VISÃO ESTRATÉGICA COOPERAÇÃO PORTUGUESA [IPAD - 2006]

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    UMA VISO ESTRATGICAPARA A COOPERAO

    PORTUGUESA

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    UMA VISO ESTRATGICAPARA A COOPERAO

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    Cooperao

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    Diogo Freitas do AmaralMINISTRO DE ESTADO E DOS NEGCIOS ESTRANGEIROS

    O documento Uma viso Estratgica para a Cooperao Portuguesa ilustra a viso

    do Governo sobre a poltica de Cooperao e representa um mecanismo de di-

    logo credvel junto dos diferentes actores nacionais e internacionais.

    Na verdade, as actuais dinmicas internacionais questionam as abordagens exis-

    tentes e exigem aos governos novas solues polticas, capazes de conciliar as

    necessidades sociais, com os enquadramentos econmicos e com os novos con-

    textos de segurana. O Mundo est hoje seguramente diferente do que era h 10

    anos atrs e a cooperao assume um papel inquestionvel quando pensamos

    nas solues para os problemas actuais da conflitualidade internacional.

    Este documento traduz, de forma estruturada e com viso poltica, as nossas

    prioridades e princpios, potenciando as mais valias da nossa cooperao bilate-

    ral no quadro das dinmicas, cada vez mais exigentes e necessariamente mais

    coordenadas, da cooperao internacional.

    Portugal deve pensar e escrever a Cooperao como uma poltica pblica, parte inte-grante da poltica externa. Este documento vem colmatar o dfice de teorizao pro-

    movendo a reflexo e o enquadramento da aco da cooperao. Ser, agora, possvel,

    porque sabemos o que queremos e para onde desejamos caminhar, potenciar a nossa

    cooperao bilateral no espao multilateral.

    Conferindo clareza e relevncia cooperao no quadro da poltica externa por-

    tuguesa, esta viso estratgica define os princpios transversais, as prioridades

    sectoriais e geogrficas e os mecanismos que devem conduzir coerncia das

    polticas pblicas neste domnio. A melhoria da aco da cooperao portuguesa,imperativo principal e misso fundamental desta viso, ter que se construir

    atravs da promoo da eficcia, da sustentabilidade e da qualidade das relaes

    de parceria que queremos desenvolver.

    Neste mbito, de particular pertinncia salientar a cooperao com os pases de

    lngua oficial portuguesa, seja em termos da nossa relao bilateral, atravs da CPLP.

    Este um espao de concertao privilegiado, sendo a lngua portuguesa um veculo

    para a paz e para a democracia. Assim, a pertena ao mundo da lngua portuguesa

    no apenas uma questo de histria; , antes, um desafio para o futuro. Este pas-

    sado histrico deve permitir edificar uma viso moderna de Portugal no mundo.

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    Este documento aposta tambm na componente da parceria, como factor essencial

    ao desenvolvimento. A realidade da cooperao multidimensional e exige conhe-

    cimentos multidisciplinares. , ento, fundamental valorizar, de forma muito clara,

    a participao dos actores no estatais da cooperao e a sua interligao e coorde-

    nao com as estruturas e aces do sector pblico. Existe, portanto, uma forte

    aposta na dinmica das parcerias pblico - privadas.

    No quadro destas parcerias entendemos importante salientar o papel que o sector

    privado pode desempenhar, no crescimento econmico, na criao de emprego e

    no desenvolvimento dos pases parceiros. Esta perspectiva, que cria pontes com

    a diplomacia econmica, aponta aces e medidas concretas que incentivam o

    relacionamento entre o nosso sector privado e o dos pases em desenvolvimento,

    valorizando, assim, a participao do sector empresarial portugus na promoo

    da ajuda pblica ao desenvolvimento portuguesa.

    Uma viso estratgica para a Cooperao portuguesatraduz, assim, o papel fun-damental da cooperao para uma poltica externa portuguesa integrada, que

    contribua para valorizar o papel de Portugal no mundo. Esta a misso que

    pretendemos desenvolver durante a presente legislatura.

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    Joo Gomes CravinhoSECRETRIO DE ESTADO DOS NEGCIOS ESTRANGEIROS E DA COOPERAO

    O contributo de Portugal para os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, um

    dos maiores desafios internacionais da actualidade, exige uma abordagem

    coerente e sistemtica, capaz de valorizar do melhor modo as potencialidades da

    Cooperao Portuguesa. Os primeiros anos do sculo XXI confirmaram o

    substancial reforo da importncia da Ajuda Pblica ao Desenvolvimento na agenda

    internacional, correspondendo no s a um renovado compromisso de solida-

    riedade internacional, como tambm a uma convico cada vez mais sedimentada

    quanto aos possveis efeitos nefastos, para todos, de desigualdades crescentes na

    era da globalizao. este o contexto que interpela os Estados da OCDE a traba-

    lharem no sentido de maximizar o proveito que se pode tirar dos recursos que

    dedicam cooperao internacional. Portugal no deixar de desempenhar o seu

    papel nesta importante tarefa internacional.

    O documento de orientao estratgica aprovado pelo Governo Portugus, sob

    coordenao do Ministrio de Negcios Estrangeiros mas com o importantecontributo de numerosos outros ministrios, e contando com a opinio de um

    alargado conjunto de actores da sociedade civil, pretende servir de guio para a

    Cooperao Portuguesa para os anos mais prximos. Nele se sublinha a impor-

    tncia de trabalhar no mbito dos mais importantes consensos internacionais,

    utilizando os recursos nacionais para alavancar outros contributos que possam

    igualmente concorrer para combater a pobreza e promover o desenvolvimento,

    particularmente na frica lusfona e em Timor. Evitando qualquer tipo de cen-

    tralizao asfixiador, o documento aponta para mecanismos de concertao quepossam evitar a disperso dos esforos nacionais de cooperao para o desenvol-

    vimento, valorizando a coordenao dos mltiplos e variados contributos da

    sociedade portuguesa. E no plano interno so referidas as reformas metodolgi-

    cas necessrias para que a eficincia e eficcia dos recursos afectados Ajuda

    Pblica ao Desenvolvimento sejam maximizados.

    A poltica externa portuguesa tem a desempenhar um papel de primeira importn-

    cia neste grande desafio internacional. Com esta Viso Estratgica para a Cooperao

    Portuguesa, d-se incio a um processo de realizao plena de todo o potencial da

    nossa cooperao internacional.

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    A MISSO DA COOPERAO PORTUGUESA:

    A misso fundamental da Cooperao Portuguesa consiste em contribuir para a realizao

    de um mundo melhor e mais estvel, muito em particular nos pases lusfonos,

    caracterizado pelo desenvolvimento econmico e social, e pela consolidao e o

    aprofundamento da paz, da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito.

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    NDICE

    Captulo

    1:: INTRODUO 11

    1.1. A Cooperao e a Poltica Externa Portuguesa 12

    1.2. Recursos e Objectivos 13

    1.3. A Responsabilidade Poltica pela Cooperao para o Desenvolvimento 13

    PARTE I VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    Captulo

    2:: O CONTEXTO INTERNACIONAL

    DA COOPERAO PARA O DESENVOLVIMENTO 15

    2.1. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 16

    2.2. A Coordenao Internacional 17

    Captulo

    3:: PRINCPIOS ORIENTADORES 19

    3.1. Empenho na Prossecuo dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 19

    3.2. Reforo da Segurana Humana 203.3. Apoio Lusofonia 21

    3.4. Apoio ao Desenvolvimento Econmico Sustentvel 22

    3.5. Envolvimento nos Debates Internacionais 22

    PARTE II QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA

    Captulo

    4:: AS PRIORIDADES DA COOPERAO PORTUGUESA 25

    4.1. Prioridades Geogrficas 25

    4.2. Prioridades Sectoriais 26

    Captulo

    5:: A COOPERAO PORTUGUESA

    E O ENQUADRAMENTO MULTILATERAL 29

    5.1. Orientaes Gerais Portuguesas no Contexto Multilateral 29

    5.2. Espaos Multilaterais para o Envolvimento Portugus 31

    5.3. Aprofundamento da Abordagem Bi-Multi 32

    Captulo

    6:: O APOIO AO SECTOR PRIVADO 35

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    PARTE III QUADRO INSTITUCIONAL DA COOPE RAO PORTUGUESA

    Captulo

    7:: O DISPOSITIVO DA COOPERAO PORTUGUESA 37

    7.1. Dispositivo Central 37

    7.2. Ministrios Sectoriais 39

    7.3. Coordenao Interministerial e Coerncia da Cooperao 39

    7.4. Cooperao Descentralizada 40

    7.5. Frum de Cooperao para o Desenvolvimento 41

    Captulo

    8:: A COOPERAO PORTUGUESA E A SOCIEDADE CIVIL 43

    8.1. Construir Parcerias e Desenvolver Projectos de Qualidade 43

    8.2. Actores da Sociedade Civil 45

    Captulo

    9:: MECANISMOS DA COOPERAO PORTUGUESA 499.1. Negociao com Parceiros e Programao Plurianual 49

    9.2. Oramentao Plurianual e Eficincia 49

    9.3. Gesto por Resultados e Normalizao de Procedimentos 50

    9.4. Apoio a Projectos, Apoio a Programas, Apoio ao Oramento 50

    9.5. Clusters de Cooperao: Um Novo Instrumento para a Cooperao Portuguesa 51

    9.6. Voluntariado para a Cooperao 52

    9.7. Reforo da Coordenao nos Pases Terceiros 52

    9.8. Acompanhamento, Avaliao e Aprendizagem 52

    9.9. Aco Humanitria (Catstrofes; Proteco Civil e Emergncia Mdica) 54

    NOTAS 55

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    Captulo

    1:: INTRODUO

    Portugal precisa de uma poltica de cooperao. Os

    investimentos que ao longo de trs dcadas tiveram

    lugar em actividades de cooperao obedeceram a

    lgicas muito variadas, foram de natureza extrema-

    mente diversa e tiveram resultados mistos, ambguos

    e mesmo em muitos casos desconhecidos. Exige-se,

    por uma questo de responsabilidade e responsabi-

    lizao poltica, e por razes de eficincia e clareza

    quanto aos objectivos, que se definam as linhas de

    orientao para a Cooperao Portuguesa.

