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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS E SAÚDE
MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Daniel Gomes de Alvarenga
ESTUDO FARMACOEPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL EM ADULTOS EM CAMPO GRANDE-MS, 2002 - 2005.
Governador Valadares 2008
1
DANIEL GOMES DE ALVARENGA
ESTUDO FARMACOEPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL EM ADULTOS EM CAMPO GRANDE-MS, 2002 - 2005.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Univale, para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Área de Concentração: Imunopatologia das doenças infecto-contagiosas.
Orientador: Prof.ª Drª. Patrícia Maria Fonseca Escalda
Governador Valadares 2008
2
Alvarenga, Daniel Gomes de Estudo farmacoepidemiológico da leishmaniose visceral em adultos em Campo Grande-MS, 2002-2005 / Daniel Gomes de Alvarenga. -- 2008. 70 f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Vale do Rio Doce,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas, Governador Valadares, MG, 2008.
Orientador: Patrícia Maria Fonseca Escalda 1. Farmacoepidemiologia. 2. Leishmaniose Visceral - Tratamento.
I. Escalda, Patrícia Maria Fonseca. II. Universidade Vale do Rio Doce. III. Título.
CDD 614.534
3
DANIEL GOMES DE ALVARENGA
ESTUDO FARMACOEPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL EM ADULTOS EM CAMPO GRANDE-MS, 2002 - 2005.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Univale, para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Área de Concentração: Imunopatologia das doenças infecto-contagiosas.
Governador Valadares, ______ de __________________ de ________
Banca examinadora:
_________________________________________________________________
(Prof.ª Dr.ª Patrícia Maria Fonseca Escalda)
_________________________________________________________________
(Prof. Dr. George Luiz Lins Machado Coelho)
_________________________________________________________________
(Profa. Dra. Celina Maria Módena)
4
Dedico esta obra aos meus queridos pais,
Roberto e Cor Maria Dulce, com todo o meu
amor.
5
AGRADECIMENTOS
Á Profa. Dra. Patrícia Maria Fonseca Escalda pela orientação desta dissertação.
Ao aluno Danilo Lopes Silveira (UNIVALE) pela ajuda e amizade.
Aos colegas do mestrado pela amizade construída durantes esses anos.
À Profa. Dra. Alda Maria Soares Silveira pela confiança, amizade e exemplo.
Ao Prof. Dr. Alexandre Sylvio Viera da Costa pela ajuda nos dados estatísticos, idéias,
sugestões e amizade.
Aos amigos do Laboratório Alvarenga de Governador Valadares e do Laboratório Morphos
de Carangola pela paciência.
À classe médica de Governador Valadares e de Carangola pelo apoio e confiança, sem os
quais este trabalho não seria possível.
À amiga Irene Almeida Martins pelo apoio, amizade, paciência e competência.
À minha irmã Ângela e meu cunhado Márcio pelo apoio e carinho sempre presentes.
À UNIVALE por tornar possível um sonho.
Aos professores da UFOP e UNIVALE pela dedicação, competência e exemplo.
Aos amigos Marta Coelho, Bernardo Coelho Rocha e Luis Chang pela amizade!
Às pesquisadoras associadas, Maria Tereza Ferreira Duenhas Monreal (UFMS), Gracy Leite
Pereira (Hospital Dia/ UFMS), Patrícia Uehara (NHU/UFMS), Tânia Mara de Medeiros
(SESAU) e Elza Aparecida Machado Domingues (NHU).
6
"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
(Berthold Brecht)
十年树木,百年树人
"Dez anos são necessários para uma árvore crescer, e cem anos para instruir o povo."
(Provérbio Chinês)
7
RESUMO
Com mortalidade global em 59.000 óbitos por ano, as leishmanioses constituem um grupo de doenças que permanecem como um importante problema de saúde pública em pelo menos 88 países, sendo 16 países desenvolvidos e 72 países em desenvolvimento. Dentre as várias formas clínicas de leishmaniose, destaca-se a Leishmaniose Visceral (LV) que geralmente é fatal quando não tratada. Sua letalidade pode alcançar 10% quando não se institui o tratamento adequado. Para o tratamento medicamentoso da LV, no Brasil, a droga de eleição continua sendo o antimoniato de metilglucamina (Glucantime®). O presente estudo tem como objetivo principal avaliar o uso de medicamentos em casos tratados de leishmaniose visceral em adultos atendidos no serviço de Infectologia do Núcleo de Hospital Universitário (NHU)-UFMS em Campo Grande (MS). Setenta e seis pacientes participaram do estudo, destes 74,7% (n= 56) eram do sexo masculino e 25,3% (n= 20) do sexo feminino, 69,7% (n=53) residiam em Campo Grande e 30,3% (n = 23) em outras localidades. A presença de co-morbidades foi observada em 28,9% (n=22) dos pacientes. Quanto ao tipo de droga, 88,2% (n=67) dos pacientes utilizaram o antimoniato-N-metil glucamina (Glucantime®) como droga de primeira escolha, 7,9% (n=6) utilizou a anfotericina B comum e 3,9% (n=3) Anfotericina B lipossomal. Dos 76 pacientes analisados 18,4% (n=14) evoluíram para óbito. A análise de sobrevida mostrou diferença estatisticamente significativa em pacientes com co-morbidades (p< 0,0001) e em pacientes com co-morbidade que fizeram uso Glucantime® (p <0,0009). Em pacientes sem co-morbidade não se observou diferença. A alta letalidade encontrada neste estudo (18%) sinaliza a ineficiência das medidas preventivas, medidas de controle e do tratamento. Os resultados do presente estudo sugerem que o prognóstico da doença torna-se ruim quando a mesma é associada à presença de co-morbidades, O uso, a indicação e a contra-indicação criteriosa do tipo de droga a ser administradas aos pacientes devem seguir as normas vigentes, no intuito de se minimizar a letalidade.
Palavras-chave: Leishmaniose Visceral. Adultos. Tratamento. Farmacoepidemiologia.
8
ABSTRACT
With global mortality in 59.000 deaths a year, the leishmaniasis constitute a group of diseases that represents an important problem of public health in at least 88 countries, being 16 developed countries and 72 developing countries. Among the several forms of clinical leishmaniasis, stands out visceral leishmaniasis (VL) that is usually fatal when no treated. Death rate can reach 10% when the appropriate treatment is not instituted. For the drug treatment of VL, in Brazil, the election drug continues being the “Glucantime®”. The present study has as main objective to evaluate the use of drugs in treated cases of visceral leishmaniasis in adults assisted at “serviço de Infectologia do Núcleo de Hospital Universitário (NHU)-UFMS in Campo Grande (MS). Of the 90 patients with suspicion of LV, only 76 participated in the study, of these 74,7% (n = 56) they were male and 25,3% (n = 20) female, 69,7% (n=53) they lived in Campo Grande and 30,3% (n = 23) in other places. The presence of morbidity it was observed in 28,9% (n=22) of the patients. As for the drug type, 88,2% (n=67) of the patients they used meglumine antimoniate “Glucantime®” as drug of first choice, 7,9% (n=6) it used the amphotericin B and 3,9% (n=3) lipossomal amphotericin B. Of the 76 analyzed patients 18,4% (n=14) died. The survival analysis showed significant difference among in patients with and without morbidity (p <0,0001) and in patients with mobidity that did take meglumine antimoniate “Glucantime®” (p =0,0009) The high fatality rate found in this study (18%), demonstrates the inefficiency of the preventive measures, control measures and of the treatment of these patient. The results of the present study suggest that the prognostic of the disease becomes bad when the same is associated to the presence of morbidities The use, indication and the discerning contraindication of the drug type to be administered to the patients should follow the effective norms, in the intention of minimizing the fatality rate.
Key words: Visceral leishmaniasis. Adults. Treatment. Pharmacoepidemiology.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Willian Boog Leishman (1865-1926).......................................................................15
Figura 2- Charles Donovan (1863-1915)..................................................................................15
Figura 3- Principais áreas endêmicas de Leishmaniose Visceral no mundo............................16
Figura 4- Distribuição dos casos de Leishmaniose Visceral Humana no Brasil......................17
Figura 5- Forma flagelada ou Promastigota..............................................................................18
Figura 6- Forma aflagelada ou Amastigota...............................................................................18
Figura 7- Lutzomia Longipalpis................................................................................................19
Figura 8- Ciclo de vida da Leishmania.....................................................................................20
Figura 9- Letalidade da Leishmaniose Visceral no Brasil, de 1994 a 2004..............................22
Figura 10- Quadro comparativo da evolução clínica da leishmaniose visceral, quanto aos
exames laboratoriais complementares......................................................................................25
Figura 11- Tratamento da leishmaniose visceral preconizado pelo Ministério da Saúde
(2004)........................................................................................................................................30
Figura 12- Procedimento a ser adotado quando houver interrupção no tratamento de
leishmaniose visceral................................................................................................................33
Figura 13- Região de Campo Grande destacada no mapa de Mato Grosso do Sul..................37
Figura 14- Distribuição dos casos de leishmaniose visceral por idade, NHU/UFMS-Campo
Grande 2002 – 2005..................................................................................................................41
Figura 15- Distribuição dos casos de leishmaniose visceral por faixa etária e sexo,
NHU/UFMS-Campo Grande 2002 – 2005...............................................................................41
Figura 16- Análise de sobrevida entre pacientes com e sem co-morbidade, HU/UFMS –
Campo Grande 2002 – 2005.....................................................................................................49
Figura 17- Análise de sobrevida entre pacientes com e sem co-morbidade que fizeram uso de
Glucantime® como droga de primeira escolha, HU/UFMS – Campo Grande 2002 –
2005...........................................................................................................................................49
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Local de moradia dos pacientes com diagnóstico de leishmaniose visceral,
NHU/UFMS – Campo Grande 2002 – 2005.............................................................................40
Tabela 2 - Manifestações clínicas iniciais dos 76 pacientes com leishmaniose visceral .........42
Tabela 3- Freqüência das co-morbidades apresentadas pelos pacientes com leishmaniose
visceral .................................................................................................................................... 43
Tabela 4- Distribuição de valores de hemograma, hemoglobina, hematócrito, leucócitos,
plaquetas, albumina e globulina, e pacientes com leishmaniose visceral ................................44
Tabela 5- Utilização das drogas de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª escolha no tratamento dos pacientes com
leishmaniose visceral atendidos no NHU/UFMS.....................................................................44
Tabela 6- Freqüência dos efeitos colaterais em pacientes que fizeram uso de drogas no
tratamento para leishmaniose visceral, NHU/UFMS............................................................... 45
Tabela 7- Avaliação da letalidade na presença ou ausência de co-morbidades nos pacientes
portadores de leishmaniose visceral atendidos no NHU/UFMS.............................................. 46
Tabela 8- Acompanhamento ambulatorial dos pacientes após o tratamento da leishmaniose
visceral..................................................................................................................................... 47
Tabela 9- Análise de sobrevida em relação ao sexo, inicio de sintomas, co-morbidades e droga
de primeira escolha, HU/UFMS – Campo Grande 2002 – 2005............................................. 48
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
WHO- World Health Organization
SFM- Sistema Fagocítico Mononuclear
LV- Leishmaniose Visceral
MA- Maranhão
MS- Ministério da Saúde
VHS- Velocidade de Hemossedimentação
IFI- Imunofluorescência Indireta
EI- Enfermaria de Infectologia
ELISA- Ensaio Imunoenzimático
IDRM- Intradermorreação de Montenegro
SES- Secretaria do Estado de São Paulo
HD- Hospital-dia
AIDS- Acquired Immunodeficiency Syndrome
OMS- Organização Mundial de Saúde
FDA- Food and Drug Administration
UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais
EV- Endovenosa
IM- Intra muscular
QT- Uma característica do ECG que reflete o período desde a despolarização ventricular até a
repolarização.
