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1 A HISTÓRIA SOCIAL DO CAMPO E OS MUNDOS DO TRABALHO Clifford Andrew Welch - Apresentador Professor Adjunto História do Brasil Contemporâneo Universidade Federal de São Paulo A HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO NO BRASIL: DIÁLOGOS, DEBATES E PERSPECTIVAS ATUAIS Luigi Biondi (Unifesp) – Coordenador e Debatedor Cláudio Batalha (Unicamp) – Debatedor 8 de setembro de 2010, 10h30 às 12h30 XX ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA ANPUH – São Paulo História e Liberdade Unesp – Campus de Franca 6 a 10 de setembro de 2010

WELCH, Clifford - Historia social do campo 2010.pdf

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A HISTÓRIA SOCIAL DO CAMPO E OS MUNDOS DO TRABALHO

Clifford Andrew Welch - Apresentador Professor Adjunto

História do Brasil Contemporâneo Universidade Federal de São Paulo

A HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO NO BRASIL: DIÁLOGOS, DEBATES E PERSPECTIVAS

ATUAIS

Luigi Biondi (Unifesp) – Coordenador e Debatedor

Cláudio Batalha (Unicamp) – Debatedor

8 de setembro de 2010, 10h30 às 12h30

XX ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA

ANPUH – São Paulo

História e Liberdade

Unesp – Campus de Franca

6 a 10 de setembro de 2010

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Temos várias pretensões para nossa fala. Em primeiro lugar, queremos aproveitar o

privilégio gentilmente concedido pela mesa do Encontro Regional para insistir na relevância

fundamental do campo para compreender a História Contemporânea do Brasil. Segundo,

queremos chamar atenção pelo fato de que a historiografia agrária do tempo presente é

largamente o território de outras ciências e profissões, um campo essencialmente ignorado

pelos historiadores. Terceiro, a partir de uma conceitualização proferida pelos protagonistas

dos Estudos Subalternos, queremos sugerir em resumo uma síntese da História Social do

Campo que a coloca no centro de uma interpretação da História do Brasil Contemporâneo,

demonstrando sua relação com as grandes questões, tais como as questões agrária, social,

econômica e política. Em fim, queremos mostrar o que poderia ser a contribuição do campo

para uma compreensão maior da identidade cultural brasileira e sua articulação em

estruturas de poder e vida.

O Campo e o Brasil

“A luta pela terra se dá no campo mas se ganha nas cidades.” -- João Pedre Stedile, 1996. “[A] construção do Brasil como nação democrática e republicana, com a superação de uma imensa dívida social, deverá passar pela mudança do sistema de propriedade da terra.” -- Maria Yedda Linhares & Francisco Carlos Teixeira da Silva (1999, xvii) Não é necessário observar a centralidade econômica, social e política da agricultura

desde a fundação do Brasil. Não tem um grupo de intelectuais mais informados sobre isso

que os historiadores brasileiros, que tanto contribuíram para documentar a História

agroexportadora do Brasil. No mesmo sentido, a História das relações sociais de um mundo

enraizado na escravidão, nas relações de trabalho, na transição do trabalho escravo para o

trabalho livre no século XIX, as experiências dos “homens livres” e colonos do Império e da

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Velha República também são bem pesquisados pelos historiadores, principalmente aqui no

Estado de São Paulo. Por isso, bem como nossas próprias tendências meio jornalísticas, o

recorte temporal deste trabalho está no período contemporâneo, com foco especial na

época da pós-Segunda Guerra Mundial até o presente.

Vamos continuar nossa analise com algumas estatísticas do campo brasileiro na

atualidade: 25% é a participação do agronegócio no PIB do Brasil e 10% do PIB é produzido

pela agricultura familiar, que emprega mais que 13 milhões de pessoas; a agricultura

familiar produz mais que 60% dos alimentos consumidos pelos brasileiros; 38% da balança

comercial depende nas exportações agrícolas e 10% deste valor é produzido no Estado de

São Paulo (CNA, 2010; Geomundo, 2010). O Departamento de Agricultura nos EUA concluiu

de que Brasil tem mais terra a ser desenvolvido que os EUA já têm em produção. Isso, nem

conta na conversão de mais que 444 milhões de hectares de área preservada. O Brasil já é

líder mundial na exportação de soja, açúcar, carne, café, suco de laranja e fumo. Do ponto

de vista econômico, então, a importância da agricultura na atualidade não pode ser negada.

Estes dados são significativos não só para a agricultura, mas para o país inteiro. A

agricultura tem que ser entendida como sistema de colonização, o produto mais comum da

conquista da natureza pelo homem. Como qualquer capítulo da história humana, a luta pela

terra nunca foi consolidada – não tem fim, porque conflito é permanente – a natureza

rebela em formas de tempestade, enchente, seca, pragas, solo ruim e centenas de outros

efeitos difíceis de controlar; o mercado elimina agricultores menos preparados;

dependendo na conjuntura as políticas do Estado favorecem alguns donos sim, outros não,

alguns produtos sim, outros não; brigas entre os supostos proprietários aumentam a

violência no campo e as chances para novas transformações. E todo conflito no campo é

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vivido nos povoamentos, nas aldeias, nas vilas, nos municípios, nos megalópoles, onde o

povo morava e mora porque, sem comida, não tem vida.

A relação campo-cidade é muito forte no Brasil, mas pouco estudado fora da

geografia, que tem uma área de conhecimento dedicado ao estudo desta relação. A maioria

da migração do campo para as cidades ocorreu depois da Segunda Guerra (Fontes, 2009), e

as idas e voltas entre os dois mundos nunca terminaram, onde a capital de São Paulo, por

exemplo, ainda se destaca como destino preferido. A observação de Stedile, um fundador e

coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), é expressiva

desta relação entre campo-cidade. Quando falou, o MST foi considerado pela pesquisa de

serem umas das cinco instituições melhor avaliadas pela pública. Com a população

concentrada nas cidades, o MST calculava que só nas cidades teria a possibilidade de

construir apoio para a reforma agrária. No campo, conflito, porque o que mais encontrava

era a resistência contra reforma.

