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NORMA ISMAIL ABU HEJLEH FADWA TUQAN A POETISA PALESTINA [VERSÃO CORRIGIDA] SÃO PAULO 2013

[VERSÃO CORRIGIDA] - USP...com a poesia, e deu à luz centenas dos seus belos poemas, que foram lançados no livre espaço árabe, mesmo prisioneira de tradição, e da arbitrariedade

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NORMA ISMAIL ABU HEJLEH

FADWA TUQAN

A POETISA PALESTINA

[VERSÃO CORRIGIDA]

SÃO PAULO

2013

NORMA ISMAIL ABU HEJLEH

FADWA TUQAN

A POETISA PALESTINA

[VERSÃO CORRIGIDA]

D i s s e r t a ç ã o a p r e s e n t a d a a o

p r o g r a m a d e P ó s - G r a d u a ç ã o e m

E s t u d o s Á r a b e s d a F a c u l d a d e d e

F i l o s o f i a e L e t r a s e C i ê n c i a s

H u m a n a s d a U n i v e r s i d a d e d e S ã o P a u l o , c o m o r e q u i s i t o p a r a a

o b t e n ç ã o d o t i t u l o d e M e s t r e , s o b

a o r i e n t a ç ã o d o P r o f . D r . M a m e d e

M u s t a f á J a r o u c h e .

D e a c o r d o : _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

P r o f . D r . M a m e d e M u s t a f á J a r o u c h e

S Ã O P A U L O

2 0 1 3

Nome: ABU-HEJLEH, Norma I.

Título: Fadwa Tuqan, A poetisa palestina.

Dissertação apresentada à Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências humanas da

Universidade de São Paulo para obtenção do

título de Mestre em Literatura e Cultura árabe.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. ________________________________Instituição: __________________________

Julgamento: _____________________________ Assinatura: __________________________

Prof. Dr. ________________________________Instituição: __________________________

Julgamento: _____________________________ Assinatura: __________________________

Prof. Dr. ________________________________Instituição: __________________________

Julgamento: _____________________________ Assinatura: __________________________

AGRADECIMENTO

Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho durante esta caminhada.

Agradeço meu esposo Faruq, que de forma especial e carinhosa me deu força e coragem, me

apoiando nos momentos de dificuldades com muito amor, carinho, compreensão e incentivo

nos momentos de angústias e preocupações, pelas minhas ausências durante a realização deste

trabalho. Ao meu filho Omar, que embora não tivesse conhecimento disto, mas iluminou de

maneira especial os meus pensamentos me levando a buscar mais conhecimentos.

Agradeço de forma grata e grandiosa meu amigo e irmão da minha alma Dr. Miguel B. dos

Santos que, com muito carinho e apoio não mediu esforços para que eu chegasse até esta

etapa de minha vida.

À professora Walkiria Savira pelo apoio, amizade e incentivo que tornaram possível chegar a

essa etapa na minha vida acadêmica.

E um agradecimento especial o meu orientador Mamede Jarouche, que desde começo

acreditou em mim e na minha capacidade, e pela paciência nas orientações e incentivos que

tornaram possível a conclusão deste trabalho.

A todos os professores do curso, Safa Jubran, Arlene Clemesha, Miguel Attie, Michel

Sleiman que foram tão importantes na minha vida acadêmica e no desenvolvimento desse

trabalho.

Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constantes.

Á CAPES pelo incentivo e apoio financeiro.

“Acima de tudo, como nunca se cansava de repetir Nelson Mandela sobre sua luta, devemos

ser conscientes de que a Palestina é uma das grandes causas morais de nossa época, e como

tal devemos abordá-la. Não é um assunto para ser comercializado, regateado ou servir de

trampolim para fazer carreira. É uma causa justa, que deve permitir aos palestinos reivindicar

como sua razão moral e, como tal, preservá-la”

Edward Said

RESUMO

ABU-HEJLEH, N. I. FADWA TUQAN, APOETISA PALESTINA. 2013. 154F. Tese

(Mestrado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,

São Paulo,2013

Mulher, poetisa, guerrilheira sem armas, mas com alma feminina, a qual Moshe Dayan, ex-

ministro da guerra israelense, disse, referindo a ousadia e a coragem da poetisa no uso das

expressões nos seus poemas: "cada um dos poemas de Fadwa Tuqan faz dez guerrilheiros".

Fadwa Abdel Fattah Agha Tuqan, uma grande poetisa palestina que se destacou e deixou sua

marca por diversas gerações através da literatura, das palavras expressas, antecipando por

décadas a liberdade de expressão. Tinha coragem e ousadia numa época na qual a tradição era

a lei de maior autoridade, na qual o homem era o único dono da verdade e o único digno de

liberdade, onde era proibida a pronúncia da palavra “amor” pelo gênero feminino. A rígida

sociedade árabe tem negado a muitas das poetisas e dos poetas árabes revelar suas ricas

experiências emocionais, incluindo Fadwa que teve muitas experiências de amor humano,

riquíssimas de intensidade, tornou-se a dama da poesia árabe moderna e encantou-nos com as

suas melodias poéticas recheadas com muita sensibilidade e fortes expressões. Para Fadwa, o

amor representa o vigor máximo da força feminina, e através dele a mulher exerce tudo o que

lhe foi negado, tudo sob o nome do amor, por isso o amor é uma tábua de salvação. Casou-se

com a poesia, e deu à luz centenas dos seus belos poemas, que foram lançados no livre

espaço árabe, mesmo prisioneira de tradição, e da arbitrariedade das relações sociais e

familiares do sistema rígido, que não lhe permitiu revelar, em sua autobiografia, quem eram

seus amores secretos no mundo árabe, o que a obrigou a ocultá-los totalmente em sua

autobiografia. Demonstrou em seus poemas e poesias as tragédias, privações, mortes,

separações, raiva e a reprimida revolução silenciosa. Fadwa Tuqan é uma das poucas poetisas

árabes que estabeleceu uma ligação entre a poesia antiga com o Movimento de Inovação e

Modernidade, saindo dos métodos clássicos da poesia Árabe Antiga, de maneira simples e não

artificial, adquirindo pontos importantes em sua força interior, conservando o ritmo musical

antigo e o ritmo interno moderno, formulando sua poesia musical. Suas poesias caracterizam-

se pela força do vocabulário e pela excelente combinação e forte tendência para a narrativa e

para as questões existenciais, baseadas em argumentos prontos, fazendo dos seus poemas

diálogos com as idéias, ao invés de uma demonstração dos sentimentos.

Palavras-Chaves: Mulher – Poesia - Palestina – Resistência.

ABSTRACT

ABU-HEJLEH, N. I. FADWA TUQAN, Palestinian poet. 2013. 154 p. Thesis (Master) -

Faculty of Philosophy, Letters and Human Sciences, University of São Paulo, São Paulo,

2013

Woman poet, guerrilla unarmed, but with the feminine soul, which Moshe Dayan, ex- Israeli

minister of war, said of the daring and courage of the poet in use of words in her poems:

"every poem of poems by Fadwa Tuqan makes ten guerrillas". Fadwa Abdel Fattah Agha

Tuqan, a great Palestinian poet who stood out and left her mark on several generations

through literature, the words uttered, anticipating by decades the freedom of expression. She

had courage and boldness at a time when tradition was the law of higher authority, in which

man was the master of truth and worthy of freedom, where it was forbidden to pronounce the

word "love" for women. The Arab rigid society has denied many of the Arab poets and

poetesses of revealing the rich emotional experiences, including Fadwa had many experiences

of human love, very rich intensity. Became the queen of modern Arabic poetry and delighted

us with his poetic melodies filled with great sensitivity and strong expressions. For Fadwa,

love is the maximum force strength of women, and through it the woman does all she has

been denied, all under the name of love, so love is a siege of save. Se married poetry and gave

birth to hundreds of his beautiful poems, which were launched in the free Arabic space, even

those who wrote these poems, being a prisoner of tradition, and the arbitrariness of social and

family relationships of the system drive, did not allow her in diseases in her autobiography

who his secret loves in the Arab world, which forced to hide them completely in her

autobiography. Shown in her poems and poetry tragedies, hardships, deaths, separations,

anger and repressed silent revolution. Fadwa Tuqan is one of the few Arab poets who

established a link between the ancient poetry with the Movement for Innovation and

Modernity, leaving traditional methods of ancient Arabic poetry, simply and not artificial,

gaining important points in your inner strength, keeping the musical rhythm and pace antic

domestic modern musical formulating her poetry. His poems are characterized by the strength

of your vocabulary and excellent combination and a strong tendency for narrative and

existential questions based on arguments ready, making the dialogues of her poems with the

ideas, rather than a statement of feelings.

Key Words: Female - Poetry - Palestine – Resistance.

SÚMARIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................10

2 PRIMEIRO CAPÍTULO ..................................................................................................16

2.1 Suas autobiografias ..........................................................................................................17

2.2 O mundo da casa: lugar da vida .......................................................................................18

2.3 Mulheres da casa ..............................................................................................................18

2.4 A infância .........................................................................................................................19

2.5 Influências familiares ..................................................................................................... .22

2.5.1 Pai ...................................................................................................................................22

2.5.2 Mãe .................................................................................................................................22

2.5.3 Ibrahim ...........................................................................................................................23

2.5.4 Tia Omm Abdulla ..........................................................................................................26

2.5.5 Tia Sheikha ......................................................................................................... ............26

2.5.6 Parentes ............................................................................................... ............................29

2.6 Viagem para Londres ...................................................................................... ..................29

2.7 O amor segundo Fadwa.....................................................................................................31

2.8 Escola, Amor, Castigo .....................................................................................................31

2.9 Amores e dores ..................................................................................................................33

2.10 Relação com os poetas conterrâneos...............................................................................34

2.11 Suas poesias ....................................................................................................................36

3. SEGUNDO CAPÍTULO ....................................................................................................40

3.1 A revolta contra o estado de coisas ..................................................................................40

3.1.1 A mulher palestina na resistência ..................................................................................46

3.1.2 A criança palestina na resistência .................................................................................48

3.1.3 Posição dos governantes árabes ....................................................................................51

4. QUARTO CAPÍTULO ......................................................................................................57

4.1 Características das poesias de Fadwa .................................................................................57

4.2 Tipos ..................................................................................................................................59

4.2.1 Mortes e lamentos..... ......................................................................................................60

4.2.2 Nacionalista .....................................................................................................................60

4.2.3 Social ........................................................................................................ .......................61

4.2.4 Amor ..............................................................................................................................61

4.2.5 Política e poesia .............................................................................................................62

5. QUARTO CAPÍTULO ......................................................................................................68

5.1 Sozinha com os dias ............................................................................................. ............68

5.1.1 Existência ........................................................................................................................69

5.1.2 Na jornada da vida ..........................................................................................................70

5.2 Encontrei-a ........................................................................................................................71

5.2.1 A rocha negra .................................................................................................. ................72

5.2.2 A separação ...................................................................................................................78

5.2.3 Não venderei o amor dele ..............................................................................................81

5.3 Dê-nos amor .....................................................................................................................84

5.3.1 LO mito da fidelidade ...................................................................................................84

5.4 Diante da porta fechada.....................................................................................................88

5.4.1 Jordaniana palestina na Inglaterra ...................................................................................89

5.5 A noite e os cavalheiros: palavras da Cisjordânia .............................................................91

5.5.1 Minha triste cidade: o dia da ocupação sionista ..............................................................92

5.5.2 A peste .................................................................................................................. ..........93

5.5.3 Para meu amigo estrangeiro ...........................................................................................94

5.5.4 A inundação e a árvore .................................................................................. ................95

5.5.5 Vivo começando ...........................................................................................................97

5.5.6 Trabalho do parto ...........................................................................................................98

5.5.7 Como nasce a música ....................................................................................................99

5.5.8 Quando caem as más noticias .....................................................................................100

5.5.9 Amando a própria morte ..............................................................................................101

5.5.10 Basta-me ficar no seu regaço......................................................................................102

5.5.11 Liberdade do povo ....................................................................................................103

5.5.12 Nunca vou chorar .......................................................................................................106

5.5.13 No guichê das permissões ..........................................................................................110

5.5.14 Foram-se os que nós amamos ....................................................................................114

5.5.15 Para senhor Cristo no seu aniversário .......................................................................115

5.5.16 Imagens da resistência: O guerrilheiro e a terra .........................................................118

5.5.17 Canção da transformação ............................................................................................124

5.6 No topo do mundo sozinho .............................................................................................129

5.6.1 Lamentação morte do cavalheiro .................................................................................129

5.6.2 Itan na rede do aço ........................................................................................... ............133

5.6.3 Entre as marés ..............................................................................................................135

5.7 Julho e a outra coisa .............................................................................................. ..........137

5.7.1 Chegou a hora .............................................................................................................138

5.7.2 Histórias para nossas crianças ......................................................................................138

5.7.3 Mártires da Intifada ....................................................................................................140

5.8 Ultima melodia ...............................................................................................................143

5.8.1 Consolação ..................................................................................................................143

5.8.2 Por favor, não morra ...................................................................................................144

5.8.3 A amarga colheita .......................................................................................................145

5.8.4 Para onde? ...................................................................................................................146

5.8.5 Planeta ........................................................................................................................147

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................148

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................151

10

1. INTRODUÇÃO

A poesia palestina demonstra uma ideologia política e assume posições que

refletem questões sociais que representam importantes etapas na vida deste povo e de sua

pátria. Sendo assim, através de prática poética o poeta revela como sente a sua sociedade,

demonstrando o quanto está envolvido com seu povo, pois a maioria dos poetas luta, e

continua lutando, no combate pela liberdade nacional, e sempre pedindo, por meio das

poesias, para lutar, resistir e revolucionar, tendo como objetivo a liberdade, pois os poetas

são os “donos” dessa questão, como se diz em árabe, e um deles é a poetisa Fadwa Tuqan

(1917-2003).

Menina burguesa, mesmo prisioneira no meio das paredes domiciliares,

acorrentada com as correntes dos interditos e das repressões, Fadwa Tuqan conseguiu

demonstrar suas emoções, por meio da poesia, sobre essa prisão domiciliar, repressão, e

revolta contra as tradições, além da sua resistência nacional, e ter um papel fundamental,

especialmente após a chamada “naksa”, o revés de 1967, ao denunciar na sua poesia os

horrores pelos quais sua pátria passava, e sua insistência em lutar e pregar a revolução

contra o invasor. Fadwa sempre incentivou o seu povo e a resistência à luta para recuperar

a liberdade.

Fadwa Tuqan nasceu em Nablus, na Palestina e faleceu com oitenta e seis anos de

idade. Vivia em uma família tradicional e rica, de grande influência política e econômica.

Foi cedo obrigada a abandonar a escola, porém se educou através das regras e tradições

que regiam a época (Tuqan, 2009).

Fadwa descreve em seus poemas e poesias as tragédias, privações, mortes,

separações, raiva e a reprimida “revolução silenciosa” desse povo (Tuqan, 2005).

Um marco fundamental na sua vida foi o relacionamento com seu irmão, o

também poeta Ibrahim, que foi capaz de empurrar a sua irmã para o mundo da poesia, e

libertá-la da escuridão de uma vida na qual era obrigada a viver1.

1 Artigo traduzido, autoria original de Ahmad Al-Khaleefa: http://www.palissue.com:80/vb/palestine79/issue7196

11

Mulher, poetisa, guerrilheira sem armas, sobre cuja ousadia e coragem no uso das

palavras do Moshe Dayan, assim se expressou: “cada um dos poemas de Fadwa Tuqan

produz dez guerrilheiros”.2

tornei muito amarga, meu gosto é assassina

meu rancor é terrível, penetrante até a essência

meu coração é pedra e enxofre e espumante de fogo

mil "Hind3” sob a minha pele

fome do meu rancor

com boca aberta, nada além dos seus fígados nao

satisfazendo a fome que foi colonizada na minha pele

ah ó meu evocado terrível rancor

mataram o amor de dentro de mim, transformaram

o sangue nas minhas veias gheslin4 e alcatrão !!

Disse isso numa altura em que os guerrilheiros já se contavam aos milhares.

Guerrilheiros nascem da poesia, nascem para ver a grama verde crescendo nas fendas dos

escombros, em meio às quais as escavadeiras de Israel estão moendo. Guerrilheiros

consagrando a vida, para ver as crianças a brincar e a se divertir, e para não caírem com as

balas e bombas de Israel. Guerrilheiros que deixaram de saborear a beleza da vida por

causa de uma pomba branca com qual Fadwa Tuqan sonhou (Tuqan, 2009).

O mundo de Fadwa Tuqan era pequeno, estreito e limitado. Só aparecia para a

vida pública através de seus poemas nos jornais egípcios, iraquianos e libaneses. Foi assim

2 Militar e político israelense nascido em Deganya, na então Palestina, responsável pelas mais importantes vitórias de Israel nas guerras

contra seus vizinhos árabes. Iniciou a carreira militar na guerrilha judaica que combatia os árabes. Preso durante dois anos pelas

autoridades britânicas, liderou depois as forças judaicas da Palestina que combateram a França na Síria. Perdeu então o olho esquerdo e

passou a usar um tapa-olho. Na luta pela independência (1948), comandou a região militar de Jerusalém. Com a fundação do estado

judeu, passou a chefiar as forças armadas (1953) e planejou e liderou a bem sucedida invasão da península do Sinai (1956), o que lhe

valeu a reputação de grande comandante militar. Eleito para o Knesset, o Parlamento de Israel, foi nomeado Ministro da Agricultura

(1959). Ministro da Defesa (1967) comandou a vitoriosa guerra dos seis dias e passou a exercer crescente influência na política externa.

Seu prestígio declinou quando o Egito e a Síria atacaram Israel de surpresa e desencadearam a vitoriosa guerra do Yom Kippur (1973).

Para recuperar seu prestígio, começou a arquitetar os futuros acordos de paz de Camp David, os primeiros que se firmaram entre o

governo israelense e um país árabe. Ministro do Exterior do governo Menachem Begin, quando os acordos de Camp David foram

assinados (1979), morreu em Tel Aviv, dois anos depois. (http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/MocheDay.html)

3 Hind bent Utbah ben Rabiáa, conhecida pela sua sabedoria e do juízo nas suas opiniões. Uma das mulheres árabes que tiveram u ma

reputação alta antes e depois o Islã. E dona de beleza e de opinião forte marcante, razão e da eloquência, da retórica, literatura, poesia,

cavalaria, e auto-estima, Convertida ao islamismo após que seu marido Abu Sufyan converteu. Torturou e fiz atos de covardia com

Hamzah ben Abdul Muttaleb mestre dos mártires dos muçulmanos e cortou o seu estômago e comeu fígado dele depois que ela tinha

mandado seu escravo Wahshy matá-lo na batalha de uma vingança pela morte de seu pai, seu tio e seu irmão na batalha de Badr. 4 gheslin e alcatrão, São as sobras da carne humana no inferno caindo após a ser queimadas pelo fogo.

12

que chamou as atenções, com muita força, para si, e habilitando-se a entrar na ativa vida

literária no final dos anos trinta e inicio dos anos quarenta do século passado (ibid).

A morte do seu irmão Ibrahim, seguida do falecimento de seu pai e, depois, da

catástrofe de 19485, ajudaram a criar condições para a saída da poetisa do seu cárcere

privado, o que a fez participar, ainda que de longe, da vida política na década de cinquenta,

mas essa atividade política não foi além do interesse emocional. Com certeza, ficou

fascinada pelas ideias do liberalismo como uma expressão de liberação da rejeição a

catástrofe de 1948. Essa questão foi extremamente importante na vida da nossa poetisa, e,

tendo-se educado de modo autodidata, Fadwa aprofundou-se na filosofia existencial em

particular, e nas escolas filosóficas ocidentais em geral (ibid).

Importantes alterações na vida de Fadwa foram motivadas por fatos que a

obrigaram a se mudar para Londres, no início dos anos sessenta do século passado. Sua

viagem durou dois anos, abriu amplos e largos horizontes do conhecimento, de beleza e

humanidade, e levou-a ao contato com as conquistas da civilização europeia como artes,

construções, pessoas e outros valores (ibid).

Fadwa reconhece que essa fase da sua vida causou um impacto profundo no nível

poético e pessoal. Mas o destino se recusa a não perseguir a poetisa, pois enquanto ela

estava em Londres, morre seu irmão Nemr, o que a obriga a voltar para Nablus. Mesmo

assim, com tanta tristeza, Fadwa manteve seu ritmo de vida tranquilamente, na sua

pequena casa, num dos montes de Gerzim, escrevendo e publicando poesias, plantando

flores, e esperando-as crescer (ibid).

O Revés6 -naksa- de 1967 foi um dos motivos importantes para que a poetisa,

mais uma vez quebrasse o ritmo sossegado de sua vida e modificasse novamente o ritmo

da sua vida diária, pois ela colaborou, naquela época, na mediação entre o ministro

israelense da Defesa, Moshe Dayan, e o presidente do Egito Jamal Abdel Nasser7, e

5 A expulsão de uma boa parte do povo palestino da sua terra e a ocupação de Palestina pelo exército israelense, onde foi criado o país

hoje chamado Estado de Israel.

6 Guerra dos Seis dias entre os árabes e Israel, iniciada em 5 de junho de 1967. A guerra, que começou com bombardeios que destruíram

a maior parte da aviação militar egípcia, terminou com Israel ocupando a Cisjordânia – inclusive Jerusalém Oriental –, a Faixa de Gaza,

as Colinas de Golã e o deserto do Sinai.

7 Jamal Abdul Naser foi o segundo presidente do Egito, no período entre 1956 e 1970. Nasser é visto como um dos políticos mais

importantes da história moderna em desenvolvimento da política árabe e mundial do século XX. Ele é bem conhecido por suas políticas

13

também na vida pública do povo da cidade de Nablus, que estava sob a ocupação sionista,

começando várias diatribes poéticas e jornalísticas contra o ocupante e a cultura que

tentava impor8.

Fadwa Tuqan é uma das poucas poetisas árabes que estabeleceu uma ligação entre

a poesia antiga com o Movimento de Inovação e Modernidade, saindo dos métodos

clássicos da poesia Árabe Antiga de maneira simples e não artificial, adquirindo pontos

importantes em sua força interior, conservando o ritmo musical antigo e o ritmo interno

moderno, formulando sua poesia musical. (Al- Sheikh, 1994)

Suas poesias caracterizam-se pela força de seu vocabulário e pela excelente

combinação e forte tendência para a narrativa e para as questões existenciais, baseando-se

em argumentos pré-concebidos e fazendo dos seus poemas diálogos com as ideias, ao invés

de uma demonstração dos sentimentos (ibid).

Queremos dos outros que permaneçam

com um sentimento

que murchou e desapareceu

no profundo das nossas almas e tornou-se

uma imagem falsa

egoísmo, meu companheiro, aninhando-se dentro da gente

movendo em segredo nossos desejos

E obscurecido lhes pelo pesado véu

Chamamos-lhe

Fidelidade!!

Fadwa quebrou as imagens tradicionais que representam os sentimentos das

mulheres do Oriente, evitando ser apenas a destinatária interior, quebrada e derrotada,

levando-as a tomar a iniciativa na prática, no próprio ato. Para Fadwa, o amor representa o

vigor máximo da força das mulheres, e através dele a mulher exerce tudo o que lhe foi

negado, tudo sob o nome do amor, por isso o amor é um cerco de salvação...

nacionalistas e por sua versão do pan-arabismo, também conhecido como nasserismo, que ganhou adeptos no mundo árabe durante os

anos 1950 e 1960. Apesar de seu status como "líder dos árabes", foi severamente prejudicado pela vitória de Israel sobre os exércitos

árabes na Guerra dos Seis Dias. Mas entre os árabes em geral Nasser ainda é visto como um símbolo da dignidade árabe e da liberdade. 8 Artigo traduzido. Autoria original de Ahmad AL-Khaleefa, http://www.palissue.com:80/vb/palestine79/issue7196.

14

Essa é a poetisa criativa Fadwa Tuqan, que Deus possa prolongar sua vida.

Fadwa continua sendo a dona da palavra e a poetisa criativa que nem a poeira

atrapalha, pioneira das pioneiras do movimento feminista literário, não apenas na

Palestina, mas, no mundo árabe inteiro... Pois o mundo árabe inteiro nunca

testemunhou na época dela e entre as da mesma geração ninguém com a mesma

posição poética e literária (...) mesmo que outras mulheres tenham se destacado

em outras áreas (Al-Dardanjy, 1994, p. 223-224).

Os poemas de Fadwa se caracterizam como poesias musicais, centradas em si,

românticas, narrativas - se apresentam diretamente sem mediação. Uma poetisa como ela

teria a necessidade de filosofar um pouco nos seus poemas para provar as suas denúncias

(idem, ibidem).

Os motivos que nos levaram a escolher Fadwa Tuqan como tema de pesquisa são

vários, dentre os quais citamos:

- A verdadeira e sincera preocupação de Fadwa com os problemas do seu povo e,

sob seu ponto de vista, o grande incentivo para a revolução palestina é a própria noção de

pátria. Fadwa conseguiu descobrir o quão é grande o envolvimento das poesias com a

sociedade, e o seu impacto sobre quem lê e ouve.

- Fadwa descreveu nas suas poesias as dores do povo palestino, representando os

prisioneiros, mártires, sofredores, desabrigados, como também revelou o conflito do seu

povo entre a esperança na mudança e o desespero da desistência, porque o sofrimento

cresce a cada dia com o aumento do número dos mártires, além de destacar a ausência da

distinção de terrorismo, por parte do inimigo, tanto contra uma criança pequena, que não

tem culpa nenhuma além de ter nascido na Palestina, como contra uma garota carregando o

amor pela terra natal para o resto da vida. Isto ocorreu porque a ofensiva terrorista foi

atingindo cada pessoa que carregava amor intenso pela pátria no coração, não abrindo mão

desse amor, qualquer que fosse o preço a pagar. Esse é o real motivo das injustiças contra o

povo palestino.

- Como a questão palestina está relacionada com a história de uma nação inteira,

as poesias de Fadwa são uma das formas de registro para esclarecer e denunciar as

separações, a rebeldia, a perda, a luta e a resistência. Especialmente em sua segunda

autobiografia - A viagem difícil -, ela descreve a trajetória que viveu junto com o seu povo

contra a ocupação sionista, pois representa uma viagem de sofrimento e morte em prol da

liberdade e da independência.

15

Em nossa pesquisa utilizamos suas duas autobiografias: Viagem da montanha...

viagem difícil - que fala sobre a sua infância, seu relacionamento com membros da família,

sua jornada em busca de liberdade e independência, suas conquistas e amores através

mundo da poesia, e a segunda autobiografia, A viagem difícil, que fala sobre fatos

históricos, acontecimentos patrióticos e políticos, representando um registro da historia de

luta da nação árabe palestina. Para esclarecer alguns fatos e acontecimentos também

utilizamos os oito volumes de poesias de Fadwa para análise das várias etapas da sua vida

poética.

Dividimos o nosso estudo em introdução, quatro capítulos e uma conclusão.

Começamos com uma introdução incluindo pontos essenciais esclarecendo os

motivos da nossa pesquisa.

No primeiro capítulo, descrevemos a vida da poetisa desde sua infância dentro da

casa da família, seu relacionamento com cada membro, seus relacionamentos com poetas

da sua nação e seus estudos.

O segundo capítulo descreve a luta do povo palestino e o estímulo para uma

revolução e para não aquiescer com o inimigo invasor. Nesse aspecto, o papel da poetisa

torna-se importante. Suas poesias ardentes e transbordantes de estímulos para a luta e

resistência destacam o papel da mulher nessa luta e na conquista da liberdade da pátria.

No terceiro capítulo resumimos como Fadwa foi afetada pela modernidade poética

e sua mudança da poesia clássica para o estilo da poesia livre e os motivos dessa mudança.

O quarto capítulo apresenta várias poesias escolhidas por terem marcado época,

destacando os acontecimentos vividos pela poetisa.

16

2. PRIMEIRO CAPÍTULO

“É claro que as variedades da arte e em especifico as amplas áreas da Literatura

demonstram de modo direto a essência humana de todos os aspectos de evolução e o lado

emocional; trata-se de uma afirmação da vida humana em todos os seus aspectos, é uma

mensagem para a vida” 9. Nas obras literárias encontramos uma representação clara da vida

popular e privada, interpretando emoções, sentimentos, problemas sociais e humanos com

palavras que qualquer pessoa pode entender.

Assim, a literatura foi usada pela maioria das civilizações por vários motivos,

alguns dos quais são destacar sua cultura ou tornar públicos os problemas enfrentados por

sua sociedade ou explicar a política praticada, e, por isso, em suas obras os autores

procuram esclarecer o que é invisível para a população.

De maneira radical, após verificar o violento processo de despojamento ao qual

seu povo estava sendo submetido, o escritor palestino Ghassan Kanafani afirmou que “os

judeus foram os que mais empregaram essa arte de uma maneira especial para servir-lhes

em seus objetivos particulares. A literatura para eles é um aspecto essencial que não tem

como ser dispensado, e foi usada pela política sionista em amplo nível não apenas para

servir-lhes nas suas campanhas de calúnias e difamações contra os palestinos, mas também

em suas campanhas políticas e militares”,10

ou seja, para justificar a ocupação e os crimes

cometidos contra o povo palestino, e demonstrar que são verdadeiras as suas alegações

quanto à Palestina, que seria a pátria que eles sempre procuraram e à qual conseguiram

enfim chegar.

