YAOHÚSHUA NÃO DESCEU AO HADES

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    infernos/Hades), e a outra encontra- se no Credo de Atansio,com a expresso latina descendit ad inferos (desceu s regies

    inferiores).O estudo desta matria ser desenvolvido abaixo, primeiro

    historicamente, depois teologicamente e ento biblicamente. I. ANLISE HISTRICA DA DESCIDA AO HADES

    A expresso desceu ao Hades, que aparece no Credo Apostlico,no faz parte das suas formas mais antigas. Ele sofreu

    alteraes posteriores, uma das quais foi a expresso acima.Witsius afirma:

    digno de nota que, antigamente, aqueles credos que possuam oartigo sobre a d escida de Cristo ao inferno, no continham o

    artigo relativo ao seu sepultamento, e aqueles nos quais oartigo com respeito descida ao inferno foi omitido, de fato

    continham o artigo relativo ao sepultamento.2Rufino, o bispo da igreja de Aquilia, fez alguns comentrios

    sobre o Credo Apostlico em sua Expositio Symboli Apostolici,por volta do final do sculo IV, dizendo que essa clusula nunca

    foi encontrada nas edies romanas (ou ocidentais) do credo.Rufinus acrescenta que a inteno da alterao do Credo emAquilia no foi a de acrescer uma nova doutrina, mas a de

    explicar uma antiga e, portanto, o credo de Aquilia omitiu aclusula foi crucificado, morto e sepultado e a substituiu por

    uma nova clusula, descendit ad inferna.3 Portanto, origina lmente a expresso descendit ad inferna no

    fazia parte do Credo Apostlico. No tempo de Rufino, elaapareceu inserida no Credo, mas no como um acrscimo ao que

    j havia, sendo apenas uma expresso substitutiva decrucificado, morto e sepultado. O Credo de Atansio4 (escritopor volta do sculo V ou VI) segue mais ou menos a mesma ideia

    do Credo de Aquilia, onde a expresso desceu ao Hadessubstitui a expresso sepultado, no sendo um acrscimo a ela.

    At ento, no havia nenhuma modificao signifi cativa na

    doutrina crist com respeito situao da pessoa do Redentorao morrer, pelo menos nas tradues mais conhecidas do Credo.

    Enquanto houve a omisso da clusula sepultado e oaparecimento da clusula substituta desceu ao Hades, ou vice -

    versa, no surgiu nenhum problema teolgico novo. Esteapareceu quando as duas expresses acima apareceram no mesmo

    Credo, uma aps a outra. Por volta do sculo VII, a clusuladescendit ad inferna apareceu em outros credos, mas como um

    acrscimo a crucificado, morto e sepultado, e no comoexpresso substitutiva dessas coisas acontecidas a Cristo. A

    partir de ento, uma nova doutrina comeou a aparecer dentro

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    da igreja crist, ou seja, a descida de Cristo a um local chamadoHades, aps o seu sepultamento. Da as vrias tradues do

    Credo Apostlico aparecerem assim: Padeceu sob o poder dePncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu ao

    Hades. Ao terceiro dia, ressurgiu dos mortos. De onde surgiu esta insero? difcil identificar a sua

    trajetria, mas h alguns indcios. Witsius menciona que, porvolta de 359, encontraram -se em Constantinopla cerca de

    cinquenta pessoas, e l compilaram um Credo, no qualprofessavam que criam em Cristo, que foi morto e sepultado eque penetrou as regies subterrneas, nas quais at mesmo o

    Hades foi golpeado com terror,5 o que d a entender um sentidodiferente e que vai alm de um sepultamento, contrastando como entendimento de Rufino. J. N. D. Kelly tambm menciona que na

    doxologia da Didascalia siraca, que parecia uma formulaocredal, havia a seguinte expresso: Que foi crucificado sob

    Pncio Pilatos e partiu em paz, a fim de pregar a Abrao, Isaquee Jac e a todos os santos a respeito do fim do mundo e da

    ressurreio dos mortos.6 O descensus (descida), como uma atividade de Cristo nummundo inferior entre a sua morte e a sua ressurreio, no

    apareceu, a princpio, nas formulaes credais da igrejaocidental. Porm, sob a influncia do pensamento da igreja

    oriental desde tempos bem antigos,7 veio a aparecerposteriormente at mesmo nas formulaes ocidentais. Kelly

    afirma: Deveria ser observado que aps Santo Agostinho queprevaleceu o hbito ocidental de explicar 1 Pedro 3.19 como um

    testemunho da misso de Cristo aos contemporneos de Nomuit o antes de sua encarnao.8

    A doutrina, que usualmente chamada de Descida ao Hades,desenvolveu- se de forma efetiva na igreja crist com o passar

    dos sculos, numa tentativa de reviver a doutrina pag do Hades.Dentro do pensamento grego havia um lugar para onde iam todos

    os mortos o Hades. Este era dividido em dois setores: o Elsio(para onde iam todos os bons) e o Trtaro (para onde iam todos

    os maus). Esta ideia greco- pag razoavelmente coerente, poispelo menos os maus iam para o lugar chamado inferno, que umadas tradues de Trtaro, e os bons iam para o paraso, que a

    traduo de Elsio. Alguns cristos, com base numa anlise equivocada do texto de 1

    Pedro 3.18- 209 e com o apoio da expresso desceu ao Hadesinserida no Credo Apostlico , tomando a ideia de Hades doconceito pago, acabaram criando um Hades inconsistente,

    tambm com duas divises: os bons vo para o Paraso e os maus

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    para o Hades. Isto quer dizer que, se algum perguntar a estescristos qual a composio do Hades, a resposta ser: Paraso

    e Hades. A viso pag desta matria muito mais consistenteque a dos cristos, influenciados pelo conceito pago de Hades.

    Do sculo VII em diante, apareceu uma nova doutrina sobre aatividade de Jesus Cristo aps a sua morte e sepul tamento num

    outro lugar que no o cu. Portanto, durante a histria da igreja o pndulo vai oscilar

    entre a descida de Cristo ao Hades enquanto esteve entre ns(especialmente ao ser crucificado e sepultado) e uma descida a

    um local chamado Hades, entre a sua morte e ressurreio. Nesteltimo caso, o grande problema definir o que ele foi fazer l.

    disso que trataremos com mais detalhes neste ensaio.II. ANLISE TEOLGICA DE VRIAS TRADIES SOBRE

    A DESCIDA AO HADESAs vrias tradies teolgicas mencio nadas abaixo, refletindo

    os seus pressupostos teolgicos, deram as suas prpriasexplicaes expresso desceu ao Hades na histria da igreja.

    Houve vrias divergncias entre os herdeiros da Reforma, quesero analisadas ligeiramente adiante.

    A. Viso da Tradio Catlica O entendimento catlico o de que Cristo, aps a sua morte, foiao limbus patrum.10 Na teologia catlica, esse lugar para ondevo os mortos que no so salvos pela graa, mas que no podem

    ser classificados como pagos ou mesmo como pecadoresrprobos. Esse lugar fica nas bordas do inferno e do purgatrio;

    todavia, no deve ser confundido com eles. O limbus patrum,segundo a teologia catlica, no um lugar de tormentos. o

    seio de Abrao, ao qual Cristo se refere na parbola do rico eLzaro. O inferno o lugar de condenao eterna enquanto que o

    purgatrio um lugar temporrio de punio purgativareservada para os cristos que morrem com as manchas dos

    pecados veniais ou que morrem sem a devida penitncia pelos

    seus pecados.No limbus patrum, os santos do Antigo Testamento esperavam asua redeno ser consumada por Jesus Cristo, o que se deu em

    seu descensus ao Hades. Ali Jesus concedeu s almas dos santosdo Antigo Testamento que haviam morrido os benefcios do seusacrifcio expiatrio, pois eles estavam esperando o anncio

    final da sua salvao. Essa ideia catlica desenvolveu -seprincipalmente na Idade Mdia, quando se tornou popular.

    Os telogos escolsticos tambm ensinaram que, ao mesmotempo em que uma descida temporal e espacial ocorreu somente

    no limbus patrum, outros efeitos dessa descida estenderam-se a

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    outras regies do Hades, tais como a manifestao da glria deCristo sobre o Diabo e os condenados e o cumprimento da

    esperana para os do purgatrio.11 Portanto, se esta explicao a correta, Jesus Cristo teria

    descido especificamente a um dos compartimentos do Hades, que o lugar dos bons, anunciando - lhes a salvao consumada. Ele

    no foi efetivamente ao lugar dos mpios. B. Viso da Tradio Anglicana

    Por volta de 1537, a teologia anglicana, numa formulao semi -protestante elaborada no tempo de Henrique VIII, sustentava

    uma doutrina sobre a descida de Cristo ao Hades semelhante noo catlica, mas com alguns aspectos distintos: a alma de

    Cristo desceu ao infer no para conquistar a morte e o Demnio epara libertar as almas daqueles homens justos e bons, que desde

    a queda de Ado morreram por causa de D - us e na f e na crenadeste nosso Salvador Jesus Cristo, que estava para vir. A suaconquista do Demnio destruiu qualquer reivindicao que o

    Diabo tinha sobre os homens, e a descida foi parte do resgatepago por Cristo.12

    No perodo do rei Eduardo VI (1547 -1553), houve algumasvariaes no conceito da descida ao Hades. Thomas Becon

    elaborou um catecismo,13 o nde pergunta: Cristo sofreu dorestambm no inferno? Ento, ele responde:

    De modo algum. Pois quaisquer que tenham sido as dores quetivesse que sofrer por nossos pecados e impiedades, ele assofreu todas em seu bendito corpo sobre o altar da cruz.14

    Emb ora esteja absolutamente certo nisso, Becon tambmacrescenta que ele no desceu ao inferno como uma pessoa

    culpada para sofrer, mas como um prncipe valente paraconquistar...15

    Essa concepo trouxe modificaes ao pensamento catlico,sendo um pouco m ais imaginativa que a tradio anterior. No seucatecismo, Becon deixou transparecer no somente uma teologia

    de pagamento de penalidade no Hades, mas tambm uma espciede teologia do triunfo,16 mesmo estando Jesus Cristo no estado

    de humilhao, evidenciando uma ligeira semelhana aopensamento do luteranismo influenciado por Melanchton, que

    estudaremos adiante.C. Viso da Tradio da Reforma Radical

    Em linhas gerais, h trs correntes dentro da reforma radical17com respeito ao descensus. Por essa razo, a exposio dessa

    corrente ser um pouco mais longa: 1. O DESCENSUS COMO UM ATO DIVINO

    Kaspar Schwenckfeld (1489-1561)18 sustentou que um Jesus

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    divino havia descido ao inferno e este foi um ato unicamente deseu prprio ser divino. Nada da sua natureza h umana foi ao

    Hades. O esprito vivificado o Esprito Santo atravs do quala natureza divina foi e pregou no Hades. A ideia a de um Jesuscelestial descendo ao inferno, estabelecendo um plpito parapregar aos mortos do mesmo modo como o fez enquanto pregou

    aos vivos: [Cristo] desceu priso [do inferno] e pregouatravs do Esprito, proclamando - lhes a salvao e o evangelho

    da graa pelo qual eles haviam estado esperando com grandeexpectativa.19 Jesus veio do cu e tirou todas as suas almas da

    masmorra da priso, e as conduziu consigo para o seu reinocelestial e ao lugar preparado, e deixou vazia a corte exterior

    do inferno.20 Esta ltima afirmao de Schwenckfeld espantosa! O inferno esvaziou- se com a obra de pregao do

    Jesus celestial! No ficou ningum na condenao. uma outramaneira de ensinar um universalismo salvador. Alm disso, noh nada de humano naquilo que Jesus teria feito no inferno. Era

    tpico do movimento da reforma radical uma espcie dedocetismo, um movimento teolgico na histria da igreja quenegou a plena encarnao e humanidade de Jesus Cristo. Alm

    disso, no foi o Jesus divino que pregou, mas a Terceira Pessoada Trindade, o Esprito Santo.

