Mídias Sociais, Saberes e Representações Salvador - 13 e 14 de outubro de 2011
CÂMERA, CIDADANIA, EDUCOMUNICAÇÃO: (RES) SEMANTIZAÇÃO DE USOS
DAS TECNOLOGIAS ENTRE JOVENS DE ESCOLA PÚBLICA A PARTIR DE
OFICINAS DE TV
Helen Campos Barbosa1
Derval Gramacho2
Resumo: O presente artigo pretende pontuar o processo de alfabetização audiovisual com
jovens de escola pública de Salvador a partir de oficinas educomunicativas de TV. O objetivo
é discutir o papel da linguagem televisiva e midiática no esforço de construção de práticas
coletivas e participativas em espaços educacionais, bem como o uso das ferramentas de
comunicação na escola como estratégia para construção coletiva de canais alternativos aos
grandes veículos comunicacionais. A análise deverá ser feita a partir dos registros de
atividades do projeto Nos Meios – TV e mídias interativas na Escola, desenvolvido em
uma escola pública de Salvador (BA).
Palavras-chave: protagonismo juvenil, televisão, práticas coletivas, educação.
Abstract: The present article intends to punctuate the process of audiovisual literacy with
young persons of Salvador's public school from educomunicative workshops of TV. The
objective is to discuss the paper of the mediatic and television languages in an effort to
construct collective and participative practices in education spaces, as well as the use of tools
of communication in the school like strategy for collective construction of alternative
channels to the great vehicles comunicationary. The analysis should be made from the
registers of activities of the project In the Media – TV and interactive media at School,
developed in Salvador's public school (BA).
Keywords: first keyword, second keyword, third keyword.
1 Concluinte do curso de Especialização em Jornalismo Cultural pela Faculdade 2 de Julho (Salvador, BA), email: [email protected] 2 Professor Me. Orientador da Faculdade 2 de Julho (Salvador, BA) [email protected].
A comunicação na sociedade atual tem comprovadamente atuado a favor de pequenos
grupos privilegiados economicamente, além disso, os meios de comunicação, incluindo-se aí
a Internet, têm-se constituído em canais de informação quase exclusivos para os jovens. Nesse
contexto, o fomento dos ecossistemas comunicativos nos espaços escolares se constitui como
uma via alternativa quanto ao incentivo do protagonismo juvenil na mídia e para a leitura
crítica dos meios.
Nesse sentido foi implantado desde o mês de março de 2011 no Colégio Estadual
Senhor do Bonfim, o projeto Nos Meios – TV e mídias interativas na Escola, que visa
elaborar um programa televisivo educomunicativo com alunos do citado colégio, na cidade de
Salvador (BA), tendo o público juvenil como alvo. O objetivo é criar uma produção cultural
televisiva a partir do protagonismo juvenil, em uma programação onde este público seja
valorizado e se reconheça nos temas abordados. O projeto tem se desenvolvido a partir da
parceria entre o Colégio Estadual Senhor do Bonfim, a Faculdade 2 de Julho, o Espaço
Cultural Xisto Bahia e a TV Universitária da UFBA – Web TV UFBA. O conceito de
educomunicação aqui utilizado é conceituado por Soares (2002) como
um conjunto de ações inerentes ao planejamento, à implementação e à
avaliação dos processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer
ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais,
assim como melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas,
incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de
aprendizagem (SOARES, 2002, p. 115).
Sabendo-se que durante as aulas tem sido feito uso das ferramentas de comunicação, a
exemplo de blog, redes sociais e vídeos, como estratégia para construção coletiva de
conteúdos alternativos às produções dos grandes veículos comunicacionais, é importante
destacar a metodologia do processo pedagógico do projeto. As atividades são desenvolvidas
durante as aulas de jornal, do Programa Mais Educação no Colégio Estadual Senhor do
Bonfim. O programa foi implantado em escolas públicas com vistas à educação integral
e busca articular o projeto da escola com atividades esportivas, de informática, música,
teatro, artesanato e jornal, assim, a comunicação insere-se nas atividades do referido
colégio.
As aulas de jornal ocorrem em dois dias da semana com duas horas e meia de duração,
com aplicações práticas de comunicação a partir de oficinas que fomentam a leitura crítica
dos meios de comunicação, capacitando para a produção audiovisual e possibilitando a
construção de estratégias dialógicas entre a educação e a comunicação. As aulas têm
ocorrido no formato de oficinas a partir dos princípios educomunicativos que, conforme
Soares (2003), buscam fomentar no espaço escolar o fortalecimento dos ecossistemas
comunicativos. As oficinas fomentam a leitura crítica dos meios, com atividades que
provocam a reflexão quanto à produção de conteúdo pela mídia regional e nacional, e
que, principalmente, possibilita aos jovens integrantes do projeto tornarem-se produtores
de comunicação e, deste modo, processualmente construírem o protagonismo juvenil na
mídia.
