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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PFeBT Alisson de Jesus Santana Ángel Alberto Hidalgo Edivaldo Leal Queiróz Teresina - Piauí 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS … · Graduação em Ciência dos Materiais da Universidade Federal do Piauí– UFPI, como ... formação acadêmica desde a iniciação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DOS

MATERIAIS

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PFeBT

Alisson de Jesus Santana

Ángel Alberto Hidalgo

Edivaldo Leal Queiróz

Teresina - Piauí

2015

ALISSON DE JESUS SANTANA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PFeBT

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Ciência dos Materiais da

Universidade Federal do Piauí– UFPI, como

requisito complementar à obtenção do título de

Mestre em Ciência dos Materiais.

ORIENTADOR: ÁNGEL ALBERTO HIDALGO

CO-ORIENTADOR: EDIVALDO LEAL QUEIRÓZ

Teresina-Piauí

2015

ALISSON DE JESUS SANTANA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PFeBT

Dissertação apresentado ao Curso de Mestrado

em Ciências dos Materiais da Universidade

Federal do Piauí – UFPI, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em

Ciência dos Materiais.

DEDICATÓRIA

Dedico essa dissertação aos meus pais Cícero e Aldevina,

aos meus irmãos Andreson e Aline pelo apoio e incentivo durante a

realização deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o qual me deu coragem e força para seguir em frente,

mesmo quando parecia ser impossível chegar ao final;

Aos meus pais, Cícero e Aldevina, aos meus irmãos Andreson e Aline que sempre me

incentivaram a buscar meus sonhos e me apoiaram em tudo que sempre busquei em minha

vida.

Ao Prof. Dr. Ángel Alberto Hidalgo, quem vem me acompanhando e participando da minha

formação acadêmica desde a iniciação científica, pela paciência, orientação, confiança e

dedicação na conclusão deste trabalho.

Aos Professores do Grupo: Prof(a) Dra. Maria Letícia Vega, Prof. Dr. Alexandre de Castro

Maciel, Prof. Dr. Helder Nunes Cunha, Prof. Dr. Cleânio da Luz Lima, Prof. Dr. Edivaldo

Leal Queiróz.

A Prof(a). Dra. Paula Cristina Rodrigues, pelo apoio, amizade e ensinamentos, que foram

fundamentais para o desenvolvimento desse trabalho.

Aos Professores do Programa de Pós Graduação em Ciência dos Materiais e aos funcionários

do LIMAV.

Ao Grupo de Polímeros do IFSC, em especial ao Prof. Dr. Roberto Mendonça Faria por nos

ter concedido seus laboratórios de pesquisa.

Aos meus amigos do Grupo de Pesquisa: Itamar, Joaquim Brasil, Maria de Lourdes, Maykol,

Hunos, Patrésio e Luis Brito.

Aos meus amigos da Graduação: Anna Thaise, Bruna, Cristina, Jéssica, Marcel e Marcus

Vinicius, Girlene e Amanda pela ótima convivência dentro e fora do ambiente de trabalho.

A todos coordenadores e servos do Grupo de Oração Arcanjos do Senhor.

A CAPES, INEO, FAPEPI, FINEP e CNPQ pelo apoio financeiro.

i

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 3

CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 4

Resumo ...................................................................................................................................... 5

Abstract ..................................................................................................................................... 6

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7

1.1 POLÍMEROS CONJUGADOS ............................................................................................ 7

1.2 DISPOSITVOS FOTOVOLTAICOS ORGÂNICOS ........................................................ 18

1.2.1 Caracterização de dispositivos fotovoltaicos ................................................................... 20

1.2.2 Potencial de circuito aberto (Voc) e corrente de curto circuito (Jsc) ................................. 21

1.2.3 Progresso e eficiência em energia fotovoltaica ............................................................... 22

1.3 POLIFLUORENOS ............................................................................................................ 24

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 25

CAPÍTULO 2: ARTIGO 1 .................................................................................................... 33

Resumo .................................................................................................................................... 34

Abstract ................................................................................................................................... 35

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 36

2 PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................................ 39

2.1 SÍNTESE DO POLÍMERO - PFeBT ................................................................................. 39

2.1.1 Síntese do intermediário 2,7-dibromo-9,9-bis(3-(t-butilpropanoato))fluoreno (2) ......... 40

2.1.2 Síntese do intermediário 2,7-bis-(4,4,5,5-tetrametil-1,2,3-dioxoborolan-2-il)- 9,9-bis(3-

(t-butil propanoato))fluoreno (3) .............................................................................................. 40

2.1.3 Síntese do poli[9,9’-bis-(3’-(butilpropanoato))fluoreno-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazol) . 41

2.2 PREPARAÇÃO E DEPOSIÇÃO DOS FILMES ............................................................... 41

ii

2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS FILMES ............................................................................... 41

2.3.1 Medidas de absorção ....................................................................................................... 41

2.3.2 Morfologia ....................................................................................................................... 42

2.4 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DOS FILMES ........................................................... 42

2.4.1 Medidas de corrente por tensão (I x V) ........................................................................... 42

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 42

3.1 SÍNTESE DO MONÔMERO ............................................................................................. 42

3.1.1 Rota de síntese do intermediário [2,7-dibromo-9,9-bis(3-(t-butilpropanoato))fluoreno]

(2) ........................................................................................................................................... 42

3.1.2 Rota de síntese do intermediário 2,7-(4,4,5,5-tetrametil-1,3,2-dioxaborolan-2- il)-9,9-

bis(3-(tert-butil propanoato))fluoreno (3) ................................................................................. 43

3.2 SÍNTESE DO POLÍMERO ................................................................................................ 44

3.2.1 Rota de síntese polímero 9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7--(2,1,3-

benzotiadiazol).......................................................................................................................... 44

3.3 CARACTERIZAÇÃO ESPECTROSCÓPICA DO COPOLÍMERO – PFeBT ................. 46

3.4 MEDIDAS ELÉTRICAS DOS FILMES DE PFeBT ......................................................... 47

3.5 TRANSPORTE DE CARGAS NOS DISPOSITIVOS SEM ILUMINAÇÃO .................. 49

3.6 CURVAS CARACTERÍSTICAS J x V SOB ILUMINAÇÃO .......................................... 51

3.7 CARACTERIZAÇÃO MORGOLÓGICA DOS DISPOSITIVOS .................................... 54

4 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 58

CAPÍTULO 3: ARTIGO 2 .................................................................................................... 63

Resumo .................................................................................................................................... 64

Abstract ................................................................................................................................... 65

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 66

iii

1.1 ELIPSOMETRIA ............................................................................................................... 68

2 PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................................ 72

2.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS .................................................................................. 72

2.1.1 Limpeza das lâminas ....................................................................................................... 72

2.1.2 Preparação dos filmes poliméricos .................................................................................. 72

2.2 CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA ........................................................................................ 73

2.2.1 Medidas de absorbância................................................................................................... 73

2.2.2 Medidas elipsométricas ................................................................................................... 74

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 74

3.1 CARACTEREIZACÃO ESPECTROSCÓPICA DE ABSORÇÃO VISÍVEL E

VIBRACIONAL ....................................................................................................................... 74

3.2 ESTUDO DO EFEITO DE INTERFACE SUBSTRATO/POLÍMERO ............................ 75

3.2.1 Caracterização do filme de PFeBT – 1000 rpm .............................................................. 77

3.2.2 Caracterização do filme de PFeBT – 2000 rpm .............................................................. 82

4 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 87

iv

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1: Revisão bibliográfica: ................................................................................... 4

Figura 1 – Representação dos átomo de carbono na estrutura do etileno ligados por uma

ligação dupla ............................................................................................................................... 7

Figura 2 – Configuração eletrônica do átomo de carbono com sua respectiva ordem de energia

dos orbitais e a subdivisão do orbital p....................................................................................... 8

Figura 3 – Hibridização dos orbitais s com os orbitais p, para a formação das ligações ........... 9

Figura 4 – Formação das ligações a partir de orbitais p acima e abaixo do plano do anel em

uma molécula de benzeno......................................................................................................... 10

Figura 5 – Formação da banda durante a polimerização de um monômero conjugado em um

polímero -conjugado............................................................................................................... 11

Figura 6 – Esquerda: trans – poliacetileno. Direta: cis – poliacetileno .................................... 12

Figura 7 – Estrutura química da primeira geração de polímeros conjugados .......................... 13

Figura 8 – Diagrama de Jablonski descrevendo os níveis eletrônicos de moléculas orgânicas

comuns e possíveis transições entre diferentes estados singleto e tripleto ............................... 14

Figura 9 – Estrutura molecular de alguns dos mais importantes polímeros semicondutores de

segunda geração ........................................................................................................................ 16

Figura 10 – Estrutura molecular de polímeros semicondutores da terceira geração ................ 17

Figura 11 – Mecanismo para células solares doador-aceitador. (a) fotoexcitação do doador

para gerar um par elétron-buraco, um éxciton. (b) difusão do éxciton para a interface D−A. (c)

limite dissociação do éxciton na interface D-A para formar um par geminado. (d) transporte

de cargas livres e coleta nos eletrodos ...................................................................................... 19

Figura 12 – (a) Curva característica J x V para um dispositivo fotovoltaico. em (b) temos a

representação das situações 1, 2, 3 e 4 em diagramas de energia............................................. 20

v

Figura 13 – Morfologia esperada em estrutura em heterojuncão de volume (BHJ)................. 23

Figura 14 – Estrutura química das unidades do poli[2,7-(9,9-di-n-octylfluorene)(1-x)-co-4,7-

(2,1,3-benzotiadiazole)(x)] (F8BT) ............................................................................................ 25

Figura 15 – Diagrama de energia das unidades do poli[2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)(1-x)-co-4,7-

(2,1,3-benzotiadiazol)(x)] (F8BT). ............................................................................................. 26

CAPÍTULO 2: Artigo 1: ....................................................................................................... 33

Figura 1 – Diagrama do nível de energia de uma sistema doador/aceitador; IP é potencial de

ionização. A seta entre os níveis lumo indica a transferência de elétrons fotoinduzidos que é o

primeiro passo para a geração de portadores de carga ............................................................. 38

Figura 2 – Rota de síntese do poli [9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-

benzotiadiazol)] (PFeBT) ......................................................................................................... 39

Figura 3 – Mecanismo de reação de obtenção do composto (2) .............................................. 43

Figura 4 – Mecanismo de reação de Miyaura para a formação do composto (3)..................... 44

Figura 5 – Mecanismo de reação de Suzuki para a formação do polímero .............................. 45

Figura 6 – Espectro de absorção eletrônica e fotoluminescência do PFeBT ........................... 46

Figura 7 – Curvas características do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al. Figura (a) compara

comportamento no escuro e sob iluminação, Figura (b) mostra o comportamento no escuro em

detalhe ....................................................................................................................................... 48

Figura 8 – Curvas características do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al. Figura (a) mostra o

comportamento no escuro, Figura (b) gráficos em escala log-log da corrente vs. tensão sem a

presença de luz.......................................................................................................................... 50

Figura 9 – Diagrama do nível de energia do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al ................... 51

Figura 10 – Curva característica Jph x V do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al .................... 54

Figura 11 – Imagem de AFM de uma área de 2m2

do (a) ITO + PEDOT + PFeBT E (b)

PEDOT + PFeBT ...................................................................................................................... 55

vi

Figura 12 – Histograma de alturas das imagens de AFM da Figura 11 ................................... 55

CAPÍTULO 3: Artigo 2: ....................................................................................................... 63

Figura 1 – Reflexão da onda de luz perpendicularmente e paralelamente polarizada ............. 68

Figura 2 – Princípio de medição da elipsometria ..................................................................... 69

Figura 3 – Esquema indicando os feixes incidente, refletido e transmitido num sistema

composto pelo meio de propagação (1), o filme fino transparente (2) e o substrato (3) .......... 71

Figura 4 – Espectro de absorção no visível (a) e espectro de infravermelho (b) do PFeBT .... 75

Figura 5 – Espectro de absorção no visível dos filmes de PFeBT obtidos em sete diferentes

rotações (a) e um estudo da razão das intensidades em função da rotação para formação dos

filmes (b) .................................................................................................................................. 76

Figura 6 – Modelo proposto às estruturas dos filmes obtidos .................................................. 77

Figura 7 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) sobre os dados da medida

elipsométrica no filme de 1000 rpm ......................................................................................... 79

Figura 8 – Índice de refração complexo n (a) e k (b) do filme de PFeBT para as duas camadas

envolvidas no sistema ............................................................................................................... 80

Figura 9 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) do filme de PFeBT obtido a 2000

rpm............................................................................................................................................83

Figura 10 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) e índice de refração complexo n (c) e

k (d) do filme de PFeBT obtido a 3000 rpm............................................................................. 84

Figura 11 – Medidas elipsométricas em termo de α (a) e β (b) dos filmes de PFeBT obtidos a

6000, 7000, 8000 e 8600 rpm ................................................................................................... 85

vii

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2: Artigo 1 ......................................................................................................... 33

Tabela 1 – Dados das imagens de AFM para uma área de 2m2 ............................................. 56

CAPÍTULO 3: Artigo 2 ........................................................................................................ 63

Tabela 1 – Valores dos parâmetros obtidos a partir do ajustes do modelo para o filme de

PFeBT depositado em quartzo .................................................................................................. 81

Tabela 2 – Valores das espessuras de cada camada para os filmes de PFeBT obtidos a 2000 e

3000 rpm ................................................................................................................................... 83

viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

A - Aceitador

Al - Alumínio

Ar - Argônio

AFM - Microscopia de Força Atômica

BHJ - Heterojuncão de volume (Bulk HeteroJunction)

BT - Benzotiadiazole

c - Concentração

CaCl2 - Cloreto de cálcio

CH2Cl2 - Diclorometano CHCl3 - Clorofórmio

cm - Centímetro

D - Doador

DMF - Dimetilformamida

ECP - Eficiência da conversão de baixa potência

Egap - Lacuna energética

FF – Fator de preenchimento

FTO - Óxido de estanho dopado com flúor

F8BT - [2,7-(9,9-di-n-octylfluorene)(1-x)-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazole)(x)]

F8T2 - Poli(9,9-dioctilfluoreno-co-bitiofeno)

F8 - [2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)]

g - Grama

h - Constante de Planck

HOMO - Nível de energia molecular (Highest Occupied Molecular Orbital)

I - Corrente

ix

ICT - Transferência de carga intramolecular

IFSC - Instituto de Física de São Carlos

IP - Potencial de ionização

ITO - Óxido de índio e estanho

J - Joule

Jph - Fotocorrente

Jsc - Densidade de corrente curto circuito

K - Kelvin

k - Coeficiente de extinção

KOAc - Acetato de potássio

L – Litro

l- Comprimento do caminho de absorção

LaPPS - Laboratório de Polímeros Paulo Scarpa

LEDs - Diodos emissores de luz

LiF - Fluoreto de lítio

LUMO - Nível de energia molecular (Lowest Unoccupied Molecular Orbital)

m - Metro

mg - Miligrama

mL - Mililitro

mmol - Milimol

MgSO4 - Sulfato de magnésio

n - Índice de refração

NaOH - Hidróxido de sódio

nm - Nanometro

NMP - Metilpirrolidona

x

OPVs - Fotovoltaicos orgânicos

p – Paralelamente

PL - Fotoluminescência

Pm - Potência máxima

Pd - Paládio

P3HT - Poli(3-hexiltiofeno)

PBTTT - Poli(2,5-bis(3-alquiltiofen-2-il)tieno[3,2-b]tiofeno)

PCBM - [6,6]-fenil-C61-ácido butírico-metil éster

PCDTBT - Poli[N-9’-heptadecanil-2,7-carbazol-alt-5,5-(4’,7’-di-2-tienil-2’,1’,3’-

benzotiadiazol)]

PCPDTBT - Poli[2,6-(4,4-bis-(2-etilhexil)-4H-ciclopenta[2,1-b;3,b’]-ditiofeno)-alt-4,7-

(2,1,3-benzotiadiazol)]

PDDTT - Poli[5,7-bis(4-decanil-2-tienil)tieno(3,4-b)diatiazol-tiofeno-2,5)

Pd(dppf)2Cl2 - [1,1’-bis(difenilfosfina)ferroceno]dicloropaládio(II)

Pd(Ph3P)4 - Tetrakis(trifenilfosfina)paládio(0)

PMMA - Poli(metil-metacrilato)

PPV - Poli (fenileno vinileno)

PSBTBT - Poli[(4,4’-bis(2-etilhexil)-ditiofeno[3,2-b;2’,3’-d]silole)-2,6-diyl-alt-(2,1,3-

benzotiadiazole)-4-7-diil]

rpm - Rotação por minuto

s - Perpendicularmente

SCL - Regime de corrente limitada por cargas espacial

THF - Tetrahidrofurano

UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

V - Tensão

xi

Voc - Potencial de circuito aberto

β - Ângulo de rotação do analisador.

