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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Anna Nery Coordenação Geral de Pós-Graduação Programa de Pós-graduação em Enfermagem Curso de Mestrado em Enfermagem ELETROCONVULSOTERAPIA NO INSTITUTO MUNICIPAL NISE DA SILVEIRA: DESVELANDO O CUIDADO DE ENFERMAGEM (1978-1990) Juliana Cabral da Silva Guimarães Rio de Janeiro 2018

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola de Enfermagem Anna Nery

Coordenação Geral de Pós-Graduação

Programa de Pós-graduação em Enfermagem

Curso de Mestrado em Enfermagem

ELETROCONVULSOTERAPIA NO INSTITUTO MUNICIPAL NISE DA

SILVEIRA: DESVELANDO O CUIDADO DE ENFERMAGEM (1978-1990)

Juliana Cabral da Silva Guimarães

Rio de Janeiro

2018

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JULIANA CABRAL DA SILVA GUIMARÃES

Eletroconvulsoterapia no Instituto Municipal Nise da Silveira: desvelando o

cuidado de enfermagem (1978-1990)

Dissertação de Mestrado a ser apresentada à banca

examinadora no Curso de Mestrado em

Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

Nery/UFRJ como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Linha de pesquisa: História da Enfermagem

Brasileira.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Angélica Almeida

Per

Rio de Janeiro

2018

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FICHA CATALOGRAFICA

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Juliana Cabral da Silva Guimarães

ELETROCONVULSOTERAPIA NO INSTITUTO MUNICIPAL NISE DA

SILVEIRA: DESVELANDO O CUIDADO DE ENFERMAGEM (1978-1990)

Dissertação de Mestrado a ser apresentada à

banca examinadora no Curso de Mestrado em

Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

Nery/UFRJ como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em 25 de Junho de 2018.

Prof. Dra. Maria Angélica de Almeida Peres – Escola de Enfermagem Anna Nery

Prof. Dr. Luiz Otávio Ferreira – Casa Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz

Prof. Dr. Antonio José de Almeida Filho – Escola de Enfermagem Anna Nerry

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Dedico este trabalho a minha mãe, Monica, que hoje não pode estar fisicamente ao meu

lado, mas está sempre presente. Devo a memória dela a contínua busca pela minha

felicidade e minhas realizações. Ela, que sempre me criou para conquistar o mundo,

hoje me vê conquistando-o um pouquinho mais.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a minha orientadora, Prof. Dra. Maria

Angélica de Almeida Peres. Sem ela, a realização desta dissertação não seria possível.

Sou grata pela dedicação que empenhou na minha formação profissional, pelos

conhecimentos compartilhados, pela paciência e tolerância para compreender minhas

dificuldades e me motivar a supera-las. Espero ter atendido a suas expectativas e, de

alguma forma, ter conseguido orgulha-la do meu desempenho e dedicação.

Agradeço a toda a minha família que sempre esteve ao meu lado, comemorando

minhas vitórias e me acolhendo nas derrotas. Agradeço em especial ao meu pai, Jaime,

e a minha madrinha, Fernanda, que hoje são meu alicerce e meu ponto de equilíbrio. Sem

o apoio e a força de vocês, talvez não tivesse conseguido chegar aonde cheguei.

Agradeço ao meu namorado, Diogo, que não só compreendeu quando eu precisei

abdicar de alguns momentos juntos em prol do estudo, mas me deu incentivo para

continuar, mesmo quando eu não estava muito afim de ouvir palavras de incentivo.

Agradeço ainda por ser meu lar em momentos que me vi sozinha e triste. Te amo.

Agradeço ainda aos meus amigos, que são minha fonte de energia boa e são

quem me mantém para cima e motivada. Agradeço em especial a Thamires, Raissa e

Bárbara por reforçarem os prazos e a importância desta pesquisa para mim, por me

incentivarem a escrever quando e me ajudarem no que foi possível.

A Prof. Dr. Francimar, a quem hoje gostaria de agradecer como amiga

Francimar. Num difícil momento, você se fez presente mais do que uma professora e

exemplo de enfermeira que sempre foi para mim. Se mostrou minha amiga e uma pessoa

de muita luz, que me renova a esperança de um mundo melhor, com pessoas melhores.

Obrigada pela ajuda, pelas mensagens de carinho e pelo ombro amigo.

Agradeço ainda aos colaboradores da pesquisa que se despuseram a contribuir,

sem eles esse estudo não seria possível.

Por fim, agradeço ao meu núcleo de pesquisa, NUPHEBRAS, e a todos os seus

membros, que partilharam conhecimento e fortaleceram o amor pela pesquisa em mim.

Muito obrigada a todos.

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RESUMO

GUIMARÃES, Juliana Cabral da Silva. Eletroconvulsoterapia no Instituto

Municipal Nise da Silveira: desvelando o cuidado de enfermagem (1978-1990). Rio

de Janeiro, 2018. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem

Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

Resumo: Pesquisa sócio-histórica, de natureza qualitativa, tendo como objeto os

cuidados de enfermagem prestados aos portadores de transtornos mentais submetidos à

eletroconvulsoterapia (ECT) no Instituto Municipal Nise da Silveira (IMNS), no

período de 1978 até 1990. O recorte temporal corresponde, respectivamente, ao ano de

consolidação do Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM) e ao ano da

criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da promulgação da Lei nº 8080/90,

fatos que marcam rupturas importantes no curso das políticas de saúde mental. Oriundo

do primeiro hospício do Brasil, o IMNS representa o berço da construção e

desenvolvimento de saberes e práticas de saúde mental, sendo uma instituição relevante

para a memória da trajetória da psiquiatria no país. A ECT foi introduzida no tratamento

em psiquiatria por oferecer maior segurança para o paciente, quando comparada às

demais terapias convulsivas. Sua aplicação contava com a equipe de enfermagem para

prestar cuidados pré, trans e pós terapia. Objetivos: Descrever a aplicação da ECT no

IMNS na década de 1980 e analisar os cuidados de enfermagem prestados às pessoas

submetidas à ECT. Metodologia: As fontes escritas foram documentos escritos do

Acervo de História e Memória do IMNS, como livros de ordem e ocorrências do período

do estudo, e as fontes orais foram produzidas na perspectiva da História Oral Temática,

a partir de entrevista com nove colaboradores, sendo 1 auxiliar de enfermagem, 4

técnicos de enfermagem e 4 enfermeiros que prestaram cuidados às pessoas submetidas

à ECT no cenário estudado. Foi aplicada a crítica interna e externa aos documentos e os

dados foram triangulados e organizados de forma cronológica e temática. Como

embasamento teórico utilizou-se os conceitos de desinstitucionalização, pelos autores

que escrevem na lógica do movimento de Reforma Psiquiátrica e de saber e poder

disciplinar, estes de Michel Foucault. A pesquisa foi aprovada em Comitê de Ética em

Pesquisa das instituições proponente e coparticipante. Resultados: Os resultados do

estudo demonstram a aplicação da ECT era formalmente indicada e realizada pelo

médico, sem que o paciente passasse por uma avaliação clínica minuciosa;

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Informalmente ocorria o uso da ECT, aplicada pelos profissionais da enfermagem e

“guardas” como forma punitiva, em caso de desobediência das normas institucionais

pelos pacientes, contribuindo para estigmatização da técnica e mantendo as relações de

poder disciplinar no hospício. A equipe de enfermagem demonstrou dificuldade em

reconhecer um saber próprio em psiquiatria relacionando-a com a ausência de ensino

sobre a temática durante a formação profissional. Evidenciou-se também que a equipe

de enfermagem realizava cuidados historicamente específicos da categoria, como

higiene e alimentação do paciente, administração de medicamentos e contenções. Tais

atividades se relacionam com a manutenção da ordem asilar, também de

responsabilidade da enfermagem. Os resultados também apontaram cuidados de

enfermagem relacionados a ECT nos momentos pré, trans e pós aplicação da técnica,

realizados empiricamente, aprendidos através da observação e repetição no

acompanhamento dos pacientes. Os cuidados de enfermagem ao paciente submetido à

ECT tinham a função de preparo e proteção para que a técnica fosse realizada com

menos risco possível, no entanto, não era registrada a participação da enfermagem nessa

terapêutica. A técnica da história oral permitiu registrar que a atuação da equipe de

enfermagem no IMNS em sua prática cotidiana na ECT era responsável pelo jejum do

paciente e pela proteção na cavidade oral na fase pré-ECT; pela observação do paciente

e contenção física na fase trans-ECT e pela verificação de sinais vitais, alimentação,

higiene e observação na fase pós-ECT. Considerações finais: Este estudo apresenta

resultados que descrevem como era na visão da equipe de enfermagem e aplicação da

ECT no IMNS e quais os cuidados de enfermagem realizados pelos colaboradores da

pesquisa nas fases aqui denominadas de pré, trans e pós ECT. Destacou-se no período

estudado o modelo manicomial, no qual o poder-saber médico era preponderante no

espaço asilar, e a ECT era usada como tratamento e como exercício do poder disciplinar,

sendo o médico e a equipe de enfermagem profissionais indispensáveis para a realização

essa técnica. Houve, pela prática, a construção de saberes específicos de enfermagem

psiquiátrica em ECT.

Palavras-Chave: Convulsoterapia. Enfermagem Psiquiátrica. História da Enfermagem.

Hospitais Psiquiátricos. Cuidados de Enfermagem.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

1.1 APRESENTAÇÃO DO OBEJTO DO ESTUDO 8

1.2 AS TÉCNICAS CONVULSIVAS E A ECT 11

1.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA NO

BRASIL: DO HOSPÍCIO DE PEDRO II AO INSTITUTO MUNICIPAL DE

ASSISTÊNCIA A SAÚDE NISE DA SILVEIRA 14

1.4 QUESTÕES NORTEADORAS E OBJEITOS DA PESQUISA 21

1.5 INTERESSE, JUSTIFICATIVA, RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES

DO ESTUDO 21

1.6 REFERENCIAL TEÓRICO 23

2 METODOLOGIA 30

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO DE PESQUISA 37

2.2 ASPÉCTOS ÉTICOS DA PESQUISA 39

2.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 40

3 CAPÍTULO I: ELETROCONVULSOTERAPIA PELA EQUIPE DE

ENFERMAGEM DO INSTITUTO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA A SAÚDE

NISE DA SILVEIRA 42

3.1 EQUIPE DE DO INSTITUTO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA A

SAÚDE NISE DA SILVEIRA: ROTINA E (DES)PREPARO PARA O CUIDADO EM

SAÚDE MENTAL 43

3.2 EQUIPE DE DO INSTITUTO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA A

SAÚDE NISE DA SILVEIRA: CONSTRUINDO-SE SABERES 51

3.3 ELETROCONVULSOTERAPIA: UMA FACE DO EXERCÍCIO DO

PODER DISCIPLINAR DA EQUIPE MÉDICA E DE ENFERMAGEM 56

4 CAPÍTULO II: CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE

SUBMETIDO A ELETROCONVULSOTERAPIA 69

4.1 CUIDADOS DE ENFERMAGEM PRÉ

ELETROCONVULSOTERAPIA 75

4.2 CUIDADOS DE ENFERMAGEM TRANS

ELETROCONVULSOTERAPIA 79

4.3 CUIDADOS DE ENFERMAGEM PÓS

ELETROCONVULSOTERAPIA 81

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 86

REFERÊNCIAS 89

APÊNDICE A 97

APÊNDICE B 98

APÊNDICE C 99

APÊNCIDE D 101

APÊNDICE E 102

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1. INTRODUÇÃO

1.1.Apresentação do objeto de estudo

A pesquisa tem como objeto de estudo os cuidados de enfermagem prestados aos

portadores de transtornos mentais submetidos à eletroconvulsoterapia (ECT) no Instituto

Municipal Nise da Silveira (IMNS) no período de 1978 até 1990.

A década de 1980 foi marcada pelo fortalecimento do movimento de Reforma

Psiquiátrica brasileira após consolidação do Movimento dos Trabalhadores de Saúde

Mental (MTSM), no ano de 1978. O MTSM é considerado o marco inicial do movimento

de Reforma Psiquiátrica principalmente por ser, a partir deste movimento, que as críticas

às péssimas qualidades da assistência prestada, à violência manicomial e ao saber

psiquiátrico instituído ganharam força e visibilidade (BRASIL, 2005) e, portanto, o ano

de 1978 foi definido como marco inicial da pesquisa.

Como marco final elegeu-se o ano de 1990 quando ocorreu a implantação de um

novo sistema de saúde no Brasil, que veio a influenciar de forma abrangente a sociedade.

Isso se deu pela sanção da Lei n. 8080/90 do Ministério da Saúde, que dispõe sobre as

condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o

funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Esta lei demarca

o resultado vitorioso do movimento sanitarista iniciado na década de 1960, que visava

reorganizar a política pública de saúde brasileira, tendo em vista as péssimas condições

que os serviços se encontravam, bem como a crescente ocorrência de doenças de massa,

como febre amarela e tifo, por exemplo (BARBOSA et al, 2016).

Tal marco final se justifica devido a relação histórica entre o movimento

sanitarista e o movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira, posto que ambos lutaram

por melhoria dos serviços de saúde, humanização da assistência e dos direitos da

população, como cidadania e autonomia. A sanção da Lei n. 8080/90 fortalece o

movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira no âmbito legislativo também, visto que a

Lei n. 10.216, considerada lei da Reforma Psiquiátrica, foi promulgada em 2001, após o

surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

A ECT, trazida em estudo nesta dissertação, é uma prática cercada de preconceito

justificado pela sua utilização descontrolada para inibir sintomas e comportamentos dos

portadores de transtornos mentais, de forma que passou a representar uma prática

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desumana e contrária aos direitos das mesmas. Portanto, as mudanças no sistema de saúde

e o MTSM somaram vozes contra ECT no Brasil, o que reduziu sua utilização,

principalmente nas instituições que incorporaram os ideais reformistas, pautados na

reforma psiquiátrica italianos, ocorridos sob liderança de Franco Baságlia.

Sabe-se que no IMNS a ECT foi extinta, no entanto, a inexistência de fontes

históricas que contextualizem ou expliquem esse fato ocorrido no período em que se

desenvolvia o movimento de Reforma Psiquiátrica sugerem uma associação entre os

marcos pelo contexto histórico-social relativo à saúde mental no país. Além disso, o

IMNS foi palco de reuniões importantes durante todo o movimento e, após o início da

Reforma Psiquiátrica, continuou sendo uma instituição de grande importância no

processo de atualização e transformação de saberes e práticas na área da psiquiatria/saúde

mental.

Durante a década de 1960 emergiram discussões em âmbito internacional e

nacional acerca de um novo modelo de assistência psiquiátrica, ganhando visibilidade e

força a partir da década de 1970, quando ocorreram denúncias, por parte dos trabalhadores

da área, da péssima qualidade dos hospitais psiquiátricos e da assistência até então

prestada ao portador de transtorno mental, que representam o início do Movimento

Nacional da Luta Antimanicomial. A escolha do recorte temporal da pesquisa se pauta na

provável relação entre o fim da prática de ECT no IMNS, essencialmente vinculada ao

modelo manicomial, com o movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira.

A ECT, também conhecida como eletrochoque, teve seu uso reduzido na década

de 1960 devido ao surgimento dos medicamentos antidepressivos (WOOD JR E

CALDAS, 1995). Além disso, o MTSM considerou esta prática como um dos símbolos

do tratamento manicomial, devido às variadas formas improvisadas e condições pouco

esclarecidas em que era aplicada aos portadores de transtornos mentais. Em cartazes,

filmes, jornais, ainda hoje, quando se quer ilustrar o manicômio, a imagem da prática da

ECT é utilizada, o que amplia a associação da mesma como terapia desumana e

reprovável, tema bastante controverso na literatura mundial, que não será abordado nessa

perspectiva no estudo em tela, voltado ao cuidado de enfermagem em ECT em um

determinado período histórico.

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Assim, durante a luta antimanicomial, as manifestações contra a ECT foram

intensas, reduzindo seu uso, mas não o extinguindo. Os argumentos prós e contra esta

forma de tratamento se mantiveram durante todo o período que antecedeu a implantação

da reforma psiquiátrica, sempre acompanhados pelos avanços tecnológicos e científicos

que influenciaram a prática psiquiátrica ao longo do tempo.

Diante disso, o tema ECT traz à tona questões complexas e enredadas que surgem

no tempo histórico como fatos marcantes para o desenvolvimento da assistência em saúde

mental, o que implica no cuidado prestado pela equipe de enfermagem em sua prática nas

instituições psiquiátricas. A enfermagem tem a responsabilidade de cuidar integralmente

dos portadores de transtornos mentais internados, sendo assim, pode revelar aspectos

ainda não conhecidos sobre a ECT.

A construção de um projeto de pesquisa histórico requer a apresentação de um

fato que mereça registro e interpretação. Aspira-se “entender os mecanismos que

explicam as concordâncias e discordâncias existentes entre os diversos níveis de uma

determinada sociedade” (CARDOSO E BRIGNOLI, 1983, p.28-29).

Neste estudo, a problemática de pesquisa se relaciona com a necessidade de

prestação de cuidados de enfermagem aos portadores de transtornos mentais submetidos

à ECT, procedimento muito utilizado na prática psiquiátrica, que entrou em declínio com

o surgimento do movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira, defendendo sua extinção,

no entanto, nunca se chegou a um consenso sobre isso. Tanto assim, que foi normatizada

pela Resolução nº 1.640/02, do Conselho Federal de Medicina (CFM), como terapia em

casos de transtornos mentais relacionados a diagnósticos e quadros específicos, a despeito

das mudanças acerca do modelo de assistência em saúde mental.

Desta forma, os aspectos que envolvem os cuidados de enfermagem em ECT, em

determinado período e instituição, interessam para historicizar a prática da enfermagem

psiquiátrica, desenvolvendo conhecimento capaz de demonstrar quais saberes foram

construídos pela equipe de enfermagem durante seu exercício profissional na área.

1.2.As técnicas convulsivas e a ECT

Durante as décadas de 1920 e 1930 emergiram internacionalmente técnicas

convulsivas biológicas para tratamento e cura do transtorno mental, como, por exemplo,

a Malarioterapia, o Choque Cardiazólico e a Insulinoterapia. A Malarioterapia consistia

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na transmissão intencional de malária ao portador de transtorno mental, desencadeando

febres de alta temperatura; o Choque Cardiazólico consistia na aplicação do medicamento

cardiazol ou metrazol; a Insulinoterapia consistia na aplicação de altas dosagens de

insulina para causar um quadro de hipoglicemia nos indivíduos (BORENSTEIN et al,

2007).

Todas as técnicas supracitadas tinham como objetivo o desencadeamento de crises

convulsivas, a partir de diferentes técnicas, com base na proposição de que indivíduos

epiléticos tendiam a ter menos sintomas psicóticos que outros. Vale salientar que as crises

convulsivas desencadeadas eram, em geral, muito violentas, causando fraturas. Também

eram de difícil controle, uma vez que não se sabia exatamente o momento de início da

convulsão nem quando a mesma cessaria (MANKAD et al, 2010; BORENSTEIN et al,

2007).

No final da década de 1930, dois psiquiatras italianos, Ugo Cerletti e Lucio Bini,

utilizaram pela primeira vez eletricidade para induzir a crise convulsiva, o que passou a

ser chamado de ECT ou eletrochoque. Similarmente a uma crise convulsiva clássica, com

a aplicação da ECT se observa espasmos musculares, que desencadeiam as fases clônica

e tônica e, posteriormente, a perda da consciência, ou seja, o indivíduo entra em estado

de coma, do qual, após alguns minutos, desperta espontaneamente, na maioria das vezes,

tranquilo e sem lembrança do procedimento (MANKAD et al, 2010; BORENSTEIN et

al, 2007).

A enfermagem sempre teve papel fundamental na manutenção da vida e da

vigilância dos indivíduos internados nos hospitais psiquiátricos, bem como na execução

de cuidados relacionados às práticas manicomiais, nas quais se insere a ECT. O cuidar

em psiquiatria para a enfermagem foi, durante anos, relacionado ao processo de impor

disciplina ao portador de transtorno mental internado, seja para restaurar sua saúde

mental, sua “utilidade” para a sociedade ou para a manutenção da ordem hospitalar. Desta

forma, a enfermagem se mostra presente de forma contínua na assistência ao portador de

transtorno mental que é submetido a ECT.

Antes da aplicação da ECT, um dos cuidados evidenciados pela literatura é o

jejum da pessoa na qual se vai realizar o procedimento. Contudo, mantê-lo nunca foi uma

tarefa simples, pois a prescrição desta técnica, na maioria das vezes, gerava angústia e

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medo no portador de transtorno mental, tornando necessário, em algumas situações, que

a equipe de enfermagem designasse um profissional para acompanhar continuamente essa

pessoa ou realizasse contenção mecânica para que a mesma permanecesse sem se

alimentar (CAMPOS, HIGA; 1997; GUIMARÃES, 2015).

A equipe de enfermagem realizava ainda cuidados de proteção do tronco e das

principais articulações da pessoa com transtorno mental durante a realização da ECT, tais

como ombros, quadris e pernas. Este fato embasa a necessidade de mais de um

profissional de enfermagem para realizar-se o procedimento, devido a demanda de

trabalho. Além disso, colocava-se um rolo de gaze na boca da pessoa submetida à técnica,

para prevenir mordedura de boca e língua (GUIMARÃES, 2015; LIMA, 2005).

Em continuidade, ao término da aplicação, cabia a enfermagem encaminhar o

indivíduo ao leito e manter atenção no seu processo de recuperação, registrando as

alterações de comportamento, se ocorressem. A equipe de enfermagem também era

responsável por outros cuidados pós ECT, como ajudar a pessoa a ela submetida a

recuperar sua orientação auto e alopsíquica, informando-lhe onde estava, data e hora, bem

como sobre o que ocorreu, uma vez que os pacientes apresentam falhas de memória no

período de recuperação. Contudo, tais cuidados são pouco valorizados pelos próprios

profissionais de enfermagem, uma vez que não usam tecnologia dura e se configuram

como cuidados preventivos (GUIMARÃES, 2015).

Nessa breve exposição de resultados de estudos anteriores que evidenciam

cuidados de enfermagem antes, trans e pós ECT, entende-se que muito conhecimento foi

construído pela equipe de enfermagem na sua prática cotidiana junto aos portadores de

transtornos mentais, ainda mais quando se leva em conta esta prática dentro de

instituições disciplinares, com base no modelo de tratamento biomédico, excludente, sem

nenhuma participação do sujeito nem da família nas decisões para a sua realização.

A ECT, descrita na literatura como uma tortura praticada também pela

enfermagem dentro dos manicômios, tem outro lado ainda pouco observado, no qual a

equipe de enfermagem se coloca como atenuadora do sofrimento por ela causado. Isso é

evidenciado na participação da enfermagem nas lutas pelo movimento de Reforma

Psiquiátrica brasileira que tem como um de seus objetivos dar autonomia aos portadores

de transtornos mentais para decidir sobre seu tratamento e construir com a equipe o seu

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plano terapêutico. Além disso, a enfermagem juntou- se ao movimento pelo fim do

manicômio e da ECT no Brasil.

Em 2002, reconhecida a eficácia da ECT como método terapêutico em casos

específicos de transtornos mentais, decidiu-se por regulamentar sua aplicação e o CFM

aprovou a Resolução nº 1.640. É importante ressaltar que, apesar do histórico negativo

da ECT supracitado, encontram-se estudos que comprovam a eficácia e a importância

terapêutica da mesma (VALENTE, 1991; ZISSELMAN et al, 2001; HICK E BLACK,

1999) desde que seja realizada a partir de um regulamento, seguindo normas de segurança

para diminuir riscos para o paciente. Assim, a enfermagem pode e deve estar preparada

para cuidar dos portadores de transtornos mentais submetidos à ECT, contribuindo com

os demais membros da equipe de saúde, sendo vigilante no cumprimento da legislação

que visa a proteção dos direitos dos mesmos e garantindo a sua segurança.

