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Escola de

Negócios

Economia

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Uma Visão Geral da Economia: Importância na Área de Negócios

1. Introdução

ECONOMIA. Palavra que nos faz pensar em algumas imagens:

Na pessoa “muquirana” (para alguns, para outros, segura) que economiza todo e qualquer centavo.

Em conseguir comprar aquela roupa desejada na liquidação do shopping.

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Na gritaria dos operadores da bolsa de valores.

Nas oscilações do mercado financeiro e no lucro das empresas.

Em uma reunião de governantes internacionais.

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Nos programas dos governos.

Nas notícias dos jornais que ninguém entende....

Nossa, se formos colocar no papel todas as imagens que ligamos à economia, teríamos

uma lista longa.

A lista é longa sim, pois a Economia está ligada a praticamente tudo o que vivenciamos.

É cada vez mais comum discutirmos sobre fatos econômicos como: aumento de preços,

períodos de crise econômica, desemprego, diferenças salariais, balança comercial,

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oscilações na taxa de câmbio, crescimento de setores, taxa de juros, elevação de

impostos e tarifas públicas, globalização, entre outros. Como a maioria das pessoas

à ,acimônoce acitílop ed e siaicos samelborp a e oriecnanif otibmâ oa aimonocE a agil

primeira vista estudar Economia tem baixa popularidade.

Então para que estudar Economia? Os autores Hall e Lieberman (2003) apontam alguns

motivos interessantes:

• “para compreender melhor o mundo”, já que a aplicação de ferramentas da economia

pode ajudar a entender eventos globais e locais, simples (como o trânsito da cidade,

oscilações nos preços dos produtos, por exemplos) ou complexos e duradouros (como

as guerras entre nações e os ciclos econômicos).

• “para adquirir autoconfiança”: as pessoas que jamais se interessaram por economia

têm a impressão de que se trata de algo nebuloso, que ninguém entende e que

nunca vão entender. Os economistas têm um vocabulário complicado, o economês,

que muitas vezes parece incompreensível, desestimulando as pessoas a gostarem do

assunto. Depois de aprender um pouco sobre a economia, esse sentimento muda, a

seção de Economia dos jornais não parece mais escrita em uma linguagem “de outro

planeta” e diminui o desespero de mudar de canal quando começa o telejornal, as

pessoas passam até a arriscar comentários sobre as notícias econômicas do dia.

• para realizar mudanças sociais, atualmente as pessoas despertaram interesses em

“construir um mundo melhor” e para tanto a economia é indispensável, já que é

preciso compreender as raízes dos problemas sociais (fome, pobreza, doenças,

violência, etc.) e ambientais (poluição, aquecimento global, falta de recursos naturais,

entre outros) a fim de desenvolver esforços para resolvê-los.

• Mais um motivo para que você pense a respeito: para ajudar na preparação da sua

carreira.

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Ao longo do nosso curso, você verá que a Economia é uma ciência complexa, mas

fascinante. Que seu foco não está nos problemas, mas na melhoria da qualidade

de vida das pessoas. Entendendo esse foco, você verá que o estudo da Economia é

interessante e até divertido. Duvida? Então acompanhe nossas aulas e verá. Em cada

unidade, venceremos um novo desafio que encorajará você a desenvolver o gosto

por esta ciência...bem se não chegar a tanto, você pelo menos entenderá por que é

imprescindível aprender um pouco de economia nos dias atuais, independentemente da

sua profissão, interesses pessoais e preocupações.

Vamos lá?

2. Conceito de Economia

Em termos etimológicos, a paralavra Economia origina-se da palavra grega oikosnomos,

sendo oikos = casa e nomos = norma, lei, o que significa a arte de administrar o lar.

Gradativamente esse conceito foi sendo ampliado para a “arte de administrar a polis”

(cidade-estado).

A utilização do termo Economia provém de Aristóteles, que lançou as bases da ciência

e quem primeiro formulou os problemas econômicos que interessariam aos pensadores

posteriores. Apenas na Idade Moderna é que a Economia tornou-se uma ciência, a

partir das obras de François Quesnay, O Tableau Économique (O Quadro Econômico),

de 1758, na qual apresenta de forma simplificada a interdependência das atividades

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econômicas, usando terminologias da Biologia (já que, além de filósofo e economista, o

autor era médico) e de Adam Smith, economista escocês, cuja obra intitulada A Riqueza

das Nações, de 1776, investiga a causa e a natureza da riqueza das nações, analisando

a Inglaterra no auge da Revolução Industrial.

Um conceito atual de Economia é:

Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem

(escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de

modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer

as necessidades humanas. (VASCONCELLOS & GARCIA, 2004, p.2).

Vamos decifar esse conceito.

A economia é uma ciência social porque as ciências sociais estudam a organização e

o funcionamento da sociedade, e estudam o relacionamento entre as pessoas (que no

caso da economia enfoca como as pessoas se empenham na produção, distribuição e

consumo dos bens e serviços).

Em decorrência do fato de que os recursos produtivos são escassos, a sociedade se

depara com a necessidade de fazer escolhas. A escassez é o problema fundamental

da Economia, como não é possível produzir tudo o que se deseja, na quantidade e

forma que se deseja, é preciso criar mecanismos para analisar as melhores condições

e situações de modo que se atendam as necessidades humanas. Este é o foco da

Economia, estudar as melhores formas de resolver os problemas para que se utilizem os

recursos de forma eficiente a fim de satisfazer as necessidades de um maior número de

pessoas, buscando o bem-estar.

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3. Divisões da Economia

A Teoria econômica se divide em duas grandes áreas: Microeconomia e Macroeconomia.

Microeconomia Macroeconomia

Vem da palavra grega mikos, que significa

pequeno. Dedica-se ao estudo em close, ou

seja, como se a economia estivesse sendo

analisada por um microscópio. Estuda o

comportamento individual dos agentes

econômicos (famílias, empresas e governo).

Estuda a formação dos preços nos diversos

mercados a partir da ação conjunta da

demanda e da oferta.

Vem da palavra grega makros, que significa

grande. Dedica-se a uma visão geral da

economia, ou seja, estuda o resultado

global do comportamento dos agentes, a

partir da análise de indicadores (inflação,

desemprego, produção total, consumo,

volume total de poupanças, etc.). Estuda

as condições de equilíbrio estável entre a

renda e o dispêndio nacional. As políticas

econômicas de intervenção procuram

sempre estabelecer tal equilíbrio.

4. O Problema da Escassez

Vimos que o principal problema econômico é a escassez. A escassez significa que a

sociedade tem menos a oferecer do que aquilo que os indivíduos desejam e necessitam,

ou seja, a escassez surge porque as necessidades humanas são ilimitadas e os recursos

necessários para satisfazer tais necessidades são limitados. Por isso a Economia é

conhecida como a “ciência da escolha”, já que é preciso escolher quais recursos serão

utilizados, em que quantidade e quais necessidades serão atendidas.

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Fazemos escolhas constantemente, desde a roupa que colocaremos para sair, o que

comeremos no café da manhã, a quantidade de dinheiro que destinaremos para as

férias, qual será o passeio do final de semana, até questões mais importantes como

a profissão que escolhemos, a universidade que frequentamos, a aquisição de uma

moradia, entre outros. As empresas fazem escolhas sobre fornecedores, materiais,

recursos humanos, projetos, entre outros; e os governos, decidem empregar os recursos

do orçamento nas áreas como educação, saúde, infraestrutura, etc. As escolhas

ponderam as necessidades e desejos com duas limitações essenciais: a escassez de

tempo e de poder aquisitivo. Os consumidores, empresas e governos analisam as

alternativas possíveis e decidem qual é a mais conveniente. Ao fazerem isso, estão

atuando no âmbito da Economia (está vendo como a Economia está presente em tudo?).

Resumindo:

4.1. As necessidades humanas

Segundo Passos e Nogami (2003) “as necessidades humanas representam a sensação

de carência de algo unida ao desejo de satisfazê-la”. As pessoas têm diversos tipos de

necessidades: ar, água, alimentos, vestuário, moradia, lazer, sabedoria, paz, amor, etc.

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Essas necessidades são sempre renovadas (desejamos cada vez mais e novas coisas)

e por isso diz-se que as necessidades humanas são ilimitadas. Por serem ilimitaddas,

nem todas as necessidades podem ser satisfeitas. O ditado “quanto mais se tem mais se

quer” parece refletir fielmente a atitude dos indivíduos em relação às necessidades.

A Economia se preocupa com o atendimento das necessidades humanas que podem

ser satisfeitas por bens produzidos pelo homem (e têm um preço), denominadas

de necessidades econômicas. As necessidades econômicas são satisfeitas por bens

econômicos.

4.2. Os Bens

BEM é tudo aquilo capaz de satisfazer uma necessidade humana (RIZZIERI, 2005, p.10).

Existem vários critérios de classificação dos bens:

• livres: são abundantes na natureza, podem ser obtidos com pouco ou nenhum

esforço humano e por isso não possuem preço (ex.: ar, luz do sol, mar, etc.)

• econômicos: são relativamente escassos, demandam trabalho humano na sua

obtenção e possuem preço. É o objeto de estudo da Economia. Podem ser divididos

em:

• imateriais ou serviços: mesmo sem criar objetos materiais se destinam à

satisfação das necessidades; são intangíveis e por não poderem ser tocados,

não podem ser estocados (ex. serviços médicos, serviços advocatícios,

consultoria empresarial, aula ministrada, etc.)

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• materiais: permitem a atribuição de características físicas de peso, forma,

dimensão, sendo portanto tangíveis e por isso podem ser estocados (ex.:

roupas, alimentos, veículos, relógios, canetas, etc.). São divididos em:

• bens de consumo: diretamente utilizado para satisfazer as necessidades.

Podem ainda ser classificados em:

Bens de consumo duráveis Bens de consumo não duráveisquando podem ser utilizados por um

longo período de tempo (ex.: roupas,

eletrodomésticos).

(ou perecíveis), quando são usados uma

única vez, ou poucas vezes (ex.: alimentos,

combustível).

• bens de capital: servem para a produção de

outros bens (máquinas, instalações, etc.) e por

isso atendem indiretamente à satisfação de

necessidades.

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4.3. Recursos Produtivos

Para satisfazer as infinitas necessidades econômicas precisamos produzir os bens, que

por sua vez, dependem da utilização de recursos produtivos (ou fatores de produção).

Qualquer bem que se produza na economia resulta da combinação desses recursos. Os

economistas classificam os recursos produtivos em:

• Terra (ou recursos naturais): Na economia, o termo terra é usado no sentido amplo

indicando os elementos da natureza que podem ser utilizados na atividade produtiva

(solo para agricultura e construções prediais, recursos hídricos, recursos minerais,

etc.). O preço pago pela utilização do recurso terra é denominado aluguel.

• Trabalho: Representa o esforço humano, físico ou intelectual, despendido na

produção de bens e serviços. A qualidade e o tamanho da força de trabalho

também são limitadas. A remuneração dos proprietários do recurso trabalho é

denominada salário.

• Capital: Conjunto de bens duradouros fabricados pelo homem utilizados no

processo de produção de outros bens (ex.: edifícios, máquinas, equipamentos,

matérias-primas, etc.). Ao contrário do recurso terra que a natureza nos dá, o

recurso capital é produzido em algum período passado. Desse modo, em economia,

o termo capital significa capital físico (ou capital real), o que é diferente de capital

financeiro (dinheiro, ações, títulos, etc.). Uma carteira de ações, por exemplo, não

é capital no sentido econômico porque não constitui um recurso produtor de bens

e serviços. Não haverá aumento de riqueza na sociedade se o capital financeiro

aumentar sem que ocorra aumento no capital real. O recurso capital também

inclui o capital humano, ou seja, as habilidades e conhecimentos adquiridos pelos

indivíduos por meio da educação e da experiência.

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Em geral, nas economias capitalistas, esses recursos são de propriedade privada,

constituem capital próprio e seus proprietários têm direito a receber os lucros produzidos

por aquele capital; se forem tomados de empréstimo, então constituem capital de

terceiros, os quais recebem juros como remuneração.

5. Questões Centrais da Economia

Da escassez dos recursos ou fatores de produção, associada às necessidades ilimitadas

do homem, originam-se as questões centrais da economia (ou problemas econômicos

fundamentais):

• O que e quanto produzir?

Dada a escassez de recursos, a sociedade terá que escolher dentro das

possibilidades de produção, quais bens e serviços serão produzidos e suas

respectivas quantidades.

• Como produzir? (tecnologia)

A sociedade terá que escolher ainda de que maneira serão produzidos, dado

os diferentes tipos de técnicas existentes. Os produtores escolherão dentre os

métodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo, além de escolher a

energia que será empregada, os insumos utilizados, a quantidade de trabalho

humano na produção e suas características.

• Para quem produzir? (distribuição)

A sociedade terá que decidir também quem irá receber esses bens e serviços, em

outras palavras, como os indivíduos desfrutarão do total da produção nacional.

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6. O Problema da Escassez - A Curva de Possibilidade de Produção

O problema da escassez - e a necessidade de fazer escolhas - pode ser explicada pela

Curva de Possibilidade de Produção (CPP) ou Fronteira de Possibilidade de Produção.

A escassez de recursos faz com que a capacidade produtiva de uma economia tenha

limites e por isso é necessário tomar a decisão (escolha), de quais bens serão produzidos

e suas quantidades, ou seja, em algumas situações será necessário produzir mais de um

bem A e menos de um bem B.

Para simplificar, consideramos o seguinte exemplo: uma empresa do segmento têxtil

que produza pijamas e camisolas. O dono da empresa solicitou um levantamento das

máximas combinações da produção de pijamas e camisolas utilizando a totalidade da

capacidade produtiva e o resultado apresentado foi:

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Se utilizar toda a capacidade para produzir pijamas, não terá como produzir camisolas

(alternativa F). Por outro lado, se sua dedicação for somente para a produção de

camisolas, não produzirá pijamas (alternativa A). Essas são duas posições extremas;

existem entre elas inúmeras soluções alternativas que combinam as duas produções

(representadas no exemplo pelas alternativas B,C,D e E).

Se traçarmos o gráfico com estas alternativas de produção, temos o seguinte resultado:

A linha resultante da união dos pontos que compõem as alternativas de produção é a

Curva de Possibilidade de Produção (CPP).

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Assim, a CPP mostra todas as combinações possíveis de dois bens que podem ser

produzidos dentro de uma limitada quantidade ou qualidade de recursos (BOYES &

MELVIN, 2006, p.25).

Através desse conceito, vale ressaltar que os pressupostos do modelo são:

• Os recursos são fixos (número de máquinas e trabalhadores é fixo).

• O conhecimento tecnológico é constante (no curto prazo não há nenhuma

inovação tecnológica).

• Somente dois produtos são passíveis de fabricação.

Algumas constatações merecem destaque:

a) Eficiência produtiva: Tem-se eficiência produtiva em qualquer ponto sobre a fronteira

(ao longo da linha AF), na qual ao aumentarmos a produção de pijamas temos que

reduzir a produção de camisolas e vice-versa.

b) Um ponto dentro da curva (Ponto H) - representa uma produção possível de ser

atingida, embora implique em ociosidade na utilização dos fatores de produção.

(Situação de desemprego - terras inativas, trabalhadores desocupados, máquinas

paradas ou qualquer outro tipo de utilização ineficiente dos recursos disponíveis).

c) Um ponto fora da curva (Ponto G) - representa uma produção impossível de ser

alcançada com a utilização dos fatores de produção disponíveis. A produção em um

ponto fora da curva exigiria a utilização de mais recursos ou um avanço tecnológico

(que permitiria um aumento na qualidade dos recursos utilizados), essas situações

provocariam o deslocamento da CPP para fora até alcançar o ponto G.

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6.1. Custo de Oportunidade

A Curva de Possibilidade de Produção permite identificar o conceito econômico de Custo

de Oportunidade, que representa aquilo que se deve renunciar para se obter algo, mas

concretamente, representa as quantidades de um bem que se deve abrir mão para

aumentar a produção do outro bem (MOCHÒN, 2006, p. 5).

A economia nos ensina que não existe “nada grátis”, para conseguirmos algo, temos

que renunciar a outras coisas e esse é o princípio do custo de oportunidade.

No nosso exemplo: suponha que a empresa esteja produzindo no Ponto A e decida

produzir a alternativa B: (aumentar a produção de pijamas). O custo de oportunidade seria:

Ponto A => Ponto B

0 pijamas => 3.000 pijamas

10.000 camisolas => 8.000 camisolas

O custo de oportunidade de se aumentar a produção de pijamas para 3.000 unidades

são as 2.000 camisolas sacrificadas.

Agora suponha que a empresa esteja operando no ponto B e decida aumentar a

produção de camisolas, passando a produzir no ponto A.

Ponto B => Ponto A

8.000 camisolas => 10.000 camisolas

3.000 pijamas => 0 pijamas

O custo de oportunidade de se aumentar a produção de camisolas para 10.000

unidades são as 3.000 unidades de pijamas sacrificadas.

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7. Funcionamento Simplificado da Economia: Fluxo Circular

Com os conceitos que aprendemos até agora, já é possível entender de modo

simplificado como a economia funciona. Em uma economia, são utilizadas várias

combinações dos recursos produtivos terra, capital e trabalho, resultando na produção

dos bens e serviços existentes.

Dessa relação, surge nosso primeiro fluxo: o fluxo real da economia. Por Fluxo Real

entendemos o movimento dos recursos produtivos e bens e serviços entre os diversos

agentes econômicos. Como estamos tratando de uma simplificação vamos considerar

apenas dois grandes agentes: as famílias, proprietárias dos recursos de produção e as

empresas, produtoras dos bens e serviços disponíveis. As firmas contratam mão-de-

obra, compram matérias-primas e bens de investimento (ou seja, adquirem os recursos

produtivos) e, produzem bens que são posteriormente vendidos a outras firmas as quais

transformam o produto ainda mais, até que o produto final seja vendido ao consumidor/

famílias.

Sabemos que toda vez que um bem é transferido de um agente para outro, são

efetuados pagamentos em troca deles. Surge, então, mais um fluxo: o fluxo monetário.

As empresas ao adquirem os recursos produtivos das famílias, pagam por eles; os donos

das terras recebem aluguel por suas propriedades, os trabalhadores recebem os salários

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e os detentores do capital ganham os juros ou o lucro. As famílias, por sua vez, utilizam

seus recursos monetários para comprar os bens e serviços oferecidos pelas empresas. O

dinheiro recebido com a venda das mercadorias e serviços, retorna para as empresas,

que podem adquirir mais recursos de produção, tornando o fluxo circular. O fluxo

monetário gira, consequentemente, em direção contrária ao fluxo real.

Ao juntarmos os dois fluxos, temos o “Fluxo Circular da Renda”, que representa

um modelo econômico elementar que demonstra de forma simplificada e gráfica a

organização econômica. Esse fluxo está exemplificado a seguir:

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No diagrama acima, o fluxo monetário está representado pelas setas azuis e o fluxo

real pelas setas vermelhas. Esse diagrama também permite responder as três questões

centrais da economia:

a) O que e quanto produzir?

As necessidades e desejos dos consumidores (famílias) determinarão quais bens

e serviços serão produzidos e em que quantidade, surgindo assim o mercado de

bens e serviços.

b) Como produzir?

É determinado pela concorrência entre produtores. Cada produtor procurará

minimizar seus custos e buscará métodos e recursos mais eficientes para

maximizar seus resultados e sobreviver à concorrência. Cria-se um mercado de

fatores de produção, no qual as empresas buscam os melhores recursos para

sua produção.

c) Para quem?

Será determinado pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção,

já que a remuneração destes recursos (aluguéis, lucro, juros e salários)

determina a renda disponível de cada agente, o que permite a aquisição de

certos bens e serviços, fazendo com que o preço se torne um instrumento

de exclusão, visto que alguns indivíduos não terão renda disponível para o

consumo de alguns bens.

Podemos usar esse fluxo para analisar vários mercados e situações. E, se quisermos um

fluxo mais complexo e realístico, basta incluirmos o governo, o mercado financeiro e

ainda, o comércio internacional.

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A análise desse diagrama nos aponta novas terminologias, como mercados, oferta,

demanda, preços... mas a discussão sobre esses conceitos é assunto da nossa próxima

unidade. Nos encontramos lá!

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Mecanismos de Mercado: Demanda, Oferta e Equilíbrio

1. Introdução

Na aula anterior estudamos o conceito de Economia, suas áreas de estudo, o problema

da escassez, a necessidade de fazer escolhas e como funciona de forma simplificada

a Economia, através da análise do fluxo circular da renda. Esse primeiro contato com

a Economia, nos mostrou que seu funcionamento gira em torno dos mercados...bem,

existe uma história de que “faça qualquer pergunta a um economista e ele pensará em

mercados”. E com razão, eles estão por toda parte. Veja alguns exemplos:

A volkswagen no topo do pódio

A montadora bate recordes de venda e se torna a

maior fabricante de caminhões do País, depois de 50

anos de domínio da Mercedes-Benz.

No ano de ouro da indústria automobilística

brasileira, os veículos comerciais se tornaram o

pedaço mais vigoroso desse mercado (...) No

ano passado, a Volkswagen Ônibus e Caminhões

roubou de sua principal concorrente, a conterrânea

Mercedes-Benz, o posto de maior fabricante de

caminhões acima de cinco toneladas do País. (...) A

participação de mercado da empresa rondava os

15%. Hoje, encontra-se em 30,5%.

(ISTO É DINHEIRO, 01/FEV/2008)

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Mercado de trabalho nos EUA perde 17 mil vagas

Resultado realimenta temores de recessão

no país (...)

(FOLHA DE S. PAULO, 02/fev/2008)

Campeonato Paulista (Boleiros)

E finalmente o futebol está de volta! (...)

O hábito ancestral e hereditário de ir

direto aos cadernos de Esportes todas as

manhãs se desenvolveu e se transformou numa espécie de maníaca investigação do

que estaria perdido nas entrelinhas e implícito no espaço entre os parágrafos (...) Em

primeiro lugar, checamos o dia a dia do nosso time para depois espiar o que ocorre

com os concorrentes. É uma espécie de prazer sutil e doce, principalmente quando o

mercado está agitado e as novidades não cessam de espocar.

(O ESTADO DE S. PAULO, 17/jan/2008)

A Invasão dos Homens da Bolsa

Empresas do mercado financeiro apostam na

profissionalização do mercado da moda e compram

algumas das principais grifes brasileiras. O grande

zunzum do São Paulo Fashion Week teve como

protagonistas homens acostumados a desfilar de terno

e gravata pelo mercado financeiro que decidiram ir às

compras. De grifes, bem entendido (...) Apesar de ainda

desorganizado, o mercado da moda tem visibilidade e

espaço para se expandir. O consumo interno não para

de crescer (..) (VEJA, 30/JAN/2008)

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Moda, futebol, música, alimentos, revistas, veículos, imóveis, finanças, câmbio, saúde,

educação, transporte... são todos mercados, cujas flutuações são resultados da interação

dos compradores e produtores. “É tudo uma questão de oferta e demanda”. Você já

deve ter ouvido isso muitas vezes, mesmo sem perceber. Esses são conceitos presentes no

nosso dia a dia, mas você sabe o que eles realmente significam? Esse é o objetivo desta

unidade: desvendar os mistérios da oferta e demanda. Vamos lá?

2. A Microeconomia

Na unidade anterior estudamos que a Microeconomia preocupa-se com o

comportamento dos agentes econômicos (consumidores, empresas e governo). A

Microeconomia tem algumas características:

• Visão global: Ela não foca sua análise em uma empresa específica, como a

Administração de Empresas, e sim no mercado no qual esta empresa está inserida.

• É parcial: para analisar um mercado isoladamente, considera que todos os outros

mercados e variáveis são constantes. Em Economia, usa-se a expressão originária

do latim coeteris paribus, que significa “tudo o mais permanecendo constante”.

Quando utilizada, indica que ao considerarmos a influência de uma variável

sobre a outra, as demais variáveis que poderiam interferir na análise permanecem

inalteradas.

A Microeconomia também é chamada de Teoria dos Preços, porque são os preços que

coordenam as decisões dos agentes econômicos no mercado.

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3. Entendendo os Mercados: Uma Introdução

Para iniciar, precisamos conceituar mercado. Originalmente, mercado significava um

local onde os bens e serviços são comercializados. Mas com a evolução das formas

de comercialização, mercado tornou-se um termo abstrato, sem necessariamente uma

referência geográfica. Atualmente, podemos conceituar mercado como a interação entre

compradores e vendedores de um produto ou serviço.

Mas quem são esses compradores e vendedores? Quando pensamos em vendedores,

imaginamos empresas. Na maioria dos casos são as firmas que fornecem grande

parte dos bens e serviços produzidos em uma economia, mas em alguns mercados,

os vendedores são as pessoas, como por exemplo, o mercado de carros usados e o

mercado de trabalho, no qual são as pessoas que “vendem” sua mão de obra para

as empresas. O mesmo ocorre com o outro lado, quando pensamos em compradores

imaginamos pessoas, que são as principais consumidoras de bens e serviços, mas as

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empresas também são consumidoras de serviços (como por exemplo, segurança,

serviços contábeis, etc.) e de fatores de produção (matérias-primas, mão de obra). O

governo também é consumidor de bens e serviços. Com isso, a primeira lição para

entendermos o funcionamento de um mercado é identificar quem são seus compradores

e seus vendedores.

Depois precisamos definir a área geográfica em que os compradores e vendedores se

localizam. Mesmo que um mercado não tenha uma referência geográfica é preciso fazer

um corte espacial para analisarmos um mercado, por exemplo, o mercado brasileiro de

automóveis tem características e necessidades diferentes do mercado europeu.

Uma terceira lição é compreendermos como vários fatores interferem no comportamento

dos consumidores e vendedores. Isso descobriremos a seguir:

4. A Demanda

A Demanda pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que os

consumidores estão dispostos e seriam capazes de adquirir a cada nível de preços, em

determinado período de tempo.

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A demanda representa o máximo que os consumidores podem aspirar, dada sua renda

e os preços no mercado (VASCONCELLOS, 2002, p.49). Demanda é, portanto, diferente

de compra. “Demandar significa estar disposto a comprar, ao passo que comprar é

efetuar realmente a aquisição. A demanda reflete uma intenção, um desejo, enquanto a

compra constitui uma ação” (MOCHÒN, 2006, p.21).