- Coeficiente de absorção molar

- Comprimento de onda

μm – Micrometro

- Ligação pi

σ - Ligação sigma

ρ - Relação complexa

- Eficiência de conversão de energia

- Amplitude

Δ - Diferença de fase

σRMS - Rugosidade

σsk - Skewness

σKU - Kurtosis

xii

RESUMO

O presente trabalho consiste na investigação das propriedades optoeletrônicas do polímero

semicondutor: Poli [9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazol)]

(PFeBT). Este polímero possui em sua estrutura espécies doadoras (fluoreno) e aceitadoras

(benzotiadiazol) de elétrons. Essa estrutura, quando aplicada em dispositivos fotovoltaicos

como camada ativa, ajuda na melhora da separação de cargas fotogeradas, contribuindo assim

com a fotocorrente. A utilização dessa classe de polímeros para construção de dispositivos

fotovoltaicos surge como uma alternativa na melhora da eficiência dos dispositivos

monocamada, pois sua própria estrutura age como segmento doador e aceitador, assim como

nas bicamadas ou heterojuncão de volume. No primeiro capítulo apresentamos um resumo

sobre o estado da arte na pesquisa em eletrônica orgânica; no segundo capítulo apresentamos

a caracterização óptica e eletrônica do polímero. No terceiro capítulo apresentamos os

resultados da caracterização dos filmes finos por UV-vis e elipsometria, mostrando que a

interface com o substrato domina as transições eletrônicas.

Palavras-Chaves: PFeBT, células solares, interface, elipsometria, polímero D-A

xiii

ABSTRACT

This work is to investigate the optoelectronic properties of the semiconductor polymer: poly

[9,9'-bis (3 '- (t-butilpropanoato)) fluorene-co-4,7 (2,1,3-benzothiadiazole)] (PFeBT). This

polymer has donor species (fluorene), and acceptor species (benzothiadiazol) structure. This

structure, when used in photovoltaic devices as an active layer, helps to improve the

separation of photogenerated charges, thus contributing to the photocurrent. The use of this

class of polymers, as active layer in photovoltaic devices, is an alternative on improving the

efficiency of monolayer devices; the presence of donor and acceptor segments acts as in

bilayers or bulk heterojunction. In the first chapter we present an overview of the state of the

art in organic electronics research; in the second chapter we present the optical

characterization and electronic polymer. In the third chapter we present the results of the

characterization of thin films by UV-vis and ellipsometry, showing that the interface with the

substrate dominates the electronic transitions.

Key-words: PFeBT, solar cells, interface, ellipsometry, D-A polymer

1

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos aumentaram-se as discussões em relação à obtenção de energia,

devido ao consumo crescente da sociedade atual, que fez o mundo entrar em alerta, pois ao

longo dos anos à medida que os recursos não – renováveis, como o petróleo, se tornarem

menos disponíveis e mais caros, a sociedade terá de optar por fontes de energia alternativas.

Como exemplos dessas fontes alternativas estão: biocombustíveis, energia eólica, energia

solar e outras.

Dentre essas energias renováveis citadas uma que merece grande destaque é a

energia solar, que pode ser convertida diretamente em energia elétrica, sendo considerada

uma fonte energética promissora para que, em longo prazo, seja uma das alternativas para

produção de energia renovável. A Terra recebe diariamente uma grande quantidade de energia

do Sol na forma de luz, aproximadamente 1 hora de irradiação solar sobre a superfície da

Terra pode suprir a demanda mundial por energia elétrica durante um ano (W. Tang et al.,

2010). A conversão da energia solar em energia elétrica ocorre em células solares, ou

dispositivos fotovoltaicos (A. A. Bazmi et al., 2011).

Desta forma estão sendo desenvolvidas pesquisas sobre dispositivos fotovoltaicos

para explorar este enorme potencial, já que são capazes de utilizar essa energia solar,

transformando-a em energia elétrica como uma nova fonte de energia renovável. Os

polímeros conjugados são uma opção para redução do custo de produção e instalação de

células solares denominadas de dispositivos fotovoltaicos orgânicos – OPV, caracterizados

por possuírem uma ou mais camadas fotossensíveis compostas por material orgânico,

polímeros ou filmes poliméricos entre dois eletrodos com diferente função trabalho (W. Tang

et al., 2010).

Assim sendo, neste trabalho utilizou-se da rota de síntese Suzuki para obtenção de

um copolímero contendo, simultaneamente, grupos doadores e receptores de elétrons ligados

2

entre si. Este tipo de estrutura tem como propriedade principal a capacidade de, após a

absorção de luz, promover uma separação de carga do éxciton gerado devido à proximidade

entre a espécie doadora e receptora. Esse tipo de comportamento promove uma melhor

separação de carga, resultando em uma maior eficiência no processo de conversão de energia

luminosa em energia elétrica. O interesse em obter esses copolímeros está relacionado à

aplicação dos mesmos em dispositivos fotovoltaicos.

O capítulo 1 apresenta uma introdução geral sobre polímeros conjugados e as

gerações dos polímeros para seu uso em dispositivos fotovoltaicos orgânicos; os parâmetros

de caracterização elétrica e a evolução estrutural dos dispositivos na busca de uma melhor

eficiência.

O capítulo 2 descreve a síntese do copolímero utilizado e algumas propriedades

optoeletrônicas do mesmo. No capítulo 3 são discutidos os resultados obtidos na

caracterização óptica dos filmes orgânicos depositados sob substratos de quartzo.

3

REFERÊNCIAS

W. Tang, J. Hai, Y. Dai, Z. Huang, B. Lu, F. Yuan, J. Tang, F. Zhang. (2010). Recent

development of conjugated oligomers for high-efficiency bulk-heterojunction solar cells.

Solar Energy Materials and Solar Cells, 94, 1963-1979.

A. A. Bazmi, G. Zahedi. (2011). Sustainable energy systems: Role of optimization modeling

techniques in power generation and supply - A review. Renewable and Sustainable Energy

Reviews, 15, 3480-3500.

4

CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PFeBT

5

RESUMO

A maioria dos polímeros conjugados semicondutores é formada por moléculas aromáticas

como o benzeno, tiofeno, pirrol e fluoreno. Polímeros conjugados têm recebido substancial e

crescente interesse nos últimos anos devido a uma grande aplicação em diodos emissores de

luz (LEDs), energia fotovoltaica e sensores. O exemplo clássico de um polímero

semicondutor é o poliacetileno. O poliacetileno é um polímero semicondutor de primeira

geração, enquanto os polímeros eletroluminescentes são considerados materiais conjugados

de segunda geração. A motivação sobre a pesquisa em polímeros semicondutores está no

impulso da indústria, baseados em materiais poliméricos, displays ultrafinos, monitores de

tela plana, jornais eletrônicos flexíveis e iluminação para ambientes. Os polímeros de terceira

geração são os utilizados em células fotovoltaicas orgânicas (OPVs). Copolímeros contendo o

grupamento fluoreno ligado à unidade do benzotiadiazol possuem grande potencial para

fabricação de dispositivos fotovoltaicos, pois são classificados como polímeros tipo doadores

(fluoreno) – aceitadores (benzotiadiazol) [D – A].

Palavras-Chaves: PFeBT, células solares, interface, elipsometria, polímero D-A

6

ABSTRACT

Most conjugated semiconducting polymers is formed by aromatic molecules such as benzene,

thiophene, pyrrole and fluorene. Conjugated polymers have received substantial and growing

interest in recent years due to a wide application in light-emitting diodes (LEDs),

photovoltaics and sensors. The first example, and classic semiconductor polymers is

polyacetylene. The polyacetylene is a first generation semiconductor polymer, while the

electroluminescent polymers are considered second-generation conjugated materials. The

impulse for research on semiconducting polymers is the industry, driven by the hope of

developing plastics, ultra-thin displays, flat panel displays, rollable electronic newspapers and

home lighting. Third-generation polymers are used in organic photovoltaics (OPVs).

Copolymers containing the fluorene group linked to benzothiadiazol unit have great potential

for the manufacture of photovoltaic devices, as they are classified as donor type polymers

(fluorene) - acceptor (benzothiadiazol) [D - A].

Key-words: PFeBT, solar cells, interface, ellipsometry, D-A polymer

7

1. INTRODUÇÃO

Nesta seção é apresentado uma revisão sobre os trabalhos desenvolvidos na área

de polímeros conjugados, fotovoltaicos orgânicos (OPVs), e propriedades optoeletrônicas. Na

caracterização óptica as técnicas utilizadas foram espectroscopia de absorção na região do

ultravioleta – visível, elipsometria e fotocorrente. Já na caracterização elétrica, fez se uso de

medidas corrente vs tensão (I x V).

1.1 POLÍMEROS CONJUGADOS

Polímeros são macromoléculas compostas pela repetição de uma unidade básica,

chamada mero. Apresentam como características: leveza, fácil processamento e propriedades

que podem ser adequadas as necessidade, via estrutura química.

A palavra "conjugado" significa juntar ou ligar, e em moléculas conjugadas os

átomos estão ligados alternando ligações simples e duplas. O principal bloco de construção de

moléculas conjugadas é carbono. O exemplo de uma ligação dupla entre dois átomos de

carbono é o etileno, mostrado na Figura 1. O etileno tem uma cadeia principal de dois átomos

de carbono ligados por uma ligação dupla.

Figura 1 – Representação dos átomos de carbono na estrutura do etileno ligados por uma

ligação dupla.

8

O processo de misturar ou combinar os orbitais atômicos à proporção que os

átomos se aproximam um do outro para formar ligações é chamado hibridização. A fim de

compreender a forma como as ligações são formadas é necessário começar com o átomo de

carbono. O processo de hibridização pode ocorrer também com outros elementos como o

boro, berílio e nitrogênio entre outros. Um átomo de carbono tem a configuração eletrônica

1s22s

22p

2 no estado fundamental. Colocando em ordem de energia, teremos que: 1s

2 < 2s

2 <

2p2; o subnível p se divide em três orbitais que correspondem aos eixos x, y e z (px, py e pz)

orientados nos três eixos, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Configuração eletrônica do átomo de carbono com sua respectiva ordem de energia

dos orbitais e a subdivisão do orbital p.

A ligação com outro átomo de carbono ocorreria com os quatro elétrons na

camada externa, que são dois elétrons s e dois elétrons p. Como a diferença de energia entre o

subnível s e o subnível p de um mesmo nível é pequena, é possível que ocorra às

hibridizações. Essas hibridizações (Figura 3) são combinações dos orbitais s com os orbitais p

e podem ocorrer de três maneiras: (1) quando um orbital s combina com três orbitais p

9

formando quatro orbitais híbridos do tipo sp3; (2) quando um orbital s combina com dois

orbitais p formando três orbitais híbridos do tipo sp2 e um orbital p puro no eixo z que não foi

hibridizado e (3) quando um orbital s combina com um orbital p formando dois orbitais

híbridos do tipo sp e dois orbitais p puros nos eixos y e z que não foram hibridizados.

Figura 3 – Hibridização dos orbitais s com os orbitais p, para a formação das ligações.

Assim, existem dois tipos de ligações que se formam entre os átomos de carbono,

ligações sigma (σ) e pi (). As ligações formadas entre os orbitais sp2 são chamados de

ligações σ. Cada átomo de carbono irá ligar-se com outro átomo de carbono e a dois átomos

de hidrogênio por uma ligação σ. Esta ligação gera uma densidade de elétrons altamente

localizada entre o átomo de carbono e hidrogênio. A ligação é formada quando o orbital pz

em um átomo de carbono liga-se a outro orbital pz de outro átomo de carbono (M. Pope et al.,

1999). A ligação dupla é formada pelas ligações σ e entre os átomos de carbono. A ligação

produz uma densidade de elétrons deslocalizados acima e abaixo do plano dos átomos de

carbono, mas não no plano nodal da molécula. Isto pode ser visto na Figura 4, onde as

ligações são formadas a partir de orbitais p acima e abaixo do plano do anel em uma

10

molécula de benzeno. A ligação é rígida, de tal modo que, a fim de rotacionar a molécula, a

ligação teria que ser quebrada (P. Wood, 2002). Os elétrons na ligação são mais

fracamente ligados do que na ligação σ; por serem fracamente ligados, são responsáveis pelas

propriedades semicondutoras. Como os elétrons são deslocalizados, isto é, eles podem mover-

se entre átomos de carbono na ligação ao longo da cadeia da molécula, eles podem

contribuir para as propriedades de condução elétrica (J. F. Rabek, 1995). Polímeros isolantes

não têm elétrons deslocalizados e geralmente só tem ligações simples (σ), que são do tipo

sp3 hibridizado (M. Karplus et al., 1970).

Figura 4 – Formação das ligações a partir de orbitais p acima e abaixo do plano do anel em

uma molécula de benzeno. (A. R. V. Benvenho, 2005).

Os orbitais podem ser divididos em orbitais (ligante) e * (antiligante) (M.

