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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ANA GLÓRIA BARBOSA BEZERRA DE SOUSA LIMA EXTRATOS PROTEICOS DE Plasmodium falciparum INDUZEM HEMÓLISE DE ERITRÓCITOS HUMANOS VIA SISTEMA COMPLEMENTO NATAL 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO …€¦ · RESUMO A maioria dos casos de malária grave humana é atribuída a infecções por Plasmodium falciparum, considerada

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ANA GLÓRIA BARBOSA BEZERRA DE SOUSA LIMA

EXTRATOS PROTEICOS DE Plasmodium falciparum INDUZEM HEMÓLISE

DE ERITRÓCITOS HUMANOS VIA SISTEMA COMPLEMENTO

NATAL

2018

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ANA GLÓRIA BARBOSA BEZERRA DE SOUSA LIMA

EXTRATOS PROTEICOS DE Plasmodium falciparum INDUZEM HEMÓLISE

DE ERITRÓCITOS HUMANOS VIA SISTEMA COMPLEMENTO

NATAL

2018

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências Biológicas.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Valter Ferreira de Andrade Neto

CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Marcelo de Sousa da Silva

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ANA GLÓRIA BARBOSA BEZERRA DE SOUSA LIMA

EXTRATOS PROTEICOS DE Plasmodium falciparum INDUZEM HEMÓLISE

DE ERITRÓCITOS HUMANOS VIA SISTEMA COMPLEMENTO

Aprovada em: 26/02/2018

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Dr. Valter Ferreira de Andrade Neto

(Presidente – Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN)

__________________________________________

Prof. Dr. Marcelo de Sousa da Silva

(Interno – Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas/UFRN)

__________________________________________

Profª. Drª. Lílian Giotto Zaros de Medeiros

(Interno – Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN)

__________________________________________

Profª. Drª. Valeska Santana de Sena Pereira

(Externo – Faculdade Maurício de Nassau)

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências Biológicas.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus da minha vida, que me guiou e me sustentou em todo tempo até aqui, me

dando a oportunidade de obter uma qualificação profissional e experiências pessoais

transformadoras.

À minha família pelo apoio e amor incondicionais, especialmente meus pais que

sempre investiram no meu futuro, me estimulando a nunca deixar de estudar; e meu

amado esposo, que foi literalmente uma coluna para mim durante esta trajetória, me dando

suporte, sendo compreensivo nos momentos dos quais se fez necessário abrir mão, me

dando ânimo nas horas mais difíceis e me fazendo lembrar de que eu seria capaz de

concluir esta etapa.

Aos meus orientadores, professores Valter e Marcelo, por toda a ajuda nessa

caminhada, pelas conversas e ideias desafiadoras que me impulsionaram a ter ainda mais

paixão pela ciência e pela pesquisa, apesar dos inúmeros fatores limitantes da atual

situação do pesquisador no nosso país.

Aos meus colegas do Laboratório de Biologia da Malária e Toxoplasmose,

especialmente ao time Malária, pela parceria não apenas nos experimentos, mas no dia-

a-dia, tornando-o mais leve e feliz. Agradeço também aos parceiros do Laboratório de

Imunoparasitologia, minha segunda casa, onde me senti igualmente acolhida, como

também aos laboratórios que sempre deram suporte em alguma necessidade: Laboratório

de Helmintologia, Laboratório de aulas práticas da Parasitologia, Laboratório de

Biotecnologia de Polímeros Naturais, Laboratório de Química e Função de Proteínas

Bioativas (do qual fiz parte durante a graduação) e LabMulti (da Faculdade de Farmácia).

Aos professores das bancas de qualificação e defesa pelas excelentes

contribuições para o aprimoramento do trabalho, como também aos demais mestres que

fizeram parte desta trajetória de dois anos de mestrado.

Aos funcionários, sejam eles administrativos ou de serviços gerais, pela simpatia

e ajuda sempre que foi preciso.

Às agências de fomento pelo suporte financeiro para a realização deste estudo e à

minha querida UFRN, da qual já faço parte há seis anos, onde vivi momentos tristes e

felizes, derrotas e vitórias, incertezas e convicções, elementos estes que contribuíram para

o meu crescimento como pessoa e profissional. Espero que não nos larguemos tão cedo!

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“Na corrida dessa vida é preciso entender que você vai rastejar, que vai cair, vai sofrer e a vida

vai lhe ensinar que se aprende a caminhar e só depois vai correr. A vida... a vida é uma corrida

que não se corre sozinho. Que vencer não é chegar, é aproveitar o caminho. Sentindo o cheiro

das flores e aprendendo com as dores causadas por cada espinho.

Pare, não tenha pressa! Não carece acelerar. A vida já é tão curta! É preciso aproveitar essa

estranha corrida, que a chegada é a partida… e ninguém pode evitar. Por isso é que o caminho

tem que ser aproveitado, deixando pela estrada algo bom para ser lembrado. Vivendo uma vida

plena, fazendo valer a pena, cada passo que foi dado.

Aí sim, lá na chegada, onde o fim é evidente, é que a gente percebe que foi tudo de repente e

aprende na despedida, que o sentido dessa vida é sempre seguir em frente.”

A corrida da vida – Bráulio Bessa

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RESUMO

A maioria dos casos de malária grave humana é atribuída a infecções por Plasmodium

falciparum, considerada o mais agressivo devido à hipóxia tecidual resultante de vários

fatores, entre eles a anemia severa. Nesse sentido, este estudo avaliou o grau de hemólise

mediada pelo sistema complemento em eritrócitos humanos sensibilizados com extratos

proteicos de P. falciparum, através de ensaios hemolíticos autólogos in vitro, no intuito

de estabelecer relações entre esta atividade e suas implicações para a patogênese da

malária complicada. Os eritrócitos tratados com EBPf com a concentração mínima de

0.06 ug/mL foram hemolisados em cerca de 60% quando em presença do complemento,

enquanto que na ausência deste o efeito foi reduzido para menos de 20%, indicando a sua

participação. Nas hemácias do doador com traço falciforme (HbAS), houve uma pequena

redução da hemólise em relação às hemácias normais, sugerindo uma imunoreatividade

diferencial neste caso. Em comparação com o tratamento com a neuraminidase, os perfis

de ação hemolítica foram similares aos obtidos com o EBPf, indicando que o P.

falciparum provavelmente possui proteases com ação semelhante a esta enzima, clivando

proteínas sialisadas na superfície da célula-alvo e valendo-se de vias alternativas de

invasão sob determinadas condições. O gel de SDS-PAGE corado com nitrato de prata

revelou um perfil de degração proteica equivalente entre os tratamentos dos eritrócitos

com EBPf e neuraminidase, reforçando esta hipótese. Além disso, as proteases do parasito

podem ser capazes de degradar estruturas proteicas da superfície eritrocitária como

glicoforina A, enquanto outras são preservadas, como a aquaporina 1, podendo contribuir

para a patogênese da doença. O ensaio de dose-resposta demonstrou uma redução da

atividade hemolítica apenas a partir da concentração de 0.03 ug/mL, indicando que a

elevada parasitemia não é fator estritamente crucial para a ativação do complemento,

tratando-se, provavelmente, de um fenômeno biológico potencializado por outros fatores

envolvidos no processo infeccioso. Desta forma, concluiu-se que extratos proteicos de P.

falciparum induzem hemólise em eritrócitos humanos via complemento, sendo este um

dos prováveis mecanismos responsáveis pela geração de um processo inflamatório

exacerbado e perda da homeostasia do indivíduo.

Palavras-chave: Plasmodium falciparum; malária; sistema complemento;

imunopatogênese; hemólise.

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ABSTRACT

Most cases of severe human malaria are due to Plasmodium falciparum infections,

considered the most aggressive due to tissue hypoxia resulting from several factors,

including severe anemia. In this sense, this study evaluated the degree of hemolysis

mediated by the complement system in human erythrocytes sensitized with protein

extracts of P. falciparum through in vitro autologous hemolytic assays in order to

establish relationships between this activity and its implications for the pathogenesis of

complicated malaria. Erythrocytes treated with EBPf with the minimum concentration of

0.06 μg/ml were hemolyzed in about 60% when in the presence of the complement;

whereas in the absence, the effect was reduced to less than 20%, indicating it’s

participation. In cells donor with sickle cell trait (HbAS), there was a small reduction in

hemolysis compared to normal red blood cells, suggesting a differential immunoreactivity

in this case. In contrast to the treatment with neuraminidase, the hemolytic action profiles

were similar to those obtained with EBPf, indicating that P. falciparum probably has

proteases with a similar action to this enzyme, cleaving proteins sialisated on the surface

of the target cell, using invasion alternatives pathways under certain conditions. The SDS-

PAGE gel stained with silver nitrate revealed an equivalent protein degradation profile

between erythrocyte treatments with EBPf and neuraminidase, reinforcing this

hypothesis. In addition, parasite’s proteases may be able to degrade erythrocyte surface

protein structures such as glycophorin A, while others are preserved, such as aquaporin

1, and may contribute to the immunopathogenesis of the disease. The dose-response assay

demonstrated a reduction in hemolytic activity only at the concentration of 0.03 μg/mL,

indicating that the high parasitemia is not a strictly crucial factor for complement

activation, probably due to a potentiated biological phenomenon by other factors involved

in the infectious process. Thus, it was concluded that P. falciparum protein extract induce

haemolysis in human erythrocytes via complement, being this one of the mechanisms

responsible for the generation of an exacerbated inflammatory process and loss of the

individual’s homeostasis.