Existem vários fatores que interferem no comportamento da demanda. O preço

do próprio bem é o principal deles. É através da relação entre preço e quantidade

demandada é que se estabelece a Lei Geral da Procura, a qual revela que existe uma

relação inversa entre a quantidade demandada e seu preço, ou seja, a quantidade

demandada aumenta com a queda no preço e diminui com a elevação (considerando

ceteris paribus).

Isso faz sentido. Quanto mais elevado for o preço de um produto, menores quantidades

o consumidor está disposto a adquirir, porém, quando o preço sofre reduções, os

consumidores aspiram por quantidades cada vez maiores.

Como exemplo, consideremos a demanda mensal de uma família por sucos de laranja.

A tabela a seguir ilustra as quantidades demandadas de suco a cada preço:

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Construindo o gráfico, temos:

A curva de demanda é decrescente da esquerda para a direita e nada mais é do que a

representação gráfica da Lei da Demanda.

Cabe destacar que o termo Demanda é usado para se referir a toda a curva e não

a apenas a um ponto dela; quando nos referimos a um ponto da curva, usamos a

expressão quantidade demandada. Mudanças nos preços provocam alterações na

quantidade demandada, já que ocorre o deslocamento ao longo da curva de demanda.

Dentro do nosso exemplo, quando o preço sobe de R$2,00 para R$3,00 o litro, a

família deixa de consumir 40 litros e passa a consumir 20 litros mensais de suco de

laranja, passando do ponto D para o ponto B na curva de demanda.

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4.1. Comportamento da Curva de Demanda

Por que a curva de demanda é decrescente?

De acordo com Alfred Marshall (economista inglês, autor do livro Princípios de

Economia, de 1890), o comportamento da demanda está baseado no Princípio da

Utilidade Marginal Decrescente, princípio segundo o qual, quantidades a mais que

forem consumidas de um bem irão gerar cada vez menos utilidade. Estranho, né?

Vamos explicar melhor.

A utilidade é um fator subjetivo que representa a satisfação gerada pelo consumo de

bens econômicos. Os consumidores fazem uma avaliação dos bens e serviços, definem

sua utilidade e estabelecem o preço máximo que estão dispostos a pagar pela aquisição

desses bens. Assim, cada ponto na curva de demanda supõe que o consumidor está

maximizando sua utilidade ou satisfação.

Para entender a utilidade marginal decrescente vale lembrar a antiga história do copo

de água. Inicialmente, como a sede é grande, este copo de água traz uma satisfação

elevada. Quanto mais água for consumida, maior será a satisfação total (a utilidade total

é crescente), mas à medida que a sede é saciada, o próximo copo passa a trazer uma

utilidade cada vez menor. Como utilidade marginal (ou suplementar) representa a utilidade

que o consumidor obtém ao consumir uma unidade adicional de um bem, ela diminui à

medida que se consome mais e mais. Em decorrência disso, quanto mais saciados estiverem

os consumidores, menor deve ser o preço do produto para induzir um consumo maior.

Isso ajuda a explicar, por exemplo, porque os lançamentos (as novidades) têm sempre um

preço elevado, como os consumidores não estão saciados, pelo contrário, estão ávidos por

consumir, o preço é elevado. À medida que o consumo vai se pulverizando, a saciedade

aumenta, a utilidade marginal decresce e, portanto, a tendência é que os preços caiam.

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A relação inversa entre preço e quantidade também é explicada por outros dois fatos:

• Efeito-substituição: Quando o preço de um bem aumenta, alguns consumidores

que antes o adquiriam, deixarão de fazê-lo ou comprarão quantidades menores,

passando a procurar outros bens para substituí-lo. Um exemplo é o mercado

turístico. Quando o preço das diárias dos hotéis aumenta, os turistas passam a

procurar pousadas, chalés, casas de campo, etc.

• Efeito-renda: Considerando que a renda do consumidor, permaneça a mesma, se o

preço de um produto aumentar, os consumidores demandarão menos quantidade

do produto, porque têm a sensação de que seu poder aquisitivo diminuiu.

4.2. Exceções à Lei da Demanda

Existem algumas exceções à Lei Geral da Demanda. São elas:

• Bem de Giffen: bem cuja curva de demanda é positivamente inclinada

(ascendente), ou seja, um bem cuja demanda aumenta quando seu preço sobe

e diminui quando seu preço desce. Geralmente, são bens de baixo valor, mas

de grande importância no orçamento dos consumidores de baixa renda. Essa

forma de comportamento foi verificada por Robert Giffen

ao observar que as famílias mais pobres compravam mais

pão à medida que seu preço aumentava. Embora mais

caro, o pão ainda é um produto barato, o que faz com que

os consumidores deixem de comprar outros produtos (mais

caros) para comprar mais pão.

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• Bens de Veblen: são bens de consumo ostentatório (obras de arte, carros de luxo,

tapeçarias, joias, etc.) para os quais a procura tende a aumentar simultaneamente

à elevação de seus preços, já que o objetivo do consumidor

ao comprá-los é mostrar que possui um grande poder

aquisitivo (dá prestígo social). Thorstein Bunde Veblen,

economista que observou este fenômeno em sua principal

obra intitulada “Teoria da Classe Ociosa”, definiu o

conceito de consumo conspícuo que é o dispêndio feito

em finalidade de demonstração de condição social, manifestando-se

através da compra de artigos de luxo e quaisquer gastos ostentatórios.

4.3. Demanda de Mercado

A demanda de mercado é a soma das demandas individuais por um bem ou serviço

em uma determinada economia. Exemplo: Imagine que numa economia só existam

três consumidores e que suas demandas individuais de chocolates por semana sejam

representadas na tabela

ao lado. A demanda

de mercado será a

soma das quantidades

demandadas dos três

consumidores.

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4.4. Fatores que afetam a demanda de um bem ou serviço

Além do preço do próprio bem, existem outros fatores que interferem na demanda

por um bem ou serviço, como a renda do consumidor, as preferências do consumidor,

tamanho do mercado e o preço dos bens relacionados - substitutos e complementares.

Esses fatores provocam deslocamentos da curva de demanda.

Toda mudança que aumente a quantidade demandada de um bem ou serviço a dado

preço, desloca a curva para a direita, nessa situação dizemos que ocorreu um aumento

da demanda. Na situação inversa, toda mudança que reduza a quantidade demandada

de um bem ou serviço a um dado preço, desloca a curva de demanda para a esquerda,

ou seja, provoca uma diminuição da demanda. Para facilitar, tudo que afete a demanda

que não seja o preço do próprio bem, desloca a curva inteira.

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a) Renda do Consumidor:

Quando ocorre um aumento na renda dos consumidores, estes podem consumir mais

de todos os bens, qualquer que seja o preço, provocando um deslocamento da curva

de demanda para a direita. Ao contrário, quando a renda dos consumidores sofre uma

queda, espera-se que as pessoas desejem consumir uma quantidade menor para cada

preço, deslocando a curva de demanda para a esquerda. Alguns exemplos ocorridos na

economia brasileira:

Renda do brasileiro cresceu 10,2% entre 2005 e 2006, revela BNDES

(Agência Brasil, 06/dez/2007)

Otimista com a economia, classe média planeja consumir mais em 2008

Segundo estudo da TNS InterScience realizado em novembro de

2007 na cidade de São Paulo, as expectativas de consumo para

2008 são bem melhores que no ano anterior (...)

De acordo com a pesquisa, 52% dos entrevistados de classe média

já sentiram que seu poder de compra aumentou em 2007, e 65%

acreditam que vai continuar melhorando em 2008. O mesmo

movimento ocorre em relação à baixa renda: 47% avaliaram que

2007 foi melhor que o ano anterior e 53% acreditam que

a tendência é melhorar ainda mais neste ano.

(CIDADE BIZ: Economia, Marketing e Negócios, 30/jan/2008).

Porém, isto não ocorre com todos os bens, o que nos permite classificar os bens em:

• Bens normais: bens cuja quantidade demandada aumenta quando se eleva a

renda.

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• Bens inferiores: bens cuja quantidade demandada diminui

quando se eleva a renda. Exemplo: Transporte coletivo, Carne

de segunda (sua demanda se reduz quando o indivíduo

aumenta seus ganhos, pois ele passa a consumir mais carne de

primeira).

b) Preços dos outros bens relacionados:

Alterações no preço de um bem também podem afetar a demanda de outros bens

relacionados a ele. Para compreendermos esse efeito é preciso classificar os bens em:

• Substitutos: São bens que satisfazem a mesma necessidade para o consumidor.

Apresentam relação direta entre o preço de um bem e a quantidade demandada

de seus bens substitutos, ou seja, o aumento do preço de um bem provoca uma

elevação na demanda do outro bem. Ex: carne e frango, manteiga e margarina;

café e chá. Consideremos a manteiga e a margarina como substitutos. Se o preço

da manteiga sofrer uma elevação, as pessoas terão menos interesse em consumir

manteiga e procurarão um substituto, aumentando a demanda por margarina.

A demanda de margarina foi afetada pelo preço da manteiga (é um mercado

interferindo no outro).

•Complementares: São bens que se complementam para a satisfação de uma

mesma necessidade. Existe uma relação inversa entre o preço do bem x e a

quantidade demandada do bem y, ou seja, o aumento do preço de um bem reduz

a demanda do outro bem. Ex: lapiseira e grafite, carro e combustível, impressoras

e cartuchos de tinta, xampu e condicionador, etc. Peguemos como exemplo as

impressoras e cartuchos de tinta. Se os cartuchos de tinta de um certo modelo

tiverem seus preços aumentados, os consumidores procurarão um modelo de

impressora que tenha um cartucho com preço mais acessível, assim um aumento

no preço dos cartuchos diminui a demanda por impressoras jato de tinta.

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c) Gostos ou Preferências do Consumidor:

A preferência do consumidor talvez seja o fator mais evidente na demanda, pois em

geral só demandamos o que gostamos. Como os gostos se modificam ao longo do

tempo, alterações na preferência do consumidor impulsionam ou retraem a demanda de

um bem. Fatores como qualidade, tecnologia, campanhas publicitárias e moda podem

ser fundamentais para a escolha de um bem ou serviço. Se os gostos se alterarem no

sentido de se desejar consumir mais de um bem, a demanda se deslocará para a direita

e, se os gostos forem afetados negativamente, a demanda diminuirá, deslocando sua

curva para a esquerda.

d) Outros fatores:

Além dos fatores citados, existem outros que afetam a demanda de um bem. Um deles

é o tamanho do mercado. Por exemplo, se a população de uma região aumenta, o

tamanho do mercado consumidor aumenta e, portanto, a demanda de alguns bens se

deslocará para a direita. Outro fator é a expectativa em relação ao futuro. Por exemplo,

se uma pessoa acredita que seus rendimentos serão maiores no futuro, tende a consumir

mais desde hoje, aumentando a demanda dos bens. Já se uma pessoa acredita que

o preço de determinado bem irá subir em algumas semanas, tende a aumentar o

consumo deste bem hoje para se antecipar ao aumento.

Vimos que vários fatores podem afetar a demanda de um bem. O quadro a seguir

apresenta um resumo:

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5. A Oferta

Oferta pode ser definida como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores

estão dispostos e aptos a oferecer a cada faixa de preços, em determinado período de

tempo (BOYES & MELVIN, 2006, p.41). Cabe ressaltar que ofertar é diferente de vender.

“Ofertar é ter a intenção ou estar disposto a vender, enquanto que vender é fazê-lo de

fato. A oferta mostra as intenções de venda dos produtores” (MOCHÒN, 2006, p.27).

Assim como na Demanda, o principal fator que interfere na oferta é preço do próprio

bem. A relação entre preço e quantidade ofertada define a Lei da Oferta, a qual

estabelece que existe uma relação positiva entre quantidade ofertada e seu preço,

ou seja, quando o preço do bem aumenta, a produção e a venda deste bem se

tornam mais lucrativas, e por isso, os produtores tendem a produzir mais deste bem,

aumentando a quantidade ofertada (considerando ceteris paribus).

Como exemplo, consideremos a oferta de uma empresa de bonés. A tabela a seguir

ilustra as quantidades ofertadas semanalmente a cada preço:

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Construindo o gráfico, temos:

A curva de oferta é crescente da esquerda para a direita e nada mais é do que a

representação gráfica da Lei da Oferta. Cabe ressaltar que quando nos referimos a

um ponto da curva usamos a expressão quantidade ofertada. Mudanças nos preços

provocam alterações nas quantidades ofertadas, já que ocorre o deslocamento ao longo

da curva de oferta. Dentro do nosso exemplo, quando o preço sobe de R$ 15,00 para

R$ 20,00, a empresa lucraria mais vendendo ao preço maior, a tendência é ofertar

mais. Desse modo, a quantidade ofertada passa de 75 unidades para 100 unidades,

ocorrendo um movimento ao longo da curva de oferta do ponto A para o B.

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5.1. A Oferta de Mercado

A oferta de mercado é a soma das ofertas individuais de todos os produtores de um bem

e serviço a cada nível de preço e em determinado período de tempo. Exemplo: Em uma

cidade existem apenas três produtores de leite e suas ofertas individuais em litros por

semana estão representadas

na tabela a seguir. Indique

a oferta de mercado e

represente graficamente as

quantidades ofertadas de cada

produtor e do mercado.

5.2. Fatores que afetam a oferta de um bem ou serviço

Além do preço do próprio bem, existem outros fatores que interferem na oferta de um

bem ou serviço, como a tecnologia, os custos de produção, a lucratividade dos outros

bens relacionados,número de produtores. Esses fatores provocam deslocamentos da

curva de oferta.

Quando os vendedores optam por vender mais a um determinado preço, a curva de

oferta se desloca para direita – há um aumento da oferta. Quando escolhem vender

menos a determinado preço, a curva de oferta se desloca para a esquerda – ocorre uma

diminuição da oferta (HALL & LIEBERMAN, 2003, p.73).

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As diferentes variáveis que afetam a oferta merecem uma descrição mais detalhada:

a) Custo dos fatores de produção:

As quantidades ofertadas de bem ou serviço dependem, acima de tudo, do custo de

produção. Estes dependem do preço pago pela utilização dos fatores de produção.

Reduções nos preços dos fatores de produção (exemplo, redução nos níveis salariais, nos

preços das matérias-primas, etc.), reduzem os custos dos produtores, tornam a produção

mais lucrativa, estimulando a expansão da oferta. Já um encarecimento nos preços dos

fatores de produção, aumenta os custos, torna a produção menos lucrativa e reduz a

oferta.

b) Tecnologia:

Qualquer melhora da tecnologia permite produzir a custos menores, estimulando

a produção e elevando a oferta (a curva se deslocaria para a direita). Exemplo: a

descoberta de um novo fertilizante pode aumentar a produtividade na agricultura,

aumentando a oferta dos produtos beneficiados pela inovação tecnológica. Porém,

avanços tecnológicos que aumentem os custos, tendem a reduzir a oferta de um bem,

deslocando a curva para a esquerda.

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c) Lucratividade dos outros bens:

A oferta de um produto pode ser afetada pela variação na lucratividade dos outros

produtos que sejam substitutos ou complementares na produção.

• Bens Substitutos: bens substitutos na produção são bens que poderiam ser

produzidos com aproximadamente os mesmos recursos. Muitas firmas podem

mudar sua produção com relativa facilidade entre diferentes bens e serviços,

desde que todos requeiram mais ou menos ou mesmos insumos de produção.

Nesse caso, existe uma relação inversa entre o preço de um bem e a quantidade

ofertada de seus bens substitutos, ou seja, o aumento do preço do bem x diminui

a quantidade ofertada do bem y. Exemplo: uma clínica estética pode facilmente

reduzir a oferta de tratamento para acne e aumentar a oferta de tratamento para

rugas, se este se apresentar mais lucrativo.

• Bens Complementares: bens complementares na produção são aqueles que

apresentam alteração na produção em função de variações de preço de outro

bem. Apresentam relação direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada

de seus bens complementares, ou seja, o aumento do preço do bem x aumenta a

quantidade ofertada do bem y. Ex: carne e couro (se aumentar o preço da carne,

tornado-a mais lucrativa, provoca um aumento nos abates e aumenta a oferta

de carne e por decorrência aumenta a oferta de couro, deslocando sua curva de

oferta para a direita. O mercado de couro foi afetado pelo aumento no preço da carne).

d) Outros fatores:

Além dos fatores citados, existem outros que afetam a oferta. O número de empresas

ofertantes é um deles. Um aumento no número de produtores, provoca

consequentemente, um aumento na oferta, deslocando a curva para a direita. Outro

fator a ser considerado apenas para alguns bens e serviços é o clima. No caso de

produtos agrícolas e pecuários o clima é um fator relevante. Por exemplo, uma geada

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pode reduzir a oferta de um bem. Também temos que considerar as expectativas dos

produtores. Um exemplo oportuno, citado por Passos e Nogami (2003, p.89), é o de um

criador de gado, se ele acredita que no futuro ocorrerá um aumento no preço da carne,

é provável que retenha o fornecimento atual de gado para o abate, a fim de aproveitar

preços mais altos posteriormente, provocando uma redução na oferta atual de carne.

O quadro a seguir apresenta um resumo dos fatores que afetam a oferta:

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6. Equilíbrio de Mercado

Quando analisamos conjuntamente as decisões e comportamento de consumidores e

produtores com seus respectivos planos de consumo e produção, podemos entender

como se estabelece o preço e a quantidade que equilibram um mercado e compreender

situações que deslocam o equilíbrio.

Para analisar a determinação do preço e da quantidade de equilíbrio de um mercado,

basta desenhar em um mesmo gráfico as curvas de oferta e demanda.

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O ponto de equilíbrio é dado pela intersecção das curvas de demanda e de oferta.

Esse ponto é único, as quantidades que os compradores desejam comprar (quantidade

demandada) é exatamente igual à quantidade que os produtores desejam vender

(quantidade ofertada), não há excesso de demanda ou de oferta.

Uma observação importante é que nossa análise de mercado está voltada para

os mercados competitivos, aqueles em que existem muitos compradores e muitos

vendedores, de tal forma que nenhum deles individualmente consegue exercer influência

significativa sobre os preços e quantidades de mercado. Nesse mercado, quem determina

o equilíbrio entre oferta e demanda não são os consumidores nem os produtores, é

o próprio mercado. Existem outras formas de organização dos mercados, com mais

concentração, com produtos diferenciados, etc. Mas vamos deixar esse assunto para

outra unidade, por enquanto só nos interessa saber que nosso modelo de oferta e

demanda pressupõe um mercado competitivo.

Determinação do Equilíbrio:

Podemos determinar matematicamente o equilíbrio.

Exemplo:

Imagine que a função de demanda de um mercado seja:

Qd = 10-2P

e a função oferta seja:

Qo = 2 + 2P

Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio.

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No ponto de equilíbrio, como a oferta é igual a demanda,

só precisamos igualar as duas funções.

Substituindo o preço de equilíbrio em uma das funções determinamos a quantidade de

equilíbrio.

Qo = Qd

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O mercado não funciona sempre em equilíbrio. Por isso é importante analisarmos outros

pontos fora do ponto de equilíbrio. Vamos utilizar outro exemplo. A tabela abaixo nos

mostra a escala de demanda e de oferta mensais de camisas a cada nível de preço.

Preço

(R$/camisa)

Quantidade

demandada

camisas/mês

Quantidade

ofertada

camisas/mês

Excesso de Oferta (+)

Excesso de Demanda (-)Pressão sobre

o Preço

80,00 2.000 8.000 + 6.000 Redução ( )70,00 3.000 7.000 + 4.000 Redução ( )60,00 4.000 6.000 + 2.000 Redução ( )50,00 5.000 5.000 0 Nenhuma40,00 6.000 4.000 - 2.000 Elevação ( )30,00 7.000 3.000 - 4.000 Elevação ( )

O preço de equilíbrio, preço que iguala a quantidade demandada e ofertada, é

R$ 50,00. A quantidade de equilíbrio é 5.000 camisas mensais. A esse preço não há

escassez nem excesso de produto. Para qualquer preço diferente de R$ 50,00 existirão

diferenças

entre a oferta

e a demanda,

gerando excesso

ou escassez de

produto.

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Excesso de Oferta:

Aos preços de R$ 80,00, R$ 70,00 e R$ 60,00 a oferta de camisas é maior que a

demanda, surgindo um excedente de camisas no mercado. Esse excedente é chamado

de Excesso de Oferta.

Esse excesso faz com que os fabricantes fiquem com mercadoria encalhada,

aumentando os estoques. Com a intenção de realizar alguma receita e eliminar o

excesso de mercadoria, os produtores passam a vender o seu produto a preços

mais baixos. Essa redução de preços faz com que aumente a quantidade demandada

(deslocamento ao longo da curva de demanda) de camisas, ao passo que a quantidade

ofertada se reduz (deslocamento ao longo da curva de oferta).

A redução nos preços continuará até atingir o nível de R$ 50,00, quando a quantidade

de camisas que os consumidores estarão dispostos a adquirir será exatamente igual à

quantidade de camisas que os produtores estarão dispostos a oferecer no mercado (ou

seja, ocorrerá uma pressão sobre os preços até que estes atinjam o equilíbrio).

Excesso de Demanda:

Aos preços de R$ 40,00 e R$ 30,00 a demanda é maior que a oferta de camisas,

surgindo uma escassez de camisas no mercado. Isso ocorre porque a esse preço tão

baixo poucos serão os produtores dispostos ou em condições de produzir o bem. Essa

escassez é chamada de Excesso de Demanda.

Esse excesso de demanda faz com que os consumidores disputem entre si as camisas

disponíveis no mercado, e com isso o preço começa a se elevar. Essa elevação de preços

faz com que diminua a quantidade demandada (deslocamento ao longo da curva de

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demanda) de camisas, ao passo que a quantidade ofertada se amplia (deslocamento ao

longo da curva de oferta), reduzindo o excesso de demanda.

A elevação nos preços continuará até atingir o nível de R$ 50,00, quando a quantidade

de camisas que os consumidores estarão dispostos a adquirir será exatamente igual à

quantidade de camisas que os produtores estarão dispostos a oferecer no mercado (ou

seja, da mesma forma que ocorre com o excesso de oferta, o o excesso de demanda

provoca uma pressão sobre os preços até que estes atinjam o equilíbrio).

Podemos concluir que mesmo ocorrendo um desvio temporário entre o preço praticado

e o preço de equilíbrio, este último tende a ser alcançado naturalmente, através da

interação entre as forças da oferta e da demanda, sem que haja intervenção de nenhum

agente externo (ex.: governo). Assim, o equilíbrio é uma situação na qual não há forças

inerentes que estimulem uma mudança, por isso a tendência é que o preço se estabilize

neste patamar, sem pressão para variações. Cabe ressaltar que mudanças podem

acontecer apenas como resultado de fatores exógenos que alterem a demanda e/ou a

oferta e portanto, deslocariam o equilíbrio. Isso veremos a seguir.

6.2. Quando as coisas mudam

Se qualquer uma das variáveis que afetam a demanda ou a oferta mudar, uma das

curvas se deslocará e o equilíbrio do mercado também mudará. Conhecer a teoria da

oferta e da demanda faz com que muitos desses efeitos sejam previsíveis. Vamos analisar

alguns deles:

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a) Movimentos da Demanda

Consideremos que um mercado está na situação de equilíbrio (no gráfico abaixo, o

equilíbrio inicial E1). Se ocorrer, por exemplo, um aumento na renda da população, as

pessoas poderão comprar mais do bem a dado preço, deslocando a curva de demanda

para a direita (de D1 para D2).

Se for mantido o preço inicial PE1

teremos uma demanda maior que

a oferta (a quantidade demandada

será Qx e a ofertada QE1),

caracterizando excesso de demanda.

Isso pressionará os preços para cima

e, portanto, o equilíbrio se alterará

para E2, com preço e quantidade

superiores à situação inicial.

Situações semelhantes ocorrem com uma elevação no preço de um bem substituto,

redução no preço de um bem complementar, aumento na preferência do consumidor,

entre outros.

No caso de fatores que reduzam a demanda, teríamos o movimento inverso. Considere

o mercado de óleo de soja. Uma redução no preço de um bem substituto, por exemplo,

do óleo de milho, faria com que as pessoas comprassem mais óleo de milho e

reduzissem a demanda por óleo de soja, deslocando a curva de demanda de D2 para

D1. Isso gera temporariamente um excesso de oferta, visto que os produtores estão

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oferecendo a quantidade inicial de óleo de soja e os consumidores passaram a desejar

menores quantidades. A tendência é que os preços caiam gradativamente para eliminar

o excesso de oferta, até que o novo equilíbrio seja atingido (passará de E2 para E1),

com preço e quantidades menores que a situação inicial.

b) Movimentos da Oferta

Mudanças no custo dos fatores de produção, na quantidade de produtores, na

tecnologia e na lucratividade dos outros bens relacionados, deslocarão a oferta, o que

consequentemente, afetarão equilíbrio do mercado.

Consideremos que um mercado está na situação de equilíbrio (no gráfico abaixo, o

equilíbrio inicial E1). Se ocorrer, por exemplo, uma redução no custo de produção, a

lucratividade da empresa por unidade produzida aumentará, o que tende a aumentar

a oferta, deslocando sua curva para a direita, passando de O1 para O2. Ao antigo

preço de equilíbrio PE1 passa a

existir excesso de oferta, já que os

produtores passaram a produzir

mais, mas os consumidores

permanecem desejando consumir

a mesma quantidade. O excesso

de oferta pressiona o preço para

baixo até que o novo equilíbrio

seja alcançado (E2) com um preço

menor e uma quantidade maior.

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No caso de fatores que reduzam a oferta, teríamos o movimento inverso. Por exemplo,

uma geada destrói a plantação de milho. A oferta do produto sofreria uma redução,

deslocando a curva para a esquerda (de O2 para O1). Ao antigo preço passa a existir

uma excesso de demanda, visto que os consumidores desejam adquirir a mesma

quantidade de milho, mas os produtores não possuem essa quantidade para ofertar.

Ocorrerá uma pressão para a elevação do preço, até que o novo equilíbrio seja atingido

(E1) com preço superior e quantidade menor que a situação inicial.

Esses são apenas alguns exemplos. Com esta abordagem podemos explicar o

movimento dos preços de diversos mercados. Você é capaz de usá-la para descrever

situações do nosso cotidiano, por exemplo, para descrever por que os celulares e as TVs

de LCD inicialmente apresentaram um preço elevado e hoje são mais acessíveis, por que

no verão os imóveis do litoral apresentam um aluguel mais elevado, por que o comércio

é aquecido na época do Natal, entre outros. Imagine uma situação e tente explicá-la

usando as ferramentas da oferta e demanda, tenha certeza que conseguirá.

Você já sabe traçar tendências sobre o comportamento dos preços, mas não temos

ferramentas suficientes para dimensionar o tamanho das mudanças. Sabemos que

pela Lei da Demanda um aumento do preço provoca uma redução na quantidade

demandada, mas de quanto é essa redução? Será uma redução pequena ou expressiva?

Para conseguirmos responder esse tipo de indagação precisamos conhecer mais uma

ferramenta: a elasticidade. Assunto para nossa próxima unidade. Nos encontramos lá!!

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Teoria da Elasticidade

1. Introdução

Até agora, estudamos que a quantidade demandada e o preço apresentam movimentos

opostos, ou seja, se o preço de um produto aumentar, a quantidade demandada sofrerá

uma redução. Mas em quanto? “Quanto” é uma pergunta muito importante, pois a

dimensão dessa queda afetará significativamente a decisão das empresas.

Por exemplo, se a elevação do preço causar uma redução expressiva na demanda,

a empresa perderá muito mercado e pode até ser eliminada. Porém, se o aumento

do preço causar uma pequena queda na quantidade demandada, as vendas em

dinheiro da empresa podem até aumentar (o aumento do preço compensa a queda na

quantidade). Analisar esses efeitos é uma questão fundamental para qualquer negócio.

Mas como saber o “quanto”? Para responder a essa questão, a Economia utiliza a

Elasticidade. A Elasticidade é uma medida de sensibilidade de uma variável em

relação a outra. A Elasticidade informa a variação percentual que ocorrerá em uma

variável em decorrência da variação de 1% em outra variável.

PreçoQtd.

Demandada

PreçoQtd.

Demandada

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Existem vários tipos de Elasticidades que nos permitem analisar situações do tipo:

a) Quanto a demanda de um consumidor por um produto mudará em resposta à

mudança (aumento ou redução) no seu preço?

b) Quanto a demanda por um produto mudará em resposta à mudança na renda do

consumidor?

c) Quanto a demanda por um produto mudará em resposta à mudança no preço de

algum outro produto?

d) Quanto a oferta mudará em resposta às variações no preço?

Essas perguntas são relevantes não apenas para economistas, mas para qualquer

profissional da área de negócios. Por exemplo, para o lançamento de um produto no

mercado é preciso projetar a demanda, conhecendo o público-alvo e analisando suas

características e preferências.

Também é importante avaliar o grau de aceitação deste produto no mercado e a

Elasticidade é uma das medidas que pode ajudar, pois permite analisar a relação do

consumidor perante alterações de preços do produto, colaborando para a projeção dos

ganhos e para a definição de estratégias de preço e de divulgação.

O objetivo desta unidade é mostrar a importância da Elasticidade e suas técnicas de

cálculo.

Vamos lá?

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2. Elasticidade-Preço da Demanda

A Elasticidade-preço da demanda (Epd) mede a sensibilidade da demanda de um

produto diante das mudanças no seu preço, ou seja, mede quanto varia a quantidade

demandada em decorrência da variação do preço do produto. Ela é calculada da

seguinte forma:

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Exemplo:

Consideremos a seguinte escala de demanda de agendas:

Calculando a elasticidade preço da demanda de agendas, temos:

P0 = R$ 10,00/ unidade => Qdo = 100 unidades/mês

P1 = R$ 12,00/ unidade => Qd1 = 60 unidades/mês

∆P = 2 ∆Q = - 40

Podemos calcular também a elasticidade usando as variações percentuais. No exemplo

das agendas, o preço passou de R$ 10,00 para R$ 12,00, um aumento de 20% e a

quantidade demandada passou de 100 para 60 unidades, registrando uma queda de

40%. A elasticidade seria:

Esse resultado mostra que para cada movimentação no preço das agendas, a

quantidade demandada é afetada duas vezes (2x) mais.

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Vamos calcular outro exemplo. Considere a seguinte escala de demanda de lápis de cor:

Calculando a elasticidade, temos:

P0 = R$ 10,00/ unidade => Qdo = 200 unidades/mês

P1 = R$ 15,00/ unidade => Qd1 = 100 unidades/mês

∆P = 5 ∆Q = - 100

Neste caso, o aumento no preço provocou uma redução na quantidade demandada

na mesma proporção, ou seja, o aumento do preço de R$ 10,00 para R$ 15,00

(aumento de 50%), provocou uma redução na quantidade demandada também em 50%

(passando de 200 para 100 unidades).

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Cabe fazermos mais um exemplo. Considere a seguinte escala de demanda de estojos

escolares:

Nesse caso, o aumento do preço provoca um impacto na quantidade em menor

proporção. O preço aumentou de R$10,00 para R$ 15,00, um aumento de 50%, a

quantidade demandada caiu apenas 20%, passando de 100 para 80 unidades.

O coeficiente de elasticidade-preço da demanda será sempre um número negativo, pois

representa a relação inversa que existe entre as variações na quantidade demandada de

um bem e as variações no seu preço (Lei da Demanda). Porém, é comum ignorar o sinal

negativo na análise de elasticidade, considerando-se apenas seu valor numérico (ou

valor absoluto).

1.1 - Classificação da Elasticidade:

A Elasticidade-preço da demanda permite estabelecer três categorias:

a) Demanda Elástica : Quando a quantidade demandada tem uma variação

percentual maior que variação percentual do preço. Se considerarmos os valores

absolutos, ou seja, ignorarmos o sinal negativo, quando Epd > 1 a demanda é

elástica. (Nosso primeiro exemplo, das agendas, é um caso de demanda elástica,

já que Epd = 2)

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Nesse caso os consumidores se mostram sensíveis a mudanças de preço, já que uma

elevação no preço provoca uma grande redução na quantidade demandada

desse bem. Estratégias de aumento de preços para esses bens devem ser muito

bem analisadas.

b) Demanda com Elasticidade Unitária: Quando o coeficiente for exatamente

igual a -1 (ou exatamente 1 se considerarmos valores absolutos) diz-se que a

sua demanda possui elasticidade unitária, ou seja, a quantidade demandada e o

preço apresentam a mesma variação percentual. O nosso segundo exemplo, do

lápis de cor, se enquadra nessa categoria.

c) Demanda Inelástica: Quando a quantidade demandada tem uma variação

percentual menor que a variação percentual do preço. Se considerarmos os

valores absolutos quando 0 < Epd < 1 a demanda é inelástica. É o caso do

exemplo dos estojos escolares, que resultou em uma elasticidade de -0,4.

Quando a demanda é inelástica os consumidores são pouco sensíveis às

variações de preço, assim, uma elevação no preço provoca uma pequena

redução na quantidade demandada do bem.

O que faz uma demanda ser elástica e outra inelástica?

A resposta é a inclinação da curva de demanda.

Veja os gráficos a seguir:

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Portanto, a elasticidade-preço da demanda depende da inclinação da curva de demanda, quanto mais inclinada,

mais inelástica e quanto menos inclinada (mais “deitada”), mais elástica é a demanda.

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A inclinação da curva de demanda nos remete a dois casos especiais (Extremos):

1.2 - Fatores que influenciam a Elasticidade-preço da demanda:

a) Essencialidade do bem: Quanto se trata de um bem de primeira necessidade,

é de se esperar que os valores da elasticidade sejam reduzidos, porque como

trata-se de um bem essencial, o aumento do preço não afetará de forma

expressiva a quantidade demandada (as pessoas terão que comprar o bem,

mesmo com o aumento do preço). Assim, quanto mais essencial for o bem, mais

inelástica tenderá a ser sua demanda.

b)Possibilidade de Substituição: Os bens que têm substitutos próximos tendem

a ter uma demanda mais elástica porque o consumidor migrará para o substituto

se o bem que está acostumado a adquirir sofrer uma elevação no preço. Assim,

quanto mais substitutos uma mercadoria tiver, mais elástica deverá ser a sua

demanda.

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c) Importância relativa do bem no orçamento: Os bens que têm uma

representatividade significativa no orçamento tendem a ter uma demanda mais

elástica, pois como o peso do gasto com esses bens é expressivo, o consumidor é

muito sensível a variações no preço. Já para bens que não pesam no orçamento,

o consumidor tende a não se importar tanto com elevações no preço, e portanto,

a demanda tende a ser mais inelástica. Assim, quanto maior o peso de um bem

no orçamento, mais os consumidores buscarão substitutos quando seu preço

aumentar e portanto, mais elástica tende a ser a demanda.

d) Horizonte temporal: Em longos horizontes de tempo os bens tendem a ter

uma demanda mais elástica, já que com o passar do tempo, novos substitutos

surgirão e novos hábitos de consumo serão desenvolvidos, fazendo com que

os consumidores busquem soluções para se adaptarem às mudanças de preço.

Assim, a elasticidade de longo prazo tende a ser maior (e portanto mais elástica)

que a elasticidade de curto prazo.

1.3 - Elasticidade-preço da demanda e a Receita Total:

A relação entre elasticidade, mudança de preço e receita total constitui-se um dos

aspectos mais importantes do conceito de elasticidade-preço da demanda. Quando um

produtor altera seus preços, espera que o efeito sobre seu faturamento seja positivo. A

Elasticidade-preço da demanda ajuda a analisar essas situações e por isso, torna-se uma

importante ferramenta para elaboração de estratégias de preço.

Antes de analisarmos esses efeitos, precisamos conceituar a receita total. Receita Total

é a quantidade paga pelos compradores e recebida pelos vendedores do bem, é o

faturamento da empresa, ou ainda o valor monetário das vendas. É calculada como o

preço unitário multiplicado pela quantidade vendida.

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Receita Total = Preço Unitário (P) x Quantidade Vendida (Q)

RT = P. Q

Se o preço de um bem aumentar a quantidade vendida diminuirá

e assim a receita poderá aumentar ou diminuir dependendo da

dimensão das variações ocorridas no preço e na quantidade,

portanto, o efeito sobre a receita total dependerá do grau de

sensibilidade da demanda perante as variações no preço.

Desse modo, existe uma forte relação entre a receita total e a

elasticidade-preço da demanda. O gráfico a seguir ajuda a

analisar essas situações:

• Na parte elástica da demanda: uma elevação no preço,

provoca uma queda significativa na quantidade demandada e

portanto, a receita total sofrerá reduções. Assim, quando Epd

> 1, preço e receita total oscilam em sentidos opostos.

• Na parte inelástica da demanda: como a demanda cai pouco

em decorrência do aumento no preço, a receita aumentará.

Assim, quando 0 < Epd < 1, o preço e a receita total variam no

mesmo sentido.

• Quando a elasticidade-preço da demanda é unitária: a

elevação no preço provoca uma redução na quantidade

demandada na mesma proporção, não alterando a receita

total. Assim, se Epd = 1, a receita se mantém constante quando

o preço se altera.

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O exemplo a seguir nos ajuda a aplicar essa relação em uma situação real

Exemplo: Quando a Cia de Transportes “Só Busão” elevou sua tarifa de R$ 2,20

para R$ 2,75 o número de passageiros diminuiu de 30.000 para 27.000. Qual a

elasticidade-preço da demanda de transportes nesse intervalo de preços? Seria, nesse

caso, a elevação de tarifa uma forma adequada para a empresa aumentar sua receita?

Calculando a elasticidade preço da demanda, temos:

P0 = R$ 2,20 Q0 = 30.000

P1 = R$ 2,75 Q1 = 27.000

∆P = R$ 0,55 ∆Q = - 3.000

∆%P = 0,55/2,20 = 25% ∆%Q = - 3.000/30.000 = -10%

Epd = ∆%Q = - 10% = -0,4 (Demanda inelástica) ∆%P 25%

Sabemos que quando a demanda é inelástica, a quantidade demandada cai em

proporção menor do que o aumento do preço e como a quantidade cai menos, a

receita total tende a se elevar, sendo portanto uma boa estratégia se o objetivo da

empresa for o aumento da receita. Vamos calculá-la para conferir?

Antes do aumento do preço: Depois do aumento do preço:

RT = P.Q RT = P.Q

RT = 2,20 X 30.000 RT = 2,75 x 27.000

RT = R$ 66.000,00 RT = R$ 74.250,00

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2 - Elasticidade-renda da demanda:

Ao estudarmos os mecanismos de mercado, mostramos que a renda é um fator que

influi na demanda. Vimos que variações na renda provocam alterações na demanda. A

resposta da demanda a variações na renda pode ser medida pela Elasticidade-renda.

A Elasticidade-renda da demanda mede o grau em que a quantidade demandada de

um bem responde a uma variação da renda dos consumidores. É definida por:

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Exemplos:

Considere a demanda de frango. Um consumidor com renda de R$ 1.000,00 demanda

por ano 50 quilos de carne de frango. Um aumento na renda para R$ 1.200,00

provoca uma elevação na quantidade demandada para 55 quilos de carne de frango.

Calcule a elasticidade-renda da demanda.

Renda inicial = Y0 = R$ 1.000,00 => Qdo = 50

Renda Final = Y1 = R$ 1.200,00 => Qd1 = 55

∆Y = 200 ∆Q = 5

Esse resultado mostra que um aumento na renda provoca uma elevação na demanda

por carne de frango em uma proporção 0,5 vezes maior. No exemplo, a renda

aumentou 20% e a quantidade demanda de frango aumentou 10% (ao passar de 50

para 55 quilos).

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Agora considere a demanda por carne bovina de segunda. O mesmo consumidor com

renda de R$ 1.000,00 demanda por ano 50 quilos de carne bovina. Um aumento na

renda para R$ 1.200,00 provoca uma redução na quantidade demandada para 40

quilos de carne. Calcule a elasticidade-renda da demanda.

Y0 = R$ 1.000,00 => Qdo = 50

Y1 = R$ 1.200,00 => Qd1 = 40

∆Y = 200 ∆Q = -10

O resultado da elasticidade-renda nos revela que um aumento na renda, provoca uma

redução na quantidade demandada do bem (em decorrência do resultado negativo) na

mesma proporção, ou seja, se a renda subir 20%, a quantidade demandada cai 20%.

2.1 - Classificação da Elasticidade-renda:

Sempre que o coeficiente de elasticidade-renda da demanda for um número positivo

podemos afirmar tratar-se de um Bem NORMAL, cuja demanda aumenta diretamente

em relação à renda (é o que aconteceu com a carne de frango do nosso exemplo).

No tocante aos bens normais, podemos dividi-los em:

• bens elásticos em relação à renda (quando Er > 1)

Geralmente os bens supérfulos, tais como joias, casacos de pele, denominados bens

de luxo, possuem alta elasticidade-renda.

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• inelásticos em relação à renda (quando 0 < Er < 1)

Geralmente os bens considerados como de primeira necessidade (alimentação,

educação, etc.) apresentam baixa elasticidade-renda. É o caso do nosso exemplo da

carne de frango.

• com elasticidade-renda unitária (Er = 1).

A procura por moradias apresenta coeficiente de elasticidade-renda próximo a 1

Já quando o coeficiente de elasticiade-renda da demanda for um número negativo

podemos afirmar que se trata de um Bem INFERIOR, cuja demanda varia inversamente

em relação à renda. É nesse caso que se enquadra nosso exemplo da carne bovina de

segunda.

3 - Elasticidade-preço da oferta

Podemos aplicar o conceito de elasticidade também para a oferta. A Elasticidade-preço

da Oferta (Epo) mede a sensibilidade da oferta de um produto diante das mudanças

no seu preço, ou seja, mede quanto varia a quantidade ofertada em decorrência da

variação do preço do produto. Ela é calculada da seguinte forma:

Epo = Variação Percentual da Quantidade Ofertada

Variação percentual do preço

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Exemplo: Consideremos a seguinte escala de oferta de refrigerantes:

Calculando a elasticidade preço da oferta temos:

P0 = R$ 2,00/ unidade => Qdo = 10.000 unidades/mês

P1 = R$ 3,00/ unidade => Qd1 = 16.000 unidades/mês

∆P = 1 ∆Q = 6.000

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Podemos calcular também a elasticidade usando as variações percentuais. No exemplo,

o preço passou de R$ 2,00 para R$ 3,00, um aumento de 50% e a quantidade ofertada

passou de 10.000 para 16.000 unidades, registrando uma elevação de 60%.

A elasticidade seria:

Esse resultado mostra que para cada movimentação no preço dos refrigerantes, a

quantidade ofertada é afetada 1,2 vezes mais.

Observe que a elasticidade-preço da oferta é calculada do mesmo modo que a

curva da oferta. Porém como a curva de oferta tem inclinação ascendente,

a elasticidade-preço da oferta será sempre positiva. A classificação da elasticidade preço

da oferta também é semelhante:

• Elástica (Epo > 1): um aumento no preço provoca uma elevação na quantidade

ofertada em uma proporção maior.

• Inelástica ( 0 < Epo < 1): um aumento no preço provoca uma elevação na

quantidade ofertada em uma proporção menor.

• Unitária (Epo = 1): um aumento no preço provoca uma elevação na quantidade

ofertada na mesma proporção.

A Elasticidade-preço da oferta não é muito utilizada na prática, pois os produtores

sabem como reagirão às mudanças no preço dos seus produtos, não precisam,

portanto, fazer cálculos para isso.

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A Elasticidade se aplica com muita frequência no caso da demanda, visto que

os produtores precisam definir um nível de produção suficiente para atender aos

consumidores, por isso fazem uma série de estudos e planejamentos quanto ao

comportamento da demanda.

Os produtores definem sua produção levando em conta uma série de aspectos como o

comportamento da demanda, fatores de produção, produtividade do trabalho, custos,

entre outros. A demanda nós já estudamos e os demais aspectos são assunto para nossa

próxima unidade.

Nos encontramos lá!

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TEORIA DA FIRMA: PRODUÇÃO, CUSTOS

1. Introdução

Esta unidade concentra-se no estudo das variáveis que afetam diretamente as empresas,

ou seja, no que está por trás da curva de oferta.

Em Microeconomia denominamos este estudo de Teoria da Firma. Esta teoria foi criada

pelo economista britânico Ronald Coase, em seu artigo publicado em 1937, intitulado

“A Natureza da Firma”. Segundo o autor, as firmas trabalham com o lado da oferta

de mercado, ou seja, com os produtos e serviços que irão produzir para oferecer aos

consumidores.

Isso parece uma afirmação óbvia e simples, e é; mas nesta simplicidade está uma

importante relação econômica: são as firmas que reúnem o capital e trabalho

necessários para transformar as matérias-primas em produtos, agregando valor

durante o processo de produção. Para produzir, as firmas ainda precisam basear-se na

demanda, para ajustar a oferta aos desejos e necessidades dos consumidores. É isso

que faz o mercado funcionar!

A Teoria da Firma está dividida em Teoria da Produção, Teoria dos Custos e em

Estruturas de Mercado. Cada uma destas divisões será tratada a seguir.

Vamos lá?

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2. Teoria da Produção

A Teoria da Produção analisa a relação existente entre as quantidades produzidas

de um bem ou serviço e as quantidades utilizadas pelos fatores de produção. É um

importante ramo da Micoeconomia, já que explica como se dá a geração dos bens

e serviços que são oferecidos à sociedade, pelo mercado. Além disso, a teoria da

produção proporciona a base para a análise de custos e da oferta de bens produzidos

e é ferramenta para análise de preços dos fatores de produção e sua alocação entre os

diversos usos alternativos na economia.

Antes de estudarmos a teoria da produção, alguns conceitos iniciais são necessários:

O primeiro deles é o conceito econômico de firma (ou empresa).

Segundo Móchon (2006) a firma tem como função básica transformar os fatores de

produção em bens e serviços próprios para o consumo ou para o investimento. Carvalho

(2005), afirma que “a firma é uma unidade de produção que atua racionalmente

procurando maximizar seus resultados relativos à produção e lucro”.

A atividade fundamental de uma empresa é, portanto, a produção de bens e serviços.

Mas o que é produção? Este é o nosso segundo conceito inicial.

Produção é a transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a

venda no mercado. Vasconcellos (2002) coloca que, segundo este conceito, a empresa

é apenas uma intermediária: compra insumos, combina-os segundo um processo de

produção e vende os produtos resultantes no mercado.

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O processo de produção pode ser mão de obra intensivo, capital intensivo ou ainda

terra intensivo. Essa denominação depende do fator de produção utilizado em maior

quantidade em relação aos demais.

Fatores de produção:No esquema anterior percebemos que o processo produtivo se inicia com a seleção

e combinação dos fatores de produção (insumos). Existem dois tipos de fatores de

produção: fixos e variáveis.

Fatores fixos de produção: aqueles cujas quantidades utilizadas não se alteram à

medida em que se aumentam ou diminuem as quantidades produzidas. Ex.: máquinas,

instalações, terra (no caso da agricultura) etc. Esses fatores não podem ser aumentados

ou diminuídos tão rapidamente; demandam um considerável período de tempo.

Fatores variáveis de produção: aqueles cujas quantidades utilizadas se alteram em

função das quantidades produzidas. Ex.: mão de obra, matéria-prima, energia elétrica,

etc. A quantidade desses fatores pode variar facilmente quando se deseja o aumento ou

a redução na produção.

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Períodos de tempo relevantes para a firma:

A partir da classificação dos fatores de produção em fixos e variáveis, estabelece-se a

noção dos períodos de tempo relevantes para a firma: o curto e o longo prazos.

a) Curto prazo: período de tempo no qual a produção se encontra condicionada à

existência de fatores fixos e variáveis de produção, não sendo possível ao empresário

alterar as quantidades utilizadas dos fatores fixos nesse horizonte de tempo. No curto

prazo, pelo menos um fator de produção é fixo e só é possível aumentar (ou reduzir)

a produção mediante utilização de mais (ou menos) fatores de produção variáveis.

b) Longo prazo: período de tempo no qual o empresário consegue alterar as

quantidades de todos os fatores de produção. Dessa forma, no longo prazo, todos

os fatores de produção são variáveis, inclusive aqueles que permaneceram fixos no

curto prazo.

Processo de Produção: O processo produtivo é a relação física que descreve a forma pela qual os insumos (ou

fatores de produção) são transformados em produto.

As decisões sobre o processo produtivo dependem de sua eficiência e são importantes

porque determinam os custos, valor agregado ao produto e, consequentemente

interferem na definição do preço que será cobrado ao consumidor.

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O empresário, dentre as diversas combinações para a sua produção, escolhe a mais

eficiente. Essa eficiência pode ser avaliada do ponto de vista técnico e econômico:

Eficiência TécnicaEntre dois ou mais processos

de produção, o tecnicamente

mais eficiente é aquele que

permite a obtenção de uma

mesma quantidade de produto

com a utilização de uma menor

quantidade física de fatores de

produção.

Eficiência econômicaEntre dois ou mais processos de

produção, o economicamente

mais eficiente é aquele que

permite produzir uma mesma

quantidade de produto ao

menor custo possível.

Função de Produção: O empresário, ao definir o que produzir, como e quanto será produzido, irá combinar

as quantidades de fatores de produção para obter a quantidade necessária de produto

final. A relação entre a quantidade de insumos e a quantidade de produto final em

determinado período de tempo é definida pela função de produção.

Assim:

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Para cada combinação diferente de insumos, a função de produção informa

a quantidade máxima de produtos que uma firma pode produzir durante um

determinado período.

Exemplo: Considere uma empresa que produz sapatos masculinos. Sua função

de produção indica o máximo de sapatos que poderão ser produzidos a partir de

determinada quantidade de couro, pregos, cola, borracha, energia elétrica, mão de

obra, máquinas, área utilizada de oficina etc.

Como simplificação, a função de produção é expressa por apenas dois insumos: mão

de obra (L) e capital (K).

Q = f (L,K)

Produção em Curto prazo:Mediante os conceitos de fatores de produção e períodos de tempo, podemos concluir

que a função de produção de curto prazo possui pelo menos um fator de produção fixo.

Assim, consideraremos o capital (K) como fator fixo e o fator de produção trabalho (L)

como variável.

A combinação de diferentes unidades de trabalho, considerando a unidade de capital

fixa, proporciona-nos diferentes níveis de produção, que podem ser mensurados pelos

conceitos abaixo:

a) Produto Total (Q): representa a quantidade total de um produto obtida por uma

determinada combinação de fatores de produção.

b) Produto médio (PMe) ou produtividade média: indicador de eficiência produtiva,

representando a contribuição média de cada unidade utilizada do fator variável para

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a produção total, a cada nível desta. Resulta da divisão da quantidade de produto

pelo número de unidades do fator variável, no caso trabalho.

c) Produto Marginal (PMg): indica o acréscimo ocorrido na produção total a partir da

utilização de cada unidade adicional do fator variável, ou seja, representa o produto

extra obtido quando se aumenta a quantidade de trabalho em uma unidade.

Exemplo: Consideremos uma empresa fabricante de sorvetes. A tabela a seguir

ilustra a produção semanal de litros de sorvete dessa empresa, a partir da utilização

dos fatores de produção trabalho e capital.

Como definimos, o capital como o fator de produção fixo, não altera seu valor. Desse

modo, o quadro estabelece a produção de sorvetes que se obtém a partir de diferentes

níveis de trabalho. Reparem que, conforme vamos empregando mais trabalhadores,

o produto total aumenta até alcançar um máximo; depois, na medida em que mais

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trabalhadores são adicionados, o produto total passa a cair (em nosso exemplo, o

produto torna-se decrescente a partir da utilização da sétima unidade de trabalho).

O gráfico a seguir permite visualizar essa situação com mais clareza:

Também podemos desenhar o gráfico do produto médio e marginal.

Observe que o produto médio, assim como o produto total, aumenta no início e atinge um máximo; porém, a partir de um determinado número de trabalhadores adicionados, o produto médio passa a cair (em nosso exemplo, a partir do 4° trabalhador).

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Repare que o ponto máximo do produto médio é igual ao produto marginal. Esse ponto é denominado de ótimo técnico, já que reflete a maior produtividade possível dada a estrutura física da empresa, ou seja, neste ponto estamos diante da quantidade resultante do uso dos insumos da forma mais produtiva.

O produto marginal também apresenta o mesmo comportamento: cresce inicialmente, atinge um máximo e passa a ser decrescente até alcançar um valor nulo e tornar-se negativo. O produto marginal torna-se nulo quando, ao adicionarmos mais um trabalhador, o produto total não se altera (em nosso exemplo isso ocorre no 6º trabalhador).

A partir deste ponto, o produto marginal é negativo o que significa que acréscimos de trabalhadores fazem decrescer a quantidade produzida proporcionalmente, tornando inviável para o produtor agregar mais mão de obra dada sua estrutura de capital (fator de produção fixo).

