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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CAROLINA CARTELI DA SILVA HISTÓRIA E MEMÓRIA INSTITUCIONAL DA EMPRESA GRUPO BOTICÁRIO. CURTITIBA 2014

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CAROLINA CARTELI DA SILVAtcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MONOCORRIGIDA-PÓS.pdf · história e identidade. Foi aplicada a metodologia da história

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CAROLINA CARTELI DA SILVA HISTÓRIA E MEMÓRIA INSTITUCIONAL DA EMPRESA GRUPO BOTICÁRIO.

CURTITIBA 2014

2

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CAROLINA CARTELI DA SILVA

HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EMPRESA GRUPO BOTICÁRIO.

Monografia apresentada como requisito para a conclusão da pós Patrimônio, Memória e Gestão Documental Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Pieroni.

CURITIBA

2014

3

RESUMO

Esta pesquisa objetiva refletir sobre o tema da Memória organizacional, com o

intuito de investigar como esse movimento tem ganhado espaço em grandes

organizações, assim como as ferramentas técnicas e a metodologia utilizada. Isto foi

possível com base em uma abordagem historiográfica do objeto escolhido para análise,

neste caso a empresa Grupo Boticário e três de seus colaboradores com mais tempo de

empresa.

Para tanto, foram utilizadas fontes bibliográficas produzidas por autores que

refletem sobre a Memória Organizacional, teóricos relacionados ao estudo da memória,

história e identidade. Foi aplicada a metodologia da história oral, mais do que um objeto

de estudo, a história oral dada através de entrevistas coletadas na empresa Grupo

Boticário, foi utilizada como fonte para entender e contextualizar a questão da memória

e das histórias preservadas e construídas. Esta pesquisa busca evidenciar, a partir do

estudo da memória organizacional e das entrevistas coletadas, a importância de estudos

relacionados ao tema, e contribuir para a crescente discussão sobre história oral e

memória no ambiente teórico e acadêmico. Este objeto de estudo busca valorizar o

desenvolvimento de novos centros de preservação de uma história institucional a partir

da memória, contribuindo para o ser histórico e a identidade organizacional, como uma

nova ferramenta de gestão.

Palavras-chave: Memória institucional, Grupo boticário, memória organizacional.

4

SUMÁRIO

1. ENTRE MEMÓRIA, HISTÓRIA E INSTITUIÇÃO ....................................05

2. A HISTÓRIA DO GRUPO BOTICÁRIO E AS MEMÓRIAS DE SEUS COLABORADORES: ESTÓRIAS QUE ME CONTAM .......................................................................................................................09

2.1 MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL.............................................................................09

2.2 A MEMÓRIA E A HISTÓRIA PRESERVADA......................................................12

3. A IMPORTANCIA DA PRESERVAÇÃO DAS “MEMÓRIAS” INSTITUCIONAIS ........................................................................................................21

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................25

ANEXOS.........................................................................................................................27

ANEXO 01......................................................................................................................28

ANEXO 02......................................................................................................................32

ANEXO 03......................................................................................................................39

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................46

5

01. ENTRE MEMÓRIA, HISTÓRIA E INSTITUIÇÃO.

A preservação da memória institucional tem se tornado uma estratégia de

negócios para grandes organizações. Nesse cenário, a implantação de um projeto que

visa preservar a memória corporativa ou institucional, vem se consolidando como uma

ferramenta importante para a recuperação e valorização da história destas Instituições.

Segundo Ana Maria Strohschoen, este resgate proporciona às organizações o melhor

entendimento de suas origens, o que possibilita o aprimoramento de seu trabalho1.

Mas, para entender este fenômeno, é preciso discorrer sobre o que impulsionou o

seu crescimento e interesse, a necessidade por trás da ação, e neste caso, nos referimos a

questão da memória como conceito e também relação social, pois entende-se que o

homem ou, o ser social, é constituído de suas memórias, ao nascer trás informações

genéticas codificadas em sua própria estrutura, segundo Icléia Costa, o corpo tem

memória não apenas no sentido genético, mas também social e institucional.

As informações selecionadas, retidas e vivenciadas são impressas em nossa

consciência, como uma espécie de arquivo existencial e individual, muito embora essa

construção seja um processo dinâmico, coletivo e social.2 Um dos teóricos relacionados

a esta análise, trouxe um entendimento significativo para a teoria, Maurice Halbwachs

em seu trabalho, enfatizou as forças dos diferentes pontos de referência que estruturam

nossa memória, inserindo-a na memória da coletividade que pertencemos3.

Dessa forma, a incorporação das ciências sociais desempenha aí um papel

importante, contribuindo na interdisciplinaridade entre história e memória. A pesquisa,

o registro, e o retorno à memória coletiva se valem menos de escritos que de palavras,

imagens, gestos e rituais, pois se trata sobretudo de uma memória simbólica. Nestes

sentidos, podemos utilizar a afirmação de Pierre Nora de que até nossos dias, história e

memória praticamente se confundiram, e a história parece ter se desenvolvido “sobre o

1 STROHSCHOEN, Ana Maria. Um estudo sobre como algumas empresas da região trabalham seu histórico: o que pode ser memória institucional no contexto destas práticas. In:. UNIrevista - Vol. 1, n° 3 – julho, 2006.

2 COSTA, Icléia Thiesen Magalhães. Memória Institucional: a construção conceitual numa abordagem teórico-metodológico. Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Ciências da Informação, UFRJ, Rio de Janeiro, 1997., p.134. 3 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.

6

modelo da rememoração, da anamnese e da memorização” típico da memória coletiva.

Esta memória coletiva consolida seu saber com os instrumentos tradicionais, porém

arranjados de forma diferente. A par desses movimentos, ocorre também uma

valorização dos “lugares de memória”.4

Neste sentido, podemos pensar que a construção recente de centros de memória

é em certa medida, a busca pelo resgate da memória coletiva de seus

colaboradores/funcionários. Ou seja, a formação destes centros é responsável por

guardar, preservar e entender a partir de análises e bancos de dados a memória

construída entre os seus funcionários nos anos de trabalho doados à instituição em

questão, proporcionando além de outras coisas, plano de ação e novas estratégias de

negócio.

Ainda falando sobre a memória coletiva e sua relação com o ser social, podemos

citar a finalidade libertária que Le Goff defende para a memória:

“A memória, onde cresce a história, que por sua

vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o

presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a

memória coletiva sirva para a libertação e não para a

servidão dos homens”5.

Em seu artigo; “memória, esquecimento e silêncio”, Michael Pollak, defende

que a memória pode definir o que é comum a um grupo e o que o diferencia dos outros,

fundamentando e reforçando os sentimentos de pertencimento e as fronteiras

socioculturais. Desse modo aproxima-se da definição de Halbwachs sobre “memória

coletiva”, que tem o papel de acentuar as funções positivas desempenhadas pela

memória comum, reforçando a coesão social com uma adesão afetiva ao grupo, daí o

termo “comunidade afetiva”.6

Para Pollak a memória é, entre outras definições, uma operação coletiva dos

acontecimentos e das interpretações do passado que se quer salvaguardar, definindo e

reforçando os sentimentos de pertencimento das fronteiras sociais. Neste sentido,

4 NORA apud LE GOFF. In. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp 2003, p. 473

5 LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 2003. pp. 477 6 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 03

7

podemos pensar que a referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e

das instituições para assim, definir seu lugar na memória de cada individuo.

Outro teórico que analisa a questão da identidade é Stuart Hall, ele afirma que:

“As identidades nacionais não são coisas com as

quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no

interior da representação”.7

Assim como Halbwachs, Hall vê na nação construída uma comunidade

simbólica, que gera sentimentos de identidade e de pertença. Apesar de Halbwachs

defender que é na nação a forma mais acabada de um grupo, e a memória nacional

como a forma mais completa de uma memória coletiva, podemos nos apropriar destes

pensamento para análise e construção de memórias institucionais, pois a memória

coletiva é construída a partir da memória de um grupo, neste caso, as instituições.

Com esta interpretação, podemos justificar a questão da coesão interna comum

de um grupo, neste caso nos detemos à memória de uma instituição privada que define

suas fronteiras sociais a partir da memória forjada e coletivizada de seus funcionários.

Para isto, é preciso fornecer pontos de referencias, neste sentido utilizaremos a

expressão “memória enquadrada” de Henry Rousso8. Este é um termo muito

interessante, que nos faz pensar no trabalho de enquadramento da memória

institucional, pois quando há um trabalho como este, podemos a partir de relatos de

empregados levar em consideração certas justificações, construída a partir de símbolos e

eventos importantes ao logo nos anos de existência da instituição em questão. Não

estamos livres do enquadramento, pois se entendemos a memória como uma operação

coletiva dos acontecimentos e interpretações do passado, devemos levar em conta qual

passado estamos falando, neste caso vamos nos deter a coletividade de um grupo

empresarial, e como grupo, possui símbolos e características próprias difundidas

especificamente no ambiente organizacional.

A memória coletiva, como foi definida anteriormente, ao tomar o espaço público

deve ser preparada com credibilidade e estar certa de que mensagem quer passar, pois o

problema desta memória é justamente sua aceitação, o discurso que é feito dela tem a 7 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. (Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro) 3. ed. Rio de Janeiro. DP&A, 1999. p.03 8 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 09.

8

intenção de ser bem aceito pela sociedade em questão, e neste sentido, voltamos a

discussão do “enquadramento da memória”.

A formação de um banco de histórias de antigos funcionários de uma instituição

não está livre deste cuidado com o discurso, o ponto de partida e a conclusão das

memórias devem estar bem estabelecidas pelo locutor e pelo entrevistado, baseado na

história da instituição em questão. Nas palavras de Pollak:

“Mas, assim como a exigência de justificação

discutida acima limita a falsificação pura e simples do

passado na sua reconstrução política, o trabalho

permanente de reinterpretação é contida como uma

exigência de credibilidade que depende da coerência dos

discursos sucessivos. Toda organização política, por

exemplo, veicula seu próprio passado e a imagem que ela

forjou para si mesmo.”9

Como podemos perceber o trabalho de reinterpretação do passado através da

história oral é contido por uma exigência de credibilidade que depende da coerência dos

discursos. Neste sentido a construção de uma memória organizacional baseada na

vivência e relatórios de empregados de longa data não é tão simples, requerendo

diversos cuidados por parte dos pesquisadores, pois o resgate por depoimentos orais é

uma dentre as muitas outras ferramentas disponíveis.

Segundo Tania Oliveira, as empresas estão percebendo que as lembranças de

seus empregados e objetos que aparentam ser de nenhuma utilidade, como móveis,

máquinas e documentos antigos são, na verdade, um acervo riquíssimo10. Todo este

material, uma vez preservado, interpretado e utilizado de maneira correta, se transforma

em um valioso instrumento de comunicação e de relacionamento. Além disso, reforça o

“sentimento de pertencimento” dos empregados, pois a partir desta justificação, a

história de uma empresa começa a ser vista como sendo formada também pela soma das

histórias individuais de cada pessoa que se relacionou com a organização.

Se valendo do conceito de memória de Pollak, de que a memória é construída

socialmente e tem como funções essenciais manter a coesão interna e defender as 9 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 10 10 PEREIRA, Tania Oliveira. A Responsabilidade Histórica e a Memória Institucional no Fortalecimento da Reputação Corporativa: Caso Odebrecht. Monografia em Comunicação Social. USP, 2007.

