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V COLÓQUIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ___________________________________________________________________
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A ESTATÍSTICA NOS CURSOS SUPERIORES: uma análise curricular e a
percepção dos graduandos sobre sua contribuição em sua formação
profissional
STATISTICS IN UNDERGRADUATE COURSES: a curricular analysis and
the students' perception of its contribution to their professional training
Areádne Helena Brandão PEREIRA1, Sueli Machado Pereira de OLIVEIRA2
RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo realizar uma análise de como a Estatística é contemplada nos cursos superiores de
Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de Produção, de uma universidade particular situada no sul de Minas
Gerais. Foi realizada uma análise nos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC), a fim de verificar se os objetivos estão
de acordo com as competências indicadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Investigamos também, por
meio de questionário com perguntas objetivas e discursivas, como os alunos do 7º período destes cursos percebem a
contribuição desta disciplina em sua formação profissional. A maioria dos alunos considera que teria pouca dificuldade
em realizar suas atividades profissionais, caso a disciplina não estivesse inserida na matriz curricular (47%),
especialmente os alunos do curso de Ciências Contábeis. No curso de Administração, a maioria considera que ela
pode interferir no seu desempenho profissional e que é importante estar inserida no currículo, entretanto, uma
quantidade significativa disse que não interfere no seu desempenho profissional e que pode ser aprendida futuramente.
No curso de Engenharia de Produção, foi praticamente unânime a percepção de que o conhecimento estatístico
interfere no seu desempenho profissional, de que é uma disciplina importante no curso e de que teriam dificuldades
em exercer a profissão se não tivessem este conteúdo. Todavia foi o curso que mais apresentou alunos com
dependência nesta disciplina, indicando serem necessárias estratégias diferenciadas de acompanhamento do
aprendizado.
PALAVRAS- CHAVE: Currículo; Cursos superiores; Ensino de Estatística; Formação profissional.
ABSTRACT The goal of this research was to analyze how Statistics is contemplated in the undergraduate courses of Administration,
Accounting Sciences and Production Engineering, from a private university located in the South of Minas Gerais
State, Brazil. We analyzed the Courses Pedagogical Projects (PPC) in order to check if their objectives were in
accordance to the competencies indicated in the National Curricular Guidelines (DCN). We also investigated, through
a questionnaire with objective and discursive questions, how the 7th period students from these courses perceive the
contribution of this academic discipline to their professional formation. Most students consider that they would have
little difficulty in accomplishing their professional activities, if the discipline were not included in the course syllabus
(47%), specially Accounting Sciences students. In the Administration course, most students believe that Statistics can
interfere in their professional practice, and that it is important to have it in the course syllabus; however, a significant
amount reported that Statistics do not interfere in their professional practice and that it can be learned later. In the
Production Engineering course, the perception that the knowledge of Statistics interferes in the professional practice
was practically unanimous, as well as the perception that it is an important discipline in the course and that they would
have difficulties in the professional practice if they did not have this content. However, this was the course with most
students with dependence in this discipline, indicating that different learning strategies are needed.
KEY-WORDS: Course syllabus; Undergraduate courses; Teaching Statistics; Professional qualification.
INTRODUÇÃO
A disciplina de Estatística está presente em quase todos os cursos de bacharelado, visto que
seu estudo fornece as ferramentas necessárias aos profissionais que precisam lidar com muitas
1 Aluna da Pós- graduação em Educação Matemática. IFSULDEMINAS, Campus Pouso Alegre. E-mail:
[email protected] 2 Dra. em Educação pela UFMG e professora do IFSULDEMINAS, Campus Pouso Alegre. E-mail:
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informações. Estes profissionais devem saber extrair, de um vasto volume de dados, as
informações mais importantes para resolver uma situação e transformá-la em conhecimento.
As disciplinas de um curso de graduação são previstas no Projeto Pedagógico do Curso
(PPC), que deve estar sintonizado com uma nova visão de mundo, objetivando garantir uma
formação global e crítica para os alunos – a fim de capacitá-los, desde o exercício da cidadania e
o profissional, até seu desenvolvimento pessoal (VEIGA, 2000).