Key-words: Plasmodium falciparum; malaria; complement system;

immunopathogenesis; hemolysis.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo de vida de Plasmodium, agente etiológico da malária.............................17

Figura 2. Estágios assexuados do ciclo eritrocitário do cultivo de P. falciparum..........18

Figura 3. Ligantes de invasão do parasito (determinantes de parasitas) e receptores de

eritrócitos humanos (determinantes do hospedeiro) ........................................................20

Figura 4. Principais vias de ativação do complemento....................................................24

Figura 5. Metodologia utilizada no estudo......................................................................30

Figura 6. Procedimento da sensibilização dos eritrócitos humanos a 2,5% com

neuraminidase e EBPf......................................................................................................35

Figura 7. Esquema do ensaio hemolítico autólogo realizado em placa de

microtitulação..................................................................................................................36

Figura 8. Teste de hemólise utilizando diferentes volumes de tampão de lise e eritrócitos

humanos a 2%, 2,5% e 5%..............................................................................................39

Figura 9. Perfil da curva padrão obtido pelo ensaio colorimétrico de Bradford............40

Figura 10. Perfil proteico em SDS-PAGE 10% de eritrócitos humanos utilizados no

cultivo de P. falciparum e de EBPf ................................................................................41

Figura 11. Atividade hemolítica em eritrócitos humanos normais 2,5% em VBS++

tratados com neuraminidase partindo da concentração de 1 μg/mL...............................41

Figura 12. Atividade hemolítica em eritrócitos humanos normais a 2,5% em VBS++

tratados com EBPf partindo da concentração de 1

μg/mL..............................................................................................................................42

Figura 13. Perfil hemolítico de eritrócitos humanos de doador heterozigoto para o traço

falciforme (HbAS) a 2,5% em VBS+ tratados com EBPf, partindo da concentração de 1

μg/Ml...............................................................................................................................43

Figura 14. Teste de dose-dependência com concentração inicial de 0,06 μg/mL de EBPf

para uso na sensibilização de eritrócitos humanos a 2,5% em VBS++...........................43

Figura 15. Perfil proteico dos sobrenadantes de eritrócitos humanos a 2,5% em VBS++

após diferentes intervalos de incubação (1h, 2h e 3h) com neuraminidase e

EBPf.................................................................................................................................44

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1. Encontro das formas assexuadas de P. falciparum em gota espessa associado

a um dos critérios relacionados à malária grave..............................................................21

Quadro 2. Principais funções biológicas das proteínas regulatórias do

complemento...................................................................................................................25

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

WHO - World Health Organization (em português, OMS – Organização Mundial de

Saúde)

EBPf – Extrato Bruto de Plasmodium falciparum

NA - Neuraminidase

EBA – Erythrocyte binding antigen

Rh - Reticulocyte binding protein homologue

NA – neuraminidase

CR1/CD35 – complement receptor type 1 (receptor do complemento tipo 1)

CM – cerebral malaria (malária cerebral)

SMA – severe malarial anemia (anemia malárica severa)

PfEMP-1 - P. falciparum Erythocyte Membrane Protein-1

CP – classical pathway (via clássica)

AP – alternative pathway (via alternativa)

MAC – membrane attack complex (complexo de ataque à membrana)

TCC – terminal complemente complex (complexo terminal do complemento)

DAF/CD55 – decay aceleration fator (fator de aceleração do decaimento)

CD59 - protectina

IgG – imunoglobulina G

ICs – imunocomplexos

PBS - phosphate buffered saline (tampão fosfato salino)

BSA – bovine serum albumin

SDS - sodium dodecyl sulfate (dodecil sulfato de sódio)

PAGE - PolyAcrylamide Gel Electrophoresis (eletroforese em gel de poliacrilamida)

VBS++ - Veronal-buffered saline with Mg + Ca (tampão veronal salino com Mg + Ca)

SHN – soro humano normal

SHI – soro humano inativado

HbAS –heterozigoto para traço falciforme

HbAA – homozigoto para traço falciforme

Rpm – rotações por minuto

ANOVA – análise de variância

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KDa – kilodalton

TNF-𝑎 - fator de necrose tumoral

IFN-γ - interferon-gama

ICAM-1 - Intercellular Adhesion Molecule 1 (molécula de adesão intercelular 1)

GPA – glicophorin A (glicoforina A)

SA – sialic acid (ácido siálico)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................15

1.1. Biologia de Plasmodium.........................................................................................16

1.2. Interação parasito-hospedeiro..............................................................................19

1.3. Malária grave causada por P. falciparum............................................................21

1.4. O sistema complemento no contexto da imunopatogênese da malária.............23

2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................28

3. OBJETIVOS..............................................................................................................29

4. MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................30

4.1. Cultivo de Plasmodium falciparum 3D7....................................................30

4.2. Teste de hemólise utilizando tampão de lise.............................................31

4.3. Extração de proteínas da cultura de P. falciparum 3D7..........................31

4.4. Determinação da concentração de proteínas............................................31

4.5. Eletroforese em gel de poliacrilamida.......................................................32

4.6. Ensaio hemolítico autólogo.........................................................................33

4.6.1. Obtenção dos eritrócitos e soro humanos...................................33

4.6.2. Sensibilização dos eritrócitos com extrato bruto de P. falciparum

e neuraminidase......................................................................................34

4.6.3. Avaliação do efeito hemolítico mediado pelo complemento.......35

4.7. Ensaio de dose-dependência.......................................................................36

4.8. Cinética de degradação proteica de eritrócitos humanos a 2,5% tratados

com EBPf e neuraminidase................................................................................37

4.9. Análise estatística........................................................................................38

5. RESULTADOS...............................................................................................39

5.1. Teste de hemólise.............................................................................39

5.2. Dosagem de proteínas de EBPf pelo método de Bradford............40

5.3. SDS-PAGE 10% corado com azul de Coomassie..........................40

5.4. Ensaios hemolíticos autólogos.........................................................41

5.5. Ensaio de dose-dependência............................................................43

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5.6. Perfil de degradação proteica de eritrócitos tratados com EBPf

e neuraminidase......................................................................................44

6. DISCUSSÃO...............................................................................................................45

7. CONCLUSÕES..........................................................................................................52

8. PERSPECTIVAS DO ESTUDO...............................................................................53

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................54

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15

1. INTRODUÇÃO

O combate às doenças infecciosas, embora ainda limitado, é alvo de crescente

interesse, sendo a procura por novos alvos terapêuticos uma das principais

estratégias adotadas a fim de controlar doenças provocadas por agentes

patogênicos. Entretanto, isto se mostra extremamente desafiador, uma vez que

exige um profundo conhecimento de todo o processo de infecção, dos agentes

etiológicos, das bases moleculares da interação parasito-hospedeiro e da resposta

imune frente à infecção (MIOTO et al., 2012; MONTEIRO, 2015).

Nesse sentido, a malária tem sido o foco de muitos estudos, uma vez que

continua a ser uma das parasitoses mais importantes do mundo. Caracteriza-se

como uma doença parasitária de caráter febril e agudo, com prevalência nas áreas

tropicais e subtropicais, apresentando alta morbidade e mortalidade (WHO, 2017).

A sua transmissão se dá principalmente através da picada do mosquito fêmea

pertencente ao gênero Anopheles, hospedeiro definitivo, quando este encontra-se

infectado por protozoários apicomplexos do gênero Plasmodium e os inocula no

homem, hospedeiro intermediário, podendo ocorrer também de forma secundária

por transfusões de sangue, compartilhamento de agulhas e seringas ou ainda de

forma congênita.

Além disso, o parasito sofre diferenciação várias vezes durante o processo

infeccioso, com mudanças antigênicas a cada esquizogonia (PASTERNAK et al.,

2009; FRENCH; CHEN, 2013; ZHU et al., 2017)., o que pode lhe conferir

resistência, sendo este um dos principais entraves do tratamento (ALY et al.,

2009).

Das mais de 150 espécies conhecidas de Plasmodium, destacam-se seis pelo

fato de parasitarem os seres humanos. São elas: P. falciparum, P. vivax, P.

malariae, P. ovale, P. knowlesi e, mais recentemente, P. simium, que até então era

conhecida apenas por parasitar macacos, mas que teve sua capacidade de infecção

em humanos comprovada no ano de 2017 (BRASIL et al., 2017).

Segundo a OMS, foram registrados cerca de 216 milhões de casos de malária

em 2016, e as regiões das Américas e da África representaram quase 70% dos

países que apresentaram um aumento de mais de 20% em 2016 comparado com

2015. A porcentagem mais alta foi na Região das Américas (36%), onde a

incidência da malária aumentou em 2013, principalmente no Brasil e na

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16

Venezuela (WHO, 2017). A elevação dessa incidência deve-se, principalmente, à

adaptação do parasito às mudanças climáticas e aos vetores emergentes, além da

resistência que tem sido demonstrada aos inseticidas e aos antimaláricos

comumente utilizados, dificultando respectivamente o controle vetorial e o

tratamento de pacientes (GOMES et al., 2011; PEREIRA, 2016; WHO, 2017).

No Brasil, o maior número de casos concentra-se na região da Amazônia legal

(composta pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso,

Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), considerada área endêmica, e a espécie

predominante é P. vivax, que normalmente gera formas menos complicadas da

doença, parasitando preferencialmente reticulócitos, embora já tenham sido

notificados casos de malária grave associada a esta espécie (ALENCAR FILHO

et al., 2014; MEIBALAN; MARTI, 2017). No entanto, P. falciparum permanece

sendo o alvo de muitos estudos devido à sua elevada patogenicidade, podendo

gerar quadros clínicos graves como a malária cerebral, angústia pulmonar aguda,

malária placentária, anemia severa e outras complicações associadas, incluindo

falência de órgãos, sepse e morte (CHASSAIGNE et al., 2001; DANKWA et al.,

2017; WHO, 2017).

O grupo mais afetado consiste em crianças na faixa etária dos anos iniciais,

mulheres grávidas, adultos não-imunes e imunodeprimidos, cuja infecção pode

levar à letalidade (MARIOTTI-FERRANDIZ et al., 2016). A cada ano, são

notificadas aproximadamente 429 mil mortes, sendo 92% das ocorrências destas

mortes na África Subsaariana (WHO, 2017). Diante disso, constata-se que esta

parasitose permanece sendo um problema de saúde pública global, apesar dos

inúmeros esforços no intuito de combatê-la, não apenas em locais endêmicos, mas

também em áreas não endêmicas, onde o crescente número de casos de malária

importados é preocupante e, geralmente, são fatais (COSTA et al., 2013).

1.1. Biologia de Plasmodium

Os parasitos do gênero Plasmodium têm um ciclo de vida complexo e

heteroxeno, que se divide entre a fase sexuada (esporogonia) no mosquito,

hospedeiro definitivo, e a fase assexuada (esquizogonia) no homem, hospedeiro

intermediário (figura 1). A transmissão ocorre quando o vetor invertebrado

inocula no homem formas infectantes do protozoário (esporozoítos) durante o

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repasto sanguíneo, que se desenvolvem nos hepatócitos, liberando na corrente

sanguínea milhares de merozoítos em vesículas merossomais que invadirão os

eritrócitos, dando início à fase responsável pela sintomatologia da malária,

caracterizada por febre, mal-estar, cefaléia, cansaço e mialgia (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2017).

O período que diz respeito a esta intensa reprodução assexuada no interior das

hemácias, rompedo-as ao final do processo, coincide com os episódios paroxísticos

de febre, que variam de acordo com a espécie de Plasmodium infectante. Para P.

knowlesi são 24 horas; para P. falciparum (figura 2) e P. vivax são 48 horas (por

isso dá-se o nome febre terçã) e 72 horas para P. malariae (febre quartã) (WHO,

2017).