    2. O DESCENSUS COMO UM ATO HUMANOAgora a vez dos anabatistas Johannes Schlaffer e JohannesSpittelmaier, que ensinaram uma ideia totalmente oposta anterior. Quem desceu ao inferno foi um Jesus totalmente

    humano. A descida ao Hades foi uma funo da natureza humanado Redentor e um r itual pelo qual somente o homem deve

    passar. Alm disso, foi o Jesus mortal que desceu e o Pai divinoquem o libertou de l.21

    O descensus foi realizado por um Jesus humano, que carece daajuda do Pai para ser resgatado, antes que por um ser divino.

    Toda via, o sentido importante do descensus no foi a

    encarnao, mas o Madeiro. Este pensamento bem diferente doprimeiro porque torna o descensus algo que aconteceu neste

    mundo, no num mundo inferior, localizado fora de nosso mundo.O colega de Schlaffer, Spittelmaier, identificou o inferno destemundo de Schlaffer com o inferno de perseguio nas mos dos

    cristos ortodoxos.22 Portanto, na concepo destes anabatistas, todos os cristosque sofrem neste mundo por causa de Cristo compartilham dos

    mesmos t ormentos que Jesus suportou. Estes sofredores solibertados dos sofrimentos infernais do futuro porque j

    experimentaram os sofrimentos semelhantes aos de Cristo.23

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    Neste caso, os sofrimentos de Cristo sobre o Madeiro foram maisum exemplo para os seus,24 e no sofrimentos penais,

    diminuindo-se, assim, o valor substitutivo e penal dossofrimentos de Cristo.

    3. O DESCENSUS COMO UM ATO DO SER DIVINO E DOS SERESCELESTIAIS E HUMANOS

    Uma outra variao do descensus entre os simpatizantes dareforma radical foi a de Miguel Serveto (1511-1553),25 que

    Friedman denomina de bizarra.26 semelhana de Schwenckfeld,ele cria que o corpo de Cristo era composto de material

    celestial, sendo acentuadamente divino.27 Todavia, Cristo nopoderia ficar despojado de sua humanidade ao ser confrontadocom Satans no inferno. A humanidade de Cristo est vinculadaao seu pacto pessoal com o crente, dentro de quem todo mal e o

    pecado residem. Embora crendo na divindade de Cristo, Servetoacrescentou uma dimenso totalmente nova teoria do

    descensus, porque viu esse evento como um captulo adicionalda batalha csmica e eterna entre D - us e Satans, que

    eventualmente culmina no Apocalipse.28 A fim de se entendercomo D- us falhou na batalha contra Satans e como o Filhotentou desce r ao inferno mas tambm deixou de alcanar a

    vitria, necessrio conhecer a teoria do mal esposada porServeto.29 Desde a Queda, Satans tomou posse da terra,

    ocasionando a retirada de D-us do ser humano e a entrada daserpente no mesmo. Quando Jesus des ceu aos infernos para

    resgatar os santos do Antigo Testamento, ele no pode destruiro poder de Satans dentro da sua prpria cidadela. Escrevendoa Calvino, Serveto observou que Cristo no desceu sepultura

    ou ao lugar onde os corpos dos mortos so co locados, mas nacorte mais interior do inferno, onde as almas so tornadascativas.30 Todavia, os esforos divinos foram frustrados

    porque Satans encarnou -se neste mundo como o papa, que falapela igreja de Cristo. Os crentes do Antigo Testamento foram

    l ibertos, mas a igreja crist est sob as garras de Satansencarnado. A doutrina cristolgica e trinitria da igreja desde

    Nicia o ensino pervertido de Satans.31 Como D- us havia falhado no den (melhor, Pomar numa Vrzea) e

    Cristo falhou no seu descensus, D-us providenciou outrodescensus com manifestao divina, o qual, no entender de

    Serveto, haveria de ocorrer em 1585, com a descida do arcanjoMiguel. Aps a glorificao do Anticristo (a forma papal de

    reinado) uma nova glorificao de Cristo necessria.32 Almdesta manifestao do arcanjo Miguel, os cristos tambm

    participam desta luta contra Satans. Segundo o pensamento de

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    Serveto, todos devem descer ao inferno e expor as suas almas morte sangrenta na luta contra o Anticristo.33 Para Serveto, um

    Jesus divino desceu ao inferno para libertar os crentes doAntigo Testamento e todos os cristos devem reproduzir em suas

    prprias vidas a batalha de Cristo contra Satans. Ocumprimento do descensus se daria somente em 1585, quando o

    arcanjo Miguel haveria de descer para destruir a Satans.34 D. Viso da Tradio Luterana

    A interpretao luterana bem diferente da interpretao dastradies anteriores. Embora Jesus Cristo tenha ido

    literalmente ao Hades entre a sua morte e ressurreio, opropsito foi o de proclamar a sua vitria sobre Satans. Lutero

    v nesse descensus a conjuno do triunfo de Cristo sobreSatans com a ideia de levar cativo o cativeiro.

    A grande dificuldade desta interpretao que ainda no tinhahavido nenhuma manifestao de vitria de Cristo, pois aressurreio ainda estava por acontecer. O resultado do

    pensamento de Lutero que, na tradio luterana, a descida aoHades o primeiro estgio da exaltao de Cristo.

    Na teologia luterana, o descensus ao Hades tomado com mui taseriedade por causa da importncia da expresso para essa

    tradio da Reforma. Todavia, os luteranos no se aventuram aexplicar o descensus em seus detalhes, pois deve ser aceito

    somente pela f.35 No fcil reconciliar as diferentesafirmaes de Lu tero a respeito da descida de Cristo ao Hades,36

    pois ora ele falava da mesma em termos metafricos, quandoCristo conquistou Satans, ora em termos literais.37 Todavia,

    parece-nos que foi Melanchton quem mais influenciou oluteranismo posterior, porque afirmou uma descida real e

    espacial de Jesus ao Hades e, acima de tudo, tornou esse ato deJesus uma parte do seu triunfo.38

    O ensino do luteranismo confessional aparece em dois lugares daFrmula de Concrdia, que um dos smbolos de f luteranos. A

    Frmula de Concrdia tem duas partes: a Eptome e a DeclaraoSlida. Na Eptome est escrito: Porque suficiente que

    saibamos que Cristo desceu ao inferno, destruiu o inferno paratodos os crentes e redimiu-os do poder da morte, do diabo e dacondenao eterna das mandbulas infernais.39 Na Declarao

    Slida, h a seguinte afirmao: Ns simplesmente cremos que apessoa total, D- us e Homem, aps o sepultamento desceu ao

    inferno, conquistou o Diabo, destruiu o poder do inferno e tiroudo diabo o seu poder.4 0

    Lutero cria que Jesus Cristo, na sua natureza humana e divina,desceu ao inferno literalmente. Na nica vez em que mencionou o

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    assunto, ele disse: Eu creio no Senhor Jesus Cristo, o Filho deDeus, que morreu, foi sepultado e desceu ao inferno.41

    Portanto, para o pensamento luterano, a ida ao inferno foiposterior ao sepultamento.

    E. Viso da Tradio Arminiana comum entre muitas pessoas a ideia de que a morte no coloca

    um fim no perodo em que Deus opera com a sua graa para salvarpecadores. Elas sempre tentam arranjar novas oportunidades

    para os mpios serem salvos, mesmo que seja aps a sua morte.Este o caso de vrios estudiosos de orientao arminiana,

    como veremos adiante.Esta tendncia da tradio arminiana evidencia -se naqueles quesustenta m a noo mais comum desde os tempos antigos, de que

    Cristo teria descido ao Hades para pregar o evangelho no

    somente a todos os piedosos falecidos na antiga dispensaoque creram nele e compartilharam da salvao crist,42 mas

    tambm aos mortos em geral que no ouviram a pregaoenquanto viveram neste mundo.

    A evangelizao no Hades tambm tem como finalidade pregaraos mpios mortos para dar -lhes uma outra oportunidade de

    salvao. A doutrina da segunda oportunidade bastante comumem crculos armin ianos. Estas ideias baseiam-se numa

    interpretao equivocada de 1 Pedro 3.18 -20. Eles afirmam queJesus Cristo foi e pregou o evangelho de salvao aos espritos

    em priso no Hades. A grande dificuldade da primeira ideia acima que os santos do

    Antigo Tes tamento j haviam crido no Messias e, por isso,estavam justificados (Rm 4.3; Gl 3.6-9), o que torna

    desnecessria essa evangelizao. F. Viso da Tradio Reformada

    Na teologia reformada, a expresso desceu ao Hades muitasvezes omitida inteiramente d o Credo dos Apstolos. Quando,

    todavia, a expresso aparece, ela substitui sepultado, sendo a

    palavra Hades entendida como uma referncia ao sheol,43 aregio dos mortos, ou como uma referncia ao estado de

    morte.44 Outras vezes, como pensa Calvino, o Hades significa osofrimento e morte de Jesus como expresso do recebimento da

    justia divina. Calvino sustentava que a descida ao Hades foi a experincia das

    dores do inferno na alma de Jesus, enquanto o seu corpo aindaestava pendurado na cruz, especialm ente a experincia da ira

    divina contra o pecado que ele suportou no lugar dos sereshumanos, que se evidencia numa dor espiritual resultante do

    abandono de Deus. Ali na cruz, Cristo tomou sobre si as dores da

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    punio que eram devidas a todo o seu povo.45 Estas ideias de Calvino foram transmitidas a alguns segmentosda Igreja da Inglaterra, no perodo do rei Eduardo VI, atravs

    dos ensinos do bispo anglicano John Hooper, que assim comentoua clusula descendit ad inferna do Credo Apostlico, por volta

    de 1549:"Eu creio tambm que enquanto ele estava sobre o dito Madeiro,morrendo e entregando o seu esprito a D -us seu Pai, ele desceuao inferno; isto quer dizer que provou verdadeiramente e sentiu

    a grande aflio e peso da morte, e igualmente as dores etormentos do inferno, o que quer dizer a grande ira de D-us e o

    seu severo julgamento sobre si, at ter sido totalmenteesquecido por D- us... Este simplesmente o meu entendimento

    de Cristo na sua descida ao inferno.46

    Toda a tradio reformada sustenta, em alguma medida, o que foidito acima, com algumas pequenas variaes, mas sem qualquer

    prejuzo do entendimento geral de que a descida de Cristo aoHades deve ser entendida como algo que aconteceu enquanto eleestava sob a ira de Deus no Calvrio ou, no mx imo, quando foi

    sepultado.III. ANLISE BBLICA DA DESCIDA AO HADES NAS PRINCIPAIS

    TRADIES DA REFORMA Existe base bblica para afirmar que Jesus Cristo experimentou

    o Hades se por Hades entendemos a manifestao do juzodivino mas no h fundamento bblico para afirmar que eledesceu localmente ao Hades, aps a sua morte e sepultamento.

