Curso POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Disciplina
ELEMENTOS DA ECOLOGIA
Celso SANCHEZ Cezar PIRES
Francisco CARRERA Luciana RIBEIRO
Vilson CARVALHO
www.avm.edu.br
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CELSO SANCHEZ PEREIRA
Doutor em Educação Brasileira (PUC-RJ) mestre em
psicossociologia de comunidades e ecologia social (UFRJ).
Biólogo licenciado pela UFRJ, especialista em ciências ambientais
pela UNESA especialista em antropologia a arqueologia pelo
Museu Nacional UFRJ. Professor, consultor ambiental e
presidente da ONG Bioética
Mestre pela COPPE-UFRJ em Engenharia Civil – Recursos Hídricos.
Especialista em Ensino Superior pela Universidade Veiga de
Almeida-UVA. Engenheiro Civil pela UVA. Coordenador Acadêmico
do Curso de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental
da Universidade Veiga de Almeida. Coordenador do Curso
Tecnólogo em Gestão Ambiental na UVA. Professor da
Universidade Veiga de Almeida-UVA. Professor convidado da
União das Faculdades de Alagoas-UNIFAL, Faculdade de Artes do
Paraná, da FIOCRUZ, da COPPE/UFRJ, das Universidades Cândido
Mendes, Estácio de Sá, Gama Filho e CEFET e do Instituto
Ecológico Aqualung.
Francisco Carrera é bacharel em Direito pela Universidade Santa
Úrsula, Mestre em Direito pela UERJ, pós-graduado em auditoria e
periciais ambientais. Atualmente atua como professor de direito
ambiental da EMERJ, coordenador de diversos cursos de Pós
Graduação em Direito Ambiental inclusive do Curso de Pós
Graduação em Direito Ambiental do Instituto A Vez do Mestre –
UCAM. É membro da Comissão de Direito Ambiental do IAB, sócio
Titular da Carrera Advogados S/C, e assessor I da Secretaria de
Promoção e Defesa dos Animais da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Carrera possui ainda diversas obras publicadas sobre Direito
Ambiental.
Possui graduação em ciências biológicas pela Universidade
Estadual Paulista (1995), mestrado em educação brasileira pela
PUC - Pontifícia Universidade Católica (2003) e Doutorado em
educação brasileira (2008) também pela PUC-Rio. Atualmente é
docente da UDC e da UTIC. Foi docente de especializações em
Educação Ambiental pelas universidades PUC-Rio e Cândido
Mendes, no Rio de Janeiro. É ainda professora-tutora da Fundação
Getúlio Vargas, na área ambiental, no programa de educação
corporativa à distância, nível Especialização. Tem experiência na
área socioambiental, tanto no ensino e pesquisa, como em
projetos e atividades comunitárias, sobretudo em termos de
metodologias e representações sociais. Sua frente principal de
trabalho é a EDUCAÇÃO AMBIENTAL, especialmente na formação
continuada de professores e outros profissionais.
Eu me chamo VILSON SÉRGIO DE CARVALHO e atuo no Instituto
AVM desde 1996, dando aulas nos cursos presenciais de pós-
graduação e como membro da equipe pedagógica de seus cursos
na modalidade a distância. Me formei em Psicologia pela UFRJ,
universidade onde conclui meu bacharelado, licenciatura e
mestrado em psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social,
onde tive a oportunidade de estudar a Educação Ambiental e suas
múltiplas relações com o desenvolvimento de comunidades.
Recentemente conclui meu doutoramento em Ecologia Social
também pela UFRJ. Atuo também na área de consultoria
ambiental em comunidades e instituições sensíveis ao tema,
integrando equipes interdisciplinares.
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mário
07 Apresentação
09 Aula 1
Introdução à ecologia: conceitos preliminares
53 Aula 2
Estudo de ecossistema
95 Aula 3
Biomas brasileiros
159 Aula 4
Recursos hídricos
187 Aula 5
Problemática ambiental urbana
259 AV1
Estudo dirigido da disciplina
262 AV2
Trabalho acadêmico de aprofundamento
264 Referências bibliográficas
Elementos da Ecologia
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Não dá para trabalharmos com Educação Ambiental sem conhecer
nosso objeto de estudo e defesa – o meio ambiente – em
profundidade. Nesse sentido, poucas disciplinas podem oferecer
mais elementos para a compreensão da dinâmica sócio-ambiental
do que a Ecologia. Esse é o objetivo deste conjunto de aulas:
permitir o conhecimento aprofundado de diferentes conceitos e
temáticas da ciência ecológica essenciais ao trabalho de qualquer
profissional que se proponha a atuar na área ambiental. É
evidente que não é necessário ser biólogo para ser educador
ambiental, mas o bom educador ambiental sabe e reconhece que
sem o estudo aprofundado de temáticas ambientais corremos o
risco de errar por nos aventurarmos em uma dinâmica ecológica
cuja base natural desconhecemos. Esperamos que o estudo dos
diferentes temas abordados, como ecossistemas, biomas,
comunidades, espécies, impactos ambientais e outros, possam
servir à capacitação e a um processo de educação continuada de
nossos alunos. Aproveite, portanto, este caderno não apenas
agora, mas futuramente, sempre que você precisar tirar alguma
dúvida no âmbito da Ecologia. Depois dessa apresentação só nos
resta recomendar a todos um excelente estudo!
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Este caderno de estudos tem como objetivos:
Examinar a importância da Ecologia para a compreensão das
diferentes dinâmicas ambientais do planeta, bem como da crise
ambiental vigente;
Analisar conceitos essenciais da área de Ecologia que servem
de base para os mais diferentes debates e discussões
abordadas neste curso;
Compreender melhor quais seriam os principais recursos
hídricos do planeta, os impactos sócio-ambientais que estes
sofreram no decorrer do processo civilizatório e as medidas
tomadas em diferentes âmbitos para conter tais impactos;
Entender melhor o espaço urbano como um ecossistema rico e
complexo que problemas sócio-ambientais específicos e
Finalmente conscientizar a todos, a partir de uma ótica
ecológica, sobre como os desafios ambientais atuais são
complexos e como a solução destes demanda o trabalho
conjunto de profissionais dos mais diferentes setores.
Introdução à Ecologia: Conceitos
Preliminares
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O título desta aula introdutória já é bastante elucidativo no que diz
respeito a temática central que esta aborda, ou seja, o estudo de
conceitos básicos que permitem ao aluno adentrar no mundo da
Ecologia tais como: Ecossistema, Cadeia Alimentar, Pirâmides
Ecológicas, Fotossíntese, Espécie, População, Comunidades, Nicho
Ecológico e a própria Ecologia não apenas em seu sentido clássico
– ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e destes
com o meio ambiente – mas a partir da ótica de Felix Guatarri.
Trata-se assim de uma aula importante que servirá de base para
reflexões mais aprofundadas sobre a temática que serão vistas
nas aulas seguintes. De forma clara e didática o professor foi
desenvolvendo essa introdução à Ecologia de modo que você não
apenas aprenda bastante sobre o tema, mas se sinta motivado a
buscar aprender mais.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender o que seja Ecologia e a importância desta no
quadro geral das ciências humanas e naturais; Refletir sobre alguns dos principais conceitos na área de
Ecologia que servem de base para os mais diferentes debates e
discussões abordadas neste curso; Favorecer o entendimento da história da Ecologia desde a
invenção do termo por Ernest Haeckel em 1869 até os atuais
debates que são objetos da mesma; Analisar algumas questões atuais que perpassam a temática da
Ecologia tendo em vista a crise ambiental vigente.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 10
Introdução
Cabe ressaltar que, para início de conversa, este
módulo possui a intenção de fazer como um convite à
sua reflexão, à sua crítica. Esperamos que você, leitor/
leitora, aproveite as idéias que serão expostas aqui,
inserindo-as dentro do possível, no seu dia-a-dia,
vislumbrando, através da vivência pessoal, a dimensão
da ecologia para entender que nós, seres humanos,
somos cada um elos de uma corrente de inter-relações
que todos os seres vivos possuem entre si e com seu
meio ambiente. Foi a partir da observação destas inter-
relações que surgiu a Ecologia.
Poluição, desastres ambientais, chuva ácida,
efeito estufa e o aquecimento global, são assuntos cada
vez mais freqüentes em nosso conturbado cotidiano. A
qualidade de vida das grandes cidades cai
vertiginosamente em todos os países do mundo. A cada
novo dia há noticiários dramáticos de graves acidentes
ambientais que acabam por comprometer a
subsistência de um sem número de famílias e
trabalhadores que vivem da convivência, muitas vezes
milenar, com a natureza. São os “flagelados dos
desastres ecológicos”.
Em alguns lugares a poluição do ar já é tão
intensa que obriga governos a se sensibilizarem para a
temática ambiental e a tomarem atitudes extremas
para conter danos e prejuízos maiores. Um exemplo
próximo pode ser constatado na cidade de São Paulo,
onde já é necessário o rodízio de automóveis para
evitar que o nível de poluição atmosférica seja
insuportável à vida humana. Cidades como México,
Londres, Detroit, Bangkok, são outros exemplos de
territórios que possuem seus cotidianos alterados e
extremamente sensíveis a pequenas variações nas
condições ambientais.
Dica do professor
Desastres ecológicos: Vale destacar que este termo se refere tanto aos acidentes ambientais originados de ações antrópicas (ações do homem sobre a vegetação natural), quanto aos acidentes no ambiente originados de causas naturais como os terremotos e os recentes tsunamis.
Introdução 10 Histórico e definição 12 Fundamentos básicos de ecologia 18 As pirâmides ecológicas 21 Produtividade primária 26 Conceitos básicos 34
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 11
Mas esta história é de certa forma recente. Foi
apenas a partir da segunda metade do século XX, que a
humanidade começou a verificar os prejuízos causados
por uma mentalidade, uma ideologia fortemente
aderida a uma lógica desenvolvimentista que não
poupou a natureza em detrimento de seus interesses
puramente econômicos.
Fruto de uma mentalidade reforçada pela
revolução industrial e tecno-científica, essa lógica de
funcionamento foi de tal maneira forjada que justificou
um estilo de pensamento da relação sociedade /
natureza, onde se via unicamente, os privilégios e os
benefícios que poderiam ser alcançados através da
exploração aviltante da natureza e seus recursos. A
natureza era deslumbrante não por sua beleza, pureza
ou importância no equilíbrio da vida, mas pelo que
poderia ser retirado dela, das riquezas que poderiam
ser construídas a partir de sua destruição.
Essa maneira de ver a natureza foi adotada por
grande parte dos países ocidentais, reivindicou o direito
à exploração dos recursos da natureza a qualquer
preço, em nome de um “desenvolvimento” basicamente
voltado para obtenção de lucros a curto prazo, sem
quaisquer preocupações com a sustentabilidade do uso
destes recursos, sem se preocupar com o seu
esgotamento, ou sequer garantindo a utilização dos
mesmos pelas gerações futuras.
Começamos nosso diálogo neste primeiro
módulo com este alerta. Julgamos assim necessário
porque todas as questões propostas têm a ver com o
assunto que iremos abordar aqui em seguida: a
Ecologia.
Como ciência, surgida em meados do século
XIX, a ecologia não tinha a pretensão de atingir a
Você sabia?
Sobre o Rodízio de Veículos em São Paulo: A CET começou a fiscalização do rodízio municipal de veículos no centro expandido em outubro de 1997, quando a frota total da capital paulista registrada no Detran era de 4,7 milhões, já incluídas as 293.289 motocicletas. A frota circulante -estimativa de veículos que rodam diariamente, descontados os que ficam parados nas garagens, por exemplo- estava próxima de 3 milhões. Ou seja, os técnicos esperavam
retirar 600 mil veículos de circulação de segunda a sexta.
Importante
Modelos alternativos de desenvolvimento: Frente a esse modelo economicista de desenvolvimento onde a natureza é pensada como
mercadoria. Existem outros modelos como já foram analisados em outros módulos que tentam harmonizar progresso econômico e sustentabilidade ambiental como: - O desenvolvimento endógeno; - O desenvolvimento sustentável; - O ecodesenvolvi-mento.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 12
importância social, política e diária que ocupa hoje. É
impossível referir-se ao tema ecologia sem citar
questões sérias que todos atravessamos
cotidianamente. Assim, de um despretensioso ramo da
biologia até a dimensão ecopolítica e até espiritual, a
ecologia atravessou um denso caminho impregnado por
debates intensos.
Trataremos aqui desta trajetória e destes
desdobramentos, para entendermos as dimensões da
ecologia hoje e seu alcance, suas tendências vertentes
e caminhos, no futuro. Neste primeiro momento,
portanto, iremos trazer alguns conceitos básicos e uma
primeira argumentação sobre a diversidade das áreas
de aplicação e extensão da ecologia, e do pensamento
ecológico em nossa sociedade.
Histórico e definição
O termo Ecologia suscita uma idéia que sempre
esteve presente na humanidade desde muito cedo em
sua trajetória. No campo da ciência pode-se dizer que
foi usado pela primeira vez em 1869, pelo biólogo
alemão Ernest Haeckel, um dos grandes nomes da
biologia do século XIX. Haeckel estudava a fisiologia
dos animais e vegetais, quando percebeu que havia
uma estreita relação entre a morfologia da planta ou do
animal que estudava e seu meio ambiente. Seus
estudos representam um trabalho de mais de 40 anos
dedicados a experimentação científica, mas seu nome
entrou definitivamente para a história da ciência na
obra intitulada “Morfologia Geral dos Organismos”,
onde tenta mostrar que a morfologia das espécies varia
de acordo com o meio ambiente onde estas vivem.
Num testemunho de que as espécies possuíam
correlações e interações estritas e importantes com o
meio. Em seu extenso trabalho, Haeckel propunha
modestamente a criação de uma nova disciplina
Quer saber mais?
Haeckel definiu Ecologia como “...o conjunto de conhecimentos relacionados com a economia da natureza - a investigação de todas as relações entre o animal e seu ambiente orgânico e inorgânico, incluindo suas relações, amistosas ou não, com as plantas e animais que tenham com ele contato direto ou indireto - numa palavra, ecologia é o estudo das complexas inter-relações, chamadas por Darwin de condições da luta pela vida”. Vê-se que, na sua primeira definição, a Ecologia já incorpora a Economia.
Vide outros detalhes no site: http://arruda.rits.or
g.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=108&textCode=11083
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 13
científica, que seria um dos ramos da biologia, a qual
estaria preocupada em estudar as relações entre as
espécies animais e vegetais e o seu meio orgânico e
inorgânico.
Para denominar este novo campo de estudos
Haeckel utilizou a palavra Ecologia, apropriando-se da
palavra “OIKOS” que em grego significa “CASA”, assim
surgiu a “ciência da casa”.
Um dado marcante é que a mesma palavra já
havia sido usada para “Economia” que significa
“ordenação, manejo da casa”. Ambas as ciências,
portanto, possuem desde suas origens relações
estreitas como veremos mais adiante, pois ambas
ocupam hoje, lugar de destaque em nossas vidas
diárias.
A modesta proposta inicial de Ernest Haeckel, no
entanto, encontra ressonância tão profunda que de um
subtítulo da biologia, passou como diz o filósofo e
teólogo Leonardo Boff a ser atualmente:
Um discurso universal, quiçá o de
maior força mobilizadora do futuro
milênio.
Já desde muito cedo na história da humanidade,
o conhecimento sobre a ecologia, das relações dos
seres vivos, incluindo-nos aí, com seu meio ambiente e
entre si, foi fundamental para a sobrevivência da
condição humana.
Para sobreviver nas sociedades primitivas, (ou
seja, as mais antigas, não inferiores ou menos
evoluídas), era extremamente importante conhecer
muito bem seu meio ambiente, quer dizer, as condições
e variantes ambientais e os animais e vegetais que
viviam ao redor delas. Saberes tais como, quando vai
Dica do
professor
Procure investigar outras definições de Ecologia em outras obras e a partir
daquilo que já vimos nas aulas anteriores.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 14
chover, qual terra é mais fértil e adequada ao plantio,
que tipo de refúgios e lugares podem ser encontrados
determinados tipos de animais que poderiam servir de
caça etc. Estes foram todos conhecimentos que
exigiram extensa observação sobre a ecologia geral dos
ambientes e seres que ali viviam. Esta ecologia
primitiva e fruto da observação e experimentação
humanas, nos acompanha desde os primórdios.
Este conhecimento ecológico de sociedades
deste tipo pode ser facilmente compreendido através
do estudo do relacionamento destas sociedades, ou das
que ainda sobrevivem hoje, como é o caso de nossos
povos tradicionais, com seu meio ambiente, chegando
ao ponto de estabelecerem elos tão estreitos com seu
meio que, por vezes, era impossível uma dissociação.
Um exemplo do que estamos falando é o caso
dos índios Kaiapó, da região central do Brasil. Esta
nação desenvolveu-se de maneira tão intrinsecamente
relacionada a seu meio que chega ao ponto de serem,
estes índios, responsáveis pela manutenção da
biodiversidade de diferentes espécies de feijões
selvagens. A este campo da ecologia, preocupada com
a relação de seres humanos com seu meio chama-se
ecologia humana. Esta tem se mostrado um campo de
estudos bastante profícuo, e o Brasil possui grandes
especialistas de renome internacional com destaque
para um dos mais importantes centros de pesquisa no
mundo o Museu Nacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
Nas últimas duas décadas, o setor madeireiro tem
se mostrado especialmente predatório na região
amazônica, principalmente no sul do Pará, habitada pe
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 15
Como toda ciência, a Ecologia teve um
desenvolvimento irregular e em sobressaltos. Desde os
gregos, já havia menções a questões ecológicas. Vários
filósofos importantes, tais como Aristóteles e
Hipócrates, fazem referência, incitam debates e tecem
considerações de reflexões filosóficas relativas aos
temas ecológicos, levantando questões que hoje
poderiam ser classificadas dentro do campo da
ecologia.
Na Roma antiga, desde Rômulo e Remo,
podemos encontrar referências sobre alguns cuidados
ambientais indispensáveis para se evitar o esgotamento
de recursos naturais. Mais ou menos no mesmo
período, nas Américas, os Toltecas reivindicavam junto
aos governantes Maias, posições adequadas de manejo
de solos e de cultivo de milho para se evitar que se
exaurissem os solos. Há historiadores que defendem a
idéia de que um dos motivos da decadência do povo
Maia ocorreu por razões ecológicas. Enfim, é possível
contar milhares de histórias sobre a estreita relação e
importância que a ecologia ocuparem nossas vidas.
los índios Kaiapó. As terras dessas comunidades
vêm sendo sistematicamente invadidas e
degradadas, em alguns casos com a anuência dos
próprios líderes indígenas. Esse modelo predatório
nem sempre garante retorno financeiro justo para as
comunidades e a falta de preocupação com a
proteção ambiental põe em risco a sobrevivência
futura destes povos.
Para reverter essa situação e escapar do modelo
predatório que se impõe na região, os Xikrin-Kaiapó
criaram em 1995, a Associação Bep-Nói de Defesa
do Povo Xikrin do Cateté. A associação estabeleceu
parceria com o Instituto Socioambiental,
organização não-governamental sem fins lucrativos
e, com o apoio financeiro da Companhia Vale do Rio
Doce e do ProManejo (Programa Piloto para Proteção
de Florestas Tropicais do Brasil – MMA e IBAMA). Os
Xikrin começaram a desenvolver o seu próprio
projeto de manejo florestal.
Veja mais detalhes em:
http://www.partes.com.br/socio_ambiental08.html
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 16
Como definição clássica, a ecologia pode ser
entendida como a ciência que estuda a relação dos
seres vivos entre si e destes com seu meio ambiente. A
partir daí, pode-se entender que o objeto da ecologia
não são os seres vivos (campo da biologia, por
exemplo), nem o meio ambiente per si (campo da
química, geologia, física, geografia etc.), mas sim a
relação entre o que se pode chamar fatores bióticos e
abióticos (bio = vida). Entendendo-se que o objeto da
ecologia trata do campo das relações ou interações, a
ecologia em si ganha uma amplitude dimensional
superior, ou seja, ela pressupõe que, em todo fato
ecológico, existem pelo menos dois atores envolvidos,
sendo assim, há intrinsecamente a necessidade de se
pensar num sistema ativo, onde há troca de elementos
entre as partes.
QUEM ERAM OS TOLTECAS?
Tolteca significa em nahuatl, “mestres construtores”.
Os Toltecas foram um povo pré-colombiano, nativo
do México que emigrou do norte do chamado agora
México, em torno do ano 700 d.C. a grande cidade
de Teotihuacán, e estabeleceram sua base militar
em Tula no estado de Hidalgo, a 64 km ao norte da
moderna Cidade do México, no século X d.C,
permanecendo até o século XII d.C.. Pensa-se que
sua chegada marcou o militarismo na Mesoamérica,
já que o exército tolteca empregou sua força militar
para dominar os povos vizinhos. Suas conquistas
abrangeram uma área que compreende o sudoeste
dos Estados Unidos até a América Central. O povo
Tolteca tinha uma cultura refinada, que incluía
conhecimentos sobre a fundição do metal, o
trabalho em pedra, a destilação, escrita e a
astronomia. Sua arquitetura e arte refletiam
influências de Teotihuacán e da cultura Olmeca.
A História nos narra que a civilização Tolteca decaiu
no ano 1.300 d.C. quando os Chichimecas, junto
com outros povos indígenas, invadiram o Vale de
Anáhuac e saquearam Tula. Os Toltecas
sobreviventes fugiram para o sul e foram absorvidos
pelos Mayas, povo que eles haviam conquistado
anteriormente.
Se você deseja saber mais sobre os Toltecas acesse
o seguinte site:
http://www.xamanismo.com/mensagens.asp?c=35
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 17
Neste ponto, podemos já chamar a atenção para
o principal conceito que circula na ciência ecologia, o
ECOSSISTEMA, que pode ser interpretado como uma
unidade ecológica básica. Adiante em nosso curso,
veremos mais detalhadamente o conceito. Neste
sistema, há um fluxo constante de trocas entre matéria
e energia entre as partes compondo, desta forma, um
dos mais intricados processos biológicos.
Em virtude da amplitude da definição e da ampla
gama de aplicação do conceito, a ecologia alçou vôos
muito maiores do que a sua despretensiosa intenção
científica. A ecologia viu ressonâncias dos
conhecimentos que gerava em tão variados campos de
conhecimento que foi quase impossível atê-la apenas
as margens da ciência. Em outras palavras, tratar a
ecologia como unicamente um conceito científico,
significa reduzir seu entendimento e aniquilar uma
visão de mundo baseada no respeito às relações entre
os seres vivos. O olhar que a ecologia, enquanto
ciência, propõe para os processos de interação que a
vida estabelece, lança férteis possibilidades de
entendimento do conceito que vão desde o campo da
ideologia, política, espiritualidade até uma nova visão
ética.
Para explicar melhor este processo de
disseminação do conceito “ecologia”, para a sociedade
como um todo e os desdobramentos do termo é preciso
verificar um pouco da história recente da ciência. Em
meados dos anos 1960, com a revolução contracultural
e os avanços tecno-científicos, o conhecimento gerado
em ecologia provocou grande influência social e o
termo passou a ser amplamente empregado passando
a significar muitas vezes uma ideologia, ou uma linha
de pensamento político e às vezes até espiritual. Um
dos motivos desta comoção que levou a movimentos
mundiais de criação de partidos políticos com bandeiras
Para pensar
O que você destacaria? Dentre os conceitos em Ecologia que nós já vimos no decorrer dos módulos estudados. Quais você destacaria como sendo os mais importantes?
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 18
ecológicas, religiões e seitas que pregavam posturas
ecológicas, teses de doutorado em ecologia e leis
ambientais foi o fato dos conhecimentos científicos
possuírem aplicabilidade prática na vida das pessoas.
Foi a partir da credibilidade da ciência que este termo
pode ser amplamente disseminado.
Fundamentos básicos de ecologia
ECOSSISTEMA
Define-se como ecossistema, todo o complexo
de organismos e o ambiente físico em que eles
habitam. É também uma gigantesca máquina
termodinâmica que continuamente dissipa energia em
forma de calor. Esta energia inicialmente entra no
domínio biológico do ecossistema via fotossíntese e
produção vegetal, que, por sua vez, proporciona
energia aos animais e microrganismos não-
fotossintéticos.
O estudo energético do ecossistema dominou a
ecologia durante as décadas de 1950 e 1960, devido à
larga influência de Eugene P. Odum, que defendeu a
idéia da energia como uma moeda comum para
descrever a estrutura e o funcionamento de
ecossistema.
FUNCIONAMENTO DO ECOSSISTEMA
O fluxo químico e de energia sustentam a
organização do ecossistema e são os responsáveis pela
individualidade de cada ecossistema. Em cada um deles
existe um grupo de organismos que interagem,
transformam e transmitem energia e compostos
químicos.
A fonte energética inicial para todos os
Dica do
professor
O Conceito de ecossitema foi bastante revolucionário se
comparado com os conceitos anteriores para o entendimento dos processos ecológicos. Trata-se de um conceito amplo que se refere a uma unidade ecológica composta por uma fração viva, denominada biocenose, e uma fração não viva, o ambiente propriamente dito, denominada biótopo. Campos, praias, manguezais, costões rochosos, cavernas, regiões abissais, rios, lagos, estuários, bosques, florestas, desertos, recifes de coral e pântanos, são alguns exemplos de ecossistemas.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 19
ecossistemas é o sol: certos fótons de luz solar podem
ser utilizados na produção de substâncias ricas em
energia, mediante o processo da fotossíntese.
Os produtores primários são os organismos que
atuam na entrada da energia nos ecossistemas,
transformando a energia radiante em energia química.
São representados pelos vegetais verdes (ainda que
certas bactérias possam também fazer esta
transformação, mas de maneira insignificante). Todos
os demais níveis de organismos (consumidores e
decompositores) são mantidos por esta transformação.
NÍVEIS TRÓFICOS
Numa observação simplificada, a energia
química armazenada durante a fotossíntese pode viajar
por uma série de compartimentos antes que se dissipe
por completo.
Uma planta pode ser consumida por um
gafanhoto, este por sua vez pode ser comido por um
pássaro e este por um gato.
Planta Gafanhoto Pássaro Gato
Esquema 1: Cadeia Alimentar
Dependendo da eficiência da digestão, grande
parte da energia alimentar pode retornar ao ambiente
como energia não digerida (excrementos) e disponível
para outros organismos.
Todo organismo utiliza parte da energia do
alimento no processo da respiração. Os restantes de
energia disponíveis são armazenados para utilizá-la
como fonte de energia para o próprio organismo
(gordura, p.e.), para seus descendentes, para os
predadores que se alimentam dele ou quando morrem
por outra causa.
Quer saber mais?
É muito difícil determinarmos as dimensões de um ecossistema específico. Por isso, um menor ou o menor ecossistema seria aquele que se enquadrasse dentro das definições de ecossistema, e tendo as menores dimensões possíveis. Para exemplificar: uma gota d'água contendo uma comunidade de microorganismos poderia ser se não o menor, com certeza um dos menores ecossistemas estando é claro esta gota sujeita as interações biológicas entre os microorganismos e entre estes e o meio físico, tal como
luminosidade, temperatura etc.
Para pesquisar
Pesquise outras cadeias alimentares que você conheça e compare-as, procurando identificar seus componentes.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 20
A caracterização linear do fluxo químico e de
energia através dos organismos se denomina cadeia
trófica ou alimentar. Cada organismo está situado em
um nível alimentar ou trófico que representa a sua
posição em relação à entrada inicial de energia.
No caso de uma cadeia alimentar que começa
por vegetais vivos é possível distinguir as diversas
categorias seguintes:
Os Produtores - São os vegetais clorofilianos,
isto e, os organismos capazes de fabricar e
acumular energia potencial sob forma de
energia química presente nas matérias
orgânicas sintetizadas (açúcares, gorduras e
proteínas). São representados pelas plantas
verdes e algas.
Os Consumidores Primários - São
representados geralmente pelos herbívoros e
mais raramente pelos parasitos animais e
vegetais das plantas verdes, que exploram
seu hospedeiro sem matá-lo.
Os Consumidores Secundários - sobrevivem à
custa dos herbívoros, sendo, portanto
carnívoros ou onívoros. E são encontrados em
grupos muito variados.
Os Consumidores Terciários - São os
carnívoros propriamente ditos. Podem ser
predadores, que capturam as presas,
matando-as antes de devorá-las, ou então
parasitas, ou ainda comedores de cadáveres.
Os Decompositores ou Bio-Redutores -
formam o termo final da cadeia alimentar.
São principalmente microrganismos que atacam
os cadáveres e os excrementos decompondo.
Dica do professor
Procure exemplificar cada um dos componentes citados considerando uma cadeia alimentar qualquer. Produtores:
Consumidores de
1ª. Ordem ou Primários:
Consumidores de 2ª. Ordem ou Secundários:
Consumidores de 3ª. Ordem ou Terciários:
Decompositores ou Bio-redutores:
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 21
Os pouco a pouco, assegurando assim o
retorno progressivo ao mundo mineral dos
elementos contidos na matéria orgânica.
As pirâmides ecológicas
A estrutura trófica de um ecossistema ou de
uma cadeia alimentar pode ser descrita em termos de
indivíduos, de biomassas ou de energia. Pode-se
igualmente figurar graficamente esta estrutura por
meio de pirâmides ecológicas.
PIRÂMIDE DOS NÚMEROS
Numa cadeia de predadores se fizermos a
superposição de retângulos horizontais de mesma
altura, tendo o comprimento proporcional ao número
de indivíduos presentes em cada nível trófico,
obteremos uma figura chamada pirâmide dos
números, tanto mais alta quanto maior for o número
de níveis tróficos de cadeia.
Foi estabelecida partindo de dois fatos
observados na grande maioria dos casos.
Em um ecossistema os animais de pequeno
tamanho são mais numerosos que os de tama-
Produtor Consumidor Consumidor
Decompositor
Esquema 2: Níveis Tróficos
Terciário Secundário
Consumidor
Primário
Quer saber mais?
O que é biomassa? A abundante vida vegetal do nosso planeta é armazenadora da energia solar e de substâncias químicas, sendo um recurso renovável que chamamos de biomassa. Assim, todos os organismos biológicos são aproveitados como
fontes de energia e são chamados de biomassa: a cana-de-açúcar, o eucalipto, a beterraba (dos quais se extrai álcool), o biogás (produzido pela biodegradação anaeróbica existente no lixo e dejetos orgânicos), lenha e carvão vegetal, alguns óleos vegetais (amendoim, soja, dendê) etc.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 22
nho maior e reproduzem-se mais depressa;
Para todo animal carnívoro há um limite
inferior e um limite superior do tamanho das
presas que pode comer.
A pirâmide dos números não tem grande valor
descritivo porque dão a mesma importância a todos os
indivíduos, quaisquer que sejam seu tamanho e peso.
Por isto este modo de representação está abandonado,
o que não significa evidentemente que não haja
interesse em conhecer o número de organismos de um
ecossistema.
Figura 1: Piramide dos Números
PIRÂMIDE DAS BIOMASSAS
Indica para cada nível trófico a biomassa dos
organismos correspondentes. Em uma cadeia de
predadores a biomassa dos organismos tem geralmente
a forma de um triângulo com a ponta para cima. Mas
há exceções encontradas em certos ecossistemas
aquáticos, onde o fitoplancton (algas) tem uma
biomassa inferior à do zooplancton (animais
microscópicos), mas uma velocidade de renovação
muito rápida (Pirâmide invertida).
Figura 2: Pirâmide de Biomassa
Nº de Gaviões
Nº de Pássaros
Nº de Insetos
Kg de Gaviões
Kg de Pássaros
Kg de Insetos
Importante
A massa de matéria orgânica contida em um ser vivo é chamada de biomassa, sendo
esta proporcional a quantidade de energia nela contida.
Importante
Pirâmide das Energias: É representada de forma que cada nível trófico tem sua energia acumulada. A base corresponde ao nível trófico dos produtores, e na seqüência são representados os níveis dos consumidores. A largura de cada nível corresponde à quantidade de energia ou de matéria orgânica disponível para o nível trófico seguinte. Este tipo de pirâmide serve para indicar a produtividade de um determinado ecossistema, pois considera o fator tempo.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 23
Figura 3: Pirâmide de Biomassa Invertida
PIRÂMIDE DAS ENERGIAS
É o modo de representação mais satisfatório
porque retrata fielmente as transferências de um nível
para o outro, mas faltam muitas vezes os dados para
construí-la.
Cada nível trófico é representado por um
retângulo cujo comprimento é proporcional à
quantidade de energia acumulada por unidade de
tempo e por unidade de superfície (ou volume) nesse
nível. A pirâmide das energias tem sempre a forma de
um triângulo com a ponta voltada para cima por motivo
das perdas de energia que tem lugar de um nível
trófico a outro, o que é conseqüência das leis da
termodinâmica.
Obs.: As leis da termodinâmica são duas:
Primeira Lei: Trata da transmissão e
transformação de energia e é definida pela
formula:
Q= E + W
Q é à entrada de energia;
E é a troca de energia no sistema;
W é o trabalho realizado.
Os ecólogos expressam a primeira lei na
seguinte forma:
Zooplacton
Fitoplancton
Para navegar
Em qualquer processo natural a ENTROPIA do universo sempre aumenta. A entropia de um macroestado é proporcional ao número de microestados nesse macroestado. E sabemos que a probabilidade de um macroestado ocorrer é dada pelo número de microestados que ele contém. Existe um interessante site dedicado inteiramente ao conceito de entropia. Vale a pena consultá-lo: http://www.fisica.ufc.br/entropia/entropia7.htm
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 24
Pb = Pn + R
Pb é a taxa de energia que entra no
ecossistema;
Pn é a taxa de acumulação de energia no
ecossistema;
R é a respiração ou taxa de conversão de
energia em trabalho no ecossistema.
Segunda Lei: A Entropia de um sistema
isolado sempre aumenta. A entropia é uma
medida da aleatoriedade, desordem ou caos
em um sistema. Ou seja, a tendência de um
sistema é a desordem.
O meio de se diminuir a entropia é realimentar o
sistema com energia.
A relação entre entropia e a energia estabelece-
se da seguinte forma:
S = ∆ C - ∆ L
T Donde:
∆ S é a troca de entropia no processo
∆ C é o calor da reação
∆ L é a troca de energia livre do processo
T é a temperatura absoluta
Como um Ecossistema não é um sistema
isolado, ele refaz a sua energia através de energia
solar.
Diferenças entre as Pirâmides
Importante
Qualquer
ecossistema, e conseqüentemente o maior deles que é a Terra, está sujeito constantemente a desarranjos perturbando os mesmos. Estas perturbações, de acordo com a intensidade, podem ser “absorvidas” pelo ecossistema sem que haja grandes danos para o mesmo. A esta constância dentro de um ecossistema, mantida por forças internas denomina-se equilíbrio ecológico. As forças internas são resultantes das complexas relações entre organismos e meio físico. Já a capacidade de resposta de um ecossistema a perturbações é chamada resiliência.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 25
Veja abaixo um exemplo comparativo da
Pirâmide das energias com as demais pirâmides
retirado de Odum, E.P.
Figura 4: Pirâmide dos Números (A), das
biomassas (B) e das energias(C)
REDE ALIMENTAR
Chama-se de Rede Alimentar quando existe um
relacionamento mais complexo entre os níveis tróficos.
Em certas situações, torna-se muito difícil detectar os
diferentes níveis. Vejamos um exemplo de como é
complexo analisar suas diferentes tramas:
Criança 1
Bezerro 4,5
2 bilhões
A)
Pés de Alfafa
Criança 48 Kg
Bezerro 1035 Kg
6211 Kg
B)
Alfafa
Tecido humano 8 mil e trezentas cal
Bezerro 1, milhões cal
14,9 milhões cal
C)
Alfafa
Energia solar
recebida 6,3 bilhões de cal
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 26
Esquema 3: Rede Alimentar (adaptado de Dajoz,
R.).
Plecopteros (Perla, Dinocras, Protonemura),
Trichopteros (Rhyacophila, Hydropsyche, Philotamus),
Efemérida (Baetis), Dípteros (Simulum, Chironomus).
Produtividade primária
CONCEITO DE PRODUTIVIDADE
Define-se a produtividade primária de um
sistema ecológico, de uma comunidade ou de qualquer
parte deles, como a taxa na qual a energia radiante é
convertida, pela atividade fotossintética e
quimiossintética de organismos produtores (na maior
parte, plantas verdes), em substâncias orgânicas. É
importante distinguir as quatro etapas sucessivas no
processo produtivo, como fazemos a seguir:
Consumidores Secundários
Nível Intermediário
Consumidores Primários
Produtores
Matéria
Orgânica Importada
Perla sp
Hydropsyche sp
Protonemura sp
Algas Verdes
Fragmentos de folhas
Baetis sp
Leuctra sp
Simulum SP Chironomus sp
Rhyacophila sp
Dinocras sp
Philopotamus sp
Diatomáceas
Detritos
Quer saber mais?
Produtividade Primária Líquida e Produtividade Primária Bruta: A Produtividade Primária Líquida - PPL: é toda a energia que os produtores armazenam a partir da fotossíntese (PPB) menos o que eles gastam na respiração (R), assim a PPL é o que o consumidor primário vai ter disponível do produtor. Fórmula: A PPL = PPB-R
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 27
Produtividade primária bruta é a taxa de
fotossíntese, incluindo a matéria orgânica
usada na respiração durante o período de
medição. Também se chama fotossíntese
total ou assimilação total;
Produtividade primária líquida é a taxa de
armazenamento de matéria orgânica nos
tecidos vegetais, em excesso relativamente
ao uso respiratório das plantas durante o
período de medição. Também se chama
fotossíntese aparente ou assimilação líquida.
Na prática, a quantidade de respiração
geralmente é acrescentada às medidas de
fotossíntese aparente como correção para
estimar a produção bruta;
FONTE: AMABIS E MARTHO – LIVRO BIOLOGIA 3., 2004.
Produtividade líquida da comunidade é a taxa
de armazenamento de matéria orgânica não
utilizada pelos consumidores (ou seja, a
produção primária menos o consumo
heterotrófico) durante o período em
consideração, geralmente a estação de
crescimento ou um ano;
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 28
Finalmente as taxas de armazenamento
energético em níveis de consumidores são
denominadas produtividade secundária.
A produção primária é medida por uma ou mais
combinações de diversos métodos: coleta, troca gasosa
(CO2 em ambientes terrestres e O2 em ambientes
aquáticos), e assimilação de carbono radioativo.
Devido às plantas perderem água na proporção
direta da quantidade de CO2 assimilado, a produção
das plantas em ambientes secos varia na proporção
direta e é limitada pela disponibilidade de água.
A produção em ambos os ambientes terrestres e
aquáticos pode ser aumentada pela aplicação de vários
nutrientes (Esq. 4), especialmente nitratos e fosfatos,
os quais indicam que nutrientes disponíveis limitam a
produção. Este efeito é mais forte nos oceanos abertos
e nos lagos profundos.
O movimento da energia e matéria através da
cadeia alimentar é caracterizado pela eficiência de
assimilação (a razão entre assimilação e a digestão) e a
eficiência de produção liquida (razão entre produção e
assimilação).
EFICIÊNCIA DA FOTOSSÍNTESE
Conhecendo as fontes de entrada e saída de
energia no sistema, podem-se realizar estimativas
sobre a produção máxima possível na Terra a partir da
eficiência máxima potencial da fotossíntese.
A incidência máxima de energia solar sobre a
superfície do globo é calculado em torno de 7000 kcal
/m2 dia. A maioria das folhas verdes absorve a grande
parte da energia (cerca de 90%) na parte visível do
Para pesquisar
Procure pesquisar mais sobre a temática da produção em comunidades. Temos certeza de que você encontrará matérias bem interessantes.
