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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS MAURICIO DE SANTANNA JUNIOR ANÁLISE DA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA, MODULAÇÃO AUTONÔMICA CARDIOVASCULAR, CAPACIDADE FUNCIONAL E QUALIDADE DE VIDA DE OBESOS CLASSE III NITERÓI - RJ 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE …app.uff.br/riuff/bitstream/1/4742/1/TESE MAURICIO_FINAL.pdf · diferenças para os domínios referente a aspectos emocionais ... variabilidade

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    FACULDADE DE MEDICINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS MDICAS

    MAURICIO DE SANT ANNA JUNIOR

    ANLISE DA FUNO RESPIRATRIA, MODULAO AUTONMICA

    CARDIOVASCULAR, CAPACIDADE FUNCIONAL E QUALIDADE DE

    VIDA DE OBESOS CLASSE III

    NITERI - RJ

    2016

  • MAURICIO DE SANT ANNA JUNIOR

    ANLISE DA FUNO RESPIRATRIA, MODULAO AUTONMICA

    CARDIOVASCULAR, CAPACIDADE FUNCIONAL E QUALIDADE DE

    VIDA DE OBESOS CLASSE III

    Tese submetida ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias

    Mdicas da Universidade Federal

    Fluminense como parte dos

    requisitos necessrios obteno

    do Grau de Doutor. rea de

    Concentrao: Cincias Mdicas

    Orientao: Prof. Dr. Jocemir Ronaldo Lugon

    Professor. Titular da Disciplina de Nefrologia do Departamento

    de Medicina Clnica da UFF

    Co-orientao: Prof. Dr. Fernando Silva Guimares

    Professor. Adjunto do Departamento de Fisioterapia da

    Faculdade de Medicina da UFRJ

    Niteri RJ

    2016

  • S232

    SantAnna Junior, Mauricio de

    Anlise da funo respiratria, modulao

    autonmica cardiovascular, capacidade funcional e

    qualidade de vida de obesos classe III / Maurcio

    de SantAnna Junior.- Niteri: 2016.

    100f.

    Orientador: Jocemir Ronaldo Lugon

    Coorientador: Fernando Silva Guimares

    Tese (Doutorado em Cincias Mdicas) - Universidade Federal Fluminense, Faculdade de

    Medicina, 2016.

    1. Obesidade Mrbida. 2. Frequncia Cardaca.

    3. Teste de Esforo. 4. Mecnica Respiratria. 5.

    Qualidade de Vida. I. Titulo.

    CDD 616.398

  • MAURICIO DE SANT ANNA JUNIOR

    ANLISE DA FUNO RESPIRATRIA, MODULAO AUTONMICA

    CARDIOVASCULAR, CAPACIDADE FUNCIONAL E QUALIDADE DE

    VIDA DE OBESOS CLASSE III

    Tese submetida ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias

    Mdicas da Universidade Federal

    Fluminense como parte dos

    requisitos necessrios obteno

    do Grau de Doutor. rea de

    Concentrao: Cincias Mdicas

    BANCA EXAMINADORA

    1.______________________________________________________________

    Prof. Dr. Jorge Paulo Strogoff de Matos (UFF)

    2.______________________________________________________________

    Prof. Dr. Michel Silva Reis (UFRJ)

    3.______________________________________________________________

    Prof. Dr. Miguel Luis Graciano (UFF)

    4.______________________________________________________________

    Prof. Dr. Arthur de S Ferreira (UNISUAM)

    5.______________________________________________________________

    Prof. Dr. Agnaldo Jos Lopes (UERJ)

    NITERI RJ

    2016

  • Dedico este trabalho:

    A DEUS por me proporcionar a realizao de mais este sonho e por ter

    me ajudado a conseguir superar todas as barreiras ao longo desse percurso

    mesmo quando o meu corpo e mente pareciam ter chegado ao seu limite.

    Aos meus pais que nunca mediram esforos para me oportunizar uma

    boa educao e formao acadmica e sempre me dizendo que a maior

    herana que deixariam seria os estudos. Essa tese de doutorado tem um

    pedao de vocs, por isso meu agradecimento e admirao eterna.

    minha esposa e companheira Ana Carolina que soube no apenas me

    apoiar, mais suportar a criao de nossos filhos durante minha ausncia muitas

    vezes necessria. Seu amor me ajudou a atingir esse objetivo.

    Aos meus filhos Maria Victrya, Maria Valentyna e Mauricio Neto que

    apesar da pouca idade souberam compreender os momentos em que no pude

    estar presente e principalmente por alegrarem minha vida diariamente e por

    serem meu combustvel. Espero poder ser exemplo para vocs.

    Aos meus familiares e amigos, em especial minha irm Carla Cristina

    que sempre me apoiaram nessa jornada.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor Dr. Jocemir Ronaldo Lugon, um exemplo de profissional tico,

    dedicado e competente, que foi muito alm da orientao, foi sobretudo um

    grande amigo. Muito obrigado por acreditar que seria possvel e por aceitar me

    orientar. Sem voc eu nunca teria conseguido!

    Ao professor Dr. Fernando Silva Guimares, que atuou na co-orientao desta

    tese. Desde a graduao foi inspirao para minha carreira. Um exemplo de

    profissional para a Fisioterapia Brasileira que hoje tenho orgulho de dizer: Meu

    mestre, muito obrigado !

    Aos professores: Dra. Solange Artimos de Oliveira, Dr. Jorge Strogoff e demais

    pesquisadores do Programa de Ps-graduao em Cincias Mdicas da

    Universidade Federal Fluminense, por terem contribudo no meu aprendizado.

    As secretrias do Programa de Ps-graduao em Cincias Mdicas Orlandina

    da Silva e Souza Alvarenga, Francine Barcellos e Carina Braga, por todo

    carinho dedicado durante esse perodo.

    Ao Professor. Dr. Arthur de S Ferreira pela colaborao, parceria e por ter

    destinado parte de seu valioso tempo na reviso da anlise estatstica.

    Aos professores Michel Silva Reis, Agnaldo Jos Lopes e Miguel Luis Graciano

    que gentilmente aceitaram compor a banca examinadora desta tese, obrigado

    pelas contribuies.

  • Aos amigos Renata Ferreira Carvalhal e Diego de Faria Magalhes Torres que

    no s me acolheram no HUCFF-UFRJ como foram fundamentais para a

    realizado desta tese.

    A todos os profissionais do Programa de Cirurgia Baritrica do Hospital

    Universitrio Clementino Fraga Filho UFRJ, por me acolherem deforma to

    generosa e permitirem a coleta de dados.

    Aos ex-alunos de iniciao cientfica, hoje profissionais Mayra Sandri, Bernardo

    Guimares e Fernando Oliveira que tanto ajudaram na coleta de dados.

    A todos os colegas de curso, pelas dificuldades comuns vencidas nesse

    perodo, em especial aos amigos Leonardo Cordeiro, Jair Baptista, Marcio

    Kiuchi e Giselly Rosa Modesto Pereira obrigado pelo apoio.

    E finalmente a todos que participaram como voluntrios desse projeto de

    pesquisa, tornando possvel a realizao desta tese e a concretizao de um

    sonho.

  • Para Deus nada impossvel

    Lucas 1,37

  • RESUMO

    Objetivos: descrever a funo muscular respiratria, mecnica respiratria, qualidade de vida (QV) e modulao autonmica cardiovascular de obesos classe III e avaliar sua associao com a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos (TC6M). Mtodos: Estudo transversal utilizando obesos mrbidos recrutados de um Programa de Cirurgia Baritrica e indivduos no obesos oriundos do ambulatrio de fisioterapia do Hospital Universitrio da UFRJ. Foram estudadas: anlise da variabilidade da frequncia cardaca (VFC), oscilometria de impulso (IOS), dados espiromtricos, fora muscular respiratria, TC6M, alm da QV por meio do Short Form 36 (SF-36). Para comparao entre os grupos foi utilizado o teste t student sendo adotado o nvel de significncia de 5%. Para determinao da associao entre a distncia percorrida no TC6M e das demais variveis foi utilizada a anlise de regresso linear mltipla sendo testadas no modelo as variveis que apresentaram P

  • ABSTRACT

    Objectives: To describe respiratory muscle function, respiratory function, quality of life (QOL) and autonomic modulation in obese class III and assess its association with the distance covered on the six-minute walk test (6MWT). Methods: A sample composed of obese class III derived from a bariatric surgery program and non-obese controls from the Physical Therapy Clinics of the UFRJ. Studied included: the heart rate variability (HRV), the respiratory mechanic through the impulse oscillometry (IOS), spirometry data, inspiratory muscle strength, the six-minute walk test (6MWT), and the quality of life through the Short Form 36 (SF-36). To compare the groups, we used the paired t-test adopting the 5% significance level. To determine the association between the distance on the 6MWT and the other variables we used the multiple linear regression analysis in which only variables with P

  • LISTA DE ILUSTRAES

    NMERO TTULO PGINA

    Figura 1 Demonstrao dos diversos mecanismos envolvidos no aumento da atividade simptica em indivduos obesos.

    20

    Figura 2 Espectro de potncia para anlise da variabilidade da frequncia cardaca no domnio da frequncia

    23

    Figura 3 Sinais respiratrios obtidos durante a Tcnica de oscilaes foradas em paciente obeso classe III

    41

    Figura 4 Organograma da coleta de dados do estudo. 42

    Figura 5 Distribuio da amostra de obesos classe III e no obesos e seus motivos de excluso.

    44

    Figura 6 Comparao entre o comportamento da resistncia total do sistema respiratrio de obesos classe III e no obesos.

    47

    Figura 7 Comparao entre o comportamento da resistncia perifrica, resistncia das vias areas, resistncia tecidual de obesos classe III e no obesos.

    48

    Figura 8 Comparao entre o comportamento da resistncia perifrica de obesos classe III e no obesos.

    48

    Figura 9 Comparao entre o comportamento da reatncia inspiratria e expiratria em 5 Hz de obesos classe III e no obesos.

    49

    Figura 10 Qualidade de vida avaliada pelo questionrio SF-36 de obesos classe III e no obesos componentes da amostra.

    51

    Figura 11 Comparao entre a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos por indivduos obesos classe III e no obesos.

    51

  • LISTA DE TABELAS

    NMERO TTULO PGINA

    Tabela 1 Caractersticas gerais dos obesos classe III e no obesos.

    45

    Tabela 2 Variveis espiromtricas e presses respiratrias estticas mximas de obesos classe III e no obesos.

    46

    Tabela 3 Caractersticas de modulao autonmica cardiovascular dos componentes da amostra.

    50

    Tabela 4 Resultado da anlise de correlao das caractersticas demogrficas com a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos por obesos classe III.

    52

    Tabela 5: Resultado da anlise de correlao das variveis de mecnica respiratria com a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos por obesos classe III.

    53

    Tabela 6: Resultado da anlise de correlao para as variveis de espirometria e presses respiratrias estticas mximas para a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos dos obesos classe III.

    54

    Tabela 7: Resultado da anlise regresso linear mltipla para a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos dos obesos classe III.

