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Membranas e interf aces*
Fernanda Bruno
Um corpo s existe para ser outros corposWilliam Burroughs
O corpo no centro da obra. No cenrio contemporneo da arte tecnolgica, so freqentes os
projetos que exploram os limites expressivos, sensoriais e materiais do corpo a partir de dispositivos
tecnolgicos. O corpo do artista tanto pode ser um ambiente onde ingressam microchips, microcmerase esculturas, quanto um ambiente estendido e amplificado por computadores, engenhos robticos e
redes. Nos projetos interativos, o corpo do espectador - gestos, sopros, respiraes ou a sua mera
presena fsica - entra em relao com sensores, sons, imagens, cmeras, redes e outros corpos,
tornando-se ao mesmo tempo matria e co-autor da obra. Dentre os inmeros deslocamentos
promovidos por esse movimento da arte contempornea, deslocamentos que afetam desde as noes
de representao, presena, matria, fruio at as noes de autor, obra e espectador, interessa-nos
aqueles que se passam na espacialidade do corpo. Ainda uma ressalva: a anlise destes deslocamentos,embora encontre na arte tecnolgica um campo privilegiado de visibilidade e expresso, no pretende
ser uma reflexo sobre a arte, seus conceitos e condies de possibilidade, mas um breve mapeamento
da condio do corpo no cenrio mais amplo da cultura contempornea.
Duas vias de problematizao dos limites e fronteiras do corpo vm sendo exploradas pela arte
tecnolgica: a primeira caracteriza-se pela intruso da tecnologia no corpo reconfigurando tanto o
espao interno do corpo quanto a sua relao com a exterioridade e com tcnica, a segunda engendra
processos de ramificao do corpo no espao externo - os dispositivos tecnolgicos, situados fora ou
na superfcie dos corpos, multiplicam as suas capacidades de expresso, afeco e conexo, para alm
da pele e dos limites territoriais naturais ou etolgicos.
*Este artigo foi publicado no livro Que corpo esse?, organizado por Nzia Villaa, Fred Ges e Ester Kosovski, Riode Janeiro: Mauad, 1999
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Tcnicas intra-corporais.
Um novo jogo entre interioridade e exterioridade, orgnico e inorgnico, natural e artificial
encenado pelo ingresso da tecnologia no corpo do artista. Ao implantar um microchip sob a pele e
registr-lo num banco de dados pela Web, Eduardo Kac faz conviver, no espao subcutneo,
memrias internas vividas e memrias artificiais externas1. A possibilidade de introduzir chips de
memria no interior do corpo aponta, segundo o autor, para novas modalidades de experincia na
cultura digital. A memria digital, quando armazenada nos computadores, constrange o corpo s
formas cbicas e estticas do computador. Miniaturizada e biocompatvel, a tcnica oferece
interfaces midas2 - sob a pele, a memria digital no concorre com a mobilidade do corpo. Se a
motricidade do corpo mantm-se inviolada quando a tcnica torna-se intrusiva, o espao interno,
subcutneo, abre-se a novas misturas e novos materiais; diante desse componente estranho que agorajaz dentro, o corpo cria uma camada de tecido conjuntivo em torno do microchip para evitar migrao.
Este processo de ingesto da tecnologia vem sendo tematizado e realizado pelo performer
australiano Stelarc como uma aposta na transfigurao do corpo e da condio humana. Em Escultura
no Estmago3, o espao interno do corpo abriga tcnica e arte - o estmago deixa de ser
exclusivamente um rgo com funes digestivas onde habitam elementos orgnicos e qumicos e torna-
se um ambiente esttico para elementos estranhos nossa constituio estritamente humana,
estritamente orgnica. A ingesto de uma escultura projetada para um corpo oco4e para um
espao hospedeiro5 - um corpo sem limites ontolgicos definidos e um espao hospedeiro de
substncia hbridas. O corpo orgnico - organizado - subvertido tanto no mbito da relao rgo-
funo quanto no da relao corpo-tcnica: os rgos assumem novas funes ao mesmo tempo em
que a tcnica deixa de habitar a extremidade ou a exterioridade do corpo. E, assim como a tcnica, a
arte ingressa no corpo - como um corpo, no se observa mais a arte, no se age mais como arte, mas
se contm arte. O corpo oco torna-se um hospedeiro, no para um eu ou uma alma, mas simplesmente
1Kac, E. Time Capsule inGiannetti, C. (Org.).Ars Telemtica. Lisboa: Relgio dgua, 1998, p. 239.2Idem, p. 242.3Nesta performance, Stelarc projeta uma escultura para ser engolida e alojada no seu prprio estmago dilatado. Cf.Stelarc. Das estratgias psicolgicas s ciberestratgias: a prottica, a robtica e a existncia remota inDomingues,D. (Org.).A Arte no sculo XXI: a humanizao das tecnologias. So Paulo: Unesp, 1997, p. 52.4Idem, p. 57.5Ibidem.
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para uma escultura6. Num projeto recente, ainda em fase de elaborao, Stelarc pretende adicionar
uma orelha extra ao lado da orelha direita. O procedimento visado consiste em inserir um balo debaixo
da pele e infl-lo gradualmente por aproximadamente 4 ou 6 semanas at que uma bolha de pele
esticada seja formada. Remove-se o balo e insere-se, na bolsa de pele, uma cartilagem ou um plstico
com o formato de uma orelha que talvez precise ser aparafusada no osso da face. A Orelha Extra
ter sensibilidade, mas obviamente no poder ouvir. A idia a de que ela fale. Um chip de som
implantado ser ativado por um sensor de proximidade caso algum chegue suficientemente perto. Por
fim, o objetivo criar uma orelha que sussurre doces bobagens na outra orelha 7. Nestaperformance, a
tcnica ingressa no corpo no para tocar o espao das cavidades internas ou profundas, mas para
abrir um novo orifcio, uma nova superfcie de contato com a exterioridade, um novo rgo de sentido
- uma orelha que fala e vibra diante da aproximao de corpos externos.Ainda que nos soe invasivo e nos cause desconforto, a abertura do interior do corpo a
componentes tcnicos no mais to estranha cultura contempornea. As tecnologias biomdicas vm
revelando o interior do corpo em funcionamento, em vida. Regies cada vez mais profundas e cada vez
menores - rgos, tecidos, membranas, clulas, genes - tornam-se visveis por meio de tomografias
computadorizadas, ressonncias magnticas, videolaparoscopias. O interior do corpo, essa regio de
sombra que no podia ser vista do exterior, ao mesmo tempo em que era a condio de toda viso e
explorao da exterioridade, perde progressivamente a sua opacidade. E no s para o olhar, como
imagem, que o interior do corpo se revela, mas tambm para o tato, digo, a ao, a manipulao. A
biologia molecular, ao revelar a estrutura do ADN, torna possvel manipular e modificar as menores e
decisivas peas do nosso corpo, intervindo diretamente na informao biolgica que constitui a sua
memria.
A abertura dessas vias tecnolgicas de acesso ao interior do corpo inclui a manufatura de novos
materiais capazes de penetr-lo e habit-lo. Desde o marcapasso cardaco, s placas de titnio e ao
silicone, os artefatos tcnicos ingressam no corpo humano recompondo seu ritmo, sua estrutura ou
remodelando sua forma. A cada dia menores e biocompatveis, esses artefatos prometem interfaces
mais eficientes e digerveis entre o orgnico e o inorgnico. No novo campo das tcnicas e interfaces
6Ibidem.7Cf. Stelarc.Extra Ear. Home Page: http://merlin.com.au/stelarc/index.html.
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intra-corporais, a nanotecnologia8 exemplar. Manipulando tomo por tomo, pretende-se recombinar
esta microestrutura da matria para fabricar robs, circuitos ou redes de extrema velocidade no
processamento de informao, capazes de funcionar em escala molecular. Um dos objetivos permitir
que esses artefatos miniaturizados penetrem no corpo humano para, por exemplo, auxiliar o sistema
imunolgico ou reparar artrias danificadas. Outra possibilidade, pouco explicitada nos projetos oficiais
e nos pedidos de auxlio financeiro, construir implantes de memria e estimulantes das demais
faculdades mentais. Esses tecnoimplantes ou prteses interiorizveis desvinculam ou liberam o corpo
de seus limites biolgicos. Se as neurocincias j permitem a ingesto de elementos qumicos que
modulam o nosso comportamento e a nossa sensibilidade, as nanotecnologias prometem a ingesto de
estimulantes tcnicos - pastilhas inteligentes - que no visam apenas suprir um dficit ou corrigir um
desvio, mas superestimular e superexcitar as faculdades mentais que no mais estaro limitadas aocorpo orgnico e qumico9.
Uma nova espacialidade, uma nova topologia do corpo vem sendo delineada por essas prticas
de intruso tecnolgica. Segundo os padres clssicos do nosso corpo orgnico e biolgico, o contato
com a exterioridade se d atravs da superfcie do corpo - pele e rgos do sentido; s a h
membrana - filtragem e comunicao entre o dentro e o fora. Quando o estmulo atravessa a
extremidade, ingressa num espao interno apartado do exterior at retornar como resposta, expresso
ou ao no mundo. Agora, o mundo toca diretamente os rgos internos, os ossos, as artrias, as
clulas. Esta nova forma de penetrao no corpo no pode deixar inalterados os limites entre a
interioridade e a exterioridade. Sabemos que tais limites so dados pelo corpo - ele constitui tanto a
fronteira quanto a mediao entre o interior e o exterior; tambm sabemos que esses mesmos limites
no esto restritos ao corpo biolgico - o modo como o interior se projeta no exterior e vice-versa no
unicamente determinado pela natureza do corpo. Esta ltima sabedoria relativamente recente no
pensamento ocidental - simplificadamente, podemos afirmar que desde a segunda metade do sculo
XIX, desde Marx, Nietzsche e Freud, a concepo da experincia do corpo e de sua relao com o
8A nanotecnologia uma tcnica que age em escala molecular e que visa compor, manipulando tomo por tomo,matrias inteligentes miniaturizadas (um nanmetro corresponde bilionsima parte do metro) capazes de armazenaruma grande quantidade de informao e de processar em alta velocidade. Cf. Rosnay, J.LHomme Symbiotique . Paris:Seuil, 1995, pp. 259-61 e Lvy, P.LIntelligence Collect ive. Paris: La Dcouverte, 1994, pp. 50-62.9Cf. Virilio, P.A Arte do Motor. So Paulo: Estao Liberdade, 1996, pp. 91-114.
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mundo inclui dimenses que ultrapassam os aspectos estritamente naturais. Abre-se uma nova zona de
visibilidade do corpo, para alm de uma fisiologia ou anatomia puras, onde procura-se ler as
inscries dos fatores econmicos e polticos, da moral, da cultura, dos fantasmas e dos investimentos
de desejo que circunscrevem o modo como o corpo emprega a sua fora de trabalho, instintual ou
pulsional.
A partir da dcada de 60, acentuam-se as anlises que, de diferentes modos, procuram pensar
o modo como o corpo - sua doena, sua sexualidade, seus prazeres, seus gestos e posturas, sua
sensorialidade, sua relao com os objetos, o com o espao e com o outro - atravessado por
instituies, instrumentos, saberes, poderes, etc.10. No interior destas anlises sobre a produo scio-
cultural dos corpos, encontram-se tambm as que privilegiam a tcnica ou a tecnologia, consideradas
como dispositivos de modulao do corpo11
. Retomando a questo de que estvamos tratando - o quesignifica supor que os limites entre o dentro e o fora no so apenas dados pelo corpo natural, mas
tambm pela tcnica?
Nomeemos homem o animal cujo corpo abandona suas funes12, diz Michel Serres. Nossos
rgos lanam suas funes originais no exterior e adquirem novas funes. A boca que um dia esteve
restrita captura do alimento, agora fala ou significa; a mo-pata, que apoiava e locomovia, passou a
pegar, depois a trabalhar, depois a escrever - e hoje pega, trabalha e escreve cada vez menos; a
memria deixa o crebro, passa ao papel e agora aos chips13. O homem que abandona o seu corpo
o homem que faz tcnica, que se desprende do aqui e agora das circunstncias, das imposies do meio
ou das urgncias vitais e produz, projeta o que no estava a. aquele, portanto, que estabelece com a
natureza - com o seu corpo e com o seu meio - no uma simples relao de acomodao ou
adaptao, mas de transformao. Deste modo, no o corpo nu ou natural que estabelece a mediao
ou a fronteira entre o homem e o mundo, mas um corpo atravessado, modulado pela tcnica - no por
10Os trabalhos de Michel Foucault, Georges Vigarello e Alain Corbin so referncias importantes neste campo. Parauma anlise dos estudos sobre o corpo nos domnios da histria, da antropologia e da sociologia, Cf. SantAnna, D.B. O Corpo entre antigas referncias e novos desafios inCadernos de Subjetividade - Dossi Corpo. So Paulo,1997, pp. 275-284.11Tais estudos datam, em sua maioria, da segunda metade do nosso sculo e vm se tornando cada vez maisnumerosos desde a dcada de 70. Michel Serres, Donna Haraway, Franois Dagonet e Paul Virilio so refernciasimportantes no cenrio contemporneo dos estudos sobre a relao entre corpo e tecnologia.12Serres, M. Prface inTestart, J.LOeuf Transparent. Paris: Flammarion, 1986, p. 8.13Cf. Idem.