Dica do professor
Para entender o valor da fotossíntese: A fotossíntese significa etimologicamente síntese pela luz. Excetuando as formas de energia nuclear, todas as outras formas de energia utilizadas pelo homem moderno provêem do sol. A fotossíntese pode ser considerada como um dos processos biológicos mais importantes na terra. Por liberar oxigênio e consumir dióxido de carbono, a fotossíntese transformou o mundo no ambiente habitável que conhecemos hoje. Para outras informações consulte o site: Http://www.iq.ufrj.br/~almenara/fotossintese.htm
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 29
espectro, além disso, reflete e transmite a maior parte
da luz na seção ultravioleta e infravermelho. Das 7000
kcal iniciais, cerca de 2.755 kcal podem reverter-se
potencialmente no processo da fotossíntese. Cerca de
30% desta energia se dissipa, sendo que os 70%
restantes são utilizados para a formação dos produtos
fotoquímicos que transferem sua energia para a
fotossíntese. Da energia radiante total, somente 28% é
absorvida para formar a energia do ecossistema.
Entretanto, além de Luz, certos fatores
limitantes podem influenciar na eficiência da
fotossíntese, tais como:
Água, temperatura, nutriente e os herbívoros
terrestres.
Transparência da água, temperatura,
nutrientes e herbívoros aquáticos.
ESQUEMA 2: RELAÇÃO ALGAS / NUTRIENTES
0
20000
40000
60000
80000
1 00000
1 20000
1 40000
Manhã Tar de Noite
Ind
ivíd
uo
s
0
50
1 00
1 50
200
250
300
350
400
450
To
nela
das
A lgas
NO2/NO3
Importante
A pesquisa científica da fotossíntese possui uma importância vital. Se pudermos entender e controlar o processo fotossintético, nós saberemos como
aumentar a produtividade de alimentos, fibras, madeira e combustível, além de aproveitar melhor as áreas cultiváveis. Os segredos da coleta de energia pelas plantas são adaptados aos sistemas humanos para fornecer modos eficientes de aproveitamento da energia solar. Essas mesmas tecnologias nos auxiliam a desenvolver novos computadores mais rápidos e compactos, ou ainda, a desenvolver novos medicamentos. Uma vez que a fotossíntese afeta a composição atmosférica, o seu entendimento é essencial para compreendermos como o ciclo do CO2 e outros gases, que causam o efeito estufa, afetam o clima global do planeta.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 30
ESQUEMA 3: RELAÇÃO LUZ/GASES LIBERADOS NA
FOTOSSÍNTESE
AS ECOLOGIAS
A seguir veremos algumas das diferentes facetas
e tendências da ecologia para entendermos a amplitude
de ação e a repercussão de seu discurso pelos
diferentes setores da sociedade e do conhecimento
humano.
ECOLOGIA AMBIENTAL
Esta primeira vertente ocupa-se do meio
ambiente, baseia-se nos conhecimentos tecno-
científicos, está interessada na descrição de processos
ecológicos, elabora modelos matemáticos para
entendê-los e pauta-se em exemplos encontrados na
natureza. Preocupa-se, sobretudo com a preservação
das espécies, com a biodiversidade e o equilíbrio do
planeta, pauta-se sobre uma plataforma de
pensamento científico e procura novas tecnologias,
chamadas de tecnologias “limpas”, ou seja
preocupadam-se com a garantia da qualidade de vida
do ser humano. Esta vertente é a que nos norteará
para estudarmos a ecologia em nosso curso. Como
exemplo desta face temos ciências como ecologia
7:00 às
10:00
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às
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às 5:00
5:00 às
7:00
Qu
an
tid
ad
e
O2
CO2
Luz
Dica do professor
Quantas ecologias você conhece? A partir de agora não falemos mais em Ecologia, mas em Ecologias. Aqui destacamos
algumas: - A Ecologia Ambiental; - A Ecologia Social; - A Ecologia Mental ou Profunda; - A Ecologia Política ou Ecologismo.
Quer saber mais?
Vale acessar o artigo de Carlos Guimarães entitulado: “Ecologia Profunda, Ecologia Social e Eco-Ética” disponibilizado no site: http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/ecologia.html
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 31
marinha, de águas doces e continentais, ecologia
animal, ecologia vegetal, ecotoxicologia etc.
ECOLOGIA SOCIAL
A Ecologia Social baseia-se no entendimento das
relações das sociedades com seu meio ambiente,
procura: entender os tipos de trocas e as diferentes
formas de interpretar e lidar com o meio ambiente: e
entender como e o que as diferentes sociedades ou
grupos sociais interpretam, entendem e conhecem
como meio ambiente e quais as relações que podem
possuir com este e com outros grupos através deste
entendimento. Nesta vertente podemos encontrar
trabalhos sociais, movimentos políticos e estudos
científicos. É uma plataforma de pensamento ampla e
que permite diferentes aplicações que vão desde o
embelezamento das cidades, cuidados estéticos sobre o
ambiente que influenciam a qualidade de vida das
pessoas, até questões mais ligadas ao saneamento
básico, educação, saúde, violência urbana, justiça
social, as relações entre homens e mulheres. Enfim, é
destes interesses que advêm o forte apelo político
desta tendência. Para Boff (2000):
Segundo essa compreensão, a
injustiça se mostra, portanto, como
injustiça ecológica contra o todo
natural-cultural humano. A ecologia
social propugna por um
desenvolvimento sustentável. É aquele
que atende às carências básicas dos
seres humanos de hoje sem sacrificar
o capital natural da Terra, tomando em
consideração também as necessidades
das gerações de amanhã, pois elas têm
o direito à sua satisfação e a herdar
uma Terra habitável, com relações
humanas minimamente decentes.
(p.27)
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 32
ECOLOGIA MENTAL OU ECOLOGIA PROFUNDA
Este estilo de ecologia é uma das vertentes em
maior expansão principalmente nos países do norte
onde há uma profunda crise de identidade. A
plataforma de pensamento da Ecologia Mental ou
Profunda é baseada em dados científicos e reflete-se
numa ética e numa espiritualidade peculiares.
Importantes biólogos e cientistas contemporâneos,
inclusive alguns prêmios Nobel, fazem parte desta
corrente de pensamento. Para Boff (2000), a ecologia
profunda:
Sustenta que as causas do déficit da
Terra não se encontram apenas no tipo
de sociedade que atualmente temos,
mas também no tipo de mentalidade
que vigora, cujas raízes remontam a
épocas anteriores à nossa história
moderna, incluindo a profundidade da
vida psíquica humana consciente e
inconsciente, pessoal e arquetípica.
Sendo assim, a ecologia profunda é uma
corrente de pensamento que propõe uma nova
cosmologia, onde todos os objetos, elementos da
natureza estão interligados por uma ordem superior e
pregam a idéia de um universo auto-consciente.
Seguindo este raciocínio é praticamente automática a
elaboração de uma proposta ética para a humanidade.
Esta ética proposta pela ecologia profunda tem
base em diversos autores, sendo um de seus pilares o
filósofo francês Edgar Morin, que propõe a constituição
e consolidação de uma solidariedade planetária,
baseando-se na idéia de que possuímos todos nós uma
identidade planetária com a Terra e que, portanto, esta
é a nossa pátria universal, sendo assim, ele elabora
uma ética da cidadania planetária, o ser humano deve
ser responsável pelo seu próximo, sendo a natureza
entendida como “o outro”, ou seja, seu próximo. Além
Quer saber mais?
Sobre Boff e a ecologia social A ecologia social é o campo de estudos ao qual Boff tem se dedicado desde que, pressionado pelo
vaticano por conta de suas posições progressistas, rompeu oficialmente com a estrutura formal da igreja católica em março de 1992. Ex-frade franciscano e um dos fundadores e principais nomes da polêmica teologia da libertação, que nos anos 70 propôs uma fusão de marxismo e cristianismo, Boff dava fim naquele momento a vinte anos de batalha pública por seu direito a um pensamento teológico livre das amarras dogmáticas da igreja, que chegou a lhe impor um voto de silêncio de onze meses nos anos 80.
Para navegar
Para acessar na internet sobre Morin Existem diferentes sites sobre Morin na internet, mas vale a pena consultar o site do SESC sobre esse autor que é um dos filósofos mais importantes da complexidade. Vale a pena acessar e navegar com calma nas diferentes páginas que compõem esse site: http://edgarmorin.sescsp.org.br/
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 33
do mais, esta lógica de pensamento, pressupõe um
“contrato geracional” (Boff, 2000), que prega que todos
nós devemos ter um compromisso com as gerações
futuras de forma que elas possam ter direito a um ar
minimamente puro, uma água minimamente potável e
condições mínimas para subsistência e qualidade de
vida.
Algumas importantes missões assumidas por
esta linha de pensamento se pautam em trabalhar no
sentido da elaboração de uma política da solidariedade
universal e de uma pedagogia da compreensão de
nosso papel responsável na Terra, ou seja, uma
educação ambiental, voltada para a constituição de
uma sociedade onde os valores ético-ecológicos
prevaleçam.
ECOLOGIA POLÍTICA OU ECOLOGISMO
A ecologia política é uma vertente que possui
várias manifestações distintas. Pode-se entendê-la
como a apropriação do discurso ecológico ambientalista
pelas diferentes formas e concepções ideológico-
políticas, daí a justificativa do uso do termo ecologismo,
ou seja, uma ideologia política baseada em concepções
ecológicas. Em outras palavras, esta tendência, baseia-
se numa plataforma de conhecimento tecno-científico
que embase atitudes e ideologias para fins políticos.
Entendemos a “política”, aqui, como forma de conduzir,
administrar e gerenciar o funcionamento social.
ECOLOGIA POLÍTICA
Na ótica de Sérgio Boeira a ecologia política vai além
da política ambiental na medida em que concebe esta
como transetorial, ou seja, como política que interliga
as diversas políticas setoriais tomando como
denominador comum a proposta de
ecodesenvolvimento. Esta inclui as diversas leituras
dominantes sobre desenvolvimento sustentável, mas
redefinindo-as com o objetivo de harmonizá-las. Não
se trata apenas de corrigir os desvios do mercado ou combater a poluição, mas de planejar de forma parti-
Importante
Pensamento Holístico: De tradições epistemológicas diferentes, vários autores apontam para essa questão mais holística de ser humano. Emanuel (2004) elenca vários deles. O já citado filósofo Jacques
Derrida (2001) fala de “solidariedade dos seres vivos”. Edgar Morin (2000) a denomina de “solidariedade planetária”. Leonardo Boff (1998) a ela se refere como “civilização planetária”. O termo não importa. O que importa é o que sustenta cada um deles: a idéia de que urge pensar o global, sem desconsiderar o local, para além das questões econômicas.
Importante
Atenção aos temos utilizados. Eles precisam estar claros para que você possa continuar sua leitura. Dê uma parada e anote os conceitos num caderno e faça uma revisão.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 34
Assim há de acordo com a base de pensamento
político formas diferentes de ecologismo. Pode-se falar
que após as fronteiras entre o socialismo e o
capitalismo terem sido desbotadas, com a queda do
muro de Berlim, o ecologismo despontou como uma
nova e importante bandeira política, encontrando
alicerce em ambas as linhas ideológicas de pensamento
político. Há o ecologismo adequado a correntes
socialistas e o ecologismo aplicado ao capitalismo.
Vistas então, as diferentes tendências e
possibilidades da Ecologia, seguiremos agora, para um
estudo mais apurado dos conceitos elaborados pela
ciência ecologia, a fim de nos situarmos dentro do
contexto dos debates que ela incita.
Conceitos básicos
OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DE ORGANIZAÇÃO DA
VIDA
Partindo para uma observação mais detalhada
da Ecologia, podemos destacar que os seres vivos
fazem parte de sistemas complexos que os abrigam. A
vida se organiza em níveis hierárquicos de
complexidade, guiando-se por uma lógica, cujo tom é
dado pela complexidade de organização de cada
sistema. Cada nível hierárquico possui autonomia e é
interdependente dos demais.
Importante
Lembre-se de que o ser humano também integra e modifica estes sistemas interferindo em sua organização complexa.
cipativa a economia humana em contextos
ecossociais. Faz parte do ecodesenvolvimento uma
abordagem da teoria dos sistemas pela qual busca-se
a inter e a transdisciplinaridade no diagnóstico de
impactos ambientais negativos e no uso racional dos
ecossistemas. Neste sentido a ecologia política avança
no sentido da transmodernidade e do paradigma da
complexidade.
Para mais informações consulte o site:
http://revistaturismo.cidadeinternet.com.br/noticias/n
ot72.htm
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 35
Para entendermos este processo observe o
quadro abaixo:
Cada nível pode ser chamado também de hólon.
Palavra de origem grega (holos = tudo), que designa a
totalidade de complexidade e autonomia de cada esfera
de organização. Assim, podemos dizer que a vida segue
uma organização holoárquica, que se estende
infinitamente (sistema solar, via láctea etc.)
Analisando um por um destes elos de
complexidade, observamos que, no primeiro nível, o
genético, encontramos um sistema informacional
densamente complexo, onde há uma ordem de
funcionamento e gerenciamento da passagem de
informação genética, hereditária e de síntese protéica
que ocorre na célula. É um sistema funcional
autônomo, auto-regulado e auto-reprodutivo. Ao
mesmo tempo é completamente interdependente da
célula, pois não funciona sozinho e se não estiver
interligado com os demais níveis.
Já no nível seqüente, o sistema celular,
encontramos uma elevação organizacional. Estão
presentes organelas celulares que atuam no
metabolismo. As células são as unidades funcionais dos
seres vivos. Em organismos pluri e multicelulares,
observamos um aumento de complexidade, este
aumento é proporcional ao grão de interação e
comunicação celular. Desta forma, quanto maior for o
grau de complexidade do organismo, mais complexa é
também a sua rede de comunicações e interações entre
as células. Outro dado interessante é que quanto mais
complexo o ser vivo, maior é o número de células
diferentes e de gens, e interações entre estes
Gene célula órgãos Organismo populações
comunidades ecossistemas biomas biosfera
Para pesquisar
Procure pesquisar em outras fontes o conceito de organização holoárquica, explorando suas diferentes abordagens e utilizações na Ecologia. Anote em seu caderno e reveja sempre que quiser.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 36
diferentes conforme podemos observar no quadro
abaixo que expressa esta correlação (adaptado de
Capra, 1996 p. 168).
Já o nível de população, designa o conjunto de
indivíduos da mesma espécie que habitam numa
mesma área. Comunidades o conjunto de diferentes
populações habitando uma mesma região. Adiante nos
deteremos um pouco mais profundamente nestes dois
conceitos. O ecossistema de forma sucinta trata-se da
principal unidade ecológica e é nele que as
comunidades de seres vivos se desenvolvem e se
articulam ecologicamente trocando matéria e energia
entre si de forma constante.
Os biomas correspondem aos ambientes que
abrigam diferentes ecossistemas. Para exemplificar este
conceito, podemos citar alguns dos principais biomas
brasileiros, a saber: a floresta amazônica, a mata
atlântica, o cerrado, caatinga, recifes de coral etc. A
totalidade dos biomas do planeta Terra, correspondem
a biosfera, camada da Terra que possui vida. É uma
camada tão expandida que é quase impossível separá-
la do próprio planeta. Segundo alguns autores, a
conceituação da biosfera é tão ampla quanto seus
limites. Podemos encontrar esporos de fungos e
algumas bactérias resistentes na atmosfera, como
também encontramos organismos nas fossas abissais
dos oceanos. Até mesmos em camadas interiores dos
solos, às vezes extremamente profundas, pode-se
encontrar formas resistentes de organismos vivos.
Este fato é um dos motivos que leva a
elaboração da hipótese Gaia que estudaremos em outro
módulo mais adiante em nosso curso. Segundo esta
hipótese, defendido por sérios cientistas de renome
internacional, estamos vivendo sobre um super-
organismo vivo, ou seja o planeta Terra seria um
Importante
Muitas vezes, o termo bioma é utilizado como sinônimo de ecossistema, no entanto ao contrário do segundo que implica nas inter-relações entre
fatores bióticos e abióticos, o primeiro significa uma grande área de vida formada por um complexo de habitats e comunidades, ou seja, apenas o meio físico (área) sem as interações.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 37
grande ser vivo e nós apenas outros seres vivendo
alojados em seu interior, tal qual algumas bactérias que
vivem em nossos intestinos.
ESPÉCIE, POPULAÇÃO E COMUNIDADES
Estes três conceitos são fundamentais para
entendermos os ecossistemas e seu funcionamento.
Correspondem inicialmente, a forma como os
organismos estão organizados holoarquicamente na
natureza. A parte que contêm vida em um ecossistema
é chamada de componente biótica e a parte composta
de elementos físico-químicos, ambientais, é chamada
de componente abiótica. (bio = vida).
O conceito de espécie, a princípio, corresponde
àqueles indivíduos descendentes de uma mesma
linhagem genética que possuem a capacidade de
reproduzir-se e produzirem uma descendência fértil. Ou
seja, possuem a mesma linhagem de gens e são
geneticamente compatíveis. No entanto este conceito
não é tão simples como aparenta, é complexo, e às
vezes, de difícil interpretação. Sobretudo recentemente
com técnicas modernas de manipulação genética e
transgênica, o conceito de espécie está passando por
uma séria revisão conceitual.
Uma conceituação de caráter taxonômico de
espécie, ou seja, aquela relacionada ao sistema de
classificação dos organismos é tomada como sendo um
conjunto de indivíduos semelhantes morfológica e
comportamentalmente que podem reproduzir-se e
gerar prole fértil.
Sabemos, no entanto, que este conceito não
pode ser puramente taxonômico, pois cada espécie de
organismo também é, a bem dizer, uma unidade
evolutiva, pois se os membros que a compõem são
Dica do professor
Espécie - dois ou mais organismos são considerados da mesma espécie, quando podem se reproduzir, originando descendentes férteis. Populações - são formadas por organismos da mesma espécie, isto é, um conjunto de organismos que podem se reproduzir produzindo descendentes
férteis. Comunidades - um conjunto de todas as populações, sejam elas de microorganismos, animais ou vegetais, existentes em uma determinada área, constituindo uma comunidade. Também podemos utilizar o conceito de comunidade para designar grupos com maior afinidade separadamente, como por exemplo, comunidade vegetal, animal, etc. Veja outros detalhes no site: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 38
capazes de se inter-cruzar e originar descendentes,
todos eles apresentam características em comum. Um
dado importante, inicialmente observado por Darwin, é
que uma espécie pode sofrer alterações e modificações
originando outras espécies através de processos
evolutivos, como por exemplo, a seleção natural.
O conceito de Biodiversidade é estreitamente
correlacionado ao de espécie e significa o número
diferente de espécies que podem ser encontradas num
determinado ecossistema, ou seja, quanto maior a
diversidade de espécies existentes num determinado
ecossitema maior a sua biodiversidade. Há vários
estudos que explicam e comprovam que quanto maior
a biodiversidade maior o grau de complexidade dos
ecossistemas e maior a estabilidade deste também em
termos ambientais. Entende-se esta estabilidade como
um grau de resistência a variações ambientais. Tal
fenômeno é diretamente proporcional ao número e grau
SOBRE DARWIN
Nasceu no dia 12 de fevereiro de 1809, na cidade
de Shrewsburry, Inglaterra.
Durante a viagem do Beagle, Darwin observou que,
à medida que passava de uma região para outra, o
mesmo animal apresentava características distintas.
Notou ainda que, entre as espécies extintas e as
atuais existiam traços comuns, embora bastante
diferenciados. Tais fatos levaram-no a supor que os
seres vivos não são imutáveis, mas que se
transformam uns nos outros.
Na base de sua teoria evolucionista, Darwin colocou
a luta pela vida, segundo a qual em cada espécie
animal existe uma permanente concorrência entre os
indivíduos. Somente os mais fortes e os mais aptos
conseguem sobreviver e a própria natureza se
incumbe de proceder a essa seleção natural. Darwin
observou que os espécimes botânicos cultivados são
bem mais aprimorados do que os que nascem nas
matas; observou ainda que os fazendeiros criam
reprodutores que apresentam características
consideradas mais vantajosas, que se transmitem
por hereditariedade. Essa seleção artificial visa,
pois, transmitir a cada nova geração da espécie
uma soma de características que permitam, melhor
adequação ao ambiente.
DARWIN
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 39
de complexidade das interações existentes entre seres
vivos em um determinado ambiente.
Sabe-se que quanto maior a biodiversidade,
mais complexos também são as redes de interações
entre os seres vivos, que muitas vezes apresentam
características co–evolutivas. Isto significa dizer que as
espécies estão de tal forma relacionadas e interligadas
que passam a evoluir biologicamente em conjunto
umas com as outras promovendo um equilíbrio
extremamente delicado no ecossistema, chamado de
homeostase, palavra que vêm do grego e quer dizer
equilíbrio em transformação ou dinâmico.
Podemos dizer, portanto, que existe uma
correlação direta entre os fatores abaixo:
Biodiversidade grau de complexidade das
espécies grau de complexidade das interações entre
espécies estabilidade dos ecossistemas
homeostase dos ecossistemas co-evolução das
espécies Clímax do ecossitema.
Esta correlação ocorre de forma diretamente
proporcional, ou seja, quanto maior a biodiversidade,
maior o número de espécies que co-evoluem e maior o
grau de complexidade e homeostase dos ecossistemas,
atingindo o que se denomina ecossistema em Clímax.
Ao mesmo tempo quanto menor a
biodiversidade, mais instáveis são os ecossistemas, há
menos interações entre espécies, menos homeostase e,
portanto, o ecossistema tende ao desequilíbrio
e,portanto, a extinção.
Atualmente as discussões que giram em torno
do debate sobre a preservação da biodiversidade,
possuem como um importante argumento, o fato de
::Biotecnologia:
Biotecnologia é a aplicação dos princípios científicos e da Engenharia ao processamento de
materiais, através de agentes biológicos, para prover bens e assegurar serviços. Fonte: revista Biotecnologia. http://www.biotecnologia.com.br/
Quer saber mais?
O que é biodiversidade? Biodiversidade é um conceito recentemente introduzido dentro da ecologia, com a crescente preocupação ambiental atingida nos últimos anos. Significa diversidade, ou seja, o número de espécies diferentes sejam elas animais, plantas e/ou microorganismos que compõe um determinado ecossistema ou mesmo o próprio planeta. Desta forma, toda a variedade de vida que compõe um determinado local, ou mesmo o próprio planeta pode ser
chamada de biodiversidade.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 40
que quanto maior a biodiversidade maior também é o
patrimônio genético do ecossistema. Isto significa que
onde há mais espécies, há também mais gens
diferentes.
Nos dias de hoje, onde a biotecnologia e a
engenharia genética vem assumindo papéis
importantes na sociedade, este argumento se
apresenta como fundamental, pois uma área de rica
biodiversidade pode ser vista como o que se chama
”banco de gens” ou “banco genético”, estando ali a cura
para doenças ou princípios ativos que são usados pela
indústria, como por exemplo a farmacêutica.
Cabe ressaltar ainda que numa mesma
população, o fato de os membros de uma espécie
apresentarem caracteres semelhantes não quer dizer
que todos sejam exatamente iguais. Dentro de uma
espécie podem ocorrer diferenças individuais,
representadas por características particulares
ostentadas pelos seus componentes. Cada indivíduo é
único e singular.
Estas características são transmissíveis de pais
para filhos e, portanto, são chamadas de hereditárias e
significam a transmissão de características genéticas,
como aspectos da morfologia, fisiologia e
comportamentos instintivos. As características também
são o resultado da ação do ambiente sobre o indivíduo
e, portanto, não transmissíveis de uma geração à
outra, são chamadas de características adquiridas e
correspondem às modificações sofridas ao longo da
vida e do processo de aprendizagem.
Sob a ótica da ecologia podemos ter as
chamadas espécies ecológicas, assim estas serão
unidades ecológicas. Cada espécie é caracterizada por
seu nicho ecológico, ou seja, sua função e a maneira
Quer saber mais?
O que é Nicho? Um nicho é a posição de um ser vivo dentro de um ecossistema, incluindo o lugar que habita, o que ele absorve ou come, como se comporta como está relacionado com outros seres vivos. O nicho tem sido chamado de
"ocupação"de uma espécie. O que é Habitat? O habitat é o lar natural de um grupo de plantas e animais. Esse grupo de seres vivos é chamado de comunidade. O habitat é, às vezes apontado como "endereço" das espécies. Contém diversos nichos. As árvores são um exemplo de habitat.
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 41
que a desempenha no seu ecossistema. Esta função é
caracterizada pelo conjunto de inter-relações que a
espécie mantém com as outras e com o ambiente
abiótico. O lugar específico que a espécie ocupa no
ecossistema é denominado habitat.
Para exemplificar o conceito de nicho, vejamos o
caso da onça pintada (Phantera uncia) e da cutia
(Dasyprocta spp.). A cutia é um roedor herbívoro,
ocupando o nicho de consumidor primário, pois se
alimenta de vegetais (produtores), já a onça, ocupa o
lugar de consumidor secundário, pois se alimenta de
cutias, por exemplo.
Outro importante conceito associado ao de
espécie é o conceito de população, que corresponde ao
conjunto de indivíduos de uma mesma espécie
convivendo numa mesma área geográfica.
Podemos dizer que todas as espécies estão
estruturadas em unidades populacionais, como por
exemplo, as seringueiras da Amazônia, os jacarés do
pantanal, as algas de uma lagoa ou os seres humanos
de uma cidade. Individualmente os membros de uma
dada população podem migrar, imigrar, morrer, mas
coletivamente a população persiste. Assim, populações
vizinhas podem cruzar-se, fundir-se, fragmentar-se em
populações menores.
ECOSSISTEMA
Ecossistema é definido como um sistema aberto que
inclui, em certa área, todos os fatores físicos e
biológicos (elemento biótipos e abióticos) do
ambiente e suas interações o que resulta em uma
diversidade biótica com estrutura trófica claramente
definida e na troca de energia e matéria entre esses
fatores. Segundo Tansley (1935) "A biocenose e seu
biotopo constituem dois elementos inseparáveis que
reagem um sobre o outro para produzir um sistema
mais ou menos estáveis que recebe o nome de
ecossistema”. Já segundo Dajoz (1973) “O ecossistema é a unidade funcional de base em ecolo-
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 42
Ao conjunto de populações encontradas em um
dado ecossistema, dá-se o nome de comunidade,
alguns ecólogos ainda preferem ao nome biocenose
para designar a teia de interações entre populações
distintas, ou seja, a comunidade representa a
totalidade das distintas espécies que convivem numa
determinada área.
A comunidade biótica é formada por várias
espécies de organismos, agrupados em pequenas ou
grandes populações, assim uma comunidade estável e
equilibrada é, na realidade, um produto final da
intricada teia de relações e das variadas modificações
ocorridas ao longo dos anos com as espécies que ali co-
existem.
gia, porque inclui, ao mesmo tempo, os seres vivos
e o meio onde vivem, com todas as interações
recíprocas entre o meio e os organismo”. E, por fim
segundo Ehrlich& Ehrlich (1974), "Os vegetais,
animais e microorganismo que vivem numa região e
constituem uma comunidade biológica estão ligados
entre si por uma intrincada rede de relações que
inclui o ambiente físico em que existem estes
organismo. Estes componentes físicos e biológicos
interdependentes formam o que os biológicos
designam com o nome de ecossistema".(Ehrlich &
Ehrlich, 1974).
http://www.rio.rj.gov.br/multirio/cime/CE09/CE09_010.html
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 43
EXERCÍCIO 1
A ecologia pode ser entendida como:
( A ) Uma ciência que possui várias tendências;
( B ) Apenas uma mentalidade ético-espiritual;
( C ) Uma proposta ética e política baseada em
princípios científicos;
( D ) Uma linha de pensamento político baseada em
princípios éticos;
( E ) Uma forma de espiritualidade ancestral.
EXERCÍCIO 2
A relação do homem com o ambiente não é exatamente
igual à dos outros animais com o ambiente porque:
( A ) O homem tem grande capacidade de
deslocamento e, por isso, só é encontrado nas
regiões propícias à vida;
( B ) O homem se adapta facilmente a qualquer meio;
( C ) O homem ou se adapta ou cria condições de
transformar o meio que habita;
( D ) O homem vive independentemente do meio
ambiente;
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 44
EXERCÍCIO 3
Diferencie a Ecologia Social da Ecologia mental ou
Profunda?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4 O que é Ecologismo?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Foi apenas a partir da segunda metade do
século XX, que a humanidade começou a dar-
se conta dos prejuízos causados por uma
ideologia marcada por uma lógica
desenvolvimentista que não poupou a
natureza em detrimento de interesses
puramente econômicos;
Essa maneira de ver a natureza foi adotada
por grande parte dos países ocidentais e
reivindicou o direito à exploração dos
recursos da natureza a qualquer preço, em
nome de um “desenvolvimento” basicamente
voltado para obtenção de lucros em curto
prazo;
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 45
No campo da ciência o termo Ecologia foi
usado pela primeira vez em 1869, pelo
biólogo alemão Ernest Haeckel, um dos
grandes nomes da biologia do século XIX em
sua obra “Morfologia Geral dos Organismos”
onde ele propôs a criação de uma nova
ciência que seria um dos ramos da Biologia;
A modesta proposta inicial de Ernest Haeckel
encontra hoje uma ressonância tão profunda
que de um subtítulo da biologia, passou como
diz Leonardo Boff a ser atualmente “um
discurso universal, quiçá o de maior força
mobilizadora do futuro milênio”;
Já desde muito cedo na história da
humanidade, o conhecimento sobre a
ecologia, sobre as relações dos seres vivos,
incluindo-nos aí, com seu meio ambiente e
entre si, foi fundamental para a sobrevivência
da condição humana.
Campo da ecologia, preocupada com a
relação de seres humanos com seu meio
chama-se ecologia humana;
A ecologia é entendida como a ciência que
estuda a relação dos seres vivos entre si e
destes com seu meio ambiente. A partir daí,
entende-se que o objeto da Ecologia não são
os seres vivos (campo da biologia, por
exemplo), nem o meio ambiente per si
(campo da química, geologia, física, geografia
etc.), mas a relação entre o que chamamos
fatores bióticos e abióticos (bio = vida);
Em meados dos anos 1960, com a revolução
contracultural e os avanços tecno-científicos, o
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 46
conhecimento gerado em ecologia provocou
grande influência social e o termo foi
amplamente empregado passando a significar
muitas vezes uma ideologia, ou uma linha de
pensamento político e às vezes até espiritual;
Define-se como ecossistema, como todo o
complexo de organismos e o ambiente físico
que eles habitam. Trata-se de um conceito
amplo que se refere a uma unidade ecológica
composta por uma fração viva, denominada
biocenose, e uma fração não viva, o ambiente
propriamente dito, denominada biótopo;
Trata-se da unidade funcional de base em
ecologia, porque inclui, ao mesmo tempo, os
seres vivos e o meio onde vivem, com todas
as interações recíprocas entre o meio e os
organismos.
O fluxo químico e de energia sustentam a
organização do ecossistema e são os
responsáveis pela individualidade de cada
ecossistema. Em cada um deles existe um
grupo de organismos que interagem,
transformam e transmitem energia e
compostos químicos;
A caracterização linear do fluxo químico e de
energia através dos organismos se denomina
cadeia trófica ou alimentar. Cada organismo
está situado em um nível alimentar ou trófico
que representa a sua posição em relação à
entrada inicial de energia.
Os Produtores - organismos capazes de
fabricar e acumular energia potencial sob
forma de energia química presente nas
matérias orgânicas sintetizadas Ex: plantas
verdes e algas;
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 47
Os Consumidores Primários - Representados
geralmente pelos herbívoros e mais
raramente pelos parasitas animais e vegetais
das plantas verdes, que exploram seu
hospedeiro sem matá-lo.
Os Consumidores Secundários - sobrevivem à
custa dos herbívoros, sendo, portanto
carnívoros ou onívoros. São encontrados em
grupos muito variados.
Os Consumidores Terciários - São os
carnívoros propriamente ditos. Podem ser
predadores, que capturam as presas,
matando-as antes de devorá-las, ou então
parasitas, ou ainda comedores de cadáveres.
Os Decompositores ou Bio-Redutores - forma
o termo final de a cadeia alimentar. São
principalmente microrganismos que atacam os
cadáveres e os excrementos decompondo-os
pouco a pouco, assegurando assim o retorno
progressivo ao mundo mineral dos elementos
contidos na matéria orgânica.
A estrutura trófica de um ecossistema ou de
uma cadeia alimentar é descrita em termos
de indivíduos, de biomassas ou de energia.
Pode-se igualmente figurar graficamente esta
estrutura por meio de pirâmides ecológicas.
A abundante vida vegetal do nosso planeta é
armazenadora da energia solar e de
substâncias químicas, sendo um recurso
renovável que chamamos de BIOMASSA.
Assim, todos os organismos biológicos que
podem ser aproveitados como fontes de
energia. A Pirâmide das biomassas indica para
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 48
cada nível trófico a biomassa dos organismos
correspondentes;
A Pirâmide das energias é o modo de
representação que retrata fielmente as
transferências de um nível para o outro, mas
faltam muitas vezes os dados para construí-
la;
As leis da termodinâmica são duas: Primeira
Lei: Trata da transmissão e transformação de
energia e é definida pela fórmula: Q= E +
W; Segunda Lei: A Entropia de um sistema
isolado sempre aumenta. A entropia é uma
medida da aleatoriedade, desordem ou caos
em um sistema. Ou seja, a tendência de um
sistema é a desordem.
Como um Ecossistema não é um sistema
isolado, ele refaz a sua energia através de
energia solar;
Define-se a produtividade primária de um
sistema ecológico, de uma comunidade ou de
qualquer parte deles, como a taxa na qual a
energia radiante é convertida, pela atividade
fotossintética e quimiossintética de
organismos produtores (na maior parte,
plantas verdes), em substâncias orgânicas;
A fotossíntese significa etimologicamente
síntese pela luz. Excetuando as formas de
energia nuclear, todas as outras formas de
energia utilizadas pelo homem moderno
provêem do sol. A fotossíntese é considerada
como um dos processos biológicos mais
importantes na Terra. Por liberar oxigênio e
consumir dióxido de carbono, a fotossíntese
transformou o mundo no ambiente habitável
que conhecemos hoje;
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 49
Conhecendo as fontes de entrada e saída de
energia no sistema, realizam-se estimativas
sobre a produção máxima possível na Terra a
partir da eficiência máxima potencial da
fotossíntese;
Existem quatro principais vertentes
ecológicas: a ECOLOGIA AMBIENTAL; a
ECOLOGIA MENTAL OU PROFUNDA, a
ECOLOGIA SOCIAL e a ECOLOGIA POLÍTICA
OU ECOLOGISMO;
A Ecologia Social é a vertente que se ocupa
do meio ambiente, baseia-se nos
conhecimentos tecno-científicos, está
interessada na descrição de processos
ecológicos, elabora modelos matemáticos
para entendê-los e pauta-se em exemplos
que podem ser encontrados na natureza.
Preocupa-se, sobretudo com a preservação das
espécies, com a biodiversidade e o equilíbrio
do planeta;
A Ecologia Social baseia-se no entendimento
das relações das sociedades com seu meio
ambiente, procura entender os tipos de trocas
e as diferentes formas de interpretar e lidar
com o meio ambiente, entender como e o que
as diferentes sociedades ou grupos sociais
interpretam, compreendem e conhecem o seu
meio ambiente e quais as relações que
podem estabelecer com este e com outros
grupos através de tal conhecimento;
A ecologia profunda é uma corrente de
pensamento que propõe uma nova
cosmologia, onde todos os objetos, elementos
da natureza, estão interligados por uma ordem
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 50
superior e como pregam a idéia de um
universo auto-consciente. Seguindo este
raciocínio é praticamente automática a
elaboração de uma proposta ética para a
humanidade;
A ecologia política é uma vertente que possui
várias manifestações distintas. Pode-se
entendê-la como a apropriação do discurso
ecológico ambientalista pelas diferentes
formas e concepções ideológico-políticas, daí
a justificativa do uso do termo ecologismo, ou
seja, uma ideologia política baseada em
concepções ecológicas;
A vida se organiza em níveis hierárquicos de
complexidade, guiando-se por uma lógica,
cujo tom é dado pela complexidade de
organização de cada sistema. Cada nível
hierárquico possui autonomia e é
interdependente dos demais. Cada nível pode
ser chamado também de hólon. Palavra de
origem grega (holos = tudo), que designa a
totalidade de complexidade e autonomia de
cada esfera de organização;
Segundo a hipótese de Gaia estamos vivendo
sobre um superorganismo vivo, ou seja o
planeta Terra seria um grande ser vivo e nós
apenas outros seres vivendo alojados em seu
interior, tal qual algumas bactérias que vivem
em nossos intestinos;
O conceito de espécie, a princípio,
corresponde àqueles indivíduos descendentes
de uma mesma linhagem genética que
possuem a capacidade de reproduzir-se e
produzirem uma descendência fértil. Ou seja,
possuem a mesma linhagem de gens e são ge
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 51
neticamente compatíveis. Considerando
caráter taxonômico de espécie, esta é
definida como sendo um conjunto de
indivíduos semelhantes morfológica e
comportamentalmente e podem reproduzir-se
e gerar prole fértil;
O conceito de Biodiversidade é estreitamente
correlacionado ao de espécie e significa o
número diferente de espécies encontradas
num determinado ecossistema, ou seja,
quanto maior a diversidade de espécies
existentes num determinado ecossistema
maior a sua biodiversidade;
Biodiversidade é um conceito recentemente
que significa diversidade, ou seja, o número
de espécies diferentes sejam elas animais,
plantas e/ou microorganismos que compõe
um determinado ecossistema ou mesmo o
próprio planeta;
Biotecnologia é a aplicação dos princípios
científicos e da Engenharia ao processamento
de materiais, através de agentes biológicos,
para prover bens e assegurar serviços.
Cada espécie é caracterizada por seu nicho
ecológico, ou seja, sua função e a maneira
que a desempenha no seu ecossistema. Esta
função é caracterizada pelo conjunto de inter-
relações que a espécie mantém com as outras
e com o ambiente abiótico. O lugar específico
que a espécie ocupa no ecossistema é
denominado habitat.
Ao conjunto de populações encontradas em
um dado ecossistema, dá-se o nome de
comunidade, alguns ecólogos ainda preferem ao
Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 52
nome biocenose para designar a teia de
interações entre populações distintas, ou
seja, a comunidade representa a totalidade
das distintas espécies que convivem numa
determinada área.
Estudo de
Ecossistema
Luciana Ribeiro
AU
LA
2
Ap
res
en
taç
ão
Apesar do nome dessa aula sugerir um estudo apenas dos
ecossistemas (o que seria perfeitamente pertinente), seu
conteúdo é bem mais rico porque engloba o estudo de outras
temáticas igualmente caras ao estudo da Ecologia como os
conceitos de sistema, comunidade, população, espécie, ciclos,
biodiversidade, cadeia alimentar e outros, além de aprofundar
diferentes tipos de inter-relações entre os diferentes seres vivos
como: cooperação, competição, parasitismo, predação,
mutualismo, epifitismo e outros. Uma aula, portanto, imperdível e
que merece uma leitura mais atenta quanto aos fenômenos
ambientais que a Educação Ambiental luta para conservar,
aperfeiçoar e recuperar.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender com maior clareza alguns dos conceitos
essenciais da ciência Ecológica de modo a facilitar o
entendimento de diferentes processos ambientais;
Analisar melhor a crise ambiental vigente a partir da
compreensão de conceitos-chave da dinâmica ambiental
oriundos da Ecologia;
Entender como se processam os diferentes tipos de inter-
relações entre os seres vivos;
Refletir sobre o papel da humanidade e os impactos causados
por esta em um ecossistema;
Conhecer algumas estratégias de ocupação ambiental através
do estudo de histórias de vida e sucessão ecológica.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 54
Recordando idéias fundamentais
ECOSSISTEMA – A UNIDADE BÁSICA DO
AMBIENTE
Você já viu na aula anterior alguns fundamentos
de Ecologia. Vamos aqui relembrar alguns aspectos
importantes antes de prosseguirmos.
