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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA VITÓRIA RAQUELLINE DA SILVA MONITORIA E BANDA DE MÚSICA: um estudo de caso da monitoria no naipe de clarinete da Banda de Música da cidade de Cruzeta - RN. NATAL/RN 2013

VITÓRIA RAQUELLINE DA SILVA ·  · 2015-06-20... o que foi fundamental para o ... Aos meus amigos que se dispuseram a me ajudar nessa reta final de curso: Rafaella ... onde tive

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA

VITÓRIA RAQUELLINE DA SILVA

MONITORIA E BANDA DE MÚSICA:

um estudo de caso da monitoria no naipe de clarinete da Banda de Música da cidade de

Cruzeta - RN.

NATAL/RN

2013

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VITÓRIA RAQUELLINE DA SILVA

MONITORIA E BANDA DE MÚSICA:

um estudo de caso da monitoria no naipe de clarinete da Banda de Música da cidade de

Cruzeta - RN.

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura da

Escola de Música da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção

do título de Licenciada em Música.

Orientadora: Prof.ª MSc. Catarina Shin Lima de Souza.

NATAL/RN

2013

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VITÓRIA RAQUELLINE DA SILVA

MONITORIA E BANDA DE MÚSICA:

um estudo de caso da monitoria no naipe de clarinete da Banda de Música da cidade de

Cruzeta - RN.

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura da

Escola de Música da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção

do título de Licenciada em Música.

Aprovada em ______/______/2013.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

PROFa. MSC. CATARINA SHIN LIMA DE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

(ORIENTADORA)

___________________________________________________________

PROF. MSC. RONALDO FERREIRA DE LIMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

(1º EXAMINADOR)

___________________________________________________________

PROF. Dr. RANILSON BEZERRA FARIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

(2º EXAMINADOR)

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Dedico esta monografia a minha mãe Luzia Maria da Silva (in memoriam), a grande

responsável por tudo que sou hoje e por eu não ter desistido dos meus sonhos, o que foi

fundamental para o meu crescimento acadêmico; e ao meu esposo Clébio Pedro Lima, que

sempre esteve ao meu lado nas horas difíceis.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida.

À minha orientadora Catarina Shin, meus sinceros agradecimentos pela sua dedicação

e paciência nessa caminhada.

Aos meus pais, (in memoriam) Luzia Maria da Silva e Pedro Gomes da Silva, por tudo

que sou hoje.

Às minhas irmãs, pelo incentivo e apoio nessa caminhada acadêmica.

Ao meu esposo, amigo, companheiro de todas as horas e principalmente nas mais

difíceis, meu muito obrigada.

A todos os atuais e ex-componentes da Banda de Música de Cruzeta.

Ao maestro Humberto Carlos Dantas pela oportunidade de ser monitora da Bandinha

de Flauta Doce e do naipe de Clarinete.

A todos os meus alunos e ex-alunos de Clarinete por me ensinarem a melhor ensinar.

Aos meus amigos que se dispuseram a me ajudar nessa reta final de curso: Rafaella

Cristina, Fernanda Santos, Paula Francinente, Marilene Guedes.

Aos professores e funcionários da escola de música e, em especial a Audinêz Barreto

pela sua dedicação na orientação referente à normalização deste trabalho.

À equipe da biblioteca da escola de música, em especial a Elizabeth Kanzaki pelo

carinho.

Aos colegas e amigos que fiz nessa caminhada acadêmica e à turma do curso de

Licenciatura Plena em Música 2010.1.

À minha grande amiga Aline Regina pelo exemplo de garra e por ser uma mulher

guerreira e iluminada.

A todos meus sinceros agradecimentos.

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“Assim, caminho e descaminho se alternam numa

ação complementar e antagônica para permitir, na

emergência da ação humana, o surgimento de um

novo contexto no qual seja possível mudar, fazer

diferente”.

Ronaldo Ferreira de Lima

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RESUMO

O presente trabalho baseia-se na importância da utilização do monitor para a Banda de

Música do município de Cruzeta (RN), traçando um breve histórico da legislação brasileira –

Lei 5.540/68 que trata da Reforma Universitária. A escolha dessa Banda de Música deve-se

ao fato dela ser pioneira em lidar com esse novo modelo de ensino tendo como objetivo

principal dar oportunidade aos jovens estudantes através da atuação/formação como monitor.

Traz relatos e experiências de músicos por ela formados bem como do próprio regente da

Banda de Música, Maestro Humberto Carlos Dantas (Bembém) que percebeu a necessidade

do monitor para o desenvolvimento técnico dos instrumentistas da escola de música de

Cruzeta/RN. Busca-se compreender o papel do monitor para o desenvolvimento dos músicos

da referida Banda de Música e sua importância no processo de ensino-aprendizagem dos

próprios alunos monitores. Para a realização desse trabalho, foram realizadas entrevistas

semiestruturadas com componentes da Banda (professores, monitores, ex-monitores e, ainda,

a madrinha da Banda professora Margareth Keller), pesquisa bibliográfica, leitura e análise

de imagens fotográficas. Traz um recorte de outra banda de música que seguiu o modelo de

monitoria adotado pela Banda de Música de Cruzeta para ilustrar a importância do monitor

para o desenvolvimento musical dos integrantes.

Palavras-chave: Banda de Música. Monitoria. Clarinete.

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ABSTRACT

This work is based on the importance of monitor for the Music Band of the

municipality of Cruzeta (RN), outlining a brief history of brazilian legislation - Law 5.540/68

which deals with the University Reform. The choice of this Music Band due to the fact that

she is a pioneer in dealing with this new teaching model having as main objective to give

opportunity to young students through acting/training as a monitor. Brings stories and

experiences of musicians formed by its own Band and the story of its conductor, Maestro

Humberto Carlos Dantas (Bembém) who realized the need of the monitor for the technical

development of the music school instrumentalists. This paper seeks to understand the role of

the monitor for the development of the musicians of the Band and its importance in the

teaching-learning process of the own students monitors. To conduct this work, semi-

structured interviews with the band members (teachers, instructors, ex-monitors and also the

godmother Band teacher Margaret Keller), literature, reading and analysis of images were

performed. Brings a cutting from another music band that followed the monitoring model

adopted by the Cruzeta´s Music Band to illustrate the importance of the monitor to the

musical development of its members

Keywords : Music Band . Monitoring. Clarinet.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto 1 - Banda de Música de Cruzeta.......................................................................................... 14

Foto 2 - Aula de clarinete em grupo da Banda de Música de Cruzeta........................................ 27

Foto 3 - Apresentação da despedida de Margaret Keller .......................................................... 30

Foto 4 – Residência da aluna-monitora............................................................................ 31

Foto 5 - Residência da aluna-monitora............................................................................ 31

Foto 6 - Encerramento do ano de 2007............................................................................ 32

Foto 7 – Festa da Padroeira de Cruzeta – RN................................................................. 34

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LISTA DE SIGLAS

AJAC - Associação de Jovens Ação e Cidadania

AMUSIC - Associação Musical e Cultural do Rio Grande do Norte

EMUFRN – Escola de música de Universidade Federal do Rio Grande do Norte

MINC - Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura

PDS- Programa Desenvolvimento Solidário

PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

TVU - TV Universitária

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11

1 HISTÓRICO DA BANDA DE MÚSICA FILARMÔNICA 24 DE OUTUBRO.. 13

2 A MONITORIA.......................................................................................................... 17

2.1 A MONITORIA NA BANDA DE MÚSICA DE CRUZETA – RN........................ 18

2.2 A MONITORIA NA BANDA FILARMÔNICA SÃO TOMÉ – RN....................... 21

3 A MONITORIA NO NAIPE DE CLARINETE...................................................... 24

3.1 A EXPERIÊNCIA DA AUTORA COMO MONITORA......................................... 25

4 ENTREVISTAS COM EX-MONITORES DE CLARINETE............................... 32

4.1 ENTREVISTA COM OS ALUNOS CLARINETISTAS......................................... 34

5 A TRAJETÓRIA DE MARGARET KELLER NA BANDA DE MÚSICA DE

CRUZETA – RN............................................................................................................

38

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 40

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 42

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INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho pretende-se fazer um estudo sobre a importância do monitor

no ensino de música desenvolvido na Escola de Música da cidade de Cruzeta - RN,

observando suas contribuições na escola e como esse monitor lida com os componentes dessa

instituição que é referência no Estado.

