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CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL 3ª SECRETARIA – DIRETORIA LEGISLATIVA DIVISÃO DE TAQUIGRAFIA E APOIO AO PLENÁRIO SETOR DE TAQUIGRAFIA NOTAS TAQUIGRÁFICAS Data Horário Início Sessão/Reunião Página 1 9 2017 14h SEMINÁRIO: Alimentação Saudável 1 MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, boa tarde. Bem-vindos à Câmara Legislativa do Distrito Federal. Dando continuidade ao seminário Alimentação Saudável, promovido pela Frente Parlamentar para a Promoção do Desenvolvimento Social no Distrito Federal aqui da Câmara Legislativa do Distrito Federal, iniciaremos as atividades de hoje à tarde com uma aula show, apresentada pelo Professor do Iesb Marcos Lélis, especialista em alimentação saudável. (Palmas.) Para fazer parte da Mesa também, convido o Sr. Paulo Melo, do E-Cozinha, e o Sr. Aldemir Mangabeira, nutricionista. (Palmas.) SR. MARCOS LÉLIS – Boa parte, pessoal. Tudo bem? Na verdade, nessa coisa da alimentação saudável, a minha especialidade é em nutrição, em saúde pela Faculdade de Nutrição. Alimentação saudável é uma coisa que a gente vai discutir um pouco, porque esse termo caiu na banalização e numa série de contradições. Ninguém melhor do Aldemir Mangabeira, Presidente do CRN, para prestar um esclarecimento muito mais amplo do que o meu. Na verdade, recebi o convite do Eduardo e da Flor, a quem agradeço. Quero parabenizá-los pelo evento e pela iniciativa. Por mais que haja poucas pessoas, é uma sementinha que a gente planta e poderá colher frutos muito interessantes no futuro. Parabéns e obrigado. Eu fui convidado para cozinhar, que é uma coisa que eu já faço há algum tempo, mas há algum tempo também não estou preso só ao fogão. Na verdade, o que me interessa é discutir a alimentação de uma forma muito mais ampla e não ficar preso só à execução de um prato. Isso é o que me chama mais atenção hoje, talvez seja por isso que o Eduardo, em algum momento da loucura dele, pensou em me convidar para vir aqui.

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MESTRE DE CERIMÔNIAS – Senhoras e senhores, boa tarde. Bem-vindos à Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Dando continuidade ao seminário Alimentação Saudável, promovido pela Frente Parlamentar para a Promoção do Desenvolvimento Social no Distrito Federal aqui da Câmara Legislativa do Distrito Federal, iniciaremos as atividades de hoje à tarde com uma aula show, apresentada pelo Professor do Iesb Marcos Lélis, especialista em alimentação saudável. (Palmas.)

Para fazer parte da Mesa também, convido o Sr. Paulo Melo, do E-Cozinha, e o Sr. Aldemir Mangabeira, nutricionista. (Palmas.)

SR. MARCOS LÉLIS – Boa parte, pessoal. Tudo bem? Na verdade, nessa coisa da alimentação saudável, a minha

especialidade é em nutrição, em saúde pela Faculdade de Nutrição. Alimentação saudável é uma coisa que a gente vai discutir um

pouco, porque esse termo caiu na banalização e numa série de contradições. Ninguém melhor do Aldemir Mangabeira, Presidente do CRN, para prestar um esclarecimento muito mais amplo do que o meu.

Na verdade, recebi o convite do Eduardo e da Flor, a quem agradeço.

Quero parabenizá-los pelo evento e pela iniciativa. Por mais que haja poucas pessoas, é uma sementinha que a gente planta e poderá colher frutos muito interessantes no futuro. Parabéns e obrigado.

Eu fui convidado para cozinhar, que é uma coisa que eu já faço há algum tempo, mas há algum tempo também não estou preso só ao fogão. Na verdade, o que me interessa é discutir a alimentação de uma forma muito mais ampla e não ficar preso só à execução de um prato. Isso é o que me chama mais atenção hoje, talvez seja por isso que o Eduardo, em algum momento da loucura dele, pensou em me convidar para vir aqui.

Eu montei uma rápida apresentação para vocês. Eu queria a parceria dos dois aqui para a gente fazer mais uma roda de conversa e de discussão. Por favor, qualquer um que tenha dúvida, ou deseje participar, ou tenha qualquer contribuição a fazer, levante-se que a gente vai quebrar essa formalidade da mesa, de uma plateia ouvindo. Vamos interagir, porque, se todo mundo contribuir com um pouquinho, fica muito mais ampla, muito mais rica a conversa.

Aqui no fogão, eu pensei numa coisa que, dentro da infraestrutura que o Eduardo me passou, é uma cozinha amplamente montada com exaustores e tudo o que a gente precisa para cozinhar, na minha especialidade na gastronomia, que é a cozinha regional brasileira. Eu trabalho com cozinha regional já há quase dez anos, por influência da

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minha família, da minha vó, na verdade. Eu acho que a gente entra na cozinha meio que influenciado pela família. A cozinha é a minha segunda profissão.

Minha avó foi uma excelente cozinheira. Eu fui um menino criado por avó, até certo ponto, porque meus pais precisavam trabalhar. E eu fui meio que mordido pelo fogão ou queimado pelo fogão enquanto eu estava lá com a minha segunda mãe. Então, quando ela faleceu, ela deixou o livro dela de receitas para mim, porque eu era o único dos netos que tinha, talvez, um pouco de aptidão para a coisa. E eu comecei a trabalhar os pratos que ela fazia e refazê-los. A vida vai passando, a gente vai estudando, vai contemporizando esses preparos e eu cai dentro da cozinha regional e sou completamente apaixonado pela nossa cultura, na verdade.

Como a gente está no Centro-Oeste, e não só por isso, vou fazer um dos pratos da cozinha regional muito famoso, que é a pamonha. Eu tenho um projeto chamado Pretexto – e vou logo fazer o jabá –, que acontecerá dia 30 de setembro de novo, em que a comida é só o pretexto, a comida é só a desculpa para a sociabilização das pessoas. Só que para o mote de atração das pessoas é um menu degustação em sete etapas, com harmonizações em todas as etapas. Como tema desse Pretexto, a gente está trazendo de novo o Brasil à tona, até para quebrar um pouco essa confusão que a gente está vivendo no País, não é? Então, todos os pratos serão regionais e esse é um dos pratos que vai ser servido no Pretexto.

Outra particularidade é que esse cardápio vai ser completamente vegetariano. Eu não vou adotar carne nenhuma. Nem sei se eu deveria estar falando isso para vocês, porque a ideia é que seja uma surpresa. Mas já falei. Façam de conta que vocês não sabem! Se alguém for e disser: “Nossa, não comi carne!” Mas esse é o objetivo.

Então, eu vou fazer uma pamonha, um prato super simples. Eu quebrei um pouco daquela complexidade, daquele rito todo, apesar de quebrar de uma forma muito prática, porque eu adoro uma pamonhada.

Eu não sei se alguém já teve a oportunidade de participar de uma pamonhada. Na verdade, a última coisa que a gente faz é comer pamonha! Juntam-se setenta ou oitenta membros de uma família, que ainda chamam os vizinhos, que colhem 2 mil espigas de milho. Uma parte rala, outra parte cozinha, outra parte isso, outra parte aquilo. Todo mundo bebendo cerveja...

No final, sai todo mundo bêbado, comendo três, quatro pamonhas, ou vinte ou trinta pamonhas, mas a ideia é essa. A sociabilização alimentar é o que a nutrição vem trabalhando já há algum tempo: não é só o que você come, mas com quem você come.

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Então, a pamonhada é um rito muito bacana que a gente não pode deixar se perder, mas é um processo: colhe-se o milho; limpa-se a espiga; rala-se a espiga; somente uma pessoa tempera esse panelão de pamonha; depois, todo o mutirão vai encher as pamonhas nas trouxinhas – há alguns aqui balançando a cabeça; já comeram muita pamonha, né?

Aí, no final, se cozinham todas as pamonhas, e todos comem as pamonhas: pamonhas doces, pamonhas de sal, pamonhas com jiló, pamonha disso, pamonha daquilo.

Eu quebrei um pouco desse processo, desse rito todo. Eu vou fazer uma pamonha um pouco mais contemporânea, uma apresentação menorzinha, até porque a ideia é servir esse prato e mais seis outros atrás, ou à frente.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – É claro que com um apelo desse, podíamos estar todos sentados em volta, conversando, mas este auditório traz essa coisa, não sabemos se somos formais ou informais, porque vamos falar de pamonha, de comida brasileira, de comercialidade.

Já que o Lélis deu esse tom mais despojado na abordagem, eu acho que a gente, como CRN, está aqui não só pelas iniciativas de saúde serem relevantes, mas mais do que isso. Não sei se vocês já observaram o novo guia alimentar para a população brasileira. Uma de suas diretrizes é o compartilhamento de práticas alimentares saudáveis, que é uma das metas do País. Este compartilhamento de práticas alimentares saudáveis começa na cozinha, obviamente. Na verdade, começa na cozinha, mas pode passar pelo que você adquire, pelo que você acrescenta nos temperos, etc.

Então, a despeito do tanto que a gente vai ter de capilaridade, cada um aqui é uma semente que vai contribuir para essa disseminação de práticas saudáveis, apoiados não só na nossa cultura, mas num conceito mais atual de alimento – como se diz aí, e está virando quase um clichê –, ou de alimentos de verdade.

E a gente não pode deixar de analisar que tudo tem um contexto, que faz face a outros tipos de comportamento. Nós viemos de duas décadas de consumo, de deslumbramento de consumo, quase que reforçando o nosso status quo de emergentes, mas estamos lidando com as consequências disso, e estamos lidando com as consequências no estado de saúde das pessoas.

Quando eu fiz o mestrado em 2009, o País tinha 43% de pessoas com sobrepeso e obesidade; já em 2015 e em 2016, isso já passa de 50%. Então, todas essas consequências, não só na saúde, mas no comportamento, no símbolo alimentar, naquilo que te dá saudade...

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Eu sempre digo isso na aula. Muitos aqui, quando pensam no alimento que traz uma lembrança boa, vão se lembrar de pamonha, de um monte de tia cozinhando, ou de um aniversário em que havia aquele mutirão. Aí você tem uma geração, em seguida, que comemora o aniversário no McDonald’s. Quer dizer, esse sujeito com 40 anos vai ter saudade de quê?

Quantas famílias cujo processo de alimentação da criança é: toma 20 reais aqui. Daí, um dia ela vai ao sushi; outro dia ela vai ao Subway; no terceiro, ela vai ao self-service; no quarto dia, ela come um crepe. Quer dizer, o patrimônio simbólico da próxima geração está diluído em pedaços.

O nosso movimento é um movimento de tentar preservar essa herança, uma vez que, comparando com outros países, ainda somos um país onde temos uma refeição estruturada. Na maioria dos casos, quando uma pessoa pensa em realizar um almoço, ela pensa em arroz, feijão, carne, salada.

Então, se a gente não agir agora, o futuro será muito mais complicado, do ponto de vista alimentar, porque não vai haver um referencial simbólico que fale ao coração da pessoa lá na frente.

Eu louvo esta iniciativa, não só pela questão de trazer à prática, mas porque isso está em consonância com essa ideia de compartilhar práticas saudáveis.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Eu gostaria de falar mais ao final sobre o que é o instituto E-Cozinha, porque hoje o assunto é alimentação saudável.

O Instituto E-Cozinha é um instituto de informação, em Brasília, em que um grupo grande de restaurantes resolveu tomar conta do próprio lixo. E o que isso tem a ver com a comida saudável?

Eu vou me ater apenas àquela parcela orgânica do lixo. A gente poderia discorrer sobre o vidro e os recicláveis, mas esse é um outro assunto.

Com relação aos orgânicos, qual é a proposta do E-Cozinha? Vamos fazer uma coleta seletiva na fonte, separar tudo isso e fazer um processo de compostagem, incentivando a compostagem descentralizada em Brasília, simplesmente para provar que o resto da comida é o grande lixo do mundo, mas a gente não pode mais chamar de lixo, isso é um resíduo. Em casa, em média, hoje, 50% do que a gente produz e que vai para o lixo é orgânico. Quando a gente passa para os restaurantes, esse número aumenta, chegando quase a 70%.

Agora, vocês imaginem 70% de todos os resíduos gerados dentro dos restaurantes e 50%, na casa de cada um de vocês, sendo enterrados no lixão por enquanto, daqui a pouco no aterro sanitário, junto com tudo

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aquilo que é degradante. Isso é: aquilo que é um alimento limpo – não é porque ele é resto de comida que ele é sujo – vai sujar tudo aquilo que está no aterro. Então, é uma coisa absurda que tem que parar. É um trabalho de consciência ambiental. A gente precisa saber que todo esse lixo orgânico nada mais é do que o início do insumo daquilo que vai chegar ao restaurante novamente e à mesa de cada um de vocês. Se você pegar um resíduo desse e transformar num bom composto, num fertilizante líquido, em húmus de minhoca, isso é que vai fazer o solo ficar rico e limpo, isso que vai produzir novos alimentos limpos.

Então, a gente ganha dos dois lados. Você limpa os resíduos que estão sendo jogados no aterro e você devolve à terra o que é da terra. O nosso lixo orgânico tem que ser tratado como comida. Ele não é mais um lixo. Essa é uma deixa. Fui convidado para falar um pouco sobre isso, mas a apresentação mesmo do projeto não estava pronta, porque é uma coisa muito recente. Vim dar um apoio ao Lélis sobre as pancs que a gente vai falar daqui a pouco, mas quero aproveitar a oportunidade, porque não deixa de ser um assunto sobre comida saudável também saber que o lixo orgânico, o resíduo orgânico é aquilo que vai fazer um alimento saudável amanhã.

Então, quando vocês estiverem escutando por aí ações do instituto E-Cozinha, apoiem, procurem saber e divulguem, porque o nosso intuito é que isso seja descentralizado em Brasília, que a gente consiga realmente fazer muitos pátios de compostagem em Brasília e que cada quadra tenha a sua própria compostagem. Isso é muito possível.

Muito obrigado. (Palmas.)Bom, para não ficar monótono para ninguém, enquanto o Lélis

termina de arrumar aqui, eu posso falar um pouquinho sobre as pancs com vocês. Alguém aqui já ouviu falar de pancs? Algumas pessoas sim. As pancs são as plantas alimentícias não convencionais. O que quer dizer isso? São aquelas plantas que estão em desuso. Elas são extremamente tradicionais nas comunidades, nas áreas rurais, mas, mesmo lá, as pessoas estão vendo isso crescer e não estão consumindo.

Então, existe um movimento crescente hoje, no Brasil, capitaneado pelo Valdely Kinupp, um biólogo desbravador. Ele escreveu o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais, que eu aconselho a quem tiver interesse procurar, em que ele catalogou, na sua primeira edição, quatrocentas espécies comestíveis no Brasil. Existem mais de 10 mil. Então, você imagina... O mundo inteiro hoje se alimenta com dez, quinze produtos, o Brasil principalmente: cenoura, batata, berinjela, tudo o que a gente conhece. Todas plantas exóticas, nada brasileiras. E quase todas elas sem quase nenhum valor nutricional, porque simplesmente elas foram perdidas por não existirem mais as sementes crioulas, por não existir mais um tratamento de solo adequado.

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Então, essas plantas perderam muito dos minérios que a gente precisa. Quando a gente fala de cálcio, ferro, elas continuam tendo um pouco, mas os elementos-traços sumiram desses alimentos e as pancs continuam tendo isso em grande quantidade. Elas são uma alternativa para o presente. Elas têm que ser consorciadas, consumidas junto com as plantas tradicionais. Como exemplos para vocês nós temos aqui e algumas pessoas devem conhecer: esta aqui é a taioba, esta aqui é uma taioba amazônica, roxa. Ela é uma planta riquíssima, de fácil cultivo, extremamente importante na alimentação e que tem que ser introduzida rapidamente em nossos quintais. É muito fácil de plantar. A taioba tem uma toxicidade, que basta fazer um branqueamento, que é um sistema de jogar na água fervente e depois numa água gelada e refogar como se refoga uma couve. Para quem nunca comeu, aconselho.

Outra coisa interessante é saber sobre o talo da taioba, porque, mesmo quem conhece taioba e come taioba, joga o talo fora. E o talo é uma excelente comida também. Basta que se tire essa casquinha dessa forma. Sai muito fácil assim. Você refoga e parece um... talvez se assemelhe um pouco aos brócolis, ao aspargo.

Isso aqui é uma ideia, não sei o que o Lélis vai fazer com isso depois. Esse aqui é um Peixinho da horta, uma planta maravilhosa que se chama Peixinho da horta, porque ela parece um lambarizinho – isso aqui empanado e frito é delicioso, as crianças adoram. É uma ótima oportunidade de fazer a criança comer algum vegetal, isso aqui fica crocante, é uma delícia.

Temos aqui o caruru, amaranto, riquíssimo em termos nutritivos. Pode ser colocado no suco verde, no refogado, cozido no feijão, pode ser usado de qualquer forma.

Isso aqui é uma Beldroega. Em países de Europa, principalmente em Portugal, é uma erva corriqueira, você a encontra em mercados, isso aqui está em quintais e ninguém sabe o que é, dá uma florzinha bonita... temos até uma florzinha aqui, você come a flor, come tudo.

Temos aqui a ora-pro-nóbis, aliás temos dois tipos – estou pegando com cuidado, porque ela tem muito espinho. Ora-pro-nóbis é muito conhecida em Minas Gerais

(Intervenção fora do microfone.)ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Em qualquer lugar, todas essas

plantas são plantadas por estaquias; basta um raminho enfiado na terra que ela vai crescer. Você não precisa comprar semente de ninguém.

Esse tipo aqui é bem interessante de ora-pro-nóbis, é a ora-pro-nóbis amazônica, o principal dela não é nem a folha, é o fruto, que parece

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uma carambola, é um fruto baga, bastante ácido, cheio de vitamina C, maravilhoso também.

O Jambu – acho que o Lélis vai usar um pouco dele aqui hoje – é muito usado na cozinha paraense.

É isso que há de pancs aqui, gente. Só estou tentando ocupar um pouco o espaço até que o Lélis termine de fazer a apresentação dele, mas, se alguém quiser saber mais alguma coisa sobre as pancs, esse livro do Valdely Kinupp é super recomendado. Ele se chama Plantas Alimentícias Não Convencionais e está à venda no mercado, na internet.

Estamos à disposição para responder qualquer pergunta e tirar qualquer dúvida. O assunto não é esse, mas estou aproveitando para ocupar um pouco vocês. Está bom? A flor do ora-pro-nóbis é vermelha, é uma flor linda, fica muito florida, muito linda.

Quem quiser levar essas estaquias pode levar, sem problema, eu consigo cortar para vocês; cada um leva um pedacinho e, com esse pedacinho que vocês plantarem, vocês terão qualquer uma dessas plantas eternamente. Ela nunca mais vai deixar de crescer no seu quintal. Aliás, você vai ter que cuidar dela; senão, ela toma conta de tudo.

(Intervenção fora do microfone.)ORADOR NÃO IDENTIFICADO – O peixinho?

(Intervenção fora do microfone.)ORADOR NÃO IDENTIFICADO – O Peixinho da horta.

(Intervenção fora do microfone.)ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Isso, isso, ela parece realmente um

peixinho aqui. Depois, se vocês quiserem pegar, sentir a textura e depois levar para casa e fritar... É isso. Cadê o Lélis? Ah, está aqui. (Palmas.)

SR. MARCOS LÉLIS – Engraçado que sou sergipano, mas sou mineiro de coração. E, numa das minhas viagens para Minas, fiquei sabendo da história do ora-pro-nóbis, que ele era utilizado como cerca viva das igrejas, porque ele tem uns espinhos bem consideráveis. E aí o guia que estava comigo lá disse: “Cara, você pode plantar isso em casa”. Aí eu disse: “Pô, mas eu só vou embora para Brasília daqui a três ou quatro semanas”. Ele disse: “Não! Eu vou pegar um galho, ele vai secar”. E aí ele cortou na minha frente assim: “O segredo é você colocar com o espinho para baixo”. Eu disse: “Esse cara está de sacanagem com a minha cara, isso não vai funcionar”. Ele me deu quatro pedacinhos de madeira com o espinho para baixo. “Bom, já estou aqui, já trouxe; não vou perder nada, eu vou plantar”. E não deu outra. Uma ou duas semanas depois, começou o brotinho a sair; hoje eu tenho uma árvore que está tomando conta, está protegendo a varanda com uns espinhos absurdos. Eu tenho

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uma filha de seis anos e, quando ela vai com as amigas para lá eu falo: “Foge desse lugar, porque nesse lugar você pode se dar mal”.

Bom, enfim, pessoal...(Intervenção fora do microfone.)