    55

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ATS - do ingls American Thoracic Society

    AX - integral da reatncia em 5 Hz at a frequncia

    CA - circunferncia abdominal

    CPT - capacidade pulmonar total

    CQ - circunferncia de quadril

    CRF - capacidade residual funcional

    CV - capacidade vital

    CVF - capacidade vital forada

    DPOC - doena pulmonar obstrutiva crnica

    dR/dF - derivada da resistncia em funo da frequncia do sistema respiratrio

    DTC6M - distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos

    EMG - eletromiografia

    FC - frequncia cardaca

    FR - frequncia respiratria

    Fres - frequncia de ressonncia

    HAS - hipertenso arterial sistmica

    HF - do ingls high frequency

    IC - insuficincia cardaca

    IMC - ndice de Massa Corporal

    LF - do ingls low frequency

    LF/HF - razo baixa frequncia e alta frequncia do ingls low frequency / high frequency

    MMRC - do ingls Modifield Medical Research Council

    NN - mdia de todos os intervalos RR normais

    NYHA - New York Heart Association

    PaCO2 - presso arterial de dixido de carbono

    PaO2 - presso arterial de oxignio

    PaO2 - presso arterial de oxignio

  • PEmx - presso expiratria mxima

    PFE - pico de fluxo expiratrio

    PFP - prova de funo pulmonar

    pH - potencial hidrognico

    PImx - presso inspiratria mxima

    PNN50 - percentual de intervalos RR normais que diferem mais que 50 milissegundos de seu adjacente

    QV - qualidade de vida

    R 20 - resistncia em 20 Hz

    R0 - resistncia extrapolada para 0 Hz

    R5 - resistncia em 5 Hz

    Raw - resistncia de vias areas

    RCQ - relao cintura/quadril

    Rmed - resistncia mdia

    rMSSD - raiz quadrada das diferenas sucessivas entre intervalos RR normais adjacentes ao quadrado

    Rsr - resistncia total do sistema respiratrio

    SAOS - apneia obstrutiva do sono

    SatO2 - saturao de oxignio

    SDNN - desvio padro de todos os intervalos RR normais

    SF - 36 - do ingls, short form 36

    SpO2 - saturao perifrica de oxignio

    TC6M - teste de caminhada de seis minutos

    TOF - tcnica de oscilaes foradas

    Ttmus - ndice tenso tempo dos msculos respiratrios

    V/Q - razo ventilao-perfuso

    VC - volume corrente

    VEF1 - volume expiratrio forado no 1 segundo

    VFC - variabilidade da frequncia cardaca

    VO2 - consumo de oxignio

  • VO2mx - consumo mximo de oxignio

    VO2pico - consumo de oxignio de pico

    VR - volume residual

    VRE - volume de reserva expiratria

    VVM - ventilao voluntria mxima

    X5 - reatncia em 5 Hz

    Xexp - reatncia expiratria

    Xins - reatncia inspiratria

    Xsr - reatncia do sistema respiratrio

  • SUMRIO 1 INTRODUO 16

    1.1. ALTERAES RESPIRATRIAS NA OBESIDADE 17

    1.2. FUNO AUTONMICA E OBESIDADE 19

    1.3. TESTE DE CAMINHADA DE SEIS MINUTOS E OBESIDADE 24

    1.4. QUALIDADE DE VIDA E OBESIDADE 26

    2 JUSTIFICATIVA 29

    3 OBJETIVOS 30

    3.1. GERAL 30

    3.2. ESPECFICO 30

    4 MATERIAIS E MTODOS 32

    4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO 32

    4.2. ASPECTOS TICOS 32

    4.3. CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS OBESOS 33

    4.4. CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS NO OBESOS 33

    4.5. PROTOCOLO DE ESTUDO 34

    4.5.1. Composio corporal, qualidade de vida e hipersonolncia 34

    4.5.2. Teste de caminhada de seis minutos 35

    4.5.3. Espirometria 36

    4.5.4. Presses respiratrias estticas 38

    4.5.5. Avaliao da modulao autonmica 39

    4.5.6. Oscilometria de impulso 40

    4.5.7. Organograma do estudo 42

    4.6. ANLISE ESTATSTICA 42

    5 RESULTADO 44

    6 DISCUSSO 56

    7 CONCLUSO 65

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 66

    9 ANEXOS 78

  • 16

    1 INTRODUO

    A obesidade apresenta-se hoje como um alarmante problema de sade

    pblica em todo o mundo, com aumento avassalador nos ltimos anos, sendo

    considerada uma epidemia (ORPANA et al., 2010). Dados nacionais

    demonstram que aproximadamente 43% da populao brasileira encontra-se

    com sobrepeso e 11% obesos (SANTOS et al., 2010).

    A obesidade se correlaciona diretamente com o surgimento de doenas

    cardiovasculares, cerebrovasculares, respiratrias, metablicas e oncolgicas

    (ORPANA et al., 2010; PECIOSKA et al., 2010; TEUCHER et al., 2010;

    KNUDSON et al., 2007; RENEHAN et al., 2008; KUNJU et al., 2009), sendo

    sua etiologia de carter multifatorial, podendo estar relacionada a desordens

    nutricionais, fatores genticos, psicolgicos, socioeconmicos e sedentarismo

    (GALLAGHER et al., 2005).

    A obesidade pode ser classificada utilizando-se o ndice de massa

    corporal (IMC), sendo considerados para diagnstico e classificao os

    intervalos de 30-34,9 kg/m2 como obesidade classe I, 35-39,9 kg/m2 como

    obesidade classe II e 40 kg/m2 como obesidade classe III, tambm

    denominada obesidade mrbida (WHO 1995; WHO 2000; ORPANA et al.,

    2010; TEUCHER et al., 2010). Com o avano do processo epidemiolgico,

    percebeu-se a necessidade da ampliao desta classificao, sendo

    considerados os intervalos de 50 a 60 kg/m2 super-obeso e > 60 kg/m2 super-

    super obeso (RENQUIST 1997).

    A obesidade, em especial a classe III est diretamente relacionada

    deteriorao da capacidade cardiorrespiratria, acarretando alteraes tais

    como reduo da capacidade pulmonar total (CPT) e capacidade residual

    funcional (CRF) (JONES &, NZEKWU 2006), sndrome de hipoventilao

    (KESSLER et al., 2001; TEICHTAHL 2001) e apneia obstrutiva do sono (SAOS)

    (GAYTANT et al., 2011; RABEC et al., 2011), aumento do trabalho da

    musculatura respiratria (KRESS et al., 1999), alm do aumento da atividade

    simptica e reduo da atividade parassimptica (STRAZNICKY et al., 2010;

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Jones%20RL%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Nzekwu%20MM%22%5BAuthor%5D

  • 17

    DAVY & ORR 2009) e reduo na tolerncia ao exerccio (BERIAULT et al.,

    2009; DE SOUZA et al., 2009).

    1.1 ALTERAES RESPIRATRIAS NA OBESIDADE

    A obesidade uma das disfunes orgnicas que contribui para o

    acometimento da funo respiratria, levando a importantes alteraes. Dentre

    estas alteraes destacam-se reduo da capacidade vital (CV), CRF e CPT,

    alm do aumento da resistncia de vias areas (Raw) e reduo da

    complacncia pulmonar e torcica, limitando a capacidade ventilatria e

    reduzindo a eficincia muscular ventilatria. Os distrbios ventilatrios na

    obesidade esto diretamente relacionados com o aumento do IMC e a

    distribuio do tecido adiposo (NAIMARK & CHERNIACK 1960; KESSLER et

    al., 2001; JONES & NZEKWU 2006).

    A reduo da CRF nos indivduos obesos leva reduo da reserva

    ventilatria, devido ocluso de pequenas vias areas, ocasionando distrbio

    da relao ventilao/perfuso (V/Q), podendo resultar em distrbio de troca

    gasosa (SALOME et al., 2010).

    Os msculos ventilatrios apresentam como sua principal funo a

    movimentao da parede torcica, auxiliando o processo de ventilao, sendo

    o aumento do trabalho desta musculatura diretamente proporcional

    intensidade da atividade realizada (DE TROYER & ESTENNE 1988; EPSTEIN

    1994; DE TROYER et al., 1997; DEMPSEY et al., 2006). O trabalho muscular

    ventilatrio representa aproximadamente 1 a 3% do consumo de oxignio

    (VO2), porm em indivduos obesos classe III, esse consumo pode chegar a

    16% (KRESS et al., 1999; LAGHI & TOBIN 2003).

    Para que indivduos obesos classe III possam produzir um trabalho

    ventilatrio prximo ao de pessoas no obesas, torna-se necessria uma maior

    atividade da musculatura diafragmtica para vencer a elastncia torcica, o que

    gera a necessidade de maior aporte sanguneo para o diafragma (NAIMARK &

    CHERNIACK 1960).

    Nos indivduos obesos pode haver reduo de at 50% da presso

    inspiratria mxima (PImx) em decorrncia da compresso exercida pelo

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Davy%20KP%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Orr%20JS%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Nzekwu%20MM%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Estenne%20M%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Estenne%20M%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Laghi%20F%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Tobin%20MJ%22%5BAuthor%5D

  • 18

    aumento da deposio de tecido adiposo na regio diafragmtica, causando

    encurtamento das fibras musculares, diminuindo a relao tenso-comprimento

    e interferindo diretamente na capacidade deste msculo em gerar fora.

    Rochester & Enson (1974) demonstraram que indivduos obesos podem evoluir

    com reduo de 30 a 40% da PImx quando comparados a indivduos no

    obesos.

    Com relao mecnica respiratria, a reduo dos volumes

    pulmonares, com consequente formao de reas de colapso, parecem ser o

    fator determinante do aumento da resistncia torcica e pulmonar, alm da

    piora concomitante da complacncia pulmonar. Em um trabalho clssico,

    Naimark & Cherniack (1960) fizeram a primeira descrio das alteraes

    respiratrias promovidas pela obesidade. O objetivo dos autores foi observar as

    alteraes promovidas pela obesidade nas propriedades elsticas pulmonares.

    Doze indivduos obesos (7 homens e 5 mulheres) com idade mdia de 49,315

    anos e IMC > 40 kg/m2 foram comparados com 24 indivduos eutrficos (18

    homens e 6 mulheres) com idade mdia de 28,047,6 anos e IMC < 24 kg/m2.

    Constatou-se uma reduo importante na complacncia pulmonar dos

    indivduos obesos.

    Zerah et al. (1993) realizaram um estudo transversal, mensurando

    variveis de resistncia, inertncia e complacncia do sistema respiratrio. Sua

    amostra foi composta por indivduos com IMC na faixa de 27 a 46kg/m2,

    alocados em trs grupos: (grupo 1: IMC 25 29 kg/m2, grupo 2: IMC 30 40

    kg/m2 e grupo 3: IMC 40 kg/m2). Neste estudo observou-se o aumento da

    resistncia total do sistema respiratrio (Rsr) diretamente proporcional ao

    aumento do IMC.

    A reduo da complacncia pulmonar e torcica em indivduos obesos

    determina o aumento do trabalho elstico, o que, por sua vez interfere no

    aumento do consumo de oxignio da musculatura ventilatria em relao a

    indivduos normais (KRESS et al., 1999; LAGHI & TOBIN 2003).

    Chlif et al. (2005) avaliaram o ndice tenso-tempo dos msculos

    inspiratrios (Ttmus) de homens obesos de diversas classes, em condio de

    repouso. Este ndice pode ser usado como previsor de fadiga diafragmtica. Os

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Laghi%20F%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Tobin%20MJ%22%5BAuthor%5D

  • 19

    autores compararam oito indivduos obesos, com dez controles pareados por

    idade e estatura, constatando alteraes significativas no padro ventilatrio e

    nos parmetros funcionais da musculatura inspiratria dos obesos quando

    analisada a relao presso inspiratria - presso inspiratria mxima

    (PI/PImax) e o Ttmus. Estes achados mostraram uma maior predisposio

    fadiga muscular inspiratria sugerindo ser uma caracterstica da obesidade e

    que pode acarretar em menor tolerncia ao aumento de carga imposta pelo

    aumento da demanda ventilatria.