O motivo que me levou a desenvolver a pesquisa partiu de reflexões sobre as minhas

próprias experiências, tanto como aluna como também monitora. Iniciei meus estudos na

Banda de Música de Cruzeta - RN aos 12 anos de idade, onde tive oportunidade de fazer

várias amizades e que se tornou ponto principal para minha futura caminhada à docência. Lá,

passei por várias etapas na Escola de Música de Cruzeta - RN: aulas de teoria musical, depois

na Bandinha de Flauta Doce Professora Margaret Keller, alcançando conhecimentos e

desenvolvimento técnico em três flautas: soprano, contralto e tenor. Foi através da bandinha

de flauta doce que tive os primeiros contatos com a docência como convidada e

constantemente incentivada pelo maestro Humberto Carlos Dantas (mais comumente

conhecido como Bembém). Aos poucos fui descobrindo a vontade de ser educadora musical

ao passar quatro anos à frente da bandinha de flauta. Mas foi apenas a partir do ensino de

clarinete da Banda de Música que redescobri o amor pela docência.

Aos poucos fui descobrindo que os monitores têm a grande responsabilidade na

formação de novos musicistas da Banda de Música auxiliando no avanço técnico de seus

integrantes. A experiência de monitoria destaca-se como significativa diante da possibilidade

de que novas oportunidades são abertas: permite uma prática e avaliação dos conhecimentos

adquiridos na trajetória enquanto estudante da banda, o aprendizado em relação à liderança de

grupos e principalmente pela compreensão das necessidades dos aprendizes e também pela

oportunidade de se capacitarem para o mercado de trabalho.

Diante do exposto, nos questionamos se essa experiência e essa crença da importância

do papel do monitor para o desenvolvimento musical dos integrantes da banda de música de

Cruzeta RN era uma impressão individual ou realmente outros músicos de banda também

acreditavam nisso.

Para a realização desse trabalho, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com

componentes da Banda (professores, monitores, ex-monitores e, ainda, com a professora

Margareth Keller considerada por todos os integrantes como a madrinha da Banda),

pesquisa bibliográfica, leitura e análise de imagens fotográficas, tentando identificar a

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importância do monitor tanto para a banda de música de Cruzeta RN, seus músicos como para

o próprio monitor.

O primeiro capítulo situa o leitor no contexto do objeto da pesquisa traçando um breve

histórico da Banda de Música de Cruzeta - RN. O segundo capítulo aborda sobre a figura do

monitor, a legislação específica que trata sobre o assunto, a Lei 5.540/68 da Reforma

Universitária. (BRASIL, 1968). Trata ainda sobre a monitoria na Banda de Música de Cruzeta

RN e sua importância para a região tornando-se modelo para outras bandas de música como o

caso da Banda Filarmônica São Tomé - RN apresentada também no capítulo 2 a título de

demonstração. O terceiro capítulo traz as experiências de ex-monitores da Escola de Música

demonstrando suas experiências e conquistas, bem como a visão do maestro Bembém sobre a

importância desse monitor para o desenvolvimento do repertório e dos instrumentistas da

Banda de Música. O quarto traz relatos de ex-monitores da banda de Música de Cruzeta RN e

alunos do naipe de clarinete no qual falam da importância do monitor na vida deles. O quinto

relata a trajetória da professora Suíça Margaret Keller e sua importância para a Banda de

Música de Cruzeta RN.

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1- HISTÓRICO DA BANDA DE MÚSICA FILARMÔNICA 24 DE OUTUBRO

A Filarmônica 24 de Outubro mostra-se como uma Banda importante para a região

do Seridó Norte-Rio-Grandense. No ano de 1984 se inicia a trajetória musical no município,

com a criação da Banda de Música, sob a regência do maestro Ubaldo Medeiros e com o

patrocínio da prefeitura municipal da cidade. O maestro Ubaldo, que veio da cidade de Ouro

Branco - RN, passou a ministrar aulas de música e implantou a Banda em Cruzeta. Teve a

indicação do padre Ernesto da Silva Espínola, vigário da cidade na época, considerado como

sendo o principal idealizador do projeto da fundação da banda, e a partir do pedido do prefeito

Manoel Maurício de Medeiros (Medeirinho) que ajudou na aquisição dos instrumentos a

banda de música pôde começar. Foi fundada então, no início do ano de 1985, a Escola de

Música de Cruzeta - RN onde o maestro Ubaldo Medeiros criou a primeira turma de iniciação

musical, dando aulas de teoria e solfejo. A primeira apresentação da Banda foi em 1986 no

mês de outubro por ocasião da comemoração da festa da padroeira Nossa Senhora dos

Remédios. Recebeu o nome de Filarmônica 24 de Outubro em homenagem à data da fundação

da cidade de Cruzeta.

A Filarmônica participou em 1987 do II Concurso realizado na cidade de Carnaúba

dos Dantas - RN, concorrendo com Bandas tradicionais da região do Seridó e Bandas da

Paraíba e ganhou o segundo lugar. Após o concurso, a Filarmônica 24 de Outubro começou a

fazer apresentações na cidade como festas e comemorações, eventos religiosos entre outros.

No mês de Agosto de 1988, o músico Humberto Carlos Dantas, conhecido por Bembém,

assumiu a Banda por indicação do maestro Ubaldo Medeiros. Neste mesmo ano, em Outubro,

o maestro Bembém levou a Banda a conquistar o primeiro lugar no concurso de Bandas de

Música da cidade de Carnaúba dos Dantas - RN e no concurso realizado na cidade de

Parelhas, em janeiro de 1989.

Lima (2006, p. 77) afirma que:

Na Filarmônica 24 de Outubro, os espaços de formação perdem a

delimitação espacial da escola formal, ou seja, ultrapassa a geografia da sala

de aula. Destaca-se nos aprendizes a espontaneidade no modo como se vestem para estudar música: roupa informal, sem camisa ou pés descalços,

denotando ser também a banda uma extensão do ambiente familiar.

Como Lima (2006) fala na Escola de Música de Cruzeta - RN muitos dos alunos são

de famílias humildes e oriundas das zonas rurais do município, esses alunos buscam

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mudanças na sua história de vida por meio da música, com a perspectiva de se conseguir um

emprego para ajudar seus familiares.

A Filarmônica começou apresentar-se em várias cidades do Rio Grande do Norte.

Após passar por momentos difíceis chegou à escola de música de Cruzeta a professora suíça

Margaret Keller que conheceu a Banda de Cruzeta - RN, na época sob a regência do maestro

Ubaldo Medeiros. Foi ela que criou a primeira turma de iniciação e musicalização, com cerca

de 80 crianças, que culminou com a criação da Bandinha de Flauta Doce Professora Margaret

Keller, com o objetivo de incluir crianças e jovens na aprendizagem da música e através de

repertório local, ou seja, também com o objetivo de resgatar a música folclórica brasileira.

De acordo com Silva (2011, p. 22): “A Instituição de Cruzeta tem uma trajetória de

ensino não só voltada para a música, mas também para a construção de pessoas capazes de

inserir-se socialmente e politicamente ao meio”. Em um período de mais de vinte anos, passaram

pela Bandinha de Flauta 1.000 crianças e adolescentes, sendo estes alunos oriundos da zona rural e

urbana da cidade. Muitos conseguiram lugar na Banda de Cruzeta. Foram, através desse processo, se

capacitando tecnicamente, trabalhando a percepção, a leitura, a prática de grupo conseguindo assim,

um nível de aperfeiçoamento capaz de alcançar o mercado de trabalho e serem reconhecidos como

músicos profissionais. Muitos tiveram formações complementadas nos cursos Técnicos, Bacharelado,

Licenciatura e Especialização em Música na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (EMUFRN).

Foto 1 - Banda de Música de Cruzeta

Fonte: Dantas (2013a).

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A Escola de música de Cruzeta é mantida pela Associação Musical e Cultural do Rio

Grande do Norte (AMUSIC), que é formada por membros da própria banda de música e da

comunidade local e recebe recursos oriundos da Suíça através da professora Margaret Keller.

A banda é mantida com recursos provindos da Prefeitura Municipal de Cruzeta (onde 0,04%

da verba cultural da cidade são destinadas à AMUSIC) bem como do apoio financeiro

oriundos da Suíça através da professora Margareth Keller que a cada dois anos visita Cruzeta

- RN e sua Banda. As verbas se destinam ao investimento na formação dos músicos, na

aquisição de materiais e na manutenção dos instrumentos. Para os músicos é proporcionado

um auxílio financeiro na locomoção deles para a capital do estado, podendo assim ter a

oportunidade de estudarem nos cursos Técnico, Bacharelado e Licenciatura em Música na

UFRN. Além do incentivo de qualificação nos cursos de música, outros cursos contemplam o

interesse dos componentes, como enfermagem e pedagogia.

