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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO LUCIANA SOUZA CRUZ CAMINHA EVOLUÇÃO A LONGO PRAZO DE PACIENTES COM CÂNCER DIFERENCIADO DE TIREOIDE QUE APRESENTARAM PESQUISA DE CORPO INTEIRO NEGATIVA NA PRIMEIRA AVALIAÇÃO APÓS TRATAMENTO INICIAL RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

LUCIANA SOUZA CRUZ CAMINHA

EVOLUÇÃO A LONGO PRAZO DE PACIENTES COM CÂNCER

DIFERENCIADO DE TIREOIDE QUE APRESENTARAM PESQUISA DE CORPO

INTEIRO NEGATIVA NA PRIMEIRA AVALIAÇÃO APÓS TRATAME NTO INICIAL

RIO DE JANEIRO

2012

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Luciana Souza Cruz Caminha

EVOLUÇÃO A LONGO PRAZO DE PACIENTES COM CÂNCER

DIFERENCIADO DE TIREOIDE QUE APRESENTARAM PESQUISA DE CORPO

INTEIRO NEGATIVA NA PRIMEIRA AVALIAÇÃO APÓS TRATAME NTO INICIAL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Medicina (Endocrinologia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Endocrinologia).

Orientadores: Profa. Rossana Corbo e Prof. Mário Va isman

Rio de Janeiro

2012

3

Evolução a longo prazo de pacientes com carcinoma d iferenciado da

tireóide que apresentam pesquisa de corpo inteiro n egativa na primeira

avaliação após tratamento inicial

Luciana Souza Cruz Caminha

Orientadores: Rossana Corbo e Mario Vaisman

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Medicina (Endocrinologia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Endocrinologia).

Aprovada por:

Prof. Flavia Lucia Conceição

Prof. Alice Dutra Violante

Prof. Leonardo Vieira Neto

4

Dedicatória

Dedico minha dissertação de mestrado aos meus pais, Ivana e Milton, pelo

incentivo e apoio.

5

Agradecimentos

A Deus, por possibilitar todas as conquistas.

À minha família: meus pais, Milton e Ivana; irmãos, Milton, Paula e João

Paulo; e sobrinhos: Milton Neto, Marcus Vitor e Maria Paula; pelo amor, alegria,

admiração, incentivo e ajuda. Aos meus tios, avós e primos; pelo incentivo. E ao

meu marido, Rodrigo, pelo amor e companheirismo.

Aos professores Mário Vaisman e Rossana Corbo pela oportunidade de

conhecê-los, acompanhá-los e ser orientada por eles.

À Denise Momesso, companheira de arquivo médico, pela ajuda e amizade.

6

Resumo da dissertação de Mestrado em Endocrinologia .

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Jane iro, 2012.

Evolução a longo prazo de pacientes com câncer dife renciado de

tireóide que apresentaram pesquisa de corpo inteiro negativa na primeira

avaliação após tratamento inicial

Luciana Souza Cruz Caminha

Introdução: A avaliação dos pacientes com carcinoma diferenciado da

tireóide tem comumente se baseada na medida sérica da tireoglobulina estimulada e

na realização da pesquisa de corpo inteiro com I131 (PCI). O primeiro controle é

realizado cerca de 6 a 12 meses após tratamento inicial e mostra a resposta ao

tratamento, um fator prognóstico.

Objetivo: Descrever a evolução a longo prazo dos pacientes com a primeira

PCI negativa e avaliar características clinicas e histológicas relacionadas aos

eventos nesta população. Método: Análise retrospectiva de 209 pacientes em dois

hospitais no Brasil.

Resultados: Durante um acompanhamento mínimo de dez anos, cerca de

20% dos pacientes apresentaram recorrência. Ao final, 21% da população total,

tinha doença persistente. Dentre os fatores analisados, metástase linfonodal ao

diagnóstico, alto risco pela estratificaçao da ATA e resposta incompleta ao

tratamento foram associadas a desfecho desfavorável (doença persistente ou

recorrente. Tireoglobulina estimulada > 1ng/ml na primeira avaliação também

mostrou associação com desfecho desfavorável.

Conclusâo: A PCI negativa na primeira avaliação não deve ser usada como

fator prognóstico de maneira isolada, mas deve ser analisada juntamente com outros

fatores clínicos e laboratoriais.

7

Abstract

Resumo da dissertação de Mestrado em Endocrinologia .

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Jane iro, 2012.

Evolução a longo prazo de pacientes com câncer dife renciado de

tireóide que apresentaram pesquisa de corpo inteiro negativa na primeira

avaliação após tratamento inicial

Luciana Souza Cruz Caminha

Introduction: The evaluation of patients with differentiated thyroid cancer has

been commonly based on TSH-stimulated serum thyroglobulin measurement and

131I whole body scan. The first control (6-12 months after initial treatment) shows the

response to therapy, a prognostic factor.

Aim: To describe the evolution over long term of patients with negative 131I

whole-body scan (WBS) in the first evaluation and to assess clinical and histological

characteristics related to outcome in this population.

Methods: This retrospective study reviewed data from 209 patients followed

at 2 Brazilian hospitals. A minimum of 10 years of follow-up was required.

Results: During follow up, 20% of patients developed recurrence. At end of

follow-up, 21% of patients have persistent disease. The clinical and histological

characteristics related to adverse outcome (recurrence or persistent disease) was

lymph node metastases at diagnosis, high risk at ATA classification, incomplete

response to treatment. Stimulated thyroglobulin > 1ng/ml at first evaluation also

showed association to adverse outcome.

8

Conclusion: negative WBS at first evaluation should not be used as

prognostic factor alone. This must be analyzed together with others clinical and

laboratory characteristics.

9

Sumário

Lista de tabelas..............................................................................................xii

Lista de siglas e abreviaturas........................................................................xiv

Capítulos:

1 Introdução...............................................................................................1

2 Objetivos.................................................................................................4

3 Revisão da literatura

3.1 Classificação e epidemiologia.................................................................5

3.2 Apresentação e evolução........................................................................6

3.3 Etiologia..................................................................................................8

3.4 Avaliação de risco.................................................................................11

3.5 Tratamento

3.5.1 Tratamento cirúrgico. .........................................................................22

3.5.2 Terapia com iodo radioativo..............................................................26

3.5.3 Terapia supressiva com hormônio tireoidiano..........................33

3.5.4 Outras modalidades de tratamento..........................................37

3.6 Acompanhamento.................................................................................40

4 Pacientes e métodos

10

4.1 Desenho do estudo...............................................................................50

4.2 Pacientes..............................................................................................50

4.3 Protocolo...............................................................................................51

4.4 Análise estatística.................................................................................53

5 Resultados............................................................................................54

6 Discussão..............................................................................................62

7 Conclusão.............................................................................................67

8 Referencia Bibliográfica........................................................................68

ANEXOS

1. Protocolo registrado nos Centro de Ética em Pesquisa da UFRJ e

INCA...........................................................................................................................77

2. Ficha de coleta de dados......................................................................78

3. Artigo submetido a revista Clinical Nuclear Medicine entitulado: “Long

term follow-up of patients with differentiated thyroid cancer who had negative I-131

whole body scan at first evaluation after

treatment”………..…………………….……………………………………….……………79

11

Lista de tabelas

Tabela 1: Estadiamento AJCC/UICC.........................................................................12

Tabela 2: Classificação TNM - 6º edição..................................................................13

Tabela 3. Sistemas de estadiamento do CDT e método de cálculo........................................................................................................................14

Tabela 4: Estratificação de risco proposta pela ATA..................................................16

Tabela 5: Classificação de resposta ao tratamento, segundo Tuttle et al.................................................................................................................................20

Tabela 6: Indicação de terapia com iodo radioativo proposta por Sacks et al.................................................................................................................................31

Tabela 7: Característica da amostra..........................................................................54

Tabela 8: Características histopatológicas.................................................................55

Tabela 9: Tratamento inicial instituído........................................................................56

Tabela 10: Desfecho..................................................................................................57

Tabela 11: Fatores clínico-patológicos e associação com desfecho ........................59

Tabela 12: Valor da tireoglobulina estimulada na primeira avaliação após tratamento inicial e distribuição em relação ao desfecho.............................................................60

Tabela 13: Valor da tireoglobulina suprimida na primeira avaliação após o tratamento inicial e distribuição em relação ao desfecho.............................................................60

Tabela 14: Comparação entre os grupos com doença bioquímica e estrutural.........61

12

Lista de siglas e abreviaturas

AJCC/UICC- American Joint Committee on Cancer/Internacional Union

against Câncer

AMES- Age, Metastases, Extend, Size

ATA: American Thyroid Association

BRAF- v- raf murine sarcoma viral oncogene homolog B1

CDT- Carcinoma diferenciado da tiroide

CFT- Carcinoma folicular da tireoide

CPT- Carcinoma papilífero da tireóide

Col: colaboradores

cm: centímetros

ETA: European Thyroid Association

ESMO- European Society for Medical Oncology

HUCFF: Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

I131: iodo 131

IMA- Método imunométrico

INCa: Instituto Nacional do Câncer

LT4- Levotiroxina

MACIS:Metastases, age, completeness of ressection, Invasion, Size

OMS- Organização mundial da saúde

13

PAAF- Punção aspirativa por agulha fina

PAX 8/ PPAR-gamma: paired box 8/ peroxisome proliferator-activated

receptor gamma

PET- FDG- positron Emission Computed Tomography com

Fludeoxyglucose

PCI- Pesquisa de corpo inteiro com Iodo 131RAS: rat sarcoma mutante gene

PVE- proportion of variation in survival time explained

RIA- Radioimunoensaio

RT- Radioterapia externa

RET: receptor tirosine kinase proto- oncogene

RM- Ressonância magnética

SBEM- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

TC- Tomografia computadorizada

TSH- Hormônio tireoestimulante

TSH rh- Hormônio tireoestimulante recombinante

TNM - tumor, node, metastasis

USG- Ultrassonografia

UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro

X2- Qui- quadrado

14

1 INTRODUÇÃO

Os tumores malignos de tireóide são raros e apresentam evolução altamente

variável. O câncer diferenciado da tireóide (CDT) é o tipo mais comum (corresponde

a 94% dos tumores) e inclui dois subtipos: papilífero e folicular (1,2,3).

Apesar de raro (cerca de 1 % dos cânceres), representa a neoplasia

endócrina mais comum e é um dos cânceres que apresentou mais rápido aumento

de sua incidência em varias partes do mundo (4). De acordo com o resultado do

SEER (Surveillance, Epidemiology and End Results, Estados Unidos da América), a

incidência anual deste tipo de câncer nos EUA é de 11 por 100.000 (5). Análise

desses dados mostrou aumento de cerca de duas vezes na sua incidência e este

aumento parece estar relacionado a melhora nas técnicas diagnósticas e por isso

maior detecção de microcarcinomas papilíferos (<1cm) (6). Entretanto, análises mais

recentes também mostraram aumento dos carcinomas de todos os tamanhos,

incluindo os maiores de 4 cm e com doença a distância, sugerindo aumento real na

incidência com a participação de fatores ambientais além de aumento na detecção

de tumores pequenos (7, 8). No Brasil, a estimativa de incidência também mostra

aumento nesta taxa especialmente a partir dos 30 anos de idade (9).

O CDT é um dos tumores malignos que apresenta a maior taxa de cura,

com bom prognóstico e uma taxa de mortalidade < 10%. Apesar do aumento de sua

incidência, a mortalidade tem se mantido estável ou com pequena tendência a

diminuição que pode ser explicada pelo aumento dos casos de microcarcinoma

(tumores < 1 cm), que possui um excelente prognóstico em longo prazo (6, 10).

O prognóstico favorável é resultado das propriedades biológicas da maioria

dos carcinomas e da eficácia da terapêutica inicial (que consiste em tireoidectomia

total seguida da administração de iodo radioativo para ablação do remanescente, na

maioria dos casos). Após tratamento inicial, quase 80% dos pacientes vão ser

considerados livres de doença. No entanto, cerca de 30% dos pacientes vão

apresentar recorrência da doença: na grande maioria dos casos, a recorrência

acontece nos primeiros cinco anos após o diagnóstico, mas pode acontecer mesmo

15

após vinte anos do tratamento inicial. Por isso, é necessário o acompanhamento

regular e permanente (8, 10, 11).

O acompanhamento deve ser realizado baseado no risco da paciente:

existem alguns sistemas de classificação para o câncer de tireóide, sendo o TNM o

mais utilizado. Este sistema é capaz de predizer mortalidade, mas não recorrência,

portanto outras classificações vêm sendo propostas para serem avaliadas em

conjunto (8, 12).

Por muitos anos, o seguimento do câncer de tireóide tem sido baseado no

exame clínico, medida da tireoglobulina sérica e na cintilografia para pesquisa do

corpo inteiro com iodo 131 (PCI).

A PCI é usada para avaliar presença de doença residual no pescoço ou

metástase a distância, além de avaliar a avidez pelo iodo. Este exame está indicado

após ablação do remanescente tireoidiano (PCI pós dose), usualmente 5 a 7 dias

após a terapia com iodo radioativo, já que nesta situação é capaz de aumentar a

detecção de metástase a distância em 10-26%. Além disso, um exame de controle

(PCI diagnóstica) é indicado na reavaliação 6 a 12 meses após a terapia ablativa em

pacientes com risco intermediário ou alto de doença persistente. Em pacientes

considerados de baixo risco, sem doença clinicamente evidente, a PCI diagnóstica

não está indicada já que nesta situação tem baixa sensibilidade e não parece ser

melhor que a tireoglobulina na avaliação de doença residual/recidiva (12, 13, 14).

Com o aumento da incidência de CDT e um maior número de pacientes

sendo diagnosticados no estágio inicial, a apresentação clínica dos pacientes mudou

de casos avançados para casos iniciais que talvez necessitem de tratamento e

acompanhamento menos agressivos. Essas considerações mostram a necessidade

de mais dados para se obter um seguimento mais efetivo, menos invasivo e,

portanto melhora da qualidade de vida para estes pacientes que possuem uma

doença com baixa mortalidade, mas que necessitam de seguimento permanente (4).

Apesar da publicação de diretrizes de manejo do CDT por diversas

sociedades médicas, o diagnóstico e conduta no CDT ainda tem sido objeto de

16

ampla discussão na literatura: o acompanhamento subseqüente dos pacientes

considerados livres de doença na primeira avaliação ainda é controverso. Portanto,

avaliar a evolução da doença após dez anos de acompanhamento pode ajudar a

decidir o melhor seguimento a ser feito nesta população.

17

2 OBJETIVOS

• Descrever a evolução dos pacientes com carcinoma diferenciado da

tireóide que, na primeira avaliação após tratamento inicial,

apresentaram a pesquisa de corpo inteiro negativa, em um

acompanhamento mínimo de 10 anos.

• Identificar fatores que possam estar associados à recorrência ou

doença persistente neste grupo.

18

3 REVISÃO DA LITERATURA: CARCINOMA DIFERENCIADO DA TIREÓIDE

3.1 CLASSIFICAÇÃO E EPIDEMIOLOGIA:

Os tumores malignos de origem epitelial da tireóide podem ser classificados

histologicamente como tumor de célula folicular: papilífero e folicular (diferenciados);

pobremente diferenciado e indiferenciado (anaplásico). Há ainda os tumores de

células C: carcinoma medular e carcinoma folicular-medular misto. Os tumores de

origem não-epitelial são representados por linfoma, sarcoma e outros (15).

De acordo com a classificação mais recente da Organização Mundial da

Saúde (OMS), os tumores malignos da tireóide são classificados em carcinoma

papilífero, folicular, carcinoma pobremente diferenciado (padrão insular, trabecular e

sólido), indiferenciado (anaplásico). Além de tipos mais raros como: carcinoma de

células escamosas, carcinoma mucoepidermóide, mucoepidermóide esclerosante

com eosinofilia, mucinoso, folicular-medular misto e carcinoma com diferenciação

thymus-like. (3)

Existem vários subtipos de carcinoma papilífero da tireóide (CPT) e estes

correspondem a 20% de todos os CPT. São eles: variante folicular, esclerosante

difusa, de células altas, de células colunares. Sabe-se que as variantes de células

altas e colunares apresentam maior agressividade e é controverso se a variante

esclerosante difusa também apresenta pior prognóstico (15). Segundo a OMS, há

ainda as variantes macrofolicular, oncocítica e de células claras (3).

O carcinoma folicular da tireóide (CFT) pode ser dividido em 2 grupos:

minimamente invasivo ou encapsulado (quando há invasão focal da cápsula ou vaso

sanguíneo) e invasivo (quando há ampla invasão do teido peritireoidiano e/ou vaso).

A OMS considera o carcinoma de células de Hurthle como uma variante oxifílica do

carcinoma folicular, enquanto que o Armed Forces Institute of Pathology (AFIP),

considera ser uma entidade que merece uma classificação separada (3, 15).

19

As lesões de origem folicular correspondem a mais de 95% dos tumores e o

restante é representado principalmente por carcinoma medular da tireóide (15).

O carcinoma papilífero da tireóide representa a neoplasia mais comum,

correspondendo a 50-90% dos casos, seguido do carcinoma folicular que representa

de 10-15%, sendo mais comum em áreas deficientes de iodo. (3, 6, 15).

3.2 APRESENTAÇÃO E EVOLUÇÃO:

O CDT é mais comum em mulheres e se apresenta na maioria das vezes

como nódulo tireoidiano indolor associado ou não a linfonodomegalia. Os sintomas

compressivos também podem ser a queixa principal (1).

Nódulo tireoidiano é uma condição muito comum, sua freqüência aumenta

com a idade, deficiência de iodo, após irradiação e nas mulheres. Numerosos

estudos sugerem a prevalência de nódulo na população geral de 2-6% na palpação,

19-35% com ultrassonografia (USG) e até 65% em estudos de autopsia (16).

O diagnóstico do CPT é geralmente feito através da análise citopatológica do

material obtido por uma punção aspirativa por agulha fina (PAAF), realizada durante

investigação do nódulo. Entretanto, não é possível distinguir entre adenoma e

carcinoma folicular através da PAAF sendo necessária análise histológica que

mostre invasão de cápsula ou vascular. Portanto, na análise citopatológica, eles são

classificados no grupo de resultados indeterminados ou de neoplasia folicular

suspeita (neste grupo a taxa de malignidade é cerca de 20%) (1).

A idade de apresentação no CPT é em torno dos 30-50 anos (apesar de

poder acontecer em qualquer idade) enquanto o carcinoma folicular da tiróide

costuma se apresentar mais tardiamente, após os 50 anos (15). Diferente do CPT, o

CFT raramente acomete crianças (3).