O objetivo principal deste estudo é analisar como a Estatística é contemplada no PPC de
Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de Produção, e verificar como os alunos
concluintes percebem sua contribuição em sua formação profissional. A hipótese levantada é de
que os dois primeiros cursos teriam resultados mais próximos, pois são de áreas afins, enquanto o
de Engenharia de Produção, por ser da área de exatas, teria resultados um pouco diferentes.
Esta investigação é relevante pois, com as crescentes mudanças no mercado de trabalho,
constantes reformulações nos currículos dos cursos superiores são cada vez mais necessárias.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Silva (2006), as instituições educacionais de ensino superior são
estruturadas com base no tripé ensino, pesquisa e extensão, com a função social de transformar os
indivíduos inseridos neste meio em pensadores críticos, para que possam desempenhar de forma
competente seu exercício profissional.
A partir de 1990, diversas foram as reformas na educação brasileira que atenderam às
pressões e orientações de organismos multinacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação
visam a orientar as Instituições de Ensino Superior a reformularem seus PPCs com a finalidade de
assegurar flexibilidade na formação e a qualidade desta (SILVA, 2007).
Para Gesser e Ranghetti (2011), os estudos sobre a concepção de currículo no ensino
superior destacam que os componentes curriculares devem estar intrinsecamente relacionados à
realidade social e à futura atividade profissional dos estudantes, para que a formação seja
significativa. O contexto social atual demanda dos cursos superiores um currículo que desenvolva
o pensamento crítico do estudante, além de relacionar as teorias vistas em sala de aulas à prática
da sua profissão.
Ao se reconhecer o currículo conectado à prática, e, por sua vez, configurado no processo
de seu desenvolvimento, faz-se importante considerar os agentes ativos no processo educacional.
Além de moldar tanto o projeto pedagógico como os docentes, o currículo é traduzido na prática
por eles mesmos, ou seja, a influência é recíproca. Nesse sentido, tem-se por pressuposto que a
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matriz curricular de um PPC é sempre carregada de intenções e ideologias; envolve construção de
identidades e não se reduz a uma matriz curricular.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa de caráter qualitativo dividiu-se em análise documental e aplicação de
questionário. Na análise documental, foram verificados os PPCs dos cursos superiores de
Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de Produção, todos de uma Universidade
particular localizada no sul de Minas Gerais. O diretor da unidade foi contatado e assentiu por
meio de um Termo de Anuência. Fez-se um paralelo dos objetivos presentes nos PPCs dos cursos,
analisando-se os componentes curriculares referentes ao conteúdo de Estatística, com as
competências que são indicadas nas DCN para os cursos de graduação, com o intuito de verificar
se estas estão de acordo com os objetivos dos PPCs.
Posteriormente, analisou-se a percepção dos alunos sobre a Estatística no curso e em sua
formação profissional. Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário com questões
objetivas e discursivas. O mesmo foi aplicado no 1º semestre de 2017 em 116 alunos do 7º período
dos cursos supracitados. Os alunos foram contatados em sala de aula com o consentimento do
professor presente. Foi-lhes explicado sobre a pesquisa e seus objetivos e todos os presentes
consentiram na aplicação do questionário e tiveram suas dúvidas respondidas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na análise documental, verificou-se as DCN e os PPCs. Conforme Quadro 1, o curso de
Ciências Contábeis possui somente uma disciplina relacionada à Estatística, enquanto o curso de
Administração possui duas, e o curso de Engenharia de Produção, três. Esta relação mostra uma
hierarquia da necessidade das competências em estatística que os egressos devem ter. A disciplina
Elementos de Estatística está presente no três PPCs oferecida na modalidade semipresencial.
Quadro 1. Disciplinas relacionadas à Estatística nos PPCs dos cursos de Administração, Ciências
Contábeis e Engenharia de Produção de universidade particular localizada no sul de Minas Gerais, 1º
semestre de 2017.
