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ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Eliane Ferraz Alves

Ana Cristina de S. Aldrigue

Paula Frassineti de L. Ferraz *

Luciane A. Coutinho Sarmento ٭

APRESENTAÇÃO

Caros(as) Alunos(as),

Vocês estão iniciando a leitura de textos voltados para questões que envolvem

o processo de alfabetização de jovens e adultos. Tal processo pode ocorrer em uma

modalidade da Educação Básica denominada de EJA — Educação de Jovens e Adultos.

Naturalmente, devido ao curso que vocês escolheram fazer — o Curso de Letras —,

deve ter havido algum estranhamento quanto ao público-alvo que está sendo enfocado

nesta disciplina. Assim, para que possamos discutir o porquê de alunos(as) do Curso

de Letras conhecerem os fundamentos epistemológicos do processo de alfabetização

de jovens e adultos, precisamos iniciar a nossa “conversa” situando esse processo

na modalidade de Ensino Fundamental — EJA cuja inclusão já está contemplada na

legislação educacional vigente. Por essa razão, torna-se necessário, também, fazer

referência à legislação (principais documentos) pertinente a essa modalidade de

ensino; e, de forma particular, abordar algumas questões acerca dos processos de

construção de leitura e de escrita, de produção de textos orais, de leitura e de textos

escritos, considerando o contexto social e educacional em que esses(as) alunos(as)

estão inseridos(as).

No Brasil, milhões de brasileiros(as) não são alfabetizados nem tampouco

letrados. Quando muito, podem apresentar níveis de alfabetismo socialmente

insatisfatórios e, mesmo que tenham ingressado na escola, não conseguiram permanecer

nela, ou seja, são pessoas que enfrentam o problema da exclusão social e educacional.

Entre as muitas áreas científicas que se preocupam com o enfrentamento dessa

situação (Sociologia, Educação, Psicologia, Lingüística, entre outras) enfocamos, aqui,

alguns estudos lingüístico-pedagógicos que tratam dos processos de letramento e de

alfabetização. Na Educação de Jovens e Adultos — EJA, esses dois processos devem

receber um olhar diferenciado. Isto porque a EJA tem suas especificidades, envolve

questões como um público-alvo constituído de jovens com quinze anos ou mais, que

nunca vivenciou um processo de ensino na escola ou que por ela tenha sido excluído;

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Eliane Ferraz Alves

Ana Cristina de S. Aldrigue

Paula Frassineti de L. Ferraz *

Luciane A. Coutinho Sarmento ٭

(*) Tutoras a distância da dis-ciplina Alfabe-tização de Jo-vens e Adultos e colaboradoras da edição final

do texto.

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enfrenta o problema da limitação de tempo e, conseqüentemente, da busca, de certa

forma, ansiosa, pelo tempo perdido; e, ainda, depende de uma seleção e organização

de conteúdos particulares, específicos, adequados à realidade dos(as) educandos(as) e,

ao mesmo tempo, de conteúdos gerais, amplos, que possam propiciar a continuação

dos estudos.

Os(as) alunos(as) da EJA são, portanto, pessoas que iniciam tardiamente sua

trajetória escolar ou que retomam essa trajetória, após alguns anos fora da escola. Nesse

contexto, faz-se necessário definir de que modo os objetivos para essa modalidade de

ensino são propostos, de que forma esses objetivos podem ser discutidos e rediscutidos

com esses(as) educandos(as), para que, construtivamente, as pessoas que se engajam

nesse processo possam formar cidadãos alfabetizados e letrados.

A partir das informações introdutórias, focalizaremos questões relativas

aos processos de construção de leitura e de construção de textos orais e escritos,

considerando uma concepção discursiva e interacional de texto e referenciando bases

teóricas pertinentes a esses processos lingüísticos e pedagógicos.

Assim, para discutirmos questões ora gerais ora específicas, que dizem

respeito ao processo de Alfabetização/Letramento na EJA, dividimos o curso

em quatro unidades: na Unidade I, contextualizamos essa modalidade do ensino

fundamental, caracterizando o(a) aluno(a) jovem adulto(a), e discutimos, de forma

sucinta, o processo de construção de conhecimento, e ainda, revisitamos, nessa

mesma unidade, a legislação vigente dessa modalidade de ensino. Na unidade II, são

abordadas questões gerais acerca do Ensino de Língua Portuguesa na EJA. Na unidade

III, são tratadas questões relativas aos processos de alfabetização e de letramento; a

polêmica questão dos métodos de alfabetização; e o processo de leitura e de produção

de textos. Na unidade IV, são discutidos os processos enunciativos do aluno jovem

e adulto, bem como a relação desses processos com os de leitura e de produção de

textos. Na unidade V, foi contemplado o desencadeamento de discussões acerca das

perspectivas lingüístico-pedagógicas para o processo de alfabetização. Em algumas

unidades são propostas atividades prático-reflexivas, com o objetivo de construirmos

um conhecimento, envolvendo todas as questões aqui sinalizadas.

Dessa forma, as unidades deste curso estarão ligadas por um objetivo comum,

voltado para a função qualificadora da EJA, ou seja, para a busca e a conseqüente

efetivação de uma educação permanente, que colabore para a construção de

uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a

diversidade.*

OBJETIVOS:

Durante o curso, o(a) educando(a) deverá construir os seguintes conhecimentos,

acerca do processo de alfabetização de Jovens e Adultos:

(*) BRASIL. Ministério da Educação. Di-retrizes Cur-riculares Na-cionais para a Educação de Jovens e Adul-tos. Estabeleci-da pela Resolu-ção CNE/CEB nº 1, de 05 de julho de 2000.

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Discutir as principais características e especificidades do(a) aluno(a) •

jovem adulto(a).

Conhecer o teor de documentos/legislação vigente da Educação de Jovens •

e Adultos.

Discutir o processo de construção de conhecimentos na Educação de •

Jovens e Adultos.

Distinguir processo de alfabetização de processo de letramento.•

Analisar concepções, metodologias e propostas pedagógicas de •

alfabetização.

Analisar níveis de escrita e hipóteses de leitura, em situações de escrita e •

de leitura, voltadas para os processos de alfabetização.

Discutir o processo de produção de texto e de produção de leitura em •

turmas de alfabetização.

Estabelecer relações entre processos enunciativos do aluno jovem adulto e •

processos de leitura e de produção de textos.

Construir seqüências didáticas para turmas de alfabetização de jovens e •

adultos, contemplando os processos de leitura e de produção de textos.

Discutir os rumos lingüístico-pedagógicos da alfabetização de jovens e •

adultos no Brasil.

METODOLOGIA

Com o objetivo geral de assegurar ao profissional de Letras o domínio de

conhecimentos básicos pertinentes ao processo de alfabetização e de letramento

de alunos(as) jovens e adultos(as), bem como a análise e aplicação de propostas

de ensino de Língua Portuguesa para a EJA, a disciplina de alfabetização de

jovens e adultos será desenvolvida considerando uma metodologia dialética

de construção do conhecimento, centrada em um processo interacional

e construtivo entre alunos(as) do Curso de Letras a Distância, tutores(as) e

professores(as) da disciplina.

METODOLOGIA

Com o objetivo geral de assegurar ao profissional de Letras o domínio de

conhecimentos básicos pertinentes ao processo de alfabetização e de letramento

de alunos(as) jovens e adultos(as), bem como a análise e aplicação de propostas

de ensino de Língua Portuguesa para a EJA, a disciplina de alfabetização de

jovens e adultos será desenvolvida considerando uma metodologia dialética

de construção do conhecimento, centrada em um processo interacional

e construtivo entre alunos(as) do Curso de Letras a Distância, tutores(as) e

professores(as) da disciplina.

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UNIDADE I

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CONTEXTUALIZAÇÃO

Por ser uma modalidade específica da Educação Básica, a Educação de Jovens

e Adultos - EJA propõe-se a atender a um público formado por jovens com quinze anos

ou mais, e por adultos que não tiveram direito à educação, devido às inadequações do

sistema de ensino ou às desfavoráveis condições socioeconômicas dos sujeitos sociais

desse processo.

Em 1997, em Hamburgo, a V Conferência Internacional sobre Educação de

Adultos (V CONFINTEA)* caracteriza essa modalidade de ensino como uma educação

formal e informal, tendo em vista que abrange não só a educação oficial, ligada a uma

determinada rede de ensino, quer seja estadual, municipal ou federal, mas também,

todas as oportunidades de educação informal e ocasional existentes em uma sociedade.

Essa conferência consolida duas importantes características para a EJA: o direito à

educação básica e à educação continuada para todas as pessoas.

O desenvolvimento da educação de adultos exige a colaboração entre

“departamentos governamentais, intergovernamentais e organizações não-

governamentais, empregadores e sindicatos, universidades e centros de investigação,

meios de comunicação, associações civis e comunitárias, instrutores de educação de

adultos e dos próprios educandos adultos” (SESI/UNESCO, 1999, p. 28). Tal conquista

que, no BRASIL, vem sendo construída há décadas pelos movimentos de educação

popular, adquire, com a V CONFINTEA, um novo sentido, visto que passa a ter um

alcance maior, embora ainda insuficiente, em escolas e em ambientes de trabalho.

Os movimentos de Educação Popular cujas ações, em particular as que se

voltam para o processo de alfabetização, são, em sua grande maioria, inspiradas nas

idéias de Paulo Freire.* Tais idéias têm como princípio fundamental o respeito aos

saberes do senso comum, aos conhecimentos que são informalmente construídos

nas comunidades, desde que estes, aliados ao conhecimento considerado científico,

constituam a base para um processo de transformação social.

Essa modalidade de ensino, segundo Haddad (1998), é caracterizada por dois

tipos de demandas: uma constituída por jovens e adultos que não tiveram a oportunidade

de passar por processos de escolarização regulares, e a outra, por educadores de jovens

e adultos, pessoas, grupos, movimentos, órgãos públicos e privados, que se dedicam a

UNIDADE I

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CONTEXTUALIZAÇÃO

(*) “Na evolu-ção da política das Nações Uni-das em relação à educação de adul-tos, a Conferên-cia de Hamburgo ( C O N F I N T E A V), promovida pela UNESCO em 1997, repre-senta um marco importante na medida em que estabeleceu a vin-culação da edu-cação de adultos com o desenvol-vimento susten-tado e eqüitativo da humanidade.” (Declaração de Hamburgo: agen-da para o futuro. Brasília: SESI/UNESCO,1999, p.7).

(*) Para Freire (1980), a pas-sagem do sa-ber que resulta da experiência (senso comum) para o conheci-mento resultan-te de um proces-so de apreensão da realidade é um direito que as classes popu-lares têm.

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enfrentar essa demanda social.*

Nesse contexto, a escola, enquanto veículo do ensino caracterizado como formal,

deve desempenhar um papel de mediação, desenvolvendo um trabalho significativo

a partir da relação constante que deve haver entre a valorização do saber comum e

a construção do saber científico, envolvendo, coletivamente, todos os sujeitos do

processo educativo e buscando uma educação de qualidade, coerente com os anseios e

necessidades dos alunos da EJA.