Diante do exposto, é perceptível uma dicotomia entre a prática e a teoria no que

tange a aplicação da ECT. Enquanto muitos profissionais de saúde lutaram pelo

movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira e se colocaram pelo fim da ECT, outros a

defendem como um procedimento terapêutico e eficaz, se realizado dentro dos padrões

de segurança já estipulados (PARTEKA E WADI, 2014; SILVA E CALDAS, 2008). A

enfermagem psiquiátrica, que tem papel de destaque no cuidado dos portadores de

transtornos mentais, necessita fazer parte dessa discussão para obter fundamentação

teórica a partir de conhecimento técnico-científico especializado.

O panorama de inserção, desenvolvimento e continuidade da ECT como

tratamento dos portadores de transtornos mentais é de suma importância para a condução

desta pesquisa e é melhor contextualizado a seguir.

1.3.Contexto histórico da assistência psiquiátrica no Brasil: do Hospício de Pedro

II ao Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

O século XIX trouxe para a medicina uma aproximação com a higiene e saúde

pública e as pessoas que apresentavam padrões de comportamento não compatíveis com

o desenvolvimento da sociedade planejado pelo Governo Imperial deveriam ser

internadas e “tratadas”, a fim de posteriormente retornarem ao convívio social (PERES e

BARREIRA, 2009).

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Neste momento, as ideias de prevenção cresciam se comparadas a ideia de evitar

a morte e, por isso, a saúde passava a ser uma questão político-social. Esse contexto levou

o “louco” ao hospício, considerando este o ambiente para o qual deveriam ser

encaminhados para sua cura (ALVES, 2010). A criação do primeiro hospício do Brasil e

da América Latina data de 1841, a partir do Decreto nº 82, com o principal objetivo de

criar um ambiente para alocar estes portadores de transtornos mentais (BORENSTEIN et

al, 2007; PERES E BARREIRA, 2009).

Soma-se ao discurso de promover tratamento e cura aos portadores de transtornos

mentais, a intenção de livrar a cidade daquelas pessoas que perambulavam pelas ruas do

Rio de Janeiro, capital do país a época, para que se pudesse civilizar a mesma. A

inauguração do Hospício de Pedro II (HPII), entretanto, se deu apenas em 1852,

caracterizando uma nova fase da loucura no país, demarcada principalmente pelo

nascimento da psiquiatria a partir de ideias dos alienistas franceses (PERES, 2008;

GUIMARÃES et al, 2013).

A inauguração do hospício envolveu diversas instituições, sendo elas a Santa Casa

de Misericórdia do Rio de Janeiro, a Congregação das Filhas de Caridade São Vicente de

Paulo e a medicina alienista francesa. O HPII ficou por quase quatro décadas sob

administração das Irmãs de Caridade, que realizavam cuidados de enfermagem calcados

na caridade e religiosidade (PERES, 2008).

Primeiramente, a inauguração do hospício significava promover a exclusão dos

portadores de transtornos mentais da sociedade (PERES, 2008), mas também trazia outras

vantagens político-financeiro para o país:

Em segundo lugar, como unidade anexa à Santa Casa, e mediante contrato com

a Congregação das Irmãs de Caridade, o Hospício Pedro II (HPII) trazia

vantagens financeiras para a Santa Casa. E em terceiro lugar, o HPII

apresentava um ambiente propício ao desenvolvimento de uma ciência própria

da loucura, a partir do nascente saber sobre doenças mentais (PERES, 2008 p.

15).

Com a sanção da Lei nº 3.141/1882, que dentre outras determinações aprova a

criação da cadeira de Psiquiatria na Faculdade de Medicina, o saber médico ganha forças

desencadeando uma luta pela hegemonia do hospício tendo de um lado os médicos e de

outro a Santa Casa de Misericórdia e as Irmãs de Caridade. Os médicos, sob liderança de

João Carlos Teixeira Brandão, primeiro catedrático de psiquiatria da Faculdade de

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Medicina do Rio de Janeiro, que assumiu o cargo de médico do HPII em 1884, declaram

o desejo de transformar o hospício em um local de tratamento científico e não mais de

cuidados primordialmente religiosos, pautados no argumento de que somente o poder

médico era capaz de intervir na doença mental (ALVES, 2010).

Assim, as Irmãs de Caridade francesas da Congregação de São Vicente de Paulo,

trazidas ao Brasil pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro em 1952, foram as

primeiras enfermeiras reconhecidas que se dedicaram ao cuidado psiquiátrico. Foram elas

que organizaram no primeiro momento a enfermagem no então único Hospício do Brasil,

o HPII. Com elas trabalhavam na equipe de enfermagem ajudantes de enfermaria, que

eram homens e mulheres de baixo nível social, que poderiam ser desde órfãs da Santa

Casa que atingiram a maioridade até imigrantes e ex-escravos (PERES E BARREIRA,

2009).

Apesar de o modelo religioso francês ser altamente disciplinador, os médicos

lutaram para tomar o poder no hospício, uma vez que estavam insatisfeitos pela delegação

de funções administrativas da instituição às Irmãs de Caridade (enfermeiras) que

ocupavam, na figura da Irmã Superiora, posição superior ao diretor médico na pirâmide

disciplinar. A luta médica teve sucesso após a proclamação da República, quando foi

criado o Serviço Nacional de Alienados que assumiu a administração do hospício e não

firmou contrato com a congregação religiosa, impedindo a permanência das Irmãs na

instituição (PERES E BARREIRA, 2009; PERES et al, 2011).

Em 1887, Teixeira Brandão assumiu o cargo de diretor do HPII e, em 1890, após

a proclamação da República, foi sancionado o Decreto nº 142-A, que desanexou o

hospício da Santa Casa de Misericórdia e criou a Assistência Médica e Legal de Alienados

para administrar o hospício, o qual passou a denominação de Hospício Nacional de

Alienados (HNA). Concatenado a isso, as Irmãs de Caridade saem do hospício, em

virtude da recusa do seu diretor em estabelecer convênio com a Ordem Vicentina em

Paris, única forma das religiosas continuarem atuando no HNA (PERES E BARREIRA,

2009; PERES et al, 2011).

Tais fatos desencadearam uma crise institucional local, no entanto, Teixeira

Brandão, que nesse momento acumulava os cargos de professor da Faculdade de

Medicina e diretor do HNA, já havia feito a contratação de enfermeiras leigas francesas,

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que viriam atuar no hospício, subordinadas ao saber médico. Ainda no ano de 1890 criou-

se a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (EPEE), atual Escola de

Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), visando sanar as demandas de profissionais para a

assistência de enfermagem no HNA, formando enfermeiros para auxiliarem os médicos

e eliminando, de uma vez por todas, a autoridade da enfermagem exercida pelas Irmãs de

Caridade, com a autorização da Santa Casa de Misericórdia, e finalizando dentro do

hospício a disputa entre medicina e religião (PERES E BARREIRA, 2009; ALVES 2010;

MOREIRA, PORTO e OGUISSO, 2002; PERES et al, 2011).

Também em 1890 foram criadas as Colônias São Bento e Conde de Mesquita, na

Ilha do Governador que, além de resolver os problemas de superlotação do HNA, inseria

os tratamentos com trabalho agropecuário e artesanal, de influência da medicina mental

europeia (VENÂNCIO, 2011). Tais colônias junto com o HNA formavam a Assistência

Médico-Legal de Alienados (VENÂNCIO, 2003).

No ano de 1893 foi inaugurado o Instituto de Psicopatologia para funcionar como

Pavilhão de Observação do HNA, com vistas a receber os portadores de transtornos

mentais de forma gratuita para a prática acadêmica (VENÂNCIO, 2003; FACCHINETTI

et al, 2010). Em 1903, Juliano Moreira, médico alienista e professor-assistente de Clínica

Psiquiátrica e Doenças Nervosas da Faculdade de Medicina da Bahia, assumiu a direção

da Assistência Médico-Legal de Alienados e do HNA, onde se manteve até 1930. Este

reconhecido médico seguia a escola psiquiátrica alemã, que buscava explicações

preponderantemente biológicas para a origem dos transtornos mentais (PERES e

BARREIRA, 2009; ALVES 2010; VENÂNCIO, 2003).

Na gestão de Juliano Moreira o modelo psiquiátrico alemão é inserido no Brasil,

bem como o modelo de colônias agrícolas. Também foi sob influência desse médico que

ocorreu a promulgação da Lei nº 1.132, de 1903, que dispõe sobre a reorganização da

assistência aos alienados (SOARES, 1997).

A adoção da ciência psiquiátrica de inspiração alemã coadunava-se assim com

uma política consistente, de caráter preventivista, em que a intervenção

ultrapassava a atenção para com o indivíduo, adentrando o espaço social para

sua normalização — uma normalização diferenciada, entretanto, daquela

produzida pela psiquiatria alienista (VENÂNCIO, 2003, p.891).

Juliano Moreira acreditava nas colônias agrícolas como uma excelente estratégia

de assistência psiquiátrica (MOREIRA, 1905 apud VENÂNCIO, 2011). Assim, no ano

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de 1911 foi inaugurada uma Colônia de Alienadas no bairro do Engenho de Dentro para

receber o excedente de mulheres internadas no HNA, sob a direção do Dr. Simplício de

Lemos Braule Pinto.

Em 1918, o psiquiatra Gustavo Ridel assume a direção da colônia do Engenho de

Dentro e cria, no mesmo ano, o primeiro ambulatório psiquiátrico da América Latina, em

consonância com o ideário de Higiene Mental que vinha se desenvolvendo, tendo como

argumento o fato de que os serviços aos alienados não podiam permanecer apenas como

um estoque de doentes (FACCHINETTI et al, 2010). As ideias da Higiene Mental

promoveram a criação de ambulatórios e de outros serviços abertos de psiquiatria, como

a Assistência Hetero-Familiar, desenvolvida em 1921, na então denominada Colônia de

Alienadas do Engenho de Dentro (BOARINI, 2007).

Além disso, em 1923, Gustavo Ridel funda a Liga Brasileira de Higiene Mental

(LBHM) cujo objetivo era modificar a aperfeiçoar a assistência psiquiátrica, enfatizando

o modelo da Higiene Mental no Brasil, que propunha um tratamento de profilaxia

psíquica, prevenindo o sujeito dos “males da vida urbana” (VENÂNCIO, 2003).

Em 1927, a então Assistência Médico-Legal de Alienados passa a ser denominada

de Serviço de Assistência à Psicopatas (SAP) a integrar o Ministério da Educação e Saúde

Pública, criado pelo governo de Getúlio Vargas para centralizar e fortalecer o Estado,

integrando o Departamento Nacional de Saúde (DNS) (VENÂNCIO, 2011; 2003).

É importante ressaltar que o psiquiatra Adauto Botelho, nomeado diretor do SAP

em 1938, era favorável a mudança do modelo assistencial psiquiátrico, propondo

expansão dos serviços relacionados a higiene mental, como ambulatórios e serviços

abertos, bem como dos hospitais-colônias:

As colônias para psicopatas, com atividades agrícolas e industriais em moldes

vastos e boa aparelhagem técnica, para todos os serviços a elas inerentes.

Seriam construídas de preferência longe do centro urbano ou talvez fora do

perímetro urbano, pelas melhores condições econômicas. Nestes órgãos

haveria serviços médicos complementares, além de um centro de orientação

psicológica, da praxiterapia e do serviço de assistência heterofamiliar

(BOTELHO, 1937 p. 295 apud VENÂNCIO 2011).

Com o desenvolvimento urbano da cidade do Rio de Janeiro, em especial da zona

sul, a Praia da Saudade, posteriormente conhecida como Praia Vermelha, tornou-se local

de passeio e moradia, não sendo mais conveniente a presença de uma instituição

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psiquiátrica nos seus arredores. Isto somado à proposta de reformulação da assistência

psiquiátrica proposta por Adauto Botelho, resultou na transferência, em 1938, do HNA

para o Engenho de Dentro, passando a funcionar junto a Colônia de Alienadas (PERES

et al, 2011).

Assim, inicia-se a reformulação do HNA, que incluía a desativação de todos os

seus prédios. Este processo só terminaria em 1943, quando o então Centro Psiquiátrico

Nacional (CPN), antigo HNA, passou a ser referência para o tratamento de transtornos

mentais no Rio de Janeiro. Em 1941 foi criado o Serviço Nacional de Doença Mental

(SNDM), em substituição do SAP (VENÂNCIO, 2011; FACCHINETTI et al, 2010).

Vale ressaltar que, na década de 1940, teve início no interior do CPN um diferente

método terapêutico pautado principalmente em conhecimentos de terapia ocupacional,

idealizado e implementado pela psiquiatra brasileira Nise da Silveira, visando a

humanização da assistência psiquiátrica e o fim de práticas violentas, dentre as quais

estava a ECT (CASTRO e LIMA, 2007).

Em consonância com esses fatos, surgia no mundo, na década de 1950, novos

conceitos psiquiátricos, tais como o de Comunidade Terapêutica, que preconizava

mudanças na gestão dos hospitais psiquiátricos para que se tornassem centros de

reabilitação mental; o de Antipsiquiatria, pautado na ideia de que a experiência patológica

existe na relação do sujeito para com a sociedade; o de Psiquiatria Democrática, de origem

italiana, que criticava as práticas manicomiais violentas e preconizava a

desinstitucionalização, principal influência para a Reforma Psiquiátrica brasileira

(AMARANTE, 2007).

Logo, no Brasil, na década de 1950, se fortalecia o conceito de “nova psiquiatria”,

sustentando a ideia de que os longos períodos de exclusão dos portadores de transtornos

mentais da sociedade acarretariam em uma maior cronicidade de sua doença (PAULIN E

TURATO, 2004).

Na década de 1960, o fortalecimento do capitalismo na sociedade brasileira

desencadeou um processo de privatização da saúde em geral, inclusive da psiquiatria. Os

hospitais psiquiátricos deixavam de ser apenas para indigentes e se expandiam para a

classe trabalhadora, acarretando a criação de hospitais psiquiátricos privados, tendo em

vista as péssimas condições dos públicos. Apesar de o discurso psiquiátrico caminhar

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para uma assistência preventiva, com a expansão de serviços abertos e ambulatórios, o

número de hospitais e leitos psiquiátricos cresceram amplamente nesta década (PAULIN

E TURATO, 2004).

Somado a isso, em 1965, um ano após o golpe militar no Brasil, é sancionado um

decreto que retoma as origens do hospício, denominando o Centro Psiquiátrico Nacional

de Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII), evidenciando o rumo que a psiquiatria tomara

no país (PAULIN E TURATO, 2004).

No ano de 1968, uma comissão é criada para avaliar a assistência psiquiátrica no

estado do Rio de Janeiro - Comissão Permanente para Assuntos Psiquiátricos (CPAP).

Esta Comissão lança, em 1970, um relatório afirmando que os serviços de saúde mental

apresentavam-se em condições precárias e ineficientes e propõe mudanças no modelo

assistencial. Com bases neste relatório, em 1973, é criado um Manual de Serviço para

Assistência Psiquiátrica, pautado não mais na psiquiatria preventiva, mas sim no início

em um discurso de promoção da saúde mental, de origem americana, conforme se

apresenta a seguir.

A assistência psiquiátrica é oferecida sempre que possível na comunidade, com

uso de recursos extra-hospitalares. Seu intuito era recuperar rapidamente o

paciente para que ele voltasse às suas atividades normais. Nos casos em que

fosse necessária a internação, esta deveria ser feita próxima à residência do

indivíduo, com uma ampla e diversificada rede de serviços, evitando-se a

internação em hospitais com mais de 500 leitos. Na alta, o paciente seria

imediatamente encaminhado para atendimento ambulatorial (PAULIN E

TURATO, 2004 p. 250).

Concomitante às denúncias da péssima qualidade da assistência, em 1978 é

consolidado o MTSM, com o objetivo de impulsionar ainda mais a luta por uma

assistência mais humana e qualificada, com menos segregação e violência. A luta por

transformações no modelo vigente em saúde mental, tendo em foco garantir e assegurar

os direitos e autonomia dos portadores de transtornos mentais, oferecendo uma assistência

de qualidade e voltada para reinserção do mesmo na sociedade, marca o início do

movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira (AMARANTE, 2007).

A década de 1980 é marcada pela continuidade desse movimento, principalmente

pela realização da I e II Conferência Nacional de Saúde Mental, em 1985 e 1987,

respectivamente, sendo a II marcada pela expansão efetiva do MTSM para usuários e

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familiares e pela adoção do lema “Por Uma Sociedade Sem Manicômio”, que se mantém

vivo até os dias atuais (AMARANTE, 2007).

No ano de 1989 é encaminhado ao Congresso Nacional um projeto de lei que

dispunha sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros

recursos assistenciais, além da regulamentação da internação compulsória pelo Deputado

Paulo Delgado (BRASIL, 1989), sendo considerado este o primeiro marco legislativo e

normativo da Reforma Psiquiátrica no Brasil.

Apesar de a lei supracitada só ser sancionada sob nº 10.216 em 6 de abril de 2001,

sofrendo algumas alterações e dispondo sobre a proteção e os direitos dos portadores de

transtornos mentais e redirecionando o modelo assistencial em saúde mental, a década de

1990 é marcada pela aprovação de diversas leis estaduais evidenciando o avanço, pelo

menos legislativo, do movimento de Reforma Psiquiátrica.

Falar de direitos e cidadania não basta, como não basta apenas aprovar leis,

pois não se determina que as pessoas sejam cidadãs e sujeitos de direitos por

decretos. A construção da cidadania diz respeito a um processo social e, tal

qual nos referimos no campo da saúde mental e atenção psicossocial, um

processo social complexo. É preciso mudar mentalidades, mudar atitudes,

mudar relações sociais (AMARANTE, 2007 p. 71).

Ao olhar-se para o atual IMNS, a história conta que a implementação supracitada

foi iniciada na instituição na década de 1940, pela Drª. Nise da Silveira, desencadeando

uma transformação na assistência ali prestada, valorizando a relação terapêutica e social

dos portadores de transtorno mental para além dos métodos classicamente manicomiais.

Assim, desde os tempos de Colônia para mulheres alienadas, o IMNS se colocou

como espaço de transformações da prática psiquiátrica, tornando-se uma instituição com

várias propostas de atendimento, oferecendo internação e tratamento ambulatorial para

homens, mulheres, adolescentes e crianças, em seus diversos pavilhões, cujo tratamento

variava de acordo com a população atendida e incluía, até a década de 1980, a ECT.

1.4.Questões Norteadoras e Objetivos da Pesquisa

Diante da revisão de literatura para contextualizar o objeto de estudo e das lacunas

presentes nos fatos históricos sobre saberes e práticas da enfermagem em ECT e da

mesma na instituição cenário da pesquisa, elaborou-se os seguintes questionamentos, que

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se concentram no recorte temporal e espacial delimitado: Como ocorria a ECT no cenário

estudado? Quais os cuidados de enfermagem prestados às pessoas submetidas a ECT?

São objetivos do estudo:

(1) Descrever a aplicação da eletroconvulsoterapia no Instituto Municipal Nise

da Silveira no período do estudo;

(2) Analisar os cuidados de enfermagem prestados às pessoas

submetidas à eletroconvulsoterapia.

1.5.Interesse, justificativa, relevância e contribuição do estudo

A motivação principal para realização do estudo e meu interesse pela temática

parte da experiência como bolsista de iniciação científica do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito do Núcleo de Pesquisa de

História da Enfermagem Brasileira (NUPHEBRAS), durante a graduação e da

permanência no mesmo até hoje, o que desencadeou a paixão pelos estudos de História

da Enfermagem, especialmente, na temática de Enfermagem Psiquiátrica.

Além disso, foi elaborado o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado

“Portador de transtorno mental e a eletroconvulsoterapia: construção histórica do cuidado

de enfermagem (1989-2002)”, que versou sobre os cuidados de enfermagem às pessoas

submetidas à ECT, evidenciando os efeitos da Reforma Psiquiátrica brasileira neste

procedimento. A pesquisa desenvolvida no TCC provocou uma inquietação sobre o

processo de estigmatização da ECT, uma vez que atualmente continua a ser um

procedimento utilizado e defendido como terapêutico, mas que pesa sobre ele o discurso

de ser uma prática desumana, dolorosa e punitiva, apesar de pesquisas já terem

vislumbrado sua aplicação segura, sem dor e com consentimento do portador de

transtorno mental.

A História da Enfermagem Psiquiátrica se mostra estigmatizada e estigmatizante

ao passo que continua inexistente diante de certos temas como a ECT, de forma que se

faz necessário que sua trajetória seja exposta e discutida para revelar saberes e práticas

construídas e transformados durante a assistência em psiquiatria/saúde mental. Portanto,

este estudo se justifica pela necessidade de se historicizar os cuidados de enfermagem aos

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portadores de transtornos mentais submetidas à ECT, bem como a evolução da assistência

ao portador de transtorno mental ao longo dos anos.

Também justifica o estudo o fato de constar na Agenda Nacional de Prioridades

de Pesquisa em Saúde, o tema Saúde Mental, que apresenta dentre seus subitens:

“Prejuízo, estigma, cidadania e direitos das pessoas com transtorno mental” e “Reforma

psiquiátrica: novos atores, suas metodologias e estratégias de participação, com os quais

esta pesquisa irá contribuir ao trazer novos elementos para a sua contextualização”

(BRASIL, 2008).

A pesquisa se faz relevante devido a escassez de estudo publicada acerca da

temática nas bases de dados. Em abril de 2016 foram realizadas pesquisas na MEDLINE

e LILACS, utilizando como frase booleana ("Electroshock" [Mesh] OR

"Electroconvulsive Therapy" [Mesh]) AND ("NursingCare" [Mesh] OR "Nursing"

[Mesh]). Na MEDLINE totalizaram 98 artigos e, ao adicionar os filtros de texto

completos e humanos, resultaram 32 artigos.

A escassez científica supracitada impulsiona e estimula o desenvolvimento da

pesquisa para subsidiar reflexões sobre a temática, além de analisar o discurso dos

profissionais de enfermagem que atuaram no período do estudo no cuidado oferecido aos

portadores de transtornos mentais em determinado cenário.

O estudo contribuirá para o ensino, a pesquisa e a assistência, pois seu

desenvolvimento ajudará no pensar sobre história da enfermagem e enfermagem

psiquiátrica, a partir do levantamento de dados referentes ao cuidado de enfermagem aos

portadores de transtornos mentais submetidos à ECT e da divulgação dos resultados para

a sociedade, principalmente para a comunidade científica. Os resultados poderão embasar

discussões sobre o cuidado atualmente oferecido em psiquiatria/saúde mental, enquanto

a ECT for uma realidade, uma vez que a identidade profissional é diretamente ligada à

prática profissional.

Além disso, poderá contribuir também para esclarecimento de possíveis lacunas

de conhecimentos sobre o processo de estigmatização da prática de ECT, bem como da

enfermagem psiquiátrica como um todo, já que o período de estudo se relaciona com o

período de maior utilização do mesmo nas instituições psiquiátricas.

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Este estudo foi desenvolvido no âmbito do NUPHEBRAS, junto ao Grupo de

Pesquisa, cadastrado no CNPq: “Trajetória histórica da enfermagem nos espaços

especializados”.

1.6.Referencial teórico

Como referencial teórico, se utilizou autores que tratam do Movimento de

Reforma Psiquiátrica, tema que nos permite manter um olhar crítico sobre o contexto

histórico-social que circunda o fato histórico investigado. A Reforma Psiquiátrica

brasileira é um processo ainda em andamento com objetivo de desconstruir saberes,

discursos e práticas assistenciais psiquiátricas relacionadas diretamente ao modelo asilar,

tendo posto que o hospital se configurou como "dispositivo central da medicalização da

loucura" (BARBOSA et al, 2016 p. 179). Também foram usados os conceitos de saber e

poder disciplinar contidos, respectivamente, nas obras “Arqueologia do Saber” e “Vigiar

e Punir”, do filósofo Michel Foucault.