SR. MARCOS LÉLIS – Não foge da planta, porque é uma das plantas com maior índice de proteína para uma dieta mais vegetariana, para quem pensa nisso ou para uma dieta mais saudável, não necessariamente vegetariana. É uma folha que tem uma quantidade de proteína bem razoável, para quem está deixando de consumir carne animal.

Enfim, pessoal, vamos só bater um papo rapidinho para a gente cozinhar daqui a pouco. A gente já tinha discutido, agora há pouco, que é mais importante não só prestar atenção ao que você come, mas com quem você come, onde você come, como você come. Todo esse processo social está envolvido no contexto que alimenta não só o valor... tem um chefe basco, o Juan Mari Arzak que diz que tem dois tipos de comida, a que alimenta o corpo e a que alimenta a alma. Quem chega no Bottura, no Alex, no D.O.M., não está preocupado em alimentar o seu físico, porque ele não está com fome, até vai se saciar da fome física, mas quem busca esse tipo de comida com técnica, com contemporaneidade, com todos os fatores intervenientes cuidando daquela experiência está muito mais preocupado em alimentar a sua fome psicológica, e não necessariamente a fome física. Então, o Carneiro presidiu de uma forma muito mais interessante.

A comida não é vista só como fonte de sobrevivência hoje, ela faz parte dessa cadeia social toda. Eu tenho quase que certeza – eu sou capaz de apostar o dedo mindinho do Mangabeira – de que vocês, num final de semana desses, convidam as pessoas para sair, para se relacionar, em casa, para cozinhar. A comida vira o mote central dessa sociabilização, como é a feijoada. Alguém aqui ama feijoada? Alguém faz feijoada só para você sozinho? Não, não faz!

Dentro da Universidade, eu tenho uma aula que chama “comida de boteco” e eu começo falando para os alunos desse papel do boteco. O boteco é quase uma terapia. E é mais barato você ir a um boteco do que pagar um terapeuta. Nada contra os terapeutas: eu amo o meu terapeuta, que, por sinal, eu perdi ontem, porque ele foi para outro plano continuar a vida dele ou para outra vida, enfim... Mas você não vai a um boteco sozinho. Quem vai para um boteco sozinho, senta e pede uma cerveja... São raras as exceções... Pelo amor de Deus, ninguém levante o braço aqui, porque, se levantar, você está precisando de uma terapia, de um psicólogo, de uma droga pesada porque ir para um boteco sozinho. Não! A gente vai, a um boteco, para sociabilizar. “Mangabeira, Paulinho, vamos tomar um chope. Estou a fim de conversar sobre o projeto do Lixo...estou

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a fim de conversar sobre uma alimentação mais saudável, mas o boteco é a desculpa. Se o boteco tiver uma cerveja gelada, ótimo. Se a comida for agradável, perfeito! E se o garçom me conhecer pelo nome, aí vira uma extensão da minha casa: “Oi, Marcos, tudo bom? E aí, o de sempre?”. Aí é paixão! Coraçãozinho para o Seu Firmino do boteco.

Então, as pessoas vão ao boteco para sociabilizar. As pessoas geralmente falam: “Mangabeira, vamos comer lá em casa? Dudu, vamos comer alguma coisa? ”. A comida tem esse papel de elo de ligação. Como o Alex diz: “A cozinha é a maior rede de conexão do mundo”. Não é a internet, não é o WhatsApp! É a comida! A gente só está se dando conta disso aos pouquinhos.

Eu trouxe uma apresentação para vocês. Deem uma olhada e percebam se alguém já fez isso, em algum momento da vida, e se não o fez, por favor, faça.

Onde está o meu amigo da luz e do som? Meu Deus, eu estou perdido! Onde eu aperto?

(Apresentação musical.)SR. MARCOS LÉLIS – É mais ou menos por aí. Toda vez que eu me

mudo, eu bato na porta do vizinho e levo um bolo de fubá. Minha mãe me ensinou que, por educação – e a gente foi educado dessa forma –, o prato tem que voltar cheio de alguma coisa do que o vizinho faça. Pode não ser nada, mas ele coloca lá dois bombons e os entrega... Eu faço o mesmo. Não é hipocrisia. Eu faço o mesmo. Está faltando bater na casa dos vizinhos da frente, porque eu bati só na casa dos vizinhos do lado, mas vai acontecer. Parece utópico isso. A gente se perdeu tanto com a tecnologia que uma situação dessas parece uma coisa absurda de acontecer: eu colocar uma mesa e chamar o meu vizinho para comer junto. Por que não? Parece clichê o que eu estou dizendo: entrar no elevador, esbarrar em uma pessoa, porque eu estou teclando e ela está teclando também. Mas é isso. E aqui é o início do nosso fim.

A revolução industrial foi responsável, o Prof. Marcos vai falar um pouco agora sobre isso, mas foi aqui que a gente começou a se perder. Os processos industriais ficaram todos muito mais fáceis e deram a ideia de que a gente poderia fazer tudo a qualquer hora, de uma forma muito mais cômoda. Quem aqui nunca foi controle de televisão? Eu fui. Eu tenho 36 anos. Menino, troca ali o canal da TV e eu ia, trocava e voltava... Menino, vai ali trocar o canal para o jornal. Eu ia... Isso há pouco tempo. Alguém aqui já foi controle de televisão? Eu fui controle de televisão por muito tempo. As TVs ficaram cada vez mais finas e a gente ficou cada vez mais largo. A gente come demais e a gente foi educado para comer demais. Como eu vou negar algo à minha avó? “Menino, você está comendo pouco. Come um pouco mais. Ah! Meu filho, isso é pouco demais.”

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Cozinherona com trezentos pratos, eu era obrigado a comer. Porque não se nega isso á avó, não se nega isso à mãe. Minha mãe é a mesma coisa. Então, a gente vai por conta disso.

Tudo mudou. Se a gente pega fotos da década de quarenta, da década de cinquenta, tinha muito mais pessoas na rua do que carros. Se você pega as imagens de hoje, tem muito mais carros. Brasília, então, se você está sem carro, você é quase um mendigo. Você tem que ter um carro, você tem que ir para um lugar e para outro, você tem que fazer acontecer a sua vida, porque senão... Então, toda a comodidade, a pseudocomodidade que a indústria nos trouxe, ela trouxe para a alimentação também. E as grandes empresas de alimentação estão se associando às grandes empresas de farmácia. Olha que coisa linda isso. Eu lhe dou o veneno e lhe dou o remédio. É uma decisão tua. Mas, graças a Deus, a gente tem uma série de outros movimentos contrários a isso.

Praticidade versus malefícios, surgimento de uma série de patologias. Mangabeira, por favor me ajude nesse argumento todo, se você quiser falar. Se não quiser falar nada... ausência de atividade física. Ontem eu estava sentado na frente desse senhor, buscando, mais uma vez, o milagre de perder oito, nove quilos que ganhei, de quando a minha filha nasceu para cá. O argumento foi fatídico: “você é um cara que se alimenta bem, mas não faz atividade física nenhuma, é completamente sedentário!” Eu digo: sou. E é isso. Ou eu aceito as minhas limitações, a minha parte de culpa nessa história toda ou... É matemática! A grande maioria aqui como nutricionista sabe que isso é matemática pura e aplicada! Você tem que gastar o tanto que você ingere! Estou abrindo o meu coração aqui, hoje. (Risos.)

Pouco convívio social. Claro. Eu não passo mais na venda da D. Fulaninha e peço para ela tratar o frango para mim. Não. Eu não conheço mais o meu produtor. Eu chego a um supermercado e compro tudo que está lá.

O Sr. Mário é um produtor de queijo lá da Serra da Canastra. Ele fez parte daquele documentário chamado O Mineiro e o Queijo, que foi uma revolução para o queijo mineiro, que era proibido de sair do Estado de Minas Gerais e recebeu licença para fazer isso. A gente importa queijo de leite cru da Europa, mas não pode vender os nossos queijos de leite cru. Então, há um documentário muito legal chamado O Mineiro e o Queijo. A Nestlé tentou comprar a produção dele três vezes. E todas as vezes em que um representante da Nestlé chegava, ele fazia o mesmo desafio. Quem consome queijo de leite cru, principalmente os da Canastra – na minha opinião, são os melhores –, sabe que eles duram ad eternum. Você compra o queijo, tira a sua porção, cura, faz parmesão, se quiser, e deixa o queijo na geladeira. Ele vai amadurecendo, ele vai maturando, ele vai maturando, ele vai se modificando em sabor, mas ele continua vivo! Vivo!

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E aí, o Sr. Mário virou para o representante da Nestlé e disse o seguinte: “vamos fazer um teste. Eu lhe vendo a minha fazenda, a gente deixa o meu queijo em cima da mesa por uma semana, e você deixa o seu queijo em cima da mesa por uma semana. A gente volta, eu como o meu, e você come o seu. Se você comer o seu queijo, eu lhe vendo a minha fazenda”. Quando ele chegou, o queijo estava verde! O outro estava maturando, e o da Nestlé estava verde! Nunca comeria!

Então, a gente entra no supermercado hoje e compra o que o Mário chama de comida embalsamada. Está tudo lá, dentro de sacos de vácuo. A gente se alimenta dessa forma!

Há outra máxima do Carlo Petrini, que é fabulosa: “vamos descascar mais e desembalar menos!” Pessoal, a gente entra em uma rede de supermercado, e há mexerica descascada e embaladinha a vácuo! Mexerica descascada é o fim! É o fim! Não dá! A gente não pode permitir isso. A gente tem que plantar ora-pro-nóbis, a gente tem que mexer com terra. São esses movimentos. É uma horta linda que está aqui fora, os servidores têm que passar e regar ali também.

Então, vamos desembalar menos e descascar mais. Não é minha essa frase; é do Carlos Petrini, fundador do slow food, um italiano com uma reflexão lindíssima da vida.

Perda de identidade alimentar: a gente tem uma massificação de sabor. Tudo sai da indústria, tudo tem reguladores de acidez, tudo tem potencializador de sabor, como o glutamato monossódico. Então, molho de tomate é molho de tomate para todo mundo, o que muda é a marca; óleo de soja é óleo de soja para todo mundo; beterraba sai com o mesmo sabor. A gente está produzindo em massa. A gente produz em massa. Então, não há mais alteração de identidade alimentar.

Setenta e seis por cento do que a gente consome vem da indústria. E aí o que vocês fazem com essa informação é responsabilidade de vocês. Se eu entro para a nutrição alimentar, então, a coisa degringola muito mais, porque o índice que mais cresce é o de crianças bebendo refrigerante. Crianças até os cinco anos de idade estão consumindo em torno de um litro e meio de refrigerante por dia. Até os cinco anos de idade. Triste, não é?

Minha filha, no auge dos seus quatro anos, disse: pai, vamos na minha creche. Eu queria que você cozinhasse na minha creche. Aí, eu disse: como é que eu nego? Não posso negar. Aí, eu conversei com a diretora da escola e fui. Fui fazer uma oficina com eles, com as crianças de quatro, cinco anos. Eu fiz umas gelatinas. Só que a professora me disse: olha, muitas dessas crianças são alérgicas aos corantes. Aí, eu disse: “Me lasquei”. Não. Não me lasquei não. É só botar a cabeça para pensar um pouquinho. Eu peguei um gelificante natural e gelifiquei a fruta. Eu não

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posso esquecer que a gente está trabalhando com crianças de cinco anos, seis anos. Então, eu tenho que ser mais lúdico no meu processo.

Eu levei frutas, cortei as frutas, processei as frutas, fiz o suquinho das frutas e gelifiquei essas frutas com esse gelificante natural. Então, eu tinha uma gelatina colorida. Tinha gelatina de laranja com beterraba para as meninas, tinha gelatina verde, de couve, para os meninos, todos com ingredientes mascarados com outros que deixassem o paladar muito mais aceitável para uma criança de cinco, seis anos. Nossa, virou uma farra! Mas uma das crianças quebrou completamente as minhas pernas. Quase que eu perdi a voz e vim embora para casa. Eu fiz uma manga. Eu gelifiquei uma manga amarela. E ela perguntou: “Tio, manga é assim? Não é na caixa?” Aquilo foi um tiro no meu coração. Foi punk! É isso. Essas são as nossas crianças. A gente não tem mais terra para mexer. É tão fácil plantar um treco desse em casa, ter uma mini-horta com ervas frescas. É tão tranquilo! E devíamos largar essa molecada no meio do mato, deixar que esses meninos peguem uns carrapatos. Está tudo bem, crescemos até hoje assim.

Mas nem tudo são flores. Os processos industriais foram cruéis e continuam sendo, até que a gente mude a ótica. Em todo lugar ao qual eu chego para falar, eu apresento esse vídeo de cinco minutos para vocês. A ideia é chocar. O objetivo é esse.

Já vou terminar, estou acabando. (Apresentação de vídeo.)

SR. MARCOS LÉLIS – Depende de vocês, a partir de agora também, e não só de mim, falar sobre isso aqui, que a gente sabe que acontece. Ninguém quer ver esse lado feio.

Eu não vou me alongar muito. A gente tem uma série de movimentos que são contrários aos processos industriais, que é a minha grande militância hoje. Para mim, tem briga, tem rótulo, e como o Petrini fala: a sua avó comeria esse ingrediente? Não. Você consegue pronunciar esse ingrediente, esse item que está nesse ingrediente? Não? Então não compre! Eu sou mais cético: saiu da indústria, para mim já não presta. Óbvio que a gente tem que abrir as exceções para algumas coisas.

Sobre o movimento slow food, eu coloquei aqui para que depois vocês pesquisem um pouco mais o que é isso. Esse movimento foi fundado na Itália, por Carlo Petrini, e ganhou o mundo. É um senhor incrível, com elucidações muito interessantes sobre o papel social da alimentação.

Quanto ao Instituto ATÁ, daqui a pouco o Eduardo estará aqui juntamente com o Felipe para bater um papo com vocês também. Há as

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Pancs, como alternativa dessa massificação de ingredientes que a gente tem.

A gente entra no supermercado e só tem aqueles ingredientes para consumir; não tem essa diversidade absurda que a gente pode ter no quintal de casa – o Paulinho já falou um pouco sobre isso com vocês; enquanto eu estou cozinhando, pode-se falar um pouco mais também.

E há as comunidades CSAs. Aí, sim, hoje o meu grande mote de pesquisa está nas CSAs, as comunidades que sustentam a agricultura. A gente compra quotas. Eu não sei se alguém já teve a oportunidade de ter acesso a uma CSA. É uma estrutura completamente inovadora, é uma tecnologia alemã completamente inovadora, em que nós somos coagricultores. A gente sustenta a agricultura, a gente sustenta o agricultor. A gente paga uma taxa de duzentos reais por mês e, toda semana, eu vou lá e pego uma cesta de ingredientes do que a terra produziu. Isso, para mim, é fabuloso. Produziu abóbora, produziu laranja e produziu couve, é isso que eu tenho em casa. Primeiro, porque me força a cozinhar mais, com ingredientes que não são do meu dia a dia. Segundo, porque estou ajudando uma técnica a se preservar. Famílias sobrevivem disso. Terceiro, porque estou comendo limpo, sem incidência de agrotóxico nenhum. Então, é uma via de mão dupla. Pesquisem isso. Aqui a gente já tem vinte e uma unidades em todo o Distrito Federal, em todos os lugares, em todos os pontos de vendas, em todos os pontos de quotas e em todos os pontos de entrega. Eu vou fazer a minha pamonha e vou deixar os meninos...

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Só um adendo sobre o CSA, uma coisa interessante saber: o CSA é um movimento mundial e em nenhum país do mundo teve um crescimento tão rápido como teve no Brasil, e em nenhuma cidade no mundo teve um crescimento tão rápido, proporcional como aconteceu em Brasília. É muito legal saber disso.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Galera, aqui a coisa vai ser super simples. Eu já trouxe para vocês uma couve mineira que eu cortei em pedaços grossos e largos e refoguei isso com uma pitada de sal e azeite de oliva. Só isso que eu tenho aqui nesse recipientizinho. Alguém faz compras na Feira do Guará? Lá vai encontrar o Sr. Gil, que é um produtor de milho. E o Sr. Gil rala o milho e já entrega o purezinho do milho pronto para você fazer o que quiser e bem entender. “Sr. Gil, eu preciso de seis ou sete espigas, rala para mim, por favor.” Ele tem a maquininha dele da época do avô ou da avó dele e rala. E em casa eu liquidifiquei um pouquinho mais para tirar os resíduos do milho, para ficar um pouco mais estético o prato. Milho ralado, absolutamente mais nada. E para montar essa pamonha eu fiz um caldo de hortaliça. É um caldo base. Em qualquer aula de cozinha que vocês vão ter, vai-se falar em fundo em caldo. O que eu tenho aqui? Restos e aparas de ingredientes que foram utilizados.

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Inclusive, fiz isso hoje na universidade enquanto os alunos cozinhavam. “Ah! Tem um talinho de cenoura, tem um pedacinho de cebola...” refoguei, caramelizei todos esses ingredientes e coloquei água. É como se fosse uma infusão, um chazinho que você faz em casa. Coloca no fogo baixo, tampa e, em dez, vinte minutos de cozimento, ele solta o sabor para a água. Mais nada. É um aromatizante, um saborizante feito com uma folha de louro, umas ervas frescas ou secas, uma pimenta do reino quebrada... Fica a critério.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Qualquer casca, se for jogar fora, joga no caldo de legumes.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Exatamente.(Intervenção fora do microfone.)

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Depois vou precisar de uma cobaia para validar. O Eduardo me disse que íamos ter degustação para trezentas pessoas. “Marcos, o Eduardo é louco. Esquece o que o Eduardo falou. Vamos fazer o que der”.

Aqui é só tomar cor. Milho, amido puro. Para deixar a coisa um pouco mais vendável, um pouco mais de técnica, fiz para vocês um pó de ervas frescas. Isso é supersimples. Eu desidratei as ervas básicas que a gente tem, na nossa cozinha, no dia a dia: salsa, cebolinha e coentro. “Ah, mas eu não tenho a desidratadora”. Nem eu, mas a gente tem micro-ondas – revolução industrial. Deixando por três minutos no micro-ondas, você desidrata qualquer erva fresca.

Vocês entenderam o que acabei de dizer? Vocês não precisam mais jogar o resto do coentro, da salsa e da cebolinha fora que a gente compra e não usa. É superfácil. É só desidratar que você vai ter o pó. Desidrata, quebra, peneira e você tem o seu pó, que vai durar.

Quem provar e disser que a pamonha da avó é mais gostosa do que a minha está no sal.

Como coloquei uma pressão muito alta de fogo, ele vai formando uns grumos – isso é do próprio milho, do próprio amido – na parte de baixo. Daí, eu quebro esses grumos com o fuê. Você é da cozinha?

Qual a melhor forma de desidratar? A forma mais fácil é através do micro-ondas. Você pode usar os talos para fazer o caldo, você pode usar o talo para desidratar. Essa coisa do talo é curiosa, porque, como o Paulinho acabou de falar, a gente tem o hábito de tirar o talo da couve: descarta o talo e come a folha. A gente tira o alho-poró e descarta toda aquela parte verde. Isso é perfeito para os caules. A farofa do talo da couve-manteiga é uma coisa incrível, porque tem textura. Não se joga talo fora. Salsão, cebolinha, salsinha, as pessoas tiram as folhas, pegam o talo da salsinha e

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joga fora. O sabor está muito maior no talo que na própria folha. A gente não descarta o talo.

Se você tiver um forno em que você controle a temperatura, ou se você for esse controle de temperatura, que vai lá de vez em quando e abre... Porque geralmente um forno convencional só chega a 160º de mínimo. Com 160º pode ser que você queime esses talos. Então, você tem que ir lá e abrir de vez em quando o forno para tirar um pouco dessa temperatura.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Já que você perguntou se alguém queria falar alguma coisa, eu vou falar. Eu sei que a gente tem vários temas para se sensibilizar. Hoje em dia, com Facebook, internet e WhatsApp, se você quiser escolher um nicho de assunto para você ficar mal ou ficar bem, você tem.

Eu tenho uma tendência de ser muito prático em algumas coisas. Então, enquanto o Lélis falava, eu achei que seria oportuno a gente considerar o que de prático eu posso fazer para, em virtude desse chamado, a gente transformar isso em atitudes?

Outro dia eu atendi uma senhora que me falou assim: “Olha, em supermercado, eu só compro material de limpeza”. Falei: “Caramba. É um nível de adesão forte”.

Então, você sabe que esse movimento vem crescendo. É maior em São Paulo, mas tem chegado aqui de feiras. Já existem legislações, portarias do Ministério da Saúde que estabelecem, não só para alimentação infantil, para as merendas, que 30% do que se compra tem que vim do pequeno agricultor, da agricultura familiar. Não no âmbito só da escola, como estou dizendo, mas em qualquer autarquia, qualquer Administração direta, quando fosse licitar, teria de comprar 30% do pequeno produtor.