Por esse e por outros motivos, os poetas e autores palestinos entraram para valer

na literatura para “esclarecer os verdadeiros motivos da guerra sionista contra o povo

palestino e revelar as invisíveis más intenções por trás da ocupação sionista das terras

palestinas e da expulsão do povo palestino da sua terra, e para expor a questão palestina de

uma maneira clara e sincera, demonstrando o quanto esse povo está lutando e resistindo

para vencer essa ocupação cujos motivos são falsos e injustos”11

, e conseguiram realizar

9 Kamal Abhary, “A prosa dimensional e artística na poetisa jordaniana Jawhara Al sakariny”, p. 266

10 Ghassan Kanafani, Fi Al Adab Al Suhyuni, pg.9

11 Mohammad Abdullah Atwat, “Os sentidos patrióticos nos poemas palestinos”, P. 146

17

isso ao despertar a vontade de obter uma vitoria através do estímulo à resistência e à luta,

por serem membros dessa sociedade sofrida, e por passarem por tantos sacrifícios para ter

a liberdade de vida e de expressão. Um deles foi Fadwa Tuqan.

2.1. Fadwa Tuqan e suas autobiografias:

A poetisa começa a história de sua vida desde o inicio, na introdução contando o

seguinte:

“Fiquei, durante toda a minha vida literária, sentindo acanhamento e

afastamento para responder às perguntas dirigidas a mim sobre a minha vida, e

os fatores que direcionaram e influenciaram. Eu sabia o porquê, a razão para este afastamento e acanhamento para não responder às perguntas, isso porque

nenhum dia eu fui satisfeita com a minha vida ou fui feliz nela, pois a árvore da

minha vida não deu muitos frutos, e a minha alma continua buscando

ansiosamente realizações melhores e novos horizontes” (Tuqan, 2009).

Assim, ao que parece, a poetisa não tem o desejo de forçar a memória para

contar o que não quer. E como ela sabe que contar a sua própria vida privada é um ato

de equilíbrio entre o privado e o público, e que cada acontecimento contado na

biografia deve ser equilibrado e reconhecido se é proibido para o mundo interno, ela

estava consciente em seu discurso sobre o véu:

"Eu não abri o armário da minha vida inteira, pois não

é necessário revolver todas as intimidades. Há coisas queridas e preciosas,

preferimos mantê-las adormecidas em um canto de nossas vidas longe dos

olhares curiosos, devemos manter a túnica estendida sobre alguns aspectos dessa alma, preservando-a da vulgaridade “(Tuqan. 2009.p.10)

De acordo com suas palavras, ela espalha a história de sua vida apenas. A história

como ela poderia contá-la além de limites cuja superação era impossível: o molde de

aço em que a família queria apertá-la e do qual não lhe era permitido sair, as regras

familiares, que eram difíceis de serem canceladas, as tradições que apertam uma moça

num gargalo de inutilidade. São tradições livres da lógica mental.

18

2.2. O mundo da casa: Lugar da vida:

Nota-se que Fadwa Tuqan, como as outras mulheres palestinas da classe feudal,

foi uma mulher culta de classe alta entre as mulheres daquela época no mundo árabe, que

arrancaram o véu e deixaram de usá-lo assim como deixaram, aparentemente, o

isolamento do harém.

O antigo palácio onde Fadwa passou grande parte de sua vida é palco da história

real da família Tuqan na Palestina, que atesta as relações feudais da época e também as

tradições da família, que atestam a negação das mulheres no isolamento do harém ao qual a

poetisa pertenceu.

“... a casa é histórica e a maior dentre as casas da antiga Nablus, fazendo lembrar

as mansões, das mulheres e das proibições... foram projetadas para combinar e

atender às necessidades do sistema feudal; nelas você encontra os largos arcos

e pátios, os jardins e as fontes de água e andares superiores e as escadas em

caracol.... fica difícil para o visitante encontrar o seu caminho e visualizar as

entradas sem um guia, pois realmente a pessoa não sabe se nessas casas ela esta

caminhando em direção à sala da recepção ou para o galinheiro, ou para a cozinha. Nesta casa, entre os altos muros que bloqueiam o mundo externo do

"harém" foram enterradas vivas: a minha infância esmagada, a minha

adolescência e uma parte não pequena de minha juventude "(ibid).

2.3. Mulheres da casa:

Fadwa cresceu em um casarão habitado por membros da sua familia: seus pais,

nove irmãos, sheikha - que era uma irmã solteira do seu pai , e a familia do seu tio paterno.

Diz a poetisa, na sua historia, que o mundo interno da casa é um lugar onde as

mulheres sentem-se como uma parte integrante da qual não podem separar-se:

"As mulheres têm de esquecer a existência da palavra "não" na língua, exceto

quando do testemunho "não há outro deus além do Allah", na hora da sua ablução e na reza. Mas a palavra "Sim" é uma palavra que deve ser repetida e

falada, como papagaio, palavra transmitida desde a amamentação, para tornar-se

uma palavra selada, impressa, colada nos lábios a vida toda.” (ibid)

As mulheres viviam uma vida fechada em um gargalo feminino, onde a existência

é escura e pobre. A poetisa diz que elas são vítimas sem personalidade e sem vida própria -

19

“a casa era como se fosse um galinheiro grande, cheio de aves, para as quais se joga a

ração para se engolir, sem discussão” (ibid).

2.4. Sua infância:

Claro que então Fadwa Tuqan não era poeta nem autora, mas um ser humano que

viveu em condições dolorosas e sofridas que despertaram nela essa força poética. A sua

desgraça começou desde o dia do seu nascimento, sobretudo quando começou a entender

que sua mãe tentou se livrar dela desde os primeiros meses de gravidez por várias vezes e

falhou, e por seu pai acreditar que os filhos homens sempre levam o nome da família à

eternidade e as filhas carreiam a vergonha e a desgraça para os pais; sua mãe, por sua vez,

sempre repetiu essa historia na frente de Fadwa quando criança, o que a fez acreditar que

era um ser humano indesejado e rejeitado.

Fadwa Tuqan nasceu na cidade de Nablus e veio para um mundo que não estava

pronto para aceitá-la (p.12), pois o ano em que nasceu testemunhou acontecimentos

históricos importantes na vida dos palestinos:

Pois foi entre um mundo que está morrendo e outro que está prestes a nascer que eu vim para esta vida. O império Otomano está soltando os seus últimos

suspiros, e as tropas dos aliados continuam a abrir os caminhos para uma nova

ocupação ocidental 1917 (p.16).

Nasceu numa casa que prefere filhos do sexo masculino aos do feminino. Sofreu

muito na sua infância por falta do carinho e cuidados dos pais, pois desde o nascimento a

mãe entregou a responsabilidade de cuidar dela a uma criada da casa com nome de

Assamra (que significa “a morena”). Sentia muita falta do carinho da mãe, que por sua vez

apenas a pegava para amamentar - o que levou Fadwa ter a certeza de que eles não

gostavam dela - e esses sentimentos tiveram seu impacto na formação da poetisa:

e a vida era miserável,

miserável,

ah como é dura a sede das crianças quando

acaba carinho dos adultos,

quando as crianças não bebem

20

uma gota da fonte do carinho12

Os únicos momentos de felicidade que ela conheceu na sua infância foram quando

adoecia:

Ficava muito feliz por dentro quando me atacava a febre da malária entre um

mês e outro, pois era a única oportunidade na qual a minha mãe declarava seus

sentimentos de maternidade por mim, então sentia seu calor e carinho verdadeiro

(p. 23).

E também o carinho de todos; por isso, sempre desejou a doença: para ter carinho

e cuidado da família.

Diz Fadwa sobre isso:

Ama-me? Seu histórico comigo está velho

Antes de você há anos, muitos anos,

Chamei-lhe, procurei-lhe na minha infância

Chamei-lhe quando era criança triste

Com as crianças

Com sede pelo carinho dos adultos

Naturalmente que o tratamento da mãe levou-a a procurar carinho em outras

pessoas fora da casa da família,

“meu apego pela minha tia era maior e mais verdadeiro do que pela minha mãe,

pois ela me cobria de carinho e bondade, por isso eu a visitava sempre e dormia

na casa dela, e ficava feliz com a liberdade que ela me oferecia” (p.23).

A família dela se destacou pela prática da religião em seu aspecto exterior, o que

tinha impactos sobre as crianças, alguns positivos, em especial na época dos festejos

religiosos como Eid, e negativos que plantavam medo e terror nas suas almas,

principalmente quando tia Sheikha se manifestava:

12 Volume das poesias, p.453

21

“Ela gritava na minha cara quando me via vestindo roupa curta: vamos... deixa

suas coxas aparecem mais, você vai entrar no inferno junto com a sua mãe que

costurou essas roupas escandalosas! Será que por causa desse curto vestido Deus

vai me levar para inferno com minha mãe? E comecei a imaginar um Deus duro,

injusto e sem misericórdia.“(ibid)

A confusão sobre essas questões a respeito de Deus e da religião a dominou. Ela

não tinha suficiente coragem para perguntar sobre essas questões, em especial por ter uma

mãe como a sua, que nunca a tratou como uma criança que tinha o direito de perguntar

sobre o que ela ignorava. Sua mãe sempre a repreendia e a reprimia pelo mais simples

motivo: “Masakhuki13

Allah! Chega de brincar com as bonecas, você já cresceu!” (p. 24)

dizia a mãe para Fadwa. “Eu tinha naquela época oito anos apenas”! (p. 24), será que uma

garota de oito anos já é moça, e grande o suficiente para identificar o que é certo do que o

errado? Como se em tal idade ela não precisasse de quem a orientasse para o certo!

Um novo começo teve uma mudança de grande importância em sua vida,

contribuindo para mudá-la da rotina para um sentimento cuja existência ela ignorava;

estava escondido, em um ato que aconteceu de surpresa, causando uma reviravolta em sua

existência, o que a levou a perder o apetite e ter uma linda insônia, cheia de imaginação.

Tudo isso foi provocado por:

(...) um rapaz de desaseis anos, cuja história comigo nunca foi além do acompanhamento diário de ida e volta da escola, ... , e a única comunicação

entre nós foi quando correu atrás de mim um menino para me entregar uma rosa

de camélia um dia, enquanto caminhava na direção da casa da minha tia. (P.55).

Essa rosa carregava o amor puro e inocente que destruiu a vida dela e seus sonhos

e a proibiu de frequentar a escola, pois, por má sorte, seu irmão Yusef ficou sabendo do

acontecimento e por consequência disso, determinou sua prisão domiciliar: “foram

esmagadas a minha infância, a minha adolescência e uma parte não pequena da minha

juventude” (p. 40).

13 Praga comum em árabe: “Que Deus te metamorfoseie”.

22

2.5. Influências familiares:

O ser humano é parte da família, por sua vez a família é parte da sociedade, e a

sociedade, uma parte da pátria. A vida que o ser humano vive com sua família tem grande

influência na sua personalidade e na sua vida de modo geral. E tudo que Fadwa passou na

infância e na adolescência teve grande importância e influência na modelação e formação

da sua personalidade e na definição dos rumos de sua vida - pois eles tiveram a grande

influência na minha vida para depois de se ausentarem pelo tempo (p.7).

A família de Fadwa era formada por pai, mãe, cinco irmãos e cinco irmãs.

2.5.1. Pai:

Era de uma família de políticos e de situação econômica razoável. A sua relação

com Fadwa era negativa:

“ele era seco, duro, nunca deixou uma chance nem para mim nem para meus

irmãos nos aproximarmos mais dele; sua presença sempre me causava aperto na

alma, desde a infância, sempre estranhei tantos carinhos e sorrisos para minhas

primas, mas não fazia o mesmo conosco, que éramos suas filhas.” (p. 41)

Como também nunca a tratou como filha presente, mas como ausente, sempre se

referia a Fadwa como ela, aquela etc. e, assim, nunca sentiu amor e carinho do pai. E foi

esta sua relação com o pai. Quando ele faleceu em 1948, ela conseguiu lamentar a morte

dele com uma poesia apenas, pois o sentimento pelo pai era nulo, e também por ele não

acreditar nela como poetisa.

2.5.2. A mãe:

A rivalidade entre Fadwa e sua mãe se inicia antes do nascimento de Fadwa, que é

mais um problema do que motivo de alegria:

“Eu saí da escuridão do desconhecido para um mundo que não estava preparado

para me aceitar. Minha mãe tentou se livrar de mim nos primeiros meses da

gravidez. Tentou por várias vezes, mas todas as tentativas falharam” (ibid).

23

E diz, apresentando uma desculpa para a mãe:

"Ela estava cansada de tantas vezes de gravidez, parto e amamentação, era a cada

dois anos ou cada dois anos e meio que tinha um novo bebê. O dia que minha

mãe casou, ela tinha onze anos de idade, e quando teve o primogênito, ela não

havia completado seus quinze anos. "(ibid).

Não era muito diferente do pai, mas pelo menos a sua mãe demonstrava carinho e

afeto pela filha nas doenças: “nossa relação se caracteriza pela superficialidade”. Diz

Fadwa que a mãe nunca tentou aproximar-se da filha; ao contrário, era dura com ela: “Eu

recebia nas costas as pancadas das nervosas mãos da minha mãe, quando penteava meus

cabelos de modo rápido e sem piedade, e então eu reclamava” (p. 22).

Com o passar do tempo, Fadwa começa a descrever algumas coisas em comum

entre ela e a mãe:

"A minha mãe foi a primeira mulher a deixar o uso do véu em Nablus”. [...], e

ficava coberta de emoção cada vez que a sua vitalidade aumentava por se

livrar das restrições limitadas daquela horrível prisão. E assistir filmes no cinema

e trocas de visitas com as outras famílias era motivo de grande satisfação para

ela. Ela amava muito dançar, cantar e ouvir música como também a presença de jornais, revistas e livros era uma necessidade indispensável, mesmo quando ficou

com a visão debilitada devido à idade avançada, ela começou a utilizar óculos de

lentes de aumento, pois a leitura era para ela, um dos prazeres da vida.” (p.27)

Fadwa não se esqueceu de falar da mãe e das suas qualidades mais importantes,

dentre as quais estavam a generosidade, que ultrapassava os limites, e o seu enorme

carinho pelos os pobres (p. 22).

2.5.3. Ibrahim:

Ibrahim, o irmão verdadeiro, que se importava com a irmã e cuidava dela, teve

papel importante e positivo na vida de Fadwa para formá-la como poetisa.

Através do rosto de Ibrahim, Deus iluminou a minha vida. Meu sentimento de

amor por ele se formou pelo conjunto de emoções infantis felizes, cumulativas, ele era o causador. O primeiro presente recebido na minha infância foi dele, a

primeira viagem, das viagens da minha vida, foi com ele” (P.60)

24

Nele, e com ele, encontrou o carinho e amor verdadeiro que eram perdidos. Ele foi

o único que encheu aquele vazio psicológico que sofri com a morte do meu tio, e a infância

em que eu procurava por outro pai, abraçando-o de uma forma melhor e mais bela, com o

primeiro presente acompanhado do primeiro beijo (p. 60).

Disse isso recordando a primeira vez em que ele voltou da capital, trazendo um

presente, e foi este o seu primeiro presente na sua infância. Ibrahim era tudo para Fadwa: o

seu porto seguro quando estava em Nablus; sentia-se protegida, forte, amparada, com

muito carinho e amor.

Foi assim o início de uma nova etapa em sua vida, e com esse retorno do irmão,

Fadwa encontrou um meio para depositar todas as suas forças em servir e cuidar das coisas

do irmão:

“preparar suas coisas e servi-lo tornou-se um objetivo da minha vida e a fonte

perdida da minha felicidade. Arrumar seu dormitório, tirar a poeira das

prateleiras dos seus livros e da sua mesa, preparar em todas as manhãs a água

quente para ele se barbear”(P.61)

Fadwa não servia ao irmão mais velho por ser carinhoso e atencioso com ela, mas

por ser a ponte que ligava seu mundo interno com o mundo externo, pois ao contrário do

resto dos homens da casa, ele a levava para passear pela natureza e contava histórias da

vida, o que ele viu durante sua viagem de estudos em Beirute. Assim, ele era seus olhos

para o mundo externo, para o que era proibido para as mulheres naquela época: uma

espécie de “barco de salvação” (p. 61) e “o ar para respirar” (p. 62) dentro daquela casa

com grades.

Ibrahim ensinou a Fadwa a leitura e interpretação das poesias, incentivou-a a

escrever poesias, mesmo distante morando em outro país, através das cartas trocadas,

corrigindo e orientando; essa felicidade foi demonstrada quando ele retornou de sua

viagem para Beirute, quando ela escreveu:

E voltou meu irmão da sua peregrinação

Voltou Ibrahim

Seu carinhoso coração é de grande generosidade

E amor com abundância

meu irmão me abraçou e me cobriu com sua asa

25

Aqui bebi amor e me fartei

Aqui recuperei a minha alma que os outros destruíram

Aqui descobri quem sou eu e entendi o significado de ser. (p. 454)

Durante sete anos seguidos (1933-1940), Fadwa escreveu poesias como o irmão

Ibrahim sempre quis: era aluna obediente e sincera em seguir todas as orientações para a

leitura e a escrita, pois ele era seu único intermediário para o mundo externo.

E mesmo que Fadwa sempre negasse o mundo feminino daquela época, ela nunca

quis ser um homem, mas sim pertencer ao mundo deles, por isso ela tornou-se poetisa.

Como ela conta sobre um grande elogio feito por Omar Farroukh (p.89), editor da revista

Al-Amaaly, apresentando uma de suas poesias:

“Esses versos de uma poetisa emergente, e ao mesmo tempo que vemos

que muitos homens organizam poesias com fino caráter feminino, também

vemos uma garota, nos primeiros passos da sua vida, trazer de volta à nossa

imaginação a memória de Abu Tammam e a de Al-Mutanabi, aparecendo-nos

como um preâmbulo de Ahmad Shawqi” (p. 89).

Ibrahim a parabenizou, mencionando o poeta Abu Tammam, numa carta

começando com “Omm Tammam” quando foi publicada a sua primeira poesia na revista

Al-Risala (p.112).

A cada viagem que Ibrahim fazia, Fadwa sentia-se abandonada e retornava para o

isolamento, mas com a volta dele ela recuperava a confiança na vida, pois conhecia a

felicidade apenas com a presença dele. Amou muito o irmão, quase como um amor

paterno. Ela não se sentiu órfã quando morreu o pai, mas sim quando faleceu Ibrahim: algo

foi quebrado no meu interior, e fui possuída pela orfandade (p.126). Um dos mais belos

poemas de lamentação foi o que fez para Ibrahim:

Onde Ibrahim de mim, onde?

Essência do coração e luz dos olhares,

Entre a vida e a morte estou

Talvez o tempo mude em breve,

para curar a ferida e as dores da saudade. (p.128)

26

2.5.4. Tia Omm Abdullah

Na memória, Fadwa encontra poucas lembranças de infância com sua tia Omm

Abdullah, e com base no que a poetisa escreveu sobre ela, é possível perceber uma imagem

contrária à da imagem da mãe.

Omm Abdullah não tinha filhos, e por isso, ou por algum outro motivo, ela cobria

Fadwa de amor e compaixão maternos, os quais a mãe verdadeira não dava. Essa tia lhe

fazia bonecas de restos de material antigo. Fadwa frequentava a casa dela e ali pernoitava

vez por outra:

“Ela tornava os cuidados com plantas caseiras e rosas um passatempo para

preencher o vácuo em seu casamento, a sua casa muito colorida com as cores do

arco-íris, era conhecida na cidade por ter espécies raras de flores e plantas” (p.

23).

Em geral, ao que parece, a tia vivia uma vida equilibrada e mais feliz do que a

mãe de Fadwa. E porque, ao contrário da mãe de Fadwa , a sua tia foi casada com um

homem de uma família simples, e esse marido era, de acordo com as referências de

Fadwa, menos intolerante, pois por isso Omm Abdullah gozou de maior liberdade que

mãe da poetisa, e não foi sujeita a tradições rígidas como aquelas às quais as mulheres da

família Tuqan foram submetidas.

2.5.5. A tia solteira - Sheikha14

Quando Fadwa nasceu, tia Sheikha contava sessenta anos de idade: ela voltara à

casa dos pais quando tinha dezesseis anos de idade, após um casamento fracassado que

durou apenas alguns meses. Fadwa mostrou na sua biografia como a tia – sheikha –

praticava com rigor as tradições herdadas regularmente incorporadas à família Tuqan. Ela

vigiava os jovens da casa e os monitorava passo a passo com suspeitas, pensando que por

trás dos encontros entre eles sempre havia intenções sexuais, e as palavras dela de uso

14 Mulher de idade muito sabia e religiosa.

27

comum quando qualquer para se encontrava eram: “O diabo sempre está lá” (p. 35). Essa

tia-sheikha tampouco permitia a nenhuma moça da família fazer amizade com moças das

famílias aparentadas ou com colegas da escola ou das vizinhanças (p. 35).

Acima de tudo, foi tia sheikha que encheu a cabeça de Fadwa na infância, com a

percepção da ética na sociedade tradicional. O que levou Fadwa a sofrer era o fato de tia

Sheikha ser despida de compaixão e aplicar ordens rígidas, como quando Fadwa usava as

roupas curtas que a mãe lhe costurava; a velha dizia que ambas iriam entrar no inferno (p.

37).

Como essa tia solteira, há muitas mulheres árabes solteiras, viúvas e divorciadas,

mesmo ainda jovens, que encontram na religião um meio para se recuperar da frustração,

da infelicidade e do sofrimento, e se juntam a um grupo de mulheres para ensinar religião e

as práticas das famílias conservadoras, o monopólio das orações privadas e o ritual de

lavagem das mulheres mortas (77). Fadwa disse:

“Nos dias de sua juventude, ela adotou a maneira do Sheikh Abdul Qadir Al

Kilany como refúgio religioso a fim de fugir da frustração psicológica causada

pelo casamento fracassado. Tinha chegado um sheikh egípcio cego à cidade, e

era um dos proprietários da maneira kilaneyya o que atraiu algumas divorciadas

e viúvas do local”(pp. 32/33).

E por ser uma senhora de idade e membro da tradicional família Tuqan, que

manteve e praticava os bons costumes, ela tratava as famílias de baixa renda com desprezo

e antipatia, mas a mãe de Fadwa várias vezes falou para a filha que as pessoas são iguais, e

ninguém é melhor que ninguém, e que todas as pessoas vão morrer igualmente.

Finalmente, a mãe conseguiu afastar Fadwa da Tia-Sheikha e dos costumes tradicionais e

antigos da família Tuqan. Fadwa disse sobre os rituais religiosos:

“Só soube após um longo tempo que todos esses rituais religiosos e regras, desde

o paganismo primitivo até o aparecimento das religiões monoteístas, tem a

característica teatral para expressar o sentimento religioso, pois pode ser que o

gosto do ser humano para ambientes misteriosos seja nato." ( Tuqan, 2009,p.34)

Talvez por essa razão tenha-se dado o afastamento de Fadwa da tia. E em vários

pontos no decorrer de sua história, ela fez uma comparação entre sua atitude de estar

dançando por longas horas no seu quarto, quando era criança, e a atitude da tia-sheikha,

28

que muitas vezes entrava numa espécie de “coma” de tanto exagerar na repetição do nome

de deus, o que representa um tipo de desabafo e libertação do sentimento de frustração e

repressão social causado pelas tradições das famílias conservadoras: “ assim como minha

tia-sheikha, que se entregava profundamente nas suas rezas porque isso a ajudava a

descarregar os sentimentos tensos” (P.95)

Em outro ponto da sua história, ela disse sobre a fé e a prática das religiões que

são importantes:

“quando a fé se desestabiliza, a terra se desestabiliza e começa a rodar com o ser

humano como se fosse sem eixo, e com as muitas dúvidas relacionadas, perdidas

no ar sem resposta, a vida se torna insuportável; tentei levantar o slogan de

Wiliam Black, que dizia: faça o que quiser, pois este mundo tem uma historia

mítica, com base na contradição. Pois o ser humano, sem conhecimento

espiritual, permanece incapaz” (Tuqan, 2009, p. 156).

Fadwa se lembra, por exemplo, que outro dia, quando criança, cantava com

prazer. E acontece que a tia-sheikha a flagrou e foi dizendo:

“Cale-se, feche a sua boca! Só faltava se tornar uma jankeyye15 na cama da Hind

e da Sarina. De repente a minha voz se quebra, e a música se torna interceptada e incompleta.” (p.37)

E nesse momento a tia não sente que tal humilhação constituísse na verdade uma

ofensa verdadeira:

“Se a tia naqueles dias perfurou o meu interior, (...) levando todas as minhas

esperanças em me tornar um dia uma cigana ou uma dançarina... Pois o

significado do nome de cigana ou dançarina está associado com as coisas mais

amadas por mim, a liberdade... pois qualquer uma daquelas profissionais tem a

liberdade que o meu mundo onde vivo não possui, porque ninguém impõe a sua

autoridade à cantora ou lhe limita os passos” (P.37)

No decorrer da autobiografia, nota-se que Fadwa reclamou várias vezes da sua

posição na família e do modo como a tratavam; chegou a desejar pertencer a uma família

de nível socioeconômico inferior ao da sua para poder desfrutar de mais liberdade (p. 94);

em outros pontos, afirma que as empregadas são mais felizes e têm mais liberdade (p. 95).

15 Jankeyye era o nome que se dava às cantoras profissionais naquela época, e tem origem persa (um instrumento musical). Hind e Sarina

são duas cantoras profissionais da época em Nablus.

29

2.5.6. Parentes:

Entre os seus familiares, Fadwa encontrou um único amigo, seu primo Faruq.

Foram amigos desde infância, para depois ele tornar-se seu incentivador da sua viagem

para Londres. Seu sofrimento na vida levou-a a cortar qualquer relação familiar que

simbolizasse autoridade e ódia-los. Ela procurava um fim para essa instabilidade e

isolamento em que vivia dentro de casa:

Cansei, cansei,

Será que há fim para minha longa jornada

Por que motivo eu arrasto os anos, minha jornada se distanciando

E não há fim! (p.259)

Em outra poesia ela diz:

Então eu disse:

na companhia da minha família e irmãos,

eu dispenso o povo e as amizades

pensei que estava bem com eles,

e que enchiam meu coração de amor

Não demorou a minha ilusão para cair seu punhal,

mergulhando nas minhas costas

E riu a minha alma de si em segredo,

zombando de mim e do meu amor

E fui indo com meu coração sozinho,

e nada além dos espinhos no caminho (p.260)

2.6. A viagem para Londres

Fadwa decidiu viajar para a Inglaterra quando se sentiu isolada durante um

período de perturbação poética, com a esperança de abrir para si um novo horizonte. Ela

encontrou nas cartas recebidas do jovem primo Faruq, que já estava lá, um aliado e um

apoio para realizar um sonho guardado há muito tempo: estudar a língua inglesa (p. 161-

162). Esse sonho fora interrompido pelo pai na época em que estudava junto com a sua

30

irmã Adibeh na escola católica em Nablus. A missão de ensiná-las passou para o irmão

Nemr, que a realizou com prazer. (p. 96)

No final de junho de 1962, Fadwa viaja e encontra um lugar para sua estadia

numa casa de família inglesa, após ter-se hospedado por alguns dias com Faruq, que

estudava em Oxford. Para estender a sua permanência em Londres, ela se matriculou num

curso para aprender o inglês em Oxford.

Durante a sua permanência em Londres, Fadwa com quarenta e quatro anos de

idade, encontra mais um amor na vida.16

Esse relacionamento vivido com todas as forças

da paixão se encerra com noticia trágica da morte do irmão Nemr num acidente de um

avião, o que a obrigou a retornar e viver mais uma vez na sua terra natal.

Ela fala sobre a liberdade conquistada:

“não existe melhor sentimento que o da liberdade, e a libertação dos problemas

alheios, aqueles problemas de cujas garras é impossível se livrar apenas através

da distancia geográfica. Pois na Inglaterra conheci a felicidade do preso no

momento da libertação para a vida e a iluminação” (p. 174).

Na Inglaterra passou os seus melhores dias, nela completando os estudos; em

Londres viveu o amor sem irmão, primo ou alguém para persegui-la e depois castigá-la;

encontrou a natureza e viveu a liberdade que desejava sem fiscalização, pois em Londres

ela viveu a vida como desejava (p. 170-201).

“mesmo que tenha visto as variedades de lugares impressionantes de beleza e de

história, eu nunca senti um impacto tão impressionante como na hora em que

fiquei perante o santuário do poeta do mundo, aquele eterno, que preencheu o

mundo e ocupou as pessoas enquanto a vida dura” (p. 180).

A primeira impressão que Fadwa teve na Inglaterra era relativa às árvores e às

florestas que avistou através da janela do avião (p.170). A natureza afeta as lembranças da

poetisa por causa da conexão entre a natureza vista com liberdade na infância e o

sentimento da liberdade na Inglaterra (p.180).