9

fronteiras daquilo que um grupo tem em comum. Estas condições transformam-se em

pontos de referência por meio da identificação e do compartilhamento de significados,

de uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações bem definidas e

transmitidas a partir do seu convívio empregatício.

Levando em consideração que cada pessoa detém um conjunto de informações

ou memórias, que são resultantes de suas experiências, tomamos o pesquisador como

ponto principal desta investigação, pois é ele quem vai definir qual história guardar,

dando as coordenadas corretas para preservar uma memória sem partidarismo,

respeitando o momento do individuo e o ser histórico.

2. A HISTÓRIA DO GRUPO BOTICÁRIO E AS MEMÓRIAS DE SEUS

COLABORADORES: ESTÓRIAS QUE ME CONTAM

2.1 MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL

O debate sobre a relação entre história e memória é uma das grandes discussões

teóricas que têm se colocado a várias gerações de historiadores, pois é esta relação que

estrutura os fundamentos e objetivos do fazer histórico. A memória não pode mais ser

vista como um processo parcial e limitado de lembrar fatos passados para as ciências

humanas. Na verdade, ela se apoia na construção de diferentes grupos sociais sobre o

passado e o presente, respaldados nas tradições e ligados a mudanças culturais. Segundo

Freitas e Braga, a história não pode ter a pretensão de estabelecer os fatos como de fato

ocorreram, e por isso coexistem com várias leituras possíveis sobre a utilização da

memória para a interpretação da história.11

Ao considerarmos os novos métodos de interpretação da história, cabe ressaltar

que este trabalho encara a história oral como metodologia, e como tal faremos uma

breve conceituação do termo, considerando-o como construção de saber no campo do

historiador.

11 BRAGA, Paula Lou Ane Matos e FREITAS, Fabiano Junqueira de. “Questões introdutórias para uma discussão acerca da história e da memória”, Revista Histórica, Ed 13, Agosto, 1996.

10

A História Oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena

procedimentos de trabalho, segundo Amado e Ferreira, funcionando como ponte entre

teoria e prática.12 Neste sentido, soluções e explicações devem ser buscadas na teoria da

história, pois ela é capaz de compreender alguns tipos de comportamento durante a

entrevista, porque se dedica a pensar os conceitos de história e memória, assim como

sua complexa relação, portanto, vê-la como uma técnica ou disciplina não garante

respostas satisfatórias para pesquisas.

A história oral compõe um processo de ampliação de perspectivas no uso de

fontes para a escrita da história, pois trás para o saber científico instrumentos que

possibilitem ao pesquisador trabalhar com a subjetividade contida nos depoimentos.

Esta metodologia pode ser encarada como um recurso usado em estudos referentes à

vida de pessoas, grupos ou comunidades, um conjunto de procedimentos que têm como

ponto de partida um projeto, e como definição pessoas a serem entrevistadas. Segundo

Santos e Araújo, a história oral propicia diferentes diálogos, possibilitando compreender

a constituição de classes sociais e a tradição de gerações, contada a partir de uma

multiplicidade de pontos de vistas e vivências.13

Tão antiga quanto a própria história, a história da História Oral foi a primeira

espécie de história, sendo colocada em questão desde a aceitação do documento como

fonte formal e universalmente aceita da ciência histórica. A moderna História Oral

ganhou visibilidade acadêmica a partir dos estudos realizados na escola de sociologia de

Chicago, nos anos 1920. Nos anos 1960, a História Oral tem seu nascimento na

Inglaterra, abarcando o estudo de vida do cotidiano dos trabalhadores, a história

operaria passa ser a “nova história social”. Por isto volta a chamar a atenção dos

historiadores, com a “nova história” e a concepção de unicidade dos eventos históricos,

aparecem também a necessidade de aliar à explicação o relato, atentando o historiador

para a existência, esquecida até o século XIX, de uma escrita da história.

No Brasil, a história oral começou a se expandir mais significativamente a partir

de 1990, com a incorporação em programas de pós-graduação e seminários, é uma área

12 FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (org). Usos & Abusos da História Oral. Fundação Getúlio Vargas, 1. Ed, 1996. p. XVI 13 SANTOS, Sônia Maria dos. ARAÚJO, Osmar Ribeiro. HISTÓRIA ORAL: VOZES, NARRATIVAS E TEXTOS. Cadernos de História da Educação, n. 6 – jan./dez. 2007.

11

de pesquisa que está se projetando, ganhando novos adeptos e multiplicando seus

temas.14

Quando se emprega a metodologia da História Oral, é possível orientar o

processo de rememorar e relembrar sujeitos históricos, ou mesmo de testemunhas da

história vivida por uma coletividade. Desta forma, os depoimentos coletados tendem a

demonstrar que a memória pode ser identificada como processo de construção e

reconstrução de lembranças contemporânea na vida do entrevistado. Além disto, a

história oral utilizada como fonte pode acrescentar uma dimensão viva, trazendo novas

perspectivas à historiografia, pois o historiador, muitas vezes, necessita de documentos

variados, não apenas os escritos. Vale mostrar aqui a evolução de uma prática

importante que compõe parte da historiografia contemporânea. De acordo com Alberti;

[...] a história oral apenas pode ser empregada em

pesquisas sobre temas contemporâneos, ocorridos em um

passado não muito remoto, isto é, que a memória dos seres

humanos alcance, para que se possa entrevistar pessoas que dele

participaram, seja como atores, seja como testemunhas. É claro

que, com o passar do tempo, as entrevistas assim produzidas

poderão servir de fontes de consulta para pesquisas sobre temas

não contemporâneos.15

Nessa linha, a história oral, conforme a citação centra-se na memória humana e

sua capacidade de rememorar o passado enquanto testemunha do vivido. Podemos

entender a memória do entrevistado como a presença do passado e como uma

construção psíquica e intelectual de fragmentos representativos desse mesmo passado,

nunca em sua totalidade, mas parciais em decorrência dos estímulos e vivências. Suas

lembranças são permeadas por inferências coletivas, moralizantes ou não, pois não é

somente a lembrança de um certo indivíduo, mas de um indivíduo inserido em um

contexto familiar ou social, por exemplo.

Esta metodologia nos ajuda a esclarecer trajetórias individuais, eventos ou

processos que muitas vezes não podem ser entendidos de outra forma, são histórias de

movimentos sociais populares, lutas cotidianas encobertas ou esquecidas. Na história

14 FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (org). Usos & Abusos da História Oral. Fundação Getúlio Vargas, 1. Ed, 1996. p. ix 15 ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1990. p.4

12

oral também existe o grupo de documentos (entrevistas) que possuem uma característica

singular: o diálogo entre entrevistador e entrevistado, além de apoiar-se em pontos de

vista individuais expressos nas entrevistas é encarada como fonte histórica.16

Para alguns cientistas sociais e historiadores documentalistas tradicionais, a

questão da entrevista, deveria ser legitimada com um modelo científico de pesquisa.

Porém, nos últimos anos é possível perceber que a entrevista é uma relação que se

insere em práticas culturais particulares e que é informada por relações e sistemas de

comunicação específicos. Segundo Thompson;

“Não existe uma única “maneira certa” de

entrevistar, e a maneira que o “bom senso” indica como

“certo” para entrevistas com membros da elite política

branca do sexo masculino pode ser completamente

inadequada em outros contextos culturais.”17

É essencial que o historiador esteja consciente das diferenças culturais no

momento da entrevista, pois é aí que o entrevistador achará a experiência não

documentada e poderá montar um roteiro adequado.

É importante destacar que a história oral não é um fim em si mesma, como

método de pesquisa é um meio de conhecimento. Como afirma Alberto, seu emprego só

se justifica no contexto de uma investigação científica, assim, mesmo antes de se pensar

a história oral, é preciso haver questões, que justifiquem o desenvolvimento de uma

investigação.18 A justificação neste caso pode ser o conhecimento produzido da empresa

que será investigada, para depois definir o tipo de entrevista que será utilizada.

2.2 A MEMÓRIA E A HISTÓRIA PRESERVADA

Assim como a “memória enquadrada”, uma história de vida colhida por meio da

entrevista oral é também suscetível de ser apresentada de inúmeras maneiras em função

do contexto no qual é relatada, no caso de uma instituição privada, o contexto é a

16 FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (org). Usos & Abusos da História Oral. Fundação Getúlio Vargas, 1. Ed, 1996. 17 THOMSON, Alistair. “Aos cinquenta anos: Uma perspectiva internacional da História Oral” In. FERREIRA, Marieta de Moraes, FERNANDES, Tania Maria e ALBERTI, Verena (org). História Oral desafios para o século XXI. Fundação Getulio Vargas, 1998, p. 48. 18

ALBERTI, Verena, Manual de História Oral, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio vargas, 1990.

13

história da empresa que o entrevistado está inserido, seus signos e valores são medidos a

partir da memória de seus empregados.

Por conta disto, vale apresentar a empresa relacionada em questão, criada em

março de 1977, como uma farmácia de manipulação, no centro de Curitiba (PR). Para

aumentar sua capacidade produtiva os laboratórios da Saldanha Marinho foram

transferidos para novas instalações em São José dos Pinhais (PR), em um terreno de um

alqueire de terra foi construída a primeira fábrica de O Boticário. Durante seus 37 anos,

a empresa evoluiu por diferentes cenários e estratégias inovadoras obtendo resultados

que a coloca entre as maiores do setor de perfumaria e cosmética do Brasil e do mundo.

Em 2010 nasceu uma das maiores organizações no segmento de beleza no Brasil: o

Grupo Boticário, que reúne todos os negócios sob uma única estrutura. Com logomarca,

identidade visual e pilares próprios, a história do Grupo é a representação do

empreendedorismo que marca a identidade desta organização.19

O grupo boticário tem valores reconhecidos e respeitados pelos consumidores e

diversos públicos com que a organização se relaciona, a história é preservada como

forma de inspirar os passos presentes e futuros. Por conta disto, a estrutura da memória

organizacional do grupo boticário teve inicio em 2004, a partir da preocupação de

Miguel Krigsner em preservar os momentos marcantes da organização. De lá pra cá o

acervo começou a ser organizado e hoje tem milhares de materiais que incluem fotos,

negativos cartazes, gravuras, troféus, quadros, obras de arte, livros, apostilas, revistas,

CDs, DVDs, fitas VHS e exemplares de produtos e embalagens lançados pela empresa

ao longo de sua trajetória de mais de três décadas.

Com um passado cheio de conquistas, os empregados de longa data são de vital

importância para a formação e disseminação desta identidade. Por conta disto, o

presente trabalho utilizou a metodologia da história oral, através de entrevistas, para

buscar captar este passado, pois entende-se que essa constitui-se como espaço

vivificador da relação entre a História, a memória e a identidade. De acordo com os

propósitos da pesquisa e ao seu tema foi escolhido a “entrevista temática” para se

trabalhar, pois são, segundo Alberti, aquelas que versam prioritariamente sobre a

participação do entrevistado no tema escolhido.20 Como afirma Saul Sosnowski; “o ato

de recordar incita à reflexão permanente do ser na História” (1994, p. 15). Desta forma,

história e memória, utilizadas para a reconstituição temporal, contribuem para aguçar a

19

Site: www.grupoboticario.com.br, acesso em 11.05.2014 às 11:00h 20

ALBERTI, Verena, Manual de História Oral, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio vargas, 1990. p. 37

14

consciência dos sujeitos históricos de pertencimento ou de não pertencimento a

instituições em questão.

