21
ARQUEOARTE VELHOS E NOVOS MUNDOS ESTUDOS DE ARQUEOLOGIA MODERNA OLD AND NEW WORLDS STUDIES ON EARLY MODERN ARCHAEOLOGY

VELHOS E NOVOS MUNDOS - run.unl.pt · Teresa Ramos Costa, Cristina Cruz, Gonçalo Lopes e Ana Braz A intimidade palaciana no século XVII: ... biografia de uma paisagem urbana Silvio

  • Upload
    lyduong

  • View
    214

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

ARQUEOARTE1

VE

LHO

S E N

OV

OS

MU

ND

OS

| ES

TU

DO

S D

E AR

QU

EO

LOG

IA M

OD

ER

NA

OLD

AN

D N

EW

WO

RLD

S | S

TU

DIE

S O

N E

AR

LY M

OD

ER

N A

RC

HA

EO

LOG

YV

OLU

ME 2O presente volume reúne os textos redigidos pela grande maioria dos participantes no “Velhos e

Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna”, que decorreu de 6 a 9 de Abril de 2011 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O evento pretendeu reunir arqueólogos consagrados e jovens, com trabalhos provenientes de con-textos académicos ou de salvamento, pertinentes para a discussão em torno de diversas temáticas balizadas nos séculos XV a XVIII, tanto em contexto europeu, como em espaços colonizados.

-cações e a guerra, a vida religiosa e as práticas funerárias, as paisagens marítimas, os navios e a vida

valorização do património arqueológico.

Além de se pretender dar um impulso ao desenvolvimento da arqueologia moderna, procurou-se lançar pontes de contacto entre comunidades arqueológicas espalhadas em diversas partes do mun-do, nomeadamente aquelas que centram a sua investigação em torno dos reinos ibéricos e da sua expansão mundial.

Velhos e Novos Mundos. Estudos de Arqueologia ModernaOld and New Worlds. Studies on Early Modern Archaeology,2 volumes

1

COLECÇÃO ARQUEOARTE

COLECÇÃO ARQUEOARTE

O Centro de História de Além-Mar desenvolve investigação relacionada com a presença por-tuguesa no mundo, numa perspectiva inter-disciplinar e da história comparada, prestan-do particular atenção às histórias das regiões com que Portugal manteve contacto, no con-texto de uma história global. Procura também estudar a preponderância do mar na história portuguesa, através do tratamento de crono-logias distintas e suas incidências no entendi-mento do presente e na projecção do futuro.

A investigação desenvolvida privilegia, igual-mente, o património material resultante des-tes processos históricos, abordado na pers-pectiva da história da arte e da arqueologia, que constituem linhas de pesquisa autóno-mas. Esta colecção dá expressão ao trabalho que é desenvolvido pelo CHAM nestes domí-

espaço aos suportes de trabalho destas áreas do conhecimento histórico, nomeadamente o

VELHOS E NOVOS MUNDOS ESTUDOS DE ARQUEOLOGIA MODERNA

OLD AND NEW WORLDSSTUDIES ON EARLY MODERN ARCHAEOLOGY

587

Estudos de Arqueologia Moderna

VELHOS E NOVOS MUNDOS ESTUDOS DE ARQUEOLOGIA MODERNA

OLD AND NEW WORLDSSTUDIES ON EARLY MODERN ARCHAEOLOGY

VOLUME 2

588

Velhos e Novos Mundos

TÍTULO / TITLEVelhos e Novos Mundos. Estudos de Arqueologia Moderna Old and New Worlds. Studies on Early Modern ArchaeologyVolume 2

COORDENADORES / COORDINATORSAndré Teixeira, José António Bettencourt

ORGANIZADORES / ORGANIZERSAndré Teixeira, Élvio Sousa, Inês Pinto Coelho, Isabel Cristina Fernandes, José António Bettencourt, Patrícia Carvalho, Paulo Dórdio Gomes, Severino Rodrigues

EDIÇÃO / EDITIONCentro de História de Além-MarFaculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de LisboaUniversidade dos AçoresAv. de Berna, 26C, 1069 - 061 Lisboawww.cham.fcsh.unl.pt / [email protected]

TIRAGEM / COPIES500

COLECÇÃO / COLLECTIONArqueoArte, n.º 1

DEPÓSITO LEGAL353251/12

ISBN978-989-8492-18-0

GRAFISMO E PAGINAÇÃO / GRAPHIC DESIGNCanto Redondowww.cantoredondo.eu / [email protected]

IMPRESSÃO / PRINTEuropress

DATA DE EDIÇÃO / FIRST PUBLISHED INDezembro de 2012 / December 2012

ORGANIZAÇÃO

APOIOS

Os artigos são da exclusiva responsabilidade dos autores.

Os textos e imagens desta publicação não podem ser reproduzidos por qualquer processo digital, mecânico ou fotográfico.

© CHAM e Autores

589

Estudos de Arqueologia Moderna

ÍNDICE

VOLUME 1

INTRODUÇÃO

CONFERÊNCIAS

From español to criollo: an archaeological perspective on spanish-american cultural transformation, 1493-1600Kathleen Deagan

Bahia: aportes para uma Arqueologia das relações transatlânticas no período colonialCarlos Etchevarne

Of sundry colours and moulds: imports of early modern pottery along the atlantic seaboardAlejandra Gutierrez

Velhos e novos mundos em uma perspectiva arqueológicaMarcos Albuquerque

CIDADES: URBANISMO, ARQUITECTURA E QUOTIDIANOS

Largo do Chafariz de Dentro: Alfama em época modernaRodrigo Banha da Silva, Pedro Miranda, Vasco Noronha Vieira, António Moreira Vicente, Gonçalo C. Lopes e Cristina Nozes

Os novos espaços da cidade moderna: uma aproximação à Ribeira de Lisboa através de uma intervenção no Largo do Terreiro do TrigoCristina Gonzalez

O mobiliário do Palácio Marialva (Lisboa): discursos socioeconómicos Andreia Torres

Um celeiro da Mitra no Teatro Romano de Lisboa: inércias e mutações de um espaço do século XVI à actualidadeLídia Fernandes e Rita Fragoso de Almeida

Rua do Benformoso 168/186 (Lisboa – Mouraria / Intendente): entre a nova e a velha cidade, aspectos da sua evolução urbanísticaAntónio Marques, Eva Leitão e Paulo Botelho

Espólio vítreo de um poço do Hospital Real de Todos-os-Santos (Lisboa, Portugal)Carlos Boavida

Quarteirão dos Lagares: contributo para a história económica da Mouraria Tiago Nunes e Iola Filipe

Vestígios modernos de uma intervenção de emergência na Rua Rafael Andrade (Lisboa)Sara Brito e Regis Barbosa

Alterações urbanísticas na Santarém pós-medieval: a diacronia do abandono de uma rua no planalto de Marvila Helena Santos, Marco Liberato e Ricardo Próspero

Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras, entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do poço dos Paços do ConcelhoGuilherme Cardoso e Isabel Luna

A modernidade em Leiria: imagens da vida pública e privada na antiga judiaria. O caso do Centro Cívico de Leiria Iola Filipe e Marina Pinto

Arqueologia das cidades de Beja: onde a cidade se encontra com a sua construçãoMaria da Conceição Lopes

Fragmentos de vida e morte da Idade Moderna no centro histórico de Elvas Teresa Ramos Costa, Cristina Cruz, Gonçalo Lopes e Ana Braz

A intimidade palaciana no século XVII: objectos provenientes de um esgoto do Paço dos Lobos da Gama (Évora)Gonçalo Lopes e Conceição Roque

Evidências de época moderna no castelo de Castelo Branco (Portugal)Carlos Boavida

Crise e identidade urbana: o Jardim Arcádico de Braga de 1625Gustavo Portocarrero

Ao som da bigorna: os ferreiros no quotidiano urbano de Arrifana/Penafiel no século XVIII Teresa Soeiro

A paisagem de Arrifana de Sousa descrita pelo Arruamento de 1762 Maria Helena Parrão Bernardo

Uma taça de porcelana branca e uma asa de grés na “Arca de Mijavellas”: História e estórias reveladas pela construção da Estação do Campo 24 de Agosto do Metro do Porto Iva Teles Botelho

O aqueduto da Mãe d’Água: Vila Franca do Campo N’zinga Oliveira e Joana Rodrigues

La ocupación moderna del Teatro Romano de Cádiz (España): nuevos datos a luz de las recientes intervenciones arqueológicas J. M. Gutiérrez, M. Bustamante, V. Sánchez, D. Bernal e A. Arévalo

El acueducto de la Matriz de Gijón: investigación documental y arqueológica Cristina Heredia Alonso

Processo de contato e primórdios da colonização na baixa bacia do Amazonas: séculos XVI-XVIII Rui Gomes Coelho e Fernando Marques

Crise e rebelião colonial: uma perspectiva urbana(Minas Gerais / Brasil – século XVIII) Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira, Gabriela Pereira Veloso, Anna Luiza Ladeia e Thaís Monteiro de Castro Costa

9

11

13

23

37

51

69

71

85

95

111

123

135

141

151

157

163

173

181

189

201

209

219

223

233

245

255

261

273

277

285

590

Velhos e Novos Mundos

Arqueologia e arquitecturas daqui e d’além-mar Maria de Magalhães Ramalho

ESPAÇO RURAL: PAISAGENS E MEIOS DE PRODUÇÃO

A paisagem como fonte histórica David Ferreira, Paulo Dordio e Alexandra Cerveira Lima