Então, essas são coisas sobre as quais a gente fala: “mas isso vai me dar um trabalho. Isso vai implicar deslocamento.” Enfim... Aí, a gente, infelizmente, cai diante de uma constatação: nós temos de transformar isso numa prioridade de vida.

Eu estava dizendo ao Lélis ontem: “cara, não adianta! Nós nascemos nesta época de comodidade: um celular fino me seduz mais, eu não vou comprar carro sem vidro elétrico, sem direção hidráulica, se puder... estou comprando. Mas eu vou ter de lidar com os males do meu tempo. ” Nós não estamos lidando com o problema de falta de antibiótico, nem com tuberculose, hanseníase. Nós fomos sorteados para lidar com o que a gente tem hoje, e hoje estamos lidando com as consequências de uma industrialização sem escrúpulos, com uma tendência natural de querer praticidade... Quem vai entregar uma hora de seu dia, nessa seca, para fazer atividade física é alguém que está num nível de muita

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consciência, porque, se você deixar o meu eu, eu quero conforto. Eu não quero sair correndo no parque. É quase insalubre fazer um negócio desse.

Então, você gostaria de ter uma hora de seu dia a mais para fazer caldo? Para desidratar ervas? Para ter mais trabalho? Só se você considerar que isso é uma prioridade de vida, se não... A gente até sai comovido, mas, transformar em atitude prática... Isso é um desafio para mim... Um desafio para todo mundo aqui, né?

(Intervenção fora do microfone.)ORADOR NÃO IDENTIFICADO (Fora do microfone) – (Inaudível)... se

preocupa mais com o stress do que com a saúde. E, nesse sentido, sendo porta-voz nesse momento, eu tenho a honra de trabalhar num setor, na Secretaria de Saúde, de práticas integrativas em saúde, que visa fornecer à população Hatha Yoga, acupuntura, antroposofia, heiki. E o que isso tem de interessante do ponto de vista comunitário? E eu acho que tem do ponto de vista de a gente pensar em estratégias para diminuirmos o nosso ritmo, a fim de pararmos de olhar só para fora e começarmos a olhar para dentro, porque, se eu não olho para dentro, eu realmente não vou conseguir entender direito o (inaudível). Eu não vou conseguir entender que isso é essencial para que tenha uma longevidade minimamente digna.

Porque eu não acho digno realmente adoecer e passar pelo processo de adoecimento que a gente tem porque a gente fez escolhas práticas, ou porque a gente não parou, em nenhum momento, para refletir.

Então, eu acho interessante a sua colocação, porque é voltar ao que a gente era há trinta anos.

Eu me lembro que era raríssimo comermos aqueles bolos industrializados. Refrigerante era raríssimo! E as populações mais pobres comiam a matéria-prima: o feijão, o arroz. E, de repente, a humanidade chegou a um caminho tão oposto que hoje o chic é comer o arroz integral, é comer o feijão. E as populações menos abonadas são as que compram os produtos mais industrializados.

Então, é interessante, inclusive, que a perspectiva de valor mudou, mas eu acho que a gente, na condição de comunidade, precisa, sim, refletir com frequência, seja em uma CSA, seja em outras formas comunitárias de ação. Por exemplo, se vai jogar fora e estragar o tempero, por que não se pega metade dele e oferece para o vizinho? Por que a gente não começa a criar outras estratégias, a gente tem, por exemplo, aplicativo que eu acho que se chama Pão de Açúcar em que você fala: “Eu preciso de tal coisa”, aí alguém da vizinhança diz: “Eu tenho a escada para te emprestar”, “eu tenho a minha airfryer”, e aí você começa a produzir laços. Então eu falo com propriedade, a gente sabe que a Organização Mundial de Saúde diz que dentre as dez maiores doenças da

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humanidade a gente tem a depressão e a ansiedade, que são doenças de relação, são doenças que tornam a gente incapaz, são resultados da nossa incapacidade de estar com a comunidade, juntos.

Eu acho que essas possibilidades de reflexão, a gente tem que começar a alimentar com mais frequência, porque a questão não é também viver o mundo ideal. Eu mesmo como doce, mas eu como com consciência, porque eu sei que isso não é saudável, mas eu, nesse momento, acho que é muito diferente da relação com a comida.

Lamento, eu não sou perfeito também. Mas eu acho que é muito mais interessante do que entrar em uma relação culpabilizante com a alimentação. Uma coisa que a gente sabe, por exemplo, pegando a cultura americana, é que existe um hábito de consumo tão grande que se sabe que se está comendo algo que vai engordar e que não vai fazer bem, o que gera um processo de ansiedade e de mais consumo. As pessoas comem rápido, que é o contrário do slow food, o comer devagar me traz consciência para o que eu estou fazendo e essa consciência talvez seja o único caminho que a gente tenha para cuidar da própria saúde. Então, eu queria só acrescentar isso para a gente pensar esses princípios juntos.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Beleza, quantas pessoas aqui poderiam compartilhar os seus pontos de vista e enriquecer... Foi muito legal! E eu, só para fechar isso, diria o seguinte: eu acho que a gente está em uma perspectiva mais otimista do que em outros tempos, porque quando eu observo o que eu consumo, tudo o que eu tenho não foi resultado da influência, eu não me vejo tendo sido alcançado tão diretamente pela televisão, pela propaganda. Eu estava dizendo isso. Hoje a gente está muito mais influenciado pelo que alguém nos diz que é bom: “Vá àquele restaurante”, “vá àquele lugar”... O poder das pessoas que têm uma certa conexão com a gente, como os formadores de opinião aumentaram, se comparado a outros tempos. É por isso que eu acredito em uma iniciativa como essa, porque o seu poder de replicar isso aqui, de endossar isso como um valor, como um estilo de vida, está mais forte do que em outra época.

Segue, por favor. MESTRE DE CERIMÔNIAS – Pessoal, é isso. Obrigado a todos. O nosso (inaudível) está aqui, queria depois

passar o olho, passar o dedo.SR. MARCOS LÉLIS – Isso. Coloquei um pozinho de ervas que eu

desidratei e hoje o Paulinho, de toda a sua horta, trouxe beldroega, uma florzinha de jambu, e terminei montando esse prato para ficar um pouco mais estético. (Palmas.)

MESTRE DE CERIMÔNIAS – Com licença, se você me permite.

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Uma salva de palmas para o Sr. Marcos Lélis. A gente, como cerimonial, tem que equalizar o tempo. Mas estou

adorando, acho fantástico. Acho que duas coisas vão salvar a humanidade: a educação e a alimentação. E o cooperativismo, de que estávamos falando agora. É exatamente isso.

Eu sugiro que o Sr. Marcos Lélis deixe o prato com as pessoas e elas vão passando e dando uma provada. Acho legal. Interage mais.

Enquanto isso acontece, convido para fazer uso da palavra o Sr. Felipe Ribenboim, do Fruto – Instituto Atá.

SR. FELIPE RIBENBOIM – Agradeço a oportunidade de poder falar... Vou contar um pouquinho do próximo projeto que é do Instituto Atá, do Alex Atala. O Luiz está aqui representando. Aproveitei uma brecha em algumas reuniões que a gente já teve e fiquei honrado de dividir isso com vocês.

O Fruto é um seminário, é o próximo projeto que será encabeçado entre o Instituto Atá, do Alex Atala, e eu, como coordenador do projeto. A gente vai discutir um pouco as possibilidades de alimentar o mundo. Então, é um seminário que a gente vai fazer anualmente. O inicial vai começar em São Paulo, em janeiro de 2018. Terça-feira da semana passada, apresentamos para uma coletiva de imprensa e acho que estrategicamente também foi muito bom a gente poder contar com essa segunda apresentação aqui em Brasília.

A ideia do Fruto é um pouco entender... O Alex já participou de alguns seminários estritamente de alta gastronomia para discutir a relação do alimento. E a ideia do fruto é a gente discutir processos um pouco, passos atrás, entendendo o alimento como agente transformar, entender o alimento por processos que a gente dividiu, aqui dentro do seminário, mas se vai falar um pouco que o alimento carrega história, tradições, as relações culturais e essas inter-relações que a gente tem sociais com o alimento. Acho que muitos desses temas foram tocados aqui tanto com comentários quanto com o conteúdo da palestra.

A ideia do Fruto é a gente discutir um pouco como gerar, dando passos atrás, entendendo o alimento em si, o produto e entender também o produtor e toda a cadeia que está em volta do alimento. Então, a gente discute aqui um pouco o acesso e, principalmente, entendendo um tripé que para nós é muito importante: indústria, poder público e consumidor, seja ele consumidor na etapa pensador, na etapa educador ou transformador do processo do alimento.

A ideia do fruto que a gente chamou aqui como mais do que semear é frutificar, daí veio a ideia do Fruto. A gente dividiu e eu vou estruturá-lo um pouco aqui. O Brasil, principalmente como um dos países

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produtores, grandes produtores de alimentos exportadores e ainda na questão de commodities, de processos em torno do alimento, a gente resolveu criar, o Alex resolveu criar e chamar um grupo de pessoas para pensar um pouco esse seminário de como dar acesso ao alimento e à água potável a grande parte da população mundial. A gente coloca aqui quase 8 bilhões de pessoas em 2030, segundo a ONU. Então, a gente resolveu criar algumas discussões que vão dar alternativas para o acesso ao alimento.

A gente dividiu o Fruto em três eixos. Pulando etapa, é um projeto do Instituto Atá. Então, são três os eixos do Fruto. A gente o dividiu em: aspectos culturais, sociais e biológicos. Dentro dos aspectos sociais, vou aqui já colocar alguns nomes confirmados para o evento que vai acontecer. É um seminário global para 300 pessoas, que vai acontecer em São Paulo, e vai ter um livestream gratuito para o mundo inteiro. O site já está on line, com algum conteúdo da coletiva de imprensa da semana passada. Ele reúne, de modo mais descritivo, os eventos. Ao longo do tempo que antecede o Fruto, até janeiro de 2018, a gente vai colocando novas informações e novos conteúdos que a gente vai abordar.

A gente dividiu em cultural para entender a relação do homem com o alimento e o quanto o alimento expressa um pouco as nossas tradições e agrupa e reflete a nossa cultura local.

A primeira palestra vai tratar sobre cultura alimentar, e está confirmada a presença da Dra. Suzana Herculano, uma neurocientista que trabalha em Harvard, nos Estados Unidos. O enfoque da palestra dela no Fruto será o desenvolvimento do cérebro humano após o uso do fogo para alimentação. A gente já começa nesse ponto da evolução e do desenvolvimento do cérebro humano.

Outra palestra será sobre culturas e sabedorias dos povos originários. Também haverá uma de miscigenações, trocas, usos e derivações. Então, a gente também entende os produtos locais. O Jerônimo Villas Bôas é também um parceiro do Atá que vai estar aqui. Ele faz um grande trabalho do desenvolvimento de mel de abelhas nativas no Brasil.

Dentro do eixo biológico, a gente vai tratar um pouco a relação do alimento no seu meio ambiente. Vamos tocar um pouco nos temas agrícolas, no desenvolvimento de novas tecnologias, nos geneticamente modificados, nas plantas como benefício final, mas entendendo um pouco o meio ambiente no percurso.

Sobre terra, ar e água, falará especificamente sobre água, Céline Cousteau. Teremos também Paulina Chamorro, uma grande jornalista premiada, que trabalha com as questões de meio ambiente na Vozes do Brasil.

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A gente vai falar um pouco também sobre novas técnicas de plantio para agricultura, entendendo o uso racional dos recursos e o alimento como um todo, falando de cascas, desusos, restos, etc. E a gente vai ter também outro eixo que fala um pouco do comércio de orgânicos: como dar acesso ao orgânico à grande população, que nada mais é do que ter um pedaço de terra na frente de casa.

Vamos falar um pouco sobre saúde, essas tendências alimentares, tendências de saúde. Temos também, dentro dos eixos biológicos, Jon Rose, um surfista que tem um programa chamado Waves for water, que leva filtros para lugares que não têm acesso à água potável, e água potável para lugares de catástrofe natural; e a presença do Ernst Götsch, pai da sintropia e da agrofloresta, para a gente entender como melhorar com um pequeno pedaço de terra em frente de casa.

Eu estou falando super rápido porque eu tenho um tempo mais curto. Daí, a gente entra mais nos eixos sociais. Como a gente comentou antes, a maior rede social do mundo é o alimento, é o que une todo mundo, é o início de cada papo. A gente vai entender um pouquinho isso pelos aspectos de sociologia do alimento, antropologia do alimento – como a gente se relaciona com tudo isso –, entendendo principalmente Beto Ricardo, um dos fundadores do Instituto Socioambiental, que também vai falar um pouquinho dessa questão de antropologia junto com o Mark, que é um dos fundadores do Nordic Food Lab e um dos gestores do MAD, um evento de gastronomia da Dinamarca.

Depois, a gente vai tratar de dois temas muito importantes, pois a gente acredita que mais do que semear, vai frutificar: é a comida como elemento cultural, as políticas públicas que envolvem toda a questão do alimento. Por isso, a grande importância de estar aqui, principalmente em Brasília, que representa tudo isso. E a gente vai ter como referência algumas das políticas que já acontecem no mundo, como na Dinamarca, México, Peru, trazendo luz a essas questões de políticas públicas que envolvem o alimento e acabam melhorando inclusive o turismo, a questão econômica e cultural de cada país.

A última, que eu acho que para a gente é superimportante, é a questão da educação alimentar. Estão inclusos aí temas que vão tratar da educação alimentar em escolas públicas, com um guia que vai finalizar o evento.

O evento também tem uma agenda. O seu formato é de quarenta minutos de palestras, com vinte minutos para perguntas e respostas – modelo TED, TEDx. A ideia é que todo o conteúdo apresentado seja transmitido live streaming gratuitamente no mundo inteiro.

Para mais informações, de agora até janeiro, a gente vai subindo mais informações. O site é www.fru.to. A gente vai jogando todas as

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informações. É um evento colaborativo, então, quanto mais ações, melhor. Inclusive no live streaming vai ter um acesso a perguntas e respostas.

Agradeço a oportunidade de apresentar, mesmo que super rapidamente.

Contamos com a colaboração de todos vocês.Muito obrigado. (Palmas.)MESTRE DE CERIMÔNIAS – Obrigado, Felipe. Dando continuidade ao nosso evento, senhoras e senhores,

teremos agora a Mesa de debates que tratará do tema Saúde e Sustentabilidade Ambiental do Alimento que Chega à Nossa Mesa.

Participam da Mesa o Subsecretário de Resíduos Sólidos da Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal, Sr. Jorge Arthur Oliveira; o representante da FAO Brasil, Sr. Alan Bojanic; o gerente da Divisão de Vigilância Sanitária do Distrito Federal, Sr. André Godoy; a médica especialista em Saúde da Mulher e produtora orgânica, Dra. Livia Martins Carneiro. (Palmas.)

Para mediar esta Mesa, convidamos a coordenadora do Grupo de Trabalho de Segurança Alimentar e Nutricional da Frente Parlamentar, Sra. Thaís Mandarino. (Palmas.)

Nós teremos uma projeção – solicito a atenção da equipe de audiovisual.

SRA. THAÍS MANDARINO – Boa tarde a todas e a todos. Vamos iniciar a Mesa Saúde e Sustentabilidade Ambiental do

Alimento que Chega à Nossa Mesa. Vamos iniciar com a fala do Sr. Alan Bojanic, porque ele vai ter que se ausentar às 16h30min.

Cada pessoa da Mesa vai ter quinze minutos de fala; depois vamos abrir para os debates.

SR. ALAN BOJANIC – Muito obrigado. Boa tarde a todas, boa tarde a todos, é uma honra estar aqui com vocês.

Eu vou falar de duas questões, vou falar um pouquinho da dimensão da utilização dos alimentos dentro da segurança alimentar. Depois vou me referir a uma grande agenda, que é a Agenda 2030, principalmente ao objetivo 2 da Agenda 2030, que é a erradicação da fome no mundo até o ano 2030. Então, vou falar dessas duas questões.

Adorei a apresentação que tivemos, porque foi não convencional. Vou utilizar uma coisa mais convencional, que é justamente falar de algumas coisas que já são conhecidas, mas que acho que vale a pena repetir, vale a pena reiterar, porque ainda estamos longe de atingir soluções práticas para o problema da fome no mundo.

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O grande problema é que ainda temos 800 milhões de pessoas, no mundo inteiro, em situação de insegurança alimentar. Na América Latina são mais de 36 milhões de pessoas em insegurança alimentar. O Brasil saiu do mapa da fome no ano 2014, mas ainda tem entre 3 e 5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.

Então, o problema ainda está aí. Insegurança alimentar não é só produção. Das quatro dimensões da segurança alimentar, a primeira é produzir alimentos, ter alimentos. Então, precisamos aumentar a safra, produzir, mas é só uma dimensão. A dimensão do acesso aos alimentos é outra dimensão central. O grande problema da humanidade nesse momento é o acesso aos alimentos. Esses 800 milhões de pessoas passam fome não porque não têm alimentos, mas porque não têm acesso aos alimentos. Os alimentos existem no mundo para alimentar toda a humanidade, até sobram alimentos. Temos grandes estoques de alimentos, no mundo inteiro, mas temos dificuldades para poder fazer com que essas pessoas tenham o dinheiro para comprar uma dieta, para acessar uma dieta sadia para poderem levar uma vida saudável.

A terceira dimensão é justamente essa que estamos vendo aqui, a utilização, como vamos utilizar... Porque não adianta ter os alimentos, acessar os alimentos e não fazer uma boa utilização. Então, a questão de educação alimentar é um tema central, educação sobre como podemos fazer o uso integral dos alimentos. As pancs entram dentro disso, os alimentos não convencionais. Temos que fazer muito mais para promover alimentos nutritivos, principalmente em crianças, para fazer do pilar da utilização de alimentos um pilar central.

Fala-se muito pouco de segurança alimentar, do pilar da utilização, quando falamos de segurança alimentar, mas, sem dúvida, eventos como esses são chaves para promover a necessidade de fazer um curso integral dos alimentos e fazer a utilização das cascas, fazer algo quando precisa ser cozido ou não o alimento. Temos ainda um monte de aspectos que temos de conhecer mais a fundo para fazer essa utilização. Às vezes, mesmo falando com nutricionistas, têm alguns “inaudível” de como fazer o melhor aproveitamento das plantas ou de qualquer tipo de comida. Então, esse pilar da utilização, sem dúvida, temos de relevá-lo em todo o momento.

O quarto pilar é justamente o pilar da estabilidade no tempo. Não adianta ter alimentos, não adianta fazer uma boa utilização deles se alguma parte do ano não vamos ter os alimentos. Então, como asseguramos nos anos inteiros e como fazemos uma projeção a longo prazo para que os alimentos sempre estejam acessíveis a toda a população mundial.

Então, dentro desse conceito de segurança alimentar, a FAL vem promovendo um conjunto de ações, políticas... Tentamos fazer projetos

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específicos para centrá-los em grupos vulneráveis. Aí temos um outro tema que virou um tema central, que é o desperdício de alimentos. Acho que todos vocês já ouviram falar que um terço dos alimentos do mundo são desperdiçados. No Brasil, o número está por aí, 20% a 30% de tudo que é produzido é desperdiçado. Isso tem quatro dimensões também, e uma delas é a social. Como é possível pessoas ainda passarem fome e alimentos sendo desperdiçados? A outra dimensão é a econômica. Quando jogamos comida, estamos jogando dinheiro. Estamos desperdiçando ganhos que podemos ter. Então, os mesmos produtores que não fazem uma boa colheita e deixam uma boa parte da produção no campo estão perdendo dinheiro. Então, tem uma dimensão financeira e econômica.

A outra dimensão é a ética. Não é possível que, neste mundo que ainda tem o grande problema da fome, não tenhamos mais solidariedade para justamente fazer com que os alimentos que são desperdiçados possam chegar às pessoas mais carentes, mais necessitadas e mais vulneráveis.

A quarta é a dimensão ambiental. Os alimentos desperdiçados – e esse é um cálculo bastante sério – emitem gases de efeito estufa, principalmente óxido nitroso, metano, muito metano, CO2 também, e a quantidade dessas emissões no mundo inteiro, desse terço da produção global que é desperdiçada, é quase igual às emissões de gases do efeito estufa do parque automotor do mundo inteiro. Então, as emissões de gases do efeito estufa são enormes por conta do desperdício de alimentos e há outras dimensões ambientais: sujeira, lixo e outras questões ambientais.

Então, a dimensão ambiental do desperdício de alimentos é central. Portanto, é fundamental também colocar nas agendas de políticas públicas, bem alto, o tema de como podemos fazer mais para reduzir o desperdício de alimentos. Essa é a primeira colocação que eu queria fazer.

