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Conferência InternacionalViolência doméstica. O papel dos advogados
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A TENSÃO ENTRE A LEI NOS LIVROS E A LEI EM AÇÃO
MARIA CLARA SOTTOMAYOR
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Lei penal e processual penal
• Criminalização: evolução – da privacidade da família à intervenção do
Estado
• Mudança de terminologia: dos maus tratos conjugais para a violência
doméstica
• Alargamento progressivo da incriminação
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Âmbito da incriminação:
• Maus tratos físicos e psíquicos
• Castigos corporais
• Privações da liberdade
• Ofensas sexuais
• Divulgação não consentida de imagens e de som relativos à intimidade
da vida privada
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• A criminalização destas condutas insere-se na linha das obrigações impostas pela
Convenção do Conselho da Europa para a prevenção e o combate à violência
contra as mulheres e a violência doméstica (Istambul, 11.05.2011),
• «violência doméstica»: «todos os atos de violência física, sexual, psicológica ou
económica que ocorrem na família ou na unidade doméstica, ou entre cônjuges
ou ex-cônjuges, ou entre companheiros ou ex-companheiros, quer o agressor
coabite ou tenha coabitado, ou não, com a vítima».
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• TRL 08-04-2015
• «No crime de violência doméstica são bastante elevadas as exigências de
prevenção geral – pois comportamentos desta natureza têm vindo a
aumentar significativamente por todo o país, com consequências tão
nefastas para as vítimas, que se repercutem pela sua vida, muitas
vezes, com consequências irreversíveis»
VIOLÊNCIA DOMÉSTICALei 112/2009, Lei 129/2015 e Lei 130/2015
• Estatuto de vítima
• Medidas de assistência e de proteção
• Detenção em flagrante delito e fora de flagrante delito
• Atos processuais urgentes de aquisição da prova
• Medidas de coação urgentes
• Encaminhamento da vítima e plano de segurança
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Ligação entre processo crime e processo de
responsabilidades parentais
• Processo urgente de regulação das responsabilidades
parentais
• Suspensão do direito de visita
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Ineficácia das medidas de coação
• Erro na avaliação do risco
• Femicídios em situações com prévia denúncia ao sistema de justiça penal
• Invisibilidade das crianças
• Penas de prisão suspensas
• Insuficiência de campanhas de prevenção
• Insuficiência de medidas de educação das crianças e dos jovens
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Sistema centrado na assistência à vítima
•Caráter secundário da repressão penal
•Violência doméstica é crime público, mas depois é tratado
como um conflito em que vítima e agressor carecem de
apoio
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Resolução do Conselho de Ministros n.º 52/2019, de 6 de
março: criação de uma comissão técnica multidisciplinar para a
melhoria da prevenção e combate à violência doméstica.
• Resolução do Conselho de Ministros n.º 139/2019, 19 de
agosto de 2019: aperfeiçoamento dos mecanismos a adotar nas
72h seguintes à denúncia pela GNR, PSP e PJ
VIOLÊNCIA DOMÉSTICARESOLUÇÃO CM 139/2019
• Manual de atuação funcional
• Procedimentos com vista à proteção e apoio à vítima, à
preservação e aquisição urgente da prova, à contenção e
definição da situação processual da pessoa agressora e ao
desencadeamento e articulação com os procedimentos que
corram simultaneamente termos na área de família e menores
VIOLÊNCIA DOMÉSTICARESOLUÇÃO CM 139/2019
• Revisão do modelo de avaliação e gestão do grau de risco da
vítima, incluindo indicadores relativos a crianças e jovens, e
outras vítimas em situação de vulnerabilidade acrescida.