    Loureno (1969) realizou um estudo objetivando mostrar as alteraes

    na musculatura ventilatria em decorrncia da obesidade, por meio de

    verificao da atividade eltrica diafragmtica, mensurada por eletromiografia

    (EMG) associada verificao da complacncia pulmonar total por meio de

    plestimografia. Sua amostra foi composta por oito indivduos obesos alocados

    em dois grupos (quatro normocpnicos / quatro hipercpnicos), que no

    apresentavam diferenas espiromtricas significativas. Os resultados obtidos

    demonstraram que os obesos normocpnicos apresentavam maior atividade

    eltrica diafragmtica quando comparados aos obesos hipercpnicos,

    fenmeno justificado pelo fato de fisiologicamente existir uma tentativa de

    manuteno dos valores de presso arterial de oxignio (PaO2), presso

    arterial de dixido de carbono (PaCO2), potencial hidrogeninico (pH) e

    saturao arterial de oxignio (SatO2), s custas de uma maior atividade da

    musculatura ventilatria. O autor sugere que o processo da hipoventilao no

    obeso pode estar relacionado com o aumento do trabalho da musculatura

    ventilatria, ocasionando alteraes na relao V/Q.

    Desta forma conclui-se que a obesidade um fator preponderante no

    declnio da capacidade respiratria.

    1.2 MODULAO AUTONMICA CARDIOVASCULAR E OBESIDADE

    A modulao autonmica cardiovascular afetada em funo da

    obesidade, evoluindo com o aumento da atividade simptica e reduo da

  • 20

    parassimptica, fazendo com que este seja mais um fator de risco

    cardiovascular associado obesidade (STRAZNICKY et al., 2010; DAVY &

    ORR, 2009), alm dos j destacados na literatura, como disfuno endotelial,

    aterosclerose, diabetes mellitus e hipertenso arterial sistmica e sndrome

    metablica.

    Um dos motivos que justificam o aumento da atividade simptica e

    reduo da parassimptica em obesos o aumento da ativao neuro-humoral

    mediada pela leptina (CARVALHEIRA et al., 2005). A leptina uma protena

    derivada do gene da obesidade (ob), secretada como um hormnio dos

    adipcitos, agindo principalmente na regulao do metabolismo energtico,

    ocasionando aumento da presso arterial, venoconstrico perifrica e

    aumento da reabsoro tubular renal de sdio (SINGLA et al., 2010). A

    produo desse hormnio aumenta exponencialmente com o aumento do IMC

    e desencadeia alteraes a modulao autonmica (DAVY & ORR, 2009;

    STRAZNICKY et al., 2010), conforme apresentado na Figura 1.

    Figura 1: Representao dos diversos mecanismos envolvidos no aumento da atividade

    simptica em indivduos obesos. Adaptado de: Sympathetic nervous system behavior in human

    obesity (DAVY & ORR, 2009).

  • 21

    bem fundamentado na literatura que alteraes na modulao

    autonmica, principalmente a reduo da VFC, predispe o indivduo em

    condies como o ps-infarto agudo do miocrdio e insuficincia cardaca a

    morte sbita (THAYER et al., 2010).

    A quantificao da VFC apontada como uma ferramenta eficaz no que

    tange a avaliao do estmulo neural autonmico ao sistema cardiovascular,

    permitindo analisar as flutuaes da frequncia cardaca (KLEIGER et al.,

    1992; MALIK & CAMM 1993; BILLMAN 2011), apontando-se como principal

    vantagem a avaliao seletiva e no invasiva da modulao autonmica

    (BERNTSON et al., 1997;PASCHOAL et al., 2009; VANDELEI et al., 2010).

    A anlise da VFC pode ser realizada por vrios mtodos, dentre eles os

    mtodos geomtricos (ndice triangular e interpolao triangular) e o plot de

    Poincar, alm das anlises no domnio do tempo e no domnio da frequncia

    (HEART RATE VARIABILITY STANDARS OF MEASUREMENT 1996).

    O ndice triangular e a interpolao triangular so obtidos atravs da

    construo de um histograma de densidade dos intervalos RR normais que

    apresentam no eixo horizontal x o tamanho da variao dos intervalos RR e, no

    eixo vertical y a frequncia com que os eventos ocorrem. A unio dos pontos

    das colunas do histograma forma uma Figura similar a um tringulo, de onde

    sero obtidos os ndices (HEART RATE VARIABILITY STANDARS OF

    MEASUREMENT, 1996).

    O grfico de Poincar uma representao grfica bidimensional da

    associao entre os intervalos RR consecutivos, em que cada intervalo

    plotado. Sua anlise pode ser realizada de forma qualitativa levando-se em

    considerao a figura formada, ou quantitativa pelo ajuste da elipse da figura

    onde se obtm os ndices SD1, SD2 e a razo SD1/SD2, sendo considerada

    por alguns autores como uma forma de anlise no linear (RAJENDRA-

    ACHARYA et al., 2006).

    A avaliao no domnio do tempo consiste na obteno de registros

    eletrocardiogrficos contnuos em curtos ou longos perodos (HEART RATE

    VARIABILITY STANDARS OF MEASUREMENT, 1996) , obtendo-se ento a

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Thayer%20JF%22%5BAuthor%5D

  • 22

    disperso da durao dos intervalos entre os intervalos R-R normais.

    possvel encontrar na literatura, uma gama de ndices para mensurao da

    VFC no domnio do tempo. Estes ndices baseiam-se em clculos estatsticos,

    aritmticos e geomtricos (MALIK & CAMM, 1993; SOARES et al., 2005;

    VERRIER & TAN, 2009).

    A avaliao da VFC no domnio de frequncia derivada da anlise do

    espectro de potncia, onde descreve-se a distribuio da densidade em funo

    da frequncia (CRIPPS et al., 1991). Esse tipo de anlise depende da

    decomposio espectral total da frequncia cardaca (FC) em seus

    componentes causadores, apresentando-os segundo a frequncia com que

    modulam a FC. O clculo da densidade espectral pode ser obtido atravs de

    algoritmos que utilizam transformadas de Fourier ou modelos autorregressivos

    (BILLMAN 2011).

    Jean-Baptiste Joseph Fourier demonstrou que, de uma forma geral, os

    sinais esto compostos por ondas sinusoidais com diferentes amplitudes, fases

    e frequncias de oscilao, e que cada sinal peridico poderia ser desdobrado

    em suas respectivas ondas, separando-se desta forma suas frequncias de

    oscilao (SAYERS 1973).

    Os resultados obtidos por estes mtodos, demonstram que o espectro

    de potncia da variabilidade fisiolgica da FC apresenta normalmente quatro

    faixas de frequncia. Estas faixas dividem-se em:

    1) alta frequncia (HF: 0,15 a 0,40 Hz): modulada pelo sistema nervoso

    parassimptico, apresentando grande influncia da respirao em sua

    composio (NEFF et al., 2003; HIRSCH & BISHOP, 2003);

    2) baixa frequncia (LF: 0,04 a 0,15 Hz): modulada pelo sistema

    simptico e parassimptico, alm de especular-se sua relao com o sistema

    barorreceptor e termorregulador (CHESS et al., 1975), atividade perifrica

    vasomotora e com o sistema renina-angiotensina (FURLAN et al.,1990);

    3) muito baixa frequncia (VLF; 0,01 a 0,04 Hz): ainda no foi bem

    estabelecido, porm supostamente representa um marcador da atividade

    simptica (NEFF et al., 2003; HIRSCH & BISHOP 2003);

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Verrier%20RL%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Tan%20A%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Hirsch%20JA%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Bishop%20B%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Hirsch%20JA%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Bishop%20B%22%5BAuthor%5D

  • 23

    4) ultra baixa frequncia (UBF: 10-5 a 10-2 Hz): sua significncia

    fisiolgica ainda permanece sem os devidos esclarecimentos na literatura

    (HEART RATE VARIABILITY STANDARS OF MEASUREMENT 1996.

    A Figura 2 apresenta um espectro de potncia da VFC no domnio da

    frequncia, com seus componentes LF e HF.

    Figura 2: Espectro de potncia para anlise da variabilidade da frequncia cardaca no

    domnio da frequncia (Adaptado de SANTANNA JR, 2008).

    Molfino et al. (2009) realizaram um estudo transversal, envolvendo vinte

    e cinco indivduos de ambos os sexos, com mdia de idade de 45,115,2 anos.

    Neste estudo, as alteraes na VFC foram diretamente correlacionadas ao

    aumento do IMC, quando comparou-se indivduos eutrficos, indivduos com

    IMC de 20 a 25 kg/m2 e indivduos com IMC > 25 kg/m2. Os autores tambm

    observaram uma reduo significativa da atividade parassimptica,

    demonstrada pelo componente HF no domnio da frequncia.

    Este mesmo comportamento foi mostrado por Sztajzel et al. (2009), que

    avaliaram a VFC de mulheres obesas com diferentes valores de IMC (25 30

    vs. 30 40 vs > 40 kg/m2), observando-se que obesas com IMC > 40

    HF

    LF

  • 24

    apresentavam uma maior frequncia cardaca quando comparada s obesas

    de menor IMC e no obesas, alm de um desequilbrio da modulao

    autonmica mensurada tanto no domnio do tempo (atravs do rMSSD) como

    no domnio da frequncia (atravs do componente HF), com todas essas

    variveis apresentando correlao positiva com o IMC.

    A interao corao-pulmo determinante na modulao autonmica

    cardiovascular, uma vez que os movimentos de inspirao e expirao so

    capazes de promover modificaes no sistema nervoso autonmico, sendo

    este fenmeno denominado como arritmia sinusal respiratria (NEFF et al.,

    2003).

    As alteraes ocasionadas pela obesidade no que diz respeito reduo

    da eficincia ventilatria em virtude do acumulo de gordura podem acarretar

    uma maior frequncia respiratria (FR) e/ou reduo do volume corrente (VC)

    (SALOME et al., 2010). Essas alteraes na FR e/ou VC podem alterar

    secundariamente a atividade simptica, modificando tambm a arritmia sinusal

    respiratria (ASR). A ASR consiste em variaes da FC relacionada

    respirao e mediada pelas eferncias cardacas vagais, de modo que a FC,

    em humanos saudveis respirando espontaneamente, aumenta durante a

    inspirao e diminui durante a expirao (MASI et al., 2007). Os principais

    mecanismos reconhecidos como geradores da ASR so o mecanismo central e

    os mecanismos perifricos, que incluem os barorreceptores arteriais e os

    receptores de estiramento pulmonares e atriais (HAYANO et al., 1996).

    1.3 TESTE DE CAMINHADA DE SEIS MINUTOS E OBESIDADE

    O TC6M um teste de exerccio de intensidade submxima e de fcil

    execuo, no qual a distncia total percorrida em seis minutos correlaciona-se

    ao consumo mximo de oxignio e expressa o comportamento de variveis

    hemodinmicas e respiratrias (NICI et al., 2006). Este teste tambm fornece

    importantes dados para previso de morbidade e mortalidade (ALAHDAB et al.,

    2009). .

  • 25

    O TC6M surgiu na dcada de 1970 com objetivo de avaliar

    funcionalmente portadores de doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC).