Para tanto, foram realizados como referência e análise três entrevistas de

funcionários de longa data da organização Grupo Boticário. Com isto, pretendemos

contribuir para a discussão visando apresentar a importância da história oral em grandes

organizações. As três entrevistas foram concedidas pelas seguintes funcionárias: Isabel

Garoni Barbosa, 57 anos e 29 anos de empresa, Suzana R.D. Sarmento, com 15 anos de

empresa e Marisa da Silva Ferreira, com 20 anos de empresa.

A análise da entrevista foi obtida com o seguinte roteiro e etapas 1° parte –

identificação com dados específicos relacionados ao entrevistado, como grau de

instrução, profissão e cidade natal. 2° parte – etapa da entrevista foi relacionada ao

início da sua carreira profissional no Grupo Boticário, entender como foi o processo de

entrada na empresa e seu imaginário relacionado à empresa antes de se inserir como

funcionário, foram alguns dos temas abordados, possibilitando o entendimento do tipo

de memória predominante em relação a interpretação de seu passado ao iniciar sua

carreira profissional. E 3° parte da entrevista se deu em torno das memórias construídas

na instituição, tentando entender o diálogo entre os aspectos pessoais, das percepções

conjunturais. As questões de datas comemorativas, fatos marcantes e história de vida

foram alguns dos temas abordados, assim como sua percepção e opinião em relação as

mudanças estruturais ao longo dos anos.

A primeira entrevista foi realizada com Isabel Garoni Barbosa*21, nascida na

Bahia, mudou-se para São José dos Pinhais aos 39 anos, sua carreira começou em 1985

(dois anos depois da inauguração da fábrica em S.J.P/PR) como faxineira. O primeiro

momento da entrevista foi marcado pela emoção de Isabel, quando recordou o processo

de entrada na organização;

I.M.B – “Eu sempre passava aqui na frente, eu sempre tinha muita vontade de trabalhar aqui, eu sempre falava pras minhas filhas assim: “um dia a mãe vai trabalhar aqui no boticário” [emoção] E dai eu consegui o trabalho, foi muito bom, eu falava que minha meta de trabalhar aqui no boticário, era de um ano, falava: “eu trabalhando aqui no boticário, um ano ta bom”. Se vê vai fazer 29 anos, muito bom.”

Em relação a sua carreira profissional, é possível perceber as mudanças

estruturais da organização nos anos em questão, pois Isabel entrou como faxineira e sem

21 Entrevista completa em anexo 01

15

qualquer experiência foi indicada para trabalhar no laboratório, demostrando que as

relações interpessoais tinham outra dinâmica:

“I.M.B – Eu entrei trabalhando na limpeza, e depois teve uma vaga no laboratório, eu não queria vim, dizia “não vô porque não entendo”, não conhecia nada da vidraria, daí minha chefe falou assim, “você vai, que eu sei que vc vai trabalhar bem” “mas eu não quero ir pro laboratório” “mas você vai, eu indiquei você”. Dai eu vim, falei “Se não der certo d. Carolina, eu posso voltar” daí eu podia voltar, mas eu vim e tô aqui ate hoje.”

Um sentimento levantado pela entrevistada foi sua admiração em relação ao

fundador de O Boticário, Miguel Kriegsner, sua fala demonstra o carinho e o sentimento

criado em torno deste homem, que se tornou referencia, uma característica muito

comum aos funcionários antigos da organização;

(...) “o dr. Miguel é uma pessoa muito boa, então ele merece, isso aqui pra mim não tem explicação cada dia que eu passo eu vejo assim, muito bom. (...) a gente até sentava na mesma mesa pra almoçar junto no refeitório, antes era ali onde é a TI hoje, ele merece tá onde ele tá.(...) Ah ele é um referencial, uma pessoa que é boa e humana, merece crescer na vida.”

A entrevistada termina falando sobre seu orgulho em pertencer a história da

empresa, ela demostrou em todo o instante que se sente participante desta história, que

cuida de tudo como se fosse seu, a relação de pertencimento e identidade se integram e

se transformam em memória viva:

“Quando que eu ia pensar que ia sair daqui aposentada, eu não pensava, via os outros falando que iam sair daqui aposentadas e essas pessoas saíram, isso aqui e meu orgulho, sou orgulhosa disso aqui, tantos anos.”

A segunda entrevista foi realizada com Suzana Rauen Davet Sarmento*22,

nasceu em 1975, na cidade de Ibaiti, norte do Paraná e é formada em química industrial.

Sua relação com o Boticário começou bem antes de sua entrada como estagiária no ano

de 1997, é o que percebemos ao ouvir seu primeiro relato, o que também nos ajuda a

entender a visão do público em geral em relação a está organização;

“Eu já fazia curso técnico né antes de fazer faculdade, então, assim, todo mundo

que tá nessa área de química, farmácia e biologia quer trabalhar no boticário, né

22 Entrevista completa em Anexo 02

16

“desdaquela” época até hoje, então como era a maior empresa deste ramo na nossa área

de estudo, era sempre aquele sonho né, “aí quero trabalhar no boticário, quero trabalhar

no boticário, porque lá deve ser muito bom”. E assim, tinha muito apelo de produto

natural né então era produtos naturais, estes frasquinhos com tampinha de madeira,

assim sabe, era tudo muito pro lado natural né. Daí eu falei “nossa eu preciso trabalhar

lá” [risos]. E aí foi nessa onda que eu entrei. Que sempre a vontade de trabalhar era

muito mais pela imagem que o grupo, que a marca né O Boticário passava né, de

produtos naturais, de produtos que não agridem a pele, de uma empresa que cresceu

aqui, que cresceu sendo regional, que esse apelo da marca tem, muito disso assim né de

ter começado aqui, não foi uma coisa que veio de fora, não é nada importado, foi uma

coisa que começou aqui. Acho que isso que da mais força assim.”

Neste relato percebemos a importante relação de identificação regional da

entrevistada Susana com a empresa, ambas paranaenses, assim como a formação de seu

imaginário relacionado a marca comercializada antes de se tornar de fato uma

empregada. Estas duas características nos apresentam um quadro bastante relevante para

a construção da memória e da vivência desta funcionária na organização, pois seu olhar

de admiração ao entrar na empresa poderia ser transformado com os anos de trabalho:

“Sim, eu gosto muito. Assim, muitas coisas mudaram, claro pelo crescimento do grupo e tal, mas assim, nada faz perder a vontade, perder o entusiasmo de continuar trabalhando.”

Na segunda parte da entrevista, Susana relata sua relação pessoal e profissional com muita emoção, fica evidente o envolvimento emocional e identitário em sua fala:

“É um sentimento, como eu falei é um sentimento que não tem como separar o tempo que a gente passa aqui do pessoal né. então eu casei trabalhando aqui, fiz minha casa, tive minhas filhas, viajei [fala emocionada]. Então assim, todo o tempo que eu dediquei a empresa, a empresa também me deu isso como retorno né, então assim eu nunca penso “aí eu trabalho mais pro boticário do que pra mim”. Sabe assim, o tempo que foi dedicado aqui sempre foi recompensado, não só financeiramente, mas com amizade com festa com comemorações com produtos, então assim em nenhum momento o sentimento é de perder tempo, mas assim de tá crescendo junto assim, de eu fazer parte do boticário e o boticário fazer parte de mim assim, porque não tem muito como separar né.”

17

Uma das questões abordadas e relatadas com muito entusiasmo em ambas as

entrevistas, foram os momentos comemorativos e datas importantes que envolviam

todos os funcionários, como uma grande festa de família:

“Só pra funcionários, só pra funcionários, mas aí parava tudo, para produção, parava todo mundo. Teve uma vez que teve desfile de moda dos funcionários, uma vez teve desfile a fantasia também, ia os funcionários lá no ateliê, faziam modelos sob medida pra eles e iam lá na passarela e desfilavam, muitas palestras assim, de vários assuntos que a gente presenciava, sempre nessa SIPAT né. Hoje tem uma tenda na saída do refeitório e cada dia aborda um tema, mas na época como podia parar né, parava produção parava laboratório, parava tudo. Então essa é uma parte bem marcante assim, a gente ia todo mundo pra baixo de uma tenda e falava a semana inteira sobre temas relacionados com segurança, e as festas de final de ano que com certeza vão ficar pra sempre na memória [risos]. E aí as festas que a gente fazia no setor mesmo, tudo era motivo pra comemoração. Hoje como tudo é muito maior, tudo é muito números assim né, a gente ta num mundo globalizado que se a gente não correr atrás né tudo, então é bem diferente assim, hoje a gente não consegue mais celebrar tanto né, então a gente tá sempre unido e tal mas, assim parar o que tá fazendo pra fazer uma festa uma celebração já não é mais tanto uma realidade né.”

Este fragmento da entrevista nos apresenta dois momentos significativos que

interfere na construção e manutenção da memória de seus funcionários, pois como é

possível perceber, a entrevistada lembra com saudosismo o período em que os eventos e

comemorações eram feitas com exclusividade, todos os funcionários se reunião em um

mesmo ambiente, sem diferenciação de cargo ou salário, todos juntos por uma causa.

Hoje esta realidade, segundo Susane, é bem diferente, as datas comemorativas ou

eventos são organizados pensando no menor impacto de produção, são encaixados

durante o expediente e separados por setores ou diretorias.

Neste relato, podemos levantar algumas hipóteses, ou até mesmo novos estudos

com funcionários recentes da empresa, que não vivenciaram estes momentos

caracterizados pelos entrevistados como “família”, será que estes eventos interferem na

formação da memória e identificação do funcionário com a história da empresa? São

questões levantadas que fazem todo o sentido quando se pensa na preservação da

memória organizacional.

A nossa terceira entrevistada foi Marisa da Silva Ferreira23, que entrou na

empresa em 1995 e diferentemente das outras histórias, este foi seu primeiro e único

emprego:

23 Entrevista completa em anexo 03

18

“eu entrei como temporária, na área de produção, como auxiliar industrial, fiquei

três meses e depois fui efetivada na produção mesmo e fiquei por uns cinco anos na

fábrica em produção de hidro alcoólicos.”

Quando questionada a respeito da imagem que a entrevistada tinha com respeito

à marca e a organização, Marisa foi sincera em dizer que por ser seu primeiro emprego,

e por conta da sua idade, não tinha a ideia da dimensão da organização na época, isto

nos auxilia a pensar que sua admiração foi forjada durante os anos em que trabalhou na

empresa:

“Há, não tinha muito assim referencias porque como eu era muito nova também,

O Boticário foi meu primeiro emprego eu ouvia as pessoas falarem “ai meu sonho é

trabalhar no boticário”. Mas eu era muito nova, ainda não tinha assim muita percepção

de importância de uma empresa, como era meu primeiro trabalho eu ainda não tinha

uma referencia também, mas eu ouvia falar super bem da empresa assim, que era uma

empresa que tinha bastante futuro aqui em São José, que era uma empresa de cosmético

e perfumaria, mas eu não tinha ainda esse sonho de trabalhar aqui.”

