Upload
sofia-lobato
View
24
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
1
A HISTÓRIA SOCIAL DO CAMPO E OS MUNDOS DO TRABALHO
Clifford Andrew Welch - Apresentador Professor Adjunto
História do Brasil Contemporâneo Universidade Federal de São Paulo
A HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO NO BRASIL: DIÁLOGOS, DEBATES E PERSPECTIVAS
ATUAIS
Luigi Biondi (Unifesp) – Coordenador e Debatedor
Cláudio Batalha (Unicamp) – Debatedor
8 de setembro de 2010, 10h30 às 12h30
XX ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA
ANPUH – São Paulo
História e Liberdade
Unesp – Campus de Franca
6 a 10 de setembro de 2010
2
Temos várias pretensões para nossa fala. Em primeiro lugar, queremos aproveitar o
privilégio gentilmente concedido pela mesa do Encontro Regional para insistir na relevância
fundamental do campo para compreender a História Contemporânea do Brasil. Segundo,
queremos chamar atenção pelo fato de que a historiografia agrária do tempo presente é
largamente o território de outras ciências e profissões, um campo essencialmente ignorado
pelos historiadores. Terceiro, a partir de uma conceitualização proferida pelos protagonistas
dos Estudos Subalternos, queremos sugerir em resumo uma síntese da História Social do
Campo que a coloca no centro de uma interpretação da História do Brasil Contemporâneo,
demonstrando sua relação com as grandes questões, tais como as questões agrária, social,
econômica e política. Em fim, queremos mostrar o que poderia ser a contribuição do campo
para uma compreensão maior da identidade cultural brasileira e sua articulação em
estruturas de poder e vida.
O Campo e o Brasil
“A luta pela terra se dá no campo mas se ganha nas cidades.” -- João Pedre Stedile, 1996. “[A] construção do Brasil como nação democrática e republicana, com a superação de uma imensa dívida social, deverá passar pela mudança do sistema de propriedade da terra.” -- Maria Yedda Linhares & Francisco Carlos Teixeira da Silva (1999, xvii) Não é necessário observar a centralidade econômica, social e política da agricultura
desde a fundação do Brasil. Não tem um grupo de intelectuais mais informados sobre isso
que os historiadores brasileiros, que tanto contribuíram para documentar a História
agroexportadora do Brasil. No mesmo sentido, a História das relações sociais de um mundo
enraizado na escravidão, nas relações de trabalho, na transição do trabalho escravo para o
trabalho livre no século XIX, as experiências dos “homens livres” e colonos do Império e da
3
Velha República também são bem pesquisados pelos historiadores, principalmente aqui no
Estado de São Paulo. Por isso, bem como nossas próprias tendências meio jornalísticas, o
recorte temporal deste trabalho está no período contemporâneo, com foco especial na
época da pós-Segunda Guerra Mundial até o presente.
Vamos continuar nossa analise com algumas estatísticas do campo brasileiro na
atualidade: 25% é a participação do agronegócio no PIB do Brasil e 10% do PIB é produzido
pela agricultura familiar, que emprega mais que 13 milhões de pessoas; a agricultura
familiar produz mais que 60% dos alimentos consumidos pelos brasileiros; 38% da balança
comercial depende nas exportações agrícolas e 10% deste valor é produzido no Estado de
São Paulo (CNA, 2010; Geomundo, 2010). O Departamento de Agricultura nos EUA concluiu
de que Brasil tem mais terra a ser desenvolvido que os EUA já têm em produção. Isso, nem
conta na conversão de mais que 444 milhões de hectares de área preservada. O Brasil já é
líder mundial na exportação de soja, açúcar, carne, café, suco de laranja e fumo. Do ponto
de vista econômico, então, a importância da agricultura na atualidade não pode ser negada.
Estes dados são significativos não só para a agricultura, mas para o país inteiro. A
agricultura tem que ser entendida como sistema de colonização, o produto mais comum da
conquista da natureza pelo homem. Como qualquer capítulo da história humana, a luta pela
terra nunca foi consolidada – não tem fim, porque conflito é permanente – a natureza
rebela em formas de tempestade, enchente, seca, pragas, solo ruim e centenas de outros
efeitos difíceis de controlar; o mercado elimina agricultores menos preparados;
dependendo na conjuntura as políticas do Estado favorecem alguns donos sim, outros não,
alguns produtos sim, outros não; brigas entre os supostos proprietários aumentam a
violência no campo e as chances para novas transformações. E todo conflito no campo é
4
vivido nos povoamentos, nas aldeias, nas vilas, nos municípios, nos megalópoles, onde o
povo morava e mora porque, sem comida, não tem vida.
A relação campo-cidade é muito forte no Brasil, mas pouco estudado fora da
geografia, que tem uma área de conhecimento dedicado ao estudo desta relação. A maioria
da migração do campo para as cidades ocorreu depois da Segunda Guerra (Fontes, 2009), e
as idas e voltas entre os dois mundos nunca terminaram, onde a capital de São Paulo, por
exemplo, ainda se destaca como destino preferido. A observação de Stedile, um fundador e
coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), é expressiva
desta relação entre campo-cidade. Quando falou, o MST foi considerado pela pesquisa de
serem umas das cinco instituições melhor avaliadas pela pública. Com a população
concentrada nas cidades, o MST calculava que só nas cidades teria a possibilidade de
construir apoio para a reforma agrária. No campo, conflito, porque o que mais encontrava
era a resistência contra reforma.
O que mais permanece do passado é a concentração da terra nas mãos de poucas
pessoas e, como conseqüência disso, o poder de controle das políticas também foi
concentrado na influência da bancada ruralista em todos os ramos do governo. Como
analisaram muitos historiadores, com destaque Emilia Viotti da Costa (1992), em fazer da
terra uma forma de propriedade, a Lei da Terra de 1850 acabou piorando as possibilidades
de sua maior distribuição devido a nova demanda do capital da compra da terra. Na síntese
da questão agrária escrita pelos historiadores Linhares e Silva, fizeram esforço mostrar
como novas leis foram elaboradas durante a Velha República que aprofundaram as
tendências da concentração fundiária. Escreveram, por exemplo, como o Novo
Regulamento de Terra Devoluta de 1913 foi “uma expressão típica da hegemonia agrária,
5
legitimando e consolidando uma estrutura fundiária que continuamente aumentava seu
grau de concentração” (1999, 92). Sem enfrentar “o sistema de propriedade da terra,”
segundo analise de muitos, inclusive Linhares e Silva (1999, xvii) “a construção do Brasil
como nação democrática e republicana, com a superação de uma imensa dívida social” não
vai acontecer.
O historiador florestal Warren Dean culpou a bancada ruralista para uma grande
porção da destruição da Mata Atlântica em seu livro A ferro e o fogo (1996). Culpo os
grandes proprietários pela falta de coragem dos funcionários responsáveis pela fiscalização
e sua inércia em implementar as leis de proteção da floresta, muito dela desmatada e
queimada para expandir a fronteira agrícola. Escrevendo com ironia ácida, Dean observou:
Evidentemente, o encargo mais essencial ao governo era o de estabelecer e proteger os direitos sobre a terra, tanto pública quanto privada. Grande parte da perda da Mata Atlântica havia sido provocada simplesmente para fortalecer as pretensões de invasores e especuladores. As práticas litigiosas e violentas que cercavam a titulação da terra eram praticamente tão intensas nas cidades como na fronteira e não havia sinal de que o governo democrático restabelecido estivesse pouco mais inclinado a assumir essa responsabilidade do que seus predecessores (1996, 377).
Acredito que esteja a partir da questão de poder e sua raiz na questão agrária que
encontraremos o motivo para destacar uma fala sobre o campo na mesa do Grupo Mundos
de Trabalho. Certamente é relevante a provocação do Marx e Engels no Manifesto
comunista (2003 [1848]):
De todas as classes que hoje se defrontam com a burguesia, apenas o proletariado é uma classe realmente revolucionária. As outras classes decaem e por fim desaparecem com o desenvolvimento da indústria moderna, mas o proletariado é seu produto mais autêntico. As classes médias inferiores, os pequenos industriais, os pequenos fabricantes, os artesãos, os camponeses, todos lutam contra a burguesia, para garantir sua existência como parte da classe média. Portanto, não são revolucionárias, mas conservadoras e, mais ainda reacionárias, pois procuram fazer retroceder a roda da História. Se por acaso tornam-se revolucionárias é em conseqüência de sua iminente
6
transferência para o proletariado; não defendem, pois, os seus interesses atuais, mas os futuros, abandonando seu próprio ponto de vista pelo do proletariado (35).