Figura 1. Ciclo de vida de Plasmodium, agente etiológico da malária.

Fonte: CDC, 2018 (adaptado). Disponível em: http://www.cdc.gov/malaria/index.html.

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18

A) Anel ou trofozoíto imaturo (fase jovem), B) trofozoíto maduro, C) esquizonte (fase madura) e

D) merozoítos sendo liberados para o meio extracelular.

Fonte: A autora.

Além disso, este rompimento irá liberar, juntamente com os merozoítos

recém-formados, metabólitos do parasito, como a hemozoína (pigmento malárico),

oriundo da degradação da hemoglobina dentro do vacúolo parasitóforo, obtendo os

aminoácidos necessários para auxiliar sua maturação, uma vez que não são capazes

de produzir bases púricas a partir do novo (SHERMAN, 1977; BARROS et al.,

2012; GAZZINELLI et al., 2014; SCHMIDT et al., 2015). Ultimamente, o interesse

acerca da hemozoína tem aumentado, uma vez que tem se mostrado importante para

o diagnóstico, desenvolvimento de fármacos antimaláricos e participação na

ativação da resposta imune, recrutando macrófagos e estimulando a liberação de

citocinas pró-inflamatórias (BARROS et al., 2012; PEREIRA, 2016; HIKARO,

2016).

A fim de dar continuidade à sua replicação, os merozoítos liberados necessitam

invadir novas hemácias, e este processo envolve a interação complexa e dinâmica

entre múltiplos receptores do hospedeiro e ligantes do parasito (PERSSON et al.,

2008; COSTA et al., 2013).

Figura 2. Estágios assexuados do ciclo eritrocitário do cultivo de P. falciparum.

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19

1.2. Interação parasito-hospedeiro

Nesta fase, a superfície do merozoíto é revestida por uma capa ou envoltório

glicoproteico, com a parte glicídica voltada para o seu interior, com propriedades

adesivas que proporcionam a captura do eritrócito que irá parasitar (BOYLE et al.

2014). Porém, a penetração só será efetiva se o parasito sofrer uma reorientação

apical do seu ponto de aderência, formando assim junções entre a sua membrana

e a da célula hospedeira, culminando com a endocitose nos eritrócitos, que

envolve a formação de um vacúolo parasitóforo (DEANS et al., 2007; COWMAN

et al. 2012).

Apesar da base molecular desses processos não ser totalmente compreendida

ainda, algumas moléculas participantes tanto do Plasmodium quanto das hemácias

já foram identificadas. Em relação aos determinantes do parasito, comumente são

representados por duas família de genes: antígenos de ligação aos eritrócitos

(EBA-175, EBA-140 e EBA-181) e homólogos da proteína de ligação aos

reticulócitos (Rh1, Rh2a, Rh2b e Rh4) (COWMAN et al., 2017).

Os antígenos eritrocitários são estruturas macromoleculares localizadas na

superfície extracelular da membrana eritrocitária, que apresentam ampla

diversidade estrutural e funcional. Podem exercer diversas funções como

transportadores, receptores de moléculas de adesão, enzimáticas, e controladores

do complemento (ALENCAR FILHO et al., 2014; BIRYUKOV et al., 2016).

Dentre os receptores celulares dos eritrócitos registrados como pontos de

entrada para P. falciparum, o grupo proteico das glicoforinas foi o pioneiro por se

ligarem exclusivamente a membros da família PfEBA (CHEN et al., 1998). Tem

sido demonstrado que esta espécie também se utiliza do receptor do complemento

tipo 1 (CR1) para invadir as hemácias, e a adesina do parasito, PfRh4, é

responsável por se ligar diretamente a esta molécula para mediar uma invasão

bem-sucedida (figura 3) como uma via alternativa às glicoforinas (SPADAFORA

et al., 2010; REILING et al., 2012; BEI; DURAISINGH, 2012; SCHMIDT et al.,

2015).

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GPA - glicoforina A; GPB - glicoforina B; GPC, glicoforina C; CR1 - receptor do complemento

tipo 1. Fonte: BEI; DURAISINGH, 2012 (adaptado).

As vias de invasão têm sido identificadas através da análise da entrada de

merozoítos em eritrócitos tratados com enzimas que removem receptores

específicos de membrana, tais como a neuraminidase, a tripsina e a quimotripsina

(DOLAN et al., 1994; DEANS et al., 2007). A neuraminidase atua clivando ácido

sialico da superfície dos eritrócitos, presente em receptores importantes como as

glicoforinas. Testar a capacidade de um isolado de parasita em invadir eritrócitos

tratados com neuraminidase pode definir se o isolado é dependente ou

independente de receptores sialisados para invadir a hemácia (DEANS et al.,

2007; DANKWA et al., 2017). Dankwa e colaboradores (2017) demonstraram que

as vias envolvendo os ligantes de invasão EBA e Rh1 são dependentes do ácido

siálico, enquanto que as demais não são.

Convencionou-se que P. falciparum pode ser subdividido em cepas

dependentes de ácido siálico que invadem eritrócitos tratados com neuraminidase

(NA) em um nível reduzido e cepas independentes de ácido siálico que são

capazes de invadir hemácias tratadas com NA em um nível superior via CR1 e o

ligante de merozoíto PfRh4 (BIRYUKOV et al., 2016). O CR1 é uma proteína

imunoreguladora encontrada na superfície do eritrócito e em uma variedade de

leucócitos, e suas funções incluem controle da ativação do complemento e da

Figura 3. Ligantes de invasão do parasito (determinantes de parasitas) e receptores de eritrócitos

humanos (determinantes do hospedeiro).

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depuração de imunocomplexos (COCKBURN et al., 2004; BONIFÁCIO;

NOVARETTI, 2009). Nos glóbulos vermelhos, os níveis de CR1 variam entre

indivíduos na faixa de 50-1.200 moléculas por célula (ROWE et al., 2002).

A habilidade apresentada pelo P. falciparum em reconhecer diferentes

receptores da célula hospedeira permite com que a invasão possa ocorrer por uma

gama de vias alternativas com igual eficiência (BOYLE et al., 2014), ao contrário

de P. vivax, que requer o receptor de antígeno Duffy. Esta plasticidade favorece a

adaptabilidade aos polimorfismos das hemácias e pode atuar ainda como um

mecanismo de evasão imunológica (KUSS et al., 2011; HARVEY et al., 2012).

Tal característica provavelmente é decorrente de uma co-evolução com o

organismo humano ao longo de milhares de anos que contribuiu também para a

virulência desta espécie (GAUR et al., 2004; BOWYER et al., 2015).

1.3. Malária grave causada por P. falciparum

As infecções por P. falciparum, considerada como a espécie mais patogênica,

na ausência de um diagnóstico precoce e tratamento adequado, podem evoluir para

forma complicada, denominada malária grave (QUEIROZ et al., 2008), com

critérios definidos segundo a Organização Mundial de Saúde (Quadro 1).

Quadro 1. Encontro das formas assexuadas de P. falciparum em gota espessa

associado a um dos critérios relacionados à malária grave.

Fonte: DAY et al., 1999 apud QUEIROZ et al., 2008).

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Este quadro caracteriza-se por ser uma doença multifatorial dependente de

questões relacionadas tanto ao parasito, quanto ao hospedeiro. Pode acarretar em

malária cerebral (MC), anemia grave, insuficiência renal aguda, edema pulmonar,

hipoglicemia, colapso circulatório, acidose metabólica, coma e morte. Entretanto, os

pacientes que sobrevivem apresentam danos neurológicos graves e irreversíveis

(MILLER et al., 2002 apud QUEIROZ et al., 2008).

Sabe-se que a invasão de eritrócitos é central para a patogênese da malária

(HALDAR; MOHANDAS et al., 2010; SAETEAR et al., 2015). Ao invadir as

hemácias, o parasito provoca uma série de modificações na superfície dessas células,

remodelando sua morfologia e alterando suas características para causar a aderência

(ALENCAR FILHO et al., 2014; COWMAN et al., 2017; SISQUELLA et al., 2017).

A proteína de membrana PfEMP-1 (do inglês P. falciparum Erythocyte Membrane

Protein-1) é apontada como um dos principais ligantes antigênicos envolvidos no

processo de citoadesão, fenômeno que contribui para a gravidade da doença

(BARROS et al., 2012).

Expressas na fase eritrocítica, PfEMP1 são proteínas que formam associações com

os “knobs”, protrusões eletrodensas na superfície dos eritrócitos infectados que

apresentam elementos estruturais característicos, desempenhando um papel

importante na citoadesividade entre os eritrócitos infectados e não-infectados,

formando estruturas chamadas de rosetas, e também atuam na ligação com vários

receptores endoteliais e sequestro dessas células para a microvasculatura de órgãos

como o cérebro, caracterizando um quadro de malária cerebral (PASTERNAK;

DZIKOWSKI, 2009 apud BARROS et al., 2012; ALENCAR FILHO et al., 2014).

A expressão de PfEMP1 torna o parasito visível ao sistema imune do hospedeiro,

mediando uma resposta anticorpo-dependente. No entanto, algumas sub-populações

dos parasitos podem expressá-lo de forma diferencial como mecanismo de evasão

imune, conseguindo fazer com que a infecção persista. Esse processo é conhecido

como variação antigênica e é típico de infecções por P. falciparum (BARROS et al.,

2012), sendo considerado como o principal fator de vilurência desta espécie (SMITH

et al., 1995; KIRCHGATTER, 2001 apud BARROS et al., 2012; FRECH, CHEN,

2013; ZHU et al. 2017).

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A infecção por Plasmodium apresenta consequências severas e potencialmente

letais para o estado metabólico do hospedeiro humano (OLSZEWSKI et al., 2009). No

caso da malária induzida por P. falciparum, os principais eventos fisiopatológicos

que ocorrem durante a infecção são: a rápida proliferação de parasitos, culminando

com a lise maciça de eritrócitos e estimulando a liberação de citocinas pró-

inflamatórias, somadas ao dano isquêmico oriundo do sequestro de eritrócitos

parasitados para a microvasculatura, provocando perda da função da barreira

endotelial e desregulação endotelial (MACKINTOSH et al., 2004 apud OLSZEWSKI

et al., 2009; GAZZINELLI et al., 2014).

