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NÚMERO XVI / 2013 Grupo PET FMRP USP VEDAS!

VEDAS! edição 16

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16ª edição da revista VEDAS!

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Grupo PETFMRP USP

VEDAS!

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O que é o PET?

Pergunta que nós, petianos, nunca paramos de ouvir, seja de calouros, veteranos, professores ou até familiares. O que comumente respondemos é que o PET (Programa de Educação

Tutorial) é um espaço de desenvolvimento intelectual e acadêmico,já que nele se realizam discussões científicas, atividades para a comunidade, pesquisas, aulas, debates e integração entre os alunos de diferentes turmas, cursos e universidades; resumidamente, é o lugar no qual exercitamos os fundamentos do tripé universitário: Ensino, Pesquisa e Extensão. Tudo isso é verdade, mas o desenvolvimento mais importante que alcançamos participando do PET é o desenvolvimento pessoal e interpessoal. Aprender a conviver com tantas ideias, opiniões, realidades e motivações diferentes, que são muitas vezes conflitantes, é uma tarefa árdua que a vida nos impõe, cedo ou tarde, e o PET nos ensina a superá-las de maneira produtiva. Atualmente existem 779 grupos PET em 114 instituições universitárias públicas e privadas, sendo mais de 5 mil graduandos-petianos e mais de 700 docentes-tutores.

Visite nossa página na internet!

www.pet-fmrp.com.br

Esta é a 16ª edição da Revista VEDAS! Nas edições anteriores tem matérias sobre residência médica, médicos sem fronteiras, marketing médico, medicina e arte, política, religião, história da música, edições antigas do Sarau do PET, e muito, muito mais!Acesse nossa página na internet e leia!

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Palavra do tutorProf. Dr. Antonio Pazin Filho

A VEDAS tem vários significados! Para o grupo, pode ser considerada uma síntese de tudo o que fizeram durante o ano, buscando reflexão e preparo para o próximo! Pode também ser um exercício para expressar o que pensam, a “publicar” seus pensamentos para toda

uma comunidade. Nesse sentido, vale dizer que o que está escrito não teve, tem ou terá censura do tutor! Cada petiano assume a responsabilidade pelo que escreveu!

Mas para você que dá uma olhada nesse material, nós esperamos que encontre fontes para reflexão, para uma análise crítica do seu ambiente, fontes para ampliar seu mundo fora da medicina. Leia, vá ao cinema, discuta o que você pensa, participe de algo fora da medicina. Nós esperamos que a VEDAS seja um recurso para isso!

Boa leitura!

VEDAS!

Veda (do Sânscrito): 1. manuscrito que reune as bases para a cultura e a religião Hindu e a apropriação intelectual do Mundo. 2. Conhecimento.

Programa de Educação TutorialFaculdade de Medicina de Ribeirão PretoUniversidade de São PauloSecretaria do Ensino Superior - MEC

Tutor:Prof. Dr. Antonio Pazin-Filho

Editores:Eduardo Antonio de Sousa OrlandinFlávio Cruz Ferro

Direção de Arte:Eduardo Antonio de Sousa Orlandin

Arte da Capa:Alex Luis Araújo Diniz (calouro e ex-aluno do CPM)

Revisão de Textos:Eduardo Antonio de Sousa OrlandinRafaela Augusto Neman dos Santos

Redação:Bruno de Lima Maiolini*Carla Lionela Trigo RomeroEduardo Antonio de Sousa OrlandinEdgard Antoun Fallakha Junior*Fábio Henrique Luis LeonardoFernando Saraiva ConeglianIago da Silva CairesMaria Rita Rodrigues Alves MargaridoMarina BrancoNatasha Nicos FerreiraRafaela Augusto Neman dos SantosThiago Rodrigues da Cunha Stoianov*alunos em intercâmbio em 2012

A Revista VEDAS! é uma publicação do PET-FMRP-USP

PET em 2012

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O marcante atravessar na Abbey Road da medicina

Quem não gosta de Beatles? Com notas simples e um tanto repetidas em diversas músicas, a banda inglesa compunha albuns extremamente criativos que cativam gerações. Padrões simples que geram artes complexas e belas. Quem já sentou em uma praça e ficou observando as pessoas, tendo inicialmente a impressão de que viver parece ser algo simples? E logo começamos a imaginar o que cada uma dessas pessoas faz, como é a vida delas e, para cada pessoa, uma reposta diferente. Infinitos caminhos que podem ter a vida. Quantas vezes nos vemos frente aos mesmos desafios, e não podemos dar a mesma resposta. E temos sempre que reiventar a roda para superar os obstáculos.

A vida é mais complexa do que se aparenta. A capa do album mais vendido dos Beatles, Abbey Road, é um exemplo de como o simples pode se tornar enigmático. Trataria-se apenas de uma foto do quarteto atravessando uma rua; não obstante, os populares “sinais” que sugeririam a morte de Paul McCartney dão um ar de mistério e fascínio à imagem. A vida seria como um caminhar simples na rua, com situações que podem passar despercebidas ou serem sugeridas como acaso. Mas será tudo acaso? De um lado, cientistas procuram fórmulas que regem o Universo, como se tudo obedecesse a um padrão. Do outro lado, artistas buscam o novo, o criativo, a beleza da originalidade. No meio-fio, a Medicina, ciência e arte, nos ensina que existem padrões e protocolos, mas sempre há exceções, cada organismo responde de maneira diferente a uma mesma situação. Na Medicina “nem nunca, nem sempre”, ensinam nossos professores.

Voltando ao album dos Beatles, Abbey Road não é um album qualquer: suas canções trazem diversas inovações, com sintetizadores e uma engenharia de som revolucionária que ganhou o Grammy e marcou a Música. Inovações, inovações! A cada dia, a tecnologia muda condutas na Medicina; o que aprendemos hoje em aulas, livros e com professores será diferente daqui a 20 anos, é preciso sempre reaprender. Nunca paramos de andar, de atravessar novas ruas.

Abbey Road sem dúvida é um marco. De modo análogo, os anos de medicina na FMRP são um marco para nós. Evoluímos no conhecimento do corpo humano, da anatomia ao cuidado com o paciente, do ciclo básico para o hospital, de calouro para médico. Não é uma transformação fácil: são 6 anos intensos que irão gerar recordações por toda a vida. E é fundamental se expor às situações, enfrentar desafios, estar aberto ao novo. A lagarta se transforma em borboleta dentro de um casulo; mas nós, estudantes, não evoluiremos se ficarmos encasulados. É preciso criar, opinar, viajar, fazer!

O que pretendemos nessa edição da VEDAS! não é simplesmente divulgar nossas atividades, mas sobretudo expor o quanto cada aluno tem algo a mostrar: seja seu talento no Sarau, sua capacidade de escrita, sua vontade de conhecer assuntos variados (como homeopatia, mitologia ou Jane Austen), as experiências de alunos no exterior, as opiniões que debatemos - ou deveríamos debater. Em especial de comemoração aos 60 anos da FMRP, buscamos alguns temas novos aos alunos: sempre há o que se encantar no nosso campus, basta apenas pegar um caminho diferente, ter a curiosidade, um novo olhar.

Cada aluno traz histórias e vontades consigo, e compartilhamos isso a partir de amizades que irão perdurar por toda a vida. A vivência universitária é mais do que apenas “assistir aulas” ou aprender medicina”: é um andar que transforma nossas vidas. O que fica registrado são fotos do caminhar pelas nossas Abbey Roads, palavras que deixamos aqui nessa edição, uma parte da História que queremos repassar. Todavia, bem mais especiais são nossas vivências, nossos aprendizados e reaprendizados, que podemos guardar apenas em nossas memórias, uma caixa pequena onde tudo vai se apertando e doendo na forma de saudade.

Eduardo Orlandin (turma 59)

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SumárioSEÇÃO MATÉRIA PÁGINA

Sobre a 16ª VEDAS!

O que é o PET 2

Palavra do tutor 3

quem fez a 16ª VEDAS! 3

Explicação da Capa 4

Sobre o Programa20 anos de PET-FMRP-USP 6

PET Integração 7

Nossos Projetos

5 anos de Cursinho: aonde queremos chegar? 8

Cultura e Arte: Sarau do PET “Cinema” 10

Cultura e Arte: concurso literário “Palavras de Cabeceira” 12

Projetinho Homeopatia: O curioso caso Benveniste 13

Projetinho: Deficiências 14

+ sobre deficiências CinePET: “Meu pé esquerdo” 16

+ sobre deficiências: LIBRAS na Medicina? 17

Projetinhos: Mitologia Grega e Jane Austen 18

O PET lê: Entre Quatro Paredes (Jean Paul Sartre) 18

+ O PET lê: Predictably Irrational 19

+ O PET lê: A morte de Ivan Ilitch 19

Especial Estudar no Exterior: experiências de PETianos nos EUA 20

Opinião

Eu quero ser... Militar 22

O exame do CREMESP: um olhar crítico 23

Um pouco sobre a lei do ato médico 24

O PROVAB e a (des)valorização da atenção básica 24

PET Reflexão Vamos tomar um café? 25

FMRP 60 anos

A saga do HC Criança 27

Você conhece o GACC? 29

O hemocentro é maior do que você imagina 30

Legado Científico 31

Caixa de textosA sétima arte da vida 32

Próxima estação 33

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Na FMRP-USP, o PET-Medicina foi implantado em 1992 pelo Prof. Afonso Dinis Costa Passos, do Departamento de Me-dicina Social. O grupo se reunia para discutir artigos científicos, relação médico-paciente, organizavam palestras e mesas redondas com vários temas, além de incentivar o compro-misso individual em atividades de pesquisa, estudo de informática e inglês. Em 1994, as-sumiu a tutoria o Prof. Sérgio Britto Garcia, na época do Departamento de Morfologia. Neste período, o programa contou ainda com um grupo de professores colaboradores constituí-do por Prof. Dr. Gutemberg de Mello Rocha (Parasitologia), Profa. Dra. Maria de Lourdes Veronese Rodrigues (Oftalmologia) e Prof. Dr. Norberto G. Cairasco (Fisiologia). O período foi caracterizado pelo desenvolvimento de re-soluções de problemas clínicos abrangentes no Laboratório de Experiências Inovadoras no Ensino, no objetivo de demonstrar a aplica-bilidade do PBL (Problem Based Learning) na FMRP.

Em 1998, o Prof. Dr. Orlando Castro e Silva (do antigo Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia) assumiu a tutoria, até o retorno do Prof. Sérgio em 2000. A Profa. Dra. Elisabeth Meloni Vieira da Medicina So-cial, assumiu a tutoria do grupo em fevereiro de 2002, no mesmo ano em que o programa foi oficializado dentro da FMRP-USP. Destaca-se, nesse ano, a realização do I Sarau do PET, em comemoração aos 50 anos da FMRP, que ob-teve grande sucesso na integração de alunos, professores e funcionários através de ativida-des artísticas, o que garantiu sua continuidade até o ano presente. As pesquisas desenvolvidas passaram a ter caráter coletivo com enfoque no ensino médico.

De 2005 a 2009 a tutoria ficou sob respon-sabilidade da Profa. Dra. Cristina Del-Ben (do departamento de Neurociências), até assumir o atual tutor, Prof. Antonio Pazin Filho (da Clínica Médica). Nos últimos anos, o grupo vem desenvolvendo atividades contínuas aos princípios do Programa Tutorial, de forma a promover crescimento pessoal e intelectual de cada integrante.

Conforme o nosso Projeto Político Peda-gógico, O PET-FMRP realiza atividades que geram habilidades para o currículo formal e currículo oculto de cada integrante, enrique-cendo sua formação acadêmica e o preparando para o futuro profissional. Destacamos algu-mas a seguir:

- Sarau do PET: envolve atitude criativa e empreendedora, promovendo a escolha de um tema e seu desenrolar em todos os pilares necessários para o evento. A organização de eventos confere ao aluno a responsabilidade direta por tarefas a serem executadas, das quais deverá prestar contas ao grupo. Também per-mite a reflexão sobre a impossibilidade de se executar a tarefa e o impacto sobre o desfecho do evento, além de, através da divisão de tare-fas, permitir o desenvolvimento de confiança no outro e de responsabilidade pelo grupo.

- Elaboração da revista VEDAS: envolve investigação e reflexões sobre acontecimentos do meio acadêmico e médico, procurando ex-pressar de forma compreensível e interessante ao nosso público alvo as visões e propostas do PET frente aos diversos assuntos. Com isto, os alunos treinam sua competência linguística e argumentativa, adequando sua comunicação.

- Cursinho Popular do PET-Medicina: a partir do contato com uma amostra da comu-nidade, desenvolve-se uma visão crítica das necessidades da sociedade. A participação nas atividades administrativas tem proporcionado aos alunos problemas de hierarquia e respon-sabilidade sobre o desempenho de tarefas. Ao passar de aluno para professor, muitas das ati-tudes que são observadas pelos alunos apenas como “inadequadas”, passam a ser problemas concretos a serem abordados, necessitando um equacionamento entre atitudes conciliatórias e criação e implementação de regras. Permite, também, a discussão das condições sociais e dos diversos obstáculos a serem vencidos, con-ferindo uma reflexão sobre o caráter público da Universidade.

- Pesquisa: os integrantes do PET são in-centivados a buscar, individualmente ou em grupo, uma área de pesquisa de preferência, sendo orientados pelo tutor ou outro docente indicado por este, com maior atuação na área de escolha, para a construção de um artigo científico. Recentemente foi aprovada na Re-vista Brasileira de Educação Médica o artigo sobre Marketing Médico, e atualmente desen-volvemos 2 pesquisas: sobre fatores de escolha de Residência Médica ao longo da graduação, e sobre conhecimentos de Primeiros Socorros no campus da USP – RP.

- Simpósio: procura passar para a comuni-dade médico-acadêmica as discussões do gru-po a respeito de assuntos relacionados à prática médica que não ganham destaque ou não são abordados na graduação.

- Projetinhos: cada aluno traz um tema de seu interesse e o expõe para o grupo, buscan-do-se assim discussões e enriquecimento sobre temas variados (em temas como deficiências, medicina no exterior, Jane Austen ou vida fora da Terra).

- Discussões em língua inglesa: o grupo assiste a vídeos em língua inglesa sobre temas de interesse (geralmente obtidos em sites de universidades estrangeiras ou do site TED), e realiza discussões em língua inglesa, elaboran-do argumentos e opiniões.

- Discussão de livros e CinePET: periodi-camente, o grupo escolhe livros de leitura para férias, ou realiza o CinePET, trazendo algum convidado para discutir sobre o tema.

Enfim, há 20 anos o PET-FMRP trabalha com métodos para aprimorar e enriquecer a formação do aluno, extrapolando o ambiente da graduação e promovendo novas vivências e experiências, que com certeza farão parte do futuro de cada aluno. Gostou da idéia? venha nos conhecer e trocar idéias conosco!

Auto-Reflexão

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

Um pouco mais da história do Programa de Educação Tutorial no Brasil

O PET, antes Programa Especial de Treinamento, hoje Programa de Educação Tutorial – foi criado em 1979 e é vinculado à Secretaria de Educação Superior do Mi-nistério da Educação (SESu-MEC). Quando da sua criação, esperava-se formar profis-sionais de nível superior dotados de eleva-dos padrões científico, técnico e ético nas diversas áreas do conhecimento, que fos-sem capazes de uma atuação no sentido da transformação da realidade nacional.

É um programa integrado por grupos tutoriais de aprendizagem que busca pro-piciar aos alunos, sob a orientação de um professor-tutor, condições para a realização de atividades extracurriculares em ensino, pesquisa e extensão, que complementem as necessidades do próprio curso de gra-duação. Busca-se assim oferecer ao aluno oportunidades de vivenciar experiências não presentes em estruturas curriculares convencionais, visando a sua formação glo-bal e estimulando a fixação de valores que reforcem a cidadania e a consciência social e a melhoria dos cursos de graduação. Atu-almente o programa conta com 779 grupos implantados em 114 universidades brasi-leiras e mais de 5000 alunos de graduação participando de forma direta.

20 anos de PET-FMRP

O que fazemos (e já fizemos)

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Salão de exposição dos trabalhos que promovem visibilidade aos grupos PET na USP

Inseridos na proposta do Programa de Educação Tutorial (PET), ocorrem, todo ano, diversos eventos que visam a integra-ção dos grupos PET, com o intuito de trocar experiências, definir posicionamentos frente às questões que nos abordam e decidir sobre assuntos que concernem aos membros do programa de ma-neira geral. Foi a forma escolhida para a manter comunicação entre os grupos e o fórum oficial para se realizar parcerias de trabalho conjunto.

Nesse contexto, há três eventos de integração ao longo do ano: SUDESTEPET (encontro dos grupos PET da região Sudes-te), ENAPET (encontro nacional dos grupos PET), e EPETUSP (encontro dos grupos PET da Universidade de São Paulo), orga-nizados temporalmente assim ao longo do ano.