    Em 1999 o XIII Governo aprovou em Conselho de

    Ministros um documento de orientao estratgica

    com o ttulo A Cooperao Portuguesa no Limiar do

    Sculo XXIi. Tratou-se da primeira e, at data, da

    nica descrio coerente e completa de uma poltica

    de Cooperao Portuguesa. Esse documento, e as refor-

    mas ento encetadas, deixaram importantes marcas na

    Cooperao Portuguesa. Retoma-se agora o processo

    de atribuio de racionalidade e direco estratgica

    cooperao que foi entretanto interrompido.

    A preocupao central em 1999, ainda hoje vlida,

    ficou descrita na introduo Resoluo do Conselho

    de Ministros que aprovou o documento:

    O importante desafio que se coloca a Portugal o

    de saber articular, nos planos poltico, econmico e

    cultural, a dinmica da sua integrao europeia com

    a dinmica de constituio de uma comunidade,

    estruturada nas relaes com os pases e as comuni-

    dades de lngua portuguesa no mundo, e de reapro-

    ximao a outros povos e regies.

    neste quadro que a poltica de cooperao para o

    desenvolvimento, vector essencial da poltica externa,

    adquire um particular sentido estratgico, consti-

    tuindo um elemento de diferenciao e de afirmao

    de uma identidade prpria na diversidade europeia,

    capaz de valorizar o patrimnio histrico e cultural

    do Pas.

    Torna-se assim necessrio dotar a poltica de coope-

    rao de mais rigor e coerncia estratgica, de um

    comando poltico mais eficaz, de uma organizao

    mais racional e de um sistema de financiamento

    adequado.

    A poltica de cooperao para o desenvolvimento que

    aqui se prope contm fortes traos de continuidade

    com a estratgia de 1999, e contm tambm inova-

    es. No plano da continuidade destacamos a preo-

    cupao em estabelecer uma ligao visvel,

    consequente e eficaz entre princpios, prioridades,

    programas e projectos. Sublinhamos tambm a

    importncia que em ambos os momentos se atribui

    ao requisito fundamental de comando e responsabi-

    lizao poltica, por contraste com uma tradio de

    disperso dos centros de deciso (inclusive no nvel

    poltico) por entre as instituies que contribuempara a Cooperao Portuguesa, com a consequente

    perda de eficincia e sentido estratgico.

    No plano da inovao, notrio que se verificou,

    desde 1999, uma acentuada tendncia para a coor-

    denao internacional da Ajuda Pblica ao

    Desenvolvimento (APD), e que a Cooperao

    Portuguesa est actualmente pouco equipada para

    lidar com essa realidade, reduzindo desta forma a

    margem de actuao e a influncia nacional nos

    grandes centros de discusso e deciso sobre as rela-

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    es Norte-Sul. Esta tendncia sublinha a urgncia

    do aperfeioamento dos instrumentos e mecanis-

    mos da Cooperao Portuguesa, encontrando-se

    neste documento um conjunto de orientaes a esse

    respeito.

    Na senda da estratgia de 1999, o actual documentoprocura atribuir clareza, objectividade e transparn-

    cia Cooperao Portuguesa. Apesar da quebra nos

    montantes atribudos APD em Portugal em 2003

    e 2004ii, estamos hoje perante uma dinmica inter-

    nacional de acrscimo da APD a que Portugal no

    pode permanecer alheio. Existem alis, diversos

    compromissos internacionais que apontam precisa-

    mente nesse sentido, conforme se poder verificar

    no captulo 2. Porm, no pode justificar-se que haja

    uma participao activa portuguesa neste processo

    internacional sem que haja igualmente um impor-

    tante esforo no sentido da rentabilizao da

    Cooperao Portuguesa - rentabilizao para os pa-

    ses beneficirios, e rentabilizao para Portugal,

    nomeadamente para a sua insero mais dinmica

    nas redes e nos mecanismos que constituem a malha

    da globalizao.

    [1.1.] A Cooperao e a Poltica Externa PortuguesaA experincia histrica mais recente do processo de

    globalizao, e em particular desde o final da Guerra

    Fria, trouxe uma renovada conscincia e uma nova

    atitude quanto s relaes Norte-Sul. Em outros

    momentos, a cooperao portuguesa e a de outros

    pases encontrava a sua justificao num conglome-

    rado de razes que incluam sentimentos de solida-

    riedade humanitria ou poltica, interesses de ordem

    geoestratgica ou econmica, e expresses de proxi-midade lingustica ou cultural. Hoje, sobrepe-se a

    esse tipo de raciocnio a conscincia de que, para

    funcionar, a globalizao no pode continuar a ter

    largas manchas de excluso no hemisfrio Sul. Essa

    possibilidade constitui a mais poderosa dvida

    quanto aos benefcios da globalizao, e a mais peri-

    gosa semente para a instabilidade global. esta cons-

    cincia que est na base da transformao histrica

    do papel da cooperao internacional a que se assiste,

    em especial desde a Cimeira do Milnio de 2000.

    De forma cada vez mais vincada, os pases da OCDE

    (e em particular os da Unio Europeia) entendem as

    suas polticas de cooperao como elementos inte-

    grantes das suas estratgias para a globalizao. Para

    Portugal a cooperao constitui tambm um dos

    pilares da sua poltica externa, e um instrumentoimprescindvel na sua relao com o mundo.

    A poltica de cooperao reflecte a poltica externa

    portuguesa, fundamentalmente de trs maneiras.

    Em primeiro lugar, no que diz respeito aos pases

    de lngua portuguesa, destacando-se em particular

    os PALOP e Timor-Leste. A relao com os pases

    africanos de expresso portuguesa constitui um dos

    pilares fundamentais da nossa poltica externa, jun-

    tamente com a integrao europeia e a aliana atln-

    tica. Igualmente, a ligao a Timor-Leste, cuja

    independncia constitui um dos grandes xitos da

    diplomacia portuguesa, profunda. O desenvolvi-

    mento desses pases, e a sua boa integrao nas

    dinmicas econmicas da globalizao, constituem

    desideratos importantes da nossa poltica externa.

    Trata-se de desideratos com importncia intrnseca,

    com evidentes consequncias positivas para a qua-

    lidade de vida das populaes desses pases, sendo

    ao mesmo tempo favorveis aos intercmbios cul-

    turais e econmicos que enriquecem a sociedade

    portuguesa.

    Segundo, a lngua portuguesa constitui um valor

    fundamental para a nossa poltica externa. A promo-

    o da lngua portuguesa no mundo contribui para

    a sedimentao, longevidade e proficuidade de uma

    comunidade lingustica que constitui, a um s

    tempo, um importante contributo histrico portu-

    gus para o mundo, e um trunfo relevante na era daglobalizao. A cooperao, em particular atravs do

    apoio educao bsica e alfabetizao nos pases

    parceiros, consubstancia-se como um instrumento

    imprescindvel para a promoo da nossa lngua.

    Terceiro, um dos objectivos da poltica externa

    nacional reside em promover a nossa capacidade de

    interlocuo e influncia em redes temticas inter-

    nacionais cujos centros de deciso so supranacio-

    nais. Ora, uma das caractersticas mais salientes da

    cooperao nos anos mais recentes o enorme

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    reforo da coordenao internacional atravs dessas

    redes. No falamos aqui de uma caracterstica exclu-

    siva da cooperao internacional, antes pelo contrrio:

    encontra-se o mesmo padro em numerosas facetas

    da vida internacional contempornea. Para um pas

    de dimenso mdia e recursos limitados, o desafioessencial que se coloca o de saber, com eficincia

    e profissionalismo, aplicar os instrumentos de que

    dispe de forma a maximizar a qualidade da sua

    interveno nos teatros de discusso e deciso que

    se identificam como mais importantes. A cooperao

    para o desenvolvimento internacional oferece um

    caso paradigmtico desta forma de trabalhar. Urge

    agora orientar a nossa cooperao tanto a multila-

    teral como a bilateral de modo a tirar o melhor

    proveito possvel das vantagens que temos em algu-

    mas das arenas de coordenao internacional.

    Ao faz-lo, conforme aqui se prope, a poltica de

    cooperao insere-se de forma inequvoca e descom-

    plexada no cerne da poltica externa nacional.

    [1.2.] Recursos e ObjectivosFace aos desafios de desenvolvimento que se colo-

    cam nos pases parceiros, os recursos disposio

    da Cooperao Portuguesa sero sempre escassos.

    Em todas as reas podemos encontrar, nos pases

    parceiros, carncias que podero eventualmente ser

    atenuadas pelo menos num primeiro momento

    atravs dos esforos da cooperao. Esta realidade,

    que deveria constituir um incentivo para o desenvol-

    vimento de uma estratgia de interveno racional e

    baseada em prioridades claramente assumidas, fun-

    cionou antes como um mecanismo de incentivo para

    a proliferao de actividades de cooperao em quasetodos os sectores, sendo essas actividades desenvol-

    vidas com um elevado grau de autonomia. Em parte

    esta trajectria histrica relaciona-se com a grande

    importncia das ligaes inter-pessoais, em particu-

    lar entre funcionrios de servios homlogos das

    administraes pblicas. Em parte, h que admiti-lo,

    estamos tambm perante a evidncia de uma abdi-

    cao de responsabilidades polticas ao longo dos

    anos, pois ao nvel poltico que se encontra a res-

    ponsabilidade pela definio de estratgias e priori-

    dades. O documento de orientao estratgica de

    1999, j mencionado, constitui a este respeito uma

    honrosa excepo.

    Um dos objectivos do presente documento preci-

    samente o de definir, para a Cooperao Portuguesa,

    uma estratgia geral, identificando os mecanismosnecessrios para a canalizao de recursos de acordo

    com essa estratgia e com as prioridades que ela

    implica.