A partir dos danos causados pela infecção do Plasmodium, uma cascata

inflamatória bem organizada de modificações humorais e celulares dentro do tecido

vascularizado é iniciada (COSTA et al., 2013). Quando regulados, estes fatores

imunológicos atuam com a finalidade de combater o patógeno e manter um ambiente

homeostático normal. No entanto, quando há um descontrole, também podem

provocar efeitos deletérios no hospedeiro, perdendo sua função protetora original

(TROVOADA et al., 2014). Frente a isso, ultimamente muitos estudos têm buscado

avaliar a participação do sistema imunitário em tais efeitos, uma vez que a patologia

de muitas doenças parasitárias pode estar relacionada a uma desregulação da resposta

imune (OLSZEWSKI et al., 2009; LISZEWSKI; ATKINSON, 2015).

1.4. O sistema complemento no contexto da imunopatogênese da malária

As modificações causadas na superfície de eritrócitos infectados e a liberação de

produtos parasitários após a lise celular fazem com que o sistema de defesa ative uma

variedade de sistemas mediadores da resposta imune, incluindo o sistema

complemento (PHANUPHAK et al., 1985). Este é um dos principais mecanismos da

resposta imune inata, iniciado frente a vários agentes infecciosos. Composto por um

complexo de proteínas solúveis e de membrana, seu processo de ativação caracteriza-

se por clivagens sequenciais de alguns precursores zimogênicos que, em sequência,

catalisam a ativação de outras proenzimas numa espécie de “cascata” (BIRYUKOV

et al., 2014; BAJIC et al. 2015).

Um elemento chave desta cascata é a formação das C3 convertases, enzima

responsável pela degradação de C3, formando fragmentos efetores como C3a, uma

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potente anafilotoxina, e C3b, que pode se ligar a superfícies celulares a fim de

facilitar a fagocitose por macrófagos e eliminação esplênica de células parasitadas

(YAMAMOTO et al., 2001).

Três diferentes vias são conhecidas por ativar a cascata do complemento: a via

clássica (CP), a via alternativa (AP) e a via das lectinas (MBLP) (figura 4). Todas

elas são iniciadas por fatores diferentes do patógeno, porém convergem em um ponto

comum para formar o complexo de ataque à membrana (MAC) ou complexo terminal

do complemento (TCC), responsável por formar poros na membrana, causando um

desequilíbrio osmótico e a lise celular (ROESTENBERG et al., 2007; BIRYUKOV

et al., 2014; ABBAS et al., 2015).

Figura 4. Principais vias de ativação do complemento: a via clássica, a via das lectinas

de ligação à manose, e a via alternativa.

IgM - imunoglobulina M; IgG - imunoglobulina G; CR1/CD35 - receptor do complemento

tipo 1; DAF/CD55 - fator de aceleração do decaimento; CD59 - protectina.

Fonte: BIRYUKOV et al., 2014 (adaptado).

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Sob certas condições fisiológicas, os eritrócitos encontram-se protegidos da

ativação do complemento pela presença de várias proteínas presentes no plasma ou

nas superfícies celulares, como o receptor do complemento tipo 1 (CR1), protectina

(CD59) e fator de aceleração do decaimento (DAF). Estas proteínas são importantes

para proteger as hemácias do dano mediado pelo complemento e controlar a ativação

da cascata (quadro 2) (ALEGRETTI et al., 2009; SILVER et al., 2010).

Quadro 2. Principais funções biológicas das proteínas regulatórias do complemento.

Fonte: ALEGRETTI et al., 2009 (adaptado).

A perda gradual desses reguladores contribui para a remoção de hemáceas

seinescentes (ARESE et al., 2005). No entanto, alterações que causem desequilíbrio

na ativação desta resposta, potencializando-a, pode acarretar em efeitos deletérios

para o organismo. Pacientes com malária associada à infecção por P. falciparum

mostraram altos índices de componentes plasmáticos de ativação do complemento,

tanto pela via clássica, como pela alternativa (WENISCH et al., 1997; KIM et al.,

2014). Deficiências ou alterações destas proteínas regulatórias têm sido associadas à

malária grave (COCKBURN et al., 2004; STOUTE et al., 2005; SARMA; WARD,

2011).

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Vários mecanismos têm sido propostos para explicar a patogênese, ainda não

completamente elucidada, da anemia malárica severa (SMA) em infecções por P.

falciparum, sendo esta uma das principais complicações fatais observadas em grupos

de risco (CARVALHO et al., 2006; DESRUISSEAUX et al., 2010). O grau da perda

de eritrócitos não pode ser explicado apenas pela destruição por P. falciparum após

este deixar o interior da célula, estando, portanto, relacionada a outros fatores

envolvidos no processo infeccioso (WOODRUFF et al., 1979; PRICE et al., 2001;

BIRYUKOV et al., 2014).

A anemia hemolítica pode ser classificada como: 1) intraglobulares ou intrínsecas,

quando o defeito está no eritrócito, na sua membrana ou em seu conteúdo, sendo

geralmente hereditária; como é o caso das hemoglobinopatias, anomalias de

membrana ou enzimopatias; 2) extraglobulares ou extrínsecas, quando a causa da

hemólise constitui uma agressão ao eritrócito, sendo, portanto, adquiridas

(OLIVEIRA et al., 2006).

Tem sido relatado que a sobrevivência de eritrócitos não-infectados é diminuída

durante a infecção por P. falciparum (HIKARO et al., 2016), e um modelo

matemático revelou que, para cada eritrócito infectado, há 8,5 eritrócitos não-

infectados destruídos durante a infecção malárica (JAKEMAN et al., 1999 apud

BIRYUKOV et al., 2014). Concomitantemente, ocorre disfunção da medula óssea e

eritropoiese ineficaz, que juntamente contribuem para este quadro (PIERCE et al.,

2009; DASARI et al., 2014). Estudos indicam a forte participação de componentes

imunológicos tanto em seres humanos, quanto em modelos experimentais (DE

SOUZA & RILEY, 2002 apud CARVALHO, 2006).

Existem evidências de que a regulação alterada do complemento pode

desempenhar um papel na patogênese da SMA. Eritrócitos de crianças com SMA

apresentaram maior deposição superficial de IgG e adquiriram deficiências das

proteínas reguladoras do complemento, como CR1 e DAF (STOUTE et al., 2003;

SARMA et al., 2011). Estas características estão associadas ao aumento da deposição

de C3b em eritrócitos durante a infecção malárica (WAITUMBI et al., 2000;

ODHIAMBO et al., 2008; SCHMIDT et al., 2015).

Essas alterações na expressão de proteínas regulatórias do complemento nos

eritrócitos têm sido confirmadas por outros grupos (MAHAJAN et al., 2011;

THOMAS et al., 2012) e mudanças semelhantes foram vistas em células B e em

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monócitos e macrófagos de crianças com SMA (FERNANDEZ-ARIAS et al., 2013

apud BIRYUKOV et al., 2014; GAZZINELLI et al., 2014). Outros estudos com

infecção por P. falciparum demonstraram uma ativação significativa do

complemento nos estágios pré-clínicos e iniciais da malária, com o aumento da

formação do MAC (ROESTENBERG et al., 2007; RAMOS-SUMMERFORD;

BARNUM, 2014).

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2. JUSTIFICATIVA

Nos casos de malária grave causada por P. falciparum, a anemia severa é um dos

principais responsáveis pela mortalidade em grupos de risco. Este quadro anêmico é

oriundo de vários fatores, dentre eles: aplasia da medula óssea, sequestro de hemácias

parasitadas e não-parasitadas, destruição de eritrócitos pela rápida multiplicação do

parasito e ainda por mecanismos imunes, como os mediados pelo sistema complemento.

Entretanto, a participação do complemento no processo hemolítico durante a infecção

pelo P. falciparum em pacientes não está completamente elucidada.

Neste contexto, o presente estudo buscou avaliar a ativação direta do sistema

complemento ao interagir com eritrócitos humanos sensibilizados com proteínas de P.

falciparum, apontando possíveis mecanismos resultantes desta interação que poderiam

contribuir para a imunopatogênese da malária complicada. Levando em consideração a

alta prevalência e o grau de severidade que esta doença pode atingir, o estudo destes

mecanismos pode indicar potenciais estratégias terapêuticas, como o uso de moléculas

capazes de controlar a ativação do complemento, visando a redução da morbimortalidade

desta parasitose.

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3. OBJETIVOS

O presente estudo teve como objetivo geral avaliar a atividade hemolítica, mediada

pelo sistema complemento, em eritrócitos humanos tratados com extratos proteicos de

Plasmodium falciparum e suas possíveis implicações para patogênese da malária

grave, seguindo os seguintes objetivos específicos:

1. Verificar se o complemento possui efeito hemolítico em eritrócitos normais e

com traço falciforme (HbAS) sensibilizados com antígenos de P. falciparum;

2. Comparar a susceptibilidade hemolítica de eritrócitos humanos normais e com

traço falciforme;

3. Investigar se a ação hemolítica mediada pelo complemento é dependente de

ácido siálico.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

A fim de contemplar os objetivos propostos, a metodologia utilizada neste

estudo seguiu as etapas conforme esquematizado na figura abaixo (figura 5).

Figura 5. Metodologia utilizada no estudo.

4.1. Cultivo de Plasmodium falciparum 3D7

A cepa 3D7 de Plasmodium falciparum, classificada por estudo anteriores

como independente de ácido siálico (AWANDARE et al., 2011), foi cultivada

seguindo a metodologia descrita por Trager e Jensen (1976), com adaptações

sugeridas por Andrade-Neto e colaboradores (2007). Os eritrócitos humanos do

tipo A+ ou O+ utilizados foram coletados de voluntários (Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) da UFRN sob o nº 1.314.667/2015) e os parasitos, mantidos em

cultura contínua usando meio RPMI 1640 (Sigma-Aldrich) suplementado com

10% de Albumax I (Gibco) sob condições de baixo nível de oxigênio (5% de

oxigênio, 5% de dióxido de carbono e 90% de nitrogênio), a 37º C.

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4.2. Teste de hemólise utilizando tampão de lise

A fim de otimizar a extração de proteínas do cultivo de P. falciparum, foi

realizado um teste de hemólise inicial utilizando eritrócitos humanos em VBS+ a

2%, 2,5% e 5% e diferentes volumes de tampão de lise (120mM de cloreto de

sódio [NaCl, Sigma-Aldrich], 50mM de tris-HCL [Trizma, Sigma-Aldrich] e

0,5% de NP-40 [Biochemika, EU], pH 7,8) incubados por 1h a 37° C,

centrifugados a 1.500 rpm por 5 minutos a 4° C. Em uma placa de microtitulação,

o sobrenadante foi lido a 405 nm e medida a sua absorbância a fim de estabelecer

o volume de tampão que provoca menos hemólise, dando assim prosseguimento

às extrações e eliminando a interferência no grau deste efeito nos ensaios

hemolíticos autólogos posteriores.

