VISÃO PRINCIPIOLÓGICA DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL - PATRÍCIA MÁRIS

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SUMRIO

1- INTRODUO....................................................................................................

...022- A ALIENAO PARENTAL NO CONTEXTO DA DISSOLUO

CONJUGAL FAMILIAR............................................................................................................ ......05 2.1- Conceitualizao e consideraes gerais ..........................................................05 2.2- Principais formas de Alienao encontradas no ordenamento...........................06 2.3- Estrutura Jurdica da Alienao Parental..........................................................07 2.3.1- Perfil do genitor alienador............................................................................07 2.3.1- Perfil do sujeito passivo na alienao..........................................................08 2.3.3- O objeto da Alienao .................................................................................09 2.4- Como se desenvolve a Sndrome da alienao parental....................................10 2.5- Importncia do perito para diagnosticar a Sndrome de Alienao Parental......................................................................................................................11 2.6- Princpios informadores da Lei de Alienao Parental.......................................13 2.7- Mecanismos de instrumentalizao para coibio efetiva da Alienao Parental......................................................................................................................14 2.8- Sanes previstas na legislao especfica........................................................15 2.9- A conduta do advogado ao se deparar com a Alienao...................................163- PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS INTRNSECOS LEI DE ALIENAO

PARENTAL......................................................................................................... .......17 3.1- Princpio da Dignidade da Pessoa Humana........................................................18 3.2- Princpio da Proteo criana..........................................................................19 3.3- Princpio da Paternidade Responsvel...............................................................20 3.4- Princpio do Solidarismo Familiar........................................................................21 3.5- Princpio da Afetividade.......................................................................................224- AXIOLOGIA DO OBJETO EM

ANLISE........................................................23 4.1- Valores Morais....................................................................................................24 4.2 -Valores Intelectuais.............................................................................................25 4.3- Valores Sociais....................................................................................................255- CONSIDERAES

FINAIS..............................................................................286- REFERNCIAS

BIBLIOGRFICAS.................................................................30

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7- ANEXO

01.........................................................................................................32 8- ANEXO 02.........................................................................................................36

1- INTRODUO: Com o advento da Constituio Federal de 1988 e a valorizao do Estado Social, houve maior preocupao com as relaes familiares em suas variadas manifestaes sociais1, assim o Poder Constituinte trouxe como mrito para essa Constituio a obrigao de interpretar as leis infraconstitucionais a uma nova realidade material, visando a igualdade entre familiares nas relaes de convvio, sobretudo o respeito a seus direitos fundamentais. Vale ressaltar tambm que, com o texto constitucional de 1988, houve uma virada, denominada virada de Coprnico2 no direito civil, operando-se na juno de valores, antes fragmentados e esquecidos, hoje com ideais igualitrios e solidarsticos, o que ensejou uma releitura de conceitos , de institutos e de categorias tradicionais, elaborados em outro contexto social e axiolgico. A famlia, como clula da sociedade3, que antes era definida pela unio dos cnjuges, homem e mulher especificamente e filhos, hoje podemos observar que a forma familiar est intrinsecamente ligada convivncia, ou seja, a um conceito chamado monoparental4 que surgiu, mudando o enfoque de famlia, conforme dispe o artigo 226 4 do CRFB/88, bastando um ascendente e um descendente viverem juntos sob mesmo teto para configurar a existncia de uma famlia.GAMA, Guilherme Calmon Nogueira, fala sobre uma viso civil-constitucional no Direito de famlia, p.114. 2 TEPEDINO, Gustavo. Apud GAMA, p. 115. Nicolau Coprnico derrubou a teoria do Geocentrismo (a terra era o centro do universo), com a defesa do Heliocentrismo (O sol passou a ser o Centro do Universo), invertendo totalmente os conceitos e percepes astronmicas (COSTA, Luis Csar Amad, Histria Geral e do Brasil, da pr Histria ao sec XXI, editora Scipione, p. 244, 2008). 3 Aristteles em seu livro A Poltica teceu o conceito de famlia, como clula da sociedade. Vale observar que este conceito no mudou em nossos tempos, a famlia continua sendo o pilar da sociedade, contudo de forma diferente. 4 DIAS, Maria Berenice nos remete ao conceito de famlia, com a definio de famlia monoparental, definio da CR/88, artigo 2264, sendo uma entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.1

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Contudo, com as mudanas frenticas que vem ocorrendo com o passar do tempo, a forma como era constituda a famlia, tambm sofreu mudanas e a segurana de consolidao no tempo de convvio familiar est cada vez mais reduzido, com conseqncias de dissolues traumatizantes mais freqentes no mbito da sociedade brasileira. Dessa forma, com o advento da Lei de Alienao Parental, o legislador veio precipuamente proteger os princpios que regem a famlia, quais sejam, o da isonomia entre os familiares e o da dignidade da pessoa humana dentre outros correlacionados. Tema que tratado, com um diferencial, em um contexto principiolgico e axiolgico dentro do ordenamento jurdico, tendo em vista os valores que se perdem ao longo de um processo conflitante entre os cnjuges, sobretudo do alienador. Assim, como os casamentos vm se dissolvendo com maior freqncia, e, com certo pluralismo do modelo familiar, h de se observar que os filhos do casamento dissolvido so os sofredores e receptores de toda esfera negativa que a separao conjugal acarreta, motivo pelo qual, diante de reiterados casos de sofrimento e at mesmo distrbios psicolgicos, a criana apresenta reflexos sociais negativos, pelo que o poder pblico vem criando mecanismos voltados especificamente a sua proteo. Nesse diapaso, vimos especificamente apresentar os benefcios concernentes aos mecanismos utilizados pelo poder pblico em proteo criana, numa viso principiolgica e axiolgica da Lei de Alienao Parental 5, a qual objetiva a proteo dos interesses de crianas e adolescentes, sobretudo daqueles que sofrem em razo de um novo comando legal, denominado sndrome da alienao parental6, traduzida por um profundo e drstico afastamento do filho de um dos genitores, em geral, daquele que est abandonando a relao. Em outras palavras, a sndrome da alienao parental se concretiza quando o casal em processo de dissoluo da sociedade conjugal, um dos cnjuges, por meio de posturas e atitudes que fazem a criana hostilizar o genitor alienado, dificultando a convivncia entre ambos, gerando na criana uma srie de distrbios psicolgicos. Dessa forma, quem mais sofre com as condutas hostilizadoras ao outro cnjuge a criana, motivo pelo qual a referida lei vem exatamente coibir tais5 6

Lei n 12.318 sancionada pelo Presidente da Repblica em 26 de agosto de 2010. PAULINO, Analdino Rofrigues. Sndrome da Alienao Parental e a Tirania do Guardio.

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abusos, prevendo sanes que vo desde a advertncia do genitor alienante e imposio de multa pelo juiz perda da guarda do filho, em casos mais drsticos. Vale ressaltar que a aplicao das sanes depender do caso concreto, da intensidade da alienao e do nvel do sofrimento da criana. A que tem grande importncia a avaliao de um perito, qual seja, um psiclogo forense, que durante um processo intenso de diagnsticos, ensejar um laudo tcnico, em que transcrever a situao psicolgica da criana, dentro do conflito gerado pelo genitor alienador, inclusive apontando se h sndrome da alienao parental e em qual grau se encontra, tudo em razo do princpio da proteo criana. O laudo a ser expedido pelo perito auxiliar o juiz em sua deciso, embora o juiz no necessariamente esteja adstrito ao laudo psicolgico, este imprescindvel para orientar o juiz em sua deciso7. Salientando que neste procedimento inquisitivo o foco proteo criana e ao adolescente, todavia, em razo da dificuldade de se diagnosticar a sndrome da alienao parental8 torna-se necessrio a ao de um perito. A abordagem sobre a Lei de Alienao Parental nos moldes dos princpios e valores que a envolve, tambm uma forma de direcionar a importncia da aplicao da referida Lei em prol da proteo s pessoas que sofrem com a conduta alienadora, ou seja, a criana e o genitor alienado, que se tornam vtimas com seqelas irreversveis dependendo da intensidade da alienao.

