UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPSCURSO DE DIREITO
A IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA APÓS A LEI 11.232/2005
KATHLEEN ZAGO APPI
Itajaí (SC), novembro de 2008.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPSCURSO DE DIREITO
A IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA APÓS A LEI 11.232/2005
KATHLEEN ZAGO APPI
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Direito.
Orientador: Professora MSc. Marta Elizabeth Deligdisch
Itajaí (SC), novembro de 2008.
III
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo imenso privilégio concedido a
mim ao permitir-me a conclusão deste curso;
Ao meu irmão “Jô” pelos ensinamentos na
área jurídica, pelo ombro amigo e pelas
nossas brincadeiras (Todo o meu carinho!);
Aos meus avós, “Vô Ago”, “Vó Ucy” e “Vó
Edy” pela imensa contribuição na minha
formação como pessoa, sempre me
estimulando e me impulsionando na busca
de meus objetivos (Como é grande o meu
amor por vocês!);
Ao meu avô, “Vô Appi” (in memorian),
símbolo de lealdade (Saudades!) e à minha
bisavó, “Bisa Olinda” (in memorian), por estar
presente em todos os passos da minha vida
(Ich liebe dich!);
Aos meus padrinhos, “Dinda Mônica” e “Tio
Adésio” e aos meus irmãos de coração “Lê”
e “Mauri”, por serem minha segunda família
(Amo vocês!)
À minha orientadora, Marta, pelo incentivo,
simpatia e dedicação, cuja orientação e
supervisão permitiram-me a elaboração
deste trabalho. Obrigada por ser professora
de verdade!;
IV
Aos meus amigos da faculdade, a “turminha
do murinho”, pelo aconchego nas horas
difíceis, pelo carinho e pelas risadas (Nunca
me esquecerei de vocês!);
Às minhas amigas-irmãs “Gabi”e “Lú” por
sempre acreditarem no meu potencial, por
serem AMIGAS DE VERDADE! (Valeu!).
V
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Deisi e
Jorge, pelo amor, dedicação e exemplos de
vida repassados a mim, sem os quais eu
jamais teria alcançado este degrau em
minha vida (Todo meu amor e gratidão!).
A vocês, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade, não bastaria um obrigado. A vocês, que iluminaram os caminhos obscuros com afeto e dedicação para que os trilhasse sem medo e cheia de esperanças, não bastaria um muito obrigado. A vocês, que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes, eu pudesse realizar os meus. Pela longa espera e compreensão durante minhas longas viagens, não bastaria um muitíssimo obrigado. A vocês, meus pais por natureza, por opção e amor, não bastaria dizer, que não tenho palavras para agradecer tudo isso. Mas é o que me acontece agora, quando procuro arduamente uma forma verbal de exprimir uma emoção ímpar. Uma emoção que jamais seria traduzida por palavras! Amo vocês!
VI
O Direito pode criar um perfeito sistema de justiça; mas se este sistema
há de ser aplicado, em última instância, por homens, o direito valerá o que esses
homens valham.Couture
VII
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade
acerca do mesmo.
Itajaí (SC), novembro de 2008.
Kathleen Zago AppiGraduanda
VIII
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Kathleen Zago
Appi, sob o título A IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA APÓS
A LEI 11.232/2005 foi submetida em 17 de novembro de 2008 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Marta Elizabeth
Deligdisch (Presidente e Orientadora) e MSc. Aparecida Correa da Silva, e
aprovada com a nota ____ (__________).
Itajaí (SC), novembro de 2008
Professor MSc. Marta Elizabeth DeligdischOrientadora e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto LapaCoordenação da Monografia
IX
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CPC Código de Processo Civil Brasileiro
CC Código Civil Brasileiro
CF Constituição da República Federativa do Brasil
CP Código Penal Brasileiro
X
ROL DE CATEGORIAS
Por opção metodológica, a autora listará as categorias
no curso do trabalho, na medida em que se apresentarem necessárias
para sua compreensão.
SUMÁRIO
RESUMO ..........................................................................................XIII
INTRODUÇÃO .................................................................................. 14
CAPÍTULO 1...................................................................................... 18TEORIA GERAL DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
1.1 Histórico do processo de execução ..........................................................181.1.1 O surgimento e evolução do direito processual civil no âmbito nacional...............................................................................................................201.2 Espécies de execuções .............................................................................231.2.1 Cumprimento de sentença relativa a obrigação de fazer e não fazer ..............................................................................................................................241.2.2 Cumprimento de sentença relativa a obrigação de entrega de coisa ..............................................................................................................................251.2.3 Cumprimento de sentença relativa a obrigação de pagar quantia certa .................................................................................................................271.3 Espécies de títulos executivos previstos do Código de Processo Civil ..291.3.1 Títulos executivos judiciais........................................................................29
CAPÍTULO 2...................................................................................... 46DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
2.1 Das formas de execuções previstas no Código de Processo Civil e do Procedimento de cumprimento de sentença de obrigação de pagar quantia certa.......................................................................................................462.2 Do pagamento voluntário e da multa legal .............................................472.3 Do requerimento de cumprimento.............................................................492.4 Da penhora de bens ....................................................................................522.4.1 Ordem preferencial da penhora .............................................................542.5. Providências preliminares à satisfação do credor ..................................562.5.1 A intimação do executado e de terceiros .............................................562.5.2 Depósito dos bens penhorados ...............................................................572.5.3 Avaliação dos bens penhorados ............................................................612.5.4 Alienação antecipada dos bens.............................................................63
CAPÍTULO 3...................................................................................... 66DA DEFESA DO DEVEDOR NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
3.1 Da impugnação ao cumprimento de sentença.......................................663.1.1 Do efeito suspensivo concedido ou não à impugnação .....................69
XII
3.1.2 Requisitos para a admissibilidade da impugnação .............................723.1.3 Fundamentos da impugnação do executado.......................................753.1.4 Processamento da impugnação do executado ...................................833.1.5 Dos recursos cabíveis da decisão que julga a impugnação...............85
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 87
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS................................................ 90
XIII
RESUMO
A presente monografia tem por objeto analisar a impugnação ao
cumprimento de sentença após o advento da Lei 11.232/2005 que alterou
alguns dispositivos do Código de Processo Civil, pretendendo, dessa
forma, estabelecer desde a maneira de apresentação desta
impugnação, até os recursos cabíveis da decisão de julgamento da
mesma. Ressalta-se que também foram matéria de estudo do presente
trabalho monográfico a teoria geral do processo de execução com o
surgimento e evolução do direito processual civil no âmbito nacional, as
espécies de execuções previstas no Código de Processo Civil, as espécies
de títulos executivos constantes no mesmo diploma processual e o
procedimento de cumprimento de sentença de obrigação de pagar
quantia certa. O estudo foi dividido em três capítulos e o método
adotado, tanto para o tratamento dos dados como para o relato da
pesquisa, foi o dedutivo.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico tem por objeto1 o
estudo da impugnação ao cumprimento de sentença após a
promulgação da Lei 11.232/2005 que alterou alguns termos do Código de
Processo Civil, trazendo inovações no que tange às execuções.
Necessário ressaltar que, além de ser requisito
imprescindível à conclusão do curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, o presente relato monográfico tem o intuito de
colaborar para o aprendizado acerca de determinado assunto, bem
como focar nas modificações oriundas da Lei acima mencionada, haja
vista que o processo de execução se trata de um cotidiano no mundo
jurídico, utilizado diariamente pelos operadores do direito.
Levando em consideração que a Lei que alterou os
dispositivos do Código de Processo Civil foi promulgada no ano de 2005, é
notório que a execução ao cumprimento de sentença trata-se de um
tema da atualidade e sua abordagem é fruto do interesse pessoal da que
subscreve esta em analisar, no assunto específico, as alterações advindas
com a reforma processual.
O objetivo institucional da presente Monografia é a
obtenção do título de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do
Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus de Itajaí/SC.
O objetivo geral da pesquisa consiste em compreender
o funcionamento do cumprimento de sentença que condena a pagar
1 Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.
15
quantia determinada e a maneira pela qual pode ser impugnada pelo
devedor.
Para tanto, fixaram-se os seguintes objetivos
específicos: a) compreensão dos fundamentos do processo no âmbito
cível nacional e das espécies de execuções, analisando-se os títulos
executivos judiciais; b) identificação dos requisitos do cumprimento de
sentença e dos atos executivos que neste se realizam; c) verificação do
meio de oposição ao cumprimento, por parte do devedor e seus
requisitos.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na
Fase de Investigação foi utilizado o Método Dedutivo, sendo que nas
diversas fases da Pesquisa foram acionadas as Técnicas2 do Referente3, da
Categoria4, do Conceito Operacional5 e da Pesquisa Bibliográfica em
conjunto com as técnicas propostas por Colzani6, dividindo-se o relatório
final em três capítulos.
Para o desenvolvimento da presente pesquisa foi
formulado o seguinte questionamento: quais as inovações introduzidas
pela Lei 11.232/2005, para o cumprimento de sentença e sua
impugnação?
2 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. [Pasold, 2001, p. 88].
3 Referente “é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o seu alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especial-mente para uma pesquisa”. [Pasold, 2001, p. 63].
4 Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. [Pasold, 2001, p. 37].
5 Conceito Operacional é a “definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. [Pasold, 2001, p. 51].
6 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para elaboração do trabalho científico.
16
No afã de responder ao problema em epígrafe, foram
suscitadas as seguintes hipóteses:
a) a mudança empreendida pelo novo ordenamento
é de mera nomenclatura, cindindo a fase de execução no mesmo feito,
sem divergir, quanto ao conteúdo, das bases do processo de execução;
b) o trâmite da impugnação de cumprimento diverge
diametralmente dos normativos até então conhecidos, para a discussão,
em embargos à execução de título judicial.
Para uma melhor abordagem das questões que
norteiam a impugnação ao cumprimento de sentença, o trabalho foi
dividido em três capítulos.
No Capítulo 1, tratar-se-á da teoria geral do processo
de execução, com seu histórico, surgimento em âmbito nacional, espécies
de execuções previstas no CPC e as espécies de títulos executivos
previstos no mesmo diploma legal.
No Capítulo 2, tratar-se-á do cumprimento de
sentença, abordando-se as formas de execução previstas no CPC, bem
como o procedimento de cumprimento de sentença de obrigação de
pagar quantia certa.
No Capítulo 3, far-se-á um estudo sobre a impugnação
ao cumprimento de sentença propriamente dita, com seus requisitos,
fundamentos, processamento, concessão ou não do efeito suspensivo,
bem como os recursos cabíveis da decisão que julga a impugnação.
Os acordos semânticos que procuram resguardar a
linha lógica do relatório da pesquisa e respectivas categorias, por opção
metodológica, foram apresentados no corpo da pesquisa.
17
A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas
nesta monografia estão em conformidade com o padrão normativo da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e com as regras
apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2,
número 4; assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa
jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito e Valdir
Francisco Colzani, Guia para redação do trabalho científico.
O presente relatório da pesquisa se encerra com as
considerações finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, estabelecendo-se breve síntese de cada capítulo e
demonstração sobre as hipóteses básicas da pesquisa, verificando se as
mesmas restaram ou não confirmadas.
18
CAPÍTULO 1
TEORIA GERAL DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
1.1 HISTÓRICO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
A origem do processo de execução, alega Fiuza7,
remonta à Lei das XII Tábuas, em que a satisfação da prestação devida
era efetuada através da responsabilidade pessoal e física do devedor,
quando este não possuía bens que bastassem para o cumprimento de sua
obrigação.
Tal condenação consistia em conduzir o devedor à
presença do magistrado, a fim de requerer o direito de levá-lo para casa
a aprisioná-lo por sessenta dias. Preso, o devedor deveria ser
encaminhado ao magistrado por três vezes para que alguém aparecesse
em socorro do mesmo. Não aparecendo ninguém, o credor era
constituído no direito de vender o aprisionado ou fazer dele um escravo8.
Afirma Greco Filho9 que aludida venda deveria ser feita
fora dos limites da cidade e, chegando a tal situação, o devedor perdia a
condição de cidadão, de membro da família e sua condição de
liberdade, transformando-se de pessoa, em coisa.
Lembra Fiuza10 que existindo um credor, este possuía o
direito de matar o devedor e, havendo mais de um, estes podiam retalhar
7 FIUZA, César. Direito Processual na História. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 41.8 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.42.9 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v.3.17.ed. São Paulo: Saraiva, 2005,p.9.10 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.42.
19
o corpo do devedor em tantos pedaços quantos fossem os débitos,
aduzindo que existe controvérsia se tais normas não seriam apenas no
sentido figurado.
Com o surgimento da Lex Poetelia Papiria, em meados
de 312 a.C., a execução começou a perder seu caráter pessoal. Segundo
dita Lei, igualmente como ocorria na Lei das XII Tábuas, o credor requeria
ao magistrado o direito de levar o devedor preso até obter a satisfação
do crédito. As inovações ficaram por conta da proibição da pena capital,
dos ferros e grilhões, bem como da possibilidade do preso se livrar do
aprisionamento, jurando possuir bens suficientes para quitação da dívida.11
Mencionada Lei, segundo Greco Filho12, trazia a
proibição do devedor efetuar sua própria defesa, haja vista que esta
deveria ser feita por um representante indicado apresentado por aquele.
Condenado, o devedor possuía o prazo de trinta dias para saldar a dívida.
Não o fazendo, o magistrado, a requerimento do credor, liberava a
execução pessoal.
Tal restrição à defesa só foi extinta com o advento da
Lex Vallia, no Século II a.C. que permitia ao devedor sua própria defesa,
sem a interferência de um vindex13.
Após, com a interferência do Direito Público Romano
que adotava um procedimento executivo de caráter patrimonial, o
magistrado, também chamado de pretor, adotava semelhante
procedimento.
Neste, o credor apresentava-se ao magistrado
requerendo-lhe a posse dos bens do devedor também chamado de
postulatio. Feito isto, ou seja, ocorrida a imissão na posse, o caminho era
11 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.42.12 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 2005, p.10.13 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.43.