    Todavia, importante que faamos uma anlise da interpretaobblica das principais tradies da Reforma, a fim de que no

    ignoremos como pensam estes companheiro s cristos. Dentre os vrios textos utilizados pelas diversas correntes

    teolgicas, o de 1 Pedro 3.18 - 20 o mais usado e o mais abusado.Vejamos, portanto, a sua interpretao em algumas tradies

    teolgicas.

    A. Interpretao da Tradio Arminiana Na trad io arminiana no existe uma interpretao nica dotexto de 1 Pedro 3.20, mas vrias que sustentam a doutrina doevangelho da segunda oportunidade. Obviamente, a questo da

    pregao do evangelho no Hades, dentro do arminianismo, matria pertinente extenso da morte de Cristo, que sem

    dvida atinge a todos os seres humanos sem exceo. Osdefensores desta concepo no conseguem aceitar que tantas

    pessoas tenham perecido sem salvao. Este pensamentocertamente norteia a ideia da pregao evangelstica da

    segunda oportunidade no Hades.

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    Geralmente, para provar que a pregao no Hades foi de carterevangelstico, os seus defensores tentam associar o texto de 1Pedro 3.19 com o de 1 Pedro 4.6, j que o primeiro texto recebe

    objeo, pois visto como sendo um texto que no fala deevangelizao.

    Portanto, a probabilidade de que o significado de khru/ssein(pregar) em 1 Pedro 3.19 tenha esta conexo deve ser

    considerada como irresistivelmente forte contra qualquer outrosentido que no o da pregao do evangelho. A probabilidade

    fortalecida pelo uso do verbo eu)hggeli/sqh (foi pregado oevangelho) em 1 Pedro 4.6, entendendo que devemos considerar

    este verso como tendo ntima relao com 3.19.47 Fica bastante difcil para os defensores do evangelho do H adesprovarem a sua tese sem mencionar o texto de 1 Pedro 4.6, mas

    mesmo assim ela fica enfraquecida porque este texto nofavorece a ligao com 1 Pedro 3.19. Mas isto veremos mais

    tarde.Uma das interpretaes mais curiosas aquela dada no

    comentrio do arminiano De Wette:Os antediluvianos no haviam tido nenhum redentor e nenhum

    guia para a vida do Esprito. Portanto, D - us devia (se quepodemos usar essa expresso) suprir - lhes esta deficincia e,

    assim, por fim, o Senhor ressuscitado lhes trouxe a sa lvao noHades.48

    O grande erro desta interpretao que a Escritura no lhe dapoio e, alm disso, No foi o pregador de D - us quela gerao

    antediluviana, como veremos adiante. Eles no ficaram semtestemunho de D- us. Portanto, no precisavam desta pregao

    no Hades.Outros arminianos admitem que o evangelho j havia sido

    pregado gerao de No, e que esta pregao foi rejeitada, masno foi uma rejeio definitiva. Por isso, a descida de Jesus ao

    Hades, conforme o seu entendimento de 1 Pedro 3.20, teria o

    carter de uma segunda oportunidade. Um escritor desta linhade pensamento afirma que muitos no foram endurecidos

    irrecuperavelmente.49 Outro deles ainda afirma: Estes homensque Pedro pensa que haviam perecido no grande julgamento de

    D-us, pare ce que em seu destino terrvel no tinham seendurecido irrevogavelmente contra Deus.50 A rejeio dos

    homens do passado no foi uma rejeio final do evangelho. No possvel que naquelas palavras os quais nos outros tempos

    foram desobedientes possa haver uma sugesto de que esta suadesobedincia tenha sido um pecado eterno, que... este o

    terrvel destino daqueles que nunca tm perdo? Esta

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    interpretao encontrada num dos comentrios bblicos maispopulares entre os pastores, The Pulpit Commentary.51

    Uma outra interpretao curiosa a de que a pregao doevangelho no Hades foi dirigida queles que haviam se

    arrependido enquanto viveram aqui na terra, mas no tiveramtempo de confessar os seus pecados enquanto eram engolfadospelas guas do Dilvio. Um destes defensores do evangelho do

    Hades, o bispo Horsley, tem dificuldade em crer que os milhesque morreram no Dilvio tenham morrido impenitentes, eafirma ainda que a proclamao benfica do evangelho foi

    limitada queles que se arrependeram antes da morte.52 Estetipo de pensamento baseia- se em mera e fantasiosa suposio.

    Portanto, o fundamento para este evangelho do Hades sosimples hipteses. Veja - se a citao a seguir:

    Certamente no h nada que nos proba supor que osantediluvianos aqui referidos (embora tivessem sido, por muitotempo, desobedientes e tivessem resistido luta do Esprito deD- us mediante a pregao de No, enquanto a Arca estava sendo

    preparada) foram levados ao arrependimento e buscarammisericrdia, quando o dilvio realmente veio.53

    No h qualquer fundamento bblico para essa ideia. Ela refleteuma pura especulao, certamente governada por pressupostos

    arminianos sobre a extenso da expiao. Outro defensor do evangelho do Hades afirma que a pregao no

    Hades um ministrio que Deus confiou a Paulo e aos outrosapstolos, com base numa anlise falaciosa do texto de 2

    Timteo 1.12, que diz estou bem certo de que ele poderosopara guardar o meu depsito at aquele dia. Segundo esta ideia,Paulo est no Hades, como os outros apstolos, exercendo o seu

    ministrio evangelstico, esperando receber o prmio dessatarefa no dia final.

    O grmen deste pensamento encontra -se nas ideias de Clementede Alexandria, que assevera como ensino direto das Escrituras

    que o nosso Senhor pregou o evangelho aos mortos, mas pensaque as almas dos apstolos devem ter assumido a mesma tarefaquando eles morreram.54 Luckock tambm endossa a afirmaoacima. Ele diz que os apstolos, seguindo o exemplo de nosso

    Senhor, pregaram o ev angelho queles que estavam no Hades.55Engelder diz que at mesmo os seguidores de Edward Irving56

    creram nisso, isto , que os apstolos que morreram continuama obra da pregao que Cristo comeou em sua descida ao

    Hades.57 Isto significa que a pregao do evangelho aindacontinua a existir no Hades.

    Ziethe, um dos defensores dessa posio, diz o seguinte:

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    Cremos que aquela grande obra de salvao, que o Filho de Deuscomeou com a sua descida ao inferno, ser levada a efeito

    continuamente at ao fim dos tempos. Cremos que, no tempopresente, o evangelho tambm pregado aos espritos empriso, a fim de que eles possam decidir a favor ou contra

    Cristo, para a sua salvao ou a sua condenao.58 Dificilmente encontraremos capacidade to imag inativa parajustificar o evangelho da segunda oportunidade no Hades. Em

    nome dos pressupostos arminianos, praticam-se grandesexcentricidades exegticas. possvel que ainda hoje vejamosalguns pregadores se aventurarem a afirmar que desceram aos

    inferno s para pregar aos mortos. No de se espantar queouamos tais desvios teolgicos em nome do amor s almas

    perdidas, sem levar em conta o ensino genuno das Escrituras.

    Ora, as excentricidades no param por a. No somente osapstolos, mas os santos em geral tambm so considerados

    como pregadores dos infernos. O to celebrado PulpitCommentary, comentando o texto de Pedro, afirma: Os santos

    que partiram espalham as alegres novas do evangelho entre osreinos dos mortos (p. 145). De maneira convicta, mas

    equivocada, diz Luckock:Ns exerceremos na outra vida, no mundo dos espritos, sob

    condies espirituais, ministrios especiais e graas peculiaresque marcaram o nosso trabalho e a vida neste mundo terreno...

    Os espritos dos justos esto l, e podemos muito bem imaginaros seus labores em favor dos outros, trazendo-lhes o

    conhecimento de Deus.59Essas ideias tambm so puramente especulativas e altamenteimaginosas. Esta imaginao vai ao ponto de tentar entender o

    plano de D-us ao retirar as vidas jovens deste mundo. Veja-se oque J. Paterson-Smith diz em seu livro The Gospel of the

    Hereafter:Pense como ele (o evangelho do Hades) ajuda nas perplexidades a

    respeito de D-us quando retira desta vida os jovens e as pessoasteis. Eu disse a um homem que perguntou Por que Deus tira umvida nobre como esta e deixa tantas vidas tolas e inteis neste

    mundo? que talvez Deus no quisesse somente as pessoasinteis e tolas... Os eleitos de Deus na vida futura so ainda

    eleitos de Deus para o servio em favor dos outros.60A morte prematura desses jovens considerada como o incio de

    um novo ministrio no alm tmulo. Ainda l, para essesdefensores do evangelho do Hades, maravilhoso ver as pessoas

    evangelizando!Estas pessoas revelam o desejo de querer ver o mundo dos

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    espritos sendo salvo, na sua totalidade, pela pregao dasegunda oportunidade. Perguntamos: At quando as almas dos

    apstolos e dos crentes em geral permanecero no Hadesesperando que sejam recebidas no cu? Certamente este ensinono passa de um romantismo teolgico, destitudo de qualquer

    fundamento escriturstico. B. Textos Usados pelos Defensores do Evangelho do Hades

    Alm dos textos de 1 Pedro 3.18 - 20 e 4.6, outros textos sousados pelos defensores do evangelho do Hades.

    1 Joo 3.8 Aque le que pratica o pecado procede do diabo,porque o diabo vive pecando desde o princpio. Para isto se

    manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo. Na viso dos defensores do evangelho do Hades, algo

    extremamente pernicioso pensar que a grande maioria dos

    pecadores ficou perdida, pois isso indicaria a derrota e no avitria de Jesus Cristo. Um de seus proponentes disse:

    Certamente se 8/9 dos homens e mulheres nascidos neste mundoperecem eternamente, ento Satans ter triunfado; Cristo ter

    fracassado em destruir as suas obras.61 Jesus veio paradestruir as obras do diabo, inclusive vencendo a oposio dos

    homens no inferno. Cristo foi aos infernos inclusive para buscaros perdidos que l estavam. Se ele veio destruir as obras do

    diabo, ento necessrio admitir que ele esteve no inferno paraaniquilar as obras do diabo naquele lugar.

    Esta uma espcie de universalismo disfarado de amor pelasalmas perdidas, com o grave erro de se crer que o inferno umacriao do diabo e um lugar d as atividades atormentadoras do

    mesmo.Mateus 5.26 Em verdade te digo que no sairs dali, enquanto

    no pagares o ltimo centavo. O comentarista F. W. Farrar, pressupondo o evangelho do Hades,

    diz:Se o destino daqueles pecadores (1 Pe 3.19; 4.6) no

    irrevogavelmente fixado pela morte, ento deve ficar claro ebvio ao mais simples entendimento que nem necessariamente

    o nosso ... Que os prisioneiros ali podem ser prisioneiros daesperana, decorre de Mt 5.26, onde a mesma palavra fulakh/n

    (priso - v. 25) usada.62 A esperana dos prisioneiros do Hades est no fato de o

    evangelho ser ali pregado. Mas a ideia de a pessoa ter que serlibertada gratuitamente pelo evangelho, quando tem que pagar

    at o ltimo centavo, absurda e contraditria. Se o evangelho da graa, no h lugar para um pagamento feito pelo

    prprio homem. impossvel saldar qualquer dbito no inferno.

