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V COLÓQUIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ___________________________________________________________________
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REFLEXÕES SOBRE OS PROCESSOS DA AVALIAÇÃO ESCOLAR
REFLECTIONS ON THE SCHOOL EVALUATION PROCESSES
Valquíria Dias de OLIVEIRA1, Karla Aparecida ZUCOLOTO2
RESUMO
Atualmente vivemos em uma sociedade exigente, devido ao avanço tecnológico e á globalização,
na qual o mercado de trabalho exige cidadãos de visão dinâmica, autônomos e com rápido poder
de decisão, discutir o processo avaliativo do ensino/aprendizagem torna-se necessidade, pois a
escola precisa contribuir para a formação do aluno vendo-o como ser humano, crítico e reflexivo
frente à realidade em que vive. (LOBATO, 2008). Assim, cabe aos educadores a responsabilidade
de formar indivíduos para essa demanda de trabalho, e isto demanda uma revisão dos métodos
avaliativos atualmente utilizados nas instituições de ensino, logo a avaliação desenvolvida pelos
professores tem merecidos alguns estudos, mas em geral pouca ou nenhuma orientação se dá sobre
o assunto em cursos de formação de professores sobre esse instrumento tão importante para o
desenvolvimento do aluno, pois o processo de avaliar ainda aparece de forma distanciada do
processo educacional; é um momento independente da prática cotidiana e cercado de muitos mitos.
Diante disso, tal estudo visa à reflexão do processo avaliativo do ensino/aprendizagem, que será
desenvolvido com um grupo de professores, com a finalidade de despertar para novas e possíveis
práticas na avaliação escolar envolvendo mais os educandos com o conhecimento científico, o
inserindo no seu mundo de vida.
Palavras-chave: Educação. Avaliação da aprendizagem escolar. Processo avaliativo do
ensino/aprendizagem.
ABSTRACT
Nowadays we live in a demanding society, due to technological advances and globalization, in
which the labor market demands dynamic, autonomous citizens with fast decision-making power,
discussing the evaluation process of teaching / learning becomes a necessity, since the School
needs to contribute to the student's education by seeing him as a human being, critical and
reflective in the reality in which he lives. (LOBATO, 2008). Thus, it is the responsibility of
educators to train individuals for this work demand, and this demands a revision of the evaluation
methods currently used in educational institutions, since evaluation developed by the teachers has
deserved some studies, but in general little or no guidance is given On the subject in teacher
training courses on this instrument so important for the development of the student, because the
process of evaluation still appears distanced from the educational process; Is an independent
moment of daily practice and surrounded by many myths. Therefore, this study aims at the
reflection of the evaluation process of teaching / learning, which will be developed with a group
of teachers, with the purpose of awakening to new and possible practices in the school evaluation
involving more students with scientific knowledge, inserting in the Your world of life.
Keywords: Education. Evaluation of school learning. Evaluation process of teaching / learning.
1 Aluna da Pós-graduação em Educação Matemática. IFSULDEMINAS, Campus Pouso Alegre. E-mail:
[email protected] 2 Dra. em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e professora do IFSULDEMINAS,
Campus Pouso Alegre. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem e ganhou na atualidade
espaço muito amplo nos processos de ensino, é uma tarefa didática necessária e constante do
trabalho docente, que tem por finalidade acompanhar passo a passo o processo de ensino e
aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho docente
em conjunto com os alunos devem ser comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar
progressos, dificuldades e, também, reorientar o trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa
complexa que não se resume a realização de provas e atribuições de notas, consiste em uma
reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos.
(FERNANDES, FREITAS, 2007).
Desse modo, Hoffmann nos convida a alimentar discussões nesse âmbito uma vez que a
avaliação, “... deixa de ser um período terminal do processo educativo... para se transformar na
busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas
oportunidades de conhecimentos” (2011a, p. 19).
Atualmente tem-se conhecimento de diversos estudos que vêm sendo realizados sobre a
avaliação. Diante disso, entendemos que aprofundamentos teóricos deverão ser buscados para
conhecer as opiniões de alguns estudiosos sobre o tema com a finalidade de despertar para novas
e possíveis práticas na avaliação escolar envolvendo mais os educandos com o conhecimento
científico, o inserindo no seu mundo de vida. No entanto, não há pretensão de abranger todas as
questões envolvidas no processo avaliativo do ensino/aprendizagem.