A História do Trabalho quase sempre tem razão na busca do fazer ou não fazer de
“uma classe realmente revolucionária.” Não pode dizer isso sobre a História Agrária, mas
será que o interesse do grupo Mundos de Trabalho no assunto não é baseado na procura
dos camponeses que “por acaso tornam-se [ou não] revolucionários”? Quer dizer, no fundo
não temos em nosso grupo de trabalho uma expectativa da potência de uma unicidade do
proletariado rural e urbano, tipo foice e martelo, em um momento ainda para vir do
desenvolvimento econômico capitalista do Brasil? Como argumentam Linhares e Silva, a
questão está enraizada no debate entre “campesinistas” e “descampesinistas,” importante
parte da Revolução russa (para não falar da mexicana). Marx e Engels disseram que ou o
campesinato “procura fazer retroceder a roda da História” ou “transfere para o proletariado
[...] os seus interesses [...] futuros, abandonando seu próprio ponto de vista pelo do
proletariado.”
Para ser franco, eu me sinto desconfortável com esta ideia. Não estou a favor da
eliminação do campesinato, alias acho que seja impossível de se realizado, para não dizer
destrutivo de um dos modos de vida mais sustentável da história do mundo (Mazoyer,
2010). No velho debate entre campesinistas e descampesinistas, sou no campo do primeiro
grupo. A resistência do camponês a perda de autonomia e dignidade que representa ser
proletário tem sido motivo de muitos conflitos na História. A quantidade de agricultores
familiares – os 13 milhões empregos no ramo, como revelam as estatísticas do Ministério de
Desenvolvimento Agrário – pode incluir reacionários, mas sabemos que a classe operária é
bem diversificada politicamente também. Nosso desafio é de problematizar a perspectiva
7
de Marx e Engels para entender melhor o que cada classe quer e as relações entre elas.
Estamos interessados em escrever a História da luta pela Liberdade (emancipação, diria) de
grupos e indivíduos explorados e subalternos que, de vez em quando, conseguem disputar a
classe dominante e transformar a realidade. O campo é tão importante quanto a cidade
neste processo.
As Ciências Sociais e a História Social do Campo
“A história agrária, como é hoje conhecida, nasceu, nas primeiras décadas do século XX, de um encontro feliz com a geografia humana.” -- Maria Yedda Linhares (1997, 165) “Os debates no interior da [História Agrária] implicaram um esforço de pesquisa interdisciplinar, já que muitas das discussões ali presentes eram oriundas de outros campos de conhecimento, como a geografia e a sociologia rural.“ -- Márcia Motta (2005, 240). Quando falar da História Social do Campo, predomina no imaginário do passado
recente a ideia de um pacto fechado entre latifundiários e o Estado, um Estado que vai
seguir uma política de não-interferência nas relações de trabalho das fazendas e engenhos.
Antes de 1960, a literatura alega que este pacto bloqueou quase todas as possibilidades
para a expressão das reivindicações do campesinato. Surge de repente, nesta visão, como
algo quase espontâneo, a mobilização camponesa no início dos anos 1960. Segundo esta
imagem, os donos da terra reclamaram de uma “anarquia rural,” fez causa comum com os
militares e o movimento incipiente dos camponeses foi logo reprimido quando houve o
golpe militar. Sob regime militar, os chamados latifundiários continuaram a gozar a proteção
do governo. É comum argumentar que, depois de 1964, a ditadura foi tão forte que impediu
a formação de qualquer movimento efetivo. A estrutura sindical dos trabalhadores rurais,
consolidada em 1963 quando virou lei o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) e foi fundada a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), foi permitida
8
permanecer pela ditadura enquanto pelego, com ação restrita à processos de assistência
social. Os movimentos sociais do campo de verdade aparecem de novo na literatura nos
meados dos anos 1980 com o fim da ditadura e a restauração da democracia. Na véspera do
final da ditadura, a formação do MST é visto como uma necessidade dado o comodismo dos
movimentos antigos em face dos desafios enfrentados pelos camponeses. Uma vez
estabelecido, o MST vira quase hegemônica como representação do campesinato na
História brasileira.
O imaginário, ainda reproduzido, depende muito na lenda da centralidade das Ligas
Camponesas de Pernambuco, vinculado com o advogado e político Francisco Julião. São as
Ligas de Julião que começam receber atenção da mídia internacional no final dos nos 1950,
na sombra da Revolução cubana, como possível fonte de instabilidade, se não revolução, no
Brasil. A crença na importância desta edição das Ligas é alimentada por várias fontes, entre
elas, poucos historiadores. São sociólogos, antropólogos e geógrafos, bem como militantes,
que contribuíram para fortalecer a imagem. O próprio Julião é entre os primeiros de
historiar as Ligas com seu caderno de 1962, Que são as Ligas Camponesas? (Welch et al
2009). Em 1963, o geógrafo Manuel Correia de Andrade foi o primeiro acadêmico de
publicar um estudo das Ligas de Julião. Neste mesmo ano, um jornalista do nordeste
publicou em forma de livro seus artigos sobre as Ligas, Julião, nordeste, revolução (Barreto,
1963). Depois disso, em 1969, Clodomir Santos de Moraes, um advogado que militou entre
as Ligas e foi fazer no exílio doutorado em sociologia, publicou uma versão da história do
movimento camponês no Brasil que foi bem divulgado, até em inglês (1970). O texto de
Moraes, “História das Ligas Camponesas no Brasil” foi repubicado em 2006 na coletânea “A
Questão Agrária no Brasil” organizada por um dos fundadores do MST, João Pedro Stedile
9
(um economista). Em sua introdução do livro História e natureza das Ligas Camponesas –
1954-1964, Stedile escreveu: “As Ligas Camponesas se inserem como o mais importante
movimento social camponês, organizado pelo povo brasileiro na década de 1960”(2006, 12),
reforçando assim uma imagem essencialmente errada. A literatura acadêmica retomou o
assunto no contexto da abertura quando vários sociólogos e antropólogos abordaram a
questão agrária, sendo de importância destacada Moacir Palmeira (1979), José Souza de
Martins (1981), Fernando Azevedo (1982), Elide Bastos (1984), Aspásia Camargo (1986) e
Bernardete Aued (1986).
Vamos examinar, muito brevemente, um dos textos de um dos autores mais citado
para sua interpretação da luta pela terra no Brasil contemporâneo, “Os camponeses e a
política no Brasil” do sociólogo emérito da USP José de Souza Martins (1986 [1981]).
Começa com o argumento de que “as palavras ‘camponês’ e ‘campesinato’ são das mais
recentes no vocabulário brasileiro [...] introduzidas em definitivo pelas esquerdas há pouco
mais de duas décadas,” quer dizer, nos anos 1960 (1986, 21). Sabemos, em fato, que foram
empregadas no debate político pelo menos a partir dos anos 1920 quando foi fundado o
Bloco Operário-Camponês (Karepovs, 2006). Mesmo assim, Martins utiliza a ausência das
palavras para enfatizar a profundidade da “exclusão do camponês do pacto político” (1986,
25). Depois de escrever 12 páginas sobre uma variedade de movimentos e lutas
camponeses no período 1945 a 1964, todos vinculados com o PCB, Martins escreveu das
Ligas Camponesas de Julião como “o capítulo mais importante da história contemporânea
brasileiro” (1986, 76). Para Martins, “as Ligas dirigiam-se para uma proposta de revolução
camponesa, enquanto que a estratégia do Partido Comunista caminhava na direção de uma
coexistência pacifica com a burguesia” (1986, 78). Em contradição da hipótese do Marx e
10
Engles, os camponeses de Martins eram os revolucionários e o partido do proletariado
entreguista. Temos que questionar um texto tão importante para a reconstrução da História
Social do Campo que tem como base um esqueleto organizacional tão acrônica que grita
para a intervenção de um historiador para concertar os erros e destacar os insights.