Ecossistema é uma palavra da moda. Jornalistas
a utilizam como se fosse uma idéia óbvia e qualquer
pessoa que tenha passado pela escola pelo menos já
ouviu falar dela. Mas será que você já parou para
pensar no que significa?
Se você leu a origem da palavra Ecologia já sabe
que vem do grego: OIKOS (casa), significando a ciência
ou o estudo da casa, que é, afinal, o planeta onde
vivemos. Pois então. Partindo do mesmo raciocínio
Ecossistema seria literalmente o sistema da casa. Mas o
que isso quer dizer?
De acordo com o dicionário, a palavra sistema
também tem origem no grego [systema, 'reunião',
'grupo', pelo latim tardio systema.]
Na interpretação do dicionário Aurélio (1996, p.
1594) podemos traduzir sistema como:
(1) Conjunto de elementos, materiais
ou ideais, entre os quais se possa
encontrar ou definir alguma relação .
(2) Disposição das partes ou dos
elementos de um todo, coordenados
entre si, e que funcionam como
estrutura organizada. (...) (3) Reunião
de elementos naturais da mesma
espécie, que constituem um conjunto
intimamente relacionado.
Ora, se sistema tem a ver com uma organização
coordenada dos elementos de um grupo, logo a idéia-
Para pesquisar
Procure outras definições de sistema aplicada à diferentes áreas e
compare as mesmas.
Recordando idéias fundamentais 54 Os indivíduos dos ecossistemas 79
Aula 2 | Estudo de ecossistema 55
mãe de ecossistema é a relação existente num todo
organizado, que é a vida, e os elementos que lhe dão
suporte. Por isso, faz sentido quando Aurélio inclui na
sua definição de ecossistema os relacionamentos
mútuos entre flora, fauna, microorganismos e fatores
de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e
biológico.
EXERCÍCIO 1
Cite pelo menos dois exemplos de ecossistema:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Esse conceito ainda se encontra em discussão na
comunidade científica. Mas genericamente podemos
dizer que se trata do conjunto formado por todos os
seres vivos de uma certa região e todos os fatores
abióticos (luz, vento, água, solo e outros elementos
não-vivos) com os quais esses seres interagem.
Seres vivos, elementos abióticos e relações – é
tudo que se precisa para compor a unidade básica do
ambiente. Parece simples. E é! No entanto, quando
qualquer desses fatores se altera demais o equilíbrio
que sustenta a vida pode se romper. Entender como
essas relações se mantêm dinamicamente equilibradas
ainda é um desafio por vencer. Já se sabem algumas
coisas, mas há muito trabalho a ser feito.
Relações possíveis:
Há várias relações possíveis num ecossistema.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 56
As mais conhecidas são o comensalismo, o parasitismo,
a competição, o mutualismo, a cooperação... Vejamos
alguns exemplos:
Comensalismo: Associação em que um
indivíduo aproveita restos de alimentares do outro, sem
prejudicá-lo. Há um exemplo clássico – o da rêmora
com o tubarão. A rêmora é um peixe que acopla-se ao
tubarão, sem causar-lhe dano, e come os restos do que
ele se alimenta.
Parasitismo: fácil de entender, é aquela relação
em que só um dos organismos leva vantagem e o faz
explorando o outro. Exemplo famoso: a lombriga ou
qualquer outro verme. Vive às custas da energia e da
saúde de outro organismo, prejudicando-o.
Competição: relação em que um organismo
ganha energia e outro perde. Por exemplo, pode existir
competição por alimento (quem não come fica mais
fraco ou até morre), por espaço, pela fêmea, pelo
melhor abrigo... No caso das plantas, há competição
pela luz (quem cresce mais consegue mais luz,
elemento importante para a fotossíntese), por
nutrientes do solo, pela água, entre outras
possibilidades.
Mutualismo: aqui temos um perfil ganha-
ganha. Um organismo auxilia o outro. É o que ocorre
com algumas espécies de bactérias que vivem em
nosso sistema digestivo. Sem elas nossa digestão não
seria tão eficiente.
Cooperação: é uma relação que pode ou não
ocorrer, isto é, ela não é indispensável para a
sobrevivência dos envolvidos, mas torna a vida melhor.
Neste caso todos os organismos envolvidos na relação
têm um ganho. Você já ouviu falar dos líquens? São
Para navegar
Conheça melhor cada um dos tipos de relações possíveis em um ecossistema e ainda outros consultando os sites como, por exemplo: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/associa.html
Dica do professor
Mutualismo: Outro exemplo seria o dos cupins e dos protozoários que vivem em seu intestino. Ao comerem madeira, os cupins obtêm grandes quantidades de celulose, mas não conseguem produzir a celulase, enzima capaz de digerir a celulose. Este trabalho é feito pelos protozoários que se beneficiam com o alimento através dos cupins e os auxiliam mutuamente.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 57
aquelas manchas esverdeadas, às vezes,
esbranquiçadas ou até avermelhadas que ocorrem em
troncos de árvores e em rochas. Pois é, o líquen é uma
combinação de fungo com alga. Nesta parceria o fungo
entra com o esqueleto (o suporte, a casa) e a alga com
a umidade (água que ela retém do ar) e ambos
satisfazem a necessidade de um abrigo fresquinho.
Epifitismo: situação em que um vegetal vive
sobre outro, mas sem retirar nutrientes, utilizando-o
apenas como apoio. É diferente do parasitismo, pois
embora somente um ganhe não há prejuízo para
ninguém. Um exemplo fácil de avistar são as orquídeas
e algumas bromélias.
Predação: esta forma de relacionar-se é a mais
conhecida. Trata-se do caso em que uma espécie se
alimenta de outra. É com base nesta relação que se
estruturam as cadeias alimentares.
Nem sempre encontramos essas relações de
modo exclusivo. Um mesmo organismo pode
estabelecer um tipo de relação com uma espécie e
outro tipo com outra espécie.
Às vezes julgamos essas relações
equivocadamente, atribuindo-lhes o valor de “boas” ou
“más”. Elas não são nem uma coisa nem outra. São
apenas estratégias de sobrevivência que funcionam.
Para entender a dinâmica dos ecossistemas, ou seja, da
vida, precisamos abrir mão de julgar e passar à adoção
de um olhar mais observador e analítico: o que será
isso? Como funciona? Que função tem para a
manutenção da vida?
Será que são os tipos de relações que
determinam se um ecossistema se encaixa numa
classificação ou em outra?
Quer saber mais?
Conheça mais sobre o epifitismo Popularmente conhecidas como orquídeas, bromélias, samambaias,
avencas, peixinhos, etc. As epífitas possuem alto valor ornamental pela sua beleza, formas e cores exóticas, além da indiscutível importância ecológica. Fonte: Http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/saltomorato.html
Importante
Vale destacar este ponto. Mesmo as relações predadoras entre os seres vivos tidos como más, são na verdade estratégias utilizadas por muitos seres vivos, inclusive o homem, para sobreviver.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 58
Convenções:
Na verdade, a classificação em diferentes
ecossistemas (como igapós e igarapés na floresta
amazônica, por exemplo) é uma convenção elaborada
pelos cientistas para facilitar o estudo da paisagem e
relações que nela se estabelecem. Podemos falar dos
grandes ecossistemas, como mares e florestas por
exemplo, ou dos micro-ecossistemas, como um tronco
de árvore apodrecendo, repleto de fungos, bactérias,
pequenos vermes, outras plantas etc. Você já se deu
conta de que seu próprio corpo abriga uma série de
ecossistemas? Pense em alguns exemplos.
Os fatores presentes em cada região influenciam
a dinâmica de funcionamento do ecossistema. No caso
dos ecossistemas terrestres por exemplo, a quantidade
de chuva, a variação da temperatura, o tipo de solo ou
a ocorrência de ventos formam condições ecológicas
que favorecem algumas formas de viver e
desfavorecem outras, e se compararmos com outros
ecossistemas, também terrestres, essas condições
variam muito.
São comuns ainda os ecossistemas de água doce
e de água salgada. E há ecossistemas dentro de
ecossistemas, como as poças d’água, a serrapilheira1 e
os dosséis2.
Faça um exercício: saia para dar uma volta no
quarteirão de onde você mora ou estuda e observe.
Quantos micro-ecossistemas estão espalhados neste
trecho e você ainda nem tinha notado? Onde eles
estão? Que organismos fazem parte e que relações
você observou entre eles?
1 Serrapilheira: termo da Biologia para se referir à camada de folhas, galhos e sementes misturadas com
terra que cobre o solo da mata. Em Botânica também designa as pequenas raízes que surgem à flor da
terra. 2 Dossel: conjunto formado pela copa da vegetação. Há pássaros, insetos e pequenos animais que vivem
exclusivamente nos dosséis.
Para pensar
Você já se deu conta de que seu próprio corpo abriga uma série de ecossistemas? Pense em alguns exemplos.
Dica da professora
No caso dos ecossistemas sociais alguns fatores seriam: a violência, o regime de governo, as condições culturais; a realidade do sistema de saúde e outros.
Dica da professora
Dê uma parada na leitura e dê uma caminhada em seu quarteirão com o
olhar de pesquisador. Faça anotações sobre os ecossistemas que você conseguiu distinguir.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 59
Muito bem. Memória refrescada. Você já
lembrou o que são ecossistemas. Mas como é que eles
funcionam mesmo? Podemos resumir essa história em
seis princípios organizadores.
Princípios:
Interdependência: todos dependem de todos
para existir. Como exemplo citamos a decomposição
orgânica de seres que já morreram contribuindo para a
formação do húmus3, que alimentará a terra e,
portanto, os vegetais – e consequentemente os animais
que deles dependam.
Equilíbrio dinâmico: a organização do
ecossistema é produto de um processo de evolução4
contínua e permanente. Ocorrem mudanças físicas (por
exemplo, de temperatura, umidade, acidez do solo...) e
biológicas (extinções, surgimento de novas espécies,
mutações...), transformando seguidamente o sistema,
por isso o nome de equilíbrio dinâmico. Cada etapa de
mudança é uma fase da sucessão ecológica, assunto
sobre o qual falaremos daqui a pouco.
Homeostase: é o mesmo que auto-regulação,
isto é, cada vez que ocorre um problema, novos
equilíbrios são produzidos a partir da capacidade de
adaptação, considerados os limites do ambiente e sua
capacidade-suporte5 (também chamada K);
Quanto maior a diversidade maior a
estabilidade: a diversidade possibilita ao ambiente
diferentes respostas a possíveis alterações. Se só
3 Húmus: o produto da decomposição parcial dos restos vegetais que se acumulam no chão florestal, aos
quais se juntam restos animais em menor escala. Em razão de suas propriedades coloidais, tem grande
importância na constituição do solo, onde é a fonte de matéria orgânica para a nutrição vegetal. Favorece
a estrutura do solo e retém água energicamente. (Aurélio Eletrônico Século XXI) 4 Evolução: trata-se do processo de formação de novas espécies de seres vivos, por meios naturais, a partir
de espécies preexistentes. Existem vários modos de isso ocorrer, como mutações, isolamento geográfico
etc. 5 Capacidade suporte é o tanto de alterações que um ecossistema agüenta sem sofrer prejuízos
incontornáveis.
::Homeostase:
A Homeostase está ligada diretamente a idéia de equilíbrio dinâmico. Ela está relacionada igualmente a capacidade de adaptação que um ser vivo apresenta no intuito de manter o seu organismo equilibrado em relação às variações ambientais.
Quer saber mais?
Interdependência e equilíbrio: Estes são as duas principais características de um ecossistema, sem os mesmos podemos estar falando de um agrupamento qualquer, mas nunca de um ecossistema.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 60
houver uns poucos tipos de organismo e ocorrer uma
mudança climática drástica, por exemplo,
provavelmente as populações não sobreviverão. Ao
contrário, havendo diferentes espécies, e portanto,
variadas possibilidades de comportamento, resistência
e adaptação, há maior possibilidade de alguma reação
funcionar e garantir a sobrevivência de algumas
populações. Digamos que a alteração do clima tenha
extinguido alguns vegetais. Os animais que se
alimentavam destes vegetais têm pelo menos duas
alternativas de sobrevivência: adaptar-se a comer
outra coisa ou então migrar para áreas que atendam
suas necessidades. As espécies que têm uma
alimentação variada, aquelas dotadas de alta
resistência a longos períodos sem alimento e as que
são capazes de longas viagens terão mais chances de
sobreviver. Se a maior parte delas morrer, a forma de
funcionar do ecossistema mudará, podendo ou não
continuar existindo dependendo da intensidade com
que foi afetado.
A diversidade pode ser medida por dois fatores
principais:
a) Riqueza do número de espécies:
aqui há sete espécies
b) equitabilidade:
aqui há sete espécies
1 5 3 4 2 7 1 6 3
5 4 6 1 3 7 2 5
7 2 3 5 4 6 1 4 3 1
2 4 7 6 5 3 1 4 7
1 7 1 2 7 1 7 7
3 4 6 7 7 7 7 7 7
5 7 7 5 7 5 7 7 7 2 7 7 7 7 7 5 7 7 7
Dica da professora
Os conceitos trabalhados aqui têm o objetivo apenas de ilustrar como a biodiversidade de um local se complexifica em função de sua dificuldade de previsão. Existem cálculos estatísticos bastante elaborados para estimativas do gênero que evidentemente não serão trabalhadas aqui para não fugir ao foco de nosso curso.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 61
Quanto maior a dificuldade de previsão do que
se vê numa região, maior a diversidade. Um ambiente
diverso é aquele que apresenta alto número de
espécies, distribuídas uniformemente
(proporcionalmente) em relação ao número de
indivíduos de cada uma destas espécies.
As florestas temperadas (que ocorrem no
hemifério Norte do planeta) tendem a ser homogêneas,
isto é, possuem grande quantidade de seres vivos, mas
pequena variedade de espécies. As florestas tropicais
por outro lado, possuem pequena quantidade de
espécimes, mas grande variedade de espécies.
OBS: espécime: um exemplar ou indivíduo de
uma dada espécie.
Fluxo constante de matéria e energia -
cadeia alimentar:
A energia não é criada, nem destruída. É
transformada. E podemos medi-la na natureza por
calorias, analisando a passagem da energia de um nível
da cadeia alimentar a outro. Na transformação de nível
para nível sempre há uma perda de 90% de energia.
Ex: para 1.000Kg de planta 100kg de carnívoros
10kg de outros carnívoros. Algumas cadeias têm como
base os vegetais, que chamamos de produtores, pois
produzem energia a partir de seu metabolismo, sem
depender de outros seres vivos. Os produtores são
comidos diretamente pelos animais herbívoros,
chamados de consumidores primários. Os carnívoros
são os secundários. E assim por diante. Cada ser vivo
que morre entra em decomposição através da ação de
microorganismos que entram em cada etapa da cadeia.
A produção de energia pode ser não apenas de
origem fotossintética, mas também quimiossintética,
Quer saber mais?
Sobre a Cadeia Alimentar: Todas as atividades do Planeta estão inter-relacionadas tentando manter um equilíbrio. Cadeia alimentar é a transferência de matéria e energia de um indivíduo
para outro, sendo considerada uma das atividades mais significativas no ambiente. Ela é um dos mecanismos que regula o número de indivíduos de uma dada população e, caso ocorra um desarranjo em qualquer um de seus elos, o sistema entra em desequilíbrio.
Importante
A Variabilidade das Espécimes: Nesse item vale ressaltar a diferença entre quantidade e variabilidade. O exemplo das florestas tropicais com uma pequena quantidade de espécimes, mas uma grande variedade dos mesmos é um claro exemplo dessa diferenciação.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 62
como é comum nas profundezas abissais oceânicas.
Isto porque a luz chega no máximo a 100m de
profundidade, o que torna a produtividade primária
muito pequena. A fenda da Cordilheira Meso-oceânica
emite magma continuamente, gerando metano. Com
esse gás, as bactérias, que constituem a base do
ecossistema, fazem quimiossíntese.
Reciclagem permanente - ciclos
biogeoquímicos. Os elementos químicos (conhecidos
por nutrientes) circulam pela biosfera. Em alguns
momentos estão incluídos na matéria orgânica (fase
BIO), em outros na inorgânica (fase GEO). Nas
palavras do Aurélio, os ciclos biogeoquímicos podem
ser definidos como: “O conjunto dos processos físicos,
químicos e biológicos, considerados como um ciclo, que
descreve o intercâmbio de um elemento químico, entre
organismos vivos e o ambiente abiótico”.
Carbono, nitrogênio, água e fósforo – são os
elementos que formam os principais ciclos.
Sem este princípio o planeta rapidamente se
esgotaria, pois uma vez usado determinado elemento
(digamos, potássio) ele acabaria e outros organismos
não mais poderiam utilizá-lo.
É importante compreender a idéia de ciclo.
Significa que há sempre transformações que deslocam
os elementos de lugar e mudam sua forma, mas de
maneira a que eles passem pelos mesmos estágios
num certo ritmo de repetições. Com isso, pode-se
evitar vários enganos. Um engano muito comum, a
respeito da poluição atmosférica de gás carbônico, por
exemplo, é achar que hoje há mais carbono do que
havia antigamente. Isso não é verdade. O que acontece
é que antes este carbono estava debaixo da terra,
Aula 2 | Estudo de ecossistema 63
preso a outros elementos, na forma de petróleo6.
Quando extraímos o petróleo e fazemos
combustível para automóveis, a queima deste
combustível libera o carbono na atmosfera. Assim, o
mesmo carbono que um dia esteve na estrutura de
uma árvore tornou-se petróleo, sendo depois liberado
para o ar.
Então, o que muda NÃO é a quantidade de cada
elemento no planeta, mas sua situação. O problema é
que dependendo da mudança de localização destes
elementos podem haver danos às relações
estabelecidas. Outro problema é a criação de milhares
de novas substâncias químicas, que não fazem parte de
nenhum ciclo biogeoquímico e por isso, “sobram” no
ambiente. Tornam-se poluição. Os elementos circulam
no planeta a partir dos ecossistemas:
Os ciclos biogeoquímicos são tão importantes
que vale a pena aprofundarmos um pouquinho.
INTERFERINDO NOS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
Muitos compostos químicos existem em
quantidades muito baixas na natureza, porém são
essenciais para a vida.
As atividades das sociedades acumulativas têm
promovido um aumento exagerado da concentração
dessas substâncias, gerando um desequilíbrio
conhecido como bioacumulação, ou seja, a acumulação
de substâncias nos organismos vivos. Em geral, os
consumidores de último nível da cadeia alimentar são os
mais afetados.
Ecossistemas biomas ecosfera
Dica da professora
Vimos resumidamente os princípios que regem o funcionamento dos ecossistemas. São eles: - Interdependência; - Equilíbrio dinâmico; - Homeostase; - Quanto maior a
diversidade, maior a diversidade; - Fluxo constante de matéria e energia; - Reciclagem permanente
Quer saber mais?
1 O petróleo
originou-se com o soterramento de grandes massas florestais, que mantidas sob pressão no subsolo por milhares de anos,
decompuseram-se, tornando-se sua matéria orgânica (basicamente composta por carbono) o que conhecemos por petróleo.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 64
PARA SER UM ECOSSISTEMA
Há algumas características e condições para que
possamos realmente classificar um ambiente como
ecossistema. Uma primeira confusão comum a se
desfazer é a idéia de que sociedade e ecossistema são
o mesmo: uma sociedade, em Ecologia, é formada pelo
agrupamento de seres da mesma espécie que se inter-
relacionam. Há espécies que não vivem em sociedade.
Já o ecossistema é constituído por espécies que
interagem entre si, influenciando-se mutuamente.
Um conjunto de ecossistemas que compõem
uma paisagem semelhante é geralmente chamado de
bioma. Vejamos, então, algumas das características e
condições citadas.
Homogeneidade: um ecossistema apresenta
homogeneidade quanto à topografia, ao clima, à
botânica, zoologia, pedologia (solos), hidrologia (águas)
e geoquimicamente.
Ocorrem trocas de energia entre seus
constituintes e estas trocas são bem mais intensas do
que as trocas que há entre constituintes do ecossistema
e constituintes de fora dele. Em qualquer ecossistema
há entrada e saída de elementos. Entram elementos no
ecossistema através da energia solar, dos elementos
minerais, atmosféricos e aquáticos. Para o meio
externo o ecossistema libera calor, oxigênio (O2), gás
carbônico (CO2) e outros gases diversos, além de
compostos húmicos e substâncias carregadas pela
água.
Um ecossistema completo possui substâncias
abióticas e organismos vivos, ciclo energia e tem uma
entropia baixa.
Para pesquisar
Procure analisar as características de um ecossistema comparando-as com as características de um sistema qualquer. Que semelhanças e que diferenças você percebe nestas definições? Porque podemos dizer que todo ecossistema é antes de mais nada um sistema?
Aula 2 | Estudo de ecossistema 65
Esta idéia é importante para não confundirmos
as cidades com ecossistemas, como tanta gente faz.
Claro que a cidade faz parte do ambiente, assim como
nós. No entanto, não se trata de um ecossistema. Veja
a diferença:
Ecossistema:
Luz calor (baixa entropia)
ciclagem
Cidade:
Luz + alimentos + água biomassa LIXO
(alta entropia)
ciclagem insignificante
As cidades recebem energia luminosa,
alimentos, água, ou seja importam toda a energia de
que necessitam. Não há equilíbrio, pois ciclam muito
pouco e exportam resíduos. Você se lembra que o
equilíbrio depende da ciclagem, não é? Não há sobras,
tudo retorna transformado, recomeçando o ciclo.
Conceitualmente a cidade não é um ecossistema.
Interfere enormemente nos ecossistemas vizinhos e é
totalmente dependente destes. Assim, dizemos que não
existe ecossistema urbano, mas estrutura urbana. Isso
significa que em vez de falar em ecologia urbana a
discussão deve recair sobre qualidade ambiental.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 66
EXERCÍCIO 2
A partir desta declaração sobre o ambiente construído,
como poderíamos entender o ecossistema urbano? Sua
homeostase seria preservada? Ou somente em alguns
casos?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Manutenção da vida: a vida requer captação,
transformação, armazenamento e consumo da energia.
Por exemplo, um mico transforma uma parte da
energia química (potencial) dos alimentos em energia
cinética (seus movimentos) e dispersa outra parte
como calor. Sempre que há uma transformação de
energia potencial em outro tipo de energia uma parcela
se perde como calor. De maneira que não há
transformação 100% eficiente de energia. Essa parcela
de perda é conhecida por entropia.
Produtividade: os ecossistemas se mantêm
pela entrada de energia. Simplificadamente dizemos
que a fonte primária (ou seja, primeira) de energia são
os raios solares, que ao ser captados pela clorofila das
plantas são armazenados como energia em substâncias
orgânicas com potencial energético. Isto é: usando
água e gás carbônico a planta monta cadeias químicas
complexas por meio da energia luminosa, que é
transformada em ligações químicas potencialmente
energéticas. Nesse processo a planta libera oxigênio
para o meio externo, como resíduo. É a conhecida
fotossíntese, assim esquematizada:
Importante
Para que um ecossistema exista faz-se necessário: Homogeneidade; Trocas de
energia internas e externas;
Entrada e saída de elementos.
O ecossistema completo possui substâncias abióticas e organismos vivos, cicla energia e tem uma entropia baixa.
A chave da vida: captação, transformação, armazenamento e consumo da energia. Produtividade: A energia que não for consumida será acumulada. Isto é a produtividade. Podemos verificá-la analisando as cadeias alimentares.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 67
Animais não conseguem utilizar a energia
luminosa como fonte. Sua energia é conseguida com a
quebra de moléculas complexas de grande energia
potencial, diretamente relacionada com a respiração –
que assimila O2 e elimina o excesso de CO2.
Plantas e animais respiram, liberando assim
energia para seus processos vitais, mas geralmente os
vegetais consomem menos do que produzem. Por isso
é que as plantas podem ser a base de uma cadeia
alimentar inteira. Vejamos: Essa energia será utilizada
para o crescimento e para as atividades do
metabolismo. A energia que for acumulada na
biomassa da planta é que poderá ser transferida ao
animal que comê-la. Este animal também utilizará a
energia para construir sua biomassa e para o
metabolismo. Parte da energia será perdida como calor.
Como você deve se lembrar, essa transferência da
energia através das plantas e animais é conhecida
como cadeia trófica ou cadeia alimentar. As
cadeias mostram a estrutura alimentar de um
ecossistema (um lago, uma floresta ou outro qualquer).
Podemos medi-la sob a forma de pirâmides de três
tipos, conforme o que se pretende estudar: de número;
de biomassa; e de energia. Você pode recordar esse
aspecto relendo a aula anterior.
FALANDO DE BIODIVERSIDADE
Bio, radical que vem do grego, significa VIDA.
Diversidade indica variedade, coisas diferentes num
conjunto. Que conjunto? Neste caso, o da vida.
Resumindo, trata-se da variedade de manifestações da
vida.
H2O + CO2 + energia luminosa (CH2O) +O2 +
calor.
Para refletir
Que outros
exemplos você poderia citar para ilustrar essa interdependência ecossistêmica? Para auxiliar sua resposta, considere o ecossistema no qual você se encontra.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 68
Esta variedade pode se referir à quantidade de
espécies. Mas não é só isso. Tão importante quanto a
quantidade de espécies – ou de indivíduos em cada
espécie – é a interação com o ambiente em que vivem.
As relações que cada ser vivo mantém e faz existir na
natureza. Cada um tem papel único, exclusivo. Sua
atuação no ambiente se reflete na vida de outros seres
vivos.
E como os seres vivos estão todos interligados é
importantíssimo que as condições que mantêm essas
relações sejam preservadas. De nada adianta preservar
apenas a espécie X ou Y. Os organismos só conseguem
se manter vivos se suas relações tiverem como se
desenvolver. Um exemplo dessa situação, em que se
pensa preservar uma espécie cuidando apenas dela
ocorreu com as castanheiras do Pará. Na década de
1980, em meio ao grande desmatamento paraense,
resolveu-se preservar a castanheira, já que ela rendia
frutos (nos dois sentidos) à economia. Mas qual não foi
a surpresa dos fazendeiros e desmatadores ao perceber
que suas imponentes castanheiras estavam morrendo...
A razão descobriu-se depois: a polinização desta árvore
ocorria graças a um minúsculo inseto, que vivia na
serrapilheira da floresta! Retirando a mata, acabou a
serrapilheira. Logo, de nada adiantava deixar as
árvores eleitas – elas dependiam do ecossistema como
um todo.
NÍVEIS E NÍVEIS
Agora você já pode pensar em outro nível de
diversidade. Se antes pensava que diversidade se
referisse somente às espécies, após a leitura deste
caderno, você pode repensar reflexivamente sobre a
questão. Se são as condições que precisam ser
mantidas, então começamos a pensar nestas condições
e veremos que elas dependem essencialmente do
Dica da professora
Então vejamos: a paisagem inclui a aparência reunindo diferentes ecossistemas. Trata-se, portanto, de uma questão visível. Enquanto que o ecossistema trata das relações, que nem sempre são perceptíveis.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 69
ecossistema em que são produzidas.
Chegamos então à idéia de diversidade de
ecossistemas. E dela passaremos a outras diversidades.
Na verdade podemos falar de diferentes níveis de
biodiversidade. Os principais deles são a diversidade
genética, que ainda é praticamente desconhecida no
planeta; a diversidade de espécies, que se traduz no
conjunto de populações capazes de manter o
intercruzamento e originar descendentes férteis; a
diversidade de ecossistemas, de que falamos há pouco
e, a diversidade de paisagem.
Paisagem e ecossistema são distintos, pois
paisagem inclui apenas a aparência do ambiente (como
por exemplo, floresta tropical úmida. Ela pode
representar ecossistemas bastante diferentes na
Austrália, na América e na África, embora a aparência
seja muito semelhante). Já o ecossistema compreende
também e principalmente as relações e as condições
que possibilitam e mantém essas relações.
O que mais define o funcionamento do
ecossistema, em termos físicos, é o solo e o sistema
hidrológico (forma como a água entra e sai do
ecossistema). Se atentarmos para os processos de
degradação que atingem o ambiente perceberemos que
geralmente são esses dois fatores os que mais impacto
recebem.
Em relação aos impactos e à recuperação
ambiental uma dúvida pode surgir: basta deixar em paz
o ambiente danificado para que ele se recupere? Nem
sempre um ecossistema é capaz de regenerar-se
sozinho porque fatores externos podem interferir e
organismos que participavam daquele ecossistema
originariamente podem depender de fatores que não
mais existem ou estão presentes. Mais adiante, em um
Quer saber mais?
- O que define o funcionamento de um ecossistema qualquer em termos físicos é o solo e a água. - Nem sempre um ecossistema é capaz de se regenerar sozinho.
Importante
Podemos dizer então que a biodiversidade são os organismos vivos do planeta, no seu conjunto e nas suas relações.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 70
próximo caderno de estudos, veremos como surge a
biodiversidade. Então, você entenderá melhor as
dificuldades em preservá-la.
PROPORÇÕES EXTRAORDINÁRIAS E ESPECULAÇÕES
Calcula-se que cerca de um milhão de espécies
já tenham sido descritas até hoje. Entretanto este um
milhão seria, por estes cálculos, menos de 10% do
total. Isto quer dizer que haveria aproximadamente
113 milhões de espécies no planeta. Mas as espécies
atuais equivalem a 0,1% do que já houve no mundo.
É claro que processos de extinção e especiação
(processo de surgimento de novas espécies) são
naturais. Mas estima-se que atualmente estejamos
num período de extinção maior que todos os que já
existiram...
Novas espécies sempre podem surgir, o que
NÃO significa que vão vingar. Ao eliminar, por exemplo
um mosaico de floresta diminui-se o componente de
diversidade que poderia ser fator de isolamento.
Isolamento?! É que um dos mecanismos mais eficientes
de especiação é a barreira geográfica ou isolamento
geográfico.
Paulo Barata, pesquisador da FIOCRUZ, ofereceu
certa vez um exemplo simples e cotidiano de situação
que pode provocar tanto especiação como extinção e
até mesmo ambos. Acompanhe:
Imagine um petroleiro que vá deixar sua carga
no Canadá. Para sair do porto reiniciando viagem
precisa se carregar de água do mar para reequilibrar-
se. Suponhamos que este navio vá em seguida para o
Mediterrâneo, onde descarregará esta água – com toda
a vida que nela há.
Dica do professor
O que isso quer dizer? Em outros termos isso significa que a biodiversidade de um determinado local é bem mais rica do que imaginamos ou podemos calcular, pois além da estimativa oficial, é preciso levar em conta as espécies que nem chegaram a ser computadas, mas que indubitavelmente existiram.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 71
Provavelmente estas espécies que ali chegaram,
de carona, competirão com as espécies locais, que por
não terem antes convivido com estas estrangeiras,
provavelmente não têm defesas nem condições para
competir.
Dentro de algum tempo, as espécies visitantes
podem provocar a extinção algumas das residentes
originais devido a essa competição por espaço e
comida, ou obrigá-las a migrarem em busca de outros
locais para viver – o que por sua vez pode provocar o
deslocamento de outras espécies. Este é o caso de
certo mexilhão europeu que está entupindo os canos de
captação de água americanos.
INTRODUÇÕES INDEVIDAS
Ocorrem tanto situações incidentais, por
descuido e ignorância como no exemplo do petroleiro,
como também situações em que se introduz uma
espécie exótica (exótica, para a biologia, quer dizer
estrangeira e não diferente, como muitos pensam)
deliberadamente, sem o devido estudo. Esta situação,
recorrente na história, é inclusive caso brasileiro,
ocorrido no Mato Grosso, onde introduziu-se a carpa. A
carpa é um peixe muito voraz, muito competitivo e de
pouquíssimos predadores. Lá não havia nenhum, o que
possibilitou sua rápida expansão e reprodução,
chegando a causar sérios prejuízos em boa parte dos
rios.
Outro exemplo, que teve, porém um desfecho
mais cauteloso foi publicado na revista Terra de
julho/98. Os interessados podem procurar na página
11. Talvez você se lembre da moda do mini-crustáceo
pré-histórico conhecido por camarão dinossauro (o
Triops longicaudatus). Tendo feito sucesso no exterior,
ele foi trazido para o Brasil em março com a finalidade
Dica da professora
O que aprendemos com isso? Que a vida continua como um fluxo contínuo. Os ecossistemas vitais estão sempre em transformação, uma vez que sempre haverá o surgimento de espécies novas e desaparecimento de outras.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 72
de ser um brinquedo vivo. Era vendido como ovinhos
que ganham vida ao entrar em contato com a água e
tinha o hábito de comer os colegas de aquário. Ao
descobrir essas características o IBAMA achou melhor
proibir sua entrada no país. Caso chegasse a algum rio
o camarão-dinossauro se alimentaria de ovos de rãs e
pequenos peixes, reproduzindo-se de forma
incontrolável, uma vez que no Brasil não existem
predadores para ele.
Por fim, um exemplo mais clássico de
desequilíbrio ecológico causado por uma introdução
indevida de animal exótico é o conhecido caso
australiano. No século passado a Austrália recebeu
alguns coelhos, que por procriarem-se rapidamente e
comerem de tudo ganharam em pouco tempo o status
de praga nacional. O governo chegou a autorizar e
recompensar sua caçada, tal o ponto a que chegavam
os prejuízos da lavoura.
A introdução de espécies alienígenas ao local é
um procedimento que tem acompanhado a história da
dispersão humana pelo planeta. No caso da última
grande expansão, que se deu a partir das navegações
dos séculos XV e XVI, o maior fator de sucesso na
conquista de terras novas foi o que Crosby denominou
de “biota portátil”. Ou seja, os colonizadores, mesmo
sem perceber, acabaram levando organismos de sua
terra natal ao Novo Mundo, incluindo bactérias, vírus,
fungos, plantas (na forma de sementes e esporos) e
até mesmo animais. Evidentemente, havia alguns
animais e plantas que eram levados na viagem a fim de
servir como alimento. Mas havia também uma série
deles carregados sem que os navegantes tivessem
consciência disso. E até com relação àqueles destinados
a servir para a alimentação não se sabia que
alcançariam tanto sucesso ao se multiplicarem e se
espalharem continente afora.
Dica da professora
Considere cada exemplo: A partir da página anterior temos uma série de exemplos interessantes que ilustram com clareza como o desequilíbrio ecológico pode ser causado pela
introdução de uma espécie indevida em um determinado ecossistema. Analise cada caso, destacando o tipo de desequilíbrio que poderia ser gerado a partir de diferentes situações.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 73
Os efeitos dessa introdução foram geralmente
de alcance fantástico. Os organismos invasores
ocuparam o espaço dos nativos, competindo por luz,
nutrientes, espaço etc. Não havia predadores para eles,
de modo que os recém chegados estavam em grande
vantagem.
Pensando na questão ambiental um erro comum
é acreditar que a destruição dos ecossistemas só ocorre
a partir das mãos e obras humanas. Por mais que o ser
humano queira crer nessa afirmação e possa sentir-se
ora lisonjeado, ora culpado com isso, um pouco de
pesquisa demonstra que esta degradação é obra
conjunta da co-evolução entre humanos e a tal biota
portátil. Isso quer dizer que uma série de organismos
(plantas, animais, fungos, vírus e bactérias) evoluiu em
estreita convivência com parcelas da humanidade. De
modo que tanto uns como outros tiraram algum
proveito desta relação. O grupo humano que por mais
tempo conviveu com uma maior variedade de outros
seres vivos foi o dos europeus. Assim, quando estes se
espalharam por outras partes do globo, levaram junto
consigo esta biota portátil, desconhecida e principal
razão de seu sucesso colonizador fora da Europa, fosse
por enfraquecer imunologicamente os povos com que
se defrontavam, fosse por garantir a sobrevivência dos
europeus a partir dos alimentos que já conheciam.
Especialmente porque, como dissemos, garantir os
alimentos conhecidos significou ocupar espaços
ecológicos antes ocupados pelas plantas e animais
locais, afins aos povos com quem conviviam. Ao
desalojar a biota local, os europeus, sem o saber,
foram tirando as condições de vida dos povos
conquistados e garantindo as suas próprias. Em suma,
foram “europeizando” os novos territórios. Vejamos
uma ilustração:
A usurpação da biota nativa do pampa
já devia ter começado no fim do século
XVI, quando animais da Europa chega-
Importante
É vital entender que a destruição dos ecossistemas não se dá apenas por intermédio da ação humana mais pela relação que estabelece de forma desequilibrada entre os seres vivos, dentre os quais o homem se inclui e a biota.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 74
ram, vicejaram e se propagaram em
enormes rebanhos. Seus hábitos de
alimentação, seus cascos
atropeladores, seus excrementos e as
sementes das plantas que carregavam
com eles, tão estrangeiras na América
quanto eles mesmos, alteraram para
sempre o solo e a flora do pampa. (...)
Onde quer que o europeu ou o pioneiro
mestiço construíssem sua pequena
habitação, surgiam malvas, cardos e
outras plantas, mesmo que não
houvesse tais espécies num raio de
trinta léguas. E era suficiente que o
homem da fronteira freqüentasse uma
estrada, mesmo sozinho com seu
cavalo, para que essas plantas
passassem a aparecer à beira do
caminho.
(Crosby, 1993: 145)
Esse processo e outros semelhantes significaram
a rápida extinção da maioria das plantas locais, além de
alimento para os animais recém-chegados da Europa,
como cavalos, bois, ovelhas, porcos, cabras e abelhas
de mel. Esses animais, por sua vez, expulsaram os
animais nativos e, diante da abundância de alimento e
da falta de predadores, multiplicaram-se de tal modo
que chegavam a novas fronteiras anos antes dos
colonos, garantindo-lhes comida farta e um solo aberto
a cascos para o florescimento das plantas vindas com
os europeus. E o ciclo se perpetuava continente
adentro. A extinção dos animais locais freqüentemente
provocou a diminuição dos povos nativos que deles
dependiam, a exemplo de indígenas norte-americanos e
seus búfalos. Sem contar que as defesas imunológicas
dos moradores originais das terras conquistadas não
estavam em guarda contra os patógenos do Velho
Mundo. Assim, vários desastres sucederam-se minando
as populações locais. Os exemplos mais expressivos
são a varíola nas Américas e a sífilis na Nova Zelândia.
De acordo com Crosby, a varíola chegou à Ilha de
Hispaniola por volta de 1519, tendo um efeito tão
devastador como a pólvora nos séculos seguintes.
Importante
Extinção: Esta página trás uma série de exemplos interessantes que ilustram com clareza como o desequilíbrio ecológico pode ser causado pela introdução de uma espécie indevida em um determinado ecossistema. Analise cada caso, destacando o tipo de desequilíbrio que poderia ser gerado a partir de diferentes situações.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 75
A História é uma rica fonte de
informações para quem quer entender
os efeitos da desestabilização das
relações interdependentes dos
organismos.
Um dos fatores mais importantes do
sucesso da biota portátil é tão simples
que se torna difícil relegá-lo: os seus
membros não atuaram isoladamente,
mas em equipe. (...) Às vezes a ajuda
mútua é óbvia, como quando os
europeus importaram abelhas para
polinizar suas plantações; outras vezes
é obscura, como nas Grandes
Planícies, quando os brancos e seus
mercenários dizimaram quase todos os
búfalos – propiciando assim o
alastramento de patógenos venéreos,
alguns dos quais eram certamente
imigrantes. Um médico que cuidava
dos sioux em Fort Peck no final do
século passado estimou que a tragédia
das infecções venéreas entre as
mulheres não era apenas uma
conseqüência da imoralidade, e sim o
resultado de uma mudança mais geral:
‘Elas eram castas até o
desaparecimento dos búfalos.
