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Vitalidade n.2

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Revista com assuntos da freguesia de benfica

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Editorial ............................................................................................3

Iniciativas para Seniores...............................................................4

Recordações de um Boticário .....................................................6

Dossier Solidão ............................................................................14

Agenda Cultural ...........................................................................22

Qualidade de Vida e Saúde Oral na Terceira Idade..............26

O Teatro Sénior ............................................................................34

20 Anos ao Serviço da População ...........................................40

ÍNDICEPropriedadeJunta de Freguesia de Benfica

DirectoraInês de Drummond

Coordenação, Redacção e FotografiaDurval Lucena

Composição e Design GráficoLuís Piteira – Design e Publicidade

ImpressãoGarrido Artes Gráficas.

Depósito Legal319307/10

Tiragem20 000 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

JUNTA DE FREGUESIA DE BENFICAAv. Gomes Pereira, 17

1549-019 Lisboa

www.jf-benfica.pt

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Editorial

Inês de Drummond

Presidente

CONTACTOS ÚTEIS

Junta de Freguesia de BenficaTelf: 217 123 000 (geral)

Fax: 217 123 009 (geral)

Centro de Saúde de BenficaTelf: 217 628 080

Polícia de Segurança PúblicaEsq. de Benfica – Telf: 217 108 200

Esq. do B. da Boavista – Telf: 217 606 073

Centro Clínico da Junta de Freguesia deBenficaTelf: 217 123 000

SCML – Atendimento SocialTelf: 217 123 000

STIMULI – Associação de Cultura e Artes deLisboaTelf: 217 145 364

Piscina - Junta de Freguesia de BenficaTelf: 217 123 000

Gabinete de Apoio Jurídico – Aconselha-mento JurídicoTelf: 217 123 000

Equipamento Social e Polivalente do Bairroda BoavistaTelf: 217 604 271

Associação de Reformados e Idosos doBairro da BoavistaTelf: 217 648 036

Associação de Reformados de BenficaTelf: 217 155 569

Centro de Dia do Bairro do CharquinhoTelf: 217 154 254

Centro Bem Estar de Santa CruzTelf: 217 700 036

Centro Paroquial Nossa Senhora do AmparoTelf: 217 600 362

Centro de Dia do Bairro da Boavista – SCMLTelf: 217 601 381

Igreja Paroquial Nossa Sra. do Amparo –Casa Santa AnaTelf: 217 647 023

Associação Casapiana (Apoio Domiciliário)Telf: 217 604 732

Lar Nossa Senhora do CarmoTelf: 217 712 530

Casa de Repouso A Boa Samaritana Unipes-soal, LdaTelf: 217 620 190

Lar Cristo ReiTelf: 217 604 813 ou 217 045 548

ARS – Centro de Saúde de Benfica - SEDETelf: 217 628 080

ARS – Centro de Saúde de Benfica Extensão(25)Telf: 217 125 190

CTT – Correios de PortugalTelf: 217 620 721

O sucesso do primeiro número da revista VitalIdade foi tal que es-gotou em menos de um mês. A avaliar pela procura que tivemos,ao invés de fazermos uma segunda edição daquele número aJunta de Freguesia decidiu tornar esta revista semestral.

Num estudo nacional, realizado por médicos da Faculdade de Me-dicina de Coimbra em parceria com a Faculdade de Ciências Mé-dicas de Lisboa, que procurou definir o perfil do envelhecimentoda população portuguesa, chegou-se à conclusão que 36,5% dosnossos seniores passam os seus dias sozinhos durante oito oumais horas. Mas o mais surpreendente é que neste estudo cercade 80% dos inquiridos não estava em situação de dependênciafuncional, isto é, não necessitava de ajuda nas suas tarefas, e tinhauma avaliação cognitiva positiva.

Porque a solidão e o isolamento a que muitos dos nossos senioresse entregam é um motivo de grande preocupação, dedicamoseste número da VitalIdade ao tema “Combater a Solidão”.

A Junta de Freguesia de Benfica tem um conjunto de respostaspara o ajudar a enfrentar o envelhecimento de forma mais activae saudável. Para além dos programas dedicados à promoção daactividade física, como é o caso da hidroginástica sénior, temosvindo a desenvolver iniciativas sócio-culturais que têm o propósitode o obrigar a sair de casa para vir conhecer museus, ver peçasde teatro, assistir a concertos e a tardes de fado e também paradar um “pezinho de dança”. Mas vamos mais longe, na área dasaúde, no Centro Clínico da Junta procuramos colocar à sua dispo-sição um conjunto de médicos especialistas vocacionados para pa-tologias próprias da idade maior.

Permita-me ainda felicitar o Grupo de Teatro 3º Acto pela coragemde acreditar que nunca é tarde para que os sonhos se tornem rea-lidade.

Saber envelhecer é uma arte e uma virtude!

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O Transporte Solidário É um programa da Comissão Social Inter-freguesias de Santa Mariade Belém e São Francisco de Xavier e que é um modelo de preven-ção do isolamento e solidão.Este projecto é desenvolvido em parceria com as entidades públicase privadas da Freguesia; é um transporte organizado e gratuito parapessoas em situação de isolamento social para serviços (saúde) eactividades específicas (convívio) tendo como objectivo principal ocombate ao isolamento e à solidão.Este Projecto deverá igualmente ser desenvolvido na Junta de Fre-guesia de Benfica em parceria com as entidades da Comissão Social

de Freguesia, no âmbito do subgrupo de Trabalho do Eixo I – Envelhecimento Saudável.

Banco de Medicamentos É um projecto destinado à população sénior, prioritariamente para quem temfracos recursos económicos. O banco de medicamentos terá como entidadesparceiras o Centro de Saúde de Benfica, as IPSS (Instituições Particulares de So-lidariedade Social), a Junta de Freguesia de Benfica e deverá ficar estritamenteligado aos Cuidados Continuados.

Curso de Utilização de Redes Sociais para SenioresActualmente a tecnologia possibilita ao indivíduo estar integrado numa co-munidade mais ampla, colocando-o em contacto com parentes e amigos,num ambiente de troca de ideias e informações e reduzindo o isolamentopor meio da experiência comunitária das Redes Sociais. Esta iniciativa temcomo objectivo preparar a população idosa para a utilização das Redes So-ciais.

O Programa de Envelhecimento Activo e Saudável – Companhia de TeatroSénior 3º ActoAtravés das oficinas de jogos teatrais, a pessoa idosa é capaz de criar peçasteatrais colectivas, tendo como mote as suas memórias e histórias de vida.Além de experimentarem todo o processo de criação teatral, os participantesdo Grupo de Teatro Sénior 3º Acto, convivem, socializam, aprendem e conhe-cem novas pessoas. Tornam-se agentes culturais, à medida que divulgamobras teatrais para a comunidade da qual participam.

Gabinete de Acção SocialIniciativas de Apoio à População Sénior

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“… Se tenho duas filhas, se já plantei várias árvores, porque não escrever umlivro?” Foi com esta premissa que Joaquim Baltazar decidiu deitar mãos à obra edeixar-nos como testemunho as memórias de uma vida. Mas mais do que umlivro de memórias “ Recordações de um Boticário”, é sobretudo uma viagem quecomeça em 1918 e que mostra um retrato vivo sobre a sociedade portuguesa doséculo passado. Infelizmente o espaço de que dispomos na revista não nos per-mite incluir toda a narrativa, mas como achamos um testemunho importante echeio de vitalidade aqui deixamos alguns excertos mais significativos, com a de-vida permissão do autor.