    Portugal dispe de algumas vantagens comparativas

    interessantes se olharmos para o conjunto de pases

    doadores, em particular (mas no exclusivamente)

    nos pases de lngua portuguesa. Essas vantagens

    comparativas relacionam-se sobretudo com a lngua

    o que aponta para as reas da educao e formao

    e com a histria sugerindo-se por esta via uma

    ateno especial s reas jurdica e de administrao

    pblica. Mas, vamos tambm encontrar algumas

    vantagens comparativas em outros sectores, con-

    forme adiante se ver. A capitalizao das vantagens

    comparativas portuguesas requer evidentemente

    uma estratgia de concentrao de recursos nessas

    reas, bem como o desenvolvimento de instrumen-

    tos e metodologias de trabalho actualizados face aos

    imensos progressos na cooperao internacional

    nestes ltimos anos. A tradio de descentralizao

    oramental da cooperao, envolvendo igualmente

    uma descentralizao de decises administrativas e

    polticas, constitui um obstculo maior racionali-

    dade, eficincia e eficcia da Cooperao

    Portuguesa. Esta particularidade, diversas vezes

    identificada ao longo dos anos, e muito em especial

    pelos relatrios sobre a Cooperao Portuguesa fei-

    tos pelo Comit de Ajuda ao Desenvolvimento daOCDE em 1997 e 2001, obriga a que se procurem

    agora novos mtodos de trabalho, mais adequados

    realidade contempornea.

    [1.3.] A Responsabilidade Poltica pela Cooperaopara o DesenvolvimentoUma das prioridades para esta etapa da Cooperao

    Portuguesa reside no estabelecimento de uma relao

    correcta entre decises e responsabilizao poltica.

    Efectivamente, a disperso de centros de deciso

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    administrativa e poltica em matria de cooperao

    no s tem inviabilizado uma poltica de cooperao,

    na qual as diversas actividades de cooperao corres-

    pondam a um paradigma e desgnio comum, como

    tem deixado rf a questo da responsabilidade pol-

    tica por essas actividades.A este respeito convm estabelecer uma distino

    entre responsabilidade tcnica e responsabilidade

    poltica. A responsabilidade tcnica por actividades

    de cooperao encontra-se em numerosos pontos da

    administrao pblica portuguesa, e de forma mais

    ampla tambm na sociedade civil. As competncias

    necessrias boa execuo de projectos no podem

    e no devem ser concentradas todas numa s insti-

    tuio pblica dedicada cooperao para o desen-

    volvimento. Contudo, a actual etapa de retoma e

    consolidao de uma poltica de cooperao, com os

    seus imperativos de racionalidade, eficincia e eficcia,

    exige que as actividades de cooperao tenham um

    quadro de responsabilizao poltica que novo no

    panorama portugus, apesar de estar formalmente

    consagrado em sucessivas Leis Orgnicas dos

    Governos.

    Registam-se actualmente trs objectivos fundamen-tais para atingir a conciliao necessria entre a

    orientao e a execuo de uma poltica. O primeiro

    reside na elaborao de mecanismos mais adequadas

    para a oramentao e execuo da APD portuguesa;

    o segundo reside no desenvolvimento de mecanis-

    mos de coordenao interministerial a nvel poltico,

    retomando uma prtica ensaiada entre 1999 e 2001,

    dos Conselhos de Ministros para a cooperao. O

    terceiro consiste na valorizao e coordenao das

    iniciativas da sociedade civil, nas suas mltiplas

    manifestaes, em prol de uma abordagem

    comum.

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    Parte1 VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    Captulo

    2:: O CONTEXTOINTERNACIONALDA COOPERAO PARA

    O DESENVOLVIMENTO

    Enquanto parte integrante da poltica externa portu-

    guesa, a poltica de cooperao insere-se num con-texto internacional cuja relevncia determinante

    para a definio dos princpios, valores e objectivos

    que a regem. Os factores principais que estruturam

    o sistema internacional actual condicionam tambm

    as prioridades e actividades dos vrios actores que se

    dedicam cooperao internacional.

    Encontra-se hoje plenamente consolidada, no plano

    internacional, a ideia de que desenvolvimento e

    segurana so duas faces da mesma moeda. O rela-

    trio do Secretrio Geral das Naes Unidas, Kofi

    Annan, In Larger Freedom, a expresso mais com-

    pleta deste consenso. A ideia dominante neste rela-

    trio a de que os desafios que se colocam no

    presente devero ser abordados numa perspectiva

    integrada envolvendo esforos de desenvolvimento,

    segurana e promoo dos direitos humanos, a um

    s tempo: Desenvolvimento, segurana e direitos

    humanos so no s imperativos em si mesmo, como

    tambm se reforam mutuamente.iii A dignidade,

    bem-estar bsico, e a salvaguarda fsica do indivduo,

    enquanto detentor de direitos universais, so alvo

    central das preocupaes neste relatrio, o qual

    preconiza tambm um esforo multilateral orien-

    tado para a aco global e assente na construo e

    promoo de parcerias internacionais.

    Toda a comunidade internacional presentemente

    confrontada com a necessidade de lidar com movi-

    mentos de globalizao das trocas, comunicaes,

    transportes e outros fluxos, a par de uma crescente

    integrao ou pelo menos cooperao intensificada

    a nvel regional. O desenvolvimento e o progresso

    internacional neste contexto dependem sobrema-

    neira da capacidade de encontrar, nos espaos inter-nacionais a que cada pas pertence, o caminho para

    a insero saudvel e equilibrada na economia

    mundial. Atenta a esta problemtica, a Cooperao

    Portuguesa procurar, em estreita coordenao com

    as autoridades dos pases parceiros, apoiar a sua

    integrao econmica internacional, atravs de

    estratgias destinadas a fomentar a competitividade

    econmica.

    Assim, o enquadramento e a coordenao multila-

    teral assumem-se como uma via privilegiada para

    :: Parcerias internacionais orientadas para uma aco multilateral

    integrada promovendo o desenvolvimento, a segurana e os

    direitos humanos.

    :: Os Objectivos de Desenvolvimento do Milniono cerne das parcerias internacionais.

    :: Uma nova orientao das instituies e dos mecanismos

    financeiros internacionais vocacionados para o Desenvolvimento.

    :: Novos compromissos internacionais, tambm partilhados por

    Portugal, em matria de aumento

    dos recursos financeiros disponveis para a APD,

    de gnero, de desenvolvimento sustentvel

    e do comrcio internacional.

    :: O Consenso internacional inclui os seguintes princpios:

    > Promover uma globalizao inclusiva e participada.

    > Uma mais intensa coordenao multilateral.

    > Redobrados esforos de harmonizao e coerncia

    de polticas entre os doadores.

    > Apoiar a integrao econmica internacional dos pases em

    desenvolvimento, atravs de estratgias destinadas

    a fomentar a competitividade econmica.

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    16 :: VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    permitir a convergncia de esforos no sentido da

    promoo do desenvolvimento sustentvel universal,

    alicerando a globalizao numa base mais justa e

    contribuindo para diluir alguns dos novos riscos e

    ameaas. Importa aquitraar o quadro geral das

    tendncias internacionais que definem os esforoscada vez mais integrados e institucionalizados de

    ajuda ao desenvolvimento dos vrios pases doadores,

    nos quais Portugal se insere. Tais esforos consti-

    tuem o contexto de esperana e empenho da prxima

    dcada, para que em 2015 o mundo se apresente

    mais optimista, o que s acontecer se forem apro-

    veitadas as oportunidades e sinergias que resultam

    de um esforo partilhado por todos.

    [2.1.] Os Objectivos de Desenvolvimento do MilnioA Declarao do Milnio, aprovada durante a

    Cimeira do Milnio em 2000, constitui um marco

    fundamental na histria internacional da coopera-

    o para o desenvolvimento. Durante as grandes

    reunies internacionais da dcada de 1990, como a

    Conferncia das Naes Unidas sobre o Ambiente

    e o Desenvolvimento (Cimeira do Rio) em 1992, a

    IV Conferncia das Naes Unidas sobre as

    Mulheres, em Pequim em 1995, ou a Cimeira

    Mundial sobre Desenvolvimento Social de

    Copenhaga, no mesmo ano, foi sendo gerado um

    consenso em torno da necessidade de serem

    adoptadas, a nvel global, um conjunto de medidas

    enrgicas no sentido de ultrapassar as desigualdades

    e injustias existentes e em constante agravamento.

    Essa determinao teve um impacto muito signifi-

    cativo no s ao nvel do sistema das Naes Unidas

    mas tambm ao nvel de outros dispositivos institu-cionais cuja rea de actividade se prende com a

    cooperao para o desenvolvimento.

    Os valores fundamentais inscritos na Declarao

    do Milnio so os da liberdade, igualdade, solida-

    riedade, tolerncia, respeito pelo ambiente, e partilha

    de responsabilidades. Os objectivos definidos nessa

    Declarao foram depois incorporados nos chama-

    dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio

    (ODM), que tm desde ento funcionado como ele-

    mento agregador e sintetizador de uma multiplici-

    dade de metas, as quais vm sendo enquadradas

    nos programas de actividades dos doadores inter-

    nacionais. Tais metas apresentam tambm um

    calendrio de actuao e indicadores mensurveis

    que os diferentes Estados, beneficirios e doadores,

    se comprometeram a observar. Portugal ter emateno, na medida das suas possibilidades, as for-

    mas mais eficazes de contribuir para os diferentes

    objectivos, e esforar-se- para que no haja dupli-

    cao de esforos e para que os apoios sejam atri-

    budos e coordenados de forma eficaz.

    OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILNIO (ODM)

    1. Erradicar a pobreza extrema e a fome

    2. Alcanar a educao primria universal

    3. Promover a igualdade do gnero e capacitar as mulheres

    4. Reduzir a mortalidade infantil

    5. Melhorar a sade materna

    6. Combater o HIV/SIDA, a malria e outras doenas

    7. Assegurar a sustentabilidade ambiental

    8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento

    Cimeira do Milnio seguiram-se outras reunies

    globais de grande relevo, que tm assegurado o

    acompanhamento dos compromissos assumidos em

    2000 em diferentes reas de interveno, atravs da

    definio de medidas concretas destinadas a opera-

    cionalizar e efectivar a prossecuo dos Objectivos

    de Desenvolvimento do Milnio.

    Algumas destas reunies tm-se dedicado avaliao

    de progresso do trabalho iniciado durante os anos

    90. Assim, em 2000 foi reiterado o empenho no

    acompanhamento da implementao da Plataformade Aco de Pequim, aprovada em 1995, e em 2004

    foi reafirmado o consenso da Conferncia

    Internacional sobre Populao e Desenvolvimento

    de 1994, consenso esse ainda mais substanciado

    pelos ODM.

    A Cimeira de Joanesburgo em 2002 gerou um

    empenhamento considervel no reforo dos compro-

    missos assumidos na Declarao do Rio e na Agenda

    21 para a promoo do desenvolvimento sustentvel.