O CPT é frequentemente multifocal e bilateral (20-80% dos casos). A

disseminação é primariamente por via linfática: um terço dos pacientes apresenta

20

clinicamente envolvimento linfonodal na apresentação. Cerca de 15% dos pacientes

tem extensão extratireoideana. Apenas 1-7% dos pacientes apresentam metástase a

distância ao diagnóstico. Já os CFT são maiores em relação ao CPT, e possui a via

hematogênica como sua principal via de disseminação: 5-20% já se apresentam

com metástase a distância (principalmente pulmão e osso) e raramente apresentam

envolvimento linfonodal (apenas 2-4%). A presença de metástase linfonodal é

considerada tão excepcional que deve-se pensar em diagnóstico alternativos como:

variante folicular do carcinoma papilífero, carcinoma oncocítico ou pobremente

diferenciado (15).

Apenas uma parte dos pacientes com CPT vão desenvolver recorrência da

doença (em torno de 15%) e cerca de5% tem evolução para óbito. Em pacientes

acompanhados por 20 anos na Clínica Mayo, a recorrência linfonodal mostrou-se a

mais comum (9%), seguido da recorrência local (5%) e a distância (4%). No CFT, a

recorrência é mais comum: 20% apresentam recorrência local e 23% apresentem

metástase a distância (15).

Em relação a mortalidade, o carcinoma folicular também supera o papilífero:

em 25 anos, a taxa de sobrevida é de 95% para papilífero e 66% para folicular (15).

Vários fatores estão associados ao pior prognóstico, que serão discutidos a frente.

A sobrevida dos pacientes com microcarcinoma papilífero é próxima a da população

normal da mesma maneira que a mortalidade do carcinoma folicular minimamente

invasivo é baixa com curvas de sobrevivência se assemelhando a população normal

(diferentemente do invasivo que apresenta taxas de mortalidade próxima a 50%) (3).

O microcarcinoma é definido pela OMS como tumor < 1 cm, achado

incidentalmente na avaliação histopatológica após tireoidectomia indicada por um

adenoma maior ou hiperplasia nodular (3). Em sua grande maioria é um carcinoma

papilífero (69-99%), sendo menos freqüente o achado de microcarcinoma folicular

(0,3-23%). A prevalência em autópsia varia de acordo com a população de 0,01 a

35,6% (17).

21

Uma metanálise publicada por Roti E et al. mostrou que a apresentação do

microcarcinoma varia muito de acordo com os estudos: multicentricidade pode ser

observado de 2,9-48%; invasão extracapsular de 2-62,1% e metástase linfonodal de

0-64%; metástase a distância foi raramente encontrada: 0,37%. A presença de

metástase linfonodal ao diagnóstico foi mais comum nos tumores maiores (>5-8mm)

e nos CPT variante folicular. Recorrência local ou linfonodal também apresenta taxa

bastante variável de acordo com os estudos: 0,3-37% (o valor combinado de 9379

pacientes de diferentes estudos foi 2,4%). Metástase à distância e morte foram

eventos raros: 0,27 e 0,34%, respectivamente. Nesta meta-análise, os fatores

associados à recorrência foram: idade < 45 anos, tumor clinicamente evidente,

multicentricidade, envolvimento de linfonodo ao diagnóstico. O tamanho e a

presença de invasão extratireoidena não foram associados à recorrência (17).

Ito Y et al. avaliaram a história natural de 162 pacientes com microcarcinoma

não submetidos a tratamento: mais de 70% permaneceram com tamanhos estáveis,

10,2% aumentaram mais de 10mm; o aparecimento de metástase linfonodal no

compartimento lateral, durante o acompanhamento de 5 anos foi de apenas 1,2%

(18).

3.3 ETIOLOGIA:

É amplamente aceito que o câncer de tireóide é fortemente determinado

pelo background genético do indivíduo: é o tumor que apresenta o maior risco entre

os parentes de primeiro grau (desconsiderando as neoplasias que possuem herança

mendeliana clássica). Esse risco é calculado em cerca de 8 a 10,3 vezes mais

chance de desenvolver tumor tireoidiano (19). Além disso, cerca de 5% dos casos

de carcinoma de origem folicular mostram agregação familiar (1). Vários possíveis

loci susceptíveis foram relatados, mas com resultado não reprodutível em outros

estudos e nenhum gene de alta penetrância foi localizado possivelmente pelo fato de

que o chamado câncer papilífero familiar representar, na verdade, várias entidades

diferentes (19).

22

O CDT também pode ser herdado como componente da polipose

adenomatosa familiar, síndrome de Gardner e doença de Cowden., através de

mutação germinativa nos genes APC no cromossomo 5 (nos dois primeiros) e

mutação no gene supressor tumor PTEN na última entidade(1).

Entretanto, a grande maioria dos casos de CDT é esporádico e considerado

uma doença complexa onde variações genéticas em genes de baixa penetrância

podem interagir entre si e com o ambiente modulando a susceptibilidade do

indivíduo ao câncer (19).

O único fator ambiental que está relacionado, de maneira bem estabelecida,

com CPT é a radiação ionizante (radioterapia externa ou exposição acidental). Sabe-

se ainda que o CFT é mais comum em áreas deficientes em iodo (19).

Diversas alterações genéticas envolvendo o eixo RET/PTC, RAS, BRAF da

via de sinalização da MAP kinase tem sido descritas como mutações somáticas

responsáveis pelo CPT e CFT. Apesar de envolver a mesma via de sinalização,

alterações especificas e mutuamente exclusivas foram descritas em cada subtipo de

CDT: rearranjo RET, NTRK1 e mutações pontuais em BRAF no CPT e rearranjo

PPARgama e mutação no RAS associada a CFT (15, 19).

Em relação ao CPT, ativação da via MAP kinase (RET/PTC, RAS, BRAF)

ocorre em aproximadamente 80% dos casos esporádicos ou induzidos por radiação

e são consideradas eventos iniciais. Anormalidades estruturais ocorrem em pelo

menos 50% dos tumores e freqüentemente envolvem o braço longo do cromossomo

10, onde se localiza o protooncogene RET (10q11-12) (15).

Uma única mutação ativadora do gene BRAF é encontrada em 40 % dos

CPT de adultos (29 a 69%). É uma mutação ativadora do gene da isoforma B da Raf

kinase, localizada no éxon 15, que foi vista resultar da substituição da valina por

ácido glutâmico na posição 600 (BRAF V600E): isso faz com que esta se torne

constitutivamente ativada e promove tumorigênese através da via MAPK A2. É mais

freqüentemente encontrada em tumores agressivos e na variante de células altas.

Não ocorre associada a rearranjo RET/PTC bem como não foi encontrado em outro

23

tipo de tumor tireoidiano e é raramente encontrada em crianças ou após radiação do

pescoço (15).

As formas ativadas do RET protooncogenes são conseqüência dos

rearranjos oncogênicos que levam a fusão do domínio do gene RET com o domínio

5’ de outro gene (que age como promotor), que resulta em expressão permanente

do gene RET; além disso, esses genes também induzem a ativação do RET por

dimerização permanente (15).

Três classes principais de RET/PTC foram identificadas, sendo semelhante

a freqüência do RET/PTC 1 e 3, e menor a do 2. A freqüência do rearranjo

RET/PTC varia de 2,5 a 35% dos casos de CPT, mas é mais comumente encontrado

nos tumores em crianças ou em pessoas expostas a radiação na infância (até 80%).

O rearranjo RET/PTC 1 é associado a tumores menos agressivos e com diagnóstico

mais tardio, enquanto que o RET/PTC3 são mais freqüentemente encontrados em

tumores agressivos que ocorrem precocemente e os que ocorrem após acidente

com radiação. A presença deste rearranjo em microcarcinomas sugere que este

constitui um evento precoce na carcinogênese (15).

Em até 10% dos CPT, existe uma mutação pontual ativadora do gene RAS,

principalmente na variante folicular. Muitos outros oncogenes podem estar

envolvidos na oncogenese do CPT, incluindo NTRK (15).

No CFT, a patogênese não esta bem esclarecida. Não é universalmente

aceita a transformação de adenoma em carcinoma folicular como é visto em outros

cânceres. Mas sabe se que é provavelmente de origem monoclonal e que a mutação

no oncogene RAS ocorre tanto em adenoma (20%) como carcinoma (40%). As

anormalidades citogenéticas e evidência de perda genética são mais comuns no

CFT que no CPT e também ocorre no adenoma folicular (15).

As anormalidades citogenéticas descritas mais comumente no CFT são

deleções, deleções parciais, deleções-rearranjo envolvendo o braço curto do

cromossomo 3. A translocação t(2;3)(q13;p25) foi detectada em 30 % (11-63%) dos

CFT e 10% dos adenomas foliculares; esta translocação resulta na fusão do domínio

24

do fator de transcrição PAX8 ao domínio do receptor peroxissoma proliferador-

ativado (PPAR gama 1). A proteína resultante pode retardar a inibição do

crescimento e diferenciação celular que é normalmente induzido pelo PPAR gama1

(15).

3.4 AVALIAÇÃO DE RISCO:

Tanto fatores relacionados ao tumor quanto ao paciente são

reconhecidamente preditores de recorrência/morte no CDT: idade ao diagnóstico,

tamanho do tumor primário, histologia do tumor, doença invasiva localmente,

ressecabilidade e presença de metástase a distância. Envolvimento linfonodal tem

sido associado em alguns estudos a aumento do risco de recorrência, mas sem

impacto na mortalidade relacionada a doença. Entretanto, outros estudos mostraram

aumento na mortalidade específica (11).

Diferente da maioria dos tumores sólidos, o risco de recorrência e risco de

morte pela doença nem sempre são concordantes em pacientes com CDT: as

crianças têm uma alta taxa de recorrência (normalmente maior que 30-40%), mas

com taxa de mortalidade específica menor que 1-2%; em pacientes mais velhos, há

maior taxa de recorrência que se associa a maior mortalidade. Essa diferença

provavelmente reflete tanto a diferença na biologia do tumor quanto a diferença na

resposta a terapia: os mais jovens apresentam com mais freqüência CPT clássico,

com avidez por iodo enquanto que em mais velhos há maior chance de tumores

pobremente diferenciados e refratários a iodo (11).

Diversos sistemas de estadiamento são propostos para o câncer de tireóide.

Estes são usados para: avaliar prognóstico individualmente (risco de recorrência e

mortalidade), decidir sobre necessidade de tratamento adjuvante, sobre a freqüência

e intensidade do seguimento, melhor comunicação sobre o paciente entre os

profissionais envolvidos (12).

25

Apesar do bom prognóstico do CDT, até 10% dos pacientes podem morrer

da doença e cerca de 30% sofrem as morbidades associadas à doença recorrente.

Por isso, numerosos estudos vêm identificando preditores clinico-patológicos para

CDT e criando estratificações de risco ou sistema de estadiamento para selecionar

aqueles com alto risco de morrer pela doença que necessitam de tratamento

cirúrgico e adjuvante mais agressivo; enquanto que os pacie

ntes de baixo risco seriam poupados de tratamentos agressivos (20).

O mais difundido é o estadiamento do American Joint Committee on

Cancer/Internacional Union against Câncer (AJCC/UICC) que é baseado no sistema

de classificação TNM (tumor, node, metastasis) associado à idade (Tabela1 e 2).

Este sistema não leva em consideração diversas variáveis que também têm valor

prognóstico independente, e foi desenvolvido para predizer mortalidade e não

recorrência. Então, vários outros sistemas foram propostos na tentativa de melhora

na acurácia da estratificação de risco: CAEORTIC (European Organization for

Research and Treatment of Cancer), AGES (Age, Grade, Extent, Size), AMES (Age,

Metastases, Extent, Size), U of C, MACIS (Metastases, Age, Completeness of

ressection, Invasion, Size), OSU, MSKCC, NTCTCS. (12). (Tabela 3)

Tabela 1: Estadiamento AJCC/U ICC

<45 anos > 45 anos

Estádio I M0 (qualquer T e N) T1 N0 M0

Estádio II M1 (qualquer T e N) T2 N0 M0

Estádio III T3 N0 M0

T 1,2,3 N1a M0

Estádio IVA T 1,2,3 N1b M0

T4a M0

Estádio IVB T4b M0

Estádio IVC M1 (qualquer T, N)

26

Tabela 2: Classificação TNM - 6º edição

T (tumor) T1 Tumor com 2 cm ou menos em sua maior dimensão,

limitado à tireóide.

T2 Tumor com mais de 2 cm até 4 cm em sua maior dimensão,

limitado à tiróide.

T3 Tumor com mais de 4 cm em sua maior dimensão,

limitado à tiróide, ou qualquer tumor com extensão

extratireoidiana mínima (p. ex., extensão ao músculo esterno-

tiroideano ou partes moles peri-tiroidianas).

T4 T4a: Tumor que se estende além da cápsula da tiróide e invade

qualquer uma das seguintes estruturas: tecido

subcutâneo mole, laringe, traquéia, esôfago, nervo laríngeo

recurrente.

T4b Tumor que invade fáscia pré-vertebral, vasos mediastinais ou

adjacente artéria carótida.

N

(linfonodo)

N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais

N1 N1a Metástase no nível VI (linfonodos pré-traqueal e paratraqueal,

incluindo pré-laríngeo e o de Delphian)

N1b Metástase em outro linfonodo cervical unilateral, bilateral ou

contralateral, ou em linfonodo mediastinal superior.

M

(metástase)

M0 Ausência de metástase à distância

M1 Metástase à distância

27

28

Tabela 3. Sistemas de estadiamento do CDT e método de cálculo.

CAEORTIC

(European Organization for Research and Treatment of Cancer)

Idade, + 12 se masculino, +10 se CFT pobremente indiferenciado, +10 se invade capsula tireoidiana, +15 se uma metástase a distância, +30 se 2 ou mais metástase. Grupo 1: < 50 pontos Grupo 2: 50-65 Grupo 3: 66-83 Grupo 4: 84-108 Grupo 5: > 108

AGES

(Mayo Clinic)

0,05 x idade (se maior que 40) ou + 0 (se <40 anos) + 1 (se tumor grau 2) ou + 3 (se tumor grau 3 ou 4) + 1 (se invasão extratireoideana) + 3 (se metástase a distância) + 0,2 x tamanho do tumor em cm. Grupo 1: <4 pontos Grupo 2: 4-4,99 Grupo 3: 5-5,99 Grupo 4: >6

AMES

(Lahey Clinic)

Baixo risco: Paciente sem metástase e (<41 anos-homem; <51 anos-mulher); Mais velhos com CPT intratireoidiano ou CFT minimamente invasivo; tumor < 5 cm e sem metástase. Alto risco: todos com metástase a distância; mais velhos com CPT com envolvimento da capsula ou CFT invasivo e tumor maior que 5 cm.

Clinical Class

(Universityof Chicago)

Classe I: tumor limitado a glândula tireoidiana Classe II: metástase locorregional Classe III: invasão extratireoidiana Classe IV: metástase à distância

MACIS

(Mayo Clinic)

3,1 (se <39 anos de idade) ou 0,08 x idade (se > 40 anos), + 0,3 x tamanho do tumor em cm, + 1 (se não foi ressecado completamente), +1 (se localmente invasivo), +3 (se metástase a distância)

OSU

(University Ohio State)

Estádio 1: tumor < 1,5 cm Estádio 2: 1,5-4,4cm ou presença de metástase ganglionar ou mais de 3 foco de tumor intratireoidiana Estádio 3: tumor > 4,5cm ou invasão extratireoidiana. Estádio 4: metástase a distância

GAMES: Grade, Age, Metastases, Extend, Size)

(Memorial Sloan Kettering)

Baixo risco: < 45 anos, sem metástase a distância, <4 cm, CPT. Intermediário: <45 anos, com metástase a distância, tumor > 4 cm ou CFT; >45 anos, sem metástase a distância, tumor < 4 cm e CPT. Alto: > 45 anos, com metástase a distância, tumor>4 cm, ou CFT.

NTCTCS

(National Thyroid Cancer Treatment Cooperative Study)

4 estádios dependendo da idade (45 anos); tamanho do tumor (<1cm,

>4 cm), descrição histopatológica: multifocal, invasão micro ou

macroscópica; metástase cervical ou a distância.

Adaptado das referências: 21, 22, 23, 24, 25, 26, 2 7, 28.

29

Os estudos que compararam estes sistemas mostram que todos eles

oferecem informações prognósticas úteis em relação a sobrevida. Os trabalhos

utilizam a medida do PVE (proportion of variation in survival time explained), um

número que vai de 0-100%, sendo que o maior PVE representa o melhor preditor do

tempo de sobrevida.

Lang et al avaliaram pacientes com CPT e concluíram que o MACIS

apresentou o maior PVE entre os testados (18,7%) (20). O mesmo grupo mostrou

que entre pacientes com CFT, o TNM apresenta o maior PVE (22,4%) (29);

D'Avanzo et al mostraram que o MACIS é o preditor mais acurado (PVE: 48%) (30).

Entretanto, alguns consideram que como não houve clara superioridade dos

sistemas estudados sobre o TNM, e levando em consideração que este é um

sistema universalmente disponível e amplamente aceito inclusive para outros

tumores, este deve ser o método utilizado nos estudos sobre tratamento e

prognóstico dos pacientes com CDT para facilitar comparação entre diferentes

centros (31). Esta conduta é adotada pela maioria das sociedades como mostram as

diretrizes da American Thyroid Association (ATA), European Thyroid Association

(ETA), e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) que

orientam o uso do TNM como sistema de estadiamento para o CDT (4, 12, 32).

Pelos valores de PVE relativamente baixos, está claro que os sistemas de

estadiamento estão longe da perfeição e que há espaço para melhorias já que

nenhum sistema foi capaz identificar uma pequena proporção de pacientes do grupo

considerado de “baixo risco” e que evoluem para morte relacionada a doença (20,

33). Talvez fatores biológicos, que tenham o poder prognóstico melhor, devam ser

incluídos aos sistemas já existentes para melhorar o sistema de predição (20).

30

Para estratificação de risco para recorrência, a ATA propõe uma

classificação em:

Tabela 4: Estratificação de risco proposta pela ATA ( referência 12)

Baixo risco Pacientes sem metástase local ou à

distância; todo tumor macroscópico foi

ressecado; não há invasão tumoral

locorregional a estruturas ou tecidos; o

tumor não tem histologia agressiva (de

células altas, insular, colunar) ou invasão

vascular; se foi feito iodo radioativo, não há

captação fora do leito tireoidiano no primeiro

PCI.

Risco intermediário Paciente com uma das seguintes

características: invasão microscópica no

tecido peritireoidiano na cirurgia inicial;

metástase linfonodal ou captação fora do

leito tireoidiano no PCI pós-dose

terapêutica; tumor com histologia agressiva

ou invasão vascular.