(Crosby, 1993: p.254)
Isso pode parecer estranho, mas a questão é
entender o que significavam os búfalos naquela
sociedade ameríndia. Esses animais eram o elemento
central da vida dos sioux. Sem eles desapareceu a
capacidade dos ameríndios de viverem
independentemente. Fuzileiros do pós-guerra civil
americana foram os responsáveis pela extinção dos
búfalos. Sem encontrar resistência indígena, rancheiros
e fazendeiros do Velho Mundo e seus bovinos e ovinos
avançaram então pelas planícies.
Algumas mulheres sioux, vendo seu
modo de vida destroçado como um
pote de barro sucumbiram à
prostituição. As bactérias venéreas
aproveitaram a oportunidade e
reduziram drasticamente a taxa de
natalidade dos sioux, tornando a terra
mais segura para os estrangeiros.
Brancos, negros, bois, vacas, porcos, ca
Quer saber mais?
Para saber mais sobre a extinção de búfalos: Em 1889, restavam apenas 551 búfalos nos EUA. Dizimados pelos colonizadores europeus, esses animais tinham grande importância na cultura indígena. Nesta mesma época, o governo implantou leis mais rígidas de caça, medida que evitou a completa extinção da espécie no país.
Para pensar
Você já havia pensado no quanto o capim foi importante para a sobrevivência humana.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 76
valos, trigo e ervas prosperaram, e em
torno das casas, celeiros e poços
d’água prosperaram também os
camundongos, ratos, capins e arbustos
do Velho Mundo.
(Crosby, 1993: p.256)
E nosso historiador prossegue demonstrando
como na biota portátil o comportamento é geralmente
de ajuda mútua. Descreve o desenvolvimento conjunto
das principais espécies de capim com os animais de
criação, sendo ambos vitais para a sobrevivência das
sociedades humanas. Porém, atenção, leitor: não eram
os organismos do Velho Mundo que eram superiores.
Ocorre que eles foram favorecidos pela contínua
perturbação (e, neste caso, contínua é mais importante
que perturbação) a que se sujeitaram os ambientes das
terras conquistadas, por meio do arado, derrubada de
florestas, queimadas, cidades em expansão e
pastagens exauridas, e através do brusco contato em
que foram colocados seres humanos, plantas, animais e
microorganismos que haviam evoluído separadamente
por milhares de anos.
No caso português, a ampliação das áreas
coloniais dependia da vinda de espécies exóticas (não-
autóctones), como o trigo e a galinha. A difusão destas,
contudo, implicava na concorrência com as espécies
locais e freqüentemente no extermínio destas últimas.
Isto não era visto como problema. Afinal, os obstáculos
à colonização haviam de ser superados e raros eram as
plantas e animais nativos de valor comercial para a
metrópole. A visão de natureza dos portugueses como
recurso ilimitado e à disposição condicionava, portanto,
a forma de conduzir as políticas, cuidados e
investimentos em terras brasileiras.
É preciso lembrar que o estabelecimento e a
consolidação das colônias neo-européias propagaram
um modo de vida totalmente diferente do tribal,
Aula 2 | Estudo de ecossistema 77
generalizado em boa parte do mundo de até então. Em
poucos séculos, as repercussões deste fato se
ampliaram exponencialmente, ocasionando progressiva
perda de informação sobre o funcionamento da
natureza local à medida que desapareciam os
habitantes originais e sua cultura – devido ao grande
crescimento populacional das colônias e a consolidação
de uma maneira de viver em que a dimensão das
conseqüências da interação era cada vez menos
considerada.
O crescimento desta repercussão e sua maior
percepção foram alguns dos principais mobilizadores
dos países para tratar da questão ambiental tal como a
conhecemos no século XX e início do século XXI.
MENOS CALAMIDADES, MAIS SERVIÇOS
Depois de tantos exemplos calamitosos vejamos
agora alguns dos muitos "serviços" que a natureza
presta aos seres vivos e dos quais usufruímos
gratuitamente:
Alimentos,
Polinização de plantações,
Medicamentos, reciclagem de nutrientes,
Filtragem de poluentes,
Geração e preservação do solo,
Assimilação de dejetos,
Controle de enchentes,
Matéria-prima para vestuário e outros
recursos,
Moderação do clima,
Manutenção da composição gasosa da
atmosfera,
Fotossíntese,
Operação do ciclo hidrológico.
Para pesquisar
Evidentemente que estes são apenas alguns dos muitos serviços que a
natureza pode nos prestar. Muitos outros devem ser incluídos como o bem estar que o contato com a natureza proporciona. Pesquisa outras vantagens e enriqueça essa lista:
Aula 2 | Estudo de ecossistema 78
E muitos outros. Uma alteração mínima num
desses processos interfere muitas vezes decisiva e
imprevisivelmente. Um bom exemplo é a elevação da
temperatura global. Se ela se elevasse 1°C a
fotossíntese de todo o planeta se alteraria, assim como
o micro-clima, o volume dos oceanos e
conseqüentemente a porcentagem de terra
descoberta... Daí toda a polêmica atual em torno do
protocolo de Kioto.
QUALIDADE DE VIDA E BIODIVERSIDADE
Com isso você já pode concluir quais são
algumas das perdas que aparecem com a diminuição da
biodiversidade: além da perda de "serviços" da
natureza, a qualidade de vida decai e conhecimentos
importantes são perdidos – inclusive alguns que podem
ter relação direta com o ser humano, como a
descoberta de princípios ativos para graves doenças
tais como o câncer ou a AIDS.
Isso sem falar que todo organismo tem direito à
vida. Se valorizarmos apenas o aspecto econômico, isto
é, o que podemos explorar do ambiente – e daí veio o
nome de recursos naturais – ficamos com uma visão
simplista.
Reduzir a complexidade genética e biológica ao
meramente econômico faz reduzir a diversidade social.
Por quê? Por enquadrar toda a existência e a
manifestação do ser humano ao aspecto de ser
produtor/ consumidor. Reduz-se toda a riqueza de seu
comportamento aos limitados padrões do mercado.
Com isso perdemos identidade. Nossa real identidade,
que vai muito além do espaço do mercado,
incorporando outras dimensões, como o direito, a
filosofia, a estética, a psicologia, a sociologia.
Importante
O Direito à Vida: Preservar o direito à vida de todo ser vivente é uma das premissas mais básicas de qualquer projeto/trabalho na área de Educação
Ambiental.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 79
Os indivíduos dos ecossistemas
Você teve até agora uma visão geral acerca de
fatores importantes para o funcionamento dos
ecossistemas. Vamos agora aproximar a nossa lente e
dar uma olhada em alguns detalhes que permitem que
a vida se arranje em ecossistemas. Vejamos alguns
aspectos que afetam seus habitantes.
O QUE É PRECISO PARA VIVER NUM
ECOSSISTEMA?
Em Biologia chamamos cada ser vivo de um
indivíduo. Em geral, o indivíduo passa por processos
como crescimento, sobrevivência e reprodução. É o que
permite que a população a qual ele pertence seja
viável, perpetue-se. Cada população apresenta um
conjunto genético que a caracteriza, específico e
exclusivo dela. A passagem dos genes aos
descendentes se dá através da reprodução – que pode
ser sexuada ou não, conforme a espécie. Desta forma,
cada indivíduo contribui para com a geração seguinte.
Nesta lógica, o indivíduo que deixar mais descendentes
estará contribuindo mais, e é, portanto, considerado
mais apto. Por isso dizemos que a performance do
indivíduo é o quanto ele pode crescer, se desenvolver e
reproduzir. A aptidão depende de uma série de fatores
inerentes à espécie e ao próprio organismo:
Genética do indivíduo
História passada mais remota
De ancestrais mais recentes
História atual do próprio indivíduo, influenciado
pelas condições7 e recursos
8 de seu ambiente.
7 Condições: é qualquer fator ambiental abiótico, como pH, salinidade, velocidade da correnteza,
umidade, temperatura etc., que varia no tempo e no espaço e para os quais os organismos respondem
diferencialmente. Tomemos o exemplo da temperatura: nas zonas temperadas ela varia sazonalmente.
Com isso, há uma heterogeneidade ambiental, ou seja, o ambiente varia muito em função das condições.
Cada estação oferecerá situações específicas e marcantes daquele período. Como as plantas são imóveis,
respondem a isso com mudanças no seu modo de relacionar-se com o restante do ambiente. 8 Os recursos são usados por um indivíduo de cada vez (espaço, nutrientes, radiação...), ao passo que o
que caracteriza as condições é sua partilha (por exemplo, a luz).
Dica de leitura
Aí vão duas dicas de leituras para aprofundar alguns dos conceitos dessa
página como população, indivíduo e ecossistema. DAJOZ, Roger. Ecologia geral. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1978. MOLEN, Yara Fleury van der. Ecologia. São Paulo: EPU, 1981.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 80
Ao relacionarmos as condições ambientais à
performance da espécie, vemos que a intensidade de
ambas favorece os processos de reprodução (r),
crescimento (c) e sobrevivência (s).
O conjunto de características e de traços
relacionados aos processos de desenvolvimento,
fecundação e sobrevivência é denominado “histórias
de vida”. Quando temos uma população de grande
tamanho sua distribuição geográfica é maior.
ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO AMBIENTE:
HISTÓRIAS DE VIDA E SUCESSÃO ECOLÓGICA
Em qualquer comunidade9 vegetal cada espécie
participa segundo a sua expressão da história de vida.
Isso quer dizer que uma comunidade campestre tem
um padrão de história de vida diferente do de uma
comunidade florestal, e serão ambos diferentes do
padrão das algas unicelulares. Uma diferença fácil de
ver e que é dada pelo padrão da história de vida é o
modo de produção das sementes: uma única vez no
ciclo todo ou, em outro padrão, várias vezes durante o
ciclo vital.
9 Comunidade: conjunto de populações de espécies diferentes.
Dica da professora
Histórias de Vida: Vale lembrar que uma das melhores formas de preservar a vida de uma espécie qualquer é valorizar e preservar sua história. Isso serve tanto para seres abióticos quanto comunidades de seres humanos.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 81
Como, então, se definem os diferentes padrões?
Basicamente através das diferentes combinações das
características abaixo, que também definem estrutura e
dinâmica da população, abundância e distribuição
geográfica dos indivíduos componentes.
Sistemas de reprodução: que indica o número
de descendentes possível através de um
determinado indivíduo e a distribuição do
indivíduo;
Sistemas de dispersão;
Prevalência da reprodução vegetativa;
Número e tamanho das sementes produzidas;
Tipo e grau de dormência apresentado pelas
sementes.
Cada comunidade apresenta um padrão de
história de vida que predomina. Numa comunidade
florestal, por exemplo, predomina o padrão arbóreo. Os
vários tipos de ambiente oferecem diferentes pressões
seletivas (de seleção natural). As características que
tornam indivíduos aptos no ambiente estável são
diferentes no ambiente instável. A pressão seletiva de
cada ambiente vai definir a melhor história de vida
(roteiro) para os organismos. Pode ocorrer variação
ambiental em função de diversos fatores. Veja alguns:
freqüência de queimadas, seca, inundações, grau de
sombreamento no globo, disponibilidade de nutrientes,
poluentes, acidez do solo, metais pesados, salinidade,
vento, pisoteio (em locais com grandes mamíferos ou
em campos com pastagens), temperatura, existência
de inimigos naturais, injúrias (quebra de galhos,
herbivoria10
, queda de um galho abrindo espaço para a
entrada de sol...).
Há basicamente três teorias para explicar a
formação dos padrões de história de vida: a) seleção
10
Ataques de herbívoros a plantas, quebrando galhos e/ou arrancando folhas para alimentar-se.
::Dormência:
Dormência é o estado de latência pelo qual as sementes de algumas espécies passam. Significa que a semente tem potencial para germinar, mas é como se estivesse hibernando. Precisa de algum elemento externo que a faça sair do estado de dormência. Tal elemento é variável
conforme a espécie. Pode ser a água, pode ser fogo, pode também ser o suco gástrico de algum animal e inúmeros outros fatores.
Importante
Se a variação destes elementos for pequena temos um ambiente previsível, estável. Caso contrário, o ambiente será instável e imprevisível.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 82
tipo R e tipo K, b) intensidade de estresse, e, c)
alocação de recursos ambientais.
No caso da seleção R e K entende-se que a
população vegetal cresce em fases. Numa comunidade
de uma única espécie inicialmente não há limitações de
recursos e condições indispensáveis, o que leva a
população a um crescimento ilimitado (exponencial, até
alcançar a capacidade suporte do habitat). Esta
primeira é a fase de explosão, também chamada R. A
alta população leva proteção a futuras expansões. Esta
fase, de densidade populacional, chama-se K e
apresenta maior competição. Há ambientes que
favorecem a fase R e outros que favorecem a fase K.
Organizamos uma tabela comparativa para você
se localizar melhor:
Variáveis
SELEÇÃO “R”
SELEÇÃO “K”
Clima Variável, imprevisível,
maior incerteza
Previsível, maior
certeza
Mortalidade Catastrófica Disciplinada, depende
da densidade
Tamanho da
população
Variável no tempo,
muito abaixo da
capacidade suporte,
forma comunidades
insaturadas, havendo
recolonização (mudança
de lugar) a cada ano
Mais constante e
próxima da capacidade
de suporte, forma
comunidades
saturadas, não havendo
recolonização anual.
Competição
intra e
interespecífica
Frouxa, muito variável Intensa, forte
EM SÍNTESE:
Ambientes com recursos em abundância:
favoráveis à seleção R, pouca competição.
Ambientes com recursos limitantes: favoráveis à seleção K, muita competição.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 83
Características
do organismo
Rápido crescimento, reprodução precoce
11 e
tamanho reduzido,
uma única reprodução
com muitos
descendentes pequenos
Crescimento lento,
reprodução tardia,
grande tamanho,
múltiplas reproduções
com poucos e grandes
descendentes
Longevidade Baixa (menos de um
ano)
Alta (de um ano a
séculos)
Resultado Produtividade alta
(quanto vai produzir e
como vai dispersar),
medida pelo número de
descendentes
Eficiência do indivíduo
(maior habilidade
competitiva, indicada
pelo tamanho das
plantas)
Estágio de
sucessão
Fases iniciais Fases finais, clímax
Estratégia Espécies r-estrategistas
(plantas herbáceas e
anuais, as invasoras e
“daninhas”)
Espécies k-estrategistas
(árvores)
Esses diferentes tipos de seleção interferem
diretamente na formação dos ecossistemas. O processo
de surgimento de um novo ecossistema tem sido
chamado de sucessão ecológica. A qualquer momento
pode ter início uma nova sucessão, seja micro ou
macro, pois ela se inicia a partir de perturbações no
ambiente. As perturbações podem desencadear uma
sucessão primária ou secundária, que tem por agentes
perturbadores queimadas, geadas, a derrubada de uma
grande árvore (abrindo uma clareira na mata), a
chegada de um novo organismo, só para citar alguns
exemplos. Na sucessão primária o fator de distúrbio é
maior: vulcanismo, terremoto, exposição da rocha-
mãe... Resiliência é a capacidade de voltar ao estado
original, sendo mais forte para vegetações campestres
do que para florestas.
Nas fases iniciais, quando há abundância de
recursos, aparecem as plantas r-estrategistas, menos
exigentes em termos de condições ambientais,
suportam bem o calor e se espalham rápido e
abundantemente. Quanto mais r-estrategista for a
11
Pois não se sabe se amanhã continuarão existindo os recursos de hoje.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 84
planta, maior sua capacidade de dispersão (população
itinerante de geração para geração). Um ambiente
onde se inicia um processo sucessional costuma ser
mutável, mas isso não afeta nossas colonizadoras. Elas
concentram sua energia em alocar recursos para a
reprodução, dedicando poucos à manutenção dos
adultos.
À medida que as invasoras (ou pioneiras, ou
colonizadoras, ou r-estrategistas) ocupam o ambiente,
o solo vai se tornando mais fértil e sombreado, devido
ao arejamento produzido por suas raízes e à sua morte
(a decomposição proporciona a devolução de nutrientes
e matéria orgânica ao solo). Isso possibilita o
surgimento de espécies de plantas que necessitam de
menor incidência de luz direta e mais nutrientes. São
os arbustos. Sucessivamente o ambiente vai recebendo
espécies cada vez mais exigentes e que se aproveitam
das condições deixadas pelas anteriores – maior
umidade, menores temperaturas, solo fértil etc. Aos
poucos, vai se compondo um cenário mais florestal,
onde predominam as k-estrategistas. Estas plantas
dedicam poucos recursos para a reprodução, mas
muitos para a manutenção dos adultos. Nesta fase, o
ambiente já se encontra mais estável, embora haja
maior limitação de recursos (já estão sendo consumidos
No caso dos animais se chama migração. Quando se
trata de plantas a dispersão é conhecida por
disseminação e pode ocorrer através de sementes,
frutos, rizomas, estolões. As plantas que utilizam
reprodução sexuada levam vantagem, pois vai além
da reprodução vegetativa, havendo potencial para
diferenças genéticas. A dispersão pode ocorrer
mediante agentes bióticos ou abióticos, mas
também pela ação da própria planta, como acontece
com a maria-sem-vergonha.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 85
por muitas espécies).
Há sucessões que se desenvolvem dentro de um
ecossistema estabelecido, que, porém foi perturbado
em algum ponto, desencadeando a formação de um
micro-ecossistema (tronco podre ou clareira, por
exemplo). Outras vezes, a região onde se inicia uma
sucessão é árida e o processo demora mais. Acontece
em rochedos, por exemplo. A pedra nua vai sendo
desgastada em alguns lugares pelo vento, ajudado pela
alternância de sol, chuva e frio. A erosão faz com que
alguns pedaços da rocha se tornem mais arenosos. O
vento, pássaros e insetos podem depositar terra,
pequenos galhos e folhas secas, tornando o ambiente
um pouco mais fresco e nutritivo. É o suficiente para
que musgos se instalem, formando um ambiente um
pouco mais úmido, que poderá abrigar uma erva. Foi
dada a partida. À medida que as r-estrategistas
chegam, animais e fungos também são atraídos pela
oferta de alimento e abrigo.
Falta, agora, dar uma espiada nas outras duas
teorias para formação dos diferentes padrões de
histórias de vida.
Segundo a teoria da intensidade de estresse, há
três padrões predominantes de histórias de vida
(estratégias de sobrevivência). Neste caso, classifica-se
o ambiente de acordo com o nível dos distúrbios
(intensidade, tipo e freqüência) ou segundo o estresse
que promova no organismo. Mas o que se considera
estresse em termos biológicos?
Vamos examinar novamente uma tabela para
melhor visualizar as possíveis estratégias de vida:
Importante
É importante entender este processo porque ele é a base de um trabalho bem feito de regeneração ou recuperação ambiental, último assunto que veremos nesta apostila.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 86
Intensidade de estresse
Intensidade
de distúrbio
Baixa Alta
Baixa Arbóreas
Competidoras
k-estrategistas
Características
intermediárias
Tolerantes
t-estrategistas
Alta Ruderais
Herbáceas
r-estrategistas
Sem estratégia viável;
Não permite o
estabelecimento de vida
Já para a teoria de alocação dos recursos
ambientais a finitude dos recursos leva a crescimento e
diferenciação (fecundação) distintos. Quando o
crescimento é favorecido, temos uma predominância de
espécies arbóreas, que priorizam a manutenção dos
adultos. Quando a fecundação é favorecida, temos
outro padrão de história de vida, em que predominam
as herbáceas, altamente produtivas.
Há algumas características que podem se
combinar, como:
Ciclo de vida (anual ou perene);
Morfologia da planta (inclui as formas de
crescimento da copa, das folhas etc.);
Permanência das sementes no ambiente;
Fotossíntese e absorção de nutrientes.
Conhecer os padrões de histórias de vida e seu
processo de formação criou a possibilidade de efetuar
reflorestamentos. Sem conhecer o padrão não se
consegue combinar a percentagem de r e k-
estrategistas de tal maneira que a floresta não acabe.
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL
A predominância de uma estratégia ecológica (r
ou k) depende das circunstâncias. Por existirem
diferentes graus de competitividade existem também
diversos tipos de organismos ocupando o ambiente, o
Quer saber mais?
Tais características fazem com que os processos fisiológicos internos (intercepção da luz, balanço do calor, regulação da temperatura, balanço hídrico, difusão do oxigênio) ao combinarem-se, capacitem o organismo a completar seu ciclo de vida dentro de
comunidades peculiares, isto é, determinam sua aptidão.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 87
que significa que estes organismos ocupam lugares
diferentes dos que ocupariam se estivessem sozinhos.
Uma vegetação mista gera potencial para maximizar o
uso das características ambientais. Já uma vegetação
uniforme (vizinhos da mesma espécie) utiliza as
mesmas condições ambientais.
É importante frisar que não há processo de
recuperação ambiental que traga de volta um
ecossistema tal como ele era antes. A recuperação é
mais das condições e recursos. Trata da história do
desmatamento da floresta atlântica.
Ao pensar um processo de recuperação é
importante ter em mente que os estágios de sucessão
estão sempre se renovando e que, mesmo em
populações clímax não há exclusividade de k-
estrategistas. Há sempre um percentual variável de
cada perfil, caso contrário a tendência seria o
desaparecimento do ecossistema. Daí a importância
desse entendimento.
Darmos início a uma nova sucessão, pensando
em recuperação ambiental, requer incluir espécies de
cada fase da sucessão misturadamente. Se plantarmos
apenas espécies de madeira nobre porque são clímax,
por exemplo, a tendência será o desaparecimento
(como citado no exemplo da castanheira). As pioneiras
defendem outras árvores ao abrigarem insetos e
pequenos predadores, que se alimentarão
freqüentemente de predadores das árvores clímax. Elas
são os soldados da floresta.
Outros cuidados na regeneração, geralmente
ignorados por pessoas bem intencionadas, porém
desinformadas, são a observância das condições
ambientais e da origem das espécies que serão
plantadas. Uma dada espécie pode ser de mata
atlântica e você quer justamente recuperar uma área
Para navegar
Experiências interessantes e bem sucedidas de recuperação
ambiental têm sido desenvolvidas pela ONG REBRAF (Rede Brasileira Agroflorestal). Você pode conhecê-la no site: www.rebraf.org.br.
Dica de leitura
Um bom livro para entender melhor essa questão no Brasil é:
DEAN, Warren. A ferro e fogo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 88
originalmente de mata atlântica. É necessário, então,
verificar se aquela planta ocorria naquela altitude,
como ela se distribuía. Sabendo que o ecossistema
jamais será como já foi, o que pode ser feito é uma
aproximação, considerando as espécies nativas daquele
trecho em questão. É fundamental trabalhar com a
idéia de mosaico. O ambiente natural, sobretudo nos
trópicos, é uma grande mistura. Plantar somente
clímax leva à morte prematura do ecossistema. E usar
pioneiras apenas leva à insatisfações freqüentes, pois a
sucessão é lenta e as plantas podem ser retiradas por
pessoas ignorantes ou mal-intencionadas.
Se a sucessão está sempre ocorrendo, por que
falamos em primária e secundária? Por considerar-se
que, no momento de maior estabilização do ambiente,
a presença maior é de r ou de k-estrategistas.
EXERCÍCIO 3
Que elementos são necessários para classificar um
ambiente como um ecossistema?
( A ) Que este seja um sinônimo de sociedade;
( B ) Ele deve ser homogêneo, trocar energia,
permitir a entrada e saída de elementos, ter uma baixa
entropia, possuir substâncias abióticas e organismos
vivos;
( C ) Deve haver heterogeneidade no ambiente, a fim
de permitir a biodiversidade;
( D ) Não é preciso que toda a energia do ambiente
seja reciclada, a maior parte pode ser perdida;
( E ) Deve se assemelhar ao contexto ecossocial urbano.
Para navegar
Para conhecer um projeto recente de reflorestamento, com nativas, e suas dificuldades, visite o site: www.nasce.org.br e agenda sua participação ao vivo.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 89
EXERCÍCIO 4
Para viver num ecossistema é necessário:
( A ) Que os indivíduos estejam aptos a viver nele:
cresçam e deixem muitos descendentes;
( B ) Desenvolver uma história de vida adequada ao
local. Todos os organismos de um local utilizam a
mesma estratégia de sobrevivência ou história de
vida;
( C ) No caso das plantas, o desenvolvimento de uma
história de vida adequada está ligado à
combinação de fatores, como: tamanho,
quantidade e dispersão das sementes, distribuição
dos indivíduos, capacidade de competir por luz,
tamanho da raiz, presença de flores;
( D ) Superar as pressões, convertendo o ambiente
num lugar estável;
( E ) Conhecer as três teorias que explicam a
construção dos padrões de histórias de vida:
seleção tipo r e tipo k, intensidade de estresse e
alocação de recursos ambientais.
EXERCÍCIO 5
O que é e quais são as principais características de um
ecossitema?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 2 | Estudo de ecossistema 90
EXERCÍCIO 6
Explique com suas palavras o que é cadeia alimentar e
qual a sua importância?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
O ecosssistema pode ser compreendido como
o conjunto formado por todos os seres vivos
de uma certa região e todos os fatores
abióticos (luz, vento, água, solo e outros
elementos não-vivos) com os quais esses
seres interagem.
Há várias relações possíveis num
ecossistema. As mais conhecidas são o
comensalismo, o parasitismo, a competição, o
mutualismo, a cooperação.
Comensalismo: Associação em que um
indivíduo aproveita restos de alimentares do
outro, sem prejudicá-lo. Ex.: Tubarão e
Rêmoras;
Parasitismo: Associação entre duas espécies
onde uma (a parasita), vive às custas da
outra (o hospedeiro), prejudicando a sua
vida;
Competição: É a luta entre dois ou mais
seres vivos por um elemento da natureza. A lu-
Aula 2 | Estudo de ecossistema 91
ta por alimento é muito comum. Ocorrem
confrontos entre os animais. A competição
pode ser entre dois seres da mesma espécie
ou de espécie diferente, que são
respectivamente denominados de intra-
específica e interespecífica;
Mutualismo: é o agrupamento ou junção
entre dois seres vivos de espécies diferentes
que mantêm uma relação de cooperação
mútua. Isso quer dizer que um é depende do
outro oferecendo de alguma forma algo
necessário a manutenção da vida.
Protocooperação ou cooperação: É a
associação entre indivíduos de espécies
diferentes em que ambos se beneficiam, mas
cuja coexistência não é obrigatória.
Predatismo ou Predação - é a interação
desarmônica na qual um indivíduo (predador)
ataca, mata e devora outro (presa) de
espécie diferente.
Epifitismo: situação em que um vegetal vive
sobre outro, mas sem retirar nutrientes,
utilizando-o apenas como apoio. É diferente
do parasitismo, pois embora somente um
ganhe não há prejuízo para ninguém;
Os principais princípios dos ecossistemas são:
interdependência, equilíbrio dinâmico, e
homeostase (auto-regulação).
Quanto maior a diversidade maior a
estabilidade uma vez que a diversidade
possibilita ao ambiente diferentes respostas a
possíveis alterações.
Aula 2 | Estudo de ecossistema 92
A energia não é criada, nem destruída. É
transformada. E podemos medi-la na
natureza por calorias, analisando a passagem
da energia de um nível da cadeia alimentar a
outro;
A produção de energia pode ser não apenas
de origem fotossintética, mas também
quimiossintética, como é comum nas
profundezas abissais oceânicas;
Os elementos químicos (conhecidos por
nutrientes) circulam pela biosfera. Em alguns
momentos estão incluídos na matéria
orgânica (fase BIO), em outros na inorgânica
(fase GEO);
os ciclos biogeoquímicos podem ser definidos
como: “O conjunto dos processos físicos,
químicos e biológicos, considerados como um
ciclo, que descreve o intercâmbio de um
elemento químico, entre organismos vivos e o
ambiente abiótico“.
O que muda NÃO É a quantidade de cada
elemento no planeta, mas sua situação. O
problema é que dependendo da mudança de
localização destes elementos podem haver
danos às relações estabelecidas. Outro
problema é a criação de milhares de novas
substâncias químicas, que não fazem parte de
nenhum ciclo biogeoquímico e por isso,
“sobram” no ambiente;
Um ecossistema apresenta homogeneidade
quanto à topografia, ao clima, à botânica,
zoologia, pedologia (solos), hidrologia (águas)
e geoquimicamente;
Aula 2 | Estudo de ecossistema 93
Um ecossistema completo possui substâncias
abióticas e organismos vivos, cicla energia e
tem uma entropia baixa. Esta idéia é
importante para não confundirmos as cidades
com ecossistemas. As cidades recebem
energia luminosa, alimentos, água, ou seja
importam toda a energia de que necessitam.
Não há equilíbrio, pois ciclam muito pouco e
exportam resíduos;
Não há transformação 100% eficiente de
energia. Essa parcela de perda é conhecida
por entropia.
Os ecossistemas se mantêm pela entrada de
energia. Simplificadamente dizemos que a
fonte primária (ou seja, primeira) de energia
são os raios solares, que ao ser captados pela
clorofila das plantas são armazenados como
energia em substâncias orgânicas com
potencial energético;
Podemos falar de diferentes níveis de
biodiversidade. Os principais deles são a
diversidade genética, que ainda é
praticamente desconhecida no planeta; a
diversidade de espécies, que se traduz no
conjunto de populações capazes de manter o
intercruzamento e originar descendentes
férteis; a diversidade de ecossistemas, de que
falamos há pouco e, a diversidade de
paisagem;
Paisagem e ecossistema são distintos, pois
paisagem inclui apenas a aparência do
ambiente podendo representar ecossistemas
bastante diferentes. Já o ecossistema
compreende também e principalmente as rela-
Biomas Brasileiros
Luciana Ribeiro
AU
LA
3
Ap
res
en
taç
ão
Muita gente confunde Bioma com Ecossistema, se você tem
dúvidas quanto a essa distinção não se preocupe você está na
aula certa para saná-las. Neste terceiro encontro você terá a
oportunidade compreender melhor a relação entre o visual
paisagístico de uma localidade e o Bioma, os diferentes e ricos
Biomas Brasileiros a partir de suas especificidades tais como: a
Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Pantanal, as Florestas de
Araucária, os pampas, a Zona Costeira, os Recifes de Coral e os
Manguezais. Com essa variedade temática só nos falta perguntar:
Dá para perder essa aula? Claro que não. Então venha e mergulhe
nos estudos sobre os Biomas de nosso país. Não há formas de
amar e lutar por algo que não conhecemos, então eis aí a sua
oportunidade.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Entender com clareza o conceito de Bioma e sua distinção em
relação a outros temos como ecossistema e comunidade;
Conhecer os principais biomas brasileiros compreendendo suas
características e importância para o equilíbrio ambiental local e
global;
Analisar a relação entre as variações climáticas e a
continuidade dos biomas analisados;
Refletir sobre os principais problemas e conflitos ambientais
nos diferentes biomas estudados e formas de trabalhar a
Educação Ambiental nos mesmos.
Aula 3 | Biomas brasileiros 96
A constituição dos biomas
O QUE SÃO
Agora que você já estudou um pouco sobre a
Ecologia e principalmente sobre o funcionamento básico
dos ecossistemas, vamos avançar para um novo
conceito – o de bioma. Inicialmente, vamos aproveitar
para deixar claro: biomas e ecossistemas não são a
mesma coisa. Muita gente costuma confundir uma coisa
com a outra.
Pelo visto, a chave para entendermos a idéia de
bioma está em seu tipo de vegetação. Mas o que
poderia fazer uma determinada vegetação predominar?
Um dado interessante e a primeira pista para você,
leitor, é que as zonas vegetacionais coincidem com as
zonas climáticas.
EXERCÍCIO 1
Se é assim, parece que um bom caminho será
investigarmos de que modo se compõe essas zonas
climáticas. Liste aqui os elementos que você julga
comporem o clima:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
De maneira resumida a fórmula do clima resulta
de:
Fenômenos meteorológicos (atmosféricos)
+ alterações provocadas por fatores modificadores
Dica da professora
Convém sempre começar o estudo de um novo tema pelo dicionário. E o Aurélio Eletrônico nos diz que bioma é uma grande comunidade, ou conjunto de comunidades, distribuída numa grande área geográfica, caracterizada por um tipo de vegetação dominante.
A constituição dos biomas 96 Os ecossistemas dos biomas brasileiros 102
Aula 3 | Biomas brasileiros 97
Vejamos. Classificamos como elementos
meteorológicos a água, a luz, o vento, a temperatura, a
umidade relativa etc. E entendemos por fatores
modificadores a latitude, a altitude, a sazonalidade, a
continentalidade, entre outros.
A cada 100 metros de altitude há uma redução
de 0,6o C. O ar quente retém água, e a água retém
calor.
Ar frio
Ar árido
Retenção de vapor d´água
Circulação de calor
CONCEITOS A SABER. ANOTE!
Segundo o Aurélio:
Latitude: Na esfera terrestre, ângulo que faz com o
plano do equador terrestre o raio que passa por
determinado observador ou determinada localidade;
arco do meridiano compreendido entre determinado
observador ou determinada localidade e o equador
terrestre; latitude terrestre.
Altitude: Altura em relação ao nível do mar.
Sazonal: Próprio de, ou que se fica em uma sazão
ou estação. Portanto, sazonalidade seria como dizer
“estacionalidade”, ou seja, o tanto que a mudança
das estações interfere no clima. É interessante
lembrar que esta mudança ocorre em função do
movimento terrestre de translação (volta em redor
do Sol).
Continentalidade: pode ser traduzida como quanto
de terra envolve uma região ou então quanto um
determinado ponto se encontra distante do mar.
Uma região situada no centro do continente
certamente está sujeita a temperaturas e umidade
bastante diversas daquelas que ocorrem à beira-mar.
Aula 3 | Biomas brasileiros 98
O fator altitude pode sobrepujar o fator latitude.
Por exemplo: uma montanha de 5000 metros no
Equador teria floresta tropical na base e tundra no
ápice. Quanto maior a altitude menor o porte das
plantas, pois elas estarão mais sujeitas ao vento, ao sol
e a uma menor umidade.
Devido à forma elíptica da Terra gera-se um
aquecimento diferencial que por sua vez influi na
formação de um gradiente de pressão. Com o
encontro de ar frio e quente as massas de ar se
movimentam horizontalmente (fenômeno denominado
de advecção). Mas existe também a circulação
vertical. Se considerarmos a situação do Equador, o ar
quente tende a subir (movimento vertical) e dirigir-se
aos pólos (movimento horizontal). À medida que se
desloca, a capacidade da massa de ar de retenção de
vapor d´água diminui, até que há uma condensação e
chove no caminho, esfriando, então, o ar.
Assim, o planeta tem suas zonas de vegetação
distribuídas conforme as condições climáticas,
sobretudo a latitude. Na região de latitudes
intermediárias entre florestas e desertos encontramos
desde savanas até formações campestres. As células de
circulação de ar decorrem principalmente da latitude. À
medida que nos dirigimos para os extremos, luz, calor e
umidade diminuem.
Uma curiosidade com relação aos ventos é que
sua produção também depende do movimento de
rotação da Terra. São justamente as correntes
oceânicas as principais responsáveis pela distribuição
do calor absorvido pelos Trópicos e também por levar o
frio polar para as regiões tropicais, fazendo assim um
balanceamento da temperatura planetária. A mudança
das correntes de ar alterando as correntes oceânicas
acarretariam, por exemplo, fortes tempestades
tropicais e furacões que atingiriam hoje o Caribe se
Você sabia?
Os ventos se formam a partir das diferenças de pressão e temperatura entre as camadas do ar. Se uma massa de ar de alta pressão ou de baixa temperatura se dirigir rumo a uma região de baixa pressão, formam-se ventos verticais. Mas esse tipo de vento também se forma quando a camada de ar quente próxima ao solo sobe (é mais leve), sendo substituída por outra mais fria, que desce. A formação dos ventos horizontais
se dá de forma semelhante: o ar quente sobe e em seu lugar entram as massas de ar frio. A diferença para os ventos verticais é que o ar frio vem de massas vizinhas e não de cima. (Superinteressante, nov/01)
Aula 3 | Biomas brasileiros 99
mudassem seu destino para o Marrocos, Portugal e
Espanha, pois os ventos do Atlântico Norte soprariam
para leste. A região do Saara receberia muita chuva,
carregada pelos ventos úmidos e quentes do Atlântico.
E como você sabe, as plantas e animais vivem em
lugares aos quais se adaptaram, onde o clima, o
alimento e o abrigo estão de acordo com suas
necessidades.
No tocante à continentalidade, quanto mais
vamos para o interior do continente, menos vapor
d´água encontramos, pois o solo se aquece e perde
calor mais rapidamente que o líquido. Então:
O resultado desse movimento de calor é a
formação de uma célula de circulação de ar.
Considerando as características que citamos até
agora, podemos verificar como se associam vegetação
e zonas climáticas:
Equatorial úmida com variações diurnas.
Outras variações podem existir, como por exemplo a
sazonalidade, mais atuante em regiões distantes da
faixa equatorial. Essas variações estacionais são bem
mais rígidas devido a sua permanência. Isto significa
que as regiões com variações diurnas são mais
estáveis. A vegetação típica é a floresta pluvial tropical
sempre-verde. O Brasil localiza-se na região equatorial
e possui clima e vegetação equatorial também. A zona
equatorial fica dentro da tropical, no entretanto, é
interessante separar a vegetação equatorial da tropical
e da subtropical (sul do país). A zona equatorial pode
ser caracterizada por ter mais que 2000 mm de chuva
ao ano. Sua seca dura de 2 a 3 meses, mas não altera
a média de precipitação (chuva). A temperatura média
é de 25o e a amplitude térmica é de mais ou menos 5o.
No sul esta alternância chuva/seca deixa de existir. A
Você sabia?
De dia: continente (terra) é mais quente que água (mar). De noite: o mar é mais quente que a terra.
Aula 3 | Biomas brasileiros 100
região é permanentemente úmida, devido à
combinação dos fatores latitude-altitude.
EXERCÍCIO 2
Você conhece as características de uma floresta
temperada? E de uma tropical? Procure investigar por
que dizemos que a floresta tropical é dotada de uma
diversidade biológica muito maior do que a floresta
temperada. De fato, isso ocorre. Agora pesquise e
explique por quê.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Tropical úmida - árida: savanas (chuva e seca
alternadas). No Brasil não há savanas, devido à
altitude.
Árida - subtropical: deserto. Os desertos
ocorrem nas regiões próximas aos 30o de latitude.
Árida - úmida: floresta temperada.
Úmida temperada quente: floresta
temperada.
Temperada típica: floresta temperada.
Árida temperada: deserto frio.
Temperada fria: taiga (florestas de coníferas).
Polar: tundra (líquens, algas e plantas de ciclo
muito rápido, pois a água sólida – gelo – desfavorece o
desenvolvimento da vegetação).
Aula 3 | Biomas brasileiros 101
Genericamente, dizemos que a aparência da
vegetação, o visual paisagístico composto por ela,
recebe o nome de bioma. É provável que agora você já
tenha deduzido que cada bioma pode abrigar diversos
ecossistemas. Não? Então observe os exemplos a
seguir:
Floresta paludosa: possui o solo alagado
periodicamente (mata de várzea) ou
permanentemente (igapó). Pode ocorrer em
regiões marítimas, revelando-se ao modo de
um manguezal. Quando situada na região
austral do país fica próxima a rios. E nas
zonas litorâneas abriga plantas arenosas de
mata pantanosa. Só aqui já foram citados 4
exemplos de ecossistemas num mesmo
bioma.
