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347 PELOS MARES DA LíNGUA PORTUGUESA I XAVIER FRIAS CONDE UNED / Cercle Linguistique de Prague Introdução Qual a relação entre o galego e a Lusofonia? Desde há décadas, do lado galego não há uma resposta única. Por um lado, desde o ponto de vista político, o galego é uma língua diferente do português, com uma norma diferente (de facto, uma fraca adaptação do sistema espanhol para o galego), oficializada em 1982 através das Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego, elaboradas pelo Instituto da Língua Galega (ILG) e aprovadas pela Real Academia Galega (RAG). Por outro lado, existem grupos, provavelmente com uma presença cada vez maior na sociedade galega, que defendem que a unidade linguística entre galego e português não está quebrada. Porém, não se pode falar de dois blocos enfrentados, mas de tendências misturadas, que passam por duas soluções principais: uma é o uso de uma grafia de base espanhola para o galego, outra é a adaptação da ortografia portuguesa para a escrita do galego. No primeiro grupo há pessoas que defendem a total independência do idioma (oficialistas), a pertença do galego à Lusofonia apesar da grafia (possibilistas), enquanto no segundo bloco há pessoas que defendem a autonomia do galego frente ao português (reintegracionistas), frente a outros que promulgam o uso do português padrão europeu diretamente (lusistas). E qual a visão que se tem desde Portugal do galego? Desde os tempos de Leite de Vasconcelos, quando afirmava que o galego e o português são co‑dialetos, qual a situação atual? Todavia, a denominação de co‑dialetos requer uma atualização; essa é uma questão que abordaremos depois. O Galego e a Lusofonia

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  • 347PEloS MaRES Da lngua PoRTuguESa i

    Xavier Frias CondeunED / cercle linguistique de Prague

    Introduo

    QualarelaoentreogalegoeaLusofonia?Desdehdcadas,doladogalego no h uma resposta nica. Por um lado, desde o ponto de vista poltico, o galego uma lngua diferente do portugus, com uma norma diferente (de facto, uma fraca adaptao do sistema espanhol para o galego), oficializada em 1982atravsdasNormas ortogrficas e morfolxicas do idioma galego, elaboradas peloInstitutodaLnguaGalega(ILG)eaprovadaspelaRealAcademiaGalega(RAG). Por outro lado, existem grupos, provavelmente com uma presena cada vez maior na sociedade galega, que defendem que a unidade lingustica entre galego e portugus no est quebrada. Porm, no se pode falar de dois blocos enfrentados, mas de tendncias misturadas, que passam por duas solues principais: uma o uso de uma grafia de base espanhola para o galego, outra a adaptao da ortografia portuguesa para a escrita do galego. No primeiro grupo h pessoas que defendem a total independncia do idioma (oficialistas), apertenadogalegoLusofoniaapesardagrafia(possibilistas), enquanto no segundo bloco h pessoas que defendem a autonomia do galego frente ao portugus (reintegracionistas), frente a outros que promulgam o uso do portugus padro europeu diretamente (lusistas).EqualavisoquesetemdesdePortugaldogalego?DesdeostemposdeLeite

    de Vasconcelos, quando afirmava que o galego e o portugus so codialetos, qual a situao atual? Todavia, a denominao de codialetos requer uma atualizao; essa uma questo que abordaremos depois.

    O Galego e a Lusofonia

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    Tratase de uma situao complexa que tentaremos analisar, tentando mostrar as diferentes hipteses. Partiremos de uma pergunta para a qual no h, como dissemos no incio, uma s resposta: se os galegos no falam portugus e os portugueses no falam galego, falam portanto a mesma lngua?

    O que o galego?

    O galego , segundo todos os manuais, a fala romnica prpria do noroeste daPennsulaIbricanaGalizaereasvizinhasdasprovnciasespanholasdasAstrias,LeoeSamora.Oficialmenteumalnguaindependentecomstatusde cooficialidade na Galiza, algo que tambm reconhecido pelo Estado espanhol, o qual envolve que se trata de uma lngua independente do portugus.

    A realidade que se trata de uma lngua ameaada, com evidente perigo de extino. O que a maioria das pessoas falam um hbrido de espanhol e galego conhecido como chapurreado. Alm disso, a transmisso geracional do idioma muito baixa, apenas 10%. A maioria dos habitantes da Galiza falam espanhol regional da Galiza. O governo galego eleito em 2009 no protege mais o galego, o seu uso diminui ano aps ano nos mdia, na administrao e na escola.Muitaspessoasnoconcordamcomavisoisolacionistadogalego,partem

    de uma pergunta que a boa parte da povoao no interessa: que o galego para alm da lngua prpria da Galiza? H quem creia que a salvao do galego passa por se reintegrarnoportugus,naLusofonia.Destamaneiraavisosegundoa qual a essncia do galego tem duas respostas: uma a oficial, j mencionada anteriormente, e outra alternativa, que grosso modo conhecida no seu conjunto como reintegracionismo, pelo motivo que j foi mencionado: o galego deve reintegrarsenaLusofonia.