Alto risco Invasão tumoral macroscópica; ressecção

incompleta; metástase a distância e

possivelmente, tireoglobulina sérica num

valor desproporcional ao que é visto na PCI

pós-tratamento.

A ETA também propõe, no consenso europeu, uma classificação de risco

baseada nas características clínicas e patológicas após tratamento inicial:

• Muito baixo risco: tumor <1 cm, unifocal e sem extensão além da

cápsula tireoidiana, N0M0.

31

• Baixo risco: tumor T1 > 1 cm, N0M0 ou T2N0M0 ou multifocal

T1N0M0.

• Alto risco: Qualquer T3 e T4 ou qualquer T, N1 ou M1 (4).

Além disso, o mesmo consenso propõe uma estratificação de risco para

indicar tratamento com iodo radioativo:

• Muito baixo risco: microcarcinoma multifocal sem extensão

extratireoideana e sem metástase linfonodal (sem indicação).

• Alto risco: doença persistente documentada (metástase à distância ou

ressecção incompleta) ou com alto risco de doença persistente:

extensão tumoral extratireoideana, T3-T4 ou metástase linfonodal

(indicado iodo radioativo).

• Baixo risco: todos os pacientes que não se encaixam nos grupos

anteriores (sem consenso para indicar iodo radioativo) (4).

Da mesma maneira, o consenso brasileiro também orienta complementar o

TNM com a estratificação de risco baseado no exame anátomo-patológico e na

descrição da cirurgia, conforme segue:

• Muito baixo risco: T1a ou T1b, único, N0M0, ressecção tumoral

completa.

• Baixo risco: T1 multifocal ou T2, N0M0, ressecção tumoral completa.

• Alto risco: T3 ou T4, N1, M1, ressecção tumoral incompleta (32).

Em relação aos fatores moleculares, a detecção das seguintes mutações

somáticas já vem sendo aplicadas nas análises das punções de nódulos

indeterminados: BRAF V600E, NRAS, HRAS, KRAS, RET/PTC1, RET/PTC3, e

rearranjo PAX8/PPAR. Esse painel tem se mostrado útil em determinar nódulos com

maior chance de malignidade (34).

Além disso, apesar de controverso, vem sendo atribuído valor prognóstico a

algumas alterações genéticas, como o BRAF, já que tem sido associado a CPT com

curso mais agressivo e metástase linfonodal (34).

32

A relação entre a presença da mutação e características clínicas e

histopatológicas do CPT continua controversa. Alguns autores demonstraram a

maior prevalência desta mutação entre CPT que se apresentam em estádios mais

avançados, enquanto em outros estudos essa relação não se confirmou ou se

confirmou apenas parcialmente (35).

Um estudo com média de acompanhamento dos pacientes com CPT de 15

anos mostrou que a presença da mutação se correlacionou com pior prognóstico:

menor chance de cura e maior chance de morte pela doença. Neste trabalho, a

mutação mostrou ser um fator prognóstico independente de outros (35).

Uma meta-análise recente avaliou a mutação BRAF como fator prognóstico:

este estudo confirmou que os pacientes com mutação apresentam características

clínico-patológicas de alto risco ao diagnóstico (1,5-2,1 vezes mais extensão

extratireoideana, metástase linfonodal, e estadiamento TNM mais alto) e pior

prognóstico em longo prazo (2,1 vezes mais risco de doença recorrente ou

persistente). Nesta meta-análise, a taxa de mortalidade câncer-específica não foi

avaliada (36).

Em relação aos microcarcinomas, acredita-se que de acordo com os dados

já apresentados, esta entidade inclua duas subpopulações com comportamento

biológico distinto: tumores indolentes com mínimo ou nenhum potencial de

progressão e tumores com propensão a comportamento agressivo e disseminação.

Os fatores que mostram maior agressividade (como já discutido acima) não são

capazes de predizer, sozinhos, a presença de doença agressiva. Recentemente,

Niemeyer et al. sugeriram um escore patológico-molecular para microcarcinoma que

seria melhor preditor de agressividade. Este escore utiliza os seguintes fatores:

presença da mutação BRAF, localização superficial do tumor, multicentricidade e

fibrose (37).

Mais recentemente, a resposta ao tratamento inicial vem sendo incluído na

estimativa de risco dos pacientes, seguindo o conceito de avaliação contínua de

risco (“ongoing risk assessment”) (11, 38).

33

Em 2008, Tuttle e Leboeuf propuseram um sistema de acompanhamento

dos pacientes baseado no risco adaptado. A integração das informações da

estratificação de risco inicial com as informações que vem a partir do seguimento foi

chamada de “ongoing risk estratification”. Inicialmente, classificam em relação ao

risco de morte pela doença em (11):

• Muito baixo risco: <45 anos, tumor <1cm, sem histologia agressiva,

confinado a glândula, sem invasão vascular, ressecção completa,

sem metástase aparente.

• Baixo risco: <45 anos, 1-4cm, confinado a glândula, sem invasão

vascular, ressecção completa, com metástase linfonodal presente ou

ausente (em pacientes mais velhos este fator pode representar mais

risco mas provavelmente não em jovens).

• Intermediário: em pacientes < 45 anos: papilífero clássico >4cm ou

invasão vascular ou extensão microscópica mínima, histologia

agressiva. Em pacientes >45 anos: papilífero clássico <4cm ou

histologia agressiva; ressecção completa, sem metástase aparente.

• Alto risco: > 45 anos, papilífero clássico > 4cm ou > 1-2cm com

histologia agressiva (variantes de células altas, colunar, insular,

pobremente diferenciados), ressecção incompleta, metástase à

distância.

Há ainda uma classificação em relação ao risco de recorrência da doença:

• Baixo risco: tumor <1cm, histologia clássica, confinada a glândula, sem

envolvimento linfonodal aparente.

• Intermediário: 20-60 anos, 1-4cm, com mínima extensão

extratireoideana ou invasão vascular; envolvimento linfonodal

presente ou ausente.

• Alto: <20 ou> 60 anos, >4cm, histologia agressiva ou extensão

extratireoideana ou invasão vascular, metástase linfonodal presente.

34

Finalmente, a resposta ao tratamento foi classificada em excelente, aceitável

e incompleta, conforme tabela 5:

O

Tabela 5: Classificação de resposta ao tratamento, segundo Tuttle et al.

(referência 11).

Excelente:

Tireoglobulina suprimida e estimulada indetectáveis; curva

de tireoglobulina mantida indetectável; anticorpo anti-

tireoglobulina negativo.

USG sem evidência de doença;

PCI, RM, TC, PET, se realizados, sem evidência de doença.

Aceitável:

Tireoglobulina suprimida <1 ng/ml ou estimulada < 10ng/ml;

curva de tireoglobulina em queda com anticorpo ausente ou

em queda.

USG com alteração não específica no leito tireoidiano;

linfonodo provavelmente inflamatório; linfonodo cervical

milimétrico, estável, mesmo que anormal por critérios

ultrassonográficos.

PCI: sem captação anormal, PET: alterações não

específicas consistentes com doença inflamatórias ou

variantes do normal.

Incompleta:

Tireoglobulina suprimida >1ng/ml ou estimulada> 10ng/ml;

curva de tireoglobulina estável ou em ascensão, anticorpo

estável ou em ascensão.

USG com evidência estrutural de doença recorrente ou

persistente no leito tireoidiano (>1cm); linfonodo cervical

>1cm ou metástase a distância, particularmente se

progressiva ou positivo no PET.

PCI: doença persistente ou recorrente, PET: imagens ávidas

no FDG RM: ressonância magnética; PET: positron emission computed tomography; TC: tomografia computadorizada

35

Os autores acreditam que esta reavaliação de risco (“secundary risk

estratification”), deva ser feita após 2 anos do tratamento inicial, já que neste

momento, mais dados estão disponíveis como: um ou dois USG cervicais, várias

tireoglobulinas suprimidas, tireoglobulina estimulada, PCI (11).

Em 2010, o mesmo autor e colaboradores validaram a estratificação de risco

para recorrência proposta pela ATA (ver acima), além de verificar se a avaliação da

resposta a terapia modifica esta estimativa inicial, em um total de 588 pacientes com

CDT com tempo de acompanhamento médio de 7 anos. O PVE da estratificação da

ATA é de 34% enquanto que o da avaliação a resposta foi de 84% (33).

A estratificação da ATA é uma representação estática das características

clínico-patológicas disponível na avaliação inicial. Associando a resposta ao

tratamento, uma estimativa mais acurada, útil e dinâmica pode ser utilizada para

refinar a estratificação a cada visita do paciente. Eles demonstraram que a

estratificação da ATA efetivamente define o risco de doença persistente/recorrente e

que deve ser usada para guiar o manejo nos primeiros 1-2 anos. Entretanto, a

intensidade e o tipo de acompanhamento devem ser definidos baseando-se também

na reestratificação, para incluir a resposta ao tratamento (33).

Verburg et al. analisaram 509 pacientes que apresentaram sucesso no

tratamento inicial (definido por tireoglobulina estimulada indetectável e PCI negativo

na primeira avaliação feita 6-12 meses após o tratamento inicial) e demonstraram

que este foi mais importante como fator prognóstico de recorrência do que a

classificação inicial em baixo ou alto risco (de acordo com a classificação da ETA):

se houve sucesso na ablação, o risco de recorrência é comparável entre os grupos

categorizados inicialmente como alto ou baixo risco (3,7 versus 3,4%, p=0,68) (39).

Castagna et al. também analisaram a estratificação de risco adiada para

incluir a resposta ao tratamento inicial (“delayed risk stratification - DRS”). Este

grupo considerou em remissão clínica aqueles que tinham tireoglobulina basal e

estimulada indetectáveis, anticorpo anti-tireoglobulina negativos e não tinham

36

evidência de doença (exame clínico, USG, PCI negativos) na primeira avaliação 8-

12 meses após tratamento inicial. Pacientes com qualquer evidência de doença

foram considerados como tendo doença persistente, representando grupo de alto

risco. A remissão clínica completa ocorreu em 87,8% e 87,2% dos pacientes

considerados de baixo risco pela classificação da ETA e da ATA, respectivamente e

em 53,3 e 52,2% dos pacientes considerados de alto risco. Portanto, quase 50% dos

pacientes de alto risco passaram para o grupo de baixo risco de acordo com a

resposta ao tratamento (DRS), mostrando concordância entre as classificações da

ATA e da ETA e a diferença na classificação proposta. Em relação ao prognóstico, o

PVE das classificações mostrou-se semelhante para as classificações da ATA e ETA

(25,4 e 19,1%) e maior para a DRS (62,1%), mostrando maior habilidade em

predizer recorrência. Estes resultados reforçaram a proposta de integrar

continuamente a estratificação inicial com as informações clínicas que surgem

durante o acompanhamento. Apesar da estratificação de risco proposta pela ETA e

ATA ser um bom sistema para iniciar a avaliação, elas são menos acuradas em

predizer o prognóstico em longo prazo: ambos tem valor preditivo positivo muito

baixos devido ao fato de que a maioria pacientes (cerca de 60%) considerados de

risco intermediário/alto estão em remissão completa no final do seguimento. Além

disso, a taxa de recorrência no grupo com remissão completa foi muito baixa (2,7%)

e não variou entre os grupos, sugerindo que estes pacientes têm bom prognóstico

independente do risco (38).

3.5 TRATAMENTO

3.5.1 TRATAMENTO CIRÚRGICO

O tratamento inicial para a maioria dos pacientes com CDT consiste em

tireoidectomia total seguido de ablação com iodo radioativo (4, 12, 32). Entretanto,

muita controvérsia ainda existe a respeito da extensão/tipo de cirurgia e indicação de

iodo radioativo, dada ausência de estudos prospectivos sobre o assunto. Levando

em consideração o curso indolente do CDT associado ao bom prognóstico, a

37

realização de estudos prospectivos necessitaria de uma amostra numerosa seguida

por um longo período de tempo o que torna quase impraticável a realização destes

(40, 41).

De acordo com os guidelines mais recentes, a tireoidectomia total ou near

total está indicada em todos os casos de CDT com tumor maior que 1 cm. Além

disso, também deve ser feita se há nódulo contralateral, metástase regional ou à

distância, história de radioterapia prévia em cabeça/pescoço, história familiar em

parente de primeiro grau de CDT. Idade maior que 45 anos também pode ser

indicador de tireoidectomia total por apresentar maior risco de recorrência (4, 8, 12).

O consenso brasileiro indica tireoidectomia total em todos os casos independente do

tamanho (32).

Esta conduta encontra suporte nos seguintes dados: carcinoma papilífero

multifocal/bilateral pode ser visto em 60-85% dos casos, 5-10% das recorrências

acontecem no lobo contralateral (1). O consenso brasileiro destaca ainda que

mesmo em relação aos microcarcinomas, a recorrência linfonodal pode alcançar 5%

e metástase à distância 2,5% (32). Além disso, a possibilidade do tratamento com

iodo radioativo e a especificidade da tireoglobulina como marcador tumoral para

acompanhamento em longo prazo dependem da ressecção de maior tecido possível

(1, 4, 8, 12).

Entretanto, a maioria das sociedades aceita a tireoidectomia subtotal para

casos de: tumor menor que 1 cm, baixo risco, unifocal, sem extensão

extratireoideana na ausência de história prévia de irradiação ou metástase linfonodal

(4, 12) e com histologia favorável (papilífero clássico ou variante folicular ou

carcinoma folicular minimamente invasivo) (8, 41).

A maior extensão da cirurgia parece melhorar a sobrevida e diminuir a

chance de recorrência em pacientes de alto e baixo risco. Através do National

Cancer Data Base- EUA, Bilimoria et al. analisaram 52.173 pacientes com o

diagnóstico de carcinoma papilífero de tireóide com acompanhamento mínimo de 5

anos. 82,9% foram submetidos a tireoidectomia total e 17,1% a lobectomia. A

38

recorrência variou tanto em relação ao tamanho quanto em relação ao tipo de

cirurgia realizada: quanto maior o tumor, maior a taxa de recorrência e analisando

tumores de todos os tamanhos, a lobectomia foi associado a maior taxa de

recorrência em 10 anos: 9,8% versus 7,7% (p< 0,05). A taxa de sobrevida em 10

anos também diminuiu com o aumento do tamanho do tumor, mas só foi

estatisticamente pior para tumores maiores que 4 cm; a sobrevida também foi maior

em quem foi submetido a tireoidectomia total (98,4 versus 97,1%, p< 0,05) (40).

Através de análise multivariada, o impacto do tipo da cirurgia e do tamanho

do tumor foi avaliado com controle de fatores confundidores como características do

tumor, do paciente, do tratamento: a lobectomia foi associada a um aumento de 57%

no risco de recorrência e de 21% de mortalidade. Para tumores menor que 1 cm,

não houve diferença estatisticamente significativa entre lobectomia ou

tireoidectomia. Para todos os outros intervalos de tamanho de tumor, incluindo

quando tumores de 1-2 cm foram analisados separadamente, houve maior risco de

recorrência e morte. As seguintes limitações são apontadas neste trabalho e podem

ter sido fonte de viés nos resultados: não houve informação sobre extensão

extratireoideana, não há informação sobre terapia supressiva no pós operatório e

somente 56,2% foram submetidos a terapia com iodo radioativo. Finalmente, os

autores concluem que o modesto benefício sobre o desfecho mostrado neste

trabalho deve ser pesado contra o risco potencial das complicações de uma

tireoidectomia total e interpretado no contexto da experiência e taxa de complicação

do cirurgião. Os autores sugerem que se a taxa de complicação do cirurgião é maior

que 1-2%, a lobectomia pode ser melhor para um paciente de baixo risco. Este foi o

primeiro trabalho a demonstrar claramente a vantagem da tireoidectomia total para o

tratamento do CDT (40).

Em relação ao carcinoma folicular minimamente invasivo, apesar de

controverso, a tireoidectomia subtotal pode ser adequada para tumores que exibem

apenas invasão de cápsula tumoral. Apesar de invasão vascular não parecer

diminuir sobrevida em todos os trabalhos, a maioria dos cirurgiões prefere realizar

tireoidectomia total seguida de ablação com iodo radioativo nestes casos (41, 42).

39

Hassanain & Wexler mostraram a evolução de 180 pacientes com CDT > 1

cm tratados em um único centro, por um único cirurgião e acompanhamento médio

de 10 anos: a cirurgia conservadora (lobectomia + istmectomia ou

hemitireoidectomia) foi realizada em 70% dos pacientes e em 30% foi realizada a

cirurgia completa (tireoidectomia total ou near-total). Neste trabalho, a taxa de

recorrência e complicação foi maior nos pacientes submetidos a tireoidectomia total

mas isso reflete, indubitavelmente, um efeito do viés de seleção; os autores

concluíram que a cirurgia conservadora parece ser suficiente para pacientes de

baixo risco (definido pelos sistemas MACIS e AMES), além de evitar complicações

cirúrgicas sem aumentar significativamente o risco de recorrência local, regional ou a

distância (43).

Mais recentemente, Nixon et al demonstraram que para os pacientes

com estadiamento T1-T2, a cirurgia subtotal pode ser utilizada de maneira segura. O

grupo analisou 889 pacientes tratados no Memorial Sloan Kettering Cancer Center

de 1986 a 2005. 59% dos pacientes foram submetidos a tireoidectomia total e 41% a

lobectomia. Após um seguimento médio de 99 meses, não houve diferença na taxa

de recorrência local ou regional e na taxa de sobrevida. Os autores reforçam que

apesar de resultados semelhantes já tenham sido evidenciados em outros estudos

de grandes instituições, as diretrizes atuais mantêm a recomendação de

tireoidectomia total, exceto em tumores muito pequenos (44).

Há também controvérsia em relação à dissecção linfonodal. Sabe-se

que metástase linfonodal pode estar presente em 20-90% dos pacientes com CPT

ao diagnóstico, e em muitos pacientes os linfonodos do compartimento central não

parecem anormais nos exames de imagem do pré-operatório e nem durante a

inspeção na cirurgia. Entretanto, conforme já discutido, o impacto clínico desde fator

é controverso (12).

O consenso da ATA, através de recomendação nível B (existe evidência,

mas a força desta é limitada pelo tamanho, qualidade ou consistência dos estudos),

recomenda que a dissecção do compartimento central deva ser feita quando há

envolvimento clínico destes linfonodos. E como evidência nível C (baseada em

40

opinião de experts), a dissecção profilática pode ser feita em pacientes com CPT,

especialmente para tumores primários avançados (a tireoidectomia total sem

dissecção profilática parece ser adequada para os pacientes com CPT pequenos-

T1/T2, não invasivos, sem doença clínica evidente e para maioria dos CFT). Os

autores reforçam que essa escolha deve ser feita levando em consideração a

experiência do cirurgião, avaliando risco/benefício, dada maior taxa de complicação

cirúrgica (lesão do nervo laríngeo recorrente, hipoparatireoidismo) (12).