20
aberto aos demais credores que deveriam ser cientificados do fato
através de uma proclamação pública14.
Após dita etapa, o processo era paralisado pelo tempo
determinado pelo pretor. Durante mencionado período, o devedor podia
recuperar seu patrimônio e satisfazer o direito dos credores. Caso não o
fizesse, só podia defender-se se prestada a devida caução.15
Por fim, somente no fim do Alto Império16, apareceu a
possibilidade da execução específica in natura, quando se tratasse de
obrigação de dar ou restituir coisa certa. No Direito Anterior, o único
objeto da execução era a condenação que necessariamente deveria ser
pecuniária.
1.1.1. O surgimento e evolução do Direito Processual Civil no âmbito
nacional
O direito brasileiro está ligado ao Direito Português, que
sucede a tempos mais antigos. Quando ao conteúdo, “o direito brasileiro,
através do direito português, sofreu influências do direito romano, do
direito germânico e do direito canônico”. 17
A colonização do Brasil se deu durante as Ordenações
Afonsinas, editadas em 1448 e vigentes entre 1500 e 1514. Receberam essa
denominação devido à compilação encerrada no reinado de Afonso V.
14 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.43.15 FIUZA, César. Direito Processual na História, 2002, p.44.16 Alto Império – Compreende-se o período de 27 a.C.a 235 d.C., cujo período esteve em vigoro regime político do principado. (NADAI, Elza. NEVES, Joana. História de Roma – da monarquia à República. Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/roma.htm. Acessado em: 10 out. 2008).17 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao estudo do direito. 37. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 329.
21
Lembra Franco18 que “as Ordenações Afonsinas não
foram uma verdadeira codificação do direito e sim uma compilação
coordenada [...]”. Gusmão19 completa ainda que “compunham-se de
cinco livros, compreendendo direito penal, direito civil, direito comercial,
organizações judiciárias, competências, relações da Igreja com o Estado,
processo civil e comercial”.
Tendo em vista à quantidade de leis que surgiram após
as Ordenações Afonsinas, foram promulgadas as Ordenações Manuelinas
que vigoraram de 1514 a 1603.20
Receberam essa intitulação por terem sido
desenvolvidas no reinado de D. Manuel I. Segundo Franco21, “atendiam
mais ao interesse da realeza do que ao das outras instituições,
fortalecendo o poder absoluto do Rei” e afirma que as mesmas alteravam
“a ordem dos títulos, artigos e parágrafos”.
Após, com vigência de 1603 a 1916, foram
promulgadas as Ordenações Filipinas, no reinado do rei espanhol Felipe II.
Neste período, Portugal estava sob reinado espanhol. Mencionadas
ordenações trouxeram algumas leis que não tinham sido tratadas nas
anteriores e modificações em matérias processuais. 22
18 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 19 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao estudo do direito, 2006, p. 331.20 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 21 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 22 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em:
22
Tendo em vista que as três ordenações não atendiam
às necessidades sociais, jurídicas e econômicas da colônia, “foi
promulgada a Lei da Boa Razão [...], que estabeleceu regras para
interpretação da legislação e que mandou aplicar, no caso de lacuna, o
direito romano [...]”.23
Com a decretação de várias leis destinadas a atender
às necessidades sociais, políticas e econômicas do Brasil por D. João VI é
que começou a surgir um direito brasileiro. Portugal tentou impor-se,
porém, não teve êxito, haja vista que em 7 de setembro de 1822 houve a
declaração da independência e em 1824 foi outorgada a primeira
constituição do Brasil.
No que concerne às leis processuais civis, as
Ordenações tiveram vigência até 1850 (Decreto nº. 737), com o
surgimento do processo civil em matéria comercial e, em 1876, a
Consolidação das Leis do Processo Civil passou a ter força de lei. 24
A necessidade de desenvolvimento de um código
processual civil levou à formação de uma comissão e então “foi
apresentado um trabalho por Pedro Batista Martins, advogado, que foi
revisto pelo então Ministro da Justiça Francisco Campos, por Guilherme
Estellita e por Abgar Renault, que se transformou no Código de Processo
Civil de 1939”. 25
http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 23 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao estudo do direito, 2006, p. 332.24 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 25 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008.
23
Por conseqüência das modificações e surgimento de
leis esparsas, clamou-se por uma reforma do Código de Processo Civil de
1939, ensejando na aprovação e promulgação da Lei 5.969/73, a qual o
dividiu em cinco livros e 1.220 artigos.26
Esta reforma não foi a primeira, o Código de Processo
Civil sofreu alterações no decorrer dos anos, buscando o melhoramento
das relações jurídicas e a simplificação das normas. Uma destas alterações
é o objeto de estudo do presente trabalho.
1.2. ESPÉCIES DE EXECUÇÕES
No atual direito processual cível, a depender do título
executivo (judicial ou extrajudicial) e da espécie de obrigação (pagar,
fazer ou entregar), é possível classificar as espécies de Execuções, a saber.
O título executivo judicial ou extrajudicial deve conter
obrigação certa, líquida e exigível. Neste sentido é a disposição do art. 586
do CPC: “A execução pra cobrança de crédito fundar-se-á sempre em
um título de obrigação certa, líquida e exigível”.
Comumente, mencionadas características estavam
ligadas ao título executivo, porém, conforme denota-se das novas
redações dos arts. 580 e 586 são atributos da obrigação a ser executada.27
Assis28 afirma que a obrigação “é certa quando não
há dúvida de sua existência; líquida quando inexiste suspeita concernente
26 FRANCO, Loren Dutra. Processo Civil – origem e evolução histórica. Revista Eletrônica de Direito Dr. Romeu Vianna. Disponível em: http://www.viannajr.edu.br/revista/dir/doc/art.2002.pdf>. Acessado em: 10/10/2008. 27 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.119.28 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 149.
24
ao seu objeto; e exigível quando não se levantam objeções sobre sua
atualidade”.
Marinoni e Arenhardt29 aduzem que a exigibilidade
“liga-se ao poder, inerente à prestação devida, de se lhe exigir o
cumprimento. Trata-se de elemento extraprocessual, mas também
assimilado pelo processo, pois sem ele não há o que fazer cumprir”. Já, a
certeza “refere-se à existência da prestação que se quer ver realizada”. E,
por fim, a liquidez, “diz respeito à extensão e à determinação do objeto
da prestação”.
1.2.1. Cumprimento da Sentença Relativa às Obrigações de Fazer e Não
Fazer
Segundo Theodoro Júnior30 a obrigação é o dever que
o devedor possui em realizar algo em favor do credor.
Afirma Assis31 que as obrigações podem ser positivas,
quando o devedor deve executar, em favor do credor, um fato ou uma
atividade; e, negativas, quando o compromisso deve ser omissivo.
Corrobora com esse entendimento Theodoro Júnior ao
afirmar que:
As obrigações de não fazer são tipicamente negativas, já
que por seu intermédio o devedor obriga-se a uma
abstenção, devendo manter-se numa situação omissiva (um
non facere). É pela inércia que se cumpre a prestação
devida. Se fizer o que se obrigou a não-fazer, a obrigação
estará irremediavelmente inadimplida. 32
29 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.120.30 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 32.31 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 520.32 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007. p. 32.
25
Lembra Assis33 que as obrigações podem ser fungíveis
ou infungíveis. Dizem-se fungíveis quando o credor tolera que terceiro
satisfaça a dívida, reproduza o comportamento objeto do fazer. Já nas
obrigações infungíveis, em razão das aptidões e qualidades do obrigado,
estas somente podem ser satisfeitas pelo devedor, face ao caráter
personalíssimo.
Mencionadas modalidades de execuções estão
previstas nos artigos 632 e seguintes do CPC. Aludido Diploma Legal
autoriza a conversão das obrigações de fazer ou não-fazer em perdas e
danos, caso o devedor não as efetue no prazo fixado para seu
cumprimento.
1.2.2. Cumprimento da Sentença Relativa à Obrigação de Entrega de
Coisa
De acordo com Rangel34 a execução para entrega de
coisa certa tem o fito de entregar a coisa àquele que possui o direito
sobre a mesma.
Tal obrigação, segundo Theodoro Júnior35, é de
modalidade positiva, diversamente do que ocorre nas obrigações de fazer
ou não fazer, que podem ser positivas ou negativas. Nesta, a prestação
“consiste na entrega ao credor de um bem corpóreo, seja para transferir-
lhe a propriedade, seja para ceder-lhe a posse, seja para restituí-la.”36
Marinoni e Arenhardt37 recordam que a sentença
declaratória de entrega da coisa reconhece somente em parte a tutela
33 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 521.34 DINAMARCO, Cândido Rangel. Insituições de Direito Processual Civil. v.4. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 407.35 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.36 THEODORO JÚNIOR Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.37 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.203.
26
do direito material, tendo em vista que há necessidade da propositura da
execução para integral cumprimento daquela sentença.
Necessariamente, segundo Theodoro Júnior38, a
execução será específica, ou seja, “o devedor haverá de ser condenado
a realizar em favor do credor, a transferência da posse exatamente da
coisa devida”.39
Corrobora com esse entendimento Rangel ao dizer
que: “a coisa a entregar será certa, ou seja, individualizada em
determinado corpo físico distinto de qualquer outro [...]”40
Existe a possibilidade de conversão em perdas e
danos, porém esta só será deferida pelo juiz quando comprovadamente
ocorrerem duas situações: a) o credor requerer, quando o direito material
permitir-lhe tal opção; ou b) quando a execução específica tornar-se
impossível pelo desvio, perda ou perecimento da coisa, por exemplo, de
modo que o devedor não possa restituí-la. 41
O credor poderá, diante da impossibilidade de
entrega da coisa específica, requerer a conversão em perdas e danos. Tal
“tutela substitutiva” poderá ser requerida em duas fases: a) na petição
inicial; ou b) em petição avulsa, se a comprovação da não existência da
coisa ocorrer durante a fase de cumprimento de sentença,
transformando-se em incidente da execução. 42
Segundos os arts. 621 e seguintes do CPC que
abordam o procedimento para dita modalidade de execução, o devedor
será citado para satisfazer a obrigação ou apresentar embargos.
38 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.39 THEODORO JÚNIOR.Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.40 DINAMARCO, Cândido Rangel. Insituições de Direito Processual Civil, 2004, p. 407.41 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.42 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46
27
Caso opte pela entrega da coisa, será lavrado o
respectivo termo a fim de que se proceda à extinção da execução, salvo
necessidade de prosseguimento para o pagamento de frutos ou
ressarcimento de prejuízos. Em caso de embargos, o devedor deverá
tornar seguro o juízo, entregando a coisa ou depositando-a. Na segunda
hipótese, o exeqüente não poderá levantar a coisa sem o prévio
julgamento dos embargos.
Com a inércia do devedor, será expedido, em favor do
credor, mandado de imissão na posse, caso a coisa seja imóvel, ou
mandado de busca e apreensão, se móvel.
Necessário registrar que nesta modalidade de
execução, como na de obrigação de fazer ou não fazer, há possibilidade
de perdas e danos, além do direito do credor a receber o valor da coisa,
quando esta não for entregue, se deteriorou, não foi encontrada ou não
foi reclamada do poder de terceiro adquirente43.
1.2.3. Cumprimento da Sentença Relativa à Obrigação por Quantia
Certa
A obrigação pecuniária “consiste na prestação em
moeda, um algarismo cuja função instrumental é a medida de valores:
assume certo padrão que permite comparar, no tempo e no espaço, o
valor dos bens da vida”.44
Tal débito, segundo menciona Theodoro Júnior45, pode
advir de obrigação contraída em dinheiro, como nos casos de mútuo,
compra e venda, relação ao preço da coisa, locação, prestação de
serviço, entre outros, ou do resultado da troca de uma obrigação de outra
natureza por equivalente econômico, no caso de indenização por
43 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 46.44 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 571.45 THEDORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 52
28
descumprimento de obrigação de entregar coisa, prestação de fato,
reparação de ato ilícito, em meio a outros identificáveis nas relações
jurídicas.
Nesse sentido aduz Assis46:
[...] desta sugestiva característica, somada à frustração
eventual dos meios executórios, quer de sub-rogação
(p.ex., o objeto da prestação se deteriorou, consoante
prevê o art. 627, caput), quer de coerção (p.ex., o
executado recolheu à prisão e deixou de pagar alimentos,
contingência antevista no art. 733, §2º), resulta o caráter
subsidiário da prestação em moeda, tornando a
expropriação, destarte, a técnica executiva por excelência
do processo executivo.
Lembram Marinoni e Arenhardt47 que após o advento
da sentença condenatória, sem o adimplemento pelo devedor, o autor
poderá requerer a execução do valor da condenação, bem como o
acréscimo da multa de dez por cento, indicando bens à penhora e
requerendo a imediata expedição de mandado de penhora e avaliação
(art. 475-J do CPC).
E relata Theodoro Júnior:
O montante da condenação será acrescido de multa de
10% sempre que o devedor não proceder ao pagamento
voluntário nos quinze dias subseqüentes à sentença que
fixou o valor da dívida [...].48
Necessário ressaltar que a penhora e os atos
expropriatórios destinados à satisfação do credor são meras técnicas
46 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 571/572.47 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.234.48 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 53.
29
executivas que auxiliam à viabilização da tutela pecuniária, podendo,
portanto, existir tutela pecuniária, sem a submissão desta à execução por
expropriação.49
Dita execução está disposta nos arts. 646 e seguintes
do CPC, trazendo que o objeto de aludida modalidade é “expropriar bens
do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor”.
Para tanto, o devedor será citado para, em 3 (três)
dias, efetuar o pagamento da dívida. Não o efetuando, o oficial de
justiça, munido da segunda via do mandado, procederá, de imediato, à
penhora e avaliação dos bens, lavrando o respectivo auto e intimando o
executado.
