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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social RODRIGO GABRIOTI A FAPESP E A CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO: LEGITIMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ÁREA São Bernardo do Campo-SP 2018

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

RODRIGO GABRIOTI

A FAPESP E A CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO:

LEGITIMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ÁREA

São Bernardo do Campo-SP

2018

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RODRIGO GABRIOTI

A FAPESP E A CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO:

LEGITIMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ÁREA

Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da

Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção

do grau de Doutor.

Orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo

São Bernardo do Campo-SP

2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

G114f Gabrioti, Rodrigo

A FAPESP e a ciência da comunicação: legitimação,

contribuição e construção da área / Rodrigo Gabrioti. 2018.

349 p.

Tese (Doutorado em Comunicação Social) --Escola de

Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018.

Orientação de: José Marques de Melo.

1. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

- FAPESP 2. Pesquisa - São Paulo (Estado) 3. Bolsas de estudo

- São Paulo (Estado) 4. Pós-Graduação - Comunicação - Brasil

I. Título.

CDD 302.2

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A tese de Doutorado “A FAPESP e a Ciência da Comunicação: Legitimação, Contribuição e

Construção da Área”, elaborada por Rodrigo Gabrioti, foi defendida e aprovada em 25 de abril

de 2018, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Marques de Melo

(Presidente/UMESP), Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias (Titular/UMESP), Profª. Dra.

Sônia Jaconi (Titular/UMESP), Profª Dra. Maria Cristina Gobbi (Titular/UNESP) e Prof. Dr.

Osvando José de Morais (Titular/UNESP)

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. José Marques de Melo

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social

Área de Concentração: Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Comunicação midiática, processos e práticas culturais.

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A Natalie Zambello Pereira, minha esposa, que diante de algumas frustrações no meu sonho

de ser doutor, transformou a decepção em incentivo demonstrando que sempre há um

caminho melhor; que dirigiu para mim em dias de chuva forte no trajeto Sorocaba/São

Bernardo do Campo; que encontrou a fórmula matemática para calcularmos juntos as

amostras quantitativas da pesquisa. Por tudo isso é que ela sempre me disse: “se fosse fácil,

todo mundo conseguia”. Não à toa dizem que por trás de todo homem

existe uma grande mulher.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Marques de Melo, por confiar no meu tema de pesquisa. É

uma honra ter como mentor intelectual a maior referência da Pesquisa na Área da Comunicação.

Um incansável sujeito de pesquisa, sempre à frente do seu tempo.

À Capes, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela viabilização da

Bolsa Taxa Multidisciplinar.

Ao amigo Prof. Dr. Osvando José de Morais, da UNESP de Bauru, que participou

constantemente desta caminhada com diálogo sempre construtivo em torno de reflexões que

me permitem ser um pesquisador instigante.

À Profa. Dra. Cicilia Peruzzo, que deu grande apoio em um momento de mudança na vida

profissional deste pesquisador além de contribuir com sugestões, questionamentos e debates

sempre demonstrando grande interesse pelo meu tema de pesquisa chegando inclusive a

proporcionar algumas correções de rota no exame de Qualificação.

À Profa. Dra. Marli dos Santos, que como coordenadora do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, sempre exerceu seu cargo com

profissionalismo, seriedade e doçura fazendo do PósCom um ambiente agradável. Grato

também pelas contribuições que deu a esta pesquisa na Qualificação.

Ao amigo Prof. Dr. Paulo Braz Clemencio Schettino, quando ainda entre nós, dialogamos sobre

a pesquisa com apontamentos e sugestões de bibliografia.

À Kátia Bizan e Anadelia Davanso Ricci, ex-secretárias do Pós-Com, e a atual secretária, Gisele

Nicolosi, que sempre demonstraram deferência em minhas solicitações.

Ao Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias, coordenador do Pós-Com Metodista.

À Profa. Dra. Adriana Barroso de Azevedo, do Programa de Pós-Graduação em Educação, por

acolher a face interdisciplinar desta pesquisa.

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Aos professores doutores Maximiliano Martin Vicente; Lúcia Santaella; Ana Claudia Mei e

Ciro Marcondes Filho por responderem ao questionário e contribuírem com a pesquisa.

À Profa. Dra. Esther Império Hamburger, coordenadora de Ciências Humanas Sociais II da

FAPESP, que gentilmente dispôs de seu tempo para me atender em um anoitecer de outubro

em sua sala da USP.

Às professoras Maria Cristina Gobbi e Sônia Jaconi, por aceitarem o convite de avaliadoras da

banca, trazendo contribuições essenciais para o aprimoramento do trabalho.

A todos os colegas do PósCom, com os quais troquei ideais sobre esta pesquisa.

Ao meu pai por adoção, Rogério de Moraes, um entusiasta e incentivador do meu interesse pela

vida acadêmica.

E à Vida por me permitir realizar este sonho que contou com muito esforço e viagens de

Sorocaba a São Bernardo do Campo em manhãs, tardes e noites sob sol, chuva, neblina e diante

de muito trânsito!

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“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que

acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas

incomparáveis”

Fernando Pessoa (1888-1935)

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GABRIOTI, Rodrigo. A FAPESP e a Ciência da Comunicação: Legitimação, Contribuição e

Construção da Área. 2018. 349f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Universidade Metodista

de São Paulo, São Bernardo do Campo.

RESUMO

O trabalho considera 912 projetos decorrentes de Bolsas de Estudos e Auxílios fomentados pela

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) entre 1992 e 2016 na Área

da Comunicação. A partir deles, se propõe uma construção taxionômica a fim de verificar suas

contribuições na legitimação do conhecimento tendo como horizonte uma agência de fomento.

Por meio da Biblioteca Virtual da FAPESP, estuda-se a produção existente. São duas as

principais estratégias metodológicas: com a Análise Quantitativa, as amostras foram coletadas

e divididas em sete categorias sobre as quais foi possível estabelecer as representatividades

percentuais que fornecem, por exemplo, tendências de estudo e relações acadêmicas

estabelecidas. Pela Análise de Conteúdo, relacionam-se os documentos analisados ao problema

levantado sobre o papel do fomento na construção taxionômica dos estudos em Comunicação

aplicando o método das inferências nas instâncias da emissão, mensagem, significação e meio

para o apontamento de índices e indicadores que representam dados gerais constituídos a partir

do universo de linhas de fomento. Demonstra-se que a pesquisa em Comunicação é atraente e

se centraliza na cidade de São Paulo apresentando sinais de modernização de objetos na

primeira passagem secular de seus estudos; é ainda detentora de um impasse conceitual

subjetivo e disciplinar; e precisa de uma metapesquisa como esta que considera a FAPESP para

refletir sobre o que se escreve e se produz nos Programas de Pós-Comunicação brasileiros como

tentativa de tirar os estudos da Área de sua força institucional para um pensamento autônomo,

legitimado e reconhecido.

Palavras-chave: Auxílios à Pesquisa. Comunicação. Bolsas de Estudo. FAPESP. Fomento.

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GABRIOTI, Rodrigo. La FAPESP y la Ciencia de la Comunicación: Legitimación, Contribuición y

Construcción del Área. 2018. 349f. Tesis (Doctorado en Comunicación Social) – Universidade

Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.

RESUMEN

El trabajo lleva en cuenta 912 proyectos oriundos de becas y auxílios por parte de la Fundación

de Amparo a la Pesquisa del Estado de San Pablo (FAPESP) de 1992 a 2016 en el Área de la

Comunicación. Tras ellos, se propone uma construcción taxonómica con el propósito de

verificar sus contribuciones para la legitimación del conocimiento teniendo como horizonte una

agencia de fomento. Por intermédio de la Biblioteca Virtual de FAPESP, se realiza el estudio

de la producción existente. Son dos las principales estrategias metodológicas: con el Análisis

Cuantitativo, los ejemplares han sido colectados y repartidos en siete categorías de las cuales

és posible establecer las representatividades percentuales que muestran, por ejemplo, las

tendencias del estudio y las relaciones académicas establecidas. Por el Análisis de Contenido,

relacionanse los documentos analisados al problema instituído acerca de la función del fomento

en la construcción taxónomica de los estudios en Comunicación les aplicando el método de las

inferencias en los modos de emisión, mensaje, significación y medio para que estos apunten

índices y indicadores que representan datos generales constituídos por las amuestras de líneas

de fomento. Demuéstrase que la investigación en Comunicación es atractiva y se centraliza en

la ciudad de San Pablo presentando señales de modernización de objetos en su primera

transposición de siglo en sus estudios; sigue en el compás de espera de un concepto subjetivo y

disciplinar; necesita de una autoinvestigación tal cual esta que lleva en consideración la

FAPESP de modo a reflexionar acerca de lo que se escribe y se produce en los Programas de

Posgrado brasileños como ejercício de sacar los estudios del Área de su fuerza institucional

para un pensamiento autónomo, legitimado y reconocido.

Palabras clave: Auxílios a la Investigación. Comunicación. Becas de Estudio. FAPESP.

Fomento.

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GABRIOTI, Rodrigo. FAPESP and Communication Science: Legitimation, Contribution and

Construction of the Area. 2018. 349f. Thesis (Doctorate in Communication Science) – Universidade

Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.

ABSTRACT

The work considers 912 projects derived from scholarships and research assistances supported

by Foundation for Research Support of São Paulo’s State (FAPESP) between 1992 and 2016

in the Communication Field. From them, we offer to do the taxonomy construction for check

your contributions to legitimate the knowledge having as horizon a development agency.

Through the FAPESP’s Virtual Library, we study the existing production. There are two main

methodological strategies: by the quantitative analysis, the samples were collected and divides

into seven categories on which it was possible to establish the percentages that provide, for

example, study tendencies and established academic relations. By the Content Analysis,

the analyzed documents are related to the problem raised on the role of fomentation in the

taxonomic construction of studies in Communication applying the method of inferences in the

instances of emission, message, signification and means for the indentation of indices and

indicators that represent general data constituted from of the universe of development lines.

Then, we show that the Communication Research is attractive and is centralized at São Paulo

city presenting modernization signs in your objects in the first secular passage of its studies; it

is still detaining a conceptual and disciplinary conceptual impasse; it needs a meta search like

this that considers FAPESP to think about what is writed and is produced at Brazilian

Communication’s Postgraduate as an attempt to remove the Field Studies from your

institutional strength for a n autonomous, legitimized and recognized thinking.

Key words: Research Assistances. Communication. Scholarships. FAPESP. Support.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Deputado Caio Prado Júnior ............................................................................ 120

FIGURA 2 – Artigo de José Reis à Folha da Manhã ............................................................ 123

FIGURA 3 – Governador Carvalho Pinto autoriza o funcionamento da FAPESP ............... 130

FIGURA 4 – Warwick Ken ................................................................................................... 131

FIGURA 5 – A primeira sede da FAPESP na USP ............................................................... 132

FIGURA 6 – Primeiro prédio próprio da FAPESP [...] ......................................................... 133

FIGURA 7 – Miguel Reale .................................................................................................... 136

FIGURA 8 – Sede atual da FAPESP [...] ............................................................................. 138

FIGURA 9 – Florestan Fernandes ........................................................................................ 140

FIGURA 10 – Celso Lafer ..................................................................................................... 148

FIGURA 11 – Inauguração do Auditório [...] ...................................................................... 150

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1

Resultados Avaliação Quadrienal CAPES – 2017 – Programas Acadêmicos..........................78

QUADRO 2

Bolsas no Brasil ..................................................................................................................... .155

QUADRO 3 Bolsas no Exterior ................................................................................................................ ..155

QUADRO 4

Auxílio à Pesquisa ................................................................................................................. .156

QUADRO 5

Distribuição das 299 Bolsas em Iniciação Científica.. .......................................................... .163

QUADRO 6 Distribuição das 250 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Universidades públicas..................164

QUADRO 7 Distribuição das 38 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Universidades Particulares...............164

QUADRO 8

Distribuição das 3 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Faculdades Particulares....................165

QUADRO 9

Distribuição Geográfica das Bolsas de Iniciação Cientifica .................................................. 165

QUADRO 10

Professores Orientadores na Iniciação Cientifica ................................................................... 167

QUADRO 11

Temas de Pesquisa: Modalidade Bolsas no Brasil ................................................................. 168

QUADRO 12

Temas de Pesquisa em Bolsas de Iniciação Científica ........................................................... 169

QUADRO 13

Metodologias na Iniciação Científica ..................................................................................... 170

QUADRO 14

Referências Bibliográficas na Iniciação Científica ................................................................ 171

QUADRO 15 Nacionalidade dos autores referenciados em Iniciação Científica ......................................... 171

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QUADRO 16 Distribuição das 145 Bolsas de Mestrado a Universidades Públicas ..................................... 178

QUADRO 17 Distribuição das 26 Bolsas de Mestrado a Universidades Particulares .................................. 178

QUADRO 18 Distribuição das 7 Bolsas de Mestrado a Faculdades Particulares ......................................... 178

QUADRO 19

Localidade das Pesquisas com Bolsas de Mestrado no Estado .............................................. 179

QUADRO 20 Temas de Pesquisa no Mestrado ............................................................................................. 180

QUADRO 21 Metodologias de Pesquisa no Mestrado ................................................................................. 180

QUADRO 22 Autores mais citados nas Pesquisas de Mestrado ................................................................... 181

QUADRO 23

Nacionalidade dos autores referenciados em Mestrado ......................................................... 182

QUADRO 24

Distribuição das 47 Bolsas de Doutorado em Universidades Públicas .................................. 185

QUADRO 25

Distribuição das 21 Bolsas de Doutorado em Universidades Particulares ............................. 186

QUADRO 26

Localidade das Pesquisas com Bolsas de Doutorado no Estado ............................................ 186

QUADRO 27

Temas de Pesquisa no Doutorado ........................................................................................... 187

QUADRO 28

Metodologias de Pesquisa no Doutorado ............................................................................... 188

QUADRO 29

Referências adotadas nas Pesquisas de Doutorado................................................................. 188

QUADRO 30

Nacionalidade dos autores referenciados em Doutorado ....................................................... 189

QUADRO 31

Distribuição das 38 Bolsas de Pós-Doutorado ....................................................................... 192

QUADRO 32

Supervisores de Pós-Doutorado.............................................................................................. 193

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QUADRO 33

Metodologias de Pós-Doutorado ............................................................................................ 194

QUADRO 34

Nacionalidade dos autores referenciados em Pós-Doutorado ................................................ 194

QUADRO 35

Distribuição das 14 Bolsas Exterior no Estágio Iniciação Científica ..................................... 201

QUADRO 36

Distribuição das 32 temas das 14 Pesquisas Estágio Iniciação Científica no Exterior........... 202

QUADRO 37 Nacionalidade dos autores referenciados em Bolsa Exterior Iniciação Científica.. ............... 203

QUADRO 38

Distribuição das 8 Bolsas Exterior em Mestrado para Universidades.................................... 203

QUADRO 39

Países das 8 Bolsas Exterior em Mestrado ............................................................................. 204

QUADRO 40

Países das 5 Bolsas Exterior em Doutorado ........................................................................... 205

QUADRO 41

Países das 7 Bolsas Exterior em Pós-Doutorado .................................................................... 206

QUADRO 42

Distribuição das 24 de Pesquisa Exterior para Universidades Públicas ................................. 208

QUADRO 43

Distribuição das 20 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades Particulares .............. ..208

QUADRO 44

Distribuição das 4 Bolsas de Pesquisa Exterior para Faculdades Particulares.......................208

QUADRO 45

Países das 48 Bolsas de Pesquisa Exterior ............................................................................. 209

QUADRO 46

Solicitação de Pesquisadores para Bolsa Pesquisa no Exterior .............................................. 210

QUADRO 47

Solicitação de Instituições a Auxílios Regulares de Pesquisa ................................................ 214

QUADRO 48

Localidade dos Auxílios Regulares no Estado ....................................................................... 215

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QUADRO 49

Autores citados nos Auxílios Regulares ................................................................................. 216

QUADRO 50

Solicitação de Instituições a Auxílio Publicação .................................................................... 220

QUADRO 51

Localidade do Auxílio Publicação no Estado ......................................................................... 222

QUADRO 52

Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades Públicas ...... 225

QUADRO 53

Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Univ. Particulares.. ............. 225

QUADRO 54

Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Faculdades Particulares ...... 225

QUADRO 55

País de Origem dos Pesquisadores Visitantes ........................................................................ 226

QUADRO 56

Temas de Pesquisa Auxílio Pesquisador Visitante ................................................................. 227

QUADRO 57

Bolsas FAPESP no Brasil ....................................................................................................... 229

QUADRO 58

Inferências no cenário de Bolsas e Auxílios à Pesquisa ......................................................... 242

QUADRO 59

Inferências no cenário da Biblioteca Virtual da FAPESP ...................................................... 248

QUADRO 60

Auxílios à Pesquisa da CHS II (1997-2017) .......................................................................... 281

QUADRO 61

Bolsas no Brasil da CHS II (1992-2017) ................................................................................ 282

QUADRO 62

Bolsas no Exterior da CHS II (1992-2017) ............................................................................ 282

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 19

CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES ................................................... 38

1.1 Meios de Comunicação .......................................................................................................... 48

1.2 A Comunicação na dimensão da Pesquisa: origens institucionais ..................................... 56

1.3 O papel institucional da América Latina ............................................................................. 65

1.4 Os emaranhados da Comunicação para sua consolidação de Pesquisa: as noções de

campo e interdisciplinaridade ........................................................................................................ 81

1.5 Noções de Ciência ................................................................................................................... 91

1.6 A pesquisa em Comunicação e o discurso das teorias ......................................................... 99

CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO

DE CONSTRUÇÃO DA ÁREA ....................................................................................................... 108

2.1 FAPESP: o investimento estatal à custa de ideologias políticas ...................................... 117

2.2 Sim, nós temos FAPESP! .................................................................................................... 128

2.3 Um Novo Ciclo (1969-1983) ................................................................................................. 135

2.4 Constituinte, Globalização e Modernidade ........................................................................ 138

2.5 Ampliando os Horizontes do Conhecimento ...................................................................... 144

2.5.1 A FAPESP hoje ................................................................................................................ 146

CAPÍTULO III – INDICADORES E INFERÊNCIAS: 25 ANOS DE PESQUISAS EM

COMUNICAÇÃO COM APOIO FAPESP .................................................................................... 153

3.1 Bolsas no Brasil: Iniciação Científica ................................................................................ 156

3.1.1 Mapeamento das pesquisas em Iniciação Científica (1992-2016) .................................. 162

3.2 Bolsas de Mestrado............................................................................................................... 172

3.2.1 Mapeamento das pesquisas de Mestrado (1992-2016) .................................................... 175

3.3 Bolsas de Doutorado............................................................................................................. 183

3.3.1 Bolsas de Doutorado Direto ............................................................................................ 184

3.3.2 Mapeamento das pesquisas de Doutorado e Doutorado Direto (1993-2016).......185

3.4 Bolsas de Pós-Doutorado ..................................................................................................... 190

3.4.1 Mapeamento das pesquisas de Pós-Doutorado (1998-2016)........................................... 192

3.5 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no

Brasil ..............................................................................................................................................195

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3.6 Bolsas no Exterior .............................................................................................................. 197

3.6.1 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Iniciação Científica (2012-2016) ........... 200

3.6.2 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Mestrado (2013-2016) ........................... 203

3.6.3 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Doutorado (2012-2015) ......................... 205

3.6.4 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Pós-Doutorado (2012-2016) .................. 206

3.6.5 Mapeamento de Bolsa Estágio Pesquisa (1996-2016) ..................................................... 207

3.6.6 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no

Exterior ........................................................................................................................................ 211

3.7 Auxílio à Pesquisa - Regular .............................................................................................. 212

3.7.1 Mapeamento de Auxílio à Pesquisa Regular (1993-2016) ............................................... 214

3.8 Auxílio à Pesquisa – Publicações ........................................................................................ 217

3.8.1 Mapeamento de Auxílio Publicações (1993-2016) ......................................................... 220

3.9 Auxílio Pesquisador Visitante ............................................................................................. 222

3.9.1 Mapeamento de Auxílio Pesquisador Visitante (1994-2016) .......................................... 224

3.10 A produção de Indicadores e Inferências ......................................................................... 227

CAPÍTULO IV – LIDERANÇAS DO FOMENTO E COMUNICAÇÃO: CAMINHOS

POSSÍVEIS ........................................................................................................................................ 251

4.1 As atividades de Lúcia Santaella ......................................................................................... 260

4.2 As atividades de Ciro Marcondes Filho ............................................................................. 268

4.3 As atividades de Ana Claudia Mei ...................................................................................... 273

4.4 Esther Império Hamburger: O Olhar da FAPESP .......................................................... 279

4.5 A construção de caminhos possíveis ................................................................................... 285

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 289

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 301

ANEXOS ............................................................................................................................................ 309

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INTRODUÇÃO

Construir uma Taxionomia para a Comunicação a partir das pesquisas que receberam

aval científico e apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP), entre 1992 e 2016, é possível quando nos propomos a considerar que um banco de

dados supera a noção de conjunto de meras informações estatísticas que venham a ser utilizadas

somente como indicadoras de produtividade. Elas podem ser um ponto de partida para a

sistematização de dados capazes de ajudar a entender a História da Comunicação sem que esta

se traduza apenas por gráficos e ações de uma superficial linha do tempo. Esta pesquisa

apresenta um panorama sobre a produção científica na Área da Comunicação considerando

pesquisas financiadas por uma das principais agências de fomento do Brasil e do Mundo.

Conceitualmente, a Comunicação é dilacerada em função da elevada concentração de

temas fragmentados que epistemologicamente partem de uma mesma raiz, mas que

taxionomicamente, não são consideradas. Foram várias as vezes que ao longo da manipulação

dos dados, em meses de trabalho, encontraram-se múltiplas “frentes” sobre Comunicação com

“especializações” que tergiversam sobre o Digital, o Organizacional, a Televisiva, a

Jornalística, a Interpessoal, etc.… como se tais decorrências fossem territórios próprios de

conhecimento sem um ponto de convergência para um conceito central que pode vir a se

desdobrar em inúmeras possibilidades e demonstrações que dão uma noção a respeito do

pluralismo temático da Área.

Paradoxalmente sofrendo um impasse conceitual entre os pares, a Comunicação incorre

em processos humanos de troca, em relações mediáticas e também em questionamentos que se

validam em problemas de pesquisa. Esse conjunto permite tratar algumas vertentes. As mais

plausíveis são a noção de campo, em Pierre Bourdieu (2004), que acredita na presença de

integrantes posicionados em um território sobre o qual se busca autoridade ainda que por meio

de lutas simbólicas; a Ciência, vista como algo difícil, pelo fato de os fenômenos

comunicacionais ocorrerem por meio de objetos que agregam olhares particulares e diversos.

Contrários a exemplos de ciências legitimamente estabelecidas, os processos comunicacionais

não estão sob a mira de um microscópio, ou seja, são de uma natureza que pouco apresenta

objetos concretos para análise. Por isso, exigem perspectivas diferentes que muitas vezes

convergem para uma questão muito presente na Área: a interdisciplinaridade. Um risco

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assumido que se dilui apenas se a valorização do saber residir na Área de conhecimento

principal, no caso, a Comunicação como matriz de pensamento diante do entrecruzamento de

saberes. Inclusive esta pesquisa se realiza na dimensão interdisciplinar quando se subvenciona

pela Bolsa Taxa da CAPES. Seu objeto de estudo está inserido em dois Programas de Pós-

Graduação da Universidade Metodista de São Paulo: Comunicação e Educação. O resultado

dessa interdisciplinaridade, para ambas as Áreas, se dá a partir de um processo pedagógico que

valoriza a prática da pesquisa na dimensão educacional do fomento como exercício pleno da

busca de procedimentos científicos rigorosos academicamente seguidos. Práticas assim

contribuem ao conceito de complexidade, proposto por Edgar Morin (2010). Sabe-se que ainda

falta à Área aquilo que se encontra obscuro, no caso, um conceito para a Comunicação, aqui

viabilizado e tentado por uma construção educacional.

Essa tentativa de resposta parte de suposições e pretensões que saem do plano hipotético

para o plano objetivo permeado pelo trabalho de pesquisa. E quando há incentivo para isso,

pode-se dizer em facilitadores, caso da FAPESP, uma entidade consolidada que surgiu como

fruto de embates políticos em defesa da produção do conhecimento que, de forma até

surpreendente, não é tão tangível como se pensa. Comprova-se isto pela entrevista1 com a

coordenadora de Ciências Humanas e Sociais II da Fundação. A professora e pesquisadora Dra.

Esther Império Hamburger revelou que tão logo as demandas iniciais de um projeto seguem às

instâncias superiores, para análise do fomento, não se há mais controle do fluxo do

conhecimento. Isto incentiva ainda mais este trabalho em apresentar, não apenas ao meio

acadêmico e à sociedade, mas, em especial, à diretoria científica e coordenação de Área da

Fundação – resultados efetivos para uma construção pedagógica que venha perpassar as

questões financeiras e burocráticas dos relatórios em face dos ganhos científicos que justificam

a via de mão dupla do fomento.

Embora esta condição seja de difícil dissociação, não pela questão de processo da busca

por um fomento no que tange pesquisadores e a entidade, mas sim, pela condição estrutural que

o Brasil do século XXI atravessa com suas crises político-econômica e de valores morais. O

retrocesso do país como resultado de gastos públicos abusivos, da má gestão política que leva

à desesperança e de um comportamento social complicado atingiu, não em cheio, mas em

partes, o sustento das pesquisas no estado de São Paulo custeadas pela FAPESP. Um novo

momento, como foi na Ditadura, pode levar à repetição do movimento da nova evasão de

1 Concedida ao autor no dia 10 de outubro de 2017, em São Paulo.

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cérebros, que se ocupam em fazer pesquisa neste Estado, independentemente da Área de

Conhecimento em que atuam.

No limiar entre o que a Fundação oferece e os pesquisadores almejam, existe um choque

entre Ciência e Gestão. Na Lei Orçamentária de 2017 do Estado de São Paulo, que orça a receita

e fixa a despesa do Estado para o ano estimando o quanto vai ser arrecadado para agir em

algumas frentes de políticas públicas, houve tentativa de redução do repasse financeiro feito à

FAPESP, identificada na Lei como Unidade 10.047 da Secretaria Estadual de

Desenvolvimento, Economia, Ciência e Tecnologia e Inovação. Essa intenção de redução do

repasse não se concretizou por conta do preceito constitucional de arrecadação politicamente

conquistada no passado e também pela mobilização dos cientistas, junto à opinião pública, com

repercussões na imprensa, em especial, nas reportagens dos dois grandes jornais da cidade de

São Paulo, Folha e Estadão. Sem contar outras manifestações, de cunho institucional, por parte

de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em sua natureza taxionômica, a FAPESP assume que todo trabalho, submetido a ela, é

científico. Suas modalidades de apoio foram crescendo ao longo do tempo desde as bolsas de

estudo dos anos de 1960, os projetos temáticos da década de 1990, os eventos de

internacionalização como FAPESP Week, as pesquisas com a Internet até a divulgação

científica por meio da Agência FAPESP e a Biblioteca Virtual, base documental que possibilita

realizar a presente pesquisa por reunir projetos financiados, a partir de 1992, quando houve a

primeira inclusão de informações nesse sistema de dados2. Por tudo isso, pode-se dizer que

existe uma premissa que sinaliza à Comunicação a possibilidade de encontrar o seu lugar frente

ao seu complexo (em sentido obscuro) impasse conceitual.

Relacionar a FAPESP aos estudos em Comunicação é apostar em um dos primeiros

sintomas notáveis e bem claros da Área, que é o peso das instituições na validação da pesquisa

científica. No caso em questão, existe uma subcategorização epistemológica constituída pela

própria instituição que reparte a temática das pesquisas em Teoria da Comunicação; Jornalismo

e Editoração; Rádio e Televisão; Relações Públicas e Propaganda e Comunicação Visual.

Assim, cada vez que uma demanda de projeto dá entrada na Fundação, em tese, ela precisa estar

relacionada e ser direcionada a uma dessas Subáreas, embora seja possível identificar ao longo

da execução do levantamento documental, que nem sempre essa relação faz sentido quanto ao

2 Em 2018, ano de encerramento da pesquisa, em nova visita à Biblioteca Virtual da FAPESP (www.fapesp. br/bv),

encontramos incluídos os dados de pesquisas, desde o início dos apoios, porém sem a organização siste-mática do

período de nossas amostras.

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enquadramento de natureza do objeto de pesquisa. Um estudo, por exemplo, inserido na

Subárea Teoria da Comunicação não quer dizer que, do ponto de vista da sua realização, esteja

tratando genuinamente “de” ou “sobre” teorias. Essa é uma prática que coincide com o que

Muniz Sodré (2014) considera repartição metodológica dentro de um campo de conhecimento

ao entender que tal divisão apresenta uma tendência de feudalização dos territórios de pesquisa

constituída pelas agências que tentam burocraticamente traçar perfis epistemológicos para o

campo. Pelo fato dessa repartição metodológica não fazer sentido ao propósito deste estudo,

que é de natureza taxionômica e não epistemológica, a opção foi excluir esse tipo de informação

porque não se verificam as produções de um eixo específico de processo comunicacional. Uma

distribuição como essa, em formato estanque, proporciona uma pseudo organização de

afinidade temática, que se torna paradigmática a ponto de atrapalhar qualquer avanço do

pensamento complexo sobre a Comunicação. Quando tal prática se realiza de forma automática,

o princípio de organicidade se atém ao que é recorrente e a Área perde, ao mesmo tempo, a

chance de se revisitar como condição histórica e de se abrir às novas demandas exigidas, em

especial, àquelas impulsionadas pela digitalização como materialidade da tecnologia

contemporânea.

Estudar essas produções acadêmicas, a fim de verificar suas contribuições na

legitimação do conhecimento tendo como horizonte uma agência de fomento, representa que,

institucionalmente, a FAPESP é uma das possíveis fontes legitimadoras do saber

comunicacional. Outro fator considerado é sua presença em um polo importante de pesquisa do

país – o estado de São Paulo – justificado pelos Dados Quantitativos de Programas

Recomendados da CAPES disponíveis em seu site com base na Plataforma Sucupira3. Dos 55

Programas de Pós-Graduação em Comunicação, no Brasil, São Paulo detém 15 deles. Assim

responde por 27,27% da Pós-Graduação da Área no país. Considerando todas as regiões

brasileiras, existem 48 cursos de Mestrado Acadêmico, 25 cursos de Doutorado e 7 cursos de

Mestrado Profissional sendo que, no território paulista, são 13 cursos de Mestrado Acadêmico

(27,08%), 10 de Doutorado (40%) e 2 de Mestrado Profissionalizante (28,57%) reconhecidos e

recomendados pela CAPES. Ao mesmo tempo em que apontam uma tendência para discutir as

práticas profissionais em Programas que visam a especialização da capacitação profissional, os

números comprovam um domínio da produção cientifica em São Paulo incitando à ampliação

e propensão desta e outras pesquisas compilarem e analisarem os dados da Área em outros

3 Ver os dados completos dos cursos reconhecidos e recomendados em https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/

public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoIes.jsf?areaAvaliacao=31&areaConhecimento=60900

008.

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estratos geográficos do Brasil, como por exemplo, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Paraná e Rio Grande do Sul, que contam com Fundações de natureza semelhante à FAPESP. É

nesse sentido que o professor José Marques de Melo (2015) afirma que São Paulo figura como

polo dinamizador desse novo campo do saber com validade em todo o território nacional. Tal

assertiva talvez se explique pelo êxodo de muita gente (não seria diferente entre pesquisadores)

para a maior capital brasileira onde simbolicamente se fortalece a ideia de realização da busca

pelo sonho na cidade grande. Tal analogia parece pertinente, uma vez que o berço dos estudos

em Comunicação, no Brasil, nos anos 1960, fora o Recife com a criação do Instituto de Ciências

da Informação (ICINFORM) pelo primeiro doutor da Área: Luiz Beltrão4. Embora a metrópole

São Paulo tenha sua importância, como potência nacional e internacional, não se pode pensar,

neste exercício de metapesquisa, de forma bairrista haja vista que em outros espaços do Brasil

também se faz pesquisa de qualidade com temáticas que, de modo geral, formam realidades e

perfazem a grande diversidade cultural e comunicacional, existente no país, e que não

necessariamente recebem fomento para isso.

Na FAPESP, todo o financiamento a pesquisadores deriva do dinheiro público. A

quantia investida atualmente é elevada – considerando sua evolução histórica – embora a

década 2011-2020 represente um período de cortes e reduções de investimentos em face da já

mencionada crise político-econômica, desencadeada no Brasil na segunda década do século

XXI, colocando em xeque a ciência no país com cortes de bolsas, atrasos em pagamentos,

laboratórios sucateados e pesquisadores de mãos atadas em seus trabalhos por falta de verbas.

Este fator, somado à ampliação dos cursos de Pós-Graduação, é conjuntural e estrutural,

inclusive, reconhecido por pesquisadores experientes, que entre tantas missões cotidianas, têm

o compromisso de formar novos pesquisadores. Quando realizadas as entrevistas – técnica

utilizada e que será explicada mais adiante – com as lideranças do fomento, a Professora Dra.

Lúcia Santaella, da PUC-SP, reconheceu uma dessas condições, principalmente, pela variedade

de cursos oferecidos. Ela entende que quando a demanda aumenta, ou seja, tem mais gente

pedindo, e a oferta não segue o mesmo ritmo, isto é, as agências não viabilizam bolsas, é natural

haver cortes, principalmente, nos níveis iniciais onde estão a Iniciação Científica e o Mestrado.

No caso da FAPESP, esse ponto de vista se contraria porque ambas as etapas de formação

correspondem aos tipos de fomento que representam, dentro do período analisado, a maior fatia

4 Sua bibliografia completa pode ser vista em http://portal.metodista.br/mutirao-do-brasileirismo/cartografia/

verbetes/america-do-sul/luiz-beltrao .

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de solicitações. Demonstração de que a Área se mantém atrativa e interessante para a realização

de pesquisas.

O site da FAPESP, em sua seção Estatísticas e Balanços, disponibiliza todos os

investimentos realizados ao longo dos tempos. Analisados os anos de 2016 e de 2017, entre

bolsas de estudo e os auxílios à pesquisa, o investimento nas Bolsas do Brasil foi de R$

69.933.056,14 (6,48%). Já para as Bolsas no Exterior, o dinheiro empregado totalizou R$

8.145.557,47 (0,75%). Para os estágios de pesquisa no exterior, o montante foi de R$

36.761.955,88 (3,44%). E os auxílios à pesquisa receberam R$ 213,647.149,59 (19,78%). Em

2016, foram investidos R$ 85.267.060,09 em bolsas de estudo no Brasil. Montante que

representa 7,78% do investimento da FAPESP em todo tipo de pesquisa. Já para a viabilização

de bolsas no exterior, foram gastos R$ 9.727.801,48, o correspondente a 0,89% do investimento

da FAPESP. No estágio de pesquisa fora do Brasil, foram aplicados R$ 30.496.077,40 que

representam 2,79%. Nos auxílios à pesquisa, foram R$ 261.832.206,67. Esse montante equivale

a 23,92% do investimento da FAPESP nessas modalidades de fomento5. Na comparação,

somente o Estágio de Pesquisa no Exterior obteve crescimento. Os outros fomentos tiveram

redução de investimento.

Sem dados específicos, a Comunicação se incorpora ao conjunto de saberes das Ciências

Humanas e Sociais. O Relatório de Atividades 2016 da FAPESP faz a ressalva sobre um ano

difícil em função da queda na arrecadação de receitas, a base de onde se extrai o valor

constitucional de repasse fixado à Fundação. Apesar disso, o documento, elaborado pela

FAPESP, destaca que a agência contratou novas propostas de pesquisa e incrementou os aportes

em áreas estratégicas. Foi arrecadado R$ 1,344 bilhão, o que representa perda nominal de 0,4%

e perda real de 6%. Durante todo o ano de 2016, foram fomentados 24.685 projetos. Mesmo

com a crise, os valores das bolsas foram reajustados em 11%, percentual considerado positivo

pelos dirigentes que apontam para um equilíbrio, uma vez que as bolsas no Brasil cresceram

7% e tiveram o mesmo índice, só que com traço negativo no Exterior. Os Auxílios Regulares

tiveram retração com 3% a menos de contratações e 9% a menos de desembolso. Houve cortes

pontuais como, por exemplo, a organização de reuniões científicas, modalidade a qual os

pesquisadores pedem financiamento para participar de Seminários, Congressos e outros eventos

de natureza similar.

5 Em http://www.fapesp.br/10841, é possível ter acesso aos investimentos da FAPESP desde o seu ano de Fun-

dação (1962).

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A Área de Ciências Humanas e Sociais foi a quinta colocada nos investimentos da

FAPESP em 20166. Com 9,4% de projetos apoiados, teve liberados R$ 106,5 milhões com

1.787 novos projetos contratados e 4.047 projetos vigentes. Fica atrás das Áreas da Saúde,

Interdisciplinar, Biologia e Engenharia. Para se ter uma ideia, tem mais projetos contratados e

vigentes do que as três anteriores a ela no ranking de investimentos. É verdade que carrega

alguns índices positivos quando se analisam as bolsas e auxílios. Em 2016, ficou em segundo

lugar na contratação de bolsas com investimento da ordem de 80 milhões de Reais dentro do

Brasil. Para os estudos no exterior, assumiu a dianteira com a liderança em Iniciação Cientifica

e Mestrado, embora isto possa representar hipoteticamente um sinal da crise estrutural do

financiamento da Ciência brasileira despertando assim uma tentativa de experimentar o exterior

para posterior transferência de carreira. Seria uma estratégia para uma nova evasão de cérebros?

Embora a questão financeira seja de interesse maior ao bom andamento da FAPESP,

como instituição, aos pesquisadores, o interesse está realmente em saber como a Área vem

sendo discutida e construída através do fomento. Neste sentido, é que este estudo propõe a

Taxionomia construída a partir das pesquisas apoiadas pela FAPESP e que fazem parte do

recorte analisado, na base de dados da Biblioteca Virtual, no período correspondente de 1992 a

2016. Trata-se de uma apropriação dessas amostras a fim de inseri-las em um sentido de

sistematização do conhecimento produzido sinalizando as tendências dos estudos realizados

pelos pesquisadores.

Essa construção de sentido permeia a noção de Taxionomia que se aproxima muito de

nossa Área no que tange sua organização. Segundo Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010),

não há definições ou aplicações precisas sobre o conceito que, a partir de consultas

bibliográficas, se constroi e se legitima como ferramenta ou processo com origens, usos e

funções diferenciados. A etimologia de taxionomia vem do grego taxis (ordem) e nomos

(norma), o que já precede sua perspectiva de um modo de organização estruturado a categorias,

independentemente da Área do conhecimento, embora suas origens venham da Biologia com a

publicação da obra Systema Naturae7, em 1735, pelo cientista e médico sueco Karl Von Linné.

Entretanto, como lembra Vickery (1980) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), essas

origens no âmbito da botânica, da zoologia e da paleontologia se tornaram chave no trabalho

contemporâneo dos investigadores das ciências naturais e sociais, ou seja, toda forma de

conhecimento pode ser agrupada e organizada. E é esta a nossa proposta quando, diante de 912

6 Até o fechamento da tese, o último Relatório divulgado pela FAPESP foi o de 2016. 7 O livro estabelece a classificação hierárquica das espécies.

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pesquisas analisadas em Bolsas de Estudo no Brasil, Bolsas de Estudo no Exterior, Auxílio

Regular à Pesquisa, Auxílio Publicação e Auxílio Pesquisador Visitante, escolhemos a partir

das classificações epistemológicas da própria FAPESP, e suas variadas formas de apoio, os

dados que servem para trabalhar a Taxionomia da Comunicação à luz dessas amostras e no

horizonte de uma agência de fomento.

Partimos das amostras submetendo-as a classificações, por nós estipuladas, para mapear

através das pesquisas, os temas abordados, as instituições onde se realizam as pesquisas, os

procedimentos metodológicos adotados e as referências bibliográficas consultadas. De modo

geral, manuseamos documentos com informações através das quais se construíram indicadores

e inferências atendendo à nossa proposta metodológica da Análise de Conteúdo. É na

perspectiva prática de nosso objeto de pesquisa que Edols (2001) in Aganette, Alvarenga e

Rocha Souza (2010) relaciona os ambientes digitais com as formas automatizadas de criação

da informação, estabelecendo assim, a relação da Taxionomia como um foco de estudos das

Ciências da Informação, o que delibera em nosso entendimento, uma estreita ligação com a

Comunicação, afinal, os dados são manipulados para a produção de conhecimento a ser

compartilhado, além, de coincidir com a visão de Edols (2001) de que a taxionomia se torna

uma importante ferramenta de entendimento sobre como uma área de conhecimento é

organizada, se relaciona e interage com as outras. É neste princípio que trazemos o panorama

da Área da Comunicação por meio do apoio FAPESP. Fatores estes que, segundo Terra (2004)

in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), representam conceitos através de termos;

melhoram a comunicação entre especialistas e outros públicos; controlam a diversificação e

mapeiam o processo de conhecimento. Tal conceito, aplicado à nossa pesquisa, demonstra que

é possível identificar o que se está produzindo, em que lugar e de que forma seguindo o

exercício que burila os dados inseridos, em um sistema digital, como o da Biblioteca Virtual.

Mais do que possibilitar consultas, o que fazemos com esta pesquisa, é oferecer os passos

percorrido entre 1992 e 2016 para a construção da Área da Comunicação.

Ainda nos estudos sobre Taxionomia, há propostas de classificações, como as feitas por

Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), autores que se propuseram a estudar os elementos

constitutivos do conceito taxionômico. Entre as classificações apresentadas, assemelham-se à

nossa investigação, a Taxionomia Descritiva e a Taxionomia Corporativa. Pela primeira,

entende-se a constituição de vocabulários controlados, a partir de tesauros, adicionando a eles

diversos tipos de palavras, ortografias, formas e dialetos falantes para que o usuário tenha maior

liberdade na hora de buscar um assunto. Foi nessa perspectiva do descritivo que produzimos as

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categorias Instituições; Pesquisadores; Temas de Pesquisa; Metodologias; Referências

Bibliográficas; Pesquisadores Estrangeiros e Países-sede para demonstrar as tendências e

perspectivas das pesquisas fomentadas. Por outro lado, a Taxionomia Corporativa é, no

entendimento de Woods (2004) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), a hierarquia das

categorias utilizadas para classificar documentos e outras informações dentro de uma

representação da organização. É o que identificamos, na Biblioteca Virtual da FAPESP, onde

é possível acessar as modalidades de fomento de acordo com os resultados refinados a partir de

pontos de partida predeterminados pela instituição. Pelo que a Biblioteca Virtual oferece em

termos de resultado – ainda que sem o estabelecimento de um princípio taxionômico –

acompanha a ideia de Conway (et al, 2002) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010) de

que as taxonomias corporativas podem criar uma importante ferramenta de gerenciamento do

capital intelectual da mesma, uma variável que se apresenta despercebida pela FAPESP e que

pode ter uma alternativa, a partir das mensurações que esta pesquisa realizou, e que pode vir a

suprir essa suposta falta de gerenciamento do capital intelectual, que se torna instrumental e

organizado, a partir da classificação de elementos de variada natureza fazendo da taxionomia a

representação de conhecimentos existentes que formam um Universo de Documentos como

definem Campos e Gomes (2007). Os autores reforçam esse caráter organizacional da

taxionomia diante de um contexto. No caso das pesquisas recuperadas, na Biblioteca Virtual,

nos propusemos a instrumentalizar e organizar o conhecimento, tendo como referência os

dados, para encontrar um sentido que construa e legitime a Área da Comunicação a partir da

contribuição da FAPESP. Este, inclusive, é o sentido do título dado a esta pesquisa. Para isto,

é preciso considerar, segundo os autores, qual problema a taxonomia está tentando responder e

qual é o volume de informação agregada. Dizem eles (2007) que “a captura do conhecimento é

uma etapa de elaboração da taxonomia em que o objetivo é o levantamento dos assuntos que

deverão ser acomodados numa estrutura classificatória, servindo como ponto de acesso à

informação”. Para se alcançar isto, eles apontam quatro fases principais que envolvem: (1)

captura do conhecimento; (2) análise dos documentos e informações; (3) elaboração da

estrutura classificatória; (4) validação.

Para a captura do conhecimento, mapeamos todo repertório documental de apoios e

chegamos às 912 pesquisas apoiadas em Bolsas de Estudo no Brasil, Bolsas de Estudo no

Exterior, Auxílios Regulares à Pesquisa, Auxílio Publicação e Auxílio Pesquisador Visitante.

Também entrevistamos, seguindo o critério numérico, os pesquisadores que mais conseguiram

fomentos nas Bolsas do Brasil e Auxílio Pesquisador Visitante, bem como, a diretora da Área

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de CHS II da FAPESP, Professora Dra. Esther Imperio Hamburger. Pela segunda etapa

proposta, analisamos os resumos de pesquisa e extraímos os dados necessários, de acordo com

as categorias que estabelecemos, para a construção do mapeamento que atende as perspectivas

e tendências dos projetos financiados. A terceira etapa gerou os sete indicadores aplicados a

cada tipo de fomento dentro do recorte da amostra. E por fim, para a validação, produziram-se

indicadores e inferências, constituídos a partir de resultados quantitativos, e a aplicação da

análise de conteúdo. Ações que representam a organização dos conceitos levantados para

estabelecer uma sequência de níveis de análise que faz parte da estruturação taxionômica, como

apregoam Campos e Gomes (2007). Os autores, inclusive, valorizam nesse processo, a

representação de diversos aspectos como fenômenos e objetos ocorridos em um campo de saber.

No percurso inicial, a intenção era já mergulhar sobre as pesquisas fomentadas nos

primeiros anos de funcionamento da Fundação, na década de 1960, chegando até elas por meio

do acesso, em mãos, dos relatórios científicos finais dos pesquisadores para se fazer um resgate

histórico mais completo do apoio às pesquisas em Comunicação. Depois de várias consultas,

isto não foi permitido em função do rígido controle de confidencialidade dos pareceristas que

julgam os projetos de pesquisa pleiteados. Essa afirmação, que na verdade inicialmente se tratou

de uma negativa, pode ser feita depois de quatro tentativas de viabilizar o acesso solicitando tal

demanda à Coordenação anterior de Área de Ciências Humanas e Sociais (CHS II) e à diretoria

científica. Ambos os representantes que ocupam tais funções na Fundação, atenderam à

solicitação com gentileza, rapidez e respeito acadêmico nas tratativas via e-mail. Diante desse

cenário, o recurso técnico adotado, para a constituição de nosso objeto, foi o da base documental

que agregasse as pesquisas chanceladas pela Fundação na Biblioteca Virtual8, o centro de

documentação e informação da FAPESP que reúne os dados sobre projetos que conseguiram

fomento nas mais diversas modalidades.

De acordo com sua página, hospedada no site da Fundação, a Biblioteca foi criada em

2004 e inaugurada em 2005 com os objetivos de tornar públicos os projetos financiados,

divulgar as áreas temáticas e disseminar a memória institucional da FAPESP. Em sua

navegabilidade, permite acessar outras informações como produções resultantes dos auxílios e

bolsas, convênios, acordos de cooperação, mapas, gráficos e a própria Tabela de Áreas do

conhecimento. No período de 2005 a 2009, os dados foram inseridos e editados manualmente

por uma equipe técnica sendo que a partir de 2010 passou a ter migração automática dos dados

8 O Relatório de Atividades 2016 da FAPESP revelou que a Biblioteca Virtual conta entre 1992 e 2016 com

118.583 Bolsas no Brasil; 9.392 Bolsas no Exterior e 90.393 Auxílios à Pesquisa cadastrados.

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das Bases Agilis e SAGE. Em poucos casos, há falta de informação e isto pode decorrer do

processo manual de alimentação de dados. De acordo com o site, de 1º de março de 2016 a 25

de fevereiro de 2017, foram 3.807.652 acessos.

Na Área da Comunicação, as pesquisas que serviram de base documental para este

trabalho datam a partir de 1992 fechando esse recorte de tempo em 2016. O período inicial,

1992, é porque este é o primeiro ano de registro de pesquisas na Biblioteca Virtual. Já, 2016,

foi escolhido porque era o último ano de pesquisas financiadas e que seriam concluídas antes

do encerramento de nossa pesquisa, no primeiro bimestre de 2018. O ano de 2017 foi

desconsiderado para que não tivéssemos nenhuma pesquisa que se encontraria em andamento,

pois, nenhum projeto se fecharia nesse ano. Entretanto, essas pesquisas podem, e seguramente

vão, se tornar objeto para estudos futuros que tragam novas problematizações a partir deste

panorama estabelecido. Pela base de dados da Biblioteca Virtual da FAPESP, foi possível

realizar um mapeamento de estudos a partir dos quais fossem identificados momentuns de

investigação, problematizados nas mais diversas etapas de formação dos pesquisadores e que

tenham deixado contribuições e indicativos para dar um norte ao que se produz em

Comunicação sob a perspectiva de uma agência de fomento. Este desejo se juntou à premissa

teórica de Jacques Le Goff (1990) quando diz que a memória é um elemento social que forma

a entidade. Assim, ir além dos simples dados, possibilitaria sinalizar tendências da

Comunicação a partir dos fomentos da FAPESP em um quarto de século de atividades

registradas digitalmente.

Constrói-se, assim, o objeto de pesquisa que tem lançado sobre si a seguinte pergunta

de pesquisa: independentemente do impasse conceitual experimentado e mal resolvido, quando

se consideram esses 25 anos de pesquisas de Iniciação Cientifica, Mestrado, Doutorado,

Doutorado Direto e Pós-Doutorado com bolsas de estudo, no Brasil e no Exterior, mais os

auxílios regulares à pesquisa, auxílios para pesquisador visitante e auxílio publicações nas

mesmas instâncias categóricas, quais tendências e perspectivas podem ser atribuídas à

construção da natureza taxionômica dos estudos em Comunicação?

Essa questão se justifica pelo objetivo geral deste trabalho em estudar a produção

existente demonstrando que, por trás do banco de dados da Biblioteca Virtual da FAPESP, mais

do que a construção da memória, existem tendências taxionômicas a partir dos estudos em

Comunicação que dão representatividade às Ciências Sociais por meio da contribuição das

pesquisas científicas, que ali estão, sob avaliação de pareceristas do corpo técnico-científico da

Fundação. Apesar disto, percebe-se como ainda pouco se investe na Área, característica

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peculiar que fez o professor José Marques de Melo (2011) declarar em reportagem da Revista

Pesquisa FAPESP 201, intitulada A Prima Pobre das Ciências Sociais, o pouco prestígio das

pesquisas em Comunicação nessa perspectiva de investimento. Se nomes como o do

proeminente professor, importante figura agregadora e ativa para a institucionalização da

Comunicação como espaço de pesquisa, consideram ínfimo o investimento, há quem pense o

contrário. Foi o caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que em abril de 2016, teve

repercutida na grande imprensa sua declaração de que a FAPESP vive em uma bolha acadêmica

desconectada da realidade financiando estudos sem serventia prática uma vez que incentiva as

pesquisas de Sociologia9. O comentário do governador logo desencadeou uma resposta da

Fundação10.

Analisar o que os pesquisadores que buscaram financiamento produziram em 912

projetos distribuídos em bolsas de estudo para Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado,

Doutorado Direto e Pós-Doutorado, no Brasil e no Exterior, bem como aos auxílios regulares à

pesquisa, de professor visitante e publicação é a maneira encontrada para tentar dar conta desse

panorama taxionômico que não se trata de um histórico completo de todas as pesquisas

financiadas na Área. Embora nem tão organizado, em 2018, como já dissemos, a Biblioteca

Virtual passou a ter dados generalizados das solicitações de financiamento do início das

concessões. Para se valer do método quantitativo na pesquisa, todas as informações captadas

foram exportadas para o programa de computador Excel, no qual, com o auxílio de ferramentas

de tabulação de dados, foram cumpridos os objetivos de acordo com a proposta de cada

categoria estabelecendo um referencial percentual sobre o qual foram inseridas informações

numéricas para a formulação dos cálculos. Uma técnica que permitiu saber e apontar as

tendências de estudo, as relações acadêmicas instituídas e os procedimentos de trabalho

adotados, nas mais diversas possibilidades acadêmicas, que despertam o interesse nos

pesquisadores desde as novas gerações até os mais experientes, que por sua maturidade,

algumas vezes, acabam sendo referências seminais para pensar, discutir e teorizar a Área dentro

da própria análise documental. Em alguns casos, essas referências se constroem porque o

grande número de fomentos obtidos torna o professor pesquisador especialista na linha de

pesquisa em que atua. Estas características comentadas são também uma forma de revelar à

FAPESP o fluxo de produção de conhecimento gerado a partir das pesquisas apoiadas.

9 Matéria disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/04/1765028-alckmin-critica-fapesp-por-

pesquisas-sem-utilidade-pratica.shtml. 10 Nota da FAPESP disponível em: http://jornalggn.com.br/noticia/fapesp-responde-criticas-de-alckmin-sobre-

pesquisas-sem-utilidade-pratica.

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Denominamos os pesquisadores analisados como sujeitos de pesquisa. Essa noção

implica em dois marcos teóricos fundamentais constituídos respectivamente, neste trabalho, nos

respaldos teóricos de Gastón Bachelard (1996) e Wilhelm Dilthey (2010): primeiro, o de

espírito científico porque essa inflexão, a partir de pesquisas realizadas com apoio da FAPESP

na Área da Comunicação, não se trata de uma pergunta espontânea haja vista que já são mais

de 50 anos em busca de uma organicidade que ainda parece sem sucesso não porque haja falta

de iniciativa de seus atores, mas sim, porque se trata de um processo bastante longo para uma

plausível ciência tão nova e que vive o auge de sua meia idade cujo sentido de construção leva

ao Conhecimento Aproximado como equação diferencial do movimento epistemológico, que

vive entre novas experiências e uma inquietude conceitual que pode ter uma luz a partir deste

recorte das pesquisas, realizadas por meio de uma importante agência de fomento.

E, segundo, porque a realidade confere certo grau de materialidade aos pesquisadores

que compreendem e interpretam fenômenos a fim de construir conceitos e juízos. Trata-se de

um processo histórico que revê as condições vivenciadas em espaços e tempos que propiciam

um conjunto significante defrontado e apreendido pela condição espiritual do pesquisador, que

a partir de suas particularidades e compreensões, reconstroi as vivências sob a perspectiva do

presente, atribuindo ao conhecimento construído, uma significação de experiências cujo

resultado final pretendido é a formulação de conceitos.

As hipóteses deste estudo versam primeiramente pela passagem do século XX para o

século XXI, nos estudos em Comunicação, que devem demonstrar a aparição de temas

contemporâneos decorrentes de novos tempos da cultura social como objeto de pesquisa.

Ocorre que, ao mesmo tempo em que esses temas se inovam como prática comunicacional, eles

se atêm aos paradigmas teórico-metodológicos que seguem modelos referenciais da atividade

de pesquisa acadêmica. A segunda hipótese reside na tentativa de solucionar o impasse

conceitual sobre o lugar de fato em que se situa a Comunicação (Campo? Disciplina? Área?

Ciência?). Uma dificuldade inerente a todas as categorias de fomento, independentemente do

nível de formação do pesquisador, seja ele discente ou docente, da Iniciação Científica ou do

Pós-Doutorado. Há pouca inovação nesse sentido em um saber de pesquisa fortemente

institucionalizado. E, por fim, a terceira hipótese está na assertiva de que o mapeamento de

pesquisas revela caminhos e tendências que podem estimular os Programas de Pós-Graduação

a fazerem uma metapesquisa nos moldes desta para refletir sobre suas linhas de atuação dando

essa organicidade que se busca à Comunicação. Esse método propicia avanços como se estes

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estivessem alinhados com sua própria evolução histórica tendo as pesquisas de seus discentes

um direcionamento para a construção epistemológica, tema pouco discutido na Área.

A construção taxionômica aqui proposta deriva de um modelo descritivo e dialético que

se vale da metapesquisa, o processo que este estudo realiza, ao revisitar pesquisas já realizadas

por terceiros com o propósito de compreender a dimensão, que venham a construir a

organicidade da Comunicação, ilustrada por sujeitos que recorreram à FAPESP para a

viabilização de seus estudos que dialogam e constroem a legitimação do Saber Comunicacional.

Apoiada no recurso de multitécnicas de pesquisa, o percurso congrega quatro frentes de

trabalho, sendo duas as mais essenciais.

Com a pesquisa bibliográfica, foi possível dialogar com alguns autores no tocante aos

pressupostos teóricos e questões de ciência e metodologia científica, além da revisão histórico-

conceitual sobre Comunicação em três dimensões: interpessoal, midiática e pesquisa

acadêmica. Ao se estudar a produção de pesquisadores, tornaram-se essenciais o conceito de

espírito científico com Gastón Bachelard (1996); a noção de vivência para a construção do

mundo histórico-social, de Wilhem Dilthey (2010); as perspectivas de Wilbur Schramm

(1970;1973) para a noção fundadora do campo da Comunicação e a Revolução Cientifica

proposta por Thomas Kuhn (2003).

Amparar-se na Pesquisa Documental é se valer dos documentos históricos e

informativos da FAPESP, bem como os resumos disponibilizados de projetos de auxílios à

pesquisa e bolsas de estudo, no banco de dados de sua Biblioteca Virtual, que reúne os fomentos

concedidos e que carregam consigo informações importantes que possibilitaram a organização

das categorias analisadas em cada modalidade de fomento. Inclusive são os resumos o “guia de

orientação” para o encaminhamento dos projetos na fase de análise dos pedidos. A FAPESP

considera que eles dão a dimensão do que o(a) pesquisador(a) pretende fazer. Ao mesmo tempo

em que são “decisivos” para o entendimento dos pareceristas, esses resumos não escapam de

críticas da coordenadora de Área sobre o modo em que são construídos.

A Análise de Conteúdo se tornou a metodologia mais eficaz de aferir efetivamente a

contribuição dada pelos sujeitos de pesquisa na produção axiológica em um ramo científico –

o das Ciências Sociais – pouco valorizadas e sempre pré-julgada pela relevância e utilidade de

suas pesquisas. Seguindo os pressupostos teóricos e técnicos, de Laurence Bardin (2011), o

ponto de partida do trabalho residiu nos documentos disponíveis sobre os quais se aplicaram as

técnicas de leitura flutuante e escolha efetiva. A noção de Leitura Flutuante está no contato com

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os documentos analisados sobre os quais se constroem impressões e orientações. Escolhê-los

representa selecionar o que é suscetível ao problema levantado. Assim se justifica que todos os

912 projetos em Comunicação são essenciais para saber qual é a construção taxionômica

possível de se efetivar pelos fomentos da FAPESP. Mediante o problema de pesquisa, optou-

se pelo método das inferências considerando os polos da emissão, mensagem, significação e

medium para que colaborem no sentido de referendar índices e indicadores, que representam

dados gerais constituídos a partir do universo de linhas de fomento da FAPESP. O recorte da

amostra, formado por Bolsas no Brasil (Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Doutorado

Direto e Pós-Doutorado), Bolsas no Exterior (Bolsa Estágio para Iniciação Científica, Bolsa

Estágio para Mestrado, Bolsa Estágio para Doutorado, Bolsa Estágio para Pós-Doutorado e

Bolsa Pesquisa) e Auxílios à Pesquisa (Auxílios Regulares, Auxílios Publicações e Auxílios

Pesquisador Visitante). A análise de todos os fomentos envolve outros fatores que integram o

sistema de pesquisa e foram determinados em categorias que construímos com o propósito de

rastrear quem, o que, quando, onde e como a pesquisa se realiza. São elas: (1) Instituições:

elaboração de um quadro demonstrativo sobre as Universidades e Faculdades que aderem ao

fomento como recurso de pesquisa tanto no âmbito público quanto no âmbito privado; (2)

Pesquisadores: descriminação nominal e percentual de gêneros, ou seja, indicação do número

de homens e mulheres que pesquisam bem como a divisão entre pesquisadores responsáveis e

beneficiários que quase sempre não se tratam da mesma pessoa; (3) Temas de Pesquisa:

quantificação dos temas pesquisados, revelados pelas palavras-chave, mencionados como

assuntos de pesquisa na base de dados da FAPESP; (4) Metodologias: quantificação das

metodologias de pesquisa mencionadas nos resumos dos projetos submetidos à FAPESP; (5)

Referências Bibliográficas: quantificação do número de autores utilizados como referencial

para os projetos de pesquisa analisando essa variável pela dicotomia da nacionalidade

brasileiros versus estrangeiros; (6) Pesquisadores estrangeiros: mensuração dos pesquisadores

que receberam colegas ou alunos brasileiros em instituições no exterior; (7) Países-sede:

quantificação dos países para onde pesquisadores com apoio da FAPESP foram realizar suas

pesquisas. Tais indicadores permitem interpretar o universo analisado na tentativa de

transformar um legado institucional em fluxo de conhecimento produzido, um processo que

ainda é desconhecido junto a algumas instâncias de decisão na organização da Fundação.

Por todo esse conjunto, é que se chega à proposição de uma Taxionomia, uma vez que

seus cenários e conceitos são extraídos a partir das amostras recolhidas e resultados obtidos,

retomando assim a lógica do princípio conceitual da Análise de Conteúdo entre a Leitura

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Flutuante e a Escolha Efetiva. Partindo do pressuposto do fluxo da produção de conhecimento,

é do ambiente acadêmico representado pela vida universitária, que emergem as contribuições

para serem referendadas e se tornarem temas de debates, diálogos e questionamentos que

perpassam desde a Iniciação Científica até o Pós-Doc e as Publicações.

Complementarmente foi usada a técnica da Entrevista, com questionário estruturado,

como recurso junto aos pesquisadores que mais se destacaram na orientação de bolsistas. A

escolha deles se deu numericamente, ou seja, os que tinham mais projetos de pesquisa

aprovados, dentro do espaço de tempo das amostras, junto à FAPESP, foram entrevistados. As

perguntas foram enviadas por e-mail e a entrevista com a coordenadora de Área da FAPESP

foi realizada, presencialmente, na ECA/USP, em 10 de outubro de 2017. Em todos os casos, as

perguntas versaram sobre o papel da entidade como possível legitimadora da Comunicação e

sua perspectiva em relação ao impasse conceitual vivido pela Área bem como a contribuição

de cada percurso formativo para seu enriquecimento e engrandecimento sob o ponto de vista da

organicidade taxionômica estabelecida a partir da identificação derivada dos projetos.

Esse desenvolvimento metodológico se torna plausível quando Gobbi (2015) considera

que um dos grandes desafios para compreender o cenário comunicativo brasileiro, por meio da

academia, é conhecer e reconhecer os temas que cotidianamente provocam pesquisadores. Há

nisso tudo, um sentido aglutinador que como diz Umberto Eco (1977, p.2) pode estar

representado em “[...] uma reorganização e releitura de estudos precedentes que conduzem à

maturação e sistematização das ideias que se encontravam dispersas em outros textos”. A fala

do autor se refere às descobertas por meio do trabalho científico as quais, no campo humanista,

não precisam ser revolucionárias.

A tentativa de compreender esse cenário taxionômico tendo como base as pesquisas

fomentadas pela FAPESP se dilui pelos capítulos da tese. O primeiro “Comunicação em Três

Dimensões” traz a contextualização sobre Comunicação, a partir das perspectivas interpessoal,

mediática e como objeto de pesquisa acadêmica. Na perspectiva interpessoal, ela é tratada pela

questão das vivências, no postulado teórico de Wilhem Dilthey (2010), que estabelece a

compreensão de um mundo histórico humano sobre o qual também se agrega a perspectiva de

outro pensador, Wilbur Schraam (1970;1973), para quem a Comunicação é um processo social

necessário. Quando essa condição é analisada, nos aspectos de produção acadêmica, percebe-

se que nem as vivências nem a necessidade humana foram valorizadas no processo inicial de

formulação teórica que se evadiu da linguagem verbal contrariando as noções de troca, do

incorpóreo e da apropriação, colocando tudo em segundo plano, diante de um processo de

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engenharia que se ocupou tecnicamente em registrar as mais perfeitas condições de transmissão

mecânica da mensagem.

Um dos primeiros erros sobre o que seria Comunicação já se dá, supostamente, na

clássica noção da estrutura Emissor, Mensagem e Receptor. Neste princípio basilar, há uma

complexidade soberana, ao que se imagina, esbarrando sobre uma questão conceitual a respeito

da matriz de conhecimento que desconsiderou as simbioses humanas constituídas a partir dos

referenciais. Somente com o avanço das teorias, já dentro do movimento do Interacionismo

Simbólico11, é que houve a perspectiva de compreensão e troca entre humanos, evidenciando

assim, os processos linguísticos. Quando vista pelo prisma midiático, a Comunicação fica

centrada na perspectiva da audiência exposta a relações de dominação e construções ideológicas

que demonizam os meios como apregoou a Indústria Cultural.

Ao abordar o âmbito da pesquisa acadêmica, é completamente evidente a força de

institucionalização que a Área experimenta, com entidades que estimularam e continuam

estimulando as discussões em torno dos processos comunicacionais, e sua gente que se dedica

ao seu estudo cruzando-se por aí em congressos ou em ideias registradas nas publicações

científicas, em especial, os artigos que são muito valorizados, embora o número de publicações

com padrões elevados e aceitação (Qualis) ainda seja irrisório na Área. Essa institucionalização

parte da Grécia Antiga, se materializa na produção de teses, na Alemanha, tendo como ponto

de partida empírico as questões e problemas alusivos ao Jornalismo; nas noções de curso com

contribuições destarte da Polônia, da França e dos EUA. Os processos empíricos colaboraram

com a educação profissional e com a pesquisa científica. No início do século XX, surgiram as

primeiras notícias de um curso de Mestrado com capacitação profissional em Nova York.

Paralelamente, associações acadêmicas se organizaram e levaram adiante as publicações das

primeiras revistas cientificas. A UNESCO e a IAMCR foram fundamentais nesse processo

aglutinador que inspiraram outras instituições como ICINFORM (Instituto de Ciências da

Informação, pioneiro no Brasil), CIESPAL (Centro Internacional de Estudios Superiores de

Comunicación para América Latina), INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação), COMPÓS (Associação Nacional dos Programas de Pós-

Graduação em Comunicação), ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la

11 Segundo Rüdiger (2011), esse movimento da Escola de Chicago foi fundador da reflexão teórica sobre

Comunicação. Entende-se o significado como produto da interação social e a possibilidade de Comunicação. Seus

autores mais representativos foram George Mead; Hugh Duncan e Harry Pross.

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Comunicación), entre outras. Ainda no âmbito da capacitação profissional e da organização da

pesquisa, ao redor dos anos 1960, o Doutorado passou a ser realidade na Califórnia (EUA).

O segundo capítulo “FAPESP e Comunicação: Laços Institucionais como método de

Construção da Área” é totalmente descritivo relacionando o processo de origem e legitimação

da Fundação, apresentando sua história de criação como fruto de esforço e lutas políticas.

Graças à revisão bibliográfica de publicações inseridas no site da FAPESP, recupera-se todo

esse período com imagens e documentos de época, sinalizando acontecimentos e cidadãos

importantes nessa luta por reconhecimento da produção cientifica do estado de São Paulo.

Grande parte dessa contribuição histórica vem do trabalho da pesquisadora Amélia Império

Hamburger, que coincidentemente, é mãe da professora Esther Império Hamburger,

coordenadora da Área de Ciências Humanas e Sociais II da FAPESP. Entre tantos feitos, o

capítulo registra também situações estruturais pelas quais os pesquisadores passaram como a

Ditadura Militar, no século XX, e a crise econômica do século XXI.

O terceiro capítulo “Indicadores e Inferências: 25 anos de Pesquisas em Comunicação

com apoio FAPESP” se ocupa em dissecar os fomentos concedidos explicando as suas

finalidades e características, além de trazer as informações que demonstram as tendências da

Área em sua proposta taxionômica, a partir dos fomentos analisados após meses de coleta e

organização das informações. Inicialmente, os dados foram submetidos a análises quantitativas

para se referir às demonstrações numéricas que constituem representatividades. Em seguida,

foi aplicada a Análise de Conteúdo pelo método das inferências para fazer a leitura

interpretativa do que os resultados apontam como tendências ao estudo da Comunicação,

considerando aquilo que foi produzido, entre 1992 e 2016, com apoio da FAPESP. E foi ao

longo da realização dessa tarefa que surgiu a necessidade do quarto e último capítulo,

“Lideranças do Fomento e Comunicação: Caminhos Possíveis”, que entrevistou os professores

orientadores que se destacaram com mais pesquisas orientadas, nas modalidades Bolsas de

Estudo no Brasil e Auxílio Pesquisador Visitante, para saber como eles se relacionam com o

apoio da FAPESP e também suas noções sobre o conceito de Comunicação. Para não se ter a

visão apenas de quem orienta e pede fomento, outra importante iniciativa para esse capítulo foi

entrevistar também a coordenadora da Área da Comunicação Social II da FAPESP, Professora

Dra. Esther Império Hamburger.

Enfim, por meio do conjunto de recursos apresentados, chegamos à Taxionomia da

Comunicação organizando as origens do que se pesquisa na Área, com apoio da FAPESP, entre

1992 e 2016. Que os resultados sirvam de reflexão, de autocrítica e também de compreensão

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sobre a dimensão do trabalho da Fundação que não mapeia como as pesquisas, que ela mesmo

financia, materializam e maturam as Áreas do Conhecimento. O primeiro passo, para uma

possível mudança, começa aqui com a Comunicação. Boa leitura!

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CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES

A revisão crítica da História da Comunicação nos convence a trabalhá-la a partir de três

dimensões. A primeira delas é compreendê-la na perspectiva inerente ao ser humano, que tem

na Comunicação, uma condição indissociável no contexto social gestando para tal realização

um processo organizado de linguagem. A segunda dimensão se refere aos meios de

comunicação de massa que eclodiram como fenômenos que tratam de questões sociais a partir

das suas condições de reprodutibilidade e difusão direcionada a grandes públicos em um

sistema de produção em série. E por fim, a terceira dimensão, que é a institucionalização de sua

pesquisa na Grande Área das Ciências da Comunicação cujas problematizações sistematizam a

construção de um conhecimento aproximado para a Área.

Todas estas dimensões reforçam a necessidade de que comunicar se pauta pelo ambiente

em que estamos, não somente em sentido físico, mas também, por uma condição simbólica do

que vivenciamos. Uma espécie da presumida conexão vital que trata Dilthey (2010), pois, os

ambientes concretos e as aspirações, tanto subjetivas quanto objetivas do sujeito, concorrem da

realização de algo como resultado de uma intenção. Ao mesmo tempo em que o indivíduo se

propõe a compartilhar algo com resultados pré-estabelecidos subjetivamente, nos parece

inerente o seu desejo de reconhecimento e propagação com vistas a um sentido objetivo. O

respaldo desse pressuposto está na consciência. Ao lidarem com os conteúdos e constituírem a

história, os indivíduos tomam consciência que emaranham a formação do sujeito histórico que

ao mesmo tempo participa e escreve a história. Porém, colocamos em dúvida parte dessa

premissa, pois, será que o sujeito realmente tem a consciência de que está escrevendo parte da

história?

Consideremos as redes sociais. Nítido nos parece que o indivíduo busca mais o

reconhecimento através do alcance que isso lhe rende em curtidas, comentários e

compartilhamentos do que propriamente em relação ao conteúdo de sua postagem. Estará ele

sendo consciente? Muitas vezes, ele age inconscientemente abrindo mão de possíveis

repercussões por achar que certas condições simbólicas em seu contexto de entendimento são

normais. Pretensões como estas são intrínsecas aos polos do processo comunicacional,

entretanto, é assim que a vida se torna uma condição social pela qual os humanos agem em

busca de um vivenciar comum que, por sua vez, resulta na Comunicação.

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Os acontecimentos se tornam significativos porque seguem a lógica de uma conexão

que gera determinações de valor, ideias e metas cuja medição aflora no limiar entre a

significação de homens e acontecimentos. Somos nós – e nossas ações – que definitivamente

fazem a Comunicação. Prova disto são as aproximações e repulsas experimentadas diante dos

referenciais que temos contato. Uma primeira tendência é de que a Comunicação ocorre a partir

das posições do sujeito em relação a situações que não podem ser mudadas. Ou ainda pelo fato

desse indivíduo encarar certos fatos dentro de uma normalidade ou refutá-los mesmo que não

consiga promover mudanças. Vimos isto, no Brasil, a partir de 2013, quando as ruas do país

foram tomadas por manifestantes que organizaram suas passeatas a partir de movimentos

iniciados na Internet. Uma iniciativa que criou os primeiros passos para uma pseudo-cultura do

protestar e que ganhou força no cenário político brasileiro, a partir do ano posterior, se

estendendo com o ranço de posições contrárias – que chegaram a ultrapassar os limites do bom

senso – no espaço digital. É o que Manuel Castells (2013) considera a constituição de redes

operadas pelo ato da comunicação, que tem como consequência a construção do poder. E essa

configuração se materializou no espaço virtual da Internet para ocupar lugares visíveis da vida

social, no caso, as ruas. Mas por que trouxemos este exemplo? Justamente para dizer que os

significados são expostos e que os sujeitos captam a comunicação de acordo com aquilo que

creem satisfazendo o alcance de seus repertórios e pertencimentos. Por isso, tanta divisão, tantas

diferenças notadas que se confirmam e se representam na vida social embora nem sempre fáceis

de compreender.

É por condições como essa exemplificada que as vivências se constituem e podem ser

consideradas espaços de comunicação a partir da possibilidade das interações. Como sugere

Dilthey (2010), as vivências alcançáveis se tornam presentes para posteriormente serem

relembradas e compreendidas pelo mundo histórico-humano, construído por sujeitos a partir do

espaço social e suas unidades vitais para dar sentido às ciências humanas. Sobre a construção

do mundo histórico-humano, o autor (2010, p.98) aponta:

Eu encontro o princípio para a solução do conflito nessas ciências na compreensão

do mundo histórico como uma conexão de efeitos que está centrada em si mesma,

na medida em que cada conexão de efeitos particular contida nesse mundo possui

em si mesma o seu ponto central por meio do estabelecimento de valores e da

realização de fins. Todas, porém, estão estruturalmente ligadas com uma totalidade

na qual, a partir da significância das partes individuais, emerge o sentido da conexão

do mundo histórico-social [...]

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Desta forma, a construção do mundo histórico-humano se dá por meio de seus próprios

agentes que fazem da Comunicação o seu processo social fundamental como Wilbur Schraam

(1973) defendia em seus pressupostos. O autor indica que a comunicação atende as mesmas

necessidades em todas as sociedades já que é uma expressão integrada fortemente na vida

social. Como ele mesmo coloca (1973, p. 25): “[...] a comunicação não é algo que tem vida

própria; é algo que as pessoas fazem. Ela é o processo fundamental da sociedade, a maneira

pela qual as pessoas se relacionam entre si”. Trata-se de uma assertiva que dialoga, por

exemplo, com o princípio da conversação do espaço social proposto por Braga (2011, p.67):

O que significa objetivar, destacar e problematizar a dimensão comunicativa dos

diversos procedimentos humanos – na política, na educação, na produção científica,

na criação artística, no intercâmbio cultural? Não se trata apenas de perceber que as

pessoas se engajam nestas atividades e processos “conversando”, “se comunicando”.

Tratar-se-ia, antes, de procurar perceber o quê – nestes processos especificados por

seus modos e objetivos sociais – é entretanto inerente não a estas especificações, mas

resultante de (ou referente a) processos mais amplos de trocas simbólicas e de

interações que sobredeterminam o que aí se faz. Ou, em corolário, procurar perceber

como tais ações específicas outras sobredeterminam os processos de comunicação aí

envolvidos.

Em tal sentido, o da necessidade humana, também caminha Francis Bacon in Andery

(1996, p. 11):

O processo de produção da existência humana é um processo social; o ser humano

não vive isoladamente, ao contrário, depende de outros para sobreviver. Há

interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade humana;

quaisquer que sejam suas necessidades – da produção de bens à elaboração de

conhecimentos, costumes, valores... -, elas são criadas, atendidas e transformadas a

partir da organização e do estabelecimento de relações entre os homens.

Como se pode perceber, vimos tratando da primeira dimensão da Comunicação como

condição inerente ao indivíduo. Dos dois grandes polos mundiais – os Estados Unidos e a

Europa – de onde partem, em especial, as fundamentações teóricas para os estudos dos

processos comunicacionais, também há uma coesão de que não há sentido falar em sociedade

humana sem a comunicação. Dos EUA, parte a ideia do sociólogo Albion Small de que os

indivíduos são como células que se ligam às demais por meio da comunicação formando a

sociedade. Já do Velho Mundo, Gabriel Tarde coloca a condição cultural ao processo de

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comunicação analisando que pela conversação, o indivíduo realiza a comunicação diferindo-se

pela sua natureza de participação, seu grau de cultura, sua condição social, sua profissão e suas

crenças. A conversação, então, passa por todos os tipos de problemas cotidianos e discursos

especializados12.

Esse caminho para o qual se trabalha a primeira dimensão da nossa revisão bibliográfica

de que a Comunicação é um processo inerente ao ser humano faz com que retomemos um ponto

crucial dentro das Ciências Sociais: o da Comunicação como Ação e Interação Social. Gerbner

apud Igartua e Humanes (2004) conceitua Comunicação como a interação social através das

mensagens. Isto demanda ações dos sujeitos que resultam no pensamento de Max Weber que

considera a ação social como um comportamento reflexivo em que o indivíduo, no processo de

comunicação, atribui um significado subjetivo à sua conduta diante da conduta dos demais

sujeitos. Na remissão ao pensamento de Weber, a comunicação é uma ação social quando a

mensagem requer níveis de consciência e intencionalidade, uma vez que seu emissor acredita

que haverá no contato, com o outro, pelo menos dois atores compartilhando códigos.

Esta é, por exemplo, a maneira similar como o pesquisador brasileiro, Ciro Marcondes

Filho (2008), visualiza o processo de Comunicação que se realiza quando, nesse contato de

atores, a parte que recebe a mensagem, internaliza a fala, a presença e o produto do outro para

se transformar por dentro. Se não se completarem tais indícios, Ciro Marcondes (2008) acredita

que o emissor não fez nada além do que a mera produção de sinais. Esta é uma premissa que

faz sentido, afinal, quando temos contato com um referente, temos a possibilidade de fazê-lo

entender por diversos modos. Se considerarmos um texto, por exemplo, temos que passar pelo

domínio da Língua, pensar nas condições em que se deram sua produção, compreender as

intenções do emissor e por que ele foi escrito. São situações que elevam a condição da

materialidade da Comunicação para muito além da noção básica de que um emissor envia uma

mensagem a um receptor. Entretanto Ciro Marcondes faz um alerta sobre a inexistência da troca

de comunicação: “[...] exatamente porque duas pessoas não constituem um sistema só. Existe

uso, existe interesse. Eu uso ou não, interesso-me ou não pelas coisas que vejo, que ouço, que

leio, que sinto” (2008, p.16). Inclusive, este autor vem trabalhando outras perspectivas para a

realização da Comunicação. A primeira delas é a sua manutenção como relação na possibilidade

do contato entre homens e homens; homens e técnicas. Depois, como um acontecimento único,

detentor de uma força expressiva particular. Por isso, considera que além das pessoas

12 Ver RÜDIGER, Francisco. As teorias da comunicação. Porto Alegre, RS: Penso, 2011.

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envolvidas, existe a presença do incorpóreo, isto é, aquilo que não se materializa durante o ato

comunicativo. Esse incorpóreo vai ser tratado no último capítulo pelos próprios dizeres do autor

em entrevista que nos concedeu. Neste momento, podemos dizer que o incorpóreo seria, em

nosso modo de entender, todas as condições necessárias para deglutir para que a comunicação

exista de fato. Uma espécie de “alma” com identificação em relação a algo que atravessa os

acontecimentos comunicacionais de forma que isto não seja apreendido por quem não esteja

envolvido na realização do acontecimento, incapaz de se atentar a sinalizações extralinguísticas.

É a comunicação operando no campo do sentido transcendendo o território do instrumental

analítico convencional. Com isso, Ciro Marcondes Filho acredita que, no processo

comunicacional, ocorram interesses, desejos, aspirações, paixões e estímulos diversos que se

realizam por meio de situações particulares do afeto. Assim, a Comunicação só se realiza pela

autorização do sujeito. O autor (2008, p.152) diz que “Todos querem comunicar, mas poucos

aceitam receber a comunicação”.

E todo mundo tem algo a dizer, como afirma Dominique Wolton (2006), para quem, a

comunicação precisa ser salva. Ele também parte do pressuposto de que comunicar é buscar a

relação e o compartilhamento com o outro, pois, só assim é possível afirmar que a expressão

tem resultado. A expressão, na visão dele, é o primeiro tempo da comunicação. O segundo

tempo está na construção da relação. Considera o autor (2006, pp.14-15) que “No fundo, a

comunicação levanta a questão da relação entre eu e o outro, entre eu e o mundo, o que a torna

indissociável da sociedade aberta, da modernidade e da democracia”. Tudo isso sem perder as

perspectivas antropológicas e ontológicas da comunicação. Assim, complementa Wolton

(2006, p.16):

A comunicação [...] supõe um processo de apropriação. É uma relação entre o

emissor, a mensagem e o receptor. Comunicar, portanto, não é apenas produzir

informação e distribuí-la, é também estar atento às condições em que o receptor a

recebe, aceita, recusa, remodela, em função de seu horizonte cultural, político e

filosófico e como responde a ela.

Praticamente Dominique Wolton considera a comunicação uma estratégia, porém, as

perspectivas traçadas, na citação anterior, nos parecem colocar em xeque a primeira

sistematização do estudo teórico da comunicação pelo modelo matemático de Shannon e

Weaver. A eles, coube desenvolver o modelo do processo de transmissão da mensagem entre o

emissor e o receptor com a preocupação de evitar a geração do ruído para que a transmissão

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técnica saísse à perfeição. Desta forma, priorizaram o canal físico por onde a informação passa

tendo como objetivo principal transmitir a máxima quantidade de informação no menor tempo

possível e com a máxima fidelidade. Sistematizaram, portanto, os elementos de um processo

que envolve: (a) comunicador, no caso, o emissor; (b) transmissor, o suporte técnico que

transforma a mensagem em sinal; (c) canal, sinal da fonte que passa ao destinatário; (d)

receptor, a realização da decodificação técnica; (e) ruído, as barreiras de transmissão; (f)

Feedback, a retroalimentação do sistema; (g) destinatário, a mensagem chega ao final. Havia,

portanto, um conceito técnico de informação que percorria todas essas etapas. Uma vez isto

acontecendo, entendia-se que a mensagem em estado completo correspondia à realização da

Comunicação.

Como conta Francisco Rüdiger (2011), esse modelo desenvolvido pelos dois

“ciberneticistas” se tornou “coisificado” e serviu como primeiro paradigma em Comunicação.

Shannon e Weaver propunham que, com esse modelo informacional, a problemática da

comunicação se resolvia porque se equacionavam três níveis: o técnico, o semântico e o

pragmático. Eles acreditavam que superando o primeiro, os outros dois se resolviam. Assim, o

problema semântico correspondia ao significado das informações ao passo que o problema

pragmático envolvia a capacidade das informações modificarem o comportamento das pessoas.

Toda a concepção foi idealizada no sentido de máquinas desconsiderando que a execução

essencial do processo comunicacional se dá pela constituição da relação humana.

Aliás, a preocupação humana é o ponto de partida para a maioria dos autores

compreenderem a realização da Comunicação. Essa noção do modelo informacional nos coloca

uma condição técnica e é sabido que os empecilhos dessa ordem, conhecidos no modelo de

Shannon e Weaver como ruídos, não são significativos para a realização da Comunicação.

Imaginemos, por exemplo, que um indivíduo esteja escutando uma emissora de rádio que, por

alguma avaria técnica, saia do ar. O conteúdo que aquele ouvinte recebia é interrompido, mas,

a realização da comunicação não se perde porque esse indivíduo tem chance de ir atrás daquilo

que estava ouvindo. Ou ainda imaginemos os aplicativos que funcionam pela Internet. Em um

caso de perda de sinal, há uma interrupção no serviço, mas, isso não é suficiente para se dizer

que a Comunicação falhou. Há também outras formas de se acessar o que aquele determinado

aparato poderia fornecer. Supõe-se aqui uma primeira pista do quanto a memória é importante

no contexto comunicacional.

Retomando a importância da relação humana, Dominique Wolton (2006) considera

indispensável uma coabitação entre indivíduos a fim de que se detecte a “incomunicação” para

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salvar a comunicação. A “incomunicação”, segundo ele, quer dizer quando não se encontra o

outro que simplesmente não escuta, se opõe ou foge. Por isso, ele diz que, muitas vezes, a

“incomunicação” é um progresso no horizonte da Comunicação. Reconhecem-se, a partir disto,

a descontinuidade, a alteridade e as contradições que fazem a “incomunicação” se sobrepor

como fato enquanto a coabitação se faz uma escolha e um valor. Wolton diz (2006, p. 151):

Incomunicação e coabitação são, pois, as duas faces da comunicação normativa. O

indivíduo, o casal, a família, são confrontados com a coabitação. As sociedades, com

a coabitação interna, com a organização do multiculturalismo. Em nível mundial, a

diversidade cultural obriga a pensar a coabitação cultural. Comunicar é finalmente

coabitar.

Essa coabitação nos coloca diante do outro que não fala como eu, mas, espera de mim

um esforço de tolerância e compreensão. Assim a coabitação significa que a sociedade valoriza

a concepção normativa da comunicação admitindo as dificuldades da incompreensão. Desta

forma, o autor quer contribuir para a desconstrução dos estereótipos do conceito de

Comunicação, impostos pelo próprio homem, considerando que comunicar é a atividade

intrínseca a cada um de entrar na problemática do outro para fazer com que as relações – ainda

que difíceis – não se separem do cotidiano da vivência humana.

Embora seja um tópico mais condizente à formulação teórica da Comunicação,

entendemos que cabe colocar aqui a questão do Interacionismo Simbólico, desenvolvido pela

Escola de Chicago, nos EUA, nas primeiras décadas do século XX. Como recupera Rüdiger

(2011), o grande mote dessa contribuição estadunidense é de que os indivíduos se relacionam

através de símbolos, que estruturam o processo comunicacional que envolve compartilhamento

no que se refere à estrutura de sentido e um aspecto instrumental envolvendo a influência

recíproca entre dois sujeitos. O Interacionismo se funda na ideia de que os seres humanos são

capazes de interpretar seu contexto vital respondendo aos estímulos do qual são destinatários.

Um de seus estudiosos, Herbert Blumer, colocou que as teses envolvem a relação com os

significados, a interação social e a interpretação. Pensando por esse prisma, consideremos os

ataques terroristas. Os adeptos ao Estado Islâmico – que reivindica a autoria dos ataques para

si – acreditam que os atos em nome do Fundamentalismo sejam normais. Nisso, entra essa

perspectiva de que tais indivíduos conseguem reconhecer esse contexto cujos significados lhes

pertencem. Entretanto, fora desse grupo, é inconcebível o que esses terroristas praticam ao

ceifarem vidas inocentes em atos dos mais chocantes. O favorável e o contrário se manifestam

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na compreensão humana que leva esses fatores em consideração antes de se definir pela

comunicação. Esse processamento é como se fosse uma máquina atribuindo suas funções para

a execução de um processo final. No caso humano, isto faz confirmar que a comunicação não

é uma simples transmissão de mensagens.

Ainda sobre o Interacionismo, alguns autores foram fundamentais. George Mead

defendia que a sociedade é um produto da comunicação cuja espinha dorsal se forma pelos

símbolos. Para o autor, a comunicação também equivale a se colocar no lugar do outro por meio

de símbolos significativos. É uma condição que consideramos redundante, pois, o lugar do outro

pensado será sempre aquele com o qual o sujeito se identifica e constroi a sua comunicação. Se

considerarmos o caso do Estado Islâmico, por exemplo, como citamos há pouco, quem

compartilha da proposta dos grupos terroristas vai se colocar no lugar de quem cometeu um

ataque, enquanto o resto que é contrário, vai se colocar do lado das vítimas. Então, se colocar

entre símbolos significativos deve ser uma atitude considerada com parcimônia já que depende

do referencial simbólico de cada um.

Já para interacionistas, como Hugh Duncan, a Comunicação cria sistemas de hierarquias

simbólicas, que por sua vez, geram um sistema de poder. Outros, como Harry Pross, pensaram

o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e seus meios em dimensões que colocam a

Comunicação em noções primárias (quando se realiza sem instrumentos), secundárias (quando

as tecnologias são usadas na produção de mensagens) e terciárias (quando os elementos

tecnológicos estão entre os extremos do processo comunicacional). As condições midiáticas

também são a Comunicação, ritualizada pela estrutura simbólica.

O simbólico está diretamente ligado ao desenvolvimento da Comunicação. Para melhor

explorar isto, retomemos o pensamento de Wilbur Schraam (1965) que se baseou no conceito

estadunidense de Comunicação que envolve todos os sistemas pelos quais se trocam ou

compartilham ideias e informação. Os sinais e símbolos transmitem significados e valores de

um para outro. As mensagens são selecionadas, decifradas e transmitidas à espera de respostas.

Diz o autor que a forma mais simples do processo de Comunicação consiste no emissor,

mensagem e receptor sendo que o emissor e o receptor podem ser a mesma pessoa. Interessante

abrir um parêntese aqui e dizer que, por conta da tecnologia digital, muitos autores vêm tratar

essa duplicidade de alternância de papéis entre emissor e receptor como novidade. Como se vê,

tal condição já era considerada nos anos 1960. Wilbur Schraam destaca que em algum momento

do processo comunicacional, a mensagem se separa tanto do emissor quanto do receptor. “Llega

un instante en que cualquier cosa que comuniquemos es simplemente una señal con algún

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significado para el comunicador, y que significa para el preceptor cualquier concepto que éste

interprete en el mensaje”. (SCHRAMM, 1965, p.6)

A definição de Schramm tem mais de meio século, porém, se faz vigente ainda nas

revolucionárias formas de Comunicação que o mundo digital nos propicia dentro da

contemporaneidade. O fluxo de informação é tão gigantesco nas mais diversas formas de se

manifestar pela Internet, nos dias de hoje, que há esse risco de as coisas comunicadas serem

apenas um sinal para quem comunica e um conceito de interpretação para quem recebe.

Tomemos como exemplo o Facebook, talvez a maior rede social com a qual temos contato. Há

tanta informação disseminada pelas páginas de seus usuários que a mensagem pode se tornar

apenas um sinal. O primeiro sinal é o próprio conceito de amigo. Chegamos a ser amigos de

quem nunca imaginamos que seríamos porque esses laços propiciados pelo ambiente

tecnológico não são necessariamente fruto de uma relação afetiva construída. Quantas vezes

você olha uma mensagem e não a compreende a ponto de se intrigar em saber por que tal coisa

foi postada? É o que Castells (2013) entende como construção da autonomia do ator social. Ele

(2013, p.14) fala sobre esses atores que agem individual ou coletivamente em relação às

instituições da sociedade: “Elaboram seus projetos compartilhando sua experiência. Subvertem

a prática da comunicação tal como usualmente se dá, ocupando o veículo e criando a mensagem.

Superam a impotência de seu desespero solitário colocando em rede seu desejo”.

É por tudo isso que um dos pilares para a realização da Comunicação, a troca de

mensagens, está presente no pensamento de Roman Jakobson (2010), que prevê tal realização,

a partir do estabelecimento de um código comum como instrumento de Comunicação. E esses

códigos se estabelecem pelo exercício da Comunicação falada que institui os traços distintivos.

Diz Jakobson (2010, p.99)

O conjunto de escolhas por sim ou não subjacente a cada feixe desses traços discretos

não é combinado arbitrariamente pelo linguista, mas efetuado realmente pelo

destinatário da mensagem, na medida em que as sugestões do contexto, verbal ou

não verbalizado, não tornem inútil o reconhecimento dos traços.

Roman Jakobson (2010) acredita que a mensagem pode representar ambiguidades ao

receptor que não foram identificadas pelo emissor, que nem sempre visualiza equívocos. Neste

sentido, Schraam (1973) alerta que a Comunicação como mudança exige conhecer a cultura

onde se pretende mudar algo e isto só ocorre se houver uma adaptação da própria Comunicação

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a um sistema inteligível das experiências e dos símbolos da audiência. Para Schraam, decidir o

que comunicar exige se concentrar sobre a mudança e não sobre o que se comunica, afinal, o

que se pretende é uma mudança no comportamento do receptor da mensagem capaz de se

decidir entre mudar ou não.

Vemos isso com o crescimento exponencial das redes sociais no cotidiano das pessoas.

As maneiras dos sujeitos terem conhecimento das coisas não passam mais necessariamente

pelos tradicionais meios de comunicação. Aliás, os próprios media já perceberam que não

podem mais se isolar na maneira como trabalhavam porque sentem os efeitos da presença digital

na sociedade contemporânea. Se pensarmos na Publicidade, um anúncio talvez faça muito mais

sentido hoje em uma rede social do que em uma página de jornal ou revista ou em um comercial

de TV. Passemos agora ao Jornalismo. Os valores-notícia de uma publicação tradicional não

são os mesmos para um medium como a Internet que, por sua vez, já é capaz de influenciar a

pauta da mídia tradicional pela forma como, muitas vezes, expande seus conteúdos. Enfim, as

relações mudaram e a “necessidade sentida” dos participes do processo comunicacional, talvez

não seja algo mais tão intangível como pensou Schraam. Embora ele tenha uma explicação para

essa necessidade sentida, talvez quando considera que os significados aos signos são atribuídos

por convenções ou pelas experiências dos indivíduos. Essas noções constituem princípios

básicos para uma teoria geral da Comunicação porque as experiências se tornam marco de

referência a ponto de desmontar sua noção simplista. Sua materialização não é apenas interagir

por interagir, falar por falar. Há todo um contexto para isso, que como considera Jakobson

(2010), leva o processo às práticas de codificação e decodificação que são essenciais e

complementares. Então, a problemática central da Comunicação se encontra nas experiências

que coincidem com a noção de vivências já discutida neste capítulo.