    Alguns desses compromissos prendem-se com a

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    VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS :: 17

    concretizao de metas e calendrios em matrias

    como o acesso gua e ao saneamento bsico,aposta

    na melhoria da estrutura institucional para lidar com

    as questes da pobreza e da degradao ambiental,

    com a promoo da modificao de hbitos de con-

    sumo e produo, e com a proteco e gesto dosrecursos naturais na base do desenvolvimento

    econmico e social.

    Em Monterrey, no mesmo ano, a Cimeira de

    Financiamento para o Desenvolvimento pautou-se

    pelo consenso relativamente necessidade de uma

    resposta global e integrada entre pases desenvolvi-

    dos e em desenvolvimento. A discusso essencial

    centrou-se na erradicao da pobreza e na promoo

    do desenvolvimento sustentvel atravs da mobiliza-

    o e utilizao mais eficaz dos recursos financeiros

    por forma a atingir os ODM. Para isso acordou-se

    num maior empenho relativamente mobilizao

    de recursos domsticos, atraco de fluxos interna-

    cionais, promoo de comrcio internacional como

    motor do desenvolvimento, aumento da cooperao

    tcnica e financeira para o desenvolvimento, finan-

    ciamento sustentvel da dvida e alvio da mesma,

    aumento da coerncia e consistncia dos sistemas

    financeiros e comerciais internacionais.

    A questo dos sistemas comerciais foi particularmente

    debatida em Doha, na IV Conferncia Ministerial da

    Organizao Mundial do Comrcio, em 2001, onde

    os pases representados assumiram compromissos

    sobretudo ao nvel da limitao de tarifas impostas

    aos Pases Menos Avanados (PMA). A preocupao

    com os pases menos desenvolvidos foi sublinhada no

    mesmo ano, durante a III Conferncia das Naes

    Unidas sobre os Pases Menos Avanados, onde foiaprovada a Declarao de Bruxelas, que contm o

    objectivo explcito de acabar com a marginalizao dos

    PMA na economia global.

    Portugal, para alm de ter estado representado em

    todas estas reunies e de a ter assumido compro-

    missos, participa tambm nos mecanismos institu-

    c ionais que asseguram o seguimento e

    implementao dos mesmos, e pretende contribuir

    de forma, cada vez mais, eficaz para o processo de

    deciso a este nvel.

    [2.2.] A Coordenao InternacionalTodo este movimento internacional de convergncia

    aponta em dois sentidos fundamentais: por um lado,

    a necessidade de polticas de cooperao mais efica-

    zes na utilizao dos recursos e, por outro lado, a

    necessidade de aumentar tais recursos. Uma preo-cupao central dos pases doadores tem sido a de

    reestruturar as suas polticas de cooperao para que

    as questes de eficcia se sobreponham a outro tipo

    de consideraes na afectao da ajuda pblica ao

    desenvolvimento. Para isso, trs tipos de medidas

    tm dominado os esforos internacionais: a harmo-

    nizao das polticas dos doadores, o alinhamento

    das polticas dos doadores com as dos beneficirios,

    e o desligamento da ajuda.

    O movimento de harmonizao aponta para a conver-

    gncia de esforos nas diferentes polticas de coope-

    rao, com os objectivos de reduzir a duplicao de

    esforos, aumentando a sua complementaridade;

    racionalizar e simplificar os procedimentos dos doa-

    dores para permitir maior interaco entre as diferen-

    tes iniciativas; aumentar a coerncia e coordenao

    entre os doadores. Ao nvel da Unio Europeia (UE),

    por exemplo, tal tendncia reflecte-se nas polticas dos

    3 C constantes do Tratado de Maastricht, fortemente

    traduzidos nas polticas da Comisso Europeia: com-

    plementaridade, coordenao e coerncia.

    A Declarao de Roma, de 2003, marcou a tendncia

    para o alinhamento das polticas dos doadores com

    as prioridades dos beneficirios, e foi sublinhada na

    Declarao de Paris, de 2005. Ambas se inserem

    numa lgica bidimensional de apropriao pelos

    beneficirios das polticas de desenvolvimento, por

    um lado, e por outro, de capacitao dos beneficiriospara definirem eles prprios prioridades que possam

    ser aproveitadas pelos doadores.

    Uma outra preocupao prende-se com o desliga-

    mento da ajuda, pretendendo-se desta forma uma

    maior influncia das consideraes de eficcia na

    definio das prioridades e eixos de polticas, em

    detrimento dos interesses polticos ou econmicos

    dos pases doadores. Na reunio de Alto Nvel do

    Comit de Ajuda ao Desenvolvimento, da OCDE, em

    2001, os Estados membros e as agncias de desen-

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    18 :: VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    volvimento elaboraram uma recomendao no sen-

    tido de desligar a ajuda pblica aos pases menos

    desenvolvidos, ao mesmo tempo que reforava a res-

    ponsabilidade dos pases receptores na adjudicao

    dos fundos.iv neste contexto que se exige cada vez

    mais aos prprios pases beneficirios a definiodas suas prioridades em documentos estratgicos

    que so colocados disposio da comunidade inter-

    nacional, e na base dos quais a poltica dos diferentes

    doadores para esse pas definida. Isto permite

    maior eficcia na distribuio dos recursos. Esta ten-

    dncia apoiada pela definio de metas, objectivos

    e indicadores bastante precisos, em diversos eixos

    de actuao, que permitem condicionar a ajuda inter-

    nacional a esses critrios tcnicos. Para alm disso,

    o estabelecimento destes critrios facilita o progresso

    no sentido de uma maior coordenao e articulao

    de esforos entre doadores.

    Por outro lado, a crescente participao de institui-

    es da sociedade civil nas grandes conferncias

    internacionais, quer como observadoras, quer como

    participantes efectivas nos trabalhos preparatrios e

    consultas prvias, e at mesmo com voz activa nas

    prprias reunies, reflecte a tendncia para se

    consensualizar as polticas de cooperao para o

    desenvolvimento com os diversos intervenientes.

    No entanto, aumentar a eficcia na utilizao dos

    recursos no chega. consensual a ideia de que

    vital o aumento dos prprios recursos. Tal tem estado

    a ser trabalhado no contexto do financiamento para

    o desenvolvimento, iniciado em Monterrey. Ao nvel

    da UE, foram formalizados compromissos concretos

    relativamente ao aumento da Ajuda Pblica aoDesenvolvimento. Os compromissos assumidos pela

    Unio Europeia para os valores de APD so de 0,7%

    do RNB at 2015. Como objectivo colectivo intermdio

    foi estabelecido para 2010 o valor de 0,56%. Este

    inclui objectivos individuais de 0,51% para os Estados

    Membros mais antigos, no grupo dos quais Portugal

    se insere, e uma meta de 0,17% para os novos

    Estados Membros. Portugal comprometeu-se ainda,

    em 2002, a cumprir o valor de 0,33% do RNB para

    a APD at 2006. A Declarao de Paris, de 2005,

    contm tambm compromissos ao nvel do conjunto

    de doadores internacionais para aumento da APD.

    Os esforos para aumentar os recursos e racionalizar

    a sua aplicao tm-se reflectido tambm na criao

    de instituies financeiras, instrumentos e mecanis-

    mos financeiros com vocao especfica para o

    desenvolvimento, como por exemplo a Facilidade de

    Investimento do Acordo de Cotonou, a Facilidade de

    Investimento da NEPAD, ou as European Development

    Finance Institutions (EDFI), que j existem em muitos

    pases da Unio Europeia.

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    Parte1 VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    Captulo

    3:: Princpios Orientadores

    A globalizao, naquilo que nos oferece de esperan-

    as e potencialidades, e tambm de perigos e vulne-

    rabilidades, obriga a que Portugal tenha ideias e

    estratgias muito claras para a cooperao, baseadas

    em valores e princpios que, sendo universais, assen-

    tam tambm numa viso da histria e da realidade

    contempornea portuguesas. Assim, a misso fun-damental da Cooperao Portuguesa consiste em:

    contribuir para a realizao de um mundo melhor

    e mais estvel, muito em particular nos pases lus-

    fonos, caracterizado pelo desenvolvimento econmico

    e social, e pela consolidao e o aprofundamento da

    paz, da democracia, dos direitos humanos e do

    Estado de direito.

    Esta viso do papel da Cooperao Portuguesa

    desdobra-se em diversas orientaes de fundo,

    entre as quais podemos destacar as seguintes:

    > Empenho na prossecuo dos Objectivos de

    Desenvolvimento do Milnio;

    > Reforo da segurana humana, em particular em

    Estados frgeis ou em situaes ps-conflito;

    > Apoio lusofonia, enquanto instrumento de

    escolaridade e formao;

    > Apoio ao desenvolvimento econmico, numa

    ptica de sustentabilidade social e ambiental;

    > Envolvimento mais activo nos debates interna-

    cionais, em apoio ao princpio da convergncia

    internacional em torno de objectivos comuns.

    [3.1.] Empenho na Prossecuo dos Objectivosde Desenvolvimento do MilnioA misso fundamental da Cooperao Portuguesa con-

    verge harmoniosamente com todo o trabalho interna-

    cional, liderado sobretudo pelas Naes Unidas, em

    torno dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio.

    Os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio cons-

    tituem a expresso paradigmtica norteadora dosesforos internacionais de cooperao para o desen-

    volvimento. Portugal orienta os seus apoios de coope-

    rao para o desenvolvimento por forma a que a

    Cooperao Portuguesa esteja plenamente ancorada

    neste esforo internacional. Os valores subjacentes

    aos ODM foram j mencionados: liberdade, equi-

    dade, solidariedade humana, tolerncia, respeito

    pelo ambiente, e partilha de responsabilidades. Os

    objectivos especficos e as metas que resultam desses

    valores tero uma presena acrescida e mais visvel

    :: Contribuir para a concretizao dos Objectivos

    de Desenvolvimento do Milnio.

    :: Contribuir para o reforo da segurana humana, em particular

    em Estados frgeis ou em situaes de ps-conflito.

    :: Apoiar a lusofonia, enquanto instrumento

    de escolaridade e formao.

    :: Apoiar o desenvolvimento econmico, numa ptica

    de sustentabilidade social e ambiental.

