se refere a relação dos sujeitos da pesquisa com a Matemática, percebe-se que

esta se caracteriza como uma relação predominantemente negativa, seja na relação afetiva

negativa estabelecida com esta disciplina, quanto na atribuição de alto nível de dificuldade da

mesma. Há uma autoculpabilização pelas dificuldade de aprendizagem dos conteúdos da

disciplina por parte das alunas e alunos e atribuição do fracasso destes à própria insuficiente de

esforço pessoal destes na concepção da professora.

Sobre a relação da professora com a disciplina, esta se coloca como uma profissional

segura de que se relaciona bem com o ensino da mesma, apesar da relação negativa vivida na

sua trajetória escolar na Educação Básica. No entanto, apresenta em suas práticas pedagógicas

na turma, indícios de concepções, procedimentos e atitudes predominantemente reducionistas

e conservadoras da Matemática.

Em relação ao lúdico, sua presença como instrumento educativo de aprendizagem é

extremamente incipiente na turma em questão, apesar da percepção dos alunos e alunas sobre

a vivência e a importância desse lúdico no seu cotidiano.

Quanto à relação do lúdico com a Matemática, alunos e alunas apontam a presença desse

lúdico no seu cotidiano, no entanto também explicitam a ausência do uso dessa dimensão na

107

sala de aula. Embora a professora atribua importância de atividades lúdicas como facilitadoras

da aprendizagem, ao admitir o não uso destas nas suas práticas, justifica essa ausência

considerando a inexistência de materiais e de tempo necessário para confecção e uso.

Enfim, os dados do campo, expressos em falas, escritas e práticas observadas, apontam

para limites consideráveis de uso do lúdico na potencialização da aprendizagem matemática,

dos quais destacamos a percepção reducionista ou tecnista em relação à Matemática. Essa

postura favorece a desconsideração da Matemática como ciência viva e dinâmica,

socioculturalmente imbricada no cotidiano, como apontam Koch e Ribeiro (2001).

A visão reificada da Matemática como, que como diz Grando (2000) trata esta como

“ciência pronta, acabada, incontestável”, alimentando uma postura pedagógica estática,

comodista e despotencializadora em relação à responsabilidade dos sujeitos mediadores dos

processos de ensino e de aprendizagem em relação ao sucesso ou fracasso na aprendizagem

matemática.

Verifica-se que os aspectos da relação do lúdico com a Matemática, na percepção dos

sujeitos alunas e alunos, se restringem a sua vivência externa à escola, nas atividades culturais

da comunidade e nas aulas de Educação Física, desenvolvidas fora da escola por outro

professor. Infelizmente, embora a professora da turma acompanhe essa atividade, esta não faz

articulação do que é trabalhado na Educação Física com os demais conteúdos trabalhados em

sala de aula.

Apesar dos limites e desafios verificados no decorrer deste estudo, os aportes teóricos

utilizados em sua trajetória de elaboração também evidenciaram que o ensinar, assim como o

aprender, é espaço-tempo de múltiplas possibilidades, o que tem possibilitado avanços em

relação ao ensino de Matemática, constituindo-se o uso da ludicidade neste ensino como uma

ação contributiva de enfrentamento desses desafios, na perspectiva da Matemática em relação

com o cotidiano, como construção cultural humana vivenciada por todos os sujeitos sociais,

incluindo os sujeitos desta pesquisa. Embora os dados do campo tenham apontado a incipiência

da relação ciência e cultura nos encaminhamento pedagógicos da educação escolar, as crianças

tem uma relação significativa com cultura na sua relação com o lúdico e com a Matemática na

sua vivência cotidiana. Os desafios são muitos, mas a esperança alimenta perspectivas a partir

da percepção de que o fazer educativo é tecido a partir de vozes e práticas multidimensionais.

Assim, acreditamos ser possível a reflexão em diferentes ângulos e dimensões em que

o conhecimento matemático se processa, sejam elas através de exercícios repetitivos e/ ou

atividades lúdicas, bem como nas expressões provocadas por satisfação ou insatisfação,

inquietação, curiosidade, afetividade positiva e/ou negativa apresentadas pelos alunos e alunas.