Assim vai se configurando o mundo histórico-social, atravessado por um bombardeio

de mensagens, que se apegam às experiências constituídas por valores e culturas de seus

sujeitos. Desta forma, o receptor se vale do seu repertório para aceitar a mensagem do emissor

que também se baseia no seu conhecimento para emiti-la. O processo social básico, proposto

por Schraam, admite que a sociedade registre redes complicadas e largas cadeias de

comunicadores e receptores. Mais uma vez, se comprova a necessidade humana no processo

comunicacional, argumento que defendemos nesta primeira dimensão do que pode ser a

Comunicação. Conclui-se parcialmente que os indivíduos estimulam a materialidade do

processo comunicacional, que se realiza de forma intangível. Entre a aceitação do receptor e o

êxito da mensagem do emissor há variantes que passam pela instabilidade do homem, que é

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instável, porque coloca antes da Comunicação suas crenças e valores a cada uma das vivências

constituídas no mundo histórico social.

1.1 Meios de Comunicação

A segunda dimensão, a partir da qual falamos da Comunicação, é a midiática

considerando a perspectiva da difusão como resultado de desenvolvimento tecnológico. Os

pensadores da Escola de Chicago, a primeira a se ocupar do desenvolvimento funcional da

Comunicação Social, assumiram a perspectiva de que houve, por meio dos progressos da

tecnologia, todo um redimensionamento da realidade comunicativa do homem. Sobre esta

noção, Schraam in Steinberg (1966) considera que a Comunicação padroniza o meio para o

indivíduo enquanto os meios de comunicação de massa revelam certas relações entre os

indivíduos e o meio social. Um exemplo desta relação é a Imprensa. Ainda sobre meios de

comunicação de massa, o autor diz que estes, sobretudo na Educação, ajudam a relacionar o

comportamento de grupo ao meio. Sobre a linha de raciocínio de Schraam, Steinberg (1966,

p.20) comenta:

Fator significativo do desenvolvimento da comunicação de massa foi a máquina

reprodutora de comunicações, que se deslocou de sua identificação com interêsses

(sic) sagrados para a identificação com assuntos públicos. Ela desviou-se do serviço

da Igreja para a utilização secular. A partir da Bíblia de Gutenberg de 1450, os

desenvolvimentos técnicos de séculos posteriores presenciaram o gradativo

aparecimento do telégrafo sem fio, do telefone e da válvula eletrônica. O ponto

crucial da mudança, assinala o Dr. Scharaam, da comunicação interpessoal para a

comunicação de massa surgiu com o emprêgo (sic) de máquinas que, inseridas na

“cadeia de comunicação”, foram capazes de ouvir e ver para o indivíduo. As novas

máquinas acompanharam as mudanças na ética social e na orientação do indivíduo

para o grupo, do monístico para o pluralista, de uma sociedade onde o grupo de iguais

avultava mais momentoso. De um dispositivo de simples comunicação, o meio de

comunicação de massa converteu-se em instrumento não só de entretenimento mas

também de informações.

Foi a Revolução Tecnológica do século XX que viabilizou a Comunicação de Massa.

Como descreve Marialva Barbosa (2013), as tecnologias da época criaram novas experiências

e sensações em um regime de comunicabilidade que passou a decifrar o mundo pela

Comunicação de Massa. Os novos dispositivos produziam uma segunda representação que

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mediava o que era visto. O oral migrou para o som reproduzível tecnicamente e a fotografia

passou a congelar o tempo e o espaço do vivido.

Independentemente dos formatos tecnológicos, é preciso considerar o conceito de

massa, pois, é ele que dá o tom aos media. Beltrão e Quirino (1986) vão tratar a Comunicação

de Massa como um manejo complexo de meios artificiais que necessitam se dirigir a um

receptor massivo denominado audiência, por sua vez, anônima e dispersa. Assim, os autores

colocam a perspectiva principal de quando se fala em massa: a sua noção de indústria. Seus

produtos, bens e serviços são culturais e são distribuídos em forma de mensagens. Entretanto,

essa noção industrial faz com que a Comunicação apele para grandes investimentos

econômicos, técnicas, planejamento administrativo e, sobretudo, o lucro vindo do público

vasto, heterogêneo, inorganizado e disperso, que na verdade, forma a audiência, ou em palavra

mais realista, a massa.

Impossível falar de massa sem relacioná-la ao conceito de Indústria Cultural, de Adorno

e Horkheimer. Essa noção nasce com as definições dos autores que compreendem a cultura de

massa como uma produção desenvolvida pela indústria e dirigida ao mercado. Adorno (1992)

in Rüdiger (2011) diz que, na transmissão da comunicação, escondem-se no processo as

principais forças do poder econômico, ludibriando as massas e a elas se ajustando. Logo, não

haveria nada de cultural nessa perspectiva, mas sim, um conjunto de objetivos econômicos,

comerciais, políticos e ideológicos que levam a um projeto de dominação. Outros autores, como

Marcuse e Horkheimer, fazem parte da Escola de Frankfurt13, a qual Rüdiger (2011) trata por

escola de pensamento social que contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento do

estudo da Comunicação. Esses teóricos pensaram a Indústria Cultural, pelo paradigma da

produção, designando o processo de criação das manifestações estéticas surgido com o

desenvolvimento do capitalismo, logo, “[...] categoriza o processo de transformação da cultural

em mercadoria, no contexto do qual os meios de comunicação representam simplesmente o

momento da circulação”. (RÜDIGER, 2011, p.96). Aliás, Beltrão e Quirino (1986) assinalam

que os meios de comunicação não são Comunicação, mas, instrumentos dela. Um pensamento

13 No conceito definido por Gabriel Cohn, em Dicionário de Comunicação: escolas, teorias e autores, a Escola de

Frankfurt reunia um grupo de intelectuais europeus de esquerda, majoritariamente judeus alemães com perfil

cosmopolita, que compartilharam desde a década de 1930 até a de 1960 (com desdobramentos até hoje) o esfor-

ço por desenvolver o conhecimento da sociedade com base numa proposta teórica multidisciplinar (muito antes da

invenção do termo). E não se tratava de uma sociedade qualquer. Era o padrão contemporâneo e as tendências

futuras da sociedade capitalista que estava no núcleo desse programa de pesquisa.

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coincidente aos críticos de Frankfurt quando consideram os meios como espaço de circulação.

E para Beltrão e Quirino (1986, p.57),

[...] entendemos como comunicação de massa, o processo industrializado de

produção e distribuição oportuna de mensagens culturais em códigos de acesso e

domínio coletivo, por meio de veículos mecânicos (elétricos/eletrônicos), aos vastos

públicos que constituem a massa social, visando a informá-la, educá-la, entretê-la

ou persuadi-la, desse modo promovendo a integração individual e coletiva na

realização do bem-estar da comunidade.

Porém, a Comunicação de Massa é anterior à sociedade de massa. No século XVIII, a

ascensão ao poder, por parte da classe média da Inglaterra, fez com que a figura do escritor se

tornasse dependente do público para sua viabilização financeira em vez do patrocinador

aristocrático. A sociedade de massa eclodiu na metade do século XIX quando os impressos já

haviam se adequado às demandas do homem-médio que dominava a estrutura social. Assim,

surge o interesse pela informação e pela cultura dos periódicos que assumem uma nova feição.

E os jornais diários se tornam mais vivos, mais informativos, mais variados e com a intenção

de atingir as massas. Em suma, seja pela Comunicação de Massa em si ou pela sociedade de

massa, é fato que a massa necessita de uma engrenagem industrial para atender um mercado

consumidor. Tanto que, como ilustra John B. Thompson (1995), a indústria jornalística tomou

o caminho comercial para aumentar a circulação de jornais e consequentemente sua renda com

a venda de anúncios comerciais.

Esse cenário de avanço do século XIX é comentado por Ortega y Gasset (2005), que

considera o homem multitudinário como algo engendrado. Esse homem multitudinário é o

homem médio que vivenciava os avanços do ponto de vista econômico e que poderia se

comparar aos demais indivíduos na legalidade da igualdade. O século XIX – marcado pelas

condições de vida radicalmente opostas na grande massa social – propicia também ao homem

novos horizontes físicos e sociais. Para Ortega y Gasset, tais condições se deram por três

princípios: a democracia liberal, a experimentação científica e o industrialismo tendo os dois

últimos a capacidade de desenvolvimento da técnica. Apesar de apontar como a vida mudara

nesse século, Ortega y Gasset conclui que, mesmo com benefícios, as massas que se valiam

deles não reconheciam suas conquistas como vantagem oriunda de um sistema organizado, mas

sim, de avanços derivados da natureza.

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Apesar da igualdade legalmente considerada, os estilos de vida eram diferentes. O

homem médio tinha conquistas menos sofridas que as do homem operário, por exemplo. Porém,

sobre as definições de massa, Ortega y Gasset (2005) diz que se trata de um conceito que não

se constroi por classe social, mas pela classe de homens, ou seja, pela forma como os sujeitos

se colocam na vida diante de suas conquistas e referenciais. Mas, ele nota que existe sempre

uma relação com o outro e há sempre alguém que ocupa uma posição hierárquica superior.

Apesar dessa conjuntura, o autor (2005, pp. 61-62) ressalta que as massas não podem dirigir

sua própria existência muito menos reger a sociedade.

A sociedade é sempre uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As

minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados. A

massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. Não se entende, pois,

por massas só nem principalmente “as massas operárias”. Massa é “o homem

médio”. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão –

numa, determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o monstrengo social, é o

homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo

genérico.

O autor ainda aponta que a massa não deixa de ser massa, mas, consegue suplantar as

minorias desde que seus integrantes consigam se sentir como todo mundo, não necessariamente,

se valorizando. Senão (2005, p.68)

A massa atropela tudo que é diferente, egrégio, individual, qualificado e seleto.

Quem não seja como todo o mundo, quem não pensa como todo o mundo, corre o

risco de ser eliminado. E claro está que esse “todo o mundo” não é “todo o mundo”.

“Todo o mundo” era, normalmente, a unidade complexa de massa e minorias

discrepantes, especiais. Agora todo o mundo é só a massa.

Nota-se o sentido da massa na contemporaneidade, sobretudo, no advento da vida

digital. Hoje em dia, quem não adere à incorporação das tecnologias está correndo esse risco

da eliminação sobre o qual falara Ortega y Gasset (2005). Percebe-se que há, com a

digitalização, uma incorporação diferente das demais tecnologias anteriores. Meios como o

impresso, o rádio e a televisão foram mais perenes do que as passageiras instâncias do universo

digital. Antes, a intervenção da indústria cultural na vida social, apesar de seus efeitos, parecia

um pouco mais duradoura do que atualmente. Assim, a Indústria Cultural cria as necessidades

provocando, como diz Gerbner (1967), uma ambiência cultural. A relação que ele faz sobre isso

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é com a de uma nova revolução industrial, no campo da cultura, haja vista que os meios de

comunicação passam a criar novos públicos além das fronteiras de tempo, espaço e condição

social. Com isto, a Comunicação faz recriações simbólicas de aspectos da condição humana

permitindo com que a produção em massa crie informação, ideias, imagens e produtos em todos

os níveis sociais. De acordo com Gerbner (1967, p.60):

A estrutura social e a organização industrial têm conexão mais central e mais direta

com a consciência comum, como nunca antes. Dada a capacidade das sociedades

industriais de produzir os meios materiais necessários à subsistência e ao bem-estar,

as tensões e compulsões do sistema social acabaram por se transferir para a esfera

da cultura de massa. As lutas pelo poder e pelo privilégio, a participação na condução

dos assuntos humanos, a distribuição mais eqüitável (sic) das riquezas, todas as

demais formas de justiça social e, em verdade, de sobrevivência numa idade nuclear,

estão se deslocando cada vez mais das antigas arenas e métodos de luta para as novas

esferas de controle, competição e atenção nas comunicações produzidas em massa.

Os meios de comunicação estão a serviço das massas como circulantes amplos e comuns

de interação pública na sociedade proporcionando algo a mais que a interação face a face porque

sua capacidade de produzir e distribuir em massa resulta em ações dominantes na aculturação

pública, segundo Gerbner (1967). E tais ações vão se alterando conforme a clientela das

mensagens muda. É nesse diapasão que as significações vão se dando e os meios de

comunicação de massa conseguem formar seus públicos. O autor questiona essa formação de

público, no sentido de procurar saber, como os meios de comunicação compõem e estruturam

sistemas de mensagens em diferentes épocas e sociedades. Ele lança essa pergunta e nós

arriscamos responder considerando a necessidade dos clientes que a indústria cultural cultivou

e sempre procurou atender para não cair em desuso. Até mesmo nas modernas formas

comunicativas, geradas pelas tecnologias digitais, há mais do que nunca presente a relação

oferta e demanda com uma perspectiva um pouco alterada no sentido de que hoje é muito mais

fácil ofertar as dinâmicas porque a adesão imediata é facilitada pela tecnologia. Temos visto

isso facilmente em eventos significativos ou datas especiais em que as redes sociais padronizam

a discussão de temas emergentes do mesmo modo que faz a hipótese da Agenda Setting14.

14 De hipótese parcimoniosa à teoria, o Agenda Setting inclui “[...] proposições sobre as condições contingentes

destes efeitos, as influências que estabelecem a agenda da mídia, o impacto dos elementos específicos das

mensagens da mídia, e uma variedade de consequências deste processo de agendamento”. (MCCOMBS, 2009, pp.

8-9). Ver mais em McCOMBS, Maxwell. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis, RJ: Vozes,

2009.

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Mas não é apenas sobre o público, no sentido de cliente, que é preciso refletir. É

necessário olhar também o papel dos meios de comunicação de massa. Lazarsfeld e Merton

(1957) os qualificam como um instrumento poderoso que pode ser usado tanto para o bem

quanto para o mal. Os meios experimentam de um poder mágico por parte daqueles que os

consomem. Os autores elencam três condições dos meios: sua ubiquidade e poder potencial; a

preocupação com os efeitos sobre o público sem que haja um pensamento digerido por parte de

quem recebe a mensagem e a deterioração dos gostos estéticos e dos padrões culturais

populares. Além disso, os meios exercem funções sociais. Uma delas, a de conferir status a

questões públicas, pessoas, organizações e movimentos sociais. Também são capazes de impor

normas sociais, como por exemplo, atribuírem um poder à imprensa. Também existe a

disfunção narcotizante voltada a interesses especiais ou gerais. De modo geral, o destinatário

fica narcotizado diante do que recebe. Não é o caso de se aprofundar no contexto desta pesquisa

em curso, mas, é o que podemos considerar sobre o trabalho da imprensa brasileira na crise

econômica e política do Brasil em meio da década 2010-2020. Para Lazarsfeld e Merton, os

meios de comunicação de massa elevaram o nível de informação a grandes populações, porém,

na maioria das vezes, consumiram as energias do público para que este perdesse o caráter ativo

e se entregasse à passividade.

São as indústrias midiáticas cumprindo suas atividades, e que para Thompson (1995)

não podem ser pensadas separadamente da produção e circulação das formas simbólicas dentro

das sociedades modernas. A mídia – se apropriando do termo de Gerbner – é uma ambiência e

está integrada à vida social. O papel midiático não teve significativa importância até um

primeiro feito histórico: as técnicas de imprensa desenvolvidas por Gutenberg, no século XV.

É que a possibilidade de reprodução fez com que muitos textos se espalhassem, inicialmente,

pela Europa. A oralidade saía de cena e os conteúdos transmitidos provocaram mudanças nas

formas simbólicas de produção, consumo e porque não de reflexão sobre o que recebiam seus

destinatários. Dava-se início a um processo de transmissão cultural, que é para Thompson,

quando as formas simbólicas são transmitidas dos produtores aos receptores. Entretanto, a

transmissão cultural passa por níveis que envolvem o meio técnico, o aparato institucional e o

distanciamento espaço-temporal da transmissão. Todas essas modalidades de transmissão

cultural são maneiras específicas para produção, mercantilização e circulação ampliada das

formas simbólicas.

O meio técnico, segundo Thompson (1995), permite certo grau de fixação com respeito

à forma simbólica que é transmitida. Assim, os meios propiciam diferentes mecanismos de

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estocagem de informação, ou seja, há um conteúdo significativo. Também é possível, pelo meio

técnico, a reprodução da forma simbólica. Os meios técnicos também exigem participação do

público que requer codificações e decodificações dos próprios indivíduos segundo a natureza

dos meios. Algo muito similar ao que McLuhan dizia, por exemplo, sobre a relação dos públicos

com os meios quentes e frios.

Já o aparelho institucional de transmissão envolve um conjunto específico de

articulações nas quais o meio técnico é elaborado e os indivíduos estão envolvidos nas formas

simbólicas. As articulações envolvem relações hierárquicas e, para o seu desenvolvimento, são

essenciais os canais de difusão. Podemos pensar nisso, por exemplo, atualmente nas novas

maneiras de difusão de um acontecimento. Não necessariamente é possível acompanhar um

fato apenas por um meio específico. Vemos, pelo avanço das tecnologias, as convergências

entre plataformas midiáticas que, ao mesmo tempo, permitem que as formas simbólicas

circulem. Vemos muito, nos dias de hoje, o cruzamento entre Televisão e Internet, por exemplo.

De tal modo, que como diz Thompson (1995), a difusão de formas simbólicas se tornou um

processo a ser regulado de vários modos. Hoje em dia, a ideia permanente de seguir uma

programação com horários definidos para acessar algo inexiste, afinal, as formas simbólicas da

relação midiática se transformaram e permitem novas possibilidades. São experiências mais

modernas, o que não necessariamente, representam novidades conceituais. Poucas linhas acima,

vimos Lazarsfeld e Merton já falando em ubiquidade no século XX. Termo que se oferece como

uma das “grandes descobertas comunicacionais” contemporâneas.

O terceiro aspecto da transmissão cultural envolve o distanciamento espaço-temporal.

O rádio, por exemplo, ao mesmo tempo em que está longe do destinatário, exerce um papel de

co-presença, tanto que é considerado um meio de companhia. A fotografia tem o mesmo

sentido, pois, sua função é deixar registrado um momento vivido. Considera Thompson (1995,

p.226):

Quando as formas simbólicas são transmitidas para além de um contexto de co-

presença, podemos falar de extensão de acessibilidade das formas simbólicas no

tempo e espaço, onde a natureza e o grau de acessibilidade-extensão dependem tanto

do meio técnico de transmissão como do aparato institucional em que o meio e seus

usuários estão inseridos. (THOMPSON, 1995, p. 226)

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As telecomunicações favoreceram esse distanciamento e, hoje em dia, com a Internet,

avançaram muito mais. Um dos meios que consideramos mais importantes e revolucionários,

nesse sentido, é o Whatsapp, pois, permite com que o distanciamento se torne uma co-presença

através das várias possibilidades como envio de textos, vídeos, fotos e também a possibilidade

em realizar ligações telefônicas. Essa possibilidade coincide com o que diz Thompson (1995)

sobre as mudanças tecnológicas que são cruciais para a história da transmissão cultural. É que

toda tecnologia, quando entra em curso, altera uma base material.

Para fechar esta segunda dimensão que nos propusemos a analisar sobre Comunicação,

é fato que a de massa se difere da interpessoal. Além das definições anteriores, Thompson

(1995) vai tratar da Comunicação de Massa como conjunto de mensagens transmitidas pelas

indústrias da mídia que floresceram com o capitalismo industrial e o surgimento do moderno

Estado-Nação. O autor considera que não se pode pensar a massa em termos quantitativos.

Embora as mensagens sejam distribuídas a muitos, cada pessoa vivencia a seu modo, os

contextos sócios históricos específicos e isso gera graus diferentes de concentração e

interpretação.

Para Thompson (1995), a primeira característica da Comunicação de Massa é a

produção e difusão de bens simbólicos institucionalizados em larga escala. A segunda

característica é que ela institui uma ruptura fundamental entre a produção e a recepção de bens

simbólicos. Os meios técnicos fazem uma mediação ao receptor que não se encontra no

contexto da produção. Com isso, a retroalimentação está privada. A terceira característica é que

a Comunicação de Massa aumenta a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no

espaço. E por último, o autor fala da circulação pública das formas simbólicas que envolvem o

objetivo das instituições de Comunicação de Massa em alcançar a maior audiência possível,

pois, a audiência significa valorização econômica. Um conjunto de articulação do bem

simbólico do capital.

Por fim, os meios de Comunicação de Massa despertam as questões ideológicas, porém,

como analisa Thompson (1995), eles não podem ser a única forma de pensar ideologicamente.

Sua ligação com preceitos ideológicos se dá porque eles são parte da difusão das formas

simbólicas que podem estabelecer e sustentar relações de dominação. Além disso, os meios

também proporcionam novos tipos de ação e interação bem como novas possibilidades de

relações sociais que se difundem no tempo e no espaço. Não é somente pelo que a mídia produz,

mas também pelo que se recebe, que o contexto ideológico deve ser considerado nessa interação

da vida cotidiana. Há de se considerar também que não se pode pressupor que os indivíduos

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que recebem mensagens midiáticas serão impelidos a agir de forma conformista com os

interesses do polo de produção. Thompson (1995, p.345) afirma que “É apenas através da

análise da estrutura e do conteúdo das mensagens da mídia em relação a esses referenciais da

interação e de conjuntos circunstantes de relações sociais que nós podemos examinar o caráter

ideológico dos produtos da mídia”. Isto leva a apontar que não há ideologia nas formas

simbólicas em si porque o movimento ideológico está nas relações de dominação.

1.2 A Comunicação na dimensão da Pesquisa: origens institucionais

Esta terceira dimensão se volta ao olhar que a Academia empresta às práticas

comunicacionais por meio da pesquisa, por isso, algumas discussões se fazem necessárias.

Entre elas, a conformação institucional da Área e certas particularidades que passam pela

grande incógnita da real natureza da Comunicação, no âmbito acadêmico, em função de suas

atribuições que se dividem entre campo, ciência e relações interdisciplinares, capazes de

sustentar acalorados debates. A assertiva mais factual é de que a Comunicação se enquadra na

Grande Área das Ciências Sociais Aplicadas. Mas antes de discutir o emaranhado de sua

natureza para a consolidação de pesquisa, é necessário um resgate institucional sobre o qual se

materializou o conhecimento em Comunicação.

A Comunicação tem origens na Antiguidade, segundo apontamento feito pela

reconstrução histórica do professor José Marques de Melo (2008), que apresenta um itinerário

partindo da Atenas, do século IV a.C., quando Aristóteles fundou a Escola de Eloquência por

meio do ensaio denominado Arte Retórica no qual expõe os princípios estético-dialéticos da

arte da oratória. Já para o século primeiro d.C., a oratória ganha nova perspectiva quando

Quintiliano funda a Cátedra de Retórica do Império Romano a partir de seu tratado “Sobre a

formação do orador”, organizado em quatro tomos.

O tempo dá um salto e a História Moderna se registra por meio do poeta John Milton,

em 1644, com a publicação, na capital da Inglaterra, de “Aeropagítica”, um elogio público à

liberdade de imprensa que tinha como destinatário o Parlamento Inglês. A publicação refletia a

Comunicação Pública da época. Quase meio século depois, em Leipzig, se tem a notícia de

Tobias Peucer defendendo a tese de doutorado “Os relatos noticiosos” em que analisou o

processo de produção retórica do primeiro jornal diário europeu. Esse foi o pontapé inicial para

a criação de um instituto que daria continuidade aos estudos 34 anos depois. Nota-se que

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reflexões em forma de pesquisa já aconteciam, mas, o aprendizado não se dava de outra forma

senão por meio dessas experiências.

Foi com Breslau, na Polônia, em 1806, que surgiu a noção de curso ao ser criada a

primeira forma de ensino sobre Teoria do Jornalismo, intitulada Ciência da Imprensa. Do

paradigmático Estados Unidos, surgem as primeiras contribuições, em 1869, vindas do estado

da Virgínia com a fundação do Washington College, que ofereceu o primeiro curso sobre a

prática do jornalista a fim de aperfeiçoar a formação de tipógrafos que também publicavam

jornais. E da capital francesa, Paris, 1899, veio a École Superieure de Journalisme, destinada a

formar profissionais para empresas do ramo. Sua criação nasceu da exigência do congresso

europeu de jornalistas, realizado em Portugal.

O Jornalismo dá sua contribuição para o início das reflexões no âmbito da pesquisa. Isso

se confirma na História Contemporânea, mais precisamente, em 1907, quando foi defendida a

primeira tese de doutorado sobre Jornalismo na Universidade de Munster, na Alemanha. E a

prática jornalística renderia mais. Em Missouri, EUA, 1908, Walter Williams fundou a primeira

Escola de Jornalismo com cursos de bacharelado, além de um jornal diário pelo qual se

realizava na prática, a formação de futuros profissionais da imprensa local e regional. Em Nova

York, Joseph Pulitzer patrocinou, em 1912, a fundação da primeira Graduate School of

Journalism, na Universidade de Columbia, com cursos de mestrado voltados à formação de

editores e repórteres especializados. Também nos EUA, foram fundadas entre 1912 e 1914, as

primeiras associações acadêmicas do campo. A Association for Education in Journalism and

Mass Communication e a National Communication Association publicaram as primeiras

revistas científicas do campo. Em Iowa, George Gallup defendia sua tese de doutorado criando

um novo método para mensuração da opinião pública aplicado inicialmente nas faculdades de

Jornalismo onde lecionava. Depois disso, o Instituto Gallup se tornou a organização privada

pioneira na realização de pesquisas midiáticas para empresas do ramo. A década de 1920

marcou também a fundação do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais (SSRC), por

professores de Chicago e Columbia, inovadoras nos currículos e na formação de doutores. Foi

lá, segundo recupera texto de Craig Calhoun (2012), que se deu importância à reflexão

interdisciplinar. Com isso, melhoraram-se qualitativamente a pesquisa empírica e as

metodologias. Melhorias como pesquisa de levantamento, o uso de computadores e os modelos

matemáticos beneficiaram muitos campos científicos.

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Na Califórnia, em Palo Alto15, o ano de 1955 registrou a criação do primeiro doutorado

em Comunicação por parte de Wilbur Schramm. Com uma equipe de jovens doutores, o grupo

passaria a ter papel de liderança acadêmica com funções estratégicas junto à UNESCO

(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que desempenhou um

papel significativo na sistematização da Comunicação em Área porque foi ela que fomentou a

criação da International Association For Media and Communication (IAMCR). Isso começou,

em 1946, quando as narrativas das Ciências Sociais e Humanas apresentavam crescimento em

função da Comunicação de Massa e seus fenômenos. Nesse início, a UNESCO propôs formar

um instituto internacional de imprensa e informação com o objetivo de promover treinamentos

para jornalistas, além de discutir os problemas da imprensa pelo mundo. Era um tempo em que

a mídia de massa estava majoritariamente vinculada à imprensa, ao rádio e ao cinema porque a

televisão ainda se encontrava em estágio experimental.

Os meios de comunicação de massa tinham um reconhecimento importante em algumas

áreas incluindo as relações internacionais. Uma das primeiras conferências organizadas pela

ONU, em abril de 1948, foi direcionada à liberdade de informação. O tema, aliás, integrou o

artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos16. Esse artigo foi desenvolvido com

a colaboração de dois fundadores da IAMCR: Fernand Terrou e Jacques Bourquin. A IAMCR

foi efetivamente colocada em atividade uma década depois disso, durante uma conferência

promovida pela UNESCO, em Paris, em 1957. A demora se justificou pelo lento progresso das

relações entre Leste e Oeste e também pelo início da Guerra Fria. Por conta de acontecimentos

históricos como esse, os temas opinião pública, meios de comunicação e relações internacionais

foram tratados internamente em detrimento das ideologias de liberdade.

A criação de uma associação de pesquisa não se deu antes porque, em 1951, o Instituto

Internacional de Imprensa (IPI) se formou como uma associação de editores e donos de jornais,

no Mundo Ocidental, representando um espaço livre em relação ao comunismo. Isso fez a

UNESCO entender que o IPI estaria se propondo a realizar uma análise de conteúdo do fluxo

15 Seu autor central foi o antropólogo Gregory Bateson. Marcado profundamente pelas teorias emergentes no

contexto americano depois da Segunda Guerra Mundial, pensou os paradoxos da abstração na comunicação. Seus

estudos interagiram diferentes tradições como cibernética, teoria dos sistemas, pesquisas sobre a nova

comunicação e teorias da aprendizagem. Os pensadores de Palo Alto compreendiam a comunicação como processo

de interação cujos significados são produzidos e compartilhados pelos interlocutores em determinado contexto.

Ver mais em CITELLI, Adilson... [et al.]. Dicionário de comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo:

Contexto, 2014. 16 Artigo XIX: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,

sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e

independentemente de fronteiras”. Ver em http://www.dudh.org.br/declaracao/

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internacional de notícias. Todavia, os olhares da UNESCO foram além porque se percebeu que

a liberdade de imprensa não era o único tema em meio ao crescente campo da Comunicação de

Massa que contava com contribuições a partir do ensino do Jornalismo. Essa percepção fez com

que, em 1952, a entidade se voltasse a essa questão estabelecendo centros de treinamento para

jornalistas a partir de uma organização internacional voltada à pesquisa científica em

Comunicação de Massa. No ano seguinte, houve um encontro de profissionais de Jornalismo

da Europa Ocidental e dos Estados Unidos.

Tais iniciativas iam configurando a Área. Assim a UNESCO deu mais uma importante

contribuição ao desenvolver um Departamento de Comunicação de Massa com o objetivo de

recolher, analisar e divulgar informações sobre imprensa, cinema, rádio e televisão, sempre no

contexto de seus usos para fins educativos, culturais e científicos. O resultado disso começara

a ser visto nas publicações em série, relatórios e artigos sobre o tema. Em “No 21: Current

Mass Communication Research”, estavam reunidos projetos de pesquisa em andamento a um

referencial bibliográfico de livros e artigos publicados desde 1955. Eram oito temas tratados a

partir da Comunicação de Massa e suas relações históricas, econômicas, jurídicas, serviços de

informação e propaganda do governo, publicidade e relações públicas, estudos psicológicos e

sociológicos, opinião pública e sua perspectiva pedagógica/cultural. Toda essa frente somava

aproximadamente 400 projetos de 14 países. Em relação à bibliografia, chegaram a ser listadas

800 publicações em 25 países. O mesmo sistema se estendeu à França, ao Japão e aos EUA.

Também houve adesão da Alemanha Ocidental e da Itália.

Em 1956, ano decisivo para a UNESCO entrar nessa jogada de conjectura da Área, um

encontro em Paris confirmou que havia uma dinâmica área de pesquisa e treinamento nos EUA

e outras partes do mundo. Nesse ano, na Conferência Global da UNESCO, em New Delhi, na

Índia, decidiu-se promover atividades coordenadas em institutos nacionais de pesquisa na área

da Comunicação de Massa como forma de incentivar a concretização de uma associação

internacional que congregasse tais institutos. Para a execução dessa missão, foi estabelecido um

Comitê Provisório integrado por Fernand Terrou (diretor do Instituto de Imprensa da França e

Presidente da Associação para Estudos de Comunicação da França); Mieczyslav Kafel (diretor

do Instituto de Jornalismo da Universidade de Varsóvia); Marcel Stijns (editor-chefe do jornal

belga Het Laatste Niews e vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas) e David

Manning White (professor de Jornalismo da Universidade de Boston e presidente do Conselho

de Pesquisa da Associação para Educação em Jornalismo).

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Fernand Terrou presidiu o comitê e convidou Jacques Kayser, diretor de pesquisa do

Instituto Francês de Imprensa, para ser o secretário executivo. A não nomeação de Jacques

Bourquin, que nem membro do comitê era, gerou um impasse. Insatisfeito, Bourquin fez

pressão junto à Federação Internacional de Jornais para que o ajudasse a integrar esse comitê,

porém, mesmo lançando mão de artimanhas, a UNESCO não o incluiu. É que havia uma briga

política de Bourquin com o então diretor do Departamento de Comunicação de Massa da

IAMCR, que reconhece em seu site, essa diferença como um exemplo de fatores subjetivos que

podem intervir numa história institucional. Esse Comitê Provisório foi reconhecido pela

UNESCO e seus integrantes prepararam os estatutos com o propósito de estabelecer, entre as

missões, os contatos internacionais, a viabilização de produções bibliográficas e instituições

que poderiam fazer parte do inventário da UNESCO. Além da formação institucional, a

configuração em torno dos interesses de estudo ia se projetando. Num encontro, em

Estrasburgo, leste da França, a Comunicação de Massa foi considerada, assim como outros

campos de atividade socioeconômica, com certo nível de importância e especialização na

sociedade, o que levou à institucionalização do campo nacional e internacionalmente.

Assim a IAMCR cresceu com uma mídia em desenvolvimento tendo no Jornalismo um

ramo de atividade que exigia educação profissional e pesquisa científica. Isto fez com que a

entidade se concentrasse, então, nas problemáticas que envolvessem Jornalismo e Comunicação

de Massa. A IAMCR andou com o apoio de acadêmicos, jornalistas e profissionais da mídia,

inclusive, donos de jornais. Fernand Terrou, o primeiro presidente, se dedicou a ensinar e

promover a pesquisa em Informação e Mídia. Ao ocupar esse cargo, valorizou as atividades de

pesquisa e deu apoio à criação de centros de pesquisa e documentação até em países em

desenvolvimento.

Tratativas feitas, providências tomadas, chegava a hora da IAMCR sair do papel. A

conferência que a instituiu aconteceu em dezembro de 1957, em Paris, como já colocado neste

capítulo. Como os encontros eram bienais, foi em 1959, que se deu a primeira assembleia geral,

em Milão, na Itália. O processo de fundação ainda se estendeu até o ano de 1961 na Conferência

de Viena. Mas retomando a primeira assembleia, foi nela que o professor de Jornalismo da

Universidade de Minnisota, nos EUA, Raymond B. Nixon, foi eleito presidente. O brasileiro

Danton Jobim fez parte do Comitê Executivo. A maioria dos integrantes eram jornalistas

profissionais e profissionais de Jornalismo voltados à mídia impressa. Mas a UNESCO queria

incorporar outras mídias.

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Boa parte dos pesquisadores era europeia e os aspectos sociais, psicológicos,

tecnológicos e de marketing estavam representados na pesquisa. O cinema e a televisão não

tiveram tanto espaço, embora o presidente Nixon tenha feito esforços para mudar isso. Nos anos

1960, ele fez contatos com pesquisadores de outras disciplinas para receber apoio. Destaca-se

como um colaborador efetivo, Paul Lazarsfeld, considerado o pai da pesquisa em Comunicação.

A Assembleia de Viena marcou a maior representação de áreas de pesquisa. Em 19 anos, a

IAMCR passou de 30 países e 100 membros para 60 países e 1.000 membros. Um período que

representou mudanças alcançadas pela pesquisa.

Desde seu surgimento, o período de consolidação, datado entre 1964 e 1972, ocorre

inicialmente com a mudança da sede que deixou Amsterdã, na Holanda, para a Suíça. Essa

mudança foi na gestão do presidente Bourquin, aquele que queria ter feito parte do Comitê

Provisório até a instituição da IAMCR. Foi no tempo dele que boletins com notícias da entidade

começaram a ser reproduzidos. Além de notícias, alguns estudos temáticos, como o da

comparação de estatutos das empresas de rádio e TV, receberam apoio da UNESCO para

publicação.

Todos os ideais faziam mais sentido quando os pesquisadores se encontravam para o

intercâmbio acadêmico. Foi então nesse período de consolidação que a IAMCR concentrou

suas atividades na conferência bienal e nos simpósios. Além dos temas de pesquisa, ações

políticas também surgiam desses momentos. Nessa toada, o ano de 1966 abrigou uma

conferência importante que contou com representantes da Europa, Ásia e EUA. Eles discutiram

os meios de comunicação para o desenvolvimento nacional e dessa intenção surgiu a ideia de

fundir a IAMCR com a WAPOR, World Association for Public Opinion Research.

O amadurecimento da entidade se construía ao longo do tempo e deu sinais importantes

como, por exemplo, a participação feminina. Em 1968, Irena Telepowska, da Polônia, se tornou

a primeira mulher a ocupar uma posição de liderança na IAMCR ao se tornar chefe da seção de

bibliografia. Mas, um ano depois de chegar a esse cargo, ela morreu em um acidente de avião

a caminho de uma reunião do Comitê Executivo.

Os encontros tinham uma grande importância para a consolidação da entidade. A

Assembleia Geral de 1970, em Constance, na Alemanha Ocidental, foi importante para os

historiadores já que foram aprovados e recomendados à ONU (Organização das Nações Unidas)

aspectos da Comunicação de Massa considerados a partir da liberdade de informação, da

integridade cultural das nações e do uso de satélites. Tratava-se de uma importância tão grande

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que já se projetavam fenômenos a ponto de haver o interesse em dar legitimação e

reconhecimento à “Ciência da Comunicação de Massa”. Esse momento deriva da passagem dos

anos 1960 para os anos 1970, quando se denota uma evolução significativa à IAMCR. A

pesquisa de Comunicação de Massa cresceu em todos os lugares, especialmente, a partir da

expansão da televisão. Novos programas universitários se estabeleceram e comitês nacionais

foram criados para destacar o campo. Também foi um período marcado pelo ingresso de

pesquisadores anti-positivistas no campo, casos de Robin Cheesman, Nicholas Garnham e

Armand Mattelart. Além das questões intramuros, a UNESCO, concomitantemente, priorizou

em sua agenda a pesquisa em Comunicação de Massa.

É que, em 1968, houve autorização para que a UNESCO, em cooperação com

organizações nacionais e internacionais, governamentais e não-governamentais realizasse

pesquisas sobre o progresso tecnológico nos meios de comunicação para promover o estudo

sobre o papel e os efeitos deles na sociedade moderna. Essa possibilidade fez com que uma das

primeiras atividades do diretor do Departamento de Comunicação de Massa, Pierre Navaux,

fosse definir a comissão de Halloran, um documento que tratava sobre meios de comunicação

e sociedade. O resultado disso foi apresentado numa reunião em Montreal, no Canadá, e

apontou para a necessidade da pesquisa com a divulgação de relatórios e documentos sobre

Comunicação de Massa. Foi tão importante esse evento para a história da pesquisa de

Comunicação de Massa que um painel foi realizado, em 1971, com vistas à preparação de

propostas para um Programa Internacional de Pesquisa em Comunicação.

Os anos de 1972 a 1988 representaram o crescimento da IAMCR. Suas atividades saíram

do circuito europeu e chegaram pela primeira vez à América Latina. Esse intercâmbio numa

área do mundo sempre em desenvolvimento, mas muito pouco desenvolvida, demandou um

novo início de cooperação com a UNESCO. Foi considerado um período de virada social

porque o jovem campo da Comunicação passara a ter consciência de seu envolvimento na

política social. Tal conferência teve como tema “Comunicação e Desenvolvimento”. Contou

com cerca de 50 membros da IAMCR, sendo notável a grande participação de argentinos e

demais sul-americanos. Por aqui, pensaram em uma nova divisão de pesquisa sobre mídia e

países em desenvolvimento. Alfred Opubor, da Nigéria, foi eleito chefe da seção e o francês

Annette Suffert foi nomeado para dirigir a seção de estudos sobre televisão. Em 1973, passou-

se à discussão do presente, passado e futuro da IAMCR com a prioridade de que a entidade

mantivesse um jornal e estabelecesse cooperações com revistas novas ou existentes.

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A América Latina saiu de cena e a IAMCR voltou a fazer uma conferência na Europa.

Em 1974, Leipzig, na Alemanha, abrigou “Comunicação de Massa e convivência social num

mundo em mudança”. A partir de uma conjuntura geral, atenção a quatro subtemas: economia,

participação, socialização e desenvolvimento de nações. Mais de 60 trabalhos foram

apresentados e depois editados em dois volumes multilíngues. O presidente Halloran destacou

a necessidade da IAMCR em atrair e manter o interesse de novos e jovens pesquisadores em

meio a essa conferência que propiciou debates sobre políticas de pesquisa, objetivos, teorias,

métodos e resultados. Aquela ideia do jornal para divulgar ações da entidade foi descartada

porque algumas revistas se propuseram a divulgar informações sobre a IAMCR. A UNESCO

patrocinou uma publicação de 130 páginas, às vésperas da conferência de 1976, tratando de

meios de Comunicação e socialização a partir de bibliografia internacional e diferentes

perspectivas.

Chegamos a 1976, quando Leicester, na Inglaterra, recebeu a conferência com mais de

300 participantes. Foram quatro os temas tratados: o estado da arte da pesquisa em

Comunicação, sob coordenação de Lothar Basky, George Gerbner e Peter Golding; Estruturas

e Contextos de produção de mídia, sob responsabilidade de Stuart Hall, Michael Tracey e John

Pollock; Influência da mídia, com Neville Jayanceria, N. Mansurov e Elisabeth Noelle-

Neumann; Mídia e Compreensão Internacional, com colaborações de Luís Beltrán, Phil Harris,

Al Hester e Frank Ugboajch. Entre os debatedores, estavam Jay Blumler, Thedore Glasser, Jan

Ekecrantz, Cees Hamelink, Elihu Katz, Ramona Rush e Percy Tannenbaum. Essa conferência

foi considerada oportuna para trocas intelectuais, além de se tornar notável para adotar

resoluções sobre a necessidade de políticas de Comunicação internacionais a serviço do

desenvolvimento democrático e o apoio ao direito universal de se comunicar, premissas

constantes do ponto de partida para tudo isso e que, inclusive, constam da Declaração Universal

dos Direitos do Homem. Nesse encontro, o relatório da Comissão MacBride17 foi examinado e

passou a ser uma preocupação da UNESCO, que deixou de apoiar as publicações temáticas.

Mesmo cortando por um lado, a UNESCO incentivou por outro, depois que firmou contrato

com a IAMCR para um estudo sobre notícias estrangeiras. Além disso, a seção de Educação

Profissional desenvolveu um projeto para a promoção de livros didáticos no ensino de

Jornalismo no mundo em desenvolvimento.

17 Foi o primeiro documento oficial de um organismo multilateral que reconheceu grande desequilíbrio no fluxo

mundial de informação. Incentivou conferências regionais sobre políticas culturais e nacionais de comunicação.

Ver detalhes em CITELLI, Adilson [et al]. Dicionário de Comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo,

SP: Cortez, 1991.

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Outra publicação, com apoio da UNESCO, foi um livro abordando os temas principais

da conferência “Meios de Comunicação e Visão da Sociedade do Homem: um relatório da

conferência e bibliografia internacional”, de 1978. Nesse mesmo ano, na Polônia, houve a

conferência “Comunicação Social e Cultura”, com uma abordagem referente à perspectiva da

Teoria Matemática em Pesquisa de Comunicação a partir da visão econômico-política. Essa

conferência também teve um livro publicado, 2 anos depois, com temas como ideologias,

teorias e metodologias de meios de comunicação de massa e cultura; estrutura, conteúdo e

impactos das culturas nacionais com fatores políticos, econômicos e tecnológicos de

comunicação transcultural e internacional.

Os bons tempos do financiamento passaram e a UNESCO reduziu apoios, condição que

freou o crescimento e o dinamismo da IAMCR cuja ideia de criar um jornal para a entidade

mais uma vez foi refutada tão logo George Gerbner fez nova sugestão. Enquanto isso, outras

associações se mobilizaram regionalmente: ACCE, na África; AMIC, na Ásia e ALAIC, na

América Latina.

Os anos de 1980 marcaram a volta das mulheres à IAMCR com a conferência de

Barcelona, na Catalunha, em 1988. Foi a partir desse encontro que se desenvolveram as

primeiras pesquisas sobre mídia e gênero encabeçadas por Madeleine Kleberg, da Suécia. Outra

área de pesquisa criada foi a ‘educação para os meios’. Também, nesse encontro, os estatutos

da IAMCR foram revistos. Ainda nos anos 1980, a entidade voltou a realizar uma conferência

em espaço latino-americano, desta vez, em Caracas, na Venezuela. “Novas Estruturas de

Comunicação Internacional” teve como grande destaque um debate entre Ithiel de Sola Pool e

Hebert Schiller a respeito da tecnologia de mídia e ideologia.

Da década de 1990 em diante, veio a fase de mudanças. O advento da Internet

possibilitou o contato virtual diminuindo o período de tempo bienal das conferências. Passou a

haver um interesse em métodos interdisciplinares à pesquisa em Comunicação. A geopolítica

foi um fator favorável à IAMCR que sempre considerou a representação internacional um fator

estimulante para a intelectualidade. Mais do que os desafios institucionais, a própria

Comunicação de Massa mudou sua natureza com a era das novas mídias e a digitalização. Nos

anos 1990, o “M” de massa virou “M” de media. A UNESCO passou a criar novas estruturas

com as Cátedras UNESCO em Comunicação18. Essa frente gerou uma divisão na organização

18 A Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional foi criada em 1994 quando a instituição

consultou o Prof. Dr. José Marques de Melo sobre a possibilidade da Universidade Metodista de São Paulo sediar

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do campo da pesquisa em Comunicação internacional. O pluralismo global foi reconhecido pela

IAMCR em função do conjunto diversificado de associações regionais e internacionais ativas

pelo mundo.

1.3 O papel institucional da América Latina

Como vimos pelos registros históricos da IAMCR, a América Latina serviu duas vezes

de palco para receber conferências da entidade. Trata-se de pequenas ações que denotam a

representatividade que essa parte do mundo ocupa junto aos estudos em Comunicação. Sem

nos aprofundarmos, mas colocando um pouco da questão, a América Latina é tratada como um

Novo Mundo, o continente da esperança, que seria uma contraposição à Europa, segundo Gasio

(2011). Levando em conta o riquíssimo repertório sociocultural por meio do qual podemos

contar a participação latino-americana. Seja na literatura, no teatro, no cinema, nas artes em

geral, na política, temas não faltam para se aprofundar nessa região do mundo formada por 20

países.

Tratar de comunicação na América Latina é, porque não, ao mesmo tempo, tenso e

denso. Se a abordagem for pelos meios de comunicação, por exemplo, como não tratar as

questões da Comunicação pública governamental e a luta contra a censura? Do ponto de vista

dos meios, temos as formas autoritárias do sistema comunicacional da Venezuela ou a Ley de

Medios, polêmica na Argentina, por querer a diminuição da concentração midiática nos anos

de presidência de Cristina Kirchner19. Em 2016, há de se considerar o dúbio papel da imprensa

brasileira no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff20. Tais práticas ajudam

a formar nosso mosaico cultural que apresenta demandas suficientes para correntes temáticas

sobre as quais autores têm se debruçado com uma pretensão: instituir e legitimar a Escola

Latino-Americana de Comunicação (ELACOM).

A condição de dependência da América Latina também se dá na pesquisa em

Comunicação, afinal, nossas práticas ainda se enquadram, para devido reconhecimento

científico, nas teorias do paradigma estadunidense. A apregoada libertação teórica teve seus

uma das quatro Cátedras de Comunicação previstas para a América Latina. Ver mais em:

http://portal.metodista.br/unesco/ 19 De 2007 a 2015, exerceu dois mandatos como Presidente da República da Argentina. 20 Assumiu a presidência do Brasil, em 2011 para o primeiro mandato e foi reeleita, em 2014, tendo sofrido

processo de impeachment em 2016.

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aportes iniciais, nos anos 1960 e 1970, com a origem do CIESPAL e o trabalho de Jorge

Fernández, intelectual que dirigiu o organismo estabelecido pela UNESCO, em Quito, capital

do Equador. Seu vanguardismo foi ao encontro do pensamento econômico do argentino Raul

Prebisch. Juntos, chegaram a realizar, no Chile, uma reunião de especialistas sobre o

desenvolvimento dos meios de comunicação na América Latina. O evento teve as participações

dos pensadores da Comunicação, Wilbur Schramm e Fernand Terrou. Toda a gênese do

pensamento latino-americano se relacionou ao Jornalismo pelo fato de que essa frente

comunicativa se estabelece como elo entre os acontecimentos e a comunidade, em suma, uma

espécie de espelho da história. O professor José Marques de Melo (2014) recorda que Fernández

destacava a falta de engajamento na pesquisa científica em Comunicação, praticamente

inexistente no âmbito latino-americano. Esse diagnóstico foi tema de um seminário, em 1966.

Coube a Gonzalo Córdova, sucessor de Fernández, estimular a superação da dependência

teórica, em especial, com novos rumos a um pensamento autóctone.

O respaldo teórico para uma Escola Latino-Americana da Comunicação não tem sido

tarefa das mais fáceis, porém, surge de algumas contribuições. O professor José Marques de

Melo atribui esse levante à inspiração da Teoria da Dependência e da Teologia da Libertação.

Os anos 1970 marcaram o início de estudos sobre fenômenos comunicacionais latino-

americanos. Grupos pioneiros, inovadores e renovadores foram categorizados nessas questões.

O que se atribui à pretendida ELACOM é a prática do hibridismo e da mestiçagem latino-

americanos como resposta à síndrome do colonizado. Um dos marcos referenciais nesse

engajamento é Luís Ramiro Beltrán, que simplifica a Comunicação em processo humano que

envolve diálogo, participação e acesso igualitário. Ele vai aplicar tais preceitos às realidades

latino-americanas em função de interesses, necessidades e identidades culturais. Sua pesquisa

rompe e questiona a validade dos conceitos e métodos de pesquisa estadunidense.

Tornam-se centrais também para a validação latino-americana o pensamento sobre

mediação, de Jesús Martin-Barbero, cuja pesquisa envolve a articulação das práticas

comunicacionais pelos sujeitos. Contexto cultural, processos sociais, matrizes culturais,

gêneros, mestiçagem e o uso de espaços e objetos se tornaram relevantes. São o popular, a

cultura e o cotidiano como valores para os estudos em Comunicação. Temas como dependência

cultural, cultura, consumo cultural, identidade cultural, mestiçagem, mediações e recepção vão

ganhando escopo, formulações teóricas e empíricas. Nomes como os de Néstor Garcia Canclini,

Valério Fuenzalida, Guillermo Orózco, entre outros, surgem no cenário latino-americano.

Então, se Barbero concebe os meios de comunicação como produtores sociais que propiciam a

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interação das mediações humanas, conflitos simbólicos e interesses políticos e econômicos; se

Canclini trata o consumo como processos socioculturais demarcados por trabalho e expansão

do capital, apropriação do produto social, diferenciação social, sistema de integração e

comunicação; se Fuenzalida entende a influência grupal como algo sumariamente importante

na construção do sentido que as pessoas atribuem à mensagem; se Orozco aborda as

multimediações diante da exposição dos indivíduos às mensagens; se Jorge González pensa a

Hegemonia como um “momentum” das relações em um determinado espaço social onde se

criam e recriam as formas simbólicas de toda relação social, os latino-americanos não estão

descrevendo, prevendo e descobrindo novos conhecimentos? Logo, estão teorizando, sim! Com

isso, emerge mais uma questão de reconhecimento e não de denegação a respeito dessa

produção teórica.

Mas para chegar a isso, há um conjunto de iniciativas institucionais que possibilitaram

a configuração para um pensamento latino-americano sobre Comunicação. O Brasil aparece

pela primeira vez, em 1918, com a realização do 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas,

organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O objetivo era criar uma Escola de

Jornalismo para formar profissionais que atendessem as empresas do ramo. Só nos anos 1940,

essa proposta ganharia materialidade. Antes disso, o IBOPE surgiu para os estudos de audiência

dos meios de comunicação. Uma inspiração que veio do Instituto Gallup. Mas o Jornalismo

como espaço sinônimo à Comunicação ganhou seu centro de estudos. Em 1947, a Cásper Líbero

se tornou a primeira escola de Jornalismo do Brasil em uma parceria com o jornal A Gazeta e

a PUC de São Paulo. Quatro anos depois, surgiu a Escola Superior de Propaganda também na

capital paulista. Mas, ela não foi a primeira faculdade de Jornalismo da América Latina. A

primazia pertence à Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, em 1934.

Em Quito, capital do Equador, surge em 1959, o CIESPAL – Centro Internacional de

Estudios Superiores de Periodismo para América Latina – com a finalidade de formar

professores para o campo da Comunicação e incentivar a pesquisa científica sobre os meios de

comunicação de massa da região. Em Caracas, nascia o Instituto de Investigaciones de Prensa,

na Universidade Central da Venezuela, que no mesmo ano, se tornaria pioneiro em pesquisas

acadêmicas da América Hispânica. Em Recife, 1963, surgia o ICINFORM – Instituto de

Ciências da Informação – o primeiro centro de pesquisa universitária sobre Comunicação na

América Lusófona. De acordo com Marques de Melo (2008, p.155):

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Os primeiros centros de pesquisa que surgiram nas universidades datam dos anos 60,

mas nem sempre tiveram estruturas permanentes. O pioneiro ICINFORM (Instituto

de Ciências da Informação), criado em Recife, foi, pouco a pouco, desativado

quando seu fundador, Luiz Beltrão, transferiu-se para Universidade de Brasília. E,

assim, aconteceu com iniciativas semelhantes, em outras instituições. Até que foram

implantados, nos anos 70, os cursos de pós-graduação em Ciências as (sic)

Comunicação (USP,UFRJ,UNB,PUC/SP e Metodista/SP), nos quais a pesquisa

constitui atividade essencial.

A FACUNB – Faculdade de Comunicação de Massa da Universidade de Brasília –

nascia em 1964, como a primeira, reunindo diversas áreas como Jornalismo, Publicidade, Rádio

e TV e Cinema. Dois anos depois, em São Paulo, a Escola de Comunicações Culturais da USP

se tornaria a primeira instituição dotada de laboratórios, equipe docente em tempo integral e

programa permanente de pesquisa. Também em São Paulo, o ano de 1969 marcava a fundação

da UCBC – União Cristã Brasileira de Comunicação Social, uma entidade ecumênica dedicada

ao estudo da Comunicação de acordo com os princípios do Concílio Vaticano II.

Já o ano de 1972 marcou a fundação da ABEPEC, a Associação Brasileira de Ensino e

Pesquisa em Comunicação, desativada no início da década de 1980. Pouco antes, em 1977,

nascia a INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação –

com vistas à formação de uma comunidade acadêmica nacional. Em sua origem, o compromisso

com o pluralismo teórico, a diversidade metodológica e a liberdade de expressão. Formada por

pessoas de diferentes áreas acadêmicas, houve comprometimento com a prática da

interdisciplinaridade convertendo os processos comunicacionais em focos privilegiados da ação

investigativa. Além do contato internacional, também se prestou à cooperação profissional. A

nucleação dos sócios que se reúnem em um encontro anual é para justamente atender a própria

natureza do campo, fragmentado territorialmente e multifacetado epistemologicamente. Sua

criação foi fator decisivo para disseminar a mentalidade da pesquisa científica nas escolas de

Comunicação ao agregar pesquisadores espalhados pelas universidades brasileiras, criando

fóruns de debates, publicações periódicas e incentivo às novas gerações de pesquisadores. Pela

INTERCOM, a pesquisa brasileira se projetou internacionalmente, como lembra Marques de

Melo (2008, p.156):

Deve-se, em grande parte, ao trabalho desenvolvido pela INTERCOM a decisão das

agências públicas de fomento à ciência e tecnologia (Capes, CNPq, Finep, Fapesp),

alocando ou ampliando os recursos destinados aos centros de pesquisa em

comunicação existentes nas universidades.

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É dos anos 1970 em diante, com o crescimento de cursos profissionalizantes, que os

departamentos de Comunicação floresceram. Em Brasília, 1980, surgiu a Associação Brasileira

de Escolas de Comunicação, a ABECOM. Em Belo Horizonte, foi criada em 1990, a COMPÓS,

a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social reunindo

coordenadores de cursos de Mestrado e Doutorado. Entidade que ainda se mantém com um

encontro anual bastante respeitado.

Toda essa fortuna histórica é fruto do trabalho do professor José Marques de Melo

(2014) que propõe uma cartografia das Ciências da Comunicação. Essa condição científica ao

campo deve ser superior às fragmentações encontradas em seu metier, pois, a Área concentra

como Saber Aplicado um espaço cognitivo multifacetado que envolve Ciência, Arte,

Tecnologia e Humanidades. Passa pela multidisciplinaridade que exige integração teórica e

prática em um exercício de sintonia fina com as demandas sociais. A multiocupacionalidade

reserva carreiras acadêmicas e profissões reconhecidas. Em sua proposta cartográfica, Marques

de Melo se ocupa de estudá-la em níveis internacional e nacional.

As contribuições hegemônicas para isso vêm da Fortuna Historiográfica, que faz a

divisão do conhecimento, e da Hegemonia Intelectual, resultado do Colonialismo e do

Imperialismo. Com isto, as variáveis passam por categorias Substantivas (invenção do objeto e

instituição do campo) e Adjetivas (questões historiográficas e empíricas). As fontes

hegemônicas dos estudos em Comunicação partem da Inglaterra, Alemanha, França, Itália e,

em especial, dos Estados Unidos como ressalta Marques de Melo (2008, p.29):

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Os Estados Unidos continua sendo o carro-chefe dessa promissora engrenagem

acadêmica, não apenas em número de cursos (Cerca de 500), mas principalmente na

adoção de estratégias pedagógicas sintonizadas com os requisitos industriais. Suas

escolas mantêm programas permanentes de cooperação com as empresas. Realizam

pesquisas e acolhem profissionais de prestígio com professores-visitantes. Além

disso, promovem estágios de alunos e reciclam seus docentes nas redações de

jornais, emissoras de televisão, agências de propaganda e relações públicas

(MARQUES DE MELO, 2008, p.29).

Sobre essa situação, Marques de Melo (2008) observa que os EUA exercem uma

liderança mundial em padrões universitários de ensino de Comunicação. O modelo

estadunidense é profissionalizante, por isso, a preocupação em formar jornalistas, publicitários,

cineastas, radialistas ou relações públicas para preencher vagas da indústria cultural. Além

disso, há uma cobrança pela excelência, por isso, dirigentes universitários exercem vigilância

permanente, cobrando produtividade dos pesquisadores, avaliando cursos, verificando se

bibliotecas adquiriram novidades editoriais além do incentivo à participação de professores e

alunos em congressos acadêmicos e profissionais. Já em termos de Brasil, Marques de Melo

(2014) identifica que para se tratar a cartografia, não há outra forma senão o estabelecimento

de critérios. Por isso, na visão dele, o campo comunicacional brasileiro compreende cinco tipos

de História: Intelectual, Autoral, Institucional, Disciplinar e Contextual.

A História Institucional demarca muito bem o sentido da construção do campo

comunicacional no Brasil. Nos anos 1960-1970 é que a Comunicação assume uma noção de

campo. Antes de se legitimar na década de 1960, essa noção passava também por atividades

empresariais, profissionais e universitárias. São marcos do campo enquanto espaço de pesquisa

no Brasil: a fundação do ICINFORM, Instituto de Ciências da Informação, em 1963, por Luiz

Beltrão, em Recife; o lançamento da revista Comunicações & Problemas, o primeiro periódico

científico do campo comunicacional brasileiro; a criação da FACUNB, Faculdade de

Comunicação de Massa da Universidade de Brasília, em 1964; a defesa da tese de doutorado

de Luiz Beltrão, em 1967, sobre Folkcomunicação; a fundação, em 1966, da Escola de

Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo (atual ECA-USP); a fundação do Centro

de Pesquisas da Comunicação Social da Faculdade Cásper Líbero, então vinculada à PUC-SP,

em 1967. Nesse departamento, foram realizadas pesquisas pioneiras em quadrinhos,

telenovelas, imprensa imigrante, jornalismo comparado, erotismo na propaganda, comunicação

eclesial e pedagogia do jornalismo; fundação da União Cristã Brasileira de Comunicação, em

1969, em São Paulo; realização do I Congresso Nacional de Comunicação pela Associação

Brasileira de Imprensa, em 1971, no Rio de Janeiro; I Congresso Brasileiro de Ensino e

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Pesquisa da Comunicação (Belo Horizonte, 1973); fundação da INTERCOM, em 1977, uma

autêntica comunidade científica em um campo emergente; fundação da COMPÓS (1991); o

surgimento de sociedades científicas em diferentes disciplinas que compõem as Ciências da

Comunicação, como SOCINE e SBPJOR, por exemplo; fundação da SOCICOM e realização

da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, em Brasília.

Toda essa institucionalização motiva os pares acadêmicos ao desenvolvimento do

trabalho de pesquisa tanto que o ano de 1963 se tornou decisivo. A práxis vigente nas indústrias

midiáticas e nos serviços públicos foi convertida em objeto de análise acadêmica. Temos aí,

portanto, o primeiro contato entre teoria e prática comunicacional. Por que 1963? Porque Luiz

Beltrão, com o ICINFORM, direcionou o trabalho do Instituto à pesquisa científica no Brasil

regularizando uma prática permanente até os dias de hoje. Marques de Melo (2014) ressalta que

os fenômenos da Comunicação eram estudados no Brasil antes disso, porém, de forma efêmera

ou utilitária sem a noção de construir um acúmulo de conhecimento. Uma existência ainda

carente de reconhecimento, pois, se trata de um campo relativamente jovem de espaço ainda

débil que luta pela inclusão no universo científico e por sua legitimação social. Uma construção

que significa passar pelo crivo da academia e pelo reconhecimento da opinião pública, alerta

Marques de Melo (2014). Julgamos que todos esses elementos apresentados pressupõem uma

formação de estudos em Comunicação, entretanto, figura-se muito o campo institucional que

ganha também em seu aspecto taxionômico a contribuição de pesquisadores que recorrem à

FAPESP, instituição que traz aportes à legitimação da nossa Área à medida que submete as

investigações do conhecimento a procedimentos científicos constituintes à formatação de um

projeto de pesquisa.

Bem antes das experiências brasileiras, a Comunicação se caracteriza por seu processo

básico configurado no espaço greco-romano entre os séculos IV a.C. e I d.C.. Seu

reconhecimento intelectual dar-se-á somente no século XVII dentro do espaço público

britânico. Depois, a Comunicação enquanto dimensão universitária ganha espaço na Alemanha

e na França. Entretanto como espaço científico se legitima, a partir de 1912, em uma fase

moderna com a formação de comunidades acadêmicas nacionais estadunidenses e

internacionais. Em comparação aos Estados Unidos, o Brasil levou quase um século e meio a

mais para inserir os estudos em Comunicação na universidade.

É nos anos 1970 que o estudo da Área, no Brasil, vai se evidenciando organicamente,

justo quando atenua a fragmentação dos espaços empresariais, profissionais e acadêmicos

relacionados com a produção de bens culturais. Isto está diretamente relacionado à perspectiva

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crítica dos estudos em Comunicação decorrentes da Escola de Frankfurt, na Alemanha. Porém,

Marques de Melo considera que o divisor de águas foi a realização do Congresso Nacional de

Comunicação, da Associação Brasileira de Imprensa, por inspiração de Danton Jobim21, em

setembro de 1971. No Rio de Janeiro, pela primeira vez, reuniam-se para debater ideias e

confrontar pontos de vista os representantes de todas as áreas empresariais, sindicais,

profissionais e acadêmicas. Desse encontro, postulou-se uma Política Nacional de

Comunicação, que passadas tantas décadas, ainda é uma utopia.

Assim a década de 1970 se tornou emblemática para delinear a fisionomia da Área da

Comunicação no Brasil, sobretudo, pelo acúmulo de conhecimentos que a partir de então as

faculdades de Comunicação passaram a produzir, sistematizar e socializar. Depois do

ICINFORM, da UnB – à época, FACUNB – e da USP, as faculdades de Comunicação

investiram na pós-graduação, inclusive com programas de doutorado. Assim professores-

pesquisadores começavam a configurar uma comunidade acadêmica, algo que o professor José

Marques de Melo convencionou chamar de uma rede de cientistas da Comunicação dotada de

perfil híbrido. Entretanto os anos passam e na avaliação do professor, seguimos com a sina do

‘complexo de colonizado’ justamente pelo fato de grande parte de professores-pesquisadores

fazerem por aqui uma reprodução dos modelos alienistas das correntes hegemônicas do

pensamento comunicacional sem o exercício da crítica. Assim, o Brasil se tornou um

dependente paradigmático sem levar em conta que evidências empíricas não podem ser

transferidas automaticamente para outras realidades. Essas realidades, evidenciadas por

Marques de Melo, têm a ver com as experiências próprias de cada círculo onde ocorre a

Comunicação.

A liderança dos estudos das Ciências da Comunicação em países latino-americanos é

dividida entre o Brasil e o México que atraiu a diáspora latino-americana cujo sonho

caracterizaria uma nova ordem mundial das Comunicações. Os programas universitários de

Comunicação tiveram uma expansão indiscriminada porque não há um currículo mínimo nem

ordenamento nacional. O crescimento se dá tanto no sistema público quanto no privado. As

escolas buscaram fortalecimento mútuo no CONEICC, organismo fundador da Federação

Latino-Americana de Faculdades de Comunicação Social. O perfil mexicano dos estudos em

Comunicação se formou pelos encontros anuais, publicação de documentos e a constituição de

comitês acadêmicos. Havia distanciamento em relação à Comunicação aplicada e à tecnologia.

21 Ver http://www.jornalistadantonjobim.com.br para mais detalhes sobre a vida pessoal, política e profissional

do jornalista.

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Era pouca também a sintonia com o mercado de trabalho. O comando das associações

acadêmicas se revezava entre pesquisadores vinculados a universidades tradicionais da Cidade

do México e de Guadalajara. Mas os jovens pesquisadores mudaram esse cenário com a

formação de novas frentes de trabalho como explica Marques de Melo (2008, p.94-95):

Eles se confessavam cansados de atuar, exclusivamente, como auditório para os

monólogos dos seus mestres. Alguns, mais audazes, começaram a formar espaços

alternativos, buscando respaldo teórico no segmento emergente dos estudos

culturais. Continuavam a estudar os fenômenos midiáticos, mas os articulavam com

o entorno simbólico, numa perspectiva nitidamente socioantropológica. Afastavam-

se, assim, dos paradigmas político-econômicos (particularmente do referencial

marxista) que marcara, inicialmente, o campo.

Essas iniciativas permitiram a descentralização com a configuração das universidades

regionais. E assim se construíram redes autônomas de pesquisa. Buscou-se legitimação

acadêmica por meio da sintonia com as disciplinas conexas das ciências humanas e a

intensificação dos contatos com os pesquisadores da Comunicação, em outros países, não

exclusivamente latino-americanos. Esses jovens se denominavam a Geração McLuhan pelo fato

de estarem na faixa etária dos 30 anos e se sentirem pertencentes ao símbolo-força

epistemológico. Eles se consideravam da geração da aldeia global, retribalização e escolas sem

muros, conceitos trabalhados pelo autor canadense. Essa geração propiciou a saída do

isolamento universitário que colocava os pesquisadores do México em uma comunidade

despercebida. O lema foi “pela implantação de uma comunidade virtual de pesquisadores da

Comunicação”. Uma tentativa de construir redes de pesquisa por meio da conexão via Internet.

No Brasil, os anos 1980 e 1990 marcaram a ampliação da cooperação internacional na

pesquisa. Uma forma de chegar a isso foi por meio de convênios internacionais assinados pela

INTERCOM. Disso nasceram os colóquios binacionais como Brasil/México; Brasil/França;

Brasil/Dinamarca; Brasil/Portugal; Brasil/Itália. O professor Marques de Melo reforça que

nossas singularidades culturais se preservam na emulação desses contatos. Nos anos 1990, a

INTERCOM abriu o diálogo com os países do Mercosul cujas relações eram incipientes. Mas

o início do Mercosul representou uma atitude meramente contemplativa das escolas de

Comunicação. As primeiras manifestações vieram do Rio Grande do Sul, estado brasileiro

favorecido por sua área fronteiriça.

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Na Argentina, os governos militares enfraqueceram as universidades nacionais gerando

uma migração de pensadores e pesquisadores que buscaram condições de sobrevivência no

exílio. Nos anos 1990, houve iniciativas destinadas a expandir a rede acadêmica nacional

dedicada ao estudo da mídia. Universidades, com menos estrutura, recorreram às linhas de

crédito das agências de fomento. Algumas instituições recorreram à cooperação estrangeira

dinamizando programas de professores-visitantes e projetos multinacionais de pesquisa como

a tradução de obras clássicas ou livros de autores emergentes consagrados pela crítica.

À mesma época, o Chile manteve sintonia com os EUA dando prioridade ao ensino

profissionalizante, causando assim, uma explosão de profissionais formados em Comunicação.

Na época pós Allende, professores politizados à esquerda foram expurgados. Tendente ao

mercado, surgiram as formações em Publicidade e Relações Públicas.

No Panamá, o CELAP – Centro Latino-Americano de Periodismo - estabeleceu uma

ponte entre empresas informativas, profissionais da notícia e acadêmicos em comunicação de

massa. Funcionou como organismo que preencheu as lacunas das escolas de Comunicação.

Mesmo voltada ao mercado, convidou à participação de acadêmicos.

Os anos 2000 marcam a participação da Bolívia com uma jovem comunidade

focalizando atenções entre Comunicação e globalização enquanto a vanguarda da pesquisa

latino-americana contemplava as perplexidades das Ciências da Comunicação no

desenvolvimento da sociedade digital. Num encontro da ALAIC, realizado em Santa Cruz de

la Sierra, houve colóquios que demonstraram no plano acadêmico a superação do teoricismo

ingênuo, típico do comportamento de algumas lideranças que tangenciaram a Comunicologia

sul-americana nas décadas de 1980 e 1990. E no plano político, o fortalecimento da autoestima

intelectual das novas gerações de pesquisadores que resgataram a tradição do pensamento

comunicacional latino-americano para dialogar em condições de igualdade com seus pares de

outros países e regiões.

No congresso da ALAIC, o venezuelano Antonio Pasquali colocava a pesquisa-

denúncia sob a análise de que as corporações estadunidenses se projetam velozmente sobre o

mundo ameaçando a soberania política eliminando a autonomia econômica e erodindo a

identidade cultural de povos e nações. Já o chileno Fernando Reyes Matta dizia que apesar da

tendência monopolizadora da grande mídia, havia uma crescente mobilização das comunidades

periféricas, que por meio das redes digitais, resistia ao controle ambicionado pelas potências

hegemônicas em um fortalecimento do multiculturalismo.

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A comunidade latino-americana ganhara, nos anos 1990, as contribuições do peruano

Luís Peirano, que reivindicava a interação dos estudos de Comunicação massiva e

Comunicação grupal, sendo a mídia digital a grande conquista de expressão cultural dos grupos

e comunidades sufocados pelos grandes veículos, impressos ou eletrônicos. Já o mexicano

Enrique Sánchez Ruiz propunha o hibridismo do pensamento crítico da academia com a ação

pragmática inerente aos sistemas midiáticos onde atuariam profissionalmente os recursos

humanos formados pelas faculdades de Comunicação Social. Com isso, haveria produção de

conteúdos culturais ancorados nas demandas populares.

Lorenzo Vilches, chileno naturalizado catalão, delineou um quadro dos avanços das

indústrias midiáticas europeias em renunciar às singularidades culturais dos países ou

comunidades a que pertencem. O mexicano Raul Trejo Delarbre enfatizou a riqueza do

pensamento comunicacional que a América Latina vinha elaborando e robustecendo.

Nos anos 1980, em Acapulco, no México, houve o encontro de comunicólogos anglo-

americanos e hispano-americanos. Promovido pela ICA – International Communication

Association, o encontro trouxe repercussões negativas, em especial, pela falta de diálogo com

alguns pares. Houve um enfrentamento à NOMIC, movimento destinado a construir fluxos

internacionais mais equilibrados entre o Norte rico e o Sul empobrecido do globo. Essa

campanha teve grande apelo no México. A Asociación Mexicana de Investigadores de la

Comunicación, por exemplo, boicotou o congresso da ICA em Acapulco. Apenas os

estadunidenses foram em peso a esse encontro, alvo de reiterados ataques dos EUA. Vinte anos

depois, reconheceu-se que o boicote ao congresso fora um erro histórico. A partir da

Comunicologia mexicana se demonstrava uma pujança à Escola Latino-americana de

Comunicação. A ICA esteve associada às tradições científicas europeias, influenciadas pelo

pensamento de esquerda.

Saindo um pouco do eixo latino-americano, o ano de 1996 registrou o início do primeiro

curso superior de Comunicação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, em

Maputo, capital de Moçambique. Nos anos 1970, o professor belga-francês, Armand Matelart,

esteve em missão no país para subsidiar projetos de capacitação a comunicadores sociais ou

desenvolver estudos midiológicos. Nasceu a proposta de criar uma rede midiática e ainda

formar os quadros profissionais destinados a operar em sintonia com os pressupostos

ideológicos do sistema, mas, sem sucesso. Nos anos 1980, a UNESCO patrocinou uma missão

de comunicólogos brasileiros, liderados pelo professor Lélio Fabiano dos Santos, fundador da

Faculdade de Comunicação da PUC Minas. Produziu-se novo diagnóstico a fim de fomentar o

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ensino e a pesquisa de Comunicação de Massa. Mas as circunstâncias políticas imobilizaram o

projeto. O brasilianista Joseph Straubahar também esteve por lá para reciclar recursos humanos

para o uso democrático da mídia e recomendar providências a curto e médio prazos. Só com a

viagem de portugueses, vinculados a ONGs de Lisboa ou do Porto, é que surgiram projetos.

Se Moçambique assume a dianteira na instituição do campo da mídia, foi Angola que

deu os primeiros passos nessa direção. Um curso de Jornalismo, em nível médio, foi criado com

apoio do governo e incentivado pelo Sindicato dos Jornalistas. Esse curso formou os primeiros

jornalistas angolanos do período independente. Brasil e Portugal contribuíram muito para a

capitalização intelectual de Angola no setor midiático. Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé

e Príncipe dependem de Brasil e Portugal para seus espaços midiáticos. Portugal começa a

formar especialistas em Comunicação depois da Revolução dos Cravos. O primeiro curso do

gênero data de 1979, na Universidade Nova de Lisboa. O perfil singular desse curso foi um

centro de pesquisa da Comunicação, suas linguagens e filosofia. Em Coimbra, criou-se um

curso de Jornalismo, depois ampliado para Pós-Graduação. Há uma divisão de cursos que

buscam o comprometimento explícito com as necessidades de formação de recursos humanos

e outros orientados aos aspectos teóricos do campo com a pesquisa na pós-graduação

enfatizando as Ciências Sociais. Os contatos dos portugueses para fora do país eram pequenos.

Algumas tentativas se davam com pesquisadores francófonos, mas nada significativo. Depois

de uma comitiva brasileira que foi para Lisboa, os portugueses aderiram à comunidade

internacional com a aceitação da fundação da LUSOCOM, a Federação Lusófona das Ciências

da Comunicação. Depois, foi criada internamente a SOPCOM, Associação Portuguesa de

Ciências da Comunicação. Seu primeiro congresso teve grande divulgação, o que significou

que a entidade foi buscar na sociedade civil uma representatividade que não tinha por parte

desta.

Voltando ao Brasil, Marques de Melo (2008) conta que as três últimas décadas do século

XX indicaram a expansão da universidade brasileira. E nos seus primórdios, eram espaços onde

se transferiam conteúdos produzidos no exterior. E a implantação dos estudos comunicacionais

não foi fácil em nossas universidades. Os preconceitos intelectuais retardaram sua legitimação

social. Profissionais do Jornalismo e da Propaganda vinham de campos hegemônicos como

advocacia, teologia e pedagogia. O argumento que se usava para o exercício na mídia era de

que suas profissões exigiam vocação e cultura geral, o que implicaria que o aprendizado das

rotinas fosse obtido nas redações ou agências de publicidade. Diz Marques de Melo (2008,

p.152):

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Contra essa tese, insurgiu-se um empresário moderno: Cásper Líbero, um self-made-

man, que enriqueceu criando uma precoce organização multimídia na cidade de São

Paulo, decide fundar uma escola de Jornalismo. Logo a seguir, publicitários apoiados

pelo mogul Assis Chateaubriand, criam a nossa primeira escola de Publicidade.

Tais eventos se dão entre o fim dos anos 1940 e o início dos anos 1950, espaço de tempo

em que o Brasil experimentava seu processo de aceleração industrial. No fim da década de

1940, a Cásper Líbero, em São Paulo, e uma escola pública, no Rio de Janeiro, eram os únicos

cursos universitários em Comunicação no Brasil. Depois, eles foram aparecendo em outros

estados. Nos anos 1960, as disciplinas comunicacionais já ganhavam cursos de Relações

Públicas, Cinematografia e Radiodifusão. Foram criadas as primeiras Escolas de Comunicação

nas Universidades de Brasília e São Paulo e também na PUC do Rio Grande do Sul. Cásper

Líbero acreditava que a formação jornalística não poderia se dar apenas no dia a dia. Por isso,

decidiu criar uma escola de Jornalismo dentro do seu principal veículo, o jornal A Gazeta, que

tinha prestígio junto à elite paulistana. Mas, Cásper Líbero morreu antes de ver a escola

idealizada. Até os anos 1960, a instituição seguiu a filosofia de dar as técnicas, além de cuidar

da educação cultural dos jornalistas. Depois, se tornou instituição acadêmica em função da

decadência dos veículos da Fundação Cásper Líbero. Em 1967, foi criado o Centro de Pesquisa

da Comunicação Social, realizando estudos pioneiros sobre fenômenos da indústria cultural.

Nos anos 1970, haveria uma expansão das faculdades de Comunicação Social. E nessa

conjuntura, surgem os cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) voltados à formação de

docentes-pesquisadores. A Comunicação se torna uma área acadêmica legitimada pelo sistema

nacional de fomento à ciência e tecnologia. Nos anos 1990, os cursos voltam a crescer e o MEC

se torna responsável pelo seu credenciamento ou descredenciamento. Em 1998, a CAPES

(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) passou a avaliar os Programas

de Pós-Graduação. A avaliação é realizada com a participação da comunidade acadêmico-

científica por meio de consultores ad hoc.

Essa avaliação demonstra o nível de qualidade dos cursos de Mestrado e Doutorado, no

país, incentivando a produção acadêmica da Área, levando em consideração a inserção social

crítica da pesquisa no âmbito político, institucional e cultural além das práticas memoriais dos

pontos de vista teóricos e metodológicos quanto ao acolhimento do seu viés de intervenção e

aplicação empírica; a formação de mestres e doutores perseguindo o compromisso com o ato

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de pensar, com o autodesenvolvimento e com a busca de autonomia e emancipação da pesquisa;

autoavaliação e planejamento dos programas para qualificação de corpo docente; formação

adequada de mestres e doutores; responsabilidade sobre a inserção social e o enfrentamento de

desafios como a internacionalização, a interdisciplinaridade, a formação profissional e a

contribuição para a educação básica.

Como estamos trabalhando com as tendências dos estudos em Comunicação, a partir da

produção científica em São Paulo, realizada com fomento concedido pela FAPESP a

pesquisadores postulando assim uma Taxionomia, apresentamos os resultados da Avaliação

Quadrienal 2017, divulgada em 20 de setembro de 2017, cuja Área teve sua nomenclatura

alterada de Ciências Sociais Aplicadas I para Comunicação e Informação. Os resultados dos

Programas Acadêmicos22 se encontram no quadro a seguir:

QUADRO 1 – Resultados avaliação quadrienal CAPES – 2017 – programas acadêmicos

INSTITUIÇÃO PROGRAMA CURSO NOTA

MESTRADO

NOTA

DOUTORADO

UNESP Marília Ciência da

Informação

Ciência da

Informação

6 6

USP

Ciências da

Comunicação

Ciências da

Comunicação

4 4

USP Ciência da

Informação

Ciência da

Informação

4 4

USP Meios e

Processos

Audiovisuais

Meios e

Processos

Audiovisuais

4 4

UNICAMP Multimeios Multimeios 3 3

22 Também foram avaliados Programas Profissionais que surgem como o principal desafio da Área para o

próximo Quadriênio. Nesta avaliação de 2017, aparecem com nota 3 os Mestrados Profissionais da ESPM

(Produção Jornalística e Mercado) e da FIAM-FAAM (Jornalismo). Já o Mestrado Profissional da USP (Gestão

da Informação) foi avaliado com nota 4.

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UNESP Bauru Comunicação Comunicação

Midiática

4 4

PUC-SP Comunicação e

Semiótica

Comunicação e

Semiótica

4 4

METODISTA

S.PAULO

Comunicação

Social

Comunicação

Social

4 4

CÁSPER

LÍBERO

Comunicação Comunicação 4 Não há

Doutorado

UNIP Comunicação Comunicação 4 4

ESPM

Comunicação e

Práticas de

Consumo

Comunicação e

Práticas de

Consumo

5

5

UFSCAR Imagem e Som Imagem e Som 3 Não há

Doutorado

UFSCAR Ciência da

Informação

Ciência da

Informação

3 Não há

Doutorado

USP Museologia Museologia 3 Não há

Doutorado

UNISO

Comunicação e

Cultura

Comunicação e

Cultura

4 Não há

Doutorado

USCS Comunicação Comunicação 4 Não há

Doutorado

ANHEMBI

MORUMBI

Comunicação Comunicação 4 4

Fonte: CAPES

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Este relatório quadrienal 2017 se refere ao período de avaliação 2013-2016 e a CAPES

aponta que houve expansão da Área devido ao campo de conhecimento e pesquisa ter sido

consolidado recentemente muito em função da oferta ampla de cursos de Graduação que passa

por Jornalismo, Publicidade & Propaganda, entre outros. Também se caracteriza expansivo pelo

fato de os fenômenos da Comunicação e Informação terem se tornado relevantes para o

entendimento das realidades sociais e políticas assim como no bem-estar das comunidades e o

desenvolvimento de sociedades. Além destas questões qualitativas, a expansão também se

justifica pelos números. Considerando apenas a Região Sudeste, onde a FAPESP, objeto de

nosso estudo, está abrigada, o número de Programas de Pós-Graduação passou de 29, em 2012,

para 40, em 2016. Embora se registre o crescimento, a CAPES não desconsidera fatores internos

e externos à Área. O fator interno apontado é a implantação, para esta avaliação demonstrada,

da Plataforma Sucupira, que exigiu adaptação dos membros dos Programas diante de muita

instabilidade. Aliás, instabilidade também é o termo que melhor se aplica ao fator externo, que

é a crise político-econômica vivida pelo Brasil, sobretudo, em 2015, quando o próprio relatório

destaca o corte brutal de verbas que sustentam as atividades rotineiras como financiamento a

eventos e projetos de pesquisa.

São contribuições dessa natureza que tornam a Comunicação uma área autônoma de

pesquisa, configuração que Marques de Melo (2008, p.203) pontua como corrente desde o início

do século XXI.

A década de 90 significou o divisor de águas na história da comunidade acadêmica

da comunicação. Reconhecido como segmento das Ciências Sociais Aplicadas pelas

agências nacionais de fomento científico (CAPES, CNPq, FINEP), o campo

comunicacional foi induzido a definir seus próprios parâmetros. Tratava-se de um

imperativo de sobrevivência institucional, de acordo com as regras que marcam o

funcionamento da comunidade acadêmica internacional, que o Brasil assimilando

criativamente há meio século.

Por estes indícios, percebemos que o Brasil vai construindo princípios colaborativos à

taxionomia da Comunicação embora ainda se note um pequeno número de programas de

Doutorado, fase na qual um corpo discente formula teses, etapa que consideramos mais próxima

à formação do espírito científico da Comunicação, quando o sujeito trabalha a problematização

da pesquisa. Em relação à institucionalização, tratamos apenas do estado de São Paulo, como

referência, mas sabemos que no Brasil como um todo, há uma série de Programas de Pós-

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Graduação produzindo e acumulando conhecimentos inovadores e importantes para a

constituição da Área que tem nessas notas atribuídas um parâmetro para candidatos

1.4 Os emaranhados da Comunicação para sua consolidação de Pesquisa: as noções de

campo e interdisciplinaridade

Descrito o caráter institucional, considerar a Comunicação como um emaranhado é

tratar das possibilidades conferidas à sua natureza. Existe um amadurecimento em relação ao

conhecimento produzido pela Área, porém, há uma dificuldade de situar um status definitivo

para seu posicionamento ontológico e taxionômico. Discute-se tanto sobre sua não

cientificidade e pouco se atribui à Comunicação uma contribuição decisiva no sentido de

construção dos mais diversos sentidos da vida em sociedade bem como de outras instâncias

simbólicas nos mais diferentes níveis de conhecimento. A maioria vai falar que o fator

complicador, para isso, é a sua interdisciplinaridade e poucos vão lhe conferir um

posicionamento científico embora haja uma grande adesão de se atribuir, em especial, aos

programas de Pós-Graduação e, nas titulações de Graduação, a chancela de Ciência da

Comunicação.

Seus impasses conceituais não parecem ser um problema ao emprestarmos a visão de

Dilthey (2010) que considera todos os posicionamentos válidos, independentemente de

posições alternantes na conexão de pensamento e da mudança nos sujeitos do enunciado. A

negação se junta ao princípio de identidade e recusa uma suposição que se encontra em nós, ou

fora de nós, sempre ligada a um enunciado pressuposto. O princípio de identidade atribui

validade constante ao posicionamento, por isso, sua suspensão está excluída. Não estamos em

condições de afirmar e negar o mesmo, na medida em que a relação da contradição nos vem à

consciência.

Em um primeiro momento, falar que a Comunicação não é ciência; que ela não dispõe

de teorias específicas; que é um processo de transmissão; ou é multidisciplinar, acaba tendo um

princípio de identidade a partir desses pressupostos. Assim, negá-la também é uma validade.

Logo, todas essas visões fazem sentido porque uma pode contradizer a outra. Pois é mesmo

diante das contradições que se formam diferenças. E as diferenças significam posições

conflitantes que também formam um princípio de Comunicação. Por isso, adotar uma premissa

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tem seu valor. Nesse sentido, reitera-se o protagonismo da Comunicação como conhecimento

primeiro entre as demais formas do saber, pois, ela opera na linguagem e exige a relação

estabelecida a partir do comum e o contato com o outro.

Para tentar desvendar esse mistério, valemo-nos das provocações envolvendo Pierre

Bourdieu (1983), Gastón Bachelard (1996; 2004), Edgar Morín (2010) e Rolando García (2006)

que fornecem embasamento ao percurso científico dentro de áreas de atuação. Com Bourdieu,

temos o conceito do campo científico, como um espaço de luta concorrencial, onde o que está

em jogo é a autoridade científica com capacidade técnica e poder social. Busca-se uma maneira

autorizada com autoridade. Assim, para um campo científico ter legitimação, é preciso

autoridade de seus integrantes em um determinado território. O ideal é que quem fale de

Comunicação seja naturalmente da Área, pois, desta forma, se chega a um funcionamento

próprio que produz e supõe uma maneira específica de interesse. Esta é uma batalha, afinal,

muito se recrimina que a Comunicação sequer tem autores próprios que pensem sua

epistemologia. A importação de autores de outras Áreas do conhecimento é o que nutre essa

“defasagem”. Cabe, por exemplo, aos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, com

seus pesquisadores consolidados e pesquisadores em formação, fazerem a construção inerente

desse espaço com um sentido próprio de interesse. Inclusive, a posição de sujeitos que estão

atrelados às institucionalizações do campo coloca em cena a capacidade científica, uma vez que

os indivíduos sempre estão contaminados.

É fato, afinal, um estudante, por exemplo, que percorre o caminho acadêmico – que

mais adiante trataremos como percurso formativo – ter seus interesses colocados nas mãos de

um orientador, que por sua vez, tem outros interesses que não apenas os pessoais, mas, também

do Programa ao qual estão vinculados. Essa crítica de Bourdieu não é excessiva uma vez que

sabemos que a ciência não é neutra ainda mais quando estabelecemos o protagonismo da

Comunicação tendo, em primeiro plano, a questão das relações institucionalizadas pela

linguagem. Relações se escolhem, se estabelecem, logo, há direcionamentos subjetivos nessa

composição. Direcionamentos e subjetividades que Bourdieu (1983, p. 124), inclusive, atribui

a poderes que determinam o que seja ciência:

[...] a luta pela obtenção de créditos e de instrumentos de pesquisa que hoje opõe os

especialistas não se reduz jamais a uma simples luta pelo poder propriamente

“político”. Aqueles que estão à frente das grandes burocracias científicas só poderão

impor sua vitória como uma vitória da ciência se forem capazes de impor uma

definição de ciência que suponha que a boa maneira de fazer ciência implica a

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utilização de serviços de uma grande burocracia científica, provida de créditos, de

equipamentos técnicos poderosos, de uma mão-de-obra abundante.

Ao trazermos tal perspectiva para a realidade da nossa pesquisa, admite-se que a

FAPESP oferece as condições de fazer ciência porque além de dar uma valoração científica aos

projetos de pesquisa que subvenciona, ela corrobora com os procedimentos científicos

emprestados aos objetos pesquisados em nossa Área, o que faz sentido pensar em Ciência.

Durante o 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, INTERCOM 2017, na

Universidade Positivo, em Curitiba (PR), em uma mesa que debateu a questão institucional da

Comunicação, a professora doutora Margarida Kunsch destacou que as Fundações de fomento,

como a FAPESP, exercem um papel muito importante, afinal, segundo ela disse, “se ninguém

pedir fomento, a Área perde visibilidade”. Apesar de a FAPESP conferir esse certo poder, a

pergunta que fica é se os pesquisadores têm esse compromisso com a ciência, a partir desse

ponto de vista, ou se se tornaram reféns da escala de produtividade exigida pelo mundo

acadêmico. A briga por um fomento é um espaço de lutas da mesma forma quando o indivíduo

se submete, por exemplo, a um processo seletivo, afinal, o que deve prevalecer é o bom uso de

sua investigação como retorno social no exercício de uma política real de vitória científica. No

caso das Ciências Sociais, a subjetividade é determinante para a existência dessa política

científica postulada, afinal, como propõe Bourdieu (1983), o que é percebido como importante

e interessante precisa ser reconhecido como importante e interessante aos olhos dos outros.

Logo, pensamos que o mais importante seja considerar o todo da Comunicação, em suas

diferentes manifestações, para assim chegar ao lucro simbólico do qual Bourdieu (1983) se

ocupa. Esse lucro é decorrente da contribuição que as problematizações de pesquisa carregam.

Assim, quando buscamos a FAPESP para pensar a construção taxionômica da Área, pensamos

que o lucro simbólico deve ser a Comunicação. Mas, um fator adverso à obtenção desse lucro

advém de algumas situações. Entre elas, está a do aspecto teórico-metodológico. Ocorre de

forma pedagógica a difusão de uma estrutura aparentemente “tão bem” definida e viciada que

os pesquisadores, sejam os atuantes da velha-guarda ou os principiantes das novas gerações,

parecem sofrer de amordaçamento à crítica. O campo segue condicionado à tendência e ao

costume de reproduzir as correntes hegemônicas estadunidenses (principalmente) e europeias.

Uma contribuição, nesse sentido, que propõe mudar o reprocessamento de leituras sai da

América Latina, com o mexicano Jorge González (2012), que relaciona esse binômio teórico-

metodológico, aqui praticado, com a nossa história de colonização que valoriza o alheio e

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deprecia o que é próprio. Além disso, o autor se preocupa, em demasia, com a adoção de autores

estrangeiros que têm outorga de capital do reconhecimento que, para ele, é parcialmente

discutível já que há grande tendência em idolatrar o que vem de fora. Sobre a condição da

crítica, o pesquisador mexicano alega (2012, p. 77): “Se algo não convence, o caminho não é

criticar, mas, sim, ignorar para não se comprometer”.

Só que a proposta de Bourdieu, para o reconhecimento do campo, nem sempre parece

provável na Comunicação porque os integrantes do campo nem sempre se sustentam no plano

metodológico, uma vez que a validação disso tem um peso muito maior quando se dá a outros

saberes ou autores clássicos e de moda, que transitem por tudo dando a conotação do

enriquecimento da pesquisa. Essa situação reforça o contato exterior ao campo, e traz para si, o

descrédito a ponto de dizermos que esta condição se reconhece caso ainda insistamos na

definição de que a Comunicação é interdisciplinar. Como, então, não cair em descrédito? Uma

opção plausível vem de Feyerabend (2010), quando pensa na utilidade e na finalidade do

conhecimento. Para quem fazemos isso? Sabe-se que muitos fatos estão enterrados em

publicações científicas, manuais, cartas e discos rígidos. Por isso, a sugestão de que os autores

de um campo se leiam mais, de forma atenta, para certas descobertas não se revelarem por

acidente.

Em um cenário de campo científico em que a concorrência deve existir para que haja

um reconhecimento outorgado de capital, há uma prevalência de uma relação entre dominantes

e dominados. Quem mais demonstrar o ter, o ser e o fazer, como situações práticas, isto é, fazer

da verbalização a substantivação dos acontecimentos, está na situação de dominante.

Especificamente, no campo da Comunicação, paira uma dúvida: será que temos dominantes

uma vez que há muita vaidade em jogo? A noção de dominante, no sentido colocado, é o de

que realmente este traga uma significativa colaboração ao campo de estudos. Como alega

Bourdieu (1983, p.129):

Visto que a “função”, no sentido do “funcionalismo” da escola americana, nada mais

é que o interesse dos dominantes (de um campo determinado, ou a classe dominante

no campo da luta de classes) em perpetuar um sistema que esteja em conformidade

com seus interesses (ou a função que o sistema preenche para uma classe particular

de agentes), basta silenciar sobre os interesses (as funções diferenciais), fazendo da

comunidade científica o sujeito das práticas, para cair no funcionalismo.