16 Fadwa Tuqan teve três historias do amor (Ibrahim Nagaa, Anwar Al maáddawy e A.G em Londres)

31

2.7. O amor segundo Fadwa

Mesmo que Fadwa vivesse em privação, ela amava o amor em si, pois era a sua

única motivação para viver e continuar lutando: o amor para ela era como o ar que se

respira e a água que não se pode dispensar. O amado, em sua concepção, é sempre a alma

gêmea e a motivação para escrever poesias de destaque e sucesso, poesias plenas de

sentimento vivo, cada poema consistindo para ela era num filho, filho daquela relação de

amor, querida do coração (Al-Sheikh, p. 11).

Em cada história nova de amor, Fadwa dava à luz novas poesias nascidas do

coração, na forma de cartas trocadas entre ela e o amado, cartas trocadas carregando em

seu cerne os mais nobres e puros sentimentos, falando do seu sofrimento por causa da

ausência do amado, além dos seus problemas, preocupações e dores. (Al-Sheikh, P.11)

2.8. Escola, amor, castigo:

Naquela época as filhas das famílias ricas muçulmanas tinham acesso aos estudos

mediante a contratação de professores particulares ou mesmo por iniciativa de alguns

membros da família, e, se acaso lhes fosse permitido frequentar a escola, seria apenas para

algumas aulas durante o dia – e numa escola exclusivamente feminina. Fadwa foi uma das

bem aquinhoadas pela sorte por ser filha de uma família rica e tradicional: “na escola eu

consegui encontrar algumas partes perdidas da minha alma, pois nela pude me dar conta da

minha própria existência, de um modo que não conseguia em minha casa” (p. 52).

Durante esse curto período, ela conheceu a sua amada professora, Zahra Al-

Ahmad, mulher bonita, elegante, perfumada e, acima de tudo, atenciosa e carinhosa para

com ela. “A minha presença na escola se tornou mais agradável e mais conveniente para

mim do que a casa; na escola conheci o sabor da amizade, e gostei” (p. 53).

Assim, Fadwa passa a ter um novo modelo de mulher, que simboliza o mundo

externo cheio de desejos, um mundo ao qual ela verdadeiramente aspirava através da

professora.

Época da primavera, época de alegria para todos, mas não para a adolescente

Fadwa, que ignorava estar o destino à espreita para dar início à sua “prisão domiciliar”:

32

chegou a primavera, e conheci aquela coisa chamada amor, que era um casulo

envolvendo a minha existência sem fim; nisso chegou a resposta àquela pergunta

ilícita feita por minha mãe, uma resposta carregada sobre uma rosa de jasmim:

exalou seu perfume e se cravou no meu coração de modo que até hoje sinto

como se fosse uma mão invisível jogando-me para aquele passado ou jogando-o

para mim, cada vez que perfuma aquele jasmim que passa por atrás de mim.

(p. 54).

Apesar de muito curta, essa experiência de amor foi a que mais marcou a vida da

poetisa: passou a sofrer de insônia e anorexia por causa de um rapaz de dezesseis anos que

a seguia na ida à escola e na volta para a casa, até que um dia ele lhe manda, através de um

menino que correu em sua direção, uma rosa branca, enquanto Fadwa caminhava para a

casa da sua tia. “Então desaba a desgraça que coloca fim a todas as coisas bonitas” (p. 54),

pois tinha alguém que a observava contou para o seu irmão Yousef, “e Yousef entrou como

um furacão incontrolável: ‘fale a verdade’”. (p. 55).

O cerco se apertou e ela entrou em depressão, decepcionada por sentir a injustiça

de não poder frequentar a escola, enquanto a sua irmã Adebeh espalhava seus cadernos na

sala estudando. Fadwa tentou o suicídio tocando fogo no próprio corpo, mas “eu temia a

dor corporal e não a aguentava” ( p. 57). Então ela se pôs a procurar outro modo menos

doloroso de suicídio: pensou em tomar veneno, mas ponderou que, mesmo assim, “ele

causa fortes dores antes da morte” (p. 57), e afastou a ideia:

“o suicídio era a única coisa através da qual eu poderia exercer a minha roubada

liberdade particular; queria demonstrar, através do suicídio, a minha revolta. O

suicídio era a única maneira, era a condição única para me vingar da minha

família” (pp. 57-58).

Fadwa não se intimidou em descrever a sua família, quando a proibiram de

continuar os estudos, como símbolo da rigidez do homem árabe e da sua total incapacidade

de manter indivisa a sua personalidade, pois ela diz sobre eles:

“[em cada homem árabe], uma metade acompanha a evolução, corresponde às

novidades e caminha com a nova vida, e a outra metade tem meia paralisia nas

pernas e é tomada pelo egoísmo acumulado na alma do homem árabe, com toda

a arrogância (...), arrogância essa com a qual os homens tratavam as fêmeas da

sua família” (p. 97).

33

2.9. Amores e dores

Fadwa amou muito, e, mesmo que o amor fosse uma palavra proibida de

mencionar ou pensar, ela não vivia sem ele. Foram muitas experiências, tensas, de

emoções fortes; em cada uma, ela mergulhava nas profundezas do amor. Nenhuma dessas

experiências foi com o corpo e a alma, mas apenas com a alma. Todas eram platônicas,

amores sinceros, puros e intensos, assim como o amor imenso pelo irmão Ibrahim e por

outros, entre os quais se destaca o poeta egípcio Ibrahim Nagaa.17

O destino marcou a vida

de Fadwa nas cartas trocadas entre os dois. Esse amor teve um impacto fantástico e

marcante nas poesias de Fadwa, mas as tradições e os costumes da família Tuqan mais uma

vez colocaram fim a esse relacionamento. Aliás, naquela época, as famílias quase nunca

permitiam às moças que se casassem com pretendentes de outra família, de outra cidade ou

de outro nível socioeconômico, e, se acaso tais condições não fossem preenchidas, a moça

deveria ficar presa na casa dos pais, sem casamento, para sempre. Assim foi o fim de uma

história de duas pessoas cheias de emoções puras e sinceras, pois as tradições nos

acorrentam e destroem tudo o que há de sentimentos belos nas nossas vidas (Al-Sheikh,

1994).

Outro amor intenso e forte que levou a Fadwa ao topo da fertilidade para produzir

as melhores poesias ocorreu quando começou sua relação inteiramente platônica com o

escritor e crítico egípcio Anwar Al-Maaddawy.18

Começou com uma troca de cartas

recheadas com diversos assuntos interessantes, e logo se transformou numa relação de

amor nobre, exemplar e livre de quaisquer interesses carnais. Quem deu um fim a esse

relacionamento foi o próprio Al Maaddawy, motivado pela sua doença, que o levou a se

isolar e posteriormente lhe causou a morte. Como nas demais relações dela, houve a

retribuição de muita riqueza à literatura com poemas, a maioria deles plenos de raciocínio

e transparência (Al-Sheikh. 1994).

17 Poeta e professor egípcio (1919-1969) cuja obra ainda não foi inteiramente publicada.

18 Crítico egípcio (1920-1965), cuja escrita era considerada ousada e profunda. Manteve relações com várias intelectuais árabes. Morreu

de uma doença incurável.

34

Fadwa também teve em Londres uma espécie de amor secreto, por ela referido

somente pelas iniciais “A.G.”: meus dias na Inglaterra nunca poderão ser esquecidos

(p.174). Assim começa a falar sobre sua viagem a Londres:

“o paraíso que encontrei, o silêncio e a paz à sua sombra, a tranquilidade e

aconchego. Homem sociável e dócil, perto dele desfalecem meus sentidos: A.G.

era a alma gêmea, duradora, que me atirou a um mundo mais forte do que eu”

(Tuqan, 2009, p. 202).

Essas duas letras são as iniciais da expressão “alma gêmea”, aquele amor

relacionado à natureza. Mesmo que ela não revelasse isso, o leitor tem essa percepção

devido ao tipo de relação, nos quais se entrevê a imaginação sexual durante seus encontros,

sozinhos, caminhando juntos pela natureza:

“onde estarei amanhã neste paraíso? Se o tempo parasse, se eu pudesse conter

estes momentos fugidios, aqueles momentos que caem gota a gota no oceano do

tempo, para me esconder e desaparecer dentro dele, para nunca mais voltar, que

nunca voltem. Nunca vou esquecer aquele dia do verão de 1962. E aqui estamos

juntos.....” (idem, ibidem).

A história desse amor termina com a notícia da morte de seu irmão Nemr, que a

levou a partir de volta para Nablus:

“adeus, ó país do verde permanente, e doce verão da Inglaterra, que tardes ricas

iluminadas pelo amor, suas longas tardes do pôr do sol, e suas noites que

agarravam as cortinas do pôr do sol. Vou deixar em você uma parte da minha

vida, e a saudade vai me ferir, mas ao menos fui feliz e fiz alguém feliz, pois vivi

a minha existência, ainda que por um tempo limitado: o que é a nossa vida além

desses momentos profundamente vividos?” (idem, ibid).

Com esse fim, termina mais um amor dentre os amores que foram vividos

intensamente em sua alma.

2.10. Relação com os poetas conterrâneos

Fadwa teve várias relações e contatos com poetas da sua pátria, em especial com

Ibrahim Tuqan, seu irmão, professor, protetor e incentivador para escrever poemas durante

sua vida e após a sua morte.

35

Mahmud Darwish, poeta da resistência nacional, encontrou-se com ela pela

primeira vez quando declamou sua poesia “Nunca vou chorar”, dedicada a poetas da

resistência nacional da Palestina, durante um encontro em Haifa19

. Diz Fadwa sobre esse

evento:

“A primeira parte da minha poesia “nunca vou chorar” é a colheita e o retorno

da minha parada dolorosa na terra sagrada, entre os dois lados de Jerusalém, o ocidente e o oriente, e da minha parada em Yafa, entre os escombros das casas

árabes e sua destruição alguns dias antes da minha visita a essa cidade. E meu

primeiro encontro com Mahmoud Darwish, poeta dos poetas, foi a colheita e o

retorno dessa primeira parte, e ele me disse: ‘Aqui estamos nos encontrando,

Fadwa, e comecei a temer a chegada do dia em que nos visitarão Omm

Kalthoum ou Nizar Qabbani!’.20 Percebi uma visível amargura nas palavras

dele” (Tuqan, 2009,P. 20)

Essa poesia levou Darwish a dizer-lhe: “estamos devendo a você, a partir de hoje,

um poema” (p. 20), e a partir desse momento ambos se tornaram amigos. Mais tarde ele

dedicou a sua antologia poética (diwan) Yawmiyyat Jorh Falastiny21

a ela, registrando o

seguinte: “Ruba‘iyyat (quartetos) dedicados a Fadwa Tuqan” (p. 518). Também lhe

ofereceu uma seção na revista Al Jadeed, “O Novo”, para colaborar em suas novas

páginas com o título “Páginas dum diário” (p. 26). Ela aceitou, e foram publicadas várias

edições contendo essa seção. Com base na amizade com Darwish, fortaleceu-se sua relação

de amizade com Samih Al-Qasim, seu companheiro de revista e de leituras. Ela escrevia e

ele, por sua vez, publicava.

“esse encontro era o início de uma interação dinâmica produtiva, que manteve

preservada a sua continuidade com a união dos escritores e poetas palestinos que

vivem na parte ocupada na Palestina desde 1948, mesmo com o zelo das

autoridades militares em construir e manter barreiras, além de atrapalhar

qualquer nascimento ou movimento literário ou pensamento culto entre os filhos

da mesma nação que foi dividida na tragédia de 1948. Pois quantas vezes, ao ser

convidada a participar de eventos de literatura nacional em Nazaré ou Jerusalém, por exemplo, eu recebia e continuo recebendo ordens militares para não sair de

Nablus naquele dia especificamente!” (p. 23).

19 Haifa: Jaffa

20 Om Kalthoum, pseudônimo de Fátima Ibrahim El Seyed El Beltagy (1898-1975), considerada a maior cantora egípcia de todos os

tempos, apodada de “senhora do canto árabe”. Nizar Qabbani (1923-1998), poeta sírio, considerado um dos principais escritores árabes.

Destacou-se pela poesia amorosa e também pela crítica social e política. Morreu em Londres. 21

Em português, “Diário de uma ferida palestina”, por Mahmoud Darwish.

36

2.11. Suas poesias

Fadwa demonstrou em suas poesias o conflito entre sua alma e a sua existência, e

isso é notável nas suas duas primeiras antologias, “Sozinha com os dias” e “Encontrei-a”.

A primeira fala do isolamento em que vivia naquela casa; a segunda fala de seu

distanciamento da vida social, justifica a sua fuga para o mundo da imaginação e das

lembranças para viver. A poesia a tornou famosa, e ela começou seus primeiros passos

para se libertar.

Seus poemas eram uma tentativa de desabafo tudo quanto não conseguia falar

com sinceridade; suas poesias representam as etapas da sua vida22

. Mesmo com as

correntes das tradições sociais que a obrigavam a se tornar não apenas cativa na sua casa,

mas também lhe imobilizavam os sentimentos amorosos, ela demonstrou nas poesias da

terceira antologia, “Dê-nos amor”, sentimentos do amor misturados com a vergonha e os

grilhões sociais, o que a levou descobrir o seu eu e a vida.

Mas esses poemas da essência e da existência não duraram muito, transformando-

se em poesias políticas e patriotas, e nessa linha Fadwa lançou várias antologias, incluindo

as suas poesias patrióticas, “Perante a porta fechada”, 1967, “A noite e os cavalheiros”,

1969, “No topo do mundo sozinho”, 1973, e, conforme os acontecimentos se tornavam

mais intensos, as suas poesias se tornavam mais incisivas e intensamente patrióticas:

“Após guerra de outubro de 1967, o ocupante israelense me devolveu o

sentimento de ser humano vivo, e apenas durante as apresentações poéticas,

quando fui encontrar o público durante a ocupação, conheci meu valor e o

significado verdadeiro da poesia que amadurece e fortalece, como o vinho nas

taças do povo” (Tuqan, 2009, p. 109).

Na sua opinião, para os membros da resistência a poesia tem mesmo valor da

arma, porque incentiva sua essência combatente e revolucionária, mantendo-o firme e forte

para chegar ao objetivo desejado.

Os poemas de Fadwa se distribuíram entre o estímulo à revolução e a

demonstração do grito do povo de tanta dor e sofrimento na luta para se livrar das

22 Rihla Jabaleyya, Rihla Saába, p.73.

37

armadilhas humilhantes da ocupação israelense. Foi assim, por exemplo, que Fadwa

demonstrou, em sua poesia “No guichê das permissões”, um pouco dessa dor e

humilhação:

Árabes, bagunça, cachorros...

Voltem,

não se aproximem da barreira,

voltem, seus cachorros! (p.530)

Suas poesias também deram vazão à esperança, para tornar o sonho realidade e salvar do

fogo da servidão ao carrasco:

A árvore levantará

A árvore levantará e

os galhos crescerão ao sol, se tornarão verdes,

e os risos da arvore darão folhadas na face do sol,

e a ave chegará,

a ave deverá chegar (p.489)

A importância de Fadwa não foi por apenas haver escrito poemas sobre os

palestinos, mas sim por tentar dar voz ao grito do seu povo e descrever-lhe as dores.

Mesmo com tantos grilhões e prisões em sua vida, o amor não foi afastado: ela

escreveu as mais delicadas e nobres poesias amorosas, e uma delas, “Seu Nome”,

demonstra o quanto ela foi afetada pelo amor e ligada a quem amou:

Digo?

Não vou falar,

apenas para mim, seu nome para mim sozinha

que a palavra venha ao coração,

ao lado do nome de Allah (p.361)

Não foram apenas amores às escondidas, mas além dos grilhões nos quais a sua

sociedade obrigavam a mulher oriental a ficar:

E você não me dê minha liberdade,

pois meu coração é o coração duma mulher do oriente...

apaixonada até o fim, e crente no seu amor, mesmo acorrentado. (p.217)

38

E sempre quem ama procura esconder, mas não há jeito, pois o brilho dos olhos

não esconde segredo do amado:

não há esperança de unir nossos corações,

nem o amor e nem os segredos!

Como os outros ficaram sabendo do nosso segredo?

Dum esconderijo das nossas almas (p.192)

O amor é um segredo que se oculta na essência do ser humano, que nasce do

coração de Fadwa e dos outros seres humanos, mas não de todos. O amor é o motivador da

continuidade do ser humano na sua pátria, tornando mais forte a sua ligação com ela.

Fadwa viveu e conviveu com a Catástrofe, o Revés e a ocupação do inimigo sionista, e

também com as Intifadas, levantes populares, em especial de jovens, uma atrás da outra;

sofreu bebendo os cálices das dores da opressão e da humilhação atrás das grades da

ocupação (p. 192), pois tudo quanto seu povo sofreu, tudo por quanto passou, também a

afetou, pois ela era palestina, dona de aguda sensibilidade: uma poeta.

Afetada por todos os acontecimentos em sua volta, Fadwa escreveu sobre a sua

sociedade as mais belas poesias, que firmam nos corações do seu povo o estímulo, a

revolta e a resistência para afrontar as dificuldades, dizendo:

Tomamos nossa melodia do seu derretido e dolorido coração,

Em meio a tanta poeira e escuridão,

Amassamo-la com os incensos e a luz

E com o amor e oferendas,

Assopramos nela a força da pederneira e das rochas

Para devolvê-la ao seu puro coração,

Seu coração de cristal,

Nosso paciente povo lutador (549)

Ela sabia que a vida não era nada fácil, e que o ser humano deve lutar para

alcançar seu objetivo, especialmente o povo palestino, por causa do sofrimento da

ocupação, e que nesse período ele precisa mais do que nunca de incentivo e motivação

diferentes; Fadwa fez o que deveria fazer: poesias incentivando a resistência e a luta em

prol de um amanhã melhor para os filhos do seu povo.

39

Fadwa viveu uma vida não muito comum desde o nascimento até a morte: sofria

com o abandono na casa da sua família e com as duras regras, e falta dos sentimento de

segurança e a estabilidade, além de sua pouca beleza; todos esses motivos fizeram dela

uma mulher interiormente destruída, mas o destino lhe estendeu a mão por intermédio do

seu irmão Ibrahīm, que fez a vida sorrir, mesmo que de longe, para a pequena Fadwa,

contribuindo para mais tarde torná-la a mais famosa poetisa da Palestina. E não se pode

esquecer que as tradições e os costumes da sua sociedade naquela época eram muito

rígidos, despidos de misericórdia e sem nenhum sentimento de compaixão. Isso tudo não a

impediu, entretanto, de continuar os estudos e enriquecer a sua cultura e sua paixão pela

leitura e pela escrita, tornando-se enfim o que ela se tornou.

Mesmo com passar dos anos, os rígidos grilhões da sua sociedade não lhe

permitiam explicitar os seus amores. Ela enfrentou várias decepções amorosas e teve várias

experiências de paixão, o que é notável nas suas poesias: “não abri o guarda-roupa da

minha vida inteira, pois não há necessidade desenterrar todas as particularidades”23

, diz ela

sobre a revelação dos nomes dos seus amores.

Fadwa viveu a catástrofe e o revés, e essas tragédias que desabaram sobre a sua

sociedade levaram-na a sair do isolamento e escrever poesias nacionalistas para se unir ao

seu povo e viver a dor e a luta junto com ele, pois a dor da infância sofrida, os grilhões das

tradições, costumes, a prisão e o abandono, poesias sobre o amor proibido, e depois sobre

uma pátria sangrando de tantas feridas, tudo isso fez nascer dentro dela a alma da

revolução, para demonstrar o sofrimento do seu povo inteiro, independentemente da sua

classe social, e para lutar junto dele com a única arma que possui, a poesia, e incentivar

todos os povos árabes e seus governantes a apoiar e lutar ao lado do seu povo ferido.

23 Rihla Jabaleya, Rihla Saába, “Viagem montanhesa, viagem difícil”, p. 10.

40

3. SEGUNDO CAPÍTULO

A questão do sofrimento do ser humano é parte duma corrente que tem começo e

não tem fim, variando de uma pessoa para outra. O sofrimento mais difícil e de maior

impacto sobre a pessoa é o seu eventual sentimento de incapacidade para chegar a um final

satisfatório. Assim, o ser humano vive em busca de mudanças, sobretudo quando se sente

incapaz, e o desejo de mudança o leva a inventar um meio para expressar tais sentimentos

de insatisfação e incapacidade.

Tudo isso levou a jovem palestina Fadwa Tuqan a lutar e resistir à injustiça, que

dominou a sua vida e a vida do seu povo, exercida pelo ocupante sionista, e a se dedicar

com todos os sentimentos e forças aos palestinos em seus poemas, descrevendo a injustiça

e desgraça do povo palestino, consagrando os seus poemas ao estímulo dos heróis da sua

pátria, mantendo acesa a chama da luta e da resistência.

O estímulo para uma revolução não pode ser com armas apenas, necessitando da

poesia como instrumento simbólico, pois ela tem forte impacto sobre as almas das pessoas

que sempre lhe falam, repetindo e passando os fatos de uma geração para outra. Fadwa

conheceu a importância das poesias para o seu povo, assim como também o soube o

governador militar israelense de Beyt Jala, o que o levou a perguntar a um empresário24

da

região: “se sobre você, filho dos setenta anos, as poesias dela têm tamanho impacto,

aumentando o seu entusiasmo a esse nível, então como seria impacto dessas poesia na

geração mais jovem?”25

3.1. A revolta contra o estado de coisas:

Na Bíblia foi escrito: “quem te der uma tapa numa face, ofereça-lhe a outra

face”26

. Fadwa tentou seguir esse conselho desde a infância, suportando o abandono e as

dores da família, porém não durou muito essa situação, e ela partiu para a rebeldia, sempre

24 Tawfiq Al-Qattan, cidadão palestino e empresário conhecido, era um dos interessados em poesia.

25 Fadwa Tuqan, Al-Rihla Al-Asaába, p. 38.

26 Michel Nejem, “A velha explicação cristã para o Livro Sagrado”, p. 220.

41

encontrando barreiras que a impediam, mas as tentativas continuaram e enfim ela

conseguiu se misturar com os membros da sociedade e sentir a mesma dor, conseguiu se

revoltar junto com seu povo contra a ocupação e perceber que os princípios essenciais da

política israelense para com os palestinos era a injustiça.

O governo militar Israelense decretou, aos árabes do país, a proibição de circular

e de transitar entre as cidades palestinas, com isso praticando uma política que empobrecia

a cultura palestina, afastando e isolando os professores com grau de estudo especializado

por serem membros de partidos políticos e empregando nos seus lugares professores de

nível mais baixo, como os do ensino fundamental, desde que não fizessem parte de

nenhum partido.27

Ademais, passar de uma área a outra é sempre uma estória de sofrimento

e dor para o povo palestino, o que foi descrito por Fadwa na sua poesia “Guichê das

permissões”, na qual ela disse:

minha parada na ponte pedindo ajuda para passar...

Ah, pedindo ajuda para passar!

sufocada, minha respiração entrecortada,

carregada no intenso calor da tarde.

Sete horas de espera.

Ah, pedindo ajuda para passar

E o grito dum soldado mestiço cai

como uma tapa na cara da multidão

(Árabes, bagunça, cachorros,

voltem, não se aproxima da barreira e

voltem seus cachorros!)

E uma mão fecha o guichê. (529)

As táticas repressivas e terroristas praticadas pelo sionismo contra os palestinos,

seguindo a regra enunciada por Ben-Gurion e outros líderes sionistas: “Que a força das

armas e não os decretos oficiais definam a questão”.28

Todos os palestinos se revoltaram

com todos os meios e condições ao seu alcance, juntado-se a isso o grito de Fadwa:

Será que a minha pátria será estuprada?

27 Ibrahim Allan, “A poesia palestina sob a ocupação”, pp. 47-48.

28 Al-Hakam Drozah, “Arquivos da questão palestina e o conflito árabe israelense”, p. 66.

42

e o meu direito será assaltado?

Fico aliada do desabrigo,

Acompanhando aqui meu vexame

será que deveria ficar aqui para morrer como estranho numa terra estranha?

será que deveria ficar aqui? quem disse?

voltarei para minha amada pátria

sim, voltarei,

ali vou morrer

e sua generosa terra vai me acariciar e cobrir os meus restos.

Voltarei,

devo voltar,

por maior que seja a minha tragédia, voltarei,

e por maior que seja a história do meu vexame sem fim, voltarei

vou terminar essa história pessoalmente (p.154)

Não restou a esse povo, silenciado durante o período das decisões internacionais,

e que desejou a volta da paz, nada lhe restou além da revolução, pois descobriu ser-lhe

impossível fazer essa mudança por meios pacíficos, e “que a sua opção era entre se tornar

um brinquedo ou um ser humano”29

, e essa opção foi a melhor, ainda que a mais difícil. O

povo verificou, por meio dessa opção, que a revolução é o ideal e o meio mais arrojado

para alcançar a liberdade; então, lançou mão da tática da resistência, a amarga luta e a

violência para concretizar o propósito da sua causa, que é o retorno da paz que antes

predominava em sua pátria.

A revolução não foi a primeira escolha do povo palestino, que foi a ela forçado

após o fracasso em concretizar a paz por meios pacíficos; tal escolha foi apoiada por

Fadwa em sua poesia. Ela disse:

vou continuar gravando seu nome enquanto luta,

na terra, nas paredes, nas portas, nas sacadas,

na imagem da Virgem Maria, na igreja, no caminho das fazendas,

29 Adonis, O tempo da poesia, p. 56.

43

em cada alto e baixo, em cada curva e rua,

na prisão, na senzala da tortura, e na forca da cruz,

apesar das correntes,

apesar de explosão das casas e da ardência dos fogos

vou continuar gravando o seu nome até o ver,

até que eu veja a liberdade vermelha abrindo cada porta,

e a noite fugindo e a claridade quebrando colunas da neblina,

minha liberdade (pp.555-556).

A violência e o martírio pela causa eram o que restava pra ela e para o seu povo, o

qual ficou incapacitado “perante tantas chacinas cometidas pelos sionistas, tantas e tão

repetidas que ante elas o pensamento se torna inválido”.30

Os judeus sofreram como povo fraco na terra: chacinas, humilhação, expulsão e

injustiça dos alemães e dos europeus, mas para conseguir o que desejavam eles se

esqueceram de tudo isso, e começaram a praticar a mesma violência que sofreram apenas

para alcançar os seus propósitos: conseguir uma pátria e expulsar os palestinos dela,

mesmo sabendo que tudo quanto sofreram não foi pelas mãos palestinas ou árabes. No

entanto, o que eles praticaram constituiu num grande incentivo e impulso para que os

palestinos iniciassem a sua revolução, conforme Fadwa demonstrou na sua poesia:

as águias se espalharam nas multidões

para defender a pátria,

vieram voando chamas pela voz da altivez e da luta,

defendendo sua honra e contendo mão do atacante,

arrostando as dificuldades, sem se importar com os fogos ardentes,

descendo como uma livre sentença, atacando como o destino escrito,

sem se importar com as odiosas caras da morte na posição decisiva (148).

Essa revolução sofria de uma deficiência gritante: o desequilíbrio entre os dois

lados, pois os israelenses contavam com o apoio da Grã Bretanha, injetando armas e

equipamentos de guerra, enquanto os palestinos não tiveram nem sequer um sólido apoio

30 Suheil Suleiman, “Kamal Naser, o escritor e poeta”, p. 22.

44

árabe, além de não possuírem nada mais que armamentos leves. Portanto, isso resultou em

grande destruição e prejuízo para o lado mais fraco, mas os palestinos nunca desistiram do

seu objetivo de alcançar a liberdade da sua terra, a e a respeito Fadwa Tuqan diz:

Minha liberdade!

Chamado que eu repito com a boca da raiva,

vou correr atrás mesmo acorrentada,

E seguir os seus passos mesmo na escuridão,

mesmo lutando e sendo com raiva carregado

Vou continuar chamando

Minha liberdade! (p.554)

A despeito de tudo o que os palestinos enfrentaram, a imposição do sofrimento e,

por conseguinte, da resistência, nada disso impediu a devastadora vaga sionista de invadir

a Palestina inteira, defendendo-se da resistência palestina como se fossem eles, os

sionistas, os verdadeiros e únicos donos da terra. Trataram o povo palestino com muita

crueldade, como se descreveu sobre o ex-premiê israelense, e ex-membro do grupo

terrorista Haganá, Menahim Begin, que encerrou palestinos em cavernas escuras e úmidas,

deixando-as muitos dias sem comer nada e torturando-as de maneira assustadora.31

A dor do povo palestino teve início com a “Declaração Balfour”, passando pela

revolução de Al-Qassam, depois a divisão da Palestina, em seguida ao revés, com dores

que perduram até os nossos dias, mas isso provocou a esperança de uma bem próxima

libertação.