É importante ressaltar que a mudança no modelo assistencial em psiquiatria já

alcançou diversas e significativas transformações, contudo ainda se tem um longo

caminho a se percorrer para completa reorientação do paradigma biomédico para o

psicossocial, proposto pelo movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira. Para se

compreender o movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira é preciso primeiro

compreender o espaço que o asilo e o Tratamento Moral ocuparam do século XIX até

meados do século XX. Até o século XIX, o então denominado "louco" era apenas

excluído da sociedade, tendo em vista que, até então, o hospital não tinha acreditava na

cura dessas pessoas, sendo estes majoritariamente de caráter filantrópico.

A partir da obra de Philip Pinel, no início de 1800, na França, o hospital, assim

como outras instituições tais quais as escolas e as prisões, passou a ocupar um espaço

disciplinador, com objetivo de adestramento e cura das pessoas ali internadas para o

fortalecimento dos corpos e, assim, fortificar as eficiências (FOUCAULT, 2014). Os

portadores de transtornos mentais, bem como os cuidados a eles realizados, foram

portanto institucionalizados "por sua vinculação a uma instituição pavimentada por

relações disciplinares de hierarquização vertical" (BARBOSA et al, 2016 p.180). Os

cuidados realizados passam a se caracterizar enquanto poder disciplinar.

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O cuidar com vistas ao Tratamento Moral e o crescente número de hospitais e

leitos psiquiátricos no século XIX consolidaram o modelo asilar como hegemonia na

psiquiatria mundial. No Brasil, observamos essa influência a partir da criação do primeiro

hospício da América Latina aqui no Rio de Janeiro, o então denominado Hospício Pedro

II (HPII). Criado em anexo a Santa Casa de Misericórdia e contando com as irmãs de

caridade como responsáveis pelo cuidado aos portadores de transtornos mentais, o HPII

logo despertou o interesse dos alienistas brasileiros, culminando em uma disputa pelo

poder do hospício e, por consequência, pelo poder do saber psiquiátrico. A partir da

admissão de um médico alienista enquanto diretor do HPII e da retirada das irmãs de

caridade do mesmo, observamos o transcorrer da soberania médica no saber psiquiátrico.

Apenas em meados do século XX, que se observou, mundialmente, movimentos

de questionamentos acerca da hegemonia asilar, do Tratamento Moral e do saber

psiquiátrico instituído. Nas décadas de 1950 e 1960 se constata movimentos como: as

comunidades terapêuticas, psiquiatria preventiva, antipsiquiatria e a psiquiatria

democrática italiana, sendo esta última a principal influência para o movimento de

Reforma Psiquiátrica brasileira.

No Brasil, a década de 1950 e 1960 é marcada pelo avanço da Reforma Sanitarista,

visando o combate às doenças de massa, a partir do saneamento das cidades de divisão

entre a saúde pública e a atenção médica. Entretanto, se faz necessário a expansão desse

modelo, tendo em vista a "baixa cobertura assistencial, direcionada a problemas e estratos

populacionais muito específicos" (ZAMBENEDETTI E SILVA, 2008 p. 135).

Com vistas a solucionar o problema supracitado, em 1963, durante a 3ª

Conferência Nacional de Saúde (CNS), se estabelece a expansão da rede de

atenção à saúde pública, com os denominados "serviços médicos-sanitários",

sendo estes serviços de saúde permanentes e descentralizados. Contudo, estes

são substituídos por uma rede básica de atenção mínima, devido ao menor

custo. Com relação da saúde mental, nesta Conferência já se estabelece a

necessidade da criação de ambulatórios e serviços praxiterápicos1, porém

"ainda não está presente a ideia de que a doença mental possa ser pensada na

atenção básica, por exemplo, em decorrência do predomínio do paradigma da

1 Técnica psiquiátrica de tratamento usada, geralmente, com pacientes crônicos hospitalizados, e que

consiste na utilização terapêutica do trabalho, distribuindo-se tarefas de complexidade crescente; terapia

ocupacional

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doença e da separação das doenças mentais em relação às demais"

(ZAMBENEDETTI E SILVA, 2008 p. 136).

No entanto, o que de fato acabou ocorrendo durante a década de 1960 foi a

expansão do modelo privado de saúde, tendo em vista o caráter excludente que a ditadura

militar trouxe para o país após o golpe em 1964. Na saúde mental observa-se nesse

período a "indústria da loucura", na qual se tem a precariedade dos serviços, expansão

dos hospitais e leitos psiquiátricos privados, cronificação dos portadores de transtornos

mentais e a objetivação apenas do lucro da doença mental (ZAMBENEDETTI E SILVA,

2008)

No final da década de 1970 o MTSM empreendeu esforços visando a denúncia da

péssima qualidade que a saúde mental se encontrava no Brasil e a luta por melhorias, em

consonância às reivindicações feitas pelo movimento sanitarista. Em seu livro, Amarantes

(1995) define o movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira como “um processo

histórico de formulação crítica e prática que tem como objetivos e estratégias o

questionamento e a elaboração de propostas de transformação do modelo clássico e do

paradigma da psiquiatria” (AMARANTES, 1995 p. 91).

Concatenado a isso, o movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira tem na

desinstitucionalização seu principal pilar, podendo ser definida como “um trabalho

prático de transformação que pretende desmontar a lógica manicomial” (KYRILLOS

NETO, 2003, p. 75) retirando os portadores de transtornos mentais de dentro dos

hospícios para reinseri-los na sociedade a partir do fortalecimento de suas cidadanias,

liberdades, justiça social e respeito (COSTA et al, 2016).

Portanto, o modelo assistencial que tinha como caráter o modelo asilar, no qual o

portador de transtorno mental, que só tinha como opção terapêutica a cura a partir da

exclusão da sociedade, sendo posto dentro do manicômio, inicia uma transformação

visando a reinserção do mesmo na sociedade e, portanto, lhe garantindo direitos, como o

direito à cidadania, respeito e autonomia.

Somente em 1980, durante um cenário de abertura política, com vistas a

redemocratização brasileira, a 7ª CNS é realizada trazendo novamente o fortalecimento

do ideário de uma rede de saúde pública, com foco nas ações de saúde dos serviços

básicos de saúde e na hierarquização e regionalização desta rede. Concatenado a isso,

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observa-se o discurso contrário ao incentivo da privatização, posto que neste modelo

interessava a doença, por ser mais lucrativa (ZAMBENEDETTI E SILVA, 2008).

A ideia de uma rede constituída de forma regionalizada e hierarquizada

consolida-se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, que tem como

desdobramento a instituição o Sistema Único de Saúde – SUS através da lei

8.080/90. Assim, constata-se que existe uma continuidade no modo de

conceber a rede assistencial ao longo das Conferências Nacionais de Saúde até

a instituição do SUS. O princípio de hierarquização da rede assistencial não é

criticado em nenhuma das CNS, aparecendo sempre como uma proposição. O

que aparece como novidade na 8ª CNS e no SUS é a proposição do conceito

ampliado de saúde e do princípio de universalização do acesso e integralidade

da assistência (ZAMBENEDETTI E SILVA, 2008, p. 140).

O movimento de Reforma Psiquiátrica ressalta a necessidade de uma rede de

atenção extra-hospitalar, sendo esta substitutiva ao hospital psiquiátrico, ordenada

também de maneira regionalizada e hierarquizada, tal qual desejava o movimento

sanitário. Para tal, o conceito de desinstitucionalização se torna eixo central do

movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira. Para Amarantes (1996) a

desinstitucionalização é percebida de 3 formas: como desospitalização, como

desassistência e como desconstrução.

A desinstitucionalização enquanto desospitalização é "uma crítica ao sistema

psiquiátrico, na centralização da atenção na assistência hospitalar, mas não é questionado

o saber que o legitima" (HIRDES, 2008 p. 299), ou seja, visa-se a simples retirada do

portador de transtorno mental da infraestrutura hospitalar, mas não se vislumbra a

modificação da prática assistencial. Dessa forma, ao retirarmos o portador de transtorno

mental do hospício e não planejar para ele uma nova modalidade de assistência se pratica

a desassistência desse sujeito.

Já a desinstitucionalização como desconstrução está diretamente relacionado a

crítica ao saber médico psiquiatra, sendo a este modelo que o movimento de Reforma

Psiquiátrica brasileira se associa, buscando a reorientação do modelo de assistência à

saúde mental (HIRDES, 2008). Para tal, a sanção da Lei nº 8080/90 foi de suma

importância para o desenvolvimento do movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira,

tendo em vista que vai ao encontro de diversos conceitos que os reformistas objetivavam,

como: integralidade da assistência, preservação da autonomia das pessoas, igualdade da

assistência na saúde sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie, direito a

informação, entre outros.

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A necessidade de transformação conceitual, bem como das práticas assistenciais,

se torna evidente a partir do contexto supracitado e, para tal, é imprescindível que os

profissionais envolvidos no cuidado ao portador de transtorno mental se adequem a esse

novo modelo e “possam efetivar uma assistência pautada em uma ideologia de cidadania,

ética, humanização e uma assistência integral” (VILLELA E SCATENA, 2004 p. 738)

indo ao encontro do proposto pelo movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira e ao

previsto na Lei nº 8080/90.

Entretanto, é importante se ter em mente que a mudança paradigmática da prática

assistencial se mostra bem mais resistente do que no discurso teórico. Apesar do

movimento de Reforma Psiquiátrica brasileiro ter iniciado no final da década de 1970,

foram pequenas as mudanças ocorridas na rotina hospitalar e ainda era possível se

observar na prática uma assistência voltada para o modelo asilar até o recorte final do

estudo.

O portador de transtorno mental internado em ambiente asilar sofre um processo

de despersonalização do seu ser ao ser submetido a uma rotina de normas, recompensas

e castigos em detrimento das relações de forças do espaço disciplinar. O portador de

transtorno mental assume então a posição da base da pirâmide disciplinar descrita por

Foucault (2014) contendo o menor nível de poder-saber psiquiátrico. Assim sendo, é

submetido a disciplinas advindas da equipe de enfermagem e da equipe médica, que

atingem, respectivamente, o nível mais alto da pirâmide no espaço institucional

manicomial.

Essas disciplinas se referem ao controle asilar, podendo se manifestar através do

controle de horário para higiene, alimentação e medicação, bem como do controle da

comunicação, tendo em vista que o portador de transtorno mental não era ouvido sobre

seus desejos em relação ao seu tratamento, tampouco esclarecido quanto ao mesmo, por

exemplo. A ECT, no período do estudo, é utilizada como uma estratégia de controle dos

corpos no interior da instituição psiquiátrica por toda a equipe de saúde, para que os

portadores de transtornos mentais submetidos à prática obedecessem às demais

disciplinas implantadas no ambiente hospitalar como os exemplos supracitados,

facilitando o convívio social no ambiente.

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A técnica de ECT, de acordo com o pensamento de poder disciplinar apresentado

por Foucault (2014), reflete um tipo de poder exercido pela equipe de saúde dentro da

instituição psiquiátrica através de uma técnica e/ou procedimento, a fim de adestrar e

tornar o indivíduo a ele submetido mais útil para a sociedade onde o mesmo se encontra.

É importante ressaltar que o poder aqui discutido não se enquadra numa figura concreta

de um rei, mas sim através dos corpos dos indivíduos que sofrem as técnicas disciplinares.

O conceito de poder disciplinar, presente no livro “Vigiar e punir”, é diretamente

relacionado com o nascimento da arte do corpo humano, a qual impõe a este uma utilidade

em demasia, ao mesmo passo que objetiva torná-lo mais obediente para assim alcançar

sua submissão (FOUCAULT, 2014).

A submissão dos corpos é um objetivo do manicômio, uma vez que a sociedade

espera que o “louco” seja controlado. As práticas disciplinares são elementos presentes

no interior de instituições como era o IMNS, uma instituição psiquiátrica antiga, na qual

diferentes discursos circulavam, portanto, diferentes saberes se enfrentavam.

Por conseguinte, a obra “Arqueologia do Saber” nos permite analisar os diferentes

discursos acerca do desenvolvimento dos cuidados de enfermagem aos pacientes

psiquiátricos submetidos a ECT, sabendo-se que discurso para Foucault (2012) se

relacionada com a materialização de práticas que se relacionam entre si e também com os

níveis não-discursivos. Portanto, o discurso se trata de um sistema de relações que o

caracterizam como prática. A articulação dos discursos e das formações não-discursivas

formam o que se chama de saber.

As condições de existência de um saber, sendo ele validado ou não com um status

científico, é “aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva”, ou seja, o domínio

constituído pelos diferentes objetos; o campo de coordenação e subordinação em que os

conceitos aparecem, se definem, se aplicam e se transformam; o conjunto de

possibilidades oferecidas pela apropriação de um discurso (FOUCAULT, 2012 p. 204).

A equipe de enfermagem em geral não detinha conhecimento teórico-científico

para realização de cuidados específicos para ECT, sendo este conhecimento adquirido em

sua maioria diante da experiência prática da realização da mesma. Para melhor

compreender o advento do saber de enfermagem psiquiátrica na prática da ECT, se faz

necessário correlacionar as práticas com as relações de poder envolvidas no ambiente

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asilar, entre os portadores de transtornos mentais ali internados, a equipe de enfermagem

e os demais profissionais de saúde.

Tendo em vista a soberania do saber médico especializado, este profissional

assumia o topo da pirâmide disciplinar, cabendo às suas ordens a obediência máxima

dentro do espaço disciplinar que o hospício se configurava e, portanto, os profissionais

de enfermagem ocupavam o espaço intermediário entre portadores de transtornos mentais

e médicos psiquiatras. Essa configuração permitia que os médicos exercessem poder

disciplinar junto à equipe de enfermagem e aos portadores de transtornos mentais.

Consequentemente, os profissionais de enfermagem exerciam poder disciplinar junto aos

portadores de transtornos mentais, por ostentarem o menor nível de saber-poder dentro

do manicômio.

Diante disso, o referencial teórico subsidia uma análise das relações no cenário

institucional da pesquisa ao se descrever a técnica de ECT e os cuidados de enfermagem

desenvolvidos junto aos portadores de transtornos mentais submetidas à ECT, a partir do

contexto histórico social do recorte temporal do estudo.

2. METODOLOGIA

Estudo histórico-social de abordagem qualitativa, ou seja, o discurso produzido é

relacionado ao lugar de produção do qual o autor se insere. Por lugar de produção,

entende-se que:

Escreve ele mesmo a partir de um lugar, de uma inscrição em uma sociedade

e em uma comunidade historiográfica atualizada pela sua própria época, de um

enredamento que o situa em uma instituição (universitária, por exemplo), de

uma teia de intertextualidades que o influenciam de múltiplas maneiras

(BARROS, 2012 p. 409).

Cada pesquisa deve contar com fontes históricas específicas para o

desenvolvimento da prática historiográfica, se fazendo necessário o estabelecimento do

universo documental amplo essencialmente relacionado ao problema e aos objetivos da

pesquisa, previamente estabelecido (BARROS, 2012). O estudo contará com fontes

históricas escritas e orais que:

Como se sabe, é o elemento que assegura uma base científica à História; ou, caso

se queira evitar a interminável polêmica sobre a “cientificidade da História”, o que dá

legitimidade ao discurso do historiador e qualquer afirmação do historiador deve ser

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proposta a partir de uma base documental (BARROS, 2012 p. 411).

Para tanto, as fontes escritas primárias foram selecionadas e analisadas a partir de

critérios específicos e procedeu a constituição do corpus documental, que se refere ao

conjunto de documentos selecionados para assim atender aos objetivos da pesquisa

desenvolvida. O corpus documental deve atender aos aspectos de pertinência e suficiência

e exaustividade, ou seja, ser adequado aos objetivos e envolver todos os lados do

problema de pesquisa. Deve atender ainda aos critérios de representatividade e

homogeneidade e, portanto, o universo documental deve ser igualmente representativo ao

universo geral. Além disso, é possível setorizar o corpus documental, casos encontre-se

universos diferentes dentro do universo geral da pesquisa, desde que sejam analisados de

forma distinta (BARROS, 2012). Os critérios supracitados são melhores expostos no

QUADRO 1 abaixo.

QUADRO 1. A constituição do corpus documental

Fonte: BARROS, J.D’A. A fonte histórica e seu lugar de produção. Cad. Pesq. Cdhis, Uberlândia, v.25,

n.2, jul./dez. 2012

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As fontes escritas primárias foram documentos localizados no Acervo de História

e Memória do Instituto Municipal Nise da Silveira e se constituiu de relatórios de

enfermagem, livros de ocorrência e fichas de avaliação, que possuíam dados sobre o

objeto da pesquisa dentro do recorte temporal, coletados a partir do Instrumento de Exame

de Documentação Escrita (APÊNDICE A).

QUADRO 2. Tabela de documentos analisados e data.

LOCAL

ARQUIVO DATA DA

CONSULTA

CPPII Ocorrências internas enfermagem (1977-1978);

registro de entrada e saída das seções femininas do

Hospital Odilon G. (1978); livro de ocorrências

(1978); livro de ocorrências – unidade 3 (1978)

08 de junho de 2017

CPPII Livro de ocorrência (1979; livro de ocorrências

seção Mauricio Ribeiro (1979)

12 de junho de 2017

CPPII Livro de ocorrências – unidade 3 (1979) 26 de junho de 2017

CPPII Caixa 3458 – 29 pastas 03 de julho de 2017

CPPII Livro de ocorrências (1979); livro de ocorrências da

seção Palmira Guimarães (1979-1980)

17 de julho de 2017

CPPII Livro de ocorrências da unidade de emergência do

Hospital Gustavo Ridel (HGR) (1979); livro de

ocorrências da seção Cincito Magalhaes de Freitas

(1980); livro de registro de ocorrências da unidade 4

do HOG (1980); livro de ocorrências da seção

Palmira Guimarães (1980); livro de plantão da

unidade 4 (1980); livro de ocorrências da seção

Austrósilo (1980); livro de ocorrências do HOG

(1980); livro de ocorrências da unidade 4 (1981)

31 de julho de 2017

CPPII Livro de ordem e ocorrências da supervisão de

enfermagem (1980-1981), livro de ordens e

ocorrências do plantão (1981); livro de anotações de

ordens e ocorrências de enfermagem do Instituto

14 de agosto de 2017

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Professor Adauto Botelho (IPAB) (1981); livro de

ocorrências da assistência de enfermagem dos

pacientes da unidade hospitalar (1981); livro de

relatório geral da enfermagem (1985); livro de

relatório feral da enfermagem da seção masculina do

HGR (1984).

CPPII Livro de relatório geral de enfermagem da seção

masculina do HGR (1984); relatos da supervisão de

enfermagem das ocorrências dos plantões (1985);

relatórios de enfermagem (1986); relatórios de

enfermagem (1987); relatório geral de ordens e

ocorrências da seção Manoel Novaes (1987);

relatório geral de enfermagem (1987)

28 de agosto de 2017

CPPII Caixa 3520 - 27 pastas 11 de setembro de 2017

CPPII Caixa 3457 - 29 pastas; Caixa 3456 - 16 pastas 28 de setembro de 2017

CPPII Caixa 3526 - 33 pastas 02 de outubro de 2017

Apesar lista de documentos escritos apresentada deve-se ressaltar a dificuldade de

acesso aos mesmos, tendo em vista o horário restrito imposto pelo IMNS para análise dos

documentos, bem como a organização dos mesmos. Com exceção dos livros de ordem e

ocorrência, os demais documentos não estavam organizados em ordem cronológica,

tampouco de acordo com os setores do IMNS, o que prejudicou bastante a coleta dos

dados, diante do fato dessa pesquisa ter um prazo para ser concluída.

Os documentos descritos como “Caixa” se referem a qualquer documento acerca

de “Relatório de enfermagem”, por exemplo. Assim, ao olhar o documento para a coleta

dos dados a pesquisadora se deparou com documentos datados fora do recorte temporal

do estudo, documentos que não aderiam à temática da pesquisa, por se tratarem de

documentos oriundos dos setores de gerência de enfermagem ou de âmbito ambulatorial,

locais nos quais não eram realizadas a ECT.

As fontes escritas secundárias foram artigos, dissertações, teses e livros acerca da

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temática estudada, incluindo: História da Enfermagem, História da Psiquiatria,

Assistência de Enfermagem e Eletroconvulsoterapia.

As fontes primárias orais foram entrevistas que contaram com a técnica da

História Oral Temática para serem realizadas.

A História Oral é um método de pesquisa que utiliza técnica de entrevista e

outros procedimentos articulados entre si, no registro de narrativas da

experiência humana (...) tendo como principal finalidade criar fontes históricas

(FREITAS, 2006 p. 18- 19).

A História Oral trata especialmente da responsabilidade de se criar novas fontes

históricas a partir da gravação por intermédio de um ou mais gravadores digitais do

depoimento do colaborador com o objetivo de gerar um documento escrito a partir do

processo de transcrição realizado posteriormente. Sendo assim, a História Oral se

caracteriza como um método complexo e específico (MEIHY, 1994).

Especificamente na História Oral Temática, as entrevistas têm um foco, um

caráter temático, que não abrange todas as experiências do colaborador e, portanto,

comumente é realizado com um número maior de colaboradores, resultando em uma

quantidade maior de informações sobre o tema que se pesquisa, permitindo a comparação

entre eles. A História Oral Temática é, portanto, um recorte do todo que aborda questões

objetivas, factuais e temáticas (FREITAS, 2006; MEIHY, 1994).

Os participantes/colaboradores da pesquisa foram profissionais de enfermagem,

que atuaram no IMNS como enfermeiros, técnicos, auxiliares e atendentes de

enfermagem, categorias que formavam a equipe de enfermagem nas décadas que

compreendem este estudo. Os critérios de inclusão foram: ter integrado à equipe de

enfermagem do cenário da pesquisa em algum momento do período do estudo e ter

realizado cuidados de enfermagem aos portadores de transtornos mentais submetidos a

ECT. Os critérios de exclusão foram: estar impossibilitado de participar da pesquisa

durante o período de coleta de dados por algum motivo (doença, memória prejudicada),

ou por residir fora do estado do Rio de Janeiro.

Os colaboradores foram localizados através da constituição de uma rede de

possíveis colaboradores. Esta técnica acontece pela abordagem a um colaborador que

indica outros e, assim, sucessivamente, até chegar-se a um quantitativo que permita a

realização da pesquisa. Cabe ressaltar que na pesquisa histórica não há saturação, e sim a

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busca pelos fatos que permitam atender aos objetivos da pesquisa (MEIHY, 2006;

PADILHA E BORENSTEIN, 2005).

O contato com os colaboradores foi previamente feito pela autora da pesquisa

pessoalmente, por telefone ou e-mail, no qual os mesmos foram informados sobre a

pesquisa (o objeto, os objetivos, metodologia, etc.), sendo convidados a participar. Após

a concordância dos mesmos, as entrevistas foram previamente marcadas, de acordo com

a disponibilidade e preferência de cada colaborador, no que se refere a data, horário e

local para a sua realização.

O instrumento de coleta de dados, um Roteiro de Entrevista Eemi-estruturado

(APÊNDICE B), foi desenvolvido para atender, dentro da técnica de História Oral

Temática, aos objetivos da pesquisa. Também foram utilizados dois gravadores e um

caderno de anotações. A recomendação de uso de dois gravadores é para prevenir

problemas de ordem técnica no momento da coleta de dados e o caderno de anotações

para a pesquisadora registrar reações não verbais importantes durante ou logo após a

entrevista.