Como é bem documentado, contudo, as Ligas de Julião não foram tão importantes,
não tinham uma centralidade na época como viriam a ter nas reconstruções do passado de
autores como Martins (Welch 2010, 308-324). Ainda mais, na hora do golpe militar as Ligas
já estavam bastante desmoralizadas, não tiveram nenhuma participação nos grandes
conquistas do movimento da época (a Superintendência da Reforma Agrária, o Estatuto do
Trabalhador Rural e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e o Julião
estava afastado da liderança por mais que um ano. As organizações mais responsáveis pelas
conquistas do movimento foram, no primeiro lugar, o PCB (até mudar de nome em 1960, o
Partido Comunista do Brasil) e a Igreja Católica. Entre 1945 e 1947, o PCB já tinha
estabelecido uma rede de centenas de Ligas Camponesas em muitos estados do Brasil. De
fato, como o próprio Julião escreveu em 1962, a organização dele ganhou o nome Ligas
Camponesas quando os latifundiários do Estado de Pernambuco tentaram usar o termo
para atacar o grupo dele como comunista. Antes disso, o PCB já tinha organizado em 1954 e
1961 dois congressos camponeses nacionais que mobilizaram mais delegados camponeses
de todo Brasil que o MST de Stedile conseguiu mobilizar em seus encontros de fundação em
1984 e 1985 (Welch 2010, 247). Podemos desconfiar que não fosse o mesmo pincel
vermelho utilizado pelos latifundiários a reprimir as Ligas de Julião que foi empregado
depois do golpe para denegar uma avaliação mais equilibrada do movimento camponês até
então desenvolvido principalmente pelo PCB.
11
Existe uma literatura substancial que questiona a narrativa da espontânea
combustão do movimento camponês no inicio dos anos 1960. De fato, o ensaio já citado de
Martins foi um dos primeiros textos acadêmicos que insistiu na história comprida da
resistência camponesa, por exemplo, quando o autor escreveu que “alguns dos mais
importantes acontecimentos políticos da história contemporânea do Brasil são
camponeses” (1986, 25). Temos memórias de militantes, principalmente do PCB, que
documentam as tentativas de mobilização camponesa desde os anos 1920 (Brandão, 1978;
Bezerra, 1980; Dias, 1983; Welch e Geraldo, 1992; Silva e Cunha, 2004; Garcia, 2007). Um
excelente livro na coletânea do inventário da policia secreta de São Paulo (DEOPS),
organizada pela Profa. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro e escrita pela Emiliana Andréo da
Silva, oferece um cheiro da repressão da “resistência camponesa” (Silva, 2003, 21)
representado nos prontuários da entidade desde 1924. Os processos desta policia política
de vários estados foram utilizados na pesquisa de Cliff Welch, que trata “as raízes paulistas
do movimento sindical camponês no Brasil” a partir dos anos 1920 (1999, 2009, 2010) e por
outros historiadores, tais como Mario Grynszpan da UFF, que vem pesquisando a história do
movimento no Rio há décadas (1986, 2007), Guillermo Palacios que se dedicou a estudar a
“alternativa camponesa”do período colonial (1987, 2004), Zilda Iokoi , que analisou as
origens católicas do MST bem como a vida dos assentados (1996, 2005), Vagner José
Moreira, que examina as lutas camponesas pós-guerra em Fernandopolis, SP (2009), e
Angelo Priori, com seu foco no Estado de Paraná nos anos 1950 (2000). Sem referência dos
prontuários, não podemos esquecer de dar destaque aos historiadores Maria Yedda
Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva e seu estudo de 1999, Terra prometida: uma
12
história da questão agrária no Brasil, cujo primazia como síntese não pode ser negado.
Alguns sociólogos como Leonilde Medeiros também fizeram importantes contribuições para
a História Social do Campo (1989; 2003).
A História Social do Campo foi semeada, em minha opinião, pela Fundação Ford, que,
nos meados da Ditadura, procurou fomentar pesquisas sobre as conseqüências das
transformações profundas ocorrendo na agricultura em prol das políticas capitalistas de
industrialização do campo dos anos 1970. Na época, o apoio foi concentrado no
financiamento de um pequeno grupo de sociólogos e antropólogos do Museu Nacional
como Palmeira, Ruth Cardoso, Roberto Cardoso de Oliveira, Lygia Siguad e Otávio Guilherme
Velho (Siguad, 1979; Welch et al 2009). O foco da investigação estava em duas grandes
regiões, o Norte e o Nordeste. Também nos anos 1970, através do Ministério de Agricultura,
o governo militar investiu na criação do Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Agrário (CPDA), dirigida inicialmente pela historiadora Linhares, que contratou Ciro
Flamarion Cardoso e os jovens historiadores Teixeira da Silva e Palacios, para elaborar vários
projetos de pesquisa no âmbito da História da Agricultura Brasileira (Linhares, 2002, p.36-
38). Em 1978, a Fundação Ford patrocinou o estabelecimento do Projeto de Intercâmbio de
Pesquisa Social em Agricultura (PIPSA), “com o objetivo de se tornar uma alternativa à
pesquisa social da agricultura brasileira” (Moreira, 2006, 12). Coordenado inicialmente pelo
CPDA, PIPSA foi subdivido em seis grupos de pesquisa, entre eles Movimentos Sociais no
Campo. Na liderança encontravam-se mais colegas das Ciências Sociais como Maria
Conceição D’Incao, Vera Lúcia Ferrante, Maria Aparecida Moraes, Regina Novaes, Maria de
Nazareth B. Wanderley, Sonia Bergamasco e Vera Chaia. O foco aumentou para todas as
regiões do país e a produção de estudos e projetos de estudos do campo cresceu bastante.
13
Até o projeto ser interrompido após o XVIII Encontro Nacional em 1996, foram produzidos
500 trabalhos por diversos pesquisadores.
Lembra-se esta experiência institucional porque ajuda entender o que eu chamo de
História Social do Campo, que tem suas origens na linha de pesquisa sobre os movimentos
sociais do campo. A partir de uma enorme greve de cortadores de cana em Pernambuco em
1979, a maioria da atenção dos acadêmicos estava inspirada pela mobilização dos
trabalhadores rurais assalariados. Seu espírito radical combinava bem com a teoria marxista
que categorizou os camponeses como parte da classe média que resistiu a burguesia com
objetivos reacionários. No entanto, segundo o Manifesto comunista, “só o proletariado é
uma classe verdadeiramente revolucionária” (Marx & Engels, 2003, 35). Assim, no contexto
da abertura do regime militar, o assalariado agrícola em movimento virou proletariado rural
revolucionário. Quer dizer que, pela primeira vez, o homem do campo, o agricultor, o caipira
organizado começou ser visto como protagonista no fazer da história brasileira.
Historiadores tentaram abordar o estudo destes processos com a criação de um
vertente da História da Agricultura. A História Agrária, com raízes na França e nos Estados
Unidos no fim do século XIX, foi conceitualizada por Linhares como “a história econômica e
social do mundo rural” (2003, 170). Resultou, segundo ela, de um encontro feliz entre
História e Geografia, a primeira “preocupada em explicar as mudanças operadas pela ação
do homem (ou grupos sociais) através dos tempos” e a segunda “dedicada ao estudo da
relação do homem com o seu meio físico” (165). Ela cita Cardoso, também, que descreveu a
História Agrária como a “história social da agricultura, cujo objeto seria constituído pelas
formas de apropriação e uso do solo, pelo estatuto jurídico e social dos trabalhadores rurais
(produtores diretos)” (168). Linhares oferece quatro modelos em forma de figuras para
14
ajudar orientar pesquisas “capazes de conduzir a uma explicação das sociedades humanas
nas suas múltiplas determinações e complexidades” (165). Uma combina vetores de “meio
geográfico,” “população,” “área cultivada” e “técnica e conhecimento agrícola” (177). Outra,
em várias escalas, na forma de uma torta cruzada por vetores, os elementos de “potencial
produtivo” e “falta de recursos,” ”excedente de produtos” e “falta de produtos,” “mão-de-
obra excedente” e “falta de mão-de-obra,” “mercado de produtos” e “mercado de recursos
materiais” (183) Justamente na hora desta ambiciosa articulação da História Agrária,
contudo, Linhares lamentou em entrevista de “que a História Agrária esteja em desuso [...],
pois ela teria muito futuro no Brasil ao revelar as mentalidades e o poder local que ainda
predominam no país” (2002, 38). De fato, entre os fundadores da História Agrária, somente
os geógrafos foram consistentes em continuarem a contribuir no desenvolvimento da área
de conhecimento (Oliveira, 2001 [1991] & 2004; Fernandes, 1996 & 2000; Gonçalves, 2001).