Da Infância à Adolescência Nasci em 1918, ano em que terminou a I Grande Guerra, ano em que grassava umaepidemia, a pneumónica, que dizimou famílias inteiras.Segundo filho de um casal da classe média, com mãe doméstica, como era habitualnaquele tempo e pai empregado de escritório, com baixo salário, como também erahabitual na época.Para fazer face às despesas da família, renda de casa, alimentação, colégios dos me-ninos, etc., o meu pai trabalhava numa empresa espanhola que negociava cortiça eaí auferia 800 mil reis (800 escudos ou 4 euros actuais), por mês, e à noite fazia aescrita de uma empresa de vinhos, a Patoleia & Patoleia, e assim adicionava àquelaverba mais quatrocentos mil reis.Esta última correspondia exactamente ao valor da renda de um andar onde moráva-mos, na rua Bernardo Lima, ao Conde Redondo, em Lisboa, onde mais tarde moroutambém Salazar.Deste modo, os 800 mil reis tinham de ser elásticos para tudo o que atrás referi eainda para pagar à professora de piano que o meu pai, como grande amante deópera e da música em geral, fazia questão que os meninos aprendessem…… Esta paixão do meu pai pela música teve origem no facto de ele em solteiro ter vi-vido alguns anos em Paris, onde trabalhou nos armazéns “Bon Marché” e aí ter con-vivido com amigos e colegas de trabalho que eram grandes amantes de ópera.Esta fase da sua vida enriqueceu a sua cultura geral, pois quando regressou a Portugalfalava e escrevia correctamente o francês, para além dos estudos efectuados na suaadolescência…… Eu de inicio, detestava estas lições de piano, com os meus seis anitos, queria erabrincar.Conhecer as notas, fazer solfejo o que, com todos os exercícios iniciais, constituía um

Recordações de um BoticárioMemórias de Joaquim Augusto de Almeida Baltazar

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verdadeiro suplicio que continuava com outros da mesma índole já no piano.Aquelas séries de notas a que chamam escalas eram um verdadeiro tormento,para quem executava e também para quem era obrigado a ouvir…Ao fim de algumas lições, quando a professora entendeu que o aluno estava pre-parado para tocar qualquer coisa que se pudesse ouvir, comecei por algumas mú-sicas simples que já iam dando algum gosto.A professora, que tinha interesse em dar lições, dizia que o menino tinha muitojeitinho…Naquela época as senhoras da cidade eram quase todas domésticas. Eram muitopoucas as que tinham actividades fora de casa, salvo de uma qualquer professoraou empregada de escritório.Nestas circunstâncias, a minha mãe tinha a preocupação de fazer visitas e retribuirvisitas, … Numa dessas visitas a uma família amiga, … a minha mãe quis levar oseu menino, que nessa altura teria, quanto muito, sete anos.Depois do chazinho da praxe a minha mãe quis que eu mostrasse as minhas ha-bilidades ao piano, o que, muito envergonhado, cumpri de modo bastante aceitá-vel. Uma senhora presente, muito amavelmente disse: “Temos aqui um novo Vianada Mota”, o que me deixou muito desvanecido…Dessa promessa não saiu nenhum pianista, porque com a ida para a aldeia deixeide ter professora e as tentativas de continuar os estudos de piano com a minhairmã resultaram em pequenas guerras entre os dois; o que levou os meus pais adesistirem de ter um filho pianista.Hoje apenas toco campainhas de portas…Por motivo de doença grave do meu avô Pinheiro, tiveram os meus pais de ir viverpara a aldeia onde se situava a quinta que ele explorava, em Carrasqueira – Car-mões, no concelho de Torres Vedras. Para mim que na altura teria 7 ou 8 anos,esta passou a ser a minha aldeia.Aqui passei a minha juventude, num período em que nem electricidade havia eas dificuldades eram mais que muitas…O “discurso da tanga e do pântano” que agora está muito em voga, era naquelestempos, a expressão mais adequada para traduzir a situação que se vivia nas al-deias de Portugal.Um trabalhador rural, quando tinha trabalho, ganhava por dia cerca de 10 mil reis(10 escudos ou 5 cêntimos actuais) trabalhando de sol a sol, tendo de sustentaruma dúzia de filhos que era o habitual naquela época. Não se sonhava ainda coma televisão nem mesmo com a rádio…As estradas, de um modo geral, eram intransitáveis. No Inverno, ir de uma aldeiapara a outra era uma travessia no lamaçal.Os automóveis eram ainda raros, mas eram também poucas as estradas capazesde serem utilizadas por tais viaturas.… Para continuar os estudos do liceu, fiz durante vários anos a cavalo, 26 quiló-metros por dia, ida e volta a Torres Vedras, que na altura era mesmo vila.Não dei a volta ao mundo a cavalo, mas, tudo somado, andou perto disso.Como resultado consegui o 5º ano do liceu, cujo exame fiz no Liceu Camões, emLisboa e deixei esfalfados três cavalos (o Chulo, o Canário e o Garoto)…Os meninos que hoje vão para a escola no carrinho do papá, que até tem aqueci-

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mento, ou na carrinha da junta de freguesia, com idênticas comodidades, farão uma ideia como seria irpara a escola de cavalo, às 8:00h, nos meses de inverno, para chegar a Torres Vedras, a 13 Km de dis-tância, e fazer o mesmo percurso de regresso, chegando a casa já de noite fechada!...Que julguem os que não tiveram ou não têm a obrigação de experimentar…

Da Adolescência a Adulto… Passei a minha juventude em Carrasqueira e mais tarde para completar o 6º e 7º anos de liceu tivede ir viver para Lisboa.Aqui tive o privilégio de ter como professor de física e química, no liceu Camões, esse homem extraor-dinário que foi o Prof. Rómulo de Carvalho, depois conhecido no mundo das letras por António Gedeão.Daí me ficar o gosto pela Química, que foi a minha vida profissional durante 40 anos.Em Lisboa, completei também a licenciatura em Farmácia, mas sempre que dispunha de uns dias livres,nomeadamente nos períodos de férias, adorava voltar à aldeia.Gostava muito de andar a cavalo, apesar de ter feito milhares de quilómetros neste meio de transporte,o prazer do cavalo ficou.Passear pelos campos, observar a vida da bicharada que neles vagueava e que naquele tempo eramuito abundante e me proporcionava um agradável passatempo.Também caçar. No princípio, as vítimas foram apenas uns passarinhos, mas, mais tarde, quando tiveacesso a uma caçadeira verdadeira, voltei-me para coelhos e perdizes e aí teve início a minha paixãopela caça que ainda perdura, a despeito da minha provecta idade.Entretanto, muito naturalmente, comecei também a olhar com mais atenção para as meninas e se ashavia na região, muitas, bonitas e até, algumas delas, com origem em bons partidos.No, entanto, mais tarde, com a vida mais ou menos estabilizada e querendo formar família, a minhaopção foi para mais longe, distrito de Leiria.Uma cura de águas, nas termas de Monte Real, resultouem casamento.Naquele tempo como agora, havia festejos nas aldeias,principalmente nos meses de Verão. Os domingos fica-vam todos preenchidos com as festas dedicadas a esteou aquele santo, muito delas abrilhantadas com filarmó-nicas e que quase sempre incluíam bailes com acordeo-nistas ou já com um ou outro conjunto.Também, em meios familiares, havia festas que reuniamos rapazes e as meninas das principais famílias da regiãoe, por vezes, também com convidados vindos de fora.Foi assim que em Carvoeira, em casa de algumas minhasparentes, do lado Teles, conheci Natália Correia, aindamenina, sem ser bonita nem feia, sem pinturas e umtanto introvertida.Dancei com ela ao som de uma grafonola roufenha, comdiscos da época, de 78 rotações, e estes como eram es-cassos repetiam-se irritantemente durante o serão.Geralmente, metiam também alguns comes e bebes, ce-didos pelas minhas parentes já velhotas, mas que ado-ravam ver-se rodeadas de gente nova…… Ainda na minha adolescência e de quando já era umhomenzinho retenho também muitas recordações que,

Capa do Livro, edição do Autor.