O primeiro evento que participamos no ano foi o XII SUDES-TEPET, que ocorreu em Vitória/ES, entre os dias 5 e 8 de abril de 2012, sediado pelos grupos PET da Universidade Federal do Es-pírito Santo (UFES), com o tema “Vivência no PET: impactos na formação profissional e social”. Enviamos três representantes do grupo para o evento: Natasha Nicos Ferreira (Bombs-58), Eduar-do Antônio de Sousa Orlandin (CPM-59) e eu (Soneca-59). Foi um evento produtivo, apesar da viagem de 26 horas de ônibus de Ribeirão Preto até Vitória. Tivemos a oportunidade de enxergar o trabalho dos outros grupos, conhecemos várias pessoas e pude-mos também entender um pouco melhor quão dispare é a reali-dade de outras universidades brasileiras, além de quão diferentes são os grupos PET entre si. Ademais, o evento é importante prin-cipalmente como um espaço de discussão prévia das questões a serem debatidas e/ou deliberadas acerca do Programa Educação Tutorial, no ENAPET. Esse ano, discutimos questões importan-tes como o sistema de avaliação dos grupos PET e estruturação dos Comitês Locais de Acompanhamento (CLA-PET).

Três meses depois, no período de 22 a 27 de julho de 2012, ocorreu o XVII ENAPET, sediado pelos grupos PET da Univer-sidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís/MA, com o tema “Educação Tutorial: Novos rumos, novas fronteiras”. Para esse evento, não pudemos enviar nenhum representante: o evento

foi idealizado para ocorrer nas férias de meio de ano dos estudan-tes de graduação e, devido a isso, realizou-se durante a semana; no entanto, nós, do curso de medicina, já estávamos de volta às aulas há uma semana e, por isso, não pudemos comparecer. É nessas ocasiões que percebemos o quanto somos sufocados pela carga horária do nosso curso. Tanto é assim que até deixamos de perceber essas grandes diferenças porque normalmente estamos envolvidos demais com o curso de graduação para observar a rotina dos demais estudantes.

Por fim, já no segundo semestre, comparecemos ao fórum de discussão interna dos grupos PET da USP, o EPETUSP. É o último dos três eventos a acontecer no ano, mas idealmente de-veria ser o primeiro, porque é lá que as principais questões que afetam os nossos grupos começam a ser levantadas. Por ser um evento menor, é possível ter uma ideia melhor da realidade da maioria dos grupos envolvidos e enxergar aquilo que precisa ser melhorado. O X EPETUSP ocorreu esse ano em São Paulo/SP, no Campus da USP Leste (EACH), sediado pelo PET Sistemas de Informação no dia 1º de setembro de 2012. O tema do evento foi a “Visibilidade do PET na USP”. O tema foi escolhido de-vido à percepção dos integrantes do programa que o PET não é bem conhecido nem pelos alunos nem pelo professores e também é pouco reconhecido pela instituição. Nesse sentido, buscamos discutir estratégias para melhorar a visibilidade do programa em cada uma dessas frentes. Para esse evento, levamos quatro repre-sentantes: Prof. Dr. Antônio Pazin Filho (tutor do nosso grupo), Fernando Saraiva Coneglian (Brinco-60), Eduardo Antônio de Sousa Orlandin (CPM) e eu (Soneca).

Esse eventos são parte importante da nossa vivência enquan-to membros do Programa de Educação Tutorial, mas a carga de trabalho exigida pela nossa graduação inviabiliza uma partici-pação mais ativa dos petianos FMRP-USP. De qualquer modo, conseguimos estar presentes em dois dos três principais eventos este ano e procuramos estar de acordo com o que é esperado de nós a nível regional e nacional.

PET integração!

Relações externas

texto: Bruno Maiolinigraduando do 3º ano

As vivências com os outros grupos PET e as principais discussões do programa no país

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5 anos de Cursinho: aonde queremos chegar?

Extensão

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

O Cursinho Popular do PET-Medicina (CPM) foi fundado em 2008, a partir da experiência dos integrantes do PET FMRP USP com o cursinho popular PEIC, da FFCLRP-USP. A intenção do projeto CPM, no início, era “proporcionar uma mudança na realidade de pessoas desfavorecidas socialmente, através do preparo para o ingresso em uma boa universidade, bem como oferecer a este aluno uma visão crítica da realidade em que ele vive”. Para alcançar essa meta, as ações tomadas foram: 1) buscar a aprovação do aluno no vestibular, e 2) oferecer uma visão humanista ao aluno, com aulas de Filosofia e Artes, bem como excursões para eventos culturais em Ribeirão Preto e São Paulo (em orquestras, museus).

Após 5 anos, aprovações que nos deixam contentes, mas também dificuldades enfrentadas e um sentimento de que poderíamos ter ajudado melhor algumas pessoas, o CPM hoje é um projeto cada vez mais consolidado e visível na região de Ribeirão Preto, e sem dúvida a “marca” que traz mais visibilidade ao PET-FMRP na USP. Todavia, inúmeras questões surgem: cumprimos a missão original? Deveríamos investir mais no projeto, ou deixá-lo caminhar com seus próprios pés? Estamos realmente trazendo produto/resultado para nós universitários, para a USP, e, principalmente, para as pessoas de baixa renda que se tornam nossos alunos?

Gostaria de refletir sobre algumas questões que me afligem nesses mais de 3 anos que participei do CPM, como monitor, professor, e coordenador de alunos:

Quais tem sido as contribuições do CPM para a comunidade acadêmica?

A administração do CPM tem nos proporcionado vivências de relacionamento, hierarquia e responsabilidade. Graduandos que atuam como professores e monitores voluntários no projeto, ao passarem de alunos para professores, passam a enxergar algumas atitudes, antes consideradas apenas como “inadequadas”, como problemas concretos a serem abordados, necessitando um equacionamento entre atitudes conciliatórias e criação e implementação de regras.

O CPM permite, também, a discussão das condições sociais e dos diversos obstáculos a serem vencidos, conferindo uma reflexão sobre o caráter público da Universidade. Nesse sentido, no final de 2012 a USP iniciou um levantamento de cursinhos populares (como uma estratégia dentro do INCLUSP, iniciativa de inclusão social na USP), e o CPM pode ser apresentado como exemplo.

Ademais, em 2012, na presença do Comitê Local de Acompanhamento dos PET da USP com a Comissão de

Graduação da FMRP, o projeto CPM foi amplamente elogiado: “vocês construíram uma escola!”, admirou uma professora da USP da capital e integrante do comitê presente na reunião.

Todavia, sem dúvidas o que mais nos gratifica no projeto é a felicidade em ajudar alunos a conquistarem seus sonhos. Fernando Sadano (Macgyver), professor de História Geral desde 2009, ressalta: “Ao longo desses cinco anos conquistamos grandes vitórias, foram várias aprovações em diferentes cursos, e todas tem um grande valor, temos alunos que começaram com a gente como alunos, e que hoje são meus colegas de curso aqui na medicina, e inclusive fazem parte do atual corpo docente do CPM, além é claro de inúmeros aprovados nos outros cursos da USP. Como o trabalho é 100% voluntário, as pessoas que sem envolvem nesse projeto fazem isso porque realmente gostam. Eu mesmo me sinto parte de cada conquista dos meus alunos!”

O Cursinho traz visibilidade ao Programa de Educação Tutorial da FMRP USP? É o tipo de visibilidade que buscamos?

No IX EPETUSP (mais informações na matéria “PET integração” ao lado), apresentamos o pôster e o artigo “O Cursinho Popular da Medicina: por que fazer?”, apresentando o projeto CPM como a atividade que mais gera visibilidade do nosso PET para a comunidade acadêmica.

É interessante o fato de muitas pessoas (principalmente graduandos de medicina da FMRP) conhecerem o PET como “quem organiza o Cursinho”. Realmente, temos a impressão de que o projeto se tornou maior que nosso grupo, ocultando muitas vezes nossas outras atividades: Sarau do PET, simpósios, CinePETs, cafés filosóficos, discussões de livros, apresentação e discussão quinzenal de artigos científicos em língua estrangeira, pesquisas, projetos culturais, entre outros. Porém, com um trabalho sério e de ampla divulgação nessas atividades buscamos sempre reforçar o caráter diversificado do grupo.

Além disso, nos sentimos orgulhosos em coordenarmos o CPM, e se por um lado isso pode ofuscar nosso leque de atividades, por outro lado, para o grupo, aprendemos a organizar o CPM em paralelo com as demais tarefas, conseguindo desenvolver nossas diversas atividades sem nos prejudicarmos. Mais do que estar em paralelo, o projeto traduz em parte nossa concepção de modelo tutorial: o CPM nos permite vivenciar na prática uma visão crítica das reais necessidades da sociedade da qual o aluno faz parte, por permitir relação direta com a comunidade.

Por outro lado, o objetivo do Programa Tutorial é de proporcionar uma abordagem de integração entre ensino-pesquisa-extensão que complemente a formação do universitário

“Quando a gente pensa que

encontrou todas as respostas, vem a

vida e muda todas as perguntas”

Percebemos que o nome do Cursinho gerava confusões, como pessoas entendendo que o cursinho é apenas para quem quer prestar medicina. Para corrigir isso e melhorar nossa “marca”, em 2013 mudamos o nome Cursinho Popular da Medicina para “Cursinho Popular do PET-Medicina”.

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envolvido. Acredito que o CPM, apesar de ser um projeto que traz contribuições em ensino e extensão, ainda não é o modelo inovador de atuação universitária que o PET idealiza. O PET-FMRP tem muito a percorrer ainda, e temos que ser ambiciosos para alcançar o projeto universitário que desejamos.

Será o momento de o PET-FMRP dispender mais esforços para o projeto, ou de nos afastarmos gradualmente?

O Prof. Pazin (nosso tutor) nos conta sobre uma reunião em São Paulo, na qual um grupo apresentou um belo trabalho feito junto à comunidade. Nos comentários dos docentes sobre o projeto, um professor da engenharia disse: “Agora é hora de vocês investirem menos no projeto”. As pessoas se questionaram: “Mas como? Se está dando certo, teríamos que investir mais!”; o professor replica: “Não. Agora que o projeto está consolidado, deixem a comunidade administrá-lo, vocês já fizeram sua parte”.

No pouco que conheço sobre a concepção de Paulo Freire, o pensador ensina que a Extensão ocorre de forma ideal quando, ao invés da Universidade e seus “esclarecidos” imporem um conhecimento sobre a comunidade, haja uma troca de saberes entre os dois grupos, uma atuação na qual as duas partes, ao final, tenham se beneficiado, e, principalmente, a parte “menos favorecida” não se torne dependente da parte que pretende a extensão. Não se trata de assistência: na extensão a autonomia e independência é fundamental, afastando a exploração.

Por isso, acredito que seja sempre saudável nos questionarmos se o CPM realmente é um projeto PARA a comunidade ou FEITO COM a comunidade. Se estamos praticando assistência ou oferecendo independência aos alunos. Conforme nossa experiência, vários alunos cresceram, conseguiram ingressar na universidade, ou conquistaram bolsas nos grandes cursinhos particulares de Ribeirão Preto, adquirindo melhores condições de estudo e sendo aprovados em grandes vestibulares: dois exemplos que nos deixam felizes são os alunos Alex Diniz, hoje aluno de Medicina na FMRP e integrante do PET-FMRP, e Inaê Corrêa, recém-aprovada em Medicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Atualmente, o PET assume a parte administrativa do Cursinho, organizando a divulgação e a seleção de alunos e professores no início do ano letivo, recebendo materiais didáticos do sistema SEB-COC para

os alunos, controlando frequências, organizando os horários de aula e eventualidades, etc. Não é pouco trabalho, o que nos sobrecarrega muitas vezes. Contudo, o que eu me questiono é se apenas o PET deve estar nessa função. Quero dizer, o CPM hoje é uma atividade quase “paralela” ao PET, e que dispende muito de nossos recursos. Nesse sentido, será que deveríamos, nós do PET, nos afastarmos do projeto, criando um grupo paralelo que organize o Cursinho, criando um grupo à parte na faculdade? Honestamente, tenho receio de que o projeto não mantenha o crescimento e regularidade sem a administração de um grupo que possui recursos, estrutura e continuidade (no PET os integrantes ficam até 3 anos, permitindo uma evolução no trabalho). Por outro lado, agora com o projeto em vias de consolidação, não deveríamos agir conforme instrui o professor de engenharia, entregando o projeto gradual e responsavelmente para a comunidade universitária e, tendo feito nossa parte, nos dedicarmos em outras ações do programa tutorial? Só o tempo dirá... Daqui há alguns anos, quero voltar à FMRP para saber como terá caminhado nosso querido CPM.

Aonde queremos chegar?Por fim, apesar das aprovações e das felicidades, ainda

fico triste ao lembrar de tantos alunos não aprovados, que desistiram do sonho de uma universidade pública. Não por falta de empenho destes (ao contrário, eram alunos que trabalhavam arduamente de dia, e à noite estavam cheios de entusiasmo nas aulas conteudistas e repletas de “decorebas” que o vestibular exige). Sim, por culpa de um governo ineficiente, que permite a baixa qualidade de ensino público. Se na área da saúde percebemos diversos erros que nos deixam indignados, na educação os erros e omissões me fazem ter menos esperança no futuro: estes alunos de hoje são as pessoas que irão fazer a roda deste mundo girar comigo lá na frente.

Churrasco de final de ano do CPM. Professores na foto: ao fundo,

Metri(60), Verônica (Pós-graduanda), Gaspar (57), Soneca (59), CPM (59); à

frente, Xuca (59) e Brinco (60)

Gráfico de aprovações do CPM nos 4 primeiros anos de existência.

Obs: em 2012 conseguimos 3 bolsas em cursinho privado para nossos

alunos, e aprovações em diversos vestibulares (inclusive na USP).

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IX Sarau do PET:

Cultura e Arte no PET

texto: Fernando Conegliangraduando do 2º ano

CINEMAO sarau é um dos eventos mais importantes do PET, rea-

lizado quase anualmente desde sua estréia em 2002. Em 2012 ocorreu sua IX edição, no dia 29 de maio, com o tema Cinema.

Foi uma celebração incrível, que contou com a pre-sença do diretor Benedito Carlos Maciel, de professores e de funcionários, além dos alunos da gloriosa FMRP e de uspianos de todo o campus.

O cinema estave presente na decoração, em inter-pretações – como a de Pierre (59/60) e Cano (59), que re-presentaram o filme “Se eu fosse você”, sucesso do cinema nacional –, em canções que emocionaram o público, como a interpretação de Peri (59) das canções temas de filmes que marcaram época em nossas vidas, Rei Leão e Aladdin, e em tantas outras formas de expressão artística.

Foi uma noite marcante, inclusive para o PET, que deixou a vergonha de lado e homenageou o cinema com a vestimenta de personagens famosos dessa arte. O des-taque vai para CPM (59) que estava parecendo o irmão gêmeo do Mazzaropi, astro do cinema dos anos 50. Valeu CPM! Além disso, o sarau parecia o País das Maravilhas da FMRP, mas não me levem a mal. Digo isso, porque conta-mos com a presença ilustre de Alice, da Rainha de COPAS e do ilustre Chapeleiro Maluco, com Bombs (58), Stella (60) e, o prêmio revelação do Sarau 2012 na minha opinião, Iago (60).

Brincadeiras à parte, o Sarau foi um espaço para as artes dentro da faculdade e do Campus, em que houve liberdade para a expressão de opiniões e do talento de-senvolvido por cada pessoa presente no evento. O PET se orgulha em abrir esse espaço para a livre expressão artísti-ca dos nossos estudantes. Somado a isso, o Sarau é um es-paço de integração entre discentes e docentes, de diálogo por meio da arte.

Fora as apresentações, contamos com o lançamen-to do livro de poesia e contos, “Palavras de Cabeceira”, nome, também, do concurso literário realizado pelo gru-po pela primeira vez. Além disso, também tivemos a expo-sição de fotografias com tema livre, que resultou de um concurso de fotografias, julgadas pelos “professores fotó-grafos” da FMRP, Francisco Guimarães (departamento de Farmacologia), José Antônio Thomazini (departamento de Cirurgia e Anatomia) e Norberto Cairasco (departamento de Fisiologia), o qual teve como vencedores, Chicão (59) e Carona (60), respectivamente, nas categorias preto-e-branco e colorido.

Podemos considerar que o ShowMed é hoje o carro-chefe das atividades culturais da faculdade, e que o Sarau se soma a ele como oportunidade de expressão por meio da arte. Gostaríamos, como grupo PET, de parabenizar o Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL) pela realização do ShowMed 2012, lembrando o fato de o Sarau, no passado, ter estimulado as atividades artísticas com maior intensi-dade no meio acadêmico. Quanto a isso, temos muito o que comemorar. O ShowMed foi um grande sucesso! Mais do que isso, foi uma verdadeira celebração.

Enfim, o Sarau, com todas as possibilidades, é um espaço artístico-cultural da faculdade e deve ser valori-zado como tal. No entanto, talvez nem todas as pessoas pensem assim e algumas não apoiem a nossa iniciativa. Isso é perfeitamente aceitável, quem quer que seja tem todo o direito de não gostar do Sarau. Para estes, somente pedimos que respeitem o evento e o grande público que apoia e comparece ao nosso evento. O Sarau tem como motivação principal compartilhar um bom momento com os nossos colegas, de certo modo, magicamente. Eu, pes-soalmente, pude compartilhar um momento muito gosto-so diante daquele palco. Espero que mais colegas possam compartilhar este bom momento em 2013. Até lá!

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O figurino

A montagem do cenário

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Para esse IX Sarau do PET, o grupo lançou-se em um novo de-safio: organizar, de prosa a poesia, textos enviados por todos os escritores do campus. Surgiu, então, o “Palavras de Cabeceira – contos e poesias”. Tanto a parte editorial quanto a arte e design gráficos ficaram por conta de próprios petianos. Como resulta-do, tivemos 22 textos, de grande qualidade, selecionados.

