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AMBIENTES COSTEIROSCONTAMINADOS POR LEOP R O C E D I M E N T O S D E L I M P E Z A

MANUAL DE ORIENTAO

Governo do Estado de So Paulo Cludio Lembo - Governador Secretaria do Meio Ambiente Jos Goldemberg - Secretrio Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB Otavio Okano - Presidente

CETESB COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTALConselho de Administrao Jos Goldemberg Joo Carlos Baslio da Silva Antnio M. de Aguirra Massola Otavio Okano Carlos Pedro Jens Juan Manuel Villarnobo Filho Paulo Nogueira-Neto Rui Brasil Assis Sidney Nassif Abdalla Diretoria Otavio Okano Alar Lineu Ferreira Joo Antnio Fuzaro Lineu Jos Bassoi

Presidente Vice-Presidente

Diretor Presidente Diretor de Gesto Corporativa Diretor de Controle de Poluio Ambiental Diretor de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (CETESB Biblioteca, SP, Brasil) L851a Lopes, Carlos Ferreira Ambientes costeiros contaminados por leo : procedimentos de limpeza manual de orientao / Carlos Ferreira Lopes, Joo Carlos Carvalho Milanelli, Iris Regina Fernandes Poffo. - - So Paulo : Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2006 120 p. : fotos color. ; 30 cm Publicado simultaneamente em CD ROM ISBN 1. gua Poluio 2. Apicuns 3. Arenito Recifes 4. Concrees laterticas 5. Coral Recifes 6. Dunas 7. Manguezais 8. Mar Plancie 9. Marismas10. Meio ambiente Litoral 11. leo derrames 12. Resduos oleosos Limpeza 13. Restingas I. Milanelli, Joo Carlos Carvalho. II. Poffo, Iris Regina Fernandes. III.Ttulo.

CDD (21.ed. Esp.) 665.538 9 146

CDU (ed. 99 port.) 628.515 (210.5) (035)

Margot Terada CRB 8.4422

Impressos 1000 exemplares na primavera de 2006CETESB COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL Av. Prof. Frederico Hermann Jr., 345 So Paulo SP 05459 900 Telefone: 11 3133 3000 www.cetesb.sp.gov.br

Limpeza de ambientes costeiros contaminados por leoEmbora as estatsticas demonstrem queda no nmero de acidentes que envolvem derramamentos de leo no mar, eles continuam a ocorrer, e ameaam, na maioria das vezes, a qualidade ambiental de ecossistemas costeiros como praias, costes rochosos e manguezais, entre outros. Em acidentes com esse nvel de comprometimento necessrio estabelecer e empregar procedimentos de limpeza. Entretanto, dependendo das aes aplicadas, o impacto geral da ocorrncia pode ampliar-se. Vrias estratgias de limpeza so mais prejudiciais que a prpria ao do leo. Por isso mesmo, a escolha dos procedimentos fundamental para minimizar os impactos e acelerar os processos de recuperao dos ambientes contaminados. Esta publicao rene importantes subsdios para orientar a escolha dos procedimentos de limpeza mais pertinentes do ponto de vista ambiental para os principais ecossistemas marinhos e costeiros do pas. Servir, igualmente, a gestores de meio ambiente, da indstria e de rgos pblicos, a entidades do setor privado responsveis pela elaborao de planos de emergncia (indstria e consultorias), a integrantes do SISNAMA nos mbitos federal, estadual e municipal, a empresas de atendimento a emergncias, ao poder pblico em geral (defesa civil, corpo de bombeiros), e s universidades. Como contm a descrio dos principais ambientes costeiros do Brasil, com uma verso tambm em CD-ROM, espera-se que possa ser de ampla utilizao pelas instituies interessadas. Fruto de pesquisas e da prpria experincia da CETESB em atendimentos emergenciais, esta publicao pretende ampliar a literatura tcnica nacional nesse campo.Otavio Okano Diretor-Presidente

AMBIENTES COSTEIROS CONTAMINADOS POR LEO PROCEDIMENTOS DE LIMPEZA - MANUAL DE ORIENTAO Diretor de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental Lineu Jos Bassoi Departamento de Desenvolvimento, Tecnologia e Riscos Ambientais Angela de Campos Machado Diviso de Gerenciamento de Riscos Edson Haddad Setor de Operaes de Emergncia Jorge Luiz Nobre Gouveia

Autores Carlos Ferreira Lopes Joo Carlos Carvalho Milanelli Iris Regina Fernandes Poffo Coordenao Tcnica Carlos Ferreira Lopes Colaborao Dbora Orgler de Moura Edson Haddad Elvira Lidia Straus Jorge Luiz Nobre Gouveia Valria Aparecida Prsperi Superviso Editorial Centro de Editorao da Secretaria do Meio Ambiente Vera Severo Edio de Texto Wanda E.S. Barbosa Reviso das Citaes Bibliogrficas Margot Terada Projeto Grfico Rodney Schunk - Leonardo Arruda ImpressoGrfica Origami Fotos Ana Cristina Benavente . Banco de Imagens da CETESB . Carlos Ferreira Lopes . Carolina Rodrigues Bio Poletto . Daniel Siveira . Dbora Oliveira de Souza e Silva . Ecosorb Tecnologia Ambiental . Iris Regina Fernandes Poffo . Joo Carlos Carvalho Milanelli . Luiz Carlos Bolina . Mariele Borro Mucciatto . Rosimere da Silva Agradecimentos Agnaldo Ribeiro de Vasconcellos . Alcides Fontoura Pieri . Anderson Pioli . Angela Maria Iacovone . Antnio Carlos Bezerra . Claudia Cond Lamparelli . Ednaldo do Prado . Fabola de Oliveira Rodrigues . Guiomar Johnscher-Fornasaro . Hlvio Aventurato . Jacqueline Albino . Larcio Francisco Parmagnani . Lourdes Tereza Scartozzoni . Marcos Tadeu Seriacopi . Marco Antnio Jos Lainha . Mauro de Souza Teixeira . Ministrio do Meio Ambiente . Ricardo Rodrigues Serpa . Ronaldo de Oliveira Silva . Srgio Greif .

SUMRIOCAPTULO 1 - Derrames de leo e ecossistemas costeiros CAPTULO 2 - Caractersticas do leo e aes de resposta COMPOSIO DO PETRLEO CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICAS DO LEO INTEMPERISMO Espalhamento Evaporao Dissoluo Disperso natural Emulsificao Oxidao ou foto-oxidao Sedimentao Biodegradao Intemperismo e aes de combate CARACTERIZAO DO LEO DERRAMADO, ANLISES LABORATORIAIS E ASPECTOS AMBIENTAIS Anlises fsicas, qumicas e toxicolgicas Testes de toxicidade CAPTULO 3 - Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo AVALIAO DOS PRINCIPAIS MTODOS DE LIMPEZA Remoo mecnica Absorventes Enterramento/revolvimento do sedimento Jateamento com gua alta e baixa presso Jateamento com areia Jateamento com vapor Remoo manual Limpeza natural Corte da vegetao Biorremediao CAPTULO 4 - guas abertas, costeiras e ocenicas CARACTERSTICAS DO AMBIENTE guas costeiras guas ocenicas SENSIBILIDADE AO LEO Sensibilidade do plncton Sensibilidade de peixes Sensibilidade de rpteis marinhos (tartarugas) Sensibilidade de aves marinhas Sensibilidade de mamferos marinhos MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Barreiras e recolhedores (conteno e remoo) Bombeamento a vcuo Absorventes Absorventes granulados Barreiras absorventes Pompons Dispersantes qumicos Limpeza natural CAPTULO 5 - Praias CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO Praias de areia grossa Praias de areia fina 11 13 13 13 15 15 15 15 15 15 16 16 16 18 18 18 19 21 22 22 23 24 25 26 26 26 27 28 29 31 31 31 31 31 32 32 32 33 33 33 34 35 36 36 36 36 37 38 39 39 43 46 47

Praias de cascalho e sedimentos bioclsticos MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS CAPTULO 6 - Plancies de mar CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS CAPTULO 7 - Costes rochosos CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO Costes abrigados Costes expostos MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Jateamento a baixa presso Lavagem com gua corrente Bombeamento a vcuo Remoo manual Absorventes Limpeza natural CAPTULO 8 - Substratos artificiais CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Jateamento a baixa e alta presso Absorventes Remoo manual Bombeamento a vcuo Limpeza natural CAPTULO 9 -Recifes de coral CARACTERIZAO DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Bombeamento a vcuo e skimmers Absorventes Remoo manual Lavagem com gua corrente Limpeza natural Dispersantes Queima in situ CAPTULO 10 - Recifes de arenito/arenito de praia CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Remoo manual Bombeamento a vcuo Absorventes Limpeza natural CAPTULO 11 - Concrees laterticas CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Bombeamento a vcuo Remoo manual

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Absorventes Limpeza natural CAPTULO 12 - Marismas CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Jateamento Barreiras e recolhedores (conteno e remoo) Absorventes Bombeamento a vcuo Dispersantes qumicos Corte da vegetao Limpeza natural CAPTULO 13 - Manguezais CARACTERSTICAS DO AMBIENTE SENSIBILIDADE AO LEO MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOS Absorventes Bombeamento a vcuo Dispersantes Biorremediao Limpeza natural Captulo 14 - Impactos secundrios das atividades de limpeza em apicuns, dunas e restingas CARACTERISTICAS DOS AMBIENTES Apicuns Dunas Restingas IMPACTOS DAS AES DE LIMPEZA CAPTULO 15 - Gerenciamento de resduos oleosos em operaes de emergncia TIPOS DE RESDUOS GERADOS FATORES QUE INFLUENCIAM O VOLUME DE RESDUOS GERADOS CARACTERIZAO DOS RESDUOS Resduo perigoso (Classe I) Resduo no-perigoso (Classe II) GERENCIAMENTO DE RESDUOS NAS OPERAES DE COMBATE Planejamento Triagem e embalagem Identificao e pesagem Armazenamento Transporte Roteiro bsico para o gerenciamento de resduos TRATAMENTO E DESTINAO DE RESDUOS OLEOSOS Rerrefino para resduos lquidos oleosos Aterros Incinerao Dessoro trmica Landfarming Biopilha Lavagem da areia contaminada Solidificao Co-processamento REFERNCIAS

79 79 81 81 82 83 83 83 84 84 85 85 85 87 87 91 93 94 94 95 95 95 97 97 97 97 99 99 101 102 102 103 103 103 103 104 105 106 107 108 109 110 110 111 111 112 112 112 112 113 113 115