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dum modo geral, não são más.Como atrás referi, o período de férias passado na aldeia era para mim um tempo de dis-tracção e também de descanso.Em Lisboa, sem prejuízo dos estudos, também me divertia nas horas disponíveis e, tantoquanto a bolsa, bastante magra, o permitiam.Recordo do tempo do cinema mudo o filme Ben-Hur, com Ramon Novarro, e uns anosmais tarde voltei a ver o filme em versão mais moderna com o actor Charlton Heston eaquela espectacular corrida de cavalos!Viam-se no Olímpia ou no Capitólio bons filmes por vinte e cinco tostões…Vi no Teatro Apolo uma peça com a nossa querida Amália, quando ela dava os primeirospassos no teatro e nas cantigas.Não me lembro do nome da peça, mas recordo que ela ainda bastante nova já prometiae pagou brilhantemente a promessa.E quando esta jovem dava os primeiros passos na vida artística a caminho de ser a senhorada canção nacional, alguns outros artistas tinham dado os seus últimos passos ou estavama terminar as suas brilhantes carreiras.… Destas recordações uma das mais importantes, aquela que, sem dúvida, mais marcoutoda a minha vida foi o meu casamento que teve lugar na Sé de Leiria, a 29 de Abril de1945, cujo 62º aniversário ainda festejei com a minha mulher e família…

Da ProfissãoFiz a licenciatura em Farmácia, trabalhei 40 anos no controlo oficial de medicamentos epor um período relativamente curto (seis anos) fui assistente da cadeira de Análises Fí-sico-Químicas e regente da cadeira de Hidrologia na Faculdade de Farmácia de Lisboa. Aca-bei o curso em Julho de 1942 e só consegui trabalho em Fevereiro de 1943. Já naquelaépoca não era fácil ao terminar um curso conseguir-se imediatamente uma colocação.O melhor que esteve ao meu alcance foi o lugar de preparador no laboratório recém-criadoda Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos (CRPQF), um organismode coordenação económica que fazia parte das estruturas que haviam sido criadas peloGoverno de então para fazer face às dificuldades resultantes das guerras dos finais dosanos trinta: Guerra de Espanha, logo de seguida da II Guerra Mundial e também com basenas políticas seguidas na altura de condicionamento industrial e proteccionismo econó-mico.Foram criadas várias Comissões Reguladoras, compreendendo actividades ligadas ao co-mércio e à indústria.… Era presidente do organismo em que ingressei o Eng. Ricardo Graça e vice-presidente oEng. Duarte Amaral, pai do político Freitas do Amaral…Fui ganhar o “chorudo” vencimento de oitocentos escudos, por mês. Hoje, qualquer ope-rário sem qualificação ganha mais do que isso à hora.Passados alguns meses, passei a analista com o respectivo aumento para mil e duzentosescudos e como a situação de guerra criava condições para uma acentuada inflação, cercade um ano depois houve um aumento de 20% no vencimento do funcionalismo público,que foi alargado aos outros organismos e, por via disso, passei a ganhar mil quatrocentose quarenta escudos, vencimento que auferia em 1945, quando me casei.Cheio de entusiasmo por ir trabalhar em Química, que eu desde o liceu tanto gostava, de-diquei-me de alma e coração à minha profissão que seria numa área relacionada com ocurso de Farmácia: Controlo de Medicamentos e Substâncias Medicinais. Apoiado peloscolegas de trabalho e pelo então director do Laboratório, Dr. Souto Teixeira, pessoa muitoconhecida naquela época no meio farmacêutico, consegui impor-me como profissionalneste ramo de ciência e mais ainda, quando um pouco mais tarde, realizei um trabalho

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sobre “Sulfamidas” que ganhou o prémio “Companhia Portuguesa Higiene” instituído poreste laboratório de produtos farmacêuticos. Um prémio de 5 000 escudos, para quem ga-nhava tão pouco, ainda dava mais alento ao jovem “investigador” para continuar.… O prémio aqui referido foi, na verdade, para mim um incentivo…… Durante a minha vida profissional tive a honra e a satisfação de trabalhar com persona-lidades importantes do nosso país com quem contraí sólidas relações de amizade.No laboratório de que fui director tive como colaborador o Professor Mendes Alves quefoi docente de Farmacologia na Faculdade de Medicina de Lisboa e dirigiu até morrer osector de Farmacodinamia do nosso laboratório.… Tive a colaboração de vários médicos e de muitos colegas de Farmácia que todos, semexcepção, contribuíram para o prestígio do serviço.… Durante cerca de trinta anos fiz parte da Comissão Técnica dos Novos Medicamentosque funcionava na Direcção Geral da Saúde e era constituída por um grupo de médicos devárias especialidades e também por farmacêuticos…… Ao terminar estas considerações sobre a minha vida profissional não posso deixar derecordar o local onde se passou grande parte dessa actividade, um palacete na Estrada deBenfica, onde desenvolvi 40 anos de trabalho, com muitos momentos bons e algunsmenos bons, mas sempre de muita responsabilidade.Recordando velhos tempos e preservando também as velhas amizades, costumo juntar-me com algumas antigas colaboradoras em almoços de confraternização nos restaurantesda área.Há pouco tempo, num desses almoços que decorreu num restaurante perto do antigo edi-fício onde esteve instalado o Laboratório da Comissão Reguladora dos Produtos Químicose Farmacêuticos, reparei que numa das varandas do que resta daquele palacete havia umgrande letreiro, “Vende-se”. Recordei então, chocado, alguns factos relacionados com aminha vida profissional que, em grande parte, decorreram naquele antigo palacete, agoralamentavelmente deixado em ruínas.

Da Velhice e Não SóAposentei-me em 1983, perfazendo exactamente 40 anos de serviço.Nessa altura não era novo nem velho, seria um homem de meia-idade que, a despeito deter tido uma vida bastante desgastante, estaria em razoável estado de conservação.Diz o povo que “parar é morrer” e eu, para protelar um tal desenlace, tenho feito o possívelpor não parar.Do início da década de 60 até que me aposentei, em 1983, acumulei trabalhos de toda aordem.Fui director do Laboratório da CRPQF, vogal da Comissão Técnica dos Novos Medicamentos,vogal da Comissão da Farmacopeia Portuguesa, fui assistente da cadeira de Análises Físico-Químicas e regente da cadeira de Hidrologia da Faculdade de Farmácia de Lisboa, de 1969a 1975.A partir de 1972, ano em que faleceu o meu pai, passei também a ser agricultor. Fui também vogal do Conselho Fiscal da Adega Cooperativa de Carvoeira, e como a vida nãodeve ser preenchida só com trabalho e canseiras ainda continuei a ser caçador e a praticartiro desportivo com armas de caça.… Actualmente, ainda sou agricultor, caçador e, pelos vistos, também aprendiz de “escritor”.E desta tão longa vida, com altos e baixos, guardo também agradáveis recordações.É curioso que os velhos guardem recordações mais acentuadas dos acontecimentos que vi-veram ou assistiram na juventude e esqueçam frequentemente aqueles mais recentes quepor efeito da idade não ficaram tão bem gravados na memória.

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"Tenha sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os diasconvertem-se em anos...Mas o que é importante não muda... a tua força e convicção não têm idade…”

Madre Teresa de Calcutá

O envelhecimento em Portugal é uma realidade que todos nós conhecemos, epor isso é necessário criar respostas para atender as dificuldades da populaçãoidosa. É necessário, também, que as respostas sociais vão de encontro às ne-cessidades da população alvo, de modo a oferecer uma melhor qualidade devida e bem-estar. Por isso actualmente põe-se uma grande questão; será queestamos a desenvolver os esforços necessários para devolver à nossa popula-ção sénior a qualidade de vida e o bem-estar que ela merece? O caso de Au-gusta Martinho no passado mês de Fevereiro e que chocou a sociedadeportuguesa, fez disparar os sinais de alerta sobre a nossa preocupação em re-lação à população idosa.

É inegável que o envelhecimento, na actualidade, é reconhecido como um pro-blema para a maioria das pessoas, pois ainda não estamos preparados para asmodificações e perdas nesta fase. Ocorre uma transformação física, própria deum organismo que envelhece, e uma social, em função das perdas e limitaçõesque advêm com o avançar da idade, o que, muitas vezes, leva o ser humanoao isolamento social e à solidão.Há vários factores que podem condicionar o sentimento de solidão. De entreeles destacam-se a aposentação, a viuvez, a síndrome de ninho vazio (senti-mento de vazio sentido quando os filhos abandonam o lar para refazer a própriavida), a pobreza, a exclusão social e sobretudo a indiferença das sociedadescontemporâneas, que se regem somente por valores materiais e cujo objectivoprincipal é a rentabilização da produção, privilegiando apenas os indivíduos ac-tivos.Se, nas sociedades actuais, industrializadas, os rituais iniciáticos da juventudevão perdendo cada vez mais a sua importância e vão-se transfigurando, paraque a transição entre o estatuto de jovem e o estatuto de adulto se processede uma forma subtil, o mesmo processo de subtileza estrutural não pareceacontecer na passagem ao estatuto de idoso.