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acaso que esta tambm se define como mediao. Mas isso no deve conduzir suposio de que a
tcnica seja um mero prolongamento das funes do corpo - a compreendidas as cognitivas -, pois ao
disseminar suas funes no espao externo, nem o corpo nem o mundo permanecem os mesmos - o
interior e o exterior, bem como a mediao entre eles, ganham novos contornos. Com a escrita, por
exemplo, um outro corpo e um outro mundo - um outro homem - advm: novas relaes entre os
rgos (a boca que fala e a mo que escreve no tm a mesma relao que a boca que captura e a mo
que locomove), novas experincias de tempo e espao, novos objetos, novas instituies, etc.. A
interioridade e a exterioridade no so, pois, dimenses espaciais estticas, mas domnios relativos
histria das mediaes onde as fronteiras entre o dentro e o fora no cessam de se alterar.
Esse processo de descolamento e projeo das funes de nossos rgos entra numa nova fase
quando projetamos artefatos tcnicos para habitar no apenas o espao externo, mas o interior docorpo. Habitando vsceras, rgos e tecidos a tcnica multiplica as membranas do corpo, tanto as
internas quanto as externas. A orelha extra de Stelarc e o microchip de Kac ilustram bem essa
multiplicao de membranas entre o dentro e o fora a partir do ingresso da tcnica no interior do corpo.
Sob a pele natural, o microchip torna-se uma espcie de segunda pele criando uma nova zona de
comunicao com o mundo. Enquanto a pele orgnica constitui o espao de troca de informaes entre
o interior do corpo e o mundo local, ao mesmo que tempo confere um limite, um invlucro
extremidade ou superfcie do corpo, a pele inorgnica contm informaes externas que, ao invs de
migrarem para o interior do corpo, so enviadas para o mundo global, ampliando a conectividade do
corpo para alm do aqui e agora. Do mesmo modo, a orelha extra amplia as camadas de sensibilidade
na medida em que reage, falando, aproximao de outros corpos.
Esse contato entre o orgnico e o inorgnico confere ao corpo novos ritmos e novos regimes de
funcionamento que por sua vez alteram quantitativa e qualitativamente o modo como ele lida como as
informaes externas. Ainda no sabemos ao certo que modalidades de experincia do corpo e do
mundo derivaro da. Contudo, podemos perceber que este corpo com membranas cada vez mais
fluidas e multiplicadas insinua um novo processo de individuao. O espao topolgico vital, proposto
por Simondon, nos d algumas pistas para pensar tal processo. Recusando a topografia que supe um
interior e um exterior absolutos, o autor prope, no domnio da individuao do organismo vivo, uma
topologia de diversos nveis de interioridade e de exterioridade: o espao das cavidades digestivas
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uma exterioridade em relao ao sangue que irriga as paredes intestinais; mas o sangue por sua vez um
meio de exterioridade em relao s glndulas de secreo interna que derramam os produtos de sua
atividade no sangue14. No vivo, o dentro e o fora so, portanto, um processo dinmico de mediao
transdutiva de interioridades e exterioridades15. Esta topologia supe uma cronologia do vivo que no
coincide com a forma fsica do tempo. O espao interior correlativo a um tempo sucessivo
condensado, a um passado que est presente sem distncia e sem atraso16na medida em que o que
foi produzido pela individuao no passado faz parte do contedo do espao interior que, por sua vez,
est em contato topolgico com o contedo do espao exterior sobre os limites do vivo. A
exterioridade , assim, um futuro: dizer que uma substncia pertence ao meio exterior significa dizer que
ela pode advir. O presente , por fim, esta metaestabilidade da relao entre interior e exterior, entre
passado e futuro17
, relao que caracteriza o processo de individuao.Nas novas prticas de intruso tecnolgica, no apenas ingerimos elementos orgnicos e
qumicos - com os quais temos um parentesco material -, ingerimos componentes estranhos nossa
constituio natural que at ento no participaram da constituio da matria viva. Tais elementos,
agora, habitam o interior do corpo e, logo, se integraro ao nosso passado, tornado biotecnolgico.
Quando nos colocamos a questo acerca da experincia que teremos desse corpo, como interioridade,
podemos perceber que ele se torna cada vez mais problemtico, isto , menos natural, habitual, familiar.
J dissemos que at h pouco tempo, o interior do corpo era concebido como um espao que, em vida,
era inviolvel, um espao fora do alcance da viso e da ao direta. Mudava-se a aparncia dos
corpos, seus gestos, comportamentos e ainda que ingerssemos remdios ou realizssemos intervenes
cirrgicas, essas aes sobre o corpo visavam recompor o seu estado natural. Hoje, parte das tcnicas
intra-corporais prometem no apenas cumprir o papel de prteses que visam reparar as funes
normais, mas ampli-las, estimul-las, transform-las ou mesmo criar novas funes.
O interior do corpo sai, assim, do domnio da invisibilidade e da fatalidade e torna-se uma
matria que pode ser manipulada, transformada e produzida. Torna-se fonte de problematizao na
medida em que entra nos clculos sobre o que o indivduo pode ser, experimentar, sentir e tornar-se.