Na terceira parte da entrevista, relacionada a “lembranças de um tempo”, quando

questionada sobre quais sentimentos estão relacionados aos anos que dedicou a

empresa, fica claro o papel da organização na vida desta funcionária, que como foi

falado entrou aqui temporário e como primeiro emprego, a partir disto fez da empresa

uma grande escola, aproveitando as oportunidades e crescendo junto:

“é pra mim sempre foi um aprendizado, quando eu entrei eu era menor de idade,

eu não tinha nem o segundo grau completo ainda, fui aprendendo muita coisa. Eu tenho

a empresa como uma escola mesmo sabe, porque eu aprendi e depois de eu aprender

tanto eu fui conseguindo passar pras pessoas também as coisas que eu sabia, então pra

mim é uma escola, assim é, eu acho que a pessoa se ela souber aproveitar as

oportunidades ou conseguir aproveitar as oportunidades né. Primeiro eu tentei me

preparar e depois seguir no que eu estou hoje, mas acho que é mais como uma escola

assim pra mim mesmo, tanto no lado pessoal como no lado profissional, acho que meu

lado como pessoa aprender a valorizar as pessoas, conseguir trabalhar em equipe, então

tudo pra mim foi um grande aprendizado mesmo, e até hoje está sendo.”

19

Quando questionada sobre fatos marcantes que ocorreram na empresa dignas de

serem guardados na memória, a entrevistada deixa claro que as grandes festas e

celebrações foram momentos que marcaram suas lembranças, referenciando um tempo

específico na empresa:

“É assim, a empresa tem muitos eventos né, isso é em tudo, então tipo eu guardo

quando o Boticário fez 22 anos, até porque, o Boticário começou em 1977 né, então eu

também tenho quase a mesma idade que ele, então assim tudo foi fases assim. Então eu

lembro que a gente comemorava vinte anos de empresa, vinte e dois anos sempre era

uma festa, então sempre teve a valorização destas pessoas de comemorar com a

empresa, não era uma coisa, só do administrativo que comemora, final do ano sempre

tinha as festas de confraternização, a gente era chamado pra comemorar também. Tem

os prêmios que a empresa ganhou também, hoje a empresa é a empresa mais amada do

Brasil, é a melhor franquia do mundo, então acho que comemoração sempre teve e eles

sempre colocavam os funcionários para participar desta comemoração, até hoje

colocam.”

É interessante notar a importância que os funcionários dão aos momentos de

confraternização, são momentos que marcam a vida pessoal, por ser uma época em que

a empresa era menor, e que os eventos envolviam todos os funcionários.

Em um dos momentos da entrevista, foi falado algo que é comum entre as três

entrevistadas; o conflito de gerações. Hoje a empresa está mudando rapidamente, de ano

em ano houve grandes transformações, coisa que ocorria com menor frequência há 15

anos, e a nova geração de funcionários está habituado a este cenário, o que muda

completamente a relação de lembranças e memórias, podemos perceber isto no relato a

seguir:

“Não, acho que assim, acho que aconteceu muita coisa boa assim, acho que o

que eu falei que as pessoas agora não são tão próximas né a gente tinha, por exemplo,

tinha uma festa aí todo mundo se conhecia, hoje a gente não consegue conhecer todo

mundo, tem uma rotatividade grande de pessoas, tem pessoas que vem com um gás

diferente do que os que estão aqui, que eu acho que isto as vezes é bom e as vezes não

porque as pessoas entram tipo muito pilhadas e assim acaba que você só está ali no dia a

dia e não valoriza tanto outras coisas né. Como tem na empresa né tipo um orgulho bem

20

grande de trabalhar aqui, de fazer parte, acho que é o sonho de varias pessoas que eu

falo, “aí você trabalha no boticário”, “aí que legal”, então sabe, indico pras pessoas

trabalharem aqui. Só que assim, você tem que correr atrás das coisas também, não é tão

fácil, há eu trabalhei na fábrica e não foi de um dia pro outro que eu consegui ir para um

cargo melhor (...)”

Com a realização destas entrevistas foi possível perceber a alegria e angustia

destas funcionárias em relação às mudanças estruturais que a empresa vem passando

nos últimos tempos, como foi dito, existe hoje um conflito de gerações, rotatividade e

maior fluxo de pessoas, o que nos faz pensar que a história que está sendo construída

hoje, com os novos colaboradores e a percepção destes, pode ser muito distante das

“memórias” construídas e guardadas pelos antigos funcionários, que tiveram a

oportunidade de ver a empresa crescer e se desenvolver em todos os sentidos.

Estas transformações estruturais e também de mercado, são fatores

determinantes para a formação de identidade e de pertencimento destes funcionários em

relação à organização que fazem parte, pois os valores e os signos latentes hoje, são

bem distintos do que era há 15 anos. Estas percepções só são possíveis com trabalhos

como este, de história oral, captando a memória de um tempo que ano a ano fica mais

distante da realidade do Grupo Boticário.

21

3. A IMPORTANCIA DA PRESERVAÇÃO DAS “MEMÓRIAS” INSTITUCIONAIS.

Organizações centradas em valores sabem da importância de contar sua história

e mantê-la permanentemente atualizada. São principalmente os fatos marcantes de sua

história que constroem o conjunto de valores que ajudam a definir os comportamentos

valorizados pela organização. As celebrações que resgatam a trajetória de uma empresa,

as grandes datas, as publicações históricas, prêmios, lançamentos, inovações e mesmo

os projetos de memória são momentos oportunos para uma organização definir sua

responsabilidade histórica. Quando se emprega a metodologia da História Oral, um

projeto previamente elaborado por historiadores orienta o processo de rememorar e

relembrar sujeitos históricos, ou mesmo de testemunhas da história vivida por uma

coletividade.

Desta forma, os depoimentos coletados tendem a demonstrar que a memória

pode ser identificada como processo de construção e reconstrução de lembranças nas

condições do tempo presente. Em decorrência, o ato de relembrar insere-se nas

possibilidades múltiplas de elaboração das representações e de reafirmação das

identidades construídas na dinâmica da história das empresas que investem nisto.

Portanto, a memória passa a se constituir como fundamento da identidade empresarial,

referindo-se aos comportamentos e mentalidades coletivas, uma vez que o relembrar

individual – especialmente aquele orientado por uma perspectiva histórica – relaciona-

se à inserção social e histórica de cada depoente.

Como foi apresentado no primeiro capítulo, a memória é história viva e vivida e

permanece no tempo, renovando-se através da memória coletiva, neste sentido, a

Memória Empresarial é uma solução de impacto para valorizar o trabalho dos

funcionários da corporação e seus colaboradores, pois possibilita uma visão da história

da empresa, de seus fatos e pessoas marcantes, com visibilidade, facilidade de acesso e

acima de tudo, com um olhar histórico e institucional. Permite também, de maneira

inovadora, a coleta de fatos a partir daqueles que vivenciaram ou ainda vivem a história

da empresa.

Historicamente a memória empresarial começa a ser pensada no início do

século 20, as companhias europeias são pioneiras na criação de serviços de arquivos

empresariais. Durante os anos 20, a Business School (EUA) cria a disciplina ‘História

22

Empresarial’, um estudo de biografias de empresários e da evolução das organizações.

Os países da Europa estão mais focados na preservação de arquivos. Entre os anos 40 e

60, a escola norte-americana passa a enfatizar processos de mudanças organizacionais,

utilizando análises multidisciplinares e transversais. Nos anos 70, na Europa, a “Nova

História” supera a análise econômica ortodoxa, trazendo à memória Empresarial a

dimensão do simbólico (empresa como produtora de significados sócio-culturais). A

Memória Empresarial começa a ser aplicada fora das universidades, por exemplo: Saint

Gobain (França).

No Brasil, historiadores ligados a universidades produzem os primeiros estudos

sobre a história de empresas nacionais, com destaque para o trabalho de José de Souza

Martins (Conde Matarazzo: O empresário e a empresa – 1967) Os historiadores

brasileiros sofrem a influência da nova história e da escola norte-americana e passam a

estudar, sob uma ótica multidisciplinar, a trajetória de empresas e instituições

brasileiras, com destaque para professora Maria Bárbara Levy, em seu estudo sobre a

bolsa de valores do Rio de Janeiro – 1977.

Já nos anos 80 e 90, os historiadores, documentaristas e outros profissionais da

informação ganham espaço no universo empresarial, é quando surgem as primeiras

agências de historiadores e corporate archivists nos Estados Unido. No Brasil, trabalhos

de Memória Empresarial são impulsionados pelo contexto de crise econômica,

implantação de programa de gestão pela qualidade e mudança de paradigmas em relação

ao mercado interno e externo. Há disseminação de projetos de “resgate” da história de

empresas que muitas vezes se limitam ao simples registro, na forma de publicações.

A partir do ano 2000 o Conceito de Memória Empresarial consolida-se como

ferramenta de suporte à gestão. A história organizacional, como apoio à reconstrução da

identidade institucional, passa a exercer papel estratégico em um mercado no qual os

produtos oferecidos são próximos em termos de qualidade e credibilidade, e investir na

identidade, imagem e reputação, revela-se como importante ativo das organizações, por

constituir-se em elemento de diferenciação no mercado. As organizações começaram a

perceber que o resgate das experiências passadas poderia contribuir com o crescimento.

Ao salientar a importância desse resgate para as empresas, Tânia Oliveira Pereira, em

seu estudo sobre a responsabilidade histórica e a memória institucional, utiliza um

relevante conceito de Nassar: “a exacerbação dos dispositivos tecnológicos e certa

padronização dos produtos e serviços, no ambiente competitivo, forçam as empresas a

23

buscar diferencial em um mercado cada vez mais igual. O conhecimento da história

pode dar pistas, inspirar e apontar novos caminhos” 24.

A partir desses conceitos, a memória organizacional constitui-se hoje em

importante instrumento da comunicação corporativa, revelando-se como ferramenta

para a gestão estratégica dos negócios. O resgate e a organização da história da empresa

evitam que os registros físicos do passado e das pessoas que vivenciaram os momentos

históricos sejam perdidos, considerando-se que, com eles, vão-se também a

compreensão dos processos passados e, consequentemente, de seus reflexos no presente.

Esta ação de preservação das “memórias pessoais” tem a intenção de evitar que o

conhecimento técnico vivido por antigos empregados, e os valores que marcaram o

inicio de uma cultura organizacional se distanciem da realidade do presente, além de

ajudar a fazer uma análise das diferentes épocas da empresa as relacionando com a

economia e os valores sociais de cada época. Ledesma, em seu estudo sobre a história

organizacional como estratégia de relações públicas destacou que:

“Ao implementar projetos de resgate histórico e

memória empresarial, a organização também desperta para

a necessidade de classificação e análise de todas as suas

informações, desde o surgimento da empresa. Informações

valiosas para o presente e o futuro da organização que tem a

oportunidade de conhecer sua trajetória de forma clara e

transparente, com erros e acertos”. (2006, p. 33-36)

Segundo Paulo Nassar, no livro Memória Empresarial, “em meio às

adversidades, as empresas e gestores que têm as suas trajetórias, realizações,

contribuições e atitudes bem posicionadas na sociedade podem contar com o apoio, a

compreensão e a solidariedade dos públicos sociais”. Isso porque um bom trabalho de

organização e de divulgação da memória empresarial destaca a relação da empresa e de

sua marca com a história do país e das regiões em que opera.