Combater a SolidãoDossier

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Dr. Manuel do Vale

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Este fenómeno encontra explicação no contexto da cultura ocidental,onde é dominante um modelo de desenvolvimento, assente funda-mentalmente sobre os mitos do crescimento económico e do produ-tivismo, do qual resulta uma visão redutora do homem e dasociedade, que se encontra dividida pelo mercado de trabalho entremembros activos e membros inactivos.“As pessoas que nos aparecem aqui na clínica são pessoas que têmum problema que surgiu de repente.” Conta-nos Manuel do Vale,psicólogo do Cento Clínico da Junta de Freguesia de Benfica. “Ou foio marido ou a esposa que faleceu e o idoso/a ficou sozinho, ouuma pessoa que deixou de trabalhar, ficou reformada e de repentese vê com uma vida vazia. São os casos mais comuns.”Faz parte da natureza humana estabelecer contactos sociais, já queque o ser humano é um ser social. O afastamento nas relações sociaispode fazer com que a solidão se manifeste em qualquer idade.“Uma das razões porque as pessoas vêm à consulta é a solidão.”Acrescenta o Dr. Manuel do Vale. “São pessoas que vivem uma vidavazia, uma vida sem objectivos, sem metas. Pessoas que apesarde viverem no seu espaço familiar, muitas delas até têm condiçõesmateriais e recursos financeiros, mas vivem uma vida sem objectivos. São pessoasdesocupadas que passam muitas horas sozinhas, ou então a ver televisão, por issosentem um vazio interior muito grande, um sentimento de inutilidade que as deixamuitas vezes, não direi deprimidas, embora em algumas situações possa haveruma depressão declarada, mas o que se sente mais são sinais de tristeza ou faltade energia para fazer uma vida preenchida com qualidade e com satisfação.”Por outro lado, as grandes cidades estão muito aquém de dar o devido acolhimentoaos cidadãos socialmente mais frágeis, neste caso a população sénior. A rápida trans-formação das paisagens e dos cenários urbanos, em nome do progresso, exige dosmais idosos flexibilidade e notável esforço para se posicionarem nestes novos tempos.

Atenta a todos estes problemas a Junta de Freguesia de Benfica através do seu Ga-binete de Acção Social, desdobra-se em iniciativas e apoios para dar à população sé-nior da freguesia a qualidade de vida que lhe pertence por direito, como nos diz aDra. Rosário Lopes, técnica do Gabinete de Acção Social.“Por diversas razões, nos dias de hoje, são poucas as famílias que possuem dispo-nibilidade para o acompanhamento do envelhecimento dos seus familiares, o quecontribui para o crescente número de idosos institucionalizados. A intervenção emparceria na comunidade tem como objectivo diagnosticar situações de isolamentopara que estas possam ser encaminhadas e solucionadas com outro tipo de res-postas que não a institucionalização. Nesta Freguesia existem recursos sociais quetêm como missão apoiar os seniores isolados, nomeadamente, ao nível do apoiodomiciliário. Paralelamente a estes recursos, a intervenção social apoia-se igual-mente nas estruturas da comunidade, designadamente, a PSP através do seu pro-

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Dra. Luísa Sereno

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grama de Policiamento e Proximidade, cujo objectivo passapor detectar situações de isolamento e de risco junto da po-pulação sénior.”Mas pretende-se ir ainda mais longe nas acções de apoio à po-pulação sénior.“Para os que têm limitações físicas, razão pela qual definhamsocialmente, pretende-se criar uma rede institucional que per-mita o acesso a estas situações para que de alguma forma emunidos de recursos especiais, possamos oferecer respostassociais de acordo com as necessidades. A rede de CuidadosContinuados na Freguesia de Benfica integra um número deTécnicos e entidades que mensalmente avaliam situações derisco na freguesia. Com a implementação da Comissão Socialde Freguesia foi criado um subgrupo de trabalho que intervémdirectamente com a população sénior – Eixo I EnvelhecimentoSaudável – o qual, composto por técnicos das entidades par-ceiras, diagnosticam e programam acções para suprir as ca-rências desta faixa etária. A curto prazo será implementadoem parceria o Banco de Medicamentos e o Transporte Solidá-rio.”É de extrema importância que a passagem por esta etapa davida seja bem sucedida, com acompanhamento psicológico, apoio social e ocupa-ção dos tempos livres.“Assim em parceria com a CML concretizou-se o Programa PEAS (Programa deEnvelhecimento Activo e Saudável) na criação da Companhia de Teatro Séniorde Benfica. 13 Seniores com idades compreendidas entre os 55 e os 90, fazemparte do elenco e da história desta Companhia. Estão programadas saídas quin-zenais de índole cultural para grupos diferentes, cujo objectivo é não só pro-mover o conhecimento dos valores culturais da nossa cidade, como tambémabranger cada vez mais a população sénior. Já visitaram o Museu da Carris, oMuseu Mãe d’Agua e a Igreja de S. Vicente de Fora,” diz-nos a Dra. Luísa Sereno,que em conjunto com a Dra. Rosário Lopes desenvolve e promove as iniciativasdo Gabinete de Acção Social. “Promoveu-se a ida ao Teatro com a revista - AHistória do Fado - pela segunda vez. Nos meses de Abril e Maio celebramos achegada do bom tempo com a realização das Tardes Dançantes e Tardes deFado. Estas acções vão realizar-se ao ar livre (ou não, dependendo das condi-ções climatéricas) e em pontos estratégicos da freguesia, para que todos os se-niores tenham acesso a elas. Preparámos no mês de Março o Programa PraiaCampo Sénior inscrevendo todos aqueles que queiram desfrutar de 5 dias dePraia e actividades culturais. Pretendemos ainda visitar o Parlamento e outrosmarcos culturais da nossa cidade.”Outra grande questão levantada pelo gabinete de Acção Social é a relação inter-geracional. Para o sénior que continua com a sua vida activa na comunidade, porvezes são difíceis as relações com os mais jovens que, por razões sociais, culturaise familiares continuam a não entender a fase sénior como uma fase de sabedoriae muita experiência.

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Sr. Iwan Thémes - 90 anos

Dra. Maria do Rosário

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“A junta de Freguesia está a apostar em Programas Interge-racionais para promover a partilha de experiências e históriasde vida, bem como a valorização e reconhecimento por partedos mais novos, por isso implementou durante o ano de 2010(para ter continuidade em 2011) uma estrutura de animaçãosocial e cultural que tem como objectivo promover a integra-ção de elementos mais jovens para que as relações sociaisentre gerações prosperem de forma positiva,” acrescentaainda a Dra. Luísa Sereno.Estas iniciativas da Junta de Freguesia de Benfica fazem parte deuma estratégia que pretende diminuir o isolamento social. Aindaque esta seja uma fase menos activa do ciclo de vida, os senioresnão podem ficar inertes e sujeitar-se a um envelhecimento in-consciente e involuntário. Muitos idosos têm receios, nomeadamente, o do abandono. Osproblemas de saúde que chegam com o avançar da idade e aincapacidade de realizar as mais simples tarefas quotidianasfazem surgir o medo da dependência, e associado a este, omedo de ser abandonado num lar. Por isso a interacção contínua com a família é de extrema im-portância para os seniores, estimulando-os para que consigam ultrapassar as bar-reiras que a idade avançada apresenta.

Da mesma opinião é o psicólogo Manuel do Vale, “considero o papel da famíliade uma importância fundamental no combate ao isolamento e à solidão. Éexactamente porque muitas vezes não existe uma rede familiar, ou a comu-nicação com os familiares é muito precária ou pura e simplesmente não existe,pelas mais variadas razões, que muitos idosos são excluídos socialmente. Esteaspecto é um factor que contribui em grande parte para que o idoso sinta,além do isolamento e da tristeza, uma mágoa muito profunda. Os sentimentosque sempre existiram com os familiares são muito fortes e de uma importân-cia fundamental para uma qualidade de vida que seria desejável. Muitas vezeseste isolamento da família é mitigado pela vizinha/o que ajudam a que o idosonão sofra tanto com o isolamento familiar.”Num mundo ideal, todas as pessoas idosas deveriam dizer que vivem e não quesobrevivem. Para que isto aconteça é necessário que todos possam usufruir dosmeios necessários para desfrutar de uma vida boa.

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Visita ao Museu da CarrisFevereiro – Dia 22 – 10,00 Horas

O Museu da Carris divulga ao público as suas memórias demais de um século! O Museu da Carris possibilita ao visitante a realização deuma viagem no tempo, através de documentos e objectospostos à sua disposição: relatórios, fotografias, uniformes,títulos de transporte, equipamento oficinal, eléctricos, au-tocarros...A existência do Museu permite ter um conhecimento dovalor histórico-documental. A exposição e a divulgação do património, a nível ex-terno, contribui para o exercício de uma função social, si-multaneamente, consolida a imagem da empresa juntodo público para um conhecimento cada vez mais apro-fundado da Empresa.