Onda T- Uma característica do ECG que reflete a repolarização dos ventrículos
ECG- Eletrocardiograma
NHU- Núcleo do Hospital Universitário
SINAN- Sistema Nacional de Agravos de Notificação
SESAU- Secretaria de Saúde
DS- Distrito Sanitário
RA- Regiões Administrativas
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO…………….…....……………..........……..........................……...............14
1.1 HISTÓRICO.......................................................................................................................14
1.1.1 No mundo........................................................................................................................14
1.1.2 No Brasil..........................................................................................................................15
1.2 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA......................................................................................16
1.3 ETIOLOGIA.......................................................................................................................18
1.4 TRANSMISSÃO................................................................................................................19
1.5 ASPECTOS CLÍNICOS.....................................................................................................20
1.6 SINAIS E SINTOMAS.......................................................................................................21
1.7 FATORES ASSOCIADOS À GRAVIDADE E LETALIDAE DA LV............................21
1.8 DIAGNÓSTICO.................................................................................................................23
1.9 TRATAMENTO SEGUNDO MANUAL DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DA
LEISHMANIOSE VISCERAL – MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004......................................25
1.10 MEDICAMENTOS..........................................................................................................26
1.10.1 Farmacoepidemiologia.................................................................................................27
1.10.2 Histórico dos medicamentos para o tratamento da leishmaniose visceral.............28
1.10.3 Medicamentos e esquemas do tratamento da leishmaniose visceral (MS,
2004).........................................................................................................................................29
1.10.4 Contra indicações.........................................................................................................31
1.10.5 Situações específicas que devem ser observadas no tratamento de leishmaniose
visceral......................................................................................................................................31
1.10.6 Critérios de cura da leishmaniose visceral................................................................32
1.10.7 Tipos de tratamento.....................................................................................................33
2 OBJETIVOS.........................................................................................................................34
2.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................................34
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..............................................................................................34
3 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................................35
3.1 POPULAÇÃO DA PESQUISA..........................................................................................35
3.2 DEFINIÇÃO DE CASO.....................................................................................................35
3.3 LOCAL DO ESTUDO........................................................................................................35
13
3.4 FONTE DE DADOS...........................................................................................................37
3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO................................................................................................37
3.6 COLETA DE DADOS........................................................................................................37
3.7 DESENHO DO ESTUDO..................................................................................................38
3.8 ANÁLISE DE SOBREVIDA.............................................................................................38
3.9 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS................................................................39
3.10 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA.............................................................................39
4 RESULTADOS....................................................................................................................40
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SÓCIO DEMOGRÁFICO E CLÍNICO
EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES PORTADORES DE LESIHMANIOSE
VISCERAL...............................................................................................................................40
4.2 O USO DE MEDICAMENTOS EM CASOS DE LEISHMANIOSE
VISCERAL.............................................................................................................................. 44
4.3 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DOS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL APRESENTANDO CO-MORBIDADES E SUA
EVOLUÇÃO............................................................................................................................ 46
4.4 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL QUE FORAM A ÓBITO.......................................................47
4.5 ACOMPANHAMENTO CLÍNICO E LABORATORIAL DOS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL TRATADOS..........................................................................48
4.6 ANÁLISE DE SOBREVIDA DOS PACIENTES COM LEISHMANIOSE VISCERAL
ATENDIDOS PELO NHU/UFMS...........................................................................................48
5 DISCUSSÃO.........................................................................................................................50
6 CONCLUSÃO......................................................................................................................56
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................57
8 APÊNDICE...........................................................................................................................67
8.1 APÊNDICE 01- INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS...................................67
14
1 INTRODUÇÃO
Com mortalidade global em 59.000 óbitos por ano (WHO, 2002), as leishmanioses
constituem um grupo de doenças que permanecem como um importante problema de saúde
pública em pelo menos 88 países, sendo 16 países desenvolvidos e 72 países em
desenvolvimento. Atualmente, encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no
mundo (DESJEUX, 2004). As regiões Norte e o Nordeste do Brasil detêm a maioria dos casos
de leishmaniose. No entanto, a doença tem se manifestado em outras regiões do país,
causando preocupação por se tratar de uma zoonose, doença que pode ser transmitida do
animal para o ser humano (PARISI, 2008).
Segundo Torres (2006), dentre as várias formas clínicas de leishmaniose, destaca-se a
leishmaniose visceral que geralmente é fatal quando não tratada. Sua letalidade pode alcançar
10% quando não se institui o tratamento adequado.
A leishmaniose visceral é uma doença infecciosa sistêmica, em que as manifestações
refletem o desequilíbrio entre a multiplicação dos parasitas nas células do sistema fagocítico
mononuclear (SFM), a resposta imunitária do indivíduo e as alterações degenerativas
resultantes desse processo (MS, 2004).
1.1 HISTÓRICO
1.1.1 No mundo
A doença foi descrita pela primeira vez por LEISHMAN (FIGURA 1) e DONOVAN
(FIGURA 2) em 1903 que identificaram o agente etiológico do kala-azar indiano – que em
hindi, quer dizer, “febre negra”, devido à febre e ao escurecimento da pele, bastante comuns
nos pacientes indianos (MURRAY, 2002; DORLAND, 1949). O agente foi primeiramente
denominado de Piroplasma donovani (LAVERAN & MESNIL, 1903), e logo em seguida
corrigido para Leishmania donovani (ROSS, 1903). Em 1908 a espécie Leishmania infantum
foi descrita como sendo responsável pela leishmaniose visceral na região Mediterrânea
(NICOLLE, 1908). Em todo o mundo, estima-se que mais de 350.000 novos casos de
15
leishmaniose visceral surjam a cada ano, sendo esta considerada endêmica em mais de 72
países. Cerca de 90% de todos os casos de leishmaniose visceral ocorrem em Bangladesh,
Índia, Nepal, Sudão e Brasil (DESJEUX, 2004).
Figura 1- William Boog Leishman (1865-1926) Figura 2- Charles Donovan (1863-1915)
1.1.2 No Brasil
A primeira descrição de um caso humano, supostamente autóctone, do continente
americano, comprovado parasitologicamente, ocorreu em 1911, em um emigrante italiano
que, após viver treze anos em Santos - SP, viajou para a região de Porto Esperança, Mato
Grosso do Sul, onde ficou doente (MIGONE, 1913).
Em outras regiões do país, destacam-se pesquisas sobre leishmaniose visceral
realizadas em 1942 em Pernambuco, Ceará e Bahia (OLIVEIRA et al., 2006).
O Brasil é responsável por 90% dos casos documentados de leishmaniose visceral na
América, sendo que 94% destes ocorrem no Nordeste brasileiro, principalmente nos estados
da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí (MS, 2003). O estado do Piauí, onde a doença é conhecida
desde 1934 (ALENCAR, 1956; PENNA, 1934), observou-se a partir de 1980 uma epidemia
que atingiu vasta extensão de seu território, concentrando-se especialmente na área urbana da
capital, Teresina (WERNECK et al., 2003).
Para Nascimento et al. (1992), no Maranhão, as evidências de expansão desta
16
antropozoonose surgiram desde setembro de 1982, sendo a Ilha de São Luís (MA) a principal
área endemo-epidêmica no estado. Assim como em outros estados da região Nordeste
(COSTA, 1990; COSTA, 1995), a leishmaniose visceral é historicamente endêmica em
Pernambuco (PEREIRA et al., 1985).
No Brasil, ao longo da década de 90, houve grande expansão da distribuição
geográfica da doença decorrente do processo de urbanização, levando a ocorrência de
importantes epidemias em várias cidades da região Nordeste - São Luís, Natal e Aracaju,
Norte - Boa Vista e Santarém, Sudeste - Belo Horizonte e Montes Claros e Centro Oeste -
Cuiabá e Campo Grande (CESSE et al., 2001; MS, 2004).
Na América do Sul, a Venezuela é o segundo país com maior número de casos com
registro de cerca de 150 casos em 14 das 23 unidades federativas onde se considera a
existência de três grandes focos (PESSÔA & MARTINS, 1988; VARGAS-DIAZ & YÉPEZ,
2004; MEDEIROS et al., 2005).
1.2 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
A leishmaniose visceral apresenta-se difusamente distribuída no globo (FIGURA 3),
estimando-se uma incidência global de 500 mil casos novos anualmente, concentrando-se em
regiões rurais de países pobres do sul asiático, África e Brasil (YAMEY & TORREELE,
2002; SEAMAN e cols., 1996; BERN e cols., 2000).
Figura 3- Principais áreas endêmicas de Leishmaniose visceral no mundo. Fonte:
http://www.who.int/tdr/dw/leish_map.htm
17
Nas últimas décadas tem-se observado o aparecimento de epidemias em centros
urbanos nos países acometidos pela doença. No Brasil a leishmaniose visceral inicialmente
tinha um caráter eminentemente rural e, mais recentemente, vem se expandindo para as áreas
urbanas de médio e grande porte (FIGURA 4), sendo também conhecida por Calazar, barriga
d’água, entre outras denominações menos conhecidas (MS, 2004).
Sugere-se que tais mudanças de características da leishmaniose visceral, sejam
atribuídas a fatores inter-relacionados como: transformações ocorridas no ambiente devido ao
processo migratório provocados por pressões sócio-econômicas; pauperização em função da
má distribuição de renda levando ao êxodo rural, principalmente nas áreas do Nordeste, que
sofrem de secas periódicas, agravando a situação nessas áreas, e o aparecimento de novos
focos da doença devido ao processo de urbanização crescente nas cidades (CALDAS, 1999).
De acordo com Gontijo e Melo (2004), o Brasil enfrenta atualmente a expansão e
urbanização da leishmaniose visceral com casos humanos e grande número de cães positivos
em várias cidades. Fatores sócio-econômicos fazem com que parte da população rural migre
para a periferia dos grandes centros, onde as condições sanitárias e de habitação são precárias.
Em países como Brasil, Índia, Bangladesh, Nepal e Sudão os desmatamentos, os
deslocamentos populacionais e o incremento industrial são as principais causas adicionais do
surgimento urbano da doença (MARZOCHI & MARZOCHI, 1997). Tal situação denota
dificuldades enfrentadas no controle dessa doença e reflete a necessidade de novos estudos
para avaliar a eficácia e efetividade das atuais medidas de controle, sobretudo, nas áreas
prioritárias (DESJEUX, 2004). No Brasil, a abordagem atual do programa de controle da
leishmaniose visceral permite melhor definição das áreas de transmissão ou de risco e propõe
ações de vigilância para os municípios considerados silenciosos (MS, 2004).
Figura 4 - Distribuição dos casos de leishmaniose visceral humana no Brasil
Fonte: FUNASA (2001)
18
Por tratar-se de doença que afeta tipicamente populações pobres e até pouco tempo
quase exclusiva do meio rural, a leishmaniose visceral não tem chamado à atenção das
políticas governamentais de saúde, assim como dos programas de controle, prevenção e de
tratamento (BOELAERT e cols., 2000).
1.3 ETIOLOGIA
A leishmaniose visceral ou Calazar é primariamente uma zoonose que afeta outros
animais além do homem. É causada por um protozoário heteroxênico, intracelular
obrigatório, que infecta as células do sistema fagocítico mononuclear (SFM) de diversas
espécies animais (TORRES, 2006).
Os agentes etiológicos da leishmaniose visceral são protozoários tripanosomatideos
do gênero Leishmania, que apresentam forma flagelada - Promastigota (FIGURA 5)
encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e forma aflagelada - Amastigota (FIGURA 6),
presente nos tecidos dos vertebrados. Das espécies encontradas no Brasil a Leishmania
chagasi é a mais comum.
Figura 5- Forma flagelada ou Promastigota Figura 6 - Forma aflagelada ou Amastigota
Para Costa et al. (1995), é importante lembrar que embora a presença do agente causal
seja uma condição para o desenvolvimento da leishmaniose visceral, a simples presença do
parasito não é suficiente para causar a doença, visto que uma grande proporção de indivíduos
19
pode infectar-se sem desenvolvê-la.
1.4 TRANSMISSÃO
A leishmaniose visceral é transmitida através de um vetor, inseto hematófago
flebótomo da espécie Lutzomia longipalpis (FIGURA 7), mosquito de pequeno porte, cor de
palha e grandes asas pilosas. Seu habitat é o domicílio e peri-domicílio, onde se alimenta de
sangue humano, do cão, além de outros mamíferos e aves (PESSÔA & MARTINS, 1988).
Figura 7- Lutzomia longipalpis
O hospedeiro vertebrado é infectado com promastigotas, quando picado pelo vetor. As
promastigotas penetram nos macrófagos circulantes e multiplicam-se como amastigotas antes
de iniciarem a resposta inflamatória. Há a migração de células dendríticas dérmicas para o
linfonodo e a apresentação de antígenos derivados da leishmania para linfócitos CD4 e CD8.
Estas células se acumularão no local da inflamação e promoverão a destruição dos
macrófagos, com a liberação das amastigotas que irão infectar outros macrófagos. O vetor
ingere macrófagos infectados durante o repasto sanguíneo. As amastigotas são liberadas no
intestino do mosquito e multiplica-se como promastigotas, fechando, assim, o ciclo.
(FIGURA 8)
20
Não ocorre transmissão direta da leishmaniose visceral de pessoa para pessoa. A
transmissão ocorre enquanto houver o parasitismo na pele ou no sangue periférico do
hospedeiro (MS, 2004).
Figura 8 - Ciclo de vida da Leishmania. Fonte: CLIVE e cols. (2003)
1.5 ASPECTOS CLÍNICOS
Clinicamente, a leishmaniose visceral apresenta-se como uma enfermidade
generalizada, crônica, caracterizada por febre irregular e de longa duração,
hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, anemia com leucopenia, hipergamaglobulinemia e
hipoalbuminemia, emagrecimento, edema e estado de debilidade progressivo, levando à
caquexia e, até mesmo, ao óbito (BADARÓ & DUARTE, 1996). A imunossupressão é a
principal responsável pelo aparecimento de infecções intercorrentes e, juntamente com
fenômenos hemorrágicos, respondem pelas altas taxas de mortalidade na fase tardia da doença
21
(SILVEIRA e cols., 1993). A evolução das formas clínicas é diversa, podendo o indivíduo
apresentar desde cura espontânea, formas oligossintomáticas e assintomáticas, até
manifestações graves (HERWALDT, 1999).
A forma assintomática é mais comum em pacientes oriundos de áreas endêmicas onde
há evidência epidemiológica e imunológica da infecção. Não apresentam nenhuma
manifestação clínica, entretanto tem sorologia positiva para leishmaniose. Estes indivíduos
não são notificados nem tratados (MS, 2003).
Os pacientes que apresentam a forma oligossintomática, as manifestações clínicas são
discretas, como hepato ou esplenomegalia e febre, que podem permanecer durante 3 a 6
meses, evoluindo para uma cura espontânea ou para a forma clássica (BADARÓ &
DUARTE, 1996).
1.6 SINAIS E SINTOMAS
Sinais e sintomas exacerbados são observados na forma clássica, onde temos sempre
hepatoesplenomegalia volumosa e febre, frequentemente associadas a infecções bacterianas.
Ainda como alteração importante, pode-se observar pancitopenia e hipergamaglobulinemia,
com inversão da relação albumina/globulina. Se não tratados, estes pacientes evoluem para o
óbito (HERWALDT, 1999).
1.7 FATORES ASSOCIADOS À GRAVIDADE E LETALIDADE DA LEISHMANIOSE
VISCERAL
A gravidade das manifestações clínicas da leishmaniose visceral pode estar
relacionada com a idade, o estado nutricional e as características imunogenéticas dos
indivíduos acometidos pela doença. A leishmaniose visceral pode alcançar letalidade entre
10% a 98% dos casos tratados inadequadamente e não tratados, respectivamente (MS, 1999;
GONTIJO & MELO, 2004; DESJEUX, 2004).
Segundo o Ministério da Saúde (2006), nas duas últimas décadas, a leishmaniose
visceral reapareceu no mundo de forma preocupante. No Brasil, epidemias urbanas foram
22
observadas em várias cidades e a doença tem sido verificada como infecção oportunista em
pacientes com AIDS, isto é, infecção que surge por diminuição das defesas orgânicas, à
semelhança do que se observa no sul da Europa. Além disso, a expansão da epidemia
acometendo grupos de indivíduos jovens (população infantil) ou com co-morbidades tem
ocasionado número elevado de óbitos.
Observa-se que, nos últimos anos, a letalidade da leishmaniose visceral vem
aumentando gradativamente, passando de 3,6% no ano de 1994 para 6,7% em 2003, o que
representa um incremento de 85%. Em novembro de 2004 houve um aumento de 26% na
letalidade desta doença no Brasil (MS, 2006) (FIGURA 9).
Figura 9- Letalidade da leishmaniose visceral no Brasil, de 1994 a 2004.
As complicações infecciosas e as hemorragias são os principais fatores de risco para a
morte na leishmaniose visceral. Apesar da importância desses fatores, poucos trabalhos
estudaram sinais e sintomas associados à evolução clínica desfavorável de pacientes com
leishmaniose visceral. Werneck e cols. (2003), relataram anemia grave, febre por mais de 60
dias, diarréia e icterícia, como marcadores de mau prognóstico da doença. Santos e cols.
(2002), acrescentaram que crianças com menos de um ano de idade, pacientes com co-
morbidades ou infecções bacterianas apresentavam maior risco de resposta insatisfatória ao
tratamento com antimoniato de N-metil Glucamina e necessitavam tratamento alternativo.
Seaman e cols. (1996) e Collin e cols. (2004), observaram que no Sudão pacientes
23
com idade inferior a dois anos ou maior que 45 anos, com duração da doença de cinco meses
ou mais, associado a desnutrição, anemia, diarréia, vômitos, sangramento ou grande
esplenomegalia, apresentavam maiores riscos de morrer em decorrência da leishmaniose
visceral.
Abdelmoula e cols. (2003) identificaram sete fatores associados ao mau prognóstico
em 232 crianças com leishmaniose visceral: febre por mais de 21 dias, temperatura corporal
baixa ou normal, fenômenos hemorrágicos, hemoglobina < 5,5 g/dL, albumina < 3g/dL,
velocidade de hemossedimentação (VHS) < 25mm/h, e tempo entre início dos sintomas e
primeira consulta médica > 56 dias.
A identificação desses fatores no primeiro atendimento ao paciente com diagnóstico
suspeito ou confirmado de leishmaniose visceral é de fundamental importância, uma vez que
poderão ser iniciadas ações de profilaxia ou o tratamento das possíveis complicações e,
consequentemente diminuir a mortalidade.
Nessa situação o médico deverá definir os exames a serem solicitados e decidir se o
acompanhamento e o tratamento poderão ser realizados no ambulatório, ou se o paciente
deverá ser encaminhado a um hospital de referencia (MS, 2005).
1.8 DIAGNÓSTICO
Nos últimos dez anos, apesar dos recursos de tratamento intensivo e da rotina
estabelecida para o tratamento específico da leishmaniose visceral constatou-se aumento na
letalidade da doença em diversas regiões do Brasil. Um dos principais fatores que
contribuíram para o aumento dessa letalidade é o diagnóstico tardio (MS, 2006).
O diagnóstico e tratamento dos pacientes devem ser realizados precocemente e sempre
que possível à confirmação parasitológica da doença deve preceder o tratamento. Em
situações onde o diagnóstico sorológico e/ou parasitológico não estiver disponível ou na
demora da liberação dos mesmos, o início do tratamento não deve ser postergado (MS, 2004).
Considerando que o diagnóstico de leishmaniose visceral é baseado em dados
epidemiológicos, clínicos e laboratoriais, o Ministério da Saúde (2003) preconiza que o a
leishmaniose visceral é diagnóstico diferencial em pacientes apresentarem: febre e
esplenomegalia associado ou não à hepatomegalia.
Para Singh e Sivakumar (2003), a demonstração do parasito ou vestígios desse, é
24
necessária principalmente porque os sinais clínicos na leishmaniose visceral são iguais ou
bastante semelhantes àqueles encontrados em outras enfermidades ou condições de saúde
como a malária, a esquistossomose, a tripanossomíase africana, a febre tifóide e a má
nutrição.
Por isso, os exames laboratoriais assumem importante papel no auxílio do diagnóstico
clínico da leishmaniose visceral.
No diagnóstico parasitológico, a demonstração do parasito pode ser feita em material
de biópsia ou punção aspirativa do baço, fígado, medula óssea ou linfonodos. Esse material é
utilizado para a confecção de esfregaço ou impressão em lâminas, histologia, isolamento em
meios de cultura ou inoculação em animais de laboratório.
A especificidade destes métodos é de 100%, mas a sensibilidade é muito variável, pois
a distribuição dos parasitas não é homogênea no mesmo tecido. A sensibilidade mais alta
(98%) é alcançada quando se utiliza aspirado do baço.
As punções hepáticas, esplênicas e de medula óssea são consideradas procedimentos
invasivos e exigem ambientes apropriados para a coleta, não sendo procedimentos adequados
para estudos epidemiológicos em larga escala, e muitas vezes são também inadequados para
diagnósticos individuais (SUNDAR & RAI, 2002).
O diagnóstico imunológico, parasitológico, e os exames sorológicos, de
Imunofluorescência Indireta (IFI) e Ensaio Imunoenzimático (ELISA) são invariavelmente
reativos e a Intradermorreação de Montenegro (IDRM) negativa. O aspirado de medula óssea
e do baço geralmente mostram presença de formas amastigotas do parasita. Na forma
oligossintomática, a punção aspirativa de medula óssea pode ou não mostrar a presença da
Leishmania, não sendo, a princípio, indicada a sua realização; a IDRM pode estar positiva e a
sorologia é, invariavelmente, reagente.
No diagnóstico laboratorial complementar, o hemograma revela anemia, geralmente
pouco expressiva, com hemoglobina acima de 9g/dl. A contagem de leucócitos apresenta-se
sem alterações significativas, com predominância de células linfomonocitárias, contagem de
plaquetas ainda pode estar normal, velocidade de hemossedimentação encontra-se elevada
(>50mm) e as proteínas totais e frações podem estar discretamente alteradas (FIGURA 10).
Esta última deve substituir a reação de formolgel (teste de Napier) que está em desuso
como critério para diagnóstico da leishmaniose visceral.
Na forma oligossintomática, os exames laboratoriais não se alteram a exceção da
velocidade de hemossedimentação, que está elevada e a presença de hiperglobulinemia.
O diagnóstico diferencial deve considerar a febre tifóide, tuberculose, malária,
25
esquistossomose, AIDS, mononucleose infecciosa, hepatite crônica, cirrose, leucemia,
linfoma e endocardite bacteriana.
Evolução Clínica Laboratório Complementar Período Inicial Período de Estado Período Final Anemia Discreta Moderada Acentuada
Leucopenia ou neutropenia Ausente Presente Acentuada
Plaquetopenia Ausente Presente Acentuada
Hiperglobulinemia Discreta Elevada Elevada Forma Oligossintomática – sem alterações laboratoriais (exceto VHS alto e hiperglobulinemia) (MS, 2003).
Figura 10- Quadro comparativo da evolução clínica da leishmaniose visceral, quanto aos exames laboratoriais
complementares
1.9 TRATAMENTO SEGUNDO MANUAL DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DA
LEISHMANIOSE VISCERAL – MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004.
Antes de se iniciar o tratamento do paciente com leishmaniose visceral, alguns
cuidados devem ser observados, entre eles: avaliação e estabilização das condições clínicas e
co-morbidades presentes no diagnóstico da leishmaniose visceral.
Em situações onde existam condições de seguimento, o tratamento pode e deve ser
realizado em nível ambulatorial.
Para o Ministério da Saúde (MS, 2003), no momento do diagnóstico, é indicada a
realização do eletrocardiograma (ECG) em todos os casos de leishmaniose visceral, sendo
obrigatório nos pacientes acima de 50 anos de idade, no início, durante e após o tratamento.
Em caso de tratamento hospitalar, devem ser observados criteriosamente os seguintes
sinais e sintomas: anemia acentuada (hemoglobina inferior a 5g%); diarréia grave ou
prolongada; edema generalizado; desnutrição grave; presença de sangramento; infecções
concomitantes; doenças associadas (cardiopatia, nefropatia, hepatopatia, hipertensão arterial);
ausência de resposta ao tratamento (refratariedade primária); casos de recidiva; presença de
icterícia; pacientes com menos de seis meses de vida ou mais de 65 anos.
Para o tratamento da leishmaniose visceral, por mais de sessenta anos, vem sendo
utilizado os antimoniais pentavalentes e, no Brasil, o único disponibilizado é o antimoniato N-
metil glucamina, Glucantime® como droga de primeira escolha, e a Anfotericina B e
derivados como drogas de segunda escolha (MS, 2003).
26
1.10 MEDICAMENTOS
O Ministério da Saúde (1999) define medicamento como um produto farmacêutico
tecnicamente obtido e elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de
diagnóstico (ROZENFELD, 1998). Para Ivama et al. (2002), ele representa um dos principais
itens da atenção à saúde, quando utilizado adequadamente, podendo assim aumentar a
expectativa de vida da população, erradicar certas doenças, como também trazer benefícios
sociais e econômicos para a sociedade.
A utilização de medicamentos é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS,
1977) como: “a comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos em uma
sociedade, com ênfase especial sobre as conseqüências médicas, sociais e econômicas
resultantes” (GOMES & REIS, 2001). Os medicamentos constituem um elemento com
características especiais no contexto global da medicina. E isso por duas razões: em primeiro
lugar, pelo papel dos fármacos como parte da assistência médica e, em segundo, pelo valor
que existe em conhecer o modo como os medicamentos são utilizados na prática médica
(LAPORTE, TOGNONI & ROZENFELD, 1989). Laporte et al. (1993), ressalta que a pouca
atenção dada aos riscos do uso de medicamentos, teve como conseqüência a trágica
experiência dos efeitos da talidomida na população de vários países. A partir desse fato,
lentamente estudos sobre os riscos relacionados aos medicamentos começaram a ser
desenvolvidos. A consciência dos riscos inerentes ao uso de fármacos cada vez mais potentes
está ligada, de forma mais visível, à morte de mais de 100 pessoas, em 1937, nos EUA, por
falência renal em conseqüência do uso de um elixir de sulfanilamida, contendo como veículo,
o dietilenoglicol, e a epidemia de focomelia que, nos primeiros anos da década de 1960
atingiu vários países onde a talidomida foi comercializada (STROM, 1994). A partir de então,
a farmacoepidemiologia torna-se cada vez mais importante ampliando seu campo de atuação,
com aplicação nos estudos de utilização e efeitos dos medicamentos na população (CASTRO
et al., 1997).
No caso da leishmaniose visceral devemos salientar que por apresentar ação sobre o
aparelho cardiovascular, o Glucantime® é contra indicado em pacientes que fazem uso de
Beta-Bloqueadores e drogas anti-arrítmicas. Pacientes com insuficiência renal ou hepática e
gestantes (dois primeiros trimestres de gestação), também não devem fazer o uso desta
medicação.