Buscou-se, com isso, uma maneira de expor a produção lite-rária daqueles que compõem nosso cotidiano e, não há quem duvide, embalariam nosso dia com uma frase que, só ela, expli-ca tão bem nosso eu.

A participação, entretanto, foi aquém da esperada. Uma ge-ração universitária que se gaba de ser pensante, contestadora e criativa. Que exige mais espaço para expor seus ideais, suas con-vicções. Que consegue, às vezes, com pouquíssimos caracteres “dar um tapa na cara de muitos”.

Como poderia se justificar, então, o que ocorreu? Talvez, a inexistência de um botão curtir, em cada página da obra, possa explicar.

Palavrasde Cabeceira

Cultura e Arte no PET

texto e gravuras:Thiago Stoianov

graduando do 2º ano

E... Ação!

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A homeopatia é um ramo muito antigo da Medicina, que remete ao século XVIII e à Samuel Hahnemann, o idealizador e autor

do livro “Organon”, que sistematizou o método homeopático e estabeleceu a cura através dos semelhantes.

A ciência homeopática, no entanto, permanece até hoje rejeitada por parte da comunidade acadêmica. Ainda hoje, muitos médicos tratam a homeopatia com desprezo e consideram as curas nesta área como efeito placebo, não dando crédito às propriedades dos medicamentos. O que deixa no ar uma questão: por quê?

Para responder a essa questão temos que voltar no tempo, em 1988, ano em que o francês Jacques Benveniste publicou um artigo na revista científica “Nature”, onde afirmava ter encontrado a base farmacológica da homeopatia, o que foi apelidado de “memória da água”. Isso chocou a comunidade científica e teve grande impacto na mídia globalmente, e transformou Benveniste em um verdadeiro “popstar” do mundo científico.

No entanto, poucos meses após a publicação, maus ventos sopraram em direção ao prestigiado Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, onde Benveniste chefiava o departamento de Imunologia. Uma nota no rodapé do artigo colocava uma condição para a publicação do mesmo: que o laboratório do autor fosse visitado por uma comissão, que repetiria os experimentos. Benveniste aceitou evidentemente e, no momento seguinte ao da publicação, recebeu em seu laboratório três pessoas que avaliariam seus experimentos. Um era o editor-chefe da “Nature” na época, outro era John Maddox, um especialista em fraudes científicas, e o terceiro elemento era o mágico e cético James Randi, conhecido por negar veementemente qualquer fenômeno imaterial.

Os experimentos consistiam na observação da degranulação de basófilos na presença de anticorpo Anti-IgE diluído em água, com diluições e dinamizações crescentes, à semelhança do praticado por homeopatas. Os resultados publicados foram positivos para a degranulação e a hipótese da memória da água foi proposta por Benveniste no artigo. No entanto, os visitantes, ao repetirem os experimentos, acabaram por concluir que o artigo se tratava de uma fraude. Estava arruinada a carreira do brilhante cientista Jacques Benveniste, sendo inclusive demitido publicamente do departamento onde trabalhava.

O mais surpreendente desta história, porém, está no fato de a descoberta da “fraude” ter se dado de modo, digamos, obscuro. Digo isso porque, inicialmente, tudo corria favoravelmente ao cientista francês ao receber as “visitas”, com o experimento sendo considerado válido por dois do três investigadores. Em seguida, o experimento foi repetido e foi novamente positivo. Somente Randi não se convencera. O mágico então realizou um terceiro experimento e entrou em ação, embaralhando os grupos controle e expostos ao medicamento, somente identificáveis por códigos, cuja chave estava no teto do laboratório. Esses códigos não permitiam a nenhuma pessoa saber a origem do que estavam aplicando nas placas com os basófilos. Após muita ginástica, o resultado foi negativo e Randi saiu do cenário com ar de superioridade: tinha desmascarado Benveniste e a “memória da água”.

Benveniste tentou se defender, afirmando que esta era a primeira vez que aquilo ocorria. Não houve qualquer compaixão por parte da comunidade científica. Alguns outros cientistas,

a maioria com boa reputação, repetiram os experimentos e surpreendidos por terem resultados positivos, tentaram defender Benveniste. Em vão. “No mercy”, diriam os ingleses.

Céticos como Randi disseram na época (e continuam a dizer) que a Homeopatia não passa de superstição; além disso, afirmaram ser impossível um medicamento atuar sem que houvesse uma única molécula presente no medicamento homeopático e, por fim, que a homeopatia não tinha qualquer efeito no organismo.

Mas, você deve estar se perguntando, por que eu contei esta história? Antes de responder, quero dizer o que talvez podemos concluir sobre o fato de a comunidade científica ter se apressado em negar vigorosamente a homeopatia, de modo até desproporcional, arruinando sumariamente a carreira de um pesquisador competente, para dizer o mínimo.

Evidentemente, qualquer profissional da saúde tem o direito de exigir e questionar provas científicas em relação à Homeopatia. Isso porque a experimentação controlada garante imparcialidade e credibilidade ao fenômeno observado. Isso também possibilita um tratamento médico livre de crenças infundadas e superstições. E, sobretudo, imprimem um selo de qualidade nos medicamentos que nos permitem distinguir o joio do trigo em matéria médica.

Isso é fundamental para a Medicina, o que não significa, de modo algum, haver razoabilidade em excluir sumariamente uma determinada hipótese por parecer improvável e agir covardemente para desacreditá-la. Em primeiro lugar, porque a ciência, por princípio, evolui e os seus padrões e paradigmas se alteram. Somado a isso, por ter a homeopatia mecanismos, supostamente complexos, como sugere a “memória da água”, ela deve ser analisada com cuidado, e não relegada à mera condição de superstição, como defendem os céticos. Não podemos esquecer que Darwin foi ridicularizado e hostilizado publicamente e inclusive pela comunidade científica do século XIX.

Além disso, vale dizer que a homeopatia se baseia em uma lógica menos concreta que a alopatia. A homeopatia age, segundo os pesquisadores da mesma, tanto na mente quanto no corpo físico. Também há escritos do próprio Hahnemann afirmando que o remédio homeopático agiria por meio de sua força vital, a qual poderia ser interpretada como uma forma de energia transmitida da molécula do medicamento para a molécula da água. Além disso, estas explicações se relacionam com recentes descobertas científicas que descrevem campos eletromagnéticos emitidos pelo organismo humano. Portanto, a homeopatia atuaria em nível energético e não como uma molécula que reage com um receptor segundo o modelo da farmacologia clássica.

Para responder aos curiosos leitores, sugeriria que a explicação para a resistência (até certo ponto violenta) contra a homeopatia no meio científico reside na negação filosófica da mesma, a qual parece estar introjetada culturalmente na cabeça de médicos e pesquisadores e que remonta a René Descartes e sua hipótese de que o corpo humano é uma máquina, dualizando-a em relação à mente, biologizando totalmente a medicina e separando de modo quase definitivo mente e corpo, como se ambos fossem instâncias separadas do humano. Algo que não pode de modo algum ser considerado uma verdade absoluta.

Projetinho: Opinião

texto: Fernando Conegliangraduando do 2º ano

O curioso caso BenvenistePor que a Homeopatia ainda é rejeitada por parte da comunidade acadêmica e dos médicos?

Você sabia?Em 2012, alunos do 1º e 2º anos de medicina fundaram a Liga de Homeopatia da FMRP. Os acadêmicos, entre outras atividades e seminários, foram ao VIII simpósio médico-acadêmico de homeopatia da UNICAMP. Veja mais no site abaixo:https://sites.google.com/site/ligahomeopatiamedunicamp/

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Deficiências

Como daremos um enfoque para a área da saúde, inicialmente cabe explicação sobre o conceito de deficiência: segundo a Clas-sificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvan-

tagens – CIDID, elaborada pela Organização Mundial da Saúde em 1989, deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. A CIDID ainda define outros dois parâmetros: a incapacidade, como toda restrição ou falta – devida a uma deficiência – da capacidade de realizar uma atividade na forma ou na medida que se considera normal para um ser humano; e a desvan-tagem, como uma situação prejudicial para um determinado indivíduo, em consequência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que li-mita ou impede o desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função da idade, sexo e fatores sociais e culturais).

Geralmente dividimos as deficiências em classes (deficiência visual, auditiva, física e intelectual) e os profissionais que assistem esses indiví-duos são inúmeros dentre fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, entre outros. E por que nessa lista quase nunca nos vem à mente o médico? Ele tem papel nessas situações, mas ele sabe lidar com um paciente deficiente? Está pronto para atender às suas necessi-dades, para cuidar deles? Ou então, partindo do básico: seus consultó-rios são acessíveis aos deficientes físicos? Um deficiente auditivo conse-guiria marcar consulta? Um deficiente visual saberia seguir a prescrição médica? Há empatia suficiente para consultar um deficiente intelectual sem tratá-lo como criança?

Porém, antes de começar essa discussão, a deficiência é isso mes-mo? Uma definição da OMS basta? Afinal de contas, deficiência é uma palavra que, apesar de única, engloba tantas outras dentro de si, como se a letra “D” inicial desse vazão a diversos outros vocábulos iniciados também com essa letra. Como, por exemplo, “D” de diminuir, levando em consideração as pessoas que se sentem, ao se depararem com um

Déficit? Defasagem? Defeito? Incapacidade? Excepcionalidade? Falta? Perda?

Vários termos e um só tema, sempre muito difícil de ser abordado dentro do âmbito das

áreas da saúde e das ciências humanas.

Projetinho: Artigo Especial

texto: Marina Brancograduanda do 3º ano

Dia 03 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa com

Deficiência, proposto para que você compreenda os assuntos

concernentes à deficiência, mobilize-se a defender a dignidade, os direitos

e o bem estar das pessoas, aumente a consciência dos benefícios trazidos

pela integração das pessoas com deficiência em cada aspecto da vida

política, social, econômica e cultural. Pronto para não ser mais deficiente

nisso de saber o que é ser deficiente?

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novo ritmo de vida após um acidente que as deixou paraplégi-cas ou amputadas, diminuídas; ou como os deficientes visuais que percebem diminuídas suas opções de trabalho dentro do mercado atual.

Ou então, “D” de desmistificar, como os deficientes intelec-tuais que namoram e vivem, estudam, trabalham, têm filhos.

“D” de descoberta, como os deficientes visuais que desven-dam caminhos com outros sentidos que não a visão, que lite-ralmente enxergam o mundo sem olhar. Ou ainda, descobertas da comunidade científica tentando minimizar as dificuldades encontradas por esses indivíduos dentro da sociedade atual.

“D” de desistir, já que todos temos esse direito. Como as dificuldades normais do dia-a-dia podem ser maximizadas pela falta de compreensão, apoio e estrutura da socieda-de em geral, esse “D” pode ter um risco maior de acontecer. Desiste-se por não se saber repor o que foi perdido ou o que nunca se teve. Porém, mesmo sendo um direito, desistir não deveria ser uma al-ternativa. Não podemos desistir de nós mesmos, porque nunca teremos ou seremos tudo, sempre vamos ser deficientes em algo, sempre vai haver essa parte que falta e que nunca encontramos. E assim acabamos vivendo numa constante busca de melhora; e as escolhas que fizermos ao longo do caminho é que vão moldar nosso jeito de ser, nosso caráter. E aquela melhora que procurávamos, aquela que mo-tivou tudo que fizemos, às vezes nem traria tudo isso. Citando Mário Quintana, ““Deficiente” é aquele que não consegue mo-dificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.”

Enfim, são tantos “Ds” e cada pessoa tem o seu. E não diga que tem dois olhos, dois ouvidos e duas pernas em perfeito es-tado, porque ainda sim nós temos que escolher nosso “D”, sem-pre. Todos temos deficiências.

Não somos suficientes em tudo e muito menos suficiente-mente bons para dizermos que não há nada que esteja faltando. Dando um exemplo bem escasso de criatividade, uma pessoa que só fala português é deficiente em falar inglês. Ou ainda, uma pessoa que sabe andar com as duas pernas é deficiente em saber se locomover de cadeira de roda. “Nossa, mas isso não está ao contrário?”, seria um comentário muito possível diante dessa informação, já que o desafio, “D” fundamental na vida de todos, sendo todos nós deficientes em algumas ou muitas coi-

sas, é convivermos sem criarmos preconceitos ou en-traves uns na vida dos outros.

Para quem não fala inglês, há tradutores. E por-que não há tradutores de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) em hospitais ou instituições públicas? Como é feito o atendimento de urgência de um surdo-mudo sem acompanhante? Por que esse entrave?

Para quem não enxerga bem há óculos. E porque a dificulda-de de aceitar a presença de cães guia?

Para quem caminha, há faixa de pedestres. E porque não há um sinal sonoro para aqueles que não enxergam a faixa? Ou en-tão rebaixamento da guia para quem usa cadeira de rodas ou tem dificuldades de locomoção?

Para quem não dirige há transporte público (ou ao menos, em tese, deveria haver). E por que é raro encontrar um veículo que realmente tenha condições de transportar um cadeirante?

Às vezes ser diferente

faz toda a diferença!

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Ou então, para aqueles que dirigem de onde vem o desrespeito às vagas a eles reservadas?

Dentro desse ínterim, caberia ao médico, aos profissionais da saúde que atendem esses indivíduos e a seus familiares, ten-tar diminuir essas dificuldades encontradas, tentar eximir os preconceitos e mostrar quão digna é a vida daqueles que têm tudo, a vida em si. Assim sendo, o médico, para cuidar de defi-cientes, deveria possuir um consultório acessível, saber forne-cer declarações, orientar sobre condições de trabalho, sobre a aposentadoria, sobre educação inclusiva e técnicas de comu-nicação (Braile, LIBRAS-Lingua Brasileira de Sinais) e sobre aju-das técnicas (terapia, reabilitação, medicamentos, mobilidade, cuidado, higiene pessoal, autonomia e segurança da pessoa com deficiência, com uso de próteses auditivas, visuais e físicas ou órteses; uso de equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho adaptados; uso de elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização; uso de material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação; adaptações ambientais e outras que garantam o acesso; bolsas coletoras para os ostomizados).

E o médico deveria, antes de tudo, mostrar que ter uma de-ficiência pode ser ainda outro “D”.

Quem tem uma deficiência geralmente tem um dom. Dom de mostrar que ser diferente às vezes faz toda a diferença. Como os deficientes físicos que se tornam ganhadores de medalhas olímpicas só depois que aprendem a superar sua deficiência. Ou como os surdos-mudos que nas suas individualidades têm uma comunicação especial, que criou toda uma comunidade de fa-lantes de LIBRAS, aproximando as pessoas.

Dom ainda, de mostrar uns aos outros como podemos viver de maneiras tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes. Já que todos nascemos, crescemos, aprendemos e morremos, mas cada um a seu modo. E, além disso, todos vivemos deficien-temente, sempre procuramos completar esse “algo” que falta. Sempre insatisfeitos. Sempre à procura daquilo que nos remove os D’s, deficiências, déficits, ou desvantagens; e nos dá o alfabe-to de outras escolhas em troca.

DEFICIÊNCIAS, Mario Quintana

“Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

“Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui.

“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

“Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

“Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

“Diabético” é quem não consegue ser doce.“Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer.E, finalmente, a pior das deficiências é ser

miserável, pois:“Miseráveis” são todos que não conseguem falar

com Deus.A amizade é um amor que nunca morre.”

CinePET: “Meu pé esquerdo”Em outubro de 2012, como forma de explorar mais o tema de deficiências,

o grupo PET decidiu fazer um CinePET especial. Entre varios filmes cogitados (como Rain Man, O Milagre de Anne Sullivan, Perfume de Mulher, entre outros) acabamos escolhendo o prestigiado “Meu pé esquerdo” (1989), indicado a 5 Oscars e vencedor de 2 (melhor ator principal para Daniel Day-Lewis, que atua de forma brilhante, e melhor atriz coadjuvante Brenda Fricker, a qual emociona com sua energia como a mãe do protagonista).

Trata-se de m drama baseado na biografia de Christy Brown. Deficiente desde a infância, Christy conseguia apenas mover o pescoço e o pé esquerdo; aprendeu, dessa forma, a realizar seus afazeres com o pé. Todavia, sempre era visto como um deficiente mental pela família, em um exemplo notório de mal cuidado com o deficiente que existe até hoje: o deficiente não é “coitadinho”, e deve ser estimulado a superar seus desafios. No filme, uma cena memorável ocorre quando Christy tenta escrever o resultado de uma conta aritmética que a família está calculando, mas é ignorado por todos.

Após o filme, tivemos uma discussão com a presença do Prof. Dr. Marcelo Riberto (professor especialista em reabilitação da FMRP), além dos professores Francisco Guimarães e Lourenço Sbragia, e alunos de graduação. Na discussão, o professor Marcelo ressaltou diversos aspectos fundamentais no cuidado com o deficiente, além de expor interessantes releituras sobre o filme.

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LIBRAS na Medicina?Em uma das atividades dentro do projetinho Deficiências, o PET convidou a Profa. Dra. Ana Lodi, da Faculdade de Filosofia, Ci-

ências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), professora especialista na área de comunicação com deficientes, em especial com surdos-mudos a partir da Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS). Foi uma apresentação muito interessante: a profa. Ana, além de explicar um pouco sobre o mundo dos surdos-mudos e os fundamentos da LIBRAS, apresentou diversos relatos verídicos nos quais o profissional de saúde estava despreparado para atender a um deficiente (por exemplo, quando um médico se queixou que o pa-ciente “não conversava”, obviamente, porque era surdo-mudo e o médico não constatou isto).