Cursos Disciplinas específicas Disciplina comum aos
três cursos
Administração Estatística Aplicada à Administração (5º Período).
Elementos de Estatística
(3º Período). Ciências Contábeis Não possui.
Engenharia de Produção Probabilidade e Estatística I (5º Período).
Probabilidade e Estatística II (6º Período).
Fonte: Dados da pesquisa.
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Em relação às competências profissionais estabelecidas nas DCN e os objetivos presentes
nos PPCs (Quadro 2), pode-se verificar que a Estatística contribui para o alcance das competências
dos futuros profissionais. No curso de Administração e Ciências Contábeis, os objetivos estão
intrinsecamente relacionados a algumas das competências necessárias ao administrador e ao
contador. No curso de Engenharia de Produção, a contribuição da Estatística é ainda mais nítida,
visto que as próprias competências se repetem como objetivo do curso. Isto pode ser explicado
pois, nos cursos de Administração e Ciências Contábeis, os alunos cursam Estatística Básica,
enquanto, na Engenharia, Estatística Experimental – ou seja, Estatística aplicada, considerada mais
complexa3. Como consequência, em Engenharia, há três disciplinas relacionadas à Estatística,
como mostrou-se no Quadro 1.
Quadro 2. Competências profissionais estabelecidas nas DCN dos cursos superiores e objetivos
presentes nos PPCs dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de Produção de
universidade particular localizada no sul de Minas Gerais, 1º semestre de 2017.
Cursos Competências profissionais estabelecidas
nas DCN Objetivos dos PPC
Administração
O profissional deve ser capaz de reconhecer e
definir problemas; tomar decisões; desenvolver
o raciocínio lógico crítico e analítico.
O aluno deve ser capaz de apreciar a
Estatística como ferramenta para a solução e
análise de problemas.
Ciências
Contábeis
O profissional deve ser capaz de elaborar
pareceres e relatórios; gerar informações para a
tomada de decisão.
O aluno deve ser capaz de apreciar a
Estatística como ferramenta para a coleta e
análise de dados visando à tomada de decisões
na solução e análise de problemas reais
Engenharia de
Produção
O profissional deve ser capaz de utilizar
ferramental matemático e estatístico para
modelar sistemas de produção; auxiliar na
tomada de decisões; utilizar indicadores de
desempenho; prever a evolução do cenário
produtivo.
O profissional deve ser capaz de utilizar
ferramental matemático e estatístico para
modelar sistemas de produção; auxiliar na
tomada de decisões; utilizar indicadores de
desempenho; prever a evolução do cenário
produtivo. Fonte: Dados da pesquisa.
Na pesquisa de campo, aplicou-se um questionário em 116 alunos, sendo 54 do curso de
Administração, 34 de Ciências Contábeis e 28 da Engenharia de Produção. Nem todos os alunos
matriculados responderam ao questionário. Em relação às características individuais, não houve
diferença significativa quanto ao sexo no total de respondentes – 51% são do sexo feminino e 49%
do sexo masculino. Todavia, conforme Tabela 1, no curso de Administração, os alunos se
distribuem igualmente em relação ao sexo; nos outros dois cursos, a relação é proporcionalmente
inversa, havendo uma preferência do sexo feminino pelo curso de Ciências Contábeis.
Tabela 1. Alunos dos cursos superiores de Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de
Produção de universidade particular localizada no sul de Minas Gerais, 1º semestre de 2017.4 Cursos Total de participantes Sexo
(%) Masculino (%) Feminino (%)
Administração 46,6 50,0 50,0
Ciências Contábeis 29,3 38,0 62,0
3 Informação obtida com o professor do IFSULDEMINAS, Dr. Carlos Cezar Silva. 4 Em todas as tabelas apresentadas aqui, aparecem apenas as respostas selecionadas pelos alunos.
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Engenharia de Produção 24,1 61,0 39,0 Fonte: Dados da pesquisa.
