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141.00 história ano 12, fev. 2012
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arquitextos ISSN 1809-6298
Uma nova proposta de abordagem da história da arquiteturabrasileiraCarlos A. C. Lemos
Igreja de Gesú, Roma
Foto Victor Hugo Mori
Cremos tenha sido o crítico de arte e ensaísta argentino Damián Bayón o
primeiro a escrever sobre as condições em que ocorreu a produção artística
do Novo Mundo face à experiência milenar europeia (1). No Velho Continente,
em suas variadas regiões, a arquitetura, como as demais artes em geral, se
desenvolveu num continuum onde, com muita precisão, a produção de bens se
compartimenta em definidos períodos, cada qual com suas características
locais singulares. Isso permite aos historiadores e críticos distinguir com
exatidão os artefatos daqui e dali; a sucessão de eventos significativos,
cuja cronologia e locus demarcam etapas de um caminho lentamente percorrido
pelo homem sensível às coisas da estética. A eles, é fácil percorrer a
seqüência dos estilos e das técnicas no universo europeu.
Na América, ao contrário, como nos disse Bayón, em aula na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, todos os gostos e estilos desaguaram
misturados de roldão na produção artística do mundo americano, cujos
artífices ignoravam candidamente o que fosse antecedente ou conseqüente
naquela barafunda de estilemas trazidos sem maiores explicações. Os
primeiros agentes culturais aqui arribados, tenham sido engenheiros
militares, ou arquitetos inseridos no corpo das ordens religiosas, ou
mestres de risco reinóis avulsos, todos eles, com diferenciadas informações
ou experiências, trouxeram em suas bagagens as lições de seus mestres e,
outrossim, esmaecidas pela distância, as recomendações dos tratadistas do
renascimento e do maneirismo enquanto guardavam em suas saudades as
aparências das antigas capelas, igrejas e mosteiros românicos de suas
velhas aldeias rurais, de Braga, do Porto ou de Lisboa. E já cerca de
duzentos anos após Cabral, se alastrou pelo litoral canavieiro o barroco
introduzido no Reino pelos arquitetos e escultores italianos. Depois,
ainda, com data marcada, encerrando o tempo colonial, chegou-nos o
neoclássico francês pelas providências do corpo diplomático da corte fugida
justamente de Napoleão, em 1808. Foi o estilo oficial do nosso Império.
Essa a circunstância brasileira onde, no cenário edificatório anterior a
dom João VI, na maioria das ocasiões, uma manifestação estilística
qualquer, uma modinatura específica, um agenciamento ou um partido
arquitetônico determinado dificilmente poderão indicar sozinhos, sem o
auxílio de documentos, a época de sua ocorrência ou mesmo situar uma
construção numa cronologia qualquer. Aquele mesmo citado rei, como veremos,
mal chegado ao Rio, por exemplo, inaugurou a igreja de Santa Cruz dos
Militares, magnífico exemplar maneirista calcado na Gesú de Roma. Os
estilos aqui chegaram verdadeiramente em tempo real de seu percurso
cronológico só a partir dos franceses da chamada Missão.
141.00 história
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original: português
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141
141.01 crítica
A lógica na arquitetura
Bruno Roberto Padovano
141.02 artes plásticas
Estranhas paisagens
Marta Bogéa
141.03 cinema
Coriolano, nosso
contemporâneo
Shakespeare pelas
lentes de Ralph Fiennes
Slavoj Žižek
141.04 design
Cabeça, mãos e alma
Reflexões sobre design
e artesanato na América
Latina
Adélia Borges
141.05 arte e cultura
O Ca’ d’Oro nas góticas
águas de Veneza
Adson Cristiano Bozzi
Ramatis Lima
141.06 obra de
arquiteto
Hans Broos
Singularidades do
pensamento e da obra de
um mestre
Karine Daufenbach
141.07
The Old Story of a
‘New’ Imperative
Sustainability and
Informal Housing within
Architectural Discourse
Christine Taylor Klein
141.08
Urbanidade e a
qualidade da cidade
Douglas Aguiar
jornal
notícias
agenda cultural
rabiscos
eventos
concursos
seleção
em vitruvius
Vista da Igreja de Santa Cruz dos Militares, Rio de Janeiro RJ. Aquarela de
Richard Bates, século 19 [Wikimedia Commons]
Entre nós, aqueles acima citados agentes culturais, atuando nos principais
centros econômicos do litoral, sobretudo na costa açucareira nordestina,
tiveram suas influências absorvidas empiricamente pelos construtores locais
através da observação e cópia de obras destinadas ao Governo, à Igreja, à
classe dominante agrária ou aos comerciantes enricados. Os exemplares
arquitetônicos sucessivos, cada vez mais afastados dos modelos originais,
acabaram propiciando “contaminações” e despoliciamentos das normas
estilísticas sugerindo um singular ecletismo precursor daquele histórico do
século XIX.
Essa disseminação aleatória de estilos ou de maneiras de fazer, ao longo do
tempo, acompanhada de uma diluição das normas acadêmicas e dos aspectos
“eruditos” fez surgir uma arquitetura de alto interesse, onde o lado
antropológico não pode ser olvidado porque tem presença marcante explicando
justamente aquela “circunstância americana” relativa à arquitetura onde o
esquecimento das regras propicia obras de recriação do maior valor. De
fato, essa constatação nos fez lembrar da reação de um certo editor
italiano ao título de uma obra a ele oferecida falando em “arte no Brasil”,
exigindo que a publicação somente tratasse de “l’arte del Brasile”, porque
naqueles dias comemorativos dos 500 anos da descoberta da América, o que
realmente interessava aos estudiosos europeus era conhecer a contribuição
original do artista brasileiro pertencente a uma distinta sociedade
miscigenada na qual também índios e negros tiveram atuação relevante (2).
De fato, nas comemorações à volta do feito de Colombo, o que despertava
curiosidade era justamente aquilo que o artista apartado na América
devolvia ao europeu a partir do seu isolamento digerindo os preceitos
ibéricos arribados com as caravelas. O que deveria ser mostrado a todos
seriam, por exemplo, adaptações ao meio ambiente, ao clima, à nova
sociedade mestiça a partir da inventividade do autóctone que sabia coisas
da Europa só por ouvir dizer.
Com efeito, de início, muitos fatos aconteceram modificando a arquitetura
trazida pelos recém-chegados. Vieram ao Brasil as pessoas mais variadas, do
norte ou do sul lusitano, sabendo procedimentos os mais diversos, ou não
conhecendo nada de mais, de modo que nunca houve um consenso sobre como
agir coletivamente no quadro das construções naquele ambiente falto dos
materiais mais comezinhos na pátria distante. Aqui, tão somente haviam de
aproveitar dos recursos do meio ambiente e se utilizar do saber fazer dos
índios até a definição dos sincretismos inevitáveis e do uso dos demorados
e sucessivos meios vindos da pátria distante. Foi um começo difícil.