Essa proveitosa atividade motivou eu, Eduardo (CPM), e Iago (Pica-pau), a procurarmos métodos para inserir esses conteúdos dentro da graduação em medicina da FMRP. O Iago, em conversa com a profa. Maria do Carmo Caccia-Bava, do departamento de Medicina Social e coordenadora da disciplina Atenção à Saúde da Comunidade (ASC II), obteve um ótimo resultado: houve a aprovação para inserir uma aula sobre o tema no ASC II. Dessa forma, a profa. Ana ministrou uma aula sobre o tema de deficiên-cias auditivas e a LIBRAS para a turma 60 de medicina. A turma aprovou o tema, e outros alunos de medicina passaram também a incentivar a inserção do conteúdo na grade do curso de medicina.

Diante disso, eu e o Iago fizemos reuniões com a profa. Ana, para estabelecer a disponibilidade da criação de uma disciplina op-tativa de Deficiências Auditivas para o Curso Médico. Em segundo passo, procuramos a CoC-Medicina e a Comissão de Graduação (nas pessoas Profa. Dra. Lucila e Prof. Dr. Francisco dos Reis), para obtermos informações de como proceder no assunto, e o que a CoC e a CG poderiam fazer dispor a respeito. Apesar da atenção dispensada pela CoC e CG, infelizmente o processo se mostrou confuso e burocrático na nossa visão - por exemplo, na dificuldade de inserir a disciplina como optativa eletiva: os órgãos da FMRP consideravam melhor que a disciplina fosse uma optativa livre, todavia a nossa carga horária já é demasiadamente grande, e pou-cos alunos se sujeitariam a aumentar ainda mais suas cargas horárias para fazer uma disciplina “a mais”. De acordo com a CoC, há o risco de um professor de outra unidade (no caso da FFCLRP) não manter o compromisso de realizar a disciplina. Ao meu ver, isto é um péssimo exemplo de falta de integração entre unidades dentro da USP.

Não obstante, continuaremos, com o apoio do Centro Academico Rocha Lima, a trabalhar na inserção desse importante conte-údo na grade curricular da medicina da FMRP. E você, o que acha disso? Queremos ouvir sua opinião =) Nos procure ou deixe um recado no site do PET, em “contato”: www.pet-fmrp.com.br

Deficiência Visual1. Perceba, espere ela solicitar, se quiser pergunte à pessoa com deficiência visual se ela precisa de ajuda e como a deseja. 2. Ao guiar um cego, ele deve segurar seu braço ou seu ombro. Informe-o dos obstáculos que surgirem no caminho. Ao guiá-lo para uma cadeira, leve sua mão para o encosto e informe se a cadeira tem braços. Não o puxe ou empurre.3. Avise quando você for se retirar do local onde estão juntos. 4. Ao explicar direções seja claro e específico, indique os obstá-culos e procure dimensionar a distância, perguntando também se as informações são suficientes. 5. Informe sobre o motivo de uma sirene ou alarme. 6. Quando se referir à pessoa, em grupo, fale seu nome.7. Procure exprimir ao máximo seus sentimentos por palavras, pois a pessoa não está vendo suas expressões faciais ou gestos.8. Não precisa falar alto ou espaçadamente com o cego, pois ele ouve.9. Ao fazer as apresentações com estímulos visuais, descreva o que está na tela, ou no quadro.

Deficiência auditiva1. Ao precisar falar com uma pessoa surda, chame sua atenção sinalizando sua intenção. 2. Fale pausada e claramente, sem exageros na velocidade e articulação, de frente para o surdo, que poderá fazer a leitura labial de suas palavras. 3. Evite objeto ou gestos na frente dos lábios, procurando dar boa visibilidade à sua fala. 4. Seja expressivo em seus gestos, pois o surdo não perceberá as mudanças na entonação da sua voz. 5. Quando não entender o que uma pessoa surda falou, peça para repetir ou escrever, insista até conseguir resultado. 6. É errado usar a expressão “surdo-mudo”. O correto é somente “surdo”, pois a pessoa surda pode aprender a falar.

Deficiência Física1. Pergunte se a pessoa com deficiência precisa de colaboração, como e quando a deseja. Lembre-se de que cada tipo de defici-ência física requer uma maneira diferente de cooperação. 2. Converse com a pessoa com deficiência sem constrangimen-to, não receie tocar em questões relacionadas com sua deficiên-cia, elas fazem parte de seu cotidiano, porém não seja indiscre-to, inconveniente, mantenha a privacidade lembrando que nem sempre as pessoas querem falar de si. 3. Não esqueça que a cadeira de rodas é parte da vida da pessoa com deficiência que a utiliza, portanto não se balance nela nem a empurre sem a autorização da pessoa. 4. Ao colaborar na transferência de uma pessoa com deficiência em cadeira de rodas, siga exatamente suas instruções. 5. Se possível converse sentado com a pessoa com deficiência em cadeira de rodas.

Deficiência Intelectual1. Não se preocupe com seu constrangimento em estar com uma pessoa com deficiência intelectual, mas reflita sobre ele. Não o “naturalize” embora seja uma reação comum frente ao desconhecido da situação. Procure agir com naturalidade e res-peito. 2. Cumprimente-a e trate-a com atenção. A conversa deve ter frases simples e diretas. 3. Evite a superproteção, ajudando apenas quando necessário. 4. Uma pessoa com deficiência intelectual deve ser tratada se-gundo sua idade. Trate um adulto como adulto e uma criança como criança. 5. A pessoa com deficiência é, em geral, uma pessoa carinhosa, algumas vezes com dificuldade de comunicação; lembre-se dis-so no seu relacionamento.

Aspectos gerais nas deficiências

Opinião

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

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Essa foi a obra escolhida, pelo grupo PET, como leitura para o bimestre junho-julho de 2012. Uma tentativa de reflexão de nossos próprios infernos.

Encenada e produzida pela primeira vez, em maio de 1944, no Téâtre Du Vieux Colombier, Paris, “Entre quatro paredes”, de Jean-Paul Sartre, é o resultado de uma restrição imposta ao autor pelo editor Marc Barbézat. Em tempos de guerra, dever-se-ia montar uma peça de baixo orçamento, ausente de troca de cenários, com pouquíssimas personagens, possibilitando, portanto, a saída em turnê por uma França devastada pelos conflitos bélicos. “Escrever é uma certa maneira de desejar a liberdade; tendo começado, de bom grado ou à força, você estará engajado.”

A escrita engajada de Sartre, comumente, é reduzida à máxima “O inferno são os outros”. Tirado de seu contexto, esse dito possui difícil compreensão. Apenas um salão, de móveis e decoração no estilo Segundo Império francês, com três sofás coloridos, um ornamento imóvel de bronze sobre uma lareira e, sobrando por ali, um abridor de cartas. Nesse cenário, desenvolve-se a trama, em que três personagens (Garcin, Estelle e Inês) são obrigadas a conviver em um ambiente fechado, sem as habituais pausas do ambiente cotidiano. “A gente abria e fechava; isso se chamava piscar (...) quatro mil repousos em uma hora. Quatro mil pequenas fugas.”, reflete Garcin, que buscava, à sua maneira, a liberdade.

Na ausência de espelhos no ambiente, muitas vezes

domesticados por seus usuários, resta, a esses três condenados, olhar e ser olhado, uns pelos outros. A ânsia de encarar seu próprio reflexo era imensa. Fazia do olho do outro, seu espelho íntimo. Espelho, espelho meu... Ao observar alguém, adquire-se um objeto de apreciação. De apreciação, o objeto, em defesa própria, também observa o apreciador. Há um encontro

de olhares, encarado como um “conflito perpétuo”, uma tentativa de escravização da liberdade do objeto apreciado. Busca-se, com o olhar, a petrificação, tal como a Medusa mitológica. É nesse conflito que se encontra a razão daquela máxima e toque do Existencialismo. “Aquele que me olha, é sempre meu carrasco.” Não só a presença, mas, também, a consciência que se tem do outro é a razão do Inferno. Um inferno sem estacas, com um quê de sofisticação francês, que, em nada, remete ao ambiente católico ou dantesco com o qual estamos acostumados.

“Um pequeno clarão negro, um pano que cai e se levanta, e aí está a interrupção (...)”. Esses são os breves momentos de liberdade que as personagens, ali, possuem. Quais são os nossos? Nem todos são carrascos.

Referências:“A psicanálise existencial de Sartre” – Carolina Oliveira;“Curso de filosofia” – Antônio Rezende;Fonte da imagem: www.lionsgate.com/theeye

Entre Quatro ParedesO PET Lê: Discussão

texto: Thiago Stoianovgraduando do 2º ano

mitologia gregaNo 1º semestre de 2012, a petiana Daniela Rantin (Cerva-58) realizou apresentações bem humoradas sobre um pouco da história dos deuses do Olimpo, os mitos gregos e seus signifi-cados. Um projetinho que começou como curiosidade em co-nhecer a mitologia grega, mas que gerou discussões e risadas no grupo, ao percebermos o quanto o pensamento, crenças e ações dos gregos estão presentes na nossa sociedade: ciúmes, inveja, vingança, coragem. Sem dúvidas, os gregos souberam representar nos mitos a essência da natureza humana.

Jane AustenJá no 2o semestre, foi a vez da petiana Ana Delazia (Jaca-58) apresentar um projetinho ousado. Em poucas apresentações, descobrimos o quanto esta escritora dos anos 1800 é atual ao tratar do tema do feminismo - e com bastante ironia e maturi-dade. A atualidade é tamanha que existe um livro de 2004 que depois virou filme, “The Jane Austen book club”, em que mu-lheres discutem sobre suas experiências atuais fazendo compa-rações e paralelos com os romances de Austen.

Projetinhos

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

Casa-Museu Jane Austen, na

Inglaterra

Figura do Mito de Prometheu, um dos mais interessantes contos gregos

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A morte de Ivan Ilitch(Lev Tolstoi)

Mais uma vez, o PET traz uma ótima sugestão de leitura. Nesse ano, o grupo decidiu ler “A Morte de Ivan Ilich”, um livro de Leon Tolstoi muito rico na quan-tidade de reflexões por ele geradas. Entre elas, para aguçar a sua curiosidade, futuro leitor, podemos destacar:1. A vida conjugal x a vida profissional

Os recém-casados logo percebem que a vida conjugal é árdua tarefa, e que, longe

dos contos de fada, em que o amor figura como paixão jovial eterna, a vida no lar passa, invariavelmente, por contratempos e dificuldades com as quais os matriculados no matrimônio devem aprender a lidar. No momento dessa descoberta, Ivan entrega-se completamente aos seus compromissos profissionais, nos quais mergulha como que a não querer enxergar a parcela de sua vida que está longe de ser harmoniosa.

No entanto, noutro momento, em que houvera recebido uma promoção profissional, conquistara uma bela casa e vinha atra-vessando um agradável remanso no relacionamento conjugal, Ivan chegou mesmo a perder um tanto de seu interesse por suas ocupações oficiais.

Por que será que tendemos a exagerar em dedicação em deter-minados setores de nossas vidas, negligenciando aqueles com os quais não temos tido a requerida desenvoltura e habilidade para lidar?

2. A importância dos cuidados paliativos:Aqui, o recado é para nós, os médicos e futuros médicos. Fica

clara, no livro, a importância dos cuidados paliativos. O médico vem aprendendo que seu maior objetivo é salvar vidas. No entan-

to, se essa é - tanto quanto possível – uma de suas incumbências, cabe a ele, sobretudo, fazer aquilo que é possível fazer por qual-quer indivíduo vivo no Planeta, o que seja, CUIDAR. Afinal, a cura não existe para todos os casos.

É importante notar que Ivan atravessa todo o seu martírio ex-teriorizando seu sofrimento físico através de seus urros e gritos, no entanto, muito distantes estão seus familiares de seus mais pungentes sofrimentos, os quais o fazem até se esquecer da dor do corpo. Nenhum dos seus está preparado para lidar com seus sofrimentos psicológicos, suas paranóias, seus medos, suas dú-vidas. Ignoram completamente a importância do suporte dessa natureza no momento da morte, porque pouco compreendem da morte. Importa salientar a ignorância, nesse particular, dos mé-dicos que o acompanharam. Verdade é que poucos são os pro-fissionais que sabem conduzir o agonizante, com dignidade e sabedoria, à morte.

3. O balanço da vida:Torna-se impossível não notar a verossimilhança com que

Tolstoi descreve as reflexões de Ivan Ilich acerca de sua própria vida, em seu processo de morte. A doença nos torna, realmente, reflexivos e introspectivos. Cruel, é verdade, mas os mais graves desajustes da saúde têm a capacidade de nos colocar em contato conosco, de tal forma desmascarada, que talvez seja impossível isso se dar de outra maneira. E se há alguma serventia que possa ser atribuída à enfermidade, certamente, é a de trazer à tona, pela dor, questões tão importantes quanto escondidas nos escaninhos do ser.

Fica a seguinte reflexão, à qual todos os viventes deveriam dar a máxima atenção: qual a serventia de tamanho sofrimento, que culmina em tão intenso contato com o que se fez de útil e inútil na vida, justamente no momento em que esta se vê escapando, enfraquecendo-se, apagando-se?

Predictably Irrational: The Hidden Forces That Shape Our Decisions

título em português:Previsivelmente Irracional: Aprenda a Tomar Melhores Decisões

Neste livro que se tornou bestseller no mundo inteiro, o autor desmonta a concepção de que nossas decisões são baseadas em critérios puramente racionais (é exatamente isso, leitor da Vedas: o autor simplesmente

afirma que nossas decisões muitas vezes são IRRACIONAIS E PREVISÍVEIS; e você poe até discordar no começo, mas no fim do livro você percebe um monte de pegadinhas e situações inusitadas nas quais você cai todo dia!!).

Na introdução, Dan Ariely já aponta: “O meu objectivo, no final deste livro, é ajudá-lo a repensar profundamente sobre o que faz mover as pessoas que o rodeiam. Espero poder conduzi-lo a conclusões apresentando-lhe um vasto leque de experiências científicas, descobertas e situações caricatas que são, em muitos casos, divertidas. Quando reparar que certos erros que cometemos são sistemáticos, como os repetimos vez após ves, julgo que poderá começar a perceber como evitá-los.”

Dan Ariely, natural de Israel, é especialista na área de psicologia e economia comportamental, e é professor no MIT e na Universidade de Duke, nos EUA. Seus vídeos no TED já foram vistos mais de 2.8 milhões de vezes.

Particularmente, gostei tanto do livro que, além de seguir o blog de Dan Ariely (www.danariely.com), onde ele aborda situações cotidia-nas relacionadas à economia comportamental, acabei lendo os outros 2 livros (também bestsellers) do mesmo autor:

● The upside of irrationality: the unexpected benefits of defying logic at work and at home: esta é uma continuação do Predictably Ir-rational, na qual o autor aborda mais situações nas quais nossa irracio-nalidade toma conta de nossas decisões sem percebermos; por exemplo, quando procrastinamos – isto é, adiamos para “amanhã” – alguma tarefa que não queremos fazer (e Dan Ariely aponta bem: todo mundo procras-tina. Contudo, poucos percebem isso, e por isso não sabemos como lidar com esse problema que nos gera constantes dores de cabeça).

● The honest truth about dishonesty: how we lie to everyone - especially ourselves: nesta obra provocadora, Dan Ariely desafia nossos preconceitos sobre desonestidade e nos faz olhar honestamente para nós mesmos. Para o autor, a maioria de nós acredita que somos honestos, contudo nós trapaceamos e mentimos o tempo todo em situações simples das quais nem nos damos conta, devido às forças irracionais que movem nosso inconsciente e nos dirigem a tomar decisões errôneas.

O que é o TED?O “Technology, Entertainment and Design” é uma entidade sem fins lucrativos desti-nada à disseminação de idéias. Apresenta um site muito legal com diversos vídeos de no máximo 18 minutos. Nesses vídeos, palestrantes famosos (professores, cientis-tas, políticos, humanitários, etc) abordam variados temas muito bacanas!Faça uma visita no site, tenho certeza que irá gostar:

www.ted.com

O PET lê e recomenda! texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

texto: Edgard Fallakhagraduando do 3º ano

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Eu quero...

Quer saber um pouco mais de como é passar um ano no exterior? Os PETianos Fábio Leonardo (“Do Que?”) e Carla Lionela (“Ctrl”) contam sobre a vivência deles nos EUA através do Programa Ciência sem Fronteiras

Estudar no Exterior!Estudar no Exterior!

Há um bom tempo, eu vinha considerando a idéia de fazer intercâmbio; a princípio imaginava ficar poucos meses na Europa. No fim de 2011, quando apareceu o primeiro edital do Programa Ciência sem Fronteiras da CAPES, pensei em me inscrever. Tratava-se de um intercâmbio por um ano nos Estados Unidos - não exatamente minha idéia original, mas muita coisa me atraía.

• Alguns pontos negativos que considerei antes de vir: atrasar um ano da faculdade (atrasar minha formatura e independência financeira, cair de turma...); largar o ciclo clínico por esse ano para estudar não exatamente Medicina (explicarei melhor); EUA em vez de Europa; um tempo maior do que gostaria longe de familia, namorada e amigos de longa/média data. Enfim, vários fatores desfavoráveis e são reais.