108

Nesse sentido, a ludicidade como repertório pedagógico na aprendizagem matemática

possibilita o interesse efetivo e a mudança no âmbito educacional, permitindo não só o domínio

de conteúdos, mas sobretudo uma aprendizagem que apresente aspectos significativos e

fundamentados nas necessidades de novas formas de construir o conhecimento. Os desafios

estão lançados, a partir das experiências e da compreensão da realidade, ou seja, dos

significados em que o conhecimento se constitui e seus resultados, vivenciados na vida escolar

e na vida cotidiana.

109

REFERÊNCIAS

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Loyola, 2003.

ALSINA Àngel i Pastells. Desenvolvimento de competências matemáticas com recursos

lúdico-manipulativos: para crianças de 6 a 12 anos. Curitiba: Base Editorial, 2009.

ARAÚJO, Irene Coelho. O Fracassso Escolar na 5ª Série do Ensino Fundamental em

Matemática de uma Escola da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/MS. Campo

Grande-MS: Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul (UFMS), 2005. Dissertação de Mestrado.

BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus,

1984.

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113

APÊNDICES

114

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

E MATEMÁTICA

MESTRADO EM ENSINO DE CIẼNCIAS E MATEMÁTICA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Maria Batista Lima

MESTRANDA: Gracineide Barros Santos

QUESTIONÁRIO24

(Professora)

Data da aplicação deste instrumento: ___/ /

I – CARATERIZAÇÃO DO SUJEITO

1.Nome: ______________________________________________________________

2. Idade: ______3. Sexo: M ( )F ( ) 4.Religião:____________________________________

5.Formação em Nível Médio: 6. Curso: ________________________________________

7. Instituição Formadora: _________________________ 8. Ano de Conclusão: ___________

9. Licenciatura: _____________________________________________________________

10. Instituição Formadora: _______________________ 11. Ano de Conclusão: ___________

II- RELAÇÃO COM A MATEMÁTICA

1. Como você classificaria sua relação afetiva com a Matemática?

a) ( ) Você gosta bastante desta disciplina.

b) ( ) Você gosta desta disciplina.

c) ( ) Você gosta mais ou menos desta disciplina.

d) ( ) Você não gosta desta disciplina.

e) ( ) Você detesta esta disciplina.

2. Você se considera preparado/a para ensinar matemática:

a) ( ) Apenas na Educação Infantil.

b) ( ) Apenas na Educação Infantil e no 1º e no 2º ano do Ensino Fundamental.

c) ( ) Apenas na Educação Infantil e do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental.

d) ( ) Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

e) ( ) Na Educação Infantil e em todos os anos iniciais do Ensino Fundamental.

3. Você considera a Matemática uma disciplina difícil?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

24 A construção deste instrumentou apoiou-se: a) no questionário do projeto Relações dos Alunos com os Saberes, coordenado pelo Prof. Dr. Bernard Charlot, subgrupo Diversidade (Grupo de Pesquisa EDUCON); b) no questionário do projeto Compartilhando as Diferenças e Promovendo a Equidade na Educação Sergipana, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Batista Lima (Grupo de Pesquisa GEPIADDE).

115

Por quê? __________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

I. As questões de 4 a 9 devem ser completadas com a resposta adequada

4. Quando estudante, a disciplina que eu sentia mais dificuldade era _________________

5. Quando estudante, a disciplina que eu não gostava (ou menos gostava) era _________

6. Quando estudante, a disciplina que eu mais gostava era _________________________

7. Quando estudante, a disciplina que eu sentia mais facilidade era __________________

8. Quando estou ministrando minhas aulas, a disciplina que eu me sinto mais à vontade para

ensinar é ______________________________________________________________

9. Quando estou ministrando minhas aulas, a disciplina que eu me sinto menos à vontade para

ensinar é _______________________________________________________

10. Você teria cursado Pedagogia se o campo de conhecimentos matemáticos compusesse

fortemente o currículo daquele curso?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Talvez

11. Você considera que sua formação inicial:

a) ( ) Contribuiu bastante para o seu desempenho no ensino de Matemática.

b) ( ) Contribuiu razoavelmente para o seu desempenho no ensino de Matemática.

c) ( ) Contribuiu um pouco para o seu desempenho no ensino de Matemática.

d) ( ) Não contribuiu para o seu desempenho no ensino de Matemática.