PAULO, B.M. Psicologia na Prtica Jurdica. Relata a importncia do laudo elaborado pelo psiclogo para a resoluo de complexas relaes familiares submetidas apreciao da justia. A colaborao do profissional de psicologia para identificar o adequado exerccio do poder familiar. P. 06. 8 Idem: PAULO, B.M. Transcreve a dificuldade de diagnosticar a SAP. P. 169.7

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2- ALIENAO

PARENTAL

NO

CONTEXTO

DA

DISSOLUO

CONJUGAL. 2.1- Conceitualizao e consideraes gerais A Alienao parental uma interferncia prejudicial e abusiva na formao psquica da criana e do adolescente, promovida ou induzida, fundamentalmente por um dos genitores, visando reduzir a pessoa do outro genitor. A Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010, que dispe sobre a alienao parental, em seu art. 2 traz o conceito de Alienao Parental, in verbis considerase ato de alienao parental a interferncia na formao psicolgica da criana ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avs ou pelos que tenham a criana ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilncia para que repudie genitor ou que cause prejuzo ao estabelecimento ou manuteno de vnculos com este. Assim, podemos dizer que Alienao Parental envolve uma srie de condutas de um dos genitores, que desqualificam o genitor alienado para a criana, dificultando a relao entre ambos, pois o alienador consegue modificar a conscincia da criana por meio de estratgias de atuao de malcia, com o objetivo de obstaculizar ou destruir seus vnculos com o outro genitor, o cnjuge alienado9. A qualquer momento do processo de dissoluo do casal, de fronte a quaisquer indcios que esteja ocorrendo condutas abusivas, a requerimento ou de ofcio, em ao autnoma ou incidentalmente, o processo ter tramitao prioritria, e o juiz determinar, com urgncia, ouvido o Ministrio Pblico, as medidas provisrias necessrias para preservao da integridade psicolgica da criana ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivncia com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximao entre ambos, se for o caso10.

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FREITAS, Douglas Phillips Freitas e PELLIZARO, Graciela, Alienao Parental, p.29. Vide artigo 4 da Lei de Alienao Parental.

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A prpria Lei traz formas exemplificativas de alienao parental, como realizar campanha de desqualificao da conduta do genitor no exerccio da paternidade ou maternidade, dificultar o exerccio da autoridade parental, dificultar contato de criana ou adolescente com genitor, dificultar o exerccio do direito regulamentado de convivncia familiar, omitir deliberadamente a genitor informaes pessoais relevantes sobre a criana ou adolescente, inclusive escolares, mdicas e alteraes de endereo, apresentar falsa denncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avs, para obstar ou dificultar a convivncia deles com a criana ou adolescente, mudar o domiclio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivncia da criana ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avs. Vale ressaltar que a alienao a conduta maliciosa e excessiva do genitor alienador, geralmente daquele inconformado com a separao. Tal conduta gera na criana uma srie de problemas psicolgicos, a maioria irreversveis, o que gera a Sndrome da Alienao Parental. 2.2 Principais formas de Alienao Parental encontradas no ordenamento A Lei de Alienao Parental traz um rol exemplificativo de formas de alienao, podendo ser admitidas outras formas, dependendo exclusivamente de cada caso concreto, cumprindo-se citar as mais freqentes: A- Desqualificao do genitor alienado isto , quando genitor alienador tira as qualidades do alienado, ressalta ou cria caractersticas para denegri-lo perante o filho. B- Dificultar o contato autoridade do pai ou da me com filho - O genitor alienador cria obstculos para a convivncia entre pai e filho. C- Omisso de informaes O genitor alienador no diz nada do que ocorre com a criana no dia a dia para o alienado, com o intuito de desconect-los.

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D- Falsas denncias O alienador cria condutas falsas para o alienado, denunciando-o perante autoridades e famlia, como por exemplo, dizendo que o pai abusou sexualmente da filha. E- Modificao de domiclio O alienador muda de domiclio sem avisar o alienado com o objetivo de induzir o filho contra este, que no veio visitar o filho por no saber onde est residindo. 2.3- Estrutura Jurdica da Alienao Parental A estrutura jurdica da Alienao Parental se perfaz com o sujeito ativo, que pode ser o genitor, o av, bisav, todo e qualquer titular de direitos ou autoridade, como professor, orientador, guardio, vigilnte, enfermeiro, tutor ou curador. Enfim toda pessoa que est responsvel pela criana e que age de forma a desmantelar o vnculo saudvel entre pais e filhos. O sujeito passivo da Alienao Parental diretamente a criana e o adolescente e indiretamente o genitor prejudicado, nos termos do artigo 2 da Lei, por serem vtimas do genitor egosta que no admite a dissoluo conjugal. J o objeto da Alienao Parental a tutela do poder familiar, a guarda, o vnculo saudvel entre pais e filhos, que violado pelas denominadas condutas alienantes. 2.3.1- O Perfil do genitor Alienador O alienador o sujeito ativo que pode ser um dos genitores ou ambos, uma vez que a alienao pode ser recproca. Podendo-se considerar Alienador qualquer pessoa que desejar obstruir o vnculo familiar saudvel entre pais e filhos, bem como a guarda. O alienador tem o perfil de uma pessoa aparentemente inofensiva, mas manipulador em alguns casos e em outros ameaador com o alienado, mas costuma se fazer de vtima diante dos conhecidos, amigos e familiares, razo pela qual o alienado, na maioria dos casos, passa a ser visto pelos conhecidos e familiares como um agressor, inimigo.

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Geralmente uma pessoa inconformada com a dissoluo conjugal, de mente perturbada, chegando ao perfil de um sociopata 11, pelo fato de mentir, manipular, dissimular situaes em prol do prejuzo do convvio do genitor alienado com os filhos. A impulsividade e a baixa auto-estima do alienador, o medo de abandono repetitivo, torna-se esperanoso sempre que os filhos estejam dispostos a satisfazer as suas necessidades, variando as expresses em exaltao e cruel ataque. Esta a fase mais grave12, pois caso no haja interveno jurdica, cria-se um ciclo vicioso que causa traumas irreversveis na criana e at mesmo no cnjuge alienado. O genitor alienador poder verbalizar as seguintes frases abaixo relacionadas, conjunta ou separadamente, que se tornam fortes indcios da instalao da Sndrome de Alienao Parental13:"Cuidado ao sair com seu pai (ou me). Ele (a) quer roubar voc de mim." "Seu pai (sua me) abandonou vocs!" "Seu pai me ameaa, ele vive me perseguindo!" "Seu pai no nos deixa em paz, vive chamando ao telefone." "Seu pai desprezvel, vagabundo, intil..." Vocs deveriam ter vergonha do seu pai!" "Cuidado com o seu pai, ele pode abusar de voc!" "Eu fico desesperada quando voc sai com o seu pai!" "Seu pai muito violento, ele pode bater em voc!"

Enfim, a conduta desse genitor demasiadamente abusiva, denominada de postura imprpria14, detm o poder familiar e o exerce de forma irregular, configurando em abuso de direito15 e quando tais condutas no surtem o efeito desejado na(s) criana (s), o genitor alienador fica inconsolvel, j que estava convicto de que sua vingana seria o dio da criana em relao ao alienado. 2.3.2- O perfil do sujeito passivo Diretamente o sujeito passivo a criana, infelizmente a criana ou o adolescente que cruelmente penalizada pela inescrupulosa imaturidade dos pais,11

PINTO, Adriano. http://www.adrianopinto.adv.br/Painel3.asp?jornal=176. Acesso em 1 de agosto de 2011, s 00:21 min. 12 CUENCA, Aguiar. Apud FREITAS, Douglas Philips e PELLIZZARO, Graciela. ALIENAO PARENTAL, p. 23. 13 PERISSINE DA SILVA. p. 58. 14 FREITAS, Douglas Philips e PELLIZZARO, Graciela. p. 99. 15 Abuso de Direito, conforme Cdigo Civil de 2002 no artigo 187.