    A questo capital porque existe uma ampla confuso terminolgica sobre o que o galego. Embora seja plenamente aceite a ideia do galegoportugus como um diassistema, a sua natureza, pelo menos no concernente Galiza, no faz mais do que criar confuso.

    A norma oficial do galego

    As oficiais Normas ortogrficas e morfolxicas do idioma galego (2003) adaptam, do ponto de vista ortogrfico, o sistema espanhol para o galego. bem certo que o sistema consonntico galego fica muito mais perto do espanhol que do portugus, inclusive com a existncia do fonema //. De facto, a norma oficial introduzcomovalorde//eodgrafoparasinalarofonema//. As regras de acentuao so quase idnticas com o espanhol, enquanto h absoluta coincidnciaquantoaousodistributivode.

    XFCTexto tecleado

    XFCTexto tecleado

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    interessante, alis, compreender quais os critrios seguidos na elaborao do padro galego atual em relao com o portugus, bem como o uso do argumento pelogovernogalegodaLusofoniaparapromoverogalego.Defacto,asnormasgalegas so ambguas quanto relao com o portugus. Enquanto se diz no texto que o portugus, por razes histricas, um referente para o galego, a influncia portuguesa recusada constantemente, preferindose por norma as solues coincidentes com o espanhol.

    Alm disso, na escolha de formas normativizadas entre todas as que oferecem os dialetos galegos, houve uma clara tendncia a escolher na maioria dos casos aquelas mais afastadas do portugus. Parece assim que a construo do padro galego seguiu o critrio de procurar a diferena com o portugus padro, embora existam geoletos que possuem formas coincidentes com ele. O seguinte apenas um quadro onde se mostram as solues escolhidas nuns poucos casos, junto com as solues do portugus padro (as formas em vermelho so as oficiais):

    G. Ocidental G. Central G. Oriental Portugusirmn irmao irmao irmo

    ti tuti tu tu

    escoitar escuitarescutar escuitar escutar

    son sonsou sou sou

    falades faladesfalaisfaladesfalais falais

    lens les leois lees

    falstedes falstedesfalastes falastes falastes

    partiuparteu partiu partiu partiu

    ca min ca minque eu que eu que eu

    No entanto, no todas as pessoas que usam esta norma oficial concordam com a viso isolacionista de o galego ser uma lngua independente do portugus. H uma corrente que defende que o galego, embora utilize esta norma, lusofonia. Esto nessa primeira fase a que nos referamos anteriormente de que no chegou

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    o momento de propor uma mudana ortogrfica do galego. Referimonos a eles antes como os possibilistas1. A razo defendida por eles para manterem o padro oficial que a situao do galego to crtica quanto sua conservao que falar numa modificao radical do sistema da escrita no faz mais do que acelerar a perda de falantes. Portanto, mantmse dentro da oficialidade, mas procurando sempre achegarse ao portugus dentro das opes que permite a norma2. Esta opo no uso do idioma conhecida como galego convergente, estando os seus principais idelogos na Universidade da Corunha e contando com o melhor linguista galego atual como o seu primeiro promotor: Xos RamnFreixeiroMato.

    Existem, portanto, duas correntes dentro do uso da norma oficial: a isolacionista e a convergente ou possibilista. Enquanto a primeira tenta afastarse do portugus, at ao ponto de procurar o encontro com o espanhol em muitos casos3, a segunda procura o contrrio, procurando, alis, reforar o galego em todos os sentidos como ferramenta de comunicao recorrendo ao portugus sem qualquer complexo. As diferenas entre ambos os modelos podem ser vistas no seguinte grfico que recolhe, de uma forma simples, as duas vises do galego dentro da normativa oficial.