Cabeço do Outeiro (Lousada, Portugal): um núcleo rural da Idade Moderna Manuel Nunes, Joana Leite e Paulo Lemos

O ciclo do linho no concelho de Penafiel Ana Dolores Leal Anileiro

As pontes de Pretarouca (Lamego): registo arqueográfico no âmbito de processos de avaliação de impactes ambientais Carla Alves Fernandes e Cristóvão Pimentel Fonseca

Engenho de açúcar da alcaidaria de Silves Rosa Varela Gomes

Imagens, memórias, ruínas nos tempos do lugar: a biografia de uma paisagem urbana Silvio Luiz Cordeiro

Da aldeia guarani à cidade colonial: o processo de urbanização e as missões jesuíticas platinas nas frentes de colonização ibérica Arno Alvarez Kern

O café, a escravidão e a degradação ambiental: Minas Gerais /Rio de Janeiro – Brasil – século XIX e XX Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira, Gabriela Pereira Veloso, Elisângela de Morais Silva e Camila Fernandes Morais

FORTIFICAÇÕES, ESPAÇOS DE GUERRA E ARMAMENTO

Excavaciones arqueológicas en la muralla real de Ceuta: persistencias y rupturas (1415-1668) Fernando Villada Paredes

La coracha de Tanger Abdelatif El-Boudjay

Villalonso: un castillo medieval en la transición hacia la modernidad Angel L. Palomino, Manuel Moratinos, José M. Gonzalo, José E. Santamaría e Inés M. Centeno

Pólvora y cal: evidencias arqueológicas de las fortificaciones costeras de época moderna en Luarca (Asturias-España) Valentín Álvarez Martínez, Patricia Suárez Manjón e Jesús Ignacio Jiménez Chaparro

Museu de Macau e o território da Companhia de Jesus: resultados e integração dos vestígios arqueológicos Clementino Amaro e Armando Sabrosa

Do papel da Arqueologia para o conhecimento da expansão portuguesa: notas a partir de algumas estruturas fortificadas no Oriente João Lizardo

O papel do Forte do Guincho na estratégia de defesa da costa de Cascais Soraya Rocha e Guilherme Sarmento

EDIFÍCIOS RELIGIOSOS E PRÁTICAS FUNERÁRIAS

Sé da Cidade Velha, República de Cabo Verde: resultados da 1.ª fase de campanhas arqueológicas Clementino Amaro

Divindade, governante ou guerreiro? O personagem Kukulcán nas crônicas do século XVI e o registro arqueológico de Chichén Itzá, México Alexandre Guida Navarro

Andrés de Madariaga’s mausoleum-church: former Jesuit College in Bergara (Gipuzkoa, Basque Country, Spain) Jesús-Manuel Pérez Centeno e Xabier Alberdi Lonbide

Os Passos da Paixão de Cristo (Setúbal) João Ferreira Santos, Daniela dos Santos Silva e José Luís Neto

O lugar da Torre dos Sinos (Convento Velho deS. Domingos), Coimbra: notas para o estudo daformação dos terrenos de aluvião, em época moderna Sara Almeida, Ricardo Costeira da Silva, Vítor Dias e João Perpétuo

Cerca de Santo Agostinho, Coimbra: estudo preliminar das fases evolutivas e linhas para a sua recuperação Sara Almeida, Susana Temudo, Joana Mendes, Sofia Ramos e António Cunha

Convento de São Francisco da Ponte: novas perspectivas arquitectónicas Mónica Ginja e António Ginja

O último convento da Ordem de Santiago em Palmela: dados arqueológicos da intervenção no pátio fronteiro à igreja Isabel Cristina Ferreira Fernandes

Convento quinhentista do Bom Jesus de Peniche: primeira intervenção arqueológica Claudia Cunha, Carlos Vilela, Sónia Simões, Tiago Tomé, João Moreira, Mónica Ginja e Gerardo Gonçalves

Cerâmica dos séculos XV a XVIII do Convento de Santana de Leiria: História e vivências em torno da cultura materialAna Rita Trindade

Mosteiro de São Francisco de Lisboa: fragmentos e documentos na reconstrução de quotidianosJoana Torres

Os painéis de azulejo do adro da Igreja de São Simão (Azeitão) Mariana Almeida e Edgar Fernandes

293

303

305

315

323

333

339

351

357

365

373

375

385

393

407

419

431

445

449

451

465

469

475

483

489

497

505

517

527

539

551

591

Estudos de Arqueologia Moderna

Para as mulheres pobres, mas honradas: os recolhimentos em SetúbalJosé Luís Neto e Nathalie Antunes Ferreira

Contributo para o conhecimento da população na época moderna na Madeira: abordagem antropológica aos casos de Santa CruzRafael Fabricio Nunes

O registo arqueológico de uma superstição: o signo--Salomão no Alentejo – séculos XV-XVIIIAndrea Martins, Gonçalo Lopes, Helena Santos, Manuela Pereira, Marco Liberato e Pedro Carpetudo

VOLUME 2

PAISAGENS MARÍTIMAS, NAVIOS E VIDA A BORDO

O navio como Fait Social Total: para uma epistemologia da arqueologia em contexto náutico Jean Yves Blot

Projecto N-utopia: tratados, nomenclaturas náuticas e construções navais europeias Tiago Miguel Fraga, Brígida Baptista, António Teixeira e Adolfo Silveira Martins

Paisagens culturais marítimas: uma primeira aproximação ao litoral de Cascais Jorge Freire e António Fialho

Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio (Lisboa): identificação de vestígios arqueológicos de natureza portuária num subsolo urbano César Augusto Neves, Andrea Martins, Gonçalo Lopes e Maria Luísa Blot

Ribeira das Naus hoje: a perene relação de Lisboa com o Tejo. Dos estaleiros navais do Renascimento ao antigo Arsenal da Marinha. Subsídios da arqueologia Rui Nascimento

Angra, uma cidade portuária no Atlântico do século XVII: uma abordagem geomorfológica Ana Catarina Garcia

Caractérisations et typologie du Cimetière des Ancres: vers une interprétation des conditions de mouillage et de la fréquentation de la Baie d’Angra do Heroísmo, du XVI au XIX siècle. Île de Terceira, Açores Christelle Chouzenoux

La Rucha: deconstruyendo el origen de la piratería de costa en el Cabo Peñas (Gozón-Asturias-España) Nicolás Alonso Rodríguez, Valentín Álvarez Martínez e José Antonio Longo Marina

Santo António de Tanná: uma fragata do período moderno Tiago Miguel Fraga

Cada botão sua casaca: indumentária recuperada nas escavações arqueológicas da fragata Santo António de Taná, naufragada em Mombaça em 1697 André Teixeira e Luís Serrão Gil

Projecto de carta arqueológica subaquática do concelho de Lagos Tiago Miguel Fraga

Conservação das estruturas em madeira de um navio do século XV escavado na Ria de Aveiro: resultados preliminares João Coelho, Pedro Gonçalves e Francisco Alves

CERÂMICAS: PRODUÇÃO, COMÉRCIO E CONSUMO

A olaria renascentista de Santo António da Charneca, Barreiro: a louça doméstica Luís Barros, Luísa Batalha, Guilherme Cardoso e António Gonzalez

As formas de pão-de-açúcar da Mata da Machada, Barreiro Filipa Galito da Silva

A cerâmica moderna do Castelo de S. Jorge: produção local de cerâmica comum, pintada a branco, moldada e vidrada e de faiança Alexandra Gaspar e Ana Gomes

De Aveiro para as margens do Atlântico: a carga do navio Ria de Aveiro A e a circulação de cêramica na Época Moderna Patrícia Carvalho e José Bettencourt

Portuguese coarseware in Newfoundland, Canada Sarah Newstead

Muito mais do que lixo: a cerâmica do sítio arqueológico subaquático Ria de Aveiro B-C Inês Pinto Coelho

A cerâmica do açúcar de Aveiro: recentes achados na área do antigo bairro das olarias Paulo Jorge Morgado, Ricardo Costeira da Silva e Sónia Jesus Filipe

Portugal and Terra Nova: ceramic perspectives on the early-modern Atlantic Peter E. Pope

Considerações acerca da cerâmica pedrada e respetivo comércio Olinda Sardinha

A importação de cerâmica europeia para os arquipélagos da Madeira e dos Açores no século XVI Élvio Sousa

Pottery in Cidade Velha (Cabo Verde) Marie Loiuse Sorensen, Chris Evens e Tânia Casimiro

A cerâmica no quotidiano colonial português: o caso de Salvador da Bahia Carlos Etchevarne e João Pedro Gomes

Modern Age Portuguese pottery find in the Bay of Cadiz, Spain José-Antonio Ruiz Gil

561

569

579

593

595

601

605

613

627

633

645

655

665

671

683

689

697

699

711

719

733

747

757

771

783

789

797

813

821

829

592

Velhos e Novos Mundos

La mayólica del convento de Santo Domingo (siglos XVI-XVII), Lima (Perú): la evidencia arqueométrica Javier G. Iñañez, Juan Guillermo Martín, Antonio Coello