4.3. Extração de proteínas da cultura de P. falciparum 3D7

A extração de proteínas totais foi feita utilizando a metodologia adaptada de

Costa e colaboradores (2013). Partindo de observações de esfregaços realizados a

partir da cultura, ao atingir a fase esquizogônica de crescimento e parasitemia

mínima de 5%, a cultura de P. falciparum foi centrifugada a 5.000 rpm por 5

minutos à temperatura ambiente, e o sobrenadante foi descartado. O pellet foi

lavado com PBS gelado na proporção de 1:1 e centrifugado sob as mesmas

condições anteriores. Após isso, os eritrócitos foram lisados com saponina 0,2%

em PBS (v/v) e incubado por 20 minutos a 37º C. Em seguida, a mistura foi

centrifugada a 10.000 rpm a 4º por 10 minutos, o sobrenadante foi descartado e o

precipitado, submetido a sucessivas lavagens com PBS gelado. Ao final, os

parasitos foram lisados adicionando-se tampão de lise e a amostra foi

homogeneizada no vórtex e centrifugada por 2 minutos a 9.000 rpm e 5º C. O

precipitado foi ressuspendido com PBS e denominou-se como extrato bruto de

Plasmodium falciparum (EBPf), armazenado a -20º C para posterior utilização.

4.4 Determinação da concentração de proteínas

A concentração das proteínas foi determinada através do ensaio colorimétrico

com base no método de Bradford (1976), utilizando-se como padrão a albumina

sérica bovina (bovine serum albumin - BSA, Sigma-Aldrich). Foram aplicadas em

duplicata, numa placa de microtitulação de 96 poços, 10 ul de diferentes

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concentrações da solução estoque de BSA diluída em solução salina, com o

objetivo de estabelecer uma curva padrão. A cada poço foram adicionados 200 μl

do reagente de Bradford (Quick Start™ Bradford 1× Dye Reagent, Bio-Rad,

EUA) mais 10 μl de cada padrão aos respetivos poços. O padrão 0 μg.ml-1,

consistindo somente em solução salina, corresponde ao branco da curva.

O extrato, semelhantemente aos padrões, foi testado em duplicata, tendo sido

adicionados 10 μl da amostra nos primeiros poços e realizadas diluições seriadas,

às quais se aplicou igualmente 200 μl do reagente de Bradford, tendo como branco

o PBS. Após 5 min de incubação à temperatura ambiente, foi efetuada a leitura

das absorbâncias no comprimento de onda de 595 nm, inferindo-se a concentração

de EBPf por meio das densidades óticas (D.O.) da reta de regressão linear.

4.5. Eletroforese em gel de poliacrilamida

A fim de avaliar a eficácia da extração, foram aplicados em SDS-PAGE 10%,

volumes crescentes (40, 30, 15 e 5 μl) de alíquotas de eritrócitos parasitados

utilizados na cultura de P. falciparum e de EBPf, permitindo a diferenciação de

proteínas dos eritrócitos e do parasito. Esta técnica, desenvolvida pelo químico

Arne Tiselius, separa as proteínas de acordo com seu peso molecular (kDa).

Inicialmente, foram preparados 8 mL de uma solução que, após

polimerização, compôs o gel corrida, consistindo em 4,1 mL de água destilada;

3,3 mL de acrilamida (30% acrilamiada (m/v) (Sigma-Aldrich) e 0,8% Bis-

Acrilamida (v/v) (Sigma-Aldrich); 2,5 mL de 1,5 M Tris-HCl (Trizma - Sigma-

Aldrich); 100 μl de dodecil sulfato de sódio (SDS, Sodium dodecyl sulfate)

(Sigma-Aldrich) a 10% (m/v); 50 μl de Persulfato de amônia (Sigma-Aldrich) e 5

μl de tetrametiletilenodiamina (TEMED, Sigma-Aldrich). Para o gel de

empacotamento ou de separação, foram utilizado 2 mL de gel de uma solução

constituída por 2,5 mL água destilada, 450 μL de acrilamida (30% acrilamida

(m/v) (Sigma-Aldrich) e 0,8% bis-Acrilamida (v/v) (Sigma-Aldrich); 333 μL de

Tris-HCl 0,6 M (Trizma - Sigma-Aldrich); 100 μL de SDS (Sigma-Aldrich) a 10%

(m/v); 50 μl de solução saturada de persulfato de amónia e 5 μl de TEMED

(Sigma-Aldrich).

As amostras foram diluídas em tampão de amostra para SDS-PAGE em

proporção de 1:1 para aplicação no gel. Este tampão é constituído por 3,55 mL de

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água destilada, 1,25 mL de 0,5M Tris-HCl a pH 6,8, 2,5 mL de glicerol (Sigma-

Aldrich), 2 mL de SDS 10% (m/v) (Sigma-Aldrich), 200 μl de azul de bromofenol

0,5% (m/v) (Sigma-Aldrich) e 50 μl de beta-mercaptoetanol (Sigma-Aldrich).

Após a diluição, as amostras foram fervidas à temperatura de +100ºC durante

cinco minutos.

Uma vez aplicadas as amostras, os géis foram posteriormente submersos num

tampão condutor de corrente, constituído por 25 M de Tris, 0,19 M de glicina

(Sigma-Aldrich) e 0,1% de SDS e submetidos a uma corrente elétrica constante

de 100 V, durante aproximadamente 1,5 h, até a frente de corrida se aproximar do

seu limite inferior. Em seguida foi efetuada a coloração dos géis com o corante

azul de Coomassie (Coomassie Brilliant Blue R-250, Bio-Rad, EUA) durante 20

min, após o qual se procedeu à sua descoloração com uma solução composta por

10% de metanol e 5% de ácido acético glacial.

4.6. Ensaio hemolítico autólogo

4.6.1. Obtenção dos eritrócitos e soro humanos

Seguindo, com adaptações, a metodologia proposta por Monteiro (2015),

inicialmente foram coletados 10 mL de sangue de indivíduos saudáveis e de um

indivíduo portador do traço falciforme (a fim de avaliar a influência desta

característica genética sobre o grau de hemólise), do qual 5 mL de cada um foi

instantaneamente diluído em 5 mL de solução anticoagulante Alsever (8,4g de

cloreto de sódio, 41 g de D-glucose, 16 g de citrato de sódio e 1,1g de ácido

cítrico num volume final de 200 mL com água destilada) para a obtenção de

eritrócitos. O restante foi incubado a +37ºC durante 30 min, e em seguida a +4ºC,

durante 30 min. Terminados os períodos de incubação, que visaram a retração

do coágulo, os tubos contendo os sangues foram centrifugados a 1.500 rpm

durante 10 min a 4°C para a obtenção do soro humano, fonte de proteínas do

sistema complemento. O volume total de soro obtido foi aliquotado em tubos

eppendorfs e conservado a -20ºC até à sua utilização. Em cada ensaio, utilizou-

se soro e eritrócitos humanos provenientes do mesmo indivíduo, dado o seu

caráter autólogo.

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Para a inativação do sistema complemento, após o descongelamento do soro,

foi feita a sua incubação a uma temperatura de 56ºC durante 60 min. Para a

obtenção de um concentrado de eritrócitos humanos, a solução de Alsever

contendo eritrócitos humanos foi incubada a +4ºC durante 8 h. A conservação

dos eritrócitos a +4ºC não excedeu o período máximo de uma semana.

Para a realização dos ensaios de sensibilização dos eritrócitos humanos (Eh)

pela neuraminidase e pelo EBPf, foi utilizada uma solução de eritrócitos

humanos a 2,5%. A sua preparação consistiu em sucessivas lavagens do

concentrado de eritrócitos em tampão VBS++, a 1.500 rpm e 4ºC durante 10

min, a fim de obter um sobrenadante límpido, eliminando assim qualquer

vestígio de hemólise e reduzido possíveis interferências.

4.6.2 Sensibilização dos eritrócitos com extrato bruto de P. falciparum e

neuraminidase

Com a finalidade de verificar a susceptibilidade dos eritrócitos à hemólise pelo

contato direto com EBPf e neuraminidase, o ensaio hemolítico foi constituído

por uma parte de Eh a 2,5% e uma parte de tampão VBS++ (1:1) contendo

diferentes concentrações de EBPf ou neuraminidase, separadamente. No intuito

de se estabelecer uma padronização do ensaio hemolítico, utilizou-se

inicialmente a neuraminidase, uma enzima de caráter conhecido, para o

tratamento dos eritrócitos. As concentrações foram realizadas em diluições

seriadas a partir da solução de VBS, partindo da concentração de 1 ug/mL da

enzima até uma concentração de 0,06 ug/mL.

Posteriormente, a uma parte de VBS contendo diferentes concentrações da

neuraminidase, adicionou-se uma outra parte de eritrócitos humanos a 2,5% a

cada tubo e incubados por 1h a 37°C, tendo após isso sido lavados por três vezes

e o precipitado, ressuspendido com VBS++ (figura 6), sempre observando se

havia sinais de hemólise nos tubos eppendorfs utilizados, como alterações na

coloração do sobrenadante para tons avermelhados. Para o EBPf, procedeu-se

da mesma forma. Em ambas as situações, os eritrócitos foram misturados com

apenas uma parte de VBS, sendo considerado o controle negativo da reação.

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4.6.3. Avaliação do efeito hemolítico mediado pelo complemento

Considerando que os eritrócitos não foram lisados após a sensibilização,

em seguida avaliou-se a ocorrência de um possível efeito hemolítico mediado pelo

complemento em eritrócitos humanos tratados com EbPf e neuraminidase na

presença de soro humano em um sistema autólogo. Em uma placa de

microtitulação, foram aplicadas quatro diferentes condições envolvendo os Eh

2,5% sensibilizados:

1) 100 ul de Eh 2,5% (v/v) sensibilizados incubados com 100 ul de VBS++;

2) 100 ul de Eh 2,5% (v/v) sensibilizados incubados com soro humano normal

(diluído 1/ 2 em VBS v/v);

3) 100 ul de Eh 2,5% (v/v) sensibilizados incubados com soro humano

inativado (diluído 1/ 2 em VBS v/v);

4) 100 ul de Eh 2,5% (v/v) sensibilizados incubados com 100 ul de água

destilada.

Figura 6. Procedimento da sensibilização dos eritrócitos humanos a 2,5% com

neuraminidase e EBPf.

Fonte: MONTEIRO, 2015 (metodologia adaptada).