Não encontrando o devedor, o oficial de justiça
arrestará tantos bens quantos bastem para o pagamento da dívida,
ficando a cargo do exeqüente efetuar o requerimento da citação por
edital. Findo o prazo desta citação, o arresto converter-se-á em penhora.
1.3. ESPÉCIES DE TÍTULOS EXECUTIVOS PREVISTOS NO CPC
1.3.1. Títulos Executivos Judiciais
A sentença civil nacional condenatória representa o
principal dos títulos executivos judiciais, não por ter uma estreita ligação
com o processo de execução, mas pela sua larga utilização na atividade
forense.50
Deve-se considerar, genericamente, que os títulos
executivos judiciais são aqueles oriundos de um processo, ainda que
49 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.234.50 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 403.
30
existam exceções, conforme aduzem Marinoni e Arenhart51: “A
caracterização de um título como judicial não exige que a sua formação
ocorra no seio do Poder Judiciário. Há documentos tipificados como títulos
judiciais gerados fora da estrutura da função jurisdicional do Estado, como
é o caso da sentença arbitral”.
Para o Código de Processo Civil, de acordo como seu
artigo 475-N, títulos executivos judiciais são os seguintes: a sentença
proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de
fazer, entregar coisa ou pagar quantia, a sentença penal condenatória
transitada em julgado, a sentença homologatória de conciliação ou
transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo, a sentença
arbitral, o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado
judicialmente, a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal
de Justiça e o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação
ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou
universal.
Tratar-se-á de cada espécie na seqüência.
a) Sentença condenatória proferida no processo civil
As sentenças no processo civil podem ser declaratórias,
constitutivas e/ou condenatórias. São declaratórias quando o objetivo é
unicamente a declaração de existência ou inexistência de uma relação
jurídica. Constitutivas são aquelas que criam uma situação jurídica nova
para as partes. Ambas exaurem a prestação jurisdicional possível.52
O terceiro tipo de sentenças, aquelas chamadas de
condenatórias são as que permitem ao vencedor intentar contra o
51 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. v.3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 403.52 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. 41 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 72.
31
vencido as medidas próprias da execução forçada, conforme Theodoro
Júnior53:
[...] a sentença condenatória, além de definir a vontade
concreta da lei diante do litígio, contém um comando
diverso da sentença de mera apreciação. Esse comando
especial e diferente consiste nisso: em determinar que se
realize e torne efetiva uma certa sanção. Contém a
sentença de condenação, portanto, a vontade do Estado,
traduzida pelo juiz, de que a sanção nela especificada seja
aplicada e executada [...].
Para a possibilidade de execução não se devem
considerar somente aquelas advindas de um processo de conhecimento.
Os provimentos de condenação relativos a encargos processuais
(honorários advocatícios, custas) estão mencionados no corpo da parte
dispositiva da maioria das sentenças, constitutivas ou declaratórias.
Existem algumas, que não se enquadram em títulos executivos. Assim, aduz
Theodoro Júnior54:
As sentenças declaratórias ou constitutivas que não
configuram título executivo são, na verdade, aquelas que
se limitam a declarar ou constituir uma situação jurídica
sem acertar prestação a ser cumprida por um dos litigantes
em favor do outro. São, pois, as sentenças puramente
declaratórias ou puramente constitutivas.
Existem, ainda, as chamadas sentenças mistas, aquelas
em que na mesma decisão há a anulação de um negócio jurídico e a
condenação do vencido a fim de que restitua um bem ao vencedor.
Neste caso, o provimento constitutivo não reclama execução. A
53 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73.54 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73.
32
condenação do vencido a devolver o bem ao vencedor é tipicamente
de condenação e poderá ensejar execução forçada55 56.
Necessário registrar que existem títulos executivos
judiciais que não são originários de um processo de jurisdição contenciosa.
Pode existir uma sentença condenatória em jurisdição voluntária, veja-se:
Também em alguns casos de jurisdição voluntária, como na
separação consensual, pode-se ensejar a execução
forçada, quando, por exemplo, um dos cônjuges se recuse
a cumprir o acordo da partilha do patrimônio do casal, ou
deixei de pagar a pensão alimentícia convencionada. 57
Em conformidade com o artigo 162, parágrafo primeiro
do Código de Processo Civil sentença é o provimento decisório que
“implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269” do CPC. Assim,
há de se reconhecer que a força executiva de uma sentença está
presente quando o julgado reconhece alguma prestação a ser cumprida
pela parte vencida, tanto nas sentenças definitivas58, como nas
terminativas 59.
55 Execução Forçada – aquela que pode ser promovida por credor a quem a lei lhe confere título executivo [...]. A execução forçada compreende o poder jurisdicional do Estado, já que o credor recorre ao Judiciário para exigir que o devedor cumpra a obrigação que advém de sentença transitada em julgado ou de título executivo extrajudicial a que a lei confere efeitos executivos”. (GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 6.ed. São Paulo: Rideel, 2004, p. 303).56 THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 7357 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73.58 “Sentença – Decisão do juiz sobre causa controvertida submetida pelas partes ao seu juízo. A sentença pode ser: [...] definitiva ou de mérito, a que acolhe ou rejeita o pedido, que absolve ou condena, sem pôr fim ao feito; [...] terminativa, que encerra o processo sem decidir a lide, sem conhecer o mérito da causa;[...]”. (GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico, 2004, p. 482)59 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73
33
Corrobora com esse entendimento Theodoro Júnior60:
“Dessa maneira, é de se reconhecer a força executiva, no todo ou em
parte, que pode ser detectada tanto em sentenças definitivas [...] como
em sentenças terminativas [...]”.
A atual redação do artigo 475-N, do CPC, adotou
como condenação uma dupla declaração. Primeiramente o juiz declara
o direito discutido no processo e, na seqüência, impõe ao vencido a
sanção estabelecida para o ato ilícito cometido.
Neste sentido, Assis61 afirma:
Existirá condenação, por conseguinte, e convenientemente
acompanhada do efeito executivo, matriz da ação
executória, tanto em ações que se subordinam ao
processo de conhecimento, sejam elas de rito comum –
p.ex. a prestação de contas (art. 918) e o monitório (art.
1.1.02) – quanto ao processo cautelar, quando ele,
renegando a condição da efetiva cautelaridade, adquire
o cunho de tutela satisfativa.
Com exceção da tutela satisfativa62, não se pode
executar sentença cautelar, haja vista que esta visa única e
exclusivamente assegurar a eficácia do processo principal, não
constituindo-se em título executivo judicial.63
60 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73.61 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 157.62 Tutela satisfativa: “provimento antecipatório da sentença de procedência; e sendo antecipatório, será necessariamente satisfativo do direito provável do autor”. (MARINS, Victor A. A. Bonfim. Tutela Cautelar. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2000. p. 63)63 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 158.
34
Necessário ressaltar que a sentença só adquire força
executiva caso haja expressamente a condenação, quer no capítulo
principal, quer no capítulo acessório, da sucumbência64.65
No dizer de Assis66:
Omitida a condenação em honorários advocatícios, por
exemplo, e não corrigida a omissão através de recurso
próprio, desaparece a possibilidade do vencido executar o
provimento. No que toca ao capítulo principal, convém
acentuar que tal condenação se subordina à formulação
do pedido expresso.
Com relação à execução contra a Fazenda Pública,
lembra Miranda que “a sentença condenatória passada contra a
Fazenda Pública é, excepcionalmente, desprovida de força executiva.”67
Tal restrição dirige-se somente às condenações a
pagamento por quantia certa, haja vista que se trata de execução
imprópria (aquela que não tem força de agressão contra o patrimônio do
devedor). Nas restantes (obrigação de entrega de coisa, de fazer e não
fazer), a Fazenda Pública não possui imunidade executiva. 68
b) Sentença penal condenatória transitada em julgado
No Código de Processo Civil de 1939 havia uma
discussão acerca da eficácia executiva da sentença penal em âmbito
64 “Nenhuma sentença assumirá força executiva sem disposição inequívoca de condenação do vencido. Omitida a condenação em honorários advocatícios, por exemplo, e não corrigida a omissão através do recurso próprio, desaparece a possibilidade de o vencido executar o provimento.” (ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 158)65 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 15866 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 158.67 MIRANDA, Pontes de apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 73.68 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 74.
35
civil, na reparação de dano ex delicto. Para Libman, por exemplo, em
contrariedade com doutrinadores nacionais, a sentença penal
condenatória tinha efeito meramente declaratório para o juízo cível,
autorizando, apenas, o ingresso da ação para ressarcimento do dano no
juízo cível. Para o doutrinador, somente após a condenação civil poderia
haver a execução.69
Com o advento do Código de Processo Civil de 1973,
proclamando expressamente a força executiva civil da condenação
criminal, houve a harmonização com a norma de direito material contida
no Código Penal, dispondo, o Código Penal de 1984, em seu art. 91, nº I,
que o efeito da condenação é “tornar certa a obrigação de indenizar o
dano causado pelo crime”.
Tal harmonia é tão evidente que para que a sentença
penal condenatória tenha efeitos civis, não é necessária a declaração no
bojo da mesma, conforme entendimento de Marinoni e Arenhart70:
Constitui efeito secundário da condenação criminal, o de
impor a reparação do dano causado pelo crime (art. 91,I,
do CP). Este efeito independe de declaração explícita na
sentença penal condenatória, decorrendo da própria lei
(efeito anexo da sentença). Todavia, tal efeito apensar
decorre da sentença penal transitada em julgado, não
existindo se ainda pende recurso (ainda que sem efeito
suspensivo) contra a condenação.
Corrobora com esse entendimento, Assis71: “Tratando-
se de efeito anexo à sentença penal condenatória, decorre o mesmo,
automaticamente da própria Lei. É irrelevante o fato de o juiz indicá-lo ou
69 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007,p. 7870 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 404.71 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007. p. 162
36
não no provimento, o que não aumenta nem diminui o direito do credor
em promover a execução”.
Em princípio, apenas a sentença penal condenatória
gera efeito de impor a reparação do dano causado pelo crime, haja vista
que possui em seu bojo todos os elementos necessários para reconhecer o
direito à indenização.
Mesmo não possuindo caráter executório, a sentença
criminal que aplica medida de segurança72 é revestida dos requisitos
necessários para comprovação do direito à indenização, possibilitando a
execução na esfera cível.73
Neste sentido, Marinoni e Arenhart74 completam:
[...] em seu bojo há o reconhecimento do fato ilícito e a
indicação de sua autoria, estando presentes os requisitos
necessários para caracterizar o direito à indenização (art.
935 do CC). Por isto, também ela, embora não constitua
propriamente uma sentença penal condenatória, é título
executivo e autoriza execução na esfera cível,
dispensando a propositura de ação ressarcitória.
A respeito da indenização, Theodoro Júnior75 aduz:
“Essa reparação tanto pode consistir em restituição do bem de que a
vítima foi privada em conseqüência do delito como no ressarcimento de
um valor equivalente aos prejuízos suportados”.
72 “Medida de Segurança – Medida de caráter preventivo, que pode substituir a pena, que o juiz, na sentença condenatória ou na absolutória, impõe ao réu em face de sua periculosidade. As medidas de segurança são: internação em hospital de custódia e tratamento psiquátrico, ou, na falta deste, em outro estabelecimento adequado; sujeição a tratamento ambulatorial”. (GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico, 2004, p. 396).73 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 404.74 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 404.75 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 78
37
A legislação pátria adota como sistema concernente à
responsabilidade civil frente à responsabilidade penal, o da autonomia,
porém relativa e não absoluta, uma vez que a responsabilidade civil pode
existir sem a responsabilidade penal, esta, entretanto, sempre implicará a
primeira.76
Por outro lado, a eficácia civil da responsabilidade
penal só atinge a pessoa do condenado na justiça criminal, não
alcançando os co-responsáveis. Contra estes, a vítima do delito necessita
obter sentença condenatória cível para servir de título executivo.77
Necessita efetuar o mesmo procedimento aquele que
quiser responsabilizar um terceiro que não foi condenado na esfera
criminal, conforme Marinoni e Arenhart78:
[...] a sentença penal condenatória não se presta como
título contra terceiro que não foi condenado na esfera
criminal, ainda que este seja responsável pelo dano. Exige-
se que ele seja acionado no âmbito civil. Entende-se que o
art. 64 do CPP, ao estender o dever de ressarcir ao
responsável civil, afigura-se incompatível com a garantia
do devido processo legal, já que este responsável não teve
o direito de se defender. Ou seja, apenas o condenado
pode ser sujeito passivo de execução fundada em
sentença penal condenatória, não se estendendo a
eficácia executiva do título ao responsável.
Acerca dos requisitos para a execução civil da
sentença penal condenatória, Theodoro Júnior79 arrola:
76 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 7977 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 7978 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 405.79 THEODORO JÚNIOR, Theodoro Junior. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 79
38
a) a sentença criminal deve ser definitiva, de maneira que
as sentenças de pronúncia, que mandam o réu a
julgamento final perante o júri, nenhuma conseqüência
têm no tocante à execução civil; b) a condenação
criminal há de ter passado em julgado, de maneira que
não lhe cabe, na espécie execução provisória; c)a vítima
deve, preliminarmente, promover a liquidação do quantum
da indenização a que tem direito, observando-se no
procedimento preparatório da execução (arts. 475-A a 475-
H do Código de Processo Civil), as normas e critérios
específicos traçados pelo [...] Código Civil para liquidação
das obrigações resultantes de atos ilícitos e que constam
de seus arts. 944 a 954.
O Código Penal, em seu artigo 63, estabelece os
legitimados para a propositura da execução civil da sentença penal
condenatória, quais sejam: o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Caso o credor seja desprovido de recursos financeiros,
a legitimidade poderá ser estendida ao Ministério Público, que, com o
pedido do interessado, e como substituto processual, promoverá a
execução em nome próprio, mas na tutela de interesse de terceiro (art. 68
do Código de Processo Penal e art. 566, nº II, do Código de Processo Civil).