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    alcanou nesta vida, h alguns que o teriam aceito caso lhestivesse sido pregado. Segue- se que a pregao que no os

    alcanou nesta vida, de algum modo lhes ser supridaposteriormente, na vida alm.64

    Trata- se de um raciocnio de certa forma lgico, mas destitudodo fundamento geral das Escrituras, porque entra simplesmenteno terreno das hipteses, que no pode e no deve ser levado em

    conta. O que o texto diz no que tais pessoas tero aoportunidade de salvao no Hades, mas que recebero menorrigor no dia do julgamento. Com menor rigor a punio vir

    sobre ele s, mas no a salvao. Em resumo, chamei estas ideias de arminianas, no porque todos

    os arminianos as possuam, mas porque elas so prpriasdaqueles que ensinam uma espcie de universalismo de redeno

    e uma universalidade da deciso de D -us de salvar pecadores.Isto prprio dos arminianos que, em nome do amor pelospecadores, distorcem algumas passagens da Escritura para

    mostrar que haver oportunidade de salvao at no Hades. Poresta razo, todos os defensores do evangelho do Hades sempre

    citam as pa ssagens bblicas usadas pelos arminianos paramostrarem o propsito universal da salvao de Deus. Afinal de

    contas, Farrar diz:Esta minha crena (de que Aquele que Senhor de ambos, vivos emortos, pode salvar almas pecaminosas mesmo aps a morte do

    cor po) fundada, no como tem sido afirmado, nos dois textos dePedro, mas no que me parece ser o teor geral da totalidade dasEscrituras, como uma revelao do amor de Deus em Cristo... ,portanto, uma doutrina que no somente se harmoniza melhor

    com a cre na instintiva do homem sobre a justia e misericrdiade Deus, mas tambm muito mais escriturstica e muito mais

    catlica do que as outras...65 A est! Farrar, mesmo afirmando o contrrio, invalida as

    Escrituras pelos seus pressupostos (que ele chama de

    escritursticos) de um amor salvador de D -us que teriacarter absolutamente universal. exatamente isto que muitos

    arminianos, propositadamente ou no, costumam fazer. C. Interpretao da Tradio Luterana

    Para os luteranos, o texto de 1 Pedro 3.18-2 0 a passagem maisclara do Novo Testamento sobre a descida ao inferno.66 Vamosanalisar apenas algumas expresses -chave em que a teologia

    luterana se distingue das outras.Verso 18 observe a expresso vivificado em esprito. A

    exegese feita por alguns luteranos indica que Jesus Cristo,quando morreu, e antes de ser ressuscitado, teve o seu esprito

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    restitudo ao seu corpo e, com a totalidade da sua naturezahumana, foi ao inferno, o que altamente estranho. Neste caso, a

    ideia de morte fica totalme nte prejudicada, pois morte separao. Se a pessoa total de Jesus Cristo foi ao Hades, ento

    a morte deixa de existir em Cristo.Tratando da expresso vivificado em esprito (v. 18)67 que diferente da ressurreio para os luteranos , Scharlemann diz:Quando nosso Senhor morreu na cruz, lemos que ele entregou o

    seu esprito nas mos do Pai (Lc 23.46). O dativo de referncia emnosso texto poderia, entretanto, sugerir que Jesus foi trazido vida no sentido de que o seu esprito retornou ao seu corpo.68 A base desta interpretao apoiada curiosamente pelo fato deo retorno da filha de Jairo vida ser descrito em termos do seuesprito estar retornando ao seu corpo (Lc 8.55).69 Portanto, o

    esprito mencionado no verso o da natureza humana de J esusCristo, que estava com o Pai no perodo entre a morte e a

    ressurreio, e veio a juntar -se ao corpo novamente, a fim deque o Cristo total fosse ao inferno, mas sem haver ressurreio.

    Verso 19 vimos que, para Scharlemann, a vivificao asituao em que o esprito de Cristo voltou ao seu corpo entre amorte e a ressurreio. Neste processo, particularmente quandoCristo estava sendo trazido vida (vivificao), no momento

    antes de manifestar-se como o Senhor ressuscitado, ele foi e feza proc lamao aos espritos em priso. Esta interpretao

    distingue, portanto, entre o ser trazido vida e a ressurreio,e sugere que o Deus-homem em seu estado glorificado foi e fez a

    proclamao em priso antes de apresentar -se a si mesmo natumba aberta.70

    A citao acima mostra, portanto, que a descida ao Hades oprimeiro estgio da exaltao de Cristo, porque ele foi trazido

    vida. O problema definir o que a vida significa aqui. Porcausa desta interpretao, possvel, para a teologia luterana,que o estado de exaltao comece com a proclamao de Cristo

    no inferno, pois a ele j est vivificado. 1. QUAL O CONTEDO DA PROCLAMAO?

    Em si mesma, a palavra pregou no define o seu contedo,segundo o entendimento da teologia luterana. Certamente, a

    palavra nada tem a ver com evangelizao. Dentro do conceitoluterano, a proclamao no tem nada a ver com a segunda

    chance da pregao do evangelho feita no inferno. Aargumentao para essa negativa que h diferena entre

    khru/ssw (proclamar) e eu)anggeli/zomai (evangelizar). QuandoCristo quis falar de evangelizao ele usou o segundo verbo, ou,quando usou khru/ssw, ele acrescentou que pregou o evangelho

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    (Mc 1.14).Tambm se diz que Cristo foi e pregou. Segundo o entendimento

    luterano, no possvel espiritualizar essa ida ao inferno,como costumam fazer os calvinistas, dizendo que quando Cristomorreu na cruz, os efeitos de sua morte foram sentidos no reinodos mortos... Como no temos nenhum direito de espiritualizar a

    ascenso, assim h pouca justificao para retirar daqui osentido mais importante do verbo ou ignor - lo. Cristo foi e

    pregou aos espritos em priso.71 Existe, portanto, a ideia demovimento de um local para outro, e no simplesmente a

    espiritualizao da ideia. 2. A QUEM S E FEZ ESTA PROCLAMAO?

    Esta pergunta tem a ver com os espritos em priso. Quemeram eles? As respostas no so absolutamente unnimes entre

    os luteranos.Lutero, no seu comentrio do livro de Osias, na edio de 1545,

    refere-se ao texto de 1 Pedro 3.18, dizendo:Aqui Pedro diz claramente que Cristo apareceu no somente aos

    pais e patriarcas mortos, a quem ele em sua ressurreiolevantou consigo mesmo para a vida eterna, mas que ele pregou a

    alguns que, nos tempos de No, no creram, mas confiaram nap acincia de D - us, isto , esperaram que D - us no tratasse toseveramente toda a carne, a fim de que eles pudessem saber que

    os seus pecados foram perdoados atravs do sacrifcio deCristo.72

    Portanto, a ideia de Lutero que a pregao de Cristo visoucon firmar a salvao daqueles que haviam vivido nos temposantigos, confiaram na pacincia de D -us e agora estavam empriso no Hades. Em outras palavras, D -us salvou alguns queconfiaram no na pregao de Deus, mas na sua pacincia. A

    estes Jesus confirmou a sua redeno. Obviamente, esta ideia de Lutero no bem -vinda entre osluteranos de modo geral. Scharlemann diz que seria difcil

    concordar com a ltima parte desta afirmao, mas a primeiraparte indica que nos ltimos anos de sua vida Lutero viu o

    de scensus luz de 1 Pedro.73 Melanchton confirma queposteriormente Lutero mudou a sua posio neste assunto. Eleficou disposto a pensar sobre a pregao de Cristo no Hades,

    referida em 1 Pedro, como tendo possivelmente efetuado tambma salvao de pagos mais nobres como Scipio e Fabius.74

    A viso luterana oficial a sustentada pelos seus smbolos def j citados, que assimilam o pensamento cristo do sculo IV,segundo o qual o descensus ocorreu para conquistar a morte e oinferno, sem contudo comprometer- se na matria da libertao

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    dos santos do Antigo Testamento.75Respondendo a pergunta acima, podemos dizer que, de acordo como pensamento luterano, a proclamao de vitria feita aos queno tempo de No recusaram -se a crer e agora estavam em pris o.O texto de Pedro ensina claramente que Cristo desceu regio

    dos condenados, queles que deliberadamente rejeitaram a graade Deus no tempo de No, a fim de fazer - lhes a proclamao.76

    Mas qual o sentido de fulakh/ (priso)? A resposta a esta pergunta define quem eram os espritos. Osluteranos rejeitam a ideia de que o Hades o lugar para onde

    vo todos os mortos, mas a priso o lugar onde ambos estosob guarda, os anjos cados e os espritos dos incrdulos.

    Priso para eles mais ou menos sinnimo de abismo (Ap9.1,2,11; 11.17; etc.), que o lugar onde esto os espritos dos

    demnios. Em contraste com o conceito pago e com o conceito pago -

    cristo, o Hades, para os luteranos, apenas o lugar para ondevo os espritos cados e os espritos dos incrdulos, e no o

    lugar para onde vo todos os mortos, sejam eles crentes ouincrdulos. Priso o oposto de seio de Abrao, para a qual

    vo os santos aps a sua morte, conforme Lucas 16.22 -25.Resumindo a interpretao luteran a sobre o texto de 1 Pedro

    3.18- 20, podemos dizer que Cristo, segundo o seu corpoglorificado, desceu ao inferno para l fazer proclamao de si

    mesmo como o Messias. Este foi o primeiro estgio da suaexaltao.77

    D. Interpretao da Tradio Reformada O texto de 1 Pedro 3.18- 20 deve ser interpretado luz de outros

    textos da Escritura que ajudam a esclarec -lo. O apelo dostelogos reformados deve ser s informaes bblicas e no s

    informaes do Credo Apostlico (com o acrscimo do descenditad infer na). Estes so pontos fundamentais que no podem ser

    esquecidos.

    Lembremo- nos de que a controvrsia sobre o Hades recrudesceuquando da insero no Credo, por volta do stimo sculo, da

    frase descendit ad inferna aps a clusula crucificado, mortoe sep ultado. Antes disso, pouca coisa havia na igreja sobre estamatria. Portanto, o foco deste assunto deve ser o ensino geral

    das Escrituras, no a afirmao credal. 1. REJEIO DO CONCEITO CRISTO - PAGO DE HADES

    A f reformada, em sua constante busca de consistncia bblica eteolgica, rejeita tanto a formulao pag como a crist - pag a

    respeito do Hades, exemplificadas acima. No h um lugar paraonde vo todos os mortos igualmente, um lugar especfico de

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    espera at que chegue o dia da ressurreio. No h doiscompartimentos separados no mesmo Hades: um lugar para os

    bons e outro para os maus, como ensinado em algumasteologias. A f reformada cr inequivocamente que, quando

    morrem, os homens vo para lugares diferentes. Os mpios quemorrem sem o conh ecimento salvador de Jesus Cristo vo para a

    condenao, o que a Escritura chama de inferno, aguardando ojuzo final. Os que morrem no Senhor, isto , os genunos

    cristos, vo estar com Cristo imediatamente, at ao dia final.Por isso que Paulo diz: . .. prefiro morrer e estar com Cristo, o

    que incomparavelmente melhor (Fp 1.23). No h como abrirmo dessas verdades.

    2. INTERPRETAO DE 1 PEDRO 3.18 -20Este o texto crucial com o qual todas as correntes se

    defrontam. J vimos algumas interpretaes . Doravante, aanlise ser de acordo com o ensino geral das Escrituras, comoentendem os pensadores de linha calvinista, tambm chamados

    de reformados.a. Qual o sentido de carne e esprito vivificado?