Os ataques dos israelenses à população palestina não cessaram, tendo chegado ao

âmbito dos santuários sagrados muçulmanos e dos cristãos. Um soldado sionista invadiu a

mesquita da Jerusalém e começou disparar para todos os lados, provocando a morte de dois

cidadãos e ferimentos em sessenta, além de várias outras chacinas; também houve ataques

sionistas aos santuários cristãos, num dos quais foi roubada a coroa da Virgem Maria.32

Muitos heróis nasceram nessa terra sagrada e seguiram caminho da luta e

resistência, assim como Jesus Cristo, sem temer a morte, tal como disse Fadwa Tuqan:

Tubas por trás das colinas,

31 Hamdan Badr, História da organização Haganá na Palestina, p. 264.

32 Azmi Eid Abu Ellayyan. Jerusalém entre a ocupação e a libertação. pp. 287-288.

45

Ouvidos perturbados com as palavras

E olhos abandonados pelo sono

O vento por trás do silêncio ascende,

Enfurecendo-se nas colinas

Exaurindo-se atrás da respiração perdida

Correndo no círculo da morte

Que a morte seja bem vinda mil vezes! (p. 509-510)

Os poemas de incentivo às vezes se tornam a munição da arma dos combatentes,

tal como disse Moshe Dayan sobre os poemas de Fadwa Tuqan: “cada um dos poemas de

Fadwa Tuqan faz dez guerrilheiros” (p. 39), e em especial a sua poesia “Nunca vou

chorar”, escrita após o Revés, e uma prova de que suas poesias nascem de situações

vividas, descrevendo o sofrimento do seu povo para incentivá-lo à resistência:

E aqui estou eu, meus amados, com vocês,

para pedir uma brasa,

e levar uma gota de óleo de vocês,

Lampiões da noite para meu lampião

E aqui estou eu, meus amados,

para as suas mãos estendo a minha,

e nas suas cabeças coloco aqui a minha,

erguendo junto a vocês para o sol minha testa

E aqui estão vocês como as rochas das nossas fortes montanhas,

como as flores da nossa linda pátria

Mas, como a ferida virá me esmagar?

E como o desespero me estragar?

E como na frente de vocês poderia eu chorar?

Juro que após esse dia nunca mais vou chorar!!! (p. 514)

Ela sabe que não adianta estar triste, mas o sangue que jorra esperança, apagando

a lágrima da tristeza que vai adiantar e levar os inimigos sionistas a chorar como resposta

ao que fizeram.

46

Mas qual o papel da mulher nessa luta, ela que acompanhou o homem nessa triste

realidade em todas as etapas da luta? Qual foi seu papel? E como reagiu à variedade das

situações?

3.1.1. A mulher palestina na resistência:

A união é o segredo de uma vida bem sucedida, e qualquer tragédia que atinja a

terra natal com certeza afetará o seu povo, tanto os seus homens como as suas mulheres,

jovens ou velhos. A mulher representa metade da sociedade e é um dos alicerces mais

importantes na sua construção, pois ela cria, prepara e forma os seus filhos para torná-los

cidadãos conscientes em suas pátrias; também assim é a mulher palestina: ela enfrentou as

tradições e os costumes da sua sociedade naquela época, e foi para a luta, incentivando

seus filhos e homens da sua família a proteger e defender a pátria através do seu esforço

em estudar e aprender.

A mulher palestina saiu para o mundo real dois anos após a catástrofe, quando se

iniciou a mudança social, e isso remonta à mudança europeia causada pelas mulheres

soldados israelenses. Mas sobre seu papel principal como mãe, enquanto a mãe duma

criança israelense cria seu filho num clima de vitórias e ganhos, a mãe palestina, do outro

lado, que viveu por muito tempo uma vida de humilhações e a perda de todos os seus

direitos de cidadania, sonha em construir um mundo e uma vida melhores, cheia de

orgulho e respeito por seus filhos na sua terra.

A luta da mulher palestina não foi apenas a de carregar armas e fazer mais

mártires, pois ela sabe que esse papel nasceu da sua fé em seu povo e da causa da sua

pátria, e foi crescendo quando seu marido, filho, pai ou irmão foram martirizados, ou

exilados. Por isso ela sentiu que deveria estar nos seus lugares, lutando pelos seus direitos

e pela pátria, aumentando a cada dia seu ódio e raiva ao ocupante israelense. Sobre isso

Fadwa diz:

Milhares de Hind por baixo da minha pele

A Fome da minha malícia está com a boca aberta,

Além dos seus fígados, não acaba a fome que tomou a minha pele

Ah, a minha raivosa malícia, mataram o amor dentro de mim,

47

Transformaram meu sangue em pus e alcatrão (p. 531-532).

Essa raiva e esse rancor não são mais do que uma resposta natural duma verdade

que os palestinos não podiam ignorar, qual seja, que Israel começou, desde o inicio, com a

sua violência e terrorismo, com matanças, não diferenciando mulher, homem, criança ou

velho. Aliás, muitos israelenses usaram a doutrina do povo escolhido para tratar com

brutalidade prisioneiros e prisioneiras, e sobre isso Fadwa fala referindo as dores duma

dessas prisioneiras:

(da agenda de Randa)

No meio dessa noite....ah!

Seu sapato bate nos corredores....ah!

Criativo na tortura

vem vindo, e

seus passos me aproximam da sala das investigações....ah!

vem vindo, e

seus passos me aproximam do tempo do pesadelo e do inferno e da luta

(.......)

Seu sapato bate no corredor

Meu sangue, minhas veias e até minha espinha bate

(.......)

ferocidade das dores, monstruosa, faça como quiser,

pois do meu sangue não vai tirar reposta (p. 161).

A esperança continua nascendo do ventre da pátria, do ventre do sofrimento, e a

confiança em que o amanhã vai trazer para o palestino a liberdade da sua terra e a

independência... tudo isso está registrado numa carta da prisioneira Aicha Ahmad Ouda,

condenada à prisão perpétua mas mesmo assim ainda crente em sua pátria e seu povo, em

que as mulheres palestinas vão desfrutar um dia dessa liberdade e independência, tal como

Fadwa demonstra dizendo:

A carta de Aicha está na minha mesa

(...)

Troca comigo o empregado da prisão um claro silêncio: diz para ela que

As árvores caíram e a floresta hoje não vai ser queimada

48

Mas Aicha ainda insiste dizendo que

As árvores estão tão firmes como os castelos,

E a floresta está como a deixei há cinco anos: continua acesa,

E ouvindo o rosnado dos ventos entre os corredores

(...)

E senta se na escuridão da prisão sonhando

Com as sombras das árvores cobrindo-a

e o som das chamas duma floresta ao longe,

e sonha Aicha, e sonha (p.576-577)

E como ela não continuaria sonhando se a luta continua e a revolução não tem

fim?

O papel da mulher e sua atuação na sociedade andam lado a lado com o do

homem, e a sua atuação no aspecto político nasce da sua fé na sua pátria, que a levou a

criar várias fundações na maioria das cidades palestinas com objetivo puramente

humanitário e não lucrativo ou individual, e que tiveram papel importante, tal como a

fundação “Ressuscitar a família em Al-Bire”, de 1965, com o objetivo de estimular a

mulher a trabalhar, reconhecendo o seu papel ativo em todas as áreas para servir e ajudar a

população na diminuição de suas tragédias e no alívio das suas dores.

Portanto, como foi o impacto desse lugar distinto da mulher palestina nas

crianças? E qual foi papel das crianças na resistência? O que eles apresentam para a

sociedade e para Fadwa?

3.1.2. As crianças na resistência e na vida de Fadwa

A espontaneidade, a inocência, a simplicidade e a beleza, palavras que se referem

à infância com tudo o que ela tem de esperança numa pátria na qual ela se criou. Fadwa

Tuqan enxergava nas crianças: “eram meu ponto fraco, meu amor por elas chega ao nível

da dor.....pois elas são amadas por Allah.... ó Allah, eu te suplico para ter misericórdia com

49

os seus amados”.33

Por que ela pediu a misericórdia e cuidados divinos? Por que ela se

preocupava com elas? Será que ela se referia a crianças especificas?

Fadwa Tuqan sentiu que o perfeito futuro está nelas, e que não existe nenhuma

diferença em seu amor por crianças árabes e judias, pois ela sabe que elas são como uma

folha branca: guarda tudo o que for escrito, e por isso o dever das famílias era salvar as

crianças da ignorância que está em volta delas, especialmente as crianças israelenses,

ensinadas a guardar dentro de si todo aquele ódio aos árabes.

Fadwa amou as crianças de forma pura e sem racismo ou preconceito; por isso ela

escreveu para as crianças judias, pela uma criança chamada Itan, uma poesia na qual disse:

Que pena!!

Ó minha criança, você é afogada na mentira

E o porto de Itan, igual a você, é afogado na mentira

Afogando-lhe o exagerado sonho

De cabeça de dragão e mil braços

Ah....Ah!!

Desejo que continue humana a criança

(....)

Ó minha criança, temo que matem em você o ser humano,

Que a alcance a queda,

Temo que caia

Caia

Caia

Caia para as profundezas (p. 627-628)

Fadwa demonstrou as mentiras que a propaganda sionista plantam nas mentes das

suas crianças, fazendo com isso nascer o ódio nas almas das crianças judias contra os

palestinos (Tuqan, 2007, P. 30), especificamente como Itan, e matando de dentro dele a

33 Al-Rihla Al-Asaaba, p. 9.

50

compreensão humanitária. Por isso a poetisa lamenta os passos que ele vai tomar seguindo

seus antipassados34

.

O menino palestino não é mais criança, ele cresceu, e foi tratado como adulto pelo

inimigo sionista, que não pensa duas vezes para matá-la, pois na visão sionista essa criança

palestina é o inimigo que está crescendo. É por isso essas crianças, expostas a essa

violência, tomaram a iniciativa de defender suas vidas na sua pátria, e nasceram os filhos

das pedras, “Atfal Al-Hejara”, demonstrando como isso a sua recusa da presença do

inimigo ocupante nas suas terras. Diz Fadwa que esses ataques do inimigo mataram a

inocência e a infância de brincar em paz e tranquilidade nas almas das crianças palestinas:

vejo meu passarinho voar

Me abandonou antes do tempo

Escapando das minhas mãos no furacão dos ventos

Empurrando-os e despenca

Dos portões da luta (P. 551)

Fadwa explica em outro poema os motivos que transformaram as crianças

palestinas de crianças amáveis inocentes em crianças grandes nas suas atitudes, lutando e

se defendendo dos ataques dos soldados sionistas:

cresceram na floresta da desolada noite,

À sombra do amargo cacto

Cresceram mais dos anos da vida

Cresceram juntos numa palavra secreta de amor,

Carregaram nela a Bíblia, o Alcorão recitando, sussurrando

(...)

Tornaram maiores os anos da vida

Tornaram as árvores de raiz profunda, subindo para a luz nos imprudentes

ventos

Tornaram a voz da recusa

Tornaram a dialético entre construção e demolição

34 Antipassados: seus pais e avos e etc.

51

Tornaram a bravura acesa nas beiradas do fechado horizonte

Tomando as fileiras das suas escolas (p. 567).

A causa do sofrimento palestino é conhecida, e além da sua dureza e da sua

profunda dor, continua mais dolorida para eles porque estão na batalha sozinhos, com a

certeza de que a consciência de união dos governantes árabes é praticamente nula.

2.1.3. Posição dos governantes árabes:

A nação árabe é um grupo de países unidos pelos laços de proximidade. Por isso,

eles deveriam colaborar para fortalecer tais laços, e a Palestina é parte dessa nação árabe,

ligada pela língua, pela religião, pela história, pelos interesses, pelos sonhos e pelo destino

comum. Todos esses são traços do nacionalismo árabe do qual infelizmente os países

árabes não conhecem senão o nome, pois a real posição é o oposto.

A revolução árabe foi iniciada pelos governos dos países árabes em 1936, quando

o mandato britânico iniciou seu plano em dividir a terra palestina para dois países, um

palestino e outro judeu, a revolta não foi causada pela divisão das terras, mas sim pela

ocupação estrangeira das terras árabes. Foi assim que os Estados Unidos em 1947, junto

com o Reino Unido, a União Soviética e a França declararam a divisão e reconhecimento

do novo estado novo judaico nas terras palestinas, denominado Israel.

Os povos árabes se revoltaram sobre essa decisão demonstrando a recusa através

dos métodos pacíficos e permitidos claro, como por exemplo, formação da Liga dos Países

Árabes35

, e não adiantou nada, pois todas as decisões continuaram no papel, sem execução:

os reis e os presidentes árabes estavam perdidos no céu do Reino Unido e dos Estados

Unidos, e tudo isso foi um ponto positivo para fortalecer os sionistas a levarem adiante o

seu plano de criar o estado de Israel nas terras palestinas.

A voz frágil do povo árabe não foi ouvida por não estar acompanhada do poder

das armas; por isso Fadwa gritou na cara dos presidentes e governantes árabes um grito

raivoso, e se entusiasmou com palavras do presidente Jamal Abdul Naser, indignada com

os métodos pacíficos que estão usando, apesar de já tinha acabado na sua época:

35 A Liga dos Países Árabes foi criada em 23 de fevereiro de 1945, englobando sete países: Egito, Iraque, Jordânia, Síria, Líbano, Iêmen

e Arábia Saudita.

52

ainda estamos na sala de anestesia,

nas camas da anestesia, dormindo

um ano passa atrás do outro

e outro passa depois do outro

E a terra nos abala e o teto despenca,

escombros acima

E a mentira cobre-nos da cabeça aos pés...

Ó irmãos, digam: migalhas!!!

Ah, Ah, Ó Vietnã

Ah, se milhões de guerreiros dos seus heróis

Arremessando-se ao vento do leste sobre o deserto árabe

Para estender-lhes as almofadas

E nos presenteassem com

Milhões de filhos árabes!

. . . . . . .

Ó família do profeta, desculpe-me,

esse desejo me machuca

Mas não sobrou de vocês para nós

Senão o chacoalho da voz (p.625).

Fadwa sabia que não adiantava gritar e suplicar, pois não havia ouvidos para

ouvir: o egoísmo tomara conta dos líderes árabes, e a Liga dos Países Árabes não era nada

além duma tentativa para afastar essa responsabilidade deles, sem nenhuma preocupação

com a mudança real da situação em que os palestinos se encontram. Os palestinos sabem

que todas essas tentativas da Liga não irão ter valor fora do papel, e por isso devem tomar

muito cuidado com essas decisões escritas para mudar a situação. E essa covardia foi

descrita pela poetisa dizendo:

Parece que os ventos estão dizendo:

Cuidado com os seus sete irmãos,

Dizendo:

Cuidado com os seus sete irmãos (p.592).

53

O número sete que ela mencionou simboliza a covardia dos sete países árabes

formadores da Liga, os quais colaboraram na guerra da Palestina em 1948.

Passam anos e anos e o povo continua anestesiado com as promessas dos líderes

árabes em lhes salvar a pátria, e a situação se torna mais grave, mas os líderes dos países

árabes não tinham nenhum meio para acalmar essa fúria além da mentira, prometendo e

prometendo, com o objetivo de anestesiar a consciência dos povos árabes, certos de que a

questão palestina era apenas de interesse dos palestinos, sem calcular que iriam ser

prejudicados no futuro, ignorando os interesses e a avidez dos sionistas, cujas ambições se

estendem dos rio Eufrates até o Nilo.36

Fadwa mais uma vez registra esses acontecimentos

em poemas, dizendo:

despencando nos seus olhos algo pesado

escurecido como suas dores,

estava despencando há sete anos, esperando

com uma paciência humilhante

anestesiado pelo bando dos criminosos

dormindo um sono pesado (p.157)

Fadwa sabia que não adiantava gritar e pedir que os líderes árabes acordassem,

mas o povo de cada pais árabe se revoltou e saiu às ruas pedindo a liberdade e a libertação

para realizar um sonho perdido de justiça.

Fadwa registra essa revolta contra os líderes árabes por parte dos seus povos e dos

palestinos em especial, dizendo:

Ah, a minha humanidade está sangrando,

o amargo sangrado pelo meu coração,

Meu sangue é veneno e fogo

(Árabes, bagunça, cachorros...)!

Ah, Mu’tasim!

Ah, vingança da tribo

Tudo o que eu posso hoje é esperar (pp. 530-531).

36 Rios que correm, respectivamente, no Egito e na Mesopotâmia. Existe, em moedas israelenses, a inscrição “do Nilo ao Eufrates” , o

que evidencia uma ambição de expansão territorial.

54

Fadwa pediu socorro ao califa Al Mu’tassem,37

mas ele morrera havia muito, e

com ele morreu a coragem, o amor da pátria e a generosidade árabe, e em seu lugar a

covardia passou a dominar o mundo árabe, cuja situação a poeta descreve dizendo:

Jerusalém na estrada das dores,

Chicotada na cruz da tragédia

Sangrando nas mãos do carrasco

E o mundo com coração fechado

Sem dor

meu senhor, esse duro imprudente

Apagou-se nele o sol e se perdeu

Não acendeu na tragédia uma vela

E não soltou uma lágrima

Para lavar as tristezas em Jerusalém.

O contínuo sofrimento transformou o povo em prisioneiro dentro de si mesmo

devido ao fato de os líderes terem abandonado o povo palestino só em sua luta pela causa

palestina, numa batalha sem nenhum equilíbrio entre as partes, tal como Fadwa descreveu:

Cresci por ser imprudente

A tristeza me transformou em menina com centenas de anos,

à toa tentando

...............................

A minha solidão está me cercando

Todos nós no cerco da unicidade

Sozinhos deixaram-nos,

Jogando jogo desta vida

Sozinhos,

Lamentando,

Angustiados,

Tristes, sozinhos

37 Referência ao califa muçulmano que não tergiversava em defender os seus súditos das agressões estrangeiras.

55

E morrendo largados (P. 580)

Está certa de que a maioria dos países árabes tomou uma posição neutra, e que a

trágica situação a que chegou a questão palestina se deve à covardia, ignorância e falta de

sentimento de culpa, embora não possamos generalizar, pois Fadwa Tuqan distinguiu o

exemplar, o ídolo, o líder egípcio e árabe Jamal Abdul Naser, por ter tido um papel ativo

na questão palestina, ajudando e cooperando com o povo palestino, com um poema de

lamentação, Martheyyat Al Fares, “Elegia do Cavaleiro”, presente para a sua alma. Ela

considerou a sua morte o cume da tristeza.

A morte de Jamal foi uma tragédia que caiu sobre o Mundo Árabe inteiro, e a

esperança que Fadwa tinha virou uma névoa que não conhece a verdade e nem um

caminho para seguir.

Esse poema tem uma grande importância por Fadwa ter comparado Jamal Abdul

Naser a Jesus Cristo, pois o senhor Cristo redimiu o ser humano e morreu pela humanidade

inteira, enquanto o presidente Jamal foi mensageiro da justiça e do amor entre os povos

árabes, e sempre os incitou à união por um único motivo, que era oferecer ajuda ao povo

palestino, e também porque ele se recusou a obedecer às ordens dos países ocidentais,

sendo por isso assassinado. Para quem o conheceu, havia a certeza de que a sua morte foi

para a redenção do Egito e da Palestina.

A poetisa caprichou no vocabulário e nas expressões, e usou e abusou de

comparações nessa elegia, a fim de exprimir o tamanho da dor e da tristeza pela perda

desse homem, como por exemplo a expressão “carnaval da morte”, em que a palavra

carnaval descreve reunião de imensas multidões de pessoas, e notícia da morte do

presidente levou os povos dos países árabes às ruas, independentemente da idade, da

religião ou da nacionalidade.

Fadwa Tuqan expressou a dor e a luta dos palestinos contra o inimigo ocupante,

pois tudo quanto eles passaram e estão passando demonstra quanto que amam a sua pátria

e nada vai obrigá-los a abandoná-la apenas para satisfazer a vontade dos ocupantes.

O palestino, por natureza, ignora a derrota e o fracasso, motivo pelo qual o povo

inteiro foi defender a sua terra, entregando os seus filhos como mártires, por amor à pátria,

e toda violência que cometeram contra o ocupante se deveu ao fato de ser esse o único

meio prático e possível que encontraram para resistir.

56

A resistência chegou ao auge quando os palestinos tiveram a certeza de que a

divisão da terra era real, e que os sionistas desejam essa terra somente para si, não se

importando com os meios para alcançar tal objetivo.

57

4. TERCEIRO CAPITULO

Escrever poemas ou qualquer outro gênero literário exige o conhecimento das

normas previamente estabelecidas, que o escritor é obrigado a seguir; isso ocorre com

especial ênfase na poesia árabe, na qual se devem respeitar os modos de organizar os

versos, tal como foram conhecidos e estabelecidos em seu período clássico. Mas, com

passar do tempo, o gênero sofreu modificações, e a poesia, embora não ignorasse a rima,

foi-se adaptado com objetivo de adequar a harmonia das expressões ao sentimento, nas

poesias em que se permite a escolha da rima38

.

Uma das limitações que acorrenta os poetas, impedindo-os de expressar os seus

sentimentos, era a repressão: não se permitia a livre expressão – era a censura –, por medo

do grande impacto que teriam sobre os combatentes e revolucionários, o que levou os

poetas à adoção de símbolos, metáforas e alegorias, numa espécie de linguagem cifrada.

Fadwa Tuqan foi uma das poetas que adotou esse método e dele aproveitou, usando e

abusando, com perfeição, e produzindo belos retratos em forma de poesias para a literatura

árabe, o que a enriqueceu mais ainda.

4.1. CARACTERÍSTICAS DAS POESIAS DE FADWA

Os estudiosos e críticos da área consideram que o ano de 1938 marca o

nascimento de Fadwa como poetisa; já outros consideraram que essa época, na verdade, é

de nova mudança nela. Pois nesse ano de 1938 ela escreveu um poema descrevendo os

seus sentimentos pelos líderes exilados da Palestina pelos britânicos, e em especial aqueles

que foram exilados para as Ilhas Seychelles39

, e esse poema de cunho abertamente político

foi publicado por Omar Farroukh na revista Al Ama’aly em novembro de 1938; sobre essa

poesia Fadwa diz:

Aquela poesia não nasceu do meu consciente ou do meu verdadeiro eu político,

mas mostrava a minha competência na organização dos versos, à imitação do Al-

38 Naser Ali, “Construção da qasida na poesia de Mahmoud Darwish”, Bunyat Al Qasida fi shear Mahmoud Darwish, p. 216

39 Arquipélago no continente africano, próximo à ilha de Madagascar.

58

Buhtury, Abu-Tammam e outros poetas clássicos, e também, mostrava a minha

competência na língua e a minha capacidade de expressão” (p. 87).

Fadwa produziu 132 poesias: 40 tradicionais clássicas, e 92 poemas com versos

livres, demonstrando assim ter sido influenciada pela modernidade no universo da poesia,

pois ela procurava um meio para mudar sua vida pessoal, especialmente após o Revés de

1948, que levou a poetisa entrar com toda força para produzir as mais belas poesias

expressando os verdadeiros sentimentos vividos em sua sociedade por causa dos

acontecimentos dolorosos, pedindo a mudança nessa trágica situação. Por isso, ela se

envolveu rapidamente com o movimento, a convite de modernistas como a poetisa Nazek

Al-Malaeka e o poeta Badr Al-Sayyab, ambos iraquianos, além de outros.

Fadwa utiliza a simbologia em seus poemas, uma simbologia carregada de

valores, significados e sentimentos intensos, o que por sua vez a dispensa da nomeação

direta. Como exemplo, pode-se citar o “cavalo do povo”, que foi utilizado em um de seus

poemas, referindo-se à revolução do povo palestino. Representou a nação árabe através da

árvore, a inundação que simbolizou a ocupação sionista, e também utilizou o símbolo de

um pássaro para representar a paz e a abundância, dentre outros símbolos que enriquecem

suas poesias e poemas, proporcionando-lhes uma melodia única (Al-Sheikh, 1994).40

Fadwa é conhecida por suas poesias clássicas com ritmo e rimas sintonizadas,

apresentando formas claras em seu volume de poesias “Sozinha com os dias”, produção

repleta de emoções pessoais e caracterizada por seu estilo próprio de canto, refletindo

sobre a natureza, a liberdade e também dando a sua visão pessimista do mundo, por conta

dos conflitos que vivenciou (Al Isawy, p. 8).

Em seu segundo volume de poesias, intitulado “Encontrei-a” e produzido após a

Nakba em 1948, Fadwa descreve o sofrimento de seu povo, porém não como participante,

pois não simpatizava com a atividade política.

No terceiro volume, “Dê-nos amor”, Fadwa descreve em suas poesias a dor e a

angústia, afirmando que o amor é uma ilusão criada por seus caprichos.

40 Saleh Abu Isba, “O movimento poético na Palestina ocupada”, p. 180.

59

Vem então o amor da pátria para despertá-la e fazê-la reconhecer-se como

imigrante, conhecendo novas culturas, exercendo a liberdade a que almejava nos países do

Ocidente, e sentindo como a pessoa pode ser sem pátria através do seu quarto volume “Na

frente da porta fechada”, volume esse que ela ofereceu à alma do seu irmão Nemr, que

falecera em acidente aéreo durante seus estudos em Londres. Nessas poesias ela demonstra

sua fraqueza pela fé na predestinação e demonstra uma visão rebelde ante a morte, por

causa de várias ocorrências na sua infância e juventude (Al-Isawy, p .9).

Já o quinto volume, “À noite e os cavaleiros”, publicado após a Naksa (derrota) de

1967, se debruça sobre questões nacionais e seus problemas, e descreve a ocupação

sionista, com poemas estilizados carregando a tocha da revolução e da rebeldia contra os

inimigos. A revolução da poetisa continua no seu sexto volume, “No topo do mundo,

sozinho”, cujos sentimentalismo é intenso e profundo. Nesse volume, Fadwa atinge o topo

da criatividade e do amadurecimento poético, participando do movimento da luta e

resistência pela pátria de modo efetivo, forte e consciente (Al-Isawy, p. 9).

Mas não ocorre o mesmo no seu sétimo volume, “Julho e a outra coisa”, que

revela a sua decepção e espírito de pessimismo após as derrotas do seu povo, por meio de

expressões que refletem um estado de tristeza e decepção profunda (Al-Isawy, p. 9).

Nesse sétimo volume, a propósito, ela retoma a questão do amor, sua obsessão

eterna, e seu primeiro e último refúgio nas horas de decepção. Nesse período, nesse novo

estilo, os poemas de Fadwa apresentam maior ousadia, coragem e profundidade de

expressão (Al-Isawy, p. 10).

4.2. Tipos

Fadwa continuou em busca da renovação nos poemas, pois podemos encontrá-la

falando, no início das poesias, sobre um assunto particular para depois falar sobre a

natureza ou a política ou sobre a mulher e as tradições. Por isso ela produziu poemas

completos. Fadwa escreveu poemas com diversos assuntos e os superou com muito

sucesso, apresentando-nos a beleza, a harmonia, a melodia, a sensibilidade das emoções e

forte expressão numa única poesia. Do ponto de vista temático, a atividade poética de

60

Fadwa se divide em cinco tipos, quais sejam: 1) poesias de morte e lamentação, 2) poesias

políticas, 3) poesias nacionalistas, 4) poesias sociais, e, por fim, 5) poesias amorosas.

4.2.1. Morte e lamentação

Alguns críticos e pesquisadores a chamaram de poetisa da dor e a da morte, outros

de poetisa da tristeza e da dor, para depois ganhar apelido de Khansaá da Palestina, isso

depois que se compararam os seus poemas de lamento pela morte de seus dois irmãos,

Ibrahim e Nimr, aos célebres poemas de lamento pela morte dos dois irmãos da poetisa

clássica Al-Khansaá, Sakhr e Muáaweya.

Fadwa, nas suas poesias, lamentou a morte e a perda de muitos dos seus amados,

amigos, patriotas, políticos, a pátria, mártires, além do presidente egípcio Jamal Abdul

Naser e outros dos homens da resistência palestina.

4.2.2. Nacionalista

A poetisa adquiriu sentimento nacionalista graças ao seu ambiente particular e

também ao ambiente geral. Seu pai tinha várias posições nacionalista, com participação em

vários partidos e grupos nacionalistas, tendo sido detido e preso em 1938 em Akka, para

ser exilado com várias outras pessoas durante o mandato britânico. Também o seu irmão

Ibrahim dedicou seus poemas, como outros poetas dedicaram, para sua pátria. Através das

suas poesias nacionalistas, Fadwa atacou o ocupante, incentivou e saudou os heróis e, em

outras poesias, demonstrou decepção após a perda de grande parte do território palestino e

o enorme estrago que o ocupante causou, e em outra poesia seu espanto diante da fraqueza

e da falta de lealdade dos demais países da chamada “nação árabe”, o que lhe causou muita

tristeza pelo destino do seu povo, para em outro poema voltar com a esperança de que a

nação árabe acordaria, despertaria e voltaria a lutar, pelas mãos de um povo livre, para

libertar a Palestina.

Fadwa escreveu poemas para a sua pátria enquanto sofria com a tristeza de perdê-

la, bem como enquanto se renovava a sua esperança de recuperá-la, e escreveu poesias para

incentivar seus heróis e combatentes, escreveu para os filhos do seu povo refugiado, os

61

quais haviam sido obrigados a abandonar suas casas e terras. Ela escreveu lindos e fortes

poemas durante a catástrofe e o revés, poemas para o fida’i, guerrilheiro, o mártir e o

prisioneiro, direcionados aos países vizinhos e à nação árabe, sobretudo ao Egito durante a

revolução de julho de 1952, quando os chamados oficiais livres, liderados por Mohammad

Naguib e Jamal Abdel Nasser, depuseram a monarquia.