Derrames de leo e ecossistemas costeiros

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stima-se que 6,1 milhes de toneladas de leo atingiram os oceanos em 1973. J em 1981 as estatsticas indicavam uma diminuio substancial: 3,2 milhes de toneladas (GESAMP, 1993). Informaes mais atualizadas revelam que a quantidade de petrleo vazada no ambiente marinho continua a decrescer. A mdia de leo lanada nos oceanos na dcada de 90 foi de 606.860 toneladas (LENTZ; FELLEMAN, 2005). Essa queda drstica associa-se a vrios fatores. Sem dvida, a preveno de acidentes nos diversos segmentos da indstria petrolfera produo/explorao, transporte, transferncia, armazenamento e processo foi o que mais contribuiu para esse resultado. A ttulo de exemplo cita-se o aperfeioamento das atuais embarcaes que movimentam petrleo, minimizando a probabilidade de vazamentos durante o transporte. Na ltima dcada, quase todo o leo transportado para os Estados Unidos por petroleiros alcanou seu destino sem incidentes (API, 2005). Outro fator importante tem sido a legislao que obriga a indstria petrolfera a minimizar os riscos de acidentes e a combater adequadamente os eventos gerados. Assim, ainda citando o exemplo anterior, a diminuio do derrame de leo por acidente com navios permeada por legislao especial, como a MARPOL 73/78 Conveno Internacional para a Preveno da Poluio Causada por Navios que, no Anexo I, regra 13-G, determina: ...navios entregues a partir de 6 de julho de 1996 devem ser de casco duplo..., medida que tende a reduzir substancialmente os riscos de vazamentos das embarcaes envolvidas em incidentes. Ao longo dos anos, as sanes legais procuram adequar-se para coibir o poluidor em funo dos valores estabelecidos atualmente. At 2000, as infraes e penalidades previstas baseavam-se na Lei Federal 5.357 (BRASIL, 1967), que estabelecia multa de duzentas vezes o maior salrio mnimo vigente a terminais que lanassem detritos ou leo nas guas brasileiras. Com a publicao da Lei Federal 9.966 (BRASIL, 2000b), revogando a anterior, os valores das multas passaram a ser mais elevados de sete mil, a cinqenta milhes de reais. A atuao dos rgos ambientais tem sido fundamental para a melhoria das instalaes licenciadas e fiscalizadas. Este o caso do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) implantado por um terminal de petrleo e derivados de So Sebastio (SP), por exigncia da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(CETESB). Devido a este programa, o nmero de acidentes foi reduzido gradativamente. Se entre 1990 e 1994 foram registrados 91 acidentes, no perodo 2000 a 2003 ocorreram 16. Derrames de leo, principalmente aqueles que trazem prejuzos ambientais e socioeconmicos pelo volume ou tipo de produto envolvido, ou pela rea atingida, causam elevada comoo e repercusso social. A populao, que se conscientiza gradativamente sobre a importncia da conservao ambiental, mostra-se indignada quando os ecossistemas so atingidos pelos acidentes. Essa maneira de pensar e agir, muitas vezes ligada ao posicionamento da mdia, tem exercido forte presso sobre as indstrias para que adotem medidas preventivas e corretivas eficazes (POFFO, 2000). No obstante os fatores descritos, que tm atuado simultaneamente na minimizao dos acidentes, estes continuam a ocorrer. O rompimento do oleoduto OSBAT da PETROBRAS/TRANSPETRO em 18 de fevereiro de 2004, em So Sebastio, (SP); a exploso do navio Vicua, de bandeira chilena, em 15 de novembro de 2004, no Porto de Paranagu (PR); e, na Europa, o derrame de leo combustvel do acidente com o navio Prestige, em 13 de novembro de 2002, que contaminou a costa norte da Espanha e Frana, tiveram repercusses ambientais e socioeconmicas expressivas. Ante a impossibilidade de eliminar riscos de acidentes, tanto a indstria como os rgos pblicos necessitam integrar-se e estar preparados para atender situaes emergenciais com vazamento de leo no mar. A gesto da emergncia estabelecida por meio de um plano de contingncia indispensvel para determinar com antecedncia os procedimentos para minimizar os impactos de qualquer natureza, considerando ainda os interesses especficos dos setores e instituies envolvidos (IPIECA, 2000a; ITOPF, 1985a). Dependendo da situao, principalmente nos casos de grandes vazamentos, necessrio estruturar e planejar aes de combate com a cooperao de outros pases. Duas das grandes lies do evento com o navio Exxon Valdez, ocorrido em 1989 nos Estados Unidos, foram a necessidade de preparo, no nvel nacional, para lidar com eventos de grandes propores e o estabelecimento de um protocolo de cooperao internacional. Dessas demandas, surgiu a Conveno Internacional para Preparo, Resposta e Cooperao em Casos de Poluio por leo (OPRC) realizada pela International Maritime Organization (IMO) em novembro de 1990. 11

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

A OPRC exige que os pases membros realizem um Plano Nacional de Contingncia (PNC) para derrames de leo. O Brasil adotou a OPRC-90 pelo Decreto-Lei nmero 43, de 1 de junho de 1998, assumindo esse compromisso. A partir desse momento, os planos de contingncia para combate a vazamentos de leo no mar receberam grande impulso, principalmente com a promulgao da Lei 9.966 de 28 de abril de 2000 (BRASIL, 2000b). O Art. 7 determina que os portos organizados, as instalaes porturias, as plataformas e respectivas instalaes de apoio disponham de Planos de Emergncia Individual (PEI) e mesmo de Planos de rea (PA), estes em locais onde se concentram instalaes como as j citadas. Esses planos se incluem no Plano Nacional de Contingncia (PNC) em fase de reviso no Ministrio do Meio Ambiente. Entre os tpicos de um plano de contingncia encontram-se os procedimentos de limpeza dos ambientes atingidos, que compreendem: a) estratgias de limpeza adequadas a cada tipo de ecossistema; b) disponibilidade de recursos materiais e equipamentos; c) oferta de mo-de-obra capacitada; e d) gerenciamento dos resduos gerados (ITOPF, 1985b). A Resoluo MMA/CONAMA 293, de 12 de dezembro de 2001 (BRASIL, 2002c), uniformiza e padroniza o contedo dos Planos de Emergncia Individuais (PEI) de instalaes porturias e informa o que deve constar em um plano para combate a derrames de leo no mar. Conforme o ITOPF (1985b), entre as informaes necessrias destacam-se os procedimentos para limpeza de reas costeiras atingidas que devem estar descritos considerando fatores como tipo de leo derramado, geomorfologia e grau de exposio da rea, tipo e sensibilidade da biota local e atividades socioeconmicas relacionadas. Independente da exigncia legal de determinao de procedimentos de limpeza necessrio fixar um critrio para discutir as estratgias que sero aplicadas, antes da ocorrncia de um acidente. A bibliografia apresenta uma srie de mtodos para limpeza de ambientes atingidos por leo. No entanto, em muitos casos estes mtodos mostram-se prejudiciais devido aos impactos que acarretam, por vezes maiores que a prpria ao do leo. Por outro lado, algumas tcnicas impactantes removem eficientemente o leo do ambiente, restabelecendo esteticamente as reas atingidas e, em conseqncia, satisfazen12

do as demandas socioeconmicas. Gerenciar esses conflitos durante a emergncia, por definio, uma situao crtica, complexo, e determina o quanto importante preestabelecer essas atividades. A determinao dos procedimentos de limpeza contm outro importante item, sem o qual no possvel realizar um atendimento eficaz: os recursos a serem aplicados. Equipamentos ou materiais devem estar dimensionados e prontos para utilizao segundo as especificaes tcnicas requeridas. Evidentemente o preparo das equipes associadas operao dos mesmos fundamental, o que se pode alcanar por meio de treinamento especializado (cursos tericos e prticos, simulados etc.). A despeito do preparo das frentes de trabalho que atuam na conteno e remoo das manchas de leo no mar, via de regra o produto alcana a linha costeira. Servem de exemplo os ltimos acidentes relevantes em So Paulo, como os vazamentos ocorridos em So Sebastio devido coliso do navio Vergina contra o cabeo de atracao do per do terminal em novembro de 2000 (CETESB, 2001, LOPES; POFFO; HADDAD, 2001) e com o petroleiro Nordic Marita durante as operaes de transbordo de carga em junho de 2003 (CETESB, 2003). Em ambos os casos, grandes reas costeiras de elevada sensibilidade ao leo foram atingidas. Diante do exposto, constata-se que os derrames de leo no mar refletem-se diretamente sobre os ecossistemas costeiros prximos ao local do acidente, exigindo as aes necessrias para minimizar os efeitos causados pela contaminao, e que a determinao da escolha das tcnicas de limpeza que melhor se aplicam a determinado ambiente devem ser definidas antes que o acidente ocorra. A proposta desta publicao oferecer subsdios que permitam a escolha das tcnicas de limpeza mais pertinentes do ponto de vista ambiental s equipes que participam na preparao e no atendimento emergencial a derrames de leo no mar. Pretende tambm servir como fonte de consulta a instituies pblicas e privadas, como indstrias petrolferas e empresas correlatas, rgos ambientais e universidades, entre outros, na realizao, reviso e anlise de planos de emergncia. Espera ainda auxiliar na gesto de emergncias que envolvem derrames de leo no mar e em ambientes costeiros, onde o foco se concentre, para a determinao das melhores estratgias de limpeza da costa.

Caractersticas do leo e aes de resposta

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enericamente o termo leo empregado por todos os envolvidos nas operaes de emergncia, para designar qualquer tipo de substncia oleosa liberada no meio ambiente. De acordo com a Lei Federal 9.966 de 28/4/2000 (BRASIL, 2000b), leo qualquer forma de hidrocarboneto (petrleo e seus derivados), incluindo leo cru, leo combustvel, borracha, resduos de petrleo e produtos refinados. J o termo petrleo refere-se a uma mistura constituda principalmente por hidrocarbonetos, alm de compostos como enxofre, nitrognio, oxignio e metais.

de carbono unidos aos tomos de hidrognio. As ligaes qumicas so saturadas, ou seja, no apresentam duplas ligaes entre os tomos de carbono. Estes compostos, tambm denominados de alcanos, so os maiores constituintes do gs natural e do petrleo. Os naftnicos referem-se aos hidrocarbonetos saturados que formam anis por meio de ligaes simples. Estes e os parafnicos pertencem ao grupo dos alifticos, menos txicos que os aromticos, sendo os componentes mais rapidamente removidos pela degradao microbiolgica no ambiente marinho. A quarta classe refere-se aos oleofnicos, nome genrico atribudo aos hidrocarbonetos que contm uma dupla ligao entre tomos de carbono. No so encontrados originalmente no petrleo, sendo formados em grandes quantidades durante o craqueamento.