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É perceptível que nesse meio por onde transitam os pesquisadores que recebem apoio

da FAPESP, há uma espécie de dominantes, afinal, existem pesquisadores-chave, não

necessariamente pelo que pesquisam, mas pelo nome que construíram e zelam no tecido social

acadêmico. O próprio Bourdieu (1983) reconhece que o pesquisador depende de sua reputação

para obter fundos à pesquisa. Isto colocaria parcialmente por terra o tema de pesquisa e seus

problemas, afinal, boa reputação nem sempre quer dizer grande pesquisa. E, então, o fomento

se conquista pelo nome ou pelo conhecimento científico produzido? Uma indagação

provocadora e de difícil resposta, pois, como considera Bourdieu (1983), os julgamentos

envolvem princípios de hierarquização, que dentro da luta do campo científico, requerem juízes

que nem sempre são bons porque, ao mesmo tempo em que julgam, podem ser parte interessada.

Embora, no caso da FAPESP, haja ressalvas explicitamente ponderadas, sobre os impasses em

pareceristas ad hoc quando se deparam com situação de incompatibilidade ética diante do

projeto de pesquisa a ser avaliado.

Se, por um lado, a reputação pode colocar em xeque a confiabilidade de uma concessão

de fomento, por outro, Bourdieu (1983) compreende que ela é essencial para o acúmulo de

capital, pois, se faz um nome próprio, conhecido e reconhecido, fazendo de seu portador um

sujeito diferenciado deixando de ser um homem comum. O autor coloca alguns preceitos, como

o abaixo (1983, p. 134), que percebemos, em partes, como preocupação da FAPESP no tocante

a algumas exigências a quem pede apoio:

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[...] num determinado estado do campo, os investimentos dos pesquisadores

dependem tanto na sua importância (medida, por exemplo, em tempo dedicado à

pesquisa) quanto na sua natureza (e, particularmente, no grau do risco assumido) da

importância de seu capital atual e potencial de reconhecimento e de sua posição atual

e potencial no campo. (BOURDIEU, 1983, p.134)

A carreira define a pesquisa. Quando um pesquisador atinge um grau de maturidade, o

capital de consagração reduz a alta produtividade. É, em outras palavras, quando o sujeito atinge

um grau de reconhecimento. Muitas vezes, se ouve um professor, na Pós-Graduação, dizer que

determinado pesquisador não precisa citar ninguém, pois, ele tem condições próprias de dizer

o que pensa em seu repertório. Isto demonstra que, com o tempo, métodos e técnicas passam

para segundo plano, principalmente, para esse indivíduo que goza do acúmulo de capital tirando

disso seus lucros simbólicos, o que nos parece ser um indicador de legitimidade do campo.

Enfim, o campo científico se dá no desigual com seus indivíduos apresentando capitais

desiguais, porém, específicos que ajudam a legitimar uma taxionomia. Todos são movidos por

interesses que se deslocam como um tabuleiro de xadrez de acordo com o posicionamento

ocupado no campo. Um bom capital científico associado a uma boa posição dá mais poder.

Menos capital científico, em pior posição, pode ser um sinal de alerta ou de perigo para a

legitimação. É por essas pistas que vão se configurando dominantes e dominados. Notamos que

grande contribuição para essa construção do campo advenha também dos pesquisadores que

orientam projetos. Que pesquisadores eles estão formando? Que capital científico, estão

ajudando a construir por meio da indicação de leituras e em que posição eles pretendem colocar

seus alunos? No jogo do campo, quem se move realmente são os detentores do capital científico,

pois, a eles cabe dar uma ordem social ao científico sem neutralidade, pois, esta perspectiva não

passa de pura utopia. Bourdieu arremata (1983, p.154):

[...] uma sociologia científica da ciência (e a sociologia científica que ela contribui

para tornar possível) só pode constituir-se com a condição de perceber claramente

que às diferentes posições no campo científico associam-se representações da

ciência, estratégias ideológicas disfarçadas em tomadas de posições epistemológicas

através das quais os ocupantes de uma posição determinada visam justificar sua

própria posição e as estratégias que eles colocam em ação para mantê-la ou melhorá-

la e para desacreditar, ao mesmo tempo, os detentores da posição oposta e suas

estratégias.

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Ainda na esfera da noção de campo, Craig Calhoun (2012) entende que a Comunicação

se reflete fortemente sob esta gênese, uma vez que há uma série de subgrupos com fracas

ligações que poderiam ser revistos tornando-se relevantes para si e para problemas de maior

importância. Em contrapartida, compreende positivamente o campo como fator identitário já

que sua configuração permite um reconhecimento externo como situação representativa. O

autor trata a utilidade dessa condição para alunos, pessoas de fora, professores e até mesmo

financiadores, com vistas à criação de uma preocupação comum capaz de sustentar um

engajamento de problemas teóricos e práticos ou até mesmo de projetos. Defendem-se, assim,

conexões intelectuais que partam da necessidade da Comunicação, como preconiza Calhoun

(2012, p.295):

A coerência em um campo como a Comunicação não precisa ser ancorada em

nenhum plano miraculoso ou em um método comum. Tal coerência deve surgir

associada ao resultado de inúmeras conexões específicas entre linhas de pesquisa,

subcampos, práticas profissionais e compromissos públicos sem que haja um

conjunto único de regras que expliquem ou organizem todos estes pontos. É

extremamente importante fazer tais conexões intelectuais, e isso é necessário para

assumir grandes questões que são importantes para o trabalho de muitos subcampos.

Isto, em algum sentido, dialoga com o que o professor Marques de Melo (2014) aborda

sobre a tensa questão do objeto da Comunicação desde seu nascedouro conceitual. Enquanto os

estadunidenses consideram o objeto comunicacional algo do processo ou suporte, os europeus

tratam a questão por informação, ou seja, o objeto está relacionado ao conteúdo. Desta forma,

sem a integração dos pares e a troca de ideias para um resultado que contribua com a mudança

do indivíduo, não há sentido produzir as demandas de cada campo do conhecimento. Para ele,

torna-se difícil falar em objeto de pesquisa em Comunicação, pois, o objeto vive na sombra,

sem transparência, mesmo havendo uma comunidade voltada aos estudos da Área do ponto de

vista da interação simbólica que se detém a objetos mais particulares. Uma incerteza pensada

por Calhoun (2012, p.289) quando considera que, “a pesquisa em Comunicação continua

dividida entre o abraço do universalismo científico e o foco humanístico nos contextos e nos

casos, entre a busca da precisão quantitativa e da profundidade interpretativa”. Ainda sobre

objeto, Lucrécia Ferrara (2008) o compreende como algo infenso à teorização abstrata da

Comunicação desafiando seu domínio científico. A autora considera que a natureza do objeto

deriva da própria natureza dos meios comunicativos e de sua circularidade ambiental. Dessa

circularidade, entendemos que haja uma divisão comunicacional, capaz de possibilitar várias

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frentes de atuação, o que dificulta certa conformação a um conhecimento único. Porém, essa

circularidade nos faz crer em duas situações: a interdisciplinaridade e problemáticas

metodológicas.

Em relação à interdisciplinaridade, Braga (2011) sugere que ela faz a Comunicação

perder legitimidade, pois, tal conceito é muito vago, e assim, acaba construindo um sentido de

entrecruzamentos para falsear a propriedade do campo e, acima de tudo, delimitar fronteiras

nas quais o conhecimento pode intervir. O autor (2011, p. 63) não concebe a ideia de campo

interdisciplinar para a Comunicação:

O conceito da interdisciplinaridade pode significar duas coisas: a primeira

corresponde à percepção de que um campo de estudos hoje se vê inevitavelmente

atravessado por dados, conhecimentos, problemas e abordagens concebidos e

desenvolvidos em outras disciplinas e/ou tecnologias. Nesse caso, todos os campos

de conhecimento são “interdisciplinares”, ou seja, não têm existência isolada,

estanque.

Essa existência não é isolada, pois, como diz Ferrara (2008), a Comunicação é aberta a

constantes e distintas influências, mas sempre parcial e falível, ainda mais quando seu estudo

interdisciplinar é um eixo de fortes contaminações teóricas e metodológicas como explica a

autora (2008, p.32):

Na realidade, a interdisciplinaridade imposta pela natureza fenomenológica das

relações sociais constitui ameaça à autonomia da área e desafio epistemológico que,

embora irrelevante para a complexidade de que se reveste a atual sociedade da

comunicação, é real e ocupa imaginação e esforços intelectuais de pesquisadores, ou

seja, assumir as consequências epistemológicas da interdisciplinaridade significa

abandonar a pretensa segurança de uma ciência aparentemente vertical e bipolar,

para aderir ao descentramento do conhecimento e à multiplicidade das inferências

passageiras e falíveis.

Isto exige dos pesquisadores um esforço maior, afinal, como diz Edgar Morin (2010), a

transdisciplinaridade torna os fenômenos cada vez mais fragmentados, por isso, não conseguem

conceber uma unidade. “Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer sua soberania

territorial, e, à custa de algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em vez de se

desmoronar” (2010, p.135). Tal postulado leva a uma importante afirmação de Morin (2010,

pp. 135-136): “A ciência nunca teria sido ciência se não tivesse sido transdisciplinar (sic)”.

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Afirmação que tem um caráter de contestação quando o professor José Marques de Melo, em

entrevista à edição 201 da Revista FAPESP, em agosto de 2014, revalida que a Comunicação

não é uma área autônoma de pesquisa pelo fato de incorporar contribuições das demais ciências.

A noção conceitual sobre o interdisciplinar é ponto chave para Rolando García (2006)

tratar do assunto. Ele parte do pressuposto de que o interdisciplinar se coloca equivocadamente

como integração disciplinar, pois, nenhuma pesquisa particular tem a capacidade de integrar

disciplinas diferentes. Desta forma, não pode ser tratada como pretensão metodológica porque

resulta de um fato histórico herdado do desenvolvimento científico por grupos de pesquisa que

promovem articulações que respondem a desenvolvimentos próprios dentro de cada disciplina.

O que ocorre, na visão dele, é que geralmente um fenômeno ou processo está sob domínio de

uma ciência, mas se explica teoricamente pelo campo teórico de outra (2006, p.27):

Independientemente de las articulaciones que han sido constituyentes entre

disciplinas correspondientes a ciertos domínios diferenciados, em los domínios

cuyas fronteras son mucho más permeables, las relaciones entre disciplinas han

dado lugar a reconceptualizaciones generales de los fenómenos involucrados en el

domínio en cuestión.

O autor considera que as Ciências Sociais estão nesse domínio mais permeável do

conhecimento científico, e assim, chama atenção para que a interdisciplinaridade trate

problemáticas comuns por meio da integração de enfoques diferentes, ou seja, em vez de cada

Área abalizar uma visão sobre o objeto, elas se integram com suas características peculiares

vistas por meio de uma mesma pergunta de pesquisa. Assim, por exemplo, o uso das Redes

Sociais, pelos indivíduos, pode ser analisado ao mesmo tempo como ferramenta de

comunicação e espaço de observação do comportamento humano sendo que a problemática

reside na forma como a tecnologia interfere nos contatos humanos.

Quem também transita pela questão da interdisciplinaridade é a professora Maria

Immacolata Vassalo de Lopes (2003). Ela propõe que essa dimensão não seja de integração,

mas sim, de uma síntese disciplinar. É dela também a outra preocupação que a tensão do objeto

nos leva: as problemáticas metodológicas. Sobre isso, a pesquisadora alerta para uma

inexistência de uma autorreflexão do campo da comunicação social em si. Inclusive, durante o

40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, INTERCOM 2017, ela destacou que o

interesse pela epistemologia da Comunicação no Brasil e, na América Latina, é recente e que

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os conflitos epistemológicos, invariavelmente, são políticos. Voltando às suas colocações

(2003), a pesquisadora aponta que faltam textos sobre metodologias usadas na dinâmica interna

da pesquisa, uma vez que o que acontece são explanações gerais. Tudo isso leva ao

entendimento de que sofremos da imaturidade de corpo teórico e de uma crise das heranças

científicas no Brasil e na América Latina.

Imaturidade que Calhoun (2012), por exemplo, enxerga quando trata que a própria

Comunicação engendrou sua heterogeneidade ao transigir modelos de organização e currículos

estabelecidos. Por essa ótica, o autor defende que os campos são heterogêneos, porém,

encontram suas particularidades na conexão de suas partes. O que se acaba tendo, em nossa

Área, é uma abertura abarcadora que aceita todos aqueles que transportam objetos de outros

campos do conhecimento para experiências de Comunicação. Não foi difícil encontrar na fase

de coleta dos documentos de nossa pesquisa, outros campos presentes na Comunicação

(Educação, Medicina, Engenharia, Ciências Biomédicas, Arquitetura e Urbanismo) a fim de

entender certos fenômenos que ocorrem em suas especialidades que não necessariamente sejam

na prática, da Comunicação, mas que pelo discurso, se aproveitam da natureza interdisciplinar

com a noção de que tudo cabe na Comunicação. Esta prática, muito recorrente na nossa Área,

inclusive, foi questionada pela professora e pesquisadora Anamaria Fadul, na reportagem A

crise da média idade, escrita por Carlos Haag, e veiculada pela edição 211 da Revista Pesquisa

FAPESP em 2013. Fadul (2013, p.78) dispara:

[...] agora não há mais razão para que a Comunicação entre nas pesquisas apenas

como pretexto, como antes. A pessoa estuda a violência em São Paulo, usa os jornais

e acredita que está fazendo uma pesquisa de comunicação. Falta a definição de um

objeto e de uma metodologia. A transversalidade é meio assustadora: ela só é natural

a partir de um objeto definido.

Exemplo como este de Fadul (2013) coincide com o que Calhoun (2012) chama de

colagem não coerente, não facilmente teorizável, e com muito trabalho para se manter.

Evidências como essas formam o que o autor considera enganoso ou contraproducente e que

nós entendemos como um exercício arriscado e de perda de identidade para os estudos em

Comunicação. Assim, a interdisciplinaridade só faz sentido se for organizada e vista pelo

ângulo da nossa Área. Um exercício que todos devem fazer, pois, a sedução é grande haja vista

– como aponta Calhoun (2012) – a fragilidade das linhas de pesquisa, o alto índice de imigração

para a Comunicação e a concorrência inclusive de associações profissionais e científicas, além

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das práticas atravessadas pelas tecnologias e que, sobremaneira, colocam os indivíduos em

contato. Quando vemos este conjunto de fatores, entendemos que há um grande potencial da

Comunicação ser um pano de fundo para outros setores do conhecimento. Mesmo com as

associações buscando um princípio legitimador, existem as idiossincrasias do capital humano

que majoritariamente se colocam em disputa. Entretanto, o capital humano, em vez de disputa,

pode se colocar na construção de possibilidades inovadoras que dialoguem com outras formas

do conhecer para trabalharem em prol da legitimação da Área.

1.5 Noções de Ciência

Há um debate que ocupa o centro da reflexão epistemológica quanto à hierarquização

das práticas científicas envolvendo observação e experimentação versus teoria e interesses

científicos correlativos. Entendemos que a Comunicação tem mais dificuldades no plano do

primeiro princípio de hierarquização, pois, observar e experimentar no tecido social onde os

indivíduos são instáveis se torna complexo; no segundo princípio, por mais que as teorias da

comunicação pareçam acomodadas, trabalhar o interesse científico é um pressuposto de colocar

a Comunicação em seu sentido comum e interativo como protagonista.

Há três séculos, o conhecimento científico não faz mais do que provar suas virtudes de

verificação e de descoberta em relação a todos os outros modos de conhecimento. Morin (2010)

classifica a ciência em elucidativa (quando resolve enigmas e dissipa mistérios) e enriquecedora

(por permitir a satisfação das necessidades sociais que desabrocham a civilização). Conceber e

compreender a ambivalência propõem uma complexidade intrínseca encontrável, no cerne da

ciência, cuja superespecialização ele critica por enclausurar ou fragmentar o saber. No século

XVII, os investigadores eram, ao mesmo tempo, filósofos e cientistas em função da atividade

científica ter sido sociologicamente periférica. Ao longo dos anos, ela se fez um processo inter-

retroativo ao ganhar poder e se institucionalizar na sociedade com apoio, inclusive, econômico

e estatal dos poderes vigentes.

Edgar Morín (2010) considera todas as ciências, inclusive as físicas e biológicas, como

sociais e aponta também que o conhecimento científico é um conhecimento que não se conhece.

Diz ele (2010, p. 20): “Essa ciência, que desenvolveu metodologias tão surpreendentes e hábeis

para aprender todos os objetos a ela externos, não dispõe de nenhum método para se conhecer

e se pensar”. Nessa linha, o pensador caminha para uma definição de que a verdade objetiva da

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ciência escapa a todo cuidado científico, pois, a ciência é o próprio posicionamento, um campo

sempre aberto onde se combatem não somente as teorias, mas os princípios de explicação, ou

seja, as visões de mundo.

Assim, alega que a ciência não poderia ser considerada pura e simples “ideologia” social

porque há sempre um diálogo incessante no campo da verificação empírica com o mundo dos

fenômenos. “As ciências modernas reconhecem e enfrentam as contradições quando os dados

apelam, de forma coerente e lógica, à associação de duas ideias contrárias para conceber o

mesmo fenômeno”. (MORIN, 2010, p. 29). É de natureza científica tradicional ter como

princípio de explicação a sua redução ao conhecimento manipulável. Aqui, podemos fazer uma

primeira associação entre Ciência e Comunicação. A partir do conhecimento comunicacional,

é impossível reduzir suas investigações a algo manipulável. Não podemos confundir

manipulável com manipulação. Embora saibamos que a mensagem do processo comunicacional

pode sofrer manipulação, por parte do emissor que postula resultados no receptor, o que se trata

aqui é do manipulável no sentido de o pesquisador intervir na condição científica.

A prática da pesquisa, em busca de respostas, se aproxima a explicações platônicas (a

ciência procura explicar as essências escondidas por trás dos fenômenos aparentes); explicações

aristotélicas (procura de casualidades, jogos de causa e efeito no mundo dos fenômenos) e

explicações estoicas (procuram a satisfação na finalidade e na funcionalidade). Podemos dizer

que a Comunicação se enquadra nas duas últimas explicações, afinal, suas vertentes

funcionalistas estadunidenses produziram a estoicidade. Pouco provável nos parece o princípio

platônico, uma vez que a Comunicação sempre parece querer os resultados de uma relação

explícita. Um bom exemplo disso são os estudos de recepção. Não importa o discurso de uma

telenovela, mas sim, como é o seu processo de aceitação social. As correntes hegemônicas

europeias tentaram criticamente buscar o platônico e, como se fosse uma zona de conforto, a

maioria das pesquisas assume a perspectiva aristotélica. Não acreditamos que esse

reducionismo seja o caminho mais viável para categorizar as práticas de pesquisa, porém,

entendemos que, com a Comunicação assumindo seu protagonismo e trabalhando a perspectiva

da importância da cultura no processo comunicacional, seja possível buscar tais explicações a

partir de uma lógica que sirva para revelar, pelo fenômeno, suas questões implícitas.

Sobre fazer ciência na contemporaneidade, Morin (2010) aponta que o novo saber

científico é feito para ser depositado nos bancos de dados e para ser usado de acordo com os

meios e seguindo as decisões das potências. Isto é, inclusive, resultado da ação humana, já que

a atividade científica, ao ser iniciada, escapa, segundo o autor, das mãos de seu iniciador para

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entrar no jogo das interações múltiplas próprias da sociedade. “[...] para que haja

responsabilidade é preciso que haja um sujeito consciente; acontece que a visão científica

clássica elimina a consciência, elimina o sujeito, elimina a liberdade em proveito de um

determinismo”. (MORIN, 2010, p.129)

A Ciência é uma consequência de realidades construídas que formam um conjunto de

tentativas ao qual se permite refazer caminhos, rever pontos, planejar novas ações, reformular

conceitos. É praticamente um exercício de autorreflexão ao qual a ciência se atrela porque se

trata de um ambiente formado por indivíduos, em constante revisão, e que buscam contribuir

com um novo ponto de vista em face de tantos outros eventos testados a favor do conhecimento.

Conhecimento, aliás, que Francis Bacon considera sem valor em si a não ser pelos resultados

práticos que possa gerar colocando isto à disposição das necessidades do homem. Isto impõe

que não se concebe o homem sem a natureza e nem a natureza sem o homem de forma que

experiências e conhecimentos são transmitidos, de geração para geração, para que as novas

gerações não se voltem ao ponto de precedência. Diz Bacon in Andery (1996, p. 10):

É o processo de produção da existência humana porque o homem não só cria

artefatos, instrumentos, como também desenvolve idéias (conhecimentos, valores,

crenças) e mecanismos para sua elaboração (desenvolvimento do raciocínio,

planejamento...). A criação de instrumentos, a formulação de idéias e formas

específicas de elaborá-los – características identificadas como eminentemente

humanas – são fruto da interação homem-natureza.

Assim, o homem adquire consciência de que transforma a natureza para adaptá-la às

suas necessidades. Essa assertiva se aplica como resultado dos contextos históricos, que ao

longo do tempo, se tornaram fator de produção da escala categórica do conhecimento e

propuseram modelos como o das ciências da natureza e do espírito. Em Sistemas Complejos.

Conceptos, método y fundamentación epistemológica de la investigación interdisciplinaria,

Rolando García (2006) recorda que, no início do século XX, Augusto Comte centralizou as

relações entre os domínios do conhecimento, o que não caracterizou questões próprias de uma

ciência. Porém, foi Jean Piaget quem formulou os problemas acarretados nas relações das

grandes disciplinas pensando um sistema agrupado em quatro frentes (Ciências Lógico-

Matemáticas; Ciências Físicas; Ciências Biológicas e Ciências Psicossociológicas) sendo que

cada uma apresenta quatro níveis ou domínios.

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O primeiro nível é o do Domínio Material, que trata de um conjunto de objetos ao qual

se referem as disciplinas. Depois, como segundo nível, aparece o Domínio Conceitual, que

reúne o conjunto de teorias ou conhecimentos sistematizados e elaborados por cada ciência em

seu domínio material. O terceiro nível envolve o Domínio Epistemológico Interno, que analisa

os fundamentos de cada disciplina considerando a crítica de seu aparato conceitual e as teorias

de domínio conceitual. E por fim, o quarto nível, que é o do Domínio Epistemológico Derivado

no qual as relações entre sujeito e objeto se juntam ao marco epistemológico e os resultados

gerais obtidos por cada disciplina comparada às outras ciências.

De qualquer forma, é preciso admitir a vida como condição anterior à ciência, pois, é

nela que figura a matéria-prima que se transforma em conhecimento científico pelo manuseio

dos questionamentos a serem formulados e elucidados. Há de se destacar que elucidação não

significa solução. Elucidar requer novos questionamentos que favoreçam o rigor do

funcionamento da atividade científica, ou seja, a ciência permite com que se faça uma nova

pergunta a partir da pergunta inicial.

É fato que a ciência sempre vai trabalhar com realidades constituídas a partir das

vivências cujas ações são analisadas, contextualizadas, teorizadas e transformadas em discurso

científico. As vivências são espaços de Comunicação, afinal, propiciam as interações. Mesmo

essas interações se dando por intenções. Mas, não é segredo e nem desconhecimento para

ninguém que toda Comunicação, por mais ingênua que possa parecer, é intencional. Assim, não

apenas olhando para o todo, são os fios das interações que tecem o grande novelo das vivências

que propiciam ao conhecimento o desafio científico de sê-lo apreendido.

Consideremos, então, que as vivências colocam em condições de igualdade,

Comunicação e Ciência, pois, como admite Dilthey (2010), as Ciências Humanas, além da

vivência, também encampam expressão e compreensão. Assim, a vivência nos proporciona um

sistema social, do qual o autor se ocupa em tratar como sistema cultural. Expressar-se é uma

função comunicativa e a compreensão se materializa por meio dos enunciados. Temos

claramente a composição de um enunciado a partir do qual consideramos pertinente: Ciência e

Comunicação são vivências, que podem ser compreendidas e, ao se imbricarem, se expressam

por meio da Ciência da Comunicação.

A compreensão matemática da Comunicação, que deu origem aos marcos teóricos do

campo, tinha como princípio a condição de que dois pontos distantes estabelecessem uma

comunicação pela qual a mensagem transitasse por um canal. A parcialidade, aí, estava na

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questão do ruído que proibiria e interditaria ou não a realização completa do fenômeno do

processo.

As correntes estadunidenses assumiram a perspectiva dos efeitos da mensagem a partir

de polos emissores que trabalhavam com apostas de reação entre os polos receptores. Do outro

lado do Atlântico, as correntes europeias assumiam uma racionalidade de que a Comunicação

se tornara algo demoníaco, que envolvia uma série de questões por detrás, como ideologias e

hegemonia, que fazem da cultura um bem a ser consumido. Trata-se do princípio da indústria

cultural. Anos à frente, conforme já mencionado, neste capítulo, temos a perspectiva latino-

americana da Comunicação cuja racionalidade passa pela compreensão da cultura como cerne

de sua realização. Até por sua natureza de colonizado, nosso Continente reúne pesquisadores

que tentam dar um novo olhar à ecologia midiática. Alguns produzindo de forma crítica, outros

nem tanto. E temos ainda, como questão parcial, a construção racional derivada da digitalização

para alguns cidadãos pós-contemporâneos à ficção tecnológica que engloba as noções de

tecnofilia e tecnofobia. As apreensões culturais são outras e seriam, em nosso entendimento,

mais uma etapa do que convencionamos chamar de Momentos Culturais, ou seja, periodizações

em que indivíduos se formam e constroem suas relações a partir da decorrência da ação dos

suportes e processos, que como já dissera Ferrara (2008), tornam a Comunicação parcial e

falível. Condições que Morín (2010) trata como complexidade no sentido de uma procura

viciosa da obscuridade. Combinações conceituais, inclusive, que colocam o conceito

epistemológico da Comunicação nessa encruzilhada já reconhecida e instituída.

O complexo está no entrelaçamento de diferentes cruzamentos, que formam uma

unidade que não destroi a variedade e a diversidade das complexidades que a teceram. O

pressuposto da complexidade é a incerteza, a irredutibilidade. Assim, por sua imprecisão

conceitual, a Comunicação é complexa. Seus núcleos são empíricos e lógicos. Segundo Morin

(2010, p. 188):

O núcleo empírico contém, de um lado, as desordens e as eventualidades e, do outro

lado, as complicações, as confusões, as multiplicações proliferantes. O núcleo

lógico, sob um aspecto, é formado pelas contradições que devemos necessariamente

enfrentar e, no outro, pelas indecibilidades inerentes à lógica.

Quando consideramos Comunicação e Cultura como unidade, passamos, sem dúvida

alguma, por esse entrecruzamento porque estamos comungando as experiências dos processos

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comunicacionais e as construções culturais sobre as quais estamos emergindo a produção do

conhecimento. Mesmo que a complexidade seja a procura obscura por um novo caminho de

rota teórico-metodológica à Comunicação, essa taxionomia de fios que se sobrepõem é a

matéria-prima dessas formulações que necessariamente passarão pelo empirismo e pela lógica.

Outro a discutir uma noção científica à Comunicação é Muniz Sodré (2014), que

encontra fundamento no plano das relações e do comum em três níveis. O primeiro é o nível

relacional em que a ideologia se produz e se reproduz, no sistema social, por meio de fluxos

informativos homólogos aos princípios de troca dominantes. São construções de pensamento

que permitem refletir mais uma época. Há uma conformidade do real com as representações

estabelecidas. A relação social está constituída por uma agregação institucionalizada de

indivíduos. Visualizamos aqui os ciclos teóricos dominantes na pesquisa em Comunicação.

Sodré (2014) destaca, neste nível operativo, a presença da mídia como instrumento que

democratizara a cultura em uma trama coletiva de sentido que dá aos sujeitos quadros de

referência capazes de auxiliar a interpretação do mundo fornecendo-lhes uma matriz de

orientação que faz diferenças e estabelece critérios. A ordem pedagógica, pela qual se ensina

Teorias da Comunicação, se subscreve neste contexto teoricamente pensado. Se pensarmos na

prática, hoje em dia, no difundido Jornalismo Colaborativo, há todo um sentido construído de

que a tecnologia permite a participação do leitor ou telespectador. Valoriza-se isso por parte do

meio de Comunicação que, em boa parte das vezes, corre atrás do plano onde seu público agora

se encontra. Entretanto, há de se questionar até que ponto essa colaboração existe e se dá. O

indivíduo, que manda vídeo ou foto, atende um pedido que não necessariamente é pautado pela

colaboração, e sim, por um modo de se informar e conseguir dar uma cobertura jornalística a

um fato que ainda era desconhecido dos profissionais em uma redação. Ou seja, é uma questão

muito mais ferramental, pós-funcionalista eu diria, do que comunicacional. E é nesse cenário

de uma cultura midiática que se desenvolve a questão da massa, em especial, a Mass

Communication Research, que envolve toda uma perspectiva funcionalista da Comunicação

que Sodré considera o bios midiático23.

O segundo nível é o da vinculação, que cognitivamente, representa a condição originária

do ser atravessado por uma exterioridade que é o comum. Dessa forma, ele está pressionado

para fora de si mesmo e dividido na perspectiva ontológica. Aqui, entra a necessidade da

pesquisa e do sujeito. Enfim, pode-se perceber a existência de um nível de contribuição aos

23 Para conhecer mais sobre este termo, ler: SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho – Uma Teoria da

Comunicação Linear e em Rede.

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estudos do conhecimento em Comunicação ou uma necessidade de ampliar a sua produção para

efeitos de currículo. Sodré (2014) entende isso não como relação linguística com o outro, mas,

na ocupação do lugar do outro. Trata-se, na verdade, da ordem simbólica da qual se pode

estabelecer uma compreensão a partir de uma dada estrutura. Valendo-se de uma linguagem

figurada, é como se um novelo de lã se desenrolasse e seus fios fossem parte da estrutura da

Comunicação. Entretanto, no tocante ao conhecimento, a vinculação envolve o sujeito que a

produz e as construções do mundo a partir dos fatos. O autor conclui que a compreensão não

vem da reprodução do objeto, mas sim, de um novo acontecimento gerado. Aplicando isso à

nossa pesquisa é dizer que não vamos reexaminar as pesquisas fomentadas pela FAPESP, na

concepção de seu objeto, porém, gerar a partir delas um acontecimento novo. No nosso caso,

as tendências dos estudos em Comunicação e as diretrizes sobre seu aspecto conceitual Sodré

(2014, p. 303) ressalta que “A análise da vinculação comporta tantos os aspectos visíveis do

comum quanto às dimensões ocultas ou apagadas da simbolização metacomunicativa inerente

ao laço coesivo”. Neste nível, há uma associação direta com o afeto, porém, esta possibilidade

é descartável no plano da ciência.

O terceiro nível, postulado pelo autor, é o crítico-cognitivo, ou simplesmente,

metacrítico que envolve a redescrição da pesquisa no sentido de uma diversidade processual da

Comunicação enquanto modo ativo de conhecimento. As mutações socioculturais exigem um

autoquestionamento. Esta perspectiva coincide diretamente com a proposta desta nossa

pesquisa que pretende revisitar as pesquisas fomentadas pela FAPESP permitindo assim

entender o processo da Comunicação, a partir de um questionamento sobre suas contribuições

a uma presumível evolução da Área e à sua construção taxionômica. É possível entender os

cenários diferentes dos momentos comunicativos implicados em macro conjunturas que

primordialmente tratam a Comunicação no âmbito da transmissão ou das suas manifestações

midiáticas. É o que Sodré (2014) propõe como organização simbólica cujo conhecimento

experimente uma releitura à luz das mutações.

Essas mutações colocam, no mesmo plano de discussão, as conexões teóricas da

Comunicação, que não podem ser satisfeitas pelas agregações multidisciplinares. Elas devem

ser a tradução de um conhecimento específico que até se entrelace com outro conhecimento.

Então, podemos dizer que a Comunicação precisa ser compreendida. É aqui uma espécie de

retomada com Braga (2011), quando este coloca a necessidade das interfaces de conhecimento.

E como se compreende melhor a Comunicação? Por seu ângulo comunicacional, buscado no

sentido de fazer dela, a protagonista das relações comuns. Isto que dissemos aqui é o que Sodré

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(2014) chama de hermenêutica tradutora, ou seja, ela parte de problemáticas às quais se

realizam os discursos possíveis do pensamento social. Não podemos admitir a Comunicação

apenas como transmissão ou conhecimento de passagem. Precisamos legitimar seu estatuto

conceitual, de modo que esta seja sua hermenêutica.

O autor é enfático quando aponta que as Ciências da Comunicação têm as premissas de

uma Ciência Social: produz valor social, cultural e político. Torna-se possível cruzar os

diferentes eixos do saber com os valores humanos de modo à localização de marcos distintivos

que possibilitem a elaboração de novas formas do comum. É impossível abandonar a ideia de

socialização, mesmo com as noções de espaço e de tempo encurtadas, planas e instáveis.

Entretanto, a complexidade da Comunicação se mantém no mundo da vida comum a emissores

e receptores que sofrem agora da banalização de que inverteram seus papéis em função de maior

acesso. Sodré (2014) pensa o método da formação científica do comum pelas relações humanas

e suas trocas simbólicas. Isto, aplicado às pesquisas, envolve colocar, em primeiro plano, o

indivíduo e sua organização comunicativa no espaço concreto das experiências culturais

vividas. Embora o fomento siga à risca o estudo a ser desenvolvido, quem lhe atribui sentido é

um indivíduo, o qual preferimos denominar sujeito de pesquisa, mas que infelizmente no

entendimento social, muitas vezes parece ser alguém isolado das práticas/vivências vigentes.

Pela visão de Francis Bacon, é justamente esse sujeito que pode ser o que o autor chama

de ídolo do foro, que pode constituir obstáculos à ciência, por falhas vindas da linguagem e

comunicação entre os homens. Nisto, podemos dizer que se aplica o impasse conceitual da

Comunicação, pois, por interesses próprios de seus pesquisadores e linguagem constituída,

temos uma série de possíveis definições que acabam não sendo nenhuma fechada, centralizada.

Entretanto, isto poderia ser diferente, pois, pelo que o próprio autor diz, a ciência é um conjunto

de regras e procedimentos prescritos como atividade metódica que carrega concepções sobre o

homem, sua natureza e o próprio conhecimento. Assim, diz Bacon in Andery (1996, p.14):

A divergência com relação a que procedimentos levam à produção de conhecimento

está sustentada pelas concepções que os geram; ao se alterar a concepção que o

homem tem sobre si, sobre o mundo, sobre o conhecimento (o papel que se atribui à

ciência, o objeto a ser investigado, etc.), todo o empreendimento científico se

alterará.

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Assim, o que o autor nos sinaliza é uma ruptura de paradigma a partir da autorreflexão.

Sabendo da natureza que nossa Área de Pesquisa proporciona, ambientada por seus impasses

conceituais, fato é que se atribui um sentido de desprendimento das linguagens que se

apresentam como caminho e regras para se pensar qual o nosso papel enquanto pesquisador e

o que os sujeitos dedicados a ela, no ramo da Comunicação, estão investigando. Não para

mensurar produção, mas sim, para se pensar um método construtivo no qual a Comunicação

realmente ganhe uma contribuição de evolução, revisão e inovação. Acreditamos que deste

modo, diminuam as polaridades da nossa natureza modificada pela ação do homem, porém, em

torno de uma caminhada rumo a uma concentração em torno de um conceito.

1.6 A pesquisa em Comunicação e o discurso das teorias

Há três condições, exaltadas por Marques de Melo (2014), que não necessariamente se

aplicam na academia, mas que devem dar o direcionamento teórico: reflexão, sistematização e

atualização. Até podemos dizer que reflexão é o que talvez pouco mais se exercite, pois, a

construção de uma linha de pensamento se dá por meio de leituras de textos de autores,

majoritariamente, convertidos em seminários pelos alunos a fim de que tais ideias despertem

um debate entre os grupos. Quando cruzamos os preceitos de José Marques de Melo com os

preceitos de Feyerabend (2010, p.35), percebemos uma questão de elite na dimensão teórica.

A abordagem teórica usa o entendimento, mas não o entendimento das partes

envolvidas. Grupos especiais, filósofos e cientistas entre eles, estudam os valores

conflitantes, organizam-nos em sistemas, fornecem diretrizes para a resolução de

conflitos – e isso resolve a questão. A abordagem teórica é convencida, ignorante,

superficial, incompleta e desonesta. Ela é convencida porque presume que só os

intelectuais têm ideias que valem a pena e que o único obstáculo para um mundo

harmonioso é a discórdia entre seus níveis (FEYERABEND, 2010, p.35).

A demonstração dessas adjetivações pode ser percebida quando Lopes (2003, p. 45)

compreende que “[...] fazer teoria passa a ser visto por intelectuais conservadores como um

luxo reservado aos países ricos competindo a nós aplicar e consumir”. Tal colocação nos suscita

pensar: qual a diferença do lugar cativo para produzir teoria em relação a todos os demais

pesquisadores que atuam no campo? É muito amplo falar em intelectuais conservadores. Seriam

eles os pesquisadores de notório prestígio e reconhecimento acadêmico? E quem são os países

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ricos? Parece-nos ficar evidente que a autora nos coloca em condição de colonizado. Não que

não o sejamos, mas assim como o Brasil já se animou em tempos não muito distantes em ser

um país emergente do ponto de vista político e social, por que não pensarmos nesse aspecto

diante de uma pesquisa emergente em Comunicação quando o alto índice de produtividade visto

em publicações, congressos e as pesquisas em programas nos sinaliza isso? A observação de

Lopes (2003) coincide com a presunção do capital intelectual de Bourdieu ao qual Feyerabend

se contrapõe por compreender que os intelectuais nessa perspectiva oferecem parcelas de

conhecimento como tarefas convencidas de uma autovalorização.

Trata-se aqui de um duelo teórico do qual Feyerabend (2011) luta dizendo que a ciência

não pode ser um padrão do que se aceita ou não, do que se pode ou não. O autor ressalva que

aprender não se separa do viver, por isso, o contexto da descoberta da Comunicação se reforça

(2011, p. 332):

Dizem que a análise social é uma questão difícil e que ela precisa de um discurso

fortemente teórico para ter sucesso. Eu replico que um discurso teórico faz sentido

nas ciências naturais, nas quais os termos abstratos são resumos de resultados

prontamente disponíveis, mas que às afirmações teóricas sobre questões sociais

muitas vezes faltam conteúdo e elas passam a ser ou absurdas ou superficialmente

falsas quando o conteúdo é dado.

Sem levar em consideração apenas o plano teórico, Rüdiger (2011) propõe uma análise

de conjuntura estrutural. Para o autor, o estatuto epistemológico da Comunicação se torna cada

dia mais caduco, pois, seus saberes metódicos estão sendo tragados pelo redemoinho da

atividade publicística e o desenvolvimento tecnológico de nossa civilização mecanicista.

Quando Bourdieu (2004) aborda que toda produção teórica é o resultado de determinadas

condições sociais, podemos propor que o novo contexto da Comunicação assume nova posição

dentro da cultura, o que hipoteticamente, pode fazer com que uma solução apareça nesse

intervalo teórico ainda hegemonicamente dominado pelas dicotômicas correntes

estadunidenses e europeias. Intervalo que pouco se sabe em relativização ao tempo, afinal, os

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fenômenos contemporâneos se constituem e desconstituem mais rapidamente. São mais

instáveis, ou como se diz na contemporaneidade, são líquidos24.

As condições sociais, nas quais se devem produzir as teorias, geram um choque de

culturas, como prevê Feyerabend (2010), a ponto de resultar em reações trazidas por

dogmatismos, ou seja, os proponentes da produção teórica sempre acreditam que suas visões

são mais corretas e as demais falsas; por oportunismos, isto, é assimila-se o que vem da cultura

estrangeira. A importação de teorias, no caso brasileiro, é muitas vezes um exercício sem

deglutição e crítica. Prefere-se uma reprodução teórica, de outra cultura, estabelecida em nossa

cultura; e por fim, as reações com argumentos, àquelas que se referem como as condições

estrangeiras mudarão nossas vidas e a que ponto causar outras mudanças. Ocorre que os

membros das tradições teóricas consideram a teoria como algo permanente no fluxo da história

de modo que seja sem história. Assim, podemos considerar que a Comunicação se posta na a-

história, uma vez que não se tem feito muita questão de atualizar seu postulado teórico.

Mas Feyerabend aponta duas soluções que nos parecem viáveis para essa compreensão

teórica da Comunicação, e que diretamente, dialogam com a nossa proposta de pesquisa. A

primeira delas é de que todo cientista em busca de dinheiro deve mostrar que sua pesquisa traz

ideias inovadoras que coincidam com os juízes que, por sua vez, também olham para sugestões

inovadoras. Nesse sentido, se estabelece uma base em comum. A segunda é que a ciência

progrida pela participação e não pelas teorias.

Esta acepção retoma um ponto que tem sido uma constante na formação científica: a

concorrência. Termo que Thomas Kuhn (2009) prefere tratar por competição. Segundo o autor,

a disputa, dentro da comunidade científica, é o único processo histórico que resulta na rejeição

de uma teoria ou na adoção de outra. Na Comunicação, nota-se isto. Primeiro, pela variação de

linhas de pesquisa em várias instituições que adotam um postulado teórico-metodológico com

o qual direcionam a construção de um sentido comunicacional trazendo sempre um autor

referencial, central, a quem todas as pesquisas precisam se render. É que utopicamente fechados

em constructos ideológicos, os pesquisadores de um Programa alinhavam todos os problemas

de pesquisa a um preceito. Temos visto ao longo de nossa trajetória acadêmica, alguns cultos a

“deuses” da literatura comunicacional. É preciso apontar, discutir e entremear ideias de autores,

sim, entretanto com as devidas ressalvas, e principalmente, crítica em saber como usar aqueles

24 O conceito “líquido” se aplica a várias frentes de trabalho do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017).

Ele usa o termo para se referir a situações efêmeras que não são mais duradouras. Exemplos: as relações, a

modernidade, o amor, a comunidade, etc... Sua bibliografia é extensa.

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preceitos e pressupostos. A melhor maneira de se fazer isto é estabelecendo o diálogo, mesmo

com argumentos que sejam contraditórios. Um método que ajuda os pesquisadores a dizimar

que determinados autores não sejam sacralizados a ponto de que apenas suas verdades sejam

absolutas e reinem sobre os mais diversos objetos de estudo. O que mais vale é colocar em cena

o contraditório.

Há uma carência de entender realmente com o que os pesquisadores estão trabalhando

em nível teórico. Uma importante forma de mensurar o trabalho do campo de conhecimento é

um incentivo a pensar em reformulações teóricas. Esse desmembramento é como um repassar

de olhos pelo que Lopes (2003) já considera sobre teoria: um lugar de formulação sistemática

das hipóteses e dos conceitos, da definição da problemática e da proposição de regras de

interpretação. Lopes (2003, p. 141) diz que:

Criticar o empiricismo não é (a não ser por má-fé) fazer a defesa do teoricismo; é,

antes, reconhecer a fraqueza do trabalho teórico no campo da Comunicação como a

provável causa principal de nossa crise de identidade e da ausência de uma

orientação substantiva em nossa pesquisa. O crescimento de um campo científico só

se dá mediante o permanente confronto da teoria com os fatos, fatos esses que devem

ser criteriosamente escolhidos e transformados em objetos científicos por meio da

manipulação e elaboração intelectuais.

As Teorias da Comunicação são paradigmáticas e não acompanham a evolução do

tecido social. A considerar, como Kuhn (2009), de que o paradigma é uma realização científica,

universalmente reconhecida por algum tempo diante de problemas e soluções modelares numa

comunidade praticante da ciência, não dá mais para pensar em Teorias da Comunicação pela

visão paradigmática das noções baseadas na estrutura: emissor-mensagem-receptor, na fórmula

de Lasswell. Há que se levar em consideração, os estudos sobre os efeitos das mensagens ou a

noção da indústria cultural, como uma larga produção em série massiva dos produtos da cultura.

Mas, de nada adianta também, o discurso apelar a novas teorias sem entender por que o campo

precisa de repaginação teórica.

Evidentemente, as teorias são os discursos mais representativos dos paradigmas,

entretanto, há métodos de trabalho que continuam sendo paradigmáticos nas pesquisas. É

preciso que haja mudança de atitude e de consciência. E isto pode ocorrer quando Kuhn (2009)

considera que, o que um homem vê, depende do que a sua experiência visual-conceitual prévia

o ensinou a ver. Ou seja, o passado está dado novamente. Então, fazer a Revolução Científica

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da Comunicação depende de seus sujeitos. E isto pode começar pela tentação de reescrever a

história passada, a partir do presente. Não porque os resultados de uma pesquisa dependam

obviamente de um contexto histórico, mas sim, porque a posição contemporânea do cientista

parece estar muito segura. O primeiro rompimento deve ocorrer inclusive na experiência do

sujeito de pesquisa. É preciso haver uma pré-disposição de que nossa Área de estudos possa

estar viciada no comodismo.

Talvez, os sujeitos da pesquisa em Comunicação ainda não tenham se dado conta de que

há um estopim para uma revolução científica. Uma revolução, de acordo com o autor, nasce de

um episódio extraordinário modificador da tradição, para retornar à nova atividade da ciência

normal. Para que ocorra, é preciso que o cientista rejeite uma teoria científica anteriormente

aceita em favor de outra incompatível com aquela. Trata-se de uma transformação no ambiente

interior do trabalho científico. Essas mudanças e as controvérsias definem as revoluções

científicas. Então, é de se pensar e discutir qual é a Revolução Científica da Comunicação. Ela

deveria ser pelas inquietudes, que há tanto demarcam o campo, porém, nos parece que a

“aceitação” só vai cessar – na verdade, cessará porque ficará isolada do contexto – quando todos

se derem conta que a nova ordem tecnológica do digital já provocou significativas mudanças

das formas e trocas simbólicas.

A pesquisa paradigmática inibe a revolução científica e Kuhn (2009) aborda que quando

os homens estão sujeitos a seguir regras e padrões, eles estão comprometidos com a prática

científica da ciência normal mantendo a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa

determinada cuja crise paradigmática está no funcionalismo da ortodoxa ação dos efeitos,

baseada na construção singular de emissor, mensagem e receptor, em especial, a partir da

intervenção midiática no cotidiano dos sujeitos. Se, por um lado, Sodré (2014) aponta isso como

camisa de força teórica que impõe um baixo avanço cognitivo nas pesquisas, por outro, critica

as feições do pluralismo disciplinar (interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e

transdisciplinaridade), decorrentes dos anos 1960, por sintomas teóricos de uma crise de

paradigma do conhecimento. Assertiva que discordamos totalmente, pois, se o rompimento de

paradigmas, sustentado pela revolução científica, depende de novos planos conceituais

estabelecidos por um olhar retroativo seguro do pesquisador, não há como dissociar a

Comunicação de suas experiências e relações com outros campos do saber estabelecidos a partir

das vivências. Nossa crise não está na abertura, mas sim, na falta de nossa introspecção bem

como no sentido de sabermos que há soberania da Comunicação, instaurada pela Linguagem,

em todas as outras instâncias do conhecimento.

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Por exemplo: uma pesquisa em televisão dos anos 1980 não tem o mesmo recorte teórico

e de sentido de uma pesquisa em televisão nos dias de hoje (pós anos 2000). Há conflitos de

geração, viabilidades técnicas, a integração contemporânea com a Internet, a digitalização desse

meio. Um estudo de recepção, talvez, não tenha o mesmo princípio se compararmos dois

momentos tão distintos. E nem precisamos pensar em coisas tão diferentes. Consideremos os

programas de Serginho Groisman na televisão brasileira. Este apresentador sempre esteve

voltado ao público jovem, entretanto aquele jovem da década de 1990 do Programa Livre,

exibido pelo SBT, não é o mesmo jovem dos anos 2000, em sua atração atual – Altas Horas –

na Rede Globo. Mesmo havendo um relativo e curto intervalo de tempo, há uma série de

mudanças que as implicações teóricas precisam se dar conta. Não é a teoria que não serve mais.

É a teoria que precisa ser repensada a partir das novas experiências. O jovem da década de 1990

não é o jovem do século XXI inserido nas redes. O entrave, que vemos aqui, é que – assim

como as teorias – as pesquisas nem sempre são paralelas às realidades e vivências. Nesse

sentido, volta-se o olhar a períodos determinados em que se associam metodologias não

renováveis porque os sujeitos de pesquisa não se dedicaram a tal desenvolvimento. Uma tarefa

que cabe a todos, em especial, aos professores pesquisadores que formam as novas gerações de

investigadores.

O plano teórico ainda permanece imutável e não acompanha os fatos em sua velocidade.

Nesse jogo de conceitos, segundo o autor, completa-se a descoberta. Descoberta que, a nosso

ver, pode apontar uma revisão emergencial dos paradigmas, desde que não se consiga mais

promover adaptações às teorias paradigmáticas. Porém, Kuhn (2009) alerta que um paradigma

só se invalida quando ele tem uma alternativa de substituição. E como pensa o autor, quem

rejeita um paradigma, sem ter com o que substitui-lo, está rejeitando a própria ciência. Uma

encruzilhada para a Comunicação, mas que pelas palavras de Kunh (2009, p.116), oferece uma

pista para a reconstrução da nossa área do saber.

A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova

tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através

de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos

a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das generalizações

teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e

aplicações.

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Independentemente do fenômeno, contemporâneo ou não, o que vivemos na

Comunicação, é justamente essa adequação paradigmática na qual seus pesquisadores inserem

os contextos dentro de um mesmo modelo. Isto representa que não há um acompanhamento

pari passu da evolução social, pois, as práticas estão mais avançadas que as teorias. Vejamos,

por exemplo, uma nova tentativa de construção de paradigmas em dizer que a Comunicação se

alterou, pois, todos conseguem produzi-la hoje em função dos dispositivos móveis

tecnológicos. Entretanto, produzir Comunicação é uma questão bem anterior a isso, pois, todos

conseguem produzi-la. De que Comunicação se fala então? É uma evidência de um novo

paradigma que se pretende para enquadrar os estudos contemporâneos, que por força do acaso,

ainda são ajeitados em modelos paradigmáticos anteriores. Podemos até pensar na tecnofilia,

por exemplo, como um estímulo da indústria cultural, mas onde está o sentido de se pensar em

novas práticas, hoje atribuídas ao conceito de ‘narrativas contemporâneas’, querendo submetê-

las, por exemplo, a uma análise adorniana, seguindo os pressupostos da Escola de Frankfurt?

Serão os novos dispositivos, caros e disputados pelos consumidores, o principal problema? Ao

mesmo tempo, nos parece incipiente “jogar fora” todos os paradigmas e redesenhar o campo

teórico da Comunicação pelo encantamento das facilidades demonstradas pelas tecnologias

digitais.

Porém, um entrave pode estar no que considera Kunh (2009), quando diz que enquanto

o paradigma é aceito, os problemas são dotados de uma solução possível já que eles representam

segurança. Assim, se torna mais fácil reduzir qualquer prática comunicacional a uma noção de

efeito ou tentar desmistificar a cultura de massa por meio da tecnologia contemporânea que

permitiu o acesso aos indivíduos. Parece que a tecnologia trouxe uma libertação dos modelos

da indústria cultural. Puxa-se apenas para o lado de que posso me comunicar – não sendo este

o real sentido de se comunicar. Mas, para acessar a Internet por meio de dispositivo, há toda

uma cadeia por detrás disso. Sem um dispositivo adequado, ou um plano de Internet, um

conhecimento prévio do uso do aparelho, etc... se torna difícil atingir essa falsa libertação. Por

outro lado, os pesquisadores em Comunicação encontram na interdisciplinaridade uma espécie

de porto seguro trazendo para o campo a ideia de que tudo é Comunicação. Uma coincidência

quando Kuhn diz que, às vezes, os paradigmas impedem trabalhar com a razão. A Comunicação

vive uma crise teórica justamente porque o paradigma ainda pretende explicar os

fenômenos. Além do mais, como diz Kuhn (2009, p. 111):

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[...] os estudantes de ciência aceitam as teorias por causa da autoridade do professor

e dos textos e não devido às provas. Que alternativas, que competência possuem

eles? As aplicações mencionadas nos textos não apresentadas como provas, mas

porque aprendê-las é parte do aprendizado do paradigma que serve de base para a

prática científica em vigor.

Enfim, é dada uma estrutura de pesquisa que nem sempre acompanha o progresso

multifacetado pelas diversas possibilidades estabelecidas pela Comunicação. Há uma espécie

de ajuste dos escritos diante dos acontecimentos. Fato é que, como a pesquisa passa

majoritariamente pela universidade, cada pesquisador tem uma vivência levada junto a linhas

de pesquisa que permeiam categorias de trabalho dentro de modelos pré-estabelecidos. Como

diz Calhoun (2012, p.305), “os programas de Comunicação vivem na constante tensão entre o

que os alunos querem estudar e o que seus professores querem ensinar”.

As práticas comunicativas garantem aos seus pesquisadores descobertas, aplicações,

mundos e vivências simbólicas de referenciais, metodologias, dados que nos permitem coleta e

exame, através de documentos colocados em análise. Desse modo, conjunturas, aportes de

conhecimento e grandes ensaios podem surgir com os objetos da Comunicação que são

observáveis. E a observação é a parte primordial do trabalho de um cientista, pois, consiste o

ponto inicial de sua atividade. Se a ciência carrega a pecha de ser algo intangível, cabe ao nosso

sistema educacional, em especial, os Programas de Pós-Graduação, descaracterizar isso no

âmbito da Comunicação a fim de construir sua legitimação. Se uma das missões principais

desses Programas, espalhados por todo o país, é formar pesquisadores, devemos pensar na

formação científica da nossa área de estudos. Precisamos trabalhar o “santo de casa” e perder o

vício da adoção de autores-chave, em evidência no meio acadêmico; fugir das amarras dos

relatórios, números, prazos e metas para conscientizar futuros pesquisadores dando-lhes

vivências significativas com a compreensão de que também fazemos ciência; discutir mais as

pesquisas pensando como são feitas e não quantas são feitas estimulando assim uma reflexão

teórica da Área. O recomeço para isso é estrutural e pedagógico.

Assim, cabe ao pesquisador estabelecer a contribuição de seu estudo com vistas à

construção a partir das trocas simbólicas como resultado da reposição do espaço social a partir

das interpretações. A conexão com o simbólico se dá quando o saber necessita ser reconstruído

ininterruptamente a partir de eixos racionais. E a racionalidade dos estudos em Comunicação

existe quando seus estudiosos pensam na sua organicidade que inevitavelmente tem passagem

pela institucionalização. Por isso, este estudo incorre em duas faixas de conhecimento, segundo

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Rolando García (2006). Na faixa da Sociologia da Ciência, que estabelece a relação ciência e

sociedade, busca-se uma direção particular de pesquisa, que é o fomento da FAPESP que se

encaixa numa condição cultural e financeira de se investigar com apoio de verbas de uma

agência. E na faixa da História da Ciência e da Epistemologia, busca-se a partir dos fomentos

analisados, compreender a ciência em seu conteúdo inteiro com marcos conceituais e

concepções de mundo. Assim estudam-se as produções da FAPESP, na Área da Comunicação,

para permear o que tem sido pesquisado com a chancela da Fundação.

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CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS

INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO DE CONSTRUÇÃO DA

ÁREA

Embora a Comunicação careça de um conceito próprio que lhe ofereça uma definição

central, é notório o quanto as instituições têm peso para sua construção como Área de

Conhecimento. Apontamos historicamente as contribuições dadas pela UNESCO, em nível

mundial, e da INTERCOM, em nível nacional. E tratamos, nesta pesquisa, a configuração que

a FAPESP oferece para os estudos em Comunicação, por meio dos fomentos disponibilizados

aos pesquisadores. A proporção, se compararmos a FAPESP com as outras instituições

similares, evidentemente é menor, porém, deveras importante, uma vez que ela assegura a

realização de pesquisas que contribuam efetivamente para o avanço em direção à construção do

conhecimento, ainda que aproximado, segundo a visão bachelardiana.

Quando os pesquisadores procuram a FAPESP, é para que ela subsidie custeios de

pesquisa com recursos que, majoritariamente, as universidades não dispõem, seja por

desinteresse, falta de condições financeiras ou de controle orçamentário como forma igualitária

na distribuição de recursos, sem privilégios, a nenhuma instância do saber, embora se considere,

como veremos no capítulo final, uma relação de oferta versus procura. Os trabalhos aprovados

recebem uma quantia a ser aplicada no desenvolvimento da investigação, porém, não

entendemos que os problemas de pesquisa estejam condicionados diretamente a esta questão.

Acreditamos no caminho inverso, ou seja, ao buscar o fomento, o pesquisador quer o

financiamento de seu trabalho sendo que o retorno da FAPESP se encontra no incentivo e aval

de cientificidade para a produção de conhecimento. A supervisão pública existe para sustentar

a transparência de todo o processo, em especial, quando envolve dinheiro do erário. Aliás, a

supervisão é um item que consta da relação entre FAPESP e pesquisador, que estabelecem um

contrato em nome do conhecimento científico, materializado por meio da pesquisa.

As atividades dos pesquisadores constroem e validam o espírito científico que, segundo

Bachelard (1996), não se caracteriza por uma opinião formada sobre o que não se conhece. A

condição primeira, para seu desenvolvimento, é a formulação de problemas que, na vida

científica, se originam espontaneamente. Dando atenção e sentido a um problema, todo

conhecimento se torna resposta a uma pergunta. Como sem pergunta, não há conhecimento, eis

que ela se faz necessária à construção. Mais uma assertiva factual que sinaliza à cientificidade

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da Comunicação, pois, se não há pergunta, não há conhecimento científico. Uma condição

aplicável a todas as instâncias de conhecimento, inclusive, àquelas com demonstração de

maturidade científica. Mas, será que os pesquisadores, beneficiados pelos fomentos da

FAPESP, estão de fato pensando a Comunicação de maneira questionadora, o que seria uma

evolução desse espírito?

Quando o indivíduo está conformando seu saber muito mais com as respostas do que

com as perguntas, Bachelard considera que o crescimento espiritual cessa. Sabe-se que um

conhecimento jamais se esgota, principalmente, nesta Área em que estamos inseridos. Resta-

nos o alento das revoluções espirituais exigidas pela ciência. Mudar exige conhecer e, como

novos problemas surgem, é preciso questioná-los. Assim, vale de antemão, fazer a seguinte

questão: os pesquisadores têm realmente um compromisso com a pesquisa científica ou se

tornaram reféns da escala de produtividade exigida pela sobrevivência no mundo acadêmico?

É notório que, nesse meio, por onde transitam os pesquisadores apoiados pela FAPESP, há

personalidades-chave, não necessariamente pelo que pesquisam, mas pelo nome construído o

qual se faz necessário zelar no tecido social acadêmico. Como já colocado no capítulo anterior,

o próprio Bourdieu (1983) reconhece que o pesquisador depende de sua reputação para obter

fundos às suas pesquisas, afinal, a briga por fomento também se faz um espaço de lutas.

Pela importância e reconhecimento da FAPESP, é plausível afirmar que valeram a pena

todos os enfrentamentos políticos pelos quais os incentivadores e praticantes da atividade

científica, no Brasil, se propuseram em nome do avanço do conhecimento. Lutas que se

estenderam, ao longo do tempo, e perduram até os dias de hoje. Se, no passado, pelos tempos

de caráter ideológico da ditadura, ou atualmente, pelos tempos de cortes de verbas de pesquisas

em função dos ajustes econômicos. Reportagem do Jornal O Estado de S.Paulo, de 17 de

outubro de 2015, noticiou a redução de gastos com bolsas de Mestrado e Doutorado na ordem

de 10%. Comparando o período de janeiro a agosto de 2015 com o mesmo período de 2014,

houve R$ 13 milhões a menos de investimento. Ainda no âmbito das comparações de 2015 com

2014, as bolsas de Mestrado sofreram redução de R$ 24,1 milhões, o que representou 19% a

menos e as bolsas de Doutorado tiveram R$ 100,5 milhões a menos, índice 6% menor. A

justificativa que a FAPESP apresentou foi a queda de arrecadação de ICMS (Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado. Seguindo a comparação, enquanto o repasse

à Fundação, em 2015, foi de R$ 632 milhões até agosto, em 2014, o valor enviado, no ano todo,

havia sido da ordem de R$ 998 milhões.

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O cenário da crise econômica brasileira se ampliou e o corte planejado de verbas para o

Orçamento 2017 caiu como uma hecatombe na classe científica. É que pelo orçamento da

Secretaria de Planejamento e Gestão – que sofreu redução de 4,98% na dotação total prevista

comparando o orçamento de 2016 – o que caberia à FAPESP era R$ 1.224.323.477,00 sendo

que R$ 996.697.867,00 vinham do Tesouro do Estado sobre o qual calculando a receita total do

Estado, de R$ 206.399.953.232,00, representava 0,48%, índice que infringe a lei estadual que

garante o repasse legal de 1% das receitas como veremos mais adiante na configuração da

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O orçado para 2017 foi a concessão

de 13 mil bolsas de estudo e 3.700 Auxílios Regulares. A partir dessa redução, o Conselho

Superior da FAPESP divulgou uma nota25 em que reforça o compromisso histórico do Governo

Estadual em repassar 1% da receita tributária do Estado. Valor que ajuda a manter o

compromisso da FAPESP com o desenvolvimento científico e tecnológico como previsto na

Constituição Estadual.

Também houve manifestação da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência, por meio de sua então presidente, Helena B. Nader26, e da Academia Brasileira de

Ciências, por meio de seu presidente, Luiz Davidovich27. Em ofício endereçado ao então

Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin28, datado de 10 de janeiro de 2017, eles salientaram

a redução do repasse, reforçaram o compromisso da FAPESP com o conhecimento científico e

tecnológico do Estado e pediram a correção da situação para a manutenção de um dos sistemas

de Ciência e Tecnologia mais bem-sucedidos do país como assinalam ao se referirem à

FAPESP. E as reclamações, em partes, surtiram efeito. Ainda no fim de janeiro de 2017,

conforme noticiou o mesmo jornal O Estado de S.Paulo, em sua edição de 28 de janeiro, a

Fundação recebeu de volta os R$ 120 milhões tirados do orçamento, porém, tendo tal verba

destinada exclusivamente para gastos com os Institutos de Pesquisa do Estado. Ouvido pela

reportagem, o vice-governador do Estado de São Paulo e secretário de Desenvolvimento

Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Márcio França29, disse que esse acordo de

devolução “[...] vai no sentido de remediar uma dívida histórica que a Fapesp teria com os

institutos, desde que a vinculação orçamentária da fundação foi aumentada de 0,5% para 1% da

25 A nota pode ser acessada em http://www.fapesp.br/10704 26 Presidiu a SBPC de 2011 a 2017 27 Eleito para o mandato 2016-2019. 28 Foi governador de São Paulo em dois períodos: 2001 a 2006 e 2011 a 2018, quando em abril deste ano, deixou

o cargo para ser candidato à Presidência da República Federativa do Brasil 29 Vice-governador para o mandato 2015-2018, assumiu o governo em abril de 2018, sucedendo Geraldo

Alckmin.

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receita tributária, na Constituição de 1989”. Para o presidente da FAPESP, José Goldemberg,

em 2016, a entidade concedeu R$ 48 milhões aos Institutos de Pesquisa, por meio de editais de

apoio à pesquisa. Segundo ele, a taxa de aprovação das propostas submetidas por cientistas dos

institutos é similar à dos pesquisadores acadêmicos: 40%. Por isso, ele sugeriu aumentar a

capacidade dos pesquisadores dos institutos no que se refere à apresentação de mais projetos.

Sem ter a qualificação para falar institucionalmente em nome da FAPESP, porém,

entrevistada por nós, perguntamos à coordenadora da Área de Ciências Humanas e Sociais II

da FAPESP, professora doutora Esther Império Hamburger, sobre a questão dos financiamentos

diante da crise econômica brasileira. De acordo com ela, a FAPESP é considerada um modelo

de gestão, especialmente, pelo fato de que alguns visionários previram lá na década de 1950

que as pesquisas deveriam ser viabilizadas com dinheiro arrecadado pelo estado de São Paulo.

Uma proposta, que como veremos neste capítulo, se incorporou à constituição paulista.

Entretanto, Esther Hamburger ressalta que, apesar de uma estrutura de financiamento à pesquisa

relativamente autônoma, a Fundação não está alheia aos acontecimentos do mundo e que

embora a crise econômica do Brasil tenha encolhido a arrecadação, mesmo com investimentos

comprometidos, a FAPESP não perde sua credibilidade. A cada ano, a Fundação distribui um

número de bolsas, seguindo uma determinada receita, porém, se a receita cai, o repasse, nos

anos posteriores, se torna menor. Apesar de considerar isso como uma estratégia natural,

Hamburger conta que a FAPESP ainda é uma instituição que gasta com bolsas um percentual

bem maior se comparada a outros lugares do mundo. Indispensavelmente, as ações

administrativas se relacionam diretamente com as ações científicas.

Essa diminuição torna o trabalho de quem está decidindo muito penoso porque assim

você vê que as pessoas têm acesso em geral, recebe bem as críticas que os

pareceristas fazem, né? E refazem seus projetos. Então eles vão melhorando. E as

pessoas, enfim, com essa onda de publicação, cobrança de produtivismo... estão

produzindo, estão publicando muito. Isso eu acho que não é só na nossa Área. É em

geral. O nível está melhorando muito. Só que as Áreas têm mais ou menos bolsas

com a proporção de pedidos. (HAMBURGER, 2017)30

Uma tarefa árdua, afinal, é preciso levar em consideração a produção de conhecimento

e o quanto isto custa proporcionando um choque entre ciência e gestão. Desconsiderando os

fatores externos, alheios a decisões da própria Fundação, nota-se, na FAPESP, um trabalho

30 Entrevista concedida ao autor em 10/10/2017.

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sério, competente, eficaz e duradouro que investe o dinheiro público em projetos aprovados e

construídos metodologicamente com vistas a resultados que congregam, contemplam a vida

social e construam o conhecimento.

O apoio governamental à pesquisa não é exclusividade do Brasil, pois, de modo geral,

todos os governos desenvolveram o interesse em criar mundialmente ambientes favoráveis ao

desenvolvimento científico. Demarca-se a ciência como condição das nações dominantes.

Assim se dava com os Estados Unidos e o orçamento de 0,5% à National Science Foundation;

a Inglaterra e o estímulo ao Departament of Scientific and Industrial Research que funcionou,

entre 1915 e 1965, sendo extinto em seu último ano pela Lei de Ciência e Tecnologia; a Rússia

e a dotação de 1% à pesquisa; o Centre National de la Recherche, da França, onde o orçamento

anual representa atualmente um quarto do gasto com pesquisas por civis. Os recursos vêm do

governo e de financiamento público, além do investimento de indústrias e royalties com

patentes, licenças e serviços. Aos governos, cabia oferecer apoio, orientação, recursos, homens,

continuidade e cooperação. No Brasil, São Paulo já se destacava com bases à pesquisa científica

pelo fato de ter desenvolvido homens, equipamentos e instituições. As primeiras manifestações

disso ocorriam na Biologia, nas Ciências Exatas e no setor psicotécnico e de formação

profissional.

A prática científica no Brasil é uma herança colonial, considerada por Motoyama (1999)

como empecilho para o desenvolvimento de ciência que a Europa já experimentava. Após a

nossa Independência, e principalmente com D. Pedro II, foi que a ciência deu seus primeiros

passos no Brasil. De acordo com registros disponibilizados na Biblioteca Nacional, no Rio de

Janeiro, Quando ascendeu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta. Até

seu último ano de reinado, em 1889, o índice baixou para 56%. Em seu período, incentivou a

Educação com a construção de faculdades e escolas que tinham como modelo o Colégio Pedro

II. Aliás, Dom Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e

incentivos para Educação com ênfase nas Ciências e Artes. A nossa letargia tinha relação direta

com a metrópole Portugal onde o exercício da ciência não tinha tanto brilho. Se a história nos

demonstra um conflito de classes, entre burguesia e um sistema escravo, a relação de soberania

diante dos demais não despertava nas elites de então o interesse por pensamentos científicos.

Foi o desenvolvimento industrial que abriu espaço à pesquisa no Brasil, principalmente,

nas últimas décadas do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial ou também chamada

Revolução Tecnocientífica com as indústrias eletromagnéticas e químicas. As linhas de

montagem difundiam os modos de produção do Taylorismo e do Fordismo. A nova safra

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tecnológica exigia mudanças para o Brasil não mais se manter limitado às exportações de café,

cacau, algodão e borracha. As cidades cresciam e se urbanizavam. A ligação entre elas fez com

que se ampliasse a rede de transportes. Foi assim que as ferrovias se expandiram

consideravelmente no estado de São Paulo e nas principais cidades do Brasil. Condições, aliás,

que favorecem e se igualam à Comunicação. Nos desenvolvimentistas anos 1950, as rodovias

chegaram para alavancar o sistema de transporte que também fora entendido como meio de

comunicação. Apoiamo-nos em Paulo Schettino (2013) quem nos lembra que a língua natural

se faz agente catalisador ao reunir pessoas com interesses comuns para dividirem tanto a

espacialidade quanto as coisas materiais e aquelas intangíveis. A necessidade humana propiciou

laços de Comunicação. Isto se deu, por exemplo, quando grupos isolados e distantes

encontraram nos rios suas vias de comunicação e transporte, mais tarde, transformadas nas

relações de comércio, mas, que antes serviram na formação de grupos ribeirinhos. Depois das

águas, registrou Schettino, vieram os caminhos sobre a terra que, posteriormente, fariam as

comunicações se desprenderem do transporte material. E não há como não considerar as

Grandes Navegações que “aproximaram” as distâncias com o Novo Mundo. Assim, Schettino

(2013, p.5) diz que “Das trocas interpessoais evolui-se para trocas intergrupais, originando a

partir destes intercâmbios de experiência diferentes (sic) de vida resultando na transformação

de culturas originais”.

Evolução na técnica, aprimoramento profissional por meio do ensino. As escolas

superiores ganhavam importância, em especial, com os cursos de Medicina e Engenharia (as

primeiras foram criadas por D. Pedro II ainda no século XIX). Paralelamente, surgiam os

institutos de pesquisa. Em 1919, já nos primórdios do século XX, houve apelos à criação de um

Conselho Nacional de Pesquisas, porém, a industrialização e a modernização não serviram de

estímulo à Ciência e Tecnologia. A criação da USP, em 1934, coincidia com a ascensão de

Getúlio Vargas ao poder. Uma combinação próspera para a criação de universidades. Em 1936,

Vargas pensou na criação de um Conselho Nacional de Pesquisas, com vistas ao fomento de

investigações acadêmicas dirigidas à agricultura. Essa ideia não era legitimamente brasileira. O

então presidente se inspirava nos Estados Unidos, que desenvolvera eficiência na produção de

riquezas agrícolas. Mesmo assim, a proposta de Vargas foi rejeitada pelos congressistas.

Essa “intervenção” do Estado não seguiu adiante e quando se falava em financiamento

de pesquisas, os recursos surgiam de contribuições particulares ou por meio de Fundos

Universitários de Pesquisa não oficializados. Em São Paulo, começavam a florescer as ideias

de uma fundação. Mesmo não oficializados, os Fundos Universitários foram úteis na Segunda

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Guerra Mundial (1939-1945) para as pesquisas aplicadas às necessidades militares. Justamente

da guerra, emergiu o desenvolvimento em Ciência e Tecnologia como atestado da evolução das

ciências físico-químicas, em toda a Europa, notadamente na Alemanha e Inglaterra,

paulatinamente transferida para os EUA. A maior prova disso é algo bastante controverso: a

bomba atômica arremessada contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Um invento

que se contradiz. Se, por um lado, funcionou como grande desenvolvimento, por outro, foi uma

catástrofe social exterminando 350 mil vidas inocentes. Um fato que, pela tragédia, deixou

marcas profundas na História mundial.

Também como resultado de guerra, os Estados Unidos desenvolveram, em 1943, o Field

Service, mecanismo de interação entre a retaguarda tecnocientífica e o front. Os pesquisadores

iam aos campos de batalha detectar qualidades e defeitos de uma nova arma, por exemplo.

Foram os resultados estadunidenses, na guerra, que serviram de influência ao desenvolvimento

em Ciência e Tecnologia pelo restante do mundo. O Brasil percebera o momento histórico,

conforme atesta a contribuição do brasileiro César Lattes, e viabilizou na esfera governamental,

mecanismos de apoio e financiamento à pesquisa. Entre 1945 e 1956, Lattes trabalhou para uma

intersecção entre ciência e política, pois, os pesquisadores da época compreendiam que a

ciência só progrediria com apoio logístico e financeiro em questões estratégicas para o

desenvolvimento nacional se valendo de preceitos políticos.

Os Fundos Universitários de Pesquisa podiam, segundo estatutos próprios, criar ou

patrocinar serviços, cursos, oferecer auxílios em dinheiro, material científico e didático, estadia,

viagens e bolsas de estudo. Os temas, que se destacavam com apoio dos FUP´s, eram

telecomunicação, malarioterapia, produção de quinino, produção de aço (necessidades da

jovem Siderúrgica Nacional), nutrição, substitutos do sangue e a penicilina. Entretanto, aos

Fundos Universitários faltava a orientação racional de conjunto e submissa à constante luta com

a deficiência de recursos humanos; a instabilidade dos recursos financeiros; a descontinuidade;

e a ausência de cooperação.

Em 1945, José Reis31 retomou as discussões por um Conselho Superior de Pesquisas

que viabilizasse bolsas de estudo, patrocínio de viagens ao exterior e intercâmbio entre

instituições de São Paulo com o Brasil e o Mundo. A Ciência estava como justificativa

soberana, no pós-Segunda Guerra Mundial, e gozava de prestígio junto à opinião pública em

31 Cientista brasileiro (1907-2002), um dos fundadores da SBPC. Fez carreira paralela de jornalista e escritor

com grande facilidade para explicar ciência a leigos por meio da divulgação científica em uma coluna na Folha

de S. Paulo, publicada por mais de 50 anos.

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função da disseminação do conhecimento, ou ciências da informação, de novidades como rádio,

telefone, penicilina, bombas, entre outras. Os homens de governo também prestigiavam a

credibilidade do fazer científico certamente tirando frutos disso, afinal, a ciência é um benefício

que serve ou deveria servir a toda coletividade.

Os anseios por um Conselho Nacional de Pesquisas e a intervenção estatal no fomento

a pesquisas científicas já eram praticados no exterior. Nos Estados Unidos, nosso máximo

controlador e fornecedor seletivo de modelos, a National Science Foundation coordenava e

destinava 0,8% da renda nacional às atividades oficiais de pesquisa. Além disso, concedia

bolsas de estudo e auxílios financeiros a organizações científicas oficiais ou não. As verbas

tinham validade por cinco anos. Em 1812, os EUA estabeleceram o primeiro órgão federal de

pesquisa com finalidade militar. No entre guerras, pesquisas visando o bem-estar geral,

recebiam patrocínio. A primeira concessão para uma pesquisa científica, com fins não bélicos,

foi em 1836. O Franklin Institute recebeu 10 mil dólares para estudar as causas das frequentes

explosões de navios a vapor. As pesquisas buscavam caminhos para possíveis remédios.

Nos tempos de paz, em 1862, surgiu o primeiro órgão oficial de pesquisa: o

Departamento de Agricultura. Em 1939, passava de 1940 o número de instituições científicas e

técnicas a serviço da pesquisa norte-americana. Um pouco antes, em 1863, com autorização do

Congresso e do presidente Lincoln, a Academia Nacional de Ciências disponibilizava verbas

consignadas em pesquisas para qualquer departamento do governo. De volta ao século XX,

mais precisamente, em 1914, nascia o Conselho Nacional de Pesquisas como assistência ao

governo no tocante à mobilização de recursos científicos disponíveis.

Outras partes do mundo também inspiraram o Brasil em colocar o governo como

financiador de pesquisas. Da Rússia, veio o modelo de pesquisa e ciência como atividades

exclusivamente oficiais. Os programas de investigação atendiam a política soviética com todos

os recursos necessários disponibilizados e o planejamento preparando a formação de mão de

obra, além de elaborar as atividades científicas. O dispêndio governamental é de 1% da renda

nacional. Uma comissão estatal verifica, classifica e interpreta os dados para a elaboração do

chamado Plano Quinquenal Provisório.

Na França, surgiu, em 1945, o Centro Nacional da Pesquisa, um órgão oficial controlado

por um conselho com representantes da Ciência, da Indústria e do Tesouro. Os temas de

pesquisa são julgados pelo Centro antes de conceder os auxílios que também englobam viagens

de estudo pela própria França e pelo exterior. Os vencimentos são mensais e as verbas ainda

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atendem à criação de novos laboratórios, à subvenção de periódicos e de outras publicações de

caráter cientifico, bem como a promoção de reuniões, colóquios e mesas redondas. A carreira

de pesquisador tem regalias comparáveis às de um funcionário público. O pedido deve ser

documentado com menção de títulos científicos e referências à pesquisa que se deseja

empreender ou com a qual se tem a intenção em colaborar. É preciso detalhar o laboratório

escolhido, os prazos e as despesas prováveis. O pedido ainda precisa ser endossado por dois

padrinhos idôneos que acompanham os trabalhos do postulante e redijam relatórios anuais ao

Centro de Pesquisa. O beneficiado recebe bolsa de estágio pelo prazo de 2 anos, período para

preparar e defender a tese de doutoramento. Quem se destaca, tem a possibilidade de se

candidatar a outros auxílios como “Adido de Pesquisa”. Se fizer carreira, passa por um plano

com as etapas “Encarregado de pesquisa”, “Mestre de Pesquisas” e, por fim, “Diretor de

Pesquisas”, função equivalente à de um catedrático.

Na Inglaterra, em 1915, nasceu o Departament of Scientific and Industrial Research,

que propunha desenvolver pesquisas úteis ao desenvolvimento da indústria e do comércio

britânico. Esse país estimulou a criação de Associações de Pesquisas, em cooperação com

indústrias cujos resultados têm os direitos de divulgação preservados. O Departamento distribui

bolsas de estudo visando a formação de cientistas e pesquisadores treinados para atender às

necessidades do país. Outras unidades de referência à pesquisa inglesa são o Laboratório

Nacional de Física (1902), o Instituto Imperial (1887) e o Colégio Imperial da Ciência e

Tecnologia (1907).

No Brasil, historicamente, foi baixo o interesse das empresas em financiar pesquisas,

pois, em sua grande maioria, as corporações projetam lucros rápidos e abundantes mantendo

assim a lógica central do capitalismo. Algo que quase nunca combina com o homem de ciência

que usa de sua inteligência e vontade a favor do serviço com vistas ao bem coletivo, ou seja,

um investimento que pressupõe lucros simbólicos. Mas, foi a partir de um lucro simbólico

derivado da Física, que nossa ciência se desenvolveu. Conforme já citado, César Lattes, se pelo

aspecto da atividade de pesquisa, descobriu durante a Segunda Guerra Mundial, o “méson pi”,

partícula efêmera com massa entre a do elétron e a do próton, essencial para os estudos de

radiação formulando o conhecimento da estrutura atômica; por outro, cuidou da

institucionalização científica em nosso país. De volta ao Brasil, em 1949, liderou um grupo

científico que inaugurou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas cujo modelo agregou

iniciativas para outras instituições como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada; a Escola

Latino-Americana de Física; e o Centro Latino-Americano de Física.

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Com atividades de pesquisa em nível internacional, César Lattes modernizou o currículo

de Física e formou pessoal que constitui parcela significativa na liderança científica em sua

Área. Teve passagens importantes pela Bolívia e pelos EUA, porém, deu considerável

contribuição quando catalisou ideias para a criação do Conselho Nacional de Pesquisa,

atualmente, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Lattes fez parte

do primeiro Conselho Diretor da entidade, que impulsionou a nossa pesquisa científica e

tecnológica. Outra importante contribuição foi o desenvolvimento, em 1962, da UNICAMP

onde posteriormente se erradicou para criar o Instituto de Física, um dos mais respeitados do

Brasil. Todo seu histórico rendeu uma Plataforma do CNPq que integra bases de dados de

currículos, Grupos de Pesquisa e instituições que formam um Sistema Único de Informação.

2.1 FAPESP: o investimento estatal à custa de ideologias políticas

Se qualquer forma de Comunicação é intencional, trabalhar com ideologia também

implica pensar em uma série de significados tratados na esfera pública a fim de chegar a um

constructo real carregado de um repertório constituído. Terry Eagleton (1997) considera que

ideologia, como preceito básico, é algo que a outra pessoa tem. Coincidentemente, é no outro,

onde se dá a Comunicação. Assim, presumimos que comunicação é ideologia. E ideologia

também é Comunicação. O processo de formação, construção e consolidação da FAPESP está

nessa noção ideológica como um conjunto complexo de ligações ou mediações entre níveis,

mais e menos articulados, e que, de certa forma, veem, no outro, uma ideologia.

Articulações, especialmente políticas, não faltaram para as demandas necessárias à

implantação da Fundação, incorporada por São Paulo, em sua constituição. O amparo às

pesquisas científicas teria menção na Carta Magna Paulista como um dos pilares que rege uma

organização social. O estado mais importante da Federação, considerado por muitos, com status

de uma nação – apenas a capital paulista, por exemplo, equivale em população a Argentina toda

– buscava cumprir a monopolização da ciência com seus recursos de modo que todos os

trabalhos científicos fossem realizados por iniciativa direta do governo e seus agentes que

responderiam por toda a administração. Motoyama (1999) admite que a interferência estatal

não deva ir além da criação de uma entidade de direito privado (sociedade civil, associação de

utilidade pública ou fundação) fixando finalidades e diretrizes gerais oferecendo auxílio

financeiro, apoio, cooperação e demais elementos necessários para a criação de um ambiente

propício à sua missão.

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Quanto à natureza jurídica, se preza maior autonomia possível com mínima interferência

do Estado. Por isso, o melhor caminho seria uma Fundação. Em relação à sua finalidade, está o

desenvolvimento da pesquisa científica e a busca por novos conhecimentos ou a confirmação

de outros já obtidos em qualquer campo da ciência e da técnica. Disponibilizar recursos à

pesquisa requer planejamentos e programas de ação bem como critérios racionais para a seleção

dos temas que vão ser julgados para a concessão de benefícios, pois, acima da pesquisa, está o

interesse público.

Quanto à ação, requer liberdade e flexibilidade possíveis para levantamento das

necessidades do Estado em matéria de pesquisa nos vários setores da ciência. Tanto quanto às

escolhas de diretrizes, planos, critérios e escalas de prioridade para seleção, coordenação e

orientação das atividades de pesquisa a serem amparadas. Resguardado o emprego de todos os

meios, não apenas hábeis, mas também, transparentes para promover pesquisas fomentadas,

concessão e candidatos idôneos de bolsas de estudo dentro e fora do país; prêmios a

pesquisadores pelo esforço e dedicação às pesquisas; divulgação dos resultados. Com relação

aos recursos, a contribuição anual do governo, doações de qualquer fonte, aceitas pela

Fundação, aluguéis, cessão de bens e direitos. Ainda se incluem as questões de patrimônio e

organização que respondam aos interesses equânimes entre financiadores e executores, neste

caso, agências de fomento, pesquisadores e universidades.

Foi fundamental, no período anterior à FAPESP, a participação da Universidade de São

Paulo tanto que esta se confunde com a história da pesquisa. Em 1947, o Estado passava a dar

amparo à cultura e à pesquisa científica por meio de um Conselho da Universidade. O repasse

era de 0,5% da receita. No cenário político, particularmente na Assembleia Legislativa de São

Paulo, tramitavam emendas constitucionais. Havia uma enorme conotação científica às práticas

políticas sendo que as estratégias ideológicas eram tomadas como dianteira das discussões para

as quais se buscavam caminhos que levassem à viabilização do fomento ao exercício da

pesquisa. A emenda 783 foi rejeitada, em maio de 1947, pelo parecer do relator Osny Silveira,

que entendeu que a USP se destacaria e, por isso, não havia a preconização da proposta de

Fundação. Apontava-se conveniência em atender aos autores da iniciativa por eles pertencerem

aos quadros da Universidade.

O Diário Oficial do Estado de São Paulo, em 6 de julho de 1947, ratificava o cerne da

questão de incentivo, publicando o artigo 123 da Constituição Estadual que prevê: “O amparo

à pesquisa científica será propiciado pelo Estado, por intermédio de uma fundação, organizada

em moldes que forem estabelecidos pela lei”. Em seu parágrafo único, o texto diz que

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“anualmente, o Estado atribuirá a essa fundação, como renda de sua privativa administração,

quantia não inferior a meio por cento do total de sua receita ordinária”.

O plenário dos legisladores paulistas se tornou espaço para debates sobre a criação de

uma Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Destacou-se por esse intento o

deputado Caio Prado Júnior em seus discursos reproduzidos por Motoyama, Hamburger e

Nagamini (1999, p. 66):

Essa medida parece-me uma das de maior alcance incluída na nossa Constituição

porque, sem dúvida nenhuma, se a iniciativa nela prevista for bem conduzida,

resultará numa completa transformação da vida cultural, e direi mesmo econômica e

social do nosso Estado e, por consequência, do Brasil.

[...]

Esse financiamento especial para determinadas pesquisas tem sido realizado por toda

parte do mundo – e a ciência a ele deve uma grande parte do seu desenvolvimento

por intermédio de subvenções públicas e privadas extraordinárias.

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FIGURA 1 – Deputado Caio Prado Júnior32

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

O deputado propôs um projeto de lei para criar o Instituto Paulista de Pesquisas

Científicas. Com isso, criar-se-ia pelos órgãos de pesquisa dos Institutos de Ensino um conselho

para a Fundação. Essa ideia estava no Projeto de Lei nº 248/1947, discutido na sessão ordinária

da Assembleia, em 3 de outubro de 1947. Pela proposta, a denominada Fundação Paulista de

Pesquisas Científicas se destinaria ao amparo da investigação em todos os domínios da ciência.

Seus órgãos dirigentes seriam o Conselho Geral, a Diretoria e o Conselho Fiscal. À solicitação

de concessão de auxílios, o proponente deveria especificar, por requerimentos, o assunto ou

objeto da pesquisa, o prazo necessário para realização e o cálculo das despesas a serem

aplicadas. O parecer seria de três membros escolhidos pelo Conselho Geral. Ao beneficiado,

caberia prestar contas periodicamente, justificando os valores recebidos além de autorizar a

Fundação a publicar um relatório geral da pesquisa. Haveria um contrato de execução a ser

assinado entre a diretoria e o beneficiado que, por sua vez, poderia solicitar a prorrogação de

prazo da concessão. Também caberia aos dirigentes cassarem o benefício, se necessário fosse.

E ao final da pesquisa, o indivíduo contemplado forneceria à Fundação um relatório completo

e minucioso dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos.

32 Ver o perfil biográfico do deputado em http://www.al.sp.gov.br/acervo-historico/exposicoes/parlamentares-

paulistas/caio_prado/Perfil_biografico/perfil_biografico.htm

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Então, começaram as “disputas”. O deputado Lincoln Feliciano propôs um projeto

substitutivo em relação ao discutido preliminarmente. Entre as novas propostas à Fundação,

estava a criação do Conselho Técnico-Científico que teria por dever: (a) opinar sobre concessão

de auxílios e bolsas e (b) elaborar um relatório semestral à Diretoria a partir dos resultados. Os

caminhos para uma Fundação não eram voz corrente apenas entre a comunidade científica. A

esfera pública também se ocupou do tema por meio da imprensa. O assunto foi destaque no

Jornal O Estado de S.Paulo, edição de 19 de outubro de 1947.

Os órgãos que deles fazem parte não demonstraram a indispensável largueza de

vistas que pudesse fazer da instituição não empreendimento para preencher as

lacunas do momento, mas um organismo capaz de merecer sem restrições o integral

auxílio econômico garantido pela Constituição Estadual. Não se procurou, desde o

início, nos Fundos, planejar de modo convincente a assistência às diversas

modalidades de pesquisas científicas. Todo o auxílio financeiro foi realizado mais

ou menos de afogadilho, sem nenhum critério racional, baseado nas nossas reais

necessidades e nas possibilidades que possuímos para encará-las e resolvê-las. É

claro que um planejamento deste gênero exige órgão especial composto de

especialistas em pesquisas sociais, que deve (sic) desempenhar função mais ou

menos paralela aos conselhos técnico-científicos, pois não resta a menor dúvida de

que tão importante é acompanhar e verificar o nível científico das pesquisas como

também os é indicar, com critérios objetivos, quais os setores que devem ser mais

rapidamente atendidos através da ajuda financeira (MOTOYAMA, HAMBURGER,

NAGAMINI, 1999, p. 87).

Nota-se que a matéria traz um tom de cobrança a uma organização sistemática de apoio

financeiro aos pesquisadores evitando desperdício do dinheiro público e atendendo carências

de setores que precisam do desenvolvimento científico. Apesar disso, Lincoln Feliciano refutou

o que o jornal escreveu, ressaltando na Assembleia, a relevância dos Fundos Universitários de

Pesquisa, entidades que, pelo texto de O Estado de S.Paulo, estavam na mira da crítica. Nisso,

o parlamentar apresentou um projeto substitutivo propondo a criação do Conselho Técnico-

Científico.

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Para o primeiro embate entre Caio Prado Júnior e Lincoln Feliciano, a Comissão de

Constituição e Justiça da Assembleia deu parecer favorável às propostas de ambos. Juntar a

criação da Fundação Paulista de Pesquisas Científicas com a adaptação dos FUP´s

subvencionados por orçamento previsto, em Constituição, se tornou assunto para a Comissão

de Educação e Cultura mais os órgãos técnicos do Estado. Encaminhamentos à parte, constituir

a Fundação seguia sua disputa política que concorria ao entendimento da classe dos

pesquisadores sobre o que vinha se discutindo em relação à criação de uma entidade, em

especial, uma Fundação, que tratasse de seus interesses com o compromisso de subvencionar

trabalhos submetidos à apreciação. É nesse sentido que o cientista José Reis se manifestou no

jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), edição de 6 de janeiro de 1948:

[...] a nosso ver a Fundação só deveria operar um serviço que seria o de

“documentação”, com finalidade de coordenar o trabalho bibliográfico, de manter

catálogo geral das bibliotecas científicas e de manter serviços de bibliofilmes, e

outras finalidades de maior interesse, assim como de publicar índices periódicos de

trabalhos nacionais sobre ramos diversos da ciência e, se possível, editar ou

patrocinar uma revista geral de informações científicas do tipo da Science que

pudesse interessar todos os cientistas e refletir o trabalho aos vários institutos, bem

como os interesses seus e de seus corpos técnicos. (MOTOYAMA, HAMBURGER,

NAGAMINI, 1999, p. 92)

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FIGURA 2 – Artigo de José Reis à Folha da Manhã

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Os jornais começaram a registrar uma diversidade de pontos de vista como mostram as

publicações reunidas e que contrapunham os objetivos de se pensar em uma gestão eficiente de

recursos à pesquisa científica, por um lado, e de tornar uma entidade um meio de divulgação

do conhecimento produzido aleatoriamente, por outro. Ainda na carta que escreve à Folha da

Manhã, Reis critica o grande número de integrantes do Conselho Geral proposto, justificando

que a concessão de auxílios deveria seguir regulamentos e regimentos, não pareceres. Ele

acreditava que a Fundação não deveria estar a serviço das universidades porque nem toda

pesquisa é realizada dentro de uma. Assim, sua defesa era pelo apoio aos pesquisadores. Como

proposta, sugeriu a elaboração de um Conselho “ativo” e não “decorativo”. Seria função desse

Conselho, supervisionar e orientar, de forma geral, a Fundação para os interesses da ciência

pela ciência, em todos seus níveis, por meio de Conselhos Divisionais que alcançariam as

especialidades do conhecimento.

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A multiplicidade do Conselho seria útil porque permitiria assegurar uma desejável

homogeneidade dentro deles, e especialmente a capacidade de descobrir os nomes

dos especialistas a serem consultados a respeito de situações específicas. Os

indivíduos alheios à especialidade muitas vezes facilmente “engolem gato por lebre”

e, levados por sua boa vontade, cometem erros tremendos (MOTOYAMA,

HAMBURGUER, NAGAMINI, 1999, p. 94).

As discussões em torno do melhor caminho para uma Fundação que subvencionasse a

pesquisa científica, nas terras paulistas, mantinham acesas as esperanças de se chegar a algo de

concreto ainda que o custo disso fossem extensos debates. Assim, volta à cena o deputado

Lincoln Feliciano com um novo projeto substitutivo na Assembleia Legislativa. Seu argumento

de defesa passara a ser um texto de lei amplo no tocante às pesquisas de modo que não haja

pragmatismo no que ele tratou como elucubrações sem interesse prático, imediato ou remoto.