    Devido ao seu baixo custo e fcil aplicabilidade este teste passou a ser

    utilizado em outras condies clnicas, constituindo-se como uma importante

    ferramenta de avaliao funcional e estratificao de risco em condies como

    transplante pulmonar, reabilitao pulmonar, DPOC, hipertenso pulmonar,

    insuficincia cardaca, dentre outras (CAHALIN et al., 1996; BROOKS et al.,

    2003; CARTER 2003; HOLLAND et al., 2014).

    Em indivduos obesos o TC6M tambm vem sendo utilizado para

    avaliao da capacidade funcional, uma vez que sua reprodutibilidade j foi

    documentada nesse grupo (LARSSON & REYNISDOTTIR 2008; BERIAULT et

    al., 2009).

    Larsson & Reynisdottir (2008) avaliaram a reprodutibilidade e a validade

    do TC6M em portadores de obesidade. Sua amostra foi composta por 43

    pacientes de ambos os sexos, com idade entre 21 e 62 anos e IMC entre 35 a

    44kg/m2. A reprodutibilidade do TC6M foi analisada por meio de coeficiente de

    variao aps a realizao de dois TC6M, onde no primeiro foi percorrida uma

    distncia de 534 metros e no segundo, 551 metros. Observou-se uma diferena

    mdia de aproximadamente 17 metros entre os testes, porm, no houve

    diferena significativa entre as variveis FC e sensao subjetiva de esforo

    quando comparados os testes. Ao comparar os resultados obtidos por quarenta

    e um indivduos eutrficos que fizeram parte do grupo controle, observou-se

    que os obesos apresentavam reduo de aproximadamente 38% na distncia

    percorrida no TC6M. Tal discrepncia entre os indivdos foi atribuda

    importante diferena no IMC, que pode ser traduzida atravs do clculo:

    trabalho = peso (kg) x distncia (km) e expresso como kg.km, durante a

    realizao do TC6M onde os obesos obtiveram 60,5 vs 47,5 kg.km dos no

    obesos (LARSSON & REYNISDOTTIR 2008). Cabe ressaltar que encontramos

    evidncias na literatura, de que o trabalho desempenhado no TC6M capaz de

    refletir o consumo de oxignio requerido na atividade (CAHALIN et al., 1996;

    CARTER et al., 2003; de SOUZA et al., 2009).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Larsson%20UE%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Reynisdottir%20S%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Larsson%20UE%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Reynisdottir%20S%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Larsson%20UE%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Reynisdottir%20S%22%5BAuthor%5D

  • 26

    Beriault et al (2009) avaliaram determinar a reprodutibilidade do TC6M

    em portadores de sobrepeso e obesidade com mdia de idade de 55,7 anos e

    IMC de 37,2 kg/m2. Para tal investigao, realizaram TC6M, segundo

    recomendaes da ATS, observando uma distncia de 45290 metros no

    primeiro teste e 45897 metros no segundo, com alta correlao entre os

    testes (r = 0,948), cabendo ressaltar que os testes foram realizados no mesmo

    dia. Partindo deste pressuposto os autores descrevem que o TC6M, alm de

    possuir uma alta reprodutibilidade em obesos, deve ser utilizado como

    ferramenta de avaliao da capacidade funcional neste grupo de individuos.

    Deve-se ressaltar que at o presente momento no encontramos

    descrito na literatura, o quanto as alteraes na mecnica respiratria e funo

    muscular respiratria, modulao autonmica e padro de distribuio de

    gordura podem influenciar isoladamente na distncia percorrida no TC6M.

    1.4 QUALIDADE DE VIDA E OBESIDADE

    Acredita-se que a obesidade seja um fator primordial no

    desencadeamento de perturbaes no somente fsicas, mas tambm

    psicolgicas e/ou sociais, que culminam com o declnio da QV, sendo este

    objeto de estudo de diversos grupos de pesquisa (DA SILVA et al., 2006).

    Qualidade de Vida definida pela Organizao Mundial de Sade

    (OMS) como, um conceito amplo que afetado de uma forma complexa

    pela sade fsica, estado psicolgico, nvel de independncia e relaes

    sociais da pessoa, e a relao com as caractersticas do respectivo meio

    (WHOQOL Group, 1993).

    A mensurao da QV pode ser realizada atravs de questionrios

    especficos que objetivam avaliaes de forma individual, que proporcionam

    uma maior capacidade de deteco de condies como capacidade fsica,

    sono, dentre outras, nas mais diversas populaes, incluindo obesos

    (KOLOTKIN et al., 2001).

  • 27

    Dentre os diversos questionrios utilizados para mensurao da QV,

    destaca-se o Medical Outcomes Study Short Form 36 (SF-36), que foi utilizado

    em nosso estudo. O SF-36 foi idealizado baseado em uma anlise onde se

    verificou instrumentos de medida frequentemente utilizados na dcada de 70 e

    80 para a mensurao da capacidade funcional, aspectos fsicos, emocionais,

    dor e sade mental. Objetivou-se ento ter uma ferramenta genrica de

    avaliao relacionada sade, de fcil administrao e compreenso, alm de

    alta reprodutibilidade, com a vantagem de ser menos extenso que outros

    questionrios de QV descritos na literatura (CANTARELLI et al., 1999).

    O questionrio SF-36 validado para lngua portuguesa por Ciconelli et

    al (1999) e possui os seguintes domnios: capacidade funcional (11 itens),

    aspectos fsicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral da sade (5 itens),

    vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens) e

    sade mental (5 itens).

    Entende-se que as alteraes da imagem corporal provocadas pela

    obesidade, podem acarretar em uma desvalorizao da autoimagem, alm de

    reduo da autoestima, podendo assim contribuir para o surgimento de

    sintomas de depresso e ansiedade, ocasionando em importante piora na QV

    (BROWNELL & WADDEN 1992).

    No estudo realizado por Sulivan et al. (1993) objetivando a avaliao da

    QV de 1743 obesos (IMC entre 34 e 38 kg/m2) comparados com um grupo de

    indivduos eutrficos, observou-se que os indivduos obesos apresentavam

    importante queda do estado de sade, com maior impacto para o sexo

    feminino.

    Doll et al (2000) tambm investigaram a correlao entre obesidade e

    QV. Os autores observaram que o bem estar fsico, assim como emocional,

    deteriorava-se de forma diretamente proporcional ao ganho de peso. Os

    mesmos resultados foram encontrados por Kolotkin et al (2001), que

    compararam a QV de 996 pacientes obesos com a de indivduos no obesos

    constatando que os aspectos biopsicossociais encontravam-se marcantemente

    reduzidos.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Brownell%20KD%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Wadden%20TA%22%5BAuthor%5D

  • 28

    Barreto Villela et al. (2004), ao avaliarem a QV de pacientes obesos

    classe III pr e ps cirurgia baritrica atravs do questionrio SF 36, verificaram

    que, aps a realizao da cirurgia houve um aumento significativo nos

    domnios estado geral de sade e aspectos sociais em um perodo de seis a

    doze meses.

  • 29

    2 JUSTIFICATIVA

    O grau de obesidade correlaciona-se de forma diretamente ao aumento

    do risco para o surgimento de comorbidades de origem cardiovascular,

    metablica e respiratria, que podem acarretar em importante declnio da

    capacidade funcional, principalmente nos obesos classe III.

    Pode-se encontrar descrito na literatura uma srie de evidncias que

    demonstram, isoladamente, o impacto que a obesidade ocasiona em variveis

    como modulao autonmica, mecnica respiratria, TC6M e QV. Porm ainda

    existe uma lacuna no conhecimento no que tange a demonstrao do real

    impacto que variveis de mecnica respiratria, espirometria, e modulao

    autonmica podem acarretar em desfechos funcionais, como a distncia

    percorrida no TC6M e a QV.

    A partir desta caracterizao, poderemos estabelecer de forma mais

    criteriosa o tratamento fisioteraputico para essa populao.

  • 30

    3 OBJETIVOS

    3.1 OBJETIVO GERAL

    Descrever as variveis de funo muscular respiratria, mecnica

    respiratria, QV e modulao autonmica de obesos classe III e avaliar sua

    associao com a distncia percorrida no TC6M.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    3.2.1. Descrever o comportamento da fora dos msculos respiratrios, alm

    da mecnica respiratria de obesos classe III em comparao com um grupo

    controle de no obesos;

    3.2.2. Descrever a modulao autonmica cardiovascular por meio da anlise

    da variabilidade da frequncia cardaca (VFC), em obesos classe III em

    comparao com um grupo controle de no obesos;

    3.2.3. Analisar a associao da distncia percorrida no TC6M com a mecnica

    respiratria e funo muscular respiratria e modulao autonmica em

    indivduos obesos classe III;

    3.2.4. Descrever o comportamento da QV de obesos classe III em comparao

    com um grupo controle de no obesos.

  • 31

    3.2.5. Desenvolver equao para prever distncia percorrida por obesos classe

    III no TC6M.

  • 32

    4 MATERIAIS E MTODOS

    4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

    O estudo obedeceu a um delineamento transversal, utilizando uma

    amostra composta por pacientes inseridos no Programa de Cirurgia Baritrica

    do Hospital Universitrio Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (PROCIBA / HUCFF-UFRJ) e indivduos no obesos na

    proporo de 2:1 recrutados no Servio de Fisioterapia do HUCFF-UFRJ, com

    idade, sexo e altura, semelhantes aos obesos classe III.

    4.2 ASPECTOS TICOS

    Todos os participantes foram voluntrios e assinaram Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I), concordando com os termos da

    pesquisa, conforme a Resoluo 466/12 do Conselho Nacional de Sade do

    Brasil. Foi mantida em sigilo absoluto a identidade dos participantes, com

    divulgao apenas dos resultados obtidos, estando os mesmos

    disponibilizados ao trmino das avaliaes e reavaliaes.

    O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comit de tica em

    Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CEP-HUCFF processo

    077/09), sendo parte do projeto Fisioterapia Respiratria aplicada aos

    pacientes portadores de obesidade mrbida (Anexo II).

  • 33

    4.3 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS OBESOS

    Foram includos no estudo pacientes com diagnstico de obesidade

    classe III, em acompanhamento pelo PROCIBA / HUCFF UFRJ. No foram

    includos pacientes que apresentassem:

    1) Doena pulmonar no momento inicial da avaliao;

    2) VEF1/CVF 7,0 (70%) na espirometria;

    3) Instabilidade hemodinmica no momento da avaliao;

    4) Frao de ejeo de ventrculo esquerdo < 50% evidenciada atravs de

    ecocardiograma;

    5) Arritmias avaliada atravs de eletrocardiograma;

    6) Parecer desfavorvel do cardiologista da equipe;

    7) Idade 60 anos;

    8) Dispneia com classe funcional IV pela New York Heart Association

    (NYHA) e/ou 4 pela Modified Medical Research Council (MMR);

    9) Doena ortopdica limitante para deambulao;

    10) Alteraes cognitivas que impedissem a realizao do protocolo;

    11) Doenas neurolgicas centrais e/ou perifricas.

    12) Outras comorbidades que pudessem interferir com os resultados dos

    testes.

    4.4 CRITRIOS DE INCLUSO E EXCLUSO DE INDIVDUOS NO

    OBESOS

    Foram includos no estudo indivduos com IMC de 18 a 30 kg/m2. No

    foram includos os indivduos que apresentassem:

    1) Histria de doena pulmonar prvia ou distrbio evidenciado nos

    testes de funo pulmonar;

    2) Arritmias;

  • 34

    3) Doenas agudas (viroses, dentre outras);

    4) Questionrio Par-Q (Anexo III) apresentando alguma resposta

    positiva;

    5) Utilizao de medicamentos diurticos e/ou anti-hipertensivos;

    6) Doena ortopdica que impedisse a realizao do protocolo;

    7) Doenas neurolgicas centrais e/ou perifricas.

