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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE ALISSON RODRIGO NOVAKI COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA-PIOMETRA DE CÉRVIX FECHADA NA ESPÉCIE CANINA CURITIBA 2016

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/04/COMPLEXO-HIPERPLASIA... · Visconde do Rio branco, número 808 bairro Mercês, Cidade de Curitiba

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

ALISSON RODRIGO NOVAKI

COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA-PIOMETRA DE CÉRVIX

FECHADA NA ESPÉCIE CANINA

CURITIBA

2016

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

ALISSON RODRIGO NOVAKI

COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA-PIOMETRA DE CÉRVIX

FECHADA NA ESPÉCIE CANINA

CURITIBA

2016

ALISSON RODRIGO NOVAKI

COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA-PIOMETRA DE CÉRVIX

FECHADA NA ESPÉCIE CANINA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do Titulo de Médico Veterinário. Orientador (a): Profº Diogo da Motta Ferreira

CURITIBA

2016

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Prof. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel Santos

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Dr. Wellington Hartmann

CAMPUS PROF. SYDNEI LIMA SANTOS

Rua: Sydnei Antônio Rangel dos Santos, 238- Santo Inácio

CEP: 82.010-330-Curitiba-PR

Fone: (41) 3331-7700

TERMO DE APROVAÇÃO

ALISSON RODRIGO NOVAKI

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título de Médico Veterinário por uma banca examinadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 07 de novembro de 2016

____________________________________________________

Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná

____________________________________________________ Orientador: Professor Msc.MV Diogo da Motta Ferreira Universidade Tuiuti do Paraná ______________________________________ Profª Dra. Silvana Krychak Furtado Universidade Tuiuti do Paraná ______________________________________ Profº Msc.MV João Filipe Scheffer Pereira Universidade Tuiuti do Paraná

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e aos meus irmãos que sempre me

apoiaram e fizeram acreditar que vale a pena todo o

esforço; também para a minha namorada e futura médica

veterinária Isabella, pois nós dois sabemos que vai dar tudo

certo.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter me acompanhado nessa

jornada e me dado forças para nunca desistir.

Em especial aos meus pais, que investiram nos meus estudos e confiaram em

mim, pois se não fossem eles eu não estaria passando por este momento hoje.

Meus irmãos que sempre me ajudaram no que fosse preciso.

Ao meu orientador profissional, Dr. Paulo A. Miranda e a meu orientador

acadêmico, professor Diogo da Motta Ferreira, que possibilitaram ampliar

meus horizontes muito mais do que poderia esperar, concluindo o que fui

percebendo durante esses cinco anos, de que o Médico Veterinário é e sempre

será o profissional mais completo que existe.

A todos os outros professores, profissionais e colegas. Por mais que não

saibam desta pequena lembrança, foram grandes alicerces da construção de minha

formação tanto profissional como pessoal, e que com certeza são exemplos que

procurarei seguir durante minha futura carreira.

E tambem em especial aos grandes amigos que fiz nessa longa jornada

Raphael Assis e Tânia Setti, sei que vou poder contar com vocês sempre.

Por último e não menos importantes aos meus cães Shaya, Luna e Endy que

sempre estiveram ao meu lado e me fizeram companhia em todos os momentos e

durante as incansáveis noites de estudo e sem dúvidas foram muito importantes na

escolha da minha profissão.

“De Tudo Ficam Três Coisas:

A certeza de estarmos sempre começando...

A certeza de que é preciso continuar...

E a certeza de que podemos ser

Interrompidos antes de terminarmos... Portanto...

Devemos: Fazer da interrupção um caminho novo...

Da queda um passo de dança...

Do medo uma escada...

Do sonho uma ponte...

Da procura um encontro...”

E assim terá valido a pena existir

Fernando Sabino

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso (T.C.C) apresentado ao Curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti

do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário no

qual contém um relatório de estágio, que está composto pelas atividades realizadas

pelo acadêmico Alisson Rodrigo Novaki durante o período de 08 de agosto a 14 de

outubro de 2016, na Clínica Veterinária São Franscico de Assis, situada na cidade de

Curitiba, Paraná, na rua Visconde do Rio Branco, número 808, uma revisão

bibiliográfica e um relato de caso sobre piometra.

Palavras-chave: cadela, piometra, hiperplasia endometrial cística

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Fachada da Clínica veterinária São Francisco de Assis ..............16

FIGURA 2 – Recepção .....................................................................................17

FIGURA 3 – Consultório 1 ................................................................................17

FIGURA 4 – Consultório 1 ................................................................................18

FIGURA 5 – Consultório 2 ............................................................................... 18

FIGURA 6 – Consultório 2 ............................................................................... 19

FIGURA 7 – Internamento ................................................................................19

FIGURA 8 – Centro cirúrgico ............................................................................20

FIGURA 9 – Sala de pós operatório .................................................................20

FIGURA 10 – Sala de procedimentos odontológicos .......................................21

FIGURA 11 – Sistema reprodutor feminino ......................................................25

FIGURA 12 – Ciclo Estral das Fêmeas caninas .............................................. 28

FIGURA 13 – Utrassonografia paciente do caso clínico ..................................42

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Distribuição da frequência de atendimentos clínicos durante o estágio

na clínica São Francisco de Assis no período de 08/08 a 14/10/2016

..........................................................................................................................22

GRÁFICO 2 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio…24

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Classificação dos atendimentos por especialidades clínicas........23

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

b.i.d – Duas vezes ao dia (bis in die)

E. coli – Escherichia Coli

FC – Frequência cárdiaca

FR – Frequência respiratória

FSH – Hormônio Folículo estimulante

GnRH - Hormônio liberador de gônadotrofina

IRA – Insuficiência renal aguda

LH – Hormônio Luteinizante

IM – Intramuscular

IV – Intravenoso

KG – Quilograma

Mcg – Micrograma

Mg – Miligrama

Ml – Mililitro

OSH – Ovariosalpingohisterectomia

PGF2α – Prostaglandina F2α

q.i.d – quatro vezes ao dia ( quater in die)

s.i.d – Uma vez ao dia (semel in die)

SC – Subcutâneo

SIRS – Sindrome da resposta inflamatória sistemica

U.S - Ultrassonografia

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................15

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ......................................................15

2.1. Descrição das atividades ........................................................................ 21

2.2. Relato casuístico .......................................................................................22

3 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................... 25

3.1 O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ..................................................25

3.1.1 Ovários ................................................................................................... 25

3.1.2 Tubas uterinas ....................................................................................... 26

3.1.3 Útero ...................................................................................................... 26

3.1.4 Vagina ................................................................................................... 27

3.1.5 Vulva ..................................................................................................... 27

3.2 Ciclo Estral ............................................................................................... 27

3.3 Piometra. .................................................................................................. 34

3.4 Incidência ................................................................................................. 34

3.5 Fisiopatologia ........................................................................................... 35

3.6 Agentes etiológicos .................................................................................. 36

3.7 Sinais clínicos ........................................................................................ 37

3.8 Diagnóstico ............................................................................................. 38

3.9 Diagnósticos diferenciais ........................................................................ 38

3.10 Tratamento ............................................................................................ 39

4 CASO CLÍNICO ......................................................................................... 41

5 Discussão do caso clínico........................................................................... 43

6 Considerações finais .................................................................................. 45

7 Referências bibliográficas ........................................................................... 47

15

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas

durante o período de estágio curricular que proporcionou o aprimoramento dos

conhecimentos adquiridos durante o decorrer da graduação e relatar as atividades

realizadas durante o período de estágio curricular obrigatório do aluno Alisson Rodrigo

Novaki, realizado na Clínica Veterinária São Francisco de Assis. Localizada na Rua

Visconde do Rio branco, número 808 bairro Mercês, Cidade de Curitiba Paraná, no

período de 08/08/2016 a 14/10/2016. O estágio foi realizado no setor de Clínica

Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a orientação profissional do médico

veterinário Paulo Alfredo Miranda (CRMV – PR 0632) e acadêmica do professor Diogo

da Motta Ferreira.