Para chegar a essa proposta, definir ciência como algo que, latu-sensu, envolve os aspectos da

cultura humana, sejam essas ciências exatas, biológicas ou sociais, o parlamentar falava de um

setor cultural puro em que a ciência seria uma aplicação objetiva, um aperfeiçoamento técnico

do saber que não se fez rotina. Voltara a insistir que uma nova fundação não seria diferente dos

Fundos Universitários de Pesquisa. Suas palavras estão registradas por Motoyama, Hamburger

e Nagamini (1999, p. 99):

Ou esta entidade é idônea, e, concordando em remodelar-se para mais amplas

funções, deve ser aproveitado o contingente de seu valor moral, experiência e

renome, deve ser o órgão escolhido pela assembleia para realizar os elevados fins de

amparar e incentivar a ciência e a cultura, ou a assembleia, desprezando-a, terá

opinado implicitamente pela sua inidoneidade, com flagrantíssima injustiça

Fervilhavam apontamentos e proposições sobre o que se esperava da Fundação

pleiteada, tão capaz de gerar intensos, acalorados e intermináveis debates. As discussões

estavam em torno do Projeto de Lei 337/48 que estabelecia a instituição. Uma entre tantas

manifestações a respeito do assunto foi do reitor da USP, Lineu Prestes, com o governador

Adhemar de Barros. Na correspondência, a autoridade máxima da universidade, colocam a USP

à disposição para os avanços científicos e também para a criação da Fundação. Tanto que o

assunto mereceu uma comissão que elaborasse um anteprojeto. Entre os argumentos, Prestes

destacara que, em 1947, os homens de laboratório e de cátedra desenvolveram “Ciência e

Pesquisa”, propondo a criação de uma fundação ad hoc. A ideia foi acolhida pelos legisladores

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que colocaram o estado como responsável em subvencionar a pesquisa científica à base de 0,5%

de sua receita. A comissão citada era composta por 17 pessoas, entre elas, três técnicos, sendo

os demais integrantes, professores. Nessa divisão, se formaram subcomissões. Uma, incumbida

de auscultar pontos de vistas e opiniões sobre o assunto, e outra, para trabalhar com os

resultados disso e outros elementos para elaborar diretrizes que gerassem um texto definitivo

para um projeto de lei. Tal comissão trabalhou entre 29 de outubro de 1947 e 16 de fevereiro

de 1948. As consultas foram respondidas por 52% das entidades. Os resultados dessa ação

foram reunidos em um documento que recebeu o nome de inquérito.

Nas anotações da primeira subcomissão, estavam: ampliação do conceito de pesquisa

científica; exercício amplo e sem restrições à pesquisa por parte da Fundação, cabendo a esta,

conceder bolsas e auxílios; recursos suplementares além do previsto constitucionalmente.

Entretanto, essa verba deveria provir de contribuições oficiais e não oficiais, de rendas

patrimoniais (exceto de patentes e inventos); renda própria de serviços prestados pela Fundação

bem como o angariado por inventos e patentes. Sobre a organização da entidade, houve

apontamentos para um órgão deliberativo, outro administrativo e mais um técnico para

contemplar as áreas de Ciências Biológicas e Naturais; Ciências Matemáticas e Físicas;

Química; Medicina e Saúde; Engenharia e Tecnologia; Psicologia e Pedagogia; Geologia e

Física; História; Direito; Educação e Formação de Pessoal Científico; Ciências Agronômicas e

Veterinárias; Eletrotécnica. Também fora indicado um órgão controlador financeiro à

Fundação, que deveria ser fiscalizada pelo governo, embora sua atuação fosse independente do

poder. A maioria dos consultados não aprovou que a Fundação fosse coordenada por alguma

entidade já existente, como por exemplo, os Fundos Universitários de Pesquisa ou a USP.

Por sua vez, a segunda subcomissão trabalhou de 19 de abril de 1948 a 1º de maio do

mesmo ano, ou seja, menos de 15 dias, para apresentar um Projeto de Lei com estatuto e

justificação que traziam inovações essenciais à forma e aos fundos. Pela primeira vez, se fez

menção a uma “Fundação de Amparo à Pesquisa” cuja instalação dependeria da USP. O estado

manteria sua contribuição de 0,5% à entidade, que teria por finalidade principal, o amparo à

pesquisa científica. A Fundação viabilizaria auxílios, dinheiro, materiais, divulgação de

pesquisas, formação de pesquisadores, no Brasil e no Exterior, por meio de bolsas de estudo, e

ainda promoveria o intercâmbio científico. Sua estruturação se daria em torno dos Conselhos

Geral, Administrador, Consultor e Fiscal. Os dois primeiros se responsabilizariam pela

administração da Fundação ao passo que os consultores responderiam pela parte científica

enquanto o Conselho Fiscal assumiria o financeiro e o patrimonial. Pela proposta, isto caberia

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aos consultores, nomenclatura institucional dada a cientistas ou técnicos de reconhecida

competência, cuja aprovação seria do Conselho Geral da Fundação. A esses aprovados, caberia

emitir pareceres sobre os pedidos feitos à agência de fomento; acompanhar o andamento das

pesquisas financiadas e a evolução da respectiva área do conhecimento; elaborar e revisar

diretrizes à concessão de amparo de pesquisas; atender qualquer tipo de consulta submetida

pelo Conselho Geral ou Administrador e sugerir ao setor administrativo quaisquer providências

no tocante a suas atribuições.

Sobre a concessão de auxílios, alguns trâmites propostos eram a especificação clara e

precisa do tema de pesquisa aliado a uma justificativa de interesse geral, além de outras

exigências como o local de realização do trabalho com a disponibilidade de materiais, prazos e

o auxílio pretendido. Por se tratar de verba originalmente pública, houve um adendo em relação

à idoneidade do postulante ao auxílio. Houve também a proposta de se estabelecer a

contrapartida do beneficiado em relação à prestação de contas. O artigo 46 previa, que assim

que a pesquisa fosse concluída, o beneficiado elaboraria e apresentaria à Fundação um relatório

final completo com detalhes sobre a aplicação da verba bem como os resultados colhidos com

sua pesquisa.

O documento final – chamado de inquérito – com os apontamentos de duas

subcomissões, formadas majoritariamente por professores da USP, foi encaminhado como

projeto de redação final pelo Governo do Estado à Assembleia Legislativa de São Paulo. Em

pauta, a instituição da lei que criaria a Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP). Gerou

repercussão esse documento. A CIESP (Confederação das Indústrias do Estado de São Paulo)

e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) se posicionaram ao governador

elogiando o trabalho da comissão da USP, porém, fizeram ressalvas a algumas questões do

projeto assumido pelo Executivo e enviado ao Legislativo, entre elas, a de que os estatutos da

Fundação não seriam de aprovação dos deputados estaduais. O argumento apresentado era de

que se o Estado instituísse a Fundação, seria dele também a responsabilidade de redigir o

estatuto, que na opinião das duas entidades industriais, deveria ser constituído por lei. Essa

proposta de modificação constou de documentos assinados pelo então presidente da CIESP e

da FIESP, Morvan Dias de Figueiredo.

Em meio a tudo isso, os rumos políticos mudaram no Governo do Estado. Já eram 4

anos de proposição da criação da Fundação. O ano de 1951 chegou, e com ele, a administração

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paulista passou às mãos de Lucas Nogueira Garcez33, o novo governador. Em seu discurso de

posse, a máxima autoridade do Estado de São Paulo elencou projetos importantes de pesquisa

que tramitavam pela Assembleia, entre eles, o da Fundação de Pesquisa Científica. A fala do

novo governador fora uma importante brecha à comunidade de cientistas.

Enfim, se abria um flanco para que os pesquisadores pleiteassem a Fundação. O

presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francisco J. Maffei,

enviou um ofício ao governador defendendo a necessidade urgente de implantação da FAP que

havia se estagnado na Comissão Especial de Leis Complementares da Assembleia. A Federação

das Associações Rurais do Estado de São Paulo também se manifestou ao governador,

entretanto, não fez menção exclusiva à Fundação. Solicitou a urgência de colocar em prática o

artigo 123 da Constituição Paulista que tratava do amparo científico.

De novo em ascensão na opinião pública, o Legislativo resolveu retomar a discussão

sobre a Fundação. Lincoln Feliciano remontou a pauta ao projeto inicial do assunto que foi

propositura de Caio Prado Júnior. O deputado, que retomara a questão em plenária, disse que

Caio Prado Júnior propusera uma autarquia e não uma fundação. Por isso, fez um projeto

substitutivo, pensando a instituição de pesquisa como fundação, tendo por base os Fundos

Universitários de Pesquisa. Citou também o documento redigido pela Comissão da USP e

demonstrou irritação com tantos projetos e nenhuma solução. Apesar do tom irônico, o

parlamentar também não liquidou o assunto. Se é que podemos assim dizer, incentivou mais

discussões, apresentando novas sugestões que eram, na verdade, de substituições a termos e

finalidades da Fundação. E assim, a SBPC voltou à carga.

Em 1º de julho de 1954, o Prof. Dr. Paulo Sawaya assinou um anteprojeto elaborado

com objetivos constitucionais de forma que se chegasse à criação da Fundação. Foram

argumentos apregoados pela entidade: (a) um conselho geral não muito numeroso, ou seja,

inchado por representantes de instituições de pesquisa, além de membros da sociedade, em

especial, da Agricultura e da Indústria; (b) o Tribunal de Contas do Estado como responsável

pelo controle financeiro da Fundação; (c) a definição de um diretor geral; (d) as despesas da

Fundação não deveriam exceder 10% dos valores repassados pelo governo.

Embates, conversas, sugestões, palpites e indicações não faltavam para a conturbada

instituição definitiva de uma Fundação Paulista para pesquisas científicas. Assim, certo de que

33 Governou São Paulo de 31 de janeiro de 1951 a 31 de janeiro de 1955.

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houve fluência de sugestões, o governador Lucas Garcez elaborou o Projeto de Lei nº 37, de

1955, que autorizava a criação da Fundação Paulista de Amparo à Pesquisa. Ele salientou a

importância da pesquisa científica que requeria uma Fundação. Apontou as iniciativas do

Executivo e do Legislativo para isso e se deu por satisfeito em presumir que esse projeto de lei

era resultado de opiniões gerais com respaldo constitucional. Havia, inclusive, uma orientação

importante: a de não formar um conselho geral muito numeroso, pois, se pretendia uma direção

executiva unificada que tratasse da concessão de auxílios cujas atividades fossem controladas.

Um dos pontos tratados, nesse projeto, foi o da constituição de um Conselho Técnico-

Científico, responsável pelos critérios de concessão de auxílio, a partir da formulação de

pareceres por parte de especialistas.

2.2 Sim, nós temos FAPESP!

A reta final da década de 1950 foi marcada pela concretização da Fundação amplamente

debatida nos cenários político e social. Modelos certamente não faltavam haja vista tantas

considerações e propostas ainda que estas, em nosso entendimento, se dessem a partir de

interesses particulares à luz difusa de um contexto mais amplo em nome da ciência em São

Paulo.

Na sede do Palácio do Governo, no bairro dos Campos Elíseos34, houve nova troca de

cadeira com a chegada do governador Carvalho Pinto cuja gestão marcaria, enfim, o início dos

trabalhos da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. A resolução

foi rápida, embora o governador tenha revisto uma questão de gênese. Em junho de 1959, ele

criou uma comissão para estudar o artigo 123 da Constituição, com a finalidade de viabilizar a

FAPESP em um prazo estipulado de 120 dias. Essa comissão finalizou o anteprojeto sinalizando

que a Fundação seria uma entidade de amparo, por isso, seu caráter de instituição financiadora;

todo trabalho aceito será científico e o financiamento se dá apenas a pesquisas e pesquisadores.

O governo ofereceria verba e organização administrativa e mais a ciência dos especialistas e a

coletividade participativa no Conselho Deliberativo. Essas condições, acrescentadas ao projeto

substitutivo, que seria o definitivo, tinham por objetivo organizar diretrizes gerais doutrinárias

de estruturação e funcionamento. A ele, foram propostas quatro emendas e a elaboração de um

34 Em 1955, o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, atual sede do governo de São Paulo, já estava em construção,

mas problemas financeiros atrasaram as obras que só foram entregues em abril de 1964. Disponível em:

<www.saopaulo.sp.gov.br>. Acesso: 16 maio 2015.

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Regimento Interno da Fundação. O Projeto de Lei 1.953/59 autorizava o Poder Executivo a

instituir a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

O projeto de lei integral foi enviado à Assembleia Legislativa onde houve reações. Em

8 de dezembro de 1959, o deputado Cid Franco discursou reclamando que o governador

mandou o projeto à apreciação sem reforçar que as discussões pela FAPESP haviam sido objeto

de debate na Assembleia. Apesar da observação, o parlamentar não criou empecilho e

conclamou que o plenário aprovasse a sua criação. O projeto do Executivo não recebeu emendas

nem substitutivos. A Comissão de Constituição e Justiça avaliou o projeto ressaltando que o

Legislativo havia se ocupado anteriormente do assunto. Em março do ano seguinte, Carvalho

Pinto comunicou à Assembleia que a FAPESP cumpria o artigo 123 da Constituição do Estado

de São Paulo. E, finalmente, em 18 de outubro de 1960, foi sancionada a lei que instituía a

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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FIGURA 3 – Governador Carvalho Pinto autoriza o funcionamento da FAPESP

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Em seu livro, Motoyama, Hamburger e Nagamini (1999, p. 187) extraem da lei

sancionada: “Tem a fundação por finalidade o amparo à pesquisa científica no Estado, cabendo-

lhe, entre outras atribuições, custear, total ou parcialmente, projetos de pesquisa individuais ou

institucionais”. Após a sanção da lei, houve o decreto nº 40.132, de 23 de maio de 1962, que

aprovou os estatutos da Fundação. E o estabelecimento, em 31 de maio de 1962, do Regimento

Interno da entidade pelo Conselho Superior.

Os primeiros anos de funcionamento envolveram aqueles que participaram da

elaboração e execução dos estatutos bem como os que formariam o Conselho Superior ou

ocupariam funções executivas. A experiência e a forma de conduzir dos primeiros diretores

influenciaram na elaboração de normas. Em 1962, Warwick Ken aceitou bolsa da Fundação

Rockefeller para conhecer diferentes fundações de amparo à pesquisa nos Estados Unidos,

Canadá e Europa. Na bagagem de volta, trouxe contribuições como análise dos projetos,

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realizada por pelo menos dois assessores comprometidos tanto com a área de pesquisa quanto

sua relevância para as questões do país e a capacidade para formação de pessoal.

FIGURA 4 – Warwick Ken

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Nos seis primeiros meses de atividade, 507 processos de projetos foram examinados.

Inicialmente, a FAPESP funcionava em espaços dentro da USP. Os pedidos de auxílio eram

julgados considerando-se a excelência científica do projeto em relação à qualidade. Os

processos negados eram não somente devido à deficiência do projeto como também o custo

excessivo ou inadequação à política científica. Destacam Chassot e Hamburger (1999, p. 114):

A FAPESP, ao privilegiar a qualidade do projeto proposto, abriu espaço para aqueles

que não ocupavam o topo da carreira acadêmica desenvolverem seus estudos, já que

era considerada a capacidade do pesquisador para realizar o que se propunha. O

auxílio concedido ao pesquisador e não à instituição evitava que as pesquisas fossem

limitadas pelo poder da cátedra.

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FIGURA 5 – A primeira sede da FAPESP na USP

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Com apenas um semestre de trabalho, a FAPESP elaborou um cadastro de cientistas do

estado mostrando as unidades de pesquisa – pessoal e instalações – e o estudo das áreas

prioritárias de atuação. Nesse seu início, a Fundação esteve atenta ao setor de Ciências

Tecnológicas e Industriais, entretanto, eram poucos os projetos recebidos. Por inspiração da

Noruega, foram criadas cooperativas de pesquisa, mas, as empresas não aderiram muito à ideia

porque a maioria não mantinha cientistas em seus quadros.

Uma ata de 27 de maio de 1964 relacionou quem seriam os assessores científicos da

FAPESP. Destacamos, aqui, apenas aquele de nossa área – Ciências Humanas e Sociais:

Octávio Ianni35. O apoio a esse campo do conhecimento não era uma questão bem definida,

embora tenha sido bastante expressivo o auxílio a simpósios, publicações e a vinda de

professores estrangeiros ao Brasil.

Em face da grande demanda, passou a ser atribuição do diretor científico a aprovação

de pedidos. As atribuições às diretorias ocorreram quando a FAPESP se mudou para um prédio,

na Avenida Paulista, 352, 14º andar, em São Paulo. Com a mudança, houve um avanço

35 Nascido em Itu (SP), em 1926, sua vida universitária teve início em 1948 na Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP. Em 1956, deu início à carreira docente lecionando na cadeira titular de Sociologia, outrora ocupada

por Florestan Fernandes. Afastado pelo AI-5 da USP, foi em 1977, para a PUC-SP, e em 1986 para a Unicamp.

Morreu em 2004.

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organizacional, pois, fora implantado um sistema racional de trabalho, que permitia o acesso às

informações datilografadas com papel carbono, e distribuídas pelos arquivos, de acordo com

assunto, pesquisador, instituição, bolsista, orientador e número de processo. Assim se pode

dizer que surgia o embrião da Biblioteca Virtual, a fonte documental desta pesquisa.

FIGURA 6 – Primeiro prédio próprio da FAPESP na Avenida Paulista, 352, 14º andar – São Paulo

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

A FAPESP atravessou o regime militar (1964-1985). Por causa do AI-5, em 1968, houve

a aposentadoria compulsória de professores nas universidades, proibição dos cassados de

trabalharem em instituições financiadas por verbas públicas e perseguição por adesão a

manifestações contrárias ao regime. Até o diretor científico da FAPESP, Alberto Carvalho da

Silva, professor da Faculdade de Medicina da USP, foi impedido de exercer qualquer função

administrativa, direta ou indiretamente, na própria Fundação que ajudou a criar. Todas essas

arbitrariedades iam ao encontro da FAPESP, que vinha apoiando a formação do pesquisador e

estabelecendo medidas de manutenção dos cientistas no Brasil.

Mesmo entre os mandos e desmandos da Ditadura, a FAPESP seguiu seu trabalho com

resultados que lhe rendiam a presença marcante de pesquisas e pesquisadores, apoiados pela

Fundação, na XVI Reunião da SBPC. Uma comprovação da importância do amparo à

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investigação paulista no incentivo a trabalhos individuais, como instrumento de aglutinação de

grupos e na mudança de perspectiva quanto ao produto e seu uso social.

No fim dos anos 1960 – mais precisamente em 1969 – a FAPESP passou a conceder

bolsas de estudo. Evidentemente, a situação política do país, nas mãos do Regime Militar,

também tinha suas influências na ciência. Chassot e Hamburger (1999, p. 127) retratam esse

momento:

Vivia-se, como em toda a América Latina, a evasão de cientistas para países

desenvolvidos em busca de melhores condições de trabalho e melhor remuneração.

Até 1964, as questões de valorização profissional eram as que pesavam na decisão

de sair do país. A partir do golpe militar de abril, a evasão que se dá por motivos

políticos afasta importantes lideranças científicas com efeitos a longo prazo,

principalmente na implantação da pesquisa e no ensino da pós-graduação.

Em função disso, a SBPC e outras entidades pediram aos governos, reitores e diretores

de institutos para que facilitassem o retorno dos pesquisadores. A Universidade de Brasília,

criada em 1961, para o desenvolvimento da ciência, sofreu com o golpe de 1964. No ano de

1967, foi proposta a Operação Retorno, que valorizava o cientista com melhores condições

financeiras e regalias na alfândega. A Ditadura, assim como em todos os setores, infiltrou

pessoas nas universidades e o governo militar autoritário se fortaleceu após a diminuição da

recessão e a retomada do crescimento econômico. Por isso, intensificaram-se as medidas de

política científica, que valorizavam a tecnologia para o desenvolvimento do país, e assim, a

ciência foi vinculada a ela formando a sigla C&T com um ministro nomeado para cuidar dessa

área. Com vistas à expansão industrial brasileira, um dos pontos mais trabalhados nas

universidades conservadoras, foi em atenção à formação de mão de obra qualificada para as

necessidades do Brasil. Nesse cenário, surgia a pós-graduação, regulamentada para expandir a

formação de quadros com nível elevado, pesquisadores e pessoal qualificado para a pesquisa

científica.

Diante de tudo isso, a FAPESP defendeu o pesquisador e o mérito da pesquisa, de forma

irrestrita, com o lema de privilegiar a investigação independentemente de sua origem. Seria a

forma encontrada de não atender aos interesses da Ditadura e assim manter o compromisso de

formar pesquisadores capacitados que, posteriormente, se transformassem em orientadores. A

Fundação investiu nos melhores grupos de pesquisa para qualificação, programa e formação;

ampliou o quadro de orientadores com treinamento, no exterior, e viabilizou a vinda de

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professores estrangeiros; ofereceu bolsas de aperfeiçoamento e doutoramento para plano de

pesquisa e orientador; desenvolveu atividades interdisciplinares. Os direitos dos cientistas ainda

seriam restringidos pela publicação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968. O mais temido decreto

do Regime Militar proibiu muitos cientistas de trabalharem no Brasil, o que fez com que eles

fossem contribuir com suas pesquisas e conhecimentos no exterior, dando origem à expressão

“evasão ou fuga de cérebros”.

2.3 Um Novo Ciclo (1969-1983)

As inquietações em torno da FAPESP eram muito mais sobre suas atividades, digamos

políticas, no concernente à estruturação, do que propriamente ao que correspondia em termos

de financiamentos de projetos e pesquisas. Mesmo mantendo sua autonomia de funcionamento,

a entidade sofreu questionamentos constantemente. Um deles foi de Miguel Reale36 sobre a

criação da FAPESP. Ele se baseou no artigo 162, parágrafo 2º da Constituição de 1969, que

impedia a vinculação de arrecadação de qualquer tributo a órgão, fundo ou despesa. Ele

reforçou que a Constituição Federal, hierarquicamente, é superior à Constituição Estadual. Foi

buscar teses em juristas para explicar que a Constituição Paulista deveria estar em consonância

com a brasileira.

36 Miguel Reale (1910-2006) foi filósofo, jurista, educador e poeta. Professor catedrático da Faculdade de Direito

da Universidade de São Paulo onde se formou, foi um intelectual de destaque entre humanistas e filósofos. De

perfil reacionário, revolucionou as ciências jurídicas com a teoria tridimensional do Direito envolvendo três

elementos: fato, valor e norma. Coordenou e elaborou o Código Civil Brasileiro de 2002.

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FIGURA 7 – Miguel Reale

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

No que correspondia à pesquisa, a FAPESP foi fundamental no apoio a estudantes que

tiveram significativa expansão com o avanço da Pós-Graduação, no Brasil, no fim dos anos

1960. De 1969 a 1970, por exemplo, as matrículas cresceram 127%. Em 1969, eram 261 pós-

graduandos. Em 1981, eles já eram quase seis mil. Nesse mesmo período, o número de

programas de pós-graduação saltou de 125 para 1021. Provas de que o cenário político

apreensivo não atrapalhou o andamento da Fundação como ressaltam Chassot e Hamburger

(1999, p. 141):

A FAPESP, apesar de ter sua imagem associada a universitários e intelectuais,

sobreviveu às intimidações recebidas, a acusações de que estava apoiando

“comunistas”, a pressões para cortar bolsas ou fornecer endereço de bolsistas “de

esquerda”. Os diretores se mantiveram fiéis ao princípio que norteou a Fundação, de

apoiar o pesquisador e seu projeto, independente de posição política, religião etc.

Mesmo com “adversidades ideológicas”, que o Regime Militar tentara impor, o

crescimento da demanda da FAPESP sempre foi excepcional. Chegaram os anos 1970 e a

entidade não tinha verba para atender tantos pedidos. Por isso, alguns auxílios foram

postergados. Um dos problemas para que não houvesse subsídio era o repasse irregular de

verbas do Estado. Em 1973, a diretoria científica desenvolveu um Sistema de Recuperação de

Informações para implantar um sistema de arquivos, e também, um controle sobre os auxílios

à pesquisa e bolsas atendidas ou em estudo.

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Mais uma tentativa de “intervenção”, na FAPESP, ocorreu nessa década, quando em

seu princípio, a UNICAMP quis fazer parte do Conselho da Fundação. A intenção contou com

o apoio do secretário de Educação da época, Paulo E. Tolle. Entretanto, a Lei Orgânica da

FAPESP determina que modificações em seus estatutos somente poderiam ser feitas por

iniciativa do Conselho Superior, condição que não ocorreu. Começava uma fase por mais

representatividade no Conselho da FAPESP, em especial, pelo cargo de diretor científico. À

medida que as solicitações de apoio cresciam, era mais evidente esse desejo. Assim, a FAPESP

deu uma cartada para solucionar o problema: criou a assessoria em Grandes Áreas. O assessor,

supostamente, é um pesquisador que sabe dos anseios e dificuldades enfrentados pela

comunidade científica.

A Lei Complementar nº 125, de 18 de novembro de 1975, criou a carreira de pesquisador

científico. Essa medida ajudou no combate à evasão de pesquisadores, em especial, dos

Institutos de Pesquisa. Afinal, a FAPESP tinha plena consciência do seu papel e das suas

modalidades de amparo à pesquisa com os auxílios e bolsas.

A FAPESP seguia a vigência política do país e passou a tomar iniciativas baseando-se

em análises de seus assessores e a estabelecer entendimentos com grupos de pesquisadores

sobre os projetos em áreas consideradas prioritárias. O professor Nuno Fidelino de Figueiredo

recebeu a incumbência de pensar em projetos de pesquisa em tecnologia, pois, ficou

encarregado de contribuir à política industrial paulista a um conjunto de projetos maiores da

Fundação, que destinaria para isso, 30% de verbas. A primeira grande pesquisa foi na

Bioquímica com o Bioq-FAPESP. Outras áreas contempladas foram: Meteorologia (com o

desenvolvimento do radar meteorológico, o RADASP I); Tipologia de Represas do Estado de

São Paulo; Programa Multidisciplinar de Nutrição; Laboratório de Biotecnologia Industrial e o

Laboratório de Microeletrônica da USP.

Com grandes projetos, e também com o aumento da demanda por bolsas e auxílios, a

FAPESP se obrigou a usar recursos próprios, uma vez que 0,5% da receita do Estado tornara-

se insuficiente. Um projeto do deputado Welson Gasparini, em 1971, apresentou ao Legislativo

Paulista, uma Emenda à Constituição, que sugeria elevar a 1% o repasse anual feito pelo

governo. A proposta não foi aprovada. O Conselho Superior da FAPESP, mediante isso, decidiu

tratar do assunto diretamente com o secretário da Fazenda e não houve avanço. Em 1975, o

então governador Paulo Egídio Martins manifestou o desejo de aumentar a dotação para 1%.

Em meio aos anseios por mais verba, a FAPESP se mudou da Avenida Paulista para a Rua Pio

XI, na Lapa. O novo prédio – que abriga a Fundação até hoje – foi construído com recursos do

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patrimônio da entidade e não com verba destinada à pesquisa, que sofreria maior impacto nos

anos 1980, quando 60% eram para bolsas de estudo e 40% para outros auxílios.

FIGURA 8 – Sede atual da FAPESP na Rua Pio XI, Lapa, São Paulo

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Vieram os anos 1980 e houve empenho para que o repasse à FAPESP fosse maior. A

Proposta de Emenda Constitucional (PEC 32) propunha acrescentar ao artigo 123 da

Constituição, em parágrafo único, que a dotação fixada no caput, calculada sobre a receita

prevista para o exercício, fosse transferida em duodécimos, na forma do disposto no artigo 84

da Constituição. A emenda foi criada pela Assembleia porque o Governo do Estado não estava

repassando valores com correção monetária. A autoria era do deputado Fernando Leça. O

parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre a emenda foi favorável. Houve também a

emenda 39, de 16 de dezembro de 1983, que mantinha a dotação mínima de 0,5% com os

valores sendo transferidos, em duodécimos, a partir de 1984. No ano seguinte, o cálculo seria

feito com base na arrecadação prevista para aquele ano, com o objetivo de eliminar a defasagem.

As emendas foram publicadas em dezembro de 1983.

2.4 – Constituinte, Globalização e Modernidade

A época que trataremos a conjuntura da FAPESP, a partir de agora, coincide com uma

série de conquistas relevantes na História do Brasil, especialmente, o fim da Ditadura, as Diretas

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Já e sua nova Constituição, promulgada em 1988, e que se mantém em vigor há 30 anos. Os

novos tempos representariam mudanças na dotação da FAPESP, que já vinha pleiteando mais

recursos para que seu serviço à pesquisa e fruição do conhecimento não deixasse de ser

realizados.

Em 1988, o deputado Florestan Fernandes apresentou uma emenda aditiva ao Projeto

de Constituição Federal da Comissão de Sistematização cujo artigo previa que é facultado aos

estados vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino

e à pesquisa científica e tecnológica. O desenvolvimento industrial do Estado de São Paulo e a

política tributária fizeram com que o diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva,

sugerisse a ampliação dos recursos do Estado à entidade de 0,5% para 1%. O pedido foi mais

pelo contexto evolutivo do que propriamente pela administração da Fundação que, segundo ele,

encontrava-se tranquila. Começaram a despontar várias emendas sobre a ampliação do repasse

de verbas para a FAPESP.

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FIGURA 9 – Florestan Fernandes

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

O deputado Nelson Nicolau não concordava com 1% alegando que seria um retrocesso

adotar essa medida, pois, na verdade, ela representaria uma alteração na estrutura da

constituição vigente. O deputado Fernando Leça dispunha sobre a inexistência da cláusula de

“privada administração”, que seguindo o legislador, levaria a Fundação à perda de sua

autonomia financeira e administrativa. Já a Comissão de Ordem Econômica e Social da

Assembleia foi à frente e pediu repasse de 2% à FAPESP sendo que os recursos seriam

destinados a programas de desenvolvimento científico e de capacitação tecnológica em áreas

definidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia. O avanço do setor de Informática,

no Brasil, particularmente em São Paulo, foi o escopo para a solicitação da elevação desse

repasse. Para isso, se estabeleceriam parcerias com entidades do setor correspondente. Essas

emendas integravam um anteprojeto da Constituição Estadual. Uma das frentes para os

principais argumentos era o capítulo sobre Ciência e Tecnologia no qual ficava expressa a

proposta de elevar para 1% o repasse.

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141

Outras emendas foram propostas, como a do deputado Arnaldo Jardim, que mantinha o

repasse em 1% desde que a FAPESP ampliasse a representação no Conselho Científico e

deixasse de forma clara suas atribuições; outra, do deputado Nelson Nicolau, que queria garantir

a participação de representantes das áreas tecnológicas dos Institutos de Pesquisa da Secretaria

de Estado e das Universidades bem como os setores tanto empresarial quanto da classe

trabalhadora; enquanto isso, a emenda do deputado José Dirceu permitiria a autonomia

administrativa e financeira da FAPESP, dotada de 1% da receita orçamentária. A única sugestão

além era que apenas a comunidade científica participasse do Conselho Diretor; e mais uma

emenda destacada foi do deputado Aloysio Nunes Ferreira sugerindo que o 1% a ser repassado

viesse da receita líquida de impostos arrecadados pelo Governo.

A emenda que chamou mais a atenção da FAPESP e gerou uma reação de seu diretor-

presidente, Alberto Carvalho da Silva, foi a da Comissão de Ordem Econômica e Social, que

previa o repasse de 2% com valorização à questão tecnológica. A maior autoridade da Fundação

enviou, em 16 de junho de 1989, uma correspondência aos pesquisadores salientando que tal

emenda traria modificações à FAPESP, entre elas: (1) a perda da administração privada; (2) a

perda de direitos da transferência da dotação em duodécimos; (3) a perda da autonomia da

destinação dos recursos que ficam vinculados a programas de desenvolvimento científico e

capacitação tecnológica definida por instância superior à Fundação.

Segundo Nagamini (1999), a conquista de 0,5% para 1% coroava o esforço durante

quase três décadas de fomento à pesquisa. Ao longo de seu funcionamento, a FAPESP construiu

experiência sólida na análise e acompanhamento de Bolsas e Auxílios sem contar outras

iniciativas e os Projetos Especiais. Com mais dotação, foram possíveis novos programas e

projetos temáticos a partir da década de 1990. Tais empreendimentos foram resultantes também

da colaboração que 20 cientistas deram ao diretor-científico da FAPESP na triagem, escolha e

aprovação de programas a serem desenvolvidos. Todos os coordenadores de áreas elaboraram

suas políticas a partir das necessidades e contribuições dos pesquisadores.

Algumas iniciativas científicas para pleitear o aumento do orçamento da FAPESP foram

o Simpósio “Financiamento da Pesquisa, Universidade e a Crise Brasileira”, que contou com a

participação de cientistas e presidentes de agências de fomento; e o evento “Crise, Universidade

e Pesquisa”, promoção da SBPC que apoiava o aumento no repasse da FAPESP. Enfim, a

emenda constitucional que aumentou a dotação da FAPESP foi discutida por 1 ano.

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Um dos problemas da dotação foi que o Governo calculava 0,5% sobre o ICM, sendo

que o artigo 130 da Constituição explicitava 0,5% sobre a receita dos impostos. Em 1988, o

Conselho Superior e a Diretoria Científica nomearam uma comissão especial para critérios de

avaliação e julgamento dos pedidos. A partir dessa iniciativa, foram 164 propostas e 72

aprovações, três delas na área de Ciências Humanas e Sociais. O recurso destinado para a

viabilização desses projetos saiu de uma parte do patrimônio líquido.

Com a Constituição de 1988, a FAPESP se manteve em alerta para que a dotação não

se perdesse da arrecadação de impostos, pois, sabia-se que tal proposta se daria apenas no

campo da Educação. Tal questão foi abordada em duas emendas: a do deputado Paulo Zarzur

(PMDB) que aconselhava a manutenção de 0,5% dos impostos arrecadados à FAPESP; e a do

deputado Florestan Fernandes (PT) de que seria facultado aos Estados vincular parcela de sua

receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e

tecnológica37. A primeira emenda foi vetada. Assim, a esperança ficou para a proposta do

deputado petista. As sociedades científicas solicitaram o apoio dos deputados constituintes. Na

sessão de 23 de junho de 1988, 319 deputados votaram a favor, seis foram contra e três se

abstiveram da proposta de Florestan Fernandes.

Há de se destacar a luta do diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva, a

essa emenda. A proposta era benéfica apenas à Fundação Paulista. Entendendo que seria uma

medida de salvaguarda de políticas, a SBPC entrou na jogada para lutar pelas Fundações do Rio

de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Também houve apoio aos estados que não

contavam com fundações próprias para que eles consolidassem as entidades de fomentos em

suas respectivas constituições estaduais. A emenda de Florestan Fernandes foi incluída no

capítulo sobre Ciência e Tecnologia da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, conforme

segue:

37 Já existiam Fundações de Amparo à Pesquisa em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Havia um

empenho para a criação de Fundações em Pernambuco, Ceará, Paraná e Santa Catarina.

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143

Artigo 218 – O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a

pesquisa e a capacitação tecnológicas.

§ 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo

em vista o bem público e o progresso das ciências.

§ 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos

problemas brasileiros e para o desenvolvimento para a solução dos problemas

brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

§ 3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência,

pesquisa e tecnologia, e concederá aos que dela se ocupem meios e condições

especiais de trabalho.

§ 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de

tecnologia e adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos

humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado,

desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da

produtividade de seu trabalho.

§ 5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita

orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e a pesquisa científica e

tecnológica. (ARTIGO 218 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 05/10/88)

De 1962 até agosto de 1988, foram 25.255 bolsas no Brasil e no exterior, além de 14.882

projetos apoiados pela FAPESP. Tais números deram respaldo para a elevação da dotação

orçamentária. Essa conquista também se deve às entidades que enviaram sugestões e figuraram

no relatório final do deputado José Dirceu.

A UNICAMP sugeriu 50% a projetos institucionais e a reforma dos estatutos da

Fundação, em especial, nos trechos que conferem as suas atribuições e a composição do

Conselho Superior. Já a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

pleiteou mais verbas para a FAPESP com um fundo básico de pesquisa para fomentar a

investigação nos institutos de pesquisa sob administração direta do Estado. Por sua vez, a

Comissão Permanente do Regime de Tempo Integral propôs a manutenção da autonomia da

pesquisa científica e tecnológica com a criação de Fundos de Pesquisa. A Associação Nacional

de Pós-Graduação em Filosofia apoiava o aumento de recursos com a necessidade de que eles

fossem repassados em valores reais ou transferidos, assim que arrecadados. Ainda propunham

eleição direta do Conselho Superior, por lei complementar, e um colegiado do Executivo e do

Legislativo que nomearia os cargos. A SBPC buscava maiores recursos à FAPESP sem mudar

imediatamente a estrutura e o modo de funcionamento pelo menos até a promulgação da

Constituição. O aumento percentual do repasse à FAPESP também contava com o apoio da

Associação dos Docentes da UNESP e da UNICAMP.

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Se associações e entidades se mobilizavam, o deputado Maurício Nagib Najar criava

dificuldades entre os legisladores. Ele era taxativo em dizer que, ou todas as Fundações se

beneficiariam ou todas seriam retiradas da Constituição. No argumento dele, era mais fácil

excluir uma, no caso a FAPESP, do que incluir 15 ou 20. Apesar do empecilho, a redação final

ficou assim:

Artigo 271 – O Estado destinará o mínimo de um por cento de sua receita tributária

à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, como renda de sua

privativa administração, para aplicação em desenvolvimento científico e

tecnológico.

Parágrafo único – A dotação fixada no ‘caput’, excluída a parcela de transferência

aos municípios, de acordo com o artigo 158, IV, da Constituição Federal, será

transferida mensalmente, devendo o percentual ser calculado sobre a arrecadação do

mês de referência a ser pago no mês subsequente.

O texto constitucional prevê 1% dos impostos, no entanto, o repasse real é de 0,75%.

Uma nova lei orgânica que regesse a FAPESP passara a ser pensada. A intenção era reunir

representantes de várias áreas do conhecimento para induzir o desenvolvimento científico por

meio de áreas e temas prioritários à pesquisa.

2.5 – Ampliando os Horizontes do Conhecimento

Os anos de 1990 representaram mais avanço à FAPESP, que desenvolveu novas frentes

de trabalho à pesquisa. Destaque para os Projetos Temáticos que nasceram com o objetivo de

agregar diversas equipes de pesquisa para um trabalho integrado em questões relevantes do

ponto de vista científico. Surgiu também o Programa de Livros Científicos (FAP-Livros), uma

continuidade de um projeto anterior cujos livros foram divididos entre universidades estaduais,

institutos das Secretarias de Estado e empresas estatais e privadas. Mesmo com novidades, a

FAPESP ainda convivia com atrasos no repasse de verbas por parte do Governo do Estado de

São Paulo. Uma comissão foi criada para discutir o assunto com os secretários de Ciência,

Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Fazenda.

Também surgiram, na mesma década, o Programa de Especialistas Estrangeiros com

pesquisadores importados da Rússia, Alemanha, Espanha, Bulgária, África do Sul e mais outros

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oito países. O Projeto de Inovação Científico-Tecnológica foi desenvolvido com a finalidade

de criar e aperfeiçoar produtos.

Entre 1990 e 1996, a FAPESP viabilizou 7.475 auxílios à pesquisa, 5.250 bolsas de

Mestrado e 2.920 bolsas de Doutorado. Por conta da grande demanda, a Fundação decidiu, além

das coordenações de Área, estabelecer as seguintes áreas adjuntas: Ciências Biológicas,

Ciências Exatas e Ciências Humanas e Sociais. Os coordenadores adjuntos analisam todas as

frentes de seu campo para buscar critérios homogêneos de análise. A área de Ciências Humanas

e Sociais era de responsabilidade do Professor Leôncio Martins Rodrigues. O conselheiro

Flávio Fava de Moraes acreditava que os adjuntos trariam a homogeneidade pretendida e que

dariam ao diretor científico mais segurança nas decisões de aprovação ou denegação das

solicitações para que eles não ficassem reféns dos coordenadores de área que não emitem

pareceres. Ao tomarem conhecimento da natureza de uma solicitação, designam assessores

escolhidos, entre os especialistas na respectiva área do conhecimento, para receberem o

processo a ser analisado. A dinâmica desse procedimento de trabalho é esclarecida por José

Fernandes Perez, em entrevista à FAPESP, em 1997, segundo destaca Motoyama (1999, p.

208):

Esse primeiro passo é muito importante, porque tem influência sobre todo o

processamento posterior da solicitação. Além de ser um especialista na área, o

assessor deve ser escolhido de forma a evitar possíveis conflitos de interesse, sendo

cuidadosamente evitada a escolha de pesquisadores da mesma instituição do

solicitante, que tenham sido colaboradores do solicitante em passado recente,

evitando-se também qualquer situação que possa ser considerada impeditiva para um

parecer isento e objetivo. Aliás, deve ser observado que os novos formulários de

encaminhamento de processo ao assessor incluem um questionamento sobre a

possível existência de conflitos de interesse. Ao receber o parecer da assessoria, cabe

à coordenação fazer uma leitura crítica do parecer emitido pelo assessor. E essa

leitura de um parecer é difícil, pois este é composto por várias questões e no final há

a necessidade de transformar esse conjunto de respostas numa recomendação, seja

para a concessão, para a denegação ou para prosseguir o diálogo entre assessoria e o

solicitante.

Os pareceres precisam de projeto de pesquisa, com definição e objetivos para o avanço

do conhecimento na área em que se insere. Também são fundamentais a metodologia, além da

qualificação dos pesquisadores envolvidos e seus orçamentos. Nas solicitações de bolsa de Pós-

Graduação, são priorizados os candidatos recém-formados e com excelente histórico escolar.

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Tais exigências também fazem parte das concessões de bolsas de Mestrado e Doutorado

no Brasil, que a partir de 1996, passaram a contar com uma Reserva Técnica de 30% do total

anual do benefício, voltados para atividades complementares de formação do estudante,

impressão de dissertação ou tese e desenvolvimento de parte do projeto em outras instituições

brasileiras ou do exterior. Nesse mesmo ano, a FAPESP aprovou o Programa de Capacitação

de Recursos Humanos para a pesquisa com bolsas e financiamento de cursos.

2.5.1 A FAPESP hoje

Falar em números, principalmente, em investimentos da FAPESP na pesquisa científica,

é complicado, não por sua excelência na gestão e acompanhamento de recursos, mas sim, pelas

informações que vão merecer atualização anual. Todo o trabalho coincide com a nossa

perspectiva em relação ao fomento como via de mão dupla, ou seja, de um lado uma entidade

com potencial de investimento, e de outro, um pesquisador que viabilize a produção de

conhecimento não apenas para si, mas, para quem realmente interessam seus problemas de

pesquisa: a sociedade. A contribuição da Fundação não é apenas pecuniária. Ela se robustece

por uma sólida e exigente sistemática de análise.

Cada Grande Área do Conhecimento conta com especialistas responsáveis pelo mérito

das solicitações. Hoje, essas Áreas são: Ciências da Saúde, Biologia, Ciências Agrárias e

Veterinárias, Engenharia, Física, Astronomia, Química, Geociências, Matemática e

Computação, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Humanas e Sociais e Inovação Tecnológica.

Seus membros se reúnem uma vez por semana. Eles têm a confiança do diretor científico e são

escolhidos mediante consulta às lideranças acadêmicas de cada Área.

Ao ingressar na FAPESP, uma solicitação é encaminhada à respectiva Área e recebe

uma assessoria ad hoc38. O mais importante, nesse processo inicial, é o tema do projeto de

pesquisa e não o vínculo institucional do pretendente. Se o projeto for multidisciplinar, várias

coordenações podem designar assessores ad hoc. Há uma lista de assessores que recebem o

projeto de acordo com sua competência específica em relação ao tema do projeto. A FAPESP

procura evitar escolhas que geram qualquer tipo de conflito de interesse na análise do projeto,

ou seja, um assessor jamais vai analisar projeto de um pesquisador que seja seu colega de

38 No quarto capítulo, vamos mostrar como é esse fluxo na Área de Ciências Humanas e Sociais II conforme

descrição de sua coordenadora, Profa. Dra. Esther Império Hamburger.

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147

instituição. Os assessores ad hoc emitem os pareceres e devolvem o projeto à coordenação de

Área. A partir disso, a diretoria científica recebe uma recomendação de decisão.

Em caso de negativa, o postulante pode recorrer da decisão, que pode ser submetida à

nova reconsideração. Por isso, os assessores ad hoc são mantidos em sigilo. Eles também não

informam seus pareceres. Apenas as instâncias competentes da FAPESP têm acesso. Um

vínculo de confiança que, segundo a Fundação, não pode ser rompido sob nenhum pretexto. As

situações que configuram conflito de interesse entre o assessor e o solicitante de apoio são: (a)

participação atual ou anterior no projeto; (b) colaboração regular em atividades de pesquisa ou

publicações com um dos pesquisadores solicitantes nos últimos anos; (c) relação

orientador/orientado com o solicitante; (d) interesse comercial do assessor na pesquisa

proposta; (e) relação familiar do assessor com um dos proponentes; (f) qualquer relação anterior

com o solicitante. Em qualquer uma dessas condições, o assessor deve efetuar imediatamente a

devolução do processo.

O envio de propostas à FAPESP pode ser realizado através do Sistema SAGE, meio

essencialmente eletrônico, e pelo Agilis, meio impresso. No SAGE, o parecer do assessor ad

hoc também é emitido pelo sistema. Ainda esclarecendo o SAGE: trata-se de um sistema

informatizado da FAPESP, que permite ao pesquisador, o envio online de propostas de

financiamento a projetos de pesquisa científica e tecnológica e a administração de projetos

aprovados em suas linhas de apoio. Ele tem como objetivos facilitar o fortalecimento de

informações por parte dos pesquisadores, agilizar procedimentos e possibilitar maior

visibilidade das ações da Fundação.

No Sistema Agilis, é possível elaborar e submeter diversos tipos de solicitações de

alteração para processos tramitando em papel. Entre os pedidos, podem estar a Alteração de

Vigência, a Alteração de Prazo de Relatório Científico, Alteração de Prazo de Prestação de

Contas e Transposição de Verba. Podem se cadastrar, no Agilis, pesquisadores que fazem

solicitações em papel e cujos dados constam no Cadastro de Pessoa Física da FAPESP e pessoas

com CPF e que não constam no Cadastro de Pessoa Física da entidade.

Encaminhando-nos ao final deste capítulo, trazemos as ações da FAPESP a partir dos

anos 2000. A evolução do trabalho da entidade pode ser aferida pelo pronunciamento do

presidente Celso Lafer em reunião com a Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação da

Assembleia Legislativa de São Paulo, palco onde ao longo da história, houve acalorados debates

sobre a instituição da FAPESP.

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FIGURA 10 – Celso Lafer

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

A ida do presidente da Fundação, ao Legislativo Paulista, é prevista constitu-

cionalmente. Na sua participação, em 20 de agosto de 2014, Lafer destacou a velocidade com

a qual se amplia o repertório de conhecimento. Destacou também a autonomia da Fundação não

como algo isolado, mas com rigorosos padrões de eficiência administrativa. O presidente

ressaltou a importância do intercâmbio como noticiou o site da FAPESP.

É ainda fundamental para acelerar a inovação, bem como para aumentar o impacto

acadêmico da pesquisa produzida em São Paulo, incrementar o diálogo de cientistas

paulistas com seus colegas de outros países, principalmente aqueles que se

encontram na ponta do conhecimento científico do mundo. Por isso, nos últimos

anos, a FAPESP tem realizado considerável esforço para incentivar a produção de

pesquisas conjuntas entre cientistas de São Paulo e outras nações.

Celso Lafer informou que, em 2013, foram realizados encontros científicos, com

destaque para a FAPESP Week no Japão, Reino Unido e Estados Unidos. As reuniões

aproximaram cerca de 600 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Também houve a assinatura

de 19 acordos internacionais com instituições de 11 países sendo que pela primeira vez a

Fundação estabelece relações com Japão, África do Sul, Austrália e Chile.

O início da década de 2000 inaugurou novo milênio e trouxe, como primeira novidade

institucional, a divulgação dos Indicadores de Ciência e Tecnologia como instrumento de

avaliação e planejamento, além do Relatório Anual, que presta contas das atividades de apoio

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à pesquisa científica no Estado de São Paulo. Uma questão que não poderia ficar de fora, nesse

contexto da história contemporânea, são as pesquisas com a Internet. Em 2001, o Programa

Tecnologia da Internet Avançada (Tidia) surgiu com o propósito de incentivar a pesquisa e o

desenvolvimento de tecnologias digitais e promover colaborações entre instituições de

pesquisa, empresa e governo. Projetos apresentados, em 2002, já faziam da Internet, objeto de

pesquisa. No primeiro edital, foram 123 solicitações à FAPESP. A maioria propôs pesquisas

relacionadas às Aplicações da Internet e Tecnologia de Rede. Esse programa durou uma década.

Até 2012, foram apoiados 220 projetos sobre Tecnologia da Informação.

No ano de 2003, a divulgação científica ganhou a Agência FAPESP. No dia 24 de junho

daquele ano, a agência de notícias eletrônica entrou no ar com um site e boletins diários. No

conteúdo, notícias, entrevistas e reportagens especiais sobre política científica e tecnológica e

a divulgação de resultados de pesquisas desenvolvidas no Brasil e no Exterior. Em agosto de

2012, a Agência chegou à marca de 100 mil assinantes. No Brasil, as cidades com o maior

número de assinantes são, pela ordem, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto,

Belo Horizonte, Brasília, São Carlos, Curitiba, Salvador e São José de Campos. Já os países

onde há mais acessos da edição, em Língua Portuguesa, são Estados Unidos, Portugal, França,

Alemanha e Canadá.

A divulgação científica, com apoio da Internet, ganhou como reforço, em 2005, a

Biblioteca Virtual. Nela estão reunidas informações mais detalhadas sobre projetos concluídos

ou em andamento apoiados pela Fundação. A construção desse repositório de dados foi

inspirada na metodologia e tecnologia de bibliotecas virtuais do campo da Saúde no Centro

Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências (Bireme). Os dados colocados pelos

bibliotecários no sistema são transferidos do Sistema Agilis. A página reúne informações sobre

auxílios, bolsas, programa de pesquisa, acordos e convênios de cooperação. É possível ter

acesso também a mapas com a distribuição geográfica do fomento pelo estado de São Paulo e

fazer uma busca pelo nome do pesquisador. Assim o sistema gera uma página com todos os

dados que lhes são atribuídos. Também há como acessar Currículo Lattes, Research ID e

Google Scholar Citation do pesquisador. A Biblioteca Virtual é, como se sabe, a fonte

documental da pesquisa.

Além de estimular a produção de conhecimento, a FAPESP também intermedia

conhecimento produzido. Em 2010, a instituição investiu quase 34 milhões de Reais na

aquisição de livros, e-books e publicações em outras mídias. Em todo o Estado, 175 bibliotecas

de Instituições de Pesquisa puderam adquirir 165 mil títulos sobre Ciência e Tecnologia. No

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mesmo ano, uma mudança institucional. O então governador, Geraldo Alckmin, incluiu a

vinculação da FAPESP à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do

Estado de São Paulo (SDECT) haja vista a extinção da Secretaria de Ensino Superior do Estado.

Foi um ano especial, afinal, a FAPESP chegava aos 50 anos. O auditório “Governador Carlos

Alberto de Carvalho Pinto”, com capacidade para 170 pessoas, foi inaugurado; houve anúncio

da aprovação de investimentos da ordem de R$ 159 milhões para a compra de cerca de 250

equipamentos multiusuários para pesquisas cientificas e dos 40 projetos aprovados no Programa

de Apoio à Infraestrutura de Museus, Centros Depositários de Informações e Documentos e de

Coleções Biológicas.

FIGURA 11 – Inauguração do Auditório “Carlos Alberto de Carvalho Pinto” em 23 de maio de 2011

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Também foi anunciada a chamada de propostas do Programa Centros de Pesquisa,

Inovação e Difusão. A Revista Pesquisa FAPESP publicou uma série de reportagens especiais

sobre alguns campos de conhecimento, além, de uma edição especial sobre os 50 anos da

Fundação. Em relação a eventos, houve uma edição da FAPESP Week, em Washington. Sobre

reconhecimento, o meio século da FAPESP rendeu uma homenagem da Sociedade Brasileira

de Química e algumas reportagens na grande imprensa.

Ao longo da década 2010-2020, a FAPESP vem estabelecendo inúmeros acordos com

universidades e entidades de várias partes do mundo. Nota-se, com isso, que a cooperação

internacional é a grande aposta da Fundação atualmente. Uma das iniciativas foi “Ciência na

TV”, viabilizado por um termo de cooperação entre a Fundação Padre Anchieta, mantenedora

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da TV Cultura de São Paulo, e a FAPESP. Desde o dia 7 de março de 2015, foi ao ar o SP

Pesquisa, uma série de 26 programas sobre a produção científica e tecnológica no estado de São

Paulo. O modelo inspirou um novo programa a partir de 2018. Em parceria com o jornal Folha

de S.Paulo, surgiu o Ciência Aberta, com exibição mensal, para divulgar os resultados de

projetos financiados pela Fundação. Também é o objetivo da atração, falar de ciência ao público

leigo. A transmissão ocorre pelo site da Folha e também no site e na página do Facebook da

FAPESP.

Por todo o exposto neste capítulo, podemos dizer que a FAPESP é um sistema cultural

organizado com a proposta de desenvolver a ciência e a pesquisa, no estado de São Paulo, a

partir da viabilização de verbas para a execução de projetos. Os pesquisadores trabalham seus

objetos, a partir de uma relação de tempo e de espaço que nos permite afirmar que a Fundação

tem um papel significativo na contribuição para a construção e legitimação da Área da

Comunicação. Esse saber é constantemente construído. Quando o pesquisador pleiteia apoio,

existe uma série de exigências, tanto no plano científico quanto no plano administrativo. Logo

se trata de um empreendimento objetivo. Um espírito objetivo compreende a existência de uma

trajetória, ou seja, há todo um espaço a ser percorrido no transcurso do tempo. Por isso, o

fomento é um interesse da vida prática, concernente aos pesquisadores que encontram uma

ordem de realização da pesquisa científica.

Recuperamos o pensamento de Dilthey (2010) para fechar este capítulo justamente por

entender que essa relação, entre sujeito de pesquisa e FAPESP, concentra – como diz o autor –

uma propagação espacial ou temporal da história que conta com uma alma viva, atuante, dotada

de forças culturais e sensíveis a todas as influências. Pressuposto mais do que pertinente à

Comunicação, pois, entre o sujeito de pesquisa e a FAPESP está uma semiosfera que permite o

trânsito dessas condições que perfazem o objeto da pesquisa, moldando-os a cada modo de

encarar os questionamentos. A história se faz por uma vida compreendida com multiplicidade

de significados, por isso, pensamos que na contribuição dada pela FAPESP à História da

Comunicação, os pesquisadores estão imbuídos em trabalhar construções que levam a um todo

como conexão do melhor entendimento sobre a Área. A hermenêutica, neste caso, se dá entre

pesquisador e FAPESP, envoltos por uma conexão espiritual, por parte do pesquisador, em

contato com uma estrutura, dada pela FAPESP. Como amarra Dilthey (2010), são os conteúdos

atravessando os espíritos e os espíritos, no papel do ser histórico vividos em abreviaturas, ou

seja, (2010, p. 312):

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[...] o mais seguro e ao mesmo tempo o mais importante que é acessível à pesquisa

nas ciências humanas continua sendo sempre o seguinte: o conhecimento das grandes

formas da cultura e de sua organização exterior, de seu desenvolvimento, de sua

atuação recíproca em uma época, na estrutura da sociedade, tal como ela existe no

interior de um período demarcável, no interior dos momentos desse período,

momentos que produzem paulatinamente transformações nesse período.

(DILTHEY, 2010, p.312)

É a vivência em conexão com a realidade espiritual e o conhecimento concretizado pelo

acontecimento cujo valor só se atribui pelo espírito. Neste sentido, a Comunicação coloca

vivências ao espírito que busca dar valor ao acontecimento a fim de gerar o conhecimento que

está relacionado à evolução do nosso cotidiano. É uma forma autônoma de conduta, entretanto,

na perspectiva em que discutimos, toda essa ação só atinge a cientificidade quando se recebe

respaldo, pelo suporte da FAPESP, que tem poder para uma legitimação mais eficiente.

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CAPÍTULO III – INDICADORES E INFERÊNCIAS: 25 ANOS

DE PESQUISAS EM COMUNICAÇÃO COM APOIO FAPESP

Passamos a estabelecer, a partir de agora, o panorama da Área da Comunicação, por

meio de estudos feitos com a certificação da FAPESP no intuito de construir um conjunto de

informações que permite estabelecer, prioritariamente, a memória das pesquisas em

Comunicação, desenvolvidas nos mais diversos lugares do Estado de São Paulo, por um grande

número de pesquisadores alocados entre corpo docente e corpo discente de institutos,

faculdades e universidades. Constituir esse panorama permite reconstruir parte do itinerário da

pesquisa em Comunicação a fim de compreender sobre o que vem se falando, sobretudo, nas

questões temáticas, metodológicas e bibliográficas para assim resultar no apontamento das

tendências de estudo da Área entre 1992 e 2016. Uma tendência que também estabelece

caracterizações geográficas e marcos epistemológicos conforme demonstram os tipos de

fomento considerados no universo de análise.

Para se chegar à representatividade pretendida da pesquisa financiada, recorre-se, como

se sabe, à Biblioteca Virtual da FAPESP. Nela estão registrados os fomentos concedidos a partir

dos anos 1990. A princípio, havia a intenção de se voltar mais ao tempo, por saber que a

pesquisa na Área começou bem antes desse período assinalado, entretanto, não foi possível

acessar os documentos físicos da Fundação. Situação que mudou às vésperas da defesa de tese

quando a Biblioteca Virtual passou a apresentar pesquisas anteriores a 1992, com a ressalva já

feita, de que não há o mesmo critério de organização definido como de nossas amostras. Aliás,

esse cruzamento entre Fundação e banco de dados constitui no que Jacques LeGoff (1990) trata

por lugares topográficos e lugares funcionais. Os primeiros se referem a arquivos, bibliotecas e

museus, ao passo que os segundos reúnem manuais, autobiografias e associações. Assim, a

construção pretendida para a Comunicação passa por ambos os lugares concentrando

conhecimentos sobre os quais demandam novos textos e que se institucionalizam como espaço

da Área.

Estes lugares ajudam a constituir a memória como representação de impressões ou

informações passadas. Le Goff (1990) descreve que foi a imprensa que revolucionou a memória

ocidental com a impressão de tratados científicos e técnicos que aceleraram e alargaram a

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memorização do saber. Na segunda metade do século XVIII, por exemplo, o dicionário

representou a evolução da memória exterior com pensamento fragmentado até o infinito. Em

1751, a Grande Enciclopédic foi memória alfabética parcelar, com cada engrenagem isolada,

contendo partes da memória total. Já o século XVIII, foi marcado pelo movimento científico

como aceleração da memória coletiva das nações. Em 1790, logo após sua Revolução, a França

criou os Arquivos Nacionais. Outras experiências de depósitos centrais de arquivo também

surgiram, como a de Londres, que organizou seu Public Record Office. O século XX trouxe a

documentação em fichas tendo como destaque a memória eletrônica, nos anos de 1950, como

movimento espetacular na afirmação de LeGoff (1990, p.404) que considerou isto como

elemento agregador.

A história viveu uma verdadeira revolução documental – aliás, o computador

também aqui não é mais que um elemento e a memória arquivista foi revolucionada

pelo aparecimento de um novo tipo de memória: o banco de dados. A segunda

consequência é o efeito “metafórico” da extensão do conceito de memória e da

importância da influência por analogia da memória eletrônica sobre outros tipos de

memória.

Para o autor, a memória coletiva integra as grandes questões das sociedades

desenvolvidas e, em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas,

lutando por poder, pela vida, pela sobrevivência e pela promoção. Uma visão muito próxima

ao conceito do campo científico de Pierre Bourdieu. Além disso, para LeGoff (1990), a

memória vista como elemento social forma a identidade.

Foi por meio dos dados cadastrados, na Biblioteca Virtual, que conseguimos estabelecer

esse panorama que passa a ser apresentado. Inclusive, cabe o registro de que a Biblioteca Virtual

é um repositório de dados bastante interessante para consulta, mas, ainda carece de informações

mais completas, pois, se limita aos passos iniciais das pesquisas sem, por exemplo, apresentar

resultados finais dos estudos em questão. Em se tratando do aspecto latente da transparência

pública, acreditamos que seria interessante ter conhecimento dos avanços dos projetos

consultados, ainda mais que relatórios científicos fazem parte das tarefas obrigatórias do

pesquisador junto à agência. Em alguns casos, divulgam-se publicações que são resultado de

pesquisa apoiada. Sabe-se que, do ponto de vista burocrático, basta a comprovação de que o

estudo foi realizado, porém, como pesquisadores, acreditamos que caberia a divulgação

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também dos resultados para que se avançasse na transparência, permitindo assim, o intercâmbio

do conhecimento.

O universo de pesquisa compreende 912 projetos apoiados pela FAPESP dentro da Área

da Comunicação, tendo como recorte as seguintes modalidades de fomento: “Bolsas no Brasil”,

“Bolsas no Exterior” e “Auxílios à Pesquisa39”. Consultados os dados disponíveis na Biblioteca

Virtual, são 583 bolsas para estudos nacionais, 82 para estudos internacionais e 247 auxílios à

pesquisa.

QUADRO 2 – Bolsas no Brasil

Categoria Anos Quantidade

Iniciação Científica 1992-2016 299

Mestrado 1992-2016 178

Doutorado 1993-2016 68

Doutorado Direto 2007-2016 2

Pós-Doutorado 1998-2016 36

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 3 – Bolsas no Exterior

Categoria Anos Quantidade

Estágio Iniciação Científica 2012-2016 14

Estágio Mestrado 2013-2016 8

Estágio Doutorado 2012-2015 5

Estágio Pós-Doutorado 2012-2016 7

Estágio Pesquisa 1996-2016 48

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

39 Existem 20 tipos de Auxílio à Pesquisa. Neste trabalho, os selecionados são o Auxílio à Pesquisa Regular, o

Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante e o Auxílio à Pesquisa – Publicações. O primeiro oferece

financiamento para projetos de pesquisa individuais; o segundo cobre despesas a visitas de pesquisadores

experientes no estado de São Paulo em período inferior a 1 ano; e o terceiro financia periódicos, artigos e livros

com resultados originais de pesquisa.

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QUADRO 4 – Auxílio à Pesquisa

Categoria Anos Quantidade

Auxílios Regulares 1993-2016 71

Auxílios Publicações 1993-2016 117

Auxílios Pesquisador Visitante 1994-2016 59

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Estes primeiros dados sinalizam uma maior vigência entre os fomentos destinados às

Bolsas no Brasil e aos Auxílios à Pesquisa. A participação de pesquisadores brasileiros, no

exterior, tardou uma década. De antemão, já se percebe que os ciclos iniciais da formação do

pesquisador respondem pelo maior número de apoios. Como todo o conteúdo envolve o

trabalho de pesquisadores, nas condições de orientando e orientador, considera-se a perspectiva

da evolução da carreira de pesquisador de acordo com as etapas correspondentes de sua

formação atribuída nominalmente, neste estudo, como percurso formativo. Embora a FAPESP

atribua apenas a doutores a viabilidade do fomento, eles se tornam meio – no sentido de medium

mesmo – para a realização de pesquisas de estudantes de outras categorias, ou seja, um

estudante de Iniciação Científica não consegue participar do processo de solicitação sem estar

vinculado a um professor doutor. Por isso, que em muitos projetos apoiados inseridos na

Biblioteca Virtual, trazem as inscrições de Pesquisador Responsável (PR) e Beneficiário

justamente porque a pesquisa é do orientando com suporte do orientador. Detalhadamente, o

PR é o orientador e o Beneficiário é o orientando. Característica importante na definição dos

métodos de trabalho e que faz sentido ao considerar toda a produção agregando os docentes e

discentes para o mapeamento da Área.

3.1 Bolsas no Brasil: Iniciação Científica

Entre 1992 e 2016, a FAPESP concedeu 299 bolsas de Iniciação Científica na Área da

Comunicação. A Iniciação Científica representa o primeiro contato do estudante de graduação

com a pesquisa científica e isto é uma diretriz definida, no site do CNPq, como a ação de

despertar a vocação científica incentivando talentos potenciais entre estudantes de graduação

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universitária mediante a participação em projetos de pesquisa, orientados por pesquisador

qualificado. Na FAPESP, as bolsas de Iniciação Científica se destinam a alunos que pretendem

desenvolver pesquisa científica ou tecnológica, com supervisão de orientador com título de

doutor ou qualificação equivalente, demonstrado em súmula curricular. Uma quantidade

suficiente de disciplinas, na graduação, já deve ter sido concluída para que o interessado se

habilite ao concurso de uma bolsa que tem, como um dos critérios para concessão, um bom

desempenho comprovado pelo histórico escolar. Já se atribui ao candidato uma preparação, em

especial, no que corresponde a discutir o próprio projeto e analisar seus resultados. Estimula-se

também, nessa fase inicial, o tempo de execução para o candidato, sem que este coloque em

risco suas outras atividades regulares no curso. A duração da bolsa é de 1 ano com solicitação

em qualquer época, não podendo apenas ultrapassar o último semestre letivo do curso de seu

beneficiário, ou seja, a Iniciação tem de ser cumprida antes da colação de grau.

A FAPESP exige do candidato dedicação exclusiva, com pelo menos 12 horas semanais

de atividades, além de outras implicações como não ter vínculo empregatício e não receber

bolsa de outra entidade de fomento. Enquanto a bolsa estiver em vigência para a realização de

sua pesquisa, o beneficiário não pode ter nenhum outro ingresso financeiro, a não ser o valor

recebido pela bolsa, que desde agosto de 2017, é de R$ 676,80. A Iniciação Científica nem

sempre é difundida, menos ainda, em instituições que não são Universidades, locais onde a

pesquisa é condição inerente para seu funcionamento. Assim como há centenas de estudantes

que almejam uma profissão e logo procuram se inserir no mercado de trabalho, também há

estudantes que desejam seguir a carreira acadêmica, que deve ser vista e estimulada como uma

das possibilidades profissionais. Aliás, em alguns casos, segundo prevê a Lei do Estágio, de 25

de setembro de 200840, a Iniciação Científica pode ser uma atividade equiparada ao estágio, se

prevista em tal sentido, no projeto pedagógico do curso.

Uma vez obtido o fomento, há uma série de regras a serem cumpridas, entre elas, a

obrigatoriedade do bolsista em estar em dia com a instituição, principalmente, no que

corresponde à entrega do Relatório Científico e da Prestação de Contas. Em termos financeiros,

a Reserva Técnica – que é um dinheiro suplementar destinado a situações imprevistas ao longo

da pesquisa – pode ser solicitada. No caso da Iniciação Científica, essa quantia reserva é de

40 Para consultar a Lei do Estágio: http://www.ciee.org.br/portal/estudantes/lei.asp

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10% do valor anual da bolsa concedida. Em geral, é usada para aquisição de materiais, compra

de periódicos, serviços de terceiros e gastos com transporte, diárias, hospedagens e alimentação.

Embora as preocupações administrativas sejam muito mais claras por parte da FAPESP,

há algumas questões relativas à pesquisa em si como forma de conhecimento. Uma delas é a

condição de que não haja modificações no projeto inicial sem o consentimento da Fundação.

Sugere-se também que haja o estabelecimento de um vínculo, com a faculdade ou universidade

onde a pesquisa se desenvolve bem como uma plausível interação com o orientador do projeto,

e consequentemente, com toda a comunidade acadêmica. O afastamento previsto do local de

origem da pesquisa não deixa explícito, mas, isto se interpreta porque a FAPESP pontua que o

“distanciamento” se dá para realização de pesquisa de campo, estágio de pesquisa por menos

de um mês, participação em reuniões, sem necessariamente, ter a obrigação de apresentar

trabalhos e participação em cursos de interesse ao próprio projeto de pesquisa.

Um dos primeiros sinais de institucionalização de uma Área, emprestada pela FAPESP

a um campo de conhecimento que nos parece identificável, é a exigência da Fundação de que

o beneficiário sempre faça referência à entidade na publicação de teses, artigos, resumos de

trabalhos apresentados ou qualquer publicação, deixando evidente, que é bolsista. Uma prática

que nos remete à reflexão de Sodré (2014, p.271) sobre o sentido.

O sentido é uma marca de limites ou de um possível, do qual não se sai. Apresenta-

se como a força ou o trabalho que permite o movimento dinâmico dentro de um

sistema, tanto para produzir significação como para exterminá-la. Por ser um limite

insuperável, é algo que se autoengendra: ele é a sua própria condição [...]

A significação está presente na relação do pesquisador com a FAPESP, pois, existe um

sentido de realização que envolve esse movimento dinâmico ao qual Muniz Sodré (2014) se

refere consolidando o papel da Fundação na chancela das atividades científicas. No outro lado

da moeda dessa relação, está a FAPESP, que não apenas se atém às exigências burocráticas,

mas, também conta com uma rede de colaboradores para outorgar ou não as propostas

recebidas. Nos casos de bolsas para a Iniciação Científica, entre o pedido do postulante à

definição por parte da entidade, podem passar em média 75 dias, ou seja, dois meses e meio.

Considerar a média, como alerta a própria Fundação, em seu site, não quer dizer que o tempo é

exatamente esse, afinal, há uma série de elementos a serem analisados. Cada linha de fomento

tem um prazo definido para a avaliação das solicitações submetidas. Pedidos feitos entre

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outubro e janeiro podem sofrer uma demora extraordinária por coincidirem com o período de

férias coletivas de toda equipe da FAPESP.

Esses elementos estão justapostos, na porta de entrada do projeto, que é o SAGe,

Sistema de Apoio à Gestão. É por meio desse sistema complexo (no sentido de trabalhoso) em

termos de abastecimento de informação que começa todo o processo. A submissão da proposta

– que desde novembro de 2016 – deve ser acompanhada por uma cópia digitalizada do

documento do pesquisador responsável no próprio SAGe – é feita eletronicamente.

Propriamente falando da proposta de investigação do conhecimento, o projeto de pesquisa

precisa seguir o modelo exigido pela Fundação, de forma clara e resumida, em 20 páginas com

digitação em espaço duplo. Nele, deve constar o resumo com no máximo 20 linhas e mais a

introdução e justificativa, contendo síntese da bibliografia fundamental; os objetivos da

pesquisa; plano de trabalho e cronograma de execução; material e métodos de trabalho e, ainda,

a forma de análise dos resultados. Como, na maioria das vezes, os projetos de Iniciação

Científica estão associados a um projeto de pesquisa do orientador, espera-se que o candidato

ao fomento esteja ciente da parte que lhe cabe no projeto a ser financiado. A exigência do

projeto demonstra também um caráter pedagógico, nesta fase inicial do pesquisador, pois, na

relação dos novatos com seus orientadores, aprende-se como deve ser feito um planejamento

para posterior execução.

Além do objeto de estudo descrito pelo projeto de pesquisa, com todos os procedimentos

que envolvem sua execução, os pareceristas da FAPESP também precisam conhecer o

candidato que pleiteia o fomento, por isso, outra parte importante do processo é a Súmula

Curricular. Nela, são descritas as atividades acadêmicas, científicas e profissionais,

desenvolvidas pelo candidato. Em caso de não haver a súmula, cabe ao orientador prestar tal

tipo de informação à Fundação. Em substituição à súmula, passa a ter validade o histórico

escolar completo do estudante com informes sobre disciplinas cursadas, eventuais reprovações

ou trancamento de matrícula. Por se tratar de documento oficial, deve ter carimbo e assinatura,

ou um código de autenticidade, fornecido pela instituição. Também devem estar esclarecidos

os critérios de aprovação adotados pela faculdade ou universidade.

Ainda devem ser informados à FAPESP quando o candidato vai concluir a graduação

(isto se dá por uma declaração formal do orientador): sumário do projeto principal em apenas

uma folha indicando, inclusive, quando houver vínculo com algum auxílio à pesquisa vigente

na própria Fundação; em caso de participação em Projeto Temático ou do Programa Jovem

Pesquisador, o resumo do projeto principal deve ser anexado; se o pesquisador responsável não

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possuir vínculo empregatício, deve ser apresentado o comprovante de vínculo formal com a

instituição. Também deve ser registrado o início das atividades do bolsista por meio de

declaração do orientador/supervisor41. O papel da instituição42 também é importante, pois, seus

dirigentes devem endossar o trabalho, além de garantir dotação orçamentária para apoio em

infraestrutura.

Infraestrutura dada e projeto de pesquisa apresentado, cabe aos avaliadores uma decisão.

Esses avaliadores são formados pelos chamados assessores ad hoc, ou seja, pesquisadores que

não mantém relações nem com os proponentes nem com as instituições onde o estudo vai ser

realizado. A média de tempo para avaliação deve seguir, por bom senso, o prazo que a FAPESP

estabelece, em cada modalidade, porém, antes dos assessores emitirem um parecer conclusivo,

eles podem solicitar novas informações. Em alguns casos, a FAPESP pode consultar mais de

um assessor para que o parecer tenha uma decisão mais bem fundamentada.

Em todo esse processo, o projeto em si, também depende da contribuição do orientador,

que precisa se inserir em regras, afinal de contas, como temos demonstrado ao longo desta

pesquisa, apesar de sua posição, o orientador também é um pesquisador, assim como seu aluno,

com diferença evidentemente baseada em sua experiência e função de formar novos

pesquisadores. O primeiro requisito é que o orientador seja doutor ou tenha qualificação

equivalente, além de competência e produtividade em pesquisa na área do projeto apresentado

– isto é mensurado por sua súmula curricular – e mais a questão da disponibilidade – mensurada

por seu regime de trabalho na instituição com a qual mantém seu vínculo de trabalho – bem

como o número sempre atualizado de orientandos. Todas as correspondências, enviadas pela

FAPESP, devem ser assinadas pelo orientador que pode, inclusive, ser um estagiário de pós-

doutoramento. Independentemente da qualificação que o orientador possua, a bolsa não será

concedida se ele tiver algum grau de parentesco com o candidato. Isto é qualificado pela

FAPESP como conflito de interesse que pode comprometer a isenção. Aliás, justamente sobre

essa questão de conseguir o benefício, é bom esclarecer que no caso dos bolsistas, a informação

disponível na Biblioteca Virtual da FAPESP é de que há um pesquisador responsável e um

beneficiário.

41 No caso de candidatos estrangeiros, a responsabilidade em verificar a documentação necessária para sua

regularidade no Brasil é do próprio bolsista. Esta informação pode ser obtida no Consulado Brasileiro. 42 São consideradas instituições as Faculdades, Escolas ou Institutos das Universidades Estaduais Paulistas,

Centros em Universidades Federais e Institutos de Pesquisa Estaduais.

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O orientador não mantém apenas uma relação nos projetos solicitados, como também

se envolve com a FAPESP, emitindo pareceres de mérito dentro de sua especialidade de

atuação. Outra obrigação que lhe cabe é estar em dia com a Fundação nessa emissão de

pareceres, na entrega de relatório científico e na prestação de contas. Débitos, nesse sentido,

superior a dois meses, o desqualificam para receber benefícios do fomento.

Uma vez atendidas as exigências, todo processo de solicitação de fomento é enviado aos

pares que vão fazer a análise do projeto de pesquisa. Na FAPESP, o conhecimento se divide

em onze Áreas. No caso, a Comunicação faz parte de uma delas, a das Ciências Humanas e

Sociais, dividida em três com 15 coordenadores. A Comunicação está inserida na CHS II43 e

possui quatro coordenadores. Em cada coordenação, a Diretoria Científica mantém uma

comissão de especialistas reconhecidos que têm a responsabilidade em coordenar o processo de

análise de mérito das submissões. Todos os coordenadores de Área exercem cargos de

confiança do diretor científico e chegam a tal função após terem seus nomes consultados junto

às lideranças acadêmicas.

Retomando o caminho da solicitação, quando uma proposta de pesquisa chega à

FAPESP, logo, ela é encaminhada para a respectiva Coordenação de Área, que vai identificar

a assessoria ad hoc44 externa para dar início à análise do que se pleiteia, e consequentemente, o

parecer que vai definir se a proposta vai ter aval ou não. Nesse caso, não é levada em conta a

afiliação institucional do proponente, e sim, a adequação de seu campo de pesquisa com a Área

correspondente. Apenas em casos de projetos multidisciplinares é que mais Coordenações de

Área podem ser ouvidas. A definição da assessoria ad hoc se estabelece tão logo o resumo do

projeto seja apreciado. Somente, nesta etapa, é que a afiliação institucional é levada em conta

para que não haja o risco de um conflito de interesse, pois, não é ético que um assessor que

analise um pedido seja da mesma instituição do solicitante45. Essa metodologia da FAPESP

segue as mais importantes agências de fomento mundial: o da sistemática de análise por meio

dos pares. Esse sistema de trabalho carrega a decisão institucional de concessão, ou não, de

verba para a realização da pesquisa. Existe, no meio, um consenso de que o grau de

independência e objetividade das avaliações, entre os pares, é proporcional ao grau fidedigno

do sigilo da FAPESP em relação à identidade dessas pessoas. Está previsto pelo Conselho

Superior da FAPESP, o mais alto órgão de decisão da instituição, que haja esse compromisso

43 Ver os detalhes completos dos saberes que compõem a Área em http://www.fapesp.br/3049 44 Ver em http://www.fapesp.br/6088 a definição do assessor ad hoc. 45 Ver sobre o que configura conflito de interesse em http://www.fapesp.br/6092

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expresso de preservação da identidade do assessor. Apenas as instâncias e assessorias da

FAPESP têm conhecimento de quem eles são e quais decisões tomaram a partir da análise dos

projetos. Um sigilo perdurável por todo o tempo em que o assessor colabora com a

FAPESP. Tão logo os assessores analisem o parecer, ele é novamente submetido à

Coordenação de Área, que vai ter conhecimento das decisões.

Uma vez dados os pareceres pelos assessores e vistos pelas Coordenações de Área, é

submetida à Diretoria Científica, uma recomendação de decisão que pode ser de aprovação,

denegação, denegação na versão apresentada ou solicitação de informações adicionais. Quando

se opta pela denegação, isto quer dizer que foram encontrados méritos na solicitação, porém,

uma versão modificada, levando em conta as críticas e recomendações constantes, pode se

tornar um projeto aprovado posteriormente. Inclusive, às denegações podem ser apresentados

recursos por meio da solicitação de reconsideração com argumentos sobre as objeções feitas

pelo assessor ad hoc. Já quando são solicitadas informações adicionais, é sinal que ao serem

esclarecidas as dúvidas levantadas pela assessoria, a solicitação tem condições de ser aprovada.

3.1.1 Mapeamento das pesquisas em Iniciação Científica (1992-2016)

Uma vez reunidas todas as amostras de pesquisas coletadas, na Biblioteca Virtual, foram

estabelecidas classificações e elaborados quadros, os quais se tornaram referências para a

análise de cada modalidade do fomento. Quando tratamos das “Bolsas no Brasil”, dividimos as

informações, em categorias, que associamos para construir a sua representatividade, por isso,

foram estabelecidas como tópicos para informação: Tipo do Fomento/Instituição/Cidade; Tipo

do Fomento, Orientador e Sexo do Orientador; Tipo do Fomento, Orientando e Sexo do

Orientando; Tipo do Fomento e Temas; Tipo do Fomento e Metodologias; Tipo do Fomento e

Bibliografias. Com tais divisões, conseguimos estabelecer parâmetros que conduzem à

interpretação da Área formando a proposta taxionômica de tradução dos dados organizados.

Na Iniciação Científica, o período analisado demonstrou que as bolsas, nessa fase inicial

da carreira do pesquisador, foram distribuídas entre os anos de 1992 e 2016. Entre 583 bolsas

concedidas a todos os níveis de formação do pesquisador, a Iniciação Científica somou 299

bolsas, o que representa 51,28% das pesquisas que tiveram o patrocínio de bolsas no Brasil, ou

seja, é mais da metade dos estudos patrocinados pela FAPESP.

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Ao considerar o primeiro nível, que envolve as Instituições e as Cidades

correspondentes, é possível apontar que a UNESP Bauru, por meio da Faculdade de Artes,

Arquitetura e Comunicação (FAAC) representa a metade das bolsas obtidas (50,83%) porque,

dentre aquelas 299, o total de fomento dado pela FAPESP à instituição é de 154 bolsas. Ou seja,

em um período de 25 anos, a FAAC/UNESP recebeu, em média, 6 bolsas a cada ano. Em

segundo lugar, aparece a USP, com 79 bolsas (26,42%) contempladas, o que equivale à metade

de bolsas conseguidas por ano (a média é 3). Ambas as instituições são públicas, o que logo

demonstra, o incentivo à carreira de pesquisador, a qual inclusive, exige dedicação exclusiva

em praticamente todas as fases de titulação no universo das instituições privadas, a

Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, e a PUC São Paulo (PUC-

SP), ocupam juntas, o primeiro lugar com 10 bolsas cada (3,35%). Isto quer dizer que, nos

mesmos 25 anos, a média anual de bolsas é inferior a uma (0,41%). Nos quadros que seguem,

demonstra-se o cenário das 299 bolsas de estudo em Iniciação Científica e sua distribuição entre

250 Universidades Públicas, 38 Universidades Particulares, 3 Faculdades, 7 institutos de

pesquisa e 1 escola.

QUADRO 5 – Distribuição das 299 Bolsas em Iniciação Científica

TIPO DE INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

Universidades Públicas 250 83,61%

Universidades Particulares 38 12.71%

Faculdades 3 1%

Institutos de Pesquisa 7 2,34%

Escola 1 0,34%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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QUADRO 6 – Distribuição das 250 Bolsas de Iniciação Científica nas Universidades

Públicas

INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

UNESP 154 61,6%

USP 79 31,6%

UFSCAR 10 4%

UNICAMP 7 2,8%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 7– Distribuição das 38 Bolsas de Iniciação Científica nas Universidades

Particulares

INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

METODISTA S.PAULO 10 26,32%

PUC-SP 10 26,32%

PUCCAMP 3 7,89%

UNIFACEF 3 7,89%

UNISO 3 7,89%

USC BAURU 3 7,89%

UNISAL 2 5,27%

UNIVAP 2 5,27%

UNIP 1 2,63%

USCS 1 2,63%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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QUADRO 8 – Distribuição das 3 Bolsas de Iniciação Científica nas Faculdades Particulares

INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

CÁSPER LÍBERO 1 33,34%

ESPM 1 33,33%

FAAP 1 33,33%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Todas as universidades públicas estão representadas, ou seja, a solicitação de fomento

é uma prática mais imbuída a esse tipo de instituição. Nem todas as instituições privadas estão

contempladas como mostra o mapa que se divide entre as cidades de São Paulo-Capital, São

Carlos, Piracicaba, Bauru, Ribeirão Preto, Campinas, São Bernardo do Campo, Tupã, Franca,

Americana, Sorocaba, São José dos Campos e São Caetano do Sul. São 13 cidades onde se

registra a presença da pesquisa em Comunicação, com fomento FAPESP. De acordo com o

número de cidades e instituições, que tiveram estudos beneficiados pela agência, podemos

apontar que nesses 25 anos analisados, a maior produtividade em Iniciação Científica está no

interior de São Paulo.

QUADRO 9 – Distribuição Geográfica das Bolsas de Iniciação Cientifica

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

S.PAULO – INTERIOR 190 63,55%

S.PAULO – CAPITAL 98 32,78%

GRANDE SP (ABC) 11 3,67%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Como já explicitado ao longo deste estudo, quando falamos dos pesquisadores em

produtividade com o fomento FAPESP, consideramos os agrupamentos de pesquisadores em

formação e pesquisadores profissionais. Embora haja etapas de consolidação e de construção

da carreira de pesquisador, é importante colocar que, em termos de produção, todos estão

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incorporados a um mesmo cenário, que é o da construção taxionômica da Área da Comunicação

no Estado de São Paulo. Mas, quando tratamos da representatividade dos orientadores e dos

orientandos, temos que considerar bases de compreensão, principalmente as nominais, de uma

forma diferente, uma vez que, para a FAPESP, o pesquisador orientador é considerado o

Pesquisador Responsável e o orientando é o Beneficiário. Mas, isto é mais em termos de

nomenclatura mesmo, pois, as responsabilidades são as mesmas de um e de outro, junto à

instituição, diferenciando apenas o estágio de desenvolvimento em que se encontram. Assim

sendo, é que nós consideramos, então, os Pesquisadores Responsáveis na categoria Tipo de

Fomento, Orientador e Sexo do Orientador, ao passo que, entre os orientandos, os colocamos

em categoria com a mesma nomenclatura, considerando o Tipo de Fomento e o Sexo do

Orientando.

Pelo fato da Iniciação Científica ser a primeira etapa do percurso formativo do

pesquisador, é que optamos por essa ordem de análise. Para tanto, antes de fornecer os números

específicos da modalidade de fomento, é preciso considerar as Bolsas no Brasil como um todo,

por isso, das 583 bolsas, 304 (52,14%) têm os professores como pesquisadores responsáveis,

ou seja, eles são os orientadores. Já, entre as mulheres, o número de 279 pesquisadoras

responsáveis corresponde às orientadoras que representam 47,86% à frente da obtenção do

fomento na FAPESP. Quando consideramos, especificamente a Iniciação Científica, também

mostramos que o predomínio é masculino. Entre as 299 bolsas, 162 pesquisas tiveram

orientadores homens (54,18%) enquanto 137 pesquisas (45,82%) foram orientadas por

mulheres. Com a presença masculina sendo mais da metade dos pesquisadores responsáveis,

não surpreende o fato do professor pesquisador que mais orientou projetos de Iniciação ter sido

um homem, conforme mostra o quadro a seguir, que também traz o segundo e o terceiro

colocados em orientação. Porém, vale considerar que embora os números apontem para uma

“superioridade” masculina, essa variável não é visível na prática nem suscita diferenças que

nos obrigassem a falar em luta por direitos iguais como ocorre em outras situações nas quais se

comparam a participação entre homens e mulheres em um mesmo segmento.

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QUADRO 10 – Professores Orientadores na Iniciação Científica

DOCENTE INSTITUIÇÃO NÚMERO DE

ORIENTAÇÕES

Prof. Dr. Maximiliano Martin

Vicente

FAAC – UNESP

Bauru

26 pesquisas

Prof. Dr. Célio José Losnak FAAC – UNESP

Bauru

23 pesquisas

Profa. Dra. Mayra Rodrigues

Gomes

ECA/USP 17 pesquisas

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Considerando todas as bolsas concedidas aos orientandos, qualificados pela FAPESP

como beneficiários, as mulheres estão à frente, com 366 pesquisas (62,78%), enquanto os

homens totalizam 217 (37,22%). Passando para a Iniciação Científica, também há liderança

feminina. Elas estão presentes em 193 pesquisas (64,55%) e eles, em 106 (35,45%).

Ao partirmos para a quantificação e análise dos temas de pesquisa, no geral, precisamos

considerar que foram identificados 1.333 temas de pesquisa46 entre as 583 bolsas no Brasil. Os

temas correspondem às palavras-chave informadas, no processo de fomento da FAPESP, e que

em sua maioria, denotam o que está sendo estudado. Observa-se algo confuso, pois, em muitas

ocasiões, se misturam Áreas de interesse, práticas profissionais e até palavras que remetem a

elementos acessórios ao objeto de estudo, como por exemplo, uma cidade ou um tipo de

manifestação cultural. No quadro a seguir, foram elencados temas de pesquisa que superam

1,5% de representatividade. Tal índice foi determinado para que fossem revelados os temas

mais expressivos e recorrentes nas pesquisas analisadas.

Diante dos números do quadro 10, é importante destacar que essa captação de um

considerado número de pesquisas, realizadas com apoio da FAPESP, ocorre porque o professor

Maximiliano Martin Vicente, embora seja colaborador da Pós-Graduação em Comunicação da

46 Para chegar a este índice, foi necessário excluir as pesquisas que não tinham seus temas informados e também

temas apontados que, na verdade, são metodologias de pesquisa. Assim, de 1.475 temas iniciais pelos dados da

Biblioteca Virtual, foram excluídos 142 chegando assim ao total de 1.333 como referência para o cálculo das

amostras.

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FAAC UNESP Bauru, na linha de pesquisa Processo Midiáticos e Práticas Socioculturais, sua

atuação maior é na Graduação nos cursos de Jornalismo e Radialismo. O mesmo, exceção feita

à atuação na Pós, ocorre com o segundo colocado das pesquisas, professor Célio José Losnak,

realizadas na Iniciação Científica.

QUADRO 11 – Temas de Pesquisa: Modalidade Bolsas no Brasil

TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Jornalismo 67 5,03%

Cultura 22 1,65%

Linguagem 21 1,58%

Censura 21 1,58%

Imprensa 20 1,50%

Televisão 20 1,50%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Pelo quadro acima, afirmamos que há muita pluralidade que leva à fragmentação

temática da Área, quando por exemplo, aparece um grande número de pesquisas sobre Cultura

e Linguagem. O que, de fato, estas palavras abrangem? É um universo muito extenso dentro de

um termo usado quase que para um sentido coletivo de situações e que pode abranger diversos

significados. Entretanto, nota-se também que há estudos mais aprofundados quando, entre os

temas, aparecem o Jornalismo, a Censura, a Imprensa e a Televisão. Considerando apenas a

Iniciação Científica, são 756 temas de pesquisa47. Assim, o quadro abaixo demonstra os temas

que superam 1,5% de representatividade.

47 Entre 801 temas, foi extraído um total de 45 temas entre os não informados e aqueles que se confundem com

metodologias de pesquisa.

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QUADRO 12 – Temas de Pesquisa em Bolsas de Iniciação Científica

TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Jornalismo 45 5,95%

Imprensa 18 2,38%

Cultura 15 1,99%

Censura 15 1,99%

Relações Públicas 12 1,59%

Teatro 12 1,59%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Na análise das metodologias, ao consideramos as 583 bolsas concedidas para a

realização de pesquisas no Brasil, 374 entre Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado,

Doutorado Direto e Pós-Doutorado não prestaram informações, no resumo, a respeito da

estratégia metodológica adotada. Esse índice de representação chega a 64,15%, que é superior

à metade das pesquisas financiadas, o que evidencia uma perda em relação aos caminhos

metodológicos adotados e percorridos. Logo, as menções foram feitas em 209 pesquisas,

totalizando 35,85%. Especificamente, na Iniciação Científica, a categorização metodológica

aponta para 136 metodologias citadas, em um universo que seria de 352 citações, excluindo

desse montante, 216 pesquisas que não oferecem esse tipo de informação. O quadro abaixo

reúne as metodologias que superaram a representatividade de 1,5%.

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QUADRO 13 – Metodologias na Iniciação Científica

TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Pesquisa Bibliográfica 29 21,32%

Entrevista 14 10,29%

Análise de Conteúdo 11 8,09%

Pesquisa Documental 9 6,62%

Estudo de caso 7 5,15%

Pesquisa Exploratória 6 4,41%

Pesquisa Qualitativa 6 4,41%

Análise do Discurso 6 4,41%

Pesquisa de campo 6 4,41%

Pesquisa Quantitativa 4 2,94%

Pesquisa Teórica 3 2,21%

Pesquisa Descritiva 3 2,21%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Ao tratarmos das Bibliografias nas “Bolsas no Brasil”, entre as 583 pesquisas

subvencionadas pela FAPESP, 294 fizeram menções às suas referências bibliográficas. Ao

analisarmos a Iniciação Científica, com 299 bolsas concedidas, precisamos excluir as 269

pesquisas, que não informaram seus referenciais bibliográficos, ou seja, em apenas 30

pesquisas, 64 autores são mencionados em 74 referências bibliográficas, pois, em muitos casos,

os autores são usados mais de uma vez, evidentemente, em pesquisas diferentes. O quadro a

seguir se refere aos autores que superaram 1,5% de representatividade nas pesquisas.

QUADRO 14 – Referências Bibliográficas na Iniciação Científica

AUTORES NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL

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Umberto Eco 3 4,05%

Mikhail Bakthin 2 2,7%

J.Greimas 2 2,7%

Jürgen Habbermas 2 2,7%

Meyer 2 2,7%

Benedict Andersen 2 2,7%

Charles S. Peirce 2 2,7%

Gilles Deleuze 2 2,7%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

A partir dos 64 nomes de autores relacionados, consideramos a nacionalidade deles.

Desse total, 40 são estrangeiros, 19 são brasileiros e 5 não tiveram identificadas as

nacionalidades por falta da informação do nome completo do autor nos resumos das pesquisas

registradas na Biblioteca Virtual da FAPESP. O número ode estrangeiros é mais que o dobro

de pesquisadores nacionais utilizados e identificados.

QUADRO 15 – Nacionalidade dos autores referenciados em Iniciação Científica

NACIONALIDADE ÍNDICE PERCENTUAL

Estrangeiros 62,5%

Brasileiros 29,69%

Não identificados 7,81%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Nas primeiras impressões sobre a Iniciação Científica, percebe-se, a partir dos temas de

pesquisa, o predomínio do Jornalismo que se ramifica em suas inúmeras modalidades como

Jornalismo Científico, Jornalismo Comunitário, Reportagem, Entrevista Jornalística, etc. Ato

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contínuo à influência do Jornalismo, aparecem os estudos de Imprensa. O mesmo ocorre com

o tema Comunicação que se reparte, ao olhar dos pesquisadores, em Pública, Integrada, Visual,

Intercultural, em sua Filosofia, etc. Percebe-se pouca abordagem em relação ao digital, temática

ocupada preponderantemente na atualidade pelas mídias sociais, o Jornalismo, a Mídia, a

Cultura. Um sintoma curioso porque a Iniciação Científica reúne jovens da Graduação, mas,

que se justifica em função de um largo período em que a Internet teve escala de valorização e

integração à vida humana, em especial, com a chegada do século XXI. Enfim, a ramificação é

um dos indicadores da complexidade da Área. Em vez de ser tratada como decorrência de um

conceito-chave maior, ou seja, pensar em quantas possibilidades se torna possível pesquisar a

Comunicação, trata-se cada linha como “campos próprios” de conhecimento.

É característica notória, no caso da Iniciação Científica, perceber que seus

pesquisadores, em início de formação, compõem partes de projetos maiores, especialmente, de

seus orientadores. Embora haja sentido na troca de aprendizado, não se pode fechar os olhos

para o fato de que os estudantes de Iniciação Científica também servem de mão de obra para

essas pesquisas maiores, isto é, eles fazem parte do todo. A Pesquisa Bibliográfica é a estratégia

metodológica mais adotada e serve para este primeiro contato do jovem pesquisador com o

mundo do conhecimento.