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que no dissociam a dissoluo conjugal da vida parental. A vida afetiva se perde com a alienao. A criana, como ser em desenvolvimento, assim definido pelo Estatuto da Criana e do adolescente, em razo da pouca idade e por no possuir condies de reger seus prprios interesses, torna-se vtima com srios problemas, como dificuldade de convvio com outras pessoas, atraso no aprendizado escolar, irritabilidade, revolta etc. O abandono afetivo e o abuso psicolgico que sofre a criana, a torna marginalizada na sociedade, pois abandona o convvio com os colegas, deixa de realizar atividades, brincadeiras, passando a cada vez mais a se interiorizar em um mundo hermtico de dvidas, mgoas, rancores e tristezas, em razo da situao conflitante e abrasiva vivida pelos pais. Indiretamente o genitor alienado, aquele que sofre as alienaes, geralmente quele que possua um convvio saudvel com o filho que tanto amava, e, prezava nesta relao paterna, tornando-se tambm vtima de condutas irretorquveis, que deixa sua relao conturbada e distorcida com o filho, gerando o afastamento involuntrio de ambos. 2.3.3- O objeto da alienao O objeto da Alienao Parental a tutela do poder familiar, a guarda, o vnculo saudvel entre pais e filhos, que violado pelas denominadas condutas alienantes. Assim define bem o objeto da Alienao Parental a prpria Lei:A prtica de ato de alienao parental fere direito fundamental da criana ou do adolescente de convivncia familiar saudvel, prejudica a realizao de afeto nas relaes com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criana ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda16.

Vale ressaltar que o legislador considerou to grave a conduta do alienador, e, portanto objeto da alienao parental, que no excluiu a responsabilidade civil

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Lei 12.318/2010 vide artigo 3 in verbis.

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quando a conduta ensejar agresso fsica ao menor 17, dependendo do caso concreto e de comprovao por perito:Art. 6. Caracterizados atos tpicos de alienao parental ou qualquer conduta que dificulte a convivncia de criana ou adolescente com genitor, em ao autnoma ou incidental, o juiz poder, cumulativamente ou no, sem prejuzo da decorrente responsabilidade civil (grifamos) ou criminal e da ampla utilizao de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso.

Portanto configura-se abuso ou abandono afetivo ou desamor o objeto da alienao, conduta que mais desorienta a criana psicologicamente, fazendo-a submergir num mundo repleto de complexos e distrbios psicolgicos, surgindo assim a Sndrome da Alienao Parental, considerada uma doena que dever ser diagnosticada e tratada por profissional competente. 2.4- Como se desenvolve a Sndrome de Alienao Parental A Sndrome de Alienao Parental foi definida por Richard Gardner (19312003, em meados dos anos oitenta, nos Estados Unidos como:Um distrbio da infncia que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custdia de crianas. Sua manifestao preliminar a campanha denegritria contra um dos genitores, uma campanha feita pela prpria criana e que no tenha nenhuma justificao. Resulta da combinao das instrues de um genitor (o que faz a lavagem cerebral, programao, doutrinao) e contribuies da prpria criana para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligncia parentais verdadeiros esto presentes, a animosidade da criana pode ser justificada, e assim a explicao de Sndrome de Alienao Parental para a hostilidade da criana no aplicvel.18

A ruptura da vida conjugal faz emergir da me um sentimento de abandono, de rejeio, de traio, surgindo uma tendncia vingativa, que como conseqncia desencadeia um processo destrutivo e desmoralizador do ex- cnjuge. Assim, aoO STJ no admite condenao por danos morais por desamor Resp 757.411/MG, Relator Min. Fernando Gonalves, DJ 27.03.2006, deciso criticada pelos doutrinadores, pois a Lei deveria proteger a incolumidade psquica da criana, fazendo gerar reparao de danos. No entanto, a doutrina admite o direito indenizatrio quando h agresso fsica contra o menor. 18 Richard A. Gardner. M.D. Departamento de Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Columbia, New York, New York, EUA. Apud Traduo para o portugus por Rita Rafaeli acesso em 15/05/2011Disponvel em http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente.17

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perceber o interesse do pai em preservar a convivncia com o filho, cria uma srie de situaes para dificultar ao mximo ou impedir sua visitao, tentando levar o filho a odiar esse pai. Esse processo psiquiatra denominado Sndrome da Alienao Parental, sendo a programao da criana, pelo alienador, para que odeie o genitor alienado sem qualquer justificativa, tornando verdadeira campanha para desmoraliz-lo, usando o filho como verdadeiro instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. Os efeitos da Sndrome de Alienao Parental nas crianas vtimas podem ser19: depresso crnica, incapacidade de adaptarem-se aos ambientes sociais, transtornos de identidade e de imagem, desespero, tendncia ao isolamento, comportamento hostil, falta de organizao, consumo de lcool e/ou drogas e algumas vezes suicdios ou outros transtornos psiquitricos. Podem ocorrer tambm sentimentos incontrolveis de culpa quando a criana, quando adulta, constata que foi cmplice inconsciente de uma grande injustia ao genitor alienado. Todavia, a criana que ama seu genitor levada a afastar-se abruptamente dele, que tambm a ama. Restando-se rfo do genitor alienado, a criana passa a se identificar com o genitor alienador, passando a considerar verdadeiro tudo que lhe informado20. Vale ressaltar que para identificao da Sndrome de Alienao Parental, se faz primordial a presena de um perito, uma vez que o laudo pericial dar ao juiz um norte em sua deciso, que ser imprescindvel proteo da criana, tema este tratado a seguir. Embora o juiz tenha o livre convencimento para decidir em qualquer ao, nesse caso, o diagnstico de um profissional, dada veracidade, tornando sua deciso uma forma de bloqueio alienao parental, em prol da proteo criana. 2.5- A Importncia do perito para diagnosticar a Sndrome de Alienao Parental O perito, como auxiliar do juzo21, nomeado conforme a situao ftica de cada caso concreto. Nota-se que para cada matria h um profissional adequadohttp://psicologiajuridica.org/psj52.html. Link acessado em 08 de agosto de 2011, s 22h: 17min. 20 PAULINO, Analdino Rofrigues. p. 12. 21 Vide Artigo 139 do Cdigo de Processo Civil.19

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para diagnosticar o problema. Por exemplo, quando a matria esta relacionada condio e analise da situao familiar, sua comunidade e realidades vivenciadas pelas partes, dever ser nomeado um assistente social. No entanto se as questes so concernentes escola, planos pedaggicos, relao e ambiente escolar o perito ser um pedagogo ou um psicopedagogo. Geralmente nos casos de guarda, o magistrado nomeia um assistente social, em virtude da proximidade que este possui com as partes envolvidas no processo. Seu trabalho implica em produo de prova, quer no campo administrativo, quer no campo judicial, servio denominado pericia social. Este profissional atuar em situaes em que h de se averiguar casos em que o guardio que se ausenta (ou viaja) com a criana sem comunicar ao no guardio, nos dias da visita designada ou em questes sobre idoneidade do guardio ou no guardio. Com a diversidade de objetos dos conflitos familiares, h necessidade de outros peritos, dentre eles o mdico que verificar as situaes clnicas quanto sade fsica dos envolvidos, analisar, por exemplo, os problemas de sade que determinam que o local onde o menor reside ou ir residir lhe seja agravante, por conta da alta ou baixa umidade ou outras causas relativas sade. Mas em se tratando de problemas psicolgicos envolvendo os familiares, ou seja, quando as condies e analises do subjetivismo e das inter-relaes entre as partes envolvidas, como, por exemplo, a relao afetiva consolidada par justificar a mantena ou mudana da guarda e tambm para identificar a Sndrome de Alienao Parental, o perito ser um psiclogo. A percia pode ser multidisciplinar22, sendo requerida pelo juiz de ofcio ou a pedido do Ministrio Pblico, dependendo da matria a ser tratada, como por exemplo, h casos em que envolve conflitos entre os genitores apenas sobre a guarda dos filhos, que ser imprescindvel e bastando presena de um perito social. Mas se na mesma famlia houver a suspeita de alienao parental, o juiz nomear tambm um psiclogo podendo trabalhar em conjunto ou isoladamente com outros profissionais, dependendo da necessidade, haver uma delimitao do objeto a ser diagnosticado para cada perito. No entanto, de suma importncia o trabalho em conjunto, em casos complexos que envolvem situaes diversas, para que o resultado seja mais eficiente e o juiz seja esclarecido.