Lei do Rendimentos Decrescentes

Por que as curvas de produção apresentam este comportamento? Porque as formas das curvas de produção refletem a Lei dos Rendimentos Decrescentes, que descreve a taxa de mudança na produção de uma empresa quando se varia apenas a quantidade de um fator de produção.

Em decorrência dessa lei, observa-se que, à medida que se aumenta o uso de um determinado fator de produção (mantendo-se fixos os demais insumos), a produção total aumentará; porém, os acréscimos de produção resultantes da adição de quantidades maiores do fator de produção variável são cada vez menores.

É importante lembrar que a Lei dos Rendimentos Decrescentes não aborda as possíveis alterações na qualidade da mão de obra e também não pode ser confundida com retornos negativos. A Lei dos Rendimentos Decrescentes descreve um produto marginal declinante mas não, necessariamente, um produto marginal negativo.

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No exemplo da empresa de sorvetes, os rendimentos decrescentes surgem a partir da contratação do 2º trabalhador (a produtividade marginal da mão de obra passa a diminuir a partir deste momento).

3. Teoria dos Custos

Quando estudamos a Teoria da Produção, preocupa-nos com a alocação eficiente dos fatores de produção. Porém, a cada uso desses fatores, temos custo relacionado. Por isso, a Teoria da Firma só se completa se estudarmos, juntamente com a produção, a Teoria dos Custos.

Uma empresa precisa definir quais recursos e em que quantidade serão utilizados na produção de seus bens e serviços. Essa quantidade de recursos definirá os custos da empresa. Assim como nós, consumidores, as empresas também querem comprar gastando pouco.

Compreender os custos é fundamental para que a empresa posteriormente possa avaliar seus rendimentos, para saber se está sendo lucrativa ou não. Este é o objetivo desta seção: mostrar a visão econômica dos custos para depois compará-los e avaliar o resultado (lucro) da empresa.

3. 1 - Custos econômicos

O primeiro passo é distinguir os custos econômicos dos custos contábeis. Os custos contábeis (ou custos explícitos) representam os desembolsos monetários efetuados pela empresa para o pagamento pela aquisição de insumos e materiais, salários dos funcionários, energia, impostos etc., além da depreciação e dos gastos com a manutenção de instalações e equipamentos.

Já os custos econômicos envolvem além dos custos contábeis, os custos de oportunidade (apresentados na primeira unidade de estudo, lembram-se?) Vale uma recordação...

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Custo de Oportunidade é o custo associado às oportunidades que serão deixadas de lado, caso a empresa não empregue seus recursos da maneira mais rentável.

Assim, o Custo de Oportunidade envolve os custos de tempo e investimento do proprietário da firma.

O custo de tempo do proprietário é medido pelo que ele poderia ganhar trabalhando em outro lugar; e o custo de investimento é o que ele poderia receber em outro lugar em juros sobre um investimento de risco equivalente.

Os Custos de Oportunidade, também chamado de Custos Implícitos, não implicam em nenhum pagamento monetário pela sua utilização, são estimados a partir do que poderia ser ganho em seu melhor emprego alternativo.

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Um exemplo interessante que ilustra essa diferença foi apresentado por Ramalho (2004):

Considere um agricultor. Ele tem um capital acumulado para investimento, que pode ser

feito na plantação de laranja em suas terras ou em uma aplicação financeira.

A primeira alternativa é o investimento no lado real da economia e a segunda é o

investimento no lado monetário da economia.

Se o agricultor optar pela primeira alternativa e investir na plantação de laranjas, não

irá pagar pelo uso das terras. Isso significa que o custo explícito do aluguel é zero.

Para um contador, o custo contábil é zero. Mas, para um economista, que pensa em

termos do custo de oportunidade, com o uso das terras para o cultivo de laranja, o

agricultor sacrificou a oportunidade de ganhar o valor de um aluguel dessas terras para,

por exemplo, o proprietário de uma usina de açúcar e álcool que depende da cana-

de-açúcar como matéria-prima para a produção dessas duas mercadorias. Além disso,

se optar pela produção, o agricultor terá que adquirir outros implementos agrícolas

necessários à produção, como tratores e equipamentos para pulverização contra pragas

dos laranjais.

Para isso, ele faz a compra com o dinheiro que tem disponível, em vez de

colocá-lo em uma instituição financeira, ganhando juros sobre o capital aplicado.

Esse rendimento, que a aplicação financeira teria trazido, também é um custo implícito

do negócio, uma vez que o agricultor sacrificou o ganho na forma de juros para

viabilizar o empreendimento. Ou seja, pensando como economistas, interpretamos o

custo de oportunidade do dinheiro colocado no negócio como a renda que poderia ter

sido ganha, caso o dinheiro fosse aplicado em uma instituição financeira e rendesse

juros.

Essa distinção entre custos econômicos e contábeis traz uma diferença entre lucro

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contábil e lucro econômico.

Lucro representa a diferença entre o que foi vendido (receita) e o que foi gasto (custos).

Assim:

Se as receitas superarem os custos, temos um resultado positivo, ou seja, a empresa

aufere lucros. Porém, se os custos forem maiores que as receitas, temos um resultado

negativo, um prejuízo.

Se o custo contábil considera apenas os custos explícitos, temos que o lucro contábil será

a diferença entre as receitas e os custos explícitos. Já o lucro econômico será a diferença

entre a receita e os custos econômicos (custos explícitos mais custos implícitos). Desse

modo, como consideramos uma parcela maior de custos, o lucro econômico é inferior

ao lucro contábil.

Em Economia, usamos a expressão “lucro normal” para descrever a quantia mínima

de lucro necessária para manter os recursos empregados e a empresa operando. Uma

empresa com lucro normal, tem lucro econômico igual a zero, ou seja, gerou a receita

suficiente para cobrir os custos explícitos e implícitos. Cabe lembrar que ter um lucro

econômico igual a zero, não significa que contabilmente a empresa não obteve lucros.

Nessa situação, como os custos contábeis são menores que os econômicos, a empresa

apresentará lucro contábil positivo.

Quando o lucro econômico é positivo, a receita supera os custos totais (implícitos e

explícitos); dizemos então que a empresa está operando com lucros extraordinários.

E quando a receita é inferior aos custos totais, dizemos que a empresa obteve prejuízo

econômico.

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3. 2 - Custos a curto prazo:

Vimos que no curto prazo existem fatores de produção fixos e variáveis e a utilização

destes fatores gera diferentes níveis de produto; portanto, resultará em diferentes níveis

de custos. Os custos podem ser classificados em:

a) Custos fixos: custo associado à utilização dos fatores de produção fixos. Os

custos fixos dizem respeito às despesas nas quais a empresa terá que incorrer

independente de produzir ou não e por isso serão sempre iguais independentes

do nível de produção. Por exemplo, aluguel da firma (é um custo associado às

instalações da firma – fator de produção fixo): se a empresa produzir mais ou

menos terá que pagar o mesmo valor do aluguel todos os meses.

b) Custos variáveis: soma dos custos associados à utilização dos fatores de produção

variáveis (ex. salários dos trabalhadores, compra de matérias-primas etc.). Esses

custos variam de acordo com o volume de produção (para produzir mais unidades,

é necessário adquirir mais matéria-prima e, portanto, maior será esse tipo de

custo). Se nada for produzido, o custo variável será zero e aumentará à medida que

aumenta a produção.

c) Custo total: é o total de gastos da firma, ou seja, é a soma de todos os custos fixos

e variáveis:

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d) Custo Médio (CMe): Custo médio é o custo por unidade de produto, ou seja, é

a parcela do custo total correspondente a cada unidade produzida. É dado pela

fórmula:

Já que o custo total é a soma dos custos fixos e variáveis, podemos desmembrar o custo

médio em custo médio fixo e custo variável fixo.

O custo fixo médio (CFMe) representa o custo fixo por unidade produzida, ou seja, o

custo fixo dividido pela quantidade. Quanto maior a produção da empresa, menor será

o custo fixo médio.

Já o custo variável médio (CVMe) representa o custo variável dividido pela quantidade

produzida. Assim:

e) Custo marginal (CMg): Custo marginal é o aumento de custo ocasionado pela

produção de uma unidade adicional de produto, ou seja, diz quanto o custo muda

se a empresa alterar seu nível de produção. É dado pela fórmula:

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O exemplo a seguir ajuda-nos a compreender o comportamento desses custos.

Considere uma empresa que fabrica bicicletas e apresenta a seguinte estrutura de custos:

Vamos desenhar o gráfico desses custos:

Observando o gráfico e a tabela, podemos fazer algumas observações:• O custo total é sempre crescente, em decorrência do

aumento dos custos variáveis.• O Custo fixo médio é decrescente em toda a sua

extensão, tendendo a zero para produções elevadas. • O Custo variável médio, custo médio e custo marginal

apresentam formato de “U”, ou seja, são decrescentes até atingir um ponto mínimo; depois passam a crescer. Isso é consequência da Lei dos Rendimentos Decrescentes.

• A curva de custo marginal corta as curvas de custo médio e custo variável médio em seus mínimos (pontos a e b) do gráfico.

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3.3. O Equilíbrio da firma: o “Break-even point”

O ponto de equilíbrio da firma ou “break-even point” pode ser definido como o ponto

no qual a receita de vendas cobre todos os custos fixos e variáveis, ou seja, a empresa

não tem lucro nem prejuízo (o lucro é igual a zero). Em outras palavras, é o ponto

mínimo de produção e vendas em que a empresa pode funcionar sem que ocorram

perdas.

Compreender o ponto de equilíbrio é tão importante que este assunto é abordado em

diversas disciplinas como Matemática, Custos, Economia, Administração Financeira,

em algumas disciplinas de marketing (quando precisamos saber o volume mínimo de

vendas, quando vamos elaborar um projeto de negócios, etc.).

Agora que sabemos a importância dessa ferramenta, podemos entender como se

calcula. Considere o seguinte exemplo:

Uma empresa fabricante de máquinas fotográficas apresenta um custo fixo para

produção e distribuição de um produto de R$ 3.750,00 semanais; o custo variável

unitário é de R$ 400,00; e o preço de venda da máquina é R$ 550,00.

Sabemos que a receita (ou o faturamento) de uma empresa é dado por:

Receita = preço x quantidade

R = 550 Q

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Os custos de uma empresa podem ser divididos entre custos fixos e variáveis e apenas

os custos variáveis dependem da quantidade, assim:

Custo total = custo fixo + custo variável

CT = 3.750 + 400 Q

Como no ponto de equilíbrio o custo se iguala à receita, teremos

Receita = Custos

550 Q = 3750 + 400 Q

550 Q – 400 Q = 3750

150 Q = 3750

Q = 3750/ 150

Q = 25 unidades

Ou seja, a empresa precisa vender 25 unidades para não ter prejuízo (terá lucro igual

a zero). Se vender menos que 25 unidades, os custos superarão as receitas, gerando

prejuízo; e, se vender mais que 25 unidades as receitas serão maiores que os custos,

proporcionando a geração de lucro.

O Gráfico a seguir ilustra essa situação:

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O ponto de equilíbrio é dado pela intersecção da curva de Receita Total com a curva de

Custo Total; neste ponto não há lucro nem prejuízo. Vendas superiores a 25 unidades,

a curva da receita é maior que a curva de custo total, proporcionam um lucro para a

empresa; vendas menores que 25 unidades, a curva de receita está abaixo da curva de

custo, o que resulta em prejuízo.

Todas as empresas buscam auferir lucros. É o lucro que move o ciclo produtivo. Por isso

conhecer o ponto de equilíbrio é um ferramenta importante para que a empresa que

esteja abaixo do ponto, tenha uma meta a percorrer e, para que, as empresas que estão

operando com lucros, saibam o quanto superaram essa marca.

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ESTRUTURAS DE MERCADO

1. Introdução

Quantos produtos e serviços diferentes são oferecidos para venda no mercado

brasileiro? Ninguém sabe quantificar isso, mas podemos afirmar que são dezenas

de milhões. A diferenciação do produto nos faz perder a noção de quantos bens e

serviços há à disposição. A comercialização dos produtos é feita em um mercado com

compradores e vendedores que também apresentam características diferentes. Um

serviço médico, por exemplo, é comercializado de forma diferente do que um pneu para

automóveis.

Você não vê um médico na televisão convencendo-o a frequentar a clínica dele, nem

um agricultor convencendo-o que o milho que vende é o melhor. A forma de interação

entre compradores e vendedores varia conforme as características do mercado em que

atuam. Em Economia, o estudo das características dos mercados e das diferenças de

comercialização entre bens e serviços é denominado de Estruturas de Mercado.

Segundo Troster (2005, p. 191) as estruturas de mercado são “modelos que captam

aspectos inerentes de como os mercados estão organizados”.

Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e

da demanda e se baseia em hipóteses e em características observadas nos mercados

existentes, tais como: tamanho da firma, diferenciação do produto, transparência do

mercado, acesso de novas empresas, entre outras. As estruturas de mercado clássicas

são: concorrência perfeita, monopólio, concorrência monopolística e oligopólio.

Vamos conhecê-las?

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2. Concorrência Perfeita

Vamos começar com a palavra concorrência. Hall e Lieberman (2003, p.254) trazem

um exemplo interessante para ilustrar esse conceito. Concorrência pode representar uma

rivalidade mais agressiva, como a que existe entre dois boxeadores competindo em um

ringue, ou ainda pode representar uma forma menos pessoal de concorrência como o

vestibular em que milhares jovens concorrem entre si por uma vaga na universidade.

Este último tipo de concorrência é impessoal: o candidato está fazendo o melhor que

pode, buscando se destacar em relação aos demais candidatos que também estão

fazendo a prova em diversas salas de aula espalhadas pelo país.

Na Economia, o termo concorrência é usado no último sentido.

A concorrência perfeita é a estrutura de mercado que apresenta as seguintes características:

• Grande número de compradores e vendedores: como o número de participantes do mercado é elevado, nenhum agente, seja comprador ou vendedor, consegue influenciar no preço de mercado, tornando impossível os acordos de preços.

• Homogeneidade de produtos: todas as empresas produzem produtos idênticos (não há diferenciação de produto, embalagem, qualidade etc.) e portanto são substitutos entre si.

• Aceitação de preços: com um significativo número de concorrentes, cada empresa vende uma parcela pequena do total produzido pelo mercado e suas decisões não afetam o preço ali fixado. Desse modo, a empresa segue o preço de mercado, dizemos que ela é um tomadora de preços.

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• Livre entrada e saída: é um mercado com livre mobilidade de firmas, ou seja, não há custos especiais que impeçam a entrada ou a saída de uma empresa no mercado. Nesta estrutura os fornecedores podem entrar ou sair livremente do mercado e os consumidores podem facilmente trocar de fornecedor. Se as empresas podem entrar e sair livremente existe a flexibilidade e a mobilidade de recursos (todos os insumos são perfeitamente móveis).

• Perfeita informação: (transparência) consumidores e vendedores têm acesso a toda informação relevante, ou seja, os consumidores conhecem os preços e a qualidade dos bens disponíveis e as empresas dispõem de informações perfeitas sobre custos, preços e tecnologia.

A hipótese de que uma firma isoladamente não consegue interferir no preço de mercado tem uma consequência importante, já que afeta o comportamento da demanda do produto.

Já vimos em aulas anteriores, que o preço de mercado é determinado pela intersecção das curvas de oferta e de demanda da indústria, porém como a empresa competitiva é tomadora de preços, tem que se subordinar ao preço determinado pelo mercado (para a firma, o preço torna-se uma variável externa, já que não é determinado por ela), a este preço poderá vender a quantidade que decidir, fazendo com que a curva de demanda da empresa individual seja horizontal.

O gráfico a seguir ilustra essa situação.

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Diante dessas características podemos afirmar que a concorrência perfeita é uma

concepção mais teórica, porque, atualmente, mesmo os mercados mais concorrenciais

apresentam uma parcela de diferenciação ou um grau de imperfeição e portanto, não

temos um exemplo que se enquadre perfeitamente nessa estrutura.

Os produtos agrícolas são exemplos que se aproximam desse conceito. Consideremos o espinafre, por exemplo. Temos muitos produtores e vendedores de espinafre, é um produto homogêneo, nenhum produtor se destaca e portanto não possui força isoladamente para interferir no preço do mercado, é um mercado que possui livre entrada e saída (qualquer um pode produzir espinafre, não enfrentará barreiras impostas pela concorrência), tem-se muitos consumidores, visto que é um produto que faz parte do item alimentação, essencial para os indivíduos.

Mesmo que essa estrutura seja apenas um modelo ideal, um referencial mais teórico, é importante conhecê-la. Troster (2005, p.195) salienta que a concorrência perfeita é empregada em muitos estudos que procuram descrever o funcionamento da economia pelas inúmeras consequências derivadas de suas hipóteses, daí a importância de seu conhecimento.

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3. Monopólio

Na maioria das compras que realizamos, existe mais de um vendedor “disputando” o

nosso dinheiro e podemos escolher de quem comprar. Porém, existem casos em que

a escolha não é possível. Se você pretende, por exemplo, mandar uma carta por vias

normais, você tem que usar o serviço dos Correios, não tem alternativa. Neste caso,

estamos diante de um monopólio.

O monopólio é a estrutura em que existe apenas uma empresa atuando no mercado (a

firma é o próprio setor), não há substitutos próximos para este bem e existem barreiras

à entrada de novas firmas no mercado. Desse modo, a oferta da empresa é a oferta

de mercado e a demanda da firma é a própria demanda do mercado (a demanda do

monopolista é portanto decrescente – como as demandas que estudamos na unidade 2).

A ausência de concorrência é que garante o monopólio, ou seja, o monopólio persiste

quando há barreiras à entrada que impedem que novas firmas entrem no setor. Estas

barreiras podem ser:

• Barreiras legais: a lei limita que alguns produtos só podem ser produzidos por

uma firma.

• Monopólios estatais (ou institucionais). Estão em setores estratégicos ou de

infraestrutura. Exemplo: Petrobrás.

• Patentes e direitos autorais: direito único de produzir o bem, evitando que o

outro copie a ideia durante certo período. Exemplo: medicamentos (a patente

é justificada como meio da indústria recuperar o capital investido em anos de

pesquisa até o lançamento do medicamento), direitos autorais do escritor de um

livro ou de um compositor.

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Ao lidar com esses casos de patentes e propriedade intelectual, o governo assume

o compromisso de permitir que os criadores do produto desfrutem um monopólio e

obtenham lucros extraordinários por um período de tempo.

Após esse período, é concedida a permissão para que outros vendedores entrem

no mercado e espera-se que a concorrência entre eles abaixe os preços.

• Controle de recursos estratégicos: Um monopólio em um setor também pode

surgir, porque uma empresa já é monopolista na venda de alguma matéria-prima

fundamental para o setor. Exemplo: a empresa sul africana DE BEERS nos anos

80 chegou a controlar 90% da produção mundial de diamantes, por ter comprado

a maior parte das minas de diamante do mundo, até hoje atua praticamente

como monopolista. Outro exemplos é a empresa ALCOA (Aluminium Company

of América), até os anos 40 era a única vendedora de alumínio dos EUA, porque

possuía todos os depósitos de bauxita do país (um recurso necessário para a

produção de alumínio). Atualmente, esta situação é a menos comum, uma vez que

as economias atuais são grandes e os recursos têm muitos proprietários.

Também há meios que facilitam a existência de substitutos próximos dos produtos,

o que elimina a possibilidade de monopólio.

• Diferenças de custos, superioridade tecnológica e grandes economias de

escala: Em alguns mercados, devido à alta escala de produção requerida, os

investimentos iniciais para participar do mercado são elevados, dificultando a

entrada de concorrentes no mercado.

A nova empresa não tem como oferecer o produto a um preço equivalente e o

resultado é um Monopólio Natural. Essa situação está associada geralmente a

serviços de utilidade pública como energia elétrica, fornecimento de água etc.

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• Outros: tradição no mercado, força da marca, etc. A publicidade, a tradição da

marca e outras estratégias mercadológicas referentes ao produto podem criar

barreiras à entrada de possíveis rivais e aumentam o poder de mercado da

empresa que atua no mercado.

É muito comum nos monopólios (e até nos oligopólios) uma prática denominada

Discriminação de Preços. Ela representa a prática de vender os mesmos bens por

preços diferentes. Para ser considerada discriminação de preços é preciso que o bem

tenha a mesma qualidade e o mesmo custo.

Um exemplo de discriminação de preços é o cinema, pode-se vender duas poltronas por

preços distintos, uma para estudantes (que paga menos) e outra para os não-estudantes.

Ambos ocupam a mesma quantidade de produto (uma poltrona) e exibir o filme custa

o mesmo. Por outro lado, comprar um carro em Roraima e outro em São Paulo não

representam uma discriminação de preços, visto que as diferenças de preço refletem o

custo adicionado do transporte.

Como está sozinho no mercado, o monopolista tem papel fundamental na determinação

do preço do mercado. Porém, cabe destacar que ele não pode aumentar o preço

do produto da forma como bem entende, o monopolista é limitado pela demanda

do mercado, ou seja, seus consumidores sinalizam até que ponto o preço pode

ser aumentado. Denominamos de poder de monopólio (ou poder de mercado) a

capacidade de uma empresa de aumentar seus preços reduzindo sua própria produção,

em alguns mercados o poder de monopólio é maior (geralmente para produtos

essenciais) do que em outros.

Em comparação com a concorrência perfeita, temos que no monopólio os preços são

superiores, dado que a firma tem poder de monopólio sobre os preços do mercado

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(como está sozinho pode cobrar um preço superior que continuará vendendo seus

produtos), porém, por não haver concorrência, a quantidade produzida em um mercado

monopolista é menor do que a produzida por um mercado concorrencial. Desse modo,

dizemos que, do ponto de vista social, a concorrência perfeita é mais eficiente, pois

coloca à disposição da sociedade mais produtos (a um preço menor).

Nas últimas décadas, a execução de uma legislação rigorosa a favor da manutenção

da concorrência eliminou muitos monopólios e potenciais monopólios ficaram sob o

controle de órgãos reguladores dos governos. O objetivo desta intervenção é garantir

a concorrência no mercado, beneficiando o consumidor que, além de obter mais

produtos, pode escolher de quem comprar e a que preço. Os monopólios também

enfrentam um ameaça poderosa: a tecnologia. Veja por exemplo o serviço de telefonia

fixa; existe um monopólio da empresa de telefonia local, não temos escolha. Na verdade

não tínhamos, pois com o avanço da tecnologia temos a possibilidade de usar o telefone

por cabo (serviço já oferecido pelas empresas de televisão a cabo), acabando com o

monopólio local da telefonia fixa. Alguns monopólios ainda sobreviverão, especialmente

os sustentados por barreiras legais, mas de um modo geral podemos afirmar que o

mundo monopolista está encolhendo.

4.3. Concorrência Imperfeita

A maioria dos mercados não é perfeitamente competitivo, nem perfeitamente

monopolista. Estes mercados ficam em algum lugar entre estes dois extremos. Para

as estruturas de mercado que abrigam essas situações denominamos de concorrência

imperfeita.

Segundo Hall e Lieberman (2003, p. 327) a concorrência imperfeita se refere às

estruturas de mercado em que existe mais de um vendedor, mas poucos para criar

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um mercado perfeitamente competitivo. Geralmente esses mercados violam outras

condições da concorrência perfeita como a hipótese de produto homogêneo ou de livre

entrada e saída de firmas.

Estudaremos dois tipos de concorrência imperfeita: a concorrência monopolística e o

oligopólio.

4.3. 1 - Concorrência Monopolística

Trata-se de uma estrutura de mercado com as seguintes características:

• Existem muitas firmas atuando no mercado.

• Cada firma produz um produto diferenciado, mas com substitutos próximos.

A diferenciação pode ser real e informacional. A diferenciação real refere-se

à diferença física ou lde localização entre o produto das firmas que atuam no

mercado (são diferenças objetivas como desempenho, tamanho, frequência

de reparo, longevidade do produto, etc.). A diferenciação informacional está

relacionada à reputação ou imagem da firma pelo consumidor, estando, portanto,

fortemente ligada às estratégias de promoção, publicidade, divulgação e

posicionamento da marca (são fatores que afetam a preferência do consumidor).

• Não há barreiras à entrada de novas firmas (livre entrada e saída).

• Cada empresa tem um pequeno poder sobre os preços, dado que os produtos

são diferenciados e o consumidor tem opções de escolha, de acordo com suas

preferências. Uma empresa pode cobrar um preço diferente em relação aos seus

concorrentes, já que existem consumidores que aceitarão pagar mais caro pela

identificação com a marca ou pela diferenciação que observa no produto, porém

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esse poder sobre o preço é limitado, já que o produto apresenta muitos substitutos

(até mesmo os clientes mais fiéis desaparecem quando a diferença de preços é

excessiva).

Exemplos de concorrência monopolística podem ser dados pelo setor de serviços como

salões de beleza, academias de ginástica, bares etc.

No curto prazo, como produz um produto diferenciado, um concorrente monopolista

age como um monopolista, já que não existe um produto idêntico ao seu, elabora suas

estratégias de modo individualizado (claro que não desconsidera a concorrência), porém

no longo prazo tem comportamento de concorrência perfeita, já que se depara com um

mercado repleto de concorrentes que oferecem produtos similares. Veja por exemplo o

McDonald’s, seus lanches são diferenciados de tal modo que no curto prazo toma suas

decisões de preço e de divulgação do produto de forma individual, porém no longo

prazo sabe que pertence ao mercado de lanches e a concorrência é elevada (qualquer

um pode abrir uma lanchonete, é um mercado sem barreiras), portanto as decisões se

aproximam da concorrência perfeita.

4.3.2 - Oligopólio

O oligopólio é a estrutura de mercado que prevalece nas economias do mundo

ocidental. Essa estrutura apresenta as seguintes características:

• poucas empresas são responsáveis pela maior parte ou a totalidade da produção

do mercado.

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• Se levarmos em conta o posicionamento das empresas temos a seguinte

classificação:

1) Concentrado: há um pequeno número de firmas no setor. Exemplo: indústria

automobilística, indústria de cimento, etc.

2) Competitivo: existem várias empresas no mercado, porém um pequeno

número de empresas domina o setor. Exemplo: Setor de laticínios

(praticamente dominado pela Nestlé e Parmalat), setor de produtos de higiene

e limpeza (praticamente dominado pela Gessy Lever e Procter & Gamble).

• Há barreiras à entrada de novas firmas.

• Os produtos podem ser homogêneos ou diferenciados.

• Oligopólio com produtos homogêneos (oligopólio puro): cimento, alumínio etc.