3.2 Bolsas de Mestrado

Seguindo a ordem da formação do pesquisador, passamos agora, a considerar as Bolsas

de Mestrado, oferecidas pela FAPESP. Podem pleitear esse fomento, alunos regularmente

matriculados em programas de Pós-Graduação de Mestrado Acadêmico Stricto Sensu de

instituições de ensino superior, públicas ou privadas, que transformem seus projetos de pesquisa

em uma dissertação. O candidato deve ter um orientador com título de doutor, avaliado por

súmula curricular. A responsabilidade do projeto cabe muito mais ao orientador, porém, o

candidato deve participar de sua elaboração bem como estar apto para discussões e análises de

resultados. A solicitação de uma bolsa de mestrado pode ser feita antes do fim do curso de

Graduação, com prioridade de obtenção, os candidatos recém-formados que a tenham concluído

em prazo normal e preferencialmente que tenham realizado estágio de Iniciação Científica.

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A vigência da bolsa de Mestrado é de dois anos e, na FAPESP, são dois níveis

concedidos: o MS-I48 e o MS-II49. E a concessão só ocorre quando o parecer da assessoria não

fizer reparos ao mérito da solicitação e a recomenda para atendimento incondicional. Há

possibilidade, por parte do aluno, da interrupção da bolsa, por até seis meses, em caso de

participar de programa de bolsa no exterior, recebida por outra agência ou outro tipo de

financiamento, que não onere a FAPESP. Em casos de interrupção, o tempo fora não é

descontado do tempo de vigência total da bolsa. Também são previstas “suspensões” nos casos

de licença-maternidade ou licença-paternidade do bolsista. No caso dos homens, são cinco dias,

a partir do nascimento da criança, e para mulheres, a prorrogação da bolsa é de até quatro meses.

Nestes casos, para se conseguir tais benefícios, os candidatos precisam enviar documentos à

FAPESP comprovando casos dessa natureza50.

Assim como em outras modalidades, a solicitação de bolsa pode ser feita em qualquer

época do ano. O prazo de análise do pedido leva em média 75 dias. Diferentemente da Iniciação

Científica, no Mestrado, o pedido pós- análise ad hoc, passa por um Colegiado Mensal em casos

quando extrapola o limite de bolsas a serem concedidas. Isso acontece por conta de propostas,

com análise qualitativamente superior, e que tenham pareceres favoráveis da assessoria.

Entretanto, os principais critérios de análise e seleção são: (1) projeto de pesquisa considerando

seus objetivos, fundamentação, metodologia e viabilidade; (2) competência e produtividade em

pesquisa do orientador do projeto apresentado; (3) potencial do candidato como pesquisador,

avaliado por seu histórico escolar e acadêmico. Em casos de igualdade no mérito das

solicitações, os critérios para desempate são: candidatos que já tiveram apoio da FAPESP;

recém-formados; quem iniciou recentemente o programa de Mestrado; candidatos que não

tenham recebido bolsas de outra agência de fomento para a mesma finalidade; candidatos que

tenham usufruído bolsa de mestrado de outra agência em menos de três meses. Mas, para

participar desse desempate, só estão qualificados os projetos considerados excelentes, com

candidatos de excelente qualificação acadêmica, e orientadores com produção científica recente

que tenham tido êxito na Área do projeto.

Além dos valores das bolsas já mencionados, os bolsistas podem solicitar Reserva

Técnica e Auxílio Instalação para o caso de mudança para a cidade da Instituição-sede onde se

realiza a pesquisa. Esse benefício é composto por uma mensalidade adicional – paga juntamente

48 O valor da bolsa na modalidade MS-I, desde agosto de 2017, é R$ 1.988,10. 49 O valor da bolsa na modalidade MS-II, desde agosto de 2017, é R$ 2.110,20. 50 Casos também aplicados ao Doutorado, Doutorado Direto e Pós-Doutorado.

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com a primeira mensalidade da bolsa – e despesas de transporte para distâncias superiores a

350 quilômetros.

Os candidatos à Bolsa de Mestrado devem ter dedicação exclusiva à pesquisa e ao curso

de pós-graduação em que estão matriculados. Não é permitido vínculo empregatício nem

ganhos de outras instituições ou remuneração decorrente de qualquer outra atividade. Também

estão condicionadas às bolsas, condições como a não modificação no projeto sem

consentimento prévio da FAPESP; a apresentação de relatórios científicos e de aplicação de

recursos de reserva técnica; vínculo com a instituição paulista bem como interação com o

orientador51 e a instituição-sede; sempre fazer referência ao apoio da FAPESP, em todas as suas

produções acadêmicas. É obrigatório que o candidato tenha CPF próprio para viabilizar a

liberação do Termo de Outorga. O não cumprimento de tais exigências pode levar ao

cancelamento da bolsa e à restituição dos pagamentos já efetuados pela Fundação com valores

atualizados.

Desde novembro de 2016, também se tornou obrigatória a entrega de cópia digitalizada

de identificação do pesquisador. Somam-se a isto o projeto de pesquisa, a súmula curricular, a

descrição de atividades acadêmicas (publicações, reuniões científicas, premiações, estágios no

exterior, etc.) e profissionais do candidato, histórico escolar de graduação e pós-graduação

(quando houver), sumário do projeto principal de apenas uma folha em casos de vínculo com

auxílios à pesquisa vigente, comprovante de vínculo formal com a instituição, que é a forma de

atestar que não tem qualquer vínculo empregatício, e por isso, atende ao critério, certificado de

conclusão da graduação, comprovante de matrícula como aluno regular na Pós-Graduação. Em

casos de candidatos com vínculo empregatício, é preciso apresentar comprovante de

afastamento ou demissão, declaração de início das atividades assinada pelo orientador,

manifestação de ciência e concordância por parte do dirigente da instituição, nome e endereço

de duas pessoas para referências, que de preferência, sejam professores ou ex-professores do

candidato.

Sobre relatórios, devem ser apresentados dois, de natureza científica. Eles são enviados

à assessoria da FAPESP que os analisa e pode, inclusive, fazer recomendações. Quando a

vigência da bolsa termina, o candidato é obrigado apresentar cópia da ata de defesa da

dissertação e cópia da página da dissertação na qual conste menção ao apoio da FAPESP. Tais

documentos não substituem o relatório científico final que poderá ser encaminhado na forma

51 As exigências da FAPESP ao orientador são as mesmas já descritas na Iniciação Científica.

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de versão final da dissertação. Não há obrigatoriedade de que o título da dissertação seja igual

ao título do projeto de pesquisa original. Exige-se, porém, menção explícita e destacada ao

apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo bem como o número do

processo da bolsa conforme consta especificado no Termo de Outorga.

3.2.1 Mapeamento das pesquisas de Mestrado (1992-2016)

Tradicionalmente, pode se pensar que o Mestrado seja apenas buscado por quem deseja

seguir a carreira de pesquisador. Ele pode servir também como aperfeiçoamento do

conhecimento. Tanto que é colocado em duas modalidades com cursos de Mestrado

Acadêmico52, voltados à produção científica da pesquisa, e de Mestrado Profissional53

capacitando profissionais a demandas do mercado de trabalho. Seja para a intenção de valorizar

a carreira acadêmica ou de se especializar, ambas as modalidades fazem parte da pós-graduação

stricto sensu cuja base conceitual já fora descrita no parecer CES/CFE 977, de 1965, que teve

como relator Newton Sucupira. O documento reforça a atividade científica, na universidade,

como algo livre e criadora da cultura universitária.

O parecer de Newton Sucupira aponta que os cursos de pós-graduação têm por objetivo

formar pesquisadores e docentes para os cursos superiores e que isso deveria ser feito em dois

ciclos sucessivos com inspiração no master e doctor dos Estados Unidos. É que a estrutura

estadunidense compreende o college como base comum de estudos que requerem o título de

bacharel em forma de pré-requisito de admissão. A partir dessa organização comum, decorrem

o undergraduate (cursos ministrados no college) e graduate (cursos pós-graduados visando os

graus de Mestre e Doutor). Pela definição proposta no relatório Sucupira, que molda até os dias

de hoje, nosso sistema de Pós-Graduação, o pós-graduado é aquele que já obteve grau de

bacharel, e continua seus estudos regulares para atingir um grau superior. Essas atribuições

remontam às três décadas do século XVIII, quando a universidade deixou de ser apenas uma

instituição de ensino e formadora de profissionais para se dedicar às atividades de pesquisa

científica e tecnológica. É a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, em 1876, que ultrapassou

a transmissão do saber constituído para elaborar novos conhecimentos a partir da pesquisa. Diz

52 Ver definição completa do Mestrado Acadêmico em http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao/

mestrado-e-doutorado-o-que-sao 53 Ver definição completa de Mestrado Profissional em http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao/

mestrado-profissional-o-que-e

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Sucupira (1965) que “a pós-graduação tem por fim oferecer, dentro da universidade, o ambiente

e os recursos adequados para que se realize a livre investigação científica e onde possa afirmar-

se a gratuidade criadora das mais altas formas da cultura universitária”. Isto nos fornece a ideia

de que para o autor, a universidade não é apenas formadora de profissionais, mas, um centro

criador de Ciência e Cultura, bem como, um espaço questionador e reflexivo, a partir da

produção de conhecimento.

Esta pós-graduação stricto sensu, da qual fazemos parte, é defendida por Sucupira como

um atestado de uma alta competência científica em determinado ramo do conhecimento. Ele

define essa modalidade como “o ciclo de cursos regulares em segmento à graduação,

sistematicamente organizados, visando desenvolver e aprofundar a formação adquirida no

âmbito da graduação e conduzindo à obtenção de grau acadêmico”. Ao contrário do previsto,

no parecer de 1965, Newton Sucupira defendia rigorosa seletividade intelectual como requisito

de admissão, pois, quanto mais rigoroso for o processo de seleção, mais alto é o padrão da

universidade. Para justificar este argumento, ele diz à época, que na Universidade de Princeton,

nos EUA, dos 1.000 pedidos de inscrição, os aprovados não passavam de 350. A pós-graduação

deveria ser, segundo ele, mais do que uma tese doutoral ou uma dissertação de mestrado. É

necessária uma sólida formação científica da qual a tese ou dissertação se torna uma expressão.

A influência estadunidense influenciou o Brasil, quando a Pós-Graduação foi colocada

na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, se resumindo a cursos cujos candidatos se matriculam

a partir da conclusão do curso de Graduação após a obtenção do respectivo diploma. Assim,

nosso Mestrado e Doutorado ficaram com a ideia de um programa de estudo em duas fases. Na

primeira fase, frequência às aulas, seminários e capacidade do candidato. Já, na segunda fase,

dedicação maior à investigação preparando a tese ou dissertação. As duas modalidades têm por

objetivo, no caso do Mestrado, revelar domínio do tema escolhido com uma capacidade de

sistematização, enquanto no Doutorado, se defende uma tese cuja importância seja uma real

contribuição do tema à produção do conhecimento em uma Área. Inclusive, para melhor

dimensão disto, entendemos que tais etapas deveriam exigir cursos distintos e não o nosso

sistema de que mestrandos e doutorandos são colocados, no mesmo patamar, diferenciando-se

apenas quanto ao seu produto final.

O que Newton Sucupira propôs, na década de 1960, segue em vigência na

sistematização da pós-graduação stricto sensu, porém, ganhou outro sentido que transita pelo

caminho da memória. Na atualidade, a implantada Plataforma Sucupira se tornou um grande

repositório do mapeamento da produtividade dos Programas de Pós-Graduação no Brasil, que

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se submetem a um sistema de avaliação para constituir a chamada Memória da Pós-Graduação,

representada pelo acesso de informações consolidadas no Sistema Nacional de Pós-Graduação

(SNPG). São os responsáveis pelos Programas que alimentam o sistema com dados

transformados em relatórios consolidados que podem ser consultados publicamente. O objetivo

é dar mais transparência às informações, processos e procedimentos que a CAPES realiza no

SNPG para toda a comunidade acadêmica. Mais do que mensurar, o que consideramos mais

importante que os métodos de avaliação, é que a tecnologia nos proporciona um resgate da

memória quando podemos revisitar ações realizadas. É, neste sentido, que acreditamos que o

pesquisador pode, de fato, fazer a História da Comunicação, pois, observa sua trajetória

respeitando e interpretando contextos.

E também é, nesse sentido de remontar a História da Comunicação, que estamos

trabalhando com os fomentos da FAPESP. E quando recorremos à trajetória das pesquisas de

Mestrado na Área da Comunicação, apoiadas por ela, nos deparamos que, entre 583 bolsas

concedidas, 178 são para o Mestrado, montante que representa 30,53% dos fomentos. O maior

número de bolsas foi para a USP, representada por quatro de suas escolas, sendo que a maioria

foi conseguida por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Somente à ECA, foram

financiadas 65 bolsas, o que equivale a 36,51% dos fomentos conseguidos na USP. Além da

universidade pública, consideramos também qual instituição se destaca no âmbito particular, e

encontramos a PUC-SP, na liderança, com 16 bolsas concedidas, o que nos remete a 8,98% dos

benefícios dados pela FAPESP.

Dessas 178 bolsas, 171 foram concedidas para Universidades (96,06%) e apenas 7 para

faculdades (3,94%). Quando olhamos os dados de universidades, procuramos estabelecer a

diferenciação numérica entre o que é fornecido para as públicas e para as particulares. Assim,

precisamos considerar como base um total de 171, que se subdividem em 145 financiamentos

para universidades públicas (84,8%) e 26 financiamentos para universidades particulares

(15,2%). Os quadros abaixo mostram essa repartição.

QUADRO 16 – Distribuição das 145 Bolsas de Mestrado a Universidades Públicas

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

USP 71 48,97%

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UNESP 41 28,28%

UNICAMP 22 15,18%

UFSCAR 10 6,89%

UFABC 1 0,68%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 17 – Distribuição das 26 Bolsas de Mestrado a Universidades Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

PUC-SP 16 61,54%

METODISTA S.PAULO 3 11,54%

UNIP 3 11,54%

USCS 3 11,54%

UNISO 1 3,84%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 18 – Distribuição das 7 Bolsas de Mestrado a Faculdades Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

CÁSPER LÍBERO 4 57,15%

ESPM 3 42,85%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

As instituições demonstradas, nos quadros, estão em nove cidades do estado: São Paulo,

São Carlos, Bauru, Marília, Campinas, São Bernardo do Campo, Santo André, Sorocaba e São

Caetano do Sul. O maior número de bolsas foi concedido à capital, mas, o interior e o ABC

Paulista também fazem parte dos números.

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QUADRO 19 – Localidade das Pesquisas com Bolsas de Mestrado no Estado

LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA

NÚMERO DE

BOLSAS

ÍNDICE

PERCENTUAL

S.PAULO – CAPITAL 97 54,50%

S.PAULO – INTERIOR 74 41,57%

GRANDE SP (ABC) 7 3,93%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Todas essas bolsas tiveram como Pesquisadores Responsáveis, no caso, orientadores,

93 homens (52,24%) e 85 mulheres (47,76%). Assim, como na Iniciação Científica, o professor

que mais orientou, no Mestrado, também foi Maximiliano Martin Vicente, da FAAC/UNESP

Bauru, com 10 projetos. Lembrando, como já apontado na Iniciação Científica, o professor

colabora na Pós-Graduação. Entretanto, há de se dizer sobre seu know how como orientador,

condição que o credencia para estar na liderança desta modalidade também. Logo em seguida,

aparecem com destaque orientando cinco pesquisas: Maria das Graças Conde Caldas

(UNICAMP), Rosana de Lima Soares (ECA/USP) e Vitor Aquino (ECA/USP). Em relação aos

orientandos, as mulheres predominam. Nesses 25 anos pesquisados, foram 115 mulheres

(64,61%), que recorreram à FAPESP, para cursar Mestrado enquanto os estudantes do sexo

masculino totalizaram 63, o que representa um índice de 35,39%.

Passando aos temas de pesquisa, o levantamento inicial, realizado junto à Biblioteca

Virtual da FAPESP nos apontou 440 temas, porém, deles precisamos excluir 59 pesquisas que

não informaram seus temas junto a outras que colocam metodologias como temas de pesquisa.

Mais uma vez, registra-se a confusão que é recorrente nesse quesito. Assim, o número é de 381

temas sobre os quais serão representadas as amostras superiores a 2%. Os indicadores nos

mostram temáticas bastante superficiais, ou seja, a diversidade temática se confirma como

variável influenciadora na formação da Área.

QUADRO 20 – Temas de Pesquisa no Mestrado

TEMAS NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

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Jornalismo 18 4,72%

Internet 11 2,88%

Linguagem 10 2,62%

Tecnologia 9 2,36%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Sobre metodologia, das 178 pesquisas, 97 (54,5%) não trazem, no resumo, essa

informação. Logo, há 81 pesquisas (45,50%) que informaram as metodologias, totalizando 127

citações. As metodologias mais representativas, aqui elencadas, são as que superaram o índice

de 5%.

QUADRO 21 – Metodologias de Pesquisa no Mestrado

TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Estudo de Caso 14 11,02%

Pesquisa Bibliográfica 13 10,23%

Pesquisa Qualitativa 9 7,08%

Pesquisa Documental 7 5,51%

Análise do Discurso 7 5,51%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

E, por fim, quando se analisa a Bibliografia, nota-se um expressivo número de pesquisas

que não informaram esse dado. Das 178 bolsas, 146 deixaram de fazer isso, o que demonstra

um alto índice (82,02%) de negação deste dado. E as informações sobre bibliografia estão em

apenas 32 pesquisas (17,98%), com os autores sendo referenciados 103 vezes e usados em mais

de uma pesquisa. O quadro que segue traz os autores que superaram 1,5% de representatividade.

E por ele, timidamente se vê a literatura brasileira e latino-americana presentes. Isto se justifica

possivelmente pela decorrência do uso dos textos da professora Lúcia Santaella nas pesquisas

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de seus orientandos que dão à PUC uma boa performance de pesquisas, nesta modalidade, e

também pela presença de um pensador que tem grande trânsito na pesquisa brasileira: Jesús

Martín-Barbero.

QUADRO 22 – Autores mais citados nas Pesquisas de Mestrado

AUTOR NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL

Lúcia Santaella 3 2,91%

Jacques Lacan 3 2,91%

Mikhail Bakthin 3 2,91%

Manuel Castells 2 1,94%

Maurizio Lazzarato 2 1,94%

Boaventura de Souza Santos 2 1,94%

Christine Greiner 2 1,94%

Jesús Martin-Barbero 2 1,94%

Michel Foucault 2 1,94%

Marshall McLuhan 2 1,94%

Erving Goffman 2 1,94%

J.Greimas 2 1,94%

Dominique Wolton 2 1,94%

Pierre Lévy 2 1,94%

Harry Pross 2 1,94%

Helena Katz 2 1,94%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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Em um total de 83 autores mencionados, nota-se, mais uma vez, o predomínio da

literatura estrangeira na Área.

QUADRO 23 – Nacionalidade dos autores referenciados em Mestrado

NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL

Estrangeiros 70 84,34%

Brasileiros 10 12,05%

Não identificada 3 3,61%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Uma coincidência nos permite fazer um aparte. Quando trazemos os dados de

referências bibliográficas e suas nacionalidades, vemos que a pesquisadora brasileira Lúcia

Santaella aparece como uma das mais citadas. A justificativa para isso já foi colocada e isto nos

faz trazer aqui, uma fala dela, em entrevista concedida para este pesquisador, sobre o

predomínio da literatura estrangeira em nossa Área. Ela disse que essa prática tem uma relação

com a história, afinal, as universidades foram criadas, a partir do século XI, e desde então, os

pensadores europeus vieram trabalhando por tantos séculos. Aqui, no Brasil, as universidades

datam de um século atrás, ou seja, são do século XX, tanto que ela recorda do início institucional

da Comunicação nos anos 197054. Esse caráter recentíssimo, na visão dela, é a justificativa para

isso. Assim, ela (2017) destaca que “nossas escolhas têm de ser guiadas pela qualidade da

informação que buscamos e que encontramos e não pela nacionalidade dos autores. Um grande

pensador não tem nacionalidade. Ele pertence à espécie dos seres pensantes e não a um país”.

Enfim, como impressões primeiras das bolsas de Mestrado, repete-se a questão da

fragmentação temática, a qual tratamos na Iniciação Científica, de que se valorizam as partes e

não o todo de um tema. Quando olhamos para a metodologia, vê-se equilíbrio entre Estudo de

Caso e Pesquisa Bibliográfica, o que sinaliza para estudos pontuais nessa fase de formação do

pesquisador. Entre os temas, o Jornalismo continua predominando, mas já se pontua a presença

54 O percurso histórico da Comunicação foi apresentado no Capítulo I “Comunicação em Três Dimensões” desta

pesquisa.

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de estudos sobre novas práticas, uma vez que Internet e Tecnologia aparecem entre os mais

representativos.

3.3 Bolsas de Doutorado

As bolsas de estudo para Doutorado são destinadas a alunos regularmente matriculados,

em programas de pós-graduação stricto sensu de instituições de ensino superior, públicas ou

privadas, do Estado de São Paulo para o desenvolvimento de projeto de pesquisa que resulte

em tese com a supervisão de um professor doutor, avaliado por sua súmula curricular. A

duração da bolsa é de três anos podendo ser prorrogada por período não superior a um ano.

Durante a vigência, o aluno poderá usufruir de interrupção da bolsa, por até doze meses, para

participar de programa de doutorado sanduíche no exterior. Existem duas bolsas decorrentes, a

DR-I, que é para duração de um ano, e a DR-II, com duração de dois anos. Sobre os valores de

bolsa de estudos concedidos, a vigência atual é de agosto de 2017. Para as Bolsas DR-I, o valor

é de R$ 2.929,80 enquanto, para DR-II, chega a R$ 3.626,10.

Todos os processos de pedido são enviados a assessores ad hoc para que emitam parecer.

Antes da conclusão, eles podem solicitar outras informações sendo que, algumas vezes, a

própria FAPESP toma a iniciativa de consultar mais de um assessor para que a decisão seja

bem fundamentada. Uma vez aprovado, o projeto de pesquisa concernente à bolsa não pode ser

modificado sem autorização prévia da Fundação. Cada parecer é uma peça complexa na qual o

assessor ad hoc responde a vários quesitos – para cada linha de fomento existe um conjunto –,

relevantes para a decisão final que pode ser de aprovação, denegação ou solicitação de

informações adicionais. O prazo médio para análise da solicitação também é de 75 dias, no

entanto, cada linha de fomento pode demandar um prazo típico necessário.

Durante a vigência da bolsa, o beneficiado deve ter dedicação exclusiva à pesquisa.

Como toda agência de fomento, há uma contrapartida de quem se beneficia. No caso da

FAPESP, a exigência é a pontualidade com a emissão de pareceres e a devolução de processo,

bem como nas entregas pontuais de Relatório Científico e Prestação de Contas. Se isto não

ocorrer, há pena de bloqueio na liberação de recursos. Outra obrigatoriedade que envolve o

beneficiário da FAPESP é o de sempre fazer referência ao apoio da Fundação em suas

atividades de pesquisa. Basicamente, uma contrapartida que pode se romper com o

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cancelamento da bolsa e a devolução de pagamentos efetuados por parte do pesquisador. Todas

as atividades acadêmicas do candidato devem ser descritas. Quando se tratar de estrangeiro,

além dos trâmites acadêmicos, é necessário que o candidato esteja quite com a documentação

para permanência no Brasil.

Há uma série de requisitos semelhantes a serem cumpridos às da Bolsa de Mestrado,

porém, o Relatório Científico da Bolsa de Doutorado deve ser entregue anualmente durante a

vigência do fomento. Esses relatórios devem ser encaminhados juntamente com o Formulário

de Encaminhamento de Relatório Científico preenchido, assinado e enviado pelo orientador.

Tão logo a bolsa se extingue, o candidato deve enviar à FAPESP a cópia da ata de defesa da

tese junto à cópia da própria com menção ao apoio.

3.3.1 Bolsas de Doutorado Direto

Entre as bolsas, existe também a modalidade de fomento do Doutorado Direto para a

qual os candidatos devem vir da graduação diretamente, sem o título de mestre, apresentando

um projeto de pesquisa que resulte em tese. Nesse caso, prioriza-se o candidato de bom histórico

escolar e que, preferencialmente, tenha realizado estágio de Iniciação Científica. Havendo uma

pré-disposição pela carreira de pesquisador, inclusive, bolsistas de Mestrado podem ter suas

bolsas convertidas para o Doutorado Direto. Nesta modalidade, o fomento tem duração

ordinária de 48 meses, ou seja, quatro anos, com possibilidade de prorrogação. São quatro níveis

dessa bolsa: DD-I (duração de 1 ano e repasse de R$ 1.988,10); DD-II (também com duração

máxima de 1 ano e repasse de R$ 2.110,20); DD-III (duração máxima de 1 ano e valor de bolsa

de R$ 2.929,80) e DD-IV (prazo de 1 ano e bolsa no valor de R$ 3.626,10).

Os prazos de análise são os mesmos das modalidades anteriores. Há possibilidade de

afastamento para o período sanduíche, assim como, solicitar reserva técnica e auxílio-

instalação, além de desenvolver potencial para pesquisador da mesma forma que os pré-

requisitos do orientador e a obrigatoriedade de relatório científico anual.

3.3.2 Mapeamento das pesquisas de Doutorado e Doutorado Direto (1993-2016)

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Em função da baixa representatividade das bolsas do Doutorado Direto, optamos por

juntar esta categoria ao Doutorado, neste tópico, que se refere a dois períodos de tempo

distintos. Os dados das pesquisas de Doutorado correspondem a 25 anos, entre 1992 e 2016, ao

passo que o Doutorado Direto começou anos depois com registros de pesquisas apoiadas que

vão de 2007 a 2016. A baixa procura pelo Doutorado Direto não é uma condição excepcional

de fomento porque a sua adesão é praticamente inócua na formação das pós-graduação. São

pouco os casos, pois, a maioria dos estudantes de Pós-Graduação prefere cursar o Mestrado.

Por maior representatividade, começamos a demonstração dos dados das pesquisas de

Doutorado. As bolsas para este estágio da formação do pesquisador totalizam 68 e dentro do

montante de 583 bolsas de estudo concedidas no Brasil, sua representatividade é de 11,66%. A

USP, exclusivamente com sua Escola de Comunicações e Artes (ECA), domina o cenário sendo

a instituição onde mais pesquisadores conseguiram esse financiamento. Totalizadas 43

pesquisas financiadas, o que representa 63,23% das bolsas. Em seguida, já no âmbito de

instituição privada, a PUC-SP, com 19 bolsas, e um índice equivalente a 27,94%. Essas 68

bolsas estão todas em universidades (100%) sendo 47 bolsas (69,12%), nas públicas, e 21

(30,88%), nas particulares. Os quadros a seguir ilustram essa distribuição.

QUADRO 24 – Distribuição das 47 Bolsas de Doutorado em Universidades Públicas

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

USP 43 91,49%

UNICAMP 4 8,51%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 25 – Distribuição das 21 Bolsas de Doutorado em Universidades Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

PUC-SP 19 90,48%

METODISTA S.PAULO 2 9,52%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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Chama a atenção a baixa procura pelas Bolsas de Doutorado. Dos 17 Programas

Acadêmicos no Estado de São Paulo, apenas seis não contam com essa etapa de formação do

pesquisador, ou seja, a maioria conta com curso de Doutorado. Parte dessa situação ainda se

deve a programas que não aparecem com solicitações. São os casos de UNIP, ESPM e Anhembi

Morumbi. Ainda não se vê a presença da UNESP Bauru, mas isto é compreensível, pois, seu

Doutorado começou, em 2014, e se houve solicitação de fomento, a bolsa está sendo concluída,

em 2018, no momento que coincide com a finalização desta pesquisa.

Os pesquisadores contemplados, com essas bolsas, estão em três cidades do estado: São

Paulo, São Bernardo do Campo e Campinas, sendo que a capital paulista foi a região mais

beneficiada pela concessão dos fomentos.

QUADRO 26 – Localidade das Pesquisas com Bolsas de Doutorado no Estado

LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA

NÚMERO DE

BOLSAS

ÍNDICE

PERCENTUAL

S.PAULO – CAPITAL 62 91,17%

S.PAULO – INTERIOR 4 5,88%

GRANDE SP (ABC) 2 2,95%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Para todas essas bolsas, existem 38 mulheres (55,88%), responsáveis pela orientação

das pesquisas, enquanto os homens são 30 (44,12%). A pesquisadora responsável, que responde

pela orientação das teses e que teve mais bolsas contempladas, foi Maria Lúcia Santaella Braga,

da PUC-SP, com um total de nove. Logo, na sequência, destaque para Ciro Juvenal Rodrigues

Marcondes Filho, da ECA/USP, com cinco bolsas. Curiosamente, esses dois orientadores

conduziram integralmente projetos de orientandos do mesmo gênero deles, ou seja, Lúcia

Santaella só orientou mulheres e Ciro Marcondes Filho só orientou homens. Já, entre os

orientandos, os números mostram que, entre 1992 e 2016, no Doutorado, foram 39 orientandas

(57,35%) e 29 orientandos (42,65%). Dessas 68 bolsas, excluem-se 14, que não mencionaram

seus temas e trabalhos com os beneficiados que informaram em 54 pesquisas (79,41%), 125

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temas. Os mais representativos foram considerados a partir de 1,5% de representatividade no

cenário de todos os temas identificados.

QUADRO 27 – Temas de Pesquisa no Doutorado

TEMAS NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Comunicação Organizacional 3 2,4%

Jornalismo 3 2,4%

Interatividade 2 1,6%

Internet 2 1,6%

Mídia Digital 2 1,6%

Artes 2 1,6%

Contemporaneidade 2 1,6%

Moda 2 1,6%

Design 2 1,6%

Relações Públicas 2 1,6%

Identidade Cultural 2 1,6%

Indústria Cultural 2 1,6%

Televisão 2 1,6%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Além dos temas, conforme vimos acompanhando, também analisamos o uso das

metodologias. Das 68 bolsas concedidas pela FAPESP, 46 (67,65%) não tiveram referência

alguma à adoção metodológica sendo que a minoria, isto é, em 22 bolsas (32,35%), tal

informação foi prestada sendo que sua representatividade foi considerada acima de 5%.

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QUADRO 28 – Metodologias de Pesquisa no Doutorado

TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Pesquisa Bibliográfica 7 31,81%

Pesquisa Documental 4 18,18%

Entrevista 2 9,09%

Semiótica da Cultura 2 9,09%

Estudo de Caso 2 9,09%

Pesquisa de Observação 2 9,09%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Outro dado importante, que faz parte da nossa análise, é a Bibliografia, dado que não é

muito informado. Nas 68 bolsas apoiadas pela FAPESP, 44 (64,7%) não trazem essa

informação, que é importante e dá sinais do percurso teórico pelo qual a pesquisa se sustenta.

Em 24 pesquisas (35,3%), constam autores e, os mais citados, considerando margem superior

a 5% se encontram a seguir.

QUADRO 29 – Referências adotadas nas Pesquisas de Doutorado

AUTOR NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL

Charles S. Peirce 5 20,83%

Michel Foucault 2 8,33%

Vladimir Propp 2 8,33%

Arlindo Machado 2 8,33%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Nas referências bibliográficas, estão listados 69 autores, distribuídos de acordo com suas

nacionalidades no quadro abaixo:

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QUADRO 30 – Nacionalidade dos autores referenciados em Doutorado

NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL

Estrangeiros 55 79,71%

Brasileiros 11 15,94%

Não identificada 3 4,35%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Conforme descrito na abertura deste subcapítulo, em função da pouca representatividade

e por se tratar de uma modalidade de fomento pouco expressiva, o Doutorado Direto aparece,

entre 583 bolsas, em apenas duas (0,34%). Apenas a ECA/USP aparece como beneficiária, o

que obviamente se torna um fomento exclusivo e 100% da capital e também com o mesmo

índice totalitário na conjuntura da universidade pública. São apenas dois pesquisadores

responsáveis homens (Ivan Prado Teixeira e Waldomiro de Castro Santos Vergueiro). O mesmo

acontece com os beneficiários, no caso, os pesquisadores Celbi Vagner Melo Pegoraro e Thiago

Mio Salla. Uma bolsa tem tema informado, a outra não. A que aparece traz como histórico da

pesquisa a História em Quadrinhos, a Animação e a Produção Artística. Nenhuma delas informa

metodologia muito menos autores de referência.

Das primeiras impressões, nota-se que o Doutorado Direto não tem viabilidade e pula

uma etapa importante de contato com a vida acadêmica, que é o Mestrado. Já em relação ao

Doutorado tradicional, nota-se inicialmente que pelos temas apresentados, já há uma maior

preocupação com as atuais tendências de processos ligados à Revolução Digital, quando

aparecem temáticas como Internet e Mídia Digital. Em comparação à Iniciação Científica e ao

Mestrado, mesmo sendo um menor número de pesquisas financiadas, percebe-se menor

fragmentação temática, como ocorria com o Jornalismo e a Comunicação, e uma maior

participação das disciplinas que formam a Área da Comunicação. Em termos metodológicos,

predomina a Pesquisa Bibliográfica. Assim como vem sendo recorrente, a literatura estrangeira

predomina destacando-se a presença de alguns autores latinos dentro de uma concentração

europeia.

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3.4 Bolsas de Pós-Doutorado

O Pós-Doutorado corresponde a uma fase mais avançada da carreira de pesquisador, por

isso, sua proposta é criar condições para a incorporação temporária a grupos de pesquisas ativos,

no estado de São Paulo, de cientistas promissores que tenham obtido o título de doutor, em

prazo inferior a 7 anos, e que sejam aprovados em processo de seleção pela FAPESP. O

proponente deve demonstrar qual contribuição seu trabalho pode dar ao local pretendido de sua

execução. É aconselhável que o pós-doutorado não seja realizado na mesma instituição do

Doutorado. Uma vez apresentado o projeto, o pesquisador responsável justifica a contribuição

da pesquisa proposta além de considerar como a formação prévia do candidato contribui à linha

de pesquisa. Desse modo, o projeto de pesquisa de estágio de pós-doutoramento deve estar

articulado com as atividades do grupo de pesquisa.

As bolsas de Pós-Doutorado incluem uma reserva técnica, com recursos que podem ser

utilizados em estágios de pesquisa no exterior, bem como, a participação em eventos científicos

tanto no Brasil quanto fora. O prazo de duração deste fomento em questão é de dois anos.

Restringe-se a participação daqueles que tenham usufruído de bolsa da própria FAPESP em

modalidade equivalente ao pós-doutoramento; pesquisadores com bolsa vigente e que se

encontram em débito com a entrega do Relatório Científico Final. As renovações podem ocorrer

em alguns casos, entre eles, quando pesquisadores com bolsa vigente entregaram o Relatório

Científico Final dentro do limite de vigência da modalidade e que tenham um plano de trabalho

para o período solicitado. Pedidos de interrupção podem ocorrer por 1 ano com a condição de

que o pesquisador realize estágios ou outras atividades de interesse da pesquisa.

No Pós-Doutorado, a preparação e o desenvolvimento do projeto de pesquisa são de

responsabilidade do Pesquisador Responsável, também chamado de supervisor, que recebe o

bolsista. Essa modalidade de fomento também exige dedicação exclusiva ao projeto de

pesquisa. Este é um dos compromissos que o beneficiário assume no Termo de Outorga com a

FAPESP que prevê as mesmas condições de fomentos anteriores envolvendo o não recebimento

de verbas de outra fonte de financiamento, a não autonomia em mudar o projeto inicial sem o

consentimento da Fundação, a apresentação de relatórios, etc...

Do supervisor, espera-se que ele informe se está pleiteando ou recebendo bolsa ou

auxílio de outras fontes de financiamento para a mesma finalidade da pesquisa apresentada,

além de se comprometer a se inteirar de seus direitos, deveres e obrigações e fazer com que

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todas as publicações decorrentes do projeto de pesquisa explicitem o apoio da FAPESP. Há

uma orientação de que, em casos de artigos publicados em revistas científicas ou técnicas com

revisão dos pares, seja mencionado que opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações

sejam de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente, a opinião da

FAPESP.

Ao solicitar a bolsa de Pós-Doutorado, o proponente precisa apresentar, além de sua

súmula curricular, a súmula do pesquisador responsável, o histórico escolar completo da Pós-

Graduação, certificado de conclusão do doutorado, comprovante de afastamento sem

remuneração ou de demissão para candidatos com vínculo empregatício, declaração inicial de

atividades, assinada pelo supervisor, resumo dos resultados obtidos em processos anteriores

com a FAPESP, projeto de pesquisa, em 20 páginas, com formatação estabelecida apresentando

enunciado do problema, resultados esperados, desafios científicos e tecnológicos, com

respectivos meio e métodos para superá-los, cronograma de execução do projeto, disseminação

e avaliações, outros apoios e bibliografia. Também são exigidos documentos adicionais como

descrição de apoio institucional e infraestrutura que envolve serviços acadêmicos,

administrativos e apoio técnico.

Os critérios avaliados para a concessão são projeto de pesquisa, histórico acadêmico do

candidato e histórico de pesquisa do supervisor. Em relação ao projeto de pesquisa, se observam

a definição e pertinência dos objetivos, importância da contribuição pretendida para a área de

conhecimento, na qual o projeto se insere, fundamentação científica e métodos empregados,

adequação do projeto a um programa de pós-doutorado e análise da viabilidade da execução do

projeto considerando infraestrutura disponível e prazo previsto. Em relação ao histórico

acadêmico, observa-se a adequação da formação do candidato ao projeto proposto bem como a

qualidade e a regularidade de sua produção enquanto pesquisador, o término recente do

doutorado e motivos especiais para o candidato fazer o pós-doc na mesma instituição onde se

doutorou. Em relação ao supervisor, notam-se qualidade, regularidade e importância de sua

produção científica com destaque para o que for mais recente. Considera-se isto, a partir de lista

de publicações em periódicos com seletiva política editorial, livros ou capítulos de livros e

outras atividades. Também se avaliam a experiência e competência na liderança de projetos de

pesquisa, em sua área de atuação, bem como, a capacidade de formar pesquisadores e os

resultados anteriores, obtidos com financiamentos da FAPESP.

Sobre os relatórios científicos exigidos, para bolsas com duração entre 18 e 24 meses, o

Relatório Científico Final deve ser apresentado, no dia 10 do mês seguinte, ao encerramento da

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bolsa. Para prazos menores que 18 meses, também. Relatórios não apresentados implicam na

suspensão da bolsa, o que impede a assinatura de novos Termos de Outorga para auxílios e

bolsas.

3.4.1 Mapeamento das pesquisas de Pós-Doutorado (1998-2016)

Em 18 anos de bolsas concedidas, essa fase, que é um amadurecimento do pesquisador,

representa tímidos 6,18% dos fomentos em um universo de 583 pesquisas apoiadas, ou seja,

são 36 bolsas financiadas. A USP detém o maior número (19), seguida por PUC-SP, com 13,

UFSCAR e UNICAMP, com duas cada. No tocante à distribuição, todas as bolsas estão em

universidades. Desse total, 63,88% estão nas públicas e 36,12% na universidade particular, no

caso, exclusivamente, a PUC-SP.

QUADRO 31 – Distribuição das 38 Bolsas de Pós-Doutorado

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

USP 19 52,78%

PUC-SP 13 36,12%

UFSCAR 2 5,55%

UNICAMP 2 5,55%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Sob esta divisão, as bolsas de Pós-Doutorado foram concedidas para pesquisadores que

estão em São Paulo, São Carlos e Campinas. Das 36 bolsas, 32 ficaram na capital (88,89%) e 4

(11,11%) no interior. Elas foram concedidas a 19 mulheres (52,78%) e 17 homens (47,22%). O

pesquisador, com mais bolsas recebidas na condição de supervisor, foi Ciro Juvenal Rodrigues

Marcondes Filho, da ECA/USP, conforme demonstra o quadro que segue e que se refere aos

supervisores com média de representatividade superior a 5%.

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QUADRO 32 – Supervisores de Pós-Doutorado

SUPERVISOR INSTITUIÇÃO NÚMERO DE

BOLSAS

ÍNDICE

PERCENTUAL

Prof. Dr. Ciro Marcondes

Filho

ECA/USP 4 11,11%

Profa. Dra. Maria Cristina

Castilho Costa

ECA/USP 3 8,33%

Profa. Dra. Ana Claudia Mei PUC-SP 3 8,33%

Prof. Dr. Norval Baitello Jr. PUC-SP 3 8,33%

Profa. Dra. Jerusa de

Carvalho Pires Ferreira

PUC-SP 2 5,55%

Prof. Dr. Samuel José

Holanda de Paiva

UFSCAR 2 5,55%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Desses pesquisadores bolsistas, cinco (13,89%) não informaram os temas de pesquisa,

situação feita por 31 desses pesquisadores (86,11%). No total, foram 69 temas. Considerada

margem superior a 1,5%, temos, em primeiro, o tema Censura (4,34%), mencionado três vezes,

seguido pela Divulgação Científica (2,89%) mencionado duas vezes. Quando são consideradas

as metodologias, a maioria das pesquisas – 23 (63,89%) – também prestou informação enquanto

isso não ocorreu em 13 pesquisas (36,11%). As metodologias foram citadas 38 vezes e, as mais

representativas, são as superiores a 5% na média.

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QUADRO 33 – Metodologias de Pós-Doutorado

TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Pesquisa Documental 8 21,05%

Estudo de Caso 4 10,52%

Análise Fílmica 2 5,26%

Estudo Comparado 2 5,26%

Pesquisa Bibliográfica 2 5,26%

Pesquisa de Observação 2 5,26%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

E quando o assunto é Bibliografia, das 36 bolsas do Pós-Doutorado, em 21 (58,33%),

não há menção aos autores utilizados, sendo esta informação presente apenas em 15 pesquisas

(41,67%). Elas produziram 41 referências que podem aparecer em mais de uma pesquisa.

Considerada a margem superior de 2,5%, os autores mais representativos são Villém Flusser (3

citações – 7,35%) e Hans Belting, J.Greimas, Marshall McLuhan, Eric Landowski e Walter

Benjamin, todos com duas citações cada, e referencial de 4,87%. Todos os autores citados

chegam a 34 nomes e a divisão, por nacionalidade, se encontra no quadro que segue.

QUADRO 34 – Nacionalidade dos autores referenciados em Pós-Doutorado

NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL

Estrangeiros 30 88,24%

Brasileiros 4 11,76%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Considerando as primeiras impressões, verifica-se no estrato de dados, especialmente

em relação aos temas, a interdisciplinaridade com outras Áreas do Conhecimento como

Neurociências, Psicanálise e Psicologia; a fragmentação do tema Comunicação; temas mais

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cotidianos como vida digital, mulheres, futebol, AIDS, infância, ou seja, aborda-se mais

diretamente o aspecto comum da vida das sociedades. Embora, quando passamos ao que é mais

representativo, haja duas frentes de trabalho apenas: a censura e a divulgação cientifica. Em

relação às metodologias, há uma tipificação maior, com destaque para a Pesquisa Documental,

e no tocante à bibliografia, predomínio da literatura estrangeira, com forte influência dos

pensadores europeus bem como autores que transitam pela interdisciplinaridade.

3.5 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no

Brasil

Sobre a produtividade, nas Bolsas de Estudo no Brasil, existe a atração de novos

pesquisadores, o que pode fazer com que os cursos de Graduação também demonstrem e

incentivem que a carreira de pesquisador é uma profissão, dentro da Área, assim como as

habilidades treinadas e desenvolvidas para a inserção dos egressos das faculdades e

universidades no mercado de trabalho.

É patente o predomínio da Universidade Pública na conquista de fomento. Se, por um

lado, reforça o caráter da pesquisa em tempos que esta se encontra sombria, sobretudo, após a

crise político-econômica brasileira, que devastou nosso país de outubro de 2014 em diante, por

outro, há o risco de se compreender, erroneamente, que o fomento FAPESP é algo estritamente

governamental e só seja viável e acessível ao ensino público. Isto demonstra que as instituições

privadas precisam conhecer mais sobre a possibilidade de conseguir fomento. Elas já o fazem,

mas, ainda de forma incipiente. Em algumas instituições, como a Universidade Metodista de

São Paulo, por exemplo, existe, um escritório de apoio55 da FAPESP ao pesquisador, o que

pode ser um facilitador e difusor de que os estudantes possam vir a pleitear muito mais à

Fundação. Ainda sobre a produção, nas instituições, os dados analisados apontam para três

grandes centros de excelência na Área da Comunicação e que aproveitam muito bem o incentivo

da FAPESP à pesquisa: a USP (que se confunde com a história da FAPESP), a PUC-SP (que

percebeu positivamente essa possibilidade de incentivar seu corpo discente aos fomentos da

FAPESP) com larga vantagem em todas as modalidades do fomento; e a UNESP Bauru que se

destaca na Iniciação Científica e no Mestrado. Consideramos centros de excelência as

55 O site da FAPESP informa que também há escritórios de apoio na FAAC UNESP Bauru; UNICAMP; UFSCAR

e ECA/USP. Ver em: https://www.fapesp.br/eaip

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196

instituições que reuniram o maior número de apoios e presença constante na obtenção de

fomentos dentro da nossa amostra. Apesar do campus de Bauru garantir essa força ao interior

paulista, é ainda a capital São Paulo, o destino de quem pretende estudar os temas da

Comunicação de forma mais aprofundada. Todavia, há de se mencionar, de forma honrosa, o

crescimento de São Carlos, com a UFSCAR, e de São Bernardo do Campo, com a Universidade

Metodista, que se alia à tradição de seus 40 anos de pesquisas, completados em 2018, ano em

que concluímos este estudo para a obtenção do título de doutor. Por esse cenário, entende-se

que as instituições do interior de São Paulo precisam se arrojar para pedir bolsas de estudo,

principalmente, do Doutorado em diante, para assim marcarem mais presença na Área.

Na relação orientador/orientando, um contraste em relação ao gênero. Enquanto os

orientadores são predominantemente homens, entre os orientandos, quem mais conseguiu

bolsas de estudo foram mulheres. Isto leva a uma possibilidade de inversão, futuramente, pois,

se as mulheres estão pedindo mais bolsas, pelo menos em nível de FAPESP, há projeção de um

cenário em que, futuramente, e elas se tornem orientadoras de pesquisas, e com isso, ganhem

projeção quando se pensa na categoria de orientadores. Por falar em orientação, é latente que

os professores pesquisadores que orientam, exercem majoritariamente suas atividades de

instruir a formação de novos pesquisadores, na Iniciação Científica e no Mestrado, que

correspondem à base da formação do pesquisador. Há de se considerar o papel de alguns

professores que não necessariamente fazem parte do corpo docente dos cursos de Pós-

Graduação, instância de forte presença da pesquisa, mas que são essenciais para preparar o

terreno fértil aos embriões de pesquisadores.

O Jornalismo predomina entre os temas de pesquisa e isso tem uma justificativa, pois,

muitas vezes, essa disciplina se confunde e se assimila com a própria Comunicação, sendo

inclusive no nosso país, a primeira área de conhecimento na qual se obteve um doutoramento

por meio do trabalho do professor Luís Beltrão. Além disso, foi a motivação inicial das

pesquisas ao longo da história da pesquisa na Área contribuindo assim para sua

institucionalização.

Em relação às metodologias, pode-se dizer que a FAPESP necessita exigir mais em

relação à informação de dados de pesquisa, ou rever a alimentação de seu banco de dados, pois,

algumas vezes não constam menções a respeito da adoção metodológica de pesquisas, que entre

todas as etapas de “Bolsas no Brasil”, se direcionam ao uso recorrente da Pesquisa

Bibliográfica. Concomitantemente a esse assunto, o referencial bibliográfico que mais teve

informações prestadas foi entre os pesquisadores do Mestrado. Essa informação esteve presente

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em 32 pesquisadores totalizando um conjunto de 83 autores. Porém, o que ficou evidenciado, é

que a Área ainda se vale da literatura estrangeira. O predomínio de produções de fora do Brasil

é extenso. O Pós-Doutorado é o tipo de fomento que mais adota a literatura estrangeira sendo

que o fomento, em que se lê mais autores brasileiros, é a Iniciação Científica, uma característica

que faz sentido, já que a maioria de nossas produções se ocupa em debater a complexidade do

campo, conhecimento propício para quem está ingressando na Área.

3.6 Bolsas no Exterior

Os fomentos da FAPESP proporcionam também a realização de pesquisas no Exterior

em cinco modalidades: Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado e Pesquisa.

Esse contato com o exterior viabiliza um intercâmbio de pesquisadores em formação e também

para os que já estão em estágio de pós-doutoramento. Sua realização é durante a pesquisa,

desenvolvida no Brasil, com interrupção autorizada pela Fundação para que o estudante possa

estabelecer essa troca de experiências com grupos de pesquisa estrangeiros. Essa

internacionalização vem produzindo resultados para a FAPESP como um todo. Em reportagem

da Agência FAPESP, em setembro de 2015, sobre a internacionalização da pesquisa paulista,

dados mostram que, entre 2007 e o referido ano, foram assinados 130 acordos de cooperação

internacional. Desse total, existe uma parceria com 136 universidades, institutos de pesquisa e

até empresas de 27 países56. O presidente da FAPESP, nesse período, Celso Lafer, disse, nessa

mesma entrevista, que com a internacionalização, houve uma diplomacia da cooperação

científica e tecnológica com os pesquisadores se tornando stakeholders de um processo de

cooperação. Ele considerou:

A internacionalização oferece aos nossos pesquisadores a geração de amplas

comunidades de conhecimento com as quais eles se inter-relacionam, inclusive em

rede, o que significa abrir novas possibilidades e novos parâmetros de atuação e de

conhecimento. E, diferentemente do que ocorreu no passado, hoje temos uma

internacionalização de duas mãos. Nossos pesquisadores vão para o exterior e

pesquisadores do exterior vêm para cá. É uma troca de conhecimento não apenas

importante, mas fundamental para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia

como um todo.

Formar redes de pesquisa já é preocupação entre pesquisadores da Área da

Comunicação. Na maioria das ocasiões, isto ocorre em projetos com maior demanda, que se

56 Ver em: http://agencia.fapesp.br/fapesp_e_a_internacionalizacao_da_pesquisa_paulista/21833/

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ocupam de estudar uma realidade, a partir de várias experiências em lugares distintos. E, para

chegar a isso, muito depende da Comunicação, em seu sentido de troca, afinal, quando

publicamos ou participamos de eventos científicos, estamos mostrando o que produzimos, e

logo, disponibilizando isso para outras fronteiras geográficas e disciplinares caracterizando a

divulgação científica. Nessa relação dos beneficiários da FAPESP com pesquisadores

estrangeiros, cabe ao supervisor, identificar um grupo de pesquisa, fora do Brasil, para a

realização do estágio de pesquisa de seu orientando que terá também a anuência de outro

pesquisador anfitrião que abriga o candidato, no período determinado, para os estudos. Esse

aceite não impõe custos adicionais à FAPESP, que responde aos encargos da bolsa.

O tempo de duração das Bolsas no Exterior varia de um mês a um ano. A ida para o

exterior é considerada um estágio e cada modalidade tem suas peculiaridades. Na Iniciação

Científica, o estágio no exterior deve ser realizado, a partir do sexto mês de vigência do

fomento, e o tempo para ficar fora do Brasil é de no máximo quatro meses. O bolsista já deve

ter concluído um número suficiente de disciplinas relevantes para o projeto. Já, no Mestrado,

os bolsistas vão para o exterior, a partir do primeiro ano cursado da pós-graduação, e devem

ficar lá, no máximo, um semestre. Quando o aluno tiver concluído todas as disciplinas

obrigatórias, no respectivo Programa, a FAPESP pode analisar solicitações para usufruir o

estágio antes do cumprimento de todos os créditos com justificativa circunstanciada. Para o

Doutorado Direto, a possibilidade de início para embarque ao exterior é o mesmo do Mestrado,

porém, a permanência por lá sobe, para no máximo, um ano. Regras semelhantes valem para o

Doutorado convencional. No Pós-Doutorado, a permanência fora do Brasil também é por um

ano no máximo e a saída para o país escolhido é feita no sexto mês de vigência da bolsa.

Os pesquisadores que vão para o exterior recebem em Reais pela cotação do Banco

Central na data anterior ao pagamento. Fora do país, o bolsista é bancado por manutenção

mensal, despesas de transporte (passagem aérea em classe promocional ou no máximo em

classe econômica), seguro saúde e auxílio instalação. Não são financiadas taxas escolares, taxas

de bancada e benefícios para dependentes. As possibilidades para onde os bolsistas podem ir e

seus respectivos valores financiados57 são categorizadas e envolvem como destinos: África

(Angola e demais países), Américas (EUA, Canadá, Venezuela e demais países), Ásia (China,

Cingapura, Coreia do Sul, Japão, Timor Leste e demais países), Oriente Médio (Israel e demais

57 Ver em: http://www.fapesp.br/7798

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países), Europa (Alemanha, Áustria, França, Holanda, Irlanda, Itália, Noruega, Suécia, Reino

Unido, Suíça e demais países) e Oceania (Austrália, Nova Zelândia e demais países).

Para o estágio no exterior, os candidatos precisam ter bolsa vigente da FAPESP em

Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado, além das

obrigações de relatórios científicos, prestação de contas e parecer de assessoria em dia bem

como proficiência na língua do país onde esse candidato vai realizar seu estágio de pesquisa ou

ser proficiente, em Inglês, mediante comprovação do supervisor da bolsa no Brasil. Em solo

estrangeiro, o pesquisador deve ter dedicação exclusiva à pesquisa, além de outros trâmites

parecidos, e já citados, no que diz respeito às exigências da Fundação, além de ser de sua

responsabilidade, a obtenção de visto do país onde vai ser realizado o estudo.

Por outro lado, o supervisor é responsável pelas comunicações com o supervisor do

bolsista no exterior e por fazer esse acompanhamento à distância em relação ao

desenvolvimento do estágio de pesquisa. A FAPESP só tem conhecimento disso ao receber do

supervisor os formulários correspondentes para a comprovação desse período fora do Brasil.

Nenhuma mudança no projeto pode ser feita sem consulta à Fundação, que também nesta

modalidade, exige que seu apoio seja referenciado nas atividades divulgadas.

Para Bolsas de Estágio no Exterior, cumpridas em países francófonos, toda a

documentação pode ser enviada em francês. Na Espanha e países da América Latina, que

adotem o espanhol como língua oficial, os documentos também podem ser apresentados neste

idioma. Em Portugal e outros países lusófonos, valem os documentos em Língua Portuguesa.

Porém, há alguns documentos exigidos em Inglês como projeto de pesquisa em 10 páginas;

resumo do projeto de pesquisa principal referente à bolsa no país; descrição dos ganhos

acadêmicos esperados para o projeto em decorrência do estágio no exterior; justificativa para a

escolha do local do estágio de pesquisa demonstrando sua singularidade e especificidade;

Curriculum Vitae do pesquisador; Declaração do Pesquisador com o qual se realizará o estágio

de pesquisa no exterior que comprove o seu aceite e que concorde emitir um Relatório

Científico Final sobre o estágio e o parecer sobre o mérito científico do pesquisador que realizou

o estágio. Também precisam ser apresentados, mas não em Inglês, uma declaração formal do

supervisor brasileiro, atestando a proficiência de seu bolsista; o histórico escolar atualizado; a

súmula curricular, no caso de Pós-Doutorado, apenas; declaração de compromisso de retorno

ao Brasil; carta da instituição estrangeira aceitando o pesquisador brasileiro e declaração do

dirigente da instituição brasileira informando e autorizando o afastamento das atividades por

período determinado em seu programa de origem.

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200

Por parte da FAPESP, leva-se em consideração do pesquisador, a qualidade de seu

projeto de pesquisa em território brasileiro e a sua aplicação no exterior, os relatórios científicos

de bolsas obtidas no Brasil, qualidade da instituição escolhida para o estágio visitante, histórico

escolar (menos para bolsistas de Pós-Doutorado) e súmula curricular do proponente em casos

de Pós-Doutorado. Ao final do estágio, o contemplado tem até o dia 30, do mês subsequente,

para entregar um relatório científico em Inglês58.

3.6.1 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Iniciação Científica (2012-2016)

As bolsas de estágio para Iniciação Científica, no exterior, começaram em 2012,

portanto nesta pesquisa, temos um período de quatro anos em análise. Vale registrar que essa

internacionalização da pesquisa começa, lá em 1996, quando brasileiros partiram para o exterior

executar parte de seus projetos apoiados pela FAPESP. Quando pensamos, no contexto geral,

podemos dizer que somados Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado e

Bolsas para Pesquisa, foram concedidas 82 bolsas. Desse total, 14 destinadas à Iniciação

Científica, o que representa 17,07%. E todas essas bolsas foram concedidas à UNESP, com sua

FAAC, que se tornou, então, a única representante do estado nessa modalidade. Seus

pesquisadores cumpriram estágio nos países relacionados no quadro a seguir onde se

demonstram, majoritariamente, a força da Europa e a aparição da América Latina. Curioso

destacar que, na Espanha, o país preferido, seis bolsas foram para uma mesma instituição: a

Universidade de Sevilla.

58 Também podem ser apresentados de acordo com o idioma predominante do país onde foi realizado o estágio

de pesquisa.

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201

QUADRO 35 – Distribuição das 14 Bolsas Exterior no Estágio Iniciação Científica

PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

Espanha 8 57,15%

Chile 2 14,29%

Argentina 1 7,14%

Inglaterra 1 7,14%

Portugal 1 7,14%

Alemanha 1 7,14%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Sobre os orientadores, só podem ser considerados Iniciação Científica, Mestrado,

Doutorado e Pós-Doutorado. Essa inferência não se aplica à Bolsa Pesquisa porque esta é uma

demanda solicitada, pelos próprios pesquisadores, que terão um anfitrião como supervisor no

exterior. Considerando isto, temos então, 34 bolsas que nos permitem analisar os dados sobre

o professor orientador (pesquisador responsável) e o seu gênero. Dessas 34 bolsas gerais, 20

foram destinadas a professores (58,82%) e 14 para professoras (41,18%). Quando consideramos

apenas a Iniciação Científica, temos 14 bolsas com 9 professoras (64,29%) e 5 professores

(35,71%). As professoras que mais orientaram foram Célia Maria Retz Godoy dos Santos e

Raquel Cabral, com três pesquisas cada. Evidentemente elas são da UNESP Bauru, única

instituição detentora dessas bolsas no período analisado. Ambas atuam na Pós-Graduação. A

professora Célia, no Mestrado Profissional em Mídia e Tecnologia, e a professora Raquel, no

Mestrado e Doutorado em Comunicação.

Sobre os orientandos, também são considerados apenas os beneficiários da Iniciação

Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado. Analisando o universo da Iniciação

Científica são 14 bolsistas, com 9 mulheres (64,29%) e 5 homens (35,71%). Como dito

anteriormente, esses pesquisadores vão ao exterior, por um período da bolsa, onde têm um

supervisor que se torna responsável pelo acompanhamento da pesquisa fora do Brasil. Por isso,

considerar o supervisor no exterior, e seu gênero, é uma das categorias de análise. Quando se

fala em supervisor, isto vale para todos os tipos de auxílio no exterior, pois, se na Bolsa Pesquisa

não existe a figura do orientador, que majoritariamente é o próprio “professor-aluno”, este

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202

também precisa ter um supervisor internacional. Assim, entre 82 bolsas, 63 homens são

supervisores (76,83%) enquanto as mulheres totalizam 19 (23,17%). Afunilando a análise para

a Iniciação Científica, das 14 bolsas, estamos falando de uma divisão rigorosamente igualitária.

Sete pesquisadores são supervisionados por sete homens e sete pesquisadoras são orientadas

por sete mulheres. Esses 14 bolsistas da Iniciação Científica fizeram menções a 32 temas sendo

os mais representativos aqueles que superaram a média de 5% conforme mostra o próximo

quadro.

QUADRO 36 – Distribuição dos 32 temas das 14 Pesquisas Estágio Iniciação Científica no

Exterior

TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Jornalismo 3 9,37%

Relações Públicas 3 9,37%

Opinião Pública 2 6,25%

Internet 2 6,25%

América Latina 2 6,25%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Entre as metodologias, de 14 pesquisas, 13 informaram suas estratégias metodológicas

sendo consideradas as mais representativas aquelas que, na média, ultrapassaram os 10%.

Assim, a Entrevista em Profundidade, abordada em três pesquisas, tem 23,07% e a Pesquisa

Bibliográfica, com duas pesquisas, 15,38%.

Em relação aos autores utilizados, como aporte teórico, nas 14 pesquisas da Iniciação

Científica, foram citados nove autores: Vicente Gosciola, Nelson Traquina, Robert Mckee,

Lorenzo Vilches, Denis Porto Renó, Sérgio Puccini, Doc Comparato, Henry Jenkins e Jesús

Flores. A representatividade da nacionalidade deles está no quadro que segue.

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203

QUADRO 37 – Nacionalidade dos autores referenciados em Bolsa Exterior Iniciação

Científica

NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL

Estrangeiros 7 77,78%

Brasileiros 2 22,22%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

3.6.2 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Mestrado (2013-2016)

Essa história reconstruída, que ajuda a formar a memória da Área de Comunicação, no

estado de São Paulo, a partir da FAPESP, se refere neste tipo de categoria de fomento a 3anos

de análise. Pouco tempo de oferta, pequeno também o número de bolsas concedidas. Foram

oito no total, em média, duas por ano. Essas oito bolsas representam 9,76% do total de fomentos

concedidos para Bolsas no Exterior.

Os pesquisadores que solicitaram estão em três cidades: São Paulo, Bauru e São Carlos,

o que percentualmente, se demonstra com 7 bolsas (87,5%) destinadas ao interior e apenas uma

(12,5%) à Capital. Tais bolsas foram destinadas às seguintes universidades públicas:

QUADRO 38 – Distribuição das 8 Bolsas Exterior em Mestrado para Universidades

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

UNESP 5 62,5%

UFSCAR 2 25%

USP 1 12,5%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

A América do Norte e a Europa são os continentes para onde esses pesquisadores foram

fazer seus estágios, no período em que a bolsa prevê estadia fora do Brasil. Os EUA estão na

liderança porque as pesquisas realizadas têm, em sua maioria, ligações com aquele país, já que

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204

os bolsistas estudaram a radiodifusão internacional a partir do caso da Voice of America59, e

também, casos de democracia comparada com o Brasil. O destino desses pesquisadores está

demonstrado no quadro que segue:

QUADRO 39 – Países das 8 Bolsas Exterior em Mestrado

PAÍS NÚMERO DE PESQUISADORES ÍNDICE PERCENTUAL

EUA 3 37,5%

França 2 25%

Espanha 1 12,5%

Portugal 1 12,5%

Canadá 1 12,5%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

No Mestrado, há um total de 8 orientadores divididos entre 6 homens (75%) e 2

mulheres (25%). Todos os orientadores aparecem em apenas um projeto, o que leva a afirmar

que pelos números totalizados desta fase de pesquisa, há um professor responsável para cada

bolsa concedida. Esses professores trabalharam com 5 mulheres (62,5%) e 3 homens (37,5%),

como orientandos. No exterior, todas essas pesquisas foram acompanhadas por 5 supervisores

(62,5%) e 3 supervisoras (37,5%). Dessa relação, surgiram 23 temas e todos foram informados,

nas pesquisas apoiadas, sendo que citando aqueles, com média superior a 5%, aparecem o

Cinema e a Comunicação Pública com representatividade de 8,7% cada em duas menções.

Na adoção de metodologias, das oito bolsas, 5 informaram seus métodos de trabalho

(62,5%). Entre eles, aparecem a Pesquisa Bibliográfica em quatro estudos (80%) e o Estudo de

Caso (20%). Os aportes teóricos, sustentados nessas pesquisas, passam por autores

mencionados em seis das oito pesquisas que receberam bolsas. Apenas dois autores são citados:

Jürgen Habbermas e Nancy Fraser. Porém, ambos são estrangeiros e denotam mais uma vez o

59 Serviço de radiodifusão internacional financiado pelo Governo dos Estados Unidos.

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205

alto interesse pela bibliografia internacional, uma condição praticamente consolidada na

atividade de pesquisa da Área.

3.6.3 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Doutorado (2012-2015)

O período de concessão das bolsas ao Doutorado no Exterior também é recente e

envolve três anos (2012-2015). Em tão pouco tempo, registra-se uma baixa oferta sendo que foi

um total de cinco bolsas (6,10% do montante geral), das quais, quatro foram para a ECA/USP

(80%) e uma para a Faculdade de Educação da UNICAMP (20%). Obviamente, em relação às

cidades, os fomentos estão em São Paulo e Campinas. Esses dados demonstram que

praticamente foi concedida uma bolsa por ano. A Europa predominou como destino de

realização da pesquisa conforme demonstra o quadro abaixo.

QUADRO 40 – Países das 5 Bolsas Exterior em Doutorado

PAÍS NÚMERO DE PESQUISADORES ÍNDICE PERCENTUAL

Inglaterra 2 40%

França 1 20%

Itália 1 20%

Espanha 1 20%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Em relação aos orientadores, são três mulheres (60%) e dois homens (40%) à frente das

pesquisas conduzindo seus estudantes, sendo que entre estes, há quatro mulheres (80%) e um

homem (20%). Já, entre os supervisores no exterior, dos cinco, a tarefa está nas mãos de três

homens (60%) e duas mulheres (40%). Juntos, nessa relação orientador/orientando, os

pesquisadores conseguiram gerar 12 temas às pesquisas sendo que sempre há menção a um

tema diferente e despontando temáticas mais contemporâneas como Internet, Interatividade,

Digitalização, Televisão Digital, Mídia Digital e Fãs. Quando o assunto é Metodologia, das

cinco bolsas, quatro não informaram (80%), enquanto, apenas uma (20%) trouxe informação

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206

que é a Análise de Discurso como recurso metodológico. Sobre bibliografia, pouca

representatividade também. Apenas uma pesquisa informou e o autor mencionado é o

canadense Marshall McLuhan, o que acaba fazendo sentido na relação com os temas, uma vez

que o autor trabalhou as principais questões tecnológicas transformadoras da Comunicação sem

mesmo vivenciá-las.

3.6.4 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Pós-Doutorado (2012-2016)

O Pós-Doc também representa muito pouco mesmo em função do curto período de

tempo (2012-2016) em relação às concessões de fomento. São sete bolsas no total, o que

representa 8,54% da categoria Bolsas no Exterior. Dessas sete bolsas, seis estão na USP

(85,71%) e uma (14,29%), na PUC-SP, o que também revela que apenas a capital paulista teve

acesso a esse benefício com uma média praticamente de uma bolsa por ano. A Europa e a

América do Norte aparecem entre os destinos dos pesquisadores, como ilustra o quadro abaixo.

QUADRO 41 – Países das 7 Bolsas Exterior em Pós-Doutorado

PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

EUA 2 28,58%

Canadá 2 28,58%

França 1 14,28%

Inglaterra 1 14,28%

Alemanha 1 14,28%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

O professor Ciro Marcondes Filho, da ECA/USP, é quem mais supervisionou pesquisas

de Pós-Doc. Foram quatro no total. Aliás, infere-se que diante do mapa de países, os orientandos

do referido professor foram discutir a Filosofia dos Meios, majoritariamente, na Europa, o que

coincide de certo modo com as origens da Teoria Crítica naquela continente. Inclusive, uma

das pesquisas se propunha a trabalhar por uma Teoria Negativa da Comunicação, ou seja,

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207

percebem-se hipoteticamente afinidades com os conceitos mais reflexivos das práticas

comunicacionais sob a herança da Indústria Cultural. Retomando a categoria dos orientadores,

em relação aos outros nomes, mostra-se o total predomínio dos homens na condição de

supervisores. Situação que se altera, quando analisamos os beneficiários, ou seja, os

orientandos. Quatro deles são mulheres (57,14%), enquanto três são homens (42,86%). Entre

os sete supervisores, cinco são homens (71,43%) e duas são mulheres (28,57%).

Quando são abordados os temas, seis das sete bolsas fizeram menções que resultaram

na identificação de 16 temas que também demonstram assuntos mais contemporâneos como

Redes Sociais e Internet, além de muitas questões ligadas à Filosofia da Comunicação.

Alteridade e Filosofia, por exemplo, aparecem duas vezes cada e representam 12,5% dos temas.

Esses temas decorrem de pesquisas que recorreram a metodologias, porém, este dado foi pouco

informado. Apenas uma (14,28%) de sete bolsas informou sua opção metodológica que foi a

Pesquisa Exploratória. E, em relação às bibliografias, três pesquisas (42,86%) trazem os nomes

de autores utilizados. Desses três, um brasileiro aparece duas vezes: Ciro Marcondes Filho

(66,67%), o que é justificável porque ao liderar essa modalidade de fomento pelo qual se dedica

a produzir uma Nova Teoria da Comunicação, seus orientandos o colocam naturalmente como

referencial bibliográfico muito em função do ineditismo do tema. Já o estrangeiro citado é Hans

Belting (33,33%). Nesta modalidade, é possível afirmar que o grupo da USP, do professor Ciro

e equipe, abastece o fluxo circulatório das discussões a respeito da Comunicação.

3.6.5 Mapeamento de Bolsa Estágio Pesquisa (1996-2016)

O interesse de pesquisadores em irem ao exterior é mais antigo, tanto que há mais

registros de bolsas concedidas, quando a categoria é a Bolsa Pesquisa. O próprio período

observado de fomentos concedidos aumenta. É de 20 anos com 48 bolsas que representam

58,53% do fomento ao exterior. A metade dessas bolsas foi para universidades públicas, sendo

a outra metade, dividida entre universidades e faculdades particulares conforme visualizado nos

quadros a seguir.

QUADRO 42 – Distribuição das 24 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades Públicas

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

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USP 20 83,33%

UNESP 3 12,5%

UNICAMP 1 4,17%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 43 – Distribuição das 20 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades

Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

PUC-SP 9 45%

UNIP 6 30%

METODISTA S.PAULO 2 10%

UNISO 2 10%

USCS 1 5%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 44 – Distribuição das 4 Bolsas de Pesquisa Exterior para Faculdades Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

ESPM 3 75%

CÁSPER LÍBERO 1 25%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Sobre os destinos procurados, o quadro abaixo sinaliza a forte presença da Europa.

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QUADRO 45 – Países das 48 Bolsas de Pesquisa Exterior

PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

França 10 20,84%

Alemanha 9 18,75%

Portugal 8 16,67%

Espanha 7 14,59%

EUA 5 10,41%

Inglaterra 5 10,41%

Itália 2 4,17%

Canadá 1 2,08%

Irlanda 1 2,08%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Ao inferirmos, pela Análise de Conteúdo, os números mais representativos em relação

aos destinos dos pesquisadores, interpreta-se que a França lidera por conta de estudos

realizados, na Université de Sorbonne, que garante grande relevância curricular. Também foi

flagrante um caso de atualização teórica em uma Área de Conhecimento aplicada à

Comunicação, inclusive, com linha de pesquisa na USP, que é o caso da Ergologia nas relações

entre Comunicação e Trabalho. Em Portugal, os números se justificam pela escola da

Universidade Nova Lisboa e por alguns estudos comparados além do elemento mais facilitador

entre os dois países que é a Língua Portuguesa como idioma comum. Em relação à Alemanha,

todos os pesquisadores paulistas que trabalham com a Semiótica, seja ela peirceana ou na

perspectiva da imagem, fazem estágio nesse país. Além disso, houve um projeto de pesquisa

extenso para a importação dos arquivos escritos de Villém Flusser para São Paulo. E a Espanha

entra no roteiro em função de estudos comparados. Os EUA aparecem atrás e os estudos estão

mais centrados em atualização digital, em um dos berços dos estudos de Jornalismo: a

Universidade de Columbia, em Nova York.

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Nessas universidades e faculdades apresentadas, mais os países escolhidos, os homens

são maioria, pois, 27 (56,25%) pediram auxílio para irem ao exterior enquanto 21 mulheres

(43,75%) solicitaram uma viagem para fora do Brasil. No quadro a seguir, mostramos os

pesquisadores mais representativos em ambos os sexos que fizeram mais de uma solicitação.

QUADRO 46 – Solicitação de Pesquisadores para Bolsa Pesquisa no Exterior

PESQUISADOR NÚMERO DE

SOLICITAÇÕES

ÍNDICE

PERCENTUAL

Profa. Dra. Lúcia Santaella 3 6,25%

Profa. Dra. Sandra Reimão 3 6,25%

Prof. Dr. Antonio Adami 2 4,16%

Prof. Dr. Norval Baitello

Jr.

2 4,16%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Entre esses pesquisadores apontados, vale dizer que aparece um ex-coordenador da CHS

II da FAPESP, o Prof. Dr. Norval Baitello Júnior. Por outro lado, entre os 48 supervisores no

exterior, 43 são homens (89,58%) e 5 mulheres (10,42%). Quem mais recebeu brasileiros,

dentre eles, foi Winfried Maximillian Nöth, em cinco ocasiões (10,41%), seguido por Francisco

Rui Nunes Cádima, Francisco Nena Caballero, Manuel Ángel Fernandez Sande e Siegfried

Zielinski, com duas pesquisas cada (4,16%).

Em relação aos temas, seis deles apontados estavam em classificação errada, 12 não

foram informados e 30 trazem o tema trabalhado (62,5%) passando pelo Jornalismo, Meios de

Comunicação, além dos contemporâneos Ciberespaço, Hipermídia, Jogos Eletrônicos,

Tecnologia Educacional, Redes Sociais, e outros, como Política e Censura. Quantitativamente,

o mais citado foi a Fotografia em quatro pesquisas (13,33%), seguida por Digitalização e Meios

de Comunicação em 3 pesquisas (10%).

Sobre Metodologia, 19 bolsas, entre 48, informaram suas abordagens, o que representa

39,58%. O Estudo Comparado foi o que mais apareceu com quatro pesquisas (21,05%), seguida

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211

pela Análise de Discurso em três pesquisas (15,79%). Análise de Conteúdo, Pesquisa

Bibliográfica e Pesquisa Teórica são utilizadas em duas pesquisas (10,52%). E quando a

questão é a bibliografia, das 48 pesquisas apoiadas, 12 trazem essa informação, um percentual

representativo de 25%. O autor mais citado foi Villém Flusser, em três pesquisas (25%) sendo

todos os demais autores citados apenas uma vez. Quando buscamos como referência os nomes

completos de autores citados, encontramos 34 nomes sendo 32 estrangeiros (94,12%) e 2

brasileiros (5,88%).

3.6.6 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no

Exterior

As “Bolsas no Exterior” compõem um tipo de fomento recente, com muito espaço a

explorar pelos pesquisadores, o que denota que por meio da FAPESP, seja possível ampliar a

participação da pesquisa brasileira, no cenário internacional. Também por conta desse pequeno

espaço de tempo, já dentro do século XXI, encontra-se atravessada a primeira passagem secular

dos estudos em Comunicação, que coincide com a presença mais marcante da digitalização em

nossas vidas com fenômenos emergentes para serem analisados e que propiciam novas

experiências pela Comunicação, particularmente, aos mais jovens. O público que busca essa

vaga, no Exterior, é o de professores pesquisadores que já orientam trabalhos e que, de alguma

forma, propiciam esse intercâmbio na Área. Aqui também se destaca o trabalho da UNESP

Bauru nas fases iniciais dos pesquisadores – Iniciação Científica e Mestrado – posto assumido,

do Doutorado em diante, pela USP. Na Bolsa Pesquisa, há de se destacar, mais uma vez, a

participação da PUC-SP e a expressiva participação da UNIP.

Em termos de professores que orientam, a maioria é homem tanto no Brasil quanto fora

dele, no cargo de supervisão. A Europa tem ligeira vantagem na preferência de destino dos

bolsistas. Depois, aparecem os EUA. Na Iniciação Cientifica, Jornalismo e Relações Públicas

são as principais temáticas de estudo com aparição da Internet e a estratégia metodológica da

Entrevista em Profundidade. Já, no Mestrado, os temas de pesquisa ficam entre Cinema e

Comunicação Pública, tendo como metodologia em destaque, a Pesquisa Bibliográfica. No

Doutorado, já aparecem temáticas mais modernas, assim como no Pós-Doutorado e nas Bolsas

Pesquisa. Inclusive, no Pós-Doc, existem preocupações de pesquisa com as questões filosóficas

da Comunicação. No Doutorado, a metodologia mais utilizada foi a Análise de Discurso,

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212

enquanto no Pós-Doutorado, foi a Pesquisa Exploratória e, nas Pesquisas, o Estudo Comparado

que se justifica porque muitos professores pesquisadores acabam importando teorias para

aplicá-las em seus contextos de trabalho. Uma característica bastante pertinente disto é a adoção

de literatura estrangeira que se torna mais fácil de importar por conta dessa vivência no Exterior.

Uma situação em particular de verificação de tendência é quando se nota o Canadá entre

destinos de pesquisadores. O país é o berço de McLuhan, o pesquisador que anteviu os feitos

que a tecnologia proporcionaria, sem mesmo conhecê-la. Mas, sobre a condição literária, há um

fator curioso, entre os fomentos de Pós-Doc, com o Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho que traz

um alento ao Brasil colocando a literatura científica do país, na liderança, o que conforme já

analisado, se justifica pela participação dos orientandos dele na maior parte dos fomentos

concedidos. Este fator, somado à pequena proporção de bolsas, comparando ao que se financia

no Brasil, sinaliza para uma tendência, em particular, que é o estudo da Filosofia da

Comunicação. Considerando tal prática, é possível que outras instâncias promovam o mesmo

e, de alguma forma, valorizem a produção teórica brasileira que certamente tem muito a

contribuir com a Área.

3.7 Auxílio à Pesquisa - Regular

Esta modalidade de financiamento é para pesquisas individuais, que são de

responsabilidade de um Pesquisador Responsável, com título de doutor, vinculado a uma

instituição de ensino superior paulista, sendo ela, pública ou privada. Em geral, o custeio não

pode exceder 200 mil reais. Esse dinheiro é disponibilizado para a compra de equipamentos e

material permanente, material de consumo, participação do pesquisador em conferências

científicas, além de serviços de terceiros e bolsas de treinamento técnico. A duração da verba é

de dois anos com possibilidade de prorrogação por mais seis meses. O prazo médio, para

aprovação do financiamento à pesquisa, é de 75 dias. Até 2013, quando pouco mais de três mil

projetos foram apresentados, a FAPESP levou 107 dias para dar o aval ou não, por isso, a

Fundação sugere, aos postulantes do Auxílio, que os projetos sejam enviados seis meses antes

para a posterior resposta final dos pareceristas ad hoc.

O projeto de pesquisa deve ser apresentado, em 20 páginas, seguindo as normas da

ABNT e, em seu conteúdo, é necessário constar o enunciado do problema; os resultados

esperados; os desafios científicos e tecnológicos com a evidência de meios e métodos para

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superá-los; o cronograma de execução; a disseminação e avaliação; bibliografia e três

orçamentos. Isso que a FAPESP considera como “Proposta” é avaliado em três dimensões:

histórico acadêmico do solicitante, o projeto de pesquisa e orçamento solicitado.

O Pesquisador Responsável (PR) assume a preparação, submissão da proposta e

coordenação científico-administrativa do projeto. Já o Pesquisador Principal (PP) é designado

pelo PR – pode ser mais de um – e pode receber benefícios complementares da FAPESP. Há

também o Pesquisador Associado (PA), que contribui com partes do projeto de pesquisa

financiado. O PR deve estar, em dia, com a FAPESP na emissão de pareceres, devolução de

processo, entrega de relatório científico e prestação de contas. Se um desses itens não estiver

atualizado, ele corre o risco de ter a verba para o desenvolvimento da pesquisa bloqueada. Cabe

ao PR também informar se está pleiteando ou recebendo auxílio financeiro de outra fonte de

financiamento. Tudo que for relativo à pesquisa deve ter referência do apoio da FAPESP, em

todas as formas de divulgação. Como beneficiário, o PR também se torna um assessor para

analisar projetos de acordo com solicitação da Fundação. Ele não pode efetuar despesas, fora

do período de vigência do financiamento, nem realizar modificações no projeto aprovado pela

FAPESP sem o consentimento da instituição. Recursos também não podem ser aplicados para

outras finalidades que não os predispostos. Proibida também a contratação de serviços com

quem o PR mantenha negócios, dívidas ou créditos. Todo o orçamento, para o projeto de

pesquisa, deve ser devidamente detalhado.

Para que esse trabalho flua, a Instituição-Sede deve ter ciência das necessidades

estruturais que o projeto demanda, pois assim, garante ao pesquisador e seu grupo de trabalho,

o apoio institucional necessário. Isso envolve espaço físico para instalação e manejo de

equipamentos, uso de laboratórios, rede de computadores, biblioteca, base de dados, serviços

administrativos, etc... Os custos de infraestrutura direta do projeto recebem 15% do valor total

da verba. Já o repasse para a infraestrutura institucional é de 10%. A análise do orçamento

envolve realmente a questão financeira e a necessidade do custeio para o que se pretende

realizar como pesquisa. Esta, por sua vez, é analisada no contexto de sua definição e pertinência

dos objetivos; a contribuição pretendida para a área do conhecimento na qual o projeto está

inserido; fundamentação científica e adequação dos métodos empregados; adequação de prazo

e infraestrutura; envolvimento de estudantes de Iniciação Científica e Pós-Graduação; Bolsas

de Treinamento Técnico; participação em reuniões científicas no Brasil e no Exterior.

Em relação ao proponente, a FAPESP leva em conta sua qualidade e regularidade de

produção científica em periódicos com seletiva política editorial; livros ou capítulos de livros;

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patentes em que figure como inventor; propriedade intelectual; utilização de seus resultados de

pesquisa por parte de governos ou empresas e outras informações relevantes. Também são

avaliadas a experiência em liderança de projetos de pesquisa, relacionados ao tema proposto;

capacidade para formar pesquisadores, ou seja, a sua atividade de orientação de estudantes;

outros resultados obtidos junto à FAPESP e sua súmula curricular como um todo.

3.7.1 Mapeamento de Auxílio à Pesquisa Regular (1993-2016)

Os auxílios regulares aparecem como uma prática antiga. O nosso levantamento, junto

à Biblioteca Virtual da FAPESP, mostra que, entre 1993 e 2016, foram 71 solicitações que estão

demonstradas a seguir.

QUADRO 47 – Solicitação de Instituições a Auxílios Regulares de Pesquisa

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

USP 35 49,29%

UNISO 9 12,67%

UNICAMP 8 11.27%

UNESP 5 7,04%

USCS 4 5,63%

METODISTA S.PAULO 3 4,23%

PUC-SP 3 4,23%

UFSCAR 1 1,41%

ESPM 1 1,41%

MACKENZIE 1 1,41%

UNIP 1 1,41%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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Desse total, 49 auxílios (69,01%), foram solicitados por pesquisadores de universidades

públicas, distribuídas entre a USP (35 auxílios – 71,43%); UNICAMP (8 auxílios – 16,33%);

UNESP (5 auxílios – 10,2%) e UFSCAR (1 auxílio – 2,04%). Já para as universidades

particulares, foram 21 auxílios (29.58%) tendo a UNISO (9 auxílios – 42,86%); USCS (4

auxílios – 19,04%); PUC-SP e Metodista (3 auxílios cada – 14,28%), UNIP (1 auxílio – 4.77%)

e Mackenzie (1 auxílio – 4.77%). Já para as faculdades particulares, foi apenas um auxílio

(1,41%) à ESPM (100%). Todo esse montante de dados está dividido entre oito cidades: São

Paulo, São Carlos, Campinas, Bauru, Tupã, Sorocaba, São Bernardo do Campo e São Caetano

do Sul. O quadro que segue mostra a representatividade por região.

QUADRO 48 – Localidade dos Auxílios Regulares no Estado

LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA

NÚMERO DE

BOLSAS

ÍNDICE

PERCENTUAL

S.PAULO – CAPITAL 41 57,75%

S.PAULO – INTERIOR 23 32,4%

GRANDE SP (ABC) 7 9,85%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Entre esses 71 auxílios, aparecem 39 mulheres (54,93%), sendo que 34 são

pesquisadoras responsáveis e cinco são associadas. Por outro lado, há 32 homens (45,07%),

sendo 29 pesquisadores responsáveis e três pesquisadores associados. Há um total de 314 temas

para as 71 pesquisas. É como se, para cada pesquisa, houvesse aproximadamente cinco temas.

Os que mais aparecem, considerando o índice médio de representatividade acima de 1,5%, são

a Telenovela, em sete ocasiões (2,22%), e a Televisão, em seis oportunidades (1,91%). Logo

em seguida, chegam os Meios de Comunicação e a prática profissional com cinco menções

(1,5%).

Quando analisamos as metodologias, 30 auxílios (42,25%) informaram como vão

trabalhar, metodologicamente, a pesquisa enquanto 41 (57,75%) não trazem nenhuma

informação. Nessas 30 pesquisas, apareceram 28 tipos de metodologias, que podendo ser

citadas mais de uma vez, totalizam 56 menções. Considerando representatividade superior a

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5%, temos: Pesquisa Bibliográfica por nove vezes (16,07%); Pesquisa Documental, com seis

aparições (10,71%); Análise do Discurso, com 4 aparições (7,14%); Análise de Conteúdo,

Entrevista e Estudo Comparativo, cada uma com três citações e representatividade de 5,35%.

E, por fim, quando trazemos os dados relacionados à bibliografia, temos 48 nomes de autores

utilizados, sendo 45 estrangeiros (93,75%) e 3 brasileiros (6,25%). A distribuição de citação de

autores, considerando média superior a 5%, ficou assim:

QUADRO 49 – Autores citados nos Auxílios Regulares

NOME CITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Lúcia Santaella 3 6,25%

Charles S. Peirce 2 4,16%

Donis A. Dondis 2 4,16%

Michel Maffesoli 2 4,16%

Mikhail Bakthin 2 4,16%

Stuart Hall 2 4,16%

Villém Flusser 2 4,16%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Sobre este tipo de fomento, podemos ter como primeiras impressões, o predomínio dos

professores das universidades públicas de modo geral, porém, nos estratos analisados, destaca-

se a participação de pesquisadores da Universidade de Sorocaba, que superaram em número de

pedidos, duas forças entre as públicas, UNESP e UNICAMP. Destaca-se também que as

professoras estão pedindo mais o Auxílio Regular que, no quadro geral, tem o Jornalismo

perdendo força como tema de pesquisa e a Comunicação vista de forma fragmentada. Acima

da média mais expressiva, destaque para os estudos de imagem, afinal, as primeiras colocadas

são Telenovela e Televisão. Também se denota a preocupação com as práticas profissionais dos

cursos de Comunicação, e como não é diferente entre todos os tipos de fomento, a literatura

estrangeira predomina nas referências bibliográficas consultadas e que são centrais para as

pesquisas analisadas.

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217

3.8 Auxílio à Pesquisa – Publicações

A destinação deste tipo de fomento é para o financiamento de periódicos, artigos e livros

que exponham resultados originais de pesquisa, realizada por pesquisador com título de doutor

ou equivalente. A solicitação é feita apenas de forma eletrônica. Para os periódicos, a concessão

de apoio é excepcional e parcial porque recebem fomento apenas aqueles que apresentem

trabalhos de pesquisa inéditos e avaliados pelos pares. A avaliação é feita, número a número,

com base em parecer de mérito da assessoria. Não são apoiados os periódicos sem indexação

significativa, regularidade de publicação e padrão editorial. A concessão se dá a periódicos

tradicionais, que necessitam emergencialmente de financiamento, ou que sejam novos em áreas

carentes de boas publicações nacionais. É dada prioridade para aqueles que preencham os

requisitos para veiculação, em forma eletrônica no Projeto Scielo, financiado pela FAPESP.

Os artigos devem ser com base em resultado de pesquisa apoiada pela FAPESP e

divulgado em periódico internacional especializado com política editorial rigorosa. O pedido

de publicação de artigo não deve incorporar valores da Reserva Técnica. Custos de redação,

revisão de texto ou versão para outro idioma não são financiados. Tais atividades devem ser

incorporadas pela instituição a qual o pesquisador está vinculado.

Entre as publicações, também se considera o livro, que se divide nas modalidades Brasil

e Exterior. Em Livros no Brasil, estes devem também expor resultados originais e inéditos da

pesquisa. Solicitações de pesquisas, não apoiadas pela FAPESP, podem ser analisadas em casos

excepcionais mediante justificativa. Não são financiáveis nova edição de obras publicadas, no

Brasil, ou tradução de obras para o Português. Também não se apoia a publicação de coletânea

de artigos que não apresente resultados inéditos. É obrigatória uma carta de interesse, de ao

menos, uma editora que assuma a responsabilidade perante o projeto, se este for aprovado pela

Fundação. Essa carta de interesse deve abranger o orçamento total da publicação e o plano de

distribuição da obra. Complementa-se isto, com a apresentação de três orçamentos de serviços

gráficos. Se a carta de apresentação for de uma editora universitária, é necessário apenas um

orçamento de serviço gráfico. Somente são aceitas publicações por editora, com catálogo

significativo de obras de cunho técnico-científico, pois, este item é importante na avaliação da

proposta. O financiamento é parcial sempre e só é concedido, quando não se justifica

comercialmente, o custeio integral da publicação por editora universitária ou comercial. A

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maior parte do orçamento deve ser atribuída à editora parceira. Enfim, o apoio da FAPESP deve

ser mencionado, de forma destacada, por meio da apresentação do logotipo da Fundação na

capa ou contracapa do livro.

O apoio a Livros no Exterior também envolve resultados inéditos e, neste caso, pode ser

a tradução da obra, já publicada no Brasil, desde que a assessoria científica da FAPESP a

considere de interesse atual ou como trabalho inédito. Sobre editora, também é necessária uma,

com catálogo de obras de cunho técnico-científico. Nesta modalidade de fomento, a FAPESP

financia somente a tradução e revisão técnica da obra para outro idioma. Na carta de interesse,

a editora se compromete a zelar pela qualidade da tradução e revisão técnica, que junto à

FAPESP, é de responsabilidade do próprio pesquisador. Exige-se também o logotipo da

FAPESP na capa ou contracapa do livro.

O Pesquisador Responsável é quem faz a solicitação de Auxílio Publicação podendo ser

o próprio autor, um coautor ou até orientador do trabalho que vai se transformar em livro.

Quanto à sua qualificação, exige-se o título de doutor, com produção científica ou tecnológica

compatível aos objetivos do projeto e vínculo formal com instituição de pesquisa paulista. Sobre

custeio, para artigos, é financiada apenas a taxa de publicação, cobrada pela revista na rubrica

Serviços de Terceiros no Exterior. Já, para periódicos, são financiadas diagramação, arte final

e impressão na rubrica Serviços de Terceiros no Brasil. Para Livros no Brasil, custeiam-se

diagramação, arte final e impressão com a rubrica Serviços de Terceiros no Brasil. E, para

Livros no Exterior, são financiadas tradução e revisão técnica sob a rubrica Serviços de

Terceiros (Brasil ou Exterior).

Aos beneficiários de Auxílio Publicação, é terminantemente proibido realizar

transferência de verbas ou saldos de um processo para outro, quando o pesquisador recebe apoio

em mais de um auxílio; efetuar despesas fora do período de vigência do Termo de Outorga;

realizar modificações, no projeto aprovado pela Fundação, ou gastar recursos sem

conhecimento prévio; utilizar o dinheiro destinado a outras finalidades; fazer aplicações

financeiras com recursos do projeto; contratar ou destinar verbas para pessoas físicas ou

jurídicas vinculadas seja por grau familiar ou relações comerciais e até de dívidas.

A solicitação também é feita eletronicamente e deve reunir súmula curricular do

pesquisador responsável; resumo de resultados obtidos anteriormente com outros auxílios ou

bolsas FAPESP, destacando títulos dos projetos e números dos respectivos processos; cópia do

manuscrito ou material a ser publicado; nos auxílios a periódicos, apresentar formulários de

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informações, além do número anterior, e três orçamentos referentes a serviços de terceiros; para

artigos, torna-se imprescindível carta da comissão editorial do periódico aceitando o artigo para

publicação; no caso de livros, imprescindível carta de interesse, com orçamento total da obra,

e três orçamentos referentes aos serviços de terceiros solicitados, exceto quando a editora for

universitária, além de informações sobre o catálogo de publicações.

Por sua vez, a análise da FAPESP se dá por alguns critérios. O primeiro deles é o

Histórico Acadêmico do Solicitante. Neste quesito, se verificam a qualidade e regularidade da

produção científica observando publicações em periódicos com seletiva política editorial; livros

ou capítulos de livros; patentes nas quais seja inventor, etc.; experiência demonstrada na

liderança de projetos de pesquisa relacionados ao tema proposto em análise; capacidade para

formar pesquisadores com destaque a recentes orientações; resultados obtidos anteriormente na

própria FAPESP. Outro quesito é a Qualidade da Obra, que envolve a importância da

contribuição pretendida, para a área de conhecimento em que o projeto se insere;

fundamentação científica e adequação dos métodos empregados; adequação do montante de

recursos solicitados; nos casos de livros, no Brasil, saber se há resultados de pesquisa originais

inéditos; para a publicação de livros no Exterior, analisar a atualidade da obra e relevância para

publicar fora do Brasil; em relação aos artigos, compreender a política editorial do periódico

pretendido; para periódicos, a qualificação e abrangência do Conselho Editorial; tiragem e

alcance; critérios de seleção dos textos para publicações e o aspecto gráfico com ilustrações. O

terceiro quesito é integrado por – Editora – a publicação de artigos em periódicos internacionais

com rigorosa seleção editorial; em casos de livros, o fortalecimento de editoras acadêmicas

(públicas ou privadas). E o último quesito a ser considerado é o orçamento.