Com as inovações trazidas pelas Leis 11.690/08 e
11.719/08, o juiz criminal, ao proferir sentença condenatória, deverá fixar
valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387 do CPP), porém,
tal previsão legal não impede que a vítima mova ação civil indenizatória.
c) Sentença homologatória de conciliação ou de transação
39
É atribuído efeito executivo às sentenças
homologatórias de conciliação ou transação. Trata-se de negócios
jurídicos que põem fim a processos pendentes no Poder Judiciário.
Lê-se em Theodoro Júnior:
[...] trata-se de composição extrajudicial da lide,
prevalecendo a vontade das partes. A intervenção do juiz
é apenas para chancelar acordo de vontades dos
interessados (transação e conciliação), limitando-se à
fiscalização dos aspectos formais do negócio jurídico (o
acordo ou transação é, segundo a lei civil, um contrato). 80
O acordo, por sua vez, não precisa limitar-se ao objeto
do processo findante, podendo envolver questões que não integram o
bojo dos autos. Neste sentido, doutrinam Marinoni e Arenhart: “[...] o
acordo judicial obtido poderá versar sobre o thema decidendum da
causa, mas também sobre outras matérias, não discutidas no processo
mas de interesse das partes.” 81
Indispensável, para que se tenha o efeito executório,
que a sentença verse sobre o dever de uma das partes à prestação de
um bem. Caso contrário, não passa de uma simples homologação, não
ensejando direito à execução.
Corrobora com esse entendimento Assis:
As sentenças homologatórias de transação e conciliação,
[...] ensejam execução quando nelas uma das partes
houver de prestar algum bem. Este elemento condenatório
é que autoriza a execução forçada. Restringida a
composição da lide a declarar quem possui razão, ou a
dissolver negócio jurídico, no qual se prescindem recíprocas
80 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 78.81 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 78.
40
restituições, não há nada para prestar e, aí, não surge o
efeito executivo gerador da correspondente ação
executória. 82
Neste mesmo sentido, Theodoro Júnior:
Para se falar em título executivo, [nos casos mencionados],
é indispensável que o ato homologado contenha, ainda
que implicitamente, a imposição de uma prestação a uma
ou a ambas as partes, ad instar do que se passa com a
sentença condenatória. Pois só diante de condenação é
que se pode falar em execução. Se a transação ou a
conciliação limitaram-se a simples efeitos declaratórios ou
constitutivos (reconhecimento de validade de documento,
inexistência de relação jurídica, resolução de contrato
etc.), terão, por si só, exaurido a prestação que do órgão
judicial se poderia reclamar, sem nada restar para a
execução. 83
Havendo, entretanto, prestações recíprocas, existe
legitimidade para ambas partes promoverem a execução.
Tocante à forma de execução, esta será determinada
pela natureza das prestações convencionadas ou estipuladas no ato
homologado, dirigindo-se à execução por quantia certa, para entrega de
coisa, ou de obrigação de fazer ou não fazer.
d) Sentença estrangeira homologada
De acordo com o artigo 105, I, “i” da Constituição da
República Federativa do Brasil, com a redação dada pela Emenda nº 45
de 08.12.04, a sentença (judicial ou arbitral) proferida no estrangeiro só
têm validade no Brasil, se homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
82 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 164/165.83 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 80.
41
Theodoro Júnior afirma: “A eficácia dos julgados de tribunais estrangeiros
só se inicia no Brasil após a respectiva homologação pelo Superior Tribunal
de Justiça”. 84
Entende também Assis:
No Brasil, adota-se o juízo da delibação, quer dizer, é
concedida eficácia à sentença estrangeira após o exame
extrínseco de sua harmonia com o ordenamento pátrio. Tal
procedimento compete ao STJ (art. 105, I, i, da CRFB/1988),
após a EC 45/2004. e está regulado, presentemente, por
disposições regimentais. 85
Ainda sobre a eficácia da sentença estrangeira no
Brasil, aduzem Marinoni e Arenhardt86: “[...] quando admissível, a sentença
estrangeira pode ser reconhecida e ter eficácia no Estado brasileiro,
desde que se submeta a procedimento de homologação perante o
Superior Tribunal de Justiça”.
Após a homologação pelo STJ, “assume a condição
de título executivo judicial (art. 475-N, VI do CC)” 87 e “tramitará perante a
Justiça Federal (art. 13 da Resolução 9/2005 do STJ), determinando-se a
competência com base nos critérios regulares, postos no CPC e em leis
especiais”. 88
e) Formal ou Certidão de Partilha
84 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 81.85 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 165. A respeito do procedimento para homologação veja-se o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.86 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 40887 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 165.88 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 408
42
Formal de partilha “é a carta de sentença extraída dos
autos de inventário, com as formalidades legais, para título e conservação
do direito do interessado, a favor de quem ela foi passada”. 89
Segundo Guimarães90 o formal de partilha é o “título
que se extrai dos autos do inventário, atestando o término da partilha de
bens e discriminando e especificando os que couberam a cada herdeiro,
investido na qualidade de senhor do quinhão”, enquando menciona que
a certidão de partilha é “o título que substitui o formal de partilha quando
o quinhão não excede a importância de cinco vezes o salário mínimo
vigente na sede do juízo [...]”.
Segundo Marinoni e Arenhardt91:
O inventário – procedimento consistente na arrecadação
de bens de pessoa falecida e de partilha entre os seus
sucessores – culmina com a sentença homologatória da
partilha dos bens. Essa sentença é, posteriormente,
representada pelo formal ou pela certidão de partilha (art.
1027 do CPC), a ser entregue aos herdeiros para possível
transferência de domínio dos bens.
Sobre a eficácia executiva, relata Assis92:
Toda vez que a partilha contiver obrigação de prestar
(p.ex. quando algum herdeiro retorna quantia certa a
outro, a fim de equalizar os quinhões), cabível a ação
executória fundada neste título. Em conformidade ao hoje
estabelecido no art. 475-N, VIII, o efeito executivo da
partilha vincula inventariante, co-herdeiros e seus
sucessores a título universal e singular, excluindo, da regra,
89 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 81.90 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico, 2004, p. 154 e 318.91 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 40892ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 166.
43
a partilha efetivada em outros processos, como a
separação judicial.
f) Sentença Arbitral
Antes da Lei nº 9.307/96, a exeqüibilidade da sentença
arbitral dependia de homologação do Poder Judiciário. Hodiernamente
este título não depende de ser levado ao crivo do Poder Judiciário para
obter força executiva.
De acordo se manifesta Theodoro Júnior93: “[...] tem-se
na espécie, um título executivo judicial, equiparável plenamente à
sentença dos órgãos judiciários, sem depender de qualquer ato
homologatório do Poder Judiciário”.
No mesmo sentido, Assis94:
Não há duvida, até pela inclusão de semelhante título no
catálogo do art. 475-N, que o legislador pretendeu realizar
uma equiparação absoluta entre a autêntica sentença,
proveniente do órgão judiciário, e a “sentença arbitral”.
Necessário registrar que as sentenças arbitrais ilíquidas
não possuem força executiva, não podendo, portanto, ensejar uma ação
de execução. Ao vencedor, primeiramente, caberá propor liquidação
para poder executar este título.
Assim, aduz Assis: “[...] a sentença arbitral ilíquida se
ostenta inexeqüível [...], cabendo ao vencedor propor outra ação perante
o órgão judiciário competente, para constituir o quantum debeatur [...].”95
g) Acordo Extrajudicial Homologado
93 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 80.94 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 167.95 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 167/168.
44
É arrolado também como título executivo judicial, o
acordo extrajudicial devidamente homologado judicialmente.
Nos dizeres de Marinoni e Arenhardt:
[...] o acordo não é celebrado no curso de uma ação
judicial, mas sim fora do processo. Há a realização de
acordo extrajudicial sobre certo litígio, que posteriormente
é levado ao Poder Judiciário apenas para que lhe seja
conferida eficácia semelhante à da sentença
condenatória. 96
Segundo Assis, o legislador objetivou promover a
autocomposição, “mediante a agregação ao negócio entre particulares
da eficácia inerente à sentença judiciária”. 97
Para a homologação cabe ao juiz somente verificar a
presença dos requisitos indispensáveis e formais de um acordo
(capacidade dos sujeitos, disponibilidade do objeto e satisfação de
eventual forma exigida). Presentes estes requisitos, o juiz deverá homologar
o acordo, concedendo ao título força executiva. 98
Neste sentido, Theodoro Júnior afirma: “De maneira
alguma se admite [...] que o juiz se recuse a homologar a transação, sob
pretexto de inexistir processo em curso entre as partes”. 99
Tocante à competência, esta é regulada pelas regras
comuns. Tendo em vista que “somente o acordo (ou parte dele) que
reflete dever de prestar constitui título executivo e se sujeita à execução
[...]100” , a competência “incumbirá ao juízo do lugar onde a obrigação
96 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 407.97 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 168.98 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 407.99 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 81.100 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 407.
45
deve ser satisfeita, vez que aí se processará a futura execução (art. 100, IV,
d, c/c art. 576)”101 do CPC.
Segundo Marinoni e Arenhardt 102 os títulos executivos
extrajudiciais estão relacionados no artigo 585 do CPC, porém, há de
ressaltar que aludido rol não é exaustivo, encontrando-se outros títulos
executivos extrajudiciais em leis estravagantes, como é o caso do “ termo
de ajustamento de conduta elaborado pelos legitimados para as ações
coletivas [...], o contrato escrito de honorários advocatícios [...], a cédula
de crédito rural [...] e a cédula de crédito industrial [...]”. 103
Lembram Marinoni e Arenhardt104, ainda, que os títulos
extrajudiciais produzidos no estrangeiro, também possuem força executiva
no Brasil, independentemente de homologação pelo Poder Judiciário
brasileiro, porém, devem satisfazer os requisitos de formação exigidos pela
lei de seu país e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da
obrigação.
Ditos títulos executivos extrajudiciais não são objeto
deste trabalho, pois busca-se o estudo do cumprimento de sentença e
não da ação autônoma de execução de título extrajudicial. Por tal
motivo, abordar-se-á o procedimento de cumprimento. Eis a temática do
próximo capítulo.
101 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 168.102 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 426/427.103 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 426/427.104 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 427.
46
CAPÍTULO 2
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
2.1 Das formas de execução presentes no Código de Processo Civil e do
Procedimento de Cumprimento de Sentença de Obrigação de Pagar
Quantia Certa.
Dispõe o Código de Processo Civil atual, duas formas
de cumprimento de sentença. Primeiramente, alude que as obrigações
de fazer e de entrega de coisa terão seu procedimento forçado através
dos arts. 461 e 461-A do CPC. Já as obrigações por quantia certa, terão
seu cumprimento regido pelos arts. 475-J e seguintes do mesmo diploma
processual.105
Em sua doutrina, Theodoro Júnior106 sustenta o intuito do
legislador em efetivar tal distinção:
O que a lei pretendeu esclarecer foi que o cumprimento de
sentença, às vezes é imediato, sumário, sem outras
diligências que não sejam as de imediata colocação do
bem devido à efetiva disposição do credor; e que, em
outras, se torna mister um procedimento executivo mais
demorado e complexo para se alcançar o bem da vida a
ser proporcionado ao credor.
O procedimento do cumprimento de sentença de
obrigação de pagar quantia certa é expropriatório, tendo em vista que
expropria os bens do devedor, transformando-os em dinheiro a fim de
105 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 52.106 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 52.
47
repassar e satisfazer o crédito do exeqüente, credor. Neste sentido, alude
o art. 646 do CPC ao dispor que: “a execução por quantia certa tem por
objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor”.
Considerando a temática abordada neste trabalho,
doravante o estudo se restringirá ao cumprimento de sentença que
condena a pagar quantia determinada.
2.2. Do pagamento voluntário e da multa legal
Certo da exigibilidade do título executivo judicial,
cumpre ao devedor efetuar o imediato pagamento da dívida, não se
justificando que permaneça inerte, desobedecendo à ordem jurídica.107
Acerca do valor do pagamento e da forma de
quitação, afirmam Marinoni e Arenhardt:
O pagamento pode ser efetuado diretamente ao credor
ou no processo, depositando-se a importância devida. No
último caso, é natural que no valor do pagamento sejam
incluídos encargos outros, gerados pelo próprio processo, a
exemplo dos honorários advocatícios e das custas
processuais.108
E relata Assis:
Nada impede quer pague diretamente ao credor e,
juntando o recibo, o juiz encerre o processo. Depositada a
quantia devida em juízo, porque os ânimos não permitiram
o contato das partes, ou por qualquer outro motivo, o
vitorioso poderá levantá-la incontinenti, a teor do art. 709,
I.109
107 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 235.108 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 235.109 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 193.
48
O art. 475-J do CPC estabeleceu o prazo de quinze
dias a fim de que o devedor efetue o pagamento voluntário de sua
dívida.110 Mencionado prazo não deve ser considerado como regra
absoluta, haja vista que havendo transação homologada judicialmente
que estipule prazo diverso, sendo ele maior ou menor, não mais se
cogitará da aplicação do lapso temporal de quinze dias, devendo tal
prazo ser utilizado como regra subsidiária, aplicável na ausência de outro
prazo específico, descrito no título111.
O diploma processual civil não dispõe a partir de
quando se tem o início do prazo para o pagamento voluntário. Por tal
motivo, o prazo poderia ter início com diversos atos processuais, entre eles:
a) a partir do trânsito em julgado da sentença; b) a partir do momento em
que a decisão se tornou eficaz (ainda que provisória); c) após o trânsito
em julgado da sentença ou do momento em que a decisão se tornou
eficaz, com requerimento do credor; d) da intimação pessoal do devedor,
ou e) da intimação do advogado do executado112
Levando-se em consideração que o procedimento
adotado pela Lei 11.382/2006 veio para reduzir o tempo do processo e
evitar percalços na localização do devedor, mencionado prazo tem se
contado a partir do momento que a sentença condenatória passa a
produzir efeitos113-114.