    4.5 PROTOCOLO DE ESTUDO

    O protocolo de estudo foi composto de avaliao constituda de:

    composio corporal, hipersonolncia, qualidade de vida, capacidade funcional,

    presses respiratrias estticas mximas, espirometria, mecnica respiratria e

    modulao autonmica, conforme cronograma descrito adiante.

    4.5.1 Composio corporal, qualidade de vida e hipersonolncia

    A avaliao da composio corporal foi realizada para obteno das

    medidas de massa corporal, estatura, IMC, circunferncia abdominal (CA),

    circunferncia de quadril (CQ) e relao cintura-quadril (RCQ). As

    mensuraes da massa corporal e da estatura, para clculo do IMC, foram

    realizadas atravs de balana com bioimpedncia por tcnica tetra polar

    (InBody 230 Biospace Gangnam-gu Seoul Corea do Sul ), verificando-se

    a impedncia de cada segmento corporal e do tronco em uma faixa de

    frequncia de 20 a 100 kHz. Todos os indivduos foram orientados a utilizar

    roupas confortveis, evitar cafena e ingesto hdrica antes da avaliao, alm

    da realizao do esvaziamento vesical (quando necessrio) e todas as

    avaliaes foram realizadas no mesmo horrio seguindo protocolo sugerido por

    Kim et al., 2005. A mensurao da CA foi realizada na posio ortosttica com

  • 35

    postura ereta, sem roupas e sapatos, no ponto mdio da distncia entre o

    rebordo costal inferior e a crista ilaca anterior. J a CQ foi mensurada

    tomando-se o maior dimetro da regio gltea, passando sobre os trocnteres

    maiores do fmur, com utilizao de uma fita mtrica metlica (Sanny) com

    extenso de 2 m e preciso de 0,1 cm. Posteriormente calculou-se a RCQ

    segundo as orientaes da OMS (WHO 1995).

    A avaliao da qualidade de vida foi realizada com a aplicao do

    questionrio Short-Form (SF-36) (Anexo IV), que foi preenchido pelo indivduo

    sem nenhum tipo de interferncia do avaliador. O questionrio engloba os

    componentes: capacidade funcional, aspectos fsicos, dor, estado geral da

    sade, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e sade mental.

    Posteriormente foi calculada a pontuao por domnios, alm da pontuao

    total (CICONELLI et al., 1999).

    A avaliao de hipersonolncia foi realizada atravs da utilizao do

    questionrio de Epworth (Anexo V), composto por oito itens, cujos

    questionamentos so referentes possibilidade de o indivduo cochilar em

    diversas situaes cotidianas. A pontuao para cada item varia de 0 a 3, onde

    0 representa nenhuma possibilidade de acontecimento, 1 pouca possibilidade

    de cochilar, 2 razovel possibilidade de cochilar e 3 alta possibilidade de

    cochilar, considerando com hipersonolncia quando o indivduo apresentar

    pontuao superior a 10 (JOHNS 1991).

    4.5.2 Teste de caminhada de seis minutos

    O TC6M foi realizado conforme recomendao da ATS (BROOKS et al.,

    2003) em corredor de 30 metros, com comando verbal padronizado, alm de

    uma cadeira disposta em cada extremidade da reta. Os pacientes foram

    instrudos a caminhar o mais rpido possvel, sem correr. A cada trinta

    segundos, o avaliador proferiu uma frase de reforo como Voc est indo

    bem ou Mantenha este ritmo (BROOKS et al., 2003). Antes de realizao do

    TC6M foi realizada a aferio das variveis frequncia cardaca (FC) e

  • 36

    saturao perifrica de oxignio (SpO2) por meio de oximetria de pulso (Onyx

    9500 Nonin Medical Minneapolis Minnesota EUA), frequncia

    respiratria (FR) e sensao subjetiva de esforo por meio da escala de Borg.

    Foram definidas como contra indicao absoluta para a realizao do

    teste: angina instvel e/ou precordialgia, enquanto que frequncia cardaca

    acima de 120 bpm e presso arterial sistlica acima de 180 mmHg e/ou

    diastlica acima de 100 mmHg foram consideradas contra-indicaes relativas.

    Os critrios para interrupo do TC6M so: dor torcica, dispneia intolervel,

    cibras, incoordenao motora, diaforese fria e palidez cutnea (BROOKS et

    al., 2003 HOLLAND et al., 2014).

    Foram adotados como critrios de interrupo do teste: dor torcica,

    dispneia intolerante, cibras em membros inferiores, tonteiras, sudorese fria,

    alm de palidez e/ou cianose e solicitao do indivduo. A FC, SpO2 e

    sensao subjetiva de esforo foram verificadas a cada dois minutos durante a

    realizao do TC6M e no primeiro, segundo e terceiro minutos de recuperao.

    4.5.3 Espirometria

    A espirometria foi realizada de acordo com as recomendaes da ATS

    (PELLEGRINO et al., 2005), no laboratrio de Fisiologia da Respirao do

    Instituto de Biofsica Carlos Chagas Filho (IBCCF), localizado no Servio de

    Mtodos Especiais (SME) do Instituto de Doenas do Trax do HUCFF. A

    espirometria dos pacientes includos no estudo foi realizada com o espirmetro

    computadorizado e seus componentes: pneumotacgrafo tipo Lilly (Erich

    Jaeger, Hoechberg, Alemanha), trandutores de fluxo e presso Sensym

    SLP004D (Honeywell Sensing and Control, Golden Valley, MN, EUA) com

    modo de rejeio comum de 70 dB a 35Hz e 60 dB a 50 Hz, conversor

    anlogo-digital de 12 bits - modelo AD7874 (Analog Devices, Inc., Norwood,

    MA, EUA) e filtro passa-baixa de 50 Hz.

  • 37

    Antes de iniciar o teste, o indivduo permaneceu em repouso durante

    cinco a dez minutos e recebeu orientaes sobre os procedimentos a serem

    realizados. Durante o exame, o paciente permaneceu na posio sentada com

    a cabea mantida em posio neutra. O paciente utilizou uma pina nasal e o

    bocal foi colocado sobre a lngua, entre os dentes e os lbios cerrados,

    evitando-se vazamentos de ar durante as manobras.

    Foram realizadas as manobras de Capacidade Vital Forada (CVF)

    utilizando-se como referncia para determinao do predito as equaes

    descritas por Pereira et al (2007) e Ventilao Voluntria Mxima (VVM)

    utilizando-se como referncia para determinao do predito as equaes

    descritas por Neder et al (1999).

    Na manobra de CVF, o paciente realizou ciclos basais de respirao e

    foi estimulado a inspirar completamente, seguido por uma expirao forada

    mxima por um perodo mnimo de seis segundos, a menos que um plat

    evidente seja observado na curva volume-tempo. O teste foi classificado como

    nvel A de qualidade quando os dois maiores valores de volume expiratrio

    forado no 1 segundo (VEF1) e CVF diferirem menos de 0,15 L e a diferena

    entre o pico de fluxo expiratrio (PFE) for menor do que 10% ou 0,5 L (o que

    for maior).

    O nvel B foi classificado quando foram obtidas pelo menos duas

    manobras aceitveis, com os dois maiores valores da CVF e VEF1 diferindo

    entre si de no mais do que 0,15 a 0,20 L ou quando a diferena entre o PFE

    for maior do que 15%.

    A VVM o maior volume de ar que o indivduo pode mobilizar em um

    minuto com esforo voluntrio mximo. Geralmente se realiza a manobra de

    VVM por um perodo de 10 a 15 segundos e o volume neste perodo de tempo

    , ento, extrapolado para o valor em 1 minuto. A unidade utilizada L/min.

    Durante a manobra, o indivduo foi estimulado a respirar to rpida e

    profundamente quanto possvel. Os volumes foram maiores que o volume

    corrente, mas menores que a CV. O padro buscava simular a respirao em

    uma corrida. O paciente foi estimulado pelo avaliador a manter um ritmo

    constante e regular. A VVM foi determinada a partir de, pelo menos, duas

  • 38

    manobras aceitveis. Aceitou-se o teste para VVM quando o traado de

    volume-tempo demonstrava que o padro ventilatrio permanecia regular em

    volume ou em frequncia respiratria e a linha de base no final da expirao no

    traado volume-tempo se mantinha razoavelmente constante. O valor da VVM

    foi, no mnimo, igual ao VEF1 do indivduo multiplicado por 35, refletindo esforo

    adequado. O maior e o segundo maior valor deveriam diferir menos que 10%.

    4.5.4 Presses respiratrias estticas mximas

    A avaliao das presses respiratrias estticas mximas foi realizada

    atravs da avaliao da fora muscular respiratria por meio de

    manovacuometria, aferindo-se a presso inspiratria mxima (PImx) e presso

    expiratria mxima (PEmx).

    A verificao da PImx foi realizada partindo-se do Volume Residual (VR)

    e da PEmx partindo-se da CPT, sendo a manobra mantida por perodo de trs

    segundos em manovacumetro analgico (M120 Healthcare 2001). O bocal

    tinha um orifcio de 2 mm objetivando dissipar as presses geradas pela

    musculatura da face e da orofaringe (MAYOS et al., 1991). Para realizao do

    teste o indivduo permaneceu sentado, com o tronco ereto e ps paralelos.

    Durante o teste, tanto para verificao da PImax como para verificao da

    PEmax, o esforo ventilatrio foi mantido por perodo de at trs segundos,

    sendo observado e orientado o paciente a gerar a presso com a musculatura

    respiratria. Foram realizadas no mnimo trs aferies aceitveis (sem

    vazamento e com manuteno do esforo por pelo menos dois segundos) e no

    mximo cinco. Para cada manobra foi anotado o valor de presso mais elevado

    alcanado aps o primeiro segundo. Foi definido como critrio de aceitao e

    reprodutibilidade as manobras com valores que no diferiram entre si por mais

    de 10% do valor mais elevado. Foi institudo intervalo de um minuto e trinta

    segundos entre cada verificao (MARTYN et al., 1987; NEDER et al,.1999;

    PEREIRA 2002).

  • 39

    Para determinao das presses respiratrias mximas previstas foram

    utilizadas as equaes idealizadas por Neder et al. (1999) para homens PImx =

    155,3 0,80 x idade (EPE = 17,3) e PEmx = 165,3 0,81 x idade (EPE = 15,6)

    e para mulheres PImx = 110,4 0,49 x idade (EPE = 9,1) e PEmx = 115,6

    0,61 x idade (EPE = 11,2).

    4.5.5 Avaliao da modulao autonmica

    A avaliao da modulao autonmica cardiovascular foi realizada

    atravs da anlise da Variabilidade da Frequncia Cardaca (VFC) tanto no

    domnio do tempo como no domnio da frequncia.

    Todos os sujeitos foram orientados a no ingerirem ch, caf, bebidas

    coladas e/ou achocolatadas por perodo mnimo de duas horas, anterior ao

    inicio da avaliao, alm de no realizarem exerccio fsico por perodo de vinte

    e quatro horas antes do teste. Antes da realizao dos registros os indivduos

    permaneceram em repouso por um perodo de dez minutos. Os registros foram

    realizados com os indivduos sentados, por perodo de trinta minutos.

    O registro da FC foi realizado atravs de frequencmetro (Polar Precision

    Performance modelo S 810 / Oulu Kempele Finlndia) (GAMELIN et

    al., 2006). A fixao da faixa elstica foi realizada aps assepsia da regio,

    alm de umidificao (com utilizao de gua) para melhor captao do sinal.