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Artigo 5 da Lei 12.318/2010.

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Nos casos de alienao parental o psiclogo o mais premente, o profissional especializado, que est compromissado com o diagnstico da sade mental dos periciados, com o conhecimento das dinmicas e vnculos por eles estabelecidos23, ele quem fornecer as provas tcnicas que poder subsidiar os juzes na tomada de deciso de processos, cujos litgios se arrastam permeados de dvidas e incertezas. Vale ressaltar que nos processos que envolvem suspeita de alienao parental, o laudo pericial de extrema importncia para auxiliar os juzes na deciso e na maioria dos casos, tanto que considerado pelos estudiosos como uma prova autnoma (meio de prova especfico) ou uma prova pericial sui generis, sendo principal instrumento de comunicao de resultados de uma avaliao psicolgica. Contudo, o juiz no est adstrito ao laudo pericial, podendo formar sua convico com outros elementos ou fatos provados nos autos 24, mas nos casos em que o juiz nomeia o perito, sobretudo os que envolvem alienao parental, o laudo at transcrito na deciso e muitos magistrados dizem que sem o mesmo ficaria difcil ou impossvel a tomada de uma deciso justa25. 2.6- Princpios informadores da Lei de Alienao Parental A legislao calca nos diversos princpios que so pilares protetores da famlia, consagrados pela Constituio Federal como fundamentais valores sociais dominantes que no podem se distanciar da atual concepo de famlia, a seguir elencados: A- O Princpio da Dignidade da Pessoa Humana reflete o valor nuclear26 da ordem constitucional, incide sobre uma infinidade de situaes, pode ser identificado como o princpio da manifestao dos valores constitucionais carregado de sentimentos e emoes, por isso no se pode negar que est enraizado na sustentao familiar;

Saidy Karolin Maciel, apud: FREITAS, Douglas Philips e PELLIZZARO, Graciela. ALIENAO PARENTAL, p. 74. 24 in verbis Artigo 436 do Cdigo de Processo Civil. 25 FREITAS, Douglas Philips e PELLIZZARO, Graciela. ALIENAO PARENTAL, p.49. 26 DIAS, Maria Berenice, MANUAL DE DIREITO DAS FAMLIAS. p. 63.23

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B- O Princpio da Proteo Integral da criana visa a evitar qualquer dano fsico e moral criana ou ao adolescente, que por no possuir condies de tomar decises por si s ou de reger os seus interesses. Assim, o poder familiar um instituto de proteo que encaminha os pais a desempenhar esse papel mediante a representao de interesses pessoais do filho, alm da administrao de seus bens. Portanto, ao reconhecer que a prtica de alienao parental, o legislador ouviu ecos desse princpio protetivo criana e ao adolescente, para coibir sua violao. C- O Princpio da Paternidade Responsvel descreve a atuao responsvel que deve ter os pais com relao aos filhos, que embora haja autonomia no direito de escolha, esta deve ser exercida com respeito e responsabilidade para no auferir prejuzo aos filhos. D- O Princpio do Solidarismo familiar um princpio de vnculo afetivo, de contedo tico27 que compreende a fraternidade e reciprocidade entre os familiares, podendo ser notado no artigo 229 da Constituio Federal, quando impe aos pais o dever de assistncia aos filhos, tambm consagrado no Cdigo Civil, no artigo 1.511, ao estabelecer plena comunho de vida no casamento e a obrigao alimentar recproca expressa no artigo 1.694 do Cdigo Civil. E- O Princpio da Afetividade reala o vnculo familiar, tornando todos da famlia em uma s entidade, cujo amor o instrumento principal que faz unir a famlia num desejo de proteo recproca. 2.7- Mecanismos de instrumentalizao para coibio efetiva da Alienao Parental A Lei de Alienao Parental criou uma nova hiptese de tramitao prioritria em seu artigo 4, para processos em que se constate indcio de alienao parental, devendo receber uma identificao prpria. Assim em consonncia com o art. 1.211B, 1, do Cdigo de Processo Civil, numa interpretao sistemtica, a parte interessada dever requerer o benefcio para a autoridade judiciria, mas, para tal, dever juntar provas de sua condio de alienatria.27

DIAS, Maria Berenice, MANUAL DE DIREITO DAS FAMLIAS. p. 47.

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A prioridade na tramitao, que se identifica no processo por meio de uma marca diferenciada marcada pelo cartrio onde tramita o processo, ainda que no possa ensejar uma garantia absoluta e inquestionvel de celeridade, sem dvida um poderoso auxlio aos operadores do Direito, em todas as suas instncias. O art. 4 da aludida lei, estabelece que, o indcio de ato de alienao parental, pode ser declarado de ofcio ou a requerimento da parte, em qualquer momento processual, em ao autnoma ou incidentalmente28. Em caso de urgncia, aps ouvir o Ministrio Pblico, as medidas provisrias necessrias para preservao da integridade psicolgica da criana ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivncia com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximao entre ambos, sero concedidas. Vale ressaltar que, caso a alienao constitua ato ilcito, haver responsabilidade civil ou criminal, que nos termos do artigo 6 da Lei, no sero excludas, com o escopo de que o dano moral causado pelo alienador, criana e ao adolescente seja reparado, pois no h duvidas de que a alienao parental gera dano moral. A Ao Declaratria de Alienao Parental, com pedido de tutela antecipada uma ao autnoma, conforme artigo 6 da Lei de Alienao Parental, a ao de Alienao Parental pura, onde no se discute outros pormenores, cujo pedido essencial ser o de antecipao de tutela, com fulcro no artigo 273, do Cdigo de Processo Civil, que obedecendo aos requisitos da prova inequvoca, urgncia e verossimilhana, dever o operador do Direito determinar providncias para inibir seus efeitos, eis que demonstrado o fumus boni iuris e o periculum in mora. A Ao Incidental ocorre quando o advogado ingressa com determinada ao e no curso desta ao ocorre o indcio de alienao parental e geralmente ocorrer, imersa em processos que so distribudos com rubrica prpria Divrcio, Posse e Guarda, Regulamentao de Visitas etc. 2.8- As sanes previstas na legislao especfica As sanes so aplicadas conforme a gravidade do caso, sendo elas classificadas em dois grupos: As sanes mais leves so Advertncia, Ampliao de

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Vide tambm artigo 6 da Lei 12.318/2010.

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convivncia a favor do genitor alienado, Multa ao alienador e Acompanhamento tcnico que o acompanhamento psicolgico e/ou biopsicossocial. As sanes mais graves so a Modificao da guarda, Fixao de domiclio para a criana, Suspenso do poder familiar, ressaltando que no cabe aqui a perda do poder familiar. 2.9- A conduta do advogado ao se deparar com a Alienao O advogado, como operador do direito e direcionador da justia e equidade, quando procurado nos casos de dissoluo conjugal, dever em primeiro lugar observar se naquele caso h alienao parental, para evitar que essa conduta to prejudicial criana ou adolescente e ao cnjuge alienado se transforme em Sndrome Alienao Parental. No entanto, em muitos casos, infelizmente a orientao de advogados antiticos e beligerantes, que em vez de tentar apaziguar os conflitantes, aproveitam-se da fragilidade dos envolvidos para inflamar as discusses e alimentar ainda mais as condutas alienadoras, buscando decises cautelares fundadas em mentiras, exageros, dio. So estratgias inescrupulosas que alimentam a alienao, mas que por serem advogados mercenrios, no se preocupam sequer com as vtimas envolvidas, sobretudo os filhos, que posteriormente se transforma em um prejudicial complexo psicolgico, tanto nos filhos quanto no genitor alienado, cujas seqelas sero para o resto da vida.