Pope et al., 1999). Os orbitais ligantes e antiligantes formam dois conjuntos com níveis de

energia permitidos que são separados por valores de energia proibidos – Egap (lacuna

energética). Estados excitados são formados quando um elétron do nível HOMO (Highest

Occupied Molecular Orbital – orbital ) se move para o nível LUMO (Lowest Unoccupied

Molecular Orbital – orbital *). A mudança de energia para esta transição é a diferença de

energia entre o nível HOMO e o LUMO (M. Pope et al., 1999). A maioria das transições

11

ópticas ocorre com os elétrons , portanto, as transições eletrônicas do orbital de menor

energia para o de maior valor energético são referidas como transições - *. As ligações σ

formam um potencial fixo no qual os elétrons se movem (M. Pope et al., 1999).

A maioria dos polímeros conjugados semicondutores são formados por moléculas

aromáticas como o benzeno, tiofeno, pirrol e fluoreno. Estas unidades aromáticas possuem

uma diferença de nível de energia entre os orbitais ligantes e antiligantes muito largas, porém

com o aumento do número de unidades aromáticas ligadas entre si, os orbitais ligantes se

sobrepõem formando um novo nível energético entre estes orbitais, o mesmo ocorrendo para

os orbitais antiligante *, diminuindo o valor da Egap para valores abaixo de 4 eV, como pode

ser visto na Figura 5. Nesta magnitude (Egap < 4 eV) estes polímeros podem ser utilizados

como semicondutores (R. QIU, 2008).

Figura 5 – Formação da banda durante a polimerização de um monômero conjugado em um

polímero -conjugado (A. Ajayaghosh, 2003).

Energia

[eV]

12

O estudo de polímeros conjugados condutores de eletricidade, os quais foram

descoberto por MacDiarmid e colaboradores, tem recebido substancial e crescente interesse

nos últimos anos devido às crescentes aplicações em diodos emissores de luz (LEDs), energia

fotovoltaica e sensores. O exemplo mais clássico de polímero semicondutor, é o poliacetileno.

Existem duas formas para poliacetileno, o trans – poliacetileno e o cis – poliacetileno (A. J.

Heeger, 1988), como mostra a Figura 6. Para o trans – poliacetileno existem dois átomos de

carbono na unidade repetitiva. Como resultado, o orbital ligante no trans-poliacetileno é

dividido em dois sub – orbitais (orbitais e *); o orbital está inteiramente ocupado e o

orbital * está vazio. No cis – poliacetileno existem quatro átomos de carbono na unidade de

repetição, e, consequentemente, o orbital no cis – poliacetileno é dividido em quatro sub –

orbitais com Egap entre eles; os dois orbitais de mais baixa energia estão cheios e os dois

maiores orbitais * de energia estão vazios. A energia do HOMO corresponde à parte superior

do orbital de mais alta energia, e a energia do LUMO corresponde à parte inferior do orbital

* de menor energia. A diferença de energia entre os orbitais HOMO e LUMO domina as

propriedades do semicondutor. (A. J. Heeger, 2010).

Figura 6 – (a): trans – poliacetileno. (b): cis – poliacetileno.

O poliacetileno é um polímero semicondutor de primeira geração. Na Figura 7

encontram-se mais exemplos de estruturas químicas da primeira geração de polímeros

conjugados com propriedades condutoras.

(a) (b)

13

Figura 7 – Estrutura química da primeira geração de polímeros conjugados.

Eletroluminescência é uma característica de um material, tipicamente de um

semicondutor, que lhe permite emitir luz em resposta a uma corrente elétrica ou um campo

elétrico forte. O fenômeno da eletroluminescência em semicondutores foi observado

primeiramente por Round (N. S. Allen, 2010) em 1907 durante a passagem de uma corrente

elétrica por um cristal que emitia luz amarela. A eletroluminescência em cristais inorgânicos

se desenvolveu a partir de 1960 com o estudo do processo de dopagem de cristais de arseneto

de gálio (R. F. Cossielo, 2007). Em materiais orgânicos a geração de eletroluminescência se

iniciou em 1963 com a utilização do antraceno (M. Pope et al., 1963). Um passo importante

foi feito no final dos anos de 1980 com a fabricação de dispositivos de filmes finos de

camadas múltiplas com eficiências de mais de 1% (C.W. Tang et al., 2012).

Alguns anos mais tarde, Burroughes et al. (J.H. Burroughes, et al., 1990)

relataram o fenômeno de eletroluminescência de polímeros conjugados (por exemplo, poli

(fenileno vinileno) [PPV]), pela primeira vez, aumentando os estudos nas áreas da química e

da física para o desenvolvimento de numerosos diodos orgânicos emissores de luz baseados

em materiais, incluindo compostos conjugados de baixo peso molecular, e polímeros.

14

Luminescência é emissão de luz por algumas substancias, ocorrendo a partir de

estados eletrônicos excitados. A luminescência é formalmente dividida em duas categorias, a

fluorescência e a fosforescência, dependendo da natureza do estado excitado. Fluorescência é

a emissão de luz a partir de um estado excitado singleto, no qual o elétron excitado não muda

o estado de spin, continuando desemparelhado. Consequentemente, o retorno ao estado

fundamental é permitido e ocorre rapidamente via emissão de fóton. Fosforescência é a

emissão de luz a partir de um estado excitado tripleto, no qual o elétron excitado muda o

estado de spin ficando emparelhado com o elétron que permaneceu no orbital fundamental.

Deste modo, temos que as transições para o estado fundamental são proibidas e as taxas de

emissão são mais lentas. Esses fenômenos estão apresentados no diagrama de Jablonski na

Figura 8.

Figura 8 – Diagrama de Jablonski descrevendo os níveis eletrônicos de moléculas orgânicas

comuns e possíveis transições entre diferentes estados singleto e tripleto.

15

A origem sobre a pesquisa em polímeros semicondutores está no impulso da

indústria, guiada pela necessidade em desenvolver dispositivos, tais como plásticos, displays

ultrafinos, monitores de tela plana, jornais eletrônicos flexíveis e iluminação para ambientes.

A importância da descoberta destes sistemas conjugados foi reconhecida com o Prêmio Nobel

em 2000 concedido a Hideki Shirakawa, Alan MacDiarmid e Alan Heeger.

O desafio para o químico está em sintetizar materiais poliméricos -conjugados

para cumprirem os seguintes requisitos: (1) a cor de emissão alvo, (2) um elevado rendimento

quântico de fluorescência (ou fosforescência), (3) elevada mobilidade de transporte e acima

de tudo, mobilidades equilibradas para elétrons e buracos (especialmente para dispositivos de

camada única), (4) um elevado grau de pureza, (5) boa estabilidade térmica e química, e (6)

boa capacidade de formação de filmes para o processamento por spin-coating. Todos esses

fatores são decisivos para o desempenho da eletroluminescência e durabilidade dos

dispositivos. Assim, é necessário utilizar rotas de polimerização que gerem cadeias livres de

defeitos com elevado peso moleculares (ou que minimizem sua formação) e que permitam a

purificação do produto de forma eficiente. Entre esses requisitos, os fatores eletrônicos são

obviamente os mais cruciais a serem atingidos. Diferentes estratégias têm sido adotadas para

variar a cor de emissão e as propriedades de transporte de polímeros conjugados. Uma delas

consiste em introduzir nas cadeias macromoleculares, grupos doadores ou aceitadores de

elétrons apropriados, deslocando a nuvem eletrônica e a emissão na direção do vermelho ou

azul. (Norman, 2010).

Polímeros eletroluminescentes são considerados materiais conjugados de segunda

geração. Na Figura 8, mostram-se algumas estruturas moleculares de membros selecionados

de polímeros semicondutores dessa geração.

16

Figura 9 – Estrutura molecular de alguns dos mais importantes polímeros semicondutores de

segunda geração (A. G. Heeger, 2010)

Para obtenção de dispositivos fotovoltaicos mais eficientes, é necessário o

desenvolvimento de materiais que aliem grande capacidade de absorção da radiação incidente

para conversão de fótons em pares de elétrons – buracos, alta capacidade de dissociação

desses pares e transporte dos portadores de cargas em direção aos eletrodos para fornecer

energia para o circuito externo. Por essas razões, é desejável: um material com alto

coeficiente de absorção em toda faixa espectral correspondente ao visível, para permitir a

utilização de filmes finos; reduzir a dificuldade de transporte dos portadores de carga; e que

possa, preferivelmente, ser utilizado em dispositivos de camada semicondutora única. Porém,

na maioria das vezes, dispositivos fotovoltaicos poliméricos compostos por apenas uma

camada ativa não possuem altas eficiências devido à baixa taxa de criação e dissociação dos

portadores.

Copolímeros contendo o grupamento fluoreno ligado à unidade do benzotiadiazol

possuem grande potencial para fabricação de dispositivos fotovoltaicos, pois são classificados

como polímeros tipo doadores (fluoreno) – aceitadores (benzotiadiazol) [D – A]. A utilização

17

dessa classe de polímeros para construção de células solares surge como uma alternativa na

melhora da eficiência de dispositivos monocamada.

Exemplos de polímeros semicondutores de Terceira Geração são mostrados na

Figura 9. Os polímeros da terceira geração têm estruturas moleculares mais complexas, com

mais átomos na unidade de repetição. Exemplos importantes incluem o PBTTT (Poli(2,5-

bis(3-alquiltiofen-2-il)tieno[3,2-b]tiofeno) altamente ordenado e cristalino e a crescente classe

de copolímeros doadores – aceitadores que surgiu nos últimos anos. Exemplos destes últimos

incluem os copolímeros bitiofeno – (aceitadores) desenvolvidos por Konarka (C. Brabec et

al., 2006) e os copolímeros derivados de carbazol – (aceitadores) desenvolvidos por Leclerc e

colaboradores (M. Leclerc et al., 2008).

Figura 10 – Estrutura molecular de polímeros semicondutores da terceira geração (A. G.

Heeger, 2010).

18

Sistemas de polímeros conjugados com arquitetura doador-aceitadora (D- A) têm

sido amplamente estudados para aplicações como diodos emissores de luz, transistores de

película fina, dispositivos fotovoltaicos entre outros. O particular interesse em copolímeros

com alternância doador-aceptor se deve as suas propriedades optoeletrônicas poderem ser

ajustadas de forma eficiente por transferência de carga intramolecular [ICT] (W. C. Wu,

2006). Esta estrutura no copolímero facilita a dissociação da carga fotogerada, além disso,

ocorre um alargamento no espectro de absorção devido à formação de duas bandas distintas

(P. C. Rodrigues, 2012). Os copolímeros com estrutura D-A possuem baixo gap devido à

maior deslocalização dos elétrons .

1.2 DISPOSITIVOS FOTOVOLTAICOS ORGÂNICOS

Dispositivos fotovoltaicos orgânicos são atrativos como uma alternativa para a

tecnologia de energia solar existente porque combinam o potencial para geração de energia

com o processamento de dispositivos de baixo custo. A eficiência de conversão de energia de

células fotovoltaicas orgânicas (OPV) gira em torno de 9%, um valor muito aquém dos seus

homólogos inorgânicos. Os materiais semicondutores orgânicos utilizados em dispositivos

OPV oferecem várias vantagens sobre semicondutores convencionais (inorgânicos). Os

polímeros utilizados em OPVs são leves, flexíveis e têm elevados coeficientes de absorção,

necessitando de apenas algumas centenas de nanômetros de espessura para absorver a luz

incidente. Eles são compatíveis com as técnicas de fabricação de baixa temperatura e baixo

custo, tais como a impressão a jato de tinta e processamento (roll-to-roll). Isto significa que

OPVs podem ser depositados sobre substratos baratos, leves, flexíveis ou materiais de

construção e os dispositivos podem ser integrados em praticamente qualquer parte de uma

estrutura existente. Dadas estas vantagens significativas no custo, velocidade de produção,

flexibilidade de processamento e ampla gama de aplicações, se o desempenho e estabilidade

19

dos dispositivos poderem ser resolvidos, a economia e a versatilidade significativa oferecidos

pelos OPVs podem dar-lhes um lugar dominante no mercado de PV. (Norman, 2010).

Os dispositivos fotovoltaicos orgânicos operam no sentido inverso dos PLEDs. Os

OPVs convertem a radiação incidente em resposta elétrica (potencial elétrico). O

funcionamento desses dispositivos depende da intensidade e do comprimento de onda da

radiação incidente. Isso é baseado no princípio da fotocondução, onde a absorção da luz pelo

material dá origem aos portadores de carga livres que são conduzidos ao circuito externo pelo

campo elétrico intrínseco do dispositivo gerado pelo potencial de built in (VB), criando assim

uma diferença de potencial elétrico, o qual dá origem ao efeito fotovoltaico. Na ausência do

campo elétrico intrínseco não haveria a condução das cargas e, consequentemente, não

haveria resposta elétrica.

A geração de fotocorrente em um dispositivo OPV pode ser apresentada

resumidamente na Figura 10, através das seguintes etapas: (1) absorção do fóton, (2) geração

e difusão do éxciton, (3) separação em portadores de carga, (4) transporte e coleta das cargas

nos eletrodos.

Figura 11 – Mecanismo para células solares doador-aceitador. (a) Fotoexcitação do doador

para gerar um par elétron-buraco, um éxciton. (b) Difusão do éxciton para a interface D−A.

(c) Limite dissociação do éxciton na interface D-A para formar um par geminado. (d)

Transporte de cargas livres e coleta nos eletrodos (A. Yassar et al., 2013).

20

1.2.1 Caracterização de dispositivos fotovoltaicos

Os dispositivos fotovoltaicos são testados por medição das características de

corrente-tensão (I x V) no escuro e sob iluminação com luz branca a partir de um simulador

solar com potência de iluminação típica de 100 mW/cm2. Estas medições ajudam a determinar

as capacidades de geração de energia da célula solar, bem como para identificar se defeitos

(por exemplo, barreiras) estão presentes no dispositivo (Norman, 2010).

A Figura 11 mostra um diagrama esquemático da curva de corrente-tensão de um

fotodiodo sob iluminação.

Figura 12 – (a) Curva característica J x V para um dispositivo fotovoltaico. Em (b) temos a

representação das situações 1, 2, 3 e 4 em diagramas de energia (esquema baseado na

referência (K. Petritsch, 2000)).

Os dispositivos são geralmente caracterizados pelos seguintes parâmetros:

Densidade de corrente de curto-circuito (Jsc): a corrente de curto circuito é

produzida quando não existe carga circulando através do dispositivo.

Potencial de circuito aberto (Voc): a tensão de circuito aberto é medida no

dispositivo quando o fluxo de corrente é zero.