• Oligopólio com produtos diferenciados: automóveis, eletrodomésticos, etc.

• As firmas são interdependentes, ou seja, a ação de uma firma provoca uma reação

das concorrentes. As empresas possuem controle sobre os preços, mas devem

levar em ‘conta as prováveis reações de seus rivais antes de tomar decisões. Essa

interdependência faz com que as empresas desenvolvam ações estratégicas para

conquistar mercado, assim cada mercado passa a ter uma forma de atuação

diferente, o que dificulta a elaboração de um modelo único para explicar o

funcionamento dos oligopólios.

No oligopólio, podemos encontrar duas formas de atuação das empresas:

a) As empresas concorrem entre si, via diferenciação do produto, guerra de preços

ou de promoções

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b) As empresas formam conluios, cartéis. Segundo Vasconcellos (2002, p.171)

um cartel é “uma organização (formal ou informal) de produtores dentro de

um setor, que determina a política para todas as empresas, fixando preços e/

ou cotas do mercado entre as empresas”. Um cartel pode ser: perfeito, quando

todas as empresas têm a mesma participação, ou imperfeito, quando existem

empresas lideres (têm maior tamanho ou custos menores), que fixam os preços ou

definem a maior cota. O cartel mais conhecido em nível internacional é a OPEP

(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), os países integrantes reúnem-

se regularmente para definir a quantidade que será produzida e vendida, afetando

na determinação do preço do produto.

Para evitar que se formem mercados muito concentrados e até mesmo monopólios

naturais, os governos buscam medidas para a organização de um sistema de defesa

da concorrência. No Brasil, quem trata destes assuntos é o Conselho Administrativo de

Defesa Econômica (Cadê), que é responsável pela “prevenção e repressão às infrações

sobre a ordem econômica orientada pelos princípios constitucionais de liberdade de

iniciativa, livre concorrência, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder

econômico” (MOCHÒN, 2006, p. 139).

Como exemplo, temos a fusão das empresas Brahma e Antarctica, cujo processo foi

analisado pelo CADE que determinou que a nova empresa (Ambev) deveria vender a

marca Bavária para que a fusão fosse autorizada.

4.3.1.1 - Teoria dos Jogos

Nas outras estruturas de mercado, as firmas agem de forma independente, não se

preocupam com as reações das concorrentes, no oligopólio é diferente.

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A ideia de que as firmas agem de forma interdependente é o grande desafio no estudo

dos oligopólios, visto que não existe uma teoria única para explicar a determinação do

equilíbrio nesta estrutura de mercado. Para entender um pouco sobre a interdependência

estratégica utilizaremos a abordagem da Teoria dos Jogos.

A Teoria dos jogos é o estudo das decisões em situação interativa, ou seja, é uma

estrutura usada para analisar oligopólios ou outra situação em que o comportamento

de uma pessoa afeta as outras. Não é uma abordagem usada apenas em Economia, é

muito utilizada em Ciência Política, estratégia militar, Sociologia, entre outras.

Conceitos Básicos

Antes de entendermos como funciona a Teoria dos Jogos, é importante conhecermos

alguns conceitos básicos.

Segundo Gremaud e Braga (2005, p.247) um jogo é caracterizado pelo conjunto de

regras e pelo conjunto de resultados. Um jogo é uma situação em que os participantes

(jogadores) tomam decisões estratégicas e geralmente é representado através de uma

matriz de resultados (ou matriz de pay-offs), a qual mostra os lucros e perdas para cada

jogador, originados de cada uma de suas escolhas e de cada escolha de seus rivais.

Basicamente existem dois tipos de jogos.

Um jogo cooperativo ocorre quando seus participantes podem negociar contratos

vinculados entre si, permitindo que planejem estratégias em conjunto, já um

jogo não-cooperativo ocorre quando não é possível a negociação de tais contratos

entre os participantes.

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Os jogadores são agentes econômicos que tomam decisões. Podem ser consumidores

buscando maximizar sua satisfação, firmas buscando maximizar seus lucro ou aumentar

a fatia de mercado, governo analisando formas de implementar sua política econômica,

bancos analisando o processo de concessão de empréstimos e captação de recursos,

investidores analisando a viabilidade de projetos, entre outros.

Outro conceito relevante é o de Estratégia, que representa o conjunto de ações a ser

executado ao longo do jogo, são as alternativas possíveis. Essas alternativas podem

ser simples (resumindo-se em apenas uma ação) ou complexas (quando consideramos

alternativas do tipo (se o outro jogador fizer isso, eu faço aquilo – ações interrelacionadas).

Dilema dos Prisioneiros

É o exemplo clássico da teoria dos jogos, é a maneira mais fácil de entender como a

Teoria dos Jogos funciona.

Ilustra o problema: dois parceiros foram acusados de um crime (assassinato). Estão em

celas separadas e não podem se comunicar. A polícia tem provas apenas para

condená-los por roubo, desse modo a evidência de assassinato não pode ser usada no

tribunal, a não ser que consigam uma confissão.

Cada preso é abordado pela polícia, de forma isolada, na tentativa dessa confissão.

Se nenhum confessar o assassinato, os presos serão condenados apenas por roubo,

pegando uma pena de 5 anos.

Se apenas um dos criminosos confessar, o que confessou é beneficiado pela “delação

premiada” e pega apenas 3 anos, enquanto seu parceiro que não confessou pega 20

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anos de prisão. Porém se os dois confessarem, não haverá beneficiamento e os dois

serão condenados por assassinato e pegarão, cada um, 10 anos de prisão.

O que você acha que acontecerá?

Cada prisioneiro é um jogador e a matriz de payoffs para esse jogo está ilustrada a

seguir:

Colocando apenas os resultados, temos:

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Vamos examinar o jogo: Se pudessem fazer um acordo, nenhum confessaria o crime

e pegariam apenas 5 anos de prisão. Mas como os presos estão isolados e não têm

certeza das ações de seu companheiro (e nem confiam nelas), terão que analisar a

interdependência das suas ações. Antes de tomar suas decisões cada um se perguntará

“qual a melhor estratégia se o meu parceiro confessar?”. A primeira linha da matriz

nos guia no raciocínio. Se o companheiro confessar, eu posso ficar quieto e pegar 20

anos de prisão ou confessar o crime e pagar 10 anos, a melhor escolha será confessar.

Depois fará o mesmo para o caso: “e se meu companheiro não confessar o crime, o que

eu faço?” A segunda linha da matriz nos ajuda a tomar a decisão. Se ele ficar quieto

eu posso fazer a mesma coisa e pegar 5 anos, ou posso confessar e me beneficiar,

pegando apenas 3 anos. O melhor a fazer é CONFESSAR. Como o outro prisioneiro

fará o mesmo raciocínio, o resultado do jogo será: AMBOS CONFESSAM e pegam 10

anos de prisão cada um.

A combinação de estratégias escolhidas nos leva ao resultado do jogo. Esse resultado é

chamado de Equilíbrio de Nash. O equilíbrio de Nash é um equilíbrio

não-cooperativo, ou seja, cada jogador toma suas decisões visando obter o maior

ganho possível em função da atuação dos seus concorrentes.

Num equilíbrio de Nash, podemos considerar os seguintes comportamentos dos

jogadores:

- Eu estou fazendo o melhor que posso em função do que o meu concorrente está fazendo;

- O meu concorrente está fazendo o melhor que pode em função do que eu estou fazendo.

Reparem ainda que, nesse caso, para cada indagação o melhor resultado é confessar,

ou seja, independente da ação do outro jogador, cada um tem uma estratégia melhor.

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Nesse jogo, portanto, a estratégia “confessar” é denominada de Estratégia Dominante.

O prisioneiro A passará menos tempo na cadeia se confessar, independentemente se B

confessar ou permanecer em silêncio. O mesmo acontece para o prisioneiro B.

Estratégia Dominante: estratégia melhor para um jogador quaisquer que

sejam as estratégias escolhidas pelos outros

jogadores.

O Dilema dos Prisioneiros e os Oligopólios

As empresas oligopolistas agem da mesma forma que os prisioneiros, analisam o

comportamento de seus concorrentes e buscam a melhor alternativa para suas ações.

Desse modo, podemos criar jogos a partir de situações como decisões de produção,

decisões políticas, guerra de preços, lançamento de produtos, decisões de promoção e

publicidade, divulgação em mídias distintas (por exemplo, fazer ou não propaganda na

TV), entre outros.

Você não quer tentar uma situação que pode ser analisada através de um jogo

corporativo? Tente e envie sua sugestão para o professor pelo Fórum.

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4.4 - Algumas Estruturas Particulares

Até agora analisamos as estruturas de mercado pelo lado da oferta, ou seja,

caracterizando o número de empresas que atuam no mercado. Porém, também é

possível observar características particulares pelo lado da demanda.

Quando em um mercado existe apenas um comprador (um demandante) para um

produto fornecido por várias empresas, temos um monopsônio.

Essa situação pode ocorrer no mercado de trabalho, quando uma empresa se instala

em uma cidade do interior; por ser única torna-se exclusiva demandante da

mão de obra local.

Já quando um número pequeno de demandantes deve absorver os produtos

fornecidos por muitas empresas, estamos diante de um oligopólio de demanda, ou um

oligopsônio.

Um exemplo são as empresas fabricantes de leite pasteurizado, são poucas empresas

que operam no mercado, comprando matéria-prima (o leite) de muitos pequenos

produtores.

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4.5 - Resumo das Principais Estruturas de Mercado

Os autores Passos e Nogami (2003, p.355) apresentam um quadro que resume as

quatro principais estruturas de mercado abordadas nesta unidade.

Nas cinco primeiras unidades nos concentramos em abordar assuntos ligados à

Microeconomia, destacando fatores que afetam as decisões dos agentes econômicos,

estudando isoladamente consumidores e produtores.

Porém sabemos que a Economia representa a ação conjunta de todos agentes e o

estudo da atividade econômica global compete à Macroeconomia.

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Universidade Anhembi MorumbiEstruturas de Mercado21

A partir da próxima unidade, estudaremos as variáveis agregadas como renda, consumo,

poupança, inflação, emprego, juros e câmbio, enfim, abordaremos as questões mais

relevantes da atualidade.

Está pronto para enfrentar esse desafio? Nos encontramos lá!

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CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

1. Introdução

Até a unidade anterior, estudamos como os agentes econômicos agiam de forma

isolada, abordando conceitos da Microeconomia, como os mecanismos de mercado, a

produção e os custos. A partir desta aula, você vai ter contato com a Macroeconomia,

que estuda a reunião de todos os mercados que são produzidos e intercambiados em

uma economia.

Segundo Mochón (2006, p.242) a Macroeconomia se ocupa do estudo do

funcionamento da Economia como um todo. Seu propósito é obter uma visão

simplificada da Economia, mas que, ao mesmo tempo, permita conhecer e atuar sobre

o nível de atividade econômica de determinado país ou de um conjunto de países.

As informações que os economistas obtém através da análise macroeconômica têm

diversas utilidades. Ramalho (2004a, p.1) aponta exemplos relevantes: é através

dessas informações que a equipe do governo responsável pela política econômica do

país define quais serão as metas da taxa de juros, da taxa de inflação, das contas do

governo, com a finalidade maior de projetar o progresso da economia através do seu

crescimento e dos benefícios à sociedade do país.

As estatísticas obtidas através da análise macroeconômica também são úteis aos

responsáveis pelas decisões de negócios. Por exemplo, se os impostos forem reduzidos

para os produtos exportados, os produtores devem observar a oportunidade de incluir o

seu produto no comércio internacional.

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2. O Produto Interno Bruto (PIB)

Se a taxa de juros estabelecida for elevada pelo Banco Central, é hora de se evitar a

obtenção de empréstimos. Todas essas informações da macroeconomia visam sinalizar

para bons resultados das empresas e da sociedade.

Para iniciar veremos como os economistas medem a produção de um país, destacando

também noções de crescimento e desenvolvimento econômico.

Vamos lá?

As economias modernas produzem uma imensa variedade de bens e serviços.

Para medir a produção total, os economistas combinam em uma única medida de

produção as quantidades de produtos agrícolas (como laranjas, trigo, feijão etc.), de

bens industrializados (como vestuário, bolas de futebol, eletrodomésticos, automóveis,

etc.) e os serviços (cabeleireiros, faxinas, serviços médicos, etc.). Essa medida é relevante,

pois além de refletir o nível de produção de um país, permite avaliar seu grau de

crescimento, ao comparar a produção de dois períodos. Essa medida é o PIB – Produto

Interno Bruto.

O PIB de um país representa o valor monetário de todos os bens e serviços finais

produzidos para o mercado em um período de tempo, normalmente um ano, dentro das

fronteiras de um país.

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Universidade Anhembi MorumbiCrescimento e Desenvolvimento Econômico4

Vamos desmembrar este conceito:

• Valor monetário: Os bens e serviços que integram o PIB não são medidos

em quantidades produzidas e sim no valor em moeda corrente do país. Isso se

justifica porque como existem muitos tipos diferentes de bens e serviços e cada um

é mensurado por uma unidade diferente (metros, toneladas, unidades, litros, etc.),

seria difícil encontrar uma unidade comum para somá-los. Porém, ao utilizar o valor

monetário podemos combinar todos os produtos e serviços em um único valor.

• Bens e Serviços Finais: a medição do PIB é limitada aos bens e serviços finais, ou

seja, os bens e serviços disponíveis ao consumidor final. Essa limitação existe para

evitar o problema da dupla contagem.

Desse modo, no cálculo do PIB considera-se o valor agregado em cada estágio de

produção. Entende-se por valor agregado, a diferença entre o valor da produção e o

valor dos bens intermediários utilizados nessa produção.

• Produzidos para o mercado: No PIB, computa-se apenas os bens e serviços produzidos. Assim compras de terrenos

e de ativos financeiros como ações e títulos não são incluídos, pois são um direito de

propriedade e de recebimento futuro, mas não representam bens e serviços.

Também não entram no cálculo do PIB compras de segunda mão (como automóveis

usados, por exemplo), uma vez que já foram produzidos em períodos anteriores e

computados no cálculo quando da primeira venda.

O PIB ainda inclui apenas os bens e serviços que serão destinados à venda, ou

seja, que são produzidos para o mercado. Se você limpa sua própria casa, está

produzindo um serviço final – a faxina, mas você está produzindo esse serviço para

A dupla contagem:

Na economia existem os bens finais,

que chegam ao consumidor final, e os

bens intermediários, que são utilizados

no processo de produção de outros

bens.

O valor dos bens intermediários já

está incluído no preço dos bens finais.

Por exemplo, se uma fábrica produz

papel que a outra usará para fazer um

caderno, o papel é chamado de bem

intermediário, e o caderno é o bem

final.

Se considerarmos toda a produção

de cadernos e de papel no cálculo do

PIB, estaremos contando duplamente

a produção de papel, já que seu

valor está embutido na produção de

cadernos.

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si e não para vendê-lo no mercado, por isso não entra no cálculo do PIB; porém

se você contratar uma faxineira para executar o serviço, então o serviço deve ser

incluído, pois passa a representar uma transação de mercado.

• Em um período de tempo, normalmente um ano: O PIB é uma variável fluxo, ou seja, reflete o processo que se desenvolve no decorrer

do tempo. Por exemplo, se perguntarmos a uma empresa qual o seu nível de lucro,

sua resposta não será a mesma se a pergunta fizer referência ao mês ou ao ano.

O mesmo acontece com o PIB, é importante definir o período de tempo considerado

e, por tradição, usa-se o horizonte temporal de um ano.

• Dentro das fronteiras de um país: O PIB mede o que foi produzido dentro das fronteiras de um país,

independentemente da nacionalidade os proprietários das unidades produtoras

desses bens e serviços.

Um exemplo é o que acontece com os jogadores brasileiros, muitos vão jogar em

times europeus. Os serviços desse jogador brasileiro em um time da Itália formam

parte do PIB italiano e não do Brasil, pois o serviço foi gerado dentro do território

italiano.

PIB x PNB:

Esta observação permite a distinção entre PIB e PNB (Produto Nacional Bruto).

O PIB representa a produção interna do país, enquanto o PNB representa a produção

realizada apenas por nacionais. A diferença entre eles é denominada de Renda

Líquida Enviada ao Exterior (RLE), a qual se divide em Renda enviada ao exterior e

renda recebida do exterior.

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Podemos definir a seguinte relação:

Assim, uma multinacional instalada no país gera produção interna (incluída no PIB),

mas como uma parte da remuneração da empresa é enviada ao exterior a título de

remessa de lucros, essa remessa não faz parte do PNB, porque não é remuneração

dos fatores de produção de propriedade nacional. Como o Brasil é receptor de

capitais internacionais (seja como investimentos ou empréstimos), a renda líquida

enviada ao exterior é maior do que a recebida e portanto, o PNB brasileiro é menor

que o PIB.

3. Como o PIB é medido?

Afinal, como medir o PIB? O PIB mede três coisas ao mesmo tempo: o total

produzido, a renda total de todas as pessoas da economia e a despesa total com

os bens e serviços produzidos na economia, uma vez que a renda total e a despesa

total têm na verdade o mesmo valor. Com base nisso, existem três formas de medir a

atividade econômica de um país, dentre elas podemos destacar:

3.1 - Ótica da Produção: Pela ótica da produção, podemos chegar ao PIB pela soma dos valores monetários

de todos os bens e serviços finais produzidos pela economia em determinado período

de tempo. Assim,

PIB = QaPa + QbPb + QcPc +... QnPn

PIB = PNB + RLE

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Para chegarmos ao valor monetário total de cada produto multiplicamos a

quantidade vendida pelo seu preço. Fazemos isso para todos os produtos (produtos

a, b, c ...n) e somamos para encontrar o valor produzido pelo país. Vale lembrar

que devemos considerar apenas os produtos finais para evitar o problema da dupla

contagem.

3.2 - Ótica da Despesa

O PIB pode ser medido como sendo a despesa total com a produção final da

economia, ou seja, podemos considerar todas as despesas e cada setor para adquirir

e produzir os bens e serviços. O valor monetário total das despesas é igual ao valor

monetário total da produção. O Total de despesas se divide em:

•Despesasdasfamílias=Consumo(C)

•Despesasdasempresas=Investimentos(I),queéadespesacombensdecapital

utilizados para produzir outros bens e serviços.

•Despesasdogoverno(G)

•Exportaçõeslíquidas=Exportações(X)menosasimportações(M)

Desse modo, temos a seguinte relação:

Essa relação também é chamada de Demanda Agregada ou ainda de Despesa

Nacional.

PIB = C + I + G + (X – M)

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3.2 - Ótica da Renda

A ótica da renda consiste na análise dos fatores que recebem para produzir o

produto total. Vimos que o total do produto pode ser calculado computando-se as

despesas de cada setor e, como as despesas de um setor constituem renda para

outro, o valor total do produto pode ser analisado computando-se a renda de todos

os setores da economia. A renda pode ser observada pela remuneração dos fatores

de produção. Assim:

•Salários(S)=remuneraçãodotrabalho(incluindoosbenefíciossociais,

contribuições para o serviço social e as aposentadorias)

•Juros(J)=remuneraçãodoproprietáriodocapitalfinanceiro

•Lucros(L)=remuneraçãodacapacidadeempresarial(ganhodasempresasea

renda de seus proprietários)

•Aluguéis(A)=rendadacessãodousodepropriedade(terra,lojas,residências,

fazendas etc)

Assim, o PIB pode ser representado pela equação:

PIB = A + L + J + SSe considerarmos a participação do governo na renda gerada,

temos

PIB = A + L + J + S + T sendo T os tributos

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4. Outros Conceitos Importantes

a) PNB bruto x PNB LíquidoO PNB líquido representa a produção líquida total gerada na economia de um país no

período de um ano. Quando o PNB está sendo produzido, está se “consumindo” parte

do estoque de capital existente na economia, que nada mais é do que a depreciação.

Dessa forma o PNB líquido considera o efeito da depreciação do capital,

PNB Bruto = PNB líquido + depreciação.

Do mesmo modo, ao considerarmos o investimento (I) da economia, estamos nos

referindo ao investimento total, incluindo as despesas necessárias para repor os bens de

capital consumidos na produção. O investimento líquido é o investimento bruto menos a

depreciação do capital e também é chamado de “formação de capital” de

uma Economia.

b) Renda Nacional (RN)Para chegarmos à renda nacional, além da depreciação devemos desconsiderar os

impostos indiretos. Subtraindo esses dois itens ficamos com os pagamentos de renda que

são considerados recursos. Assim,

Renda Nacional = PNL – impostos indiretos

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O esquema a seguir ajuda a compreensão dos conceitos estudados até o momento:

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c) PIB per capita:Quando se calcula a divisão do PIB pelo número de pessoas na economia, tem-se o

resultado do PIB per capita, o que nos indica qual é a proporção de riqueza gerada

correspondente a cada habitante do país.

d) PIB Nominal X PIB RealO PIB nominal mede o valor total da produção durante o período a preços correntes.

Porém, quando o PIB cresce de um ano para outro temos duas possibilidades: ou a

economia está produzindo uma quantidade maior de bens e serviços, ou os bens e

serviços estão sendo vendidos a preços mais elevados, tendo-se então o fenômeno da

inflação nesta economia (trataremos com propriedade o fenômeno da inflação nas

unidades posteriores). Para que esses dois efeitos sejam separados, os economistas

devem isolar o efeito das variações de preços desses bens e serviços. Para tanto os

economistas utilizam a medida do PIB real.

O PIB real apresenta o valor dos bens e serviços produzidos este ano caso fossem

avaliados aos preços vigentes em algum outro ano específico do passado (RAMALHO,

2004a, p.4)) .

“Para obter uma medida do montante produzido que não seja afetada pelas variações

dos preços, usamos o PIB real, que é a produção dos bens e serviços avaliada a preços

constantes. Para calcular o PIB real, selecionamos primeiro um ano como ano-base.

Utilizamos então os preços de um bem no ano-base para calcular o valor dos bens e

serviços em todos os anos. Em outras palavras, os preços do ano-base fornecem a base

para comparar quantidades em diferentes anos”. (MAMKIW, 2007, p. 509)

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Ou seja, o PIB real representa o PIB descontado o efeito da inflação. Como o PIB real

não é afetado pela variação dos preços, as variações do PIB real refletem apenas

mudanças nas quantidades produzidas, e, portanto, é uma medida da produção de

bens e serviços da economia.

5. Crescimento x Desenvolvimento

O PIB é utilizado como um indicador da economia que revela quanto o uso dos recursos

produtivos gera valor na transformação das matérias primas em mercadorias,

destacando quanto aquela economia produziu de renda e riqueza no ano.

O crescimento do PIB em termos globais e per capita ao longo do tempo é denominado

de Crescimento Econômico.

Entretanto, sabemos que a simples mensuração do produto não basta para explicar

o fenômeno do crescimento. O produto pode aumentar em decorrência de fatores

quantitativos, como a utilização de quantidades maiores de recursos produtivos, e de

fatores qualitativos, como o aumento da produtividade (que estudamos nas unidades

anteriores).

Passos e Nogami (2003, p.544) apontam que melhorias na qualidade da

mão de obra (como aumento nos níveis educacionais, treinamento etc.), melhorias

tecnológicas (através do aumento da eficiência na utilização do estoque de capital) e na

eficiência organizacional (maximização na utilização dos recursos disponíveis) também

podem provocar um aumento na produtividade e em consequência, um aumento no

produto total.

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Desse modo, podemos considerar como determinantes da produtividade o capital físico,

o capital humano, os recursos naturais e o conhecimento tecnológico.

Sabemos, portanto, que o crescimento está ligado à qualidade da mão de obra e

para melhoria nesse fator é importante o investimento em capital humano, através da

educação. O padrão de educação é medido por anos de escolaridade.

Os países apresentam a proporção da escolaridade média das suas populações

fortemente correlacionada ao tamanho do PIB. Ou seja, nos países em que o nível

de instrução da população é elevado, há reflexo direto e positivo no resultado do produto

da economia.

Ramalho (2004b, p. 3) apresenta uma relação interessante entre Brasil e Alemanha. No

Brasil, a média de escolaridade do cidadão é de 11 anos. Na Alemanha é de 22 anos.

Se considerarmos que o indivíduo inicia a idade escolar a partir da alfabetização, aos 7

anos vai para a escola. Então o brasileiro entra na escola aos 7 anos e permanece por

11 anos. Sai da escola, em média, aos 18 anos. E na Alemanha sai, em média, aos 29

anos! (dados do Banco Mundial, 2001) Isso significa que o cidadão brasileiro chega, se

muito, ao ensino médio, ao passo que na Alemanha os cidadãos têm em média pós-

graduação.

Mas no caso do Brasil há ainda uma parcela muito grande de adultos quase

analfabetos, e de outro lado cidadãos instruídos por cursos universitários e de

pós-graduação. Isso acarreta uma diferença educacional que é refletida nos níveis

salariais, o que acentua a desigualdade social do país.

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Outro fator importante para o crescimento de uma economia é o conhecimento

tecnológico. Em compasso com o conhecimento tecnológico estão a pesquisa e

o desenvolvimento que são a fonte da criação do capital físico. A pesquisa e o

desenvolvimento são gerados por agentes privados como inventores que viabilizam a

produção das suas ideias, cabendo ao governo o papel de incentivar tais pesquisas

visando o desenvolvimento de novas tecnologias que serão usufruídas por toda a

a sociedade e contribuirão para o aumento do produto da economia.

Um país não deve apenas buscar um aumento no produto, ou seja, o crescimento.

Deve formular políticas que garantam mudanças na qualidade de vida de seus

habitantes. É preciso crescer, mas esse crescimento deve ser percebido por todos os

habitantes. Quando levamos isso, buscamos o Desenvolvimento Econômico.

Segundo Milone (2005, p.485) para caracterizar um processo de desenvolvimento

econômico, devemos observar ao longo do tempo a existência de:

•Crescimentodobem-estareconômico,medidopeloPIB

•Diminuiçãodosindicadoresdepobreza,desempregoedesigualdade

•Melhorianascondiçõesdesaúde,nutrição,educação,moradiaetransporte.

É importante termos bem nítida essa diferença, pois é possível um país crescer sem se

desenvolver.

A maneira como os economistas avaliam o desenvolvimento dos países é

acompanhando a evolução de alguns indicadores relativos à saúde e à educação,

por revelarem uma aproximação do que está ocorrendo com a qualidade de vida da

população.