Assim, o presente trabalho de investigação se utilizará da pesquisa do tipo bibliográfica a
partir da revisão de literatura para caracterizar o que é avaliação, os tipos de avaliação, os recursos
empregados para avaliar, etc., e qualitativa por meio das experiências da prática docente,
procurando responder à seguinte questão: Como os processos de avaliação escolar do
ensino/aprendizagem devem acontecer? Tal estudo visa à reflexão do processo educativo,
dimensionada por um modelo de mundo e de educação que se volta apenas para a obtenção de
resultados cada vez mais satisfatórios para todos os envolvidos no processo. Vamos tratar da
Avaliação Educacional em sala de aula e assim procurar elucidar as mudanças que ocorreram na
área educacional em relação ao processo de avaliar.
METODOLOGIA
Embora a questão do processo avaliativo seja amplamente discutida e abordada em todos
os segmentos externos e internos da escola, continua muito grande a polêmica em torno da
avaliação do processo ensino/aprendizagem. Muitos estudiosos e pesquisadores contemporâneos
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(Luckesi, Libâneo, Arroyo, Perrenoud, Freitas, Vasconcellos dentre outros) expressam a
preocupação em superar a concepção classificatória e de julgamento de resultados finais das
práticas avaliativas escolares, um processo avaliativo que representa, muitas vezes, práticas
incompatíveis com uma educação democrática, de compromisso com a aprendizagem para todos,
de respeito às diferenças e a formação da cidadania. (HOFFMANN, 2011b).
Estudos recentes em relação à avaliação da aprendizagem frisam a necessidade de haver
mudanças essenciais em avaliação e apontam novos rumos teóricos, direcionando o “papel
interativo do avaliador no processo, influenciando e sofrendo influências do contexto avaliado. O
que passa a conferir ao educador uma grande responsabilidade por considerá-lo indelevelmente
comprometido com o objeto da avaliação” e com a sua tomada de consciência a respeito do que
significa avaliar os alunos e a sua própria aprendizagem. (HOFFMANN, 2011b, p. 16).
Será necessário um esforço coletivo para delinear novos caminhos da avaliação
educacional, “a compreensão dos novos rumos exige a reflexão conjunta pelos avaliadores e todos
os envolvidos, porque lhes exige retomar concepções de democracia, de cidadania, de direito à
educação”. (HOFFMANN, 2011b, p. 16).
Sendo assim, essa pesquisa tem como objetivo verificar quais são os novos rumos
defendidos pelos estudiosos da área.
Esse trabalho tem como objetivos específicos:
a) Caracterizar avaliação no contexto escolar;
b) Pesquisar como a avaliação acontece no ambiente escolar;
c) Estudar como deve acontecer uma avaliação significativa, avaliação como compromisso
com a aprendizagem de todos, que respeite as diferenças e se volte para a formação para a
cidadania.
Para essa pesquisa serão selecionados 10 professores de uma turma de 3º ano do ensino
médio e os alunos da turma, de uma escola estadual.
Devido à sua natureza qualitativa, a coleta de dados será realizada num ambiente natural,
em que a pesquisadora estará diretamente envolvida com os participantes e com o objeto da
pesquisa. O processo de coleta de dados será realizado por meio dos instrumentos: entrevista e
questionário.
Nessa etapa do projeto os professores e os alunos responderão a um questionário específico
para cada categoria, e alguns professores serão entrevistados. Logo após esta primeira etapa da
investigação desse presta a gerar dado que possibilitem diagnosticar a problemática em questão.
Tais alunos não são considerados colaboradores da pesquisa, o projeto não se aplica a eles. Os
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alunos serão considerados apenas fontes para diagnóstico visto que são alvos do processo
avaliativo.
Visando atingir os objetivos propostos pela pesquisa, se dará a entrevista com os
professores, a qual será constituída por questões que envolvem os seguintes aspectos: concepção
de avaliação; instrumentos utilizados na avaliação; procedimentos utilizados para informar aos
alunos sobre o seu desempenho; momento da ação pedagógica; metodologia utilizada para
trabalhar os conteúdos não-compreendidos pelos alunos; e evidências apresentadas pelos alunos
que indicam que o processo de avaliação da aprendizagem melhorou o desempenho da sala de
aula. O questionário também será constituído por questões que envolvem os mesmos aspectos.