21

Fator de preenchimento (FF). O fator de preenchimento é uma medida da

retificação do dispositivo. É definida como a razão entre a potência

máxima do dispositivo pelo produto da corrente de curto-circuito e tensão

de circuito aberto:

FF = Pm / Isc Voc = ImVm / IscVoc (1)

Eficiência de conversão de energia (): A eficiência de conversão de

energia é a razão entre a energia produzida pela célula no seu ponto de

máxima potência (Pm) e a energia solar incidente sobre o dispositivo (Po):

e = ImVm / Po (2)

1.2.2 Potencial de Circuito Aberto (Voc) e Corrente de Curto Circuito (Jsc)

Em princípio, as estratégias utilizadas para melhorar a eficiência da célula solar

BHJ (heterojuncão de volume) incluem (i) a redução do bandgap de polímeros de modo a

absorver mais luz solar, o que leva a uma maior densidade de corrente de curto-circuito (Jsc) e

(ii) a redução do orbital molecular mais alto ocupado (HOMO) dos polímeros, o que aumenta

a tensão de circuito aberto (Voc). (H. Y. Chen, 2009). O nível LUMO do polímero não pode

ser muito baixo, pois é necessário uma diferença mínima de energia (0,3 eV) entre os níveis

de energia LUMO do polímero doador e aceitador, para facilitar a eficiente divisão e

dissociação dos éxcitons. Também a redução do nível HOMO do polímero doador

inevitavelmente aumentaria o gap do polímero, diminuindo a habilidade de absorção de luz

do polímero doador. Isso leva a uma diminuição na densidade de corrente de curto circuito

22

(Jsc). Outros fatores que demonstram ter um efeito perceptível sobre a Voc são volumosas

cadeias laterais, distância entre as cadeias e a morfologia da camada ativa nos polímeros.

Para dispositivos de heterojuncão de volume contendo um grupo fulereno como

elemento aceitador de elétrons, foi mostrado que o potencial de circuito aberto é diretamente

dependente da posição do LUMO, mas fracamente dependente da função trabalho do metal

usado como eletrodo negativo (C. J. Brabec et al., 2001). Em contraste com isto, Ramsdale et

al (C. M. Ramsdale et al., 2002) observaram uma relação linear da função trabalho do

eletrodo negativo e a tensão de circuito aberto observado para dispositivos com estrutura

doadora – aceitadora de polifluoreno. Observou-se uma contribuição adicional de 1 V na

diferença de função trabalho dos eletrodos, o que é atribuído ao dipolo fotoinduzido formado

na interface devido à transferência de carga.

A perda da densidade de corrente de curto circuito é outro fator que leva a uma

diminuição na eficiência da célula solar. Dentre os mecanismos de perda que envolve a

diminuição na Jsc está a recombinação monomolecular ou bimolecular durante a geração de

cargas, transporte e extração (H. Zhou et al., 2012). Algumas características como elevado

peso molecular, alta mobilidade de carga e otimizada morfologia da camada ativa dos

dispositivos orgânicos são desejáveis para reduzir a perda da Jsc.

1.2.3 Progresso e eficiência em energia fotovoltaica

A absorção de luz em um semicondutor molecular ou polimérico leva a geração

de um par de elétron – buraco ligado firmemente, conhecido como éxciton. Devido à baixa

constante dielétrica, a energia de ligação Coulombiana do éxciton é muito maior do que a

energia térmica, de modo que, ao contrário do silício, são necessárias outras medidas para

gerar portadores livres após fotoexcitação. O éxciton deve difundir para a interface gerada

através da presença de um segundo material, onde o processo de transferência de carga é

23

energeticamente favorável. Mesmo que o elétron e o buraco estejam mais separados no

espaço, este estado de transferência de carga é menos suscetível a recombinação do que o

éxciton original. Embora o elétron e o buraco estejam em moléculas vizinhas, eles ainda estão

perto o suficiente para que sua energia de ligação Coulombiana seja significativa. O intervalo

de difusão dos éxcitons em polímeros conjugados é apenas alguns nanômetros ( 10 nm), mas

um dispositivo fotovoltaico deve ter pelo menos 100 nm de espessura para absorver uma boa

parte da luz incidente, de modo que uma única interface planar não capture a maioria dos

éxcitons fotogerados. Para superar este problema, uma estrutura em "heterojuncão de volume"

é tipicamente utilizada (A. J. Heeger, 1995), em que os materiais doadores e aceitadores são

misturados fisicamente numa escala de comprimento comparável com o intervalo de difusão

dos éxcitons, permitindo, assim, uma colheita eficaz de éxcitons. Os elétrons e buracos devem

ser extraídos a partir do dispositivo por meio de transporte sobre os doadores e aceitadores

dos componentes da mistura, e isso exige uma nanoestrutura com vias ligadas suficientes para

permitir a extração rápida dos portadores antes que a recombinação ocorra (Figura 13).

Figura 13 – Morfologia esperada em estrutura em heterojuncão de volume (BHJ).

24

1.3 POLIFLUORENOS

A síntese e comportamento de auto-montagem de todos os copolímeros

conjugados ainda é uma área muito exigente no campo da química dos polímeros. Além disso,

é um território com potencial de alta aplicação, por exemplo, como materiais fotovoltaicos,

biossensores etc (Y. Liang et al., 2007). Aplicações emergentes para copolímeros conjugados

em células fotovoltaicas orgânicas (células solares orgânicas) e biotecnologia (biossensores)

muitas vezes exigem a padronização de materiais na escala de comprimento 10-100 nm, e

copolímeros podem fornecer uma elegante rota para controlar a auto-montagem em tais

morfologias nanoestruturados.

Entre os vários tipos de sistemas conjugados, os copolímeros de polifluorenos

demonstraram notáveis propriedades luminescentes e optoeletrônicas que podem ser ajustados

para o desenvolvimento de diodos emissores de luz (LEDs), e células solares à base de

polímero. O fluoreno é uma molécula rígida e planar e no caso do homopolímero apresenta

grande Egap, mas com energia de HOMO baixa sendo, portanto, altamente estável à

fotodegradação e a oxidação térmica durante o funcionamento de um dispositivo.

Polímeros à base de polifluoreno com segmentos de fluoreno e unidades

moleculares aceitadoras de elétrons foram sintetizados para melhorar a sobreposição das

bandas de absorção com o espectro solar em células solares à base de polímero (O. Inganas et

al., 2004). Winfield et al., estudaram as propriedades optoeletrônicas de uma série do

copolímero [2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)(1-x)-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazol)(x)] (F8BT) variando

a proporção das unidades benzotiadiazol (BT) entre 0 e 0,5 a fim de investigar os efeitos da

introdução de uma pequena quantidade da unidade fortemente aceitadora de elétrons (BT) na

estrutura do poli[2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)] (F8).

25

Figura 14 – Estrutura química das unidades do poli[2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)(1-x)-co-4,7-

(2,1,3-benzotiadiazol)(x)] (F8BT).

O F8BT tem sido amplamente usado como um material de transporte de elétrons

em LEDs (J. S. Kim et al., 2004), em células fotovoltaicas (C. R. McNeill et al., 2007) e

como um material ambipolar em transistores de efeito de campo de emissão de luz. (J. Cornil

et al., 2007). Foi demonstrado que a unidade BT é crucial para determinar as propriedades de

transporte de carga e transferência de energia do F8BT (C. L. Donley et al., 2005). A grande

separação de energia entre os LUMOs dos monômeros F8 e BT, bem como a fraca densidade

eletrônica sobre os átomos que os ligam no LUMO do BT induz uma forte localização do

LUMO do F8BT na unidade BT. Por outro lado, os HOMOs dos monômeros F8 e BT são

muito mais próximos em energia e apresentam uma densidade eletrônica significativa sobre

os átomos de ligação; sua interação mais forte dá origem a um nível HOMO mais

deslocalizado no F8BT (J. Cornil et al., 2003). A Figura 14 mostra o diagrama de energia dos

orbitais HOMO e LUMO do fluoreno e do benzotiadiazol.

F8 BT

26

Figura 15 – Diagrama de energia das unidades do poli[2,7-(9,9-di-n-octilfluoreno)(1-x)-co-4,7-

(2,1,3-benzotiadiazol)(x)] (F8BT).

27

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33

CAPÍTULO 2: SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COPOLÍMERO PFEBT

34

RESUMO

No dispositivo desenvolvido neste trabalho, fez-se uso de um material orgânico como camada

ativa, o Poli [9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazol)] –

PFeBT. O copolímero apresenta uma estrutura doador/aceitador de elétrons que realiza uma

pré-separação de cargas fotogeradas. Foram realizadas medidas óticas, elétricas e

morfológicas afim de investigar o comportamento desse polímero para possíveis aplicações na

indústria da eletrônica orgânica. Os valores de corrente observados em torno de +3V e -3V

com o dispositivo sob iluminação e no escuro apresentam diferença de 2 a 3 ordens de

magnitude, e podem estar associados com uma baixa recombinação dos pares elétrons-

buracos ou com o campo elétrico aplicado. No ponto da corrente de curto circuito, para campo

externo nulo, a corrente medida sob iluminação tem aproximadamente 2x10-8

A/cm2,

reforçando a idéia de que ainda assim, há baixa recombinação de pares apesar das barreiras de

potencial devido às diferenças entre os níveis de energia do polímero e da função trabalho dos

eletrodos. Assim, a estratégia do copolímero com setores alternados Doadores e Aceitadores,

mostrou-se promissora.

Palavras-Chaves: PFeBT, OPV e Fotocorrente.

35

ABSTRACT

In the device developed in this study we used an organic material as an active layer, the

poly[9,9-bis(3′-(tert-butyl propanoate))fluorene-co-4,7-(2,1,3-benzothiadiazole)](PFeBT).

The copolymer has a donor / acceptor structure to facilitate the separation of photogenerated

charges. Optical, electrical and morphological order have been investigated for potential

applications in organic electronics. The current values detected around +3V and -3V with the

device under illumination and in dark conditions differ by 2 to 3 orders of magnitude. This

may be associated with a low recombination of pairs, however may also be associated with

the external field applied, since for the thickness and applied voltage values we have fields of

the order of 10 7 V / m. In short circuit current, ie. for zero external field, the measured current

under illumination is approximately 2x10-8

A / cm2, reinforcing the idea that, and despite the

potential barriers due to differences between the energy levels of the polymer and the work

function of the electrodes, we have low recombination of pairs. Thus, the strategy of the

copolymer with alternating sectors Donors and Acceptors, shows promise.

Key-words: PFeBT, OPV and photocurrent.

36

1. INTRODUÇÃO

Células fotovoltaicas de filmes finos, constituídos a partir de soluções de

semicondutores orgânicos atraíram notável interesse como uma possível alternativa para

tecnologias fotovoltaicas (M.C. Scharber, N.S. Sariciftci, 2013). Desta forma, dispositivos

fotovoltaicos orgânicos (Organic PhotoVoltaic – OPV) tem sido o centro das atenções como

uma tecnologia global de tendências, devido à seu potencial econômico e capacidade de

facilitar o desenvolvimento sustentável, sem destruição do meio ambiente. No entanto, a

Eficiência da Conversão de baixa Potência (ECP) tem sido a maior barreira para aplicações

dos OPVs (J.Y. Lee et al., 2011). Para melhorar a ECP, o polímero deve possuir as seguintes

propriedades: (1) baixo band gap e um amplo espectro de absorção de luz, (2) estrutura de

cristal para melhor transporte de carga (3), baixo nível de energia HOMO para obter uma alta

tensão de circuito aberto (Voc), (4) alto peso molecular para melhorar a fotocorrente (D. H.

Kim et al., 2014) e, recentemente reportado, estado de transferência de carga (CT) de ambos

componentes (C. L. Chochos, 2011).

Ao longo dos últimos anos, polímeros com estrutura do tipo doador-aceitador (D-

A) de baixo band gap despertou interesse devido às suas propriedades eletrônicas e sua

facilidade para ter sua estrutura química modificada aumentando sua faixa de absorção para

captar longos comprimentos de onda da luz (Doo Hun Kim et al., 2014). Assim, a síntese de

polímeros para aplicações em células solares de alta eficiência de conversão de energia é

altamente desejável. Para alcançar este objetivo, a absorção óptica, estrutura eletrônica e as

propriedades de transporte eletrônico do polímero, devem ser devidamente combinadas. O

saldo dessas propriedades é essencial para alcançar uma maior eficiência em células solares e

o controle da morfologia na mistura de unidades doadoras e receptoras é um caminho para

equilibrar as propriedades de transporte elétrico, recombinação e geração de carga (R.

Andersson et al., 2009).

37

O desenvolvimento de células fotovoltaicas orgânicas (OPV) progrediu a um

ritmo impressionante na última década, como resultado de um esforço na otimização de

design molecular, processamento de materiais e engenharia de dispositivo (H. Y. Chen, et al.,

2009). A eficiência de conversão de energia para os melhores dispositivos em escala de

laboratório já ultrapassam 9%, porém, entre os sistemas relatados na literatura são poucos os

descritos com alto desempenho. Portanto, é crucial compreender os processos fundamentais

que limitam o desempenho do dispositivo, além da necessidade de desenvolver rotas para

alcançar um bom desempenho nos dispositivos orgânicos (Dan Credgington et al., 2012).

Células solares orgânicas contendo materiais com características doador/aceitador

de elétrons possuem diferenças de afinidade eletrônica e de energia de ionização, originando

assim, o aparecimento de forças eletrostáticas em sua interface, o que possibilita a dissociação

dos éxcitons. Porém, o comprimento de difusão dos éxcitons, em polímeros conjugados,

geralmente é da ordem de 10 nm e, para se ter uma boa absorção da luz, a camada polimérica

precisa de uma espessura de 100 nm. A fim de evitar a perda de boa parte dos éxcitons, uma

nova estrutura de célula orgânica foi proposta, em que a escala de comprimento da mistura

dos componentes doadores e aceitadores é similar ao comprimento de difusão dos éxcitons e a

maior parte destes pode alcançar a interface.

Neste sentido, células solares poliméricas BHJ (Heterojunção de volume) de alto

desempenho feitas a partir de uma mistura de poli (3-hexiltiofeno) (P3HT) e [6,6]-fenil-C61-

ácido butírico-metil éster (PCBM) têm sido relatados, com máximos de eficiência de

conversão de baixa potência de 4-5% (Li, G. et al. (2005); Ma, W. Yang et al., 2005; Kim, Y.

et al. (2006)). Essa mistura de P3HT, como um semicondutor do tipo p e o PCBM, como

semicondutor do tipo n, formam uma das blendas mais estudadas. Trabalhos recentes sobre

morfologia (J. Zhao et al., 2009), comportamento eletrônico no escuro e na presença de luz

38

(P.Kumar et al., 2009), e estabilidade e degradação foram relatados (B. Zimmermann et al.,

2009).

Um diagrama esquemático dos níveis de energia de um sistema doador-aceitador

típico é mostrado na Figura 1. O HOMO representa o orbital molecular mais alto ocupado e

LUMO o orbital molecular mais baixo desocupado de moléculas orgânicas. É geralmente

aceito que, no estado da arte, em semicondutores orgânicos, um número limitado de pares

elétron-buraco (éxciton) é gerado após a absorção de fótons (Deibel C. et al., 2009 ). Devido à

baixa constante dielétrica dos materiais orgânicos, existe uma forte atração Coulombiana

entre o elétron e o buraco. Assim, uma dissociação do éxciton em cargas livres torna-se

improvável em condições ambientais (M.C. Scharber, N.S. Sariciftci, 2013).

Figura 1 – Diagrama do nível de energia de um sistema doador/aceitador; IP é potencial de

ionização. A seta entre os níveis LUMO indica a transferência de elétrons fotoinduzidos que é

o primeiro passo para a geração de portadores de carga (M.C. Scharber et al., 2013).