Por conta disto destacamos dois trabalhos realizados por grandes empresas para

valorização de sua memória e estratégia de negócio. O BNDES, por exemplo,

24 PEREIRA, Tania Mara. “A responsabilidade histórica e a memória institucional no fortalecimento da reputação corporativa”. Monografia de Conclusão de Curso – Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo., 2004, p.21

24

aproveitou a celebração dos 50 anos de existência para, em 2002, ampliar a divulgação

para os novos clientes e prestar contas à sociedade. Os produtos e cerimônias do projeto

memória objetivaram contribuir de forma expressiva para o fortalecimento de sua

imagem institucional. Um dos focos da instituição foi a possibilidade de demonstrar que

a atuação do BNDES impacta positivamente na qualidade de vida do brasileiro. Ciente

da importância de capitalizar conhecimentos e experiências, o BNDES deu início a um

amplo projeto de memória institucional. O projeto visou resgatar, preservar e divulgar a

trajetória e o papel do Banco no desenvolvimento econômico e social do país,

recuperando e contando essa história, o projeto objetivou criar condições para um

registro contínuo da memória da instituição, garantindo a gestão do conhecimento

corporativo. Em 2011 a BNDES contratou uma empresa especializada em memória

empresarial, que se responsabilizou pela pesquisa inicial, coleta de depoimentos e

consultoria na idealização de alguns produtos. Entre os produtos desse projeto, estava

previstos para 2012 um vídeo comemorativo para o aniversário de 60 anos do Banco,

uma exposição e um livro.25

Outro grande trabalho de investimento em memória organizacional foi o

Memória Votorantim, idealizado em 2002 para comemoração dos 85 anos do Grupo.

Para esta ocasião, foi realizado um amplo levantamento de documentos e diretrizes para

a composição do acervo tendo como apoio o Museu da pessoa. Em 2005 foi inaugurado

o centro de documentação no prédio histórico do grupo Votorantim, esta estrutura conta

hoje com biblioteca, reserva técnica e todos os recursos para os processos de gestão

documental. A memória Votorantim conta ainda com uma equipe técnica para manter

seu espaço, responsáveis por localizar, resgatar e preservar a memória do grupo e de

suas unidades de negócios por meio de diversas ações que visam a disseminação do

conhecimento.26

Mais do que organizar e catalogar documentos, é possível perceber que a tarefa

das empresas é também, fazer análises e estabelecer relações entre o passado e o

presente, sugerindo formas de explorar a história para um entendimento mais profundo

dos processos da instituição e do cenário em que está inserido. Construir a própria 25

Site:

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Relatorio_Anual_2011/Capitulos/atuac

ao_institucional/projeto_memoria.html. Acesso em 10.05.2014 26

Site:

http://www.memoriavotorantim.com.br/memoria_votorantim/Paginas/memoriavotorantim.aspx.

Acesso em 10.05.2014.

25

história de forma que envolva a participação das pessoas e que abranja as redes sociais

de relações para uma empresa é um desafio. Enfrentar este desafio é refletir sobre as

oportunidades para destacar a marca, a tradição e a responsabilidade histórica da

Empresa com seu público interno e externo.

CONCONCIDERAÇÕES FINAIS

Neste processo, a história oral tem grande importância e relevância, pois foca na

coleta e tratamento de depoimentos, visando à preservação do conhecimento intangível,

isto é, daquele conhecimento que está na cabeça e na experiência das pessoas. Este tipo

de projeto baseia-se na premissa de que a história de uma empresa resulte da história e

da contribuição de cada uma das pessoas que a compõem, ou que nela já atuaram. O

desafio é extrair, das gravações e entrevistas, dados capazes de gerar informação e,

consequentemente, conhecimento.

Colocadas em prática, essas ações de recuperação da história empresarial

formam um conjunto de um vasto material, que envolve sentimentos, lembranças, fatos

corriqueiros e diversos, outras maneiras de contar acontecimentos vivenciados por todos

os seus personagens. Por mais que alguns deles pareçam não muito relevantes, todos

fazem parte de um conjunto maior que, reunido, dá sentido à história da instituição,

trazendo à tona detalhes que podem ter sido esquecidos ou considerados irrelevantes,

mas que têm sua importância dentro de um contexto, principalmente para o protagonista

da história. Este sentimento foi perceptível no trabalho prático de entrevistas com

empregados do Grupo Boticário, em alguns momentos da entrevista foi possível

perceber a emoção no olhar e na fala nos momentos de rememoração. São nestes

momentos que percebemos a importância do trabalho de resgate de memória, pois mais

do que dedicação ao serviço ou técnica no ambiente do trabalho, os relatos nos

mostraram a relação de vida pessoal e vida social, as lembranças então se tornam parte

da vida, alegrias e tristezas são compartilhadas junto, história de vida e profissional se

misturam, tornando a história da instituição muito mais humana e verdadeira para quem

a expõe.

26

Com isto, as celebrações que resgatam a trajetória de uma empresa, as grandes

datas, as publicações históricas e mesmo os projetos de memória são momentos

oportunos para uma Empresa ou instituição marcar seu diferencial na sociedade. São

também excelentes momentos para construir uma identidade coletiva da Empresa,

ampliando a participação dos funcionários assim como o sentimento de pertencimento.

27

ANEXOS

Entrevista com Isabel Morone Barbosa

Projeto: Memórias Grupo Boticário

Entrevistado: Isabel Morone Barbosa

Data:10/05/2014

Entrevistador: Carolina Carteli da Silva

Transcrição/Digitação: Carolina Carteli da Silva

Revisão: Carolina Carteli da Silva

Autorização: Cedida em 10 de Maio de 2014, em anexo.

LEGENDAS

I.M.B .- Isabel Morone Barbosa

C.C.S – Carolina Carteli da Silva

(?) - Palavra ininteligível /Dúvida na grafia [palavras, nomes estrangeiros, etc, ]

( __ ) – Dúvida na reflexão

¨¨¨ - Pausa para reflexão

*** - Interferência: campainha, telefone, buzina, cachorro, áudio, etc.

[Risos ] [ Choro ], [etc]

28

ANEXO 01

C.C.S – memória Grupo boticário, roteiro de entrevista, parte I. 1° parte Identificação.

C.C.S - qual seu nome completo?

I.M.B - Isabel Morone Barbosa

C.C.S - sua data e local de nascimento?

I.M.B - 08 de Julho de 1957

C.C.S - nasceu aqui em São José dos Pinhais?

I.M.B – não, Bahia, baiana.

C.C.S - mudou-se para cá, quando?

I.M.B – É 39 anos, quando eu casei

C.C.S – qual sua profissão atual

I.M.B – Sou técnica em laboratório I

2° parte da entrevista. Começo na história de O Boticário.

C.C.S - Vamos começar agora falando da sua história aqui no Boticário. Em que ano você começou a trabalhar aqui na empresa?

I.M.B – 85

C.C.S – Como foi o processo de entrada, como você descobriu que o boticário existia?

I.M.B - Eu sempre passava aqui na frente, eu sempre tinha muita vontade de trabalhar aqui, eu sempre falava pras minhas filhas assim: “um dia a mãe vai trabalhar aqui no boticário” [emoção] E dai eu consegui o trabalho, foi muito bom, eu falava que minha meta de trabalhar aqui no boticário, era de um ano, falava: “eu trabalhando aqui no boticário, um ano ta bom”. Se vê vai fazer 29 anos, muito bom.

C.C.S -muito tempo, muita historia pra contar.

I.M.B – Tem muita historia

C.C.S – E como foi a entrada na empresa?

I.M.B – Eu nem acredite quando eu consegui, eles falaram pra mim, que tinha uma vaga, eu vim, eles falaram, “volta daqui uma semana”, quando foi no outro dia, eu tava

29

aqui, eu falei “não, eu quero trabalha”. Cheguei na portaria e falei pro segurança assim, eles me mandaram falar que é pra mim vim dai eu vim, se acredita que eu entrei e fui lá e já comecei, dai a coordenadora falou assim “não Isabel, amanha você começa a trabalha” e isso que era pra eu começar a trabalhar na outra semana e eu vim e comecei a trabalhar, eu nem acreditei quando falaram que eu podia começar a trabalhar no outro dia já, falei “nossa nem acredito”, foi muito bom.

C.C.S – E o que você pensava sobre a empresa, antes de conseguir a vaga aqui, quando você olhava pra ela qual era sua imagem?

I.M.B – Ah, eu pensava assim , que ela ia crescer muito, e eu queria trabalhar no boticário, e se vê, meu sonho foi realizado, eu escrevi uma carta quando entrei, e eu escrevi assim que meu sonho tinha sido realizado se já trabalhasse no boticário, então quer dizer, que eu realizei meu sonho trabalhando no boticário.

C.C.S – Você escreveu a carta no dia que entrou na empresa?

I.M.B –Escrevi uma carta, uma redação, escrevi uma redação falando do meu sonho realizado, eu vou começar trabalhar no boticário.

C.C.S – Que legal, mas era uma redação que eles pediam.

I.M.B –Eles pediam na hora que a gente entrava na empresa, eles pediam pra eu escrever uma redação, daí eu escrevi e coloquei, 29 anos atrás mas eu me lembro, meu sonho foi realizado, meu sonho de trabalhar aqui eu consegui.

C.C.S – A carta era pra você dizer o porquê queria trabalhar aqui?

I.M.B – É o porque que eu queria, e eu falei na carta que era meu sonho, era trabalhar no boticário

C.C.S – Que legal, e por quantos cargos você passou?

I.M.B – Eu entrei trabalhando na limpeza, e depois teve uma vaga no laboratório, eu não queria vim, dizia “não vô porque não entendo”, não conhecia nada da vidraria, daí minha chefe falou assim, “você vai, que eu sei que vc vai trabalhar bem” “mas eu não quero ir pro laboratório” “mas você vai, eu indiquei você”. Dai eu vim, falei “Se não der certo d. Carolina, eu posso voltar” daí eu podia voltar, mas eu vim e tô aqui ate hoje.

C.C.S –essa é a Carolina Zani?

I.M.B – não essa e a Carolina da limpeza

C.C.S – que e uma diretora tbm.

I.M.B – É mas ela e outra cartolina, a da limpeza, eu gostava de trabalhar na limpeza, fazia as faxina do banheiro, da portaria, eu gostava muito, e quando eu tinha tempo de sobra eu ia pra produção fazer hora extra.

30

C.C.S – por isso vc conhece tanto

I.M.B – Sim dai eu conhecia todos os coordenadores, que na época era o Ronaldo, o Osvaldo, Mário e o Valcir, daí eles me chamavam quando tinha hora extra pra trabalhar, na época tinha aquelas vans que levavam a gente pra casa, então era 9 horas da noite eles tavam me deixando na frente de casa, eu trabalhava na limpeza fazendo faxina, e depois eu ia pra produção, por isso que eu conheço bastante esses produto, eu passei por tudo.

C.C.S – E então a senhora entrou no laboratório e ficou lá?

I.M.B – Eu entrei no físico-químico e dai na época minha chefe de físico-químico saiu de licença, daí a nova chefe, começou a montar a microbiologia, e falou assim “Isabel, se quer ir pra micro comigo?” dai eu falei “ai Marisa, se que sabe”. Dai eu comecei a fazer as coisas da micro e da físico-químico, e na época era bem pequena a micro, então em 2 horas tinha que ter tudo pronto e eu cuidava do vidro da micro e da físico.

C.C.S – Sobre as lembranças de todo esse tempo, esses 29 anos trabalhando aqui, qual é o sentimento, que vem na sua cabeça, da sua vida dedicada aqui?

I.M.B – Muito bom, tudo que eu vi crescer, o dr. Miguel é uma pessoa muito boa, então ele merece, isso aqui pra mim não tem explicação cada dia que eu passo eu vejo assim, muito bom.

C.C.S – E você chegou a conhecer o dr. Miguel?

I.M.B – Ah sim, conheci, ele é uma pessoa muito boa e humana.

C.C.S – Antes no começo era mais fácil?

I.M.B – Mais fácil, a gente até sentava na mesma mesa pra almoçar junto no refeitório, antes era ali onde é a TI hoje, ele merece tá onde ele tá.

C.C.S – Você acha que ele é um referencial?

I.M.B – Ah ele é um referencial, uma pessoa que é boa e humana, merece crescer na vida.

C.C.S – Você guarda na memoria, algumas datas comemorativas da empresa que ficaram na lembrança?

I.M.B – Sim, todas as festas de final de ano, festas juninas, que a gente podia trazer a família, os filhos, marido, era muito bom.

C.C.S - E sempre teve essas festas?

I.M.B – sempre teve, agora que cresceu muito não da mas sempre teve

C.C.S – E memorias mais marcantes, que aconteceram aqui com alguém da empresa?

31

I.M.B – Tem muitas coisa, todas as coisas, as festas e tudo que eu vivi aqui dentro vai ficar na memoria, os produtos que são lançados, tudo fica na memoria da gente.

C.C.S – E no teu dia-a-dia, com as pessoas do teu setor, pois muitas pessoas devem ter passado pela sua vida.

I.M.B – Com certeza

C.C.S – E aconteceu alguma coisa marcante com essas pessoas, festas surpresas ou outras coisas?

I.M.B – Eu nunca gostei muito de festa surpresa e aniversario, eu sou tímida, mas elas faziam porque gostavam, tudo o que eu faço ali eu faço com amor, porque eu gosto do que eu faço, não importa o que seja, marca muito, lavar ou limpar, você faz bem feito, e eu vou sair daqui deitar a cabeça no travesseiro, e pensar que tudo que eu poderia fazer pela empresa eu fiz.

C.C.S – Você tem grandes amizades aqui?

I.M.B – Bastante amizades, poucas, mas de qualidade, hoje você tem que escolher ne aquela, aquela outra, como aqui, produto de qualidade e amizade de qualidade.

C.C.S – você considera os tempos de trabalho aqui na empresa como parte da sua vida, você estando aqui nesses 29 anos, você cresceu como pessoa e etc?

I.M.B – Sim, tudo que eu sei, porque eu vim da roça, então tudo que eu sei, eu aprendi aqui dentro e eu levo pra todos, minhas filhas, meus netos, tudo que eu aprendi aqui dentro eu levo pra casa.

C.C.S – Tudo que você aprendeu aqui você leva pra sua casa?

I.M.B – Sim e pra outras pessoas que eu converso também.

C.C.S – e se fosse pra você definir a empresa, desde que vc entrou a 29 anos e agora, como vc definiria, tua lembrança de como era e hoje, mudou alguma coisa.

I.M.B – Com certeza, você tem que mudar ne, se não fica pra traz, e essa empresa sempre foi boa e humana.

C.C.S – Você acha que esse lado humano não perdeu?

I.M.B –essa e a essência ne, não pode perder, eu nunca trabalhei em uma empresa que fosse tão humana quanto o boticário.

C.C.S – E tem mais alguma coisa que vc queira falar

I.M.B –Eu acho que eu falei tudo e mais um pouco, se fosse pra falar tudo ficaria falando o dia e a noite toda pq eu sou muito apaixonada pelo boticário

C.C.S – Você só guarda coisas boas?

32

I.M.B – Quando que eu ia pensar que ia sair daqui aposentada, eu não pensava, via os outros falando que iam sair daqui aposentadas e essas pessoas saíram, isso aqui e meu orgulho, sou orgulhosa disso aqui, tantos anos.

C.C.S – Vai ser uma memoria positiva?

I.M.B –com certeza, esse negocio de reserva agora, que eles tão fazendo, eu gosto eu sou muito pela natureza, eles são muito bons, tem que investir

C.C.S – Você conheceu o salto Morato?

I.M.B – Eu fui, acho muito legal, gosto muito. (...) eu já vi diretor que antes era funcionário que fabricava coisas aqui.

C.C.S – Você viu o crescimento

I.M.B – Você vê as pessoas que trabalhavam no manual e hoje são diretores, tem que vê pra acreditar, muito bom, o boticário levou muito tempo pra crescer, o que não cresceu em 27 anos cresceu em 3 ou 4 cresceu muito nesse tempo.

C.C.S – Você diz agora recente?

I.M.B – E foi assim, depois dos 27, foi assim.

ANEXO 02

Entrevista com Suzana Rauen Davet Sarmento

Projeto: Memórias Grupo Boticário

Entrevistado: Suzana Rauen Davet Sarmento

Data:10/05/2014

Entrevistador: Carolina Carteli da Silva

Transcrição/Digitação: Carolina Carteli da Silva

Revisão: Carolina Carteli da Silva

Autorização: Cedida em 10 de Maio de 2014, em anexo.

LEGENDAS

S. S.- Suzana Rauen Davet Sarmento

33

C.C.S – Carolina Carteli da Silva

(?) - Palavra ininteligível /Dúvida na grafia [palavras, nomes estrangeiros, etc]

( _ ) – Dúvida na reflexão

¨¨¨ - Pausa para reflexão

*** - Interferência: campainha, telefone, buzina, cachorro, áudio, etc.

[Risos ] [ Choro ], [etc]

C.C.S – Segunda entrevista Memória grupo Boticário, primeira parte identificação.

Nome completo?

S. S - Suzana Rauen Davet Sarmento

C.C.S - A sua data de nascimento?

S. S – 28 do 04 de 75

C.C.S – E a sua profissão atual?

S. S – Eu sou química industrial

C.C.S – É daqui de São José dos Pinhais?

C.C.S – Não, eu nasci em Ibaiti, no norte do Paraná, mas vim pra ca muito bebe então

me considero curitibana risos]

2° parte da entrevista. Começo na história de O Boticário.

CC – Então vamos falar sobre o começo de sua história no grupo boticário. Em que ano

você começou a trabalhar aqui?

C.C.S – 1997

C.C.S – E como foi o processo de entrada na empresa?

S. S – A vaga era para estagiária, eu tava no segundo ano da faculdade e aí uma menina

que trabalhava comigo e morava perto da minha casa falou “Há! Tem uma vaga lá no

34

boticário pra estagiário”. Daí eu estava num emprego, tava empregada, mas a vontade

de trabalhar aqui era tão grande, que eu larguei o emprego fixo pra vim pra cá pra ser

estagiária, e daí eu concorri com na época só tinha eu e mais uma menina que fazia

faculdade também junto com a gente. Porque não era um processo assim seletivo como

é hoje para estagio, era uma entrevista simples, eu a gerente e uma menina do RH e aí a

outra candidata. E entre eu e a outra, graças a Deus ficaram comigo né [risos]. E era

uma vaga pra estágio, e eu cheguei lá no meu emprego e pedi a conta do emprego fixo

que eu tinha, não era estabilidade porque, não tem estabilidade assim, mas era um

emprego fixo e eu larguei né pra vir fazer estágio aqui. Daí fiquei dois anos como

estagiária, era o período máximo né de estágio, e aí aquele medo né, vou ficar ou não

vou ficar, vou ser efetivada , não vou ser efetivada, mas aí eu fui, 14 de julho de 99, eu

fui efetivada.

C.C.S . – Qual que é a sua formação?

S. S – Química

C.C.S - E você entrou como estagiária de química?

S. S – Aham, como estagiária dentro do laboratório de microbiologia e daí no começo

todo mundo ficava, “a mas você faz química e tá na micro”. Tinha assim, uma

rivalidade né, porque quem trabalhava na micro tinha que ser biólogo ou farmacêutico e

aí eu era química e tava alí. E daí quando eu fui efetivada, eu fui efetivada pro físico-

químico, que as duas áreas sempre foram muito próximas né. Fui efetivada pro físico-

químico e ficava, “físico-micro”, dependendo de onde tivesse mais trabalho eu ia, mas

na micro mesmo, faz acho que mais de 10 anos que eu tô fixa só na micro. E daí fui

efetivada em 99 e tô aqui até hoje, em julho deste ano eu faço 15 anos.

C.C.S – E o que você pensava da empresa antes de conseguir esta vaga?

S. S – Eu já fazia curso técnico né antes de fazer faculdade, então, assim, todo mundo

que tá nessa área de química, farmácia e biologia quer trabalhar no boticário, né

“desdaquela” época até hoje, então como era a maior empresa deste ramo na nossa área

de estudo, era sempre aquele sonho né, “aí quero trabalhar no boticário, quero trabalhar

no boticário, porque lá deve ser muito bom”. E assim, tinha muito apelo de produto

natural né então era produtos naturais, estes frasquinhos com tampinha de madeira,

assim sabe, era tudo muito pro lado natural né. Daí eu falei “nossa eu preciso trabalhar

35

lá” [risos]. E aí foi nessa onda que eu entrei. Que sempre a vontade de trabalhar era

muito mais pela imagem que o grupo, que a marca né O Boticário passava né, de

produtos naturais, de produtos que não agridem a pele, de uma empresa que cresceu

aqui, que cresceu sendo regional, que esse apelo da marca tem, muito disso assim né de

ter começado aqui, não foi uma coisa que veio de fora, não é nada importado, foi uma

coisa que começou aqui. Acho que isso que da mais força assim.

C.C.S – E você passou por muitos cargos quando entrou aqui na empresa?

S. S – Não, eu trabalhei sempre em laboratórios, sempre como analistas, hoje eu tô

numa fase de gestão, também é analista, mas é uma analista dois e agora eu fico mais na

parte de gestão não faço mais análise, mas dentro do laboratório já passei pelos dois

laboratórios e já fiz as diversas atividades que tem dentro do laboratório, mas nunca

troquei muito de cargo, assim, fui estagiária, analista um e analista dois agora.

C.C.S - E sempre na mesma área assim?

S. S – Sempre na mesma área, sempre entre físico e micro e muito mais focado pra

microbiologia, mas sempre ali, não enjoa, não cansa, não da vontade de parar [risos]

C.C.S – porque é uma coisa que você gosta né?