Floresta pluvial: compreende diversas
matas com diferentes características, mas
que possuem em comum alto índice de
pluviosidade. Exs.: floresta de tabuleiros,
floresta baixo-montana, Floresta Atlântica,
floresta de araucárias, capões, ripárias, ticket
esclerófilo amazônico.
Floresta estacional: é pobre e caducifólia (isto
é, suas plantas perdem as folhas na estação seca ou no
inverno). Também pode ser perenifólia (folhas perenes,
ou seja, que não caem antes das novas terem se
desenvolvido) decídua e semidecídua. Como
exemplos temos: a) a floresta de ticket, composta por
arbustos e árvores pequenas sobre solo raso, situada
em morros baixos próximos ao oceano, tal como no
caso da restinga (tipo esclerófilo litorâneo) e do sertão
(tipo lenhoso, espinhoso, caducifólio); b) savana (que é a
interface entre campo e floresta), formada por
gramíneas e arbustos pequenos, tendo no Brasil seu
Quer saber mais?
A denominação decídua e semidecídua se refere ao tempo de queda das folhas. A decídua é precoce.
Aula 3 | Biomas brasileiros 102
correspondente no Cerrado; c) campo, que é composto
por uma vegetação rala e pouca água – é o caso do
gramado, do pampa, do potreiro.
Apesar destes exemplos é bom ficar atento: o
tipo de folha (perene ou caduca) pode indicar a região,
mas não defini-la, já que a regulação pode ser de
ordem morfológica mas também pode ser fisiológica.
A umidade é um fator de grande importância
nas formações vegetais. Se houver um saldo positivo
de água a vegetação torna-se de maior porte. Se não,
a evolução da comunidade não caminha para as formas
finais da sucessão ecológica, podendo estacionar.
Portanto, uma lembrança importante é que nenhum
bioma e nenhum ecossistema tem sempre a mesma
“cara”. Conforme ocorrem alterações no clima, no solo,
nas relações a fisionomia dos biomas vai mudando. É
um engano achar que a vegetação tem de ser como um
quadro e ter sempre a mesma aparência. A vida das
pessoas é muito mais curta que o tempo de
desenvolvimento de um bioma. Por isso, podemos ter a
impressão de que as coisas devem permanecer sempre
do mesmo jeito.
Os ecossistemas dos biomas brasileiros
Você vai conhecer agora os principais biomas
brasileiros e dentro deles, os ecossistemas mais
significativos. Começando pela região Norte, temos a
Floresta Amazônica, seguida pela Mata Atlântica na
costa, Cerrado, Caatinga e Pantanal no interior,
Florestas de Araucária e Pampas no Sul, além da zona
costeira e das regiões de transição.
Dica da professora
Este assunto de que tratamos está na aula de Estudos de Ecossistemas. Se precisar, reveja o conceito.
Aula 3 | Biomas brasileiros 103
A FLORESTA AMAZÔNICA
Esta região é composta por diversos setores:
Ocidental ou andino
Meridional ou Brasileiro
Setentrional ou Guianense
Oriental ou Meio-Norte
As águas pretas ocorrem onde crescem as matas
de igapó. E as águas brancas, nas matas de várzea.
A vegetação amazônica se divide em: a)
florestal, que inclui a mata-de-terra-firme, a mata de
igapós e a mata de várzea; e b) campestre, que abarca
os campos de terra firme e os campos de áreas
inundadas (várzeas). A localização das matas está
extremamente vinculada ao leito de um rio. Ou seja, na
parte alta, as terras nunca sofrem inundações. Já na
porção baixa há uma permamente inundação, enquanto
que a várzea é inundada apenas temporariamente
(cheias) e depende de outros fatores, como a época e a
temperatura.
Os riachos afluentes recebem o nome de
igarapés (são o equivalente do coricho pantaneiro).
As matas de terra firme podem ser sempre-
verdes (têm folhas perenes), semidecíduas. As
campinas amazônicas possuem folhas pequenas,
revolutas (margens enroladas para a face inferior) e
coriáceas (endurecidas como couro), em função da falta
de minerais do solo, constantemente lixiviado pela
chuva. A proteção das folhas contra a lixiviação, por
estranho que possa parecer, vem dos fungos, algas e
outros organismos que crescem sobre elas.
Você sabia?
De acordo com a classificação da organização não-governamental Conservation International, a Amazônia está entre as maiores regiões naturais em área florestal, atrás apenas das imensas florestas boreais da Rússia, Canadá e Alasca, que se estendem por dois continentes.
Aula 3 | Biomas brasileiros 104
Mas se o solo amazônico é tão pobre, como
pode sustentar uma floresta de proporções tão
gigantescas?
Quando as estradas bloqueiam os igarapés
(riachos, lembra?), as árvores que não têm estrutura
adaptada a inundações permanentes morrem. Pode
ocorrer, então, um novo processo de sucessão
ecológica, alimentado por estas águas ricas
organicamente, devido ao apodrecimento das árvores.
A maior parte das plantas se estabelecem no
solo arenoso, de modo que os nutrientes ficam na
superfície do solo, na parte aérea da planta (copa e
galhos) e em seu corpo. Quando as árvores se
encontram distantes uma das outras, o solo permanece
arenoso. Portanto, a retirada brusca da mata não
promoveria uma “desertificação” da Amazônia. O
problema é a freqüência do distúrbio. O solo, apesar de
arenoso e sujeito à lixiviação, conta com o transporte
de nutrientes pela chuva e fumaça, com um grande
banco de sementes e com a alta taxa de chuva.
Se olharmos do alto as copas da floresta,
chamadas tecnicamente de dossel, certamente
imaginaremos troncos muito largos, pois a exuberância
é enorme. No entanto, a pouca luminosidade e a falta
de minerais do solo produzem troncos
proporcionalmente finos em relação às copas. Em
outras palavras, num primeiro momento ocorre um
aumento de nutrientes, mas em seguida, numa
progressão geométrica, a lixiviação aumenta.
Os ecológos costumam estudar as florestas a
partir de uma divisão didática em camadas que vão do
solo ao dossel. Em cada uma dessas camadas, ou
estratos, encontram-se presentes diferentes espécies.
Dica da professora
Se você se fez esta pergunta, muito bem! Sinal de que está atento(a). E a resposta é interessante: a solução veio das formigas. Das formigas?! Pois é. Associadas às plantas, que lhes dão abrigo (ninho nos pecíolos e raízes), as formigas conseguem manter um certo nível mineral e de solo nas plantas, ao mesmo tempo em que as protegem de serem comidas por outros animais.
Dica de leitura
Um livro clássico para quem deseja conhecer mais sobre os ecossistemas amazônicos e seu funcionamento é o de FERNANDES, A. G. e BEZERRA, P. Fortaleza: Stylus comunicações, 1990.
Aula 3 | Biomas brasileiros 105
Os insetos, animais conhecidos por estarem
entre os mais adaptáveis do planeta, ocupam todos os
estratos da floresta. Os animais rastejadores que não
conseguem subir locais íngremes, os anfíbios e também
aqueles com capacidade para subir em locais íngremes
exploram os níveis baixos e médios. Os locais mais
altos são explorados por beija-flores, araras, papagaios
e periquitos à procura de frutas, brotos e castanhas. Os
tucanos, voadores de curta distância, exploram as
árvores altas. O nível intermediário é habitado por
jacus, gaviões, corujas e centenas de pequenas aves.
No extrato terrestre estão os jabutis, cotias, pacas,
antas etc. Os mamíferos aproveitam a produtividade
sazonal dos alimentos, como os frutos caídos das
árvores. Esses animais, por sua vez, servem de
alimentos para grandes felinos e cobras de grande
porte.
Mais do que uma floresta, a Amazônia é também
o mundo das águas onde os cursos d’água se
comunicam e sazonalmente sofrem a ação das marés.
A bacia amazônica - a maior bacia hidrográfica do
mundo com 1.100 afluentes - cobre uma extensão
aproximada de 6 milhões de km2. Seu principal rio, o
Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano
Atlântico, lançando no mar, a cada segundo, cerca de
175 milhões de litros de água. Só para dar uma idéia, a
vazão do Amazonas corresponde a 20% da vazão
conjunta de todos os rios da Terra.
Com relação aos animais da região, o maior
deles é o peixe-boi, cujo peso pode alcançar meia
tonelada, com seus 3 metros de comprimento. Tudo na
Amazônia é magno: a sucuri chega a medir 10 metros
de comprimento; o pirarucu (maior peixe de água
doce) dois metros e meio e 250 quilos. Conforme a
ONG Conservation International, existem pelo menos
45.000 espécies de plantas, 1.800 espécies de
Quer saber mais?
De acordo com a organização não-governamental (ONG) internacional WWF, a vida e a reprodução de mais de um terço das espécies existentes no planeta dependem da Amazônia. Porém, como você viu há pouco, apesar dessa riqueza, os ecossistemas locais são frágeis, pois a floresta vive do seu próprio material orgânico, em meio a um ambiente úmido, com chuvas abundantes. Seu equilíbrio pode ser facil e gravemente afetado.
Aula 3 | Biomas brasileiros 106
borboletas, 3.000 espécies de abelhas, 1.300 espécies
de peixes de água doce, 163 espécies de anfíbios, 14
espécies de quelônios, 4 espécies de jacarés, 89
espécies de lagartos, 305 espécies de serpentes, 1.000
espécies de aves e 311 de mamíferos. A maioria das
espécies não está amplamente distribuída na região. Ao
contrário, elas se concentram em algumas áreas. O
quer dizer que, quando alguém compara duas ou mais
localidades dentro da região, encontra espécies
diferentes. As mais ameaçadas são a onça e o mogno.
Nesta rica floresta, encontram-se 2.500 espécies
de árvores (o que significa um terço da madeira tropical
do globo) e 30 mil das 100 mil espécies de plantas
existentes em toda a América Latina. A vitória-régia,
um dos símbolos amazônicos, é a maior flor do mundo,
podendo chegar a 2 metros de diâmetro.
Assim, o uso dos recursos florestais tem sido
visto estrategicamente para o desenvolvimento da
região. Como afirma a ONG WWF, as estimativas de
estoque indicam um valor de não menos que 60 bilhões
de metros cúbicos de madeira em tora de valor
comercial, ou seja, a maior reserva de madeira tropical
do mundo. Além dos grandes estoques de madeira, a
região também é privilegiada em termos de borracha,
castanha, peixe, minérios e outros. Tem uma baixa
densidade demográfica (2 habitantes por km2) e sua
urbanização é crescente.
Uma das maiores contribuições de sua
população é a riqueza cultural, que inclui o
conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de
explorar esses recursos sem esgotá-los nem destruir o
habitat natural. Mas os baixíssimos índices sócio-
econômicos, os obstáculos geográficos, a falta de infra-
estrutura e tecnologia elevam o custo da exploração.
Quer saber mais?
Em termos de problemas, a atividade agrícola não-sustentável, com queimadas, desmatamento e assentamentos em áreas preservadas, e a extração madeireira, além de obras viárias e outras de grande porte, como barragens e usinas, continuam sendo
campeãs, sobretudo porque os estoques asiáticos de madeira começam a se esgotar.
Aula 3 | Biomas brasileiros 107
No caso da agricultura, inúmeros imigrantes
chegaram à região, principalmente a partir dos
incentivos governamentais da década de 1940,
trazendo métodos inadequados de cultivo às
características regionais. A retirada de cobertura
florestal do solo pobre leva a uma drástica diminuição
da produtividade após dois ou três anos de plantio, o
que faz com que pequenos agricultores se mudem para
outras áreas de colonização mais para o interior da
mata, repetindo o ciclo de desmatamento, queima e
cultivo, bem como a degradação do solo, tal como
antes aconteceu com a Mata Atlântica. Esse tipo de
ocupação já promoveu a eliminação de
aproximadamente 550 mil km2 de floresta.
Segundo o WWF, o Governo, em relatório
elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos -
ligada à Presidência da República - reconhece que 80%
da produção madeireira da Amazônia provêm da
exploração ilegal. Existem 22 conhecidas madeireiras
estrangeiras em operação local e pouco se fiscaliza sua
produção e área explorada. O desperdício da madeira,
que gira entre 60% e 70%, agrava ainda mais a
situação – sendo que apenas trabalhando com o
manejo florestal a perda se reduziria em quase 50%.
Apesar de nossa moderna legislação ambiental,
a insuficiência de pessoal dedicado à fiscalização, as
dificuldades em monitorar grandes áreas de difícil
acesso, a fraca administração das áreas protegidas e a
falta de envolvimento das populações locais contribuem
para a degradação da floresta.
Pesquisas e a prática demonstraram que a
exploração sustentável da floresta na Amazônia é muito
mais rentável e geradora de empregos do que outras
atividades que têm sido priorizadas pelos sucessivos
governos, como a agropecuária. É um problema em
parte devido ao tratamento setorial dispensado à
Importante
Outro problema bastante conhecido é a atividade mineradora, cujas graves
conseqüências incluem a erosão do solo, a contaminação dos rios com mercúrio e o decorrente envenenamento das cadeias alimentares, em cujo topo freqüentemente encontra-se o próprio ser humano.
Aula 3 | Biomas brasileiros 108
Amazônia, que sequer considera a informação gerada
pelos próprios técnicos governamentais.
A tradição governamental de desenvolver
megaprojetos de infra-estrutura na Amazônia
incrementa a degradação ambiental, com o agravante
de sequer beneficiar os habitantes. Um exemplo disso
são as grandes usinas hidrelétricas, como Balbina, ao
norte de Manaus, que demonstrou sua inviabilidade
econômica e ecológica em todo o mundo.
Segundo cálculos da WWF, mais de 12% da área
original da Floresta Amazônica já foram destruídos
devido a políticas governamentais inadequadas,
modelos inapropriados de ocupação do solo, ocupação
desorganizada e uso não-sustentável dos recursos
naturais. Pelas estimativas oficiais, até 2020 a
Amazônia terá perdido 25% de sua cobertura nativa.
Apesar de todos os problemas, em comparação
com os demais biomas brasileiros, a Amazônia é o que
detém o maior número de áreas de proteção integral
(26) e o maior percentual de florestas oficialmente
protegidas (3,2% da área total do bioma). Falta, no
entanto, a proteção sair do papel, pois apenas 0,38%
da área dos parques e reservas está minimamente
protegida de fato.
MATA ATLÂNTICA
A origem da Mata Atlântica é curiosa. O que se
sabe hoje é que houve uma separação entre ela e a
mata amazônica, mas há intensa correlação entre as
espécies – o que sugere uma ligação anterior entre as
duas florestas. A Floresta Atlântica é considerada
relíquia paleobotânica, uma representante de épocas
pré-históricas, resultante de um tempo geológico em
que as araucárias predominavam no Brasil, um período
Para navegar
No site da Conservation International http://www.conservation.org.br/onde/amazonia/index.php você poderá encontrar informações sobre as áreas protegidas da Amazônia e sobre os corredores do Amapá, Central, Sul-Amazônico e Ecótones Sul-Amazônicos.
Aula 3 | Biomas brasileiros 109
em que aqui fazia muito frio. Hoje as araucárias se
encontram no sul do país. Muitos cientistas propõem
que elas sejam um elemento de transição num
processo de sucessão ainda não terminado.
O bioma atlântico tem muitas epífitas (aquelas
plantas que crescem em cima de outras sem prejudicá-
las, como as orquídeas e bromélias) e cipós, o que não
existe na Amazônia. Se considerarmos a quantidade
absoluta (total) de espécies a floresta amazônica é
mais rica do que a Mata Atlântica. Contudo, quando se
observam manchas endêmicas ou se considera por
área, a Mata Atlântica ganha. A Amazônia possui
apenas dois terços do que a Mata Atlântica tem em
diversidade. Por quê?
Uma curiosidade que ilustra a grande
biodiversidade do bioma e sua riqueza pontual resulta
do estudo de 1993, realizado por técnicos do Jardim
Botânico de Nova Iorque, segundo o qual a região da
Reserva Biológica de Una, no sul da Bahia, possui a
maior diversidade de árvores do mundo, com 454
espécies diferentes num só hectare de floresta. Outro
recorde em uma amostra de mesmo tamanho fica com
o estado de Espírito Santo: 476 espécies na região
serrana. Para a Conservação Internacional, há
indicadores de que o bioma possui cerca de 20 mil
espécies vegetais, metade delas endêmicas. Além
disso, mais de 2/3 dos primatas também são espécies
endêmicas e ameaçadas de extinção.
A proximidade do oceano exerce influência
decisiva nas características da Mata Atlântica. Existe
uma variação fisionômica muito grande, devido ao seu
relevo diversificado (planície, planalto, serra...).
Partículas arenosas e ventos úmidos intensos são
comuns nesta mata. Até 700m a Floresta Atlântica
pode ser classificada de baixo-montana e de lá até
1600m recebe o nome de alto-montana. Quanto mais
Quer saber mais?
Neste momento de nosso estudo, verificamos que um dos fatores importantes é o clima, pois o gradiente latitudinal é muito maior ao
longo da Floresta Atlântica, já que ela se estende por toda a costa do país. Outro fator é o relevo. Na Mata Atlântica há uma variação de 0 a 1600 metros, enquanto que a Amazônia é uma grande planície.
Para navegar
Para saber mais informações sobre a Mata Atlântica, inclusive acessando um atlas brasileiro da mesma, vale a pena consultar o site da ONG SOS Mata Atlântica. http://www.sosmatatlantica.org.br/
Aula 3 | Biomas brasileiros 110
alto, mais seco e com solo mais pobre. Mesmo havendo
locais mais altos do que 1600m já não há floresta
densa mais. Só campos e algumas poucas plantas.
Mas onde fica essa mata? Ela abrange a faixa
litorânea e o sistema topográfico altitudinal, formando
duas subprovíncias – a litorânea ou costeira e a serrana
ou driádica. Na região serrana a mata se divide em
Cordilheira Marítima e Planalto Meridional. Em
esquema:
Em cada setor destes, o bioma se comporta de
modo diferente, devido às condições locais. Abriga
distintos ecossistemas e sistemas de transição. Nas
encostas o clima está sujeito às frequentes chuvas
orográficas, enquanto no interior o clima vai ficando
mais seco, podendo até ocorrer temporadas de seca.
Numa mesma encosta podemos encontrar matas
decíduas e semidecíduas. A altitude promove a
formação de vários andares de vegetação, sendo que
nos mais altos encontramos os campos rupestres
(plantas anãs sobre rochas ou em solo raso e pobre) e,
nos mais baixos, as matas de transição. Nesta situação
a altitude se sobrepõe à latitude quanto à influência. Na
porção mais baixa estão as matas pluviais.
No Planalto Meridional podem ser encontradas
matas de araucária, florestas e matas subtropicais. A
mata de araucária é uma mata de borda, uma fase de
transição da Mata Atlântica, como dissemos. Imagina-
se que a Mata Atlântica chegou ao sul do país graças às
araucárias. “Mas como assim?”, você deve estar se
Mata Atlântica
Cordilheira Marítima Planalto Meridional
Faixa litorânea (subprovíncia litorânea)
Sistema topográfico de altitude (subprovíncia serrana)
Aula 3 | Biomas brasileiros 111
perguntando. Supõe-se que a gralha azul tenha
disseminado pinhões (as “sementes” das araucárias)
pelo campo, onde a Mata Atlântica não conseguia
avançar. Como a araucária necessita de muita luz
cresceu abundantemente. À medida que a floresta
amadureceu ampliou o sombreamento e isso permitiu o
crescimento de um sub-bosque, que por sua vez,
possibilitou o desenvolvimento da Floresta Atlântica.
Inversamente, a floresta de araucária foi
desaparecendo conforme a Mata Atlântica se instalava.
Vale a pena recordar o processo de sucessão vegetal
para entender melhor isso.
Na Planície Litorânea pode-se ver a restinga, que
é uma vegetação arbórea mais baixa e espaçada, com
ar de seca, devido ao solo, que é arenoso e salino. A
restinga não chega a ser um ecossistema. Ela é um
ecótone (sistema de transição) de Mata Atlântica,
resistente às áreas secas devido à proximidade do mar.
O sal torna o ambiente árido. Pode-se perceber um
gradiente de desaparecimento de vegetação,
começando pelas espécies mais sensíveis à dessecação.
No encontro das águas dos rios com as do mar
podemos observar, no terreno plano que antecede o
acontecimento, uma grande floculação, que acaba por
formar um solo lodoso (manguezal) em que se
desenvolvem gramíneas e rizóforas.
Manchas de Cerrado avançam para a Mata
Atlântica na região sul e sudeste, apesar de serem
quase que insignificantes. As florestas interiores
também podem ser classificadas conforme o grau de
inundação (matas brejosas, ripárias etc).
Considerando que a maior parte da população
brasileira vive na costa litorânea e que historicamente a
agricultura regeu a economia do interior do país, não é
de se admirar que este tenha sido um dos mais
::rizóforas:
Raízes que crescem horizontalmente com geotropismo negativo, possibilitando as trocas gasosas e servindo de suporte a colônias de algas marinhas. Próximo às plantas-mãe desenvolvem-se as sementes que germinam na raiz da mãe, caindo em seguida no solo.
Dica da professora
Consulte as aulas anteriores e lembre-se que as plantas mais resistentes e de vida mais curta costumam ocupar um novo espaço primeiro. Em seguida, os nutrientes que elas deixam no solo e a sombra que proporcionam favorecem a chegada de outras plantas, menos resistentes, porém mais duradouras.
Aula 3 | Biomas brasileiros 112
degradados biomas brasileiros. Só para dar uma idéia,
o estado do Rio possuía, em 1995, Mata Atlântica em
21% de seu território. Até 1998, passou a 16,7%12
(Jornal do CRBio-1, nov.1998).
A velocidade de recuperação da Mata Atlântica é
bem maior do que a de outros biomas porque o solo é
melhor (gnaisse, rochas cristalinas). Mas muitas
espécies já se extinguiram e o solo está em processo
acelerado de erosão. Imponentes árvores são vistas no
que ainda resta deste bioma, como o jequitibá-rosa,
que pode chegar a impressionantes 40 metros de altura
e 4 metros de diâmetro. Outras espécies vegetais
famosas deste bioma são o pinheiro-do-paraná (ou
araucária), o cedro, as figueiras, os ipês, a braúna e o
pau-brasil, entre outras. Mas a fauna costuma ser o
que mais impressiona na região. De acordo com o
WWF, a maior parte das espécies de animais brasileiros
ameaçados de extinção são originários da Mata
Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-
pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Mas
há outros animais que vivem na região, como gambás,
tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, quatis,
diversas espécies de serpentes e de peixes que habitam
os pequenos riachos que permeiam as áreas
florestadas. Muitos deles orientam-se pela visão para
localizar alimento ou parceiros reprodutivos, sendo
incapazes de sobreviver em águas turvas ou claras,
sujeitas à forte luminosidade de corrente da remoção
da floresta. Da mesma forma a retirada da floresta
rompe com a imprescindível manutenção de
temperaturas amenas nos riachos e no solo.
Conforme Elizabeth Höfling
(http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/mei
oamb/arprot/tombadas/pnacion), além dos tapetes de
12
Dados divulgados pela SOS Mata Atlântica, que vem acompanhando há cerca de 15 anos a degradação
ambiental em 17 estados. O estudo foi feito com fotos de satélite fornecidas pelo INPE (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais).
Quer saber mais?
A seguir, destacamos alguns Parques Nacionais que você encontrará Mata Atlântica: Pq. Nac. de Aparados da Serra Pq. Nac. do Caparaó Pq. Nac. de São Joaquim Pq. Nac. da Serra da Bocaina Pq. Nac. da Serra Geral Pq. Nac. do Iguaçu Pq. Nac. da Serra do Cipó Pq. Nac. do Superagui
Aula 3 | Biomas brasileiros 113
musgos e inúmeros fungos, a Floresta Atlântica
também é muito rica em lianas e epífitas, sendo que as
folhas dispostas em roseta das bromélias retêm sempre
certa quantidade de água, formando um habitat
propício ao desenvolvimento de uma fauna particular,
como por exemplo a de larvas e adultos de várias
espécies de artrópodes e de sapos. Para a autora citada
a fauna nesta floresta é predominantemente ombrófila,
isto é, adaptada à sombra e pouco tolerante às
variações de umidade, temperatura e insolação. O que
significa que a derrubada das matas atinge em cheio
muitas espécies.
A Mata Atlântica, Patrimônio Nacional de acordo
com a Constituição, cobria originalmente mais de 1,3
milhão de quilômetros quadrados do território
brasileiro. Um número tão imenso como este
apresenta dificuldade até para imaginarmos o que
significa. Por isso, a ONG Conservação Internacional fez
os cálculos em termos de áreas de países: o tamanho
original deste bioma corresponderia a uma extensão de
duas vezes o tamanho da França e mais de três vezes o
território da Alemanha. Consulte um mapa, vale a
pena!
Importante
Além da riqueza em vertebrados, há também uma presença marcante de invertebrados, principalmente artrópodes. Muitas espécies, porém, são ainda desconhecidas pela ciência. A julgar pela velocidade da degradação correm o risco de sequer serem descobertas e estudadas. Hoje, o pau-brasil e o mico-leão dourado são consideradas as espécies mais
ameaçadas.
Aula 3 | Biomas brasileiros 114
Na época do descobrimento e nos séculos que se
seguiram sua exuberância marcou profundamente a
imaginação dos europeus, assim como dos colonos, que
a tinham na conta de algo inesgotável. Esta visão, que
ainda sobrevive nos dias de hoje, contribuiu para sua
destruição.
A mata se estendia total ou parcialmente por
dezessete estados, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande
do Norte, originalmente com uma largura variável, que
atravessava as atuais fronteiras com Argentina e
Paraguai.
Hoje, cerca de 92% de sua área original foi
desmatada, restando menos de 8% – distribuídos em
áreas dispersas e fragmentadas. Este fato é o que
acarreta o maior problema, pois a recuperação torna-se
muito mais difícil com a fragmentação. Tanto assim,
que um investimento freqüente e considerado
prioritário atualmente é a formação de corredores
ecológicos e corredores de biodiversidade.
Além de ser um dos biomas mais ricos do
mundo em biodiversidade, esta floresta é fundamental
para os mais de 120 milhões de brasileiros que vivem
em seu domínio. De acordo, com o boletim da
Universidade Livre da Mata Atlântica
(http://www.wwiuma.org.br), na área de abrangência
da floresta é gerado mais de 70% do Produto Interno
Bruto (PIB). Além disso, a Mata Atlântica presta
inestimáveis serviços ambientais, principalmente
relacionados à conservação da água. Abrange as bacias
dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul, Doce,
Jequitinhonha e São Francisco. Algumas de suas bacias
hidrográficas abastecem a maior parte da população
brasileira.
Importante
Este é um alerta para os educadores ambientais. Ao trabalhar com a sensibilização,
informação e mesmo com a educação ambiental propriamente dita convém investigar qual a percepção ambiental das pessoas envolvidas no trabalho. Mais do que a informação, é a percepção dos sujeitos que move suas ações.
Para navegar
Você pode consultar mais detalhes sobre isso nos sites da Conservação Internacional e da Associação Mico-Leão Dourado: http://www.conservation.org.br/onde/mata_atlantica/index.php www.micoleao.org.br
Aula 3 | Biomas brasileiros 115
O impacto sofrido pela Floresta Atlântica foi
favorecido por sua localização, que facilitou a
exploração sucessiva através dos diversos ciclos
econômicos brasileiros – pau-brasil, cana-de-açúcar,
ouro, café, extração de madeira. Além de abrigar a
maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a
área originalmente coberta pela floresta concentra os
grandes pólos industriais, petroleiros e portuários do
país.
Diversas instituições, entre ONGs, universidades
e governo, têm trabalhado pela conservação e
recuperação da Mata Atlântica, enfrentando duas
dificuldades básicas: a) a forte pressão das atividades
econômicas; e b) o fato de ainda conhecermos pouco
sobre a biodiversidade do bioma.
Várias estratégias e ações prioritárias para
conservar a Mata Atlântica já foram criadas. É preciso
mobilizar os vários setores da sociedade
para efetivamente alcançarmos este objetivo. Uma das
fontes de referência para o estado do bioma é o atlas
dos remanescentes florestais da Mata Atlântica, criado
pela Fundação SOS Mata Atlântica juntamente com o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Desde
1989, ambos vêm mapeando e monitorando os
remanescentes florestais e ecossistemas associados do
bioma, utilizando recursos e tecnologias da área da
informação, sensoreamento remoto e
geoprocessamento para produção de informações
permanentemente atualizadas. O primeiro
mapeamento, em 1990, contou com a participação do
IBAMA e tornou-se referência para pesquisas
relacionadas ao tema.
O CERRADO E A CAATINGA
A extensa região central do Brasil compõe-se de
Aula 3 | Biomas brasileiros 116
um mosaico de tipos de vegetação, solo, clima e
topografia bastante heterogêneos.
O bioma aparenta uma “savana tropical”,
coexistindo sua vegetação herbácea com mais de 420
espécies de árvores e arbustos esparsos. Já a Caatinga,
que em tupi quer dizer Mata Branca (em referência à
vegetação sem folhas que predomina durante a época
de seca), ocupa quase 10% do território nacional, com
736.833 km², abrangendo os estados do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe,
Alagoas, Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas
Gerais.
O Cerrado caracteriza-se por suas diferentes
paisagens, que vão desde o cerradão (com árvores
altas, densidade maior e composição distinta),
passando pelo cerrado mais comum no Brasil central
(com árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado,
campo sujo e campo limpo (com progressiva redução
da densidade arbórea).
O Cerrado, denominação genérica do bioma,
forma-se (no sentido da sucessão ecológica) a partir do
campo limpo, que evolui para campo sujo, torna-se
cerrado senso estrito e finalmente cerradão (formação
mais florestal). Cada etapa destas pode se desenvolver
ou não, de acordo com as condições do solo e as
perturbações (fogo, corte) que ocorram. O bioma como
um todo compreende todas estas variadas formas de
apresentação, sendo que o formato savânico dos
campos sujos e cerrado senso estrito constituem
ecossistemas de transição (ecótones) entre os
extremos do campo limpo (onde só econtramos
vegetação herbácea) e da formação florestal do
cerradão.
O cerrado propriamente dito se diferencia do
campo limpo por sofrer queimadas e outros distúrbios e
Quer saber mais?
Neste cenário, o cerrado, enquanto formação vegetal brasileira, ocupa o segundo lugar em tamanho de área, somente superado pela Floresta Amazônica. São 2 milhões de km2 espalhados ao longo de 10 estados, aproximadamente 23% do território brasileiro.
Quer saber mais?
É deste modo que se formam as chapadas. Com a laterização há o impedimento do processo erosivo prosseguir na camada superior. No entremeio das chapadas, onde os terrenos continuaram sendo erodidos, situam-se os rios, entre eles os principais rios das bacias Amazônica, da Prata e do São Francisco.
Aula 3 | Biomas brasileiros 117
por possuir um solo sujeito à ação físico-química tóxica
do alumínio e do ferro. A profundidade do solo
relaciona-se ao local onde se situa o terreno, à
exposição maior ou menor aos ventos e à antiguidade
desta exposição. Ferro e alumínio só aparecem após
larga exposição à erosão, e, assim, formam-se como
que tijolos (as lateritas) cimentando o solo (areia, ferro
e alumínio), em uma situação irreversível.
Das cabeceiras até as proximidades do mar, os
rios com nascente na região da Caatinga permanecem
secos por cinco a sete meses do ano, exceto o canal
principal do São Francisco, que mantém seu fluxo
através dos sertões, com águas trazidas de outras
regiões. Quando chove, no início do ano, a paisagem
muda muito rapidamente: árvores revestem-se de
folhas, no solo pequenas plantas germinam, a fauna
volta a engordar. São quase 20 milhões de brasileiros
vivendo nos cerca de 800 mil km2 de área da Caatinga.
Quando não chove, os sertanejos precisam caminhar
quilômetros em busca da água dos açudes. A
irregularidade climática é um dos fatores que mais
interferem na vida destas pessoas. Mesmo quando há
chuva, o solo pedregoso não armazena a água, logo
evaporada pela alta temperatura local. Na estação seca
a temperatura do solo pode chegar a 60ºC.
A característica vegetação pequena e retorcida
do cerrado não se deve à falta de água, mas à pobreza
mineral do solo, ocasionada pelo tipo de erosão, tempo
de sujeição a ela, lixiviação e também pela presença
dos semi-óxidos já citados (ferro e alumínio). É o
oposto do que ocorre na caatinga, cujo solo é rico,
contudo sofre pela falta d´água. A caatinga é região de
clima semi-árido e solo raso e pedregoso, embora
relativamente fértil. Como o cerrado é rica em recursos
genéticos, devido a sua alta biodiversidade e apresenta
três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5
Importante
As lateritas trazem um agravante à pobreza do solo do Cerrado: indisponibilizam os outros elementos para a planta, como fósforo, enxofre e principalmente nitrogênio, implicando diretamente numa menor altura da vegetação. Com isso, a formação não se desenvolve para florestas.
Aula 3 | Biomas brasileiros 118
metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros).
As plantas do cerrado possuem raízes muito
profundas, de maneira que a diminuição do lençol
freático nas épocas secas não constitui problema,
exceto para as herbáceas. Com essa grande
disponibilidade de luz e água a taxa de fotossíntese
mantém-se num alto nível. De modo que pode haver
problema de crescimento primário, mas não secundário
– o acúmulo de carbono forma uma casca grossa e
espinhos. Quando retiradas desse ambiente diversas
espécies se desenvolvem diferentemente, apresentando
cascas lisas, delgadas, maior altura, o que revela que
possuem um potencial para mais do que podem
expressar nestas condições de restrição ambiental. Isso
significa que há plantas que são obrigatoriamente do
Cerrado, mas há outras que são facultativas.
Na Caatinga, ao longo de milhares de anos de
processo evolutivo, houve uma perda do formato
convencional das folhas. As plantas adotaram uma
versão mais econômica para se proteger da aridez, que
permite economizar água, sem perder a capacidade de
fazer fotossíntese: formatos finos ou de espinhos. Esse
aspecto agressivo da vegetação contrasta com o
colorido diversificado das flores que surgem no período
das chuvas. Algumas armazenam água, como os
cactos. Estas costumam ser plantadas para armazenar
água e alimentar o gado. Outras se caracterizam por
terem raízes praticamente na superfície do solo para
absorver a chuva ao máximo.
Mas apesar da aridez e de seus rios serem
temporários (exceto o São Francisco), a caatinga
surpreende com seus brejos, que rompem com o
cenário uniforme dos sertões. Nessas ilhas é possível
produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares
aos trópicos do mundo. Geralmente, são áreas
Quer saber mais?
Também são encontrados no cerrado elementos de solo recentes, que foram transportados pelo vento ou pela chuva. São as regiões de cerradões.
Aula 3 | Biomas brasileiros 119
localizadas próximo às serras, onde as chuvas são mais
generosas.
O cerrado de campo aberto tem este formato
por ter sofrido intensos distúrbios, como fogo. A
queimada pode até contribuir para liberar nutrientes
presos em folhas e caules podres, além de transportar
outros pela fumaça. Também pode prestar serviços
como a quebra de dormência de certas sementes e a
liberação de hormônios vegetais. Os troncos costumam
ser fortes e resistentes ao fogo, sendo comum a
rebrota pelas gêmulas. Existem gemas apicais (no topo
da planta) e gemas laterais. Sempre que a gema lateral
é atingida (por corte, fogo ou outro revés qualquer) a
gema apical entra em ação e a planta passa a crescer
mais por ali. O mesmo se passa quando a gema apical
é afetada. As laterais passam a funcionar a todo vapor
e neste caso a planta cresce mais para os lados. Com
as queimadas e com a herbivoria, ora uma é atingida,
ora outra. De modo que a planta acaba tendo um
crescimento irregular e torto.
É preciso cuidado quando se faz uma queimada
intencionalmente no Cerrado, verificando aspectos
como: período adequado, tipo de vegetação, proteção
aos tecidos vegetais nobres (como os meristemas). No
final do período de seca a planta se prepara para a
chuva (ou seja, as gemas começam a crescer). Uma
queimada neste momento é prejudicial.
Ao longo dos rios do Cerrado há fisionomias
florestais, conhecidas como florestas de galeria ou
matas ciliares. A heterogeneidade proporciona o
aparecimento de muitas comunidades de mamíferos e
de invertebrados. Mas na região a relevância maior fica
para a diversidade de microorganismos, tais como
fungos associados às plantas da região.
Quer saber mais?
Dormência é o processo semelhante a uma hibernação, que ocorre com sementes. Neste período a semente não consome quase nada de nutrientes e água. Para sair da letargia e iniciar o crescimento a semente precisa passar por um choque que varia conforme a espécie: fogo, ação de sucos digestivos, pancadas entre outros.
Aula 3 | Biomas brasileiros 120
De acordo com a Conservação Internacional, por
fazer fronteira com outros importantes biomas, (a
Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a
sudoeste e a Mata Atlântica a sudeste) a fauna e flora
do Cerrado são extremamente ricas. Como aponta o
WWF, o Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado
por três das maiores bacias hidrográficas da América do
Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), o que favorece
uma biodiversidade surpreendente: 10 mil espécies de
plantas (muitas usadas na produção de cortiça, fibras,
óleos, artesanato, além do uso medicinal e alimentício),
180 espécies de répteis, 195 de mamíferos, incluindo
30 espécies de morcegos já catalogados na área. Sem
falar nas 759 espécies de aves que se reproduzem na
região. Os insetos são marcantes: considerando apenas
a área do Distrito Federal podemos encontrar 90
espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500
tipos diferentes de abelhas e vespas, segundo cálculos
do WWF. Espécies ameaçadas como a onça-pintada, o
tatu-canastra, o lobo-guará, a águia-cinzenta e o
cachorro-do-mato-vinagre, entre muitas outras, ainda
têm populações significativas no Cerrado. Existe uma
grande quantidade de bichos que só aparecem nas
lagoas temporárias. Deixam seus ovos e quando a
lagoa aparece de novo os ovos eclodem. Há sapos que
permanecem enterrados até que chova. Como há muito
calcário existem inúmeras cavernas, quase sempre com
rios subterrâneos.
No caso da Caatinga, são erros comuns referir-
se à sua biodiversidade enquanto homogênea, pobre
em espécies e em endemismo. O bioma inclui pelo
menos uma centena de diferentes tipos de paisagens
únicas. Algumas das espécies mais comuns da região,
conforme as pesquisas do WWF, são a amburana,
aroeira, umbu, baraúna, maniçoba, macambira,
mandacaru e juazeiro. Em termos de fauna podemos
citar o sapo-cururu, asa-branca, cotia, gambá, preá,
Quer saber mais?
Cerrado é o nome regional dado às savanas brasileiras. Cerca de 85% do grande platô que ocupa o Brasil Central era originalmente dominado pela paisagem do cerrado, representando cerca de 1,5 a 2 milhões de km2, ou aproximadamente 20% da superfície do País. O clima típico da região dos cerrados é quente, semi-úmido e notadamente sazonal, com verão chuvoso e inverno seco. A pluviosidade anual fica em torno de 800 a 1600 mm.
Os solos são geralmente muito antigos, quimicamente pobres e profundos. Para outras informações consulte o site: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/ecossist/cerrado/apresent.htm
Aula 3 | Biomas brasileiros 121
veado-catingueiro, tatu-peba e o sagüi-do-nordeste,
entre outros. Cerca de 327 espécies animais são
endêmicas (exclusivas) da Caatinga. Uma área mais
conservada pode abrigar até 200 espécies de formigas,
enquanto nas mais degradadas há de 30 a 40.