Corrobora com esse entendimento Assis ao dizer que:
[...] o prazo flui da data em que a condenação se tornar
exigível. Logo, se aplicará tanto na execução definitiva,
quanto na provisória. É o que se extrai da locução
110 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 193.111 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 235.112 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 236.113 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 237.114 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 193.
49
“condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada
em liquidação”115.
Permanecendo o devedor inerte no prazo de quinze
dias ou naquele fixado no título, o montante da condenação será
acrescido de multa de 10% (dez por cento)116. Havendo pagamento
parcial no prazo disposto no art. 475-J, caput, do CPC, aludida multa
incidirá sobre o saldo remanescente (art. 475-J, §4º do CPC)117.
Neste sentido, afirma Assis: “[...] ultrapassado o prazo
de 15 dias, ao do valor da condenação se acrescerá, automaticamente,
a multa de 10%” 118.
Necessário ressaltar que a multa legal não está na
dependência de requerimento do credor. O devedor, por sua vez, para
evitar a multa, deve tomar a iniciativa de cumprir a condenação no prazo
legal, fluindo este a partir do momento da exigibilidade da sentença
condenatória119, compreendida, como seu trânsito em julgado.
2.3. Do Requerimento de cumprimento
Diferentemente da execução fundada em título
extrajudicial, que possui seu início com o ajuizamento da petição inicial,
aquela fundada em título judicial se inicia com a provocação do credor
(aquele qualificado no título como tal ou outro ao que a lei confira igual
115 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 193.116 O Superior Tribunal de Justiça já unificou a jurisprudência no sentido de que transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida seja intimada para cumpri-la. Cabe ao vencido, espontaneamente, cumprir a obrigação, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. Neste sentido, veja-se: Recurso Especial nº. 954859/RS, rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, j. em 16/08/2007.117 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 52.118 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 193.119 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 52.
50
prerrogativa), o qual possuindo uma sentença condenatória imponível,
manifesta ao juízo seu desejo de executá-la. 120
Acerca da necessidade do requerimento para a
instauração do processo executório, Marinoni e Arenhardt apontam:
[...] o início da execução depende de impulso do credor,
não se realizando ex officio. [...] havendo a formação do
título executivo, aguardará o Judiciário a manifestação de
interesse do credor para dar início ao cumprimento de
sentença. No caso de execução que se processa em face
de processo antes instaurado, o pedido de execução é
feito através de um mero requerimento, elaborado sem
maiores formalidades. Bastará à peça processual a
indicação da vontade do credor em ver iniciada a
execução, somada à apresentação do quantum debeatur
O único requisito imposto pela lei para este requerimento é
o de fazer acompanhar a petição com a memória de
cálculo elaborada pelo credor, o que, aliás, só pode
acontecer nos casos em que a apuração do valor da
execução dependa de simples cálculo aritmético. 121
Corrobora com esse entendimento Wambier :
[...] depende de requerimento do credor para iniciar-se,
embora tal requerimento não implique a instauração de
um novo processo. Há uma nova demanda, de execução,
ainda que dentro do processo em curso. 122
É através deste requerimento para cumprimento de
sentença que o credor, instruindo-o com a competente memória de
120 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006,p.150.121 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.246.122 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.240.
51
cálculo, prepara a atividade executiva, através da qual o devedor
realizará o pagamento e o Judiciário procederá, quando na falta deste
ato, à penhora dos bens a expropriar123
Lembram ainda, Marinoni e Arenhardt, que o cálculo
feito pelo exeqüente não deve estar limitado ao valor da dívida, podendo
conter, no montante, as prestações acessórias ligadas à prestação, tais
como juros legais e de correção monetária, bem como aquelas ligadas
ao processo, a exemplo das custas e dos honorários judiciais.124
Acerca da necessidade de apresentação do cálculo
aritmético no requerimento, aduz Wambier:
[...] se o valor da condenação depende de cálculo
aritmético para sua determinação, caberá ao credor fazer
com que seu requerimento de execução seja
acompanhado do demonstrativo detalhado do
cálculo.[...].
Excetuando-se as execuções fundadas em títulos
executivos extrajudiciais e aquelas embasadas nos títulos judiciais dispostos
no art. 475-N, incisos II, IV e VI do CPC, quais sejam, a sentença penal
condenatória transitada em julgado, a sentença arbitral e a sentença
estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, em que há a
necessidade de citação para cumprimento da obrigação, nos demais
casos a citação não ocorre, pois recebido o requerimento formulado pelo
exeqüente, instruído com a memória de cálculo, o juiz expedirá, desde
logo, o mandado de penhora e avaliação.125
Necessário ressaltar que decorridos seis meses da
eficácia da sentença condenatória sem requerimento do credor para o
123 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 55.124 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.247.125 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 579.
52
seu cumprimento, os autos serão arquivados sem prejuízo do credor que
poderá, a qualquer tempo, promover o desarquivamento do feito e
requerer o início do cumprimento forçado da condenação (art. 475-J, §5º
do CPC)126.
2.4. Da Penhora de Bens
Recebido o requerimento de cumprimento de
sentença pelo exeqüente, cumpre ao juiz determinar a imediata
expedição de mandado de penhora e avaliação dos bens sujeitos à
execução, conforme determinação do art. 475-J do CPC127.
Acerca do significado de penhora, elucidam Marinoni
e Arenhardt:
[...] é um procedimento de segregação dos bens que
efetivamente se sujeitarão à execução, respondendo pela
dívida inadimplida. [...] Por meio da penhora, são
individualizados os bens que responderão pela dívida
objeto da execução. [...] a penhora é o ato processual
pelo qual determinados bens do devedor (ou de terceiro
responsável) sujeitam-se diretamente à execução.
Corrobora com esse entendimento Assis, ao dizer que:
“penhora é o ato executivo que afeta determinado bem à execução,
permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu
proprietário ineficazes em face do processo” 128.
Dentre as inovações trazidas pela Lei 11.280/2006, que
alterou algumas disposições do CPC, está a ausência de oportunidade de
126 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 55.127 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.251.128 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 592.
53
nomeação de bens pelo devedor129. Tal faculdade fica a critério do
credor que, para facilitar a penhora, poderá indicar em seu requerimento
os bens a serem penhorados130. Porém, é necessário lembrar que tal
nomeação pelo credor “não exclui o direito do devedor de obter a
substituição da penhora quando configurada alguma das hipóteses do
art. 656” 131 ou 668 do mesmo diploma processual.
Neste sentido, Wambier completa:
[...] isso não significa que o devedor esteja impedido de se
manifestar sobre a legitimidade da penhora realizada. Ele
pode apontar, por exemplo, excesso de penhora ou que
ela foi realizada em desrespeito à ordem legal
estabelecida no art. 655, o qual é aplicável ao
cumprimento por força do art. 475-R.132
Aludem Marinoni e Arenhardt que não tendo o credor
localizado os bens passíveis de penhora em nome do executado, o juiz
tem a faculdade de requisitar informações à Receita Federal ou ao Banco
Central, até mesmo para realização da penhora on line sobre o dinheiro
depositado em instituição financeira (mediante requerimento conforme
enuncia o art. 655-A do CPC)133.
Além disso, o juiz pode requisitar ao devedor que
indique os bens sujeitos à execução, sob pena de cometer ato atentatório
à dignidade da justiça, conforme dispõe o art. 600, IV do CPC: “[...]
considera-se ato atentatório à dignidade da justiça o ato do executado
que: [...] IV – intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e
129 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.243.130 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 55.131 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 55.132 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.243.133 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.263.
54
onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos
valores”134.
Localizados os bens, o oficial de justiça procederá a
sua penhora, lavrando o respectivo auto e avaliação135.
2.4.1. Ordem preferencial da penhora
No direito processual civil preferencialmente listam-se
onze classes de bens a serem penhorados. O art. 655 do CPC estipula, no
âmbito do executado, a ordem pela qual o oficial de justiça fará a
penhora dos bens136.
Primeiramente, existindo dinheiro ou aplicação em
instituição financeira, se fará a penhora em espécie. Tal inovação foi
trazida pela Lei 11.280/2006, tendo em vista que autorizou através da
redação do art. 655-A do CPC, a quebra do sigilo bancário137.
Necessário ressaltar que a regra estampada em
aludido dispositivo não é obrigatória, uma vez que sua inobservância não
é causa de nulidade da penhora138.
Neste sentido, aduzem Marinoni e Arenhardt:
[...] sempre se sustentou que a ordem de bens estabelecida
na lei não é absoluta. [...] poderá o juiz deixar de aplicar a
ordem prevista no art. 655 ao verificar que outra é a
situação do mercado ou que os princípios do resultado e
do menor sacrifício impõem outra condição de
134 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.263.135 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.263.136 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 603.137 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 603.138 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 603.
55
preferência. [...] a regra do art. 655 é um “parâmetro
indicativo” e não uma cláusula rígida e inafastável.139
Caso o devedor não tenha dinheiro ou aplicação em
instituição financeira, será observada a ordem o art. 655 do CPC, tendo
em vista que mencionado dispositivo se inspira no “critério de simplicidade
na eventual e futura conversão do bem”140. Assim, dispõe em ordem
decrescente os objetos de penhora: a) o dinheiro; b) veículos de via
terrestre; c) bens móveis em geral; d)bens imóveis; e) navios e aeronaves;
f) ações e quotas em sociedades empresárias; g) percentual do
faturamento de empresa devedora; h)pedras e metais preciosos; i)títulos
da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em
mercado; j) títulos e valores mobiliários com cotação em mercado e; k)
outros direitos.
Necessário ressaltar que na alteração do diploma
processual civil houve a exclusão dos semoventes como objeto de
penhora. Desta forma, se conclui que o credor não possa penhorá-los de
saída. 141
A penhora será realizada na localização dos bens a
serem penhorados, no lugar da situação da coisa. Estando os bens em
comarca diversa daquela em que tramita a execução, a penhora realizar-
se-á por carta precatória. 142
A fim de evitar a expedição da deprecata, o
Exeqüente possui a faculdade de requerer ao juízo em que tramita a
execução, o envio dos autos à comarca de localização dos bens, que
139 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.265.140 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 603.141 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 604.142 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.274.
56
será o competente para as atividades da execução e atos decisórios que
possam decorrer de eventual impugnação, embargos de terceiro, etc.143
Quando o bem sujeito à constrição se tratar de bem
imóvel, não haverá a necessidade de expedição de carta precatória à
comarca onde se localiza, haja vista que mencionada penhora poderá
ser efetuada no processo, por termo, mediante a simples exibição da
certidão da matrícula do imóvel, de acordo com o art. 659, § 5º do
CPC.144
A penhora assim realizada somente gera efeitos entre
as partes do processo, não atingindo terceiros de boa-fé. Para atingi-los, o
exeqüente deverá providenciar o registro da penhora na matrícula do
imóvel, “a fim de dar conhecimento ao público da existência da
constrição, fazendo surgir a presunção absoluta de conhecimento por
terceiros e inibindo qualquer possível alegação de boa-fé”. 145
2.5. Providências preliminares à satisfação do credor
Realizada a penhora, algumas providências devem ser
tomadas antes de se prosseguir com os atos necessários à satisfação do
crédito.
2.5.1. A intimação do executado e de terceiros
A primeira e mais importante providência após a
realização da penhora se trata da intimação do executado a fim de que,
querendo, impugne o cumprimento no prazo de quinze dias (art. 475-J,
§1º, do CPC).
143 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.274.144 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.274.145 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.275.
57
Conforme dispõe o art. 475-J §1º do CPC, a intimação
deverá ser efetivada, primeiramente, na pessoa do advogado do
executado, dependendo de representação nos autos. Não existindo
procurador constituído, a intimação da penhora realizar-se-á
pessoalmente na figura do Executado ou de quem o represente. 146
Lembram Marinoni e Arenhardt que recaindo a
penhora em bem imóvel de pessoa casada ou que viva em união estável,
a intimação do cônjuge ou convivente do executado será imprescindível
a fim de que estes possam defender seus interesses. No mesmo sentido, é
necessária a intimação da penhora aos co-proprietários do bem
penhorado, haja vista que possuem o direito de preservar sua parcela do
bem por não responder pelas dívidas outro cônjuge ou companheiro147.
Neste sentido, aduz Assis:
O cônjuge do executado deverá ser intimado, em
decorrência de sua condição de litisconsorte necessário,
quando a penhora recair em imóvel, salvo no regime de
separação total, no qual tal litisconsórcio não precisa ser
formado.148
Além destes, a intimação deve alcançar: “i) os
credores com garantia real, ii) os credores pignoratícios, iii) o senhorio do
bem, ou, ainda, iv) o usufrutuário devem ser intimados da penhora que
recaia sobre o bem gravado com tais ônus (art. 615, II, e 698 do CPC).” 149
2.5.2. Depósito dos bens penhorados
146 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.245.147 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.278.148 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 743.149 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.278.
58
A penhora se trata de ato executivo por excelência,
materializando-se com o desapossamento da coisa e a destituição do
executado da posse150.
Wambier afirma que o depósito “é ato integrante da
penhora, pelo qual se incumbe alguém da guarda e conservação dos
bens penhorados, transferindo-lhe a posse (mediata ou imediata) de tais
bens”. 151
Antes das inovações trazidas com a Lei 11.382/2006, a
escolha do depositário recaía, primeiramente, na pessoa do executado,
somente no caso de discordância do exeqüente é que se confiavam os
bens penhorados a outro depositário. 152
Atualmente, com a reforma do Código de Processo
Civil, não há mais preferência que os bens fiquem depositados com o
executado. Segundo o art. 666, §1º do CPC, o executado poderá ser
nomeado como depositário, em duas hipóteses excepcionais: a) quando
houver anuência expressa do exeqüente, de modo que não é a
impugnação que afasta o executado de ser nomeado como depositário,
mas a liberdade do credor em permitir; ou, b) nos casos de difícil remoção
do bem. 153
Caso o credor discorde, deve fundamentar e
motivamente impugnar a designação do devedor como depositário,
demonstrando entre outras questões que há risco concreto de prejuízo se
a nomeação não recair em outra pessoa. 154
150 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 621.151 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.181.152 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 342.153 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 342154 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.181.