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3- PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS ALIENAO PARENTAL

INTRNSECOS

LEI

DE

Os princpios traduzem mandados de otimizao com carter deontolgico, relacionando-se idia do dever ser, enquanto que o valores se situam na dimenso axiolgica do que efetivamente de acordo com um juzo do bom e do mau29. Assim, embora os valores sejam relevantes, os princpios apresentam maior concretizao. Assim, como comandos de otimizao deontolgica, os princpios regem a relao familiar em qualquer dimenso, o que nos faz perceber que qualquer casal livre para exercer seu direito de planejamento, bem como o seu direito de se divorciar. No entanto tal autonomia estar limitada e fundada nos princpios da paternidade responsvel e da dignidade da pessoa humana. Com a mudana das entidades familiares, surgiu um novo princpio que hoje rege o direito de famlia, em que a organizao e a direo familiar fundamentam-se no princpio da igualdade material de direitos e deveres dos cnjuges e companheiros. Por decorrncia desse princpio, as divergncias familiares acarretam responsabilidade do casal, quando antes eram apenas do marido, o chefe de famlia. Os princpios so de tamanha importncia para o Direito de Famlia, so considerados pelos autores e operadores em geral, como normas positivadas, as quais direcionam a melhor soluo para as lides que envolvem as famlias, no podendo distanciar-se da atual concepo da famlia, dentro de sua feio desdobrada em mltipals facetas30. Contudo, como a Lei de Alienao Parental surgiu por causa das divergncias do casal em processo de dissoluo conjugal, que prejudicam a criana ou adolescente, em seu artigo 3 diz que a prtica de ato de alienao parental fere direito fundamental da criana ou do adolescente de convivncia familiar saudvel (...), e, assim intrnseco a este princpio esto tantos outros que so violados com a conduta alienadora, aqui subscritos.

GAMA, Guilherme Calmom Nogueira. Princpios Constitucionais De Direito De Famlia. p. 63. 30 DIAS. Maria Berenice. Manual De Direito Das Famlias. p. 61.29

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3.1-Dignidade da Pessoa Humana O Princpio da dignidade da pessoa humana pode ser considerado Clusula Geral31 de tutela dos direitos da personalidade que segundo Srgio Resende de Barros32 a dignidade humana a verso axiolgica da natureza humana, e, seguindo esse axioma, deve ser coibido todo ato que atenta perfeita sanidade psicolgica e emocional de filhos de pais separados. O legislador, com o advento da Lei de Alienao parental, tomou como pilar de sustentao ao ser humano em sofrimento, o princpio basilar da Constituio Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana, conforme artigo 1, III. Referimonos ao ser humano em sofrimento, a criana que sofre um abuso psicolgico por parte do genitor alienador, bem como o cnjuge alienado, que, absurdamente, perde o vnculo com o filho em razo das falsas idias implantadas na criana pelo cnjuge alienador. A Lei 8069 de 13 de julho de 1990 que institui o Estatuto da Criana e do Adolescente, em seu artigo 15, diz que a criana e o adolescente tm direito liberdade, ao respeito e dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituio e nas leis. Assim, o princpio da dignidade da pessoa humana deve prevalecer sobre qualquer direito fundamental e valor. Est acima de qualquer princpio e por esse liame deve ser usado em proteo criana e ao cnjuge alienado, atua como fundante e informador dos direitos e garantias fundamentais das famlias, o que condiz com sua funo de principio fundamental da Constituio Brasileira. O direito das famlias est umbilicalmente ligado aos direitos humanos, que tem por base o princpio da dignidade da pessoa humana, verso axiolgica da natureza humana33, encontra na famlia o solo apropriado para florescer, permite o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada familiar como base em ideais pluralistas, solidaristas, democrticos e humanistas.PAULINO, Analdino Rofrigues. Sndrome da Alienao Parental e a Tirania do Guardio, p. 14. 32 Apud PAULINO, Analdino Rofrigues, p. 15. 33 DIAS. Maria Berenice. Manual De Direito das Famlias. p. 63.31

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A dignidade da pessoa humana tutelada especialmente quando se encontra vinculada aos direitos fundamentais por meio de funes distintas: a proteo pessoa, no sentido de defend-la de qualquer ato degradante ou de cunho desumano e a de promoo da participao ativa da pessoa nos destinos da prpria existncia e da vida comunitria, em condies existenciais consideradas mnimas para tal convivncia34. Essa proteo, na Lei da Alienao se d precipuamente criana e ao genitor alienado.3.2-

Princpio

da

Proteo

da

Criana

e

do

Adolescente O Estado impe famlia o dever de proteger seus filhos 35, e, falhando a proteo familiar aos seus descendentes, h uma srie de medidas, as quais devero ser tomadas em prol da preservao da boa criao dos filhos. Qualquer violao dos direitos positivados no artigo 227 da Magna Carta, por qualquer dos genitores configurar no exerccio abusivo do poder parental. Assim, uma proteo instituda recentemente em favor da criana a Lei de Alienao Parental, vem especificamente proteger os filhos do casal que est em fase de dissoluo conjugal, geralmente em processo de definio de guarda em que h o alienador. A Lei de Alienao Parental diz que a prtica ato de alienatrio:fere direito fundamental da criana ou do adolescente de convivncia familiar saudvel, prejudica a realizao de afeto nas relaes com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criana ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda36. Grifo nosso.

A criana como ser em desenvolvimento, pessoa humana em fase de imaturidade biopsquico-social por ser menor de dezoito anos de idade, segundo a presuno legal e assim definida pelo Estatuto da Criana e do Adolescente, necessita da proteo e direcionamento da famlia. No entanto quando esta proteo familiar fica comprometida, em razo das desavenas que ocorrem entre o casal

GAMA, Guilherme Calmom Nogueira da. Princpios Constitucionais d e Direito De Famlia, p. 69. 35 Vide artigo 227 da Constituio Federal de 1988. 36 Vide artigo 3 da Lei da Alienao Parental.34

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devido a separao conflituosa, o Estado interfere com a proteo criana e ao adolescente. O Estatuto da Criana e do adolescente repudia qualquer atitude desumana que venha prejudicar o crescimento e desenvolvimento harmonioso dos filhos nos seguintes termos como Direitos Fundamentais de Proteo criana e ao adolescente: A criana e o adolescente tm direito a proteo vida e sade, mediante a efetivao de polticas sociais pblicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condies dignas de existncia37. Todavia, h de se convir que uma criana desprotegida, sobretudo em se tratando de alienao parental, traz consigo reflexos negativos e uma vida fora do contexto social adequado para um ser humano normal. Torna-se um adulto recalcado, repleto de desconfianas e incertezas de um futuro melhor, o que poder afetar at mesmo a vida profissional do indivduo. 3.3-Princpio da Paternidade Responsvel um princpio auto-explicativo, expresso na Constituio Federal no artigo 227, 7, sendo necessrio atribuir-lhe efetividade j que a Constituio procurou real-lo quando elegeu como prioridade absoluta a proteo integral a crianas e adolescentes, delegando no s famlia, mas tambm sociedade e ao prprio Estado, o compromisso pela formao do cidado de amanh. , sobretudo, um compromisso em que os genitores, ao constiturem famlia, devero zelar pela preservao de seus valores, priorizando o bem estar fsico e psicolgico dos filhos, ademais so os genitores os responsveis pela formao de sua prole. O alienador viola esse princpio, uma vez que sua conduta o torna estritamente egosta, desprovido de considerao ao filho, ou seja, a preocupao em se vingar do genitor alienado torna-se obsessiva, que o compromisso em zelar pelo filho se rompe. O princpio da paternidade responsvel est intrinsecamente ligado proteo integral da criana e do adolescente, atribuindo aos pais o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, mesmo aps a dissoluo conjugal.

37

Vide artigo 7 do Estatuto da Criana e do Adolescente.