A sede da Escola de Música de Cruzeta situa-se à Rua Dr. José Augusto Bezerra de

Medeiros, S/N, no Centro da cidade de Cruzeta – RN. É um estabelecimento de porte médio,

com capacidade para 750 pessoas. Atualmente atende um total de 130 alunos distribuídos

entre crianças e adolescentes em turmas de musicalização, Banda de Flauta Doce, Banda de

Pífano, Banda Filarmônica, Orquestra carnavalesca, grupos de câmara: quintetos, quartetos,

grupos de clarineta, grupos de metais, entre outros.

A Escola de Música de Cruzeta tem como finalidade o desenvolvimento integral de

crianças e jovens nos aspectos musicais, intelectuais, emocionais, culturais e principalmente

sociais. Funciona com uma capacidade patrimonial própria, pertencendo à Associação

Musical e Cultural do Rio Grande do Norte.

Segundo Lima (2006, p. 78-79):

Os fatos motivadores e os atores que protagonizaram a criação da Banda de

Cruzeta dão luz e trazem novas perspectivas para uma comunidade carente

socialmente, que encontrou no fazer musical a oportunidade de incluir pessoas num projeto relacionado à música. Além de criar o ambiente

propício para a prática social através da música, parece estar acenando à

possibilidade da realização do sonho pela profissionalização.

A Filarmônica 24 de Outubro tem vinte e cinco anos de existência e, ao longo dos

anos, tem se apresentado em vários eventos culturais tanto no estado do Rio Grande do Norte

como em outros. Uma das principais apresentações foi no evento realizado no Centro de

Convenções da cidade de Salvador - BA, no qual se apresentou para o ex-presidente da

República Luiz Inácio Lula da Silva (Lula). Tem como produções gravações de 07 CDs e um

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documentário sob o título “Uma Cidade Musical” produzido pela TV Universitária (TVU-

Natal - RN) e dirigido por Rosália Figueiredo. Esse documentário foi vencedor do 7º Festival

do Vídeo Potiguar como melhor filme.

A Banda de Cruzeta - RN também tem sido tema de pesquisa em diversos trabalhos

de conclusão de curso dentre os quais se destaca a dissertação de mestrado do professor

Mestre Ronaldo Ferreira de Lima com o título Bandas de Música Escolas de Vida. A Escola

de Música de Cruzeta foi reconhecida no ano de 2009 como Ponto de Cultura pelo Ministério

da Cultura (MINC). A Banda de Cruzeta levou para o mercado de trabalho musical vários de

seus alunos e integrantes. Muitos deles atualmente ocupam lugares importantes em várias

partes do país e até no exterior como instrumentistas, professores, regentes, compositores,

produtores musicais e gestores culturais.

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2- A MONITORIA

De acordo com o Dicionário Aurélio (1999, p. 1359), o verbete Monitor vem da

palavra em latim monitore, que significa “aquele que dá conselhos, lições, que admoesta.

Aluno que auxilia o professor no ensino de uma matéria, em geral na aplicação de exercícios,

na elucidação de dúvidas, etc., fora das aulas regulares; [...]”.

A palavra monitor em alguns lugares e instituições tem o significado de inspetor, no

qual esse profissional torna-se mais atuante na área educacional. Ele caminha por toda a

escola conhece os alunos, seus nomes, seus familiares, pois está lidando diretamente com os

alunos. Devido a esse contato direto torna-se o primeiro a ser chamado para solucionar os

problemas que necessitam ser resolvidos rapidamente. Em muitos casos esse monitor não é

valorizado nas instituições que trabalha, pois alguns gestores entendem que essa função de

monitor é apenas para controlar os alunos em lugares coletivos.

Os monitores mostram-se como educadores e é necessário que as equipes de gestores

realizem ações para que os mesmos possam interagir melhor com toda a equipe escolar.

Tendo uma boa formação e vontade de aprender coisas novas o monitor poderá ser um grande

aliado nas atividades propostas pelas instituições e escolas. Esses monitores são capazes de

ajudar a trazer novas informações para o dia-a-dia.

Portanto, esses profissionais necessitam conhecer o projeto político pedagógico,

participar das reuniões de planejamento, ter acesso às decisões da equipe, ter encontros com a

equipe gestora, pois assim criará um elo entre ele e o corpo docente e adquirirá confiança para

tirar dúvidas e expor suas ideias.

Didaticamente falando, a atividade de monitoria exige um processo de reflexão crítica

sobre a aprendizagem que estabeleça relações com o contexto e com as condições dos atores

envolvidos, como os monitores e alunos.

Freire (2005, p. 26) afirma que:

Faz parte das condições em que no aprender criticamente é possível a

pressuposição por parte dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos saberes e que estes não

podem a eles ser simplesmente transferidos. Pelo contrário, nas condições de

verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado, ao lado do

educador, igualmente sujeito do processo.

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Nas Instituições Brasileiras como faculdades a monitoria tem um papel que é

conferido pela legislação brasileira – Lei 5.540/68 da Reforma Universitária: preparando o

aluno para a docência, aprofundando seus conhecimentos, capacitar e assim melhorar a nossa

qualidade de ensino. A legislação pressupõe que os monitores tenham orientação de

qualidade. “Os discentes da educação superior poderão ser aproveitados em tarefas de ensino

e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu

rendimento e seu plano de estudo”. (BRASIL, 1996, Art. 84).

Na minha caminhada acadêmica tenho percebido o monitor como um aluno que está

na graduação e uma das suas funções é auxiliar o professor nas aulas e orientar os alunos que

estejam com dificuldades na disciplina estudada. Esse monitor também pode atuar em outras

disciplinas desde que já tenha conhecimento e ter cursado as mesmas em períodos anteriores,

e é avaliado sua capacidade na disciplina seu desenvolver nas atividades a serem executadas

pelo professor.

Na Escola de Música de Cruzeta o monitor também exerce uma função importante,

pois ele é o responsável por dar aulas semanais para um grupo de aluno, que são separados

por naipes. Cada naipe de instrumento tem o seu monitor.

A monitoria na Banda de Cruzeta - RN é responsável pela aproximação dos alunos da

banda de música e é referência para os novatos que estão entrando na escola de música, e essa

função do monitor é especifica em um instrumento e eficaz no trabalho realizado que antes

era desconhecida, exigindo um bom desempenho, aperfeiçoamento e qualificação do monitor.

Sendo assim, constitui-se em um dos grandes estímulos ao aprendizado do monitor no que diz

respeito à iniciação à docência e revela-se como uma estratégia para a melhoria da qualidade

de ensino.

2.1-A MONITORIA NA BANDA DE MÚSICA DE CRUZETA - RN

De acordo com o maestro Bembém, quando assumiu a direção da banda de Cruzeta,

ela tinha apenas 18 componentes, sendo 14 sopros e 4 de percussão.

Ao perguntar como surgiu a monitoria na Escola de Música de Cruzeta, o maestro

Bembém descreveu da seguinte forma:

Com a visão de fundar uma escola de música fazendo proveito da

metodologia do ensino da música aplicado ao desenvolvimento das bandas,

desde suas origens na região do Seridó, nos deparamos com a necessidade de uma performance técnica mais apurada bem como de dar ao aluno um

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embasamento teórico mais eficiente o suficiente para que ele, no dia a dia da

prática na banda, pudesse ter uma participação mais efetiva, com capacidade

de resolver as deficiências constantes nas bandas até então, como: leitura, articulação, afinação, etc. Nesse contexto não poderíamos nos esquecer do

fortalecimento, ampliação ou implantação dos naipes, bem como o

repertório, sempre de grau de dificuldades baixo, enfatizando poucos

gêneros musicais, predominantemente dobrados, valsas e marchas de procissão. Enfim, a nossa banda hoje tem uma formação de nove naipes e

agrupa cerca de 90 músicos e musicistas, todos tendo boa parte de seus

conhecimentos, adquiridos com a ajuda de um monitor (a). Nesse contexto, começamos a colocar em prática nossas ideias e o trabalho do mestre de

banda, que até então se limitava ao curso básico de teoria musical, o ensino

de digitação e embocadura no instrumento e ensaios, agregou elementos de

trabalho novos, que além de sobrecarregá-lo, ainda exigia dele próprio uma melhor capacitação, de maneira que surgiu a necessidade prática de se ter

mais mão de obra para absorver o trabalho. Surgem assim os monitores de

bandas, que na maioria faz parte da banda e se destaca pelo seu interesse, responsabilidade e musicalidade diferenciada e cursa música regularmente,

buscando qualificação acadêmica. (informação verbal)1

Sobre a ideia de incluir a monitoria na banda de música, o maestro fala que:

A ideia veio com a necessidade e o entendimento que seria impossível

conseguirmos os resultados planejados e esperados sem o mínimo de

estrutura técnica. A primeira solução foi preparar os alunos para que eles conseguissem nível técnico e teórico para se capacitarem e se qualificarem

nos cursos oferecidos pelas escolas de música estadual ou federal existentes

no RN, bem como promover ou possibilitar suas participações em eventos musicais de formação, como: Seminários, festivais, master classes,

workshop etc. Sendo assim, traziam os conhecimentos que se multiplicavam

na escola e na banda, de forma que, de acordo com suas aptidões e necessidades da escola, assumiam paulatinamente a condição de monitor e

professor, sendo que estes faziam jus a uma bolsa de apoio logístico que

possibilitava seu deslocamento para seus cursos e retorno a Cruzeta, onde

além de transmitirem os conhecimentos adquiridos, participavam também da banda. (informação verbal)

2

O maestro Bembém enfatiza que a presença do monitor na banda de música hoje é

fundamental, pois leva em conta o avanço técnico musical que caracterizam as bandas. Para o

monitor há uma oportunidade significativa, na qual ele pratica os seus conhecimentos

adquiridos, possibilitando: “[...] liderar, compreender as suas necessidades de

aprofundamento, bem como se capacitarem para o mercado de trabalho, de forma que a sua

1Informação verbal fornecida à pesquisadora por Bembém, durante entrevista em sua residência, em

novembro de 2013. 2Informação verbal fornecida à pesquisadora por Bembém, durante entrevista em sua residência, em

novembro de 2013.

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participação eleva o nível e dinamiza o ensino teórico e prático da música em geral realizado

nas escolas das bandas”. (informação verbal)3

Quando perguntado sobre o envolvimento dos monitores no projeto social da banda

de música, o maestro relata o seguinte:

O trabalho dos monitores no nosso entender tem aspectos sociais

contundentes, dado que o “cargo” de monitor também significa uma promoção sociocultural do aluno que tem como finalidade contribuir para o

crescimento de outros futuros músicos do projeto. A manutenção de uma

banda hoje para setores de governo e sociedade tem importância nos aspectos sociais mais destacadas do que mesmo no âmbito cultural e

artístico, já que o entendimento e a comprovação de que o ensino e a prática

da música na formação socioeducativa da sociedade gera cidadania. De

maneira que o monitor sabe e é fruto que o trabalho técnico e artístico que ele faz, tem ressonância nos aspectos sociais, de maneira que se constata que

o envolvimento do monitor é por ele mesmo reconhecido neste aspecto.

(informação verbal)4

Como afirma Bembém, a função do monitor é vista hoje na Banda de Música como

algo muito importante a cada dia, quando diz que:

[...] suas funções são específica e, ao mesmo tempo, eficazes, já que a

globalização e a internet, ao mesmo tempo em que massifica o

conhecimento. Aproxima os alunos e a banda de música, traz referências musicais antes desconhecidas, exigindo a busca constante de

aperfeiçoamento e qualificação, sendo essa demanda suprida pela figura do

monitor. Assim, os monitores seriam atualmente peças indispensáveis em qualquer projeto de Bandas Filarmônicas que quer seguir o modelo adotado

e aprovado em Cruzeta desde meados dos anos 90 do século passado, tendo

esta Banda conquistado resultados invejáveis e que hoje é símbolo e modelo

para o nordeste e parte do país. (informação verbal)5

Para os monitores da banda de Cruzeta a monitoria leva à ampliação dos

conhecimentos docentes, assim como a possibilidade de criar metodologias que abrangem

todos os alunos. Sobre a importância da monitoria na vida da ex-monitora Aline Silva,

saxofonista da banda de Cruzeta e formada em Licenciatura em Música pela Escola de

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) relata que:

3Informação verbal fornecida à pesquisadora por Bembém, durante entrevista em sua residência, em

novembro de 2013. 4Informação verbal fornecida à pesquisadora por Bembém, durante entrevista em sua residência, em

novembro de 2013. 5Informação verbal fornecida à pesquisadora por Bembém, durante entrevista em sua residência, em

novembro de 2013.

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Tive a oportunidade de ser monitora ao entrar no Curso Técnico em

saxofone da EMUFRN em 2005, sendo monitora de flauta doce e teoria

musical. Fui monitora no período de 2005 a 2010. A monitoria me proporcionou muitas conquistas, ampliou meus conhecimentos pedagógicos

e me auxiliou nas práticas de estágio do curso de licenciatura em música, no

qual ingressei no ano de 2008. Ao assumir a bolsa de monitoria encontrei

várias dificuldades, uma delas foi aprender a me relacionar com os alunos, pois eu era muito tímida, porém aos poucos fui aprendendo a trabalhar com

os alunos e seus familiares. O monitor mostra-se importante na banda de

música de Cruzeta não só pela oportunidade de ampliar seus conhecimentos, mas também a oportunidade de vivenciar e exercer uma função importante,

na qual todos aprendem. (informação verbal)6

Oriunda da zona rural, a bolsista Marilene Guedes, técnica em Flauta Transversal e

cursando bacharelado em Flauta Transversal pela EMUFRN, foi monitora no período de 2005

a 2010, na Bandinha de Flauta Doce e no naipe de flauta transversal. Teve muitas dificuldades

em sua locomoção, devido à falta de transporte da zona rural para a cidade, porém mesmo

com essas dificuldades não desistiu da música e hoje leva os conhecimentos adquiridos na sua

vivência de monitora para os seus trabalhos musicais. Diante disso, relata que:

Ganhei experiência e respeito na monitoria. Eu gostava de trabalhar com as

crianças e queria muito passar o pouco que eu sabia para pessoas que

acreditavam e gostavam de música. Com a monitoria tive a oportunidade de

estudar em Natal. Minha dificuldade era quando eu já tinha um grupo formado na banda de flauta e entrava outra criança que ia iniciar seus

estudos musicais, e eu não poderia excluí-la dos demais, então tinha que

iniciar tudo. Gostaria que os futuros monitores possam passar o seu conhecimento musical para os alunos que queiram seguir a carreira de

músico. (informação verbal)7

2.2-A MONITORIA NA BANDA FILARMÔNICA SÃO TOMÉ - RN

Outras Bandas de música do Rio Grande do Norte também seguem o modelo que é

desenvolvido na banda de música de Cruzeta - RN com o monitor das quais destacamos a

Filarmônica São Tomé da cidade de São Tomé - RN. Esta banda de música surgiu no ano de

2006 através da Associação de Jovens Ação e Cidadania (AJAC) e do Programa

Desenvolvimento Solidário do Governo do Estado, que no referido ano era governado por

6Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Aline Regina da Silva, durante

entrevista em sua residência, em novembro de 2013. 7Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Marilene Guedes, durante entrevista em

sua residência, em novembro de 2013.

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Vilma de Farias. Além da cidade de São Tomé outras cidades do Estado foram contempladas

com uma filarmônica ou receberam novos instrumentos, em caso de cidades que já existiam

bandas. Este projeto foi idealizado inicialmente por Humberto Carlos Dantas (Bembém)

maestro da Banda de Música de Cruzeta e por Gersino Saraiva Maia, que neste governo atuou

como coordenador do Programa Desenvolvimento Solidário (PDS).

A maestrina é Paula Francinente de Araújo Vicente, sendo ela a primeira cruzetense da

Banda de Música de Cruzeta - RN a passar a estudar na Escola de Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. A mesma é graduada no curso de Bacharelado no

instrumento clarinete, especialista em educação musical, professora de teoria no curso do

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), cursando o

curso de Licenciatura Plena em Música pela UFRN. Segundo o relato de Paula Francinete

(ex-monitora de clarinete na cidade de Cruzeta - RN), essa função surgiu na Banda de Música

São Tomé na cidade de São Tomé que fica localizada na região Potengi - RN da seguinte

forma: “Os primeiros monitores surgiram pelo interesse de alguns integrantes estudarem

música e se tornarem músicos profissionais. No ano de 2009 três alunos iniciaram o curso

técnico em música na Escola de Música da UFRN e, a partir de então eles se tornaram

monitores”. (informação verbal)8

Ao ser questionada como é trabalhada a formação dos monitores, Paula Francinete

descreve da seguinte forma:

Usando como exemplo o trabalho de monitoria que acontece na Filarmônica

de Cruzeta, esses três alunos recebiam mensalmente da associação um valor

em dinheiro para custear as passagens para Natal e em troca contribuíam com a Filarmônica repassando os conhecimentos adquiridos no curso para os

demais integrantes do grupo, dando aula dos seus referidos instrumentos

aprimorando os que já participavam ou formando outros novos alunos. (informação verbal)

9

Os monitores também podem dar suas contribuições nas aulas de Iniciação Musical

com aulas teóricas, e ainda tem a experiência de reger o Grupo de Flauta Doce Recordari,

que é um grupo permanente da banda de música, a partir do qual esses alunos posteriormente

passam a integrar a filarmônica.

8Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Paula Francinete, durante entrevista em

sua residência, em novembro de 2013. 9Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Paula Francinete, durante entrevista em

sua residência, em novembro de 2013.

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Paula Francinete ainda destaca a importância desse aluno para o desenvolvimento

técnico da banda quando diz que:

A função do monitor é de extrema importância, pois além de permitir que os

mesmos possam se preparar para exercerem a profissão de músicos, lhes dão

também a experiência na prática do ensino de música, além de contribuir para o desenvolvimento técnico/musical na filarmônica. (informação

verbal)10

A maestrina também relata como é feita a escolha do monitor e a vontade dos mesmos

em estudarem música na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Não há uma seleção dos bolsistas, os próprios alunos escolhem se desejam

estudar música no curso técnico ou bacharelado e assim se tornarem

bolsistas. Até o presente ano tivemos sete monitores, e atualmente temos

apenas um que está de forma voluntária trabalhando com o Grupo de Flauta Doce, mas o mesmo já demonstra interesse em fazer a seleção para o curso

de música na UFRN no próximo ano além de mais cinco alunos. (informação

verbal)11

Diante dessa afirmação da maestrina pode-se perceber o interesse dos próprios

alunos em tornarem-se monitores e ajudarem no processo de desenvolvimento musical de

seus colegas. Muitos desses alunos encontram no processo de monitoria o apoio necessário

para continuar seus estudos musicais através da Banda de Música.

10

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Paula Francinete, durante entrevista em

sua residência, em novembro de 2013. 11

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Paula Francinete, durante entrevista em sua residência, em novembro de 2013.

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3-A MONITORIA NO NAIPE DA CLARINETA

Antes de falar do naipe de clarineta da Banda de Música de Cruzeta – RN traço um

breve Histórico do instrumento clarinete que foi uma das fontes para minha pesquisa.

O predecessor do clarinete historicamente foi a charamela que pode ser considerada

como o primeiro instrumento musical de palheta única. Apareceu no final de 1600 e era muito

pouco versátil e funcional uma vez que a sua tessitura não chegava sequer a duas oitavas.

Johan Chirstoph Dener e seu filho Jacob, são apontados como os inventores da

chamada chave de registro que permitiu à charamela aumentar significativamente o seu

registro tímbrico e com essas pesquisas chegamos ao clarinete, sendo seu apogeu no

Classicismo.

Segundo Sampaio (2000, p.156)

Abrangendo quase quatro oitavas, a extensão da clarineta é a maior entre

todos os instrumentos de sopro. O seu timbre vária fortemente, conforme o

registro. O registro mais grave, chamando de “registro de chalumeau”, as

notas soam aveludadas e escuras, no registro médio têm sonoridade menos

anasalado e brilhante do que a do oboé e no mais agudo, chamado de registro

de clarino, os sons se tornam cada vez mas brilhantes e chegam a ser

estridentes nos agudos superiores.

No período clássico a clarineta passou por várias modificações de duas chaves até

vinte e seis chaves. Sendo o clarinete de 17 chaves que prevaleceu. O compositor Amadeus

Mozart inseriu oficialmente a clarineta na orquestra por ter um timbre suave e favorecendo o

registro grave do instrumento.

No romantismo as peças eram escritas para clarineta com grande entrelaça de dedos na

execução da técnica. Baseados nos princípios do sistema Boehm, Klosé e Augusto Buffet

desenvolveram o que chamaram de clarinete com anéis moveis. De acordo com os registros

de klosé e Buffet, a clarineta de dezessete chaves que temos hoje é a que foi desenvolvida por

eles, este instrumento se propagou rapidamente por toda a Europa e América.

Em 1825, Ivan Müller escreveu um método especialmente para clarineta, o mais aceito

para o ensino e estudo do instrumento, o qual foi superado pelo método de H. E. Klose, em

1843. Método utilizado ao sistema Boehm, clarineta de dezessete chaves e seis anéis.

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No Brasil temos o compositor Villa-Lobos que nasceu aos cinco de março de 1887 no

Rio de Janeiro, passando sua infância no meio da música, pois seu pai era amante da mesma.

Sua iniciação musical foi na teoria e nos instrumentos violoncelo e clarineta. Ao longo de sua

vida as músicas populares e folclóricas já se associavam ao seu conhecimento de forma

erudita, o violão como a clarineta e o saxofone já faziam parte de sua vida uma das suas

composições para clarineta os Choros nº 2, que faz parte do ciclo de 14 obras do compositor,

sendo escrito para a formação do clarinete e flauta transversal.

3.1 MINHA EXPERIÊNCIA COMO MONITORA

Entrar na Escola de Música de Cruzeta - RN foi como realizar um antigo sonho do

meu pai, pois o mesmo falava para os amigos que queria ter um filho homem para poder tocar

na Banda de Música, já que achava muito bonito quem tocava algum instrumento. Nesse

período, a banda só tinha componentes homens e mulheres não podiam tocar devido à

tradição das Bandas de Música do Seridó. Com o passar do tempo, essa realidade foi

mudando e as mulheres começaram a participar desses grupos musicais.

Ao entrar na Escola de Música, várias dificuldades foram enfrentadas em decorrência

da minha rotina diária. Uma delas, foi o cansaço de assistir as aulas visto que trabalhava em

casa de família (pela manhã), estudava à tarde em escola regular, restando apenas o final da

tarde para os ensinos de música.

Minha mãe percebendo isso começou a falar comigo sobre a importância de fazer

algo diferente, fazer novos amigos, tocar um instrumento assim fui gostando, não faltava a

nenhuma aula, e sempre estava presente tirando fotos. Quando tinha apresentação da banda de

música minha mãe fazia questão de me levar para ver os instrumentos musicais.

Passando as aulas de teoria musical, aconteceu o primeiro contato com o instrumento

musical, a flauta doce e depois vieram os outros instrumentos da família da flauta, como a

flauta contralto e a tenor. Nesse período o maestro Bembém fez seleção com os alunos para

fazer teste e pegar os instrumentos que fazem parte da banda de música. Meu teste foi com a

clarineta. No início, foram aparecendo dificuldades para soprar, mas não desisti e fiquei com

o instrumento clarineta.

Passei a estudar bastante, pois tinha limitações ao tocar. Foi através de grandes

esforços que entrei na Banda de Música de Cruzeta - RN. Para minha família o momento foi

de emoção, trazendo muita alegria e felicidade. Com o passar do tempo o maestro me fez uma

proposta de ficar à frente da bandinha de Flauta Doce professora Margarett Keller, sendo essa

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minha primeira experiência como monitora. Aconteceram vários imprevistos, pois não tinha

nenhum contato na área de docência, gritava muito, não tinha paciência, aos poucos fui

conseguindo ter uma postura adequada, conquistando as crianças e fazendo várias

apresentações em grupo. A Bandinha de Flauta Doce tocava em eventos comemorativos e

festivos da cidade, nas escolas, festa de padroeira, festa da colheita e encerramento das

atividades musicais da sede.

Em 2004, entrei para o Curso Técnico de Música da UFRN com habilitação em

Clarineta, sendo que esse interesse de estudar música em Natal partiu primeiramente da

curiosidade de ver meus colegas toda semana viajando para Natal, capital do Rio Grande do

Norte, para estudar, despertando assim, essa vontade de fazer parte desse grupo também. No

ano seguinte, passei para o curso de bacharelado em clarineta na mesma instituição de ensino.

Nesse momento não podia mais estar à frente da Bandinha de Flauta Doce, pois as

aulas eram todos os dias da semana. Quando estudava no curso técnico eram apenas dois dias

da semana que tinha aulas, então dava para conciliar. No entanto, com o bacharelado surgiu à

oportunidade de ensinar a outro grupo de instrumento, tormando-me, assim, monitora do

naipe de clarinete já que as aulas eram ministradas aos domingos iniciando às 9h até

11h30min. Minha primeira turma de clarinete tinha quatro alunos. A aula era dividida em três

momentos: aquecimento, técnica, prática de repertório. Como já havia passado alguns anos na

Bandinha de Flauta Doce, não tive tantas dificuldades, pois estava monitorando o naipe do

meu próprio instrumento e estava sendo acompanhada pelo professor da área. Vale considerar

que na Banda de Música não havia monitor e era o maestro quem ensinava todos os

instrumentistas.

Durante toda a minha graduação trabalhei na monitoria das clarinetas, após

reingressar na UFRN no Curso de Licenciatura, continuei o trabalho em Cruzeta - RN, pois

via que os alunos precisavam de incentivos para estudar, elogios e principalmente saber que

eles eram importantes para a Banda de Música.