Desta forma, a educação de jovens e adultos deve ser pensada como um

modelo pedagógico próprio, com o objetivo de criar situações de ensino-aprendizagem

adequadas às necessidades educacionais desse público, englobando as três funções

citadas no Parecer 11/00 da CEB/CNE: a função reparadora — caracterizada pela

entrada no circuito dos direitos civis e pela restauração de um direito negado: o direito

a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser

humano; a função equalizadora — centrada em um atendimento, pleno e legal, a

trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade, possibilitando-lhes a reentrada

no sistema educacional; e a função permanente, voltada para uma educação de jovens

e adultos que deve dar condições ao(à) educando(a) de atualizar conhecimentos por

toda a sua vida, ou seja, deve dar condições de qualificação de vida para todos, deve

propiciar que os educandos continuem aprendendo.

AMPLIANDO SEU CONHECIMENTO:

A Declaração de Hamburgo (1997) pode ser lida no site www.unesco.org.br/publicacoes/livros/dechamburgo. Acesse o site, leia o texto e escolha dois itens desse documento, para tecer comentários críticos, focalizando os avanços sociais e universais dessa modalidade de ensino.

Para saber mais acerca da História da EJA no Brasil, consulte:Itinerários de Educadores: contribuições da educação popular a EJA. Maria Clarisse Vieira em: www.reveja.com.br/revista/2/artigos/REVEJ@_2_Maria_Clarisse.htm

1.1. O(A) aluno(a) da EJA e o processo de construção de conhecimento

Pesquisas brasileiras, envolvendo jovens e adultos não alfabetizados, apontam

para a conclusão de que estes pertencem a um grupo social homogêneo cujas

características não são difíceis de serem identificadas, dadas as suas condições sócio-

AMPLIANDO SEU CONHECIMENTO:

A Declaração de Hamburgo (1997) pode ser lida no site www.unesco.org.br/publicacoes/livros/dechamburgo. Acesse o site, leia o texto e escolha dois itens desse documento, para tecer comentários críticos, focalizando os avanços sociais e universais dessa modalidade de ensino.

Para saber mais acerca da História da EJA no Brasil, consulte:Itinerários de Educadores: contribuições da educação popular a EJA. Maria Clarisse Vieira em:www.reveja.com.br/revista/2/artigos/REVEJ@_2_Maria_Clarisse.htm

(*) Cf. DU-RANTE, Marta. Alfabetização de adultos: lei-tura e produ-ção de textos. Porto Alegre, Artmed, 1998.

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econômicas.* Trata-se de uma parcela da população socialmente excluída do acesso

aos bens de consumo, que não exerce funções qualificadas e não recebe salários que

possam aproximá-la, conscientemente, de um mundo mais humano.*

Portanto, o público que deve ser atendido pela Educação de Jovens e Adultos

diz respeito a uma parcela da população caracterizada, ao mesmo tempo, como igual,

pelo critério da exclusão social, e como diferente, face às diversas especificidades de

cada grupo que faz parte desse processo de exclusão. É um publico constituído por

jovens, homens e mulheres, ou que nunca foram à escola, por falta de acesso, ou que,

indo à escola, vivenciaram um tempo maior de escolaridade, ou que abandonaram

o ensino formal, devido às retenções em determinadas séries da Educação Básica, e

às diversas circunstâncias de vida. Esses jovens e adultos, geralmente, retornam à

escola ou iniciam a vida escolar com o objetivo de melhorar de vida ou por exigências

do mercado de trabalho. Nesse sentido, a Educação de Jovens e Adultos ultrapassa

a concepção de alfabetização/escolarização, pois envolve a vida e os direitos desses

educandos.

É indispensável que o(a) educador(a), para construir conhecimentos com

seus(suas) educandos(as), faça um levantamento dos conhecimentos prévios e das

expectativas de aprendizagem do(a) aluno(a), visando ao planejamento de suas ações

em sala de aula, ou seja, conheça a realidade social e histórica do(a) alfabetizando(a).

Considerando que a construção do conhecimento ocorre a partir do momento em que

o homem começa a se relacionar com o mundo, ou seja, a partir do momento em que

se instaura uma relação dialética, Vale (2001, p. 71) explica que esse tipo de relação

do homem com a realidade “é que vai possibilitar a gestação de uma educação que,

em sendo transitória, busca incessantemente um novo saber, uma nova qualidade

de aprender, fundamentada na criticidade, na problematização, no questionamento,

condições essenciais a uma ação educativa transformadora”.

SAIBA MAIS:

Considerando as características do(a) aluno(a) adulto(a), Gadotti e Romão (2007, p.39) explicam:

[...] o aluno adulto não pode ser tratado como criança cuja história de vida apenas começa. Ele quer ver a aplicação imediata do que está aprendendo. Ao mesmo tempo, apresenta-se temeroso, sente-se ameaçado, precisa ser estimulado, criar auto-estima, pois a sua ”ignorância” lhe traz tensão, angústia, complexo de inferioridade. Muitas vezes tem vergonha de falar de si, de sua moradia, de sua experiência frustrada da infância, principalmente em relação à escola. É preciso que tudo isso seja verbalizado e analisado. O primeiro direito do alfabetizando é o direito de se expressar.

(*) Cf. BRA-SIL, Secretaria de Educação Fundamental . Proposta cur-ricular para a educação de Jovens e Adul-tos: segundo segmento do ensino funda-mental - 5ª a 8ª série: introdu-ção, 2002.

(*) De acordo com Paulo Frei-re (1980, p. 26), a “conscientiza-ção é um com-promisso histó-rico. É também c o n s c i ê n c i a histórica: é in-serção crítica na história, implica que os homens assumam o pa-pel de sujeitos que fazem e refazem o mun-do.”

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SAIBA MAIS:

Considerando as características do(a) aluno(a) adulto(a), Gadotti e Romão (2007, p.39) explicam:

[...] o aluno adulto não pode ser tratado como criança cuja história de vida apenas começa. Ele quer ver a aplicação imediata do que está aprendendo. Ao mesmo tempo, apresenta-se temeroso, sente-se ameaçado, precisa ser estimulado, criar auto-estima, pois a sua ”ignorância” lhe traz tensão, angústia, complexo de inferioridade. Muitas vezes tem vergonha de falar de si, de sua moradia, de sua experiência frustrada da infância, principalmente em relação à escola. É preciso que tudo isso seja verbalizado e analisado. O primeiro direito do alfabetizando é o direito de se expressar.

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REFLEXÃO

Para refletir acerca das particularidades da educação de jovens e adultos, sugerimos a leitura do texto de Gadotti, “ Educação de adultos: algumas reflexões”. IN: GADOTTI, M. & ROMÃO, J. (orgs.). Educação de Jovens e Adultos: teoria prática e proposta. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2007.

1.2. Conhecendo um pouco da Legislação da EJA

Sendo considerada como um processo educativo constantemente renovado e

contínuo, não limitado apenas a determinadas idades de escolarização, mas para toda

a vida, é necessário que o(a) profissional que atua na Educação de Jovens e Adultos

tenha conhecimento dos principais e mais recentes documentos que dão legitimidade

histórica a essa modalidade de ensino.

O artigo 208 da Constituição Federal de 1988* garante a educação a todos

aqueles que a ela não tiveram acesso, independente da faixa etária, estendendo, assim,

um atendimento também a jovens e adultos que anteriormente eram excluídos desse

direito. Confirmando essa conquista, a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional,

9.394/96, estabelece, em seu artigo 37, os deveres do Estado, no que diz respeito à

extensão do direito à educação a todos, quando registra que a EJA “será destinada

àqueles que não tiveram acesso ou continuidade nos estudos no ensino fundamental e

médio na idade própria.”

Essa lei enfoca a necessidade de uma formação adequada para se trabalhar com o

jovem e o adulto, bem como uma atenção às características específicas dos trabalhadores

matriculados em turmas de EJA. Tais requisitos são referendados nas Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (2000) que estabelecem,

no item VIII, referente à Formação Docente, além das exigências formativas para o(a)

profissional que atua na EJA, as exigências relativas à complexidade diferencial dessa

modalidade de ensino.

Faz-se necessário ressaltar, também, o Parecer 05/97 do Conselho Nacional

de Educação, que trata da questão da denominação “Educação de Jovens e Adultos,”

relacionando com a denominação “Ensino Supletivo” e definindo os limites de idade

fixados para que jovens e adultos se submetam a exames supletivos. Define, também,

as competências dos sistemas de ensino e explicita as possibilidades de certificação; o

Parecer 12/97 do Conselho Nacional de Educação cujo objetivo é esclarecer dúvidas

sobre cursos, exames supletivos entre outras questões; o Parecer 11/2000 do Conselho

REFLEXÃO

Para refletir acerca das particularidades da educação de jovens e adultos, sugerimos a leitura do texto de Gadotti, “ Educação de adultos: algumas reflexões”. IN: GADOTTI, M. & ROMÃO, J. (orgs.). Educação de Jovens e Adultos: teoria prática e proposta. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2007.

(*) A consti-tuição de 1988, em seu artigo 208, apresenta a EJA ligada ao Ensino Funda-mental, quando dispõe que “ O dever do estado com a educação será efetivado mediante a ga-rantia de: I – en-sino fundamen-tal obrigatório e gratuito, as-segurada inclu-sive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. ( Reda-ção da Emenda Constitucional n.14/96).

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Nacional de Educação do relator Carlos Roberto, Jamil Cury, favorável às Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos; e a Resolução CNE/

CEB nº1, de 5 de julho de 2000 - estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para

a Educação de Jovens e Adultos.*

Em âmbito internacional, o primeiro marco surge em 1990, na Tailândia,

com a “Declaração de Educação Básica para Todos”, crianças, jovens e adultos. Tal

declaração é referendada na V Conferência de Educação de Adultos, a V CONFINTEA,

em 1997, em Hamburgo, Alemanha, quando são instituídas a Declaração de Hamburgo

e a Agenda para o Futuro.

Nessa Conferência, os debates permitem encarar a Educação de Jovens e

Adultos como não apenas restrita à escolarização e à alfabetização, mas também como

voltada para o reconhecimento do poder social dessa educação, considerada como

processo que deve ser vivenciado por toda a vida.

Dessa maneira, a Declaração de Hamburgo, além de ser um marco na Educação

de jovens e Adultos, é, também, o resultado de lutas históricas, que consolidam os

direitos dos educandos: todos os sujeitos têm direito à educação básica, independente

da idade, bem como o direito à educação continuada, considerando a idéia de aprender

por toda a vida.

