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VALORES HUMANOS NA ESCOLA

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VALORES HUMANOS NA ESCOLA

Vera Lucia Pegurine1

Me. Rosângela Abreu do Prado Wolf2

RESUMO

O mundo que está em constante transformação exige mais conhecimento. Aprendemos a guiar automóveis, pilotar aviões, dominar informática, manipular nossos próprios genes. Tudo isso é muito bom e faz parte da evolução, mas continuamos em guerra, somos explorados, injustiçados, brigamos com nossos vizinhos e colegas. Apesar das mudanças que estão acontecendo ao nosso redor, nossa essência humana, nossos valores devem permanecer. Todavia, alguns valores que norteiam a conduta e a ética foram gradativamente deixados de lado, como: honestidade, respeito, responsabilidade, tolerância, entre outros. Esse desconhecimento ou a inversão dos valores acaba refletindo diretamente nos nossos lares e nas instituições de ensino. O objetivo principal desse artigo é ressaltar a importância dos momentos de reflexão na escola sobre os valores humanos, para que haja mudanças no comportamento dos alunos, a partir da conscientização deste sobre a importância desses valores para sai vida em sociedade. Dessa forma pretendemos, também, contribuir em mudanças de atitudes, hábitos de convivência, ou padrões de comportamento em todas as situações de vida familiar, escolar e de sociedade. A proposta metodológica do projeto baseou-se nos métodos de pesquisa bibliográfica, descritiva e qualitativa, e contou com a participação dos alunos do 7º ano do Colégio Estadual do Campo São Luís – EFM. Concluímos a partir de nossa pesquisa e implementação que a educação baseada em valores, precisa primeiro ser vivenciada no dia a dia no interior de nossas escolas, em um processo de construção, em que todos os envolvidos tomem consciência da presença dos valores no seu comportamento e na sua relação com os outros, para que assim reflitam sobre suas ações e seus pares e a partir daí, definam quais atitudes são mais cabíveis para cada caso ou situação. Palavras-chaves: Valores humanos; escola; alunos.

1. INTRODUÇÃO

No decorrer de nossas vidas, aprendemos e ensinamos a contar, fazer

negócios, manejar ferramentas de uma profissão, ou sobre a necessidade de

competir, de progredir, de vencer.

No entanto, o homem ainda está sedento de conhecimento, de fé e de

experiências espirituais. Uma das causas que geram os conflitos, que afligem a

humanidade está na negação dos valores éticos e morais.

Esses conflitos estão presentes na família, na escola e na sociedade de

modo geral. Dá impressão que foram esquecidos, gerando assim, sérias

1 Pedagoga do Colégio Estadual São Luís- EFM/e-mail: [email protected]

2 Professora orientadora, lotada no Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-

Oeste/UNICENTRO- Guarapuava/PR. E-mail: [email protected]

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consequências no âmbito familiar e escolar. Como resultado deste “esquecimento”,

vivenciamos no dia a dia a indisciplina, a falta de limites, a inversão de valores.

Essas manifestações de comportamento, de inversão de valores e condutas

ecoam nas escolas, diante das queixas de professores quando se referem às

principais dificuldades na relação com os alunos. Tais relações a que nos referimos

são aquelas em que se manifesta o desrespeito pelos colegas, professores e pelo

espaço coletivo, assim como, a intolerância, a irresponsabilidade, a falta de limites, o

individualismo e a falta de habilidade para trabalhar em grupo.

As consequências são imediatas, pois além de refletir no baixo rendimento

escolar, prejudica o processo de ensino e aprendizagem. Neste contexto observa-se

que há alunos que não têm interesse de estudar e que atrapalham os demais com

brincadeiras inoportunas. Por outro lado, há os que deixam se levar pelas

circunstâncias, e também, aqueles que vão à escola com o intuito de aprender,

esses são os mais prejudicados.

O prejuízo maior se evidencia, principalmente, nos alunos que já têm

dificuldades de aprendizagem, ou mesmo aqueles que não têm muita concentração

e que facilmente se distraem quando esses alunos indisciplinados, de maneira

recorrente, atrapalham as aulas com suas brincadeiras e atitudes inoportunas.

Convivendo diariamente nesse ambiente conturbado, o professor também é

prejudicado, pois este se depara em sala de aula com os estudantes em situações

de fracasso e insucesso durante o processo de ensino e aprendizagem.