O que mais permanece do passado é a concentração da terra nas mãos de poucas

pessoas e, como conseqüência disso, o poder de controle das políticas também foi

concentrado na influência da bancada ruralista em todos os ramos do governo. Como

analisaram muitos historiadores, com destaque Emilia Viotti da Costa (1992), em fazer da

terra uma forma de propriedade, a Lei da Terra de 1850 acabou piorando as possibilidades

de sua maior distribuição devido a nova demanda do capital da compra da terra. Na síntese

da questão agrária escrita pelos historiadores Linhares e Silva, fizeram esforço mostrar

como novas leis foram elaboradas durante a Velha República que aprofundaram as

tendências da concentração fundiária. Escreveram, por exemplo, como o Novo

Regulamento de Terra Devoluta de 1913 foi “uma expressão típica da hegemonia agrária,

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legitimando e consolidando uma estrutura fundiária que continuamente aumentava seu

grau de concentração” (1999, 92). Sem enfrentar “o sistema de propriedade da terra,”

segundo analise de muitos, inclusive Linhares e Silva (1999, xvii) “a construção do Brasil

como nação democrática e republicana, com a superação de uma imensa dívida social” não

vai acontecer.

O historiador florestal Warren Dean culpou a bancada ruralista para uma grande

porção da destruição da Mata Atlântica em seu livro A ferro e o fogo (1996). Culpo os

grandes proprietários pela falta de coragem dos funcionários responsáveis pela fiscalização

e sua inércia em implementar as leis de proteção da floresta, muito dela desmatada e

queimada para expandir a fronteira agrícola. Escrevendo com ironia ácida, Dean observou:

Evidentemente, o encargo mais essencial ao governo era o de estabelecer e proteger os direitos sobre a terra, tanto pública quanto privada. Grande parte da perda da Mata Atlântica havia sido provocada simplesmente para fortalecer as pretensões de invasores e especuladores. As práticas litigiosas e violentas que cercavam a titulação da terra eram praticamente tão intensas nas cidades como na fronteira e não havia sinal de que o governo democrático restabelecido estivesse pouco mais inclinado a assumir essa responsabilidade do que seus predecessores (1996, 377).

Acredito que esteja a partir da questão de poder e sua raiz na questão agrária que

encontraremos o motivo para destacar uma fala sobre o campo na mesa do Grupo Mundos

de Trabalho. Certamente é relevante a provocação do Marx e Engels no Manifesto

comunista (2003 [1848]):

De todas as classes que hoje se defrontam com a burguesia, apenas o proletariado é uma classe realmente revolucionária. As outras classes decaem e por fim desaparecem com o desenvolvimento da indústria moderna, mas o proletariado é seu produto mais autêntico. As classes médias inferiores, os pequenos industriais, os pequenos fabricantes, os artesãos, os camponeses, todos lutam contra a burguesia, para garantir sua existência como parte da classe média. Portanto, não são revolucionárias, mas conservadoras e, mais ainda reacionárias, pois procuram fazer retroceder a roda da História. Se por acaso tornam-se revolucionárias é em conseqüência de sua iminente

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transferência para o proletariado; não defendem, pois, os seus interesses atuais, mas os futuros, abandonando seu próprio ponto de vista pelo do proletariado (35).

A História do Trabalho quase sempre tem razão na busca do fazer ou não fazer de

“uma classe realmente revolucionária.” Não pode dizer isso sobre a História Agrária, mas

será que o interesse do grupo Mundos de Trabalho no assunto não é baseado na procura

dos camponeses que “por acaso tornam-se [ou não] revolucionários”? Quer dizer, no fundo

não temos em nosso grupo de trabalho uma expectativa da potência de uma unicidade do

proletariado rural e urbano, tipo foice e martelo, em um momento ainda para vir do

desenvolvimento econômico capitalista do Brasil? Como argumentam Linhares e Silva, a

questão está enraizada no debate entre “campesinistas” e “descampesinistas,” importante

parte da Revolução russa (para não falar da mexicana). Marx e Engels disseram que ou o

campesinato “procura fazer retroceder a roda da História” ou “transfere para o proletariado

[...] os seus interesses [...] futuros, abandonando seu próprio ponto de vista pelo do

proletariado.”

Para ser franco, eu me sinto desconfortável com esta ideia. Não estou a favor da

eliminação do campesinato, alias acho que seja impossível de se realizado, para não dizer

destrutivo de um dos modos de vida mais sustentável da história do mundo (Mazoyer,

2010). No velho debate entre campesinistas e descampesinistas, sou no campo do primeiro

grupo. A resistência do camponês a perda de autonomia e dignidade que representa ser

proletário tem sido motivo de muitos conflitos na História. A quantidade de agricultores

familiares – os 13 milhões empregos no ramo, como revelam as estatísticas do Ministério de

Desenvolvimento Agrário – pode incluir reacionários, mas sabemos que a classe operária é

bem diversificada politicamente também. Nosso desafio é de problematizar a perspectiva

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de Marx e Engels para entender melhor o que cada classe quer e as relações entre elas.

Estamos interessados em escrever a História da luta pela Liberdade (emancipação, diria) de

grupos e indivíduos explorados e subalternos que, de vez em quando, conseguem disputar a

classe dominante e transformar a realidade. O campo é tão importante quanto a cidade

neste processo.

As Ciências Sociais e a História Social do Campo

“A história agrária, como é hoje conhecida, nasceu, nas primeiras décadas do século XX, de um encontro feliz com a geografia humana.” -- Maria Yedda Linhares (1997, 165) “Os debates no interior da [História Agrária] implicaram um esforço de pesquisa interdisciplinar, já que muitas das discussões ali presentes eram oriundas de outros campos de conhecimento, como a geografia e a sociologia rural.“ -- Márcia Motta (2005, 240). Quando falar da História Social do Campo, predomina no imaginário do passado

recente a ideia de um pacto fechado entre latifundiários e o Estado, um Estado que vai

seguir uma política de não-interferência nas relações de trabalho das fazendas e engenhos.