Na década de 90, o Brasil, apesar dos avanços registrados na V CONFINTEA,

continuou a considerar a educação de adultos um “desvio” que resulta do fracasso do

Ensino Fundamental de crianças. Nesse contexto, com a necessária interferência dos

educadores e dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos* nas políticas do MEC, é

formulado, conforme já foi referenciado, o Parecer final do CEB/CNE, divulgado em

11 de maio de 2000. Tal parecer confere à Educação de Jovens e Adultos o direito,

entre outros, de ser rediscutida.

SAIBA MAIS:

A Declaração de Hamburgo (1997), da qual o Brasil é signatário, enfatiza que a educação de adultos é mais que um direito:

[...] é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. (SESI/UNESCO, 1999, p.19)

(*) Os parece-res 05/97, 12/97, 11/2000 do Con-selho Nacional de Educação e a Resolução CNE/CEB nº1, de 5 de julho de 2000, estão des-critas no docu-mento “Diretri-zes Curriculares para a Educa-ção de Jovens e Adultos” (Go-verno do Esta-do da Paraíba, 2000).

(*) “Os Fóruns de EJA confi-guram-se como sendo um espaço de discussão, de r e iv ind icação , de formação in-telectual para os educadores, de intercâmbio de experiências, bem como de uma nova orga-nização da EJA, tomando corpo, a partir dos meados da década de 90, no país, caracte-rizados como um Novo Movimen-to Social (NMS) e contribuindo para a formação dos educadores de EJA.” Fonte: www.cereja.org.br/arquivos_uplo-ad/Eduardo%20Silva_nov2005.pdf. Acesso em 08/09/2008.

SAIBA MAIS:

A Declaração de Hamburgo (1997), da qual o Brasil é signatário, enfatiza que a educação de adultos é mais que um direito:

[...] é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. (SESI/UNESCO, 1999, p.19)

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UNIDADE II

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EJA

QUESTÕES GERAIS

Apesar de ser discutida há várias décadas, e apesar dos relatos de experiências

bem sucedidas,* a educação de jovens e adultos ainda não dispõe de projetos que possam

apresentar soluções para as questões relativas aos principais problemas que afetam as

salas de aula dessa modalidade de ensino. Problemas como: evasão escolar, desinteresse

pelas atividades propostas pelos professores, não adoção de uma prática pedagógica

reflexiva* e, principalmente, o fracasso das práticas pedagógicas para ensinar esses

alunos a ler (compreender) textos, bem como para encarar a complexidade do mundo

contemporâneo, com sua intermitente criação e recriação de códigos variados, que

exige o desenvolvimento de competências de leitura e de escrita, ou seja, exige um

aprender contínuo e, principalmente, exige que os sujeitos, a partir de sua própria

história, transformem-se e transformem o mundo.

Nesse sentido, o ensino destinado à Educação de Jovens e Adultos deve

oferecer condições para o desenvolvimento das competências necessárias para a

aprendizagem dos conteúdos escolares, bem como para a formação de pessoas cidadãs.

Para tanto, é fundamental que o(a) professor(a) de EJA dê uma atenção especial ao

ensino-aprendizagem da linguagem, visto que é por meio desta que todos os outros

conhecimentos são formalizados. Nesse contexto de ensino, tanto a linguagem não-

verbal, quanto a linguagem verbal, oral, ou escrita, tanto os dialetos não prestigiados

socialmente, quanto os que são prestigiados, devem ser contemplados, visando a um

processo funcional de produção de leituras e de textos.

O fato de vivermos em uma sociedade grafocêntrica coloca o ensino da leitura e

da escrita em situação privilegiada.* Por esta razão, o professor de Língua Portuguesa

deve ter uma compreensão dos processos de construção de leitura e de escrita, ou

seja, deve buscar alfabetizar o(a) aluno(a) jovem / adulto(a), compreendendo suas

hipóteses de leitura e de escrita, seus erros construtivos, desde que, para tanto,

considere os processos de letramento, desenvolvendo atividades com gêneros textuais

diversificados.

Sobre essa questão, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

de Jovens e Adultos (BRASIL, 2000, p. 18) ressaltam que a leitura e a escrita são

“bens relevantes, de valor prático e simbólico” e que “o não acesso a graus elevados

de letramento é particularmente danoso para a conquista de uma cidadania plena.”

UNIDADE II

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EJA

QUESTÕES GERAIS

(*) Para ter c o n h e c i m e n t o acerca de uma das experiências bem sucedidas na EJA, consulte o artigo: A prática mineira em Edu-cação de Jovens e Adultos: expe-riências exitosas nos municípios de Lagoa Dou-rada e Ritápolis. CARVALHO, A. A. de. e outras. Anais do 2º Con-gresso Brasileiro de Extensão Uni-versitária. Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004. Disponível em http://www.

ufmg.br/congrext/

educa/educa17.

pdf.

(*) Explican-do o processo de “conscienti-zação”, Paulo Freire (1980) es-clarece que esta não pode existir fora da ‘práxis’, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dia-lética constitui, de maneira per-manente, o modo de ser ou de trans-formar o mundo que caracteriza os homens.

215

(*) Em Soares (2005, p.58), é discutida a ques-tão da sociedade grafocêntrica.

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216

Em outras palavras, em uma sociedade predominantemente grafocêntrica, a posição

privilegiada do código escrito deve ser adequadamente administrada em sala de aula.

Para que o(a) aluno(a) avance em seu processo de letramento, faz-se necessário

que o(a) professor(a) alfabetizador(a) planeje e adote determinadas estratégias: os(as)

alunos(as) devem experimentar e ampliar suas formas de expressão, a partir de trabalhos

em grupo que favoreçam a troca de experiências, que promovam momentos em que

os(as) educandos(as) se expressem em pequenos grupos, ou em grupos maiores, em

conversas voltadas para determinadas temáticas, realizadas com outras pessoas da

escola ou mesmo fora dela. Para tanto, o(a) professsor(a) deve criar oportunidades

de ouvir, falar, ler, escrever. Deve, a partir dos saberes do senso comum, construir

conhecimentos científicos, apreender novos significados, favorecer a compreensão e a

avaliação de textos orais e escritos.

A vivência dessas atividades aponta para a necessidade de o professor ser

capaz de refletir, constantemente, sobre sua prática e de direcioná-la, considerando os

interesses e as necessidades dos alunos, para a realidade em que atua.

Para entendermos melhor esse processo de reflexão no ensino, recorremos

também às idéias de Schön (1997) acerca do professor “Prático-Reflexivo”. Foi esse

estudioso que percebeu que, em várias profissões, não apenas na prática docente,

existem situações conflitantes, desafiantes, bem como, que a aplicação de técnicas

convencionais, simplesmente, não resolve problemas.

A proposta prático-reflexiva para o ensino, neste caso, de alfabetização em

Língua Portuguesa, busca levar em conta uma série de variáveis do processo didático,

a partir das quais, o professor, interacionalmente, perceba os efeitos de sua atuação

na aprendizagem de seus alunos. É, portanto, uma abordagem que leva em conta não

só os processos cognitivos de aprendizagem da leitura e da escrita, mas também e,

principalmente, os processos sócio-interacionais que envolvem a apreensão desses

conhecimentos.*

SAIBA MAIS:

Um dos avanços da Declaração de Hamburgo (1997) esteve centrado na idéia

de continuação do processo de formação do(a) aluno(a) da EJA.

[...] a alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num

mundo em transformação, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade,

a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o

desenvolvimento de outras habilidades. (...) O desafio é oferecer-lhes esse direito...

A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades

sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um requisito básico para a

educação continuada durante a vida. (Declaração de Hamburgo, 1997).educação continuada durante a vida. (Declaração de Hamburgo, 1997).216

SAIBA MAIS:

Um dos avanços da Declaração de Hamburgo (1997) esteve centrado na idéia

de continuação do processo de formação do(a) aluno(a) da EJA.

[...] a alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num

mundo em transformação, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade,

a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o

desenvolvimento de outras habilidades. (...) O desafio é oferecer-lhes esse direito...

A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades

sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um requisito básico para a

educação continuada durante a vida. (Declaração de Hamburgo, 1997).educação continuada durante a vida. (Declaração de Hamburgo, 1997).

(*) Os Parâ-metros Curricu-lares Nacionais - PCNs (2001, p.48), sugerem o “movimento metodológico” AÇÃO → RE-FLEXÃO → AÇÃO, para a vivência de um processo de cons-trução de conhe-cimento.

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SAIBA MAIS: Geraldi (1999, p. 41), ressalta que o(a) professora(a) deve ter

conhecimento e deve procurar entender as três concepções de linguagem que

atravessam as práticas de sala de aula de língua Portuguesa: linguagem como

expressão do pensamento, linguagem como instrumento de comunicação e

linguagem como forma de interação.

SAIBA MAIS: Geraldi (1999, p. 41), ressalta que o(a) professora(a) deve ter

conhecimento e deve procurar entender as três concepções de linguagem que

atravessam as práticas de sala de aula de língua Portuguesa: linguagem como

expressão do pensamento, linguagem como instrumento de comunicação e

linguagem como forma de interação.

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219

UNIDADE III

O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E DE LETRAMENTO

NA EJA

No contexto da Educação de Jovens e Adultos, o domínio das habilidades da

leitura e da escrita está intrinsecamente ligado às necessidades do mundo contemporâneo.

Isto porque os(as) alunos(as) dessa modalidade do ensino têm características específicas.

São alunos(as) cujas experiências e anseios de uma vida melhor requerem um olhar

diferenciado no processo de ensino.

O(a) aluno(a) jovem ou adulto(a) consegue “sobreviver” nesse mundo letrado

por meio de diversas estratégias e traz para a sala de aula, idéias diversificadas a respeito

da escrita, embora sem dominar as “regras” desse código. Dessa forma, processos de

alfabetização e de letramento não podem ser dissociados do processo de construção

da cidadania. Ou, de forma mais ampla, de formação de uma consciência histórica,

como nos ensina Paulo Freire (1980, p.26), para quem o processo de conscientização

“implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo”

— idéia também corroborada por Street (1984), que vê o processo de alfabetização

como um modo de adquirir valores e de formar mentalidades.

Entre os estudos envolvendo o processo de alfabetização de alunos(as) jovens

/adultos(as) faz-se necessário ressaltar o que foi desenvolvido por Ferreiro (1983),

acerca das concepções que alunos adultos não-alfabetizados detêm sobre o sistema

alfabético. Tal estudo buscou compreender como estes(as) alunos(as) constroem a

lógica interna de organização e desenvolvimento desse sistema notacional, analisando

as relações entre língua oral e língua escrita, as condições de interpretação de um texto

(observando as possibilidades no nível da palavra e no nível da oração), bem como a

distinção que faziam entre “grafias-letras” e “grafias-números”.