14Simondon, G. (1964).LIndividu et sa Gense Physico-Biologique. Paris: PUF, p. 261.15Idem.16Ibidem, p. 263.17Ibidem, p. 264.
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Assim como a medicina e a engenhara genticas fazem com que os traos genticos do nosso corpo
deixem de ser a nossa herana irremedivel e tornem-se problemticos, ingressando no domnio de
nossas aes, clculos e reflexes ticas, as prticas de intruso tecnolgica tornam o espao interno do
corpo um campo a ser modulado por nossos desejos, temores, expectativas, etc. A gentica
contempornea torna possvel gerir esse possvel em sono18que o nosso gentipo e, num mesmo
movimento, faz surgir uma nova modalidade de doena que se manifesta no silncio dos rgos19,
pois trata-se da enfermidade que eu posso vira a ter, a doena virtual, e no a doena atual que me
informa, por dores, sintomas e sinais, sobre o estado do meu corpo presente. Os tecnoimplantes e
prteses interiorizveis, assim como os diversos tipos de transplantes, permitem que o nosso corpo
contenha outros corpos ou partes de corpos dos mais variados tipos e provenincias - nano-mquinas,
circuitos eletrnicos, fgados de porco, coraes e crneas de homens mortos. Todos esses outroscorpos tornam-se parte da gesto e reflexo sobre o corpo individual, que agora confunde-se com o
coletivo. Campanhas, discusses e debates ticos proliferam em nossa sociedade na tentativa de melhor
gerir os bancos de rgos, espermas e sangues, assim como os projetos de implantes e prteses
interiorizveis. O corpo implantado e transplantado um corpo cuja identidade tente a ser
continuamente modulada e negociada entre o eu e o outro, o natural e o artificial, o humano e o no
humano.
Um dos problemas colocados nas anlises sobre as implicaes dessas mudanas o de como
esses outros corpos podero integrar o interior do corpo sem violar sua integridade e sem abalar a
experincia do corpo prprio20. A percepo do interior do corpo com a qual estamos habituados ,
em situao normal, a de uma impresena21. Apenas em situaes no normais - na doena, na dor,
no mal-estar - podemos viver ou sentir a presena do interior do corpo - rgos, fluxos, ritmos.
Nestes momentos, o corpo se torna estranho, um a mais22, um espao problemtico suscetvel de
18Serres, M., 1986, op.cit., p. 10.19A sade, at a dcada de 50 de nosso sculo, foi definida a vida no silncio dos rgos. Hoje, com a antecipaodas enfermidades virtuais, h doena no silncio dos rgos. Cf. Canguilhem, G. La Sant, Concept Vulgaire &Question Philosophique. Toulouse: Sables, 1990, p.10 e Bruno, F. Do Sexual ao Virtual. So Paulo: Unimarco, 1997,pp. 106-14.20Paul Virilio, Bernard Stiegler, Jol de Rosnay e Bernard Andrieu so alguns dos autores que chamam a ateno paraesse problema.21Gil, J.Metamorfoses do Corpo . Lisboa: Relgio dgua, 1997, 2 ed., p. 178.22Idem.
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receber determinaes objetivas23. As prticas de intruso tecnolgica, j vimos, tornam problemtico
o espao interno na medida em que ele deixa de ser apenas um dado natural e torna-se algo a ser
produzido. Contudo, os mdicos, tcnicos e engenheiros moleculares trabalham para que, uma vez
interiorizados, esses outros corpos no sejam percebidos como estranhos. Trata-se, aqui, de um tema
to presente na tecnocincia, na arte e no design - a interface. Uma das tendncias visadas nos projetos
de interfaces entre o homem e os objetos tcnicos a de torn-las invisveis, intangveis,
desmaterializadas. Esta viso da interface ideal vai de par com a concepo de que a relao entre o
indivduo e o mundo, bem como o limite entre o interior e o exterior no so determinadas por um
corpo nu. Se a experincia do mundo atravessada por mediaes tcnicas, nada mais natural do que
supor e projetar interfaces midas que diluam a fronteira entre o corpo e a tcnica, que promovam a
iluso de eliminar mais uma barreira entre o dentro e o fora, de modo a constituir membranasbiotecnolgicas entre o homem e o mundo. Alojar a tcnica no interior do corpo um modo de torn-la
invisvel e intangvel. A composio de materiais biocompatveis e a miniaturizao dos artefatos
tcnicos visam tornar insensvel a sua presena e dot-los da propriedade original da percepo do
interior do corpo - a impresena.