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Os ensaios hemolíticos foram realizados em diferentes concentrações de

EBPf e neuraminadase e realizados em duplicata para cada concentração de

tratamento, como no esquema abaixo (figura 7).

Figura 7. Esquema do ensaio hemolítico autólogo realizado em placa de

microtitulação.

Fonte: MONTEIRO, 2015 (metodologia adaptada).

Após o preparo das reações, a placa foi incubada por 1h a 37°C e centrifugada

a 1.500 rpm, por 5 minutos a 4º C, transferindo-se 150 ul de cada sobrenadante

para uma nova placa de microtitulação para posterior leitura da absorbância em

um comprimento de onda de 405 nm para determinar a atividade hemolítica pela

concentração de hemoglobina no sobrenadante após a centrifugação do sistema.

Os ensaios de sensibilização dos eritrócitos humanos com neuraminidase e

EBPf e de avaliação do efeito do complemento nos eritrócitos tratados foram

realizados duas vezes a fim de verificar a reprodutibilidade dos resultados.

4.7. Ensaio de dose-dependência

Visando avaliar se o efeito hemolítico observado frente ao tratamento com

EBPf possuía um perfil de dose-resposta, os eritrócitos humanos a 2,5% em

VBS++ foram incubados com diferentes concentrações de EBPf, partindo de 0,06

μg/mL, concentração mínima utilizada no ensaio hemolítico autólogo, e postos

em reação com o soro para avaliação do efeito hemolítico através de leitura do

sobrenadante a 405 nm.

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4.8. Cinética de degradação proteica de eritrócitos humanos a 2,5%

tratados com EBPf e neuraminidase

No intuito de obter o perfil proteico de eritrócitos humanos a 2,5% pós-

tratamento com o EBPf e neuraminidase, a solução de Eh 2,5% foi incubada com

a concentração mínima de tratamento na qual foi observada hemólise no ensaio

hemolítico autólogo, em três intervalos de tempo distintos (1h, 2h e 3h), a 37°C,

para observação do grau de degradação proteica, tendo Eh a 2,5% incubados

apenas com tampão VBS++ como controle. Findos os períodos de incubação, os

tubos foram centrifugados a 1.500 rpm, por 10 min a 4°C, coletados os seus

sobrenadantes e aliquotados para serem armazenados a -20° C até a sua utilização.

Posteriormente, os sobrenadantes foram analisados por SDS-PAGE, de acordo

com a metodologia descrita anteriormente - item 4.5 desta seção. Apenas EBPf

foi aplicado separadamente a título de comparação. Entretanto, o gel de

poliacrilamida foi impregnado utilizando a técnica de coloração com nitrato de

prata (Nitrato de prata, Sigma-Aldrich), dada a sensibilidade do mesmo para

revelação de bandas proteicas.

Resumidamente, o gel foi submerso em 200 mL de uma solução fixadora

contendo 100 ml de etanol, 24 mL de ácido acético, 100 μL de formaldeído 37%

e água destilada num período overnight. Posteriormente, foram feitas sucessivas

lavagens durante 3h, com 1h cada, em uma solução de lavagem composta por 100

mL de etanol e 100 mL de água destilada. Feito isso, foi realizado um tratamento

prévio com 1% de tiossulfato de sódio por três intervalos de 20 segundos, lavando-

se após com água destilada por igual período.

A próxima etapa foi colocar o gel por 1h em contato com o corante, cuja

preparação consistiu em 0,4g de nitrato de prata, 150 μL de formaldeído 37%,

completando com água destilada para um volume final de 200 mL, sucedida por

nova lavagem com água destilada ao final da coloração. 200 mL da solução

reveladora, contendo 6g de carbonato do sódio, 50 μL de formaldeído 37%, 50 μL

de tiossulfato de sódio 2% e água destilada, foram postos em conjunto com o gel

até aparecerem bandas proteicas, seguido por lavagens repetidas com água

destilada, paragem da reação com 100 mL de etanol, 24 mL de ácido acético e

água destilada (volume final da solução sendo 200 mL) por 10 minutos, sucedidos

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por novas lavagens com água destilada e, por último, armazenado em 200 mL de

solução de preservação (100 mL de etanol, 20 mL de glicerol e água destilada).

4.9. Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o Software GraphPad

Prism 7 (LaJolla, CA), aplicando-se a ANOVA One-way e os resultados foram

considerados significativos a um valor de p < 0,05. As barras de erro indicadas

foram baseadas em valores obtidos a partir das médias.

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5. RESULTADOS

3.1. Teste de hemólise

Ao se incubar diferentes diluições de tampão de lise (0,5% NP-40, 120

mM NaCl, 50 mM Tris–HCl pH 7.8) – de 20 ul a 1,2 ul - com eritrócitos

humanos lavados com tampão VBS++ em diferentes concentrações – 2%, 2,5%

e 5% - (figura 8) a fim de determinar o volume ótimo de tampão de lise a ser

utilizado nas extrações de proteínas e reduzir a interferência desta solução

sobre a hemólise a ser observada nos ensaios hemolítico autólogos posteriores,

além de definir a concentração de hemácias para o prosseguimento destes

ensaios. O volume selecionado foi 2,5 μL e a concentração de eritrócitos, 2,5%.

Eh - eritrócitos humanos; VBS+, tampão veronal salino com Mg + Ca. Os eritrócitos foram

incubados por 1h a 37° C e centrifugados a 1.500 rpm por 5 minutos a 4° C e o sobrenadante foi

lido a 405 nm.

Figura 8. Teste de hemólise utilizando diferentes volumes de tampão de lise (20 - 1,2

μL) e eritrócitos humanos a 2%, 2,5% e 5% em tampão VBS++.

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3.2. Dosagem de proteínas de EBPf pelo método de Bradford

A curva padrão, na qual utilizou-se a albumina sérica bovina (BSA),

demonstrou o perfil abaixo (figura 9), permitindo aferir a concentração de

proteínas total do extrato bruto de P. falciparum (EBPf) em um valor final de

5 μg/mL.

3.3. SDS-PAGE 10% corado com azul de Coomassie

No intuito de avaliar a eficácia da extração proteica, alíquotas de eritrócitos

utilizados no cultivo de P. falciparum e de EBPf foram submetidas a corrida

eletroforética para análise do perfil proteico, a partir do qual observaram-se

bandas isoladas do extrato em relação ao concentrado de hemácias, indicando

que a extração se mostrou satisfatória (figura 10).

Figura 9. Perfil da curva padrão obtido pelo ensaio colorimétrico de Bradford

(leitura a 595 nm).

EBPf: 5 ug/mL

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Figura 10. Perfil proteico em SDS-PAGE 10% de eritrócitos humanos utilizados

no cultivo de P. falciparum e de EBPf (volumes crescentes de 40, 30, 15 e 5 μL).

Técnica de coloração por azul de Coomassie.

3.4. Ensaios hemolíticos autólogos

Inicialmente, os eritrócitos foram tratados com a enzima neuraminidase

em dferentes concentrações (1 μg/mL – 0,06 μg/mL) a fim de se obter uma

padronização do ensaio hemolítico autólogo e o efeito observado foi

comparado com o das proteases do EBPf. Na presença das proteínas do

complemento, as hemácias sensibilizadas com a neuraminidase apresentaram

hemólise variando entre 50% e 80% (figura 11).

Figura 11. Atividade hemolítica em eritrócitos humanos normais 2,5% em VBS+

tratados com neuraminidase partindo da concentração de 1 μg/mL.

VBS+, tampão veronal salino com Mg + Ca (controle negativo); SHN, soro humano

normal; H20, água destilada (controle positivo).

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O mesmo efeito foi avaliado frente à sensibilização dos eritrócitos com EBPf,

que apresentou um perfil de atividade hemolítica semelhante ao tratamento

com a neuraminidase (figura 12A). A partir da redução significativa do grau de

hemólise quando o soro foi inativado, foi possível demonstrar que este efeito é

dependente da ação do complemento (figura 12B)

Figura 12. Atividade hemolítica em eritrócitos humanos normais a 2,5% em VBS+ tratados com

EBPf partindo da concentração de 1 μg/mL.

A) na presença de proteínas do complemento; B) na ausência de complemento ativo. VBS+, tampão veronal

salino com Mg + Ca (controle negativo); SHN, soro humano normal; SHI, soro humano inativado; H20,

água destilada (controle positivo); EBPf, extrato bruto de P. falciparum.

Este mesmo ensaio também foi realizado utilizando hemácias de doador

com traço falciforme (HbAS), a fim de avaliar a influência desta característica

genética sobre a hemólise mediada pelo complemento, na qual se observou

uma pequena redução com amplitude variando entre 20% a 40% (figura 13).

A B

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Figura 13. Perfil hemolítico de eritrócitos humanos de doador heterozigoto para o traço

falciforme (HbAS) a 2,5% em VBS+ tratados com EBPf, partindo da concentração de 1 μg/mL.

3.5. Ensaio de dose-dependência

Partindo-se da menor concentração onde foi observada atividade hemolítica

(0,06 μg/mL) nos ensaios anteriores, houve uma redução significativa apenas a partir

da concentração de 0,01 μg/mL, com queda de aproximadamente 50% (figura 14).

VBS+, tampão veronal salino com Mg + Ca (controle negativo); SHN, soro humano

normal; H20, água destilada (controle positivo).

Figura 14. Teste de dose-dependência com concentração inicial de 0,06 μg/mL de EBPf

para uso na sensibilização de eritrócitos humanos a 2,5% em VBS++.

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3.6. Perfil de degradação proteica de eritrócitos tratados com EBPf e

neuraminidase

A partir dos sobrenadantes f recolhidos após centrifugação e aplicados em

SDS-PAGE utilizando a coloração por nitrato de prata para revelação das bandas

proteica, observou-se que a partir do intervalo inicial de 1h já houve degradação

de proteínas quando comparados aos eritrócitos incubados apenas com VBS, e os

perfis proteicos apresentados pelos tratamentos com neuraminidase e EBPf foram

semelhantes (figura 15).

Figura 15. Perfil proteico dos sobrenadantes de eritrócitos humanos a 2,5% em

VBS++ após diferentes intervalos de incubação (1h, 2h e 3h) com neuraminidase e

EBPf .

Técnica de coloração por nitrato de prata. M - marcador de massa molecular (24-165 kDa);

1 - sobrenadante de eritrócitos a 2,5% em VBS++; 2 – EBPf, extrato bruto de P. falciparum;

3 – após 1h de incubação com neuraminidase (NA); 4 – 2h de incubação com NA; 5 - 3h

de incubação com NA 6 – 1h de incubação com EBPf ; 7 - 2h de incubação com EBPf ; 8

- 3h de incubação com EBPf .