Finalizada a publicação, o beneficiário entrega os relatórios científicos exigidos e presta

contas à FAPESP. O Relatório Científico deve ser formado pelo título do projeto, o nome do

pesquisador responsável, o número do processo FAPESP, o período de vigência do projeto,

uma cópia da publicação60, em processos via SAGe, cópia da capa/contracapa da publicação,

com o logotipo da FAPESP. Sobre Prestação de Contas, a nota fiscal original da editora e

gráfica deve ser enviada, e nela, devem estar discriminados os serviços prestados. Em casos de

livros e periódicos, cópia da capa e contracapa, com o logotipo FAPESP; e para os artigos,

cópia da página na qual conste menção ao apoio.

60 Livros devem ser enviados pelos Correios ou entregues pessoalmente na Fundação com carta de encaminha-

mento indicando o número do processo e assinada pelo Pesquisador Responsável.

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3.8.1 Mapeamento de Auxílio Publicações (1993-2016)

Os auxílios à publicação também são uma prática antiga, tanto que conseguimos

estabelecer dados em 23 anos. Nesse período, foi um total de 117, que permitiram a publicação

de livros no Brasil e no exterior além de periódicos. Uma forma de ampliar, perpetuar e validar

o conhecimento produzido na Área. Os 117 auxílios publicação foram concedidos às seguintes

instituições:

QUADRO 50 – Solicitação de Instituições a Auxílio Publicação

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE

SOLICITAÇÕES

ÍNDICE

PERCENTUAL

USP 38 32,48%

PUC-SP 34 29,06%

UNICAMP 7 5,98%

USCS 6 5,12%

UFSCAR 4 3,42%

ESPM 4 3,42%

UNESP 3 2,56%

CÁSPER LÍBERO 3 2,56%

MACKENZIE 3 2,56%

FAAP 3 2,56%

METODISTA S.PAULO 3 2,56%

UNIP 2 1,71%

UNISO 2 1.71%

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FACULDADE RIO

BRANCO

1 0,86%

FIAM 1 0,86%

UNIFESP 1 0,86%

UNISANTOS 1 0,86%

SÃO JUDAS TADEU 1 0,86%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Desse conjunto, 53 publicações foram destinadas às universidades públicas com a

seguinte distribuição: USP (38 auxílios – 71,7%); UNICAMP (7 auxílios – 13,20%); UFSCAR

(4 auxílios – 7,55%); UNESP (3 auxílios – 5,66%) e UNIFESP (1 auxílio – 1,89%). Já, para as

universidades particulares, foram 52 publicações sendo: PUC-SP (34 auxílios – 65,39% - USCS

(6 auxílios – 11,55%); Mackenzie e Metodista (3 auxílios cada – 5,77%); UNIP e UNISO (2

auxílios cada – 3,84%) e UNISANTOS e Universidade São Judas Tadeu (1 auxílio cada –

1,92%). Enquanto isso, as faculdades particulares receberam 12 auxílios que foram assim

concedidos: ESPM (4 auxílios 33,34%); Cásper Líbero e FAAP (3 auxílios cada – 25%) e

Faculdade Rio Branco e FIAM (1 auxílio cada – 8,33%). Verifica-se que instituições

tradicionais, como UNESP e Metodista, se destacam neste tipo de fomento. Se bem que a

valorização acadêmica está mais concentrada na elaboração e publicação de artigos. Algo que

é positivo também porque pode ser adotado como referencial e, como contrapartida, tem custo

zero se comparado às publicações. Todas essas instituições estão presentes em nove cidades:

São Paulo, São Carlos, Campinas, Bauru, Guarulhos, Santos, Sorocaba, São Bernardo do

Campo e São Caetano do Sul. Assim, a representação regional está representada no quadro

abaixo.

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QUADRO 51 – Localidade do Auxílio Publicação no Estado

LOCALIZAÇÃO

GEOGRÁFICA

NÚMERO DE

PUBLICAÇÕES

ÍNDICE

PERCENTUAL

S.PAULO – CAPITAL 90 76,92%

S.PAULO – INTERIOR 16 13,68%

GRANDE SP (ABC) 10 8,55%

LITORAL 1 0,85%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Das 117 publicações, 103 foram de livros no Brasil. Isto representa 88,03% e sobre sua

produção, 62 responsáveis (60,20%) são mulheres e 41 são homens (39,80%). As autoras que

mais publicaram livros foram Maria Cristina Castilho Costa, com oito publicações, e Sandra

Reimão, com quatro obras. Já, em relação aos livros publicados no exterior, eles totalizam

apenas três publicações, o que representa 2,57%. Os autores que publicaram no exterior, com

apoio da FAPESP, são Malena Seguro Contrera, Maria Aparecida Baccega e Massimo Di

Felice. As duas mulheres representam 66,67%, enquanto o único homem equivale a 33,33% do

que se publicou para além das nossas fronteiras. E, em relação aos periódicos, onze receberam

apoio da FAPESP e totalizam 9,4%. Com três periódicos cada, os beneficiários que mais

conseguiram apoio são José Roberto do Amaral Lapa e Onésimo de Oliveira Cardoso. Quanto

ao gênero, sete homens (63,64%) receberam fomento para periódicos, enquanto as mulheres

foram quatro (36,36%). As publicações geraram 149 temas que apareceram 251 vezes. Desse

total, já foram excluídos 16 não informados e 10 que não correspondiam a essa categoria. Os

temas mais abordados, considerando média de representatividade superior a 2,5%, foram o

Jornalismo, em nove ocasiões (3,58%); Artigos de Periódicos, Censura e Periódicos Científicos,

com oito menções (3,18%); Cinema e Psicanálise, com sete aparições (2,78%).

3.9 Auxílio Pesquisador Visitante

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Este é um auxílio concedido pela FAPESP, que trata de subsidiar total ou parcialmente,

as despesas de um pesquisador experiente que vai a outra instituição brasileira ou internacional

por um período de até um ano. O objetivo deste tipo de fomento é estimular a colaboração entre

pesquisadores no desenvolvimento de projetos de pesquisa em andamento ou a ponto de terem

início nas universidades anfitriãs.

O envio de propostas é por sistema eletrônico, e para participar, o pesquisador precisa

ser doutor, ter expressiva produção científica ou tecnológica e vínculo com instituição de

pesquisa do Estado de São Paulo. Restringe-se o apoio, em algumas condições, como o

desenvolvimento do projeto de pesquisa, a condição do Pesquisador Visitante ser o próprio

Pesquisador Responsável, realização de contatos para atividades posteriores, custeio da ida de

pesquisador visitante a atividades de ensino ou participação em bancas de tese e concursos fora

do Estado de São Paulo e visitas do mesmo pesquisador, em anos consecutivos, a não ser em

casos excepcionais. O custeio parcial se dá, por exemplo, quando as visitas são de curtíssima

duração. Nessa modalidade, de maneira geral, também cabem as mesmas regras de proibição

ao pesquisador, já demonstradas anteriormente, dentro da modalidade de Auxílios.

A FAPESP financia o pesquisador visitante de algumas formas. Quando a visita for

inferior a um mês, será feito o pagamento de diárias61 para o visitante até o limite do valor da

manutenção mensal, definida pela Fundação com base no currículo do visitante. Esse auxílio

não inclui o pagamento de pró-labore. Já a manutenção, para período superior a um mês, é

baseada no currículo do pesquisador também e por algumas características dentro da proposta

submetida62. Para a saída do seu local de origem ao destino onde se darão as atividades como

visitante, o pesquisador pode receber, como fomento, a passagem aérea ou terrestre em tarifa

promocional. Também é custeado o valor da passagem terrestre ou o serviço de táxi utilizado

para se chegar ao aeroporto de origem e o transporte, desde o aeroporto, em São Paulo. E ainda

tem o seguro-saúde para estrangeiros.

A proposta de solicitação deve conter o sumário do projeto de pesquisa; súmula

curricular; Curriculum Vitae do pesquisador; declaração afirmando que aceita participar do

plano de atividades proposto; plano de atividades de pesquisa, com descrições que envolvem

título do projeto, número de processo FAPESP, validade do financiamento e resumo do projeto

de pesquisa. É necessário ainda descrever as atividades por meio das quais o Pesquisador

61 Para consultar valores, acessar: http://www.fapesp.br/1086 62 Os valores e a categoria do pesquisador estão em: http://www.fapesp.br/1092

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224

Visitante vai contribuir com os projetos de pesquisa. Nisto, podem ser previstas participações

em bancas de teses e dissertações, oferta de cursos na Pós-Graduação e Graduação, além da

preparação de projetos de pesquisa cooperativos a serem submetidos a agências internacionais

de fomento. São estes alguns benefícios esperados de um pesquisador visitante, que pode

também realizar contatos sistemáticos com pesquisadores e estudantes da instituição anfitriã e

outras instituições com grupos de pesquisa ativos na mesma Área.

Para que tudo isto ocorra, o parecer da FAPESP segue uma análise de proposta que

envolve a experiência prévia em pesquisa do Pesquisador Visitante; a contribuição de sua visita

à instituição escolhida bem como para outras instituições do estado de São Paulo. Uma vez

realizadas as atividades previstas, o Relatório Científico Final deve descrever, de forma sucinta

e completa, as atividades do visitante e os benefícios da visita, no que diz respeito ao

desenvolvimento do projeto de pesquisa, que fundamenta a solicitação. Todos os comprovantes

de divulgação prévia do pesquisador visitante devem ser anexados ao relatório final.

3.9.1 Mapeamento de Auxílio Pesquisador Visitante (1994-2016)

Nesses 22 anos de vindas de estrangeiros para o Brasil, foi identificada a realização

dessa atividade de pesquisa, entre 59 pesquisadores, sendo 57 estrangeiros (96,61%) e 2

brasileiros (3,39%). Essa diferença gritante não é alarmante porque este fomento se destina à

vinda de pesquisadores do exterior. E o deslocamento deles foi para a PUC-SP (29 solicitações

– 49,15%); USP (14 solicitações – 23,72%); UNESP e UNIP (quatro solicitações cada –

6,78%); Metodista (três solicitações – 5,08%); UNICAMP (duas solicitações – 3,39%);

UFSCAR, USCS e Cásper Líbero (uma solicitação cada – 1,70%). De todo esse universo, as

divisões de solicitações, feitas de acordo com universidades e faculdades públicas e

particulares, estão demonstradas nos quadros que seguem.

QUADRO 52 – Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades

Públicas

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

USP 14 66,67%

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UNESP 4 19,05%

UNICAMP 2 9,52%

UFSCAR 1 4,76%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 53– Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades

Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

PUC-SP 29 78,38%

UNIP 4 10,82%

METODISTA S.PAULO 3 8,1%

USCS 1 2,7%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 54– Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Faculdades

Particulares

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

CÁSPER LÍBERO 1 100%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

O agrupamento dessas solicitações permite demonstrar que as pesquisas estão

espalhadas por seis cidades: São Paulo, São Carlos, Bauru, Campinas, São Bernardo do Campo

e São Caetano do Sul. Dividindo os fomentos por região, temos 81,36% (48 solicitações) na

Capital; 11,87% (7 solicitações), no interior, e 6,77% (quatro solicitações), no ABC Paulista. A

pesquisadora, com o maior número de solicitações para pesquisadores visitantes, no Brasil, é

Ana Claudia Mei Alves de Oliveira, com 14 pedidos, seguida por Lúcia Santaella, com quatro.

Ambas são professoras pesquisadoras da PUC-SP, e fazem parte das 40 mulheres que pediram

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esse auxílio. Juntas, elas representam 67,8%. Já 19 homens fizeram seus pedidos, o que

representa 32,2% das solicitações. E a origem desses pesquisadores está no quadro a seguir:

QUADRO 55 – País de Origem dos Pesquisadores Visitantes

INSTITUIÇÃO NÚMERO DE VISITANTES ÍNDICE PERCENTUAL

França 18 pesquisadores 30,51%

Espanha 10 pesquisadores 16,95%

EUA 6 pesquisadores 10,16%

Itália 6 pesquisadores 10,16%

Alemanha 5 pesquisadores 8,47%

Portugal 2 pesquisadores 3,39%

Japão 2 pesquisadores 3,39%

Brasil 2 pesquisadores 3,39%

Chile 2 pesquisadores 3,39%

México 2 pesquisadores 3,39%

Irlanda 1 pesquisador 1,70%

Romênia 1 pesquisador 1,70%

Canadá 1 pesquisador 1,70%

Áustria 1 pesquisador 1,70%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Com dez visitas, o pesquisador francês Eric Landowski foi quem mais veio ao Brasil,

no período de 1994 a 2016, com apoio da FAPESP e trazido pela PUC-SP. O segundo que mais

veio foi o pesquisador alemão Winfried Nöth, em três visitas, embora como país de origem

(Alemanha) ele esteja atrás de Espanha, EUA e Itália, o que demonstra mais diversidade de

pesquisadores visitantes. De todos os pesquisadores visitantes, a informação sobre temas

pesquisados está presente em 52 dos 59 auxílios, o que equivale a 88,14% enquanto os sete não

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informados representam 11,86%. Foram produzidos 78 temas de pesquisa, a partir de sete que

não foram informados, mais 23 excluídos por localização incorreta. Assim, o total chegou a 104

menções, sendo que os mais representativos considerando média superior a 2%, seguem no

quadro abaixo:

QUADRO 56– Temas de Pesquisa Auxílio Pesquisador Visitante

TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL

Cooperação Cientifica 6 5.77%

Intercâmbio de Pesquisadores 6 5.77%

Epistemologia 4 3,85%

Jornalismo 3 2,88%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Assim, pode-se perceber, nas primeiras impressões, que os temas de pesquisa mais

representativos não necessariamente tratam do que é pesquisado de fato, pois, Cooperação

Científica e Intercâmbio de Pesquisadores se constituem em palavras-chaves que justificam a

natureza do fomento em questão. Aliás, isto deveria ser revisto na Área. Uma alternativa, em

nosso entendimento, seria a adoção de termos representativos, como por exemplo, o tipo de

Comunicação estudada e seus fenômenos. Consequentemente, aparecem os temas mais

representativos e que se referem a pesquisas, no caso, versando sobre Epistemologia e

Jornalismo, que demonstram as tendências de que os pesquisadores de fora vêm contribuir para

a formação dos pesquisadores e que uma Área do conhecimento se aproveita mais das

discussões propiciadas pela vinda dos professores do exterior.

3.10 A produção de Indicadores e Inferências

Uma vez dissecados e preliminarmente analisados todos os dados retirados e trabalhados

a partir das informações, que constam na Biblioteca Virtual da FAPESP, chegamos a uma

dimensão que nos permite construir, do ponto de vista quantitativo, o perfil taxionômico da

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Área da Comunicação, em função de pesquisas que receberam fomento da Fundação de Amparo

à Pesquisa do Estado de São Paulo, ao longo de 25 anos de análise, representados pelo período

de 1992 a 2016. Trata-se de uma inflexão a um recorte da vasta produção acadêmica, no Estado

e, sobretudo, do Brasil, pois, há muito mais produtividade para além das bolsas e auxílios

concedidos pela FAPESP, que é sim, uma ferramenta importante para a legitimação da pesquisa

científica, condição que suscita uma esperança de que a Comunicação seja vista no caminho de

ciência, embora ainda seja muito dúbio, formar um conceito definitivo a esse espaço de atuação.

Percebe-se acentuadamente essa dificuldade, principalmente, em face da fragmentação, uma

vez que pouco se estuda a Comunicação em sua complexidade. Nota-se que ninguém ainda

parece ter se dado conta que a Área não deve ser um conjunto de particularidades, mas sim, um

conglomerado de partilhas, a partir das quais, cada prática deve ser pensada dentro de um todo

que seria o grande “guarda-chuva” da Comunicação. Não se estudam as formas pelas quais a

Comunicação pode se manifestar. O que existe é uma apreensão de cada experiência, que

permite se realizar por meio da Comunicação, como se fosse uma espécie de “conhecimento

próprio”. Voltar-se a um pensamento mais complexo da Comunicação nos parece o caminho

mais apropriado para se chegar a uma taxionomia pela qual tange seu real conceito. E a releitura

de pesquisas nos fornece essas pistas considerando que tais estudos nos permitem enxergar

polifonias.

Essas polifonias conseguem ser representadas, quando se adota o método da inferência

da Análise de Conteúdo. Todos os dados, demonstrados quantitativamente neste capítulo,

decorrem de um trabalho inicial de organização envolvido, como assegura Laurence Bardin

(2011), pela escolha dos documentos, formulação de hipóteses e objetivos além dos indicadores

que fundamentam a interpretação final. Assim, levantamos na base da Biblioteca Virtual da

FAPESP, todas as bolsas e auxílios, na Área da Comunicação, que satisfaziam a nossa

compreensão de descrever sistematicamente a produção concernente ao percurso formativo do

pesquisador bem como propor uma cartografia da produção da pesquisa em Comunicação.

Selecionados os documentos, categorizamos indicadores que nos permitiram compreender o

sentido desse fomento, no tocante à contribuição que um estudo traz para a formação da Área

da Comunicação. Esse é o método do polo da mensagem, segundo a autora. É por ele que

conseguimos selecionar as amostras analisadas, neste capítulo, a fim de gerar códigos que nos

permitam interpretar o subjacente, pensando como se pode legitimar a Área, por meio da

contribuição de uma agência de fomento respeitada nos cenários nacional e internacional.

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Então, a Análise de Conteúdo, diante das amostras selecionadas, nos direciona a

trabalhar com o método das inferências, considerando-as através dos polos Emissor,

Mensagem, Significação e Medium com o intuito de compreender como se constroi a Área da

Comunicação, por pesquisas apoiadas por agências de fomento, considerando a primeira

passagem de século nos estudos em Comunicação cujas sendas, geradas por experiências,

denotam mudanças e indicam crise de identidade e paradigmas diante de um mundo cada vez

mais instantâneo e veloz. Antes de apontar o que dizem as inferências, precisamos retomar o

observado/interpretado para tecer considerações. Começamos pela modalidade Bolsas no

Brasil. Quando consideramos o percurso formativo, das 583 bolsas, temos o seguinte cenário

de distribuição e representação percentual:

QUADRO 57 – Bolsas FAPESP no Brasil

MODALIDADE NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL

Iniciação Científica 299 51,28%

Mestrado 178 30,53%

Doutorado 68 11,66%

Doutorado Direto 2 0,35%

Pós-Doutorado 36 6,18%

TOTAL 583 bolsas 100%

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Nesses 25 anos, que serviram de referência para as amostras coletadas na Biblioteca

Virtual da FAPESP, atesta-se o grande incentivo à Iniciação Científica. Do quadro todo acima,

nota-se uma queda, no percurso formativo, embora o índice não seja ruim, mesmo considerando

o baixo interesse do Doutorado em diante. Isto nos faz perceber que a carreira de pesquisador,

nesse período analisado, não seguiu um ciclo sequenciado dentro dos incentivos concedidos

pela FAPESP, ou seja, há um incentivo à base, porém, o desenvolvimento da carreira de

pesquisador se perde, consideravelmente, na fase de seu amadurecimento. A hipótese para isto

é que, em um curso de Graduação, a Iniciação Científica se oferece como novidade, do ponto

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de vista do conhecimento, por meio da democratização de um saber do professor, que mais do

que questionar uma problemática, apresenta ao candidato métodos e técnicas de pesquisa. É

uma espécie de preparação que segue um modelo praticado. Seja qual for a hipótese, a Iniciação

Científica é onde se consegue mais fomentos, o que demonstra que a Área consegue atrair novos

pesquisadores. Aliás, esta etapa é considerada pelo professor Ciro Marcondes Filho, como a

mais importante da formação do aluno-pesquisador, pois, é a fase na qual se captura seu

momento de criatividade, energia e prazer pelo novo. É também uma forma de demonstrar – e

isso depende dos orientadores que geralmente atuam na Pós-Graduação – que assim como a

prática profissional buscada, a carreira de pesquisador também pode ser um propósito de vida.

Quando passamos à categoria que envolve as instituições e cidades, temos dentre essas

583 bolsas, uma distribuição de 291 bolsas (49,91%) à capital; 272 bolsas (46,66%) ao interior

e 20 bolsas (3,43%) à Grande São Paulo. Os números demonstram que não há grande

disparidade de produção científica da Área entre a Capital e o Interior. Além de considerarmos

a riqueza do interior paulista, com cidades de amplo destaque, sobretudo, no aspecto

econômico, esse equilíbrio se deve em especial às universidades públicas. Se São Paulo se

destaca com a USP, o interior reúne UNICAMP e UNESP, de forma significativa, e conta

também com contribuições da UFSCAR. A UNESP Bauru, sozinha, detém o maior número de

bolsas na Iniciação Cientifica. Isto se deve, segundo a visão do professor Maximiliano Martin

Vicente, ao fato da instituição estimular mais a pesquisa, nessa fase, uma vez que a Pós-

Graduação é bastante recente, condição que fez com que se criasse a cultura de valorizar a

graduação e sua pesquisa. No entanto, nos demais fomentos, a liderança é da USP, o que nos

leva a considerar que a UNESP precisa conservar mais os seus alunos de Iniciação Científica

para que as etapas superiores do percurso formativo sejam desenvolvidas, na mesma instituição,

evitando assim o êxodo à Capital, situação que ajuda a dar mais peso para a pesquisa produzida

no interior. O predomínio evidente da USP nos faz pensar que esta instituição se confunde com

a origem da FAPESP63. De qualquer forma, a USP é um centro importante da atividade de

pesquisa, não apenas em nosso Estado, como no Brasil e no Mundo64. Apesar de excelência em

ensino e pesquisa, outro fator que temos de considerar é que, nesse período de 25 anos

analisados, o fomento da FAPESP pode ser atribuído apenas como uma verba destinada a

63 Essa história já foi contada no capítulo II: “FAPESP e Comunicação: Laços Institucionais como Método de

Construção da Área” 64 Segundo o QS World University Rankings, em 2016, a USP ocupou o 120º lugar sendo a melhor do Brasil e a

segunda melhor da América Latina. Ver em: https://www.topuniversities.com/university-rankings/world-univer

sity-rankings/2016

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instituições públicas haja vista que a grande concentração das pesquisas está no espaço do

ensino superior público. Este pode ser um dos diagnósticos, porém, é preciso considerar que os

pesquisadores das instituições públicas estão mais direcionados a trabalhar com o fomento

porque, por muitas vezes, eles também recorrem ao benefício para fazerem suas pesquisas,

principalmente, quando decidem sair temporariamente do Brasil.

Ao se verificar maior incidência das bolsas nas universidades públicas, é porque estas

mantêm por tradição, sua origem voltada à pesquisa. Um indício também de que se conhece

mais os trâmites e um sinalizador de que boa parcela dos alunos que ingressam, na instituição

pública, já direciona a carreira para a atividade de pesquisador. Na medição da produtividade,

a USP é a instituição que mais angariou pesquisas no fomento – 214 no total – sendo que sua

maior representatividade se encontra na Iniciação Científica (79 bolsas) e no Mestrado (71

bolsas). Ainda há muito mais a explorar, por exemplo, no Pós-Doutorado. Logo depois da USP,

o alto índice de produtividade está na UNESP, com 195 bolsas, sendo o maior índice (154) na

Iniciação Científica. O período analisado deixa evidente a necessidade de estimular o

Doutorado e o Pós-Doutorado, que fazem parte da história recente da instituição. Embora os

índices sejam pequenos, vale destacar a presença da UNICAMP, em praticamente, todos os

tipos de bolsas. Não é possível levar muito em consideração a categoria Doutorado Direto, pois,

se trata de recurso pouco comum no meio acadêmico.

Ao voltarmos o olhar para as instituições privadas, há de se destacar a participação da

PUC-SP, presente em todas as categorias, exceção feita ao Doutorado Direto que, por sua vez,

é pouco representativo, mas sua representatividade passa por todas as instâncias do fomento

com 10 bolsas de Iniciação Científica, 16 de Mestrado, 19 de Doutorado e 13 de Pós-Doc.

Também temos de considerar a Universidade Metodista de São Paulo, que se destaca com 15

bolsas que vão da Iniciação Científica ao Doutorado. Percebe-se que nela ainda é preciso

explorar o Pós-Doc. Entretanto, a Metodista está valorizando o início, ou seja, a Iniciação

Científica, sendo a que chegou mais longe em relação às demais instituições onde se pesquisa

a Comunicação. As outras, onde percebemos crescimento, são a UNIP e a USCS. Por tudo isso,

é que afirmamos que os mais importantes núcleos de produção do conhecimento e construção

da Área da Comunicação estão na USP, UNESP, Universidade Metodista e PUC-SP por conta

do alto índice de produtividade buscada com fomento. Retomando que o fomento é via de mão

dupla, a FAPESP demonstra com essas concessões que nessas instituições é feito um bom

trabalho de pesquisa na Área, ou seja, ocorre legitimação.

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Esse itinerário ajuda a compor um mapa da distribuição do fomento, quando se verifica

uma grande concentração de apoio à Iniciação Científica e ao Mestrado. São Paulo e Campinas

são as cidades que podemos denotar com presença marcante do apoio FAPESP sendo que

observamos tendência de crescimento em São Carlos e São Bernardo do Campo. Podemos

assegurar também que a Iniciação Científica e o Mestrado estão melhor distribuídos, pois, há

muitas instituições locais. Quando o pesquisador avança nos estudos, São Paulo e Campinas se

tornam os polos de maturidade da Área, com a contribuição especial da USP e da UNICAMP

para uma presumida legitimação. Mas, é a capital paulista que simboliza o centro dos estudos

em Comunicação.

Em relação aos orientadores, que no procedimento da FAPESP, são denominados

Pesquisadores Responsáveis, a predominância é masculina. Os homens lideram, no quesito

orientação, na Iniciação Científica, no Mestrado e no Doutorado Direto. A liderança das

pesquisadoras que orientam está no Doutorado e no Pós-Doutorado. Onde há mais equilíbrio é,

no Mestrado, quando o índice percentual de diferença é de 4,48% a favor dos homens.

Considerando o percurso formativo, nota-se que os professores estão mais presentes, nas fases

iniciais da carreira de pesquisador, enquanto as mulheres aparecem na fase de amadurecimento,

que é do Doutorado em diante. O maior número de professores orientadores está na Iniciação

Científica e no Mestrado. Se há esse equilíbrio, entre quem orienta, na categoria de orientandos,

a vantagem é das mulheres, em especial, na Iniciação Científica e no Mestrado.

Debruçando-se sobre os temas, ainda se vê a representatividade do Jornalismo, que

lidera como assunto de pesquisa na Iniciação Científica e no Mestrado. Aliás, na Iniciação

Científica, nos chamam atenção, os temas Imprensa e Censura, pois, há muitos estudos

relacionando situações de Comunicação com a Ditadura Militar muito em função do trabalho

de pesquisadores, com apoio de estudantes de Iniciação, em investigações sobre o tema que

constituíram o Arquivo Miroel Silveira, agora denominado Núcleo de Pesquisa em

Comunicação e Censura. No Mestrado, aparecem com certo destaque, o tema Internet, um sinal

de que a transição secular aponta para a Comunicação Digital como assunto de interesse

acadêmico, o que não poderia ser diferente. Estes temas, mais as questões disciplinares como

as licenciaturas em Comunicação, estão presentes no Doutorado, o que denota também que, de

alguma forma, as profissões da Área sofrem implicações tecnológicas. No Pós-Doutorado, a

Censura volta a ter destaque entre os temas que também trazem pesquisas que envolvem

divulgação científica.

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É importante considerar que, entre as amostras selecionadas inicialmente, algumas –

porque não dizer muitas – não trazem informados seus temas. Isto, portanto, não pode ser uma

afirmação de que tais pesquisas não trataram da questão no processo FAPESP. Quando

apontamos que os temas não foram informados, é uma assertiva de que tal dado não se

encontrava na base de dados da Biblioteca Virtual. Em função do tempo transcorrido,

trabalhamos com a hipótese de que, na transição de processos físicos para eletrônicos, algumas

informações tenham se perdido. Questionada sobre isso durante entrevista, a coordenadora de

CHS II da FAPESP, professora doutora Esther Hamburger, disse que situações assim, realmente

podem representar falha de sistema.

De qualquer forma, ainda há uma grande ligação, senão umbilical, do Jornalismo com

os estudos em Comunicação. Pode-se entender isto pelo fato de que o Jornalismo é tido como

curso principal das escolas de Comunicação e tem práticas e teorias diversificadas assim como

a missão de apresentar à opinião pública, estratos da realidade, com conteúdo despertando para

a vida social. Algo que coincide com uma passagem conceitual de Muniz Sodré (2002), ao

tratar a reflexão na comunicação como atividade comprometida com o real histórico, e não,

uma abstração inteiramente atemporal.

Também vemos, com alguma representatividade, a Análise do Discurso. Embora uma

metodologia, muitos pesquisadores a colocam no tema, que se confunde claramente – no caso

dos processos da FAPESP – com as palavras-chave de uma pesquisa. Aliás, há um excesso de

pesquisas que adotam essa sistemática, o que obrigou que tais referências em locais deslocados,

fossem excluídas de análise. Se o objetivo é construir a Área, ousamos crer que a própria

FAPESP deveria se ocupar de destinar preocupação maior com isso pedindo a seus

beneficiários e pesquisadores responsáveis, que tragam uma informação mais precisa sobre seus

objetos dentro de recortes mais pontuais. Revelar a problemática da pesquisa ainda é uma

carência.

Por fim, verificamos a Internet aparecendo nas pesquisas de Mestrado, o que denota um

aspecto de curiosidade em torno dos beneficiários das bolsas, como uma tendência para

discutirem uma realidade fortemente influenciada por este advento tecnológico. Embora não

apareça em outros fomentos, é um indício de mudanças no paradigma comunicacional em um

período de total transição. E a mudança de um paradigma, segundo entrevista de Ciro

Marcondes Filho (2017), ocorre quando ele (o paradigma) entra em competição, pois, não

importa, na visão do professor, o quanto de verdade um paradigma possui, mas sim, como ele

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vence, se impõe e angaria mais adeptos. Diz ele que o mais sedutor é o que mais encontra

multiplicadores.

Vê-se ainda que o Digital, e a sua repercussão nas profissões ligadas à Comunicação, já

ocupa os pesquisadores, em especial, do Doutorado. No Pós-Doc, a Censura volta a ser tema

recorrente e a divulgação cientifica nos faz entender que há espaço para se levar adiante as

produções intramuros.

Entretanto, a Iniciação Científica revela a base de formação do pesquisador. Fase esta

que o professor Maximiliano Martin Vicente destaca como o encontro desse estudante com o

ambiente universitário, um espaço onde ocorre o momento da descoberta do saber e da criação

do conhecimento, a partir de inquietações como “eu posso pesquisar?”; “como se faz isso?”. É

por este prisma que o professor entende que o aluno de Iniciação Científica descobre o gosto

pelo saber e pela pesquisa.

Quando analisamos as Metodologias, conseguimos demonstrar que a modalidade que

contou com o maior percentual de pesquisas que informaram seu rumo metodológico foi o Pós-

Doutorado. Isto nos parece factível porque demonstra uma categoria de pesquisadores

amadurecidos no tocante à construção de um projeto de pesquisa, fase que antecede a realização

da investigação. Embora Ciro Marcondes Filho diga que o aluno de pós-graduação tenha um

perfil muitas vezes viciado em metodologias clássicas e ultrapassadas. Porém, é no Mestrado,

que aparece o maior número de tipos de metodologia. Acreditamos que se justifique pelas aulas

obrigatórias de metodologia da pesquisa científica, que colocam os alunos em contato com as

opções metodológicas que se tornam forma de aprendizado e também de aplicação ao objeto de

estudo. Em alguns Programas, estimula-se que o pesquisador sempre tente relacionar o que está

apreendendo na disciplina com o seu objeto, por isso, o Mestrado pode se tornar uma fase

interessante de exercício da pesquisa metodológica diversificada e bem mais abrangente.

Da Iniciação Científica ao Doutorado, a maioria das pesquisas não traz registro de

informação sobre o viés metodológico. Acreditamos que houve falta de alimentação do sistema

da Biblioteca Virtual, com esses dados precisos, pois, pelo grau de exigência da FAPESP e a

formulação dos projetos de pesquisa para pedir apoio, a metodologia é indispensável, afinal,

ela dá os rumos do trabalho. Aliás, foi na Iniciação Científica que menos se prestou tal

informação, algo supostamente admissível já que os alunos estão em um estágio inicial

demarcado pelo aprendizado e primeiros contatos com os procedimentos metodológicos.

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235

Sobre os tipos de metodologia, a Pesquisa Bibliográfica lidera na Iniciação Científica e

no Doutorado. O Mestrado tem uma disputa apertada entre Estudo de Caso e Pesquisa

Bibliográfica. Já o Doutorado Direto não trouxe metodologias e o Pós-Doc opta pela Pesquisa

Documental. Enfim, o que mais se adota mesmo é a Pesquisa Bibliográfica, que se trata em

nosso entendimento, de uma sinalização do caminho que o pesquisador segue no seu trabalho,

ou seja, um método. Sabe-se que, nas fases mais iniciais do percurso formativo, o pesquisador

em formação não vai se debruçar sobre trabalhos mais teóricos. Isto é possível ilustrar com as

manifestações temáticas das bolsas reunidas, em nossa amostra, que majoritariamente têm uma

grande tendência a abarcar o Jornalismo como tema. Assim, o que a Pesquisa Bibliográfica se

torna é este método como percurso. Propusemos um debate sobre isso na entrevista com a

professora doutora Lucia Santaella (2017). Ela disse que a indagação sobre o método é de cunho

mais teórico enquanto a metodologia está mais voltada a questões de aplicação. Por se assumir

como pesquisadora mais ligada às questões teóricas da Comunicação, ela diz que sempre

incentiva seus orientandos, já nas primeiras orientações, às leituras para exploração conceitual

do recorte especifico que o orientando faz do campo. É essa a forma que ela encontra de fazer

com que o pesquisador tenha um panorama mais vasto em relação às fundamentações teóricas

e metodológicas escolhidas.

Uma pesquisa, por exemplo, que trate do Jornalismo Participativo, evidentemente, terá

que discutir a mudança do paradigma na prática jornalística, com o advento da tecnologia, que

permite a inclusão do cidadão na participação do ato de produzir notícias. Só que essa

perspectiva prática é não mais do que a sinalização de uma mudança de tempo que exige um

olhar mais apurado e investigativo a tratar da alteração de perfil da produção jornalística. E esse

caminho precisa ser tecido com o apoio do contexto que vem do recurso bibliográfico como

método. Coincide com os princípios básicos da não realização da reflexão metodológica

abstrata e da atitude consciente e crítica do pesquisador quanto às operações científicas, tratadas

por Lopes (2003). Para a autora (2003), a metodologia tem uma concepção dupla que envolve

a metodologia da pesquisa como uma indicação à investigação ou teorização da prática da

pesquisa científica. E a pesquisa como indicação do trabalho com os métodos empregados.

Desta forma, entendemos que o recurso bibliográfico é uma indicação de método empregado,

pois, a partir das leituras em curso é que se vai instaurar o cenário de onde o investigador pinça

um tema recortado para questionamentos. E aí se aplica o entendimento do professor

Maximiliano Vicente (2017), quando diz que “a ciência ajuda a responder questões importantes

para a sociedade e para a área de conhecimento é o combustível que acende o desejo de

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pesquisar e elaborar projetos”. Mas, afinal, por que estamos trabalhando com a tese de que a

Pesquisa Bibliográfica não pode ser uma metodologia, mas sim, um método?

Porque ela desemboca no aspecto que passamos abordar, a partir de agora, que é a

Bibliografia dentro das pesquisas selecionadas com a falta de informações sobre alguns estudos.

Quando olhamos para aqueles que prestaram a informação sobre a orientação teórica, que

seguem em suas pesquisas, vamos trazer à luz o predomínio indiscutível da literatura

estrangeira. Acreditamos que isto ocorra em virtude do amadurecimento do pesquisador - este

se alinha com autores de referência que sustentam seu trabalho de pesquisa tendo inclusive a

necessidade de revisitar alguns, conceitualmente, além de trazer novos nomes para as

discussões. São os autores lá de fora que têm maior presença como fonte matriz do nosso

pensamento comunicacional. Estamos importando ideias para aplicá-las, sim ou sim, em nossos

objetos. Um agravante, pois, nem tudo que se produziu, seja na Europa seja nos Estados Unidos,

coincide com a nossa realidade cultural que já havia sido denunciada por Luís Ramiro Beltrán

ao criticar, nos anos 1980, a persuasão como motivação da Comunicação à dominação cultural

e perpetuação da condição de subdesenvolvimento. Este diagnóstico sinaliza para a nossa

depreciação interna e a costumeira valorização do que vem de fora. Percebemos esse interesse,

pelo que se produz lá fora, em todas as categorias. Quando pensamos na ordem dos que mais

citaram estrangeiros, temos: Pós-Doutorado; Mestrado; Doutorado; Iniciação Científica e

Doutorado Direto. Ao prisma dos autores brasileiros, a ordem de maior citação passa pela

seguinte ordem: Doutorado; Mestrado; Pós-Doutorado e Doutorado Direto. De modo geral,

sobre essa importação bibliográfica, Maximiliano Martin Vicente respondeu em entrevista

que...

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237

Particularmente sou muito crítico em relação a esse tipo de procedimento de colocar

obras de fora nos textos. Reconheço que devemos sim estudar e saber o que eles

fazem e pegar, inclusive, procedimentos que ajudem no esclarecimento de nossas

pesquisas, mas sempre pensando que nossa realidade tem particularidades e nuances

que não se solucionam copiando respostas de fora e sim dando valor aos que já

estudaram o tema dentro do nosso país seguindo uma metodologia e preocupação

em responder as nossas necessidades. No fundo isso nos leva a uma questão

epistemológica e talvez deveríamos voltar a ler com mais calma e atenção aos autores

nossos e como fala Boaventura seguir as epistemologias do Sul. Não tenho

constrangimento nenhum em afirmar que inclusive, nossos teóricos formulam

questões, elaboram teorias tão ou mais relevante das que encontramos fora.

(VICENTE, 2017)65

Já que falamos muito sobre a Internacionalização, no caso dos autores, passamos agora,

às considerações circunstancias do fomento das Bolsas no Exterior. Conclui-se que ainda é

irrisório o número de pesquisadores em formação que vão estudar fora do Brasil. Dois fatores

que podem justificar essa condição são a recente abertura ao fomento para viagens

internacionais e a crise econômica brasileira que torna a ida, para o Exterior, mais onerosa. A

representatividade do pesquisador paulista, fora do país, está na Bolsa de Pesquisa que

representa o professor pesquisador profissional em reciclagem/aprimoramento. Eles são

58,54% desse tipo de fomento, seguidos por 17,07% da Iniciação Científica, 9,75% do

Mestrado, 8,54% do Pós-Doutorado e 6,10% do Doutorado. Mais uma vez, a UNESP Bauru

comprova sua vocação, na formação do pesquisador de base, com destaque na Iniciação

Científica e no Mestrado. Do Mestrado em diante, São Paulo aparece em todas as categorias

demonstrando sua condição de “exportadora” de pesquisadores.

O eixo EUA/Europa tem a preferência como destino dos pesquisadores. Os EUA só

lideram sozinhos no Mestrado. No Pós-Doc, dividem o interesse com o Canadá. Nas outras

categorias, a preferência é pela Europa: Iniciação Científica (Espanha); Doutorado (Inglaterra);

Bolsa Pesquisa (França, seguida de perto por Alemanha, Portugal e Espanha). Desta leitura,

pode-se destacar, então, uma ligação forte do Brasil com a Espanha. Associações estabelecidas

assim, a partir de indicadores quantitativos, entram em rota de colisão com o pensamento de

Ciro Marcondes Filho, declarado durante entrevista a este pesquisador.

65 Em entrevista concedida ao autor.

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Pode ter um volume enorme de estudiosos que vão aos EUA e ao Canadá mas não

sabe o que os move a irem para lá. Sabemos que os EUA são atraentes para fazer

pesquisa administrativa, em larga escala, com gráficos e estatísticas, às vezes,

sondagens eleitorais, ou seja, estudos que se voltam a volumes de dados mas pouco

ou nada dizem a respeito da qualidade da comunicação (...) os europeus, em

contrapartida, desfrutam de uma tradição secular em investigações de fundo, em que

buscam compreender um pouco mais da natureza da comunicação e não tanto das

grandes medidas. (MARCONDES FILHO, 2017)66

O quesito Orientação registra equilíbrio entre homens e mulheres. As mulheres

predominam, na Iniciação Científica e no Doutorado, ao passo que os homens estão à frente no

Mestrado e no Pós-Doutorado. Quando se consideram os beneficiários, as mulheres

predominam tendo mais bolsas concedidas em Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-

Doutorado. Pensando nos supervisores que recebem os brasileiros, o equilíbrio de gênero é,

apenas na Iniciação Científica, sendo que, nas demais categorias, são lideradas com

tranquilidade pelos homens.

Sobre os temas, a Iniciação Científica se ocupa do Jornalismo, Relações Públicas,

Internet e América Latina. No Mestrado, predominam Cinema e Comunicação Pública. Já o

Doutorado traz temas modernos como Internet, Digitalização e TV Digital. No Pós-Doutorado,

práticas mais digitais também são as mais pesquisadas, como Redes Sociais e Internet.

Destacam-se também estudos com temas voltados à Filosofia da Comunicação. Entre os

pesquisadores professores bolsistas, Jornalismo, Meios de Comunicação e práticas ligadas à

tecnologia, que demonstram a grande participação dos projetos da PUC-SP, em torno de

análises semióticas.

Pouca informação há sobre Metodologias de Pesquisa, mas, quando elas são informadas,

há variedade passando por Entrevista em Profundidade, Pesquisa Exploratória, Estudo

Comparado, Análise de Discurso e Pesquisa Bibliográfica. E por falar em Bibliografia, também

se registra o predomínio da Literatura Estrangeira, o que faz certo sentido, pois, nossos

pesquisadores vão para o exterior. Porém, curioso é que, nas Bolsas do Exterior, pela primeira

e única vez, um autor brasileiro aparece na frente. Trata-se de Ciro Marcondes Filho, no Pós-

Doc, que se destaca na modalidade, por ser o professor que mais pesquisas orientou. Isto leva

a crer que seus orientandos o utilizam como referência. É um passo importante diante de um

cenário em que o Brasil sequer chega a coadjuvante. Questionado sobre isto, o professor disse

que pensa o Brasil por sua incomparável energia e potencial de trabalho, e sobre o fato de

66 Em entrevista concedida ao autor.

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aparecer nesta liderança, ele considera, durante sua entrevista, que alunos, de modo geral,

seguem os passos de seus orientadores, caso estes, sejam respeitados como fonte de

conhecimento e experiência.

Para concluir a produção destes indicadores, chegamos aos Auxílios Regulares,

Pesquisador Visitante e Publicação. Diante das amostras, a USP se destaca em pedidos de

auxílios regulares de pesquisa e publicação enquanto os pedidos de professores visitantes ficam

a cargo da PUC-SP. O mapa de nossa produtividade está desenhado por São Paulo-capital (o

grande espaço da pesquisa), São Carlos, Campinas, Bauru, São Bernardo do Campo e São

Caetano do Sul. Em relação aos temas, há muito mais informação e diversificação. O

Jornalismo se destaca, mas, também podemos ver a presença significativa da Telenovela e da

Televisão. É nos auxílios que, pela primeira vez, o litoral paulista aparece pedindo apoio de

pesquisa, sendo representado pela cidade de Santos. Quando pensamos em quem está

produzindo, o predomínio é feminino. Em termos de diálogo internacional, este se dá em boa

parte com a Europa. É de lá também, em detrimento de outros pontos do mundo, que chegam

os principais autores como marcos teóricos - pesquisadores que vêm ao Brasil muito

estimulados pelas professoras Ana Claudia Mei e Lúcia Santaella, ambas da PUC-SP.

Considerações estabelecidas a partir da leitura das amostras, finalizamos este capítulo

com as inferências proporcionadas por meio das pesquisas analisadas. Foram quatro os polos

que sustentam a nossa análise de conteúdo, do ponto de vista quantitativo. O primeiro é o polo

emissor que leva em consideração o produtor da mensagem. Observados Metodologias, Temas

e Referências bibliográficas, conclui-se que o material abrange todas as modalidades de

fomento a partir de quem realiza a pesquisa, ou seja, o pesquisador beneficiado da FAPESP,

que por meio de seu trabalho, chega à representatividade da Comunicação, como assegura

Bardin (2011). Diante dos pressupostos e do que foi analisado, são possíveis cinco situações:

(a) as pesquisas exprimem e representam a influência do orientador na orientação. Isto é

possível notar nitidamente, com o crescimento da Semiótica, por exemplo, que se tornou uma

ferramenta metodológica, decorrente da significativa participação da PUC-SP, entre os

fomentos de pesquisa, bem como, com os orientandos de Pós-Doc nas questões filosóficas da

Comunicação. Uma demonstração de afinidade entre orientadores e linhas de pesquisa que

seguem uma coerência dentro dos pedidos à agência de fomento. Lúcia Santaella está alinhada

com estudos de Peirce; Ana Claudia Mei, com a Sociossemiótica; Ciro Marcondes Filho, com

a Nova Teoria da Comunicação em perspectiva filosófica; (b) evidenciada a preferência pela

literatura estrangeira com as matrizes do pensamento ideológico partindo da Europa,

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240

primeiramente, e depois, dos EUA. Essa representatividade estrangeira nos parece ir além de

uma matriz de pensamento configurando uma espécie de “grife acadêmica”, no sentido de que

determinados autores dariam mais densidade à pesquisa; (c) em Metodologia, predomina a

Pesquisa Bibliográfica como método de abertura ao conhecimento e colocação do campo; (d)

A falta de informações sobre determinadas categorias não se pode atribuir unicamente ao

pesquisador. Como os dados foram consultados e extraídos da base da Biblioteca Virtual, a

transmissão de informação pode ter acarretado transtornos operacionais; (e) ao mesmo tempo

em que se identificam autores “de moda”, também há os clássicos que reforçam o caráter

interdisciplinar da Comunicação.

No polo da mensagem, as Bolsas no Brasil, as Bolsas no Exterior, os Auxílios Regulares,

os Auxílios Publicação e os Auxílios de Pesquisador Visitante fazem parte de uma leitura

normal, segundo Bardin (2011), e que posteriormente foram levadas à condição de Análise do

Conteúdo. Os dados foram organizados, em categorias, que envolvem Instituição, Cidade,

Orientador, Sexo do Orientador, Orientando, Sexo do Orientando, Temas, Metodologias e

Bibliografias para encontrar significação, isto é, a primeira fase de compilação das amostras

apresenta um significante que, codificado, gera significados capazes de interpretação. Todas

essas informações foram sistematizadas em tabelas, e depois, analisadas dentro da perspectiva

do código, partindo da análise do “continente”, ou seja, tudo o que foi recolhido, na base de

dados original, foi transportado para a Análise de Conteúdo e seguiu um critério de leitura a

fim de reconstruir a memória das pesquisas em Comunicação, ao longo de 25 anos, para se

chegar à contribuição dada por esses pesquisadores que se valeram da FAPESP para construir

a Área.

Também nos valemos do polo da significação que pode ser enquadrado por primeira ou

segunda significação. No nosso caso, esta pesquisa se insere em uma segunda significação,

pois, queremos de fato pensar a organização da Área da Comunicação, no sentido de visitar os

fomentos disponibilizados e a produção de um conhecimento sobre Comunicação. Os dados

são mensagens, e por isso, representam, como entende Bardin (2011), uma significação. É fato

que pelos estratos quantitativos, conseguimos estabelecer uma leitura capaz de produzir um

panorama sobre os estudos na Área. E, por fim, o polo do médium, tendo como este, a Biblioteca

Virtual, a maneira mais acessível à produtividade dos pesquisadores, uma vez que não se podia

consultar processos físicos nem relatórios científicos finais. Cada fomento forma o médium,

especialmente, como suporte material do código, segundo a proposta de Bardin (2011). Por

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241

mais que na primeira entrevista67 com o então diretor da Área de Ciências Humanas e Sociais

II, Prof. Norval Baitello Júnior, ele tenha dito que os dados disponíveis são reais aos projetos

de pesquisa apresentados, o resultado final – a não ser a data do término da vigência do fomento

– não é trazido. Assim, compreender o que se pesquisa na Área, é com base em indícios,

principalmente, nas pesquisas com boa parte de informações que nos permitem, a partir dos

documentos, construir parcialmente uma identidade taxionômica da Área da Comunicação por

meio do financiamento FAPESP.

Uma vez apresentados os indicadores, preocupamo-nos em desenvolver as inferências

que representam, como entende Bardin (2011), a análise de conteúdo da análise de conteúdo.

Assim, após todos os procedimentos de pré-análise, chegamos aos resultados de interpretação,

partindo das operações estatísticas, para se compreender por onde transita a pesquisa em

Comunicação fomentada pela FAPESP ao longo dos 25 anos analisados na Biblioteca Virtual

da Fundação. As variáveis de inferência foram construídas a partir das percepções encontradas

nas amostras que registram as práticas de pesquisa na Área.

67 A entrevista com o professor foi realizada no dia 21/12/2015, no escritório dele, em São Paulo (SP).

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242

QUADRO 58 –Inferências no cenário de Bolsas e Auxílios à Pesquisa

VARIÁVEL DE

INFERÊNCIA

INTERPRETAÇÃO

DESCRIÇÃO

HIPÓTESES

1. Interesse pela Pesquisa

em Comunicação

2. Universidade Pública

Não há um percurso formativo completo – considerando a

noção de ciclo escolar – entre os fomentos da FAPESP, haja

vista, o desequilíbrio numérico que se apresenta entre as

etapas de formação e suas bolsas concedidas. Porém, o

interesse pela pesquisa em Comunicação é algo vivo e se

confirma quando as fases iniciais, Iniciação Científica e

Mestrado, apresentam grande demanda por bolsas.

Ainda levando em consideração a Iniciação Cientifica e o

Mestrado, nota-se que a primeira é uma forma de contato

inicial com os métodos e técnicas da pesquisa acadêmica,

embora nem sempre, o interesse de tema do candidato seja

priorizado, pois, ele pode fazer parte da construção de outros

projetos em curso dentro de uma instituição. Já no Mestrado,

este pode ser compreendido como condição de

capacitação/qualificação bem como de sobrevivência, pois, a

situação econômica do Brasil faz, inclusive, que alguns optem

pelo fomento como único recurso financeiro diante do cenário

preocupante do desemprego no Brasil. Ainda mais em um

centro importante como São Paulo.

Exige dos pesquisadores em formação a dedicação exclusiva,

critério que reforça o papel da pesquisa como princípio vital

de uma universidade ao lado do ensino e da extensão. Se, por

um lado, tem o benefício de “ainda” não cobrar mensalidade

– no fim de 2017, já houve sugestão do Banco Mundial para

cobrar “tarifas escolares” no ensino público superior brasileiro

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243

3.Universidade/Faculdade

Particular

como opção para ampliar recursos das universidades federais

sem sobrecarregar o orçamento – por outro, inviabiliza o

ingresso de muitos candidatos, que não podem deixar de

trabalhar, o que significaria abrir mão dos ganhos que

materializam o sustento pessoal individual ou familiar.

Em relação ao ambiente de investigação, depende que os

sujeitos de pesquisa tragam, para dentro dela, as situações

práticas do mundo externo problematizando-as. As realidades

são mais trazidas do que buscadas pelas universidades do

ponto de vista da produção de conhecimento. Do ponto de

vista estrutural, enfrenta sérios problemas, sobretudo, com a

crise financeira do Brasil que resultou em cortes

significativos, na segunda década do século XXI.

Descrições um pouco parecidas com as instituições públicas,

embora no âmbito da pesquisa particular, não se exija a

dedicação exclusiva ao estudante que tem um prazo para

entregar sua pesquisa em formato de produto (dissertação ou

tese). Tem, no fomento, uma possibilidade de custeio do

ensino, porém, o conhecimento do corpo discente sobre essa

forma de incentivo depende de divulgação e, em alguns casos,

como ocorre com a FAPESP, da existência de um escritório

de apoio na Universidade. Esse maior conhecimento pode ser

instrutivo para a elaboração de projetos de pesquisa mais

ousados e a longo prazo.

Do ponto de vista do capital, as instituições privadas seguem

as leis de mercado que, na segunda década do século XXI,

encontram na crise, a justificativa para precarizações sejam

elas de ensino, estrutura, contratos de trabalho, etc...

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244

4. Objeto da Pesquisa em

Comunicação

5. Espírito Científico

6. Pesquisa Bibliográfica

7. Complexidade da

Comunicação

Ainda carece de um conceito mais sistematizado em função

da larga escala de fragmentação temática que a Comunicação

experimenta. Um fator que pode ser complicador para isso é a

interdisciplinaridade, como espécie de passagem para a nossa

Área, onde se aplica o falso discurso de que tudo é, ou possa

vir a ser, Comunicação.

O conceito central de Comunicação é pouco levado em

consideração. Pensa-se mais na resposta a uma prática do que

o seu sentido teórico. Isto gera uma tendência dos

pesquisadores a confirmarem o que se prevê aceitando a

conformação do resultado como algo acabado sem pensar na

problematização do problema. Muitas vezes, fecha-se uma

pesquisa com a sensação de que o tema se dá por encerrado,

naquele trabalho, sendo que, na verdade, uma pesquisa não se

esgota. O ideal é que ela lance novas problemáticas e o fluxo

se repita.

Estratégia metodológica mais adotada em grande parte das

pesquisas, serve de parâmetro para a fundamentação teórica

de um trabalho, bem como, contextualizar o seu campo de

atuação. Trata-se de um recurso inerente a todo trabalho

científico, mas não, o principal

Há um engano em pensar a complexidade como algo

trabalhoso. Ao adotarmos o conceito de Edgar Morin relativo

à obscuridade em relação ao que não se conhece, falta aos

sujeitos de pesquisa compreender a complexidade da

Comunicação, que em função de sua fragmentação temática,

abre demais o seu campo de atuação permitindo

compreensões mais genéricas do que específicas. Isto leva à

falta de organização dos chamados sistemas complexos,

definidos por Rolando García (2006), e que se formam no

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8. Internacionalização da

Pesquisa

9. Interdisciplinaridade

interior de realidades organizadas por totalidades cujos

elementos não se separam. Sem essa devida organização,

elementos heterogêneos impõem a perda do comum e se

tornam situações postulantes ao fomento FAPESP. A

instituição, por sua vez, considera o volume de pedidos na

Área, atendendo solicitações que seguem modelos pré-

determinados, sem necessariamente haver, o cuidado em

considerar a problemática geral da Área que poderia ser

estudada por uma base conceitual comum de concepção

compartilhada da pesquisa em suas relações com a sociedade.

Com isto, gera-se um discurso, na teoria, e outro na prática,

que materializa o desconhecimento da agência reguladora

sobre o fluxo de conhecimento produzido pelos pesquisadores

financiados para isso.

A internacionalização se tornou um dos critérios de avaliação

de órgãos reguladores e controladores dos Programas de Pós-

Graduação. Quando verificamos essa relação, no fomento da

FAPESP, identificamos que o pesquisador, para ir ao exterior,

depende da relação de seu orientador com algum professor

pesquisador estrangeiro e também de uma afinidade temática

de pesquisa. Isto está muito presente nas relações

internacionais da PUC-SP com a Semiótica.

A bibliografia internacional domina no Brasil, com os EUA e

a Europa se configurando nas principais fontes do pensamento

comunicacional brasileiro. O intenso diálogo, com

instituições e pesquisadores franceses, denota a tendência de

uma pesquisa mais estruturalista na Área da Comunicação.

Questão inerente, e ao mesmo tempo, complexa. Se o diálogo

e a troca são princípios para a Comunicação, como negar a

interdisciplinaridade? Ela precisa ocorrer, mas ter respeitada

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10.Localização geográfica

suas fronteiras e ser abarcada pela nossa Área, que deve

reconhecer a efetividade de quanto um fenômeno realmente se

encaixa sob ótica comunicacional. Há uma grande confusão,

sem limites conceituais, que abarcam tudo como questão de

Comunicação. Isto cabe à própria institucionalização do

campo ser uma fonte abalizadora, pois, percebemos que é

grande o número de indivíduos que migram para a nossa Área

tanto na categoria de discentes como docentes. É flagrante

perceber que, muitos Programas de Pós-Graduação em

Comunicação, contam com pesquisadores orientadores que

não são genuinamente da Área e que lá abarcaram por

questões de aproximações inter ou multidisciplinares. Trata-

se de uma demonstração de fragilidade do ponto de vista da

nossa organização sistêmica. Como institucionalizar e

legitimar um campo ou uma ciência se, nem sempre, nossas

raízes são próprias?

Os fomentos consignados demonstram equiparação nas

produções entre capital e interior em termos de volume de

produtividade, porém, a cidade de São Paulo é o grande centro

de referência à pesquisa em Comunicação. Um dos fatores,

para isso, tem relação com a presença de uma das

universidades públicas brasileiras mais representativas nos

cenários nacional e internacional: a USP. Vemos também uma

descentralização para o interior e consideramos isto em

função não apenas de outras universidades públicas

renomadas, como UNESP, UFSCAR e UNICAMP, mas

também, pelo fato de haver grandes distâncias quilométricas

entre interior e capital. Há de se considerar também a região

do ABC como opção de desafogar o grande centro urbano que

é a capital paulista. Onde se percebe pequena

representatividade é no litoral paulista que tem como principal

cidade, Santos, onde há polo universitário. Acreditamos,

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247

11. Especialização de

Programas de Pós-

Graduação e o Fluxo de

Conhecimento da

Comunicação

porém, que sua proximidade com o ABC, e também com a

própria capital, pese como fator decisivo para que

pesquisadores de lá busquem formação em um grande centro.

Muito da fragmentação do conceito de Comunicação se deve

à pluralidade de pesquisas aceitas em Programas de Pós-

Graduação. A adequação de um projeto se dá a um conjunto

de fatores congêneres, como por exemplo, linhas de pesquisa,

atuação do orientador naquele tema e suas correlações,

viabilidade. Pouco se pensa um projeto à exaustão do fluxo do

conhecimento e sua contribuição ao aprimoramento da Área.

A Comunicação não faz a lição de casa do partilhar. Age em

ilhas cercadas de conhecimento próprio sobre as quais se

fecham indivíduos que comungam das mesmas ideias e se

colocam como soldados do campo para a luta simbólica

defendida nos pressupostos de Pierre Bourdieu. Vale mais o

agrupamento predador que a problemática e sua consequente

pergunta de pesquisa.

Por isso, é nesse sentido, que propomos uma mudança

baseando-se no esboço de legitimidade que a PUC-SP, em seu

Programa de Pós-Graduação, se concentra nos estudos de

Semiótica. Por meio dos fomentos da FAPESP oferecidos a

esse Programa em questão, nota-se a prática que rompe os

paradigmas em relação ao conceito multifacetado da

Comunicação. Trata-se de um modelo que pode ser

considerado, como grande contribuição, aos demais

Programas. Embora seja positivo, a este resultado se chegou,

porque seus integrantes se fecharam em ilhas que propõem

lutas simbólicas à luz de fundamentações teóricas

diferenciais.

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O que propomos, em primeiro momento, é um fechamento,

mas não para a luta. Fechar-se, em nosso ponto de vista,

significa dar a oportunidade de cada Programa revisitar suas

produções realizadas, de modo a tentar encontrar e

estabelecer uma espinha dorsal que leve ao fluxo do

conhecimento. É esta a maneira pela qual acreditamos ser

possível controlar um pouco a diversificação, não no sentido

de reduzir o número de pesquisas, mas sim, de deixar claro

que os fenômenos precisam ser encaixados a um olhar

comunicacional que construa um sentido para a Área.

Contribuições setorizadas podem vir a propiciar, talvez, um

melhor entendimento do que é a Comunicação, no tocante, a

essa dificuldade de sua conceituação. E esta construção

pode se dar, por que não, por um projeto temático

apresentado à própria FAPESP.

QUADRO 59 –Inferências no cenário da Biblioteca Virtual da FAPESP

VARIÁVEL DE

INFERÊNCIA

INTERPRETAÇÃO

DESCRIÇÃO

HIPÓTESES

12. Banco de Dados

O levantamento de informações das pesquisas fomentadas, na Área

da Comunicação, pela FAPESP, nos demonstrou que é possível haver

falhas na alimentação dos dados sobre cada processo, porém, é

impossível identificar se as falhas ocorridas sejam do pesquisador ou

de quem fez o processo inicial de abastecimento da Biblioteca, na

FAPESP, que foi operado manualmente, em seus primeiros anos, até

a informatização do sistema. De qualquer forma, isto nos permite

supor que a rigidez com tantas etapas burocráticas para a concessão

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249

13. Imposição de

Burocracia ao

pesquisador

14. Comunicação

Digital como Tema

de Pesquisa

15. Metodologias de

Pesquisa

do apoio não é tão eficaz e controlada com o repositório de dados que

se tornam documentos históricos.

Ao longo de toda a pesquisa, damos a dimensão de que o fomento é

uma via de mão dupla, pois, a FAPESP concede o dinheiro para a

realização da pesquisa e o pesquisador devolve o investimento em

forma de conhecimento. Porém, quando analisamos o que nos é

disponibilizado, bem como a descrição de cada tipo de fomento, fica

a impressão de que as exigências da FAPESP visam sua transparência

e os relatórios entregues são de acompanhamento do trabalho no

intuito de uma prestação de contas, de uma transparência pública, e

não, da produção de conhecimento e o quanto ela resultou em

utilidade social que, inclusive, é de desconhecimento da

coordenadoria de Área, a não ser por algo muito relevante, que tenha

divulgação.

Ficam evidentes o surgimento de novas práticas e experiências, no

âmbito digital, perpassando pela Internet, Redes Sociais, processos

maquínicos considerados por meio de leituras semióticas, etc...

Tanto nas bolsas de estudo, como nos auxílios à pesquisa, fica

evidenciado o uso de metodologias paradigmáticas. Ainda são

poucas, porém, já aparecem pesquisas com metodologias próprias da

Internet e da Digitalização, no caso, a Netnografia.

O propósito da interpretação, na visão de Bardin, é o de gerar outras orientações para

uma nova análise ou utilizar os resultados de análise com fins teóricos ou pragmáticos.

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Acreditamos que, pelas nossas interpretações, descritas acima, conseguimos produzir com esta

pesquisa, novas orientações que demandam outras orientações bem como constituir fins

pragmáticos no cenário sobre como se pesquisa a Comunicação, por meio de uma agência de

fomento. Diante das nossas inferências, podemos dizer que a Comunicação, vista por meio dos

auxílios à pesquisa, bolsas de estudo e publicações da FAPESP, demonstra que há interesse de

pesquisa, principalmente, porque a Iniciação Cientifica e o Mestrado constituem demandas

fortes, embora não se possa dizer que haja um ciclo contínuo na formação do pesquisador, que

em termos de ambiente, se identifica mais como constituição de uma carreira nas universidades

públicas.

A fragmentação temática de nossa Área não permite constituir um objeto mais próprio

e particular, o que faz com que a grande diversidade propicie a conformação das respostas, por

parte do pesquisador, que nem sempre pergunta, logo, deixa de ser um candidato ao espírito

científico. Sequer a indagação sobre a interdisciplinaridade é feita, uma vez que ainda não

localizamos o ponto nevrálgico de nossos limites com as fronteiras de outras Áreas de

Conhecimento, que buscam demandas na Comunicação, talvez, pela fragilidade de seu

território. Antes de saber com quem dialogamos, necessitamos de uma gênese, com raízes

próprias, que tragam pesquisadores natos, oriundos da Comunicação, a fim de que eles

sinalizem os caminhos por onde devemos seguir. Isto é um pouco atrapalhado, inclusive, pela

bibliografia estrangeira, que predomina e sinaliza, a nós brasileiros, a importação e o consumo

quase sempre acrítico de matrizes do pensamento comunicacional com chancela dos EUA e da

Europa. Uma alternativa para enfrentar isto, talvez seja, a nossa proposta de repensar o que se

produz nos nossos Programas de Pós-Graduação – a começar quiçá pelos paulistas –, aos quais

sugerimos seguir modelos setoriais, como o da PUC, que já oferece à Comunicação uma

espinha dorsal de reflexão e desenvolvimento do conhecimento comunicacional vinculando-se

à Semiótica. Por fim, este panorama, construído através das pesquisas que receberam apoio da

FAPESP, pode trazer falhas em função das informações prestadas. Assevera-se que a Fundação

é importante para o constructo legitimador de nossa Área, porém, ela é um pouco incipiente

quando, na via de mão dupla com o pesquisador, valoriza mais a transparência pública do

dinheiro investido com relatórios comprovadores do que na discussão do conhecimento

produzido em forma de retorno à sociedade, que muitas vezes, só se dá quando o pesquisador

volta para pedir um auxílio publicação. E eles ainda são poucos!

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251

CAPÍTULO IV – LIDERANÇAS DO FOMENTO E

COMUNICAÇÃO: CAMINHOS POSSÍVEIS

A Comunicação precisa de uma Taxionomia e há várias justificativas que concorrem

para isso. Uma delas vem de Craig Calhoun (2012), por exemplo, que acredita que o estudo

intelectualmente sério da Comunicação deve ser transformador para as Ciências Sociais que,

em função de tantas disciplinas emergentes, se viu composta por subcampos com potencial para

se tornarem disciplinas separadas por conta própria. Além disso, o autor lembra que há vários

métodos para se estudar a Comunicação como experimentos, etnografias, pesquisas históricas,

levantamentos, análises textuais e métodos cada vez mais visuais.

Tais variedades foram encontradas ao longo de nossa análise. A Taxionomia pode, por

meio de sua proposta de organização, elucidar alguns pontos questionados por Calhoun como

os valores comuns defendidos, a compreensão mútua do saber e a circulação dos estudos pelo

campo. Isto reforça que, mais do que saber que a FAPESP existe e pesquisadores podem pleitear

apoio, os agentes da Área necessitam ponderar que a Comunicação é capaz de gerar

provocações como as das instituições acadêmicas, que se valem do fomento, e a própria

FAPESP pensam em relação ao que mensuramos por meio dos resultados, ou seja, se situar na

realidade da Área, levando em conta, os elementos que nosso estudo fornece para o exercício

da reflexão crítica sobre o que realmente somos como natureza do saber. Além destes fatores,

há de se considerar outras variáveis, como a vasta produção dos estudos em Comunicação e o

número de pessoas inseridas, sejam elas nativas ou importadas, e que buscam abrigo intelectual

para a realização de seus trabalhos.

De modo geral, a visão taxionômica coincide com o que José Luís Braga (2011) trata

como tautologia, isto é, na Comunicação, se faz necessário observar como a sociedade conversa

com a sociedade. Quando consideramos isto pelos fomentos da FAPESP, vemos que propor

uma constituição taxionômica da Comunicação, à luz dos apoios, é uma maneira de colocar à

sociedade uma forma de conversação, pois, se trata em dizer como os pesquisadores, que

buscam apoio financeiro, estão trabalhando o conhecimento na Área. O fulcro central é a

produção do conhecimento para a materialização do que entendemos como a via de mão dupla

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do fomento, ou seja, a Fundação aplica dinheiro e o pesquisador devolve em produção de

conhecimento.

Para organizar uma Área de conhecimento, é plausível situá-la e demonstrar a sua força

de expressividade, ou seja, dar condições à sua legitimação. Para Lopes (2017), essa

legitimação é conquistada, mas, precisa ser reconhecida. E o interesse pela epistemologia,

segundo ela, é recente no Brasil e na América Latina. Como assinala Braga (2011), já que a

constituição interna do campo da Comunicação não se faz a partir de proposições abstratas ou

de gestos epistemológicos formalizados, a prática da pesquisa assume um peso. E é justamente

nessa toada, à luz da FAPESP, que propomos a organização taxionômica para que os próprios

integrantes da Área acreditem mais na representatividade do saber em que atuam. Isto é

importante, muito em função da diversidade temática da Área ainda mais diante de tantos dados

que, segundo Lopes (2017), não falam por si porque precisam ser questionados por um

problema de pesquisa. Na própria compilação dos dados das 912 pesquisas, identificadas na

Biblioteca Virtual, encontramos a fragmentação da Comunicação como tema.

Nas Bolsas de Estudo no Brasil, pesquisadores tratam de Comunicação, Comunicação

de Massa, Comunicação Internacional, Comunicação Intercultural, Comunicação

Organizacional, Comunicação Pública e Comunicação Visual. Entre os Pesquisadores das

Bolsas de Estudo no Exterior, aparecem a Comunicação Pública, Comunicação Digital,

Comunicação Internacional, Comunicação Comparada e Comunicação Visual. Já nos Auxílios

Pesquisador Visitante são tratadas a Comunicação, Comunicação Digital, Comunicação

Científica, Comunicação Comparada, Comunicação Intercultural, Comunicação na

Administração, Comunicação Organizacional e Comunicação Social. Entre os Auxílios

Publicação, são temas a Comunicação Digital, Comunicação Social, Comunicação de Massa,

Comunicação Científica e a Comunicação em si. E entre os Auxílios Regulares, os

pesquisadores abordaram, nas suas temáticas, a Comunicação Científica, Comunicação de

Massa, Comunicação Digital, Comunicação em Saúde, Comunicação Visual, Comunicação

Intercultural, Comunicação Interpessoal, Comunicação Não Verbal, Comunicação Pública,

Comunicação Rural, Comunicação Social e Comunicação Verbal.

Como se nota, há diversidade de temas e fenômenos, na Área, o que faz Lúcia Santaella

(2001) reforçar as tradições da pesquisa e as linhas de força da Comunicação e Anamaria Fadul

(2003) se atentar ao avanço da pesquisa em Comunicação. Uma condição que faz Fadul apontar

para a necessidade de estudos sobre epistemologia e taxionomia da produção científica

existente. A autora aponta vários fatores para o que chama de campo científico consolidado.

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Entre eles, estão a vasta produção dos Programas de Pós-Graduação, o número de revistas

científicas, com perfis temáticos definidos, e a presença da comunidade científica nos

congressos e seminários de associações nacionais e internacionais para discussão de suas

pesquisas com os pares. Além desses fatores elencados, sugerimos a partir de nossa pesquisa, a

inclusão, 15 anos depois dessa análise da professora Anamaria Fadul, as agências de fomento,

em especial, a FAPESP que reconhece a Comunicação como Área fazendo disto um exercício

pleno de legitimação. Para esta construção, Lopes (2017) aposta em algumas teses. A primeira

passa pela legitimação social do campo, no Brasil, como fato concomitante à legitimação

científica. Para isto, ela sugere que o campo de estudos faça a teorização de práticas, que já

eram legitimadas por meio de uma autonomização, com determinantes de seu funcionamento

no âmbito da pesquisa, ensino e profissão. A segunda tese se centra na institucionalização do

campo de estudos, e por fim, a atenção para a centralidade da Comunicação e à crítica à

disciplinarização do conhecimento. Assim, tudo aponta para um cenário favorável, que venha

constituir uma geração “legítima” da Área, ao contrário da formação inicial dos programas de

Pós-Graduação, no Brasil, quando os pesquisadores foram induzidos, de acordo com Marques

de Melo (2008), aos reducionismos sociológicos para sobreviverem academicamente. Outra

variável importante que nossa produção taxionômica, a partir dos dados da Biblioteca Virtual

da FAPESP gera, é a revelação de dados acumulados até então guardados. Tal prática se torna

alternativa ao que Marques de Melo (2008) disse sobre a falta de competência de nossa

comunidade acadêmica em comunicar seus avanços e conquistas às autoridades que tomam

decisões no sistema nacional de Ciência e Tecnologia. A situação saiu deste panorama graças

às sociedades científicas do campo.

Considerando as produções registradas na Biblioteca Virtual e os conceitos apontados,

em entrevista, pelos pesquisadores que, na amostra quantitativa dos 25 anos de fomento da

FAPESP, aparecem como lideranças no sentido de reunirem o maior número de bolsas e

auxílios conquistados para seus orientandos produzirem nas universidades e faculdades

brasileiras e também, no intercâmbio científico, com a promoção de visitantes internacionais.

A proposta deriva das entrevistas feitas por este pesquisador, via e-mail, com os professores

Maximiliano Martin Vicente (Iniciação Científica/Mestrado); Lúcia Santaella (Doutorado);

Ciro Marcondes Filho (Pós-Doutorado) e Ana Claudia Mei (Auxílio Pesquisador Visitante) e,

pessoalmente, com a coordenadora da Área Ciências Humanas e Sociais (CHS) II da FAPESP,

professora doutora Esther Império Hamburger além da observação das pesquisas de seus

orientandos, ou de sua autoria, mais a repercussão disto junto à mídia verificando o noticiário

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produzido pelos canais de comunicação interna da Fundação, como a Revista Pesquisa

FAPESP, ou publicações externas que relacionam de alguma forma o pesquisador à agência.

Aplica-se ainda a metodologia da Análise de Conteúdo, com os referenciais,

pressupostos e teorias de Laurence Bardin (2011), em especial, no que tange às inferências

centralizadas nos polos do emissor e da significação, por entender que nossa amostra envolve

a ação realizada por quem fala, isto é, a mensagem do pesquisador, passada através de seu

estudo. A justificativa pelo polo emissor se dá porque as entrevistas representam e exprimem a

mensagem desses pesquisadores sobre seus entendimentos a respeito da Comunicação – e, pelo

polo da significação, porque seus auxílios à pesquisa FAPESP se constituem em documentos

com significados, oferecidos pela mensagem, que coadunam ao conceito da autora central para

este processo de que a descrição e o sentido perfazem o primeiro momento da significação.

Para seguir a ideia do percurso formativo em pesquisa, começamos pela Iniciação

Científica e Mestrado, etapas iniciais da carreira de um pesquisador, e que nos fomentos

demonstrados, no capítulo anterior, coincidem pelo maior número de projetos orientados pelo

professor doutor Maximiliano Martin Vicente, da FAAC/UNESP Bauru. Graduado em História

pela Universidade Sagrado Coração, de Bauru, em 1982; mestre em História pela USP (1987);

doutor em História Social pela USP (1996); e livre docente pela UNESP (2008), trabalha na

Graduação lecionando as disciplinas História do Brasil; Realidade Brasileira; Realidade

Regional; Realidade Socioeconômica e Política Brasileira e Realidade Socioeconômica e

Política Regional; na Pós-Graduação, ministra as disciplinas História e Comunicação na Nova

Ordem Internacional; Metodologia da Pesquisa em Comunicação e História e Comunicação na

Contemporaneidade. Em 2013, ofereceu o curso Comunicación y Cultura de la Paz, na

Universidade Jaume I, na Espanha, analisando a contribuição do meio para as Relações Públicas

e a Cidadania.

Nos trabalhos fomentados pela FAPESP, quando observamos o pesquisador de forma

isolada, temos o balanço de suas solicitações a orientandos até 9 de setembro de 2017. Foi um

total de 40 auxílios à pesquisa e bolsas de estudo, divididos entre um auxílio à pesquisa, uma

bolsa de estudo em andamento, no Brasil, 36 bolsas de estudo concluídas, no Brasil e duas

bolsas de estudo concluídas no exterior. Quando olhamos seus pedidos de pesquisador para

investigação própria, encontramos um fomento de 2008, quando ele trouxe ao Brasil o

pesquisador Francisco Xavier Gomes Tarin, da Universitat Jaume, da Espanha, cujo plano de

trabalho foi subsidiar, teoricamente, a leitura sob a ótica da Comunicação, desde suas teorias,

seus problemas e interpretações verbais e não verbais das manifestações midiáticas em

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determinados meios de comunicação com os quais seu grupo de pesquisa trabalha. Foram

propostas atividades expositivas, de caráter teórico, e encontros individuais com pesquisadores

em formação.

Voltando os olhares às 36 pesquisas orientadas – 26 na Iniciação Cientifica e 10 no

Mestrado – apresentamos o conteúdo de suas orientações, no sentido de diagnosticar o que esse

pesquisador vem estimulando junto aos seus alunos no tocante ao desenvolvimento da pesquisa

em Comunicação, começando pela Iniciação Cientifica. De 2013 a 2015, orientou Augusto

Júnior da Silva Santos, na pesquisa “Deutsche Welle Brasil: a construção da notícia e a

representação da Alemanha no portal”. As temáticas foram o Jornalismo e o Jornalismo Digital

e o trabalho tinha como proposta analisar, pela Análise de Conteúdo, a influência das novas

tecnologias no cenário das mídias; o processo de produção e veiculação às necessidades do

digital; aspectos culturais, políticos e econômicos da Alemanha e o processo de seleção e

produção de conteúdo. Já, entre 2011 e 2012, a orientanda Patrícia Vergara trabalhou com a

pesquisa “A Construção da Notícia no Portal Choike.Org”, trabalho científico por meio do qual,

analisou a influência das tecnologias de informação na construção de novas formas de cidadania

e também o conceito de fonte alternativa de notícias. Nesse mesmo período, ao orientar Victor

Luís dos Santos Barbosa, o professor esteve envolvido com a pesquisa “Jornalismo

Internacional: o papel dos blogs na publicação das notícias”, em que analisa como os blogs

contribuem para o trabalho dos correspondentes internacionais e como a discussão repercute no

jornalismo impresso. Ainda, em 2011, orientou Taís Dias Capelini, que pesquisou “Relações

Públicas e Cidadania: uma contribuição do jornal Le Monde Diplomatique”. Para chegar a tal

problemática, analisou matérias sobre movimentos sociais, direitos humanos e cidadania.

Ainda, na Iniciação Científica, no ano de 2010, orientou dois trabalhos. Com Nádia

Rubio Pirillo, pesquisou “Estudo de Notícias de Assessorias de Imprensa de Universidades

Públicas Paulistas”. A orientanda analisou duas assessorias de universidades estaduais e uma

de universidade federal para entender quais eram as prerrogativas de comunicação pública

presentes nessas instituições. No mesmo ano, o professor orientou Pamela Perez Leite, que se

dedicou a estudar a divulgação econômica na Mídia Oficial, no UOL e no jornal O Estado de

S.Paulo. Sua pesquisa abordou a linguagem das fontes oficiais, a pouca acessibilidade do

jornalismo econômico, aos leitores não especializados, e o acesso como obstáculo à informação

e exercício da cidadania. Em 2009, Karen Terossi foi a aluna de Iniciação Científica que

pesquisou a contribuição do Jornalismo para a construção do debate público na sociedade

democrática através do jornal Le Monde Diplomatique observando essa tendência a partir dos

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movimentos sociais. Entre 2007 e 2008, o professor esteve envolvido na pesquisa de Alex

Aracanjoleto que estudou a reformulação gráfica do jornal Folha de S.Paulo, em um estudo de

Comunicação Visual.

Em 2004, orientou Enzo Alexandre Kuratdmi, que pesquisou “Economia e Grande

Imprensa: a construção do cenário econômico pela Veja”. Um ano antes, com Marcela Dias

Besson, desenvolveu um estudo de caso do projeto Amigos da Escola, tendo como enfoque

principal, o trabalho voluntário para o exercício da cidadania. De 2002 a 2003, “A Violência na

Imprensa Escrita” foi tema da Iniciação Científica de Bruno Alencar Rodrigues, que usou as

notícias do Jornal da Cidade de Bauru, para tratar da presença dos fatos violentos nos meios de

comunicação. Com Fabiana Lima de Matos, trabalhou no ano de 2002, o discurso da imprensa

bauruense na Revolução Constitucionalista de 1932. Ainda, naquele ano, e vindo de 2001,

estava em vigor o projeto de pesquisa de Maurício da Silva de Moraes Junior que estudou o

crescimento da Renovação Carismática e o comportamento de seus membros em relação à

Comunicação. No primeiro ano que marca a passagem secular do XX para o XXI, Gabriela

Dias Besson trabalhou o contexto do jornalismo brasileiro, através da Revista Caras, tratando a

fabricação do imaginário e a concepção de informação. De 2001 a 2002, o professor orientou o

trabalho de Deise Pereira Dantas sobre história e memória de São Paulo, observando a Praça da

República e suas transformações.

Entre os anos 2000 e 2001, Alex Spada da Silva foi orientado em um estudo que

considerava os idosos entre a transição da vida ativa e a aposentadoria; Juliana Colussi Ribeiro

pesquisou “Jornalismo e Comunicação na época dos Parâmetros Curriculares Nacionais”,

considerando sua aplicação a partir das propagandas do MEC e de um jornal produzido pela

Secretaria Estadual da Educação de São Paulo; a orientanda Renata Theodoro de Carvalho

estudou a biografia do ferroviário Gabriel Ruiz Pelegrini para resgatar a memória de Bauru; os

500 anos da descoberta do Brasil, na abordagem do Jornal Nacional, foram objeto de estudo da

Iniciação Científica de Flávio Henrique Polaquini que se dedicou ao estudo do Jornalismo

Interpretativo, do telejornalismo e da produção de sentido semiótico do texto.

A década de 1990 marca sete pesquisas de Iniciação Científica orientadas pelo professor

Max Vicente. Com Rosilane Gonçalves da Silva, trabalhou entre 1999 e 2000, a representação

do MST na mídia comparando a influência do noticiário dos jornais O Estado de S.Paulo e

Folha de S.Paulo na realidade social, política e econômica do Brasil. Ana Paula Araújo Pinheiro

pesquisou, em 1999, o posicionamento da Igreja Católica, no Regime Militar, em Ribeirão

Preto, interior de São Paulo. Já os anos de 1999 e 2000, serviram para Gilberto Kurita

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Yoshinaga ser orientando de uma pesquisa que se propôs ao registro histórico do rap no Brasil

e seu simbolismo de resistência cultural afroamericana como anseio da periferia. Melissa

Martins Diniz estudou, em 1999, a história da Sociedade Dante Alighieri de Bauru relacionando

a cultura italiana com o movimento integralista bauruense. Ainda naquele ano, orientou Erica

Fernanda Scadelai em uma pesquisa sobre a industrialização do estado de São Paulo, nos anos

de 1990, por meio do jornalismo impresso. E 1998 serviu para as primeiras orientações com

bolsa FAPESP sendo que, com Erika de Moraes, o professor orientou um estudo sobre a

ideologia contida nas placas de ruas de Bauru. Já o estudante Carlos Gustavo Tofoli Francisco

se dedicou a pesquisar a história do Esporte Clube Noroeste, o time de futebol profissional de

Bauru.

Passando às suas orientações de bolsas de Mestrado, temos entre 2014 e 2016, a aluna

Aline Ferreira Pádua com “A Notícia: um retrato do jornalismo rio-pretense nos anos 1950”,

em que se dedica à História do Jornalismo traçando um perfil editorial, as técnicas utilizadas e

a concepção de jornalismo do impresso em questão. De 2013 a 2015, a orientação foi para

Christiane Delmondes Versuti com “Fanpage da Rádio Unesp FM: interatividade e

convergência em prol da cultura e cidadania”. Os processos de convergência e as práticas

sociais foram estudadas a partir dos processos de Comunicação com recurso das tecnologias

digitais. Um estudo dedicado à pesquisa bibliográfica, com entrevistas e análise de interação

para identificar a presença da emissora nas mídias digitais. Nos anos de 2013 e 2014, teve como

orientanda bolsista FAPESP, Caroline Gonçalves Taveira, que relacionou o jornalismo

econômico ao semanário Bundas, para estudar a imprensa alternativa como processo de

redemocratização do Brasil. A mestranda Aline Meneguini de Oliveira foi orientada pelo

professor Maximiliano Vicente na dissertação “Interação Comunitária: o cidadão em sintonia

radiofônica”. Seu trabalho teve a proposta de entender o rádio como instrumento de

consolidação da Comunicação para a cidadania. A orientanda Karol Natasha Lourenço

Castanheira trabalhou a pesquisa “Análise das Mensagens postadas pelo Partido Verde no

Twitter: o caso Marina Silva”. Utilizando metodologia etnográfica virtual, centrou-se em

trabalhar com as problemáticas da difusão ideológica, por meio dessa rede social, e o uso da

Comunicação como instrumento político. Além disso, analisou como as novas ferramentas

contribuem para estabelecer novas formas de Comunicação e como podem influenciar na

participação social. Praticamente, à mesma época, só que iniciada em 2010, a pesquisa de

Verônica Maria Alves Lima tratou “As Consequências das relações socioculturais no

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jornalismo da Revista Ocas”, através da análise de capas, para uma reflexão sociocultural bem

como da prática jornalística nesse veículo.

De 2009 a 2010, o professor Maximiliano Vicente orientou a dissertação “Blogs Diários:

reflexões sobre a identidade na virtualidade”. A orientanda Xenya de Aguiar Bucchioni usou a

etnografia virtual e pesquisou como uma nova tecnologia exerce efeitos e influências no

processo de empoderamento de uma comunidade indígena; como transforma a organização e

produção dos novos vínculos sociais e tenta encontrar o lugar do sujeito no processo

comunicacional. Já, entre 2008 e 2009, orientou a dissertação “As Estratégias Comunicacionais

de grifes de luxo na internet”, de Suelen Brandes Martins Valente, que tratou da Comunicação

em tempo real como um novo modelo de negócios. De 2006 a 2008, a pesquisa de Marta Vieira

Caputo foi “Comunicação e Ciberativismo: novas práticas para exercício da cidadania”. O

estudo verificou os movimentos ativistas e suas formas de Comunicação. Por fim, de 2000 a

2002, logo no início da passagem secular dos estudos em Comunicação, o professor

Maximiliano Martin Vicente orientou a pesquisa “O Jornalismo e o relato de testemunhas da

Ditadura em Piracicaba”, uma dissertação que analisou o regime militar nas representações

construídas pelo Jornal de Piracicaba.

Até aqui, pelo conjunto de bolsas de Iniciação Científica e Mestrado de seus bolsistas

FAPESP, pode-se afirmar, considerando a inferência da significação, de que o trabalho de

pesquisa do professor doutor Maximiliano Martin Vicente está centrado, majoritariamente no

Jornalismo e suas transformações. Essas pesquisas orientadas demonstram um processo natural

de fragmentação temática da qual o professor se vale para trabalhar diversas possibilidades

dessas práticas comunicativas, quando instiga seus alunos a pesquisar o Jornalismo pelas

noções do impresso, do digital, da especialização, do local e até mesmo do alternativo, além de

promover estudos sobre a Cidadania. Demarca-se, portanto, uma territorialidade de pesquisa

sobre a qual é possível seguir a linha de captar o quanto a prática jornalística evoluiu em seus

mais diversos procedimentos de realização. Não por acaso, acreditamos que a grande

aproximação do Jornalismo com as temáticas de pesquisa em Comunicação se apresente como

um ganho neste caminho possível de Comunicação, inclusive, corroborando nosso

entendimento de que os estudos em Comunicação precisam de uma segmentação para chegar

ao seu amadurecimento. Sobre sua presença na mídia, não há registros decorrentes de suas

pesquisas realizadas ou orientadas com recursos da Fundação.

Do registro documental, saltamos para a própria emissão. Em resposta à entrevista, por

e-mail, enviada pelo autor com base em seus resultados quantitativos, o professor Maximiliano

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Martin Vicente disse que, na Graduação, todo aluno visualiza a Iniciação Científica e o

Mestrado como complemento de sua formação. Além disso, o professor considera que em

muitos casos, a chance de se associar à pesquisa ainda na Graduação representa ao estudante

uma opção econômica coincidindo com a satisfação de colocar, em seu currículo, a conquista

de uma bolsa FAPESP, difícil de ser conseguida. Seriam duas simbologias, do nosso ponto de

vista, entretanto, Max Vicente destaca que, quando o aluno se insere em um grupo de pesquisa,

ele acaba gerando projetos que, de alguma forma, são submetidos às agências de fomento.

Embora o aluno possa ter esse olhar, não é assim que consideramos o fato de uma instituição

oferecer a Iniciação Científica. Isto coincide com o que o professor diz a respeito do primeiro

contato desse jovem aluno com a pesquisa acadêmica. Segundo ele, é daí que nasce o

aprendizado de elaboração de um projeto, formulando perguntas e seguindo métodos que

futuramente levarão a resultados, posteriormente, tornados públicos em congressos ou

publicações. Ele confirma também a tendência, muito valorizada pela FAPESP na visão dele,

de muitos alunos de Iniciação Cientifica entrarem em projetos de pesquisa dos orientadores,

condição que já apontamos ao longo deste trabalho, defendendo que o aluno de Iniciação

precisa ter curiosidade e entusiasmo pelo tema para que a pesquisa avance. Essa posição

contrária seria uma alternativa ao discurso, mas, não é majoritária de que o aluno da Iniciação

serve de mão de obra para projetos de pesquisa maiores.

Ele acredita que orientador e orientando precisam formular um tema relevante, de

preferência, inovador e desafiador a ponto de trazer novos elementos para a Área em que atuam.

Quando questionamos em que lugar a Comunicação se encontra e como se desfaz seu impasse

conceitual, ele diz (2017): “[...] sempre me coloquei do lado que entende a Comunicação como

uma ciência. A palavra ciência implica em conjunto de saberes, demanda um método e a

especificação dos conhecimentos. Desde todos os pontos de vista a Comunicação cumpre esses

requisitos”. Ainda sobre a sua opinião em relação ao conceito de Comunicação, ele a trata como

processo de intercâmbio igualitário de informações com repercussão social e interferência na

própria visão de sociedade. Aliás, esta definição corrobora bem a sua prática como professor

pesquisador e orientador, pois, pelo que resgatamos de seus benefícios obtidos junto à FAPESP,

Maximiliano Martin Vicente está trazendo, além da contribuição e formação de pesquisadores,

o conhecimento sobre questões igualitárias, como por exemplo, cidadania e movimentos

sociais; as transformações do Jornalismo; as experiências propiciadas pelas novas tecnologias

e pela própria história.

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Sobre o papel da FAPESP, na construção da Área, ele entende que não apenas esta

instituição em questão, mas outra qualquer, contribui para o fortalecimento dos estudos de

Comunicação, uma vez que passam a ser compreendidos por sua influência na cidade cotidiana

e social. O pesquisador considera que, se a FAPESP aplica dinheiro público no financiamento

de uma pesquisa, ela já exerce sua função social e propicia a credibilidade à Comunicação, um

tema que ele aponta como discutido, na segunda década dos anos 2000, tanto no CNPq como

na CAPES.

4.1 As atividades de Lúcia Santaella

A professora pesquisadora aparece como líder do fomento, quando consideramos dentro

do percurso formativo, as bolsas de Doutorado. Uma das referências na Área, Santaella é

pesquisadora com bolsa de produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 1A, professora titular do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, com doutoramento pela

mesma instituição, em 1973, além de Pós-Doc pela Universidade de Indiana, em 1988, e livre

docente em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, em 1993. Também recebeu apoio

FAPESP para um pós-doc na Universidade Kassel, na Alemanha. De acordo com seu Currículo

Lattes, em junho de 2017, orientou 237 mestres e doutores. Supervisionou seis pós-docs.

Publicou 42 livros, sendo seis em coautoria, e outros dois, sobre estudos críticos. Organizou a

edição de 15 livros, teve aproximadamente 400 artigos publicados em periódicos científicos no

Brasil e no Exterior. Trabalha com Comunicação, Semiótica Cognitiva e Computacional;

Estéticas Tecnológicas e Filosofia e Metodologia da Comunicação. Coordena os Centros de

Investigação em Mídias Digitais e Pesquisas Peirceanas. Na pós-graduação, trabalha com as

disciplinas Conceitos de Literatura, Semiótica Geral, Semiótica Peirceana, Estética e Percepção

e Metodologia da Pesquisa Científica. Na graduação, Teoria Literária, Semiótica e Teoria da

Comunicação. Vem atuando também em Ontologia da Comunicação; Linguagens; Semiótica

Cognitiva; Redes sociais; Representações midiáticas; Autorreferencialidade nos games;

Tecnologias e gramáticas da sonoridade; Mapeamento da Área da Comunicação; Estudos

comparados Brasil e Alemanha; Fundamentos Biocognitivos da Comunicação: verbal, visual e

sonoro na multimídia; Paradigmas evolucionistas; Signos; Evolucionismo peirceano. Lúcia

Santaella também foi revisora de projetos de fomento da FAPESP entre 2013 e 2014.

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Dando início aos fomentos que recebeu para beneficiar seus orientandos, entre 2010 e

2013, o doutorado de Mariana Tojeira Cara Almeida foi sobre “A Imagem dos adolescentes na

web: a busca pela corporeidade espetacular”. Essa pesquisa buscou analisar a extra visibilidade

do corpo na Comunicação interpessoal mediada na imagem fotográfica digital e a cultura jovem

nos atos comunicacionais que visam a sociabilidade na geração dos anos 1990. De 2009 a 2012,

a tese de Marcelo Santos de Moraes, intitulada “A Linguagem Pictórica de quem não vê:

imagens, diagramas e metáforas” se propôs a uma tradução inter semiótica, na qual, se

estabeleceu a mediação da Comunicação entre cegos e videntes. Por meio da linguagem

pictórica, buscou-se analisar até que ponto o que se toma por sintaxe é exclusivo dos sentidos

captados pela visão e como o papel interfere nesse processo.

Entre 2006 e 2010, Arlete dos Santos Petry esteve sob orientação da professora Lúcia

Santaella em seu doutorado que tratou “O jogo como condição da autoria e da produção de

conhecimento: análise e produção em linguagem hipermídia”. Esse mesmo período coincidiu

com a bolsista Priscila Monteiro Borges, com a tese “Mensagens Cifradas: entre o

incognoscível e a criatividade”, que buscou compreender o ambiente digitalizado como espaço

aberto de significados de mensagens cifradas propondo a reestruturação dos códigos visual e

verbal no limite do cognoscível. Também foi possível pesquisar o processo criativo na quebra

de convenções dos signos e a caracterização de ambientes que propiciam esse surgimento. De

2004 a 2005, orientou Maria Lucília Borges em “O soundesign e a síntese dos disparates: a

dobra como espaço e(ntre)”, que estudou a relação música e design, a ponto de pensar no

conceito de soundesign, além da linguagem operando por uma sensação intrínseca.