Majólicas italianas do Terreiro do Trigo (Lisboa) Cristina Gonzalez

Produções sevilhanas – azul sobre branco e azul sobre azul: no contexto das relações económicas e comerciais entre o litoral algarvio e a Andaluzia (século XVI-XVII) Paulo Botelho

As cerâmicas modernas da Fortaleza de N. Sr.ª da Luz, em Cascais: histórias fragmentadas J. A. Severino Rodrigues, Catarina Bolila, Vanessa Filipe, José Pedro Henriques, Inês Alves Ribeiro e Sara Teixeira Simões

Primeira abordagem a um depósito moderno no antigo Paço Episcopal de Coimbra (Museu Nacional de Machado de Castro): a cerâmica desde meados do século XV à consolidação da Renascença Ricardo Costeira da Silva

Aldeia da Torre dos Frades (Torre de Almofala)através da cerâmica em época moderna Elisa Albuquerque

Um gosto decorativo: louça preta e vermelha polvilhada de branco (mica) Isabel Maria Fernandes

Os potes “martabã”: um conceito em discussão Sara Teixeira Simões

Do Oriente para Ocidente: contributo para o conhecimento da porcelana chinesa nos quotidianos de época moderna. Estudo de três contextos arqueológicos de Lisboa José Pedro Vintém Henriques

Porcelana chinesa em Salvador da Bahia (séculos XVI a XVIII) Carlos Etchevarne e João Pedro Gomes

Faiança portuguesa: centros produtores, matérias, técnicas de fabrico e critérios de distinção Luís Sebastian

Vestígios de um centro produtor de faiança dos séculos XVII e XVIII: dados de uma intervenção arqueológica na Rua de Buenos Aires, n.º 10, LisboaLuísa Batalha, Andreia Campôa, Guilherme Cardoso, Nuno Neto, Paulo Rebelo e Raquel Santos

Elementos para a caracterização da faiança portuguesa do século XVII: a tipologia de Pendery aplicada à realidade da Casa do Infante (Porto) Anabela P. de Sá

As produções de louça preta em Trás-os-Montes: caracterização etnográfica e química, seu interesse para o estudo das cerâmicas arqueológicas Isabel Maria Fernandes e Fernando Castro

Fábrica de Cerâmica de Santo António de Vale da Piedade (Vila Nova de Gaia): estruturas construídas e espaços de laboração no século XVIII Laura Cristina Peixoto de Sousa

GESTÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha: da luz dos archotes aos momentos da contemporaneidade. Projeto e fruição Artur Côrte-Real

Preservação arqueológica nas missões jesuítico--guaranis Tobias Vilhena de Moraes

Monumentos restaurados e historias em ruínas: o programa Monumenta e a problemática da intervenção arqueológica na restauração arquitetônica no Brasil Ton Ferreira

Património cultural subaquático: uma questão de visibilidade Margarida Génio

ABSTRACTS

837

847

855

865

877

891

897

909

919

933

937

951

963

975

983

995

997

1005

1011

1019

1023

PAISAGENS MARÍTIMAS, NAVIOS E VIDA A BORDO

671

Estudos de Arqueologia Moderna

ANDRÉ TEIXEIRA, LUÍS SERRÃO GIL CHAM – FCSH-UNL|UAç

RESUMO Em 1697, a fragata Santo António de Taná partiu num pequeno esquadrão liderado pelo general Luís de Melo Sam-paio para a costa oriental de África, em socorro da fortaleza de São Jesus de Mombaça, que sofria há vários meses o cerco dos árabes omanitas. No entanto, esta tentativa de auxílio teve um desfecho trágico para esta embarcação, naufragada junto à fortificação nesse ano. Os destroços da Santo António de Taná permaneceram praticamente intocados até a década de 70 do século XX, quando uma equipa do Institute of Nautical Archaeology (INA) liderada por Robin Piercy ali realizou escavações arqueológicas. Nos destroços foram identificados e recuperados inúmeros artefactos de uso quotidiano utilizados pela tripula-ção aquando do naufrágio. Entre eles conservaram-se diferentes peças da indumentária utilizada pelos nautas, elemento dis-tintivo numa sociedade onde o aspecto visual tinha forte impacto nas relações interpessoais e na diferenciação social, mesmo a bordo, revelando igualmente aspectos relacionados com a religiosidade dos que seguiam a bordo.

PALAVRAS-CHAVE Oceano Índico, portugueses, naufrágio, vestuário, religiosidade

CADA BOTÃO SUA CASACAINDUMENTÁRIA RECUPERADA NAS ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS DA FRAGATA SANTO ANTÓNIO DE TANÁ, NAUFRAGADA EM MOMBAÇA EM 1697

1. INTRODUÇÃO

A 25 de Novembro de 1696, a fragata Santo António de Taná partiu de Goa para a costa oriental africana à frente de um pequeno esquadrão de cinco embarca-ções, a fim de socorrer a fortaleza de Jesus de Momba-ça, que sofria há vários meses o cerco de forças omani-tas1. Naqueles finais do século XVII, o “inimigo arábio” era um dos principais competidores do Estado da Ín-dia, empreendendo um processo de expansionismo naval no Índico Ocidental, visando simultaneamente os portos portugueses no litoral leste-africano e na costa ocidental indiana. A embarcação fora construída década e meia antes em Baçaim, cidade da província do Norte onde existiam importantes estaleiros de cons-trução naval, além de oficiais especializados nas activi-dades marítimas. A maioria dos tripulantes da expe-dição, incluindo marinheiros e militares, tinha origem indiana. O próprio comandante, Luís de Melo Sampaio, era natural do Estado da Índia2, pertencendo a uma linhagem de fidalgos há mais de um século estabeleci-dos naquelas terras de Baçaim, onde detinham impor-tantes concessões fundiárias (Teixeira, 2010, p. 313,

1. Sobre o forte de Jesus de Mombaça veja-se Kirkman, 1974.2. Veja-se a relação do cerco de Mombaça existente na Biblioteca Nacional, Fundo Geral, Códice 584, fol.18. Escreve-se ali que no “número de soldados e marinheiros entravam muitos naturais”, identificando Melo Sampaio como “fidalgo nascido na Índia”. Agradecemos a Pedro Pinto a disponibilização deste documento.

363-78). A paragem de alguns meses em Moçambique, depois de uma primeira aproximação a Mombaça e an-tes do desfecho trágico junto a esta cidade, terá levado ao ingresso a bordo de pessoas e bens com esta ori-gem, como provam os achados cerâmicos e, provavel-mente, uma carga de ébano (Sassoon, 1981, p. 126-28). Efectivamente, a tentativa de socorro gorou-se e a fra-gata naufragou à vista de Mombaça nos primeiros dias de Novembro de 1697, precipitando a queda da cidade nesse mesmo ano, depois de 32 meses de cerco, facto que veio a consagrar o poder omanita na região.Os destroços da Santo António de Taná permaneceram praticamente intocados até à década de 1960, quando mergulhadores amadores os descobriram, levando à organização de uma campanha arqueológica dirigida por James Kirkman. Entre 1976 e 1980, uma equipa do Institute of Nautical Archaeology liderada por Robin Piercy realizou ali trabalhos arqueológicos mais inten-sivos, revelando os vestígios de uma parte significativa da embarcação e recuperando mais de 7000 objectos relacionados com o funcionamento do navio, a vida a bordo e a carga transportada, obrigando a campanhas posteriores para registo de todos os achados (Piercy, 1998). Depois da realização de vários estudos parce-lares, bem como de teses académicas, o sítio de nau-frágio está a ser objecto de investigação mais abran-gente, com vista à publicação de uma monografia dos trabalhos arqueológicos, da história da embarcação e

672

Velhos e Novos Mundos

do seu contexto. Dado o desejo de desenvolver este trabalho numa perspectiva interdisciplinar e interna-cional, foi firmado em 2011 um protocolo de colabora-ção entre o Institute of Nautical Archaeology e o Centro de História de Além-Mar.É neste âmbito que se insere o presente trabalho. Efec-tivamente, no espólio recuperado entre os destroços da Santo António de Taná individualizaram-se artefac-tos que remetem para o vestuário e que permitem lan-çar hipóteses acerca das indumentárias utilizadas pe-los diferentes tripulantes. Embarcavam nestas “povoa-ções flutuantes” pessoas de diferentes condições e costumes (Guinote, 1998, p. 53), incluindo uma série de oficiais especializados, gente de armas, marinhei-ros e passageiros, portanto indivíduos de todos os es-tratos sociais, desde o fidalgo ao indigente, e com ori-gens étnicas distintas. Estas diferenças sociais eram vi-síveis não só nas funções e nas condições como viviam a bordo, como também no traje, pois este era usado para que “reflectisse com clareza o estatuto social” (Silva, 2001, p. 450-51).