O trabalho demonstra, por meio de gráficos e tabelas, os casos clínicos

acompanhados e, ainda, relata um caso de piometra em cadela associado a uma

revisão sobre o mesmo tema.

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A clínica veterinária São Francisco de Assis foi fundada em fevereiro de 1982

pelos médicos veterinários Carlos Roberto de Assis e Paulo A. Miranda, egressos da

Universidade Federal do Paraná – Turma de 1974.

Á época, devido a um trabalho ético, focado no bem estar dos animais de

estimação, cuja maioria era canina, houve o início da criação de uma clínica médica

e uma clínica cirúrgica, baseadas em técnicas avançadas e em constante atualização.

Desde a criação da clínica, os médicos veterinários sempre procuraram

especializar-se em suas áreas.

Atualmente, os médicos veterinários Carlos Roberto de Assis, Paulo Miranda,

Flávio Dias Miranda e Paulo Augusto Carvalho de Assis atuam ativamente na clínica,

a qual já possui uma infraestrutura sólida, capaz de atender desde consultas de rotina

16

até cirurgias de alta complexidade, oferecendo internamentos, vacinas, serviços

odontológicos, acupuntura, homeopatia, exames cardiológicos e diagnóstico por

imagem.

Funciona 24 horas por dia, com atendimentos aos sábado, domingos e

feriados. Possui uma equipe que conta com quatro médicos veterinários, cinco

enfermeiros, três médicos veterinários plantonistas, três estagiários, duas

recepcionistas e uma auxiliar de limpeza.

Inicialmente, a recepcionista dá o suporte de encaminhamento dos animais ao

consultório médico veterinário. Durante o atendimento, o acadêmico do curso de

medicina veterinária pode acompanhar os procedimentos realizados pelo médico,

dentre outras atividades realizadas na clínica veterinária.

A clínica possui boa localização e oferece estacionamento próprio para clientes.

(figura 1)

FIGURA 1 – Fachada da clínica veterinária São Francisco de Assis

A clínica conta com uma área de recepção com um balcão de atendimento,

cadeiras de espera e uma pequena farmácia (figura 2)

FIGURA 2 – Recepção da clínica veterinária São Francisco de Assis

17

No que se refere ao atendimento clínico, possui dois consultórios estando ambos

preparados para receber tanto cães como gatos e ainda disponibiliza de ambiente

para internamento de pacientes (figuras 3, 4, 5 6 e 7)

FIGURA 3 – Consultório I da clínica veterinária São Francisco de Assis

18

FIGURA 4 – Consultório I da clínica veterinária São Francisco de Assis

FIGURA 5 – Consultório II da clínica veterinária São Francisco de Assis

19

FIGURA 6 – Consultório II da Clínica veterinária São Francisco de Assis

FIGURA 7 – Sala de internamento da clínica veterinária São Francisco de Assis

20

A clínica oferece um amplo serviço no que se diz respeito a cirurgias, realizando,

desde as mais simples e de caráter eletivo até as mais complexas. Conta com sala de

pós operatório e monitoração dos pacientes operados. (Figura 8 e 9)

FIGURA 8 – Centro cirúrgico da clínica veterinária São Francisco de Assis

FIGURA 9 – Sala de pós-operatório da clínica veterinária São Francisco de Assis

Também realiza serviços odontológicos sendo que existe uma sala exclusiva para

esses tipos de procedimentos (figura 10)

21

FIGURA 10 – Sala de procedimentos odontológicos da clínica veterinária São

Francisco de Assis

2.2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES.

Todo processo se deu na clínica São Francisco de Assis, localizada à Rua

Visconde do Rio Branco, 808, no bairro Mercês, em Curitiba – PR, totalizando

quatrocentas horas, dividida em oito horas diárias, de segunda a sexta feira, pelo

período da manhã à tarde – das 8h às 17 h -, durante (08/08/2016 a 14/10/2016).

Quanto ás atividades, houve acompanhamento de consultas, cirurgias, exames

e procedimentos clínicos. Na clínica médica foram acompanhadas consultas

generalistas sob a orientação de um médico veterinário. As atividades desenvolvidas

no internamento incluíram desde a realização de exame físico nos pacientes até

monitoramento pós – cirúrgico e controle de parâmetros clínicos. No setor cirúrgico,

houve acompanhamento de pré, trans e pós-operatório, com participação auxiliar do

cirurgião.

22

2.3 RELATO CASUÍSTICO

Foram acompanhados 263 animais, 144 procedimentos cirúrgicos, 80

consultas e 39 procedimentos clínicos.

A distribuição de clínica médica e clínica cirúrgica será descrita por meio de

tabelas, referentes à quantidade de atendimentos clínicos, classificação dos

atendimentos por especialidade clínica e procedimentos cirúrgicos como mostra os

gráficos 1 e 2 e a tabela 1.

GRÁFICO 1 – Distribuição da frequência de atendimentos clínicos durante o estágio

na clínica São Francisco de Assis de 08/08 a 14/10/2016

No gráfico 1 foram computados todos os animais que passaram pela clínica

desde o inicio da atividade de estágio curricular obrigatório. Nota-se que a maioria dos

animais atendidos foram cães e também 1 chinchila.

Na tabela 1 são verificados os casos diagnosticados e acompanhados durante o

período de estágio obrigatorio.

9%

90%

1%

Atendimentos

21 Gatos

215 Cachorros

1 Outros

23

Relação dos diagnósticos dos animais acompanhados durante o estágio na área de

clínica médica de pequenos animais (tabela 1).

TABELA 1: Classificação dos atendimentos por especialidades clínicas

ATENDIMENTOS NÚMERO DE CASOS

AFECÇÕES DO SISTEMA GASTROINTESTINAL

53

AFECÇÕES DO SISTEMA TEGUMENTAR

29

AFECÇÕES DO SISTEMA UROGENITAL

23

AFECÇÕES DO APARELHO LOCOMOMOTOR

18

AFECÇÕES DO SISTEMA ENDÓCRINO E

METABÓLICO

14

AFECÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

9

AFECÇÕES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

8

AFECÇÕES DOS ORGÃOS DOS SENTIDOS

7

DOENÇA HEMATOLÓGICAS

4

DOENÇAS HEMATOLÓGICAS 4

TOTAL 168

24

GRÁFICO 2 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio

47%

22%

18%

6%

4%

3%

67 Castrações

32 Cirurgiasoncológicas

26 Cirurgiasortopédicas

8 cirurgiasurogenitais

6 cirurgiasoftálmicas

5 Outras

25

COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA-PIOMETRA DE CÉRVIX

FECHADA NA ESPÉCIE CANINA

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

O sistema reprodutivo feminino divide-se em ovários, tubas uterinas e útero,

presos por folhetos largos de peritônio originados na parte dorsal da cavidade

abdominal.