A relevância do projeto se dá pelo fato de a sociedade contemporânea
caracterizar-se pela velocidade da informação e contexto no qual a escola tem
encontrado desafios para aliar a comunicação aos processos educativos. Desse modo, o
projeto visa estimular o diálogo entre a mídia e os jovens estudantes do referido colégio.
Para tanto, ao longo das aulas tem-se prestado atenção em não perder de vista a
realidade de vida dos integrantes do projeto buscando relacionar as temáticas debatidas
às demandas sugeridas pelos próprios alunos. O que tem potencializado a ação desse
projeto é a articulação estabelecida, a partir de sua implementação, entre uma escola
pública, uma TV Universitária, um espaço cultural e uma Faculdade de Comunicação.
Como o projeto é um trabalho de conclusão do curso de especialização, não
possuindo recurso financeiro para o seu desenvolvimento, que prevê compra de
equipamentos e construção de uma estrutura para funcionamento das aulas, a parceria
entre o Colégio Estadual Senhor do Bonfim, a Faculdade 2 de Julho e a WEB TV
Universitária da UFBA tem sido o tripé de apoio para o seu desenvolvimento. O apoio
da WEB TV UFBA e Espaço Cultural Xisto Bahia foi firmado através da assinatura de
um termo de parceria entre as instituições, representadas pelos seus coordenadores, e a
autora e coordenadora do projeto experimental educomunicativo Nos Meios – TV e
mídias interativas na Escola.
O colégio ainda não possui equipamentos como câmeras ou profissionais que
trabalhem com novas tecnologias. As instituições parceiras, por sua vez, têm entre seus
objetivos o incentivo ao diálogo entre os campos de conhecimento e a sociedade,
difundindo a cultura, o que faz com que a parceria tenha um aspecto construtivo. A TV
UFBA, por exemplo, tem contribuído com empréstimo de câmeras handycam e deverá
veicular em seu site o produto final, já a Faculdade 2 de Julho, disponibiliza os
profissionais de comunicação para ministrar oficinas.
Assim, o projeto se desenvolve a partir de uma ação conjunta e parceira entre o
Colégio Senhor do Bonfim, a Faculdade 2 de Julho e a TV Universitária da UFBA.
Desde os primeiros meses foi possível viabilizar experiências de produção de mensagens
de autoria dos jovens, com o aprendizado do manuseio de equipamentos midiáticos,
como câmeras filmadoras e fotográficas, bem como ensinar como se dá o processo de
construção da notícia, mais especificamente quanto à televisão. Os alunos mantêm o
blog http://detudoumpouco2m.blogspot.com onde postam suas produções durante as
aulas e compartilham suas experiências comunicativas.
A construção de práticas participativas no espaço escolar
O percurso seguido para desenvolvimento do projeto em uma escola pública que prevê
oficinas de linguagem televisiva impulsiona também a reflexão quanto à construção de
práticas coletivas e sociais a partir das atividades propostas nas aulas de jornal. Estando em
sintonia com o tema de trabalho do Colégio Estadual Senhor do Bonfim em 2011 que
é “Ressignificando o espaço escolar”, o projeto tem possibilitado aos alunos tornarem-se
produtores de comunicação e, deste modo, processualmente construírem o protagonismo
juvenil na mídia.
A produção colaborativa de conteúdo feito pelos jovens integrantes do projeto para
Internet, mais especificamente para blog e uma WEB TV, possibilita a criação de novas
estruturas de significados quanto aos usos da Internet. Além disso, ao atuarem em equipes de
trabalho com atividades que se retroalimentam, de uma forma onde “o todo” depende do
sucesso de cada “parte” desenvolvida surge a gestão informacional, como também a
consciência de práticas coletivas cidadãs. Em uma das oficinas na qual o tema era
“Organizando a produção”, a turma foi dividida em equipes para que fossem apresentadas as
etapas de construção da notícia e possibilitar o domínio de produção para poderem expressar
suas opiniões a partir de uma prática cooperativa. Foram abordadas as etapas de definição de
um assunto ou acontecimento, de pesquisa sobre o tema, de escolha de entrevistados e de
realização das entrevistas e edição.