COMPOSIO DO PETRLEOPara otimizar as operaes de combate, limpeza e remediao necessrio identificar o produto vazado. Os hidrocarbonetos do petrleo so agrupados em quatro classes bsicas, segundo o arranjo estrutural dos tomos de carbono e hidrognio: aromticos, parafnicos, naftnicos e oleofnicos (GOUVEIA, 2003). Os hidrocarbonetos aromticos caracterizam-se por apresentar anis benznicos contendo seis tomos de carbono, arranjados em um ciclo com trs duplas ligaes alternadas. O benzeno o mais simples dos aromticos e a grande maioria das substncias que pertencem a esta classe derivam desse composto, relativamente solvel em gua, presente em quase todos os tipos de petrleo e nos seus derivados. So os que apresentam maior toxicidade. Uma importante classe de compostos aromticos so os hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPAs), como naftaleno, antraceno e benzopireno, solveis em solventes orgnicos e com baixa dissoluo em gua. Por se tratar de produtos altamente lipoflicos (afinidade com gorduras), os componentes do leo tendem a se associar com o material em suspenso e sedimentar, podendo ser bioacumulados e causar efeitos crnicos muito tempo aps a ocorrncia de um derramamento. Esto entre os compostos aromticos que mais se destacam por sua resistncia biodegradao e por persistirem na coluna dgua e no sedimento durante muitos anos. Vrios HPAs esto entre os carcinognicos mais potentes e produzem tumores em certos organismos quando expostos a alguns microgramas desse poluente (EISLER, 1987 apud ZANARDI, 1996). Segundo GESAMP (1993), h evidncias de que os HPAs so capazes de causar cncer em peixes e moluscos, e que podem ser txicos e potencialmente carcinognicos ao homem. Os hidrocarbonetos parafnicos caracterizam-se por apresentar cadeias ramificadas e normais de tomos

CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICAS DO LEOO leo possui algumas caractersticas fsicas e qumicas de grande importncia que auxiliam na determinao do comportamento do produto no meio, bem como nos possveis efeitos sade e segurana do homem e do ambiente. Conhecer essas caractersticas auxilia na tomada de decises durante o atendimento emergencial atravs da escolha de procedimentos e equipamentos compatveis com o tipo de leo derramado num acidente. As principais caractersticas a serem observadas so a densidade relativa, persistncia, viscosidade, ponto de fulgor, solubilidade e tenso superficial. A densidade relativa ou gravidade especfica a razo entre a densidade do leo com a da gua pura. uma grandeza adimensional, por se tratar de um quociente de duas grandezas de mesma espcie. A maioria dos petrleos e produtos refinados possui valor menor que 1,0, exceo feita a alguns tipos de leo combustvel. A densidade relativa do leo representada internacionalmente como grau API e pode ser calculado pela frmula: API = 141,5 - 131,5 DR

Onde: DR = densidade relativa

A persistncia pode ser descrita quanto meia vida (tempo de degradao de 50% do leo na superfcie do mar), que varia de acordo com as propriedades fsicas do produto, condies climticas e oceanogrficas. De maneira geral, os leos podem ser divididos em dois grandes grupos: nopersistentes e persistentes. 13

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

Os no-persistentes so os produtos refinados, amplamente formados por componentes leves, que tendem a ser completamente removidos de um ambiente afetado pelo processo natural. leos leves, como a gasolina (Grupo I), que so volteis, evaporam rapidamente entre 24 e 48 horas; geram nuvens de vapores inflamveis, com risco de incndio e exploso, o que dificulta, de certa forma, as aes de conteno e recolhimento da mancha formada. Devido sua elevada toxicidade, podem afetar severamente ovos, larvas e indivduos jovens de organismos aquticos mais sensveis. Os persistentes so os leos crus e tambm os refinados (Grupos II, III, IV e V), compostos de uma mistura de componentes leves-mdio-pesados, que no podem ser completamente removidos de um ambiente afetado sem interveno das operaes de limpeza. Mesmo assim, podem permanecer nos costes, estruturas, sedimentos de praias ou manguezais, de seis a sete dias, at vrios anos, dependendo do volume vazado, da agilidade da operao inicial de combate, do grau de energia e hidrodinamismo local. So menos txicos aos organismos aquticos do que os no-persistentes, porm podem afetar alguns organismos de praias, costes e manguezais por sufocamento. Alguns leos dos Grupos IV e V tendem a formar camada semelhante de pavimentao asfltica, sobre estruturas e sedimentos, persistindo por vrios anos em ambientes de baixa energia (ITOPF, 1986; IPIECA, 1991; API, 1999). Estudos revelam que a persistncia do leo bem maior nos sedimentos do que na coluna dgua (BCEGO, 1988; ZANARDI, 1996). Isto ocorre devido sua migrao da superfcie do mar para o fundo, onde fica abrigado, assentado em camadas mais profundas, o que diminui o grau de exposio s ondas e luz solar. A viscosidade a propriedade que um fluido tem de resistir ao escoamento, ou seja, a resistncia interna ao fluxo, expressa internacionalmente em centistoke (cSt). Depende diretamente da temperatura ambiente e dos teores de componentes leves do leo, ou seja, da concentrao de componentes aromticos. Assim, le-

os mais densos so mais viscosos e por isso so bombeados a temperaturas elevadas; se ocorrer vazamento em dias frios, sua remoo do mar ser mais dificultada por equipamentos dotados de discos oleoflicos do que nos dias quentes. No entanto, a remoo da areia das praias poder ser mais fcil. Os leos mais transportados por via martima foram classificados internacionalmente em quatro grupos com base em ITOPF (1985a; 2005), de acordo com sua densidade relativa (= gravidade especfica), viscosidade e grau API. H ainda um quinto grupo citado por API (1999), que enquadra leos persistentes, pesados, com densidade ou gravidade especfica maior que 1,0. O ponto de fulgor constitui um importante fator de segurana durante as operaes de emergncia, uma vez que leos mais leves e produtos refinados tendem a ignizar-se mais facilmente do que leos pesados. Ponto de fulgor a menor temperatura em que uma substncia libera vapores em quantidade suficiente para que a mistura de vapor e ar, logo acima da superfcie livre, propague uma chama, a partir do contato com uma fonte de ignio. medida que os componentes leves so dispersados ou se evaporam, o ponto de fulgor eleva-se, tornando-os menos perigosos nas operaes de limpeza. Vale ressaltar que a diferena entre a classificao de risco do leo diesel terrestre e do leo diesel martimo est no ponto de fulgor. A classe de risco do diesel terrestre 3 e seu nmero ONU 1202. O diesel martimo (MF 180 e MF 380) pertence classe 9 e seu nmero ONU 3082 (BRASIL, 2004a). A diferena ocorre devido ao ponto de fulgor mais elevado do diesel martimo, que de 60C, enquanto o do diesel terrestre 37,8C (WIKIPEDIA, 2004). A solubilidade o processo pelo qual uma substncia (soluto) se dissolve em outra (solvente). A solubilidade do leo em gua extremamente baixa (geralmente menor que 5 ppm); o mesmo no ocorre com os derivados leves como gasolina. Esse processo muito importante em relao toxicidade dos hidrocarbonetos

Grupos de leo e suas caractersticas principais.Grupo Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV Densidade relativa 0,95 API >45 35 a 45 17,5 a 35 < 17,5 Meia-vida ~ 24h ~ 24h ~ 48h ~ 72h Viscosidade cSt@ 15c 0,5-2,0 4 8 1500

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2.em organismos aquticos porque geralmente os leos mais leves so mais volteis e mais txicos. Por fim, a tenso superficial a fora de atrao entre as molculas na superfcie de um lquido. Essa fora e a viscosidade determinam a taxa de espalhamento na superfcie da gua ou do solo. Assim, no caso de vazamento de leos com baixa densidade relativa, medida que a temperatura ambiente se eleva e a taxa de espalhamento aumenta, a tenso superficial tende a diminuir, facilitando a degradao natural.

Caractersticas do leo e aes de resposta

INTEMPERISMODepois de liberada no mar, a mancha de leo passa por uma srie de processos naturais denominada de intemperismo, que influenciada pelas caractersticas fsicas e qumicas do produto vazado, pela irradiao solar, pelas variaes na temperatura ambiente e da gua, pela chegada de frentes frias, pela fora dos ventos e pelo impacto das ondas e correntezas. A compreenso desses processos importante como subsdio para as operaes de resposta.

lhimento, menor ser a taxa de espalhamento. leos densos, pesados e persistentes, que apresentam alta gravidade especfica, espalham-se de forma mais lenta que os leves. Em guas calmas, o espalhamento tende a ocorrer em padres circulares para fora do centro do ponto de liberao da mancha (CONCAWE, 1983 apud API, 1999). Em situao oposta, o leo desloca-se pela influncia de ventos e/ou correntes de superfcie (NRC, 1985 apud API, 1999). Com base em registros anteriores sobre a influncia dos ventos no deslocamento de manchas de leo, no Canal de So Sebastio (SP), observou-se que o vento o agente predominante no deslocamento das manchas a partir de 13 quilmetros por hora e que, em intensidade inferior, a tendncia da mancha seguir o sentido da corrente marinha predominante de superfcie (POFFO et al., 1996). Evaporao Considerando a mancha de leo na superfcie, os compostos aromticos dos hidrocarbonetos (os mais txicos) passam para a atmosfera sob interferncia direta da temperatura ambiente e da radiao solar. Em dias quentes, sem nuvens e de baixa umidade relativa, espera-se maior taxa de evaporao, principalmente dos leves, de forma mais intensa nas primeiras horas (API, 1999; ITOPF, 1985a). Dissoluo Os hidrocarbonetos aromticos, entre outros compostos do leo, dissolvem-se por ao das ondas e correntezas e passam para a coluna dgua. Isso mais intenso na primeira hora e pode durar at 24 horas (API, 1999). leos leves so mais solveis que os pesados. Disperso natural A mancha de leo fragmentada em gotculas, em decorrncia da agitao do mar, do vento e das ondas (disperso natural), o que se inicia na primeira hora, ocorre mais intensamente nas 48 horas seguintes e pode durar at um ms (API, 1999). Pode ser acelerado quimicamente pela aplicao de dispersantes (BRASIL 2001), ou por ao mecnica (passagem de embarcaes sobre a mancha, por exemplo). Emulsificao As molculas de hidrocarbonetos incorporam molculas de gua, formando emulso gua-leo, ou o chamado mousse de chocolate, que ocorre mais intensamente entre as dez primeiras horas aps o derramamento e os sete primeiros dias, e pode prolongar-se por at um ano (API, 1999). Emulses de leos 15

Intemperizao do leo no mar. Souza, Mauro Teixeira (adaptado de ITOPF, 1986).

Espalhamento A partir da fonte do vazamento, a mancha de leo espalha-se horizontalmente na superfcie da gua, influenciada pela ao de ventos, mars, ondas e correntezas, deslocando-se para reas distantes da origem, podendo atingir reas sensveis, mais intensamente nas primeiras 24 horas e durar acima de uma semana (API, 1999). O volume e tipo de leo vazado e a capacidade de resposta tambm influenciam esse processo, pois quanto mais rapidamente for interrompida a fonte poluidora e iniciadas as aes de conteno e reco-

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

2.1. Mancha de leo densa, nas primeiras horas aps o vazamento. Banco de imagens da CETESB

2.3. Manchas de leo intemperizadas, 24 a 48 horas depois do vazamento. Banco de imagens da CETESB

pesados em ambientes de baixa circulao de energia como esturios, tendem a ser mais persistentes do que de leos leves. Oxidao ou foto-oxidao A incidncia da luz ultravioleta sobre a mancha de leo aumenta a presena de oxignio nos seus componentes. Os compostos formados nesta reao tornam-se mais txicos e solveis na gua e passam da superfcie para a coluna dgua, processo que se inicia na primeira hora e pode durar at um ms (API, 1999; ITOPF, 1986).

Sedimentao Os componentes mais pesados do leo que no se dissolvem na gua aderem s pequenas partculas inorgnicas e aos materiais slidos flutuantes (detritos, galhos e resduos) e tendem a ir ao fundo, processo que ocorre mais intensamente de 24 horas a um ms aps o vazamento e pode durar vrios anos (API, 1999). Biodegradao a degradao natural das molculas de hidrocarbonetos por bactrias e fungos, que ocorre na

2.2. Mancha de leo tipo III, chegando praia nas primeiras 24 horas depois do vazamento. Banco de imagens da CETESB

2.4. Manchas de leo tipo III, fragmentadas, 24 a 48 horas aps o vazamento. Banco de Imagens da CETESB.

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2.