O objetivo do trabalho foi sintetizar um polímero com propriedades fotovoltaicas

baseado em unidades de fluoreno sintetizado através da policondensação cruzada Suzuki e

39

estudar as propriedades de transporte do polímero sintetizado através de medidas óticas e

elétricas.

2. PARTE EXPERIMENTAL

O polímero sintetizado foi um copolímero do tipo D-A (doador-aceitador) e a síntese

foi realizada no Laboratório de Físico-Química da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná (UTFPR), com apoio do Laboratório de Polímeros Paulo Scarpa (LaPPS) da

Universidade Federal do Paraná, sob a responsabilidade da Profa. Dra. Leni Akcelrud.

Todos os dispositivos reportados no trabalho foram desenvolvidos no Laboratório

Grupo de Polímeros “Prof. Bernhard Gross” do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP).

2.1. SÍNTESE DO POLÍMERO – PFeBT

O polímero foi sintetizado através da rota de Suzuki, conforme a Figura 2 e como

descrito na referência por Rodrigues et al., 2013.

Figura 2 – Rota de síntese do Poli [9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-

benzotiadiazol)] (PFeBT).

PFeBT

40

2.1.1 Síntese do intermediário 2,7-dibromo-9,9-bis(3-(t-butilpropanoato))fluoreno (2)

Foi adicionado gota-a-gota 6,6 mL de uma solução aquosa de NaOH 50% em uma

solução de 2-bromofluoreno (4,00 g, 12,34 mmol) e brometo de tetrabutilamônio (138,6 mg,

0,43 mmol) em tolueno (26,4 mL). A solução foi mantida em agitação durante 20 minutos a

temperatura ambiente. Em seguida, 8,66 g (67,56 mmol) de acrilato de t-butila foram

adicionados, gota-a-gota, a mistura. A mistura permaneceu em agitação por toda a noite. Em

seguida, a mistura foi extraída com CH2Cl2 e lavada com água. A camada orgânica foi seca

com MgSO4 e após a remoção do solvente, o resíduo foi purificado através de coluna

cromatográfica, obtendo-se um sólido branco com massa de 3,36 g e com um rendimento de

46,86%.

2.1.2 Síntese do intermediário 2,7-bis-(4,4,5,5-tetrametil-1,2,3-dioxoborolan-2-il)-9,9-

bis(3-(t-butil propanoato))fluoreno (3)

Uma mistura contendo 3,27 g (6,5 mmol) de 2, 2,7 g de KOAc, 4,2 g de diboro

bis(pinacolato) e 40 mL de DMF foi colocada em um balão de 100 mL. Após agitação por 20

minutos, sob atmosfera de Ar, 151 mg de Pd(dppf)2Cl2 foi adicionado rapidamente. A mistura

ficou em agitação por 20 horas a uma temperatura de 90 oC. Após este período, a mistura foi

resfriada, colocada em água e extraída com CH2Cl2. A fase orgânica foi lavada com água e

seca com CaCl2. Após a remoção do solvente, o resíduo foi purificado com coluna

cromatográfica, obtendo-se o composto 3, como um sólido branco de massa 2,45 g e com um

rendimento de 64,37 %.

41

2.1.3 Síntese do Poli [9,9’-bis-(3’-(butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-

benzotiadiazol

Em um frasco de 25 mL adicionou-se 130 mg (0,44 mmol) de 4,7-dibromo-2,1,3-

benzotiadiazol, 300 mg (0,44 mmol) de 3, 11,43 g de Pd(Ph3P)4 e 735,7 mg de carbonato de

potássio. Em seguida, uma mistura de água e tolueno foi adicionada ao balão e Ar foi

borbulhado no sistema por 20 minutos. A mistura foi aquecida a 90 °C por 24 horas sob Ar e

após este período, precipitada em metanol. A seguir, o polímero obtido foi filtrado e lavado

com etanol e acetona, gerando um sólido amarelo fibroso. (Paula C. Rodrigues et al., 2013).

2.2. PREPARAÇÃO E DEPOSIÇÃO DOS FILMES

Para a formação do filme, que constitui a camada ativa do dispositivo, prepara-se

uma solução de PFeBT em xileno com concentração de 10 mg/mL, a qual foi levada ao banho

de ultrassom por 30 minutos para garantir a completa solubilização do copolímero.

Finalmente, a deposição da camada ativa acima da camada de PEDOT foi feita por spin

coating. O processo foi realizado numa glovebox sob atmosfera de nitrogênio. A formação

dos contatos metálicos foi realizada pelo método de evaporação térmica em uma câmara de

alto vácuo, que por sua vez, também se encontra na glovebox. Dessa forma evita-se qualquer

contato com ar durante o processo de fabricação do dispositivo.

2.3. CARACTERIZAÇÃO DO FILME

2.3.1 Medida de absorção

Os espectros de absorção foram medidos utilizando um espectrômetro UV-Vis da

marca Hitashi, modelo U-2900.

42

2.3.2 Morfologia

As imagens de AFM (Microscopia de Força Atômica) foram realizadas em um

microscópio de força atômica – Nanoscope III, da Digital Instruments.

2.4. CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DOS DISPOSITIVOS

2.4.1 Medida de corrente por tensão (I x V)

As medidas de corrente versus tensão foram realizadas utilizando um eletrômetro

da marca Keithley, modelo 2400. O eletrômetro foi conectado a um computador através de

uma placa GPIB-USB-HS da National Instruments.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 SÍNTESE DO MONÔMERO

3.1.1 Rota de síntese do intermediário 2,7-dibromo-9,9-bis(3-(t-butilpropanoato))

fluoreno (2):

O mecanismo de reação da síntese do composto (2) está mostrado na Figura 3. Na

primeira etapa, um dos hidrogênios do carbono 9 do fluoreno, que possui acidez maior do que

os átomos de hidrogênio aromáticos, é abstraído pela base conjugada do hidróxido de sódio

gerando um carbânion relativamente estável. Na segunda etapa, a presença de um grupo

vinílico terminal, permite que o carbânion ataque o carbono da extremidade. Em seguida, o

carbono alfa é protonado na presença de água e, consequentemente, re-estabelecendo a base.

O mesmo ocorre para o segundo hidrogênio do carbono 9, gerando o composto de interesse.

43

H H

Br BrOH-+

Lenta

H

Br Br

-

+ H2O

H

Br Br

-

+ CH2

O

O

CH3

CH3

CH3

H

Br Br

O

O

CH3

CH3

CH3

-

H

Br Br

O

O

CH3

CH3

CH3

-

+ H

OH

H

Br Br

O

O

CH3

CH3

CH3

Figura 3 – Mecanismo de reação de obtenção do composto (2).

3.1.2 Rota de síntese do intermediário 2,7-(4,4,5,5-tetrametil-1,3,2-dioxaborolan-2-il)-

9,9-bis(3-(tert-butil propanoato))fluoreno (3):

O mecanismo de reação para a formação do composto 3 (Figura 4) segue o

mecanismo de Miyaura de borolação, na qual é bastante semelhante a reação de

polimerização de Suzuki.

44

Pd(0)

R R

Br Pd(ll) - Br

R R

Br Br

KOAcR R

Br Pd(ll) - OAc

B B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

O

O

CH3

CH3

CH3 CH3

AcO B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

R R

Br Pd(ll) B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

RR

Br

B

O

O

CH3

CH3CH3

CH3

R = CH2

O CH3

CH3

CH3

O

Figura 4 – Mecanismo de reação de Miyaura para a formação do composto (3).

3.2 SÍNTESE DO POLÍMERO

3.2.1 Rota de síntese polímero 9,9’-bis-(3’-(t-butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-

benzotiadiazol)]:

O mecanismo comumente aceito para as reações de Suzuki-Miyaura envolve três

etapas como mostrado na Figura 4: (a) adição oxidativa do haleto de arila à espécie de Pd(0);

(b) transmetalação que é o envolvimento da transferência do grupo arila do ácido arilborônico

para o centro metálico formando o intermediário arila-paládio-arila e (c) eliminação redutiva

para dar o produto de acoplamento e regenerar a espécie de paládio cataliticamente ativa

45

(Garcia-Cuadrado et al., 2006). A Figura 5 mostra o mecanismo de reação envolvido para a

formação do polímero.

Pd(0)

R'

Br Br

NN

S

Br Pd(ll)

NN

S

Br

K2CO3 H2O + KHCO3 +Ar B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

+ Ar B-

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

OH

K+

R' =

Ar =

R = CH2

O

O

CH3

CH3

CH3

R R

B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

Br Pd(ll)

NN

S

Ar

B

O

O

CH3

CH3

CH3

CH3

OH

Br K

Br

NN

S

Ar

Figura 5 – Mecanismo de reação de Suzuki para a formação do polímero.

46

3.3. CARACTERIZAÇÃO ESPECTROSCÓPICA DO COPOLÍMERO – PFeBT.

O copolímero sintetizado foi caracterizado através de espectroscopia de absorção na

região do UV-Vis. Na Figura 6 está representado o espectro de absorção e fotoluminescência

do polímero utilizado como camada ativa no dispositivo.

Figura 6 – Espectro de absorção eletrônica e fotoluminescência do PFeBT.

De acordo com P.C Rodrigues et al., 2012, a banda de absorção de alta energia foi

atribuída para transição - * (S0→ S4) das unidades do fluoreno, e a banda em baixa energia

foi atribuída à transferência de carga intramolecular (ICT) entre o grupo aceitador

(benzotiadiazol) e doador (fluoreno). Como o espectro da radiação solar apresenta uma maior

intensidade na região entre 400 a 800 nm, é desejável que sejam sintetizados polímeros que

absorvam nesta região, a fim de aumentar a eficiência das células solares poliméricas.

A fotoluminescência (PL) do espectro para PFeBT, apresentada na Figura 6, mostra

uma banda centrada a λem = 536 nm, independentemente da energia de excitação, λexc = 320

nm (que é ressonante com a absorção de energia superior) ou 450 nm (que é ressonante com a

absorção de energia inferior). Isso indica que quando os grupos fluoreno, são

preferencialmente excitados há uma transferência de energia ou de carga rápida para o estado

300 400 500 600 700

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Absorb

ância

(u.a

)

Comprimento de onda (nm)

ICT

0

20

40

60

80

100

120

140

160

exc

= 320 nm

exc

= 450 nm

PL (

a.u

.)

47

excitado inferior, que é responsável pela emissão. Isto é, independente de excitarmos o grupo

fluoreno ou benzotiadiazol, o sistema relaxa através do de menor energia, uma clara evidência

de transferência de energia interna.

3.4 MEDIDAS ELÉTRICAS DOS FILMES DE PFeBT

As propriedades elétricas dos dispositivos fotovoltaicos, construídos de acordo

como descrito na seção 2.2, são investigadas através da análise das curvas características de

densidade de corrente em função da tensão aplicada (J x V). A Figura 7 apresenta as curvas (J

x V) medidas no escuro e sob iluminação (simulador solar AM 1.5) para o dispositivo.

Na ausência de luz, não há geração de éxcitons e o dispositivo deveria se

comportar como um diodo retificador que apresenta corrente elétrica somente em tensão

direta, ou seja, quando V > 0. A Figura 7 (b) mostra o detalhe da curva no escuro, notamos

que o comportamento é mais ou menos linear até um valor de tensão onde a corrente se desvia

desse comportamento. Quando há incidência de luz sobre os dispositivos, há a contribuição

dos portadores de cargas gerados pela absorção da luz. O dispositivo comporta-se como um

fotodetector e pode-se observar corrente elétrica tanto em tensão reversa (quando V < 0)

quanto em tensão direta (quando V > 0).

48

Figura 7 – Curvas características do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al. Figura (a) compara

comportamento no escuro e sob iluminação, Figura (b) mostra o comportamento no escuro em

detalhe.

Quanto maior a intensidade de luz que atravessa o eletrodo do ITO e incide sobre

o dispositivo, maior é a corrente para uma mesma tensão aplicada. Além disso, quando V = 0

(dispositivo em curto circuito), obtém-se uma corrente negativa, chamada de corrente de curto

circuito, Isc, que resulta do campo interno criado pelos eletrodos e das propriedades de

0 1 2 3

-1,0x10-7

-5,0x10-8

0,0

5,0x10-8

-2 -1 0 1 2

1E-11

1E-10

1E-9

J (

A/m

m2)

V

Escuro

10

100

1000

10000

Sob Iluminação

J (

A/m

m2)

De

nsid

ad

e d

e c

orr

en

te (

A/m

m2)

Voltagem (V)

Escuro

Sob Iluminação

-3 -2 -1 0 1 2 3 4

-4,00E-009

-2,00E-009

0,00E+000

2,00E-009

4,00E-009

Densi

dade d

e c

orr

ente

(A

/mm

2)

Voltagem (V)

(a)

(b)

Jsc

Voc

49

transporte do material. Também se observa um potencial diferente de zero, chamado tensão de

circuito aberto, Voc quando, através do dispositivo, não há corrente, I = 0.

A eficiência da conversão da energia luminosa em energia elétrica depende muito

da eficiência de fotogeração da separação do par elétron-buraco, do mecanismo de transporte

evitando recombinação no caminho, e da coleta de cargas livres. No entanto, a taxa de

recombinação nesses materiais também é bastante alta, o que faz com que, embora seja

observado um determinado efeito fotovoltaico, a eficiência de conversão energética dos

dispositivos é relativamente baixa.

3.5 TRANSPORTE DE CARGAS NOS DISPOSITIVOS SEM ILUMINAÇÃO

Na Figura 8 (b) é apresentado um gráfico J x V em escala logarítmica, onde pode-

se observar o comportamento do transporte de carga para o dispositivo orgânico. Para baixas

voltagens é observado o regime de condução ôhmico, enquanto que para voltagens maiores, a

mudança na inclinação da curva permite identificar a transição entre o regime ôhmico e um

possível regime dominado pelo excesso de portadores injetados, o regime de corrente limitada

por cargas espacial – SCL. A ausência de regime de corrente limitada por cargas espacial

possivelmente pode ser explicado devido à pequena corrente envolvida no sistema e

consequentemente não se pôde alcançar esse regime. O gráfico da Figura 8 (a) apresenta certa

linearidade até aproximadamente 2,5V, mas em seguida apresenta uma inclinação, que

possivelmente pode ser uma região onde começaria o regime de corrente limitada por cargas

espacial.

50

Figura 8 – Curvas características do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al. Figura a) mostra o

comportamento no escuro, Figura b) gráficos em escala log-log da corrente vs. tensão sem a

presença de luz.

Na curva J x V da Figura 8 (b) é observada uma inclinação da ordem de 0,978,

que corresponderia a um comportamento ôhmico. Isto não significa que temos injeção ôhmica

na interface polímero/eletrodo, pois observando o diagrama de energia nota-se que existe uma

-3 -2 -1 0 1 2 3 4

-4,00E-009

-2,00E-009

0,00E+000

2,00E-009

4,00E-009

De

nsid

ad

e d

e c

orr

en

te (

A/m

m2)

Voltagem (V)

-1,6 -1,4 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6

-10,5

-10,0

-9,5

-9,0

-8,5

log

(J)

log(V)

J~V

(a)

(b)

Transição entre o

regime ôhmico e

SCL.