Antes de 1960, a literatura alega que este pacto bloqueou quase todas as possibilidades

para a expressão das reivindicações do campesinato. Surge de repente, nesta visão, como

algo quase espontâneo, a mobilização camponesa no início dos anos 1960. Segundo esta

imagem, os donos da terra reclamaram de uma “anarquia rural,” fez causa comum com os

militares e o movimento incipiente dos camponeses foi logo reprimido quando houve o

golpe militar. Sob regime militar, os chamados latifundiários continuaram a gozar a proteção

do governo. É comum argumentar que, depois de 1964, a ditadura foi tão forte que impediu

a formação de qualquer movimento efetivo. A estrutura sindical dos trabalhadores rurais,

consolidada em 1963 quando virou lei o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) e foi fundada a

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), foi permitida

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permanecer pela ditadura enquanto pelego, com ação restrita à processos de assistência

social. Os movimentos sociais do campo de verdade aparecem de novo na literatura nos

meados dos anos 1980 com o fim da ditadura e a restauração da democracia. Na véspera do

final da ditadura, a formação do MST é visto como uma necessidade dado o comodismo dos

movimentos antigos em face dos desafios enfrentados pelos camponeses. Uma vez

estabelecido, o MST vira quase hegemônica como representação do campesinato na

História brasileira.

O imaginário, ainda reproduzido, depende muito na lenda da centralidade das Ligas

Camponesas de Pernambuco, vinculado com o advogado e político Francisco Julião. São as

Ligas de Julião que começam receber atenção da mídia internacional no final dos nos 1950,

na sombra da Revolução cubana, como possível fonte de instabilidade, se não revolução, no

Brasil. A crença na importância desta edição das Ligas é alimentada por várias fontes, entre

elas, poucos historiadores. São sociólogos, antropólogos e geógrafos, bem como militantes,

que contribuíram para fortalecer a imagem. O próprio Julião é entre os primeiros de

historiar as Ligas com seu caderno de 1962, Que são as Ligas Camponesas? (Welch et al

2009). Em 1963, o geógrafo Manuel Correia de Andrade foi o primeiro acadêmico de

publicar um estudo das Ligas de Julião. Neste mesmo ano, um jornalista do nordeste

publicou em forma de livro seus artigos sobre as Ligas, Julião, nordeste, revolução (Barreto,

1963). Depois disso, em 1969, Clodomir Santos de Moraes, um advogado que militou entre

as Ligas e foi fazer no exílio doutorado em sociologia, publicou uma versão da história do

movimento camponês no Brasil que foi bem divulgado, até em inglês (1970). O texto de

Moraes, “História das Ligas Camponesas no Brasil” foi repubicado em 2006 na coletânea “A

Questão Agrária no Brasil” organizada por um dos fundadores do MST, João Pedro Stedile

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(um economista). Em sua introdução do livro História e natureza das Ligas Camponesas –

1954-1964, Stedile escreveu: “As Ligas Camponesas se inserem como o mais importante

movimento social camponês, organizado pelo povo brasileiro na década de 1960”(2006, 12),

reforçando assim uma imagem essencialmente errada. A literatura acadêmica retomou o

assunto no contexto da abertura quando vários sociólogos e antropólogos abordaram a

questão agrária, sendo de importância destacada Moacir Palmeira (1979), José Souza de

Martins (1981), Fernando Azevedo (1982), Elide Bastos (1984), Aspásia Camargo (1986) e

Bernardete Aued (1986).

Vamos examinar, muito brevemente, um dos textos de um dos autores mais citado

para sua interpretação da luta pela terra no Brasil contemporâneo, “Os camponeses e a

política no Brasil” do sociólogo emérito da USP José de Souza Martins (1986 [1981]).

Começa com o argumento de que “as palavras ‘camponês’ e ‘campesinato’ são das mais

recentes no vocabulário brasileiro [...] introduzidas em definitivo pelas esquerdas há pouco

mais de duas décadas,” quer dizer, nos anos 1960 (1986, 21). Sabemos, em fato, que foram

empregadas no debate político pelo menos a partir dos anos 1920 quando foi fundado o

Bloco Operário-Camponês (Karepovs, 2006). Mesmo assim, Martins utiliza a ausência das

palavras para enfatizar a profundidade da “exclusão do camponês do pacto político” (1986,

25). Depois de escrever 12 páginas sobre uma variedade de movimentos e lutas

camponeses no período 1945 a 1964, todos vinculados com o PCB, Martins escreveu das

Ligas Camponesas de Julião como “o capítulo mais importante da história contemporânea

brasileiro” (1986, 76). Para Martins, “as Ligas dirigiam-se para uma proposta de revolução

camponesa, enquanto que a estratégia do Partido Comunista caminhava na direção de uma

coexistência pacifica com a burguesia” (1986, 78). Em contradição da hipótese do Marx e

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Engles, os camponeses de Martins eram os revolucionários e o partido do proletariado

entreguista. Temos que questionar um texto tão importante para a reconstrução da História

Social do Campo que tem como base um esqueleto organizacional tão acrônica que grita

para a intervenção de um historiador para concertar os erros e destacar os insights.