• Avaliação dos serviços de assessoria técnica aos tribunais
RESOLUÇÃO CM 139/2019
• Avaliação do impacto das medidas aplicadas às pessoas agressoras:
• Suspensão provisória do processo
• Medidas de coação urgentes
• Medidas de detenção em flagrante delito e fora de flagrante delito
• Incumprimento de medidas de coação
• Vigilância eletrónica
• Regime da regulação urgente das responsabilidades parentais
• Análise da legislação e das decisões judiciais à luz da Convenção de Istambul
DESPACHO 9494/2019, de 21 de outubroPROGRAMA NACIONAL DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO CICLO DE VIDA (PNPVCV),
• Objetivo: reforçar, no âmbito dos serviços de saúde, os
mecanismos de prevenção, diagnóstico e intervenção no que
se refere à violência interpessoal, nomeadamente em matéria de
maus tratos em crianças e jovens, violência contra as mulheres,
violência doméstica e em populações de vulnerabilidade acrescida
DESPACHO 9494/2019, de 21 de outubro
• a) Garantir a deteção precoce de fatores de risco e de
situações de violência interpessoal;
• b) Assegurar, perante situações de violência interpessoal, uma
intervenção adequada, atempada e articulada;
• c) Promover a literacia sobre direitos humanos no âmbito das
relações interpessoais e uma cultura de não -violência
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Lei 80/2019, de 2 de setembro
•Assegura formação obrigatória aos magistrados em
matéria de direitos humanos e violência de género,
designadamente violência doméstica
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Lei 80/2019
• As ações de formação contínua podem ser de âmbito genérico ou especializado,
podendo ser especificamente dirigidas a determinada magistratura, e devem incidir
obrigatoriamente na área dos direitos humanos e, no caso de magistrados com
funções no âmbito dos tribunais criminais e de família e menores, obrigatoriamente
sobre violência doméstica, nas seguintes matérias: a) Estatuto da vítima de
violência doméstica; b) Formas de proteção específica de vítimas idosas e
especialmente vulneráveis; c) Medidas de coação; d) Penas acessórias; e)
Violência vicariante; f) Promoção e proteção de menores
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Pessoas vítimas:
• Violência maioritariamente dos homens sobre as mulheres
• Casamento, união de facto, namoro (ainda que sem coabitação)
• Relações entre pessoas do mesmo sexo
• Violência sobre as crianças, idosos e pessoas especialmente vulneráveis
em razão de doença, deficiência, gravidez ou dependência económica
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Violência de género: atinge desproporcionadamente as
mulheres, pelo facto de o serem
• São as mulheres pessoas vulneráveis?
• Género: categoria socialmente construída
• Origem histórica da discriminação
• Conceito de vítimas especialmente vulneráveis: art. 67 –A
CPP (tipo, grau e duração da vitimização)
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - JURISPRUDÊNCIA
• TRL 12-10-2017
• «I - O crime de violência doméstica integra o conceito de criminalidade violenta.
• II - Socialmente os casos de violência doméstica encontram uma crescente reprovação não
só pela consciência do seu elevado número, mas também pela interiorização de que as suas
vítimas são normalmente pessoas indefesas merecendo por isso a mais ampla
protecção humanitária e jurídica.
• III - Os crimes relacionados com a violência doméstica caracterizam-se por serem cíclicos
e de intensidade crescente, sendo que a médio prazo, os ciclos tendem a repetir-se e a ser
cada vez mais próximos entre si, aumentando igualmente a gravidade das condutas até aos
desfechos trágicos, razão pela qual está sempre presente um intenso perigo de
continuação da actividade criminosa.»
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Stress pós traumático
• Dissociação da personalidade
• Problemas de saúde física e psíquica
• Perda da capacidade de autodeterminação
• Medo de serem mortas
• «O medo de sermos mortas, reduz-nos a sombras»
• «Antes não era nada, apenas uma pessoa em fuga»
«Escrevi ao procurador a dizer que tinha medo de ser
morta, mas nunca me ouviram ou quiseram sequer ler as
centenas de mensagens que ele me envia»
«ele começou a ameaçar que me matava»
«Na polícia, tentaram convencer-me para não
apresentar a queixa, achavam que ele tinha dito aquilo da
boca para fora, sem intenção, e acabei por desistir»
«Neste momento, estou a tentar que o procurador
perceba que estou em risco de vida. Sei que tenho pouco
tempo até lá e, se ninguém fizer nada, ele vai tentar
matar-me assim que sair…»
«Dizia que me matava, que, se eu já não era dele, não ia
ser de mais ninguém»
«O meu ex.marido foi condenado a dois anos e meio de
prisão com pena suspensa por violência doméstica»»
«Estou sempre com medo que ele me dê um tiro na
cabeça ou me espete uma faca, Passaram oito anos e
continuo com medo.