A segunda colocação é justamente que, no ano de 2015, na Assembleia Geral da Nações Unidas, mais de duzentos chefes de estado – primeiros ministros, presidentes dos países – assinaram a Agenda 2030, a agenda mais ambiciosa que a humanidade concebeu. Tivemos a Agenda do Rio, a Agenda 92, que foi uma agenda muito progressista, em termos ambientais. Tivemos outras agendas, como os objetivos de desenvolvimento do milênio, que também eram uma agenda, mas não eram agendas tão ambiciosas em termos de tocar os temas.

A Agenda 2030 é uma agenda social, é uma agenda econômica, é uma agenda ambiental, é uma agenda que tem múltiplas... agenda de paz, agenda de justiça social, é uma agenda muito ambiciosa. E temos dois objetivos que têm a ver com esse evento; há mais, mas são principalmente dois: a erradicação da pobreza e a erradicação da fome para o ano de 2030. Faltam doze anos e é pouco tempo para esta grande

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meta, para este grande desafio que temos pela frente de erradicar a fome no mundo inteiro, com os problemas que temos de violência, os problemas que temos principalmente na África, com situações de guerra civil, situações de instabilidade social e política. Não é fácil.

Então, dentro do objetivo nº 2, que é a erradicação da fome para o ano de 2030, temos cinco metas que são chave para todos nós. A primeira, justamente, é a erradicação da fome em todo o planeta, em todos os níveis sociais para o ano de 2030.

A segunda meta do objetivo nº 2 é focalizar nos grupos mais vulneráveis, principalmente as crianças. E aí a questão não é só a erradicação da fome, mas também uma boa e saudável nutrição.

Temos, principalmente na América Latina, 60% da população com sobrepeso. O número no Brasil é um pouquinho mais baixo, 55%, mas mesmo assim é um número muito alto. Mais da metade da população brasileira tem um problema de sobrepeso – temos, eu também estou com um pouquinho de sobrepeso. Não estou alheio ao problema. A obesidade está em 23% no Brasil. Há países do Caribe, principalmente do Caribe, onde a obesidade chega a mais de 30%. Então, é uma epidemia. Esse objetivo e essa meta têm a ver com como vamos desenvolver hábitos mais saudáveis para uma boa alimentação, com comida saudável, comida em família, slow food, enfim, o que estamos falando hoje. São temas centrais para a humanidade.

A terceira meta do objetivo 2 é aumentar a produtividade da agricultura familiar, da agricultura dos povos indígenas, dos quilombolas. Como podemos fazer da agricultura familiar uma fonte ainda mais importante? Já é importante, mas ainda mais importante em termos culturais, nutricionais, em termos de promover mais a agricultura familiar, mas tem que ser uma agricultura familiar que seja também rentável para o pequeno produtor para que ele consiga ter uma vida digna, mandar os filhos para boas escolas e ter boa saúde.

Então, o complexo que tem a ver com a erradicação da pobreza tem a ver com geração de renda para a agricultura familiar no campo e nas áreas rurais.

O quarto objetivo tem a ver com se desenvolverem sistemas e práticas de agricultura sustentáveis. Um terço do solo do mundo inteiro é degradado e é um problema que vem crescendo. Temos problemas de secas, de mudanças climáticas, que vão afetando a agricultura.

Portanto, precisamos mudar o sistema de agricultura para que seja mais eficiente no uso da água, para que seja mais conservador em termos do uso do solo, para que possamos reduzir o uso de agrotóxicos e o uso de fertilizantes químicos, além de outras questões, para poder fazer uma agricultura muito mais amigável, com o meio ambiente e uma agricultura

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mais integrada com os sistemas naturais. Um exemplo disso é a integração lavoura/pecuária/floresta, práticas de plantio direto, que são práticas de conservação de solo.

É muito claro, nessa meta nº 4 do objetivo nº 2: como podemos ir avançando para que os agricultores do mundo inteiro consigam ter uma agricultura diferente da de hoje.

A quinta meta do objetivo nº 2 é a conservação da biodiversidade. Para isso, também precisamos de uma agricultura muito mais biológica, uma agricultura que respeite mais os princípios biológicos, de como funciona a macrofauna e a microfauna dos solos, as abelhas, o cuidado com os insetos benéficos para a agricultura.

A questão de uma agricultura que respeite a biodiversidade está também no centro desse grande objetivo nº 2.

Então, a Agenda 2030 é uma agenda realmente ambiciosa: toca em todos os temas e tem muito a ver com o que está se falando aqui. São dezessete objetivos. Só falei de um, que é o de número dois, pois achei mais pertinente, mas são dezessete objetivos, 169 metas e, além disso, há indicadores – são 217 – que serão monitorados.

A FAU é responsável pelo monitoramento, em como os países do mundo inteiro vão atingindo esses indicadores. A Organização Mundial da Saúde tem a responsabilidade de outros indicadores. Distintas agências das Nações Unidas têm responsabilidade.

Na verdade, essa Agenda 2030 não é só para os governos, não é só para a FAU, é uma agenda para todos nós. É uma agenda de grande alcance, para fazer deste mundo um mundo melhor, um mundo mais próspero, um mundo mais equitativo, com maior justiça social e também com maior respeito às considerações ambientais, para que as futuras gerações possam também usufruir das vantagens da natureza, das vantagens do meio ambiente de que nós usufruímos neste momento.

É uma agenda de sustentabilidade. É uma agenda social. É uma agenda de longo prazo com a finalidade de deixar um mundo melhor para as futuras gerações.

Muito obrigado. (Palmas.)SRA. THAÍS MANDARINO – Muito obrigada, Sr. Alan Bojanic.Eu acho que o senhor trouxe um pouco do que é a segurança

alimentar e nutricional em toda a sua amplitude e os desafios que nós temos pela frente.

Você falou um pouco dos dados do Brasil, mas o Distrito Federal não está muito diferente, pelo menos em relação à questão da obesidade e do sobrepeso. Acho que os últimos dados que nós temos é de que mais

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de 50% da população do DF está em sobrepeso e obesidade. É um número muito alto.

Nós saímos do mapa da fome, de fato, mas já há estudiosos dizendo que o Brasil está voltando para o mapa da fome. Isso é muito preocupante. Eu acho que a gente tem que pensar em estratégias, seguindo os objetivos da Agenda 20/30, pensando nesses desafios que estão aí, postos.

Estamos voltando para o mapa da fome. Temos uma preocupação muito grande com a disputa de terra. Os agricultores familiares, cada vez mais, estão perdendo as terras para os grandes agricultores. E a gente tem que ter essa preocupação e esse norte. Tanto a sociedade, como um todo, como o próprio Governo.

Muito obrigada.Agora, eu gostaria de passar a palavra para o Sr. Jorge Arthur

Oliveira, Subsecretário de Resíduos Sólidos da Secretaria de Meio Ambiente.

Você tem 15 minutos para falar.SR. JORGE ARTHUR OLIVEIRA – Obrigado.Boa tarde a todos. Desculpem-me, mas a minha gripe está muito

forte.Interessante: eu estou ocupando a função de Subsecretário de

Resíduos Sólidos e estou aqui falando de alimentação. Mas, na realidade, tem tudo a ver.

Acabei conhecendo um pouco de resíduos sólidos, procurando matéria orgânica no lixo, no esgoto e acabei conhecendo isso. Desde o tempo de CNPq, ainda estudante, tratando de aproveitamento de resíduos urbanos como fertilizantes. No fundo, é um elo perdido que se tem, que é o não retorno de matéria orgânica gerada na cidade para os solos produtivos, impacta vários desses pontos que foram ditos aqui.

Bom, em um clima, em uma realidade ambiental, mesmo, tropical, onde estamos inseridos no Brasil, a atividade agrícola, a atividade produtiva de alimentos não pode ser, não deve ser, na realidade, não pode seguir preceitos, tecnologias de outros locais, que, na realidade, são sempre os indicadores, os promotores de difusão tecnológica, que são basicamente de monoculturas, de locais onde a natureza é pouco diversificada.

Aqui, na nossa realidade, a natureza é extremamente diversificada. E, assim sendo, querer desenvolver processos produtivos de alimentos em sistemas homogêneos é forçar a barra, que nos leva a ter sementes, variedades e transgênicos que sejam resistentes a pragas, que sejam

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resistentes a doenças, que sejam muito homogêneos nos seus genótipos, com cargas genéticas muito semelhantes. Isso traz uma grande complicação para o ambiente produtivo.

O que é, de fato, necessário fazer para nos sintonizarmos? Diversificação de produção, diversificação de atividades no meio rural, na produção, nas estruturas produtivas. Fundamental também que diversifiquemos os nossos hábitos de consumo, que hoje estão restritos a trinta variedades no planeta.

Eu não sei os dados exatos, mas 90% do que se consome de alimentos são oriundos de trinta espécies e de variedades do planeta afora. Bom, aí entram outros pontos que são: como é que o ambiente se comporta e como é que nós nos comportamos também ao nos alimentarmos com produtos tão pouco diversificados, em situação de clima, de um ambiente de muita queima de energia, muita atividade, muita luz, muita água, muita atividade biológica tanto nos meios produtivos, quanto nas nossas vidas mesmo?

Só que aí a gente se depara com o grande modelão da nossa sociedade, que é botar todo mundo em uma cidade, isso vem desde a Revolução Industrial, e homogeneizar o consumo de todo mundo, para que se tenha a produção em larga escala e, com isso, condição de manter... E se acaba concentrando realmente muita riqueza, se concentrando os meios de produção e excluindo muita gente desse processo.

Bom, algumas experiências que eu tive de produção, sou produtor agroecológico há 34 anos, como é rico, como é, vamos dizer assim, satisfatório, como é agradável, eu acho isso, produzir, como é agradável plantar, como é agradável colher, e como é saudável manipular esses produtos. E tanto na produção como na outra ponta do processo, do consumo. Como é interessante vender produtos em feiras, entregar cestas de verduras para as pessoas que apreciam e que têm sensibilidade realmente de apreciar e de valorizar bons alimentos. Como é vitalizante manipular esse processo, mexer e tal, e ter esses contatos com essas pessoas.

E aí o que nos traz à reflexão do que, de fato, alimenta. Aqui há pessoas que vão falar realmente mais disso. Proteínas, vitaminas, sais minerais, carboidratos, é só isso? Ou existem produtos, existem alimentos com maior vitalidade, com maior valor biológico, com maior intensidade de, vamos dizer assim, prover energia para os nossos corpos, para as nossas vidas, nossas atividades de vida também.

Bom, algumas dessas coisas são interessantes, mas são também bastante difíceis de se encaixarem, quando a gente vê aqui todos esses objetivos, vinte, trinta... É possível realmente alcançar parte deles que seja, sem mudar o princípio básico das coisas? Sem mudar as estruturas

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dos processos? Por exemplo, cidade campo, as estruturas do medo de ter sempre que estar acumulando, ter sempre que estar juntando e da competição como ela se dá entre nós, eu acho um pouco difícil. É fundamental que se mude um pouco, que a gente consiga observar como os demais seres com os quais convivemos se organizam, como que eles se portam mesmo na competição, um comendo o outro na cadeia trófica, mas como há um respeito e, por exemplo, não há desperdício. Os ciclos são todos fechados, não existem pragas no meio ambiente. Existe tudo, mas não existe doença, não existe praga, não existem grandes populações que predominem sobre outras. As dificuldades de todos esses processos, quer dizer, a ausência de observação desses processos nos traz, para alterar os sistemas produtivos que prevalecem...

Também não sei dizer com precisão, mas eu acredito que 90% do que produzimos na agricultura brasileira é para exportação, para manter, para criar essa fábricas de alimentos, de carnes, fábrica de frango, de porco, de boi. E o que isso nos traz de fato? Como que, ao ingerir esses produtos, nosso corpo se comporta? São equilibrados? Trazem vitalidade? Trazem saúde?

Bom, eu me perdi um pouco aqui, mas voltando para a história produção, comercialização, dependência de insumos, vou focar um pouco mais na parte produção realmente e bem rapidamente também.

É extremamente complexo manter uma produção agroecológica ao longo do tempo. Dentre elas: a agroflorestal, sistemas orgânicos, todos esses. Primeiro, não temos as variedades disponíveis ou adequadas. As variedades disponíveis de sementes não são adequadas aos nossos sistemas ambientais. Então, tudo precisa de adubo, precisa de controle, portanto, precisa de veneno.

Segundo, a escala, obtenção de escala para se trazer um pouco de riqueza e manutenção em nível satisfatório, em nível minimamente desejado para os pequenos agricultores esbarra na história de falta de escala. Por isso o produtor de hortaliças produz dois ou três produtos durante o ano. Portanto, produz um monte de cada um para que tenha escala porque ele vende para o atravessador, porque o atravessador vendo para um outro. Bom, ele precisa ter uma escala muito grande. Isso já começa a matar toda a possibilidade de produção com alta diversificação, manutenção dos sistemas produtivos porque demanda muita mão de obra, demanda mais gestão, demanda disponibilidade de insumos, a partir das sementes, e tudo o mais. Todos esses sistemas, não contando com o que a agricultura convencional conta, que são controles, remédios, venenos, fica, vamos dizer assim, deficitários no sistema produtivo para competição financeira no mercado. Aí se diz: produto orgânico é muito caro. Temos que popularizar a produção de alimentos.

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Na realidade, produzir alimentos dentro do nosso sistema socioeconômico e financeiro é inviável. É inviável! Tanto é que boa parte do mundo subsidia a agricultura. Para que não seja inviável, é preciso que tenha uma grande escala. E para que tenha uma grande escala é preciso que se tenha monoculturas.

Na contramão de tudo isso que estamos dizendo – de saúde, de felicidade para os consumidores e para os produtores, tudo de bom –, esbarra-se numa série de barreiras. Essas barreiras acabam tendo também como última instância o consumo. O consumo calcado em hábitos arraigados de consumo. Isso está completamente em desacordo com a nossa realidade ambiental de clima tropical onde a diversidade impera.

E a sazonalidade durante o ano também nos traz imposição de alteração dos nossos hábitos. Não basta apenas desenvolver métodos de cultivo que sejam saudáveis ambientalmente e também para a saúde humana, mas é preciso trabalhar fortemente em uma educação de consumo. Não é possível querer comer tomate o ano inteiro, batatinha o ano inteiro sem ingerir veneno, sem ingerir substâncias que não são alimentos, muito pelo contrário, são ruins para nossa saúde.

Obrigado. (Palmas.)SRA. THAÍS MANDARINO – Bom, Jorge, muito obrigada pela fala. Eu

acho que a gente tem que, cada vez mais, pensar em estratégias de apoio à agricultura familiar local principalmente e a uma agricultura familiar mais agroecológica e orgânica, pensando mesmo na alimentação saudável.

Passo a palavra ao André Godoy, gerente da Divisão de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde.

SR. ANDRÉ GODOY – Eu fiz uma apresentação rápida.Você tem razão quando diz que a gente não se alimenta de

proteínas, vitaminas e minerais. A gente se alimenta de alimento social e culturalmente produzido. Isso é uma fala do Valente, um dos pioneiros da segurança alimentar. Então, eu vou ver se consigo falar daqui.

Quando a gente fala de saúde, sustentabilidade socioambiental e alimento que chega à mesa, a gente precisa lembrar do alimento seguro. Eu trabalho em vigilância sanitária, e por muitas vezes me perguntam e acham que eu só trabalho com alimento seguro. E a gente trabalha com segurança alimentar. Então, a primeira grande força que a gente precisa ter no nosso trabalho é convencer que a gente não trabalha só com alimento seguro, existe essa diferença entre food safety e food security. Acho que o inglês tem os dois substantivos, que a gente não consegue trazer.

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O alimento seguro é um dos fatores, isso é importante para a gente dizer. Risco à saúde é um foco da vigilância sanitária. A maior dificuldade que a gente tem é realmente conseguir gerenciar esse risco. A comunicação de risco hoje é muito difícil, com tantas informações. Há muitos riscos superestimados e subestimados. Isso atrapalha um pouco o trabalho da vigilância sanitária como um todo.

A gente também tem que falar um pouco sobre vulnerabilidade, porque a gente come o que se manda comer. Quem é que realmente nos educa? Será que é a indústria? Quem está educando os nossos hábitos alimentares?

E termina um pouco com a legislação. Vamos ver se eu consigo falar em quinze minutos – acho que sim. Rapidamente, nem preciso falar aqui porque todo mundo conhece

a segurança alimentar, que tem muito mais do que alimento seguro. Eu já falei sobre isso, então vamos passar rapidamente.

Segurança alimentar é um conceito mais amplo, que está relacionado com direito humano e alimentação e nutrição. Não custa lembrar – eu sei que a plateia talvez conheça mais do que eu –, mas o último direito humano inserido na Constituição Brasileira é o direito humano à alimentação e nutrição.

Então, quando a gente fala em alimentos seguros, fala em alimentos isentos de perigos. Engraçado é que a gente tem, ainda hoje, os mesmos perigos dentro de faculdades que a gente imaginava anos atrás. São perigos biológicos: bactérias, vírus, parasitas, patógenos, toxinas naturais, toxinas microbianas. Nós temos, ainda, os perigos físicos e os perigos químicos. Os físicos são fragmentos de vidros, metal, madeira, outros contaminantes físicos. Os perigos químicos são agrotóxicos e contaminantes outros.

Lembro aqui do caso do Toddynho, que tomaram lá no Rio Grande do Sul e queimaram a garganta toda, porque havia soda cáustica nele. O processo Clean in Place, da Tetra Pak, não lavou direito. É preciso haver higienização.

Há três processos básicos de higienização: lavagem, sanitização e enxague. O enxague não foi feito nesse processo, e houve uma contaminação acidental. Isso talvez não seja tão importante aqui para a gente.

O mais interessante é que hoje estamos perdendo o nosso tempo, se pensarmos no que realmente está nos matando. O art. 200 da nossa Constituição fala que nós temos que fiscalizar, manter e garantir a qualidade, eliminar riscos de alimentos e bebidas, mantendo o seu valor nutricional.

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Então, a primeira coisa que tem que ser feita pelos órgãos governamentais e fiscalizadores, na regulação, é pensar que talvez estejam matando mais o sal, açúcar e gordura do que os contaminantes, que exigem dinheiro, tempo e muito trabalho para fazer. Não estou dizendo que a gente não vai trabalhar com eles, mas a gente precisa pensar também em outros riscos.

A visão de risco hoje tem que ser mais ampla. Por que a visão de risco tem que ser mais ampla? Porque existem, por exemplo, as doenças crônicas degenerativas.

A comunicação de risco é um grande problema para a vigilância sanitária.

Estou tentando falar um pouco mais depressa porque imagino que a plateia conheça um pouco desse processo.

A comunicação hoje é muito difícil, muito poluída por muitas informações; há pouco conhecimento verdadeiro, mas muitas informações. Há quem diga que quase 98% das informações que a gente recebe são mentiras, são inverídicas, não comprovadas. Isso traz também a questão de velocidade, etc. Mas, para uma boa análise de risco, nós precisamos de comunicação de risco, gerenciamento de risco e avaliação de risco. Nós precisamos de uma base política, que é esta que nós estamos fazendo aqui, para o gerenciamento do risco, mas nós precisamos de avaliação do risco, uma base científica, saber o que é que está acontecendo. Quando a gente vê essas questões de falta de acesso, contaminantes, dioxinas, agrotóxicos... Não há tempo para falar sobre isso, mas muitos trabalhos mostram, por exemplo, que resíduos mínimos de agrotóxicos são multiplicados em dez vezes a sua toxidade quando misturados com resíduos de plástico, ftalatos, bisfenol. Então, eles, misturados, ainda se multiplicam na toxidade. Quem quiser, tem algumas referências a respeito disso.

Então, o grande complexo para a gente... A gente está perdido numa questão de não conseguir gerenciar esse risco. Há falhas estruturais. Eu sou da vigilância sanitária há muitos anos, desde 91. Trabalhei no Ministério da Saúde, na criação da Anvisa. Hoje, eu trabalho como auditor de atividades urbanas, fiscal da vigilância sanitária, para ser mais explícito. São 23 anos sem concurso. A gente tinha mais do que o dobro das pessoas que a gente tem hoje para trabalhar em vigilância sanitária em 94. Então, eu acho que, em alguns aspectos... Por exemplo, esse corte de verba para a saúde, corte de verba que se diz necessário talvez não esteja no lugar certo. Quem está mais sofrendo são as vigilâncias: a vigilância ambiental, a vigilância sanitária, a vigilância epidemiológica. A gente está há dois anos sem telefone, por exemplo. Quem é da Secretaria de Saúde sabe que a prioridade na Secretaria de

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Saúde está sempre ligada à assistência, assim mesmo, com dificuldades, não é?