    Neste texto, estas duas palavras no devem ser tidas comoreferncias antitticas mesma natureza humana do Redentor,

    isto , referindo - se ao corpo e alma de Jesus Cristo, pois esseno o propsito do texto. H lugares em que este tipo de

    interpretao possvel,78 mas no aqui. Neste texto, Pedr oest contrastando dois estados diferentes de existncia do

    nosso Redentor: um est na esfera da limitao em que viveuenquanto conosco, com respeito sua natureza humana, no seuestado de humilhao; o outro uma esfera de poder e de no -

    limitao, qu e ele teve antes de encarnar-se e que veio apossuir depois de exaltado.

    Esta mesma ideia, com outras palavras, aparece em Romanos 1.3-4, onde Paulo contrasta as duas existncias do Filho encarnado,

    chamando- as de existncia segundo a carne (existncia

    h umana, vinda da descendncia de David) e existncia segundo oesprito de santidade, revelando o seu estado vitorioso de

    no - limitao. Em 1 Timteo 3.16 estes dois estados deexistncia do Redentor tambm so apresentados: manifestado

    na carne e justif icado em esprito. O prprio Pedro apresenta amesma ideia em 4.6, referindo-se aos mortos que, segundo os

    homens, haviam sido julgados na carne (terminaram a suaexistncia humana de fraqueza) e agora viviam no esprito,

    segundo D- us (uma existncia em poder e vitria, sem aslimitaes da existncia em fraqueza).79 O texto de 1 Pedro 3.18

    tambm d estas duas conotaes ao Redentor:

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    1. O estado de limitao e fraqueza do Filho de D -us:A palavra aqui usada para carne a mesma palavra grega (sarx,hebraico: basr) encontrada em outros lugares da Escritura, no

    significando, contudo, a parte material do homem ou a suanatureza pecaminosa, mas certamente a sua vida humana neste

    presente estado, a existncia humana como ela agora. Segundoo entendime nto de Pedro, estar morto na carne refere -se

    simplesmente humanidade de Cristo no estado de fraqueza (node pecaminosidade) a que estava exposto. Quando ele morreu na

    carne, ele saiu deste estado de fraqueza e fragilidade. Nestesentido, portanto, que devemos entender a expresso morto

    na carne. Todavia, no foi neste estado que ele pregou aosespritos em priso.

    2. O estado de no - limitao e fora do Filho de D -us

    s vezes, a palavra pnema (esprito) usada no verso 18 temsido traduzida com letra maiscula, como uma referncia ao

    Esprito Santo, mas parece - nos que no h porque interpret -la assim. Se assim fosse, ela no teria nenhuma referncia a

    Cristo, mas terceira pessoa da Trindade, o Esprito. A nossaquesto aqui a respeito do Fi lho.

    O pensamento do verso 18 no que o corpo de Jesus morreu eque o seu esprito reviveu. Estas coisas no fazem sentido paraJesus Cristo e nem para qualquer outro ser humano comum, poisquem morre o homem e quem ressuscita o homem, no o corpo

    ou o esprito. A expresso vivificado em esprito, que possui similares emoutros textos da Escritura, diz respeito vitria de Cristo naressurreio, combinando - se com o que Paulo diz em 1 Timteo3.16. Todavia, neste texto especfico de 1 Pedro 3.19, o esprito

    vivificado ou vivificador pode ter mais significado se oentendermos como a natureza divina do Redentor, antes de eleencarnar- se. Ele vivia nesse estado de poder e no - limitaoque contrasta com o estado de fraqueza em que esteve nos dias

    da su a carne, e foi neste tempo de no - limitao que ele foi epregou aos espritos em priso, quando eles viviam no tempo de

    No. b. Qual o sentido de no qual (v. 19)?

    Quando o texto de Pedro diz vivificado em esprito, no qualtambm foi, no est se re ferindo ao lugar aonde ele foi depois

    da morte, mas onde ele estava quando havia desobedientes nostempos de No. Foi neste esprito de vivificao que ele pregouatravs dos profetas nos tempos antigos, como veremos adiante.

    A palavra tambm (do verso 1 9) desvia o assunto para estemesmo estado de no - limitao de Cristo, que o levou a estar

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    presente na vida dos pregadores no tempo da desobedincia doscontemporneos de No. Ele no poderia ter feito isto nos diasda sua carne, isto , da sua existncia terrena. Ele foi antes deser o Verbo encarnado, quando de sua existncia absolutamente

    ilimitada.c. Para onde foi o Filho de D-us?

    Cristo no foi literalmente ao inferno entre a morte e aressurreio para pregar aos aprisionados que l estavam,

    porque a Escritura mostra claramente o lugar para onde ele foidepois que morreu e foi sepultado. Certamente ele tambm no

    foi ao inferno aps a sua ressurreio. Quando Jesus Cristo foi morto na carne, ele foi estar com seu

    Pai, pois a Escritura afirma que, antes de expirar, ele disse:Pai, nas tuas mos entrego o meu esprito (Lc 23.46).

    Quando Jesus Cristo foi morto na carne, ele foi para o cu, como seu Pai. No mesmo contexto do Madeiro, quando interpelado

    pelo ladro/terrorista sua direita, que lhe suplicava Lembra -te de mim, quando entrares no teu reino, ele replicou: Hoje

    mesmo estars comigo no paraso (Lc 23.43). Se formos buscarna prpria Escritura o sentido de Paraso, verificamos que

    sinnimo de cu (o terceiro cu, o lugar em que Deus habita demodo especial).80 Esta foi a ideia que Paulo deu a respeito da

    sua subida ao terceiro cu, que ele equipara ao paraso (ver 2 Co12.2- 4). Portanto, o lugar em que Jesus Cristo permaneceu aps asua morte e at a ressurreio, no foi o Hades, mas o cu (ou o

    Paraso),81 o lugar de santa bem - aventurana e gozo! Alm disso, quando Jesus Cristo estava para morrer, ele disseque todo o seu sofrimento pela redeno do pecador estava no

    final. Jesus exclamou: Est consumado (Jo 19.30). Ele no teriaque descer ao Hades para fazer qualquer pagamento, nem

    terminar a sua obra de evangelizao ou mesmo proclamar a suavitria. Toda a obra de redeno e de proclamao pessoal do

    Redentor havia cessado.

    d. Quando ele pregou?A preocupao do texto de 1 Pedr o 3.18- 20 no o que Cristo fezentre a morte e a ressurreio, mas o que ele fez no seu estado

    pr - encarnado (de poder e de no - limitao) no reinoespiritual, no tempo de No.82

    O texto diz que ele, vivificado em esprito, isto , em espritopoderoso (no em fraqueza e humilhao, como foi o caso da suavida entre ns), tambm foi e pregou aos espritos em priso.Foi neste mesmo esprito de poder ou de existncia poderosa e

    ilimitada que ele pregou. A palavra tambm (do verso 19)define uma outra poca, no aps a morte e antes da

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    ressurreio. Este Redentor foi e pregou aos contemporneos deNo. Nesse esprito, isto , nesse estado de poder que ele

    tambm foi e pregou aos espritos em priso, que viviamescravizados no tempo em que No pregou. Isto est comprovado

    pelo fato de, nesta mesma carta, Pedro dizer que o esprito deCristo, que a sua natureza divina ilimitada e cheia de poder,

    estava presente nos pregadores, ou profetas, dos tempos antigos(1 Pe 1.11).

    e. O que ele pregou?Pode ser perfeitamente deduzido do contexto desta Epstola dePedro que Jesus Cristo pregou o evangelho aos contemporneosde No. Espiritualmente, Cristo estava presente em No quando

    este era o pregoeiro da justia, pois o mesmo Pedro menciona asalvao da qual os profetas falaram, investigando

    atentamente qual a ocasio ou quais as circunstnciasoportunas, indicadas pelo Esprito de Cristo, que neles estava,ao dar de antemo testemunho sobre os sofrimentos de Cristo, esobre as glrias que os seguiriam (1 Pe 1.11). Este verso indicaque Pedro admite que No era um profeta, ou seja, um pregador

    da justia (2 Pe 2.5), em quem e atravs de quem Jesus Cristopregou. O contedo da mensagem no foi de condenao final.

    Portanto, podemos afirmar com certeza que o contedo dapregao do esprito vivificado, atravs de No, era de

    salvao do juzo de Deus que haveria de vir sobre o mundompio. No certamente pregou aos seus contemporneos para que

    se arrependessem e cressem na libertao divina atravs daarca, pela qual apenas oito pessoas foram salvas (v. 20).83

    f. Quem so os espritos aprisionados? A frase espritos em priso sozinha no define a matria, masquando a examinamos luz das frases que vem a seguir, podemos

    ter uma noo clara do que Pedro est falando. De acordo com o texto de 1 Pedro 3.18- 20 e seu contexto, no hnenhuma possibilidade razovel de que a expresso espritos

    em priso no se refira aos desobedientes do tempo de No. Otexto no fala de justos que foram para o Hades, nem de anjosaprisionados, como querem alguns, mas de pessoas que, noutrotempo, rejeitaram a pregao de No, e que eram consideradasespritos em priso, incapazes de fazerem quaisquer coisas

    por si mesmas para a sua prpria salvao. Se cremos que Cristopre gou atravs do seu esprito ilimitado, e creio que o fez, asnicas pessoas mencionadas so essas: os contemporneos de

    No. Ningum mais. Obviamente que, neste sentido, Cristo no foiao inferno. Os espritos em priso so unicamente indivduos

    que vivera m nos tempos de No, que no foram salvos e que, por

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    causa de seu cativeiro em cegueira espiritual, permaneceramincrdulos quanto mensagem de No. Embora possamos crer que

    estavam em priso (sob condenao) quando Pedro escreveu acarta, todavia, j era m prisioneiros de sua cegueira espiritual

    quando a mensagem de No lhes chegou aos ouvidos, porque eramescravos da desobedincia. Foi a esses que Cristo pregou

    atravs de No. Portanto, a passagem de 1 Pedro 3.18- 20 no fala de uma viagemde final-de-semana de Jesus Cristo ao inferno, mas refere-se a

    uma pregao feita pelo esprito de Cristo, que o espritovivificado, atravs de No (1 Pe 1.11), aos seus contemporneos

    (2 Pe 2.5), que eram homens desobedientes e, portanto,aprisionados sua natureza pecaminosa. Alm disso, eles agoraestavam presos no inferno, sob condenao (pelo fato de terem

    sido desobedientes no tempo de No) quando Pedro escreveuestas palavras.84

    3. A DOUTRINA DO HADES NOS SMBOLOS DE F REFORMADOS a. O que a f reformada rejeita

    A f reformada rejeita qualquer noo de descida literal deJesus ao Hades aps a sua morte e antes da sua ressurreio.

    Embora estivesse sob o estado de morte85 at suaressurreio, ele no passou um fim -de-semana num lugar

    chamado Hades.A f reformada rejeita qualquer possibilidade da pregao deuma segunda oportunidade de salvao feita por Jesus, pelosapstolos ou por outros santos quaisquer no Hades, depois de

    sua morte. A morte de todos os apstolos e crentes a aberturapara a sua entrada n o cu, o descanso das suas fadigas desta

    vida, e no o trabalho penoso de evangelizar no inferno. De modocontrrio, a morte de todos os mpios o selo do seu destino

    eterno. No h mais qualquer oportunidade de redeno aps amorte.