Mas no s para o espao interno que a interface vem sendo pensada, inmeros projetos no
campo da arte e da tecnocincia procuram desenvolver interfaces no invasivas a partir de dispositivos
tcnicos que se alojam na superfcie dos corpos e ampliam suas possibilidades de expresso, conexo e
comunicao com as mquinas e com corpos distantes. Passemos segunda via de problematizao
dos limites e fronteiras do corpo.
Tcnicas inter-corporais
Nos trabalhos que promovem acoplamentos corpo-mquina ou corpo-rede, os msculos,
ondas cerebrais e descargas eltricas do corpo do artista dialogam com sensores, eletrodos,
dispositivos robticos, computadores e sistemas de comunicao, explorando novas possibilidades de
expresso e conexo do corpo. Atau Tanaka faz msica com os seus msculos - sensores sobre o
corpo, conectados a computadores, tornam as contraes musculares a fonte de sons para um
23Ibidem, p. 180.
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concerto24. Stelarc, em Third Hand, utiliza tcnicas mdicas, uma mo artificial e sistemas audio-visuais
na realizao de uma performance que combina movimentos involuntrios, voluntrios e programados.
O movimento do corpo natural improvisado; a mo artificial, acoplada ao brao direito como uma
adio e no tanto como uma substituio prottica25, movimentada por sinais de EMG dos
msculos de seu abdmem e de suas pernas, podendo assim efetuar movimentos independentes; o
brao esquerdo natural agitado distncia, independentemente de sua vontade, por estimuladores
musculares. Os sons do motor do mecanismo da Terceira Mo e os sinais dos estimuladores so
utilizados como fontes sonoras. A iluminao composta como uma manifestao dos ritmos do
corpo26. Norman White, em Telephonic Arm-Wrestling, disputa uma queda de brao, um brao-de-
ferro transatlntico com um antagonista a 6.000 km de distncia27.
Nas obras interativas, diversas partes do corpo do espectador - e no apenas os olhos e ocrebro - participam ativamente da composio da obra. Edmond Couchot, em colaborao com
Michel Bret e Marie-Hlne Tramus, realizaram um dispositivo que permite ao observador soprar
objetos virtuais (uma pena de pssaro, uma flor de anjinho) que reagem ao poder e a modulao deste
sopro28. Em Intro Act, de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, os corpos dos visitantes da
instalao so imediatamente projetados num espao virtual tridimensional onde formas orgnicas
abstratas so criadas, desenvolvidas, modificadas ou destrudas em sincronia com seus movimentos e
gestos. Nos projetos interconectados em rede, vrias pessoas ou corpos participam da dinmica
interativa, ultrapassando a relao dual obra/espectador.Body Withouth Organs29, uma obra realizada
na Internet, constituda por pedaos de corpos de indivduos que, de diversos lugares do mundo,
conectam as suas cmeras Rede e filmam parte do seu corpo ou de outra pessoa. Mais uma vez,
Stelarc, em Stimbod30, realiza um software composto de uma tela sensvel ao toque em interface com
um estimulador muscular mltiplo que permite a programao de movimentos involuntrios do corpo,
24Cf. Costa, M. Corpo e Redes inDomingues, D., 1997, op. cit., p. 310.25Stelarc, 1997, op. cit., p. 56.26Idem.27Cf. Costa, M. O Sublime Tecnolgico. So Paulo: Experimento, 1995, p. 39.28Couchot, E. A arte pode ainda ser um relgio que adianta? O autor, a obra e o espectador na hora do tempo real inDomingues, D., 1997, op. cit., p. 138.29. Para uma breve descrio da obra, Cf. Giannetti, C., 1998, op. cit., p.267.30Stelarc, 1997, op.cit., p. 58-9
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seja no prprio local ou em lugares remotos, atravs do toque nos muscle-sites do modelo do
computador. H ainda projetos que promovem conexes entre o corpo do indivduo com o corpo da
Terra - Sensorium31, um Web Site que procura explorar e expandir o potencial da Internet como um
circuito para experimentar sensorialmente o mundo vivo, desenvolve projetos, no restritos Internet,
onde se pode ouvir os sons, sentir a velocidade e experimentar fisicamente a temperatura da Terra.
O que est em jogo, nessas obras e projetos, a amplificao e a ramificao do corpo atravs
da tecnologia. Em alguns casos, a capacidade expressiva do corpo que encontra-se potencializada: o
ritmo silencioso dos sinais musculares e as descargas eltricas do corpo tornam-se audveis e visveis
quando acoplados a dispositivos tecnolgicos - compem msica, movimentam a mo robtica,
orquestram a iluminao. A explorao de novas formas de expresso acompanhada de uma
transformao da organizao natural do corpo e de uma fuga s cadeias operatrias cotidianas. Noso apenas os ouvidos, as cordas vocais e o crebro que produzem msica, mas msculos de diversas
partes do corpo. Ao comportar um novo membro - a terceira mo - novos eixos de comunicao e
contato so estabelecidos: abdmem-mo, perna-mo; e o membro natural - o brao esquerdo - deixa
de responder aos sinais cerebrais passando ao comando dos sinais eltricos da mquina.