Alimentação e vulnerabilidade. A gente precisa entender que realizar escolhas alimentares pressupõe autonomia. A Dília, que está passando aqui, é da cátedra da Unesco de Bioética da UnB, doutoranda lá. Nós fizemos alguns trabalhos, publicamos alguns capítulos em livros sobre vulnerabilidade e escolhas alimentares. Eu fiz um capítulo específico num livro que eu ia mostrar a respeito de comunicação de risco. A gente mostra muito esse poder persuasivo da propaganda, que é muito mais nocivo do que a gente possa imaginar, justamente por conta dessa criação de hábitos alimentares.

O que perdemos foram os nossos hábitos alimentares. Aqui só tem gente nova, mas quem é mais ou menos da minha idade pode se lembrar, por exemplo, de uma frase que foi proibida na vigilância sanitária, quando eu era da Diale, em 95, que era “Danoninho vale por um bifinho”. Não sei se alguém se lembra disso. Se alguém se lembrar, é uma comprovação do poder persuasivo que tem essa educação alimentar. Essa é a educação que a gente recebe e é muito difícil a gente lutar contra isso. A gente precisa, em alguns aspectos, de um estado forte, sim, para manter principalmente um país como o Brasil.

Fatores envolvidos nas escolhas alimentares, disponibilidade física e financeira, hábitos e conhecimentos sobre alimentos determinantes, inserção social, renda, cultura alimentar, influência da mídia. Esse é o livro que eu falei que tem um capítulo que fala de escolhas, conflitos de alimentação e bioética. Nós temos duas pessoas com dois capítulos, principalmente falando sobre alimentação, vulnerabilidade e a falta de escolhas.

Os impactos das escolhas, o aumento do consumo de ultraprocessados. Eu coloquei esse ultraprocessados... Às vezes fica parecendo uma coisa meio exagerada, mas é a frase usada no Concea, a palavra usada para falar dos alimentos industrializados, processados e ultraprocessados.

O perfil epidemiológico óbvio que já foi dito por vários palestrantes. Excesso de peso e obesidade. Cinquenta por cento da população tem, no mínimo, excesso de peso. Doenças não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, doenças circulatórias. Essas doenças não transmissíveis causando 70% das mortes. Por isso, lá na frente, na visão de risco, tem de mudar a forma, a legislatura e a regulação no Brasil. A regulação hoje é vista para contaminantes, eles são importantes, mas, por exemplo, você não tem um limite para sódio, você não tem uma forma de comunicar diferente. Já existem várias propostas, alguns países já mostraram algumas propostas para isso. Então, você não comunica direito, tem muita comunicação desnecessária e muita comunicação fora do.... eu vou ter

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que passar rápido. Assim, a vulnerabilidade compreende as condições que influenciam a nossa capacidade de viver como indivíduos livres e autônomos.

As escolhas alimentares com mais autonomia: acesso à alimentação saudável, qualidade e quantidade de informação disponível. Eu até coloquei um bilhetinho que muita gente manda nas redes, porque a gente tem também essas fases, essas informações exageradas, será que realmente uma proteína... porque, se a gente olhar nos livros de história da alimentação, os neandertais, os antigos têm marcas nos dentes mostrando que comiam cereais desde aquela época e, de repente, os trigos... esses cereais são os vilões? Na verdade, eles não são os vilões; os vilões, na verdade, são o processamento e o alto índice glicêmico, as farinhas refinadas e os excessos desses alimentos.

Então, passou-se a ter uma intolerância maior, mas, pela filosofia vinda dos americanos... a gente lembra o Popeye, nos anos 40, quando fizeram a campanha de anemia para o consumo de ferro, e a ideia que se passou, principalmente nesse mundo capitalista, é a da supernutrição, essa nutrição rápida, essa nutrição eficiente das pessoas, e esses excessos estão mostrando que a gente está se matando.

A regulação do Estado. Nós temos uma regulação muito voltada para o comércio. Como eu disse não tem nenhum limite para gordura, para açúcar, para caloria, para sódio. A gente não sabe dizer... aqui todo mundo sabe, mas, na rua, talvez, não saibam dizer se 500 mg de sódio numa porção é muito ou pouco sódio, até porque você tem que fazer outras considerações.

As RDCs da Anvisa, por exemplo, têm que ser harmonizadas no Mercosul e têm como base principalmente a Organização Mundial do Comércio, que tem muito mais com a briga comercial do que com a saúde do consumidor. Se a gente pegar as essências do que foi feito, como foram feitas essas primeiras normas... eu sei que o Codex Alimentarius... eu já estive participando de alguns grupos, em outros lugares – eu não tenho tempo, não é, tenho que passar correndo –, e a gente percebe que é muito mais por necessidade de comércio, barreiras fitossanitárias, é mais por interesse comercial do que interesse pela saúde, não é?

A gente tem algumas possibilidades de informar, talvez por uma cor, como um semáforo nutricional que mostrasse para você: alto sal, baixo em açúcar. Isso já existe em outros países, como em Portugal, onde uma rede de supermercado mostra dessa forma. A gente tem aqui na América Latina, acho que o Chile fez umas estrelinhas, temos também o Equador também. Mas a indústria não deixa isso acontecer no Brasil. Mas existiam outras possibilidades, outras formas de agir, não é? Mas um cidadão comum, ele não vai detectar que o macarrão instantâneo, o Miojo, tem 80 gramas num pacotinho, tem mais de duas mil miligramas de sódio.

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Aí passou para 500 e a Anvisa comemorou como se diminuíssem toneladas de sódio. Realmente, diminuiu de dois mil para mil e quinhentos. Mas considerado alto é 420 em 100 gramas, e a gente está falando só de um alimento, como outros embutidos, as questões dos embutidos, as questões dos queijos com muito sal e etc.

Sobre o monitoramento... eu não vou ter tempo para falar não. Desculpa, gente. Desculpa. Vou passar um pouco sobre isso, porque são muitos detalhes. Mas a gente tem mais ou menos 15% dos nossos produtos monitorados, levados para o laboratório. Com problemas, a gente tem o leite, por exemplo, com 34% de contaminados, e desses 34% a gente tem uma suspeita de que a maioria deles tem adulteração. Eu estou falando do mercado de Brasília. No mínimo, mistura de água nesses leites. Eu não posso falar o valor exato porque tem uma quantidade de 2017, e o laboratório não conseguiu fazer a análise. Mas a gente faz uma série de produtos.

Oitenta por cento da farinha amarela que a gente encontra no mercado do DF tem Tartrazina. Poderiam colocar cúrcuma, poderiam fazer outra forma de corante, mas contém, por exemplo, Tartrazina, que é mais barato, mais fácil, mais leve, e ninguém sabe disso. Tartrazina é um corante que tem uma relação direta com asma, bronquite, alergias. É obrigatório colocar, no rótulo, o nome Tartrazina nos ingredientes. Não é igual aos outros aditivos em que você pode colocar o número, INS número tal como conservador.

A tartrazina tem que vir escrito. E é proibida em alguns países. Aqui uma farinha de mandioca amarela, que devia ter só mandioca, a gente encontra uma grande quantidade de tartrazina.

Bom, há especiarias com coliformes acima do normal. A gente usa principalmente pimenta do reino...

Em queijo minas frescal, a gente tem muito estafilococos: em 50%! E isso é uma questão e cadeias de frios. Eu concordo com o que foi dito aqui sobre o leite cru. Não é esse o problema.

Os alimentos minimamente processados: folhas e vegetais, que deveriam estar limpos, para serem colocados direto na mesa, a gente ter encontrado 89% com problemas de coliformes. A gente chama de “coliformes”... a 35% a 40% termo resistentes. Antigamente se chamavam de “coliformes fecais”.

Em refeições prontas... E aqui há gente de restaurantes – eu estou vendo o Paulo ali – que está interessada na alimentação saudável. A gente encontra, por exemplo, que os restaurantes... os números absolutos não falam muitas coisas, mas há um total de 42% com coliforme acima do normal. Ali a gente separa a refeição comum. Ela tem menos! A gente tem umas boas práticas, como tirar sódio, que deveriam ser implementadas.

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Mas, quando você pega sanduíches quentes – e esses estão...Giraffas, Subway, etc. –, a gente tem, em 55%, encontrado coliformes acima do limite estabelecido pela PRTC 12. Entre os sanduíches frios – sanduíches frios que vêm com pão de forma, sei lá, pão, atum, salada, sei lá o quê... esse sanduiche deveria ser comido na hora e feito na hora. Mas é transportado e colocado em balcões de frios, balcões que não fecham e que não mantêm a temperatura adequada –, 66% deles estão contaminados. Nos sushis e sashimis, a gente já esperava, pelo risco que existe... Mas repito que isso não é o mais importante para gente.

Eu ia falar um pouco sobre decretos, leis, essas leis novas, inclusive, a da agricultura, contra a qual eu tenho muitas críticas, por separar a agricultura da saúde e a gente precisa andar juntos.

Eu acho que uma das principais mensagens que a gente passar, em evento desses, é ter união entre os órgãos que fazem controle e regulação de alimentos, para se poder fazer outros tipos de trabalhos.

Eu também gostaria de ter tempo para falar de outras coisas, mas a gente é sobrecarregado, com muita pressão, de gestores, de cidadão, de mídia, de Ministério Público, de setor regulado.

Atualmente, eu tentei botar uma imagem para saber como a Vigilância Sanitária trabalha hoje: muito mais para tapar buraco, muito mais para liberar alvarás, essa parte cartorial. A gente deixa de fazer atividades educacionais, o que é muito mais importante. Muitas vezes, perdemos a eficiência, porque a burocracia é muito grande. Um cartorial desnecessário, mesmo com a RLE – Registro e Licenciamento de Empresas, ainda precisa-se resolver muitas coisas.

Alimentação saudável significa reduzir alimentos processados; reduzir óleos, gorduras, sal e açúcar; evitar alimentos ultraprocessados, instantâneos, como macarrão instantâneo e salgadinhos em pacotes; consumir alimentos in natura, livres e não modificados. Não tenho tempo de falar disso, mas todo mundo já falou muita coisa. Alertas e informações mais claras nos rótulos; criação de limites de nutrientes, eu falei agora sobre sal, sódio; boas práticas nutricionais. A Anvisa já lançou, por exemplo, uma cartilha para boas práticas do pão de sal, para que as padarias diminuam a quantidade de sal nos pães. Existe outra cartilha para diminuir o sal nos restaurantes comunitários, coletivos. Há algumas formas para diminuir o sódio nesses alimentos.

A questão da comunicação de risco, evitando superestimação e subestimação do risco. Temos o caso claro com os agrotóxicos. A gente teve, por muito tempo, o risco superestimado, porque se achava que havia diretamente em 80% do morango. Culturas em que não se pode usar não só o agrotóxico, como agrotóxico que se pode usar em uma cultura, mas se está usando em outra. Não havia um domínio. No ano passado, a

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Anvisa publica que 99% dos alimentos não têm nenhum problema, porque não causam danos agudos, um dano que se sente em 24 horas e pode ser grave. É gravíssimo quando se fala 99% se se inverter a frase: de cada cem abacaxis vendidos, um deles pode dar um dano agudo. Isso significa uma gravidade muito grande, mas não existe nenhuma avaliação decente de danos crônicos sobre agrotóxicos no Brasil. Quem está dizendo que não têm riscos não sabe o que está dizendo. Mais uma vez, é uma grande dificuldade fazermos comunicação de risco e realizações de ações educativas.

Obrigado. É muita coisa, para pouco tempo. Espero que alguma coisa tenha ficado na cabeça de vocês. Desculpe-me o próximo palestrante pelo atraso. (Palmas.)

SRA. THAÍS MANDARINO – Obrigado, André.Acho que realmente daria um período inteiro a quantidade de

coisas importantes e necessárias de que você falou rapidamente e que daria para detalhar melhor.

Você lembrou, e muitos já conhecem aqui, o direito humano à alimentação adequada. A gente não tinha falado expressamente com esse nome hoje, mas esse direito foi incluído na Constituição só em 2010, apesar de se falar dele desde a década de 40 aproximadamente.

Eu acho que a questão da precariedade do trabalho da vigilância é muito séria. Eu acho que a gente tem que batalhar para melhorar a vigilância sanitária do DF, que tem pouquíssimos profissionais. E ele mostrou rapidamente a situação hoje, o tanto que temos que fiscalizar, o tanto que temos que fazer ações educativas de regulação, de regulamentação. Obrigada, André.

Vou passar agora a palavra à Sra. Lívia Martins Carneiro, Médica Especialista em Saúde da Mulher e Produtora Orgânica.

SRA. LÍVIA MARTINS CARNEIRO – Boa tarde. Muito obrigada pelo convite. Depois desse cenário macro, cabe a mim, com 35 anos conversando com as mulheres, trazer um pouco dessa experiência do micro, dessa relação no consultório, durante a consulta, na própria relação da mulher na cozinha. Não tem como você conversar com as mulheres sobre seu estado de adoecimento sem falar da cozinha da sua casa. Então, eu faço questão disso. Como disse, já são 35 anos, e me lembro de que, no início da minha profissão, eu me formei em Belo Horizonte e fui trabalhar no interior de Goiás.

E eu falava com as mulheres assim: “Planta uma taioba na água que desce do rego. Coloca umas taiobas”. Eu fui criada no interior de Minas e mandava fazer ora-pro-nóbis na cerca. Dizia: “É bom! É melhor que a couve”. E um dia uma senhora falou assim comigo: “Ah, doutora, eu

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soube que você veio de Minas. Minha mãe também é mineira e conta que, em Minas, o pessoal passava tanta fome que comia todos os matos que tinha ao redor da casa”. Aí eu fiquei atenta a essa mudança nutricional. Por exemplo, os mineiros que migraram em busca da terra prometida que estava em Goiás, que tinha terra fértil, disponível, passaram a consumir o tomate, a cenoura, coisas que não havia em Minas porque a terra era mais rude. Havia a dificuldade, também, do próprio desenvolvimento da agricultura.

Então, essa mudança no padrão nutricional tem um aspecto cultural e também significa a ascensão – o que eu acho que aconteceu nos últimos anos no Brasil. A gente fala que hoje a população pobre está indo muito ao supermercado, e o que eles estão fazendo no supermercado? Comprando alimentos instantâneos ou superprocessados, que são os piores alimentos.

A gente vive hoje num país que tem 50% da população com sobrepeso. Nós temos 90% da população que não come a quantidade de verduras, frutas e legumes recomendada como boa. Nós temos 70% da população com insegurança alimentar e nutricional. Isso parece meio estranho, porque avançamos um pouco do ponto de vista de se conseguir até acesso a alguns alimentos, mas as escolhas desses alimentos foram as piores porque nós perdemos um pouco a raiz.

Desse meu ambiente micro, o que eu tento fazer é trazer minha experiência para vocês, que é a de a gente trazer o que é realmente da tradição. Ontem eu pensava que eu gostaria de falar um pouco da minha prática profissional, que poderia trazer alguma contribuição, porque o que eu vejo hoje? Há mulheres com distúrbios, por exemplo, de TPM – Tensão Pré-Menstrual –, com distúrbios hormonais e de menopausa. Você vai ver que, no pano de fundo de tudo isso, estão mulheres que estão se alimentando muito mal. É uma alimentação que parece, num primeiro momento, satisfatória, mas existe um pouco desse conceito que a Dra. Clara Brandão traz, o da fome oculta. É a falta desses sais minerais, dessas vitaminas que estão mantendo esses sintomas.

Sobre depressão, por exemplo, saiu uma pesquisa mostrando dois grupos que fizeram o tratamento correto para depressão com psicotrópicos, com psicoterapia. Contudo, aquele grupo que consumia uma alimentação saudável, equilibrada, sarou primeiro. Então, depressão tem a ver também com alimentação.

A gente vê hoje a questão do câncer de mama. Olha, quando eu estava na faixa etária de 30 a 35 anos de idade, eu não tinha nenhuma amiga que tinha câncer de mama. Hoje as minhas filhas têm várias amigas com câncer de mama. A gente sabe que é um câncer multifatorial. Há questões ambientais e a própria questão do agrotóxico, que eu também gostaria de falar, porque isso influencia muito na saúde da

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mulher, nesse aspecto que eu acompanho. Tem toda essa questão dos xenoestrógenos, como estão disseminados na natureza, como que todas nós mulheres estamos vulneráveis a eles. Não tem como serem retirados.

Então, cada vez mais os agrotóxicos, assim como outros elementos, estão descartando na natureza essas contaminações que são todas o quê? Potencialmente oncogênicas. É um cenário a que a gente assiste. Quando você vai no âmbito da consulta, no corpo a corpo, falar com a mulher que ela tem que cuidar da saúde, você tem que convocá-la, você tem que ir para a feirinha dos orgânicos. Você tem que ter uns vasinhos na sua varanda e plantar uma taioba, uma ora-pro-nóbis. Você tem que consumir mais tubérculos, trocar a batatinha pelo inhame, pelo cará, pela mandioca.

Então, é aquela recordação. Eu nem falo que é orientação, porque elas sabem disso. “Ah, eu sei. É mesmo.” Elas sabem. É só você recordar. Eu acho que é um pouco de buscar esse conhecimento antigo que ainda está armazenado na memória das pessoas, porque a avó fazia, a avó dizia, e trazer para a mesa.

Antes, nesse âmbito da consulta, eu pensei em trazer aqui para vocês hoje, em homenagem ao nosso poderoso cerrado riquíssimo... Estamos aí começando a colher o jatobá. Eu colhi muito jatobá semana passada. Sequei e triturei o jatobá. Fiz dele um pozinho. Eu recomendo muito o uso de açafrão como coadjuvante em tratamento de câncer, recomendo para ajudar na redução dos lipídios, colesterol, na regulação da glicemia, como anti-inflamatório. Açafrão, hoje em dia, é tudo de bom. Tem também a nossa cúrcuma maravilhosa, que o cerrado dá em demasia, que vira praga e ninguém está nem aí. Quando as farmácias de manipulação vão vender o açafrão medicamentoso, esse açafrão tem que ser importado da Índia, do Egito, não sei por quê. Dizem que são exigências da Anvisa. Eu não sei.

Quando eu converso com as donas de farmácias, eu falo o quê: “Vocês importam açafrão desses países que, às vezes, têm até mais contaminação que o Brasil?”. Pelo amor de Deus, nós temos açafrão maravilhoso. Mas tem a questão lá que tem que fazer algum processamento que a Anvisa exige. Eu acho que não é nem no processamento da elaboração. É dosagem para ver o nível de cúrcuma, a porcentagem de cúrcuma, tem que ser a curcumina, tem que ser x por cento. Exato, isso mesmo, André.

Então, eu pensei o seguinte: vou estar usando aqui nessa Jatobá, vou colocar açafrão, vou colocar canela. Isso aqui é um medicamento. Isso aqui não é só um alimento nutracêutico, vai até um pouco mais, porque se você for estudar o Jatobá, você vai ver que essa farinha, essa polpazinha simples que dá em demasia no cerrado, que o pessoal não sabe o que

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fazer com tanto, que fica lá nos pastos, é riquíssima em proteína. Tem proteína equivalente a que tem, por exemplo, no fubá, no milho.

Então, é equivalente a um cereal, a quantidade de proteína. Fibras. Está todo mundo precisando de fibra. Tem muita fibra, tem cálcio, tem ferro. O Jatobá tem vitamina C e outras mais, além disso tem uma substância chamada xiloglicana, um antioxidante maravilhoso, imune estimulante adaptógeno.

Então, está aqui: é um remédio. Você vai lá com a nossa cúrcuma longa e um pouquinho de canela, você faz um medicamento que você pode tomar no leite, pode tomar na vitamina. E se a gente pensar hoje que nós já temos as nossas farmácias vivas reguladas. Por que as farmácias vivas não podem fazer esses pozinhos do cerrado, essa maravilha? O cerrado é rico disso, a Amazônia, todo canto do Brasil, cada um tem a sua riqueza. Se você ver no Amazônia, é uma coisa absurda de alimento com concentração altíssima de vitamina A – Buriti, Pupunha – fica tudo lá perdendo. Então, nossas farmacinhas vivas ligadas às prefeituras locais, e tal. Já está tudo regulamentado pela Anvisa, pode produzir, pode produzir saúde para as pessoas.

Acho que falta acreditarmos que nós temos um grande potencial. Uma vez um inglês me falou isso: vocês têm tanta coisa que vocês mesmo se desvalorizam, se depreciam. Porque o Brasil é uma riqueza. Se você pensar em tudo que temos de frutas, de toda essa biodiversidade, isso tudo é alimento. Quando a gente está falando que as pessoas têm que comer milho transgênico, soja transgênica, e não sei o que lá transgênico para encher a barriga, a gente tem muita coisa que até faz parte do extrativismo.