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C) foi

apresentado aos colaboradores antes da realização das entrevistas e foram sanadas todas

as dúvidas que os mesmos apresentarem sobre a pesquisa e sobre sua participação. Por

tratar-se de pesquisa histórica, os colaboradores foram consultados quanto ao desejo de

doar sua entrevista para o acervo do Centro de Documentação (CDOC) da Escola de

Enfermagem Anna Nery (EEAN), o que foi viabilizado pelo preenchimento e assinatura

do Termo de Cessão de Direitos do Depoimento (APÊNDICE D), através do qual o

acervo institucional passa a deter os direitos autorais sobre a mesma, que se transforma

em registro histórico para consulta e utilização em outras pesquisas, o que é comum

ocorrer nas pesquisas históricas que produzem documentos orais.

Desta forma, outra contribuição possível desta pesquisa é ampliar o acervo de

história oral do CDOC/EEAN.

Por se tratar de uma pesquisa histórico-social, não é possível garantir o anonimato

dos colaboradores, o que está explícito no TCLE, contudo, foram utilizadas estratégias

para reduzir as possibilidades de sua identificação. Os colaboradores foram informados

previamente que, devido ao estudo ter recorte espacial e temporal, os mesmos tornam-se

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identificáveis, no entanto, foram identificados a partir da letra referente ao cargo exercido,

seguido do número ordinal correspondente a ordem cronológica da realização das

entrevistas (Ex: E1= enfermeiro1; AE2 = auxiliar de enfermagem 2; TE3= técnico de

enfermagem 3). Ao todo o estudo contou com nove colaboradores.

QUADRO 3. Tabela de colaboradores e duração das entrevistas

Colaborador Categoria

Profissional

Local de

atuação

Período de

atuação

Duração da

Entrevista

1 Enfermeira Hospital de

Neuro-

psiquiatria

Infantil

1987 – atual 16min 46seg

2 Técnica de

Enfermagem

Hospital de

Neuro-

psiquiatria

Infantil

1980 – atual 22 min 04seg

3 Técnica de

Enfermagem

Instituto de

Psiquiatria

1987 – 2015 18min 11seg

4 Técnico de

Enfermagem

Instituto de

Psiquiatria

1984 – atual 16min 34seg

5 Técnica de

Enfermagem

Hospital de

Neuro-

psiquiatria

Infantil

1985 – 2007 15min 19seg

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6 Enfermeiro Pronto Socorro

Psiquiátrico

1984 – 2017 1hora 7min

7 Enfermeiro Pronto Socorro

Psiquiátrico

1984 – 2010 42min 12seg

8 Enfermeira Instituto de

Psiquiatria

1984 – 2004 40min 23seg

9

Auxiliar de

Enfermagem

Instituto de

Psiquiatria

1984 – 2004 19min 52seg

Para facilitar a análise das entrevistas, estas foram transformadas em fonte escrita.

O processo para transposição do documento oral para o escrito é feito em 3 etapas:

transcrição, textualização e transcriação. A realização destas etapas demanda bastante

tempo devido ao processo dispendioso e ao cuidado que se precisa ter com esta fonte

(MEIHY e RIBEIRO, 2011). A etapa de transcriação é opcional e neste estudo não foi

realizada. A transcrição da entrevista foi entregue aos colaboradores para validação,

através da Carta de Validação do Conteúdo das Fontes Orais (APÊNDICE E).

A análise dos dados se deu a partir do método histórico de pesquisa, que tem como

um dos seus objetivos estudar o passado para que se possa analisar o presente, levantando

inclusive questões para o futuro. O processo de análise dos dados objetiva avaliar e validar

as fontes de informação a partir da crítica interna e externa dos dados (PADILHA E

BORENSTEIN, 2005).

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A crítica externa verifica a autenticidade do dado histórico e, no caso da História

Oral Temática, a veracidade do depoimento e da transcrição do mesmo; no caso do

documento escrito, sua legitimidade. Já a crítica interna capta a significância dos dados

históricos coletados (PADILHA E BORENSTEIN, 2005). As fontes primárias e

secundárias foram comparadas de forma cronológica e temática, sendo os fatos

interpretados, sintetizados e correlacionados, resultando nas categorias temáticas a serem

apresentadas como resultados e discutidas.

2.1.Caracterização do cenário de pesquisa

A partir do Decreto nº 17.185 de 18 de Novembro de 1944, fica aprovado o

regimento do SNDM do Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Educação e

Saúde que dispõe, entre outras providências, sobre a organização e competência dos

órgãos e serviços, dentre eles o até então denominado CPN.

Em 7 de Janeiro de 1965 é sancionado o Decreto nº 55.474 que altera a

denominação do CNP para Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII), mantendo as

providências relacionadas à organização e competência dos órgãos e serviços. O CPPII

passa então a compor a organização do SNDM em conjunto com outros órgãos, como a

Colônia Juliano Moreira, por exemplo. Seria competência do CPPII a assistência,

distribuição e internação de doentes mentais em território nacional, bem como a

realização de pesquisa acerca de psicopatias.

O CPPII passa a ser composto então dos seguintes setores:

Bloco Médico-Cirúrgico: tinha por finalidade receber e tratar os portadores de

transtornos mentais com intercorrências médico-cirúrgicas, portadores de doenças

infecto-contagiosas e de ordem odontológica;

Seção de Fisioterapia e Fisiodiagnóstico: tinha por finalidade realizar exames e

tratamento de processos físicos, bem como pesquisas relacionadas;

Laboratório;

Farmácia;

Instituto de Psiquiatria: tinha por finalidade receber, admitir, assistir os portadores

de transtornos mentais, bem como realizar estudos e pesquisas sobre as doenças

mentais, entre outras funções cooperativa com o SNDM;

Hospital Pedro II: tinha por finalidade receber e tratar portadores de transtornos

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mentais agudos, realização de tratamentos especializados;

Hospital Gustavo Ridel: tinha por finalidade receber e tratar portadores de

transtornos mental subagudos, inclusive advindo das instituições de previdência;

Hospital de Neuro-Psiquiatria Infantil: tinha por finalidade receber e tratar

crianças e adolescentes portadoras de transtornos mentais sob o ponto de vista

neuro- psiquiátrico;

Hospital de Neuro-Sífilis: tinha por finalidade tratamento e profilaxia das doenças

nervosas e mentais que tenham como causa a sífilis;

Administração;

Secretaria.

Atualmente, em decorrência do processo de municipalização de diversos hospitais

do Rio de Janeiro, o hospício se denomina Instituto Municipal de Assistência à Saúde

Nise da Silveira (IMNS), tendo sido renomeado pelo Decreto nº 18.917 de 05 de Setembro

de 2000, e não apresenta mais as mesmas características organizacionais previamente

apresentadas. O nome é em reconhecimento ao trabalho da psiquiatra Nise da Silveira,

personalidade importante para a história da psiquiatria brasileira:

Em 1946, [Nise da Silveira] fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional no

CPII. Em 1952, criou o Museu de Imagens do Inconsciente. Alguns anos mais

tarde, 1956 (...) daria vida a mais um projeto: a criação da Casa das Palmeiras

(...) suas pesquisas deram origem, ao longo dos anos, a exposições, filmes,

documentários, simpósios, publicações, conferências e cursos (...) Seu trabalho

e seus princípios inspiraram a criação de museus, centro culturais e instituições

psiquiátricas no Brasil e no exterior. Faleceu em 30 de outubro de 1999

(BRASIL, 2000 p. 2).

A psiquiatra Nise da Silveira recebeu muitas homenagens pelas suas investidas na

humanização da psiquiatria e defesa de um tratamento individualizado, considerando

atividades terapêuticas, além dos medicamentos, como forma de cuidar dos portadores de

transtornos mentais.

2.2.Aspectos éticos da Pesquisa

A pesquisa foi norteada pela Resolução 466/2012 e 510/16 do Conselho Nacional

de Saúde/Ministério da Saúde, que preconiza o respeito à dignidade humana e a proteção

devida aos participantes das pesquisas científicas que envolvem seres humanos. Foi

entregue o estudo impresso para o IMNS, cenário da pesquisa, para ser aprovado pelo seu

comitê interno de avaliação de pesquisas, para liberação da carta de anuência e posterior

submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna

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Nery/Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis/ Universidade Federal do Rio

de Janeiro (CEP EEAN-HESFA/UFRJ) como instituição proponente.

Após aprovação no CEP, sob número de parecer 1.846.227/2016, o projeto

também foi submetido ao CEP da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-

RJ), enquanto instituição co-participante, sendo aprovado no dia 27 de Abril de 2017,

pelo parecer número 2.036.352.

A pesquisa oferecia riscos mínimos aos participantes e todos os cuidados para

diminuí- los foram tomados, a fim de que não houvesse dano emocional ou

constrangimento durante a realização da entrevista. A pesquisadora responsável se

comprometeu a promover um ambiente acolhedor e zelou pela integridade e pelo bem-

estar dos participantes, respeitando seus valores culturais, sociais, morais, religiosos e

éticos, bem como seus hábitos e costumes. Em nenhuma entrevista foi necessária

intervenção para minimizar riscos como previsto no TCLE: “Se necessário, a

pesquisadora suspenderá temporariamente ou definitivamente a entrevista de acordo com

a vontade do participante”.

Os benefícios da pesquisa serão oriundos da construção de uma versão histórica

de uma prática de enfermagem específica, que ao longo dos anos foi pouco registrada no

Brasil. A divulgação de seus resultados ajudará a subsidiar discussões atuais sobre a

aplicação da ECT, que carece de fundamentação acerca de sua trajetória, para uma

reflexão mais aprofundada sobre seus riscos e benefícios, e sobre como a enfermagem

contribui para que esta técnica seja realmente aplicada em circunstâncias terapêuticas, em

respeito aos direitos dos portadores de transtorno mental. Além disso, beneficiará o

levantamento de fontes históricas sobre a temática, permitindo ampliar o acervo histórico

sobre a ECT e sobre a história da psiquiatria/saúde mental como um todo, no

CDOC/EEAN.

2.3.Limitações do estudo

O presente estudo apresentou como limitação o fato da pesquisa permanecer em

análise no Comitê de Ética em Pesquisa da instituição coparticipante por 4 meses,

prejudicando o cronograma previsto para o seu desenvolvimento - que, por ser uma

dissertação de mestrado acadêmico, tem prazo para conclusão de 24 meses.

Outra limitação foi a dificuldade ao acesso do documento escrito no Acervo de

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História e Memória do IMNS. No período da coleta de dados, o acervo encontrava-se

com seus funcionários trabalhando em carga horária reduzida, devido à falta de pessoal

e, portanto, só estava aberto para pesquisadores às segundas e quintas-feiras, sendo

possível atender somente um pesquisador por dia. Além disso, não era permitido que o

mesmo pesquisador fosse duas vezes na mesma semana para realizar a coleta de dados,

ou seja, o pesquisador tinha que escolher entre a segunda ou a quinta-feira para realizar a

pesquisa.

Outra limitação do estudo se relaciona a ausência de registros sobre a aplicação

da ECT nos documentos pesquisados. Concatenado a isso, o setor no qual ficavam

arquivados os prontuários do recorte temporal relativo a pesquisa, o Arquivo Médico,

além de estar funcionando com redução de pessoal no período da coleta de dados, também

se encontrava em reforma e, portanto, a pesquisadora não foi liberada a analisar os

prontuários. Tal fato acarretou num prejuízo dos resultados tendo em vista que, em geral,

os cuidados de enfermagem e dados sobre os tratamentos realizados pelos portadores de

transtornos mentais são relatados em prontuário.

Salienta-se que as limitações descritas permitem não somente compreender o

caminho metodológico da pesquisa em todas as suas nuances, mas também registrar que

o tema não se esgota nesta dissertação, podendo ser objeto para outros pesquisadores.

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3. CAPÍTULO I

Eletroconvulsoterapia pela equipe de enfermagem do Instituto Municipal Nise da

Silveira

O IMNS guarda a memória do primeiro hospício do Brasil. Sua trajetória histórica

lhe deixou heranças de práticas asilares que se transformaram ao longo do tempo, no

entanto, não se pode pensar que os profissionais que vivenciaram esta transição deixaram

de lado todas as formas de atuação para que a instituição funcionasse. A ECT, para além

do tratamento, foi instrumento utilizado para fins de manutenção da ordem na instituição

e de controle do comportamento das pessoas internadas.

Neste capítulo são apresentados os resultados que mostram como os modelos

assistenciais foram se sobrepondo e sendo reorganizados, sempre com a preocupação de

que a loucura precisava ser contida. Os portadores de transtornos mentais eram de alguma

forma obrigados a se adequarem ao espaço que a equipe de saúde a eles destinava, com

horários e tratamentos estipulados por esta equipe. Assim, a narrativa da enfermagem nos

permite refletir sobre a trajetória do cuidado na instituição e como a ECT fazia parte do

cotidiano de trabalho.

3.1.Equipe de enfermagem do Instituto Municipal Nise da Silveira: rotina e

(des)preparo para o cuidado em saúde mental

O modelo assistencial asilar era constituído por um conjunto de elementos com a

finalidade de levar o portador de transtorno mental a modificar seu comportamento,

resultando numa atitude de obediência e adaptação à organização do hospício. Para isso,

o hospício era meticulosamente organizado em relação ao tempo e ao espaço por sujeitos

hierarquicamente ordenados, responsáveis pela vigilância dos portadores de transtornos

mentais internados (KIRSCHBAUM, 1997), conforme se observa nas falas a seguir:

Tinha o banho de sol pros pacientes, o medicamento tinha horário, a forma de

alimentação [...] A vigilância de 24h desse paciente. (TE01)

A gente era muito alertado pra vigiar [...] então eu tinha que estar de olho,

vigiando mesmo. (TE02)

A enfermagem era responsável pelo olhar da vigilância e da punição. Não era um

trabalho tão prazeroso assim não. (E02)

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A vida dos portadores de transtornos mentais no hospício era repartida de acordo

com um horário controlado, para higiene pessoal, refeições e medicamentos, sob uma

contínua vigília, em consonância com as formas de controle das atividades descritas por

Foucault (2014). Observa-se nas falas dos colaboradores acima apresentadas a utilização

do controle de tempo pelo qual os portadores de transtornos mentais tinham seu horário

todo repartido e controlado pela equipe de enfermagem: horário para alimentação, para

medicação e para o lazer.

A vigilância contínua era outra técnica disciplinar essencial para que a observação

fosse detalhada e diretamente relacionada com o tempo, de modo que fosse possível

sempre extrair cada vez mais tempo e ter corpos úteis e dóceis, o que facilita o controle

do espaço assistencial.

Os profissionais de enfermagem são, como os demais profissionais não médicos,

menos reconhecidos nos espaços medicalizados, tendo em vista que as instituições

psiquiátricas se caracterizam como espaços disciplinadores do portador de transtorno

mental, no qual o médico é o detentor do saber e, portanto, a soberania a ser obedecida.

Assim, a equipe de enfermagem trabalhava como executora desse poder disciplinar.

Os colaboradores do estudo mencionaram sua formação profissional

considerando a mesma pouco direcionada para o aprendizado voltado para o trabalho na

psiquiatria:

Eu me formei em 1987 [...] tive disciplina de Saúde Mental na época [...] mas não

teve o estágio no hospital. (E01)

Eu tive disciplina de saúde mental... Era horrível... a minha professora era uma

pessoa muito legal, mas passou 6 meses falando de transtorno da personalidade

bourderline e eu sai da minha faculdade sem entender o que era isso. Só vim a entender

quando passei a estudar por conta própria. (E03)

Então, na graduação tinha teórico e prático. Era o básico, aquela coisa mais

básica, né... Não tinha muita. Eu não acho que teve muito acréscimo em termos de

aprendizado. (E04)

Diante de tais comentários, cabe sublinhar aqui o fato do ensino de enfermagem

psiquiátrica também se relacionar com a trajetória do IMNS, pois a primeira escola de

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enfermagem no Brasil era anexa a esta instituição, quando ainda era denominada HNA e

contava principalmente com a instrução de homens e mulheres de baixa renda, tendo em

vista que este grupo facilitava a subordinação aos médicos, evitando conflitos

anteriormente enfrentados com as irmãs de caridade (OLIVEIRA E ALESSI, 2003;

PERES E BARREIRA, 2009).

O modelo da citada escola também era francês e seguia a Escola de Salpetrière.

Na EPEE, a formação de enfermeiros leigos para a psiquiatria foi dando lugar a formação

de profissionais para atuação nos diferentes hospitais, não dando continuidade à formação

específica em psiquiatria (OLIVEIRA E ALESSI, 2003), o que não permitiu um avanço

formal dos saberes próprios da enfermagem na área.

Porém, no início da década de 1920, pelo Decreto nº 15.799/22 foi criada a Escola

de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, que posteriormente passaria

a se chamar Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN). Por seguir o modelo

nightingaleano, a escola sempre teve enfermeiras no cargo de direção da escola, além de

ser necessário o provimento de campos de estágio para as alunas. Para tal, a escola era

anexa ao Hospital Geral de Assistência do Departamento Nacional de Saúde Pública, e

contava com outros hospitais (KLETEMBERG et al, 2009).

No que tange ao campo psiquiátrico, nenhum dos hospitais de estágio tinham um

serviço de psiquiatria e, portanto, a escola se manteve fora do campo prático psiquiátrico

até meados do século XX e no campo teórico, a disciplina “Enfermagem Psiquiátrica” só

passou a ser ministrada em 1933, uma década após a inauguração da escola. Portanto, a

profissionalização de enfermeiros para cuidar em psiquiatria não estava inicialmente

relacionada a institucionalização da enfermagem como profissão, mas sim ao treinamento

mínimo de pessoal para manutenção do hospício enquanto lugar de tratamento do

portador de transtornos mentais (OLIVEIRA E ALESSI, 2003; SILVA et al, 2017;

CARVALHO et al, 2015).

Correlacionado a isso, é importante refletir sobre a formação de profissionais de

enfermagem em psiquiatria, que teve início no final do século XIX, por meio da criação

de escolas de enfermagem no Brasil, sob controle médico. A depender do modelo de

ensino adotado, estes profissionais ficavam responsáveis por dirigir as escolas, ministrar

disciplinas relacionadas com a psiquiatria e/ou ensinar técnicas no interior do próprio

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hospício. Tal fato pode ser justificado pela lacuna de enfermeiros qualificados na época,

bem como pelo intuito de formar profissionais desta categoria submissos ao saber médico,

para que a hierarquização do poder fosse evidente dentro das instituições, servindo de

exemplo para os portadores de transtornos mentais ali internados (KIRSCHBAUM, 1997;

SILVA et al 2017).

Diante disso, o saber da enfermagem psiquiátrica foi construído a reboque da

prática médica, o que é comum na história do desenvolvimento das diferentes

especialidades da profissão. Em 15 de Junho de 1931 é sancionado o Decreto nº 20.109,

que torna a atual EEAN em escola oficial padrão e, portanto, as demais escolas de

enfermagem do Brasil, deveriam equiparar seus currículos a mesma, demarcando o

afastamento da enfermagem brasileira do interior do hospício. Tal fato acarretou num

prejuízo da prática de enfermagem, a partir da não construção de um saber especializado

em enfermagem psiquiátrica. O Decreto supracitado se absteve em relação ao ensino dos

profissionais de nível médio, caracterizando uma desvalorização ainda maior destes

profissionais.

Somente em 6 de Agosto de 1949 foi sancionada a Lei nº 775 que dispôs sobre o

ensino de enfermagem no país e deu outras providências, tornando obrigatório o estágio

em todos os campos de ensino, inclusive em psiquiatria, o que poderia favorecer a

formação de uma enfermagem psiquiátrica cientificamente desenvolvida. Contudo, a

ausência do saber especializado de enfermagem psiquiátrica que servisse de exemplo as

alunas dificultou o processo de transformação da prática na área

Até a década de 1960, a enfermeira diplomada se manteve afastada do hospício

por conta do estigma da loucura, que envolvia o medo do comportamento dos portadores

de transtornos mentais, tidos como potencialmente agressivas e imorais. Portanto, não era

um local propício para o ensino das enfermeiras no padrão nacional que vigorou no

período de 1931 até 1949 (CARVALHO et al, 2015). Uma das dificuldades no ensino de

enfermagem psiquiátrica era relacionada ao fato de que, dentro do hospício, se tinha

pouca ou nenhuma enfermeira diplomada realizando o cuidado ao portador de transtorno

mental, sendo este realizado por atendentes ou enfermeiros práticos (SILVA et al, 2017).

É possível perceber que no IMNS, a constituição da equipe de enfermagem era de

pessoas que não tinham preparo para atuar na área, que ascendiam internamente na

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instituição, sem formação profissional, fato comum em hospícios:

Quando eu entrei aqui eu comecei como Auxiliar Operacional de Serviços

Diversos (AOSD)[...] Eu era o que se chamava de atendente, que na época tinha essa

função de atendente de enfermagem, [...] o pessoal antigo que estava para se aposentar,

mandava a gente separar o Haldol, Fenergan, Prometazina [medicamentos], sabe? Por

cor. (TE03)

Tinha as chamadas guardas, eram as AOSD [...]. Naquela época, as guardas

eram qualquer pessoa que soubesse pelo menos escrever o nome e conhecer as

medicações. Com isso, elas administravam, faziam os cuidados que tinha que fazer, como

se fosse um auxiliar ou técnico de enfermagem. Mas não tinha capacitação para isso.

(TE01)

Tinha uns que não eram técnicos nem auxiliares, tinha outro nome... AOSD! Não

tinha o curso técnico de enfermagem. Então, como eles vão fazer cuidados de

enfermagem, se não tem o curso técnico? (TE04)

Eram vários profissionais que trabalhavam na equipe de enfermagem, mas não

tinha formação nem em curso técnico. Eram agentes de vigilância, agentes

administrativos, agentes de portaria, tinha até agente penitenciário até, pra você ter uma

noção... (E02)

A equipe de enfermagem muitas vezes nem era qualificada. Quando eu cheguei

aqui tinham pouquíssimos auxiliares, uma média de 12, no máximo 20. O resto era tudo

de outras categorias: agente de portaria, agente de vigilância, AOSD, pessoas que não

estudaram para estar exercendo. (E04)

A equipe de enfermagem, no período do estudo, era composta por enfermeiros de

nível superior, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e por atendentes de

enfermagem. Esta última categoria era formada por pessoas que ingressaram na

instituição como porteiros, vigilantes e também Auxiliar Operacional de Serviços

Diversos (AOSD), portanto, não tinham conhecimento técnico-científico da profissão,

sendo treinados pelos demais membros da equipe de enfermagem.

Esta configuração não era só no cenário desta pesquisa, outros estudos já

apresentaram que na psiquiatria a equipe de enfermagem não era constituída por pessoas

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preparadas e sim por quem aceitasse trabalhar com os “loucos” (KIRSCHBAUM, 1997;

SILVA et al 2017). Dessa forma, o cuidado se mantinha na lógica manicomial, em que a

disciplina era o que importava, pois na visão desses trabalhadores, o portador de

transtorno mental deveria ter seu comportamento agitado contido e cumprir as regras

institucionais.

A organização hierarquizada entre os membros da equipe de enfermagem do

IMNS era marcada principalmente pelo saber individual de cada profissional,

fundamental para a manutenção da ordem dentro da enfermaria. Depreende-se que havia

a liderança daqueles que possuíam maior conhecimento e preparo o que poderia ser

adquirido pelo tempo de atuação na psiquiatria. Ou seja, o poder estava com quem tinha

mais saber. Nesse grupo, saber ler e escrever já se configurava como importante

instrumento de poder.

No que tange os profissionais de nível médio, em 14 de novembro de 1949 foi

sancionado o Decreto nº 27.426, aprovando o Regulamento básico para os cursos de

enfermagem e de auxiliar de enfermagem, dispondo sobre a composição do ensino. Em

relação aos cursos de auxiliares, é interessante observar que foram estipuladas disciplinas

de noções de ética, corpo humano e seu funcionamento, higiene em relação a saúde,

economia hospitalar, alimento e seu preparo e enfermagem elementar. Além disso, dispõe

sobre os estágios, sob forma de rodízio, nas áreas de clínica médica, clínica cirúrgica, sala

de operação e centro de material cirúrgico, berçário e cozinha geral. É interessante

observar que a psiquiatria não foi relacionada nem enquanto disciplina teórica obrigatória,

tampouco no que se refere a ensino prático.