Como é bem documentado, contudo, as Ligas de Julião não foram tão importantes,

não tinham uma centralidade na época como viriam a ter nas reconstruções do passado de

autores como Martins (Welch 2010, 308-324). Ainda mais, na hora do golpe militar as Ligas

já estavam bastante desmoralizadas, não tiveram nenhuma participação nos grandes

conquistas do movimento da época (a Superintendência da Reforma Agrária, o Estatuto do

Trabalhador Rural e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e o Julião

estava afastado da liderança por mais que um ano. As organizações mais responsáveis pelas

conquistas do movimento foram, no primeiro lugar, o PCB (até mudar de nome em 1960, o

Partido Comunista do Brasil) e a Igreja Católica. Entre 1945 e 1947, o PCB já tinha

estabelecido uma rede de centenas de Ligas Camponesas em muitos estados do Brasil. De

fato, como o próprio Julião escreveu em 1962, a organização dele ganhou o nome Ligas

Camponesas quando os latifundiários do Estado de Pernambuco tentaram usar o termo

para atacar o grupo dele como comunista. Antes disso, o PCB já tinha organizado em 1954 e

1961 dois congressos camponeses nacionais que mobilizaram mais delegados camponeses

de todo Brasil que o MST de Stedile conseguiu mobilizar em seus encontros de fundação em

1984 e 1985 (Welch 2010, 247). Podemos desconfiar que não fosse o mesmo pincel

vermelho utilizado pelos latifundiários a reprimir as Ligas de Julião que foi empregado

depois do golpe para denegar uma avaliação mais equilibrada do movimento camponês até

então desenvolvido principalmente pelo PCB.

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Existe uma literatura substancial que questiona a narrativa da espontânea

combustão do movimento camponês no inicio dos anos 1960. De fato, o ensaio já citado de

Martins foi um dos primeiros textos acadêmicos que insistiu na história comprida da

resistência camponesa, por exemplo, quando o autor escreveu que “alguns dos mais

importantes acontecimentos políticos da história contemporânea do Brasil são

camponeses” (1986, 25). Temos memórias de militantes, principalmente do PCB, que

documentam as tentativas de mobilização camponesa desde os anos 1920 (Brandão, 1978;

Bezerra, 1980; Dias, 1983; Welch e Geraldo, 1992; Silva e Cunha, 2004; Garcia, 2007). Um

excelente livro na coletânea do inventário da policia secreta de São Paulo (DEOPS),

organizada pela Profa. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro e escrita pela Emiliana Andréo da

Silva, oferece um cheiro da repressão da “resistência camponesa” (Silva, 2003, 21)

representado nos prontuários da entidade desde 1924. Os processos desta policia política

de vários estados foram utilizados na pesquisa de Cliff Welch, que trata “as raízes paulistas

do movimento sindical camponês no Brasil” a partir dos anos 1920 (1999, 2009, 2010) e por

outros historiadores, tais como Mario Grynszpan da UFF, que vem pesquisando a história do

movimento no Rio há décadas (1986, 2007), Guillermo Palacios que se dedicou a estudar a

“alternativa camponesa”do período colonial (1987, 2004), Zilda Iokoi , que analisou as

origens católicas do MST bem como a vida dos assentados (1996, 2005), Vagner José

Moreira, que examina as lutas camponesas pós-guerra em Fernandopolis, SP (2009), e

Angelo Priori, com seu foco no Estado de Paraná nos anos 1950 (2000). Sem referência dos

prontuários, não podemos esquecer de dar destaque aos historiadores Maria Yedda

Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva e seu estudo de 1999, Terra prometida: uma

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história da questão agrária no Brasil, cujo primazia como síntese não pode ser negado.

Alguns sociólogos como Leonilde Medeiros também fizeram importantes contribuições para

a História Social do Campo (1989; 2003).

A História Social do Campo foi semeada, em minha opinião, pela Fundação Ford, que,

nos meados da Ditadura, procurou fomentar pesquisas sobre as conseqüências das

transformações profundas ocorrendo na agricultura em prol das políticas capitalistas de

industrialização do campo dos anos 1970. Na época, o apoio foi concentrado no

financiamento de um pequeno grupo de sociólogos e antropólogos do Museu Nacional

como Palmeira, Ruth Cardoso, Roberto Cardoso de Oliveira, Lygia Siguad e Otávio Guilherme

Velho (Siguad, 1979; Welch et al 2009). O foco da investigação estava em duas grandes

regiões, o Norte e o Nordeste. Também nos anos 1970, através do Ministério de Agricultura,

o governo militar investiu na criação do Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento

Agrário (CPDA), dirigida inicialmente pela historiadora Linhares, que contratou Ciro

Flamarion Cardoso e os jovens historiadores Teixeira da Silva e Palacios, para elaborar vários

projetos de pesquisa no âmbito da História da Agricultura Brasileira (Linhares, 2002, p.36-

38). Em 1978, a Fundação Ford patrocinou o estabelecimento do Projeto de Intercâmbio de

Pesquisa Social em Agricultura (PIPSA), “com o objetivo de se tornar uma alternativa à

pesquisa social da agricultura brasileira” (Moreira, 2006, 12). Coordenado inicialmente pelo

CPDA, PIPSA foi subdivido em seis grupos de pesquisa, entre eles Movimentos Sociais no

Campo. Na liderança encontravam-se mais colegas das Ciências Sociais como Maria

Conceição D’Incao, Vera Lúcia Ferrante, Maria Aparecida Moraes, Regina Novaes, Maria de

Nazareth B. Wanderley, Sonia Bergamasco e Vera Chaia. O foco aumentou para todas as

regiões do país e a produção de estudos e projetos de estudos do campo cresceu bastante.

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Até o projeto ser interrompido após o XVIII Encontro Nacional em 1996, foram produzidos

500 trabalhos por diversos pesquisadores.

Lembra-se esta experiência institucional porque ajuda entender o que eu chamo de

História Social do Campo, que tem suas origens na linha de pesquisa sobre os movimentos

sociais do campo. A partir de uma enorme greve de cortadores de cana em Pernambuco em

1979, a maioria da atenção dos acadêmicos estava inspirada pela mobilização dos

trabalhadores rurais assalariados. Seu espírito radical combinava bem com a teoria marxista

que categorizou os camponeses como parte da classe média que resistiu a burguesia com

objetivos reacionários. No entanto, segundo o Manifesto comunista, “só o proletariado é

uma classe verdadeiramente revolucionária” (Marx & Engels, 2003, 35). Assim, no contexto

da abertura do regime militar, o assalariado agrícola em movimento virou proletariado rural

revolucionário. Quer dizer que, pela primeira vez, o homem do campo, o agricultor, o caipira

organizado começou ser visto como protagonista no fazer da história brasileira.