No processo cultural brasileiro aconteceram situações singulares que
definiram e qualificaram a arquitetura nacional desde os tempos de Colônia
até hoje. Deste modo, assim pensamos, temos que identificá-las e acompanhar
suas existências pelo tempo afora no vasto Brasil. Numa metodologia de
abordagem dessa produção “americana” chamemos essas situações singulares de
“conjunturas”, a nosso ver, em número de quatro, a saber: Primeira
Conjuntura, a relativa ao meio ambiente; Segunda Conjuntura, a própria da
nova sociedade; Terceira Conjuntura, a proporcionada pelas regras,
ordenações do reino, constituições, códigos, posturas municipais e breves
papais referentes às atuações da Igreja no Brasil colonial; Quarta
Conjuntura, em síntese, seria aquela à volta dos procedimentos referentes
às atividades dos arquitetos e construtores face às três conjunturas
anteriores, quando, também, estará presente a intenção plástica. Enfim,
nesta Quarta Conjuntura estaria definido o partido arquitetônico, que é a
consequência formal, tangível ou visível daqueles condicionantes e
determinantes atrás arrolados.
Certamente podemos relacionar variadas ocorrências peculiares de cada uma
daquelas conjunturas numa tentativa de buscar a viabilidade dessa ideia de
substituir o modo atual de dividir nossa história da arquitetura em
períodos ligados a ciclos econômicos ou a determinadas políticas
administrativas. Essa aproximação via conjunturas, assim julgamos, permite
sejam estudadas e analisadas concomitantemente as obras arquitetônicas
desde os tempos de muito antigamente até hoje em todas as ilhas culturais
participantes do multifacetado arquipélago da civilização brasileira.
Ruínas do forno circular da Caieira dos Jesuítas, Cubatão SP
Foto Victor Hugo Mori
Resumindo, nesta Primeira Conjuntura, vemos que, desde o início, os
variados materiais disponíveis na natureza necessariamente não propiciaram,
em todo o território, um só tipo de construção. Expliquemos: no litoral
havia rochas e calhaus em abundância e fácil obtenção de cal, tirada dos
sambaquis e das conchas do mar. Daí, sem titubeios, essa escolha do muro
contínuo de pedra entaipada sobre o chão de areia incompressível. Em São
Paulo, por exemplo, no planalto, ao contrário, pouca pedra, cal muito cara
penosamente importada das caieiras jesuíticas de Cubatão, que exportavam
somente o que sobrasse da solicitação santista ou vicentina. E quanto à
madeira, dificuldades de transporte para os campos de Piratininga. Disso
tudo resultou a natural adoção da taipa de pilão, a exclusiva técnica dos
paulistas, usada continuamente no mundo bandeirante por três séculos e
meio. Em Minas Gerais, por sua vez, por motivos vários, as construções em
geral, fora as igrejas importantes levantadas em substituição às modestas
capelas iniciais, eram de taipa de mão, algumas de excelente fatura,
mormente aquela de carpintaria aprendida na reconstrução de Lisboa depois
do terremoto de 1755.
Parede de taipa de pilão do Sítio Solidão, Guararema SP
Foto Victor Hugo Mori
No sul, as grandes florestas entremeadas de araucárias, ao serem devastadas
pelos colonos alemães e italianos, já no século XIX, sugeriram as
construções inteiramente de tábuas, inclusive as coberturas de plaquinhas
lembrando a distante ardósia. Num segundo estágio, os tedescos
aperfeiçoaram aqui a arquitetura de enxaimel, que veio a caracterizar a
produção daquela operosa população chegada nos tempos ainda de D. Pedro II.
Hoje, a grandeza continental do Brasil e a disforme distribuição de
recursos em paisagens variadíssimas justificam a permanência, em diversos
locais, dessa natural seleção de modos de fazer, vinda dos tempos de
Colônia. Somente nos grandes centros é que vige a tecnologia moderna, com o
império do concreto armado e com o emprego de material importado.
A questão das condições meteorológicas também está presente na primeira
situação e sua importância foi fundamental nas determinações
arquitetônicas. Já de início, todos os europeus chegaram a uma constatação:
em seus lugares de origem, o rigor do clima a ser enfrentado era o do
inverno gelado e, para tanto, acendia-se o fogo, que, por sinal, também era
usado para cozer os alimentos. Daí, desde os romanos, a pedra do lar, do
trafogueiro no âmago da moradia, recebendo a fogueira aquecedora da família
reunida; outrossim em seuslugares de arribada na Colônia, quase que não
havia a sucessão das estações, sempre a temperatura era amena fora dos dias
quentes do verão que custava a passar e, porisso, sempre que possível, os
fogões e panelas fora de casa.Em muitos lares, mais de uma cozinha; a de
dentro só para os alimentos de cozimento rápido, para aquecer a sopa e
ferver a água do mate, do chá de congonha em São Paulo. Cozinhas
dispersas,quase que ao ar livre. A contribuição efetiva da casa européia à
morada brasileira foi a permanência do dormitório sob a cumeeira do telhado
e da cama que, lentamente foi expulsando a rede de dormir dos
índios. Dissotudo, por exemplo, a impossibilidade da mera transposição da
casa integral açoriana com seu fogão central para as colônias dos ilhéus em
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aqui a situação era outra. Aqui, a
casa, em vez de ser aquecida por dentro, deveria ser refrescada por fora.
Cozinha no interior da sede da Fazenda Esperança, Paraibuna SP
Foto Victor Hugo Mori
Essa afirmativa é veraz e responsável pelo alpendre doméstico. Realmente,
na Europa e, portanto na Península Ibérica, as casas nunca foram
alpendradas. Esse tipo de cobertura existiu na Espanha e em Portugal
unicamente nas capelas rurais em conseqüência da antiqüíssima determinação
canônica, que impedia a presença de pessoas não batizadas no templo e, para
eles, foi então reservado um lugar abrigado fora da nave, onde ficava a pia
batismal. Seria esse alpendre uma versão popular ibérica da galilé das
basílicas da Igreja de Roma (3).Versão popular repetida à exaustão no
Brasil, comopodemos ver naspinturas e gravuras, notadamente nos trabalhos
de Franz Post, no Pernambuco holandês do séculoXVII e ler nas atas da
Câmara de SãoPaulo daquele mesmo século. No núcleo bandeirante das duas
primeiras centúrias todas as igrejas urbanas eram alpendradas (4). Resta-
nos apenas a pequena igreja de São Miguel, de 1622. Sem dúvida, o alpendre
sombreador das paredes mestras da moradia brasileira veio-nos da Índia,
precisamente do bangalô, a construção rural com a totalidade do telhado
prolongado para fora da edificação destinado a fazer sombra, não só às
paredes, mas também, para proteger do sol seus moradores aproveitando a
brisa refrescante. A notícia do alpendre chegou-nos trazida pela carreira
das Índias, cujos navios, em suas aguadas nos portos do Rio e Salvador,
igualmente deixavam marfins, porcelanas esmaltadas, lacas, jacas, mangas e
carambolas.