Essa recomendação também é proposta por outras sociedades (4, 8, 32).

Dralle & Machens, em uma revisão sobre manejo cirúrgico para CDT recomendam

dissecção rotineira do compartimento central para CPT maior que 1 cm (41).

Suliburk & Delbridge também relataram que realizam dissecção linfonodal

compartimento central ipsilateral ao tumor de maneira rotineira (42).

3.5.2 TERAPIA COM IODO RADIOATIVO

A terapia com iodo radioativo é realizada com iodo 131 (I131); este emite

raios beta e gamma com uma meia vida física de 8,1 dias. Pode ser utilizada para

ablação do remanescente tireoidiano no pós-operatório, tratamento de metástase

nas doenças avançadas ou recidivantes (45, 46, 47).

O tratamento ablativo do remanescente tireoidiano tem como objetivo a

redução de recorrência loco-regional, mortalidade, detecção de metástase através

do PCI pós-dose terapêutica, facilitar o acompanhamento através da dosagem da

tireoglobulina e PCI (45, 46).

Para ablação, é necessário que o hormônio tireoestimulante (TSH) esteja

maior que 30 mUI/L para induzir captação de iodo suficiente no remanescente; isso

pode ser conseguido através da indução do hipotireoidismo (suspensão da

reposição da levotiroxina por cerca de 3-4 semanas) ou através da administração do

TSH recombinante (0,9 mg de TSH rh, via intramuscular, por dois dias

consecutivos). As vantagens desta técnica seria evitar a morbidade de induzir

41

hipotireoidismo, menor exposição a radiação de tecidos extratireoidiano devido a

menor radioatividade no sangue (que pode ser explicado pela manutenção do

clearence renal, o que não acontece durante o hipotireoidismo) (45).

Para escolha da dose de I131, existem dois métodos disponíveis: empírico e

através da dosimetria. Se for escolhida de maneira empírica, deve se avaliar vários

fatores como: se o objetivo é ablação ou tratamento de doença metastática, a

extensão do tumor, a histologia, idade e, presença de metástase. É o método mais

utilizado e, portanto tem as vantagens de ser fácil, longa história de uso, e uma

aceitável freqüência e gravidade das complicações; também não é necessária a

realização do PCI diagnóstica evitando o stuning. A desvantagem é que não é

possível determinar a mínima quantidade para levar uma dose letal ao tumor ou a

máxima permitida para ser seguro; e se esta dose não for suficientemente efetiva,

outras doses serão necessárias, sendo que as doses fracionadas podem não ser

equivalente a mesma quantidade dada de uma só vez.

A dosimetria pode ser lesional ou de corpo inteiro. Na primeira, é

determinada a dose necessária para destruir a lesão, o que pode melhorar o

resultado do tratamento com a menor dose eficaz ou evitar um tratamento que não

trará resultado. A desvantagem é o custo e a dificuldade do método. A dosimetria de

corpo inteiro tem como objetivo determinar a máxima dose tolerável para um

determinado órgão crítico para prevenir complicações (46).

A dose suficiente para o sucesso da ablação varia de acordo com a

extensão da cirurgia e pode ser de 1-3,7GBq (30-100mCi). Em casos de histologia

mais agressiva ou suspeita de doença residual, a dose de 3,7-7,4GBq (100-200

mCI) pode ser usada sem precauções especiais (12, 45, 46). Se doses maiores são

consideradas para o tratamento, a dosimetria deve ser usada para estimar a dose

para assegurar que não exceda 2Gy, o limite tradicionalmente aceito para evitar

mielotoxicidade (45). Se a captação tireoidiana exceder 10-20%, o paciente deve ser

reencaminhado ao cirurgião para complementar a tireoidectomia (45, 46).

42

É importante que o paciente faça a dieta pobre em iodo por 2-3 semanas

antes do tratamento para melhorar a captação do iodo no remanescente (<50mcg de

iodo por dia) (12, 45). O tempo sugerido para a dieta pobre em iodo varia de 1-4

semanas anteriores ao tratamento ou PCI diagnóstica. De acordo com uma revisão

recente sobre a dieta pobre em iodo, uma dieta com < 50 mg de iodo por dia por 1-2

semanas, parece ser o mais estudado (apesar de não haver comparações head-to-

head com dietas menos restritivas e mais curtas). Não se sabe que a dieta pobre em

iodo pode melhorar o resultado no tratamento ou ablação do remanescente e se

pessoas que vão receber TSH Rh necessitam de um tempo maior de dieta. Deve-se

estar atento ao desenvolvimento de hiponatremia como efeito colateral da mesma

(48).

Deve ser recomendado o uso de método contraceptivo eficaz por 6-12

meses após o tratamento a mulheres em idade fértil; antes deste período, há

aumento da chance de aborto e parto prematuro. Em homens, a qualidade do

espermatozóide pode diminuir transitoriamente; como a meia vida do mesmo é de 4

meses, a procriação deve ser evitada neste período. Se doses maiores que 15Gbq

são esperadas, a crio-conservação de espermatozóide deve ser recomendada (45).

A realização do PCI 4-6 dias após a dose é mandatória para o estadiamento

definitivo do paciente. A sensibilidade do método após esta alta dose é cerca de 20-

30 vezes maior que quando realizada com atividade normal (PCI diagnóstica). Em

casos com remanescente grandes a alta captação pode aparecer na região cervical,

mediastinal e até no tórax, sendo recomendado rever em 3-6 meses para

estadiamento definitivo (45).

Para o tratamento de doença metastática, o resultado depende fortemente

da massa tumoral e do grau de diferenciação. O tratamento também tem um

potencial de paliação em tumores não operáveis, ou não completamente

ressecados, se apresentarem avidez por iodo. Se possível, as doses devem ser

escolhidas através da dosimetria individual, já que dose máxima deve ser

administrada para atingir efeitos curativos (45).

43

Em relação a metástase ganglionar, o tratamento primário é cirúrgico,

mesmo se captarem iodo. De fato, o debulking das lesões melhora o resultado do

tratamento subseqüente. Entretanto, pacientes com pequenos linfonodos, o iodo

pode ser realizado sem necessidade de repetir a cirurgia.

Para metástases pulmonares, a decisão de tratar com iodo radioativo

depende da captação, tipo e tamanho das lesões e resultados de tratamento

anteriores. Para lesão tipo micronodular que ocorre com mais freqüência em

pacientes jovens com CPT, a dose pode ser administrada repetidamente em

intervalos de 6-12 meses, se necessário; remissão completa pode ser alcançada

nestes casos, mas raramente pode acontecer fibrose ou pneumonite. Lesão

macronodular é mais comum em pacientes adultos com CFT, e necessita de mais de

uma modalidade terapêutica, sendo mais difícil alcançar remissão (45, 46).

Em metástase óssea, os critérios para definição do tratamento apropriado

são: risco de fratura patológica, complicação neurológica, dor, e avidez por iodo. Se

utilizado para paliação, deve ser realizado junto com radioterapia externa (aumenta

estabilidade óssea). Em metástase cerebral, o tratamento é cirúrgico, independente

da avidez pelo iodo. Se o tratamento com iodo for escolhido, profilaxia com

glicocorticóide deve ser feito para prevenir edema e suas complicações (45).

As contra indicações ao iodo radioativo são: gestação e lactação. A

amamentação deve ser suspensa 6-8 semanas antes do tratamento. As contra-

indicações relativas incluem: alto grau de supressão da medula óssea em casos de

tratamento com alta dose; fibrose pulmonar e diminuição considerável da função

pulmonar em pacientes com metástase pulmonar e alta captação de iodo;

xerostomia significativa devido à diminuição da função da glândula salivar (45)

Os efeitos colaterais precoces são: dor local, sialodenite e gastrite. São

freqüentes, dependem da dose administrada e não permanentes. O efeito colateral

permanente mais freqüente é: xerostomia, devido a sialadenite crônica com perda

do gosto e aumento do risco de cáries que pode ser acompanhada por diminuição

da função da glândula lacrimal. Outros efeitos tardios incluem: supressão da medula

44

óssea, fibrose pulmonar, hipo/azoospermia, oligo/amnorréia, aparecimento

secundário de malignidade ( apesar de controverso, parece ser dose dependente,

mais comum quando alcançado doses cumulativas elevadas de iodo, maiores que

600mCI) (45).

Não há ensaios clínicos randomizados, com longo acompanhamento,

provando a eficácia do tratamento com iodo radioativo em relação ao desfecho; as

melhores evidências disponíveis são de estudos observacionais (47, 49). De acordo

com uma revisão sobre o assunto conduzido por Sawka et al em 2008, que incluiu

estudos sobre eficácia com seguimento maior que 5 anos, apenas 3 dos 12 estudos

analisados mostraram benefício na mortalidade. Em relação a qualquer recorrência,

3 dos 6 estudos analisados mostraram benefício (3 dos 4 estudos para recorrência

loco-reginal e 2 dos 3 para metástase a distância). Com base nestes dados, os

autores não podem confirmar um significativo e consistente benefício da ablação na

diminuição da mortalidade câncer-específica ou recorrência em estágios precoces

do CDT. Entretanto, diminuiu significativamente o risco de metástase a distância

apesar de este ter sido um evento raro, da mesma maneira que morte é um evento

raro na evolução do paciente de baixo risco e por isso limita a habilidade de provar

benefício do tratamento (47).

Apesar do seu uso difundido, a eficácia do tratamento ablativo com iodo

radioativo é controversa, particularmente em pacientes de baixo risco. Mostrar

benefício deste tratamento tem sido desafiador, particularmente para tumores

pequenos; um crescente número de evidências sobre efeitos colaterais deste

procedimento, incluindo malignidades secundárias, também tem contribuído para o

debate. Em outra revisão mais recente sobre o assunto, Sacks et al revisaram

evidências disponíveis sobre a eficácia do uso de iodo radioativo para CDT de baixo

risco e relataram as dificuldades para avaliar o tratamento: falta de ensaios clínicos

randomizados, a maioria dos estudos analisam os diferentes tipos histológicos juntos

(apesar de apresentarem comportamento, prognóstico, captação de iodo diferentes),

tempo de acompanhamento variáveis, existência de muitos sistemas de

estadiamento (pelo menos 16), várias definições de alto e baixo risco, evolução nos

45

métodos de detecção de recorrência – o que dificulta comparação entre os estudos.

A revisão incluiu estudos que comparavam diretamente o uso ou não de iodo

radioativo. Na maioria dos trabalhos, o tratamento não foi associado a melhora

estatisticamente significativa da mortalidade ou sobrevida. Quando ajustado por

variáveis de risco, 4 trabalhos mostraram benefício na mortalidade, enquanto 13 não

mostraram. Quando analisado apenas estudos considerados com melhor desenho

metodológico, a maioria não mostrou benefício especialmente em análise de

subgrupo de baixo risco (como ausência de metástase ou invasão extratireoideana,

mas incluindo pacientes com metástase ganglionar), mas para os pacientes de alto

risco (consistente com estádio III, IV ou II em < 45 anos do AJCC) houve benefício

na mortalidade. Em relação à recorrência, os resultados são divididos: metade dos

trabalhos mostra significância estatística entre tratamento com iodo radioativo e

diminuição de doença recorrente; os resultados parecem favorecer a relação do

tratamento com recorrência, exceto no grupo de baixo risco onde não há melhora

significativa na taxa de recorrência. Nesta revisão, Sack et al. propuseram critérios

para indicação de iodo radioativo, baseado na idade, estadiamento AJCC/TNM e

MACIS (tabela 6)(49):

Tabela 6: Indicação de terapia com iodo radioativo proposta por Sacks et al.

(referência 49)

Risco < 45 anos >45 anos I131

Muito

baixo

Microcarcinoma: uni ou multifocal Tumor < 4cm confinado a glândula Estádio 1; MACIS<6

Microcarcinoma: uni ou multifocal Estádio 1; MACIS<6

Não

Baixo Tumor < 4 cm com ou sem metástase central microscópica Estádio 1; MACIS< 6

Tumor <4 cm confinado a glândula Estádio 2 (T2N0M0); MACIS<6

Não

46

Hay et al publicaram os resultados do acompanhamento de 2.444 pacientes

com CPT tratados em um único centro (Mayo Clinic) de 1940 a 1999. Nesta análise,

mostrou-se que ao longo das seis décadas estudadas, houve aumento da freqüência

de tireoidectomia total em relação a lobectomia e aumento dos pacientes

submetidos ao tratamento com iodo radioativo; entretanto nas últimas cinco décadas

não houve melhora significativa na mortalidade específica ou na taxa de recorrência

(para grupo de alto ou baixo risco). A maior freqüência do uso de iodo radioativo não

parece ter melhorado o prognostico em pacientes de baixo risco (MACIS<6) em

relação aos que eram tratados apenas com tireoidectomia near-total (50).

As recomendações para o tratamento ablativo com iodo radioativo nas

diretrizes mais recentes são as seguintes:

Moder ado Tumor > 4 cm Metástase ganglionar central ou lateral >1 cm Histologia agressiva (células de hurthle, insular, esclerosante, células altas, etc) Extensão extratireoideana mínima CFT minimamente invasivo < 4cm Estádio 1 (T1-T3, N1b, M0)

Histologia agressiva CFT minimamente invasivo <4 cm

Casos

selecionados

Alto Metástase a distância Extensão para músculo, invasão de fascia, tecido subcutâneo, laringe, traquéia, esôfago ou nervo laríngeo recorrente, vasos mediastinais ou carótida Estádio1 (T4a, T4b) Estádio 2

Tumor > 4cm Extensão para músculo, invasão de fascia, tecido subcutâneo, laringe, traquéia, esôfago ou nervo laríngeo recorrente, vasos mediastinais ou carótida Metástase ganglionar para compartimento central ou lateral Metástase a distância CFT macroscopicamente invasivo ou > 4 cm Estádio 3 ou 4

Sim

47

ATA, 2009: o tratamento ablativo com iodo radioativo é recomendado para

todos pacientes com metástase a distância, extensão extratireoideana macroscópica

independente do tamanho do tumor, tumor > 4 cm. Também é recomendado para

casos selecionados de pacientes com tumor de 1-4 cm confinado a tireóide, com

metástase linfonodal ou outro característica de risco quando a combinação da idade,

tamanho do tumor, linfonodo, histologia prediz um risco intermediário a alto de

recorrência ou morte. Não é recomendado para pacientes com microcarcinoma,

mesmo que multifocal, sem outra característica de risco (12).

ETA, 2007: Está indicado para pacientes com metástase à distância ou

ressecção incompleta ou extensão extratireoideana do tumor (T3-T4) ou

envolvimento linfonodal. Não está indicado em casos de cirurgia completa, histologia

favorável, tumor unifocal, N0, M0, sem extensão extratireoideana. Nos casos em que

a cirurgia foi menor que a total ou sem dissecção linfonodal ou idade < 18 anos ou

T1>1cm e T2, N0, M0, ou histologia desfavorável (células altas, colunares,

esclerosante difusa ou folicular invasivo ou pobremente diferenciado), é considerado

como provável indicação (4).

SBEM, 2007; ESMO (European Society for Medical Oncology), 2010: A

terapia está indicada em todos os pacientes submetidos à tireoidectomia total,

exceto nos casos de muito baixo risco (T1N0M0, único, com ressecção completa) (8,

32).

3.5.3 TERAPIA SUPRESSIVA COM HORMÔNIO TIREOIDIANO (LT4)

Tireoidectomia total, ablação com iodo radioativo seguido de supressão do

TSH com levotiroxina (LT4) em longo prazo é o tratamento tradicional para o CDT.

As células do CDT expressam receptores de TSH nas membranas celulares e

respondem a estimulação do TSH aumentando a produção de proteínas tireóide-

específicas (tireoglobulina, cotransportador de sódio-iodeto), captação de iodo e taxa

48

de crescimento celular. O tratamento com LT4 reduz o nível sérico de TSH, inibindo

o crescimento de tecido neoplásico tecidual. Em pacientes com CDT, a supressão

do TSH pode induzir a diminuição de recorrência e o aumento, endógeno ou

exógeno, do TSH pode ocasionalmente induzir progressão clínica. Por outro lado,

existe risco em induzir hipertireoidismo subclínico principalmente de doença

cardiovascular (particularmente fibrilação atrial, exacerbação da angina e outras

arritmias) e doença óssea (osteoporose em mulheres pós menopausa) (51, 52).

Supressão do TSH com dose supra-fisiológica de LT4 vem sendo usada

com objetivo de diminuir recorrência e até mortalidade relacionada ao câncer de

tireóide. O primeiro relato de uso de hormônio tireoidiano no manejo do CDT foi feito

por Dunhill em 1937 e em 1977, Mazzaferri et al. publicaram a análise dos dados de

10 anos de acompanhamento de 576 pacientes com CPT (52, 53). Neste estudo

retrospectivo, a terapia supressiva mostrou diminuição na taxa de recorrência (53).

Deste então, supressão do TSH por longo prazo vem sendo usado como terapia

padrão no CDT e numerosos relatos de casos, série de casos e estudos de coorte

têm reportado a eficácia desta terapia; entretanto, validação formal destes dados

com estudos que garanta alto nível de evidência estão faltando.(52).

Em 1998, Cooper et al. publicaram os resultados da análise do banco de

dados National Thyroid Cancer Treatment Cooperative Registry: 683 pacientes com

CDT acompanhados por uma média de 4,5 anos. Em pacientes de baixo risco, os

dados não dão suporte ao conceito que uma maior supressão do TSH foi necessária

para prevenir progressão de doença. No entanto, no grupo de paciente de alto risco,

o nível de TSH (considerado supressão TSH<0,1mUI/L) foi um preditor

independente para progressão de doença (mas não quando tratamento com iodo foi

incluído na análise) (54).

Em 2002, McGriff et al. publicaram o resultado de uma meta-análise onde

foram incluídos 10 ensaios clínicos e mostraram que o grupo de pacientes sob

supressão teve menor risco de eventos adversos (progressão de doença,

recorrência, e morte). Como poucos estudos puderam ser incluídos e os maiores

coortes não era randomizados ou tinham controles apropriados, a avaliação de

49

relação causa-efeito entre supressão do TSH e diminuição de eventos sugeriu uma

associação provável e os autores concluíram que mais estudos são necessários

(55).