A partir da divulgação dessas informações, estudos* enfocando o processo

de alfabetização de jovens e adultos, voltam-se para determinados fundamentos

epistemológicos, centrados nas seguintes questões: o aprendizado do sistema de

escrita alfabética pode e deve ser simultâneo à aprendizagem que permite escrever/

compreender textos; o conhecimento de natureza notacional que se refere à escrita

alfabética não garante ao aluno a possibilidade de compreender e produzir textos em

linguagem escrita; essas formas de aprendizagens, a do sistema notacional alfabético

e a da linguagem escrita — leitura (compreensão) e produção de textos —, exigem

um trabalho pedagógico sistemático, centrado em um processo diagnóstico e seguido

do planejamento e da elaboração de estratégias de intervenção, após a análise dos

UNIDADE III

O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E DE LETRAMENTO

NA EJA

(*) Embora c o n t e m p l e m metodologias diferenciadas, destacamos, en-tre os estudos que enfocam o processo de al-fabetização de jovens e adul-tos, o de Poel (1981) e o de Durante (1998).

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220

resultados alcançados. Tais estratégias não devem ser vivenciadas sob a ótica de uma

aprendizagem linear, mecânica, voltada apenas para os aspectos mnemônicos.

Em outras palavras, a compreensão da antecipação significativa (estratégias de

leitura),* como um componente essencial no processo de leitura, apresenta subsídios

que favorecem um repensar das práticas de alfabetização. Se, antes, o processo de

ensino-aprendizagem centrava-se nos aspectos grafofônicos, enfatizando a visualização

e a memorização, hoje, as contribuições da pesquisa sobre a psicogênese da língua

escrita e dos estudos sobre letramento indicam a necessidade de redefinição da prática

pedagógica, partindo da afirmação de que o sujeito da aprendizagem reconstrói,

constantemente, seus objetos de conhecimento e reelabora suas hipóteses, na tentativa

de apreendê-los e de vivenciá-los significativamente.

PESQUISE:

As hipóteses de escrita — pré-silábica, silábica, silábico-alfabética, alfabética— apresentadas por Ferreiro e Teberosky (1985) são sumarizadas em diversos estudos, entre eles, o manual didático “Alfabetização – Parâmetros em Ação” (BRASIL, Secretaria de Ensino Fundamental, 2002). Considerando essas hipóteses de escrita, construa um quadro, contemplando exemplos e comentários acerca do processamento de escrita de alunos jovens e adultos.

AGORA É SUA VEZ:

Caracterize os níveis de escrita dos(as) seguintes alunos(as) de

uma turma de EJA, de uma escola pública:

PESQUISE:

As hipóteses de escrita — pré-silábica, silábica, silábico-alfabética, alfabética— apresentadas por Ferreiro e Teberosky (1985) são sumarizadas em diversos estudos, entre eles, o manual didático “Alfabetização – Parâmetros em Ação” (BRASIL, Secretaria de Ensino Fundamental, 2002). Considerando essas hipóteses de escrita, construa um quadro, contemplando exemplos e comentários acerca do processamento de escrita de alunos jovens e adultos.

AGORA É SUA VEZ:

Caracterize os níveis de escrita dos(as) seguintes alunos(as) de

uma turma de EJA, de uma escola pública:

(*) De acordo com Solé (1998), o ato de ler ativa, inconscientemen-te, uma série de ações mentais, ca rac te r i zadas como “estratégias de leitura.” São elas: a antecipa-ção (hipóteses que tornam possível prever o que está por vir, com base em informações explícitas e em suposições); se-leção: ações que permitem o leitor se ater apenas ao que é útil para a compreensão, desprezando os índices irrelevan-tes; inferência: permite captar o que não está es-crito no texto de forma explícita; verificação: pos-sibilita confirmar ou não as expec-tativas levanta-das, controlando a eficácia das de-mais estratégias.

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TEXTO I

TEXTO II

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222

TEXTO III

3.1. Questionamentos conceituais e metodológicos do(a) professor(a)

alfabetizador(a)

Consideradas as profundas diferenças sociais que dividem a sociedade

brasileira, ensinar a ler e escrever (alfabetizar), para a grande maioria dos professores,

envolve um processo de aculturação que visa à inserção do aluno nas práticas legítimas

de uso da escrita, ou seja, em diferentes processos de letramento. De acordo com

Kleiman (1999, p.69), esse processo de alfabetização puro e simples “está em conflito

com um princípio educacional de caráter ético, o da preservação da diferença e da

heterogeneidade cultural das diferentes comunidades nas quais o educador atua”.

Assim, cabe ao educador familiarizar-se com os usos e concepções sobre a escrita

dessas comunidades, para que não sejam reproduzidos métodos ineficientes e práticas

uniformizadoras e alienantes. As orientações atuais, para a vivência desses dois

processos, o de alfabetização e o de letramento, voltam-se para uma associação bem

produtiva dessas duas ações pedagógicas: alfabetizar e letrar.*

Para Soares (2005), a alfabetização ocorre por meio de práticas sociais de

leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e esta, por sua vez, só se

realiza, efetivamente, por meio da aprendizagem das relações fonema /grafema.

Conceituando letramento, essa lingüista explica que este é o “estado ou

condição de quem não só saber ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de escrita

que circulam na sociedade em que vive, conjugando-as com as práticas sociais de

(*) “Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concep-ções psicológi-cas, lingüísticas e psicolingüísti-cas de leitura e escrita, a entra-da da criança (e também do adul-to analfabeto) no mundo da escrita se dá simultane-amente por esses dois processos: pela aquisição do sistema conven-cional de escrita – a alfabetização, e pelo desenvol-vimento de ha-bilidades de uso desse sistema em atividades de lei-tura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento.” (SOARES, 2003, p.86)

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223

interação oral.” (SOARES, 2002) Nesse sentido, um dos objetivos do ensino da língua

escrita é possibilitar ao aluno o domínio das capacidades de leitura e de produção de

textos de diferentes gêneros, que circulam socialmente, ou seja, que estão presentes

no cotidiano das sociedades letradas. Nesse conceito de “letramento” está implícita

a idéia de que “a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas,

cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social, em que seja introduzida, quer para o

indivíduo que aprenda a usá-la” (SOARES, 1998).

Ao discutir o conceito de alfabetização, “processo de aquisição do código

escrito, das habilidades de leitura e escrita”, Soares chama a atenção para a noção de

“alfabetismo”, ou seja, “o ‘estado’ ou a ‘condição’ que assume aquele que aprende

a ler e a escrever.”(2005, p.15-29). Tal estado pode ser caracterizado de acordo com

determinados comportamentos, relacionados, evidentemente, a dois tipos de dimensão:

a individual e a dimensão social.*

SAIBA MAIS:

A noção de alfabetismo também é discutida por Ribeiro (2002, p.44-51) como fenômeno cultural complexo. Segundo esta autora,

“ Tanto do ponto de vista histórico, quanto do sociológico, ou psicológico, as evidências analisadas pelos pesquisadores alertam para o perigo das generalizações precipitadas ou dos reducionismos simplistas. Por outro lado, todas, a seu modo, reafirmam a relevância do alfabetismo na história da cultura, na organização da sociedade ou no comportamento dos indivíduos, ainda que sua influência em qualquer dessas dimensões só possa ser compreendida na medida em que se considerem os modos como a leitura e a escrita integram práticas sociais ou padrões culturais mais amplos.”

Face ao que foi apresentado, pode-se afirmar que os novos direcionamentos

para o ensino de Língua Portuguesa propõem um ensino de língua que tenha o objetivo

de fazer com que o aluno adquira um grau de letramento cada vez mais elevado, isto

é, que este(a) aluno(a) desenvolva cognitivamente um conjunto de habilidades e

comportamentos de leitura e escrita que lhe permitam fazer o maior e mais eficiente

uso possível das capacidades de ler e escrever.

3.2. Discutindo a questão dos métodos no processo de alfabetização

Atrelar procedimentos didáticos de alfabetização a procedimentos didáticos de

letramento provocou ou, pelo menos, deveria estar provocando mudanças conceituais

na forma de encarar esses dois processos, em sala de Educação de Jovens e Adultos.

Nesse sentido, faz-se necessário, a todos que enveredem por esses caminhos, discutir

SAIBA MAIS:

A noção de alfabetismo também é discutida por Ribeiro (2002, p.44-51) como fenômeno cultural complexo. Segundo esta autora,

“ Tanto do ponto de vista histórico, quanto do sociológico, ou psicológico, as evidências analisadas pelos pesquisadores alertam para o perigo das generalizações precipitadas ou dos reducionismos simplistas. Por outro lado, todas, a seu modo, reafirmam a relevância do alfabetismo na história da cultura, na organização da sociedade ou no comportamento dos indivíduos, ainda que sua influência em qualquer dessas dimensões só possa ser compreendida na medida em que se considerem os modos como a leitura e a escrita integram práticas sociais ou padrões culturais mais amplos.”

(*) Consulte Ribeiro (2002) e Soares (2005), para um maior aprofundamen-to acerca dos níveis de “alfa-betismo”.

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224

as diversas propostas pedagógicas, principalmente as que se voltam para abordagens

lingüísticas e sócio-interacionistas, que tomam como ponto de partida o texto/

discurso.

A alfabetização de jovens e adultos, no Brasil, apesar dos muitos programas

e propostas de alfabetização veiculados por órgãos governamentais ou não-

governamentais, vem sendo trabalhada, ainda, em termos metodológicos, como

processos exclusivamente centrados no sistema alfabético e ortográfico da língua

portuguesa, considerando, gradativamente, e dependendo do ponto de partida, letras,

sílabas, palavras, frases, até chegar ao texto. Ora partindo do todo para as partes,

privilegiando o sentido das palavras, frases, textos — método analítico —, ora partindo

das partes para o todo, privilegiando a decodificação, as relações entre fonemas

e grafemas, considerando unidades menores (letras, sílabas) até chegar a unidades

maiores (palavras, frases, textos) — método sintético—, o processo de alfabetização

não pode deixar de levar em consideração os usos e as funções sociais da escrita.

Nas últimas décadas, os estudos voltados para o processo de alfabetização no

Brasil, quer sejam os voltados para crianças, quer sejam os que enfocam a alfabetização

de jovens e adultos, colocam, no centro das atenções, as ações diagnósticas, para a

identificação das hipóteses de leitura e de escrita, dos conhecimentos prévios dos(as)

alunos(as), seguindo-se a essas ações, a análise das dificuldades, caracterizadas como

‘”erros construtivos” (PIAGET, 1978), ou seja, erros indicadores dos processos

cognitivos, das hipóteses de construção de leitura e de escrita. Assim, informações

sobre os níveis de escrita, sobre as hipóteses e as estratégias de leitura, o sistema

de escrita alfabético, as relações entre fala e escrita no texto, são conheimentos

lingüísticos e pedagógicos que precisam ser colocados em prática, ou seja, precisam

ser compreendidos pelos (as) professores alfabetizadores(as) para que haja uma

sistematização metodológica, para que possam ser vivenciados em sala de aula.

Dessa forma, que tratamento deve ser dado ao processo de alfabetização

na EJA? Para responder a essa pergunta, a primeira idéia que pode vir à mente de

muitos(as) alfabetizadores(as) é a de que a alfabetização, para ser eficaz, precisa ser

vivenciada com base em um determinado método e este é um entre os muitos dilemas,

as muitas dificuldades teóricas e práticas que o(a) professor(a) alfabetizador(a) enfrenta.