Pode-se destacar que, em relação ao perfil, a maioria (96%) encontra-se na faixa-etária de
18 a 29 anos, é solteira (77,5%), não possui filhos (65%) e mora com os pais (58%). Dos que
possuem formação complementar, alguns possuem o curso técnico (10%), e uma pequena parte
(3,5%) já possui curso superior. A maioria dos participantes está inserida no mercado de trabalho
(85%), tendo de 2 a 5 anos de serviço (49%) e atua principalmente nas áreas: administrativa (16%),
compra e venda (12%), contábil (8%), e como estagiária nas áreas dos cursos (16%).
Em relação à concepção que possuem sobre a Estatística, verificou-se que a maioria teve
conhecimento da disciplina somente no curso de graduação (52,5%). Porém, segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais, este é um conteúdo obrigatório na área de matemática do
ensino médio, o que demanda mais investigações para saber se os alunos estão afirmando que
aprenderam a disciplina somente no curso superior ou se não a tiveram no ensino médio. Sete
alunos indicaram que aprenderam Estatística na prática profissional, ainda antes de ingressar na
graduação. Na pesquisa de Bifi (2006), também se verificou que a maioria dos alunos chega ao
ensino superior com pouco conhecimento e contato com a disciplina de Estatística. Apenas no
curso de Ciências Contábeis, a maioria dos alunos já tinha bons conhecimentos antes de ingressar
no curso, devido ao que foi visto no ensino médio (44%). Esta questão abre espaço também para
futuras investigações.
Sobre a avaliação de desempenho no curso, quando cursaram a disciplina de Estatística,
verificamos que a maioria dos alunos considera que teve um bom desempenho (64,5%). Alguns
destes (33,5%) respondeu que tiveram que se esforçar mais para conseguir aprovação. O curso de
Engenharia de Produção foi o que mais apresentou alunos com dependência nesta disciplina
(21,5%). 28,5% dos alunos deste curso consideraram seu desempenho razoável, somente o
suficiente para aprovação. Estes dados indicam que, especialmente neste curso, necessita-se de
mais atenção em relação ao acompanhamento do desempenho discente. Dentre os que não sentiram
dificuldade, sobressaem-se os alunos do curso de Ciências Contábeis (50%).
Os alunos do curso de Administração consideraram que tiveram que se esforçar mais para
conseguir aprovação (37%), indicando ser esta uma disciplina que demanda mais empenho e
dedicação. Encontramos o mesmo resultado na pesquisa de Mantovani e Viana (2008). As autoras
analisaram as atitudes dos alunos de Administração em relação à Estatística e destacaram que o
ensino desta disciplina é um desafio tanto para professores quanto para alunos, que têm
dificuldades na aprendizagem pois não têm uma base de conhecimentos matemáticos e estatísticos
essenciais ao processo. Outro ponto importante na pesquisa destas autoras é que os professores
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que ministram estas disciplinas nos cursos de Administração têm formação somente em
matemática, ficando difícil para os alunos estabelecer a relação dos conteúdos aprendidos com a
prática profissional. Este levantamento não foi realizado aqui, entretanto também se considera que
seja um fator que ajude a explicar o desempenho dos alunos.
A maioria dos alunos afirmou que a Estatística tem influência na melhoria de suas
competências profissionais (87%). Apenas 8% dos alunos consideram-na desnecessária ou
insuficiente para promover a melhoria de suas competências profissionais.
Verifica-se que, nos três cursos, a maioria considera o estudo da Estatística importante e
que ele contribui na sua formação profissional (83,5%), mas, contraditoriamente, apenas 7%
considera que todos os cursos deveriam tê-la como disciplina obrigatória.
Observa-se que, para uma grande parte de alunos, o estudo da Estatística no curso foi muito
bom, interessante e necessário (87%), e que 6% deles consideram o estudo oferecido na disciplina
como insuficiente. Entretanto, essa é uma opinião dissonante nos três cursos. A maioria dos alunos
pondera que teria pouca dificuldade em realizar suas atividades profissionais caso a disciplina não
estivesse inserida na matriz curricular (47%), e, dentre eles, destacam-se os alunos do curso de
Ciências Contábeis (17,5%). Já a maioria dos alunos do curso de Engenharia de Produção indicou
que poderia apresentar dificuldades no exercício da profissão (61%).