51

diferença entre função trabalho do alumínio e o nível LUMO, bem próxima do valor

observado entre o ITO e o HOMO (Figura 9). Em outras palavras, embora existam barreiras

de injeção em cada interface, estas barreiras são similares de cada lado, resultando num efeito

similar ao de uma junção ôhmica, isto é, uma junção onde o nível de energia do polímero

coincide com o nível de energia da função trabalho do metal. Possivelmente, esta

configuração dos níveis de energia em nosso dispositivo pode estar relacionada com o

pequeno fator de preenchimento e o foto de não haver um componente “n” na camada ativa.

A figura 9 mostra o diagrama do nível de energia do dispositivo trabalhado com

seus respectivos valores de função trabalho.

Figura 9 – Diagrama do nível de energia do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al.

3.6 CURVAS CARACTERÍSTICAS J x V SOB ILUMINAÇÃO

Na Figura 7 (a) é apresentada a curva J x V característica do dispositivo

ITO|PEDOT|PFeBT|Al, a linha preta representa a curva no escuro e a linha em azul sob

iluminação de luz branca (simulador solar AM 1.5). Cada dispositivo exibe um determinado

Voc pela diferença entre as funções trabalho dos dois eletrodos de metal. Quando o dispositivo

é iluminado apresenta tensão de circuito aberto (Voc) de 0.95 V e uma densidade de corrente

52

de curto circuito (Jsc) de 2,16 x 10-8

A/mm2. O ponto de eficiência máxima de energia de um

dispositivo fotovoltaico é onde o produto J x V é maior. A potência máxima ideal seria o

produto Jsc x Voc, onde Jsc é a densidade de corrente de curto-circuito, no entanto, diversos

fatores levam a uma diminuição da densidade corrente. Assim, o fator de preenchimento (FF)

é definido como a potência máxima real sobre a potência máxima ideal e é dado por:

OCSC

MPMP

VJ

VJFF

(1)

onde, JMP e VMP são corrente e tensão do ponto de potência máxima, respectivamente. O FF

foi calculado em 0,20 para o dispositivo. Este valor foi baixo, o que levou a um valor baixo na

eficiência (η). A densidade de corrente neste dispositivo foi pequena e isto possivelmente foi

devido a diferentes causas, por exemplo, as barreiras apontadas anteriormente. É interessante

notar que a densidade de corrente no escuro foi pelo menos doze ordens de magnitude menor

do que a densidade de corrente sob iluminação. Isto pode ser explicado da seguinte maneira:

sob iluminação, além dos portadores injetados a partir dos eletrodos temos a fotogeração de

pares. Portanto, as ordens de magnitude de densidade de corrente só podem ser atribuídas à

fotogeração, isto é, o material ativo do dispositivo, neste caso PFeBT, absorve uma grande

quantidade de fótons, gerando éxcitons que logo são separados em buracos e elétrons. No

entanto, mesmo tendo-se uma melhora, os portadores fotogerados na camada ativa podem

ficar presos nas interfaces com os eletrodos devido às barreiras de potencial. Assim, o

dispositivo apresentou eficiência fotovoltaica baixa, embora se tenha um aumento

considerável na fotocorrente. Ao mesmo tempo, a mistura em escala molecular pode levar a

um aumento da desordem em nível de energia dentro das fases. Esta desordem irá causar um

aumento na densidade de carga armadilhada, com um aumento significativo no campo de

53

carga espacial e ambos conduzem a uma redução na mobilidade de elétrons e buracos. Além

disso, um problema fundamental de transferência de energia após a fotoexcitação pode

competir com dissociação de éxcitons levando a uma diminuição da eficiência de qualquer

dispositivo orgânico.

A Figura 10 representa a fotocorrente (Jph) do dispositivo trabalhado. A luz branca

utilizada para iluminar o dispositivo, proporcionou um fluxo de fótons com energia hv > Eg,

propiciando a formação/geração de pares de elétrons-buracos na camada ativa. A fim de

encontrar o principal fator limitante para o desempenho do dispositivo, o gráfico Jph versus

tensão aplicada (V) está representado na inserção da Figura 10. A fotocorrente é dada por Jph

= JL - JD, onde JL e JD são as densidades de corrente sob iluminação e no escuro,

respectivamente. Comparativamente, os valores de corrente observados em torno de +3V e -

3V com o dispositivo sob iluminação e no escuro apresentam diferença de 2 a 3 ordens de

magnitude. Isto pode estar associado com uma baixa recombinação dos pares, no entanto,

pode estar associado também com o campo aplicado, uma vez que para as espessuras e os

valores de tensão aplicados temos campos da ordem de 10+7

V/m. No ponto Jsc, isto é, para

campo externo nulo, a corrente medida sob iluminação tem aproximadamente 2x10-8

A/cm2,

reforçando a idéia de que ainda assim, e apesar das barreiras de potencial devido às diferenças

entre os níveis de energia do polímero e da função trabalho dos eletrodos, temos baixa

recombinação de pares. Assim, a estratégia do copolímero com setores alternados D-A,

mostra-se promissora.

54

-3 -2 -1 0 1 2 3 4

-2,5x10-7

-2,0x10-7

-1,5x10-7

-1,0x10-7

-5,0x10-8

0,0

5,0x10-8

Jp

h(A

/mm

2)

V (V)

Figura 10 – Curva característica Jph x V do dispositivo ITO/PEDOT/PFeBT/Al.

3.7 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DO DISPOSITIVO

Um dos parâmetros importantes nos dispositivos orgânicos é a topologia, pois a

partir dela é possível inferir a uniformidade das camadas, parâmetro este diretamente

relacionado com o desempenho do dispositivo. Fatores como injeção e transporte de cargas,

podem ser facilitados ou bloqueados, dependendo da espessura da camada ativa e de sua

regularidade física ou química (Jiang Ya-Dong et al., 2010).

Na Figura 11 mostram-se as imagens de AFM de uma área de 2 m2

do

dispositivo depositado sobre o ITO (Figura 11(a)) e fora da região ativa (Figura 11(b)). A

escala de altura vai de -3 nm a 3 nm. Na primeira imagem (Figura 11 (a)) podemos observar a

formação de agregados moleculares sobre o filme, isto se deve à influência do substrato sobre

o filme durante o processo de deposição. Quando o PFeBT é analisado fora da região ativa

observa-se na Figura 11(b) que o filme apresenta aglomerados menores e com alturas

maiores.

55

Figura 11 – Imagem de AFM de uma área de 2 m2

do (a) ITO + PEDOT + PFeBT e (b)

PEDOT + PFeBT.

Na Figura 12 mostra-se a distribuição de alturas das imagens de AFM da Figura 11;

podemos observar que na ausência de ITO há um aumento na altura das estruturas passando

de 7,9 nm para 13,4 nm mais comum com uma frequência maior em torno do valor médio.

Claramente ambas as imagens são distinguíveis pelo relevo; isto é, o relevo apresenta

características distintas.

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

ITO + PEDOT + PFeBT

PEDOT + PFeBT

Ajuste Gaussiano ITO + PEDOT + PFeBT

Ajuste Gaussiano PEDOT + PFeBT

p (

h)

h (nm)

Figura 12 – Histograma de alturas das imagens de AFM da Figura 11.

(a) (b)

56

Tabela 1: Dados das imagens de AFM para uma área de 2 m2.

Região analisada

σRMS

(nm)

hp (nm) hv (nm) σsk σKU

xc

(nm)

ω

(nm)

ITO + PEDOT + PFeBT 0,6 7,9 -4,1 10,2 0,6 7,9 1,1

PEDOT + PFeBT 0,8 14,5 -4,0 53,5 4,6 13,4 1,2

Da Tabela 1 percebe-se que a rugosidade σRMS não varia significativamente, mas

quando se analisa a distribuição de alturas (Figura 12) observa-se na imagem fora do ITO que

há um deslocamento do centro do histograma das alturas, isto é, 7,9 nm para a região ativa e

13,4 nm para fora da região. O skewness (σSK) está relacionado com a assimetria da

distribuição, quando é maior que zero significa que há um número grande de alturas grandes.

Pode-se verificar na Tabela 1 que o valor da skewness σSK é maior que zero em ambos os

casos (M. L. Vega et al., 2012), mas para o PEDOT + PFeBT (fora do eletrodo) é cinco

vezes maior que para o ITO + PEDOT + PFeBT (no eletrodo). Isto é, no local onde é aplicado

campo (acima do eletrodo), o número de protuberâncias grandes é menor. Já o kurtosis (σKU)

mostra como estão distribuídos as alturas na superfície, da Tabela 1 tem-se que σKU é maior

que 3 para o PEDOT + PFeBT indicando que a distribuição de alturas é estreita devido a que

os picos são estreitos e finos como mostra a Figura 11, já no casso do filme ITO + PEDOT +

PFeBT σKU é menor que três o que indica que os picos são largos. Como todas as análises do

relevo foram realizadas posteriormente às caracterizações elétricas, presumimos que as

características diferentes apresentadas pelo relevo indicam um efeito da aplicação do campo.

57

4. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS

Através destes estudos os dispositivos projetados, construídos e as medidas

obtidas neste trabalho, permitem direcionar a construção e caracterização de dispositivos

fotovoltaicos baseados no uso do PFeBT como camada ativa. Medidas de UV-vis mostraram

que o polímero cobre uma boa faixa do espectro solar, o qual tem uma grande possibilidade

de absorver luz radiante oriunda do sol. O dispositivo obtido não apresentou um bom

desempenho, isto pode ser melhorado com uma escolha mais apropriada dos eletrodos, com

funções trabalho mais próximas dos valores de energia HOMO e LUMO. Avanços no

desenvolvimento em células solares BHJ envolvem a estratégia de incorporação de uma

pequena quantidade de LiF ou cálcio na interface entre a camada fotoativa e o contato de

alumínio, a fim de garantir um bom contato ôhmico. No mesmo sentido, diferentes óxidos

transparentes, como o FTO e ZnO, podem apresentar função trabalho similares ao nível

HOMO do PFeBT dependendo do tratamento da superfície. Na medida de fotocorrente,

pôde-se chegar a resultados favoráveis, obtendo-se uma baixa recombinação de cargas. Isso

mostra que o copolímero estudado com característica doador-aceitador realizou de forma

favorável o processo da separação dos portadores de carga.

Através das imagens de AFM, a rugosidade das regiões analisadas no dispositivo

apresentou diferenças interessantes. Observando mudanças nas alturas das estruturas na forma

e distribuição espacial. Por exemplo, na região onde o campo foi aplicado o número de

protuberâncias grandes foi menor, o centro da distribuição também foi deslocado chegando

quase ao dobro na região fora do eletrodo, presumindo que as características diferentes

apresentadas pelo relevo indicam um efeito da aplicação do campo.

58

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63

CAPÍTULO 3: EFEITO DE INTERFACE NAS TRANSIÇÕES ELETRÔNICAS DO

PFeBT

64

RESUMO

Como filmes finos são bastante utilizados em aplicações de dispositivos, é necessário ter uma

boa compreensão de suas propriedades físicas. Um conhecimento mais detalhado das

interfaces também pode ser útil na concepção de procedimentos de modificação da superfície

com nova aplicação em áreas como biocompatibilidade. A elipsometria tem mostrado ser uma

boa ferramenta na determinação de propriedades dielétricas de filmes finos, e muitas vezes é

usada para determinar a espessura da camada em estruturas multicamadas, bem como energias

bandgap em estruturas semicondutoras. O modelo físico para descrever as propriedades

ópticas dos filmes a partir das medidas elipsométricas, pode ser representado por duas

camadas distintas, sendo a primeira camada formada pela interação substrato/polímero (~8±1

nm) e a segunda camada formada pela interação polímero/polímero (de espessura variável de

acordo com a velocidade de rotação); cada camada com suas respectivas propriedades físicas.

Foram propostas três bandas de Lorentz para descrever cada transição eletrônica. Os

resultados do ajuste ao modelo físico proposto mostraram que a banda vibrônica não é

necessária na camada em contato direto com o substrato para modelar os resultados da

elipsometria. Por outro lado foi necessário usar a banda vibrônica na segunda camada. O

estudo em função da velocidade de rotação para deposição dá consistência ao modelo e

mostra uma mudança na espessura das camadas.

Palavras-Chaves: PFeBT, célula solar, interface, elipsometria, polímero D – A

65

ABSTRACT

As in many cases, thin films are embedded in many applications, in this way, having good

understanding of their physical properties is necessary. A more detailed understanding of the

interfaces could also be useful in the design of surface modification procedures with new

application in areas such as biocompatibility. Ellipsometry is shown as a tool for determining

dielectric properties of thin films, is often used to determine the thickness of the layer in

multilayer structures, and the bandgap energy of semiconductor structures. After spinnig the

film, the physical model describing the optical properties of the film from ellipsometric

experiments, has two layers: the first layer (~8±1 nm) formed by the interaction of substrate /

polymer and the second layer formed by polymer / polymer interaction (variable thickness

according to the spinning speed); each layer with their physical properties. Three Lorentz

bands were proposed to describe each electronic transition. The results of the fitting to the

proposed physical model showed that the vibronic band is not required in the layer in direct

contact with the substrate to model the results of ellipsometry. Moreover the vibronic band in

the second layer is required to use it. The study on the basis of the rotational speed of

deposition gives consistency to the specimen and shows a change in thickness of the layers.

Key-words: PFeBT, solar cells, interface, ellipsometry, D-A polymer

66

1. INTRODUÇÃO

Semicondutores poliméricos atualmente atraem um interesse considerável para

uma série de aplicações optoeletrônicas avançada, incluindo diodos emissores de luz (LEDs),

células solares e transistores de efeito de campo (FET). Como filmes finos são bastante

utilizados em aplicações do dispositivo, é necessário ter uma boa compreensão de suas

propriedades físicas. Um conhecimento mais detalhado das interfaces de polímero também

poderia ser útil na concepção de procedimentos de modificação da superfície visando

aplicação em diferentes áreas, como por exemplo, na biológica.

O conhecimento preciso do comportamento térmico do material semicondutor é

crítico para a seleção de protocolos de tratamento pós deposição, necessários para otimizar a

nanoestrutura, bem como para a avaliação da estabilidade térmica de longa duração. No

entanto, em muitos casos, o conhecimento do comportamento térmico de filmes finos de

semicondutores é insuficiente para descrever completamente a resposta de dispositivos

optoeletrônicos de filmes finos, os quais muitas vezes exibem sensibilidade significativa para

efeitos de interface (M. Christian et al., 2013).

As superfícies sem dúvida dominam o comportamento de materiais com sistemas

de pequeno tamanho como um resultado da sua elevada relação superfície/volume. Um

exemplo importante de efeitos de superfície é a observação da superfície pré-fusão, em

sólidos cristalinos. Breach et al., descobriram forças de adesão tão elevadas como 13 J.m-2

nas

interfaces de PMMA soldadas entre si a 368 K, a uma temperatura inferior à de transição

vítrea. A sua observação indica que existe mobilidade da cadeia suficiente na superfície de

PMMA para permitir o emaranhamento da cadeia mesmo abaixo da temperatura à qual existe

mobilidade no polímero (R. A. L Jones et al., 1994).