Quando, nos projetos interativos, o corpo real do espectador funde-se com as imagens virtuais,
amplia-se no apenas a sua capacidade de expresso, mas os seus limites sensoriais - no s no olho
que se forma a imagem, mas no sopro, nos gestos e nos movimentos. As interfaces quase invisveis e
desmaterializadas estabelecem um duplo fluxo de informaes entre o corpo e a mquina onde as
fronteiras se diluem progressivamente, criando um espao de experincia comum - a obra. Como
informao, o corpo expande suas membranas de contato com a exterioridade, misturando-se a dados
numricos, imagens, sons. Interconectados em rede, os corpos expandem a sua capacidade de conexo
no apenas com imagens e dados informacionais distantes, mas tambm com corpos remotos. Trata-se,
aqui, de criar interfaces que ofeream formas de transduo e de afetao fsica dos corpos, para alm
do espao etolgico. Ramificado, o corpo-rede pode acionar o corpo de um indivduo distante, assim
como pode experimentar fisicamente a temperatura do Planeta.
A tecnologia anima e redimensiona o corpo, reconfigurando o humano. Mais uma vez, essa
imagem da relao entre o homem, seu corpo e a tcnica no est afastada das reflexes e prticas
31. Cf. tambm Giannetti, C., 1998, op. cit., p. 271.
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cotidianas da nossa cultura. Os artefatos tecnolgico no mais se reduzem a objetos inertes;
apresentam-se em grande parte como espaos de experincia de si, do outro e do mundo e como
ocasio de hibridao. Os computadores, a Internet, e a Realidade Virtual modulam nossas
capacidades fsicas, sensoriais e cognitivas. As discusses e projetos sobre a interface com estes
dispositivos tcnicos tambm apontam para a necessidade de miniaturizao, desmaterializao e
produo de materiais biocompatveis que possam tornar-se mais ntimos e prximos do corpo. Mas ao
invs de ingressarem no espao interior, esses dispositivos devem alojar-se na superfcie dos corpos,
revestindo-o com uma espcie de segunda pele super-sensvel capaz de transduzir informaes entre o
homem e a mquina de um modo cada vez mais direto e livre dos constrangimentos de peso, movimento
e deslocamento no espao. O simples movimento dos olhos tende a substituir o mousecomo interface
entre o homem e o computador32
; as pesadas e desconfortveis ferramentas de interface na RealidadeVirtual - videocapacetes e datagloves - vm sendo substitudas por pequenos e leves culos,
biocaptores, etc.33; o passo seguinte criar interfaces biticas com o crebro e suas zonas visuais,
olfativas, emocionais e motoras para a fazer nascer diretamente imagens, sons e sensaes34.
A tcnica torna-se cada vez menor e mais invisvel para fazer crescer o corpo, para ampliar a
sua conectividade e redimension-lo escala global. No tenho nem peso nem dimenso em qualquer
sentido exato. Sou medido pela minha conectividade35. Crebros planetrios, hipercrtex,
ciberpercepo, hiper-sujeito planetrio - eis algumas das imagens que ilustram essa nova dimenso de
um corpo hbrido, coletivo, clonvel, ubiquitrio e teletransportvel - um corpo que est cada vez
menos restrito ao invlucro orgnico e ao espao-tempo natural que vinham definindo o seu territrio. A
possibilidade de experimentar sem corpo-presente, de prescindir do espao-tempo natural para
perceber e sentir paisagens, objetos e corpos faz retornar o problema do corpo prprio, j levantado
nas prticas de intruso tecnolgica. Tais experincias de ramificao e ampliao do corpo diluem a
oposio entre o corpo-objeto, passvel de ser conhecido do exterior por analogia ao corpo do outro, e
o corpo-sujeito, experimentado do interior e indisponvel explorao objetiva, pois no est jamais
diante do sujeito mas o prprio sujeito como condio de toda explorao do mundo, corpo que no
32Cf. Rosnay, J., 1995, op. cit., p. 120.33Cf. Idem, p. 135.34Ibidem, p. 137.35Ascott, R. Cultivando o Hipercrtex inDomingues, D., 1997, op. cit., p. 337.