As instituições escolares precisam buscar caminhos com urgência, para

minimizar esses e tantos problemas que nos desafiam. É nessa perspectiva que nós

educadores precisamos nos conscientizar não só do desenvolvimento intelectual,

mas também da sua formação integral dos estudantes, para que cresçam como

pessoas íntegras, éticas, honestas, bons cidadãos e ajudem a construir um mundo

melhor.

Diante deste cenário educacional da atualidade, é que buscamos em nossa

intervenção, que será apresentada aqui, descrever nossa pesquisa que abordou os

valores humanos, entre os meses de março e junho de 2013, no Colégio Estadual

do Campo São Luís, no município de São João, na turma do 7º ano, no contraturno

do horário regular.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Os valores

Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência

humana, que motivam e impulsionam o comportamento. Nesse sentido acabam

sendo fontes de energia que mantém a autoconfiança e a objetividade, e que tornam

a vida algo digno de ser vivido, pelo fato de definirem princípios valiosos. Por essa

razão os valores humanos são um dos temas mais estudados nas ciências sociais e

humanas.

Segundo uma das definições mais aceitas na educação, proposta pelo

biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), “valores são investimentos afetivos”. Isso

quer dizer que, apesar de se apoiarem em conceitos, estão ligados a emoções, tanto

positivas quanto negativas.

Educar para os valores é transmitir aos filhos ou alunos ideias em que

realmente acreditamos, por exemplo, que vale a pena ouvir enquanto outra pessoa

estiver falando. Ou que ficar muito tempo no chuveiro pode levar à falta de água

para todos. Ou ainda que cada um é responsável por seus atos.

É na obra O juízo moral na criança, de 1932, que Piaget (1994) discorre sobre o desenvolvimento da consciência moral no desenvolvimento infantil a fim de responder a questão: “como a consciência humana vem a respeitar regras?” (1994, p. 23). Em sua pesquisa, concluiu que assim como a inteligência evolui, a moral também evolui, em um processo de interiorização de regras e valores que também ocorre em uma seqüência de etapas. Ele sugere que desde o nascimento, a criança é influenciada pelos pais e pelo meio social em que vive, sendo submetida a diversas normas e regras, e mesmo antes de aprender a falar, já aprende que deve acatá-las. A partir das interações com o meio, a criança, em um processo de construção interior, vai internalizando e se conscientizando das regras e dos valores morais que permeiam sua vida social.

Esses valores nos ajudam a viver de uma maneira saudável em sociedade,

e dentre eles podemos citar: a honestidade, a tolerância, a verdade, a paz, o amor, a

não-violência, a solidariedade, entre outros.

Nos dias atuais não encontramos esses valores com facilidade. Sabemos

que eles existem e sentimos sua falta. Essa ausência é visível na escola, quando

nos deparamos com alunosque não seguem regras, que não respeitam os

professores nem os colegas, onde o aluno que trapaça o professor é o mais

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"esperto". E nós educadores ficamos muitas vezes sem saber o que fazer, de um

lado precisamos garantir que o processo de ensino e aprendizagem ocorra da

melhor maneira possível, e do outro promover o bem estar dos demais alunos.

Segundo o Programa VIVE- Vivendo Valores na Educação é uma parceria

entre educadores de várias partes do mundo. O Programa é apoiado pela Unesco,

patrocinado pelo Comitê Nacional da Unicef. (2004,p.31.), nos últimos anos, duas

tendências aumentaram particularmente os desafios de criar e educar as crianças: o

materialismo crescente e a violência da mídia de entretenimento. Essas tendências

tiveram um grande impacto sobre as famílias, desperdiçando tempo e desviando o

foco de passatempos tradicionais e da transmissão de valores culturais e espirituais.

Ainda segundo esse programa, muitas crianças passam muito tempo na

frente da televisão do que na frente de seus pais. Muitos adultos passam cada vez

menos tempo desfrutando a companhia de seus filhos e de sua família e interagindo

com eles, pois tentam conquistar a segurança e a felicidade por meio do

materialismo – ou estão simplesmente tentando se relacionar com um mundo mais

complexo.

Compreende-se assim que a solução dos problemas mencionados passa,

necessariamente, por uma revolução na forma de educar nossas crianças.