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

12. Você participa:

a) ( ) Frequentemente de cursos de formação continuada que lhe instrumentalizem para o

ensino de Matemática.

b) ( ) Raramente de cursos de formação continuada que lhe instrumentalizem para o ensino

de Matemática.

c) ( ) Não participa de cursos de formação continuada que lhe instrumentalizem para o

ensino de Matemática.

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

13. Durante a semana, quantos dias você reserva para trabalhar:

a) Matemática ____

b) Português _____

c) Ciências _____

d) Geografia _____

e) História _____

116

III – MATEMÁTICA, LUDICIDADE E COTIDIANO

1. Que recursos pedagógicos você geralmente utiliza para ensinar Matemática aos/às seus/suas

estudantes? ________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2. Durante as aulas de Matemática, você consegue estabelecer relação entre a matemática

processada na escola e aquela utilizada pelos/as estudantes no seu quotidiano?

a) ( ) Sim

b) ( ) Não

c) ( ) Mais ou menos

Se você optou pelo item “a” ou “c”, como você efetiva isso? _______________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

3. Você saberia listar ações/situações quotidianas dos/as estudantes e/ou de suas famílias nas

quais uma matemática diferente daquela processada na escola seja utilizada?

a) ( ) Sim b) ( ) Não

Se você respondeu “sim” indique-as. __________________________________________ ________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

4. Em sua opinião, o que o/a estudante deve fazer para aprender matemática? _______

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Em sua opinião, qual o perfil do/a estudante mais apto para aprender matemática?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6. Em sua opinião, há relação entre Matemática e Cultura?

( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo, explique essa relação_________________________________________

___________________________________________________________________________

Em caso negativo, explique sua resposta __________________________________________

__________________________________________________________________________

7. Você costuma usar brincadeiras, brinquedos ou jogos nas aulas de Matemática de sua

turma? ____________________________________________________________________

8.1 Caso a resposta à pergunta anterior seja afirmativa:

a) Quais são elas?

b) Com que frequência esse uso ocorre?

c) Que brincadeiras, jogos ou brinquedos você costuma usar?

117

Caso a resposta à pergunta anterior seja negativa, o que impede ou dificulta este uso do lúdico

na sua prática de ensino?

___________________________________________________________________________

9. Em sua opinião, quais as vantagens e desvantagens do uso do lúdico (ou de jogos,

brincadeiras e brinquedos) no ensino? ______________________________________

___________________________________________________________________________

118

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

E MATEMÁTICA

MESTRADO EM ENSINO DE CIẼNCIAS E MATEMÁTICA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Maria Batista Lima

MESTRANDA: Gracineide Barros Santos

QUESTIONÁRIO25

(Alunas e Alunos)

Data da aplicação deste instrumento: ___/ /__

I. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS

1. Nome: ___________________________________________________________

2. Idade: ___ 3. Sexo: M ( ) F ( ) 4. Religião__________________________

5. Você é: Negro/a ( ) Branco ( ) Indígena ( ) Oriental ( )

Outro ( ). Qual? ________________________

6. Sua mãe é: Negra ( ) Branca ( ) Indígena ( ) Oriental ( )

Outro ( ). Qual? ___________________________

7. Seu pai é: Negro ( ) Branco ( ) Indígena ( ) Oriental ( )

Outro ( ). Qual: _________________________

8. Em que seu pai trabalha? ___________________________________________________

9. Em que sua mãe trabalha? __________________________________________________

10. Qual o nível de escolaridade de seu pai?

a) ( ) Nunca estudou. b) ( ) Ensino fundamental incompleto.

c) ( ) Ensino fundamental completo. d) ( ) Ensino médio incompleto.

e) ( ) Ensino médio completo. f) ( ) Ensino superior incompleto.

g) ( ) Ensino superior completo.