Soares (2005), em estudo divulgado em 1990, ao discutir a questão dos métodos

de alfabetização no Brasil, considera o impasse que essa década nos trouxe, com a

divulgação de paradigmas conceituais psicológicos para o processo de alfabetização.

Tais paradigmas, centrados em uma abordagem psicogenética, divulgada por Ferreiro

e Teberosky (1985), contrapõem-se ao associacionismo, predominante nas décadas

de 50, 60 e 70. Essas psicólogas rejeitam as concepções empiristas de aprendizagem,

mas não descartam o uso de determinados métodos no processo de alfabetização,

mesmo porque, para realizarem suas pesquisas, fizeram uso, inevitavelmente, de

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225

uma metodologia. Nessa polêmica, o que não pode ser esquecido é o processo de

aprendizagem dos(as) alfabetizandos(as).

Assim, procurar fazer com que o(a) aluno(a) pense sobre a escrita, pense sobre

o que a escrita representa e como ela representa graficamente a linguagem deve fazer

parte, constantemente, das práticas pedagógicas do professor(a) alfabetizador(a) cujas

ações didáticas devem favorecer as atividades epilingüísticas (GERALDI, 1993),

devem propiciar processos diferenciados de construção de conhecimento.*

Obviamente, os resultados favoráveis (experiências bem sucedidas) ou

desfavoráveis no processo de alfabetização não têm como fator preponderante ou

causador apenas o método, visto que os problemas relativos ao processo de alfabetização

não estão apenas nas mudanças conceituais, mas também nas novas exigências

contextuais requeridas para o trabalho nesse campo pedagógico. Considerando essas

novas exigências, Bregunci (2004) ressalta que o momento ora vivenciado é o da

busca pelo equilíbrio entre princípios metodológicos “permanentes”, “indispensáveis”

e “indissociáveis”: 1. Possibilitar, por meio de situações didáticas problematizadoras,

que o aluno(a) decodifique e organize o sistema alfabético de escrita; 2. Que domine

as relações estabelecidas entre fonemas e grafemas, incluindo, nestas, as regularidades

e irregularidades ortográficas; 3. Que compreenda, produza e faça uso de textos

diversificados, ou seja, que leia e escreva funcionalmente.*

Para alcançar esses objetivos, é imprescindível que o(a) professor(a) construa,

também, um conhecimento acerca dos processos de leitura e de escrita, e que planeje

situações de ensino-aprendizagem adequadas ao processo de alfabetização. Nesse

sentido, faz-se necessário que o(a) professor(a) atente para as seguintes orientações*:

1.Quanto às situações de leitura:

É POSSÍVEL LER QUANDO AINDA NÃO SE SABE LER •

CONVENCIONALMENTE.

LER DIFERENTES TEXTOS, EM DIFERENTES CIRCUNSTÂNCIAS DE •

COMUNICAÇÃO É UM BOM PROBLEMA A SER RESOLVIDO.

QUANDO O(A) ALUNO(A) NÃO SABE DECODIFICAR O QUE ESTÁ •

ESCRITO, SUA TENDÊNCIA, PARA “ADIVINHAR” O QUE ESTÁ

ESCRITO, É RECORRER AO CONTEXTO E ÀS LETRAS INICIAIS,

FINAIS OU INTERMEDIÁRIAS DE CADA PALAVRA.

OS(AS) ALUNOS(AS) DEVEM SER TRATADOS COMO LEITORES(AS) •

PLENOS(AS).

É FUNDAMENTAL PLANEJAR, DESDE O INÍCIO DO PROCESSO, •

ATIVIDADES VOLTADAS PARA AS PRÁTICAS SOCIAIS DE

LEITURA.

(*) Nas ativida-des metalingü-ísticas a análise volta-se para a descrição pura e simples, dos fe-nômenos lingü-ísticos, por meio da caracterização e sistematização dos elementos lingüísticos. Já nas atividades epilingüísticas, a análise é reflexi-va, volta-se para o uso, no próprio interior da ativi-dade lingüística em que se realiza. (Cf. PCNs, 2001, p.78)

(*) Para ampliar essas informa-ções, consultar B R E G U N C I , Maria das Gra-ças de Castro. Organizando as classes de alfa-betização: pro-cessos e métodos, 2004 www.alb.com.br/anais16/s e m 1 0 p d f /s m 1 0 s s 2 0 _ 0 7 .pdf .

225

(*) Essas infor-mações constam em textos elabo-rados por Rosa Antunes de Bar-ros, para as situ-ações de leitura e por Rosângela Veliago, para as situações de es-crita. In: PCNS em Ação - Alfa-betização, 2002, p.71. Portanto, para saber mais, consulte esses textos ou sites que abordem es-sas questões.

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226

DEVE-SE DAR OPORTUNIDADE PARA O(A) ALFABETIZANDO(A) •

INTERAGIR COM UMA GRANDE VARIEDADE DE TEXTOS.

2. Quanto às situações de escrita:

OS(AS) ALUNOS(AS) DEVEM SER CONVIDADOS A ESCREVER, •

MESMO SEM SABER ESCREVER.

SÓ SE APRENDE A ESCREVER, ESCREVENDO.•

OS(AS) ALUNOS(AS) PRECISAM REFLETIR ACERCA DO •

FUNCIONAMENTO DA ESCRITA.

AS HIPÓTESES DE ESCRITA (pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e •

alfabética) PRECISAM SER RESPEITADAS, DESDE QUE ESTRATÉGIAS

DE INTERVENÇÃO SEJAM PLANEJADAS E VIVENCIADAS EM SALA

DE AULA.

OS(AS) ALUNOS(AS) DEVEM SER CONVIDADOS A PRODUZIREM •

TEXTOS DIVERSIFICADOS E FUNCIONAIS.

AS ATIVIDADES DE REESCRITA PRECISAM SER COLOCADAS EM •

PRÁTICA.

Atreladas a esses conhecimentos científicos, estão as ações que resultam de um

processo de planejamento voltado para uma pedagogia de projetos, para a elaboração

de rotinas, de seqüências didáticas. Todas essas ações, por meio de um processo de

integração, devem ter seus resultados socializados, compartilhados e colocados em

prática, por todos que estejam envolvidos nesse processo educativo. É necessário,

portanto, definir meios para alcançar objetivos, organizar o processo, registrar e

socializar atividades realizadas.

SAIBA MAIS:

Em uma visão bem democrática, Saviani (1983, p. 73) explica que a adoção de determinados métodos de alfabetização não pode ser dissociada do contexto social. E acrescenta:

“Tais métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sob sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.”

SAIBA MAIS:

Em uma visão bem democrática, Saviani (1983, p. 73) explica que a adoção de determinados métodos de alfabetização não pode ser dissociada do contexto social. E acrescenta:

“Tais métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sob sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.”

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227

Ao enfocar o processo de construção de conhecimentos em sala de aula,

Vasconcellos (2002) observa que, quando o professor não faz opção pela instauração de

um contexto dialógico, a relação que se estabelece em sala de aula, evidentemente, é a

de mero repassador de conhecimentos. Com esse tipo de procedimento, a metodologia

deixa de ser dialética para ser “expositiva”, ou seja, não há envolvimento com o

processo de aprendizagem.

A situação que se instaura em sala de aula, então, decorre, principalmente,

do que Vasconcellos (2002, p.26) denominou de problemas básicos da metodologia

expositiva: o não considerar, o não levar em conta, alguns pressupostos que, há algumas

décadas, vêm sendo veiculados pelas ciências pedagógicas, tais como: o aluno é um

ser concreto; há necessidade do desenvolvimento de um processo de motivação para

a aprendizagem; a apreensão do conhecimento se dá na relação sujeito — objeto —

realidade, com a mediação do professor; a apreensão do conhecimento ocorre por meio

da ação do educando sobre o objeto de estudo; o aluno já traz, para o ambiente de

ensino-aprendizagem, uma bagagem cultural; as discussões coletivas devem constituir

a base das situações de ensino-aprendizagem.

AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS:

Considerando o trecho do livro de Vasconcellos (2002, p. 38), sobre a metodologia dialética, pesquise, nos sites voltados para a área de educação, mais informações sobre essa forma de compreender o processo de construção de conhecimento.

“Não há saída para uma pedagogia que fica fechada em si mesma, na sua estruturação e organização lógica. Na metodologia dialética, a significação, por exemplo, abre-se às necessidades do sujeito, que estão relacionadas às necessidades de classe; a práxis pedagógica abre-se à práxis social. Não dá para pensar a construção do conhecimento fora da relação com o concreto social. O pedagógico, para ser eficaz, pede esta articulação com a concretude do sujeito real.”

3.3. Sobre as atividades de leitura e de produção de texto na EJA

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens

e Adultos (2000), a EJA, sendo uma modalidade da educação básica, que integra as

etapas do Ensino Fundamental e Médio, apresenta como válidas para essa modalidade

da Educação, as orientações dessas etapas de ensino, cabendo aos projetos didáticos,

a redefinição dos temas a serem abordados, visto que estes devem considerar as

condições sócio-culturais desses(as) alunos(as).

AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS:

Considerando o trecho do livro de Vasconcellos (2002, p. 38), sobre a metodologia dialética, pesquise, nos sites voltados para a área de educação, mais informações sobre essa forma de compreender o processo de construção de conhecimento.

“Não há saída para uma pedagogia que fica fechada em si mesma, na sua estruturação e organização lógica. Na metodologia dialética, a significação, por exemplo, abre-se às necessidades do sujeito, que estão relacionadas às necessidades de classe; a práxis pedagógica abre-se à práxis social. Não dá para pensar a construção do conhecimento fora da relação com o concreto social. O pedagógico, para ser eficaz, pede esta articulação com a concretude do sujeito real.”

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228

Seguindo tais orientações, o ensino de Língua Portuguesa em turmas de

EJA, assim como em outras modalidades de ensino, deverá estar centrado em uma

concepção interacional (dialógica) da língua, uma concepção interlocutiva — os

sujeitos são vistos como atores/construtores sociais — na qual o texto passa a ser

considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, passam a ser considerados

sujeitos ativos. Nesse contexto, o processo de leitura/compreensão não é uma simples

apreensão de uma representação mental ou uma decodificação de mensagem, mas uma

atividade interativa, bastante complexa de produção de sentidos, realizada com base nos

elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização,

mas que requer a apreensão de um vasto conjunto de saberes e a reconstrução destes

no interior do acontecimento comunicativo.

Nos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental (2001), o ensino

de Língua Portuguesa pode ser dividido, metodologicamente, em quatro tipos de

atividades: as que estão centradas no processo de produção de textos orais, as que

enfocam, globalmente, o processo de construção de leitura, as que visam ao processo

de construção de textos escritos e as que se voltam para a análise lingüística.