Caractersticas do leo e aes de resposta

2.5. Mancha de leo intemperizada, entre 48 e 72 horas aps o vazamento. Banco de imagens da CETESB.

2.7. Mancha na forma de mousse chegando entre 24/48 , horas aps o vazamento. Banco de imagens da CETESB

superfcie, na coluna dgua, no sedimento e nos demais ambientes como praias, costes e manguezais. Este processo est diretamente ligado disponibilidade de oxignio, de nutrientes e temperatura da gua. Assim, as manchas de leo tendem a ser degradadas mais lentamente nos meses frios e em reas abrigadas como esturios, baas e enseadas. Ao contrrio, ser mais rpido em reas onde existem ondas, correntezas e mars, ricas em nutrientes e com temperaturas acima de 18C. De forma geral, inicia-se na primeira semana, torna-se mais intenso nos trinta dias seguintes e pode persistir at durante um ano (API, 1999).

Em razo do intemperismo, o leo liberado no mar devido a um vazamento passa por mudanas marcantes na sua aparncia. Quanto colorao, o produto que se apresenta inicialmente preto ou marrom escuro (foto 2.1), passar para marrom claro e alaranjado aps a emulsificao (foto 2.2) e a iridescente e prateado na fase final de degradao (foto 2.3). Quanto forma, as manchas densas e contnuas passaro a manchas esparsas e fragmentadas (foto 2.4), principalmente por ao dos ventos e das correntes marinhas, depois a filetes, placas, pelotas, espumas e gordura at a sua degradao total (foto 2.5). As manchas de leo pesado, intemperizadas, chegam s

2.6. Mancha de leo denso, chegando praia nas primeiras horas aps o vazamento. Banco de imagens da CETESB.

2.8. Pelotas de leo, agrupadas e esparsas, chegando entre 48/72 horas aps o vazamento. Banco de imagens da CETESB

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Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

praias de formas diferentes. importante observar esse detalhe durante as vistorias, pois a informao obtida nortear os procedimentos de limpeza mais adequados. Em grandes quantidades podem ter o aspecto de mousse de chocolate, densa, recobrindo extensas reas (foto 2.6). Em volume menor, apresentam-se mais esparsas (foto 2.7). Sua distribuio na faixa de areia tambm ocorre por influncia da variao das mars e da declividade da praia, sendo menor nas praias com maior declive e maior nas mais planas. Quanto mais degradado e envelhecido estiver o leo, maior ser a tendncia de chegar s praias na forma de pelotas (foto 2.8). Intemperismo e aes de combate Na liberao de pequenos volumes de leos leves (gasolina e querosene) em dias ensolarados de primavera/ vero, a intemperizao ser rpida. Na liberao de leos pesados em perodos de outono/inverno, a situao esperada inverte-se, principalmente no que diz respeito evaporao. As aes de combate iniciadas nas primeiras horas, aps o comeo do processo de intemperizao de ledos grupos II, III, IV e V, so mais eficientes do que quando o produto estiver intemperizado. A disperso mecnica auxilia a disperso natural e deve ser empregada quando no houver mais possibilidade de recolhimento. Se empregada em manchas pouco intemperizadas logo no incio da operao, possibilitar a rpida formao de pelotas de leo que chegaro s praias e outras reas sensveis nos prximos dias. No caso da liberao de grandes volumes de leo, com possibilidade de atingir reas sensveis, muito importante manter atualizadas as previses meteorolgicas e a tbua de mars, como subsdio s medidas de proteo ambiental. Recomenda-se tambm a consulta a pescadores ou martimos que tenham conhecimento da regio.

concentraes de hidrocarbonetos parafnicos totais encontradas na coluna dgua e/ou no sedimento forem iguais ou maiores que 5mg/g. Segundo alguns autores, a gravidade e a extenso dos danos ambientais resultantes da liberao de leo no ambiente marinho dependem de vrios fatores que agem simultaneamente (SCHAEFFER-NOVELLI, 1990; LOPES et al., 1992; MILLANELI, 1994; POFFO, 2000), como: volume derramado; caractersticas fsicas, qumicas e toxicolgicas do produto liberado; eficincia e rapidez dos procedimentos de conteno e recolhimento; distncia entre a fonte do vazamento eas reas atingidas; quantidade e extenso das reas afetadas; hidrodinamismo da regio; grau de sensibilidade dos ecossistemas atingidos; importncia socioeconmica das reas afetadas; e procedimentos adotados para a limpeza dos ambientes impactados. Anlises fsicas, qumicas e toxicolgicas H muitos questionamentos sobre quais anlises fsicas, qumicas e toxicolgicas devem ser feitas para caracterizar o leo vazado e seus efeitos vida marinha bem como para subsidiar estudos de monitoramento. Anlises de diferentes parmetros podem ser realizadas. Porm, importante lembrar o que se quer detectar especificamente, quais os pontos de amostragem, quem ser designado para realizar as coletas, qual o material e metodologia adequados para coletar e acondicionar as amostras, quais os laboratrios capacitados e disponveis para efetuar as anlises e os parmetros a serem analisados. Os procedimentos para coleta e acondicionamento das amostras de leo devem obedecer a critrios tcnicos, desde a escolha correta dos frascos e a metodologia de coleta na gua (superfcie e coluna dgua), no sedimento e em organismos moribundos ou mortos, ao correto acondicionamento das amostras. As anlises devem ser confiadas a laboratrios credenciados pelo INMETRO e com certificao de qualidade. A anlise comparativa de leos um procedimento destinado a auxiliar na identificao da fonte poluidora e verificar se h correlao entre o leo liberado e as reas impactadas. Podem ser coletadas amostras da mancha no mar, em sedimentos e em folhas contaminadas, preferencialmente por pessoas capacitadas. No interior do navio suspeito preciso obter a autorizao

CARACTERIZAO DO LEO DERRAMADO, ANLISES LABORATORIAIS E ASPECTOS AMBIENTAISNo havendo mais contato visual com as manchas na superfcie da gua e na areia das praias, muitos acreditam que a poluio est controlada e que o leo foi removido. No entanto, sabe-se que h fraes hidrossolveis do leo dispersas no mar e, dependendo do produto vazado, pode haver ainda deposio de placas de piche no sedimento de fundo, inclusive prximo das praias (POFFO, 2000). De acordo com Bcego (1988) considera-se o meio contaminado quando as 18

2.do comandante e pode ser necessrio o acompanhamento de oficiais da Capitania dos Portos. Quando a Capitania tem interesse na anlise para embasar processos de investigao, as amostras so encaminhadas para os laboratrios do Instituto de Estudos do Mar, da Marinha, no Rio de Janeiro (RJ). O Laboratrio da PETROBRAS/CENPES, tambm no Rio de Janeiro, alm de realizar estas anlises, dispe do Banco de Dados de Avaliao de Petrleo com as caractersticas fsicas e qumicas dos principais leos transportados pela empresa. Outras anlises que podem ser realizadas durante um vazamento de leo incluem: teores de leos e graxas (OG) em amostras de sedimento e dos resduos gerados; teores de benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (BTEX); espectometria para separao de contribuio entre hidrocarbonetos biognicos (cadeias mpares) e no biognicos (cadeias pares) que s vezes utili zam pireno como indicador de biognicos; teores de alcanos totais; anlises de hidrocarbonetos em moluscos bivalves (mexilhes, mariscos, ostras). Cada derramamento de leo um caso especfico; assim, nem todos os resultados obtidos em um evento se aplicam necessariamente a outros. Testes de toxicidade

Caractersticas do leo e aes de resposta

Quando no so conhecidas as caractersticas ecotoxicolgicas do leo sobre os organismos aquticos, recorre-se aos testes de toxicidade que avaliam a concentrao da amostra capaz de produzir efeito adverso na sobrevivncia, crescimento e/ou reproduo dos organismos em um determinado perodo de exposio (RAND, 1995). Para realizar esses ensaios empregamse metodologias padronizadas em normas, ou manuais de entidades como Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), Environmental Protection Agency (USEPA), American Society for Testing and Materials (ASTM), e outras. Devido sua sensibilidade, os microcrustceos e as larvas de equinodermos esto entre os organismos mais utilizados em laboratrio para testes com a frao hidrossolvel do leo (FHS). A CETESB avalia os efeitos txicos da frao hidrossolvel de leo por meio de testes de toxicidade aguda com o microcrustceo Mysidopsis juniae. No fim do experimento, determina a concentrao da FHS responsvel pelo efeito letal a 50% dos organismos (CL50), aps o perodo de exposio de 96 horas. Os resultados indicam que a espcie M. juniae apresentou maior sensibilidade ao leo MF 380. Apenas 6 ml da FHS deste leo, presente em 100 ml de gua, durante 96 horas de exposio, causou a mortalidade

Resultados dos testes de toxicidade aguda para alguns tipos de leo com Mysidopsis juniae em vazamentos no litoral de So Paulo.Tipo de leo Albacora Albacora rabe pesado Marlim MF 180 MF 180 (leo intemperizado) MF 380 Sergipano terra Sergipano terra (leo intemperizado)Fonte: CETESB.

Data da realizao do teste 1995 1997 1998 1998 1994 1998 2000 1994 1994

Cl50; 96h (%fhs) 47,50% 32,70% 58,00% 23,80% 9,00% 55,00% 6,00% 59,80% 89,30%

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Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo

3

A

pesar de todos os recursos disponveis no combate a manchas de leo no mar, em raros casos os ecossistemas costeiros no so atingidos. A limpeza desses ambientes, portanto, parte integrante e essencial dos planos e aes emergenciais, e seus critrios devem ser previamente determinados e definidos. A rotina do atendimento emergencial com vazamento de leo no mar marcada pela rapidez e eficincia estimuladas pela prpria reao da sociedade usuria direta ou indireta dos recursos naturais afetados. Essa presso recai sobre o poluidor e as instituies que atuam na resposta aos eventos. Historicamente, no mundo inteiro existe uma cultura de quanto mais rpida a limpeza, melhor, ou seja, mtodos que viabilizem a rpida remoo do leo e deixem o ambiente visualmente limpo tm preferncia nas frentes de limpeza. Esses mtodos rpidos e nem sempre eficientes do ponto de vista ambiental tm a seu favor o fato de reduzir o tempo necessrio para limpeza e, em conseqncia, o custo da operao e o desgaste gerado pela exposio dos acidentes ecolgicos na mdia. Entretanto, em muitas situaes empregam-se mtodos cujos efeitos ambientais so desconhecidos ou ignorados pelos executantes (ITOPF, 2000b; DICKS, 1998). Para uma interveno eficiente, fundamental o conhecimento das caractersticas locais dos ambientes atingidos e dos impactos esperados tanto do vazamento como das aes de limpeza. Mtodos que atendem as premissas de eficincia em remoo so muitos e utilizam uma grande variedade de mquinas, veculos leves e pesados e equipamentos especialmente desenvolvidos para esse fim. Porm, quase todos os mtodos de limpeza disponveis provocam algum tipo de impacto adicional especfico ao meio ambiente. Em muitos casos, os danos causados pelo procedimento so to graves ou mais srios que os gerados pelo prprio leo, podendo causar a total supresso da comunidade biolgica que existe no ambiente, dilatando significativamente o tempo de recuperao do ecossistema atingido (KERAMBRUN; PARKER, 1998; API, 1985; OCIMF; IPIECA; 1980; ITOPF, 2000b, 2004b; DICKS, 1998; 2002; PEZENSKI, 2000). Do ponto de vista do rgo ambiental, um procedimento de limpeza eficiente aquele que possibilita a remoo do contaminante, com mnimos impactos adicionais ao ecossistema atingido e favorece a recuperao do ambiente no menor tempo possvel. Nem sempre isso significa a total remoo de qualquer resqucio de leo (KERAMBRUN; PARKER, 1998; DICKS, 1998; DICKS et al., 2000). Nem sempre a limpeza rpida significa a rpida recuperao do ambiente. Esse no