    :: Participar mais activamente nos debates internacionais,

    em apoio ao princpio da convergncia internacional em torno

    de objectivos comuns.

    :: Aumentar os recursos em matria da APD.

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    20 :: VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    nos programas da Cooperao Portuguesa, para que

    Portugal esteja mais sintonizado com o actual

    momento de convergncia internacional em torno

    de objectivos comuns, valorizando em particular os

    contributos que Portugal pode oferecer atravs da

    lngua portuguesa e da sua experincia histrica.Mais do que uma expresso de solidariedade bsica

    enraizada na simples partilha da condio humana, os

    ODM oferecem-nos uma afirmao das condies mni-

    mas para a estabilidade e para a paz internacional no

    contexto da globalizao. A postura global da poltica

    externa portuguesa inteiramente consentnea com

    este objectivo, enquadrando-se deste modo a Cooperao

    Portuguesa no cerne da poltica externa nacional. O

    combate pobreza e excluso assume-se, assim, quer

    como valor em si mesmo, quer como factor de paz e

    estabilidade. Assim, a Cooperao Portuguesa contri-

    buir para aumentar as capacidades dos pases benefi-

    cirios em todas as reas, fortalecendo o tecido social e

    as instituies locais, promovendo o acesso escolari-

    dade e sade bsicas, e criando condies de emprego,

    sobretudo para jovens. O combate pobreza exige

    melhorias constantes em matria de boa governao, e

    constitui igualmente um contributo para a boa gover-

    nao. Sabemos hoje que polticas que tenham em con-

    siderao a equidade de gnero tendem a ter efeitos

    multiplicadores mais importantes para a sociedade,

    para alm de serem tambm intrinsecamente mais

    justas, e este aspecto ser tido em conta na definio dos

    apoios a prestar pela Cooperao Portuguesa.

    Consideramos importante a valorizao do papel social

    da mulher bem como dos seus direitos sexuais e repro-

    dutivos. Nesta matria, a Cooperao Portuguesa

    oferece um claro contributo nacional para a prossecuodos objectivos consagrados na Conveno para a

    Eliminao de todas as formas de Discriminao Contra as

    Mulheres, de 1979, e na Plataforma de Aco de Pequim,

    de 1995. Em suma, os ODM servem Cooperao

    Portuguesa, tal como servem Cooperao de muitos

    dos pases mais evoludos em matria de Ajuda Pblica

    ao Desenvolvimento, como um guio fundamental para

    as escolhas que tm de se efectuar, atendendo harmo-

    nia entre os valores fundamentais da poltica externa

    portuguesa e os valores subjacentes aos ODM.

    [3.2.] Reforo da Segurana HumanaA reviso dos conceitos dominantes de segurana

    que teve lugar nos anos que se seguiram ao final da

    Guerra Fria levou consagrao da ideia de segu-

    rana humana, e, em 2003, a Comisso sobre

    Segurana Humana, estabelecida por Kofi Annan epresidida por Sadako Ogata e Amartya Sem, publi-

    cou o relatrio A Segurana Humana, Agora. Neste

    relatrio, que actualmente parte integrante do con-

    senso internacional cada vez mais vincado em mat-

    ria de responsabilidades globais, chama-se a ateno

    para o facto de a privao ser uma das grandes

    causas de violncia, apesar de serem necessrias

    cautelas no estabelecimento de relaes simplistas e

    lineares. A cooperao para o desenvolvimento

    constitui um instrumento de reforo da segurana

    humana, e por conseguinte da segurana interna-

    cional, desde que devidamente enquadrada.

    No mbito do reforo da poltica de Segurana Humana,

    e da sua estreita interligao com os Objectivos de

    Desenvolvimento do Milnio, importar ter presente

    a contribuio da Cooperao Tcnico-Militar e da

    Cooperao Tcnico-Policial, designadamente na

    Reforma do Sector da Segurana.

    A Cooperao Tcnico-Militar dispe, neste contexto,

    de um campo de actuao abrangente para, em arti-

    culao com os pases com os quais cooperamos:

    > Garantir eficcia acrescida nos respectivos pro-

    cessos de estabilizao interna e de construo e

    consolidao do Estado;

    > Participar, no seu mbito de interveno, na capa-

    cidade de estes Estados garantirem nveis de

    segurana compatveis com os princpios dademocracia, da boa governao, da transparncia

    e do Estado de direito, envolvendo questes rela-

    cionadas com a estruturao, regulao, gesto,

    financiamento e controlo do sistema de defesa,

    desta forma facilitando o desenvolvimento.

    A cooperao Tcnico-Policial visa contribuir para o

    desenvolvimento de formas de organizao do

    sistema de segurana interna, controlo de fronteiras,

    gesto de informaes, manuteno de ordem

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    VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS :: 21

    pblica e combate criminalidade dos pases com

    quem cooperamos, privilegiando as relaes entre

    foras e servios de segurana ao nvel da organiza-

    o, mtodos, formao e treino, participando no

    reforo das condies de estabilidade interna, auto-

    nomia das instituies polticas e segurana daspopulaes e na consolidao do primado dos valores

    essenciais da democracia e do Estado de direito.

    A Cooperao Tcnico-Militar e Tcnico-Policial con-

    tribuir, pois, para a Reforma do Sector da Segurana

    apoiando o desenvolvimento de estruturas institucio-

    nais adequadas que garantam a primazia do controlo

    poltico e sejam capazes de levar a efeito as tarefas

    operacionais atribudas pelas autoridades civis.

    No contexto actual, em que tambm a segurana e a

    defesa so marcadas pela globalizao, impe-se dar

    ateno especial s reas de insero regional dos nos-

    sos parceiros, seja aos pases vizinhos, seja s

    Organizaes Regionais e Sub-Regionais que integram.

    Esta tendncia significa, ainda, ter em considerao

    as parcerias que, gradualmente, vm sendo estabe-

    lecidas entre aquelas Organizaes Regionais e

    Sub-Regionais, a UE e a NATO, e nas quais a dupla

    experincia e conhecimento das nossas Foras

    Armadas, por um lado pela participao na Unio e

    na Aliana, por outro pela longa relao bilateral com

    os parceiros da Cooperao Tcnico-Militar, poder

    ser de enorme utilidade para estes e relevante para a

    afirmao e visibilidade externa de Portugal. De

    acordo com estas normas de actuao, e na medida

    em que se traduzem em iniciativas indutoras de segu-

    rana, condio bsica para o desenvolvimento, as

    despesas decorrentes da Cooperao Tcnico-Militar

    devero, cada vez mais, ser contabilizadas como AjudaPblica ao Desenvolvimento, de acordo com os crit-

    rios de elegibilidade internacionalmente vigentes.

    A Cooperao Portuguesa est atenta a duas dimen-

    ses fundamentais de apoio segurana humana: a

    proteco e a autonomizao. Proteco significa

    apoiar civis que so vtimas de conflito violento, inte-

    grando abordagens polticas, militares, humanitrias

    e de desenvolvimento. Em particular, importante ter

    em ateno a situao de refugiados e deslocados inter-

    nos, apoiando a aco de organizaes internacionais

    em prol destas pessoas. Autonomizao significa

    criar as condies de assentamento e de emprego em

    situaes ps-conflito, incluindo o apoio desmobili-

    zao e reintegrao de militares, e ainda o reforo dos

    mecanismos de criao de segurana humana em

    Estados frgeis, incluindo cooperao apropriada nosmbitos da polcia e das foras armadas.

    O apoio boa governao, ao Estado de direito, e ao

    respeito pelos direitos humanos, constituem elemen-

    tos importantes de uma poltica de reforo da segu-

    rana humana. A criao de uma Comisso para a

    Construo da Paz no mbito das Naes Unidas

    apoiada por Portugal precisamente por nela vermos

    um importante instrumento de reforo da segurana

    humana. A Cooperao Portuguesa, bilateralmente e

    atravs da sua aco multilateral, dedicar uma aten-

    o especial a questes de segurana humana,

    incluindo o apoio a projectos e programas integrados,

    e o reforo da capacidade nacional e internacional de

    anlise neste importante domnio.

    [3.3.] Apoio LusofoniaA lngua portuguesa constitui-se hoje como um patri-

    mnio de quatro continentes, sendo um instrumento

    de primeira importncia para a cooperao e para o

    desenvolvimento. No plano externo, ao mesmo

    tempo uma plataforma de comunicao imprescind-

    vel para a participao plena na vida internacional dos

    nossos tempos, e constitui um importante contributo

    para o reforo da afirmao dos pases lusfonos no

    contexto regional em que se inserem.

    No plano interno, trata-se, para todos os pases lus-

    fonos, de um elemento fundamental da sua identi-

    dade, valor cada vez mais importante num contextode intenso intercmbio de fluxos econmicos e cultu-

    rais como o do contexto actual. Este patrimnio

    lingustico constitui, para os pases lusfonos, o

    ponto de partida para o cumprimento, desde logo,

    do Objectivo de Desenvolvimento do Milnio que

    aponta para a universalizao da escolaridade prim-

    ria. Com efeito, o apoio ao ensino da lngua portu-

    guesa, representa o fornecimento de um instrumento

    que permitir criana escolarizada desenvolver

    todas as suas potencialidades, posto que, para alm

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    22 :: VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS

    de outras lnguas com as quais convive, a lngua por-

    tuguesa representa um importante meio para o

    desenvolvimento econmico, social e cultural.

    Tambm em termos de formao profissional, a

    todos os nveis, a facilidade de comunicao em ln-

    gua portuguesa, oferece aos pases lusfonos umveculo privilegiado para a consolidao dos laos j

    fortes que se encontram e intervm no seio da CPLP.

    A Cooperao Portuguesa contribuir assim para a

    formao e a consolidao de elos de solidariedade,

    reforando os meios disponveis para a actividade de

    formadores lusfonos em pases da lusofonia.

    Contribuir para a divulgao da lngua portuguesa,

    articulando uma poltica de lngua com uma poltica

    cultural,em particular junto dos jovens e das cama-

    das sociais, que tm menor acesso escolaridade,

    representa uma mais valia particularmente impor-

    tante para o desenvolvimento do indivduo e da rea-

    lidade em que se insere. A este respeito Portugal

    dispe de evidentes vantagens comparativas, de que

    far uso na sua poltica de cooperao.