Historiadores tentaram abordar o estudo destes processos com a criação de um

vertente da História da Agricultura. A História Agrária, com raízes na França e nos Estados

Unidos no fim do século XIX, foi conceitualizada por Linhares como “a história econômica e

social do mundo rural” (2003, 170). Resultou, segundo ela, de um encontro feliz entre

História e Geografia, a primeira “preocupada em explicar as mudanças operadas pela ação

do homem (ou grupos sociais) através dos tempos” e a segunda “dedicada ao estudo da

relação do homem com o seu meio físico” (165). Ela cita Cardoso, também, que descreveu a

História Agrária como a “história social da agricultura, cujo objeto seria constituído pelas

formas de apropriação e uso do solo, pelo estatuto jurídico e social dos trabalhadores rurais

(produtores diretos)” (168). Linhares oferece quatro modelos em forma de figuras para

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ajudar orientar pesquisas “capazes de conduzir a uma explicação das sociedades humanas

nas suas múltiplas determinações e complexidades” (165). Uma combina vetores de “meio

geográfico,” “população,” “área cultivada” e “técnica e conhecimento agrícola” (177). Outra,

em várias escalas, na forma de uma torta cruzada por vetores, os elementos de “potencial

produtivo” e “falta de recursos,” ”excedente de produtos” e “falta de produtos,” “mão-de-

obra excedente” e “falta de mão-de-obra,” “mercado de produtos” e “mercado de recursos

materiais” (183) Justamente na hora desta ambiciosa articulação da História Agrária,

contudo, Linhares lamentou em entrevista de “que a História Agrária esteja em desuso [...],

pois ela teria muito futuro no Brasil ao revelar as mentalidades e o poder local que ainda

predominam no país” (2002, 38). De fato, entre os fundadores da História Agrária, somente

os geógrafos foram consistentes em continuarem a contribuir no desenvolvimento da área

de conhecimento (Oliveira, 2001 [1991] & 2004; Fernandes, 1996 & 2000; Gonçalves, 2001).

Foi exatamente neste espírito que a Via Campesina do Brasil, a representação

nacional da coordenação internacional de movimentos sociais do campo, organizou em

fevereiro de 2005 uma reunião de mais que 20 pesquisadores profissionais para solicitar sua

colaboração na produção de uma coleção de dez livros sobre a História Agrária do Brasil.

Mas, invés de utilizar o conceito promovido pela Linhares, o grupo foi inspirado pela

estudante dela, a Márcia Motta da UFF, para adotar a terminologia “História Social do

Campesinato no Brasil” como tema geral do projeto.

Foi necessário um esforço convencer um grupo de acadêmicos fora da área porque,

além de Motta, acabou criando o Conselho Nacional Editorial do projeto com mais dois

historiadores só. Na minuta desta primeira reunião a resistência de uma antropóloga e uma

geógrafa, ambas preocupadas com a identificação do objeto – o campesinato – como não-

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existente no Brasil e com as limitações da História Social como abordagem que

necessariamente vai excluir grupos importantes que não são do campo (Martins, 2005). A

resposta de Motta é memorializada desta forma:

Denomina-se história social um campo de conhecimento – em grande parte de inspiração thompsoniana – que busca compreender o passado à luz das contribuições de disciplinas sociais, em particular a antropologia. Ao romper com a primazia do econômico em detrimento dos aspectos ligados às normas e a cultura, a história social – segundo Thompson – incorpora as múltiplas dimensões do social, destacando o papel da experiência na compreensão das contradições do processo histórico. Tais contradições são, por sua vez, o conflito entre o modo de viver e as normas da comunidade local e ocupacional da sociedade ‘envolvente’. E ainda, o conflito é então “as maneiras pelas quais o caráter essencialmente explorador das relações produtivas se torna uma experiência vivida.

Em outras palavras, Motta defendeu a História Social como área de conhecimento

baseada nas ciências sociais, especialmente a antropologia e a sociologia, com o intuito de

ser mais inclusive das diversas dimensões da experiência vivida na busca de um

entendimento ainda mais amplo dos processos formadores de nossa realidade. Como um

dos três historiadores no grupo (Motta, Paulo Zarth e eu), posso atestar da impossibilidade

insistir como minoria na aplicação pela maioria de um rigor metodológico aparecida com

nosso. No livro que organizei com três sociólogos, consegui na marra impor uma disciplina

cronológica sobre a ordem dos textos e nossa abordagem na apresentação.

Repito aqui a História Social do Campo tem suas origens na luta dos camponeses e

foi desenvolvida principalmente por pesquisadores das ciências sociais que não eram

historiadores. Defino História Social do Campo como a história das relações sociais

desenvolvidas no campo – dentro e fora atividades agrícolas – que tem tudo a ver com a

missão da história social, de resgatar “dos imensos ares superiores de condescendência da

posteridade” a experiência da maioria, especialmente os camponeses (Thompson, I, 13). É

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muito importante que os historiadores ocuparem este território das ciências sociais para

melhorar nossa compreensão da História Contemporânea do Brasil.