Foi exatamente neste espírito que a Via Campesina do Brasil, a representação
nacional da coordenação internacional de movimentos sociais do campo, organizou em
fevereiro de 2005 uma reunião de mais que 20 pesquisadores profissionais para solicitar sua
colaboração na produção de uma coleção de dez livros sobre a História Agrária do Brasil.
Mas, invés de utilizar o conceito promovido pela Linhares, o grupo foi inspirado pela
estudante dela, a Márcia Motta da UFF, para adotar a terminologia “História Social do
Campesinato no Brasil” como tema geral do projeto.
Foi necessário um esforço convencer um grupo de acadêmicos fora da área porque,
além de Motta, acabou criando o Conselho Nacional Editorial do projeto com mais dois
historiadores só. Na minuta desta primeira reunião a resistência de uma antropóloga e uma
geógrafa, ambas preocupadas com a identificação do objeto – o campesinato – como não-
15
existente no Brasil e com as limitações da História Social como abordagem que
necessariamente vai excluir grupos importantes que não são do campo (Martins, 2005). A
resposta de Motta é memorializada desta forma:
Denomina-se história social um campo de conhecimento – em grande parte de inspiração thompsoniana – que busca compreender o passado à luz das contribuições de disciplinas sociais, em particular a antropologia. Ao romper com a primazia do econômico em detrimento dos aspectos ligados às normas e a cultura, a história social – segundo Thompson – incorpora as múltiplas dimensões do social, destacando o papel da experiência na compreensão das contradições do processo histórico. Tais contradições são, por sua vez, o conflito entre o modo de viver e as normas da comunidade local e ocupacional da sociedade ‘envolvente’. E ainda, o conflito é então “as maneiras pelas quais o caráter essencialmente explorador das relações produtivas se torna uma experiência vivida.
Em outras palavras, Motta defendeu a História Social como área de conhecimento
baseada nas ciências sociais, especialmente a antropologia e a sociologia, com o intuito de
ser mais inclusive das diversas dimensões da experiência vivida na busca de um
entendimento ainda mais amplo dos processos formadores de nossa realidade. Como um
dos três historiadores no grupo (Motta, Paulo Zarth e eu), posso atestar da impossibilidade
insistir como minoria na aplicação pela maioria de um rigor metodológico aparecida com
nosso. No livro que organizei com três sociólogos, consegui na marra impor uma disciplina
cronológica sobre a ordem dos textos e nossa abordagem na apresentação.
Repito aqui a História Social do Campo tem suas origens na luta dos camponeses e
foi desenvolvida principalmente por pesquisadores das ciências sociais que não eram
historiadores. Defino História Social do Campo como a história das relações sociais
desenvolvidas no campo – dentro e fora atividades agrícolas – que tem tudo a ver com a
missão da história social, de resgatar “dos imensos ares superiores de condescendência da
posteridade” a experiência da maioria, especialmente os camponeses (Thompson, I, 13). É
16
muito importante que os historiadores ocuparem este território das ciências sociais para
melhorar nossa compreensão da História Contemporânea do Brasil.
O Campo e a História Contemporânea do Brasil
“O objetivo básico do MST seria a integração de uma parcela dos excluídos ao processo de cidadania. Está é a revolução que a elite rural teme. Não é preciso pegar em armas. Mais, nós mantemos a utopia. Cada militante sabe que está fazendo uma revolução dentro dele mesma.” -- Gilmar Mauro (Linhares e Silva, 1999, 208) “A reforma agrária é uma experiência comprovadamente de sucesso e que permitiria, se transformada em política do Estado, a erradicação da maior parte das causas da pobreza e da injustiça social no país.” -- Linhares e Silva (1999, 211) "A grilagem de terra no Pará é conhecida de todos. O sul do Estado tem a maior quantidade de grilagem. Coincidentemente, tem os maiores índices de desmatamento e de homicídios." -- Gilson Dipp, corregedor do CNJ que autorou decisão de cancelar como irregulares 5.5 mil registros de terra do Estado de Pará (Seligman & Angelo, 2010, 1) Estou propondo para os colegas e alunos interessados de nossa disciplina um projeto
de pesquisa que englobaria “A História Contemporânea da Luta pela Terra no Brasil,”
começando com um estudo de caso do Estado de São Paulo no período 1960-2010. Como
indicado pela discussão da História Social do Campo e o recorte temporal, o foco principal é
a investigação da mobilização dos camponeses um pouco antes, durante e depois do regime
militar. Ele procurará explicar o lugar da campanha pela reforma agrária desde que virou
uma preocupação nacional – alias internacional – como uma das reformas fundamentais
para estimular o desenvolvimento econômico a partir do final dos anos 1940 (Welch, 2004).
A orientação teórica baseia-se na mistura de teorias-críticas, particularmente da
História e da Geografia. A primeira linha de argumentação é do historiador inglês E. P.
Thompson que definiu classe como experiência e enfatizou a importância da cultura como
17
fonte da consciência que vai contribuir na formação da identidade coletiva dos grupos
subordinados (Thompson, 1998, 2004). No Brasil, temos um caso interessante para testar a
hipótese de Thompson no processo histórico não-linear do campesinato, que se formou
como classe, se desmanchou e se reconstruiu durante o período do estudo.
O Grupo de Estudos Históricos Subalternos da Índia traz uma segunda linha teórica
de importantes referências para nosso trabalho (Guha, 1983; Gupta, 1998; Rodriguez,
2001). Desde os anos 1980, o grupo vem pesquisando a História a partir dos grupos sociais
marginalizados para demonstrar como os “excluídos” sempre fizeram parte (foram
incluídos) do fazer-se da formação nacional. Já em uma linha critica desta historiografia, a
Gayatri Spivak (1988) questiona a dicotomia inclusão/exclusão e afirma que o subalternos
tem sua própria voz, capaz de desenvolver uma contra-narrativa e estruturas
socioeconômicas e políticas para enfrentar a hegemonia das classes dominantes. O Gareth
Williams (2002) leva mais para frente os argumentos, aplicando a critica de Spivak no
contexto da América Latina. Dele, conseguimos pensar a fragilidade da hegemonia desde a
crise de liberalismo e a criação de seu suposto substituto, neoliberalismo. Williams examina
a mobilização de vários indivíduos e grupos subalternos em suas lutas de desenhar
passados, presentes e futuros novos e em contra-distinção das realidades e narrativas
subordinadas disponibilizadas pela dominação.
Durante as últimas duas décadas, depois do fim da Guerra Fria e com a expansão e
intensificação da atividade agrícola, o significado da reforma agrária mudou (Teubal, 2009).
Anteriormente foi vista como uma política de ajudar garantir a posse muitas vezes de
grandes proprietários com um foco em novas técnicas para um “melhor” (mais intensa)
exploração da terra. Alguns agricultores familiares beneficiaram, mas ficaram
18
comprometidos em aplicar as novas tecnologias, freqüentemente ficando tão endividados
que a venda da terra e abandona da agricultura foram as únicas saídas. Nas décadas mais
recentes, as políticas de reforma agrária foram embutidas com outro significado. Até hoje, a
ideia principal é de estabelecer famílias agrícolas, uma inversão do significado original que
foi imposto pelos movimentos sociais do campo.