    Importa tambm referir a necessidade de desenvol-

    vimento conjunto das aplicaes computacionais da

    lngua portuguesa e da produo de novos contedos

    para a Internet essenciais para lhe conferir uma nova

    capacidade de comunicao na era digital.

    [3.4.] Apoio ao Desenvolvimento Econmico SustentvelCom as vrias dcadas que temos de experincia te-

    rica e prtica, podemos considerar como um dado

    adquirido que o desenvolvimento tem de ser compreen-

    dido e apoiado de forma multidimensional. Desde

    logo, compreende-se hoje que necessrio promover

    o desenvolvimento tendo em conta a sua sustentabili-dade econmica, social e ambiental. A Cooperao

    Portuguesa, em consonncia com as boas prticas

    internacionais neste domnio, est empenhada em

    promover iniciativas que estimulem o desenvolvi-

    mento sustentvel, equilibrando o crescimento econ-

    mico com mecanismos de proteco social, para que

    a gerao de riqueza no seja acompanhada da criao

    de pobreza e de proteco ambiental para que a

    riqueza material no seja gerada a partir da delapida-

    o do patrimnio ambiental. Em relao proteco

    social, cabe tambm salientar o trabalho desenvolvido

    em sede dos Acordos de Segurana Social existentes

    com Portugal e que visam promover a proteco social

    de pessoas originais de pases com os quais Portugal

    desenvolve aces de cooperao. A incluso social e

    o apoio ao desenvolvimento de infra-estruturas sociaisassume, neste quadro, especial relevo.

    O desenvolvimento sustentvel um princpio orien-

    tador cuja importncia se reflecte claramente em dois

    dos objectivos identificados nos ODM, e diversos dos

    outros esto a ele ligados. Assim, as intervenes da

    Cooperao Portuguesa neste domnio sero muito

    diversificadas tendo, no entanto, em ateno a neces-

    sidade de apoiar os sectores sociais menos capazes de

    encontrar outras alternativas de sustento econmico.

    [3.5.] Envolvimento nos Debates InternacionaisOs anos mais recentes trouxeram a conscincia aguda

    da necessidade de haver respostas globais para pro-

    blemas globais, em especial desde que se percebeu

    com terrvel clareza que as consequncias da margi-

    nalizao econmica e social de algumas partes da

    populao mundial so potencialmente desequilibra-

    doras das dinmicas internacionais por todo o planeta.

    A esta conscincia corresponde uma predisposio

    renovada, por parte de muitos pases, para discutir em

    comum as melhores estratgias de resposta aos pro-

    blemas colocados, convergindo esforos internacionais

    para que se encontrem as solues necessrias.

    Portugal no ficar alheio a tais debates, e s necessi-

    dades de convergncia e coordenao internacional.

    Nos diferentes crculos onde Portugal faz ouvir a sua

    voz sobre assuntos de cooperao, seja nos fora inter-

    nacionais permanentes como a Unio Europeia, asNaes Unidas, a OCDE, ou as Instituies de Bretton

    Woods e os Bancos Regionais de Desenvolvimento,

    seja em agrupamentos ad hocou temporrios criados

    em resposta a um problema particular, os princpios

    orientadores aqui expressos sero defendidos e apro-

    fundados pelos representantes nacionais. A selectivi-

    dade, que se impe pela natureza limitada dos nossos

    recursos humanos diplomticos ou tcnicos , ser

    feita em termos da importncia relativa dos assuntos

    para os princpios orientadores aqui enunciados.

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    VALORES, PRINCPIOS E OBJECTIVOS :: 23

    Em simultneo, Portugal participa no grande esforo

    quantitativo e qualitativo internacional que se verifica

    em prol do desenvolvimento. As metas internacionais

    estabelecidas, para cuja definio Portugal contribuiu,

    constituem objectivos importantes para o Governo. E,

    em termos qualitativos, Portugal subscreve sem reser-

    vas a necessidade de se desenvolver e aprofundar uma

    parceria para o desenvolvimento, nos termos estabe-

    lecidos no oitavo objectivo dos ODM: desenvolver uma

    parceria global para o desenvolvimento.

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    QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA :: 25

    Parte2 QUADRO DE ACODA COOPERAO PORTUGUESA

    Captulo

    4:: As prioridadesda Cooperao Portuguesa

    As prioridades da Cooperao Portuguesa definem-se

    a partir dos princpios e dos objectivos j anterior-

    mente explicitados. Na verdade, os princpios do

    respeito pelos direitos humanos, pela boa governa-

    o e pela sustentabilidade ambiental, pela diversi-

    dade cultural, pela igualdade de gnero e pela luta

    contra a pobreza so tambm entendidos como o ponto

    de partida para o estabelecimento das prioridades

    temticas e sectoriais da Cooperao Portuguesa.

    Por outro lado, estas prioridades reflectem tambm

    o papel que Portugal pretende assumir no quadro

    internacional.

    [4.1.] Prioridades GeogrficasOs pases de lngua e expresso portuguesa, sobretudo

    os PALOP e Timor-Leste, so espaos de interveno

    prioritria da Cooperao Portuguesa. Esta concentra-o existe j, desde o incio da nossa cooperao, quer

    ao nvel dos projectos desenvolvidos no quadro bila-

    teral, quer no que diz respeito aos que so executados

    pelas diversas organizaes da sociedade civil. Ao con-

    centrarmos a nossa ajuda pblica no quadro dos pa-

    ses de expresso portuguesa, inclumos os espaos

    regionais em que estes se inserem como espaos

    importantes para o desenvolvimento de aces da

    Cooperao Portuguesa. Mesmo no mbito das nos-sas relaes bilaterais lusfonas, interessa sabermos

    ancorar esses relacionamentos no devido contexto

    regional e sub-regional.

    Esta concentrao geogrfica da ajuda pblica deve

    permitir uma maior eficcia da Cooperao

    Portuguesa, rentabilizando, atravs da definio clara

    das prioridades sectoriais, a imagem de Portugal

    como parceiro credvel. Por outro lado, devemos

    cumprir os compromissos internacionais que assu-

    mimos. Portugal tem condies especiais para con-

    tribuir positivamente para a importante mobilizao

    internacional em torno das necessidades do conti-

    nente africano, e continuar a dedicar grande parte

    da sua APD a este continente.

    Neste mbito, devem ainda ser incentivadas as rela-

    es Sul-Sul, sobretudo entre o Brasil, os pases afri-

    canos de lngua portuguesa e Timor-Leste. A

    valorizao do espao CPLP , pela riqueza da partilha

    de conhecimentos e pela posio estratgica que

    :: Aplicar os princpios de respeito pelos direitos humanos,

    pela boa governao, pela sustentabilidade ambiental,

    pela diversidade cultural, pela igualdade de gnero e pela luta

    contra a pobreza nas aces de cooperao.

    :: Concentrar os projectos de cooperao no quadro dos pases

    de expresso portuguesa, incluindo os espaos regionais em que

    se inserem.

    :: Desenvolver aces de cooperao em reas prioritrias:

    boa governao, participao e democracia; desenvolvimento

    sustentvel e luta contra a pobreza, em particular nos sectores

    da educao, sade, desenvolvimento rural, ambiente;

    crescimento econmico, contribuindo para o desenvolvimento

    sustentvel, nomeadamente atravs da apropriao

    e capacitao dos pases parceiros.

    :: Aumentar o apoio a aces de educao para

    o desenvolvimento em Portugal e no quadro da EU,

    criando conhecimento e sensibilizando a opinio pblica

    portuguesa para as temticas da cooperao internacional.

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    26 :: QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA

    pode assumir no seio da comunidade internacional,

    uma prioridade para Portugal.

    Ainda que seja natural que a Cooperao Portuguesa

    continue sobretudo dedicada ao espao lusfono, ser

    dada continuidade tendncia dos ltimos anos de

    afectar uma parte dos recursos da Cooperao paraoutros pases. Incluem-se neste caso pases com os quais

    Portugal tem ligaes histricas relevantes, como so os

    casos de Marrocos, frica do Sul, Senegal ou Indonsia,

    entre outros. Todavia, para evitar a fragmentao e dis-

    perso, as actividades de cooperao em pases fora do

    espao da CPLP sero sempre em menor escala.

    [4.2.] Prioridades SectoriaisTendo em conta as realidades especficas de cada

    um dos pases e regies, os desafios de reorientao

    da Cooperao Portuguesa para os ODM, e tendo

    tambm presente que a eficcia da cooperao

    pressupe uma concertao e concentrao geo-

    grfica e sectorial, so estabelecidas as seguintes

    prioridades sectoriais da Cooperao Portuguesa:

    A. Boa Governao, Participao e Democracia

    Assim, pretende-se:

    > Reforar as aces de apoio institucional e de

    capacitao que contribuam para o fortaleci-

    mento do Estado de direito. Aqui inserem-se

    programas de formao e capacitao dos orga-

    nismos pblicos, de apoio boa gesto dos

    assuntos pblicos, bem como o apoio s refor-

    mas das administraes pblicas, em particular

    aos processos de consolidao das administra-

    es locais; a melhoria de normas e procedimen-tos administrativos; a criao de legislao

    adequada; e o reforo da capacidade de planea-

    mento e da melhoria dos mecanismos de gesto,

    nomeadamente ao nvel das reformas fiscais e do

    sector da estatstica.

    > Apoiar reas determinantes para a boa governa-

    o, como a administrao interna, a justia e as

    finanas pblicas;

    > Colaborar na consolidao do sistema de segu-

    rana interna, nas suas diversas valncias e no

    respeito pelos princpios do Estado de direito;

    > Apoiar os processos eleitorais;

    > Aumentar o apoio ao oramento, nos casos em

    que exista um enquadramento local e internacio-

    nal prprio;

    > Nos Estados mais frgeis, apostar no desenvolvi-mento de programas que promovam a paz, a

    preveno e a gesto de conflitos, bem como

    medidas de apoio estabilidade no ps-conflito.