Em 1998, Santaella assumiu a orientação da tese “Os conceitos fluidos de D.Hofstadter

e a interação dos signos de Peirce: a construção de um diagrama dinâmico das classes de signo

de Peirce”, em que Priscilla Lena Farias trabalha até 2002, as visões teóricas e práticas da

cognição, além de construir um modelo informático da interação dinâmica dos signos

peirceanos e a proposição de diagramas dinâmicos. O mesmo período marca a orientação de

Álvaro João Magalhães de Queiroz, na tese “Diagramas Dinâmicos das dez classes de signos

de Charles S. Peirce”, em que o doutorando, de então, compara duas versões discordes das dez

classes de signos propondo uma nova versão por meio de digramas estabelecidos a partir dessas

relações. Já entre os anos de 1994 a 1999, “Imagens Animadas: uma análise sintática pelos

princípios semióticos” foi o trabalho de pesquisa doutoral de Sílvia Regina Ferreira de

Laurentiz, que investigou a linguagem visual, por princípios semióticos considerando os meios

eletrônicos como novas formas de representação. E a primeira tese de um bolsista FAPESP,

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tendo Santaella como orientadora, pertenceu a Rozélia de Lourdes Medeiros Tavares de Lima

que estudou semioticamente os “Objetos Holográficos”, apresentados em uma tese visual.

Essas nove teses relacionadas compõem parte das 19 bolsas de estudo no Brasil

conquistadas por Lúcia Santaella que ainda conta com 22 auxílios à pesquisa, 8 bolsas no

exterior e 1 bolsa no Brasil em andamento durante a realização desta pesquisa perfazendo assim

um total de 50 fomentos entre auxílios e bolsas. Seguindo a proposta deste capítulo, também

nos debruçamos sobre as produções individuais da pesquisadora para mostrar o que ela vem

produzindo de forma autoral na Área com apoio da Fundação. As obtenções de financiamento,

para isso, abrangem Organizações de Reunião Cientifica, Publicação de Livros, Projetos de

Pesquisa e Pesquisadores Visitantes.

Em 2015, ela obteve financiamento para o Simpósio Internacional “A Vida Secreta dos

Objetos: Ecologia das Mídias”, realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Dois anos antes (2013), levou para a PUC-SP o pesquisador Richard Guisin, da University of

Wisconsin, dos EUA, para a disciplina “Sociotramas: a natureza, a dinâmica e os efeitos das

redes digitais”. No ano de 2012, Santaella também obteve verba para o Simpósio Internacional

“A Vida Secreta dos Objetos: medialidades, materialidades e temporalidades”, que discutiu a

sistematização do novo cenário midiático e seus princípios epistemológicos; impactos dos

novos paradigmas no campo comunicacional, resgate do campo da Comunicação de sua

submissão quase irrestrita aos estudos e metodologias da natureza hermenêutica. No mesmo

ano, conseguiu verba para a publicação do livro “Arte Além e Aquém da Arte: a obra de Betty

Leimer”. Em 2011, promoveu a vinda do pesquisador Winfried Nöth, da Universitat Kassel, da

Alemanha, à disciplina “Por uma Semiótica Cognitiva: Semiose Computacional e Inteligência

Artificial”, em que trabalhou o conceito de máquina semiótica e fez participações em pesquisas.

Quatro anos antes, ele já havia estado, na PUC, oferecendo assessoria aos grupos de pesquisa

em Semiótica Cognitiva do Programa em Tecnologias da Inteligência e Design Digital na linha

de pesquisa sobre Aprendizagem e Semiótica Cognitiva. Também promoveu seminários e

reuniões para implantar o segmento da computação e cognição, nessa linha de pesquisa, deu

assessoria ao colegiado do programa de Relações Interdisciplinares a projetos de pesquisa em

três linhas e ainda atendeu mestrandos de Semiótica Cognitiva.

Em 2006, a professora conseguiu verba para o III Seminário sobre Filosofia e Semiótica

de Peirce. Também promoveu a vinda do pesquisador da Pennsylvania State University,

professor Vicent Colapietro, à PUC para atividades em três centros de pesquisa: Estudos

Peirceanos; Estudos de Pragmatismo e Estudos de Crítica Genética. Nessa visita, o pesquisador

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internacional desenvolveu reuniões semanais, com mestrandos e doutorandos, que se

dedicavam a pesquisar Peirce. Ainda nesse referido ano, participou, com apoio da FAPESP, do

Congresso Internacional de Estéticas Tecnológicas. Em 2005, obteve apoio para a publicação

de dois livros: “Mente e Diagrama: introdução à Teoria da Mente” e “Discursos Geopolíticos

da Mídia: Jornalismo e Imaginário Internacional na América Latina”. Entre 2002 e 2004, suas

conquistas, na FAPESP, foram com livros e eventos científicos. Lúcia Santaella publicou “O

Método Anticartesiano de C.S.Peirce” e participou do I Seminário Avançado em Filosofia e

Semiótica de Peirce.

O primeiro ano, deste século XXI, foi aberto com a vinda de Winfried Nöth à PUC-SP

para assessorar a gestão, integração e acompanhamento de pesquisas interdisciplinares em

Tecnologia e Mídias Digitais, Tecnologias de Inteligência e Design Digital; implantação do

projeto Cimid (Centro de Investigação em Mídias Digitais); pesquisadores que estruturaram a

Enciclopédia Digital de Peirce e organização do I Fórum Internacional de Semiótica Cognitiva

e Design Digital. Entre 2001 e 2002, a professora publicou “Matrizes da Linguagem e

Pensamento: sonora, visual, verbal, aplicações na Hipermídia”. No mesmo período, só que com

início um pouco antes (1999), a pesquisadora conseguiu fomento para a aquisição de

equipamentos para a pesquisa “Revolução Digital e Novas Formas de Produção e Difusão

Científicas”.

O fim dos anos 1990 marcou a conquista de fomento para seis atividades sendo, no ano

de 1998, um seminário avançado em Comunicação e Semiótica; a vinda do pesquisador da

University of Bucharest, da Romênia, Solomon Marcus, para consultoria e workshops em três

centros de pesquisa da PUC: Estudos Peirceanos; Crítica Genética e Ciências Cognitivas e

Semióticas além de ter participado do Seminário Avançado Internacional de Comunicação e

Semiótica. Também, em 1998, ela trouxe o professor Winfried Nöth para reestruturar a

disciplina Elaboração de Projeto de Pesquisa, co-orientar três teses de Doutorado, atender 15

projetos de pesquisa de mestrandos e doutorandos e proferir palestras nos Centros de Pesquisa

de Semiótica da Cultura; Ciências Cognitivas e Estudos Peirceanos. Um ano antes, 1997, ela

promoveu a visita do professor Thimas A. Sebeok, pesquisador da Indiana University dos EUA,

em seminários de pesquisa sobre Semiótica e Ciências Cognitivas bem como oferecer

consultorias ao Centro de Pesquisa São Mathias e à Pós-Graduação em História da Ciência. Em

1996, Santaella participou, com apoio da FAPESP, do III Congresso Latino Americano de

Semiótica e para fechar seus fomentos obtidos, de 1992 a 1995, trabalhou com o projeto

temático “Avanços Tecnológicos e Nova Gramática da Sonoridade: suas implicações

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perceptivas e estéticas, culturais e epistemológicas”. Uma pesquisa que visou o estudo da

linguagem sonora e a nova gramática da entropia do discurso sonoro para também conceber,

do ponto de vista da estética, novos equipamentos e novas formas de aprendizagem que não

separam mais a engenharia do som da sensibilidade da escuta.

Alguns dos trabalhos da professora Lúcia Santaella, inclusive, ganharam repercussão,

na Revista Pesquisa FAPESP, principal publicação da agência de fomento paulista, com grande

circulação, não apenas no meio científico. Em setembro de 2001, na edição 68 da revista, a

pesquisadora foi entrevistada na reportagem “Navegando entre Platão e Salsichas” porque ela

havia encerrado um estudo prático e teórico, com apoio da FAPESP, sobre usuários da

hipermídia através do projeto Revolução Digital e Novas Formas de Produção e Difusão

Científicas. Nesse estudo, ela reuniu 45 pessoas, dividindo-as em três grupos de 15, envolvendo

pessoas sem conhecimento das redes, com pouco conhecimento e nativas das redes. Em vez de

perguntas, propôs tarefas a serem realizadas por meio da navegação na Internet. Por meio dessa

pesquisa, ela estabeleceu perfis e concluiu que o internauta deu origem a um novo tipo de leitor

do qual se exigem habilidades totalmente distintas dos receptores da palavra impressa ou das

imagens da televisão. Santaella (2001, p.70) define que “A linguagem do mundo digital só

existe quando o usuário atua e interfere na mensagem”. A autora acredita que cada internauta

tem sua teia particular de conexões, de modo assequencial e multilinear cuja lógica pertence a

ele e a mais ninguém. Por meio desse primeiro trabalho de campo da pesquisadora, ela defende

que a Internet se tornou a única mídia dialógica e interativa. Sobre os leitores, objeto de estudo

da pesquisa, ela os qualifica em dois. O grupo dos leitores novos é o dos internautas errantes

que praticam a arte da adivinhação, nomeados por Santaella de internautas detetives que

aprendem com a experiência. E o grupo dos leitores espertos se tornou o dos internautas

previdentes, que antecipam as consequências, ou seja, são aqueles que conhecem as regras de

funcionamento do mundo virtual.

Em janeiro de 2008, na edição 143, foi abordado o nome da professora em função dela

fazer parte do primeiro dossiê da Revista Matrizes, publicação da ECA/USP. Na reportagem

intitulada “Para pensar a Comunicação”, há uma menção sobre seu texto, que trata das

linguagens na Cultura das Mídias, a partir de uma radiografia dos novos objetos da

Comunicação Móvel. Já em março de 2011, na edição 181, ela foi entrevistada para a matéria

“O livro morreu? Viva o livro”, de Carlos Haag. A pesquisadora descreve o leitor digital,

seguindo a mesma linha de raciocínio da pesquisa apresentada na edição 68 da publicação. E,

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por fim, na edição 234, de abril de 2017, foi publicada uma nota sobre o livro dela, “Navegar

no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo”.

Em relação a outras notícias, relacionadas ao seu nome, captadas pela agência de

notícias da FAPESP, há registros dos livros “Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora,

visual, verbal”, publicado pela FAPESP, e “Redes Sociais Digitais: a cognição conectiva do

twitter” que constaram das referências para um concurso público de jornalistas, no Centro

Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, em dezembro de 2013. No ano de 2010,

mais precisamente, em julho, há notícias sobre a conquista do prêmio Luiz Beltrão, oferecido

pela INTERCOM, na categoria Maturidade Acadêmica. Em novembro de 2012, houve notícias

de um seminário da INTERCOM sobre panoramas da pesquisa em Comunicação. A professora

foi convidada para falar de pesquisas em novas mídias e hipermídias; realidade urbana; universo

da imagem; imagem e arte; design e arte; publicidade e consumo; cinema e audiovisual; mídia

e comunicação; multimídia e hipermídia; cibercultura; redes digitais; ativismo nas redes e

inclusão digital; ambientes e plataformas digitais e games.

Em dezembro de 2001, apareceu uma notícia no Jornal do Brasil sobre o lançamento de

seu livro “Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal”. Descreve-se a obra

como resultado de 25 anos de pesquisas fundadas na Teoria dos Signos e dos processos sígnicos

de Peirce. Em setembro de 2008, encontramos registro da participação de Santaella em um

debate sobre o livro-objeto de Bettey Leime, Les Etres Lettres. Em 2001, houve menções sobre

a conquista do segundo lugar da categoria Comunicação, no Prêmio Jabuti, com a obra “A

ecologia pluralista da Comunicação”. Ainda naquele ano, há notícias da PUC sobre teses e

dissertações do Programa de Doutorado em Tecnologias Digitais e Design Digital, coordenado

pela professora. Em 2013, no texto de José Marques de Melo, “Por que enaltecer o pioneirismo

de Luiz Beltrão?”, Santaella é apontada, pelo professor, como autora da Comunicação em

disciplina humanística e pertencente à corrente dos pensadores que são Atualizadores em

função da sua obra “Culturas e Artes do Pós-Humano”. Em 2009, foi noticiada sua participação

no primeiro seminário do mestrado em Ciências da Comunicação de Manaus (AM), sem citação

a alguma universidade. No ano seguinte, deu palestra na Universidade Anhembi Morumbi, de

São Paulo, em Colóquio de Moda, no qual atrelou tal tema ao corpo e à tecnologia. Em

novembro de 2012, a pesquisadora fez parte do Seminário Intercom-FAPESP “Caminhos

Cruzados: comunicar para conhecer68”, abordando os estudos em novas mídias que foram

68 Realizado em 2012, em São Paulo, o evento comemorou os 35 anos de fundação da INTERCOM, a Sociedade

Brasileira para os Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

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fomentados pela Fundação. Em 2014, foi noticiada sua palestra no Congresso Ibercom, em São

Paulo, cujo tema foi Mídias Sociais como espaço de cultura.

Aliás, temas como Mídias Sociais, por exemplo, apontam para um avanço prático em

nossa Área e fazem com que a professora Lúcia Santaella aborde em suas respostas à

entrevista69, a necessidade das demandas criadas. De acordo com ela, os novos fenômenos

constituem uma nova realidade que precisa receber atenção das agências de fomento. Ela afirma

que tais órgãos ainda estão muito atrelados às mídias tradicionais e que as nossas Subáreas

precisam ser ampliadas. É um processo moroso, mas que a pouco a pouco, ela acredita ser

necessário. Um problema existente, porém, que pode ser adaptado. Uma demanda que também

é ocupação da pesquisa e tem, nesta perspectiva de Santaella, uma contribuição. Como ela

mesma diz, na entrevista (2017), “Os pesquisadores vão expandindo a sua área de pesquisa e

as agências de fomento têm que estar abertas para o novo e inesperado. Basta ver o interesse

atual da Fapesp, por exemplo, em pesquisas naquilo que vem sendo chamado de humanidades

digitais”. O reconhecimento deve existir, porém, não pode perder a sua origem, a sua filiação.

Como ela mesma aponta, não pode haver ingenuidade de inventar a roda, uma vez que

precisamos ter conhecimento da história da Área. Desde a implantação da Comunicação no

Brasil, discute-se, como ela aponta, seu caráter homogêneo/heterogêneo, o que em sua opinião,

deve apelar por um equilíbrio. Entretanto, por que ela se preocupa com a filiação? Porque a

expansão de território pode trazer o risco da pesquisa se situar de um lado que não seja o da

Comunicação. “É claro que há reverberações sociológicas, antropológicas, psicológicas e até

biológicas no campo comunicacional, mas o que tem que ser avaliado é se a pesquisa vai

contribuir para o campo da comunicação e seus avanços ou não”, diz.

Esta leitura faz sentido, e nos parece mais holística, porque permite analisar várias

possibilidades temáticas que se ramificam, nos dizeres da pesquisadora, pelo caráter rizomático

da Comunicação, entretanto, quando se refere à institucionalização, Lúcia Santaella defende

que vivemos em um campo, o conceito de Bourideu, que inclui a realidade sem fronteiras fixas.

[...] o campo se define por seus atributos, ou seja, como um campo de pesquisa e de

conhecimento. Ora, como campo de pesquisa e conhecimento, deve haver sempre

uma realidade empírica a que a pesquisa se dedica, quer dizer, os fenômenos

diversificados em que a comunicação ocorre. Para compreender que fenômenos são

esses, deve-se partir de alguma definição do que é comunicação. As definições são

muito variadas. Para alguns, a comunicação é humana e social, deixando para fora

69 Entrevista concedida por e-mail ao autor em 03/10/2017.

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do campo muitos outros fenômenos que poderiam ser também definidos como

fenômenos comunicacionais. Trabalhei esse tema complexo com algum cuidado no

meu livro Comunicação e Pesquisa, o qual, aliás, começa com uma discussão acerca

disso [...] Relendo essas páginas para responder à sua pergunta, surpreendi-me com

o quanto a informação aí contida é ainda atual, depois de 16 anos, desde que redigi

essas páginas [...] Para resumir, não há uma definição acabada e privilegiada de

comunicação. Elas são muitas e cada pesquisador elege a definição que mais se

ajusta aos seus interesses de pesquisa. (SANTAELLA, 2017)70

Por este sentido, como semioticista, a professora Lúcia Santaella complementa que

prefere as definições mais amplas de Comunicação, pois, assim também engloba a comunicação

maquínica e a comunicação que se processa em fenômenos biológicos. De acordo com ela, os

fenômenos comunicacionais podem existir e se expandir para além do campo social humano. E

é neste sentido de legado teórico, associado às suas convicções, que ela prepara seus

orientandos. Questionada sobre sua liderança, nos fomentos de Doutorado, ela se disse surpresa

com a informação e atribui tal condição ao fato de trabalhar na PUC-SP, uma universidade

privada e cara. Para suprir os custos dos alunos, mas aqueles com talento para pesquisa, ela

incentiva a bolsa FAPESP por prestígio e crivos pontuais e exigentes que atendem rigores

seletivos e não burocráticos na visão dela.

É preciso apostar naqueles que estão dispostos a dedicar grande parte das horas de

sua vida à pesquisa, caso contrário, se estará gastando dinheiro público com pessoas

que não darão ao auxílio que recebem o retorno devido. Fico bastante furiosa com

pessoas que recebem uma bolsa atrás da outra e, depois que chegam ao topo, decidem

abandonar a vida acadêmica. Felizmente, isso é raro, mas acontece e já testemunhei.

(SANTAELLA, 2017)71

A professora reconhece o fomento como consolidação da Área, pois, caso contrário, não

haveria verbas para pesquisas nesse campo, porém, tece algumas ressalvas como os valores de

bolsas, que mal conseguem cobrir o valor da mensalidade da PUC-SP, por exemplo, que ainda

oferece, a bolsistas FAPESP, um desconto de 25% na mensalidade. Mesmo assim, ela destaca

que os bolsistas de Doutorado e Pós-Doutorado diminuíram em sua instituição. Segundo ela,

nas universidades privadas, as bolsas do CNPq e da CAPES são preferidas, pois, além de serem

70 Declaração feita em entrevista ao autor. 71 Idem.

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destinadas aos estudantes, elas cobrem o valor da mensalidade, repassada diretamente à

instituição.

4.2 As atividades de Ciro Marcondes Filho

Pesquisador com bolsa de produtividade do CNPQ, nível 1A, trabalha por uma Nova

Teoria da Comunicação, a partir de um método próprio de investigação, que é o metáporo.

Coordenador do FiloCom, o Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação na USP, e seu

tema de estudo foi publicado em uma trilogia literária. Em 1972, se graduou em Jornalismo e

Ciências Sociais, pela USP onde 4 anos depois, fez o mestrado em Ciência Política tendo o

professor Gabriel Cohn como seu orientador. Em 1981, concluiu o doutorado em Sociologia da

Comunicação, na Universidade Johann Wolfzgang Goethe, na Alemanha. A livre-docência foi

obtida, em 1983, na USP, e seu pós-doc é do ano 2000, com bolsa FAPESP, na Universidade

Stendhal Grenoble, na França. Lotado no Departamento de Jornalismo e Editoração da

ECA/USP, suas linhas de pesquisa são Teoria da Comunicação e Nova Teoria da Comunicação;

Estudos de Percepção; Filosofia da Comunicação; Estudo de Imagens (Cinema, Foto e Vídeo);

Teoria e Estudos de Jornalismo; Epistemologia da Comunicação e Epistemologia Metapórica e

Estudos de Alteridade na Comunicação.

O professor Ciro Marcondes Filho também atua em um dos pilares que sustenta a

Universidade: a extensão. São várias atividades do gênero realizadas como os Debates

Acadêmicos do FiloCom (2016); Divulgação Científica na Rádio USP (2015); propostas para

repensar a Comunicação como um novo momento cultural (2015); revisão crítica da literatura

em Telejornalismo e Jornalismo (2013) e curso de Divulgação Cientifica da Cátedra UNESCO

José Reis (2012 e 2006).

Em relação aos fomentos obtidos juntos à FAPESP que, inclusive, dão a ele a liderança

de fomento, na modalidade de Pós-Doutorado, em 2014, supervisionou Ana Paula Martins

Gouveia, na ECA/USP, com a pesquisa “O Ornamento do Caminho do Meio: uma lógica

filosófica das possibilidades comunicacionais ainda pouco explorada”. Esta orientanda já havia

conseguido o fomento, também em 2012, quando foi para a Universidade da Califórnia

pesquisar sob a supervisão do Prof. Dr. José Ignácio Cabezón. Em 2014, o estágio de pós-doc

foi na França, na École Pratique des Hautes Etudes, com o pesquisador Mattew T. Kapstein.

Esta sua orientanda se propôs a traduzir, comentar, contextualizar e atualizar um dos textos

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mais significativos da Filosofia e da Lógica Budista Tibetana discutindo sua relação com a

Nova Teoria da Comunicação e o “Quase Método”, proposto por Marcondes Filho como

metáporo. A pesquisa também se propôs à lógica da manifestação dos fenômenos e as efetivas

possibilidades comunicacionais entre os seres dentro da perspectiva apresentada no texto de

Shantarakshita que toca, evidencia e talvez até amplie os aspectos dessa Nova Teoria da

Comunicação. Enfim, através disso, o estudo se propõe a revelar o texto em questão aos

pesquisadores da nossa Área.

De 2003 a 2006, o professor Ciro Marcondes Filho supervisionou a pós-doutoranda

Danielle Neves de Oliveira, na pesquisa “Poros – ou as passagens da Comunicação”,

desenvolvida em conexão com outro projeto, patrocinado pela FAPESP, que foi “Por Uma

Nova Teoria da Comunicação para a Era Tecnológica”. Nesse trabalho, voltou-se à recuperação

dos fundamentos de uma disciplina que parece ter atingido, no fim do século XX, uma certa

complexidade. Com isso, a noção do comum foi o ponto de partida para fundamentar o ato de

comunicar. Em um estreito diálogo com a Filosofia e suas aporias, três questões temáticas se

desenvolveram: (a) problemas epistemológicos da Comunicação; (b) Comunicação como

oposição à finitude; (c) Poros ou Passagens da Comunicação.

Em seu histórico autoral, junto à FAPESP, até 9 de setembro de 2017, o professor havia

conseguido 29 fomentos entre auxílios à pesquisa e bolsas de estudo. Foram 7 auxílios à

pesquisa concluídos, 17 bolsas no Brasil e 5 no Exterior, todas concluídas. Ao analisarmos os

auxílios à pesquisa, que se referem às atividades de investigação do professor, encontramos em

2016, a solicitação de apoio para Organização de Reunião Científica, mais especificamente,

para o V Encontro Nacional da Rede de Grupos de Pesquisa em Comunicação, realizado na

ECA/USP, em novembro do referido ano. Em seu projeto, justifica o Encontro pela necessidade

de consolidar a Área da Comunicação, no cenário acadêmico e intelectual brasileiro, sendo seus

principais problemas a Ontologia da Comunicação e as possibilidades epistemológicas

correntes por meio do debate, interlocução e disponibilização aos pensadores da Área para a

construção desse saber científico nas Ciências Humanas. O objetivo principal do referido

Encontro foi colocar a máquina intelectual para pensar e produzir, segundo as palavras do

professor Ciro, que se propôs também, a publicar os resultados das discussões em congressos,

livros e revistas cientificas.

Em 2012, também havia solicitado verba da FAPESP, desta feita, para o I Encontro

Nacional da Rede de Núcleos de Pesquisa em Comunicação que contou com a participação do

Professor Ignácio Castro Rey, da Universidade Complutense de Madrid, convidado para

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discutir a Comunicação em interface com a depressão informativa. Também houve sessões que

trataram sobre Teoria da Comunicação, Filosofia, Epistemologia, Alteridade, Mass Media com

estudos de Rádio, TV, Imprensa e Jornalismo. O professor David Gunkel, da Universidade de

Illinois, falou sobre Comunicação e Alteridade. Houve discussão também sobre meios digitais,

redes sociais, Cibercultura e Inteligência Coletiva, interfaces sociais com a juventude,

subjetividade, interculturalidade, espaço, Comunicação Comunitária e Urbana. O professor

Manfred Fassler, da Universidade de Frankfurt, falou sobre “A Comunicação e os Novos

Paradigmas” além de discussões sobre interfaces mercadológicas no âmbito da Literatura,

Publicidade e Relações Públicas.

A primeira década de atividades do FiloCom somada à discussão da Nova Teoria da

Comunicação em 44 anos da Escola de Comunicações e Artes da USP foi comemorada em

evento, fomentado pela FAPESP, com sessões de trabalho e cinco mesas redondas sendo elas

“O conceito de Comunicação”, com as participações de Luiz Martino (UnB), Norval Baitello

Jr. (PUC-SP), Alice Mitika (USP) e Marco Toledo de Assis Bastos (USP); “Pesquisa e

Investigação em Comunicação”, com Juremir Machado Silveira (PUC-RS), Maria Imacolatta

Vassalo de Lopes (USP), Jairo Ferreira (Unisinos) e Nizia Villaça (UFRJ); “Comunicação e

Tecnologias”, com David Gunkel (Universidade de Illinois, EUA), Francisco Rüdiger (PUC-

SP), Eugênio Trivinho (PUC-SP) e Massimo di Felice (USP); “Imagem e Corpo”, com José

Teixeira Coelho Netto (USP), Rose de Melo Rocha (ESPM), Maria Paula Sibillia (UFF) e Alex

Galeno (UFRN); “Linguagem e Estudos Culturais”, com Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-

SP), Mayra Rodrigues (USP), Marcos Fernando Lopes (FFLCH USP) e Livsovik (UFRJ).

Em 1998, Ciro Marcondes Filho buscou recursos da Fundação para a publicação

científica “Redes: obliterações no fim do século”. No ano de 2014, levou à ECA/USP o

pesquisador visitante Dieter Mersch, da Universidade de Artes de Zurich, na Suíça, para um

seminário de formação e acompanhamento de pesquisadores em Filosofia da Imagem, no

FiloCom, o Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação, e no Programa de Pós-Graduação

em Meios e Processos Audiovisuais da USP. Já, no quinquênio 2009/2014, trabalhou com apoio

da FAPESP, o projeto temático “O dilema da Incomunicabilidade – aplicação do projeto”, que

mostrou o desejo de Comunicação do ser social que nem sempre se realiza. Apresenta a

Incomunicabilidade como um dilema em época com quantidade e intensidade fantástica de

aparelhos para se comunicar. Com essa pesquisa, atuou no amplo campo das formas sociais da

difusão em massa, pois, na Comunicação elas ocorrem, por exemplo, na produção e emissão de

notícias, uma vez que receptividade e efeitos não podem ser plenamente verificados. Assim a

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Incomunicabilidade se dá no plano das individualidades e subjetividades, o que lhe fez

considerar também, o plano das relações conjugais. E de 2000 a 2004, trabalhou o projeto

temático “Por uma Teoria da Comunicação para a Era Tecnológica”, em que se propôs a

construir um modelo teórico do estudo de Comunicação que contemple os desdobramentos das

novas tecnologias (interatividade, redes, tempo real, espaço virtual, digitalização de imagens e

transformações do texto); sugerir uma nova metodologia; aplicar seu novo modelo à pesquisa

em Comunicação no Brasil; elaborar propostas de prática universitária e acadêmica no

Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP, com editoração eletrônica de jornais,

revistas e livros; formar grupos de estudos dirigidos e vincular a Iniciação Científica a

pesquisadores de Pós-Graduação ao FiloCom. Todas essas iniciativas e propostas são

justificados pelo professor Ciro como resgate do entusiasmo pela Universidade.

Encontramos a repercussão do seu trabalho, na Revista Pesquisa FAPESP, e em notícias

vinculadas à agência de fomento. Em março de 2015, o professor participou de um curso de

extensão que abordou a Comunicação na América Latina. Sua contribuição foi pelo olhar da

juventude e as transformações da cultura comunicacional contemporânea. Em junho de 2013,

havia notícia de aula inaugural do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal do Piauí

(UFPI) onde apresentou “A Construção da Comunicação como campo autônomo do saber”,

resultado, inclusive, de seu projeto de pesquisa do FiloCom junto à FAPESP. Nessa aula

inaugural, ele também tratou o Dilema da Incomunicabilidade. Em 2009, suas notícias versaram

sobre o oferecimento de bolsas de Pós-Doutorado. Já, na Revista Pesquisa FAPESP, a edição

143, de janeiro de 2008, citou o pesquisador que também integrou o primeiro dossiê da Revista

Matrizes da ECA/USP, tema da reportagem. Ciro Marcondes Filho tratou a Comunicação

Interpessoal a partir de um trabalho de recuperação dos conceitos de Emmanuel Levinas.

Referenciadas suas produções, com esse recorte de apoio FAPESP, tratamos agora do

entendimento de Comunicação do pesquisador, que respondeu à nossa entrevista, por e-mail72.

Primeiramente, Ciro Marcondes Filho entende que relacionar a Área pela organização da

Fundação significa uma batalha que ele e colegas vêm desenvolvendo por uma ou duas décadas

no sentido de reconhecimento efetivo. Muito disso, é uma forma de desfazer a visão de que ela

é a prima pobre das ciências, um pressuposto que ele atribui a pessoas que nunca entenderam

de Comunicação, porém, sempre estiveram em postos considerados chave, em órgãos de

financiamento, que organizam burocraticamente os saberes e encontraram pouca resistência da

72 Entrevista concedida por e-mail ao autor em 12/09/2017.

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nossa Área que não se impôs, de acordo com ele, como saber autônomo de campo teórico

próprio. Junto a esta crítica, Ciro Marcondes Filho faz uma ponderação importante na

entrevista.

Tivemos nossa ‘doença infantil”, que foi nossa submissão a outros saberes, inclusive

na montagem de corpos docentes das faculdades de Comunicação. Como poucos

defendiam essa autonomia, muitos colegas de outras áreas vinham com a concepção

de que “Comunicação qualquer um pode ensinar”. Mas não! Como ciência adulta e

respeitada, seus postos devem ser efetivamente ocupados por formados em estudos

comunicacionais sérios e aprofundados. (MARCONDES FILHO, 2017)73

Esta sua análise é conclusiva de um resgate histórico ao qual ele comenta, a partir do

uso metafórico da Comunicação, por parte de outras ciências depois da virada linguística, de

Wittgenstein, nos primórdios do século XX. A partir de termos similares a nós como

informação, mensagem e comunicação, outros saberes como Biologia, Física e Química

tomaram isso de empréstimo para si. Seria, então, esse trânsito que prejudica a Comunicação,

de acordo com o pesquisador. Os empréstimos concedidos “para” ou “de” outras Áreas impediu

uma existência epistemológica própria por um comportamento parasita no entendimento de

Ciro Marcondes Filho. Com um olhar atento a movimentos que perfazem a História da

Comunicação, ele diz que nos anos 1990, a expansão da Internet, a crise das ideologias e o

aparecimento do pós-moderno propiciaram à Comunicação uma Área de investigação própria

sem o uso metafórico de objeto de outras disciplinas. Ele afirma categoricamente (2017)74 que

a “Comunicação precisava se livrar do título absurdo e equivocado de ser uma ‘ciência

aplicada’. Isso não apenas renovava os estudos de Comunicação bem como os criava

efetivamente. Estudos de Comunicação só surgem a partir daí”.

Tal período apontado coincide com o tempo em que ele se considera construtor da Área,

o que para ele, é um trabalho longo e exaustivo, que amadurece muito tempo depois. Uma

atividade que exige postura intelectual e densidade de pensamento ainda mais dentro de um

conhecimento, a Comunicação, na qual pelas palavras dele, muitos querem produzir emissão e

poucos querem receber. Essa constatação foi determinante, em nosso modo de entender, para o

professor Ciro Marcondes Filho tratar, em seus estudos, de algo intangível na Comunicação: o

incorpóreo, considerado por ele, o momento sutil em que algo acontece. Em sua visão, trata-se

73 Declaração feita em entrevista ao autor. 74 Em entrevista ao autor concedida no dia 12/09/2017.

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273

de componente imprescindível à comunicabilidade embora não possa ser capturado, medido

nem avaliado, um método que rompe com os modelos paradigmáticos vinculados aos estudos

comunicacionais, se aplicados.

4.3 As atividades de Ana Claudia Mei

Considerada a liderança do fomento, em Auxílio Pesquisador Visitante, temos nesse

intercâmbio proporcionado pela pesquisadora, um maior número de visitas do Prof. Dr. Eric

Landowski, da Fondation Nationale des Sciences Politiques (Sciences Po). Entre 18 de

novembro e 17 de dezembro de 2014, ele esteve, na PUC-SP, para realizar atendimentos aos

pesquisadores, participar de Colóquio de Pesquisa e oferecer um curso intensivo. Em 2011,

entre março e abril, o pesquisador Pierluigi Cervelli, da Università degli Studi di Roma La

Sapienza, teve sua visita financiada para trabalhar com a caracterização dos percursos

semióticos do centro e da periferia urbana de Roma, Nápoles e Palermo para dialogar com

pesquisas do Centro em Sociossemiótica que estuda as práticas de vida na cidade de São Paulo.

Dentro desta temática, acabou participando de pesquisa, ao orientar o grupo a coletar e analisar

dados, além de ministrar disciplina, participar de conferências e promover um ciclo

comparativo entre filmes brasileiros, italianos e mexicanos.

Em março e abril de 2010, Ana Claudia Mei promoveu a vinda de Eric Landowski para

proferir aula magna aos Programas de Pós-Graduação do Estado de São Paulo, com o tema “A

Comunicação na esfera do político”. O pesquisador também orientou pesquisas do Centro de

Sociossemiótica com discussões teórico-metodológicas. Em 2008, ele já havia estado pelo

Brasil, nos meses de outubro e novembro, orientando pesquisas, participando do XIV Colóquio

de Pesquisas, oferecendo o minicurso Semiótica e Paixões, bem como, discutindo a proposta

de pesquisa bilateral Brasil e Itália fundamentada na Teoria Sociossemiótica. Um ano antes,

veio para o XII Colóquio de Pesquisa, visitou Programas de Pós-Graduação, participou de

conferências e ministrou curso intensivo. De setembro a outubro de 2006, orientou pesquisas,

visitou a UNESP, promoveu minicursos, encontrou-se com docentes para orientar pesquisas de

Semiótica nas mídias e participou de Seminário de Pesquisa.

Em 2005, a professora Ana Claudia Mei intermediou a vinda do pesquisador Manar

Hammad, da Semiótique de l’Espace, da França, que orientou pesquisas de Visualidade e

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trabalhou com a descrição da espacialidade. Concomitantemente a ele, porém, com chegada em

período anterior, Eric Landowski estava, na PUC, para orientar pesquisas dos Programas de

Comunicação e Semiótica e Língua Portuguesa. Seu foco foram as descrições e análises das

dimensões sensíveis de diferentes textos com base na interação social. Foi também

conferencista, ofereceu minicurso sobre Semiótica do Gosto e um Seminário de Estudos

Avançados. Nos anos anteriores, Landowski trabalhou, em 2004, com orientação de pesquisas,

conferências, seminários e minicursos a respeito da Semiótica da Presença descrevendo o

sentido das ocorrências vividas. Em 2003, havia atuado no Centro de Pesquisas Semióticas e

no NUPLIN75. Ofereceu disciplina intensiva para doutores e pós-doutores. Promoveu

conferências abertas sobre Teoria Semiótica, participou de reuniões cientificas, na capital e no

interior, debateu livros e realizou intercâmbio com semioticistas brasileiros.

Para 2002, foi financiada a vinda do pesquisador Denis Bertrand, da Universitè

Vincennes Saint-Denis, da França, que atuou em pesquisas da PUC e da FFLCH da USP,

participou de atividades do Centro de Pesquisas Semióticas e do NUPLIN, ministrou disciplina

intensiva para doutores e pós-doutores, fez conferências abertas sobre Teoria Semiótica, pensou

nas abordagens de grupos de pesquisa, debateu seus últimos livros, à época, e realizou

intercâmbio com semioticistas brasileiros.

Os anos de 1990 marcaram as primeiras vindas de Eric Landwoski. Em 1999, de junho

a julho, o professor ofereceu a disciplina Semiótica Discursiva e orientou pesquisas. No ano de

1998, esteve, na PUC e na ECA, entre agosto e setembro, participando de debates do projeto de

pesquisa “Novos Olhares sobre Processos de Mediação e Práticas de Recepção”. O primeiro

registro oficial data de 1996, quando nas atividades de Ensino, ofereceu as disciplinas

“Semiótica Discursiva: do Inteligível ao Sensível”, na PUC, FFLCH e ECA/USP; “Semiótica

Jurídica”, nos cursos de Pós-Graduação em Direito da PUC e USP. Já nas atividades de

Pesquisa, orientou no Centro de Pesquisas Sociossemióticas, oito teses e novos projetos. Além

dessas atividades, participou de reuniões científicas, conferências e do IV Congresso de

Semiótica Visual. Ainda, na década de 1990, o ano de 1998 teve a vinda de Gianfranco

Marrone, da Università degli Studi di Palermo, Itália, que ofereceu a disciplina “Semiótica face

à análise das Mídias”, atendeu mestrandos e doutorandos cujas pesquisas tinham a televisão

como objeto de estudo, palestrou na Jornada de Semiótica, fez um encontro com o GP Semiótica

75 Núcleo de Pesquisa Língua, Imaginário e Narratividade da PUC-SP.

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e Estética do Centro de Pesquisas Sociossemióticas e foi conferencista no curso de Jornalismo

da ECA/USP.

Em relação aos demais financiamentos obtidos para sua atuação como pesquisadora,

Ana Claudia Mei conseguiu até setembro de 2017, 30 financiamentos sendo 23 auxílios à

pesquisa e 7 bolsas no Brasil. Desconsideramos, neste caso, os auxílios a pesquisadores

visitantes já mencionados, pois, são eles que garantem a ela a liderança nessa modalidade. Em

2017, ela solicitou apoio ao “Colóquio Internacional Greimas: Desenvolvimentos,

Apropriações e Desdobramentos para uma Semiótica das Práticas”, evento alusivo às

comemorações do centenário do autor reunindo semioticistas nacionais e internacionais, além

de pós-graduandos que utilizam fundamentos e métodos da Teoria Semiótica em seus projetos

científicos. A proposta, segundo justificativa do projeto, também foi posicionar a Semiótica

como disciplina auxiliar das Ciências Humanas. Aplicou-se também a ideia de usos da teoria e

métodos a serviço da inteligibilidade das práticas humanas entre pesquisadores internacionais

oriundos da França, Itália, México, Peru, Colômbia, entre outros. Foi, segundo a justificativa

da pesquisadora, o primeiro encontro, em escala internacional, a reunir a primeira e segunda

gerações de pesquisadores semioticistas com jovens dedicados a essa área de pesquisa.

Entre os anos de 2011 a 2015, a professora desenvolveu a pesquisa temática “Práticas

de Vida e Produção de Sentidos da Metrópole São Paulo: regimes de visibilidade, regimes de

interações e regimes de reescrituras”, que se propôs a um estudo comparativo entre São Paulo

e Roma, no recorte das práticas de vida com interações, ou não, da mídia. Foram observadas as

formas de expressão da cidade e as práticas de interação de seus habitantes, por meio de

percursos narrativos e discursivos, que permitem a construção significante dos lugares que se

distinguem das ações administrativas, urbanísticas, socioeconômicas e culturais planejadas.

Tratou-se de uma cartografia experiencial como forma de compreensão das representações e

dos modos de vida visando o debate sobre a sustentabilidade das cidades.

No ano de 2005, a pesquisadora solicitou apoio para participar do 2º Congresso

Internacional da Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Em 2001, foi ao 11º Encontro

da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. A ida ao 4º Congresso

Internacional de Comunicação Semiótica foi patrocinada, pela FAPESP, em 1996. No mesmo

ano, recebeu verba para publicar o livro “Unidade e Pluralidade: em torno da obra de Julian

Greimas”. E, em 1995, foi ao exterior participar do encontro La Vitrine: de la visiona u Sens.

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Em relação à sua participação na mídia, não há nada publicado na Revista Pesquisa

FAPESP. E, durante pesquisa de notícias ligadas à Agência FAPESP, ela apareceu em algumas.

Em agosto de 2013, é feita referência à sua participação em um ciclo comemorativo aos 50 anos

dos estudos de Comunicação no Brasil, no qual a professora Ana Claudia Mei foi colocada

entre os Inovadores das Ciências da Comunicação, pois, seu trabalho analisou a obra “Olhar

Periférico”, de Lucrécia Ferrara. Aliás, na reportagem, há uma fala de Ana Claudia Mei a

respeito da autora estudada sobre a qual conta sua ligação com a história e as transformações

do ambiente urbano.

Em setembro de 2009, saiu em reportagem do Jornal da UNICAMP, fazendo referência

a uma curadoria sobre Infopoesias, na Biblioteca Central da PUC-SP. O título da reportagem

foi “A poesia eletrônica, quem diria, faz 50 anos”. Já, em agosto de 2013, apareceu fazendo

análise do livro de Lucrécia Ferrara, no ciclo de estudos do cinquentenário dos estudos em

Comunicação no Brasil, uma realização da FAPESP. No mesmo ano, só que um mês depois,

foi citada no texto “Por que enaltecer o pioneirismo de Luís Beltrão?”, do professor José

Marques de Melo, como pertencente aos instigadores do campo. Aliás, em outra reportagem,

de agosto de 2013, foi apontada como uma das autoras brasileiras fundamentais para a Área.

No mês de outubro de 2011, teve duas vagas para um de seus projetos temáticos

anunciada. O projeto de pesquisa temático, que comparou as práticas urbanas de São Paulo e

Roma, foi explicado assim como a parceria com Eric Landowski, que é fruto de um auxílio de

pesquisador visitante. E, em maio de 2017, concedeu entrevista na matéria “O papel da

Semiótica é entender como entendermos”, na condição de diretora do Centro de Pesquisas

Sociossemióticas da PUC-SP, que recebeu várias vezes, conforme já demonstrado, o professor

pesquisador Eric Landowski.

Sobre a participação desse pesquisador, Ana Claudia Mei nos disse, em entrevista76, que

essa relação se facilita porque o teórico francês fala e escreve nas várias línguas neolatinas.

Frequentador do Brasil, desde 1982, sempre circulou pelas instituições onde a Semiótica estava

se implantando. Foi para a PUC-SP, em 1989, a convite da Profa. Dra, Lucia Santaella, que

coordenava o Programa de Pós-Graduação, para ser professor visitante em Semiótica

trabalhando as fundamentações teóricas e metodológicas das pesquisas em desenvolvimento.

Desta forma, portanto, os dois pesquisadores começaram a trabalhar conjuntamente as

76 Entrevista enviada por e-mail em 23/10/2017.

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problematizações coletivas com os estudantes. Uma atividade que Ana Claudia Mei considera

estimulante entre os pesquisadores em formação.

Foi assim que Landowski conseguiu trabalhar a Semiótica interdisciplinarmente,

fazendo a ponte com vários campos das Ciências Humanas e Ciências Sociais e

passou vinte anos dedicando-se a objetos de nossa cultura brasileira, quer fosse a

Comunicação face a face nas interações socializantes, a comunicação publicitária,

comunicação política, quer questões do gosto, de hábitos, de práticas de vida

brasileira como comer feijoada, beber caipirinha, torcer para um time, entre tantos

outros objetos que tratou e estimulou a pesquisar. (MEI, 2017)77

Tal conjunto de atividades fez inclusive com que o pesquisador deixasse, como legado,

aqui no Brasil, artigos inéditos construídos a partir da ambiência investigativa brasileira. Por

conta disso, é que a professora da PUC, líder em fomento na categoria de pesquisadores

visitantes, qualifica como importantíssimo esse entrecruzamento de pesquisadores, por existir

a possibilidade de debater teorias, objetos e métodos de estudo do sentido. Um fazer que ela diz

valer a pena para a pesquisa semiótica, feita no campo da Comunicação brasileira, que considera

media como situações que vão do corpo à cidade. Ana Claudia Mei também relembra que mais

de duas centenas de pesquisadores se formaram com a participação de Eric Landowski, e com

isso, se tornaram parte de um campo aberto ao viés da política e da ética atravessando toda e

qualquer comunicação.

Quando fala de internacionalização, a pesquisadora lembra que, do ponto de vista

brasileiro, ainda temos muito o que avançar, principalmente, no que tange à condição de

produzirmos mais e considerar o impacto de nossas publicações. Há uma exigência vigorando

de que os artigos sejam publicados em periódicos qualificados, mas, o que ela sente, na Área

da Comunicação, é que se publicam artigos em coletâneas de projetos temáticos coletivos ou

livros monográficos. As revistas digitais, segundo ela, proliferam, mas, não alteram essa

percepção. Por outro lado, as edições impressas desaparecem em face dos custos. Um bom

caminho, na visão dela, são os livros que, traduzidos para línguas de interesse, podem nos

colocar em outro patamar. Trata-se de algo mais materializado que ainda carece de mais

produção bibliográfica que, nem sempre, é resultado dos inúmeros contatos pessoais que se

estabelecem nos encontros científicos. Contatos que produzem ganhos como ela mesma

enfatiza com Eric Landowski que, por essas vindas ao nosso país, possibilitou intercâmbios

77 Em entrevista ao autor.

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com pesquisadores latino-americanos do México e do Peru, localidades com as quais o Brasil,

através dessa rede tecida pelo trabalho da professora Ana Claudia Mei, realizou produções

conjuntas. O trabalho de Landowski foi importante para divulgar a pesquisa semiótica brasileira

em pesquisas, cursos em outros países e publicações. Ela reconhece que a internacionalização

extrapola o apoio da FAPESP unicamente a professores visitantes, pois, abarca também pós-

graduandos e pesquisadores que realizam o pós-doutorado no exterior, prática já mostrada ao

longo desta pesquisa como recente na Área.

Ela reconhece essa internacionalização como algo que não vem de hoje. Ana Claudia

Mei se recorda dos seus tempos de mestranda e doutoranda para falar como a

internacionalização já era presente, no ambiente da PUC-SP, em função das pesquisas com

bolsa doutorado sanduiche ou pós-doutorados. Havia uma troca pertinente entre docentes e

discentes que estabeleciam esse processo nas experiências culturais diferentes e nas línguas

neolatinas como Português, Francês, Espanhol e Italiano. Essa lógica predominou, inclusive,

na formação do Centro de Pesquisas Sociossemióticas, na universidade. Esse Centro congrega

outras instituições nacionais e internacionais sob a proposta dessa troca para formar uma rede

de investigação entre instituições e países. Um exemplo prático disto é o contato direto que a

professora mantém, com a França e a Itália, países no quais tem convênios estabelecidos com

instituições e estimula a ida de seus orientandos.

Aliás, essa troca internacional não se dá apenas no envio e recepção de estudantes ou

pesquisadores. Ela advém também de fundamentação teórica, já que um critério para a vinda

de professores visitantes, no caso da líder do fomento, é a Semiótica Estrutural como base

comum. Ana Claudia Mei justifica a aplicação desse arcabouço teórico para estudos que trazem

objetos variados, em qualificações universalizantes e singularidades, em face das diferenças

entre mecanismos de crença, fidúcia, contratos e estratégias de convencimento de negociação.

Pelo fato de a teoria semiótica sair da França, ela diz que, sem esse estofo teórico, muito da

densidade da troca bibliográfica não teria sido possível, assim como, realizar pesquisas

conjuntas embora os idiomas neolatinos ofereçam alta compreensão linguística.

Vê-se que tais práticas se constituem em interações e este é o mote principal pelo qual

Ana Claudia Mei pensa o conceito de Comunicação, uma vez que isso, propicia processos de

significação que passam desde o corpo a corpo às formas mediadas que englobam, na visão

dela, os media colocados a nós por seus recursos tecnológicos em relação ao mundo que vai

além da estrutura dos sentidos fisicamente pensados. Tudo isto forma uma heterogeneidade

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capaz de ser compreendida, sob vários olhares teóricos e metodológicos, o que a professora

pesquisadora considera enriquecedor na formação do estudante da Pós-Graduação.

É justamente o trabalho integrado entre as vertentes sincrônicas da Comunicação e

as diacrônicas que permite dar conta do campo da Comunicação e fazer amarrações

para análises mais densas na abrangência do fenômeno e consistentes nos

argumentos. As várias atuações da Comunicação no digital, no impresso, no

audiovisual, no radiofônico, no gestual, entre outros, é que permitem os tratamentos

do local, do glocal e do global, do cultural e do multicultural. (MEI, 2017)78

Pela afirmação acima, é visível que a pesquisadora coloca a Comunicação como elo à

Cultura haja vista que seus fenômenos e manifestações oferecem essa perspectiva. Enfim, trata-

se de uma das várias possibilidades de prática de pesquisa que, aplicada ao fato de solicitar

apoio da FAPESP, faz da instituição um fator de legitimação científica da Área, no

entendimento de Ana Claudia Mei. Área, aliás, que se dá como espaço de disputa com as demais

disciplinas da Grande Área das Ciências Sociais, justamente por trabalhar com a linguagem e

ter, nessa materialidade, contatos que tangenciam outros espaços do saber, como a Arte, por

exemplo. Nesse sentido, o que ocorre no campo, segundo sua definição, é uma cobrança de

resultados mais concretos, como se os estudos de compreensão dos processos comunicacionais

não permitissem formar um conhecimento maior objetivo e subjetivo dos sujeitos pelos

processos dos quais fazem uso para estar no mundo e existir. Ou seja, haveria supostamente

algo maior que a Comunicação.

4.4 Esther Império Hamburger: O Olhar da FAPESP

Apresentados os fomentos obtidos e os conceitos de Comunicação das lideranças do

fomento, constituídas a partir dos dados gerados nesta pesquisa, trazemos, agora, as impressões

da Coordenadora de Área de Ciências Humanas Sociais II (CHS II), professora doutora Esther

Império Hamburger, que nos recebeu para a entrevista, em um de seus ambientes de trabalho,

o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA/USP, no dia 10 de outubro de 2017.

Como já esclarecemos, em momento anterior deste trabalho, é extremamente pertinente essa

78 Em entrevista ao autor.

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participação para que realmente se tenha uma visão mais geral e ampla de como a Área visualiza

os projetos pleiteados em Comunicação. Ocupando o cargo de coordenação desde março de

2016, Esther Hamburger avaliou cenários dentro da pesquisa em Comunicação que passam

pelas condições estruturais do Brasil, em especial, a crise econômica; o papel legitimador da

FAPESP; a produtividade do campo e uma necessidade de auto recolocação.

Inicialmente, é interessante revelar como se dá o seu trabalho na FAPESP, que como

ela mesma ressalta, avalia projetos de pesquisa. Em sua entrevista, contou que nas idas semanais

à sede da Fundação, recebe um projeto, o identifica e envia a um parecerista que remete com

uma decisão a qual ela recomenda, ou não, o prosseguimento. Tal fluxo segue em instâncias

superiores, pois, como ela mesma disse, aquele projeto “some” do seu campo de visão. É que a

decisão se dá no chamado CAD, com três professores, mais a diretoria científica. “[...] muitas

vezes, a gente vê que o que estamos recomendando não vinga. A gente tem a visão da CHS II,

mas eles veem a CHS inteira”. Desta forma, a coordenadora da Área conta que não sabe se um

projeto foi ou não aprovado, pois, não se tem um registro disso. Logo, isto se trata de fator que

evidencia a importância desta pesquisa, já que estamos trazendo uma proposta taxionômica da

Área, a partir de seus fomentos. Entretanto, é fato que a Área da Comunicação pede muito

pouco. Para Esther Hamburger, um indicativo disso é que somos muito recentes na academia,

na pesquisa e até mesmo no mundo, o que reforça essa característica das Humanas serem

menores se comparadas às Ciências Biológicas e Exatas. Hamburger (2017) conta na mesma

entrevista:

Eu estou dentro da Área de Ciências Sociais e Humanidades, CHS II. Sou o CHS II.

CHS II é Artes, Comunicações, Ciências da Informação, Museologia, Literatura e

Linguística. As comunicações talvez sejam quem pede menos. A minha impressão é

essa. Foi uma surpresa, para mim, ver como as Artes pedem muito. E na FAPESP, o

ganho está relacionado ao pedido. É uma proporção do que é pedido. Nós nunca

vamos ganhar mais se a gente não pedir mais. (HAMBURGER, 2017).

Para chegar a uma impressão como esta, tudo se organiza e se compara dentro da Área

de atuação do coordenador, lá em seu primeiro estágio de trabalho, que é o de receber e

encaminhar projetos de pesquisa. E a impressão da professora se confirma, pois, recorremos à

Biblioteca Virtual da FAPESP para comparar o nível de produtividade. São listados fomentos

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que vêm desde 1992 até o dia 16 de dezembro de 2017. Na Comunicação, são totalizados 1.486

projetos cadastrados assim divididos:

QUADRO 60 – Auxílios à Pesquisa da CHS II (1992-2017)

Tipo de

Fomento

Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia

Auxílios à

Pesquisa em

Andamento

22 19 24 26 4 1

Auxílios à

Pesquisa

Concluídos

553 983 1.095 987 186 39

Total 575 1.002 1.119 1.013 190 40

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

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QUADRO 61 – Bolsas no Brasil da CHS II (1992-2017)

Tipo de

Fomento

Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia

Bolsas no Brasil

em Andamento

37 97 121 91 16 3

Bolsas no Brasil

Concluídas

775 1.820 1.955 1.291 326 21

Total 812 1.917 2.076 1.382 342 24

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

QUADRO 62 – Bolsas no Exterior da CHS II (1992-2017)

Tipo de

Fomento

Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia

Bolsas no

Exterior em

Andamento

4 17 17 16 2 1

Bolsas no

Exterior

Concluídas

86 189 312 211 16 5

Total 90 206 329 227 18 6

Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP

Os números, apresentados nos quadros, confirmam as impressões de Esther Hamburger

de que a Comunicação pede pouco. A ordem de pedidos é Linguística, Letras e Artes, em

primeiro; Comunicação, em segundo; Ciência da Informação, em terceiro, e Museologia, em

quarto lugar. Outra leitura possível, a partir dos fomentos concedidos, é o de que a Comunicação

é mais forte na solicitação de bolsas de estudo ao passo que seus pares na CHS II, além das

bolsas, também têm força nos Auxílios à Pesquisa, o que denota que os pesquisadores da

Comunicação estão fazendo trabalhos mais pontuais (Iniciação Científica, Mestrado e

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Doutorado talvez) e menos pesquisas amplas, duradouras, caso dos projetos temáticos por

exemplo, ou seja, esses pesquisadores estão pensando em curto prazo e não a longo prazo. Se

formos comparar para nível de igualdade referencial, considerando os Auxílios à Pesquisa, a

Comunicação detém 595. As Artes, com 990, são 166,39% a mais; as Letras, com 1.113, são

187,06% a mais e a Linguística, com 1008, são 169,25% maior.

Esse posicionamento da Comunicação dá margem para Esther Hamburger concordar

com a afirmação do professor José Marques de Melo sobre o estigma da Comunicação como a

prima pobre das Ciências Sociais79. Segundo ela, há uma perversidade muito grande nessa

autoimagem porque parece que, para deixar de ter essa pecha, a Comunicação precisa se

elaborar, sociológica ou filosoficamente, deixando de lado suas próprias realizações. Embora

defensora da teoria, até pela natureza de sua formação como antropóloga, a professora acredita

que a Área muitas vezes despreza questões a ela inerentes. Durante a entrevista, concedida a

este pesquisador, ela defendeu seu pressuposto de que a teoria não pode ser dissociada da

prática. “Não desprezo o fazer, nenhum tipo de fazer. Ao contrário!”

Verificando uma grande tendência de projetos que tratam do digital e associando isto a

essa necessidade de não descartar o fazer da Área, trabalhamos a partir daqui, com o conceito

de Comunicação para Esther Hamburger. Essa tendência apontada sobre o digital já é um

indício questionador do objeto. Disse ela na entrevista já mencionada:

Talvez não seja o objeto a melhor âncora para o conhecimento né? Eu acho que a

gente vive um momento muito interessante, que pode ser bastante produtivo, porque

de alguma maneira, a Área está no centro das preocupações mundiais e, ao mesmo

tempo, a disciplina continua a se debater sobre sua delimitação, né? O objeto não é

uma âncora boa. Talvez a melhor âncora seja a conceitual.

Quando trata dessa questão do objeto, a professora nos oferece um exemplo prático. Por

trabalhar com o cinema, ela sinaliza que as mídias digitais colocam o objeto em xeque, por isso,

o próprio cinema fica sob a ameaça da digitalização. Isso, para ela, é resultado de uma

permanente transformação que o mundo vive, e por isso, se torna difícil definir a Comunicação

como disciplina. Ela recorda que a imprensa, o rádio, a televisão e o próprio cinema

introduziram elementos na vida social que nem sempre foram contemplados pelo pensamento

das Ciências Sociais. Ressalta até que o desprezo ocorreu pelo próprio Pierre Bourdieu, que na

79 A afirmação do professor foi feita para a Revista Pesquisa FAPESP.

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leitura dela, contradiz todo seu pensamento quando dedica um livro todo à televisão. Esther

Hamburger reacende a necessidade de a Comunicação olhar mais para as suas práticas, para se

pensar territorialmente, pois, nas palavras dela, “ao mesmo tempo que esses meios estão sendo

reconhecidos centrais em outros campos do saber, nas Artes, na Economia, nas Ciências

Sociais, na Filosofia, você tem uma dificuldade de definição do coração da disciplina, na

própria Área”. Em suma, segue o impasse conceitual, mas, o trânsito sempre vai existir e a

professora mostra o quanto isto é recorrente destacando que, no seu Departamento de Cinema,

Rádio e Televisão, na ECA/USP, tem colegas arquitetos, engenheiros, historiadores,

economistas que, de modo geral, têm como desafio trazer essa bagagem de suas Áreas de

origem para o que é especifico da Comunicação. Justamente essas fronteiras, no entender dela,

é que estão sendo questionadas e uma possível compreensão, para se entender o mundo de hoje,

pode nascer dessa transdisciplinaridade por meio da produção compartilhada de conhecimento.

Uma atividade que elimina os redutos capazes de congelar o pensamento.

Eu não gosto de pensar disciplina como um campo limitador, entendeu? Delimitador.

Eu acho que, muitas vezes, a discussão intelectual se fixa em questões que não são

tão interessantes. Importante são as ideias mais do que a filiação disciplinar delas.

Os desafios que o mundo coloca são agudos e urgentes. Um senso de urgência em

mim. Eu acho que o mundo sugere coisas para a gente. E a gente tem que se

posicionar, no mundo, a tentar conduzir para onde a gente acha que ele deve ir. Eu

acho que é muito rico a gente se abrir para outras disciplinas nesse sentido.

(HAMBURGER, 2017)80

Desse modo, é notório que há muito a ser produzido, afinal, se estamos desconsiderando

a questão do fazer, segundo a interpretação da professora Esther Hamburger, é sinal que existe

uma lacuna de oportunidades. E essa é uma demanda que emana do pesquisador que pode

encontrar o respaldo na FAPESP. Retomando a noção do espírito científico, um dos

fundamentos teóricos que permeiam esta pesquisa, a expectativa da coordenadora de Área da

FAPESP é de que todo projeto expresse uma inquietação que signifique uma pergunta sobre a

qual não se saiba a resposta. Além desse passo inicial, ela define que todo projeto precisa de

uma pergunta com uma aproximação conceitual possível de entender a movimentação do que

se pretende fazer. É o que pensa também García (2006), quando diz que o marco epistêmico

alicerça a pesquisa quando age como conjunto de perguntas planejadas para o domínio da

realidade proposta a ser estudada. Retomando o que disse a professora Esther Hamburger, a

80 Entrevista concedida em 10/10/2017 ao autor.

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FAPESP não espera um produto como um livro ou uma quantidade de artigos produzidos, mas

sim, como o conhecimento sobre um problema é produzido. A discussão, na visão de Esther

Hamburger, deve levar o campo do saber a se mover de um lugar para o outro. E esse escopo

esperado, nem sempre é, de acordo com ela, tratado, por exemplo, nos resumos dos projetos

que pleiteiam financiamento.

4.5 A construção de caminhos possíveis

Conforme já demonstrado, a participação da Comunicação ainda é pequena na

solicitação de financiamentos. Considerando que temos, no estado de São Paulo, uma Área com

17 Programas de Pós-Graduação em Comunicação, há ainda muito espaço para a pesquisa, com

demandas primordiais que ainda precisam ser atendidas, como bem ressaltou a coordenadora

de Área da FAPESP. Do ponto de vista institucional, o preceito mais forte da pesquisa em nossa

Área, o que precisamos, é exercitar um conhecimento mais denso sobre nosso campo de

atuação, de modo que reduzamos a fragmentação temática e passemos a construir a lógica de

evolução do pensamento dentro de uma área pensada a partir de nossas práticas, cada vez mais

instáveis e mutantes, desde as propostas mais inovadoras às transformações impostas aos

modelos mais clássicos. É ir ao encontro do que a professora Esther Hamburger disse sobre a

movimentação do campo do saber, situação concomitante à equação diferencial do movimento

epistemológico, proposta por Gastón Bachelard.

E, quando colocamos as lideranças do fomento nesse movimento, podemos considerar,

por exemplo, que do ponto de vista da pesquisa, o professor doutor Maximiliano Martin Vicente

orienta projetos visualizando os processos tecnológicos modernos nas situações de

Comunicação, em especial, aquelas ligadas à Cidadania; centra-se em manifestações

midiáticas; e tem grande participação entre estudantes que se iniciam na pesquisa. Tanto que

uma de suas categorias lideradas no percurso formativo é a Iniciação Científica, espaço no qual

se demonstrou em pesquisador que pensa o Jornalismo, no sentido da construção das notícias,

e este ato diante das transformações e implicações tecnológicas verificando como as mídias se

apropriam dos acontecimentos históricos. Dentre os projetos orientados, com apoio da

FAPESP, ele está em pesquisas que trataram de práticas jornalísticas diante das novas

tecnologias; estudos sobre notícias; linguagem jornalística; discursos da imprensa; movimentos

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sociais e Comunicação e história local e alguns registros históricos aplicados ao recorte

midiático.

Já no Mestrado, é possível perceber, pelos trabalhos orientados, que o professor continua

relacionando processos históricos em quantidade menor. Segue preocupado com o sentido da

produção jornalística e passa a acompanhar as novas demandas da pesquisa tratando as

abordagens digitais, o que sinaliza uma nova geração de alunos chegando à universidade. A

esta conclusão, verifica-se que suas temáticas de pesquisa orientadas estão em fatos históricos

como a Ditadura; História do Jornalismo contada por técnicas e percepções editoriais;

Tecnologias Digitais e processos sociais como convergência e interatividade; Imprensa

Alternativa; Rádio e Cidadania; Ideologias e Comunicação Digital; Identidade Virtual e

Ativistas Digitais. Enfim, notamos que, por suas práticas, ele estimula os pesquisadores

iniciantes a ter o prestígio do trabalho reconhecido, pela FAPESP, entendendo também que a

remuneração é uma questão econômica de subsistência aos postulantes, além de contribuir para

a Área, quando de sua retórica sobre essa finalidade da pesquisa, dando mostras de que faz isso

quando está abraçando as demandas contemporâneas decorrentes do digital. Também se pode

dizer que os projetos orientados possuem temas que equivalem a uma de suas premissas sobre

Comunicação, que é a repercussão social e interferência na própria visão de sociedade.

Quando passamos à liderança do Doutorado, vemos a professora doutora Lúcia

Santaella como disseminadora do pensamento comunicacional. Sua atuação está em uma faixa

intermediária da formação do pesquisador, que coincide com um momento bastante

significativo: a transição Mestrado/ Doutorado. Suas orientações são a projetos que tratam de

Corporeidade e Comunicação Interpessoal; Comunicação mediada para cegos e as captações

da visão; Linguagem Hipermídia; Ambientes Digitais; Música; os signos de Peirce; meios

eletrônicos e as novas formas de representação e Holografia. A pesquisadora demonstra que

avança, pela Teoria Semiótica de Charles S. Peirce, difundindo-a e atualizando-a. Em seus

projetos autorais, os livros, a participação em eventos científicos, a recepção de professores

visitantes e as pesquisas, em si, demonstram sua preocupação em problematizar os novos

cenários midiáticos e seus princípios epistemológicos. Experiências que decorrem também de

seus diálogos com EUA, Alemanha e Romênia em experiências internacionais que não se

fecham na Semiótica. Em se tratando de repercussão midiática, pela Revista FAPESP, apuram-

se entrevistas sobre usuários hipermídia e as relações do leitor da internet para a constituição

de um perfil; cultura das mídias; leitor digital e a relação com o livro. Em outras aparições, foi

noticiada como referência para concurso público, e suas ligações com novas mídias e o

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panorama da pesquisa em Comunicação. Além disso, Santaella pensa a Comunicação como

campo e defende a importância das agências de fomento se atentarem às novas realidades dentro

de teorias paradigmáticas. É defensora do conhecimento sobre a História da Área e não encontra

um conceito acabado e privilegiado para a Comunicação.

Ao ingressar na liderança de fomento do Pós-Doutorado, temos a contribuição do

professor doutor Ciro Marcondes Filho, com os estudos da Nova Teoria da Comunicação, a

partir do método do metáporo81 . Aliás, quando se fala em teoria, essa é a principal corrente que

traz alguma tentativa de inovação e renovação do arcabouço teórico instituído nos paradigmas

praticados nas pesquisas da Área. A contribuição, para essa renovação, de certo modo, decorre

de pesquisas orientadas, na lógica filosófica das possibilidades comunicacionais, também

investigada entre os seres, ou seja, trabalha com um texto fundante tibetano para a teorização;

propõe uma nova teoria para a Era Tecnológica e considera a noção do comum para o ato de

comunicar por meio de três perspectivas: problemas epistemológicos, oposição à finitude e

passagem da Comunicação. Como pesquisador autoral, realizou encontros, com o objetivo de

consolidar a Área; criou o grupo FiloCom, para troca com outros pesquisadores, e trabalhou em

pesquisas sobre o dilema da Incomunicabilidade, provocada pelos muitos aparelhos que nos

permitem comunicar.

Aliás, conseguimos visualizar que Ciro Marcondes Filho guarda aproximações do

colega Maximiliano Martin Vicente, quando pensa os sentidos ontológicos e epistemológicos

da Comunicação e, com Lúcia Santaella, pois, embora haja diferenciações de enfoques

conceituais, ambos pensam em uma condição incorpórea como “materialidade” à realização da

Comunicação. Em termos de repercussão midiática, na Revista Pesquisa Fapesp, ele aparece

com destaque, por sua produção teórica e de modo geral, em outras notícias, como seus cursos

e aulas inaugurais. Do ponto de vista da defesa pela Comunicação, enquanto campo, se mostra

um batalhador da Área, com o propósito de construir teorias criticando a falta de uma existência

epistemológica da Comunicação, além de repelir a presença de outras Áreas, se sobrepondo na

Comunicação, o que contraria as questões delimitadoras, citadas pela coordenadora de Área da

FAPESP.

Por fim, quando analisamos a liderança dos auxílios para pesquisadores visitantes,

vemos na professora doutora Ana Claudia Mei, o exercício de pensar as ações de Comunicação,

81 É a ideia de criar indicações como um paradigma construído por cada pesquisador. Ler mais em

http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2012/resumos/R33-1177-1.pdf

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além de promover um evento, que propiciou um encontro de geração de semioticistas e estreitar

o relacionamento da PUC-SP, com o pesquisador Eric Landowski, do Centre National de la

Recherche Scientifique, em Paris. Assim, a pesquisadora trabalha pela realização de seminários

e outros eventos; favorece o intercâmbio de pesquisadores, como método de solidificação de

sua Área de estudos; forma redes de pesquisa; desperta o interesse de seus pesquisadores à

construção de relações e é centrada na propagação da corrente Sociossemiótica. É interessante

também destacar que seu pensamento se assemelha, com o que disse a coordenadora de Área,

na FAPESP, pois, Ana Claudia Mei valoriza o papel da linguagem e também oferece

explanações de que a Comunicação pode ser agregadora, por outras perspectivas do fenômeno,

que oferecem condições a uma realização, ou seja, há uma série de vieses que podem compor

o sistema comunicativo que forma a Cultura.

Assim, percebemos por intermédio das entrevistas realizadas, que fazemos parte de uma

Área de conhecimento com forte potencial de consolidação, afinal, temos incentivo a

pesquisadores iniciantes, frentes segmentadoras de correntes de estudos teóricos, esforços para

reconsiderar o estatuto epistemológico e muita possibilidade de diálogo internacional.

Vivências que permitem a construção do mundo social e histórico. E, para isso, se tornam

relevantes o papel da pesquisa com o olhar atento e o questionamento dos pesquisadores para a

formulação de boas problemáticas de investigação que se ocupem das demandas da sociedade,

sempre em atualização. Assim se faz o caminho possível!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se que esta pesquisa, de alguma forma, desperte as futuras gerações de

pesquisadores para que elas não prossigam sob o martírio precedente do impasse conceitual da

Comunicação em sentido pedagógico. O que propusemos, ao nos debruçar sobre os dados de

pesquisas que abastecem a Biblioteca Virtual da FAPESP, guarda semelhança ao conceito de

autorreflexão da Ciência como defende Edgar Morín (2010). Esse reexame de estudos

financiados, que se traduzem em vivências centradas no ambiente da academia, não trata de

reformular o que se pesquisou, mas, revelar perspectivas e tendências – parcialmente

desconhecidas pela própria FAPESP – em um exercício taxionômico, em 25 anos de produções,

que circulam pela via de mão dupla do fomento com a Fundação viabilizando financiamento e

os pesquisadores, discentes ou docentes, seniores ou em formação, trilhando por outro lado, a

pista do conhecimento.

O caminho percorrido nos permite afirmar que a Comunicação tem cientificidade, pois,

precisa, diante de suas práticas, aplicar procedimentos entre os quais a formulação de uma

pergunta-problema. E o exercício deste ponto de partida para a investigação cabe aos espíritos

científicos que necessitam formular seus problemas e indagações a partir do objeto de pesquisa.

Mas tudo isso é um procedimento, como algo mecânico a ser seguido. Parece-nos que toda a

celeuma em torno de uma definição sobre Comunicação parte da provocação de Pierre Bourdieu

(2004), que atribui ao campo, uma noção de luta, como confronto simbólico, em que forças

dominantes perpetuam um sistema de interesses. Se o princípio de comunicar é o comum, é

importante que se tenha, na Comunicação, um espaço de crítica e autocrítica para evitar que

possíveis analogias predominem o seu combalido arcabouço teórico-metodológico que não

avança porque poucos pesquisadores trabalham com as teorias da Comunicação. Um suposto

desinteresse herdado de uma herança dos cursos de Graduação. É sabido que a disciplina de

Teorias é “rejeitada” pelos alunos que pouco interesse têm no tema, pois, muitos querem logo

o contato com as práticas da profissão que escolheram e para qual estão em busca de formação.

Tal desinteresse constitui grande desafio aos professores dessa disciplina que precisam tornar

os assuntos teóricos da Comunicação atraentes.

Quando propusemos trabalhar a Comunicação nesta pesquisa, em três dimensões, foi

com o objetivo de reunir contribuições, que as formas mais expressivas de sua realização,

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possam emprestar a um entendimento de conceito central. Afinal, sabe-se o quanto há de força

em sua natureza relacional, a expressividade dos meios e a importância, sobretudo institucional,

dos acadêmicos que a pesquisam. Há um conjunto de fatores que fazem da Área um espaço de

reconhecimento, pois, de alguma forma, a vida como um todo depende da comunicação.

Ao tratarmos a primeira dimensão, a que envolve o ser humano, a pesquisa consegue

apontar que se entende, nessa perspectiva, a Comunicação por troca, relação, como atividade

entre pessoas, expressão, apropriação e coabitação. Uma série de conceitos sinônimos que

reforçam esse ato como necessidade básica e central para a interação. Quando pensamos pela

dimensão dos meios, vimos a tendência paradigmática do massivo, construída pela audiência

anônima e dispersa que consome os bens simbólicos da indústria midiática em larga escala. A

cultura se mercantiliza e se propaga pelos meios que se tornam o espaço da circulação, a serviço

das ideologias, que exercem uma relação de dominação sobre a audiência. E a terceira dimensão

tem um recorte mais taxionômico que estrutura o campo de estudos, dissecando os processos

de pesquisa e formação, envolvendo as organizações das associações acadêmicas científicas, os

cursos de Graduação e Pós-Graduação e as movimentações de institucionalização da Área.

Considerando o que se pesquisa, nota-se que as empirias comunicacionais precisam

receber mais atenção assim como a fundamentação teórica dos estudos que precisa se

descentralizar dos pressupostos importados, forçando assim, a valorização de nossos

pesquisadores, não como produtores de pesquisas, mas sim, como pensadores da Área

oferecendo a ela aportes intelectuais. Abrir-se ao que vem de fora não significa se descuidar. A

FAPESP zela por isso quando destaca e valoriza a importância da internacionalização das

pesquisas. Precisamos inverter a premissa do jogo porque importamos as teorias de pensadores

do exterior gerando certa “desvalorização” de nossos pensadores que são muitos. Uma forma

disto é viabilizar publicações brasileiras, no exterior, como pontuou a professora Ana Claudia

Mei em sua entrevista para esta pesquisa. Um fator importante e inicial, para isto, poderia ser

aproveitando o idioma. Temos relações institucionais com Portugal, o que facilita a

comunicação, e a aproximação do Espanhol, a fala oficial do restante da América Latina. As

relações com o exterior, via FAPESP, ainda são muito recentes e têm muito a expandir. O que

não quer dizer que a Área, de modo geral, não se movimente pelo mundo. Intercâmbios existem,

porém, quando considerados e analisados à luz da FAPESP, resultam em observações que

incorrem em melhoria e ampliação. O intercâmbio, em algumas instituições, especificamente

nas universidades públicas, é praticado por meio de incentivos internos que ocorrem para trazer

pesquisadores do exterior, o que se torna uma condição paralela, por um lado, mas também uma

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situação de não ocupar financiamentos, por outro. Esses apoios podem ser destinados a

pesquisadores de outras instituições, ampliando assim, a gama de troca com práticas

internacionais em um exercício de trocas e ganhos de experiência a partir do diálogo construído

entre o que se pesquisa aqui e no exterior.

A Comunicação facilmente flerta com a interdisciplinaridade que, por sua vez, se porta

como aquele inquilino que não quer ser despejado e se aproveita das brechas da Área, incapaz

de exercer sua virilidade e autocontrole. A formação da Comunicação é tão diversa que até

mesmo as lideranças de fomento que mais conseguiram apoio, e são apontadas na pesquisa, não

são naturalmente da Área, exceção ao professor Ciro Marcondes Filho que tem graduação em

Jornalismo. Os demais são Lúcia Santaella, graduada em Letras; Ana Claudia Mei, graduada

em Língua e Literatura; e Maximiliano Martin Vicente, graduado em História. Como se

observa, a maioria não tem formação original na Comunicação, Área em que eles ingressaram

posteriormente, participando assim de uma característica bastante comum que é o fluxo

migratório constituído pela interdisciplinaridade.

Embora, muitas vezes, as repartições metodológicas não sejam devidamente

organizadas e classificadas de acordo com a natureza das pesquisas, atribui-se à FAPESP um

indício de construção da História da Comunicação, amparada na colaboração dos pares, que

fazem da instituição um espaço ideológico do qual as vivências se organizam e se materializam

pelo espírito científico sob a forma de conhecimento. A dinâmica dos pareceristas, que avaliam

o fomento, nos sinaliza um modelo interessante e indispensável à Área. O Brasil produz muito

em Comunicação, porém, falha ao princípio ativo da Área que é a troca. Não se discute a

essência de processos comunicacionais, que poderiam levar a um conceito-chave de como essa

prática se desdobra e é aceita. Nossa Área estuda mais os fenômenos, por tradição ou por

emergência, e não se atentam a pensar o espaço comunicacional como todo. A própria

subdivisão do Jornalismo, em várias temáticas, e sua origem à pesquisa de Comunicação dão

essa noção de Área fragmentada. Estuda-se o Jornalismo a partir de “territórios próprios do

conhecimento”. E assim se formam estereótipos. Alusivamente, é possível comparar isto com

a Medicina que detém diversas especialidades, mas que de alguma forma, sempre está atrelada

a um conceito central, como espécie de espinha dorsal, tendo na sua literatura, os debates para

aceitação de teses trabalhadas, isto é, para se chegar a um consenso, há trocas, logo, uma

atividade comunicativa. Porém, isso não ocorre, na Comunicação, que parece em cada nova

prática, ganhar status de um novo território de conhecimento, embora uma desconstrução

poderia ter como ponto de partida o trabalho dos pareceristas da FAPESP que julgam a

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admissibilidade dos projetos de pesquisa em demanda. Evidentemente que para isto acontecer

seria preciso uma mudança de política de fomento com a Fundação determinando que a

prioridade é a produção de conhecimento para a Área. Assim, os pareceristas, apesar de

analisarem fenômenos isolados, poderiam contextualizá-los no sentido da importância de se

entender o que ocorre em um universo maior.

Há modelos que podem ser aplicados, mas também, há melhorias que se sugerem e

podem ser feitas no que tange a FAPESP. A transparência pública dos gastos, feita de forma

rigorosa, não tem a mesma aplicabilidade, quando se pensa na produção do conhecimento. Os

relatórios científicos finais das pesquisas poderiam ser disponibilizados a fim de que sejam

conhecidos os resultados dos trabalhos fomentados que, só são revelados, se apresentados em

eventos, ou publicados em livros e revistas. Houve relatos, ao longo desta pesquisa, de que os

relatórios científicos finais de cada fomento não seriam tão informativos e imprescindíveis, por

isso, se sugere uma revisão a este preceito, afinal, o conhecimento produzido poderia estar

arquivado na Biblioteca Virtual para futuros debates e usos na Área. Pelo atual modelo, sabe-

se tão somente que a FAPESP financiou aquela pesquisa sem monitorar os resultados científicos

decorrentes do apoio. Do processo de entrada do projeto de pesquisa à sua execução, existem

falhas em relação às respostas dadas às questões propostas. Por isso, esta pesquisa faz esse

mapeamento para revelar ao público da Área, e à própria FAPESP, as tendências e perspectivas

da Comunicação. Uma carência identificada e que poderia ser aplicada também a outros saberes

financiados. Assim, é possível apontar à FAPESP que ela não pode funcionar nem se sentir

apenas como financiadora de pesquisas. E a justificativa disto se encontra, a partir da análise

de conteúdo realizada no recorte espaço-temporal entre 1992 e 2016, um período de 25 anos,

capitalizados pela Biblioteca Virtual, que revelou a demanda constante do interesse em se

pesquisar na Área haja vista os 912 projetos de pesquisa identificados.Não é sua principal

função, mas, ao oferecer apenas a Biblioteca Virtual como banco de dados, a FAPESP

engatinha na tentativa de formar uma Taxionomia, que só se realiza, quando se organizam e se

manipulam os dados. Sua estrutura organizacional, que Muniz Sodré considera repartição

metodológica, divide a Área em Subáreas. Mas tal prática é um exercício que não estabelece

sentido ao pensamento complexo sobre a Comunicação.

Consideradas as Bolsas de Estudo no Brasil, pode-se dizer da Iniciação Científica, uma

instância de caráter pedagógico que incentiva e ensina a preparação de projetos de pesquisa.

Isto vem se dando predominantemente, na universidade pública, com forte influência da

UNESP Bauru, porém, entre as instituições de ensino privado, está valorizada na PUC-SP e na

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Universidade Metodista de São Paulo. O interior concentra o maior número de pesquisas tendo

o Jornalismo como o tema mais trabalhado pelos estudantes. Menos da metade das bolsas

informa a estratégia metodológica adotada, o que demonstra a necessidade de um reforço desse

quesito, que direciona o trabalho acadêmico por parte dos professores orientadores. Como nosso

parâmetro para as categorizações se deu coletando também os resumos das pesquisas,

sugerimos que eles sejam mais completos do ponto de vista informativo. Melhorá-los poderia

ser um ótimo exercício junto a esses pesquisadores em formação inicial. Não que eles refaçam

os existentes evidentemente, mas que agreguem novas formas de oferecer as primeiras noções

sobre um trabalho científico. Percebemos, ainda, outras características como o predomínio da

literatura estrangeira e temas adotados que representam nichos acadêmicos de prática de

pesquisa com assuntos, autores e postulados teóricos coincidentes.

No Mestrado, a maioria das pesquisas está na universidade e, em São Paulo, Capital. O

Jornalismo também se mantém como tema mais pesquisado e mais da metade dos pesquisadores

não falou sobre a metodologia no resumo. Em 82% dos casos, não é feita menção às referências

bibliográficas cujos autores são, em sua maioria, estrangeiros embora se ressalte a aparição da

pesquisadora Lúcia Santaella ao lado de autores clássicos como Jacques Lacan e Mikhail

Bakthin. De modo geral, ocorre também fragmentação temática. Em relação às metodologias,

o estudo de caso aparece na frente, seguido muito de perto, pela Pesquisa Bibliográfica. As duas

metodologias sinalizam para uma etapa da formação do pesquisador que se limita a uma

situação específica de análise inserida em um contexto, isto é, fala-se de um tema apoiado, em

bibliografias, que já trataram do assunto soando assim, como atualização daquela temática e

seus referenciais. A participação da PUC-SP, com grande número de bolsas concedidas,

respalda a Semiótica como validação metodológica, e contribui também para elevar o nome da

professora Lúcia Santaella às referências, retornando assim, a um ciclo que demonstra força e

coesão de uma linha de pesquisa.

Ao olharmos para o Doutorado, encontramos a integralidade das bolsas em

universidades, com destaque para a participação das instituições da Capital. Comunicação

Organizacional, Jornalismo, Internet, Artes, Relações Públicas, Mídia Digital e Design estão

entre os temas que denunciam uma etapa em que as implicações tecnológicas, decorrentes do

digital, já se ocupam das problemáticas bem como as disciplinas que formam a Comunicação.

Há carências também nas informações a respeito de metodologias e referências bibliográficas.

Nesta modalidade de fomento, Charles S. Peirce é o mais citado e aparece entre autores

europeus e alguns latino-americanos. Já a Pesquisa Bibliográfica e a Pesquisa Documental são

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as metodologias mais representativas e isto revela, nesta modalidade, maior aprofundamento

dos pesquisadores em fundamentação teórica e a preocupação em exaurir o conhecimento de

conteúdos expressos em documentos. Por sua vez, o Doutorado Direto tem representatividade

quase nula. Já o Pós-Doutorado apresenta pesquisas, somente em universidades, cuja maioria

está na capital. Censura e Divulgação Científica estão entre os temas mais estudados. De

metodologia documental, é um estrato de fomento em que se percebe a força da

interdisciplinaridade.

Enfim, quando se estudam as pesquisas fomentadas com Bolsas no Brasil, a tendência

da Comunicação é de que o aluno, em processos iniciais de formação como pesquisador, em

especial da Graduação, visualiza em seus professores a atuação em sala de aula e fora dela

também como opção de mercado, ou seja, alguns podem pensar na carreira docente, uma

proposta que pode ser resultado do contato com o professor. A partir do Doutorado, a pesquisa

em Comunicação precisa se descentralizar da Capital. Isto poderia ocorrer se o interior

pleiteasse mais auxílios e potencializasse oportunidades para a proposição de novos Programas

que poderiam ser criados, inclusive, nas instituições privadas ainda pouco representativas nos

fomentos.

Considerando as Bolsas de Estudo no Exterior, as próprias amostras sinalizam para o

menor tempo de nossas ligações com os estrangeiros. Dos estágios em Iniciação Científica, os

candidatos saíram do interior paulista, mais precisamente, da UNESP Bauru. Jornalismo,

Relações Públicas, Opinião Pública, América Latina e Internet são os temas dominantes e

demonstram, por exemplo, a força do Jornalismo, o interesse na comunicação empresarial e as

novas experiências propiciadas pela Internet. Boa parte desses temas de pesquisa é levada para

a Espanha, que é o país mais requerido pelos estudantes.

Os EUA são a preferência dos bolsistas de Mestrado. Nesta fase de fomento, o Cinema

e a Comunicação Pública dominam os temas de pesquisa, que teoricamente, estão amparadas

100% em autores estrangeiros. Nosso intercâmbio é pequeno. No Doutorado, a preferência é

pela Europa, situando a Inglaterra como o país mais representativo em 40% de projetos

apoiados. Assim, como esta modalidade de fomento, na segunda metade do século XXI, as

preocupações temáticas das pesquisas tratam de processos mais contemporâneos. Pode-se dizer

que, nesse sentido, se potencializa a passagem secular dos estudos em Comunicação. No Pós-

Doutorado, os EUA e o Canadá empatam na preferência dos bolsistas. Também se registram

assuntos mais contemporâneos da Comunicação, nessa instância de formação, como as Redes

Sociais e Internet, além de sua natureza filosófica. Pelo fato de liderar essa modalidade de

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fomento, o professor Ciro Marcondes Filho, da ECA/USP, aparece na frente das citações

bibliográficas conseguindo, pela única vez, tal posição de liderança ao Brasil.

Entre as práticas do exterior, ainda temos a Bolsa Pesquisa com a participação de

pesquisadores na França, Alemanha, Espanha e Portugal. Entre Auxílios à Pesquisa,

Telenovela, Televisão, Meios de Comunicação e Prática Profissional são as principais temáticas

de investigação. Nesta modalidade, o Jornalismo perde força e a Comunicação ainda é um tema

fragmentado. A professora pesquisadora Lúcia Santaella volta a se destacar na categoria de

referência bibliográfica. Há de se pontuar nessas relações com o Exterior a preocupação de

nossos pesquisadores em estudar os Meios de Comunicação.

Entre as publicações, 88% são livros e 9,4% periódicos. Os temas principais são o

Jornalismo, Artigos de Periódicos, Censura, Periódicos Científicos, Cinema e Psicanálise. Em

relação ao pesquisador visitante, mais de 80% visitam a capital paulista, o que explica o

deslocamento mais fácil, uma vez que desembarcam no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Desse total, 30,5% são franceses e 6,78% latinos. A maioria veio ao Brasil trabalhar com a

Semiótica e a Sociossemiótica carimbando o passaporte, para isso, na PUC-SP.

Neste panorama, e considerando cada pesquisa inserida na Biblioteca Virtual da

FAPESP, como repositora de conhecimento e não acúmulo de dados, a construção taxionômica

da Comunicação se forma na ausência de um percurso formativo em ciclo contínuo, embora

haja muita atração para a pesquisa como a Iniciação Científica e o Mestrado, as etapas mais

representativas dentro desse cenário; a capital paulista é o grande polo de atração de estudantes

embora isto se descentralize pela universidade pública, graças à UNESP Bauru, que ao lado de

USP, PUC-SP e Universidade Metodista de São Paulo podem ser apontadas como centros de

excelência da pesquisa em Comunicação, no período que vai de 1992 a 2016. O reforço a esta

noção se dá também quando se vê o “monopólio” da USP, em publicações, e da PUC, na

viabilização de professores pesquisadores visitantes. Essa excelência, que imputamos às

universidades citadas, está relacionada ao grande interesse de seus Programas em buscarem a

FAPESP para validar e legitimar suas pesquisas. O Jornalismo mantém a tradição de pesquisa,

a Semiótica se apresenta como força notável, em ascensão, e o Digital já é um sintoma de

transição das práticas comunicacionais. Quem sabe, por meio dessas experiências, o objeto da

Comunicação seja mais centrado e delineado pelo apoio de espíritos científicos que coloquem

mais questões em uma centralidade para a Área ocupando-se de seus questionamentos. Uma

importante contribuição, para isso, poderia vir dos próprios Programas de Pós-Graduação, que

deveriam aplicar mais o preceito de Newton Sucupira, de que essa etapa de formação supera a

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produção de uma tese ou uma dissertação. A formação de espíritos científicos deveria começar

já pela estrutura de grade curricular separando mestrandos e doutorandos em disciplinas mais

densas como Metodologia da Pesquisa Científica, afinal, os níveis de conhecimento desses

postulantes e as exigências, para com eles, são diferenciados. Uma pesquisa de Mestrado não

tem a mesma dimensão de uma pesquisa de Doutorado tanto do ponto de vista do objeto quanto

do ponto de vista da preparação do candidato. Essa prática de separar os estudantes para tal

disciplina teve início, em 2018, por exemplo, no Programa em Pós-Graduação em Comunicação

da Universidade Metodista de São Paulo.

Mais do que dissociar uma etapa de pesquisa da outra, a todos ocorre um comum

perturbador que assombra o Brasil: a crise econômica que trouxe embutida a depreciação da

universidade pública, que também se alastrou às universidades e faculdades privadas. Inserida

na crise, também, a FAPESP precisou fazer ajustes, mas, manteve seus compromissos

assumidos, atrelados ao dinheiro público, que decorre da arrecadação do estado de São Paulo.

Uma previsão constitucional que foi como tiro certeiro entre homens que batalharam,

ideológica e politicamente, por uma instituição que promovesse e zelasse pela produção de

conhecimento, na longínqua década de 1960, como bem nos lembrou, a coordenadora da CHS

II, professora Esther Hamburger.

Como não é de interesse a questão administrativa, do ponto de vista cientifico, pode-se

dizer que um ponto a melhorar, na FAPESP, é a exigência de informações mais precisas àqueles

que pleiteiam seu apoio financeiro. Na coleta dos dados para categorização, foi muito comum

a confusão entre temas e palavras-chave. Aliás, o que dificulta muito a organização da

Taxionomia, pelos fomentos da FAPESP, é a mistura que há entre temas de pesquisa e palavras-

chave. Tudo é colocado na mesma dimensão, e nem sempre, todas as palavras são

representativas. Uma proposta que colocamos é a de realmente valorizar termos que

representem efetivamente o que está sendo estudado e em qual ambiência. Vamos tomar como

exemplo a Comunicação Digital. Trata-se de um tema abrangente. Então, se estamos

pesquisando as Fake News, reproduzidas por grupos de família, por exemplo, o que seria viável

introduzir como temáticas? Comunicação Digital, WhatsApp, Fake News. Essa sugestão nos

parece ser mais plausível no momento de organizar as tendências dos estudos. É isto que vai

fazer sentido quando, ao longo do trabalho, reforçamos a ideia da professora Maria Cristina

Gobbi (2015), sobre a importância de conhecer e reconhecer os temas que provocam

pesquisadores. O mesmo acontece com as metodologias, que seguem um determinismo,

fazendo com que os objetos estudados sejam adequados àquilo que já está predeterminado. Por

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tal preceito e pela nossa proposta, acreditamos que haja maior viabilidade e uma dimensão mais

certeira sobre o que de fato está sendo pesquisado. Foi um desafio que precisamos superar, ao

manusear os dados da FAPESP, apesar de eles terem sido considerados para os efeitos

estatísticos da pesquisa. Se houver melhora, nessa organização, os índices nos parecem ser mais

representativos na construção da Área. Um caminho para se tornar menos abrangente e mais

delimitado, o que em nosso entendimento, daria mais densidade ao que se produz e se

problematiza.

A Biblioteca Virtual também poderia ampliar seus campos de informação. Por que não

incluir metodologias e autores? Porque isto parece um sintoma de produção dos pesquisadores.

A própria coordenadora de Área da FAPESP observa a falta de qualidade dos resumos dos

projetos. Como demonstrado numericamente, a Área precisa solicitar mais porque a oferta

segue a demanda. No Relatório de Prestação de Contas de 2016, a Comunicação apareceu como

quinta Área em pedido de financiamento de pesquisas. É até curioso abordar isto, pois, apesar

da quinta colocação, ela tem mais projetos ativos que outros três campos do saber. A falta da

materialidade concreta de um objeto palpável é um forte sintoma da Área. Sabe-se e se confirma

que há bastante produção, no campo comunicacional, mas o que parece contar no âmbito das

Ciências, é o que de fato se torna relevante a ponto de modificar o cotidiano das pessoas.

Retomando a questão da oferta e da demanda, o que acontece na Comunicação é que se

pede pouco. Os pesquisadores de Linguística, Letras e Artes estão à frente, na FAPESP, dentro

da CHS II onde nossa Área também se encontra presente. Embora haja dissonância em termos

de solicitação, há de se pensar isto, como indicativo de uma aproximação da Área, inclusive,

pelo fato de algumas escolas colocarem Comunicação e Artes, em uma mesma

departamentalização. Isto ocorre, por exemplo, em duas das mais expressivas instituições, que

arregimentam os fomentos na nossa Área, junto à FAPESP, dentro do período estudado: a

ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes) e a FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e

Comunicação) da UNESP de Bauru. A diferença numérica precisa ser interpretada como

possibilidade de troca de conhecimento e projetos em comum, ainda mais em instituições como

estas citadas, onde as Áreas convivem. A chance para isto está, por exemplo, na melhoria dos

resultados das pesquisas da Área. Demonstrar índices de audiência, ou como as pessoas

recebem determinados temas presentes na mídia e em outras formas comunicativas, pode se

tornar desinteressante quando se organizam apenas na condição de números. São necessárias

discussões mais a fundo para afastar a superficialidade. Se considerarmos as Fake News, tema

emergente na segunda metade do século XXI, é possível dizer que pesquisas que a envolvem

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as apresentam, como algo de momento, sem muito se debruçar sobre isso. Sabe-se que existe,

mas quando se fala de seus efeitos, os faz de forma superficial. Até surgem fórmulas para

combatê-las, em espécie de manuais com orientações digitais ou impressas como já se vê em

anúncios de grandes jornais, porém, pouco se debate o assunto no dia a dia, que vem a público

apenas em casos de grande repercussão. Práticas assim parecem ser uma grande questão, ainda

não resolvida, pelos estudos em Comunicação.