A reforma agrária é visto como um sítio privilegiado para analisar a construção do
projeto de desenvolvimento nacional e seu esgotamento e transformação pelos
movimentos sociais em um projeto alternativo. Enquanto a políticas de reforma agrária
foram iniciadas para avançar o projeto desenvolvimentista de formação nacional, e a
mobilização camponesa inicialmente foi estimulada para facilitar sua integração no projeto
nacional, a resistência da classe dominante de alterar a estrutura fundiária, a destruição do
meio-ambiente e a corrupção na implantação das políticas erodiram apoio e a Ditadura
parou de utilizar o termo “reforma agrária” em seus planos em 1975. Volta ser discutido por
força dos movimentos sociais no final dos anos 1970 e entra na constituição pela primeira
vez em 1988 com a República Nova. Daí a luta pela terra vai ser o veiculo para a sua
realização. A luta faz de que a reforma agrária passa de ser uma política ganha e não doada.
Neste contexto, pode ser interpretado não como política de inclusão socioeconômica, mas
de emancipação, onde os novos camponeses podem construir suas próprias alternativas em
comunidades transnacionais e transculturais (Escobar, 1995; Williams, 2002). É um lugar
onde a hegemonia da classe dominante enfrentou seus limites na subalternidade dos
camponeses.
Como a primeira fase de um projeto de extensão nacional, o atual projeto é visto
como pioneiro no sentido de abrir novos caminhos e desenvolver novas ferramentas para as
19
pesquisas do período que poderiam ser aplicados nas outras fases. Para dar conta da
História da luta pela terra no Brasil contemporâneo, pretendemos elaborar um total de
cinco projetos, cada um com foco em um Estado de cada uma das cinco regiões do Brasil:
Sul (Rio Grande do Sul), Centro-Sul (São Paulo), Centro-Oeste (Goiás), Nordeste
(Pernambuco) e Norte (Pará).
Outra identidade do projeto é seu caráter multidimensional. Pretendemos examinar
em escala local e estadual a história da implantação das políticas de reforma agrária
estadual e nacional em um contexto cada dia mais internacionalizado. Podemos afirmar,
sem medo de errar, que a luta pela terra faz parte da condição humana. Desde os tempos
primordiais, os homens e mulheres lutam para conquistar seus territórios. Nos tempos
contemporâneos, o processo é um tanto mais regulamentado, visto que o sistema
capitalista demanda segurança na posse da terra para garantir retorno para os
investimentos dos acionistas. A reforma agrária, dessa forma, sempre foi uma política
orientada para controlar a luta pela terra, assegurando a posse dos com-terra, causando a
sensação de que irá atender as necessidades dos sem-terra através da distribuição das
terras disponíveis.
Por mais que vinte anos, os principais beneficiários e protagonistas foram os sem-
terra, e a participação deles no processo é nossa principal, mas não exclusiva preocupação.
O processo tem sido examinado muito pouco por historiadores, sendo alvo de pesquisa
especialmente de geógrafos, sociólogos e antropólogos. Como um processo complexo,
influenciado tanto pelo espaço quanto pelo tempo, a abordagem histórica é de relevância
fundamental.
20
Enquanto os discursos da implantação de políticas de colonização, de expansão
agrícola e de reforma agrária foram, desde os anos 1920, caracterizados por argumentos de
desenvolvimento econômico, consolidação nacional, oportunidade igualitária e inclusão
social, a realidade para os povos indígenas, afro-brasileiros e camponeses foi quase sempre
uma de encerramento, expulsão e uma exploração que chega ser considerada similar, se
não pior, a escravidão.
O discurso de abertura das fronteiras e da distribuição das terras, divulgado para
estimular atividade econômica e identidade nacional, vai gerar seu oposto nos grupos
subalternos, frustrados com promessas quebradas e ansiosos para garantir as necessidades
da vida (Ganzer, 1997). “A Marcha para o Oeste” de Getúlio Vargas vai ser re-imaginada pela
Ditadura como a colonização do Norte (Lenharo, 1986; Gonçalves Neto, 1997). As falhas
destes mega-projetos vão contribuir para instigar a organização de vários protestos e
movimentos de resistência, até a formação do MST em 1984, que vai fazer da ocupação da
terra a sua bandeira de luta. Para sustentar esta luta, ambos os lados vão procurar alianças
no estrangeiro, ou governos ou empresas transnacionais ou vínculos com os movimentos
indígenas e camponeses de outros países (Welch, 2007; Desmarais 2007; Wolford, 2010). A
proposta dos EUA abandonar a ideologia que conseguiu hegemonia no mundo ocidental nas
décadas pós-segunda guerra e sustentou o projeto desenvolvimentista – o liberalismo –
estimulou os grupos subordinados a mobilizar em oposição do novo projeto geocultural –
neoliberalismo – e procurar nas tradições e modos de vida de seus membros e territórios
elementos para construir novos modelos sociais, econômicos e políticos (Wallerstein, 2004).
Pretendemos elaborar uma pesquisa para analisar esta narrativa no contexto da
história contemporânea do Estado de São Paulo. Na segunda metade do século XX e início
21
do século XXI, os camponeses e fazendeiros se mobilizaram para proteger e expandir seus
territórios, pressionando o Estado a lhes dar assistência. Essa assistência chega através de
iniciativas governamentais, tais como a Revisão Agrária no Estado de São Paulo (1961), a
Superintendência da Política Agrária (Supra - 1963), o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR -
1963), o Estatuto da Terra (1964), o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária
(Incra - 1970), a Lei Agrária (1966/1993/2001), os Programas Nacionais de Reforma Agrária
(1986/2003), a Constituição (1988), o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp -
1991) e o estabelecimento e administração de assentamentos de reforma agrária. Por meio
dessas medidas, o Estado procurou distribuir terras sem mexer com a estrutura fundiária
para aumentar a produção, reproduzir a força de trabalho e assim silenciar as
manifestações.
Na História destas lutas, predominam narrativas ou de permanência ou de
transformação. Na versão oficial, o Estado procura constantemente transformar a realidade
com melhoramentos para beneficiar a maioria e incorporar o povão no projeto estatal.
Numa versão mais básica, a subordinação conserva-se intacta, bem como a necessidade de
se lutar para conseguir o menor nível de reforma agrária (Linhares e Silva, 1999). Da
perspectiva dos estudos subalternos, as políticas agrícolas do Estado têm seus lados
material e imaginário, e ambos merecem ser questionados. Depois anos de luta, é possível
ler nas ações e discursos dos movimentos camponeses uma contra-narrativa que
deslegitima a narrativa neoliberal do Estado e da classe dominante. No fazer de sua própria
história, os sem-terra revigoraram a antropofagia brasileira numa garimpagem de ideias e
recursos humanos de todo mundo, num aproveito de todos os recursos disponíveis, na
construção de relações transnacionais e transculturais para imaginar novas formas de
22
comunidade (Anderson, 1986). O desafio do projeto de pesquisa se encontra na elaboração
de uma narrativa analítica mais intricada e eficaz na representação destes processos de
subordinação, luta e emancipação.
Na visão do pensamento desenvolvimentista do período pós-Guerra, São Paulo teve
a aparência de estar à frente da transição de uma agricultura tradicional para a
agroindústria moderna. Entre outros sinais desta transição, foi a narrativa do clã fazendeiro,
onde o trabalhador rural foi tratado como se fosse família, cujas relações trabalhistas foram
“modernizadas” desde a Caderneta Agrícola foi lançada no início do século XX e a
transformação do trabalhador em agricultor proprietário e cidadão foi apenas uma questão
de trabalho árduo e tempo (Welch, 2010). A tendência dos camponeses foi um de procurar
incorporação através deste sistema de subordinação ou pela negociação orientada pelos
sindicatos de trabalhadores rurais (Coletti, 1998; Ricci 1999; Welch, 2009; Welch, 2010). No
período neoliberal, algumas partes do sistema de apoio agrícola do governo federal foram
desmanteladas e os fazendeiros precisavam transformar-se em agribusinessmen. A
promessa da subordinação foi negada os trabalhadores e o espaço de negociação dos
sindicatos limitado; muitos camponeses migraram para as cidades e gerações posteriores
apostaram na identidade do sem-terra para criar novos sonhos e encontrar um caminho
para resistir (Fernandes, 1996; Silva, 2004; Sauer, 2010). De fato, a luta pela terra paulista
desafiou com regularidade a imagem moderna do estado que os supostos donos da terra
queriam projetar ao mundo.