um problema recente e tem gerado conseqncias negativas em diversos eventos, como no vazamento do petroleiro Exxon Valdez (NOAA, 2004; WHITFIELD, 2003), na Guerra do Golfo, no acidente envolvendo o petroleiro Erika (DICKS, 2002) e, no Brasil, com o acidente ocorrido na Baa de Guanabara (RJ), em 2000 (MILANELLI et al., 2000; MICHEL, 2000). Cabe destacar aqui o importante conceito custo-benefcio dos procedimentos adotados na limpeza dos ambientes atingidos, que pondera os benefcios sociais e ambientais de cada mtodo, de acordo com as demandas locais especficas de cada evento. Esse conceito referido por alguns autores como NEBA - Net Environmental Benefit Analysis (DICKS, 1998; DICKS et al., 2000; ITOPF, 2004a; KERAMBRUN; PARKER, 1998; WHITFIELD, 2003; BAKER, 1990). Muitas vezes h conflitos entre as prioridades sociais e ambientais, o que dificulta a escolha dos procedimentos mais adequados para a limpeza. Cada vazamento de leo tem caractersticas e demandas particulares e incomparveis a considerar. Os procedimentos de limpeza devem ser avaliados caso a caso, invariavelmente com a participao dos rgos ambientais competentes e equipes capacitadas para esse fim (DICKS et al., 2000). Outro aspecto importante a ser considerado o conceito de zonas de sacrifcio e reas prioritrias de proteo. preciso conhecer os ambientes vulnerveis para que essas ferramentas de gesto da emergncia sejam adotadas. Ambientes mais fceis de limpar e com recuperao mais rpida podem ser estrategicamente usados para interceptar manchas de leo que ameacem ambientes mais sensveis e de limpeza difcil. Aes de limpeza mal planejadas no consideram a definio de prioridades durante um atendimento emergencial envolvendo limpeza de ambientes costeiros. Na primeira fase do combate, a prioridade a conteno e a remoo em mar que, se bem feita, previne a costa da contaminao e necessidade de limpeza. Apesar disso, os recursos e a logstica para a limpeza da costa precisam ser mobilizados desde a fase inicial da emergncia e para tanto os procedimentos devem estar delineados para cada ambiente sob risco de contaminao e as equipes organizadas e treinadas. Diante de uma situao em que vrios ambientes so atingidos (praias, costes, manguezais, entre outros), um problema a ser solucionado qual o ambiente a ser limpo primeiramente. Para isso devem ser identificadas as reas prioritrias de proteo e interveno, o que no impede que esse aspecto fundamental seja freqentemente sujeito a interpretaes conflitantes. Culturalmente, a tendncia dar prio21

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

ridade limpeza das praias mais visadas pela mdia e de uso intenso pela populao. Em conseqncia, a limpeza de costes rochosos e manguezais muitas vezes considerada em um segundo momento. Na maioria dos casos, no se leva em conta a sensibilidade ecolgica dos ecossistemas na definio de prioridades de limpeza. Esse um problema relevante do ponto de vista ambiental porque o critrio para priorizar a limpeza deve considerar o grau de sensibilidade dos ambientes atingidos j definido internacionalmente (GUNDLACH; HAYES, 1978) e tambm no Brasil (BRASIL, 2004a). Assim, manguezais, marismas, plancies de mars, recifes de coral e costes rochosos abrigados so exemplos de ambientes que precisam receber cuidados especiais e, se necessrio, intervenes prioritrias, por sua sensibilidade. Infelizmente so raros os exemplos de recursos que possibilitaram a interveno simultnea em todos os ambientes afetados. fundamental que os procedimentos de limpeza se realizem aps o leo ter sido retirado das guas contguas aos locais contaminados. Por conseguinte, a primeira etapa para a recuperao dos ecossistemas costeiros a conteno e remoo mecnica do leo nas guas adjacentes (API, 1985; API et al., 2001; ITOPF, 2000a). De outra forma, os ambientes atingidos podem ser contaminados inmeras vezes, sendo necessrio repetir a operao, o que acarreta maior estresse e danos adicionais comunidade j perturbada pelo leo e pela prpria manipulao da limpeza. A pressa para iniciar a limpeza deve ser precedida de aes de conteno e remoo em gua. Finalmente, uma questo que costuma gerar conflito durante os atendimentos emergenciais : quo limpo o suficiente? (How clean is clean?). Demandas socioeconmicas podem estimular a limpeza em situaes em que a recuperao natural mais adequada, mas tambm podem prolongar a limpeza por tempo maior que o necessrio, afetando negativamente o ambiente. As equipes responsveis pela recuperao de ambientes afetados por derrames de leo devem estar cientes de que impossvel a remoo absoluta de todo e qualquer resduo oleoso do ambiente. Muitos autores defendem alguns critrios para definir o momento da interrupo da limpeza. Entre eles, Tebau (1995 apud KERAMBRUN; PARKER, 1998), cita que praias de areia so aceitas como limpas quando no h mais sinais perceptveis de leo (visual, odor, ou outra forma de percepo). Segundo este autor, outros critrios consideram indicadores mais sensveis, 22

como diagnsticos qumicos e laboratoriais das concentraes de hidrocarbonetos no ambiente, como HPAs (hidrocarbonetos policlclico-aromticos). A forma mais adequada de abordar esta questo depende de cada contexto e principalmente dos usos a que se submete o ambiente em questo. Portanto, necessrio considerar a pergunta quo limpo o suficiente durante a limpeza. Kerambrun e Parker (1998) sugerem que, como subsdio a essa deciso, sejam avaliadas as seguintes questes: o leo que ainda existe no ambiente representa fonte potencial de risco aos recursos ambientalmente sensveis? o leo que ainda existe interfere nos aspectos estticos ou usos dos ambientes atingidos? o leo ainda presente afeta significativamente as atividades econmicas locais? os benefcios da continuidade no procedimento de limpeza sero significativos ou perceptveis ? Se alguma destas perguntas tiver resposta positiva, h motivos para discutir e justificar a continuidade da limpeza entre os agentes envolvidos.

AVALIAO DOS PRINCIPAIS MTODOS DE LIMPEZA luz desta realidade, so descritos sumariamente os procedimentos fundamentais e os recursos disponveis para a limpeza da costa. Como j citado, muitos deles apresentam severos danos ambientais e so aplicados para atender demanda socioeconmica e premissa da eficincia. Remoo mecnica Com o fim de obter maior eficincia e rapidez na limpeza de praias, ainda so utilizados com freqncia veculos e mquinas pesadas como tratores e retroescavadeiras (foto 3.1), tanto de roda como de esteira, que operam na faixa de praia e na zona entremars, removendo leo e areia. Tambm se utilizam caminhes-caamba, caminhes-vcuo e veculos especialmente construdos para essa atividade. A remoo mecnica utilizada para recolher o leo na zona entremars e pode gerar graves danos comunidade biolgica que removida junto com a areia (foto 3.2). Por sua vez, as mquinas causam a compactao do substrato, aumentando ainda mais os danos comunidade existente na areia. Ressaltase que a comunidade biolgica das praias de areia concentra-se, em grande parte, nos vinte centmetros superficiais do sedimento.

3.Absorventes

Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo

Nos ltimos dez anos cresceu a oferta de novos produtos com propriedades absorventes para uso especfico em vazamentos de hidrocarbonetos. So princpios de ao desses materiais a absoro e a adsoro. Os produtos absorventes podem ser divididos em duas categorias bsicas: sintticos e naturais (LOPES; MILANELLI; GOUVEIA, 2005). Os absorventes sintticos so desenvolvidos industrialmente a partir de polmeros, espuma de poliuretano, fibras de polietileno e polipropileno, copolmeros especiais e fibra de nylon, entre outros. Tm as maiores capacidades de absoro: at setenta vezes o seu peso em leo. Podem ser utilizados na forma de mantas, travesseiros, barreiras ou a granel. Uma vez que tm baixssimos potenciais de biodegradao, no devem ser lanados a granel no ambiente, sem ser recolhidos depois. Dessa forma, a granel so mais indicados para uso em reas construdas (peres, ptios, embarcaes) e pavimentadas. Quando usados no ambiente, devem estar encapsulados na forma de barreiras, travesseiros, ou mantas e ser recolhidos aps o uso. Nessa condio so muito teis na limpeza de reas abrigadas e pequenas manchas, mas sempre associados a corpos dgua como guas rasas, lagoas costeiras, lagunas, esturios e canais de manguezais, entre outros.3.2. Uso de mquina pesada no vazamento Hamilton Lopes, So Sebastio, 1986. Banco de imagens da CETESB

3.1. Remoo de leo e areia com mquina em zona entremars.Banco de imagens da CETESB

Alm dos efeitos prejudiciais diretos biota, esse procedimento causa a descaracterizao fisiogrfica da praia, devido alterao do seu equilbrio dinmico, e causa processos erosivos de intensidade varivel, que podem ter conseqncias imprevisveis. O impacto da remoo de sedimentos grave em praias de cascalho, porque no so rapidamente repostos, o que submete o ambiente a intensos processos de eroso perturbadores da estabilidade geomorfolgica. O volume de areia removido pela operao mecnica em geral elevado, e grande parte de sedimentos limpos retirada desnecessariamente do ambiente. Alm dos prejuzos biolgicos produz-se uma quantidade intil de resduos que, com freqncia, ultrapassa muitas vezes o volume total de leo vazado. Em So Paulo esse procedimento foi adotado durante muitos anos, especialmente nas dcadas de 70 e 80.