Alpendre na capela de São Miguel, São Paulo SP
Foto Victor Hugo Mori
Alpendre na capela de Montserrat, Salvador BA
Foto Victor Hugo Mori
A nosso ver, esse alpendre volteando a casa copiado dos bangalôs(nada a ver
com o bungalow americano)indianos ficou circunscrito às construções rurais
do século XVIII e XIX da atual região litorânea fluminense, nas sedes dos
antigos engenhos de açúcar e residências solarengas à volta do Rio de
Janeiro. Talvez também tenha aparecido aqui e ali em algum engenho baiano,
mas sem se tornar um modismo regional. Depois dessas citadas ocorrências, o
alpendre firmou-se na arquitetura rural brasileira em geral, só na frente
da construção, como área de intermediação entre o público e o privado, com
o esquecimento de sua função primeira de moderador da temperatura interna
da casa. Transformou-se em zona de receber e de acesso à capela sempre
presente. Em São Paulo, ao contrário, a arquitetura domiciliar vernácula do
mundo bandeirante repudiou o alpendre porque era conveniente que a grossa
parede de taipa de suas moradas guardasse o calor da osculação solar para
aquecer as dependências à noite. O alpendre à volta da construção só
apareceu em São Paulo com o café, levado por famílias baianas fugidas da
seca, que assolou a Chapada Diamantina nas últimas décadas do século XIX
(5). Hoje, é moda inconteste.
O calor também foi o responsável pelas treliças das janelas e muxarabis,
sobretudo das casas urbanas, herdeiras diretas da arquitetura árabe/berbere
vigente em terras do sul português por cerca de seiscentos anos. Essas
rótulas e balcões gradeados apareceram pelo país todo havendo em São Paulo,
Minas, Rio, Pernambuco ou Maranhão exemplos magníficos desse recurso
amenizador da canícula, pois permitia a passagem permanente da brisa pelos
interiores da casa. Aliás,certo especialista em etimologia de expressões
árabes disse-nos certa vez que muxarabi significa exatamente “local onde é
refrescado o pote de água”, função que justifica o balanço daquele balcão
treliçado para ser cruzado lateralmente pelo vento que sopra pela rua
afora. Uma questão de física aplicada: a evaporação da umidade da
superfície da cerâmica molhada faz a temperatura cair e a água se resfriar.
É bom que se diga, somente agora com a mais avançada tecnologia é que nossa
arquitetura moderna conseguiu edifícios climatizados de modo a driblar
satisfatoriamente os rigores do calor tropical, soluções caras, no entanto,
e exclusividade dos ricos. Enquanto isso, os pobres e remediados têm que se
contentar com as inventividades ligadas à física e o curioso é que alguns
recursos interessantes, como os quebra-sóis, inspirados por Le Corbusier,
saíram de moda, como se fosse pecado usá-los no lugar do ar condicionado e
dos vidros espelhados e protetores dos raios ultravioletas da vida. E hoje
nos esquecemos dos esforços quase que desesperados de Oswaldo Bratke para
chegar a soluções baratas e viáveis de problemas de ventilação, isolamento
térmico e iluminação natural de casas, sobretudo as operárias, nas
instalações da Serra do Navio, no Amapá, por volta de 1949/50. O pior de
tudo, ao que parece, é que suas experiências e lições foram de pouco
alcance, se não olvidadas (6).
Muxarabi e treliçados, Diamantina MG
Foto Victor Hugo Mori
Muxarabi e treliçados, Diamantina MG
Foto Victor Hugo Mori
A Segunda Conjuntura refere-se primordialmente, na arquitetura, aos
programas de necessidades relativos às construções em geral e respectivos
desdobramentos mercê de sua permanente evolução advinda do progresso e da
mudança de hábitos manifestados ao longo do tempo, sobretudo nos anos
seguintes à Revolução Industrial. Na nova sociedade instalada na Colônia, a
partir de 1808, novos usos e costumes foram adaptados aos novos cenários,
sugerindo agenciamentos de singulares partidos arquitetônicos. Foi na roça,
entretanto, desde os primeiros dias, que as condições de vida plasmaram as
formas dos complexos rurais.
Nos ermos das distantes propriedades agrícolas instaladas em enormes
sesmarias e nos sítios formados em terras simplesmente apossadas, o dia-a-
dia, além de monótono, era falto de notícias frescas, as “novidades” ali
chegadas há muito já haviam ocorrido. Daí, bem-vindos os forasteiros. Os
maus caminhos, raros os carroçáveis, tornavam as viagens muito demoradas e
de obrigatórios pernoites. Os pousos de tropas nas estradas do interior
foram programas surgidos apenas no século XVIII para facilitar o transporte
de gêneros aos arraiais mineiros; para levar o açúcar ituano a Santos e, na
época do imperador jovem, para transportar o café até os barcos ancorados
serra-abaixo, do Rio de Janeiro para o sul. Mas, nos tempos da produção só
de subsistência e de diminuta circulação de mercadorias, como dissemos, as
viagens a pé (viajar à paulista, uma pessoa atrás da outra, como os índios)
e a cavalo eram realmente vagarosas e a hospitalidade nas fazendas
manifestou-se naturalmente como uma obrigação e não como virtude ou mera
cortesia. É claro que tais hóspedes viajores variavam de categoria social.
Raramente surgia o escoteiro estranho a caminho de seu destino – viajava-se
em comitivas, havia os escravos e índios “administrados” carregadores de
bagagens variadas acompanhando seus senhores brancos ou mamelucos
significativos no estamento dos mandões. Os subalternos dormiam no chão
embaixo das árvores, sob alguma coberta da sapé. Os iguais ao dono da casa
em dependências ao pé da moradia ou acopladas à própria construção,
conquanto independentes “da mais família”, como escreveu o padre Manuel da
Fonseca em sua biografia do jesuíta Belchiorde Pontes (7). Por outro lado,
um breve papal proibia terminantemente o exercício das práticas sacras como
a missa, o casamento ou o batizado promiscuamente em dependências
domiciliares. Daí, a razão de serem as capelas coloniais independentes, sem
acesso direto ao interior da residência. O dormitório para receber pessoas
de fora e a capela independente, então vieram a ser, nos tempos de Colônia,
dois elementos básicos do programa da casa rural, não só paulista de serra-
acima, mas verdadeiramente nacional, quem sabe, americano. Assim, ficou
definida uma área construída dedicada à intermediação entre o público e o
privado quase sempre determinada por um alpendre de distribuição chamado
pelo Brasil afora de “pretório”, “corredor”, “varanda”, ou “copiar”.
Alpendre térreo ou elevado, ao longo do pavimento assobradado. Note-se que
tal agenciamento deu-se, também, nas regiões a beira-mar ou próximas do
litoral, nos engenhos de açúcar do nordeste, onde os caminhos foram
substituídos pelos cursos d’água navegáveis que levavam a produção aos
portos de embarque.