1 2 3 4 5 6 7 8 M

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4. DISCUSSÃO

O dilema que envolve se os mecanismos dos parasitas ou os mecanismos do

hospedeiro são mais relevantes no desenvolvimento da malária grave tem sido um forte

objeto de discussão nos últimos tempos. Alguns estudiosos sustentam que fatores

relacionados ao parasito são mais preponderantes; outros, que aqueles associados ao

sistema imune do hospedeiro têm mais influência sobre a patogênese desta doença.

Tem se estabelecido que as manifestações clínicas desta doença podem estar

atribuídas a uma consequência da inflamação sistêmica provocada pelo parasito

(HIKARO, 2016). Sabe-se que o sistema complemento é ativado durante a malária,

entretanto cada vez mais evidências têm colocado em questão até que ponto isto realmente

beneficia o hospedeiro frente à infecção. Por isso, qualquer esforço para erradicar a

malária do mundo exige uma melhor compreensão da resposta imune inata à infecção

(GAZZINELLI et al., 2014).

Ao compararmos os perfis de atividade hemolítica nos eritrócitos tratados com

neuraminidase (NA) e extrato bruto de P. falciparum (EBPf), pôde-se constatar que há

uma similaridade entre eles. A neuraminidase cliva resíduos de ácido siálico presentes

nas glicoforinas, receptores da superfície de eritrócitos, provavelmente fazendo com que

fiquem suscetíveis à ação do complemento. Logo, é possível que o P. falciparum tenha

proteases com ação similar à neuraminidase, causando esta mesma condição nos

eritrócitos tratados, e que poderiam proporcionar meios de invasão alternativos.

Awandare e colaboradores (2011) relataram que um número significativo de cepas

selvagens e de laboratório de P. falciparum (incluindo 3D7, utilizada neste trabalho), têm

demonstrado a capacidade de invadir eritrócitos nos quais o ácido siálico (SA) foi

removido após tratamento com neuraminidase, indicando a existência de uma ou mais

vias de invasão independentes de SA. Nossas investigações sugerem que P. falciparum

pode assumir um fenótipo de invasão diferencial conduzida pela estimulação antigênica

em um ambiente inflamatório, como relatado em outros estudos (BLANC et al., 2016;

SELLAU et al., 2016).

O receptor do complemento tipo 1 (CR1/CD35) foi apontado como o principal

candidato a receptor resistente à ação proteolítica das sialidases, podendo mediar a via de

invasão em eritrócitos independente de SA por P. falciparum (THAM et al., 2010;

AWANDARE et al., 2011). Outro estudo também descreveu que a hemozoína promove

a opsonização e liberação de hemácias com níveis mais elevados de CR1, que contribui

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para uma liberação eficiente de ICs em grande quantidade durante a infecção. Portanto,

ele estaria atuando como um potencial estimulador do aumento da destruição dessas

células (PAWLUCZKOWYCZ et al., 2007; DASARI et al., 2014). Além disso, foi

demonstrada uma correlação entre o nível de expressão de CR1 e o grau de invasão de P.

falciparum, especialmente em células tratadas com neuraminidase, o que é consistente

com um papel do CR1 como um receptor no ausência de ácido siálico (SPADAFORA et

al., 2010; BROWN et al., 2015).

BIRYUKOV e colaboradores (2016) sugeriram que P. falciparum pode ser capaz

de explorar a condição opsonizante da deposição de complemento na superfície do

merozoíto que o permite ligar-se a CR1 e invadir através desta via de invasão. Ao

contrário de outros agentes patogênicos, a opsonização de merozoítos pode facilitar a

ligação às células-alvo, as hemácias (KENNEDY et al., 2016). Recentemente, foi relatado

que o regulador do complemento de fase fluida, chamado fator H, pode se ligar a

eritrócitos não-infectados e a merozoítos (POUW et al., 2015; ROSA et al., 2016).

Este fator atua acelerando a degradação da AP (via alternativa) convertase e como

cofator para a clivagem de C3b. Como o CR1 também é capaz de se ligar ao C3b

(NILSSON et al., 2011), a atividade do fator H pode levar ao acúmulo desta molécula na

superfície do merozoíto e melhorar a ligação ao CR1 (POUW et al., 2015; ROSA et al.,

2016). Duas famílias de ligantes do parasito podem estar envolvidas nestas vias de

invasão: EBA e Rh. O receptor ao qual o EBA se liga foi caracterizado como sensível à

neuraminidase, e as PfRhs atuam principalmente através de vias independentes de SA,

provavelmente aderindo ao CR1 (THAM et al., 2010).

Apesar de P. falciparum possuir uma grande variedade de vias de invasão, nem

todas são utilizadas ao mesmo tempo, podendo uma das vias se tornar predominante em

relação a outra em determinadas situações, o que lhe permite invadir eficientemente

diversos receptores em eritrócitos hospedeiros que abrigam diferentes polimorfismos

(DANKWA et al., 2017). Os isolados de laboratório de P. falciparum mostraram ser

capazes de mudar de uma via de invasão para outra, dando ao parasita a capacidade de se

adaptar a mudanças no ambiente da célula hospedeira ou, ainda, como mecanismo de

evasão imune (KUSS et al., 2011).

Outra cepa de P. falciparum, W2mef, dependente do ácido siálico, pode ser

selecionada para invadir por uma via independente de ácido siálico em eritrócitos tratados

com neuraminidase, demonstrando que esses parasitas possuem uma ampla plasticidade

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fenotípica, fato este que pode contribuir para a sua virulência (DOLAN et al., 1990;

DURAISINGH et al., 2003; DeSIMONE et al., 2009).

No presente estudo, por meio dos ensaios hemolíticos autólogos in vitro,

demonstrou-se que a atividade hemolítica foi mediada pelo complemento, pois quando o

soro foi inibido, este efeito foi semelhante ao controle negativo. Além disso, ao

realizarmos o teste de hemólise inicial com o tampão de lise, pudemos excluir a

possibilidade da interferência deste fator sobre esse efeito.

Também foi constatado que apenas o tratamento com o EBPf não é suficiente para

provocar hemólise (vide tratamento das hemácias sensibilizadas com os antígenos de P.

falciparum e incubadas em tampão VBS++), sendo necessário haver a interação com as

proteínas do complemento (SHN) para a ocorrência do efeito hemolítico, destacando a

importância da participação deste mecanismo imune no processo. Os eritrócitos do

doador heterozigoto para a hemoglobina S (HbAS) – ou com traço falciforme -

apresentaram uma pequena redução da atividade hemolítica, demonstrando que essa

hemoglobinopatia lhes propicia uma reatividade imunológica diferenciada (SILVA et al.,

2002).

Alguns trabalhos mostraram que este genótipo está fortemente associado à

proteção contra a malária severa provocada pelo parasita P. falciparum (AIDOO et al.,

2002; CARTER et al., 2002; AYI et al., 2004; WILLIAMS et al., 2006; apud

MACHADO et al., 2010). Cholera e colaboradores (2008) verificaram que a adesão ao

endotélio e a células do sistem imunitário foi consideravelmente reduzida em relação aos

eritrócitos parasitados de pacientes homozigotos, tendo esta redução sido atribuída a

alterações no PfEMP-1. Em áreas endêmicas de malária, indivíduos heterozigotos são

protegidos da infecção, apresentando vantagens seletivas sobre indivíduos HbAA

(MIOTO et al., 2012).

Portanto, a interação do soro de indivíduos saudáveis com seus eritrócitos

sensibilizados com EBPf fez com que estes ficassem suscetíveis à ação desse mecanismo

inato. Quando em contato com o parasito, os eritrócitos são capazes de controlar a sua

ativação através do uso de reguladores vinculados às suas proteínas de membrana, e, dessa

forma, estimulam apenas quantidades restritas de produtos de ativação do complexo de

ataque à membrana (MAC) – também conhecido como complexo terminal do

complemento (TCC) - (ROESTENBERG et al., 2007). Contudo, com a destruição do

eritrócito parasitado, são liberados produtos de degradação e metabólitos do parasito,

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estimulando ainda mais a ação do complemento, e os eritrócitos perdem esta capacidade

de controlar a lise mediada por ele (BIRYUKOV et al., 2016).

Modelos in vivo e in vitro reforçam esta ideia, nos quais foram demonstradas

evidências da ativação do complemento em infecções por P. falciparum. Pacientes com

malária complicada mostraram altos índices de ativação do complemento tanto pela via

clássica, quanto pela via alternativa (WENISCH et al., 1997; GOKA et al., 2001;

ROESTENBERG et al., 2007). Deficiências adquiridas ou herdadas das proteínas

reguladoras do complemento foram implicadas na patogênese de algumas formas de

anemia hemolítica (ATKINSON et al., 2006). De modo semelhente, a deficiência destas

proteínas ligadas à superfície celular de eritrócitos parasitados e não-parasitados têm sido

associadas à malária grave (STOUTE et al., 2003; COCKBURN et al., 2004). No

contexto da infecção malárica, foi demonstrado que eritrócitos de crianças com malária

grave são deficientes em CD35 e CD55 que, juntamente com o aumento nos níveis de

imunocomplexos, provavelmente as coloca em maior risco para o desenvolvimento de

anemia malária grave (WAITUMBI et al., 2000; STOUTE et al., 2003).

Além disso, a produção de anafilatoxinas pode potencializar a resposta

inflamatória (ROESTENBERG et al., 2007). Estudos utilizando um modelo de malária

cerebral (CM) experimental mostrou que camundongos deficientes em receptores de C5a

têm resistência parcial a desenvolver a doença e níveis reduzidos do fator de necrose

tumoral (TNF-𝑎) e interferon-gama (IFN-γ) (KIM et al., 2014), fato que foi reforçando

em humanos através de evidências recentes de que os pacientes com CM apresentam

níveis mais elevados de C5a do que pacientes com malária não-complicada (KIM et al.,

2014).

Foi mostrado que o MAC pode trabalhar sinergicamente com TNF-α para

aumentar a expressão de receptores endoteliais, como ICAM-1 (KILGORE et al., 1995),

fundamental para o sequestro de eritrócitos parasitados (TURNER et al., 1994). Assim,

o possível papel do complemento na patogênese da malária grave envolve a deposição de

ICs contendo antígenos de plasmódio na microvasculatura cerebral que, por sua vez, pode

ativar C5 levando à formação de MAC/TCC, o que resulta em um processo hemolítico

descontrolado e regulação positiva de ICAM-1 e consequente aumento do sequestro de

eritrócitos parasitados. Conjuntamente, a formação de imunocomplexos (ICs) contendo

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merozoítos ou antígenos circulantes ativa a via clássica das cascata do complemento

(STOUTE et al., 2003; BIRYUKOV et al., 2014).