Nos dias atuais, as crianças e adolescentes estudam tendo como principal

objetivo à realização profissional e preocupam-se em serem os melhores. Mas não

estudam os princípios básicos de uma boa convivência, amor ao próximo,

solidariedade, respeito à diversidade, cooperação, lealdade e ética, tampouco

aprendem princípios e valores sólidos que os conduzam à felicidade.

Diariamente, assistimos nos meios de comunicação histórias de pais que

espancam filhos, filhos que matam pais, jovens que matam mendigos. O homem vai

à Lua e à Marte, mas não consegue controlar seu mundo interior. Do ponto de vista

intelectual, redige e realiza operações matemáticas com brilhantismo, mas está

engatinhando do ponto de vista das emoções.

São casos típicos de inversão de valores, que segundo estudiosos são uma

das causas da crise em que vivemos neste mundo moderno, marcado pela

insegurança, pelo medo, pela ausência de paz.

Segundo o Programa VIVE- Vivendo Valores Humanos na Escola (2002,

p.05), a violência, os comportamentos negativos, estimulados principalmente pelos

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meios de comunicação, da desestrutura familiar, das desigualdades sociais, são

alguns dos resultados visíveis de uma época contaminada pela inversão de valores.

Na visão de alguns estudiosos, a influência que a mídia têm sobre a

formação do caráter e da maturidade emocional de nossas crianças é muito grande.

O Brasil é o país em que as crianças mais assistem à TV. A média é de 4h e 50min.

Como a crianças fica, em geral, cinco horas na escola, pode-se perceber a

gravidade da situação: o tempo de influência da escola e da TV é praticamente o

mesmo. Sendo assim nos perguntamos: - E nossos filhos? Que mensagens

recebem? Os programas de TV apresentam constantemente contra valores. Será

que essas mensagens também irão determinar como nossos filhos serão? Irão

determinar sua honestidade, solidariedade, respeito e outros valores? Infelizmente,

se não fizermos nada no sentido contrário, irão sim. Precisamos construir valores.

Gastar tempo com as crianças ouvindo-as, interagindo com elas, ensinando-as

sobre valores, princípios, dando exemplos de nossa vida que possam servir como

orientadores da conduta delas. Esse tempo de qualidade e de intensidade, vivido

com nossas crianças será mais forte que a exposição que a mídia faz sobre os

valores. Os nossos valores vencerão.

Essa situação nos indica a necessidade de repensarmos nosso

comportamento e, para que isso aconteça, precisamos resgatar os momentos de

verdade e harmonia nos ambientes onde temos acesso, entre eles, a família e a

escola.

Para Martinelli (1996, p. 68),

A família e a escola estão em crise como instituições. Elas precisam se adequar ao processo evolutivo para assumir as rédeas do desenvolvimento futuro. A família deixou a responsabilidade da educação para a escola, e o peso recaiu sobre os ombros do professor e do Estado.

Conforme podemos refletir, Martinelli apresenta um dos desafios que a

escola enfrenta, e esse desafio se depara com a subjetividades de cada aluno e de

cada família. Cabe as duas instituições, família e escola, não se abdicarem das suas

funções que é a de educar seus filhos e alunos, baseados em valores éticos e

morais e que saibam lidar com as frustações, perdas e as diferenças.

Segundo o Programa VIVE (2002, p.05) ,

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O colégio é, hoje, o local onde se aprende cada vez mais sobre o universo físico, e muito pouco sobre o mundo interior e subjetivo. Com a crescente informatização, a tendência é aumentar o conteúdo informativo, em detrimento do formativo, o que é um fator preocupante, pois se constata que é essa uma das principais funções da escola.

É interessante que o professor vivencie e repasse no dia a dia para seus

alunos, alguns valores como: respeito, tolerância, amizade, honestidade, entre

outros. Ensinar também como se faz, como se vivencia, cosiderando que esse

assunto é importante para viver bem em grupo e em sociedade. Resgatar e cultivar

valores, através de hábitos e atitudes no cotidiano escolar para que se incorpore e

se transfiram ao longo da vida deles.

Com Martinelli (1999, p.21), ao abordar a questão dos valores, ela afirma

que estes " [...] não devem ser encarados como algo abstrato ou estanque, nem

como um código de conduta imposto de fora para dentro".

De acordo com essa afirmação, compreende-se os valores como algo a ser

vivido e, sobretudo, da possibilidade de mudarmos a situação em que vivemos hoje,

na qual, os valores parecem que foram abandonados.