Utilizando elipsometria, M. V. Madsen et al., estudaram a segregação de fases do

sistema P3HT/PCBM. Em dois dos modelos propostos propuseram uma separação de fase

67

mostrando uma camada on top de P3HT puro. Estes trabalhos demonstraram que a

elipsometria é uma boa técnica para o estudo de efeitos de interface.

Recentemente foi descoberto que os estados eletrônicos na interface dielétrica

determinam substancialmente o transporte dos portadores de carga em transistores de efeito

de campo orgânicos. Pentaceno é um exemplo notável em que há um único comportamento

tipo-p em OFETs e tem sido atribuída somente para semicondutor orgânico em que a

influência dos estados eletrônicos de interface na superfície do pentaceno/isolante tenha sido

supervisionada. A razão para isso foi a crença de que os semicondutores orgânicos são

incapazes de formar ligações pendentes na interface, que são a principal causa para os estados

de interface em semicondutores inorgânicos (M. Christian et al., 2009).

Foi demonstrado que OFETs de pentaceno com terminais fonte e dreno de Au e

um gate-dielétrico de SiO2 apresentam comportamento tipo-p . A falta de condução de

elétrons no canal pode ser atribuída a armadilhas de elétrons interfaciais, de modo que uma

passivação da superfície de SiO2 através da utilização de pequenas quantidades de cálcio em

combinação com os contatos de Ca conduz a um comportamento do tipo-n pronunciado (M.

Christian et al., 2009).

Elipsometria é uma técnica poderosa e versátil para a determinação de

propriedades dielétricas de filmes finos e permite o emprego de ambos os substratos

transparentes e opacos. Além disso, devido à sua boa sensibilidade, tem sido muitas vezes

usada para determinar a espessura da camada em estruturas multicamadas, bem como energias

bandgap em estruturas semicondutoras. Esta técnica de análise óptica baseia-se na alteração

do estado de polarização da luz após a sua reflexão sobre uma superfície. Em particular, as

componentes do campo elétrico polarizado paralelamente e perpendicularmente ao plano de

incidência sofrem diferentes alterações de fase e de amplitude (os coeficientes de reflexão de

Fresnel, rp e rs, são diferentes).

68

1.1 ELIPSOMETRIA

Elipsometria é uma técnica de medição óptica, que caracteriza a reflexão da luz

(ou de transmissão) a partir de amostras. A principal característica da elipsometria é que ela

mede a variação de luz polarizada sobre a reflexão da luz em uma amostra (ou a transmissão

de luz por uma amostra). O nome elipsometria vem do fato de que muitas vezes a luz

polarizada torna-se elíptica sobre a reflexão da luz. Essa técnica mede a razão de amplitude

(ѱ) e a diferença de fase (Δ) entre as ondas de luz, conhecidas como ondas de luz polarizadas

perpendicularmente (s) e paralelamente (p), como mostra a Figura 1. Em espectroscopia de

elipsometria, (ѱ, Δ) são medidos para cada comprimento de onda da luz. Em geral, a medição

elipsometrica é realizada na região do ultravioleta / visível, mas medição na região do

infravermelho também tem sido realizada amplamente.

Figura 1 – Reflexão da onda de luz perpendicularmente e paralelamente polarizada

(FUJIWARA, 2003).

Esta técnica óptica permite a caracterização de filmes finos formados em solução,

porque a luz é empregada como a sonda. No entanto, existem duas restrições gerais sobre a

medição elipsométrica, especificamente: (1) a rugosidade da superfície das amostras tem de

ser bastante pequena, e (2) a medição deve ser realizada em incidência oblíqua. A luz

69

espalhada pela superfície rugosa da amostra despolariza reduzindo a intensidade da luz

refletida severamente. A medição elipsométrica torna-se difícil, pois elipsometria determina

um estado de polarização a partir da sua intensidade da luz. Se o tamanho da rugosidade da

superfície excede ~ 30% de um comprimento de onda de medição, erros de medição

geralmente aumentam, embora este efeito depende totalmente sobre o tipo de instrumento.

A espectroscópia de elipsometria mede espectros de fóton de energia h ou

comprimento de onda . Em geral, a interpretação dos resultados de medição é bastante difícil

a partir dos valores absolutos de (ѱ, Δ ). Assim, a construção de um modelo óptico é exigido

para análise de dados. A partir desta análise de dados, propriedades físicas, incluindo as

constantes ópticas e espessuras de filme de amostra podem ser extraídos. Ao contrário de

reflectância / transmitância de medição, elipsometria permite a determinação direta do índice

de refração n e do coeficiente de extinção k, os quais também são referidos como constantes

ópticas. Definiu-se o índice de refração complexo por . (FUJIWARA,

2003).

Figura 2 – Princípio de medição da elipsometria.

Como mencionado anteriormente, os coeficientes de reflexão de amplitude para as

polarizações p e s diferem significativamente. Assim, mediante a reflexão da luz sobre uma

70

amostra, as polarizações p e s mostram diferentes mudanças na amplitude e na fase.

Elipsometria mede os dois valores (ѱ,Δ) que expressam a relação de amplitude e diferença de

fase entre as polarizações p e s, respectivamente, como mostrado na Figura 2. Por

conseguinte, a variação da reflexão da luz com polarizações p e s é medido como a mudança

no estado de polarização. Em particular, quando a estrutura de uma amostra é simples, a razão

de amplitude (ѱ) é caracterizada pelo índice de refração n, enquanto representa a absorção

de luz descrito pelo coeficiente de extinção k. Neste caso, os dois valores (n,k) podem ser

determinados diretamente a partir dos dois parâmetros elipsometricos (ѱ,Δ) obtidos a partir de

uma medição através da aplicação das equações de Fresnel. A relação complexa (ρ) é medida

seguindo a Equação 1:

(1)

onde, rp e rs são os coeficientes de Fresnel para as polarizações p e s.

A figura 3 esquematiza a óptica geométrica da luz refletida nas interfaces ar/filme

e filme/substrato.

)exp(tan ir

r

s

p

71

Figura 3 – Esquema indicando os feixes incidente, refletido e transmitido num sistema

composto pelo meio de propagação (1), o filme fino transparente (2) e o substrato (3).

Em termos dos parâmetros definidos na Figura 3, a reflexão das componentes

paralela e perpendicular podem ser descritas pelos coeficientes de reflexão rp e rs dados por:

i

pp

i

ppi

p

i

p

p

iti

p

iti

p

perr

erree

E

R

eeE

eeRr ppp

p

p

2

2)(

1

(2)

i

ss

i

ssi

s

i

s

s

iti

s

iti

ss

err

erree

E

R

eeE

eeRr sss

s

s

2

2)(

1

(3)

Os valores de rp e rs não podem ser medidos isoladamente, mas a sua relação

pode, pelo método elipsométrico (Equação 1).

72

2. PARTE EXPERIMENTAL

O polímero semicondutor investigado nesse trabalho foi: Poli [9,9’-bis-(3’-(t-

butilpropanoato)) fluoreno-co-4,7-(2,1,3-benzotiadiazol)] (PFeBT), sintetizado no

Laboratório de Físico-Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

com apoio do Laboratório de Polímeros Paulo Scarpa (LaPPS) da Universidade Federal do

Paraná. A rota de síntese do PFeBT foi baseada na reação de acoplamento Suzuki. O polímero

mostrou boa solubilidade no solvente orgânico xileno. Também apresenta boa solubilidade

em outros solventes orgânicos como: clorofórmio (CHCl3), tetrahidrofurano (THF), tolueno,

diclorobenzeno e N – metil pirrolidona (NMP).

2.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS

2.1.1 Limpeza das lâminas

Lâminas de quartzo foram recortadas em placas de (1,3 x 1,3) cm2. Após o recorte

as lâminas foram submetidas ao processo de limpeza a plasma. Nesta etapa as lâminas foram

primeiramente lavadas com água e sabão; após este processo as lâminas foram mergulhadas

em acetona durante 15 minutos. Por fim, fez-se limpeza das lâminas a plasma usando gás

nitrogênio durante 2 minutos.

2.1.2 Preparação dos filmes poliméricos

Na preparação da solução, o polímero PFeBT foi diluído em xileno numa

concentração de 10,6 mg/mL. A solução foi deixada em banho ultrassom por 12 minutos para

a melhor dissolução e homogeneização do material polimérico. Após a limpeza das lâminas,

foi depositado um filme de PFeBT sobre os substratos. O processo de deposição se deu por

73

spin-coating, que consiste em distribuir a solução sobre o substrato e rotacioná-lo em seguida,

espalhando o material por todo substrato. Parâmetros como quantidade de material

depositado, velocidade de rotação e tempo de centrifugação, são responsáveis pelo controle da

espessura dos filmes.

2.2 CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA

2.2.1 Medidas de absorbância

Experimentalmente, a eficiência de absorção de luz em um comprimento de onda

por um meio de absorção é caracterizada pela absorbância A() ou a transmitância T(),

definida como:

onde e são as intensidades de luz dos feixes que entram e saem do meio absorvente,

respectivamente.

Tradicionalmente, a absorbância de uma amostra segue a Lei de Beer-Lambert

onde () é o coeficiente de absorção molar (comumente expresso em L mol-1

cm-1

), c é a

concentração (em mol L-1

) da amostra e l é o comprimento do caminho de absorção

(espessura do meio absorvente ) (em cm) (VALEUR, 2001). Como neste caso trataremos de

(4)

(5)

)(loglog)(0

TI

IA

0log)(

I

IT

lcI

IA )(log)(

0

(6)

74

um filme sólido, no lugar de () teremos o coeficiente de extinção linear (k), relacionado

com a absorbância (A) por:

2.2.2 Medidas elipsométricas

Para realizar as medidas de elipsometria, foi utilizado um elipsometro, modelo

GES5-E, da Semilab - Sopra, que é um equipamento montado e instalado no Laboratório de

Óptica da UFPI. Todas as medidas foram feitas para um ângulo de 75°.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CARACTEREIZACÃO ESPECTROSCÓPICA DE ABSORÇÃO VISÍVEL E

VIBRACIONAL

O espectro de absorção no visível do PFeBT mostrado na Figura 4 (a), mostra em

detalhe a banda de maior energia do polímero caracterizada como sendo a transição - *.

Um ombro, indicado com o número 2 na Figura 4 (a), é observado em aproximadamente 337

nm sobreposto parcialmente à banda de transição eletrônica - * [indicado na Figura 4 (a)

com o número 1]. Este ombro pode ser atribuído a estrutura vibrônica excitada

eletronicamente. Para confirmar, a diferença de energia entre a banda principal (321 nm) e o

ombro que aparece é aproximadamente de 0,18 eV; transformando esse valor de energia em

número de onda (cm-1

), chega-se ao resultado de 1451 cm-1

, o qual corresponde a vibração (-

lk

A

)(4 (7)

75

C=C-). Assim, a Figura 4 (b), mostra os espectro de infravermelho do PFeBT; neste espectro

pode-se observar claramente a banda vibracional correspondente.

Figura 4 – Espectro de absorção no visível (a) e espectro de infravermelho (b) do PFeBT.

3.2 ESTUDO DO EFEITO DA INTERFACE SUBSTRATO/POLÍMERO

O espectro de absorção visível mostrado na Figura 5 (a), mostra a mudança na

intensidade das bandas de transição eletrônica no PFeBT para sete amostras produzidas com

diferentes rotações para a formação dos filmes. Com o aumento do número de rotações por

minuto as intensidades das bandas diminuem de forma geral. A diferença de intensidade é

esperada devido à expectativa de achar diferentes espessuras. Um estudo relacionando a razão

das intensidades das bandas foi realizado, a fim de observar o efeito da intensidade das bandas

em função da rotação na formação de filmes finos. Os resultados na Figura 5 (b) mostram

que, à medida que aumenta a rotação para formação dos filmes, a razão das intensidades é

modificada. Claramente observou-se que esta intensidade relativa diminui com o aumento da

rotação. Dado que, a solução estoque para fazer os filmes apresenta sempre a mesma

concentração, este efeito deve estar relacionado às mudanças de espessura do filme. No

entanto, em rotações acima de 3000 rpm tem-se um início na estabilização desta razão,

300 350 400

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

2

Ab

so

rbâ

ncia

(u

.a)

Comprimento de onda (nm)

1

500 1000 1500 2000 2500 3000

Número de onda (cm-1)

C=C

(b) (a)

76

mostrando que, quando tem-se a mudança na rotação obtêm-se filmes com diferentes

espessuras, provavelmente até uma espessura crítica. Vários processos podem levar a esses

resultados: (1) interações com o substrato podem levar a diminuição do processo de

transferência de carga interna (453 nm), (2) a presença do substrato pode introduzir um

impedimento geométrico para vibrações do grupo fluoreno, isto é, as moléculas que estão em

contato direto com o substrato não têm espaço suficiente para os movimentos vibracionais.

Ambas as hipóteses levam a formação de uma camada intermediaria entre o substrato e o

polímero.

Figura 5 – (a) Espectro de absorção no visível dos filmes de PFeBT obtidos em sete diferentes

rotações e (b) um estudo da razão das intensidades em função da rotação para formação dos

filmes.

A hipótese que se levantou é que quando se trabalha na obtenção de filmes finos

em baixas rotações, possivelmente podem-se obter filmes formados por mais de uma camada.

Sendo a primeira camada formada pela interação substrato/polímero e uma segunda camada

formada pela interação polímero/polímero. Desta forma a interação polímero/polímero

possivelmente seja mais fraca que a interação substrato/polímero e com o aumento da rotação

300 350 400 450 500 550 600

0,00,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

A

bso

rbâ

ncia

(u

.a)

Ia

Comprimento de onda (nm)

1000 rpm

2000 rpm

3000 rpm

Ib

6000 rpm

7000 rpm

8000 rpm

8600 rpm

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

0,98

1,00

1,02

1,04

1,06

1,08

1,10

Ra

o (

I a / I

b)

Rotação

(b) (a)

77

a espessura desta camada diminui. Um modelo da estrutura é apresentado na Figura 6. Esse

modelo foi utilizado para interpretação e análises das medidas de elipsometria.

Figura 6 – Modelo proposto para as estruturas dos filmes obtidos.

3.2.1 Caracterização do filme de PFeBT – 1000 rpm

A primeira amostra de PFeBT analisada foi a do filme preparado a 1000 rpm.

Procedeu-se dessa maneira devido ao fato de que o filme assim gerado ser o mais espesso de

todos.

O modelo físico para descrever as propriedades ópticas dos filmes é o apresentado

na Figura 6 com duas camadas, cada camada com suas respectivas propriedades físicas.