Fazenda Pau d’Alho, São José do Barreiro SP; a meio caminho entre o Rio de
Janeiro e São Paulo, abrigou D. Pedro na viagem da Independência
Foto Victor Hugo Mori
Nas fazendas, a presença da mão-de-obra negra escrava foi fundamental para
dar continuidade ao fracionamento do programa em várias construções
satélites no quintal da morada principal desde os primeiros dias. Pelos
motivos do clima, do regime de trabalho, pelo cardápio e pela guarida aos
de fora, o programa de necessidades da casa roceira, de início, determinava
outrossim a mencionada zona de contato entre o público e o privado (hóspede
/ capela) separada radicalmente do citado quintal, isto é, das mulheres,
mucamas e das crianças. Mulheres reclusas, inclusive nas cidades, liberadas
de sair à rua só com destino às missas, sempre embuçadas por compridos
xales arrodeando toda a cabeça como no mundo muçulmano do Algarve e
Andaluzia. Mulheres que espionavam as visitas pelas frestas das portas. O
mundo das mulheres era o quintal murado de taipa ou cercado por grossos
paus fincados no chão; o mundo confinado das construções satélites; do
moinho; do monjolo; do telheiro do fabrico de farinha; do rancho do fogão
para derreter o toicinho; para fazer o sabão de cinzas e de desidratar o
caldo da cana até transformá-lo em melado e, depois, em rapadura. Quintal
das “árvores de espinho” (cítricas em geral) dos marmeleiros, das
parreiras, jabuticabeiras, bananeiras; dos talhões de cana para o açúcar da
casa; do mandiocal para a farinha cotidiana e mais canteiros para as
couves, amendoim, batatas várias, “toda sorte de carazes”, como disse
Anchieta nos primeiros dias de São Paulo. Vasto quintal dos chiqueiros e
das galinhas. Das roupas corando ao sol. Enfim, estão aí, as descrições dos
“bens de raiz” nos inventários dos primeiros séculos mostrando toda a
dispersão das pequenas construções pelo quintal, cada qual com sua função,
ao contrário do que acontecia no reino distante. A habitação unifamiliar do
fazendeiro totalmente isolada dentro do complexo agrícola é uma constante
do Brasil colonial. Somente dos finais do século XVIII em diante é que
vemos reinóis recém-chegados, sobretudo em Minas, Goiás e litoral do Rio a
Santos, instalando engenhos de açúcar anexados às suas moradias. Eram eles
ainda simplesmente isentos da cultura americana. Tudo como nos montes
alentejanos.
Fábrica e residência anexa no Engenho d’Agua, Ilha Bela SP
Foto Victor Hugo Mori
Somente a presença do escravo é que poderia justificar o programa dos
grandes sobrados urbanos do litoral, mormente aqueles nordestinos e, de
modo especial, os do Recife. Lúcio Costa, em um de seus memoráveis textos,
nos sugeriu e imaginamos que o negro escravo, dentro de casa, fosse
elevador carregando pelas escadas íngremes de altos degraus pessoas
achacadas, água vinda dos chafarizes, gêneros alimentícios, lenha para os
fogões instalados no último pavimento, às vezes, no quarto andar; era
esgoto, levando os barris repletos de excrementos senhoriais a serem
despejados no rio ou até no mar; era ventilador abanando os brancos
suarentos e subindo vidraças pesadas; enfim o negro-guindaste fazia a casa
funcionar.
Sobrados, Recife PE
Foto Victor Hugo Mori
Ainda na Conjuntura Segunda, podemos, na modernidade, vislumbrar longínquos
reflexos do tempo da escravatura condicionadora de programas se atentarmos
à presença da chamada “edícula” nos quintais das residências urbanas das
classes rica e média até hoje dependentes da mão-de-obra da empregada
doméstica. Comuníssimas nas grandes cidades até os dias da Segunda Guerra
Mundial e até agora planejadas nas cidades do interior, essas dependências
englobando quarto de empregada, banheiro, lavanderia, quarto de passar ou
garagem constituem uma exclusividade, ao que parece, somente brasileira ao
segregar essas funções “subalternas”. Esse isolamento daquelas instalações
de serviço logo manifestou-se outrossim nos primeiros edifícios de
apartamentos fazendo surgir em suas plantas uma clara distinção de
circulações, a dos familiares moradores titulares e a dos empregados,
faxineiros e entregadores de encomendas. Até os elevadores eram separados e
com acessos distintos. Ampla pesquisa em bibliografia estrangeira comprova
essa outra exclusividade brasileira que, somente há poucos anos, tende a
desaparecer, por variados motivos que não precisam ser aqui relembrados
(8).
Único exemplar do séc. XIX de edifício de apartamento que subsiste
parcialmente na R. Floriano Peixoto em São Paulo, projetado por Giulio
Micheli em 1896. Na planta aparece o quarto da criada, o WC e as alcovas
com aberturas para o “poço de ventilação"
A Terceira Conjuntura refere-se a breves papalinos, determinações
canônicas; às posturas, resoluções ou normas das câmaras municipais; aos
códigos sanitários estaduais a até às ordens ou resoluções constitucionais.
Quanto às determinações de caráter religioso, já lembramos aqui o caso da
exigência de isolamento das capelas particulares em relação à área
habitacional das sedes das propriedades rurais. Ordenações do Vaticano
também tiveram reflexo nos espaços urbanos desde o momento em que passaram
a exigir distâncias mínimas entre os conventos das variadas ordens
religiosas, o que explica a trama viária de muitas cidades do Novo Mundo,
como o caso do celebrado “triângulo” formado pelas ruas centrais históricas
de São Paulo devido à localização final dos franciscanos, antes instalados
na Rua Direita, em sua ermida pioneira, hoje igreja de Santo Antônio (9).
Nos dias de Colônia, as câmaras municipais, principalmente em Minas,
timidamente procuraram normalizar as construções procurando uniformizar os
frontispícios das casas, tentando uma “harmonia” impeditiva de
personalismos; tentaram equalizar os afastamentos e alturas das portas e
janelas das construções encarreiradas nos alinhamentos das ruas, até mesmo
nas ladeiras, fato que causou muita controvérsia e desobediências várias.
Queriam inclusive continuidade dos espigões em construções distintas, coisa
de fato desejável naqueles tempos de técnica construtiva muito limitada nos
desvios de águas pluviais.
Foi nos primeiros momentos da República positivista, no entanto, que as
construções em geral passaram a ser policiadas pelo Estado através de leis
e códigos disciplinadores não só do modus faciendi das obras mas também
como usá-las mormente atentando às questões da higiene. Pela primeira vez,
no Brasil, a lei entrava dentro das casas dizendo como elas deveriam ser,
contrariando os direitos sagrados de propriedade equacionados pela
Revolução Francesa (10). Agora, as áreas mínimas e os pés-direitos dos
cômodos teriam suas dimensões regulamentadas. Todas as dependências
deveriam ser providas de janelas garantidoras do ar e da luz natural. Adeus
às alcovas escuras e abafadas. Pisos e paredes ladrilhados nas cozinhas e
banheiros. E assim por diante. Os palacetes do ecletismo republicano,
então, inauguraram a postura envaidecedora e semostradora garantida pelo
isolamento total no centro do lote e pelas quatro fachadas igualmente
ajaezadas de ornamentação espantosa. E tudo dentro da lei. Leis nem sempre
benquistas, principalmente quando pretendem regular gabaritos e taxas de
ocupação. A história de nossa arquitetura moderna sempre está a mostrar
periodicamente solicitações ou providências destinadas a abrandar os
rigores da legislação, cujos autores às vezes estariam pouco atentos aos
alcances financeiros embutidos entre os artigos e parágrafos bem
intencionados. Leis ultrapassadas, quiçá incômodas. Essa história nunca
poderá ser contada com clareza porque nossa arquitetura nestes tempos não
depende só dos arquitetos mas também de empreendedores, cujos modos de agir
nem sempre estão dentro da ortodoxia desejada quando vislumbram perdas ou
ganhos significativos. Isso tudo para não falarmos da corrupção pura e
simples que não precisa, pelo contrário, de revogação de prescrição legal
alguma. E as cidades crescem à mercê dos caprichos do capitalismo.