Visita Museu da MarinhaMarço – Dia 1 – 10,00 Horas

Foi o Rei D. Luís, o único monarca português que comandounavios, quem começou por escrever a história do Museude Marinha. A 22 de Julho de 1863, decreta a constituição de uma co-lecção de testemunhos relacionados com a actividade ma-rítima portuguesa. Este museu nasce da vontade manifestada por este mo-narca, de enorme sensibilidade artística e cultural, emconservar um passado histórico, tão presente, ainda, namemória colectiva nacional.Foi a 15 de Agosto de 1962 que o Museu de Marinhaabriu oficialmente as suas portas, nas alas norte e poentedo Mosteiro dos Jerónimos, junto do qual se construiu,mais tarde, um amplo pavilhão para exposição das ga-leotas e um complexo destinado à direcção e serviços.O Museu de Marinha tornou-se um dos mais importan-tes, reconhecidos e visitados museus portugueses.

CulturalAgenda

Janeiro/Junho 2011

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Visita ao Mosteiro São Vicente de ForaMarço – Dia 22 - 10,00 Horas

O Mosteiro de S. Vicente de Fora foi fundado em 1147 por D. Afonso Henri-ques (c.1110-1185), primeiro Rei de Portugal, em cumprimento de um votodirigido ao Mártir São Vicente pelo sucesso da conquista de Lisboa aos mou-ros. Hoje o Mosteiro São Vicente de Fora é, sem dúvida, um dos monumen-tos mais impressionantes e marcantes da urbe Lisboeta, não só pelo seusignificado artístico mas sobretudo pela forma como se impõe com as suasproporções grandiosas, dominando a cidade e o Tejo.Desde Novembro de 1998 estão instalados aí os Serviços do Patriarcado

de Lisboa Do amplo terraço da cobertura desfruta-se um dos mais belos evastos panoramas sobre Lisboa.

Visita ao Museu da Água Abril – Dia 5 - 10,00 Horas

Em 12 de Maio de 1731, foi autorizada, por alvará régio de D. João V, a cons-trução do Aqueduto das Águas Livres. As obras de construção foram iniciadas em Agosto de 1732 e em 1748 oAqueduto entra em funcionamento, abastecendo de água a cidade de Lis-boa. A extensão do Aqueduto, incluindo todos os seus ramais, é de 58 135metros. A arcaria sobre o Vale de Alcântara, constituída por 35 arcos – 14ogivais e os restantes em volta perfeita – tem 941 metros de comprimentoe 65 metros de altura. Retirado do sistema de abastecimento em 1967, oAqueduto é não só um dos "ex-libris" de Lisboa, mas também uma dasmais notáveis obras de sempre da engenharia hidráulica.

Visita à Assembleia da RepúblicaAbril – Dia 19 - 10,00 Horas

O Palácio de São Bento tem as suas origens no primeiro mosteiro beneditinoedificado em Lisboa, remontando a sua construção ao ano de 1598. Posteriores alterações significativas na sua localização original foram efec-tuadas por necessidade de mais espaço para albergar uma comunidade re-ligiosa em crescimento, assim como por motivos de salubridade e desejode maior proximidade com o núcleo urbano e seus fiéis.O edifício, marcado por uma arquitectura de estilo chão, era agora maiscomplexo, auto-suficiente e extenso que o primeiro em termos estruturaise espaciais. Assentava numa planta quadrada com 4 claustros, uma igrejacom capelas laterais, ladeada por duas torres, dormitórios, barbearia, co-zinha, refeitório, adegas, lagar, forno e oficinas.Ainda não haviam sido terminadas as obras quando o convento sofreu al-guns danos com o terramoto de 1755. Porém, foi com a Revolução Liberalde 1820 e a extinção das ordens religiosas em 1834 que a vida conven-tual sofreu a grande derrocada, sendo o edifício afecto à instalação do Palácio das Cortesou Parlamento.

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Visita ao Museu daPresidênciaMaio – Dia 10 - 10,00 Horas

A criação do Museu da Presidência assenta em 2 grandesvertentes: a pedagogia cívica e a intervenção cultural ecientífica. O Museu da Presidência combina uma exposição tradi-cional de peças de colecção com sistemas interactivosde informação e conhecimento. O percurso expositivo inicia-se com os Símbolos Nacio-nais e termina numa abordagem dos poderes, funçõese actividades dos Presidentes.

Visita ao Museu da CidadeMaio – Dia 24 - 10,00 Horas

O Museu da Cidade é um museu de História, criado com oobjectivo de documentar e divulgar a história de Lisboanas diferentes etapas da sua evolução urbanística, econó-mica, política, social e das próprias mentalidades presen-tes.Apresenta actualmente um programa museológico quetraça um percurso cronológico da evolução da cidade,desde a ocupação do território durante a pré-história atéà Implantação da República em 1910. Do seu espóliodestaca-se a colecção de artefactos mais antigos da ocu-pação humana do local, datados de 300 000 a.C. a 100000 a.C.; as primeiras representações da cidade de Lis-boa; os projectos para a inovadora obra de construçãodo Aqueduto das Águas Livres; os da edificação dabaixa pombalina, surgida na sequência do Terramotode 1755; terminando com O Fado, da autoria de JoséMalhoa, obra incontornável da pintura do século XX.

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Visita à Quinta da RegaleiraJunho – Dia 14 - 10,00 Horas

A Quinta da Regaleira constitui um dos mais surpreen-dentes monumentos da Serra de Sintra. Situada notermo do centro histórico da Vila, foi construída entre1904 e 1910, no derradeiro período da monarquia. Osdomínios românticos outrora pertencentes à Viscon-dessa da Regaleira, foram adquiridos e ampliados peloDr. António Augusto Carvalho Monteiro (1848-1920)para fundar o seu lugar de eleição. Detentor de uma fortuna prodigiosa, que lhe valeu aalcunha de Monteiro dos Milhões, associou ao seu sin-gular projecto de arquitectura e paisagem o génio cria-tivo do arquitecto e cenógrafo italiano Luigi Manini(1848-1936), bem como a mestria dos escultores, can-teiros e entalhadores que com este haviam trabalhadono Palace Hotel do Buçaco.

Visita ao Museu do OrienteJunho – Dia 28 - 14,30 Horas

O conceito gerador deste grande módulo expositivo foi aconstrução de uma utopia oriental pelos Portugueses,desde o século XV até aos nossos dias, baseada no co-mércio, na missionação e no encontro de culturas. O visi-tante é acolhido no espaço central do piso 1, que édedicado a Macau, território outrora sob administraçãoportuguesa onde foi fundada a Fundação Oriente, em1988. Este amplo espaço é dominado pela exposiçãode quatro magníficos biombos chineses da colecção: omais antigo representa uma nau portuguesa nos maresda China e encontra-se ladeado por outros dois, um decarácter essencialmente decorativo, decorado com asarmas da família Gonçalves Zarco, e um outro, dito “doCoromandel”, com interessante iconografia cristã, ecoda escola de pintura criada no Japão pelos Jesuítas, quemais tarde se estenderia a Macau. O quarto biombo,raríssimo exemplar decorado com as representaçõesdas cidades de Cantão e de Macau, encontra-se junto à secção dedicada àiconografia da Cidade do Nome de Deus de Macau

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Entrevista com a Dra. Ludmila Martins e o Dr. Miguel Talhas responsáveispelo sector de Medicina Dentária do Centro Clínico da Junta de Freguesia deBenfica.

A população idosa no mundo tem vindo a aumentar sistematicamente, frutoda melhoria das condições de vida e do acesso aos avanços da Medicina.Este facto acarreta uma preocupação futura com vários problemas económicos,sociais e, muito especialmente, com a manutenção da saúde, sendo que osmaiores riscos para a saúde e o bem-estar ocorrem do comportamento indi-vidual, resultante tanto da informação e da vontade da pessoa, como tambémdas oportunidades e barreiras sociais existentes.Neste contexto uma pergunta surge de imediato, o que é que tudo isto tem aver com a saúde oral? A resposta mais óbvia é: tudo. A saúde oral depende de vários factores, como por exemplo políticas públicasadequadas, investimentos em programas de saúde direccionados à terceiraidade e sobretudo mais informação sobre as graves consequências que podemadvir com a falta de prevenção na saúde oral.Dentro de políticas sociais, a prevenção deve ser um direito de todos e na ter-ceira idade é fundamental no que se refere à qualidade de vida. E qualidadede vida significa, além de ter uma qualidade de saúde oral, ter também qua-lidade de saúde geral, qualidade de vida social e qualidade nos relacionamen-tos sociais.Investir na saúde oral na terceira idade, assim como em outras fases da vida,é de extrema importância, para além do factor estético que promove a auto-estima e o bom desempenho social, melhora também a saúde geral.Com o objectivo de se debruçar apenas sobre os problemas relacionados coma terceira idade surgiu uma especialização na Medicina Dentária; a Odontoge-riatria. A Vitalidade foi saber mais junto da Dra. Ludmila Martins e do Dr. MiguelTalhas, responsáveis pelo sector de Medicina Dentária do Centro Clínico daJunta de Freguesia de Benfica.