    1 Aorigemdestegrupoestnachamadanormademnimos,surgidaem1980damodaAssociaoPsicopedaggicaGalega.Tratavasedeumanormadecompromissoentreanormaoficialde1982eoreintegracionismo.AGramticaElementaldelIdiomaGallegodeCarvalhoCalero(1966)jestavaredigidamaisoumenosnestanorma,queutilizavaelementosportuguesesgrficoscomoemlivro ou palavra e seguiaoportugusnousodefrenteaoespanhol:cavalo, falava (a norma oficial segue quasi literalmente o espanhol, porm). Alm disso, seguia as regras de acentuao do portugus, mas apenas com o acento grave: insistncia, carcia. Tambm separava o verbo do cltico com hfen: vianse. Pelo resto, coincidia no ortogrfico com a norma oficial, embora houvesse outros pontos de coincidncia com o portugus, como os plurais do tipo tneis, tais, etc. Os oficialistas e os minimistas acabaram negociando a reforma da norma e modificaramna em 2003, incluindo algumas das suas demandas na norma oficial, mas foi uma questo de imagem que, em teoria, achegava ligeiramente o padro galego do portugus. Despois de 2003, nem todos os defensores desta teoria abraaram a norma oficial; alguns deles optaram pelo reitegracionismo.

    2 Referese,porexemplo,aoscasosemquehduaspossibilidades.Quandoanormapermitaescolherentreamable e ambel; ata ou at, escolhem sempre a segunda forma. Chegam mesmo a introduzir elementos de que no fala a norma, como o uso do artigo determinado com os nomes prprios, ou bem desaconselha certos elementos gramaticais ou lxicos normativos por os considerarem influncia do espanhol.

    3 Chegase at o absurdo de preferir ordenador a computador; luns, martes, etc. a segunda, terafeira, etc.; evitar formas como predio, andar, calzas e muitas outras por evitar a coincidncia com o portugus, embora tais formas apaream nos dicionrios galegos. Esta escolha conhecida como o galego amvel, referido a que um galego fortemente espanholizado muito mais compreensvel para os cidados galegos falantes de espanhol. O critrio nem s aplicado pelo Governo autnomo, mas tambm por outras instituies e at agncias de traduo que pedem abertamente o afastamento do portugus, o qual parece uma manifestao de lusofobia.

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    A norma reintegracionista do galego

    Ao mesmo tempo em que nos anos 70 do sculo XX o movimento de recuperaodogalegoentravanasuniversidadesedarialugaraonascimentodoInstitutodaLnguaGalega(1971),avisoreintegracionistaiatambmformandoseentre muitos intelectuais. A ideia de o galego e o portugus serem sempre um s idioma (as matizaes nesta altura no interessam) fez com que junto aos partidrios da independncia crescessem aqueles outros que olhavam para Portugal como a nica hiptese de a lngua encontrar o mundo. Um dos pais deste movimento foi Ricardo Carvalho Calero (19101990), cujo pensamento deulugarcriaodaAssociaomGalegadaLngua(AGAL).Tomasecomoponto de partida o trabalho A recuperao literria do galego precisamente de um portugus:ManuelRodriguesLapa.Umanodepoisdaproclamaodasnormasoficiaisdogalego,aAGALpublica

    assuasprpriasem19834. Tais normas sofreram tambm, com o passo do tempo, modificaes, para lentamente irse achegando cada vez mais para o portugus.

    Neste contexto convm introduzir o conceito de portugus da Galiza5. Para muitos falantes galegos, esta denominao uma autntica incongruncia, porque se se referir lngua da Galiza, tem que ser galego.

    4 Umpequenoresumodelasemespanholpodeserlidoem:http://es.wikipedia.org/wiki/Normativa_reintegracionista_del_idioma_gallego

    5 EsteargumentorecolheideiasjmanifestadasemFriasConde,X.GalegonaGalizaeportugus...tambm?,emhttp://pivonauta.wordpress.com/2013/08/16/galegonagalizaeportuguestambem/(consultado agosto, 2014)

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    Porm, dentro do reintegracionismo no h uma viso homognea da questo.Porumlado,anormaAGALmantmaindamuitoselementosiniciaisedistintivos do galego, como as terminaes om, som ou o artigo umha (=/ua/), que muitos utentes abandonaram para usar as formas concordantes com o portugus, isto : o, so e uma, embora em todos os casos se mantenha uma pronncia galega diferente da portuguesa. Pelo outro, com o nascimento daAcademiaGalegadaLnguaPortuguesa(2008)equevemusandopraticamente o portugus europeu, em alguns casos com pequenas concesses de tipo morfolgico s falas galegas. Da que denominemos os primeiros como reintegracionistas e os segundos como lusistas.