27
1.10.1 Farmacoepidemiologia
A farmacoepidemiologia, ou epidemiologia da droga, é o estudo dos efeitos da
droga em populações humanas. É uma contribuição valiosa para as ciências farmacêuticas,
pois cobre um espectro desde relatos de casos clínicos, que são sentinelas de problemas até
ensaios clínicos aleatórios caros e intensivos em mão-de-obra, considerados o padrão ideal de
terapia (GENNARO, 2004).
Abordar epidemiologicamente o uso de medicamentos impõe reconhecer que tal prática
não se limita a fatores farmacoterapêuticos. Estudos demonstram que esse consumo resulta
não apenas de um preciso diagnóstico de necessidades objetivas, avaliadas sob a ótica da
clínica, mas também de padrões socioculturais do indivíduo, de um grupo social ou da
sociedade como um todo. Demonstram, portanto, que para prevalecer o rigor científico no uso
dos medicamentos, impõem-se a necessária competência para sobrepujar outras
racionalidades que atuam, com suas próprias lógicas, no processo de determinação do
consumo dessa tecnologia. A análise epidemiológica dessa prática deve buscar demonstrar
como os padrões de condutas individuais são construídos e, por sua vez, constroem os padrões
coletivos de seu consumo (SOARES & REIS, 2000).
Em farmacoepidemiologia, estudos descritivos têm sido utilizados para conhecer
aspectos importantes na utilização de medicamentos por determinados grupos ou populações.
Estes estudos buscam conhecer a interação do uso de medicamentos com o processo global da
assistência sanitária, em que ocorre o diagnóstico e tratamento das doenças, uma vez que os
medicamentos estão inseridos no modo como a cultura de uma sociedade assume a saúde.
Dessa forma, os medicamentos se constituem em indicadores da prevalência de problemas
médicos e da maneira como a comunidade científica e médica interage com os usuários dos
serviços de saúde na seleção de soluções que envolvam a intervenção farmacológica
(TOGNONI & LAPORTE, 1989).
Cobert e Biron (2002) conceituam farmacoepidemiologia como a aplicação dos
métodos clássicos e clínicos de epidemiologia, bem como as tecnologias da moderna
comunicação da farmacologia clínica e farmacoterapia. Ela representa a última fase de
avaliação do desenvolvimento de um medicamento e é absolutamente essencial para
completar o conhecimento de um novo produto para garantir a efetividade, segurança,
racionalidade e o uso custo-efetivo.
A farmacoepidemiologia é uma área de grande importância social, dado o seu
potencial de contribuição para a redução dos gastos com a saúde, diretamente, através da
racionalização do uso de medicamentos e, indiretamente, pela redução dos agravos
28
iatrogênicos (COELHO & ARRAIS, 1999).
A farmacoepidemiologia pode ser útil na provisão de informações sobre os efeitos
benéficos e perigosos de qualquer fármaco; permitindo, assim, melhor compreensão da
relação risco-benefício para o uso de qualquer fármaco em qualquer paciente (STROM,
1994).
1.10.2 Histórico dos medicamentos para o tratamento de Leishmaniose Visceral
1912- Descoberta do antimonial trivalente (tártaro emético) por Gaspar Vianna. Devido aos
efeitos colaterais, esse medicamento foi substituído por outros antimoniais trivalentes como
estibofeno e solustibosan (PESSÔA, 1960; DEANE & VERONESI, 1962; RIBEIRO in
CAMPOS, 2003);
1913- Utilização pela primeira vez no Brasil de antimoniais trivalentes para o tratamento da
leishmaniose tegumentar (MS, 2004);
1915- Na Itália começa o uso de antimoniais trivalentes no tratamento da leishmaniose
visceral (MS, 2004);
1921- Sintetização do primeiro antinomial pentavalente (urea stibamine) por Brachamari
(Índia), sendo essa droga mais eficaz e menos tóxica (RIBEIRO in CAMPOS, 2003);
1940- Produção em larga escala dos antimoniais pentavalentes (n-metilglucamina -
Glucantime® e estibogluconato de sódio – Pentostan®), pelos laboratórios Rhodia da França
e Wellcome da Inglaterra (RIBEIRO in CAMPOS, 2003);
1955- Gold e alguns colaboradores nos EUA, isolaram a Anfotericina B, que passou a ser um
antibiótico com bons efeitos terapêuticos no tratamento da Leishmaniose Tegumentar
(DEANE & VERONESI, 1962);
1984- Estudos sobre o uso de antimoniato de meglumina encapsulada em lipossomas no
tratamento de cães, por Alving e colaboradores. Nesse estudo concluíram que a droga
29
encapsula é 700 vezes mais eficiente que a forma livre para tratamento da leishmaniose
visceral canina (VAL, 2004);
1997- Aprovação do uso de Anfotericina B em preparação lipídica pelo FDA - Food and Drug
Administration (CAMARGO-NEVES & SANTUCCI, 2000-2001);
1999- Pesquisadores da UFMG e da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais criaram o
Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos Leishmanicidas, para sintetizar e
testar novas drogas contra as Leishmanioses em modelos animais (VAL, 2004);
2005- Aprovação do uso de Miltefosina no tratamento de leishmaniose visceral em humanos
pela OMS (GONTIJO & MELO, 2004).
1.10.3 Medicamentos e esquemas de tratamento da leishmaniose visceral (MS, 2004).
− Glucantime® (antimoniato-N-metil glucamina): Ampola 5ml, contendo 405 mg Sb5+ .
Ele atua sobre as formas amastigotas do parasita, inibindo sua atividade glicolítica e a via
oxidativa dos ácidos graxos. É usado como droga de 1ª escolha no tratamento da
leishmaniose visceral na dose de 20 mg de Sb5+ com aplicação EV (preferência em
pacientes desnutridos, com pouca massa muscular ou com trombocitopenia infusão lenta
ao longo de 5 a 7 minutos) ou IM (região glútea) no mínimo de 20 e no máximo 40 dias
utilizando como limite máximo de 2 a 3 ampolas. Nos casos mais avançados onde a
resposta clinica nos primeiros dias não é evidente, o tempo mínimo de tratamento deverá
ser de 30 dias; nos casos de recidiva da doença, deve ser instituído um segundo
tratamento, com a mesma dose, porém, com um tempo mais prolongado de no máximo 40
dias. O principal efeito colateral é decorrente de sua ação sobre o aparelho cardiovascular.
Deve ser realizado eletrocardiograma semanal e uma cuidadosa ausculta cardíaca
diariamente. Em casos de arritmia, o medicamento deve ser suspenso e o paciente tratado
com droga alternativa. Os outros efeitos incluem artralgias, adnamia, dor local da
aplicação.
− Anfotericina B Comum: É a droga mais potente no tratamento da leishmaniose visceral.
Atua nas formas promastigotas e amastigotas. Ela faz ligações com os ésteres presentes
30
em sua membrana plasmática. Apresenta-se em frasco de 50 mg e deve ser usado na dose
de 1mg/kg/dia EV durante 14 a 20 dias, dose máxima diária de 50mg e 3g de dose total.
Apresenta os seguintes efeitos colaterais: febre, cefaléia, náuseas, vômito, hiporexia,
tremores, calafrios, flebite, cianose, hipotensão, hipopotassemia e comprometimento da
função renal. Deve-se monitorar função renal, potássio sérico, na disfunção renal, com
níveis de creatinina acima de duas vezes maior do que o valor de referência. O tratamento
deve ser suspenso por 2 a 5 dias e reiniciar em dias alternados. São utilizados em casos de
leishmaniose visceral grave com resposta insatisfatória a outras drogas. Nos casos de
resposta insatisfatória aos antimoniais, a anfotericina B comum deve ser utilizada na dose
de 1mg/kg/dia, em dias alternados (máximo de 3g de dose total). Doses acima das
recomendadas podem ser usadas em casos especiais. Em crianças, a anfotericina B deve
ser utilizada na dose total de 15 a 25 mg/kg de peso, administrada em dias alternados.
− Anfotericina B Lipossomal: Ampola 50mg; a dose deve ser 3mg/kg/dia durante 7 dias ou
4mg/kg/dia durante 5 dias por infusão venosa. Os efeitos colaterais são: febre, cefaléia,
náuseas, vômitos, tremores, calafrios e dor lombar. Com níveis de creatinina acima de
duas vezes maior do que o valor de referência, o tratamento deve ser suspenso por 2 a 5
dias e reiniciar em dias alternados. A anfotericina B Lipossomal apresenta custo elevado,
impossibilitando o seu uso na rotina do serviço. Essa droga tem como indicação, de
acordo com o Manual de Normas e Condutas para leishmaniose visceral Grave (MS,
2005), o tratamento dos pacientes considerados graves (idade superior a 65 anos,
desnutrição grave, co-morbidades, icterícia, fenômenos hemorrágicos, edema generalizado
e sinais de toxemia) que desenvolveram insuficiência renal ou toxicidade cardíaca durante
o uso do Antimoniato de N-metil glucamina e de outras drogas de escolha não obtendo
melhora ou cura clínica (FIGURA 11).
Esquema Droga Dose Via Tempo
1ª escolha Glucantime® 20 mg de SB+5 EV ou IM 20 a 40
dias
2ª escolha Anfotericina B 1 mg/kg/dia EV 14 a 20
dias
Anfotericina B 3 mg/kg/dia EV 7 dias
coloidal/ lipossomal ou 4 mg/kg/dia 5 dias
Figura 11- Tratamento da leishmaniose visceral preconizado pelo Ministério da Saúde (2004).
Para o Ministério da Saúde (2003), no momento do diagnóstico, é indicada a
realização do eletrocardiograma (ECG) em todos os casos de leishmaniose visceral, e
31
obrigatório nos pacientes acima de 50 anos de idade, no início, durante e após o tratamento.
1.10.4 Contra-indicações
O Glucantime® é contra indicado em pacientes que fazem uso de Beta-Bloqueadores e
drogas anti-arrítmicas, em pacientes com insuficiência renal ou hepática, em mulheres
grávidas nos dois primeiros trimestres de gestação e em casos que apresentam intervalos QTC
no eletrocardiograma superior a 400ms em homens e 450 ms em mulheres (MS, 2004).
Não há contra-indicações absolutas ao uso da Anfotericina B, entretanto, complicações
renais são as complicações mais importantes. Graus variados de comprometimento renal
ocorrem em praticamente todos os pacientes ao longo do tratamento.
Podem ainda ocorrer hipopotassemia devido à perda aumentada deste eletrólito no
túbulo contornado distal, perda essa que pode ser agravada pela presença de acidose tubular
renal em alguns pacientes. Entretanto, as alterações renais são totalmente reversíveis, quando
a droga é usada nas doses recomendadas (MS, 2003).
1.10.5 Situações específicas que devem ser observadas no tratamento de leishmaniose
visceral ( MS, 2003):
- Leishmaniose visceral em gestantes:
Os antimoniais pentavalentes atravessam a barreira placentária e podem impregnar
tecidos nervosos no feto, levando às síndromes severas de retardo mental. Portanto, está
contra indicada a utilização do antimonial pentavalente durante os dois primeiros trimestres
da gravidez. Não há contra-indicação de seu uso durante a amamentação.
A anfotericina B é a droga de escolha para o tratamento da leishmaniose visceral em
gestantes. Recomenda-se a dose de 1mg/kg/dia durante 14 dias consecutivos (MS, 2003).
- Leishmaniose visceral e HIV/AIDS:
O critério de escolha das drogas utilizadas para a terapêutica das leishmanioses em
pacientes portadores de HIV não difere do preconizado para os pacientes imunocompetentes.
32
Os sais de antimônio na dose de 20 mg/kg de peso por dia (de antimônio pentavalente -
Sb+5), durante um período de 30 dias é a recomendação atual de tratamento e a droga de
segunda escolha é a anfotericina B, no mesmo esquema posológico recomendado para
pacientes imunocompetentes.
A resposta terapêutica de pacientes co-infectados também é semelhante à observada
em pacientes imunocompetentes.
Estima-se que 83% dos pacientes apresentam melhora do quadro clínico após o
tratamento. Cura parasitológica foi observada em 75% de 12 pacientes recebendo 20
mg/kg/dia ou 850 mg de Sb+5 por dia, durante 28 dias ou mais (MS, 2003).
1.10.6 Critérios de cura da leishmaniose visceral ( MS, 2003)
Os critérios de cura da leishmaniose visceral baseiam-se essencialmente em dados
clínicos e exames laboratoriais, estabelecidos pelo Ministério da Saúde da seguinte maneira:
1 - Clinicamente observa-se o desaparecimento da febre por volta do 5° dia de
medicação; redução da hepatoesplenomegalia nas primeiras semanas (o baço geralmente
apresenta redução de 40% do tamanho em relação à medida inicial); ganho ponderal com
retorno do apetite e melhora do estado geral.
2 - Laboratorialmente tem-se a normalização das alterações das proteínas, o que pode
levar meses.
O paciente tratado deve ser acompanhado durante doze meses (1ª consulta aos 3
meses, 2ª consulta no 6º mês e 3ª consulta no 12º mês), ao final desse período, se permanecer
estável, será considerado clinicamente curado.
Quando houver a interrupção no tratamento, deve ser considerado o número de doses,
o estado clínico atual e o tempo decorrido da última dose.