Qualidade de VidaSaúde Oral na Terceira Idade

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O que é a Odontogeriatria?

Miguel TalhasOdontogeriatria pode-se dizer que é uma especialização da Medicina Dentária, cujo ob-jectivo é cuidar da saúde oral dos idosos, prevenindo e tratando os problemas que sãomais comuns a esta faixa etária. Claro que é uma especialização de futuro, porque cadavez mais aumenta a esperança média de vida.

Acha que existe divulgação e apoios suficientes para a população sénior?

Ludmila MartinsNa minha opinião a divulgação e os apoios que existem não são suficientes. Embora ulti-mamente tenham sido feitos alguns esforços nesse sentido, nomeadamente pelo Minis-tério da Saúde com a atribuição do cheque dentista à população acima dos 65 anos. Oproblema é que a nossa população sénior só vai ao dentista quando lhe dói algum denteou quando estão mesmo a precisar. Por isso, penso que todo o esforço que se faça emtermos de divulgação é bem-vindo. Não nos podemos esquecer que é uma faixa etáriada população bastante carenciada por causa do seu percurso de vida, muitas vezes perdeugrande parte dos seus dentes há muitos anos, como era prática corrente na altura, qual-quer dente que doía era extraído. Muitas vezes as próteses que usam são próteses antigase desadaptadas, e a impossibilidade monetária, para recorrer às consultas impedem asidas ao dentista. É importante continuar a divulgar e a informar a população sénior da evo-lução que a medicina dentária teve nos últimos anos.

Miguel TalhasAcho que a maior parte dos programas que existem actualmente para promoção da saúdeoral, abrangem as faixas etárias mais baixas do que propriamente os idosos. Por isso de-veria haver maior divulgação nos Centros de Dia, nos Lares da Terceira Idade, nos próprioscentros UDE, onde existem higienistas orais, cuja função é também informar os idosossobre os cuidados que devem ter na prevenção.

Ludmila Martins Num futuro próximo vai haver um investimento na medicina dentária “em equipas mó-veis” e pequenos kits dentários que são usados para efectuar certos tratamentos ao do-micílio, facilitando e permitindo deste modo o tratamento às pessoas com dificuldades emse descolar. É claro que isto acarreta custos bastantes elevados, e o mais provável é quea população mais carenciada não poderá usufruir deste novo serviço. Não sei se o Estadopoderá apoiar ou não este projecto.

Isso quer dizer que a Medicina Dentária ainda continua bastante afastada de grandeparte da população sénior.

Miguel TalhasSim. Estamos a falar de reformados com valores de pensões muito baixos, que não podempagar uma consulta no privado e em termos do Sistema Nacional de Saúde são muitopoucos os centros onde existem dentistas.

Vamos falar sobre os problemas que ocorrem com a idade e que surgem aqui quo-tidianamente no Centro Clínico.

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Ludmila MartinsÉ importante ter a noção que a digestão é um processo bastante complexo, que começana saliva e também com a utilização de peças dentárias, ou seja dentes capazes de mas-tigar, capazes de triturar os alimentos, permitindo, deste modo que as enzimas possamactuar, formando o bolo alimentar que será, posteriormente, digerido e absorvido no res-tante tubo digestivo. Portanto quando este primeiro passo falha no processo de digestão,tudo resto pode funcionar mas nunca de uma maneira eficaz. É importante chamar a aten-ção da população sénior que a falta de dentes se repercute não só na parte estética e fo-nética, como também na parte da mastigação e da digestão e que essa falta pode trazerconsequências graves. Por isso os dentes que faltam devem ser substituídos e os que nãoestão em condições devem ser tratados. Estamos a falar de uma população que antiga-mente não tinha acesso a especialidades médicas. A realidade hoje não é a mesma, masa população sénior é muito mais resistente à informação e às mudanças, do que a popu-lação jovem, em geral.

Miguel TalhasO grande problema com os seniores é o edentulismo, ou seja a perda da dentição, quemuitas vezes não é compensada com próteses e que depois acarreta problemas graves;mastigação mal feita, má digestão, patologias gástricas. Outro dos problemas é a xeros-tomia que é perda da saliva, em grande parte devido à medicação que tomam, antide-pressivos e anti-hipertensores; e a diminuição da produção de saliva, como consequênciade doenças auto-imunes. Havendo menos saliva, os dentes ficam mais facilmente cariadose daí advêm as doenças periodontais que afectam as gengivas e provocam um aumentodo desgaste dos dentes, problemas da articulação, limitação na abertura da boca. No fundotudo isto funciona em cadeia, mas o principal problema é a falta de dentes. Muitos idosostêm próteses muito antigas e mal adaptadas e por isso têm muita dificuldade em usá-las.

O que se deve fazer para evitar muitos destes problemas?

Ludmila MartinsA prevenção é o mais importante. As consultas deveriam ter alguma regularidade. O idealé de 6 em 6 meses ou uma consulta anual. Nesta consulta anual é preciso actuar em 3áreas. Avaliação e preservação dos dentes existentes, tratar a gengiva com limpezas re-gulares para evitar a perda de mais dentes e uma terceira parte muito importante que éa reabilitação com próteses ou a adaptação e ajuste, se possível, das próteses antigas.Muitas pessoas têm próteses feitas há 20 ou 30 anos, que estão completamente desa-daptadas, não só porque houve uma alteração em termos de estrutura óssea, mas tam-bém porque os dentes são em acrílico e com o passar dos anos se foram gastando. Muitosdos idosos têm próteses mal adaptadas que já não cumprem a sua função. Por isso é im-portante chamar a atenção a nossa população sénior que as próteses dentárias têm umaduração média de cerca de 5 a 7 anos, e que ao fim deste tempo devem ser adaptadasou substituídas por novas próteses.

Miguel TalhasPara além disso é importante ter os cuidados normais de higiene dentária, que são a es-covagem dos dentes, pelo menos 2 vezes por dia, usar pastas com flúor e a fita dentária.Quanto às gengivas, é necessário fazer bochechos com elixir para mantermos a saúde daparte envolvente do dente. Não nos podemos esquecer que com o uso de próteses a mu-

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Ludmila Martins

Licenciada pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade deLisboa em 2001. Tem exercido, exclusivamente, prática privada noCentro Clínico da Junta de Freguesia de Benfica, onde acumula tam-bém as funções de Directora Clínica, desde 2005 e em Sintra desde2002, dedicando-se ao exercício de Medicina Dentária "generalista"-todas as áreas, com maior destaque e preferência pela cirurgia/im-plantes e próteses, áreas mais específicas, para as quais tentoucompletar a formação frequentando cursos. Não pratica Ortodôncia(aparelhos) nem periodontologia. Encontra-se neste momento aconcluir o seu 2º curso (de Mestrado integrado) em Medicina, pelaFaculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Dr. Miguel Talhas

Licenciado em Medicina Dentária pelo Instituto Superior de Ciênciasda Saúde - Sul (1995). Medicina Dentária Generalista e especialistaem Ortodôncia. Há 16 anos que exerce ambas as especialidades noCentro Clínico da Junta de Freguesia de Benfica

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cosa onde a prótese assenta está sempre inflamada, por isso é recomendável fazer um bochecho comelixir diariamente, de preferência à noite. No que respeita à alimentação, é aconselhável evitar princi-palmente os açúcares e ter uma alimentação à base de fibras, legumes e frutas.