    Para a realizao da anlise espectral da VFC, as sries temporais dos

    intervalos R-R foram submetidas Transformada Rpida de Fourier utilizando-

    se o software Kubios HRV 2.0 (Kupio Savonia do Norte Finlndia)

    (SOOKAN & MCKUNE 2011; SCHULTZ et al., 2011).

    A potncia espectral foi calculada por integrao da funo da densidade

    espectral de potncia para as bandas de alta frequncia (HF: 0,15 0,40 Hz) e

    baixa frequncia (LF: 0,04 0,15 Hz), e muito baixa frequncia (VLF: 0,01

    0,04 Hz), alm do clculo do balano autonmico (LF/HF) (SOOKAN &

    MCKUNE 2011).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Sookan%20T%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22McKune%20AJ%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Sookan%20T%22%5BAuthor%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22McKune%20AJ%22%5BAuthor%5D

  • 40

    A anlise da VFC no domnio do tempo foi determinada a partir dos

    registros R-R, (simbolizados pelas letras NN) utilizando-se o resultado da

    mensurao de vinte minutos de registro (foram excludos os primeiros e os

    ltimos cinco minutos de registro). Foram considerados os intervalos R-R

    normais sucessivos, abandonando flutuaes sbitas superiores a 25% do

    intervalo precedente, em uma tentativa de abolir fenmenos de extra-sstoles,

    obtivemos os resultados referentes as variveis: mdia de todos os intervalos

    RR normais (NN), desvio-padro de todos os intervalos RR normais (SDNN),

    raiz quadrada das diferenas sucessivas entre intervalos RR normais

    adjacentes ao quadrado (rMSSD), percentual de intervalos RR normais que

    diferem mais que 50 milissegundos de seu adjacente (pNN50).

    4.5.6 Oscilometria de impulso

    A oscilometria de impulso foi realizada por meio de um oscilmetro de

    impulso (Erich Jaeger, Hoechberg, Alemanha) e seus componentes:

    pneumotacgrafo tipo Lilly, trandutores de fluxo e presso Sensym SLP004D

    (Honeywell Sensing and Control, Golden Valley, MN, EUA) com modo de

    rejeio comum de 70 dB a 35Hz e 60 dB a 50 Hz, alto-falante VISATON W100

    S (VISATON GmbH & Co. KG, Haan, Alemanha) produzindo pulsos de 45 ms

    de durao a cada 0,33 s, conversor anlogo-digital de 12 bits - modelo

    AD7874 (Analog Devices, Inc., Norwood, MA, EUA) e filtro passa-baixa de 50

    Hz (Figura 3).

    Para a obteno dos resultados da TOF, cinco aquisies de 40

    segundos foram realizadas com o paciente sentado em repouso. As etapas

    para aquisio do sinal esto descritas abaixo:

    Calibrao do equipamento;

    Posicionamento do indivduo sentado;

    Adaptao da pina nasal e acoplamento do aparato experimental

    boca do paciente;

    Estabilizao manual da bochecha do indivduo por um avaliador;

  • 41

    Intervalo de 20 segundos sem a aquisio do sinal;

    Aquisio de 5 arquivos de sinais com 40 segundos cada.

    Os registros foram gravados para anlise off-line. Foram selecionados

    (visualmente) por um nico avaliador, os trechos de melhor funo de

    coerncia com um tempo mnimo de 20 segundos.

    Aps a seleo dos trechos, foram anotados os valores das seguintes

    variveis de resistncia: resistncia em 5 Hz, (R5), resistncia extrapolada para

    0 Hz (R0), resistncia mdia (Rmed), e dependncia da resistncia do sistema

    respiratrio pela frequncia de oscilao (dR/dF).

    As variveis de reatncia analisadas foram: reatncia em 5 Hz (X5),

    reatncia inspiratria (X ins), reatncia expiratria (X exp), frequncia de

    ressonncia (Fres = frequncia em que a reatncia nula), integral da

    reatncia de 5 Hz at Fres (AX) e a diferena entre a reatncia inspiratria

    mdia e a reatncia expiratria mdia em frequncia de 5 Hz (X5).

    Figura 3: Sinais respiratrios obtidos durante a Tcnica de oscilaes foradas (TOF) em

    paciente obeso classe III (Fonte: Laboratrio de Fisiologia da Respirao IBCCF-UFRJ).

  • 42

    4.5.7 Organograma do estudo

    As avaliaes foram organizadas para ocorrem em trs dias alternados

    conforme descrito abaixo na Figura 4.

    Figura 4: Organograma da coleta de dados do estudo. Todas as avaliaes foram realizadas

    com intervalo de quarenta e oito horas.

    4.6 ANLISE ESTATSTICA

    O tamanho apropriado da amostra foi calculado atravs do software

    GPower 3.1 (University Dsseldorf 2014, ALE) utilizando como base o estudo

    previamente publicado por Gontijo et al (2011) ajustando-se o poder do teste

    estatstico para 0,8 e o erro alfa para 0,05 e um erro beta de 95%, em uma

    razo de 2:1, sendo encontrado um n total de 76 sujeitos (50 no grupo obeso

    classe III e 26 no grupo no obeso) . Os dados obtidos foram tabulados e

    organizados em planilha de clculos e apresentados por meio de mdia

    desvio padro. Para anlise dos resultados e confeco dos grficos foram

    utilizados os programas SigmaStat 3.1 (Jandel Scientific, San Rafael, CA, EUA)

    e SigmaPlot 9.01 (Jandel Scientific, San Rafael, CA, EUA), respectivamente,

    sendo adotado o nvel de significncia de 5%.

    Para caracterizao da distribuio dos dados foram aplicados os testes

    de Kolmogorov-Smirnov com correo de Lilliefors (distribuio normal). Para

  • 43

    comparao entre os valores obtidos por obesos classe III e no obesos para

    as variveis espiromticas, PImx, PEmx, mecnica respiratria, modulao

    autonmica, QV e TC6M foi utilizado o teste t ou o correspondente no

    paramtrico.

    Para determinao da associao entre a distncia percorrida no TC6M

    (varivel dependente) e variveis demogrficas, mecnica respiratria,

    espirometria e presses respiratrias estticas mximas (variveis

    independentes) foi utilizada a correlao de Pearson. Para determinao da

    influncia de variveis demogrficas, mecnica respiratria, espirometria e

    presses respiratrias estticas mximas (variveis independentes) na

    distncia percorrida no TC6M (varivel dependente) foi utilizada a anlise de

    regresso linear mltipla, sendo inseridas no modelo as variveis que

    apresentaram P

  • 44

    5 - RESULTADOS

    Foram avaliados 105 indivduos na faixa etria de 20 a 65 anos. A

    distribuio dos grupos encontra-se na Figura 5.

    Figura 5: Distribuio da amostra de obesos classe III e no obesos e seus motivos de

    excluso. VEF1 volume expiratrio forado no 1 segundo; CVF capacidade vital forada;

    IMC ndice de massa corporal; SAF - Sndrome do Anticorpo Antifosfolipdeo.

    Dos 50 obesos classe III que permaneceram no estudo, 39 (79%)

    pertencem ao sexo feminino enquanto dos 30 indivduos no obesos que

    permaneceram no estudo esta proporo era de 70%.

    Quanto dispneia, 34% apresentam a queixa e, quando classificados

    pela Modified Medical Research Council (MMRC) 91% encontravam-se no grau

    I (leve) e 9% no grau II. As caractersticas gerais dos componentes da amostra

    encontram-se descritas na Tabela 1.

  • 45

    Valores apresentados atravs de mdia desvio padro. IMC - ndice de massa corporal; RCQ

    - relao cintura-quadril; CA - circunferncia abdominal; CQ -circunferncia de quadril; FC -

    frequncia cardaca; HAS - hipertenso arterial sistmica; DM - diabetes mellitus; IECA -

    inibidores de enzima conversora de angiotensina. * Epworth - hipersolonencia diurna.

    Tabela 1: Caractersticas gerais dos obesos classe III e no obesos.

    Variveis

    Obesos classe III

    (n=50)

    No obesos

    (n=30)

    P

    Idade (anos) 40,010,4 37,611,5 0,2947

    Sexo (%) 79 70 ---

    Estatura (m) 1,640,09 1,670,09 0,3004

    Massa corporal (kg) 138,833,6 65,210,3 < 0,0001

    IMC (kg/m2) 50,78,9 23,22,2 < 0,0001

    CA (cm) 136,318,8 80,59,9 < 0,0001

    CC (cm) 143,417,5 97,55,9 < 0,0001

    RCQ 0,950,09 0,840,08 < 0,0001

    FC (bpm) 7613 719 0,3269

    PAS (mmHg) 135,36,1 120,34,0 0,4058

    PAD (mmHg) 90,27,3 82,2,5 0,2075

    Epworth* (pontos) 6,83,2 7,03,5 0,5059

    HAS (%) 54 --- ---

    DM (%) 16 --- ---

    Diurticos (%) 44 --- ---

    IEAC (%) 63 --- ---

    Metformina (%) 75 --- ---

    Beta bloqueador (%) 22 --- ---

  • 46

    Ao analisarmos os valores obtidos por obesos classe III e no obesos na

    espirometria, observamos que existem diferenas considerveis entre as

    mdias de algumas variveis (Tabela 2). Quanto s presses respiratrias

    estticas avaliadas atravs da PImax e PEmax no foram observadas diferenas

    em valores absolutos e relativos.

    Tabela 2. Variveis espiromtricas e presses respiratrias estticas mximas

    de obesos classe III e no obesos.

    Variveis

    Obesos classe III

    (n=50)

    No obesos

    (n=30)

    P

    CVF (L) 3,50,7 4,00,8 0,0275

    CVF (% pred) 78,712,3 100,910,6 0,4198

    VEF1 (L) 2,80,6 3,20,6 0,0157

    VEF1 (% pred) 80,510,2 97,48,0 0,0978

    VEF1/CVF 80,46,6 82,65,8 0,5384

    PFE (L/s) 7,01,9 7,82,0 0,0582

    PFE (% pred) 83,420,3 86,613,3 0,5750

    VVM (L) 114,226,1 126,624,2 0,2435

    VVM (% pred) 89,223,4 89,915,6 0,3236

    PImx (cmH2O) 102,023,5 116,522,5 0,5862

    PImx (% pred) 100,231,5 121,725,5 0,0572

    PEmx (cmH2O) 107,521,2 122,724,4 0,3084

    PEmx (% pred) 107,830,5 102,011,3 0,2359

    CVF - capacidade vital forada; VEF1 - volume expiratrio forado no primeiro segundo; PEF -

    pico de fluxo expiratrio; VVM - ventilao voluntria mxima; PImx - presso inspiratria

    mxima; PEmx - presso expiratria mxima. Valores apresentados por meio de mdiadesvio

    padro.

  • 47

    A seguir, so apresentados os resultados referentes mecnica

    respiratria avaliada por meio da TOF. Quando realizada a comparao entre a

    resistncia total do sistema respiratrio de obesos classe III e no obesos,

    observamos atravs das variveis R0 (0,60,2 vs. 0,40,1 kPa/l/s) e R5

    (0,501 vs. 0,10,1 kPa/l/s) que a Rsr marcadamente superior em obesos

    classe III, com significncia estatstica conforme apresentado na Figura 6.