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6. Índice de Desenvolvimento Humano

Existem vários indicadores sobre saúde, educação, emprego, etc. A Organização das

Nações Unidas (ONU) desenvolveu um indicador para monitorar o desenvolvimento

humano, aumentando as opções das pessoas para que possam ter uma vida mais longa

e saudável, se educar, ter acesso aos recursos necessários para um padrão de vida

melhor,defendendoareduçãodasdesigualdades(PASSOS&NOGAMI,2003,p.549).

Este indicador chama-se Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Um dos economistas

mais envolvidos na definição e metodologia do IDH é Amartya Sen, Prêmio Nobel de

Economia de 1998.

Em sua metodologia o IDH agrega três variáveis:

•umindicadorderenda,queéarendapercapita,ajustadapararefletiraparidade

do poder de compra (PPP) entre os países;

•umindicadordascondiçõesdesaúde,queéaexpectativadevida,ouíndicede

longevidade;

•umindicadordascondiçõesdeeducação,queéumamédiaponderadadeoutros

dois indicadores: a taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de

matrícula dos ensinos fundamental, médio e superior.

A combinação dessas três variáveis de cada país prevê que o aumento do produto da

economia deve também contemplar a melhora da qualidade de vida da população,

refletidas no aumento da expectativa de vida, da melhora da educação, tornando o

crescimento econômico efetivamente universal e benéfico à população (RAMALHO,

2004b, p.5).

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O IDH varia entre zero e um e classifica os países quanto ao grau de desenvolvimento a

partir dos seguintes critérios:

•IDHmenorouiguala0,5=paísescombaixodesenvolvimentohumano;

•IDHentre0,5e0,8=paísescommédiodesenvolvimentohumano;e

•IDHmaiordoque0,8=paísescomaltodesenvolvimentohumano

6.1 - O IDH do Brasil

Desde que o IDH passou a ser divulgado, o Brasil apresenta um índice crescente, mas

como seus valores estavam abaixo de 0,8 e eram superiores a 0,5, era classificado

entre os países de médio desenvolvimento humano. Para efeito de ilustração, em

1997 o indicador atingiu 0,739, classificando o Brasil como a 79° economia em nível

dedesenvolvimentohumano.Jáem2004,oindicadorsubiupara0,792,elevandoa

classificação para a 69° economia em nível de desenvolvimento humano.

Em 2005, a ONU inclui o Brasil no grupo dos países de alto desenvolvimento humano; o

país é o último entre os 70 países considerados de alto desenvolvimento humano.

A figura a seguir mostra como os países estão divididos segundo o IDH

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Fonte: O Estado de S.Paulo, 28.nov.2007 (www.estadao.com.br)

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O ingresso do país na elite do desenvolvimento humano se deve a uma melhora nos três

indicadores que compõem o IDH, especialmente na expectativa de vida do brasileiro.

Apesar da melhora, muito ainda precisa ser feito para reduzir as desigualdades, pois

existe uma incoerência entre a renda do país (já que vigoramos entre as dez maiores

economias do mundo) e o seu desenvolvimento. Merece atenção a taxa de desemprego

e as diferenças regionais.

Essas são duas questões que exigem grande atenção dos economistas, sociólogos,

educadores, profissionais de saúde, etc., que juntamente aos políticos tratam

diretamente os possíveis arranjos políticas que permitem a distribuição de recursos de

forma condizente com as condições das cinco regiões do país (RAMALHO, 2004b, p.6)

Para saber mais informações sobre o IDH e assuntos relacionados ao desenvolvimento

mundial pesquisem no site da ONU: www.onu.org.

A partir das próximas unidades, discutiremos de que forma o governo pode conduzir sua

política econômica para promover o crescimento, melhorar a desigualdade e atingir

outros objetivos macroeconômicos.

Abordaremos a questão da moeda, juros, política fiscal, mercado de trabalho e câmbio.

Estão curiosos?

Então nos vemos na próxima unidade.

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POLÍTICA MONETÁRIA E INFLAÇÃO

1. Introdução

Iniciamos, a partir desta unidade, o estudo dos instrumentos de política econômica.

Um dos objetivos da Economia é formular propostas para resolver ou minimizar os

problemas econômicos, de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Por

isso, compreender os objetivos de uma política e como os instrumentos disponíveis

são utilizados para alcançá-los é importante para analisar cenários, tomar decisões e

entender como as pessoas são afetadas pelas transformações econômicas e sociais.

As Políticas Econômicas são as ações práticas desenvolvidas pelo governo com a

finalidade de conduzir o sistema econômico. A política econômica é uma “estratégia”; o

governo utiliza seus instrumentos para alcançar seus objetivos. Antes de começarmos a

estudar as políticas, cabe destacar os principais objetivos da política econômica:

• Crescimento da produção e do empregoO crescimento econômico, que estudamos na unidade anterior, é uma das metas mais

importantes a ser perseguida pelos formuladores de política econômica. Quando

a produção do país está crescendo mais rapidamente que a população, diz-se que

a produção por pessoa (ou a renda per capita) está aumentando. Nenhum país

conseguirá melhorar seu nível de renda se não aumentar a produção e, como há uma

correlação entre produção e emprego, o crescimento da produção traz um aumento no

nível de emprego.

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• Controle da inflação (Estabilidade de Preços)Define-se inflação como o aumento contínuo e generalizado dos preços. A inflação

é considerada um problema porque acarreta uma série de distorções, já que afeta

negativamente a renda das pessoas (os mais pobres não conseguem se proteger da

inflação, porque não conseguem aplicar seus recursos no mercado financeiro) e reduz

os prazos das aplicações, o que dificulta a aquisição de empréstimos e de moradia,

afetando os investimentos empresariais e a industrialização. Controlar a inflação não

significa mantê-la igual a zero. Os países não buscam inflação igual a zero, buscam

evitar períodos de aceleração dos preços e manter a inflação em patamares reduzidos

(estabilidade).

• Equilíbrio das contas externasO Balanço de Pagamentos é o registro contábil das transações comerciais e financeiras

que um país tem com o resto do mundo. A busca do equilíbrio nessas contas se faz

necessária para evitar déficits ou superávits excessivos que podem criar dificuldades para

o funcionamento da economia.

• Melhor distribuição da renda É uma meta de médio e longo prazo que ultrapassa a área econômica, envolvendo

as áreas social e política. Vimos que o crescimento econômico constitui um processo

através do qual a renda per capita de uma sociedade aumenta.

Acompanhando o crescimento, ocorre uma série de transformações estruturais de ordem

quantitativa e qualitativa.

Dentre elas destacam-se:

• diminuição das taxas brutas de mortalidade e natalidade, que alteram a estrutura

etária da população e da força de trabalho;

• ampliação do sistema escolar e de saúde; maior acesso aos meios de transporte,

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Universidade Anhembi MorumbiPolítica Monetária e Inflação4

de comunicação e culturais; aumento da produtividade média da economia nos

diferentes setores. Ou seja, é importante que além do crescimento da renda, um

país esteja melhorando seu nível de desenvolvimento econômico e social, através da

melhora dos indicadores sociais (pobreza, desemprego, meio ambiente, moradia

etc.). A diminuição da concentração de renda é de suma importância para a

ampliação dos beneficiários do processo de crescimento econômico.

Para atingir os objetivos de política econômica o governo dispõe de um conjunto de

instrumentos, que são:

· Política Monetária: dividida entre a política de crédito, controle da taxa de juros,

emissões e controle da quantidade de moeda da economia e controle da capacidade

dos bancos emprestarem recursos à sociedade.

· Política fiscal: Dividida na política de gastos públicos (o governo efetua despesas

como pagamento de funcionários, construção e manutenção de escolas, hospitais,

pagamento de juros da dívida interna, etc.) e na política tributária (arrecadação de

impostos e tributos)

· Política Externa: dividida na política cambial (controle da taxa de câmbio) e política

comercial (controle das importações e incentivo às exportações).

· Política de rendas: Controle de preços e salários.

A partir de agora destacaremos cada uma dessas políticas, iniciando pela Política

Monetária.

Vamos lá?

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2. A moeda

A Política Monetária pode ser definida como sendo um conjunto de medidas adotadas

pelo governo com o objetivo de controlar a oferta de moeda e as taxas de juros, de

forma a assegurar a liquidez ideal da economia do país. Antes de estudarmos a política

monetária em si, precisamos entender o conceito e as características da moeda.

Vamos tomar como exemplo o cinema. Para comprar o ingresso você utiliza o dinheiro

que tem no bolso ou no banco, ele é aceito sem nenhum problema. Porém você não

consegue dar a sua roupa como forma de pagamento. Como não se trata de um meio

aceito por todos, o vestuário não pode ser considerado moeda. Esse exemplo simples

serve para conceituar a moeda.

Assim, a moeda pode ser definida como um objeto de aceitação geral utilizado na troca de bens e serviços

2.1 - Evolução da moeda

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a) A Troca de Mercadorias:Nas economias mais antigas uma mercadoria era trocada por outra (escambo).

Com o processo da divisão do trabalho e da especialização, o processo de trocas se

intensificou, pois não se produzia mais de tudo, cada agente dedicava-se à produção

específica de alguns bens e trocava seus excedentes com os produtores dos outros bens.

Esse sistema tinha algumas dificuldades: nem sempre era possível encontrar alguém com

o gosto exatamente inverso para trocar as mercadorias (se eu produzo laranjas e quero

trocar por camisas é difícil encontrar alguém que tenha camisas e queira laranjas).

Ainda que encontre pode não ocorrer coincidência de quantidades a serem trocadas.

Afinal, quantas laranjas valem uma camisa? Além disso, caso não encontre alguém

disposto a trocar pode ocorrer problemas em adquirir bens essenciais (um alfaiate

passará fome se não encontrar um fazendeiro com desejo de adquirir roupas?).

b) Era da Mercadoria Moeda

Dos inconvenientes da troca, começou a ser utilizada uma grande variedade de objetos

como meios de pagamento para facilitar as transações. Determinaram uma mercadoria

que fosse aceita por todos e com quantidade limitada (um certo grau de raridade) para

que tivesse valor. Várias mercadorias foram utilizadas como o sal, o gado, etc.

Essas mercadorias-moeda também foram ineficientes porque geraram problemas como

de transporte, divisibilidade, se alteravam com o tempo e homogeneidade.

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c) Era da Moeda Metálica:Para facilitar as transações comerciais passou-se a utilizar os metais como instrumentos

monetários, em especial o cobre, o ferro e o bronze. Com o tempo esses metais foram

deixados de lado porque oxidavam, eram abundantes e não possuíam valor (reserva de

valor) e foram substituídos por metais mais “nobres” como o ouro e a prata, trazendo

grandes vantagens: moedas eram padronizadas e podiam ser guardadas.

O único inconveniente era o transporte de grandes volumes para longas distâncias em

decorrência do peso e dos riscos de assalto. Lembram-se do Robin Wood?

Para contornar esse inconveniente iniciou-se a utilização da moeda-papel.

d) Era da moeda-papel:Em decorrência dos riscos de carregar tantas moedas de ouro, surgiu as “Casas de

Custódia”, uma instituição na qual as pessoas depositavam os metais e outros valores

sob garantia e recebiam um certificado de depósito. As pessoas passaram a carregar

os tais certificados para efetuar seus pagamentos e quando precisavam, iam a uma

Casa de Custódia e trocavam o certificado pela quantidade de moeda metálica

correspondente.

Com o tempo o uso dos certificados se generalizou e os comerciantes passaram a trocar

diretamente os certificados, fazendo com que estes tomassem o lugar das moedas

metálicas, surgindo então a moeda-papel.

e) A Moeda Fiduciária (ou Papel-Moeda):Os donos da Casa de Custódia começaram a perceber que nem todos os detentores dos

certificados iam fazer a reconversão em metais ao mesmo tempo. Além disso, enquanto

alguns iam fazer a troca por metais outros faziam novos depósitos. Perceberam que

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podiam emprestar o metal de uma pessoa para outra, apenas emitindo certificados.

Desse modo, as casas de custódia passaram a emitir gradativamente certificados sem

que existisse um novo depósito em metal, dando origem à moeda fiduciária ou papel-

moeda. A emissão de papel-moeda por particulares levou esse sistema à ruína e o

Estado passou a assumir o mecanismo das emissões de moeda.

f) Moeda Bancária:Com a evolução do sistema bancário desenvolveu-se outra modalidade de moeda: a

moeda escritural ou bancária. São os depósitos à vista que passam a ser movimentados

por cheques, ordens de pagamento e cartões eletrônicos.

Cabe ressaltar que um cheque ou um cartão eletrônico não são moedas, são formas de

mobilizar ou transferir moeda. E o cartão de crédito, é moeda? Não, e não está ligado à

quantidade de moeda bancária. Mochòn (2006, p.320) faz uma distinção interessante:

quando pagamos uma roupa com cartão de crédito, o banco que emite o cartão paga à

loja a quantia devida e mais tarde temos que pagar ao banco, é um dívida, um crédito.

Já quando emitimos um cheque, o valor é automaticamente reduzido da nossa conta

corrente e este saldo da conta corrente faz parte da moeda bancária.

2.2 - Características da MoedaEsse pequeno histórico permite traçar as seguintes características para a moeda:

- Durabilidade: A moeda deve resistir às inúmeras trocas, não pode se deteriorar.

- Homogeneidade: qualquer unidade monetária deve ser exatamente igual às

demais.

- Divisibilidade: A moeda de uma economia deve possuir múltiplos e submúltiplos,

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para facilitar as transações.

- Mobilidade: facilidade de manuseio e transporte.

- De oferta limitada: qualquer mercadoria se não tiver uma oferta limitada não terá

um valor econômico.

2.3 - Funções da moedaA moeda apresenta três funções básicas:

- Meio ou instrumento de troca: É o intermediário entre as mercadorias. Desde os

primórdios as mais variadas formas de moeda vêm desempenhando essa função,

mesmo quando as moedas eram as próprias mercadorias. A moeda permite que as

trocas sejam indiretas (nos dias de hoje trocamos nossa mão de obra por moeda

para trocá-la pelos bens de nossa livre escolha). Sem a moeda teríamos que trocar

mercadorias por mercadorias (o escambo) e incorreríamos na não coincidência de

desejos e na dificuldade de dividir certos bens. A moeda como meio de troca permitiu

um aumento na eficiência econômica.

- Unidade de Conta: É o referencial das trocas, o instrumento pelo qual as

mercadorias são cotadas. Os bens e serviços assumem a forma de preço que é

expresso em uma unidade monetária comum e com isso podemos comparar o valor

de diferentes mercadorias. Se essa função não existisse seria muito difícil analisarmos

os agregados macroeconômicos.

- Reserva de valor: Possibilidade de transferir poder aquisitivo do presente para

o futuro, ou seja, pode-se guardar moeda hoje para utilizá-la amanhã. A moeda

torna-se um elemento de entesouramento, de estoque de riqueza.

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Cabe destacar que em decorrência da inflação, a moeda é, na verdade, uma reserva

imperfeita de valor. Quanto maior a taxa de inflação, maior a perda do poder aquisitivo

da moeda. Essa questão será melhor detalhada nas seções posteriores.

2.4 - Demanda de moedaVamos analisar porque as pessoas e as empresas mantêm saldos monetários em caixa,

ou seja, porque demandam moeda. Existem três fatores que determinam a demanda

por moeda:

a) Demanda de moeda por motivo transacional:Para realizar as trocas (pagamento das transações) temos a necessidade de utilizar a

moeda. As pessoas não recebem sua renda diariamente, o salário é pago mensalmente

e os pagamentos (os gastos) são efetuados diariamente. Para fazer frente a esta

defasagem entre recebimentos e pagamentos guarda-se moeda para realizar as

transações necessárias.

b) Demanda de moeda por motivo precacional:O segundo motivo para as pessoas e empresas reterem meda é a incerteza quanto aos

recebimentos e pagamentos futuros. Os indivíduos têm incerteza sobre o futuro e detêm

moeda para se precaver de acontecimentos como desemprego, doença, entre outros.

Os dois motivos (transacional e precaução) dependem diretamente da renda, ou seja,

quanto maior a renda do indivíduo, maior as possibilidade de guardar dinheiro.

c) Demanda de moeda para especulação:As pessoas não guardam dinheiro apenas para satisfazer as transações correntes,

mas também para especular com títulos, aplicações, imóveis, etc., ou seja, o indivíduo

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guarda moeda para esperar o melhor momento para adquirir títulos que permitam

rendimento (esperando uma oportunidade de aplicação interessante). Do ponto de vista

de quem retém a moeda, a taxa de juros representa o rendimento.

Assim, podemos estabelecer uma relação entre a taxa de juros e a demanda por moeda.

Quanto menor a taxa de juros, maior o estímulo a guardar o dinheiro esperando uma

oportunidade maior e, quanto maior a taxa de juros, maior será a compra de títulos que

proporcionam rendimento e menor será a demanda por moeda para especulação.

Resumindo, a demanda de moeda depende tanto da renda como da taxa de juros.

Quanto maior a renda, maior será a demanda por moeda e quanto maior a taxa de

juros, menor a demanda por moeda (relação direta com a renda e inversa com a taxa

de juros).

2.5 - A oferta de moedaO governo, por meio da política monetária, atua sobre a oferta de moeda, uma vez

que a demanda é determinada pela sociedade. A moeda é um produto institucional

controlado pelo Banco Central. A oferta de moeda é sinônimo de “meios de

pagamento”, o qual é definido como o estoque de moeda disponível para uso da

sociedade a qualquer momento.

Segundo Mochòn (2006, p.320), a oferta de moeda é a soma do papel-moeda em

mãos do público (metálica e papel), isto é, a quantidade de moeda que os indivíduos e

as empresas possuem mais os depósitos bancos.

A oferta de moeda pode ser dividida entre a oferta de moeda pelo Banco Central e a

oferta de moeda pelos bancos comerciais.

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I. A oferta de moeda pelo Banco Central:O Banco Central de um país é a instituição financeira que funciona como o banco dos

bancos e o banco do governo. Através dele o país assegura a estabilidade da moeda e

o controle do crédito. Um Banco Central apresenta as seguintes funções básicas:

- “Banco emissor”: responsável pelo controle da oferta monetária. Possui o

monopólio da emissão de moeda nacional.

- “Banco dos bancos”, já que é o órgão em que os bancos depositam seus fundos

e transferem fundos de um banco para outro (pela câmara de compensação de

cheques); também é o Banco Central que empresta dinheiro aos bancos.

- “Banco do Governo”: é o canal que o governo tem para implementar a política

monetária e administração do câmbio e das reservas de divisas internacionais do

país.

- Regulador do sistema financeiro: responsável por autorizar o funcionamento

de instituições financeiras como bancos comerciais, múltiplos, as Distribuidoras

de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs) e as Financeiras, além de fiscalizar suas

operações de acordo com a regulamentação estabelecida.

O Banco Central do Brasil, também referido como Bacen, foi criado como instituição

financeira federal pela lei n° 4.595 de 31/12/1964, em substituição à Sumoc

(Superintendência de Moeda e Crédito). Sua função principal é executar a política

monetária formulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e para tanto dispõe de

alguns instrumentos que veremos a seguir.

II. A Oferta de moeda pelos bancos comerciais:Além do Bacen, os bancos comerciais também podem afetar a oferta de moeda, já

que grande parte das transações são realizadas por meio de cheques e ordens de

pagamento. A utilização generalizada de cheques e meios eletrônicos de pagamento

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faz com que a maior parte do volume de moeda do sistema permaneça nos bancos e

apenas uma parcela pequena desse total é representada por saques. Dessa forma os

bancos comerciais podem fazer promessas de pagamentos com os recursos depositados

por seus clientes e “criando moeda” através do mecanismo “multiplicador dos depósitos

à vista”.

Como assim? Vamos explicar através de um exemplo.

Os depósitos bancários podem ser divididos em:

Depósitos = Reservas + Empréstimos

Considere um depósito inicial em dinheiro de R$ 100,00 e uma taxa de reserva de 40%.

Destes R$ 100,00, R$ 40,00 são destinados para reservas e R$ 60,00 são emprestados.

Estes R$ 60,00 retornam ao banco na forma de novo depósito e R$ 24,00 (40%) viram

reservas e R$ 36,00 são reemprestados. Estes R$ 36,00 voltam ao sistema na forma

de depósitos e 40% (R$ 14,40) vão para as reservas e o restante (R$ 21,60) pode ser

emprestado... e assim sucessivamente, até que o saldo a ser emprestado seja zerado.

Os R$ 100,00 iniciais se multiplicaram!!! O efeito multiplicador desse depósito inicial

pode ser simplificado pela fórmula:

Efeito Multiplicador:

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No nosso exemplo: m = 1/0,4 = 2,5

Ou seja, o depósito inicial de R$ 100,00 gerou um total de depósitos no banco de R$

250,00 (2,5 x R$100,00).

Outra forma de chegarmos a esse valor seria somar todos os depósitos criados, ou seja,

R$ 100,00 + R$ 60,00 + R$ 36,00 + R$ 21,60 + .... = R$ 250,00

As reservas que os bancos constituem sobre os depósitos são de dois tipos:

- Reservas Compulsórias: é a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados

legalmente a depositar junto ao Bacen para fazer frente às suas obrigações.

- Reservas voluntárias e Encaixes (caixa): recursos que os bancos mantêm por

opção, sem obrigação legal

Uma observação importante a ser feita sobre nosso exemplo. Consideramos um

depósito inicial de R$ 100,00 em espécie (papel moeda). Quando se trata de

depósitos em cheque, não há mudança na oferta de moeda, o que ocorre é apenas a

transferência de um valor de uma conta para outra.

2.6 - Instrumentos da política monetáriaA política monetária refere-se às decisões das autoridades monetárias quanto à oferta

de moeda e a taxa de juros da economia. Para tanto, o Banco Central utiliza-se dos

seguintes instrumentos:

a) Operações de Mercado Aberto (Open Market):

As operações de mercado aberto representam a compra e venda de títulos públicos pelo

Bacen junto ao mercado de capitais.

Por exemplo, quando o Bacen vende títulos do governo ao público, está diminuindo a

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oferta de moeda, já que os títulos são pagos em dinheiro, o que restringe a liquidez

monetária do país. E, quando o Bacen recompra os títulos está ampliando a oferta de

moeda, já que para pagar pelos títulos, coloca na economia mais moeda em circulação,

o que expande a liquidez monetária.

O esquema abaixo ajuda a ilustrar a situação de venda de títulos:

Com mais títulos em circulação, o governo terá que pagar os juros destes papéis aos

seus compradores e, portanto, a dívida pública é afetada diretamente.

As operações de open market são o mecanismo mais utilizado no Brasil para se fazer o

controle diário da oferta de moeda.

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b) Depósito Compulsório:Vimos quando estudamos o multiplicador bancário que os bancos comerciais guardam

certa parcela de seus depósitos no Banco Central, essa reserva é chamada de Depósito

Compulsório. A taxa de depósito compulsório é fixada pelo Bacen e permite atuar

sobre a capacidade de criação de moeda por parte dos bancos comerciais, é através

da definição da taxa de reserva que o Banco Central pode aumentar ou diminuir a

capacidade dos bancos comerciais de “criar” moeda.

Por exemplo, se o Banco Central aumentar a taxa de reserva, os bancos comercais terão

que enviar mais dinheiro ao Banco Central para cada depósito efetuado, o que diminui

as disponibilidades dos bancos emprestarem, diminuindo o multiplicador bancário, a

criação de moeda e a oferta monetária. No contrário, se a taxa do depósito compulsório

diminuir, a oferta monetária se expande.

O esquema a seguir ajuda a compreender esse mecanismo:

Essa é uma medida do Bacen não só de controlar a maior ou menor liquidez da moeda

na economia, mas também de assegurar a garantia dos cidadãos (pessoa física) ou

empresas (pessoa jurídica) que mantém suas reservas nos bancos.

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Assim, o Bacen controla a chamada solvência dos bancos, os quais devem prestar

constas de quanto recebem de depósitos e quanto emprestam. Diante dessa condição,

um banco comercial consegue liquidar os resgates dos depositantes que confiaram na

instituição como local para guardar a sua reserva de valor.

Uma instituição bancária que não consegue honrar seus compromissos e “quebra” deixa

muitos cidadãos e empresas em situação difícil de honrar também seus compromissos

de gastos e ou investimentos, o que é muito ruim para a economia como um todo.

É principalmente essa a atribuição da regulamentação do Bacen sobre os bancos

comerciais, que inclusive tem o direito e o dever de intervir nos casos em que os bancos

não obedecem ao depósito compulsório (RAMALHO, 2004).

c) Taxa de redesconto:

As taxas de redesconto são taxas cobradas pelo Bacen para emprestar recursos aos

bancos em casos de emergência (empréstimos de assistência à liquidez para cobrir as

insuficiências de caixa diante a demanda de recursos pelos depositantes).

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São dois tipos de redesconto: o redesconto de liquidez (ou normal), que visa socorrer os

bancos quando ocorre um eventual saldo negativo na conta de depósitos voluntários,

ou seja, quando o banco comercial está com problemas de liquidez, emprestou mais do

que recebeu; e o redesconto especial, usado para incentivar alguns setores específicos

da economia, ou seja, o Bacen abre uma linha de crédito aos bancos comerciais, desde

que estes utilizem essa verba adicional em setores específicos (por exemplo para a

exportação).

A taxa de redesconto é usada para controlar a oferta de moeda. Por exemplo, uma taxa

de redesconto elevada representa um desestímulo ao aumento de empréstimos por parte

dos bancos comerciais, porque os bancos sabem que se emprestarem demais e tiverem

problemas de caixa terão que recorrer ao Banco Central e a taxa desse “socorro” está

muito elevada, não representando uma vantagem na operação. Os bancos tendem

então a deixar um montante para insuficiências (aumentar suas reservas voluntárias), o

que diminui a capacidade de emprestarem e a oferta monetária.

No sentindo inverso, uma redução na taxa de redesconto induz os bancos a tomarem

mais reservas emprestadas, expandindo a oferta de moeda na economia.

d) Controle seletivo de Crédito: O Banco Central pode controlar o volume da distribuição de linhas de crédito através da

política de juros, controle de prazos (por exemplo, pode estabelecer uma regra em que

um financiamento de veículo não pode ultrapassar 60 meses), controle de limites (por

exemplo, o Banco Central pode estabelecer que os bancos podem financiar no máximo

70% da compra de automóveis) e condições para financiamento.

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2.7 - Política Monetária e a Taxa de JurosA Taxa de juros é o que se ganha pela aplicação de recursos durante determinado

período de tempo, ou, aquilo que se paga pela obtenção de recursos de terceiros.