• Os pontos positivos que me convenceram: a enorme ajuda financeira do programa (nunca vi outro que pagasse tanto - passagens, moradia, custos da universidade, alimentação, bolsas de auxílio etc); ter um diferencial curricular; aprimorar o inglês; oportunidades de estudo e pesquisa nas melhores universidades do mundo; agenda mais livre para fazer o que quiser; novos conhecimentos (sejam relacionados a Medicina ou não); imersão cultural; passeios turísticos; contato com pessoas do mundo todo; participação em importantes conferências médicas; ter conseguido a UCSD (University of California San Diego), universidade muito boa, em um ótimo lugar.

Chegando aqui, tentei fazer cursos da Medicina mas não consegui. É um departamento separado e o único programa em que aceitam estrangeiros é para estudantes de último ano, ou seja, incompatível com o que estou. Então eu faço basicamente as matérias que eu quiser, exceto as da Medicina; escolho aquilo que aredito ser interessante dos cursos de Undergraduate (ou college, que são cursos de bacharelado, logo após High School) ou Graduate (equivalente a pós-graduação). Fiz algumas mais ligadas a Medicina (como anatomia e fisiologia básicas, bioestatística, visão global da prática médica nos EUA, psicopatologia), outras um pouco menos (fisiologia do esporte, diagnóstico molecular, ensaios clínicos), e outras nada relacionadas (tópicos avancados de ingles, TOEFL, música).

Faço uma pesquisa na Radiologia da UCSD, extra-oficialmente. O programa exige uma pesquisa (ou estágio) apenas no meio do ano. Para isso, busquei em uma área de interesse minha: Radiologia Intervencionista. Consegui um estágio observacional e de pesquisa no Massachusetts General Hospital, hospital-escola de Harvard, por 8 semanas. Creio que foi lá o maior diferencial que obtive, tanto em conhecimento, em experiência, ou mesmo em curriculum. Apesar de condições adversas que apareceram (isto é, apendicite aguda, cirurgia, pós-operatório... pude conhecer muito bem o sistema de saúde americano, mais do que pretendia!), foram momentos memoráveis e de grande aprendizado.

Também extra-oficialmente, participei do grupo de estudos de ultrassom em Emergências Médicas - participava das reuniões com os médicos, acompanhava atendimentos no hospital. Fui em alguns cursos/congressos: congresso sobre o futuro da Medicina Genômica, curso de diabetes, encontro da Sociedade de Radiologia Intervencionista. Ainda, conheci grupos diversos: de estrangeiros, de americanos, do laboratório, de estudantes de Medicina cristãos, colegas de apartamento etc.

Por fim, aqui tive muito tempo e fiz dele o que queria. Longe de ter a vida agitada e com compromissos como tinha no Brasil, usei o tempo de acordo com minhas vontades e prioridades. Outros provavelmente usarão de diferentes formas. Minha experiência aqui não deve ser tomada como garantia de que todos terão as mesmas oportunidades que tive, muito menos para limitar as expectativas sobre o que pode ser alcançado em um intercâmbio. As oportunidades existem, mas em geral não sem esforço; é bom pra quem gosta de desafios. Meu conselho àqueles que estão em dúvida é simples: analise suas razões favoráveis e desfavoráveis, defina suas prioridades e escolha de acordo com isso. E lembre-se: “If all you ever do is all you’ve ever done, then all you’ll ever get is all you’ve ever got” (provérbio texano).

Fábio Henrique Luis Leonardo (Do Que?)

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Quando houve o lançamento do Projeto Ciências sem Fronteiras (CsF) achei uma oportunidade interessante e única para poder fazer algo de que gosto em um ambiente privilegiado e com um tempo maior para os experimentos, já que o ritmo da faculdade torna muito difícil a elaboração e conclusão de técnicas laboratoriais mais sofisticadas. Como já fazia iniciação científica, a adaptação à rotina de um laboratório foi tranquila.

A primeira pessoa com a qual conversei foi o Professor Guilherme Araújo Lucas , meu orientador durante a iniciação científica. Ele sempre apoiou minha vinda para cá, juntamente com a Professora Lucila que esclareceu todas as dúvidas em relação ao CsF e o Professor Pazin, tutor do PET,com o qual tive uma excelente conversa sobre a vinda aos EUA e ao qual agradeço muito pela atenção e disposição.

Esclarecendo as coisas um pouco, a minha bolsa pertence ao CNPq , ou seja, visa financiar um projeto de pesquisa no exterior aliado com graduação, um pouco diferente da bolsa que vem da CAPES. Com essa bolsa você não precisa fazer matérias, claro é recomendado, mas o seu estágio em si conta como uma matéria de graduação. Tudo que o aluno precisa para pleitear uma bolsa do CNPq é ter um projeto de iniciação científica financiado por algum órgão de pesquisa reconhecido.

Bom, eu tinha o perfil para poder requerir a bolsa, a única coisa que me faltava era um lugar de destino. O Professor Guilherme enviou e-mails para professores de diferentes instituições nas quais eu estava interessada em estudar, e para professores com os quais me interessava em trabalhar. Claro, todas no campo de dor que era a área com a qual eu já tinha familiaridade.

Quando recebi a resposta do Professor Clifford Woolf me senti empolgada pelo grande nome com o qual iria trabalhar. Ele é uma das referências em dor, além de ser diretor do departamento de neurociências e professor titular de neurologia em Harvard.

Assim que falei com ele, pedi que me enviasse uma carta falando sobre como seria meu estágio por aqui para poder anexar ao meu processo do CNPq. Tudo isso foi resolvido em uma semana entre as provas do segundo ano, o que quase me enlouqueceu, mas felizmente tudo deu certo no final e meu processo foi selecionado para receber uma das bolsas pela Comissão de Pesquisa da Faculdade.

Vida em Boston

Bom, depois de todas as papeladas prontas, vim para Boston. O que posso dizer é que está sendo uma experiência incrível, muito melhor do que imaginava.

Quando cheguei achei que a adaptação seria mais complicada, mas as pessoas aqui foram realmente muito preocupadas com o meu bem-estar e continuam sendo. Todos do laboratório são bem acolhedores e quando cheguei, havia mais 3 brasileiros trabalhando no departamento. Antes

mesmo de viajar, conversei com Júlia, que já trabalhava no laboratório e me deu uma boa idéia do que iria encontrar, sem contar que se tornou uma grande amiga. Meu maior problema no início foi com o idioma, são vários sotaques ( no laboratório temos pessoas de 8 nacionalidades diferentes!) e termos científicos com os quais não estava acostumada, mas depois de um tempo fiquei habituada.

Aqui desenvolvo um projeto junto de duas pessoas incríveis, Alban Latremoliere e Michael Costigan. Ambos tem paciência de me ensinar e repetir quando necessário, me mostrar o que é mais importante para um futuro projeto que eu vá desenvolver e acima de tudo me dão liberdade para perguntar ou sugerir coisas. Eu me sinto muito agradecida mesmo por tê-los como orientadores, porque são duas pessoas que realmente amam ciência e me motivam.

A minha rotina é basicamente o laboratório e as palestras de neurosciências que frequento. O estágio que faço aqui conta créditos em Harvard então terei que fazer uma prova no final do ano. Junto, tenho que fazer uma apresentação para o laboratório sobre tudo que desenvolvi durante esse período.

Sobre Harvard, posso dizer que é muito mais do que imaginava. Frequentei aulas e palestras fenomenais com professores de diferentes universidades que vem para cá. Tenho acesso a uma imensa biblioteca, algumas aulas, além de ter todo o laboratório a disposição para aprender diferentes técnicas. É excelente estar aqui!

Sobre Boston, é quase impossível não amar essa cidade. Os lugares são limpos e tudo tem um pouco da história estadounidense. Acho que o maior problema é mesmo o inverno (-20°C me aguardam!). O sistema de transporte é excelente e é uma cidade relativamente segura. Poucas áreas são tidas como perigosas, mas se você vier provavelmente nem vai chegar perto delas. Tem ótimos parques, além de ser perto de diversas outras cidades que são lindas também. Massachussetts é um estado que vale muito a pena se visitar. Sem contar que o outono é maravilhoso!

Sinto saudade de coisas do Brasil, óbvio. Dos amigos da faculdade, do PET, do Showmed, mas o intercâmbio é uma coisa que me agrega mais e mais a cada dia que passa. Mais 3 meses e estarei de volta por aí, abraços de Boston para todos no Brasil!

Carla Lionela Trigo Romero (Ctrl)

Os alunos e PETianos Fábio e Carla, na Universidade de Harvard (EUA)

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Muitos de nós, ao entrar na medicina, já sabem exatamente qual residência querem fazer. Durante o curso, no entanto, descobrimos novas áreas, mudamos de ideia, tomamos uma decisão definitiva. Alguns poucos escolhem caminhos diferentes, com ser docente, pesquisador, administrador hospitalar, trabalhar para os Médicos Sem Fronteiras ou mesmo seguir carreira militar, e é sobre este último que temos mais dificuldade de nos informar, visto que não encontramos muitos exemplos dentro do nosso contexto de aluno.

Uma pergunta importante a ser feita antes de se candidatar ao serviço militar é: você quer ser voluntário, e portanto um temporário, ou seguir carreira no quadro médico? Para ser oficial de carreira é necessário aprovação em concurso público de âmbito nacional para uma Escola de Formação do Quadro de Médicos do Serviço de Saúde, seja do exército, da marinha ou da aeronáutica. Já o médico voluntário assume um compromisso de apenas 12 meses, que podem ser renováveis, um ano por vez, por até 7 anos para o exército ou 8 anos para aeronáutica e marinha. O ingresso neste serviço pode ser feito por brasileiros de ambos os sexos, entre 20 e 36 anos de idade, através de uma seleção, que consiste em prova escrita de conhecimentos especializados, inspeção de saúde, teste de suficiência física, exame de aptidão psicológica, prova prático-oral de conhecimentos profissionais e análise dos dados biográficos (importante não estar condenado por sentença penal e estar em dia com as obrigações da Justiça Eleitoral). Apenas as provas escrita e prática possuem caráter classificatório, enquanto as outras etapas são somente eliminatórias.

Outra possibilidade seria fazer residência através dos hospitais militares. A Marinha do Brasil, por exemplo, possui um programa de residência reconhecido pelo MEC que ofereceu, para o ano de 2013, 37 vagas distribuídas em diferentes especialidades de acesso direto ou com pré-requisito. O candidato aprovado tem a opção de, durante o curso, requerer seu ingresso como oficial de carreira do Corpo de Saúde da Marinha ou apenas terminar a residência e sair do serviço militar.

E quem se inscreve como voluntário para algum serviço militar e posteriormente é aprovado em um curso de residência?

De acordo com a Comissão Nacional de Residência Médica, todo médico convocado ou voluntário do serviço militar, tanto homens quanto mulheres, podem requerer a reserva da vaga em 1 programa de Residência Médica no país pelo período de 1 ano, contanto que o alistamento tenha sido feito anteriormente à matrícula. O pedido deve ser feito por escrito e a instituição ofertante do Programa de

Residência Médica possui o dever de aceitar. (ver detalhes na resolução nº4, de 30 de setembro de 2011, da CNRM)

O inverso também é válido. Os voluntários podem solicitar, mediante comprovação de matrícula em curso de residência médica, a redução do tempo de serviço ou mesmo o licenciamento do serviço militar. Se ainda antes da incorporação ele for aprovado em um curso de residência, pode requerer adiamento do serviço para o final do curso.

Mas o que faz um médico voluntário nas Forças Armadas?

O serviço de saúde militar brasileiro objetiva promover apoio ao militar e seus dependentes, além de realizar ações sociais em benefício da população brasileira. Para profissionais ainda sem especialidade os serviços são na área de clínica geral no período da manhã e da tarde. É permitida, com autorização do Comandante, a realização de plantões sem vínculo empregatício em outros serviços, no entanto a administração ou gerência de sociedade particular é vedada ao militar.

A atuação do voluntário pode ocorrer em hospitais militares ou em áreas de difícil acesso à saúde para a população nacional, nas chamadas Missões Humanitárias ou um navio hospital da marinha, como o “Doutor Montenegro”. Já as Missões de Paz consistem em atividades visando pacificar ou estabilizar nações assoladas por conflitos. Para participar destas é preciso se voluntariar novamente, o que só pode ser feito por militares. Neste serviço o corpo de saúde pode ficar responsável não só pela saúde dos militares que tenham sido enviados à missão, mas também da população local.

Tem remuneração?Embora as pessoas usem o termo “médico

voluntário”, as forças armadas não tratam como um voluntariado, e sim como um médico temporário. Para tanto existe uma remuneração correspondente ao cargo de aspirante-a-oficial que, de acordo com informações do site do exército, gira em torno de R$4.300,00 e não difere na marinha e na aeronáutica.

Ficou interessado? VEDAS! sugere as seguintes páginas para mais informações:

Diretoria de Saúde da Marinha:www.mar.mil.br/dsm

Escola de Saúde do Exército Brasileiro:www.essex.ensino.eb.br

Força Aérea Brasileira:www.fab.mil.br

E se eu quiser ser...

Militar?Matéria

texto: Natasha Nicosgraduanda do 4º ano

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texto: Natasha Nicosgraduanda do 4º ano

Desde 2005, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) realiza um exame voluntário e opcional para os gra-duandos das escolas paulistas com o intuito de, segundo o conselho, avaliar a atual formação médica no estado, promover discussões para melhorar a educação médica e embasar a instituição de um “Exame Nacional de Proficiência em Medicina” no Brasil. Nesse sentido, em 24 de Julho de 2012, o CREMESP tornou obrigatória a participação dos graduandos em seu exame, através da Resolução 259. O registro profissional não estará condicionado ao desempenho no Exame, mas o estudante necessitará de um comprovante de participação, que só é concedido ao aluno que fizer o exame, não deixar questões em branco e não anular questões.

Existe uma grande discussão legal acerca dessa exigência do Conselho que não será discutida aqui (alguns consideram que o Con-selho não tem direito de tornar obrigatória a prova, mas o fato é que ela vai ocorrer e só conseguirá seu registro o aluno que fizer a prova, a não ser que consiga autorização judicial para obter seu registro profissional sem ela).

O principal ponto que queremos tratar nessa questão é a existên-cia ou não de um Exame de Ordem, Exame de Habilitação ou Exame Nacional de Proficiência. Nesse contexto, existem quatro projetos de lei que tramitam no Congresso desde 2003 e, dentre eles, aquele que o CREMESP considera ideal é o PL 217/2004, do Senador Tião Viana (PT-AC), onde o nome escolhido é “Exame Nacional de Proficiência em Medicina”.

O olhar superficial e um olhar mais profundoEm um primeiro momento, parece ser uma iniciativa louvável

do CREMESP em garantir a segurança da população, que convive com o aumento do número de denúncias por erro médico e com a abertura desenfreada de escolas médicas no país, muitas das quais não contam com estrutura de atenção à saúde adequada para o aprendizado do es-tudante.

No entanto, analisando a questão um pouco mais a fundo, vê-se também que uma avaliação feita apenas no final do curso médico, que conta apenas com questões teóricas, não é suficiente para sepa-rar qual o egresso que tem condições de atuar como médico e qual aquele que não tem. A Medicina está longe de ser puramente a ab-sorção e aplicação de conteúdo teórico. Uma faculdade de medicina

também deve ensinar ao seu aluno habilidades práticas que são fundamentais ao mé-dico, além de promover refle-xões que permitam ao aluno ter comportamento ético em seu cotidiano profissional.

Sendo assim, a instituição de um exame nesses moldes é equivocada, dado que, inevita-velmente, ele altera a estrutura de ensino de uma faculdade e o foco dos alunos. Uma faculda-de que precisa aprovar seus alu-nos passa a ensinar aquilo que é

exigido na prova em detrimento de tantos outros conhecimentos, com-portamentos e habilidades que ela precisa ensinar. O aluno, por sua vez, preocupado com o exame no fim do ano, deixa de aproveitar a valiosa oportunidade que tem de realizar treinamento prático, sob supervisão, no internato. Vale lembrar que atualmente isso já ocorre devido às pro-vas para ingresso na residência médica, o que é outro ponto importante a se discutir quando se trata de avaliação ao final do curso médico.

Ainda com relação ao comportamento do aluno em seu último ano de graduação, destaca-se a prolifera-ção dos cursos preparatórios para o exame. Se hoje eles já têm uma grande atuação no país devido à concorrência nas provas de

residência, quanto mais alunos conseguirão caso seja necessário um exame de proficiência para todo concluinte de graduação em medicina? Será que o lugar de se ensinar medicina é o curso preparatório para uma prova? A população estará segura diante da atuação de médicos “60% de acertos”?

Primum non nocereMuitas dúvidas surgem quando se pensa nas consequências da

instalação desse tipo de exame, mas também existe o outro lado da questão. Enxerga-se, sem muito esforço, que a formação médica no país é insuficiente, muitas escolas médicas não têm estrutura suficiente para formar bons médicos, seja estrutura de pontos de atenção à saúde, corpo docente ou avaliações formativas. Vê-se também que faltam profissio-nais em locais distantes, onde a população fica desassistida, ao mesmo tempo que sobram profissionais nos grandes centros, muitas vezes com excesso de especialistas, além de vários outros problemas relacionados tanto à formação médica quanto à estrutura da atenção à saúde em ge-ral.