4.2.3. Social

Era difícil para Fadwa, que foi obrigada a viver numa casa cercada por muros

altos, conseguir viver em harmonia com a sociedade, pois isso refletiu na sua vida e se

formaram grilhões e traumas que lhe tolheram o crescimento social. Por isso ela tomou

posição contra essas tradições e costumes que limitavam sua liberdade. Também por isso

ela descreveu de vários modos, nas poesias, a sua dolorida vida, que essas restrições

tornaram deprimida, usando expressões como a rocha negra, carrasco e carcereiro, entre

outras imagens. Fadwa criticou em outras poesias a falta de equilíbrio nas regras e

tradições sociais, e escarneceu esses costumes e tradições em mais outros poemas.

4.2.4. Amor

A poetisa não abriu as portas do armário da sua vida inteira, isso por ser

condenada ao cárcere das tradições e costumes de uma sociedade conservadora. Sobre isso

ela afirmou em sua autobiografia: “A palavra amor era associada, na minha mente, com a

imagem do escândalo e da vergonha” (p. 87). Já a imagem masculina ocupou na sua vida

um grande lugar:

O homem na minha vida ocupou um grande lugar, pois ele é o

amigo e a alma gêmea, mas do homem como amado tenho muito

orgulho: eu passei por várias felizes experiências de amor, e a

cada vez que eu amava alguém, eu o amava como se fosse a

primeira vez a amar alguém (Al-Bakkar, 2009, p.116).

62

Fadwa confessou nas suas poesias que o amor era o abrigo seguro quando fugia

do seu conflito, e que era a sua salvação das profundezas dos mares da escuridão com os

quais conviveu, cercada por altos murros.

“porém, do amado homem, me orgulho muito, passei por várias felizes

experiências de amor, e a cada vez que eu amava, sentia estar amando pela

primeira vez, e demonstrava a minha condição humana através do amor mais do

que demonstrava a minha feminilidade, e não nego que sempre tinha ali um

angústia dentro de mim, causada pelo meu sentimento de que o homem não me

amava por mim, mas por ser poetisa e poder escrever poesias para ele”.41

Por isso ela se recusou a casar-se, motivada pelas duras e injustas tradições e

costumes da sociedade, mesmo que ela amasse muito – e várias vezes –, tendo continuado

a sentir que tais experiências não poderiam ser além de poemas do amor, ainda que ela

sempre descrevesse o amado como a sua salvação do mundo em que vivia para o mundo da

felicidade, tirando-a do mundo dos fantasmas e dos grilhões.

“pois o coração da poetisa Fadwa Tuqan era como um quarto escuro, e o amor lhe estendeu a mão, abrindo suas janelas, para entrar a luz, o vento, o gosto pela

a vida; e se existia nesses poemas românticos uma verdadeira imagem da poetisa,

é aí que nós a encontramos...”.42

Fadwa Tuqan escreveu poesias de amor para seu irmão Ibrahim, e para o rapaz o

dono da rosa branca, escreveu belas poesias para Anwar Al-Maádawy, com quem começou

uma relação como uma troca de encanto literário através das cartas para tornar-se, ao

decorrer de quinze anos, uma relação de amor platônico. Ela escreveu para seu amigo

britânico, e superou-se nas suas poesias sobre o amor, pois a Fadwa era um furacão de

sentimentos.

4.2.5. A política e a poesia

Entre 1930 e 1940, foi proibido a Fadwa, de modo definitivo, sair de casa. Isso

não significa que ela não soubesse dos acontecimentos confusos mundo afora, pois na casa

41 Revista “O espectador político”, p. 116; “Diálogos com Fadwa Tuqan”, Dr. Yousef Bakkar, Londres.

42 Widad Sakakiny e Tamador Tawfiq, Mulheres famosas, p. 31.

63

dos Tuqan todos sentiram o clima político perturbado, pois os soldados do mandato

britânico naquela época entraram, procuram e prenderam seu pai em sua casa. Ao contrário

do seu irmão Ibrahīm, que conseguia participar dos atos e das manifestações contra os

ocupantes e descrever os fatos através das suas poesias, Fadwa vivia prisioneira em casa,

apenas xingando por seu impedimento de participar, mas participava tomando ciência das

notícias por meios das visitas dos outros à sua casa:

(...) história de heroísmo, notícias de violência, mortes,

detenções, exílios e traições... tudo isso atravessava as paredes

da casa e chegava aos meus ouvidos através dos outros: meus

irmãos, jornais, mulheres visitantes, e quando se aproximavam

as vozes dos manifestantes, vindas de longe pouco a pouco, eu

descia a escada correndo em direção da sacada do diwan, a

cabeça enrolada numa enorme coberta de tecido que praticamente cobria a maior parte superior do meu corpo, e

quando chegava ao salão para olhar por uma das janelas para

espiar o mercado, encontrava a sacada cheia de mulheres dos

vizinhos e dos inquilinos. E quando via as multidões vibrantes,

enchia meus olhos de lágrimas, que me escorriam pelas

bochechas. E continuei meus dias chorando, sentindo afeto

profundo perante as multidões; é possível que aquelas lágrimas

que caíam nessas ocasiões fossem por causa da minha

incapacidade de me misturar com os outros e de participar de

verdade, de juntar-me a eles (p. 108).

Fadwa tentou várias vezes obedecer ao irmão Ibrahim, e escrever alguma coisa

relacionada à preocupação alheia; tentou escrever poesias políticas, mas falhou:

No período entre 1933 e o começo de 1937, eu tentava, às vezes, imitar Ibrahim, escrevendo poemas patrióticos e tomando a sua

experiência poética, até que consegui e escrevi algumas poesias

patrióticas e me lembro exatamente de uma poesia sobre os

líderes palestinos que foram exilados pelos governantes do

mandato britânico para um arquipélago chamado Seychelles, e

foi publicada na revista Al-Amaaly pelo doutor Omar Farrukh,

que a editava em Beirute. Era amigo próximo de Ibrahim.

Aquelas poesias não tinham saído de uma consciência ou

existência política verdadeira, mas demonstravam a minha

competência no uso das normas poéticas e na imitação de Al-

Buhtury e de Abu Tammam e outros, assim também apresentava

a minha eficácia no uso do idioma e a capacidade em me expressar, e Ibrahim ficava muito feliz vendo a muda que ele

plantou dando seus primeiros frutos (p. 87).

64

Após a morte de Ibrahim, o pai começa a pedir a ela, quando houvesse uma

ocasião política ou patriótica, que escrevesse poemas políticos. Como o pai era muito ativo

politicamente, então ele incentiva a filha a colocar sua capacidade poética para servir seu

povo, ao mesmo tempo em que insistia que o papel da fêmea é estar em seu lugar

tradicional, que é servindo á família e cuidando da casa. Essa questão foi muito difícil para

a Fadwa discutir, pois em seu interior a voz da recusa aumenta:

como e com que direito meu pai me pede para fazer poesias

políticas se eu estou prisioneira das paredes, e não estou presente

nas reuniões dos homens e não ouço as discussões sérias nem

participo nas movimentações da vida? Até mesmo a minha pátria

eu não conheci, pois era proibida de viajar (p.131).

O pai esperava de Fadwa algo parecido de Ibrahim, mas, curiosamente, quando o

irmão pediu que ela mudasse e não escrevesse sobre seus sentimentos, o que ela

considerou um conselho valioso, o pai achou esse pedido injusto. Fadwa sentiu revolta,

tristeza e falha de Ibrahim em lhe dar carinho e proteção. Sentia que essa missão de

escrever poemas em prol da pátria ainda não era um sentimento maduro, e necessitava de

mais informação, educação histórico-cultural e experiência cotidiana de vida para poder

produzir, mas como isso poderia acontecer se as restrições impostas ao mundo feminino

não lhe davam tal oportunidade?

(...) é necessário para o poeta conhecer a vida e o mundo à sua

volta antes de escrever poemas sobre ele, mas de onde vou trazer

a matéria prima para isso? Onde se disponibilizará para mim o

clima de reflexão e o psicológico para escrever esse tipo de

poemas? Será que devo me inspirar na leitura do jornal que o

meu pai traz quando volta para casa na hora do almoço? A

leitura dos jornais, mesmo sendo importante, não era suficiente para liberar a brasa dos poemas políticos no meu interior, pois eu

estava totalmente isolada da vida lá fora, e esse isolamento era

obrigatório, e não por minha escolha (p. 132).

E também:

pois aquelas poesias que publiquei nos jornais eram os únicos

trabalhos participativos em ações sociais, que foram a ponte que

me ligava aos outros enquanto estava enfiada entre paredes arqueológicas (p. 135).

65

Aqui ela fecha o círculo sobre si mesma, pois o seu nome começava a infiltrar-se

por aquelas paredes a fora enquanto Fadwa continuava dentro. E suas poesias começaram a

ser publicadas em vários jornais e revistas, assinadas com seu próprio nome; chegou até a

ser publicada na revista egípcia Al-Resala, que era naquela época a mais lida e popular

entre os leitores de diversos países árabes (p. 111).

(...) e contraí a doença do ódio à política, pois nesse exato

período eu sofria de forte conflito mental e psicológico, tentava

corresponder à vontade do meu pai para agradá-lo e ganhar seu

amor, mas no meu interior eu contestava, recusava e me rebelava, pois, não estando socialmente livre, como eu poderia

lutar com minha caneta pela liberdade política ou doutrinária ou

patriótica? (pp. 133-134).

O que o pai esperava dela levou-a a ter consciência sobre seu isolamento, e

acabou entrando num estado de conflito interno, o que por sua vez a levou a tentar o

suicídio. Essa atitude fez com que ela desse um passo rápido e saísse para o mundo

exterior:

(...) no barulho da queda de 1948, morreu meu pai e milhares de

refugiados chegaram a Nablus, o que levou as casas, mesquitas,

escolas e as cavernas das montanhas Ebaal e Gerzim a ficarem lotadas; passaram-se longos meses após a queda do primeiro

escândalo sobre o território árabe antes que eu voltasse a

escrever poesias, mas havia por atrás desse silêncio uma

operação de tremor e armazenamento escondida no meu interior,

o interior que não estava mais sofrendo pelo vazio e pelo nada. E

desembaraçou-se afinal o trauma da minha língua, e comecei a

escrever poemas patrióticos, que era o que meu pai desejava de

mim para preencher o lugar de Ibrahim. Escrevi aquelas poesias

automaticamente, sem ser obrigada a fazê-lo (p. 137).

A morte do pai significava a autoliberdade total relativamente às pressões desse

homem, e ao mesmo tempo significava a morte do chefe da família, que a vigiava passo a

passo e a obrigava a obedecer e seguir suas ordens. A Nakba, fracasso árabe, é antes de

tudo o fracasso dos homens, e isso significa o fracasso do machismo deles, e nesse caso as

mulheres sentem-se mais fortes.

66

No começo dos anos cinquenta, as mulheres começaram a deixar do lado o uso do

véu, assim como já acontecera, bem antes, em Jerusalém e outras cidades, e começaram a

se distanciar do sistema de repressão ao feminino:

(...) com a chegada dos ventos da mudança e com as revoluções,

começaram os poemas a sair das torres da mordomia para

acompanhar as multidões árabes, afetivamente, com a esperança

de se libertar da opressão e exploração, e a causa do poeta se

tornou a causa de todos, e não individual (p.142).

Fadwa não escreveu, após a morte do pai, poemas políticos apenas, mas tornou-se

uma ativa militante política, que participava das reuniões e encontros políticos e dava

esconderijo para refugiados político também:

(...) não havia na minha geração poetas que não se juntassem a

algum partido, ou que não tivessem tomado uma posição evidenciada nos seus poemas; eu era vítima da difícil mistura

entre o sentimento do eu que não conseguia superar e entre a

total compreensão da minha experiência poética de falta de

compromisso (p. 151).

Fadwa não conseguiu, mesmo com sua participação, publicar poemas políticos

durante o barulho causado após a Nakba, e calou-se por perceber que o sistema machista

voltara a falar na política: conquanto os muros que afastavam as mulheres já tivessem

caído, a voz feminina continuava baixa, e uma figura masculina volta novamente – agora o

seu irmão Rahmy – a pedir-lhe uma coisa impossível.

Rahmy, que era membro do partido comunista, começou a criticar a distância da

sua irmã em relação ao mundo, e lhe pediu que tomasse uma posição política para que suas

poesias se tornassem mais “necessárias”, mas Fadwa não conseguiu isso por falta de

experiência e por não ter vivido, no interior do mundo feminino, a oportunidade de se

preparar para isso. Fadwa, através do comentário do irmão, vê que todas suas poesias

escritas até aquele momento estavam na posição de desconfiança, e se encontra novamente

numa situação claramente muito crítica:

(...) fiquei ciente da minha incapacidade em quebrar o meu isolamento dos

outros, que não era mais obrigatório; ao mesmo tempo, não cabia a mim explicar

67

esse isolamento de qualquer modo. E aqui começou outro tipo de conflito com

minha vida e comigo mesma, e resolvi buscar uma saída para essa cobrança. (p.

159).

O Revés – Naksa – de 1967 foi um dos motivos importantes para que a poetisa,

mais uma vez, quebrasse o ritmo sossegado da sua vida e saísse novamente para entrar na

ruidosa vida diária, colaborando, naquela época, na mediação entre o ministro israelense da

Defesa, Moshe Dayan, e o então presidente egípcio Jamal Abdel Nasser, além da

colaboração na vida pública do povo da cidade de Nablus, que estava sob ocupação, e

começasse várias diatribes poéticas e jornalísticas contra o ocupante e sua cultura.

Os acontecimentos prosseguiram na Palestina, no Mundo Árabe, e várias poesias

continuaram a nascer com mais força, intensidade e com grande impacto, pois a poetisa

empregou e utilizou suas forças, sentimentos e o seu cativo amor pela pátria espoliada.

Ela citou o inimigo ocupante com vários nomes e descrições nas suas poesias

apresentadas em várias reuniões secretas e públicas, em diversas cidades palestinas, o que

a levou a ter encontros com Moshe Dayan, e por consequência, com Jamal Abdul Naser.

Assim ela se tornou a primeira embaixatriz sem pasta, autorizada, entre os presidentes e

líderes da região, e os representantes do povo.

Fadwa escreveu poesias e duas autobiografias, nelas expressando seus problemas

e preocupações, e não se revoltou contra a sociedade conservadora e tradicionalista e

contra a repressão e a negação apenas, mas sim se revoltou contra tudo aquilo que a

acorrentou e tolheu, e foi adiante buscando a renovação em suas poesias, e se libertou das

cadeias da poesia tradicional clássica para a liberdade de expressão na poesia de versos

livres, apoiando-se num tom retórica adequado à situação vivida, usando com abundância o

vocabulário com que enriqueceu ainda mais seus poemas, mediante os símbolos que

introduziu nela e nas suas poesias, uma rica e forte coragem para expressar o vulcão dos

sentimentos reprimidos e proibidos, pois, no uso da simbologia, Fadwa encontrou a

solução para se livrar da censura do inimigo ocupante, encontrou no símbolo a maneira de

demonstrar a preocupação e os medos do povo, o futuro perdido, e seu objetivo maior e

principal era, especificamente nas poesias patrióticas e de resistência, estimular a

revolução e recusar a situação, não se humilhar; e de fato ela conseguiu alcançar esse

objetivo e alcançar esse impacto com quem ouviu ou leu suas poesias.

68

5. QUARTO CAPÍTULO

Fadwa Tuqan, 1917-2004, publicou durante a sua vida oito

volumes de poesias e duas autobiografias, além das outras publicações

em jornais e revistas.

Não nos cabe agora exibir todas as suas poesias no presente trabalho; nós nos

limitamos a escolher as poesias de maior importância, que marcaram a época em que a

poetisa viveu e teve destaque. É o caso de “Cinco canções para os mártires”, “Nunca vou

chorar”, “No guichê das permissões”, “Lamentar morte do Cavaleiro”, “A hora chegou”,

“Histórias para nossas crianças”, “Itan na rede do aço”, “Para o senhor Cristo no seu

aniversário”, entre outras.

5.1. Sozinha com os dias

Esse volume de poesias foi publicado no Cairo em 1952, incluindo trinta e cinco

poemas. Nesse volume, dedicado à alma do seu irmão Ibrahim, a poetisa demonstra seu

romantismo duma maneira clara, encantada com beleza da natureza, demonstrando uma

filosofia sentimental, profundidade no pensamento, riqueza nos significados e no

vocabulário. “Com certeza o leitor deste volume de poesias (Sozinha com os dias) se

encontra em grande encantamento com essa mulher delicada, genial inspirada.”

(Druzah,2005). E Heyam Al-Dordanjy (2005) diz:

“Fadwa, na sua juventude, é uma alma sensível pairando com transparência,

sonhando com o amor e ansiosa pela liberdade, olhando à sua volta e nada

encontrando além da morte, repressão, privação e os grilhões das tradições.”

Fadwa tece comparações entre ricos e pobres, demonstrando a condição dos

órfãos, e demonstra claramente sua sensibilidade contra a injustiça da pressão social por

conta das tradições e costumes, então ela recusa um casamento imposto pela tradição

seguida naquela época, para que o seu amor platônico continuar causando-lhe sofrimento

por várias vezes.

69

Existência43

Eu era neste mundo uma pergunta fugitiva

Na extensa escuridão sua resposta protegeu

E foi você para mim iluminação da nova luz

Da escuridão do mistério surgido pelo destino

A esfera deu com ele duas voltas

Até o seu brilho singular chegar a mim

A sua radiância única

E se dispersou a escuridão intensa

Em dois levantes

Encontrei na minha mão

A minha resposta perdida

Ó você, Ó você, próximo e distante.

Não se lembra do crepúsculo, seu espírito em chamas,

O universo é meu e seu, é nosso, dois poetas

Abraçados pelo universo, apesar da dimensão extrema!!

وجود

كنت على الدنيا سؤالا شريد

في الغيهب المسدول

جوابه استتر

وكنت لي إشراق نور جديد

من عتمة المجهول أطلعه قدر

. . دار به الفلك ودار مرتين

حتى انتهى إلي إشعاعه الفريد

وانقشع الحلك وفي انتفاضتين

وجدت في يدي جوابي الفقيد

يا انت ، يا أنت القريب البعيد

ذكر الأفول روحك يستعرلا ت

43 A poetisa descreve nesse poema sua visão filosófica e lógica. (P. 297)

70

الكون لي ولك لنا ، لشاعرين

!! رغم المدى القصي ضمهما وجود

Na jornada da vida44

Cheguei ao caminho da vida com meu coração,

Plantando rosas de amor por esse caminho

Para as pessoas se afogarem com seu perfume

sorvendo com abundância

Para os amigos se cobrirem com o perfume da paixão

e desfrutarem da sua fresca sombra

mas dispersaram minhas rosas com seus pés

e as pisotearam na terra seca!

E meu coração pulsou forte e angustiado no peito

E ficou entre bater e pular

Então eu disse: com minha família e meus irmãos

Não preciso dos outros nem dos amigos

E imaginei que com eles me bastaria

E os imaginei enchendo meu coração

Mas não durou minha ilusão, enfiando-se

o seu punhal e mergulhando no meu flanco

E gargalhou a minha alma em segredo

Ridicularizando a mim e ao meu amor

E andei com meu coração, sozinhos...nada

além dos espinhos no caminho!

في درب العمر

أتيت درب العمر مع قلبي

أغرس زهر الحب في الدرب

ليغرق الناس بأشذائه

44 Sofreu a poetisa com uma intensa relação sentimental, que a deixou mais preocupada do que feliz, e deu a esse poema uma introdução

com uma fala do filósofo alemão Nietzsche: “ não estenda sua mão para quem se encontra no seu caminho, pois para algumas pessoas

nós devemos estender as garras em lugar da mão...” (p. 268).

71

تنهل في دفق وفي سكب

ليغمر الصحب بعطر الهوى

فينعموا في فيئه الرطب

ثروا زهري بأقدامهمفبع

. ! و وطأوه في الثرى الجدب

وارتج قلبي خلف صدري أسى

ولج في دق وفي وثب

في أهلي وفي أخوتي: فقلت

غنى عن الناس ، عن الصحب

وخلتني ملأت منهم يدي

. . وخلتهم قد ملأوا قلبي

فلم يطل وهمي حتى هوى

! خنجرهم وغاص في جنبي

وضحكت نفسي في سرها

مني ومن حبي هازئة . .

لا. . وسرت مع قلبي وحيدين

شيء سوى الأشواك في الدرب

5.2. Encontrei-a

“Encontrei-a”, volume de vinte e seis poesias, foi publicado em Beirute em 1957.

Nota-se nesse volume que os poemas de Fadwa Tuqan evoluíram no aspecto da

forma e do conteúdo, pois ela produziu suas poesias após a catástrofe de 1948 e se

interessou pelas poesias tipo Taféeleyyah, influenciada pelo clima durante os anos

cinquenta; então, ela mudou e trocou o uso do “eu” pelo “nós”, por causa da evolução dos

acontecimentos políticos e sociais, e do amadurecimento dos seus sentimentos.

Nesse livro Fadwa conseguiu revelar a si mesma, pois além de escrever apenas

poemas de lamentações, amor e poemas sociais, conseguiu também produzir poemas

políticos.

72

A rocha negra45

Olhe aqui,

a rocha negra foi amarrada sobre o meu peito

com as correntes do insolente destino

com as correntes do estúpido tempo

olho-a moendo debaixo de si

meus frutos e minhas flores

esculpiu o meu ser com os dias

esmagou a minha vida com o mundo

deixe-me, pois não podemos com ela

não conseguirá me desacorrentar

vou continuar sozinha

ensimesmada

enquanto o decretado é meu carcereiro.

deixa-me, vou continuar assim

Não há luz

Não há amanhã

Não há esperança

não há escape da rocha negra

não há escape

***

à toa empurrando o seu peso acima de mim

com meu esquecimento de mim

quantas vezes mergulhei no

coração da vida

e andei em

todos os cantos

brincando

cantando

45 Refere-se as mudanças que ocorreram na sua personalidade, mesmo que ela continuasse mantendo o comportamento de uma mulher

do Oriente Médio; a rocha negra simboliza a rigidez das tradições e dos costumes (p. 371).

73

nas fontes da juventude

mergulho a minha taça

e bebo com forte desejo ardente

até desmaiar e perder a minha existência

mundo de alegrias, quantas vezes ele enganou

com seu regaço a minha dor e desesperança

por isso fugi do

mundo dos meus sentimentos

e dancei com a

leveza dos pássaros,

gargalhando loucamente, para depois,

do fundo do meu desespero,

estremeça no meu espírito um chamado

e continue trovejando às ocultas.

Não vai fugir,

Eu estou aqui

Não vai fugir

não há escape

e aparece a sombra da rocha negra

com imagem deformada

inutilmente tento movê-la

em vão querendo fugir

pois não há escape

***

Quantas vezes eu procurei na terra da miséria

tomando o elixir do consolo,

da rebeldia de prisioneiros como eu,

e dos presos do destino

então penetrei entre

as multidões

onde as tragédias e

74

as lágrimas

onde os chicotes zumbindo e caindo

sobre rebanhos de seres humanos

sobre as costas nuas

acima dos pescoços prisioneiros

onde os escravos

destinados

em grupos se empurrando

grupos

de cada esmagado, afogado

com as lágrimas

com o sangue

com o suor

e fiquei procurando o consolo

da miséria

e não há escape

pois a rocha negra

é uma maldição

nasceu comigo

para permanecer uma aflição

muda

me persegue

sua sombra persegue os passos da minha vida

olha para cá, como ela estabeleceu

com orgulho

acima do meu peito

deixa-me

pois não podemos com ela

nunca vai me desacorrentar do meu isolamento

a minha alma continuará

num trancamento

75

vou continuar sozinha

na luta

sozinha

com a grande dor

com o tempo

com o destino

sozinha

e essa rocha negra

moendo

não há escape

قصيدة الصخرة السوداء

أنظر هنا ،

الصخرة السوداء شدت فوق صدري

القدر العتيبسلاسل

بسلاسل الزمن الغبي

انظر إليها كيف تطحن تحتها

ثمري وزهري

نحتت مع الأيام ذاتي

سحقت مع الدنيا حياتي

دعني فلن نقوى عليها

لن تفك قيود أسري

سأظل وحدي

في انطواء

ما دام سجاني القضاء

دعني سأبقى هكذا

لا نور

لا غد

لا رجاء

الصخرة السوداء ما من مهرب

من مفر ما

عبثا أزحزح ثقلها عني

76

بنسياني لنفسي

كم خضت في

قلب الحياة

وضربت في

كل اتجاه

ألهو

أغني

في ينابيع الشباب

أغط كأسي

وأعب في نهم شديد

حتى أغيب عن الوجود

دنيا المباهج كم خدعت

بحضنها ألمي وبؤسي

فهربت من

دنيا شعوري

ورقصت في

نزق الطيور

، ثم من وأنا أقهقه في جنون

أعماق يأسي

يرتج في روحي نداء

ويظل يرعد في الخفاء

لن تهربي

إني هنا

لن تهربي

ما من مفر

ويهب طيف الصخرة السوداء

ممسوخ الصور

عبثا أزحزحها

سدى أبغي الهروب

فلا مفر

كم جست في أرض الشقاء

77

أشتف إكسير العزاء

من شقوة السجناء أمثالي

ومن أسرى القدر

افولجت م

بين الجموع

حيث المآسي

والدموع

حيث السياط تؤز تهوي

فوق قطعان البشر

فوق الظهور العارية

فوق الرقاب العانية

حيث العبيد

مسخرون

تدافعوا زمرا

زمر

من كل منسحق غرق

بالدمع

بالدم

بالعرق

وبقيت التمس العزاء

من الشقاء

ولا مفر

فالصخرة السوداء لعنه

ولدت معي

تظل محنهبكماء ل

تلحقني

يتابع ظلها خطوات عمري

انظرهنا كيف استقرت

في عتو

فوق صدري

دعني

78

فلن نقوى عليها

لن تفك قيود أسري

ستظل روحي

في انقفال

سأظل وحدي

في نضال

مع الألم الكبير

مع الزمان

مع القدر

وحدي

وهذي الصخرة السوداء

تطحن

لا مفر

A Separação46

para onde eu estou fugindo de você e você de mim,

para onde eu e você estamos indo,

ambos vivendo numa prisão

feita de paixão

Prisão que construímos por nossa escolha

e fomos de mãos dadas

consolidando no solo as suas bases

e levantando e ampliando-lhe as paredes;

de paixão nós o construímos, de blocos de desejo

e do desenho das linhas do amanhã

E dos mil cheiros

Mil cores

das memórias

das emoções

46 Nesse poema Fadwa viveu um momento sonhador, imaginando ter encontrado seu amado Anwar Al-Maáddawy depois de muito

tempo sem noticias nem cartas dele; então, ela registrou esse momento em poesia (p. 338).

79

das lágrimas o construímos,

do estouro das nossas maravilhosas risadas

e da efusão dos nossos calorosos sentimentos

e de nossas palavras incontáveis

e dos nossos desejos sem limites

Da vitória

Embriagamo-nos juntos com sua amargura.

Seria de bom alvitre nos encontrarmos lá, meu amor,

da única ideia

da pura eterna chama

e dos mil sonhos agradáveis e belos

E outras coisas eu compartilhei contigo,

Esquecê-las é impossível!!

para onde estou fugindo de você e você de mim?

para onde eu e você estamos indo?

ambos vivendo na prisão,

e nos tentando a fuga, desejando,

ambos, encontrar a salvação

até que nossas forças se enfraqueçam

e colapsemos de incapacidade; você fica à minha frente

e eu ficarei à sua frente,

cara a cara,

E em nossos lábios

Uma sede profunda

e nas nossas bochechas

Sombras do fogo aceso

e depondo as armas, nossas mãos vão

envolvendo a nossa paixão

com amor e carinho envolvendo a nossa paixão

e nos acabando de satisfação e derretendo de carinho,

e como fugir, meu amor, se nós

80

rodamos e corremos e fugimos

de nós para nós mesmos

em vão e impossível

em vão, sem escapatória nem separação.

Impossível, meu amor, impossível

الانفصال

الى اين أهرب منك وتهرب مني

إلى أين أمضي وتمضي

ونحن نعيش بسجن

. من العشق

سجن بنيناه نحن اختيارا

ورحنا يدا في يد

نرسخ في الأرض أركانه

ونعلي ونرفع جدرانه

من العشق شدناه ، من لبنات الأماني

ورسم خطوط الغد

الف رائحة الف لون ومن

من الذكريات

من العاطفات

من العبرات بنيناه من

تفجر ضحكاتنا الهانئة

وفيض مشاعرنا الدافئة

ومن كلمات لنا لا تعد

ومن رغبات لنا لا تحد

من الانتصار

سكرنا معا بمراراته

من الرأي إذ نلتقي عنده يا حبيبي

من الفكرة الواحدة

دةمن الشعلة العذبة الخال

ومن ألف حلم ندي جميل

وأشياء أخرى تقاسمتها

81

واياك

نسيانها مستحيل

إلى أين أهرب منك وتهرب مني

إلى أين أمضي وتمضي

ونحن نعيش بسجن

نحاول منه انعتاقا عسانا

نلاقي الخلاص كلانا

إلى أن تخور قوانا

وننهار عجزا ، وتبقى أمامي

وأبقى أمامك وجه لوجه

وفي شفتينا

املهاث أو

وفي وجنتينا

ظلال ضرام

ونلقي السلاح وتمضي يدانا

تلف هوانا

بحب وعطف تلف هوانا

ونفنى رضى ونذوب حنانا

فكيف الفرار حبيبي وأننا

ونحن ندور ونجري ونهرب

منا الينا

سدى ومحال

سدى لا انعتاق لنا لا انفصال

محال حبيبي محال

Não venderei o amor dele47

Coincidência bonita como um sonho

Juntou-nos aqui nesta terra distante

47 Esse poema foi um presente para o poeta italiano Salvatore Quasimodo pela lembrança do encontro entre ambos em Estocolmo, na

Suécia (p. 366).