AVALIAÇÃO COMO FACILITADORA DE APRENDIZAGEM
Avaliar é uma atividade constante na vida do ser humano, avaliamos a todo o momento:
Que roupa usar? Será que irá chover? Devo levar a frente aquele projeto? Será que essa é a decisão
correta a ser tomada? Podemos considerar que o mesmo acontece em diversos ambientes: na
família, no trabalho, no convívio social e no espaço escolar. (FERNANDES, FREITAS, 2007).
No entanto, no espaço escolar, o ato de avaliar a aprendizagem de seus estudantes, os
efeitos são outros, não é tão simples quanto escolher a roupa que devo usar por conta do clima,
implica escolhas mais complexas e muitas tomadas de decisões articulando objetivos didáticos e
desempenho acadêmico.
E se tratando da avaliação do processo ensino/aprendizagem dos estudantes existe uma
grande preocupação, pois há muitos desafios e contradições com o que se descreve na teoria e com
o que ocorre na prática. Pois a avaliação ainda é uma questão muito discutida na escola, porém
não existe consenso sobre a temática. A avaliação ainda aparece de forma distanciada do processo
educacional; é um momento independente da prática cotidiana e cercado de muitos mitos.
Nos equívocos e contradições que se estabelecem em torno dessa prática, a decorrência é
a dicotomia educação e avaliação. A parafernália de mitos e representações contribui para
essa dicotomia. Os educadores percebem a ação de educar e a ação de avaliar como dois
momentos distintos e não relacionados. E exercem essas ações de forma diferenciada.
(HOFFMANN, 2011a, p. 14-15).
Ainda há muito por se construir em termos de avaliação. Hoffmann (2011a) é enfática ao
afirmar a respeito da contradição entre o que é falado e o que é praticado por alguns docentes: “os
educadores, em geral, discutem muito ‘como fazer a avaliação’ e sugerem metodologias diversas,
antes, entretanto, de compreender verdadeiramente o sentido da avaliação na escola” (p. 19).
Seguindo a mesma concepção, Luckesi (2008) ressalta que é possível uma transformação
de tal situação, para que isso ocorra é necessário compreendermos adequadamente o atual
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exercício da avaliação escolar, na medida em que buscamos meios pelos quais todos possam
aprender, uma vez que o ato de avaliar está a serviço da obtenção do melhor resultado possível,
O que importa é estarmos ciente de que a avaliação educacional, em geral, e a avaliação
de aprendizagem escolar, em particular, são meios e não fins, em si mesmas, estando
assim delimitadas pela teoria e pela prática que as circunstancializam. Desse modo,
entendemos que a avaliação não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim
dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação, traduzido em prática
pedagógica. (LUCKESI, 2008, p. 28).
Compreendemos que a avaliação não acontece num vazio conceitual, mas dimensionada
por um modelo de mundo e de educação que visa à obtenção de resultados cada vez mais
satisfatórios para todos os envolvidos no processo. Por isso a prática avaliativa, deverá estar atenta
aos modos de superação do autoritarismo e a serviço de uma intervenção pedagogia que se
preocupe com a transformação da sociedade a benefício de todos, ou seja, que contribua para o
processo de aprendizagem individual ou de todo o grupo. (FILHO, 2012).
Segundo os PCN’s, avaliar significa:
emitir um juízo de valor sobre a realidade que se questiona, seja a propósito das
exigências de uma ação que se projetou realizar sobre ela, seja a propósito das suas
conseqüências. Portanto, a atividade de avaliação exige critérios claros que orientem a
leitura dos aspectos a serem avaliados. (BRASIL, 1997, p. 58).
Deste modo, pode-se considerar que a avaliação da aprendizagem só pode acontecer se for
relacionada com as oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das situações
didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições
de enfrentar, ou seja, “quanto mais os alunos tenham clareza dos conteúdos e do grau de
expectativa da aprendizagem que se espera, mais terão condições de desenvolver, com a ajuda do
professor, estratégias pessoais e recursos para vencer dificuldades”. (BRASIL, 1997, p. 57).
Além disso, acredita-se que é necessário criar um debate “em relação a uma perspectiva
inovadora da avaliação, que diz respeito à questão da melhoria da qualidade de ensino”
(HOFFMANN, 2011a, p.13). Essa perspectiva sugere aos professores que pensar em avaliação no
contexto escolar significa pensar em tomada de decisões dirigidas a melhorar o ensino, ou seja, a
aprendizagem dos alunos.