Diante de tantos problemas preocupantes, o CREMESP resolveu agir, tomou uma decisão e está em vias de concretizá-la; apesar de não ser a solução ideal, considera que é alguma coisa, que é melhor do que não fazer nada. O Estado tem deixado que a educação médica piore ao longo do tempo, preocupa-se apenas em aumentar a quantidade de mé-dico, a despeito da qualidade da formação.

Ainda assim, depois de discutir a fundo essas questões, acredito que o Conselho não deve aplicar a prova. A medida (que é considerada “melhor que nada”) pode ser muito prejudicial para a educação médica. Se o conselho utiliza a máxima de “alguma medida é melhor que nenhuma”, deve-se ter mente também aquela aprendida já nos pri-meiros anos da medicina: “primum non nocere” (em primeiro de tudo, não fazer mal).

E qual seria o caminho?A avaliação das escolas médicas e dos estudantes de medicina

é necessária? Sem dúvida. A avaliação das escolas médicas que é hoje realizada pelo MEC tem pouca utilidade, é burocrática, e o governo faz “vistas grossas” para o credenciamento de novas escolas. É preciso sim melhorar o processo de avaliação não só do estudante, mas também das instalações da faculdade, do espaço que a faculdade tem para os alunos aprenderem, dos cenários práticos a que o estudante deve ser exposto, do corpo docente, entre muitos outros fatores que contribuem para a melhor formação do médico. Especificamente em relação ao estudante, a avaliação não pode, de forma alguma, ser realizada apenas no final do curso, quando o estudante não tem mais o apoio da escola para corrigir quaisquer insuficiências que apresente na avaliação. Mais que isso, a avaliação deve contemplar também as habilidades e o comportamento do estudante, não só suas competências cognitivas.

Considerando que pudesse haver uma avaliação ideal de um egresso de faculdade de medicina, o Conselho Federal de Medicina, órgão da corporação médica, deveria ser o responsável pelo exame de proficiência? Provavelmente não: essa não é uma competência do conselho, ele existe para fiscalizar a atuação dos médicos e zelar pelas boas práticas da medicina. Permitir que o conselho determine quais egressos serão médicos é dar uma ótima ferramenta de controle do mercado de trabalho médico no país, o que vai contra a melhoria das condições de saúde da população. O exemplo do Exame de Ordem para os advogados é muito claro: a cada ano, aumenta muito o número de inscritos e o número de aprovados permanece quase inalterado; isso pode ser visto já nos poucos anos de aplicação da prova voluntária do CREMESP. No Brasil, a Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM) lideram as iniciativas conta o exame. Qual a nossa parte nisso tudo?

Existe um curto texto da ABEM escrito em 2005 pelo então presidente da ABEM, Prof. Dr. Milton de Arruda Martins, que resume a posição da instituição frente a esse tema. Acesse no link:http://www.abem-educmed.org.br/posicionamento_abem/posicao_exame_habilitacao.pdf

O assunto no mundoNo mundo, discute-se também a existência de exames de proficiência para médicos e, em muitos países, esse exame já existe. O artigo Five myths and the case against a European or national licensing examination, de Ronald Harden, traz argumentos contra o exame nos países europeus. Diz-se que não existe evidências de que um exame desse tipo leve à práticas médicas mais seguras.

EXAME DO CREMESP: um olhar críticoExistir um exame de proficiência para a Medicina é realmente melhor do que nada?

Opinião

texto: Bruno Maiolinigraduando do 3º ano

Page 24: VEDAS! edição 16

O Ato Médico trata-se de um projeto de lei que define as ativida-des exclusivas dos médicos. O Conselho Federal de Medicina articula desde 2002 a aprovação desse projeto, acreditando ser necessário regu-lamentar a profissão frente ao surgimento relativamente atual de uma série de profissionais de saúde diferentes. As primeiras versões do texto incluíam reivindicações como a exclusividade de aplicação de injeção aos médicos, além de uma série de outras que atraíram a atenção e o desgosto de nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais da área da saúde, que temiam o risco da lei diminuir suas funções e reservar mercado apenas para médicos.

Após uma série de alterações no texto original, levando em con-sideração parte das queixas de outros profissionais, foi estruturada a versão atual, aprovada em fevereiro de 2012 pela Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania. Mesmo com esse voto favorável ainda é preciso que o texto seja aprovado pelas comissões de Educação e de Assuntos Sociais antes de ir a Plenário, o que significa que a discussão ainda está longe de acabar.

A partir destas alterações, mantêm-se a exclusividade do médico de realizar o diagnóstico nosológico do paciente, mas não ficam privativos os diagnósticos funcional, cinésio-funcional, psicológico, nutricional e ambiental, e as avaliações comportamental e das capacidades mental, sensorial e perceptocognitiva. Outro ponto de exclusividade do médico é indicação e execução de procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou estéticos que sejam invasivos, incluindo a invasão de pele atingindo o tecido subcutâneo para injeção, o que motivou reação de acupunturistas e tatuadores, que receiam restrições. As injeções subcutâneas, intradér-micas, intramusculares e intravenosas não fazem parte da lista de exclusividade médica, embora ainda seja necessária a recomendação do médico para a realiza-ção desses procedimentos.

Além disso, não só a intubação fica como procedimento de exclusividade médica, mas também a “coordenação da

estratégia ventilatória inicial e do programa de interrupção da ventila-ção mecânica”, que são atividades realizadas por muitos fisioterapeutas. Biomédicos e farmacêuticos haviam se queixado da limitação ao médi-co de emitir diagnóstico patológico por biópsias e de citopatologia, o que foi retirado da versão atual do projeto, embora ainda seja restrita ao médico a emissão de laudo desse tipo de diagnóstico.

O ponto atualmente mais controverso é a determinação de que apenas médicos podem ocupar cargos de direção e chefia de serviços médicos, enquanto outros profissionais podem apenas ocupar a chefia administrativa. A argumentação das demais categorias é que atualmente os atendimentos tendem a usar o modelo de equipe multidisciplinar, não havendo uma boa justificativa para limitar a apenas um categoria o direito de dirigir e chefiar unidade. Teme-se, com essas medidas, a centralização da saúde no médico, enquanto a tendência do mercado tem sido outra.

Embora as alterações recentes do texto tenham corrigido uma série de falhas e atualmente a lei diga que são resguardadas as competên-cias especificas das profissões de assistente social, biólogo, biomédico, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, profissional de educação física, psicólogo, terapeuta educacional e téc-nico e tecnólogo de radiologia, ainda existem procedimentos e áreas comuns a mais de uma categoria que geram desacordos.

Há um longo caminho antes da aprovação definitiva da lei, mas é importante que médicos e estudantes fiquem atentos ao Ato Médico, afinal as reivindicações são nossas, é preciso conhecê-las tanto quanto as categorias que brigam contra, pra decidirmos de que lado estamos.

“Tem até um que resolveu ficar”. Esse comentário, a respeito da participação dos profissionais da saúde no Provab (Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica), chamou a atenção da Profª Luciane Loures, médica da família do Departamento de Medicina Social da FMRP – USP, durante uma palestra sobre o pro-grama no III Fórum Nacional de Ensino Médico. Não é para menos: a própria representante oficial parece se espantar com – ou ironizar – que alguém tenha continuado no programa.

De fato, a baixa adesão marcou o primeiro ano de funciona-mento do Provab, iniciado em março de 2012: conforme dados do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (MS), de 2000 vagas oferecidas para médicos, foram preen-chidas apenas 329, ou seja, houve mais de 80% de vagas ociosas. Talvez esse seja um sinal de que os meios tortuosos de que o pro-grama se vale para capacitar e fixar recursos humanos na Atenção Básica estão além do que os nobres fins propostos são capazes de justificar.

Entre as estratégias pensadas pelos burocratas do MS, encon-tra-se a polêmica concessão de bônus nas provas de residência médica para os doutorandos que participarem do programa, que teriam 10% ou 20% de aumento em suas notas caso cumprissem 1 ou 2 anos, respectivamente. Essa proposta, considerada “um des-respeito, um privilégio e uma falta de consideração com os que es-tudam para ingressar na residência” pelo presidente do Cremesp, Renato Azevedo Júnior, revela, na opinião da Profª Luciane, a su-perficialidade do programa, o qual insiste em medidas paliativas para resolver a falta de pessoal qualificado na Atenção Básica. De

acordo com ela, o Provab pode ser uma solução a curto prazo, a exemplo de Cássia dos Coqueiros, município cuja inscrição no pro-grama visa suprir a carência de médicos em seus postos de saúde, porém o bônus oferecido como incentivo traz embutido uma lógica mercantilista, que só dificulta a estruturação adequada dessa rede que é considerada a base do cuidado em saúde.

Com efeito, a professora ressalta a importância de aqueles que atuam nessa área terem formação específica, sob pena de o siste-ma se ver sobrecarregado com encaminhamentos desnecessários e resolutividade baixa. Nesse sentido, o Provab vai na contramão do que é preciso ser feito, pois reforça a imagem do atendimento primário como um bico para médicos recém-formados. Dessa for-ma, além de não fomentar a fixação dos profissionais, o programa trata com leviandade a formação em Medicina da Família, condição imprescindível para a boa qualidade do serviço na Atenção Bási-ca, já que a supervisão presencial e à distância oferecida aos seus participantes é considerada insatisfatória por quem os acompanha – ainda mais quando contraposta à residência em Medicina da Fa-mília, meta a ser perseguida para a construção de um sistema de assistência primária eficiente, de acordo com a Profª Luciane.

Com o anúncio do Provab 2 pelo MS, em 28 de dezembro de 2012, e a reafirmação da política dos bônus nas provas da residên-cia, resta o temor de que a busca por caminhos mais fáceis, em detrimento da educação dos profissionais de saúde para a Atenção Básica, consolidem a imagem dos postinhos como “uma porta de entrada para lugar nenhum”.

O Provab e a (des)valorização da Atenção BásicaOpinião

texto: Iago Cairesgraduando do 3º ano Por que o programa é ineficaz e prejudica a formação e a assistência na atenção básica?

Um pouco sobre a Lei do Ato Médico

A DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina), entidade representativa dos estudantes de medicina do Brasil, tem se manifestado contra a Lei do Ato Médico, em seus diversos âmbitos de debate. Segundo a entidade, trata-se de uma medida que não irá proteger a população, não protege contra a existencia de “falsos médicos”, limita a atividade médica, gerando reserva de mercado, não trata a respeito de questões trabalhistas e, especialmente, vai contra a atuação multiprofissional à medida que não é pautada em conjunto com as demais profissões da saúde. Saiba mais no link:http://www.contraprivatizacao.com.br/2012/12/denem-esclarecimento-sobre-o.html

Opinião

texto: Nathasha Nicosgraduanda do 4º ano

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Parar, sentar, tomar um café. Atitudes tão imprescindíveis quanto impraticadas nos dias de hoje. Impraticadas? Mas e os litros e litros de café que se esgotam todos os dias? Bom, espero que o leitor me compreenda até o fim do texto...

A vida nos constrange a trabalhar e a correr o tempo todo. Somos “convidados”, diariamente, a ser eficientes onde quer que estejamos posicionados – escola, trabalho, faculdade, futebol, clube etc.. No entanto, quantos serão os seres humanos que se dão um tempo para parar, sentar, tomar um café? Como diria o filósofo, vamos definir os termos antes de seguirmos a conversa. Do contrário, poderíamos deixar aqui uma mínima brecha para um leitor desavisado pensar que estamos discorrendo sobre a degustação do ouro preto.

Nós, seres humanos, temos confundido eficiência com movimentação frenética, irrefletida e incessante ao redor de nossa produção. Estamos certos de que a curva do gráfico trabalho versus produto é uma reta ascendente sem fim, quando, na verdade, nem mesmo paramos para pensar no que é trabalho, e no que é produto.

Chico Buarque, em uma de suas entrevistas, diz do seu velho hábito de manter caminhadas à beira-mar. Questionado sobre a motivação dessas caminhadas, sua resposta é, para dizer o mínimo, afastada do senso comum. Chico diz que não caminha para passear ou fazer exercícios, mas, sim, que o faz a trabalho! Em suas palavras: “muitas vezes eu tô com algum impasse num trabalho, num pedaço duma música, uma letra... e se eu não puder andar eu não consigo sair daquele... o livro não anda, a música também não anda. Então andar não é exercício, as pessoas as vezes pensam que é exercício, também não é um programa social, mas, muitas vezes, se está andando a serviço, se está andando a trabalho”. Seria caminhar, parte do trabalho? Seria razoável considerar isso?

Suas músicas se multiplicam, seus livros são encontrados nas melhores lojas, suas palestras seguem lotadas. Chico Buarque tem produto, e um ótimo produto. Até mesmo quem não aprecia suas músicas, seus textos, entrevistas ou palestras sabe, com o mínimo de bom senso, encontrar o imenso valor de sua produção. Na verdade, essa produção objetiva da qual estamos falando está alicerçada numa outra, que vai silenciosa, escondida no fundo de cada letra, de cada texto. Afinal, não é difícil perceber que os trabalhos de Chico versam sobre suas questões, sua vivência, suas interpretações e respostas aos estímulos que o mundo lhe oferece, o que não está, necessariamente, dentro dos escritórios ou estúdios. Não seriam, esses bastidores, sua verdadeira produção, encontrando nas letras e textos uma forma, uma expressão?

Passar o dia todo no escritório durante meses e obter, ao final de um ano ou dois, um volume para publicação, compõe a badalada dupla trabalho-produto. Seria ilógico negar semelhante verdade. No entanto, caminhar à beira-mar e comparecer a um encontro de amigos dispostos a papear, de maneira descompromissada, não seria igualmente “trabalhar” na confecção do referido livro?

Uma nova tendência tem tomado lugar em algumas empresas dispostas a romper com a velha confusão acerca da eficiência, acima comentada. Nessas empresas, o lazer está permitido durante o expediente. Mesas de sinuca, pebolim, baralho, entre outros distrativos estão ali, ao dispor de seus funcionários. Nosso paradigma formatado nos levaria a pensar que esses funcionários são vagabundos, e que os donos dessas empresas estão cometendo suicídio profissional. Aqui, por outro lado, sugerimos a seguinte questão: não estarão, esses funcionários, trabalhando, na

medida em que encontram espaço para dar vazão ao engarrafamento de ideias que, por vezes, lhes engessa a boa produção?

Não será muito difícil de compreender o que pretendemos dizer aqui se pensarmos por um segundo nas nossas estratégias de estudo para as provas - ou a ninguém aconteceu de tentar estudar num dado dia em que não havia a menor possibilidade de seguir estudando? Quantos de nós, nessas situações, temos a ideia de sair, caminhar, conversar, enfim, cortar o curto-circuito insistente e improdutivo? Muitos não o fazem, e retroalimentam seu estado de frustração, por pura culpa, por uma vazia sensação de ‘eu deveria estar estudando’. Diante disso, aquele que estudou em curto-circuito por seis horas seguidas, terá estudado mais que aquele que estudou por duas horas, foi tomar um sorvete e papeou com uns amigos?

Nos Fóruns de Ensino, organizados pelo Centro Acadêmico Rocha Lima, sempre está levantada a questão do escasso tempo livre e da pesada carga horária do curso de medicina. Não será o fundo da ideia trazida nesse texto o grande motivador da recorrência desse assunto? Ou será que somos apenas preguiçosos em busca de tempo para dormir um pouco mais? Está na hora de abrirmos os olhos às demandas naturais da condição humana na questão aqui levantada.

A correria da vida atual nos subtrai até mesmo a ideia de que precisamos nos dar tempo para observar a vida, sentir a vida, perceber os fatos e acontecimentos sutis ao nosso redor. Andamos esquecidos de que é preciso silenciar a mente das nossas ocupações diárias, para que o tráfego conturbado das ideias possa dar lugar aos insights que nos rodeiam, impotentes, sem encontrar um meio de penetrar nossas mentes. É preciso que nos convençamos de que o ócio produtivo é parte valiosa do trabalho, e que pode até mesmo nos poupar precioso tempo e nos trazer prazer e eficiência rumo à conquista de nossos objetivos.

Foi à luz dessas reflexões que eu, como membro do PET-Medicina, enxerguei positivamente uma espécie ‘freada’ dada pelo grupo. Explico-me: temos uma produção que, por um lado, me deixa orgulhoso e satisfeito. Organizamos saraus, eventos acadêmicos, conduzimos um cursinho pré-vestibular (o Cursinho Popular da Medicina), discutimos papers, treinamos a língua inglesa, desenvolvemos projetinhos internos, viajamos aos eventos e encontros dos PETs, lemos e discutimos livros, editamos a revista VEDAS, organizamos cine-PETs, desenvolvemos nossas pesquisas e, ademais, fazemos muitas outras coisas que acabam ficando nos bastidores de todas essas tarefas, como busca por verbas, patrocínios, gráficas, confecção de ofícios, manutenção do nosso site etc., etc., etc..

Por outro lado, em meio a todo esse produto gerado pelo nosso grupo, penso ter sido importante nos dar um tempo, exatamente no momento em que decidíamos diversas questões sobre o evento que idealizávamos para 2012- “Ensino Universitário: por que está assim?”. Um tempo precioso para um balanço interno, uma reflexão mais demorada, uma possível reestruturação e transformação de ideias.