    Neste contexto, a Cooperao Tcnico-Militar

    poder apoiar a reforma das estruturas da Defesa

    dos pases parceiros, designadamente nas seguin-

    tes reas: definio da poltica de defesa; reorga-

    nizao das foras armadas, por forma a cumprir

    a sua funo de promotor da estabilidade do

    Estado, formao e instruo militar e a adopo

    de cdigos de conduta, que visam o respeito pelo

    Direito Internacional, pelos Direitos Humanos e

    pelo Direito Humanitrio Internacional. O apoio

    insero regional destes pases, em especial

    sua participao em Organizaes Regionais de

    Segurana e Defesa, na perspectiva da sua capa-

    citao em matria de Operaes de Manuteno

    da Paz e Humanitrias, dever ser alvo de uma

    ateno especial no quadro da Cooperao

    Tcnico-Militar, designadamente em matria de

    conceitos, doutrina e princpios.

    Considera-se fundamental contribuir para a promoo

    da democracia representativa e participativa e para o

    pluralismo poltico, promovendo mecanismos de di-

    logo social, tanto por aquilo que representa directa-

    mente em termos de qualidade de cidadania, como

    pela relao positiva que existe entre democracia edesenvolvimento. Neste sentido, o apoio capacitao

    da sociedade civil e ao desenvolvimento e consolidao

    do associativismo revela-se de extrema importncia.

    B. Desenvolvimento Sustentvel e Luta Contra a Pobreza

    Encarando a pobreza como um fenmeno multidi-

    mensional, que abrange o acesso a cuidados de

    sade, alfabetizao bsica e apoio escolar, for-

    mao mnima, segurana alimentar, melhoria

    habitacional; bem como o apoio a actividades gera-

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    QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA :: 27

    doras de rendimento, a aces de incluso social e

    de promoo de igualdade de oportunidades, designa-

    damente entre homens e mulheres,e tendo presente

    os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, pre-

    tende-se contribuir para o desenvolvimento humano

    e econmico das populaes dos pases parceiros,nomeadamente:

    > Na Educao,entendendo esta como um sector-

    -chave da Cooperao Portuguesa. No mbito da

    educao apoiaremos a escolaridade bsica,

    incluindo a alfabetizao de adultos, promovendo

    a concretizao do segundo Objectivo de

    Desenvolvimento do Milnio. Nesta rea ser

    dada tambm especial ateno ao ensino tcnico

    e profissional, devendo a tecnologia ser colocada

    ao servio da educao, nomeadamente atravs

    de programas de ensino distncia. O ensino

    tcnico e profissional um instrumento funda-

    mental para o desenvolvimento do sector produ-

    tivo dos pases em desenvolvimento e constitui

    o primeiro passo de um processo multisectorial

    de incluso social.A Cooperao cientfica e

    tecnolgica constitui tambmum instrumento

    relevante no sentido do reforo das capacidades

    locais para a formulao, implementao e ava-

    liao das polticas pblicas promotoras do

    desenvolvimento econmico e social, bem como

    da disseminao de uma cidadania informada e

    activa com efectiva capacidade de interveno

    nos desafios da sociedade do saber. No que con-

    cerne cooperao na rea do Ensino Superior,

    tambm ela importante, ser alvo de uma poltica

    clara e concertada, orientada para a promoo daqualidade do ensino e no desenvolvimento de

    oportunidades de criao de estabelecimentos de

    formao pblicos e/ou privados nos pases lus-

    fonos, com vista satisfao das necessidades

    emergentes de formao para a sociedade global.

    No mesmo sentido, tambm a actual poltica de

    bolsas ser redefinida para responder s verda-

    deiras necessidade de capacitao, formao e

    valorizao dos pases parceiros. Pretende-se,

    portanto, possibilitar s populaes locais o

    acesso sustentvel e de qualidade educao. A

    educao deve ainda interagir com a cultura,

    sendo esta uma rea pertinente e relevante para

    a construo de sociedades multiculturais com

    capacidade de promoverem e valorizarem a sua

    especificidade cultural no mundo globalizado.Inclui-se neste mbito a cooperao no domnio

    da valorizao do patrimnio cultural, muito em

    particular o patrimnio mvel e o patrimnio

    imaterial.

    > A Sade outra das reas de relevo da Cooperao

    Portuguesa, pelo saber e experincia adquiridos,

    ao longo dos anos, sobretudo sobre as realidades

    dos pases africanos e de Timor-Leste. Os

    Objectivos de Desenvolvimento do Milnio 4, 5

    e 6 apontam para a necessidade de desenvolver

    um esforo internacional no sentido de reduzir

    a mortalidade infantil, melhorar os cuidados

    maternos e combater a incidncia do HIV/SIDA,

    das doenas sexualmente transmissveis e da

    malria e da tuberculose. Importa sobretudo

    melhorar a capacidade de trabalhar no mbito

    dos cuidados primrios e de higiene, aproxi-

    mando deste modo o esforo da cooperao s

    primeiras necessidades das populaes. Garantir

    o acesso sade constitui uma permissa funda-

    mental do direito proteco social.

    > O Desenvolvimento Rural est intrinsecamente

    ligado questo da segurana alimentar e da

    pobreza, pois uma parte considervel das popu-

    laes dos pases em desenvolvimento vive em

    meio rural, onde os rendimentos so mais bai-

    xos. Neste campo a Cooperao Portuguesa

    dever contribuir para que as populaes nospases em desenvolvimento tenham acesso, em

    qualquer momento, a alimentos nutritivos e

    incuos, em quantidade suficiente para levar

    uma vida activa e s. Este acesso est reconhecido

    como direito humano individual na Declarao

    Universal dos Direitos do Homem. Portugal par-

    ticipar nas iniciativas internacionais contra a

    fome, e contribuir para a erradicao da pobreza,

    atravs da valorizao da gesto comunitria e

    das culturas tradicionais, assim como das insti-

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    28 :: QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA

    tuies locais ligadas ao desenvolvimento rural.

    > A proteco do ambiente e a gesto sustentvel

    dos recursos naturais, em particular os recursos

    hdricos constituem tambm uma rea prioritria

    da Cooperao Portuguesa. A sustentabilidade

    ambiental uma componente fundamental dodesenvolvimento humano. O objectivo 7 dos

    ODM e os compromissos da Cimeira de

    Joanesburgo apontam para a necessidade de

    impulsionar a boa gesto dos recursos ambien-

    tais e, em particular, dos recursos hdricos e o

    acesso gua e ao saneamento. A vasta maioria

    dos pases em desenvolvimento tm igualmente

    extensas zonas costeiras e alguns esto j amea-

    ados pelos impactes de ameaas ambientais

    globais como as alteraes climticas e a deserti-

    ficao. Assim, a proteco do ambiente e o orde-

    namento do territrio so essenciais para

    assegurar o mnimo de qualidade de vida das

    populaes, uma vez que tm reflexos directos

    na sade humana e no combate pobreza. , por

    isso, importante que a Cooperao Portuguesa

    coloque a mais-valia do seu conhecimento ao

    servio da gesto sustentvel dosrecursos natu-

    rais, em particular dos recursos hdricos, nos

    pases em desenvolvimento.

    > particularmente importante incentivar o cresci-

    mento econmico, o desenvolvimento do sector

    privado, a formao e a gerao de emprego. A

    formao e o incentivo criao de emprego

    garantem a melhoria das condies de vida das

    populaes locais e promovem o desenvolvimento

    integrado e sustentado dos pases. Neste sentido,

    a incluso social dos jovens, sobretudo de gruposde risco, promove a pacificao social e o cresci-

    mento econmico dos pases em desenvolvimento.

    Na verdade, todo o desenvolvimento requer cres-

    cimento, assim, a Cooperao Portuguesa apoiar

    iniciativas que tenham estes objectivos, em parti-

    cular as iniciativas mais geradoras de emprego.

    Neste mbito inserem-se os programas de micro-

    crdito associados s actividades geradoras de

    rendimento. A Cooperao Portuguesa contribuir

    tambm para a promoo do associativismo

    empresarial e para capacitar os Estados benefici-rios no sentido de criarem condies laborais,

    polticas de concorrncia e legislao que captem

    o investimento e que reforcem e incentivem o

    desenvolvimento econmico local.

    C. Educao para o Desenvolvimento

    > A Educao para o Desenvolvimento uma prio-

    ridade importante da Cooperao Portuguesa.

    fundamental criar conhecimento e sensibilizar a

    opinio pblica portuguesa para as temticas da

    cooperao internacional e para a participao

    activa na cidadania global. Esta prioridade, embora

    menor em termos das suas implicaes financei-

    ras, constitui um importante factor de formao

    cvica, em particular para que as camadas mais

    jovens da populao portuguesa tenham capaci-

    dade de participar plenamente na resposta aos

    desafios globais que se colocam no horizonte.

    As prioridades aqui referidas tero um grau de pre-

    mncia e pertinncia diferente consoante o pas par-

    ceiro, sendo importante sublinhar que em cada pas

    a Cooperao Portuguesa dever concentrar a maior

    parte dos seus apoios em apenas trs ou quatro prio-

    ridades, de forma a pr termo pulverizao de

    apoios que tantas vezes se tem verificado no passado

    e que to nociva para a racionalidade, a eficcia e a

    eficincia.Para conseguirmos concretizar estas prioridades, h

    um trabalho de reorientao operacional que

    necessrio desenvolver. O primeiro passo para essa

    reorientao dado no presente documento, atravs

    de uma definio clara destas prioridades.

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    QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA :: 29

    Parte2 QUADRO DE ACODA COOPERAO PORTUGUESA

    Captulo

    5:: A CooperaoPortuguesa

    e o EnquadramentoMultilateral

    O enorme acrscimo na intensidade da coordenao

    internacional nestes ltimos anos representa um

    importante desafio para a Cooperao Portuguesa,

    em particular para a sua capacidade de funcionar no

    enquadramento multilateral que hoje to impor-

    tante. Este desafio constitui ao mesmo tempo uma

    oportunidade que a Cooperao Portuguesa procu-

    rar aproveitar para difundir e projectar, em espaosmais amplos do que aqueles que seriam permitidos

    pela actuao estritamente bilateral, os valores e os

    princpios que a animam.

    J hoje, a Cooperao Portuguesa dedica quase

    metade do volume total de APD cooperao multi-

    lateral. Em boa medida, este montante resulta por

    inerncia da pertena portuguesa a diversos contex-

    tos multilaterais, alguns dos quais com grande

    importncia para a agenda internacional do desen-

    volvimento. O envolvimento nacional nas grandes

    discusses do meio multilateral dever contribuir de

    uma forma mais efectiva para a defesa dos interesses

    estratgicos da poltica externa portuguesa e para a

    elaborao de estratgias internacionais.