Caso o paciente retorne antes de sete dias de interrupção da droga, é necessário
completar as 20 doses.
Após sete dias, considerar o que se segue na FIGURA 12, logo abaixo.
33
Figura 12- Procedimento a ser adotado quando houver interrupção no tratamento de leishmaniose visceral.
1.10.7 Tipos de tratamento
• Tratamento regular: caso que utilizou 20 doses de 20mg/Sb+5/kg/dia de antimonia
pentavalente, em no máximo 30 dias, não ocorrendo intervalos superiores a 72 horas entre as
doses;
• Tratamento irregular: caso que ultrapassou o tempo previsto para o tratamento regular ou
que tenha ocorrido intervalos superiores a 72 horas entre as doses;
• Falha terapêutica: caso em que não ocorreu cura clínica após a segunda série regular de
tratamento com antimonial pentavalente;
• Abandono de tratamento: casos que não completaram 20 doses de tratamento com
antimonial pentavalente no tempo pré-estabelecido, ou os pacientes que não tendo recebido
alta, não compareceram até 30 dias após o agendamento, para avaliação clínica;
• Recidiva: quando há recrudescimento da sintomatologia em até 12 meses após cura clínica.
Após 12 meses de cura clínica, o reaparecimento de sintomatologia é considerado caso novo,
desde que não haja evidência de imunodeficiência.
Nos casos de recidiva da doença, deve ser instituído um segundo tratamento com a
mesma dose, porém por tempo mais prolongado (no máximo 40 dias), antes de se rotular o
caso como refratário ao tratamento com os antimoniais pentavalentes. Somente a partir de
então, esquemas alternativos, com drogas ditas de segunda linha, deverão ser tentados. Com o
arsenal de drogas atualmente disponível, não existe mais indicação para a esplenectomia
como medida terapêutica na leishmaniose visceral (MS, 2004).
Número de Doses Clinicamente Curado Clinicamente Doente
Menos de 10 doses Reiniciar tratamento Reiniciar tratamento
10 doses ou mais Observar Reiniciar tratamento
34
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Descrever o uso de medicamentos em casos tratados de leishmaniose visceral em adultos
atendidos no serviço de Infectologia do Núcleo de Hospital Universitário (NHU)-UFMS.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Caracterização do perfil sócio demográfico e clínico epidemiológico dos pacientes
portadores de leishmaniose visceral atendidos no NHU/UFMS.
2. Avaliar o uso de medicamentos em casos de leishmaniose visceral dos pacientes atendidos
pelo Núcleo de Hospital Universitário/UFMS.
3. Caracterizar clínico-epidemiológicamente pacientes com leishmaniose visceral
apresentando co-morbidades e sua evolução, atendidos pelo Núcleo de Hospital
Universitário/UFMS
4. Caracterizar clínico-epidemiológicamente pacientes com leishmaniose que foram a óbito,
atendidos pelo Núcleo de Hospital Universitário/UFMS.
5. Avaliar o acompanhamento ambulatorial dos pacientes com leishmaniose visceral tratados.
6. Análise de sobrevida dos pacientes com leishmaniose visceral atendidos pelo Núcleo de
Hospital Universitário/UFMS
35
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 POPULAÇÃO DA PESQUISA
Foram selecionados 90 pacientes com suspeita clínica de leishmaniose visceral e que
foram notificados pelo Sistema Nacional de Agravos e Notificação (SINAN), processados
pelo Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Campo
Grande (SESAU), e atendidos no Núcleo do Hospital Universitário (NHU) de Campo Grande
- MS.
Destes, sete apresentaram posteriormente outros diagnósticos (três com Tuberculose,
um com hepatite auto-imune e três com outros diagnósticos), um oligossintomático, e seis
prontuários não localizados, restando, portanto 76 casos com diagnóstico clínico,
epidemiológico e/ou laboratorial de leishmaniose visceral.
3.2 DEFINIÇÃO DE CASO
A definição de caso em epidemiologia constitui-se em uma dessas estratégias,
possibilitando a identificação de indivíduos que apresentam um agravo ou doença de interesse
de forma a padronizar critérios para o monitoramento das condições de saúde e para a
descrição da ocorrência desse evento (WALDMAN, 1998).
Foram incluídos neste estudo, pacientes adultos que apresentaram positividade para o
parasita nos exames parasitológicos direto e/ou cultura; pacientes com imunofluorescência
reativa com título de 1:80 ou mais, desde que excluídos outros diagnósticos diferenciais, além
dos pacientes com critérios clínico-epidemiológicos.
3.3 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado em Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul,
36
onde se localiza o Serviço de Infectologia do Núcleo de Hospital Universitário/UFMS
(NHU), que constitui uma referência para o diagnóstico e tratamento de leishmaniose
visceral.Tem em sua estrutura, 10 leitos de internação hospitalar na enfermaria de Infectologia
(EI) reservada a internações convencionais e 12 leitos em regime de Hospital-Dia (HD).
Atualmente, o Estado de Mato Grosso do Sul vem apresentando altos índices de
infecções causadas pelos protozoários do gênero Leishmania, tanto na espécie canina quanto
em humanos. O município de Campo Grande apresentava uma população estimada para o ano
de 2005 de 749.770 habitantes (MS, 2005). O clima é tropical úmido, com estação chuvosa no
verão e seca no inverno. A área total do município é de 8.096 Km² e a área urbana tem 334
Km² (FIGURA 13). A cidade se caracteriza pela expansão horizontal e vegetação abundante,
tendo a maioria de suas vias pavimentadas A área urbana do município é constituída por
quatro Distritos sanitários (DS) e sete Regiões Administrativas (RA): DS Norte (Segredo e
Prosa), DS Sul (Anhanduizinho e Centro), DS Leste (Bandeira), DS Oeste (Imbirussu e
Lagoa). Vale a pena ressaltar que o vetor Lutzomia longipalpis foi identificado pela primeira
vez no ano de 2001 (OLIVEIRA et al., 2003), que primeiro caso de leishmaniose visceral
canina autóctone de Campo Grande foi registrado no ano de 1998, comprovado pelo
isolamento da Leishmania chagasi ( SILVA et al., 2000) , e que o primeiro caso humano de
LV autóctone foi diagnosticado em 2002 (FURLAN, 2008).
Figura 13 – Região de Campo Grande destacada no mapa de Mato Grosso do Sul
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mato_Grosso_do_Sul
37
3.4 FONTE DE DADOS
A principal fonte de dados para a pesquisa foram os prontuários dos pacientes com
diagnóstico clínico, epidemiológico e laboratorial de leishmaniose visceral, do Serviço de
Infectologia do Núcleo de Hospital Universitário/UFMS (NHU), registrados entre 2002 a
2005. Todos os prontuários foram pesquisados e as prescrições foram revisadas. Como fontes
de dados complementares, foram pesquisadas as fichas de notificação do SINAN, processadas
pelo Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Campo
Grande (SESAU), dos respectivos pacientes, no período estudado.
3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO
Neste estudo analisamos aspectos diversos da leishmaniose visceral, divididos em
sócio-demográficos, clínico-laboratoriais e epidemiológicos. Dentro dos aspectos sócio-
demográficos observamos a freqüência dos sexos, a idade e o local de residência. Nos
aspectos clínico-laboratoriais foram verificadas as queixas e os dados clínicos dos pacientes
quando da internação e do exame físico, resultados de exames parasitológicos, sorológicos, e
hematológicos (hemograma), além do acompanhamento clínico do pacientes no 3º, 6º e 12º
mês após o final do tratamento. Os aspectos epidemiológicos estudados constam da presença
ou ausência de co-morbidades (doenças renais, cardíacas, hepáticas), tempo de início de
sintomas (tempo entre o início dos sintomas até a data do exame físico) maior ou menor/igual
a 56 dias (critérios prognósticos segundo Abdelmoula e cols, 2003), procura prévia ou não por
serviços especializados, tipo de droga utilizada, efeitos colaterais apresentados pelo pacientes
após uso da medicação, concordância da prescrição com as normas estabelecidas pelo MS,
acompanhamento clínico do paciente tratado após alta e evolução do caso (alta ou óbito).
3.6 COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados, foi construído um instrumento estruturado com as variáveis do
38
estudo no período entre dezembro de 2005 a fevereiro de 2006 (APÊNDICE 1).
3.7 DESENHO DO ESTUDO
A presente pesquisa caracteriza-se por um estudo de caso epidemiológico,
retrospectivo.
3.8 ANÁLISE DE SOBREVIDA
A técnica estatística conhecida como análise de sobrevida é utilizada quando se
pretende analisar um fenômeno em relação a um período de tempo, isto é, ao tempo
transcorrido entre um evento inicial, no qual um sujeito ou um objeto entra em um estado
particular e um evento final, que modifica este estado (TEIXEIRA et al.,2002).
Em estudos de sobrevida, as pessoas são acompanhadas por meio da ocorrência de um
evento que pode ser, por exemplo, o diagnóstico da doença, ou a realização de cirurgia, ou o
nascimento.
Geralmente, as pessoas são incluídas no estudo em diferentes tempos do ano
calendário; porém, na análise, todos os indivíduos têm seu tempo de sobrevivência contado a
partir da entrada no estudo (que é considerado como tempo zero) (COX & OAKES, 1984). Na
análise de sobrevida pelo método de Kaplan-Meier (KAPLAN & MEIER, 1958; LEE, 1992;
KLEINBAUM, 1995) os intervalos de tempo não são fixos, mas determinados pelo
aparecimento de uma falha (por exemplo, o óbito).
Para a análise de sobrevida do presente estudo, a definição da variável tempo-
dependente foi o período entre a data do início do tratamento e a data da ultima reavaliação ou
morte.
Na confecção da curva de sobrevida, o óbito foi considerado critério de segmento
completo para o estudo dos casos que apresentaram o evento de interesse. Como critério de
censura foi considerado os casos de alta.
Os resultados obtidos foram analisados entre pacientes com e sem co-morbidades e
entre pacientes com e sem co-morbidade que fizeram uso de Glucantime®. Na primeira
39
análise (pacientes com e sem co-morbidades), pacientes com co-morbidade tinham um
seguimento de até 58 dias. Na segunda análise (pacientes com e sem co-morbidade que
fizeram uso de Glucantime), pacientes com co-morbidade tiveram um seguimento de no
máximo 47 dias.
3.9 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
O processamento e a análise dos dados coletados foram realizados por meio
eletrônico, utilizando o “software” EPI2002/OMS, e GraphPad Prism 5.0. Inicialmente foi
realizada uma análise uni-variada, com descrição da distribuição das variáveis na população
estudada. Em seguida realizou-se análise bi-variada avaliando sexo, inicio de sintomas, co-
morbidade e o tipo de droga utilizada dos pacientes.
3.10 ASPECTOS ÉTICOS NA PESQUISA
Previamente ao seu desenvolvimento, esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
A pesquisa observou as recomendações da Resolução 196 de 10/10/1996 – Conselho
Nacional de Saúde para Pesquisa Científica em Seres Humanos.
40
4 RESULTADOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SÓCIO DEMOGRÁFICO E CLÍNICO
EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES PORTADORES DE LEISHMANIOSE
VISCERAL.
O perfil sócio demográfico e clínico epidemiológico de 76 pacientes adultos
portadores de leishmaniose visceral atendidos no serviço de infectologia do Núcleo de
Hospital Universitário (NHU/UFMS), referência no tratamento de leishmaniose visceral, foi
realizado por meio das variáveis: sexo, idade, local de moradia, procura pelo serviço de saúde,
início de sintomas, presença de co-morbidades e evolução da doença.
Com relação ao perfil sócio demográfico, podemos observar que 74,7% (n= 56) dos
pacientes são do sexo masculino e 25,3% (n= 20) do sexo feminino. Desse total, 69,7%
(n=53) residiam em Campo Grande e 30,3% (n = 23) em outras localidades (TABELA 1).
A idade dos pacientes com leishmaniose visceral variou de 13 a 75 anos, com média
de 37,2 ± 14,8 anos (FIGURA 14). A distribuição dos pacientes por faixa etária mostra que a
maioria dos casos ocorreu em pacientes entre 30 a 39 anos de idade 28% (=21), seguida pelas
faixas etárias de 20 a 29 anos 20% (n=15) e 40 a 49 anos 18%(n=14).
Em relação ao sexo, os homens entre 30 a 49 anos representam 46% dos casos,
enquanto as mulheres com até 29 anos representam 50% dos casos com leishmaniose visceral
(FIGURA 15).
Tabela 1- Local de moradia dos pacientes com diagnóstico de leishmaniose visceral, NHU/UFMS – Campo
Grande 2002 – 2005.
Local de moradia N %
Campo Grande 53 69,7
Outros 23 30,3
Total 76 100,0
41
Pacientes
0
20
40
60
80
Idad
e (a
nos)
Figura 14- Distribuição dos casos de leishmaniose visceral por idade,
NHU/UFMS-Campo Grande 2002 - 2005
Figura 15- Distribuição dos casos de leishmaniose visceral por faixa etária e sexo, NHU/UFMS-Campo Grande
2002 – 2005
Em relação ao perfil clínico epidemiológico, podemos observar que a maior parte dos
pacientes 75% (n=57) procurou o serviço de saúde antes da internação, 15,8% (n=12) não
procuraram e não foi preenchida essa informação nos prontuários de 9,2% (n=7) dos
pacientes.