Ludmila Martins Tal como os dentes as próteses devem ser higienizadas, isto é, devem ser limpas após cada refeição.Outra norma que deve ser observada é retirar as próteses à noite porque fazem compressão, causaminflamação e provocam uma vasoconstrição, assim como, aumentam o risco de cariar/estragar os den-tes, caso ainda estejam presentes. A maioria dos doentes não sabe que deve retirar as próteses antesde irem dormir. Há conselhos e preceitos, pequenos truques, que costumamos dar nas consultas comos doentes idosos ou portadores de próteses que facilitam a higiene, e prolongam a duração das pró-teses assim como a saúde dos dentes presentes.

Miguel TalhasNeste momento existem produtos próprios para limpar as próteses e para desinfectar a cavidade oral.

Há sempre uma certa vergonha em ir ao dentista quando se tem os dentes em mau estado.Existe algum constrangimento da população sénior nesse sentido?

Ludmila MartinsNão. Como lhe disse a grande maioria vem quando está mesmo a precisar, quando estão com dor, ouquando a prótese partiu. Isto não quer dizer que não haja idosos que vêm com alguma regularidade.Aqui no Centro Clínico conseguimos mudar um pouco essa mentalidade. E muitos idosos já começam avir com mais regularidade. É preciso perceber que a regularidade minimiza os problemas. Penso que agrande dificuldade que impede essa regularidade seja a parte monetária. Neste aspecto o Centro Clínicoda Junta de Freguesia de Benfica tem uma vantagem. Pratica preços muito mais baixos que o sectorprivado. Por isso acho que as pessoas podiam recorrer mais ao Centro Clínico.

Miguel TalhasAo longo dos anos tenho conseguido cativar muitas das pessoas idosas para fazer a tal consulta de ro-tina. Algumas realmente conseguem fazê-lo, outras não. E essas sei que não o fazem porque não têmdinheiro. O que noto é que não é a pessoa que não quer vir, mas sim a condicionante monetária que aimpede. Porque a partir do momento em que falamos e explicamos as coisas, os pacientes percebemperfeitamente os cuidados que têm que ter com a sua saúde oral.

Ludmila MartinsÉ importante reforçar, que o atendimento no Centro Clínico não é só para os fregueses de Benfica, qual-quer pessoa pode vir aqui e ser atendida. No Centro Clínico trabalham profissionais credenciados e li-cenciados pelas melhores faculdades do país.

Miguel TalhasTenho pacientes meus que têm amigos que não moram em Benfica e que me perguntam se eles podemvir às minhas consultas. É claro que sim. Por isso é importante informar que não atendemos só pessoasresidentes na Freguesia de Benfica. Este Centro está aberto a toda a gente, independentemente demorar aqui.

A boca é uma parte do nosso corpo que merece especial atenção no processo de envelheci-mento. É através dela que exprimimos os nossos sentimentos de alegria ou de sedução e ondeos dentes têm uma importância fundamental para traduzir esses sentimentos.

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O Teatro SéniorDerrubar os muros dos próprios preconceitos

Através das oficinas de jogos teatrais, a pessoa idosa é capaz de criar peçasteatrais colectivas, tendo como mote as suas memórias e histórias de vida.Além de experimentarem todo o processo de criação teatral, os participan-tes do Grupo de Teatro Sénior 3º Acto, convivem, socializam, aprendem econhecem novas pessoas. Tornam-se agentes culturais, à medida que di-vulgam obras teatrais para a comunidade da qual participam.

Algumas pessoas, à medida que o tempo passa, abandonam os seus sonhos,outras, no entanto, mantém-nos vivos dentro de si, e mesmo que pareça quejá não têm tempo para os realizar, vão à procura da concretização desse sonho. Fazer teatro é um sonho sonhado pelos participantes do Projecto Teatro Sénior,integrado no Programa PEAS (Programa de Envelhecimento Activo e Sau-dável) e promovido pelo gabinete de Acção Social da Junta de Freguesia deBenfica. Para os nossos seniores este desafio é um autêntico despir da timidez e voltara acreditar em si próprios, pondo de lado preconceitos e deitando mãos aotrabalho para realizar uma vontade adormecida.Sendo o teatro uma actividade cultural reactiva que conduz os participantespara a acção, permite desenvolver os níveis de autonomia e ao mesmo tempopromover o sujeito activo perante a passividade. Por isso o objectivo destaoficina é a aprendizagem dos elementos constituintes da representação tea-tral, bem como auxiliar no processo de inserção da pessoa idosa nas activida-des culturais da comunidade, promovendo assim o seu estatuto de pessoaactiva.A improvisação será outro elemento essencial a ser desenvolvido bem comoa análise de textos. Explora-se o movimento do corpo através de exercíciosque visam aumentar a consciência corporal e postural. Desenvolve-se a utili-zação do corpo no espaço, fazendo uso da improvisação e do trabalho criativo,interpretativo e sensorial. A técnica teatral da improvisação permite trabalharsobre as próprias realidades quotidianas contribuindo para a sua transforma-ção.

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Por outro lado pretende-se incentivar osparticipantes a falarem de si e do seumundo, das suas histórias de vida e do seuquotidiano para assim poderem criar osseus próprios textos e peças colectivas, e deste modo apresentar temas rela-cionados com as suas vivências e experiências de vida. Na base de todo o trabalho estará sempre implícito o jogo teatral, esse pro-cesso vivo e em constante mutação, que aguça a inteligência e a imaginaçãodo participante. Actualmente o Grupo de Teatro Sénior 3º Acto é constituído por elementoscom idades que variam entre 55 e 90 anos. Sim, o aluno mais velho tem 90anos e está sempre pronto para criar, participar das acções e incentivar ogrupo.A Vitalidade foi falar com os seniores do 3º Acto para saber o que pensamdesta iniciativa e recolheu algumas opiniões.“Eu acho o teatro admirável.” Diz-nos Arménio Oliveira. “É educativo, é en-tretenimento e no meu caso venho aqui para reviver tempos antigos. Sehouve coisa que sempre adorei foi fazer teatro. Agora como há muitos anosque não faço nada, houve esta oportunidade para reviver esse meu pas-sado.” Para Lídia Varanda já era um sonho antigo, “fazer teatro é um sonho decriança. Nos meus tempos de menininha em vez de brincar com as outrascrianças, já fazia teatrinhos. Entretanto apareceu esta oportunidade e voutentar, para espelhar a alegria que sinto dentro de mim e que gosto de par-tilhar com os outros, e desde que venho para aqui saio com mais alegria emais bem-disposta e em casa sinto-me mais feliz apesar dos problemas dodia-a-dia.”Na escola, enquanto professora Deonilde Antas, também passava para os seuspupilos o gosto pelo teatro, “gosto muito de teatro e já na escola, quandoleccionava, fazia teatro com as crianças. Sempre adorei e ainda hoje adoroe tenho saudades de voltar a fazer teatro. Espero realmente estar à alturado desafio.”Já para Cláudia Trigo o teatro sempre foi uma arte com alguma distanciação,mas agora decidiu que tinha que saber como se faz, “ sempre gostei de verteatro na televisão e ao vivo e estou aqui na perspectiva de aprender esaber mais como é que se faz, e também para saber se gosto de fazer.”Judite Carvalho sempre esteve muito próxima da arte de representar “comosempre trabalhei nas bilheteiras de cinema e de teatro também, principal-mente no Teatro Villaret, sempre estive muito habituada a ver artistas, eisso sempre desapertou em mim a curiosidade de saber como é que seriaestar em cima de um palco. Entretanto participei nas Vidas Reais e no Juiz