Subjacente a essas atividades, está um dos pressupostos gerais dos PCNs (2001),

o de que o desenvolvimento geral do aluno pode ser trabalhado com base em uma

formação integral, voltada para aprendizagens diversificadas, que tenham relação com

a vida diária do educando e com o seu ambiente físico e social. Por essa razão, propor

atividades capazes de estabelecer relações estreitas entre a escola e a comunidade,

fazer com que os alunos compreendam melhor o seu entorno, o seu papel na sociedade,

viabilizado, evidentemente, pelo processo amplo e diversificado de produção de

textos, pode ajudar na construção de indivíduos conscientes de sua identidade pessoal

e cultural, ou seja, pode desencadear um processo permanente de autoconhecimento e

de autotransformação.

Em situações de produção de textos orais, o professor, considerando atividades

planejadas para tal fim, deve procurar desenvolver atividades conversacionais,

monitorando, evidentemente, as falas dos alunos e, ao mesmo tempo, estimulando-os a

perguntar, sugerir, comentar, estabelecer relações. No caso específico de alunos(as) da

EJA, que já trazem, para a sala de aula, uma experiência bem formalizada, tais atividades

são bem produtivas e possibilitam uma imediata visibilidade dos resultados.

Em situações de produção de leitura, pode-se observar que a vivência dessas

atividades com alunos da EJA, cujas condições sociais (condições de vida), quase

sempre não são adequadas, torna-se uma tarefa difícil de ser executada, principalmente

se esta se prende apenas a uma metodologia meramente expositiva. Nesse tipo de

metodologia, o aluno quase sempre é avaliado pela forma como lê em voz alta, ou

seja, pela observação das devidas pausas, da entonação adequada, do ritmo e também

pela pronúncia correta das palavras, quase sempre sem considerar os diversos modos e

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229

objetivos que existem para se ler um texto. Como conseqüência, lamentavelmente, os

alunos que já lêem o mundo em volta deles, sentem-se desestimulados a, por meio dos

diversos gêneros textuais que circundam a nossa existência, conhecer e interagir com

outros mundos, desenvolver variadas competências leitoras, entender a função social

de cada texto/discurso.

Toda linguagem é uma forma de interação que se realiza por meio de textos.

Nesse sentido, todo texto é um conjunto de marcas, de pistas que funcionam como

um conjunto de instruções para o restabelecimento dos efeitos de sentido da interação

social e para o domínio e a compreensão das técnicas de linguagem e dos modelos

sociais de textos (gêneros textuais). Tais instruções exigem uma forma de reflexão

teórica e prática acerca do fenômeno complexo da textualidade.

Considerando esses questionamentos, retomamos a idéia de que o Ensino de

Língua Portuguesa na EJA deverá estar com suas bases firmadas em uma concepção de

texto como discurso, ou seja, o texto como um evento em situação dialógica, em que

se manifestam elementos lingüísticos e extralingüísticos, de acordo com as diversas

situações comunicativas, relacionadas aos diversos gêneros textuais (BAKHTIN,

1992). Esta ênfase dada aos gêneros, na atualidade, por parte da lingüística, tem

grande importância para estudos que envolvem o ensino de Língua Portuguesa, devido

à diversidade de textos que circulam no meio social.

A linguagem sendo considerada como processo de interação cuja principal

função é agir sobre o outro, encaminha, evidentemente, o professor(a) alfabetizador(a)

para uma adoção de uma concepção de leitura como “processo” em que se constroem

significados; em que se compreende a linguagem escrita verbal e não-verbal, sendo o

leitor um sujeito ativo que interage com o texto.

Nesse sentido, para que se possa entender de que forma se dá o processo de

construção de leitura, é necessário compreender as suas diversas funções sociais

que vão, desde a leitura para informação, para contato social, até a leitura para

entretenimento. Nesse sentido, Orlandi (1988) nos aponta, entre outros, alguns

requisitos para que tomemos a leitura numa perspectiva discursiva: a possibilidade do

processo de construção de leitura ser trabalhado em salas de aula/ em salas de leitura; a

idéia de que tanto a leitura quanto a escrita instauram sentidos; a idéia de que o sujeito-

leitor tem suas especificidades e sua história; o fato de que há múltiplos e variados

modos de leitura; a idéia de que tanto o sujeito quanto os sentidos são determinados

histórica e ideologicamente.

Solé (1998) acrescenta que o processo de construção de leitura requer uma

atividade mental muito intensa. Assim, a leitura precisa ser vista como um processo

abrangente de compreensão de expressões formais e simbólicas, manifestada por meio

de quaisquer formas de linguagem (verbal e não-verbal) e decorrente de múltiplos

fatores.

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230

Em situações de produção de texto escrito, torna-se necessário que o professor

alfabetizador planeje atividades envolvendo vários gêneros textuais, para que o aluno

pense sobre a escrita, demonstre o que ele já sabe sobre esse código, enfim, para que

ele aprenda a escrever, escrevendo textos funcionais.

Entre as orientações lingüístico-pedagógicas sugeridas pelos PCNs (2001) e

PCNs em Ação- Alfabetização (2002), destaca-se a de reescritura textual (CALKINS,

1989), o fazer o aluno pensar sobre o seu próprio texto. No entanto, a idéia de que

reescrever um texto é “passar a limpo”, é higienizar a escrita, anda de mãos dadas com

a idéia do “já fiz, tá pronto”. Em outras palavras, o ato de escrever, de produzir textos

que, por si só já é, inevitavelmente, escolarizado, muitas vezes é realizado apenas para

o/a professor(a) ler e colocar uma nota. Esboçar, rascunhar, revisar e reescrever um

texto são atitudes resultantes de uma visão processual de escrita. Isto quer dizer que a

escrita deriva de um conjunto de operações interligadas e não de uma ação isolada ou

como produto acabado, fruto de uma mente privilegiada.

Considerando essas informações, a abordagem teórico-metodológica que

deve ser adotada na alfabetização de jovens e adultos, é a que considera os estudos

discursivos da Língua Portuguesa, pautados na Lingüística de Texto, na Análise do

Discurso; a que coloca em destaque o texto oral, o nível textual-interativo da língua,

detendo-se nos aspectos ligados aos processos enunciativos; a que busca entender

de que forma ocorre o processamento de leitura (as estratégias que os(as) alunos(as)

utilizam), e, como conseqüência, o processamento de escrita. Dessa forma, a concepção

de língua como interação e a concepção de aprendizagem lingüística como resultado

de uma construção coletiva de conhecimentos assumem fundamental importância em

situações de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, estando diretamente ligadas

aos aspectos relacionados ao ensino da leitura e da escrita.

No caso específico da EJA, determinadas escolhas metodológicas do(a) professor(a)

podem encaminhar para um ensino de Língua Portuguesa compartimentado. Portanto,

o que se deve buscar, nessa modalidade de ensino, é um processo de aprendizagem que

conjugue tanto aspectos objetivos do processo de alfabetização, quanto o conhecimento

de mundo advindo de um letramento social.

Pode-se observar, seguindo esta direção, que o foco das atenções para um

processo de alfabetização de jovens e adultos é a interação lingüística. Obviamente,

este é um dos meios pelo qual o ser humano, através de um instrumento denominado

de “língua”, adquire o conhecimento e valores de sua sociedade, realiza atos sociais

de comunicação, faz uso, portanto, de determinados gêneros textuais. Nesse sentido,

o texto é compreendido como um conjunto de marcas, de pistas, que funcionam como

instruções para o restabelecimento dos efeitos de sentido da interação social e para

o domínio e a compreensão dos modos de realização da linguagem. Tais realizações

são concretizadas em modelos sociais de textos (gêneros textuais), que vão sendo

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modificados e ampliados à medida que a sociedade se desenvolve e fica mais complexa.

(BAKHTIN, 1992).

A partir dessas reflexões acerca do processo de alfabetização na EJA,

ressaltamos a idéia de que a construção de uma educação básica para jovens e adultos

depende da oferta de um ensino de qualidade, protagonizado por professores capazes

de incorporar, à sua prática pedagógica, avanços das pesquisas nas diferentes áreas

de conhecimento. Depende de eles estarem atentos às dinâmicas sociais e às suas

implicações no âmbito escolar. Depende, também, da definição clara do papel da

Educação de Jovens e Adultos na sociedade brasileira e de que modo os objetivos

propostos em suas Diretrizes Curriculares, para essa modalidade de ensino, podem ser

alcançados.

Para que haja uma sintonia entre as necessidades lingüísticas dos educandos e

os objetivos pedagógicos da EJA, o professor precisa partir do conhecimento prévio dos

alunos, de suas necessidades sócio-culturais, buscando reorganizar esse conhecimento,

dando sentido às atividades da sala de aula. Tal sintonia não pode ser alcançada se o(a)

professor(a) não se tornar um leitor, um pesquisador. Nesse sentido, o processo de

alfabetização passa a ser conseqüência de uma reflexão “que o homem começa a fazer

sobre sua própria capacidade de refletir. Sobre sua posição no mundo. Sobre o mundo

mesmo. Sobre o seu trabalho. Sobre seu poder de transformar o mundo.”(FREIRE,

1975, p.117)

PARA ESTABELECER RELAÇÕES COM OUTROS TEXTOS, LEIA: ESCARIÃO, Glória das N. Dutra. Educação escolar e trabalho: um estudo sobre o significado da educação escolar e trabalho a partir das representações sociais dos estudantes-trabalhadores. João Pessoa, 1996. Dissertação (Mestrado) – UFPB.

ATENÇÃO! Apresentamos, a seguir, uma proposta de projeto didático que pode ser adaptada, enfocando outras temáticas. Tem, como principal objetivo, desenvolver atividades variadas, adequadas a cada nível do processo de alfabetização, em que alunos(as) de uma turma de EJA se encontram. Leia cada etapa que foi sugerida, analise-a e selecione, para posterior discussão, as que você considera que sejam difíceis de serem colocadas em prática em uma sala de aula.

PROPOSTA DE PROJETO DIDÁTICO

1 – TEMÁTICA: HISTÓRIA DA ESCOLA ONDE ESTUDAM, OU DA

COMUNIDADE, DO BAIRRO, DA CIDADE ONDE MORAM etc.

ATENÇÃO! Apresentamos, a seguir, uma proposta de projeto didático que pode ser adaptada, enfocando outras temáticas. Tem, como principal objetivo, desenvolver atividades variadas, adequadas a cada nível do processo de alfabetização, em que alunos(as) de uma turma de EJA se encontram. Leia cada etapa que foi sugerida, analise-a e selecione, para posterior discussão, as que você considera que sejam difíceis de serem colocadas em prática em uma sala de aula.

PARA ESTABELECER RELAÇÕES COM OUTROS TEXTOS, LEIA: ESCARIÃO, Glória das N. Dutra. Educação escolar e trabalho: um estudo sobre o significado da educação escolar e trabalho a partir das representações sociais dos estudantes-trabalhadores. João Pessoa, 1996. Dissertação (Mestrado) – UFPB.