Observa-se que os dados do estudo vão ao encontro do relatado pela literatura:

Eu me formei no técnico há mais ou menos 28 anos [...] Eu não tive nada de

psiquiatria no curso técnico. (TE03)

Eu me formei em... Acho que foi em 1982 [...] Eu não tive a disciplina específica

[...] Não existia a disciplina, não era obrigatório fazer esse estágio na saúde mental.

(TE02)

Eu me formei em 1984 [...] Nunca tinha entrado num hospital psiquiátrico antes...

Eu nunca fiz estágio em saúde mental. (TE04)

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No curso técnico era só teórica. Na época na verdade ainda nem se falava em

psiquiatria, não se falava em saúde mental. Nós fizemos só algumas visitas na psiquiatria.

Fiz estágio na neurocirurgia e na neurologia, que tratava também os pacientes

psiquiátricos. Mas só isso. Não havia um tratamento específico, não era um hospital

específico para psiquiatria e nem a saúde mental. (E03)

Vale ressaltar que na década de 1970 o curso de auxiliar de enfermagem e técnico

de enfermagem passou a integrar o nível médio de ensino no país, pela Lei nº 5.692/71.

Devido a uma demanda desses profissionais que havia na década de 1970, relacionada à

expansão da iniciativa privada na década anterior, o curso de auxiliar de enfermagem

continuou classificado enquanto nível de 1º grau, ou seja, após aprender ler, escrever e

contar, já era possível iniciar o curso. É importante ressaltar também que tornava possível

realizar um exame de suplência profissionalizante que, obtendo aprovação no mesmo, se

recebia o título de Auxiliar de Enfermagem (OGUISSO, 1977).

Tenho o segundo grau completo, eu sou auxiliar de enfermagem. Eu passei em

todas as clínicas, mas não passei pela psiquiatria [...] eu não lembro direito o porque.

Eu só lembro que caí aqui [no IMNS] de paraquedas. (AE01)

Esse nível de titulação conferia ao profissional o direito de exercer a enfermagem

somente a nível regional e não dava o direito de prosseguir ao nível superior de ensino da

profissão, tendo em vista que não se caracterizava enquanto curso de 2º grau, pré-requisito

para se ingressar em uma graduação (OGUISSO, 1977). Portanto, a formação de pessoal

para o trabalho de enfermagem no Brasil tinha como principal objetivo a constituição de

forma rápida de mão de obra para atender a demanda dos serviços de saúde, não tendo

como principal preocupação o tipo de formação e de qualificação que esses profissionais

estariam recebendo.

Apesar da criação da EPEE do HNA representar um marco para enfermagem

brasileira, fica evidente o modelo biológico da formação desses profissionais, bem como

da manutenção de um ensino para atender o que interessava a medicina psiquiátrica, tendo

em vista que as disciplinas ministradas eram, em sua maioria, por médicos e a própria

escola dirigida por médicos (KLETEMBERG et al, 2009). Além disso, a enfermagem

nascida dentro do hospício não necessariamente significava a prestação de uma

assistência qualificada aos portadores de transtornos mentais ali internados, mas sim de

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profissionais que atuassem de forma intermediária entre médicos e guardas.

O descaso com o cuidado psiquiátrico é visto na história como repercussão da

falta de sofrimento físico dos portadores de transtorno mental. O sofrimento psíquico

altera o comportamento, mas não abre ferida, não faz crescer tumores, não tem sinais e

sintomas mensuráveis pelos sinais vitais. Assim, bastava saber ver a cor do medicamento

para atuar como equipe de enfermagem. A sensibilidade para lidar com o portador de

transtorno mental existia e variava entre os membros da equipe, mas não foi relatada como

necessária ao cuidado.

Atenta-se então para o fato de que os profissionais de enfermagem colaboradores

desta pesquisa, em sua maioria, não tiveram disciplina específica de enfermagem

psiquiátrica e, portanto, também não tinham conhecimento teórico-prático em ECT. Isso

fica evidente na fala dos colaboradores abaixo:

Eu creio até que nenhum professor sabia explicar o que era ECT. Nem no curso

técnico nem na graduação. Em nenhum momento eu ouvi falar em ECT. Sabia que existia,

mas em nenhum momento foi citado. Não havia capacitação para isso; Era muito

empírica; Alguém falava “é assim que faz” e dava o choque. (E03)

Era assim, alguém falava “vai lá colocar um pano na boca dele, molha com

álcool a fronte do paciente, volta para o leito, fica observando para que ele não

broncoaspire. Aí quando voltar para o leito, tomar cuidado para deixar a cabeceira

elevada”. (TE02)

Eu particularmente não sabia, no início, o porquê daquilo [da realização de

cuidados relacionados à ECT]. A gente só tinha que fazer, a gente estava ali trabalhando

e tinha que fazer aquilo. (TE03)

Quem trabalhava na enfermagem e não tinha nenhum conhecimento de

enfermagem, o conhecimento, a prática da psiquiatria, eram adquiridos no trabalho. A

maioria não teve formação, não teve treinamento. No curso técnico de enfermagem eu

tive acesso durante o estágio a prática de ECT. Aí eu cheguei no curso, à noite, e abordei

o professor. Falei “professor a gente viu hoje ECT e gostaríamos de ter um pouco mais

de explicações” e aí ele deu uma aula para gente, uma aula fantástica. (E02)

Os profissionais antigos foram mostrando para gente como que eram os

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procedimentos. (AE01)

O despreparo da equipe de enfermagem sobre qualquer tipo de cuidado

relacionado diretamente com a ECT levava à transmissão do saber de como realizar o

cuidado de enfermagem dos profissionais mais antigos e experientes para os mais novos

e inexperientes. Diversos são os fatores relacionados a esse despreparo, como, por

exemplo, o fato de que os enfermeiros nos hospitais eram, em geral, executores de tarefas

administrativas, enquanto que o cuidado de enfermagem era realizado pelos atendentes

de enfermagem, que apresentavam uma lacuna de conhecimento técnico-científico

(MACHADO et al, 2006; FILIZOLA, 1997). Isso era à época desse estudo uma

característica peculiar do cuidado psiquiátrico, até certo ponto desvalorizado em relação

a outras especialidades, uma vez que não se pauta em procedimento cirúrgico, tampouco

em terapêuticas de alta complexidade tecnológica voltados para a cura.

De acordo com a literatura, enfermeiros, em menor número na equipe e, na

psiquiatria, muitas vezes em número insuficiente, dedicam maior parte do seu tempo

realizando tarefas de caráter burocrático, tais como: elaboração de escalas de

funcionários, solicitação de manutenção e/ou conserto de materiais, organização do posto

de enfermagem, controle de material e preenchimento de papéis de autorizações, como

controle de internação e alta de paciente, por exemplo, e delegam aos técnicos e auxiliares

cuidados diretos ao paciente, como os de higiene, alimentação e medicação (OLIVEIRA

E ALESSI, 2003; BRUSAMARELLO et al, 2009).

3.2.Equipe de enfermagem do Instituto Municipal Nise da Silveira: construindo-

se saberes

A responsabilidade pelos aparelhos de ECT, sua manutenção e guarda era uma

das atividades da enfermagem no IMNS. Nos documentos escritos analisados, observa-

se que grande parte dos registros de enfermagem nos livros de ordem e ocorrência e nos

livros de supervisão de enfermagem relaciona-se ao controle de escala; controle interno

das enfermarias, no que se refere à internação e alta de pacientes; controle de material, no

que se refere à reposição, falta e manutenção dos mesmos. Como exemplo, extraiu-se o

seguinte relato do Livro de Ocorrências da Unidade 3 (1979):

Entregue 1 aparelho de ECT novo e portátil e 1 aparelho de ECT velho e usado.

(IMNS, 1979)

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Entregue na Unidade 3 um biombo para pôr na enfermaria quando for fazer ECT.

(IMNS, 1979)

A documentação examinada para esta pesquisa não tem registro de detalhes sobre

a ECT no IMNS. Percebe-se que no final da década de 1970 havia a demanda de aparelhos

nas enfermarias e que, pela referência a aparelho “novo e portátil”, havia compra de

aparelhos para uso na instituição. A menção no documento a um biombo apresenta a

intenção de não expor o procedimento onde era realizado. No entanto, não foi encontrada

fonte que nos permita esclarecer se era realizado com biombo na enfermaria ou em outro

local.

Assim, importantes aspectos sobre a prática da ECT permanecem não ditos, não

registrados pelos documentos consultados na instituição pesquisada. A partir de indícios

apontados pelas fontes documentais pode-se contextualizar que na década de 1980 o

modelo psiquiátrico não acompanhava a base conceitual já existente na enfermagem.

Na prática, via-se uma assistência de enfermagem muito mais próxima da

perspectiva do descrito como Tratamento Moral, datado do século XVIII por Philippe

Pinel, pioneiro no tratamento de doentes mentais e um dos precursores da psiquiatria

moderna. Contudo, no âmbito acadêmico, no início da segunda metade do século XX,

nos Estados Unidos da América (EUA), a Teoria das Relações Interpessoais desenvolvida

pela enfermeira Hildegard Peplau, já ganha forças. A teoria desenvolvida por Peplau

indicava que a relação paciente-enfermeiro deveria ser de interação mútua entre ambos

Nesse entender, Peplau buscou valorizar a singularidade, a reciprocidade e a

ajuda mútua entre o enfermeiro e o paciente. Ela preconizava a utilização de

um plano para a assistência, que deveria reconhecer, definir e compreender o

que acontece quando estabelecem relações com o paciente (VILLELA E

SCATENA, 2004 p. 739).

Influi-se que as mudanças no âmbito político que vinham se desenvolvendo no

Brasil, principalmente a partir da década de 1960, com o fortalecimento de movimentos

que criticavam o modelo manicomial que estava estabelecido, iniciada na década de 1970

ganhando robustez no final da mesma, não influenciaram os profissionais de enfermagem

atuantes no IMNS a buscarem especialização profissional.

Além de Peplau, outras enfermeiras desenvolveram teorias de enfermagem

semelhantes. Na década de 1970, Joice Travelbee evidenciou a Teoria Pessoa-a-Pessoa.

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Travelbee caracterizou quatro aspectos essenciais para o desenvolvimento de sua teoria,

sendo estes o homem, a enfermeira, a enfermagem e saúde e definiu a relação interpessoal

da enfermeira com o homem como uma relação de ajuda essencial para o alcance da saúde

(WAIDMAN, STEFANELLI E JOUCLAS, 1998).

Assim, as mudanças no que se refere à prática assistencial em enfermagem ao

portador de transtorno mental ficaram concentradas numa elite acadêmica, que realizou

pós-graduação nos EUA e Canadá, só chegando às instituições com os avanços do

movimento de Reforma Psiquiátrica. Um estudo acerca dos 33º primeiros Congressos

Brasileiros de Enfermagem (CBEn), corrobora com o exposto demonstrando que a

enfermagem participou das discussões referentes ao tema, uma vez que apresentava

nesses eventos trabalhos sobre a transformação do modelo assistencial em psiquiatria. Em

contrapartida, demonstrou também a bipartição entre o discutido na academia e o

encontrado no cuidado direto ao portador de transtorno mental (SANTOS et al, 2017).

Tal fato se relaciona com a dicotomia existente entre a prática de enfermagem

psiquiátrica e os novos ideais que surgiam no período. Apesar de atualmente já termos

uma política de saúde mental voltada para a valorização do sujeito, das relações humanas

e na reabilitação psicossocial, com foco na desinstitucionalização e desospitalização, no

início da década de 1980, esse discurso estava começando a ser debatido e, portanto,

estava dando seus passos iniciais na assistência direta ao portador de transtorno mental.

Começou a campanha de saúde mental, entrou mais enfermeira, mais técnica, as

coisas foram expandindo (...) mas aí demorou um pouco, a evolução. A quebra desse

muro demorou, foi muito difícil. Teve muita resistência dos próprios funcionários antigos

aqui dentro. Começaram a chegar pessoas novas, com cabeças novas, outros

pensamentos mais evoluídos, com outras formações. (TE01)

A enfermagem veio fazer parte da equipe de saúde mental quando veio um

movimento mais forte da reforma psiquiátrica, quando as equipes se estruturaram de

uma maneira muito diferente. (E02)

A reforma psiquiátrica em si já havia sido passada em lei, mas ainda estava sendo

aplicada aos poucos. (E03)

É importante ressaltar que, em meados da década de 1980, a mudança na lógica

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da assistência psiquiátrica começou a dar os primeiros passos no IMNS, se adequando às

recentes normas para o exercício profissional da enfermagem e indo ao encontro do

movimento de Reforma Psiquiátrica que se iniciava. O processo de mudança

paradigmática, ou seja, as transformações das práticas levaram um tempo para acontecer,

sendo aos poucos introduzidas, especialmente pelos funcionários novos que chegavam

oriundos de formação recente e com outras ideias sobre o tratamento em psiquiatria.

Na época a reforma já estava começando a incentivar a conversação com o

paciente. Foi à época também que o uniforme de enfermeira, aquele uniforme branco, foi

abolido. Para não ter diferenciação de paciente e profissional, chegamos à conclusão

que não tinha nada a ver e a gente se misturava com eles. Tanto que até hoje ninguém

usa o uniforme tradicional. (AE01)

Destarte, compreende-se que o movimento de Reforma Psiquiátrica iniciado no

final da década de 1970, consolidado na década de 1980, alcançou um fortalecimento

ainda maior nas décadas de 1990 e 2000, tendo em vista que os processos de

desinstitucionalização e desospitalização ganharam força, principalmente no âmbito

legislativo, a partir da criação de novos serviços de saúde mental extra-hospitalares,

integrados aos demais serviços de saúde do SUS (RODRIGUES et al 2016).

Entretanto, o modelo hospitalocêntrico de assistência psiquiátrica, com foco na

cura da doença a partir de práticas coercitivas e agressivas, fortemente questionado pelo

movimento de Reforma Psiquiátrica, se mostra enraizado pelos membros da equipe de

enfermagem, tendo em vista que este se manteve vigente desde os primórdios do século

XX, quando os médicos assumem a direção do hospício transformando-o em um espaço

disciplinar de desenvolvimento de um saber médico especializado.

Quando eu cheguei aqui em 1980 acho que a única que tinha um registro de

Conselho Regional de Enfermagem (COREN) era eu (...) quando eu cheguei na unidade

começamos a implantar bandeja de medicação, os nomes nas medicações, os vidrinhos

que identificavam com o nome o paciente, o horário de medicação, começamos a colocar

rotina na enfermaria. Eu entrei em uma semana e 20 dias depois entrou uma enfermeira.

(TE01)

O Conselho Regional de Enfermagem (COREN), subordinados ao Conselho

Federal de Enfermagem (COFEN), consiste em seu conjunto uma autarquia, sendo ambos

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os órgãos disciplinadores do exercício das profissões do serviço de enfermagem, criados

a partir da Lei nº 5.905 de 1973. De acordo com o Art. nº 5 compete ao COREN, entre

outras providências, “disciplinar e fiscalizar o exercício profissional observadas as

diretrizes gerais do Conselho Federal; conhecer e decidir os assuntos atinentes à ética

profissional, impondo as penalidades cabíveis”.

Entretanto, apesar da Lei ter sido sancionada em 12 de julho de 1973, o COFEN

só foi criado de fato em abril de 1975, quando foram nomeados os membros do primeiro

Conselho. A primeira diretoria tinha como principais objetivos:

Elaboração do orçamento, do regimento interno e do Código de Deontologia;

criação do Brasão; elaboração do anteprojeto de lei a ser encaminhado ao

Ministério do Trabalho - MTB para substituir a Lei no. 2.604/55, que regulava

o exercício da Enfermagem; instalação dos Conselhos Regionais de

Enfermagem (GARCIA, MOREIRA; 2009 p. 105).

Com relação a criação do COREN, ainda no ano de 1975 foram instaladas as

Juntas Especiais com o objetivo de realizar a primeira eleição para a instalação dos

Conselhos Regionais e, por conseguinte, a criação dos mesmos que se deu em outubro do

mesmo ano, com a criação de 22 Conselhos Regionais. É importante salientar que na

ocasião foram criadas chapas separadas para enfermeiros e demais membros da categoria,

dentre os quais se encontrava técnicos de enfermagem e os então denominados

enfermeiros práticos (GARCIA, MOREIRA; 2009).

Eu entrei em 1984 e aí a coisa melhorou um pouquinho. Os enfermeiros eram

muito poucos. E técnicos de enfermagem nem pensar, eram só auxiliares [...] muitos se

aposentaram logo assim que eu cheguei e algumas se aposentaram posteriormente. De

lá para cá não foi contratado mais ninguém que não tivesse formação, que não tivesse

registro no Conselho (E02).

Outra pauta considerada primordial a ser desenvolvida pela primeira gestão do

COFEN se relacionava com a substituição da então vigente Lei nº 2.604/55 que

regulamentava o exercício da enfermagem profissional, tendo em vista que nesta

constava, em seu Art. nº 9 que:

Ao Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina, órgão integrante do

Departamento Nacional de Saúde, cabe fiscalizar, em todo o território

nacional, diretamente ou por intermédio das repartições sanitárias

correspondentes nos Estados e Territórios, tudo que se relacione com o

exercício da enfermagem (BRASIL, 1955 p. 17738).

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Fica evidente a submissão da enfermagem perante a classe médica, tendo em vista

que as demais profissões, como farmácia e odontologia, por exemplo, já tinham a sua

seção fiscalizadora dentro do Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina. A luta para

a criação e instalação do COFEN e dos CORENs deve ser considerada uma conquista em

prol da valorização da enfermagem enquanto profissão autônoma de caráter científico,

para além do campo prático-assistencial, que historicamente já vinha sendo desenvolvido

pelos enfermeiros práticos.

Demonstra-se que o processo de transformação de um modelo assistencial é feito

de forma paulatina, correlacionando-se com diversos fatores, como ensino, pesquisa e

assistência. O movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira trouxe mudanças diretas

para a ECT uma vez que, apesar de ser uma técnica utilizada desde o século XX, só foi

regulamentada no século XXI, a partir do questionamento das práticas realizadas de forma

indiscriminada dentro do hospício (ÁVILLA, 2010).

O Conselho Federal de Medicina (CFM) dispõe sobre a ECT e a reconhece

enquanto método terapêutico a partir da Resolução 1.640 de 10 de julho de 2002. Vale

ressaltar que o COFEN não se manifestou sobre o papel da enfermagem envolvido na

técnica, desvalorizando esse cuidado específico, uma vez que deixa apenas a cargo da

classe médica as recomendações acerca do cuidado em ECT.

A indicação, realização e acompanhamento da ECT são de responsabilidade

médica e se torna obrigatória sua realização em ambiente hospitalar, instalações físicas,

recursos humanos, aparelhagem e equipamentos tecnicamente adequados. O uso de

anestésico para aplicação da ECT se torna obrigatório, principalmente relacionado ao

bem-estar do portador de transtorno mental, tendo como objetivo reduzir a ansiedade

causada pelos preparativos, entre outras disposições.

Assim, a equipe médica detinha poder-saber sobre a equipe de enfermagem,

enquanto que o poder de controlar e empregar as disciplinas nos portadores de transtornos

mentais cabia aos profissionais de enfermagem, tornado visível a pirâmide disciplinar que

circulava no espaço asilar no período de estudo. Esta correlação de poderes e saberes

tornava possível a aplicação da ECT nos portadores de transtornos mentais, seja com

intuito terapêutico, para alívio dos sintomas, ou enquanto poder disciplinar, conforme

abordaremos no subcapítulo a seguir.

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3.3.Eletroconvulsoterapia: uma face do exercício do poder disciplinar da equipe

médica e de enfermagem

A aplicação da ECT dentro da instituição seguia uma rotina própria, imposta

principalmente pela equipe médica e seguida pela equipe de enfermagem sem

questionamentos, como mostram os dados obtidos:

Era sempre de manhã que a médica fazia a ECT (...) ela chegava mais cedo para

fazer isso. (TE04)

A ECT [indicação] partia só dela [da médica], da autoridade dela. (TE01)

O médico passava o eletrochoque a gente preparava o paciente [...] a gente

levantava os pacientes às 5h para poder fazer a higiene deles. (AE01)

Na época [década de 1980], os médicos mandavam e desmandavam. Eram os

todos poderosos [...] A gente só tinha que fazer, a gente estava ali trabalhando e tinha

que fazer aquilo. (TE03)

Era muito centrado no médico, no modelo hegemônico que sempre foi e eles que

tomavam as decisões. A gente era só participada do que ia acontecer. (E02)

De acordo com a literatura, as principais indicações de ECT são relacionadas à

diagnósticos de depressão, principalmente nos quadros graves, com resistência aos

antidepressivos e/ou com tendências ao suicídio. Outros casos em que a ECT pode ser

uma opção de tratamento são quadros delirantes e esquizofrenias catatônicas, em especial

aos quadros resistentes à medicações (STEFANELLI, ARANTES, 1983; TASSIS, 2013).

A medicina indica a ECT como tratamento para quadros específicos de depressão

(CLEARY, HORSFALL, 2014; GASS, 2008; ROTHER, 2003), transtorno mental que

pode ser classificado, segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais

(DSM), como um ou mais Episódios Depressivos Maiores, sendo esses:

Episódios de humor deprimido ou perda de interesse e prazer por quase todas

as atividades; alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora;

diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldade para

pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre

morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio (QUINTELA, 2010

p. 85).

O Código Internacional de Doenças (CID – 10) caracteriza os Episódios

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Depressivos como “estados de rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição

da atividade. A perda de interesse, a diminuição da capacidade de concentração, fadiga

mesmo após um esforço mínimo, problemas do sono e diminuição do apetite”. Os

episódios podem ser classificados como leves, moderados ou graves (QUINTELA, 2010

p. 86).

Já na esquizofrenia, a indicação da ECT se dá principalmente para diminuir os

sintomas psicóticos. A esquizofrenia é definida pela presença de sintomas psicóticos

característicos, funcionamento inferior aos níveis alcançados anteriormente, perturbações

do afeto e do pensamento. É importante ressaltar que os sintomas psicóticos são “a

ocorrência dos sintomas de delírio, alucinação e comportamento amplamente

desorganizado ou catatônico” (TENÓRIO, 2016 p. 955).

Um estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, única instituição

do município que realiza a ECT atualmente, corrobora com o exposto ao demonstrar que

a esquizofrenia se mostra como principal diagnóstico dos portadores de transtornos

mentais submetidos a esta técnica e que "a heteroagressividade, a tentativa de suicídio e

a auto- agressividade foram encontradas como indicações mais frequentes” para a sua

realização (PASTORE et al 2008 p. 180).

A literatura da época e a mais recente se alinham sobre esse tema, bem como as

informações dos colaboradores da pesquisa, que indicam uma avaliação positiva da ECT

nos casos especificados, nos dando indícios sobre a indicação da ECT no IMNS, sem nos

revelar quais sinais e sintomas eram mais ou menos indicativos para a sua aplicação:

Quando era feito para catatonia, eu via que ele saia daquele quadro catatônico...