(…)
Tenho mostrado estas ameaças à Polícia, mas o tribunal
só ao fim de dois anos é que pediu uma perícia ao
telemóvel, quando já tinha desaparecido tudo»
« (…) estava convencida de que era menos perigoso
mantê-lo dentro de casa, perto de mim, do que tê-lo
à distância. Nunca temi por mim, mas tinha medo
que ele fizesse mal à minha filha»
«Estava refém desse medo»
«Quase fui forçada a abortar, tenho criado a bébé
sozinha, sou constantemente insultada e perseguida,
mas todos me dizem para não me queixar para não
piorar a situação»
«Nos relatórios da segurança social, o progenitor
é retratado como um sujeito carinhoso, protetor,
vítima, atencioso e disponível»
«Nessa altura, a técnica respondeu-me que não podia
incluir esses factos no relatório porque eram problemas
nossos»
Visão da violência como um conflito do domínio da
privacidade
Ideologia da co-parentalidade
«A Segurança Social escreveu tudo o que ele disse e
defenderam que o pai tem boa relação com a filha, sem
sequer os observarem juntos».
Discriminação de género e favorecimento do pai
Desconsideração pelos interesses e direitos das
crianças
«Ele começou a usar as CCJP para fazer todo o tipo de queixas
contra mim, dizendo que não conseguia falar com as filhas ao
telefone»
(…)
«Nem quiseram saber das minhas nódoas negras pelo
corpo todo ou da operação em resultado da agressão.
Ficámos no mesmo patamar: como um casal conflituoso»
«O corpo ressentia-se. E mais para o final do casamento, mal comia e
dormia».
«O meu psicólogo diz-me agora que eu devo ter entrado num
processo de dissociação»
«Perdi 80% da audição com as agressões a que fui sujeita e, um ano
depois, sofri um AVC»
«No processo de violência doméstica, ele só foi condenado por
ofensas corporais»
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - JURISPRUDÊNCIA
• Ac. TRC de 24-04-2012 :
• Bem jurídico protegido no crime de violência doméstica,
• Bem jurídico plural, complexo, abrangendo a integridade corporal, saúde física e
psíquica e a dignidade da pessoa humana, em contexto de relação conjugal ou
análoga e, atualmente, mesmo após cessar essa relação;
• Revisão de 2007, deixou de ser necessária a coabitação e, consequentemente, de se exigir a
ideia de comunhão de cama e habitação, mas não pode deixar de se exigir, no tipo objetivo,
um carácter mais ou menos estável de relacionamento amoroso, aproximado ao
da relação conjugal.
• Ligação afetiva de domínio do arguido sobre a ofendida e de sujeição desta àquele
Lei n.º 19/2013, de 21 de fevereiro
AC.TRL 26-09-2017 - O alargamento da punição prevista no art. 152.º do
C. Penal aos casos em que o crime é praticado por agente que tenha
mantido com a vítima relação de namoro (independentemente de
coabitação), (…) visa a proteção da vítima contra atos de violência
contrários à confiança num comportamento de respeito e abstenção de
atos violadores da integridade pessoal do ex-parceiro.
Stalking: o ex-namorado assume comportamentos retaliatórios e
fortemente perturbadores da paz do ex-parceiro por não se conformar
com o fim da relação ou com a assunção de uma relação amorosa com
outra pessoa.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
•
• TRC 12-10-2017 «O arguido ao agredir física e psicologicamente a sua ex-
mulher, tratando-a como um objecto seu, desrespeitando de forma grave a sua
liberdade de determinação pessoal e a sua integridade física e psicológica,
utilizando para isso a violência verbal e física, revela uma personalidade de
caracter desviante em termos jurídico-criminais, que não reconhece e que por
isso faz temer pela continuação de actividade criminosa bem como pela
perturbação do inquérito. O comportamento do arguido é absolutamente
inaceitável numa sociedade que respeita a igualdade de género e os
mais elementares direitos fundamentais dos cidadãos.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Crime de homicídio qualificado: Artigos 131.º e 132.º do CP
• Tipo qualificado por um critério generalizador de especial
censurabilidade ou perversidade, determinante de um especial
tipo de culpa
• Revisão do CP de 2007: a relação conjugal, presente ou passada, ou
análoga - Artigo 132, n.º 2, al. b) CP
TRE 1-10-2013
Os factos caracterizadores do crime de violação que
tenha ocorrido no contexto espácio-temporal em
que decorreu a violência doméstica separam-se e
dão origem à verificação do crime de violação.