Educadores e pais estão cada vez mais preocupados com a violência, com

os problemas sociais crescentes e com a falta de valores humanos. No caso dos

pais de adolescentes, estes enfrentam um sério problema de comunicação e

relacionamento, e isso não é diferente na escola. Muitas vezes pais e professores

não sabem o que fazer como agir. Temos a impressão que a família delegou à

escola o desafio de ensinar os valores éticos e morais.

Ao confrontar-se com esse desafio a sociedade vê na escola um recurso

indispensável na tentativa de atingir ou de resgatar tais valores, que são

indispensáveis para promover uma educação integral, mais profunda e mais

harmoniosa de desenvolvimento humano, reconhecendo que o indivíduo é composto

pelas dimensões física, intelectual, emocional e espiritual.

2.2 Como são construídos os valores

No entanto, os valores são formados e consolidados respectivamente

através da educação da família e da escola. A educação se dá a partir de modelos,

e segundo especialistas essa educação começa em casa, a escola vai dar

continuidade ao processo e rever esses valores, Contudo nesse processo

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educacional surge um dilema existencial por parte dos pais e professores, em saber

como lidar com a problemática do resgate do ser humano através dos valores que

se estende entre a liberdade do fazer e não fazer.

Para Piaget (1994, p.23),

As regras morais, que a criança aprende a respeitar, lhe são transmitidas pela maioria dos adultos, isto é, ela as recebe já elaboradas, e, quase sempre, nunca elaboradas na medida de suas necessidades e de seu interesse, mas de uma vez só e pela sucessão ininterrupta das gerações adultas anteriores.

Estudar as práticas sobre valores humanos na escola poderá ajudar no

processo de violência ou até mesmo amenizar tal conflito. É preciso entendermos o

momento que estamos vivendo, analisando as causas e procurando soluções.

Segundo Martinelli (1999, p. 21), afirma que “os valores humanos na escola,

estão presentes na apreciação e assimilação do conhecimento de todos os

conteúdos a serem ensinados.

Ao confrontar-se com esse desafio a sociedade vê na escola um recurso

indispensável na tentativa de atingir ou de resgatar tais valores, que são

indispensáveis para promover uma educação integral, mais profunda e mais

harmoniosa de desenvolvimento humano, reconhecendo que o indivíduo é composto

pelas dimensões física, intelectual, emocional e espiritual.

Martinelli (2006, P.10), afirma que:

Os valores humanos conscientizados e vivenciados individualmente, em família e na escola serão certamente o fermento que fará crescer a fraternidade, a compaixão, a reverência e a cooperação como esteios da criação de uma nova sociedade.

Está mais do que na hora, da família ocupar seu espaço na educação

integral de suas crianças, aliando-se aos professores na proposta educativa de

contribuir para a formação do caráter. Pois somente dessa forma, estar-se-á

assegurando às crianças e aos jovens o direito à educação de forma integral.

E como acontece a construção de valores? Ulisses redefine as idéias de

Piaget (1994), afirmando:

Os valores são construídos com base na projeção de sentimentos positivos que o sujeito tem sobre objetos e/ou pessoais e/ou relações e/ou sobre si mesmo. Durante toda a vida, à medida que vão sendo construídosos

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valores se organizam em um sistema. Nesse sistema de valores que cada sujeito constrói, alguns deles se “posicionam” de forma mais central em nossa identidade; outros de forma mais periférica. O que determina esse “posicionamento” é a intensidade de carga afetiva vinculada a determinado valor. As características de nosso sistema de valores são bastante flexíveis, maleáveis epodem variar constantemente em função dos contextos e das experiências. Esse modelo nos leva a entender que os processos de construção de valores, e de funcionamento psicilógico são incertos e aleatórios, apontando limitespara as intervenções educacionais: a sociedade e a escola deixam de ter controle sobre a construção de valores, limitando-se a exercer influência em tais processos. Assim, o papel da escola é buscar estratégias que aumentam a probabilidade de que determinados valoreséticos sejam alvo de projeções afetivas positivas de seus alunos. (Ulisses, 2007, p. 60-61)

De acordo com essas afirmações, a escola pode e deve buscar meios para

construir juntamente com seus alunos, posturas eatitudes de respeito, tolerância,

responsabilidade. Vivendo valores, estes podem ser convertidos em atitudes e estas

por sua vez em normas de convivência. Essas normas e atitudes são parte do

processo de educação em valores, e vão facilitar a convivência no ambiente escolar.