Então eu via sim a melhora com a ECT. (TE02)

Eu me lembro de um paciente que ele não queria comer, não queria levantar da

cama, ali na cama ela fazia xixi (...). Com três sessões o paciente estava indo embora de

alta. Saía daquele quadro crítico, daquela depressão. (TE03)

Eu já vi uma menina que era catatônica mesmo, ela não fazia nada, ficava parada

e recebeu o ECT e ficou boa. (TE04)

Geralmente o paciente agitado, o paciente rebelde, era esse paciente que era

conduzido pelo pessoal da enfermaria para tomar o ECT [...] eu tive um paciente que

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estava tão deprimido que não queria comer, ele fechava as bocas e olhos e dizia que não

ia comer porque ele ia morrer assim, já que não queríamos deixar ele se matar. E em um

determinado momento o médico disse que seria interessante ele fazer ECT e eu falei que

eu também concordava. E fez. O médico prescreveu seis sessões, mas na terceira ele já

estava ótimo. (E03)

Tem algumas indicações que não podem fugir que são pacientes que estão num

quadro de catatonia, não se alimenta, não aceita e em casos de agressividade muito

exacerbada. (E04)

Em contrapartida, autores relatam que seu uso nos dias atuais é bem inferior do

que se espera diante dos resultados positivos que a técnica apresenta e relacionam esse

fato, principalmente, ao estigma que recaiu sobre a ECT, justamente pelo seu histórico de

abuso e mau uso. Atualmente ainda causa impacto quando é discutida como hipótese

terapêutica, inclusive com implicações emocionais, sociais e jurídicas para o usuário, a

família e a equipe de saúde. Diante disso, tem-se ainda o surgimento e expansão do uso

dos psicofármacos e a má imagem da mídia para com a técnica e com a psiquiatria em

geral (PERIZZOLLO et al, 2003; MONSER, LOBATO E BELMONTE-DE-ABREU,

2005; ROSA, 2008; GUIMARÃES et al, 2013).

Contudo, as reformulações por si mesmas não implicaram a eliminação radical

das inumeráveis formas de estigmatização do “doente mental”. Erradicar o estigma segue

sendo um objetivo difícil mesmo quando existam múltiplos documentos internacionais

que o promovam: a Recomendação sobre a Promoção e Proteção dos Direitos das Pessoas

com Deficiência Mental no Relatório Anual 2000, o Relatório sobre Saúde no Mundo

2001, o documento pela Saúde Mental no Mundo: Não à exclusão, sim aos cuidados, a

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, por nomear alguns

(MUREKIAN, 2012 p. 148).

Desde o início do movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira observou-se um

crescente debate, inclusive no meio científico, acerca da mudança no modelo assistencial

vigente, inclusive no que tange às práticas terapêuticas utilizadas, dentre as quais a ECT

se enquadra.

Foi todo um processo da gente mudar isso. Com o tempo foi feito uma retirada

desses aparelhos. Eu vi como evolução do nosso trabalho a retirada dos aparelhos que

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ficava na farmácia. E aí quando o médico queria fazer, tinha um impresso que ele

solicitava e ele tinha que fazer. Na medida em que isso foi adotado, caiu drasticamente

o uso. (E04)

Desenvolvida na década de 1930, a ECT é o único tratamento biológico que se

mantém em uso nos dias de hoje enquanto prática interventiva do campo médico,

apresentando diversos aprimoramentos da técnica anteriormente realizada, tais como o

uso de relaxantes musculares, anestesias e necessidade de uma sala específica e

apropriadamente equipada para sua realização. Assim sendo, a ECT representa uma

técnica segura com eficácia terapêutica, conforme estudos (MONSER, LOBATO E

BELMONTE-DE-ABREU, 2005; KELLY E KELLY, 2013; MUNDAY, DEANS E

LITTLE, 2003; HICK E BLACK, 1999).

A avaliação individual de cada caso específico é de suma importância para

eficácia terapêutica da ECT, bem como dos demais tratamentos, buscando sempre o que

for melhor para aquele portador de transtorno mental. Entretanto, vale ressaltar que por

muitas vezes a técnica foi realizada de forma equivocada, tendo em vista a realidade

manicomial, sendo seu uso indiscriminado terapeuticamente, sendo inclusive utilizada

como forma punitiva (GUIMARÃES et al 2013; BORENSTEIN et al 2007).

Então comparando o hoje para 35 anos atrás eu creio que os critérios não eram

os mesmos. Até por conta dos recursos terapêuticos e farmacológicos que tinham muito

poucos. Então eu acho que isso acaba fazendo com que os critérios sejam diferentes.

(E02)

É interessante ressaltar que a equipe de enfermagem era a principal responsável

pela manutenção dessa ordem dentro da instituição, uma vez que são profissionais que se

mantém continuamente na assistência desses pacientes ao longo das 24 horas do dia,

tangenciando todos os espaços disciplinares a serem organizados e, portanto, realizando

a vigilância contínua dos pacientes. As disciplinas, quando organizadas, “criam espaços

complexos: arquiteturais, funcionais e hierarquizados [...] garantem obediência dos

indivíduos, mas também uma melhor economia do tempo e dos gestos” (FOUCAULT,

2014 p. 145).

A partir do não cumprimento ou desobediência das disciplinas aplicadas pela

equipe de enfermagem para manutenção da ordem dentro da instituição, tais quais

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horários controlados para medicamentos, higiene e alimentação, se tornava possível a

aplicação de punições como o uso de medicamentos, contenções e até da própria ECT.

Os mais agressivos, ficavam o tempo todo contido: 6h, 8h, 12h, o tempo que fosse

necessário. Era contido o tempo todo. Você só o soltava para dar comida e era

[novamente] amarrado [...] O que eu via na prática era violência, eu achava aquilo uma

violência com o ser humano [...] aqui, a ECT, chegou a ser feito como castigo. (TE01)

Era usada [a ECT] muito como punição, para deixar os pacientes com medo

daquilo ali. Se eles não ficassem de um jeito, não ficassem tranquilos na enfermaria, se

ficasse quebrando tudo... Eles iam pra ECT. (TE03)

Tinha uma questão que quando o paciente era muito bravo, batia em todo mundo,

brigava, tinha como castigo a ECT para ele dar uma acalmada. (TE02)

A gente ouvia infelizmente essa coisa “olha vou falar com o doutor para te dar

um choque porque você está muito agitado”. (E02)

Não participei, mas observei umas quatro ou cinco vezes a ECT na forma de

castigo e não na forma de terapia [...] por exemplo, digamos que um paciente tivesse

agredido um membro da equipe, digamos que ele agredisse outro paciente, digamos que

ele tentasse fugir ou tentasse estuprar dentro do âmbito do instituto uma outra mulher...

Então era na forma de castigo, de botar esses pacientes pra tomar choque [ECT]. (E03)

Restrições físicas ou mecânicas são práticas comuns na psiquiatria apesar de

representarem abuso do direito das pessoas de decidirem sobre sua vida. Resultados

controversos a respeito de seu uso são encontrados na produção científica sobre o tema,

tendo em vista seu uso excessivo e de cunho punitivo, bem como os efeitos colaterais. As

contenções físicas se caracterizam pela restrição do portador de transtorno mental por

integrantes da equipe (imobilizando o paciente com o próprio corpo) e a contenção

mecânica se caracteriza pela restrição, a partir do uso de faixas de tecido ou outro tipo de

objeto, para prender o paciente ao leito pelos braços e/ou pernas e/ou tronco. Somado a

isso, tem-se as contenções químicas que se caracterizam pela utilização de psicofármacos,

sendo esta utilizada de forma mais criteriosa (MONTOVANI et al 2010).

Os dados da pesquisa mostram a contenção como uma arma usada contra o

paciente com transtorno mental:

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Porque as armas que a gente tinha ali [na enfermaria do IMNS] eram a contenção

e a medicação. (TE04)

Para Foucault (2014), punir trata de uma arte dos efeitos e para isso se faz

necessário que haja um órgão de vigilância que seja capaz de correr toda uma rede social

não sendo mais percebido como poder de uns sobre outros, mas sim a relação de um todo.

Assim, é possível formar uma cadeia para a organização do poder de punir, com penas

específicas e ajustadas formando em cada caso uma lição para todos, dentre as quais se

inclui a ECT.

Até então a gente só tomava conta dos pacientes. E, naturalmente, a discussão

sobre as terapêuticas a serem tomadas, a enfermagem tinha uma posição completamente

passiva. (E02)

Hoje é normal, mas há 30 anos não era comum questionar o médico. Era a palavra do

médico e acabou. (E03)

Para tanto, a equipe médica estabelecia a ordem em relação a aplicação da ECT

no que se refere ao horário de realização, escolha e preparo dos pacientes a serem

submetidos à mesma. Essa ordem era entendida e seguida por toda a equipe de

enfermagem. Diante disso, o poder disciplinar que a equipe médica exercia sob a equipe

de enfermagem dentro do IMNS tinha também como função servir de exemplo para os

portadores de transtornos mentais.

Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que

realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõe uma relação de docilidade-

utilidade, são o que podemos chamar as disciplinas (...) fabrica assim corpos submissos e

exercitados, corpos dóceis (FOUCAULT, 2014 p. 135).

Torna-se evidente que a equipe de enfermagem compunha uma rede de vigilância

em consenso com a equipe médica que era fundamental para a manutenção da ordem da

instituição, inclusive no que tange a aplicação da ECT. O hospício, por conseguinte, não

se tratava mais apenas de um meio de exclusão social, segundo seu objetivo quando criado

no Brasil em 1852, mas sim da formação de um saber, especialmente médico, sobre a

doença mental e formas de tratamento e cura das mesmas. Assim, a docilidade da equipe

de enfermagem era favorável ao exercício profissional do médico, que tinha menos

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contato com os pacientes:

Ele [o médico] não fazia o dele e aceitava aquela avaliação do auxiliar [de

enfermagem]. Ficava como um porta-voz sem estar avaliando de fato. Era um trabalho

com menos esforço. Ele [o médico] não precisava se expor ao paciente, ser agredido.

(E04)

Ao analisar os documentos escritos, observou-se nos livros de ocorrências da

seção Palmira Guimarães a necessidade de se assegurar o poder-saber da equipe médica

sobre a equipe de enfermagem e os portadores de transtornos mentais, ao mesmo tempo

em que indica que a enfermagem realizava a ECT por conta própria:

Os pacientes abaixo relacionados deverão fazer ECT [...] os pacientes abaixo não

fizeram ECT, pois faltou parecer médico. (IMNS, 1979)

Não será permitido o uso de qualquer terapêutica (ECT e/ou psicotrópicos) sem

prescrição médica. (IMNS, 1980)

O paciente M.N.F. deverá fazer ECT. Encaminhar ao PSP para o clínico dar o

parecer. (IMNS, 1979)

O dado acima relacionado também é observado na fala dos colaboradores a seguir,

tanto no uso de fato da ECT, quanto pela ameaça de sua aplicação:

Os eletrochoques não eram feitos por um médico, era feito pelos agentes de

vigilância, agentes de portaria, AOSD, pessoas desqualificadas para dar qualquer

assistência. Então nas enfermarias, tinha a caixa preta. Ficava na enfermaria e muitas

vezes [a aplicação de ECT] era usada como ameaça. Fez isso, vinha lá um e fazia o

eletrochoque. Alguns comunicavam o médico, quando ele aparecia no dia seguinte e

outros não. (E04)

Todas [as aplicações de ECT] foram na forma de castigo praticadas por

auxiliares de enfermagem, guardas, AOSD [...] Era assim: “Você não vai ficar quieto

não? Então você vai levar choque”. Levava-se o paciente para sala de choque e dava

choque no paciente. (E03)

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Percebe-se então que, apesar da equipe de enfermagem aplicar a ECT como forma

de poder disciplinar para com o portador de transtorno mental, essa se mostrava uma

prática velada nos registros institucionais, tendo em vista que o poder-saber de aplicação

da ECT era da autoridade do médico. No entanto, a pesquisa revela a conivência entre

toda a equipe de saúde com a aplicação da ECT pela equipe de enfermagem, que podia

ou não comunicar ao médico sua realização.

Nos relatos sobre a forma como a ECT era indicada no IMNS percebe-se a não

integração e falta de comunicação entre a equipe de saúde, de modo que a enfermagem

não questionava o saber médico, embora seus cuidados fossem necessários antes, durante

e após a aplicação da ECT, conforme se observa nas falas a seguir:

Aí ela [a médica] entrava na enfermaria, ia até o final do corredor e visualizava,

segundo algumas coisas dela lá, os pacientes que precisavam fazer ECT. (TE03)

A médica que fez tudo. Eu fiquei mais observando mesmo. Ela me chamou para

observar. (E01)

O médico decidia que ia fazer a ECT, fazia, relatava no prontuário que tinha feito

[...] Ele falava com a enfermeira do setor. Aí, a enfermeira do setor, que convocava o

membro da equipe que ia ficar lá auxiliando o médico. (TE02)

Essa coisa era muito da questão médica mesmo. (E02)

Os pacientes quando chegavam à enfermaria, vinham direto do pronto-socorro e

já vinham com a indicação do médico. (AE01)

Um estudo sobre o tratamento em ambiente manicomial trouxe a seguinte

afirmativa sobre a ECT:

Esse tratamento foi visto como um procedimento importante para a época

[1970], pois era um dos poucos recursos disponíveis que contribuíam para

diminuir a agitação e amenizar sintomas psicóticos. Contudo, a ECT

ocasionava medo e uma experiência traumatizante para o paciente e até mesmo

para quem a aplicava (GUIMARÃES et al, 2013, p.364).

Na década de 1980, Stefannelli e Arantes (1983) afirmaram que o tratamento com

ECT estava caindo em desuso, defendendo que, independente de apoiar-se ou não a sua

indicação, a pessoa a ele submetida deveria receber assistência adequada. Como

assistência de enfermagem ela destacou o preparo do paciente, o preparo do material e

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ambiente, assistência durante o tratamento e assistência após o tratamento. Durante a

pesquisa para a presente dissertação percebeu-se que havia uma postura dos integrantes

da equipe de enfermagem voltada para a obediência à equipe médica, o que reflete o

contexto psiquiátrico em sua conjuntura disciplinadora.

Não há, portanto, compreensão por parte dos técnicos de enfermagem sobre os

critérios aplicados pela equipe médica ao indicar a ECT. Mesmo tendo vivenciado o

período em que esta prática era utilizada no IMNS, não era perceptível a este grupo os

motivos da indicação. Quando havia enfermeira no setor, esta era comunicada e lhe cabia

escalar um profissional da enfermagem para acompanhar. Esta análise é uma evidência

de que havia cuidados próprios para a enfermagem realizar, mas estes não estão anotados

na documentação pesquisada nem por médicos, nem por enfermeiros ou outros membros

da equipe.

Os registros ou anotações de enfermagem são instrumentos de poder que utilizam

a comunicação escrita para a troca de informações entre a equipe. Alguns estudos

mostraram que, por razões variadas, a enfermagem deixa de lado este importante ato do

cuidado ou o faz sumariamente, omitindo informações importantes para o cuidado ao

paciente (OCHOA-VIGO, PACE, SANTOS, 2003; MATSUDA et al, 2007).

A gente [da equipe de enfermagem] quase não participava dessas reuniões. Na

época não havia uma participação tão efetiva dos demais membros da equipe na tomada

de decisões dessas questões terapêuticas. (E02)

Entrei em 1987 e tinha muito pouco disso, tinha pouca reunião de equipe. (E03)

Embora nesta pesquisa não tenha sido possível acessar os prontuários de pacientes

do IMNS, os documentos pesquisados continham a “Folha de Avaliação” do paciente, na

qual os médicos faziam anotações diversas, tais como dados socioeconômicos, dados

relacionados à diagnósticos, aspectos gerais sobre apresentação e estado psíquico, e sobre

os tratamentos indicados, dentre os quais se incluía a ECT. Observou-se que 28 pacientes,

das 160 Folhas de Avaliação analisadas, tiveram prescrição da ECT registrada neste

documento, o que representa um percentual de 17,5 do total. A ECT teve seu papel

disciplinador, mas também era feita como opção terapêutica para alívio dos sintomas dos

transtornos mentais como depressão, agitação psicomotora, delírio e alucinações. É

importante ressaltar que não foi observada nenhuma outra informação qualitativa, tais

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como: se foi realmente aplicada, quantas sessões, quem aplicou, se houve intercorrências

ou resultados

Entretanto, mesmo quando realizada para função terapêutica, a aplicação da ECT

apresentava características disciplinares intrínsecas. Segundo os dados coletados a partir

dos colaboradores, mesmo que houvesse a avaliação médica para indicação daquele

portador de transtorno mental para a técnica, esta era feita de maneira superficial, sem

uma discussão com os demais membros da equipe de saúde que também atuavam naquele

cenário e sem esclarecimento sobre os critérios que foram determinantes para a prescrição

da ECT:

Era uma coisa assim muito fria do médico. Ele entrava, fazia a ECT, virava as

costas e ia embora. (TE02)

Só ela [a médica] que podia resolver sobre a ECT. Ela avaliava sozinha o

paciente. (TE01)

Em consonância com a afirmativa anterior, muitas vezes os portadores de

transtornos mentais eram surpreendidos com a prescrição da ECT, sem que houve

esclarecimentos quanto a sua indicação, aplicação e dúvidas quanto a técnica. Um estudo

realizado em 1997 indicou que os participantes demonstraram pouco conhecimento

acerca da técnica e, apesar disso, emitiram opiniões favoráveis a mesma, fato que se

relaciona com o poder do médico de determinar o tratamento, por ser dono de um saber

inquestionável (CAMPOS E HIGA, 1997). Contudo, no período em estudo observa-se

que a própria equipe de enfermagem não era envolvida na prescrição da ECT, dificultando

seu processo de informação e compreensão para a construção de saberes.

A análise dos documentos escritos corrobora com o supramencionado, uma vez

que os relatos da equipe de enfermagem nos livros de ocorrências são, em geral,

afirmando que a ECT foi realizada naquele dia, sem menção anterior que demonstrasse

um planejamento para tal procedimento, como por exemplo:

Feito ECT por ordem médica. (IMNS, 1981)

Pacientes que fizeram ECT [...] (IMNS, 1980)

Feito ECT nos seguintes pacientes [...] por ordem médica. (IMNS, 1981)

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Feito ECT no paciente M.C.G. (IMNS, 1981)

Feito ECT. (IMNS, 1982)

O controle da comunicação no hospício também representa a imposição de um

poder para com os portadores de transtorno mental tanto pela equipe médica quanto para

a de enfermagem, pela restrição de informações. A prescrição da ECT não era decidida

em conjunto entre a equipe médica e a de enfermagem, muito menos com o portador de

transtorno mental, sendo estes apenas comunicados que fariam o procedimento, sem

autonomia quanto ao tratamento. Outro ponto se relaciona ao fato dos pacientes

psiquiátricos serem vistos como incapazes de decidir sobre o seu tratamento, assim, não

houve nenhum relato de qualquer comunicação ou pedido de concordância dos mesmos

quando foi informado como era a decisão para aplicar ECT no IMNS.

Atualmente, de acordo com a Resolução 1.640/02 do CFM, é obrigatório a

obtenção do consentimento informado por escrito do portador de transtorno mental antes

do início do tratamento com ECT. Sendo os profissionais de enfermagem os mais

indicados para a educação em saúde, fica evidente a importância destes profissionais para

que os esclarecimentos acerca da técnica sejam feitos, visando aliviar o estresse envolvido

na prescrição e aplicação da ECT (CAMPOS E HIGA, 1997).

O saber médico estabelecia a doença mental como uma quebra do equilíbrio, da

normalidade padrão, que precisava ser reestabelecida e, cabia aos membros da equipe de

enfermagem, atuarem de forma a tornar possível essa manutenção da ordem, tendo em

vista que “o normal e patológico são categorias que implicam em julgamento de valor de

um fato em relação a uma norma, subordinada a interesses de quem as institui para

usufruir de um poder de regulação” (SILVA et al, 2004 p. 677; ALMEIDA FILHO,

MORAES E PERES, 2009).

O corpo do sujeito, neste caso, dos portadores de transtornos mentais, é visto como

objeto e alvo de poder, manipulando-se para se tornar hábil, dócil e ativo a partir de

limitações, proibições e obrigações e, portanto, não sendo capaz de escolher ou sequer

autorizar o melhor tratamento para si. Sendo assim, a aplicação da ECT se mostra um

exercício para a aquisição do bom comportamento, se fazendo necessária enquanto uma

técnica de coerção que era aplicada de acordo com um saber específico, o do médico

psiquiatra.

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Assim, os dados parecem reforçar a utilização da ECT com base na subjetividade

da percepção do médico e sem indicação terapêutica resultante da anamnese do paciente,

contribuindo para o processo de estigmatização da técnica. Além disso, havia uma

vigilância imposta para e pela equipe de enfermagem dentro do hospício e a necessidade

de punição dos pacientes pelo seu comportamento fora das normas estabelecidas, o que

também era feito pela aplicação de ECT. O preconceito com a ECT se mantém até os dias

atuais, mas a sua trajetória histórica o coloca no centro de polêmicas no âmbito da

Reforma Psiquiátrica brasileira.

Os dados mostram também que a equipe era diversificada em relação à formação

em saúde, o que limitava seu poder dentro da instituição e a realização de mudanças

assistenciais. Essa divergência pode ser explicada se pensarmos na organização do

cenário de estudo. O IMNS era constituído por diversos setores de internação, cada um

com suas normas, pois, apesar de ter uma direção geral, cada setor também tinha seu

próprio diretor.

A discussão provocada neste capítulo, a partir da análise dos dados coletados,

reforça a dificuldade de reconhecer a enfermagem psiquiátrica como um saber autônomo

em relação ao saber médico, diretamente relacionada com o processo de formação dos

profissionais de enfermagem, tendo em vistas as características históricas que tangenciam

a formação profissional em enfermagem em consonância com o espaço disciplinar que o

interior do hospício apresenta por meio da aplicação de poderes disciplinares tanto pela

equipe médica quanto pela equipe de enfermagem, nos quais a ECT se enquadra.

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4. CAPÍTULO II

Cuidado de enfermagem ao paciente submetido à eletroconvulsoterapia

O hospital psiquiátrico como lugar primordial de tratamento para os portadores de

transtornos mentais seguia como modelo assistencial a psiquiatria tradicional,

principalmente nas décadas de 1930 até 1980, quando começamos a ver avanços

legislativos no âmbito da Reforma Psiquiátrica brasileira. A psiquiatria tradicional não

tinha como prioridade a reabilitação do portador de transtorno mental, mas sim sua

exclusão da sociedade em longas ou definitivas internações. Uma das características desse

modelo era uma assistência de enfermagem pouco qualificada e em número reduzido

(RODRIGUES et al, 2016).

O IMNS era espaço de institucionalização e foi na década de 1990 que

desinstitucionalizar se tornou um objetivo do cuidado em saúde mental. A equipe de

enfermagem que participou desta pesquisa não se viu afetada pelo discurso de

desospitalização no período estudado, ao contrário, eram tão institucionalizadas quanto

os pacientes, de modo que reproduzia ações de controle ao tempo que agia sem críticas

para proteger as pessoas submetidas à ECT.

A enfermagem ao longo dos anos construiu seu cuidar de forma diretamente

relacionada às relações sociais de cada período histórico, portanto, no caminhar de sua

trajetória acumulou também conhecimentos empíricos, com práticas baseadas em normas

e rotinas pré- estabelecidas, principalmente, a rebote do saber médico, por vezes sem

reflexão de suas próprias ações (PEIXOTO, et al 2017; OLIVEIRA, et al 2016).

O profissional de enfermagem vem atuar na manutenção de uma assistência

questionável do ponto de vista ético, legal e moral. A instituição psiquiátrica

dispõe de um arsenal instrumental paradigmaticamente edificado que foi

determinado historicamente a partir da concepção de loucura; as formas de

reprimir, punir e controlar/disciplinar foram desenhadas a depender dos

constructos éticos e morais de uma sociedade (FURLAN E RIBEIRO, 2010

p.391).

Com o avanço do movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira durante os anos

de 1980, percebe-se um contraste entre dois diferentes modelos de assistência

psiquiátrica, o asilar e o psicossocial, sendo que no último a enfermeira passa a integrar

uma equipe multiprofissional e se torna um agente terapêutico. A ECT é uma técnica de

origem asilar que se mantém como opção de tratamento para quadros e situações

específicas ainda nos dias de hoje, demandando cuidados específicos para a sua

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realização, com atribuições pertinentes à equipe de enfermagem, uma vez que muitos dos

cuidados necessários são de sua responsabilidade.