Punição autónoma pelo crime de violação, em
concurso real com o crime de violência doméstica.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Ac. TRL de 8-11-2011:.O crime de violência doméstica previsto
no artº152º do CP é muito mais que a soma dos diversos ilícitos
que o podem preencher, não sendo as condutas que
integram o tipo consideradas autonomamente, mas antes
valoradas globalmente na definição e integração de um
comportamento repetido revelador daquele crime.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICAAC. TRG DE 1-07-2013
I - Após a revisão do Código Penal de 2007, passou a ser unívoco de que
pode bastar um só comportamento para a condenação por crime de
violência doméstica, não sendo necessária a reiteração de
comportamentos.
II. Nesses casos, há a prática do crime de violência doméstica e não a de
crimes de ofensa à integridade física, injúria, ameaça ou sequestro,
quando em face do comportamento demonstrado, globalmente
considerado, for possível formular o juízo de que o agente
demonstrou desprezo, desejo de humilhar, ou especial
desconsideração pela vítima
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA AC. TRP DE 29-02-2012
• Maus-tratos psíquicos - tratamento degradante ou humilhante de uma
pessoa, capaz de eliminar ou limitar claramente a sua condição e dignidade
humanas; humilhações, provocações, ameaças (de natureza física ou verbal),
insultos, privações ou limitações arbitrárias da liberdade de movimentos, ou seja,
condutas que revelam desprezo pela condição humana, podendo provocar
sentimentos de culpa ou de fraqueza. Posição de controlo ou de dominação que
o agressor pretende exercer sobre a vítima, de que decorre uma maior
vulnerabilidade desta.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICAac. TRE de 26.09.2017 i -
• Não é elemento do tipo legal de violência doméstica que a ofendida
tenha uma posição de relação de subordinação existencial ou
seja, uma posição de inferioridade e/ou dependência com o
arguido
• Realidade sociológica frequente
• Mas não é elemento típico de cuja demonstração depende a
responsabilidade penal do agente.
Direito Internacional: Jurisprudência do Comité da CEDAW
V.K. contra Bulgária: a recusa dos tribunais Distrital e Regional de Plovdiv em emitir
uma ordem de proteção contra o companheiro e agressor de V.K. se encontrava
fundada em “conceções estereotipadas e preconceituosas e portanto
discriminatórias do que constitui violência doméstica”.
Estado: culpado pela violação da CEDAW – preconceitos judiciais que violam
as disposições da Convenção
«os estereótipos afetam o julgamento justo e a judicatura não deve
aplicar critérios baseados em noções preconceituosas sobre o que
constitui violência doméstica e de género»
A.C. contra Espanha: Jurisprudência da CEDAW
Caso de regulação das responsabilidades parentais, em que uma criança foi
assassinada pelo pai, condenado por violência doméstica, durante o regime de
visitas, apesar de a mãe ter feito sucessivos pedidos de restrição dos direitos do
pai, que não foram atendidos
Recomendação ao Estado espanhol:
Reparação e compensação da vítima
Investigação das causas do fracasso dos tribunais e dos serviços públicos na
proteção da autora e da sua filha
Medidas efetivas e apropriadas para proteger as vítimas de violência doméstica
nas questões de guarda e de visitas
Formação especializada obrigatória para juízes e outros profissionais
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos:
Violência infligida no espaço privado merece a proteção do art. 3.º da
CEDH (Proibição da tortura)Esta norma exige a implementação de mecanismos penais para assegurar que
os indivíduos não são sujeitos a tortura, tratamentos degradantes ou
desumanos, incluindo maus tratos praticados por sujeitos privados.
Medidas criminais efetivas que reprimam a prática de atos contra a
integridade pessoal por sujeitos privados
Condenação do Estado por violação dos deveres positivos do art. 3.º
CEDH (Proibição da tortura): o Estado não proporcionou à vítima
proteção adequada, efetiva e prática contra atos de violência
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• TRL 08-04-2015
• «Nos crimes de violência doméstica, é muito raro haver testemunhas diretas dos factos, pois tudo se
passa dentro do silêncio do lar, dentro da casa de morada de família, ou em locais solitários, isolados
ou ermos, em que a agressão á vítima, não é vista por quem quer que seja, justamente porque o
agressor sabe ou pressente que não tem testemunhas próximas. Acontece que muitas vezes o único
elemento de prova existente resume-se às declarações da própria ofendida, e de alguns
elementos instrumentais, que conjugados entre si e com as regras da experiência comum,
permitem ao julgador formar a sua convicção sobre a verdade dos factos para além da dúvida
razoável.