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Decide (programas de televisão) e omeu sonho é entrar numa peça de tea-tro.”Lucília Meleiro é uma pessoa dedicada inteiramente às artes e como nuncatinha feito teatro decidiu experimentar, “eu sou escritora e também pintorae sempre fui uma amante de teatro, sempre fui muito ao teatro e comogosto pensei; agora que tenho tempo livre vou experimentar uma arte queainda não experimentei.”Por seu lado Ana Mendes sempre se sentiu atraída pelo teatro, “o teatro éuma arte que eu admiro muito e sei que é muito difícil fazer por isso fiqueicuriosa se seria ou não capaz. E se há outra coisa que gosto de fazer é con-viver por isso vim também pelo convívio. E estar aqui é uma oportunidadede conhecer pessoas, autores e peças de teatro.”Rosa Trigo também veio para saber se tinha aptidões para fazer teatro “euvim por acaso. Sempre gostei de espectáculo, seja teatro, seja dança e pen-sei porque não, estou sem fazer nada portanto vou experimentar.”Para Maria Irene Matos é só uma questão de deitar mãos à obra, “acho fan-tástico o convívio. São pessoas muito interessantes por isso vamos para afrente.”Zulmira Pires já não pensa noutra coisa, “desde que entrei nesta junta de fre-guesia há quase um mês, vivo as horas que aqui estou intensamente e saiodaqui a pensar no teatro, depois do jantar eu escrevo a pensar no teatro,vou para a cama a pensar no teatro, e já não penso em sair daqui.”Cecília Roque que está habituada a fazer apresentações públicas diz-nos como brilho nos olhos, “tenho um enorme prazer em estar aqui. Isto foi sempreum sonho que quis realizar”.Para Maria Jorge também não é a primeira vez que anda nestas lides do palco,“acho um desafio muito interessante e eu adoro desafios. Por isso vamospara a frente. Estou pronta para pisar um palco.”Iwan Themes é o mais experiente nestas andanças “já fiz teatro e querocontinuar a fazer, e acho que aqui tenho essa possibilidade.”No fundo esta iniciativa tem como objectivo principal mostrar que talvez valhaa pena despir os próprios medos e acreditar que, em qualquer idade, apesardas limitações, é sempre possível criar, estar num palco a representar, confra-ternizar, aprender e fazer do sonho uma realidade.Derrubar os muros dos próprios preconceitos e crenças que limitam a vida eimpedem as pessoas de serem activas: eis o verdadeiro desafio e a meta aser alcançada com a Oficina de Teatro Sénior.

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Foi no passado dia 19, Dia do Pai, que a Farmácia do Bairro da Boavista, ou a “Nossa Far-mácia”, como lhe chamam os habitantes do bairro, fez 20 anos de existência. Mais doque um estabelecimento comercial de utilidade pública, a Farmácia da Boavista é tambémum lugar onde a população mais carenciada do bairro pode procurar apoio e ajuda, comonos explicou o Dr. António Melo com quem estivemos a conversar.

Como é que foi instalar uma Farmácia aqui no Bairro da Boavista?Eu trabalhava na altura na Venda Nova, num Laboratório da Indústria Farmacêutica e tra-balhava lá também um rapaz que morava aqui. Foi ele que me trouxe cá, porque eu malconhecia a existência deste bairro.Da nossa conversa salientámos que fazia muita faltaaqui uma farmácia. Eram 4 ou 5 mil habitantes sem um estabelecimento farmacêutico eà noite quase não havia transportes para se deslocarem ao centro de Benfica, onde ficavaa farmácia mais acessível. Eu estava quase a acabar a minha vida profissional na Indústria,tinha quase 40 anos de actividade e já tinha decidido montar uma farmácia. E foi assimque decidi montá-la aqui. Pedi a licença em 1980 e foi-me negada com base em que apopulação não justificava. Claro que eu pensava o contrário. A população justificava e maisque justificava. Apelei para as instâncias superiores. O apelo seguiu e mais uma vez foirejeitado com a justificação de que no Bairro não havia instalações para alojar uma far-mácia. Se era certo não haver instalações condignas, também era exacto que não com-petia à tutela apreciar o facto naquele momento. Só depois, quando a farmácia seapresentasse para abrir, seriam reprovadas ou não as ditas instalações. Por isso insisti evoltei a apelar. Desta vez para o Supremo Tribunal Administrativo, que me deu finalmenterazão. Do Supremo proveio um acórdão, dando-me a possibilidade de montar a farmácia.No alvará está escrito o deferimento do meu pedido: A instalação desta farmácia foi au-torizada por despacho do Secretário de Estado da Administração da Saúde em 20/09/1989 após acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 27/09/1988. Isto quer dizerque esta farmácia foi arrancada a ferros simplesmente porque as autoridades da épocaachavam que esta população não merecia ter uma farmácia. Quando veio a autorizaçãopara abrir, eu fiquei com um menino nos braços porque não tinha local para a instalar, anão ser umas velhas barracas. Claro que já tinha previsto montar aqui um pré-fabricadocom ar condicionado e outros requintes. Mas para isso tinha que ter autorização. Tudo istocoincidiu com a altura em que o Sr. Fernando Saraiva foi eleito Presidente da Junta de Fre-guesia de Benfica. Eu fui ter com ele .Muito interessado em dotar o Bairro de tão desejadobenefício, prometeu-me que ia procurar resolver o assunto. Na Câmara Municipal de Lis-boa falou com o Dr. Jorge Sampaio, que era o Presidente da Câmara na altura, trouxe-melogo uma autorização por escrito e indicou-me um lugar onde eu poderia colocar o pré-

Farmácia da Boavista20 Anos ao serviço da População do Bairro

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fabricado. Entretanto o tempo passou e só 1991 é que finalmente consegui abrir a farmá-cia. Ainda esperei uns dias, porque queria inaugurá-la num dia especial e abri no dia 19de Março, que é o Dia do Pai. Então anualmente lembro-me sempre do aniversário da far-mácia.

Como é que têm sido estes 20 anos, nomeadamente o relacionamento com a po-pulação?Nunca tive dificuldades nenhumas aqui no Bairro. Fui sempre muito bem recebido. Nuncative qualquer problema, um assalto ou atitudes menos próprias aqui dentro e nunca tivede me queixar do comportamento dos moradores. Também acho que a carência da far-mácia era tão grande que as pessoas começaram a chamar, não a farmácia da Boavistamas a “Nossa Farmácia”. Ou seja este estabelecimento faz parte do Bairro, foi assimilado.A farmácia é deles, é da população e eu faço os possíveis para que as pessoas sintam queestamos aqui com o objectivo de as servir. Procuro não só que elas sintam isso como fo-mento esse princípio. De há dois anos a esta parte tenho feito aqui mensalmente, umaacção de saúde dirigida para a população. Na passada 2ª feira dia 28 houve uma acçãosobre oftalmologia. Um profissional credenciado fez um rastreio de oftalmologia. Fui falarcom várias ópticas de Benfica para me concederem condições especiais que eu pudesseoferecer às pessoas aqui do Bairro. A ideia era enviar as pessoas mais necessitadas aosestabelecimentos onde estabeleci os acordos e onde podiam usufruir das tais condiçõesespeciais. E assim foi. Deste modo as pessoas puderam comprar óculos com 30% de des-conto ou só as lentes 50% de desconto. Isto é não só uma forma de fazer o rastreio mastambém de ajudar as pessoas economicamente. A próxima acção para a saúde será nodia 27 de Abril, em que haverá um rastreio de Osteoporose.

Como é que é fazer 20 anos de actividade aqui no Bairro da Boavista? Valeu a pena?Nem dei conta que passaram 20 anos. O tempo corre depressa e quando fazemos algumacoisa com gosto, corre ainda mais depressa. Quando penso que estou aqui há 20 anos atéme parece impossível. Tenho criado amizades com muita gente, por isso sinto-me bemaqui. Sinto que faço parte do clã do Bairro da Boavista. Mas para além de tudo isso, de seruma farmácia que está bem implantada no seio da população, tem para mim muitas liga-ções afectivas. Não sei se sabe que os patronos da farmácia e da medicina, e tambémdos barbeiros, são S. Cosme e S. Damião. Dois santos que viveram no século II DC, no pri-mitivo cristianismo. Eram árabes e ambos exerciam as chamadas artes de curar. Não sepraticava nem medicina nem farmácia, havia as artes de curar onde as duas vertentes semisturavam. Como eram irmãos gémeos, e andavam sempre juntos, foram eles de certomodo quem separarou a farmácia da medicina, tornando-as duas áreas distintas que secompletam. Enquanto um via os doentes o outro preparava as mezinhas. Portanto umseria o médico e o outro o farmacêutico. Qual dos dois era o quê, não se sabe ao certo.Talvez se revezassem nas duas vertentes. Ora acontece que eu tenho uma quinta, queera dos meus avós, que é a Quinta de São Cosme, na Serra da Estrela. Na capela da quinta,que é um monumento nacional do séc. XIV e tem bastante história, existem três imagensprincipais, São Cosme, São Damião e São Silvestre. Fotografei o São Cosme e o São Damião.Quando montei a farmácia nova, estas instalações onde estou agora, pedi a uma raparigaque é filha do chefe do pessoal da limpeza aqui do bairro, a Maria João Duarte, que pintavaazulejos, para me fazer dois painéis em azulejo, um com São Cosme e outro com São Da-mião. No dia da inauguração da nova farmácia, cá estavam eles para receber as pessoas.

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