S. S – Sim, eu gosto muito. Assim, muitas coisas mudaram, claro pelo crescimento do

grupo e tal, mas assim, nada faz perder a vontade, perder o entusiasmo de continuar

trabalhando.

3° parte da entrevista. Lembranças de um tempo.

C.C.S – E vamos falar então, das lembranças do tempo em que você trabalha aqui.

Qual sentimento vem a sua cabeça quando você pensa nos anos que dedicou a empresa?

S. S – É um sentimento, como eu falei é um sentimento que não tem como separar o

tempo que a gente passa aqui do pessoal né. então eu casei trabalhando aqui, fiz minha

casa, tive minhas filhas, viajei [fala emocionada]. Então assim, todo o tempo que eu

dediquei a empresa, a empresa também me deu isso como retorno né, então assim eu

nunca penso “aí eu trabalho mais pro boticário do que pra mim”. Sabe assim, o tempo

que foi dedicado aqui sempre foi recompensado, não só financeiramente, mas com

amizade com festa com comemorações com produtos, então assim em nenhum

36

momento o sentimento é de perder tempo, mas assim de tá crescendo junto assim, de eu

fazer parte do boticário e o boticário fazer parte de mim assim, porque não tem muito

como separar né.

C.C.S – e você guarda na lembrança datas comemorativas da empresa que te

marcaram?

S. S – então, as festas de final do ano que a gente tinha né, a gente entende que acabou

claro, porque como a empresa cresceu não tem mais como fazer como era pra todo

mundo, mas assim, as festas de final de ano sempre marcam. E a gente tinha muitas

comemorações aqui dentro, então por exemplo, semana da SIPAT27, e armavam uma

lona de circo ali no gramado e chamavam várias pessoas pra fazer palestras aqui dentro,

isso a gente tinha muito.

C.C.S – E era só para funcionário?

S. S – Só pra funcionários, só pra funcionários, mas aí parava tudo, para produção,

parava todo mundo. Teve uma vez que teve desfile de moda dos funcionários, uma vez

teve desfile a fantasia também, ia os funcionários lá no ateliê, faziam modelos sob

medida pra eles e iam lá na passarela e desfilavam, muitas palestras assim, de vários

assuntos que a gente presenciava, sempre nessa SIPAT né. Hoje tem uma tenda na saída

do refeitório e cada dia aborda um tema, mas na época como podia parar né, parava

produção parava laboratório, parava tudo. Então essa é uma parte bem marcante assim,

a gente ia todo mundo pra baixo de uma tenda e falava a semana inteira sobre temas

relacionados com segurança, e as festas de final de ano que com certeza vão ficar pra

sempre na memória [risos]. E aí as festas que a gente fazia no setor mesmo, tudo era

motivo pra comemoração. Hoje como tudo é muito maior, tudo é muito números assim

né, a gente ta num mundo globalizado que se a gente não correr atrás né tudo, então é

bem diferente assim, hoje a gente não consegue mais celebrar tanto né, então a gente tá

sempre unido e tal mas, assim parar o que tá fazendo pra fazer uma festa uma

celebração já não é mais tanto uma realidade né.

C.C.S – você acha que a carga de trabalho aumentou?

S. S – aumenta porque assim, hoje a gente é gruo né, então enquanto a gente trabalhava

pra uma marca hoje a gente trabalha pra quatro né. então assim, o grupo, a carga de 27

SEMANA INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO.

37

trabalho aumentou, mas também aumentaram também muito o numero de pessoas né,

mas assim essa parte de “ai que tudo é festa”, “tudo vamos comemorar”, a gente que

acabar deixando um pouco de lado porque afinal de contas a gente está aqui para

trabalhar [risos]. Então assim, tudo era muita festa, tudo era muita celebração, isso hoje

em dia a gente já ve que é um pouco diferente.

C.C.S – E quais as memórias mais marcantes deste tempo, pode ser a memória do que

aconteceu na tua vida, como você falou né, você casou aqui, teve filhos aqui...

S. S – É memória, (...) nossa tem muita coisa, tem essa entrevista que saiu na revista ano

passado com minha fotinha, que eu guardei com muito carinho, e que lá eu falava né

que meu casamento eu usei perfume do boticário, ai que bonitinho [risos]. Então essa é

uma parte bem marcante e no, acho que faz uns três anos, uns três ou quatro anos atrás,

eu ganhei um premio também que era do portal de inovação né, que a gente dava uma

ideia, plantava uma árvore lá com nosso nome a gente ganhava um premio, essa

também é uma ideia “tem uma árvore lá com meu nome” [risos]. E este programa não

existe mais, assim e era muito bom também, assim que eu ganhei o programa saiu do ar

e disseram que estava sendo reformulado, mas a gente nunca mais ouviu falar dele, mas

essa é uma parte muito marcante também.

C.C.S – você literalmente vai ficar pro resto da vida aqui? [risos]

S. S – é eu literalmente vou ficar, tem uma árvore lá que já está dando frutos, sempre

que eu passo lá dou uma olhadinha nela e tá lá meu nome plantadinho e já ta dando

fruto.

C.C.S - você considera os anos de trabalho na empresa como parte de sua história de

vida?

S. S – Sim, sim, porque até hoje na minha família, meus amigos, é a Suzana do

boticário né, acaba que vira meio que sobrenome da gente né, e assim, as minhas filhas

tem muito orgulho de falar “ai minha mãe trabalha no boticário” [emocionada], então

assim, com certeza faz parte da vida, não tem muito como separar né, a gente passa

mais tempo aqui do que em casa e com certeza faz, vai ficar pra sempre marcado.

C.C.S – e como você define a empresa quando entrou à 15 anos atrás e agora depois

de tantos anos? Mudou muita coisa?

38

S.S – É muita coisa assim, como a gente tá aqui a muito tempo, as pessoas que ve de

fora é a Suzana do boticário, só que a gente que está aqui a gente ve muita mudança,

essa parte que eu te falei, que era muita mais comemoração, a gente conseguia ser muito

mais amigo, não tinha tanta competição, isso pra mim é a parte que mais mudou né, a

gente entende que claro, precisa tem que acompanhar o mundo, tem que acompanhar os

negócios, mas é uma parte bem marcante. A criação do grupo, foi também uma parte

que mudou a cara da empresa, mas eu acho que essa parte humana que eles sempre se

preocupam com a natureza, conservação, mas essa preocupação que eles tem com o

funcionário, de aleitamento pras mães, de colégio pras crianças, associação, a gente ve

que não são todas as empresas, então eu acho que este lado humano assim é super rico.

Mas claro a gente entende que, mas eu acho assim que pra acompanhar o mundo

corporativo mesmo né. que mudou, mudou, claro que se tivesse que escolher entre hoje

e como era no passado, no passado era melhor no sentido de ser mais humano, mas

talvez se a empresa não tivesse mudado ela não tava no patamar que está hoje né, não da

para ser sempre tao paternalista uma empresa tao familiar né. mudou assim, mas não da

pra dizer que foi deixado de lado esta parte humano do grupo.

C.C.S – e você como pessoa, você acha que cresceu aqui?

S. S – eu acho que sim, porque olha eu entrei aqui eu estava no segundo ano da

faculdade, então eu falo que eu não sei fazer nada quando eu sair daqui, eu só sei

trabalhar aqui [risos], nunca trabalhei em outro lugar, tive um ano só de um outro cargo

lá, mas assim com certeza a gente aprende muito, a gente tem que se virar, tipo assim, a

empresa vai crescendo você tem que ir crescendo junto, então se antes você fazia um

relatório, hoje você tem que fazer dois, três, quatro, cinco junto, antes a carinha do

relatório era mais simplisinha, hoje você já tem que sabe, estar sempre acompanhando

nas novas tecnologias tudo, então a gente cresce a medida que a empresa cresce

também. Porque se a gente não correr atrás, se não tiver sempre atualizado a gente fica

pra trás, então com certeza a gente cresce junto.

C.C.S – então eu acredito que seja isto. Tem mais alguma coisa que você queira dizer?

S. S – não, só desta parte do orgulho mesmo, assim né todo mundo tem muito orgulho

do boticário, as pessoas de fora né, família, filhos, tudo, só isso. [Emoção].

C.C.S – Obrigada.

39

ANEXO 03

Entrevista com Suzana Rauen Davet Sarmento

Projeto: Memórias Grupo Boticário

Entrevistado: Marisa da Silva Ferreira

Data:18/09/1977

Entrevistador: Carolina Carteli da Silva

Transcrição/Digitação: Carolina Carteli da Silva

Revisão: Carolina Carteli da Silva

Autorização: Cedida em 10 de Maio de 2014, em anexo.

LEGENDAS

M.S.- Marisa da Silva Ferreira

C.C.S – Carolina Carteli da Silva

(?) - Palavra ininteligível /Dúvida na grafia [palavras, nomes estrangeiros, etc.

( _ ) – Dúvida na reflexão

¨¨¨ - Pausa para reflexão

*** - Interferência: campainha, telefone, buzina, cachorro, áudio, etc.

[Risos ] [ Choro ], [etc]

40

C.C.S – Terceira entrevista Memória grupo Boticário. Primeira parte, entrevista de

identificação. Seu nome completo?

M.S– Marisa da Silva Ferreira.

C.C.S – data de nascimento

M.S– 18 do 09 de 77

C.C.S – Sua profissão atual

M.S– sou analista de marketing digital

C.C.S – e seu local de nascimento

M.S– Curitiba, Paraná

C.C.S – Segunda parte da entrevista, começo da história em O Boticário. Então vamos

falar sobre a o começo da sua história no grupo boticário, em que ano você começou a

trabalhar aqui na empresa.

M.S– Eu comecei a trabalhar em setembro de 1995.

C.C.S – E como foi o processo de entrada

M.S– Eu entrei como temporária, na área de produção, como auxiliar industrial, fiquei

três meses e depois fui efetivada na produção mesmo e fiquei por uns cinco anos na

fábrica em produção de hidroalcoolicos.

C.C.S – E o que você pensava da empresa antes de vir trabalhar aqui. Qual que era sua

imagem daqui.

M.S– Há, não tinha muito assim referencias porque como eu era muito nova também, O

boticário foi meu primeiro emprego eu ouvia as pessoas falarem “ai meu sonho é

trabalhar no boticário”. Mas eu era muito nova, ainda não tinha assim muita percepção

41

de importância de uma empresa, como era meu primeiro trabalho eu ainda não tinha

uma referencia também, mas eu ouvia falar super bem da empresa assim, que era uma

empresa que tinha bastante futuro aqui em São José, que era uma empresa de cosmético

e perfumaria, mas eu não tinha ainda esse sonho de trabalhar aqui.

C.C.S – E desde o ano que você entrou, você passou por muitos cargos aqui.

M.S– Passei, então eu comecei como temporária, auxiliar industrial, daí eu fui

efetivada, daí depois eu fiquei é, fiquei daí na fábrica na linha de produção uns três

anos, daí fui para área de DPC, que era devolução de produtos do consumidor. Então a

gente analisava os produtos que o consumidor devolvia, tipo bala quebrada de batom,

daí a gente analisava o que acontecia com aquele produto e mandava pro laboratório

fazer uma análise mais profunda e a gente enviava o produto novo pro consumidor. Aí

nessa área eu fiquei mais dos anos, aí após isso surgiu uma vaga pra fazer um estágio na

biblioteca, daí eu fiz este estágio na biblioteca, fiquei lá, acho que uns oito anos, não

acho que uns dez anos na biblioteca, aí trabalhei com a memória de O Boticário, depois

eu fui analista na área de web, trabalhei na área de e-comerce, cuidando do site do

Boticário, e depois agora no meu cargo atual que é na área de marketing digital, que é

mídia sociais, que é facebook, twiter e também uma parte do site, mais uma área de

comunicação.