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2. – O QUE SE ESPERA QUE OS(AS) ALUNOS(AS) APRENDAM

ler textos de diferentes gêneros; •

produzir textos em diferentes gêneros;•

conhecer melhor e valorizar a história de sua escola / comunidade escolar, •

de sua comunidade, de seu bairro, da sua cidade, e, conseqüentemente, a sua

história;

valorizar o trabalho em grupo;•

ter interesse em pesquisar novos assuntos, utilizando diferentes fontes; •

estabelecer relações entre trabalho e comunidade•

(ver a possibilidade de abordar temas derivados).

3 – PAPEL DO PROFESSOR NO DECORRER DO PROJETO

Selecionar, com antecedência, materiais sobre o assunto;•

Levar, para a sala de aula, o material que será utilizado pelos alunos;•

Incentivar os alunos a buscar outros materiais, como fonte de pesquisa;•

Propor questões que façam os alunos pensarem sobre as atividades a serem •

desenvolvidas;

Valorizar as idéias individuais e coletivas, possibilitando que elas sejam •

colocadas em prática;

Discutir com os alunos as atividades que vão ser desenvolvidas;•

Realizar, a partir das sugestões dos alunos, os ajustes das tarefas.•

Planejar atividades de escrita diferenciadas para os alunos, respeitando os •

níveis em que eles se encontram;

Organizar agrupamentos produtivos;•

Garantir que o produto final circule, pelo menos, no ambiente escolar.•

4 – ETAPAS PREVISTAS

Iniciar uma conversa acerca da temática enfocada, explicando e justificando o •

porquê da escolha.

Fazer um levantamento do que os(as) alunos(as) já sabem sobre a temática;•

Possibilitar a troca de conhecimentos entre os alunos, considerando a temática •

escolhida;

Selecionar as fontes de pesquisa;•

Coletar informações sobre o assunto, por meio de entrevistas com moradores, •

visitas a lugares, consultas em bibliotecas, Internet etc;

Convidar para ir à sala de aula, pessoas autorizadas a falar sobre a temática;•

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Planejar uma atividade de visita extra-classe;•

Selecionar e organizar, dentre o material produzido e pesquisado, aqueles que •

farão parte da amostra;

Sistematizar os conteúdos apreendidos durante a realização do projeto•

8 – OBJETIVO COMPARTILHADO COM OS ALUNOS (PRODUTO FINAL):

Apresentar uma amostra sobre a cidade/bairro, por meio de:•

- Textos escritos de diferentes gêneros, considerando, para tanto, as leituras realizadas,

e o processo de reescritura textual;

- Gravação (em áudio ou vídeo) de histórias sobre a cidade, se for o caso, contadas por

moradores antigos;

- Confecção de maquetes, ou álbuns, ou livros de histórias, que garantam a sistematização

do conhecimento apreendido;

- Produção de painel com fotos antigas e atuais (da cidade, de moradores, das escolas

etc);

- Divulgação dos resultados alcançados.

ATENÇÃO!

PROJETOS: Nesse contexto, são situações lingüisticamente significativas “em que linguagem oral, linguagem escrita, leitura e produção de textos se interrelacionam de forma contextualizada, pois quase sempre envolvem tarefas que articulam esses diferentes conteúdos.” “ A característica básica de um projeto é que ele tem um objetivo compartilhado por todos os envolvidos, que se expressa num produto final em função do qual todos trabalham.” ( PCNs, 2001, p. 62)

SEQÜÊNCIAS DIDÁTICAS: Conjunto de aulas planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem que, necessariamente, tenha um produto final. Sua duração pode variar de dias a semanas e várias seqüências podem ser trabalhadas durante o ano, de acordo com o planejado ou com as necessidades da classe. A seqüência didática apresenta desafios cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br

ATENÇÃO!

PROJETOS: Nesse contexto, são situações lingüisticamente significativas “em que linguagem oral, linguagem escrita, leitura e produção de textos se interrelacionam de forma contextualizada, pois quase sempre envolvem tarefas que articulam esses diferentes conteúdos.” “ A característica básica de um projeto é que ele tem um objetivo compartilhado por todos os envolvidos, que se expressa num produto final em função do qual todos trabalham.” ( PCNs, 2001, p. 62)

SEQÜÊNCIAS DIDÁTICAS: Conjunto de aulas planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem que, necessariamente, tenha um produto final. Sua duração pode variar de dias a semanas e várias seqüências podem ser trabalhadas durante o ano, de acordo com o planejado ou com as necessidades da classe. A seqüência didática apresenta desafios cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br

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AGORA É SUA VEZ:

A partir da leitura do texto “Siglas” de Luís Fernando Verissimo, planeje uma seqüência didática para alunos com diferentes hipóteses de leitura, considerando:

O processo de leitura oral, desenvolvido pelo(a) professor(a), levando em 1. conta as estratégias de leitura dos alunos.Os diversos sentidos do texto, a partir das pistas que são identificadas.2. O uso das letras (grafemas) que compõem as siglas.3.

SIGLAS

— Bota aí: P — “p”?— De “Partido”.— Ah.— Nossa proposta qual é? De união, certo? Acho que a palavra

“União” deve constar no nome. — Certo. Partido de União... — Mobilizadora! — Boa! Dá a idéia de ação, de congraçamento dinâmico. Partido da União Mobilizadora. Como é que fica a sigla? — PUM — Não sei não... — É. Vamos tentar outro. Deixa ver. “P”... — “P” é tranqüilo. — Acho que “Social” tem que constar. — Claro. Partido Social... — Trabalhista? — Fica PST. Não dá. — É. Iam acabar nos chamando de “ Ei, você”. — É mesmo “trabalhista”, não sei. Alguém aqui é trabalhista? — Isso é o de menos. Vamos ver. “P ”... — É. O “P” atrapalha. Bota” A”, de Aliança. Aliança Inovadora... — AI. — Que foi? — Não. A sigla. Fica AI.

[...]— Vanguarda Conservadora?— Você enlouqueceu? Fica VC.— Aliança Republicana de Renovação do Estado.— ARRE! — O quê?— Calma. [...]— Partido Republicano Unido.

AGORA É SUA VEZ:

A partir da leitura do texto “Siglas” de Luís Fernando Verissimo, planeje uma seqüência didática para alunos com diferentes hipóteses de leitura, considerando:

O processo de leitura oral, desenvolvido pelo(a) professor(a), levando em 1.conta as estratégias de leitura dos alunos.Os diversos sentidos do texto, a partir das pistas que são identificadas.2.O uso das letras (grafemas) que compõem as siglas.3.

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— PERU?— Movimento Institucionalista Alerta e Unido.— MIAU?— Que tal KIM?— O que significa?— Nada, eu só acho bonito.— MUMU... Movimento Ufanista Mobilização e União.— MMM... Movimento Moderador Monarquista.— Mas nós somos republicanos.— Eu sei. Mas por uma boa sigla a gente muda.— TCHAU.— Hum, boa. Trabalho e Capital em Harmonia com Amor e União?— Não, é tchau mesmo.— Aonde é que você vai?— Abrir uma dissidência.

VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva,

2001.

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UNIDADE IV

PROCESSO DE ENUNCIAÇÃO X PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO NA EJA

Discutir o processo de alfabetização de jovens e adultos significa discutir os

sujeitos desse processo e, evidentemente, significa discutir suas linguagens, o que

pode nos proporcionar caminhar nas ruas dos diversos diálogos que circundam a nossa

existência. Agir assim significa assumir a língua como um processo interacional,

dialógico.

Nos estudos da Análise do Discurso, a noção de sujeito pode ser compreendida

como um lugar que cada indivíduo deve e pode ocupar em um processo de enunciação

para se constituir sujeito do que ele diz, tanto por meio de textos orais, quanto por meio

de textos escritos. Nesse sentido, uma análise de produtos textuais verbais, ou seja, de

produtos enunciativos de alunos(as) da EJA, inevitavelmente, é uma análise de marcas

enunciativas que veiculam determinados sentidos e não só uma análise do próprio

sujeito.

Considerada como uma produção dialógica, a noção de sujeito apresenta-se

ligada à noção de enunciado/enunciação e, por essa razão, é necessário buscar, nos

enunciados, como ponto de partida para uma análise lingüística, as possíveis e diversas

relações da língua, assumidas por um determinado sujeito. De acordo com Foucault

(1986), para que haja enunciado, torna-se necessário reconhecer a existência de um

campo associativo, no qual podem ser identificadas determinadas marcas. Ou seja,

faz-se necessário buscar as marcas dos sentidos das produções verbais deixadas nos

enunciados lingüísticos.

Seguindo essa direção, essa unidade volta-se para algumas questões lingüísticas

de extrema importância no processo de avaliação/leitura de textos produzidos por jovens

e adultos da EJA: o que é mais relevante nesse processo? É avaliar a competência de

escrita desses alunos centrada na correção gramatical ou a competência para produzir

textos escritos voltada para a adequação dos textos ao gênero textual solicitado, para a

criatividade, para as marcas de autoria? É avaliar a competência leitora desses alunos,

a capacidade de compreender textos escritos? Claro que a resposta seria tudo isso

junto, ou seja, os sujeitos dessa modalidade de ensino devem demonstrar que detêm

essas competências, no entanto, sabe-se, por meio de estudos acerca do processo de

produção de textos em situações de avaliação institucional (vestibulares, ENEM etc.)

que a maior dificuldade dos alunos, de uma maneira geral, está centrada, em primeiro

lugar, na compreensão daquilo que lhe é solicitado a escrever, em outras palavras, está

UNIDADE IV

PROCESSO DE ENUNCIAÇÃO X PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO NA EJA

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238

centrada no processo de construção de leitura.

Tal afirmação requer uma reformulação/ampliação dos conceitos de leitura e

de texto, a partir de uma perspectiva teórica que contemple a leitura como processo

de construção de sentidos, decorrente da relação entre sujeitos (autor X leitor).

Nessa perspectiva, a leitura e o sentido podem dar lugar às diversas leituras e aos

diversos sentidos possíveis, fazendo com que o texto perca a tão sonhada unicidade

e homogeneidade, tão absurdamente “concretizada” em questões de interpretação de

textos que integram alguns livros didáticos. Em todos esses processos, portanto, não

se pode esquecer da forma, das unidades lingüísticas — fonemas, grafemas, palavras

/ enunciados — que constituem o texto, o que faz com que essa relação passe a ser

estabelecida entre autor X texto X leitor.

Bakhtin (1992) inclui as formas lingüísticas como parte do enunciado, deixando

emergir a idéia de inseparabilidade entre forma e sentido no estudo da linguagem,

considerando, em processos de interlocução oral ou escrita, os diversos sentidos que

podem resultar desses processos Nesse sentido, sobre a relação do aspecto formal da

língua e seu uso, esse autor deixa que percebamos a idéia de que um estudo lingüístico

comporta duas dimensões em estreita correlação: o sentido dado pela estrutura e o

sentido dado pela enunciação no qual a matéria lingüística adquire significação em

um processo intersubjetivo. Nessa perspectiva teórica, o discurso é, então, o fenômeno

lingüístico de implicações múltiplas sobre o qual as ideologias, a história e os sujeitos

se manifestam e se representam numa forma de língua.