59
Tendo o juiz acolhido a impugnação feita pelo credor
mediante decisão fundamentada passível de agravo de instrumento,
ficarão como depositários: a) o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,
banco estadual ou, na falta destes, banco particular, quando a penhora
recair sobre dinheiro, pedras e metais preciosos ou papéis de crédito; b) o
depositário judicial, se forem móveis ou imóveis urbanos os bens
penhorados; c) um particular, quando se tratar de outras espécies.155
Lembra Theodoro Júnior que em se tratando o objeto
de depósito bancário ou de aplicação financeira, não se deve deslocar o
numerário para outra instituição de crédito. A penhora será realizada
mediante bloqueio junto ao Banco Central, com notificação à instituição
competente, a qual responderá como depositária judicial da soma
penhorada. 156
Registra-se que se a nomeação de depositário recair
na pessoa do próprio executado, este exercerá duas funções no processo,
figurando como executado e como auxiliar do juízo.157
Tendo o depósito da coisa recaído sobre pessoa
estranha às partes da execução, esta possui o direito à remuneração por
seu trabalho, que deverá ser arbitrada pelo juiz, levando em consideração
o tempo do serviço, a situação dos bens e as dificuldades de sua
execução. 158
Destaca-se que o encargo de depositário não é
obrigatório para o particular, podendo recusá-lo se não se sentir apto a
cumpri-lo ou o entender inconveniente. 159
155 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.182.156 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 343.157 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 343.158 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.279.159 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.279.
60
Aceito o encargo, o depositário responde pelos
prejuízos causados à coisa, desde que ocorram por dolo ou culpa. Assim
sucedendo, o depositário terá direito apenas a ser reembolsado pelas
despesas que teve no exercício do encargo, perdendo o direito à
remuneração. 160
Concernente ao depositário, incumbe-lhe a guarda e
conservação do bem penhorado, empregando, para tanto, o maior dos
zelos, a diligência de um bom pai de família. 161
Neste sentido, alude Theodoro Júnior:
A função do depositário é guardar e conservar ditos bens,
evitando extravios e deteriorações, enquanto se aguarda o
ato expropriatório final (a arrematação ou outra forma legal
de alienação), agindo sempre em nome e à ordem do
juiz.162
Quando lhe for ordenado, o depositário deverá
apresentar a coisa em juízo. Em caso negativo, quando não ocorrer
mencionada entrega, será considerado depositário infiel, sujeitando-se à
prisão civil, de até um ano (art. 902, §1º do CPC). 163
Acerca da dispensabilidade da ação judicial de
depósito para sujeitar o depositário infiel à prisão civil, aduz Theodoro
Júnior: “[...] consta de disposição expressa do Código Processual Civil [art.
666, §3º] a autorização ao juiz para decretar a prisão civil do depositário
judicial infiel, sem depender da existência a ação especial de
depósito.”164
160 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.279.161 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 624.162 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 344.163 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.279.164 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 346.
61
Necessário ressaltar que aludida prisão civil não
poderá ser decretada antes de se oferecer ao depositário infiel o direito
ao contraditório e à ampla defesa, a fim de que este preste
esclarecimentos acerca do desaparecimento dos objetos penhorados.165
Tal garantia não lhe pode ser negada, sob pena de ofensa aos incisos LIV
e LV do art. 5º da Carta Magna. 166
2.5.3. Avaliação dos bens penhorados
Antes do mecanismo da expropriação chegar à
alienação do bem penhorado, faz-se necessário estipular seu valor no
mercado. Mencionado expediente denomina-se avaliação. 167
Acerca do objetivo da avaliação, aduz Theodoro
Júnior:
Tem ela a finalidade de tornar conhecido a todos os
interessados o valor aproximado dos bens a serem utilizados
como fonte dos meios com que o juízo promoverá a
satisfação do crédito do exeqüente. 168
De acordo com o sistema genérico do Código de
Processo Civil, a avaliação dos bens penhorados é atribuída a um perito
nomeado pelo juiz.169 Com o advento da Lei 11.280/2006, em regra, a
avaliação não é feita por perito ou avaliador, mas pelo próprio oficial de
165 Em virtude do §3º, do art. 5º da CRFB, incluído pela Emenda Constitucional 45 de 2004, discute-se no STF a possibilidade de não se admitir, sob o ponto de vista constitucional, a prisão do infiel depositário. Até o momento, o STF tem colhido votos desfavoráveis à prisão e, de tal entendimento, advém jurisprudência do STJ e dos Tribunais dos Estados. Neste sentido, veja se: Recurso Extraordinário nº. 46634-3, rel. Cezar Peluso em trâmite no STF. 166 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 346.167 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 690.168 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 348.169 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 349.
62
justiça. Somente quando este não puder realiza-la, por necessitar de
conhecimentos especializados, será nomeado perito ou avaliador. 170
Corroboram com esse entendimento Marinoni e
Arenhardt:
[...] pode haver casos em que apenas um especialista é
apto a atribuir valor ao bem, como acontece, por
exemplo, em relação a obras de arte. Diante da
necessidade do concurso de conhecimentos
especializados, admite-se que o oficial de justiça fique
incumbido apenas da penhora e o juiz nomeie como
avaliador alguém reconhecido na área. 171
A avaliação, feita pelo oficial de justiça, pelo
avaliador ou perito nomeado pelo juiz, sempre constará de laudo
contendo os requisitos enumerados no art. 681 do CPC, quais sejam: a) a
descrição dos bens, com os seus característicos e a indicação do estado
em que se encontram; e, b) o valor dos bens. 172
Recaindo a penhora sobre bens imóveis suscetíveis de
cômoda divisão, o avaliador, tendo em vista que a execução deve ser
realizada pela forma menos gravosa para o executado (art. 620 do CPC),
deverá avaliá-los por partes, sugerindo os possíveis desmembramentos. 173
No tocante à dispensa de avaliação, esta ocorrerá
quando o executado, ao efetuar a substituição do bem penhorado, ou
em atendimento ao disposto no art. 600, inciso IV, do CPC, atribuir valor
ao bem dado em penhora e não houver impugnação pelo exeqüente; ou
170 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.187.171 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.280.172 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 350.173 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 351.
63
quando a penhora recair sobre títulos ou mercadorias que tenham
cotação na bolsa, comprovada por certidão ou publicação oficial. 174
Em regra, a avaliação judicial é feita somente uma vez,
porém, conforme disposição do art. 683 do CPC, admite-se reavaliação
quando: a) qualquer das partes argüirem, fundamentadamente, a
ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador; b) se verificar,
posteriormente, a majoração ou diminuição no valor do bem; ou, c)
houver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem (art. 668,
parágrafo único, inciso IV do CPC). 175
Mencionada argüição pode partir de qualquer das
partes integrantes do processo, porém, não basta o inconformismo. O
requerimento de nova avaliação que deverá ser protocolado logo que o
laudo ou estimativa for juntada aos autos, deverá ser baseado em prova
pré-constituída ou em argumentação, que evidencie, de plano, o erro ou
dolo da avaliação já efetivada. 176
Em razão do procedimento adotado no cumprimento
de sentença, pelo qual – como se verá – a impugnação do executado
não tem o efeito automático de suspensão do feito, o valor de avaliação
ganhou relevância.
Ocorre que, transcorrido o prazo para defesa do
devedor, sem que esta se efetive ou, caso apresentada, sem que receba
efeito suspensivo (art. 475-L, do CPC), poderá o credor, desde já requerer
a expropriação dos bens penhorados, seja por adjudicação, venda a
título particular ou hasta pública (art. 647 do CPC).
2.5.4. Alienação antecipada dos bens
174 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 351.175 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.281.176 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 352.
64
Finalizada a fase de penhora e avaliação dos bens, o
processo segue para a fase de alienação, podendo ser suspenso antes da
mesma por ocorrência de diversos acontecimentos. 177
O legislador, no art. 670 do CPC, preveu a alienação
antecipada dos bens, “autorizando a venda do bem penhorado não
obstante a suspensão da execução”. 178
Mencionada antecipação será autorizada ex officio
pelo juiz, mediante requerimento das partes ou por provocação do
depositário, quando se tratar de bens “de fácil deterioração, que
estiverem avariados ou exigirem grandes despesas para a sua guarda”. 179
Acerca da alienação antecipada dos bens, discorre
Assis:
Configura situação de emergência, porque os bens
penhorados se expõem a rápida deterioração ou
depreciação (art. 670, I), ou porque as condições sazonais
do mercado indicam manifesta vantagem (art. 670, II). [...] o
deferimento da medida visa, fundamentalmente, evitar mal
de difícil reparação ulterior (a deterioração ou perda do
bem, a diminuição do preço). 180
Aludem Marinoni e Arenhardt que em se tratando de
requerimento formulado por uma das partes do processo, o juiz, antes de
decidir, deverá ouvir a parte contrária, conforme determinação do art.
670, parágrafo único do CPC, sob pena de infringir o princípio do
177 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.282.178 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.282.179 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 344.180 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 663.
65
contraditório, estampado na Constituição da República Federativa do
Brasil. 181
O procedimento da alienação antecipada dos bens
obedece ao regime de leilão. Existindo acordo entre as partes,
mencionado trâmite poderá ser feito sob a forma de venda por iniciativa
particular. 182
Lembra Wambier183 que o dinheiro obtido com a
alienação dos bens penhorados não será entregue ao credor, mas
depositado em juízo. Haverá, portanto, uma substituição na penhora do
bem depositado, e a partir de então, recairá sobre o dinheiro obtido com
a alienação.
A intimação da penhora, no cumprimento de
sentença que condena ao pagamento de quantia certa, é indispensável
para deflagrar a possibilidade de defesa, ou impugnação do devedor.
Esta será objeto de estudo no derradeiro capítulo.
181 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.283182 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 344.183 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p.189.
66
CAPÍTULO 3
DA DEFESA DO DEVEDOR NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
3.1 DA IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Com o advento da Lei 11.232/2005, que vigorou a partir
de 23.06.2006, existem duas vias de resistência à execução.
A primeira se trata dos chamados embargos à
execução, medida oponível à execução fundada em título extrajudicial.
A segunda, por sua vez, da impugnação ao cumprimento de sentença,
manejável nos quinze dias subseqüentes à penhora, também utilizada
para as sentenças oriundas de obrigação de fazer ou de entrega de coisa
(art. 461 e 461-A do CPC)184.
Necessário registrar que aquela não será tema do
presente trabalho monográfico, tendo em vista que este fará menção
somente à forma de resistência à execução fundada no cumprimento de
sentença.
No regime anterior à Lei 11.232/2005, a defesa do
executado se concretizava através de um processo de conhecimento,
autônoma e incidente sobre o processo de execução, em que o
executado tornava-se requerente – embargante - e o exeqüente, o
requerido - embargado185.
Após, com o advento de mencionado Diploma Legal,
a impugnação não enseja um novo processo, mas constitui incidente
184 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 427.185 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.288
67
processual, no processo em que tramita o cumprimento de sentença,
tendo em vista que este também se tornou simplesmente uma fase
processual. 186
Acerca do novo procedimento, afirmam Marinoni e
Arenhardt187:
[...] se a ação é o direito à tutela jurisdicional do direito
material, o direito de ação certamente não é atendido
pela sentença condenatória. A ação não se exaure com o
trânsito em julgado da sentença condenatória,
necessitando da fase executiva para dar ao autor a tutela
que lhe foi prometida pelo direito material. Ou seja, a ação,
após a prolação da sentença que condena a pagar
quantia, continua a ser exercida, dando origem a uma
simples fase executiva.
No mesmo sentido, enfatiza Renault188:
A impugnação, ao contrário do que ocorria com os
embargos do devedor, não tem natureza de ação
autônoma, constituindo mero incidente do processo. Pode
ser oferecida mediante simples petição, dispensadas as
formalidades das petições iniciais, nomeadamente a
qualificação das partes e o valor da causa.
Desta forma, levando em consideração que o
cumprimento de sentença é mera fase processual, há a dispensabilidade
de nova citação do requerido, uma vez que o mesmo já foi citado na fase
186 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. v.2.8.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.p.314.187 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.289.188 RENAULT, Sérgio Rabello Tamm (Coord); BOTTINI, Pierpaolo Cruz. A nova execução de sentença: comentários à lei 11.232/05. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 140.
68
do processo de conhecimento189, exigindo-se somente a intimação do
executado por intermédio de seu advogado ou pessoalmente, conforme
determina o art. 475-J, §1º do CPC:
Do auto de penhora e de avaliação será de imediato
intimado o executado, na pessoa de seu advogado (art.
236 e 237), ou, na falta deste o seu representante legal, ou
pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo
oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.
A desnecessidade de ajuizamento de novo processo
para exercício do contraditório pelo devedor, não significa dizer que toda
e qualquer impugnação não será autuada em apenso. 190
Conforme disposição do art. 475-M, §2º do CPC, nos
casos de indeferimento do efeito suspensivo requerido na impugnação,
esta será autuada em apenso (documentada em apartado), mas isso não
quer dizer que no apenso tramita processo diferente daquele constante
dos autos principais.191
Afirma Bueno192:
[...] a impugnação será instruída e decidida nos próprios
autos se a ela for atribuído efeito suspensivo [...]. Caso
contrário, isto é, caso a impugnação não tenha o condão
de suspender a prática dos atos executivos, ela será
instruída e decidida em autos apartados.
189 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.285.190 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 140.191 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 141.192 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 151.
69
O objetivo da lei ao fazer tal distinção é somente com
a documentação dos atos processuais, na medida em que eles sejam
praticados. 193
3.1.1. Do efeito suspensivo concedido ou não à impugnação
Lembram Marinoni e Arenhardt194 que no regime
anterior, recebidos os embargos do executado, o processo de execução
era suspenso, conforme art. 739, §1º, já revogado: “os embargos serão
sempre recebidos com efeito suspensivo”.