Uma vez – eu sou produtora orgânica na cidade de Itaporanga – eu pedi às pessoas – na terrinha aonde eu produzo –, eu falei com as comadres, com as esposas dos senhores que trabalham lá na produção, porque elas estavam loucas para ganhar um dinheirinho: vamos ver, tragam para mim todo os sacos de baru e de jatobá que vocês encontrarem que eu vou comprar de vocês. Meu Deus, quando eu vi aquilo, eu me arrepiei e falei: o que vou fazer com tanto baru e jatobá? Elas trouxeram muitos, eu tive que comprar todos e não sabia o que fazer. Então, nós estamos perdendo isso. No baru, todo mundo sabe da riqueza da castanha. Temos também ali aquela geleia por cima dele, o nome não é esse, é uma polpa que você seca e faz uma farinha bem doce. Eu pensei: o jatobá, por exemplo, ninguém gosta do cheiro, mas ele tem um aspecto legal: o seu açúcar, o seu carboidrato, ele tem um pouquinho de açúcar, assim como a polpa do baru.

Então, se começássemos a valorizar os centros de pesquisa, as academias, as universidades, a pesquisar isso, a fazer formulações corretas, equilibradas, não de uma forma empírica como eu fico pensando:

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eu já tenho sessenta e tantos anos, não vou esperar essa academia fazer nada; então eu começo na minha cozinha, invento, falo com a minha cliente, ela usa, depois ela fala: “Doutora, foi ótimo, eu estou usando aquele seu pozinho maravilhoso.” Eu falo: que bom! Então, use. Foi bom? “Foi, melhorou a cólica, melhorou a TPM.” Vai ajudar a amenizar as ondas de calor e nutrir um pouco mais.

Eu fico vendo que o tempo é curto, mas temos muitos argumentos, temos muitas situações em que poderíamos pensar em como potencializar porque, quando você vê a descrição desse cenário macro, você tem vontade de chorar, deitar numa cama e falar: não, não tem jeito.

O Brasil é o maior comprador de agrotóxico do mundo! Quarenta por cento desse agrotóxico é o glifosato. Gente, eu estou em guerra com o glifosato, sabem por quê? Porque lá em Itaporanga, nos programas de agricultura familiar, que são uma gracinha, superbacanas, as pessoas acham que glifosato é um mata-pasto. Tão ingênuas, tão “do bem”, as pessoas usam e nem chamam de agrotóxico. Quando eu chego, eu falo: gente, não façam isso aqui não, isso aqui é agrotóxico. “Não, isso só mata as ervas daninhas.” Gente, aquelas pessoas mais puras, que estão querendo fazer tudo do bem, mas isso entrou. Eu falo que hoje o meu inimigo número um é o glifosato porque ele entrou na cultura das populações rurais simples como se fosse só uma mata-pasto. Olhem que nome bonitinho: mata-pasto, é muito bonitinho para eles. No entanto, estamos vendo surgir pesquisas horrorosas sobre ele.

Então, eu fico pensando que está na hora de tomarmos um posicionamento e pensarmos no que fazer. Compramos agrotóxicos em demasia, e 40% desse agrotóxico é da Monsanto, um glifosato, que foi incorporado na nossa cultura como algo inócuo, e que hoje sabemos que até alterar as nossas células sanguíneas ele tem alterado. Então é alteração no nível do DNA, é coisa muito séria, muito escondida ainda, que está muito invisível, e que a gente só vai detectar daqui a uns anos, não é mesmo?

Muito obrigada. (Palmas.)SRA. THAÍS MANDARINO – Muito obrigada, Dra. Lívia.Acho que, de forma bem resumida, essa mesa trouxe um pouco a

nossa reflexão sobre o que e como estamos comendo. E ela trouxe um pouco, na fala de todos, a questão da disponibilização dessas comidas, como é que essas comidas estão sendo disponibilizadas, como é que está o acesso a essa alimentação pela população – alimentação de qualidade, sem agrotóxico, com uma produção adequada, com a diversificação dos alimentos. Foi muito falado aqui da importância dela, e eu acho que isso casa um pouquinho com a próxima mesa, que é a questão da agricultura urbana, da disponibilização de alguns alimentos que já não são mais

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encontrados, de fácil acesso e de fácil plantio na comunidade como um todo. Há também a questão das escolhas alimentares, que foi falada um pouco, que tem relação com a cultura, com a propaganda, com a informação – como é que essas informações chegam –, com a renda da população, e com as relações sociais.

Então, é um conteúdo muito amplo, mas eu acho que, de pontos de vista diferentes, questões diferentes foram tratadas nessa mesa.

Agora eu queria abrir, rapidamente – porque a gente já está muito em cima da hora, já ultrapassou um pouco o tempo –, para alguma fala. Se alguém quiser fazer alguma pergunta, fique à vontade. (Pausa.)

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Eu estou decepcionado com os estagiários lá da minha sala, não fizeram nenhuma pergunta.

(Manifestações da plateia.)MESTRE DE CERIMÔNIAS – Tem um ali?

(Intervenções fora do microfone.)MESTRE DE CERIMÔNIAS – Leva o microfone lá para mim, por

gentileza.ORADOR NÃO IDENTIFICADO – É só para acrescentar, no

depoimento da colega, que o Roundup, o mata-mato, na verdade, foi criado nos Estados Unidos para poder ser jogado na mata na época da Guerra do Vietnã para os Estados Unidos conseguirem ver os vietcongues que ficavam escondidos na mata. E hoje o Brasil compra tudo dos Estados Unidos para degradar o nosso solo. É o famoso Roundup. Muita gente conhece como “Randap”. Era só para acrescentar isso.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Só lembrando que o 2,4-D, que é o Laranja que você está falando e que foi usado na guerra, teve recentemente seu princípio ativo aprovado para mais usos.

É interessante também lembrar – já que ninguém está falando, a gente aproveita – que existe o Projeto de Lei nº 3.200 na Câmara Legislativa, que vai tirar a Anvisa e o Ibama do processo de aprovação de agrotóxicos, vai só para os especialistas e produtores. E a pesquisa que foi feita na Câmara no mês passado deu 100% de aprovação.

SRA. THAÍS MANDARINO – Mais alguma consideração? Uma última fala? Vocês três da mesa?

Bom, então eu queria agradecer aos três palestrantes. Muito obrigada pela participação.

MESTRE DE CERIMÔNIAS – Posso desfazer a mesa, então? Obrigado pela presença de todos aqui. Uma salva de palmas.

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Senhoras e senhores, iniciamos agora a mesa de debates para tratar sobre o seguinte tema: Agricultura Urbana e Periurbana no Distrito Federal – Resultados e Desafios. Participam da mesa o representante do projeto Re-Ação, Sr. Igor Aveline; a representante da Horta Girassol de São Sebastião, Sra. Hosana Alves; a diretora da Escola do Gama, Sra. Ana Elen Ferreira Moitinho; representando o Subsecretário de Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Seagri/DF, Sr. Rogério Vianna.

Para mediar esta Mesa, convidamos o representante do Projeto Horta Linda, Sr. Juarez Alves.

SR. JUAREZ ALVES – Boa tarde a todos e a todas. É uma alegria muito grande estar aqui neste evento. Quero parabenizar a Câmara Legislativa por promover um debate tão importante num momento como este. Como vimos nas mesas anteriores, vivemos uma situação de perda de direitos e do direito humano à alimentação, que está muito ameaçado neste momento.

Então, parabéns pela presença na Câmara, Deputado Joe Valle. V.Exa. nos convidou para estarmos aqui hoje, discutindo a situação da agricultura urbana no Distrito Federal. É uma honra não só estar aqui, mas principalmente estar no meio de pessoas tão importantes para o movimento em Brasília, como Igor e Hosana. Eu costumo dizer que Hosana sempre me emociona com a garra e a dedicação que ela tem à horta do Girassol e ao movimento de agricultura urbana de Brasília.

Também a Professora Ana está aqui, e o Rogério, que são um grande apoio dos movimentos de agricultura urbana em Brasília, no Governo do Distrito Federal e na Emater. Rogério vive ajudando a gente nas comunidades, nas hortas escolares, nas hortas comunitárias, sempre providenciando o que ele tiver de insumos e orientação, para que a gente faça as coisas certinhas e consiga tocar o ideal de fazer nossa cidade ficar mais verde – e mais verde produzindo, de preferência, alimentos.

Foi uma coisa muito legal a iniciativa de transformar os jardins da Câmara Legislativa, que eram muito bonitos, mas eram plantados com coisas exóticas que não eram da nossa região, e principalmente não eram comestíveis. Então, gastava-se espaço, água e insumos com coisas bonitas, mas a gente não comia. Agora nós temos coisas bonitas que podem ser comidas. Foi muito legal ver as pessoas, os servidores colhendo e levando para suas casas as hortaliças da horta que foi transformada a partir do jardim.

Podemos começar por você, Igor? Pela Hosana? Então, Hosana, você terá quinze minutos para falar um pouco para a gente. Será passado um vídeo. Já está com o pessoal? Se não estiver pronto, passamos para outra pessoa.

Concedo a palavra ao Sr. Igor Aveline.

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SR. IGOR AVELINE – Primeiramente, fora Temer! São tantos os absurdos pelos quais a gente vem passando! É um desgosto grande essa situação e o contexto no nosso Brasil. Mas acho que é bom a gente falar de coisa boa e fortalecer o nosso movimento de base, independentemente dessa situação.

Eu vim falar de agricultura urbana, do Projeto Reação, o qual a gente vem desenvolvendo na 206 Norte do Plano Piloto há dois anos e meio, quase três anos. Vou passar um vídeo rapidinho, para a gente parar um pouquinho. Eu gosto muito dele porque parece que conecta a gente com a nossa mãe terra, com Gaia, entendendo nossa nave mãe como um ser vivo.

Então, convido vocês a respirarem junto com a Terra.(Apresentação de vídeo.)

SR. IGOR AVELINE – Vou tentar ser breve para conseguir falar um pouquinho de tudo, do potencial desse movimento de agricultura urbana que tem surgido e de agroecologia em geral dentro da nossa cidade, que já existe há muitos anos e vem se fortalecendo cada vez mais a partir de vários grupos e várias abordagens.

A gente observa hoje que, cada vez mais, as pessoas estão desconectadas da realidade que está à volta delas. É o analfabetismo ecológico de que o Leonardo Boff fala. A gente realmente desconhece as nossas raízes, desconhece, como já foi falado aqui, a origem dos nossos alimentos. Como é que a gente pode pensar num cidadão saudável espiritualmente e fisicamente tão desconectado desses processos e de todos esses outros seres que habitam esse planeta conosco?

O movimento de agricultura urbana acontece de forma espontânea em Brasília a partir de grupos de vizinhança, de ações comunitárias ou de pessoas independentes também que descem dos seus apartamentos, saem das suas casas com uma enxada e se empoderam do espaço público, transformando-o, pensando junto com a comunidade o que ela espera da cidade e intervindo diretamente na sua realidade. E esse processo acaba envolvendo o que a gente vem observando. Eu falo muito para essas pessoas: “Cara, saia de casa e dá uma enxadada no chão. Se, na segunda, não aparecerem três pessoas perguntando o que você anda fazendo e querendo fazer junto, tem algum problema, porque, normalmente, aparece muita gente interessada, querendo se envolver e tudo mais.”

Então, ela envolve as pessoas, ela traz esse envolvimento de vizinhança, que, cada vez, tem se perdido mais. É o caso aqui da 416, um movimento belíssimo que surgiu, que já tem uma trajetória de uns dois anos. A partir da agricultura urbana, os moradores se organizaram e hoje fazem resistência a várias questões que vão além da comunidade deles,

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fazendo frente, buscando direitos em relação ao processo do Setor de Triagem Norte, por exemplo, que foi passado por cima de consulta pública, desconsiderou transportes não automotivos, impermeabilizou uma nascente, um olho-d’água que havia no final da Asa Norte. E várias outras cidades aí que a gente observa não só neste projeto, mas também em outros.

Busca a produção de alimentos saudáveis. Já foi falado aqui também. A gente está cansada de beber e comer veneno. Não se pode pensar numa sustentabilidade de uma sociedade com uma frente, com o lobby do agronegócio tão forte no nosso país, passando para traz conquistas históricas em tão pouco tempo. Como a gente falou hoje pela manhã numa roda de conversa sobre a crise hídrica, a gente não pode pensar na sustentabilidade da cidade se, no campo, a gente não tem floresta, a gente não tem camponês cuidando da terra. Então, tudo faz parte de uma luta só, essa luta da agroecologia.

A agricultura urbana aproxima a cidade do campo. A gente vê que as pessoas, quando vão a um projeto Re-Ação, lembram da forma como seus avós faziam para plantarem seus alimentos, sempre usando muita matéria orgânica e revivem essa prática camponesa, que é histórica, de cuidar da terra e de ter uma relação direta, um envolvimento direto com a terra, que o agronegócio não tem, porque ele vê a terra como um sustentáculo da produção que serve ao lucro de grandes posseiros e de grandes empreiteiros.

Então, a agricultura urbana, também – a Hosana vai poder falar um pouquinho melhor –, trabalha diversos aspectos de inclusão produtiva, de recuperação de terrenos baldios, de superação da ociosidade de diversos territórios na cidade, que muitas vezes são usados para fins ilícitos, para especulação imobiliária e tudo o mais. E faz esse intercâmbio de saberes. As diferentes pessoas que nunca pensaram em se encontrar se encontram, trocam ideias, cooperam, criam essas relações que não são só essas relações de mercado impostas na sociedade: a gente sai da nossa casa privada, entra no nosso carro privado, desce na empresa, volta para casa, não tem nenhum envolvimento com o espaço público e com o diferente. Isso traz alienação, isso traz intolerância e falta de solidariedade e reciprocidade com o próximo. Tantas outras coisas que a agricultura urbana pretende envolver e envolve na prática, muitas vezes, até mesmo sem saber.

Quero falar um pouquinho de dois projetos que eu visitei fora do Brasil, que para mim são exemplos. Um projeto na área portuária do Brooklin, que começou de forma autônoma, popular, e em pouco tempo conseguiu o investimento de mais de quinhentos mil dólares do governo. E fez um projeto maravilhoso com produção em larga escala.

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Quando eu estava lá, em 2012, já tinham passado dez mil garotos em situação de risco no processo de formação deles, que durava de três a quatro meses, um processo de educação ambiental, envolvimento comunitário e tudo o mais. Esses são os garotos que, quando eu estava lá, estavam participando da formação.

Algumas áreas da cidade foram concedidas para esse projeto. Eram terrenos baldios e também quadras de futebol que não tinham estrutura. Tiraram o concreto e começaram a plantar árvores e hortaliças. Eles têm uma central de compostagem. As pessoas podem trocar seu lixo orgânico de casa por alimento e eles também.

Essa barraquinha ali é um CSA, uma comunidade que sustenta a agricultura. Eles formaram um CSA a partir desse projeto de agricultura urbana, assim como a horta Girassol, em São Sebastião, também fez, trazendo a inclusão produtiva e ofertando alimentos de qualidade para a comunidade.

Esse aqui é outro projeto. Aquele lá, que está comigo, é o Miguel Altieri, uma das grandes personalidades da agroecologia. É um projeto que pegou um terreno baldio na cidade, que foi dividido entre as famílias. Elas fazem uso dessa área, cada um com sua pequena área. É rotativo, cada família tem direito a ficar num pedaço durante um tempo. É basicamente horta, mas eu gostei muito de ver porque havia mais de quarenta famílias fazendo uso daquele espaço.

E esse aí é o projeto nosso, Projeto Re-Ação. Apesar de não ter respaldos legais e incentivos, entre outras coisas, a gente resolveu ocupar o espaço público, uma entrequadra, uma área bucólica no gramado da 207 norte, e fazer nosso plantio. E a gente fez uma série de cursos, oficinas. O Rogério Vianna que está aqui deu oficinas lá, o Baby também deu curso de produção de ervas medicinais, curso de agricultura urbana. A gente deu dois cursos de agroecologia para a comunidade, fruto da mobilização comunitária. A gente fez um financiamento coletivo, que ajudou um pouquinho com os insumos e ferramentas que até hoje nós usamos.

E vocês veem ali os menininhos. Várias pessoas que passaram pelo projeto gostavam de trabalhar com educação ambiental com crianças e a gente fez um trabalho intensivo. Todo mutirão tinha uma parte de trabalho com crianças porque ia muita criança para o nosso mutirão. E a gente fez uma horta das crianças, que é aquela parte ali, entre dois blocos, fez um viveiro, fez uma central de compostagem para a quadra e começou a articulação do DF de agricultura urbana. A primeira reunião foi lá, no Projeto Re-Ação.

Aqui a área é um pouco maior. Aqui alguns frutos, a banana crescendo, um mamoeiro produzindo. Esse está produzindo pouco, se

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vocês forem lá, verão: o que tem de mamão em cada mamoeiro é impressionante.

Os desafios que vimos sofrendo são que, de forma arbitrária, a Caesb vem cortando o ponto de água de todas as hortas urbanas de Brasília. Eu digo arbitrária porque vejo diariamente prédios públicos e privados, residenciais e comerciais, fazendo uso de água para molhar jardim e grama esmeralda e não sei por que somente as hortas urbanas de Brasília foram notificadas e sofreram ameaça de multas de até 30 mil reais se religassem a água de cada horta. A gente não defende o uso da água da Caesb, uma água clorada, para horta, mas a gente busca alternativas.

Estamos aí há dois anos buscando regulamentar a agricultura urbana, a partir de uma minuta de decreto que tenta tornar legais algumas formas de cessão de uso de área pública e de área privada; algumas formas de concessão de outorga, de captação da água da chuva e poço artesiano, dentre outras. Estamos nessa luta, tentando essa regulamentação para que possamos dar passos mais firmes na concretização desse movimento que tem envolvido tanta gente na luta da agroecologia, porque muita gente aparece na agricultura urbana, nos projetos de que tenho participado, querendo colher uma alface sem agrotóxico, pensando na sua saúde, uma visão individualista, mas, a partir do envolvimento, vê que essa luta é muito maior, passa pela valorização dos conhecimentos tradicionais, das práticas e uso de plantas alimentícias não convencionais. Existe uma troca intensa de conhecimento sobre tecnologias de produção sustentável, de desenho de paisagem, para tornar as comunidades mais resilientes. É um movimento basicamente autônomo, e o Poder Público não pode impedir e atacar um processo tão bonito de ação coletiva.

E as pessoas me perguntam: “Ah, mas a gente deve esperar a regulamentação, um projeto, uma lei, que dê esse respaldo?” Eu digo que a gente tem de fazer, e o Legislativo tem de acompanhar o que é do interesse popular. Então, não esperem nenhuma lei, não esperem a aprovação da minuta de decreto. Façam, saiam de suas casas e vamos fazer acontecer.

É isso. Obrigado. (Palmas.)SR. JUAREZ ALVES – Vamos agradecer ao Sr. Igor Aveline. Depois,

teremos um tempo para debater, Igor, e você poderá falar um pouco mais.Concedo a palavra à Sra. Hosana Alves, representante da horta

comunitária de São Sebastião, Horta Girassol. Ela apresentará um vídeo e, depois, ficará disponível para o debate. Hosana, você tem 15 minutos. Quando faltarem dois, eu mostrarei o papelzinho.

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Enquanto ela termina, eu gostaria de agradecer as presenças de todos vocês. Eu falei da horta, mas não falei do Baby, que está aqui e foi bem citado pelo Igor, a pessoa que tem as mãos que vão naquela terra ali junto com servidores e tal. O Baby é uma pessoa que merece todas as nossas reverências. (Palmas.)

(Apresentação de vídeo.)SR. JUAREZ ALVES – Você tem até mais dez minutos para falar e,

depois, vamos para o debate mais tarde. SRA. HOSANA ALVES – Eu acho que já é boa noite, não é? A gente

está lá há doze anos com esse trabalho, que é um trabalho de resistência porque lá a gente enfrenta todo tipo de grilagem de terra – é o pessoal querendo tomar a área da horta. Os moradores que não entendem falam: para que eu vou plantar se eu posso comprar no mercado?

Lá a gente sofre todo tipo de ameaça todos os dias, mas é bem gratificante estar lá esse tempo todo. A gente está hoje com uma parceria muito boa com o campus do IFB – Instituto Federal de Brasília – de São Sebastião. Hoje eu faço técnico em meio ambiente por conta desse trabalho.

Hoje a gente está dentro da UIPSS – Unidade de Internação Provisória de São Sebastião. A gente faz um trabalho lá com jovens. A gente está em várias escolas de São Sebastião. Não é fácil, mas é um trabalho bem gratificante, eu acho.