    Acresce ainda que uma das caractersticas mais vis-

    veis do nosso tempo a de que a distino rgida

    entre cooperao bilateral e cooperao multilateral

    deixou de ser sustentvel, porque as ideias e as meto-

    dologias que se desenvolvem no seio do sistema mul-

    tilateral condicionam e influenciam sobremaneira a

    cooperao que se pratica no mbito bilateral. Assim,

    estamos hoje perante um cenrio em que se impe

    uma nova forma de trabalhar, levando para os circui-

    tos multilaterais os valores e as convices subjacentes

    cooperao nacional, e trazendo desses espaos de

    debate novas metodologias e abordagens.

    Em Maro de 2005 Portugal assinou, juntamente com

    noventa pases e dezenas de organizaes internacio-

    nais e no governamentais, a Declarao de Paris

    sobre a Eficcia da Ajuda para o Desenvolvimento.

    Respeitar o esprito e a letra desse compromisso inter-

    nacional significa desenvolver muito substancial-

    mente a capacidade nacional de trabalhar no espaocruzado entre o bilateral e o multilateral.

    [5.1.] Orientaes Gerais Portuguesas no Contexto MultilateralUma ateno especial para frica

    Portugal congratula-se com a nfase dada nos anos

    mais recentes ao continente africano, e identifica-se

    com os compromissos europeus de dedicar um

    esforo acrescido ao desenvolvimento de frica.

    Portugal j destina actualmente cerca de trs quintos

    da sua APD bilateral a frica uma proporo que

    :: Defender o princpio de uma ateno especial a frica e em

    particular aos Pases Menos Avanados, com vista obteno dos

    Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, e em matrias como

    o apoio a Estados Frgeis.

    :: Reforar o espao lusfono valorizando o espao

    de interveno da CPLP.

    :: Desenvolver e implementar uma abordagem bi-multi

    na cooperao portuguesa, cumprindo com os compromissos

    internacionais assumidos na Declarao de Paris, e potenciando

    as vantagens comparativas da cooperao portuguesa.

    :: Conceder especial ateno ao desenvolvimento de parcerias

    com agncias das Naes Unidas, no quadro da UE, da OCDE

    e das Instituies Financeiras Internacionais e Regionais.

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    30 :: QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA

    internacionalmente muito elevada e tenciona

    manter esse compromisso com frica.

    O apoio ao continente africano constitui, na perspectiva

    portuguesa, um dos mais importantes desafios da

    globalizao, uma era histrica que tem o potencial

    de promover a paz e a prosperidade a uma escalasem precedentes. Porm, este desiderato apenas ser

    atingido se for possvel evitar a marginalizao de

    importantes partes do globo e nomeadamente do

    continente africano.

    Pela via multilateral, Portugal apoia programas de

    desenvolvimento individuais de pases africanos,

    como o caso dos Programas Indicativos Nacionais

    negociados no mbito do Acordo de Cotonou. O

    envolvimento portugus neste importante compro-

    misso internacional europeu na senda das inova-

    doras abordagens das Convenes de Yaound e

    Lom representa um contributo muito relevante

    para o desenvolvimento equitativo do continente

    africano, nomeadamente em pases com os quais

    Portugal tem poucas ligaes histricas. Portugal

    apoia igualmente programas nacionais de cresci-

    mento e reduo da pobreza de pases africanos em

    geral, e dos PALOP em particular, atravs da sua

    participao nos grupos do Banco Mundial e do

    Banco Africano de Desenvolvimento.

    Ao mesmo tempo, pela vertente multilateral que

    melhor se conseguem promover solues para alguns

    dos problemas estruturais com que os pases benefi-

    cirios se confrontam, de que so exemplo as questes

    da boa governao, da integrao regional ou dos

    desafios de natureza transfronteiria. Assim, Portugal

    dedicar especial ateno, no mbito das suas parce-

    rias com agncias das Naes Unidas, no quadro daUE e das Instituies financeiras internacionais,

    promoo de apoios internacionalmente concertados

    que procurem responder a problemas sectoriais espe-

    cficos de pases africanos, comeando pelos PALOP.

    Outro frum no qual Portugal contribuir para o

    desenvolvimento africano a OCDE, quer seja na dis-

    cusso de orientaes gerais para a ajuda pblica ao

    desenvolvimento internacional, quer seja na promo-

    o de estudos relevantes para a identificao das res-

    postas mais adequadas s circunstncias africanas.

    Apoio estabilizao e transio para o desenvolvimento

    Portugal deve interessar-se em particular por todas

    as iniciativas relacionadas com o apoio a Estados

    ditos frgeis ou falhados, e pelas actividades de

    estabilizao e desenvolvimento ps-conflito.v

    Com efeito, a existncia de Estados frgeis cons-titui uma das mais importantes ameaas na era

    da globalizao, no s para os habitantes desses

    pases como tambm para muitas pessoas em

    outras partes do mundo. A natureza dos proble-

    mas com que se confrontam os Estados frgeis

    exige uma abordagem multilateral e bilateral con-

    certada. Portugal apoiar iniciativas multilaterais

    destinadas a tornar o mundo mais seguro, sendo

    fundamental recordar a este respeito as palavras

    de Kofi Annan no seu relatrio In Larger

    Freedom:

    no teremos desenvolvimento sem segurana,

    no teremos segurana sem desenvolvimento, e

    no teremos nenhum dos dois sem respeito pelos

    direitos humanos.

    Em muitos casos, os custos das iniciativas desti-

    nadas a corrigir alguns dos problemas funda-

    mentais dos Estados frgeis poderiam ser

    substancialmente menores, ou mesmo evitados,

    se na devida altura houvesse uma interveno

    internacional concertada em resposta a sinais evi-

    dentes de desagregao de uma sociedade. Nos

    ltimos anos verifica-se um substancial aperfei-

    oamento dos mecanismos de alerta precoce para

    estes sinais, precisamente devido ao reconheci-

    mento internacional do perigo colocado pelosEstados frgeis. Consideramos, portanto, parti-

    cularmente pertinente o empenho multilateral em

    pases que podemos considerar Estados frgeis,

    isto , aqueles que correm o risco de degenerar e

    desagregar, fazendo alastrar a insegurana no s

    por entre os seus prprios cidados como tambm

    por entre os cidados da regio a que pertencem.

    Portugal contribuir para os esforos internacio-

    nais relevantes em Estados frgeis pela via mul-

    tilateral ou, quando apropriado, pela via bilateral.

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    QUADRO DE ACO DA COOPERAO PORTUGUESA :: 31

    Apoio aos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio

    A transformao operada na cooperao internacio-

    nal nos primeiros anos deste sculo, de que sm-

    bolo e fora motora a congregao de esforos em

    torno dos Objectivos de Desenvolvimento do Milnio

    (ODM), sublinha muito claramente que fundamen-tal a coordenao para fazer face aos desafios inter-

    nacionais do desenvolvimento. Com efeito, os

    mtodos utilizados na ajuda pblica ao desenvolvi-

    mento durante dcadas, e nomeadamente a ajuda

    bilateral descoordenada, constituem porventura a

    mais relevante razo do relativo falhano das activi-

    dades de cooperao internacional. Ao mesmo tempo

    que esta realidade se foi progressivamente impondo

    nas mais importantes anlises sobre o desenvolvi-

    mento, comeou tambm a tornar-se bvio que as

    consequncias do subdesenvolvimento ameaavam

    todo o equilbrio internacional na era da globaliza-

    o. esta conjuno que leva ao aparecimento e

    consolidao dos ODM como metas polarizadoras

    dos esforos internacionais. Portugal no ficar

    alheio a esta convergncia internacional.

    Presentemente, regista-se algum atraso em Portugal

    na adopo dos ODM como elemento relevante na

    definio da poltica nacional de cooperao. Porm,

    a partir de 2005 e at ao horizonte internacionalmente

    estabelecido de 2015, os ODM estaro no centro das

    opes a tomar pela Cooperao Portuguesa. Deste

    modo, existe um princpio de alinhamento e harmo-

    nizao entre as orientaes estratgicas nacionais e

    as internacionais, criando-se assim as condies bsi-

    cas para que a Cooperao Portuguesa contribua para

    os grandes objectivos internacionais, e para que os

    recursos internacionalmente disponveis sejam bemaproveitados para mbitos e problemticas que a

    Cooperao Portuguesa conhece bem.

    O sucesso internacional em relao aos ODM no

    depende apenas da ajuda pblica ao desenvolvi-

    mento. O impacto da globalizao faz-se sentir em

    numerosos mbitos distintos, levando a que, cada

    vez mais, se fale da necessidade de coerncia nas

    diferentes esferas da poltica econmica, incluindo

    as que dizem respeito, por exemplo, ao comrcio e

    agricultura. A participao portuguesa nos debates

    multilaterais ter em conta a necessria coerncia

    entre as diferentes polticas sectoriais e os valores

    subjacentes poltica externa nacional.

    Reforo do espao lusfono

    A capacidade de trabalhar em rede, fazendo conver-gir para uma lgica comum energias e recursos de

    fontes diversas, reconhecidamente uma competn-

    cia fundamental no relacionamento internacional

    contemporneo. Assume deste modo uma grande

    relevncia a capacidade de gerar, a partir de refern-

    cias partilhadas, abordagens sinergticas face a pro-

    blemas comuns. assim que a lusofonia deve ser

    entendida, no apenas como um espao lingustico

    partilhado, mas antes como um espao relevante

    para o trabalho em rede. A CPLP, organizao inter-

    nacional que congrega os pases de expresso portu-

    guesa, representa um importante domnio de

    trabalho para a Cooperao Portuguesa, criando-se

    em particular a possibilidade de utilizar a lngua

    comum como potenciadora de intervenes envol-

    vendo trs ou mais pases lusfonos. O reforo do

    espao lusfono constitui um reforo da capacidade

    de resposta dos pases da CPLP aos desafios da glo-

    balizao que a todos dizem respeito.

    A Cooperao constitui, desde a fundao dessa ins-

    tituio, um dos pilares da CPLP, no tendo no

    entanto realizado em plena efectividade at agora todo

    o seu potencial nesta matria. Ao aproximarmo-nos

    da efemride que a celebrao do dcimo aniversrio

    da CPLP (2006), vale a pena reflectirmos sobre os