Segundo Pinto (2016) nos documentos oficiais que tratam da educação, nas leis, nos
parâmetros curriculares e nas diretrizes, encontramos orientações que visam resultados
satisfatórios nas avaliações que estão relacionadas à busca pela melhoria da qualidade do ensino,
colocando-se como um meio pelo qual se torna possível um bom planejamento educacional, e
assim possibilitar a verificação da eficácia das políticas públicas para a educação.
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O trabalho, ou a prática de avaliar, demanda clareza das concepções que se adota de
educação. O art. 47 das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica faz a
seguinte afirmação sobre como deve ser a avaliação da aprendizagem:
a avaliação da aprendizagem baseia-se na concepção de educação que norteia a relação
professor-estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um ato reflexo de
reconstrução da prática pedagógica avaliativa, premissa básica e fundamental para se
questionar o educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo, político.
(RESOLUÇÃO Nº 4, de 13 de julho de 2010).
Avaliação como uma prática reflexiva que se presta a modificar a prática pedagógica.
Avaliar com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem e principalmente na
perspectiva de inclusão social. O Art 9º, Inciso VI da LDB 9394/96 expressa sobre as
incumbências da União que: “Assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar
no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando
a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino.”
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), é determinado
que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os
quantitativos. A legislação é boa no que tange à avaliação, englobando sua especificidade,
considerando a territoriedade, a cultura, as relações sociais e a pessoa que aprende/ensina.
Porém, para alcançar os objetivos que as leis, parâmetros curriculares e as diretrizes da
educação almejam, faz-se necessário que o professor conheça as formas de avaliar e entenda que
a avaliação se dá de várias maneiras sendo algo essencial aos processos cotidianos de ensino-
aprendizagem, pois “a avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada com uma tal
independência do processo ensino-aprendizagem, vem ganhando foros de independência da
relação professor-aluno”. (LUCKESI, 2008, p. 23).
A avaliação escolar é uma das atividades que acontece no processo pedagógico de ensino-
aprendizagem; faz-se necessário ter inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação, e cumprir
esse papel de contribuir com a objetividade desejada na avaliação acaba sendo um dos grandes
desafios da educação escolar, (FERNANDES, FREITAS, 2007). Na cultura escolar a avaliação
aparece cotidianamente como classificatória. Ensina-se e, logo em seguida, afere-se a
“memorização” do que foi “aprendido”. Considerando que apreender demanda compreensão, fica
evidente o distanciamento da prática docente dos pressupostos avaliativos quando...
As provas e exames são realizados conforme interesse do professor ou do sistema de
ensino. Nem sempre se leva em consideração o que foi ensinado. Mais importante do que
ser uma oportunidade de aprendizagem significativa, a avaliação tem sido uma
oportunidade de prova de resistência do aluno aos ataques do professor. (LUCKESI,
2008, p. 23).
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Entretanto, para que uma aprendizagem significativa possa acontecer os PCN’s estabelece
que:
Disponibilidade para o envolvimento do aluno na aprendizagem, o empenho em
estabelecer relações entre o que já sabe e o que está aprendendo. Essa aprendizagem exige
uma ousadia para se colocar problemas, buscar soluções, e experimentar novos caminhos,
de maneira diferente da aprendizagem mecânica, no qual o aluno limita seu esforço
apenas em memorizar ou estabelecer relações diretas e superficiais. (BRASIL, 1997,
p.64).
Diante do exposto, podemos afirmar que o processo avaliativo é o elemento integrador
entre a aprendizagem e o ensino, deve ser compreendida como instrumento de reflexão crítica para
o professor sobre sua prática educativa e que, em decorrência disso, a formação de uma concepção
de avaliação como prática de comunicação que facilita a construção do conhecimento depende da
significação que o professor construiu sobre avaliação da aprendizagem.
A partir dessa reflexão e do entendimento de que um educador que se preocupe com que a
sua prática educacional esteja voltada para a transformação e centrada na construção do
conhecimento do aluno é que se instaura a problemática sobre o processo de avaliação educacional,
conforme observado por Hoffmann, os estudos realizados ainda se detêm, prioritariamente, no que
“não deve ser” ao invés do que deve “ser melhor” da avaliação.