Ser monitora dessas crianças é algo que considero muito valioso, pois acredito que

não trabalha apenas os aspectos musicais, mas também lidar com várias situações indesejadas

levando-me a refletir que quando algumas atividades que eram passadas e os alunos

chegavam com inúmeras desculpas, isso me remetia ao passado, pois sabia que fazia isso

também no início. Dessa forma, já sabia conscientizá-los da importância do estudo e com

mais propriedade e convicção, pois aprendi que todo mundo tem seu tempo de aprender e

despertar para os estudos sem ser forçados.

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Foto 2 - Aula de clarinete em grupo da Banda de Música de Cruzeta

Fonte: Dantas (2013b).

Com as visitas de Margaret Keller aprendi bastante através da observação de suas

aulas onde a mesma passava várias dicas de como poderia melhorar minhas aulas. Um dos

pontos foi dividir a turma em grupos menores, pois iria perceber melhor o desenvolvimento

dos alunos, já que antes as aulas eram com todos os alunos.

Os alunos precisam ter a vivência musical, pois acredito que lhes possibilita um bom

desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, sensório motor e perceptivo. Estudar música no

nosso dia a dia é muito importante, pois traz benefícios para toda nossa vida.

Segundo Krzesinski e Campos (2006, p. 115):

Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos

rítmicos, jogos de mãos etc. são atividades que despertam, estimulam e

desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem às

necessidades de expressão que passam pelas esferas afetiva, estética, social e

cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a

vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez

mais elaborados.

Por outro lado, a música possibilita ao docente uma ampla abertura de possibilidade,

para trabalhar com seus alunos em sala de aula podendo, assim, contribuir para o crescimento

desses indivíduos.

Beineke (2003, p. 88) fala que:

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[...] os conteúdos sempre são trabalhados com base no repertório

selecionado, isto é, não se parte especificamente de conceitos, objetivos ou

conteúdos pré-determinados, mas da própria música. Assim, o centro do

trabalho é o próprio fazer musical, que pode ser complementado com

informações sobre as músicas trabalhadas, mas sem que se invertam essas

posições.

Acredito que estudar as músicas fáceis do repertório da Banda de Música com os

alunos novos é de grande importância, pois os mesmos percebem que tem capacidade de

futuramente tocar todas as músicas do repertório, tanto as fáceis como as difíceis, e assim

contribuir com o desenvolvimento técnico deles.

Segundo Beineke (2003, p. 87):

Aprende-se música fazendo música. Aprende-se música também falando

sobre música, analisando, refletindo sobre ela, mas a vivência musical

sempre precisa estar presente. Para que isso aconteça, é necessário que a

produção musical dos alunos seja valorizada em sala de aula.

Pode-se perceber que a realidade encontrada na escola de música não favorece um

maior desenvolvimento musical como o professor de música gostaria, pois as clarinetas são

velhas e são poucos os alunos que tem condições de comprar o seu próprio instrumento e a

escola não dispõe de um amplo recurso para comprar instrumentos novos. Assim, fica difícil a

desenvoltura dos alunos, devido à falta de afinação do instrumento e os abafadores com falhas

etc. Porém observa-se a importância e o conhecimento adquirido pelo docente para não deixar

aquele aluno ficar desestimulado e ter criatividade para aquela criança não desistir da música.

O nosso trabalho como professor faz parte de um processo educativo global no qual os

cidadãos são preparados para a participação da vida social. Com a educação, a prática

educativa é um fenômeno social e universal, sendo uma necessidade dos seres humanos na

existência e funcionamento de uma sociedade. Cada sociedade precisar cuidar da formação

dos individuo, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará-

los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social.

A importância para o desenvolvimento musical, e audição permite que o indivíduo

adquira conhecimentos sobre o mundo físico à sua volta, incluindo a aquisição e o

desenvolvimento da linguagem.

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Como dizem Hentschke e Del-Ben (2003, p. 186):

[...] a melhor forma de avaliar a aprendizagem musical dos alunos é

investigando e analisando suas práticas musicais. O conhecimento e a compreensão musicais dos alunos serão revelados nas suas próprias ações

musicais, pelas atividades de composição, execução e/ou apreciação. A

partir dessa concepção, a avaliação passa a focalizar não os aspectos emocionais ou pessoais dos alunos, mas os produtos musicais provenientes

das atividades de composição, execução e apreciação.

A atividade educativa acontece nas variadas esferas da vida social, a exemplo, na

família, grupos sociais, instituições educacionais ou assistenciais, nas igrejas, nos meios de

comunicação, e as mesmas assumem diferentes formas de organização. Nas aulas de clarinete

eles aprendem a ser responsáveis, criam elos de amizades e aprendem a trabalhar em grupo.

Lembra-se Queiroz (2005, p. 57): “[...] todo individuo pratica, vive e percebe música de

alguma forma”

Sekeff (2002, p. 24-25) descreve que:

A música transcende o mero sentimento estético, caracterizando-se como

recurso de desenvolvimento pessoal, equilíbrio, estímulo e integração do

indivíduo ao meio em que vive além de se construir um auxiliar agradável e poderoso no tratamento de certas doenças, sobretudo as de origem nervosa.

Ao ensinar clarineta, aprendemos muito e ganhamos uma vasta experiência, pois o

professor, além de ensinar música, passa a assumir outros papéis: ele é mãe, pai, psicólogo,

amigo, conselheiro, companheiro. Percebemos essas expressões em vários momentos quando

chegam às aulas tristes, chorando e até mesmo sem falar nada, nesse momento o olhar do

professor é muito importante e precioso.

Nesse longo tempo de monitoria tivemos várias turmas, agora estou com todos os

alunos de clarinetas, ministramos as aulas em dois dias, o primeiro é para estudos de

aquecimento, técnicas e repertório da banda de música o outro e para ensaiar os grupos

criados por mim, dueto, quarteto e o grupão, as músicas estudadas são de estilos variados

como xote, valsa e baião. Nossa primeira apresentação foi na despedida de Margaret Keller

em 30 de agosto de 2013 na sede da escola de música com duas músicas Mulher Rendeira

(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Anunciação (Alceu Valença), eles estavam ansiosos,

nervosos e com medo de errar, e falavam “tia em não vou tocar”, “vou errar”, “minhas pernas

estão bambas”, mas era minha fez de passar tranquilidade, calma e conscientizá-los que

aquele era o momento deles. Apresentação dentro do esperado, foi boa e as pessoas que

estavam assistindo gostaram, passando assim aquela aflição que eles estavam no começo.

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Foto 3 – Apresentação da despedida de Margaret Keller

Fonte: Dantas (2013c).

Essa turma tem a faixa etária, entre nove a quatorze anos de idade, sendo uma turma

bem divertida, fazemos encerramento dos clarinetes no final de ano, nos encontramos na

minha residência para assistir vídeos relacionados à música, nós educadores têm que dar o

melhor, pois são eles os nossos futuros instrumentistas.

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Foto 4 – Residência da aluna-

Fonte: A autora (2013).

Foto 5 – Residência da aluna-monitora

Fonte: RESIDÊNCIA... (2012).

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4- ENTREVISTAS COM EX-MONITORES DA CLARINETA

Muitas pessoas passaram pela experiência de ser monitor na Banda de Cruzeta, hoje

mais de quarenta pessoas foram ou são monitores. No naipe da clarineta já passaram pela

monitoria: Suzana Santos, Paula Francinete, Fernanda Santos, Leidiana Mara, Gilvânia

Dantas, Vitória Raquelline, Rafaella Cristina, Anderson Medeiros, Patricia Valdelice,

Danielly Dantas, Laedja Drielly. Alguns desses monitores hoje são formados em bacharelado

em clarineta pela EMUFRN.

Foto 6 – Encerramento do ano de 2007.

Fonte: Dantas (2007).

Sobre a monitoria do naipe de clarinete Fernanda Santos, hoje formada em

bacharelado em clarinete, especialista em educação musical, atualmente é integrante da

Orquestra sinfônica do Rio Grande do Norte e professora do curso de clarinete do Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), nos relata que:

Fui monitora durante uns cinco anos. Apesar de não ser um modelo de

professora e não ter os conhecimentos necessários da pedagogia do clarinete pude tirar desse período a autoconfiança, a vontade de fazer um bom

trabalho, de ver meus alunos participando da banda de música, ou até mesmo

sendo aprovados no curso técnico, bacharelado. Na época tinha muita

vontade de participar como monitora, por ver todos os colegas dando aula,

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aquilo me instigava. Era como se eu quisesse mostrar que também era capaz.