Enfim, o PET-MEDICINA não ofereceu um evento acadêmico em 2012. Perguntarão: mas o que o PET esteve fazendo no tempo que seria reservado para a organização desse evento? Bom, nessa hora, estivemos lá, trabalhando numa infinidade de outros campos de atuação do grupo, mas também pensando, conversando, amadurecendo ideias. Enfim, estivemos trabalhando muito. Enquanto isso pare um pouco, sente-se, tome um café e aguarde, em 2013, o resultado desse intenso trabalho do grupo PET-Medicina.

Vamos tomar um café?*

texto: Edgard Fallakhagraduando do 3º ano

Passar o dia todo no escritório e, ao final de um ano ou dois, obter um volume para publicação, compõe a dupla trabalho-produto. No entanto, caminhar à beira-mar e papear com os amigos de maneira descompromissada não seria igualmente “trabalhar” na confecção do referido livro?

*Este artigo é de opinião pessoal do autor, e não necessariamente reflete a opinião de todos os membros do grupo PET-FMRP USP

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FMRP 60 anosMeus veteranos e ex-professores sempre me

diziam aproveite e conheça toda a faculdade, porque 6 anos passam muito rápido.

E por mais que a gente ande por aí e descubra novas atividades, projetos e pessoas, sempre

há mais para se descobrir. É uma infinidade de coisas, criadas ao longo desses 60 anos que em

2012 comemoramos!Nesta seção, sobre a FMRP, a VEDAS! preparou matérias especiais, para você

conhecer um pouco mais da nossa Gloriosa: a bondade presente no GACC, a complexa

estrutura do hemocentro e as iniciativas interessantes da Casa da Ciência, o que esperar

do HC Criança, e claro, os grandes legados científicos da nossa faculdade para o mundo,

que tanto nos orgulham!

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

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FMRP 60 anos

A saga1 do HC Criança

Reportagem Especial

1: saga: história ou narrativa rica de incidentes (fonte: dicionário Aurélio) A Vedas entrevistou os profs. Hélio Rubens Machado (um dos

idealizadores do projeto) e Luiz Gonzaga Tone (um dos atuais responsáveis), para saber um pouco mais da história, do motivo do atraso nas obras e de quando o projeto pretende estar concluído.

texto: Maria Rita Margarido

e Eduardo Orlandingraduandos do 2º e 3º anos

Episódio I: o sonho do HC Criança e a construção do futuro da saúde no Brasil

O projeto inicial para a construção do hospital pe-diátrico HC Criança, vinculado ao complexo HCFMRP já existia desde 1992, tendo sua concepção à partir da pe-diatria, que convocou também outras áreas de atuação na saúde da criança. O projeto não se manteve desde sua idealização devido a dificuldades financeiras e políticas da época. Em 2004, foram analisados vários projetos para o HCFMRP, que na época incluiam uma área nova para a oncologia, uma área para reabilitação e um hospital pe-diátrico.

A motivação para a retomada deste projeto se ba-seou em dados que evidenciavam o já funcionamento de um “hospital pediátrico” de grande porte dentro do com-plexo HCFMRP: cerca de 170 leitos estavam ocupados com crianças, sendo estes derivados da área da pediatria e de outras áreas clínicas não especializadas no atendimento infantil, mas que possuem um contingente elevado de pa-ciente pediátricos (como o CIREP - Centro de Cirurgia de Epilepsia - com unidade de crianças e adultos, que cresceu muito nos ul-timos anos), leitos dos diversos andares do HC, em suma, 30% do atendimento ambulatorial e hospi-talar (em torno de 150.000 consultas e 9.500 internações em 2004)

O reestudo dos projetos idealizados possibilitou o re-conhecimento de uma área, dedicada então teoricamente a serviços de almoxarifado, estando porém desativada no momento, de aproximadamente 2000m2 de extensão que seria dedicada à construção do mencionado centro de reabilitação, localizada em área ao lado do HCFMRP. Esta área despertou o interesse da então superintendên-cia e diretoria para se dedicar à construção do hospital pediátrico, dada a urgência na necessidade de suas ins-talações. O tamanho do espaço se justificaria para com-portar o mencionado número de casos infantis já existen-tes nos diversos andares do HCFMRP e em perspectivas futuras de levar também o berçário voltado aos casos de alta complexidade de patologias neonatais, atualmente no 8º andar do HCFMRP), almejando um total de 250 leitos para tais fins, além de um espaço para a atenção à mãe (seguindo exemplos de projetos como o “mãe canguru” do Ministério da Saúde).

Por ser o HC o único hospital terciário de grande porte, atendendo cerca de 4,5 milhões de pessoas (sen-do, destas, 1,5 milhões crianças), o espaço necessitava de um alívio nos 30% de volume ambulatorial e de setores

não especializados na atenção infantil, para a utilização em outros setores, a fim de melhor atender as necessi-dades populacionais da área de abrangência. Além disso, constantes visitas da ANVISA ao andar da pediatria do HCFMRP constataram que as instalações seriam inapro-priadas e fora das normas de funcionamento estabeleci-das, porém a demanda local impossibilitava o seu fecha-mento.

Ademais, o Prof. Hélio é bem enfático: “Se vocês ob-servarem, em países desenvolvidos é muito maior o nú-mero de hospitais pediátricos, a atenção dada a criança e à mãe também é muito maior, e isso tudo por razões óbvias: a criança é o futuro. O custo social de crianças com desenvolvimento atrasado é alto (a retira do convívio social, do mercado de trabalho). Portanto, quanto mais se trabalha com esses pacientes, mais a sociedade tem re-

torno. Assim, verificou-se que havia o proje-to, a carência e a necessidade. Agora, como captar recursos e envolver o governo federal e estadual? A resposta que tivemos foi: en-volva a população. E a aceitação do projeto foi fantástica, porque a população aderiu.”

Diante de todos estes fatos, em 2005 a atual gestão lançou oficialmente o projeto de

construção do HC Criança, realizando uma campanha de divulgação a fim de complementar os recursos financei-ros disponibilizados pelo governo, inspirando-se em cam-panhos e projetos internacionais como o Sick Children Toronto, que possui diversos benfeitores, especialmente particulares. Dessa forma, iniciou-se a busca por patrocí-nio tanto do governo como de empresários, políticos, enti-dades como a UNICEF), e para o próprio público interno, atendido no HC (com a criação da “lojinha do Risadinha”, no primeiro andar do HC que dedica seus lucros ao finan-ciamento da obra). “Percebemos que existe uma abertura muito grande para isso”, afirma o Prof. Hélio. A aceitação pública do projeto, que se tornou muito bem visto pela população em geral, acabou não somente por gerar o pa-trocínio externo, mas também gerou uma aceitação por parte do governo.

Episódio II: a execução do projeto – e o problema!Iniciou-se então a construção do complexo, em três

etapas:• Primeira Etapa: construção da fundação e térreo

(espaço dedicado à reabilitação, como no projeto original para a área) e primeiro andar, sendo financiada pelo mi-nistério da saúde e terminada no prazo estipulado.

Você sabia???Além de diversas empresas e pessoas que auxiliam financeiramente o projeto, o HC Criança também tem o apoio da UNICEF

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• Segunda Etapa: estruturação, alvenaria e divisões internas, sendo financiada pelo governo estadual e secre-taria da saúde, também concluída com sucesso.

• Terceira Etapa (a última, mais difícil e que ainda falta concluir): acabamentos, material interno, maquinário e hospitalar, financiada pelo governo. Havia um prazo de execução de 15 meses. Ocorreu em coincidência com uma mudança no governo e a empresa responsável pela construção não compriu o estipulado em contrato, havendo uma mudança motivacional na construção do complexo.

Conforme descrito no relatório de Atividades do HCFMRP de 2011, o contrato para término do prédio do HC Criança, iniciado em 2010, foi rescindido por proble-mas com a empresa, que não atendia os prazos esta-belecidos. Do total contratado (R$19.690.569,37), foram faturados R$1.066.117,91 (R$ 651.883,50 em 2010) + (R$414.234,41 em 2011). A previsão para reabertura de licitação ficou, então, adiada para 2012.

Segundo o Prof. Hélio, todas as etapas foram então desenvolvidas por um grupo de coordenação que realizou atividades administrativas, desenvolveu o projeto e lidou com as burocracias. Esta equipe sofreu uma mudança em sua composição no ano de 2010, o que contribuiu para a estagnação e mudança de motivação para a conclusão do projeto.

Além disso, a planta do projeto precisou ser reformu-lada, devido a alguns problemas não observados antes no projeto inicial, estagnando o andamento.

Episódio III: agora vai?Em setembro de 2012, a Secretaria de Estado da

Saúde de São Paulo autorizou a liberação de R$ 68,3 mi-lhões extras para investimentos no complexo do Hospital das Clínicas de Ribeirão PretoO HC Criança irá receber a maior parte dos investimentos: R$ 40 milhões. O projeto reformulado do hospital previu um aumento de 140 para 231 leitos. A unidade será o primeiro hospital da região com foco 100% no atendimento do público infantil e repre-sentará um passo significativo na humanização do aten-dimento pediátrico, centralizando todas as especialidades pediátricas em um único prédio

Para o Prof. Tone, há outras diversas questões ainda em relação ao projeto: “Precisa-se estudar bem de onde virá a verba para contratação e manutenção de funcioná-rios e de equipamentos. Uma obra deste porte vai dispen-der muitos recursos.”

Episódio IV: sonhos, mensagens e perspectivasEm suma, o projeto HC Criança visa, além do desa-

fogamento de um setor que possui diversas necessida-des, a criação de um local que integrasse o atendimento exclusivo à criança, sendo que esta não haveria de procu-rar o profissional, mas sim este se dirigiria ao seu cuidado, contando com o apoio de um atendimento multidisciplinar (contendo diversas especialidades, visto que as crianças do nível terciário assim necessitam). Além disso, visa pro-porcionar um ambiente acolhedor, com profissionais espe-cialmente treinados, ser a criança o centro das atenções, promover a humanização no atendimento (que abrange ainda detalhes como a decoração especial da unidade e acolhimento das mães, visto que a participação familiar é essencial no processo de reabilitação) e a retirada da criança do ambiente de enfermidades adultas.

A idéia é construir um novo conceito: não sim-plesmente construir um hospital, mas mudar um concei-to no atendimento em saúde: quando você concentra os pacientes numa unidade, as pessoas que trabalham com esse tipo de paciente que vão ao local; assim você cria uma estrutura que dá um apoio ao paciente em todas as áreas, de forma multidisciplinar. A criança vira o centro da atenção de diferentes especialistas. Afinal, a criança apre-senta inúmeros problemas pediátricos e não-pediátricos. Além disso, traz-se para a criança outros suportes essen-ciais para ela (educacional, etc). A criança ser criança, e não um pequeno adulto – isso é humanização hospitalar. O ambiente tem que ser favorável para acolher a criança. A mãe tem que ser acolhida – e é fundamental que a fa-mília participe da evolução da criança. Você pode fazer a melhor cirurgia, mas se você não oferecer condições de reabilitação, a criança vai sair do hospital despreparada para a vida.

Apesar de todos estes aspectos, o projeto ainda sofre incompreensão por parte de pensamentos como o atual envelhecimento populacional e a demanda de insta-lações tão sofisticadas, que questionariam a necessidade de uma unidade dedicada exclusivamente ao atendimen-to pediátrico de alta complexidade.

Apesar de todos os atrasos na concretização do projeto, trata-se de uma visão à longo prazo que visou não somente o atendimento à demanda físicas, mas a atenção holística e humanizada da criança. Dessa forma, o HC Criança se apresenta como muito mais do que um simples prédio hospitalar inacabado, mas como uma ini-ciativa nobre na construção e manutenção da saúde como um todo. O Prof. Hélio deixa a mensagem: “A geração de vocês tem que saber da história, do que aconteceu, para não começar do zero”.

Quer saber mais???

Segue abaixo diversos sites nos quais você pode encontrar informações a respeito do HC Criança:

- no site www.hccrianca.org.br/videos você encontra vídeos que contam mais sobre a história do HC Criança, fotos, e a relação dos apoiadores do projeto!

- projeto do HC Criança em pdf: www.hcrp.fmrp.usp.br/sitehc/upload%5CHC%20Crian%C3%A7a.pdf

- No “Jornal Eletrônico do Complexo Acadêmico de Saúde” da FMRP (www.fmrp.usp.br/jornal), na edição de número 2 de 2012, é possível encontrar a matéria sobre a verba de R$ 68 milhões liberada pelo governo estadual, da qual a maioria vai para a finalização do HC Criança.

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O casal descobre que vai ter um filho. Na maioria das vezes, uma alegria imensa toma a família, que passa a nutrir doces ex-pectativas para o futuro daquela criança. Um sonho todo colo-rido é projetado, e tudo o que pode haver no coração materno é o sincero desejo de proporcionar felicidade sem fim ao seu rebento. No entanto, a vida, como que a querer nos arrastar para experiências muitas vezes dificílimas de enfrentar, traz, caprichosamente, o câncer infantil, contrariando toda a sua na-turalidade.

Para dar suporte a essa triste realidade, professores da Pe-diatria e Puericultura da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP-RP tiveram a ideia de estruturar um grupo de apoio a essas crianças, em 1985. A ideia amadureceu e em 1987 acon-teceu a fundação oficial do GACC, com o objetivo principal de oferecer tratamento ao câncer infantil/juvenil não apenas do ponto de vista médico, mas em toda a sua complexidade social, psicológica, financeira etc..

Em 1992, o GACC inaugura, no Campus, uma casa que, após diversas reformas, passou a ter capacidade para acolher e hos-pedar 15 crianças com um acompanhante cada. Essas crianças vêm das mais diversas regiões do Brasil e podem permanecer por todo o tempo necessário para o tratamento. A casa é agra-dável e conta com um parquinho que é o sonho de toda criança. Além disso, há muitos brinquedos, paredes coloridas e muita gente disposta a ajudar a enfrentar essa barra.

Lá, todos recebem 5 refeições diárias, preparadas com todo carinho pela cozinheira, contratada do GACC. Para lavar as rou-pas, as mães podem contar com uma lavanderia equipada com máquina de lavar e secadora. A organização deve ser máxima, afinal, são muitas pessoas diferentes convivendo no mesmo es-paço, além do agravante de estarem passando por uma situação de muito sofrimento. Por isso, a casa tem o seu regulamento, o qual é fornecido logo na entrada, junto com um kit concedido à família, contendo roupas de cama, cobertores e outras coisas úteis para o devido acolhimento de seus hóspedes. O regula-mento prevê hora para dormir, para comer, para lavar roupa entre outras regras.

As crianças também contam com uma sala de computa-dores, todos devidamente conectados à internet, para que possam passar parte de seus dias nesse entretenimento. Para facilitar a vida de quem não tem roupas suficientes para uma permanência mais demorada, a casa instituiu um bazar de rou-

pas usadas, onde as peças, recebidas por doação, são vendidas a preços bem acessíveis. Assim, a casa pode manter uma pe-quena arrecadação para a manutenção de suas atividades, bem como ajudar a quem precisa.

As crianças recebem uma atenção multiprofissional:Odontologia: existe uma sala na casa preparada especialmen-te para esses atendimentos, os quais acontecem 3 vezes por semana.Fisioterapia: uma sala toda equipada está montada para as sessões de fisioterapia para todos que precisarem. As sessões acontecem duas vezes por semana.Assistência Social: realiza atendimentos individualizados a cada criança, em seu contexto específico.Psicologia: há um psicólogo contratado para ajudar crianças e familiares a enfrentar essa situação de dor instalada pela doença.Nutrição: a casa conta com nutricionista que ajuda a organizar a suplementação da alimentação das crianças com essa neces-sidade.

Além de todos esses profissionais contratados, ainda exis-tem a secretária e a coordenadora do GACC, as quais têm uma sala reservada exclusivamente para elas. O horário de atendi-mento é das 8h00min às 17h00min. Também não podemos nos esquecer da faxineira, que mantém o ambiente todo limpinho. Sua função é imprescindível.

No entanto, todas as atividades da casa não seriam tão bem executadas se não fossem cerca de 45 pessoas muito especiais: os voluntários! Eles são selecionados pelo psicólogo e podem trabalhar 4 horas semanais. Sem a ajuda deles tudo seria muito diferente. O que eles fazem? Tudo o que for preciso e estiver ao alcance deles, num trabalho maravilhoso. Existe uma ampla ‘sala de apoio’ preparada para a organização do trabalho desses voluntários.

Você pode estar se perguntando: mas as crianças com cân-cer podem estudar? A resposta é SIM! Claro, existem os casos em que isso não é possível, seja pela gravidade da doença, seja pelo momento do tratamento. No entanto, muitas podem, sim, ir à escola, e aqui entra um trabalho muito bonito da assistente social e do psicólogo. Trata-se do programa ‘Reinserção Escolar’, do GACC, em que esses profissionais vão às escolas das crian-

Ajude!

texto: Edgard Fallakhagraduando do 3º anoVocê conhece o GACC?

Os desafios do Grupo de Apoio à Criança com Câncer e como você pode ajudar

O Campus da USP-Ribeirão Preto impressiona a qualquer um. Seja pelo verde exuberante, seja pela estrutura acadêmica, é muito gratificante poder estar num ambiente como é o nosso. Entretanto, por mais que nos encantemos com o que sabemos do nosso Campus, ainda não conhecemos toda a sua beleza, tantas vezes, silenciosa, apesar de brilhante!