Como atividade prática foi proposta que os alunos escolhessem um assunto que
achavam importante para se transformar em conteúdo para o blog. Para tal atividade a turma
foi dividida em grupos. O primeiro grupo daqueles que iriam sistematizar de forma escrita as
ideias discutidas por toda turma (produção e reportagem), os alunos que se interessaram mais
pelo registro fotográfico começaram a fazer o registro dessa atividade, para ilustrar o texto
(fotografia e filmagens). Outro grupo ficou responsável por fazer a leitura final do texto
fazendo correções e organizando-o com as fotos feitas pelo grupo de fotografia e
posteriormente fazer a postagem no blog da turma (edição e divulgação).
Essa é uma das atividades realizadas no projeto Nos Meios – TV e mídias
interativas na escola, que exemplifica a construção de práticas coletivas. A inserção da
Internet e tecnologias da linguagem audiovisual como câmeras amadoras, no cotidiano
de grande parte dos jovens nas escolas dos centros urbanos é um fato. Mas o uso que
fazem de tal tecnologia pode ser ressignificado. Quanto ao processo de adaptação dos
indivíduos às transformações tecnológicas, José Carlos Ribeiro (2006, p. 2) cita Kovács
(2002) para ressaltar que a preocupação não deve ser quanto à adequação às mudanças
inevitáveis, mas sim, quanto à moldagem da tecnologia às necessidades sociais e individuais.
O futuro depende dos actores sociais, dos seus valores, interesses,
capacidade de negociação e do grau de democraticidade dos processos
de transformação. O ensino/formação constitui um meio que capacita
as pessoas para se afirmarem individual e coletivamente como actores
sociais no processo de construção social do futuro (KOVÁCS, 2002,
pp. 149-150, apud RIBEIRO, 2006, p. 2).
Para tanto, entendemos que a intersecção entre comunicação e educação faz-se
fundamental para a ressemantização das tecnologias de comunicação. Roselí Fígaro
(2011) assinala que os dois campos de conhecimento citados acima podem unir-se e se
configurar como uma via alternativa, ou mesmo desvio do sentido mercantil embutido
nas tecnologias de comunicação, tornando-as cidadã. No projeto aqui estudado, Nos meios,
podemos pontuar que as oficinas de linguagem de TV, bem como os debates acerca da
produção de conteúdo feita pelos grandes meios de comunicação despertaram para uma nova
forma de manuseio das tecnologias que os jovens participantes têm acesso. O alargamento da
aplicabilidade das novas tecnologias no cotidiano dos jovens modifica repertório, produção de
conteúdo e ressemantização do uso das novas linguagens tecnológicas.
As oficinas, além de ensinarem o manuseio de equipamentos como câmeras de
vídeo e sobre a linguagem de TV e suas etapas de produção, visam fomentar a discussão
quanto aos processos da produção de conteúdo e, assim, construir uma leitura crítica dos
meios de comunicação. Durante os meses de março a junho os alunos participaram de
oficinas com profissionais de diversas áreas, como cinegrafistas, comunicadores,
blogueiros, designers, editores e produtores de TV.
O uso do blog nas aulas, por exemplo, tem servido não só como um diário de bordo,
quanto às oficinas de comunicação, como também se constitui em um espaço onde os alunos
podem registrar acontecimentos da comunidade escolar e opinião sobre assuntos que
consideram relevantes. O nome do blog, inclusive, escolhido pela turma, foi pensado com o
objetivo de dar possibilidade à discussão de temas diversos que não se restringissem ao
espaço escolar, http://detudoumpouco2m.blogspot.com, o que prova o anseio dos alunos em
darem visibilidade a assuntos que acreditam ser importantes, porém muitas vezes não
abordados pela grande mídia.
Além das oficinas na própria escola, onde os profissionais convidados
ministraram aulas no formato de workshops, os alunos participaram também de visitas às
instalações da WEB TV UFBA e ao estúdio de TV da Faculdade 2 de Julho. As oficinas
educomunicativas têm potencializado o uso de tecnologias que os alunos já utilizam no
dia a dia, como câmeras de filmar e fotografar amadoras para transmitir mensagens
construídas coletivamente, além do uso das redes sociais, a saber, Facebook e Twitter,
para divulgação de seus trabalhos entre outros conteúdos, como textos e fotos, no blog
da turma.
Uma nova conjuntura comunicacional abre-se diante dessa possibilidade de produção
e veiculação de conteúdos. Minorias sociais, no sentido explicitado por Sodré (2005) que
entende esse grupo como os segmentos das classes que apesar de serem em grande
quantidade não possuem poder de decisão e voz, vislumbram meios alternativos aos
grandes meios de comunicação. Os papéis antes fixos de “produtor” e “consumidor” de
informação agora confundem-se e alteram o cenário comunicacional. Sobre isso Ribeiro
(2006) analisa:
[…] acreditamos que ao concretizar uma relação no último nível de
interatividade, os papéis do produtor e do consumidor de informação
tornam-se híbridos, pois os agentes passam a atuar de maneira dupla
no processo. As tecnologias contemporâneas de comunicação e as
mudanças na “produção” e no “consumo” de informações. Há ainda
um outro ponto interessante para a nossa discussão. Ao chegar ao
último nível de interatividade proposto por Lemos (2005), a
informação deixa de ser produzida por um veículo de comunicação e
consumida de forma tradicional pelos públicos desse veículo – em um
modelo que Lévy (1995) identifica como “um para todos” – e passa a
acontecer no modelo que o mesmo autor chama de “todos para todos”,
em que não existe um produtor oficial da informação, haja vista que
todos têm o direito de produzir e participar da informação que circula,
concordando, discordando e até acrescentando novos elementos a ela
(RIBEIRO, 2006, pp. 5 e 6).
A Internet como também mídias móveis como câmeras fotográficas e filmadoras
de celulares e amadoras como a handycam já são uma realidade no cotidiano dos jovens.
Nesse contexto, a escola não pode se omitir do processo de possibilitar a compreensão e
produção da linguagem imagética e audiovisual. A experiência no referido projeto, tem
demonstrado que os jovens são capazes de selecionar temas que consideram relevantes e
de darem visibilidade a eles, desenvolvendo a narrativa escrita no blog e também oral a
partir da gravação dos vídeos.
Desde as oficinas é possível afirmar que tais atividades fomentam o entendimento
da imagem enquanto um meio de representação da realidade. O uso do blog, fotos,
Internet e TV como mídias interativas no Projeto Nos Meios – TV e mídias interativas
na escola reforçam, assim, o que Soares (2002) ressalta como fomento dos ecossistemas
comunicativos em espaços escolares.
Planejamento didático das oficinas
Como as oficinas do Projeto Nos Meios tem o objetivo de capacitar para produção
de conteúdos diversos para o blog da turma e para a produção de um programa piloto
televiso, o projeto propõe ainda um espaço virtual para compartilhamento das
experiências e conteúdos programáticos das aulas. O site tem servido como um diário
desse percurso. Para tanto, tem sido postados em http://helencampos.com textos, vídeos
e sequências didáticas.
O planejamento didático elaborado e compartilhado no site com posterior
detalhamento aula a aula foi:
Portanto, semanalmente é postado no site diversos materiais utilizados nas
oficinas educomunicativas do projeto Nos Meios – TV e mídias interativas na Escola.
No material didático disponibilizado consta textos/hipertextos relacionados à temática,
planos de aulas utilizados nas oficinas, links interessantes que envolvem o tema,
resultados de trabalhos como o blog da turma, entrevistas e produtos midiáticos
produzidos especificamente com a finalidade de apresentar estratégias para o uso de
tecnologias no espaço escolar e também os vídeos dos próprios alunos no projeto
poderão ser postados.
Assim, o material didático disponibilizado busca construir uma estratégia
dialógica educacional para o protagonismo juvenil na mídia, bem como de atividades
educomunicativas. Vale lembrar que os primeiros resultados das aulas já podem ser
visualizados no endereço eletrônico http://detudoumpouco2m.blogspot.com.
O registro das oficinas é relevante pelo fato de que o intuito da educomunicação
não é de apenas proporcionar um espaço comunicativo onde se construa um produto para
um determinado público que, por sua vez, deveria simplesmente consumi-lo, como
Martín-Barbero (1997) explica:
Comunicação significará então colocação em comum da
experiência criativa, reconhecimento das diferenças e abertura
para o outro. O comunicador deixa, portanto, de figurar como
intermediário – aquele que se instala na divisão social e, em vez
de trabalhar para abolir as barreiras que reforçam a exclusão,
defende o seu ofício: uma comunicação na qual os emissores –
criadores continuem sendo uma pequena elite e as maiorias
continuem sendo meros receptores e espectadores resignados
(MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 69).
Nesse contexto o conteúdo didático tem tido o aporte teórico em dois eixos
temáticos:
1. Mídia – processo;
2. Mídia – produto.
O objetivo é contribuir para produções onde o educando possa testar e também
ampliar a produção de mídia, tendo a orientação do educador. Assim, tem existido a
preocupação de que o material esteja sintonizado com as teorias construtivistas.
Conclusões
O processo de alfabetização audiovisual contribui para a ressignificação das
tecnologias fomentando práticas coletivas e participativas em espaços educacionais. A
Educação e a Comunicação são dois campos de conhecimento que conectados podem vir a ser
uma via alternativa ao modo de produção da mídia atual e possibilita a interação dos jovens
com a educação a partir da linguagem midiática. O manuseio de equipamentos digitais de
comunicação e a Internet podem contribuir para práticas colaborativas de construção de
conteúdos e que possibilitem a compreensão de noções de funcionamento da linguagem
audiovisual e construção narrativa no ato de contar histórias ou assuntos. O estímulo à
criatividade, identificação dos elementos da linguagem audiovisual e leitura crítica são
resultados possíveis a partir de oficinas de TV em uma escola. No caso do projeto, a
linguagem televisiva tem sido mais especificamente trabalhada, a começar do que Azevedo
afirma:
A inclusão da TV no projeto pedagógico da escola não se resume em
usar vídeos como ilustração de determinados conteúdos didáticos. É
importante que a TV como meio de comunicação social seja o próprio
conteúdo em si. Ela precisa ser pensada em suas implicações para a
educação porque através dela os alunos estão construindo uma visão de
mundo. Os educandos precisam ser capazes de compreender como a TV
constrói a leitura do mundo que nos apresenta, como faz a mediação
entre o homem e o meio onde vive. Cabe ao educomunicador viabilizar
esta aproximação entre a escola e os meios de comunicação
(AZEVEDO, 2003, p. 7).
A experiência ao longo de seis meses no Colégio Estadual Senhor do Bonfim demonstra que
as novas tecnologias podem ser relevantes para a formação de um indivíduo crítico e com
possibilidades de participação e expressão. A inserção de novas tecnologias na escola é
importante, pois impulsiona a melhoria da qualidade dos meios de comunicação e a
inclusão dos jovens nestes espaços, com pautas que os retrate como cidadãos. No
projeto, isso tem sido estimulado através de amplas discussões nas oficinas com
posterior desenvolvimento de trabalhos experimentais de comunicação neste sentido. A
começar destes pressupostos o projeto objetiva contribuir para a democratização dos
meios de comunicação e romper, dessa forma, com o processo intitulado por Martín-
Barbero como a “cultura do silêncio” (MARTÍN-BARBERO, l978. p. 50).
O projeto tem focado em incentivar atividades educomunicativas buscando
ampliar e discutir a presença do segmento juvenil na mídia com a proposta de construir
uma produção audiovisual cultural que dê enfoque a esse público. O estímulo ao uso de
mídias na escola, tanto por educadores como pelos alunos, pode contribuir no esforço de
construção de práticas coletivas e participativas em espaços educacionais. Além disso, o uso
das ferramentas de comunicação na escola pode ser também uma estratégia para construção
coletiva de canais alternativos aos grandes veículos comunicacionais.
A inserção da comunicação na escola é uma forma de estimular o protagonismo
juvenil na mídia e demonstrar a importância do uso das novas tecnologias a favor da
educação e cidadania. A escola é também um espaço de experimentação capaz de
abarcar em suas atividades a cultura regional, cidadania, democratização das mídias e
educação.
Assim, a intersecção entre comunicação e educação contribui ainda para o
vislumbre de uma nova conjuntura na comunicação a começar das novas tecnologias da
informação e comunicação. Sobre isso Fígaro (2010) cita Soares (2008) que conceitua a
educomunicação como a garantia de "preparar o cidadão para assumir sua condição de
agente comunicativo através do reconhecimento e do exercício compartilhado do direito
universal a expressão" (SOARES, 2008, apud FIGARO, 2010, p. 40).
Dar voz ao público juvenil a partir da linguagem comunicacional, objetivando a
pluralidade de ideias e tendo por base a interação da comunicação e da educação
enquanto uma ação política e instrumento de intervenção social fomenta, dessa forma, a
constituição de práticas cidadãs e (res)semantização dos usos das tecnologias de
comunicação.
Referências
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Paulo. São Paulo: 2003.
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos meios as mediações - Comunicação, cultura e hegemonia
Trad. Ronald Polito, Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, l997.
__________________. Comunicación Masiva: Discurso y Poder. Quito: Ciespal. l978.
FIGARO, Roseli. Apresentação. Comunicação/Educação: campo de ressignificação das
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Paulo. – Ano 15, n.3 (set/dez. 2010). – São Paulo: CCA/ ECA/ USP: Paulinas.
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