Não há um nível ótimo de supressão do TSH recomendado para redução de

recorrência e melhora da sobrevida sem piora da qualidade de vida e com mínimo

efeito colateral (51, 54). Sabe-se que doses de LT4 que suprimam TSH para um

nível de 0,4mU/L induzem supressão máxima da tireoglobulina. Biondo & Copper

então, propuseram uma divisão em nove potenciais grupos de pacientes

dependendo da idade, presença de co-morbidade cardiovascular preexistente, fator

de risco de doença óssea e a classificação de risco proposta pela ATA (ver acima);

para cada grupo foi definido alvo diferente de TSH. Os autores concluem que

supressão mais agressiva do TSH é indicada para pacientes de alto risco de

recorrência, enquanto que supressões menos agressivas são razoáveis para

pacientes de baixo risco. Em pacientes com CDT de alto risco e também de alto

risco de efeito adverso, o tratamento deve ser individualizado e reavaliado. Em

pacientes com risco intermediário de recorrência e alto risco de efeito colateral da

terapia, o grau de supressão deve ser reavaliado durante o seguimento. Eles

sugerem ainda que a normalização do TSH é aconselhável para o tratamento a

longo prazo de pacientes idosos livres de doença mas com co-morbidades

significativas (51).

Em 2010 foi publicado o resultado do que parece ser o primeiro estudo

clínico randomizado para avaliar a eficácia da terapia supressiva. Foi um trial

controlado, randomizado, conduzido em um único centro no Japão, e avaliou a

hipótese de que a taxa de sobrevida livre de doença não seria inferior para pacientes

sem terapia supressiva. Foram incluídos 433 pacientes, randomizados em 2 grupos:

manter os níveis de TSH < 0,01mU/L ou entre 0,4-5; os pacientes com

microcarcinomas foram excluídos e nenhum paciente foi submetido a ablação com

iodo radioativo. Considerados a taxa de sobrevida livre de doença em 5 anos,

mortalidade em 5 anos, recorrência total e local de recorrência, não houve diferença

estatisticamente significativa entre os grupos. A taxa de sobrevida livre de doença

não foi mais que 10% inferior para os pacientes sem supressão, conforme a

50

hipótese formulada. E esse resultado se manteve quando separado os grupos de

alto e baixo risco conforme o sistema AMES (52).

De acordo com o consenso da Sociedade Européia de Oncologia Médica

(2010), a duração da supressão permanece em debate e a recomendação atual em

pacientes com baixo risco, que foram considerados livres de doença após

tratamento inicial, é mudar o alvo para manter um TSH dentro do limite normal. Em

pacientes de alto risco mesmo considerado livre de doença, o TSH deve permanecer

suprimido (em torno de 0,1mU/L) por um período de 3-5 anos (8).

A ATA (2009) recomenda supressão para níveis menores que 0,1 mU/L em

pacientes de alto ou risco intermediário enquanto que níveis pouco abaixo ou no

limite inferior seria recomendável para pacientes de baixo risco. (0,1-0,5 mU/L) (12).

De acordo com o consenso brasileiro (2007), o alvo de TSH deve ser

reavaliado de acordo com resposta ao tratamento: se ressecção incompleta ou

metástase o alvo de vê ser <0,1mU/L; da mesma maneira deve ser mantido em

pacientes que durante o acompanhamento mantêm sinais de doença persistente

(tireoglobulina elevada). Se na primeira avaliação 6-12 meses após tratamento, o

paciente estiver sem doença aparente com tireoglobulina indetectável e é de baixo

risco este alvo pode ser aumentado para 0,5mU/L; se for de alto risco: 0,1-0,5mU/L.

Se for de muito baixo risco, o TSH pode ser mantido entre 0,5-2mU/L desde o

começo do acompanhamento (32).

O consenso da ETA (2006) recomenda supressão do TSH para níveis < 0,1

mU/L, mas esse alvo deve ser alterado para níveis normais se o paciente for

considerado livre de doença durante acompanhamento. A supressão é mandatória

para pacientes com doença persistente. Em pacientes de alto risco que são

considerados livre de doença, a supressão ainda deve ser mantida por 3-5 anos;

enquanto que pacientes de baixo risco considerados livre de doença o alvo do TSH

deve ser em torno de 0,5-1mU/L. (4).

51

3.5.4 OUTRAS MODALIDADES DE TRATAMENTO

• Radioterapia externa (RT)

A evidência para uso de radioterapia externa como parte do tratamento

inicial da doença (local) vem de estudos retrospectivos, com resultados conflitantes

no CDT. Entretanto, os últimos relatos foram suficientes para a ATA e a Associação

Britânica de Tireóide recomendar a RT adjuvante para certos pacientes de alto risco

(56).

Um estudo clínico randomizado foi iniciado, mas interrompido por

complicação séria; entretanto, nos últimos dois anos dois grandes centros (MD

Anderson e Memorial Sloan-Kettering) publicaram análises retrospectivas mostrando

uma alta taxa de pacientes de alto risco livre de recorrência após o tratamento com

RT para doença localmente agressiva (estudos sem grupo controle): 79% e 74% em

4 anos. Os autores concluíram que a RT parece ser uma opção efetiva, com

toxicidade aceitável para controle de doença locoregional. (57, 58).

Segundo Brierly, a conduta no Princess Margaret Hospital é realização

de RT em pacientes com estadiamento T4a e T4b, com mais de 50 anos. De acordo

com dados levantados nessa instituição, os pacientes T3 tem risco de recorrência

baixo e, portanto melhora no desfecho também pouco significativo comparando com

os efeitos colaterais do procedimento, não sendo este mais indicado como era no

passado para esse grupo de pacientes (56).

Como conclusão de uma recente revisão sobre uso da RT em CDT,

Brierly sugere que a experiência de grandes centros dá suporte ao uso de RT a

pacientes de alto risco selecionados principalmente com extensão extratireoidiana

ampla (ou recorrências cervicais repetidas). Apesar do avanço nas técnicas, a

escolha do paciente deve ser cuidadosa para os riscos de toxicidade não superar o

benefício de diminuição (56).

A ATA recomenda RT para doença residual ou recorrente ampla,

irressecável, metástase óssea dolorosa, lesão metastática em localização crítica

52

com possibilidade de fratura, complicação neurológica ou compressiva sem

condições cirúrgicas (por exemplo, metástase vertebral, sistema nervoso central,

pélvica, metástase mediastinal ou subcarinal em pacientes selecionadas) (12).

Segundo a ETA, a RT está indicada para tratamento inicial ou doença recorrente de

tumores irressecáveis ou invasão local com provável doença residual que não capta

iodo. Pode também ser indicado para metástase óssea e cerebral (4).

• Tratamento sistêmico

A maioria dos pacientes com CDT vão ser curados com tratamento

inicial padrão; outros vão sobreviver por décadas apesar de doença persistente e

poucos podem necessitar de uma modalidade de tratamento nova quando a carga

de doença é grande e em progressão. Esses raros casos de paciente com CDT

devem ser preferencialmente incluídos em ensaios clínicos que testam novas

drogas. Não há evidência se as novas modalidades terapêuticas são mais eficazes

em estágios mais precoces do que nos mais tardios, quando os tumores são

maiores e por isso a maioria dos pacientes só iniciam o tratamento sistêmico após

documentação da progressão de doença. Entretanto muitos pacientes com doença

metastática podem ficar estáveis e assintomáticos por longo período de tempo e,

nesses pacientes o benefício das novas terapias deve ser pesado contra as

toxicidades das drogas e rigor na participação dos ensaios clínicos (59).

Schlumberger & Sherman definiram doença refratária ao iodo quando

o paciente apresenta pelo menos uma lesão que não capta iodo ou que progrediu

em um ano após com tratamento com iodo ou que persista após administração de

uma dose cumulativa de mais de 600mCI. Estes pacientes têm uma sobrevidada

média de 3-6 anos após a detecção de metástase, mas crescimento tumoral lento é

comum principalmente em jovens com tumores bem diferenciado (59).

Os pacientes com doença metastática refratária ao iodo devem ser

avaliados para todos os indicadores de prognóstico clínicos (idade, performance

status, histologia, extensão, localização e progressão da doença) além de

procedimentos diagnósticos que incluem US cervical, tomografia computadorizada

53

pescoço, tórax, abdômen e crânio. Como as metástases ósseas lentamente

progressivas são difíceis de visualizar na cintilografia óssea, RM de coluna e pelve

deve ser considerada. Um PET FDG18 (positron emission computed tomography

com fludeoxyglucose) deve completar a avaliação, lembrando que as lesões com

maiores captações de FDG devem ser consideradas prioridades. Esses exames de

imagem são importantes para localizar e avaliar possibilidade de outra modalidade

de tratamento antes da sistêmica (radioterapia, embolização, cirurgia).

A terapia sistêmica padrão (quimioterapia) tem baixa taxa de

resposta em pacientes com doença avançada com alta toxicidade. O agente mais

freqüentemente testado é a doxorrubicina sozinho ou combinado com taxa de

resposta vaiando de 0-22% sendo parciais e pouco duradouras (59, 60). Novos

agentes como taxanos, gemcitabina ou irinotecam foram testados com número

pouco significativo de pacientes (59). Um esquema recentemente apresentado

(gemcitabina e oxaliplatina) mostrou-se tolerável e eficaz, mas também em uma

amostra pequena de paciente (61).

Muitas anormalidades moleculares têm sido descritas no CDT e

representam alvos potenciais para terapia. Conforme descrito acima, 80% dos

tumores papilíferos apresentam mutações ativadoras em genes que codificam

moléculas da via de sinalização da MAPKinase (rearranjo RET, mutação RAS e

BRAF) e acredita-se que seja o evento inicial. Lenvatinib (E7080), motesanib,

sorafenib, sunitinib e vandetanib são inibidores de multikinase que dividem a

habilidade de inibir RET e VEGFR (receptor de fatores de crescimento endotelial que

também estão super expressos no endotélio do tumor tireoidiano e potencial alvo de

terapia), e têm sido usados no CDT. Axitinib e pazopanib parecem agir somente com

evento anti-angiogênico (59, 60).

Estão disponíveis resultados de ensaios clínicos de fase 1 e 2 com

axitinib, lenvatinib, motesanib, pazopanib, sorafenib e vandetanib que confirmam o

benefício deste tratamento, com estabilização e resposta parcial na maioria dos

casos. Estudo de fase 3 está sendo conduzido com sorafenib (60). As agências

regulatórias (FDA e EMA) ainda não aprovaram o uso para pacientes com CDT fase

54

avançada e progressiva, mas algumas diretrizes recomendam o uso em pacientes

selecionados (12, 60). Os efeitos colaterais são significativos e incluem fadiga,

hipertensão, anorexia, diarréia, citopenias e toxicidade cutâneas, que podem levar a

diminuição de dose ou suspensão da medicação em número expressivo de

pacientes.

O uso de sorafenib e RO5185426 tem sido associado ao aparecimento de

câncer escamoso cutâneo e ceratoacantoma em mais de 21% dos pacientes

tratados (59).

3.6 ACOMPANHAMENTO:

O objetivo primário do acompanhamento é identificar e tratar cerca de 30%

dos pacientes que apresentarão recorrência da doença, aceitando-se que a

detecção e tratamento precoce podem diminuir morbidade e prolongar sobrevida;

dois terços deles acontecem na primeira década, mas pode acontecer 20-30 anos

após o tratamento inicial (11, 62). A frequência e intensidade no acompanhamento

são motivo de debate principalmente para pacientes de baixo risco, já que a chance

de doença recorrente ou recidiva é rara neste grupo (63); mas, infelizmente, mesmo

com os melhores sistemas de estadiamento/estratificação de risco, continua

existindo um risco de morte pela doença mesmo nestes pacientes, confirmando a

necessidade de acompanhamento longo e permanente (11, 63). Por outro lado, o

espectro de apresentação dos pacientes com CDT mudou nos últimos anos com

uma grande parte sendo descoberto nos estádios iniciais da doença e, portanto, o

acompanhamento deve seguir um protocolo com alto valor preditivo negativo para

reduzir o número de investigação desnecessária e identificar os poucos pacientes

com risco previamente não reconhecido de recorrência (4).

Durante muitos anos o acompanhamento do paciente com CDT foi baseado na

pesquisa de corpo inteiro com iodo (PCI) com objetivo de detectar doença recorrente

ou persistente; entretanto, a tireoglobulina mostrou-se mais sensível principalmente

quando aliada ao USG (63) de maneira que a base da detecção/acompanhamento

55

do paciente de baixo risco deixou de ser baseado somente no PCI e passou a

basear-se na tireoglobulina e USG (11).

Para escolher que testes são mais apropriados para detecção de doença

recorrente é importante definir os sítios mais prováveis da doença, além da

probabilidade desta captar iodo (ou fluorodeoxiglicose - FDG) e produzir quantidade

de tireoglobulina que permita a detecção da doença (11).

• Tireoglobulina

A tireoglobulina (Tg) é uma grande glicoproteína produzida por células

foliculares normais e neoplásicas. Determinar seu nível sérico (principalmente se

estimulada) é a melhor maneira de detectar tecido tireoidiano normal ou neoplásico

e monitorizar doença recorrente ou persistente já que não há outra fonte que possa

elevá-la falsamente (12, 62). Ela não deve ser detectável em pacientes que foram

submetidos a tireoidectomia total seguida de ablação da glândula, o que garante boa

sensibilidade e especificidade na detecção de doença recorrente.

A dosagem da tireoglobulina tem mudado nas últimas duas décadas:

tradicionalmente era realizada pelo método de radioimunoensaio competitivo (RIA) e

tem sido amplamente substituída pelos métodos não competitivos imunométricos

(IMA): que podem ser IRMA, IFMA, ILMA/ICMA ou ainda IEMA/ELISA (dependendo

de como o anticorpo é marcado para detecção: I125, componentes fluorescente ou

luminescente ou com uma enzima produzindo sinais colorimétricos ou

luminescentes, respectivamente). Apesar desta evolução, a tireoglobulina é um dos

testes bioquímicos mais difíceis em manter boa performance analítica e grandes

diferenças entre resultados podem ser encontradas entre diferentes métodos e

laboratórios. Isto se deve a heterogeneidade das isoformas de tireoglobulina (que é

amplificada em pacientes com CDT devido à biossíntese desregulada), já que cada

método usa um tipo diferente de anticorpo monoclonal; interferência com anticorpos

heterófilos, efeito gancho, diferenças na precisão e sensibilidade funcional (limite

mínimo de detecção) e principalmente a presença de anticorpos anti-tireoglobulina

(64,65,66). Os resultados devem ser padronizados com o padrão internacional CRM-

56

457 (o que diminui mas não elimina a variabilidade método-a-método). Entretanto,

mesmo padronizado, os valores podem ser diferentes em até duas vezes quando

medidos em ensaios diferentes levando a recomendação de realizar a dosagem

sempre no mesmo ensaio e laboratório em um dado paciente. (12, 66)

O anticorpo anti-tireoglobulina, que está presente em 10% da população e em

25% dos pacientes com CDT, pode induzir resultados falsamente negativos quando

a tireoglobulina é dosada com método imunométrico e, portanto devem ser avaliado

de maneira quantitativa a cada medida de tireoglobulina; de maneira inversa, se a

tireoglobulina estiver alta na presença do anticorpo, doença residual deve estar

presente (62, 12, 65). A dosagem através de método radioimunoensaio parece sofre

menor interferência com a presença do anticorpo, e o valor é geralmente aumentado

falsamente mas é pouco disponível e o significado, na prática ainda não é claro. (12,

15, 65). Da mesma maneira, também deve ser dosada por um mesmo método, no

mesmo laboratório, no acompanhamento de um dado paciente. Em pacientes em

completa remissão, os níveis do anticorpo devem declinar gradualmente para níveis

menores e indetectáveis em uma média de 3 anos; a persistência ou reaparecimento

deste deve ser considerado suspeito para doença recorrente (12, 11, 62).

O nível sérico de tireoglobulina se relaciona com a carga tumoral, o que pode

explicar valores indetectáveis em pacientes com metástase linfonodal isolada ou

com pequenas lesões pulmonares não visualizadas na radiografia de tórax. Isto

pode levar a falha em detectar pacientes com doença (falsos negativos); outras

causas de falso negativo são: presença de anticorpo anti-tireoglobulina ou, menos

comumente, por produção ou secreção defeituosa ou ausente da mesma (em

carcinomas pouco diferenciados, por exemplo) (12, 15). A produção da tireoglobulina

é em parte dependente do TSH; desse modo, para aumentar a sensibilidade deste

marcador em detectar doença, utiliza-se a tireoglobulina estimulada (pelo TSH). Há

duas maneiras de consegui-la: através da suspensão do hormônio tireoidiano por

cerca de 4 semanas objetivando um TSH> 25-30mU/L ou através da aplicação do

TSHrh onde pico da tireoglobulina acorre no terceiro dia após a segunda injeção.

Apesar do aumento da tireoglobulina ser freqüentemente menos importante após

TSHrh do que com o hipotireoidismo, a eficiência diagnóstica em identificar

57

pacientes com doença metastática do TSHrh é comparável a induzida pelo

hipotireoidismo na maioria dos pacientes com cut off de 2ng/ml. (12, 15, 65).

Nas últimas três décadas, a precisão e sensibilidade dos ensaios têm

melhorado de forma significativa (de 5ng/ml nos primeiros RIAs a 0,01ng/ml nos

imunoensaios mais recentes) às custas da diminuição da especificidade que pode

ser superado com a medida seqüencial da tireoglobulina suprimida para avaliar a

tendência desta (64).

O consenso sobre utilização da tireoglobulina no seguimento de pacientes de

baixo risco, publicado em 2004, sugere que o seguimento pode ser feito baseando

apenas na tireoglobulina estimulada e que a PCI pouco adiciona em identificar

pacientes com doença recorrente/persistente. Um cutoff de 2 ng/ml na tireoglobulina

estimulada e a presença de tireoglobulina suprimida detectável (>1ng/ml) na

avaliação cerca de um ano após tratamento com cirurgia e terapia ablativa já indica

investigação adicional; isto ocorre em cerca de 20% dos pacientes deste grupo. Se

tireoglobulina estimulada entre 0,6 e 2ng/ml: reavaliar periodicamente, até

estabilização ou negativação (que ocorre na maioria dos pacientes em um ou mais

anos). Sugerem ainda que se o paciente for considerado clinicamente livre de

doença com tireoglobulina suprimida e estimulada <1ng/ml (considerada indetectável

na época), o que ocorre com mais de 65% dos pacientes de baixo risco, este pode

ser seguido com exame clínico e tireoglobulina suprimida anualmente (66).