Os absorventes naturais podem ser minerais ou orgnicos. A produo dos absorventes minerais feita a partir do tratamento industrial de rochas, calcrios, slica, terra diatomcea, argila, perlita e vermiculita. Possuem boa eficincia de absoro. No entanto, se lanados a granel em grande quantidade no ambiente podem causar impactos adicionais pelo recobrimento fsico de organismos. Aplicados no meio aqutico, dependendo da dimenso dos gros, podem afundar rapidamente conduzindo o leo para o sedimento. Quando o absorvente mineral lanado e no recolhido, os pequenos grnulos minerais adsorvem uma pelcula de leo, gerando um agregado leo-mineral que submetido a processos de intemperismo e biodegradao. Apesar de as partculas minerais serem indicadas como eficientes removedores de leo da gua, no so a melhor opo para uso a granel nas guas costeiras, devido dificuldade no seu recolhimento. No entanto, absorventes minerais podem ser utilizados em contaminao superficial do solo em reas restritas e especficas como praias, 23

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

mangues, plancies de mar, etc. e posteriormente recolhidos. Em casos especficos, pondera-se que o lanamento de absorventes minerais, que podem ter a qualidade de adsoro, melhor do que deixar o ambiente contaminado, mesmo quando h limitaes operacionais para o seu recolhimento. Os absorventes naturais orgnicos no industrializados na sua maioria so derivados de matria-prima vegetal, como cortia, palha, feno, bagao de cana-de-acar, casca de coco, entre outros, (UNITED STATES, 2004) e so utilizados em situaes emergenciais quando no se dispe de outros recursos para ao imediata. Com esse material possvel improvisar barreiras absorventes e malhas de filtragem para absorver pequenas quantidades de leo. Absorventes de origem animal tambm existem, como as penas de aves, mas ainda no esto bem representados no mercado. Os absorventes orgnicos industrializados potencializam a capacidade de absoro e so preparados para otimizar a aplicao, o transporte e o armazenamento (foto 3.3). Entre eles esto os produtos base de turfa, celulose e semente de algodo, que podem ser preparados de acordo com diferentes usos e granulometrias, ou mesmo ser enriquecidos com nutrientes para atuar como biorremediadores. As turfas vegetais (peat), geradas do Sphagnum canadense, vm sendo muito utilizadas no Brasil. Apresentam muitos aspectos ambientalmente positivos, como biodegradabilidade, boa flutuabilidade, ausncia de toxicidade e boa eficincia (taxas de absoro) (LOPES; MILANELLI; GOUVEIA, 2005). Devido s suas caractersticas adsorventes esses produtos, se no forem recolhidos, submetem o leo a processos de biodegradao protegendo a biota e o ambiente. O uso de absorventes um mtodo til, do ponto de vista ecolgico, uma vez que aplicados corretamente causam mnimos prejuzos ambientais. A eficincia do mtodo no recolhimento boa para pequenas quan-

tidades de leo. Por isso, seu uso indicado apenas em etapas posteriores ao recolhimento mecnico ou eventualmente integrado a elas. Entre os possveis impactos do uso inadequado de absorventes esto a contaminao de sedimentos, resultante do afundamento de material saturado e no recolhido, e a contaminao da teia alimentar associada gua e principalmente ao sedimento. Ressalta-se que todos os esforos devem ser direcionados para o recolhimento de qualquer material absorvente lanado no ambiente, natural ou sinttico (API et al., 2001). Enterramento/revolvimento do sedimento Essa operao consiste em recobrir uma rea atingida por leo, como um trecho de praia, com sedimento no contaminado. Uma variao desse mtodo revolver o sedimento contaminado ou mesmo desloc-lo para o infralitoral. recomendado como procedimento de combate e limpeza de praias por alguns autores. O enterramento justifica-se apenas do ponto de vista esttico. Favorece a recuperao do aspecto exterior do local em curto prazo, mas mantm o leo com grande possibilidade de liberao posterior e recontaminao do ambiente. O mtodo tambm acarreta deslocamento de sedimento, e pode causar alterao da estrutura fisiogrfica e ecolgica da praia. Os efeitos do prprio petrleo recoberto pela areia refletem-se na comunidade existente no sedimento, uma vez que as aes se realizam comumente na zona entremars. Agregam-se ao impacto do leo no ambiente, os danos gerados pelo trfego de mquinas pesadas na zona entremars. Um exemplo de intensa manipulao do sedimento o revolvimento de sedimentos contaminados. Esse mtodo baseia-se na descoberta do momento em que o leo se agrega s partculas finas de sedimento,

3.3. Aplicao de turfa em mancha de leo. Lagoa costeira, Praia da Lagoa, Ubatuba (SP). Banco de imagens da CETESB

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3.como silte e argila, favorecendo a limpeza natural do ambiente atravs da floculao do agregado partcula-leo, mesmo em locais abrigados da ao das ondas (OWENS, 1999). Esses agregados fazem com que o leo adsorvido no adira ao substrato e aos organismos vivos, favorecendo o intemperismo natural e principalmente a biodegradao do produto. A fim de potencializar este fenmeno, alguns autores tm estudado o deslocamento de sedimento contaminado entremars para o infralitoral, onde o leo pode ser agregado aos particulados finos, como alternativa para acelerar a limpeza natural. O revolvimento e o reposicionamento do sedimento so feitos com mquinas pesadas. So evidentes os intensos impactos desse mtodo, como conseqncia da circulao na zona entremars e deslocamento de grande quantidade de sedimentos na zona de maior riqueza biolgica da praia (franja do infralitoral). O recobrimento pode tambm ocorrer naturalmente em praias, quando a contaminao se d no perodo construtivo do ambiente. Este perodo est associado aos meses em que as condies de agitao martima so menores, normalmente no vero, quando h entrada de sedimentos na face praial. Ao contrrio, durante os meses de inverno ou de maior agitao martima (frentes frias, por exemplo), as ondas e correntes intensas retiram areia das praias caracterizando a fase destrutiva do ciclo praial. Este sedimento depositado em bancos de areia ao largo da costa. Com isso, os gestores da limpeza de praias, tendo conhecimento desse processo natural, devem tomar o cuidado de garantir que no existam reas contaminadas recobertas com sedimento limpo. O perodo de um nico ciclo de mar suficiente para recobrir o leo com uma fina camada de areia limpa. Caso contrrio, o leo encapsulado no sedimento ser redisponibilizado no perodo erosional, reaparecendo na praia e exigindo novas aes de limpeza.

Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo

Jateamento com gua alta e baixa presso O jateamento de estruturas e substratos consolidados sempre foi um dos mtodos mais utilizados para remoo do leo em costes rochosos e estruturas artificiais, como peres, colunas de portos, enrocamentos e quebra-mares, devido sua elevada eficincia de limpeza (foto 3.4). Consiste na remoo do leo atravs de jatos de gua com presses que variam de menos de quinhentas a mais de dez mil libras por polegada quadrada (PSI). Presses abaixo de quinhentas libras so consideradas baixas (low pressure flushing) e acima de mil libras, altas (high pressure flushing). O jateamento pode ser feito por mar (embarcao com compressores), ou por terra, com gua doce, ou salgada, quente, ou fria. Ainda podem ser utilizadas substncias qumicas associadas, como surfactantes e dispersantes, para aumentar a eficincia da limpeza. O princpio do jateamento com gua a remoo mecnica pela presso. Com isso, o leo removido da rocha mesmo em condies de alta viscosidade, densidade ou elevado processo de intemperismo, quando forma densas placas asflticas recobrindo a rocha. Quanto mais denso o leo no ambiente, maiores presses so necessrias para remov-lo. A principal e mais grave conseqncia ambiental do jateamento a remoo mecnica da fauna e flora, quando o procedimento realizado na zona entremars, rica em espcies. O procedimento remove eficientemente o leo, mas tambm promove a remoo da comunidade biolgica. O jateamento um dos procedimentos mais usados no Brasil e foi intensamente adotado em So Paulo, at o incio dos anos 90. A CETESB, ao questionar o mtodo por ser muito agressivo biota, comprovou, em experimentos, que as conseqncias do jateamento com alta presso em costes rochosos so mais graves do que quando o ambiente submetido recuperao natural (sem qualquer ao de limpeza) (JOHNSCHER-FORNASARO et al., 1990; MILANELLI; LOPES; JOHNSCHER-FORNASARO, 1992; MILANELLI, 1994). Este fato tambm foi comprovado por outros autores (NELSON, 1982). No Brasil, isso foi constatado aps o acidente ocorrido em janeiro de 2000, quando costes localizados na Baa de Guanabara, RJ, foram jateados com gua a alta presso (MILANELLI et al., 2000). Acompanhamentos posteriores confirmaram os severos danos adicionais do jateamento comunidade biolgica de substratos consolidados. Apesar de o sedimento rochoso estar li25

3.4. Jateamento de costes rochosos, Baa de Guanabara, RJ, 2000.Banco de imagens da CETESB

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

vre do contaminante (e da fauna e flora originalmente presentes), so necessrios muitos anos para o ecossistema retornar ao equilbrio novamente. Os danos gerados pelo jateamento tambm esto ligados contaminao do sedimento adjacente rea jateada e conseqentemente da teia alimentar (API, 1985). Pode-se considerar ento a possibilidade de reduo da presso de jateamento para preservar a comunidade durante a limpeza. Estudos conduzidos nesse sentido indicam que mesmo com baixas presses, abaixo de 500 psi, os impactos sobre a fauna e flora persistem, principalmente para as espcies mais frgeis e sensveis (LOPES et al., 1992; MILANELLI; LOPES, 1998). Com base no exposto fica claro que o jateamento de reas habitadas como mtodo de limpeza apenas justificvel do ponto de vista esttico. No acidente envolvendo o petroleiro Prestige, na Espanha, em novembro de 2003, o jateamento com alta presso no foi utilizado nos costes rochosos, mas apenas nas estruturas artificiais como pilares e muradas de portos. O jateamento utilizado durante as operaes de combate no vazamento proveniente do petroleiro Exxon Valdez, ocorrido no Alaska, em 1989 (EUA), gerou intensos danos adicionais nas comunidades de substrato rochoso (NOAA, 2004). Em So Paulo, desde 1994 no se usa essa tcnica na zona entremars habitada, adotandose outras tcnicas de limpeza menos impactantes. Jateamento com areia

Devido abraso e presso do jato de areia, o procedimento remove completamente a comunidade biolgica do substrato. O acmulo de areia na base das rochas tambm pode causar o soterramento e asfixia das espcies ali instaladas. Esse mtodo favorece a contaminao de reas adjacentes, pois o leo removido e/ou agregado aos gros de areia tende a afundar. Este material tem potencial para recobrir organismos de fundo. A aplicao do jato de areia fundamentada exclusivamente em razes estticas. Jateamento com vapor Um jato de vapor sob presso lanado sobre o leo presente em superfcies slidas. O princpio desse mtodo associar altas temperaturas ao efeito mecnico. O vapor a altas temperaturas liqefaz o leo, removendo-o da rocha. O calor e a presso removem os organismos presentes. Uma vez liquefeito, o leo se torna novamente uma fonte de contaminao da fauna e flora, caso no seja recolhido imediatamente. O leo removido do substrato pode contaminar reas adjacentes e penetrar mais profundamente em sedimentos arenosos. Segundo API (1985), este tipo de limpeza favorece a contaminao da teia alimentar por meio do recurso detrito contaminado. O ambiente inerte aps esse tipo de limpeza necessita de muitos anos para ser recolonizado e atingir novamente a estabilidade. Remoo manual

a remoo do leo por meio da projeo de um jato de areia (ou outro agente abrasivo) sob presso, aplicado sobre superfcies slidas como costes rochosos e substratos artificiais (enrocamentos, pilares de portos, rampas, peres etc.).

A remoo do leo realizada com o uso de materiais simples, como rodos, ps, latas, baldes, carrinhos de mo, tambores etc. (foto 3.5). Propicia o acesso e a limpeza de locais restritos como fendas, poas de ma-

3.5. Remoo manual. Vazamento em oleoduto, So Sebastio, SP. Banco de imagens da CETESB.

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3.rs e conjunes de rochas, bem como de reas mais extensas como praias de areia. Esta tcnica no utiliza equipamentos ou mquinas na limpeza. Em muitos casos, adota-se a remoo manual por ser a escolha mais adequada do ponto de vista ambiental, ou por falta de recursos adequados. especialmente indicada em regies sensveis, que no suportam o impacto de procedimentos mais agressivos de limpeza, como manguezais, marismas e plancies de mar, entre outros. Na limpeza manual, bem orientada e treinada, a equipe tem condies de remover considerveis quantidades de leo do ambiente, causando mnimos danos adicionais. adotada freqentemente em conjuno com a aplicao de absorventes. A desvantagem desse mtodo o fato de ser mais trabalhoso e requerer mais tempo, necessitando tambm de maior nmero de trabalhadores. Exige intensa fiscalizao e superviso por parte da coordenao de campo.

Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo

tcnica til na remoo de leo de reas menos acessveis, como costes rochosos, e onde houver formao de poas e acmulo de produto. Por esses motivos, a limpeza manual um mtodo recomendvel desde que o procedimento seja definido criteriosamente, caso a caso, e com suporte logstico satisfatrio. Limpeza natural Quando o leo no removido do ambiente pelos mtodos convencionais, os processos naturais de limpeza e remoo comeam a atuar. Os principais so a ao das ondas, das mars e as correntes martimas/costeiras (foto 3.6). Isso significa que os principais processos naturais de limpeza da costa so mais eficientes em locais ou perodos de maior agitao hidrodinmica (TKALICH; CHAN, 2002). No entanto, outros fatores tambm contribuem para a remoo natural do leo, mesmo em ambientes mais abrigados da ao das ondas, entre os quais esto: biodegra-

3.6. Costo com elevado hidrodinamismo. Ponta de Toque-Toque Grande, So Sebastio (SP). Banco de imagens da CETESB.

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Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

dao, volatilizao, solubilizao, foto oxidao e disperso, e outros. Esse processo natural tem favorecido a limpeza de ambientes mesmo em regies abrigadas da ao das ondas. Nessas condies, processos como a formao de emulses leo-mineral (silte-argila) tem favorecido a limpeza natural dos ambientes costeiros (OWENS, 1999). A eficincia da limpeza natural depende de fatores como o tipo e a quantidade de leo, o ambiente, a poca do ano, entre outros, gerando resposta em perodos de tempo variveis, de algumas semanas a vrios anos. Muitas vezes a escolha da limpeza natural como estratgia de combate gera crticas da mdia, ONGs e outros segmentos da sociedade, cuja expectativa ver concretizadas aes e movimentao intensiva de combate poluio. Quando o cenrio do acidente adequadamente avaliado e a limpeza natural adotada com base em justificativa tcnica, no deve ser confundida com negligncia, pois nesses casos no fazer (do nothing) constitui a melhor estratgia. necessrio orientar devidamente a sociedade sobre as tcnicas que sero adotadas. A opo pela limpeza natural faz submeter o ambiente aos efeitos diretos do leo resultantes do recobrimento e da toxicidade do produto, por um tempo muito varivel. As fraes mais txicas do leo (compostos aromticos) tendem a evaporar-se rapidamente nas primeiras horas aps o derrame, enquanto o tempo de contato dos organismos com essas fraes tende a ser relativamente pequeno. A exceo ocorre quando o vazamento provm de fontes em terra, como vazamentos de dutos, ou quando a fonte de impacto estiver muito prxima dos ambientes costeiros. Nestes casos a comunidade biolgica atingida pelo leo ainda fresco, com todo o seu potencial txico. Por outro lado, os ambientes em geral tm um potencial de limpeza natural, cuja eficincia diretamente proporcional ao grau de hidrodinamismo presente. Em ambiente exposto, a remoo e a disperso natural do leo acontecem no prazo de semanas a meses. Contudo, em ambientes abrigados o leo pode permanecer vrios anos. Portanto, deve-se estabelecer imediatamente o uso de mtodos auxiliares de limpeza, que no agreguem danos adicionais relevantes, favorecendo tanto quanto possvel a recuperao natural do ambiente. Esses procedimentos devem ser avaliados e definidos caso a caso. Muitos autores defendem a prioridade dos processos naturais de limpeza, uma vez que a maioria dos mtodos 28

causa algum tipo de impacto adicional comunidade biolgica, em muitos casos mais prejudiciais que o prprio leo (OCIMPF; IPIECA, 1980; MILANELLI, 1994; NOAA, 2000; API et al., 2001, DICKS et al., 2000). No Estado de So Paulo, a limpeza natural freqentemente priorizada e se associa a mtodos como bombeamento a vcuo, uso de absorventes e limpeza manual que aceleram o processo de recuperao do ambiente e so praticamente incuos biota, quando conduzidos de forma correta. Corte da vegetao No so raros os casos em que o leo vazado atinge rvores de mangue, bancos de algas e plantas aquticas (macrfitas) em marismas, esturios, lagoas costeiras ou mesmo margens de rios. A vegetao impregnada sofre os efeitos do contato direto (recobrimento e intoxicao), ocorrendo o mesmo com a fauna a ela associada. Alm disso, tornam-se fontes de recontaminao do ambiente. A vegetao impregnada com leo pode ser retirada mecnica ou manualmente (foto 3.7). A dimenso da remoo associa-se gravidade da impregnao. Pode ser feita a poda de partes da planta ou a remoo total da vegetao. A poda e a remoo da planta causam conseqncias adicionais negativas ao ambiente, devendo ser consideradas com cautela. Embora as experincias envolvendo corte de vegetao sejam limitadas, a eficincia dessa tcnica questionvel, devido aos possveis danos conseqentes do cor-

3.7. Poda controlada de vegetao contaminada com leo. Foz do rio Guaec, So Sebastio (SP). Banco de imagens da CETESB.

3.te. Utiliza-se este procedimento principalmente para macrfitas aquticas como gramneas marinhas (ex. Zostera) e marismas (ex. Spartina, Fucus, Ascophillum). Pode ser til em cenrios especficos onde a poca e a fisiologia das espcies atingidas favorecem a rpida recuperao do ecossistema. Em outros casos, mesmo a poda controlada causa a morte da planta. A justificativa adotada para o corte de marismas principalmente evitar a morte da planta por intoxicao e asfixia e impedir a contaminao de aves e outros animais associados ao bosque. Em 26 cenrios envolvendo corte de marismas, a recuperao do bosque foi positivamente afetada pelo corte em oito casos, negativamente afetada em 12 casos e no apresentou diferenas significativas com o corte em seis casos (NOAA, 1995). A remoo total da vegetao gera impactos adicionais severos biota e ao equilbrio geomorfolgico do ambiente (dinmica de deposio de sedimentos, processos erosivos etc.). Segundo API (1985), pode causar tambm a modificao da estrutura da comunidade, uma vez que a fauna acompanhante depende do substrato vegetal para se estabelecer. A remoo de talos vegetais associados aos sedimentos lamosos gera tambm a ressuspenso de particulados, alterando as caractersticas dos micro-hbitats relacionados a essas plantas. O recurso detrito tende a ser contaminado tambm com essa manipulao, uma vez que o leo agregado s frondes vegetais pode desprender-se para a gua e sedimento. Devese tambm considerar a perturbao fsica dessa manipulao, associada ao pisoteio de plantas e movimentao de operrios no substrato. Em So Paulo, as poucas experincias com a poda controlada de vegetao, coordenadas pela CETESB, tiveram bons resultados, tanto na zona costeira como em ambientes fluviais interiores. Essas experincias foram cuidadosa e criteriosamente conduzidas nas margens externas de marismas e macrfitas aquticas de lagoas costeiras. No entanto, considerando os cenrios e a experincia internacional, necessrio cautela na considerao do uso dessa tcnica. Biorremediao A biorremediao pode ser entendida como o ato de adicionar material ou substncias a ambientes contaminados, para acelerar os processos naturais de biodegradao (SWANNELL; LEE; MCDONAGH, 1996). Segundo Lee e DeMora (1999) pode ser dividida em dois processos: bioadio que o uso de bactrias e outros microrganismos no meio ambiente capazes de

Limpeza de ambientes costeiros atingidos por leo

degradar contaminantes, como suplemento comunidade microbiolgica existente; e bioestimulao que a aplicao de nutrientes e co-substratos em reas contaminadas para estimular o crescimento de populaes autctones de organismos capazes de degradar contaminantes. H, pelo menos, duas dcadas, o processo de biorremediao encontra-se em desenvolvimento tecnolgico. Foi aplicado em diversos cenrios reais como os vazamentos dos navios Exxon Valdez, Amoco Cadiz, Apex Barge, Mega Borg, e Prestige (NOAA, 2004; SWANNELL; LEE; DONAGH, 1996, WHITFIELD, 2003). Atualmente esto em desenvolvimento vrios produtos industrializados especficos, entre eles materiais absorventes enriquecidos com nutrientes que estimulam o desenvolvimento de bactrias e fungos capazes de degradar o leo quando deixados no ambiente. Muitos desses produtos derivaram do uso na atividade agrcola. No entanto, uma das principais limitaes existentes biodegradao induzida a falta ou limitao de oxignio em ambientes redutores como sedimentos de manguezais, marismas, baixios lodosos e plancies de mars. Nesses ambientes, mesmo com abundncia de nutrientes, a degradao anaerbica muito menos eficiente. Sabe-se que a biodegradao essencialmente um processo aerbico (EVANS; RICE, 1974; LEE; DE MORA, 1999). Por outro lado, ambientes abertos como praias so menos sujeitos a limitaes de oxignio, mas torna-se difcil manter os nutrientes em sedimentos lavados pelas ondas e mars antes de serem incorporados pela microflora. No Brasil a biorremediao de reas contaminadas por vazamentos de leo determinada pela Resoluo do CONAMA nmero 314 (BRASIL, 2002a) que est sendo regulamentada por Instruo Normativa especfica. A bioadio no tcnica legalmente permitida em ambientes naturais costeiros no Brasil, devido aos riscos de perturbao do equilbrio ecolgico local e pela falta de conhecimento especfico sobre sua aplicao neste contexto. A CETESB considera a aplicao de absorventes enriquecidos de nutrientes como tcnica vivel de biorremediao, mas em situaes especficas, e considerando outros aspectos como as condies ambientais, a possibilidade de recolhimento do leo, os impactos adicionais dos procedimentos e a limpeza natural. Atualmente a biorremediao no um procedimento prioritrio de limpeza para os ambientes costeiros. 29

guas abertas, costeiras e ocenicasCARACTERSTICAS DO AMBIENTE

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O

s ambientes presentes em guas abertas pertencem zona pelgica, que abrange toda a coluna dgua sobre os substratos marinhos, estendendo-se da linha da costa, a partir da linha de mar baixa, at as guas ocenicas. A comunidade biolgica da zona pelgica (guas abertas) composta basicamente por plncton (fitoplncton e zooplncton) e ncton. O fitoplncton engloba organismos, em sua maioria formados por uma nica clula, que realizam fotossntese. Os componentes do zooplncton so animais que abrangem desde aqueles formados tambm por apenas uma clula, at pequenos vertebrados. Tanto a locomoo do fitoplncton como do zooplncton determinada pelos movimentos das massas dgua, apesar de alguns representantes mostrarem certa mobilidade. O ncton compreende os organismos capazes de vencer as correntes marinhas, devido sua capacidade de locomoo, como polvos e lulas, peixes, rpteis, aves e mamferos marinhos (LEVINTON, 1995). A zona pelgica dividida em guas costeiras e guas ocenicas, cujas caractersticas so descritas a seguir. guas costeiras Tambm denominadas como zona nertica, abrangem os corpos dgua desde a zona entremars at os limites da plataforma continental (at duzentos metros de profundidade e cinqenta a duzentos quilmetros da costa) e compreendem cerca de 10% de toda a rea dos oceanos. Tanto em quantidade como em diversidade, a zona costeira comporta a maioria dos organismos marinhos, como reflexo principalmente das condies favorveis de nutrientes em suas guas. As grandes reas pesqueiras comerciais do mundo inteiro esto localizadas nesta zona, prximas aos continentes, principalmente em regies de ressurgncia onde ocorre um intenso enriquecimento das guas com nutrientes vindos das zonas profundas dos oceanos. A grande biomassa de peixes reflexo da abundncia de plncton que, por sua vez, conseqncia da elevada presena de nutrientes na gua. Dentro da complexa teia alimentar da zona costeira incluem-se tambm aves, mamferos e rpteis marinhos. Ambientes especiais so as regies abrigadas como baas fechadas, canais, reas de portos, enseadas e esturios. Estes apresentam geralmente guas calmas e rasas, bastante produtivas, e freqentemen-