A Quarta e última Conjuntura reúne as questões do saber fazer, os problemas
da arte de construir, as intenções estetizantes e a adoção de estilos pelo
Brasil afora, ontem e agora na modernidade. Evidentemente, os praticantes
ou profissionais nela envolvidos em suas atuações, de modo necessário, têm
que se louvar nos recursos e orientações vigentes, depois de vistas as
determinações ou condições expressas nas Conjunturas anteriores. Disso
tudo, resultará aquilo que chamamos de partido arquitetônico, isto é, a
formalização definitiva do bem arquitetônico.
Nesta Conjuntura Quarta, ao longo do tempo, podemos perceber algumas linhas
de conduta ou melhor, ações coletivas dirigidas por posicionamentos comuns
face a estilos; a determinadas soluções, agenciamentos ou a modos de
satisfazer certos programas, que podem levar à identificação de soluções
paravernaculares regionais no universo cultural brasileiro. Algumas dessas
correntes poderão ser exemplificadas rapidamente.
A primeira delas, talvez a mais importante em nossa arquitetura colonial,
foi a sob responsabilidade dos engenheiros militares atuantes sobretudo na
costa brasileira. Como indica a sua denominação vieram aqueles
profissionais edificar fortificações e, é bom que se diga, tais obras eram
pretensamente defensivas mas, primordialmente, tinham a função de demarcar
a posse portuguesa do território brasileiro. Naqueles dias da recente
descoberta das armas de fogo, as construções militares estavam a atender
uma nova determinação: nada de torres ou elevações, agora, muralhas baixas
confundindo-se com o horizonte, deixando de ser alvos fáceis. Uma nova
tecnologia construtiva surgiu e logo os engenheiros italianos se
especializaram para seguir as condições impostas pela chamada
pirobalística. Foi nos tempos dos Felipes de Espanha, que reinaram em
Portugal no período de 1580 a 1640. Nessa ocasião, toda a defesa dos portos
e das divisas foi reformulada com o total abandono dos castelos e torres
medievais por serem inúteis. Tiburcio Spanocchi, celebrado engenheiro
militar italiano, com outros conterrâneos, foi o orientador dos
fortificadores ibéricos. Assim, os engenheiros militares portugueses, não
só foram introduzidos às modernas concepções fortificatórias, às novas
técnicas construtivas, comotambém conheceram o estilo maneirista, a nova
linguagem dos italianos, que antecedeu ao barroco. Estilo aplicado nas
construções do interior das fortalezas e em obras militares em geral, que
passou a ser considerado indissociável da atuação profissional. A
arquitetura dos soldados portugueses nãoconheceu o barroco, foi diretamente
das lições dos tratadistas como Vignola para o neoclássico histórico, que
começou a reger o gosto arquitetônico do Brasil imperial mercê da atuação
da Missão Francesa. Exemplo significativo desses alto na História da Arte
está na igreja de Santa Cruz dos Militares, no Rio de Janeiro, projetada no
último quartel do século XVIII pelo brigadeiro José Custódio de Sá e Faria
francamente inspirada na Gesù de Roma, que teve como último arquiteto
Giacomo Della Porta. Foi inaugurada no início do século seguinte por D.
João VI, já nos dias da aceitação do neoclássico de Napoleão. Na mesma
época, em São Paulo onde imperava a taipa de pilão, técnica pobre de poucos
recursos, o engenheiro militar João da Costa Ferreira, ao projetar o
quartel de milícias da cidade, pespegou no eixo de simetria da fachada um
frontãozinho triangular, único estilema de seu repertório maneirista
permitido pela terra socada entre taipais. Pequeno frontão que levou alguns
desavisados a chamá-lo de proto-neoclássico quando, na verdade, ainda tinha
vínculos com o renascimento (11).
Forte das Cinco Pontas, Recife PE
Foto Victor Hugo Mori
Palácio neoclássico do Itamarati, Rio de Janeiro RJ
Foto Victor Hugo Mori
Os engenheiros militares, no isolamento da Colônia, naturalmente foram
impelidos a prestar auxílio à população ajudando a construir os edifícios
definitivos em substituição aos primitivos exemplares sincréticos
levantados com materiais e técnicas emprestadas dos habitantes locais,
sobretudo conventos e igrejas. Nesta hora não podemos nos esquecer de
Francisco Frias de Mesquita, o operoso militar do século XVII, que projetou
e construiu, além de fortalezas, igrejas e conventos pelo litoral do país,
de São Luís do Maranhão até o Rio de Janeiro passando pelo Rio Grande do
Norte e Salvador. Obra de maior significado na arquitetura religiosa de
Francisco de Frias, como também era conhecido, é o mosteiro e igreja de São
Bento, no Rio. A partir dele e de recomendações que deixou sobre novas
técnicas construtivas é longa a história de sucessivos engenheiros
militares ajudando aos colonos levantar paredes, cobri-las e pintá-las com
maestria. Devido a isso, por exemplo, em São Paulo, o engenheiro militar
João da Costa Ferreira foi elogiado pelo governador-general Bernardo José
de Lorena, que mencionou ter sido ele amado pelo povo devido à sua atuação
ensinando a todos como construir bem com as disponibilidades locais. Não só
foram importantes no saber fazer, também os engenheiros militares influíram
no gosto, e participaram da difusão de estilemas do maneirismo. O
brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, homem do conde de Bobadela, no Rio,
por exemplo, é considerado o difusor das vergas de arco abatido nas janelas
e portas nos meados do século XVIII a partir de seu projeto do Palácio dos
Governadores de Ouro Preto. Enfim, cabe àqueles técnicos o mérito de
disseminarem pelo Brasil uma só arquitetura, de Porto Alegre a Belém dando
a razão ao engenheiro francês Louis Léger Vauthier, no Recife, em meados do
século XIX, quando proferiu um chute veraz: “Quem viu uma caza brasileira,
viu todas” (12).
Palácio dos Governadores, Ouro Preto MG
Foto Victor Hugo Mori
Igualmente aos engenheiros militares, religiosos travestidos de arquitetos
também deram a sua contribuição levantando obras assemelhadas constituindo
um rol de exemplares magníficos distribuídos pelo Brasil, mormente no
Nordeste. É o caso dos mosteiros e templos franciscanos portando galilés,
cuja obra prima é o Convento de Santo Antonio, de João Pessoa.