Na figura 11 é possivel observar como se localizam as estruturas do sistema

reprodutor feminino.

FIGURA 11 – ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR DA FÊMEA CANINA

Fonte: Horst E. K; Hans. G. L. Anatomia dos animais domésticos. Texto e atlas colorido - 4ª edição,

Editora Artmed, 2011.

Os ovários das cadelas são ovais, achatados e possuem cerca de 1,5 cm de

comprimento em uma cadela com 20kg. Estão próximos da parede abdominal e dos

polos caudais dos rins. Os ovarios das cadelas são completamente envolvidos por

uma bolsa peritoneal, a bolsa ovariana (SLATTER, 2003).

26

Os ovários têm duas funções principais: produção de células reprodutivas e de

hormônios (estrógenos e progestágenos) (BASSERT e COLVILLE, 2008).

3.1.2 Tubas uterinas

São pequenos tubos contorcidos que se estendem das extremidades dos

cornos uterinos, a tuba uterina se liga aos cornos uterinos através da papila tubária

(DYCE et al, 1991). A sua função é guiar o óvulo do ovário para o útero e proporcionar

um local para a fertilização do óvulo pelo espermatozoide (BASSERT e COLVILLE,

2008).

São orgãos pares, sustentados pela mesossalpinge. A extremidade cranial

recebe o ovócito liberado na ovulação e é denominado de infundíbulo da tuba uterina.

Sua superfície interna possui pregas da mucosa e na sua margem estão as fímbrias

tubáricas que se unem parcialmente á superfície do óvario. O infundíbulo da tuba

uterina possui pregas dispostas radialmente, formando o óstio abdominal da tuba

uterina estabelecendo o contato entre a cavidade peritoneal e o meio externo. Após o

infundibulo, observa-se uma pequena dilatação da tuba uterina chamada de ampola,

sendo o lugar onde ocorre a fecundação. O istmo é mais estreito e contorcido e une-

se ao corno uterino, é a porção que situa-se junto ao útero e conduz o ovócito ao corno

uterino (KONG e LIEBICH, 2004).

3.1.3 Útero

O útero consiste em cérvix, corpo e dois cornos uterinos. Em uma cadela de 10

kg os cornos uterinos apresentam, em média 10 a 14 cm de comprimento e 0,5 a 1

cm de diâmetro (SLATTER, 2003).

O útero é o local onde o óvulo fertilizado se implanta e permanece enquanto

cresce e se desenvolve em um novo animal. Quando o feto estiver totalmente

desenvolvido o útero ajuda a empurra-lo para fora pelo canal de nascimento até o

ambiente externo.

Fisicamente o útero é um orgão muscular oco. Em animais domésticos comuns,

ele tem uma forma parecida com um y, com o corpo do útero formando a base do y e

os dois cornos úterinos formando os braços. O corpo do útero estende-se na direção

caudal, ao final unindo-se a cérvix, na sua extremidade caudal. Os dois cornos

27

uterinos projetam-se cranialmente. Os oviductos estendem-se das extremidades dos

cornos uterinos. Todo orgão é suspenso da parte dorsal do abdome pela parte

mesentérica do ligamento largo (BASSERT e COLVILLE, 2008).

A cérvix é a “valvula” muscular que veda o útero do ambiente externo. É um

esfíncter forte de músculo liso localizado entre o corpo do útero e a vágina. Serve para

controlar o aceso entre o lumen do útero e a vagina (BASSERT e COLVILLE, 2008).

3.1.4 Vagina

A vagina é o tubo que recebe o pênis no momento do acasalamento, e age

como canal de parto, no momento do nascimento. É um tubo muscular que se estende

caudalmente ao cérvix e conecta-se a vulva (BASSERT e COLVILLE, 2008).

3.1.5 Vulva

A vulva é a única parte do sistema reprodutivo feminino que pode ser vista no

meio externo. As suas porções principais são o vestíbulo, o clitóris e os lábios vulvares

(BASSERT e COLVILLE, 2008)

3.2 Ciclo estral

Em todos os animais domésticos comuns, o acasalamento ocorre apenas

durante um período definido em cada ciclo reprodutivo, quando é maior a chance de

uma gestação bem sucedida. Este período, em que a fêmea está receptiva ao macho,

é denominado período de cio, ou estro (BASSERT e COLVILLE, 2008)

O ciclo estral se trata do momento entre o início de um cio e o começo de outro.

É controlado pelos hormônios da adenohipófise (FSH e LH) (FELDMAN, E.C., 1987).

Estes hormônios estimulam a atividade nos ovários, fazendo com que uma ou

mais células reprodutivas (óvulos) amadureçam e sejam liberadas. Também

estimulam a produção de hormônios pelo foliculo em ovulação. Os estrógenos e os

progestágenos são diretamente responsáveis pelas alterações físicas e

comportamentais na fêmea associadas ao ciclo estral (BASSERT e COLVILLE, 2008).

28

Na figura 12 é possivel visualizar os acontecimentos que ocorrem durante o ciclo estral

das fêmeas caninas.

FIGURA 12: Ciclo estral das fêmeas caninas.

Hormônio liberador de gônadotrofina (GnRH). Liberado de uma forma

intermitente no hipotálamo. Alcança a hipófise anterior através de uma circulação

sanguínea (portal) especializada. Age nas células produtoras de hormônio folículo

estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), para estimular a sua produção e

liberação; pensa-se que as diferenças na qualidade do pulso selecionam a liberação

de FSH ou LH. O efeito nos receptores é transitório porque a afinidade de ligação é

baixa; o GnRH é rapidamente liberado pelos receptores e metabolizado (ALLEN, W.

Eduward, 1995)

Hormônio folículo estimulante (FSH). É uma gonadotrofina produzida e

liberada pela glândula pituitária anterior. É responsável pela estimulação do

crescimento dos folículos ovarianos. Os fatores que iniciam a sua liberação não são

conhecidos. As concentrações circulantes não são bem documentadas nas fêmeas

caninas (ALLEN, W. Eduward, 1995).

29

Hormônio luteinizante (LH). É uma godatrofonina produzida e liberada da

glândula pituitária. É liberado de forma pulsante. O aumento da freqüência dos pulsos

ocorrem 1 a 2 semanas antes do início do pró-estro. Estimula a maturação,

luteinização e ovulação dos folículos ovarianos. As concentrações circulantes se

elevam rapidamente até alcançar um pico em aproximadamente 48 horas antes da

maioria das ovulações (as ovulações podem ocorrer por um período de 72 horas).

Este pico ocorre geralmente no final do pró-estro ou inicio do estro (ALLEN, W.

Eduward, 1995).

Estrógenos.

Hormônios esteróides produzidos na fêmea pelos folículos em crescimento. As

concentrações circulantes sofrem uma pequena elevação por poucos dias antes do

início do pró-estro. Ocorre uma elevação em platô nas concentrações séricas

tardiamente, resultando num pico de aproximadamente 48 horas antes do

aparecimento do LH. Os estrogênios determinam as alterações que ocorrem no pró-

estro (ALLEN, W. Eduward, 1995).

Progesterona

É um hormônio esteróide produzido pelos folículos maduros e corpo lúteo. As

concentrações circulantes começam a se elevar quando do pico de estrógeno, o

hormônio é produzido pelas células da granulosa luteinizantes nos folículos

maduros.Os valores plasmáticos sofrem elevação constante e estão

significativamente aumentados na ocasião da ovulação. As concentrações máximas

são alcançadas em aproximadamente 20 dias após o término do estro, se a fêmea

estiver prenhe ou não. Ocorre um declínio gradual nos valores até tornarem-se basais

aproximadamente 60-70 dias após a ovulação (ALLEN, W. Eduward, 1995).

Prolactina

Produzida e liberada pela glândula pituitária anterior. Atua na glândula mamária

(mediada pela ação de estrógenos e progesterona) para estimular a produção láctea.

As concentrações sanguíneas geralmente sofrem elevação a medida que as

concentrações de progesterona caem, embora em algumas ocasiões a progesterona

possa estimular a liberação de prolactina. Em algumas fêmeas a prolactina determina

sinais de pseudoprenhez (ALLEN, W. Eduward, 1995). Em fêmeas as concentrações

sanguíneas de prolactina estão muito elevadas por algum tempo após o parto. A

30

prolactina também é luteotrófica (mantém a função do corpo lúteo) (CONCANNON, P.

W; 1986)

Prostaglandinas

A produção espontânea de prostaglandina pelo útero não e responsável por causar a

lise do corpo lúteo, como nas outras espécies. O corpo lúteo parece se tornar não

funcional gradualmente devido a pouco suporte trófico (possivelmente LH e ou

prolactina) ou por ter uma vida média inerente. A prostaglandina causa a lise final do

corpo lúteo da gestação que neste período produz pouca progesterona comparado

com o início (ALLEN, W. Eduward, 1995).

As cadelas são diéstricas e seu ciclo, geralmente, ocorre na primavera e no

outono (BASSERT e COLVILLE, 2008).

Quanto aos estágios do ciclo estral, o primeiro denomina-se proestro, período

no qual ocorrem alterações físicas que visam preparar o animal para ovolução e o

acasalamento. Também ocorre o desenvolvimento folicular e liberação de estrogênio

do folículo (BASSERT e COLVILLE, 2008).

Duração: Aceita-se que o início seja correspondente ao aparecimento de

sangramento vaginal, ou ainda outros sinais como mudança de comportamento da

fêmea, atração de machos e intumescimento vulvar, e termina quando a cadela

permite que o macho monte e cruze. A média de duração é de 9 dias, podendo ocorrer

variações normais de 1-2 até 25 dias (BASSERT e COLVILLE, 2008).

Sinais clínicos: A fêmea desencoraja qualquer tentativa de montar do macho,

rosnando, fugindo, mostrando os dentes ou até mesmo mordendo. Observa-se

também que a cadela costuma manter a cauda fortemente pressionada contra o

períneo (FELDMAN, E.C., 1987).

Tipicamente o proestro é associado com descarga vaginal sanguinolenta, mas

nem sempre esta ocorre. Esse sangramento é resultante de diapedese de hemáceas

e ruptura de capilares subepiteliais, devido às rápidas mudanças que ocorrem no

endométrio em resposta à secreção folicular de estrógeno. A vulva aumenta de

tamanho com o decorrer do proestro, com edema e inchaço dos lábios vulvares

(FELDMAN, E.C., 1987).

31

Anatomia vaginal e uterina : A mucosa vaginal no anestro é relativamente frágil,

formada por apenas poucas camadas de células. O aumento dos níveis de estrógeno

no proestro causa uma rápida multiplicação do número de camadas de células da

mucosa vaginal, que se observada à vaginoscopia apresenta-se mais espessa e

pregueada. A ampliação do número de camadas celulares acaba afastando as células

luminais cada vez mais do suprimento sangüíneo, resultando na morte dessas células.

Essa nova conformação torna o tecido muito menos sensível e menos frágil, não só

pelo aumento das camadas mas também através do desenvolvimento de precursores

de queratina nessas células, prevenindo assim traumatismos durante a cópula

(FELDMAN, E.C., 1987).

Sob os efeitos do estrógeno e progesterona, a mucosa uterina passa por

mudanças semelhantes, o endométrio se prepara para a implantação através de um

marcante aumento da espessura da parede uterina e da atividade glandular. Essas

mudanças podem estar associadas inicialmente a presença de algum sangramento

(DRAZNER, F.H., 1987).

O segundo é o estro, período de receptividade sexual da fêmea, no qual se dá

o pico dos níveis de estrógenos do folículo maduro; o nível alto desse hormônio

provoca alterações físicas e comportamentais que sinalizam disposição para o

acasalamento (BASSERT e COLVILLE, 2008).

A fase estral inclui o tempo durante o qual a cadela permite que o macho a

monte e fecunde (BASSERT e COLVILLE, 2008).

Mudanças hormonais: a concentração de estrógeno alcança um pico 1 ou 2

dias antes do começo do estro. A cadela, geralmente, começará a exibir sinais de cio

somente quando a concentração de estrógeno circulante (uma vez elevada) está

declinando. O declínio da concentração de estrógeno é um reflexo do final do processo

de maturação do folículo, muitos dias antes da ovulação (FELDMAN, E.C., 1987).

Simultaneamente com o declínio dos níveis de estrógeno, as células do folículo

ovariano começam a luteinizar-se e secretar progesterona. A combinação do aumento

da concentração plasmática de progesterona e do declínio da concentração de

estrógeno estimula: a mudança do comportamento da cadela, deixando de ser

contrária à cobertura, e sim procurá-la ativamente; e realiza forte “feedback” positivo

para o hipotálamo e pituitária, resultando numa onda de secreção do hormônio

32

folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH) no começo dos sinais de

cio (FELDMAN, E.C., 1987).

As células luteinizadas, capazes de sintetizar e secretar progesterona, são

funcionais antes do desenvolvimento do corpo lúteo. Estas células causam o início da

elevação da concentração de progesterona, associada ao começo dos sinais de cio.

Um efeito deste aumento de progesterona é a intensidade e a duração do

comportamento estral (BIRCHARD,S.J.; SHERDING,R.G., 1994)

A onda de LH inicia a ovulação dentro de 24 a 48 horas, e depois desta, há a

formação do corpo lúteo. Os níveis de progesterona continuam aumentando na

circulação durante estes dias; e com o desenvolvimento do corpo lúteo funcional, a

concentração de progesterona aumenta ainda mais, por um período de 1 a 3 semanas

(FELDMAN, E.C., 1987).

Sinais clínicos: maior receptividade ao macho; podem agachar-se ou elevar o

períneo para o macho. Qualquer pressão realizada sobre ou próximo à parte inferior

das costas causará o desvio da cauda para um lado e uma tensão dos membros

traseiros para suportar o peso do macho durante a monta (FELDMAN, E.C., 1987).

A cadela pode atrair machos a uma longa distância, devido à presença de

potentes feromônios (DERIVAUX, J., 1980).