A proposta de Intervenção Pedagógica desenvolvida no Colégio Estadual do

Campo São Luís, priorizou as atividades com os cinco valores: a honestidade, o

respeito, a tolerância e as normas de convivência, que aboraremos a seguir.

2.3 Valor: Honestidade

O Dicionário Houaiss (2012, p. 505) conceitua honestidade como qualidade

ou caráter de honesto, atributo do que apresenta probabilidade, honradez, segundo

certos padrões morais socialmente válidos. Característica do que é decente, do que

tem pureza e é moralmente irrepreensível.

Honestidade é a qualidade de ser verdadeiro, não mentir, não fraudar, não

enganar. É a honra de uma pessoa. Significa falar a verdade, não omitir. Nesse

sentido, quem é honesto repudia a malandragem e esperteza de querer levar

vantagem em tudo.

Atualmente o conceito de honestidade está meio deturpado, uma vez que as

pessoas que agem corretamente são chamados de “careta” ou são humilhados por

outros.

Apesar da honestidade ser um dos fundamentos de todas as religiões, como

aquilo que sustenta o convívio social, ela vem perdendo sua força a cada dia que

passa, motivado pelo desconhecimento da sua necessidade.

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A corrupção é a face mais destrutiva da falta de honestidade entre os

homens, ela se alastra nas maioria dos países, o que causa gravíssimos problemas

econômicos e instabilidade social, prejudicando o desenvolvimento das nações.

2.4 Valor: Responsabilidade

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2012 p.818) a origem

da palavra “responsabilidade” tem duas versões. Na primeira, esse substantivo

feminino é uma das derivações diretas do verbo latino responder, que significa

“responder”, na segunda “comprometer-se”, corresponder o compromisso

solenemente feito.

Responsabilidade é responder pelas próprias ações e pressupõe que as

mesmas se apoiam em razões ou motivos. Como expressão de valores humanos é

uma das mais importantes expressão habitualmente usadas para definir a

idoneidade moral e material.

Ela assume diversos significados, como no caso de empregados, operários e

de todos aqueles em que se depositou confiança de cumprir uma função.

Responsabilidade significa compromisso e garantia de honestidade e

capacidade de cumprimento; compreende a soma dos valores que alguém possui ou

representa, legitima os atos individuais e lhes dá o caráter.

2.5 Valor: Respeito

O dicionário Houssais (2012 p. 817), conceitua respeito como ato ou efeito de

respeitar, Sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande

atenção, profunda deferência, consideração, reverência. Obediência, acatamento.

Modo pelo qual se encara uma questão, ponto de vista.

O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu capítulo II garante o direito à

liberdade, ao respeito, e à dignidade das crianças e adolescentes.

O artigo 17 dispõe que o direito será garantido se observada a inviolabilidade

da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da

identidade, da autonomia, dos valores, idéia e crenças, dos espaços e objetos

pessoais.

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O respeito não só se manifesta pelas atitudes das pessoas ou pelas leis, mas

também se exprime para com a autoridade, como acontece com os alunos em

relação aos professores ou ainda com os filhos em relação aos pais.

O respeito permite que a sociedade viva em paz, num convivência saudável

que assenta em normas e instituições. Implica reconhecer em si e nos demais os

direitos e as obrigações, daí ser hábito dizer-se: “Não faças aos outros aquilo que

não gostarias que te fizessem a ti”.

Respeitar os mais velhos é ouvir o que eles tem a dizer e compartilhar a

sabedoria que eles adquiriram durante a vida. Vale não só para as pessoas. A

pessoa respeitadora cuida da casa, da escola, da cidade, da natureza. Na história,

há muita gente que lutou pelo respeito: aos índios, aos negros, às mulheres. Quem

respeita, respeita também as diferenças entre as pessoas e defende que todos

recebam tratamento igual, independente de raça, religião e condição social.

2.6 Valor: Tolerância

Segundo o Dicionário Houaiss ( 2012, p.913 ) tolerância é ato ou efeito de

tolerar; indulgência, condescendência. Qualidade ou condição de tolerante.

Tendência a admitir, nos outros, maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes

ou mesmo diametralmente opostos às nossas.