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3.4-

Princpio do Solidarismo Familiar

O princpio da solidariedade implica co-responsabilidade, consolidao em um nico vnculo, est vinculado necessariamente aos valores ticos e morais do ordenamento jurdico. A solidariedade significa um vnculo de sentimento racionalmente guiado, limitado e autodeterminado que compele oferta de ajuda, apoiando-se em uma mnima similitude de certos interesses e objetivos, de forma a manter a diferena entre os parceiros na solidariedade38. Referimo-nos ao vnculo solidrio que se especializa para tutelar as crianas e adolescentes, bem como os cnjuges e companheiros e parentes. Assim sabemos que este vnculo se rompe abruptamente quando a relao conjugal se dissolve de forma litigiosa. Como conseqncia da dissoluo repleta de conflitos, da qual se sobressai a alienao parental, o solidarismo familiar se desfaz de forma inescrupulosa pelo genitor alienador, o que acarreta srios danos psicolgicos aos filhos do casal. Um exemplo magnnimo de solidarismo, que veio para ficar em nosso ordenamento jurdico e que tem dado certo na maioria dos casos a guarda compartilhada, que surte nenhum efeito nos casos de alienao parental, pois o genitor alienador usa de todos os meios para atrapalhar o vnculo do pai com o genitor alienado, impedindo o compartilhamento da guarda. Na dissoluo conjugal conflitante uma srie de princpios violada, dentre eles o princpio da solidariedade, precipuamente nos casos de alienao parental, em que o genitor alienado cria uma srie de situaes que rompe o vnculo solidrio entre o casal, momento em que necessariamente, deveria permanecer solidrios entre si para proteger os filhos. Assim, a Lei da Alienao Parental diz que a prtica de ato de alienao parental (..) prejudica a realizao de afeto nas relaes com genitor e com o grupo familiar (...)39. O genitor alienador implanta idias falsas e controvrsias na criana contra o cnjuge alienado, desfazendo o lao afetivo entre genitor e filho, tornando dificultosa a relao.

38 39

LBO, Paulo, apud, GAMA, Guilherme Calmom Nogueira, p. 75. Vide artigo 3 da Lei.

22

3.5 Princpio da Afetividade O fato de o Estado impor para si obrigaes para com os cidados, elencando na Constituio Federal de 1988 um imenso rol de direitos individuais e sociais, uma forma de garantir a dignidade de todos, isso nada mais do que o compromisso de assegurar afeto40. Assim, sendo o Estado obrigado a assegurar afeto a todos, sim pois houve uma constitucionalizao do modelo familiar no Brasil, modelo este eudemonista e igualitrio, como maior espao para o afeto, sendo o afeto a prioridade para o sucesso familiar. Dessa forma, a afetividade apontada pela quase unanimidade dos doutrinadores como um dos traos distintivos entre a famlia tradicional e a contempornea, vez que vale observar que hoje os pais so atrelados afetivamente aos filhos, num comportamento contrrio ao da famlia tradicional. O princpio da afetividade faz desponta o princpio da igualdade entre irmos, do solidarismo familiar, o que possibilita o melhor relacionamento entre os familiares, gerando um sistema protetivo de um para com o outro, pois laos de afeto se desenvolver pela convivncia familiar. Com a conduta alienadora, esse lao de afetividade se rompe, desestruturando a famlia, da a importncia dessa Lei, que veio tambm para proteger a entidade familiar em processo de dissoluo conjugal para garantir que a afetividade entre os familiares no seja obstrudo, vez que a criana e o adolescente que no recebe afeto, tem grande possibilidade de se tornar um adulto violento.

40

Alice de Souza Birchal apud DIAS, Maria Berenice. p. 70.

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4- AXIOLOGIA DO OBJETO EM ANLISE

O ser humano um ser valorativo, o mundo em que vivemos valorativo, porque pertencemos a um mundo humano, e somente numa fantasiosa ideologia da neutralidade cientfica ou autonomia da arte que se poderia pensar em estar livre de valores41. Existem valores universais e valores particularistas, valores autnticos e inautnticos. Logo, os valores no so equivalentes e por isso podemos e devemos optar por determinados valores em detrimento de outros, uma vez que so constitudos socialmente. A axiologia formada socialmente e, na constituio dos valores intervm a conscincia, por isso que muitos conflitos de valores em determinados indivduos so derivados da falta de percepo das razes dos seus valores, do seu significado e de sua importncia social42, exatamente o que acontece na alienao parental. Os valores ns adquirimos ao longo da vida, mas aqueles essenciais formao do ser humano, aqueles em que se aprende a sacrificar um desejo, renunciar um prazer43 para optar por uma conduta tica diante da sociedade, so valores que adquirimos no seio familiar, mais precisamente quando criana. por meio dos valores que o ser humano se direciona e se posiciona com objetivos de vida, tanto que sem os valores o ser humano se torna alienado44, assim para Miguel Reale:Valor e dever ser implicam-se e exigem-se reciprocamente. Sem ideia de valor, no temos a compreenso do dever ser. Quando o dever ser se origina do valor, e recebido e reconhecido racionalmente como motivo da atuao ou do ato, temos aquilo que se chama um fim. Fim o dever ser do valor reconhecido racionalmente como motivo de agir45.

Vale ressaltar que quanto melhor o direcionamento e maior orientao o ser humano recebe quando criana, maior ser a concepo de valores cumulados ao longo da vida, e assim, melhor ser sua postura diante da sociedade, da a importncia dos pais na vida de seu filho.

VIANA, Nildo. Os Valores da Sociedade Moderna. p. 12. Idem. p. 12. 43 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. p.347. 44 Para Miguel Reale, alienao um estado em que o homem se encontra divorciado de sua essncia, alheio ou estranho a si mesmo. 45 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. p. 379.41 42

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O socilogo Karl Mannheim46, os valores acabam se tornando normas objetivas para a sociedade, pois so fixadas por esta para servir de sinais de trfego para regularem o comportamento e a conduta dos homens, uma forma de ajuste ao padro de uma ordem existente. Conquanto, a alienao parental repercute de tal forma na vida da criana que valores que do sustentabilidade vida humana e a sua formao, como valores significativos para o individuo como valores morais, sociais, intelectuais, so perdidos em razo da conduta irretorquvel e egosta do cnjuge alienador. 4.1- Valores Morais A Magna Carta traduz os valores sociais e morais do dever familiar, estatal e da sociedade, o de assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso47. Valores morais como ser ntegro, consistentemente honesto e de confiana, lutar para alcanar o mais elevado nvel de conhecimentos e xito pessoal, em todos os aspectos escolares, individuais e comunitrio, assumir a responsabilidade pelos seus atos, para consigo, para com os outros e para com o meio ambiente, ter esprito cooperativista para alcanar objetivos comuns numa busca pacfica para resoluo de conflitos, participar ativamente como membro produtivo da nao, ter amor ao prximo, demonstrando empatia e agindo com compaixo, comprometer-se a funcionar de acordo com princpios de justia social e opor-se a preconceitos, desonestidade e injustia, aceitando e promovendo os direitos, liberdades e responsabilidades associados condio de cidado, so o arcabouo para a formao de um ser humano, que fica comprometido com a alienao. So valores que o cnjuge alienador deixa deflagrar por um ralo de desiluses, por no admitir a dissoluo conjugal, mudando as regras de convvio, tornando a relao difcil e dolorosa, permeada de insultos, discusses, falsos julgamentos ao cnjuge alienado, perdendo por si prprio, pelo cnjuge alienado e46 47

Apud VIANA, Nildo. p.18. A CRFB/88 no artigo 227.

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pelos filhos em sua integralidade, e, se concordarmos com o Estatuto da Criana e do Adolescente, no art. 17 que diz:O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica e moral da criana e do adolescente, abrangendo a preservao da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idias e crenas, dos espaos e objetos pessoais.