Com o sistema instituído pelas Leis 11.232/2005 e
11.382/2006 eliminou-se a regra da suspensão da execução pela mera
apresentação da impugnação pelo executado, objetivando o
prosseguimento da execução. 195
Neste sentido, aduz Theodoro Júnior196:
Antes da Lei 11.382, de 06.12.2006, bastava que os
embargos fossem recebidos para processamento para que
a execução ficasse, automaticamente, suspensa.
Atualmente a regra básica é que os embargos do
executado não terão efeito suspensivo.
No mesmo sentido, afirma Bueno197:
[...] a impugnação de que trata o art. 475-M,
diferentemente dos embargos à execução fundada em
título extrajudicial, não tem, em regra, efeito suspensivo. O 193 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 152.194 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.299.195 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.299.196 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 523.197 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 142.
70
recebimento da impugnação não tem, por si só, o condão
de suspender quaisquer atos executivos [...].
Embora a apresentação da impugnação não
suspenda o trâmite do processo de execução, a norma instituída no art.
475-M do CPC atribuiu o poder ao juiz de suspender a execução quando
“relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja
manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil
ou incerta reparação”. 198
Corrobora com esse entendimento Bueno199:
É possível [...] que o juízo atribua efeito suspensivo à
impugnação, isto é, que determine a paralisação da
prática dos atos executivos quando o devedor (executado)
provar que sua impugnação apresenta fundamentos
relevantes e que o prosseguimento da execução poderá
causar a ele, grave dano de difícil ou incerta reparação.
Lembram Marinoni e Arenhardt que não basta a
simples alegação do magistrado acerca da existência de relevantes
fundamentos da impugnação e a manifesta possibilidade de dano. É
necessária uma análise prudente e rigorosa, bem como a motivação
deste para obstaculizar o prosseguimento da execução. 200
Deferido o pedido suspensivo sem a devida
fundamentação pelo magistrado, cabe ao exeqüente interpor agravo de
instrumento, com requerimento de efeito suspensivo (art. 527, III, do
CPC).201
198 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.299.199 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 143.200 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.300.201 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.300.
71
Bueno202 confirma tal compreensão:
[...] da decisão cabe agravo de instrumento, dada a
patente ocorrência de urgência subjacente ao
pronunciamento de revisão da decisão [...]. Como a
decisão envolverá, necessariamente, a análise da
ocorrência ou ausência do periculum in mora a que faz
referência o caput do art. 475-M sua revisão deve se dar
imediatamente.
Além da demonstração de que o prosseguimento da
execução possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta
reparação, cabe a este a prévia garantia do juízo, através da penhora,
do depósito ou por caução idônea (art. 739-A, §1º do CPC). 203
Ainda que conferido efeito suspensivo à impugnação,
é lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução, mediante
pagamento de caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz nos
próprios autos (art. 475-M, §1º, do CPC). O juiz, por sua vez, não está
obrigado a deferir o prosseguimento da execução, mas deverá justificar o
indeferimento baseando-se na irreparabilidade do prejuízo que possa vir a
ser sofrido pelo executado. 204
Lembram Marinoni e Arenhardt que, oferecida a
impugnação somente por um dos executados e as razões de irresignação
alcançarem somente ele, a execução prosseguirá quanto aos demais,
não podendo o juiz suspender o trâmite da execução em relação a todos.
202 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 144.203 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.302.204 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.302.
72
No caso em que o motivo da impugnação alcançar todos os executados,
poderá ser concedido efeito suspensivo a toda a execução. 205
Indeferido o efeito suspensivo à impugnação o
processo de execução prosseguirá com a expropriação dos bens,
conforme disposição do art. 647 do CPC.
3.1.2. Requisitos para a admissibilidade da impugnação
Acerca dos requisitos objetivos para a propositura da
impugnação ao cumprimento de sentença, deve-se ressaltar que muitos
deles são os mesmos para a protocolização dos embargos à execução de
títulos extrajudiciais, com algumas ressalvas a seguir demonstradas.
A impugnação ao cumprimento de sentença só será
recebida se for tempestiva (art. 739, I, do CPC), porém, diferentemente
dos embargos, o prazo para sua oposição é de quinze dias, cujo prazo é
contado de acordo com o modo que foi procedida a intimação à
penhora, como segue: a) caso a intimação à penhora tenha sido
efetivada na pessoa do advogado do executado, mediante publicação
no órgão oficial da imprensa, o prazo será contado a partir da data de
mencionada publicação (art. 475-J, §1º c/c arts. 236 e 237 do CPC); b)
será contado o prazo para a impugnação a partir da juntada do
mandado aos autos, se a intimação à penhora tenha sido efetivada por
oficial de justiça na pessoa do advogado do executado, de seu
representante legal ou da própria parte (art. 241, II do CPC); c) no caso de
intimação pelo correio, o prazo será contado a partir da data da juntada
do aviso de recebimento aos autos (art. 241, I do CPC); e, d) no caso de
carta precatória, o prazo será contado a partir da data da juntada, no
juízo deprecante da comunicação de cumprimento da intimação que
205 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.304.
73
tenha sido enviada pelo juiz deprecado – ainda que a precatória não
tenha restado devolvida (§ 2º do art. 738 e art. 475-R, do CPC). 206
Decorrido o prazo de quinze dias para a apresentação
da impugnação por parte do executado e permanecendo este inerte,
não significa deduzir que a partir de então o executado não terá mais
direito a qualquer defesa. Este poderá fazê-la desde que se trate de tema
do qual o juiz possa conhecer de ofício, em qualquer tempo ou grau de
jurisdição (art. 303 do CPC). Poderá também defender-se por meio de
embargos à arrematação, à alienação ou à adjudicação207. 208
Neste sentido, destaca Assis209:
Decorrido o prazo do art. 475-J, §1º, sem oferecimento da
impugnação, o(s) executado(s) decairá(ão) do direito de
impugnar a execução. Também perde(m) o direito de
paralisar a execução[...]. Não há preclusão das objeções e
das exceções[...].
Ainda, há diferença de requisitos objetivos entre a
impugnação e os embargos à execução, quanto à necessidade ou não
da segurança de juízo para a apresentação da defesa. Naquela, a
segurança do juízo é obrigatória, “penhoram-se os bens do devedor e
depois ele é intimado para impugnar” . 210 211
206 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006.p.315.207 Embargos à arrematação, à alienação ou à adjudicação: “Nestes embargos, poderá o executado deduzir qualquer causa de nulidade da execução ou causa extintiva da obrigação, desde que seja superveniente à penhora (art. 746 do CPC).[...] é uma extensão dos embargos à execução”. *( MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.458).208 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.287.209 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1182.210 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006.p.316.211 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.291.
74
O direito de impugnação pelo executado está
condicionado à penhora e intimação do mesmo, haja vista que “o
requisito para o cabimento da impugnação é [...] que esteja formalizada
a penhora no momento em que ela é ajuizada”. 212
Neste sentido, enfatizam Marinoni e Arenhardt213:
[...] a intimação para o oferecimento de impugnação
somente pode ocorrer depois de efetuada a penhora e
avaliação dos bens. [...] para que possa iniciar-se o prazo
para o executado deduzir impugnação, é necessário que
tenha havido, além da penhora a avaliação dos bens
penhorados.
Corrobora com esse entendimento Assis214 ao dizer
que:
[...] a prévia realização da penhora, ou a segurança do
juízo, constitui pressuposto processual objetivo da
impugnação. O art. 475-J, §1º, somente cogita da
intimação do executado após a penhora. É flagrante a
subsistência da ratio dessa peculiar exigência imposta à
impugnação. Antes de qualquer controvérsia, talvez
complexa e demorada, urge assegurar ao exeqüente a
utilidade da execução.
Relata Wambier215 que, no caso de ajuizamento
precipitado da impugnação (feito antes da realização da penhora), a
212 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. v.2.8.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.p.287.213 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.286.214 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1184.215 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, 2006.p.316.
75
mesma não é indeferida, porém, há uma postergação do seu
processamento, até que o juízo esteja plenamente garantido.
No que concerne às partes legítimas “o CPC não diz
quem é autorizado a apresentar a impugnação. Limita-se a afirmar que o
executado deverá ser intimado para, querendo, fazê-lo”. 216
Como ocorre com os embargos do executado no
processo de execução de título extrajudicial, no cumprimento de
sentença também é lícito ao cônjuge do executado apresentar
impugnação ainda que não seja parte no processo, tendo em vista que
poderá vir a sofrer os efeitos concretos da execução, respondendo seus
bens pela dívida do cônjuge (art. 592, IV, CPC).217
Além deste, o terceiro que teve seus bens penhorados
na execução (sujeitos à responsabilidade patrimonial) também tem a
possibilidade de apresentar a impugnação, haja vista “que é o terceiro
quem vai responder pela dívida com seu patrimônio” (art. 592, III, do
CPC).218
No que tange à competência, é notório que a
apresentação da impugnação deva ser feita no juízo do cumprimento.
Mencionado juízo não abrange somente aquele que proferiu a sentença,
como também aquele em que se encontram os bens sujeitos à
expropriação, conforme faculta o art. 475-P, parágrafo único do CPC. 219
Desta forma, a impugnação deverá ser apresentada “no juízo da
execução, seja ele qual for, a teor do art. 475-P”. 220
3.1.3. Fundamentos da Impugnação do Executado
216 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.291.217 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.291.218 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.291.219 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.291.220 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1183.
76
As matérias argüíveis por meio de impugnação estão
definidas no art. 475-L do CPC. Segundo disposição de mencionado
artigo, “a impugnação somente poderá versar sobre: I - falta ou nulidade
da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III –
penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V –
excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou
extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação,
transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença”.
Há de se notar que mencionado rol não traz a
possibilidade de argüição de incompetência, suspeição ou impedimento,
aplicando-se o regime comum das exceções. Além disso, não constam as
nulidades da execução, porém, podem ser alegadas por qualquer outro
meio, incluindo a impugnação. 221
Focar-se-ão as hipóteses, na seqüência.
a) Falta ou nulidade de citação, se o processo correu à revelia.
Segundo a norma estampada no art. 214 do CPC,
para a formação e desenvolvimento válido da relação processual, “é
indispensável a citação inicial do réu”. Sua falta ou nulidade contamina o
processo, bem como a sentença dele oriunda, deixando de fazer coisa
julgada e não se revestindo da indiscutibilidade prevista no art. 467 do
CPC.222
Neste sentido, discorrem Marinoni e Arenhardt223:
[...] a coisa julgada formada sobre sentença sana qualquer
defeito processual que pudesse haver na fase de
conhecimento. Tem-se aqui uma das raras exceções a tal
efeito. Trata-se da chamada querela nullitatis insanabilis [...] 221 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1179.222 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 58.223 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.293
77
que considera inexistente o processo em que não ocorre a
citação, ou em que esta não se faz prevista em lei.
Caso a falta de citação ou sua nulidade não tenha
sido suprida pelo comparecimento espontâneo do réu (art. 214, §1º do
CPC), tal irregularidade se trata da primeira matéria a ser argüida em sede
de impugnação. 224
Lembram os mesmos autores225 que para mencionado
defeito ser reconhecido não há a necessidade da proposição de ação
rescisória. Levando em consideração que não se trata de sentença nula,
mas, inexistente, a ação rescisória é incabível. O vício pode ser alegado
através da impugnação ou por meio de ação de que trata o art. 486 do
CPC, qual seja, ação declaratória de inexistência de ato processual. 226
b) Inexigibilidade de título.
Adotado como termo genérico, a inexigibilidade do
título fundamenta qualquer alegação que nega força executiva ao título
apresentado227, não podendo se “manejar validamente a ação executiva
sem que esteja em mora o devedor, isto é, sem que seja exigível a
dívida”.228
Em sede de título executivo judicial, há inexigibilidade
de título na pendência de recurso com efeito suspensivo229 ou quando o
prazo previsto para cumprimento voluntário da obrigação contida no
título, ainda não transcorreu. 230
224 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.293.225 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.293.226 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.293.227 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.294.228 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 59.229 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 59.230 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.294.
78
O art. 475-L, §1º do CPC, conhecida pela doutrina
como relativização da coisa julgada, apresenta situação particular
quanto à inexigibilidade do título, ao dispor que: “para efeito do disposto
no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título
judicial fundado em lei ou atos normativos declarados inconstitucionais
pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou
interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal
como incompatíveis com a Constituição Federal”.
Desta forma, tendo sido caracterizada a obrigação
constante do título como inexigível, sua argüição em matéria de
impugnação é a medida legal que se impõe.
c) Penhora incorreta ou avaliação errônea.
Conforme disposição dos artigos 648 e 649 do CPC, a
penhora deverá recair sobre bens penhoráveis, excluindo-se aqueles “que
a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis”, bem como não exceder ao
montante da dívida, penhorando-se “tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários
advocatícios”.
Tendo a penhora ultrapassado as regras dispostas na
legislação, configura-se como penhora incorreta, podendo ser matéria
argüível na impugnação.231
O erro na avaliação deve ser visto em sua acepção
larga, ou seja, “como incongruência entre o valor real do bem penhorado
e aquele atribuído na avaliação”. 232
Neste sentido, aduz Theodoro Júnior233:
231 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.296.232 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.296.
79
[...] o executado tem legítimo interesse em reclamar da
avaliação incorreta, que afinal pode acarretar uma
expropriação exagerada e desnecessária na hasta pública,
ou até causar-lhe uma perda indevida em caso de
adjudicação do bem penhorado pelo exeqüente. Se esta
legalmente se faz pelo preço da avaliação (art. 685-A), e se
a estimativa não espelha a realidade, fatalmente se terá um
locupletamento ilícito do credor à custa do injusto prejuízo
do devedor.
Mencionada impugnação à avaliação remonta ao
direito português, quando os vícios da avaliação ensejavam os
embargos234, conforme explicava Souza235:
[...] se os peritos o não eram relativamente às coisas que
faziam os objetos de suas avaliações, ou se o eram, mas
nelas extravaganciaram em injustiças, não se regulando
pelas normas... a providência das leis contra os louvados
não privou de outros remédios aos executados contra os
arbitramentos iníquos.
d) Ilegitimidade das partes.