O uso da madeira nas estruturas autônomas, na impossibilidade do emprego
por variados motivos dos muros contínuos de pedras, tijolos ou mesmo de
taipa de pilão, fez surgir nessa Conjuntura Quarta construções de bastante
interesse arquitetônico e antropológico. É o caso das casas palafitas da
Bacia Amazônica; das construções de taipa de mão; das moradias de tábuas
dos poloneses do Paraná; das casas ditas de enxaimel dos alemães de Santa
Catarina e das construções da colônia japonesa do Vale do Ribeira, em São
Paulo.
Residência da família Fukusawa, Registro SP
Foto Victor Hugo Mori
Dentre os exemplos acima citados, certamente, a taipa de mão participando
de estruturas autônomas de madeira é a modalidade que mais variações
construtivas apresentou ao longo do tempo pelas múltiplas regiões do país.
No entanto, tais alternativas podem ser divididas em dois grandes grupos:
as surgidas antes do terremoto de Lisboa, em 1755, e as aperfeiçoadas a
partir daquele cataclisma. Expliquemos. As construções de grande
envergadura de madeira lavrada não eram o forte da arquitetura portuguesa e
conseqüentemente os paramentos de taipa de mão não apresentavam nenhum
requinte memorável e, diga-se de passagem, o ferramental disponível para o
manuseio de madeirame era bastante primitivo. Toda essa vulgaridade técnica
foi passada à Colônia na bagagem dos emigrantes lusos. Foi na reconstrução
da capital do Reino que se tomou conhecimento das estruturas “eruditas” dos
países nórdicos da Europa e de lá é que chegaram a Lisboa os carpinteiros
para ensinar o uso de estruturas então imaginadas para minorar ou evitar os
desmoronamentos das construções em outros prováveis terremotos. Assim, os
engenheiros militares e seus carpinteiros aprenderam novas maneiras de
lidar com a madeira usando novas ferramentas e novas sambladuras. Na
segunda metade do século XVIII, os governadores-generais das variadas
capitanias e seus séquitos de técnicos puderam trazer à Colônia novidades
como essa da nova arquitetura de madeira junto a outras inovações nascidas
nos primórdios da Revolução Industrial. Esse novo sistema construtivo
recebeu aqui o nome de “pau-a-pique”, justamente por possuir paus roliços
verticais cravados ao mesmo tempo nos baldrames e nos frechais, enfiados em
furos idênticos e largos possíveis graças aos recentestrados, os sucessores
das verrumas de diminuto diâmetro. Essa foi a carpintaria levada para Minas
Gerais e para as fazendas de café de São Paulo, não sendo entre nós, no
entanto, correta a denominação portuguesa “gaiola” por não ser a armação
destinada a enfrentar terremotos.
Parede de pau-a-pique, São Luiz do Paraitinga SP
Foto Victor Hugo Mori
Por falar em estruturas autônomas, o contraponto dos muros contínuos, nesta
conjuntura quarta, há muito o que dizer sobre o concreto armado. Ele
chegou-nos como novidade depois de bem instalado o ecletismo arquitetônico
sempre apoiado nas alvenarias, sobretudo de tijolos. Em SãoPaulo, em 1907,
o arquiteto Victor Dubugras projeta pequena estação de estrada de ferro em
Mairinque usando concreto entremeado a vergalhões de ferro em tetos
abobadados com nervuras aparentes chamando a solução de “concreto armado” e
com tal nome foi seu trabalho criticado e elogiado na revista da Escola
Politécnica daquele ano.Já há algum tempo essa denominação se referia à
presença de peças metálicas, até de arames, justapostos a argamassas
variadas, como hoje existem as “argamassas armadas” de grande sucesso. Na
verdade, o que agora conhecemos por concreto armado foi regulamentado e
praticado com rigor científico, na capital paulista, pelo engenheiro-
arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Jr., professor da Escola Politécnica, em
cujo laboratório de ensaios de materiais de construção fez o primeiro
acompanhamento de obra, aliás, projeto de sua autoria, na Rua Direita, em
1912 (13). De início, o concreto armado não teve a oportunidade de se
popularizar com rapidez devido, principalmente, às dificuldades de obtenção
de aço e cimento importados. Aqui, a demanda do calcáreo apropriado era
muitíssimo maior que a incipiente produção nacional, que, na verdade,
somente a partir da segunda metade dos anos 1920 foi capaz de satisfazer às
necessidades do mercado em expansão desde o armistício de 1918, quando
foram retomadas as obras em geral, sobretudo as ferroviárias com os seus
túneis e viadutos. A nossa produção de cimento antecedeu cerca de duas
décadas a primeira grande siderúrgica, a de Volta Redonda, conseguida
graças a Getúlio Vargas em suas tratativas políticas com o governo
americano no fim da Segunda Guerra Mundial em 1945. Desta data em diante, o
concreto armado deslanchou entre nós quando assumimos um saber fazer
excepcional, graças ao qual nossa arquitetura moderna se tornou referência
mundial.
Estação Ferroviária, Mairinque SP
Foto Victor Hugo Mori
Desde os tempos iniciais, das pioneiras feitorias e das atividades dos
donatários, até hoje, muitas águas passaram sob várias pontes e nesta
Quarta Conjuntura relativa às operações, aos procedimentos, às atuações dos
arquitetos temos que levar em conta que a globalização lentamente está a
esmaecer o multicolorido panorama cultural mundial, fazendo desbotar os
caracteres regionais tendendo a tornar todo o ecúmeno numa só paisagem
cinzenta. No Brasil, nas grandes cidades e nas metrópoles, como São Paulo,
vemos que programas de necessidades em geral, que as técnicas construtivas
e que as apreciações estéticas já estão definitivamente atreladas às
soluções universais gestadas nos ditos países ricos. Assim, essa nossa
ideia de abordar a história da arquitetura brasileira através das quatro
conjunturas agora alvitradas parece que seja factível somente até o fim de
nosso tempo colonial, pois a partir de 1822, da Missão Francesa e do
seguinte ecletismo desenfreado trazido pelos imigrantes, donos de novas
técnicas e portadores de novos materiais, teve início o processo de
universalização de nossas condutas. Isso é verdade, mas não podemos nos
esquecer, no entanto, que a enormidade do tamanho do nosso país continua
acolhendo regiões ou nichos, como gostam de dizer, em que as condições
permanecem as mesmas do passado. Seja como for, julgamos que a brasilidade
ainda existe nas atuações individuais de certos arquitetos, em cuja bagagem
mental perduram herdados ou adquiridos resquícios da tradição nacional ou
vestígios de nosso passado americano. Arquitetos talentosos em cuja obra se
estampa a criação singular, eminentemente pessoal e única, na qual, no
entanto, é percebida a nossa nacionalidade. Se Oscar Niemeyer fosse um
arquiteto japonês jamais teria concebido a obra-prima que é a igreja de São
Francisco de Assis da Pampulha. Este é um simples exemplo para encerrarmos
esta mensagem e todos estão convidados a descobrir o Brasil no vasto
repertório de nossa arquitetura moderna.