Na parte seguinte, analisam-se as questões dissertativas por curso. Nem todos os alunos
responderam este questionário, diminuindo o número de respondentes para 97.
Curso de Administração
Dos 48 alunos do curso de Administração, 77,5% consideram que a Estatística pode
interferir no seu desempenho profissional, e 22,5%, que não interfere (Tabela 2). Destacam-se as
respostas: ela auxilia na interpretação de planilhas e gráficos e na tomada de decisões; os alunos
utilizam-na na área em que atuam – e em pesquisas; considerada também como um aprendizado a
mais; e, mesmo não a utilizando na área em que trabalha, um aluno a acha importante.
De forma muito similar, Martins e Recco (2011) evidenciaram a importância da Estatística,
citando como exemplos de aplicação as pesquisas de mercado, os custos de produção e as questões
de oferta e demanda de vendas. Segundo afirmam,
Por meio da Estatística, busca-se uma paridade entre os fatores básicos de oferta, no
preço, de forma a não estimular a escassez no mercado e um baixo lucro e nem deixar
seus produtos expostos por um preço elevado, pela disparidade de valor que o consumidor
se dispõe a pagar, sem uma real perspectiva de venda, seja em seus estoques ou ao cliente
final (MARTINS; RECCO, 2011, p. 95).
Tabela 2. Você considera que o ensino da Estatística pode interferir no seu desempenho
profissional? Como? Resposta Nº de alunos (%)
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Sim 7 15%
Sim, na área em que atua utiliza conhecimentos estatísticos 6 12,5%
Sim, auxilia na interpretação de informações em planilhas e gráficos e na
tomada de decisões
12 25%
Sim, é um aprendizado a mais 11 23%
Sim, utiliza-se nas pesquisas 1 2%
Não 10 20,5%
Não utiliza na área em que está atuando, mas acha importante. 1 2%
Total 48 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Em relação à questão de ser importante a Estatística estar inserida no currículo do curso,
44 alunos (92%) acham que sim ,e apenas 3 consideram que não (Tabela 3). Deram como resposta
que é um conhecimento necessário à sua formação profissional de administrador, auxiliando na
análise do mercado, e, ainda, que está ligada a outras disciplinas. Destaca-se que um aluno
respondeu que ela é importante e considera que o ensino no curso não foi suficiente.
Tabela 3. Você acha importante a disciplina de Estatística estar inserida no currículo do seu curso?
Por quê? Resposta Nº de alunos (%)
Sim 10 21%
Sim, é necessária na formação profissional do administrador 21 44%
Sim, auxilia na análise do mercado 3 6%
Sim, pois está ligada a outras disciplinas 3 6%
Sim, utiliza os conhecimentos na atuação profissional 7 15%
É importante, mas considera que, no curso, o ensino não foi bom 1 2%
Não 3 6%
Total 48 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
A maioria considera que é necessário ter um bom desempenho estatístico na profissão
(60,5%), e uma quantidade significativa disse que este desempenho não é necessário e pode ser
aprendido futuramente (39,5%) (Tabela 4). Foi considerado também que todas as profissões
necessitam de um conhecimento estatístico, e muitos citaram como exemplo a aplicação da
Estatística na análise dos dados de vendas, na tomada de decisões e na verificação da quantidade
de clientes.
Tabela 4. A profissão na qual você está graduando necessita de um bom desempenho estatístico?