O respeito, do latim respectus, que considerao, merecimento, exprime o conjunto de qualidades que se atribuem pessoa, em virtude das quais merecedora de um trato atencioso ou da considerao de seus pares. o valor moral mais relevante, pois nele se encontra implcito a preservao da criana como um ser saudvel em todas as dimenses da vida humana. O cnjuge alienador constri um comportamento desonesto em relao ao cnjuge alienado, passando a desconsider-lo como pai/me de seu filho, e, como inimigo do alienado, comea uma guerra em que se usa como munio o prprio filho, guerra esta denominada alienao parental, onde se perde at mesmo o senso de direo d vida. 4.2- Valores Intelectuais A educao, a busca pelo conhecimento, pela sabedoria so valores que torna o alienado e ignorante situado na esfera produtiva da sociedade. Vale observar que o conhecimento proporciona ao ser humano um poder de argumentao, a probabilidade de ser enganado e ludibriado bem menor quando se detm o saber. Ocorre que com a conduta alienadora, o alienador deixa comprometer os estudos do filho, razo pela qual ter um futuro prejudicado, pois geralmente a criana ou o adolescente no adquire o hbito de estudar e valorizar o conhecimento como forma de acrescer vida a melhor forma de viver. 4.3- Valores Sociais Os valores sociais so essenciais para o exerccio da cidadania, e, como pilar de sustentao vida, sobretudo no desenvolvimento social do ser humano so de extrema importncia para a boa convivncia com a sociedade, alguns deles como Autoconhecimento, respeito, estudo, verdade, dilogo, cultura, leitura, compartilhamento, participaes, emoes, organizaes, disciplina e ajuda.

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A educao dos filhos, do latim educatio, de educare, instruir, ensinar, amestrar para desenvolver faculdades fsicas, intelectuais e morais de uma criana ou mesmo qualquer ser humano, o vetor e principal condutor da vida humana, uma vez que nela se concentra todos os valores de sustentabilidade do ser humano. Educar traduz o sentido de agregar valores ao transmitir o conhecimento. No entanto, o cnjuge alienador deixa escoar, tornando incua a educao de seu filho, pois a alienao na maioria dos casos torna uma obsesso em que o alienador se esquece de direcionar o filho, prepar-lo para a sociedade, para a vida isso seria educar dever familiar, aferido pelo art. 226 da CRFB/88. A sociabilidade, interligada educao, um elemento constitutivo da natureza humana48, funo dos genitores ensinarem aos filhos como se sociabilizar, pois o convvio social o que torna o ser humano diferente e simultaneamente semelhante aos outros, proporciona a troca de experincias que quanto mais freqentes, permitem um maior nmero de inferncias, proporcionando ampliao do raciocnio e da inteligncia. No entanto, a criana se marginaliza na sociedade, deixa de ter um convvio com outras crianas, com a sociedade em geral, devido ao acanhamento gerado em razo do complexo psicolgico de julgamentos em relao ao cnjuge alienado, atribudo pelo alienador. Por exemplo: o alienador, nesse caso a me, no dia marcado para a visita, sai com a criana, fazendo com que o cnjuge alienado se dirija ao local para encontrar o filho perdendo seu tempo. Assim, passado o tempo a me retorna, dizendo para a criana que seu pai ir visit-la, e, nesse nterim a criana fica aguardando, como certo de que o cnjuge no vir, a me comea a dizer para o filho: Seu pai no veio novamente, est vendo? Ele no est nem a para voc! um monstro, que no se importa com o filho... A liberdade um valor inestimvel para a criana, o qual ajuda moldar sua formao, uma vez que ser livre, dentro das limitaes legais importante para a construo da personalidade e do pensamento, tambm um direito garantido pela CRFB/88, no artigo 227 da CRFB/88 e pelo Estatuto da Criana e do Adolescente, no Art. 16 que assim aduz:O direito liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros pblicos e espaos comunitrios, ressalvadas as restries legais; II - opinio e expresso;48

VIANA, Nildo. Os Valores na Sociedade Moderna. p. 51.

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III - crena e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V -participar da vida familiar e comunitria, sem discriminao; VI - participar da vida poltica, na forma da lei; VII - buscar refgio, auxlio e orientao.

Com a prtica da Alienao Parental, a perda da liberdade ocorre tanto para o alienado, que se prende e se sujeita s chantagens e aos caprichos do cnjuge alienador por amor ao filho, quanto para a criana, que por sua vez se prende s indecises, se introduzindo numa redoma psicolgica repleta de tormentas. O problema to srio que muitas crianas podem sofrer para o resto da vida com os traumas adquiridos nesta fase da alienao parental.

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5-

CONSIDERAES FINAIS

A prtica de Alienao Parental um mal que precisava ser juridicamente rechaado da vida de casais que se encontram em processo de dissoluo conjugal, j que hoje em dia as pessoas se casam, mas o casamento se torna fugaz, devido s mudanas no comportamento das pessoas, sobretudo das mulheres. A conduta alienadora causa um prejuzo para a sociedade, pois as vtimas da alienao, na maioria das vezes se transformam em pessoas anti-sociais improdutivas, que geram dficit escolar, profissional e pessoal, razo pela qual a sociedade acaba perdendo, uma vez que no fosse a alienao, seriam pessoas que contribuiriam para o alto progresso do meio em que vive ou at mesmo da sociedade em geral. A Lei de Alienao Parental, publicada em 26 de agosto de 2010, foi um grande progresso para as famlias brasileiras, as quais preenchem os requisitos da Alienao. Assim, como o escopo de tutelar essa interferncia na formao psicolgica da criana ou do adolescente por seus genitores ou guardis que repudiem o outro genitor ou que visa quebrar o vnculo do genitor com o filho. Interessante observar que o referido diploma legal apresenta duas funes, a funo preventiva e a funo repressora. Isso porque quando est ocorrendo a alienao, mas ainda no se instalou a sndrome na criana ou adolescente, poder ser instaurada ao com o objetivo de evitar que a sndrome de alienao parental venha se instalar na criana ou adolescente, em que as sanes so mais leves, com o fim de corrigir a conduta do alienador. A funo repressora da Lei seria quando a Sndrome da Alienao Parental j foi instalada, sendo comprovada por laudo pericial, em que a sano nesses casos at mais grave, cabendo at a perda da guarda, pois o objetivo a recuperar o psicolgico da criana e do adolescente, reprogramando-a com acompanhamento de profissionais competentes para que volte sociedade. Desta forma, notvel a importncia da referida Lei, no entanto ser imprescindvel a postura dos advogados ao atuarem em casos que se configuram alienao parental. Um dilema para estes profissionais, pois quando no alimentam a conduta alienadora, acabam perdendo a causa. Conquanto a melhor postura seria tentar convencer o cnjuge alienador de que tal conduta no ser promissora, uma vez que o prejuzo maior ser levado criana e ao adolescente.

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A Alienao Parental uma conduta que viola inmeros princpios Constitucionais do Direito de Famlia, e, como se no bastasse acarreta a perda ou a reduo de uma avalanche de valores essncias formao do ser humano, sobretudo criana e ao adolescente, seres em desenvolvimento. Assim, uma observao, que julgamos importante a tramitao das aes que versam sobre Alienao Parental. Ser necessrio que os cartrios criem uma codificao, uma espcie de tarja colorida, a qual torna diferente e notvel o processo para facilitar e promover sua celeridade, pois se o tramite de tais processos continuarem equivalente a qualquer outro processo nas varas de famlia, nada ter validade a confeco da Lei.