Ao analisar o início de sintomas, observa-se que 54% (n= 41) dos pacientes com
diagnóstico clínico e laboratorial de leishmaniose visceral, relataram o início de sintomas em
0
5
10
15
20
25
<19 20-29 30-39 40-49 50-59 >60
Faixa Etária (anos)
Nú
me
ro d
e C
aso
s
Total Masc Fem
0
5
10
15
20
25
<19 20-29 30-39 40-49 50-59 >60
Faixa Etária (anos)
Nú
me
ro d
e C
aso
s
0
5
10
15
20
25
<19 20-29 30-39 40-49 50-59 >60
Faixa Etária (anos)
Nú
me
ro d
e C
aso
s
Total Masc FemTotal Masc Fem
42
até 56 dias, enquanto que em 46% (n=35) esse início de sintomas ocorreu após esse tempo.
As queixas iniciais referidas pelos pacientes, e as manifestações clinicas, no momento
do diagnóstico encontram-se na TABELA 2, sendo a febre, esplenomegalia, palidez e
hepatomegalia as mais comuns.
Tabela 2- Manifestações clínicas iniciais dos 76 pacientes com leishmaniose visceral
Manifestações N % Febre 70 92,1% Esplenomegalia 58 76,3% Palidez 56 73,7% Hepatomegalia 54 71,1% Emagrecimento 50 65,8% Hiporexia 34 44,7% Tosse 28 36,8% Febre 27 35,5% Fraqueza 24 31,6% Diarréia 18 23,7% Vômito 18 23,7% ↑ volume abdominal 17 22,4% Mal estar 15 19,7% Dor abdominal 14 18,4% Cefaléia 11 14,5% Sudorese 11 14,5% Astenia 8 10,5% Náuseas 8 10,5% Tontura 8 10,5% Edema de MMII 7 9,2% Calafrios 7 9,2% Cansaço 6 7,9% Dispnéia 6 7,9% Anorexia 5 6,6% Dor epigástrica 5 6,6% Mialgia 5 6,6% Taquicardia 4 5,3%
A presença de co-morbidade foi observada em 28,9% (n=22) dos pacientes, 69,7%
(n=53) não apresentavam co-morbidades, e em 1,3% (n=1) dos prontuários essa informação
foi ignorada. Agrupadas em co-morbidades simples e associadas, observamos que as co-
morbidades mais freqüentemente foram: doença hepática e HIV+/ AIDS com 20% (n=5)
(cada uma) e doença renal com 16% (n=4).
Outras co-morbidades menos freqüentes também foram observadas, tais como: doença
cardíaca, doença de Chagas, pneumonia, sepsi/pneumonia, diabetes/doença renal, doença
renal/doença cardíaca, doença hepática/doença renal e pneumonia/HIV, cuja freqüência
43
variou entre 4,0% e 8,0% (TABELA 3). Ao se analisar a letalidade no grupo de 76 pacientes,
encontramos alta proporção de óbito 18,4% (n=14) entre os pacientes avaliados entre 2002 a
2005.
Tabela 3- Freqüência das co-morbidades apresentadas pelos pacientes com leishmaniose visceral (n=22).
Co-morbidades N %
HIV+/ AIDS 5 20%
Doença hepática 5 20%
Doença renal 4 16%
Sepsi/pneumonia 2 8%
Pneumonia 2 8%
Doença hepática/doença renal 2 8%
Doença cardíaca 1 4%
Doença de Chagas 1 4%
Diabetes Mellitus/doença renal 1 4%
Doença renal/doença cardíaca 1 4%
Pneumonia/ HIV+ 1 4%
Do total de 76 pacientes, 89,5% (n=68) tiveram seus diagnósticos obtidos por exames
laboratoriais, sendo o exame parasitológico de aspirado de medula óssea positivo em 73,5%
dos casos (n=50), seguido do exame parasitológico por cultura com 36,8% (n=25) e exame
sorológico (MIF) com 35,3% (n=24).
Foram realizados exames de aspirado de medula óssea e parasitológico de cultura em
23,7% (n=18), aspirado de medula óssea e exame sorológico em 15,8% (n=12), e
parasitológico de cultura e exame sorológico em 2,6% (n=2) dos pacientes.
Em oito pacientes (10,5%) não foi possível a confirmação parasitológica. Nesses casos
a análise dos dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais foi suficiente para a instituição
da terapêutica de prova, seguindo as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde (2003).
Os valores médios, desvio padrão e valores de referência de hemoglobina,hemograma,
hematócrito, leucócitos, plaquetas, albumina e globulina encontram-se na TABELA 4.
Podemos observar uma pancitopenia com anemia, leucocitose, trombocitopenia,
albuminemia e aumento das globulinas.
44
Tabela 4- Distribuição de valores de hemograma, hemoglobina, hematócrito, leucócitos, plaquetas, albumina e
globulina, e pacientes com leishmaniose visceral
Exame N Média Desvio padrão Valores de referência
hemograma (Hm) ul / 10 x 6 76 3.1 0,7107
4.5 – 5.9 (mas) 4.5 – 5.1 (fem)
hemoglobina (Hb) (g/dl) 76 8,2 1,922
14.0 – 17.5 (mas) 12.3 – 15.3 ( fem)
hematócrito (Ht) (g/dl) 76 25,5 5,601 41,5 – 50,4 (mas) 35.9 – 44,6 (fem)
leucócitos (n/ mm3) 76 2.5 1.334 4.4 – 11.0
plaquetas (n/ mm3) 76 78.000 74.81 150.000 – 450.000
albumina (g/dl) 71 2.4 0,7 3,2 - 4,5
globulina (g/dl) 67 5,1 1,76 2,3 – 3,5
4.2 O USO DE MEDICAMENTOS EM CASOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL.
Estas análises foram direcionadas para investigar o uso de medicamentos para o
tratamento da leishmaniose visceral dos pacientes atendidos pelo Núcleo de Hospital
Universitário/UFMS, levando em consideração o tipo de droga, efeitos colaterais, e a presença
de co-morbidades associadas. Quanto ao tipo de droga, 88,2% (n=67) dos pacientes utilizaram
o antimoniato-N-metil glucamina (Glucantime®) como droga de primeira escolha, 7,9%
(n=6) utilizou a anfotericina B comum e 3,9% (n=3) Anfotericina B lipossomal. Em função
dos efeitos colaterais graves, 13 pacientes passaram a fazer utilização da Anfotericina B,
apenas um paciente repetiu o uso do Glucantime® por tratar-se de recidiva. Cinco pacientes
necessitaram de utilizar os derivados da Anfotericina B como drogas de terceira e quarta
escolhas (TABELA 5).
Tabela 5- Utilização das drogas de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª escolha no tratamento dos pacientes com leishmaniose visceral
atendidos no NHU/UFMS.
Tipo de droga 1ª escolha 2ª escolha 3ª escolha 4ª escolhaN % N % N % N %
Glucantime® 67 88,2% 1 7,2% - - - -
Anf. B Comum 6 7,9% 8 57,2% 2 50,0% - -
Anf. B Lipossomal 3 3,9% 4 28,4% 2 50,0% 1 1
Anf. B Coloidal - - 1 7,2% - - - -
Total 76 100,0% 14 100,0% 4 100,0% 1 100,0%
45
Relataram a presença de algum efeito colateral com o uso da droga de primeira
escolha 73,7% (n=56) dos pacientes, 15,8% (n=12) não relataram nenhum efeito colateral e
em 10,5% (n=8) dos prontuários faltava informação, sendo que em cinco dos prontuários que
faltavam informação os pacientes fizeram uso de anfotericina B.
Entre as manifestações clínicas relatadas com a utilização das drogas, a pancreatite e a
epigastralgia foram as mais freqüentes 20,9% (n=14), seguida pela febre 13,4% (n=9) quando
da utilização do Glucantime®.
Em relação à utilização da anfotericina B, ocorreram menos efeitos colaterais, com
uma freqüência semelhante para as manifestações clínicas já relatadas (TABELA 6).
Tabela 6- Freqüência dos efeitos colaterais em pacientes que fizeram uso de drogas no tratamento para
leishmaniose visceral, NHU/UFMS, Campo Grande – 2002 2005
Drogas
Efeitos Colaterais Glucantime Anfotericina B
N % N %
Pancreatite 14 20,9
Epigastralgia 14 20,9
Febre 9 13,4 1 11,1
Prurido 8 11,9 1 11,1
Arritmia cardíaca 7 10,4
Inapetência 7 10,4
Sudorese 7 10,4
Edema membros inferiores 6 9 1 11,1
Hepatotoxicidade 6 9 1 11,1
Náuseas 5 7,5 1 11,1
Artralgia 4 6
Hiporexia 4 6
Dos pacientes tratados, 81,6% (n=62) evoluíram para a alta hospitalar, e 18,4% (n=14)
foram a óbito.
Dentre os 14 (quatorze) óbitos ocorridos no período, 78,6% (n=11) apresentavam co-
morbidades associadas (TABELA 7).
46
Tabela 7- Freqüência da letalidade na presença ou ausência de co-morbidades nos pacientes portadores de
leishmaniose visceral atendidos no NHU/UFMS, Campo Grande 2002 - 2005
Evolução
Óbito Alta Hospitalar
N % N %
Co-morbidade
Sim 11 78,6% 11 17,7%
Não 2 14,6% 45 72,6%
Ignorado 1 7,1% 6 9,7%
Total 14 100,0% 62 100,0%
4.3 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DOS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL APRESENTANDO CO-MORBIDADES E SUA
EVOLUÇÃO.
Vinte e dois pacientes apresentavam algum tipo de co-morbidade, sendo 81,8% (n=18)
do sexo masculino e 18,2% (n=4) do sexo feminino, com idade variando entre 21 a 75 anos,
com média de 43,5.
Como local de residência, 68,2% (n=15) eram de Campo Grande e 31,8% (n=7). O
Glucantime® foi a droga de primeira escolha no tratamento de 63,6% (n=14) dos casos e a
Anfotericina B em 36,4% (n=8) dos pacientes. A letalidade neste grupo (n=22) alcançou 50%
(n=11).
Selecionando apenas os pacientes portadores de doenças renais, hepáticas ou cardíacas
(n=14) e avaliando o tratamento, o Glucantime® mesmo que contra indicado, foi a droga de
escolha no tratamento de oito entre os quatorze acometidos nesse grupo, sendo que seis deles
evoluíram para o óbito, o que elevou o índice de mortalidade nesse grupo (n=8) para 75%
(n=6).
Seis pacientes fizeram uso de Anfotericina B comum e lipossomal e a letalidade foi de
16,6% (n=1). Deve-se lembrar que até 2004, não havia ainda uma padronização no uso da
medicação e praticamente a única droga disponível para o tratamento da leishmaniose visceral
era o Glucantime®.
47
4.4 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DOS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL QUE FORAM A ÓBITO.
A caracterização dos pacientes com leishmaniose visceral que foram a óbito, atendidos
pelo Núcleo de Hospital Universitário/UFMS, tem por objetivo traçar um perfil destes
pacientes, levando em consideração o sexo, início de sintomas, tipo de droga de primeira
escolha e a presença de co-morbidades associadas. Dos quatorze pacientes com leishmaniose
visceral que evoluíram para o óbito, 85,7% (n=12) eram do sexo masculino e 14,3% (n=2)
eram do sexo feminino. O início de sintomas menor ou igual a 56 dias foi observado em seis
pacientes (42,9%), em 50% (n=7) este início se deu após 56 dias , e em um paciente (7,1%)
não temos esta informação. A droga de primeira escolha mais utilizada foi o Glucantime®,
78,6% (n=11) e em três pacientes (21,4%) foi administrada a Anfotericina B comum.
Observou-se a presença de co-morbidades em 11 dos 14 pacientes que foram a óbito (78,6%),
ao passo que 21,4% (n=3) não apresentavam nenhuma co-morbidade.
4.5 ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL DOS PACIENTES COM
LEISHMANIOSE VISCERAL TRATADOS.
Em relação ao acompanhamento ambulatorial, observa-se a participação de 56,6%
(n=43) dos pacientes na primeira consulta após o tratamento, sendo 72,1% (n=31) do sexo
masculino e 27,9% (n=12) do sexo feminino, e 16,3% (n=7) apresentavam algum tipo de co-
morbidade. Na segunda consulta a porcentagem foi de 46,1% (n=35), sendo 68,6% (n=24)
masculino e 31,4% (n=11) feminino, 14,3% (n=5) apresentavam algum tipo de co-morbidade.
Na terceira consulta temos 31,6% (n=24) de participação sendo 66,7% masculino (n=16) e
33,3% (n=8) feminino, com 16,7% (n=4) de co-morbidade associada (TABELA 8).