Buscando respostas a essa problemática apresentada, nossa pesquisa objetiva analisar como
deve acontecer então a avaliação escolar do ensino/aprendizagem? Para o cumprimento de tal
objetivo estudaremos a avaliação no contexto escolar, fazendo levantamento de modos de
avaliação, caracterizando-os e diferenciando-os.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
A avaliação da aprendizagem pode ser definida como um meio de que o professor dispõe
de obter informações a respeito dos avanços e das dificuldades dos alunos. Uma concepção desse
tipo implica atender tanto o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o resultado
alcançado (BRASIL, 1997). Assim, é preciso considerar que uma prática educativa de qualidade...
Pressupõe também que a avaliação se aplique não apenas ao aluno, considerando as
expectativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas para que isso ocorra. Avaliar
a aprendizagem, portanto, implica avaliar o ensino oferecido— se, por exemplo, não há
a aprendizagem esperada significa que o ensino não cumpriu com sua finalidade: a de
fazer aprender. (BRASIL, 1997, p. 56)
Neste sentido, avaliar é um processo dinâmico e multifacetado. O processo que avalia o
processo de aprendizagem do seu aluno avalia, também, a eficiência do seu trabalho; considera se
foi assertivo na escolha da metodologia e dos materiais, se considerou as especificidades do
desenvolvimento individual, se seus objetivos foram alcançados ou precisam ser retomados.
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Na visão de Libâneo, a avaliação é:
uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar
passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela, os resultados que vão
sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados
com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos e dificuldades e reorientar o
trabalho para as correções necessárias. (1994, p. 195)
A avaliação da aprendizagem é um instrumento integrante do processo pedagógico, que
permite ao professor identificar avanços ou dificuldades do aluno, cujo objetivo é o ajuste e a
orientação da intervenção pedagógica e assim mudar seu trabalho. Os elementos a serem
considerados pelo professor são as etapas do desenvolvimento cognitivo do aluno, suas
características pessoais e as vivências socioculturais.
A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do
professor como dos alunos. Os dados coletados no decurso do processo de ensino,
quantitativos ou qualitativos, são interpretados em relação a um padrão de desempenho e
expressos em juízos de valor (muito bom, bom, satisfatório etc.) acerca do
aproveitamento escolar. (LIBÂNEO, 1994, p. 195)
Além do que a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume apenas na realização
de provas e à atribuição de notas. “A mensuração apenas proporciona dados que devem ser
submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-
didáticas, de diagnóstico e controle em relação às quais se recorrem a instrumentos de verificação
do rendimento escolar”. (LIBÂNEO, 1994, p. 195)
Nesse sentido Fernandes e Freitas mencionam que “avaliar a aprendizagem do estudante
não começa e muito menos termina quando atribuímos uma nota à aprendizagem.” Avaliar é
apenas parte de um todo... (2007, p. 19).
Nesse mesmo sentido Jussara Hoffmann demonstra sua preocupação sobre o tema e com o
compromisso de os educadores promoverem melhores condições de aprendizagem: “um professor
que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo do termo,
instala sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais.” (2009, p. 15).
As notas são operadas como se nada tivessem a ver com a aprendizagem. As médias são
médias entre números e não expressões de aprendizagens bem ou mal sucedidas. (LUCKESI,
2008, p. 23).
Outro aspecto a se considerar é o fato de que é bastante comum em nossa sociedade, as
pessoas entenderem que avaliar os estudantes é atribuir uma nota ao seu desempenho decorrido de
acertos e erros em uma prova, porém se,
avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de medida, de atribuição de um
valor em forma de nota ou conceito. Nós, professores, temos o compromisso de ir além
do senso comum e não confundir avaliar com medir [...] avalia-se para tentar manter ou
melhorar nossa atuação futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar.
(FERNANDES, FREITAS, 2007, p.19).
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Levando em consideração o parecer de Luckesi (2008) que para saber avaliar é necessário
conhecer os conceitos teóricos sobre avaliação e o mais importante aprender a prática da avaliação,
conceituar as maneiras de avaliação se torna essencial, assim como suas formas de uso, para
melhor compreender o que é avaliar a aprendizagem, e transformar esse momento em prática
pedagógica.