Através da monitoria pude me auto avaliar, ver se realmente meu trabalho,

meu processo de ensino (apesar de ser tradicional) surtia efeito nos alunos. O que mais me dava dor de cabeça, era não saber o que fazer quando um aluno

não tocava tal música, exercício, não tinha estratégias suficientes para fazer

com que os alunos se envolvessem mais. Acredito que ao ver o monitor, os

alunos pensam: “se ele conseguiu, eu também consigo”. Ao perceberem que os monitores também fazem ou fizeram parte do mesmo processo, começam

a ver isso como uma mola que os impulsionam a quererem conquistar o

mesmo objetivo. Através dessa válvula de escape, foi perceptível a evolução e a rapidez com que os alunos avançaram nos estudo do instrumento.

(informação verbal)12

Na Banda de Cruzeta encontram-se alunos que não se formaram em bacharelado em

música, porém gostam e estudam música, como é o caso de Rafaela Araújo, formada em

Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e cursando o técnico em

clarineta, nos fala da sua experiência como monitora:

Eu passei três anos e meio sendo monitora. Comecei em agosto de 2009 e

terminei em dezembro de 2012. Obtive crescimento pessoal e intelectual,

principalmente, na relação de troca de conhecimentos com os alunos. Ganhei experiência com a docência, senso de responsabilidade, planejamento,

cooperação, trabalho em equipe. Fui monitora porque gostava bastante de

dar aula, gostava dos alunos, gostava e gosto de participar do projeto da

Banda de Cruzeta. O dinheiro sempre foi uma ajuda, não considero como uma bolsa, pois era destinado para pagar as passagens de Natal para Cruzeta.

No tocante aos pontos negativos fiquei mais estressada, devido ter pouco

tempo para fazer muita coisa. Em relação aos pontos positivos, o período que eu desempenhei a monitoria foi de suma importância, seja no aspecto

pessoal, pois gostava muito de dar aulas, e também no aspecto intelectual,

pois ganhei bastante conhecimento, ganhando experiência na docência e no trabalho com crianças. Quando eu era monitora de clarinete também estava

cursando a graduação de Enfermagem. A maior dificuldade foi conciliar o

tempo. Morava em Natal e vinha todos finais de semana para Cruzeta para

participar dos ensaios da banda e dar aula de clarineta. Devido ao curso de enfermagem requerer muita dedicação aos estudos, não tinha muito tempo

para me dedicar ao planejamento das aulas de clarineta e para dar mais

atenção aos alunos. O monitor tem o papel de melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem dos alunos, através do repasse de orientações sobre

teoria musical, percepção, sonoridade, articulação, dinâmica, afinação,

escalas, entre outros. Além disso, também cumpre papel de assessorar o maestro em suas atividades, como por exemplo, realização de ensaios de

naipe, organização de aulas para os alunos, criação de duetos, trios,

quartetos. Muitas vezes no momento do ensaio é dada prioridade a execução

de um repertório para apresentações, sendo deixado de segundo plano o aprendizado do instrumento e da teoria musical. A presença do monitor

contribui para o aperfeiçoamento da prática musical do aluno,

12

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela ex-monitora Fernanda Santos, durante entrevista em

sua residência, em novembro de 2013.

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principalmente em relação a sonoridade, articulação, dinâmica e afinação,

que muitas vezes não podem ser repassadas pelo maestro no momento do

ensaio. Dessa forma, na nossa banda a inserção de monitorias trouxe muitas contribuições, assim promovendo um maior rendimento do ensaio, como

também um crescimento do naipe de clarinetas. (informação verbal)13

Na Banda de Música passaram vários alunos de clarineta, uns seguiram na música,

passando em concurso, trabalhando em outras cidades. Alguns levaram da banda de música

grandes ensinamentos em caminhos diferentes. Essa foto abaixo traz a nova turma de

clarinetistas, alguns com dois anos e outros com poucos meses de estudos.

Foto 7 – Festa da Padroeira de Cruzeta - RN

Fonte: Dantas (2013d).

4.1 ENTREVISTA COM OS ALUNOS CLARINETISTAS

As entrevistas foram realizadas na sede da escola de música de Cruzeta RN, com

alguns dos alunos de clarinetes, entre oito e treze anos de idades às 14h30min do dia 03 de

Outubro de 2013, e os mesmos relatam a experiência e desempenho com o monitor nos seus

estudos.

Freire (1987, p. 69) nos fala que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém

se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. O

13

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela monitora Rafaela Cristina Araújo, durante

entrevista em sua residência, em novembro de 2013.

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monitor é um importante aliado no processo educador desses alunos. Na banda de música os

alunos tem contato no seu cotidiano com outras gerações da banda de música, no qual eles

aprendem com as experiências desses músicos.

A aluna A, em entrevista, relata que: “Peguei o instrumento clarinete, pois via a banda

passar e achava muito legal o som e os solos, se eu não tivesse um monitor não teria

aprendido a respirar direito com o diafragma, as coisas que tinha dificuldades e meu

desenvolvimento seria zero”. (informação verbal)14

A Banda de Música Cruzeta - RN toca em diversas cidades do estado e fora do Rio

Grande do Norte, sendo seus componentes, oriundos das zonas urbana e rural do município, e

uma das transformações desses alunos é a oportunidade de conhecer sua região através das

apresentações realizadas pela banda de música. Muitos desses alunos viajam pela primeira

vez, por intermédio da banda de música, lembro-me dos receios das mães, “cuidado, não saia

de perto dos mais velhos”, e eles demonstravam aquela alegria de viajar.

Já a aluna B nos fala da paixão pela música e seu instrumento:

Eu olhei para o clarinete e me apaixonei, eu fiquei encantada pela música,

escutava a banda tocar e senti a vontade de entrar na banda de música. É muito bom ter aulas com o monitor, pois tenho dificuldades nas escalas e se

não fosse o monitor não estava desenvolvendo minha técnica no clarinete.

(informação verbal)15

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, no Art. 27 afirma que: “Toda

pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes

e de participar do processo científico e de seus benefícios.” (DECLARAÇÃO..., 1948).

Assim, percebe-se a riqueza cultural que esses alunos estão inseridos nas atividades

desenvolvidas na banda de música.

Com as entrevistas realizadas com os alunos fica evidente a importância do monitor no

seu desenvolvimento musical como relata a aluna C.

Eu via a banda tocando na frente da igreja, aí eu falei para ‘mãe’ que queria

entrar na banda aí eu entrei, sendo que não iria pegar clarinete, mas vi Kaline tocando e me apaixonei. Se nós não tivéssemos monitor, não

desenvolveríamos nada, o meu desempenho seria fraco. Vejo-me como

14

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela aluna A, durante entrevista na sede da Escola de

Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013. 15

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela aluna B, durante entrevista na sede da Escola de Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013.

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futura monitora, pois aprendi bastante e às vezes até ajudo os alunos novatos

nas suas primeiras notas musicais. (informação verbal)16

Em outro momento da entrevista, a aluna D relata o porquê de pegar o clarinete como

seu instrumento e o período e quando despertou sua vontade de estudar música e a

importância do monitor nos seus estudos:

Eu via o clarinete, ele tinha o som bonito e fazia muito solo e o mesmo é lindo, quando via meu irmão indo para a sede estudar, dava vontade de ir

também, com o aluno-monitor aprendemos embocadura, som, stacatto e

etc... Se não tivesse o aluno-monitor meu rendimento era de 10%

(informação verbal)17

O aluno E há dois anos na Banda de Música de Cruzeta - RN relata suas experiências

e se desenvolvimento com a ajudar do aluno-monitor:

O clarinete foi o instrumento que achei com o som mais bonito da banda e

também quando eu via outras pessoas tocando achava muito bonito e foi sua digitação que me levou a escolher o clarinete como meu instrumento. O

monitor nos ensina novas coisas, novos estudos, além disso, acompanha o

nosso desenvolvimento e se não tivesse o monitor meu desempenho seria lento, pois nas aulas ele nos ensina como devemos estudar para ter um bom

desenvolvimento. (informação verbal)18

Alguns dos alunos da Escola de Música de Cruzeta - RN não se vêem como futuros

monitores, mas relatam a importância do mesmo nos seus estudos musicais e sua trajetória no

instrumento clarinete.

Minha vontade de entrar na banda de música surgiu quando vi meu primo

tocando na festa de Outubro na noite dos motoristas achei lindo a Banda tocando em cima de um caminhão e foi ai que eu decido que queria entrar na

banda. Eu ia fazer o teste para flauta transversal, mas quando cheguei à sede

a professora fez o teste para o clarinete gostei e até hoje estou tocando

clarinete, com as aulas do monitor aprendi muitas coisas e meu

16

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela aluna C, durante entrevista na sede da Escola de Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013.