11. Qual o nível de escolaridade de sua mãe? a) ( ) Nunca estudou. b) ( ) Ensino Fundamental incompleto.

c) ( ) Ensino Fundamental completo. d) ( ) Ensino Médio incompleto.

e) ( ) Ensino médio completo. f) ( ) Ensino Superior incompleto.

25A construção deste instrumentou apoiou-se: a) no questionário do projeto Relações dos Alunos com os Saberes,

coordenado pelo Prof. Dr. Bernard Charlot, subgrupo Diversidade (grupo de pesquisa EDUCON); b) no

questionário do projeto Compartilhando as Diferenças e Promovendo a Equidade na Educação Sergipana,

coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Batista Lima (grupo de pesquisa GEPIADDE).

119

g) ( ) Ensino Superior completo.

II. RELAÇÃO COM A MATEMÁTICA

1. A disciplina que você mais gosta é ___________________________________________

2. A disciplina que você menos gosta (ou não gosta) é _____________________________

3. Qual sua relação afetiva com a Matemática?

( ) Eu gosto muito de Matemática.

( ) Eu gosto de Matemática.

( ) Eu gosto um pouco de Matemática.

( ) Eu não gosto de Matemática.

4. Você considera a Matemática uma disciplina importante?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

5. Você considera a Matemática uma disciplina difícil?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

6. Você tem dificuldades para aprender Matemática?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

7. Você considera que todas as pessoas são capazes de aprender Matemática?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Por quê? _________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

8. Em sua opinião, quem tem mais dificuldade para aprender Matemática? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9. Quais as atividades de Matemática que você prefere? __________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10. Para que serve a Matemática? ______________________________________________

120

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11. COMPLETE: Para aprender Matemática é preciso ____________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

III – MATEMÁTICA, LUDICIDADE E COTIDIANO

1. COMPLETE: O que aprendo em Matemática na escola eu uso no meu dia a dia para

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2. O que você aprende em Matemática no seu dia a dia é usado na escola?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Se você marcou o item “a” ou “c”, explique como isso acontece. ___________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

3. Em sua opinião, enquanto brinca você utiliza Matemática?

a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Mais ou menos

Em caso afirmativo, cite algumas brincadeiras em que você usa Matemática. __________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

4. COMPLETE: Durante as brincadeiras eu uso a Matemática quando _____________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Você relaciona a Matemática ao crescimento social da pessoa?

a) ( ) Sim

b) ( ) Não

c) ( ) Mais ou menos

121

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

E MATEMÁTICA

MESTRADO EM ENSINO DE CIẼNCIAS E MATEMÁTICA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Maria Batista Lima

MESTRANDA: Gracineide Barros Santos

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Alunas e Alunos)

QUESTÕES 1. Em que situações, no município de Gararu, você percebe a Matemática

2. Somente há Matemática na escola?

3. Nas brincadeiras, há Matemática?

4. Nas atividades diárias realizadas dentro e fora de casa há Matemática?

5. Você acha que nos outros espaços da comunidade de Gararu, que não seja a escola, há

uma Matemática diferente daquela trabalhada na escola

6. A Matemática usada pelas pessoas no dia a dia é a mesma trabalhada na escola pelos/as

professores/as?

7. As pessoas que nunca estudaram em uma escola sabem Matemática? Esta Matemática

é igual na escola? Por que?

8. Nas aulas de Matemática de sua turma na escola costuma ter brincadeiras, brinquedos

ou jogos? No caso de resposta afirmativa (sim), a) quais são elas; b) Quando acontece?

c) Como acontece – quais brincadeiras, jogos ou brinquedos? d) Você gosta quando

acontece?