Assim, inicialmente e de acordo com o discutido sobre os espectros de UV-vis, foram

propostas três bandas de Lorentz para descrever cada transição eletrônica. A primeira,

associada à transição -* em 321 nm, a segunda relacionada com a banda vibrônica descrita

anteriormente em 337 nm e a terceira associada à transição ICT em 453 nm. Os resultados dos

ajustes com este modelo com três bandas de Lorentz em cada camada levou a resultados onde

todos os ajustes colocaram a banda vibrônica com intensidade zero. Assim, reajustou-se o

modelo onde na 2º camada fez-se uso de três osciladores de Lorentz, e na 1º camada utilizou-

se apenas dois osciladores de Lorentz. Este é um resultado forte, e sugere que a camada em

contato com o substrato não apresenta banda vibrônica.

78

Desta forma o modelo matemático utilizado foi:

(8)

em termos de frequência (1). A soma considera cada banda de absorção observada no

espectro de UV-vis, isto é, a soma vai de 1 a 2 na primeira camada, e de 1 à 3 na segunda

camada. 0j é a frequência onde ocorre a ressonância, isto é a transição eletrônica, fj

corresponde à intensidade e j a largura da banda, já corresponde ao valor da constante

dielétrica longe da ressonância.

Desta forma é necessário ajustar dezenove parâmetros para se chegar a bons

resultados. Para a 1º camada, fez-se uso somente de dois osciladores de Lorentz, o que

possivelmente é um indicativo de que a molécula está em interação com o substrato, enquanto

que na segunda camada a interação é entre polímero/polímero levando ao aparecimento da

terceira banda de absorção. A partir de então o modelo representado na Figura 6 serviu de

ponto de partida para a caracterização dos demais filmes.

A Figura 7 mostra o gráfico da medida elipsométrica do filme feito a 1000 rpm e

o ajuste ao modelo proposto em termos de α e de β. Diante da qualidade do ajuste do modelo,

representado matematicamente pelo coeficiente R2, e da sobreposição da função gerada pelo

ajuste às medidas mostradas na Figura 7, é possível inferir a concordância do modelo a

realidade medida.

1 O programa utilizado trabalha em termos de ω. No final do processo de ajuste os valores são convertidos em

comprimento de onda ou em energia de acordo com a necessidade.

79

Figura 7 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) sobre os dados da medida

elipsométrica no filme de 1000 rpm.

Por meio dos parâmetros resultantes do modelamento, é possível obter o índice de

refração complexo para o PFeBT, cujas partes real e imaginaria estão mostradas no gráfico da

Figura 8. A Figura 8 (a) apresenta a parte real do índice de refração, onde rapidamente

observou-se que a diferença neste parâmetro entre as duas camadas é apenas um

deslocamento geral. Neste caso, apresenta valores maiores a curva correspondente a primeira

camada. Este deslocamento é devido ao valor da constante dielétrica encontrada, 3,8 para 1º

camada e 2,04 para a 2a camada (termo aditivo na equação 8). Estes valores são bem

razoáveis, considerando que o quartzo apresenta um valor de 3,8 e materiais orgânicos como

parafina, polietileno e poliestireno apresentam valores entre 2,1 e 2,6. Isto é, de acordo com o

modelo proposto os valores das constantes dielétricas obtidos são consistentes com os da

literatura, sendo que a camada que interage com o substrato apresenta um valor próximo ao

do substrato.

200 300 400 500 600 700 800

-0,74

-0,72

-0,70

-0,68

-0,66

-0,64

-0,62

-0,60

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,98

200 300 400 500 600 700 800

0,66

0,68

0,70

0,72

0,74

0,76

0,78

0,80

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,98

(a) (b)

80

Figura 8 – Índice de refração complexo n (a) e k (b) do filme de PFeBT para as duas camadas

envolvidas no sistema.

A Figura 8 (b) apresenta o gráfico do coeficiente de extinção para as duas

camadas de acordo com o modelo proposto. Pode ser observado a presença das duas bandas

eletrônicas característica do PFeBT em ambas camadas. As bandas eletrônicas da primeira

camada encontram-se deslocadas para menores comprimentos de onda, ou seja, para maiores

energias em relação às bandas da segunda camada.

O inset na Figura 8 (b) mostra a diferença entre as bandas relacionadas à transição

eletrônica -* para os dados de coeficiente de extinção obtidos a partir das medidas

elipsométricas. Observou-se que, para o k da segunda camada, um ombro aparece

nitidamente, sendo isto relacionado tanto ao modelo proposto para os ajustes teóricos em que

um terceiro oscilador de Lorentz foi utilizado corroborando o observado no espectro de

absorção visível, o qual foi relacionado a uma estrutura vibrônica. Já para o k da primeira

camada, a qual se encontra em interação com o substrato, o ombro não aparece. Assim,

devido a uma possível presença de interação substrato/polímero, levou a ajustar as curvas com

apenas dois osciladores de Lorentz.

200 300 400 500 600 700 800

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

2,1

Índ

ice

de

re

fra

çã

o (

n)

Comprimento de onda (nm)

n 2º camada

n 1º camada

200 300 400 500 600 700 800

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

Co

eficie

nte

de

extin

çã

o (

k)

Comprimento de onda (nm)

k 1º camada

k 2º camada

240 260 280 300 320 340 360

0,0

0,1

0,2

(a) (b)

81

O resultado do ajuste para a amostra de 1000 rpm, com a espessura e os valores

das posições das bandas de Lorentz para cada camada, estão dispostos na Tabela 1. Observou-

se que, as espessuras das camadas de polímeros formadas sobre o substrato apresentam

valores diferentes, sendo a primeira camada sempre mais fina. Os valores das posições das

bandas de Lorentz E0 e E0’para 1º camada, correspondem respectivamente ao grupo aceitador

e doador. Já para a 2º camada uma nova banda aparece em 4,0 eV, que corresponde à

estrutura vibrônica.

Tabela 1: Valores dos parâmetros obtidos a partir dos ajustes teóricos para o filme de PFeBT

depositado em quartzo.

Rotação: 1000 rpm

Espessura

1º camada = 9,0 nm

2º camada = 17,6 nm

Posição das bandas

1º camada

E0 = 3,1 eV (400 nm)

E0’ = 4,1eV (302 nm)

2º camada

E0 = 2,9 eV (427 nm)

E0’ = 4,0 eV (310 nm)

E0” = 3,8 eV (326 nm)

Constante dielétrica

1º camada 3,8

2º camada 2,04

R2 0,98

Dado que o modelo proposto para o ajuste dos filmes obtidos a 1000 rpm

apresenta um número grande de parâmetros a serem ajustados, é necessário corroborá-lo por

82

outros procedimentos. Assim consideramos que as camadas apresentam seus respectivos

índices de refração de acordo como mostrado na Figura 8 (a). A partir do modelo proposto se

utilizou esses dados para ajustar apenas a espessura de cada camada para os filmes de 2000,

3000, 6000, 7000, 8000 e 8600 rpm.

3.2.2 Caracterização do filme de PFeBT – 2000 rpm

A fim de evitar o grande número de parâmetros livres utilizados para modelar o

filme de 1000 rpm, aproveitou-se desse resultado para aplicar nos filmes restantes; isto é,

utilizando a informação gerada, N = n + ik, para cada camada é possível ajustar apenas as

espessuras. A vantagem agora é que se têm apenas dois parâmetros livres, a espessura de cada

camada. Em outras palavras, assumiu-se que as informações físicas, n e k, gerados pelo

modelo, são validas para todos os filmes.

O ajuste do modelo em termos de α e β do filme de PFeBT obtido a 2000 rpm são

apresentados na Figura 9. O coeficiente matemático (R2) apresentou um valor satisfatório

igual a 0,97. Na Tabela 2 estão apresentados os valores das espessuras de cada camada para o

filme obtido a 2000 rpm. Observou-se que a espessura da 1º camada é mais fina que a

segunda camada. Em comparação aos resultados dos filmes obtidos a 1000 rpm, observou-se

que a espessura da primeira camada diminuiu 1,1 nm, enquanto a segunda camada diminuiu

7,3 nm corroborando com os dados de absorção no visível, em que a intensidade das bandas

eletrônicas dependem da velocidade de rotação para a obtenção de filmes.

83

Figura 9 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) do filme de PFeBT obtido a 2000 rpm.

Tabela 2: Valores das espessuras de cada camada para os filmes obtidos a 2000 e 3000 rpm.

Rotação: 2000 rpm

Espessura

1º camada = 7,9 nm

2º camada = 10,3 nm

Rotação: 3000 rpm

Espessura

1º camada = 8,0 nm

2º camada = 12,0 nm

O ajuste do modelo em termo de α e β e o índice de refração complexo n e k do

filme de PFeBT obtido a 3000 rpm são apresentados na Figura 10. O coeficiente matemático

(R2) apresentou valor igual a 0,97. O mesmo processo obtido para ajustar as espessuras das

camadas dos filmes a 2000 rpm, foi utilizado para o ajuste dos filmes a 3000 rpm. A Tabela 2

apresenta os valores das espessuras de cada camada para os filmes obtidos a 3000 rpm. A 1º

camada apresentou uma espessura mais fina que a segunda camada. Condizendo com os

dados obtidos anteriormente para o filme de 1000 e 2000 rpm. Comparando os valores das

200 300 400 500 600 700 800

-0,72

-0,70

-0,68

-0,66

-0,64

-0,62

-0,60

-0,58

Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,97

(4

5°)

Comprimento de onda (nm)

200 300 400 500 600 700 800

0,70

0,72

0,74

0,76

0,78

0,80 Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,97

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

(a) (b)

84

espessuras na Tabela 2 com as espessuras nas Tabelas 1, a espessura da 1º camada nas duas

tabelas apresentou valores semelhantes, enquanto na segunda camada das respectivas tabelas,

apresentaram valores de espessura que diminuem com o aumento da rotação, tal como

esperado.

Figura 10 – Ajuste do modelo em termo de α (a) e β (b) e índice de refração complexo n (c) e

k (d) do filme de PFeBT obtido a 3000 rpm.

Os filmes de 6000 rpm e maiores rotação apresentaram características diferentes.

As medidas elipsométricas em termos de α e β para os filmes de PFeBT obtidos a 6000, 7000,

8000 e 8600 rpm são apresentados na Figura 11. Nos gráficos a e b, os resultados observados

para as rotações estudadas apresentam uma sobreposição das medidas. Essa justaposição está

200 300 400 500 600 700 800

-0,72

-0,70

-0,68

-0,66

-0,64

-0,62

-0,60

-0,58

Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,97

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

200 300 400 500 600 700 800

0,70

0,72

0,74

0,76

0,78

0,80 Medida Elipsométrica

Ajuste Teórico

R2 = 0,97

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

200 300 400 500 600 700 800

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

2,1

Índ

ice

de

re

fra

çã

o (

n)

Comprimento de onda (nm)

n 2º camada

n 1º camada

200 300 400 500 600 700 800

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

Co

eficie

nte

de

extin

çã

o (

k)

Comprimento de onda (nm)

k 1º camada

k 2º camada

(a) (b)

(c) (d)

85

relacionada com a igualdade das espessuras e dos índices de refração dos filmes obtidos para

essas rotações.

Figura 11 – Medidas elipsométricas em termo de α (a) e β (b) dos filmes de PFeBT obtidos a

6000, 7000, 8000 e 8600 rpm.

Neste caso, para ajustar as curvas, foi necessário utilizar apenas o n e k da

primeira camada, com um resultado na espessura de 5,7 nm. No entanto, o coeficiente caiu

para 0,94. Desta forma esses filmes ainda estão sob análise.

4. CONCLUSÕES

Os resultados do ajuste ao modelo físico proposto mostraram que a banda

vibrônica não é necessária na primeira camada para explicar o resultado da elipsometria,

sugerindo que possivelmente nesta camada a vibração (-C=C-) do anel é suprimida. Por outro

lado a banda vibrônica na segunda camada foi necessária, pois a vibração (-C=C-) não se

encontra suprimida já que a interação que ocorre na segunda camada é polímero/polímero,

enquanto na primeira camada é dada por substrato/polímero.

200 300 400 500 600 700 800

-0,90

-0,85

-0,80

-0,75

-0,70

-0,65

-0,60

-0,55

(

45

°)

comprimento de onda (nm)

6000rpm

7000rpm

8000rpm

8600rpm

200 300 400 500 600 700 800

0,50

0,55

0,60

0,65

0,70

0,75

0,80

0,85

(

45

°)

Comprimento de onda (nm)

6000rpm

7000rpm

8000rpm

8600rpm

(a) (b)

86

As bandas eletrônicas da primeira camada encontram-se deslocadas para menores

comprimentos de onda, ou seja, para maiores energias em relação às bandas da segunda

camada. Isso pode estar relacionado às interações na interface substrato/polímero, em que as

moléculas do polímero encontram-se ligadas às moléculas do substrato. Esse deslocamento,

também está associado à variação da constante dielétrica encontrada, sendo 3,8 para a

primeira camada e 2,7 para a segunda camada. Vale apena notar que o valor encontrado para a

primeira camada está entre o valor esperado para o quartzo e para o polímero. Com isso, é

necessária uma energia superior à energia envolvida na segunda camada para ocorrer à

transição eletrônica nessa camada.

87

REFERÊNCIAS

FUJIWARA, H. (2003) Spectroscopic Ellipsometry Principles and Applications. (1st ed).

Japão, (Chapter 1, 2). Pags 23, 53.

R. F. BIANCHI. (2002). Estudo das propriedades eletrônicas e ópticas de filmes e dispositivos

poliméricos. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo.

M. Christian, S. V. Heinz. (2010). Organic Field-Effect Transistors for CMOS Devices,

Advances in Polymer Science, 223, 189-212.

M. Christian, L. M. Andersson, O. V. Rodrigues, G. Miquel, O. Inganas. (2013).

Determination of Thermal Transition Depth Profiles in Polymer Semiconductor Films with

Ellipsometry, Macromolecules, 46, 7325−7331.

M. V. Madsen, O. Kristian, H. Sylvester, B. Dastmalchi, K. Hingerl, K. Norrman, T.

Tromholt, M. Manceau, D. Angmo, F. C. Krebs. (2011). Ellipsometry as a Nondestructive

Depth Profiling Tool for Roll-to-Roll Manufactured Flexible Solar Cells, J. Phys. Chem. C,

115, 10817–10822.

J. L. Keddie, R. A. L. Jones, R. A. Cory. (1998). Interface and Surface Effects on the Glass-

transition Temperature in Thin Polymer Films, Faraday Discuss., 98, 219-230.

88

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através destes estudos os dispositivos projetados, construídos e as medidas

obtidas neste trabalho, permitem direcionar a construção e caracterização de dispositivos

fotovoltaicos baseados no uso do PFeBT como camada ativa.

Os resultados do ajuste ao modelo físico proposto mostraram satisfatórios para

explicar o resultado da elipsometria, sugerindo que uma das camadas a vibração (-C=C-) do

anel é suprimida.

As bandas eletrônicas da primeira camada encontram-se deslocadas para menores

comprimentos de onda. Isso pode estar relacionado às interações na interface

substrato/polímero, em que as moléculas do polímero encontram-se ligadas às moléculas do

substrato. Esse deslocamento, também está associado à variação da constante dielétrica

encontrada.