[...] pois para saber conceitos teóricos é só buscar as fontes e estudar, mas a prática é algo
mais complexo. Passar da teoria para a prática requer experimento, análise, compreensão
e acima de tudo a busca de novas formas do saber fazer. (FREITAS, COSTA,
MIRANDA, 2014, p. 86).
A citação acima confirma o papel da avaliação como mediadora do processo de
ensino/aprendizagem dos alunos, pois possibilita uma reflexão fundamentada nos dados obtidos
por meios desse processo. Caso o professor perceba que sua prática não está favorecendo a todos,
ele poderá refletir e adaptar uma nova prática.
Considerando todos esses aspectos, prosseguimos nossa investigação abordando as
principais maneiras de avaliação da aprendizagem escolar onde será caracterizado cada um delas.
MODALIDADES DE AVALIAÇÃO
A avaliação da aprendizagem é reconhecida por diferentes funções, e as principais são a
diagnóstica, a formativa e a somativa.
A avaliação diagnóstica é denominada como aquela que deve ser realizada ao início do
curso, semestre, ano letivo ou unidade, contribui para a identificação prévia dos alunos, para um
momento de tomada de decisão e para possíveis modificações no plano de ensino inicial.
(FREITAS, COSTA, MIRANDA, 2014).
A avaliação diagnóstica tem como propósito constatar se os alunos possuem os
conhecimentos básicos e imprescindíveis às novas aprendizagens. O programa de ensino
de um curso deve conter em seu planejamento disciplinas estrutura das numa seqüência
lógica de desenvolvimento e com aumento da complexidade dos temas. Com isso o
professor, ao definir o objetivo de uma disciplina, deve definir também quais conteúdos
são pré-requisitos para que o aluno consiga acompanhar a sua proposta de ensino. Para
identificar se o aluno possui o domínio dos conhecimentos prévios, sugere-se a realização
de uma avaliação diagnóstica no início de um curso, quando podem ser identificadas
falhas a serem monitoradas ou sanadas. (ZEFERINO, PASSERI, 2007, p. 39).
Desse modo, a avaliação diagnóstica tem por objetivo identificar a existência ou a ausência
de habilidades e conhecimentos prévios, esta é uma ação que inicia o processo avaliativo e constata
se os alunos dominam os pré‐requisitos básicos necessários para novas aprendizagens. (FREITAS,
COSTA, MIRANDA,2014).
A avaliação formativa é aquela realizada ao longo do processo, ela deve ser contínua, com
a finalidade de verificar se os objetivos estabelecidos em cada etapa estão sendo consolidados
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pelos alunos. “Neste intuito, é importante considerar que os alunos progredirão se compreenderem
suas possibilidades e fragilidades, e se souberem como se relacionar com elas.” (ZEFERINO,
PASSERI, 2007, p. 40).
Segundo Fernandes (2007) “a avaliação tem como foco fornecer informações acerca das
ações de aprendizagem e, portanto, não pode ser realizada apenas ao final do processo, sob pena
de perder seu propósito.” Ou seja, a avaliação formativa tem foco no processo de aprendizagem,
fornece parâmetros ao professor, permiti ajustamentos sucessivos durante o processo, para
verificar se os objetivos foram alcançados, podendo assim o professor interferir precisamente no
que pode estar comprometendo a aprendizagem.
A avaliação formativa é aquela em que o professor está atento aos processos e às
aprendizagens de seus estudantes. O professor não avalia com o propósito dedar uma
nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é uma decorrência do processo e não o
seu fim último. O professor entende que a avaliação é essencial para dar prosseguimento
aos percursos de aprendizagem. Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tarefas
propostas, das observações atentas do professor, das práticas de sala de aula. Por fim,
podemos dizer que avaliação formativa é aquela que orienta os estudantes para a
realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar suas
dificuldades e suas potencialidades, redirecionando-os em seus percursos.
(FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 22)
E a avaliação somativa é aquela realizada ao final do processo, ou seja, ao final de um
curso, de um ano, de um período letivo ou de uma unidade de ensino, ela visa classificar os
resultados da aprendizagem alcançados pelos alunos, tendo a função de quantificar o processo
avaliativo. (FREITAS, COSTA, MIRANDA, 2014). Outra finalidade dessa forma de avaliação é
“identificar se o estudante adquiriu as competências necessárias para desenvolver novas etapas do
processo de aprendizagem.” (ZEFERINO, PASSERI, 2007, p. 42).