• As vítimas de violência doméstica apresentam uma especial vulnerabilidade, têm medo,
vergonha, são ameaçadas pelos agentes do crime, temendo pela própria vida e dos
próprios familiares. Por vezes há por parte das vítimas, um conflito interior em
denunciar a situação em que se encontram ou escondê-la».
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• TRL 09-11-2016
• «I–Não decorrendo obrigatoriamente da lei a tomada de declarações para
memória futura no caso de violência doméstica ou maus tratos, o
critério para decidir pela tomada de declarações para memória futura terá
necessariamente que assentar no interesse da vítima.
Objetivo: proteger a vítima do perigo de revitimização, evitar a repetição da sua
audição, acautelar a genuinidade do seu depoimento em tempo útil, e prevenir
possíveis pressões para mudar o depoimento.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Artigo 32.º
• Recurso à videoconferência ou à teleconferência
• 1 - Os depoimentos e declarações das vítimas, quando impliquem a
presença do arguido, são prestados através de videoconferência ou de
teleconferência,
• 2 –Direito da vítima a ser acompanhada,
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Artigo 33.º - Declarações para memória futura
•
• 7 - A tomada de declarações nos termos dos números anteriores não
prejudica a prestação de depoimento em audiência de julgamento, sempre
que ela for possível e não puser em causa a saúde física ou psíquica de
pessoa que o deva prestar.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• . Ac. TRL - 144/15.4PKLRS-A-L1-5
Violência Doméstica - Medidas de Coacção
I. Em relação ao crime de violência doméstica, a Lei nº112/09 no art.30º, nº2, prevê um regime mais aberto e
consentâneo com as necessidades práticas que este tipo de crimes suscita, admitindo, fora de flagrante
delito, a detenção quando exista perigo de continuação da atividade criminosa, ou em caso de
necessidade de proteção da vítima;
Prevê, ainda, no art.º 31º, medidas de coação urgentes, em particular as medidas de afastamento
do arguido, ora da residência ora da vítima;
III. Não desconhecendo que, na maioria dos casos de violência doméstica, é a vítima que tem de
sair de casa e recorrer a ajuda de familiares, amigos ou a casas de abrigo, o nº2, daquele art.º 31º,
prevê que o facto de a vítima se ter ausentado da residência em razão da prática ou de ameaça séria do
cometimento do crime de violência doméstica não obsta a aplicação daquelas medidas de afastamento
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• 1 – Medidas de coação urgentes (artigo 31 lei 112/2009)
4 - A medida ou medidas de coação que impliquem a restrição de
contacto entre progenitores são imediatamente
comunicadas ao representante do Ministério Público que
exerce funções no tribunal competente, para efeitos de instauração,
com caráter de urgência, do respetivo processo de regulação ou
alteração da regulação do exercício das responsabilidades
parentais.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• TRE 22-03-2018
• Nas situações mencionadas nos n.ºs 9 e 10 do art.º 40.º do RGPTC, não seja
aconselhável, por contrário ao superior interesse da criança, a aceitação de
residência alternada.
• Não é qualquer medida de coação aplicada no âmbito do processo-crime, por
violência doméstica, como o TIR, que fundamenta a presunção a que alude o n.º 9 do
art.º 40.º do RGPTC, mas medidas de coação que impliquem a restrição de
contacto entre os progenitores.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Art. 31.º da Convenção de Istambul:
• Medidas legislativas ou outras
• Objetivo: assegurar que ao determinar a residência e os direitos de
visita das crianças, sejam tomados em consideração incidentes de
violência
• O exercício dos direitos de visita ou de guarda não comprometam os
direitos e a segurança da vítima e das crianças.
Artigo 1906.º -A- Regulação das responsabilidades parentais no âmbito de crimes de violência doméstica e de outras formas de violência em contexto familiar
• Exercício em comum das responsabilidades parentais pode ser
julgado contrário aos interesses do filho se:
• a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de
proibição de contacto entre progenitores, ou b) Estiverem em grave
risco os direitos e a segurança de vítimas de violência doméstica e
de outras formas de violência em contexto familiar, como maus
tratos ou abuso sexual de crianças.»