82

Nós somos duas almas estranhas aqui

juntou o que há entre nós

a deusa da arte, flutuando conosco

Pois as duas almas são um encanto

Nadou na melodia de Mozart e seu rico mundo

você disse: nos seus olhos há profundidade,

você é bonita,

você o disse com um desejo sussurrado

o que nós exibíamos,

nos seus olhos um chamado,

e nas minhas entranhas uma embriaguez,

e que embriaguez!

Sou mulher, portanto, peça perdão, orgulhoso, ao coração

sempre que o tocam os seus sussurros:

você é bonita.

Ó poeta, eu tenho na minha pátria

querida pátria, um amado que me espera

ele é filho da minha terra e não vou perder

o seu coração

ele é filho da minha pátria e não vou vender

o seu amor

nem por todos os tesouros da Terra

nem pelas estrelas luminosas

nem pela lua

Porém, uma embriaguez toma conta do meu coração

quando flutuam sombras de amor em seus olhos

ou pisca um convite.

Sou mulher, portanto, peça perdão, orgulhoso, ao coração

sempre que o tocam os seus sussurros: há em seus olhos uma profundidade.

Você é bonita

Você é bonita

83

Você é bonita

Você é bonita

قصيدة لن أبيع حبه

مهداة الى الشاعر الإيطالي

Salvatore Quasimodo

صدفة كالحلم حلوه

جمعتنا ههنا في هذه الأرض القصية

نحن روحان غريبان هنا

ألفت ما بيننا

طافت بناربة الفن ، و قد

فإذا الروحان غنوه

و دنياه الغنية( موزارت ) سبحت في لحن

في عينيك عمق ،: قلت

أنت حلوه

. قلتها في رغبة مهموسة الجرس

فما كنا نجلوه

و بعينيك نداء

و بأعماقي نشوه

أي نشوه

أنا أنثى فاغتفر للقلب زهوة

في عينيك عمق: كلما دغدغه همسك

أنت حلوه

في وطني أنا يا شاعر لي

وطني الغالي حبيب ينتظر

انه ابن بلادي لن أضيع قلبه

انه ابن بلادي لن أبيع حبه

بكنوز الأرض

بالأنجم زهرا

بالقمر

غير اني تعتري قلبي نشوه

حينما تطفو ظلال الحب في عينيك

84

أو تومض دعوه

أنا أنثى ، فاغتفر للقلب زهوه

في عينيك عمق : كلما دغدغه همسك

أنت حلوه

أنت حلوه

أنت حلوه

أنت حلوه

5.3. Dê-nos amor

Foi dedicado aos “foragidos da perdição e das preocupações”, quando a poetisa

começou um novo período de amadurecimento em pensar e humano, pois nas poesias

desse volume demonstra que ela esta pronta para recuperar o que ela perdeu nos anos da

repressão, então ela aproveita bem seus abundantes sentimentos.

Incluindo vinte e quatro poemas, foi publicado em Beirute em 1965. Fadwa o

concluiu junto com os seus versos “A última poesia”, após a qual ela descobriu que ela

perdeu muitas chances na sua juventude, e que não havia como recuperá-las.

O mito da fidelidade48

Lenda da fidelidade

do volume “Dê-nos amor”

E você pergunta: Onde está a fidelidade?

Há fidelidade?!

E vou rindo na sua cara sombria

Perguntando como você:

Há fidelidade?

O que há sobre os fiéis?

Onde está a sua antiga paixão?

E onde estão as mulheres. . .

Centenas de mulheres que você amou

48 Fadwa escreveu esse poema em Outubro de 1958, revoltada com alguém pelo qual esperou por muito tempo, e que lhe dera muita

esperança, para descobrir depois que ele não merecia tanta fidelidade, e tudo não passou do que uma ilusão (p. 416).

85

e cada mulher

pensa que você está nas mãos dela, sua dona

e pensa que o seu amor é exclusivamente dela

pensa que sua paixão é mais duradoura do que o sol

Mais firme do que as montanhas

E se recusa a acreditar que a fidelidade

continua sendo uma lenda

continua uma ilusão e sombra

e um nome para um inominado

e algo impossível

***

Queremos a fidelidade dos outros

Nós acreditamos neles, amarramo-nos a eles pela esperança

com uma corda de mentirosa miragem

com um relâmpago cativante

E vamos tomar um novo cálice

E vamos saborear um novo sabor

para viver uma nova paixão

para retomarmos um novo rosto

e voltamos a perguntar:

onde está a fidelidade? ?

***

Queremos dos outros que permaneçam

com um sentimento

que murchou e desapareceu

no profundo das nossas almas e tornou-se

uma imagem falsa

egoísmo, meu companheiro, aninhando-se dentro da gente

movendo em segredo nossos desejos

E obscurecido lhes pelo pesado véu

Chamamos-lhe

86

Fidelidade!!

***

Sim, meu companheiro

Sim, pode ser que apareça

ali ele ficou

algumas migalhas

migalhas de uma paixão que desapareceu e morreu;

Apareceu, mas não soubemos como apareceu

então acendemos uma vela com ela

e abraçamos sua lembrança por um período,

voltamos depois que a abrigamos na sua cova

e a enterramos novamente,

e não há lagrimas nos olhos

e nem no peito angústia

E fomos andando, atendendo

ao forte chamado

Chamado da vida e dos ventos que nos empurram para todos os cantos

e em todo lado

esquecendo o velho e vivendo o novo

e voltamos a perguntar:

Onde esta a fidelidade?!

Há fidelidade?!

اسطورة الوفاء

أين الوفاء ؟: و تسأل

!أما من وفاء ؟

و أضحك في وجهك المتجهم

:اسأل مثلك

أين الوفاء ؟

الأوفياءو ماذا عن

و أين هواك القديم ،

87

...و أين النساء

مئات النساء اللواتي حببت

وكل امرأه

تظنك ملك يديها

وتحسب حبك وقفا عليها

تظن غرامك أبقى من الشمس

أرسخ من راسيات الجبال

وتأبى تصدق ان الوفاء

يظل خرافه يظل خيالا ووهما

وإسما لغير مسمى

وشيئا محال

***

يد من الآخرين الوفاءنر

نصفدهم نحن ، نربطهم بالرجاء

بحبل سراب كذوب

ببرق خلوب

و نمضي لنشرب كأسا جديد

و نمضي لنطعم لونا جديد

لنحيا غراما جديدا

لنعيد وجها جديد

:و نرجع نسأل

أين الوفاء ؟ ؟

***

نريد من الآخرين البقاء

على عاطفة

ذوت و تلاشت

تبأعماقنا و استحال

إلى صورة زائفة

أنانية يا رفيقي تعشش فينا

تسير رغباتنا في الخفاء

و تحجبها بنقاب كثيف

88

نسميه نحن ،

!!وفاء

بلى يا رفيقي

بلى ، قد يطل

هنالك ظل

لبعض رفات

رفات غرام تلاشى ومات

يطل و نجهل كيف يطل

فنوقد شمعه

لديه و نحضن ذكراه فتره

و نرجع من بعد نؤويه قبره

ندفنه من جديدو

و ما في المحاجر دمعه

و لا في الجوانح لوعه

و نمضي نلبي النداء القوي

نداء الحياة وتدفعنا الريح في كل صوب

و كل اتجاه

و ننسى القديم و نحيا الجديد

:و نرجع نسأل

!أين الوفاء ؟

أما من وفاء ؟؟

5.4. Diante da porta fechada

Com dezessete poesias, esse livro, dedicado à alma do seu irmão Nemr, foi

publicado em Beirute em 1967.

Os críticos consideraram esse volume uma nova imagem de Fadwa, pois ela

apareceu nele como mais humanitária, uma poetisa defendendo a sua pátria e a sua nação,

enfrentando, com a sua causa palestina, as ideias e as opostas tendências, tal como

demonstrou com coragem e sinceridade as suas relações com escritores, poetas e políticos,

e assim revelou a sua identidade.

89

Jordaniana palestina na Inglaterra49

(1)

Tempo sombrio

E nosso céu sempre nebuloso

De onde? Espanhola?

Não...

Eu sou da ... Jordânia

Desculpe, da Jordânia? Não entendo!

Eu sou das colinas da Jerusalém

A pátria do sol e da luz do relâmpago

Ah, ah, já sei, então você é judia...

Ah, que facada caiu sobre meu fígado!

Surda e selvagem

(2)

Você pergunta da nuvem?

passou pela minha testa

E ensombreceu meus olhos com a depressão

E você, vizinho da satisfação, quem abriu as feridas?

Recordou-me

Que eu sou da terra dilacerada

Que eu sou de um povo cujas

raízes foram arrancadas de outras raízes

e ficaram nas pistas dos ventos

dispersadas aqui e acolá;

não pertencem

a uma pátria!

Em verdade, com ela enganamos as almas

alegamos

49 Fadwa presenteou esse poema a um homem britânico, o misterioso A.G., que conheceu quando visitou Inglaterra em 1952 e tiveram

um diálogo. Fadwa sentiu que os ingleses eram uma ilusão, os causadores do problema dos palestinos, e não sabem nada sobre esse

problema mesmo com tantos desabrigados do povo palestino, por causa da propaganda sionista.

90

Eu, como todos os outros,

Um povo que tem uma pátria ...

impossível! Como você sabe?

Essa neblina e a fumaça em seu país

Enrolando as coisas .. escondendo a luminosidade,

tanto que os olhos não veem além do

que se deseja que os olhos vejam ..

أردنية فلسطينية في انجلترا

(1)

طقس كئيب

و سماؤنا ابدا ضبابية

من أين؟ اسبانية؟

كلا

من الأردن... أنا من

عفوا من الأردن؟ لا أفهم

أنا من روابي القدس

وطن السنى والشمس

اذن يهودية, عرفت, يا, يا ...

يا طعنة أهوت على كبدي

صماء وحشيه

(2)

تسأل عن سحابه؟

جبينيمرت على

وظللت عيني بالكآبه

وأنت يا جار الرضى من فتح الجراح؟

ذكرتني

أني من الأرض التي تمزقت

أني من القوم الذين

من الجذور اقتلعوا من الجذور

وأصبحوا على مدارج الرياح

مبعثرين ها هنا وها هنا

91

لا ينتمون

!!الى وطن

حقيقة فيها نغالط النفوس

ندعي

نأنا كباقي الآخري

...قوم لنا وطن

كيف تعلم؟! هيهات

هنا الضباب والدخان في بلادكم

يطمس الضياء.. يلفلف الأشياء

فلا ترى العيون غير ما

تراد للعيون أن تراه

5.5. A Noite e Os cavaleiros: palavras da Cisjordânia

No começo desse volume de poesias “A noite e os cavaleiros”, a poetisa despediu

o seu “eu” e se afogou na sangria causada pelo ocupante sionista, e a injustiça contra o seu

povo, abraçando então a causa palestina e registrando suas poesias patrióticas. O poeta

Mahmoud Darwish a tinha presenteado com uma carta intitulada “Diário duma ferida

palestina”.

Foi publicado esse volume em Beirute em 1969, dois anos após a guerra de junho,

e incluiu vinte e cinco poesias. Fadwa escreveu em sua abertura “palavras da Cisjordânia”,

mediante as quais enfrentou o ocupante sionista cara a cara, e se queimou com o seu fogo,

após o que passou por experiência própria, o que a tornou “a nova Fadwa Tuqan”.

Minha triste cidade no dia da ocupação sionista50

No dia que vimos a morte e a traição

O mar declinou

E as janelas do céu foram fechadas

e a cidade prendeu a respiração

no dia que as ondas eram distantes, no dia em que entregou

50 A poetisa escreveu essa poesia logo após guerra de 1967, quando viu o que o ocupante fez com a cidade dela, por isso, escreveu para

demonstrar sequencias desse ocupante e demonstrar sua posição através dos seus sentimentos. (P.492)

92

a feiura das profundezas do seu rosto para a luminosidade

incinerando esperança

e se sufocando com o flagelo da desgraça,

a minha triste cidade

***

Desapareceram as crianças e as canções

não há sombra, não há eco

e a tristeza invade, nua, a minha cidade,

de passos tingidos

e o silêncio na minha cidade,

o silêncio está aguardando firme como as montanhas,

como a noite misteriosa, o silêncio é trágico

carregado

com a presença da morte e a derrota

Ah! Ó minha silenciosa e triste cidade

será assim na época da colheita

queimando-se as plantações e os frutos?

Ah! Ó fim do caminho!

مدينتي الحزينة يوم الاحتلال الصهيوني

يوم رأينا الموت والخيانة

تراجع المد

وأغلقت نوافذ السماء

وأمسكت أنفاسها المدينة

يوم اندحار الموج ، يوم أسلمت

بشاعة القيعان للضياء وجهها

ترمد الرجاء

واختنقت بغصة البلاء

مدينتي الحزينة

***

ياختفت الأطفال والأغان

93

لا ظل ، لا صدى

والحزن في مدينتي يدب عاريا

مخضب الخطى

والصمت في مدينتي

الصمت كالجبال رابض ،

كالليل غامض ، الصمت فاجع

محمل بوطأة الموت وبالهزيمة

أواه يا مدينتي الصامتة الحزينة

أهكذا في موسم القطاف

تحترق الغلال والثمار ؟

افأواه يا نهاية المط !

A peste51

no dia que a peste se espalhou na minha cidade

eu saí para um lugar a céu aberto

com o peito descoberto para o céu

exclamando de profunda tristeza com os ventos:

levantem-se e dirijam até nós as nuvens, ó

ventos

e façam a chuva cair,

purificando o ar da minha cidade

e lavando as casas, e as montanhas e as árvores

levantem-se e dirijam até nós as nuvens, ó

ventos

e que caiam as chuvas!

e que caiam as chuvas!

e que caiam as chuvas!

قصيدة الطاعون

يوم فشا الطاعون في مدينتي

خرجت للعراء

51 Nessa poesia se descreve o ocupante sionista como peste, então está chamando as nações para purificar sua pátria desse ocupante (p.

493).

94

الصدر إلى السماء مفتوحة

أهتف من قرارة الأحزان بالرياح

هبي وسوقي نحونا السحاب يا

وأنزلي الأمطار رياح

تطهر الهواء في مدينتي

وتغسل البيوت والجبال والأشجار

هبي وسوقي نحونا السحاب يا

رياح

!ولتنزل الأمطار

!ولتنزل الأمطار

!ولتنزل الأمطار

Para o meu amigo estrangeiro52

Meu amigo estrangeiro

Se meu caminho até você for como ontem

Se as peçonhentas cobras não

Fizessem arruaças em cada caminho

e escavassem um túmulo para minha família e meu povo,

plantando a morte e o fogo;

Se a derrota não faz chover agora

sobre a terra da minha pátria

pedras de vergonha e desonra

E se meu coração, que você conhece

como era ontem, não escorre

seu sangue sobre o punhal da derrota

E se eu, como ontem, meu amigo

me orgulhando do meu povo, e da minha casa e da minha força

estivesse agora ao seu lado

parando nas praias do seu amor

52 Nesse poema, a poetisa descreve o ocupante para seu amigo estrangeiro, e os estragos e tamanho da destruição causado pelo ocupante

que lhe tinha notificado a aproximação da guerra, e havia entre eles um encontro marcado em Jerusalém, que não ocorreu por causa da

guerra, mas os poetas da terra ocupada culparam a poetisa, e um deles, Mahmoud Darwish, na sua poesia “diário duma ferida palestina”,

inclusive a sua fala “como se fosse um casal de filhotes de pombo” (p. 494).

95

navio da minha vida –

mas nós somos como dois filhotes de pombos!

قصيدة الى صديقي الغريب

صديقي الغريب

لو أن طريقي اليك كأمس

لو ان الأفاعي الهوالك ليست

تعربد في كل درب

وتحفر قبرا لأهلي وشعبي

وتزرع موتا ونار

لو أن الهزيمة لا تمطر الآن

أرض بلادي

حجارة خزي وعار

ولو أن قلبي الذي تعرف

كما كان بالأمس لا ترعف

دماه على خنجر الإنكسار

ولو أنني يا صديقي كأمس

أدل بقومي وداري وعزي

لكنت إلى جنبك الآن عند

شواطئ حبك أرسي

سفينة عمري

حمام لكنا كفرخي

A inundação e a árvore53

No dia em que o satânico furacão dominou e se estendeu

No dia em que a negra inundação

foi cuspida pelas costas selvagens

para a verde e boa terra

exclamaram, e passando pelo céu ocidental

as boas noticias:

53 A poetisa começou a sua poesia com a seguinte introdução: ʺnas primeiras semanas após os dias da guerra, os jornais e as emissoras

estrangeiras do radio inimiga, penalizando e gozando a derrota dos árabes na guerra de 1967, e como se fosse o fim da nação árabe era

relacionada com aquela catástrofeʺ (P.495)

96

a árvore caiu!

e o forte tronco se destruiu,

as chuvas

não deixaram

as árvores

continuarão vivas!

***

A árvore caiu?

Perdão, ó riachos vermelhos

Perdão, ó raízes irrigadas

com vinho derramado pelos membros dos mortos

perdão, raízes árabes

perfuradas como rochas das profundezas

e se estendem ao longe nas profundezas

***

A árvore se erguerá

a árvore se erguerá e

os galhos crescerão

sob o sol e se esverdearão

e as risadas da árvore vão folhar

na face do sol

e a ave virá

imperiosamente, a ave virá

a ave virá

a ave virá

قصيده الطوفان والشجرة

يوم الإعصار الشيطاني طغى وامتد

يوم الطوفان الأسود

لفظته سواحل همجيه

للأرض الطيبة الخضراء

هتفوا ، ومضت عبر الأجواء الغربيه

97

:تتصادى بالبشرى الأنباء

!هوت الشجرة

والجذع الطود تحطم ، لم تبق

الأنواء

!باقية تحياها الشجرة

*************

هوت الشجرة ؟

عفو جداولنا الحمراء

عفو جذور مرتويه

بنبيذ سفحته الأشلاء

عفو جذور عربيه

توغل كصخور الأعماق

وتمد بعيدا في الأعماق

**************

ستقوم الشجرة

ستقوم الشجرة والأغصان

ستنمو في الشمس وتخضر

وستورق ضحكات الشجرة

في وجه الشمس

الطيروسيأتي

لا بد سيأتي الطير

سيأتي الطير

سيأتي الطير

Vivo começando54

Ó minha amada pátria não, o mais que derramam

sobre você no labirinto de injustiça

moinho do sofrimento e da dor

nunca vão conseguir meu amado

explodir seus olhos, nunca

54 Nesse poema, a poetisa fala sobre a força do seu povo palestino, e confirma que o ocupante nunca vai quebrar a sua luta e sua

resistência para conquistar a liberdade. (P. 496)

98

para matar os sonhos e a esperança

para crucificar liberdade do progresso e do trabalho

para roubar risos das nossas crianças

para demolir, para queimar, pois da nossa infelicidade

da nossa grande tristeza, da viscosidade

dos sangues nas nossas paredes

da mistura da morte e da vida

A vida será enviada novamente em você

Ó nossa profunda ferida, você ó nosso sofrimento

Ó nosso único amor

قصيدة حي أبدأ

يا وطني الحبيب لا ، مهما تدر

عليك في متاهة الظلم

طاحونة العذاب والألم

لن يستطيعوا يا حبيبنا

أن يفقأوا عينيك ، لن

ليقتلوا الأحلام والأمل

ليصلبوا حرية البناء والعمل

ليسرقوا الضحكات من أطفالنا

ليهدموا ، ليحرقوا ، فمن شقائنا

ير من لزوجةمن حزننا الكب

الدماء في جدراننا،

من اختلاج الموت والحياة

ستبعث الحياة فيك من جديد

يا جرحنا العميق أنت يا عذابنا

يا حبنا الوحيد

Trabalho de parto55

O vento transmite o néctar

e nossa terra treme na noite

55 Cinco poesias foram nomeadas pela poetisa como ʺcinco melodias para os mártiresʺ, nelas ela canta para os mártires, e descreve a

resistência e firmeza das famílias sobre a terra da pátria. (P. 523-526)

99

com o arrepio do parto

e o carrasco se convence

com história do déficit, com história dos detritos

e dos escombros

***

Ó nossa jovem manhã, informe o carrasco

como é o arrepio do nascimento,

informe-lhe como nasce o pus

duma dor da terra, e como surge a manhã

duma rosa do sangue nas feridas.

مخاض

الريح تنقل اللقاح

وأرضنا تهزها في الليل

رعشة المخاض

ويقنع الجلاد نفسه

بقصة العجز، بقصة الحطام

والأنقاض

***

يا غدنا الفتي خبر الجلاد

كيف تكون رعشة الميلاد

خبره كيف يولد الأقاح

وكيف يبعث الصباح, من ألم الأرض

من وردة الدماء في الجراح

Como nasce a música

Tiramos nossas músicas

do seu sofrido e derretido coração

e em meio à poeira e à escuridão

a amassamos com luz e incenso

e amor e bons votos

assopramos nela a força do granito

100

e das rochas

para depois devolvê-la ao seu puro coração

seu coração de cristal,

Ó povo nosso, lutador paciente!

كيف تولد الأغنية

نأخذ اغنياتنا

من قلبك المعذب المصهور

وتحت غمرة القتام والديجور

نعجنها بالنور والبخور

والحب والنذور

-ننفخ فيها قوة الصوان

والصخور

ثم نردها لقلبك النقي ـ

قلبك البلور

يا شعبنا المكافح الصبور

Quando desabam as más notícias

O vento retorce a fumaça nos vales

e nos caminhos da noite e da tempestade

caem as rochas e as árvores

pretas de tanta cinza

pretas de tanta fumaça

que se derramam essas rochas como querem

e se derramam essas pedras como querem

pois o rio está em seu caminho, correndo para seu destino

e por trás da curva dos caminhos, no

espaço do tempo

o dia espera

por nós o dia espera

حين تنهمر الأنباء السيئة

الريح تجدل الدخان في الأغوار

101

وفي دروب الليل والإعصار

تنهمر الصخور والأحجار

سوداء بالرماد

سوداء بالدخان

فلتنهمر كما تشاء هذه الصخور

ولتنهمر كما تشاء هذه الاحجار

فالنهر ماض، راكض الى مصبه

وخلف منحنى الدورب، في ـ

رحابة المدى

ر النهارينتظ

من أجلنا ينتظر النهار

Amando a própria morte

a visão me captura com o sorriso da manhã

vejo a minha ave voando,

me abandona antes do tempo

escapando das minhas mãos na

espiral dos ventos

empurra os ventos e cai

dos arredores da luta

***

e as rochas abrem seus braços como rio pequeno de seda

agarrando a minha ave que está voando

me abandonando antes do tempo

e as pátrias recuperam seu filho, recuperam-no

para o velho e vivo coração

***

Ó arvores do coral, cujos galhos cresceram

na beira da estrada

amo a minha morte nas estações de redenção e de generosidade

amo a minha morte sob sua manchada e afogada sombra.

102

عاشق موته

تخطفني الرؤيا مع ابتسامة الصباح

أراه طائري يطير

يهجرني قبل الأوان

يفلت من يدي في ـ

دوامة الرياح

يدافع الرياح ثم يهوي

من مشارف الكفاح

وتفتح الصخور ساعديها

جدولي حرير

تلقف طائري الذي يطير

يهجرني قبل الأوان

وتسترد ابنها الاوطان، تسترده

حي العتيقلقلبها ال

يا شجر المرجان عرشت غصونه

على جوانب الطريق

أعشق موتي في مواسم الفداء والعطاء

أعشق موتي تحت ظلك المضرج الغريق

Basta-me ficar no seu regaço56

Basta- me morrer em sua terra57

e ser nela enterrada

debaixo dela me dissolvendo e acabando

e ressuscitar na superfície, como grama,

ressuscitar como uma flor

com a qual a palma da mão duma criança da minha pátria irá brincar,

basta-me permanecer no regaço da minha pátria

Terra,

56 Esse poema, no qual Fadwa declara que nunca deixará a sua pátria, foi deixado como testamento: queria ser enterrada na terra da

Palestina, e assim se fé. (p. 526). 57

A terra da pátria.

103

Grama,

Flor.

كفاني أظل بحضنها

كفاني أموت على أرضها

وأدفن فيها

أذوب وأفنىوتحت ثراها

وأبعث عشبا على أرضها

وأبعث زهره

تعيث بها كف طفل نمته بلادي

كفاني أظل بحضن بلادي

ترابا

وعشبا

وزهره

Liberdade do povo58

Minha liberdade!

minha liberdade!

minha liberdade!

voz da boca de raiva cheia eu repito,

por baixo das balas e na chama

e apesar da corrente vou continuar indo atrás dela

e apesar da noite vou continuar seguindo seus passos

e continuo sendo carregada na estendida raiva

lutando chamando a minha liberdade!

minha liberdade!

minha liberdade!

e o rio consagrado e as pontes repetindo

minha liberdade!

e as duas margens repetindo: minha liberdade!

58 Quando Fadwa estava viajando para se tratar duma doença fora da Palestina, recebeu uma carta duma moça chamada Aysha, que o

ocupante pressionou ela com crime de resistência, então Fadwa voltou às pressas para sua cidade e escreveu essa canção com muito

entusiasmo sonhando com a vitoria da liberdade do ocupante.(P.527)

104

e corredores do bravo vento

e o trovão e o furacão e as chuvas na minha pátria

repetindo comigo:

minha liberdade! minha liberdade! minha liberdade!

***

Vou continuar escavando seu nome enquanto lutar

na terra, nas paredes, nas portas, nos topos das casas

na estatua da Virgem Maria no santuário, nos caminhos das fazendas

em cada montanha e cada vale e cada curva e rua

na cadeia, no cárcere da tortura, no pau das forcas

apesar das correntes, apesar da explosão das casas, apesar da chama dos incêndios

continuarei escavando seu nome até vê-lo

se estendendo na minha pátria e crescendo

e continuar crescendo

e continuar crescendo

até cobrir cada palmo na sua terra

até a liberdade vermelha abrir cada porta

e a noite fugir e a iluminadade quebrar as tores da neblina

minha liberdade!

minha liberdade!

e o rio consagrado repete e as pontes

minha liberdade!

e as duas margens do rio repetem:

minha liberdade!

e os corredores do bravo vento

e a trovão e o furacão e as chuvas na minha pátria

repetindo comigo

Minha liberdade! Minha liberdade! Minha liberdade!

قصيدة حرية الشعب

حريتي

حريتي

105

حريتي

صوت أردده بملء فم الغضب

تحت الرصاص وفي اللهب

وأظل رغم القيد أعدو خلفها

وأظل رغم الليل اقفو خطوها

وأظل محمولا على مد الغضب

وأنا أناضل داعيا حريتي

حريتي

حريتي

ويردد النهر المقدس والجسور

!حريتي

حريتي: والضفتان ترددان !

ومعابر الريح الغضوب

والرعد والإعصار والأمطار في وطني

:ترددها معي

حريتي! حريتي ! حريتي !

٭٭٭

سأظل أحفر اسمها وأنا أناضل

في الأرض في الجدران في الأبواب في شرف المنازل

في هيكل العذراء في المحراب في طرق المزارع

في كل مرتفع ومنحدر ومنعطف وشارع

نزانة التعذيب في عود المشانقفي السجن في ز

رغم السلاسل رغم نسف الدور رغم لظى الحرائق

سأظل أحفر اسمها حتى أراه

يمتد في وطني ويكبر

ويظل يكبر

ويظل يكبر

حتى يغطي كل شبر في ثراه

حتى أرى الحرية الحمراء تفتح كل باب

والليل يهرب والضياء يدك اعمدة الضباب

!حريتي

106

!حريتي

النهر المقدس والجسور ويردد :

!حريتي

حريتي: والضفتان ترددان !

ومعابر الريح الغضوب

والرعد والإعصار والأمطار في وطني

:ترددها معي

حريتي حريتي حريتي

Nunca vou chorar59

Perante as portas de Yafa, meus amores

E no caos das casas destruídas,

Entre os escombros e os espinhos,

Levantei e disse para os olhos:

Vamos chorar,

Vamos chorar sobre as ruínas de quem a deixou e foram embora

Chamando quem ela construiu, e lamenta

O coração está contrito, e perguntou à casa:

O que os dias fizeram contigo,

Onde estão os moradores daqui?

Chegaram a você após o abandono, Chegaram a você notícias,

Aqui estavam,

Aqui sonharam,

Aqui desenharam os projetos do próximo amanhecer

Onde está o sonho e o próximo e onde estão eles,

e onde eles estão

E não expressou os destroços da casa,

e não se expressou ali além das suas ausências,

59 Foi presente do primeiro encontro em Haifa (4/3/1968), para poetas da resistência na terra ocupada, e tive um grande impacto nas

almas dos poetas. (P.508)

107

E calou- se o silêncio e abandono

E ali estavam os corvos e os fantasmas

Estranho de face, de mão e de língua,

Pairando pelas extremidades,

Nela estendendo suas raízes,

E era quem mandava e proibia

e era...... E era.....