2. O VESTUÁRIO PORTUGUÊS EM FINAIS DE SEISCENTOS

O século XVII foi marcado por grandes alterações no modo de vestir. A indumentária tornou-se menos rígi-da, surgindo um estilo mais natural (Köhler, 1996, p. 349), “a que corresponde também o desenvolvimento das indústrias têxteis, nomeadamente das sedas e ou-tros produtos de luxo”. Este processo iniciou-se no ves-tuário masculino a partir da França de Mazarino e Luís XIV, que substituiu em Portugal as antigas influências predominantemente espanholas, italinas e alemãs. As “alterações do gosto” terão sido introduzidas pelos matrimónios reais de D. Catarina de Bragança com o soberano inglês Carlos II, em 1664, e do monarca por-tuguês D. Afonso VI com a infanta D. Maria Francisca da Sabóia, dois anos mais tarde. Assim, vão aparecer “duas tendências de moda barroca”, de influência in-glesa e francesa (Pires et al, 1989, p. 5-6).A indumentária masculina da fidalguia na segunda metade do século XVII incluia os seguintes elementos: chapéu de aba larga virada para cima num dos lados, copa alta, decoração com penas e debrum de ouro ou um tricórnio; cabelo comprido ou peruca tipo allongée, uma massa de pequenos cachos que pendiam até meio das costas; cravate, um lenço de pescoço; uma camisa com mangas bufantes, normalmente de linho; um gi-bão curto, usado neste período apenas em dias festi-vos; la veste ou véstia, uma espécie de casaco que che-gava quase aos joelhos, com botões na parte da frente, justo no peito e aberto nas costas e nos lados até aos

quadris; o justaucorps, casaca que sobrepunha a véstia, muito ornamentada e com botões na parte da frente, na abertura das costas, nos bolsos e nos punhos, peça que se tornou a mais importante até ao final do sécu-lo XVIII; la culotte, calções largos franzidos na cintura; meias ornamentadas com um debrum de renda; sa-patos decorados ou botas (Boucher, 1987, p. 260-70; Köler, 1996, p. 353-82). Se o traje dos homens de “classe média” se aproxima-va ao da fidalguia, embora menos dispendioso e ela-borado, os grupos populares envergavam vestes bem mais simples e funcionais, de paleta cromatica sóbria e limitada, cujo corte das peças se mantinha ao longo de gerações (Silva, 1993, p. 171). Contava basicamente com um chapéu de abas largas, uma camisa, um casa-co abotoado ou colete, por vezes de pele tipo gibão, calções até joelho e sapatos ou botas (Boucher, 1987, p. 286-88).Os dados para o Estado da Índia são escassos neste domínio. O circunstanciado relato do viajante francês Pyrard de Laval, de inícios de Seiscentos (Castro e Bou-chon, 1998), é uma das melhores fontes para conhecer o traje dos súbitos asiáticos do monarca português, jun-tamente com a iconografia de Jan Huygen van Linscho-ten (Pos e Loureiro, 1998). Assim, os nobres portugue-nobres portugue-ses de Goa apresentavam-se em cerimónias oficiais “soberbamente trajados”, montados nos seus cavalos e cobertos por sombreiros, vestindo claramente “à maneira de Portugal”. As mulheres fidalgas usavam vestidos de brocado de ouro, prata, seda e pedras pre-ciosas, ornando-se de jóias no cabelo, nos braços, nas mãos e na cintura e calçando sapatos abertos de salto alto; usavam véus de finos tecidos da cabeça aos pés, mais coloridos no caso das moças, negros no caso das casadas (Castro e Bouchon, 1998, p. 601 e 621-22).Já os soldados portugueses, que usavam capacete de ferro com crista e cobertura da nuca, envergavam em terra calções largos e bem compridos, ao passo que no mar preferiam calções mais curtos e ajustados, di-tos então “à francesa”, dispensando muitas vezes os sapatos para obter maior estabilidade. Numa curiosa metáfora, o viajante francês referia, porém, que “to-dos deitam as suas colheres ao mar” depois de pas-sar o Cabo da Boa Esperança, deixando assim os seus modos e costumes europeus (Castro e Bouchon, 1998, 638 e 644). O autor descreve, ainda, as roupas usadas em casa pelos portugueses mestiços e cristãos india-nos: os homens vestiam ceroulas até ao calcanhar e camisa, de tecido branco e fino, ostentando chapéu ou carapuça de veludo ou tafetá. As mulheres traja-vam um baju, uma camisa curta sobre as ancas quase sem mangas, muito fina, clara e com amplo decote, além de uma saia de algodão ou seda, usando a cabeça

673

Estudos de Arqueologia Moderna

descoberta. Finalmente, os “servidores e escravos”, de origem asiática ou africana, envergavam somente uma saia, de fina manta de seda colorida (Castro e Bouchon, 1998, p. 622 e 630-31).

3. BOTÕES

Entre o espólio associado a vestuário recolhido na in-tervenção arqueológica da Santo António de Taná des-taquem-se onze botões em prata, dois em cobre, qua-tro em chumbo e oito em madeira (fig. 1). Os primeiros apresentam uma cabeça subcircular com 1 cm de diâ-metro e um engaste em anel subicircular (MH6308), parecendo fazer parte da véstia ou mais dificilmente da casaca. Esta forma de abotoadura parece enquadrar-se tipologicamente nas limitações criadas pela pragmática de 1688, que apenas permitia o uso de botões de “prata lisa feitos ao martelo e não feitos de filigrana de prata ou ouro”. Este tipo de legislação foi abundante no sé-culo XVII, tendo como principal objectivo refrear o luxo exacerbado das elites e conter as importações de teci-dos e adornos produzidos fora do Reino (Silva, 2001, p. 450-51).As abotoaduras em prata pertenceriam certamente ao capitão geral ou aos oficiais superiores da fragata, já

que constituíam um bem móvel de grande valor, “cui-“cui-dadosamente guardadas em caixas ou arcas de ma-deiras preciosas” quando não utilizadas (Silva, 1991, p. 329-30). O seu uso está largamente documentado entre a nobreza europeia da época, testemunhado em quadros como o de William II de Orange, pintado por Anthonis Van Dyck c. 1641; Luís XIV de França, pintado por Henri Testelin em 1666; ou do próprio monarca português D. João V, retratado hipoteticamente por Duprá décadas depois (Pereira, 1995, p. 141). Foram também identificados artefactos semelhantes em es-cavações arqueológicas, embora em número muito re-duzido, por exemplo no antigo Palácio dos Marqueses de Marialva de Lisboa (Torres, 2006).Quanto aos quatro botões de chumbo exumados na Santa António de Taná apresentam uma cabeça semies-férica com 1,22 cm de diâmetro, uma pequena calote esférica na parte superior e um engaste possivelmente semicircular (MH0182). Os dois botões de cobre asse-melham-se aos anteriores, embora alguns exemplares tenham uma perfuração central em substituição do en-gaste. Esta forma de abotoadura encontra paralelo em exemplar de ferro exumado no Solar dos Ribeirinho, na cidade madeirense de Machico, datado do século XVII (Sousa, 2006, p. 167).

1. Botões.

William II, principe de Orange, no retrato pintado por Anthonis Van Dyck, datado de c. 1641. D. João V, retratado hipoteticamente por Duprá, 1725.

Gabriel Metsu, An Old Man Holding a Pipe and a Jug, de c. 1663.

674

Velhos e Novos Mundos

Por fim, refiram-se os oito botões fabricados em ma-deira (MH0657, MH3581), de forma semiesférica com perfuração central e ligeiramente maiores que os me-tálicos, com cerca de 1,75 cm de diâmetro. Esta maté-ria-prima era empregue em botões mais simples, ser-vindo para abotoar casacos ou coletes como o repre-sentado na obra de Gabriel Metsu “An Old Man Holding a Pipe and a Jug”, de c. 1663. Estes botões devem, pois, ter pertencido a soldados portugueses da fragata, sen-soldados portugueses da fragata, sen-do certo que o seu uso, por exemplo em contextos co-loniais espanhóis, só se começou a generalizar nesta época (Deagan, 2002, p. 158-60) e que os indianos e africanos não envergavam este tipo de traje, como re-ferido.

4. CALÇADO

Durante a intervenção arqueológica foram também re-colhidas peças que são atribuíveis a partes do calçado utilizado a bordo (fig. 2). Durante o século XVII a moda dos sapatos acompanhou a par e passo as transforma-ções ocorridas no vestuário. Nesta época usavam-se botas, sapatos e sandálias em couro ou tecido que

podiam ser muito simples ou mais elaborados, com ou sem salto, de ponta quadrada, afilada ou redonda, consoante a classe que os envergava ou a moda vi-gente (Köhler, 1996, p. 370-373). Além da esmagadora maioria dos nautas, que segui-riam a bordo descalços, alguns tripulantes portugue-ses podiam utilizar sapatos de couro baixos e de ponta arredondada, atados por correias. Entre os 33 frag-mentos de sola em pele encontrados nos destroços da Santo António de Taná, um claramente corresponde a este tipo de calçado, dada a sua forma (MH0312). Exemplares semelhantes foram exumados em sítios arqueológicos, sobretudo em contexto subaquático, como o navio inglês Mary Rose, afundado em 1545 no Reino Unido (Gardiner e Allen, 2005, p. 66-93); o galeão espanhol San Juan, naufragado na Terra Nova em 1565 (Davis, 1997, p. 43-44) e a fragata The Machault, perdida no Quebec em 1760 (Sullivan, 1986, p. 80-81). Refira-se também o achado do século XVII-XVIII do Convento de Jesus de Lisboa (Cardoso, 2008, p. 280-82). Apesar das diferenças cronológicas, estes paralelos apresentam características semelhantes, reforçando a ideia de que as classes populares reproduziam os mesmos modelos

2. Calçado.

Jocs Van Craesbeeck, Fumadores, c. 1650.

Anthonis Van Dyck, William II Prince of Orange, c. 1641.