Em caso de resposta afirmativa, cite alguns exemplos. Respostas Nº de alunos (%)
Sim 6 12,5%
Sim, dados de vendas, quantidade de clientes, tomada de decisões 17 35%
Sim, é importante ter algumas noções 5 11%
Sim, todas as profissões necessitam de um conhecimento estatístico 1 2%
Não 18 37,5%
Não, pode aprender futuramente 1 2%
Total 48 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Curso de Ciências Contábeis
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Dos 24 alunos participantes, 29% disseram que a Estatística auxilia no seu desempenho
profissional, e, destes, 25% citam exemplos da utilização deste conhecimento, tais como na análise
de relatórios e gráficos (Tabela 5). Dois alunos citaram que o conhecimento em Estatística interfere
muito pouco no seu desenvolvimento profissional, e cinco responderam que não interfere. É
importante destacar as respostas: interfere, mas se fosse oferecido presencialmente seria melhor,
pois é uma área muito importante para a contabilidade; e depende da área que for seguir –
indicando uma relação da Estatística com algumas áreas profissionais, mas não com todas, e uma
preferência pelo ensino presencial.
Tabela 5. Você considera que o ensino da Estatística pode interferir no seu desempenho
profissional? Como? Respostas Nº de alunos (%)
Interfere muito pouco 2 8,5%
Interfere, mas se fosse oferecido presencialmente seria melhor, pois é uma
área muito importante para a contabilidade.
1 4%
Sim, auxilia no desempenho profissional 7 29%
Sim, principalmente na análise de relatórios e gráficos 6 25%
Depende da área que for seguir. 1 4%
Não interfere 5 21%
Não interfere na área que atua no momento, mas no sentido amplo da
contabilidade, faz-se necessária.
2 8,5%
Total 24 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
A maioria dos alunos respondeu de forma afirmativa que é importante a Estatística estar
inserida no currículo do curso (91,5%) (Tabela 6). Algumas das respostas mais predominantes
foram: “é necessário ter este conhecimento pois auxilia na profissão” (46%); “é importante para a
coleta de dados e estudo de campos” (16%); e “está relacionada à área de resultados e indicadores”
(8,5%). Apenas 8,5%, o que corresponde a 2 alunos, disseram que “não acha[m] necessário”.
Tabela 6. Você acha importante a disciplina de Estatística estar inserida no currículo do seu curso?
Por que? Resposta Nº de alunos (%)
Sim 3 12,5%
Sim, é necessário ter este conhecimento pois auxilia na profissão. 11 46%
Sim, é importante para a coleta de dados, estudos de campos, etc. 4 16%
Sim, mas somente para conhecimento 2 8,5%
Sim, está relacionada a área de resultados e indicadores. 2 8,5%
Não acha necessário 2 8,5%
Total 24 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Para 71% dos graduandos, a profissão na qual estão graduando necessita de um bom
desempenho estatístico (Tabela 7). Outros citaram que é importante para ter uma visão do
crescimento da empresa (12,5%), e um aluno indicou que depende da área em que for atuar. Dentre
os que consideram que ela não é necessária na profissão (25%), um aluno considera o seu
aprendizado importante.
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Destaca-se, dos que responderam de forma afirmativa (71%), que 42% indicam que esse
desempenho contribui na análise de dados, de gráficos, relatórios gerenciais, além de auxiliar no
planejamento e gestão. Este também é o entendimento de Nossa (1999), que observa que algumas
técnicas estatísticas e matemáticas podem auxiliar o contador na geração de informações e, ainda,
O contador deve voltar-se à análise e interpretação desses demonstrativos, gerando
informações úteis para os tomadores de decisões. Para isso, torna-se necessário o
conhecimento básico de economia, administração e ciências afins; firme inclinação para
métodos quantitativos em geral, estatísticas e processamentos de dados; desenvolvimento
da habilidade de criar simulações que reflitam os resultados das várias alternativas para
cursos em ação [...] (NOSSA, 1999, p. 6)
Tabela 7. A profissão na qual você está graduando necessita de um bom desempenho estatístico?
Em caso de resposta afirmativa, cite alguns exemplos. Respostas Nº de alunos (%)
Sim, na análise de dados, de gráficos, relatórios gerenciais, além de auxiliar
no planejamento e gestão.