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Criança usada como meio de controlo da mulher –
neopatriarcado – ação de entrega judicial de menor
• Pais agressores - pedem a guarda dos filhos duas vezes
mais do que os pais não violentos
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• TRE 22-03-2018
• Tratando-se de uma criança de tenra idade, demonstrada a conflitualidade
entre os progenitores, a dificuldade séria de comunicação e de estabelecer um
diálogo, bem como a ausência de cooperação, beneficiando a progenitora do
Estatuto de Vítima, nos termos dos n.ºs 1 e 2 do art.º 14.º da Lei n.º 112/2009,
de 16 de setembro, não se justifica o estabelecimento de um regime
de residência alternada com o exercício conjunto das responsabilidades
parentais, quando a mãe manifestou a sua discordância.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• RELAÇÃO DE LISBOA,Acórdão de 19-04-2018
I- Revelando os menores, decorridos anos sobre a fixação do regime de visitas, absoluta
recusa de visitarem o pai recluído em estabelecimento prisional, tal recusa corresponde a
uma alteração superveniente das circunstâncias que autoriza a alteração do regime instituído
II.– Revelando-se pela audição dos menores a livre formação da sua recusa e a
consideração da existência, para os mesmos menores, do fundamento dessa recusa
(violência familiar), não é necessário determinar a realização de perícia médico-legal aos
referidos menores para o efeito de determinar se os seus sentimentos lhes foram
transmitidos pela mãe, sobretudo quando o fim dessa perícia serviria a destronar
a audição e a reduzir a actividade probatória às versões contraditórias de ambos
os progenitores, quando, num caso como no presente, o progenitor foi
efectivamente condenado por crimes relacionados com tal violência familiar.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Danos psicológicos causados às crianças expostas à violência parental
• Problemas comportamentais, psicológicos, físicos e sociais
• Depressão, insucesso escolar, tendência para consumo de drogas ou
álcool, baixa empatia, déficit de atenção, comportamentos obsessivo-
compulsivos, pesadelos, ansiedade, perturbações de sono, baixa auto-
estima, sentimentos de culpa, enurese nocturna.
• Mito: um progenitor pode ser violento com o outro e
competente para cuidar dos filhos.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Mudanças legislativas (Lei 129/2015 e 24/2017):
• Métodos extrajudiciais de resolução de conflitos excluídos para situações de
violência doméstica
• Comunicação do MP/Tribunal Penal ao MP/Tribunal de Família para
instauração de processo urgente de regulação das responsabilidades parentais
• Suspensão dos direitos de visita do agressor
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Relação entre o Processo Tutelar Cível e o Processo-Crime
• Medida de coacção: proibição de contactos entre os progenitores
• Visitas vigiadas ou suspensas
• Aumento da pena: facto praticado contra menor, na presença de
menor, no domicílio comum ou no domicílio da vítima (art. 156.º, n.º
2 CP)
• Inibição das responsabilidades parentais por período de um a dez
anos (art. 152.º, n.º 6 CP)
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Art. 14.º, n.º 2 (Lei 129/2015): Sempre que existam filhos
menores, o regime de visitas do agressor deve ser avaliado, podendo
ser suspenso ou condicionado, nos termos da lei aplicável
• Art. 40.º da lei 141/2015 (RGPTC):
• Suspensão/supervisão das visitas
• Medida de coação no processo crime: presunção de que guarda
conjunta contrária ao interesse da criança
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Artigo 24- A do RGPTC
• Inadmissibilidade do recurso à audição técnica especializada e à
mediação
• a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição de
contacto entre progenitores, ou
• b) Estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência
doméstica e de outras formas de violência em contexto familiar, como maus
tratos ou abuso sexual de crianças.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Artigo 44.º-A - NRPTC
• Regulação urgente
• 1 - Quando seja decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição
de contacto entre progenitores ou se estiver em grave risco os direitos e a segurança
das vítimas de violência doméstica e de outras formas de violência em contexto
familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças, o Ministério Público
requer, no prazo máximo de 48 horas após ter conhecimento da situação, a
regulação ou alteração da regulação do exercício das responsabilidades
parentais.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Criança que assiste à violência doméstica: criança em perigo na sua
segurança, desenvolvimento e educação: art. 3.º PPCJP
• vítima de crime de violência doméstica ou de maus tratos
• Maus tratos psíquicos
• Exposição a comportamentos que afetam o seu desenvolvimento
emocional
• Medidas de proteção: restrição ou suspensão das visitas
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
• Resposta Judicial
• Unificação num mesmo tribunal, de competência mista, da
decisão das causas em matérias de responsabilidades
parentais, violência doméstica e maus tratos.
• Questão de constitucionalidade