675

Estudos de Arqueologia Moderna

de vestuário ao longo dos tempos, preocupando-se sobretudo em satisfazer as suas necessidades básicas. Para além dos achados arqueológicos, a presença des-te tipo de calçado é visível na iconografia da época, co-mo a pintura “Poultry Sellers”, de Joachim de Beuckelaer, datada de c. 1570, e “Fumadores”, de Joos Van Craes-beeck, de c. 1650.Por sua vez, o calçado da elite adquiria inúmeras formas e feitios, cujo aspecto oscilou ao longo das décadas. Usavam-se botas com salto alto, de ponta quadrada ou afilada, que no início do século chegavam somente acima dos joelhos, tornando-se depois mais longas e, por vezes, dobradas para fora na sua zona superior e forradas com tecido colorido ou renda. Os sapatos de ponta quadrada ou afilada podiam ter o salto pintado de vermelho e eram adornados por fitas, rosetas, ren-das, brilhos ou fivelas (Boucher, 1987, p. 266; Köhler, 1996, p. 370; Goubitz et al, 2007, p. 229-36 e 281-87). Nos destroços da fragata foram detectados exem-plares correspondentes a este tipo de calçado, desta-cando-se o MH5248 quase completo, com 22,7 cm de comprimento, 8,4 cm de largura, ponta quadrada e vestígios do respectivo salto. Exumaram-se também fragmentos de ponta afilada, de que se assinala o MH3231. Identificaram-se ainda nove saltos de sapato compostos por várias camadas de pele sobrepostas, de forma semi-quadrangular; o mais completo tinha 5,3 cm de lado e 5,3 cm de altura, com 19 camadas (MH0429), mas outros tinham menos de 1 cm de es-pessura e eram fabricados com 2 a 6 camadas de pele (MH1685, MH6358). Recolheram-se, por fim, três sal-tos em madeira maciça, com 6 a 7,5 cm de lado e 6 a 6,5 cm de altura (MH0595).O aspecto original destes sapatos seria semelhante ao pintado no referido retrato de William II de Orange ou

na “Conversão”, de Pieter Hooch, de 1663-65. Estes exemplares só podem ter sido utilizados pelos escas-sos fidalgos presentes a bordo, sendo o seu número anormalmente alto face a outros contextos de naufrá-gio, ou mesmo terrestres. A título de exemplo refira-se o paralelo de Londres, em Southwark (Egan, 2005, p. 29), muito idêntico ao citado MH5248.

5. FIVELAS

As fivelas são um elemento muito utilizado desde a época pré-romana e podem pertencer a calçado, ves-tuário, arreios, armaduras ou armamento. A identifica-ção da sua função é por vezes difícil, recorrendo-se à sua dimensão, ao período datável e às suas características formais, bem como às representações artísticas (fig. 3).Possivelmente relacionadas com o calçado, foram iden-tificadas na Santo António de Taná duas fivelas em bron-ze de forma oval dupla com travessão central, cerca de 5 cm de lado, secção plana e decoração “rendilhada” e com motivos florais (MH5042). O seu uso é visível nas pinturas de Thomas Ha�ker e na iconografia de Robert White, datada de c. 1680, representando o rei Carlos II de Inglaterra.Foram igualmente exumadas cinco fivelas mais sim-ples em liga de cobre, provavelmente também perten-centes a sapatos, de forma circular, com 2,6 a 3 cm de diâmetro, travessão central, anverso arredondado e reverso plano (MH6165). Exemplares semelhantes re-Exemplares semelhantes re-gistam-se em vários sítios arqueológicos coevos, como o Solar dos Ribeirinho do Machico (Sousa, 2006, p. 167), o Convento do Carmo de Lisboa (Ferreira, 1999) ou o antigo Palácio dos Marqueses de Marialva da mesma cidade (Torres, 2006). São referidas também em cidades europeias, como Londres (Egan, 2005, p.

3. Fivelas.

Rembrant, Rembrant e Saskia na cena do filho pródigo no bordel, c. 1636.

Cristovão de Morias, D. Sebastião, c. 1572-74.

676

Velhos e Novos Mundos

34), ou em sítios coloniais, como os da América espan-hola (Deagan, 2002, p. 181-82). Refira-se que, entre 1670 e 1680, as fivelas substituíram os laços nos sapa-tos, conhecendo por isso mais larga difusão (Boucher, 1987, p. 266).Entre o espólio da fragata recolheram-se três outrasfivelas em liga de cobre com forma de U, duas de me-nores dimensões (2,3x2,8 cm) com anverso arredon-dado e reverso plano, outra bem maior (3x4 cm) de secção arredondada (MH2153). Se a função das pri-meiras é menos clara, a última é consentânea com a representada no quadro do 8.º correio-mor do Reino, Duarte Sousa Mata Coutinho, datado de 1674-1696, onde é utilizada em calçado.Registaram-se ainda quatro fivelas de forma oval du-pla em liga de cobre, com 3,6x3,8 a 4x5,8 cm, secção arredondada no anverso e plana no reverso, presumi-velmente pertencentes a cintos. A MH0878 e, talvez, a MH 5136 deverão atribuir-se a talabarte ou baldric, cinto de fixação da espada que atravessava o corpo do ombro até à cintura, uma peça de luxo que evidenciava o “status” do seu portador. Este tipo de fivela, normal-mente maior e mais afilada que as fivelas de vestuário, encontra paralelo em peça exumada em St. Augustine, na Florida (Deagan, 2002, p. 190-91), datada da segun-da metade do século XVII. Refira-se também a pintura “Rembrant e Saskia na cena do filho pródigo no bordel”, de Rembrant, datada de c. 1636. O talabarte foi substi-tuído pelo cinto de espada cerca de 1680, utilizando-se nesse caso pelo menos quatro fivelas (Boucher, 1987, p. 270). Por fim, foram identificadas três fivelas em liga de co-bre provavelmente utilizadas também em cintos, mas apresentando decoração, o que as remete para uma utilização mais nobre, como se vê numa das mais céle-bres representações de D. Sebastião, a de Cristóvão de Morais, ou no retrato de D. Francisco de Moura Corte Real, 3º marquês de Castelo Rodrigo, mais próximo cronologicamente desta época. A MH6592 tem forma de “8” com travessão central redondo, 3,4 cm de cum-primento e 2,1 a 2,7 cm de largura, sendo decorada com traços incisos no anverso; conserva-se ainda a lingueta de fixação com 3,1 cm de comprimento, culminada por tacha em forma de roseta. A MH1708 tem forma circu-lar, 2,6 cm de diâmetro e lingueta com 2,6 cm de com-primento finalizada por tacha circular; o anverso tem secção arredondada, verificando-se decoração incisa, ao passo que o reverso é plano. A MH3021 tem forma circular com 2,7 cm de diâmetro e decoração entrança-da; a lingueta de fixação tem 2,8 cm de comprimento e termina igualmente com tacha circular.Assim, o grupo das fivelas aponta, tal como o calça-do, para a indumentária dos militares portugueses

embarcados, podendo alguns dos exemplares consi-derar-se claramente pertencentes à elite a bordo.

6. MEDALHAS DEVOCIONAIS

Os aspectos devocionais das sociedades europeias da época moderna tinham natural continuidade além-mar e uma grande expressão no contexto marítimo, onde deixaram marcas na cultura popular portuguesa3. Está documentada uma intensa actividade religiosa a bor-do da Carreira da Índia, fomentada pela longa dura-ção das viagens e pelos perigos da navegação, onde a doença e a morte eram desfechos sempre possíveis, de tal modo que “Deus surgia muitas vezes como a única tábua de salvação” (Guinote, 1998, p. 60). Este facto manifestava-se nos actos litúrgicos realizados a bordoe nas orações colectivas, cumprindo escrupulosamen-te o calendário canónico e agradecendo ou pedindo sucesso na viagem, mas também na própria devoção pessoal, visível nas confissões e no uso de símbolos e imagens (Domingues e Guerreiro, 1989, p. 211-18). Durante a intervenção arqueológica realizada na Santo António de Taná foram recolhidas três peque-nas medalhas devocionais em cobre ligadas à prática religiosa, crendo-se que seriam usadas em redor do pescoço, pregadas à roupa ou nos chapéus ou como parte integrante de rosários (fig. 4). Uma delas tem forma redonda e 1,8 cm de diâmetro (MH1643). Uma das faces ostenta em relevo a figura da Virgem Maria segurando o menino com a mão direita, agarrando ambos um rosário; as figuras são emolduradas por uma “coroa” de flores de lírios, símbolo de pureza, majestade, paz e protecção. A imagem representa Nossa Senhora do Rosário, cujo culto se divulgou na segunda metade do século XV, tornando-se padroeira da Carreira da Índia em 1571 (Pedrosa, 2011, p. 5). Na outra face foi representada uma figura masculina com hábito, segurando na mão direita um livro aberto e na mão esquerda um ramo de três lírios, um elemento as-sociado a Santo António nas representações artísticas posteriores ao século XV; a composição é rodeada pela mesma “coroa” de flores. O culto deste santo adquiriu grande difusão popular a partir de Quinhentos, sen-do considerado protector dos artilheiros e contra os relâmpagos, entre outros atributos (Galvão e Galvão, 1996). A medalha é originária de Roma, um dos prin-cipais centros produtores deste tipo de objectos nes-ta época, dada a inscrição gravada sob a Senhora do Rosário (Deagan, 2002, p. 43).