122

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

E MATEMÁTICA - PPGECIMA

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Maria Batista Lima

MESTRANDA: Gracineide Barros Santos

Senhor gestor,

Este questionário é-nos mui caro, vez que contribuirá imensuravelmente não apenas para

confecção de nossa dissertação, mas para que possamos penetrar nos meandros da escola – seus

pensares, dizeres e fazeres – indispensável à elaboração de estratégias que alicerçarão nossa

práxis enquanto educador, enquanto pesquisador, enquanto sujeito que acredita na escola

pública e tem-na como bandeira de luta e de esperança. Portanto, desde já, nossa gratidão

imensa ao/à senhor/a e nosso carinho revestido de reconhecimento pelo trabalho que aqui vem

sendo desenvolvido.

Cordialmente,

Prof.ª Gracineide Barros Santos

QUESTIONÁRIO - Gestor

I. DADOS LEGAIS SOBRE A ESCOLA

1.1 Endereço completo: ________________________________________________________

____________________________________________________ Telefone: _______________

Ato de Criação nº ___________________ Ato de Autorização nº _______________________

Ato de Reconhecimento n° ___________________________ Data de início das atividades

pedagógicas _____/_____/_________. Entidade Mantenedora: _________________________

1.2 Matrícula inicial/2015:

a) Geral: ___________ b) Manhã: __________ c) Tarde: __________ d) Noite: ___________

e) Ed. Infantil/Geral: ______ f) Turma 01: ______ - Faixa de idade: _____________________

g) Turma 02: ______ - Faixa de idade: _______ h) Turma 03: _____ - Faixa de idade: _______

i) Turma 04: ______ - Faixa de idade: _______ j) Turma 05: _____ - Faixa de idade: ________

k) Ensino Fundamental/Geral: ______ l) 1º ano (EF): ______ m) 2º ano (EF): __________ n)

3º ano (EF): ______ o) 4º ano (EF): ______ p) 5º ano (EF): ______ q) 6º ano (EF): ______ r)

7º ano (EF): _______ s) 8º ano (EF): ______ t) 9º ano (EF): _______ u) Ens. Médio/Geral:

____ v) 1º ano (EM): _____ x) 2º ano (EM): _____ y) 3º ano (EM): _____.

1.3 Profissionais lotados na escola:

1.3.1 Equipe administrativa

a) Diretor/a (nome): ___________________________________________________________

123

Formação (superior): __________________________________________________________

Instituição onde cursou o ensino superior: __________________________________________

Possui especialização? ( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, indicar: ______________________________________________________

Tempo na Rede: ______ Tempo na escola/professor: ______ Tempo na escola/direção: _____

Tornou-se diretor por: ( ) Nomeação do executivo ( ) Eleição ( ) Outro. Qual? ________.

b) Coordenador/a (nome): ______________________________________________________

Formação (superior): ________________ Possui especialização? ( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, indicar: ______________________________________________________

___________________________________________________________________________

Tempo na Rede: ____ Tempo na escola/professor(a): ____ Tempo na escola/coordenação?

____

Tornou-se coordenador/a por: ( ) Nomeação do executivo ( ) Eleição ( ) Outro. Qual? ______

c) Secretário/a (nome): _________________________________________________________

Formação (superior): __________________________________________________________

Instituição onde cursou o ensino superior: __________________________________________

Possui especialização? ( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, indicar: ______________________________________________________

___________________________________________________________________________

Tempo na Rede: _____ Tempo na escola/professor: _____ Tempo na escola/direção? ______

Tornou-se diretor por: ( ) Nomeação do executivo ( ) Eleição ( ) Outro. Qual? ________

1.3.2 Professores (em regência de classe)

a) Geral (contratados/as: ___________ + efetivos: ___________) = ____________

b) Polivalentes (contratados/as: ___________ + efetivos: ___________) = ________

c) de Matemática: _______ d) de Português: ________ e) de Ciências: _______ f) de

História: ____ g) de Geografia: _______ h) de Ed. Física: _________ i) de Artes: _________

j) de Inglês: _____ k) de Filosofia: _____ l) de Sociologia: ______ m) de Espanhol: _______

n) de Física: _______ o) de Química: _______ p) Outras disciplinas: ______ Quais?