E as tristezas sufocaram o coração

Amados meus

Enxaguei a cinza neblina das lágrimas dos cílios,

para encontrá-los e nos meus olhos brilho da fé e do amor,

Com vocês, com a terra, com o ser humano

Que vexame se eu venho ao encontro de vocês,

e meu cílio úmido tremendo,

e meu coração desesperado decepcionado

E aqui eu estou meus amados com vocês,

pra pedir uma brasa,

e levar uma gota de óleo de vocês,

Lampiões da noite para meu lampião

E aqui eu estou meus amados,

para suas mãos estendo a minha,

e nas suas cabeças, coloco aqui a minha,

e erguendo junto a vocês, para o sol, a minha testa

E aqui estão vocês como as rochas das nossas fortes montanhas,

como as flores da nossa linda pátria

Mas, como a ferida vem a me esmagar?

E como o desespero a me estragar?

E como na frente de vocês posso chorar?

Juro, após esse dia nunca vou chorar!!!

Meus queridos o cavalo do povo excedeu o tropeço de ontem

E se vibrou o valente sacudindo por trás do rio

108

ouça-me, o cavalo do povo aqui está relinchando confiante no seu desejo

E escapando do cerco do azar e da escuridão

e correndo para seu lugar no sol

E aquelas fileiras da cavalaria estão unidas

Abençoando-o e redimindo-o

e do dissolvido da granada e sangue dos corais deram-lhe de beber

e dando-lhe dos pedaços do seu corpo abundante alimento

e gritando com o livre cavalo: Ó cavalo do povo corre

pois você, o símbolo e a bandeira

e nos somos por trás o batalhão

E não voltará em nós a maré, a fervura, a raiva

e não aumentará a fadiga nas nossas testas no campo da batalha

e nunca vamos descansar, nunca

até expulsar os fantasmas e corvos, e os injustos

Meus amados lampiões da noite, meus irmãos na ferida

ó segredo da levedura, ó sementes de trigo

Morrer aqui para dar-nos

E dá-nos e dá-nos

Nos seus caminhos eu continuando

e plantando como vocês meus pés na minha pátria

e na minha terra

e planto meus olhos como vocês,

no caminho do relâmpago e sol.

قصيدة لن أبكي

على أبواب يافا يا أحبائي وفي فوضى حطام الدور

شوك وقفت وقلت للعينينبين الردم وال :

قفا نبك على أطلال من رحلوا وفاتوها

تنادي من بناها الدار وتنعى من بناها الدار

ما فعلت بك الأيام يا دار ؟ وأين القاطنون هنا: وأن القلب منسحقا وقال القلب

وهل جاءتك بعد النأي ، هل جاءتك أخبار ؟

مشاريع الغد الآتيهنا كانوا هنا حلموا هنا رسموا

109

فأين الحلم والآتي؟ وأين همو ؟

مت ، والهجران ولم ينطق حطام الدار ولم ينطق هناك سوى غيابهمو وصمت الص

وكان هناك جمع البوم والأشباح

غريب الوجه واليد واللسان وكان

وكان يحوم في حواشيها يمد أصوله فيها

القلب بالأحزان وغص .. وكان.. وكان الآمر الناهي وكان

أحبائي مسحت عن الجفون ضبابة الدمع الرماديه

لألقاكم وفي عيني

نور الحب والإيمان بكم، بالأرض ، بالإنسان

فواخجلي لو أني جئت القاكم

وجفني راعش مبلول وقلبي يائس مخذول

وها أنا يا أحبائي هنا معكم لأقبس منكمو جمره

كم قطره لمصباحي ؛لآخذ يا مصابيح الدجى من زيت

وها أنا يا أحبائي إلى يدكم أمد يدي

وعند رؤوسكم ألقي هنا رأسي

وأرفع جبهتي معكم إلى الشمس

ه وها أنتم كصخر جبالنا قو

كزهر بلادنا الحلوه

فكيف الجرح يسحقني ؟

وكيف اليأس يسحقني ؟

وكيف أمامكم أبكي ؟

يمينا ،

! بعد هذا اليوم لن أبكي

***

بائي حصان الشعب جاوز كبوة الأمس أح

وهب الشهم منتفضا وراء النهر

أصيخوا ، ها حصان الشعب يصهل واثق النهمه

ويفلت من حصار النحس والعتمه

ويعدو نحو مرفأه على الشمس

وتلك مواكب الفرسان ملتمه

تباركه وتفديه

110

ومن ذوب العقيق ومن دم المرجان تسقيه

أشلائها علفا وفير الفيض تعطيه ومن

عدوا يا حصان الشعب : وتهتف بالحصان الحر

فأنت الرمز والبيرق

ونحن وراءك الفيلق

ولن يرتد فينا المد والغليان والغضب

ولن ينداح في الميدان فوق جباهنا التعب

ولن نرتاح ، لن نرتاح

حتى نطرد الأشباح والغربان والظلمه

ئي مصابيح الدجى ، يا اخوتي في الجرح أحبا

ويا سر الخميرة يا بذار القمح

يموت هنا ليعطينا

ويعطينا ويعطينا

على طرقاتكم أمضي

وأزرع مثلكم قدمي في وطني

وفي أرضي

وأزرع مثلكم عيني

في درب السنى والشمس

No guichê das permissões60

Na minha espera na ponte implorando a travessia

Ah, implorando a travessia

sufocada, com falta da respiração sendo carregada num

brilho do meio-dia

sete horas de espera

o que cortou as asas do tempo

quem aleijou os pés do meio-dia?

A raiva chicoteando a minha testa, meu suor caindo como sal nas

minhas pálpebras

60 Esse poema fez maior barulho entre os políticos, militares e na mídia da organização sionista. A causa desse barulho foi uma

expressão usada pela poetisa dizendo que: a fome do seu rancor nada vai satisfazê-lo se não comer os fígados dos membros do

ocupante sionista. (P. 512)

111

ah, milhares de olhos

pendurou- lhe a ardente ansiedade como espelhos da dor

na quiche das permissões, endereços

esperando e paciente

Ah implorando a travessia

e estoura voz dum soldado híbrido

como tapa caindo no rosto da multidão:

(Árabes, bagunça, não,

vão para trás, não aproximam da barreira, voltem cachorros)

e uma mão fecha com força a quiche das permissões

fechando o caminho na cara dos multidões

ah, minha humanidade está sangrando, meu coração

gotejando o amargo, meu sangue é veneno e fogo

(Árabes, bagunça, cachorros..)!

ah, ó Muátasamah61

!

ah , ó vingança do clã

tudo o que eu tenho hoje só é de esperar

o que cortou as asas do tempo,

quem aleijou os pés do meio-dia?

A raiva chicoteando a minha testa, meu suor caindo como

sal nas minhas pálpebras

Ah, minha ferida!

o carrasco esfregou minha ferida na terra

***

Se tiver para o Buraq62

olho...

ah, ó humilhação da prisão

tornei muito amarga, meu gosto é assassina

61 Ele é Al Mu’tasem billah Muhammad iben Harun Al-Rashid, assumiu o Califado após a morte do seu irmão Al Maámun. Em 838 a.c,

chamou por seu nome uma mulher árabe estava nas fronteiras das terras bizantinas foi estuprada, então ela gritou: Wa Muátasamah!.

Então, quando chegou a notícia aos ouvidos dele, ele escreveu uma carta para o rei dos bizantinos dizendo: "do comandante dos fieis Al

Muátasem Bellah, para cachorro dos bizantinos, solta a mulher, e se não fizer, mandarei para ti um exercito, com começo a partir de

você e fim dele ate mim." E foi para socorrer ela de pressa com gigantesco exercito dizendo: "atendendo seu chamado Irma!", e nesse

ano ele invadiu as terras bizantinas e tomou lhas e abriu Ammurya 62

O animal que levou o profeta Muhammad aos sete céus passando por AL Madinah e Jerusalém

112

meu rancor é terrível, penetrante até a essência

meu coração é pedra e enxofre e espumante de fogo

mil "Hind63

” sob a minha pele

fome do meu rancor

com boca aberta, nada além dos seus fígados não

satisfazendo a fome que foi colonizada na minha pele

ah ó meu evocado terrível rancor

mataram o amor de dentro de mim, transformaram

o sangue nas minhas veias gheslin64

e alcatrão !!

آهات أمام شباك التصاريح:من صور الأحتلال الصهيوني

وقفتي بالجسر أستجدي العبور

اه، أستجدي العبور

اختناقي، نفسي المقطوع محمول على وهج الظهيره

سبع ساعات انتظار

ح الوقتما الذي قص جنا ,

من كسح أقدام الظهيره؟

يجلد القيظ جبيني

عرقي يسقط ملحا في جفوني

اه، الاف العيون

علقته اللهفة الحرى مرايا ألم

فوق شباك التصاريح، عناوين

انتظار واصطبار

اه نستجدي العبور

ويدوي صوت جندي هجين

:لطمة تهوي على وجه الزحام

63 Hind bent Utbah ben Rabiáa, conhecida pela sua sabedoria e do juízo nas suas opiniões. Uma das mulheres árabes que tiveram uma

reputação alta antes e depois o Islã. E dona de beleza e de opinião forte, marcante razão e da eloquência, da retórica, literatura, poesia,

cavalaria, e autoestima, Convertida ao islamismo após que seu marido Abu Sufyan se converteu. Torturou e fez atos de covardia com

Hamzah ben Abdul Muttaleb, mestre dos mártires dos muçulmanos e cortou o seu estômago e comeu fígado dele depois que ela tinha

mandado seu escravo Wahshy matá-lo na batalha duma vingança pela morte de seu pai, seu tio e seu irmão na batalha de Badr. 64

gheslin e alcatrão, são as sobras da carne humana no inferno caindo após a ser queimadas pelo fogo.

113

(عرب، فوضى، كلا

ا الحاجز، عودوا يا كلابارجعوا، لا تقربو )

ويد تصفق شباك التصاريح

تسد الدرب في وجه الزحام

آه، إنسانيتي تنزف،

قلبي يقطر المر، دمي سم ونار

!(..عرب،فوضي،كلاب)

!آه، وامعتصاه

اه يا ثار العشيره

كل ما املكه اليوم انتظار

ما الذي قص جناح الوقت،

من كسح اقدام الظهيره؟

ظ جبينييجلد القي

عرقي يسقط ملحا في جفوني

!اه جرحي

مرغ الجلاد جرحي في الرغام

***

..ليت للبراق عينا

اه يا ذل الاسار

حنظلا صرت، مذاقي قاتل

حقدي رهيب، موغل حتى القرار

صخرة قلبي وكبريت وفوارة نار

تحت جلدي" هند"ألف

جوع حقدي

فاغر فاه، سوى أكبادهم لا

استوطن جلدييشبع الجوع الذي

اه يا حقدي الرهيب المستثار

قتلوا الحب بأعماقي، احالوا

في عروقي الدم غسلينا وقار

!يربطون الأرض والوطن المقدس بالسماء

114

Foram-se os que nós amamos65

Águia e águia alcançou -lhes o monstro da escuridão

roubou a majestade das alturas... Ah ó a minha pátria

Salam sobre você do valioso sangue

por você desmanchou correntes do sangue

pedaços de coral, tesouros de pérolas

foram que nós amamos...

não há voz dos outros, olha,

folhou silêncio nos lábios da minha tristeza

e as letras fechou seus lábios

caindo as palavras mortas como eles

corpos deformados, será o que eu devo dizer a eles

e dos meus olhos e do meu coração escorrendo sangue deles?

foram que nós amamos

foram embora e não estacionou seus barcos e não

apagou limite do abandonado porto olhos dos viajantes

ah, ó minha pátria triste

quanto você bebeu e nós bebemos

nos carnavais da dor e da morte cálices do amargo suco

nem você ficou satisfeito e nós ficamos

vamos ficar com muita sede

nas fontes tristes vamos ficar

com muita sede

até que eles se levantarem com a madrugada que

abraça-lhes como visão que não morra e saudade não dissolva por ela.

ذهب اللذين نحبهم

نسرا فنسرا غالهم وحش الظلام

65 A poetisa escreveu esse poema pelo acontecimento dos martírios do três dos lideres da resistência palestina em Beirut, com introdução

dizendo: “para almas dos nossos independentes martírios no ataque aéreo sionista em Beirut, Kamal Naser, Mohammad Yousef al-

Najjar e kamal Udwan”.(P. 530)

115

من أجلك انفرطت عقود دمائهم

جبات مرجان، كنوز لآلئ،

.. ذهب الذين نحبهم

لا صوت للأحزان ، انظر،

.أورقت صمتا على شفتي أجزائي

وأطبقت الحروف شفاهها

.تتساقط الكلمات صرعى مثلهم

جثثا مشوهة ، ترى ماذا أقول لهم

ني ومن قلبي تسيل دماؤه ؟ومن عي

ذهب الذين نحبهم

رحلوا وما ألقت مراسيها مراكبهم ولا

مسحت حدود المرفأ النائي عيون الراحلين

أواه يا وطني الحزين

كم ذا شربت وكم شربنا

في مهرجانات الأسى والموت كاسات العصير المر

لا أنت ارتويت ولا ارتوينا

إنا سنبقى ظامئين

زينة سوف نبقىعند النابيع الح

طامئين

حتى يقامتهم مع الفجر الذي

حضنوه رؤيا لا تموت ولا يذوب لها حنين

Para o senhor Jesus Cristo no seu aniversário66

Mas aqueles lavradores dizem entre se esse então o herdeiro. Vamos matá-lo para ficar a

herança para nós. Então eles o levaram, e mataram e atiraram ele para fora da lavoura.

Ó senhor, ó glória dos mundos

Crucificado no seu aniversário esse ano

66 A poetisa escreveu esse poema quando o ocupante sionista determinou controlar produção dos poetas e outros na área da Literatura,

então ela correu para uso da simbologia, trazendo á tona a conduta e comportamento sionista, e citou seus símbolos da Bíblia- Marcos -

12, e deu como introdução para esse poema: “Mas aqueles lavradores dizem entre si: então esse o herdeiro. Vamos matá-lo para ficar a

herança para nós. Então levaram ele, e mataram e tiraram ele para fora da lavoura.”(P.502)

116

Festas de Jerusalém

Calaram no seu aniversário ó senhor dos sinos

Há dois mil anos não ficaram em silêncio

No seu aniversario menos esse ano

Pois as cúpulas dos sinos em luto

E preto enrolado com preto

***

Jerusalém na estrada dos dores

Chicotada por baixo da cruz fixo da tribulação

Sangrando na mão do torturador

E o mundo um coração fechado

Sem sofrimento

Esse congelado irresponsável meu senhor

Se apagou nele olho do sol e se perdeu

Não ergueu nessa tribulação uma vela

Não derramou nenhuma lagrima

Lavando as tristezas na Jerusalém

***

Os lavradores mataram o herdeiro ó senhor

E estupraram a lavoura

E pecadores do mundo a ave do pecado neles criou penas

E disparou maculando a pureza da Jerusalém

Diabo mal abençoado, odiado até pelo próprio diabo

***

Ó senhor, ó gloria da Jerusalém

Do poço das tristezas, do abismo, do

Fundo da noite

Coração da aflição

Subindo a você gemido da Jerusalém

Sua misericórdia corta, ó senhor dela, esse cálice!

الى السيد المسيح في عيده

117

... فيما قالوا الكرامين أولئك ولكن

فيكون نقتله هلموا. الوارث هو هذا: بينهم

الكرم من وأخرجوه وقتلوه فأخذوا. الميراث لنا

الاكوان مجد يا سيد، يا

العام هذا تصلب عيدك في

القدس أفراح

كل سيد يا عيدك في صمتت

الأجراس

تصمت لم عام ألقي من

العام هذا إلا عيدك في

حداد الأجراس فقباب

بسواد فلف وسواد

الآلام درب على القدس

الملحنة صليب تحت تجلد -

الجلاد يد تحت تنزف

منغلق قلب والعالم

المأساه دون

سيد يا الجامد اللامكترث هذا

فضل الشمس عين فيه انطفأت -

وتاه

شمعه المحنة في يرفع لم

دمعه حتى يذرف لم

الأحزان القدس في تغسل

سيد يا الوارث الكرامون قتل -

الكرم واغتصبوا

طير فيهم ريش العالم وخطاة -

الاثم

القدس طهر يندنس وانطلق

الشيطان حتى يمقته ملعونا، شيطانيا

القدس مجد يا سيد يا

من الهوة، من الأحزان، بئر من -

الليل قاع

الويل قلب نم

القدس أنين إليك يرتفع

118

الكأس هذي عنها سيد يا أجز رحماك

Imagens da resistência: O guerrilheiro e a terra67

(1)

sento para escrever, o que escrevo?

O que adianta falar?

Ó minha família, ó minha pátria, ó meu povo

como é desprezível sentar para escrever

neste dia

será que protejo a minha família com a palavra?

será que salvo minha pátria com a palavra?

todas as palavras hoje

Sal que não aflora e nem folhas

nessa noite...

(2)

no meio do espanto e a perdição

uma lamparina suprema ascendeu interno do seu coração

e brilhou nos olhos duas brasas

e fechou a agenda

Mazem levantou-se, o menino valente

carregando o fardo do seu amor

e toda preocupação da sua terra e seu povo

e todas as partes espalhadas da morte !!

***

estou indo minha mãe

estou indo com meus companheiros

para meu compromisso

satisfeito com o destino

67 A poetisa emocionou muito com operações dos guerrilheiros dentro da pátria ocupada, e uma delas, a batalha de TUBAS, que acabou

morrendo um deles ( Mazen Abu-Ghazalah), então a poetisa escreveu esse poema em formato de dialogo entre um guerrilheiro e a mãe

dele, emprestando alguns rituais e vocabulários religiosos , e demonstrou papel da mulher , mãe palestina na resistência e luta contra o

ocupante sionista. (P. 504)

119

carregando - lhe como uma rocha amarrada no meu pescoço

é daqui a minha partida

e tudo o que eu tenho, tudo pulso

e o amor, altruísmo e adoração

dando-lhes por ela, para a terra

dote, pois não há mais querido

do que você minha mãe só a terra

Ó meu filho!

Ó meu fígado!

mãe, procissão de alegria

não chegou ainda

mas tem que vir

a glória seguindo seus passos

Ó filho!

Ó......

não fique triste se eu caí antes -

hora de chegada

pois nosso caminho é longo e cansativo

e sem a hora da chegada, se estende no extremo

as costas infernais da noite

atravessando com lanternas de sangue

mas virá a alegria depois de nós

deve vir essa alegria

e se equaliza as doações

Ó filho:

Vá!

e abençoou-lhe a mãe com duas suras do Al Qurão

Vá!

e deu-lhe a proteção - com nome do Allah e Al Furqaan

Mazen era príncipe moço, cavaleiro dos cavaleiros

era a sua glória e seu orgulho, e era

120

sua enorme doação para as pátrias

***

Na tenda da noite

e na vastidão da terra

levantou para rezar

e para o céu levantou o rosto

e o céu era

transportando estrelas e mistérios

Ó dia que entreguei lhe para a vida

massa pequena cheirosa

com todo que nossa terra tem de bom

Ó dia em que lhe deu seu peito fértil

e abraçou seu perfume

e descobriu significado da sua existência

numa doada de leite

Ó meu filho

Ó meu fígado

para este dia

por ele te girei

por ele te amamentei

por ele te concedi

meu sangue e todo o pulso

e tudo que pode ser concedido pela maternidade

Ó meu filho, Ó pequena mudinha preciosa

foi arrancada da sua preciosa terra

Vá, pois não há mais querido do que você

meu filho só a terra

***

-3

((Tubas)) atrás das colinas

Ouvido se perturbam com as palavras

121

e olhos foi abandonada pelo sono

o vento atrás limite do silêncio

saindo, incomodando as colinas

arquejando, atrás da perdida respiração

correndo no círculo da morte!

Ó mil vezes bem vinda a morte!

e a estrela caída queimou e passou

por meio das colinas

raio de voz acesa

plantando a vivo brilho sobre as

colinas

na terra que não insuperável pela a morte!

nunca será insuperável pela a morte.

الفدائي و الأرض من صور المقاومة

-1

ماذا أكتب؟,أجلس كي أكتب

ما جدوى القول؟

يا شعبي,يا بلدي,يا أهلي

ما أحقر أن أجلس كي أكتب

في هذا اليوم

هل أحمي أهلي بالكلمة؟

هل أنقذ بلدي با لكلمة؟

كل الكلمات اليوم

ملح لا يروق أو يزهر

في هذا الليل

-2

في بهرة الذهول و الضياع

أضاء قنديل ءالهي حنايا قلبه

وشع في العينين وهج جمرتين

وأطبق المفكرة

الفتى الشجاع,مازن ,وهب

122

يحمل عبء حبه

وكل هم أرضه و شعبه

!!و كل أشتات المنى المبعثرة

هماض أنا أما :-

ماض مع الرفاق

لموعدي

راض عن المصير

أحمله كصخرة مشدودة بعنقي

فمن هنا منطلقي

كل كل النبض,وكل ما لدي

والحب والإيثار والعبادة

للأرض,أبذله لأجلها

فما أعز منك يا,مهرا

أماه إلا الأرض

!يا ولدي :-

أماه موكب الفرح:-!يا كبدي

لم يأت بعد

لكنه لا بد أن يجيء

يحدو خطاه المجد

!يا ولدي :-

- لا تحزن إذا سقطت قبل :-

موعد الوصول

فدربنا طويلة شقية

و دون موعد الوصول ترتمي على المدى

سواحل الليل الجهنمية

نعبرها على مشاعل الدماء

لكن لن يجيء بعدنا الفرح

لابد من مجيئه هذا الفرح

لأخذ و العطاءافيتساوى

يا و لدي: -

!اذهب

123

حوطته أمه بسورتي قرآنو

!اذهب

وعوذته باسم الله و الفرقان

كان مازن الفتى الأمير سيد الفرسان

كان مجدها وكبرياءها و كان

عطاءها الكبير للأوطان

في خيمة الليل

وفي رحابة العراء

قامت تصلي

ورفعت إلى السماء وجهها

وكانت السماء

تطفح بالنجوم والألغاز

ياةيا يوم أسلمته للح

عجينة صغيرة مطيبة

بكل ما في أرضنا من طيب

يا يوم ألقمته ثديها الخصيب

و عانقت نشوتها

واكتشفت معنى وجودها

في درة حليب

يا ولدي)

يا كبدي

من أجل هذا اليوم

من أجله ولدتك

من أجله أرضعتك

من أجله منحتك

دمي و كل النبض

وكل ما يمكن أن تمنحه أمومة

رسة كريمةيا غ,يا ولدي

اقتلعت من أرضها الكريمة

فما أعزمنك يا,اذهب

بني الا الأرض

124

-3

وراء الربوات(( طوباس))

آذان تتوتر في الكلمات

وعيون هاجر منها النوم

الريح وراء حدود الصمت

تلهث خلف النفس الضائع

!تركض في دائرة الموت

!يا ألف هلا با لموت

واحترق النجم الهاوي و مرق

عبر الربوات

برقا مشتعل الصوت

-زارعا الإشعاع الحي على الربوات

!في أرض لن يقهرها الموت

لن يقهرها الموت أبدا

Canção da transformação68

Alguns dele eram crianças

Não cresceram ainda

Filhotes pequenos de passarinhos

Ansiando olhando fixamente nas coisas

Na lua brilhando, na sua chama

Nos espirros jogados para alto pela de uma fonte de água

Num gato agachado... num passarinho agitando suas molhadas asas

Se olhando a sua volta, se arrepia, roupando a sua sombra

E voando para o topo de uma palmeira!

Alguns deles eram jovens

Praticando a criancice e brinca com os fogos de artifício

Soltando no vento ocidental

68 Fadwa declarou na sua poesia a continuidade da resistência, e a luta contra o ocupante, sem desanimar com a quantidade dos mártires

que estão morrendo sobre a terra da sua pátria, e a poetisa continuou escrevendo suas poesias patriotas até porque tornou um meio de

mídia que o inimigo temia sua língua caneta, e tomava muito cuidado, então, Fadwa escreveu esse poema que dividiu em três cenas. (P.

533)

125

Grupo de pipas azuis vermelhas verdes Íris

Abraçando a sua criancice nas calçadas e nas praças

Provocando pulando assobiando correndo por baixo das úmidas lajes das casas

Brincando entre si com as inocentes piadas

Com cascas de pistache e as risadas

Duelando com os duros galhos

Lançando - os como se fosse uma espada ou lança

Imitam as figuras lendárias de luta

O negro Antarah, que procura a sua liberdade no caminho da morte

Izzuddin AL Qassam na guarda agachado nas matas da montanha

“Abdul Qader” na Al Qasttal

vive e ama a terra

alguns deles eram embrionários ainda

deitados nos úteros fetos

(2)

A cara do junho69

brava

A chuva empurrou os leões

E ali nas beiradas do horizonte caiu e a maldição se pendurou

Quando gafanhotos da seca se derramaram como exoradas dos capacetes das pele

E a terra se movimentando, movimentando e cai engolida pela inundação da obscuridade

Passa por cima dela o rio do tempo com passos perturbados

Se rastejando, voltando ou se congelando

O rio era atrás do horizonte cavalo passando apertando nas suas beiras o movimento

(3)

(1976)

Cresceram na floresta da noite monstruosa,

Na sombra do amargo tacto

Cresceram mais dos anos da idade

Cresceram se uniram pela secreta palavra de amor

69 Huzayran=mês de Junho

126

Carregaram sua letra decorada, como Al Qurão receitado sussurrado

Cresceram com as árvores de henna e quando usaram na boca a kufeyyah70

Tornaram a rosa de girassol

Cresceram mais do que os anos da idade

Tornaram arvores entradas nas profundezas

Subindo para a luz

Parados na imprudente vento

Tornaram a voz da recusa tornaram

Dialética de destruição e construção

Tornaram a raiva acessa nas pontas do fechado horizonte

Tomando conta das classes das suas escolas

Invadindo ruas e bairros

E nos grandes tanques dispara a metralhadora das pedras!

E infiltra com a pelada recusa na forca da pedra

Invadindo a noite e sua inundação

Cresceram

Cresceram mais do que os anos da vida

Tornaram o servo e o criador

Tornaram “Samhan” “ Affanheh”

Tornaram “Abdulla” “Muhammad”

Tornaram “Ahmad” “Lina” “Mahmuod”

Quando lhes pegou as entranhas da terra com paixão

Cresceram.. Tornaram a lenda

Cresceram

Cresceram e tornaram a ponte

Cresceram

Cresceram

Cresceram

Tornaram maior de todos os poemas!

70 Kufeyyah, nome do pano geralmente com desenho de pequenos quadrados nas cores vermelho e branco ou preto e branco , usado na

cabeça pelos homens árabes.

127

أنشودة الصيرورة

(1967)

منهم من كانوا أطفالا

ما كبروا بعد

أفراخ عصافير صغيره

ما زالت بالعين المبهوره

ترنو وتحدق في الأشياء

في قمر يسطع، في شعله

في رش رذاذ تنعفه نافورة ماء

في عصفور ينفض أجنحة مبتله.. في قط يربض

يتلفت ، يجفل، يخطف ظله

ذروة نخله ويطير إلى

منهم من كانوا صبيه

تحترف الشيطنة وتلهو بالألعاب الناريه

تطلق في الريح الغربيه

سرب الطيارات الزرق الحمر الخضر القزحية

تتأبط كل شقاوتها في الأرصفة وفي الساحات

تتشاكس تقفز تصفر تركض تحت عقود الدور الرطبه

تتراشق بالنكت العفوية

بقشور الفستق والضحكات

تتبارز بالأغصان الصلبه

تشهرها سيفا أو حربه

تتقمص شخصيات كفاح أسطوريه

عنترة العبد الباحث عن حريته في درب الموت

عز الدين القسام الرابض في الأحراش الجبلية

القسطل" عبد القادر في "

يحيا ويمارس عشق الأرض

منهم من كانوا مضغا بعد

ترقد في الأرحام أجنه

(2)

ران أربدوجه حزي

128

زخ المطر الأسود

وهناك على أطراف الأفق هوت وتعلقت اللعنه

حين جراد القحط اندلق سيولا من خوذات الجلد

الأرض تميد تميد وتسقط يبلعها طوفان الحلكه

يعبر نهر الزمن عليها بالخطوات المرتبكه

يزحف ، يرجع أو يتجمد

" الحركة كان النهر وراء الأفق حصانا يعدو تشتد على شطيه "!