3. Como ilustra o provérbio português quinhentista: “Se queres aprender a orar, entra no mar” (Domingues e Guerreiro, 1989, p. 211).

677

Estudos de Arqueologia Moderna

Outro exemplar tem forma octogonal e 2,8 cm de diâ-metro (MH4627). Ostenta numa das faces duas figu-ras: uma masculina montada, envergando armadura e espada desembainhada, outra prostrada de braços erguidos recebendo algo do cavaleiro, possivelmente metade da sua capa. Trata-se de São Martinho de Tours, como mostra a inscrição «SAN MARTIN», mas facilmente reconhecível pela cena representada. Este foi o primeiro santo não mártir a receber o culto oficial de igreja católica e um dos mais populares da Europa medieval, sendo considerado o protector dos milita-res. Na outra face encontra-se uma figura masculina com barba comprida e rosto de perfil, encimada por auréola, representando São Pedro, como se lê na ins-crição «PETR(?)V», o primeiro bispo de Roma e protec-tor dos pescadores.A terceira medalha tem forma octogonal e 2,15 cm de diâmetro (MH2049). Numa das faces ostenta uma figu-

ra masculina aureolada, vestindo uma estola de sacer-dote e segurando na mão esquerda um livro; erguen-do o rosto em direcção a um sol radioso, preenchido no seu interior com a sigla IHS, foi identificado como sendo Santo Inácio de Loyola, reconhecível também pelas inscrições «(?)GNATIVS» e «SOC(ieta) IESV.E», referência à ordem fundada por este santo. Na outra face encontra-se uma figura masculina aureolada, se-gurando possivelmente um bordão, ladeada pelas ins-crições «SOC(ieta) IESV» e «FRANC(iscus) X(averius)», identificando assim São Francisco Xavier, o grande mis-sionário jesuíta, com decisivo trabalho apostólico na Ásia sob jurisdição do Padroado Português do Oriente.Este tipo de medalhas foi reconhecido em vários con-textos da expansão espanhola na América, como Santa Catalina de Guale (Geórgia) e St. Augustine (Florida), mas também em vestígios de naufrágio, como os da armada espanhola afundada na Irlanda em 1588 (Dea-gan, 2002, p. 41-54). Elas encontram-se, aliás, global-mente espalhados na Europa cristã, com representações próprias da devoção de cada região4. Podem citar-se paralelos nacionais seiscentistas bastante diversos, como o citado Convento de Jesus de Lisboa (Cardoso, 2008, p. 259-84), o Convento do Carmo da mesma ci-dade (Ferreira, 1999, p.158), o Covento de Santa Clara--a-velha de Coimbra (Mourão, 2004, p.120-23), ou um habitat rural do concelho de Lousada (Leite et al, 2006, p. 40). Note-se que os exemplares recuperados na Santo An-tónio de Taná relacionam-se directamente com a gente cristã embarcada naquele universo índico. As evocações protectoras da Carreira da Índia e dos artilheiros, por um lado, dos militares e pescadores, por outro, apon-tam claramente para o contexto marítimo e bélico dos tripulantes da fragata, naquela espinhosa missão de defesa de Mombaça; estas enquadrariam os servidores do rei na Igreja, através daquelas imagens identitárias. As referências aos jesuítas, nomeadamente ao seu fun-dador e ao “apóstolo das Índias”, como ficou conhecido o padre Xavier, conformam o cenário apostólico do Es-tado da Índia, embora não fossem dele exclusivo, sendo aliás bastante divulgados em terras americanas neste período (Deagan, 2002, p. 44).

7. MEDALHÕES

A coexistência entre objectos de cunho religioso e outros de origem profana com atributos mágicos ou taumatúr-gicos foi muito comum na história do Cristianismo, no-meadamente na época da expansão. Surgiram nesta

4. Para o caso espanhol, refiram-se a título de exemplo os artigos publicados em TORRES, 2011.4. Medalhas.

678

Velhos e Novos Mundos

jazida arqueológica 13 medalhões em azeviche, com três tipologias: 9 ovais com 5x6 cm; 2 ovais com 3x2,5 cm; 2 circulares, com 3 cm de diâmetro; têm diferentes tipos de inscrições e decorações, às quais se atribuem significados distintos (fig. 5). Um deles puramente reli-gioso, quando alusivo a Jesus Cristo ou à Virgem Maria, através das seguintes inscrição: «IHS» (MH4935), as três primeiras letras do nome de Jesus em grego, IHSOUS, a partir do século XVII interpretado pelo latim como IE-SUS HOMINIUM SALVATOR; ou «MI» (MH6158), expri-mindo a designação de Maria Imaculada. Outros objec-tos apontam para um sentido evocativo que ultrapassa a fé católica, como as inscrições «VIDA» ou «FIRME» (MH4909), este último encorajando à força e coragem. Por fim, um grupo de medalhões ostenta gravado o nome de um ofertante, daquele que se quer lembrar ou, simplesmente, o nome do possuidor, distinguindo-se designações gerais, como «(S)AUDADES» (MH4262), «MEVBEM» (MH6016) e «AMORES» (MH5910), antro-pónimos femininos, seja «TAREZA» (MH5506), «ADRI-ANA» (MH5959), «IZABEL» ou «IASINTA», ou um

antropónimo masculino, representado pela inscrição «IOAM»(MH4906).A presença destes medalhões mostra uma ligação ao sagrado num misto de religiosidade e superstição, presente também em cruzes ou breves, relacionados com o “culto semi-privado, semi-público do divino” (Sousa, 2004, p. 167). Este aspecto sai reforçado se atentarmos ao material em que foram fabricados os exemplares recuperadas nesta fragata, o azeviche, ou âmbar negro, resina fóssil de cor negra brilhante. Trata-se de um material utilizado na Península Ibérica desde a Antiguidade para fabrico de objectos com po-deres protectores e mágicos. O seu uso renascera na Idade Média com as peregrinações a Santiago de Com-postela, para a manufactura de objectos de culto aos quais se atribuíam poderes taumatúrgicos. Foram pro-duzidos em Espanha por uma corporação em regime de monopólio nos séculos XV e XVI, quando a sua ma-nufactura passou a ser feita também nas Astúrias. O seu transporte para a América, sob a forma de contas, rosários, imagens, amuletos e também medalhões, es-tá documentado em fontes escritas de finais de Qui-nhentos e da centúria seguinte, exumando-se igual-mente em sítios arqueológicos do Novo Mundo em estratos mais tardios (Deagan, 2002, p. 38-39, 73-74, 93-98).Em Portugal surgiram exemplares deste tipo de objec-tos no convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra, no-meadamente medalhões com evocações religiosas ou antropónimos femininos, sendo ali interpretados como reflexo deste sentimento religioso da época moderna que, mesmo no interior de uma congregação de claris-sas, articulava fortemente com práticas e usos supersti-ciosos (Côrte-Real, 2009, p. 40-41). Muitos outros sítios arqueológicos nacionais documentaram objectos em azeviche, sobretudo contas de rosários e figas, sendo evidente um uso generalizado.Os medalhões recuperados na Santo António de Taná terão sido fabricados em contexto português, dado o teor das inscrições bem nacionais, crendo-se que a ma-téria-prima tenha origem europeia, visto não se co-nhecer exploração à época desta substância em terras da orla do Índico. Não se pode excluir completamente que tenham sido talhadas na Ásia, sabendo-se que “com o objectivo de obter clientela, os ourives india-nos procuravam seguir a moda e copiar os desenhos da península” (Arbeteta, 1998, p. 34), embora neste caso pareça menos provável. Tal como referido, estes medalhões seriam utilizados pela tripulação naufraga-da no quadro da sua vida espiritual e afectiva, crendo--se no seu uso relativamente generalizado à época, dado o número importante de exemplares detectados. A hipótese destes objectos serem mercadoria de trato 5. Medalhões.

679

Estudos de Arqueologia Moderna

é menos verosímil, dada a sua clara afinidade com o quadro mental europeu, embora não possa ser total-mente descartada, como adiante se verá.

8. ALFINETE E BRINCOS: MULHERES A BORDO?

Alguns dos artefactos exumados na fragata podem claramente ser associados ao quotidiano feminino, podendo indiciar a presença de mulheres a bordo. Tra-ta-se de uma hipótese intrigante à partida, dado que a embarcação cumpria uma missão militar específica e a presença de mulheres a bordo seria sempre evitada, visto ser geradora de inúmeros problemas. No entanto a documentação da Inquisição de Goa parece demons-trar que esta situação não foi esporádica. As mulheres que embarcavam nas naus da Carreira da Índia eram normalmente clandestinas “a fugir às pestes, à orfan-dade, a maridos insuportáveis, com desejos de mudar de vida, vestidas de homem, atrás de sonhos de amor e vida melhor”. Seguiam também algumas esposas de súbditos do monarca que iam servir ou viver na Índia, bem como prostitutas (D’Armada, 1994, p. 199-218).