___________________________________________________________________________

1.3.2.1 Todos os professores polivalentes são graduados em Pedagogia? ( ) Sim ( ) Não

Pedagogos graduados: _______ Pedagogos não graduados: _______

Quantos Pedagogos possuem: a) Especialização: ____ b) Mestrado: ____ c) Doutorado: ____

1.3.2.2 Todos os professores de Matemática são graduados em Matemática? ( ) Sim ( ) Não

Matemáticos graduados: _______ Matemáticos não graduados: _______

Quantos matemáticos possuem: a) Especialização: ____ b) Mestrado: ____ c) Doutorado: ___

1.3.3 Pedagogos (função técnico-pedagógica), quantos?

a) Geral: ________ b) Manhã: _________ c) Tarde: __________ d) Noite: __________

1.3.4 Equipe técnico-administrativa e apoio:

a) Auxiliar administrativo: ______ b) Merendeiro/a: ______ c) Porteiro/a: ______ d)

Vigilante: _____

e) Serviço de limpeza: _______ f) Outros (Qual?): __________________________________

1.4 A escola possui Regimento Escolar? ( ) Sim ( ) Não

a) Como ele foi elaborado? ( ) Secretaria Municipal ( ) Equipe diretiva da escola

124

( ) Comunidade escolar ( ) Comunidade escolar e local

b) Em que ano o Regimento Escolar foi homologado pelo Conselho Municipal de Educação?

______________________________________________________________________

c) Os/as professores/as conhecem o Regimento Escolar? ( ) Sim ( ) Não

d) Os/as estudantes conhecem o Regimento Escolar? ( ) Sim ( ) Não

e) Os/as pais/mães conhecem o Regimento Escolar? ( ) Sim ( ) Não

f) Todos/as os/as servidores/as da escola conhecem o Regimento Escolar? ( ) Sim ( ) Não

1.5 Quanto à estrutura física (dados quantitativos e situação de funcionamento):

Dependências Quantidade Condição de uso

Ruim Regular Bom Ótimo

Sala de aula

Sala de professores

Sala de recursos

Sala da coordenação

Sala da equipe técnico-pedagógica

Secretaria

Diretoria

Sala de leitura

Biblioteca

Laboratório de informática

Laboratório de Ciências Naturais

Outro/s laboratório/s

Cantina

Cozinha

Refeitório

Banheiros para estudantes

Sanitários para estudantes

Banheiros para professores/as

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OUTROS: Quais?

II. INFORMAÇÕES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS

2.1 A escola possui Projeto Político-Pedagógico? ( ) Sim ( ) Não

2.1.1 Como ele foi construído? ( ) Pela equipe diretiva ( ) Pela comunidade escolar

( ) Pela comunidade escolar e local ( ) Outro. Qual? ________________________________

2.1.2 Quando ele foi construído? _____________________

2.1.3 De que forma o PPP é acompanhado e avaliado? _______________________________

125

___________________________________________________________________________

2.1.4 Os/as professores/as conhecem o Projeto Político-Pedagógico da escola?

( ) Sim ( ) Não

2.1.5 Os/as estudantes conhecem o Projeto Político-Pedagógico da escola? ( ) Sim ( ) Não

2.1.6 Os/as pais/mães conhecem o Projeto Político-Pedagógico da escola? ( ) Sim ( ) Não

2.1.7 Todos/as os/as servidores/as conhecem o Projeto Político-pedagógico? ( ) Sim ( ) Não

2.2 Há reunião pedagógica na escola com os/as professores/as? ( ) Sim ( ) Não

2.2.1 Com que frequência elas ocorrem?

( ) Quinzenalmente ( ) Mensalmente ( ) bimensalmente ( ) Semestralmente

( ) Outro. Qual? _______

2.2. As reuniões pedagógicas conjugam professores polivalentes e por disciplina?

( ) Sim ( ) Não

Por quê? ________________________________________________________________

2.3 Como se desenvolve o processo de planejamento da escola?

( ) Individualmente ( ) Por disciplina ( ) Por disciplinas afins

( ) Coletivamente ( ) Não há planejamento

2.3.1 Quando ocorre o planejamento? ___________________________________________

2.4 A escola trabalha com projetos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

2.4.1 Quais projetos são comumente implementados, anualmente? _____________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.4.2 Os projetos envolvem toda a escola? ( ) Sempre ( ) Às vezes ( ) Nunca