Tabela 8- Acompanhamento ambulatorial dos pacientes após o tratamento da leishmaniose visceral , HU/UFMS
– Campo Grande 2002 – 2005.
Consulta % N masc fem Co-morbi
1ª consulta 56,6% 43 72,1% (n=31) 27,9% (n=12) 16,3% (n=7) 2ª consulta 46,1% 35 68,6% (n=24) 31,4% (n=11) 14,3% (n=5) 3ª consulta 31,6% 24 66,7% (n=16) 33,3% (n=5) 16,7% (n=4)
48
4.6 ANÁLISE DE SOBREVIDA DOS PACIENTES COM LEISHMANIOSE VISCERAL
ATENDIDOS PELO NHU/UFMS.
A avaliação dos resultados em longo prazo do tratamento dos pacientes com
leishmaniose visceral assim como das possíveis toxicidades das drogas utilizadas e a
importância de fatores clínicos epidemiológicos, podem ser obtidos através da análise de
sobrevida.
A TABELA 9 apresenta os resultados da análise de sobrevida das variáveis estudadas.
A análise de sobrevida dos pacientes com leishmaniose visceral atendidos pelo Núcleo de
Hospital Universitário/UFMS entre 2002 e 2005 mostrou diferença estatisticamente
significativa entre pacientes com e sem co-morbidades (p< 0,0001) e pacientes com co-
morbidades que fizeram uso Glucantime® (p=0,0009) (FIGURAS 16 e 17).
Tabela 9- Análise de sobrevida em relação ao sexo, inicio de sintomas, co-morbidades e droga de primeira
escolha, HU/UFMS – Campo Grande 2002 - 2005
Variável Categoria Sobrevida de 58 dias (%) p* Sexo Masculino (n=56) 70,7 0,2086 Feminino (n=20) 90 Inicio de sintomas < ou = 56 dias (n=41) 81,8 0,4217 > 56 dias (n=35) 71,6 Co-morbidades Sim (n=22) 41,2 <0.0001 Não (n=53) 91,5 Droga de primeira escolha Glucantime® (n=67) 78,8 0,0906
Anfotericina B comum/ lipossomal (n=9) 66,6
Droga 1ª escolha pacientes com co-morbidade Glucantime® (n=14) 38 0,8526
Anfotericina B comum/ lipossomal (n=8) 62,5
Glucantime® Pacientes com co-morbidade (n=14) 38# 0,0009
Pacientes sem co-morbidade (n=52) 78,8#
Anfotericina B comum e lipossomal
Pacientes com co-morbidade (n=8) 62,5 0,8627
Pacientes sem co-morbidade (n=1) 66,6
*p = probabilidade descritiva do valor do qui-quadrado calculado. #Sobrevida de 47 dias.
49
0 50 100 150 2000
20
40
60
80
100
sem co-morbidade
com co-morbidade
P value P<0.0001
Tempo (dias)
Per
centu
al d
e so
bre
vida
Figura 16- Análise de sobrevida entre pacientes com e sem co-morbidade, HU/UFMS –
Campo Grande 2002 – 2005
0 50 100 150 200 2500
20
40
60
80
100
Glucantime SC
Gluncantime CC
P value 0.0009
Tempo (dias)
Per
centu
al d
e so
bre
vida
Figura 17- Análise de sobrevida entre pacientes com e sem co-morbidade que fizeram uso de
Glucantime® como droga de primeira escolha, HU/UFMS – Campo Grande 2002 - 2005
50
5 DISCUSSÃO
As leishmanioses são consideradas doenças tropicais ou subtropicais. Porém observa-
se sua ocorrência também em países do Mediterrâneo ou em países que recebem viajantes
provenientes de área endêmicas (MINODIER & GARNIER, 2000; MALTEZOU et al.,
2000).
A leishmaniose visceral é uma protozoonose sistêmica grave, que pode acarretar a
morte nos pacientes não tratados. No passado, a leishmaniose visceral era uma doença
praticamente silvestre com características de ambientes rurais, que tem apresentado mudança
no comportamento epidemiológico, com uma tendência crescente no Brasil, considerando o
período de 1980 a 2005 (DESJEUX, 2001; MS, 2005).
As formas graves da leishmaniose visceral, que acometem os extremos de idade (idade
avançada ou muito precoce), pacientes imunodeprimidos ou mesmo refratários ao tratamento,
têm levantado preocupações quanto ao prognóstico, aos fatores associados a complicações
como as co-morbidades, a alta letalidade que no presente estudo está em torno de 18,0% , e ao
uso adequado e criterioso das drogas nas indicações e contra-indicações (DESJEUX, 2001;
MURRAY, 2004; WERNECK e cols., 2003; QUEIROZ e cols., 2004; SES/SP, 2004;
HOLANDA e cols., 2006).
Os resultados apresentados no presente estudo com relação ao sexo dos pacientes,
demonstram uma maior predominância do sexo masculino. A literatura aponta o sexo
masculino como mais susceptível ao adoecimento (MS, 1999; CORREIA, 1998;
PASTORINO et al., 2002). Essa também é uma característica comum encontrada em diversos
estudos já publicados, que pode ser atribuída a fatores genéticos e de exposição ao agente
etiológico (COSTA e cols., 1990; GONTIJO & MELO, 2004; QUEIROZ e cols., 2004; MS,
2005). O fato de essa diferença aumentar com a idade a partir dos dois anos e acentuar-se
abruptamente na adolescência, sugere que uma possível razão seja a maior área corporal
exposta à picada dos vetores nos homens que nas mulheres. No nordeste do Brasil, em virtude
das temperaturas elevadas, trabalhadores e crianças do sexo masculino não costumam usar
camisa no dia a dia, ao passo que as mulheres permanecem com o tronco protegido (COSTA,
PEREIRA & ARAÚJO, 1990).
Dos casos de leishmaniose visceral estudados, 69,7% residem em Campo Grande e
30,3% em outras localidades. Sabendo-se que a economia de Mato Grosso do Sul baseia-se na
agropecuária, pode-se correlacionar a ocorrência de casos de leishmaniose com a implantação
51
de projetos agropecuários, abertura de estradas e o assentamento de trabalhadores rurais sem-
terra, sem preocupação com infra-estrutura sanitária, como observado em outras regiões do
Brasil (AZEVEDO et al., 1996; MAYRINK et al., 1979). Campo Grande representa 31,9%
da população total do Estado de Mato Grosso do Sul, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2007). Sua situação geográfica, que se posiciona como estrada
obrigatória de migrantes para o norte do país e a atração exercida pela capital que se encontra
em expansão administrativa e econômica, faz com que seja preocupante a introdução da
doença na cidade (OLIVEIRA et al., 2003). O município dispõe de ações de controle do vetor
como o controle químico pela burrifação nas paredes do interior dos domicílios e no peri-
domicílios, uso de coleiras e mosquiteiros impregnados com inseticidas. As medidas de
controle da doença até agora implementadas foram incapazes de eliminar a transmissão e
impedir a ocorrência de novas epidemias (FURLAN, 2008).
Analisando-se a freqüência de leishmaniose visceral relacionada à idade dos pacientes,
verificou-se que no grupo estudado, o maior número de casos da doença foi encontrado na
população com idade entre 20 a 24 anos (n=11) e 35 a 39 anos (n=12). Como os casos
estudados foram atendidos pelo Serviço de infectologia do Núcleo de Hospital Universitário/
UFMS e, que constitui uma referência para o diagnóstico e tratamento de leishmaniose
visceral, mas que se trata de uma clínica que atende pacientes adultos, não foi possível
comparar com outros grupos etários mais acometidos como as crianças (MS, 1999;
CORREIA, 1998, ALVES et al., 1996; CAMPOS, 1995). Para Gontijo e Mello (2004), no
Brasil, a leishmaniose visceral clássica acomete pessoas de todas as idades, mas na maior
parte das áreas endêmicas, 80% dos casos registrados, ocorrem em crianças com menos de 10
anos. Em alguns focos urbanos estudados existe uma tendência de modificação na distribuição
dos casos por grupo etário, com ocorrência de altas taxas também no grupo de adultos jovens
(SILVA, 2001).
Com relação ao início de sintomas relatados pelos pacientes, 54,0% disseram ter
iniciado até 56 dias e 46,0% depois de 56 dias. Esses achados foram comparáveis aos de
outros autores (KAGER et al., 1983). Abdelmoula e cols. (2003), identificaram como um dos
sete fatores associados ao mau prognóstico da doença, o tempo entre início dos sintomas e
primeira consulta médica > 56 dias. É possível que a procura por serviços médicos
especializados e o encaminhamento dos mesmos ocorra freqüentemente nesse período, pelo
aparecimento de sinais e sintomas sugestivos da doença (PEDROSA & ROCHA, 2004).
A presença de co-morbidade, independente do sexo, demonstra que do total dos
pacientes, 28,9% possuíam algum tipo de co-morbidade. Em estudo realizado por Oliveira et
52
al. (2006), quanto à mortalidade, 50% dos pacientes apresentavam patologia de base, o que
pode ter contribuído para o êxito letal dos casos de leishmaniose visceral.
As alterações laboratoriais encontradas (pancitopenia com anemia, leucopenia ,
trombocitopenia e albuminemia, com aumento de globulinas), não diferem das observadas em
pacientes com leishmaniose visceral de outros trabalhos (PASTORINO et al., 2002).
No presente estudo, observou-se uma alta freqüência do uso de Glucantime® como
droga de primeira escolha para o tratamento de pacientes com leishmaniose visceral (88,2%).
Dos nove pacientes que fizeram uso de Anfotericina B comum e derivados, oito (88,8%)
tinham algum tipo de co-morbidade. O antimoniato de metilglucamina é especialmente eficaz
no tratamento de leishmaniose cutânea, mucocutânea e visceral. O medicamento provoca
regressão rápida das manifestações clínicas e hematológicas da doença, bem como provoca a
esterilização do parasita (RATH e cols., 2003). Silva e cols. (1997), revelam em sua pesquisa
que o tratamento de 96% dos pacientes foi a base do antimoniato-N-metil-glucamina
(Glucantime®), droga bem tolerada e de excelentes resultados. A outra droga utilizada no
mesmo estudo, foi Anfotericina B Lipossomal em cinco pacientes dos quais dois não
responderam, sendo retratados com Glucantime® com ótimos resultados. Segundo os autores,
estes casos não comportam discussão, pois fizeram parte de um protocolo de pesquisa em
andamento. Revelam ainda que em nosso meio a Anfotericina B e a Pentamidina são drogas
de segunda escolha para o tratamento da leishmaniose visceral. Segundo Sá (2006), a droga
de escolha para o tratamento da leishmaniose visceral são os antimoniais pentavalentes. No
Brasil o laboratório distribui o Glucantime® exclusivamente para o Ministério da Saúde,
especificando no frasco “Venda proibida – Uso gratuito”, conforme o processo licitatório
(MS/SVS, 2004). Como tratamentos de segunda escolha no Brasil, são utilizados a
anfotericina B e suas formulações lipossomais (anfotericina B - lipossomal e anfotericina B -
dispersão coloidal). As pentamidinas (sulfato e mesilato) e os imunomoduladores (interferon
gama e GM-CSF) se encontram ainda em fase de investigação (GONTIJO & MELLO, 2004).
As novas drogas, principalmente Ambisome® e Miltefosine, têm mudado o perfil do
tratamento da leishmaniose visceral, mas o custo das novas terapias leva a diferentes práticas
de tratamento, de acordo com a condição socioeconômica e cultural de cada região (MARTY
& ROSENTHAL, 2002). Cascio e cols. (2004), demonstraram em seu trabalho, de maneira
objetiva, a necessidade de se avaliar o custo-benefício da escolha da droga não somente em
relação a sua eficácia, mas também em relação ao custo total do tratamento (principalmente
em países do terceiro mundo) e o tempo de internação.
Dos pacientes estudados 73,7% tiveram algum efeito colateral após o uso do
53
medicamento. O antimonial pentavalente (Glucantime®), droga utilizada para o tratamento da
doença, tem a hepatotoxicidade como um dos principais efeitos colaterais (ALVES, 1996;
ANDRADE, CARVALHO & ROCHA, 1990; JERÔNIMO et al., 1994) e pode contribuir
para a falência hepática. Dos efeitos colaterais descritos, a pancreatite aparece em 7,9%
(n=14) dos pacientes. Estudos revelam que as principais complicações da doença corroboram
com aquelas já descritas na literatura: pneumonia, infecções cutâneas e otites, sangramentos e
sepse (SEAMAN e cols., 1996; DESJEUX, 2001; SANTOS e cols., 2002; ABDELMOULA e
cols., 2003; WERNECK e cols., 2003; COLLIN e cols., 2004; QUEIROZ, 2004; COSTA e
cols., 2006; HOLANDA e cols., 2006; MS, 2006).