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6- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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7- ANEXO 1

Presidncia da Repblica Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurdicos LEI N 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010. Dispe sobre a alienao parental e altera o Mensagem de veto art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei dispe sobre a alienao parental. Art. 2o Considera-se ato de alienao parental a interferncia na formao psicolgica da criana ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avs ou pelos que tenham a criana ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilncia para que repudie genitor ou que cause prejuzo ao estabelecimento ou manuteno de vnculos com este. Pargrafo nico. So formas exemplificativas de alienao parental, alm dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por percia, praticados diretamente ou com auxlio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificao da conduta do genitor no exerccio da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exerccio da autoridade parental; III - dificultar contato de criana ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exerccio do direito regulamentado de convivncia familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informaes pessoais relevantes sobre a criana ou adolescente, inclusive escolares, mdicas e alteraes de endereo; VI - apresentar falsa denncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avs, para obstar ou dificultar a convivncia deles com a criana ou adolescente;

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VII - mudar o domiclio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivncia da criana ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avs. Art. 3o A prtica de ato de alienao parental fere direito fundamental da criana ou do adolescente de convivncia familiar saudvel, prejudica a realizao de afeto nas relaes com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criana ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. Art. 4o Declarado indcio de ato de alienao parental, a requerimento ou de ofcio, em qualquer momento processual, em ao autnoma ou incidentalmente, o processo ter tramitao prioritria, e o juiz determinar, com urgncia, ouvido o Ministrio Pblico, as medidas provisrias necessrias para preservao da integridade psicolgica da criana ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivncia com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximao entre ambos, se for o caso. Pargrafo nico. Assegurar-se- criana ou adolescente e ao genitor garantia mnima de visitao assistida, ressalvados os casos em que h iminente risco de prejuzo integridade fsica ou psicolgica da criana ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas. Art. 5o Havendo indcio da prtica de ato de alienao parental, em ao autnoma ou incidental, o juiz, se necessrio, determinar percia psicolgica ou biopsicossocial. 1o O laudo pericial ter base em ampla avaliao psicolgica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histrico do relacionamento do casal e da separao, cronologia de incidentes, avaliao da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criana ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusao contra genitor. 2o A percia ser realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptido comprovada por histrico profissional ou acadmico para diagnosticar atos de alienao parental. 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrncia de alienao parental ter prazo de 90 (noventa) dias para apresentao do laudo,

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prorrogvel exclusivamente por autorizao judicial baseada em justificativa circunstanciada. Art. 6o Caracterizados atos tpicos de alienao parental ou qualquer conduta que dificulte a convivncia de criana ou adolescente com genitor, em ao autnoma ou incidental, o juiz poder, cumulativamente ou no, sem prejuzo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilizao de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrncia de alienao parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivncia familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicolgico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alterao da guarda para guarda compartilhada ou sua inverso; VI - determinar a fixao cautelar do domiclio da criana ou adolescente; VII - declarar a suspenso da autoridade parental. Pargrafo nico. Caracterizado mudana abusiva de endereo, inviabilizao ou obstruo convivncia familiar, o juiz tambm poder inverter a obrigao de levar para ou retirar a criana ou adolescente da residncia do genitor, por ocasio das alternncias dos perodos de convivncia familiar. Art. 7o A atribuio ou alterao da guarda dar-se- por preferncia ao genitor que viabiliza a efetiva convivncia da criana ou adolescente com o outro genitor nas hipteses em que seja invivel a guarda compartilhada. Art. 8o A alterao de domiclio da criana ou adolescente irrelevante para a determinao da competncia relacionada s aes fundadas em direito de convivncia familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de deciso judicial. Art. 9o (VETADO) Art. 10. (VETADO) Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao. Braslia, 26 de agosto de 2010; 189o da Independncia e 122o da Repblica. LUIZ INCIO LULA DASILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto Paulo de Tarso Vannuchi Jos Gomes Temporo

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Este texto no substitui o publicado no DOU de 27.8.2010 e retificado no DOU de 31.8.2010

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8- ANEXO 2

REPORTAGEM COM UMA JUZA QUE FALA DA EFETIVIDADE DA LEI DE ALIENAO PARENTAL Exibida em em.com.br - ESTADO DE MINAS Lei da Alienao Parental completa um ano e aumentam pedidos pela guarda dos filhos.A lei pune os pais e mes que tentam colocar seus filhos contra o ex-parceiro. As punies vo de multas a alterao da guarda do menor Autor: Joo Henrique do Vale Publicao: 26/08/2011 06:00 Atualizao: 26/08/2011 12:31. Aprovada em 26 de agosto de 2010, a Lei da Alienao Parental completa um ano nesta sexta-feira com importantes conquistas para famlias que passam por conflitos aps processos de separao ou divrcio. Desde que passou a valer, o nmero de pedidos apresentados por pais pela guarda de crianas aumentou e os desentendimentos entre familiares, que chegam a prejudicar os filhos, passaram a ter punies previstas por lei. Alienao parental o termo usado para definir uma interferncia negativa na formao psicolgica da criana ou adolescente, induzida por um ex-companheiros, avs ou responsveis legais contra o pai ou a me da criana ou adolescente. A juza ngela de Lourdes Rodrigues, da 12 Vara de Famlia do Tribunal de Justia de Minas Gerais (TJMG), explica na maioria das vezes, so os homens que recorrem para ter o direito de estar mais perto dos filhos. A mentalidade vem mudando, aps a sano da lei parental. A maioria dos homens que se sentem prejudicados comeou a procurar a Justia para pedir a guarda dos filhos, afirma. Para identificar se a denncia de alienao parental verdadeira, o juiz pede um laudo psicolgico sobre o relato. Se for considerado procedente, a Justia pode aplicar multas, determinar acompanhamento psicolgico ou a alterao da guarda do menor.

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Segundo a juza ngela Rodrigues, a lei ajuda todos os envolvidos nesse tipo de problema familiar. Para aquele que no tem a guarda, fica a esperana da melhora do comportamento do ex-parceiro. J aquele que teve a guarda, vale uma reflexo se o comportamento est realmente dentro do que a lei prev. Isso leva a pessoa a entender a lei e a temer as consequncias explica a magistrada. Nos processos de alienao parental, normalmente as pessoas denunciadas so mulheres, j que na maior parte dos divrcios as mes ficam com a guarda dos filhos. Hoje as mulheres ainda so maioria. A tendncia de que esse nmero diminua durante o ano e fique mais equivalente, afirma a advogada Rosane Alves Ferreira, especializada em direito da famlia. Segundo a advogada, muitas mes fazem presso emocional na criana, para que ela invente situaes que levam ao afastamento entre filho e pai. As pessoas usam a chantagem para isso, como, por exemplo, dizer para os filhos que o pai os trocou por outra famlia, ou que ele no d mais dinheiro para comprar comida. Alm disso, acusaes de abusos sexuais e agresses tambm so comuns, detalhou. Em meio situao de briga entre o pais, as crianas so as que mais sofrem nos processos de alienao parental. De acordo com a Assistente Social Judicial do Tribunal de Justia de Minas Gerais (TJMG), Aline Ferreira Dias Leite, muitas apresentam problemas psicolgicos, como dupla personalidade e transtorno de identidade. Elas ficam desesperadas e pensam que so culpadas pela separao. Algumas tm at pensamentos suicidas, conta a assistente social. Durante entrevistas com especialistas, as crianas mostram comportamentos diferentes. Quando chamamos as partes, percebemos que as crianas normalmente esto intimidadas, nem querem conversar sozinhas, comenta. Justia Vtima de agresses verbais por parte da ex-companheira, um jornalista, que preferiu no se identificar, conseguiu a guarda provisria da filha de 15 anos. A mulher dizia criana que era agredida pelo pai e que ele no ajudava a pagar as despesas da casa. A me acordava a menina s duas horas da manh para pedir dinheiro. Dizia que estava com dificuldade e que eu no dava comida para elas. Todos os problemas que aconteciam com a garota eram responsabilidade minha, lembra.

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De acordo com o jornalista, a relao entre ele e a filha ficou estremecida, pois ele no conseguia convencer a garota de que a me estava mentindo. Ela sofreu uma presso psicolgica muito forte, por isso no acreditava no que eu falava, disse. A adolescente tambm sofreu com as brigas. Minha filha passou a ir mal na escola e a me dela no a deixava fazer terapia. Depois que consegui a guarda provisria, ela passou a fazer tratamento, conta o jornalista. Em setembro, uma nova audincia vai definir a guarda definitiva. Conhea a Lei da Alienao Parental no site do planalto. Depoimentos O drama de pais que so impedidos de ver seus filhos pode ser visto no documentrio A morte inventada, do diretor Alan Minas. Nele, vrias pessoas vtimas de alienao parental do seus depoimentos, entre eles, filhos que foram coagidos por seus pais. Veja o trailer no link abaixo:http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/08/26/interna_gerais,247183/lei-daalienacao-parental-completa-um-ano-e-aumentam-pedidos-pela-guarda-dosfilhos.shtml