São Paulo também se justifica como recorte espacial do projeto justamente por seu
papel no imaginário brasileiro, um papel perfeitamente entendido por estrategistas
políticos. Antes do golpe militar, São Paulo já foi sede da mais importante organização
23
camponesa, a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), uma frente
popular do Partido Comunista Brasileiro (PCB), bem como a mais militante das associações
dos maiores agropecuaristas, a Sociedade Rural Brasileira (SRB). Os dois primeiros
presidentes da Contag estavam baseados em São Paulo. Em algum tempo, o MST também
optou por localizar sua secretaria nacional em São Paulo, exatamente como foi a decisão
dos dirigentes rurais do período neoliberal que estabeleceram em São Paulo as sedes da
Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) em 1993 e a União da Indústria de Cana-de-
Açúcar (Única) em 1997 (Bruno, 2009). Diários paulistanos de destaque nacional como o
antigo Última Hora, A Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, e o programa de televisão
Globo Rural, trabalham há décadas para fortalecer a imagem progressista do Brasil rural.
O projeto analisa o Estado de São Paulo para contar a história da formação da
agricultura capitalista, sobretudo as histórias particulares de como afetou e foi afetado
pelas classes sociais envolvidas. Os camponeses queriam maior segurança e dignidade na
agricultura; os fazendeiros queriam mais lucros e autonomia; o governo queria mais ganho
no mercado internacional e menos pressão no custo de vida urbana com cesta básica barata
e outras contribuições para estimular o crescimento da indústria. Cada grupo pressionava a
terra e uns aos outros para chegar aos seus objetivos. No início dos anos de 1960, bem na
linha desenvolvimentista, todos eles elaborarem discursos de receptivos da noção da
“incorporação” do trabalhador rural (Welch, 2010).
Na escala do estado, o governo lançou sua lei da Revisão Agrária em 1961,
antecipando o Estatuto da Terra, decretado pelo regime militar em novembro de 1964. As
leis criariam uma linguagem que orientaria a luta pela terra nas décadas a seguir (Linhares e
Silva, 1999). A repressão orquestrada pela Ditadura, bem como outros fatores ainda para
24
descobrir, faria impossível a liderança da luta pelo PCB, abriria espaço para o crescimento
do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR), facilitaria a participação da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e criaria a necessidade de estabelecer algo como o MST.
Na República Nova, o papel da luta pela terra cresceu em importância. Para alguns, a
distribuição da terra fez parte do processo da redemocratização. O primeiro Plano Nacional
de Reforma Agrária (PNRA) foi produzido e a reforma agrária foi consolidada como política
com sua inclusão na Constituição de 1988. A mobilização em volta do assunto foi feroz. A
Contag apoiou a versão do governo, o MST, não. Da parte patronal, descontente com a SRB
e as representações corporativistas, principalmente os seus sindicatos, organizou-se a União
Democrática Ruralista (UDR) para opor a integração da reforma agrária na Constituição e as
atividades do Incra, para não falar dos movimentos populares. Nos anos 1990, o governo
inspirou-se na ideologia neoliberal e eliminou vários apoios corporativistas para o setor
agrícola e assim lançou mais uma fase de concentração de terra. O desemprego rural e
urbano aumentou. Em conseqüência destas transformações todas, as fileiras dos sem-terra
cresceram e a luta pela terra tomou proporções maiores durante a década (Fernandes et al,
2009).
O objetivo geral é de produzir uma História Social da luta pela terra no Brasil entre
1960 e 2010 que destaca as relações entre camponeses, fazendeiros e o governo, suas
ações e seus discursos na construção/desconstrução da hegemonia liberal e de narrativas
alternativas a partir dos grupos subordinados. Os objetivos específicos incluem analise da
territorialização/desterritorialização do pais no período, da prática e discurso
desenvolvimentista no campo, da formação, atuação e imaginários compostos pelas
organizações defensores dos interesses dos camponeses e fazendeiros, das relações que
25
destas organizações desenvolveram com outros movimentos e/ou empresas fora de seus
locais e no estrangeiro, do papel dos sistemas governamentais municipal, estadual, federal e
internacional na composição e implantação de políticas públicas no campo, da disputa entre
os sujeitos da história e das narrativas mestras e subordinadas da questão agrária. Os
estudos que existem, produzidos em sua maioria por sociólogos e geógrafos, mapearam
pontos de interesse, como nosso próprio trabalho também ajuda apontar o caminho (Welch
& Geraldo, 1992; Fernandes, 1996; Coletti, 1998 & 2002; Silva, 1998 & 2004; Ricci, 1999;
Grynszpan, 2003; Welch, 1999, 2004, 2009a & 2009b, 2010), mas precisamos de muitas
outras monografias para conseguir entender melhor estas relações complexas.
Conclusão
Nesta apresentação tentei apoiar quatro argumentos:
1. A História do campo sempre foi e ainda é essencial para compreender Brasil;
2. Para o período pós-Segunda Guerra Mundial até o tempo presente, os historiadores
geralmente deixaram a História do Campo nas mãos de sociólogos, antropólogos e
geógrafos;
3. A História Social do Campo é uma maneira de animar os historiadores de tomar
conta do temo no período
4. A pesquisa da questão agrária, desenvolvimentismo e identidade cultural elaborada
na Índia e América Latina pelos historiadores do Grupo de Estudos Subalternos
oferece orientações interessantes por uma nova interpretação da História do Brasil
Contemporâneo.
26
Referências
Abramovay, Ricardo. 1992. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo: Editora Hucitec.
Bezerra, Gregório. 1980.Memórias: segunda parte, 1946‑1969 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Brandão, Octavio. 1978. Combates e batalhas: memórias. v. 1. São Paulo: Alfa‑Omega. Branford, Sue & Rocha, Jan. 2002. Cutting the Wire: The Story of the Landless Movement in Brazil. London: Latin American Bureau.
Brass, Tom (org). 2003. Latin American Peasants. Portland, Oregon: Frank Cass Publishers.
Bruno, Regina (org.). 2009. Um Brasil ambivalente: agronegocio, ruralismo e relações de poder. Riod de Janeior: Mauad X; Seropédica, EDUR.
Caiado, Aurílio Sérgio Costa & Santos, Sarah Maria Monteiro dos. 2003. Fim da dicotomia rural-urbano? Um olhar sobre os processos socioespaciais. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v.17, n.3-4, p.115-124.
Callado, Antônio. 2003[1985]. Entre o Deus e a vasilha: ensaio sobre a reforma agrária brasileria, a qual nunca foi feita. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
Carter, Miguel. Org. 2010. Combatendo a desigualdade social: o MST e a reforma agrária no Brasil. São Paulo: Editora da UNESP.
Carvalho, José Murílio de. 2004. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. 2010. Vários artigos. Disponível em http://www.canaldoprodutor.com.br/. Acesso 6 de setembro de 2010.
Coletti, Claudinei. 1998. A estrutura sindical no campo: a propósito da organização dos assalariados rurais na região de Ribeirão Preto. Campinas: Editora da Unicamp.
________. 2002. Ascensão e refluxo do MST da luta pela terra na década neoliberal. Idéias. v. 9, n. 1, p. 49-104.
Costa, Emilia Viotti da. 1992. Da Monarquia à República. São Paulo: Edusp.
Cubas, Tiago Egídio Avanço. 2009. Estudo da contribuição da imprensa na representação dos camponese e ruralistas no Pontal do Paranapanema de 1998 a 2008. Trabalho de Conclusão de Curso em Geographia. UNESP, Presidente Prudente. Decembro. 102 p.
27
________. 2010. Estudo da contribuição da imprensa na representação dos conflitos entre MST e UDR na formação territorial do Pontal do Paranapanema de 1990 a 2008. Projeto de Mestrado. em Geografia. Programa de Pós-Graduação, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente. Orientador: Clifford Andrew Welch e Co-Orientador: Bernardo Mançano Fernandes.