Na sequência, o metaestro, refere-se ao período pós-ovulação (que pode

começar no estro). As células da granulosa remanescentes no folículo vazio começam

a se multiplicar sob estímulo do LH e produz, com isso, o corpo lúteo que fica do

mesmo tamanho do folículo maduro. A progesterona, gerada no corpo luteo, inibe o

desenvolvimento folicular no ovário temporariamente, o que torna o revestimento

uterino espesso e adequado na preparação para a implantação do óvulo fertilizado,

provocando a perda do revestimento epitelial cornificado que surgiu na vagina durante

o proestro e o estro (BASSERT e COLVILLE, 2008).

O diestro refere-se ao estágio luteal, em que o corpo lúteo maximiza seus

efeitos e atinge o maior tamanho. Dessa forma, em caso de gestação, o corpo lúteo

recebe um sinal endócrino do embrião e permanece até o período de gestação acabar

(BASSERT e COLVILLE, 2008). Diestro é definido como o período compreendido

33

entre a parada do estro até o tempo durante o qual a progesterona é secretada pelo

corpo lúteo (ALLEN, W. Eduward, 1995).

Mudanças hormonais: A concentração de progesterona no plasma eleva-se

acima da concentração basal (>0,5ng/ml) 72 a 96 horas antes da ovulação. Depois da

ovulação, o desenvolvimento do corpo lúteo ocorre na cavidade folicular, formando

uma fonte contínua para manter a concentração plasmática de progesterona elevada.

O pico da concentração de progesterona é originado desse corpo lúteo e é geralmente

atingido 20 a 30 dias após a ovulação. Esta secreção máxima ocorre

aproximadamente 2 a 3 semanas depois do início do diestro. Um platô da

concentração de progesterona persiste por 1 a 2 semanas. A concentração de

progesterona nesse momento é muito maior que a concentração basal, normalmente

chegando a 15 a 60 ng/ml (FELDMAN, E.C., 1987).

Sinais clínicos: O diestro começa quando uma cadela previamente receptiva

abruptamente recusa a aceitar a monta de um macho. Ela pode também não ser mais

atrativa para os machos. A vulva retorna ao normal ou ao tamanho anéstrico e não é

mais flácida. Basicamente, não há nenhuma diferença clínica quando comparada com

uma cadela em anestro (considerando-se uma cadela não prenhe) (FELDMAN, E.C.,

1987).

O quinto estágio estral é o anestro, o qual se refere ao período de inatividade

ovariana. Ocorre em animais monoestros, diestros e poliestros (BASSERT e

COLVILLE, 2008).

De acordo com o Prestes, os sintomas podem aparecer isoladamente ou

circundados de outros sistemas orgânicos. Prestes ainda afirma que “disturbios locais

e aqueles de ordem metabólica podem influenciar sobremaneira as manifestações do

aparelho reprodutor feminino” (PRESTES, 2016). Entre as patologias propícias a

ocorrerem no sistema reprodutor feminino, estão a hiperplasia endometrial cística e a

piometra. (Tilley e Smith Jr, 2015). “A hiperplasia endometrial cística se trata de uma

alteração patológica progressiva no revestimento uterino mediada por via hormonal”.

Alguns autores afirmam que a piometra é conseqüência da Hiperplasia Endometrial

Cística mas segundo Nelson e Feldman (2004), há duas hipóteses, em relação à

piometra, que estão sendo discutidas, onde uma sugere que a piometra é precedida

pela HEC em uma fase inicial da doença e a outra indica que a piometra possa ocorrer

34

na ausência da HEC, sendo assim independente da HEC e conforme estes autores,

o uso de estrógeno exógeno aumenta a sensibilidade dos receptores uterinos à

progesterona.

3.3 PIOMETRA

A piometra é caracterizada pela inflamação do útero com acúmulo de exsudato,

a qual ocorre na fase lútea do ciclo estral (Coggan et al., 2004; Smith, 2006). No diestro

ocorre uma hipertrofia/hiperplasia do endométrio, estimulada pela progesterona e,

subsequentemente, uma invasão bacteriana (Weiss et al., 2004). Trata-se de uma das

enfermidades mais comuns do trato genital das fêmeas caninas (Pretzer, 2008;

Goericke-Pesch et al., 2010).

3.4 Incidência

Considerando-se as enfermidades que afetam o trato reprodutivo da cadela, a

piometra é uma das condições patológicas mais severas, sendo responsável por um

índice elevado de mortalidade quando não diagnosticada precocemente (OLIVEIRA,

2007).

A doença acomete geralmente animais de meia-idade ou idosas (PRESTES et

al,1991), podendo também ocorrer em fêmeas jovens que utilizarem tratamentos

hormonais prévios ou que apresentarem doenças hormonais intercorrentes (TROXEL

et al., 2002). Deve-se desconfiar de piometra em qualquer cadela não castrada,

independente da idade, que apresente sinais característicos da patologia durante ou

imediatamente após o estro (FELDMAN,1996). Entretanto não se pode desconsiderar

fêmeas castradas, pois esta podem apresentar piometra de coto. Essa patologia é

rara e acontece devido a uma infecção bacteriana da porção remanescente do corpo

do útero após a ovariosalpingohisterectomia (MELLO & SANTOS, 1999). Através de

exames clínicos feito em em 85 fêmeas, foi evidenciado que a existência de tecido

ovariano funcional após a histerectomia parcial ou total pode induzir à instalação de

uma hiperplasia cística endometrial e infecção do coto do útero (MELLO & SANTOS,

1999). Essa patologia é de difícil diagnóstico, sendo a ultra-sonografia, o método mais

eficaz, não invasivo para diagnosticá-la (FELDMAN, 1996).

35

3.5 Fisiopatologia

Piometra é um distúrbio do diestro mediado pela progesterona. A doença é

causada por uma infecção bacteriana dentro do útero que resulta em bacteremia e

toxemia que variam de discretas a intensas, envolvendo risco de vida. Cadelas de

mais idade comumente desenvolvem uma condição denominada hiperplasia

endometrial cística (HEC) (ETTINGER & FELDMAN, 2004).

Os efeitos da progesterona são cumulativos e a cada ciclo estral as

anormalidades uterinas se mostram de forma mais intensa (DOW, 1959; DE

BOSSCHERE et al., 2001).

Acredita-se que está condição resulte de uma resposta exagerada e anormal

do endométrio à exposição crônica e repetida à progesterona (ETTINGER &

FELDMAN, 2004). Não se sabe por que algumas fêmeas apresentam esta resposta

patológica, e outras não. As concentrações séricas de progesterona são similares em

cadelas saudáveis e cadelas com mucometra, HEC e piometra. Existe uma relação

entre a presença da HEC e o desenvolvimento da piometra, entretanto a HEC não

necessariamente evolui para piometra (JOHNSON, 2009). Segundo observado por De

Bosschere e colaboradores (2001) a HEC e a piometra podem se desenvolver de

forma independente e apresentam características clínicas e histopatológicas

diferentes, sugerindo que devem ser definidas como entidades diferentes. Segundo

Feldman, é extremamente rara a ocorrência de piometra em uma cadela que não

esteje submetida à influência da progesterona; isto é, a piometra praticamente sempre

se desenvolve durante o diestro (ETTINGER & FELDMAN, 2004).

Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da piometra são:

HEC, bactérias, diestro/elevação na concentração sérica de progesterona e

administração exógena de estrógenos e progesterona (FELDMAN &

NELSON, 1996).

Sob a influência estrogênica, a cérvix se abre, o que permite a entrada de

bactérias da microbiota normal da vagina para o lúmem uterino. Os produtos da

secreção das glândulas, inicialmente estéreis, contêm nutrientes e pH favoráveis ao

crescimento bacteriano, e com a diminuição da resposta inflamatória, o processo de

piometra se instala (OLIVEIRA, 2007). Além disso, elevam o número de receptores de

progesterona (MAX & JURKA, 2006). Essa ação de estrógenos pode explicar porque

36

há maior ocorrência de piometra em cadelas que recebem administração de

estrogênio com o intuito de evitar a gravidez (HEDLUND, 2005).

Existem duas síndromes distintas da piometra: (BASSERT e COLVILLE, 2008).

A cadela idosa: Cadelas com idade superior a 7 ou 8 anos é predisposta à HEC

e piometra subsequente (BASSERT e COLVILLE, 2008).

A cadela mais jovem: É improvável que a HEC seja a causa da piometra na

maioria das cadelas com idade inferior a 6 anos. Não ocorreu exposição repetida do

crônica à progesterona nessas cadelas. Contudo, há uma forte correlação entre a

incidência de piometra em cadelas jovens e a administração de estrógenos para evitar

a prenhez (BASSERT e COLVILLE, 2008).

3.6 Agentes etiológicos

Bactérias têm acesso ao útero via ascendente durante a dilatação cervical que

ocorre no estro. As bactérias encontradas em úteros saudáveis e em úteros de

cadelas com piometra são representativas da flora normal da vagina e da cérvice

(BOJRAB, 2014). A bactéria mais comumente isolada em casos de piometra canina é

a Escherichia coli (Coggan et al, 2008). Em um estudo feito por (Jitpean et al, 2014) a

E. Coli foi isolada no útero de 25 de 31 cadelas representando (81%) que se aproxima

dos números relatados por (FELDMAN, 1996), que são de até 96%.

Certo sorotipos de E.coli são mais comumente associados à piometra,

indicando que essas cepa podem ter maior virulência ou podem se originar de uma

infecção concomitante do trato urinário. A presença do antígeno K é uma caracteristica

comum em isolados de E. Coli de casos de piometra. Adicionalmente, cerca de 50%

dos isolados de E. Coli de casos de piometra contém fator necrosante citotóxico

(CNF), o que reduz a integridade do epitélio endometrial. Outras Bactérias menos

comuns isoladas de casos de piometra incluem Streptococcus sp; Enterobacter sp,

Proteus sp, Klebsiella sp e Pseudomonas sp (BOJRAB, 2014).

37

3.7 Sinais clínicos

Segundo SMITH (2006) , a piometra pode ser de cérvix aberta ou fechada. Se

a cérvix encontrar-se aberta, há corrimento vaginal e os cornos uterinos não estarão

muito dilatados. Nestes casos as paredes do útero encontram-se espessadas, com

hipertrofia e fibrose do miométrio. Por outro lado, se a cérvix estiver fechada, o útero

estará distendido e as paredes uterinas delgadas. O endométrio estará atrofiado.

Os sinais clínicos mais frequentes, comuns as duas formas clínicas, são apatia

anorexia e emese (HAGMAN et al; 2006).

Os sinais clínicos que podem ser encontrados nas fêmeas afetadas são

letargia, anorexia, depressão, poliúria, polidipsia, vômito, diarréia, perda de peso,

presença de corrimento vulvar (em piometras abertas) e desidratação. Poliúria e

polidipsia pode ser encontradas em até 60% das fêmeas com piometra (TROXEL et

al., 2002).

A temperatura corpórea é variável, frequentemente está normal, mas pode

apresentar um aumento por causa da infecção bacteriana, secundária, septicemia ou

toxemia (CHEN, ADDEO e SASAKI, 2007).

A conseqüência de uma piometra de cérvix fechada é septicemia, pois acumula

grande quantidade de pus dentro da luz uterina e tende a tornar os animais mais

deprimidos e intoxicados. Em caso de septicemia ou toxemia, as principais

manifestações são taquicardia, preenchimento capilar prolongado, pulso femoral fraco

e temperatura retal reduzida (ETTINGER e FELDMAN, 2004).

Quando a piometra é aberta, a secreção vaginal é o principal sínal clínico

(FERREIRA, 2006; HAGMAN et al., 2006).

Os sinais podem progredir para choque ou morte (FERREIRA, 2006),

principalmente devido a insuficiência renal aguda (IRA), outra importante evolução

que pode levar a morte é a sepse (FERREIRA, 2006).

(ETTINGER e FELDMAN 2004) sugerem significativas alterações dos

parâmetros constituintes do sangue das cadelas enfermas: a anemia por depressão

da medula óssea causada pela endotoxemia; a leucocitose com neutrofilia

regenerativa nos casos subagudos e crônicos e leucopenia com desvio à esquerda

nas endotoxemias graves e agudas; as alterações bioquímicas do soro sanguíneo

hipercolesterêmica, hiperbilirrubina e elevação da atividade enzimática da fosfatase

38

alcalina e lactato desidrogenase; em casos de desidratação há aumento do volume

globular.

Na avaliação hepática, observam-se níveis elevados de fosfatase alcalina (FA),

geralmente com mais freqüência em animais anoréxicos ou obesos, devido à

hipercolesterolêmia atribuída ao catabolismo e à septicemia. Pode se detectar

hiperproteinemia e hiperglobulinemia por desidratação e/ ou estimulação antigênica

crônica do sistema imune (ETTINGER, 2004; OLIVEIRA et al, 2007).

3.8. Diagnóstico

Normalmente, o diagnóstico de piometra se dá com base na anamnese, exame

físico e exames complementares como exames laboratoriais (hemograma, função

renal, hepática e urinálise), radiográficos e ultrassonográficos (FELDMAN e NELSON,

1996; SLATTER, 1998).

Deve-se levar em consideração que os sinais da piometra podem não ocorrer

concomitantemente, uma vez que a piometra é uma doença multifacetada. De toda

forma, os sintomas são apenas indicativos. A suspeita deve ser considerada para

qualquer cadela não castrada com manifestações clínicas durante ou imediatamente

após o estro, independente da faixa etária (SLATTER, 1998; ETTINGER, 2004).

Uma das formas mais seguras de se identificar a piometra é por meio de

exames ultrassonográficos sendo o exame de escolha (GONZALES et al., 2003).

Ultrassonografia oferece informações mais precisas do diagnóstico, sendo

possivel ter as dimensões, graus de espessamento de parede, presença ou não de

cistos e de conteúdo no interior do útero e para verificar o estado dos rins (FELDMAN

e NELSON, 1996; SLATTER, 1998).

A urinálise pode revelar isostenúria causada por redução da capacidade de

concentração e proteinúria causada por danos glomerulares por imuno-complexos ou

por nefropatia pré existente (FELDMAN e NELSON, 1996).

3.9. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico de piometra normalmente é realizado sem maiores

complicações, porem em alguns casos, as manifestações clínicas são tão

39

inespecíficas que comprometem o diagnóstico, induzindo descartar a piometra e

pensar em outras afecções com manifestações parecidas (MARTINS, 2007).

Em cadelas inteiras com grande corrimento vaginal, mas sem aumento de

volume uterino, o diagnóstico diferencial inclui vaginites, estro e neoplasias vaginais

(CHEN, ADDEO e SASAKI, 2007).

Em cadelas castradas, a presença do corrimento pode indicar uma piometra de

coto, possivelmente decorrente de síndrome de ovário remanescente (CHEN, ADDEO

E SASAKI, 2007).

Caso haja corrimento vulvar presente, devem ser considerados diagnósticos

diferenciais a trombocitopenia imunomediada, metrite, vaginite e estro (TROXEL et

al., 2002). O diagnóstico diferencial da piometra também deve incluir a hiperplasia

endometrial cística associada a presença de fluido estéril no lúmen uterino, podendo

ser caracterizada como hidrometra, mucometra ou hemometra (HAGMAN et al.,

2006).

Um diagnóstico diferencial que se assemelha a piometra é a gestação

(ETTINGER e FELDMAN, 2004). O diagnostico diferencial inclui hidrometra,

mucometra, prenhez, torção uterina, metrite e peritonite (CHEN, ADDEO e SASAKI,

2007; FOSSUM, 2008), doença gastrointestinal, pancreatite, sepse e insuficiência

renal (PLUNKETT, 2006).

3.10. TRATAMENTO.

O tratamento de eleição para a piometra é a ovariossalpingohisterectomia

(OSH) realizada após a estabilização do paciente. A sua grande vantagem é a de não

ocorrer qualquer risco de recidiva (JURKA et al., 2008), porem, tem os seus limites

quando são grandes os riscos anestésicos ou cirúrgicos para o animal (VERSTEGEN

et al., 2008).

Cadelas que apresentam em quadro grave e avançado devem ser estabilizadas

com fluidoterapia intravenosa e antibióticos de amplo espectro. A equipe cirúrgica

deve estar preparada para lidar com quadro possivelmente gerado pela sepse. O

tratamento médico para casos de piometra de cérvix fechada é contra-indicado tendo

em vista a ocorrência de futuras complicações (Smith 2006).

40

Fluidoterapia intravenosa é indicada para a correção dos déficits existentes,

manter a adequada perfusão tecidual e melhorar a função renal. A fluidoterapia em

bolus de grandes volumes em curtos períodos deve ser realizada nos animais que

estiverem em sepse grave e hipotensos, e o uso de vasopressores e inotrópicos no

choque séptico, uma vez que a mortalidade pós-operatória é maior em pacientes em

que a pressão sanguínea e o débito urinário permanecem baixos. A antibioticoterapia

deve ser iniciada assim que possível. Enquanto se aguarda o resultado da cultura, um

antibiótico que seja efetivo contra a E. coli, a bactéria mais comumente isolada, deve

ser considerado. Possíveis antibióticos são: enrofloxacina, sulfa-trimetropim,

amoxicilina-clavulanato (JOHNSON, 2009).

Para realizar o procedimento, conforme Fossum (2007), o abdome deve ser

exposto por meio de uma incisão na linha mediana ventral, tendo início 2 a 3

centímetros caudal à cartilagem xifóide, estedendo-se até o púbis. O útero distendido

deve ser localizado, observando se há evidência de peritonite. Após isso, deve-se

coletar fluido para cultura, esvaziar a bexiga com cistocentese e coletar uma amostra

de urina para cultura e análise. O útero deve ser exteriorizado com muito cuidado,

sem aplicar pressão ou tração em excesso; deve ser levantado em vez de ser puxado.

O uso de gancho de castração não é recomendável e a torção não deve ser corrigida

para não ocorrer liberação de bactérias e toxinas.

O útero deve ser isolado com almofadas de laparotomia ou toalhas estéreis. A

cérvix pode ser retirada juntamente com os ovários, as tubas uterinas, cornos uterinos

e corpo uterino. Os pedículos devem ser ligados com fios de sutura absorvíveis

monofilamento (2-0 ou 3-0 polidioxanona ou poligliconato), transeccionado na junção

da cérvix com a vagina.

Após a lavagem completa do coto vaginal, em caso de contaminação do campo

cirúrgico, deve-se coletar amostra do conteúdo uterino para cultura, remover as placas

de laparotomia, substituir instrumentos, luvas e panos.

Por fim, o abdome deve ser lavado e fechado de forma rotineira, a menos que

haja peritonite. Deve haver ainda a submissão do trato para avaliação patológica

(FOSSUM, 2008).

Maia lima, Luna e Payne (2014) sugerem a excisão completa dos cornos e

corpo uterino para evitar a piometra de coto.

Slatter (1998) descreve a ovariosalpingohisterectomia como sendo ideal para

piometra aberta, somada a antibióticos de amplo espectro, administrados

41

intravenosamente, tendo continuidade por 7 a 10 dias após a cirurgia, a qual requer

modificação técnica mínima em relação à remoção de útero aumentado em cadelas.

Para isso, o método de pinçamento triplo deve ser utilizado, com ligação

individual das artérias uterinas. O útero deve ser isolado do abdome por intermédio

de compressas de laparotomia para, após isso, ser seccionado, evitando-se, portanto,

a contaminação. A porção do útero que estiver exposta deve ser lavada e succionada

preparando-se para a remoção do pus residual.

Entre as complicações pós-operatórias, estão “infartos esplênicos, trombose

vascular causada por endocardite ou miocardite acompanhada de trombo-êmbolos ao

cérebro e sistema musculoesqueléticos” (SLATTER, 1998).

Por fim, Slatter reitera que algumas cadelas podem precisar de tratamentos

repetidos com prostaglandinas e drenagens uterinas, tendo drenos inseridos através

da cérvix, sob controle fluoroscópico.

4 CASO CLÍNICO

Foi atendida da clínica veterinária São Francisco de Assis, a paciente da

espécie canina, não castrada, da raça poodle, de aproximadamente 10 anos e

pesando 5,250 kg.

A responsável pela paciente relatou que ela apresentava perda de apetite,

emagrecimento progressivo, vômito, apatia, inchaço e endurecimento abdominal. A

cadela estava com a vacinação e vermifugação em dia, era alimentada com ração e

tinha acesso à rua somente acompanhada.

4.1 EXAME FÍSICO

Paciente apresentava sinais clínicos de vômito, diarreia, apatia, perda de peso,

febre (39.6ºC), desidratação com grau 5 a 8% (constatada através de inelasticidade

da pele e mucosa seca) aumento de volume abdominal com desconforto à palpação.

Diante dos sinais que a paciente revelou durante o exame físico e das informações

obtidas com a responsável, que relatou que a cadela não era castrada e garantiu que

42

a mesma não havia cruzado, a suspeita inicial foi de piometra. Foi Solicitado

internamento para realizar-se fluidoterapia com ringer e lactato e medicação com

antibióticoterapia (penicilina), dipirona, ranitidina e exame de US para diagnóstico.

(Figura 12)

4.2 RESULTADOS DOS EXAMES

Na Ultrassonografia (Figura 12) foi encontrado aumento dos cornos uterinos,

apresentando paredes finas e levemente irregulares. Presença de conteúdo luminal

de aspecto denso e heterogênio com pequenas áreas anecóicas. As imagens são

compatíveis com piometra. O animal foi submetido ao tratamento cirúrgico.