A equipe de enfermagem, muitas vezes em ausência do Enfermeiro, percorria todo

o espaço disciplinar que o asilo representava e integrava a rede de vigilância necessária

para a manutenção da ordem, inclusive para aplicação das disciplinas aos portadores de

transtornos mentais que apresentavam algum desvio de conduta, dentre as quais a ECT

também se inclui. Contudo, apesar de caber à equipe médica o poder da indicação da

aplicação da ECT, tendo em vista a soberania do saber médico nas instituições

psiquiátricas, a participação da enfermagem era necessária para dar o devido suporte para

que a aplicação da ECT fosse realizada:

Ela [a médica] pedia para gente arrumar a sala. (TE02)

Pediam [os médicos] para gente arrumar a sala, arrumava a caixinha [o

aparelho de ECT] [...] mantinha aquele jejum até 8h da manhã, que era a hora que ela

[médica]começava a fazer. (TE03)

Os cuidados [relacionados a ECT] eram feitos por nós da equipe de enfermagem.

(TE01)

[...] antigamente, o horário era muito cedo, fazia a ECT muito cedo. Aí tinham

médicos bem antigos que chegavam bem cedo e tinha isso [a ECT] como uma forma de

tratamento. Aí os auxiliares passavam a avaliação deles e eles [os médicos] aceitavam.

(E04)

Verifica-se a solicitação do trabalho da equipe de enfermagem pelos médicos para

a realização da técnica, incluindo o relatório verbal das condições dos pacientes,

organização do ambiente e manutenção do jejum. Como o poder tal como concebido por

Foucault circula no espaço, entende-se que era necessário que a equipe médica tivesse

confiança na de enfermagem para que a ECT fosse aplicada, uma vez que o relato da

enfermagem era suficiente para determinar as condições do paciente para receber o

choque. Isso demonstra o poder da enfermagem no seu lugar ocupado na pirâmide

disciplinar.

Assim, a enfermagem estava presente continuamente nos cuidados aos portadores

de transtornos mentais submetidos à ECT, por ser a equipe que se mantém 24 horas na

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instituição e, de manhã cedo, quando a ECT era realizada. Entretanto, é importante

ressaltar que, muitas vezes, esse cuidado não era protocolado e nem cientificamente

compreendido pelos profissionais de enfermagem que os realizavam no recorte temporal

do estudo:

Não era uma coisa técnica, um protocolo né? Não tinha um protocolo técnico. Se

tinha, ninguém me mostrou [risos]. (TE02)

Você não via muita coisa prática de enfermagem em si. Algumas pessoas

chamavam a gente de guarda e tal. A gente conhecia por cores a medicação, não sabia

o porquê daquilo também e com a ECT foi à mesma coisa. (TE03)

Medicação a balde, uma caixa com muitas ampolas e que o pessoal que estava

ali, que muitos eram desqualificados e não eram nem auxiliares, davam sem controle de

quantidade e etc... (E04)

Conforme discutido anteriormente, a equipe de enfermagem no cenário e período

de estudo da pesquisa era composta, em sua maioria, por atendentes. Esse fato acarretava

em uma lacuna de conhecimento para a prática de enfermagem, desencadeando um cuidar

com base em um saber constituído na assistência, uma vez que estes profissionais eram

repetidores de técnicas ensinadas e aprendidas por eles mesmos na prática cotidiana.

Um estudo realizado em São Paulo cujo objetivo tratou de “caracterizar o perfil

sócio demográfico, profissional e educacional de enfermeiros que trabalham em serviços

de atendimento a urgência e emergência psiquiátrica” (VARGAS et al, 2017 p. 2)

demonstrou que, apesar da maioria dos enfermeiros apresentarem alguma especialização

a nível de pós- graduação, estas não eram relacionadas a psiquiatria. Os autores relatam

o estigma e o preconceito acerca do portador de transtorno mental e, inclusive, em relação

ao próprio saber psiquiátrico.

Concatenado a isso, o enfermeiro apresenta-se como fundamental para uma

assistência em saúde mental de qualidade, uma vez que demonstra maior facilidade em

avaliação do quadro clínico e psíquico do portador de transtorno mental, colaborando na

articulação da equipe multiprofissional e da própria rede de saúde mental. Contudo, para

tal, se torna essencial que o profissional esteja sempre atualizado, podendo então

desenvolver uma prática assistencial focada no conhecimento científico para que seja

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eficaz. “A Enfermagem necessita incrementar a produção de conhecimentos, por meio

da pesquisa para maior visibilidade, reconhecimento, consolidação da profissão como

ciência, tecnologia e inovação” (RIBEIRO, POMPEO E SOUZA, 2016, p. 59).

É interessante também ressaltar que, desde a década de 1950, o conhecimento

científico no Brasil vem sendo estimulado a partir do incentivo à pesquisa feita pelo

CNPq. Tal produção, desde a década de 1970, é feita em equipe de pesquisadores

agrupados de acordo com temáticas específicas, visando o estudo e qualificação dos

profissionais por intermédio de pesquisas em Grupos de Pesquisa. Um estudo acerca dos

grupos de pesquisa de enfermagem brasileira em saúde mental demonstrou que, dos 622

grupos de pesquisa existentes no CNPq, apenas 15 são diretamente relacionados à saúde

mental (RIBEIRO, POMPEO E SOUZA, 2016).

A falta de conhecimento técnico-científico percebida na narrativa dos

colaboradores supracitados demonstra que a equipe de enfermagem ainda não tinha

domínio de um saber estruturado cientificamente no que tange os cuidados de

enfermagem em psiquiatria, muito menos em ECT, tornando seus membros submissos ao

saber médico, detentores do poder-saber reconhecido sobre a terapia. Esse fato contribuía

para a aplicação da técnica de forma não terapêutica, uma vez que não era acordada entre

a equipe nem entre equipe e paciente.

Apesar de se mostrar uma técnica importante para o período do estudo, foi

estigmatizada pela forma de aplicação (muitas vezes contra a vontade do paciente) e pela

reação do paciente ao choque (crise convulsiva), acarretando sentimento de medo e se

configurando em uma experiência traumatizante, tanto para os portadores de transtornos

mentais a ela submetidos, quanto para os profissionais de saúde, como os profissionais

de enfermagem (GUIMARÃES et al, 2013).

No início quando eu cheguei aqui eu achei aquilo horrível, uma violência, pior

que... sei lá... uma coisa traumatizante. (TE01)

Foi assustador. O paciente assim, convulsionando... a primeira vez que eu vi foi

bem assustador. (TE02)

Eu nunca tinha visto né, para mim foi assim muito chocante. (TE03)

Eu fiquei arrasada porque ver o cara se contorcendo todo, parece que está

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morrendo. (TE04)

Foi muito traumático, senti como se estivesse assim nessa coisa nazista, essa

violência toda. Fiquei muito mexida com aquela cena. Porque é igual como se você

tivesse indo para forca... (E04)

Foi horrível e chocante, porque na primeira vez você se assusta muito, porque

não havia os cuidados que hoje tem. (E03)

A cena de uma ECT para quem está de fora é horrível né, porque o paciente tem

uma crise convulsiva, pela falta do preparo os pacientes acabam tendo uma convulsão

mais intensa. Realmente é uma situação muito degradante, horrível você ver como era

feito. (E02)

A primeira vez foi uma coisa assim que eu nunca tinha visto né... então a gente

fica um pouquinho abalada. (AE01)

Observa-se que os colaboradores descrevem o sentimento causado pela

observação da aplicação da ECT, principalmente na sua primeira participação, utilizando

palavras como “horrível”, “traumatizante”, “assustador”, “chocante”. Assim, se tem uma

noção do que representava para os pacientes ser tratado com ECT, tendo em vista a

angústia natural relacionada a técnica justamente pela ideia da aplicação de uma corrente

elétrica no cérebro, bem como a forma como era aplicada (geralmente a força, sem

consentimento do portador de transtorno mental, tampouco acompanhada da devida

explicação) (GASS, 1998).

A própria técnica da ECT, em comparação a realizada e regulamentada atualmente

pela Resolução 1.640/02 do CFM, se caracterizava de forma muito mais brutal e violenta,

tendo em vista que esta era realizada sem uso de anestésicos ou relaxantes musculares, o

que ficou denominado de "ECT a seco":

Não tinha nada, não tinha anestésico, não tinha sedação, nada... (E04)

Os profissionais de enfermagem atuantes no hospital psiquiátrico, em geral,

carregam consigo o estigma de violência, sendo de responsabilidade destes profissionais

a sedação, a contenção do portador de transtorno mental, conforme vemos no discurso

dos colaboradores abaixo:

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O que a gente fazia era dar gravata neles para eles acalmarem [risos] uns 4, 5,

6 homens segurando o paciente e 1 ou 2 faziam a contenção, que era na gravata. Gravata

mesmo de luta [...] O corpo de enfermagem, não era treinado para psiquiatria. O corpo

de enfermagem era treinado para ser guarda. E eram pessoas muito violentas. (E03)

Contudo, é interessante ressaltar que a literatura aponta a equipe de enfermagem

como fundamental para o processo de aceitação da ECT pelos portadores de transtornos

mentais, sendo esses profissionais assim como os médicos responsáveis por explicar a

técnica para os pacientes e para os familiares, quando for o caso. Estudos indicam também

que uma informação acerca da técnica bem formulada e explicada é essencial para a

compreensão e aceitação da sua aplicação (CLEARY, HORSFALL, 2014; GASS, 1998;

CAMPOS E HIGA, 1997).

Não obstante, passado o impacto inicial, a compreensão da técnica por parte da

equipe de enfermagem foi fundamental para aceitação da ECT pelos próprios

profissionais de enfermagem envolvidos nesse cuidado a partir da prática:

Hoje eu vejo a ECT de outra forma... a ECT como um tratamento. (TE01)

Você vai se habituando, mas a formação técnica prejudica um pouco, porque a

gente vai aprendendo na prática, no dia a dia. (TE03)

Tudo na sua primeira vez a gente sente impacto e depois a gente vai

acostumando... os profissionais antigos foram mostrando para gente como que eram [as

aplicações de ECT]. (AE01)

Eu acabei aprendendo algumas coisas, aí eu não sou um defensor da ECT, mas

quando eu pego casos refratários, depressivos, mulheres grávidas que estão refratárias

à medicação eu penso duas vezes. (E02)

De acordo com cada época, a aplicação da técnica pode variar devido ao

desenvolvimento tecnológico do aparelho de ECT. Na década de 1980, no cenário

estudado, o mesmo era portátil e ficava em uma caixa preta, sendo a principal diferença

para os aparelhos atuais a passagem da corrente elétrica de forma constante, tendo em

vista que a voltagem pode variar de acordo com a resistência encontrada em cada

paciente, mas o fluxo da corrente elétrica se mantém o mesmo, não acarretando prejuízos

na eficácia terapêutica (ROSA E ROSA, 2015).

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No que tange os cuidados de enfermagem, embora realizados em sua maioria sem

bagagem científica específica, os colaboradores do estudo apontam cuidados para impedir

e/ou diminuir danos ao portador de transtorno mental submetido a ECT. Esses cuidados

não estão presentes no Brasil na literatura normalmente utilizada para o ensino de

enfermagem. Um estudo ratifica o exposto ao apresentar resultados de uma pesquisa

bibliográfica que encontrou apenas 2 artigos tratando dos cuidados de enfermagem na

ECT (ÁVILA, 2010).

Classifica-se os cuidados de enfermagem psiquiátrica como pré, trans e pós ECT.

Cada fase se distingue pelo momento e pelos cuidados de enfermagem necessários para

atender às necessidades dos portadores de transtornos mentais submetidas a esta técnica

no IMNS.

Segundo a literatura sobre o tema, a ECT quando prescrita pelo médico se dá com

manutenção do paciente em jejum de 6 a 8 horas, bexiga vazia, cabelos limpos e secos,

encaminhamento do paciente para o local onde será realizada a técnica, aplicação da

técnica e encaminhamento do paciente para recuperação em seu leito hospitalar.

Atualmente, recomenda-se ainda uma equipe mínima composta por um médico

psiquiatra, um anestesista, uma enfermeira e um auxiliar de enfermagem (RIGONATTI,

ROSA, 2000). Tal exigência não existia no período estudado, mas foi evidenciado que a

um membro da equipe de enfermagem era chamado a participar.

4.1.Cuidados de enfermagem pré eletroconvulsoterapia

Apesar de ter sido ressaltado pelos colaboradores que, na maioria das vezes, não

acontecia um planejamento antecipado das sessões de ECT, ou seja, os médicos de

plantão resolviam após uma avaliação observacional quem seria submetido ao

procedimento, a equipe de enfermagem ainda assim realizava cuidados antes da

realização do mesmo, visando à preparação do portador de transtorno mental para que as

possibilidades de danos fossem minimizadas:

Fazia um preparo antes. (TE01)

A gente preparava o paciente (...) a gente, da enfermagem, já tinha esse cuidado.

Embora não fosse protocolado. (TE02)

Preparava o paciente. (TE04)

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Eu vi o preparo muito rápido. (E03)

Tinha um preparo e cabia a enfermagem. (AE01)

A ECT se apresentava como instrumento de enquadramento do espaço disciplinar

do hospício visto que estabelecia uma rotina de tarefas e horários, os quais eram regulados

a partir do poder disciplinar médico e mantida pela equipe de enfermagem, tal qual um

aparelho de penalidade corretiva, tendo no corpo do sujeito o seu ponto de aplicação:

Quanto aos instrumentos utilizados, não são mais jogos de representação que

são reforçados e que se faz circular; mas formas de coerção, esquemas de

limitação aplicados e repetidos. Exercícios, e não sinais: horários, distribuição

do tempo, movimentos obrigatórios, atividades regulares, meditação solitária,

trabalho em comum, silêncio, aplicação, respeito, bons hábitos (FOUCAULT,

2014 p. 157).

Dos cuidados que antecipavam a aplicação da ECT, o jejum, à verificação dos

sinais vitais, o controle da medicação e a colocação de um protetor bucal foram citados

pelos colaboradores. Preconiza-se a manutenção do jejum, sendo este de responsabilidade

da enfermagem, visando a diminuição da probabilidade de vômitos e refluxos para as vias

respiratórias (STEFANELLI E ARANTES, 1983). Este cuidado foi relatado pelos

colaboradores da pesquisa, conforme se observa nos relatos abaixo:

A gente mantinha o jejum até 8h da manhã, que era a hora que ela [a médica]

começava a fazer [ECT]. (TE03)

O paciente ia ficar em jejum, a medicação era feita 1 hora ou 30 minutos antes

da ECT, eram verificados os sinais vitais. (TE01)

Era em jejum a ECT. (AE01)

Essa coisa do jejum era o que eles faziam muito de manhã sim. Faziam em geral

na parte da manhã. Porque senão o paciente pode broncoaspirar. (E04)

Tendo em vista que a prescrição da ECT poderia causar angústia e medo ao

portador de transtorno mental, por vezes se tornava necessária à presença de um membro

da equipe de enfermagem em acompanhamento direto para que o paciente não quebrasse

o jejum visando não fazer o procedimento. A aplicação da ECT o mais cedo possível,

diminuindo assim o tempo de manutenção do jejum e de ansiedade gerada pela espera foi

outra estratégia adotada nas instituições onde a técnica era realizada (STEFANELLI E

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ARANTES, 1983).

O jejum, citado por todos os colaboradores deste estudo como um cuidado que

antecede a aplicação da técnica, nem sempre é uma tarefa simples. A prescrição da ECT

normalmente causa sentimento de apreensão no portador de transtorno mental, que reage

tentando burlar a norma do jejum se alimentando. Por esta razão é que a enfermagem

mantinha a vigilância contínua da pessoa, muitas vezes fazendo uso de contenções

mecânicas, caso julgasse necessário solicitar tal prescrição ao médico, o que era um

procedimento altamente polêmico, que demonstra a realização da ECT independente da

concordância do paciente (GUIMARÃES, 2015).

Com relação ao banho nos pacientes que seriam submetidos à ECT, o mesmo era

dado visando a diminuição da impedância tecidual, ou seja, da resistência que a

oleosidade da pele faz à corrente elétrica. Quanto mais limpa a pele, menor a resistência

à passagem da eletricidade para provocar o choque.

A gente dava um banho. (TE04)

O banho era a primeira coisa que a gente fazia sempre. (AE01)

É interessante ressaltar que a literatura relata que, apesar de haver um protetor

bucal específico, o mesmo não protege o aparelho dentário, portanto para a proteção bucal

é indicado a colocação de um pano ou de gaze na boca do portador de transtorno mental

a ser submetido à ECT, com vistas a evitar lesões dentárias, bucais, de língua e bochechas,

uma vez que “a mordedura da língua acontece logo no início da contração tônica e pode

prolongar-se por toda a fase clônica” (LIMA, 2005, p.294; ÁVILA, 2010; RIGONATTI

E ROSA, 2000) cuidado também observado nas falas dos colaboradores:

Você tinha que fazer rolinho com algum tecido... gaze, fronha... colocava na boca

do paciente para que ele não mordesse ali... também observávamos os sinais vitais antes

e depois da ECT. (TE02)

Deitávamos na maca, colocávamos um pano na boca dele e ela [a médica] ia com

a caixinha [aparelho de ECT] para região temporal. (TE03)

Colocava um pano na boca para ele não morder. (TE04)

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Pegava um pedaço de pano, de borracha e colocava na boca, forçava a boca do

paciente e colocava ali no meio. Isso quando ele tinha dente... quando não tinha dente,

não colocava nada, por que aquele pedaço de pano era justamente para ele não morder

a língua, com a convulsão. (E03)

A enfermagem se restringia basicamente a colocar uma atadura entre os dentes

do paciente, um rolinho, para ele não machucar a boca. (E02)

Depois colocavam proteção na boca. (E04)

As descrições sobre a proteção bucal feita pela enfermagem nas pessoas

submetidas à ECT citam rolos de atadura, borrachas, pedaços de pano e fronhas. O

improviso de materiais sugere displicência com o cuidado e com as pessoas tratadas com

ECT. Uma fala destacou que essas “proteções” eram apenas para aqueles que tinham

dentes, o que mostra a precariedade da saúde bucal dos portadores de transtornos mentais

internadas no IMNS no período em estudo.

Apesar de não ter sido citado pelos colaboradores, a literatura aponta ainda para a

retirada dos adornos e de próteses dentárias/auditivas como cuidado de enfermagem pré

ECT, para favorecer intervenções de emergências, caso ocorra intercorrências no

procedimento, bem como o esvaziamento da bexiga, relacionado ao relaxamento do

esfíncter durante a contração tônico-clônica provocada pela ECT, na qual pode haver

eliminação vesical e/ou intestinal (STEFANELLI E ARANTES, 1983; GUIMARÃES,

2015). O colaborador E02 relata a necessidade de um forro impermeável no colchão

justamente relacionado ao supramencionado:

Eram colocados os colchões, forrados com algo impermeável, porque muitos

pacientes urinam durante a ECT. (E02)

Os cuidados pré ECT são todos preventivos e, por esta razão, a equipe de

enfermagem deveria se organizar para realizá-los. A prevenção de danos aos pacientes é

hoje um tema em expansão na comunidade científica mundial e, quando se estuda a

história, é possível evidenciar a presença da enfermagem na prática desse cuidado. Um

estudo realizado em 2009 acerca da técnica de ECT apresentou um modelo de checklist

para ser realizados nos momentos que antecedem a aplicação da técnica com vistas a

diminuir os riscos do procedimento nos moldes que atualmente é feito. Dentre os pontos

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a serem observados é interessante observar que os cuidados relatados pelos colaboradores

ainda são contemplados no checklist, tal qual jejum e a higiene corporal do portador de

transtorno mental (KAVANAGH E MCLOUGHLIN, 2009).

4.2.Cuidados de enfermagem trans eletroconvulsoterapia

Nesta fase consideramos o momento durante a aplicação da ECT. É quando o

médico, através de um aparelho, passa uma corrente elétrica para o cérebro do paciente,

causando um choque que levava a uma crise convulsiva tônico-clônica.

Com relação à atuação da equipe de enfermagem durante o procedimento

propriamente dito, o principal cuidado relatado pelos colaboradores foi a contenção dos

membros superiores e inferiores dos pacientes:

Você tinha que segurar o paciente, uma contenção. (TE01)

Continha os membros inferiores e membros superiores do paciente. Geralmente

era numa maca com grade, não era na cama. Segurávamos o rosto do paciente quando

entrava em convulsão, quando começava a sair secreção, porque fazia uma sialorréia2

muito intensa. Aí colocávamos a cabeça para o lado para que ele não engolisse. (TE02)

Tinha que conter, colocava nas pernas a contenção e dava a ECT. (TE04)

Colocava cordas no punho, nos tornozelos. E via uma pessoa sendo amarrada,

amarrada mesmo sabe? Tinha umas cordas. Um cinto de couro, mas que já estava

desgastado pelo tempo de uso. (E03)

Sim, continha... porque tem risco de contratura. (E04)

Percebe-se que a contenção física e mecânica era um procedimento padrão para

realizar ECT. As descrições dos cuidados de enfermagem trans ECT apontam segurar e

lateralizar a cabeça do paciente e conter mecanicamente membros superiores e inferiores.

Para esse cuidado utilizavam cordas ou cintos, o que mais uma vez traz para a reflexão a

forma como a técnica era realizada naquele período.

2 A sialorréia é o aumento do fluxo salivar que ultrapassa a margem da boca, de forma involuntária e

passiva (CORSO et al, 2011)

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Enquanto os cuidados antes da sessão de ECT estavam relacionados com a

prevenção de intercorrências clínicas, os cuidados durante a realização da ECT visavam

diminuir as chances de traumas e fraturas, uma vez que a equipe de enfermagem era

responsável por encaminhar e posicionar o paciente no leito ou maca. Na psiquiatria,

realizar contenção física e mecânica é um cuidado que precisa de técnica (STEFANELLI

E ARANTES, 1983).

As contenções são usadas devido a necessidade de prevenir danos de caráter

musculoesqueléticos, uma vez que pesquisas demonstram que as principais complicações

do “ECT a seco”, ou seja, sem uso de anestésico ou relaxantes musculares, consistem em

fraturas e lesões dessa ordem (GUIMARÃES, 2015; MATHIAS, 1945; NOVAES, 1947).

No que tange às contenções mecânicas, estas utilizam faixas ou tecidos para

manter o portador de transtorno mental preso ao leito, e é comumente utilizada nos

hospitais psiquiátricos ainda nos dias atuais, como forma de manejo do sujeito

agressivo/agitado. Atualmente, as contenções não são métodos reconhecidos pela

literatura como cuidado de enfermagem, justamente pela dificuldade de comprovar sua

eficácia, bem como pela sua característica restritiva e contrária a vontade do paciente

(PAES, MAFTUM E MANTOVANI, 2010).

Salienta-se o fato de que o portador de transtorno mental contido não devia

permanecer sem acompanhamento, uma vez que, além do trauma psicológico que a

contenção mecânica pode causar, se tem ainda riscos como desidratação, cianose,

vômitos, fraturas, entre outros (MANTOVANI et al 2010; KONDO et al, 2011).

Uma reflexão que se faz é a de que a contenção mecânica e física no período trans

ECT era mais uma ação que, embora visasse a prevenção de danos ao paciente,

representava em si amarras que ampliavam as características punitivas do tratamento.

Sendo assim, não é difícil entender a relação da ECT com o modelo manicomial,

uma vez que a instituição psiquiátrica funciona então como um mecanismo penal, onde

as disciplinas funcionam como repressoras do tempo, das atividades, da maneira de ser,

dos discursos e da sexualidade, e como punição do não-cumprimento das mesmas, a partir

de privações, humilhações e castigos físicos (FOUCAULT, 2014) como uso de

contenções e da própria aplicação de ECT.