    A f reformada rej eita a ideia luterana de que Jesus Cristo teria

    descido ao Hades para proclamar a sua vitria (sendo este oprimeiro estgio da sua exaltao), porque de acordo com as

    Escrituras e os seus smbolos de f, a exaltao de Jesus Cristocomea com a sua ressurreio, que a sua vitria sobre a

    morte!A f reformada rejeita qualquer noo de que os crentes do

    Antigo Testamento estivessem cativos no Hades, e de que JesusCristo l desceu para libert -los, usando- se Efsios 4.8 -9 comotexto-prova para justificar tal posio. A Escritura ensina que

    os crentes do Tanach (Antigo Testamento/Encontro) no forampara o Hades aps a sua morte, mas foram estar com D -us (Sl

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    73.23- 24), como tambm o ensino do Brit Hadasha/EscriturasGregas Crists (Novo Testamento/Encont ro). As Escrituras

    afirmam que aqueles que morrem tm os seus corpos sepultadose os seus espritos voltam para D -us, que os deu (Ec 12.6-7).

    Elas tambm afirmam que Elias, Enoc e Moiss esto no cu comD- us, e no no Hades (Gn 5.24; 2 Rs 2.11; Lc 9.29 -32).

    A f reformada rejeita que Satans possua as chaves da morte,do inferno e da sepultura, e que Jesus desceu ao Hades para

    tom - las dele. No h qualquer sugesto nas Escrituras de queestas coisas pertenam a Satans. Falando sobre Jesus Cristo

    (conf orme a interpretao joanina no Apocalipse), Isaas diz quea chave do senhorio do universo pertence a Jesus Cristo (Is

    22.21- 22 e Ap 3.7). H somente outros dois versos da Escrituraque mencionam as chaves, e Satans nunca associado a elas. O

    primeiro t exto diz que a chave do reino dos cus foi entreguepor Jesus aos apstolos (Mt 16.19) e o segundo afirma que aschaves da morte e do inferno pertencem a Jesus Cristo (Ap

    1.18). Somente o Senhor possui as chaves da morte e do inferno.Ningum mais!

    b. O que a f reformada aceita A f reformada tambm aceita o Credo Apostlico comoexpresso da f genuna dos pais da igreja. Contudo, o

    entendimento dos reformados com respeito ao Hades diferentedo de muitos cristos evanglicos. Os smbolos de f re formadosexplicam o sentido da expresso desceu ao Hades, inserida no

    Credo de Aquilia no quarto sculo, como uma expressosubstitutiva para descrever o que aconteceu a Jesus Cristo,

    como nosso representante, no Madeiro.Observe- se a resposta pergunt a 44 do Catecismo de

    Heidelberg:P. Por que se acrescentou: Ele desceu ao Hades?

    R. Para que nas minhas maiores tribulaes eu possa estarseguro de que Cristo, o meu Senhor, atravs de indizveis

    terrores, dores e angstias que sofreu na sua alma no Mad eiro eantes dela, redimiu- me da angstia e dos tormentos do inferno.

    Veja- se a resposta do Catecismo Maior de Westminster pergunta 50:

    P. Em que consistiu a humilhao de Cristo depois da sua morte? R. A humilhao de Cristo, depois da sua morte, consis tiu em serele sepultado, em continuar no estado dos mortos e sob o poder

    da morte at ao terceiro dia, o que, alis, tem sido expressonestas palavras: Ele desceu ao inferno (Hades).

    De maneira diferente do Catecismo de Heidelberg, o Catecismo deWestminster interpreta o Hades como sendo sepultura ou, ainda

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    melhor, o estado de morte.Contudo, entre os escritores reformados prevalece a ideia dos

    smbolos combinados. A significao de Hades, no CredoApostlico, a de que Jesus Cristo experimentou a condenao

    divina que se evidencia na humilhao de morrer e sersepultado, ficando sob o poder da morte, mas tais escritoresincluem, sobretudo, os seus sofrimentos agonizantes antes e

    durante o tempo que passou no Madeiro. Experimentar o inferno experimentar o doloroso abandono da presena confortadorade D-us. Foi exatamente isto que Cristo experimentou. A ira de

    D-us desceu sobre o Filho encarnado e manifestou- se nosomente nas dores infernais do seu corpo, mas tambm nas

    angstias infernais que se apoderar am da sua alma. Portanto,Jesus nunca desceu ao Hades literal e espacialmente, mas

    experimentou intensivamente todas as coisas que o Hadesrepresenta, descritas acima. Ele experimentou o inferno antes

    da morte e na prpria morte, mas nunca depois dela, num aviagem de final-de-semana a um lugar chamado Hades.

    Por causa da experincia infernal que Cristo teve em face dojuzo divino, aqueles por quem ele morreu so libertos para

    sempre da condenao do inferno. este o sentido que osreformados do para a fr ase descendit ad inferna. Nesta obralibertadora de Jesus Cristo nos regozijamos e por ela a D-us

    bendizemos!

    ____________________* O autor ministro presbiterano e professor. Obteve o seu

    doutorado (Th.D.) na rea de Teologia Sistemtica no ConcordiaTheological Seminary, em Saint Louis, Missouri, Estados Unidos.

    1 Esta traduo opcional est no rodap do texto de Almeida,Verso Revista e Atualizada, e tem o apoio de alguns estudiososrecentes, como o caso de Wayne Grudem em seu artigo He Did

    not Descend Into Hell: A Plea for Following Scripture Instead of

    the Apostles Creed, Journal of the Evangelical TheologicalSociety 34/1 (Maro 1991), 108.

    2 Herman Witsius, Dissertations on The Apostles Creed, vol. II,reimpresso (Presbyterian and Reformed Publishing Company,

    1993), 140.3 Citado por W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. II (Nova

    York: Charles Scribners Sons, 1889), 604. 4 Desde o sculo IX, o Credo Atanasiano tem sido atribudo a

    Atansio (297 -373), o bispo de Alexandria e o principal defensorda divindade de Cristo e da doutrina ortodoxa da trindade.

    Todavia, desde o sculo XVII, abandonou - se entre os catlicos e

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    protestantes a ideia de Atansio como o seu autor. A origemdeste credo remonta igreja latina da escola de Agostinho,

    provav elmente na Glia ou norte da frica (ver Philip Schaff,The Creeds of Christendom [Grand Rapids: Baker:1990], Vol. I, 35-

    36).5 Witsius, Dissertations, 141.

    6 J. N. D. Kelly, Early Christian Creeds (Essex, England: LongmanHouse, 1986), 379.7 Ver ibid., 379.

    8 Ibid., 380.9 Neste artigo, no examino as interpretaes recentes de

    grupos neo- pentecostais ou carismticos. Se o leitor quiseralguma informao a respeito, pode consultar o captulo

    Redemption in Hell do livro de Hank Hanegraaff Christianity in

    Crisis (Eugene, Oregon: Harvest House Publishers, 1993), 163-167.10 Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological

    Terms (Grand Rapids: Baker, 1986), 178, 253.11 Dewey D. Wallace, Jr. Puritan and Anglican: The

    Interpretation of Christs D escent Into Hell in ElizabethanTheology, Archiv Fr Reformationsgeschichte 69 (1978), 250 -51.

    12 Wallace, Jr., Puritan and Anglican, 256. 13 John Ayre, ed., The Catechism of Thomas Becon...With Other

    Pieces by Him in the Reign of King Edward the Sixth, ParkerSociety n 3 (Cambridge: Cambridge University Press, 1844), 33.

    14 Ibid., 258, nota 48.15 Ibid. Ver John Ayre, ed., Prayers and Other Pieces of ThomasBecon, Parker Society n 4 (Cambridge: Cambridge University

    Press, 1844), 139.16 Wallace, Jr., Puritan and Anglican, 257.

    17 Eram os partidrios da Reforma que desejavam uma mudanamais drstica com respeito aos costumes e prticas da religiocatlica do que havia acontecido nos termos de Lutero, Zunglio

    e Calvino.

    18 Um diplomata aristocrtico alemo e telogo leigo que teveconflitos teolgicos com Lutero, Calvino e Zunglio a respeito

    de disciplina eclesistica, cristologia e Santa Ceia (ver J. D.Douglas, ed., The New International Dictionary of the Christian

    Church [Grand Rapids: Zondervan, 1978], 888).

    19 Kaspar Schwenckfeld, Corpus Schwenckfeldianorum, vol. 10(Leipzig, 1907- 1961), 364 (citado por Jerome Friedman, Christs

    Descent into Hell and Redemption Through Evil: A RadicalReformation Perspective, Archiv fr Reformationsgeschichte 76

    [1985], 220).

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    20 Ibid. (citado por Jerome Friedman. Christs Descent IntoHell, 220).

    21 Friedman, Christs Descent Into Hell, 222. 22 Ibid., 222.

    23 Ibid.24 O descensus foi realizado por um Jesus humano, antes que porum ser divino, e foi dirigi do... como um exemplo para toda a raahumana, para despertar a devoo a Cristo e como condio para

    se ressuscitar com Jesus (Ibid., 222). 25 Brilhante mdico espanhol. Interessado em teologia, escreveusobre a Trindade e sobre cristologia. Foi acusado de heresia por

    catlicos e protestantes, sendo morto em Genebra em 27 -10-1553, aps ter sido condenado pelo Conselho da cidade.

    26 Friedman, Christs Descent Into Hell, 222.

    27 O corpo de Cristo em si mesmo o corpo da divindade, e a suacarne divina , a carne de D-us, o sangue de D-us. A carne de

    Cristo foi gerada da substncia celestial de D - us (Ibid., 222 -23).

    28 Ibid., 226.29 Ibid., ver pp. 227-229.

    30 Estas informaes sobre Serveto so encontradas na sua obraChristianismi Restitutio (Vienne, 1553), 621-622 (citada por

    Friedman, Ibid., 227-228).31 Friedman, Christs Descent Into Hell, 228.

    32 Ibid., 228.33 Ibid.

    34 Ibid., 229.35 The Book of Concord, ed. Theodore G. Tappert (Filadlfia:

    Fortress Press, 1988), 492.2.36 Algumas vezes ele fala de maneira muito livre e em termosmitolgicos de Cristo indo ao inferno, dominando e despojando

    Satans; mas ele prprio reconhecia o carter metafrico de tallinguagem e em outro lugar discutiu a descida como sendo

    primariamen te uma experincia espiritual mais interior da almade Cristo (sem negar, contudo, que houve uma descida literal).

    (Wallace, Jr., Puritan and Anglican, 252). Ver tambm FriedrichLoofs, Descent to Hades, Encyclopedia of Religion and Ethics,

    ed. James Hastings (Nova York: Charles Scribners, 1924), IV, 656 -657.

    37 Wallace, Jr., Puritan and Anglican, 252. 38 Ibid., 253.

    39 The Book of Concord, 492.4.40 Ibid., 610.2.

    41 No seu sermo no Castelo de Torgau, em 1533. Ver a Frmula

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    de Concrdia, no Livro de Concrdia, 610.1. 42 Citado por Gotthilf Doehler, The Descent into Hell, The

    Springfielder 39 (Junho 1975), 16.43 Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, e Leo Jud, um

    colega de Zunglio, disseram que o descensus significava queCristo estava ver dadeiramente morto, tendo descido sepultura

    (Wallace, Jr., Puritan and Anglican, 253, 254 [nota 24]). 44 Isto foi sustentado por Jernimo Zanchi, que trabalhou emEstrasburgo e Heidelberg (Ibid., 254, nota 25). Assim tambm

    afirma o Catecismo Maior de Westminster, pergunta 50.