O Campo e a História Contemporânea do Brasil

“O objetivo básico do MST seria a integração de uma parcela dos excluídos ao processo de cidadania. Está é a revolução que a elite rural teme. Não é preciso pegar em armas. Mais, nós mantemos a utopia. Cada militante sabe que está fazendo uma revolução dentro dele mesma.” -- Gilmar Mauro (Linhares e Silva, 1999, 208) “A reforma agrária é uma experiência comprovadamente de sucesso e que permitiria, se transformada em política do Estado, a erradicação da maior parte das causas da pobreza e da injustiça social no país.” -- Linhares e Silva (1999, 211) "A grilagem de terra no Pará é conhecida de todos. O sul do Estado tem a maior quantidade de grilagem. Coincidentemente, tem os maiores índices de desmatamento e de homicídios." -- Gilson Dipp, corregedor do CNJ que autorou decisão de cancelar como irregulares 5.5 mil registros de terra do Estado de Pará (Seligman & Angelo, 2010, 1) Estou propondo para os colegas e alunos interessados de nossa disciplina um projeto

de pesquisa que englobaria “A História Contemporânea da Luta pela Terra no Brasil,”

começando com um estudo de caso do Estado de São Paulo no período 1960-2010. Como

indicado pela discussão da História Social do Campo e o recorte temporal, o foco principal é

a investigação da mobilização dos camponeses um pouco antes, durante e depois do regime

militar. Ele procurará explicar o lugar da campanha pela reforma agrária desde que virou

uma preocupação nacional – alias internacional – como uma das reformas fundamentais

para estimular o desenvolvimento econômico a partir do final dos anos 1940 (Welch, 2004).

A orientação teórica baseia-se na mistura de teorias-críticas, particularmente da

História e da Geografia. A primeira linha de argumentação é do historiador inglês E. P.

Thompson que definiu classe como experiência e enfatizou a importância da cultura como

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fonte da consciência que vai contribuir na formação da identidade coletiva dos grupos

subordinados (Thompson, 1998, 2004). No Brasil, temos um caso interessante para testar a

hipótese de Thompson no processo histórico não-linear do campesinato, que se formou

como classe, se desmanchou e se reconstruiu durante o período do estudo.

O Grupo de Estudos Históricos Subalternos da Índia traz uma segunda linha teórica

de importantes referências para nosso trabalho (Guha, 1983; Gupta, 1998; Rodriguez,

2001). Desde os anos 1980, o grupo vem pesquisando a História a partir dos grupos sociais

marginalizados para demonstrar como os “excluídos” sempre fizeram parte (foram

incluídos) do fazer-se da formação nacional. Já em uma linha critica desta historiografia, a

Gayatri Spivak (1988) questiona a dicotomia inclusão/exclusão e afirma que o subalternos

tem sua própria voz, capaz de desenvolver uma contra-narrativa e estruturas

socioeconômicas e políticas para enfrentar a hegemonia das classes dominantes. O Gareth

Williams (2002) leva mais para frente os argumentos, aplicando a critica de Spivak no

contexto da América Latina. Dele, conseguimos pensar a fragilidade da hegemonia desde a

crise de liberalismo e a criação de seu suposto substituto, neoliberalismo. Williams examina

a mobilização de vários indivíduos e grupos subalternos em suas lutas de desenhar

passados, presentes e futuros novos e em contra-distinção das realidades e narrativas

subordinadas disponibilizadas pela dominação.

Durante as últimas duas décadas, depois do fim da Guerra Fria e com a expansão e

intensificação da atividade agrícola, o significado da reforma agrária mudou (Teubal, 2009).

Anteriormente foi vista como uma política de ajudar garantir a posse muitas vezes de

grandes proprietários com um foco em novas técnicas para um “melhor” (mais intensa)

exploração da terra. Alguns agricultores familiares beneficiaram, mas ficaram

18

comprometidos em aplicar as novas tecnologias, freqüentemente ficando tão endividados

que a venda da terra e abandona da agricultura foram as únicas saídas. Nas décadas mais

recentes, as políticas de reforma agrária foram embutidas com outro significado. Até hoje, a

ideia principal é de estabelecer famílias agrícolas, uma inversão do significado original que

foi imposto pelos movimentos sociais do campo.

A reforma agrária é visto como um sítio privilegiado para analisar a construção do

projeto de desenvolvimento nacional e seu esgotamento e transformação pelos

movimentos sociais em um projeto alternativo. Enquanto a políticas de reforma agrária

foram iniciadas para avançar o projeto desenvolvimentista de formação nacional, e a

mobilização camponesa inicialmente foi estimulada para facilitar sua integração no projeto

nacional, a resistência da classe dominante de alterar a estrutura fundiária, a destruição do

meio-ambiente e a corrupção na implantação das políticas erodiram apoio e a Ditadura

parou de utilizar o termo “reforma agrária” em seus planos em 1975. Volta ser discutido por

força dos movimentos sociais no final dos anos 1970 e entra na constituição pela primeira

vez em 1988 com a República Nova. Daí a luta pela terra vai ser o veiculo para a sua

realização. A luta faz de que a reforma agrária passa de ser uma política ganha e não doada.

Neste contexto, pode ser interpretado não como política de inclusão socioeconômica, mas

de emancipação, onde os novos camponeses podem construir suas próprias alternativas em

comunidades transnacionais e transculturais (Escobar, 1995; Williams, 2002). É um lugar

onde a hegemonia da classe dominante enfrentou seus limites na subalternidade dos

camponeses.

Como a primeira fase de um projeto de extensão nacional, o atual projeto é visto

como pioneiro no sentido de abrir novos caminhos e desenvolver novas ferramentas para as

19

pesquisas do período que poderiam ser aplicados nas outras fases. Para dar conta da

História da luta pela terra no Brasil contemporâneo, pretendemos elaborar um total de

cinco projetos, cada um com foco em um Estado de cada uma das cinco regiões do Brasil:

Sul (Rio Grande do Sul), Centro-Sul (São Paulo), Centro-Oeste (Goiás), Nordeste

(Pernambuco) e Norte (Pará).