Segundo o Manual de Normas e Condutas do Ministério da Saúde (2004), existem
algumas co-morbidades que contra-indicam o uso de Glucantime®, a saber: cardiopatas,
doença renal ou hepática. Nesses casos, a droga de 1ª escolha para o tratamento deverá ser
outra. Em nosso estudo oito pacientes fizeram o uso de Glucantime® apesar de contra-
indicados, e tiveram uma letalidade de 85%. Este achado demonstra de maneira clara a
associação letal entre o uso de Glucantime® em pacientes cardiopatas, doentes renais e
hepatopatas. Torna-se necessário ressaltar que essas co-morbidades acima citadas e que são
tão importantes na evolução e tratamento da doença, estão sub-valorizadas no Manual,
diluídas sob o termo genérico de “Presença de qualquer co-morbidade”, o que pode prejudicar
o bom prognóstico do tratamento do paciente.
Os resultados do presente estudo sugerem que o prognóstico da doença torna-se ruim
quando a mesma é associada à presença de co-morbidades, e torna-se pior ainda quando o
Glucantime® é administrado nestes pacientes. Com a releitura do uso e indicações das drogas,
a partir de 2004 pelo Ministério da Saúde, em que pacientes com co-morbidade estão contra-
indicados para fazer uso de Glucantime ® espera-se que tenha havido um decréscimo da
letalidade.
Dos 76 pacientes analisados 18,4% (n=14) evoluíram para óbito, demonstrando alta de
letalidade, principalmente, se comparado com outros estudos realizados em hospitais de
referência e de maior complexidade como em Belo Horizonte, Palmas e Cuiabá
(COSTA,1990; GLORIA, 2006: MESTRE 2007). Estes serviços de saúde poderiam atrair
casos de maior gravidade potencial, selecionando uma clientela de maior risco de óbito
(QUEIROZ, ALVES & CORREIA, 2004). Apesar do conhecimento prévio das principais
causas imediatas de óbito, estas persistem ao longo dos anos, embora haja evidência de
descenso geral da letalidade (VIEIRA, 2002). Os achados de maior letalidade observados em
pacientes do sexo masculino, estão em concordância com a maior incidência e maior
54
exposição desse sexo (MS, 1999; CORREIA, 1998; PASTORINO et al., 2002; COSTA,
PEREIRA & ARAÚJO, 1990).
Dos pacientes que evoluíram para óbito, 21,4% eram do sexo masculino e 10,0% eram
do sexo feminino. As faixas etárias com maior incidência de óbitos são entre 35 a 49 e 60 a 64
anos, evidenciando uma mudança de perfil da doença, que passa a acometer adultos jovens
residentes nos centros urbanos (SILVA, 2001).
Analisando a evolução dos pacientes para o óbito, levando-se em consideração o início
de sintomas ≤ 56 dias >, não ha diferença significante em relação ao total dos pacientes, nem
quando estratificado por sexo. Esta diferença será significativa quando o início de sintomas
for associado ou não à presença de co-morbidades. Segundo Camargo-Neves e Filomonio
(2005), a média de 56 dias para o diagnóstico da leishmaniose visceral e a alta letalidade
observada em Campo Grande pode ser conseqüência do despreparo dos serviços básicos de
saúde para o diagnóstico e tratamento da doença, principalmente levando-se em consideração
que o primeiro ano de epidemia se deu em 2002 (FURLAN, 2008). Taxas semelhantes de
letalidade foram descritas no Estado de São Paulo e na Região Metropolitana de Belo
Horizonte e sugere que a falta de informação da população e principalmente dos profissionais
de saúde sobre a leishmaniose visceral têm, provavelmente, retardado o diagnóstico dos casos,
contribuindo para a sua maior gravidade.
Segundo Teixeira et al. (2002), as técnicas estatísticas conhecidas como análise de
sobrevida são utilizadas quando se pretende analisar um fenômeno em relação a um período
de tempo, isto é, ao tempo transcorrido entre um evento inicial, no qual um sujeito entra em
estado particular e um evento final, que modifica esse estado.
Na análise de sobrevida dos pacientes com diagnóstico clínico-epidemiológico e
laboratorial de leishmaniose visceral, observa-se diferença estatisticamente significativa em
pacientes com co-morbidades (p< 0,0001), e em relação ao tipo de droga de primeira escolha
em pacientes com co-morbidade (p=0,0009). Em relação ao sexo observamos uma tendência
de maior sobrevida para pacientes do sexo feminino. A diferença de sobrevida é razoável
(19,3%), entretanto temos uma pequena amostra de pacientes femininos, acrescentam-se
fatores genéticos e culturais e de maior exposição dos homens, já discutidos anteriormente.
Em relação ao início de sintomas ≤56 dias>, a análise de sobrevida não foi significativa,
apesar da boa amostragem dos dois grupos, o que difere de Abdelmoula e cols. (2003) que
identificaram como mau prognóstico da doença, o tempo entre início dos sintomas e primeira
consulta médica > 56 dias. Deve-se ressaltar que o trabalho de Abdelmoula e cols. (2003) foi
realizado predominantemente com pacientes pediátricos, enquanto que este constava quase
55
totalmente de pacientes adultos. A análise de sobrevida comparando-se o tipo de droga de
primeira escolha em pacientes com leishmaniose visceral mostrou-se rozoável (p= 0,0906),
mostrando uma tendência de melhor evolução para pacientes que fizeram uso de Anfotericina
B comum e lipossomal em relação ao Glucantime®, entretanto a amostra de pacientes que
fizeram uso de Anfotericina B comum e lipossomal era pequena. Fica portanto evidente neste
estudo que a co-morbidade mostrou-se como único fator significante na análise de sobrevida.
Torna-se necessária a realização de mais pesquisas na área fármaco-epidemiológica
para que se tenha real conhecimento dos efeitos do tratamento medicamentoso em paciente
com leishmaniose visceral, principalmente nos que apresentam algum tipo de co-morbidade.
56
6 CONCLUSÃO
O perfil sócio demográfico e clínico epidemiológico dos pacientes portadores de
leishmaniose visceral atendidos no NHU/UFMS e os pacientes que foram a óbito, não difere
dos encontrados na literatura.
O Glucantime® foi a droga de primeira escolha em 88,2% dos pacientes, 7,9%
utilizaram a anfotericina B comum e 3,9% anfotericina B lipossomal, estando as porcentagens
dentro dos padrões esperados, entretanto observou-se uma alta letalidade 18%, muito acima
dos dados nacionais que constam no Manual do Ministério da Saúde em que foram
observadas letalidade de 6,7% em 2003 e 8,4% de 2004.
O uso de Glucantime® em pacientes com doenças renais, hepáticas ou cardíacas
demonstrou uma letalidade de 75%.
A análise de sobrevida dos pacientes com leishmaniose visceral mostrou-se
estatisticamente significativa quando comparados os pacientes com e sem co-morbidade
(p<0,0001) e entre os que usaram Glucantime® com e sem co-morbidade(p <0,0009).
O uso, a indicação e a contra-indicação criteriosa dos tipos de drogas a serem
administradas aos pacientes devem seguir as normas vigentes do Ministério da Saúde, no
intuito de minimizar a letalidade.
Espera-se que este estudo sirva como base para a realização de novas pesquisas sobre
o tratamento da leishmaniose visceral no Brasil.
57
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67
8 APÊNDICE
8.1 APÊNDICE 01- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS:
USO DE MEDICAMENTOS EM PACIENTES TRATADOS COM LEISHMANIOSE
VISCERAL: UMA ABORDAGEM FARMACOEPIDEMIOLÓGICA – HU/UFMS –
CAMPO GRANDE, 2002 – 2005.
Data da coleta: / /
1- Identificação do paciente.
Nome: _____________________________________________________________________
Nome da mãe: _______________________________________________________________
Nº do prontuário (RG): ________________________________________________________
Data de nascimento: / /
Sexo: ( ) M ( ) F
Se feminino, estava grávida ( ) sim ( ) não
Idade: ___________ ( ) meses ( ) anos
Peso: ___________ kg
Ocupação: __________________________________________________________________
Escolaridade: ________________________________________________________________
Endereço de residência: _______________________________________________________
Município de residência: _______________________________________________________
Local de infecção: ____________________________________________________________
2- Queixas do paciente: / /
( ) febre ( ) aumento do volume abdominal ( ) palidez
( ) diarréia ( ) sangramento ( ) cansaço
( ) fraqueza ( ) emagrecimento ( ) dor abdominal
( ) vômitos ( ) hiporexia
( ) edema ( ) outros
68
3- Dados clínicos
Início de sintomas: Tempo: _____________________________________________________
Procurou outros serviços de saúde: ( ) sim ( ) não ( ) ignorado
( ) febre ( ) esplenomegalia
( ) diarréia ( ) arritmia cardíaca
( ) palidez ( ) fenômenos hemorrágicos
( ) vômitos ( ) hepatomegalia
( ) edema generalizado ( ) desnutrição
( ) emagrecimento ( ) outros
4- Exame parasitológico: Data: / /
Aspirado de medula: ( ) positivo ( ) negativo
Cultura: ( ) positivo ( ) negativo
5- Exame sorológico:
RIFI (diluição): Data: / / Elisa: Data: / /
Outros:_____________________________________________________________________
6- Comorbidades: ( ) sim -------------------------------------------passe para a questão 7
( )não -------------------------------------------passe para a questão 8
7- Qual (is) comorbidade (s):
( ) Doença cardíaca ( ) Doença hepática
( ) HIV/AIDS ( ) Diabetes mellitus
( ) Doença renal ( ) Infecção bacteriana: Especificar: _______________________
Outra: _____________________________________________________________________
8- Exames complementares no início do tratamento:
Hm: _____________________________________
Ht: ______________________________________
Hb: ______________________________________
Plaquetas: ________________________________
Leucócitos: _______________________________
AST/TGO: ( ) Normal ( ) Alterada
ALT/TGP: ( ) Normal ( ) Alterada
Albumina: ________________________________
69
Globulinas: _______________________________
Bilirrubina: ________________________________
Atividade de protrombina: ____________________
Uréia: ____________________________________
Creatinina: ________________________________
VHS: ____________________________________
Outros: __________________________________
9- Virgem de tratamento: ( ) sim ( ) não
10- Esquema e drogas utilizadas no tratamento:
Início do tratamento: / /
Final do tratamento: / /
( ) Glucantime Dose: Nº de doses: Tempo de infusão:
( ) Anfotericina B Dose: Nº de doses: Tempo de infusão: Justificativa:
( ) Anfotericina B Lipossomal Dose: Nº de doses: Tempo de infusão: Justificativa:
Avaliação da adequação às normas do Ministério da Saúde:
( ) Sim ( ) Não
Se não quiser especificar:( )dose ( )nº de doses ( )duração ( )tempo de infusão
( ) OUTROS: _______________________________________________________________
11- Efeito colateral: ( ) sim ( ) não
( ) Glucantime
( ) artralgias ( ) mialgias ( ) inapetência ( ) náuseas ( ) vômitos ( ) plenitude gástrica
( ) epigastralgia ( ) pirose ( ) dor abdominal ( ) dor no local da aplicação ( ) febre
( ) arritmia cardíaca ( ) hepatotoxicidade ( ) nefrotoxicidade ( ) pancreatite ( ) poliúria
( ) OUTRO: ________________________________________________________________
( ) Anfotericina B
( ) febre ( ) cefaléia ( ) náuseas ( ) vômitos ( ) hiporexia ( ) tremores ( ) calafrios
( ) flebite ( ) cianose ( ) hipotensão ( ) hipopotassemia ( ) hipomagnesemia
( ) comprometimento da função renal ( ) distúrbio de comportamento
( ) OUTRO: _______________________________________________________________
( ) Anfotericina B Lipossomal
( ) febre ( ) cefaléia ( ) náuseas ( ) vômitos ( ) calafrios ( ) dor abdominal
( ) OUTRO: ________________________________________________________________
12- Segundo esquema utilizado:
70
Motivo que levou a suspensão do 2º esquema de medicação: __________________________
Data de início: / / Final do tratamento: / /
( ) Glucantime
( ) Anfotericina B
( ) Anfotericina B Lipossomal
13- Terceiro esquema utilizado:
Motivo que levou a suspensão do 2º esquema de medicação: __________________________
Data de início: / / Final do tratamento: / /
( ) Glucantime
( ) Anfotericina B
( ) Anfotericina B Lipossomal
14- Acompanhamento: Número consultas/ano: _____________________________________
1ª consulta: tempo: ___________________________________________________________
( )anemia ( ) leucopenia ( ) plaquetopenia ( ) ganho de peso ( ) hepatomegalia
( ) esplenomegalia ( ) noralização das enzimas hepáticas
2ª consulta: tempo: ___________________________________________________________
( )anemia ( ) leucopenia ( ) plaquetopenia ( ) ganho de peso ( ) hepatomegalia
( ) esplenomegalia ( ) noralização das enzimas hepáticas
3ª consulta: tempo: ___________________________________________________________
( )anemia ( ) leucopenia ( ) plaquetopenia ( ) ganho de peso ( ) hepatomegalia
( ) esplenomegalia ( ) noralização das enzimas hepáticas
15- Evolução:
Recidiva: ( ) sim ( ) não
( ) Cura
( ) Óbito
( ) Ignorado
16- Data do final do acompanhamento: / /
Nome do pesquisador responsável pelo preenchimento:_________________________