10 42%
Sim, para ter uma visão do crescimento da empresa 3 12,5%
Sim 4 16,5%
Não 5 21%
Não, mas acha o aprendizado importante 1 4%
Depende da área em que for atuar 1 4%
Total 24 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Curso de Engenharia de Produção
Neste curso, 25 alunos fizeram parte da pesquisa. Sobre considerar se o ensino da
Estatística pode interferir no seu desempenho profissional, apenas um aluno (4%) respondeu que
depende da área de atuação (Tabela 8). Assim como no curso de Ciências Contábeis, parece haver
algum nicho no campo profissional em que a Estatística não é necessária. Uma pesquisa futura
poderia responder a esta questão. Porém, foi predominante a resposta afirmativa (96%). Destes,
16% disseram que, de uma forma positiva, ela pode agregar mais conhecimento profissional; 8%
reiteram que o conhecimento pode ser um diferencial na atuação profissional. Dois deram exemplo
da prática profissional, dizendo que as melhorias aplicadas no processo estão diretamente
conceituadas de aplicações estatísticas, e um citou que o engenheiro de produção precisa mostrar
resultados e a maioria dos cálculos está relacionada ao estudo da Estatística. É importante enfatizar
que quatro alunos observaram que, sem este conhecimento, não seria possível realizar algumas
atividades profissionais.
Este entendimento alinha-se ao que foi respondido anteriormente, na questão objetiva,
sobre a dificuldade que enfrentariam na atividade profissional caso não tivessem estudado
Estatística. Os alunos deste curso foram os que mais indicaram muita dificuldade (61%).
Tabela 8. Você considera que o ensino da Estatística pode interferir no seu desempenho
profissional? Como? Respostas Nº de alunos (%)
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Sim, de uma forma positiva pode agregar mais conhecimento profissional 4 16%
Sim 9 36%
Sim, pois sem este conhecimento não seria possível realizar algumas atividades
profissionais
4 16%
Sim, o conhecimento na área faz desempenhar tarefas com base em análises. 2 8%
Sim, o conhecimento pode ser um diferencial na atuação profissional 2 8%
Sim, as melhorias aplicadas no processo estão diretamente conceituadas de
aplicações estatísticas
2 8%
Sim, pois o engenheiro de produção precisa mostrar resultados e a maioria dos
cálculos está relacionada ao estudo da Estatística.
1 4%
Depende da área de atuação 1 4%
Total 25 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Todos consideraram que é importante a disciplina de Estatística estar inserida neste curso
(Tabela 9). Muitos a consideraram como um conhecimento essencial na área de engenharia (36%),
e 28% disseram que, dependendo da área de atuação, é imprescindível, como no processo
(prevenção de falhas) ou na qualidade. Para um aluno, partes importantes que foram aplicadas
durante o curso foram utilizadas no estágio, e, para outro, ela é pré-requisito para outras disciplinas.
Na pesquisa de Junior e Lopes (s/d), os autores também enfatizam a contribuição deste
conhecimento na área de Engenharia:
Na Engenharia de Produção, a Estatística tem grande importância para a atuação
profissional. O ensino de Estatística deve, portanto, habilitar o aluno a participar
ativamente na produção, interpretação e comunicação de dados. Isso será rotineiro em sua
carreira, de forma que não deverá ser um simples apreciador passivo da produção
estatística de terceiros. [...]. É necessário ultrapassar a concepção do conhecimento
estatístico desenvolvido apenas com o uso de fórmulas e algoritmos e trazer uma
contextualização para esses estudos, para além da ideia de ser somente uma disciplina de
caráter puramente matemático (JUNIOR; LOPES, s/d, p. 23).
Tabela 9. Você acha importante a disciplina de Estatística estar inserida no currículo do seu curso?
Por que? Resposta Nº de alunos (%)
Sim, é um conhecimento essencial na área de engenharia. 9 36%
Sim, partes importantes que foram aplicadas durante o curso foram
utilizadas no estágio
1 4%
Sim, dependendo da área de atuação é imprescindível, como por exemplo,
no processo (prevenção de falhas) ou na qualidade.