(3)

(1976)

كبروا في غاب الليل الموحش، في ظل الصبار المر

كبروا أكثر من سنوات العمر

كبروا التحموا في كلمة حب سريه

!حملوا أحرفها انجيلا، قرآنا يتلى بالهمس

كبروا مع شجر الحناء وحين التثموا بالكوفيه

صاروا زهرة عباد الشمس

كبروا أكثر من سنوات العمر

وا الشجر الضارب في الأعماقصار

الصاعد نحو الضوء

الواقف في الريح الهوجاء-

صاروا الصوت الرافض صاروا

جدلية هدم وبناء

صاروا الغضب المشتعل على أطراف الأفق المسدود

يكتسح صفوف مدارسهم

يجتاح شوارع و حواري

!وعلى الدبابات الجهمة يطلق رشاش الأحجار

مشنقة الحجر ويخلخل بالرفض العاري

يقتحم الليل وطوفانه

كبروا كبروا أكثر من سنوات العمر

صاروا العابد والمعبود

عفانه" "سمحان"صاروا "

محمد" "عبدالله"صاروا "

129

محمود" "لينا" "أحمد"صاروا "

حين تلقتهم في شغف أحشاء الأرض

صاروا الأسطورة.. كبروا

كبروا كبروا صاروا الجسر

كبروا كبروا كبروا

صاروا أكبر من كل الشعر

5.6. No Topo Do Mundo Sozinho

“Eu sou culpado, mas quem tem a coragem de me condenar num mundo onde não

há juízes?”: foi com esta frase do escritor filósofo e filósofo existencialista francês Albert

Camus que a poetisa começou esse volume de poemas publicado em Beirute em 1973, nele

incluindo onze poemas.

Pode ser que Fadwa sentiu que essas palavras carregam por dentro de si uma

amargura e decepção, após que viu na civilização europeia, e depois dez anos passados da

guerra de Junho, vivendo os acontecimentos na sua pátria ocupada, sabendo dos meios da

tortura dos sionistas contra os resistentes palestinos homens e mulheres, então cantou para

eles através dos seus poemas, e viveu seus dores e sofrimentos nas prisões do ocupante

sionista.

Elegia do cavaleiro71

Morte do Jamal Abdul Naser

(1) Setembro

Festival de morte no tope, Amman

foi transformada nele, como um caixão e um túmulo

e os rebeldes embriagados

com que foi transbordado pelo mar da loucura

pois as redes de pesca esta cheias

mil e dois mil e milhares de abatidos

71 Enquanto a poetisa vivia com suas dores e tristezas, chega noticia da morte do presidente Jamal Abdul Naser, então escreveu essa

lamentação e dedicou a alma dele (p. 555).

130

será que não tem mais?

Ó mar da loucura, traga

O desejo da morte que se elevou,

E a mesa está pronta e vinho do sangue cumprimentando lhes

E esse dia é Éid72

Ó mar, traga da sua pesca, pois esse é Éid

E que Éid!

(2) O redentor

e no escurecer do sangue, do fogo e da tirania da loucura

o redentor, mensageiro do amor, estendeu suas palmas sobre nós

e nos redimiu

Ah como a redenção é caro!

e nos comprou

Ah que preço mais caro!

E com o formigamento dos pregos da dor

e sobre a linha de corte das facas desfiadas

encostou a cabeça e relaxou

suas pálpebras e dormiu

E nos seus olhos a visão de amor e sonhos da paz

Ah, não é era o tempo para desmontar da égua

E se enrolou a sua tristeza por cima da égua acabada

E seus olhos se perderam

No imenso mar humano desperdiçado esmagado

quem redentora seu rapaz

quem desamarra o querido cavaleiro acorrentado

da prisão da morte, quem lhe traga de volta

o amante apaixonado do topo no campo

quem lhe traga de volta?

72 Éid é o nome dado a comemoração e a festa.

131

E se enrolou a sua tristeza por cima da égua acabada

E se expôs a sua tristeza Ah e Ah

quem desamarra o querido cavaleiro acorrentado

Ah não é era o tempo para desmontar da égua.

O vento disse: ele virá

A sua morte é o nascimento, Ele virá

Com o sol em suas mãos, o mesmo sol,

nos seus olhos, a abundância,

a mesma abundância e a paixão sofrida

das feridas da Terra, ele está vindo

dos anos da seca, ele esta vindo

Das cinzas da morte, ele esta vindo

sua morte é o nascimento, deverá vir

(موت جمال عبد الناصر)مرثية الفارس

ايلول (1)

رجان الموت في الذروة، عمان مه

استحالت فيه تابوتا وقبرا

والطواغيت سكارى منتشون

بالذي فاض به بحر الجنون

فشباك الصيد ملأى

الف مذبوح وألفان وآلاف

ألا هل من مزيد؟

هات يا بحر الجنون

شهوة الموت تلظت هات والمائدة

امتدت وخمر الدم تحييهم وهذا اليوم

عيد

دك يا بحر فهذا اليوم عيد هات من صي

!أي عيد

(2) الفادي

في احتدام الدم والنار وطغيان الجنون

132

بسط الفادي نبي الحب كفيه علينا

وافتدانا

!آه ما أغلى الفداء

واشترانا

!آه ما أغلى الثمن

وعلى وخز مسامير الألم

وعلى حز سكاكين العياء

أسند الرأس وأرخى

هدب جفنيه ونام

ؤى الحب وأحلام السلاموبعينيه ر

***

آه ما آن له أن يترجل

والتوت فوق أساها الفرس الثكلى

وتاهت مقلتاها

في الخضم الآدمي الهادر المسحوق

من يفدي فتاها

من يفك الفارس الغالي المكبل

من إسار الموت، من يرجعه

العاشق المدنف للصهوة للساحة

من يرجعه؟

والتوت فوق أساها الفرس الثكلى

ت حزنها آها فآها وعر

من يفك الفارس الغالي المكبل

آه ما آن له أن يترجل

سيأتي: قالت الريح

موته الميلاد لا بد سيأتي

في, في يديه الشمس، ذات الشمس

مقلتيه الوجد، ذات الوجد والعشق

المعنى

من جراح الأرض يأتي

من سنين القحط يأتي

133

من رماد الموت يأتي

بد سيأتيموته الميلاد لا

Itan na rede de aço73

“Certo dia , uma criança da creche do kibutz Maúoz Hayeem perguntou: quantos dias nós

devemos manter em segurança a pátria?” Então ela disse:

Sob a “árvore” quando se ramificando, crescendo,

Crescendo nos selvagens ritmos

sob “estrela” entre suas mãos construindo

paredes sanguentas do sonho

apertando a rede com fios de aço

derrubando -lhe nela

Roubando dele o movimento

abrindo os olhos o menino humano “Itan”

perguntando no estofamento da escuridão

Sobre o significado da rede e as paredes

E o tempo das amputadas pernas, vestindo com a cor caqui

pela morte cruel, pela fumaça

e pelas as tristezas

Se a estrela prediz a verdade

se prediz a verdade

mas a estrela

que lamentação!

Ó meu menino, um afogado como você no

mar da mentira

afogando- lhe o sonho inflamado

de cabeça de dragão

e os mil braços

Ah, ah!

Tomara que continue o menino humano

73 Fadwa escreveu esse poema para trazer à tona todas às calunias sionistas sobre como eles são povo democrático, porque eles criam e

educam seus filhos para odiar os árabes, e deu como introdução a esse poema uma fala duma criança dos sionistas. (P. 569)

134

estou com medo e horrorizada

de crescer nessa rede

nesse tempo das amputadas pernas

vestindo o caqui, com a morte cruel

com os fogos e com as tristezas

Ó meu menino temo que eles matem o humano de dentro de você

E que a queda alcança-lo

e despenca

despenca

despencando para o fundo

قصيدة ايتان في الشبكة الفولاذية -

((كم يوما يتوجب علينا أن نحافظ على الوطن؟: ذات صباح سأل طفل من أطفال الروضة في كيبوتس معوز حاييم ))

وهي تفرع ، تكبر تكبر(( الشجرة))تحت

في إيقاعات وحشيه

وهي تشيد بين يديه(( النجمة))تحت

جدران الحلم الدمويه

ولاذ الشبكهتحبك بخيوط الف

تسقطه فيها تسلبه الحركه

الطفل الإنسان(( إيتان))يفتح عينيه

يسأل في سجف العتمه

عن معنى الشبكة والجدران

والزمن المبتور الساقين ، المتسربل

بالكاكي ، بالموت القاسي ، بالدخان

وبالأحزان

. . . . . .

لو تنبيء بالصدق النجمه

لو تنبيء بالصدق

. . . لكن النجمة

! واأسفاه

يا طفلي أنت غريق مثلك في

بحر الكذبه

135

. . يغرقه الحلم المتضخم

ذو الرأس التنينية

. . والألف ذراع

! آه آه

ليتك تبقي الطفل الإنسان

اخشى وأراع

أن تكبر في هذي الشبكه

في هذا الزمن المبتور الساقين ،

المتسربل بالكاكي ، بالموت القاسي ،

حزانبالنيران وبالأ

أخشى يا طفلي أن يقتل فيك الإنسان

أن تدركه السقطة أن

يهوي

يهوي

يهوي للقاع

Entre as marés74

Quando as palavras se tornam gelatinosa

sobre as línguas da mentira

me introduzo na minha subjetividade,

Encolhendo

contendo e restringindo

evitando todos os caminhos géis

e toda a viscosidade humana

Recuando no meu pânico

Evitando no caminho a dissimulação do Mercúrio

fico firme de modo a não deslizar

e firmo meu PE numa terra de sabão

fecho a minha Mao e não abro-a

74 Cobrou a poetisa sua nação árabe pela decepção dela perante sua pátria e sua família, então escreveu esse poema com uma introdução

de fala do Shakespeare :” não sou como os outros me veem, essa é a minha armadilha que ganhei, que a dureza da escuridão parirá ele

da barriga do inferno uma criatura esquisita, e aparecerá assustador e terrível quando o dia aparecerá sobre ele”. (P. 566)

136

e desprezo tocar as coisas,

e desprezo os sorrisos defeituosos

e dês crio do ser humano raposa

mas quando uma criança me abraça

e toca meu cansado rosto

a veluda bochecha e as delicadas palmas

e os dedos como os lírios

não cresceu nela ainda uma garra

e dois olhos aparecem com vista para meu coração

como um céu foi lavado numa úmida madrugada

pelos anjos da luz

expande-se meu coração

cresce-se meu coração

fugindo do meu fechado coração

todas as muralhas

jorra nele o rio polar

e crescendo nele as árvores

retornando para

meu enorme coração

do exílio

a face do ser humano

بين الجزر و المد

حين الكلمات تصير على

ألسنة الكذب هلاميه

أتداخل في ذاتي ، أتقلص

أنكمش وأضمر

أتجنب كل هلاميات الدرب

وكل لزوجته البشريه

أتراجع في ذعري أتحاشى

في الدرب مراوغة الزئبق

أتماسك حتى لا أزلق

137

وأثبت قدمي في أرض صابونيه

أقبض كفي لا أبسطها

لامسة الأشياء ،وأعاف م

أعاف البسمات الشوهاء ،

وأكفر بالانسان الثعلب

لكني حين يعانقني

طفل ويلامس وجهي المتعب

الخد المخمل والكفان الناعمتان

وأصابع زنبق

لم ينبت فيها مخلب

وتطل على قلبي عينان

كسماء غسلتها في الفجر الرطب

ملائكة الأنوار

يتمدد قلبي

يكبر قلبي

من قلبي المغلقتهرب

كل الأسوار

يتدفق فيه النهر القطبي

وتنمو فيه الأشجار

يرجع من منفاه إلى

قلبي الواسع وجه الانسان

5.7. Julho e a Outra Coisa

Com trinta poemas, esse volume foi publicado com titulo (Julho e a outra coisa)

título da primeira poesia em Amman em 1987, que revelou sentimentos de desespero, o

que carregou Fadwa um peso psicológico escuro, para voltar para a antiga Fadwa triste e

deprimida.

Nota -se que a poetisa se preocupou muito em citar, diagnosticar, incorporar atos e

acontecimentos incluindo ditados populares, como também, revelou nele várias verdades

sobre o inimigo sionista, usando a repetições, diálogos e simbologia terminando esse

volume com poesias de lamentações.

138

Chegou a hora75

Chegou a grandiosa hora no campo da batalha

E cavalos dos cavaleiros se aprontaram

Era a hora da Al-Qeyama76

.......

Os anos difíceis demoraram se acabaram,

E a minha face não era minha face, e minha voz

Nos anos difíceis não era minha voz

Era a hora da Al-Qeyama

Antes que a minha face de junho retome a sua linha de beleza

دقت الساعة

(1)

دقت الساعة العظيمة في الساحة

واستنفرت خيول الشهامة

كان لابد أن تقوم القيامة

......

,تآكلت, السنين العجاف طالت

و صوتي, ووجهي ما عاد وجهي

في السنين العجاف ما عاد صوتي

كان لابد أن تقوم القيامة

قبل أن يسترد وجهي الحزيراني

خطوط الوسامة

História para nossas crianças77

Um rosto nas areias

E um pescoço se espetando nele os nós das cordas

Sua cabeça está rachada e seu sangue comprido

Tomando ele letras duma terrível preta lamentação

75 Fadwa escreveu esse poema motivada peal guerra da Outubro de 1973, então ela começou incentivando os soldados para liberar a

pátria dos mãos dos ocupantes. (P. 575) 76

Al-Qeyama = o fim do mundo 77

Considerada a segunda parte do poema (chegou a hora), e nesse poema a poetisa fala com crianças do mundo árabe do modo geral e

crianças da Palestina do modo especifico da guerra do outubro de 1973, e esclarece para elas que os anos difíceis já passaram, e hora da

vitoria já chegou. (P.576)

139

Ficou nos lábios da sua mãe derramando

Continuou derramando

Continuou derramando

Seis anos longos

E veio ano do elefante

Cortando a distância

Cortando as estações entre a morte e a vida

Explodiu o grande voz com os trovões e os relâmpagos

Carregando a profecia

Cortando a lenda

E disparou o esmagado menino de pedras, um olhar para o caminho.

E um olhar o iluminado agradável céu

E mergulhou no canal

Lavado terminando a sua ablução

E começa a reza!

حكاية لاطفالنا

وجه على الرمال

وعنق تخز فيه عقدة الحبال

هامته مشروخه ودمه مداد

تشربه حروف مرثاة رهيبة السواد

شفاه أمه تسيلظلت على

ظلت تسيل

ظلت تسيل

ستة أعوام طوال

وجاء عام الفيل

ممتطيا مسافه

تقطعها الفصول بين الموت والحياه

تفجر الصوت العظيم بالرعود والبروق

حاملا النبوءة

مجتثا الخرافه

وانطلق المجندل المسحوق ، نظرة على الطريق

140

ونظرة على السماء الرحبة المضيئة

وغط في القناه

مغتسلا متمما وضوءه

وقامت الصلاه

Mártires da Intifada78

Desenharam o caminho para a vida

pavimentar lhe com corais, com a felicidade jovem e as ágatas

levantaram os corações nas palmas como pedras, brasas incendiadas

apedrejaram com ela monstro do caminho

esse tempo da intensidade então fortaleça!

e trovou –se a voz deles

na escuta do mundo e penetrou seu eco no extremo do mundo

esse tempo da intensidade!

e intensificou ...e morreram de pé

brilhando como as estrelas

cadentes na estrada, beijando boca da vida

(2)

A morte atacou e entrou neles a sua foice

na face da morte se endireitaram

como as mais belas florestas das palmeiras e

das mais belas colheitas do trigo e

mais belo da manha

mais belo das árvores lavadas no colo da madrugada pelas chuvas

rebelaram-se ... e saltaram se ...se separaram

se espalharam na arena como grupo de fogo

se ascenderam.. brilharam se..e iluminaram se

e no meio do caminho e se ausentaram

(3)

78 Escreveu Fadwa muitas poesias para mártires da resistência na Palestina, e glorificou homens da Intifada e os resistentes, e deixou

claro que eles estão vivos.(604)

141

Ó sonho deles está aparecendo a distância

abraçando o feliz futuro

pelas suas mãos a volta deles chegará

com o grandioso chegado da manhã a volta deles chegará

aparecendo de ausência da morte

na sua face a boa noticia

e na sua ampla testa uma estrela brilhando

(4)

continuará recém-nascido ao longo da vida

não vai afastá-lo do seio da terra as multidões do mal

ou os gorilas da atmosfera, da terra, do mar

não desmamarão o mais que esteja o mal do estuprador ,

não desmamarão

por mais que mão da morte servindo o absinto amargo

numa noite de traição

sobre os mamilos do abundante seio da terra,

olhando-os à distância

abraçando a morte para sobreviver

se elevando para os mais preciosos

nos olhos do universo eles estão se elevando

e com cordas do sangramento

eles estão se elevando e elevando e elevando

nunca vai a morte traidora pegar seus corações

pois a nova madrugada e o retorno é

uma visão acompanhando lhes na estrada da redenção

olhando lhes na sua revolta falcões

ligando a terra e a sagrada pátria com o céu !

شهداء الأنتفاضة

رسموا الطريق إلى الحياة

لمهج الفتية بالعقيق با, رصفوه بالمرجان

ا, رفعوا القلوب على الأكف حجارة حريق , جمر

142

رجموا بها وحش الطريق

!هذا أوان الشد فاشتدي

ودوى صوتهم

في مسمع الدنيا وأوغل في مدى الدنيا صداه

!هذا أوان الشد

وماتوا واقفين... واشتدت

متألقين كما النجوم

ين فم الحياةمقبل, متوهجين على الطريق

هجم الموت وشرع فيهم منجله

في وجه الموت انتصبوا

أجمل من غابات النخل وأجمل من غلات القمح وأجمل من إشراق الصبح

أجمل من شجر غسلته في حضن الفجر الأمطار

نفروا... وثبوا... انتفضوا

انتشروا في الساحة حزمة نار

وأضاءوا.. سطعوا.. اشتعلوا

صف الدرب وغابوافي منت

يا حلمهم تلوح في البعيد

تحتضن المستقبل السعيد

على يديك بعثهم يجيء

مع الغد الآتي العظيم بعثهم يجيء

يطلع من غيابة والردى

في وجهه بشارة

وفي جبينه الفسيح نجمة تضيء

سيظل رضيعا طول العمر

لن تنزعه عن ثدي الأرض حشود الشر

البر البحر أو غيلان الجو

لن يفطم مهما استشرى الغاصب لن يفطم

مهما صبت كف الموت بليلة غدر

حلمة ثدي الأرض الثر بمر العلقم

انظر إليهم في البعيد

يعانقون الموت من أجل البقاء

143

يتصاعدون إلى الأغالي،

في عيون الكون هم يتصاعدون

وعلى جبال من رعاف دمائهم

دون هم يصعدون ويصعدون ويصع

لن يمسك الموت الخؤون قلوبهم

فالبعث والفجر الجديد

رؤيا ترافقهم على درب الفداء

ا انظر إليهم في انتفاضتهم صقور

5.8. Última Melodia

Em 27 de Setembro de 2000, na revista Al Wasat, foi publicada a fala de Fadwa,

que diz: “Ultima Melodia, é resumo duma experiência do amor que a poetisa viveu na

idade em que ela se encontra, com homem amou seus olhos, e ela amou a sua alma”.

Foi publicado esse oitavo e último volume de poesias em Ramallah em 2000,

incluindo dezenove poemas.

Fadwa disse também sobre esse volume que: “esse volume é resultado dum

trabalho longo e duro”, e disse também: “esse grupo de poesias (Última Melodia) mudou

meu ambicioso plano”.

Consolação79

Conciliei meu perdido coração

e disse? Ó coração, calma

não fica triste se seu amor morreu

ria do Amor

e engane

com a risada uma tristeza desobediente

مواساة

واسيت قلبي الغوي

79 Fadwa excluiu algumas poesias da sua vida por causa do ambiente social, então nesse poema está consolado seu coração e chamou ele

pelo perdido. (P. 632)

144

وقلت؟ يا قلب حسبك

لا تأس ان مات حبك

اضحك على الحب

واخدع

بالضحك حزنا عصى

Por favor, não morra80

Ó irmão da alma, por favor, não morra

Ou então leve a minha alma com você

gostaria de carregar o que está doendo em seu coração

se você vê quantas súplicas de coração levada ao Allah do coração

Para curar a sua ferida com alma dele

Ó irmão da alma, por favor, não morra

você a luz na minha vida

meu luminoso lampião

te suplico a ficar para me

fica como a luz, a aroma e o significado

e a mais bela página nos livros das minhas poesias

que coroou o fim da minha vida

رجاءا لا تمت

يا أخا الروح رجاء لا تمت

أو فخذ روحي معك

ليتني أحمل عن قلبك ما

يوجع قلبك

لو ترى كم رفع القلب إلى الله

صلاة القلب كي يشفي بروح منه جرحك

يا أخا الروح رجاء لا تمت

نقطة الضوء بعمري أنت

نبراسي المضيء

80 Ela escreveu esse poema no começo da sua vida poética, mas não o revelou durante a vida do seu irmão Ibrahim, quando ele estava

doente, mas ela o incluiu nesse volume das suas poesias. (P. 615)

145

ابق لي أرجوك

ابق الضوء والنكهة والمعنى

وأحلى صفحة في سفر شعري

توجت آخر عمري

A amarga colheita81

Às vezes a sua lembrança me leva para trás

Para tempo que eu o via

Algo feito pela ilusão e era

Nome de uma montanha de cabeça alta

Brilhando no topo dele uma estrela

E sobre a iluminar do conhecimento agora

O dourado brilho desapareceu

E se foi à ilusão

Para ver, e ouvir o mais estranho

Que conta sobre um sonho quebrado

E colheita amarga

Para final da idade

قصيدة حصاد مر

ترجعني أحيانا ذكراه

لزمان فيه كنت أراه

شيئا من صنع الوهم فكان

جبلا عالي الرأس اسم

يتوهج في قمته نجم

وعلى ضوء المعرفة الآن

الوهج الذهبي تلاشى

وانقشع الوهم

ولأسمع أغرب ما, لأرى

ي عن حلم مكسوريرو

81 Fadwa descreve suas memórias com todas as contradições a bela delas e amarga numa cena cheia de dor e saudade. (P. 631)

146

وحصاد مر

لنهاية عمر

Para Onde?82

para quando esta se segurando do magnífico da coisa destinada

o que te puxa com força a ele?

calma, o mais que você se assegura pela cauda da decisão

não há fuga

com quais asas você esta voando fugindo dele

voa como desejar para os extremos do destino

suas asas da lama de cera

o sol ocupando o topo dos topos e não há fuga

إلى أين ؟

إلى أين تنأين عن جاذبية شيء مقدر

ا إليه ?يشدك قسر

رويدك مهما تشبثت أنت بذيل القرار

ما من مفر

ين هاربة منهبأي جناحين أنت تطير

طيري كما شئت نحو أقاصي المدى

جناحاك من طينة الشمع الشمس

!ملء الأقاصي وما من مفر

Planeta83

Ó planeta que estranho tornou- se fumaça e desaparece

no extremo que não tem fim

como a sua impressionante luz tornou um rio

82 E continua a poetisa puxada para o amor, porque o amor é seu destino. (P. 630)

83 Fadwa continuou amiga da vida, mesmo com tanto que ela falou sobre a tristeza e dor, e continuou se apresentando a alegria e risada,

e sempre foi sincera com a vida desabafando de todo o que tem no coração, e seu jovem coração continuou escrevendo e produzindo

poemas mesmo quando ela ficou com idade avançada, e mesmo com longa luta, então no fim ela disse esse poema dedicando ilha para

escritor e jornalista Khairy Mansour. (P.633)

147

ela está separada de você, mas

seu curso continua correndo a minha direção!!

كوكب

عجبا يا كوكبا صار دخانا وتلاشا

في المدى اللمتناهي

كيف أمسى ضوءك الباهر نهرا

هو منفصل عنك ولكن

!!لم يزل مجراه يجري باتجاهي

148

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os palestinos vivem uma tragédia diária que teve começo, mas cujo fim é

desconhecido; repete-se todos os dias, carregando mais preocupações e dores, que eram um

incentivo para maioria dos escritores e poetas, os quais descreviam um pouco dessas dores,

torturas e terrorismo, com as variadas táticas praticadas pelo ocupante contra o povo

palestino. Fadwa Tuqan sempre destacou esse lado ignorado pelo mundo nas suas poesias

sobre a política e na autobiografia, na qual falou sobre sua sociedade sofrida e triste,

mesmo tendo sido criada com dor e ignorância pelos pais, sempre triste, num cárcere

privado chamado “costumes” da sociedade árabe naquela época.

Muitos ouviram o grito de Fadwa em prol do povos árabes, através das suas

poesias, como também de outros poetas e escritores, e se emocionaram com suas palavras e

atenderam ao seu chamado para resistir e lutar, mesmo sem armas ou equipamentos para a

guerra, mas seus líderes sempre buscaram esconder e tapar essa verdade e a necessidade

palestina de ajuda urgente, esquecendo que eles é que vão sofrer com essa ignorância; de

outro lado, os países ocidentais e europeus também ouviram o grito da poetisa através de

suas traduções para outros idiomas, como por exemplo o italiano e o inglês, porém eles não

puderam fazer muito pelo desinteresse dos seus líderes em atender o chamado de Fadwa, e

ignoraram a questão palestina.

Fadwa não tratou especificamente apenas as dores do seu povo, mas de todos os

povos necessitados, também escrevendo sobre a mulher e incentivando-a a se revoltar

contra os grilhões da tradição e apoiar os homens nas lutas e na vida em geral, ficando lado

ao lado, igual por igual. Ela poetizou sobre seu amor pelas crianças de modo geral, pois

tinha a certeza de que elas nascem carregando a paz, mas a sociedade onde são criadas é

que determinam como elas devem pensar, agir e reagir; sempre desejou que se pudesse

corrigir a relação entre as crianças israelenses e palestinas, pois o medo faz com que elas

cresçam nutrindo ódio umas pelas outras.

Durante a sua jornada política junto ao seu povo, Fadwa se alternou conforme as

situações que vão do desespero para alcançar uma solução e mudar essa situação a fim de

que a Palestina volte a ser como era, e a esperança de conquistar a liberdade e a

independência, e livrar seu povo e sua pátria das dores, das torturas e da humilhação.

149

Fadwa Tuqan sempre sonhou em libertar a sua pátria dos inimigos ocupantes,

porém esse sonho não foi possível durante sua vida, pois Palestina continuou ocupada,

invadida, prisioneira do sofrimento e de muita dor; mesmo assim, no dia de sua morte ela

deixou um testamento para os filhos da sua pátria e nação incentivando-os todos à rebeldia,

à luta e à resistência constantes, até a concretização do sonho de ter uma pátria livre,

autônoma e independente.

Não foi a única poetisa que carregou essa preocupação em relação à sua terra,

pois, quando tardava em se manifestar, havia outros além dela que carregavam esse amor

patriótico dentro do coração, independentemente de estarem vivendo sobre seu solo ou fora

dele; nunca a distância diminuiu esse amor, pelo contrário: as saudades cada dia se

tornavam mais fortes e intensas pela pátria amada Palestina, como foi o caso, entre outros,

de Mahmoud Darwish e de Samih Al-Qasem, cujas vozes alcançaram o mundo árabe por

inteiro.

Nossa pesquisa sobre a vida de Fadwa e suas poesias continua incompleta se

comparada à sua notável produção, e também porque a importância dos seus poemas só

pode ser completa quando for estudado e analisado o vocabulário que ela usou, bem como

as rimas e as formas de suas poesias e sua mudança da poesia clássica tradicional para o

moderno sistema de versos livres, e sua capacidade e competência em abrigar esse

vocabulário e essas expressões a fim de alcançar seu objetivo: mostrar o que tinha na alma.

O papel da poesia é muito importante na demonstração do sofrimento, e Fadwa

chegou ao fundo da questão palestina, apresentando-a e descrevendo-a, não só por meio da

poesia propriamente dita, mas também em suas duas autobiografias, nas quais retrata

simultaneamente a sua vida pessoal e o sofrimento do povo palestino naquela época, em

especial na segunda parte delas, que começou após o revés de 1967, e pois “a dificuldade

relacionada com realidade da nação é mais dura para a alma do que a amarga realidade do

próprio indivíduo”.84

Não podemos negar a importância da literatura para estudar a sociedade palestina,

que tem muitas escritoras cujos méritos não foram reconhecidos por serem os seus estudos

altamente especializados na questão palestina, e terem vivido na mesma época de Fadwa

84 Abdula Qader Abu Shareefa, O reconhecimento e a revelação na trajetória de Fadwa Tuqan, P.66

150

Tuqan; entre outras, é o caso de Sameera Azzam85

, que escreveu sobre a história palestina

e abordou em seus textos vários temas relacionados à sua pátria, mas ainda não foi

estudada e pesquisada como se deve.

Portanto, as duas autobiografias de Fadwa Tuqan são consideradas referência

histórica importante por demonstrar e registrar acontecimentos e fatos, sejam da sua vida

particular ou da sociedade, nelas se destacando o sofrimento da menina com os grilhões da

sociedade injusta, a luta do povo palestino e a dor pela ocupação hostil dos sionistas. Por

todos esses motivos, Fadwa Tuqan é considerada a poetisa da causa palestina.

85 Sameera Azzam (1927-1967), escritora e jornalista palestina nascida na cidade de Akka, conhecida como “pioneira da pequena

história”.

151

BIBLIOGRAFIA

ABHARY, K. (البعدان الدلالي والفني عند الشاعرة الاردنية جوهرة السفاريني) A prova dimensional e

artística na poetisa jordaniana Jawhara Al Sakariny, Ed. Moáta para os estudos e

pesquisas, Amman, UAE, 1997

ABU GHADAB, H, (والقضية الموقف, فدوى طوقان) Fadwa Tuqan, as posições e a questão

palestina. Editora Waél, Amman, 2002.

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