Outra identidade do projeto é seu caráter multidimensional. Pretendemos examinar

em escala local e estadual a história da implantação das políticas de reforma agrária

estadual e nacional em um contexto cada dia mais internacionalizado. Podemos afirmar,

sem medo de errar, que a luta pela terra faz parte da condição humana. Desde os tempos

primordiais, os homens e mulheres lutam para conquistar seus territórios. Nos tempos

contemporâneos, o processo é um tanto mais regulamentado, visto que o sistema

capitalista demanda segurança na posse da terra para garantir retorno para os

investimentos dos acionistas. A reforma agrária, dessa forma, sempre foi uma política

orientada para controlar a luta pela terra, assegurando a posse dos com-terra, causando a

sensação de que irá atender as necessidades dos sem-terra através da distribuição das

terras disponíveis.

Por mais que vinte anos, os principais beneficiários e protagonistas foram os sem-

terra, e a participação deles no processo é nossa principal, mas não exclusiva preocupação.

O processo tem sido examinado muito pouco por historiadores, sendo alvo de pesquisa

especialmente de geógrafos, sociólogos e antropólogos. Como um processo complexo,

influenciado tanto pelo espaço quanto pelo tempo, a abordagem histórica é de relevância

fundamental.

20

Enquanto os discursos da implantação de políticas de colonização, de expansão

agrícola e de reforma agrária foram, desde os anos 1920, caracterizados por argumentos de

desenvolvimento econômico, consolidação nacional, oportunidade igualitária e inclusão

social, a realidade para os povos indígenas, afro-brasileiros e camponeses foi quase sempre

uma de encerramento, expulsão e uma exploração que chega ser considerada similar, se

não pior, a escravidão.

O discurso de abertura das fronteiras e da distribuição das terras, divulgado para

estimular atividade econômica e identidade nacional, vai gerar seu oposto nos grupos

subalternos, frustrados com promessas quebradas e ansiosos para garantir as necessidades

da vida (Ganzer, 1997). “A Marcha para o Oeste” de Getúlio Vargas vai ser re-imaginada pela

Ditadura como a colonização do Norte (Lenharo, 1986; Gonçalves Neto, 1997). As falhas

destes mega-projetos vão contribuir para instigar a organização de vários protestos e

movimentos de resistência, até a formação do MST em 1984, que vai fazer da ocupação da

terra a sua bandeira de luta. Para sustentar esta luta, ambos os lados vão procurar alianças

no estrangeiro, ou governos ou empresas transnacionais ou vínculos com os movimentos

indígenas e camponeses de outros países (Welch, 2007; Desmarais 2007; Wolford, 2010). A

proposta dos EUA abandonar a ideologia que conseguiu hegemonia no mundo ocidental nas

décadas pós-segunda guerra e sustentou o projeto desenvolvimentista – o liberalismo –

estimulou os grupos subordinados a mobilizar em oposição do novo projeto geocultural –

neoliberalismo – e procurar nas tradições e modos de vida de seus membros e territórios

elementos para construir novos modelos sociais, econômicos e políticos (Wallerstein, 2004).

Pretendemos elaborar uma pesquisa para analisar esta narrativa no contexto da

história contemporânea do Estado de São Paulo. Na segunda metade do século XX e início

21

do século XXI, os camponeses e fazendeiros se mobilizaram para proteger e expandir seus

territórios, pressionando o Estado a lhes dar assistência. Essa assistência chega através de

iniciativas governamentais, tais como a Revisão Agrária no Estado de São Paulo (1961), a

Superintendência da Política Agrária (Supra - 1963), o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR -

1963), o Estatuto da Terra (1964), o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária

(Incra - 1970), a Lei Agrária (1966/1993/2001), os Programas Nacionais de Reforma Agrária

(1986/2003), a Constituição (1988), o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp -

1991) e o estabelecimento e administração de assentamentos de reforma agrária. Por meio

dessas medidas, o Estado procurou distribuir terras sem mexer com a estrutura fundiária

para aumentar a produção, reproduzir a força de trabalho e assim silenciar as

manifestações.

Na História destas lutas, predominam narrativas ou de permanência ou de

transformação. Na versão oficial, o Estado procura constantemente transformar a realidade

com melhoramentos para beneficiar a maioria e incorporar o povão no projeto estatal.

Numa versão mais básica, a subordinação conserva-se intacta, bem como a necessidade de

se lutar para conseguir o menor nível de reforma agrária (Linhares e Silva, 1999). Da

perspectiva dos estudos subalternos, as políticas agrícolas do Estado têm seus lados

material e imaginário, e ambos merecem ser questionados. Depois anos de luta, é possível

ler nas ações e discursos dos movimentos camponeses uma contra-narrativa que

deslegitima a narrativa neoliberal do Estado e da classe dominante. No fazer de sua própria

história, os sem-terra revigoraram a antropofagia brasileira numa garimpagem de ideias e

recursos humanos de todo mundo, num aproveito de todos os recursos disponíveis, na

construção de relações transnacionais e transculturais para imaginar novas formas de

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comunidade (Anderson, 1986). O desafio do projeto de pesquisa se encontra na elaboração

de uma narrativa analítica mais intricada e eficaz na representação destes processos de

subordinação, luta e emancipação.

Na visão do pensamento desenvolvimentista do período pós-Guerra, São Paulo teve

a aparência de estar à frente da transição de uma agricultura tradicional para a

agroindústria moderna. Entre outros sinais desta transição, foi a narrativa do clã fazendeiro,

onde o trabalhador rural foi tratado como se fosse família, cujas relações trabalhistas foram

“modernizadas” desde a Caderneta Agrícola foi lançada no início do século XX e a

transformação do trabalhador em agricultor proprietário e cidadão foi apenas uma questão

de trabalho árduo e tempo (Welch, 2010). A tendência dos camponeses foi um de procurar

incorporação através deste sistema de subordinação ou pela negociação orientada pelos

sindicatos de trabalhadores rurais (Coletti, 1998; Ricci 1999; Welch, 2009; Welch, 2010). No

período neoliberal, algumas partes do sistema de apoio agrícola do governo federal foram

desmanteladas e os fazendeiros precisavam transformar-se em agribusinessmen. A

promessa da subordinação foi negada os trabalhadores e o espaço de negociação dos

sindicatos limitado; muitos camponeses migraram para as cidades e gerações posteriores

apostaram na identidade do sem-terra para criar novos sonhos e encontrar um caminho

para resistir (Fernandes, 1996; Silva, 2004; Sauer, 2010). De fato, a luta pela terra paulista

desafiou com regularidade a imagem moderna do estado que os supostos donos da terra

queriam projetar ao mundo.