    No obesos Obesos classe III0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    P=0,0001

    R0 (

    kP

    a/l/s

    )

    No obesos Obesos classe III0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    P

  • 48

    No obesos Obesos classe III0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    P=0,0010

    R20 (

    kP

    a/l/s

    )

    No obesos Obesos classe III0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    P

  • 49

    Quando realizada a comparao entre os componentes da mecnica

    respiratria que representam a elastncia do sistema, observou-se que

    indivduos obesos classe III apresentam reduo em relao aos no obesos,

    sendo essas diferenas significativas tanto para a reatncia em 5 Hz (X5) (-

    0,200,10 vs. -0,090,02 kPa/l/s; P=0,0007), quanto para reatncia inspiratria

    (X5 ins) (-0,190,08 vs. -0,120,09 kPa/l/s; P=0,0013) e reatncia expiratria

    (X5 exp) (-0,200,12 vs. -0,100,04 kPa/l/s; P=0,0007), conforme pode ser

    visualizado na Figura 9.

    No obesos Obesos classe III-0.4

    -0.3

    -0.2

    -0.1

    0.0

    P=0,0007

    X5 (

    kP

    a/l/s

    )

    No obesos Obesos classe III-0.4

    -0.3

    -0.2

    -0.1

    0.0

    P=0,0013

    X5 in

    s

    No obesos Obesos classe III-0.4

    -0.3

    -0.2

    -0.1

    0.0

    P=0,0007

    X5 e

    xp

    Figura 9: Comparao entre o comportamento da reatncia inspiratria e expiratria em 5 Hz

    de obesos classe III e no obesos. X5 = reatncia em 5Hz.

    No que tange modulao autonmica dos indivduos participantes do

    estudo, observou-se que os obesos classe III apresentaram menores valores

    de ndices de ativao parassimptica tanto no domnio do tempo (SDNN,

    rMSSD, pNN50) como no domnio da frequncia (HF), e um maior balano

    simpato-vagal (LF/HF), conforme apresentado na Tabela 3.

  • 50

    Quando realizada a comparao entre a QV avaliada por meio do

    questionrio SF 36, observou-se que os indivduos obesos classe III

    apresentam reduo para todos os domnios quando comparados aos

    indivduos no obesos: capacidade funcional (51,622,3 vs. 92,38,6 P<

    0,0001); aspectos fsicos (57,240,9 vs. 94,120,4, P=0,0001); vitalidade:

    (56,118,8 vs. 73,117,9, P=0,0450); aspectos sociais: (69,826,2 vs.

    91,213,2, P=0,0014); dor: (57,326,4 vs. 81,022,6, P=0,0111); estado geral

    de sade: (52,921,7 vs. 80,118,1, P< 0,0001), exceto para os domnios

    referente a aspectos emocionais: (65,339,8 vs. 80,033,5, P=0,3447) e sade

    mental: (72,521,5 vs. 79,016,8, P=0,8606), conforme apresentado na Figura

    10.

    Tabela 3: Caractersticas de modulao autonmica cardiovascular dos

    componentes da amostra.

    Variveis

    Obesos classe III

    (n=50)

    No obesos

    (n=30)

    P

    NN (ms) 812,2132,6 829,7122,3 0,7512

    SDNN (ms) 40,018,0 70,927,8 0,0004

    rMSSD (ms) 23,713,0 40,322,4 0,0030

    pNN50 (%) 14,810,4 25,97,2 0,0061

    LF (Hz) 50,130,2 40,923,9 0,9013

    HF (Hz) 30,017,5 51,718,5 0,0023

    LF/HF 5,02,8 1,00,9 0,0189

    Valores apresentados atravs de mdiadesvio padro. HF - high frequenc, LF - low

    frequency, rMSSD - raiz quadrada das diferenas sucessivas entre intervalos RR normais

    adjacentes ao quadrado, SDNN - desvio padro de todos os intervalos RR normais; pNN50% -

    percentual de intervalos RR normais que diferem mais do que 50 milissegundos de seu

    adjacente.

  • 51

    Figura 10: Qualidade de vida avaliada pelo questionrio SF-36 de obesos classe III e no

    obesos componentes da amostra. * significncia estatstica.

    Ao ser realizada a anlise da distncia percorrida no TC6M, observa-se

    que os obesos classe III atingiram uma distncia significativamente inferior

    percorrida por no obesos (496,386,5 m vs. 673,965,3 m), alm de durante a

    realizao do TC6M os obesos classe III realizaram um trabalho (w) superior

    ao dos no obesos (68237,217076,4 kg.m vs. 42627,812402,4 kg.m;

    P

  • 52

    No foi evidenciada diferena significativa para a sensao subjetiva de

    esforo entre os grupos pr-exerccio (0,20,1 vs. 0,30,1; P = 0,2572), assim

    como ao final do TC6M (3,52,2 vs. 2,82,7; P = 0,4760). Tambm no foram

    verificadas diferenas na SpO2 pr-exerccio (97,11,6 % vs. 98,11,3 %;

    P=0,1047) e ao final do TC6M (96,22,1 % vs. 97,52,0 %; P=0,4151).

    Realizados os testes de correlao, observou-se que algumas variveis

    demogrficas, espiromtricas e de presses respiratrias estticas mximas

    apresentam associao com a distncia percorrida no teste de caminhada de

    seis minutos (DTC6M) por indivduos obesos classe III e critrio de aceitao

    para serem includas no modelo de regresso linear multivariado, conforme

    apresentado nas Tabelas 4,5 e 6.

    Tabela 4: Resultado da anlise de correlao das caractersticas

    demogrficas com a distncia percorrida no teste de caminhada de seis

    minutos por obesos classe III.

    Variveis Correlao

    r IC (95%) P

    Idade (anos)* -0,3399 -0,564 0,0679 0,0157

    Estatura (m) 0,2207 -0,0615 -0,470 0,1236

    Massa corporal (kg) -0,2317 -0,479 0,049 0,1054

    IMC (kg/m2)* -0,4251 -0,629 -0,166 0,0021

    CA (cm)* -0,2580 -0,500 0,021 0,0704

    CQ (cm)* -0,2815 -0,5192 0,003 0,0477

    RCQ 0,02475 -0,255 0,301 0,8646

    IMC - ndice de massa corporal; CA - circunferncia abdominal; CQ -circunferncia de quadril

    RCQ - relao cintura-quadril. *Variveis que apresentaram critrio estatstico para insero

    no modelo de regresso linear mltipla.

  • 53

    Tabela 5: Resultado da anlise de correlao das variveis de mecnica

    respiratria com a distncia percorrida no teste de caminhada de seis minutos

    por obesos classe III.

    Variveis Correlao

    r IC (95%) P

    R0 (kPa/l/s) -0,1243 -0,389 0,159 0,3899

    Rmed (kPa/l/s) -0,1309 -0,394 0,153 0,3651

    RT (kPa/l/s) -0,0092 -0,287 0,269 0,9490

    R5 (kPa/l/s) -0,06020 -0,333 0,221 0,6779

    R20 (kPa/l/s) -0,1627 -0,422 0,121 0,2590

    X5 (kPa/l/s) 0,1870 -0,096 0,44 0,1936

    Fres (Hz) -0,08945 -0,358 0,193 0,5367

    AX (kPa/l*Hz) -0,1260 -0,390 0,158 0,3833

    X5 ins 0,1756 -0,108 0,432 0,2225

    X5 exp 0,1729 -0,110 0,430 0,2297

    Delta X5 0,1530 -0,131 0,413 0,2888

    dR/DF 0,08574 -0,197 0,355 0,5538

    R0 - resistncia extrapolada para 0 Hz; Rmed - resistncia mdia; RT resistncia tecidual;

    R5 - resistncia em 5 Hz; R20 resistncia em 20 Hz; X5 = reatncia em 5Hz; Fres

    freqncia; AX - integral da reatncia de 5 Hz at a freqncia; dR/dF - dependncia da

    resistncia do sistema respiratrio pela frequncia de oscilao.

  • 54

    Realizada a anlise de regresso linear multivariada, observamos que

    46% da DTC6M pode ser explicada por variveis demogrficas e ventilatrias

    (espirometria e presso respiratria esttica mxima) conforme descrito na

    Tabela 07.

    Assim utilizando estas variveis, desenvolvemos um modelo matemtico

    visando auxiliar na previso da distncia a ser percorrida no TC6M por obesos

    classe IIII expresso na seguinte equao: TC6M = 372,249 - (0,0602 x Idade) -

    (4,636 x IMC) + (0,778 x CA) - (0,105 x CQ) + (33,394 x CVF) + (27,090 x

    VEF1) + (0,886 x PImax) - (0.156 x VVM), r2 = 0,4645.

    Tabela 6: Resultado da anlise de correlao para as variveis de

    espirometria e presses respiratrias estticas mximas para a distncia

    percorrida no teste de caminhada de seis minutos dos obesos classe III.

    Variveis Correlao

    r IC (95%) P

    CVF (L)* 0,4962 0,249 0,682 0,0003

    VEF1 (L)* 0,4743 0,222 0,666 0,0006

    VEF1/CVF 0,03628 -0,247 0,314 0,8045

    PFE (L/s) -0,01904 -0,298 0,263 0,8967

    PImx (cmH2O)* 0,3409 0,069 0,565 0,0154

    PEmx (cmH2O) 0,08110 -0,201 0,351 0,5756

    VVM (L/min)* 0,3208 0,0434 0,552 0,0246

    CVF - capacidade vital forada, VEF1 - volume expiratrio forado no primeiro segundo, PEF

    - pico de fluxo expiratrio, PImx - presso inspiratria mxima, PEmx - presso expiratria

    mxima, VVM - ventilao voluntria mxima. *Variveis que apresentaram critrio estatstico

    para insero no modelo de regresso linear mltipla.

  • 55

    Tabela 7: Resultado da anlise regresso linear mltipla para a distncia

    percorrida no teste de caminhada de seis minutos dos obesos classe III.

    Variveis

    Regresso linear multivariada

    (adj. R2 = 0,4645, p = 0,0008)

    r P Beta

    Idade (anos) -0,0602 0,010 0,9630

    IMC (kg/m2) -4,636 0,480 0,0430

    CA (cm) -0,778 0,171 0,493

    CQ (cm) -0,105 0,020 0,9160

    CVF (L) 33,394 0,273 0,3850

    VEF1 (L) 27,090 0,196 0,5590

    PImx (cmH2O) 0,886 0,241 0,0580

    VVM (L/min) 0,156 0,050 0,7940

    IMC - ndice de massa corporal; CA - circunferncia abdominal; CQ - circunferncia de

    quadril; CVF - capacidade vital forada, VEF1 - volume expiratrio forado no primeiro

    segundo, PImx - presso inspiratria mxima, VVM - ventilao voluntria mxima.

  • 56

    6 DISCUSSO

    Em nosso estudo, utilizamos uma amostra composta por obesos classe

    III participantes de um programa de cirurgia baritrica que no apresentavam

    obstruo na espirometria e/ou disfuno cardaca evidenciada atravs de

    ecocardiograma. Eles foram comparados com um grupo controle de no

    obesos. De um modo geral, empregamos tcnicas simples, reprodutveis e

    no-invasivas para avaliao dos parmetros estudados.

    No que tange ao sistema cardiovascular, observamos que os indivduos

    obesos classe III apresentam reduo na modulao autonmica quando

    comparados a controles no obesos.