Igreja da Pampulha, Belo Horizonte MG
Foto Victor Hugo Mori
Comentários sobre as imagens
1. Casa do Padre Inácio, Cotia, São Paulo
Casa do Padre Inácio, Cotia SP, c. 1753
Foto Victor Hugo Mori
Esta residência de c. 1753, construída pelo padre Rafael de Barros, mostra
bem como está envolvida com as conjunturas mencionadas no texto desta
comunicação:
a) suas paredes de taipa de pilão já nasceram diretamente de valas abertas
no próprio solo, ao contrário da prática ibérica que sempre exigiu
baldrames de pedra ou de tijolos. Tal fato deu-se devido sobretudo à falta
de cal no Planalto. Essa adaptação acabou exigindo terrenos planos em nível
onde as águas pluviais estariam impedidas de provocar erosões danosas.
b) sua cobertura de quatro águas estruturalmente é definida por quatro
grandes vigas de madeira que, apoiadas nos frechais das paredes da sala
quadrada, encontram-se no vértice da pirâmide onde trabalham a compressão;
estando prevista, inclusive, flambagem de gosto oriental. Ao que sabemos,
não houve naqueles tempos modelos ibéricos semelhantes. No sul de Portugal,
por exemplo, os telhados de quatro águas eram (e ainda são) destinados a
cobrir apenas pequenos cômodos providos de abóbadas de tijolos, em cujos
rins apoiavam-se as delgadas e curtas peças de madeiras livres de qualquer
tipo de esforço a não ser suportar o peso das telhas.
Foto Victor Hugo Mori
c) sua planta, da qual resulta um frontispício de coincidente simetria
paladiana, é sem dúvida singular : uma grande sala semi-obscura arrodeada
de camarinhas que hoje passam por dormitórios. Na verdade não sabemos com
exatidão qual teria sido o programa norteador daquela casa, como das demais
habitações bandeiristas.
d) do referido programa, no entanto, identificamos dois determinantes
próprios das condições locais, responsáveis pela existência da varanda
central, naquela época denominada “corredor”, na verdade, um vestíbulo
direcionador dos passos. Tal dependência dava acesso à capela e ao quarto
de hóspedes, dois itens programáticos exclusivos da solidão do mundo
colonial de serra-acima.
2. Palácios e capelas
Daquelas antigas determinações canônicas exigindo separação das capelas
domésticas das acomodações residenciais naturalmente surgiu nas moradas
solarengas o partido arquitetônico localizando o pequeno templo algo
afastado da construção principal, mas a ela visualmente comprometido
através da pérgula, passagem coberta ou, então, plataforma elevada. Essa
constatação está presente na casa do século XVIII do bispo do Rio de
Janeiro. Tal solução comparece também no projeto do Palácio da Alvorada, em
Brasília, onde Oscar Niemeyer coloca a capelinha no mesmo piso elevado da
residência presidencial criando um relacionamento harmonioso indissolúvel.
Nos tempos de Juscelino Kubitschek não havia naturalmente aquelas
determinações canônicas e nem os futuros presidentes iriam exigir tal
construção religiosa. Pensamos que essa composição arquitetônica nasceu
simplesmente de um impulso do subconsciente desejoso de firmação
nacionalista assumindo um partido próprio de nosso passado; sem querer, a
busca e garantia de uma identidade brasileira, como o nome da cidade.
Palácio da Alvorada, Brasília DF. Arquiteto Oscar Niemeyer, 1957
Foto Victor Hugo Mori
Chácara do bispo do Rio de Janeiro. Aquarela de Thomas Ender, 1817
notas
NE
O presente texto foi apresentado em conferência no 1º Seminário
Latinoamericano Arquitetura e Documentação, organizado pela Universidade
Federal de Minas Gerais e pelo Centro de Documentación de Arquitectura
Latino-americana – Cedodal, ocorrido em Belo Horizonte, em 2008. Publicação
original: LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Uma nova proposta de abordagem
da história da arquitetura brasileira. In CASTRIOTA, Leonardo. Arquitetura
e documentação – novas perspectivas para a história da arquitetura. São
Paulo, Annablume/IEDS, 2011, p. 275-292. A edição das imagens é de Victor
Hugo Mori, também autos das fotos e desenhos.
1
Dentre outras obras deste autor, ver em especial: BAYÓN, Damián. Sociedad y
arquitectura colonial sudamericana. Barcelona, Gustavo Gili, 1974.
2
Depoimento de Pietro Maria Bardi a respeito da edição de L’arte del
Brasile, Arnaldo Mondadori Editore, Milano, 1982; publicação baseada na
obra Arte no Brasil distribuídaemfascículospelaEditoraAbrilcomtextos de
José Roberto TeixeiraLeite e Carlos A. C. Lemos.
3
Ver: SAIA, Luís. O alpendre nas capelas brasileiras. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, n. 3, Rio de Janeiro, 1939; LEMOS, Carlos
A. C. Capelas alpendradas de São Paulo. In LEMOS, Carlos A. C. Notas sobre
a arquitetura tradicional de São Paulo. 3. edição.São Paulo, FAU USP, 1992.
4
Sobre o assunto: LEMOS, Carlos A. C. Organização urbana e arquitetura em
São Paulo dos tempos coloniais. In: História da Cidade de São Paulo – a
cidade colonial. Volume 1.São Paulo, Paz eTerra, 2004, p. 145.
5
A respeito do alpendre domiciliar, ver : LEMOS, Carlos A. C. Casa
paulista.São Paulo, Edusp, 1999, p. 23 e 220.
6
Bratke contou-nos seus problemas no Amapá, inclusive da rejeição inicial
por parte dos operários de suas casas consideradas inabitáveis devido ao
calor ali reinante. Demorou muito para que chegasse a soluções
satisfatórias. A respeito: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo
Arthur Bratke.São Paulo, Pro-Editores, 1997.
7
FONSECA, Manuel da. Vida do venerável padre Belchior de Pontes, da
Companhia de Jesus da Província do Brasil. São Paulo, Melhoramentos, s.d.
8
LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. 2. edição.São Paulo, Perspectiva, 1978,
p. 153.
9
Vernossotrabalho citado nanota 4 e,também, otextofundamental “Subsídiospara
oestudo dainfluência dalegislação naordenação e naarquitetura dascidades
brasileiras”,teseparaobtenção decátedra naEscolaPolitécnica da USP,em 1966,
de autoria de Francisco de PaulaDias de Andrade.
10
A respeito da legislação republicana, ver: LEMOS, Carlos A. C. A República
ensina a morar (melhor).São Paulo, Hucitec, 1999.
11
LEMOS, Carlos A. C. No Brasil, a coexistência do maneirismo e do barroco
até o advento do neoclássico histórico. In: ÁVILA, Affonso. Barroco, teoria
e análise,São Paulo, Perspectiva, 1997, p. 233.
12
VAUTHIER, Louis Léger. Casas de Residência no Brasil. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, n. 7,Rio deJaneiro, 1943.
