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OSCAR WILDE, O IMPERTINENTE ABSOLUTO... EM PARIS

Primeira grande exposição sobre OSCAR WILDE na França.

Local: Petit Palais, de 8 de dezembro 2016 a 15 de janeiro 2017

De um lado, no Grand Palais, a exposição “México 1900-1950”, com Diego Rivera e Frida Kahlo. Do outro lado, no Petit Palais, ninguém menos importante: Oscar Wilde.

O que você faria se, na falta de tempo, tivesse que escolher entre o Grand Palais e o Petit Palais? Dúvida cruel.... Fizemos igual a você! Escolhemos o autor de Retrato de Dorian Gray.

Embora Paris, cidade onde Oscar Wilde morreu em 1900, não tenha comemorado seu centenário (Londres fez duas exposições no ano 2000), o Petit Palais resgata esta dívida realizando uma grande exposição sobre o autor de Salomé, “dona de uma libido insaciável, cruel e agressiva”.

São mais de 200 documentos entre manuscritos, desenhos, fotografias, caricaturas e quadros de alguma forma relacionados com Wilde, vindos de diversos museus e coleções privadas da Irlanda, Inglaterra, EUA, Canadá e Itália.

“A VIDA É MUITO IMPORTANTE PARA SER LEVADA Á SÉRIO”

Uma fila enorme no Petit Palais, com direito a chuva fina e um frio maior que o de Garanhuns (ou Guaramiranga) maltrata os fãs deste irlandês de alma francesa, injustiçado pela corte Victoriana. Wilde foi perseguido e preso por homossexualismo, a exemplo de outro gênio daquelas bandas de lá, o fantástico Alan Turing, considerado o pai da computação.

Na entrada da exposição, com proibições estritas de fotografar (mesmo sem flash), nos deparamos com a biografia de Wilde, nascido em 1854, em Dublin. Até aí, nada que não se encontre nos livros... ou no Google!

“OS LOUCOS AS VEZES SE CURAM, OS IMBECIS NUNCA”

Já na segunda sala, o quadro de Saint Sébastian, pintado em 1615 por Guido Reni, chama a atenção do visitante. Ao lado direito, um “cahier” (caderno) do tipo “as coisas que prefiro” revela a importância do quadro na vida de Wilde, que viu Saint Sébastian em 1877, em Gênova, e o definiu como: “um charmoso garoto amarrado em uma árvore por flechas dos inimigos, com um olhar divino em direção a beleza eterna dos céus”.

“VIVER É A COISA MAIS IMPORTANTE NA VIDA. HÁ OS QUE SE CONTENTAM EM APENAS EXISTIR”

O mesmo “cahier de photographie mental” revela outras preferências de Wilde: Mozart & Chopin (nós preferimos Alceu & Belchior), Florença & Roma (ele não conheceu Porto de Galinha & Canoa Quebrada). Quando perguntado o que mais gosta de fazer na vida, ele escreve: “ler meus próprios poemas”!

Sobre qual o seu maior desejo, Wilde responde: “ser famoso, uma celebridade, ter uma má reputação”. Esta postura de Wilde é presente também em seus aforismos!

“A MELHOR MANEIRA DE COMEÇAR UMA AMIZADE É COM BOA GARGALHADA. DE TERMINAR TAMBÉM!”

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Três vídeos são apresentados na exposição:

O primeiro vídeo mostra diversas danças de Salomé, com destaque para a última com a cumplicidade de El Pacino. O texto escrito por Wilde na cidade de Paris, em 1881, publicado em 1883, teve a peça proibida em Londres e jamais foi encenada enquanto ele vivo.

O segundo apresenta o depoimento de um jurista francês que estudou a fundo a condenação de Wilde por homossexualismo. Ele termina seu depoimento dizendo da grande lição neste caso: o que a justiça condenou no passado pode não ser crime hoje.

No terceiro vídeo, o biógrafo Merlin Holland, autor de “Cartas Completas de Oscar Wilde”, conselheiro científico da exposição e neto de Wilde, faz um depoimento criterioso sobre sua trajetória. A família de Holland teve que trocar o nome devido a perseguição que Wilde sofreu à época.

Além de “Saint Sébastian” de Reni, são também expostos “Love and the Mainden” de John Stanhope, “Night and Sleep” de Evelyn Pickering, dentre outros. Apesar da beleza destes quadros, quem rouba mesmo a cena é o famoso “Portrait d´Oscar Wilde”, de Napoleon Sarony em 1882, por ocasião de sua tournée de conferências nos EUA.

“O DESCONTENTAMENTO É O PRIMEIRO PASSO NA EVOLUÇÃO DE UM HOMEM OU DE UMA NAÇÃO”

Nosso primeiro sentimento: valeu a pena a escolha intempestiva de visitar primeiro a mostra do ”Impertinente Absoluto” no Petit Palais. A emoção que nos envolve na entrada da exposição nos acompanha no percurso do labirinto inebriante da trajetória de Wilde e se mantém até a saída quando nos vemos de volta à realidade.

É de se ressaltar o depoimento de Holland, descendente e biógrafo de Wilde, no término da exposição: “apesar do caráter controverso de sua vida, Wilde foi um bom pai e um bom marido”.

“DEVIA-SE ESTAR SEMPRE APAIXONADO. É A RAZÃO PELA QUAL NUNCA NOS DEVÍAMOS CASAR”

Finalmente, nenhuma referência (ou talvez não a tenhamos percebido) à célebre e polêmica tumba de Oscar Wilde no cemitério Père Lachaise, em Paris. A escultura, considerada indecente para os costumes da época, foi coberta pelas autoridades francesas, mas depois liberada. Também sofreu vandalismo, tendo sua genitália quebrada por um visitante. A parede que sustenta a imagem recebeu de centenas de apreciadoras a marca dos lábios com batom, ao ponto de um vidro ter sido instalado para evitar a prática.

“NÃO DEIXE DE PERDOAR SEUS INIMIGOS. NADA OS ABORRECE TANTO”

Talvez a nossa visão mais pragmática que holística nos tenha impedido de compreender todo a intenção estética dos curadores do Petit Palais nesta primeira e grande homenagem a Oscar Wilde. Ou talvez tenha sido a expectativa ante a tentação de termos preterido Diego Rivera e Frida Kahlo, no Grand Palais. O fato é que, do ponto de vista de sua infraestrutura, achamos a exposição um pouco escura, apertada e em relação ao seu conteúdo, com ênfase muito forte em objetos periféricos à vida de Wilde, tais como os quadros apresentados.

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Diversos manuscritos inéditos mereciam, na nossa opinião, maior destaque visual. Por exemplo, o importante reconhecimento de Wilde ao grande poeta francês Paul Verlaine (“Au grand poète Paul Verlaine. De son admirateur”) em um livro meio perdido na exposição. Senão, o “caderno de preferências” preenchido por Wilde, quase escondido dentre outros documentos de menor relevância.

Escuro, apertado, .... Que nada! A exposição de Wilde, o “Impertinente Absoluto” no Petit Palais, nos deixa, como se diz na computação... nas nuvens!

Esperamos, antes de retornar ao sol nordestino, que Diego Rivera e Frida Kahlo também nos surpreendam.

Mauro Oliveira

Professor do IFCE, Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Aracati - Ceará

Paulo Cunha

Professor da UFPE, Diretor Científico da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco