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    III-131- RECICLAGEM DAS CASCAS DA LARANJA PRA NA PRODUO DESUPLEMENTO ALIMENTAR DE FIBRAS SOLVEIS (PECTINA)

    Lenilde Cordeiro Gonalves (1);Biloga. Especialista em Educao Ambiental. Mestranda em Cincias da Nutrio na UFPB.Profa. de Sade Pblica e Anlise Microbiolgica de guas no CEFET- PB.Roslia Gouveia Filizola(2) Mdica Endocrinologista. Doutora em Cincias Mdicas. Profa. deEndocrinologia na UFPB.Maria Lcia da Conceio(3)

    Engenheira de Alimentos, Mestre em Engenharia de Produo pela UFPB. Profa.deBromatologia na UFPB.Christiane Castro de M. Silva(4)

    Graduanda em Cincias da Nutrio na UFPB.Yon Oliveira de Andrade(5)

    Nutricionista pela UFPB..Endereo(1): Rua Carmelo Ruffo, 240- Jaguaribe Joo Pessoa - PB - CEP: 58015- 460 Brasil . Tel: (83) 222- 5071 e-mail: lenilde [email protected]

    RESUMO

    Diariamente, toneladas de cascas de laranjas so descartadas no meio ambiente, o que preocupante sob doisaspectos: grande acmulo de resduos slidos urbanos e desperdcio de valiosa matria orgnica. conhecido queas cascas de frutas ctricas so ricas fontes de fibras solveis, sendo a mais conhecida delas a pectina, muitoutilizada na indstria de alimentos como aditivo espessante em gelias. Recentemente, devido sua comprovadacapacidade em normalizar os nveis sanguneos de colesterol, estas fibras foram associadas preveno de vriaspatologias como aterosclerose, Diabetes mellitus e obesidade. Apesar do Brasil destacar-se como o maior produtormundial de suco de laranjas, existem poucos dados disponveis sobre os sub- produtos ctricos e o aproveitamentodas cascas de laranja encontra- se restrito produo de rao animal e de pectina comercial purificada, sob omonoplio de grandes multinacionais. No so encontrados registros de sua utilizao para fins nutricionais eteraputicos. Neste trabalho, foi preparado um suplemento alimentar de fibras, a partir do albedo (parte brancaesponjosa) das cascas da laranja Pra (Citrus sinensis Osbeck), a qual, devido qualidade do seu suco, a espciectrica mais consumida pela populao e, consequentemente, a maior geradora de resduos. Aps serem separadosmanualmente dos flavedos, os albedos foram submetidos a um pr- tratamento com soluo gua- lcool (4:1),drenados em peneira de nylon, secos em um secador de bandejas, temperatura de 60o C por 5h, modos epeneirados para obteno de um p fino (100 mesh) que apresentou um alto teor de pectina (39,25% + 1,9). Ascaractersticas do produto final permitem inclu- lo na categoria dos alimentos funcionais, tema de granderelevncia na atualidade. Isto abre espao para a indstria alimentcia, ampliando as oportunidades para a produode alimentos fibra- enriquecidos, com uma fonte de fibras abundante e de custo irrisrio. Alm disso, podercontribuir significativamente para a Sade Pblica, na preveno de doenas cardio- vasculares, que atingem cadavez mais pessoas de todas as classes sociais.

    PALAVRAS-CHAVE: Cascas de laranja, Fibras solveis, Pectina, Suplemento nutricional, Colesterol.

    INTRODUO

    A sade pblica v- se hoje diante de uma transio nutricional e epidemiolgica aonde as doenas infecto-parasitrias declinam e as doenas crnico- degenerativas, como a aterosclerose, o Diabetes mellitus e a obesidadepassam a liderar as causas de morte (Neves, 1997). Estes dados delineiam um problema que bem exemplifica atransdisciplinaridade das complexas relaes presentes no equilbrio dos ecossistemas: com a excessiva

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    industrializao o homem est causando desequilbrios tanto no seu meio ambiente externo (poluio) quanto noseu meio ambiente interno (doenas).Segundo Monteiro et al. (2000), a maior incidncia dessas doenas deve-se, em grande parte, adoo da chamadadieta ocidental, na qual houve grande reduo das fibras na dieta, com a predominncia de alimentos refinados(arroz, trigo, acar) e de gorduras animais, resultando no aumento dos radicais livres (Fiori, 1998) e na fcilmetabolizao dos nutrientes, elevando os nveis sanguneos de colesterol e de glicose (Fietz, 1998).

    Vrias pesquisas tm demonstrado que a pectina, uma fibra solvel muito utilizada como geleificante na indstriade doces (Campos, 1994) muito eficiente em normalizar os nveis sricos de colesterol (Reiser, 1987) e asmaiores fontes de fibras solveis so as cascas de frutas ctricas. O Brasil o maior produtor mundial de laranjas ede seu suco (Machado, 1997), como tambm de pectina ctrica comercial purificada (BRASPECTINA, 1989), aqual no acessvel maioria dos pequenos empresrios do setor alimentcio, sendo produzida e exportada pormultinacionais.

    Sob o aspecto nutricional, em muitos pases tem sido constatado um baixo consumo de fibras dietticas,principalmente pelo baixo consumo de frutas e hortalias (Auld et al., 2000), estando sendo elaboradas novasdiretrizes nutricionais. No Brasil alguns trabalhos j alertam para um baixo consumo das mesmas em todas asclasses sociais (Monteiro et al., 2000; Matos & Martins, 2000).

    Neste trabalho foi reciclado, com mtodo cientfico, o albedo (parte branca esponjosa) da laranja Pra (Citrussinensis Osbeck), que a variedade mais consumida pela populao e pela indstria de suco, produzindo- se umconcentrado em p. O produto foi analisado, com vistas a ser utilizado como suplemento alimentar de fibrassolveis, quando no supridas pela dieta. Foram feitas anlises fsicas, qumicas e microbiolgicas, com vistas adeterminar seu teor de pectina e outros parmentros bromatolgicos que pudessem atestar sua adequabilidade paraconsumo humano..

    MATERIAIS E MTODOS

    Foram analisadas dez amostras, cada uma composta pelos albedos de dez laranjas da variedade pra, selecionadasaleatoriamente. O mtodo utilizado foi o j previamente descrito para cascas de outras frutas como o maracuj(Holanda, 1991), com algumas adaptaes. Em sntese, o processo consiste nas etapas de obteno do albedo pordescascamento manual, pesagem, corte em tiras finas, pr tratamento com soluo soluo gua- lcool (4:1),drenagem em peneira de nylon, secagem em secador de bandejas a 60o por cinco horas, moagem em moinho degros, peneiramento em tela de 100 mesh, pesagem do produto final e acondicionamento.

    As determinaes de pH, umidade e resduos minerais seguiram as normas do Instituto Adolfo Lutz (1985) e afrao de fibra solvel (pectina) foi determinada por mtodo gravimtrico, por precipitao como pectato declcio, previamente descrito por Rangana (1979). Os parmetros microbiolgicos avaliados foram contagens emplaca de bactrias aerbicas mesfilas, Staphylococcus aureus e bolores e leveduras, todos seguindo o mtodooficial adotado pelo governo brasileiro (Siqueira, 1995).

    Os dados obtidos no processo foram submetidos anlise estatstica de mdia, desvio- padro, erro padro ecoeficiente de variao, atravs do programa SWNTIA, desenvolvido pelo CNPTIA/ EMBRAPA (Paniago et al,1999).

    O p de albedo foi processado no Laboratrio de Operaes Unitrias do Centro de Tecnologia da UniversidadeFederal da Paraba Campus I Joo Pessoa PB. As determinaes fsico- qumicas e microbiolgicas foramrealizadas no Laboratrio de Bioqumica de Alimentos e Laboratrio de Microbiologia dos alimentos, ambos doDepartamento de Nutrio do Centro de Cincias da Sade (CCS) da Universidade Federal da Paraba (UFPB).

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    RESULTADOS E DISCUSSO

    O produto final apresentou aspecto de um p fino, de cor creme, com quase total ausncia de odor e sabor(provadores no- treinados). As caractersticas qumicas e fsico- qumicas esto demonstradas na tabela 1. O teorde pectina mostrou- se mais alto do que o encontrado por Rouse (1953) para o albedo seco da laranja Valncia,que foi de 27,5%, pelo mesmo mtodo. A proporo de albedos secos obtidos em relao aos albedos frescos foide 17,59%, bastante superior encontrada por Royo Iranzo et al (1980), para cascas de laranjas amargas, que foide 11,2%. J a varivel umidade (8,68%) foi coerente com a dos citados autores, que foi de 9,2%.