Com objetivo de identificar a minoria dos pacientes com tireoglobulina

suprimida indetectável, mas com tireoglobulina estimulada > 2ng/ml, Iervasi et al,

através do estudo de 160 pacientes com CDT , compararam a tireoglobulina medida

através de um método altamente sensível (sensibilidade funcional <0,1ng/ml) com

método padrão (sensibilidade funcional 0,9 ng/ml). 17% dos pacientes com

tireoglobulina suprimida detectável pelo método padrão e 100% detectável pelo

método altamente sensível apresentaram tireoglobulina estimulada (com TSHrh) >

2ng/ml. Os autores sugerem, então, a modificação do acompanhamento: pacientes

com tireoglobulina suprimida < 1 ng/ml na primeira avaliação deve ser submetido a

dosagem da tireoglobulina através de um método altamente sensível: se < 0,1ng/ml

58

não haveria necessidade de avaliar tireoglobulina estimulada (apenas se esta for de

0,1-1ng/ml) (A67). Em outro estudo semelhante, Smallridge et al. mostraram que

raramente um paciente com tireoglobulina ultra sensível < 0,1ng/ml tem

tireoglobulina estimulada > 2ng/ml e nenhum tem captação de iodo na PCI sugestivo

de doença recorrente. Nesse estudo também recomendam o seguimento de

pacientes com tireoglobulina supersensível indetectável com tireoglobulina

suprimida, exame clínico e USG; em caso desta tornar-se detectável durante o

acompanhamento ou alguma anormalidade seja detectada ao USG, este paciente

necessitará de investigação. (68).

Mais recentemente, Brassard et al publicaram os resultados de um estudo

prospectivo com 715 pacientes que apresentaram PCI pós dose positivo apenas em

região cervical anterior, e mostrou que os valor de tireoglobulina suprimida e

estimulada que apresentou melhor valor preditivo para doença recorrente foi de

0,27ng/ml e 1,4ng/ml, respectivamente (utilizando um ensaio com sensibilidade

funcional de 0,1ng/ml) (69). Malandrino et al, através da análise retrospectiva de 425

pacientes, sugeriram o valor de 0,15 ng/ml como tendo o melhor valor preditivo de

recorrência. (70)

• Pesquisa de corpo inteiro com I131

Este método depende da capacidade do tecido neoplásico em captar iodo na

presença de altos níveis de TSH que são alcançados por suspensão do hormônio

tireoidiano ou através do uso do TSHrh (com administração do iodo radioativo o dia

seguinte a segunda injeção). Para realizar PCI (“diagnóstica”), uma dose de 2 a 5

mCi é administrada e o scan realizado; a captação, se presente, é medida em 48 a

72 horas após. É necessário dieta pobre em iodo, e o paciente deve ser orientado a

evitar medicação contendo iodo além de excluir gravidez.

A PCI também pode ser realizada após dose terapêutica de iodo já que a dose

maior pode ser capaz de detectar lesões que não puderam ser detectados com a

dose de 2-5 mCI (PCI “pós-dose”). Desta maneira, a PCI pós-dose deve ser

realizado de rotina após 3 a 7 dias do tratamento. Este é o motivo da administração

59

de altas doses de I131 em pacientes com tireoglobulinas persistentemente elevadas

mesmo com a PCI diagnóstico negativa (15).

Durante muitos anos, o acompanhamento dos pacientes com CDT baseou-se

na realização de PCI periodicamente (74). Apesar de críticas, a PCI diagnóstica

ainda é realizada de maneira rotineira na primeira avaliação da doença que, em

geral, é feita 6-12 meses após o tratamento inicial, juntamente com tireoglobulina

estimulada (PCI de controle). Esta avaliação tem como objetivo pesquisar doença

persistente local ou à distância e, portanto, resposta ao tratamento inicial. De

maneira que níveis elevados de tireoglobulina estimulada sugerem fortemente a

presença de doença persistente que merece ser pesquisada e tratada. E nesses

casos, a imagem com I131 podem ajudar a localizar o sítio da doença (73).

Com evolução de outros métodos, principalmente a tireoglobulina e

ultrassonografia, a utilidade deste método vem sendo questionada. Alguns

trabalham mostram que a PCI acrescenta pouca informação ou não mudaria o

manejo do paciente, principalmente de baixo risco. (11, 63, 72, 73).

Pacini et al. analisaram a utilidade do PCI de controle em estudo retrospectivo

e concluíram que na presença de tireoglobulina estimulada negativa, a PCI não

acrescenta informações. Além disso, chama atenção para o fato de PCI positiva

nessa avaliação pode representar remanescente tireoideano normal e não

necessariamente indicar nova terapia; em até 1/3 deles houve negativação da

mesma sem necessidade de retratamento (73). Esse achado foi confirmado por

outros autores: Taylor et al. concluíram que a PCI adiciona pouca informação a

tireoglobulina estimulada e, na experiência deles, não influenciaram o manejo do

paciente. Eles reforçam que deve ser reservado para pacientes com anticorpo

positivo, ou quando há suspeita clínica de tumor (72). Mazzaferri & Klossor,

estudando 107 pacientes, concluíram que a PCI tem utilidade na avaliação do

sucesso da ablação e não da persistência do tumor, que foi melhor identificado com

tireoglobulina estimulada maior que 2ng/ml (75).

60

Entretanto esses achados não foram confirmados em todos os estudos:

Robbins et al., concluíram que a tireoglobulina estimulada sozinha não foi capaz de

detectar todos os pacientes com doença persistente; em sua população, 13% dos

pacientes com doença persistente tinham tireoglobulina estimulada < 2ng/ml e foram

detectados por PCI positiva. Quando analisado os pacientes de baixo risco, a PCI

não se mostrou útil (74).

Este método mostra-se útil na avaliação da resposta ao tratamento,

acompanhamento dos pacientes de alto risco, doença recorrente e em pacientes

com anticorpo positivo, onde a dosagem da tireoglobulina não é confiável; ou

quando a tireoglobulina estimulada não está disponível (11, 63, 72, 74, 75).

• Ultrassonografia (USG)

A USG é o principal método de acompanhamento para detecção de doença

recorrente local/ganglionar, já que o faz de maneira precoce.

Torlontano et al confirmaram a utilidade do USG e tireoglobulina estimulada na

detecção de doença recorrente durante o acompanhamento de 493 pacientes de

baixo risco. Nestes pacientes, o USG foi capaz de identificar os pacientes com

recidiva linfonodal, incluindo a minoria que apresentava PCI positiva e também os

que apresentavam tireoglobulina negativa. Além disso, foi possível correlacionar o

volume do linfonodo e o valor da tireoglobulina estimulada. Os autores então

concluem que é indicado fazer USG e tireoglobulina estimulada na primeira

avaliação mesmo com exame físico e tireoglobulina normais, já que o USG parece

detectar mais precocemente a recorrência (63).

• Recomendações sobre acompanhamento:

Tuttle & Leboeuf sugeriram que a intensidade e freqüência do

acompanhamento deveriam ser individualizadas de acordo com a estratificação de

risco inicial associado à avaliação da resposta ao tratamento na evolução do

paciente, conforme já discutido (“ongoing risk stratification”). Os autores têm como

objetivo identificar doença recorrente clinicamente significativa de maneira acurada

61

sem submeter todo paciente com câncer de tireóide a testes desnecessários, caros,

por vezes incômodos e com pouca probabilidade de descobrir doença clinicamente

significativa. Foram definidos grupos de risco baseado nos dados disponíveis logo

após diagnóstico, nos primeiros dois anos o seguimento é semelhante nestes:

tireoglobulina suprimida a cada seis meses com USG cervical anual. Exames de

imagem adicionais, PET-FDG, e PCI de rotina, ficam reservados a pacientes de alto

risco. Os pacientes de risco intermediário com USG indeterminada pode

ocasionalmente realizar PCI em busca de doença captante de iodo que possa se

beneficiar de uma segunda dose de iodo radioativo (ver página 18) (11).

Segundo esses autores, após dois anos, o acompanhamento deve ser baseado

na resposta ao tratamento (ver critérios na página 20): quem teve excelente resposta

pode ser acompanhado com mínima intensidade com exame clínico e tireoglobulina

suprimida; outras avaliações adicionais como USG cervical e tireoglobulina

estimulada apenas diante de suspeita clínica de doença recorrente/persistente.

Muitos serão considerados como tendo resposta aceitável com linfonodos anormais

mas pequenos ou com alterações pouco específicas em outros exames; neste

grupo, USG cervical deve ser mantido anualmente por mais tempo (mais de 5 anos).

Neste ponto, se não há progressão de doença estrutural, e a tireoglobulina

permanece estável em baixos níveis, parece razoável manter acompanhamento com

consultas anuais, tireoglobulina suprimida e ocasionalmente USG (11).

Pacientes com resposta incompleta, caracterizados por tireoglobulina em

ascensão, doença estrutural progressiva, doença persistentemente positiva ao PET-

FDG são de alto risco para doença clinicamente significativa e necessitam de

investigação contínua e agressiva com USG, exames de imagem como TC e RM, e

PET-FDG e provavelmente necessitarão de terapia adicional (11).

Os pacientes de muito alto risco como pacientes com metástase ao diagnóstico

ou ressecção incompleta, não se enquadram nesta estratégia já que freqüentemente

apresentam doença persistente ou progressiva e podem necessitar de terapia com

iodo radioativo adicional ou radioterapia externa e um acompanhamento mais

intensivo com PCI, PET-FDG e outros exames de imagem; dada variedade de

62

apresentação destes pacientes fica difícil estabelecer uma recomendação uniforme

para todos os pacientes. De uma maneira geral, exames de imagem a cada 6 meses

é apropriado com exames adicionais como PET-FDG e PCI indicado de acordo com

a situação clínica de cada paciente (11).

A recomendação dos consensos para o acompanhamento inicial é a

reavaliação do paciente em 3 meses para a avaliar a dose do hormônio tireodiano,

com a dosagem do TSH, T4L (se o PCI pós dose foi positivo apenas no

remanescente, sem captação fora do leito tireoidiano); 6-12 meses após o

tratamento inicial deve ser reavaliado com exame físico, USG e tireoglobulina em

supressão, seguida da tireoglobulina estimulada (em hipotireoidismo ou após TSH

recombinante; o consenso europeu sugere o uso de TSH recombinante de rotina,

sendo usado hipotireoidismo apenas quando este não for disponível), exceto nos

casos com anticorpo anti-tireoglobulina positivo nos quais deve se seguir os níveis

de anticorpos e considerar PCI diagnóstica. (4, 12, 32)

Se a tireoglobulina estimulada for <1-2ng/ml, seguir acompanhamento clínico

com tireoglobulina suprimida e USG a cada 6-12 meses com mesmo método (o

consenso europeu recomenda repetir tireoglobulina estimulada um ano após se esta

estiver em torno de 1-2ng/ml; se estiver detectável mas menor evolutivamente,

manter supressão e retestar em 1 ano; se for ascendente: investigar com exame de

imagem e avaliar novo tratamento com iodo radioativo) (4).

Se tireoglobulina >2ng/ml considerar PCI diagnóstica: se negativa e

tireoglobulina estimulada maior que 10 (ou maior que 5 com TSHrh), deve haver

investigação com TC, RM cervical ou PET TC. Se menor que 5-10ng/ml: monitorizar

tireoglobulina e USG: se ascendente, reinvestigar. (4, 12, 32).

O USG cervical para avaliar o leito tireoidiano e os linfonodos do

compartimento central e lateral deve ser realizado a cada 6-12 meses de acordo

com o risco do paciente e o valor da tireoglobulina. Se um resultado positivo for

mudar a conduta, os linfonodos cujo menor diâmetro for maior que 5-8mm, deve ser

63

realizado punção com análise citopatológica e dosagem de tireoglobulina no

aspirado (12).

Nos pacientes considerados de baixo risco, com tireoglobulina suprimida e

USG negativos que apresentaram PCI pós-dose sem captação fora do leito

tireoidiano, não há necessidade de PCI na rotina do follow-up. Nos pacientes de alto

ou intermediário risco de doença persistente, pode ser útil a realização de PCI no

acompanhamento (4, 12, 32).

64

4 PACIENTES E MÉTODOS

4.1 DESENHO DO ESTUDO:

Trata-se de um estudo retrospectivo, realizado através de análise dos

prontuários dos pacientes com carcinoma diferenciado da tireóide acompanhados no

Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho-

Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ) e no Instituto Nacional do

Câncer (INCa).

O protocolo de pesquisa foi aprovado no Comitê de ética e pesquisa (CEP)

dos dois centros envolvidos e registrado sob os números: 224/09 no CEP-HUCFF e

48/10 no CEP-INCA..

4.2 PACIENTES:

O tamanho da amostra foi de 209 pacientes, e inclui todos os pacientes com

os critérios abaixo que foram tratados antes de 2001 nos dois centros. O protocolo

de tratamento e seguimento dos pacientes com CDT é realizado de maneira

semelhante nos dois centros.

Foram avaliados todos os prontuários de pacientes com diagnóstico de CDT

que realizaram dose ablativa com iodo radioativo nestes serviços e mantiveram

acompanhamento por, no mínimo, 10 anos.

Os critérios de inclusão dos pacientes no estudo foram:

- Pacientes maiores que 18 anos de idade ao diagnóstico;

- Histologia de câncer papilífero ou folicular da tiróide.

- Em acompanhamento há 10 anos ou mais no HUCFF ou INCA; o paciente

que apresentou desfecho desfavorável foi incluído, mesmo com acompanhamento

menor que 10 anos.

65

- Apresentar a pesquisa de corpo inteiro, realizada de 6 a 12 meses após

tratamento inicial, negativa.

Foram excluídos os pacientes que não realizaram a dose ablativa com iodo

radioativo no tratamento inicial ou não se incluíam em todos os critérios acima.

4.3 PROTOCOLO:

Os seguintes dados foram coletados e analisados:

- Características clínicas ao diagnóstico: idade, sexo.

-Tipo histológico: carcinoma papilífero, carcinoma folicular além dos

subtipos: variante folicular e carcinoma de células de hurthle.

-Características tumorais: tamanho em centímetros (cm), presença de

invasão de cápsula, presença de invasão tecidual, multicentricidade, acometimento

linfonodal, presença de tireoidite.

- Tratamento instituído: tipo de cirurgia (tireoidectomia total, com ou sem

esvaziamento cervical ganglionar); Valor dose de iodo radioativo em mCI utilizado no

tratamento ablativo.

-Resultado da PCI realizado 3-5 dias após dose terapêutica (rastreamento

pós-dose): negativo, positivo em região cervical anterior, positivo em região

sugestiva de linfonodo cervical, osso, pulmão.

-Estadiamento de acordo com o sistema TNM (AJCC/UICC)- sexta edição:

estádio I, II, III, IV (ver tabela 1 e 2, -Estratificação de risco de recorrência de acordo

com a classificação da ATA: baixo, intermediário ou alto risco (conforme descrito na

secção estratificação de risco - tabela 4 - página 16).

Após tratamento inicial, o paciente foi avaliado cerca de 6-12 meses após

com PCI (negativa), tireoglobulina suprimida (em uso de hormônio tireoidiano) e

[P1] Comentário:

66

estimulada (realizada após suspensão do hormônio tireoidiano por quatro semanas),

além da dosagem sérica do anticorpo anti-tireoglobulina.

Como o estudo é retrospectivo com acompanhamento longo, o método de

dosagem da tireoglobulina mudou ao longo do tempo: de 1986 a 1997 os métodos

utilizados tinham uma sensibilidade funcional de aproximadamente 1 ng/ml. De 1998

a 2001, o método utilizado tinha sensibilidade funcional de 0,5 ng/ml. A partir de

2001, a tireoglobulina sérica foi quantificada através de ensaio imunométrico

(Immulite®) com sensibilidade funcional de 0,2 ng/ml.

De acordos com os dados desta primeira avaliação, os pacientes foram

classificados quanto a resposta ao tratamento inicial, de acordo com a classificação

proposta por Tuttle et al. em resposta incompleta, aceitável e excelente (tabela 5 -

página 20). Esta classificação não se aplica aos pacientes com anticorpos anti-

tireoglobulina, dada interferência nos valores de tireoglobulina.

Os pacientes foram acompanhados a cada 6-12 meses, com exame clínico,

USG, tireoglobulina em supressão e estimulada quando necessário. A tendência da

curva da tireoglobulina em pacientes sem resposta completa foi analisada, bem

como o tempo necessário para negativação da mesma além do tempo total de

acompanhamento.

A recidiva foi caracterizada com os seguintes dados: tempo de aparecimento

da recidiva e localização da doença (local, ganglionar, pulmão, osso). Foi

considerada recidiva a detecção de doença estrutural nova através de comprovação

histopatológica ou citológica; linfonodos altamente suspeito ou nódulo no leito

tireoidiano no USG; achados no PCI, ou outro exame de imagem altamente suspeito

para lesão metastática. O aparecimento de segunda recidiva com localização, a

necessidade de novos tratamentos (tratamento com iodo radioativo, cirurgia,

radioterapia externa) durante evolução também foram analisados.

Em relação ao desfecho, os pacientes foram classificados de acordo com

sua situação no final do acompanhamento em:

- Em remissão: sem evidência de doença bioquímica (tireoglobulina

indetectável), clínica ou em exames de imagem, durante todo acompanhamento.

67

- Recidiva seguida de cura

- Com evidência bioquímica de doença: mantêm tireoglobulina detectável,

sem correlação com doença estrutural (avaliados através de PCI, USG, TC e RM, de

acordo com cada caso; apenas 3 pacientes foram submetidos ao PET scan, já que

este exame estava disponível para o serviço público após 2009).

- Com doença estrutural.

Os dois últimos definem pacientes com doença persistente (bioquímica e

estrutural). E foram considerados desfechos desfavoráveis: recidiva e doença

persistente.

Os casos de óbito foram analisados e classificados em: pela doença ou por

causa secundária.

4.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

No presente estudo foram calculadas:

• Distribuições de freqüências simples e percentuais;

• Médias aritméticas, desvios padrões, medianas, valores mínimos e

valores máximos;

• Teste não-paramétrico de X2 (qui-quadrado), para avaliar associação

das variáveis do estudo.

Adotou-se o nível de significância de 5% de probabilidades (P<0.05)

Foi utilizado o programa SPSS, versão 17,0, para realização do trabalho.

5 RESULTADOS

68

Dos 209 pacientes analisados e incluídos, 84,2% eram do sexo feminino,

com idade média de 43,3 anos ao diagnóstico.

Em relação ao diagnóstico histopatológico, 178 (85,1%) pacientes

apresentavam carcinoma papilífero da tireóide sendo que destes, 8,4% tinham a

variante folicular. 31 (24,9%) apresentavam carcinoma folicular da tireóide com

19,3% destes apresentando o carcinoma de células de Hurthle.

O tempo de acompanhamento médio foi de 13,75 anos. As características

da população estudada estão descritas na Tabela 7.