    45 Joo Calvino, Institutas, 2.16.8 -12.46 Later Writings of Bishop Hooper, Together with his Letters

    and Other Pieces, ed. Charles Nevinson, Parker Society n 21

    (Cambridge: Cambridge University Press, 1852), 30 ([citado porWal lace, Jr., Puritan and Anglican, 258]).

    47 Citado por Theodore Engelder, The Argument in Support ofthe Hades Gospel, Concordia Theological Monthly 16 (1945), 380.

    48 Citado por Engelder, Ibid., 382.49 Edward H. Plumptre, The Spirits in Prison and Other Studies

    on the Life After Death (Londres: Isbister, 1898), 111, 114. Citadopor Engelder, Argument in Support of the Hades Gospel, 382. 50 J. Paterson-Smith, The Gospel of the Hereafter (Nova York:

    Fleming H. Revell, 1910), 66.51 The Pulpit Commentary, eds. H. D. M. Spence e Joseph S. Exell

    (Nova York: Funk & Wagnalls,1890), 135.52 Ver Plumptre, The Spirits in Prison, 98 (citado por Engelder,

    The Argument in Support of Hades Gospel, 383, nota 5). 53 Luckock, The Intermediate State, 144 (citado por Engelder,

    383, nota 5).54 Informao do The Expositors Greek Testament, ed. W.Robertson Nicoll (Nova York: George H. Doran, 1897), 59.

    55 Luckock, The Intermediate State, 101 (citado por Engelder,

    385).56 Edward Irving (1792- 1834), um escocs, foi preg ador

    assistente de Thomas Chalmers em Glasgow. Tornou- se profticoe apocalptico na sua pregao. Cria que a natureza humana de

    Jesus era pecadora, mas Cristo no pecou por causa da habitaodo Esprito Santo. Por causa das suas ideias heterodoxas, foip rivado de pregar pelo Presbitrio de Annan. Cria que os dons

    sobrenaturais apostlicos haviam sido restaurados no seutempo. Foi uma espcie de precursor do movimento carismtico(ver New Dictionary of Theology, ed. Sinclair Ferguson [Downers

    Grove, Illinois: Intervarsity Press, 1989], 342).

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    57 Popular Symbolica, 326 (citado por Engelder, 385-86).58 W. Ziethe, Das Lamm Gottes, 729 (citado por Engelder, 385).

    59 Luckock, The Intermediate State, 101, 186 (citado porEngelder, 386-87).

    60 Paterson-Smith, The Gospel of the Hereafter, 153, 155.61 Citado por Engelder, Argument in Support of the Hades

    Gospel, 388. 62 Citado por Robert F. Horton em sua obra Revelation and the

    Bible: An Attempt at Reconstruction, 2 ed. (Nova York :Macmillan, 1893), 87.

    63 F. W. Farrar autor de um dos livros clssicos sobre ahistria da interpretao da Bblia. Ver History of

    Interpretation, reimpresso (Grand Rapids: Baker, 1961). 64 Citado por Engelder, Argument in Support of the Hades

    Gospel, 389 -90.65 Ibid., 393-94.

    66 Martin Scharlemann, He Descended into Hell, ConcordiaTheological Monthly 27 (1956), 84.

    67 Na interpretao luterana, a palavra grega zwopoihqei \j(traduzida como vivificado) no equivalente ressurreio,

    mas aponta para algo que foi feito a Jesu s. Ela refere-seinconfundivelmente a um ato especfico de D -us pelo qual o

    Senhor foi trazido vida... Nem todos os eruditos concordam queesta ao deva ser entendida com referncia ressurreio noseu sentido estrito. H aqueles que restringem a pala vra nesteponto vivificao, que distinta da ressurreio no sentido

    de que a ressurreio foi uma exibio pblica do fato de ele tervoltado vida. Em muitas passagens do Novo Testamento, estadistino pode ser feita. Contudo, em Efsios 2.5 -6 o ap stolo

    aponta para a diferena entre despertar e ressuscitar. Taldistino nos conduziria a crer que ns poderamos

    propriamente, com base no Novo Testamento, separar avivificao da ressurreio para o propsito de cronologia e

    clarificao daquilo que aconteceu na manh do dia de pscoa(Ibid., 87-88).

    68 Ibid., 88.69 Ibid., 88. Contudo, esta interpretao dada por Scharlemann

    tropea no fato de que o retornar vida da filha de Jairo igual ressurreio, o que no aconteceu com Jesus Cristo.

    70 Ibid., 89.71 Ibid., 90.

    72 Citado por John T. Mueller no Concordia Theological Monthly18 (1947), 615.

    73 Martin Scharlemann, He Descended into Hell An

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    Interpretation of 1 Peter 3.18- 20, Concordia TheologicalMonthly 27 (1956), 91.

    74 Ibid.75 Ibid.

    76 Ibid., 92.77 Ibid., 93.

    78 Como, por exemplo, em 2 Corntios 7.1. 79 Uma interpretao alternativa seria entender a expresso

    morto na carne como uma referncia morte fsica e traduzira expresso zwopoihqei/j... pneu/mati por vivificado pelo

    Esp rito, ao invs de vivificado no esprito. A construogramatical possvel, visto que pneumati pode ser tanto

    locativo como instrumental. Assim, o pneumati aqui referido oEsprito Santo, e a vivificao, uma referncia ressurreio

    de Cristo pel o Esprito Santo. E foi pelo Esprito Santo eatravs de No que o Cristo pr -encarnado pregou aos

    desobedientes nos dias daquele patriarca (1 Pe 1.11).80 Este o mais alto dos cus, que equivale ao lugar da plenacompanhia divina, como era no paraso or iginal. Paulo, numa

    experincia mpar, viu este lugar glorioso da presena de D -us,para onde vo os remidos em Cristo Jesus (ver Charles Hodge, ACommentary on 1 & 2 Corinthians (Edimburgo: Banner of Truth,

    1978), 658.81 Ver At 3.21.

    82 Ver Wayne Grudem, He Did Not Descend Into Hell, 110.

    83 Ver o comentrio de Wayne Grudem, 1 Peter, Tyndale NewTestament Commentaries (Grand Rapids: Eerdmans, 1990), 160.

    84 Para um tratamento mais amplo desta matria, ver ocomentrio de Wayne Grudem, I Peter, 203 -239.

    85 importante observar que Pedro fala no seu discurso de Atos2 que Jesus Cristo esteve no Hades, mas Hades aqui tem um

    sentido muito diferente. Citando o Salmo 16.8-11, referindo-se

    ao seu estado aps a morte, Pedro coloca na boca de Redentor asseguin tes palavras: ... porque no deixars a minha alma na

    morte, nem permitirs que o teu Santo veja corrupo (At 2.27).A palavra morte no grego Hades. E Hades aqui significa

    estado de morte, no somente sepultura. Ela a traduo dosalmo onde o escritor usa a palavra hebraica equivalente, sheol.Durante este estado de morte (Hades), isto , durante o tempo em

    que o seu corpo ficou separado de sua alma, o corpo de Jesusestava na sepultura e a sua alma estava com o seu Pai/Me no

    Paraso ou Cu.

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    Vis o adicional: http://magcalcauvin.wordpress.com/2010/09/30/2327/

    Reflexo sobre a Arte (o Sudrio em anlise), a Democracia,Imprensa e o Vis eleitoral - Hlio Schwartsman/Folha de So

    Paulo

    LECTIO DIVINA

    Para que diabos serve a arte? A questo das mais polmicasentre os neurocientistas. A exemplo do que se d com a religio,os especialistas podem ser divididos no bloco dos que acreditamque a arte uma adaptao humana obtida por seleo natural e

    o dos que pensam que ela apenas um efeito colateralresultante da forma como os nossos crebros esto montados. Noltimo grupo encontram -se os pesos-pesados do neodarwinismo,

    como o eterno Richard Dawkins, Stephen Jay Gould e StevenPinker. No primeiro, esto o prprio Charles Darwin (para ele, osenso esttico era uma faculdade intelectual fruto da seleo),a antroploga Ellen Dissanayake, o psiclogo Geoffrey Miller, e

    a dupla dinmica da psicologia evolutiva, John Tooby e LedaCosmides, que mudaram de lado, abandonando a tese da arte comosubproduto para abraar a teoria da adaptao. Mas prossigamos

    com um pouco mais de calma, pois esta uma questoextremamente controversa e que envolve conceitos complicados.

    Dawkins, Gould e Pinker relutam em aceitar a arte comoadaptao porque isso teria implicaes profundas sobre a

    biologia. Em primeiro lugar, mesmo que recuemos ocomportamento artstico para uns 50 mil ou 100 mil anos atrs(e poucos ousam ir mais longe), este ainda um perodo curtodemais para que a evoluo tenha deixado marcas nos nossos

    genes.

    A outra objeo forte que admitir o carter adaptativo da arteabre um flanco para a noo de seleo de grupo, vista comgrande desconfiana pela linha dura do darwinismo. A ideia,

    defendida principalmente por Dissanayake, que a arte teriasido selecionada porque, ao reforar a coeso do grupo atravs

    http://magcalcauvin.wordpress.com/2010/09/30/2327/http://magcalcauvin.wordpress.com/2010/09/30/2327/http://magcalcauvin.wordpress.com/2010/09/30/2327/
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    dos cantos e danas comunais, por exemplo, ela o tornaria maisapto a enfrentar os bandos rivais e a sobreviver. O problema com

    a seleo de grupo que ela no l muito estvel, porquesempre valeria a pena para indivduos egostas apanharem umaboleia na coeso grupal sem dar a sua justa contribuio. Eles

    teriam um maior sucesso reprodutivo, espalhando os genesmenos colab orativos. Seria assim muito difcil fixar num "pool"

    gentico qualquer caractersticas que favorecem o grupo.

    por essas e outras que Pinker classifica a arte como"cheesecake mental", algo sem valor adaptativo em si, mas queexplora, como as comidas gordurosas e doces, os mecanismos

    biolgicos que nos do prazer. Uma outra analogia vlida comas drogas recreativas. Seria at ridculo imaginar que elas

    representam uma adaptao, mas inegvel que afetam, e muito,os nossos crebros, proporcionando prazer em doses to

    cavalares que podem mobilizar toda a nossa ateno neuronal,como no caso do vcio.

    A exemplo do neurocientista Michael Gazzaniga, autor de "Human:The Science Behind What Makes Your Brain Unique", acho mais

    prudente no tomar partido nessa polmica, mas apenas expor oque me parecem ser os melhores argumentos de cada lado. E, porfalar em argumento, Geoffrey Miller, tem um interessante. Para

    ele, a arte o resultado da seleo sexual. Ela est para ognero humano como a cauda do pavo est para a famlia dosfasiandeos: uma exuberncia biologicamente custosa que s

    existe porque atribui ao seu detentor inequvoco sucesso entreas fmeas, o que se traduz numa importante vantagem

    reprodutiva.

    Curiosamente, a teoria de Miller acaba explicando um pouco dademografia da arte: considerados os grandes nmeros, a maioria

    dos artistas so homens no pico da atividade sexual. So ideiasque, se levadas muito a srio, tiram algo da transcendncia da

    arte e nos aproximam dos canrios. Mas quem disse que ospssaros, ao cantar, no experimentam a verso aviria da

    transcendncia?