A FAPESP financia os estudos, então, o conhecimento produzido, por quem a ela

recorre, recebe uma primeira aceitação, ou não, pelos pares que se tornam legitimadores da

Área e que exercem isto considerando a proposta de trabalho e a contribuição para os estudos.

Mas poucos ainda querem esse julgamento. Quanto mais pedidos forem feitos, mais se mostra

que há produtividade, e de alguma forma, isso engendra a discussão sobre as questões

comunicacionais e esta seria a fórmula para tentar desconstruir o rótulo de prima pobre das

Ciências Sociais.

Pelo exposto, é que voltamos as hipóteses de pesquisa para confrontá-las com o que

pesquisamos. Pode-se dizer que em relação à primeira hipótese, que trata a passagem de século

(do XX para o XXI) nos Estudos em Comunicação, comprova-se a presença de temas

decorrentes de novos tempos da cultura social como objeto de pesquisa e a tradição mantida

dos paradigmas teórico-metodológicos; o tratamento da tecnologia digital como objeto; a

abordagem da Netnografia – ainda que de forma tímida e irrisória – como metodologia de

pesquisa; a Semiótica referenciando questões sobre as práticas comunicacionais

contemporâneas e a força do Jornalismo como objeto de estudo. Por meio disto, projeta-se que

os pesquisadores precisam acompanhar mais de perto os fenômenos emergentes, tanto por sua

natureza quanto pela relação que estabelece diante dos meios tradicionais, já constituídos na

esfera pública. A efemeridade que as tecnologias contemporâneas oferecem aos meios não os

deixam tão perenes, como os veículos massivos, com suas presunções ideológicas. Uma

situação que coloca em risco a sobrevivência de paradigmas tão duradouros, embora, seja

notória que a perspectiva digital traga alguns encantamentos sedutores que se esvaem e se

substituem por outros revestidos de igual ou até ampliada sedução. Talvez, se ainda haja receio

em inovar na pesquisa, por que não revisitar os paradigmas para saber se eles ainda formulam

explicações plausíveis diante de um cenário em constante, e acelerada, transformação?

Em relação à segunda hipótese, que é a tentativa de solucionar o impasse conceitual da

Comunicação, registra-se que nenhum pesquisador se preocupa de fato com essa realização que

se torna uma problemática em aberto. As preocupações dos pesquisadores se concentram em

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torno de seus objetos com particularidades que se tornam fragmentações e necessidades de

realização. Logo, as questões de campo, disciplina, área e ciência parecem algo mais disciplinar

e subjetivo dentro de um processo pedagógico. Retomando o postulado de Wilhelm Dilthey

(2010), de que todos os posicionamentos são válidos, o único conceito que, de fato, não cabe à

Comunicação é o de disciplina. Campo, Ciência e Área são admissíveis e estão alinhados às

convenções e convicções de cada sujeito de pesquisa. Nega-se uma definição cabal sobre a

Comunicação, do ponto de vista da pesquisa. Entretanto, em relação às suas práticas, percebe-

se que há mais facilidade em compreendê-la como troca, relação e indústria midiática. Fechar

um conceito que resolva o impasse nos parece impossível pela maneira como as práticas se

apresentam. Em todos os estágios do fomento, os pesquisadores ainda procuram atender suas

necessidades, não necessariamente, pensando em problemáticas mais gerais que abarquem toda

a Área da Comunicação. Ainda não se tem um ponto central, em relação a uma natureza, da

qual possa partir um pressuposto que sinalize legitimamente o que seja Comunicação. Pelo

pesquisado, junto à FAPESP, é difícil no aspecto prático, afastá-la da noção de campo. Por tais

aportes, lançamos duas reflexões que servem de provocações. A primeira delas é se ainda é

tempo de buscar esse presumido conceito de Comunicação? E o segundo, se essa busca que

ainda se faz, não tem atrapalhado e sustentado esse impasse que trava novas perspectivas?

Por fim, a terceira hipótese está na assertiva de que o mapeamento de pesquisas revela

caminhos e tendências, que podem estimular a metapesquisa nos Programas de Pós-Graduação,

para que estes reflitam sobre suas linhas de atuação a fim de promover essa organicidade

buscada pela Área. Esse método propicia avanços, como se estes estivessem alinhados com sua

própria evolução histórica, tendo as pesquisas de seus discentes, um direcionamento para a

construção epistemológica, tema de pouca discussão na Área. A revisão das produções

discentes e docentes poderia, inclusive, vir a ser um projeto de pesquisa temática, financiado

pela FAPESP, tendo como integrantes, pesquisadores que poderiam formar uma rede paulista

de investigação para mapear o que se pesquisou até agora em Comunicação. Uma sugestão seria

que tal mapeamento se desse em periodizações de décadas para que se demonstre as tendências

de estudo. Uma reflexão necessária para um país que precisa se aprofundar naquilo que escreve

e produz. Esta pesquisa vem com a proposta de ser um primeiro passo para provocar os

pesquisadores a exercerem seus espíritos científicos, problematizando as temáticas da Área e

demonstrando que elas existem, pleiteando apoio à FAPESP para que nossas demandas estejam

acordes com a oferta. Os dados apurados e analisados, neste estudo, revelam indicadores

valiosos de produtividade, na Área, que se demonstra altamente fértil para a realização da

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pesquisa. Estabelecemos um ciclo envolvendo os projetos de pesquisa, submetidos à FAPESP,

que por sua vez, ao aceitá-los, os legitimam. Nossa problematização em entender por onde

transita a pesquisa em Comunicação, à luz do fomento, busca oferecer aspectos positivos e

negativos para estimular e convidar nossos pares ao exercício da autocrítica da Área.

Enfim, a pesquisa continua necessária e ilustra um momento muito especial, na

Comunicação, que assume uma centralidade no século XXI, período em que ela não

necessariamente passa mais pela organização dos media. São tempos em que se experimenta o

comum, na facilidade mediada pelas tecnologias digitais, como exercício pleno do ato de se

comunicar. Forma-se, simbolicamente, uma materialidade instigante, mas, que no plano da

pesquisa, não pode ser aventureira e encantadora, nem carente de uma interpretação minuciosa

daqueles que se dedicam à academia ou que nela pretendem ingressar, pois, se a Comunicação

se torna um processo central à vida, é fato que ela se insere sobre outras formas do conhecer,

dentro de Áreas, em que sua natureza de transformação, divulgação e diálogo são essenciais

como já eram, porém, agora se valorizam pelo fato de tudo praticamente estar acessível, graças

a dispositivos que entrecruzam as fronteiras. Os fluxos se tornaram demasiadamente

circulantes, por isso, o presente é passível de gerar conceitos que podem provocar e reforçar

essa complexa identidade epistêmica, obscura em sua indefinição, que não se reconhece de

fundamental importância, mesmo com seu discurso soberano, na prática, e pouco viabilizado,

na teoria, que não reluta às amarras dos paradigmas.

Por enquanto, segue se perpetuando a máxima paradigmática de que a teoria não

acompanha a prática em velocidade compatível, o que mantém a característica do Brasil em

ainda não ter um pensamento comunicacional próprio, mas sim, uma institucionalização dos

estudos em Comunicação. Analisar, detalhadamente, um conjunto de produções no horizonte

de uma agência de fomento, se torna um conhecimento aproximado sobre o possível primeiro

passo para esse pensamento próprio que precisamos desenvolver. Com a ação dos espíritos

científicos, tanto no que corresponde a questões da Área e a pedir fomento para isso, parece-

nos que há luz no fim do túnel, com a aproximação do dia em que deixaremos de ser a “Prima

Pobre” das Ciências Sociais para se tornar as Ciências Sociais em sentido pleno.

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ANEXOS

Anexo A – Entrevista Profª. Dra. Ana Claudia Mei (PUC-SP)

1 – A PUC-SP se destaca na vinda de pesquisadores visitantes do exterior ao Brasil.

Comparando todas as instituições, ela detém 29 solicitações (49,15%). É mais que o dobro

da USP. Quando são consideradas apenas as universidades particulares, esse índice sobre

para 78,38%. Qual é o papel da PUC-SP na internacionalização da pesquisa em

Comunicação?

Muito cedo, quando eu era estudante do Mestrado e do Doutorado, essa ambiência internacional

já dominava o Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica. Foi graças

a esse vínculo com outras teorias semióticas e da comunicação que muitos colegas foram

estudar no exterior, quer com Bolsa de Doutorado Sanduiche, quer fazendo Pós-Doutorado no

exterior. Fiz tanto disciplinas no doutorado, na Indiana University nos Estados Unidos da

América, onde se situam os documentos do filósofo e semioticista Charles Sanders Peirce,

como fiz o Pós-Doutorado na École des Hautes Études de Sciences Sociales - EHESS com

Algirdas Julien Greimas, de novembro de 1990 a 1991 e, depois, com Eric Landowski, de 1992

a 1994, no Laboratoire de Sociossemiótique do CEVIPOF: Centre d'Étude de la Vie Politique

Française. Toda a perspectiva dos Regimes de visibilidade na trama social quer em corpus da

comunicação mediática, quer nos de experiências face a face, corpo a corpo, advieram deste

estudo semiótico que me permitiram aprofundar estudos sobre os modos como a media

constrói-se como mediadora e estrutura visibilidades e invisibilidades mediáticas e no pólo

oposto como as interações corpo a corpo são as com força de nos sensibilizar, descobrir-se no

imediato do interagir.

Considero que a ambiência de internacionalização da PUC-SP se constrói com trocas docentes

e discentes. Dar aula em outra Instituição nos ajuda a se colocar diferentemente, e da mesma

forma, ocorre com o assistir aulas em outro país, com outros alunos de outras culturas. O fato

de termos um universo de línguas neolatinas, vamos do português ao francês, italiano e

espanhol, o que favorece muito as pesquisas conjuntas. Desfrutei muito dessa comunidade

participando na semiótica francesa, italiana, espanhola e portuguesa de Portugal, voltadas para

a produção do sentido pela media e arte. Estimulo constantemente orientandos a fazerem

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estágios de pesquisa, quer na França, quer na Itália, países com os quais mantenho continuado

trabalho investigativo. Atualmente tenho dois alunos em duplo diploma, um na Université de

Limoges e um outro na Università de Bologna. Testemunho o diferencial de abertura e

disponibilidade para o trabalho investigativo que esses pós-graduandos apresentam. São mais

acessíveis às diferenças culturais e às pesquisas comparativas também. Desde 1994, um grupo

de semioticistas — Landowski (CVIPOF), Assis-Silva (UNESP), Fiorin, Peñuella, Pessoa de

Barros, Tatit (USP) — criou o Centro de Pesquisas Sociossemióticas - CPS, que sediado na

PUC-SP, favoreceu o continuado intercambio docente e discente, o que resultou em uma

formação de uma rede de investigações interinstitucionais e internacional.

2 – A senhora solicitou 14 vezes a vinda de pesquisadores estrangeiros. Dessas solicitações,

por dez vezes, quem veio foi o professor Eric Landowski. Qual a importância de trazer

um pesquisador com olhar do exterior para os pesquisadores em formação?

Eric Landowski é um teórico francês que tem o privilégio de falar e escrever nas várias línguas

neolatinas. Começou a vir no Brasil, já em 1982, e sempre circulou entre as Instituições em que

a Semiótica estava se implementando. Foi, em 1989, que recebeu o convite da Coordenadora

do PEPGCOS da PUC-SP, então, Dra Lucia Santaella para integrá-lo como professor visitante

com a disciplina Semiótica estrutural ou discursiva as fundamentações teóricas e metodológicas

das investigações em desenvolvimento. Trabalhamos juntos, desde então, em uma intensa troca

teórica e de objetos de problematizações que realizamos coletivamente com os pós-graduandos.

Landowski recebeu muitos desses pós-graduandos na FNSP: CEVIPOF, onde ministrava seu

Seminaire de Sócio-semiótique, mas é sempre um seleto grupo que consegue essa oportunidade,

e assim, trazê-lo a São Paulo e promover não somente um curso que na maioria das vezes foi

inteiramente aberto quer à comunidade de pós-graduandos dos demais cursos da PUC-SP, quer

também às demais Pós-Graduações de São Paulo e do Estado de São Paulo, assim como de

outras instituições brasileiras que integram o CPS- como UFES, UFPe, UFPelotas, UFRS,

UDESC, PUC-Rio, PUC-Pel, só para citar algumas, foi só uma face do trabalho. A outra deu-

se que a formação em semiótica fazia-se na prática da pesquisa coletiva que os jovens pós-

graduandos integravam junto com semioticistas renomados, o que sempre creio muito

estimulou a formação para se tornar investigador. Foi assim que Landowski conseguiu trabalhar

a semiótica interdisciplinarmente, fazendo a ponte com vários campos das Ciências Humanas

e Ciências Sociais e passou vinte anos dedicando-se a objetos de nossa cultura brasileira, quer

fosse a comunicação face a face nas interações socializantes, a comunicação publicitária,

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comunicação política, quer questões do gosto, de hábitos, de práticas de vida brasileira como

comer feijoada, beber caipirinha, torcer para um time, entre tantos outros objetos, que tratou e

estimulou a pesquisar. Em todas as visitas, Landowski deixava-nos com artigos inéditos,

mostrando o quanto também o estimulava essa nossa ambiência investigativa. Revistas como

Significação, Galáxia, do Grupo Casa, Comunicação Midiática bem testemunham essa

publicação de artigos do autor, saídos primeiramente em português. Coletâneas publicadas em

português, fruto da colaboração entre França, Itália, México e Brasil que ele articulou, foram

depois traduzidas para o italiano, francês e espanhol.

Acho, então, importantíssimo esse entrecruzamento de pesquisadores e foi ele que sempre

permitiu acalorados debates quer sobre a teoria, quer sobre os objetos, quer sobre o método de

estudo do sentido. Distanciada no tempo, olhando todo esse fazer, acho que realmente valeu a

pena essas constantes visitas por e para a pesquisa semiótica que hoje fazemos no campo da

comunicação brasileira, uma comunicação aberta que considera media, desde o corpo à cidade.

O número de pesquisadores formados com a participação de Landowski, na PUC-SP, ultrapassa

duas centenas e esses bem atestam esta abertura do campo sempre com um viés da política e da

ética atravessando toda e qualquer comunicação.

Outro lado importante é que Landowski favoreceu o contato com outros semioticistas latino

americanos do México e do Peru, principalmente, com os quais trabalhamos muito e

publicamos conjuntamente nesses país. Também Landowski divulgou a semiótica brasileira

quer nas suas pesquisas, quer nos cursos em outros países, quer publicando os resultados nas

várias coletâneas que organizou e também nas revistas que edita.

Convidei também os colegas da Università di Roma : La Sapienza, da Università di Bologna,

da L.U.I.S.S. de Roma, da Università Tor Vergata, da Università di Palermo, Università di

Siena, Università Carloforti, em Cagliari e recebi esses tantos colegas que vieram, financiados

pelas próprias Instituições, enviaram doutorandos para estágio de pesquisa, fizeram pós-

doutorado. A internacionalização vai além do apoio da FAPESP a professores visitantes, mas

também abarca seu apoio aos estudos dos pós-graduandos e aos pesquisadores em pós-

doutorado que abrigamos e o apoio que me deu na pesquisa pós-doutoral. Sem dúvida, a

FAPESP foi essencial para a internacionalização de nossa produção bibliográfica e termos nos

tornamos um centro de pesquisas de referência nos estudos semióticos da comunicação.

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3 – A França é o país de onde veio a maioria dos pesquisadores visitantes. O que isto

representa? Uma pesquisa mais estruturalista?

A semiótica estrutural é a base comum de todos os nossos convidados como professores

visitantes, quer os financiados pela FAPESP, quer os que aqui estiveram financiados por outras

fontes internacionais. Somos um centro de pesquisa que se vincula à teoria da significação de

A. J. Greimas e nossa produção bibliográfica também é nessa Área. O importante são os estudos

de variados objetos que usando o mesmo arcabouço teórico mostram as qualificações

universalizantes e as singularidades mostram as diferenças entre os mecanismos da crença,

fidúcia dos contratos, sobre as estratégias de convencimento de negociação. Por exemplo, nós

estudamos as práticas de vida das cidades de São Paulo e de Roma, investigando os mecanismos

de produção de sentido com os seus regimes de visibilidade, de interação e de reescritura.

Outras cidades como Palermo, Milão e brasileiras como Curitiba, Rio de Janeiro, Pelotas, por

interesse dos participantes, também propiciaram uma reflexão densa sobre a diversidade

cultural, os fenômenos globais, glocais e os locais, produção fílmica, televisual, jornalística,

radiofônica, fotográfica, de inscrições urbanas parietais como graffiti, pichação e pixo, os

territórios culturais da cidade, quer os museológicos, quer os de coletivos, etc. De fato, acho

que sem o estofo de um solo teórico comum, muito dessa intensidade de troca bibliográfica não

teria sido possível e muito menos um fazer pesquisa conjuntamente.

4 –O número de referências internacionais nas pesquisas apoiadas pela FAPESP é

esmagador, o que nos garante afirmar que pouco se conhece e se utiliza a produção de

nossos teóricos, sejam eles brasileiros ou latino-americanos. Como a senhora avalia essa

influência da literatura estrangeira tão demarcada em nosso campo?

Conforme vinha discorrendo, temos uma importante produção bibliográfica em língua

portuguesa, em língua italiana, que tem uma publicação editorial bem forte, em língua

espanhola, mas do México e do Peru e, sem dúvida, em língua francesa. Não acho que não

produzimos referências nacionais, ao contrário. Se a teoria semiótica saiu da França para o

mundo, faz muito anos que ela circula nas várias línguas neolatinas que felizmente podem se

falar com alta intercompreensão linguística.

5 – Aliás, como a senhora entende o conceito de Comunicação: Campo, Área, Ciência?

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Entendo comunicação como interação que propicia os processos de significação. Ela abarca,

portanto, todos os tipos de interação, das corpo a corpo às mediadas, que englobam todos os

media que nos põem por seus recursos tecnológicos em relação ao mundo além do que estamos

fisicamente.

6 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento

pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?

Sem dúvida, há uma legitimação científica da área da comunicação. Mas a comunicação disputa

seu lugar com as demais disciplinas da grande área das ciências sociais e, como trabalha com a

linguagem, que é a matéria da expressão de toda e qualquer media, também tangencia a área da

arte. Há uma cobrança de resultados mais e mais concretos como se os estudos de compreensão

dos processos comunicacionais não permitissem formar um conhecimento maior objetivo e

subjetivo dos sujeitos pelos processos comunicacionais que fazem uso para estar no mundo e

existir.

7 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito de

suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público. Em

Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu (1983)

ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência quando

estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por créditos. Sob

esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se atribuir uma

vitória científica da Comunicação?

Tendo a concordar que há uma vitória científica da Comunicação, mas não só. Essa grande área

é também uma das possibilidades de transparência da FAPESP. Essa mesma faz um uso da

mídia jornalística impressa e digital com um jornal diário para fazer saber os seus editais, os

resultados das pesquisas, os acordos, enfim, ela dá visibilidade às suas ações de apoio e aos

resultados dessas.

8 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma

fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em

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muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação

Comparada, etc...). Acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação precisa centralizar

mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma preocupação em estudar

historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim poderíamos compreender a

evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc... Eu acredito que os

Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso sendo, por exemplo,

mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem nessas perspectivas

históricas da Área. Aliás, a PUC-SP com seu Programa em Comunicação está exercendo

muito bem esse papel e pelos dados levantados pode ser considerado um modelo. Faz

sentido esta minha colocação?

Não estou muito de acordo com a tese defendida, pois, é justamente o trabalho integrado entre

as vertentes sincrônicas da comunicação e as diacrônicas que permite dar conta do campo da

comunicação e fazer amarrações para análises mais densas na abrangência do fenômeno e

consistentes nos argumentos. As várias atuações da comunicação no digital, no impresso, no

audiovisual, no radiofônico, no gestual, entre outros, é que permitem os tratamentos do local,

do glocal e do global, do cultural e do multicultural. A PUC-SP busca da diversidade das

vertentes que congrega entre seus docentes operar uma reflexão crítica geral. Só observar como

as linhas de pesquisa do Programa: Regimes de sentido nos processos comunicacionais,

Processos de criação na comunicação e na cultura e Dimensões políticas na comunicação se

articulam em uma formação pós-graduada em equilíbrio a fim de formar um pesquisador que

tanto tem um profundo conhecimento dos usos das linguagens e das tecnologias nos processos

comunicacionais dos vários media, quanto os analisa por várias teorias semióticas e da

comunicação que são entretecidas para dar conta da complexidade da área abordando os

processos de criação na comunicação e na cultura. Ao lado de uma reflexão crítica da dimensão

política, biopolítica e ecológica da comunicação que propicia a reflexão sobre os

posicionamentos e pontos de vista. Quando se reflete sobre a heterogeneidade, sob vários

olhares teóricos e metodológicos, conclui-se que ela é muito enriquecedora na formação pós-

graduada e acredito que ela conduza a uma formação mais aberta do profissional do campo da

comunicação.

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9 – Há muita produção acadêmica no Brasil, porém, sua influência teórica é pequena. Esse

diálogo com a internacionalização pode ser benéfico para ocuparmos um papel

epistemológico respeitável na pesquisa em Comunicação?

A mudança dos paradigmas teóricos é lenta e exige uma política de publicação e do impacto

dessa que ainda temos muito a avançar. Exige-se cada vez mais dos pesquisadores a avaliação

de publicação em periódicos qualificados quando nossa área se caracteriza por publicação de

artigos em coletâneas de projetos temáticos coletivos ou de livros monográficos. Acredito que

a proliferação de revistas digitais ainda não mudou esse quadro nas Ciências da Comunicação.

As revistas impressas, pelos custos, desaparecem. Os livros resistem e acredito que é um

patamar que a internacionalização da produção brasileira deve favorecer com o apoio às

traduções para línguas de interesse. A jornada é longa e com muitos passos a dar rumo a

ocuparmos um papel epistemológico na nossa área. Interessante que as reuniões científicas

internacionais favoreceram os contatos, mas ainda é preciso mais em termos da produção

bibliográfica.

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Anexo B – Entrevista Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho (USP)

1 – Muitas das pesquisas que o senhor orientou, a bolsistas FAPESP, trabalham a Filosofia

da Comunicação. Partindo deste tema, essa é uma forma de contribuir e renovar com os

estudos teóricos da Área?

A área de comunicação nasceu como apêndice de outras áreas, seja da psicologia, como a Escola

de Chicago, seja da filosofia, como a Escola de Frankfurt, seja da administração, como a Escola

de Colúmbia. Por décadas, não teve existência epistemológica própria, viveu parasitando outras

disciplinas. Contudo, desde 1990, com a expansão da internet, a crise das ideologias e o

aparecimento do chamado “pós-moderno”, constatou-se que comunicação poderia – e deveria

– ser uma área de investigação própria, sem depender nem ser “objeto teórico” de outras

disciplinas. Comunicação precisava se livrar do título absurdo e equivocado de ser uma “ciência

aplicada”. Isso não apenas renovava os estudos de comunicação bem como os

criava efetivamente. Estudos de comunicação, propriamente ditos, só surgem a partir daí. E, no

meu caso, para se estudar a comunicação e dotá-la de estatuto teórico autossuficiente, seria

preciso consubstanciá-la com bases filosóficas e foi isso que se pretendeu com o FiloCom.

2 – Aliás, é no Pós-Doutorado, categoria em que o senhor lidera orientações tanto para

bolsistas no Brasil quanto no Exterior, que a Teoria da Comunicação aparece como tema

de pesquisa. Nós temos considerado, em nossa pesquisa, o Percurso Formativo como o

ciclo Iniciação Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. É do Pós-Doutorado que

melhor podem vir os aportes para se repensar os nossos paradigmas teóricos?

Não necessariamente. Tenho instigado alunos a repensar paradigmas teóricos e a aplicá-los em

pesquisas de campo especialmente na graduação. A graduação é o momento mais importante

da formação do aluno (e do pesquisador) porque o captura em seu momento de criatividade,

energia e prazer pelo novo. O aluno de pós-graduação já tem outro perfil, muitas vezes já

viciado por metodologias clássicas e, em muitos casos, ultrapassadas.

3 – Campo, Disciplina, Ciência são definições, digamos, enciclopédicas para a

Comunicação. O senhor diz em seu livro Para entender a Comunicação: contatos

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antecipados com a nova teoria (2008) que todos querem comunicar, porém, poucos aceitam

a comunicação que por sua vez apenas ocorre com autorização do sujeito. E faz um

destaque para o incorpóreo no processo comunicacional que seria algo não apreendido na

realização do acontecimento. Seria o incorpóreo o obstáculo epistemológico – conceito de

Gastón Bachelard – para o impasse conceitual da Comunicação?

Não; há um equívoco nessa leitura. De fato, todos querem comunicar, isso é uma evidência. Há

até um excesso de “vontade de comunicação”, que se vê pela abundância de mensagens, vídeos,

textos, selfies, etc., que, contudo, não tem equivalência no processo de recepção. Há muita

emissão, mas poucos querem, de fato, receber. Já, o incorpóreo trata de outra coisa. Faz parte

daquilo que eu chamo de fenomenologia da comunicação, que é o momento sutil em que “algo

acontece”, esse algo se dá pela ação do incorpóreo, que é um componente imprescindível à

comunicabilidade embora não possa ser capturado, medido, avaliado. Não tem nada a ver com

“obstáculo”, ao contrário, é o que torna claro que a comunicação ocorreu.

4 – Os dados quantitativos obtidos junto à Biblioteca Virtual da FAPESP nos indicam os

EUA e o Canadá como países preferidos dos pós-doutorandos. A que o senhor atribui a

escolha desses destinos, uma vez que quando analisamos os referenciais bibliográficos, a

maioria dos autores que sustentam as discussões teóricas é europeia?

Dados quantitativos não dizem muita coisa. Você pode ter um volume enorme de estudiosos

que vão aos EUA e ao Canadá, mas não sabe o que os move a irem para lá. Sabemos que os

EUA são atraentes para quem quer fazer pesquisa administrativa, em larga escala, com gráficos

e estatísticas, às vezes, sondagens eleitorais, ou seja, estudos que se voltam a volumes de dados,

mas pouco ou nada dizem a respeito da qualidade da comunicação. É o problema do

pragmatismo dessas pesquisas, que podem atender ao mercado e à classe política, mas pouco

dizem sobre a comunicação stricto sensu. Os europeus, em contrapartida, desfrutam de uma

tradição secular em investigações de fundo, em que buscam compreender um pouco mais da

natureza da comunicação e não tanto das grandes medidas. Em certo momento, contudo, os

alemães notaram que faziam “teorias demais” e que precisavam de mais dados do mundo real.

Foi quando Horkheimer solicitou a Lazarsfeld, ainda em solo germânico, ajuda para pesquisas

quantitativas que seu Instituto fazia no início dos anos 1930, em Frankfurt, com operários

alemães. Mas, afora isso, a essa “deriva empírica”, à qual até mesmo Adorno se entregou, a

histórica intelectual europeia testemunha uma busca mais filosófica do que prática, tanto dos

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franceses quanto dos alemães. É uma questão de postura intelectual: ou você vai em busca de

reflexão, sofisticação teórica e especulativa, em suma, de certa densidade de pensamento, ou

você vai aprender a usar e a vender esses resultados a grandes empresas e a grupos políticos.

5 – Por falar em referência bibliográfica, nas Bolsas de Pós-Doc no Exterior, o senhor

aparece citado em duas pesquisas. Como é ao mesmo tempo construir a Área e ser

referência para a mesma?

Uma coisa leva automaticamente a outra. Tenho vários vínculos internacionais, na Europa e

nos Estados Unidos. Alunos, em geral, procuram seguir os passos de seus orientadores, se os

respeitam como fonte de conhecimento e experiência. Tento, naturalmente, influenciar colegas

estrangeiros naquilo que você chama de “construir uma Área”, é um trabalho longo e exaustivo,

que só madura depois de muito tempo e com o apoio, inclusive pessoal, de muitos colegas. Mas

meu foco mesmo é o Brasil, cuja energia e potencial de trabalho é incomparável. Por isso,

invisto mais por aqui, apesar de estimular os pós-graduandos a vivenciar a realidade estrangeira,

no caso, para arejar as ideias a respeito de nosso próprio país.

6 – Villém Flusser é o autor mais citado entre as pesquisas com bolsas de Pós-Doc no

Brasil. Nessa modalidade, depois da USP, há uma grande participação da PUC-SP na

obtenção de fomentos. Chegar ao nome de Villém Flusser como o mais citado demonstra

que a Área está indo para uma segmentação em função de Programas de Pós-Graduação

Específicos ou é mera coincidência isso e Flusser representa um importante referencial

teórico para a Área?

Vilém Flusser é apenas um nome, um entre vários. Em certo momento, tornou-se moda

trabalhar com ele, lê-lo e citá-lo. Na década anterior, era o Jean Baudrillard. Não sei se a

contribuição dele é tão decisiva para a área, visto que, como ensaísta, ele não dá muitas pistas

para quem o lê, pois, jamais cita ninguém. Então, você fica meio subordinado a ideias que você

sabe que têm filiação, mas não pode persegui-las. Isso é uma deficiência, creio eu, apesar de

saber que muitos pensadores, a partir de certo momento, achem dispensável citar suas fontes e

falar como se tivessem, eles próprios, inventado tudo aquilo. Não sei se isso é muito honesto,

tenho minhas dúvidas. Sei que ele é um importante referencial para a área, mas não o mais

importante, sequer um dos mais importantes. Do ponto de vista epistemológico, acho que a área

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deve muito a Merleau-Ponty, a Bergson, a Bachelard, a Latour, a Serres; do ponto de vista

especulativo, não há como não citar Barthes, Lyotard, Deleuze e Derrida. Os alemães não têm

conseguido se emparelhar à produção francesa, apesar de Flusser, Kamper, Kittler e Anders.

Nos Estados Unidos, tem surgido uma nova geração de pensadores bastante inovadores, como

Massumi, Shaviro e outros.

7 – Percebemos, nas pesquisas de Pós-Doc, muita interdisciplinaridade da Comunicação.

Temos defendido que a Comunicação tem potencial para Ciência, pois, ela deve ser

valorizada como a primeira ciência de todas, afinal, nada se faz sem a Comunicação e a

constituição da Linguagem. O senhor acha que a Comunicação deve caminhar neste

sentido que defendemos?

Não necessariamente. Comunicação não é a primeira de todas as ciências. O que houve foi um

uso metafórico da comunicação por parte de outras ciências, especialmente depois da virada

linguística, de Wittgenstein, no início do século 20. Daí, apropriaram-se de termos como

informação, mensagem, comunicação para campos como a biologia, a física, a química e

demais ciências exatas (mesmo a sociologia de Niklas Luhmann apropria-se de algo para pouco

ou quase nada dizer a respeito). É isso, aí já não se trata mais de “comunicação”, porque de

comunicação esses processos não têm nada. Esses saberes praticamente vulgarizaram conceitos

que, em verdade, são muito mais complexos do que isso, vide o exemplo de Shannon, com seu

esqueminha de fios e caixinhas. O que nos falta, de fato, é mais seriedade com o trato da

comunicação. Por não ser visto com seriedade, o fenômeno da comunicação foi sempre o

“primo pobre” das ciências, “ciência aplicada” e outras barbaridades criadas por quem não

entendeu nunca de comunicação, mas esteve em posição-chave nos órgãos de financiamento

para organizar burocraticamente os saberes. Ela tem que se impor como saber, saber autônomo,

como campo teórico próprio, como, no passado, aconteceu com a psicologia, a sociologia, a

antropologia, etc.

8 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento

pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?

Sim, sem dúvida! É fruto de uma batalha que colegas e eu temos desenvolvido nos últimos dez

ou vinte anos para o reconhecimento efetivo da área. Comunicação é coisa séria, mas poucos

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se dão conta disso. Talvez agora, com esse reconhecimento, tenhamos nosso trabalho mais

valorizado e respeitado no ambiente intelectual e acadêmico. Tivemos nossa “doença infantil”,

que foi nossa submissão a outros saberes, inclusive na montagem de corpos docentes das

faculdades de comunicação. Como poucos defendiam essa autonomia, muitos colegas de outras

áreas vinham com a concepção de que “comunicação qualquer um pode ensinar”. Mas não!

Como ciência adulta e respeitada, seus postos devem ser efetivamente ocupados por formados

em estudos comunicacionais sérios e aprofundados.

9 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma

fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em

muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação

Comparada, etc...). Acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação precisa centralizar

mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma preocupação em estudar

historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim poderíamos compreender a

evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc... Eu acredito que os

Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso sendo, por exemplo,

mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem nessas perspectivas

históricas da Área. Há algum sentido pensar assim?

A fragmentação temática é ainda sequela da imaturidade dos estudos de comunicação de

décadas atrás. Se compartilhava o estudo porque seus representantes vinham de outras áreas e

“dividiam o bolo”. Uma ciência “crescida” sabe do que quer e como quer. Opera com a

organização e a uniformização de procedimentos, que possam torná-la efetivamente unitária,

ou, pelo menos, não pulverizada. Ora, pode-se pensar a comunicação em todas suas variações

- eu disse: todas! – desde os pequenos diálogos, as reuniões em grupos, a situação de aula,

passando pelas formas irradiadas de rádio, TV, imprensa, publicidade, até os processos atuais

eletrônicos, todos eles sob um mesmo paradigma comunicacional. Isso é possível. Não sei se

precisamos depender de estudos históricos e da evolução. Esse é um conhecimento paralelo,

como a história do jornalismo, do rádio, da TV, da internet. Tem valor acessório, não nuclear.

Mesmo a ideia de “evolução” contém em si um componente idealista, talvez ilusório, de

tradição hegeliana, de “caminhar para melhor”, o que nem sempre acontece. As guerras e os

genocídios do século 20 demonstraram ao mundo inteiro que até mesmo o conceito de progresso

nem sempre vem para o bem da humanidade. Na comunicação, como em qualquer outra área,

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há uma competição por paradigmas. Hoje em dia, disputa-se em nossa área, pela supremacia de

paradigmas, seja ele o semiótico, o dos estudos culturais, o das pesquisas empíricas, do ator-

rede ou de autorias, como o caso do Flusser. Pensar em homogeneidade pode soar como

ingenuidade. A briga das ciências não é muito diferente das outras brigas na sociedade: não

importa tanto o quanto de verdade um paradigma possui; vence e impõe-se aquele que angariou

mais adeptos, que seduziu mais, que encontrou maior número de multiplicadores.

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Anexo C – Entrevista Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC-SP)

1 – Consideramos em nossa pesquisa o Percurso Formativo como o ciclo Iniciação

Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. Os dados da FAPESP demonstram que o

número de estudos em Iniciação Científica e Mestrado é grande, mas, nas fases

subsequentes, a quantidade de pesquisas diminui. A que a senhora atribui essa

“interrupção” do percurso?

Quando você diz diminuição da quantidade de pesquisas, quer se referir à diminuição da

demanda ou à diminuição do número de bolsas concedidas pela Fapesp nessas duas categorias?

Pelas informações que tenho, foi a própria agência que diminuiu a concessão de bolsas em IC

e Mestrado. Os pesquisadores ficaram sabendo dessa decisão e foram gradativamente deixando

de encaminhar requisições nessas modalidades. Minha explicação para essa interrupção se deve

ao fato de que a demanda por bolsas aumentou consideravelmente devido à abertura de muitos

novos cursos de pós-graduação no Estado de São Paulo. Para se ter uma ideia mais precisa

disso, seria importante comparar a diminuição de bolsas nessas modalidades, de um lado, com

o aumento de cursos novos que abriram, de outro. Ora, se a demanda aumenta e a oferta não

aumenta correspondentemente, em algum nível é preciso introduzir cortes. Creio que foi isso

que aconteceu. Então, os cortes são feitos pelos níveis iniciais de bolsa.

2 – Pelos dados quantitativos, conseguimos afirmar que USP, UNESP Bauru,

Universidade Metodista de São Paulo e a PUC-SP são centros de excelência da Pesquisa

em Comunicação. Como docente do Programa de Comunicação em Semiótica da PUC-

SP, que esforços são realizados para conseguir bons resultados junto à FAPESP?

Para os estudantes de uma universidade privada, interessam mais as bolsas do CNPq e da Capes,

pois, estas pagam para a própria Pucsp a mensalidade que é muito alta. Com a bolsa da Fapesp,

por outro lado, mal dá para cobrir a mensalidade, mesmo com a concessão da Pucsp de 25% de

desconto na mensalidade para bolsistas da Fapesp. A universidade está estudando atualmente o

aumento desse desconto. Entretanto, mesmo havendo preferência por bolsas de outras agências,

como elas não são suficientes, então, se recorre à Fapesp. Os esforços para isso, são sempre

voltados para a excelência da proposta e o atendimento às exigências da Fapesp, entre eles, a

familiaridade das pesquisas do orientador no tema, a sua capacidade comprovada de formação

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de pesquisadores na área e na modalidade pretendida. Mesmo seguindo todas essas exigências,

a concessão de bolsas para a Pucsp tem diminuído consideravelmente, tanto na modalidade

doutorado, quanto pós-doutorado. Não tenho dados sobre diminuição também para a

Universidades do Estado e Federais. Seria também importante um estudo comparativo nesse

sentido para se saber se a Fapesp prioriza a concessão para pedidos de universidades estatais e

federais sobre as universidades privadas. Isso nunca foi abertamente declarado pela agência.

Mas fica sempre essa dúvida que apenas uma pesquisa poderia responder.

3 – Campo, Disciplina, Ciência são definições para a Comunicação. Qual destes conceitos

lhe faz mais sentido e como a senhora define Comunicação?

Disciplina, jamais, pois, isso reduziria a comunicação a um simples braço de um campo de que

ela seria meramente uma parte. Sempre prefiro definir como campo, seguindo Bourdieu, para

poder incluir a ideia de uma realidade que não tem fronteiras fixas. Nesse caso, o campo se

define por seus atributos, ou seja, como um campo de pesquisa e de conhecimento. Ora, como

campo de pesquisa e conhecimento, deve haver sempre uma realidade empírica a que a pesquisa

se dedica, quer dizer, os fenômenos diversificados em que a comunicação ocorre. Para

compreender que fenômenos são esses, deve-se partir de alguma definição do que é

comunicação. As definições são muito variadas. Para alguns, a comunicação é humana e social,

deixando para fora do campo muitos outros fenômenos que poderiam ser também definidos

como fenômenos comunicacionais. Trabalhei esse tema complexo com algum cuidado no meu

livro Comunicação e Pesquisa, o qual, aliás, começa com uma discussão acerca disso. Na 1ª.

Edição da editora Hacker, essa discussão se encontra nas páginas 15-26. Na 2ª. Edição da

editora BlueCom, nas páginas 13-18. (Relendo essas páginas para responder à sua pergunta,

surpreendi-me com o quanto a informação aí contida é ainda atual, depois de 16 anos, desde

que redigi essas páginas. Minha explicação para isso é que pesquisei muito na época para poder

escrever esse livro). Para resumir, não há uma definição acabada e privilegiada de comunicação.

Elas são muitas e cada pesquisador elege a definição que mais se ajusta aos seus interesses de

pesquisa. Quanto a mim, como sou uma semioticista, sempre preferi as definições mais amplas

de comunicação para englobar também a comunicação maquínica e a comunicação que se

processa em fenômenos biológicos. Mesmo que sejamos pesquisadores da área de humanas,

isso não impede que reconheçamos os fenômenos comunicacionais que existem e se expandem

além do campo social humano.

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4 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento

pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?

Não há nenhuma dúvida sobre isso. Se não fosse uma área de pesquisa e conhecimento

solidamente reconhecida em todas as agências do país, não haveria verba destinada ao apoio a

pesquisas nesse campo. O problema que se coloca hoje, entretanto, encontra-se na necessidade

de aumentar as modalidades de subáreas da comunicação. Nas agências, elas ainda estão

limitadas às mídias tradicionais. Mas, pouco a pouco, a realidade vai falando mais alto e

fenômenos comunicacionais mediados por computador, que atualmente se apresentam em um

grande número de modalidades, vão abrindo caminho para que as agências se adaptem às

demandas.

5 – Entre 1992 e 2016, a senhora lidera as orientações de Doutorado na Área. Como é o

seu estímulo aos orientandos que se tornam bolsistas FAPESP?

Jamais poderia imaginar isso. A explicação para essa liderança deve se dar porque sempre

trabalhei na Pucsp, uma universidade privada e cara. Quando percebo o talento em alguns

candidatos, eu o(a)s incentivo a requerer bolsa da Fapesp, que é sempre mais prestigiosa, pois

as bolsas provenientes de outras agências são distribuídas internamente nos programas. Embora

haja processos seletivos, o crivo da Fapesp é sempre mais pontual e exigente.

6 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito de

suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público. Em

Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu (1983)

ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência quando

estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por créditos. Sob

esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se atribuir uma

vitória científica da Comunicação?

Não sei se chamaria o rigor da Fapesp de rigor burocrático, mas sim de rigor seletivo. Isso

envolve critérios, regras, e respeito a elas, sem o que uma instituição não poderia funcionar

devidamente. Entendo a colocação de Bourdieu como se referindo ao fato de que a pesquisa

sempre avança para além das fronteiras pré-estabelecidas de uma ciência. Assim caminha a

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pesquisa. Os pesquisadores vão expandindo a sua área de pesquisa e as agências de fomento

têm que estar abertas para o novo e inesperado. Basta ver o interesse atual da Fapesp, por

exemplo, em pesquisas naquilo que vem sendo chamado de humanidades digitais.

7 – Pleitear um fomento de pesquisa junto à FAPESP requer algo diferenciado de

orientador e orientador na formulação do projeto a ser analisado? Como a senhora

prepara seus orientandos para requerer apoio da Fundação?

Como já disse, conheço de antemão os critérios seletivos da Fapesp. Assim, os projetos que

envio à Fapesp devem estar de acordo com esses critérios, caso contrário, é tempo perdido.

Evito, por exemplo, enviar projetos que não tenham passado pelos meus próprios critérios de

qualidade. Evito também enviar projetos de candidatos que titubeiam na sua vocação para a

pesquisa. É preciso apostar naqueles que estão dispostos a dedicar grande parte das horas de

sua vida à pesquisa, caso contrário, se estará gastando dinheiro público com pessoas que não

darão ao auxílio que recebem o retorno devido. Fico bastante furiosa com pessoas que recebem

uma bolsa atrás da outra e, depois que chegam ao topo, decidem abandonar a vida acadêmica.

Felizmente, isso é raro, mas acontece e já testemunhei.

8 – Nossa amostra demonstra predomínio dos homens como orientadores e de mulheres

como orientandas. Como a senhora avalia essa questão de gênero na orientação de

pesquisas já que aparece como líder em um espaço de “soberania” masculina?

Que estranho! É preciso conferir se isso acontece porque há mais homens do que mulheres nos

departamentos das universidades, o que não creio que seja verdadeiro, especialmente na nossa

área. Sua amostra me deixa com muitas interrogações, especialmente porque nunca percebi essa

soberania. Aliás, como pesquisadora, nunca senti essa soberania. E devo declarar que nunca,

em nenhuma situação, no decorrer de toda a minha carreira no Brasil, pude perceber qualquer

sinal de preconceito machista por parte de meus colegas homens. Ao contrário, sempre foram

e são sinceramente abertos ao diálogo de igual para igual.

9 – Uma das dificuldades para mensurar de modo mais apurado as informações sobre

essa trajetória da Pesquisa em Comunicação que fazemos pelos fomentos da FAPESP é

que em muitas vezes faltam dados na base da Biblioteca Virtual da Fundação. Uma das

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categorias em que se percebe muito isso é na adoção de metodologias. Entretanto, a partir

das pesquisas informadas, nota-se que os pesquisadores do Pós-Doc estão mais

“comprometidos” com esses dados e que os alunos de Mestrado são os que mais adotam o

uso de várias metodologias. Como explicar estes dois cenários?

Quanto mais um projeto é maduro e exigente consigo mesmo, mais a questão do método entra

em pauta. Não se pode exigir do mestrado, mais do que ele pode dar. Ou seja, embora a pesquisa

tenha sempre que ser pautada pelo rigor, mestrados são pesquisas exploratórias, o que significa

que seus propósitos e dimensões são mais modestas. De qualquer maneira, as metodologias na

área de comunicação são tão variadas quanto são os diferentes recortes que os pesquisadores

fazem desse campo. Nenhum pesquisador da área está autorizado a reclamar a posse da

“verdadeira” definição do que seja comunicação e do perfil da área. Na vida intelectual, também

somos movidos por preferências por autores, visões e métodos. Se todos os pesquisadores

estivessem voltados para o mesmo tipo de pesquisa, a área não avançaria, pois, os avanços se

dão sempre pela diferença e não pela imitação.

10 – Na modalidade em que a senhora lidera as orientações, o Doutorado, a metodologia

mais adotada foi a Pesquisa Bibliográfica, em 7 pesquisas. Tenho defendido na tese que a

pesquisa bibliográfica é muito mais um método do que uma metodologia, afinal, para toda

pesquisa é preciso considerar o estado da arte a partir das leituras, ou seja, esse é um

método inerente ao trabalho do pesquisador. Como a senhora considera isso?

Entendo, na diferença que você estabelece entre método e metodologia, que a indagação sobre

o método é sempre uma indagação de cunho mais teórico enquanto a metodologia estaria mais

voltada para questões de aplicação. Devo confessar que tenho apreço pelas questões teóricas da

comunicação. Isso é uma tendência minha, particular, sem que isso signifique que deixo de ter

respeito e admiração por pesquisas empíricas. Esse resultado que você me apresenta das

pesquisas que orientei vem comprovar o tipo de inclinação que tenho e que acaba por se

estender para os meus orientandos. Não porque eu os force a isso. Ao contrário, creio que os

orientandos me procuram porque têm sintonia com problemas concernentes às teorias. O que é

fato, entretanto, é que incentivo muito as leituras, a exploração conceitual do recorte específico

que cada orientando faz do campo. Nas primeiras reuniões de orientação, costumo indicar um

montante bem grande de leituras bibliográficas para que o orientando tenha um panorama mais

vasto desse recorte do que aquela fundamentação teórica e metodológica que será escolhida.

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11 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma

fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em

muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação

Comparada, etc...). Nota-se, nesta modalidade, a presença de temas ligados à

digitalização, entretanto, nas bolsas de Doutorado, o tema mais pesquisado é a Semiótica.

É fato que com a senhora orientando o maior número de pesquisas, o tema principal do

Programa venha se sobressair. Porém, acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação

precisa centralizar mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma

preocupação em estudar historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim

poderíamos compreender a evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc...

Eu acredito que os Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso

sendo, por exemplo, mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem

nessas perspectivas históricas da Área. Há algum sentido pensar assim?

Ter conhecimento da história da área em que se trabalha é importante para não se cair na

ingenuidade de se pensar que se está inventando a roda. Vejo na questão que você me coloca

justamente aquilo que a área de comunicação debate desde que ela se implantou neste país.

Homogeneidade ou heterogeneidade? Quanto a mim, creio que se deve buscar um equilíbrio

entre ambas as tendências. De um lado, para respeitar o caráter rizomático da comunicação, ou

seja, ela tende a se ramificar ininterruptamente. Só para dar um exemplo, no ramo específico

da comunicação jornalística, há como evitar seu desdobramento em jornalismo digital? Mas, ao

mesmo tempo, quando se expande muito o território, corre-se o risco de passar a pesquisa para

um outro lado que não é o da comunicação. A extrapolação é detectável quando se examina o

problema que o pesquisador quer investigar. A pergunta que costumo fazer, quando analiso a

inserção ou não de uma pesquisa no campo, é a seguinte: esse problema concerne ao campo da

comunicação? É uma questão comunicacional ou antropológica, por exemplo? É claro que há

reverberações sociológicas, antropológicas, psicológicas e até biológicas no campo

comunicacional, mas o que tem que ser avaliado é se a pesquisa vai contribuir para o campo da

comunicação e seus avanços ou não.

12 – Dos autores citados nas pesquisas, há um predomínio de estrangeiros adotados para

o quadro teórico de referência, denominação deste procedimento que a senhora coloca em

seu livro Comunicação & Pesquisa. Somente no Doutorado, foram 37 autores do exterior

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(Charles S. Peirce é o mais referenciado) e 11 brasileiros. Registra-se um pouco da

literatura latina nos trabalhos. Enfim, quando o assunto é o quadro teórico de referência,

desconsiderando os clássicos, por que a Comunicação prioriza o que se produz lá fora?

As universidades lá fora foram criadas a partir do século XI. Os pensadores europeus

desenvolveram seus trabalhos ao longo de todos esses séculos. Nossas universidades só tiveram

início há um século. A área de comunicação no Brasil só começou a se desenvolver

institucionalmente nos anos 1970. As escolas de jornalismo são mais antigas, mas a área como

um todo é recentíssima. Diante disso, não é normal que haja essa disparidade? Nossas escolhas

têm de ser guiadas pela qualidade da informação que buscamos e que encontramos e não pela

nacionalidade dos autores. Um grande pensador não tem nacionalidade. Ele pertence à espécie

dos seres pensantes e não a um país.

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Anexo D – Entrevista Prof. Dr. Maximiliano Vicente (UNESP)

1 - Consideramos em nossa pesquisa o Percurso Formativo como o ciclo Iniciação

Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. Segundo nos mostram os dados, as fases

mais expressivas de realização de pesquisa, com bolsas FAPESP, são a Iniciação Científica

e o Mestrado. A carreira de pesquisador desperta interesse?

Eu não diria que desperta interesse propriamente pela carreira de pesquisador, mas sim que a

carreira de professor aparece como uma opção a mais para o jovem que está concluindo os

estudos. Na iniciação, o que mais escuto é “querer continuar os estudos”, sem que esteja bem

claro o que significa a carreia de pesquisador. Inclusive, boa parte considera a iniciação e o

mestrado como complemento na sua formação. Junto com essa vontade de estudar mais, é que

surge o interesse por um tema e por uma pesquisa, via de regra, complementada no mestrado.

Também é verdade que alguns vislumbram a possibilidade de serem pesquisadores, mas diria

que estão bem longe de ser a maioria.

2 – Entretanto, no Doutorado e no Pós-Doutorado, há uma queda do número de pesquisas.

Por que os alunos não continuam a formação?

Não saberia responder adequadamente, portanto, vou me ater aos casos que conheço. Quem

parte para o doutorado e pós-doutorado, acaba se encaixando, na sua maioria, nas universidades

particulares, o que determina de maneira bastante clara, o que me pergunta. Na Universidade

particular, o que conta é a hora aula e não a pesquisa. O que acaba acontecendo é que poucos

professores concentram um número alto de aulas e sobra pouco tempo para a pesquisa. Agora,

quem consegue entrar numa faculdade pública, seja federal ou estadual, pelo menos dos meus

ex-orientandos, persistem sim, com a pesquisa e com projetos de pesquisa. Portanto, considero

que a entrada no mercado de trabalho, ou melhor, a necessidade de entrar no mercado de

trabalho determina a interrupção dos estudos e das pesquisas. Alguns dos que continuam nas

pedem a continuidade da orientação claro em outro nível, tipo ler os textos que elaboram,

explicar metodologias adequadas aos projetos que desenvolvem, bibliografia...

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3 – As bolsas concedidas pela FAPESP à Iniciação Científica representam 51,28% de

todas as bolsas de estudo no Brasil. O que justifica esse índice?

Creio que estamos falando de uma instituição de respeito e amplamente conhecida na

comunidade acadêmica pela seriedade e rigor nas avaliações. Para o aluno de graduação, ela

aparece como uma excelente opção e embarca rapidamente nela atraído pelo incentivo

econômico que recebe e pelo prestigio de colocar, no seu currículo, o fato de ter sido

contemplado com uma bolsa tão difícil de ser conseguida. Um outro componente importante, a

ser levado em consideração, é justamente o incentivo que recebem os alunos de graduação por

parte dos professores quando tem um aluno com potencial de pesquisador. Ainda julgo

importante considerar que começa a se perceber, na graduação, uma preocupação por parte dos

alunos na pesquisa e na inserção em grupos de pesquisa, o que acaba gerando projetos de

pesquisa submetidos às agências de fomento.

4 – Entre as bolsas de Iniciação Científica, a metade está na FAAC UNESP Bauru. Em 24

anos, foram 154 bolsas recebidas. Isto faz, inclusive, com que a UNESP só esteja na

liderança nessa modalidade. Qual o diferencial da UNESP para conseguir isso? Afinal ela

tem o dobro de bolsas da USP.

A Unesp passou, nas últimas décadas, por um período de transformação significativo. Seu

quadro de docentes se qualificou criando uma massa crítica significativa. Inclusive, para

ingressar, ter doutorado é a condição mínima para concorrer aos concursos de ingresso. Isso

significa dizer que a pós-graduação, na Unesp, é bastante recente, o que desde meu ponto de

vista, significou que se estimulasse mais a iniciação cientifica como forma de valorizar a

pesquisa. Veja o quadro então: doutores ou recém doutores sem poder atuar na pós-graduação

(aliás, com o passar do tempo, eles mesmos seriam os que fundariam a pós-graduação) só

restava usar seu saber na graduação. Resultado: se criou uma cultura de valorizar a graduação

e a pesquisa na graduação resultando nesses números que me indica.

5 – O excelente desempenho da UNESP coloca o interior de São Paulo à frente do mapa

de distribuição de fomentos na Iniciação Científica. Como produzir pesquisa de qualidade

fora da Capital?

Hoje, não há mais problemas em relação ao local onde está o pesquisador. A tecnologia te

permite estar em Bauru, por exemplo, e participar de uma banca de doutorado em qualquer

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Universidade do mundo. Te digo isso por experiência própria. Agora, se voltamos no tempo,

existiam sim entraves estruturais, pois, os grandes centros concentravam atividades como

intercâmbios, congressos, encontros, palestras, cursos... e para alguém que morasse, em Bauru,

isso implicava em deslocamento, assistir e voltar para seu mundo numa cidade do interior. Hoje,

isso não existe mais e a desculpa de estar no interior para desenvolver a pesquisa não se justifica

mais, ao contrário, quase que poderíamos dizer que a vida no interior facilita mais a vida dos

pesquisadores pelas condições de infraestrutura e rapidez nos deslocamentos, tempo precioso

para se dedicar ao estudo.

6 – Mas quando olhamos para as bolsas de Mestrado, a situação se inverte. O interior fica

atrás da capital. Isto é um sinal de que as instituições do interior não retêm seus futuros

pesquisadores?

Não creio que seja esse o fator principal. Pelo menos se olho para o meu departamento, encontro

mais de dois terços dos professores formados na própria Unesp e que agora são docentes. Creio

que há sim um fator relevante e que já falei nele: o tempo de funcionamento dos programas de

pós-graduação e, consequentemente, sua avaliação positiva, o que atrai os futuros

pesquisadores. Me parece que esse fator pesa muito na hora de se realizar a opção pelo mestrado

e doutorado. Repara só num dado: a USP data de 1934 e a UNESP de quase 40 anos depois. É

normal, portanto, que os cursos de pós-graduação estejam mais consolidados na USP que na

Unesp e a procura por eles deve ser bem maior. Entretanto, como falei, atualmente com a

consolidação da pós-graduação, essa tendência começa a ser revertida, pois, a excelência na

pesquisa ocorre tanto no interior como nos grandes centros.

7 – O senhor lidera as orientações de pesquisas na Iniciação Científica (26 projetos) e no

Mestrado (10 projetos). Há algo de especial em trabalhar com a base de formação do

pesquisador?

Poderia ficar horas te falando no quanto é bom poder trabalhar com a graduação.

Particularmente, não me preocupo com os números que me apresenta e que desconhecia

totalmente. O que sim considero fundamental é que a universidade é um momento de descoberta

do saber e da criação do conhecimento e apresentar essa possibilidade para os jovens que se

encontram, na universidade, é um grande motivo desafiador de muitas e muitas questões: eu

posso pesquisar? Eu posso contribuir com o conhecimento na minha área de estudos? Como se

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faz isso? Fruto dessas e outras questões é que o aluno descobre o gosto pelo saber e pela

pesquisa. Daí que motivá-lo para elaborar um projeto de pesquisa é um passo só. Claro que,

sem gostar da graduação e da pesquisa, não se consegue nada, assim como, colocar entraves ou

mostrar dificuldades provoca rejeição por parte dos estudantes. Portanto, poder passar o

encantamento do saber e pelo saber, colocar desafios e mostrar que a ciência ajuda a responder

questões importantes para a sociedade e para a área de conhecimento é o combustível que

acende o desejo de pesquisar e elaborar projetos. É um trabalho de dias e dias, mas vale sim a

pena, e muito.

8 – O Jornalismo lidera os temas de pesquisa na Iniciação Científica (45 pesquisas) e no

Mestrado (18 pesquisas). O Jornalismo ainda é o tema mais próximo da Comunicação?

Não creio que seja o mais próximo e sim, talvez, pela sua visibilidade, o mais divulgado e

conhecido e, consequentemente, o mais procurado. Particularmente creio que o conceito de

comunicação é mais amplo que o que nos oferece o jornalismo, mas o jornalismo faz parte sim

da comunicação e ajuda a desvendar alguns dos mecanismos pelos quais a comunicação se

constrói. Ainda destacaria o seguinte: em praticamente as demais áreas da comunicação é

encontrado um espaço para as atividades de jornalismo. Finalmente, acrescentaria que o curso

de jornalismo já tem uma tradição consolidada, o que lhe permite apresentar conteúdos e

estudos capazes de atrair e chamar mais a atenção do que as áreas mais novas.

9 – Nota-se, em especial, na Iniciação Científica, que há uma considerável fragmentação

temática. Os estudos são muito ramificados e parecem se tornar “campos próprios” de

conhecimento. Considerando que a Iniciação Científica é a base do percurso formativo,

não se torna complicado favorecer essa fragmentação considerando que ainda não se

resolveu o impasse do conceito de Comunicação?

Não, não vejo isso como problema. Desde meu ponto de vista, a iniciação, como a própria

palavra já define, propicia um primeiro contato com a pesquisa. O que se espera desse contato,

é que o futuro pesquisador aprenda a elaborar um projeto, a seguir as etapas previstas na

construção do projeto, a formular uma ou mais perguntas de pesquisa, a seguir um método para

serem resolvidas essa(s) pergunta (s) e, finalmente, dar visibilidade aos resultados (publicar ou

apresentar comunicações em congressos). O que acaba acontecendo é que existe uma grande

variedade de interesses e de temas entre os alunos que querem realizar a iniciação cientifica,

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motivo pelo qual surge essa diversidade. O que se verifica é que muitos alunos entram em

projetos de pesquisa dos orientadores, e com isso, creio que essa tendência de termos temas

mais diversos ceda espaço para os projetos temáticos que envolvem os professores.

Particularmente, procuro incentivar o primeiro caminho. Afinal, sem a curiosidade e o

entusiasmo pelo tema e, preferencialmente, temas polêmicos, a pesquisa não avança. Vejo isso

não como fragmentação, mas sim, como amplitude sobre o tema jornalismo que é o que mais

me interessa.

10 – É possível perceber que em muitas ocasiões, na Iniciação Científica, o estudante está

fazendo parte de um projeto mais complexo do orientador. Notamos muito isso com os

estudos de censura da USP. É uma oportunidade de aprendizado, evidentemente, mas de

alguma forma ele está atendendo um projeto de pesquisa maior. Nesse sentido, esse aluno

de Iniciação está estimulado à produção científica quando um projeto não parte

necessariamente de uma problemática de seu interesse?

Como te falei, na questão anterior, sinto que essa é a tendência atual, aliás, a própria Fapesp

valoriza mais esse tipo de iniciação cientifica. Desde meu ponto de vista, creio que ambas

questões podem conviver sem problemas e não digo isso como forma demagógica de fugir à

questão. Um grande tema abordado por vários pesquisadores, geralmente, é bem mais

abrangente e traça conclusões amplas que ajudam a explicar o problema de pesquisa.

Entretanto, fugir a esses grandes temas de pesquisa tem seus atrativos e particularidades. Me

explico: por ser mais delimitado e mais reduzido, o tema se abre à possibilidade de pesquisar

particularidades que podem levantar questões aos temas gerais ou mesmo apresentar outras

soluções. Um exemplo: pode estudar a censura à grande imprensa, na época dos militares, mas

como isso se dava nos pequenos jornais, via de regra, é deixado de lado e pode trazer luz ao

tema da censura. É justamente nesse espaço que a iniciação cientifica, não vinculada ao grande

projeto, entra e ajuda na compreensão do assunto por mostrar as peculiaridades do tema desde

outros pontos de vista tendo como objeto de pesquisa e recorte um tema bem mais específico.

11 – Campo, Disciplina, Ciência são definições para a Comunicação. Qual destes conceitos

lhe faz mais sentido sobre Comunicação? E para o senhor, o que é Comunicação?

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Pessoalmente, sempre me coloquei do lado que entende a Comunicação como uma ciência. A

palavra ciência implica em conjunto de saberes, demanda um método e a especificação dos

conhecimentos. Desde todos os pontos de vista, a Comunicação cumpre esses requisitos. Assim,

por exemplo, se estuda o jornalismo. Ele contribui com o conceito de Comunicação desde sua

ótica e não dá para negar que ele tenha métodos próprios na ora de abordar e estudar suas

diversas manifestações. Sempre procurei seguir as colocações de Kuhn para entender que a

Comunicação é uma ciência. O mais importante é aceitar e definir que ela tem paradigmas e

que, evidentemente, soluciona os paradigmas. Seguindo com essa definição ou conceituação

que te coloquei, sempre digo e defendo que a Comunicação é um processo de intercâmbio

igualitário de informações que tem repercussão social e que interfere na visão que a sociedade

tem dela mesma. Claro que, para isso, o fundamental é que todos os membros tenham os

mesmos direitos de se informar e de expressar suas opiniões em relação a qualquer questão.

Esse é o motivo pelo qual procuro me aprofundar nas formas de Comunicação expressadas

pelas classes subalternas nas suas mais diversas manifestações. Aliás, esse tem sido o tom das

pesquisas que oriento: sempre fugir dos meios massivos e estudar os que se manifestam e não

tem tanta voz na sociedade, ou seja, entender por que isso ocorre. Claro que nem sempre isso é

aceito pelos alunos, mas, a grande quantidade de orientações que faço vão nesse sentido,

procuram ter esse norte.

12 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento

pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?

Sim, com toda certeza. Sem querer repetir o que coloquei, na questão anterior, tenho certeza

que essa é a visão mais acertada para que nos coloquemos como comunicadores e que tenhamos

nosso saber reconhecido pelas outras áreas de conhecimento. Me parece que os argumentos da

questão anterior respondem a essa tua indagação.

13 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito

de suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público.

Em Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu

(1983) ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência

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quando estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por

créditos. Sob esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se

atribuir uma vitória científica da Comunicação?

Se aceitamos que a Comunicação, entendida como ciência, exerce uma grande influência em

nossa vida cotidiana e na vida social, me parece que qualquer instituição ou agência que

fomente as pesquisas nessa área estão dando uma contribuição efetiva para fortalecê-la. Mais

do que vitória, diria que é um reconhecimento de sua importância social. Prefiro olhar desde

este ponto de vista e entender que se a Fapesp é mantida com dinheiro público, ela dar espaço

para que se financiem as pesquisas de Comunicação está contribuindo com sua função social.

Nunca é demais lembrar que a ciência tem sido a responsável pelas transformações sociais e

tecnológicas da sociedade, transformações essas que não poderiam excluir a Comunicação por

ser uma ciência. Em função disso, considero sim muito importante, ter instituições que se

colocam de maneira tão clara e rigorosa na aplicação do dinheiro público. Nesse sentido, a

comunicação aumenta mais sua credibilidade, algo discutido não faz muito tempo nas instâncias

como CNPq e Capes. Creio que hoje essa aceitação está cada vez menos questionada.

14 – Pleitear um fomento de pesquisa junto à FAPESP requer algo diferenciado do

orientador e do orientando na formulação do projeto a ser analisado? Como o senhor

prepara seus orientandos para requerer apoio da Fundação?

Respondendo à primeira parte da pergunta creio que sim, principalmente, tomar os cuidados

básicos como alinhar a produção do orientador numa determinada linha de pesquisa, tentar

publicar nessa área de pesquisa, participar de pós-graduação sempre que possível, em suma,

cuidar do currículo e dar um norte ao que se pesquisa e se pretende orientar. Já por parte do

aluno, é fundamental ter boas notas, ter concluído pelo menos o primeiro ano e ter cursado

disciplinas importantes do curso no qual se encontra. Preferencialmente ter já participado de

eventos e apresentado trabalhos, fazer parte de um grupo de pesquisa, ou seja, mostrar

envolvimento em atividades relacionadas com a pesquisa. Ambos, orientador e orientando,

devem tentar formular um tema relevante para a área em que atua, e de preferência, que seja

inovador e desafiador, que traga elementos novos para a área.

Já com relação à segunda parte, te direi que o processo é longo. Não me recordo de ter enviado

um projeto para a Fapesp que não tenha levado mais de um ano de preparação. O normal é que

ultrapasse esse tempo. Meu procedimento é, mais ou menos, o seguinte: na sala de aula lanço a

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ideia de poder elaborar e desenvolver uma pesquisa e tento mostrar o quanto isso é relevante

para a formação e sobre a possibilidade de trazer conteúdos novos que não estudariam na sala

por não estarem contemplados nas grades curriculares. Quem estiver interessado, me procura e

depois de vários encontros e levantamentos, definimos o tema. Essa é a parte mais complicada

na qual deve se investir tempo mesmo. O tema já é a síntese do que será o projeto. Definido o

tema, seguimos os passos de elaboração de qualquer projeto: justificativa, estado da arte das

pesquisas em relação ao tema escolhido, formulação de objetivos e de perguntas de pesquisa,

escolha da metodologia e elaboração do cronograma. Nessa trajetória toda, realizamos

encontros onde discutimos, individualmente, as leituras feitas no intuito de selecionar aquelas

que serão as utilizadas na escolha da bibliografia que sustentará o projeto e lhe dará um caráter

científico. Enquanto orientador, procuro mostrar que o projeto tem que ser uno e que deve ter

coerência desde a introdução até o cronograma, além de delimitar bem o recorte e que seja

viável num ano de pesquisa. De forma bem resumida, esses são os passos que damos e sempre

quando volta o projeto enviado, com o parecer emitido pelo parecerista da Fapesp avaliar com

calma as propostas sugeridas, pois, sabemos que vem de uma leitura diferente e, via de regra,

alertam para pontos relevantes. Com isso, quero dizer que embora o projeto seja do orientando,

recebe avaliações importantes para aprimorar a sua execução dentro dos padrões de qualidade

esperados de uma agência de fomento, como é a Fapesp.

15 – Na Iniciação Científica, a metodologia mais adotada foi a Pesquisa Bibliográfica, em

29 ocasiões. Tenho defendido na tese que a pesquisa bibliográfica é um método inerente

ao trabalho do pesquisador, pois, não se faz pesquisa sem a leitura de referenciais teóricos.

Procede essa linha de pensamento?

Sim, procede tua observação, mas faria um alerta pelo menos. A pesquisa bibliográfica deve

ser feita desde uma ótica que privilegie a epistemologia, ou seja, a leitura crítica das obras

selecionadas na qual fique claro o que denominamos de estado da arte. O que seria isso?

Basicamente compreender até onde os autores foram nas suas obras e como a tua proposta pode

ajudar a alargar a compreensão do tema, contribuindo para o esclarecimento do tema em

questão. Me parece que, seguindo esse critério, não só é necessário fazer a pesquisa

bibliográfica como a considero importante para justificar a pesquisa que será feita.

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16 – Ainda sobre Metodologia, as bolsas de Mestrado nos revelam a tentativa de validação

da Semiótica como recurso metodológico além das aparições de Etnografia Virtual e

Netnografia como opções que sinalizam algo contemporâneo. De que modo o senhor

qualifica, hoje, as metodologias da Pesquisa em Comunicação?

Como já te falei, o tema escolhido já pressupõe um caminho metodológico específico. O projeto

é uno e não pode se colocar uma metodologia que não te sirva para chegar a uma resposta

convincente do problema lançado. Veja, por exemplo: se quer saber a linha editorial de um

jornal, terá que ler os editoriais e usar um método que considere apropriado (análise de

conteúdo, análise do discurso...), mas não poderá faltar a entrevista com os editores, portanto,

outro método. Assim, em função do tema, são necessários mais de um método para apresentar

uma resposta forte ao problema levantado. A metodologia é o caminho ideal para levar ao bom

termo a pesquisa realizada, portanto, ela deve estar subordinada ao objetivo final da pesquisa.

17 – Tem sido latente nos dados quantitativos obtidos junto à Biblioteca Virtual da

FAPESP, que é a base de dados para a nossa pesquisa, o alto índice do uso de bibliografia

estrangeira e a pouca adoção de autores brasileiros. Porém, quando olhamos para as

informações sobre o Mestrado, as referências mais citadas com igualdade de ocasiões

(três) são Lúcia Santaella, Jacques Lacan e Mikhail Bakthin. Por que ainda valorizamos

a literatura estrangeira? Mas diante dos três autores referenciados nessa pergunta, como

estimular o pesquisador a olhar para o que se produz no Brasil?

Veja, vou me utilizar de um autor que tem combatido sistematicamente essa afirmação que me

oferece: Boaventura de Souza Santos. Ele alerta nas suas obras, entre muitos assuntos, sobre o

colonialismo que seria uma metáfora para explicar esse fascínio que temos de pensar que o que

está fora, ou o que se faz fora, é sempre mais importante do que temos ou fazemos aqui.

Particularmente, sou muito crítico em relação a esse tipo de procedimento de colocar obras de

fora nos textos. Reconheço que, devemos sim, estudar e saber o que eles fazem e pegar,

inclusive, procedimentos que ajudem no esclarecimento de nossas pesquisas, mas, sempre

pensando que nossa realidade tem particularidades e nuances que não se solucionam copiando

respostas de fora, e sim, dando valor aos que já estudaram o tema dentro do nosso país seguindo

uma metodologia e preocupação em responder as nossas necessidades. No fundo, isso nos leva

a uma questão epistemológica, e talvez, deveríamos voltar a ler com mais calma e atenção aos

autores nossos, e como fala Boaventura, seguir as epistemologias do Sul. Não tenho

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constrangimento nenhum em afirmar que, inclusive, nossos teóricos formulam questões,

elaboram teorias tão ou mais relevante das que encontramos fora.

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Anexo E – Entrevista Profa. Dra. Esther Império Hamburger (FAPESP)

1 - Professora, a gente percebe uma questão da crise econômica, cortes nas Ciências. Os

noticiários dão conta da redução da ordem de 10%, em 2015. A gente teve também aquela

questão da Lei Orçamentária, que houve uma tentativa de redução de repasse pra

FAPESP, que houve toda uma mobilização da classe. A gente percebe, pelo relatório de

2016, alguma melhora. A própria FAPESP fala em reajuste de bolsa. Os números, já

comparando o relatório nestes oito meses de 2017 até agosto que são os dados atualizados,

parecem positivos. E o professor José Marques de Melo fala que a Comunicação é a prima

pobre das Ciências Sociais. Que panorama nós estamos comparando a produção e a

situação conjuntural do país?

- Bom, primeira coisa que eu vou te falar é o seguinte [...] eu trabalho na coordenação de área

da Fapesp e isso não me qualifica para falar em nome da Fapesp. Eu vou falar as minhas

impressões iniciais. Eu comecei nessa posição, em março de 2016. Então, faz um ano e meio.

Isso, em termos de Fapesp, é pouquíssimo. E eu vejo que realmente é pouco. Todo dia eu estou

aprendendo ainda. Casos novos surgem todos os dias (risos). Coisas que eu não sei. São

respostas que tenho que perguntar para pessoas que estão lá, há mais tempo, porque é muito

complexo, tudo lá. Eu acho a Fapesp uma instituição interessantíssima. Eu acho que é um

modelo, num certo sentido, porque ela tem uma certa salvaguarda em relação às crises porque

ela teve alguns visionários paulistas que puseram, na Constituição do estado, ainda nos anos

1950, que uma porcentagem da arrecadação do estado vai para essa fundação que, portanto, tem

uma dose de autonomia muito interessante, né? Eu acho que todas essas crises que a gente tá

tendo [...] Hoje fui assistir o diretor da escola de Jornalismo da Columbia University. Eu fui

hoje assistir uma palestra dele e ele tava falando que as instituições estão em crise no mundo

inteiro. Não é só no Brasil que tem só essa crise de corrupção. As pessoas estão descrentes das

instituições em geral. E eu acho que nesse quadro, a Fapesp tem um modelo interessante que é

esse de que a instituição é pública, mas, ela tem autonomia, né? E essa salvaguarda é... permite

que o Estado de São Paulo tenha uma estrutura de financiamento à pesquisa relativamente

autônoma.

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2 - Até surgir e criar a FAPESP foi uma grande briga política, né?

- Primeiro criaram...tava lá na Constituição. Até instalarem, demorou um tempão. E o pessoal

das Ciências Biológicas é muito forte e as Ciências Exatas, as Ciências da Vida, como eles

chamam, enfim, eles lideraram esse processo e as Humanas, em geral, são menores né? E as

Comunicações dentro das Humanas são menores ainda, que é uma área muito recente, né? É

uma área recente na academia em geral...na universidade, na pesquisa...no mundo. E aqui mais

ainda. Eu acho que se o Marques define a Comunicação como prima pobre, eu acho que,

concordo com ele, e acho que muito se deve como a área se vê. Você vê que, pela primeira vez,

a avalição da Capes classifica um programa na área com nota 7 (UFRJ). Isso, para mim, diz

muito, sabe? Porque as classificações são relativas. Você achar que você não tem nenhum

programa nota 7. E as revistas? A maioria delas é B1.

3 - Nós não temos ainda nota 7, né?

Temos agora.

4 - Qual é?

A UFRJ.

5 - Ah, é que eu coloquei só o Estado de São Paulo.

Acabou de subir. É...

6 - São Paulo, no máximo, é 6!

É! Então eu acho que tem muito a ver como a área se vê. E eu acho que há uma perversidade

muito grande nessa autoimagem porque é como se a área achasse que para deixar de ser prima

pobre, ela precisasse se elaborar, sociologicamente ou filosoficamente, deixando de lado a

dimensão de realização que, a meu ver, é inerente na área. Você, como jornalista, que trabalha

todo dia com jornalista, é como se você não prestasse atenção a esse trabalho. É o cerne da sua

profissão e fosse só pensar na teoria. Numa teoria que vem entre aspas. A formação da área não

é na teoria. Ciências Humanas e Sociais têm séculos de formação e instituição e de programas.

Eu acho que a Área, às vezes, despreza o que é principal nela. Que eu acho que faz parte de se

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ver como prima pobre. Desprezar o que é inerente a ela, que não tem em nenhuma outra. Eu

tenho uma formação peculiar porque eu vim das Ciências Sociais. Muita gente da área da

Comunicação vem de outros lugares. Aqui, estamos no Departamento de Cinema, Rádio e

Televisão. Tenho colegas arquitetos, historiadores, engenheiros, economistas, então, enfim,

como recebe gente que vem de diversas áreas e o desafio é justamente trazer essa bagagem das

outras áreas pro que é especifico da área, no caso, aqui do meu trabalho, são as imagens em

movimento com som.

7 - É o olhar da Comunicação?

Eu acho que eu sinto essa falta dessa ... um desprezo pela técnica, como se o fazer da área, é

um desprezo com o fazer. Como se ele fosse menos nobre...o trabalho... é o trabalho na verdade.

Eu acho que a área precisa se valorizar nesse sentido. Valorizar o seu trabalho. Isso é que está

no centro do mundo hoje. Longe de mim desvalorizar teoria porque eu tenho formação mais

teórica. Só que eu não vejo a teoria como dissociada da prática e não desprezo o fazer, nenhum

tipo de fazer. Ao contrário!

8 - Esse olhar a senhora leva pra FAPESP também?

- Lá na FAPESP, eu não sou só da área de Comunicações. A Fapesp funciona assim: tem uma

coordenação de áreas. Como eu, os coordenadores vão lá uma vez por semana. Eu estou dentro

da área de Ciências Sociais e Humanidades, CHS II. Sou o CHS II. CHS II é Artes,

Comunicações, Ciências da Informação, Museologia, Literatura e Linguística. As

comunicações, talvez, sejam quem pede menos. A minha impressão é essa. Foi uma surpresa,

para mim, ver como as artes pedem muito. E na FAPESP, o ganho está relacionado ao pedido.

É uma proporção do que é pedido. Nós nunca vamos ganhar mais, se a gente não pedir mais.

9 - Se a própria Área não se organiza, se vê como prima pobre, ela não vai pedir, né?

- E também eu acho que é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que a área despreza o fazer,

muita gente na Área está fazendo, então, não vai pedir bolsa porque está trabalhando. Então, é

uma negação da realidade.

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10 - Sobre esse fato da Comunicação pedir menos. Quando pede, o que se avalia? Custo?

Investimento? Já que a FAPESP tem essa autonomia.

- A FAPESP tem autonomia, mas não está fora do mundo. A arrecadação do estado diminuiu.

Eu já peguei uma época de vacas magras, que é muito difícil. Houve, sim, redução. A FAPESP

tem política que honra todos os compromissos que assumiu. Isso significa que ela distribui, este

ano, um número de bolsas pensando numa determinada receita. Se a receita cai, ela não vai

deixar de pagar aquelas bolsas, mas significa que as bolsas do ano seguinte são menores. Você

vai distribuir menos bolsas para compensar o que gastou pouco mais. Eu peguei essa fase de

vacas magras, o que é muito difícil. A FAPESP ainda gasta com bolsas uma porcentagem maior

do que outras instituições parecidas em outros lugares do mundo gastam. A FAPESP é muito

interessante como modelo de gestão porque ela se relaciona com seus pares, no mundo, sabe se

posicionar em relação a eles. É impressionante como existe um saber comparativo e que busca

esse “oso” das suas especificidades, ciente das suas especificidades. Ao mesmo tempo, está se

pensando em relação. Então, a FAPESP dá mais bolsas que outras instituições similares do

mundo, embora ela tenha diminuído o número de bolsas recentemente. Essa diminuição torna

o trabalho de quem está decidindo muito penoso porque assim você vê que as pessoas ... o nível

dos pedidos aumenta muito. E cada vez mais competitivo, né? Inclusive porque as pessoas têm

acesso em geral, recebe bem as críticas que os pareceristas fazem, né? E refazem seus projetos.

Então, eles vão melhorando. E as pessoas, enfim, com essa onda de publicação, cobrança de

produtivismo... as pessoas tão produzindo, tão publicando muito. Isso eu acho que não é só na

nossa área. É em geral. O nível está melhorando muito. Só que as Áreas têm, mais ou menos

bolsas, com a proporção de pedidos. E a gente não tem a decisão final. A coordenação de Área

faz uma recomendação e a decisão se dá. Tem um nível acima que se chama CAD de 3

professores e, acima dele,s a diretoria cientifica. E muitas vezes, a gente vê que, o que estamos

recomendando, não vinga. A gente tem a visão da CHS II, mas, eles veem a CHS inteira, mas

de repente, tem alguém de Arquitetura, com um projeto sensacional, que não foi contemplado

e quem foi contemplado, na do CHS II, é menos que aquele. Então eles têm essa visão.

11 - Mas sempre preocupados com o conhecimento?

Sim, claro! A gente compara entre a gente, quer dizer, da área das Artes, com Letras,

Linguística, Comunicação, Ciência da Informação e Museologia. E eles têm uma visão mais

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ampla. E, às vezes, se tem um projeto super bom, de uma pessoa super boa que não ganhou

porque aquela área está mais competitiva. Então, eles redistribuem.

12 - Então, pode ocorrer da pessoa da Comunicação ter um belíssimo projeto, mas nessa

decisão porque a Comunicação também não demanda tanto, ocorrer de perder por conta

disso num critério, né?

Que, em geral, eles têm lá uma gradação de critérios. Então, tem a qualidade do projeto,

histórico acadêmico do candidato, histórico acadêmico do orientador. Tudo isso conta. São os

critérios. Às vezes, tem uma coisa que chama atenção e a proposta é boa em todos os quesitos

e ela derruba de outra área.

13 - Como é a que a senhora vê a Comunicação? Tem a questão do impasse conceitual.

Há quem defenda como campo, há quem defenda como Ciência. Eu já ouvi pessoas

dizerem, por exemplo, que o campo vem muito ligado do Bourdieu, aí a pessoa acha que

não é uma luta, por isso, não faz sentido o que o Bourdieu fala. Outros têm essa visão

muito presente. Questão da Ciência, o papel da FAPESP nisso, nessa legitimação?

- Eu acho que parte dessa questão do “prima pobre” é essa discussão da definição né? É difícil

a gente definir uma disciplina que está, em permanente transformação, e está no centro das

transformações que o mundo tá vivendo. Eu acho que as mídias digitais, a gente, enfim, o rádio,

a imprensa, a televisão, o cinema já foram introduzindo elementos na vida social que nem

sempre foram contemplados pelo pensamento das ciências sociais. Foram muito desprezados,

inclusive, por Bourdieu, que escreveu um livro sobre televisão e que, a meu ver, contradiz todo

o pensamento dele. Então, ao mesmo tempo que esses meios estão sendo reconhecidos centrais,

em outros campos do saber, nas Artes, na Economia, nas Ciências Sociais, na Filosofia, né, ao

mesmo tempo que isso acontece, você tem uma dificuldade de definição do coração da

disciplina, na própria área. Esse paradoxo que a gente vive e ele se dá em regiões diferentes. Eu

estou mais ligada, atualmente, nas imagens em movimento pelo que eu faço aqui. Estou ligada

nessa discussão, que é uma discussão que nasce a partir dos estudos de cinema. Que nasce, nos

EUA, nos departamentos de literatura inglesa, mas, na França, na Inglaterra, é diferente. Enfim,

tem uma heterogeneidade grande na institucionalização dessa disciplina, no caso, os estudos de

cinema definiram pelo objeto cinema. Só que objeto hoje está em questão porque as mídias

digitais, a televisão, e depois, as mídias digitais ameaçam a existência do cinema como a gente

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conhece hoje. No entanto, toda a acumulação conceitual que esses estudos fizeram se mantém

como a única base num mundo em que os objetos vão se transformando. Talvez não seja o

objeto a melhor ancora para o conhecimento né? Eu acho que a gente vive um momento muito

interessante que pode ser bastante produtivo porque de alguma maneira a Área está no centro

das preocupações mundiais e, ao mesmo tempo, a disciplina continua se debater sobre sua

delimitação, né? Então, isso que você falou ... os meios não são a âncora toda. O objeto não é

uma âncora boa e o meio também não é uma âncora boa. Talvez a melhor âncora seja a

conceitual.

14 - Sobre isso, eu estou discutindo na tese. Pelo menos eu tenho a seguinte visão: quando

eu estou falando do impasse conceitual, a Comunicação deveria se impor – que vai chegar

nisso que a senhora está falando sobre a centralidade de hoje – como uma necessidade

primeira de todos os outros campos. Quando a gente vê interdisciplinaridade, a senhora

falou bem, outro campo vê melhor. Então, quando a Biologia vê a célula, por exemplo,

como princípio comunicador, ela vai pedir fomento na Área de Comunicação estudando

a célula como princípio comunicador. As células se comunicam. Mas eu acho que essa

questão das âncoras, a Comunicação perde a chance de se colocar como necessidade

primeira em outras instâncias. Não só assim, a Biologia vem tomar de empréstimo a

Comunicação pela comunicação das células. Mas, a Comunicação é importante. É

importante entre os pares dela. Se não houver a comunicação num sentido mais clássico

de transmissão, ela é necessária nos outros campos. Não sei se estou certo ou não.

- Sim. Você pode pensar assim. Se você pensar assim, cada campo já pensou nisso e conceituou

isso, de alguma maneira, porque a interação entre as células é um tema da Biologia. Então, pode

não ter chamado Comunicação, mas, eu acho que a gente tem um problema hoje em dia. Não

somos nós, no Brasil, na FAPESP. É no mundo. As disciplinas não podem se tornar redutos

que congelem o pensamento, entendeu? Eu acho que as fronteiras entre as disciplinas, como as

fronteiras entre as Artes, elas estão questionadas pelas coisas que estão acontecendo no mundo.

E a produção compartilhada de conhecimento deve reconhecer que a transdisciplinaridade pode

ser muito interessante para se entender o mundo de hoje.

15 - Aliás, o próprio Morin fala que se a Ciência não fosse transdisciplinar, ela não teria

ocorrido.

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O próprio Morin é um transdisciplinar por excelência. Ele está na raiz do cinema moderno (...)

Eu acho que essa abertura dele tá muito presente aí e ele é muito visionário nesse sentido. E é

uma preocupação que eu tenho bastante como pessoa que transita entre disciplinas. Eu não

gosto de pensar disciplina como um campo limitador, entendeu? Delimitador. Eu acho que,

muitas vezes, a discussão intelectual se fixa em questões que não são tão interessantes.

Importante são as ideias mais do que a filiação disciplinar delas. Os desafios que o mundo

coloca são agudos e urgentes. Um senso de urgência, em mim, o que não quer dizer...eu acho a

pesquisa teórica interessantíssima...eu acho que o mundo sugere coisas pra gente, né? E a gente

tem que se posicionar no mundo a tentar conduzir para onde a gente acha que ele deve ir. Eu

acho que é muito rico a gente se abrir para outras disciplinas nesse sentido.

16 - Daqueles pesquisadores que eu disse, quem tem mais sentido é quem está falando na

necessidade de se abrir às demandas novas? Não se fechar, né, como outra pessoa está

falando?

- Eu acho que são essas demandas novas que colocam a disciplina no centro do mundo. É

estratégico hoje em dia.

17 - Teríamos aí a Revolução Científica do Thomas Kuhn?

- Ah, não sei. Eu acho que a gente tem um momento muito difícil. Ao mesmo tempo que a gente

tem um avanço cientifico grande, e ao mesmo tempo, que se reconhece que o conhecimento tá

no centro do mundo e das economias né? Enfim, os poderes desiguais ainda são e estão

beligerantes. O Steve Call, diretor de Jornalismo da Universidade de Columbia, contou que o

presidente da Comissão Internacional do Congresso Americano chamou um jornalista do New

York Times, para dar uma entrevista, para dizer que o presidente americano está levando o país

pra terceira guerra mundial. Então, você vê que situação a gente se encontra. E é interessante

que ele chamou jornalista... um jornal que vai publicar aqui...tem uma importância do

Jornalismo que não é pequena.

18 - É a questão do olhar o que se faz, né?

- Exatamente. Volta a isso.

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19 - Por falar no que se faz, eu tenho percebido pelos resultados e ia perguntar o que você

acha disso. Tem encaminhamentos para algumas situações, por exemplo: a gente consegue

ver muito claramente que a PUC-SP é extremamente Semiótica. E aí eu queria saber o

que você acha nesse sentido de os Programas de repente – eu estou buscando a História

da Comunicação através da FAPESP – será que não seria interessante os Programas

reverem suas histórias de produção e nesse sentido observarem para onde eles caminham,

o que eles têm observado em pesquisas? Por exemplo, a PUC em Semiótica, eu sei que

muitos criticam por ser Semiótica...Semiótica. Mas pensando em todas as questões de

fronteiras, que nós falamos aqui, não consegue formar um conhecimento melhor, mais

apurado que vai dar uma densidade futura pra Área?

- A diretora de avalição, Rita Barata, da Capes, esteve aqui na USP há 3 semanas atrás ou 2

semanas atrás e uma das coisas que ela falou, eu achei interessantíssima. Ela está pensando no

futuro, o que seria bom mudar no sistema de pós-graduação. E uma das coisas que ela falou é

que os programas procuram ser iguais...eles têm as mesmas disciplinas... isso não é uma coisa

boa. Eu acho ótimo que a PUC seja Semiótica. Eu acho que é bom as pessoas terem opção de

fazer programa com uma ênfase em Semiótica. Não quer dizer que os outros programas não

devem ter. A gente tem aqui, no nosso Programa, quem trabalha com Semiótica. É bom,

enriquece nosso programa, mas, isso não quer dizer que não seja interessante se ter um

programa que tenha ênfase bem definida.

Na FAPESP, a gente não está avaliando Programa. A gente avalia projetos. Então, eu acho

interessante essas diferenças. Por exemplo, aqui, a nossa tradição é nos estudos de cinema.

Nesse departamento se fez muito da história do cinema brasileiro...Paulo Emílio Soares

Gomes...Jean Claude Bernadett...Ismail Xavier... Arlindo Machado com cinema, pré-

cinema...pós-cinema..televisão. Aqui, a gente está pensando isso. Ao mesmo tempo em que é

uma concentração muito importante no nosso programa, a história do cinema, a gente não pode

ficar parado nele. A gente está pensando também essa redefinição do campo de estudos de

cinema na medida em que você tem as mídias digitais e as imagens em movimento estão

ganhando o mundo... as telas né? A tela, que era tela do cinema, daí se diversificou na tela da

televisão, hoje em dia, você está num mundo de telas.

20 - Eu percebo muito nos temas, por exemplo, das pesquisas da FAPESP e eu fico feliz

porque acho que não estou pensando tão errado porque você falou que é importante isso.

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O Jornalismo praticamente é o carro-chefe das pesquisas na FAPESP. Aí a gente pega as

temáticas e vem: Jornalismo Impresso...Jornalismo Televisivo...Jornalismo

Cultural...Jornalismo Digital...Ciberjornalismo. A gente está colocando as temáticas do

Jornalismo e não estamos pensando o Jornalismo como um todo. Aí voltamos à questão

do fazer. Nós não estamos pensando como o Jornalismo está transformado desde o

princípio da imprensa, hoje com a questão do colaborativo...do digital.

- Qualquer um faz Jornalismo...vai lá na manifestação, filma e coloca na rede. Agora, o Steve

Call estava falando que ele acha porque houve, nos EUA, um momento em que se verificou

uma crise muito grande do Jornalismo. Quase que se achou que o Jornalismo estava acabando

porque cada um é sua própria agência de notícias no limite. Agora, esse escândalo das Fake

News e o impacto disso, nas eleições americanas, levaram as pessoas a valorizar o Jornalismo.

Agora é interessante que, nos EUA, o índice de confiabilidade...as pessoas não confiam no

Jornalismo lá...aqui, confiam ainda... aqui é uma das poucas instituições que as pessoas

continuam a confiar, mas lá o Jornalismo é uma atividade de pós-graduação. Essa escola é de

pós-graduação. Aqui, o jornalismo ainda existe uma disputa corporativa e ainda se menospreza

a formação humanista, eu acho da pessoa que vai se tornar um profissional de jornalismo. E

não se valoriza a questão do jornalismo propriamente dita.

21 - Nos projetos hoje que são poucos que você disse que a Área pede. Por onde transitam

os pedidos? É digital? É teoria?

- Tem muita coisa digital nos projetos hoje. Mas eu não sei, você sabe melhor do que eu. Olha

só o meu trabalho: eu recebo o projeto, identifico o projeto, envio para um parecerista. Recebo

de volta e recomendo ou não. Mas, não decido e, depois disso, ele some da minha visão. Eu não

tenho, eu não sei mais. Ele desparece. Eu não tenho mais acesso a ele. Eu não sei dizer se ele

foi aprovado... se não foi aprovado. Claro que alguns voltam com relatório, mas não tenho

registro para saber quem não foi aprovado, entendeu? Então o que eu estou te falando é

impressionista.

22 - Bom, pra gente encerrar, você falou a questão dos resumos que a gente tem carência.

Quando eu fui buscar os dados na Biblioteca Virtual, por exemplo, alguns dados

informam metodologia, informam alguns autores, informam objetivo, outros não. Outros

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sequer têm resumo. Isso pode ser uma falha do pesquisador ou uma falha de transição de

sistema.

- Sem resumo, eu nunca vi. Sem resumo, é falha do sistema. Todo projeto tem resumo. Isso é

falha de sistema. Acho que você pode até mandar um Converse com a FAPESP que eu acho

que você vai contribuir. Resumo é obrigatório.

23 - Mas o pesquisador pode falhar na prestação de informação, no que consta ali na

Biblioteca Virtual?

Pode falhar no que ele informa no resumo. E como resumo não determina se ele vai ganhar ou

não vai ganhar o financiamento, o que vai para a Biblioteca Virtual é o resumo que ele fez. Às

vezes, o resumo que ele fez não expressa o projeto dele. Eu acho o seguinte. Tanto em relação

a resumo, tanto em relação a projetos propriamente ditos, em geral, seja pra bolsa, seja pra

auxilio pesquisa, seja pra projeto temático, seja pra projeto de pós-doc, é importante que o

projeto expresse uma inquietação que signifique uma pergunta sobre a qual você não sabe a

resposta. Você pode até achar que existe a possibilidade de que a resposta seja tal e tal, mas

isso não significa que a resposta seja aquela. Então, eu acho que é uma primeira questão. O

projeto tem que ter uma pergunta. Ele tem que ter uma aproximação conceitual que você

entenda em que terreno que ela está se movimentando e como não se espera que um projeto

tenha como produto um livro ou... não é isso que se espera... tantos artigos... o que interessa é

em que aquele projeto vai transformar aquele conhecimento que existe hoje sobre aquele

problema. Então, quando se fala em resultados, não se pensa assim: eu quero fazer um livro.

Não é isso que importa. Importa é o seguinte: o que quer discutir essa questão porque acho que

ela vai levar esse campo do saber se mover daqui pra lá. Então, o resumo deveria expressar

essas questões. O que vai se estudar, como vai se estudar, qual é a pergunta. Mas não é isso que

a gente encontra nos resumos. E às vezes, é um exercício interessante caprichar no resumo. Já

sintetiza né? Você consegue sintetizar.