Tabela 7: Característica da amostra (n=209)

Idade ao diagnóstico (anos)

Média (DP)

Mediana

43,3 (+/-14,45)

43 (18-85)

Sexo Feminino: 176 (84,2%)

Masculino: 33 (15,8%)

Tipo histológico CPT: 178 (85,1%)

CFT: 31 (14,9%)

Tamanho médio (DP):

Mínimo e máximo

De acordo com a TNM-AJCC/IUCC

2,79cm (+/-1,79cm)

0,3-12cm

T1: 55 (26,3%)

T2: 18 (8,6%)

T3: 87 (41,6%)

T4: 30 (14,35%)

Sem dados: 19 (9,05%)

Acometimento de linfonodo ao diagnóstico 77 (36,8%)

Estadiamento de acordo com AJCC/IUCC 1: 135 (64,6%)

2: 13 (6,2%)

69

3: 42 (20,1%)

4: 14 (6,7%)

Sem dados: 5 (2,4%)

Metástase ao diagnóstico 10 (4,8%)

Classificação segundo ATA Baixo risco: 50 (23,9%)

Intermediário: 120 (57,4%)

Alto: 32 (15,3%)

Sem dados para classificar: 7 (3,4%)

Tempo de acompanhamento

Médio

Mediano (mínimo-máximo)

13,75 anos

12 anos (10-25)

DP: desvio padrão

As características do tumor estavam disponíveis em 190 pacientes e

apresentadas na tabela 8.

Tabela 8 : Característica histopatológicas (n:190)

Presença de invasão de cápsula 95 (50%)

Presença de invasão vascular 25 (13,2%)

Presença de invasão tecidual 39 (20%)

Multicentricidade 52 (24,9%)

Presença de linfonodo acometido 77 (36,8%)

Tireoidite crônica associada 28 (14,4%)

Em relação ao tratamento inicial, todos os pacientes foram submetidas

a tireoidectomia total (TT), sendo que em 25 pacientes, foi realizado em 2 tempos

70

(tireoidectomia total seguido de complementação após diagnóstico histopatológico).

Em 27% dos pacientes, foi realizado esvaziamento cervical ganglionar associado.

Todos receberam dose ablativa de iodo radioativo, dose média de 111mCi (ver

tabela 9).

Tabela 9:Tratamento inicial instituído (n: 209)

Tipo de cirurgia Tireoidectomia total (TT): 152 (72,7%)

TT + dissecção linfonodal: 57 (27,3%) Dose ablativa I131 30mcI: 1%

100mcI: 73,6%

150mcI: 24%

200mcI: 1,4% PCI pós-dose Negativo: 8 (3,8%)

Positivo em cervical anterior: 180 (86,1%)

Positivo em linfonodo: 4 (1,9%)

Positivo em pulmão: 9 (4,3%)

Positivo em osso: 2 (1%)

Não realizado: 6 (2,9%) Resposta ao tratamento Excelente: 48 (23%)

Aceitável: 21 (10%)

Incompleta: 81 (38,8%)

Não foi possível classificar:

Falta de dados: 51-24%;

Anticorpo positivo: 8 (3,8%)

A avaliação do tratamento foi realizada de 6-12 meses após o tratamento

inicial. Todos apresentaram PCI negativa (critério de inclusão); a tireoglobulina

estimulada média foi de 44,1 ng/ml (mínimo de 0 e máximo de 659 ng/ml) e a

tireoglobulina suprimida média foi de 8,9 ng/ml (mínimo de 0 e máximo de 422

71

ng/ml). A maior parte dos pacientes apresentou negativação da tireoglobulina

suprimida no primeiro ano de acompanhamento: 91 (43,5%); no entanto, 41

pacientes 21% nunca negativaram tireoglobulina. 142 (67%) pacientes já haviam

negativado a tireoglobulina (67%) em 5 anos, 165 em 10 anos (78%).

Durante o acompanhamento, 20% (40 pacientes) apresentaram uma

recidiva, e 35% destes (14 pacientes) apresentaram uma segunda recidiva,

distribuídos conforme apresentado na tabela 10. A média de tempo da primeira

recidiva foi de 6,25 anos, variando de 1 a 20 anos.

Tabela 10: Desfecho

Ao final do acompanhamento (n:209)

Remissão 158 (75,6%)

Recidiva seguida de remissão 7 (3,4%)

Doença

Persistente

Bioquímica 26 (12,4%)

Estrutural 18 (8,6%)

Durante acompanhamento (n:209)

Sem recidiva 169 (80,9%)

Primeira Recidiva

n: 40 (19,1%)

Local 25 (12%)

Ganglionar 7 (3,3%)

Pulmão 7 (3,3%)

Osso 1 (0,5%)

Segunda Recidiva

n: 14 (6%)

Local 1 (0,5%)

Ganglionar 8 (3,8%)

Pulmão 5 (2,4%)

Óbito Pela Doença 1 (0,5%)

Outra causa 4 (1,9%)

No final do acompanhamento, 79% dos pacientes da população total foram

considerados livres de doença (destes, 75,6% nunca apresentaram recidiva e 3,4%

72

apresentaram), enquanto que 21% mantinham doença persistente: 12,4% apenas

com doença bioquímica persistente (tireoglobulina positiva), e 8,6% com doença

estrutural. Dos 40 pacientes que apresentaram recidiva, apenas 7 (17,5% deles)

foram considerados livres de doença no final do acompanhamento.

• Fatores associados ao desfecho:

Os fatores clínicos-patológicos que foram analisados em relação ao desfecho

estão apresentados na tabela 11.

A presença de linfonodo acometido ao diagnóstico foi associada a desfecho

desfavorável (recorrência ou doença persistente) com p<0,001. Além disso, dos

pacientes que apresentaram recidiva ou doença persistente, apenas 6% foram

considerados de baixo risco, segundo estratificação da ATA (versus 30% dos

pacientes que mantiveram sem evidência de doença, com p: 0,001). Da mesma

maneira, a resposta ao tratamento também apresentou diferença estatisticamente

significativa entre os grupos: 95,6% dos pacientes que apresentaram recidiva ou

doença persistente tiveram uma resposta incompleta ao tratamento (p: <0,001).

A idade, sexo, multicentricidade, tireoidite de Hashimoto associada, o

estadiamento ao diagnóstico não apresentaram associação estatisticamente

significativa com o desfecho.

73

Tabela 11: Fatores clínico-patológicos e associação com desfecho

Livre de doença (n:158)

Doença persistente/recorrente

(n:51)

P

Sexo

Feminino

Masculino

135 (85,4%)

23 (14,6%)

41(80,3%)

10 (19,4%)

0,38

Idade

<45 anos

>45 anos

88 (55,6%)

70 (44,4%)

29 (56,8%)

22 (43,2%)

0,88

Diagnóstico

Ca. Papilífero

Ca. Folicular

131 (82,9%)

27 (17,1%)

47 (92,1%)

4 (7,9%)

0,15

Linfonodo acometid o

Sim

Não

39 (26,5%)

108 (73,5%)

38 (77,5)

11(22,5%)

<0,001

Multicentricidade

36 (25,3%) 16 (32,6%) 0,32

Tireoidite associado 24 (16,5%) 4 (8%) 0,14

Estádio

1

2

3

4

106 (67,9%)

9 (5,7%)

33 (21,1%)

8 (5,1%)

29 (60,4%)

4 (8,3%)

9 (18,7%)

6 (12,5%)

0,21

Classificação de risco -ATA

Baixo

Intermediário

Alto

47 (30,7%)

87 (56,8%)

19 (12,4%)

3 (6,1%)

33 (67,3%)

13 (26,5%)

0,001

Resposta ao tratamento

Excelente

Aceitável

Incompleta

46 (43,8%)

21 (20%)

38 (36,1%)

2 (4,4%)

0

43 (95,6%)

P<0,001

74

Para estudar a associação da tireoglobulina na primeira avaliação com o

desfecho, foram selecionados os pacientes avaliados a partir de 1998, já que o

método utilizado tinha sensibilidade <0,5ng/ml, e portanto podem ser agrupada de

acordo com a classificação mais recentemente proposta por Tuttle at al (11): <1, 1-

10 e > 10 ng/ml. 104 pacientes foram incluídos nesta análise e distribuídos conforme

apresentados na tabela 12 (tireoglobulina estimulada) e 13 (tireoglobulina

suprimida). Nos dois casos houve diferença significativa entre os grupos (p<0,001).

Tabela 12: Valor da tireoglobulina estimulada na pr imeira avaliação após tratamento

inicial e distribuição em relação ao desfecho.

Tireoglobulina

estimulada (ng/ml)

Livre de doenç a

(n: 72)

Recorrente ou

persistente (n: 32)

Valor p

Menor ou igual a 1 62% 10%

<0,001 >1 a 10 30% 3%

Maior que 10 8% 87%

Tabela 13: Valor da tireoglobulina suprimida na primeira avaliação após o tratamento

inicial e distribuição em relação ao desfecho.

Tireoglobulina

suprimida (ng/ml)

Livre de doença

(n: 72)

Recorrente ou

persistente (n: 32)

Valor p

Menor ou igual a 1 90% 28%

<0,001 >1 a 10 8,5% 66,5%

Maior que 10 1,5% 5,5%

Dentre os pacientes que apresentam doença persistente ou recorrente

(total de 51 pacientes), foram comparados os dois subgrupos: os que mantiveram

doença bioquímica (26 pacientes) versus os que apresentaram doença estrutural (25

pacientes). Verificou-se que os grupos se diferenciam apenas em relação a idade

(p<0,001) e ao estadiamento: os pacientes com doença estrutural são mais velhos e

com estadiamento mais avançado (p:0,007). Entretanto em relação a sexo, presença

de linfonodopatia ao diagnóstico, resposta ao tratamento e classificação de risco da

ATA, esses grupos são semelhantes, conforme apresentado tabela 14.

75

Tabela 14: Comparação entre os grupos com doença bioquímica x estrutural

Doença estrutural (n:25)

Doença bioquímica (n: 26)

P

Sexo

Feminino

Masculino

72%

28%

88%

12%

0,13

Idade

<45 anos

>45 anos

32%

68%

84%

16%

<0,001

Histopatológico

Papilífero

Folicular

92%

8%

92%

8%

0,37

Linfonodopatia 28% 15% 0,26

Classificação da ATA

Baixo

Intermediário

Alto

8,3%

66,6%

25,1%

4%

68%

28%

0,81

Resposta ao tratamento

Excelente

Aceitável

Incompleta

10%

0%

90%

0

0

100%

0,10

Estadiamento

1

2

3

4

41%

5%

33%

21%

80%

12%

4%

4%

0,007

76

6 DISCUSSÃO

A avaliação padrão dos pacientes com CDT tem se baseado na dosagem da

tireoglobulina associada a realização do PCI, principalmente no início do

acompanhamento (11, 73, 74). A PCI negativa na primeira avaliação após o

tratamento é considerada um fator de bom prognóstico e indica resposta ao

tratamento inicial.

A utilidade deste exame no acompanhamento da maioria dos pacientes com

carcinoma diferenciado da tireóide tem sido questionada ultimamente, dada a

evolução de outros métodos de avaliação, principalmente a dosagem da

tireoglobulina (73, 75). Entretanto, a PCI realizada na primeira avaliação após a

terapia inicial, serve como auxiliar na avaliação da presença de doença residual e,

portanto faz parte da avaliação da resposta ao tratamento, reconhecidamente um

importante fator prognóstico. Essa avaliação com PCI, tireoglobulina estimulada

ainda é realizada de rotina na maioria dos centros (39, 74)

Na análise deste grupo de pacientes foi verificada uma taxa de recorrência

durante o acompanhamento de 19,1% e uma alta taxa de pacientes com doença

persistente ao final do acompanhamento (21%).

Em 1981, Mazzaferri & Young relataram a evolução de 576 pacientes com

CDT e acompanhamento médio de 10 anos e mostraram uma taxa de 14% de

recorrência, chamando atenção para o fato que 19% destes, não puderam ser

curados após a recorrência (53).

O primeiro autor publicou, em 1994 e 2004, a evolução dos pacientes

tratados nos hospitais da U.S. Air Force e da Ohio State University. Num seguimento

médio de 16,6 anos, a taxa de recorrência foi de 23,5% e a taxa em 30 anos foi em

torno de 30%. (26, 62).

Na série que incluiu todos os pacientes tratados na Mayo Clinic por seis

décadas, a taxa de recorrência em 25 anos foi de 14%. Não há descrição da

avaliação do pacientes ao final do acompanhamento (50).

77

Nos estudos que utilizaram a PCI como critério de inclusão dos pacientes,

encontramos 2 estudos principais:

No primeiro, publicado em 2010, Verburg et al, analisaram de modo

retrospectivo, 509 pacientes com CDT tratados em 3 hospitais europeus com PCI

diagnóstica e tireoglobulina estimulada indetectável (realizadas em média 8 meses

após tratamento inicial). Estes foram identificados como pacientes com sucesso na

ablação (“successfully ablated”); nesta população, a taxa de recorrência foi de

apenas 2,4% mas com seguimento médio menor (6,7 anos). Essa menor taxa de

recorrência provavelmente se explica pela seleção dos pacientes que apresentavam

tireoglobulina indetectável na primeira avaliação (ou seja, apenas os que tiveram

excelente resposta ao tratamento), diferente do presente estudo no qual os

pacientes foram acompanhados por 10 anos e eram selecionados apenas por PCI

negativa, apresentando valores variáveis de tireoglobulina estimulada. Além disso,

os pacientes de alto risco que foram incluídos apresentavam tumores responsivos

ao tratamento com iodo e, portanto já apresentam melhor prognóstico. Interessante

ressaltar que de todos os pacientes acompanhados nestes centros, ¼ apresentaram

sucesso na ablação e puderam ser incluídos neste estudo (no atual trabalho, 23%

também apresentavam tireoglobulina negativa). Os autores sugerem que a PCI pode

ser útil no início do acompanhamento (primeira avaliação) mas não durante.

No segundo estudo, Brassard et al avaliaram de maneira prospectiva,

multicêntrica, 715 pacientes que apresentavam a PCI, realizada 3-5 dias após

ablação do remanescente com iodo radioativo, sem captação fora do leito

tireoidiano. Estes pacientes foram acompanhados por uma média de 6,2 anos com

objetivo de estudar a taxa de recorrência e o valor preditivo da tireoglobulina. Os

autores reforçaram que esse foi o primeiro estudo prospectivo usando um método

sensível de tireoglobulina com pacientes com PCI pós-dose sem captação fora do

leito tireoidiano e que estes pacientes representam a grande maioria dos pacientes

com CDT (69).

Neste estudo, a taxa de recorrência em 5 anos foi baixa: 4,2%. Essa

diferença pode ser explicada pela seleção dos pacientes: o estudo acima excluiu os

78

pacientes com metástase a distância ao diagnóstico e apresenta tempo de

seguimento menor (69).

Em relação a quais fatores clínicos estavam associados ao desfecho na

população estudada, a presença de metástase ganglionar ao diagnóstico, a

classificação de risco, a classificação de acordo com a resposta ao tratamento e o

valor da tireoglobulina foram associadas de maneira estatisticamente significativa

com o desfecho desfavorável (doença recorrente ou persistente).

Esse resultado está de acordo com alguns estudos já publicados. Na

população estudada por Verburg et al (pacientes com PCI e tireoglobulina negativas

na primeira avaliação), a taxa de sobrevida livre de recorrência calculada foi de

96,6% em 10 anos e também não foi diferente quando comparados em relação a

sexo, e estadiamento TNM. Mas em contraste ao encontrado na população deste

estudo, a presença de metástase ganglionar não foi associada a recorrência e o

diagnóstico histopatológico de carcinoma folicular foi associado a pior taxa de

sobrevida livre de doença.

Esses autores conseguiram mostrar que entre pacientes com boa resposta

ao tratamento, a taxa de recorrência é semelhante independente da classificação

inicial em alto ou baixo risco, segundo a ETA.

No presente trabalho, os pacientes também foram definidos como alto/baixo

risco, de acordo com a classificação da ATA. Dos pacientes que apresentaram

doença persistente/recorrente, 26,5% foram considerados de alto risco na

estratificação inicial da ATA; enquanto que dos pacientes que mantiveram-se livre de

doença, 12,4% foram classificados como de alto risco; nos dois grupos, a maior

parte dos pacientes eram de risco intermediário. Essa diferença foi estatisticamente

significativa entre os grupos, mostrando que a estratificação de risco da ATA está

associada ao desfecho nesta população estudada, como em outras já publicadas na

literatura (33, 71). A discordância em relação aos resultados apresentado por

Verburg et al., pode ser explicada pelo sistema de estratificação utilizado (ATA

versus ETA), além da seleção de pacientes com tireoglobulina indetectável neste

último estudo.

79

Interessante notar que não houve diferença estatisticamente significativa no

estadiamento (AJCC/UICC) dos pacientes com doença persistente/recorrente

quando comparado com os pacientes livres de doença. Isso reforça que esse

sistema não foi desenvolvido como preditor de recorrência e sim de mortalidade, que

foi um evento raro no grupo de pacientes estudado.

Em relação a tireoglobulina, que atualmente é o principal método para o

acompanhamento e estratificação do CDT, foram selecionados os pacientes

avaliados a partir de 1998, quando a análise passou a ser com métodos com

sensibilidade < 0,5ng/ml, já que por se tratar de um estudo retrospectivo, diversos

métodos foram utilizados ao longo do tempo. Na análise dos dados de 104

pacientes, a distribuição do valor da tireoglobulina estimulada entre os grupos de

pacientes em remissão versus pacientes com desfecho desfavorável foi diferente,

com significância estatística.

Consistente com estudos prévios e recomendações, comparando os

pacientes com tireoglobulina estimulada < 1 e entre 1-10 ng/ml, não houve diferença

estatisticamente significativa na distribuição entres os grupos com desfecho

favorável e desfavorável (p: 0,76) (12, 63).

Outro dado mostrado nessa população, já bem documentada na literatura, é a

negativação da tireoglobulina mesmo sem qualquer tratamento adicional (12, 71)

Um dado interessante foi a verificação de que no final do acompanhamento

79% dos pacientes foram considerados livres de doença; 8,6% apresentavam

doença persistente estrutural e 12,4% mantinham tireoglobulina positivo. Quando

comparados, verificou-se que os que pacientes com estadiamento e idade mais

avançados ao diagnóstico são mais frequentemente associados a doença estrutural,

configurando pior prognóstico. Possivelmente, os pacientes com doença apenas

bioquímica apresentam evolução mais lenta.