A tolerância é uma atitude fundamental para quem vive em sociedade. Uma

pessoa tolerante normalmente aceita diferentes opiniões ou comportamentos

diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social.

No nosso dia a dia, na sociedade de modo geral e também nas nossas

escolas, vivenciamos tanto a tolerância como a intolerância, que ,Segundo Serrano (

2002,p. 241-242) faz um diagnóstico da intolerância afirmando que ela pode

acarretar uma perigosa doença social : a violência, e alerta para que os educadores

estejam vigilantes para que possam detectar alguns dos seus sintomas:

- Sexismo: práticas que excluem a mulher de uma plena participação na sociedade.

-Racismo: negação dos direitos humanos por razões de raça, sendo justificado com

afirmação de que alguns grupos raciais são superiores a outros.

- Nacionalismo: crença de que determinada nação é superior a outras e tem direitos

sobre elas.

Page 12: VALORES HUMANOS NA ESCOLA

- Xenofobia: apreensão e aversão em relação a estrangeiros e pessoas de outras

culturas, além de crenças de que o “estrangeiro” prejudicará a sociedade.

- Maneira de falar: designar e utilizar uma linguagem depreciativa ou exclusitivista

que desvalorize, degrade e desumanize grupos culturais, raciais, nacionais ou

sexuais.

-Tipificação mediante estereótipos: descrever todos os membros de um grupo

caracterizando-os com os mesmos atributos, geralmente negativos.

- Segregação: impor a separação de pessoas de outra raça, religião ou sexo,

geralmente em prejuízo de um grupo.

Neste ínterim, a educação para a tolerância, torna-se algo necessário na

sociedade atual. A convivência entre as pessoas de raças, culturas e modos de

pensar, exige que se aprenda a conviver de forma respeitosa, valorizando sempre o

outro, sem deixar de valorizar a si mesmo.

Neste sentido, cabe escola, enquanto espaço de formação, utilizar de

estratégias, para desenvolver caminhos capazes de lidar com a diversidade cultural,

bem como proporcionar o desafio a preconceitos com relação às diferenças.

2.7 Valor: Normas de Convivência

Uma das grandes queixas nas escolas, e que também é um assunto nos

noticiários, é a indisciplina. A ocorrência de conflitos, em muitos casos até violentos

dentro das escolas, tanto públicas quanto particulares, sendo motivo de

preocupação no meio docente.

Nas escolas, é comum ouvir as reclamações de professores da falta de

educação dos alunos, das provocações, das agressões físicas e verbais, das

intimidações de uns contra outros. Essas atitudes geram estresse tanto para o

professor quanto para o aluno, provocando atrito em ambas as partes, dificultando a

tarefa do professor ensinar e do aluno aprender.

A indisciplina é um comportamento que se opõe às normas de conduta, ela é

motivo de desordens na sala de aula, além disso, causa um desgaste muito grande

nas relações interpessoais.

E então nos perguntamos: como promover a disciplina na sala de aula? Como

agir diante de certas condutas que perturbam o ambiente escolar? Como conseguir

Page 13: VALORES HUMANOS NA ESCOLA

a integração dos alunos na turma, criando um espaço de harmonia para que se

efetive na prática o processo de aprendizagem?

Segundo Aquino:

A indisciplina escolar não é obtida por meio de regulamentos, ameaças de punição, retaliação, banimento. Ao contrário ela é resultado tão somente de acordos entre as partes, pautados numa espécie de compromissos, um “acordo de cavalheiros”. Costuma-se dizer. Ela remete as pautas de convívio, elaborados à parte das rotinas, das expectativas e dos valores característicos das relações escolares, os quais balizam o que fazemos e o que pensamos no dia a dia (AQUINO, 2003, p.67)

Segundo Aquino (2003), O primeiro dia de aula é o momento mais propício

para a elaboração dos contratos, organizado no coletivo, as rotinas de trabalho ( o

que será feito) e de convivência escolar ( como será feito ). O professor vai explicar

as exigências e as condições mínimas para que as aulas transcorram a contento. É

fundamental esclarecer o que esperam um do outro.

Uma proposta de normas de convivência baseada em acordos mútuos vai

gerar responsabilidade, respeito, autocontrole, boas condutas, cooperação entre

todo o coletivo escolar, professores, alunos, equipe pedagógica, direção,

funcionários. Atitudes e valores precisam ser incorporados por toda a equipe

escolar, devendo haver coerência entre os valores que são transmitidos e os que

estão sendo vividos na prática escolar.

