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EDITOR-COORDENADOR: ADALBERTO MEIRELES / [email protected] QUA SALVADOR 28/4/2010 SEG PERSONA TER POP HOJE VISUAIS QUI CENA SEX CINE SAB LETRAS DOM SHOP 2 MÚSICA PROJETO CONEXÃO VIVO REUNIRÁ 50 ARTISTAS EM SALVADOR E NO INTERIOR 7 POLÍTICA PÚBLICA CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA, PRESIDIDO POR LIA ROBATTO, BUSCA MAIS PARTICIPAÇÃO DO INTERIOR DO ESTADO 4 Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE ARTE MULTIMÍDIA Artista baiana expõe em São Paulo a instalação sonora Fala dos Confins, produzida a partir de gravações feitas na Bacia do Jacuípe, sertão da Bahia Virgínia de Medeiros leva o falar do sertão para a megalópole PEDRO FERNANDES A vontade de reencontrar o ser- tão que conhecia apenas das histórias contadas pelo pai fez a artista visual Virgínia de Medei- ros percorrer a Bacia do Jacuípe, que engloba as cidades do ser- tão de Pé de Serra, Nova Fátima e Riachão do Jacuípe, a bordo da kombi “Catarina“. O objetivo era recolher histórias, causos e sonoridades do falar sertanejo. O resultado é a instalação so- nora Fala dos Confins, que ela apresenta entre os dias 1º e 23 de maio, no Complexo Cultural Funarte, São Paulo. O projeto inicialmente seria financiado pela Secult e incluía mais municípios, mas não acon- teceu. Então, Virgínia readap- tou a proposta, a inscreveu no Programa Rede Nacional Funar- te Artes Visuais 2009 e foi con- templada. Por falta de verba, não há previsão de o trabalho ser exposto em Salvador ou nas cidades onde foi concebido. A kombi que levou Virgínia de cidade em cidade fará parte da instalação. O público vai pre- cisar entrar nela para ouvir as conversas captadas pela artista. Enquanto isso, imagens regis- tradas por ela serão projetadas no para-brisa do carro. A ideia é levar para a cidade grande, já tão habituada à comunicação escrita, a musicalidade da cul- tura oral do sertão baiano. “Quis mostrar um sertão fa- buloso, dourado, místico, de uma natureza exuberante para contrapor a esse sertão de mi- séria e sofrimento ao qual as pessoas estão acostumadas”, explica. Mais que documentos, ela procurou captar a poesia pre- sente nesses falares. “Uma das maiores dificuldades da socie- dade contemporânea é escutar. Quero propor esse exercício”. Intimidade Virgínia dedicou 20 dias do mês de março deste ano a conhecer gente como Seu Tiago, mecâ- nico cheio de anedotas para con- tar; Zé de Bispo, trovador de Pé de Serra; ou Zé Meota, contador de causos de Riachão do Jacuí- pe. “Resolvi ir a menos cidades para poder ficar mais com as pessoas e criar uma intimidade maior com elas. Não é só chegar e ligar o gravador. Se infiltrar faz parte do processo”, conta. Para quem não vai poder ver a instalação de perto, no blog do projeto (www.faladosconfins. com.br) é possível ver fotos fei- tas por Jonathas Medeiros, seu companheiro de viagem, e ouvir “A sociedade tem dificuldade de escutar. Quero propor o exercício” VIRGÍNIA DE MEDEIROS Artista visual Jonathas Medeiros / Divulgação Virgínia de Medeiros filma Seu Tiago, contador de anedotas depoimentos como o do casal de cantores Risada e Risadinha, que com poesia digna de Gui- marães Rosa explicam seus no- mes artísticos. “Achemo que ta- va tão bom que agora peguemo a cantar juntos, viremo passa- rinho. E aí o nome chegou e consagrou. Eu gostei...Risada e Risadinha. É melhor ri que cho- rar! Risadinha é um nome miu- dinho, charmoso é o da mulher. Risada, não, é um nome gros- seiro", diz a esposa. Gênero O trabalho atual, embora des- toe das questões de gênero e sexualidade, que está acostu- mada a tratar, mantém um certo caráter etnográfico no que diz respeito ao processo de coleta. Em 2003, Virgínia de Medeiros montou um estúdio em Salva- dor, onde recebia travestis, as fotografava e as entrevistava. Em 2006, apresentou o resul- tado desta experiência na 27ª Bienal de São Paulo: um con- junto de três vídeos Como Viver Juntos, produzidos a partir des- se trabalho. “Quis mostrar um sertão fabuloso para contrapor ao de miséria que as pessoas estão acostumadas”

Virgínia de Medeiros leva o falar do sertão para a megalópole

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Matéria sobre instalação de Virgínia de Medeiros, Fala dos Confins, no Caderno 2+