Foi identificado no espólio da Santo António de Taná um adorno de cabelo “trémulo” em florão, com estrutura móvel, fabricado em azeviche (MH6099, fig. 6). Este tipo de enfeite era muito comum no século XVII e XVIII, como é visível na pintura de D. Luísa de Gusmão reali-zada por José Avelar c.1657, ou no “Retrato de Dama”, de c.1625-1635. Os cabelos femininos nesta época usa-vam-se baixos, “na frente e dos lados eram enrolados para trás enquanto o restante era trançado e reunido na nuca, sendo preso por fitas, grampos e botões or-namentais” (Köhler, 1996, p. 352). Madame D’Aulnoy comentava em 1679 sobre as mulheres espanholas que “todas têm as suas cabeças cheias de alfinetes, alguns feitos de diamantes em forma de mosca ou borboleta e cujas cores advêm das diferentes pedras” (Deagan, 2002, p. 137). Esta moda não seria muito diferente da vivida em Portugal, embora a análise da iconografia pareça mostrar um uso mais comedido de adornos de cabelo.Foram também identificados nos destroços desta em-barcação quatro brincos inteiros (MH5023, MH5415/2, fig. 7) e outros quinze fragmentos de características semelhantes. São todos fabricados em azeviche, têm cerca de 6 cm de comprimento e são constituídos por três elementos: um florão recortado em seis secções, nuns casos mais arredondadas, noutros mais apon-tadas, com uns exemplares mais decorados por finas incisões que outros; um laço, com dimensões varian-do entre os 2 e 5 cm, nuns casos de composição mais simples, noutros representando um entrelaçado mais denso com vários orifícios; e um pingente, composto por pequena anilha de ligação, um corpo cónico médio e um circular de maiores dimensões.Esta parece ser uma composição típica dos brincos des-ta época, como se pode testemunhar em vários tipos de fontes. Por um lado, a pintura, de que é exemplo a obra “El niño enfermo”, de Gabriel Metsu, de c. 1660, por outro os objectos de joalharia portuguesa (D’Orey et al, 1995). A este propósito refira-se que, pelas suas características formais e decorativas, estas peças em azeviche parecem tratar-se de reproduções de jóias, um facto que se poderá relacionar com a tendência dos grupos populares mais endinheirados para utilizar “soluções de menor custo, como as imitações” (Arbete-ta, 1998, p. 33). Os achados arqueológicos de brincos na América espanhola são numerosos, incluindo objectos com diversos fabricos, sobretudo vítreos, mas onde se incluem objectos em azeviche (Deagan, 2002, p. 126-30). Recorrendo novamente ao testemunho de Madame D’Aulnoy para as mulheres espanholas, registava-se em finais de Seiscentos que estas “suspensos nas orelhas usam largos pendentes, excessivamente pesados, que não sei como podem suporta-los” (Deagan, 2002, p. 127). Aparentemente os portugueses eram conhecidos 6. Alfinete de cabelo.

José de Avelar (?), D. Luisa de Gusmão, c. 1657.

680

Velhos e Novos Mundos

nesta época pela sua mestria no fabrico de colares, mas também de pendentes (Dalmau e Janer, 1947).Resta, pois, interpretar a presença destes objectos na Santo António de Taná. Não se podendo descartar a hipótese de seguir alguma mulher a bordo da fragata, eventualmente no séquito do capitão-geral Luís de Me-lo de Sampaio e seus oficiais, a hipótese que por ora pa-rece mais plausível é de que estes materiais em azevi-che, certamente raros na costa oriental africana, tenhamsido transportados como mercadoria de comércio. Na verdade, se a principal missão confiada pelo vice-rei a Melo de Sampaio era descercar a fortaleza de Mom-baça, este fidalgo também partiu de Goa com o posto de capitão-geral dos rios de Sofala, um cargo altamente rendoso pelas possibilidades de trato naquela região de Moçambique. A sucessão dos factos naquele ano de 1697 evidencia claramente que o comandante da ex-pedição deu prioridade a estes interesses em relação ao socorro da posição sitiada, transportando os seus haveres durante os recontros militares5. A presença de uma importante carga de ébano entre os destroços da fragata tem sido relacionada, precisamente, com a mercancia, a que se entregou o capitão antes mesmo de cumprir o desafio militar que lhe havia sido cometido.

5. Confira-se a citada relação do cerco de Mombaça, muito crítica da acção do vice-rei e do comandante da expedição de socorro (Biblioteca Nacional, Fundo Geral, Códice 584, fol. 18-18v). Segundo este documento, quando saiu de Moçambique para socorrer pela segunda vez Mombaça, fez “embarcar o general tudo o que tinha de seu em Moçambique” (Ibidem, fol. 55v).

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inserindo-se o presente texto numa investigação mais vasta sobre o sítio de naufrágio da fragata Santo An-tónio de Taná, deve ressalvar-se que as hipóteses aqui lançadas deverão, de futuro, ser objecto de confronto e discussão com os demais trabalhos parcelares, com vis-ta à resolução de problemáticas aqui apenas afloradas.Ainda assim, o estudo dos materiais ligados ao ves-tuário permitiu, por um lado, identificar as diferenças sociais dos que seguiam a bordo e as imagens que carac-terizavam essa hierarquia. Elementos do traje, como os botões, os sapatos ou, em menor escala, as fivelas, apresentavam características que permitem associá--los ao restrito grupo em torno do capitão-geral, ou aos demais portugueses embarcados. Da esmagadora maioria dos tripulantes, de origem africana e sobretu-do indiana, restaram naturalmente menos sinais, dadaa pobreza da sua indumentária. Deve, aliás, referir-se que os achados da Santo António de Taná apresentam alguma excepcionalidade neste âmbito, pelo elevado peso relativo de bens de algum luxo. Tal situação deve justificar-se pelo facto do comandante da expedição ter seguido para o combate com todos os seus haveres. Com efeito, a maior parte deste espólio foi exumado, precisamente, junto à popa da fragata, espaço reser-vado à elite embarcada, onde foram aliás recuperados outros materiais de circulação mais restrita (Piercy, 1981, p. 109-10).

7. Brincos.

Gabriel Metsu. El niño enfermo, c. 1660.

681

Estudos de Arqueologia Moderna

ARBETETA, L. (1998) – La joyería Española de Filipe II a Alfon-so XIII. Madrid: Editorial Nerea.

BARROS, A. J. M. (2004) – Vida de marinheiro. Aspectos do quotidiano das gentes do mar nos séculos XV e XVI. In Estu-dos em homenagem a Luís António de Oliveira Ramos. Porto: Faculdade de Letras do Porto, p. 249-63.

BOUCHER, F. (1987) – The Seventeenth Centery. In 20,000 Years of Fashion. The history of costume and personal adorn-ment. New York: Harry N. Abrams, Inc., Publishers, p. 251-89.

CARDOSO, J. L. (2008) – Resultados das escavações arque-ológicas realizadas no claustro do antigo Convento de Jesus (Academia das Ciências de Lisboa) entre Junho e Dezembro de 2004. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 11:1, p. 259-84.

CASTRO, X. de e BOUCHON, G., ed. (1998) – Voyage de Py-rard de Laval aux Indes orientales (1601-1611), Paris: Editions Chandeigne, 2 vols.

BIBLIOGRAFIA

CÔRTE-REAL, A., coord. (2009) – Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Do convento à ruína, da ruína à contemporaneidade, 2.ª edição. s.l.: Direcção Regional de Cultura do Centro.

CUMMING, V. (2010) – The dictionary of fashion history. Ox-ford / New York: C.W. Cunnington and P.E. Cunnington.

D’ARMADA, F. (1994) – As mulheres nas naus da Índia (séc. XVI). In Actas do congresso internacional: O rosto feminino da expansão portuguesa. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-kian, p.197-229.

D’OREY, M. L.; SANTOS, R. e CARVALHO, R. (1995) – Cinco séculos de joalharia, Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: Instituto Português dos Museus / Zwemmer.

DAVIS, S. (1997) – Piecing Together the Past: Footwear and Other Artifacts from the Wreck of a 16th-Century Spanish Basque Galleon. In REDKNAP, M., ed., Artefacts from Wrecks. Dated Assemblages from the Late Middle Ages to the Indus-trial Revolution. Oxford: Oxbow Books, p. 110-20.

Por outro lado, a recolha de medalhas e medalhões entre os destroços da embarcação possibilitou abor-dar a religiosidade dos que seguiam a bordo, mais uma vez com enfoque limitado a um grupo, o dos cristãos. As evocações presentes nas primeiras, produzidas e largamente difundidas nas cristandades dos Velhos e Novos Mundos, condizem perfeitamente com as cren-ças dos nautas à época, identificando-se com o mar, as viagens marítimas, a guerra ou o apostolado mis-sionário oriental. As inscrições gravadas no azeviche dos segundos apontam para as superstições, crenças, aspirações e “sentimentos individuais” da gente em-barcada, no universo religioso complexo e diverso da Idade Moderna.

Por fim, brincos e alfinetes permitem colocar a hipó-tese de mulheres seguirem na fragata, eventualmente no círculo do capitão-geral Luís de Melo Sampaio. As peças fabricadas em azeviche poderiam, contudo, ser um objecto para o trato na costa oriental africana, aquele que parece ter sido o grande objectivo do co-mandante da frota durante os meses que permaneceu na região. A ambiguidade das ordens dadas em Goa possibilitou que este fidalgo da Índia privilegiasse o exercício do rendoso posto de capitão-geral dos rios de Sofala ao de líder da operação de socorro a Mom-baça, contribuindo assim para o desfecho trágico da embarcação e da presença portuguesa naquela zona.