Através do ensaio de dose-dependência, foi observado que o a hemólise ainda

era bastante elevada mesmo em baixas concentrações. Esse efeito foi observado em

ensaios anteriores, indicando que o nível de parasitemia não é o único fator responsável

pela grau de anemia, uma vez que estudos mostratram que a destruição de eritrócitos

parasitados representa menos de 10% da perda destas células durante a infecção (PRICE

et al., 2001). Logo, este fato não se deve apenas aos efeitos do próprio parasito, o que

pode explicar o porquê da alta parasitemia não estar necessariamente relacionada ao grau

da anemia (EVANS et al., 2006).

Três tipos de mecanismos, não excludentes, foram sugeridos para explicar o

desenvolvimento de uma anemia, de forma não-relacionada ao grau de parasitemia,

durante a malária: 1) o aumento da destruição de eritrócitos não-infectados, 2) remoção

por células fagocíticas de hemácias infectadas ou alteradas e o 3) déficit na eritropoiese

(HIKARO, 2016). A liberação de hemozoína durante a ruptura de eritrócidos infectados

foi proposta como um ativador da via alternativa do complemento, levando à deposição

de C3b na superfície de eritrócitos adjacentes (PAWLUCZKOWYCZ et al., 2007).

Ainda, estudos preliminares indicaram o papel imunomodulador da hemozoína

associado à alteração na expressão de citocinas pró e anti-inflamatórias (RILEY et al.,

2006; URBAN; TODRYK, 2006 apud BARROS et al., 2012). Há evidências de que a

deposição de proteínas regulatórias deficientes do complemento em eritrócitos de

crianças com AGM aumentam a susceptibilidade de eritrócitos não-infectados para a

fagocitose (KORIR et al., 2014).

Este fato é reforçado por um estudo realizado por Dasari e colaboradores

(2014), no qual puderam constatar que produtos parasitários lançados na circulação

durante a ruptura dos eritrócitos parasitados tornam-se fortemente revestidos com C3-

convertases. Quando essas partículas entram em contato com os eritrócitos, estes ficam

sujeitos a ataques de componentes do complemento, que são então depositados em sua

superfície, promovendo a fagocitose dependente de C3 por macrófagos, favorecendo a

compreensão do porquê das hemácias não-infectadas terem seu período de vida reduzido

em pacientes com malária grave. Por isso, a deposição do complemento pareceu muitas

vezes se estender às hemácias adjacentes não-parasitadas.

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Desse modo, a destruição de eritrócitos não-infectados provavelmente contribui

de forma significativa para o desenvolvimento da SMA, fenômeno este que poderia

explicar os resultados observados nos ensaios hemolíticos, uma vez que não ocorreu

invasão, mas sim uma sensibilização dos eritrócitos com proteínas e metabólitos do

parasito, entre eles a hemozoína, oriundos da lise mecânica dos esquizontes durante a

etapa de extração.

Existe uma ampla evidência de que a ativação do complemento desempenha um

papel na destruição desregulada de eritrócitos levando à anemia grave na malária (SMA)

(ALBUQUERQUE et al., 2011). Estudos mostraram que crianças com SMA têm uma

maior atividade hemolítica mediada pelo complemento, bem como um aumento da

presença de fragmentos efetores como C3a, C4a e C5a e níveis elevados de ICs, que

podem ativar a via clássica, em comparação com crianças com malária não-complicada,

indicando a ativação excessiva do complemento (STOUTE et al., 2003; NYAKOE et al.,

2009). Além disso, os eritrócitos de crianças com anemia malárica grave apresentaram

um aumento na deposição de C3b e dimunição na capacidade de regular a ativação do

complemento, que provavelmente os tornam mais suscetíveis à destruição por

macrófagos no fígado e baço (BIRYUKOV et al., 2014).

Ao analisarmos o gel corado com nitrato de prata, pode-se notar que houve um

certo grau de similaridade dos perfis de degradação proteica nos tratamentos com

neuraminidade e EBPf, reforçando a ideia de que, provavelmente, P. falciparum se utiliza

de proteases para invadir os eritrócitos por vias independentes de SA. Entretanto, o extrato

do parasito mostrou uma ação proteolítica mais rápida já desde a incubação após 1h. Isso

pode ser explicado pelo fato da neuraminidase clivar apenas ácido siálico, enquanto que

no extrato há uma variedade de proteínas com os mais diversos mecanismos de ação. O

ácido siálico presente nas glicoforinas aumenta a ligação do fator H, um cofator que atua

na degradação de C3b, e que pode limitar a ativação da via alternativa. Estas proteases

possivelmente clivam o ácido siálico da superfície das glicoforinas, favorecendo assim a

ativação da via alternativa e a indução da lise dos eritrócitos tratados mediado pelo

complemento (TAMBOURGI et al., 2002).

A concentração de glicoforina A (GPA) nos eritrócitos é responsável por 80% da

carga negativa destas células em função da sua constituição bioquímica composta de

ácido siálico e carboidratos terminais, criando uma superfície celular negativa. Essa

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eletronegatividade é responsável por causar repulsão entre as hemácias, ajudando a

minimizar a interação célula-célula e prevenindo a aglomeração eritrocitária

(TAMBOURGI et al., 2002; PINTO et al., 2010). O peso molecular de GPA é de 16 kDa

(MURADOR et al., 2007), e não foi visualizada no gel nenhuma banda proteica

correspondente a esta faixa. Isso nos leva a crer que, provavelmente, este receptor foi

degradado durante o tratamento com EBPf e trazendo isto para uma situação prática, ao

clivá-lo, P. falciparum seria capaz de alterar o nível de repulsão eritrocitária, favorecendo

fenômenos associados à malária grave como a citoadesão e formação de rosetas.

Por outro lado, foi observada uma região conservada de aproximadamente 28 kDa

em todos os intervalos de tratamento. A proteína eritrocitária descrita com esta

característica é a Aquaporina-1 ((BERNHARDT et al., 2003) pertencente ao grupo das

Aquaporinas, proteínas integrais de membrana que formam poros nesta estrutura das

células, conduzindo seletivamente o fluxo de moléculas de água para o meio externo e

interno (ALBERTS et al., 2017). Esta proteína foi o primeiro canal aquoso de membrana

de eritrócitos humanos a ser identificado, além de ser homóloga à proteína intrínseca

marjoritária (MIP), que atua na comunicação intracelular (BERNHARDT et al., 2003).

A presença destes canais aumenta a permeabilidade das membranas à agua, e este fato

poderia estar sendo explorado pelo parasito para favorecer a susceptibilidade das

hemácias ao processo de lise, uma vez que é necessário haver um desequilíbrio osmótico

para que ocorra o rompimento da célula.

Compreender a linha tênue entre os efeitos patogênicos e protetores do sistema

complemento pode fornecer subsídios para otimizar seu efeito deletério sob o hospedeiro

durante a infecção por P. falciparum e/ou inibir especificamente os mecanismos que

contribuem para a patogênese da malária grave (WASSMER et al., 2016). Frente aos

desafios encontrados para o desenvolvimento de estratégias eficientes contra a malária, o

presente estudo forneceu mais informações acerca dos possíveis mecanismos

imunológicos envolvidos na patogênese da malária grave, reforçando a idéia de que o

complemento pode estar sofrendo uma modulação pelo parasito, além de indicar que o

parasito pode ter desenvolvido uma plasticidade de invasão que lhe permite persistir no

organismo mesmo em frente a fatores limitantes do hospedeiro. Estas interações podem

se mostrar como promissores alvos terapêuticos através do uso de reguladores da cascata

do complemento e inibidores de vias de invasão, contribuindo para a redução da

morbidade e mortalidade desta parasitose.

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5. CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos neste estudo, pode-se concluir que:

1. O sistema complemento possui efeito hemolítico em eritrócitos normais e

com traço falciforme mesmo em baixas concentrações de antígenos de P.

falciparum, podendo contribuir para a anemia e para a malária grave;

2. Eritrócitos com traço falciforme sensibilizados com antígenos de P.

falciparum são mais resistentes à hemólise mediada pelo complemento em

comparação a eritrócitos normais;

3. A similaridade dos perfis de degradação proteica nos eritrócitos tratados

com neuraminidase e EBPf sugere que P. falciparum utiliza proteases,

provavelmente sialidases, para invadir as células-alvo por vias

independentes de ácido siálico sob condições inflamatórias exacerbadas.

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6. PERSPECTIVAS DO ESTUDO

Considerando que muitos patógenos usam várias estratégias simultâneas para

evadir o complemento, esperamos ver novas interações entre os plasmódios e a cascata

do complemento no futuro. Essas informações podem contribuir para a descoberta de

métodos diagnósticos adicionais e potenciais tratamentos alternativos envolvendo o uso

de inibidores do complemento em pacientes com malária grave, mas são necessários mais

estudos acerca do processo de invasão de parasitas em um ambiente de complemento

ativo no intuito de desenvolver uma melhor compreensão das implicações biológicas da

interação entre seus componentes e moléculas específicas de P. falciparum.

Nesse sentido, pretende-se realizar ensaios in vivo para complementar o que foi

observado in vitro, utilizando um modelo de malária experimental com cepas de P.

berghei: uma que não induz malária grave (P. berghei NK) e outra que gera este quadro

(P. berghei ANKA). Estas cepas são comumente empregadas em estudos com

camundongos C57BL-6 e apresentam semelhanças com a infecção por P. falciparum em

humanos. Feito o inóculo das cepas, a partir do soro que seria extraído dos animais, seria

feita uma dosagem através de ELISA, ensaio imunoenzimático, utilizando anticorpos

marcadores para proteínas do complemento a fim de verificar se há mais ou menos

expressão destas moléculas nos grupos observados, incluindo um grupo controle,

comparando-os.

Outra abordagem interessante seria a realização de uma citometria de fluxo

utilizando eritrócitos parasitados e não-parasitados, no intuito de analisar alguns

parâmetros como atividade enzimática, alterações na permeabilidade da membrana,

expressão de proteínas (como CR1 e glicoforinas, como também o ácido siálico associado

a esta família) e antígenos ligados à membrana, podendo fornecer dados adicionais acerca

da interação parasito-hospedeiro, os mecanismos que potencializam a ativação da cascata

do complemento e as possíveis implicações para a patogênese da malária.

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