Sendo assim, os profissionais da escola, podem e devem tratar os alunos

com respeito, estima, estabelecer relações cordiais e afetuosas com todos,

certamente irão criar um ambiente de convivência harmônica.

2.8 Socializando a prática

A metodologia utilizada para o desenvolvimento das atividades do Projeto

Valores Humanos na Escola, objetivou socializar a prática e divulgar o material que

poderá ser utilizado por outras instituições educacionais que considerarem relevante

e necessário para suas realidades. Para atender nossa Proposta de Intervenção

Pedagógica de 32 horas, foi desenvolvido um Caderno Pedagógico que teve por

objetivo subsidiar o trabalho de implementação como suporte teórico. Também

disponibilizamos as demais atividades que apresentaremos mais adiante, e que

Page 14: VALORES HUMANOS NA ESCOLA

foram desenvolvidas com os alunos do 7º ano do Colégio Estadual do Campo São

Luís- EFM.

Inicialmente foi elaborado um Caderno Pedagógico, composto por cinco

temas, sendo que cada um deles tratou de um valor específico como: valores

humanos, responsabilidade, honestidade, respeito, tolerância e normas de

convivência.

Para cada tema apresentado aos alunos iniciamos com seus conceitos

básicos, e logo após uma dinâmica de grupo seguida de uma oficina pedagógica,

com atividades que foram desenvolvidas semanalmente num período de três horas.

Estas atividades objetivavam promover momentos de reflexão para que os

alunos aos poucos ampliassem seus conhecimentos sobre cada valor que era

trabalhado, e que poderia contribuir de forma significativa na qualidade de vida de

todos. A intenção era com essas práticas promover relações saudáveis, de respeito,

honestidade, tolerância e aprendizagem na convivência com os demais, como na

escola, família e na sociedade.

Como esses valores e essas relações saudáveis se encontram em crise na

sociedade, consideramos que a escola é um recurso indispensável na tentativa de

atingir ou de resgatar tais valores. Esse resgate é importante visto que tais valores

são indispensáveis na promoção de uma educação integral, mais profunda e mais

harmoniosa de desenvolvimento humano, capaz promover o indivíduo em suas

dimensões física, intelectual, emocional e espiritual.

Martinelli (2006, p.10), afirma que:

Os valores humanos conscientizados e vivenciados individualmente, em família e na escola serão certamente o fermento que fará crescer a fraternidade, a compaixão, a reverência e a cooperação como esteios da criação de uma nova sociedade.

De acordo com essas afirmações, a escola pode e deve buscar meios para

construir juntamente com seus alunos, posturas e atitudes de respeito, tolerância,

responsabilidade, honestidade, estes podem ser convertidos em atitudes e estas por

sua vez em normas de convivência. Essas normas e atitudes são parte do processo

de educação em valores, e vão facilitar a convivência no ambiente escolar,

propiciando um clima tranquilo e harmonioso para todos.

Page 15: VALORES HUMANOS NA ESCOLA

No intuito de atingir esse clima, é que após a elaboração do Caderno

Pedagógico, foi no início do ano letivo de 2013, durante a Semana Pedagógica,

apresentado o Projeto Valores Humanos na Escola, aos professores e funcionários

do Colégio Estadual do Campo São Luís – EFM Na ocasião puderam conhecer o

material produzido a partir do Caderno Pedagógico, cujo conteúdo foi desenvolvido

para os alunos do 7º ano do referido colégio. Os professores presentes

consideraram importante o desenvolvimento do tema com os alunos em questão,

manifestaram concordância ao trabalho e sugeriram que fosse ampliado às demais

séries do Colégio.

No mês de março deste mesmo ano, o projeto foi apresentado aos pais dos

alunos em questão, os quais tiveram a oportunidade de conhecer o material, e

deram o total apoio.Este foi um momento de troca, de ajuda mútua, onde os pais

puderam expor suas angustias e medos e também de esperança .Esperança essa

encontrada principalmente com a ajuda da escola .