Em ambos os biomas há uma grande quantidade
de cactáceas e mata secundária, além de muito lagedo.
As árvores são espinhosas e de flores murchas de vida
noturna. A reprodução da flora no Cerrado é
predominantemente vegetativa, recebendo o auxílio de
cupinzeiros, que mantém as sementes úmidas.
Com a intensa evaporação da água, resta sal
nas plantas, lambido pelos animais. A irrigação em
lugares desse tipo traz uma grande salinização do solo
porque a água evapora logo. Alternativas seriam a
utilização de menos água, a combinação com a
drenagem ou a lavagem do solo (processo mais caro).
Geologicamente, num tempo futuro, o Cerrado
poderá dar lugar a uma formação florestal mais densa
(por substituição), porque com o adensamento da
vegetação gera-se uma serrapilheira (mesmo que
pequena), húmus, sombra e, portanto, um microclina
adequado para a instalação de sementes de locais mais
sombreados ou úmidos.
O solo do Cerrado no Planalto Central tem sido
freqüentemente utilizada para a agricultura, por ser
plano e ter uma vegetação mais aberta que a da
floresta, o que a torna facilmente derrubável. Além da
agricultura, outra atividade econômica nos Cerrados é a
coleta de flores.
No site da Conservação Internacional (CI) há um
alerta sobre a ameaça ao ambiente de Cerrado, uma
das maiores do mundo. De acordo com especialistas da
Quer saber mais?
A caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente brasileiro. Isto significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em outro lugar do mundo além de no Nordeste do Brasil. A caatinga ocupa
cerca de 7% do território brasileiro. Estende-se pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais. A área total é de aproximadamente 1.100.000 km². Para outras informações consulte o site: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./natural/biomas/caatinga.html
Aula 3 | Biomas brasileiros 122
CI, dos mais de 2 milhões de hectares de vegetação
nativa restam apenas 20%, pressionados pela
expansão crescente da atividade agropecuária. Seus
estudos indicam que o Cerrado corre o risco de
desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares
originais, 57% já foram completamente destruídos,
estando metade das áreas remanescentes bastante
alteradas, de modo que talvez não mais possam
manter a biodiversidade original. A taxa de
desmatamento do Cerrado é altíssima, chegando a
1,5% ou três milhões de hectares/ano (ou 2,6 campos
de futebol/minuto).
Considera-se a caatinga como único bioma
exclusivamente brasileiro. Ou seja, seu patrimônio
biológico só é encontrado no nordeste brasileiro.
Mesmo assim, o bioma não tem recebido atenção ao se
discutir políticas para o estudo e conservação da
biodiversidade brasileira. Trata-se de um equívoco
atribuir-lhe um estado de pouca alteração. Na verdade,
a Caatinga é o ambiente mais alterado de que se tem
notícia. Foi muito ocupada anteriormente por índios.
Cerca de metade da paisagem de Caatinga,
conforme dados do WWF, já foi deteriorada pela
sociedade atual. De 15% a 20% do bioma estão em
alto grau de degradação. Vive na Caatinga, nos
arredores de Canudos (BA), a segunda ave mais
ameaçada do país, a arara-azul-de-lear
(Anodorhynchus leari), com uma população menor que
150 exemplares, um décimo do ideal no caso de aves
como estas, que demoram a se reproduzir. Algumas
diferenças podem ser evidenciadas entre Cerrado e
Caatinga:
Para navegar
Não deixe de consultar na internet o site da Conservação Internacional. Site: http://www.conservation.org.br/onde/Cerrado
Aula 3 | Biomas brasileiros 123
Cerrado Caatinga
Estação seca longa Grande período seco
Estação chuvosa marcada
(março/abril)
Chuva irregular e muito
concentrada num espaço
de tempo curto
Solo muito poroso e
lixiviado, rico somente a
partir dos 2m de
profundidade – daí as
raízes longas da vegetação
Solo curto,
comproximidade da rocha
matriz
Lençol freático mais raso Lençol freático mais
profundo
Erosão intensa e antiga Rocha pouco erodida
O PANTANAL
O Pantanal detém o título de maior planície
continental inundável do mundo (aproximadamente
210 mil km2 espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai).
Esta área equivale aos países Bélgica, Suíça, Portugal e
Holanda juntos. O bioma abriga uma das maiores
concentrações de vida silvestre do planeta, destacando-
se pela riqueza de sua fauna.
No Brasil, os 140 mil km2 do pantanal
distribuem-se pelos estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, que concentram cerca de 70% do
bioma. O restante espraia-se em região internacional
onde recebe o nome de Gran Chaco. Com altitudes
variando entre 100 e 200m a planície inundável do
pantanal é circundada no Brasil pelo planalto cristalino
coberto de Cerrado na chamada “depressão paraguaia”.
Chuvas fortes são comuns, contribuindo com o
alagamento peródico proporcionado pelos inúmeros
córregos permanentes (corixos) e temporários
(vazantes) entremeados de lagoas e leques aluviais.
Nas partes mais baixas do terreno as águas são
contínuas, chegando a 3m de profundidade. Nas cheias
estes corpos d´água comunicam-se e mesclam-se com
Você sabia?
De modo geral, as chuvas são mais freqüentes nas cabeceiras dos rios, que depois
deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro), sobe o nível de água do Rio Paraguai, provocando as inundações. Paralelamente, o processo de repete com os afluentes, que atravessam 700 km de território brasileiro. Sem encontrar uma saída, as águas se espalham e cobrem vastas extensões (2/3 do pantanal), até despejarem-se, centenas de quilômetros adiante, no encontro entre o rio e o Oceano Atlântico, já fora do território brasileiro. Nesse enorme mar de água doce crescem milhares de peixes, os pequenos servindo de alimento a espécies maiores ou a aves e mamíferos.
Aula 3 | Biomas brasileiros 124
as águas do Rio Paraguai, renovando e fertilizando a
região. Já nas regiões distantes dos rios as inundações
só atingem os trechos de depressão – baías – que
podem variar de centenas de metros a 10 km de
diâmetro (os chamados largos). As elevações do
terreno, chamadas localmente de “cordilheiras”,
separam as baías. As grandes lagoas que se formam
podem ser salgadas (salinas). Na vazante, grande
quantidade de peixes fica retida nestas lagoas ou baías,
servindo abundantes refeições, durante meses, para
aves e animais carnívoros (jacarés, ariranhas e outros).
Com a vinda da estiagem, secam e tornam-se
barreiros.
Chuva e seca alternam-se no clima tropical do
lugar, cabendo às chuvas o período de novembro a
abril, tal como no cerrado. O equilíbrio do bioma
depende, fundamentalmente, do fluxo de entrada e
saída de enchentes ocasionadas de acordo com o
regime pluvial.
As cheias anuais dos rios da região atingem
cerca de 80% do Pantanal, afastando parte da
população rural que migra temporariamente para as
cidades ou vilas.
Com a vazante, as águas começam a baixar
lentamente. Aos poucos, nas lagoas, já bem rasas,
peixes como o dourado, pacu e traíra podem ser
apanhados com as mãos. O solo, por ser muito
permeável, permite o desaparecimento dos rios em
secas prolongadas. Mas quando o terreno volta a secar
permanece, sobre sua superfície, uma fina camada de
lama humífera (mistura de areia, restos de animais e
vegetais, sementes e húmus) propiciando grande
fertilidade ao solo.
Em função desta localização geográfica
privilegiada, que une características do cerrado, da
Aula 3 | Biomas brasileiros 125
Floresta Amazônica e dos terrenos alagadiços do Chaco
paraguaio, enorme variedade de espécies animais e
vegetais povoa o pantanal. Pelas contas de algumas
organizações internacionais, no bioma pantaneiro
convivem cerca de 3.500 espécies de plantas, a
absurda quantidade de 1.132 espécies de borboletas,
656 de aves (enquanto em toda América do Norte
existem cerca de 500), 124 de mamíferos, 177 de
répteis e 41 de anfíbios. Já foram registradas 325
espécies de peixes de água doce, mas novas espécies
regularmente têm sido descobertas.
E junto com os peixes vêm os pescadores. A
cada ano o Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas,
65% dos quais são pescadores.
Aproximadamente 80% do Pantanal está bem
conservado, abrigando numerosas populações de
grandes mamíferos, aves, peixes e répteis. A adoção da
forma extensiva de pecuária no início do século XIX é
uma das principais razões desta conservação. Outros
fatores que contribuem são a dificuldade de acesso por
estradas e o grande tamanho das propriedades,
associados à baixa taxa de ocupação local e à pouca
atividade de caça.
Mesmo encontrando-se razoavelmente bem
conservado, o Pantanal sofre constantes ameaças,
geralmente relacionadas com a degradação do vizinho
Cerrado (pela intensa produção agrícola), nas chapadas
do qual nascem os principais rios do Pantanal. Caso a
ocupação e a atividade pecuária no Pantanal se
ampliem também representam ameaças pelo
desmatamento e conversão de florestas em pastagens.
A pesca sem controle é outro grande problema.
Agricultura, mineração e ocupação desordenada, em
geral concentradas nas áreas mais altas que circundam
Dica da professora
Para entender o que isso representa em termos de concentração de biodiversidade basta lembrar que em todo o continente europeu o número de espécies de peixes fluviais não passa de 263.
Dica da professora
A vegetação, bem variada, compõe de um mosaico de comunidades de flora mista (boliviano-paraguaias, centro-brasileiras, silvestres do Brasil oriental e da Amazônia), em que há grande diversidade e
descontinuidade.
Aula 3 | Biomas brasileiros 126
o Pantanal, onde nascem os rios, deixam seus detritos
(como os agrotóxicos) e afetam o volume dos rios que
correm para a planície, devido à erosão e
assoreamento. A ONG WWF alerta para as
conseqüências já visíveis: áreas que antes ficavam
alagadas nas cheias e completamente secas quando as
chuvas paravam, agora ficam permanentemente sob as
águas. A situação começou a se agravar nos últimos 20
anos, sobretudo pela introdução de pastagens artificiais
e pela exploração das áreas de mata. As
transformações têm sido lentas, mas significativas, nas
últimas décadas. A instituição aponta ainda para o
problema da construção de hidrelétricas, do turismo
desorganizado e da caça, empreendida principalmente
por ex-peões que, sem trabalho, formam quadrilhas de
caçadores de couro.
Nos anos 1990 uma grande ameaça foi o projeto
de construção de uma hidrovia de mais de 3.400 km
nos rios Paraguai (o principal curso de água do
Pantanal) e Paraná - ligando Cáceres, no Mato Grosso,
a Nova Palmira, no Uruguai. A obra drenaria e mudaria
de curso o Rio Paraguai, a fim de que grandes navios
pudessem atravessar o Pantanal. Apesar do abandono
da idéia de alterar com diques e dragagens o percurso
do Rio Paraguai, a navegação atual ainda apresenta
riscos, pois vem degradando matas ciliares, barrancos,
meandros e o próprio leito do rio. São necessárias
medidas imediatas de recuperação e regulamentação
das embarcações e de controle de tráfego.
O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000,
pela UNESCO, enquanto Reserva da Biosfera. Tal título
representa instrumento de gestão e manejo sustentável
integrado, que permanece sob a jurisdição dos países
nos quais se localizam as reservas.
Dica de leitura
Para aqueles que desejam saber mais sobre o pantanal sugerimos o livro da bióloga Nicia Wendel de Magalhães, da ECO-Associação, uma instituição bastante tradicional em São Paulo. Anote o título: Conheça o pantanal.
Aula 3 | Biomas brasileiros 127
AS FLORESTAS DE ARAUCÁRIA
A mata das araucárias ou pinheiros-do-paraná
(Araucária angustifólia), tecnicamente chamada de
floresta ombrófila mista, ocupava uma grande área,
indo desde o sul de Minas Gerais e São Paulo até o Rio
Grande do Sul, passando pelo noroeste do Rio de
Janeiro e formando cerca de 100.000 km2 de matas de
pinhais. Originalmente, alcançava a Província de
Missiones, na Argentina. A zona de vegetação ocupada
pela Araucária situa-se entre o paralelo 29º 30' sul, no
Rio Grande do Sul (a partir de 400 m de altitude), e o
paralelo 20º sul, em Minas Gerais (altitudes superiores
a 1000 m).
De porte alto, na sua sombra cresciam espécies
como a imbuia, o cedro, a canela e outras. Hoje quase
nada resta das imponentes araucárias. Por mais de 100
anos a mata dos pinhais alimentou a indústria
madeireira do sul. O pinho, madeira bastante popular
na região, foi muito usado na construção de casas e
móveis.
Presente no planeta desde a última glaciação -
que começou há mais de um milhão e quinhentos mil
anos, a Araucaria angustifolia já ocupou área
equivalente a 200 mil km² no Brasil, predominando nos
territórios do Paraná (80.000 km²), Santa Catarina
(62.000 km²) e Rio Grande do Sul (50.000 km²), com
manchas esparsas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de
Janeiro, que juntas, não ultrapassam 4% dessa área
originalmente ocupada.
No Brasil, o limite sul da ocorrência natural
desta conífera situa-se nos bordos da Serra Geral, no
RS. Uma linha leste-oeste, de Torres a Santa Maria,
beirando os contrafortes da serra referida, separa a
Floresta Subtropical da encosta da Floresta de
Araucária. Para conhecer a distribuição da floresta em
Aula 3 | Biomas brasileiros 128
detalhes consulte o apêndice 2.
Alguns estudos indicam que o isolamento de
exemplares tem efeito devastador sobre as araucárias:
implicam na perda de 50% da biodiversidade.
Segundo o professor João de Deus Medeiros13
a mata
de araucária é emblemática por ser a única floresta de
coníferas do mundo dominada por uma única espécie.
O prof. Miguel Guerra, por outro lado, aponta para o
potencial produtivo da espécie, em biomassa, que seria
semelhante ao do pinus, se realizados melhoramentos
genéticos.
Pesquisadores da Universidade Federal do
Paraná analisaram o comportamento do setor florestal
paranaense, quanto à legislação florestal e ambiental
vigente, tendo a Região das Florestas de Araucária
como base produtora. O foco do trabalho foi o processo
de desmatamento das florestas paranaenses, a
evolução fundiária (isto é, da ocupação territorial por
fazendas e demais propriedades) e a situação
socioeconômica do Bioma Florestal com Araucária no
Estado do Paraná, desde o processo de colonização até
a atualidade.
De acordo com a pesquisa, maior eficiência de
preservação poderia ser conseguida mediante a
agregação de novos instrumentos legais e de políticas
públicas, como a criação de novos espaços naturais
protegidos, instituição de incentivos fiscais e a oferta de
linhas especiais de crédito. A tese propõe a criação e
desenho de um programa de gestão florestal, que
contemple a conservação e a recuperação dos
remanescentes florestais de Araucária no Estado, sem
onerar excessivamente a região de influência, nem
refrear o crescimento econômico do setor agroflorestal
regional.
13
http://www.an.com.br/anverde/especial7/pg03.htm
Dica de leitura
PIRES, Paulo de Tarso de Lara. Instrumentos Jurídicos para a gestão das Florestas de Araucárias no Estado do Paraná (tese). Instituto de Pesquisas Florestais. UFPR. Contato: [email protected]
Aula 3 | Biomas brasileiros 129
Sustenta que um uso controlado dos recursos
madeireiros e não madeireiros nas unidades de
conservação de uso sustentável possibilitaria a
autogestão dos espaços naturais protegidos, o controle
dos estoques de madeira na região e,
conseqüentemente, diminuiria a pressão sobre os
remanescentes florestais locais.
O autor sugere algumas leituras aos
interessados em melhor conhecer as florestas de
araucárias. Leia com atenção as dicas de leitura ao
lado.
OS PAMPAS
No sul do país, a vegetação é composta por
campos limpos, as chamadas estepes úmidas. Campo
Limpo é uma expressão para indicar que sua aparência
é bastante uniforme, com o solo coberto de gramíneas
e pequenos arbustos. Situado entre o Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, os Campos se estendem por uma
região de mais de 200 mil km2. Na região da
Campanha, no Rio Grande do Sul, são conhecidos por
Pampas. Já no Planalto Gaúcho e Catarinense recebem
o nome de Campos-de-Cima-da-Serra. Nas encostas,
tornam-se mais densos e ricos, entremeando-se com
muita mata. Nestes locais, as chuvas distribuem-se
regularmente pelo ano todo e as baixas temperaturas
fazem diminuir a evaporação, favorecendo o
crescimento de árvores.
A vegetação aberta e de pequeno porte dos
Pampas inicia-se no Rio Grande do Sul mas ultrapassa
as fronteiras com a Argentina e o Uruguai. Tal como os
outros, este bioma também guarda diversos
ecossistemas. Ao descer ao litoral do Rio Grande do Sul
encontramos um dos mais marcantes, os banhados –
alagados com densa vegetação de juncos, gravatás e
Para navegar
Visite o site: www.sosmataatlantica.org.br buscar o Atlas do Remanescente da Mata Atlântica, da Fundação SOS Mata Atlântica e do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Dica de leitura
Livros: Araucária: a Floresta do Brasil Meridional, de Zig Koch, Curitiba, Editora Oi Brasileiro, 2002. Pinheiro do Paraná: Lendas e Realidades, de Carlos Roberto Sanquetta, Curitiba, Editora da UFPR, 1999. Manual de Direito Ambiental, de Edson Luiz Peters e Paulo
de Tarso Lara Pires, Curitiba, Juruá Editora, 2002.
Aula 3 | Biomas brasileiros 130
aguapés. Habitat ideal para uma série de animais como
garças, marrecos, veados, onças-pintadas, lontras e
capivaras.
Tendo a seu favor o clima ameno dos pampas e
a fertilidade do solo, colonos europeus e japoneses
obtiverem alta produtividade na região durante o último
século. No entanto, como ocorreu na Mata Atlântica, as
áreas cultivadas se expandiram rapidamente sem um
sistema adequado de preparo, resultando em erosão e
outros problemas que se agravam progressivamente.
Ainda hoje os campos, que já representaram 2,4% da
cobertura vegetal do país, são amplamente utilizados
para a produção de arroz, milho, trigo e soja. Gado e
ovelhas também são parte da cultura local, por vezes
associados às plantações. Tanto o cultivo como o
pastoreio não têm tido cuidados de proteção ao solo,
levando trechos do Rio Grande so Sul à desertificação.
Quando as pastagens secam, a mesma quantidade de
animais disputa áreas menores. A falta de pasto faz
aumentar a pressão sobre o solo, que se abre. E então
basta esperar as chuvas para dar início à erosão. Como
se não bastasse, a situação torna-se ainda mais
agravada pelas queimadas, utilizadas para eliminar
restos de pastagens secas.
No intuito de expandir as plantações para além
dos Pampas, colonos alemães e italianos iniciaram a
devastação das matas de araucárias durante os
primeiros cinquenta anos do século XX, conseguindo
reduzi-la aos atuais 2% restantes em Unidades de
Conservação.
As terras sulinas também são férteis em lendas.
Vale destacar que examinar a cultura oral é uma das
formas de conhecermos a relação entre as pessoas e o
meio em que vivem.
Dica de leitura
Outra sugestão de leitura é o trabalho de José Maria Cardoso da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco, intitulado Análise de Representatividade das Unidades de Conservação Federais de Uso Indireto na Floresta Atlântica e Campos Sulinos. Realizado em parceria com Alexandre Dinnouti, da organização não governamental Conservation International (http://www.aliancamataatlantica.org.br/uc.htm).
Quer saber mais?
De acordo com o WWF, o banhado do Taim destaca-se pela riqueza do solo. Por diversas vezes até 1979 houve tentativas de drená-lo para uso agrícola, quando finalmente a área foi transformada em Estação Ecológica. Ainda assim, há caçadores e fazendeiros que insistem em ameaçar o local com suas ações irregulares.
Aula 3 | Biomas brasileiros 131
A ZONA COSTEIRA
A extensa e variada costa do Brasil tem mais de
8 mil quilômetros contínuos de extensão, uma das
maiores do mundo. Nesta faixa litorânea sucedem-se
cenas de grande diversidade. São mangues, dunas,
ilhas, bancos de corais, recifes, costões rochosos,
baías, estuários, brejos e falésias. Há regiões em que a
paisagem muda totalmente em poucos quilômetros.
Se pensou no fator climático e geológico, ponto
pra você!
O bioma de zona costeira não é propriamente
um bioma, pois seus ecossistemas se encontram
geralmente associados ao bioma da Mata Atlântica. No
entanto, optamos por separar o tema por julgá-lo
merecedor de destaque, afinal a maior parte de nossa
população vive na costa. Feito este alerta, e
aproveitando informações do WWF, vamos examinar a
costa brasileira desde o litoral amazônico:
Da foz do Rio Oiapoque ao Rio Parnaíba: é
lamacento e chega a apresentar trechos com
mais de 100 km de largura. Possui uma
grande extensão de manguezais e matas de
várzeas de marés. Jacarés, guarás, diversas
espécies de aves e de crustáceos são comuns
no litoral amazônico.
Litoral nordestino: vai da foz do Rio Parnaíba
até o Recôncavo Baiano. Sua marca são os
recifes calcáreos e arenitos. Outra
característica forte da região são as dunas. Ao
contrário do que se pensa elas não são
móveis. Mas tornam-se móveis pela ação do
vento quando perdem a cobertura vegetal.
Você deve lembrar que as raízes seguram o so
Dica da professora
Observe a influência da convivência com os Pampas na história.
Para pensar
E mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral – as praias, restingas,
lagunas e manguezais – têm plantas e animais diferentes. Nesta altura do nosso texto você já sabe explicar o porquê.
Aula 3 | Biomas brasileiros 132
lo, tanto que o plantio de vegetais que
tenham raízes longas ou espalhadas e
resistentes é a primeira providência a ser
tomada quando se trata de solo erodido. As
praias nordestinas também possuem
manguezais, restingas e matas. Vivem nas
suas águas as tartarugas e o peixe-boi
marinho, ambos ameaçados de extinção.
Litoral sudeste: segue do Recôncavo Baiano
até São Paulo. São características as falésias,
recifes, arenitos e praias de areias
monazíticas (mineral de cor marrom escura).
Predominam na paisagem a Serra do Mar, as
várias baías e pequenas enseadas do litoral
recortado. Matas de restinga, ainda pouco
valorizadas, agora começam a ser estudadas
e já são consideradas o ecossistema mais
importante dessa região. Podem ser vistas a
preguiça-de-coleira e o mico-sauá, dois
animais ameaçados de extinção. Para
entender a situação delicada do litoral
sudeste basta lembrar que esta é a área mais
densamente povoada e industrializada do
país.
Litoral sul: tem início no Paraná e termina no
Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Aqui são
muito presentes os banhados e manguezais,
riquíssimos em aves, mas onde também
podem ser encontrados o ratão-do-banhado,
lontras, capivaras etc.
Resta ainda muita pesquisa a ser feita quanto à
dinâmica ecológica do litoral brasileiro e seus
complexos ecossistemas, que viabilizam o crescimento
e reprodução de inúmeras espécies de flora e fauna,
além de contribuírem para a economia e cultura
humanas.
Para navegar
Um dos maiores especialistas brasileiros em populações tradicionais e áreas pesqueiras, Carlos Diegues, analisa os principais problemas relativos à pesca, no Brasil e no mundo, apontando caminhos para que esta atividade contribua na erradicação da fome e melhore a
qualidade de vida das comunidades que dela tiram seu principal sustento. Fonte: http://www.senac.br/informativo/educambiental/EA_012004/entrevista.pdf
Aula 3 | Biomas brasileiros 133
RECIFES DE CORAL
São eles os responsáveis por abrigar a maior
diversidade de espécies dentre todos os ecossistemas
marinhos e costeiros do mundo! Como apontado pelo
WWF, em termos de biodiversidade, os recifes de coral
estão para o mar assim como as florestas tropicais
úmidas estão para o ambiente terrestre. Neles vivem
inúmeros organismos: cnidários, algas, esponjas
(poríferos), vermes poliquetos (anelídeos), moluscos,
crustáceos, equinodermos e peixes.
Há corais em todo o mundo e hoje esses recifes
sofrem com a poluição e lixo lançados no oceano.
Parece que a humanidade ainda não entendeu algo
simples: no planeta não existe fora. Tudo é cíclico
(pense no ciclos biogeoquímicos, por exemplo) e por
isso todas as ações geram conseqüências que atingem
a vida como um todo. E ao atingir outros organismos
muitas vezes acabam afetando os seres humanos
também, já que costuma ser topo de várias cadeias
alimentares.
Dissemos que os corais estão presentes ao redor
do globo. Confira: são comuns na costa leste da África,
no oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico,
especialmente na costa das Filipinas, Papua Nova
Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e nas ilhas do
leste australiano até o Havaí. E no Brasil? São mais
comuns no trecho entre o estado do Maranhão e a
região nordeste. Seu limite sul está no Banco dos
Abrolhos, extremo sul da Bahia. Em Abrolhos, a ONG
Conservação Internacional (CI) identifica a maior
biodiversidade marinha do Atlântico Sul, lembrando sua
importância enquanto fonte de subsistência das
comunidades costeiras que a margeiam. Há muito
tempo práticas inadequadas e impactantes de
exploração vem afetando Abrolhos, atingindo não só os
Dica da professora
Entre os ecossistemas da costa, destacaremos dois pela sua relevância e pela falta de compreensão que costuma reinar sobre sua importância. Conheça um pouco melhor os recifes de coral e os manguezais.
Aula 3 | Biomas brasileiros 134
ricos e frágeis ecossistemas locais, mas também as
comunidades locais que dependem diretamente da
tradicional atividade pesqueira para sobreviver.
O Terceiro Setor, a Universidade e as
Secretarias de Meio Ambiente tem sido muito
importantes na denúncia, na geração de alternativas de
manejo e recuperação ambiental e na proposição de
políticas ambientais no país. A CI cultiva parcerias ao
longo da costa brasileira, estimulando instituições
consagradas na conservação marinha e desenvolvendo
um sistema de rede de áreas marinhas protegidas.
MANGUEZAIS
Situam-se perto do mar, em geral recebendo
tanto água salgada, através das marés, como água
doce dos rios que ali desembocam. É uma região de
transição entre os ambientes terrestres e marinhos,
característica de regiões costeiras tropicais e
subtropicais, e por estabelecer-se nas zonas entre
marés (estuários, lagoas, baías e deltas) está sujeita ao
regime das marés. No Brasil, encontram-se associados
ao bioma da Mata Atlântica, como as restingas, os
campos de altitude e a própria Floresta Atlântica. Os
manguezais recebem um importante fluxo de água
doce, sedimentos e nutrientes do ambiente terrestre e
exportam água e matéria orgânica para o mar ou águas
estuarinas. Ou seja: é um ecossistema transformador
de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens
de serviços.
Em relação à distribuição no território brasileiro,
de acordo com pesquisa divulgada no site ComCiência,
80% dos manguezais se concentram nas regiões Norte
e Nordeste, especialmente nos estados do Amapá, Pará
e Maranhão. Este último possui cerca de 500 mil
hectares de mangue. As grandes marés do Maranhão,
Quer saber mais?
O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo: eram originalmente 25 mil km2 desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina. Hoje, apesar de ainda terem extensão relativamente grande no país e serem protegidas desde 1993 pelo Decreto Federal nº 750, as áreas de manguezal brasileiras sofreram redução de aproximadamente 46,4% num período de catorze anos. Os 25 mil km2 de manguezais existentes em 1983 passaram a 13,4 mil km2 em 1997, segundo fotos de satélites.
Aula 3 | Biomas brasileiros 135
de até 8 metros de altura, penetram generosamente no
continente, contribuindo para a perpetuação dos
manguezais.
Muita gente confunde os termos mangue e
manguezal. Tratemos de clarear isso já: "mangue" é
uma palavra que se origina do vocábulo malaio
"Manggimanggi" e do inglês mangrove, servindo para
descrever as árvores que vivem no manguezal. O termo
"manguezal" é utilizado para descrever uma variedade
de comunidades costeiras tropicais dominadas por
espécies vegetais, arbóreas ou arbustivas, que
conseguem crescer em solos com alto teor de sal, ou
seja, um terreno cheio de mangue. Em resumo,
mangue se refere à vegetação e manguezal ao
ecossistema.
A vegetação lenhosa e arbórea do manguezal
coloniza solos lodosos e encontra-se adaptada às
condições específicas deste ambiente. No lodo salgado
e pouco arejado, rico em matéria orgânica e com baixo
teor de oxigênio, desenvolvem-se plantas cujas raízes
permitem a fixação nesse tipo de solo, mesmo mole, ou
que se estendem para fora da água, a fim de absorver
o oxigênio do ar.
As chuvas e a temperatura influenciam o
desenvolvimento do manguezal, sendo que em
condições ideais as temperaturas médias devem ser
acima de 20º C e as mínimas, não devem ser menores
que 15º C. É adequado que as chuvas permaneçam
acima de 1500 mm/ano, sem períodos prolongados de
seca. Embora seja um ecossistema tropical, pode
ocorrer em climas temperados.
A salinidade do solo é uma condição que
também interfere, por exemplo, na altura das árvores e
na quantidade das suas folhas. Não são muitas as
Quer saber mais?
Os manguezais são ecossistemas de grande importância no equilíbrio ecológico, sendo um berçário favorável para o desenvolvimento de muitas espécies de animais e plantas. É muito valioso o estudo do manguezal, principalmente para a preservação deste meio. Sua área pode ser utilizada para turismo ecológico, educação ambiental, apicultura, piscicultura e criação de outras espécies marinhas, além de sua principal função que é o de ser berçário de várias espécies vegetais e animais.
Para pesquisar
Procure saber mais sobre os efeitos da salinidade do solo sobre a vida animal
e vegetal. Temos certeza de que essa será uma pesquisa interessante e esclarecedora.
Aula 3 | Biomas brasileiros 136
plantas capazes de sobreviver num local como este:
inundado pela água do mar, com pouco oxigênio e alta
salinidade. Algumas adaptaram-se para eliminar o
excesso de sal, através de glândulas presentes nas
folhas.
Além da vegetação, há uma grande variedade de
espécies de microorganismos, macro-algas, crustáceos
e moluscos, que vivem nos manguezais, adaptados às
constantes variações de salinidade e fluxo das marés.
As espécies que compõem os manguezais
correspondem a um número limitado de famílias (cerca
de 13), compreendendo de 18 a 20 gêneros, sendo que
cada gênero pode estar representado por uma ou por
várias espécies. As espécies variam latitudinalmente,
em decorrência do clima e índices pluviométricos. O
que muitos não sabem é que neste local muitos animais
se alimentam, reproduzem e desovam. O manguezal é
considerado um verdadeiro berçário de espécies.
Além da alta produção da matéria orgânica que
alimenta as espécies abrigadas no ecossistema, a
estrutura das raízes de mangue, forma emaranhados,
protegendo várias espécies da fauna marinha durante
os primeiros estágios de vida, contra seus predadores.
Trata-se de um refúgio para diversas espécies animais
ameaçadas de extinção, principalmente aves marinhas
que neles encontram uma das poucas áreas costeiras
em que há menor atividade urbana.
De acordo com a revista virtual ComCiência,
uma árvore de manguezal chega à adultidade e se
reproduz em apenas cinco anos, podendo atingir cerca
de vinte metros de altura. Apesar de possuírem apenas
sete espécies de árvores, os manguezais apresentam
uma enorme biodiversidade.
Para navegar
Acesse os sites abaixo e conheça mais detalhes sobre esse bioma legitimamente nacional: http://www.geofiscal.eng.br/manguezais.htm www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/ web/port/meioamb/ecossist/mangue
Aula 3 | Biomas brasileiros 137
Além de bromélias e orquídeas, há uma grande
abundância de algas microscópicas. Segundo um
estudo de pesquisadores da Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE), coordenado por Enide Leça,
um centímetro quadrado de manguezal pode abrigar
aproximadamente 200 mil microalgas, que, estando na
base da cadeia alimentar, garantem a sobrevivência de
uma grande quantidade de seres vivos, direta e
indiretamente. A ostra, o mexilhão, as larvas de
camarão e o sururu são espécies filtradoras, que ao
engolir a água do estuário, retêm as microalgas.
Algumas espécies de peixe, como a tainha, a agulha e a
carapeba, também se alimentam de algas
microscópicas. A diversidade de animais trazidos pelas
marés altas para esse ecossistema atrai muitas
espécies de aves, como a andorinha azul e a garça
vaqueira, que fazem seus ninhos nas árvores do
manguezal e, nas marés baixas, se alimentam de
peixes e invertebrados marinhos, como crustáceos,
moluscos, insetos e vermes aquáticos.
Mas na história do planeta, como se formaram
os manguezais? Primeiro é preciso lembrar que o
mundo tal como o conhecemos, com os continentes
neste formato, nem sempre foi assim. Houve um tempo
em que tudo estava agregado num só grande
continente, a Pangéia. A separação em vários pedaços
ocorreu muito lentamente e suas formas mudaram
inúmeras vezes antes de assumir a aparência e
localização atual. O processo de separação e
afastamento dos blocos de terra levou milhões de anos.
Para se aprofundar neste assunto estude a teoria da
deriva continental. Pois então. Várias espécies de
árvores de mangue parecem ter se originado nas
regiões do Indo-Pacífico. Pesquisas sugerem que
quando os continentes encontravam-se mais próximos
uns dos outros, correntes marítimas dispersaram
propágulos de mangue (sementes germinadas) pelo
Para pensar
Você já deve ter ouvido falar em mangue branco e mangue vermelho. Manguezal seco e manguezal lamacento. Qual a diferença entre eles?
Aula 3 | Biomas brasileiros 138
mundo, inclusive para a costa do Brasil.
A riqueza biológica dos manguezais atrai aves
que ali vão se alimentar. Mas esse ecossistema
também é fonte de alimento para um outro tipo de
bicho, o bicho-homem. Famílias inteiras sobrevivem da
pesca, da coleta de caranguejos, de ostras e outros
moluscos. Do manguezal provém boa parte das
proteínas (mariscos e peixes) tão essenciais para a
subsistência. Visitando o manguezal, você verá muitas
vezes, durante as marés baixas, a operação de coleta
de mariscos submersos na lama e de ostras que ficam
presas às raízes do mangue. Enquanto a coleta
acontece de modo artesanal não há problemas para o
ecossistema, pois a quantidade extraída não é muito
grande. Porém, em diversos lugares os manguezais
têm sofrido com a sobrecoleta (uma superdosagem). A
invenção de instrumentos que coletam vários
crustáceos de uma só vez é problemática, não só pela
quantidade de animais coletados, mas sobretudo
porque não se tem respeitado a época reprodutiva.
Assim, fêmeas em período de acasalamento, ou com
ovas ou ainda com filhotes são caçadas pela facilidade
de captura neste período. Resultado: diminui-se a
fauna local sem que haja condição de renovar-se a
população. Considere ainda o fato de que há espécies
que levam mais de dez anos para chegar à adultidade e
você terá uma idéia do impacto sofrido por algumas
espécies. O desaparecimento ou mesmo diminuição de
algumas delas provoca desequilíbrios em toda a cadeia
alimentar, comprometendo as populações de outros
animais, como peixes e aves.
Esse problema vem crescendo à medida que as
novas gerações não mais têm interesse pela ocupação
de seus pais. Enquanto não arranjam outro trabalho os
jovens fazem a coleta como “bico”, sem se importar
com a manutenção do ecossistema, já que não
Dica da professora
Visitando um manguezal você encontrará aves, mamíferos, répteis, peixes e invertebrados, além de alguns tipos de vegetais. Faça uma lista das espécies mais comuns e explique seu papel no ecossistema.
Aula 3 | Biomas brasileiros 139
pretendem depender dele, nem criaram relações mais
estreitas com este ambiente e os hábitos dos
ancestrais.
Os manguezais também sofrem outras ameaças,
pois a zona costeira é a mais densamente urbanizada
(mais da metade da população brasileira vive na faixa
litorânea) e ocupada por atividades agrícolas e
industriais. É muito comum as cidades utilizarem as
regiões de mangue como depósito de lixo do município,
pois julga-se que o manguezal é um lugar sujo e feio,
cheio de lama e mau cheiro, que não serve para nada.
Esta percepção equivocada do ecossistema, aliada a
interesses econômicos imediatistas ocasionam o mau
uso destas áreas, inclusive para a especulação
imobiliária sem planejamento, reforçada pelo enorme
fluxo de turistas. O preconceito com relação ao
manguezal não é de hoje. No Brasil Colonial e início da
República eles foram considerados insalubres.
Entendidos como foco de doenças e mosquitos só
restava eliminá-los. Com a ocupação predatória e
devastação das vegetações nativas, tornou-se comum a
movimentação de dunas e até o desabamento de
morros.
O despejo de lixo nos manguezais coloca em
perigo espécies animais e vegetais, além de destruir
um importante "filtro" das impurezas lançadas na água.
As raízes parcialmente submersas das árvores do
mangue espalham-se sob a água retendo sedimentos e
evitando que eles escoem para o mar.
Tão sério quanto os problemas citados
anteriormente é o lançamento de esgoto no mar, sem
qualquer tratamento. Sem contar as operações de
terminais marítimos que têm provocado, com
frequência, derramamentos de petróleo.
Para pesquisar
Faça uma pesquisa e descubra o papel das bactérias aeróbias e anaeróbias na filtragem desempenhada pelo manguezal.
Aula 3 | Biomas brasileiros 140
Mas se você pensa que os manguezais vem
sendo utilizados apenas recentemente está enganado.
Do ponto de vista de utilidades diretas para o ser
humano vários produtos podem ser obtidos dos
manguezais: remédios, álcool, adoçantes, óleos,
tanino, etc. Curandeiras empregam diferentes produtos
vegetais aproveitando suas propriedades bactericidas e
adstringentes na cura de várias moléstias comuns ao
ambiente. O tanino, produto obtido da casca das
árvores, serve para proteger redes e velas das
embarcações. Desde a antiguidade esses usos se
perpetuaram, além do espaço para plantações. Durante
o período em que as cidades começaram a se expandir,
as árvores foram a fonte das construções, das caldeiras
de locomotivas e usinas de cana-de-açúcar. Depósitos
de conchas e mariscos serviram para fabricar cal. Tais
depósitos se formaram em função das comunidades
indígenas que ali viveram anteriormente e que se
alimentavam de moluscos. As conchas, que eram
deixadas em local próximo ao ponto de coleta, foram
configurando grandes depósitos – os sambaquis. Para
os arqueólogos e antropólogos são importante fonte de
informação a respeito da vida desses grupos indígenas.
Junto às conchas ainda são encontrados objetos de
cerâmica, ferramentas e outros restos.
Mais recentemente, também tem sido comum o
uso de sua área para turismo ecológico, educação
ambiental, apicultura, piscicultura e criação de outras
espécies marinhas.
Os manguezais produzem vários serviços
indiretos, que muitas vezes passam despercebidos
pelas pessoas: a) protegem a linha de costa e as
margens dos estuários contra erosão, sendo utilizados
em alguns países para proteger hidrovias e zonas
urbanas litorâneas; b) protegem as áreas ribeirinhas
contra as enchentes, diminuindo a força das águas; c)
Dica da professora
Visite e conheça um sambaqui. No município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, há um museu dedicado especialmente a isso.
Quer saber mais?
Economicamente, o manguezal tem sustentado a pesca do camarão, artesanal ou industrial, além da exploração de outros invertebrados, como Iphigenia brasiliensis, Lucina pectinata, Anomalocardia brasiliana, Mytella falcata, Crassostrea brasiliana, Tagelus plebeius, Ucides cordatus, Cardisoma guanhumi e Callinectes danae. (Fonte: http://www.geofiscal.eng.br/manguezais.htm) Pelo menos dois terços das espécies de peixes explorada economicamente dependem desse ecossistema para a sua existência. O manguezal é responsável pela manutenção de muitos dos recursos naturais da zona costeira.
Aula 3 | Biomas brasileiros 141
são importantes retentores de metais pesados e
grandes seqüestradores de carbono. Além disso, esse
ambiente possui vegetais microscópicos, a base da
cadeia alimentar de uma série de animais do litoral e
microorganismos, que podem recuperar parcialmente o
solo e a água de regiões afetadas por acidentes
envolvendo derramamento de petróleo no oceano.
Porém, de acordo com a pesquisadora Tânia Brazil da
UFBA, apesar da vegetação de mangue assimilar uma
quantidade razoável de contaminantes e várias de suas
bactérias conseguirem degradar parcialmente o óleo
derramado em acidentes no mar, deve-se estabelecer
limites de proteção, especialmente quanto ao óleo e
substâncias tóxicas.
A grande quantidade de detrito vegetal gerada
(conhecida por serrapilheira), como folhas, galhos e
frutos das árvores, constitui alimento energético rico
em proteínas para diversos componentes da fauna
estuarina e marinha, já que durante a decomposição
são colonizados por microorganismos. Ou seja, formam
a base para diversas cadeias alimentares. Parte dessa
produção é levada pela maré às águas costeiras
adjacentes, tornando-se, no meio marinho, recurso
para manutenção de várias organismos, como siri,
peixes e camarões. A decomposição da serrapilheira
torna a matéria orgânica disponível aos organismos
consumidores. Em algumas regiões costeiras a
produção das espécies de mangue é muito maior que a
do fitoplâncton e do fitobento.
Você já deve ter entendido que os vários
ecossistemas de todos os biomas encontram-se muitas
vezes sob impacto. Mas como podemos definir impacto?
Tanto fenômenos naturais como atividades derivadas
da ordem social da atualidade podem resultar na ação
de fatores que causem alterações nas propriedades
físicas, químicas e biológicas do ambiente, no qual
Dica da professora
De maneira geral pode-se concluir que grande parte da produtividade dos manguezais se transforma em tecido de peixes e de outros organismos marinhos, muitas vezes capturados depois pelas frotas pesqueiras.
Aula 3 | Biomas brasileiros 142
também são incluídas as relações sócio-econômicas. Os
impactos ambientais são essas alterações ou efeitos
ecológicos. O grau do impacto é determinado pela
intensidade e duração dos fatores de tensão. Podem ser
agudos, quando intensos e curtos. E são crônicos
quando a perturbação é de longa duração.
Além disso, no tocante ao manguezal, cada tipo
se adaptou diferentemente às condições ambientais
condicionando sua sensibilidade a tipos particulares de
fatores causadores de impacto.
Há impactos agudos ocasionados por fenômenos
naturais que afetam os manguezais, sendo quase
sempre possível o restabelecimento da qualidade
ambiental anterior. Alguns exemplos são: ventos
fortes; inundações; represamento da área; marés
extremas; frentes atmosféricas.
Por outro lado, alguns eventos induzidos pela
organização urbana atuam como tensores crônicos
perpetuando sua ação e seus impactos em longo prazo,
podendo inclusive provocar a morte do manguezal. Já
vimos alguns exemplos anteriormente. Além do
extrativismo vegetal e animal, da poluição industrial,
dos aterros sanitários e lixões, das invasões urbanas e
industriais, do lançamento de esgoto e dos acidentes de
contaminação por vazamentos de petróleo ou de
produtos tóxicos, também podemos falar da mineração;
oleodutos e gasodutos; salinas; barragens;
desmatamentos e aterro de manguezais para dar lugar
a portos; estradas; agricultura; carcinocultura
estuarina; agrotóxicos; entre outros.
Também existem impactos indiretos como, por
exemplo, os ocasionados pela necessidade de energia
elétrica e de grandes volumes de água potável para as
regiões urbanas costeiras, que levou à construção de
Para navegar
Se você gostou do tema e quer se aprofundar, procure em: www.cdcc.sc.usp.br
Dica de leitura
ALVES, J.R.P. (Org.) Manguezais: educar para proteger. Sec. Est. De Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Fundação de Estudos do Mar. RJ: 2001. RIZZINI, c.t.
Tratado de Fitogeografia do Brasil. Vol.1. Ed. HUCITEC, USP. SP: 1979. VANNUCCI, M. Os manguezais e nós: uma síntese de percepções. EDUSP. SP: 1999.
Aula 3 | Biomas brasileiros 143
inúmeras barragens em rios e acabam sendo uma
armadilha para os sedimentos, que seriam, de outra
forma, transportados para os estuários e deltas
dominados por manguezais. Como resultado, muitas
áreas costeiras tornaram-se erosivas.
Retirar uma fonte poluidora de um local não
implica necessariamente na interrupção imediata de
seus impactos. Há impactos que podem desencadear
outros ao longo do tempo, ao modo do que ocorre com
o acúmulo de substâncias tóxicas do ambiente, cujos
efeitos se multiplicam com o tempo.
EXERCÍCIO 3
O conceito de bioma significa:
( A ) O mesmo que ecossistema;
( B ) Um grupo de comunidades, caracterizada por sua
fauna;
( C ) Uma denominação que coincide com a divisão em
áreas geográficas do mapa;
( D ) O conjunto de comunidades de uma área,
caracterizadas por sua vegetação, a aparência da
vegetação de uma área geográfica;
( E ) Uma invenção para melhor entendermos o clima.
Dica da professora
Agora leia os textos a seguir!
Aula 3 | Biomas brasileiros 144
EXERCÍCIO 4
Sobre a floresta de araucárias, pode-se afirmar com
certeza que:
( A ) É um bioma recente no planeta, que foi
devastado muito rapidamente pela agricultura;
( B ) Ocupava apenas uma área restrita, dentro do rio
grande do sul;
( C ) Pode apresentar uma produtividade de
biomassa muito baixa, bastante inferior ao pinus;
( D ) Ainda se encontra em bom estado de
conservação, não sendo preciso criar parques ou outras
unidades para protegê-la;
( E ) Sofre uma perda de mais de 50% em sua
biodiversidade quando exemplares são isolados.
EXERCÍCIO 5
O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo. Defina
este bioma a partir de suas características principais e
explique qual seria a importância deste para a
natureza?
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Aula 3 | Biomas brasileiros 145
EXERCÍCIO 6
O Pantanal é considerado a maior planície continental
inundável do mundo (aproximadamente 210 mil km2
espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai). Defina este
bioma a partir de suas características principais?
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RESUMO
Vimos até agora:
A chave para entendermos a idéia de bioma
está nas zonas vegetacionais que, por sua
vez, coincidem com as zonas climáticas;
O planeta tem suas zonas de vegetação
distribuídas conforme as condições climáticas,
sobretudo a latitude;
O clima resulta da fórmula: Fenômenos
meteorológicos (atmosféricos) + alterações
provocadas por fatores modificadores;
Sazonal: Próprio de, ou que se fica em uma
sazão ou estação. Refere-se assim a chamada
“estacionalidade”, ou seja, o tanto que a
mudança das estações interfere no clima. É
interessante lembrar que esta mudança
ocorre em função do movimento terrestre de
translação (volta em redor do Sol);
Aula 3 | Biomas brasileiros 146
A produção dos ventos depende do
movimento de rotação da Terra. E como os
ventos influenciam a direção das correntes
oceânicas, se a Terra girasse ao contrário
todo o clima seria alterado;
São as correntes oceânicas as principais
responsáveis pela distribuição do calor
absorvido pelos Trópicos e também por levar
o frio polar às regiões tropicais, fazendo
assim um balanceamento da temperatura
planetária;
No tocante à continentalidade (quanto de
terra envolve uma região ou então quanto um
determinado ponto se encontra distante do
mar), quanto mais vamos para o interior do
continente, menos vapor d´água
encontramos, pois o solo se aquece e perde
calor mais rapidamente que o líquido;
Principais tipos de vegetação e suas relações
com o clima: Equatorial Úmida (variações
diurnas); Tropical úmida - árida: savanas
(chuva e seca alternadas). No Brasil não há
savanas, devido à altitude; Árida -
subtropical: deserto. Os desertos ocorrem nas
regiões próximas aos 30o de latitude; Árida -
úmida: floresta temperada; Úmida temperada
quente: floresta temperada;Temperada
típica: floresta temperada; Árida temperada:
deserto frio; Temperada fria: taiga (florestas
de coníferas); Polar: tundra caracterizada
pela presença de líquens, algas e plantas de
ciclo muito rápido, pois a água sólida – gelo –
desfavorece o desenvolvimento da vegetação;
Aula 3 | Biomas brasileiros 147
O visual paisagístico composto pela vegetação
recebe o nome de bioma. Cada bioma pode
abrigar diversos ecossistemas. Ex: Floresta
paludosa: possui o solo alagado periódica
(mata de várzea) ou permanentemente
(igapó). Pode ocorrer em regiões marítimas,
revelando-se ao modo de um manguezal;
Floresta pluvial: compreende diversas matas
com diferentes características, mas que
possuem em comum o alto índice de
pluviosidade. Exs: Floresta Atlântica e floresta
de araucárias; Floresta estacional: é pobre e
caducifólia (isto é, suas plantas perdem as
folhas na estação seca ou no inverno). Ex:
Savana e o Cerrado;
A umidade é um fator de grande importância
nas formações vegetais. Se houver um saldo
positivo de água a vegetação torna-se de
maior porte. Se não, a evolução da
comunidade não caminha para as formas
finais da sucessão ecológica;
Os principais ecossistemas Brasileiros são:
Floresta Amazônica, seguida pela Mata
Atlântica na costa, Cerrado, Caatinga e
Pantanal no interior, Florestas de Araucária e
Pampas no Sul, além da zona costeira e das
regiões de transição.
A vegetação amazônica se divide em a)
florestal, que inclui a mata-de-terra-firme, a
mata de igapós e a mata de várzea e b)
campestre, que abarca os campos de terra
firme e os campos de áreas inundadas
(várzeas);
Aula 3 | Biomas brasileiros 148
As campinas amazônicas possuem folhas
pequenas, revolutas (margens enroladas para
a face inferior) e coriáceas (endurecidas como
couro), em função da falta de minerais do
solo, constantemente lixiviado pela chuva;
Mais do que uma floresta, a Amazônia é
também o mundo das águas onde os cursos
d’água se comunicam e sazonalmente sofrem
a ação das marés. A bacia amazônica - a
maior bacia hidrográfica do mundo com 1.100
afluentes;
Nesta rica floresta, encontram-se 2.500
espécies de árvores (o que significa um terço
da madeira tropical do globo) e 30 mil das
100 mil espécies de plantas existentes em
toda a América Latina;
Uma das maiores contribuições de sua
população é a riqueza cultural, que inclui o
conhecimento tradicional sobre os usos e a
forma de explorar esses recursos sem esgotá-
los nem destruir o habitat natural;
Pesquisas e a prática demonstraram que a
exploração sustentável da floresta na
Amazônia é muito mais rentável e geradora
de empregos do que outras atividades que
têm sido priorizadas pelos sucessivos
governos, como a agropecuária;
Segundo cálculos da WWF, mais de 12% da
área original da Floresta Amazônica já foram
destruídos devido a políticas governamentais
inadequadas, modelos inapropriados de
ocupação do solo, ocupação desorganizada e
uso não-sustentável dos recursos naturais;
Aula 3 | Biomas brasileiros 149
A origem da Mata Atlântica é curiosa. O que
se sabe hoje é que houve uma separação
entre ela e a mata amazônica, mas há intensa
correlação entre as espécies;
A Amazônia possui apenas dois terços do que
a Mata Atlântica tem em diversidade;
Nnas características da Mata Atlântica existe
uma variação fisionômica muito grande,
devido ao seu relevo diversificado (planície,
planalto, serra...). Partículas arenosas e
ventos úmidos intensos são comuns nesta
mata. Até 700m a Floresta Atlântica pode ser
classificada de baixo-montana e de lá até
1600m recebe o nome de alto-montana;
No Planalto Meridional podem ser encontradas
matas de araucária, florestas e matas
subtropicais;
Na Planície Litorânea pode-se ver a restinga,
que é uma vegetação arbórea mais baixa e
espaçada, com ar de seca, devido ao solo,
que é arenoso e salino. A restinga não chega
a ser um ecossistema. Ela é um ecótone
(sistema de transição) de Mata Atlântica,
resistente às áreas secas devido à
proximidade do mar;
Considerando que a maior parte da população
brasileira vive na costa litorânea e que
historicamente a agricultura regeu a
economia do interior do país, não é de se
admirar que este tenha sido um dos mais
degradados biomas brasileiros. Só para dar
uma idéia, o estado do Rio possuía, em 1995,
Mata Atlântica em 21% de seu território. Até
1998, passou a 16,7%. A Mata Atlântica, de a-
Aula 3 | Biomas brasileiros 150
cordo com a Constituição, cobria originalmente
mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados
do território brasileiro;
Embora a velocidade de recuperação da Mata
Atlântica é bem maior do que a de outros
biomas porque o solo é melhor (gnaisse,
rochas cristalinas), muitas espécies já se
extinguiram e o solo está em processo
acelerado de erosão;
O impacto sofrido pela Floresta Atlântica foi
favorecido por sua localização, que facilitou a
exploração sucessiva através dos diversos
ciclos econômicos brasileiros – pau-brasil,
cana-de-açúcar, ouro, café, extração de
madeira. Além de abrigar a maioria das
cidades e regiões metropolitanas do país, a
área originalmente coberta pela floresta
concentra os grandes pólos industriais,
petroleiros e portuários do país;
A Caatinga, que em tupi quer dizer Mata
Branca (em referência à vegetação sem
folhas que predomina durante a época de
seca), ocupa quase 10% do território
nacional, com 736.833 km², abrangendo os
estados do Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,
Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas
Gerais;
Considera-se a caatinga como único bioma
exclusivamente brasileiro. Ou seja, seu
patrimônio biológico só é encontrado no
nordeste brasileiro. Mesmo assim, o bioma
não tem recebido atenção ao se discutir
políticas para o estudo e conservação da
biodiversidade brasileira;
Aula 3 | Biomas brasileiros 151
O Cerrado caracteriza-se por suas diferentes
paisagens, que vão desde o cerradão (com
árvores altas, densidade maior e composição
distinta), passando pelo cerrado mais comum
no Brasil central (com árvores baixas e
esparsas), até o campo cerrado, campo sujo
e campo limpo (com progressiva redução da
densidade arbórea);
Das cabeceiras até as proximidades do mar,
os rios com nascente na região da Caatinga
permanecem secos por cinco a sete meses do
ano. Exceto o canal principal do São
Francisco, que mantém seu fluxo através dos
sertões, com águas trazidas de outras
regiões;
A característica vegetação pequena e
retorcida do cerrado não se deve à falta de
água, mas à pobreza mineral do solo,
ocasionada pelo tipo de erosão, tempo de
sujeição a ela, lixiviação e também pela
presença dos semi-óxidos já citados (ferro e
alumínio). É o oposto do que ocorre na
caatinga, cujo solo é rico, contudo sofre pela
falta d´água;
As plantas do cerrado possuem raízes muito
profundas, de maneira que a diminuição do
lençol freático nas épocas secas não constitui
problema, exceto para as herbáceas. Com
essa grande disponibilidade de luz e água a
taxa de fotossíntese mantém-se num alto
nível;
Mas apesar da aridez e de seus rios serem
temporários (exceto o São Francisco), a
caatinga surpreende com seus brejos, que rom
Aula 3 | Biomas brasileiros 152
pem com o cenário uniforme dos sertões;
O cerrado de campo aberto tem este formato
por ter sofrido intensos distúrbios, como fogo.
A queimada pode até contribuir para liberar
nutrientes presos em folhas e caules podres,
além de transportar outros pela fumaça.
Também pode prestar serviços como a
quebra de dormência de certas sementes e a
liberação de hormônios vegetais;
No caso da Caatinga, são erros comuns
referir-se à sua biodiversidade enquanto
homogênea, pobre em espécies e em
endemismo. O bioma inclui pelo menos uma
centena de diferentes tipos de paisagens
únicas;
O solo do Cerrado no Planalto Central tem
sido freqüentemente utilizada para a
agricultura, por ser plano e ter uma
vegetação mais aberta que a da floresta, o
que a torna facilmente derrubável. Além da
agricultura, outra atividade econômicanos
Cerrados é a coleta de flores;
A taxa de desmatamento do Cerrado é
altíssima, chegando a 1,5% ou três milhões
de hectares/ano (ou 2,6 campos de
futebol/minuto);
O Pantanal detém o título de maior planície
continental inundável do mundo
(aproximadamente 210 mil km2 espalhados
por Brasil, Bolívia e Paraguai). Esta área
equivale aos países Bélgica, Suíça, Portugal e
Holanda juntos. O bioma abriga uma das
maiores concentrações de vida silvestre do pla
Aula 3 | Biomas brasileiros 153
neta, destacando-se pela riqueza de sua
fauna;
No Brasil, os 140 mil km2 do pantanal
distribuem-se pelos estados de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, que concentram cerca de
70% do bioma. O restante espraia-se em
região internacional onde recebe o nome de
Gran Chaco;
Chuva e seca alternam-se no clima tropical do
lugar, cabendo às chuvas o período de
novembro a abril, tal como no cerrado. O
equilíbrio do bioma depende,
fundamentalmente, do fluxo de entrada e
saída de enchentes ocasionadas de acordo
com o regime pluvial;.
As cheias anuais dos rios da região atingem
cerca de 80% do Pantanal, afastando parte
da população rural que migra
temporariamente para as cidades ou vilas;
Com a vazante, as águas começam a baixar
lentamente. O solo, por ser muito permeável,
permite o desaparecimento dos rios em secas
prolongadas. Mas quando o terreno volta a
secar permanece, sobre sua superfície, uma
fina camada de lama humífera (mistura de
areia, restos de animais e vegetais, sementes
e húmus) propiciando grande fertilidade ao
solo;
Aproximadamente 80% do Pantanal está bem
conservado, abrigando numerosas populações
de grandes mamíferos, aves, peixes e répteis.
A adoção da forma extensiva de pecuária no
início do século XIX é uma das principais razões
Aula 3 | Biomas brasileiros 154
desta conservação;
Mesmo encontrando-se razoavelmente bem
conservado, o Pantanal sofre constantes
ameaças, geralmente relacionadas com a
degradação do vizinho Cerrado (pela intensa
produção agrícola), nas chapadas do qual
nascem os principais rios do Pantanal;
A pesca sem controle é outro grande
problema. Agricultura, mineração e ocupação
desordenada, em geral concentradas nas
áreas mais altas que circundam o Pantanal,
onde nascem os rios, deixam seus detritos
(como os agrotóxicos) e afetam o volume dos
rios que correm para a planície, devido à
erosão e assoreamento;
O bioma do Pantanal foi reconhecido em
2000, pela UNESCO, enquanto Reserva da
Biosfera;
A mata das araucárias ou pinheiros-do-
paraná (Araucária angustifólia), tecnicamente
chamada de floresta ombrófila mista, ocupava
uma grande área, indo desde o sul de Minas
Gerais e São Paulo até o Rio Grande do Sul,
passando pelo noroeste do Rio de Janeiro e
formando cerca de 100.000 km2 de matas de
pinhais;
Mata de araucária é emblemática ser a única
floresta de coníferas do mundo dominada por
uma única espécie;
No sul do país, a vegetação é composta por
campos limpos, as chamadas estepes úmidas.
Situado entre o Rio Grande do Sul e Santa Ca-
Aula 3 | Biomas brasileiros 155
tarina, os Campos se estendem por uma
região de mais de 200 mil km2. Na região da
Campanha, no Rio Grande do Sul, são
conhecidos por Pampas;
A vegetação aberta e de pequeno porte dos
Pampas inicia-se no Rio Grande do Sul mas
ultrapassa as fronteiras com a Argentina e o
Uruguai. Tal como os outros, este bioma
também guarda diversos ecossistemas;
Como ocorreu na Mata Atlântica, as áreas
cultivadas se expandiram rapidamente sem
um sistema adequado de preparo, resultando
em erosão e outros problemas que se
agravam progressivamente. Ainda hoje os
campos, que já representaram 2,4% da
cobertura vegetal do país, são amplamente
utilizados para a produção de arroz, milho,
trigo e soja;
Tanto o cultivo como o pastoreio não têm tido
cuidados de proteção ao solo, levando trechos
do Rio Grande so Sul à desertificação;
Extensa e variada costa do Brasil tem mais de
8 mil quilômetros contínuos de extensão, uma
das maiores do mundo. Nesta faixa litorânea
sucedem-se cenas de grande diversidade.
São mangues, dunas, ilhas, bancos de corais,
recifes, costões rochosos, baías, estuários,
brejos e falésias. Há regiões em que a
paisagem muda totalmente em poucos
quilômetros;
O bioma de zona costeira não é propriamente
um bioma, pois seus ecossistemas se
encontram geralmente associados ao bioma
da Mata Atlântica;
Aula 3 | Biomas brasileiros 156
Os recifes de coral são os responsáveis por
abrigar a maior diversidade de espécies
dentre todos os ecossistemas marinhos e
costeiros do mundo;
Há corais em todo o mundo e hoje esses
recifes sofrem com a poluição e lixo lançados
no oceano;
São comuns na costa leste da África, no
oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico,
especialmente na costa das Filipinas, Papua
Nova Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e
nas ilhas do leste australiano até o Havaí. No
Brasil concentram-se no trecho entre o estado
do Maranhão e a região nordeste. Seu limite
sul está no Banco dos Abrolhos, extremo sul
da Bahia;
Os manguezais situam-se perto do mar, em
geral recebendo tanto água salgada, através
das marés, como água doce dos rios que ali
desembocam. É uma região de transição
entre os ambientes terrestres e marinhos,
característica de regiões costeiras tropicais e
subtropicais, e por estabelecer-se nas zonas
entre marés;
Recebem um importante fluxo de água doce,
sedimentos e nutrientes do ambiente
terrestre e exportam água e matéria orgânica
para o mar ou águas estuarinas. Ou seja: é
um ecossistema transformador de nutrientes
em matéria orgânica e gerador de bens de
serviços;
O Brasil possui 12% dos manguezais do
mundo: eram originalmente 25 mil km2 desde
Aula 3 | Biomas brasileiros 157
o Cabo Orange, no Amapá, até o município de
Laguna, em Santa Catarina;
Mangue se refere à vegetação e manguezal
ao ecossistema;
Além da vegetação, há uma grande variedade
de espécies de microorganismos, macro-
algas, crustáceos e moluscos, que vivem nos
manguezais, adaptados às constantes
variações de salinidade e fluxo das marés;
Apesar de possuírem apenas sete espécies de
árvores, os manguezais apresentam uma
enorme biodiversidade. Além de bromélias e
orquídeas, há uma grande abundância de
algas microscópicas;
Os manguezais também sofrem outras
ameaças, pois a zona costeira é a mais
densamente urbanizada (mais da metade da
população brasileira vive na faixa litorânea) e
ocupada por atividades agrícolas e
industriais;
Julga-se que o manguezal é um lugar sujo e
feio, cheio de lama e mau cheiro, que não
serve para nada. Esta percepção equivocada
do ecossistema, aliada a interesses
econômicos imediatistas ocasionam o mau
uso destas áreas, inclusive para a
especulação imobiliária sem planejamento,
reforçada pelo enorme fluxo de turistas;
O despejo de lixo nos manguezais coloca em
perigo espécies animais e vegetais, além de
destruir um importante "filtro" das impurezas
lançadas na água. As raízes parcialmente sub-
Aula 3 | Biomas brasileiros 158
mersas das árvores do mangue espalham-se
sob a água retendo sedimentos e evitando
que eles escoem para o mar;
Os manguezais produzem vários serviços
indiretos, que muitas vezes passam
despercebidos pelas pessoas: a) protegem a
linha de costa e as margens dos estuários
contra erosão, sendo utilizados em alguns
países para proteger hidrovias e zonas
urbanas litorâneas; b) protegem as áreas
ribeirinhas contra as enchentes, diminuindo a
força das águas; c) são importantes
retentores de metais pesados e grandes
seqüestradores de carbono.
Recursos Hídricos
Francisco Carrera
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LA
4
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en
taç
ão
Não há como negar a vida no planeta depende quase que
exclusivamente da água. Mantida em nosso planeta por influência
de vários ciclos naturais sua preservação enquanto um recurso
finito deve ser promovida e defendida a todo custo. Nesta aula
aprenderemos mais sobre os chamados recursos hídricos do
planeta e dos impactos sócio-ambientais sobre os mesmos no
decorrer da história, bem como as diferentes medidas tomadas
para conter os mesmos. Teremos ainda a oportunidade de
conhecer melhor como a legislação ambiental atual defende o uso
da água não mais como um bem público de uso privado, mas sim
um bem público de uso comum através da lei 9433/97 a chamada
Lei das águas, bem como sobre as principais agências reguladoras
do uso dos recursos hídricos – a ANA (Agência Nacional das
Águas). Aproveite ao máximo e bom estudo!
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Entender a importância da água como elemento essencial a
continuidade da vida no planeta; Compreender melhor quais seriam os principais recursos
hídricos do planeta e os impactos sócio-ambientais que estes
sofreram no decorrer do processo civilizatório; Analisar as diferentes medidas utilizadas para conter os
impactos sócio-ambientais sobre os recursos hídricos do ponto
de vista político-social e particularmente do ponto de vista legal
através da análise da Lei 9433/97 (A Lei das Águas); Conhecer algumas peculiaridades do Sistema Nacional de
Recursos Hídricos.
Aula 4 | Recursos hídricos 160
Introdução: água sinônimo de vida
Há tempos a vida no Planeta Terra depende da
convivência harmônica entre os recursos hídricos e os
demais seres vivos. A vida no planeta depende quase
que exclusivamente da água. A água é o sinônimo
perfeito para a vida. Ao longo dos tempos, desde o
primeiro sinal de vida em nosso planeta a água está
presente, acompanhando dia-a-dia os fluxos e contra-
fluxos da essência da vida.
A água é mantida em nosso planeta por
influência de vários ciclos naturais. Estes efetivam o
ciclo fundamental à vida no planeta, constituído pela
água. Ao bebermos um copo d’água certamente
estaremos bebendo um corpo líquido que já pode ter
percorrido inúmeros lugares no Planeta, sob os mais
diversos estados da matéria, sólido, líquido ou gasoso.
Esta mesma água já pode ter sido vapor, geleira,
iceberg, já pode ter passado por diversos mananciais
terrenos, já pode ter percorrido oceanos e até mesmo
cruzado a estratosfera. Esta é a peculiaridade que o
recurso hídrico possui. Apesar de ser infinito, o acesso
dos Homens ao recurso hídrico a cada dia que passa
fica mais limitado, principalmente pelo fato de que a
gestão e o uso racional destes recursos não está sendo
regularmente fomentada. O Homem a cada dia que
passa utiliza a água doce do planeta de maneira
totalmente irracional. A falsa sensação de que a água é
um recurso inesgotável faz com que os seres humanos
não atentem para a utilização racional deste precioso
bem. Realmente a água do planeta é inesgotável, pois
pertence a um ciclo cuja variação de forma e volume
depende de diversas condições climáticas e externas.
Por outro lado o acesso à água potável vem diminuindo
a cada dia, fruto de uma inescrupulosa política mundial
que não atenta para a necessidade de gestão e
regramento do uso destes recursos.
Quer saber mais?
Dentre todos os recursos considerados indispensáveis a vida a água é, indubitavelmente, um dos mais importantes e essenciais. Uma das crises que mais tem assustado a comunidade
ambiental é o risco do desaparecimento desse bem tão precioso.
Introdução: água sinônimo de vida 160 Histórico: o valor da água 162 A nova política nacional 168 O sistema nacional de recursos hídricos 176 A classificação da água 177 Peculiaridades do sistema nacional de recursos hídricos 178 Gestão descentralizada 179
Aula 4 | Recursos hídricos 161
Vários fatores valem hoje como exemplos não
muito promissores da avassaladora ação do Homem em
relação aos sistemas naturais protetores dos recursos
hídricos de nosso Planeta. As florestas, talvez sejam os
ecossistemas que mais estejam diretamente associados
à manutenção deste precioso recurso. Não há exemplo
maior de instrumento natural com potencial de fixação
e conservação de mananciais, do que a formação
florestal. As matas ciliares e, sobretudo as formações
florestais das encostas, certamente são áreas de
extrema importância para a conservação dos recursos
hídricos. De nada adianta construirmos barragens e
reservatórios de água, se a cada dia que passa,
promovemos a destruição das florestas. O ciclo da água
necessita da floresta para se concretizar. A formação
florestal é essencial para a fixação dos recursos hídricos
e abastecimento dos mananciais. As florestas captam
as águas pluviais e as conduzem até os mananciais,
auxiliando na formação de nascentes, fontes, rios e
olhos d’água. Desta forma, na medida em que
suprimimos as matas ciliares e a vegetação das
encostas, estamos também suprimindo uma parte do
ciclo da água. O resultado negativo desta ação, consiste
no carreamento pelas águas pluviais de matéria
orgânica e mineral para os rios, que caminham
aceleradamente até o mar. Desta forma, ao invés da
água percorrer o seu ciclo normal e ingressar nos
mananciais, ela literalmente corre diretamente para os
rios, sem passar pelos mananciais, e é conduzida para
o mar. Durante o percurso, argila, areia e muita
matéria orgânica, carregada pela força das
enchurradas, são levadas até os rios, que terminam por
ficarem totalmente assoreados, sem espaço para fluxo
de navegações e ainda sem potencial para a geração de
energia. Este resultado, ao invés de ser atribuído à
falta de chuva, na verdade deve ser atribuído à falta de
gestão racional dos componentes naturais do ciclo da
água. (vide figura abaixo). Quanto mais houver
Para navegar
Um site interessante sobre o tema que vale a pena ser visitado é o da
universidade da água reunindo várias informações interessantes sobre a legislação dos recursos hídricos, qualidade das águas do planeta, curiosidades e outras estão disponíveis para consulta.
Aula 4 | Recursos hídricos 162
remoção de área florestada, maior será a chance de
aumento de áreas desérticas, sem mananciais
suficientes o bastante para irrigar a região.
FONTE: HEAT, R. HIDROLOGIA BÁSICA DE ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS. UNITED STATES GEOLOGICAL SURVEY WATER
SUPPLY PAPER 2220
Histórico: o valor da água
Aristóteles (384-322 a.C.) possuía certa noção
da correlação entre a chuva e as água subterrânea,
pois segundo ele os rios se originavam em parte da
água da chuva. Esta contribuição. todavia seria muito
pequena a seu ver, sendo o processo com maior
responsabilidade pelo surgimento de água nos
RESUMO – CICLO DA ÁGUA (HIDROLÓGICO)
A água dos lagos, rios e mares encontra-se no
estado líqüido.
O sol aquece a água, ela sobe para a atmosfera,
transforma-se em gotas de água que se juntam e
formam as nuvens.
Quando as nuvens ficam muito pesadas, caem
sobre a Terra em forma de chuva. A água da
chuva vai ser aquecida pelo sol e assim o ciclo da
água continua.
Para pesquisar
Pesquise mais sobre o índice de pluviosidade anual de sua localidade e sugira idéias sobre como está água poderia ser melhor aproveitada.
Aula 4 | Recursos hídricos 163
continentes, a condensação da umidade do ar em
profundas cavernas subterrâneas. Uma dupla analogia
com os processos de condensação atmosférica e com
as cavernas calcáreas do litoral do Mediterrâneo, com
as quais os gregos estavam familiarizados.
A transformação das aldeias neolíticas em
cidades mais populosas, com divisão do trabalho, com
comércio e artesanato, foi possível com a reserva de
alimentos quando os homens já possuíam maiores
conhecimentos técnicos, tais como: utilização da força
de tração animal e dos ventos, técnicas agrícolas, o
carro a rodas, a fundição do cobre, o barco a vela, o
desenvolvimento de um calendário, etc. A produção
excedente e a diversidade de produtos fizeram a troca
necessária e possível. Esse intercâmbio foi o precursor
do comércio e foi pré-condição da Revolução Urbana,
que levou ao uso urbano da água (Mumford, 1965).
No decorrer dos séculos, a utilização dos
recursos hídricos pelo Homem foi se aperfeiçoando,
porém, em virtude até mesmo do crescimento
urbanístico das metrópoles, a ausência de uma gestão
regular dos mesmos, fez com que a água se
transformasse em um potencial meio para a
transmissão de doenças humanas.
A variação sazonal das vazões dos rios e a
ausência de rios perenes dentro dos muros das cidades,
construídas por motivos estratégicos em encostas,
levaram os helenos a utilizarem edificações, como
templos, teatros, pátios e telhados das casas, para a
coleta e a preservação de águas pluviais. Chamava
atenção que, nas cidades gregas construídas sobre
colinas, as grandes superfícies dos templos sempre se
inclinavam na direção de calhas, de forma que as
chuvas que caíam nesses terraços e seus átrios de
alvenaria escoavam por gravidade para calhas e daí
Para pensar
Como você acha que o processo de urbanização acelerada afetou o uso dos recursos hídricos?
Aula 4 | Recursos hídricos 164
para cisternas construídas mais abaixo. Existia uma
cisterna maior e dentro dela várias outras menores,
onde eram postas camadas de areia do mar com
objetivo de filtragem. É interessante observar que
como havia várias cisternas menores, não era
necessário interromper o fornecimento de água,
quando na ocorrência de operações de limpeza. Das
cisternas, um sistema de encanamentos feitos de barro
levava a água na direção dos bairros da cidade,
situados em níveis mais baixos. Este sistema de
abastecimento pode ser visto ainda hoje partindo das
ruínas do templo de Apolo de Camiros, em Rodes.
Também nessa cidade grega foram encontrados canos
de água feitos de pedra, posteriormente também
usados pelos romanos e filtros de areia. Foi na Grécia
que se iniciou o desenvolvimento de tecnologia para
captação e distribuição de água por longas distâncias
(Liebmann, 1.979).
Nos fins do século XV constata-se a importância
das fontes e chafarizes na paisagem européia, projetos
inspirados no humanismo clássico, que exigia dos
arquitetos da época grande o conhecimento de uma
nova tecnologia hidráulica ornamental.
No Vaticano um programa de reformas iniciou-se
nesta época. Construíram-se chafarizes, novos
encanamentos, banhos públicos, mecanismos para
despejos, cubas para lavagens de lã etc. Os chafarizes
desempenhavam um papel de destaque também para a
Igreja, originando uma "Nova Hidráulica Sacra" que
utilizava a concepção mística e cristianizada da Fonte
da Criação (Silva, 1.999).
As preocupações iam além da estética
renascentista presente nos parques e jardins. Em Paris,
no final do século XV, controlava-se a distribuição de
água através de canalizações e uma dezena de fontes,
Para pensar
Como você percebe esse uso ornamental da água em sua cidade? Além do valor estético, qual seria a importância da mesma?
Quer saber mais?
Sobre a ANA
A agência responsável pelo uso da água dos rios e lagos de domínio da união, assegurando quantidade e
qualidade para usos múltiplos; além de regular a implementação do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos com a participação de governos municipais, estaduais e sociedade civil é a ANA – Agência Nacional de Águas. Para consultar outros detalhes consulte seu site http://www.ana.gov.br.
Aula 4 | Recursos hídricos 165
sob a vigilância da municipalidade. Já em Londres
ocorreram importantes transformações a partir da
construção de grandes obras de ampliação da vazão de
água para abastecimento. Nesta época foi implantada a
"vigilância das águas", serviço realizado por oficiais do
rei, que tornava obrigatório o pagamento de
concessões para consumo, demonstrando já haver
conflitos em torno o uso e da apropriação do recurso
hídrico (Silva, 1999).
O período moderno foi marcado por grandes
transformações técnicas. (Azevedo Netto, 1984),
destacamos alguns desses avanços tecnológicos tais
como: o aumento do rendimento das bombas de água
na França, que captando diretamente nos rios obrigou o
governo a melhorar o controle do uso das águas de
domínio público e privado; a fabricação de tubulações
em ferro fundido em 1.664 que associada a evolução
das bombas possibilitaram posteriormente um
considerável aumento na distribuição de água
canalizada como o sistema introduzido em Londres em
1746; o uso do sulfato de alumínio para o tratamento
de água - Inglaterra, 1767; a descoberta do cloro na
Suécia em 1774; a primeira grande estação de
tratamento de água em Paris, 1800; a construção do
primeiro filtro lento - Escócia, 1804; a aplicação do
cloro para oxidação da matéria orgânica, 1.830 dentre
outras.
No Brasil, algumas dessas tecnologias foram
incorporadas um pouco depois, como a construção da
estação de tratamento de água na cidade de Campos -
RJ em 1880 e o uso de filtros lentos em Campinas em
1891 (Azevedo Netto, 1984).
O desenvolvimento da indústria têxtil,
dependente de água em abundância e a revolução
termodinâmica originada com a máquina a vapor em
Quer saber mais?
Conheça mais detalhes As variações sazonais de vazão dos rios, decorrentes das condições climáticas muitas vezes desfavoráveis, obrigavam alguns povos a armazenar água. Por outro lado, por motivos estratégicos, as cidades eram construídas normalmente em encostas e, raramente,
possuíam fontes perenes dentro de seus muros. Por isso, a água de chuva era Acumulada em cisternas para o abastecimento em períodos de carência. Para saber mais sobre a importância da variação sazonal dos rios, veja no site da ANA – Agência Nacional das Águas um exemplo de sua funcionalidade aplicada ao rio são Francisco. Http://www.ana.gov.br/gestaorechidricos/fiscalizacao/acoes_campanhasf2.asp
Aula 4 | Recursos hídricos 166
1764, causaram um forte impacto sócio-econômico e
ambiental. A Inglaterra introduziu a máquina a vapor
como força motriz para o bombeamento de água para
as cidades, tornando necessária a utilização de
equipamentos mais sofisticados e onerosos.
Já no limiar do século XX, a utilização dos
recursos hídricos no Brasil torna-se quase que um
fundamental instrumento a guarnecer os auspícios
desenvolvimentistas. Grandes projetos industriais são
incentivados pelo Poder Público, grandes hidrelétricas,
hidrovias e indústrias que dependem da água para a
realização de suas atividades foram criadas e
desenvolvidas; e o País sofreu uma modificação de
considerável destaque no desenvolvimento de seu
parque industrial, rumo ao tão almejado
desenvolvimento.
Ocorre que naquela época, principalmente
durante as décadas de 60-70, os objetivos do homem
ainda estavam moldados pela ânsia de desenvolver a
qualquer custo, esquecendo-se, porém dos recursos
naturais que valiam de instrumento propulsor ao
CURIOSIDADE
No governo de Henrique IV, ocorreram importantes
transformações a partir da construção de grandes
obras, garantindo-se uma maior vazão de água para
abastecimento. Na época, foi implantada a vigilância
das águas por oficiais do rei, sendo obrigatório o
pagamento das concessões para consumo,
demonstrando já haver conflitos de poder em torno
da apropriação dos recursos hídricos.
Durante vários séculos, a água esteve no centro das
preocupações arquitetônicas e mecânicas, seguindo
o modelo vitruviano. Schama (1996) explica que, a
partir do nascimento da hidrologia moderna, houve
um reencontro deste antigo modelo, a partir da
tradução dos ‘Dez livros de Arquitetura de Vitrúvio’,
em 1673, com os trabalhos de Pierre Perrault, de
1674, que deu origem ao clássico Tratado intitulado
‘Da Origem das Fontes.
Quer saber mais?