682

Velhos e Novos Mundos

DEAGAN, K. (2002) – Artifacts of the Spanish Colonies of Florida and the Caribbean 1500-1800, vol. II: Portable Personal Possessions. Washington / London: Smithsonian Institution Press.

DOMINGUES, F. C. e GUERREIRO I. (1989) – A vida a bordo na Carreira da Índia (século XVI). In VI reunião internacional da história da náutica e hidrografia. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, p.185-225.

EGAN, G. (2005) – Material culture in London in an age of tran-sition. Tudor and Stuart finds c.1450 - c.1700 from excavations at riversides sites in Southwark. Londres: Museum of London Archaeology Service (MOLAS Monograph, 19).

FERREIRA, F. E. R. (1999) – Escavação da Igreja do Convento do Carmo. Arqueologia e História. Lisboa. 51, p. 73-164.

GALVÃO, C. M. e GALVÃO, A. M. (1996) – Santo Antônio, a realidade e o mito. Petrópolis: Editora Vozes.

GARDINER, J. e ALLEN, M. J. (2005) – Before the mast: life and death aboard the Mary Rose. Local: Mary Rose Trust.

GOUBITZ, O.; DRIEL-MURRAY, C. e WAATERINGE, W. G. (2007) – Stepping through Time: Archaeological Footwear from Pre-historic Times until 1800, Zwolle: Stichting Promotie Archeo-logie.

GRACIAS, M. F. da S. (1998) – Entre partir e chegar: saúde, higiene e alimentação a bordo da Carreira da Índia no século XVIII. In A Carreira da Índia e as Rotas dos Estreitos. Actas do VIII Seminário Internacional de História Indo-portuguesa. Angra do Heroísmo, p. 457-67.

GUINOTE, P.; FRUTUOSO, E. e LOPES, A. (1998) – Naufrá-gios e outras perdas da “Carreira da Índia” séculos XVI-XVII. Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

KIRKMAN, J. (1974) – Fort Jesus. A Portuguese Fortress on the East African Coast. Oxford: Oxford University Press.

KÖHLER, C. (1996) – História do Vestuário. São Paulo: Martins Fontes.

LAVER, J. (1989) – A roupa e a moda. Uma História concisa. São Paulo: Companhia das Letras.

LEITE, J.; NUNES, M.; SOUSA, L. e GONÇALVES, C. (2006) – Sondagem arqueológica em Nespereira - Lousada: resul-tados preliminares de uma intervenção de emergência. Op-pidum. Lousada. 1, p. 11-45.

MOURÃO, T. (2004) – Entre murmúrios e orações: Aspectos da vida quotidiana do convento de Santa Clara-a-velha captados através do espólio funerário, séculos XVI e XVIII. Tese de mes-trado em Museologia e Património Cultural, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (policopiado)

PEDROSA, F. G. (2011) – Marinheiros portugueses em navios espanhóis e as suas devoções (1550-1636), em linha www.nautical-archaeology.com/_pub.htm.

PEREIRA, J. F. (1995) – O Barroco do século XVIII. In História de Arte Portuguesa, III. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 51-181.

PIERCY, R. C. M. (1977) – Mombasa wreck excavation, Pre-liminary report, 1977. International Journal of Nautical Ar-chaeology. 6.4, p. 331-47.

PIERCY, R. C. M. (1978) – Mombasa wreck excavation, se-cond preliminary report. International Journal of Nautical Ar-chaeology. 7.4, p. 301-19.

PIERCY, R. C. M. (1979) – Mombasa wreck excavation. Third preliminary report, 1979. International Journal of Nautical Ar-chaeology. 8.4, p. 303-09.

PIERCY, R. C. M. (1981) – Mombasa wreck excavation. Fourth preliminary report, 1980. International Journal of Nautical Ar-chaeology. 10.2, p. 109-18.

PIERCY, R. (1998) – A Escavação do Santo António de Tanna, um navio português naufragado no porto de Mombaça. al-madam. Almada. S. IIª, 7, p. 135-40.

PIRES, A. P.; GUERRA, H. C. e PRATA, H. M. (1989) – Traje eru-dito e traje popular português. Macau: Leal Senado de Macau.

POS, A. e LOUREIRO, R. M. L., ed. (1998) – Itinerário, viagem ou navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias orientais ou portuguesas. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.

SASSOON, H. (1981) – Ceramics from the wreck of a Portu-guese ship at Mombasa. Azania. Nairobi. 16, p. 97-130.

SILVA, A. J. (1993) – Modelos e Modas - traje de corte em Por-tugal nos séculos XVII e XVIII. Revista da Faculdade de Letras – Línguas e Literaturas, anexo V: Espiritualidade e Corte em Portugal, sécs. XVI-XVIII. Porto, p. 171-85.

SILVA, M. B. N. da (1991) – A Cultura Implícita. In SERRÃO, Joel e MARQUES, A. H. de Oliveira, dir., Nova História da Expansão Portuguesa, vol. VII: MAURO, Frédéric, coord., O Império Luso-Brasileiro 1620-1750. Lisboa: Editorial Estampa, p. 265-365.

SILVA, M. B. N. da (2001) – A Vida Quotidiana. In SERRÃO, Joel e MARQUES, A. H. de Oliveira, dir., Nova História de Por-tugal, vol. VII: MENESES, Avelino de Freitas de, coord., Da paz da Restauração ao ouro do Brasil. Lisboa: Presença, p. 442-61.

SILVA, N. V. e (1995) – Joalharia portuguesa / Portuguese Jew-ellery. Lisboa: Bertrand Editores.

SOUSA, É. (2006) – Arqueologia da cidade de Machico. A cons-trução do quotidiano no século XV, XVI, XVII. Madeira: Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea.

SOUSA, G. de V. (2004) – A joalharia feminina e o seu sig-nificado social e económico em Portugal. Revista Museu, Lis-boa. S. IV, 13, p.17-24.

SULLIVAN, C. (1986) – Legacy of the Machault: A Collection of 18th Century Artifacts. s.l.: Parks Canada.

TEIXEIRA, A. (2010) – Baçaim e o seu território: política e eco-nomia (1534-1665), tese de doutoramento em História apre-sentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Uni-versidade Nova de Lisboa (policopiado).

TEIXEIRA, J. (1990) – A iconografia da época da Restauração, Museu de Évora, Lisboa: Instituto Português do Património Cultural.

TORRES, A. (2006) – Complementos de traje provenientes da escavação da Praça Luís de Camões em Lisboa – do Palácio dos Marqueses de Marialva aos Casebres do Loreto (séc. XVII-XVIII). Trabalho final de curso em História, variante Arqueologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (policopiado).

TORRES, J. ed. (2011) – XIV Congreso Nacional de Numismáti-ca. Ars metallica: monedas y medallas. Nules-Valencia, 25-27 de octubre de 2010. Madrid: Museo Medallística «Henriqve Giner» e Museo Casa de la Moneda.

ARQUEOARTE1

VE

LHO

S E N

OV

OS

MU

ND

OS

| ES

TU

DO

S D

E AR

QU

EO

LOG

IA M

OD

ER

NA

OLD

AN

D N

EW

WO

RLD

S | S

TU

DIE

S O

N E

AR

LY M

OD

ER

N A

RC

HA

EO

LOG

YV

OLU

ME 2O presente volume reúne os textos redigidos pela grande maioria dos participantes no “Velhos e Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna”, que decorreu de 6 a 9 de Abril de 2011 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O evento pretendeu reunir arqueólogos consagrados e jovens, com trabalhos provenientes de con-textos académicos ou de salvamento, pertinentes para a discussão em torno de diversas temáticas balizadas nos séculos XV a XVIII, tanto em contexto europeu, como em espaços colonizados.

-cações e a guerra, a vida religiosa e as práticas funerárias, as paisagens marítimas, os navios e a vida

valorização do património arqueológico.

Além de se pretender dar um impulso ao desenvolvimento da arqueologia moderna, procurou-se lançar pontes de contacto entre comunidades arqueológicas espalhadas em diversas partes do mun-do, nomeadamente aquelas que centram a sua investigação em torno dos reinos ibéricos e da sua expansão mundial.

Velhos e Novos Mundos. Estudos de Arqueologia ModernaOld and New Worlds. Studies on Early Modern Archaeology,2 volumes

1

COLECÇÃO ARQUEOARTE

COLECÇÃO ARQUEOARTE

O Centro de História de Além-Mar desenvolve investigação relacionada com a presença por-tuguesa no mundo, numa perspectiva inter-disciplinar e da história comparada, prestan-do particular atenção às histórias das regiões com que Portugal manteve contacto, no con-texto de uma história global. Procura também estudar a preponderância do mar na história portuguesa, através do tratamento de crono-logias distintas e suas incidências no entendi-mento do presente e na projecção do futuro.

A investigação desenvolvida privilegia, igual-mente, o património material resultante des-tes processos históricos, abordado na pers-pectiva da história da arte e da arqueologia, que constituem linhas de pesquisa autóno-mas. Esta colecção dá expressão ao trabalho que é desenvolvido pelo CHAM nestes domí-

espaço aos suportes de trabalho destas áreas do conhecimento histórico, nomeadamente o

VELHOS E NOVOS MUNDOS ESTUDOS DE ARQUEOLOGIA MODERNA

OLD AND NEW WORLDSSTUDIES ON EARLY MODERN ARCHAEOLOGY