    Outro ponto interessante o da fico. Foi ele que fez com queTooby e Cosmides mudassem de posio. OK, toda a gente est

    cansada de saber que a arte um universal humano. No haldeia indgena, por mais remota que seja, que no faa alguma

    coisa pragmaticamente intil com penas e sementes e no se

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    rena para cantar e danar. Mas isto no tudo. A fico, isto ,histrias inventadas tambm so universais e, exceto pelos

    fundamentalistas religiosos, ningum as toma por realidade. Jdesde a mais tenra idade aprendemos a diferenci -las. Para os

    dois pesquisadores, este mecanismo de decupagem um sinal deadaptao. Confundir fatos com fices , evidentemente,

    perigoso, como o provam os homens-bombas que imaginam irpara um paraso repleto de virgens (Alcoro 44:54 e 55:70) e

    "mancebos eternamente jovens" (Idem 56:17). Se desenvolvemosum sistema para operar a distino e aparentemente estamos

    todos dotados com a capacidade de extrair prazer de narrativasinventadas, isto implica que a experincia ficcional benfica.

    Ponto para a adaptao.

    A fico proporciona -nos a possibilidade de "viver"determinadas situaes. A experincia pode no ser to intensacomo na realidade e, embora isto atenue as sensaes, tambm

    preserva- nos dos perigos. Assistir no cinema a algum a serdevorado por tubares mais seguro do que presenciar a cena

    "in loco". Sempre pode sobrar uma dentada. Esta simulaosegura , em geral, uma boa opor tunidade de aprendizado, seja

    para lidar com as prprias emoes, seja para adestrar -se numaatividade relevante. No mundo animal, as brigas de brincadeiraentre filhotes so uma forma de aprendizado para a luta --sem

    o risco de ferimentos.

    ARTE - O SUDRIO

    Uma visita ao Sudrio na Catedral de Turim, Itlia comeou como Papa a fazer uma orao pessoal ante o Sudrio

    Turim (Segunda-feira, 03-05-2.010 AD, "Gaudium Press")O Sudrio testemunha o "intervalo nico e irrepetvel na

    histria da humanidade e do universo" que a ressurreio deJesus Cristo: tambm nos faz ver "como era seu corpo deitado nasepultura", afirmou Bento XVI na sua passagem pela Catedral de

    Turim, local que guarda o misterioso tecido.

    Na sua visita a Turim, o Santo Padre confirmou a sua convicona originalidade do tecido. O Pontfice, ainda como Cardeal

    Prefeito da Congregao para a Doutrina da F, esteve em Turimjunto em 1.998 AD, quando afirmou: "Hoje o sofrimento de Cristo

    e o seu amor por ns foram quase tangveis". Enquanto JooPaulo II na sua visita no mesmo ano encorajava os cientistas a

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    continuarem a pesquisa, Bento XVI hoje fala em "documentofotogrfico". A Igreja Catlica nunca havia confirmado

    oficialmente a originalidade do sudrio.

    A visita Catedral de Turim comeou com a orao pessoal doPapa diante do sudrio. Para este momento, as luzes da nave

    central foram apagadas. Depois, o Santo Padre apresentou umameditao sobre o tema "O mistrio do Sbado (ou

    Shbbos/Shabbat) Santo". O dia que simboliza a "terra de ningum" do "grande silncio e solido" de "escondimento de D -

    us". O Pontfice observou que a humanidade teve vriosmomentos como o Sbado (Shbbos) Santo nas duas Guerras

    mundiais, nos lager, nos gulag e nas exploses nucleares emHiroshima e Nagasaki.

    Alm disso, o Shbbos Santo simboliza "solido extrema eabsoluta do homem" e "o abandono total" sem amor e palavras de

    conforto, que foram superados por Jesus Cristo. O Papa disse que"da escurido da morte do Filho de D -us nasceu a luz de uma

    nova esper ana" que assegura que na "extrema solido noestaremos nunca sozinhos". O sudrio, manchado com o sangue,

    traz tambm a mensagem da vida, da "vitria da vida sobre amorte".

    A venerao do sudrio foi o momento mais importante de toda avisita, um recon hecimento expresso pelo prprio Papa, que

    confessou: "Vivo esta peregrinao" com "particular intensidade,talvez porque o passar dos anos me tornem ainda mais sensvel

    mensagem deste extraordinrio cone". Fonte:

    http://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.html

    A democracia no elimina o conflito entre as diferentes facespolticas. Ela apenas procura disciplin -lo, de modo que a

    disputa pelo poder se resolva pela vias institucionais e no asde fato. De um modo geral funciona. Desde que a democracia foi

    restabelecida no Brasil, em 1.985 AD, no assistimos arevolues, golpes de Estado e as outras modalidades de rupturaviolenta. Um quarto de sculo no muito, conceda -se. Mas, em

    alguns pases, o perodo de estabilidade poltica proporcionado

    http://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.htmlhttp://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.htmlhttp://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.htmlhttp://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.htmlhttp://www.arautos.org/noticias/15603/Papa-diz-que-Sudario-e-testemunho-da-ressurreicao-.html
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    pela institucionalizao das controvrsias pode chegar a vriossculos, como o caso dos EUA e do Reino Unido e da Serenssima

    San Marino, Repblica fundada em 301 AD e cuja Constituiovigora desde 1.600 AD. claro que normalidade poltica no

    tudo, mas uma condio no mais das vezes necessria para queum pas consiga aliar desenvolvimento econmico com um

    regime de liberdades, o que, por seu turno, permite aos cidadosque se dediquem a buscar a prpria felicidade.

    Quanto a essa polmica toda em torno das supostas tendnciasliberticidas do governo Lula contra o presumido carter

    golpista da mdia brasileira, eu diria que a grita faz parte dojogo. um dos caminhos institucionais da disputa. Enquanto asdivergncias ficam no terreno da retrica, estamos atuando de

    acordo com as regras. Pode no ser muito bonito, mas no vejoa nenhuma ameaa. A democracia, como eu j disse, no tem odom de eliminar o conflito latente na sociedade. E isto, alis,

    nem seria desejvel.

    A imprensa quer derrubar Lula? Difcil acreditar. Ao contrriodo que os setores mais direita previam em 2.002 AD, o pas nos no foi tomado pelo caos com a vitria do dirigente petistacomo vai muito bem com ele no poder. Na economia e em vrias

    outras reas sensveis, Lula mostrou - se to ou maisconservador do que seus antecessores tucanos. As diferenas

    pequenas entre as propostas dos principais candidatos asuced - lo so um bom indcio de que uma eventual deposio

    dos petistas, ainda que desejada por certos setores, no vale orisco de uma aventura golpista. mais negcio esperar a

    prxima crise econmica, que abrir uma exce lente janela deoportunidade para a oposio. De resto, fazer acusaes, xingar,

    propor "impeachment" (o PT pediu o afastamento de FHC), tudoisto permitido pelo jogo.

    E Lula pretende destruir a sociedade livre? Tambm me pareceuma tolice. fato que o presidente padece de incontinnciaverbal, o que invariavelmente o faz dizer coisas que deveria

    calar, mas, afora a paternal lenincia para com aliados,aloprados e ditadores da estirpe de Ahmadinejad, Lula no tomou

    nenhuma medida de lesa-democracia. A principal "prova"apresentada pelos opositores o Plano Nacional de Direitos

    Humanos 3, um decreto (sem fora de lei) que elenca intenes dogoverno em reas to diversas como direitos de mulheres,

    crianas e populaes indgenas, combate tortura, pob reza,

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    ao racismo e s perseguies a minorias. Nessa extensa pauta,faz referncias "democratizao" dos meios de comunicao.

    um documento mais voltado militncia do que baseparlamentar, que, de resto, s teria algum efeito prtico se

    convertido em projetos de lei especficos que fossemindividualmente aprovados pelo Congresso.

    No mais, todos os governos do mundo livre sempre tentam daruma apertadinha na imprensa, que normalmente reage altura.Nos regimes democrticos, tudo fica no reino do di z-que-diz e

    das presses. mais uma modalidade do jogo.

    Cuidado. No estou, com estas minhas observaes, absolvendoLula e o PT. H fartos indcios de que petistas infringiram um

    bom nmero de artigos do Cdigo Penal. Numa democracia maismadura, as con sequncias legais destes atos viriam em tempohbil, provocando tambm repercusses polticas. A questo

    central, contudo, que h uma diferena entre formar quadrilha,como a Procuradoria- Geral da Repblica descreve o "mensalo",

    e atentar contra a democ racia. O PT parece envolvido at opescoo no primeiro pecado, mas inocente do segundo.

    E isto nos leva questo de fundo desta coluna: por que raios,quando o assunto poltica, as pessoas param de pensar com acabea e reagem apenas emocionalmente? O problema, receio,

    mais grave. Eu diria que a poltica um dos poucos assuntosonde conseguimos perceber com alguma clareza que nossos

    crebros so profundamente enviesados. Em outras reas, nossorgo executivo central tambm age segundo um sistema d e

    preferncias internas preestabelecidas, com base em emoes eintuies morais esculpidas por condicionamentos culturais,

    mas ns mal nos damos conta disto.

    Quem resume bem a situao Robert Wright, em "Animal Moral":"O crebro como um bom advogado : dado um conjunto de

    interesses a defender, ele se pe a convencer o mundo da suacorreo lgica e moral, independentemente de ter qualquer umadas duas. Como um advogado, o crebro humano quer vitria, noverdade; e, como um advogado, ele muitas vezes mais admirvel

    por sua habilidade do que por sua virtude".

    Este sistema est to enraizado dentro de ns que, de acordocom o psiclogo Jonathan Haidt, depois que um juzo intuitivofoi proferido e reforado por uma racionalizao "post hoc" (o

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    crebro causdico), existem apenas quatro circunstncias sob asquais esse juzo pode ser alterado. A primeira e a segunda tm

    mais a ver com interaes sociais do que com pensamentopropriamente dito. Elas so o efeito maria -vai-com-as-outras

    e a obedincia a uma autoridade.

    A fora destes fenmenos j foi estabelecida em diversosexperimentos psicolgicos. Solomon Asch revelou como um

    indivduo pode ser levado a dizer uma inverdade bvia (otamanho de diferentes objetos colocados sua frente, por

    exemplo) se um bom nmero de pessoas (atores contratados)sustentar a mentira antes dele. J Stanley Milgram, na clebreexperincia que leva o seu nome, mostrou que, quando recebiam

    ordens dos cientistas (mesmo que sem muita nfase),

    voluntrios comuns eram capazes de desferir em outros sereshumanos choques que acreditavam (falsamente) ser capazes de

    deixar graves sequelas.

    As outras duas hipteses levantadas por Haidt so maispromissoras para os amantes da razo. Ele as batizou de juzo

    racionalizado e reflexo privada. O problema que s tendem aocorrer quando a intuio moral inicial muito fraca ou

    inexistente e a capacidade analtica do sujeito, forte. s aque o advogado pode sair de frias.

    A razo est, ento, condenada? Sim e no. A resposta depende de como a definimos. A ideia de que a escolha de um candidato a

    presidente (ou qualquer outra escolha que envolva maiorcontedo moral ou emocional do que decidir qual azeitona tirar

    da travessa) resultado de uma reflexo que pesa prs e contrasnos moldes preconizados pelos tericos do Iluminismo fica de

    fato comprometida. A questo que esse modelo jamais foiverdadeiro. Ele existia apenas nas cabeas dos "philosophes".

    Como o neurologista portugus Antnio Damsio mostrou, aquiloque chamamos de razo resultado de complexos processos

    cerebrais catalisados por emoes. Sem elas, seria impossvelat mesmo pens