7 28%
Sim 7 28%
Sim, ela é pré-requisito para outras disciplinas. 1 4%
Total 25 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
Ao investigar se o graduando necessita de um bom desempenho em Estatística para o
exercício futuro da profissão, obteve-se, também, unanimidade nas respostas (Tabela 10). Todos
responderam afirmativamente e citaram exemplos de sua aplicabilidade: no controle estatístico do
processo; na análise de erros e de gráficos; nos parâmetros de entrada de peças, levantamento de
dados, manutenção preventiva; na manutenção, na cronoanálise industrial, metas, planos de
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investimentos e na correlação e distribuição normal. Ribeiro e Caten (2012) também encontraram
em sua pesquisa a Estatística como instrumento básico para a organização, tratamento e análise
das informações do processo – Controle Estatístico do Processo. Segundo afirmam, a Estatística
aplicada à produção tem o objetivo de contribuir na melhoria da qualidade, da produtividade e do
custo do que está sendo produzido, além de identificar causas que não são naturais no processo e
podem causar danos a ele.
Tabela 10. A profissão na qual você está graduando necessita de um bom desempenho estatístico?
Em caso de resposta afirmativa, cite alguns exemplos. Respostas Nº de alunos (%)
Sim, no controle estatístico do processo. 8 32%
Sim 7 28%
Sim, na manutenção 1 4%
Sim, na análise de erros e de gráficos 5 20%
Sim, parâmetros de entrada de peças, levantamento de dados, manutenção
preventiva
2 8%
Sim, cronoanálise industrial, metas, planos de investimento. 1 4%
Sim, na correlação e distribuição normal. 1 4%
Total 25 100% Fonte: Elaborada pelas autoras.
CONCLUSÕES
Verificamos que, na análise das DCN e dos PPCs de Administração, Ciências Contábeis e
Engenharia de Produção, existe uma hierarquia relativa à necessidade das competências em
Estatística que os egressos dos três cursos devem ter. Elas são mais necessárias aos egressos do
curso de Engenharia de Produção, e os graduandos deste curso são os que mais percebem a
aplicação destes conhecimentos em sua futura atuação profissional.
Na análise do perfil, verificamos uma questão de gênero relacionada à preferência pelos
cursos. Sobressai-se o sexo feminino no curso de Ciências Contábeis, e o masculino no de
Engenharia de Produção. A maioria dos alunos é de jovens até 29 anos, solteiros, sem filhos,
moram com os pais e já estão no mercado de trabalho.
Em relação ao conhecimento anterior de Estatística, a maioria percebe que obteve esse
conhecimento somente na graduação, não indicando terem aprendido os conceitos básicos no
ensino médio, com exceção dos alunos de Ciências Contábeis.
A maioria dos alunos considera que teria pouca dificuldade em realizar suas atividades
profissionais, caso a disciplina não estivesse inserida na matriz curricular, especialmente os alunos
do curso de Ciências Contábeis.
No curso de Administração, a maioria considera que a Estatística pode interferir no seu
desempenho profissional e que é importante ela estar inserida no currículo; entretanto, uma
quantidade significativa disse que ela não interfere no seu desempenho profissional e que pode ser
aprendida futuramente.
V COLÓQUIO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ___________________________________________________________________
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No curso de Engenharia de Produção, foi praticamente unânime a percepção de que o
conhecimento de Estatística interfere no seu desempenho profissional, que é uma disciplina
importante no curso e que teriam dificuldades em exercer a profissão se não tivessem este
conteúdo. Todavia foi o curso que mais apresentou alunos com dependência nesta disciplina,
indicando serem necessárias estratégias diferenciadas de acompanhamento do aprendizado.
Esta pesquisa abre possibilidades de novas investigações, no que diz respeito ao
conhecimento prévio de estatística dos graduandos e sobre a contextualização necessária para que
a Estatística seja compreendida na futura atuação profissional dos egressos destes cursos
superiores.
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