Por quê? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.4.3 Quanto à formação continuada de professores/as:

2.4.3.1 A escola implementa ações com esta finalidade? ( ) Sim ( ) Não

2.4.3.2 A Secretaria Municipal de Educação tem programa de formação continuada para

professores/as? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei

126

a) Com que frequência este programa se efetiva? ( ) Sempre ( ) Raramente ( ) Nunca

2.4.4 Há alguma ação da escola direcionada ao fortalecimento do ensino e da aprendizagem em

Matemática? ( ) Sim ( ) Não

2.4.5 Há cursos de Matemática para os/as professores/as que lecionam esta disciplina

(polivalentes e matemáticos) ofertados pela Secretaria Municipal de Educação? ( ) Sim ( )

Não

a) Com que frequência estes cursos acontecem? _____________

2.4.6 A escola promove encontros especificamente entre professores polivalentes e professores

de Matemática? ( ) Sim ( ) Não

Por quê? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5 Quanto ao acompanhamento dos/as educandos/as:

2.5.1 A escola costuma acompanhar, durante o ano letivo, o desempenho acadêmico dos/as

estudantes? ( ) Sim ( ) Não

a) Com que frequência isto acontece?

( ) Quinzenalmente ( ) Mensalmente ( ) Bimensalmente

( ) Semestralmente ( ) Anualmente ( ) Outro. Qual? ______________

2.5.2 Como é o desempenho acadêmico dos/as educandos/as em Matemática (anos iniciais do

ensino fundamental)?

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.3 Como é o desempenho acadêmico dos/as educandos/as em Matemática (anos finais do

ensino fundamental)?

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.4 Qual/is disciplina/s apresenta/m o maior índice de reprovação?

127

ANOS INICIAIS/EF: _________________________________________________________

ANOS FINAS/EF: ___________________________________________________________

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.5 Qual/is disciplina/s apresenta/m o maior índice de aprovação?

ANOS INICIAIS/EF: _________________________________________________________

ANOS FINAS/EF: ___________________________________________________________

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.6 Qual série/ano apresenta o maior índice de aprovação?

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.7 Qual série/ano apresenta o maior índice de reprovação?

a) Por quê? _________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.5.8 Em que série(s)/ano(s) se verifica menor desempenho em Matemática? ____________

2.5.9 Em que série(s)/ano(s) se verifica maior desempenho em Matemática? ____________

2.6 Articulação com programas/projetos do Sistema de Ensino:

2.6.1 A escola implementa ou participa de algum programa do Governo Federal?

( ) Sim ( ) Não

a) Qual/is? __________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.6.2 A escola implementa ou participa de algum programa do governo municipal?

( ) Sim ( ) Não

a) Qual? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.7 Como a escola dialoga com as famílias?

( ) Através de reuniões ( ) Através de assembleias ( ) Através da Associação de Pais e Mestres

( ) Outro. Qual? ________________________________

a) Com que frequência este diálogo se efetiva? _____________________________________

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2.7.1 Os/as pais/mães participam das tomadas de decisão da escola? ( ) Sim ( ) Não

Por quê? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.7.2 Os/as pais/mães são convidados para definir, com os demais representantes da

comunidade escolar, os caminhos a serem trilhados pela escola?

( Sim ( ) Não

Por quê? ____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________ _________________________________

Assinatura da Coordenação* Assinatura do Secretário*

_____________________________________

Assinatura do Diretor*

*EM TEMPO: Favor rubricar todas as páginas deste instrumento.