17Informação verbal fornecida à pesquisadora pela aluna D, durante entrevista na sede da Escola de

Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013. 18

Informação verbal fornecida à pesquisadora pelo aluno E, durante entrevista na sede da Escola de

Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013.

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desenvolvimento melhorou bastante e sem ele meu desempenho seria lento.

(informação verbal)19

Os alunos fazem teste no instrumento antes de iniciar seus estudos, alguns não tocam

os instrumentos que desejam, pois a seleção é de acordo com a vaga de determinado

instrumento. Esses alunos que antes desejavam outro instrumento, como por exemplo, a flauta

transversal, pois achava bonito pela forma como o instrumentista tocava horizontalmente o

instrumento, ao tocar no clarinete o aluno se encantava com o som e sua digitação, pois cada

instrumento tem seu encantamento.

Observa-se que ao incluir a monitoria na Banda de Música de Cruzeta - RN houve

avanços significativos e cognitivos no desenvolvimento musical e docente dos alunos que

tiveram a oportunidade de vivenciar esse modelo de ensino que capacita e é eficaz no

aprendizado dos componentes da Banda de Música, ficando claro nas entrevistas a relação

interpessoal entre os alunos e monitores na qual os alunos tem os monitores como exemplo

para o desenvolvimento técnico do seu instrumento.

19

Informação verbal fornecida à pesquisadora pela aluna F, durante entrevista na sede da Escola de

Música de Cruzeta - RN, em novembro de 2013.

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5- A TRAJETÓRIA DE MARGARET KELLER NA BANDA DE MÚSICA DE

CRUZETA - RN

A proposta de ensino do instrumento flauta doce na escola de música de Cruzeta – RN,

veio através da professora suíça Margaret Keller, formada em música pelo Konservatoriun

Zurich, especialista em educação, graduada em flauta transversal nos Estados Unidos e

formada em musicoterapia pela Universidade de Londrina.

Margaret Keller chegou ao Rio Grande do Norte como professora voluntária do

instrumento flauta doce do projeto Aldeias SOS Internacional. A mesma chegou a Cruzeta -

RN através do maestro Ubaldo Medeiros (Totó), que fazia parte do projeto Aldeias SOS, na

cidade de Caicó, antes ele era o maestro titular da Banda de Música de Cruzeta RN. Margaret

Keller relata que “Estava na festa da colheita em Cruzeta - RN e a banda de música iria tocar,

fiquei encantada e quando acabou o trabalho nas Aldeias, fiquei em Cruzeta, foi amor à

primeira vista”. (informação verbal)20.

O início das aulas de flauta doce com a professora suíça veio no ano de 1990 em

conjunto com o atual maestro, Humberto Carlos Dantas (Bembém) tendo o objetivo de

resgatar as canções folclóricas brasileiras. Sendo esse o modelo de ensino que deu vários

resultados positivo para a banda.

A professora passou a visitar Cruzeta - RN de dois em dois anos, na qual trabalhava

com os alunos da teoria musical e da Bandinha de Flauta Doce, depois começou a trabalhar

com os instrumentos da banda de música, dando aula, passando música do repertorio da banda

de música, formando grupos, trio, quarteto e quinteto. No ano de 2013 passou três meses em

Cruzeta - RN e nesse período ela trabalhou com vários grupos e uns dos beneficiados foi o

naipe das clarinetas. Margaret Keller relatou sua experiência respondendo a duas perguntas:

quais foram os pontos positivos e negativos que encontrou no naipe dos clarinetes.

NEGATIVO – Vou começar com o negativo, o problema é que eles

ingressam na banda muito cedo, eles são forçados a aprender muito rápido, e

pulam etapas. Eles precisam ter uma base do ensino teórico mais trabalhado, no entanto isso não acontece. Eles não precisam estudar todas as partituras

de uma vez só, precisam primeiro estudar os traços que eles tem dificuldades

na música e depois ir aumentando os estudos, com isso não teriam tantas dificuldades.

20

Informação verbal fornecida à pesquisadora por Margaret Keller, durante entrevista na sede da

Escola de Música de Cruzeta - RN, em agosto de 2013.

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POSITIVO – Os alunos da turma dos clarinetes são muitos educados eles

querem aprender e só precisam de orientação para estudar esse instrumento,

precisam de acompanhamento para não desistir de estudar música, pois têm alguns clarinetes que são muitos antigos na banda de música e não tem uma

manutenção frequente. É uma turma boa, você está fazendo um bom

trabalho. Não pare agora, eles precisam de aulas para melhor desempenho.

(informação verbal)21

.

As aulas com a professora Margareth Keller são essenciais para todos os naipes da

Banda de Música Cruzeta - RN, pois a professora tem uma vivência musical significativa,

vindo a ampliar os conhecimentos tanto dos alunos como dos monitores. Observar os pontos

positivos e negativos que é necessário para que se possa modificar a metodologia antes

aplicada para que haja um desenvolvimento maior do grupo.

Nesses 25 anos da Banda de Música de Cruzeta - RN é significante a presença da

professora Suíça Margaret Keller, com seu apoio tanto financeiro e pedagógico e com sua

experiência de vida modificou a trajetória de vários componentes da Escola de Música de

Cruzeta - RN, pois tiveram a oportunidade de se qualificarem academicamente, aprimorando

seus conhecimentos técnicos e teóricos, podendo assim desenvolver um trabalho musical com

os alunos da Banda de Música.

21

Informação verbal fornecida à pesquisadora por Margaret Keller, durante entrevista na sede da

Escola de Música de Cruzeta - RN, em agosto de 2013.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música é uma arte que permite o ser humano expressarem-se seus sentimentos de

várias maneiras. Ao ouvir uma música o indivíduo percebe de diferentes modos, sendo criadas

várias opiniões sobre a mesma música executada. Nessa plenitude não existe um padrão de

certo ou errado ao ouvir uma música por várias pessoas. Pressupondo-se que a cada novo

olhar tende-se a possibilidade de uma nova interpretação musical. A música é uma grande

aliada quando é bem utilizada no processo de sensibilização do ser. A mesma não é uma

solução para a humanidade, porém demonstra-se como recurso importante capaz de propor ao

individuo uma experiência única.

O presente trabalho foi elaborado na perspectiva de contribuir com novas pesquisas na

área do monitor no âmbito musical, mostrando a importância do monitor na Banda de Música

de Cruzeta - RN no qual tive dificuldades de encontra referências sobre o assunto abordado,

hoje na banda de música esses monitores tem um papel fundamental no desenvolvimento

técnico dos alunos.

Os alunos tem a escola de musica de Cruzeta - RN como extensão de suas casas que

implica no fortalecimento social entre os alunos.

Com esse trabalho realizado, foi possível perceber que há uma escassez de trabalhos

que tratem dessa figura do monitor de instrumento, mas que é de fundamental importância sua

existência, tendo em vista seu papel que é, sem dúvida, muito importante para o

desenvolvimento musical da banda de música, tendo influência direta nas atividades musicais

da banda de música. A música é uma arte divina e exerce nas pessoas, sentimentos de alegria,

amor, tristezas. A banda de música é um espaço, no qual devemos preservar e manter viva na

memória da sua comunidade, constituindo-se, também, como ambiente de formação humana,

profissional dos jovens que nela participam.

Entretanto, tal dificuldade não traz o desestimulo para os participantes da banda de

música que reconhecem a mesma como ação artística necessária para evolução musical

principalmente na criação de grupos menores que se forma da instituição como: grupo de

metais quinteto, quarteto, duo, entre outros para os jovens esse contato é valioso, pois eles

podem se apresentar em vários lugares, proporcionando ao grupo a possibilidade de analisar a

apresentação. Portanto “as mudanças ocorridas levam-nos a refletir sobre desafios trazidos

para o ensino de música na atualidade”. (SOUZA, 2000, p. 45). Essas mudanças vêm

possibilitar ao estudante novas maneiras de aprimorar seus conhecimentos, suas técnicas, com

esses novos grupos que são formados dentro da própria banda de música.

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Em projetos pioneiros o da cidade Cruzeta - RN o monitor é exemplo para várias

bandas de música do interior em nosso estado. Mas isso precisa ser preservado, pois hoje na

banda de música é uma ferramenta pedagógica que tem função transformadora na vida de

cada componente que participa da escola de música buscando uma valorização do seu esforço,

sua dedicação com o trabalho social da banda de música, buscando formação acadêmica. A

Banda de Música de Cruzeta - RN contribui imensamente no processo de socialização da

criança e jovem, ajudando-o a ultrapassar as barreiras do cotidiano.

Os entrevistados que passaram pela a experiência do monitor, falam nas mudanças que

proporcionaram na vida docente de cada um deles. É necessário que haja uma compreensão

de preservar ou ampliar trabalhos importantes de tradições como de Cruzeta - RN.

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