    O conceito de paraleto no caso galegoportugus

    Oficialmente, como j ficou dito, galego e portugus so idiomas diferentes. Tem cada um o seu padro, de maneira que a partir da unidade medieval, a realidade oficial hoje esta que representamos no seguinte grfico:

    Oficialmente, at do galego se esgalhou um ramo, o eonaviego, que o galego falado nas Astrias e que o governo regional asturiano elevou categoria de idioma (Frias Conde, 2012). Para o portugus, dentro de um s padro, possvel reconhecer vrias normas (portuguesa, africana, brasileira).

    Desde uma perspetiva sociolingustica e atendendo para a realidade de que o galego e o portugus comearam a se afastar a partir da confirmao

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    daindependnciadePortugalnosculoXIV,masqueaunidadelingustica,apesar de tudo, no ficou totalmente rota, podemos afirmar que o uso do padro portugus europeu para a escrita do galego no funcionaria. O galego pode ser escrito de conformidade com a ortografia portuguesa. Nesse sentido, desde os incios da recuperao do galego a partir da morte de Franco, tentou encontrar um modo de o galego confluir com o portugus, o que na altura se entendeu como a reintegrao do galego no mbito portugus (da o nome de reintegracionismo que recebe o movimento). O primeiro passo seria, portanto, a mudana ortogrfica do sistema oficial de base espanhola para outro de base portuguesa.Talmudanaortogrficamalafetaaestruturamorfossintticadogalego.Mas

    quando o disfarce ortogrfico desaparece, vse que as diferenas entre galego e portugus so muito menores do que parece. Porm, tambm certo que o galego escrito com ortografia reintegrada admite diversos graus de aproximao do portugus padro europeu. Dito de um modo simples, podese escrever numa forma lingustica mais galega ou menos, com maiores concesses para o portugus.

    Tal forma de escrever vemse conhecendo ultimamente sob a denominao de portugus da Galiza. E galego, tanto como o o galego escrito na norma RAG. Para um falante comum portugus, o portugus da Galiza tem aparncia de portugus, mas apresenta traos indiscutivelmente galegos. Citaremos alguns deles aqui:

    falais, bebeis, partis por falam, bebem, partem (fenmeno comum com falares portugueses transmontanos e beiros)

    faleiche por faleite falrom por falaram (porque falaram tambm se usa em galego, mas apenas

    para o maisqueperfeito) dixo, fizo/fezo, quijo/quiso por disse, fez, quis formas prprias galegas que podem ser tambm arcasmos ou dialetalismos

    portugueses, como ment(r)es por enquanto, aginha, e logo, etc.No vocabulrio h dzias de palavras que so galegas e seguem a ser empregues

    com total naturalidade, embora muitas delas sejam arcasmos portugueses ou sejam utilizadas ainda no norte de Portugal.

    Se ainda tivessem a impresso que galego e portugus no so iguais, certo. Nem os portugueses falam galego nem os galegos falam portugus, mas falam algo que tem mais pontos em comum do que pontos diferentes. O conceito de galegoportugus serve para isto, mas como tudo precisa dum nome mais concreto, a denominao de portugus da Galiza para a escrita do galego com

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    o alfabeto portugus d, mantendo em maior ou menor medida as suas feies principais aos nveis gramatical e lexical.

    E com isto chegamos a uma tentativa de definio de qual a relao entre galego e portugus entre eles. Visto que o portugus um idioma internacional, o que o galego? Neste sentido, seria bom recuperar o conceito de codialeto cunhado porLeitedeVasconcelos(1970,29),pormcomsubstanciaisdiferenas,vistoque os falares asturoleoneses pertencem a um diassistema diferente. Adefinio queofereceLeitedeVasconcelos:

    Idiomesparticuliersque,quoiquentantpasaujourdhuirigoureusementportugais,sont cependant dans un intime rapport avec cette langue.

    Fiquemos, portanto, com que galego e portugus so codialetos, mas no o mirands, o rionors e o guadramils, que so falares asturoleoneses. Porm, o conceito de dialeto tem nos dias de hoje conotaes muito negativas, portanto tambmodecodialeto.Tentmospremdiaaterminologia,partindodoconceito de diassistema que engloba o galego e o portugus para falar de paraletos, um conceito diferente de geoleto, socioleto ou dialeto. O galego no mesmo um geoleto do portugus, como pode ser o minhoto, o trasmontano ou algarvio, tambm no um dialeto em qualquer uma das acees que tem este termo. Porm, se considerarmos que no mesmo uma lngua independente do portugus, o conceito de paraleto vem refletir qual a relao entre galego e portugus e que no tem equivalncia na Europa, pois no equivalente, por exemplo, relao que existe entre checo e eslovaco; se calhar, o caso mais prximo seria o do catalo e o occitano, onde ambos falares podem ser paraletos.