Para Bakhtin (1992), a linguagem não é um sistema abstrato. É, sim, uma

criação coletiva, visto que parte de um diálogo entre o eu e o outro, entre os muitos

eus e os muitos outros. Nesses processos enunciativos, cada língua é um conjunto de

linguagens e cada sujeito falante/escritor abre-se para a multiplicidade de linguagens.

Considerando essa linha teórica, o discurso é, então, o fenômeno lingüístico de

implicações múltiplas sobre o qual as ideologias, a história e os sujeitos se manifestam e se

representam numa forma de língua cuja realização está centrada, imprescindivelmente,

em um processo de interação verbal. Assim, enfocar as produções textuais verbais em

uma perspectiva discursiva significa concebê-las como produções sociais e históricas,

que interagem e que se transformam com a mudança da sociedade e dos homens.

Ainda segundo Bakhtin (1992), a enunciação é o produto da interação de

dois indivíduos socialmente organizados. Ou seja, a enunciação é o conjunto de

manifestações verbais e não-verbais, diz respeito a processos enunciativos, que cercam

o ato comunicativo, garantindo a expressão de sentido.

Em termos de estudos acerca dos processos enunciativos, destacam-se, também, os

trabalhos de Authier-Revuz (1984), para quem o discurso é sempre “habitado” pelo

discurso do “outro”, ou seja, todo discurso é constitutivo. Assim, neste campo da

enunciação, os dois campos “interagem de maneira solidária”.

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239

Uma das respostas que podem ser levantadas, para essa questão, pode ser

encontrada não só em estudos relativos à Análise do Discurso, propriamente dita (AD

francesa), mas também em estudos discursivos interacionistas, aplicados ao processo de

produção de textos orais e escritos, quando estes delineiam a noção de gênero textual,

a relação discurso/interdiscurso e o processo de enunciação. Tais estudos, bastante

produtivos, lamentavelmente, ainda não alteraram o contexto de ensino de língua

Portuguesa em nosso país, embora, nestes últimos anos, esse ensino tenha seguido

uma proposta metodológica sociointeracionista, dialética, que toma como ponto de

partida o texto, considerado uma estruturação discursiva e analisado com base em uma

concepção dialógica de linguagem, ou seja, com base em uma concepção de linguagem

como forma de interação social, a partir das marcas enunciativas.

Colocar em prática as orientações apresentadas nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs, 2001), para viabilizar o processo de leitura de vários gêneros textuais,

pode representar, para todos os envolvidos nesse processo, práticas de transposição de

conteúdos e de vivências de metodologias diversificadas que considerem os sujeitos

como atores/construtores sociais que interagem, que enunciam. Nesse sentido, o texto

passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores passam a

ser considerados sujeitos ativos. Compreendido dessa forma, o processo de leitura/

compreensão não é uma simples apreensão de uma representação mental ou uma

decodificação de mensagem, mas uma atividade interativa de produção de sentidos,

realizada com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na

sua forma de organização, mas que requer a arregimentação de um vasto conjunto de

saberes e a reconstrução destes no interior do acontecimento comunicativo.

Tal constatação permitiu-nos observar que uma questão importante para o

ensino da leitura no processo de alfabetização de jovens e adultos é a relação que pode

ser estabelecida entre esse processo e o processo de produção de textos, visto que a

maneira como o professor concebe a natureza do ato de ler determina a maneira como

esse(a) profissional organiza o trabalho com o ensino de língua portuguesa escrita, em

sala de aula. Ao ser estabelecida essa relação entre o processo de construção de leitura

e o processo de construção de texto, não podemos deixar de esquecer que a leitura,

assim como a escrita, caracteriza-se, na escola, por sucessivos avanços e recuos, isto

é, os alunos dão sinais que compreendem determinadas informações e, em seguida,

demonstram estarem no estágio anterior. Assim, para que avanços reais se concretizem

em situações de leitura e de produções textuais de nossos alunos, um trabalho

contemplando os processos de leitura e de produção de textos e um efetivo processo

de reescritura textual, associados à noção de linguagem como inter-ação (KOCH e

FÁVERO, 1993), devem ser assimilados pelo professor, a fim de que este perceba

que não basta ensinar, é preciso inter–agir com os alunos, isto é, compartilhar, na e

através da linguagem, com o uso de textos diversificados, com o uso de informações,

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240

conceitos e valores.

AGORA É SUA VEZ:

Leia a tira de Walter Krostner, com seus personagens Pepê & Jotabê .

Revista Cidade Nova, exemplar 495-Ano XLIX- nº 7- julho de 2007.

Considerando a adequação do texto para a EJA, a relação estabelecida

entre os elementos verbais e os não-verbais, bem como a temática abordada

nesse gênero textual, apresente uma proposta de atividade de leitura e de

produção de textos orais e escritos, para alunos jovens e adultos, em processo

de alfabetização.

AGORA É SUA VEZ:

Leia a tira de Walter Krostner, com seus personagens Pepê & Jotabê .

Revista Cidade Nova, exemplar 495-Ano XLIX- nº 7- julho de 2007.

Considerando a adequação do texto para a EJA, a relação estabelecida

entre os elementos verbais e os não-verbais, bem como a temática abordada

nesse gênero textual, apresente uma proposta de atividade de leitura e de

produção de textos orais e escritos, para alunos jovens e adultos, em processo

de alfabetização.

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UNIDADE V

ALFABETIZAÇÃO NA EJA: PERSPECTIVAS

LINGÜÍSTICO-PEDAGÓGICAS

O enfoque que foi adotado, nestas discussões, para o processo de alfabetização

de jovens e adultos, encaminha-nos, necessariamente, para uma abordagem dialógica

desse processo, na qual, a leitura de textos produzidos por alunos(as) dessa modalidade

de ensino deve considerar tanto o contexto sócio-cultural, os sujeitos envolvidos,

quanto a sistematização dos conteúdos da alfabetização a serem trabalhados.*

Para dar início a esse processo de construção de conhecimento, faz-se necessária

não só a identificação dos enunciados cujos sentidos estejam explícitos nos textos

dos(as) alunos(as), mas também os sentidos que podem ser inferidos, ou seja, os que

resultam de um processo dialógico que se instaura entre o leitor do texto — no caso,

o(a) professor(a) — e o produtor(a) do texto — no caso, o(a) aluno(a). Seguindo tais

direcionamentos, podemos considerar que, para um(a) alfabetizador(a), vivenciar com

êxito, um processo de alfabetização de jovens e adultos, precisa, a partir da análise

das marcas enunciativas e dos sentidos enunciativos de um texto/discurso, encarar

a linguagem como processo de interação cuja principal função é agir sobre o outro;

precisa compreender de que forma esses enunciados são lidos, são construídos. Nesse

contexto, a leitura e a escrita de textos de alunos(as) da EJA devem ser considerados

como processos em que não só se constroem significados, mas também como algo

que reproduz enunciados presentes na proposta de produção textual, cujos sentidos

não devem ser “perdidos” pelo(a) professor(a), quando este(a) assume o papel de

avaliador(a).

Além desse conhecimento lingüístico, o(a) professor(a) alfabetizador(a) deve

conhecer as especificidades do aluno jovem/adulto, as práticas pedagógicas bem

sucedidas, o que implica conhecer e discutir os novos rumos da Educação de Jovens

e Adultos no Brasil. Conforme orientação de César Coll (2006), uma redefinição do

currículo do Ensino Fundamental (neste, seguindo a legislação, incluímos a EJA)

deverá levar em conta a busca pelo equilíbrio, “[...] ao considerar as exigências

educacionais e de formação que provêm das reivindicações sociais - e, em particular,

do mundo do trabalho-, aquelas que provêm do processo de desenvolvimento pessoal

dos alunos e as que provêm do projeto social e cultural- tipo de sociedade e de pessoa

que se deseja promover.”

Feitas tais considerações, podemos afirmar que as perspectivas lingüístico-

pedagógicas para o processo de alfabetização/letramento na Educação de Jovens

UNIDADE V

ALFABETIZAÇÃO NA EJA: PERSPECTIVAS

LINGÜÍSTICO-PEDAGÓGICAS

(*) Sobre a dis-cussão acerca dos conteúdos que de-vem ser trabalha-dos no processo de alfabetização, leiam o texto de ARAÚJO, Mair-ce da Silva “ Al-fabetização tem conteúdo? In: GARCIA, Re-gina Leite(org.). A formação da professora al-fabe t i zadora: reflexões sobre a

prática: São Pau-lo: Cortez Editora, 1996, p.83-124

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e Adultos devem percorrer um caminho que leve os(as) alfabetizadores(as),

constantemente, às discussões das diversas práticas pedagógicas, à construção do

conhecimento urgente e necessário acerca dessa modalidade de ensino. Para alfabetizar/

letrar alunos jovens e adultos, é necessário conhecer esse aluno, o contexto onde ele

está inserido, as condições de ensino e como esses processos de leitura e de escrita

podem ser construídos.

AGORA É SUA VEZ: Considerando as informações apresentadas para a disciplina “Alfabetização de jovens e adultos”, teça considerações críticas acerca do processo de alfabetização nessa modalidade de ensino, contemplando, em seu texto, as seguintes idéias de Cool (2006).Os (As) educadores(as) devem

“ tomar como ponto de partida as “novas” e as “velhas” alfabetizações ( letrada, numérica, científica, tecnológica, informacional, artística, audiovisual, etc.) e sua descrição em termos de competências-chave e de saberes essenciais associados a elas, como guia e orientação para o estabelecimento dos principais âmbitos de aprendizagem e a tomada de decisões curriculares no ensino fundamental;” “Para adquirir ou desenvolver uma capacidade ou competência, é preciso apropriar-se de uma série de saberes e, além disso, aprender a mobilizá-los e aplicá-los;”

AGORA É SUA VEZ: Considerando as informações apresentadas para a disciplina “Alfabetização de jovens e adultos”, teça considerações críticas acerca do processo de alfabetização nessa modalidade de ensino, contemplando, em seu texto, as seguintes idéias de Cool (2006).Os (As) educadores(as) devem

“ tomar como ponto de partida as “novas” e as “velhas” alfabetizações ( letrada, numérica, científica, tecnológica, informacional, artística, audiovisual, etc.) e sua descrição em termos de competências-chave e de saberes essenciais associados a elas, como guia e orientação para o estabelecimento dos principais âmbitos de aprendizagem e a tomada de decisões curriculares no ensino fundamental;” “Para adquirir ou desenvolver uma capacidade ou competência, é preciso apropriar-se de uma série de saberes e, além disso, aprender a mobilizá-los e aplicá-los;”

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