Ainda no mês de março de 2013 iniciamos os encontros semanais com a

turma do 7º ano, totalizando 34 horas. Nestes encontros contemplou-se o

aprofundamento teórico da Proposta, através de diversos textos sobre os valores

humanos. Nesta etapa do trabalho, vivenciamos juntos momentos inesquecíveis, de

coleguismo, amizade, foram também momentos de inquietações e de principalmente

o resgato de muitos valores éticos quase esquecido por eles e por alguns dos seus

pais.

Em todos os encontros buscou-se discutir os temas com os alunos,

despertando o interesse, a reflexão e a tomada de decisão.

Outra atividade prevista e realizada pelo PDE foi o Grupo de Trabalho em

Rede, onde foi apresentado para os quinze cursistas que concluíram todos os

trabalhos apresentados na proposta. Durante esta fase de desenvolvimento, os

cursistas puderam expor suas opiniões, sugestões, houve muita troca de experiência

e ressaltaram a necessidade de se trabalhar sempre e com todos os alunos.

Avaliaram como sendo bem elaborada, com atividades diversificadas, e que

contribuiu para aprofundamento das práticas vivenciadas no dia a dia no interior das

escolas, pois ela aponta novos rumos, novos caminhos que precisamos resgatar

com urgência.

Page 16: VALORES HUMANOS NA ESCOLA

Percebeu-se que com os alunos envolvidos nas atividades, estes tiveram

mais responsabilidades, demonstraram atitudes de solidariedade e também de mais

respeito com colegas, professores e funcionários da escola.

Todas as fases de implementação do nosso trabalho contribuíram para nos

motivar no sentido de continuar a desenvolver este tema em todo âmbito escolar.

Por esta razão acreditamos que os primeiros passos foram dados, a fim de melhorar

o ambiente escolar e contribuir para uma sociedade mais humana e justa.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando começamos a ir para a escola, inaugura-se o que há de mais

primordial na vida humana – a introdução ao espaço público. Tanto na escola,

quanto em casa, a educação se dá diante de modelos, diante de autoridade, de

parâmetros que orientam o que é certo ou errado para as coisas da vida. Tanto na

escola, como na família isso se afrouxou.

Chamar a atenção para os valores humanos faz-se importante justamente

porque se deixou de lado esses parâmetros que regem a convivência harmônica.

Este dever é dos pais, mas é também dos educadores, e devem ser

construídos no coletivo de todos os envolvidos na comunidade escolar. Eles devem

ser vivenciados, entendidos e assumidos por todos, pois eles regem a vida escolar e

vão determinar o modo de agir e atuar de cada um frente ao mundo.

A nossa proposta no Projeto Valores Humanos na Escola baseou-se

principalmente na reflexão-ação-reflexão, para que obtivéssemos mais respeito,

tolerância, honestidade e responsabilidade entre os participantes. Esse ir e vir entre

a reflexão-ação-reflexão buscou propiciar um melhor relacionamento e afetividade

entre professores e alunos, colegas com colegas, alunos com funcionários.

Importante destacar que nosso trabalho não pretende ditar regras de conduta

na escola, mas sim promover um trabalho em equipe, onde cada um assume suas

responsabilidades nesta caminhada.

Ao término das atividades de Implementação, ficou evidente a necessidade

de dar continuidade à proposta para as demais séries do colégio, em virtude das

mudanças positivas observadas nos alunos que participaram.

Enfim, é desafio do educador na contemporaneidade é buscar a construção

de uma escola de qualidade, que prima por seriedade, competência, humanidade,

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elementos capazes de resgatar os valores humanos. O cultivo desses valores no

interior de nossas escolas podem com certeza propiciar o desenvolvimento saudável

e harmônico dos nossos educandos e da humanidade.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. São

Paulo: Moderna, 2003.

ARAÚJO, Ulisses F; Josep Maria; Arantes, Valéria Amorim. Educação e valores:

pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007..

MARTINELLI, Marilu. Aulas de transformação. São Paulo: Peirópolis, 1996.

________. Conversando sobre educação em valores humanos. São Paulo:

Peirópolis, 1999.

PIAGET, Jean. O juízo moral na criança.( 1932).São Paulo: Summus, 1994.

SERRANO, Glória Pérez. Educação em Valores: como educar para a democracia.

2. Ed. Porto Alegre: Artimed Editora S.A., 2002.

TILLMAN, Diane. Programa Vivendo Valores Na Educação. São Paulo: Brahma

Kumaris. 3.ed., 2002.