13
CARAM, André Luís Balsante. Pujol, concreto e arte.São Paulo,Banco do
Brasil, 2001, p. 126.
sobre o autor
Carlos Alberto Cerqueira Lemos é formado em arquitetura pela FAU Mackenzie,
atualmente é professor titular de pós-graduação no departamento de História
da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP. Desenvolveu atividades ligadas ao projeto de edifícios e
de urbanizações, à docência e à pesquisa histórica. É autor de diversos
livros, tais como: Cozinhas etc. (Perspectiva, 1976); A casa paulista
(Edusp, 1999).
comentários
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Fabio Brandão · Trabalha na empresa Fabio Brandão arquitetura
xou
Responder · Curtir · 22 de outubro de 2013 às 06:34
Maria Luiza Zanatta · Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo
Parabéns mestre!!!Ao ler este texto a gente se recorda suas" maravilhosasaulas"!
Responder · · Curtir · 7 de março de 2013 às 03:471
Vanessa Polezi · FMU
E o último fichamento do semestre chega devagarinho
Responder · · Curtir · 12 de novembro de 2012 às 11:072
Wagner Godoy · Arquitetura e Urbanismo - FMU
vai ser o programa do feriadão
Responder · Curtir · 12 de novembro de 2012 às 14:56
Vanessa Polezi · FMU
Vai nada ... Faço amanha e quarta pq feriado é resmat, estruturas ,escadas e história
Responder · Curtir · 12 de novembro de 2012 às 16:46
Priscilla Melli · Anhanguera - UNIDERP Oficial
mto bom!!!
Responder · Curtir · 24 de novembro de 2012 às 09:32
Gilberto Belleza · Trabalha na empresa Belleza & Batalha C. do Lago Arquitetos
- Professor da FAU Mackenzie
Um ótimo texto do Professor Carlos Lemos sobre a história da arquiteturabrasileira
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 11:5612
Luiz Philippe Torelly · Trabalha na empresa Iphan
Texto indispensável para os querem iniciar-se no conhecimento da Históriada Arquitetura no Brasil. Como contribuição a um aprofundamento teórico dede como a arquitetura surgiu entre nós, como meciona o autor nas iniciais,recomendo a leitura do texto"As idéias fora de lugar", in "Ao vencedor asbatatas" de Roberto Schwarz, publicado pela Editora 34. Parabéns!
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 06:1110
Mauro David Artur Bondi · Quem mais comentou
Parabéns ao professor Lemos, uma fonte inesgotável sobre a arquiteturabrasileira
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 12:0710
Mauro David Artur Bondi · Quem mais comentou
Também são muito ilustrativas e ajudam a compreensão do texto,as fotografias do colega do IPHAN/SP o Arq. Victor Hugo Mori.
Responder · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 12:51
Vitruvius
Recebemos a seguinte mensagem de Cecilia Rodrigues dos Santos:
"Abilio, sou do grupo dos “sem facebook”, convicta, mas, de vez em quando,para não ficar muito à margem, me manifesto através do já velho sistema e-mail. Como agora... faço questão de agradecer publicamente ao professor Lemos
Como agora... faço questão de agradecer publicamente ao professor Lemospor mais esta excelente contribuição ao estudo da arquitetura brasileira...como também ao Victor e a você, Abilio, pelas ilustrações e pela edição...Obrigada. Abraços"
Responder · · Curtir · 29 de fevereiro de 2012 às 08:004
Nivaldo Andrade · Secretário Geral na empresa IAB-BA
Texto muito interessante! Acho que há um erro nas imagens: Diamantina ficaem MG, a não ser que haja outra cidade homônima em SP.
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 12:084
Abilio Guerra · Quem mais comentou · Editor na empresa Portal
Vitruvius
ok, nivaldo, corrigido!
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 12:302
Tania Miotto · Trabalha na empresa ABRA - ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTE
Uma verdadeira aula de arquitetura do Professor Lemos, onde tive o prazer deconhecê-lo no frescor do alpendre da Capela de São Miguel Arcanjo, porquem hoje os sinos dobram . Já dizia John Donne, “Nenhum homem é umailha isolada...”. Há aqueles que são pontes neste arquipélago brasileirodescrito.
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 16:493
Licio Lobo · Arquiteto na empresa Prefeitura Municipal de Diadema
Muito legal..para quem se interessa pior arquitetura vale a pena ler.
Responder · · Curtir · 25 de fevereiro de 2012 às 12:263
Rodrigo Reis
Ótimo texto, muito interessante, recomendo a todos, especialmente na minhaamiga historiadora que adora enveredar pela arquitetura Dandara Renault...
Responder · · Curtir · 24 de março de 2012 às 20:311
Diego Silveira · Arquiteto na empresa Andrade e Silva Arquitetura e Engenharia
Adriane Matthes quando tiver um tempo da uma lida nesse texto, lembrei devc!Bjoss t+
Responder · · Curtir · 24 de março de 2012 às 09:471
Laura Toledo · Puc Minas Poços Caldas · 251 assinantes
Nossa li o texto e enxerguei e a Adriane falando!
Responder · · Curtir · 24 de março de 2012 às 13:361
Felipe Carvalho · Desenhista na empresa EBCT
Uma aula sobre a história da Arquitetura Brasileira, muito bom.
Responder · · Curtir · 24 de março de 2012 às 05:201
Regina Celia Flor · Trabalha na empresa Prefeitura municipal de
porto real
E aí Felipe Carvalho já recebeu promoção aí nos Correios? kkkkk
Responder · Curtir · 24 de março de 2012 às 12:38
Felipe Carvalho · Desenhista na empresa EBCT
Regina Celia Flor e aí arquiteta, gostou da aula de história daarquitetura no brasil?
Responder · Curtir · 25 de março de 2012 às 06:11
Andrea Ballan · Arquiteta e Urbanista na empresa Andrea Ballan - Arquitetura
Interiores Design
Texto indispensável para todos, conhecer um pouco da História da ArquiteturaBrasileira nos faz mais patriotas. Parabéns Prof.Carlos Lemos.
Responder · · Curtir · 29 de fevereiro de 2012 às 03:201
Andrea Ballan · Arquiteta e Urbanista na empresa Andrea Ballan -
Arquitetura Interiores Design
Alunos do 3º módulo de Edificações Noite...
Responder · Curtir · 22 de março de 2012 às 18:12
Marcos Virgílio da Silva · Quem mais comentou · Universidade de São Paulo
Excelente texto do prof. Carlos Lemos, uma ótima introdução à história daarquitetura brasileira.
Responder · Curtir · 27 de fevereiro de 2012 às 06:51
Vera Lucia Thaddeu Aldeia Maracanã · Trabalha na empresa Consultoria e
Projetos na área do Patrimônio Cultural
Belo texto e magníficas imagens!
Responder · Curtir · 26 de fevereiro de 2012 às 15:44
Regina Pinheiro · Universidade Braz Cubas
Para ler...
Responder · Curtir · 29 de fevereiro de 2012 às 11:22
Luiz Puech · Colégio Rio Brancon
um texto brilhante!
Responder · · Curtir · 24 de fevereiro de 2012 às 18:521
Plug-in social do Facebook
Responder · · Curtir · 24 de fevereiro de 2012 às 18:521
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