FIGURA 12 – Ultrassonografia paciente do caso clínico

Fonte: M.V Marcelo Scardoelli. CRMV – PR 5284

43

4.3 CIRURGIA

A paciente foi encaminhada para a cirurgia, na qual foi constatada a piometra,

com grande alteração do útero e sinais de peritonite, o procedimento foi realizado sem

nenhuma intercorrência. Ao término da cirurgia, a paciente continuou recebendo

fluidoterapia, e os mesmos medicamentos utilizados no pré-operatório, foi

encaminhada para a sala de pós-operatório onde permaneceu internada. 15 minutos

após o término do procedimento a paciente já começou a demonstrar sínais de

recuperação anestesica. Foi realizada a monitoração dos parâmetros da paciente

sendo: temperatura, FC, FR e Pulso. Ficou internada até o fim da tarde,

posteriormente liberada.

O protocolo anestésico utilizado foi dissociativo, tilamina associado ao

zolazepan 4mg/kg, via IM, manutenção com isoflurano. Foi mantida na fluidoterapia

com ringer lactato durante todo o procedimento cirúrgico.

Como tratamento domiciliar foi prescrito Amoxicilina com clavulanato na dose

de 12,5 mg/kg, BID, PO, durante 7 dias, dipirona e repouso até a retirada dos pontos

após 10 dias.

5 DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO

Cadelas com piometra de cervix fechada geralmente apresentam-se

prostradas, com sinais de choque e severa distensão abdominal (GONZALES et al.,

2003). Segundo Dunn (2001) os sinais clínicos de piometra podem ser variáveis, e os

animais enfermos podem apresentar letargia, anorexia, inapetência, polidipsia,

poliúria, vômitos e diarreia.

Ao analisar os parâmetros de exame físico a desidratação pode ser explicada

pelos episódios de vômito, diarreia, diminuição de ingestão de água e anorexia, além

disso os animais apresentam alteração da capacidade de reabsorção de água pelos

túbulos renais devido as endotoxinas liberadas pelas bactérias instaladas no útero que

causam insensibilidade dos túbulos renais ao hormônio antidiurético (ADH). Dessa

forma o tempo de preenchimento capilar pode estar maior do que dois segundos

(HEDLUND, 2005; VERSTEGEN et al, 2008).

44

De acordo com Lima (2009), a temperatura corpórea pode ser variável, ou apresentar

um aumento devido a infecção bacteriana, septicemia ou toxemia, o que explica a

presença da febre relatada no caso. Evangelista (2009), cita que o diagnóstico se

baseia em anamnese, sinais clínicos, exames laboratoriais, radiografia e

ultrassonografia abdominais e também o hemograma dos animais com piometra, pode

ser variável, apresentando principalmente leucocitose por neutrofilia com desvio à

esquerda, ou pode permanecer sem alterações. A maioria das cadelas com piometra

podem apresentar discreta anemia devido à característica inflamatória crônica, que

suprime a eritropoiese, como também pela perda de hemácias no lúmen uterino que

migram para la por diapedése (NELSON & FELDMAN, 1986; FELDMAN, 2004;

HEDLUND, 2005).

A paciente do caso relatado, ao ser internada, também apresentava quadro de

apatia, perda de apetite, perda de peso, aumento abdominal, desconforto, febre,

vômito e diarréia o que suscitava grandes indícios de piometra, confirmados por

intermédio dos exames. Outra forte evidência de piometra foi o tamanho anormal do

útero. Ao analisar a paciente descrita e fazendo um comparativo com outras cadelas

observadas no período de estágio, pode-se constatar que as cadelas acometidas pela

piometra de cérvix fechada tendem a apresentar um quadro clínico mais grave do que

as que adquiriram a piometra de cérvix aberta, porque, segundo Pretzer (2008), a

piometra fechada é uma emergência que requer rápida intervenção para previnir

sepse subsequente e potencial óbito da paciente. Sabe-se ainda que a piometra de

cérvix fechada acumula mais bactérias e, portanto, é mais perigosa.

A idade da paciente descrita está dentro da faixa de animais que apresentam

piometra com mais frequência, o que corrobora com a epidemiologia descrita por

Gonçalves (2010).

Diante disso a paciente foi imediatamente internada para receber fluidoterapia,

com ringer lactato, e em seguida para realização de exame de U.S. A ultrassonografia,

segundo Ferreira e Lopes (2002), é recomendada pelas suas vantagens em ser mais

segura, porque a presença de fluido abdominal não interfere na imagem

ultrassonografica, fornecendo informações não só a respeito da forma e tamanho, mas

também a respeito da textura dos tecidos e da conformação dos orgãos (FERREIRA;

LOPES, 2002). Além do mais, “Na ausência de secreção vaginal em um animal com

sinais clínicos compatíveis, a ultrassonografia é considerada o exame de eleição”.

(GONZALES et al., 2003).

45

Há um consenso entre a grande maioria dos autores de que o tratamento de

escolha é o cirúrgico mediante OSH. A intervenção cirúrgica na paciente relatada foi

realizada sem intercorrências. Uma das preocupações nesse caso seria o

extravasamento do conteúdo do útero para a cavidade abdominal podendo gerar um

quadro ainda mais grave como septicemia e/ou endotoxemia oriundo da proliferação

de bactérias e toxinas no sangue, tornando-se uma infecção generalizada.

Segundo Johnston et. al.(2001) o sucesso da ovariosalpingohisterectomia

como tratamento da piometra é alto, variando entre estudos. Não são comuns as

complicações em longo prazo, mas podem ocorrer em casos de pacientes

apresentando septicemia pré ou pós-cirúrgica. Fossum (2005), cita que após a

cirurgia, o prognóstico é bom, porém pode ocorrer óbito quando as anormalidades

metabólicas ficam graves e não responsivas a uma terapia apropriada.

A conduta terapêutica adotada neste caso foi estabilizar o animal com

tratamento medicamentoso descrito acima e após um dia foi realizado o tratamento

cirúrgico, o qual é o mais indicado pela literatura. A intervenção cirúrgica é o

tratamento potencialmente mais curativo, o qual anula uma possível recidiva.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio curricular obrigatório supervisionado realizado na clínica São

Francisco de Assis possibilitou a consolidação dos conhecimentos obtidos durante a

graduação, assim como um maior contato com a rotina clínica e cirúrgica de pequenos

animais, pois a clínica propiciou um espaço de aprendizado por meio de uma

casuística abrangente. Também é importante mencionar que os médicos veterinários

responsáveis, com sua vasta experiência, colaboraram de forma efetiva para o

aprendizado.

O estágio ainda ajudou na escolha da atuação profissional, que a cada dia me

realiza mais, deixando a certeza de que com empenho e dedicação poderemos nos

tornar grandes profissionais.

Por meio do estudo realizado, foi possível constatar que a administração

exógena de progesterona e estrógenos deve ser evitada em animais de pequeno porte

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uma vez que, de acordo com a literatura, aumenta a incidência de piometra em

cadelas.

Assim com aconteceu com a paciente descrita neste trabalho, as cadelas,

quando chegam à clínica já estão em um estado muito avançado da doença, portanto,

a cirurgia se torna o tratamento indicado.

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