C.C.S – Quando você entrou você já planejava este caminho ou foi aparecendo.

M.S– Não, não, foram surgindo oportunidades e eu não tinha é, eu sabia que eu não

queria ficar muito tempo trabalhando na produção, aí eu já comecei a pensar em ir pra

outro setor administrativo, né fazer outras coisas, a começar a ter uma carreira. Então eu

terminei o meu segundo grau, aí eles ajudavam a pagar os estudos aí eu consegui uma

bolsa de estudo, daí eu fui fazer a faculdade, antes disto eu também fui fazer um curso

técnico de informática, e daí foi surgindo oportunidades fazendo estágio eu fui

começando a ter um sonho maior de seguir uma carreira né e daí isso foi acontecendo.

Essa área que eu to hoje, eu não fazia ideia do que era isso, trabalhar com internet, daí

foi surgindo as oportunidades e eu fui achando que valia a pena indo e estou até hoje

nesta área.

42

C.C.S – Então vamos para a terceira parte da entrevista. Lembranças de um tempo.

Vamos falar sobre as lembranças do tempo que você trabalha aqui. Qual o sentimento

que vem na sua cabeça quando você pensa nos anos que dedicou a empresa, nestes anos

todos que você está aqui o que que você diz assim deste tempo.

M.S– É, pra mim sempre foi um aprendizado, quando eu entrei eu era menor de idade,

eu não tinha nem o segundo grau completo ainda, fui aprendendo muita coisa. Eu tenho

a empresa como uma escola mesmo sabe, porque eu aprendi e depois de eu aprender

tanto eu fu conseguindo passar pras pessoas também as coisas que eu sabia, então pra

mim é uma escola, assim é, eu acho que a pessoa se ela souber aproveitar as

oportunidades ou conseguir aproveitar as oportunidades né. Primeiro eu tentei me

preparar e depois seguir no que eu estou hoje, mas acho que é mais como uma escola

assim pra mim mesmo, tanto no lado pessoal como no lado profissional, acho que meu

lado como pessoa aprender a valorizar as pessoas, conseguir trabalhar em equipe, então

tudo pra mim foi um grande aprendizado mesmo, e até hoje está sendo.

C.C.S – E você guarda na lembrança datas comemorativas da empresa que marcou a

sua vida

M.S– É assim, a empresa tem muitos eventos né, isso é em tudo, então tipo eu guardo.

Quando o boticário fez 22 anos, até porque eu, o boticário começou em 1977 né, então

eu também tenho quase a mesma idade que ele, então assim tudo foi fases assim. Então

eu lembro que a gente comemorava vinte anos de empresa, vinte e dois anos sempre era

uma festa, então sempre teve a valorização destas pessoas de comemorar com a

empresa, não era uma coisa, só do administrativo que comemora, final do ano sempre

tinha as festas de confraternização, a gente era chamado pra comemorar também. Tem

os prêmios que a empresa ganhou também, hoje a empresa é a empresa mais amada do

Brasil, é a melhor franquia do mundo, então acho que comemoração sempre teve e eles

sempre colocavam os funcionários para participar desta comemoração, até hoje

colocam.

C.C.S – E destas lembranças o que mais marca você são as comemorações assim, ou

tem outro tipo de lembrança que marcou sua vida.

43

M.S - Não, acho que o que mais marcou pra mim foi eu ter terminado os meu estudos,

que foi é, então tudo pra mim foi é, eu fui crescendo com a empresa né, eu entrei aqui

menor de idade, aí minha cabeça mudou eu sou outra pessoa hoje e eu consegui que este

crescimento eu fui acompanhando com a empresa né, as coisas novas que iam

acontecendo pra fora daqui no mercado, então tudo foi acho que pra mim o que marcou

mais foi esse crescimento mesmo, foi quando eu terminei a faculdade, depois quando eu

fui trocando de área, acho que pra mim isso foi fundamental não ficar numa área só,

aprendendo coisas novas, então acho que isso foi mais o meu desenvolvimento

profissional mesmo.

C.C.S – E em relação ao seu desenvolvimento profissional tem relação com a sua vida

também. Estas coisas que aconteceram aqui marca você como pessoa.

M.S– Há com certeza, não sei se talvez eu não tivesse ficado aqui, não tivesse tido

outras oportunidades que eu tive aqui eu não sei como que seria em outro lugar, eu não

sei onde eu estaria hoje por exemplo.

C.C.S – Então você considera os anos de trabalho na empresa como parte de sua

história de vida.

M.S– Há com certeza, com certeza faz parte da minha história, não tem como não fazer

faz parte mesmo.

C.C.S – E como que você define a empresa no ano que você entrou e agora depois de

tantos anos assim, você acha que mudou muita coisa.

M.S– Eu acho que mudou, acho que assim é na época que eu entrei a empresa era bem

menor, eu acho que as pessoas se conversavam mais, eu acho que hoje as pessoas

conversam bastante também, mas a gente tem até uma tecnologia né que não tinha

antigamente, então as pessoas se falam muita mais por e-mail, por telefone, antes eu

acho que As pessoas conversavam mais pessoalmente, era um ambiente mais é, como

que eu posso dizer, muito familiar assim. Eu fiz muitos amigos que hoje eu não tenho

tantos amigos assim de ir na casa, de conversar como era antes, porque era uma empresa

pequena, eu acho que hoje tem muita vantagem da empresa ter crescido, mas acaba que

eu acho que as pessoas tão muito correndo no dia a dia e você não consegue ter este

relacionamento tão direto com as pessoas né. Eu acho que a própria empresa tá bem

44

grande, acho que também outros valores foram entrando como o profissional, acho que

o pessoal foi ficando mais de lado, mas eu acredito que com certeza tem as suas

vantagens e desvantagens né, mas eu acho que na época que eu entrei a gente tinha um

laço mais forte assim com os funcionários, com os colegas de trabalho e com toda a

empresa mesmo.

C.C.S – E você tema intenção de permanecer aqui, pensando no seu futuro.

M.S– Eu tenho, é, as vezes eu penso em ver outras coisas não porque eu esteja

insatisfeita com a empresa, mas eu não sei como que seria, porque como é meu primeiro

emprego eu tenho um pouco de assim, acho que eu tenho uma bagagem bem boa assim,

eu tenho muita coisa pra compartilhar em outro lugar, mas eu não consigo enxergar

como que seria talvez em uma empresa de outro segmento, não sei. Mas claro que um

dia eu vou ter que seguir pra outra coisa assim, mas no momento eu não tenho planos

assim de sair, eu tenho mais planos de desenvolver aqui dentro mesmo do que fora.

C.C.S – Então acho que é isso, você tem mais alguma coisa pra dizer nestas memórias

suas.

M.S – Não, acho que assim, acho que aconteceu muita coisa boa assim, acho que o que

eu falei que as pessoas agora não são tão próximas né a gente tinha, por exemplo, tinha

uma festa aí todo mundo se conhecia, hoje a gente não consegue conhecer todo mundo,

tem uma rotatividade grande de pessoas, tem pessoas que vem com um gás diferente do

que os que estão aqui, que eu acho que isto as vezes é bom e as vezes não porque as

pessoas entram tipo muito pilhadas e assim acaba que você só está ali no dia a dia e não

valoriza tanto outras coisas né. Como tem na empresa né tipo um orgulho bem grande

de trabalhar aqui, de fazer parte, acho que é o sonho de varias pessoas que eu falo, “aí

você trabalha no boticário”, “aí que legal”, então sabe, indico pras pessoas trabalharem

aqui. Só que assim, você tem que correr atrás das coisas também, não é tão fácil, há eu

trabalhei na fábrica e não foi de um dia pro outro que eu consegui ir prum cargo melhor,

não, e também não desvalorizo as pessoas que trabalham na fábrica, acho que elas têm

um valor bem grande porque tudo sai dali né, se elas não forem valorizadas, então tudo

é uma escadinha né, então tem que sair dali e eu acho que cada um tem que ficar num

lugar que acha que se da melhor né, tem mais, como que eu posso dizer, que você acha

que é aquilo que você quer fazer na vida, e você é o resultado que você faz,

45

independente se você é da fábrica, se você é dum laboratório, se você é de uma área

mais administrativa, então é e correr atrás porque eu acho que oportunidade tem, então é

só você saber aproveitar né, e acho que é isso. É que assim é tanta coisa que você não

consegue lembrar de tudo.

C.C.S - Então é isso, obrigada.

46

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1990. p.4 ALBERTI, Verena, Manual de História Oral, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio vargas, 1990. BRAGA, Paula Lou Ane Matos e FREITAS, Fabiano Junqueira de. “Questões introdutórias para uma discussão acerca da história e da memória”, Revista Histórica, Ed 13, Agosto, 1996 COSTA, Icléia Thiesen Magalhães. Memória Institucional: a construção conceitual numa abordagem teórico-metodológico. Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Ciências da Informação, UFRJ, Rio de Janeiro, 1997., p.134. FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (org). Usos & Abusos da História Oral. Fundação Getúlio Vargas, 1. Ed, 1996. p. XVI HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. (Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro) 3. ed. Rio de Janeiro. DP&A, 1999. p.03

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 2003. pp. 477

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 03

PEREIRA, Tania Oliveira. A Responsabilidade Histórica e a Memória Institucional no Fortalecimento da Reputação Corporativa: Caso Odebrecht. Monografia em Comunicação Social. USP, 2007.

PEREIRA, Tania Mara. “A responsabilidade histórica e a memória institucional no fortalecimento da reputação corporativa”. Monografia de Conclusão de Curso – Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo., 2004, p.21

STROHSCHOEN, Ana Maria. Um estudo sobre como algumas empresas da região trabalham seu histórico: o que pode ser memória institucional no contexto destas práticas. In:. UNIrevista - Vol. 1, n° 3 – julho, 2006.

SANTOS, Sônia Maria dos. ARAÚJO, Osmar Ribeiro. HISTÓRIA ORAL: VOZES, NARRATIVAS E TEXTOS. Cadernos de História da Educação, n. 6 – jan./dez. 2007. THOMSON, Alistair. “Aos cinquenta anos: Uma perspectiva internacional da História Oral” In. FERREIRA, Marieta de Moraes, FERNANDES, Tania Maria e ALBERTI,

47

Verena (org). História Oral desafios para o século XXI. Fundação Getulio Vargas, 1998, p. 48. Sites: BNDS; http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Relatorio_Anual_2011/Capitulos/atuacao_institucional/projeto_memoria.html. Acesso em 10.05.2014 Grupo Boticário; www.grupoboticario.com.br, acesso em 11.05.2014 às 11:00h Memória Votorantim; http://www.memoriavotorantim.com.br/memoria_votorantim/Paginas/memoriavotorantim.aspx. Acesso em 10.05.2014.