A coorte estudada por Tuttle et al, composta por 588 pacientes, apresentava

no final do acompanhamento 67% dos pacientes sem evidência de doença,

enquanto que 28% apresentavam doença persistente e 5% óbito pela doença,

mostrando que as altas taxas de doença persistente em longo prazo também são

80

observados em outros centros. Entretanto, vale ressaltar que a população deste

estudo parece ser mais grave justificando um resultado pior ( 25% dos pacientes no

estádio IV e 27% classificados como de alto risco segundo a ATA, diferente da

população deste trabalho que 6,7% estádio IV e 15,3% foram classificados como de

alto risco) (33).

Em um estudo semelhante realizado nos mesmos centros do atual estudo,

Vaisman et al, mostraram que no final do acompanhamento de 506 pacientes,

61,7% dos pacientes estavam livre de doença; 10% apresentavam evidência

bioquímica de doença, 10% apresentavam doença estrutural, 14,2% doença

progressiva e 3,8% apresentaram morte pela doença. Estes resultados podem ser

explicados pela característica da população: 13,4% no estádio 4 e 20,4%

considerada de alto risco pela estratificação da ATA. (71)

81

7 CONCLUSÃO

No grupo estudado 21% dos pacientes apresentaram doença persistente ou

recorrente, mostrando que a PCI negativa não deve ser utilizada de maneira isolada

como indicador prognóstico.

Entretanto, a PCI pode ser útil mostrando resposta ao tratamento e, portanto

deve ser analisada juntamente com características clínicas e histopatológicas (como

a presença de metástase ganglionar, estratificação de risco da ATA, resposta ao

tratamento e valor da tireoglobulina).

82

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91

ANEXOS

1. Aprovação do Centro de Ética em Pesquisa da UFRJ e INCA.

Protocolo analisado e aprovado no:

• CEP UFRJ sob o número: 224/09

• CEP INCA sob o número: 154/10

92

2. Ficha de coleta de dados: NOME: Sexo: DN: RG:

Endereço: Dados:

FR: HFam ( ) Tabagismo ( ) RT ( ) Comorbidade:

I-Diagnóstico: Id:_____

1.1: USG pré:

1.2: PAAF________: Benigno ( ) Maligno ( ) Indeterminado ( ) Insuficiente ( )

II- Tratamento:

2.1 Cirurgia _______:________________________________________Dç residual:

2.2 HP:________: ____________________________________________________

Invasão: ( ) Cápsula ( )Vascular ( )Tecidual________

Linfonodo ( ) ( )Multicêntrico ( )Tireoidite

2.3- Avaliação pré DT:

Cintilografia:

TSH_____ TG_____ AC _____

2.4: DT: _______: _______mCi IV: Evolução:

TSH: TSH TSH/TG/AC PCI USG

TG: TG:

AC: AC:

2.5: PCI pos-DT: ___________

2.6: T__ N__ M__ Estadiamento____

III- Primeira Avaliação:

3.1: PCI:

3.2: Lab. TSH: TSH:

TG: TG:

AC: AC:

3.3: USG:

3.4: Outros:

V: Conclusão:

( ) Livre de doença: Tempo de acompanhamento_____ ( ) Recidiva:

( ) Linfonodo _____ ( )

( )Óbito pela doença ( )Óbito

93

3. Artigo submetido a revista Clinical Nuclear Medicine entitulado: “Long term

follow-up of patients with differentiated thyroid cancer who had negative I-131

whole body scan at first evaluation after treatment.

94

Long term follow-up of patients with differentiated thyroid cancer who had negative I-

131 whole body scan at first evaluation after treatment.

Luciana Souza Cruz Caminha, MD 1

Denise Prado Momesso, MD 1

Fernanda Vaisman, MD 1,2

Rossana Corbo, MD PhD 1,2

Mario Vaisman, MD PhD 1

1 Endocrinology Service, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

2 Endocrinology Service, Instituto Nacional do Câncer, Rio de Janeiro, Brazil

Corresponding author:

Luciana Souza Cruz Caminha

Endocrinology Service, HUCFF-UFRJ

Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco, 255.

CEP: 21941-913

Tel: : (55 21) 2562-2748

E-mail: [email protected]

95

Abstract

Introduction: The evaluation of patients with differentiated thyroid cancer has been

commonly based on TSH-stimulated serum thyroglobulin measurement and I-131 whole body

scan. The first control (6-12 months after initial treatment) shows the response to therapy, a

prognostic factor.

Purpose: To describe the evolution over long term of patients with negative I131 whole-body

scan (WBS) in the first evaluation and to assess clinical and histological characteristics

related to outcome in this population.

Methods: This retrospective study reviewed data from 209 patients followed at 2 Brazilian

hospitals. A minimum of 10 years of follow-up was required.

Results: During follow up, 20% of patients developed recurrence. At end of follow-up, 21% of

patients have persistent disease. The clinical and histological characteristics related to

adverse outcome (recurrence or persistent disease) was lymph node metastases at diagnosis,

high risk at ATA classification, incomplete response to treatment. Stimulated thyroglobulin >

1ng/ml at first evaluation also showed association to adverse outcome.

Conclusion: Negative WBS at first evaluation should not be used as prognostic factor

isolated. This must be analyzed together with others clinical and laboratory characteristics.

96

1)Introduction

Thyroid cancer represents <1% among human cancers but is the most frequent endocrine

cancer and its incidence has been increasing in many countries, including Brazil (1, 2, 3).

The increase is attributable, at least in part, to better detection of papillary microcarcinomas as

a result of improved diagnostic accuracy (4, 2, 5). This small tumor carries an excellent

prognostic, and the mortality of this disease has not increased.

The differentiated thyroid cancer (DTC) accounts for the vast majority of thyroid cancers.

This includes the papillary and follicular cancers and usually has a favorable prognosis. It

results from the combination of biological properties of most carcinomas and effective

therapy. The initial therapy for most patients includes total thyroidectomy followed by radio-

iodine therapy; the majority of patients will be clinically free of disease (6). Nevertheless,

30% may experience recurrence even many years after initial treatment. Thus, regular and

life-long follow-up is required.

Furthermore, the clinical presentation of DTC has been changing from advanced cases, which

requires intensive treatment and follow-up, to small, incidentally discovered cancers requiring

less aggressive treatment and follow-up (5).

The increasing in incidence and the changing in the presentation shows the need of applying a

more effective, less expansive and invasive procedures able to guarantee the best quality of

life for these patients with a disease with low mortality but requires life-long follow-up care.

Although many guidelines have been published, the treatment and management of patients

after initial treatment is discussed. The goal of this study is to describe tvehe evolution over

long term of patients with negative I-131 whole-body scan (WBS) in the first evaluation,

which represent the majority of cases in clinical practice, and to assess clinical and

histological characteristics related to outcome. This may help choosing the best approach in

this population.

97

2) Patients and methods

After obtain institucional review board approval, the medical records of 209 adults with

differentiated thyroid cancer, evaluated at Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

(HUCFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro and Instituto Nacional do Cancer (INCA)

were retrospectively reviewed. This study included all patients with differentiated thyroid

carcinoma (papillary and follicular), older than 18 years, evaluated in these centers from 1986

to 2001, who had a negative whole-body scan in the first evaluation, performed 6-12 months

after initial treatment and have a minimum of 10 years in follow up.

Each patient was stratified based on American Joint Cancer Committee on Cancer/

International Union against Cancer staging system(AJCC/ UICC): stages I, II, III, IV and on

American Thyroid Association (ATA) risk of recurrence stratification system: low,

intermediate and high-risk (7).

The two centers involved in this study have similar procedures for management and follow-

up: six to 12 months after initial treatment, follow-up control consisted in a I-131 WBS and a

thyroglobulin measurement, performed after thyroid hormone withdraw for 4 weeks (first

evaluation). Then, follow-up assessments were realized at 6-12 months intervals and consisted

in clinical examination, thyroglobulin (tg) measurement on thyroid hormone therapy (and

stimulated, when necessary), cervical ultrasound (US) and other tests, if necessary.

The response to initial therapy was classified according to Tuttle et al: excellent, acceptable

and incomplete response, based on the result of the first evaluation (8), as follow:

-Excellent response: suppressed and stimulated tg <1ng/ml; neck US without evidence of

disease; cross sectional and/or nuclear medicine imaging negative (if performed).

-Acceptable response: suppressed tg < 1 ng/ml and stimulated tg between 1-10 ng/ml; neck us

with nonspecific changes or stable subcentimeter lymph nodes; cross-sectional and/or nuclear

medicine with nonspecific changes, although not completely normal.

Because this represents a retrospective study with long term follow-up, different kits were

used for thyroglobulin measurement over the years. Between 1986 and 1997, a variety of Tg

assays were used with functional sensitivities of approximately 1 mcg/L. From 1998 and

98

2001, an assay of Tg with functional sensitivities of 0,5 ng/ml. Starting on 2001, Serum Tg

was quantified by immunometric assay (Immulite) with functional sensitivity of 0,2 ng/ml.

During the follow-up, recurrence was defined as the detection of a new structural disease

(positive cytology or histology, highly suspicious lymph nodes or thyroid beds nodules,

findings on WBS, PET scan or others imaging suspicious for metastatic disease).

At the end of follow-up, the patients were classified on:

-Remission: no clinical or biochemical evidence of disease.

-Persistent disease: This includes patients with structural disease or with biochemical

evidence of disease (detectable thyroglobulin without structural disease).

Statistical analysis

Descriptive data were expressed in mean, percentage and standard deviation with median.

In order to determine the association between the variables, the chi-square test was used.

Analysis was performed using SPSS software (version 17).

3) Results

Among 209 patients analyzed, 84% were females; the mean age at diagnosis was 43 years.

The thyroid cancer was papillary in 85%; lymph node metastasis were present in 36,8% and

64,6% of patients were classified as stage 1, according to AJCC/ UICC.

Median follow-up was 12 years (range 10 to 25 years).

The clinical characteristics of the 209 patients are reported in table 1.

Initial treatment consisted in total thyroidectomy in all cases, with limph node dissection

performed in 57 patients (27%). After surgery, all patients were treated with radioiodine

therapy with a mean activity of 111mcI: 30mci was administered in 1% of patients, 100mcI in

73,6%, 150mcI in 24% and 200mcI in 1,4% for ablation. A I-131 WBS was performed 5 days

after radioiodine therapy: 86,1% were positive in thyroid bed and 10,1% had a focus of uptake

detected outside the thyroid bed.

99

At first evaluation performed 6- 12 months after initial treatment, all patients has negative

WBS (inclusion criteria), and the median stimulated thyroglobulin was 4ng/ml, ranging from

0 to 659ng/ml. In this evaluation, only 25% had undetectable stimulated tg (38% had positive

stimulated tg and in 37% of patients this data was not available). According to this result, the

response to therapy was classified as shows in table 2.

Outcome

In the majority of patients, basal thyroglobulin became negative in the first year after

treatment (43,5%); 67% in the first 5 years and 78% in 10 years. However, 19,6% never had

negative thyroglobulin.

Recurrences

Forty recurrences were identified (20% of patients), 14 patients (35%) had a second

recurrence. These recurrences occurred mainly in thyroid bed and neck lymph node, as

described at table 3. The mean time of first recurrence was 6,25 years, ranging from 1 to 20

yr.

Status at final follow-up

79% had no evidence of disease (75,6% never had recurrence and 3,4% had experienced a

recurrence). 21% had persistent disease: 12,4% with biochemical evidence of disease and

5,6% with structural disease. Among 40 patients who presented recurrence, only 7 (17,5%),

had no evidence of disease at the end of follow-up. The description of outcomes is reported in

table 3. Among patients with positive antibody at initial evaluation, 2 have persistent disease

at final status. Structural disease was identified in both. Thus, the presence of antibody did not

influence the classification of final status.

The clinical and histological characteristics related to cancer recurrence or persistent diseases

are showed in table 4.

Only limph node metastases at diagnosis, high risk classification and incomplete response to

treatment were correlated positively (p<0,001) with adverse outcome (recurrence and

persistent disease). Whereas the association between age, gender, multifocality, concomitant

thyroiditis, AJCC stage and outcome were not statistically significant.

100

To analyze the association between thyroglobulin in the first evaluation and outcome, only

patients evaluated after 1998 were selected (n=104). That is because the method used to

thyroglobulin measurement have a functional sensitivity of 0,5 ng/ml. Therefore, patients

could be classified according to Tuttle et al (11): <1, 1-10 e > 10ng/ml. 104 patients were

included in this analysis and the results are showed in table 5 (stimulated thyroglobulin) and

in table 6 (thyroglobulin measurement on hormone therapy).

When analyzing separately, the difference was not statistically significant comparing patients

with stimulated thyroglobulin <1ng/ml versus those with thyroglobulin between 1-10ng/ml (p:

0,79). Comparing patients with thyroglobulin <1ng/ml versus >10ng/ml and patients with

stimulated thyroglobulin between1-10ng/ml versus > 10 ng/ml the difference was statistically

significant (p<0,001).

Among patients with adverse outcomes (recurrent or persistent disease), two subgroups were

compared: those patients with biochemical disease (26 patients) and those with structural

disease (25 patients). Statistical significant differences were verified in age and stage: patients

with structural disease were older and have more advanced stage, as show in table 7.

Only 1 patient died as the result of disease during follow-up, this patient had structural

disease. Thus, the mortality rate is 1,9% in the group of patients with structural or

biochemical disease (n=51) and 0,4% considering the entire population (n=209).

4) Discussion

The follow-up of differentiated thyroid cancer has been commonly based on TSH-stimulated

serum thyroglobulin measurement and I-131 WBS, 6-12 months after thyroid ablation. A

negative WBS confers a good prognosis and shows response to initial therapy. Lately, the

utility of this test has been questioned because the advances in others methods, mainly

thyroglobulin measurement (9). However, this test has the purpose to verify the effectiveness

of radioiodine ablation and exclude the presence of residual disease; therefore, it is included

in the evaluation of response to therapy, a prognostic factor (8, 10). Furthermore, this

evaluation is performed routinely in most centers.

101

In this population, the recurrence rate during follow-up was 19,1% and 21% of patients have

persistent disease at end of follow-up. This study included all patients followed at INCA and

HUCFF, who met inclusion criteria. As described in other studies, these patients (with

negative WBS) represent the great majority of cases in clinical practice (11), showing that this

population is representative of patients with CDT.

Mazzaferri & Young related recurrence rate in their studies range from 14 to 30%, including

all patients with differentiated thyroid cancers (12, 13, 14). Among patients managed at Mayo

clinic during six decades, tumor recurrence occurred in 14% (15).

Two recent publications utilized WBS as inclusion criteria.

Verburg et al analyzed 509 patients with DTC identified as successfully ablated (undetectable

stimulated serum thyroglobulin and a negative diagnostic WBS in the first evaluation). Only

25% of all patients treated for DTC fulfilled this criterion and were included. In this study,

they conclude that after successful ablation, the recurrence rate does not differ between

patients classified as high-risk versus low risk at diagnosis. In this population, only 2,4% of

patients developed recurrent disease. This very low rate may be explained by a shorter follow-

up (6,7 years), the selection of patients with undetectable thyroglobulin and, even including

high risk patients, only those who respond completely to therapy were included. In the

present study, the follow-up was longer (mean 13,75 yr), the mean stimulated was 44,1mcg/l,

including patients with incomplete response to therapy (10).

In a prospective multicentric study, Brassard et al evaluated the recurrence in 968 patients

who had no focus of uptake detected outside the thyroid bed on WBS performed 5-7 days

after ablation. The mean follow-up was 6,2 years and the recurrence rate reached 4,2% at 5

years. This lower rate may be explained by shorter follow-up, and the exclusion of patients

who had metastasis at diagnosis (11).

Related to potential prognostic variables for recurrence rate, our finding that the presence of

ganglionar metastasis, ATA risk stratification and classification of response to therapy were

associated with adverse outcome and that it was not influenced by gender, TNM stage, age

and are consistent with some previous publication.

102

A study presented above by Verburg et al. also demonstrated that gender and TNM stage did

not influenced the recurrence-free survival. In contrast, they found no difference between

patients with or without lymph-node metastases (10).

These authors also demonstrated that between patients with good response to therapy the

recurrence –free survival was not different based on TNM classification. Similarly, Tuttle et

al, classified the response to treatment and demonstrated that the ATA recurrence staging

system effectively predits the risk of recurrence and persistent disease; and that this staging

can be significantly refined based on the assessment of response to initial therapy (8).

In the present study, the patients with adverse outcome (recurrent or persistent disease) were

classified as high risk in 26, 5% while only 12,4% were high-risk patients on the group with

no evidence of disease. This difference has statistical significant, consistent with recent

publications (8, 16)

It also must be stressed that there were no statistical significant difference in TNM stage

between groups (p: 0,12). It is consistent with previous publication, demonstrating that

AJCC/UICC TNM staging is not the best tool for predicting the risk of recurrence, since it

was developed to predict risk of death, a rare event in this population (8, 10).

Serum thyroglobulin determination after TSH stimulation is currently considered the

gold standard in assessment of residual disease. In 104 patients, the stimulated

thyroglobulin shows association with adverse outcome. Consistent with previous studies

and recommendation, comparing patients with stimulated thyroglobulin < 1 and 1-

10ng/ml, the distribution was not different between the groups (p: 0,76) (7, 17).

Another interesting data was the status at final follow-up: 8,6% had structural persistent

disease and 12,4% had positive thyroglobulin without structural disease detected. When

compared, theses two subgroups differ about age and TNM stage: patients with

structural disease are older and have advanced disease. Possibly, patients with

biochemical disease have slower disease progression.

It must be stressed that the number of patient classified as having biochemical disease

could be lower if FDG PET (positron emission tomography) was available, since this

scenario is one of strongest indication for PET scanning (18). As it was accessible in

103

public service after 2009, only 3 patients have done it and were classified as having

structural disease after that exam.

In a cohort studied by Tuttle at al, 28% had persistent (structural and biochemical)

disease at end of follow-up (8). In a similar study, Vaisman et al studied patients from

same centers of this present study and reported that 34,2% of patients had persistent or

progressive disease at final follow-up (16). This greater rate may be explained by two

reasons: the population in these studies have more advanced stages of presentation: 25%

and 13,4% were in stage 4. Furthermore, the follow-up were shorter and some patients

may be reclassified as having no evidence of disease with a longer follow-up.

In conclusion, negative WBS in the first evaluation should not be used as prognostic

factor alone. Indeed, it must be analyzed together with histopathological (ATA

classification, lymph node metastases) and clinical/laboratory characteristics (stimulated

tg and response to therapy).

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106

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Long term follow-up of

patients with differentiated

thyroid cancer who had

negative I-131 whole body

scan at first evaluation after

treatment.

Jun 14,

2012

Jun 27,

2012

Under

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