    TABELA 1 Valores mdios das caractersticas qumicas e fisico-qumicas do p de albedo.PARMETROS pH UMIDADE (%) MINERAIS (%) PECTINA (%)**

    Valor mdio mximo 5,00 10,86 2,62 53,50

    Valor mdio mnimo 4,32 6,56 1,77 34,16

    Mdia 4,76 8,68 2,29 39,25

    Desvio padro 0,26 1,67 0,32 6,00

    Erro padro 0,08 0,53 0,10 1,90

    Coef. var. (%) 5,41 19,28 13,83 15,28

    Li < m * 4,58 7,48 2,06 34,96

    Ls >m* 4,94 9,88 2,52 43,54

    * Intervalos de confiana (IC) Li = Limite inferior do IC** Pectato de clcio Ls = Limite superior do IC

    A anlise microbiolgica, demonstrada na tabela 2, s mostrou resultado positivo na contagem padro de bactriasaerbicas mesfilas (UFC/g), e, mesmo assim, em nmero inferior ao limite de 106 UFC/g, a partir do qualconsidera-se um alimento como alterado (Franco, 1996). A ausncia de bolores e leveduras est relacionada aoteor de umidade do produto pois, segundo Castillo et al (1997) os concentrados de fibras s esto sujeitos aode fungos em teores de umidade acima de 13,8%.

    TABELA 2 Valores mdios dos resultados microbiolgicos do p de albedo (UFC/g) *Bactrias Aerbicas Mesfilas

    Mdia Desvio padro Erro padro

    Staphylococcus aureus Bolores e leveduras

    1,02 x 103 0,97 x 103 0,31 x 103 negativo negativo

    * Mdia de 10 amostras em duplicata.

    Um aspecto que merece ser considerado o controle de qualidade da matria- prima utilizada para a produo dop de albedo. necessrio que haja a preocupao com os sistemas de lavagem que esto sendo submetidas aslaranjas que chegam populao e se esto sendo respeitados os perodos de carncia pr- colheita, aonde nenhumagrotxico deve ser aplicado. O ideal ser investir no controle biolgico de pragas e na policultura, mesmo quetenhamos que passar adiante o posto de maior produtor mundial de laranjas.

    CONCLUSES

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    O p de albedo produzido pode ser considerado um produto de boa qualidade, rico em pectina e adequado para serutilizado como suplemento diettico de fibras solveis. Devido associao epidemiolgica entre um maiorconsumo de fibras solveis e uma menor taxa de colesterol sanguneo, pode- se concluir que o produto podecontribuir significativamente para a preveno e combate s doenas cardiovasculares.

    Estudos anteriores confirmam que os concentrados em p preparados a partir de cascas de laranja, apresentam umaboa proporo de fibras solveis e insolveis, permitindo adicionar aos alimentos fibras de excelente qualidadepara efeito fisiolgico (Larrauri, 1996). O alto teor de pectina permite que o produto seja utilizado na fabricao dealimentos fibra- enriquecidos, como substituto de agentes espessantes pobres em fibras como gomas, polvilhos,acar e gorduras, conseguindo- se, simultaneamente, enriquecer o alimento de fibras e reduzir o seu teor calrico(Andon, 1987). Assim espera- se contribuir para que seja atingida a ingesto mnima de fibras solveis,recomendada pela FDA (Food and Drug Administration USA) que de 8 g/dia.

    Isto amplia as oportunidades para engenheiros e tecnlogos de alimentos, que devem investigar a melhorformulao de alimentos fibra- enriquecidos com o p de albedo, no esquecendo- se de observar a legislaobrasileira, no tem 4 da Portaria 27 (Regulamento, 1998), que orienta a rotulagem desses alimentos. Tambm umincentivo para a criao de micro- empresas produtoras de alimentos funcionais, ou seja, alimentos que ajudam acombater diretamente as doenas e que, segundo Sloan (1999), constituir- se- o em um verdadeiro filo daindstria alimentcia neste sculo XXI.

    Seria utopia acreditar em que a produo de suplementos, sozinha, pode reverter o quadro de desequilbrionutricional do pas. Melhores condies de sade dependem, acima de tudo, de uma melhor distribuio de renda,que passa, indubitavelmente, por uma reorientao das polticas econmica e agrcola, de forma a permitirmelhoria nas condies bsicas de alimentao, moradia e saneamento. Mas tambm ingnuo achar que,cruzando os braos, estaremos sendo inteligentes. Toda pesquisa deve ser comprometida com a sua aplicao.

    O p de albedo no se apresenta como uma panacia, mas nos permite ultrapassar a teorizao e conferir aotrabalho uma aplicao prtica, que o aproxima do conhecimento popular, contribuindo de maneira mais efetivapara a melhoria da qualidade de vida.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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