    Os paraletos mantm uma unidade lingustica, mas no usam necessariamente o mesmo padro. Neste sentido falaramos em parapadro (Frias Conde, 2006,p.54).Estaumadiferenaimportante,porqueoportugustemumspadro, mas com duas normas principais: a europeia e a brasileira. Porm, tal padro sofre modificaes importantes no caso galego, pelo qual preferimos falar em parapadro (e no subpadro) permite que o galego mantenha, dentro da lusofonia, uma autonomia de que carece qualquer variedade do portugus.

    Portanto, dentro das hipteses atuais de parapadro galego reintegrado, a denominao de portugus de Galiza, formulada ainda na segunda dcada do sculoXXI,serveperfeitamenteparasituarogalegodentrodaLusofoniacomum parapadro prprio. Convm insistir na importncia do parapadro, porque a distncia entre galego e portugus nem s no lingustico, mas tambm no social, deve ser abordada desde o reconhecimento dessa distncia, mas sem quebrar a unidade lingustica galegoportuguesa.

    Tudo o anterior fica refletido no seguinte grfico:

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    Tudo o visto at agora sobre a evoluo das normas do galego pode ser resumido nos dois seguintes grficos, que recolhem o perodo que se abre em 1975 e que chega at hoje. O primeiro descreve qual a evoluo dos grupos apresentados anteriormente.

    O segundo descreve a evoluo das teorias lingusticas quanto sua pertena Lusofonia:

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    Concluses

    Todas as normas presentes e passadas do galego olharam para o portugus, j para se afastar dele ou bem pelo contrrio. Porm, quando at os mais isolacionistas reconhecem que o galego uma lngua til para se comunicar com mais de duzentos e cinquenta milhes de pessoas evidente que no querem dizer que o galego tenha tal nmero de falantes. Usamse, alis, circunlocues como quesabergalegoumaportadeentradaparafazernegciosnoBrasil.Esta a publicidade institucional, portanto, h um reconhecimento implcito da continuidade do galegoportugus. Bem parece que a grande maioria das pessoas que tem interesse na questo do galego reconhece que o galego tem que fazer partedaLusofonia,sejaistoditoexplicitamenteousimplesmenteinsinuado.ELusofoniaconvmqueogalegofaapartedela?Arespostatemque

    virdaprpriaLusofonia.Atagorahnomeadamentedesconfiana,temor(aumaeventualreaodaEspanhaseogalegofizessepartedeumainstituioestrangeira) e desconhecimento. Porm, esperemos que as coisas mudem em breve.

    A meu ver, h vrias estratgias que se podem marcar para reforar a ideia deumaLusofoniaqueincluaogalego.Soestas:Redefiniroconceitodegalegoportugusemtodososmbitos,nems

    acadmicos, mas tambm polticos, culturais e principalmente editoriais, atualizandoavisodeumalnguadosculoXXI,nocomoalgomedieval..

    Valorizar a aceitao do galego como lusofonia com a ortografia oficial, algo de que j temos falado, porque simplificaria muito as coisas.

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    Formular a existncia de um espao nico cultural desde A Corunha at Faro, sem esquecer o Brasil.

    Projeo da literatura galega em Portugal.Introduodoensinodeportugusnasescolaseliceusgalegos(paraissofoi

    aprovadarecentementeaIniciativaPopularValentimPazAndrade,a14demaio 2014 pelo Parlamento regional de Galiza, segundo a qual, impulsionarse o ensino de portugus nos centros escolares galegos, entre outras medidas).

    Referncias bibliogrficas

    AssociaomGalegadaLngua(1983):Estudo crtico das Normas ortogrficas e morfolxicas do idioma galego.SantiagodeCompostela:AGAL.

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    FriasConde,X.(2006).AnormalizacinlingsticanaRomania.Anormalizacin da lingua e normalizacin dos falantes (o caso dos neofalantes). Ianua, 6. Disponvel em http://ianua.romaniaminor.net/Ianua06/08.pdf (agosto 2014).

    Frias Conde, X. (2012). Nos limites nordestinos do galegoportugus europeu: oeonaviego.InQuem fala a minha lngua, Santiago de Compostela:Atravs Editora.

    InstitutodaLinguaGalega(1982):Normas ortogrfias e morfolxicas do idioma galego. Santiago:Xunta de Galicia.

    Vasconcelos,J.Leitede(1970).Esquisse d une dialectologie portugaise. 2 ed. Lisboa:CentrodeEstudosFilolgicos.

  • O Galego e a LusofoniaXavier Frias Conde