Dean, Warren. 1997 [1995]. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras.
Desmarais, Annette Aurélie. 2007. La Vía Campesina: Globalization and the Power of Peasants. Fernwood Publishing and Pluto Press: Halifax and London.
Dias, Eduardo. 1983. Um imigrante e a revolução: memórias de um militante operário, 1934‑1951. São Paulo: Brasiliense. D'Incao, Maria Conceição. 1975. O 'bóia-fria': acumulação e miséria. 8ª Ed,.Petrópolis: Editora Vozes.
Escobar, Arturo. 1995. Encontering Development: The Making and Unmaking of the Third World. Princeton: Princeton University Press.
Escobar, Arturo & Alvarez, Sonia E.. 1992. New Social Movements. In: Escobar, Arturo & Alvarez, Sonia E., eds. New Social Movements in Latin America: Identity, Strategy, and Democracy. Boulder, CO: Westview Press.
Felício, Munir Jorge. 2006. Camponês/agricultor familiar: paradigmas em questão. Projeto de Doutorado em Geografia. Programa de Pós-Graduação, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente. Orientador: Bernardo Mançano Fernandes e Co-Orientador: Clifford Andrew Welch.
Fernandes. Bernardo Mançano. 1996. MST: Formação e territorialização no São Paulo. Ed. São Paulo: Hucitec.
________. 2000. A formação do MST no Brasil. Petrópolis: Vozes.
Fernandes, Bernardo Mançano & Welch, Clifford Andrew. 2008. Brazil’s Experience with Agrarian Reform, 1995-2006: Challenges for Agrarian Geography (with an interview with Joao Pedro Stedile, Directorate, MST). Human Geography: A New Journal. Bolton, Massachusettes, v.1, n.1, p.59 – 69.
Fernandes, Bernardo Mançano; Welch, Clifford Andrew; Cleps, João & Fabrini, João Edimilson. Relatório DATALUTA 2007. Presidente Prudente, 2008.
28
Fico, Carlos. 2004. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Editora Record. A ditadura escancarada. As ilusões armadas. São Paulo: Companhia das Letras.
Fontes, Paulo. 2008. Um Nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-1966). Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.
Garcia, Maria Angélica Momenso. 2007. Nazareno Ciavatta: uma liderança no sindicalismo rural. São Paulo: Editora Expressão Popular.
Geomundo. 2010. “Agricultura familiar representa 10,1% do PIB nacional.” Disponível em http://www.geomundo.com.br/geografia-30106.htm. Acesso em 6 de setembro, 2010.
Gonçalves, Carlos W. Porto. 2001. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Editora Contexto.
Gonçalves Neto, Wenceslau. 1997. Estado e agricultura no Brasil: Política agrícola e modernização econômica brasileira, 1960-1980. São Paulo: Editora Hucitec.
Gohn, Maria da Glória. 2004. Teorias dos movimentos sociais. 4a ed. Sao Paulo: Loyola.
Grynszpan, Mario. 2003. “A questão agrária no Brasil pós-1964 e o MST.” In: Ferreira, Jorge & Reis, Daniel Aarão. O tempo da ditadura. Regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. (O Brasil Republicano, v. 4) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 315-348.
Guha, Ranajit. 1983. Elementary Aspects of Peasant Insurgency. New Delhi: Oxford University Press.
Gupta, Akhil. 1998. Postcolonial Developments: Agriculture in the Making of Modern India. Durham: Duke University Press.
Harvey, David. 2004. Espaços de esperança. 2a ed. Tradução pelos Sobral, Adail Ubirajara & Gonçalves, Maria Stela. São Paulo: Editora Loyola.
Hellman, Judith Adler. 1995. “The Riddle of New Social Movements: Who They Are and What They Do”. In: Halebsky, Sandor & Harris, Richard L., eds, Capital, Power and Inequality in Latin America. Boulder, CO: Westview Press.
Houtzager, Peter P.. 2004. Os últimos cidadãos: conflito e modernização no Brasil rural. São Paulo: Editora Globo.
Iokoi, Zilda. M. G. . 1996. Igreja e Camponeses na América Latina: Teologia da Libertação e a Luta pela Terra Brasil-Peru 1964/1986. São Paulo: Hucitec.
Iokoi, Z. M. G. (Org.) ; ANDRADE, M. R. O. (Org.) ; REZENDE, S. (Org.) ; RIBEIRO, S. (Org.) . 2005. Vozes da Terra: histórias de vida dos assentados rurais de São Paulo. São Paulo: Fundação Itesp.
29
Karepovs, Dainis. 2006. A classe operária vai ao parlamento. O Bloco Operário e Camponês do Brasil (1924-1930). São Paulo: Alameda Casa Editorial.
Ladurie, Emmanuel Le Roy. 2007. História dos camponeses franceses: da peste negra à revolução. 2 vol.. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Leite Lopes, J. S. . O Vapor do Diabo: O Trabalho dos Operários do Açúcar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 220 p.
Lenharo, Alcir. 1986. Sacralização da política. Campinas: Papirus.
Linhares, Maria Yedda & Silva, Francisco Carlos da. 1999. Terra prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus.
Martins, José de Souza. 1986 [1981]. Os camponeses e a política no Brasil. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes.
Marx, Karl & Engels, Friedrich. 2003 [1848]. Manifesto comunista. São Paulo: Instituto José Luís e Rosa Sundermann.
Mazoyer, Marcel & Roudar, Laurence. 2010. História das agriculturas do mundo: do neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Editora Unesp.
Medeiros, Leonilde Sérvolo de. 1989. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: FASE.
________. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela terra. (São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2003).
Moraes, Clodomir Santos de. 1970. Peasant Leagues in Brazil. In: Stavenhagen, Rodolf. Ed. Agrarian Problems and Peasant Movements in Latin America. New York: Doubleday, p.453-501
Moreira, Vagner J. Memórias e histórias de trabalhadores em luta pela terra: Fernandópolis-SP, 1946-1964. 2009. 266 f. Tese (Doutorado em História Social) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, UFU, Uberlândia, 2009.
Moreira, Roberto José. 2006. Mobilizando as agendas em torno da pesquisa social em agricultura. O Programa CPDA , a PIPSA e o Pronex. Notas de apresentação na Sessão I. Instituições, redes e grupos de pesquisa: Mobilizando as agendas em torno da pesquisa social em agricultura do Seminário Comemorativo dos 30 Anos do CPDA. Rio de Janeiro, 28 de Novembro.
Morirssawa, Mitsue. 2001. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Editora Expressão Popular.
30
Novaes, Regina Reyes. 1997. De corpo e alma: Catolicismo, classes sociais e conflitos no campo. Rio de Janeiro: Graphia Editorial.
Oliveira, Ariovaldo Umbelino de. 2001 [1991]. A agricultura camponesa no Brasil. 4ª Ed. São Paulo: Editora Contexto.
________. 2004. Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil. Revista Terra Livre. São Paulo, v. 02, n. 21, p. 113-156.
Ondetti, Gabriel. 2008. Land, protest, and politics: The Landless Movement and the Struggle for Agrarian Reform in Brazil. University Park, PA: The Pennsylvania State Unversity Press.
Palmeira, Moacir G. S. 1979 “The Aftermath Of Peasant Mobilization.” In: Neuma Aguiar ed. The Structure of Brazilian Development. New Brunswick, NJ: Transaction Books, p. 71-98.
Perlman, Selig. 1922. A History of Trade Unionism in the United States. New York: The Macmillan Company.
Prado Júnior, Caio & Fernandes, Florestan. 2005 [1966]. Clássicos sobre a revolução brasileira. 4a ed. São Paulo: Editora Expressão Popular.
Réis Filho, Daniel Aarão. 2002. Uma revolução perdida: a história do socialismo soviético. 2ª Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.
Ricci, Rudá. 1999. Terra de ninguém: representação sindical rural no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp.
Rodriguez, Ileana. Org. 2001. The Latin American Subaltern Studies Reader. Durham: Duke University Press.