Um excelente exemplo do que estamos falando aqui acontece na rua Prof. Pedreira de Freitas (a rua do banco Santander, no Campus), na casa 6. Lá funciona o GACC – Grupo de Apoio à Criança com Câncer, local onde é desenvolvido um trabalho fantástico e que você poderá conhecer nas próximas linhas. As informações foram generosamente fornecidas pelo presidente do GACC, José Mário Tamanini.

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ças doentes para esclarecer os professores e os colegas de sala quanto à doença dessas crianças. O programa cobre todas as escolas que estiverem num raio de 200 km de Ribeirão Preto.

Mais uma atividade brilhante é desenvolvida pelo GACC: uma vez por mês, as crianças fazem um passeio, que pode ser uma ida ao cinema, ao shopping, a parques de diversão etc.. Ainda há festas de aniversário, festas juninas, festas de Natal e outras. Tudo se passa com muito esmero e amor verdadeiro à causa levantada pelo GACC.

De onde será que vem o fomento para manter tanta estru-tura e tantas atividades?

O GACC não recebe nenhuma porcentagem da verba da USP, que apenas empresta a casa para seu funcionamento. A prefeitura de Ribeirão Preto ajuda apenas com 1800 reais! por mês. Os alimentos e os produtos de limpeza são conseguidos por doações e as vendas do bazar de roupas usadas dão uma pequena (muito pequena) ajuda.

A maior parte da verba haurida pelo GACC é proveniente do “McDia Feliz”, promovido pelo Instituto Ronald McDonald, em todo o mundo. A fatia que cabe ao GACC está relacionada às lojas de Ribeirão Preto e Sertãozinho, que juntas, em 2012, renderam 240 mil reais. Para a liberação desse dinheiro, o GACC deve fazer um planejamento minucioso, justificando cada gas-

to. Essa verba torna possível garantir os salários dos profissio-nais contratados por todo o ano, entre outras coisas.

No entanto, os gastos anuais são superiores a esse montante proveniente do Mc Dia Feliz, totalizando 350 mil reais/ano, em média, o que significa que as doações são de toda importância à manutenção do GACC, o que representa seu maior desafio atualmente. Por isso, o GACC tem divulgado sua necessidade de aumentar a quantidade de contribuintes com a campanha SEJA UM SÓCIO CONTRIBUINTE “AMIGO DO GACC”, para a qual existe um formulário a ser preenchido (formulários doa-dos pela gráfica São Francisco).

O GACC também está cadastrado na prefeitura para receber doações que possam ser descontadas do imposto de renda de empresas. Então, se você tem uma empresa, essa é uma exce-lente forma de contribuir com a vida.

O Centro Regional de Hemoterapia HCFMRP-USP, conhecido como Hemocentro, recebe este nome por não se tratar apenas de um único serviço; compõem esta rede de assistência, ensino, extensão e pesquisa quatro núcleos de hemoterapia (Araçatuba, Fernandópolis, Franca e Presidente Prudente), quatro unidades de hemoterapia (Bata-tais, Bebedouro, Olímpia e Serrana), um posto de coleta em Ribeirão Preto e outras várias agências transfusionais capacitadas para fazerem transfusão de hemocompetentes. No total, o Hemocentro atende 187 municípios, somando, aproximadamente, 4 milhões de pessoas.

Para dar assistência a esse volume populacional, além da infra-es-trutura que possui certa independência política em relação ao HCFMRP, e o ‘titulo’ de centro de referência na coleta, processamento e distribui-ção de sangue, o hemocentro de Ribeirão Preto investe em campanhas, em programas de orientação e em atividades de pesquisa e de ensino.

PesquisaAtravés do CTC - Centro de Terapia Celular, o Hemocentro está

frequentemente em destaque (nacional e internacional) devido aos tra-balhos, principalmente sobre células-tronco, desenvolvidos dentro dos seus laboratórios. Diversas contribuições têm sido feitas nos últimos anos, conferindo grau de destaque em nível internacional à instituição.

Ensino e ExtensãoAlém da formação em nível superior (graduação

e pós-graduação) nas áreas da saúde, um orgulho da instituição é a “Casa da Ciência”, uma das atividades de ensino que ocorre no próprio prédio do

Hemocentro e que tem como objetivo aproximar a pesquisa cientifica de alunos e professores do ensino fundamental e médio, incentivando-os e apoiando-os a desvendar esse mundo quase sempre tão misterioso.Inaugurada em 2001, já recebeu a participação de mais de 1100 alunos nos diversos programas que abriga e assessora, como o “adote um cientista” e o” pré-iniciação cientifica”.

AssistênciaA assistência

talvez seja o com-ponente de melhor relação definição/ação , já que sua definição diz que deve assistir os 4 milhões de habi-tantes que estão sob seus cuidados e é esta exatamente a sua ação; além das 120 mil transfusões por ano, o Hemocentro também presta servi-ços especializados de fisioterapia, odontologia, e apoio psico-social a pacientes transplantados, hemofílicos e portadores de anemias heredi-tárias. Mesmo recebendo 100mil doadores por ano, devido à extensa

área a que dá cobertura, o Hemocentro HCFMRP-USP enfrenta problemas de abastecimento de uma maneira cíclica, sempre precisando da sua ajuda para manter a assistência, um dos três pilares da sua ideologia: “assistência, ensino e pesquisa a serviço da vida”. Por isso, seja um herói, doe sangue.

Quer saber mais sobre a Casa da Ciência? Visite o site:ead.hemocentro.fmrp.usp.br/joomlaLá você encontra informações sobre o projeto e o “jornal das ciências” escrito

pelos alunos de pré-iniciação científica!

Agende sua doação!0800 979 60 49

Mais informações no site:pegasus.fmrp.usp.br

O Hemocentro é maior do que você imagina! texto: Rafaela Neman

graduanda do 3º ano

À esquerda, a fachada da casa do GACC; no centro, o quintal com playground; à direita, a loja de bazar, com vestuários a preços reduzidos

Quer doar ou conhecer melhor esse reduto de Luz em meio ao Campus? Anote abaixo os contatos:

Telefones: (16) 3633-1731 / 3602-3508.

Endereço: Rua Professor Pedreira de Freitas, casa 6, Campus da USP-Ribeirão Preto/SP.

Site: www.gaccribeiraopreto.com.br.

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texto: Rafaela Neman

graduanda do 3º ano

LEGADO1 CIENTÍFICOFMRP 60 anos!

texto: Maria Rita Margaridograduanda do 2º ano

vOCê sAbIA?1. legado: O que é transmitido

a outrem que vem a seguir (fonte: dicionário Priberam)

Comemoramos em 2012 os 60 anos da nossa faculdade. Para homanageá-la, a comissão de pesquisa da FMRP promoveu uma coleta de todas as grandes contribuições científicas da faculdade. A VEDAS decidiu fazer o mesmo, e reuniu informações que muitos de nós, estudantes, nem sonhávamos que surgiram da nossa faculdade.

Para falar do presente, uma volta na história: a nossa faculdade foi consolidada, em seus primeiros anos de fundação, devido à sua atuação em trabalhos com a Doença de Chagas, que na época ainda não tinha mecanismos de patogenia e diagnósticos bem definidos. O pioneiro nestes estudos foi José Lima Pedreira de Freitas, que realizou diversos estudos em Cássia dos Coqueiros, e foi o responsável pelo aperfeiçoamento da técnica de fixação de complemento para diagnóstico da doença e pela técnica do expurgo seletivo dos domicílios para a sua profilaxia. No campo da patologia, a faculdade também foi responsável pela proposição da teoria neurogênica das manifestações tardias da doença e dos fenômenos imunológicos envolvidos. Documentos sobre os trabalhos de Pedreira de Freitas podem ser encontrados na biblioteca do departamento de Medicina Social, no segundo andar do HC, que é aberta a todos os estudantes. No site do departamento de Medicina Social existe um espaço dedicado ao Prof. Pedreira de Freitas, com maiores informações. Foi realizada também uma matéria sobre o assunto na revista da FMRP (vol 33 nº3, ano 2000), disponível no site da faculdade.

Mas não é só na Doença de Chagas que se aliceça nossa faculdade. Abaixo seguem alguns poucos exemplos dos inúmeros trabalhos realizados por profissionais da FMRP:

Procure mais em:Departamento de medicina social: www.fmrp.usp.br/rmsRevista Medicina: www.fmrp.usp.br/revistaComissão de Pesquisa (FMRP): Anexo A, ao lado do laboratório multidisciplinar

Criação do São Paulo Interior Transplante (SPIT), sistema que serviu como modelo

para o atual Sistema Nacional de Transplante, implantado no país

Isolamento de proteína do látex da Havea brasiliensis,

com propriedade cicatrizante que deu origam a

medicamento disponibilizado hoje no mercado nacional

Manobra propedêutica de Bicas para identificar paralisias de músculo oblíquo no

estrabismo

Detecção e participação das prostaglandinas

e citocinas na dor inflamatória

Padronização da senoendoscopia para pacientes

Realização do primeiro transplante renal, com

doador falecido, da América

Latina

Utilização do Ultrassom na consolidação das

fraturas

Interação luz laser/LED como indicador

de vitalidade de órgãos e tecidos

Implantes com maior potencial para indução e formação

de tecido ósseo

Descoberta da miosina-V

(pesquisas em andamento

para o tratamento do

câncer)

Transplante de células-tronco hematopoiéticas aplicado ao tratamento do diabete melito

juvenil e de outras doenças autoimunes Desenvolvimento de novos

agentes antihipertensivos: inibidores da ECA (enzima

conversora de angiotensina) hoje comercializados como

Captopril®

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A SÉTIMA ARTE DA VIDA

Como a Chegada do Trem à Estação, eu me assusto ao ver o tempo correndo em minha direção e a pressa a me atropelar. Desde criança, sempre sonhei com a Viagem à Lua, mas nunca imaginei que poderia ir mais longe, ir à Aurora e ao subsolo da Metrópolis, e a cada descoberta da infância eu passava a enxergar o mundo com cores mágicas de Oz. As coisas mudaram rápido na adolescência, e eu, um Vagabundo, tive dificuldade de me adaptar às Luzes da Cidade que surgiam ao meu redor com seus homens-máquinas de Tempos Modernos e moças cegas vendendo flores... mas sempre tentei ser um Galante Mr Deeds. Tive que fazer escolhas, e fechar algumas portas com um frankly, my dear, I don’t give a damn... portas que não voltam, que O Vento Levou...

Mas nós sempre teremos Paris! E não adianta fugir para Casablanca, ainda assim Ilsa entrará no seu bar... então por que fugir? Do Mundo Nada se Leva mesmo! Aos 18 anos e querendo melhorar o mundo como todo jovem, minhas câmeras agora vêm e vêem por tetos e sombras, e enxergam Cidadão Kane mudar ideais e corromper sonhos... e a resposta agora é um trenó – mas será apenas um trenó!? O ser humano surpreende cada vez mais, e não sei se é Dr Jekyll ou Mr Hyde, o Grande Ditador, ou uma Fantasia, se sou apenas aprendiz de feiticeiro. Dúvidas, dúvidas, não sei Por Quem os Sinos Dobram, se realmente vivemos Os Melhores Anos de Nossas Vidas ou se tudo é apenas A Grande Ilusão.

Querendo entender o sentido da vida, abro o Sétimo Selo e desafio a morte no tabuleiro de xadrez. Aprendo que a Felicidade não se Compra, e que uma pessoa pode mudar o pensamento de 12 Homens e Uma Sentença. Cantando na Chuva, dou A Volta ao Mundo em 80 Dias e faço uma Viagem ao Centro da Terra acompanhado por uma Bonequinha de Luxo, a Princesa e o Plebeu! Entretanto, ao final, derrotado, me descubro novamente sozinho no deserto de Lawrence da Arábia, e ao encontro de meu inconsciente com Freud Além da Alma... Não, Doutor Jivago, apenas vamos pedir justiça ao Poderoso Chefão. Não quero mais fazer Guerra nas Estrelas, percebi que sou apenas Um Estranho no Ninho nessa horrível Laranja Mecanica, uma Sociedade dos Poetas Mortos. O que vou fazer? Me tornar um Taxi Driver revoltado? Adaptar-me ao sistema e crescer nele, Scarface? Lutar até o ultimo round, Rocky? Desistir e me drogar com você, Christiane F?

Entretanto, na vida sempre há mais uma cena, e Gandhi me ensina a ter paciência em Sete anos no Tibet. Porque não dá para ficar À Espera de um Milagre, e às vezes é preciso estudar muito para Uma Mente Brilhante curar A Bela e a Fera com O Óleo de Lorenzo, me fazer de Rain Man bobo com um Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças! Seja quem você é, Aladdin! Seja quem você é, Rei Leão! Ajudar aos outros, buscar o Fabuloso destino de Amelie Poulain, aquele Perfume de Mulher, encontrar O Sexto Sentido da vida, ser Quase Deuses, isso sim faz a diferença!

É Tempo de Despertar, e À Primeira Vista uma menina de vermelho muda minhas convicções no holocausto preto-e-branco, Requiem Para um sonho! Então planejo minha Lista de Schindler, e, ainda que escondendo Um Litro de Lágrimas, vou com o Coração Valente, sabedoria de Sherlock Holmes, Gênio Indomável, honra de Gladiador e coragem de Avatar, vou até a Central do Brasil tentar entender na magia de Harry Potter, na Origem de sonhos dentro de sonhos, a Matrix da Árvore da Vida... porque as escolhas são várias para um Senhor Ninguém que não esquece por benção dos anjos! Não voltarei mais a ser aquela criança, aquele Toto do Cinema Paradiso, e talvez fique sempre esperando por uma Helena que não retornará...

Que seja! Hoje vou levando a vida com alegria, Curtindo a Vida Adoidado com um Up de Wall-E feito O Artista Chaplin mudo-desajeitado dançando no espaço por Amor... Dificuldades sempre existirão em nossas vidas, mas Guido sempre mostra ao filho Giosuè como a Vida é Bela!

Caixa de textos

texto: Eduardo Orlandingraduando do 3º ano

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O enterro

Maitê era uma senhora de meia-idade, mas conservava um quê de menininha que poderia confundir aqueles menos detalhistas. Sua pele alva, tão cândida quanto a névoa que recobre as manhãs

paulistanas, só era substituída por um rubor contínuo, mas não menos delicado, das maçãs de seu rosto.A palidez era fruto de seu modo de vida claustro nas casas dos pais. Fôra educada em casa, tendo como

amigos os feixes de flores que recolhia do jardim. O pai, imigrante de origem polaca, falecera há uns 20 anos. Rígido e embriagado constantemente, ocupava Maitê desde criança. Deixara marcas. A mãe, submissa, tentava. Filha, se Deus colocou seu pai em nossas vidas, como poderíamos contestá-Lo? Seja uma boa garota e faça o que ele pede. Não fuja, não grite. A mãe a invejava. Não era tão procurada pelo marido quanto sua filha. Após a morte do patriarca da família, ambas permaneciam boa parte do tempo em casa. Iam, rotineiramente, à missa, todos os dias. Lá, Maitê permanecia emudecida, enquanto sua mãe passava horas com o coroinha, talvez o ensinando sobre coisas que o padre da paróquia não poderia.

A mãe, ela faleceu esta manhã. Subitamente. Velório. Enterro. Maitê encontrava-se só. Resolveu voltar para casa. Seus pés não sabiam o caminho. Seguiu de modo errante até se defrontar com a estação de metrô. Foi levada pela corrida bestial até os vagões.

O metrô

Aquela multidão. Tantos em volta. O contato. Tocavam-na de todos os jeitos. Braços, cotovelos, coxas... Aproximou-se de seu rosto uma axila suada. Aquele cheiro de um homem que trabalhara o dia todo no pátio de uma construção. Apertou-lhe as pernas uma mulher jovem, que quase se perdia entre tantas sacolas que carregava da 25 de março. Excitava-se. Ah, podia sentir. Lembrava-se de seu pai. A cada estação em que chegava, desejava, arduamente, que mais e mais entrassem. Na Sé, atingiu a felicidade plena. Esgueirava-se o quanto podia. Negava-se sentar. Em pé. É assim que quero ficar. Ah, Deus, agradeço-O pela graça! Em cada pequeno espaço, lá estava ela, empoleirada, tal como uma criança que segura fortemente na barra da saia da mãe. Duvidava do que sentia. Beliscou o próprio dorso da mão. Era verdade. Fez o mesmo nas costas de uma mulher que a rodeava. Ela gritou. Indecente, seu marginal...seu tarado de merda! A culpa caiu toda sobre um pobre entregador. Maitê riu.

Fim da linha

E, assim, seguiu até a última estação. Quando todos desceram, viu-se, novamente, sozinha. Não mais. Não hei de ser tão só como fui. Não mais. A troca do vagão seria feita. Esse, que a conduziu tão fielmente, terminou seu trabalho por hoje. Maitê foi obrigada a descer. Caminhou, desnorteada, pela estação. Um vazio a tomou. A solidão voltava. Claustra, jamais! Nenhum metrô retornava. Angustiava-se. Não poderia esperar mais. Desceu para a linha e seguiu os trilhos. Voltem! Quero encontrá-los novamente! Não me deixem, não... O metrô não pôde parar. Atingiu-a. Agora, Maitê confundia-se com as estruturas férreas que compunham o vagão. Era parte dele. Era um todo.

Próxima Estação

Caixa de textos

texto: Thiago Stoianovgraduando do 2º ano

Page 34: VEDAS! edição 16

PET - Medicina(Programa de Educação Tutorial)

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PET EM 2012