São Paulo também se justifica como recorte espacial do projeto justamente por seu

papel no imaginário brasileiro, um papel perfeitamente entendido por estrategistas

políticos. Antes do golpe militar, São Paulo já foi sede da mais importante organização

23

camponesa, a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), uma frente

popular do Partido Comunista Brasileiro (PCB), bem como a mais militante das associações

dos maiores agropecuaristas, a Sociedade Rural Brasileira (SRB). Os dois primeiros

presidentes da Contag estavam baseados em São Paulo. Em algum tempo, o MST também

optou por localizar sua secretaria nacional em São Paulo, exatamente como foi a decisão

dos dirigentes rurais do período neoliberal que estabeleceram em São Paulo as sedes da

Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) em 1993 e a União da Indústria de Cana-de-

Açúcar (Única) em 1997 (Bruno, 2009). Diários paulistanos de destaque nacional como o

antigo Última Hora, A Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, e o programa de televisão

Globo Rural, trabalham há décadas para fortalecer a imagem progressista do Brasil rural.

O projeto analisa o Estado de São Paulo para contar a história da formação da

agricultura capitalista, sobretudo as histórias particulares de como afetou e foi afetado

pelas classes sociais envolvidas. Os camponeses queriam maior segurança e dignidade na

agricultura; os fazendeiros queriam mais lucros e autonomia; o governo queria mais ganho

no mercado internacional e menos pressão no custo de vida urbana com cesta básica barata

e outras contribuições para estimular o crescimento da indústria. Cada grupo pressionava a

terra e uns aos outros para chegar aos seus objetivos. No início dos anos de 1960, bem na

linha desenvolvimentista, todos eles elaborarem discursos de receptivos da noção da

“incorporação” do trabalhador rural (Welch, 2010).

Na escala do estado, o governo lançou sua lei da Revisão Agrária em 1961,

antecipando o Estatuto da Terra, decretado pelo regime militar em novembro de 1964. As

leis criariam uma linguagem que orientaria a luta pela terra nas décadas a seguir (Linhares e

Silva, 1999). A repressão orquestrada pela Ditadura, bem como outros fatores ainda para

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descobrir, faria impossível a liderança da luta pelo PCB, abriria espaço para o crescimento

do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR), facilitaria a participação da

Comissão Pastoral da Terra (CPT) e criaria a necessidade de estabelecer algo como o MST.

Na República Nova, o papel da luta pela terra cresceu em importância. Para alguns, a

distribuição da terra fez parte do processo da redemocratização. O primeiro Plano Nacional

de Reforma Agrária (PNRA) foi produzido e a reforma agrária foi consolidada como política

com sua inclusão na Constituição de 1988. A mobilização em volta do assunto foi feroz. A

Contag apoiou a versão do governo, o MST, não. Da parte patronal, descontente com a SRB

e as representações corporativistas, principalmente os seus sindicatos, organizou-se a União

Democrática Ruralista (UDR) para opor a integração da reforma agrária na Constituição e as

atividades do Incra, para não falar dos movimentos populares. Nos anos 1990, o governo

inspirou-se na ideologia neoliberal e eliminou vários apoios corporativistas para o setor

agrícola e assim lançou mais uma fase de concentração de terra. O desemprego rural e

urbano aumentou. Em conseqüência destas transformações todas, as fileiras dos sem-terra

cresceram e a luta pela terra tomou proporções maiores durante a década (Fernandes et al,

2009).

O objetivo geral é de produzir uma História Social da luta pela terra no Brasil entre

1960 e 2010 que destaca as relações entre camponeses, fazendeiros e o governo, suas

ações e seus discursos na construção/desconstrução da hegemonia liberal e de narrativas

alternativas a partir dos grupos subordinados. Os objetivos específicos incluem analise da

territorialização/desterritorialização do pais no período, da prática e discurso

desenvolvimentista no campo, da formação, atuação e imaginários compostos pelas

organizações defensores dos interesses dos camponeses e fazendeiros, das relações que

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destas organizações desenvolveram com outros movimentos e/ou empresas fora de seus

locais e no estrangeiro, do papel dos sistemas governamentais municipal, estadual, federal e

internacional na composição e implantação de políticas públicas no campo, da disputa entre

os sujeitos da história e das narrativas mestras e subordinadas da questão agrária. Os

estudos que existem, produzidos em sua maioria por sociólogos e geógrafos, mapearam

pontos de interesse, como nosso próprio trabalho também ajuda apontar o caminho (Welch

& Geraldo, 1992; Fernandes, 1996; Coletti, 1998 & 2002; Silva, 1998 & 2004; Ricci, 1999;

Grynszpan, 2003; Welch, 1999, 2004, 2009a & 2009b, 2010), mas precisamos de muitas

outras monografias para conseguir entender melhor estas relações complexas.

Conclusão

Nesta apresentação tentei apoiar quatro argumentos:

1. A História do campo sempre foi e ainda é essencial para compreender Brasil;

2. Para o período pós-Segunda Guerra Mundial até o tempo presente, os historiadores

geralmente deixaram a História do Campo nas mãos de sociólogos, antropólogos e

geógrafos;

3. A História Social do Campo é uma maneira de animar os historiadores de tomar

conta do temo no período

4. A pesquisa da questão agrária, desenvolvimentismo e identidade cultural elaborada

na Índia e América Latina pelos historiadores do Grupo de Estudos Subalternos

oferece orientações interessantes por uma nova interpretação da História do Brasil

Contemporâneo.

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