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se possui, mas corpo que se - corpo prprio36. O corpo-objeto acoplado e interfaceado com a
tecnologia, pode perceber, sentir e tocar prescindindo em parte do corpo-sujeito que encontra-se, pois,
parcialmente destitudo do lugar de condio de toda experincia. A experincia do corpo prprio, que
testemunhava a ancoragem no mundo e constitua a condio de acesso aos objetos exteriores, perde
seu privilgio de ser sempre presente e condio de toda presena. O corpo-objeto, por sua vez,
tambm acha-se modificado na medida em que suas propriedades materiais no apenas se oferecem ao
olhar desencarnado do cientista que apreenderia suas caractersticas gerais e estveis. O corpo-objeto,
o corpo orgnico-material, torna-se ocasio de experincia e espao de transformao, o que permite
aos artistas apontarem a necessidade de sua insero nesses novos processos do corpo. Diversificar o
corpo em forma e funo potencializar as possibilidades de ser um corpo pela transformao dos
meios de se ter um corpo. A arte engloba sistemas de transformao e procura maximizar umainterao com o seu meio. Isso tambm acontece com o corpo humano. Temos feito do corpo um lugar
de transformao, de forma a transgredir as limitaes genticas. E procuramos maximizar a interao
como o nosso ambiente, tanto o visvel como o invisvel, ao maximizarmos a capacidade do ambiente
para um comportamento inteligente e antecipatrio. O artista reside no ciberespao enquanto que outros
simplesmente o encaram como um instrumento37.
Ao longo deste artigo vimos os deslocamentos dos limites e fronteiras que insinuam uma nova
espacialidade do corpo na contemporaneidade. A concepo e a construo - pelas interfaces
desmaterializadas - de corpos que jamais esto imediatamente no mundo, mas sempre mediados por
dispositivos tcnicos, a abertura do corpo biolgico modulao tcnica, a capacidade de abandonar
o corpo, desvencilhar-se dessa ancoragem e ainda assim poder sentir e explorar mundos - todas
essas potencialidades, engendradas tanto pelas tcnicas intra-corporais quanto pelas inter-corporais,
apontam para a transformao da experincia do corpo prprio fundada na oposio entre corpo-
sujeito e corpo-objeto.
Tal transformao tambm est articulada ao estatuto do conhecimento e da interveno
cientfica e tecnolgica sobre o corpo. Quando a tecnocincia no mais se restringe s exigncias de
objetividade que descreviam um corpo desencarnado e quando as mquinas ou artefatos tcnicos
36Cf. Merleau-Ponty, M. (1945).Phnomnologie de la Perception. Paris: Gallimard.37Ascott, R. A Arquitetura da Ciberpercepo inGiannetti, C., 1998, op. cit., pp.166-7.
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deixam de ser o modelo de um corpo regido pelo automatismo e tornam-se dispositivos de
transformao e ramificao do corpo, rompe-se, ao menos em parte, com a herana cartesiana que se
apresentava na cincia analisada e questionada pela fenomenologia do corpo-prprio38. Ter um corpo,
at h bem pouco tempo, era uma fatalidade. E, nesta medida, a experincia de ser um corpo
apresentava-se como aquilo que excede ao simples fenmeno biofisiolgico e se dirige ao sentido,
experincia sempre inacabada, jamais totalmente constituda, pois relao com o Ser, abertura ao
mundo. Nesta mesma perspectiva, a filosofia e a arte deviam afastar-se da cincia, pois ao invs de
instaurarem a distncia que garante a objetividade, deviam conduzir-se ao que possibilita todo visvel.
Do corpo sem interior e sem si39da cincia, distingue-se o meu corpo (que) ao mesmo tempo
vidente e visvel ... um si, no por transparncia, como o pensamento ... mas um si por confuso40.
Doravante, a experincia de ter um corpo ganha uma certa plasticidade e isto pode, sem dvida,no representar nenhuma transformao positiva ou mesmo indicar a radicalizao de um determinismo
tecnolgico, mas tambm pode haver a uma ocasio para recolocarmos a questo acerca das
possibilidades do corpo. Questo que encena uma nova modalidade de corpo-objeto e que vem sendo
explorada pela arte tecnolgica. Problematizando as fronteiras do corpo e da tecnologia, a arte
engendra, ao mesmo tempo, um espao de expresso, experincia e reflexo. Explorar as
possibilidades do corpo pode ser, a, no uma mera reproduo das proezas tecnolgicas ou das
descobertas cientficas, mas um questionamento dos limites com os quais vnhamos demarcando as
condies de nossa experincia e de nossa humanidade.
38Limitamo-nos, aqui, viso de Merleau-Ponty.39Merleau-Ponty, M. (1984). O Olho e o Esprito in Os Pensadores - Merleau Ponty. So Paulo: Abril Cultural, p. 89.40Idem, p. 88.