    A reduo da VFC apontada por diversos pesquisadores como um

    previsor de morbidade e mortalidade em condies clnicas como infarto agudo

    do miocrdio (HARRIS et al., 2014), insuficincia cardaca (LIU et al., 2011) e

    hipertenso pulmonar (CAN et al., 2013). Relatos da literatura apontam uma

    mortalidade global 5,3 vezes superior em indivduos com menor VFC (SDNN

    25 kg/m2. Os

    autores tambm observaram uma reduo significativa da atividade

    parassimptica, demonstrada pelo componente HF no domnio da frequncia

    (MOLFINO et al., 2009). Esses resultados so similares aos obtidos em nosso

    estudo, no qual tambm foi observado uma importante reduo da VFC no

    domnio da frequncia (HF), porm, algumas diferenas devem ser apontadas

    entre os estudos. Os autores excluram indivduos que utilizassem qualquer

  • 57

    tipo de droga com ao cardiovascular o que, em nosso estudo, no foi

    possvel considerando o percentual de comorbidades associadas dos

    participantes do nosso estudo, em especial diabetes e hipertenso arterial e a

    necessidade de preservao de sua segurana.

    Diversos estudos so consonantes com nossos achados referentes

    modulao autonmica cardiovascular (KIM et al., 2005). Um relato envolvendo

    a observao do comportamento da modulao autonmica cardiovascular de

    indivduos obesos (LAEDERACH-HOFMANN et al., 2000) utilizou protocolo

    experimental que abrangeu indivduos de ambos os sexos, com mdia de idade

    de 42,79,3 anos, divididos em trs grupos respeitando-se a faixa do IMC. O

    primeiro grupo foi composto por 17 indivduos (IMC na faixa de 27 a 33 kg/m2),

    o segundo, por 13 indivduos (IMC na faixa de 33 a 40 kg/m2), e o terceiro, por

    12 indivduos (IMC>40 kg/m2). Realizada a anlise da VFC no domnio da

    frequncia, observou-se que medida que o IMC aumentava, o ndice HF

    apresentava importante reduo. Esses resultados tambm se coadunam com

    nossos achados, apesar no ter sido realizada estratificao por faixas de IMC

    em funo de nossa amostra ser composta apenas por obesos classe III e no

    obesos.

    Este mesmo comportamento foi demonstrado em estudo similar

    realizado por um grupo de pesquisadores suos (Sztajzel et al., 2009) que

    avaliaram a VFC de mulheres eutrficas e obesas. As eutrficas tinham mdia

    de idade de 40,12,4 anos e IMC de 21,50,5 kg/m2. As obesas foram divididas

    em trs grupos com diferentes valores de IMC, o primeiro compreendendo

    mulheres com mdia de idade de 44,43,5 anos e IMC na faixa de 25 a 30

    kg/m2, o segundo com mdia de idade de 42,61,9 anos e IMC na faixa 30 a 40

    kg/m2 e o terceiro com mdia de idade de 35,42,0 e IMC >40 kg/m2. Foi

    mostrado que obesas com IMC > 40 apresentavam uma maior frequncia

    cardaca basal, quando comparadas s obesas de menor IMC e no obesas,

    alm de reduo da atividade parassimptica mensurada tanto no domnio do

    tempo como no domnio da frequncia.

    Esses resultados assemelham-se aos obtidos pelo nosso grupo cabendo

    ressaltar a similaridade entre as amostras principalmente quanto mdia de

  • 58

    idade dos obesos classe III (40,0 vs. 37,6 anos). Obesas hipertensas e

    resistentes insulina tambm no foram excludas, assim como em nosso

    estudo. Entretanto, os obesos mrbidos de nosso estudo apresentavam maior

    IMC (50,7 kg/m2 vs. 44,2 kg/m2) e sua frequncia cardaca basal no foi

    diferente quando comparada dos no obesos.

    Um estudo polons (PIESTRZENIEWICZ et al., 2008) se props a

    avaliar o comportamento da modulao autonmica cardiovascular atravs da

    VFC de dois grupos de indivduos com infarto agudo do miocrdio, sem

    instabilidade clnica e/ou hemodinmica (Killip I e II, sem alteraes arrtmicas

    e/ou disfuno ventricular). O primeiro grupo era composto por obesos, com

    mdia de idade de 54,06 anos e IMC de 32,0 kg/m2 e o segundo, por no

    obesos com mdia de idade de 55,26 anos e IMC de 23,63 kg/m2. Foi

    evidenciado que os ndices de VFC no domnio do tempo (SDNN, rMSSD e

    pNN50) encontravam-se reduzidos nos obesos quando comparados aos no

    obesos. O mesmo comportamento foi observado quando realizada a anlise da

    VFC no domnio da frequncia onde os ndices LF e LF/HF encontravam-se

    aumentados e HF reduzido, com significncia estatstica. Esses achados

    corroboram os encontrados em nosso estudo uma vez que o comportamento

    da VFC tanto no domnio do tempo (SDNN, rMSSD e pNN50) como no domnio

    da frequncia (HF) encontram-se reduzidos caracterizando um desequilbrio do

    sistema nervoso autnomo com predominncia do simptico sobre o

    parassimptico.

    Deve-se destacar que em nenhum dos estudos consultados abordando

    VFC e obesidade classe III a funo pulmonar foi descrita. Em nosso estudo,

    excluiu-se indivduos com alteraes obstrutivas (VEF1/CVF < 70%) em virtude

    da obstruo crnica de vias areas ser um fator de desajuste da modulao

    autonmica cardiovascular (VAN GESTEL et al., 2010; DIAS DE CARVALHO

    et al., 2011; CHENG et al., 2014).

    No que diz respeito investigao da mecnica respiratria, os

    primeiros estudos com utilizao da FOT para avaliao da mecnica

    respiratria foram desenvolvidos em pacientes com DPOC e, tambm, em

    pediatria (SHARP et al.; 1964 OOSTVEN et al., 2003; DELLAC et al., 2004;

  • 59

    KACZKA & DELLAC 2011; GOLDMAN 2001). Estudos posteriores vieram a

    empregar essa tcnica para estudar as alteraes da mecnica respiratria

    advindas da obesidade.

    Historicamente, o estudo pioneiro na descrio da mecnica respiratria

    de indivduos obesos foi o realizado pelos pesquisadores canadenses Naimark

    e Cherniack (1960). Ao compararmos seus resultados com os obtidos em

    nosso estudo, observamos algumas caractersticas similares, sendo a principal

    delas a observao de uma importante reduo da complacncia do sistema

    respiratrio. Deve ser ressaltado, entretanto, que havia importante diferena

    entre a idade dos grupos estudados pelos autores, que era maior nos obesos.

    Em nosso estudo, procuramos parear os indivduos por idade e altura

    minimizando assim fatores de confundimento em nossas anlises.

    O resultado obtido em nosso estudo no que diz respeito resistncia

    total do sistema respiratrio similar ao descrito por Zerah et al. (1993) que

    demonstraram que obesos classe III tem aumento de 72% quando comparado

    a obesos classe I. Em nosso estudo, encontramos um aumento de 33,4% em

    R0 e de 80% em R5. J no que diz respeito resistncia perifrica do sistema

    respiratrio representada pelo Rmed, observamos um aumento de 34%,

    porm, em nosso estudo, as comparaes foram realizadas com um grupo de

    no obesos.

    Nossas anlises sugerem um aumento da resistncia perifrica do

    sistema respiratrio de obesos classe III quando comparados a no obesos

    atravs da mensurao da frequncia de ressonncia (Fres). Nossos achados

    encontram-se em consonncia aos descritos por Yap et al. (1995), cabendo

    ressaltar que a resistncia perifrica dos obesos classe III de nossa amostra

    18,6% superior a do grupo de obesos classe III do estudo supracitado. Tal fato

    pode ser justificado pela diferena no IMC, maior no nosso estudo (50,7 kg/m2

    vs. 43,6 kg/m2). No que diz respeito resistncia do sistema respiratrio,

    diversos autores so consensuais em afirmar que a obesidade desencadeia um

    importante aumento na resistncia pulmonar, seja total ou perifrica.

    Nossos achados no que dizem respeito reduo da complacncia do

    sistema respiratrio, avaliada atravs dos componentes X5, X5 ins e X5 exp

  • 60

    esto condizentes aos j descritos na literatura (MAHADEV et al., 2013;

    ZERAH et al., 1993). Mahadev et al (2013) alm da descrio da reduo da

    complacncia do sistema respiratrio utilizaram o parmetro Xsr de 2,8

    cmH2O.l-1.s como ponto de corte para determinao de limitao do fluxo

    expiratrio conforme proposto por Dellca et al (2004). Apesar do elevado IMC

    dos componentes de nossa amostra quando comparada a dos autores (50,7vs.

    41,3 kg/m2), esses resultados diferem dos obtidos por ns, uma vez que no

    observamos alteraes significativas entre obesos e no obesos no que

    concerne a essa varivel. Tal fato poderia ser justificado pela excluso de

    pacientes com alterao obstrutiva detectada na espirometria em nosso

    processo de seleo.

    H uma concordncia na literatura quanto existncia de alteraes na

    mecnica respiratria de obesos quando comparados a no obesos

    caracterizada por aumento da resistncia do sistema respiratrio e reduo da

    complacncia (ALBUQUERQUE et al 2015) e que essas alteraes podem

    estar envolvidas nas limitaes ventilatrias da obesidade, assim como, na

    dispneia mesmo na ausncia de doenas respiratrias clssicas. Uma das

    justificativas para tal fenmeno a reduo da capacidade residual funcional

    (CRF). Em nosso estudo, no realizamos a mensurao de CRF, o que no

    nos permite fazer comentrios sobre sua correlao com o IMC ou com a

    mecnica respiratria.

    Alm da mecnica respiratria, outro fator que deve ser levado em

    considerao no que diz respeito ventilao de indivduos obesos fora e a

    resistncia dos msculos respiratrios. Para que indivduos obesos classe III

    possam produzir um trabalho ventilatrio prximo ao de no obesos, torna-se

    necessria uma maior atividade da musculatura respiratria em especial a

    diafragmtica (CHAUNCHAIYAKUL et al., 2004). O VO2 dedicado

    exclusivamente para a musculatura respiratria em indivduos no obesos de

    aproximadamente 1 a 3% do VO2 total, enquanto que, em obesos classe III,

    esse valor pode atingir 16% (LAGHI & TOBIN 2003).

    Alguns autores mostraram relao inversa entre a obesidade classe III e

    a reduo de PImx e PEmx (ROCHESTER et al., 1974; SANT ANNA JR et al.,

  • 61

    2011). Rochester & Enson (1974) evidenciaram reduo de 30 a 40% da PImx

    em obesos, porm, sua amostra era composta por portadores de sndrome de

    hipoventilao. Sood (2009) relatou que a resistncia dos msculos

    respiratrios encontra-se reduzida, alm de apontar um decrscimo de at 60%

    da PImx. Chlif et al. (2005) constataram alteraes significativas de PImx e

    PEmx referindo uma associao entre o aumento do IMC e o declnio

    principalmente da PImx.

    Apesar da necessidade da realizao de um elevado trabalho pela

    musculatura respiratria de obesos classe III, em nosso estudo, no

    observamos diferenas entre a fora muscular respiratria e a ventilao

    voluntria mxima (VVM) tanto em valores absolutos como em valores relativos

    quando comparados a no obesos, cabendo ressaltar que alguns obesos

    analisados apresentaram valores acima do previsto. Nossos resultados se

    coadunam aos de outros estudos na literatura (LUCE 1980; YAP et al., 1995)

    que mostraram no haver alteraes tanto na PImx quanto na PEmx de

    obesos. Acreditamos que o fato de utilizarmos como cri