A taxa de juros afeta as decisões de consumo:

- Famílias: taxas de juros elevadas representam prestações mais altas para

adquirir um bem e levam a um aumento na poupança e redução no consumo.

- Empresas: taxas de juros elevadas tornam o custo do empréstimo elevado e

fica mais atraente aplicar no mercado financeiro do que na atividade produtiva,

reduzindo

os investimentos.

- Governo: juros altos afetam a dívida pública, o custo da rolagem dessa dívida

fica elevado, pressionando as contas do governo.

Uma redução na oferta de moeda faz com que a taxa de juros praticada pelo mercado

aumente, pois ao se escassear o dinheiro, os demandantes dispõem-se a pagar taxas de

juros mais elevadas pelo dinheiro disponível.

Com base nesta relação entre taxa de juros e quantidade de moeda, podemos classificar

a política monetária em:

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3 - InflaçãoAntes de conceituarmos a inflação, precisamos esclarecer que ela tem mais a ver com

o valor da moeda do que com o valor dos bens. Diversas vezes ouvimos nos noticiários

o comportamento de um índice de inflação e sempre apontam quais itens da cesta de

consumo da população são os responsáveis pela alta do índice.

Então é comum sabermos dos preços aumentados dos alimentos, do combustível,

das roupas de inverno ou da temporada de Natal que aquece as vendas. Porém, é

importante reforçar que a inflação é um fenômeno econômico abrangente que diz

respeito, em primeiro lugar, ao valor do meio de troca da economia, ou seja, da moeda.

A inflação representa a elevação no preço de todos os bens produzidos na economia

e não o aumento do preço de um bem específico , por isso dizemos que a inflação é o

aumento generalizado e contínuo no nível de preços.

Segundo Ramalho (2004) o nível de preços geral da economia pode ser visto de duas

maneiras. Ele é o preço de uma cesta de bens e serviços que quando aumenta as

pessoas precisam pagar mais pelos bens e serviços que compram. Ele também pode

ser visto como uma medida do valor da moeda. Desse ângulo, um aumento do nível de

preços significa uma redução no valor da moeda porque cada real que o indivíduo tem

na carteira compra uma quantidade menor de bens e serviços.

O processo inflacionário causa muitos problemas para a economia, e especialmente

ajuda a acentuar as distorções na distribuição de renda. As pessoas que possuem

rendimentos fixos sofrem uma perda do poder aquisitivo, por exemplo, um assalariado,

com o passar do tempo, tem seu orçamento comprometido, visto que seu rendimento se

mantém inalterado e o preço dos bens que consome sofre elevações.

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Os trabalhadores de baixa renda sofrem mais ainda, porque não têm condições de se

proteger colocando, por exemplo, o dinheiro em uma aplicação financeira, visto que

consomem praticamente tudo o que ganham.

Quando temos o efeito inverso, ou seja, quando ocorre uma queda persistente no nível

de preços, temos o fenômeno da Deflação.

3.1 - Tipos de InflaçãoTradicionalmente podemos identificar três tipos de inflação:

a) Inflação de DemandaSegundo Lanzana (2001, p.104), a inflação de demanda é causada por um excesso de

procura em relação à oferta disponível. Para Luque e Vasconcellos (2005, p.339), ela

pode ser entendida como “dinheiro demais em busca de poucos bens”.

Os fatores que podem causar esse tipo de inflação são:

• Aumento da renda disponível: pode ocorrer através do aumento real dos

salários ou uma redução na carga tributária. Nesses dois casos, o indivíduo teria mais

renda para destinar ao consumo, o que aquece o mercado e provoca um aumento

generalizado no nível dos preços

•Expansão dos gastos públicos: quando o governo utiliza seus recursos para

adquirir bens e serviços, ampliar investimentos, entre outros projetos, está “injetando”

dinheiro na economia, o que pressiona o nível de demanda agregada da economia

e pode contribuir para o processo de inflação.

•Expansão do crédito e redução das taxas de juros: estas duas medidas

estimulam os empréstimos e consequentemente ampliam o nível de investimentos das

empresas e o consumo das famílias (as vendas a prazo), o que estimula os mercados

e contribui para a inflação.

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• Expectativa dos agentes econômicos: quando os agentes econômicos têm uma

expectativa sobre algum acontecimento que pode levá-los a antecipar suas compras,

ocorre uma pressão sobre o nível de demanda agregada e por consequência gera

inflação.

A política preconizada para combater esse tipo de inflação assenta-se nos instrumentos

que provoquem a redução no nível de demanda agregada. De forma direta, o

governo pode reduzir seus gastos e indiretamente pode usar os instrumentos de política

monetária para desencorajar o consumo e o investimento, através de medidas que

diminuam a quantidade de moeda da economia ou ainda através de um aumento nas

taxas de juros e restrições ao crédito. Também pode aumentar a carga tributária, assim

contribuindo para reduzir a renda disponível.

b) Inflação de Custos:A inflação de custos é causada por pressões nos custos de produção e o consequente

repasse para os preços. Está associada, portanto, ao lado da oferta.

Podemos destacar algumas razões que contribuem para o aumento dos custos e podem

contribuir para a elevação no nível de preços:

•Desvalorização cambial: muitos processos produtivos utilizam matéria-prima

importada. O aumento da taxa de câmbio torna estes produtos mais caros dentro do

território nacional, com isso os custos aumentam.

•Aumento do custo da mão de obra: quando há um aumento salarial os custos se

elevam.

•Aumento de impostos: o aumento das alíquotas dos impostos provoca diretamente

um aumento nos custos dos produtores.

•Aumento da taxa de juros: dado que as empresas utilizam capital de terceiros para

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financiar parte de sua produção, a taxa de juros que ao mesmo tempo contribui para

reduzir a demanda, pode elevar os custos de produção.

•Preços externos: os produtos importados podem subir de preço (em dólares) o que

amplia o gasto com os insumos de produção; é o que ocorre, por exemplo, quando

aumenta o preço do petróleo ou do trigo no mercado internacional.

c) Inflação Inercial:Segundo Lanzana (2001, p.106) este tipo de inflação ocorre independente de pressões

de demanda ou de custos e está associada aos mecanismos de indexação da economia,

ou seja, à prática de reajustar preços a partir da constatação da existência da inflação.

Os mecanismos de indexação podem ser formais ou informais. Os mecanismos

formais estão presentes nos contratos como, por exemplo, os aluguéis, financiamento

de imóveis, veículos, etc., nos quais os preços de hoje são reajustados com base na

inflação passada, assim paga-se hoje o valor combinado no início do contrato mais

a atualização monetária através da aplicação de um índice de preços (ou outro

indexador). Já os mecanismos informais ocorrem quando as pessoas aumentam os

preços simplesmente porque os outros também o fizeram.

Se esses mecanismos de inflação estiverem disseminados pela economia, ou seja, se

vários produtores utilizarem esses mecanismos de indexação, dificilmente ocorrerá uma

queda na inflação, pois a inflação passada se perpetua por meio do aumento dos

preços no presente. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2006, p.120) a

inflação nesse caso tende a ser constante (u inercial) se não existirem outros choques de

oferta ou de demanda que façam os preços aumentarem ainda mais do que ocorreria se

apenas os mecanismos de indexação estiverem operando.

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3.2 - Inflação e moeda: a Teoria Quantitativa da MoedaExistem diversas teorias sobre a inflação, nenhuma delas isoladamente é suficiente para

explicar o processo inflacionário que o Brasil viveu entre as décadas de 1970 e 1990.

Dado o conceito clássico de inflação que apresentamos na unidade, vamos nos prender

na visão monetarista. A teoria clássica da inflação define o conceito de inflação através

da chamada Teoria Quantitativa da Moeda.

O primeiro pensador a tratar a teoria quantitativa da moeda foi David Hume, filósofo

do século XVIII que já ensaiava reflexões diante dos aspectos da economia. Porém, o

economista que tratou com muita propriedade a teoria quantitativa da moeda foi Milton

Friedman, Prêmio Nobel de economia em 1976, que nos idos dos anos 1960 deu

grande contribuição científica ao tratar o fenômeno da inflação (RAMALHO, 2004).

A Teoria Quantitativa da moeda afirma que o nível de preços é determinado pela

quantidade de moeda em circulação. Essa relação é representada pela fórmula:

Sendo:

M = volume de moeda (meios de pagamento) existente na economia

V = velocidade de circulação da moeda (número de vezes que a moeda “troca de mão”

em determinada unidade de tempo

P = nível de preços da economia

Q = quantidade produzida pela economia

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A equação quantitativa diz que a quantidade de moeda (M) multiplicada pela velocidade

da moeda (V) é igual ao preço de produção (P) multiplicada pela quantidade total

produzida (Q).

Essa equação revela que um aumento na quantidade de moeda (M) deve se refletir em

uma das outras três variáveis; como a velocidade de circulação da moeda é considerada

constante no curto prazo, o aumento na quantidade de moeda deve ser compensado ou

pelo aumento no nível de preços ou pelo aumento na quantidade produzida.

Quando o governo coloca em circulação uma quantidade de moeda superior às

necessidades da produção, o efeito é o aumento no nível de preços, ou seja, a Teoria Quantitativa da moeda mostra que existe uma relação direta entre a quantidade de moeda e a inflação.

Vamos a um exemplo:

Considere inicialmente que a velocidade de circulação da moeda seja 1 e que o nível de

produção seja 100. Se a quantidade de moeda em circulação for 200, teremos:

Para essa quantidade de moeda, o nível de preços tem que necessariamente ser igual

a 2. O que aconteceria se o governo emitisse mais moeda aumentando o volume

existente no mercado para M = 400?

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Universidade Anhembi MorumbiPolítica Monetária e Inflação26

Assim, para os monetaristas, a causa básica da inflação é a emissão de moeda em um

ritmo superior às necessidades da economia. Essa emissão é causada pelo déficit do

setor público, que para financiar seus gastos emite moeda.

A ideia do governo emitir moeda como meio de obter receitas para pagar suas dívidas

é chamada de imposto inflacionário. Essa atitude, via de regra, expande os meios de

pagamento, o M da equação quantitativa, o que resulta na elevação dos preços da

economia. Se M aumentou, preservando-se a igualdade de MV = PY, o nível de preços

P aumenta, ou seja, há inflação. Nessa situação, os indivíduos perdem o poder aquisitivo

imediatamente, uma vez que a mesma quantidade de moeda que o seu salário

representa não compra mais a mesma cesta de bens e serviços que anteriormente

comprava.

A solução proposta pelos monetaristas para reverter o processo inflacionário seria o

combate ao déficit público e o controle da quantidade de moeda.

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Universidade Anhembi MorumbiPolítica Monetária e Inflação27

Para entender melhor o papel dos gastos do governo sobre a economia precisamos

estudar a política fiscal e analisar os conceitos de déficit público. Mas vamos deixar isso

para outra unidade, que tal?

Encontro vocês lá!!

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Universidade Anhembi MorumbiPolítica Fiscal e o Déficit Público2

POLÍTICA FISCAL E O DÉFICIT PÚBLICO

1. Introdução

Na unidade anterior, apresentamos os objetivos da política econômica e que para serem

atingidos o governo dispõe principalmente das políticas monetária e fiscal.

A Política monetária já foi abordada e com ela discutimos o papel do Banco Central no

controle da oferta de moeda e o papel dos juros para regular a economia.

O governo também atua na economia de forma mais direta através da política fiscal, ou

seja, através da administração da receita e dos gastos públicos.

Compreender os conceitos básicos da política fiscal é de extrema importância para o

entendimento de notícias sobre arrecadação de impostos, gastos do governo, déficit

público, superávit primário, entre outros.

Pareceu complicado? Você verá que não é.

Vamos lá?

2 - O Papel do Estado

Antes de discutirmos a política fiscal, precisamos compreender o papel do Estado na economia.

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O Estado tem muita interferência na economia, uma vez que ele tem o papel de apontar como a sociedade deve estar organizada para interagir no mercado que produz e comercializa os bens e serviços.

Ao longo da história, a interferência do Estado na Economia é crescente, já que com o crescimento da população, aumenta a necessidade de gastos com saúde, educação, moradia e transporte.

Além disso, com o desenvolvimento da tecnologia e com a expansão das empresas, a demanda por infraestrutura é crescente (e geralmente a competência da geração destes bens e serviços é do Estado); fatores políticos e sociais também exigem uma atuação direta do Estado, já que, por exemplo, faz-se necessária a adoção de políticas que diminuam a desigualdade de renda.

Com a rápida evolução desses fatores associada ao amadurecimento do mercado financeiro, ao processo de globalização e intensificação do comércio exterior, a economia de mercado passou a não cumprir adequadamente algumas funções, o que justifica a participação ativa do Estado na economia.

De modo geral, podemos identificar três funções básicas para o setor público:

• Função AlocativaEstá associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos adequadamente pelo

sistema de mercado. São diagnosticadas algumas falhas no sistema econômico que o

mercado, isoladamente, não consegue dar conta.

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O governo passa a complementar a ação do mercado, corrigindo as falhas

identificadas. As principais falhas são:

• Externalidades: Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2006, p.8) “as

externalidades correspondem ao fato de que a ação de determinados agentes pode

ter impactos sobre o resultado almejado por outros agentes”.

Esses impactos podem ser positivos ou negativos.

As externalidades positivas surgem quando uma atividade cria benefícios para

as outras pessoas, sem que estas precisem pagar por eles. Um exemplo clássico,

apresentado por Wessels (2002, p.171), é o cultivador de maçãs vizinho de um

produtor de mel. A florada da maçã aumenta a disponibilidade de néctar para as

abelhas o que aumenta a produtividade de mel e o produtor de maçã não tem como

cobrar por isso. Assim, a produção de maçã gera uma externalidade positiva à

produção de mel.

As externalidades negativas, por sua vez, surgem quando uma atividade impõe

custos não indenizados às pessoas. Um exemplo disso é a poluição que a produção

industrial causa aos riachos. O governo pode intervir para minimizar a geração

das externalidades, tributando o causador do problema e recompensar os agentes

afetados.

• Economias de escala: “Situação em que o aumento da produção de

determinado bem, por uma única empresa, leva à redução do custo médio

por produto, ocasionando no limite o aparecimento dos monopólios naturais”

(GREMAUD, VASCONCELLOS e TONETO JUNIOR, 2006, p.195).

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Vimos quando estudamos as estruturas de mercado que o monopólio é ineficiente

por permitir que o produtor tenha lucros maiores peça cobrança de um preço

mais elevado. O Estado pode intervir, regulando a atuação desses monopólios ou

ainda tornando-os monopólios públicos (estatais), de modo a corrigir essa perda de

eficiência e garantir o acesso ao produto ou serviço por um preço mais baixo.

• Bens públicos: “São bens de consumo coletivo, que têm por principal

característica a impossibilidade de excluir determinados indivíduos de seu consumo,

uma vez delimitado o volume à disposição do público” (VASCONCELLOS, 2002,

p.392).

Quando adquirimos uma camiseta, pagamos por ela. Outra pessoa, que não pagou

pelo bem, está excluída de seu consumo e mesmo que quisesse comprar a camiseta,

teria acesso a outra peça, pois a peça adquirida por nós não está mais disponível.

Nesse caso, o consumo de um bem é excludente, pois o consumo realizado por uma

pessoa exclui automaticamente o consumo por outros. Esse princípio da exclusão é

reforçado pelo sistema de preços, pois serão os preços estabelecidos pelo mercado

que selecionará os agentes que consumirão o bem.

Alguns bens e serviços são fornecidos pelo Estado para evitar o princípio da exclusão,

são os bens públicos. Um exemplo é o caso da segurança nacional que é oferecida

para todos e os seus custos são repartidos de forma compulsória entre toda a

sociedade.

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• Função DistributivaO governo funciona como agente redistribuidor de renda à medida que, por meio da

tributação, retira recursos dos segmentos mais ricos da sociedade e os transfere para os

segmentos menos favorecidos (GARCIA, 2005, p.521).

Essa transferência pode ser direta, como por exemplo, a previdência social, ou na forma

de redirecionamento na oferta de bens públicos, como por exemplo, um programa de

saneamento de favelas.

• Função Estabilizadora “Está relacionada à intervenção do Estado na economia para alterar o comportamento

dos níveis de preço e emprego, pois o pleno-emprego e a estabilidade de preços

não ocorrem de maneira automática” (GARCIA, 2005, p. 522). Assim, o Estado

deve controlar os grandes agregados econômicos, evitando excessivas flutuações

e procurando diminuir os efeitos das quedas da atividade produtiva.

Diante destas funções, observamos a importância do Estado para a economia e a

sociedade. Nos países em desenvolvimento, essa atuação é ainda mais relevante,

visto que estes países têm um longo caminho a percorrer para alcançar o nível

de competitividade que traga ganhos significativos à economia e para reduzir as

desigualdades sociais, melhorando a vida de todos.

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3. Política FiscalA política fiscal representa todos os instrumentos de que o governo dispõe para a

arrecadação de tributos (política tributária) e o controle de suas despesas (política de

gastos).

Entende-se por política fiscal a atuação do governo no que diz respeito à arrecadação

dos impostos e administração dos seus gastos.

A forma como estas duas políticas, tributária e de gastos, são usadas afeta diretamente o

comportamento da economia.

Quando o governo tem por objetivo estimular o crescimento econômico e a criação de

empregos, adota medidas fiscais para elevar a demanda agregada da economia, ou

seja, adota uma política fiscal expansionista, caracterizada por um aumento nos gastos

públicos e/ou redução nos impostos.

Já quando o governo tem por objetivo o controle da inflação, as medidas fiscais vão no

sentido inverso, ou seja, adota-se uma política fiscal contracionista ou restitiva, com a

ampliação da carga tributária (o que inibe o consumo das famílias e o investimento das

empresas) e/ou a redução dos gastos públicos.

Se o objetivo for melhorar a distribuição da renda, esses instrumentos são usados de

forma seletiva, em benefício das pessoas menos favorecidas, como por exemplo, gastos

públicos concentrados em regiões mais pobres da cidade, ou a cobrança de impostos

proporcional à renda das pessoas (quem ganha mais pagaria mais impostos e quem

ganha menos, pagaria menos).

Entende-se por política fiscal

a atuação do governo no que

diz respeito à arrecadação dos

impostos e administração

dos seus gastos.

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3.1 - Política Tributária: As Receitas Públicas

O sistema tributário é um importante instrumento que possui três funções básicas:

• Gerar recursos para financiar os gastos públicos

• Redistribuição de Renda: Ao definir quem na sociedade paga impostos, o governo

pode diminuir a concentração de renda (por exemplo, arrecadar impostos junto

aos ricos para financiar gastos dos pobres).

• Eficiência econômica e estímulo ao desenvolvimento: deve criar o mínimo de

distorções possíveis e evitar contrações no nível de investimentos (exemplo, o

governo pode aumentar a alíquota de um setor para diminuir o consumo deste

bem – cigarro - e pode subsidiar outro - leite - para estimular sua produção e o

consumo).

A política de arrecadação deve seguir os princípios da Teoria da Tributação:

- Princípio da neutralidade:As decisões sobre alocação de recursos se baseiam nos preços relativos determinados

pelo mercado. A neutralidade dos impostos seria obtida quando eles não alterassem os

preços relativos, minimizando sua interferência nas decisões econômicas dos agentes

de mercado. Assim, um dos objetivos do sistema tributário é não ter impactos negativos

sobre a eficiência econômica (GARCIA, 2005, p.522).

- Princípio do benefícioAs pessoas devem pagar impostos em proporção aos benefícios que recebem do

governo. A lógica desse princípio é que, com exceção dos mais pobres, não é certo

beneficiar um grupo de pessoas a custo de outros - os que obtêm o benefício de um

programa governamental devem pagar por ele. Uma aplicação desse princípio são os

serviços públicos que utilizam taxas específicas (exemplo: energia, abastecimento de

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água, transporte, etc.). Um problema de implementação desse princípio é a dificuldade

de identificar em alguns casos a demanda individual pelo bem público.

- Princípio da capacidade de pagamento:As pessoas devem contribuir com impostos de acordo com a sua capacidade de

pagamento. O Imposto de Renda (IR) é um exemplo da aplicação desse princípio. As

medidas utilizadas para auferir a capacidade de pagamento são: renda, consumo e

patrimônio (VASCONCELLOS, 2002, p.394).

3.1.1 - Tipos de ImpostosA arrecadação ocorre através da cobrança de Impostos. Existem vários tipos de impostos

que podem variar pela forma de incidência, pela base de incidência e pelo impacto

sobre a renda.

A) Forma de incidênciaOs impostos podem ser:

1. Diretos: Incidem diretamente sobre o agente pagador (contribuinte). Os principais

impostos deste tipo são os impostos sobre a renda (Impostos de Renda - IR) e os

impostos sobre a riqueza (propriedade) como o Imposto sobre a Propriedade de

Veículos (IPVA), Imposto sobre a Propriedade Territorial e Urbana (IPTU) e Imposto

sobre a Propriedade Rural (ITR).

2. Indiretos: Incidem sobre a compra de bens e serviços, afetando o contribuinte

indiretamente. Exemplos: Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre

Circulação de Mercadorias (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) etc.

Os impostos indiretos são divididos em impostos específicos (valor fixo em dinheiro,

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independente do valor do bem) ou impostos de valor (alíquota fixa – em

porcentagem - sobre o preço do bem).

B) Base de incidência

1. Imposto sobre valor adicionado: impostos cuja base de incidência é o valor

adicionado do bem na cadeia produtiva, isto é, o que cada etapa agrega ao valor do

produto (ex: IPI, ICMS), ou seja, desconta-se o valor do imposto cobrado nas etapas

anteriores do processo produtivo. Por exemplo, um produtor de suco de laranja,

paga ICMS sobre o suco vendido, mas desconta o valor do ICMS pago quando

comprou a laranja (matéria-prima) para sua produção, ou seja, ele recolherá

somente o imposto referente à diferença entre os impostos que incidiram sobre

sua matéria-prima e sobre sua venda, pagará somente os impostos sobre o valor

adicionado de sua produção.

2. Imposto em “cascata”: são cobrados indistintamente de todos os agentes.

Considerando o mesmo exemplo do suco de laranja, teríamos um imposto em

cascata se o produtor de laranjas recolher seus impostos sobre seu faturamento (suas

vendas) e o produtor de sucos também, sem que haja o abatimento do montante de

imposto que já pagou ao comprar as laranjas.

C) Impacto sobre a Renda

1. Imposto Progressivo: quando a participação (proporcional) dos impostos

aumenta quando se eleva a renda, ou seja, paga mais quem ganha mais. Ex.:

Imposto de Renda, cujas alíquotas crescem conforme aumenta o nível de renda do

indivíduo.

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2. Imposto Regressivo: A participação dos impostos na renda do indivíduo

diminui conforme a renda aumenta, ou seja, as classes de menor poder aquisitivo

pagam proporcionalmente mais. Ex.: IPI de um produto, se duas famílias comprarem

o mesmo produto, vão pagar o mesmo imposto, mas se levarmos em conta a renda,

a família com menor poder aquisitivo terá uma participação maior do imposto no

total da sua renda (o imposto pesará mais no orçamento).

3. Imposto proporcional ou neutro: quando a participação do imposto na renda

dos indivíduos é a mesma independente do nível de renda.

3. 2 - Gastos do Governo Os gastos do governo podem ser divididos em gois grandes grupos:

• Despesas correntes:

Gastos realizados com o objetivo de manter a máquina governamental funcionando.

São divididas em:

A) Consumos do governo: pagamento de funcionários públicos, despesas com

manutenção do aparato público (energia elétrica, materiais, merenda escolar,

remédios em hospitais, etc.).

B) Subsídios: Gastos com o objetivo de garantir ao consumidor preços inferiores

ao custo de produção. O produtor recebe o valor integral, sendo uma parte paga

pelo consumidor e outra pelo governo. Ex. subsídio do trigo - para que alguns

bens essenciais como o pão não pressionassem os orçamentos das classes menos

favorecidas, embora todos os consumidores fossem beneficiados (LANZANA, 2001,

p.25).

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C) Transferências: referem-se às despesas que são efetuadas pelo setor público e

destinadas ao setor privado, sem a contraprestação de serviços ou fornecimento de

bens, como é o caso do seguro-desemprego e a assistência social.

D) Juros: incluem tanto o pagamento de juros da dívida interna quanto externa

(juros referentes ao endividamento do setor público).

• Despesas de Investimentos: Despesas efetuadas para aumentar a capacidade de produção de bens e serviços no

país (construção de hidrelétricas, rodovias, hospitais, escolas etc.).

Lanzana (2001) faz uma reflexão importante sobre os gastos públicos brasileiros. Ele

mostra que o Brasil tem uma excessiva rigidez do gasto público, ou seja, grande parte

dos gastos são despesas correntes com o consumo do governo e juros, o que impede

cortes expressivos.

O governo dispõe de uma parcela muito pequena da receita para operar livremente, a

maior parte dos recursos arrecadados é destinada a gastos já comprometidos e que não

podem ser cortados, seja por sua essencialidade, seja por medidas legais.

Algumas despesas apresentam vinculações impostas por lei, ou seja, existem

porcentagens de arrecadação que já têm destinação garantida, como por exemplo,

existe uma porcentagem da arrecadação que precisa ser destinada à saúde e à educação.

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4 - Orçamento do Setor PúblicoQuando consideramos as duas políticas que formam a política fiscal, ou seja, quando

tratamos da descrição detalhada da arrecadação dos impostos e dos gastos públicos,

estamos tratando do Orçamento público.

O total arrecadado por um país é chamado de Carga Tributária.

Quanto ao saldo orçamentário, podemos ter déficit (falta de recursos) ou superávit

(sobra de recursos). Assim:

Se receitas forem maior que os gastos = teremos um superávit orçamentário

Se gastos forem maior que as receitas = teremos um déficit orçamentário

Se receitas forem iguais aos gastos = teremos um orçamento equilibrado

4. 1 - Déficit e Dívida PúblicaO orçamento público total do país não considera apenas as receitas e gastos do governo

federal, estão incluídas todas as esferas: federal, estadual, municipal, firmas estatais e

previdência social.

Antes de discutirmos a questão do Brasil, vale conhecer os diferentes conceitos de déficit:

• Déficit Nominal (ou total):É o conceito mais utilizado no mundo, mas não no Brasil. É a diferença entre o total

arrecadado e o total de gastos públicos, diferença esta calculada como porcentagem

do PIB. Como inclui as despesas com correção monetária e cambial das dívidas, sua

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utilização fica prejudicada em países com alta inflação, porque o déficit aumenta,

mesmo que a dívida em termos reais não esteja aumentando.

• Déficit Operacional:No lado das despesas são excluídos os gastos com correção cambial e monetária

das dívidas interna e externa. É considerada a medida mais adequada para refletir as

necessidades de financiamento do setor público.

• Déficit primário:Exclui, além da correção monetária e cambial, os juros reais das dívidas interna

e externa, refletindo a situação das contas públicas, caso o governo não tivesse

dívida. (exclui-se os gastos financeiros). É chamado também de déficit fiscal, por

incluir apenas as receitas e despesas do exercício, excluindo as despesas com juros e

correções das dívidas passadas.

O esquema abaixo ajuda a entender a formação destes conceitos:

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O Brasil tem por meta alcançar um superávit primário, ou seja, as receitas do exercício

devem superar as despesas, para que a poupança gerada ajude no pagamento dos

juros da dívida pública.

Quando são adicionados os juros, o Brasil passa a incorrer em déficit, o superávit

primário gerado não é suficiente para arcar com os juros da dívida, fazendo com que o

país tenha que financiar este déficit.

4.2 - Financiamento do Défict - Dívida Pública

Quando incorre em déficit é preciso financiá-lo de alguma forma. Basicamente existem

duas formas de financiamento: emissão de moeda e venda de títulos públicos.

• aumenta a pressão inflacionária

• Não aumenta a dívida pública

• não gera pressão inflacionária

• aumenta a dívida interna (afeta

os déficits futuros)

Emissão de Moeda

(monetização da dívida)

Emissão de Títulos

Públicos

CONSEQUÊNCIAS

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A Emissão de moeda é uma forma inflacionária de financiamento dos gastos públicos

(gera-se o imposto inflacionário, discutido na unidade anterior), mas não aumenta o

endividamento público. Também é conhecida como monetização da dívida.

Já a emissão de títulos representa a emissão e venda de títulos públicos ao setor

privado. O governo troca títulos por moeda que já está em circulação, o que evita

pressões inflacionárias, mas aumenta a dívida interna, pois o governo para colocar estes

papéis à disposição do público precisa oferecer taxas de juros atraentes, o que pressiona

os déficits futuros.

A política econômica brasileira privilegia a estabilidade monetária e, também, como a

Constituição proíbe que o Banco Central emita moeda exclusivamente para financiar o

governo, a forma de financiamento utilizada é a emissão de títulos públicos, responsável

pela crescente dívida.

A tabela a seguir mostra a evolução da dívida pública brasileira nos últimos anos:

Fonte: Banco Central do Brasil

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No Brasil, desde a implantação do plano Real, observa-se um crescimento expressivo da

dívida interna. A dívida externa praticamente não pressiona a gestão pública.

O governo tem que fazer um superávit primário para arcar com uma parte considerável

dos juros da divida para que financie com novas emissões a parte menor (o restante), o

que colaboraria para reduzir a velocidade de crescimento desta dívida.

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CÂMBIO E INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA

1. Introdução

Chegamos à última unidade! Estudamos os conceitos básicos da Microeconomia e,

dentro da Macroeconomia, discutimos o crescimento econômico, a inflação, as políticas

monetária e fiscal, e o déficit público. Para encerrar vamos ampliar os horizontes e

“abrir a economia”. Até agora consideramos apenas o que acontece dentro do nosso

território, mas os países se relacionam entre si, e especialmente com o advento da

globalização, o comércio internacional adquire uma importância crescente.

O comércio internacional permite a cada país aproveitar sua posição favorável na

produção de certos bens e serviços. Vimos na aula de Crescimento Econômico que as

exportações e importações fazem parte da demanda agregada (cálculo do PIB pela ótica

da despesa) e, portanto, o comércio internacional afeta diretamente o desempenho de

um país. Nesta unidade final, abordaremos a importância do comércio internacional, a

taxa de câmbio e o balanço de pagamentos.

Vamos lá?

2 - O Comércio Internacional

O comércio internacional consiste no intercâmbio de bens, serviços e capitais entre os diferentes países.

(MOCHÓN, 2006)

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O comércio internacional existe porque proporciona vantagens em relação ao que as pessoas ganhariam se apenas consumissem artigos produzidos localmente. Além disso, cada país possui recursos distintos em decorrência das condições climáticas, geográficas, riqueza mineral, tecnologia e quantidade disponível de mão de obra, capital e terra cultivável.

Em virtude dessas diferenças, não é possível produzir todos os bens e serviços na quantidade necessária para atender a população, e, se conseguir produzir todos os bens não conseguirá ser eficiente em todas as produções.

Assim como as pessoas que escolhem uma profissão e se especializam em uma área, os países procuram se especializar na produção de bens e serviços que possuem recursos para produzi-los. Alguns países possuem uma área para o plantio maior e, portanto, irão se especializar na agricultura, outros países possuem tecnologia avançada e se especializarão na produção de um bem que exija maior disponibilidade de recursos tecnológicos.

Esse fenômeno permite que cada país se especialize naquilo que faz melhor e ganhe o suficiente para poder comprar os bens e serviços que não produz, alimentando o comércio internacional.

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2.1. Teorias do Comércio Internacional

A diferença de recursos e o fenômeno da especialização justificam a existência do

comércio internacional. Porém, existem algumas teorias que explicam isso e merecem

ser destacadas.

a. Teorias das Vantagens Absolutas

Adam Smith, considerado o pai da Economia, escreveu em 1776 o livro ‘A Riqueza

das Nações’, no qual defendeu o livre comércio como a melhor alternativa para todas

as nações. A sua teoria destaca a importância da especialização, já que afirma que

um país deveria se especializar na produção da mercadoria que produzisse com mais

eficiência que as outras nações, ou seja, que tivesse Vantagem Absoluta, e deveria

importar as mercadorias que tivesse desvantagem absoluta (ou produzisse de modo

menos eficiente que os demais países). (OTTO & NOGAMI, 2003, p.515).

Vejamos um exemplo:

Consideremos apenas dois países, Brasil e Japão, que produzam apenas dois bens,

café e arroz. Temos apenas a mão de obra como fator de produção e ela está apta a

trabalhar nas duas produções.

O quadro abaixo mostra a quantidade produzida em cada país.

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O exemplo mostra que um trabalhador no Brasil produz mais café que um trabalhador

no Japão, ao passo que um trabalhador no Japão produz mais arroz que um

trabalhador no Brasil. Se os países não se especializarem produzirão os dois bens e,

para simplificar, vamos supor que cada produção aconteça por um semestre de modo

que durante o ano o país consiga produzir os dois bens.

Teríamos a seguinte situação:

• Sem especialização (sem comércio internacional)

Porém se cada país se especializasse na produção em que é mais eficiente, teríamos:

• Com especialização (com o comércio internacional)

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Comparando os resultados das duas situações:

• Ganho líquido:

Com a especialização de cada país na produção do bem que possui vantagem absoluta,

haveria um ganho líquido de 600 Kg de café e 150 Kg de arroz.

Com especialização, a produção é maior o que permite que os países compartilhem

esse ganho através das trocas (comércio internacional).

b. Teorias das Vantagens Comparativas

A Teoria de Adam Smith sobre as Vantagens Absolutas é correta, mas só explica

uma parte do comércio internacional. Coube a David Ricardo, em 1817 através do

livro " Princípios de Economia Política e Tributação'' , ampliar a teoria. Para Ricardo, a

especialização internacional e a divisão do trabalho trazem vantagens para todas as

nações (concordando com a teoria de Adam Smith), porém seria necessário analisar os

custos de produção com outros países.

Cada país deveria se dedicar à produção de bens em que tivesse custos comparativos

menores em relação aos demais países.

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Essa situação permitiria que mesmo que um país tivesse desvantagem absoluta na

produção das mercadorias, tenha ganhos com o comércio internacional, desde que ele

se especializasse na produção e exportação do bem em que sua vantagem absoluta

fosse menor. Além disso, deveria importar a mercadoria cuja vantagem absoluta fosse

menor (OTTO & NOGAMI, 2003, p. 517).

Assim, o Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se

especializar na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente, ou

que tenha um custo relativamente menor (VASCONCELLOS, 2002, p. 354).

Essa é a mercadoria que deve ser exportada e deve-se importar as mercadorias cuja

produção interna implicaria num custo relativamente maior (ao comparar com o custo

dos demais países).

Vamos a um exemplo:

Nesse caso o Brasil supera a produção japonesa para ambos os bens, possui portanto

vantagem absoluta na produção de café e soja. Mesmo assim, valerá a pena para o

Brasil se concentrar apenas na produção de apenas um dos bens, no caso o café.

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Observando a tabela, percebe-se que com a mesma mão de obra, o Brasil consegue

produzir o dobro de café se comparado com sua produção de soja. E no Japão, a

mesma mão de obra produz o dobro de soja em relação ao café produzido.

Assim, em termos relativos, o custo de produção do café no Brasil é menor do que no

Japão, visto que no Brasil para produzir 1kg de café seria necessário abrir mão de 0,5

kg de soja (750/1500) , enquanto que no Japão, para se produzir 1kg de café seria

necessário deixar de produzir 2 kg de soja (600/300).

O inverso ocorre para a produção de soja, o custo relativo no Japão é menor do que no

Brasil, porque para os brasileiros produzir 1kg de soja representa abrir mão de 2kg de

café (1500/750) enquanto que no Japão, produzir 1kg de soja representa abrir mão de

0,5kg de café (300/600).

O Brasil deve se especializar na produção de café e o Japão na de soja. Se a relação

de troca entre café e soja for 1 para 1 (1kg de soja = 1kg de café), ambos os países

sairão ganhando.

Vamos analisar os ganhos:

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Sem o comércio internacional o Japão para produzir 1kg de café teria que abrir mão

de 2 kg de soja. Ao se especializar na produção de soja, pode comprar no comércio

internacional 1 kg de café pagando com apenas 1kg de soja. Já no Brasil, sem o

comércio internacional para se obter 1 kg de soja custaria 2 kg de café (deixaria de ser

produzido). Havendo comércio internacional, o mesmo 1kg de soja se obtém com 1 kg

se café.

Concluído, o comércio internacional facilita a especialização ao permitir que cada país

coloque para o resto do mundo os excedentes dos produtos nos quais se especializou,

o que traz benefícios para todos. Além disso, o comércio internacional fomenta a

concorrência e os avanços tecnológicos, além de aumentar a produtividade, a redução

de custos e propiciar a melhoria na qualidade dos bens. Ganham os produtores e os

consumidores.

2.2 - Atuação do Governo no Comércio Internacional: Políticas Protecionistas

Apesar das vantagens do livre comércio internacional (especialmente nos ganho de

eficiência), existem casos em que o governo intervém, limitando as práticas de comércio.

Chamamos essa intervenção de políticas protecionistas.

Os instrumentos de proteção são formados por um conjunto de políticas, medidas

e procedimentos que os governos adotam com a finalidade de criar obstáculos às

transações econômicas com o exterior.

(MOCHÓN, 200, p.381)

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a) As razões que justificam as políticas protecionistas são:

• Proteção à indústria nacional: proteger uma indústria considerada estratégica do ponto de vista da segurança nacional, ou ainda proteger uma indústria nascente (setor emergente), que se encontra na fase de formação de sua estrutura produtiva e não possui condições de sobreviver à competição internacional.

• Proteção do emprego: Ao importar alguns bens, a produção interna é reduzida, o que afeta o emprego, visto que uma quantidade considerável de trabalhadores deixa de ser empregada por causa do fim da produção interna. Para proteger o emprego, o governo pode fomentar a industrialização nacional através do processo de substituição de importações, ou seja, desestimulando a importação de bens fabricados no próprio país

• Combate aos déficits comerciais: desestimular as importações e estimular as exportações para reduzir os desequilíbrios na balança comercial (exportações

menos importações).

b) Tipos de políticas protecionistas: O governo pode criar restrições ao comércio internacional através das seguintes práticas:

• Tarifas de importação: é um imposto especial sobre os produtos importados. O objetivo é elevar o preço do produto estrangeiro no mercado interno e assim proteger os produtos nacionais. Por exemplo, uma tarifa de importação de 25% sobre um veículo de R$ 50.000,00 torna seu preço final dentro do território nacional R$ 62.500,00, o que faz com que o consumidor analise a opção de adquirir os veículos nacionais, com preços mais baixos.

• Cotas de importação: o governo limita a quantidade de importações que podem ser realizadas. Por exemplo, em 2001 o governo dos Estados Unidos estabeleceu a cota de 200 mil toneladas de aço importado do Brasil. O preço pode ser fixado livremente pelo mercado, apenas a quantidade é controlada.

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• Subsídios à exportação: São ajudas aos fabricantes nacionais de determinados bens para que possam exportá-los a preços menores e mais competitivos. Esses subsídios estimulam a produção nacional e o emprego. Os produtos agrícolas produzidos pelos Estados Unidos recebem subsídios do governo para terem custos competitivos frente aos países agroexportadores (como o Brasil, por exemplo).

• Restrições burocráticas: o governo pode estabelecer processos aduaneiros complexos, com uma série de documentos, normas de qualidade sanitárias e obtenção de vistos consulares para dificultar a importação de certos bens.

3 - Mercado de Câmbio e Taxa de Câmbio

O mercado de câmbio ou de divisas é o mercado no qual se compram e vendem as moedas dos diferentes países. Por ser um mercado como outro qualquer, existem compradores e vendedores:

Quem compra moeda estrangeira (demanda moeda estrangeira): - importadores - viajantes brasileiros- quem investe no exterior - quem paga dívidas com o exterior- quem aposta que a moeda estrangeira irá se valorizar

Quem vende moeda estrangeira (oferta moeda estrangeira)- exportadores - viajantes estrangeiros no Brasil- investidor estrangeiro no país - quem paga dívidas com o Brasil- quem aposta que a moeda estrangeira irá se desvalorizar

A Taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda

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estrangeira. É o preço de uma moeda expressa em termos de outra. Exemplo: Quando falamos que o dólar americano vale um real e setenta e cinco centavos, já estamos expressando a taxa de câmbio entre duas moedas: US$ 1,00 = R$ 1,75

Do mesmo modo que definimos a taxa de câmbio do dólar, existem taxas de câmbio para as diversas moedas estrangeiras (francos, marcos, libras, escudos, pesos, etc.).

Quanto maior a oferta de divisas, menor será a taxa de câmbio e, quanto maior a demanda por divisas, maior será a taxa de câmbio. Define-se como valorização cambial ou apreciação cambial, o aumento do poder de compra da moeda nacional perante as outras moedas (quando um real compra mais dólares), ou seja, quando a taxa de câmbio cai (por exemplo, quando o valor do dólar cai). Por raciocínio análogo, uma desvalorização cambial ocorre quando há perda do poder de compra da moeda nacional (quando um real compra menos dólares), isso corresponde a um aumento na taxa de câmbio (no preço do dólar, por exemplo).

Cabe distinguir variações nominais e variações reais na taxa de câmbio. Taxa de câmbio Real é a taxa de câmbio nominal (a divulgada pelo mercado), deflacionada pela razão entre a taxa de inflação doméstica e externa (GREMAUD, VASCONCELLOS e TONETO JUNIOR, 2006, p.281).

A fórmula para obtenção da taxa de câmbio real é:

Sendo:

E = taxa de câmbio nominal

P* = preço do produto estrangeiro

P = preço do produto nacional

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Exemplo: Considerando que um produto no Brasil custe R$ 40,00 e que nos EUA seja vendido por US$ 30,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$1,00 = R$ 1,80, a taxa de câmbio real entre os dois países será:

A taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma economia, pois pode influenciar o nível de produção e de inflação, além do próprio comércio internacional e dos movimentos de capitais entre os países.

O esquema a seguir ajuda a entender o efeito de uma desvalorização cambial (aumento na taxa de câmbio):

Um aumento na taxa de câmbio faz com que os compradores estrangeiros, com os

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mesmos dólares comprem mais produtos brasileiros, o que estimula as exportações. Se as exportações subirem de forma representativa, provocará um aumento na produção interna dos produtos brasileiros, o que estimula o emprego nesses mercados exportadores.

Em contrapartida, os produtos importados ficam mais caros (são necessários mais reais para pagar um produto em dólar). A importação de produtos destinados aos consumidores finais tende a diminuir, já que os consumidores podem adquirir produtos nacionais similares por um preço mais acessível. Já a importação de bens intermediários (que serão usados como matérias-primas na produção de outros bens) não é facilmente retraída, a quantidade importada se mantém, porém a um custo maior, o que tende a ser repassado para os preços, provocando inflação.

Uma forma de reduzir a taxa de câmbio é aumentar a taxa de juros da economia; juros mais altos atraem capital estrangeiro para investir no Brasil, aumenta a oferta de dólares e com isso pressiona o câmbio para baixo.

Atualmente, a taxa de câmbio tem sido usada pelos países como forma de controlar a inflação, chamamos isso de âncora cambial. Uma valorização cambial torna a moeda nacional mais forte, estimula a compra de produtos importados, aumentando a concorrência com os nacionais, o que provoca uma pressão pela queda dos preços domésticos, controlando a inflação.

4 - Regimes Cambiais

O governo procura regulamentar o mercado de câmbio com o objetivo de melhorar o desempenho de certas variáveis econômicas de seu interesse. Por isso existem diferentes regimes cambiais.

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Os principais regimes cambiais são:

• Regime de taxas de câmbio fixas: a taxa de câmbio do país é fixa e o que se ajusta é apenas a quantidade demandada e ofertada àquele valor. O governo determina o valor da taxa de câmbio e intervém, através do Banco Central, de modo a equilibrar a oferta e a demanda de divisas no nível da taxa de câmbio estabelecida.

Quando no mercado há um excesso de oferta de divisas (dólares, por exemplo) o governo entra no mercado adquirindo estas divisas pela taxa de câmbio fixada (compra o excesso para evitar que a taxa de câmbio se altere), equilibrando oferta e demanda. Se tivermos o inverso, excesso de demanda de divisas, o governo vende, a essa taxa, divisas que possui em reserva.

Como a taxa de câmbio não se altera, esse sistema permite um maior controle da inflação, mas possui como desvantagem a vulnerabilidade das reservas internacionais, já que para manter a taxa cambial fixa ocorrem oscilações sobre o volume de reservas internacionais do país e sobre a quantidade de moeda nacional.

No Brasil, esse sistema vigorou nos Planos Cruzados (1986) e Verão (1989).

• Regime de taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis: a taxa de câmbio do país é livre, o governo intervém apenas como ofertante e demandante de divisas em função de suas necessidades, do mesmo modo que o setor privado. As taxas de câmbio são determinadas sem a intervenção do Banco Central, pelas forças da oferta e da demanda.

A vantagem desse sistema é que a política monetária fica mais independente do câmbio e as reservas internacionais são mais protegidas de ataques especulativos.

A grande desvantagem é sua volatilidade, pois movimentos bruscos na oferta ou na demanda de divisas provocam grandes oscilações na taxa de câmbio, gerando inconvenientes para a economia: torna-se um campo fértil para a especulação, gera dificuldades para os importadores determinarem os preços em reais das

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mercadorias importadas e acaba por desestimular as exportações pela incerteza do valor que será recebido pelo exportador. Gera maiores dificuldades para controlar a inflação devido às desvalorizações cambiais (VASCONCELLOS, 2002, p. 358).

Essa volatilidade faz com que alguns países adotem a chamada flutuação suja (ou flutuação dirigida ou dirty floating). Nesse sistema o câmbio flutua livremente, mas dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. Se o mercado estiver muito oscilante ou em um patamar que está afetando negativamente a economia, O Banco Central intervém para estabilizar ou para direcionar a taxa para o patamar desejável.

• Regime de bandas cambiais: O governo estabelece (e informa o mercado) os valores limites que a taxa de câmbio pode assumir. Dentro desses limites o sistema funciona como se fosse câmbio flutuante e, nos limites, como câmbio fixo, ou seja, estabelece-se uma faixa de flutuação. Quando a taxa atinge os limites, o Banco Central intervém, vendendo ou comprando moeda estrangeira.

Esse sistema foi implantado no Brasil entre 1995 e 1999.

5 - Balanço de Pagamentos

É um resumo contábil das transações econômicas (comerciais e financeiras) que um país faz com o resto do mundo, durante certo período de tempo. A partir desse balanço pode-se avaliar a situação econômica internacional do país. No Brasil, é elaborado pelo Banco Central a partir do registro das transações efetuadas entre residentes no país e residentes em outras nações.

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De um modo geral, o Balanço de Pagamentos é composto pelas seguintes contas:

1. Balança Comercial:Registra as operações de compra e venda de mercadorias, ou seja, inclui as exportações e as importações de mercadorias.

• Exportações: venda para outros países de mercadorias produzidas internamente, isto é, corresponde à demanda de não residentes por mercadorias produzidas no país. Representam uma entrada de capital, uma receita em moeda estrangeira.

• Importações: compra de mercadorias produzidas em outro país por residentes do país. Representam uma saída de capital, uma despesa em moeda estrangeira.

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• Saldo da Balança Comercial: Exportações (X) - Importações (M). Também pode ser chamada de exportações líquidas. Se o saldo for positivo, dizemos que ocorreu um superávit comercial, porém se o saldo for negativo, temos um déficit na balança comercial.

2. Balança de Serviços:

Inclui as transações de produtos não tangíveis, ou seja, refere-se ao pagamento (saída de dólares) e recebimentos (entrada de dólares) relativos à remuneração de serviços. Os principais componentes dessa conta são:

• Transporte e seguros: toda mercadoria transacionada internacionalmente envolve despesa de frete e seguro. Se o seguro ou transporte for feito por uma empresa brasileira, ocorre entrada de divisas (vende-se o serviço de transportes, recebimento em dólar), se for efetuado por empresas estrangeiras, teremos uma saída de divisas.

• Turismo: Saldo das receitas e despesas com turistas. Dólares recebidos por turistas estrangeiros (entrada de divisas) menos dólares despendidos por turistas brasileiros no exterior (saída de divisas).

• Juros: serviços da dívida externa (não incluem amortizações). Representa os juros devidos tanto pelo setor público quanto pelo privado. Como o Brasil é tomador de empréstimos no exterior e não emprestador, essa conta é negativa, representando uma saída de divisas.

• Rendas: nesta conta estão incluídos:• Lucros e dividendos: referem-se às remessas efetuadas por empresas

multinacionais instaladas no país para seus países de origem. Embora existam empresas brasileiras no exterior, o número de multinacionais no país é maior, fazendo com que esta conta seja negativa (saída de dólares da economia) (LANZANA, 2001, p.125).

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• Rendas de investimento em carteiras: englobam os juros, dividendos e bonificações relativos às aplicações em ações e os juros correspondentes às aplicações em títulos e aplicações financeiras no exterior (MOCHÓN, 2006, p.404).

3. Transferências Unilaterais:Referem-se ao fluxo de recursos provenientes de pessoas trabalhando fora do país, donativos, manutenção de estudantes no exterior e aposentadorias. Por exemplo, se um brasileiro vai trabalhar no Japão e remete parte de seu salário para o Brasil será uma entrada de dólares no balanço de pagamentos brasileiro.

4. Balança de Transações Correntes:É a soma dos três itens anteriores (balança comercial, de serviços e transferências unilaterais). É o item mais importante do balanço de pagamentos, à medida que mostra as necessidades de recursos que o país terá de buscar no exterior para não perder reservas internacionais. Um déficit muito elevado nesta conta torna o país vulnerável a qualquer mudança no contexto internacional (LANZANA, 2001, p.126).

5. Balança de Capitais:É a conta que indica as alternativas de cobertura do déficit em transações correntes, envolvendo as operações que modificam a estrutura de direitos e obrigações de um país em relação ao resto do mundo. É dividida em:

• Investimentos: representam o ingresso de capitais estrangeiros (investimentos feitos por não residentes no país - entrada de dólares) e/ou o capital de residentes aplicados no exterior (saída de dólares).Podem ser investimentos diretos, quando o capital estrangeiro migra para o mercado produtivo (por exemplo, o capital entra no país por meio da construção de uma multinacional), ou investimento em carteira, quando o capital estrangeiro migra para o mercado financeiro.

• Empréstimos: registram empréstimos recebidos do exterior (pelo FMI, Banco Mundial, bancos privados externos - neste último caso pode ser tanto para o setor público como para o privado) e ainda o lançamento de títulos de empresas

públicas e privadas no exterior.

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• Amortizações: pagamento do principal referente aos empréstimos e financiamentos obtidos no exterior ou ainda, recebimentos do principal feito por não residentes referentes aos empréstimos concedidos pelo país ao exterior.

A principal variável a explicar o movimento de capitais entre os países é a taxa de juros. Quanto maior a taxa de juros de um país em relação aos demais, maior o estímulo à entrada de capitais externos neste país.

6. Erros e Omissões:Surge em função de equívocos existentes no registro das operações do país com o exterior. Na verdade, algumas contas são registradas com valores estimados. Este item entra no balanço para corrigir os erros estatísticos e as transações não registradas.

7. Saldo do Balanço de Pagamentos:

Somadas todas as contas anteriores temos o saldo do balanço de pagamentos. Se negativo, significa que a saída de divisas foi superior à entrada, gerando um déficit. Se positivo, temos um superávit. O resultado nesta conta reflete a variação das reservas internacionais.

O superávit significa que há mais divisas do que as necessárias para cobrir as saídas e esta “sobra” representa um aumento nas reservas internacionais do país. Já o déficit mostra que as entradas não foram suficientes e tal resultado negativo poderá ser coberto por uma saída de divisas ou de ouro do país, reduzindo as reservas internacionais.

Nestas oito unidades, percorremos rapidamente os principais conceitos que norteiam a Economia. Esperamos que estas aulas tenham diminuído o “medo” de aprender economia, de discutir e ler sobre questões como a inflação, desemprego, recessão, inadimplência, câmbio, juros, custos das empresas, oligopólios, demanda, oferta etc. Sabemos o quanto é difícil popularizar uma ciência tão complexa, mas também temos a consciência da importância desses conceitos para a vida pessoal e profissional de cada um de nós.

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Valorizamos o esforço de cada um de vocês em acompanhar cada unidade, em fazer as atividades propostas e realmente esperamos que o resultado seja positivo, que vocês tenham gostado da disciplina e que possam levar para a vida o que aprenderam aqui.

Se precisarem de ajuda, sabem onde e como nos procurar, estamos à disposição.

Para finalizar, só nos cabe desejar sucesso e muitas felicidades!

Bibliografia

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Fonte:FERREIRA, Renata. Economia. São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi, 2009. 190p. E-book.