Outra matéria possível de ser alegada na impugnação
se trata da legitimidade ad causam. Necessário mencionar que uma vez
apreciada na fase de conhecimento, não é possível reabrir nova
discussão acerca de condição da ação na fase de execução. 236
Neste sentido, manifestam Marinoni e Arenhardt237:
233 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 61.234 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1180.235 SOUZA, Manuel de Almeida de apud ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1180.236 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.296/297.237 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.297.
80
[...] a impugnação permite apenas que se aponte defeito
nos pólos da fase executiva – sempre a partir do que restou
cristalizado na sentença condenatória -, ou porque quem
requer a execução não poderia fazê-lo, ou porque o
executado não responde pela dívida exigida.
O legislador dispôs tal prerrogativa visando fatos
supervenientes à sentença, capazes de afetar a titularidade do crédito,
por força de sucessão, cessão, sub-rogação, por exemplo. 238
Em sede de impugnação o executado pode alegar a
ilegitimidade ativa (do exeqüente) ou passiva, discutindo sua própria
identificação como executado ou responsável pela obrigação. 239
e) Excesso de execução.
De acordo com o art. 743 do CPC, há excesso de
execução: “I - quando o credor pleiteia quantia superior à do título; II –
quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III – quando
se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV –
quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe correspondem exige o
adimplemento da do devedor; V – se o credor não provar que a
condição se realizou”.
A alegação pelo executado de que o credor pleiteia
quantia superior ao título, ocorre frequentemente na execução
expropriativa, possibilitando ao devedor “repelir excessos do credor
quanto ao principal e acessórios – juros moratórios e compensatórios,
cumulação indevida de correção monetária e comissão de permanência,
que é proibida pela Súmula 30 do STJ”. 240
238 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 60.239 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1180.240 ASSIS, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 1092.
81
A declinação do valor que o executado entende
correto, bem como a respectiva memória de cálculo demonstrando o
erro do exeqüente, são requisitos indispensáveis à impugnação ao
cumprimento de sentença baseado no excesso de execução, sob pena
do executado ter como rejeitada liminarmente sua impugnação (art. 475-
J, §2º do CPC). 241
Neste sentido, aduz Theodoro Júnior:
Para que o devedor seja ouvido, quando sua impugnação
acuse excesso de execução, é indispensável que a
afirmação de estar o credor a exigir quantia superior à
resultante da condenação seja acompanhada de
declaração imediata de qual o valor que entende correto
[...]. À falta de semelhante explicitação, - que há de ser feita
quando cabível, por meio de memória de cálculo
formulada com os mesmos dados que se exigem do credor
quando requer a abertura do procedimento de
cumprimento forçado da sentença (art. 614, III) -, sujeitar-se-
á o devedor à rejeição liminar de sua impugnação [...].
O erro na liquidação da sentença por artigos242 ou
arbitramento243 também pode ser argüido na impugnação por excesso de
execução, devendo, o executado, apresentar suas razões de
241 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.297.242 Liquidação de sentença por artigos: “A liquidação por artigos deve ser feita quando, para a determinação do valor da condeção, houver a necessidade de se alegar e provar fato novo [...]” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.131).243 Liquidação de sentença por arbitramento: “A liquidação de sentença por arbitramento se dá mediante a atividade de perito judicial, objetivando ficar o valor de certo bem ou de determinada prestação. Esta forma de liquidação é utilizada, conforme preceitua o art. 475-C, em duas situações: i) quando sentença ou convenção das partes impuser o seu uso; ou ii) quando a natureza do objeto da liquidação assim o exigir” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.130)
82
irresignação, bem como o erro cometido na liquidação, através de prova
capaz de convencer o magistrado. 244
Alegando, o executado, que o cumprimento recaiu
sobre coisa diversa daquela declarada na sentença, mencionada
diversidade diz respeito à quantidade ou qualidade das coisas devidas
nas obrigações de dar coisas certas ou incertas (art. 461-A do CPC). A
procedência da impugnação pode levar à anulação de toda a
execução ou apenas à redução para a quantidade compatível com a
sentença. 245
Sendo a execução processada de modo diferente
daquela requisitada na sentença pelo magistrado, o executado possui a
faculdade de argüir tal fato na sua impugnação. Dita prerrogativa
decorre da necessidade de as sentenças serem executadas fielmente,
sem ampliação ou restrição do que nelas estiver disposto. 246
Acerca da impugnação quanto à contraprestação
não cumprida pelo credor, dispõe o art. 582 do CPC: “Em todos os casos
em que é defeso a um contraente, antes de cumprida a sua obrigação,
exigir implemento do outro, não se processará a execução[...]”. Desta
forma, é necessário registrar que o credor se torna carente do
cumprimento quando não cumpre a contraprestação a que está
subordinado. 247
Tal exceção, chamada também de non adimpleti
contractus, estagna o direito do requerente, “tornando prematura a
244 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p.297/298.245 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 60.246 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 60.247 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 60.
83
execução intentada sem cumprimento ou oferecimento da prestação do
credor [...]”. 248
Assim, decidindo a sentença acerca de relação
jurídica que possui eficácia condicionada à ocorrência de um
determinado evento, o credor necessita provar a realização deste. Não
provado, “será carecedor de ação [...], cabendo ao devedor a
impugnação de excesso de execução para ilidir a pretensão
executiva”.249
f) Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação.
Impossibilitado de reabrir discussão sobre o conteúdo
da sentença, o executado possui o direito de argüir fatos posteriores à
condenação, que impeçam a execução. 250 Segundo o art. 475-L, IV do
CPC, são causas impeditivas, modificativas ou extintivas da obrigação:
“pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição”.
É necessário que tais causas tenham ocorrido após a
prolação da sentença condenatória, tendo em vista que, do contrário,
haverá a preclusão da possibilidade de invocá-las por incompatibilidade
com a sentença que as excluiu. 251
Para Marinoni e Arenhardt252 as causas impeditivas ou
modificativas “não conduzirão necessariamente à extinção da execução.
O acolhimento de tais alegações poderá resultar na paralisação da
execução (em relação às causas impeditivas) ou na alteração do seu
conteúdo (no caso de matérias modificativas)”.
3.1.4. Processamento da impugnação do executado
248 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 61.249 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 61.250 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 61.251 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 298.252 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 298.
84
Conforme já tratado, por não se tratar de um novo
processo, não existem requisitos formais para a peça de impugnação.
Idêntico ao que ocorre com as demais contestações, a impugnação
deve ser uma peça escrita, em que o impugnante manifesta suas razões
de irresignação, seu requerimento, as provas que pretende produzir no
curso do processo e, no caso de fundamentá-la no excesso de execução,
deve instruí-la com a respectiva memória de cálculo, bem como indicar o
valor que o executado entende correto. 253
Recebida a impugnação, o juiz poderá: a) rejeitá-la
liminarmente (no caso de apresentação da impugnação por quem não
possui autorização, pelo conteúdo da mesma não se inserir em uma das
hipóteses previstas no art. 475-L do CPC ou se for extemporânea); b) ouvir
o exeqüente sobre a impugnação, conferindo-lhe efeito suspensivo; ou, c)
ouvir o exeqüente sobre a impugnação, sem outorgar-lhe efeito
suspensivo. 254
Não sendo a impugnação rejeitada liminarmente, o
exeqüente deverá ser intimado para, no prazo de 15 dias, respeitando-se
o princípio da isonomia, manifestar-se acerca da impugnação oferecida
pelo executado. 255
Necessário registrar que não há, no diploma processual
civil, norma específica para o processamento da impugnação. Diante
desta inércia, utiliza-se, por analogia e determinação do artigo 475-P, o
trâmite dos embargos à execução, previsto no art. 740 do CPC. 256
253 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 305.254 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 305.255 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução, 2007, p. 305.256 ATAÍDE, Vanessa de Paula. Cumprindo a sentença de acordo com a Lei nº 11.232/2005. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/canal/direito-e-justica/news/189126/>. Acessado em: 31/10/2008.
85
Neste sentido, afirma Ataíde257: “Como não há regra
específica, o procedimento a ser observado para a impugnação é, por
analogia, o mesmo dos embargos à execução, conforme art. 740, CPC”.
Assim, de acordo com o art. 740 do CPC, após a
intimação do sujeito passivo (o exeqüente), haverá o julgamento
antecipado do pedido (art. 330 do CPC) ou, caso necessário, o juiz
designará audiência de instrução e julgamento, proferindo sentença no
prazo de dez dias. 258
Necessário mencionar que o juiz dispensará a fase de
saneamento e de instrução do processo, julgando-o antecipadamente,
quando a impugnação: a) versar somente sobre matéria de direito; ou, b)
versando sobre matéria de direito e de fato, a prova for exclusivamente
documental (art. 740 c/c art. 330 do CPC). 259
3.1.5. Dos recursos cabíveis da decisão que julga a impugnação
Em regra, da decisão que julgar a impugnação cabe
agravo de instrumento, de acordo com a disposição do artigo 475-M, §3º,
primeira parte, do CPC. Nos casos em que a decisão acarrete a extinção
da execução, o recurso cabível será o de apelação (art. 475-M, §3º, parte
final, do CPC). 260
Ocorrerá a extinção da execução nos casos descritos
no art. 794 do CPC, quais sejam: a) quando o devedor satisfizer a
obrigação, ou; b) quando o devedor obtiver, através de transação ou por
qualquer outro meio, a remissão total da dívida. 257 ATAÍDE, Vanessa de Paula. Cumprindo a sentença de acordo com a Lei nº 11.232/2005. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/canal/direito-e-justica/news/189126/>. Acessado em: 31/10/2008. 258 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 440.259 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 441.260 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 154.
86
Além destes, tendo o magistrado acolhido totalmente
a impugnação apresentada pelo executado, também haverá a extinção
do feito e o cabimento do recurso de apelação. 261 Acolhida
parcialmente, o recurso cabível “é de agravo de instrumento porque,
tendo presente a parte rejeitada, os atos executivos serão retomados”. 262
Desta forma, tem-se por concluído o presente trabalho
monográfico, cujas hipóteses serão novamente levantadas nas
considerações finais, mencionando se as mesmas foram confirmadas ou
não.
261 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 155.262 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil – comentários sistemáticos às leis 11.187 de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. 1. v. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 155.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo investigar, à
luz da legislação e da doutrina, a impugnação ao cumprimento se
sentença após o advento da Lei 11.232/2005.
O interesse pelo tema deu-se em razão de sua
importância, larga utilização pelos operadores do direito, bem como por
tratar-se de assunto novo, com alterações datadas do ano de 2005.
Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi
dividido em três capítulos. No primeiro, viu-se a teoria geral do processo de
execução, bem como o surgimento do mesmo no Brasil, as espécies de
execuções e títulos executivos previstos no diploma processual brasileiro.
No segundo capítulo, pesquisou-se acerca do
cumprimento de sentença e formas de execuções dispostas no CPC.
Verificou-se ainda o procedimento de cumprimento de sentença na
obrigação de pagar quantia certa.
No terceiro e último capítulo, intensificou-se a pesquisa
sobre a impugnação ao cumprimento de sentença, seus requisitos,
processamento da mesma, concessão de efeito suspensivo ou não, além
dos recursos cabíveis da decisão que julga mencionada oposição à
execução.
Como principal resultado da pesquisa, ressalta-se a
modificação trazida pela Lei 11.232/2005 quanto à não suspensão da
execução pela simples apresentação da impugnação ao cumprimento
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de sentença. Hodiernamente, conforme disposição do art. 475-M, caput,
do CPC, o magistrado só confere efeito suspensivo à impugnação,
quando relevantes os fundamentos do executado e quando o mesmo
comprovar, cabalmente, que o prosseguimento da execução seja
manifestamente suscetível de causar-lhe grave dano de difícil ou incerta
reparação.
No entanto, não basta a mera menção de concessão
de efeito suspensivo pelo magistrado, haja vista que o mesmo deve
motivar a sua decisão, sob pena de tê-la recorrida através de recurso de
agravo de instrumento interposto pelo exeqüente.
Por fim, retomam-se as hipóteses levantadas e que
impulsionaram a presente pesquisa:
a) a mudança empreendida pelo novo ordenamento
é de mera nomenclatura, cindindo a fase de execução no mesmo feito,
sem divergir, quanto ao conteúdo, das bases do processo de execução;
b) o trâmite da impugnação de cumprimento diverge
diametralmente dos normativos até então conhecidos, para a discussão,
em embargos à execução de título judicial.
Concernente à primeira hipótese, restou refutada, pois
verificou-se que as inovações legislativas, além de cindirem a execução
no mesmo processo, tornando-a uma fase do feito em que fora prolatada
a decisão exeqüenda, teve o intuito de impor celeridade ao trâmite
processual, de modo a dispensar nova citação ou intimação pessoal do
devedor; exigindo a prévia penhora para a posterior impugnação e
contemplando a regra de não interrupção do feito pela simples oposição
do devedor, de modo a viabilizar a rápida expropriação de bens, nos
moldes do artigo 647 do CPC.
A segunda hipótese restou parcialmente confirmada,
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pois a pesquisa demonstrou que a exigência de prévia segurança do juízo
para viabilização da impugnação repete a norma anteriormente utilizada,
bem como que a matéria suscitada em impugnação é semelhante à que
podia ser utilizada antes da reforma, nos então embargos à execução
fundada em título judicial. Entretanto, diverge a nova sistemática da
anterior em razão de que a simples apresentação de impugnação não
acarreta a suspensão do feito, que somente em caso de
excepcionalidade, prevista legislativamente, poderá ser autorizada pelo
julgador.
Resta, assim, concluída a pesquisa sem que se lance
pá de cal no tema que, certamente, haverá de incentivar tantos outros
trabalhos que visem a descortinar as dúvidas do dia-a-dia do
processualista civil.
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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
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