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4.3.Cuidados de enfermagem pós eletroconvulsoterapia

Terminada a aplicação da ECT, cabia aos profissionais de enfermagem realizar

cuidados de monitoramento do portador de transtorno mental submetido a técnica,

orientando-o adequadamente quanto ao tempo, local e sobre o acontecido, incluindo

intercorrências e intervenções, caso tenham ocorrido (TOWNSEND, 2002). A avaliação

permanente do paciente e o registro das alterações de comportamento nas primeiras horas

pós ECT contribuem para eficácia terapêutica da ECT.

Os cuidados após a aplicação da ECT relatados pelos colaboradores reforçam que

a observação do paciente era o principal cuidado prestado pela equipe de enfermagem:

Depois que acabava aquilo tudo a gente levava de volta para o leito (...). Era

mais a observação mesmo, se o cara ia continuar naquela agressividade ou se acalmava.

Geralmente se acalmavam mesmo. (TE04)

A gente esperava melhorar e voltava com ele para a enfermaria. (TE03)

Depois que passava os tremores, ele voltava à consciência, nós levávamos a maca

para o lado do leito do paciente colocava no leito alto, com a cabeceira alta e continha

para que ele não caísse. (TE02)

Após também tinha cuidado, que era a vigilância 24h desse paciente. (TE01)

Depois que passava o procedimento, ele ia tomar o seu café, ou ia almoçar... fazer

sua refeição. (AE01)

De acordo com estudo de Stefanelli e Arantes (1983), após realizado o

procedimento, assim que o portador de transtorno mental recupera a consciência, deve-se

lateralizá-lo objetivando reduzir as chances de broncoaspiração, tendo em vista que crise

convulsiva provocada apresenta uma sialorréia intensa. Nos momentos subsequentes, a

equipe de enfermagem deve oferecer o desjejum sob observação para que o paciente não

se engasgue.

Outro cuidado de enfermagem de suma importância é atentar ao comportamento

do sujeito, uma vez que a ECT causa uma amnésia momentânea, registrando qualquer

alteração. A orientação auto e alopsíquica é um indicativo importante no exame físico da

enfermagem psiquiátrica, pois permite verificar se o paciente possui consciência sobre si

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mesmo (autopsíquica) e sobre o seu entorno (alopsíquica) (STEFANELLI E ARANTES,

1983, KELLY E KELLY, 2014).

Depois da ECT o paciente ia para cama, ficava aquele período de perda de

consciência, depois perda de memória, dificuldade para deambular, [a enfermagem] só

acompanhando. (E02)

Assim, observar a evolução do portador de transtorno mental nas horas posteriores

à aplicação da ECT foi reconhecida pelos colaboradores como um cuidado, entretanto,

percebe- se uma desvalorização desse cuidado, ao passo que não descrevem os critérios

a serem observados nos momentos posteriores a aplicação da ECT. Outra percepção dos

colaboradores aponta para o resultado da ECT para a diminuição ou cura do sintoma,

como agressividade, conforme já relatado pelos colaboradores. Mesmo assim, um

colaborador citou a contenção pós ECT como preventiva, o que representa uma atitude

disciplinadora que submete ao portador de transtorno mental à uma restrição ao leito,

portanto, nada terapêutica.

Assim, é perceptível como o modelo manicomial se encontra embutido no cuidar

em psiquiatria e na prática de enfermagem, visto que se encontra na fala dos

colaboradores termos como “contenção”, “vigilância” e “segurar o paciente” utilizados

naturalmente.

Apesar de ter suas origens no interior do hospício, este saber de enfermagem não

foi desenvolvido com o intuito de melhorar a assistência prestada aos portadores de

transtorno mental, mas sim visando a sujeição dos mesmos aos membros da equipe de

enfermagem e, principalmente, da equipe médica, uma vez que estes detinham saber-

poder dentro do espaço disciplinar que o hospício representava. Sendo assim, a

enfermagem psiquiátrica historicamente se mostrava controladora e repressora dos

pacientes, tendo suas atividades realizadas inclusive por leigos, serventes do hospital e

até ex-pacientes (VILLELA E SCATENA, 2004).

O papel terapêutico atribuído às enfermeiras treinadas, na época, era o

desassistir o médico, manter as condições de higiene e utilizar medidas

hidroterápicas. Todavia o conhecimento de que se dispunha sobre os alienados

era o do senso comum, ou seja, entendidos como ameaçadores e, por isso,

sujeitos à reclusão (VILLELA E SCATENA, 2004 p. 739).

Somado a isso, tem-se o desconhecimento por parte dos profissionais de

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enfermagem envolvidos no cuidado ao portador de transtorno mental submetido à ECT,

sobre a natureza dos riscos específicos do procedimento e da importância do cuidado

prestado para impedir danos que podem levar ao óbito.

Vi dois óbitos, logo assim que eu entrei. (TE01)

Soube de alguns óbitos sim... mas não presenciei não. (TE03)

Posteriormente, encontrar aquele paciente e saber que ele foi vítima de alguma

luxação por alguma coisa assim... ou por conta da ECT ou mesmo por conta da condução

daquele paciente até o local que era feito. (E03)

De acordo com a literatura, os principais efeitos colaterais causados pela ECT são

frequentemente de caráter transitório e benignos, como os distúrbios de memória e

confusão mental, bem como os relacionados a fraturas ou lesões osteoarticulares. No que

se refere a óbitos, estima-se que a maioria está relacionada ao sistema cardiovascular,

tendo em vista que a ECT provoca estímulos cardiovasculares a partir do Sistema Nervoso

Parassimpático, provocando uma queda na pressão e uma bradicardia; e do Sistema

Nervoso Simpático, causando efeitos contrários como elevação da pressão arterial e da

frequência cardíaca, acarretando em um aumento generalizado do débito cardíaco. Tais

condições provocam um consumo elevado de oxigênio, podendo acarretar inclusive em

infartos (PERIZZOLO et al 2003; MANKAD et al 2010; GAINES E REES, 1987).

Tendo em vista que os cuidados de enfermagem são de suma importância para a

eficácia e segurança terapêutica da ECT, é válido ressaltar que alguns colaboradores

demonstraram esse reconhecimento, apesar de se observar que muitas vezes a ECT não

era realizada com planejamento terapêutico, nem com o devido conhecimento técnico-

científico do cuidado prestado:

É um tratamento que pode levar a danos se não tiver todo o aparato necessário

de suporte. (E01)

Não vivenciei nenhum dano nem óbito porque nessa época que eu passei a gente

da enfermagem já tinha esse cuidado, embora não fosse protocolado. (TE02)

Não, pelo contrário, ficava sabendo que dava certo (...) antigamente também não

se fazia de qualquer jeito não. (TE04)

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É interessante ressaltar que todas as três colaboradoras supracitadas atuaram no

Instituto de Neuro-psiquiatria Infantil, demonstrando a diferença de cuidar e de saber que

cada instituto do IMNS tinha, de acordo com a sua especificidade e com o espaço

disciplinar que apresentava, principalmente relacionada a crianças e adolescentes, tendo

em vista que o IMNS fazia uma fiscalização mais rigorosa do tratamento oferecido aos

mesmos do que em relação aos adultos, conforme relatam as colaboradoras:

Tinha muito conselho tutelar, juizado. Era muito diferente do tratamento para os

adultos. (TE04)

Eu acho que nas outras unidades ainda ocorre dessa forma, sem um cuidado com

o paciente. (E01)

De acordo com a literatura, pode-se dividir a história da psiquiatria infantil em

três períodos, sendo o primeiro dos séculos XVIII e XIX, o segundo a partir do

fortalecimento da psicologia do desenvolvimento e o terceiro a partir do desenvolvimento

das práticas psicanalíticas.

Durante os dois primeiros períodos [séc. XIX até primeiro terço do séc. XX],

a criança é essencialmente concebida como um adulto ‘em potência’, no

sentido aristotélico: o adulto não é somente o fim de seu desenvolvimento, mas

também seu único conteúdo e seu sentido último (GUARIDO, 2007, p. 155).

Depreende-se então que era de interesse médico o tratamento das desordens

infantis que resultassem em adultos integralmente capazes de realizar suas habilidades e,

por conseguinte, as principais patologias tratadas no período eram relacionadas ao retardo

mental. O tratamento era feito em setores especializados em psiquiatria infantil, anexo a

hospícios para adultos, sofrendo grande influência do campo da pedagogia, já

estabelecida no tratamento das crianças, implicado pela vigilância, disciplina e

segregação, tal qual o asilo (GUARIDO, 2007).

Não era um tratamento de grande aplicabilidade no setor de psiquiatria infantil,

visto que os principais focos de tratamento das crianças internadas nos institutos de

psiquiatria eram relacionados aos retardos mentais. Contudo, apesar das diferenças de

setor e de intuito na qual a ECT era aplicada, a equipe de enfermagem se mostrava

presente no cuidado ao portador de transtorno mental submetido a técnica.

A despeito da lacuna de conhecimento referida pelos colaboradores e encontrada

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na literatura, bem como do poder médico na instituição psiquiátrica, fica perceptível a

partir dos resultados da pesquisa que os colaboradores realizavam cuidados

historicamente entendidos como inerentes da enfermagem, tal qual higiene, preparo de

ambiente e controle de medicações, bem como cuidados relacionados a manutenção da

ordem asilar, como controle do horário da alimentação e contenções.

Assim, tendo em vista a ausência de registros nos documentos escritos

pesquisados, a história oral temática usada nesta dissertação permitiu atingir os objetivos

propostos ao fazer surgir cuidados de enfermagem nos períodos pré, trans e pós ECT,

ainda pouco explorados, mas que nos ajudam a começar outros estudos para avançar neste

cuidado nos locais que ainda o realizam. Na história, uma ponta do iceberg permite saber

que debaixo d’água existe mais a ser conhecido. Essa foi a motivação que levou, apesar

das limitações do estudo, o desenvolvimento da pesquisa.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa de mestrado foi limitada pela dificuldade de acesso à

documentos históricos, um problema comum no Brasil. A instituição cenário possui um

acervo rico e importante para a história da saúde mental no país, mas problemas de ordem

financeira impedem que pesquisadores frequentem diariamente o acervo. Nesse sentido,

a história oral temática foi uma solução metodológica que tornou viável o

desenvolvimento da dissertação.

Este estudo apresenta resultados que descrevem como era na visão da equipe de

enfermagem e aplicação da ECT no IMNS e quais os cuidados de enfermagem realizados

pelos colaboradores da pesquisa nas fases aqui denominadas de pré, trans e pós ECT.

Destacou-se, enraizado nos resultados, o modelo manicomial, no qual o poder-saber

médico era preponderante no espaço asilar, no qual a ECT era usada como tratamento e

como exercício do poder disciplinar, tendo o médico e a equipe de enfermagem

profissionais indispensáveis para a realização essa técnica.

Ficou evidente que a formação profissional pouco qualificada da maioria dos

membros da equipe de enfermagem no período do estudo acarretou numa enfermagem

submissa e passiva mediante o poder-saber médico. Inclusive, demonstrou uma prática

assistencial de enfermagem psiquiátrica que era interessante na visão médica e do modelo

asilar. Os cuidados de enfermagem implementados e relatados pelos profissionais de

enfermagem eram, em suma, empíricos e realizados apenas por intermédio da repetição,

sem aprofundamento científico, tampouco questionamento por parte dos membros da

equipe.

A invisibilidade da enfermagem na realização da ECT é resultado de registros mal

elaborados e do não reconhecimento da importância dos cuidados de enfermagem ao

paciente submetido a esta técnica. A narrativa da própria equipe se deteve a contar sobre

os cuidados realizados sem dar destaque à sua necessidade e importância para a promoção

da saúde, prevenção de danos e recuperação dos portadores de transtornos mentais. Tal

fato corrobora com o encontrado na análise dos documentos escritos que, apesar de

muitos documentos terem sido consultados, pouco pode ter sido aproveitado devido ao

escasso relato encontrado acerca dos cuidados de enfermagem relacionados a ECT nestes

documentos.

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Contudo, foi possível definir os cuidados pré ECT, sendo os mesmos o preparo do

ambiente e do paciente para ser submetido a técnica, que incluía acompanhamento

individualizado, manutenção de jejum, orientações para esvaziamento da bexiga, higiene,

verificação de sinais vitais, dentre outros cuidados preventivos. Os cuidados trans ECT

foram descritos como aqueles realizados no momento da aplicação da corrente elétrica,

voltados para prevenir danos referentes aos efeitos da convulsão provocada pelo choque

elétrico no corpo do paciente, incluindo proteção bucal e contenção dos membros

superiores e inferiores. Já os cuidados pós ECT citados foram o encaminhamento e

posicionamento do paciente ao leito, observação da orientação do mesmo e oferta de

alimento. Vale ressaltar que os cuidados pós ECT são apresentados pelos colaboradores

de forma desvalorizada, caracterizando mais uma vez a lacuna de conhecimento envolto

no cuidado prestado aos portadores de transtornos mentais submetidos a ECT pela equipe

de enfermagem.

A equipe de enfermagem não demonstrou nenhuma manifestação sobre o

posicionamento dos colaboradores a favor ou contra a ECT atualmente. No entanto, ao

narrarem a primeira experiência assistencial, todos manifestaram rejeição a esta técnica,

referindo-se a mesma como horrível e traumatizante, à título de exemplificação, mas a

repetição da técnica a tornava comum e justificada por trazer redução dos sintomas na

maioria dos casos. Tal fato aparenta estar relacionado a característica de realização da

técnica no recorte temporal do estudo, nomeada de “ECT a seco”, uma vez que não fazia

uso de anestésico nem de relaxante musculares.

Entretanto, o sentimento explicitado pela equipe de enfermagem relaciona-se também

a aplicabilidade que estes profissionais enxergavam na ECT, tendo em vista que, por

vezes, foi utilizada de forma indiscriminada, sem compreensão pelos mesmos da

indicação terapêutica da técnica e, inclusive, como forma de ameaça e punição dos

portadores de transtornos mentais, sendo de fato utilizada a lógica disciplinar do

manicômio para justificá-la: tornar corpos dóceis.

Uma importante questão que emerge da pesquisa e que a valida como precedente de

outros estudos acerca do tema é sobre a ECT como tratamento e como prática manicomial.

De fato, observou-se na história aqui contada a estreita relação das práticas manicomiais

com a técnica da ECT, mas também a eficácia da mesma para eliminar sintomas dos

transtornos mentais. Esta resposta não está dada e merece aprofundamentos que

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considerem no tempo presente a regulamentação da ECT pelo Conselho Federal de

Medicina e as novas tecnologias para a técnica, bem como os avanços da ciência sobre a

sua indicação e eficácia terapêutica. O que se pode afirmar diante dos resultados obtidos

é que a enfermagem deve se preparar adequadamente para o cuidado das pessoas

submetidas à ECT, a fim de exercer uma prática pautada em saberes profissionais

embasados cientificamente.

Não se pode apagar da história da psiquiatria a realização de ECT, muito menos negar

a importância da enfermagem no cuidado aos portadores de transtornos mentais a ela

submetidas, seja com intenção punitiva ou terapêutica. Vimos nessa pesquisa que a equipe

de enfermagem estava lá e hoje pôde contar como atuavam para, dentro dos padrões

disciplinares da instituição, proteger os pacientes dos riscos comuns do procedimento.

Finalmente, a ECT foi parte da trajetória do cuidado de enfermagem psiquiátrica

e permitiu a realização de cuidados específicos aos portadores transtornos mentais

submetidas à ECT, em suas fases pré, trans e pós procedimento, sendo necessária para a

redução de danos provenientes da técnica, a despeito destes não estarem diretamente

relacionados a construção de saberes à enfermagem psiquiátrica. A partir da história oral

sobre esta técnica controversa foi possível evidenciar que a equipe de enfermagem

contém um valor próprio nas instituições psiquiátricas no período do movimento de

reforma psiquiátrica no Brasil, contudo este não é percebido pelos próprios profissionais

de enfermagem que compõe a equipe.

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APÊNDICE A: Instrumento de exame de documentação escrita

Local

Ano

Autor

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Tipo de documento

Assunto

Observações

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APÊNDICE B: Roteiro de entrevista para subsidiar a técnica de História Oral

Temática

Gênero:

Idade:

Formação profissional: Ano de Formação:

Tempo de experiência profissional em Psiquiatria/saúde mental:

Tempo de experiência profissional no instituto:

Em quais categorias você atuou em instituição psiquiátrica ao longo de sua vida

profissional?

Quais cargos você já ocupou no instituto?

1) Como foi sua formação profissional em relação a psiquiatria e a ECT?

2) Como você se preparou para atuar em ECT?

3) Fale sobre sua primeira atuação no cuidado de enfermagem a uma pessoa com

transtorno mental submetida a ECT?

4) Descreva suas experiências em ECT, durante a prática profissional.

5) Como era feita a ECT no instituto e quem participava?

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6) Você vivenciou intercorrências relacionadas a ECT?

7) Descreva os cuidados de enfermagem prestados a pessoas com transtornos mentais

submetidas a ECT.

8) Você notou ao longo de sua prática profissional mudanças nos cuidados as pessoas

com transtornos mentais submetidas a ECT? Descreva-as.

9) Relate suas impressões sobre o tratamento com ECT.

10) Você considera algum informação a mais relevante e gostaria de acrescentar algo?

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APÊNDICE C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Resolução nº 466/2012 – Conselho Nacional de Saúde

Você está sendo convidado(a) para participar como voluntário(a) da pesquisa

histórica intitulada: Construção histórica dos saberes e práticas da enfermagem no

cuidado em eletroconvulsoterapia (1978-1992), que tem como objetivos: (1) Descrever

a prática da ECT segundo a equipe de enfermagem do Instituto Municipal Nise da

Silveira; (2) Analisar os cuidados prestados pela equipe de enfermagem às pessoas

submetidas à ECT, antes, durante e após a sua aplicação; (3) Discutir os saberes e práticas

construídos pela enfermagem durante a prestação de cuidados às pessoas submetidas à

ECT.

A pesquisa terá duração de 2 anos, com o término previsto para

dezembro de 2017.

Sua participação não é obrigatória e consistirá em responder perguntas

realizadas sob a forma de entrevista, a qual será gravada para posterior transcrição

(transformação em texto escrito), que lhe será entregue para leitura e validação. A

qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua

recusa, desistência ou suspensão do seu consentimento não lhe trará nenhum prejuízo.

A pesquisa apresenta riscos mínimos aos participantes e todos os

cuidados para diminuí- losserão tomados, a fim de que não haja dano emocional ou

constrangimento durante a realização da entrevista. A pesquisadora responsável se

compromete a zelar pela sua integridade e pelo seu bem-estar, respeitando seus valores

culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como seus hábitos e costumes. Se

necessário, a pesquisadora suspenderá temporariamente ou definitivamente a entrevista

de acordo com a sua vontade.

Os benefícios da pesquisa serão oriundos da construção de uma versão

histórica de uma prática de enfermagem específica, que ao longo dos anos foi pouco

registrada no Brasil. A divulgação de seus resultados ajudará a subsidiar discussões atuais

sobre a aplicação da ECT, que carece de fundamentação acerca de sua trajetória, para

uma reflexão mais aprofundada sobre seus riscos e benefícios, e sobre como a

enfermagem contribui para que esta técnica seja realmente aplicada em circunstâncias

terapêuticas, em respeito aos direitos das pessoas com transtorno mental. Além disso,

beneficiará o levantamento de fontes históricas sobre a temática, permitindo ampliar o

acervo histórico sobre a ECT e sobre a história da psiquiatria/saúde mental como um todo,

no CDOC/EEAN.

Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os

resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. Suas respostas serão tratadas

de forma anônima e confidencial, isto é, através de códigos e em nenhum momento será

divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. No entanto, por ser uma pesquisa

histórico-social, os participantes tornam-se identificáveis, não sendo possível garantir o

total anonimato. O material coletado será guardado por cinco (05) anos e incinerado ou

deletado após esse período, exceto se concordar em fazer a doação do mesmo ao Centro

de Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery.

__________________ (rubrica do participante)

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Você recebera uma via deste termo onde consta os contatos do CEP e do

pesquisador responsável, podendo eliminar suas duvidas sobre a participação agora ou a

qualquer momento. Caso concorde em participar desta pesquisa, assine ao final do

documento, que possui duas vias, sendo uma sua e a outra do pesquisador responsável.

_______________________________________

Juliana Cabral da Silva Guimaraes

Pesquisador responsável – e-mail: [email protected] Cel (21) 99272-6602

CEP-EEAN/HESFA/UFRJ – Tel (21) 2293-8048 – e-mail: [email protected]

CEP-SMS/RJ – Rua Evaristo da Veiga, 16 – Sobreloja – Centro, RJ – CEP: 20031-040

Tel (21) 2215-1485 – e-mail: [email protected]

Declaro estar ciente do inteiro teor deste Termo de Consentimento e

estou de acordo em participar do estudo proposto, sabendo que poderei desistir a qualquer

momento, sem sofre qualquer punição ou constrangimento. Recebi uma via assinada

deste formulário de consentimento.

Rio de Janeiro, _____ de _______________________ de 20____.

Assinatura do (a) participante: ____________________________________________

APÊNDICE D: Termo de Cessão dos direitos de depoimentos

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100

TERMO DE CESSAO DOS DIREITOS DE DEPOIMENTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

CENTRO DE DOCUMENTACAO

Pelo presente documento, eu ______________________________________________,

nacionalidade: , estado civil: , cargo/profissão: ,

inscrito(a) no CPF/MF sob______________________, portador da cédula de

identidade_________________, expedida por_____________________, residente e

domiciliado em

______________________________________________________________ cedo e

transfiro neste ato, gratuitamente, em caráter universal e definitivo ao Centro de

Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ para consulta pública, a

totalidade dos direitos patrimoniais de autor sobre a entrevista prestada no dia

_____/_____/_______ na cidade do ___________________ perante a pesquisadora

Juliana Cabral da Silva Guimarães intitulada “Construção histórica dos saberes e

práticas da enfermagem no cuidado em eletroconvulsoterapia (1978-1992)”.

Na forma preconizada pela legislação nacional e pelas convenções internacionais de que

o Brasil é signatário, o(a) entrevistado(a) , proprietário originário da entrevista de que

trata este termo, terá, indefinidamente, o direito ao exercício pelo dos seus direitos morais

sobre o referido material. Fica plenamente autorizada a utilização da voz e/ou imagem

realizado durante a execução e gravação da entrevista, no todo ou em parte, editado ou

integral sendo limitado aos seguintes fins: ensino, estudo e pesquisa; publicação e

divulgação; produção de obras novas e/ou derivadas; citação dramática em artes cênicas;

utilização radiofônica; utilização em televisão aberta ou fechada; utilização

cinematográfica; utilização audiovisual em geral, incluindo home-vídeo (videocassete

doméstico), CD-ROM, DVD, Internet e todas as tecnologias digitais existentes ou que

venham a ser desenvolvidas no futuro, aptas a portar sons e/ou imagens.

Sendo esta a forma legítima e eficaz que representa legalmente os nossos interesses,

assinam o presente documento em (02) duas vias de igual teor e para um só efeito.

Nome do cedente:

Nome da instituição:

Testemunhas:

Nome legível e CPF:

Nome legível e CPF:

APÊNDICE E: Carta de validação do conteúdo das fontes orais

Eu, _____________________________________________, portador(a) do Registro de

Identidade _____________________________ e participante, como respondente, na

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101

pesquisa “Construção histórica dos saberes e práticas da enfermagem no cuidado em

eletroconvulsoterapia (1978-1992)”, após realizar a leitura da transcrição da entrevista

dada a pesquisadora Juliana Cabral da Silva Guimarães, valido o conteúdo por mim

informado, desde que obedecidas às sugestões de acréscimos e/ou modificações de itens.

Organizacão – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Objetividade – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Clareza – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Facilidade da leitura – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Compreensão do conteúdo – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Fidedignidade do conteúdo – acréscimo ( ) sim ( ) não

Sugestão:

Data ___/________/_____

______________________________________________________________

Nome e assinatura do responsável pela validação das informações.