te comportam comunidades biolgicas tpicas de cada uma dessas regies como reflexo das suas caractersticas ambientais - turbidez, salinidade, temperatura, nutrientes, vindos de rios e ambientes costeiros adjacentes, padres de circulao de gua, ondas e mars. guas ocenicas So as guas alm da plataforma continental com profundidade acima de duzentos metros, caracteristicamente pobres em nutrientes e que, em conseqncia, comportam comunidades biolgicas mais pobres. No entanto, as espcies de alto-mar representam importante papel na teia alimentar pelgica. As mais comuns desta regio so os peixes ocenicos, golfinhos e baleias, as aves marinhas como albatrozes, trinta-ris e petris, todas com hbitos migratrios. A dinmica biolgica do ambiente ocenico determinada pelos padres de circulao das grandes correntes ocenicas, que tm caractersticas intrnsecas e especficas de salinidade, nutrientes e temperatura. As correntes propiciam o desenvolvimento de comunidades adaptadas a cada uma dessas situaes. As correntes ocenicas tambm representam um importante meio de transporte e distribuio de organismos, cujas larvas podem ser levadas de uma regio a outra dos oceanos, como ocorre com vrias espcies de moluscos e crustceos.

SENSIBILIDADE AO LEOMuitos efeitos subletais podem ocorrer em diferentes escalas nas comunidades pelgicas, causando algum grau de perturbao no equilbrio das mesmas. Um dos principais efeitos subletais a bioacumulao de hidrocarbonetos atravs da teia alimentar, uma vez que vrios componentes do plncton ingerem pequenas partculas de leo e transferem este contaminante aos seus predadores, e assim por diante, at os nveis trficos mais elevados da cadeia alimentar. A teia alimentar pelgica parece ser menos vulnervel aos danos por leo do que as comunidades que existem nos ambientes costeiros como praias, costes, manguezais e plancies de mars. pouco provvel que um derrame de leo presente na superfcie da coluna dgua em reas mais profundas produza mudanas detectveis nas populaes de espcies pelgicas, exceto, possivelmente, em curto prazo, nos componentes do plncton (API, 1985). No entanto, em guas rasas e prximas costa como baas, canais e enseadas abrigadas, os efeitos do leo 31

Ambientes Costeiros Contaminados por leo Procedimentos de Limpeza

nas comunidades pelgicas podem ser bem maiores, devido circulao dgua reduzida destes ambientes e maior permanncia do produto em contato com os organismos. A contaminao nestes casos afeta especialmente o fitoplncton, o zooplncton e as populaes de peixes (API, 1985). Sensibilidade do plncton A estrutura do ecossistema de guas abertas extremamente influenciada e controlada pelo suprimento de nutrientes aos produtores primrios (fitoplncton), determinando o tamanho, composio, abundncia e diversidade desses produtores, os quais suportam todo o resto da cadeia alimentar. Portanto, o fitoplncton a base de toda a comunidade marinha. Uma vez que o plncton ocorre caracteristicamente na camada mais superficial do oceano, justamente a frao mais susceptvel ao leo, com alto risco de exposio ao produto (API, 1985). Trabalhos cientficos mostram que vrias espcies do fitoplncton e zooplncton so muito sensveis ao leo. Entre os componentes do zooplncton os mais abundantes so os coppodos, especialmente sensveis ao produto (API, 1985). As larvas de peixes so tambm sensveis, mais que os respectivos estgios adultos (API, 1985). Em guas ocenicas h rpida diluio e disperso do leo. Da mesma forma, o plncton encontra-se irregularmente distribudo na massa dgua. Conseqentemente no se espera um efeito significativo aos organismos planctnicos dessas regies do oceano (ITOPF, 1987). Em reas costeiras, por outro lado, o plncton vulnervel a derrames, tendo em vista a menor circulao e renovao das guas, principalmente em baas e esturios. Alm do contato com o produto, de sua frao hidrossolvel ou mesmo pela ingesto no caso do zooplncton, as manchas mais espessas de leo impedem a incidncia de luz nas camadas inferiores da coluna dgua, ocasionando mortalidade dos organismos fotossintetizantes. Porm, em geral o plncton tende a se recuperar em curto prazo, visto sua elevada taxa reprodutiva. Em certos casos, ovos e larvas de peixes podem ser afetados, reduzindo temporariamente o nmero de recrutas no estoque pesqueiro. Entretanto, no tem sido evidenciado efeito em longo prazo nas populaes adultas (IMO, 1997). Sensibilidade de peixes Devido sua elevada mobilidade, os peixes, principalmente os de gua ocenica, exibem baixa vulnerabi32

lidade ao leo porque deixam as reas contaminadas em busca de locais livres de poluentes (IPIECA, 1991). Peixes de guas costeiras, sobretudo os que vivem associados a fundos consolidados - corais, rochas -, que exibem comportamento territorial so mais vulnerveis, pois tm maior oportunidade de contato com as fraes hidrossolveis do poluente ou atravs da ingesto do produto pela contaminao de seus recursos alimentares. As fraes aromticas solubilizadas podem manifestar efeito narcotizante aos peixes, causando a desorientao dos indivduos. Com isso, os cardumes tornam-se mais suscetveis a predadores. Perturbaes olfativas e oculares previnem ou dificultam a fuga de predadores ou a obteno de alimento; dessa forma, o leo provoca um efeito negativo indireto s populaes de peixes. Os peixes podem ainda bioacumular o poluente pela ingesto de alimento contaminado, tornando a concentrao de leo em seus tecidos maior do que aquela presente na gua do mar. Esta questo de grande importncia socioeconmica e sanitria, tendo em vista a utilizao do pescado na dieta humana. Em eventos reais com possibilidade de contaminao do pescado, os rgos competentes com base no princpio da precauo probem a extrao desses recursos sob risco (pesca, extrativismo) com a finalidade de evitar, por prudncia, que sejam utilizados pela populao local. Sensibilidade de rpteis marinhos (tartarugas) As tartarugas marinhas encontram-se em declnio numrico. Vrias espcies se acham sob risco de extino. Dessa forma, constituem um grupo de particular interesse quando so abordadas questes de acidentes envolvendo derrames de leo no mar. Quando esto no mar, as possibilidades de entrar em contato com o poluente, embora menores, representam certo risco, tendo em vista que sobem superfcie para respirar. Nessas ocasies podem entrar em contato com manchas de leo ou ainda inalar vapores txicos nas camadas sobrejacentes. Nas pocas de procriao esses animais so especialmente vulnerveis, porque a postura se realiza em ninhos que constroem nas praias. Segundo IMO (1997), se esses ambientes estiverem contaminados, as tartarugas podem ser afetadas, porque: a ingesto de leo pelas tartarugas adultas ocasiona danos a seu trato digestivo; o leo pode causar irritao s mucosas nasais e

4.oculares e evoluir para inflamaes e infeces; os ovos podem contaminar-se pelo leo presente nas areias, inibindo seu desenvolvimento; e as tartarugas jovens, aps emergir dos ninhos, podem entrar em contato com o leo durante seu percurso em direo gua. Sensibilidade de aves marinhas As aves constituem os recursos biolgicos mais vulnerveis a derrames de leo (IMO, 1997). A avifauna costeira mais vulnervel, visto que se encontra em maior nmero que em guas ocenicas. Segundo IMO (1997), a sensibilidade das aves ao leo reside em vrios aspectos. Os principais so: penas contaminadas perdem a capacidade de isolamento trmico do animal. A gua penetra entre as penas, diminuindo a temperatura corporal. Com isso o animal passa a evitar o contato com a gua; para manter o equilbrio trmico, grande quantidade de energia gasta custa do consumo de reservas calricas que devem ser repostas pela alimentao. Como evitam o contato com a gua, as aves no obtm alimento, tornando-se debilitadas e predispostas ao desenvolvimento de infeces e outras doenas; o aumento de peso provocado pelo leo aderido s penas dificulta ao animal alar vo para procurar alimento ou mesmo outras reas no atingidas pelo leo; os animais podem ingerir o poluente pela contaminao dos recursos alimentares ou na tentativa de limpar as penas atingidas. A ingesto do leo pode ser fatal dependendo da quantidade e do tipo ingerido. Tem sido registrado o comprometimento de rgos como fgado, intestino e glndulas nasais; e a reduo na postura de ovos e insucesso na incubao pelo contato da superfcie dos ovos com as penas das aves contaminadas. Sensibilidade de mamferos marinhos Os mamferos marinhos apresentam elevada mobilidade e migram para reas vizinhas livres do contaminante. Porm, animais de regies costeiras e que apresentam distribuio restrita so mais vulnerveis a derrames de leo. Lontras marinhas foram intensamente atingidas por ocasio do derrame de leo no incidente com o Exxon Valdez. Os peixes-boi so exemplo de mamferos marinhos vulnerveis no Brasil, em reas definidas do Nordeste, associados a bancos de macrfitas aquticas das quais se alimentam. Os efeitos esto ligados ingesto de leo pelo animal ou inalao de vapores quando sobem tona para respirar (IMO, 1997).

guas abertas, costeiras e ocenicas

Animais atingidos pelo produto, em especial aqueles que habitam periodicamente ambientes praiais (praias e costes) como focas e lees marinhos, entre outros, sendo mais susceptveis podem exibir hipotermia e dermatites devido contaminao da pele. Tambm pode ocorrer irritao das mucosas, ocasionando o desenvolvimento de leses nas narinas e regio ocular. Animais jovens e imaturos exibem maior sensibilidade ao leo, podendo haver a transferncia de toxinas em animais em fase de lactao. A bioacumulao de hidrocarbonetos pode ocorrer devido ingesto de alimento contaminado ou em conseqncia da tentativa de limpeza de seus plos. Se impactadas, as populaes de mamferos marinhos apresentam recuperao lenta, pois so formadas normalmente por pequeno nmero de indivduos. Alm disso, a maturidade sexual s alcanada tardiamente. Os poucos indivduos das populaes que esto aptos a reproduzir, quando o fazem, tm prole de poucos exemplares.

MTODOS DE LIMPEZA RECOMENDADOSQuando ocorre um vazamento, os procedimentos eficientes de conteno e remoo do leo do mar so vitais para assegurar a minimizao dos impactos, evitando, tanto quanto possvel, que recursos biolgicos e socioeconmicos, bem como ecossistemas costeiros contguos ao local do acidente sejam atingidos. A eficincia na resposta s aes de conteno e remoo do leo permeia fatores como: rapidez no acionamento das equipes e desencadeamento das aes necessrias; disponibilidade de recursos e equipamentos em quantidade e especificidade adequadas ao cenrio acidental; e disponibilidade de pessoal treinado e capacitado para o desenvolvimento das tarefas relacionadas frente de trabalho. Esses fatores, programados e agregados a um plano de emergncia, podem e devem ser aperfeioados para resultar no


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