Luíza Cortesão descreve de uma maneira bem clara e precisa o que vem a ser a avaliação
somativa e como pode ser o registro dos seus resultados,
A avaliação somativa, como o próprio nome indica pretende representar um sumário, uma
apreciação “concentrada”, de resultados obtidos numa situação educativa. Esta avaliação
tem lugar em momentos específicos, por exemplo, no fim de um curso, de um ano, de um
período letivo ou de uma unidade de ensino. Pretende geralmente traduzir de forma breve,
codificada, a distância a que se ficou de uma meta que, explicita ou implicitamente, se
arbitrou ser importante de atingir. O resultado pode exprimir-se numericamente, de
acordo com uma escala que se escolhe (1-5 ou de 0-20, são, entre nós, as escalas utilizadas
em diferentes graus de ensino). Mas pode ter também uma expressão mais qualitativa.
Isto acontece quando no final de um trabalho, ou período de trabalho o professor
comunica (oralmente ou por escrito) através de expressões como: “Muito Bem”
“Conseguiste!” “Atenção, o trabalho que fizeste ainda não foi suficiente”. Pode traduzir-
se ainda de outras formas como por exemplo por uma aprovação ou reprovação com a
atribuição ou não de graus (Bom, Muito Bom, etc.) (2002, p. 38).
Para Fernandes e Freitas, “instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de uma avaliação
entendida como parte inerente do processo e não marcada apenas por uma atribuição de nota, não
é tarefa muito fácil.” (2007, p. 22).
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Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não deve ser usada com o objetivo de
punir, de classificar ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação somativa a estes
objetivos excludentes. Entretanto, tanto a avaliação somativa quanto a formativa podem
levar a processos de exclusão e classificação, na dependência das concepções que
norteiem o processo educativo. (FERNANDES, FREITAS, 2007, p. 21).
Como a finalidade da avaliação somativa é ser realizada ao final de um módulo ou período
de estudo e que consiste em identificar se o estudante adquiriu as competências necessárias para
desenvolver novas etapas do processo de aprendizagem. Se houve uma estrutura formulada por
objetivos e pré-requisitos bem claros, dificilmente esta forma de avaliação classificará o estudante.
“Embora muito se fale que a avaliação somativa é punitiva, parece não haver um consenso em
como desmistificar esse termo, pois, na realidade, ela precisa ser seletiva para não comprometer o
desenvolvimento de novas aprendizagens no estudante.” (ZEFERINO, PASSERI, 2007, p. 43).
É importante retomar que existem diversos instrumentos e formas de avaliação, e estes
serão constantemente estudados e aperfeiçoados. A avaliação do processo ensino-aprendizagem
deve ser construída com a participação do estudante para que haja maior envolvimento e aceitação
do processo, criando a cultura de que a avaliação é um instrumento de aprendizagem fundamental
para o crescimento pessoal e profissional do indivíduo.
A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA PRÁTICA AVALIATIVA
Num processo de rever minha própria prática avaliativa, a partir das experiências
vivenciadas enquanto professora de Matemática e estudante num curso de pós-graduação em
Educação Matemática foi o ponto de partida do qual deparei-me com uma série de inquietações
que me instigaram a repensar sobre a avaliação no contexto educacional atual, cujo foco é o modo
de avaliar. Não somente na disciplina de Matemática, ao qual é muito evidente e muito cobrada
nas escolas. Mas, a avaliação do ensino/aprendizagem no ambiente escolar.
A avaliação é a parte mais importante de todo o processo de ensino/aprendizagem. Nesse
processo de reflexão me tornei protagonista da minha própria pesquisa, na qual me propus a
investigar minha atuação em sala de aula e em especial minha prática avaliativa, a partir das
relações com os vários contextos nos quais me encontro inserida.
Não conclui ainda minha investigação, mas minha intenção é de algum modo instigar outros
professores a se tornarem também investigadores de suas práticas e a não olharem suas
experiências com olhos de fracasso, mas tomarem-nas como ação para investigar suas próprias
práticas e assim construirmos em conjunto uma nova prática avaliativa.
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Pois novos paradigmas em educação devem ser contemplados, descobrindo a essência e a
totalidade do processo educativo. Desta forma, estaremos formando cidadãos conscientes, críticos,
criativos, solidários e autônomos.
REFERÊNCIAS
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