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Page 1: Virgínia de Medeiros leva o falar do sertão para a megalópole

EDITOR-COORDENADOR: ADALBERTO MEIRELES / [email protected]

QUASALVADOR28/4/2010

SEG PERSONATER POPHOJE VISUAISQUI CENASEX CINESAB LETRASDOM SHOP 2 MÚSICA PROJETO CONEXÃO VIVO REUNIRÁ

50 ARTISTAS EM SALVADOR E NO INTERIOR 7

POLÍTICA PÚBLICA CONSELHOESTADUAL DE CULTURA,PRESIDIDO POR LIA ROBATTO,BUSCA MAIS PARTICIPAÇÃODO INTERIOR DO ESTADO 4

Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE

ARTE MULTIMÍDIA Artista baiana expõe em São Paulo a instalação sonora Fala dosConfins, produzida a partir de gravações feitas na Bacia do Jacuípe, sertão da Bahia

Virgínia de Medeiros leva o falardo sertão para a megalópolePEDRO FERNANDES

A vontade de reencontrar o ser-tão que conhecia apenas dashistórias contadas pelo pai fez aartista visual Virgínia de Medei-ros percorrer a Bacia do Jacuípe,que engloba as cidades do ser-tão de Pé de Serra, Nova FátimaeRiachãodoJacuípe,abordodakombi “Catarina“. O objetivoera recolher histórias, causos esonoridades do falar sertanejo.O resultado é a instalação so-nora Fala dos Confins, que elaapresenta entre os dias 1º e 23de maio, no Complexo CulturalFunarte, São Paulo.

O projeto inicialmente seriafinanciado pela Secult e incluíamais municípios, mas não acon-teceu. Então, Virgínia readap-tou a proposta, a inscreveu noPrograma Rede Nacional Funar-te Artes Visuais 2009 e foi con-

templada. Por falta de verba,não há previsão de o trabalhoser exposto em Salvador ou nascidades onde foi concebido.

A kombi que levou Virgínia decidade em cidade fará parte dainstalação. O público vai pre-cisar entrar nela para ouvir asconversas captadas pela artista.Enquanto isso, imagens regis-tradas por ela serão projetadasno para-brisa do carro. A ideia élevar para a cidade grande, játão habituada à comunicaçãoescrita, a musicalidade da cul-tura oral do sertão baiano.

“Quis mostrar um sertão fa-buloso, dourado, místico, deuma natureza exuberante paracontrapor a esse sertão de mi-séria e sofrimento ao qual aspessoas estão acostumadas”,explica.

Mais que documentos, elaprocurou captar a poesia pre-

sente nesses falares. “Uma dasmaiores dificuldades da socie-dade contemporânea é escutar.Quero propor esse exercício”.

IntimidadeVirgínia dedicou 20 dias do mêsde março deste ano a conhecergente como Seu Tiago, mecâ-nicocheiodeanedotasparacon-tar; Zé de Bispo, trovador de Péde Serra; ou Zé Meota, contadorde causos de Riachão do Jacuí-pe. “Resolvi ir a menos cidadespara poder ficar mais com aspessoas e criar uma intimidademaior com elas. Não é só chegare ligar o gravador. Se infiltrar fazparte do processo”, conta.

Para quem não vai poder vera instalaçãodeperto,noblogdoprojeto (www.faladosconfins.com.br) é possível ver fotos fei-tas por Jonathas Medeiros, seucompanheirodeviagem,eouvir

“A sociedade temdificuldade deescutar. Queropropor o exercício”

VIRGÍNIA DE MEDEIROSArtista visual

Jonathas Medeiros / Divulgação

Virgínia deMedeiros filmaSeu Tiago,contador deanedotas

depoimentos como o do casalde cantores Risada e Risadinha,que com poesia digna de Gui-marães Rosa explicam seus no-mes artísticos. “Achemo que ta-va tão bom que agora peguemoa cantar juntos, viremo passa-rinho. E aí o nome chegou econsagrou. Eu gostei...Risada eRisadinha. É melhor ri que cho-rar! Risadinha é um nome miu-dinho, charmoso é o da mulher.Risada, não, é um nome gros-seiro", diz a esposa.

GêneroO trabalho atual, embora des-toe das questões de gênero esexualidade, que está acostu-madaatratar,mantémumcertocaráter etnográfico no que dizrespeito ao processo de coleta.Em 2003, Virgínia de Medeirosmontou um estúdio em Salva-dor, onde recebia travestis, as

fotografava e as entrevistava.Em 2006, apresentou o resul-tado desta experiência na 27ªBienal de São Paulo: um con-junto de três vídeos Como ViverJuntos, produzidos a partir des-se trabalho.

“Quis mostrar umsertão fabulosopara contrapor aode miséria que aspessoas estãoacostumadas”