Sauer, Sérgio. 2010. Terra e modernidade: a reinvenção do campo brasileiro. São Paulo: Editora Expressão Popular.
Seligman, Felipe & Angelo, Claudio. 2010. CNJ cancela 5,5 mil registros de terra irregulares no Pará. A Folha de S. Paulo. 20 de agosto, 1.
Silva, José Graziano da. 1996. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: IE/UNICAMP.
Silva, Lindolpho; Cunha, Paulo Ribeiro da. O camponês e a história: a construção da ULTAB e a fundação da CONTAG. São Paulo: Instituto Astrojildo Pereira, 2004.
Silva, Maria Aparecida de Moraes. 1998. Errantes do fim do século. São Paulo: Edunesp.
________ 2004. A luta pela terra. Experiência e memória. São Paulo: Edunesp.
31
Slater, David. 1985. New Social Movements. In: Slater, David, ed., New Social Movements and the State in Latin America. Amsterdam: CEDLA.
Spivak, Gayatri Chakravorty. 1988. Can the Subaltern Speak? In: Nelson, Cary & Grossberg, Lawrence (orgs), Marxism and the Interpretation of Culture. London: MacMillan, p. 271-313.
Stedile, João Pedro & Fernandes, Bernardo Mançano. 1999. Brava Gente: a trajetória da MST e a luta pela terra no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.
Teubal, Miguel. 2009. Agrarian Reform and Social Movements in the Age of Globalization: Latin America at the Dawn of the 21st Century. Latin American Perspectives. Beverly Hills, California, v.36, n.4, p.9-20.
Thompson, E. P. 2004 [1963]. A formação da classe operária inglesa: a árvore da liberdade. v.1, 4ª ed., São Paulo: Editora Paz e Terra.
________. 1998. Costumes em comun: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras.
Vanden, Harry E. 2005. Brazil's Landless Hold Their Ground. NACLA: Report on the Americas. Nova Iorque, v.38, no. 5, March/April, p.21-27.
Wallerstein, Immanuel. 2004. World Systems Analysis: An Introduction. Durham, NC: Duke University Press.
Welch, Cliff. 1995. Rivalry and Unification: Mobilising Rural Workers in São Paulo on the Eve of the Brazilian Golpe of 1964. Journal of Latin American Studies. Londres. v.30, n.2, p.61-89.
________. 1999. The seed was planted: the São Paulo roots of Brazil’s rural labor movement, 1924-1964. University Park, PA: Penn State Press.
________. 1999. The Shooting of Jofre Correa Neto: Writing the Individual Back Into Historical Memory. Radical History Review. Nova Iorque, 75 (Fall), p.28-55.
________. 2000. Giving Voice to Brazil's Rural Labor Movement. Grand Valley Review. Grand Rapids, Michigan, XXI (Spring), p.40-54.
________. 2004. Jôfre Corrêa Netto, the Fidel Castro of Brazil (1921 to 2001). In: Beattie, Peter M. (org.). The Human Tradition in Modern Brazil. Wilmington, DE: Scholarly Resources, p.207-239.
________. 2006a. Keeping Communism Down on the Farm: The Brazilian Rural Labor Movement During the Cold War. Latin American Perspectives. Beverly Hills, Califórnia, v. 33, n. 3, p.28-50.
32
________. 2006b. Movement Histories: A Preliminary Historiography of Brazil’s Landless Laborers’ Movement (MST). Latin American Research Review. Austin, Texas, v. 41, n. 1, p. 198-210.
________. 2007a. Globalization and the Transformation of Work in Rural Brazil: Agribusiness, Rural Labor Unions, and Peasant Mobilization. International Labor and Working Class History. Nova Iorque, v. 70, n. 1, p.35-60.
________. 2007b. O atentado: tentando encontrar a História nos relatos de um assassinato que não houve. Projeto História. São Paulo, n.35, p. 63-95.
________. 2009a. Camponeses: Brazil’s Peasant Movement in Historical Perspective (1946-2004). Latin American Perspectives. Beverly Hills, Califórnia, p.180-211, v. 36, n.4.
Welch, Clifford Andrew. 2004. Rivalidade e unificação: mobilizando os trabalhadores rurais em São Paullo na véspera do golpe de 1964. Projeto História. São Paulo, v. 29, t. 2, p. 363-390. Julho/dezembro.
________. 2007c. A experiência das organizações internacionais na construção de uma identidade camponesa por uma América integrada (1947-1997) In: Anais do XXIV Simpósio Nacional de História: História e multidisciplinaridade. São Leopoldo: UNISINOS.
________. 2009b. Os com-terra e sem-terra de São Paulo: retratos de uma relação em transição (1945-1996). In: Fernandes, Bernardo Mançano, Medeiros, Leonilde Sérvolo e Paulilo, Maria Ignes, orgs. Lutas camponesas contemporâneas. Condições, dilemas e conquistas. Coleção História Social do Campesinato no Brasil. São Paulo: Edunesp.
________. 2010. A semente foi plantada: as raízes paulistas do movimento sindicalcamponês do Brasil, 1924-1964. São Paulo: Editora Expressão Popular.
_______. Prelo/2010. Jofre Corrêa Netto, Capitão Camponês. São Paulo: Editora Expressão Popular.
Welch, Cliff e Geraldo, Sebastião. 1992. Lutas camponesas no interior paulista: memórias de Irineu Lúis de Moraes. São Paulo: Editora Paz e Terra.
Welch, Clifford Andrew e FERNANDES, Bernardo Mançano. 2009. Produto 6 - Relatório Técnico Final - Da alteração de suporte e da disponibilização de 7 mil páginas de documentos selecionados da parte do Acervo do MST, bem como do catálogo integral do acervo no site da consultoria contratada. São Paulo, NEAD/IICA.
Williams, Gareth. 2002. The Other Side of the Popular: Neoliberalism and Subalternity in Latin America. Durham, N.C.: Duke University Press.
33
Wolford, Wendy. 2010. This Land is Ours Now: Social Mobilization and the Meanings of Land in Brazil. Durham: North Carolina.
Wright, Angus e Wolford, Wendy. 2003. To Inherit the Earth: The Landless Movement and the Struggle for a New Brazil. Oakland, CA: Food First Books.
Documentários
Welch, Cliff (produção, roteiro) e Perrine, Toni (edição). 2001. Grass War! Peasant Struggle in Brazil. VHS 34 min. Distributed by The Cinema Guild, New York.
Entrevistas concedidos à proponente
Andrade, Tânia. 15 de junho, 1999. São Paulo, SP.
Balduino, Dom Tomas. 10 de dezembro, 2004. Ribeirão Preto, SP.
Bragheto, Pe. José Domingos. 13 de setembro, 2004. São Paulo, SP.
Caminhoto, Gerson. 6 de agosto, 2004. Teodoro Sampaio, SP.
Casali, Derli. 01 de março, 2004. Pedro Carnario, ES.
Cremonezi, João Altino. 26 de julho, 2004. Presidente Prudente, SP.
Cruz, Divanil José. 07 de agosto, 2004. Teodoro Sampaio, SP.
Denari, Zelmo. 26 de julho, 2004. Presidente Prudente, SP.
Faleiros, Airton Luís. 18 de julho, 1997. Brasília, DF.
Ganzer, Avelino. 20 de julho, 1997. Taguatinga, DF.
Guerra, Dr. Pedro Paulo. 04 de setembro, 2004. Alphaville, SP.
Junandir, Padre. 22 de julho, 2004. Alvares Machado, SP.
Lima, Pe. José Antônio de. 04 de agosto, 2004. Presidente Prudente, SP.
Neves, Élio. 22 de julho, 1997 & 2006. Araraquara, SP.
Oliveira, Moises Simeão de. 05 de agosto, 2004. Euclides da Cunha, SP.
Perreira, João. 22 de julho, 2004. Presidente Bernardes, SP.
Parren, René. 11 de outubro, 2005. Andradina, SP.
Portela, José Alves. 23 de agosto, 1988. São Paulo, SP.
Rainha Júnior, José. 05 de agosto, 2004. Mirante do Paranapanema, SP.