Hoje eu posso dizer que estou feliz porque a minha família entende a minha loucura e até participa dela. Hoje a família está toda envolvida. Isso acaba envolvendo todo mundo. No começo, eles não entendiam, mas agora, graças a Deus, eles entendem a minha luta e até me ajudam.

É só com muita luta mesmo e muito trabalho que a gente vai conseguir vencer. A agricultura, vocês viram lá no vídeo, a gente começou de um lixão. Em 2005, São Sebastião teve um grande surto de rotavirose e morreu uma vizinha nossa, e a gente ficou: “poxa, vai morrer todo mundo” Porque a gente tinha um lixão na porta de casa. E a gente pensou: “Ah, vamos esperar morrer todo mundo ou vamos...” E a gente juntou todos os moradores e começou a limpar e pedimos ajuda da administração local. A administração limpou e falou: “Agora é com vocês.”

A gente procurou a Emater local, que foi uma grande parceira nossa e é até hoje. O Rogério está aí, tem dia que eu encho o saco dele. O Luciano foi nosso primeiro técnico. Ela ajudou a gente demais, ensinou a gente como plantar. E fomos aprendendo. Fizemos cursos e fomos melhorando. Mas a luta não é fácil não.

Hoje estamos lutando por um galpão para termos onde beneficiar os alimentos, onde darmos cursos para o pessoal. Hoje cuidamos de três

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nascentes, mas temos uma dificuldade muito grande, enquanto o Poder Público... Porque a gente sente eles bem ausentes. Fazemos o trabalho e tudo, mas sentimos muita falta de o Poder Público estar lá conosco, por conta do trabalho que é feito na área. Mas é isso aí, vamos continuar lutando e fazendo mais hortas lá em São Sebastião, e onde precisar vamos ajudar também.

Quero dizer como foi importante o movimento de agricultura urbana. A gente participou do início. Eu não posso participar muito porque eu faço muita atividade, mas quero dizer o quanto é importante esse movimento de agricultura urbana para as periferias, porque a gente é meio que abandonado como periferia. Então, o movimento de agricultura urbana ajudou muito a gente a ver algumas coisas, a visualizar mais na frente. Foi bem importante para a gente de periferia saber que a gente está dentro de um movimento bem forte, e é isso aí. (Palmas.)

SR. JUAREZ ALVES – Muito obrigado, Hosana. Daqui a pouco você vai ficar disponível para debater com os presentes. Vou passar agora, intercalando sempre um rapaz com uma moça, a palavra a outro rapaz, o Rogério.

SR. ROGÉRIO LÚCIO VIANNA JÚNIOR – Boa noite. Gente, eu vim aqui hoje representar a Secretaria de Agricultura, o Subsecretário Hercílio. Na verdade, eu sou servidor da Emater e, bem a propósito, felizmente, a Emater é uma coligada da Secretaria de Agricultura, mas que executa as políticas da secretaria. É o braço executivo, digamos assim, da secretaria. Então, todo o programa de agricultura do governo é desenvolvido dentro da Emater.

Rapidamente, vou dar a vocês um panorama do que está sendo feito em agricultura urbana pelo poder público, pela Emater. Nós atendemos, em média, cerca de 100 escolas por ano. Ou seja, entre aquelas escolas que pedem novo apoio – às vezes precisam de mais adubo ou de mais sementes – e novas escolas, pelo menos 100 escolas por ano solicitam nosso apoio. De um universo de cerca de 600 escolas que existem na secretaria, eu diria que a gente atende uma boa parte das escolas. Há uma demanda muito grande, há uma aceitação, digamos assim, muito grande dentro das escolas.

Além das escolas, atendemos uma boa parte das unidades assistenciais do governo. Os CAPS – Centro de Atendimento Psicossocial, os COSE – Centro de Orientação Socioeducativa, postos de saúde, hospitais, enfim. Atendemos também, por ano, cerca de 20 instituições assistenciais que solicitam nosso apoio para implantação de hortas. Mas a sociedade fica um pouco à parte. O Igor tocou bem num assunto ali, a limitação das legislações. O poder público é muito amarrado em normas, em leis, mas a gente espera – há o empenho da secretaria e do Deputado Joe Valle – a regulamentação da lei da agricultura urbana até o final do

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ano. E esperamos que isso facilite o atendimento da população, das hortas comunitárias propriamente ditas.

Isso é o que tem sido feito hoje pelo programa de agricultura urbana. Aproveito também para falar um pouquinho dos desafios que a gente tem como política pública, como poder público.

Com a crise hídrica, tivemos um dos grandes desafios da agricultura urbana, que é essa disciplina do uso da água. Ou seja, um recurso escasso que, nesse caso, estava faltando para muitos usos a que ele se destina. Isso tem sido um problema, uma crise. Por outro lado, talvez essa seja até uma oportunidade, como o Igor bem colocou. A sociedade agora vai precisar discutir como ela quer usar a sua água. Eu concordo com ele: vemos muitos jardins sendo molhados, muita coisa sendo irrigada, sem o propósito da geração de alimentos, com água da Caesb, com aquela água que foi tratada, em que se gastou, uma água cara, extremamente cara, quando outras fontes poderiam estar sendo utilizadas, por exemplo, poços profundos. Não há norma para isso, não há regulamento para isso, mas já se iniciou um debate e esperamos que isso venha trazer algum tipo de norma para o uso da água e venha solucionar a dificuldade no caso das hortas urbanas.

Outra dificuldade, outro problema que a agricultura, não diria que ela enfrenta, mas pode ajudar a ser solução na questão do lixo urbano orgânico. Brasília tinha, até pouco tempo atrás, o maior lixão da América do Sul. Esse nosso lixão foi desativado, agora temos um aterro sanitário, mas de qualquer modo ele vai sendo lotado o tempo todo. Quarenta por cento do lixo coletado em Brasília é orgânico, e poderia estar sendo transformado em adubo de excelente qualidade. A gente espera conseguir alguma forma de incentivo para esse tipo de trabalho de compostagem, de transformar aquilo que é resíduo em produto. São iniciativas a aprovação e a implementação da Lei de Resíduos Sólidos. Ela tem sido um importante estímulo para resolver esse problema.

Por exemplo, uma entidade como a Ceasa de Brasília gera por dia dez toneladas de resíduos orgânicos, restos de vegetais, principalmente das hortaliças e das frutas que são comercializadas lá. Pela legislação, ela é responsável pelo destino desse resíduo. Então, está se buscando fazer algum tipo de transformação, provavelmente uma usina de compostagem para esse resíduo. Assim, a gente espera que isso se repita em outras situações e talvez, quem sabe, com a participação também do lixo orgânico doméstico. Quem sabe, não é?

Eu diria que a questão da água e a questão do lixo são os dois maiores desafios para a agricultura urbana, e a gente vai contribuir para resolver esses problemas aí pela frente. É isso. Isso é a agricultura urbana hoje no Poder Público. (Palmas.)

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SR. JUAREZ ALVES – Obrigado. Tanto o Rogério como a Hosana economizaram no tempo, então parabéns a vocês, que foram disciplinados. Igor também foi disciplinado, terminou um pouquinho antes do tempo que estava destinado a ele.

Passo a palavra à Professora Ana. SRA. ANA ELEN FERREIRA MOITINHO – Boa noite a todas e a todos.

Eu quero saudar a mesa. Juarez, nosso anfitrião, muito obrigada pela oportunidade. É um prazer para o CEF 15 estar aqui participando desse debate.

Quero saudar também o Rogério Vianna, da EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal. Hosana, parabéns pela horta, muito bacana o seu trabalho, e também o Igor. É muito prazeroso a nós, que somos da área de educação, vermos pessoas dispondo-se a fazer um trabalho diferenciado. Isso é muito bacana.

Eu quero agradecer e saudar nossos colegas professores do CEF 15 que estão aqui. Obrigada pela presença de vocês. (Palmas.)

A vida nos oferece muitas oportunidades, e nós temos que agarrá-las com unhas e dentes. Tem um ditado que diz que é como se fosse uma cabeça com cabelo que passa; se você não agarrar, vai embora. Quando Pedro entrou em contato com a nossa escola, oferendo apoio para que nós pudéssemos desenvolver uma horta no CEF 15, isso foi muito bacana e nós ficamos muito felizes com a oportunidade de ter essa parceria, tanto do Deputado Joe Valle como da Emater. A gente agradece muito a parceria de vocês.

Nós sabemos que a situação epidemiológica da nossa população, com doenças crônicas devidas à má alimentação, tem sido um dos grandes entraves da vida hoje, como a questão do fast-food. Para nossos alunos, nossos adolescentes, alimentação saudável é lanche do Giraffas, do McDonald’s. Isso eles conhecem.

Nós tivemos um problema grande na nossa escola. Nossa escola é de periferia, no Setor Sul do Gama. Nós implementamos lá a educação integral. Então, os nossos alunos fazem praticamente todas as suas refeições principais na escola. Quando se iniciou a educação integral, nós tivemos muito problema com relação à alimentação e à aceitação dessa alimentação, porque eles não queriam se alimentar. Nós tivemos muitos entraves com a nossa comunidade. Muitos pais não queriam deixar os filhos na escola para participarem desse projeto de educação integral devido ao aluno ter que fazer a alimentação na escola, ter que aceitar a alimentação disponibilizada pela Secretaria de Educação. Então, nós enfrentamos um grande problema no primeiro ano de implementação da educação integral.

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Houve outra questão que também dificultou a nossa oferta de educação integral. Nós temos na escola hoje turmas de ensino especial. Essas turmas são inclusas. Os nossos alunos estão na faixa etária de 15 a 25 anos. A escola não tinha uma atividade diferenciada para oferecer para eles. Então, nós vislumbramos a horta para poder ajudar nestas duas linhas: fazer a inclusão dos nossos alunos com deficiência; e fazer também a suplementação da nossa alimentação oferecida pela Secretaria de Educação, como um aditivo, com esses produtos, essas hortaliças que são produzidas na nossa horta.

Nós começamos esse trabalho de horta na nossa escola em 2008. Era bem incipiente. Nós não tínhamos muito apoio. Inicialmente esse trabalho era feito pelos alunos e pelos professores da classe especial. Com a implementação da educação integral, nós vislumbramos a disciplina Diversificar a Educação Ambiental. Então, essa disciplina veio a calhar com as atividades que nós estávamos desenvolvendo dentro da parte diversificada da educação integral, e começamos um trabalho diferenciado dentro da visão de agricultura urbana e sustentabilidade. Nós começamos esse trabalho há três anos. Neste ano, ele está a todo vapor, engajado. Nós queríamos muito apresentar o vídeo para vocês. Infelizmente não conseguimos que esse vídeo chegasse aqui. A pessoa que ficou de trazer não conseguiu chegar, equivocou-se e foi para a Câmara dos Deputados. Mas, se ele conseguir chegar até o término da minha fala, a gente ainda passa.

Eu costumo dizer que a horta é um laboratório a céu aberto, onde nós podemos trabalhar de forma sustentável a biodiversidade, trabalhar com nossos alunos de forma prática o manuseio do solo, a valorização da hortaliça na alimentação.

Depois da iniciativa de horta na nossa escola, a aceitação da alimentação mudou quase que 90%. Os alunos aceitam bem por conta de eles estarem plantando. Eles estão manuseando, eles estão fazendo o contato com o solo, com a terra, com o alimento. É a questão da sensibilização mesmo para uma alimentação saudável. Nós temos visto o resultado disso com a interdisciplinaridade dos conteúdos, com o trabalho coletivo dos alunos, com a parceria entre eles mesmos. Eu achei bacana que, na última colheita que foi feita da horta, eles falavam assim: “Ah, não, deixa eu pegar um pouquinho mais, que esse pouquinho aqui vai para a minha comida hoje.” Além da salada que foi produzida com os produtos que foram colhidos da nossa horta, eles ainda queriam um pouquinho mais. Então, isso mostra mudança de hábito alimentar.

Alguns pais já nos procuraram na direção da escola querendo informações para, em casa, implementarem essa horta, devido à sensibilização dos alunos. Eles também querem estender isso para a sua casa. Então, a gente vê que é uma coisa bacana.

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A questão da mudança de hábito alimentar, mais na faixa etária que trabalhamos, mais precocemente, faz uma diferença grande. Se nós tivéssemos tido essa oportunidade, talvez os nossos hábitos seriam bem diferentes. Temos de mudar os nossos hábitos.

A gente viu hoje tantas consequências. A doutora falou anteriormente à nossa Mesa das consequências para a saúde da mulher, para a saúde da população em geral. Nós, como educadores e formadores de opiniões, temos de estar nessa ponta trabalhando com nossos alunos, trabalhando com nossa comunidade e sensibilizando-os para a alimentação sustentável.

Eu gostaria de convidar os nossos professores. Esse projeto da horta está inserido na disciplina Educação Ambiental, de que temos como professores apoiadores a Luíza e o Afrânio.

Temos também a inserção dos professores do ensino especial que também trabalham com a questão da horta. Inclusive, eles prepararam uma lembrança para a Mesa. É um trabalho que foi feito pelos alunos do ensino especial em que eles trabalharam o bambu, envernizaram, fizeram uma decoração e trouxeram uma mudinha de planta para poder presentear a nossa Mesa.

Eu gostaria de chamar os professores, tanto o Afrânio, quanto a Luíza para fazerem uso da palavra e falar como tem sido esse trabalho, qual tem sido a repercussão em sala de aula, qual tem sido o ganho acadêmico dos nossos alunos e como tem sido um diferencial na nossa escola a questão da horta.

SRA. LUIZA – Boa noite a todos, saúdo a Mesa, saúdo todos os presentes. É com imensa alegria que estamos aqui imensamente felizes com esse convite. Desculpe por não ter o costume de falar em microfone, perdoem-me qualquer erro.

Inicialmente, nós vimos que os alunos, como bem falou a professora e diretora Ana Elen, passaram a ter educação integral a partir de 2014. Quanto à aceitação alimentar, a gente via que, apesar de a oferta ser diversa, eles sempre escolhiam os mesmos grupos alimentares, que eram o arroz, o macarrão e mal escolhiam o feijão, que eles pegavam, comiam um pouco e jogavam fora. E a gente foi observando essa rotina diária. Vários outros professores, na área de educação ambiental, atenderam a todos os alunos. Então, o projeto ficou algo mais restrito e também executável. Sonhar, a gente sempre sonhou grande, mas, para executar, a gente teria que fazer algo mais restrito.

Do ano passado para cá, com a Feira de Ciências, a gente começou a discutir a questão da alimentação saudável. Alimentação funcional. E começamos a explicar para os meninos que várias doenças podem ser evitadas com o consumo correto dos alimentos, incentivando-os a colocar

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pratos mais coloridos. Como a gente observa de perto eles fazerem as refeições principais, a gente falava: “Coloquem mais. Vem aqui, não gostam do nosso verde?” “Não, professora, a gente joga fora se a senhora colocar”. E a gente começou a incentivar.

Então, do ano passado para cá, começamos a fazer algo mais visionário e começamos a fazer uma composteira, já que existia muito descarte de alimentos. Este ano, o projeto de educação ambiental foi aberto para dois professores, então cada um pegou a metade das turmas. Eu pego nove turmas e o professor Afrânio pega dez turmas. E tivemos a benção mesmo de ter um cronograma para planejar algo maior. Ficamos duas semanas sentados planejando o que podíamos fazer. Dois sonhadores, pensamos algo muito grande. Portanto, compartilho com vocês que, apesar do cronograma pedagógico, a gente também quer implementar coisas grandes na escola e tornar a escola algo de escola sustentável mesmo.

O Prof. Afrânio veio com a ideia: “Professora, em vez de ser só a composteira, poderíamos implementar um biodigestor na escola”. Esse biodigestor, além de usar os restos de alimentos como adubo mesmo, biofertilizantes, produz gás com a ação natural das bactérias, e esse gás seria canalizado e utilizado na cozinha. Então, ele iria melhorar a oferta de gás, porque, às vezes, na correria, as cozinheiras fazem algo rápido de lanche, geralmente é coisa mais prática, um pão, um biscoito, algo mais prático. Com a oferta maior de gás, poderiam até diversificar, fazer bolo, fazer assados no almoço e tudo mais.

Como o biodigestor demanda muito uso de água, a gente pensou também: “Nossa, nossa escola é de andar. Se colocássemos captação de águas pluviais, iria melhorar essa questão do uso racional da água, a questão da crise hídrica e iríamos usar essa água também para o biodigestor e para a horta que já está implementada”. Sonhar não custa nada.

Então, colocamos essas duas frentes para basear o nosso projeto e dividimos o projeto em quatro bimestres, coisas para focar os megatemas na área ambiental. Portanto, no primeiro bimestre a gente falou de água, pegou a questão do racionamento, pediu aos alunos que trouxessem conta de água das suas casas para a gente fazer a estimativa: no início do ano estamos gastando isso; e no final do ano? Será que, com toda essa conscientização ambiental, vai mudar alguma coisa dentro de casa? A gente fez vários outros exercícios nesse sentido. E, desde o início do ano, a gente foi levando os alunos para dentro da horta.

Inicialmente, como essa fase é bem crítica, a gente pega alunos de dez anos mais ou menos, acho que mais novinho, de onze anos até quinze, dezesseis anos. São bem aqueles do contra, eles gostam de ver um negócio arrumado, gostam de bagunçar, gostam de arrancar. ainda

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estava verdinha a frutinha, mas eles tinham que arrancar só para ver se o gosto era ruim mesmo. No início, era algo bem destrutivo, e a gente sentou para conversar: “Poxa, será que vai dar certo esses alunos continuarem vindo para a horta?

A horta aqui tem crescido ao longo dos anos com o cultivo do pessoal do ensino especial, que tem cuidado de forma extraordinária, aí vêm os outros para destruir?” Então, começamos a colocá-los em contato maior. Não desistimos deles. No segundo bimestre fomos focar em como o lixo pode se transformar em energia. Explicamos a eles toda a engenharia do biodigestor, como ele funcionaria, e esse sonho que nós temos, o de construí-lo dentro da escola. Aí, o Prof. Afrânio, com todo o seu conhecimento de engenharia, começou a fazer os protótipos, mostrando aos meninos que o biodigestor não é só em larga escala, que pode se fazer protótipo em garrafas de cinco litros de água para mostrar que esse gás é possível de ser feito de uma forma bem inteligente, sustentável, pegando todos os aspectos que o lixo pode nos dar, que o lixo não é só algo descartável, ele pode ser reaproveitado. No terceiro bimestre agora, estamos falando de alimentação funcional.

Antes do recesso, fizemos o plantio de várias mudinhas de alface orgânico e, depois do recesso, os alunos mesmos colheram e essa alface, com todo esse preparo, compôs o cardápio deles. Então, como a Ana falou inicialmente, eles falavam: “Não, quero esse negócio verde não”. Agora eles falam: “Ah, é a alface que eu plantei! Me dê aí, professora, encha meu prato que eu quero ver se esse negócio é bom mesmo”. Então, a gente vê que, porque estão participando, eles têm agora o sentimento de pertencimento. Eu faço parte disso, então, eu vou valorar aquilo que eu fiz.

Realmente, tem sido uma experiência maravilhosa e eu agradeço a oportunidade a todos. (Palmas.)

SRA. ANA ELEN FERREIRA MOITINHO – Apesar de o nosso prazo estar estourado, nós vamos passar o vídeo que foi produzido na escola para que todos possam conhecer um pouquinho a nossa realidade.

(Apresentação de vídeo.) SRA. ANA ELEN FERREIRA MOITINHO – Eu acho que deu para

traduzirmos um pouquinho a teoria do que vem acontecendo na nossa prática pedagógica.

Obrigada.SR. JUAREZ ALVES – Gente, muito legal, não é? Estou encantado.Eu não vou me meter a tentar resumir o que vocês falaram porque

foi tão grandioso que não vai caber. Então, vou só apontar algumas coisas que foram interessantes para mim, chamaram a minha atenção, mas, com

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certeza, tem muitas outras que eu não poderia dizer agora, porque ocuparia o espaço das falas de vocês todos. É importante para com as pessoas que estão aqui que, provavelmente, têm coisas para perguntar e falar com cada um de vocês.

Foi muito legal ver o Igor falando da importância da agricultura urbana, dessa retomada, dessa reconexão que as hortas podem fazer. A gente vive em um mundo muito embrutecido e a horta, o contato com a terra e com as plantas, nos humaniza um pouco mais. Tivemos isso na nossa ancestralidade e fomos perdendo com o tempo, mas vemos o quanto é importante a horta para cumprir esse papel. Além disso, o Igor falou, a questão da apropriação do espaço público pela comunidade, o que é muito importante. A gente não vê a cidade como um espaço nosso. No momento em que começamos a plantar, a cuidar de um cantinho, de um pedacinho, começamos a perceber que ele não é um pedacinho do nosso quintal, mas que ele vai além do nosso quintal, vai além do nosso apartamento, vai além da nossa varanda. Percebemos isso e nos sentimos mais donos daquilo tudo; e, nos sentindo mais donos, também cuidamos melhor. Então, a agricultura urbana promove, propicia isso.

A Hosana falou de uma coisa muito importante, do tanto que horta, a agricultura urbana, tem o papel também de transformar a realidade da comunidade e das pessoas que moram nela. Aquilo que vocês fizeram ao transformar um espaço que estava destinado a ser um lixão, vocês o transformaram em um lugar de produção de alimentos saudáveis, e isso mostra o que o ser humano pode ser capaz de fazer com uma coisa tão negativa. O lixo é produzido por nós mesmos, mas queremos abandoná-lo, queremos esquecê-lo, não queremos nem saber para ele onde vai. Depois que o colocamos na latinha, ou na lixeira na porta das nossas casas, não damos nem tchau, não queremos nem olhar para onde ele foi. Mas vocês pegaram uma área que era para isso, para esse fim, e a transformaram em uma coisa tão nobre, que é produzir a comida nossa de cada dia. Isso é muito divino, Hosana.

O Rogério fala do papel do Estado. Como o Estado pode ser indutor disso? Como o Estado pode ajudar nessas experiências? A gente vê a Emater ajudando experiências institucionais, como escolas, creches. Mas a gente vê também que, sempre que possível, se houver pessoas dentro do aparelho do Estado, com sensibilidade, como temos o Rogério, e outras pessoas no governo, essas pessoas podem ver formas de apoiar iniciativas da comunidade que não são institucionais, mas que são importantes também, como apoiar o projeto Re-Ação, que foi citado aqui, e apoiam tantas outras hortas do Distrito Federal. Esse papel do Estado, a gente não pode abrir mão dele. A gente tem é que conquistar cada vez mais pessoas dentro do governo para vierem para o nosso lado e nos apoiar.

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A Professora Ana e seus companheiros e companheiras mostraram aqui uma dimensão da horta que é uma coisa por que me apaixona muito. Eu trabalho em diversas hortas escolares e fico muito sensibilizado com essa história que vocês estão falando porque ela se repete em diversos outros lugares do Brasil e do mundo. Eu voltei na terça-feira da Colômbia. Estava conhecendo experiências lá também. E são as mesmas coisas. As pessoas falam das mesmas coisas. Basta que haja pessoas com um pingo de sensibilidade, com um pingo de iniciativa que podem transformar o ambiente escolar. Ele, como a menina disse, pode ser um ambiente cansativo, estressante, de disputa, com um querendo ser melhor que outro, tirar nota melhor que outro, mas pode se transformar num ambiente de convivência, em que você trata as diferenças quando, como você disse, se inclui a horta como ferramenta de inclusão dos excluídos. Isso é muito bacana.

É a horta como espaço de laboratório. A gente vê uma coisa como eu disse antes. A horta é uma coisa ancestral. Se a gente vir a história da humanidade, as primeiras hortas eram feitas pelas mulheres em volta de suas casas, enquanto os homens saíam para guerrear, para caçar. E, muitas vezes, quando eles saíam para caçar, não voltavam porque viravam caça; saíam para guerrear e normalmente não voltavam porque eram mortos. As mulheres ficavam com toda a prole, todos os filhos. Assim foi desenvolvida a agricultura. É uma coisa muito ancestral. Está muito dentro da nossa história, muito antiga, e que gera novas possibilidades. Então, vocês, com uma horta, que é uma coisa tão antiga, viram a possibilidade de fazer a geração do gás que pode ser utilizado na cozinha. Vai economizar. Isso é muito bacana.

Eu poderia falar mais, mas vou pedir que quem quiser fazer perguntas, comentários, que faça agora. Depois vamos passar para a mesa. Podem fazer perguntas, comentários para toda a mesa ou pode fazer para alguma pessoa especialmente. Temos um microfone disponível.

SR. AFRÂNIO – Oi. Meu nome é Afrânio. Logo quando nós chegamos à escola, já existia esse trabalho há dois anos. Nossa ideia era dar uma dimensão maior para o trabalho, colocar a horta não somente como aquele equipamento capiau – às vezes a horta é vista nesse sentido –, mas na escola, como um verdadeiro laboratório a céu aberto. Agora, tudo aquilo de maneira mais técnica – a construção do biodigestor, a construção de todo o maquinário, de defensivos orgânicos – nós estamos levando também para a nossa feira de ciências.

Eu fiquei bastante feliz com o depoimento do Gerardo. Quando nós começamos a trabalhar com os meninos na horta, e um menino tocava numa cebolinha, era um ciúme muito grande. Ele não entendia o lado pedagógico, de aprender biologia. A ideia era essa mesma, a de trabalhar no sentido mais pedagógico. Até mesmo ele foi atingido de maneira

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pedagógica. Ele disse: eu aprendi a trabalhar com os meninos, é gratificante trabalhar com eles, é um amor a mais.

Nós temos fotografias de alunos de joelhos porque querem ir para a horta: “Professor, misericórdia! Escreve esse texto aí e vamos logo para lá, porque eu quero mexer em coisa verde”. Isso nos emociona. Nosso lado ambientalista se realiza em ver isso funcionando na prática.

Obrigado. (Palmas.) ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Quero fazer alguns esclarecimentos

e ajudar o Rogério, pois a gente trabalha em parceria. Há a preocupação do Igor quanto à questão da água. Quero dizer a vocês que estamos tendo alternativas. Por exemplo, o aproveitamento da água dos bebedouros. Duas escolas aqui em Brasília deram manchete positiva este mês. Uma delas, inclusive, é em Samambaia e recebeu um aparelho que faz compostagem em 45 minutos.

O Rogério se esqueceu – e eu estou puxando a orelha dele aqui – do projeto que a gente tem. Fomos à ADASA – Agência Reguladora de Águas e Saneamento para que façam os poços e se dê a outorga do poço onde a gente fizer a captação da água da chuva. São vários projetos, o Rogério já escreveu. Ele já colocou em Planaltina, no Corpo de Bombeiros. Em vários locais a gente mostra o que se pode fazer no período chuvoso, quantos mil litros de água se podem colocar no solo e reaproveitar essa água para horta, para lavar escola, tudo isso. O Rogério tem os dados, por exemplo, da escola que cuida dos especiais na Asa Norte. Quanto é mesmo, Rogério, que ela gastou de água no mês de setembro do ano passado?

SR. ROGÉRIO LÚCIO VIANNA JÚNIOR – No mês de julho, a conta de água da escola do Centro de Ensino Especial nº 2, na Asa Sul, foi de 41 mil reais.

ORADOR NÃO IDENTIFICADO – Quarenta e um mil reais. Como ela faz horta urbana e também faz agrofloresta, o consumo dela é alto. Mas o que tem de captação de água para fazer, se nós executarmos esse projeto, a água da chuva é suficiente para manter toda a horta e toda a escola.

Quero que vocês conheçam o Instituto Federal da Asa Norte. Ele não consome água da Caesb. A água que vai para ele é 100% de captação de água da chuva. A gente fez uma horta lá, não é, Rogério? A gente colocou os peixes no espelho d’água, porque lá a água sobra e é toda que vem da chuva. Essa água é guardada. O projeto que a gente faz, o Rogério é quem escreve. Entra no solo, e a gente reaproveita essa água. Quero dizer a vocês que a igreja messiânica vai bancar os custos desse projeto, mas primeiro a gente pediu que ela pedisse à Adasa a outorga do poço. Se eles derem a outorga – foi a própria Adasa que orientou –, eles podem

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investir esse dinheiro de captação de água na horta. Um dos pilares da igreja messiânica é a agricultura saudável, vocês sabem disso.

Então, era só para auxiliar o Rogério e dizer, Igor, que a gente está bem avançado nisso aí, se a gente conseguir a outorga desses poços. As tesourinhas, por exemplo... Lá na sua horta, Igor, a gente pode pegar a água dos teus brócolis, jogá-la no solo e reaproveitá-la para a horta.

A gente tem lutado por isso aí, porque não justifica a gente ter horta consumindo água da Caesb: primeiro, o preço e, depois, o cloro. Só para ajudar vocês, porque isso também queima a cabeça da gente. As pessoas querem a horta de todo o jeito e não sabem por trás o que pode... Não justifica financeiramente uma escola tocar uma horta com água paga. Não justifica! É melhor comprar a alface por vinte reais, porque ela vai custar esse preço.

MESTRE DE CERIMÔNIAS – Concedo a palavra à Sra. Laíse. SRA. LAÍSE – Boa noite. Eu sou Laíse, também do GT de Agricultura

Urbana, com o pessoal, com o Igor, do Movimento Nossa Brasília. Fico feliz com os avanços que, em dois anos, a agricultura urbana

teve dentro de Brasília. Realmente, avançamos em vários pontos, mas temos que estar atentos aos nossos desafios. Apesar dessas novidades de captação de água da chuva, a gente ainda está em um processo lento disso tudo. A regulamentação, a gente também está precisando desse retorno. Porque o maior desafio, às vezes... Trabalhar com crianças nas escolas – eu também trabalho com esse projeto de alfabetização ecológica com crianças –, a gente sabe que o retorno disso é muito mais rápido. Você trabalhar com criança é algo fantástico: a doação, a entrega de uma criança. Mas o nosso desafio mesmo é com a comunidade, com as pessoas que ainda não estão tendo essa aceitação de agricultura urbana. Há essa barreira de você mobilizar, de você ter ameaças, de você ter a comunidade ali contra esses projetos de agricultura urbana. E isso vem muito dessa visão de não ser legalizado, de a gente estar fazendo uso de água que não é proveniente... que a gente tem que pagar, que é um uso para o qual o prédio teria que fazer outra destinação; essa visão do paisagismo, de ter que usar a água para irrigar paisagismo, de que não se pode usar para a horta, porque gasta-se mais para horta do que para paisagismo.

Então, eu acho que a nossa luta tem que estar muito nessa frente. Eu só queria trazer essa fala. Gostei muito de assistir ao vídeo. Quando vemos as crianças falando, aí é que sabemos que o resultado dentro das escolas está dando certo. Uma criança é muito sincera na sua fala. Até mesmo dentro das escolas – eu também tenho essa experiência –, vemos que o maior desafio é com os próprios professores e com os diretores. A diretora está ali para fazer toda a aprovação da gestão, para motivar os

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demais professores. A gente está vendo toda a sua equipe aqui. Isso mostra como você tem direcionado de forma bem coerente e positiva. Porque, em muitas escolas, a barreira começa na diretoria ou nos professores que estão impedindo. O que acontece é que a gente não viveu uma alfabetização ecológica. Todos nós aqui fomos rompidos desse processo. Pelo nosso estilo de vida, por estarmos morando dentro de cidades, rompemos isso. Então, hoje, temos que tentar quebrar as barreiras dos adultos.

Era só isso.SR. JUAREZ ALVES – Concedo a palavra à Sra. Bruna.SRA. BRUNA – Eu sou Bruna, também integro o GT de Agricultura

Urbana, entre outros movimentos aqui em Brasília. Eu só queria fazer uma divulgação rápida da carta de repúdio que o

GT de Agricultura Urbana escreveu em relação aos boicotes e às ameaças da Caesb, porque inúmeras hortas, mesmo com a adição de cloro, e outros espaços, em relação a esse recurso, só tinham essas fontes de água que foram retiradas, como foi o caso do Re-Ação na 206 Norte. Em solidariedade com a Hosana e a Horta Girassol, que também têm sofrido muito com as questões fundiárias. Elas sempre nos reportam esses desafios externos que não dizem respeito só aos recursos naturais e aos insumos para a execução da horta.

Eu acho que a Hosana é um exemplo, não só ela como todo mundo que está envolvido lá em São Sebastião com mobilização comunitária. Às vezes, temos excepcionalidades que nos impedem de executar o nosso trabalho. E, por último e não menos importante, a Horta Agrofloresta, do Centro Acadêmico de Ciências Ambientais, que foi simplesmente patrolada depois de cinco anos de iniciativas.

Então, como esta Mesa trata das potencialidades e também das fragilidades, eu acho que é interessante deixar esse registro de que as hortas comunitárias, se não compreendidas pelo entorno de onde elas estão inseridas, sofrem, sim, muita represália, muitas ameaças, e de que a gente precisa de espaços como esse para que a gente se fortaleça e perceba que não está sozinha.

Lá no site do Nossa Brasília, a gente postou essas situações de forma detalhada. A gente pede que as pessoas se inteirem dessa situação, que assinem a carta, para que a gente consiga as conquistas que o movimento de agricultura urbana está esperando para o DF, como a regulamentação das hortas. A gente tinha o retorno de que ela seria aprovada até o dia 31 de agosto; não sei se houve algum retorno em relação a isso no dia de hoje, mas também fica aí a demanda: se ainda não foi aprovada, precisa ser, para que a gente continue fortalecendo o nosso movimento. (Palmas.)

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SR. JUAREZ ALVES – Obrigado a vocês todos.Eu vou voltar aqui para a Mesa para os nossos convidados fazerem

as considerações finais.(Intervenção fora do microfone.)

SR. JUAREZ ALVES – A senhora queria ainda dar uma palavrinha? Por favor, rapidamente, concedo a palavra à Dra. Clara Brandão.SRA. CLARA BRANDÃO – Parabéns para esse pessoal todo que está

fazendo esse trabalho há longo tempo, fantástico, mas eu queria só lembrar que falta, em todas essas hortas, a questão da produção dos temperos. Por exemplo, o cominho tem 58,3% de ferro, mais de 50% do cominho é ferro. A gente tem o colorau e o açafrão – todo mundo já sabe quais as funções terapêuticas deles –, que são árvores e gastariam muito pouca água. E há a questão também da moringa oleífera, de que se poderia depois utilizar as sementes secas para limpar a água, não só na escola, mas também nas residências. (Palmas.)

SR. JUAREZ ALVES – Obrigado, Dra. Clara.Voltando aqui para a mesa, eu vou fazer agora o caminho inverso,

começando com o Rogério e terminando com o Igor. Por favor, Rogério.SR. ROGÉRIO LÚCIO VIANNA JÚNIOR – Então, gente, acho que a

questão dos desafios ficou bem evidente. A gente tem muito que andar, mas o Baby lembrou bem: há alternativas. A gente espera que, mesmo com a legislação vigente, haja maneiras de se fazer captação da chuva e infiltração no solo. Só para dar um exemplo, naquela escola lá da Asa Sul, o Centro de Ensino Especial nº 2, a área de telhado é capaz de acumular 3 milhões de litros de água por ano. Quer dizer, é um volume considerável, que hoje vai para a rede de captação de águas pluviais. Então há muita possibilidade, há muita alternativa.

Quanto a toda essa questão da insegurança, o caso da patrola na agrofloresta, a gente espera que a regulamentação da lei dê segurança para essas atividades. A expectativa do Deputado de que até o dia 31 de agosto ela estaria regulamentada vai ser frustrada, porque infelizmente a burocracia não permite que se ande rápido. Então eu acredito que ainda vai pelo menos mais um mês até a gente conseguir, mas o que foi discutido nos grupos e já foi colocado no papel é o que deve ser aprovado sem muitas discussões mais. É isso.

SR. JUAREZ ALVES – Muito obrigado, Rogério, por nos ter dedicado esta tarde.

Concedo a palavra à Professora Ana Elen Ferreira Moitinho.

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SRA. ANA ELEN FERREIRA MOITINHO – Eu quero agradecer o espaço, por estar nos disponibilizando essa reflexão e dizer que nós precisamos de políticas públicas que viabilizem a disciplina Educação Ambiental no nosso currículo, porque nós temos que trabalhar a educação além dos muros da escola, como cidade e pátria educadora mesmo. Nós estamos formando as nossas futuras gerações e precisamos dessa parceria, desse envolvimento do Poder Público com a educação para fazermos uma educação de qualidade – educação integral de qualidade se faz com a união de todos e também do engajamento dos nossos professores. Isso foi bem colocado pela colega. Quando não há engajamento, quando não há sensibilidade, um olhar diferenciado para se fazer educação de forma interdisciplinar, holística, fica difícil mesmo. Nós precisamos contemplar o nosso aluno na sua integralidade. Temos muita honra de ter os nossos professores envolvidos nesse projeto de educação integral, não só na área ambiental, mas em diversas áreas que há na nossa escola.

Quero agradecer a presença e a parceria de todos vocês. Muito obrigada. (Palmas)

SR. JUAREZ ALVES – Obrigado, Ana.Concedo a palavra à Sra. Hosana Alves.SRA. HOSANA ALVES – Quero agradecer ao gabinete do Deputado

Joe Valle pelo convite para a gente mostrar um pouquinho do nosso trabalho. É isso aí, gente. (Palmas.)

SR. JUAREZ ALVES – Obrigado, Hosana. Igor.SR. IGOR AVELINE – Bom, eu queria fazer um agradecimento

também oficial ao Juarez, que vem desenvolvendo um trabalho fantástico, de formiguinha, atuando em várias escolas, em várias regiões do DF. Eu acho que são atitudes como essas que fazem a diferença, de forma independente.

Há hortas que têm plantadas várias coisas. Na nossa horta, no Re-Ação, temos cúrcuma, temos vários temperos, aliás, essa foi uma alternativa à falta de água.

A CAESB – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal fechou o nosso ponto de água de fevereiro para março, estávamos com vários plantios marcados e deixamos... Aliás, a gente já planta em sistema agroflorestal, plantando muita árvore, arbustos. A gente faz linhas de adubação verde, a gente faz canais para conter o escoamento da água e a lixiviação. A gente faz bacia de contenção, (ininteligível). A gente planta muita banana, mamão, várias plantas alimentícias não convencionais. Há o grupo das meninas do Refazenda que ajudam o

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projeto, que fazem a venda desses produtos em feiras, desses produtos não convencionais.

O uso de temperos e ervas medicinais foi uma alternativa, porque muitas delas são muito mais resistentes à falta de água. Então a gente tem até usado isso como alternativa.

Agradeço a fala da Laís e da Bruna, que compõem o GT de Agricultura Urbana, e ao Alcateia, que também é outro grupo que vem atuando em prol da agricultura urbana no DF.

Quinze minutos é muito pouco para falar, mas é isso. A gente vem se organizando por esses movimentos, pelo GT de Agricultura Urbana do Movimento Nossa Brasília e pelo Alcateia, trabalhando nas diversas frentes para o fortalecimento da agroecologia no espaço urbano.

Muito obrigado e fora Temer! (Palmas.)SR. JUAREZ ALVES – Muito obrigado a todos. A gente encerra esta Mesa e volta para o Cerimonial para fazer o

encerramento do evento. Obrigado à Presidência da Câmara Legislativa, que nos convidou,

ao gabinete da Presidência que está aqui presente, aos assessores do Deputado Joe Valle. Obrigado a todos vocês. Muita gratidão. (Palmas.)

SRA. THAÍS MANDARINO – Boa tarde, gente. Eu só queria esclarecer que o Deputado Joe Valle não pôde estar presente com a gente a tarde toda porque tinha duas reuniões importantes, não que esta aqui não seja importante para ele, mas é uma questão do Iprev do Distrito Federal, a questão da previdência que ainda está dando muita confusão. Ele ainda está lá em reunião com o pessoal e não conseguiu ainda passar por aqui.

Mas pela manhã, quando muitos de vocês não estavam, a gente fez uma atividade na horta da Câmara Legislativa, porque a gente agora vai também entrar no GT de Agricultura Urbana, pois a gente tem uma horta também, e ele falou muito dessa questão da importância e do decreto, de que ele fará tudo para que isso saia, sim. Logo, tem que sair.

Eu sou Secretária Executiva da Frente Parlamentar que trabalha com o tema da segurança alimentar e a gente vai continuar acompanhando esse caso. Então isso não se encerra aqui.

Neste dia de hoje aconteceu muita coisa aqui. A gente estava integrado à virada do cerrado. Há algumas pessoas que estavam aqui pela manhã – a Profa. Elen, a Laís também – e aconteceram muitas coisas de manhã e de tarde. E a gente vai pensar agora em como relacionar tudo isso. A gente vai se encontrar de novo. Eu não sei como, nem quando, mas a gente pretende continuar envolvendo essas pessoas, porque é um tema muito importante e a gente aprendeu muito aqui hoje.

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Eu quero agradecer a presença de todos vocês, à Hosana, que eu não conhecia, à Elen, bem como ao Juarez – nós nos falamos por telefone. Agradeço a presença de vocês e de todos que vieram aqui. Muito obrigada. Até breve. (Palmas.)

MESTRE DE CERIMÔNIAS – A Câmara Legislativa agradece a presença de todos na gestão do Deputado Joe Valle.

Tenham todos uma boa noite.(Levanta-se a reunião às 18h14min)