Para saber mais No que concerne à ‘arte’ hidráulica, conhecida através da literatura fluvial De fins do século xv e início do xvi, constata-se a importância das fontes (chafarizes) que Eram projetadas pelos artistas clássicos, inspirando-se em diversas mitologias hídricas como por exemplo, as do rio nilo e as da origem da criação grega. O movimento de retorno aos mitos da antigüidade era útil como forma de representar a origem definitiva da vida tal como um manancial. A partir do começo do século xvii, essa iluminação esotérica foi Concretizada sob a forma de chafarizes e repuxos dos jardins e parques das vilas Renascentistas.
Schama (1996) diz que: “isso exigia dos arquitetos não só grande familiaridade com a gramática da hidromitologia como toda uma nova tecnologia hidráulica ornamental.” (p.281). Schama, s., paisagem e memória. São paulo: companhia das letras, 1996
Aula 4 | Recursos hídricos 167
almejado desenvolvimento. Por outro lado, com o
Advento da Conferência de Estocolmo em 1972, o
conceito de desenvolvimento sofre uma modificação
inovadora. Pela primeira vez um documento
internacional contempla o Homem como parte
integrante do Meio Ambiente, e passa a levar em
consideração uma série de fatores que até então eram
tratados como meros bens de natureza servível. Após
a criação do conceito de desenvolvimento sustentável,
uma nova roupagem política institucional toma a
dianteira do desenvolvimento no Brasil, e,
principalmente após a vigência da Lei n.6938/81, que
criou a Política Nacional do Meio Ambiente, o Brasil
passa a tratar os seus recursos naturais de maneira
diferenciada. O Homem passa a integrar o rol de bens
que certamente estariam tutelados pelas leis de
proteção ao meio ambiente. O próprio meio ambiente
artificial e cultural passam a fazer parte integrante
desta tutela. Esta modificação em relação ao modus
operandi da política ambiental brasileira, não foi o
bastante frear a corrida para o desenvolvimento.
PARA SABER
A idéia, que a grande maioria das pessoas possui
com relação à água, é a de que ela é infinitamente
abundante e sua renovação, natural. No entanto,
ocupando 71% da superfície do planeta, 97% deste
total se constituem águas salgadas, 2,07% são
águas doces em geleiras e calotas polares (água em
estado sólido) e apenas 0,63% restam de água doce
não totalmente aproveitados por questões de
inviabilidade técnica, econômica e financeira, e de
sustentabilidade ambiental (Maia Neto, 1997).
Confira os gráficos:
Aula 4 | Recursos hídricos 168
Mais uma vez a questão dos recursos hídricos
ficou de fora, não havendo qualquer tipo de proteção
legal neste sentido. Já no final da década de 90, o
Brasil, por intermédio da lei 9433/97, ganha um
importante instrumento de ordem legal que vem a
promover uma radical modificação no tratamento
jurídico dado a água em nosso País.
Nos precisos termos do Art. 225 da CF, a água
deixa de ser um bem público de uso privado, e passa a
ser um bem público de uso comum. Ou seja, o recurso
hídrico deixou de pertencer à esfera de dominialidade
tanto do particular, como também do poder público.
Atualmente, o poder público é apenas o gestor da água,
e não o proprietário. Assim, após o advento da Lei
9433/97, que criou o Sistema Nacional de Recursos
Hídricos no Brasil, a água já não mais pertence ao
particular, mas sim a todos nós.
A nova política nacional
A Política Nacional para os Recursos Hídricos,
veio à baila mediante a publicação da Lei 9433/97, que
definitivamente estabeleceu uma nova roupagem ao
uso dos recursos hídricos no Brasil.
Veja outros dados em:
http://www.pivotvalley.com.br/valley/mestre/AGUA-
um_recurso_limitado-vpspaz.php
Quer saber mais?
Problemas e desafios O documento final da conferência internacional sobre água e desenvolvimento sustentável, ocorrido em Paris, em 1998, demonstrou que quarta parte da população mundial não tem acesso a água potável, mais da metade da população mundial carece de um saneamento
adequado, a baixa qualidade da água e a falta de higiene figuram entre as principais causas de enfermidade e morte, as inundações e as secas, a pobreza, a contaminação, o tratamento inadequado dos rejeitos e a insuficiência de infra- estrutura representam sérias ameaças ao desenvolvimento econômico e social, à saúde humana, à segurança alimentar mundial e ao meio ambiente. O acesso limitado à água, em termos de quantidade e qualidade, poderá frear o desenvolvimento sustentável.
Aula 4 | Recursos hídricos 169
Novos princípios foram criados e a política
nacional passou a ser executada de forma
descentralizada.
HISTÓRICO LEGAL
A Política Nacional para os Recursos Hídricos
tem como lei fundamental a Lei 9433/97, porém, antes
mesmo da publicação do referido dispositivo legal,
vários dispositivos normativos tentaram regrar as
modalidades de disposição da água em nosso país,
porém o diploma legal mais efetivo, que reuniu
princípios e sistematizou as ações, foi a Lei 9433/97.
Destacamos abaixo, um resumo deste histórico:
1934:
Decreto no 23.777/34 - regulariza o lançamento
de resíduo industrial das usinas açucareiras nas águas
fluviais;
Decreto no 24.643/34 - decreta o Código de
Águas.
1938:
Decreto-Lei no 852/38 - mantém, com
modificações, o Decreto no 24.643/34 (Código de
Águas), e dá outras providências.
1940:
Decreto-Lei no 2.848/40 - Código Penal, que
prevê detenção para usurpação de águas.
1945:
Decreto-Lei no 7.841/45 - Código de Águas
Minerais.
Para navegar
Conheça o Relatório Geral do Gerenciamento de Água no Brasil (2000-2025) preparado pela SAMTAC (South America Tecnhical Advise Comitee) do GWP (Global Water Parternership). Basta fazer o download do mesmo através do site: http://www.unesco.org.uy/phi/vision2025/Brasil.pdf
Aula 4 | Recursos hídricos 170
1960:
Lei no 3.824/60 - torna obrigatória a destoca e
conseqüente limpeza por parte dos proprietários rurais,
das bacias hidráulicas dos açudes, represas ou lagos
artificiais.
1965:
Lei no 4.771/65 - institui o Código Florestal,
abordando também os recursos hídricos.
1967:
Lei no 5.318/67 - institui a Política Nacional de
Saneamento e cria o Conselho Nacional de
Saneamento.
1968:
Decreto no 63.951/68 - transforma o DNAEE
criado pela Lei no 4.904/65 em Departamento Nacional
de Águas e Energia Elétrica.
1969:
Decreto-Lei no 689/69 - extingue o Conselho
Nacional de Águas e Energia Elétrica, do Ministério das
Minas e Energia passando suas competências ao
DNAEE, e dá outras providências.
1973:
Decreto no 73.030/73 - cria a SEMA - Secretaria
Especial de Meio Ambiente.
1978:
Portaria Interministerial no 090/78 - do
Ministério das Minas e Energia -, cria o Comitê Especial
de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas -
CEEIBH;
Portaria no 323/78 - do Ministério do Interior,
atendendo a Secretária Especial de Meio Ambiente -
Quer saber mais?
Disponibilidade hídrica Em termos de disponibilidade hídrica, o Brasil é considerado um país privilegiado. De acordo com Maia Neto (1997), o volume armazenado de água subterrânea é da ordem 58.000 km3 e cerca de 257.790 m3/s escoam pelos rios, correspondendo a 18% do potencial de água doce de superfície do planeta. Cerca de 89% das águas superficiais do país estão concentradas nas regiões norte e centro-oeste. Os 11% restantes localizam-se nas outras três regiões. Veja outras informações em: Maia Neto, R. F., 1997. A água para o desenvolvimento sustentável. A água em revista: Revista técnica e informativa da CPM. 9: 21-32. Nov.
Aula 4 | Recursos hídricos 171
SEMA, dispõe sobre os efeitos danosos do vinhoto,
produzido pelas usinas de álcool, no abastecimento de
água e meio ambiente;
Portaria no 468/78 - do Ministério das Minas e
Energia, dispõe sobre o uso das águas fluviais;
Portaria no 1.832/78 - do Ministério das Minas e
Energia - dispõe sobre pedidos de concessão para
derivar águas públicas pelo Departamento Nacional de
Águas e Energia Elétrica - DNAEE.
1979:
Lei no 6.662/79 - dispõe sobre a Política
Nacional de Irrigação, e dá outras providências quanto
ao uso da água, do solo, entre outras.
1980:
Portaria no 124/80 - do Ministério do Interior,
atendendo a Secretária Especial de Meio Ambiente -
SEMA, dispõe sobre poluição acidental em corpos
d'água.
1981:
Lei no 6.938/81 - dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação e sobre o Sistema Nacional de
Meio Ambiente (SISNAMA). Início de uma política
ambiental mais efetiva.
1982:
Decreto no 87.561/82 - dispõe sobre medidas de
recuperação e proteção ambiental da bacia hidrográfica
do rio Paraíba do Sul, e dá outras providências.
Dica de leitura
O manual "Conservação e reuso de água", lançado pela FIESP e ANA - orienta o setor industrial na implantação de programas de conservação e reutilização de água, insumo básico de produção. O guia visa orientar empresários, sindicalistas, técnicos do setor de recursos hídricos e funcionários de áreas técnicas de diversas indústrias favorecendo a obtenção de informações úteis na identificação, avaliação e implantação de procedimentos e/ou tecnologias adequadas para otimização do uso
do mais precioso dos líquidos na indústria.
Aula 4 | Recursos hídricos 172
1984:
Decreto no 89.336/84 - institui o Programa
Nacional de Microbacias Hidrográficas, e dá outras
providências.
1985:
Resolução CONAMA no 3/85 - cria Comissão
Especial para propor o zoneamento da Bacia Hidrológica
do Rio Paraguai.
1986:
Resolução CONAMA no 20/86 - estabelece
classificação das águas doces, salobras e salinas do
território nacional.
1987:
Resolução CONAMA no 06/87 - edita regras
gerais para o licenciamento ambiental de obras de
grande porte, especialmente aquelas nas quais a União
tenha interesse relevante, como geração de energia
hidroelétrica.
1988:
Constituição Federal de 1988 - eleva os
recursos hídricos a uma condição de especial cuidado
conforme se pode depreender do número de artigos
que abordam o tema:
Vejamos alguns de seus artigos mais
importantes:
Art. 20o, parágrafo 1o:
São bens da União:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se
Aula 4 | Recursos hídricos 173
estendam a território estrangeiro ou dele provenham,
bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
VI - o mar territorial;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do
subsolo;
§1o. É assegurada, nos termos da lei, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem
como a órgãos da administração direta da União,
participação no resultado da exploração de petróleo ou
gás natural, de recursos hídricos para fins de geração
de energia elétrica e de outros recursos minerais no
respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou
compensação financeira por essa exploração.
Art. 21o. Compete à União:
XII - explorar, diretamente ou mediante
autorização, concessão ou permissão:
b) os serviços de instalações de energia elétrica
e o aproveitamento energético dos cursos d'água, em
articulação com os Estados onde se situam os
potenciais hidroenergéticos;
XIX - instituir sistema nacional de
gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de
outorga de direitos de seu uso;
Art. 22o. Compete privativamente à União
legislar sobre:
IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;
Parágrafo único. Lei complementar poderá
autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Dica do professor
Declaração anual do uso de recursos hídricos
A partir de agora, os usuários de recursos hídricos para indústria, irrigação ou saneamento terão que declarar os volumes de água captados a cada mês durante o ano. A declaração anual de uso de recursos hídricos estabelece critérios para medição de volume de água captada em corpos de água de domínio da união. Para saber mais acesse ao site:
Http://www.ana.gov.br/destaque/destaque202.asp
Aula 4 | Recursos hídricos 174
Art. 23o. É competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as
concessões de direitos de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Art. 26o. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas,
fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste
caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da
União;
Art. 49o. É da competência exclusiva do
Congresso Nacional:
XVI - autorizar, em terras indígenas, a
exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a
pesquisa e lavra de riquezas minerais;
§ 3o. O aproveitamento dos recursos hídricos,
incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra
das riquezas minerais em terras indígenas só podem
ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
1989:
Lei no 7.754/89 - estabelece medidas para
proteção das florestas existentes nas nascentes dos
rios, e dá outras providências.
1990:
Lei no 8.028/90 - Ministério do Meio Ambiente,
Recursos Hídricos e Amazônia Legal - MMARHAL.
Portaria no 36/90 - do Ministério da Saúde,
estabelece padrões de potabilidade para água destinada
a consumo humano.
Para pensar
Considerando o percurso histórico do desenvolvimento das leis relativas à água, destaque as que você entende como mais importantes e justifique tal escolha.
Aula 4 | Recursos hídricos 175
1996:
Decreto Federal no 1.842/96 - cria o Comitê para
a Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do
Sul - CEIVAP.
1997:
Lei no 9.433/97 - institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamentando o
inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal de 1988;
Mensagem no 26/97 - comunica as razões de
alguns vetos feitos pelo Presidente da República na Lei
no 9.433/97.
2000:
Lei no 9.984/00 - dispõe sobre a criação da
Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de
implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e da coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras
providências.
2001:
Resolução ANA no 06 – institui o Programa
Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas com
objetivo de reduzir os níveis críticos de poluição hídrica
das bacias hidrográficas brasileiras e induzir a
implantação do Sistema de Gerenciamento de Recursos
Hídricos conforme previsto na Lei 9.433/97. A
Resolução trata do pagamento pelo esgoto tratado feito
pela ANA aos prestadores de serviços que investirem na
implantação de Estações de Esgotos Sanitários em
bacias hidrográficas com elevado grau de poluição
hídrica.
Para navegar
Para entender melhor esta legislação é de fundamental importância que você compreenda os pontos principais do Plano Nacional de Recursos Hídricos.
Se você desejar o mesmo encontra-se disponível no site:
http://www.ana.gov.br/pnrh_novo/Tela_Apresentacao.htm
Aula 4 | Recursos hídricos 176
Em função de sua importância solicitamos que
você leia com calma e atenção a Lei 9.433/97 em sua
integralidade procurando destacar:
Pontos principais;
Avanços e retrocessos;
Pontos claros e obscuros;
Sintonia com a constituição;
Possibilidade de fiscalização da mesma;
Participação da população.
O sistema nacional de recursos hídricos
A partir da publicação da Lei acima referida, a
água passa a ter valor em nosso ordenamento jurídico,
e todas as modalidades de uso do recurso hídrico
passam a ser taxadas, de maneira que o potencial a ser
utilizado do recurso possa ser objeto de uma cobrança
por parte do Poder Público.
Desta forma, as águas privadas ou particulares
não mais existem e o uso dos recursos hídricos passa a
ser regrado e fiscalizado.
A água não pertence mais nem ao Poder Público
e nem ao particular. Ela é um bem de USO COMUM, ou
seja, de todos nós, sem distinção. Ninguém pode mais
hoje alegar ser proprietário de recurso hídrico.
As normas do sistema nacional dos recursos
hídricos possuem características particulares que as
diferem dos demais sistemas legais brasileiros.
O primeiro fator de grande importância no
sistema está na INDEPENDÊNCIA e na AUTONOMIA de
suas normas, como podemos verificar nas leis nº
9.433/97 e 9.984/2000. Os órgãos do Sistema
Nacional dos Recursos Hídricos são autônomos e
Quer saber mais?
Plano nacional de recursos hídricos O plano nacional de
recursos hídricos é essencialmente um instrumento de planejamento estratégico que deve ser elaborado a partir das definições, princípios e diretrizes consagradas na constituição federal, na lei nº 9.433, de 1997 e nas diretrizes aprovadas pelo conselho nacional de recursos hídricos (CNRH). O CNRH não pode confundir-se com os planos estaduais de recursos hídricos ou planos diretores de bacias hidrográficas, nem com um somatório daqueles planos, e menos ainda alcançar o seu grau de detalhamento. Veja outros dados em:
Http://www.mma.gov.br/port/srh/politica/pnrh.html
Aula 4 | Recursos hídricos 177
promovem a gestão dos recursos de maneira integrada,
de forma que todas as questões debatidas são
resolvidas mediante processos transdisciplinares,
opinião pluripartidária e decisões que acolhem
interesses difusos diversos.
A própria existência do CONSELHO NACIONAL
DOS RECURSOS HÍDRICOS – CNRH, faz com que todas
as questões que venham a tomar como fundamento o
recurso hídrico, possam ser resolvidas e debatidas em
conjunto com representantes da sociedade, em virtude
da natureza difusa deste patrimônio ambiental global.
A classificação das águas
As classes de água no Brasil são estabelecidas
mediante resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA. A Resolução nº 20/86, estabelece
09 classes de água, das quais 05 são doces. Esta
mesma resolução está sendo objeto de reavaliação pelo
CONAMA, e alguns conceitos serão modificados.
Destacamos adiante o texto atual da referida
Resolução:
CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS
Vejamos como tal classificação se processa tomando
como exemplo as águas denominadas minerais:
• Águas Minerais: São aquelas provenientes de
fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas
que possuam composição química ou propriedades
físicas ou físico-químicas distintas das águas
comuns, com características que lhes confiram uma
ação medicamentosa. • Águas Potáveis de Mesa: são as águas de
composição normal, provenientes de fontes naturais
ou de fontes artificialmente captadas que
preencham tão somente as condições de
potabilidade para a região. • Águas Purificadas Adicionadas de Sais:
Aquelas preparadas artificialmente a partir de
qualquer captação, tratamento e adicionada de sais
de uso permitido, podendo ser gaseificada com
dióxido de carbono de padrão alimentício. Código de
Águas Minerais usa o termo soluções salinas
artificiais.
Dica do professor
Siga o mesmo esquema de análise que usou para examinar a lei anterior:
Procure analisar calmamente cada item da lei acima
citada destacando:
- pontos principais; avanços e retrocessos;
- pontos claros e obscuros e sintonia com a Constituição;
- possibilidade de fiscalização da mesma.
Aula 4 | Recursos hídricos 178
Para melhor entendimento da legislação acesse
e leia com atenção a Resolução CONAMA nº 20, de 18
de junho de 1986.
Peculiaridades do sistema nacional de
recursos hídricos
Após a classificação acima apontada, o sistema
Nacional dos Recursos Hídricos ainda possui
determinadas particularidades que merecem algum
destaque.
De acordo com o Art. 19 da lei 9.433/97, a água
é um recurso natural limitado, e um bem econômico
RESOLUÇÃO nº 274 de 29 DE NOVEMBRO de
2000
Segundo essa resolução a classificação de águas
segue o critério:
Águas doces: águas com salinidade igual ou
inferior a 0,50º/00;
Águas salobras: águas com salinidade
compreendida entre 0,50º/00 e 30º/00;
Águas salinas: águas com salinidade igual ou
superior a 30º/00;
Art. 2º As águas doces, salobras e salinas
destinadas à balneabilidade (recreação de contato
primário) terão sua condição avaliada nas categorias
própria e imprópria.
§ 1º As águas consideradas próprias poderão ser
subdivididas nas seguintes categorias:
Excelente;
Muito Boa;
Satisfatória.
Para consultar a lei na íntegra confira o site:
http://www.acqualan.com.br/legislacao/conama274.
Para consultar mais informações não deixe de
acessar o site:
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?
base=./agua/mineral/index.html&conteudo=./agua/
mineral/classificacao.html
Aula 4 | Recursos hídricos 179
por excelência, sendo o preço da conservação, da
melhor distribuição e o da recuperação, variáveis
necessárias ao arbitramento do valor a ser cobrado
pela utilização do recurso hídrico.
O uso múltiplo é fundamental para o exercício
da política nacional dos Recursos Hídricos,
considerando-se, inclusive o uso prioritário
(dessedentação de animais e uso doméstico) e ainda o
uso múltiplo (abastecimento público, lançamento de
esgotos, potencial hidrelétrico, transporte aquaviário).
Gestão descentralizada
A gestão e administração dos Recursos hídricos
em nosso país, de acordo com o disposto no Art. 1º, VI
da lei 9.433/97, é descentralizada e envolve a
participação tanto do Poder Público quanto da iniciativa
privada.
Os comitês de bacias hidrográficas são
elementos que comprovam claramente o exercício do
princípio da participação e publicidade do Sistema
Nacional dos Recursos Hídricos, demonstrando, assim,
a gestão descentralizada do recurso hídrico.
SOBRE OS COMITÊS DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS
Os Comitês de Bacia constituem-se na base do
Sistema de Gerenciamento. Nestes fóruns são
promovidos os debates sobre as questões
relacionadas à gestão dos recursos hídricos sendo,
por esta razão, chamado por muitos de Parlamento
das Águas, dadas as suas atribuições normativas,
consultivas e deliberativas.Estes Comitês são
constituídos por representantes dos poderes
públicos, dos usuários das águas e das organizações
civis com ações desenvolvidas para a recuperação e
conservação do meio ambiente e dos recursos
hídricos em uma determinada Bacia hidrográfica.
Sua criação formal depende de autorização do
Conselho Nacional de Recursos Hídricos que editou a Resolução nº 5/2000 que estabelece as diretrizes ge-
Aula 4 | Recursos hídricos 180
EXERCÍCIO 1
Um dos fundamentos da política nacional dos recursos
hídricos é:
( A ) Uso moderado da água;
( B ) Disponibilidade de água;
( C ) Controle absoluto do sistema hídrico;
( D ) Gestão dos mananciais;
( E ) A gestão dos recursos hídricos deve sempre
proporcionar o uso múltiplo e sustentável das águas.
EXERCÍCIO 2
A água, de acordo com o disposto na lei 9.433/97, pode
ser considerada um recurso:
( A ) Natural limitado;
( B ) Econômico;
( C ) Irrestrito;
( D ) De valor inestimável;
( E ) Mineral.
rais para a sua formação e o seu funcionamento, e
de decreto da Presidência da República.
Para saber mais detalhes sobre os Comitês e sua
importância para o gerenciamento de recursos
hídricos, acesse o site do Ministério do Meio
Ambiente:
http://www.mma.gov.br/port/srh/sistema/comitfed.
html
Ou o site da ANA:
http://www.ana.gov.br/GestaoRecHidricos/Articulac
aoInstitucional/comites2.asp
Aula 4 | Recursos hídricos 181
EXERCÍCIO 3
Consulte RESOLUÇÃO CONAMA Nº 20, DE 18 DE JUNHO
DE 1986 e responda qual seria a diferença entre águas
salinas e águas salobras?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Segundo a Lei 9.433/97 quais seriam as organizações
civis de recursos hídricos?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
A vida no planeta depende quase que
exclusivamente da água. A água é o sinônimo
perfeito para a vida;
A água é mantida em nosso planeta por
influência de vários ciclos naturais, que
efetivamente culminam no ciclo fundamental
à vida no planeta, constituído pela água;
Aula 4 | Recursos hídricos 182
O Homem a cada dia que passa utiliza a água
doce do planeta de maneira totalmente
irracional. A falsa sensação de que a água é
um recurso inesgotável faz com que os seres
humanos não atentem para a utilização
racional deste precioso bem;
Não há exemplo maior de instrumento natural
com potencial de fixação e conservação de
mananciais, do que a formação florestal. As
matas ciliares e, sobretudo as formações
florestais das encostas, certamente são áreas de
extrema importância para a conservação dos
recursos hídricos;
A formação florestal é essencial para a
fixação dos recursos hídricos e abastecimento
dos mananciais. As florestas captam as águas
pluviais e as conduzem até os mananciais,
auxiliando na formação de nascentes, fontes,
rios e olhos d’água;
No decorrer dos séculos, a utilização dos
recursos hídricos pelo Homem foi se
aperfeiçoando, porém, em virtude até mesmo
do crescimento urbanístico das metrópoles, a
ausência de uma gestão regular dos mesmos,
fez com que a água se transformasse em um
potencial meio para a transmissão de doenças
humanas;
A Agência responsável pelo uso da água dos
rios e lagos de domínio da União,
assegurando quantidade e qualidade para
usos múltiplos; além de regular a
implementação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos com a
participação de governos municipais,
estaduais e sociedade civil é a ANA;
Aula 4 | Recursos hídricos 183
O período moderno foi marcado por grandes
transformações técnicas. Azevedo Netto,
(1984), destaca alguns desses avanços
tecnológicos tais como: o aumento do
rendimento das bombas de água na França,
que captando diretamente nos rios obrigou o
governo a melhorar o controle do uso das
águas de domínio público e privado;
O desenvolvimento da indústria têxtil,
dependente de água em abundância e a
revolução termodinâmica originada com a
máquina a vapor em 1764, causaram um
forte impacto sócio-econômico e ambiental. A
Inglaterra introduziu a máquina a vapor como
força motriz para o bombeamento de água
para as cidades;
Após a criação do conceito de
desenvolvimento sustentável, uma nova
roupagem política institucional toma a
dianteira do desenvolvimento no Brasil, e,
principalmente após a vigência da Lei nº
6.938/81, que criou a Política Nacional do
Meio Ambiente, o Brasil passa a tratar os seus
recursos naturais de maneira diferenciada;
No final da década de 90, o Brasil, por
intermédio da lei nº 9.433/97, ganha um
importante instrumento de ordem legal que
vem a promover uma radical modificação no
tratamento jurídico dado a água no Brasil;
Nos precisos termos do Art. 225 da CF, a
água deixa de ser um bem público de uso
privado, e passa a ser um bem público de uso
comum. Ou seja, o recurso hídrico deixou de
pertencer à esfera de dominialidade tanto do par
Aula 4 | Recursos hídricos 184
ticular, como também do poder público;
A Política Nacional para os Recursos Hídricos
tem como lei fundamental a Lei 9.433/97,
embora seja influenciada por toda uma
legislação anterior, por exemplo: a Resolução
CONAMA no 20/86 - estabelece classificação
das águas doces, salobras e salinas do
território nacional; a Lei no 8.028/90 –
Ministério do Meio Ambiente, Recursos
Hídricos e Amazônia Legal e a própria CF de
1988;
A partir da publicação da Lei acima referida, a
água passa a ter valor em nosso
ordenamento jurídico, e todas as modalidades
de uso do recurso hídrico passam a ser
taxadas, de maneira que o potencial a ser
utilizado do recurso possa ser objeto de uma
cobrança por parte do Poder Público;
O primeiro fator de grande importância no
sistema está na INDEPENDÊNCIA e na
AUTONOMIA de suas normas, como podemos
verificar nas leis nº 9.433/97 e 9.984/2000.
Os órgãos do Sistema Nacional dos Recursos
Hídricos são autônomos e promovem a gestão
dos recursos de maneira integrada, de forma
que todas as questões debatidas são
resolvidas mediante processos
transdisciplinares, opinião pluripartidária e
decisões que acolhem interesses difusos
diversos;
A própria existência do CONSELHO NACIONAL
DOS RECURSOS HÍDRICOS – CNRH, faz com
que todas as questões que venham a tomar
como fundamento o recurso hídrico, possam ser
Aula 4 | Recursos hídricos 185
resolvidas e debatidas em conjunto com
representantes da sociedade, em virtude da
natureza difusa deste patrimônio ambiental
global;
A Resolução nº 20/86, estabelece 09 (classes
de água, das quais 05 são doces. Esta mesma
resolução está sendo objeto de reavaliação
pelo CONAMA, e alguns conceitos serão
modificados. Destacamos adiante o texto
atual da referida Resolução;
De acordo com o Art. 19 da lei 9.433/97, a
água é um recurso natural limitado, e um
bem econômico por excelência, sendo o preço
da conservação, da melhor distribuição e o da
recuperação, variáveis necessárias ao
arbitramento do valor a ser cobrado pela
utilização do recurso hídrico;
A gestão e administração dos Recursos
hídricos em nosso país, de acordo com o
disposto no Art. 1º, VI da lei 9.433/97, é
descentralizada e envolve a participação tanto
do Poder Público quanto da iniciativa privada;
Os comitês de bacias hidrográficas são
elementos que comprovam claramente o
exercício do princípio da participação e
publicidade do Sistema Nacional dos Recursos
Hídricos, demonstrando, assim, a gestão
descentralizada do recurso hídrico.
Problemática
Ambiental Urbana
Cezar L. F. Pires
AU
LA
5
Ap
res
en
taç
ão
Durante muito tempo quando se falava em meio ambiente a idéia
de cidade não era associada a este e sim a dos ambientes naturais
como os parques, as praias, as matas e outros. Hoje em dia não
há quem duvide que o espaço urbano, ou espaço construído é
uma realidade ambiental diferenciada que merece toda a atenção.
Desde de 2004 a população urbana mundial superou a rural
demonstrando que o homem escolheu, de fato, a cidade como
local de moradia. Assim sendo, estudar esse lugar, os impactos-
ambientais que este vem sofrendo de forma continuada no
decorrer da história como o problema do lixo e da poluição e o
futuro desse ecossistema particular é o objetivo maior desta aula
que pretende também mostrar as reações contrárias aos impactos
ambientais urbanos através dos movimentos ecológicos e da
criação de dispositivos legais.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Entender o espaço urbano como um ecossistema rico e
complexo que problemas sócio-ambientais específicos; Conhecer alguns dos principais desafios sócio-ambientais como
a poluição, o lixo e o crescimento desordenado;
Ter consciência dos efeitos gerados pela sociedade urbano-
industrial na crise ambiental vigente;
Aprender mais sobre das principais reações contrárias aos
impactos ambientais urbanos através do surgimento e
fortalecimento dos movimentos ecológicos além da criação de
dispositivos legais específicos;
Refletir sobre o futuro das cidades e seus desafios.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 188
Introdução
Neste módulo iremos tratar a questão dos
impactos ambientais em diferentes ecossistemas rurais
e urbanos. Este entendimento é fundamental para a
compreensão da problemática ambiental atual e a
reflexão de temas inerentes a mesma. A avaliação de
impacto ambiental (AIA) é hoje um dos instrumentos
mais importantes para auxiliar ao planejamento e
concepção de projetos na área ambiental.
Existem diferentes tipos de impacto ambiental,
tanto os de ordem fiscal quanto cultural e psicológica.
Aproveite este módulo no sentido de conhecer alguns
dos principais problemas na área ambiental e seus
impactos em diferentes âmbitos. Evidentemente que
nem todos os problemas ambientais serão aqui
tratados. Nesse módulo estaremos pensando apenas
em alguns dos principais problemas ambientais com os
quais temos defrontado, mas isso não implica que você
não faça suas pesquisas sobre problemas ambientais
específicos de sua reflexão.
Impactos ambientais
A definição de impacto ambiental e essencial
para o entendimento da problemática ambiental
contemporânea. De maneira resumida entende-se por
impacto ambiental, qualquer alteração significativa no
meio ambiente – em um ou mais de seus componentes
– provocada por uma ação humana.
Definições mais formais podem ser encontradas
abaixo, como a da Resolução CONAMA:
Qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das ati
Dica do professor
O que você entende por impacto ambiental? Procure pesquisar
mais sobre o mesmo.
Introdução 188 Impactos ambientais 188 A sociedade urbano-industrial – a sociedade de consumo 189 Intensificação da sociedade urbano industrial 192 Críticas ambientais modernas à sociedade urbano industrial 193 Poluição 196 Poluição do ar 197 Macroefeitos dos impactos ambientais 222 A reação tardia: o movimento ecológico 229
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 189
vidades humanas que, direta ou
indiretamente, afetem:
A saúde, a segurança e o bem-
estar da população;
As atividades sociais e
econômicos;
A biota;
As condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente;
A qualidade dos recursos
ambientais.
(Resolução CONAMA no 001 de
23/01/1986)
E a de Canter (1977):
Qualquer alteração no sistema
ambiental físico, químico ou biológico,
cultural e sócio-econômico que possa
ser atribuído à atividades humanas
relativas às alternativas em estudo
para satisfazer as necessidades de um
projeto.
A sociedade urbano-industrial – a
sociedade de consumo
Os impactos ambientais existem desde que a
espécie humana aparece no planeta. Mas é a partir da
revolução industrial que os impactos sobre o meio
ambiente tornam-se relevantes.
Para entendermos melhor essa questão é
fundamental, portanto que entendamos o que é a
sociedade urbana industrial oriunda da revolução
industrial.
Uma economia requer quatro tipos de capital
para funcionar adequadamente:
Capital humano – na forma de trabalho e
inteligência, cultura e organização;
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 190
Capital financeiro – consiste em dinheiro,
investimentos e instrumentos monetários;
Capital manufaturado – inclui a infra-
estrutura, as máquinas, as ferramentas e as
fábricas;
Capital natural – constituído de recursos
(matéria e energia), sistemas vivos e os
serviços dos ecossistemas.
Pode-se sintetizar a mentalidade do
sistema capitalista contemporâneo das
seguintes maneiras:
O progresso econômico tem
melhores condições de ocorrer em
sistemas de produção e distribuição de
mercado livre em que os lucros
reinvestidos tornam o trabalho e o
capital cada vez mais produtivos;
Obtêm-se vantagens competitivas
quando fábricas maiores e mais
eficientes produzem mais produtos
para a venda no mercado em
expansão;
O crescimento da produção total
(PIB) maximiza o bem-estar humano;
Todo advento de escassez de
recursos estimula o desenvolvimento
de substitutos;
As preocupações com a saúde do
meio ambiente são importantes, mas
devem equilibrar-se com as exigências
do crescimento econômico se se quiser
manter um alto nível de vida;
As empresas e as forças de
mercado livres alocarão pessoas e
recursos para o seu uso superior e
melhor.
(Hawken, Lovins e Lovins, 1999)
CRESCIMENTO ILIMITADO
Ideologia Vigente - ideologia do
crescimento ilimitado. O crescimento
acelerado e sem limites da produção
material não é só possível como
necessário e define o nível de
progresso de um país. É aceita por
todos os regimes de governos, de
esquerda ou de direita.
(Lago e Pádua, 1989)
Para pensar
Existem algumas correntes ecológicas, como o Ecossocialismo, que entendem que o verdadeiro vilão do meio ambiente é o capital nas suas mais diferentes expressões. O que você pensa sobre isto?
Dica do professor
É bom lembrar: Independente do sistema político-econômico vigente, o meio ambiente será sempre afetado. O importante é que, independente do sistema vigente, que os governantes em parceria com a sociedade civil busquem respeitar alguns princípios básicos de sustentabilidade ambiental tais como o uso responsável, a reciclagem, a preservação de espécies e etc.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 191
Com a competição de mercado do capitalismo,
uma empresa necessita de lucros crescentes para poder
financiar os gastos com a sua expansão e renovação
técnica, que lhes vão garantir sua posição no mercado.
Tem por base o acúmulo de capital obtido com a
produção, que será reinvestido no crescimento da
própria produção. Cria-se um círculo vicioso, baseado
sempre na expansão da produção.
O modelo de crescimento ilimitado,
não cresce em função das
necessidades humanas e sim de sua
própria dinâmica interna, pois o
crescimento é para ele um fim e não
um meio.
(Lago e Pádua, 1989)
Em decorrência deste modelo econômico
decorrem problemas ambientais contemporâneos
podem ser resumidos em dois tipos:
Escassez dos Recursos Naturais, incluindo os
chamados recursos naturais renováveis, que
também podem escassear ou mesmo se
extinguir, caso a demanda seja maior que a
capacidade da natureza de renová-los.
Poluição: A escassez dos recursos naturais e
a poluição não são problemas excludentes,
pelo contrário, uma é conseqüência e
influencia a outra. Por exemplo, a poluição de
um corpo hídrico leva a escassez deste recurso,
que não pode ser usado, pois se encontra degra
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 192
dado e imprestável para a maioria dos usos da
água.
Intensificação da sociedade urbano
industrial
Na década de 30 – o Fordismo traz a
massificação da produção industrial.
Pós 2º Guerra Mundial - Expansão e
intensificação do sistema. O modelo de sociedade
urbano industrial, nascido da Inglaterra e inicialmente
expandiu-se apenas para Europa e Estados Unidos
depois alcançou fortemente inúmeros países como o
Japão e os tigres asiáticos, além dos chamados países
emergentes como o Brasil, Venezuela, Chile, Argentina,
México, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia... Mais
recentemente Rússia e o leste europeu, a Índia e a
China também assumiram este modelo.
Para acumular capital (para reinvestir na
produção) e aumentar os lucros, o modelo econômico
em questão projeta-se em duas direções:
Importante
Depois da expansão urbana É importante salientar que após a expansão urbana associada, como já vimos, ao desenvolvimento econômico e crescimento populacional, gerou-se uma intensa intervenção em ambientes naturais acentuando-se o impacto da ação antrópica com a erosão e o desmatamento. O Planejamento urbano, assim como outras ferramentas de sustentabilidade urbana são meios de tentar freiar tal impacto e lutar pela qualidade de vida
nas cidades.
Importante:
PRODUTO MANUFATURADO
AMBOS IMPACTAM O MEIO AMBIENTE
Por conta da mídia o consumo de produtos se elevou a ponto de estimular o
consumo independente da necessidade do consumidor
PRODUÇÃO ------------------ CONSUMO (Ontem) PRODUÇÃO ------------------ MÍDIA ------------------------ CONSUMISMO (Hoje)
MATÉRIA PRIMA (NEM SEMPRE
EXPLORADA DE FORMA
SUSTENTÁVEL)
ENERGIA PARA (NEM SEMPRE A
PRODUÇÃO RENOVÁVEL)
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 193
Aumentar a quantidade e a diversidade da
produção. Tem como obstáculo a menor taxa
de crescimento do mercado consumidor;
Aumentar o preço dos produtos. O obstáculo
é a capacidade aquisitiva limitada dos
consumidores.
Algumas estratégias clássicas são utilizadas para
vencer tais obstáculos.
“Obsolescência planejada” – diminuição
proposital do tempo útil (durabilidade) dos
produtos (diminuição do preço do produto
com aumento da produção), forçando a
renovação de seu consumo, criando um fluxo
mercantil esbanjador e lucrativo. É o processo
de descartalização dos produtos. Ex.:
eletrodomésticos, produtos descartáveis.
“Obsolescência cultural” – a mudança de
costumes (moda), fabricada pelos veículos de
propaganda, mídia, que renovam o mercado
consumidor.
Críticas ambientais modernas à
sociedade urbano industrial
Quando tudo parecia bem na sociedade urbano
industrial, começam a aparecer às primeiras
contradições ecológicas inerentes ao seu
funcionamento.
Porém até praticamente a metade do século XX
os problemas ambientais também não emergiram de
forma mais relevante, pois:
Os impactos do desenvolvimento industrial
ainda serem pequenos e localizados;
Para pesquisar
Procure conhecer mais sobre os diferentes tipos de obsolescência. É interessante atentar para o fato de que a obsolescência pode ser provocada por fatores diversos que vão desde a aceleração do desenvolvimento tecnológico às artimanhas da mídia e da política. De qualquer modo esperamos que a luta pela preservação ambiental nunca se torne obsolescente.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 194
As questões sociais da relação trabalhador
(capital humano) versus detentor dos bens de
produção (capital financeiro e capital
manufaturado) eram mais relevantes;
O otimismo do homem com sua capacidade
com a revolução industrial ofuscou as
incoerências do modelo urbano-industrial que
estava sendo implantado.
É a partir da 2a Guerra Mundial, que começam a
surgir os primeiros problemas mais graves,
principalmente os acidentes ecológicos que mobilizaram
a atenção da sociedade. Exemplos:
1945 - Japão - bombas atômicas;
1953 - Japão - Baía de Minamata – ingestão
de peixes e moluscos contaminados com sais
de mercúrio, provenientes de resíduos
industriais de fábricas de papel, causou
epidemia de graves distúrbios neurológicos;
1962 - EUA - problemas com DDT e pesticidas
agrícolas causaram a morte de pássaros. O
tema foi levantado pela bióloga Rachel Carlon
no livro “Primavera Silenciosa” camando a
atenção da opinião pública;
ACIDENTES AMBIENTAIS
Conceitua-se acidente ambiental como evento não
previsível, capaz de, direta ou indiretamente, causar
danos ao meio ambiente ou à saúde humana, como
vazamento ou lançamento inadequado de
substâncias (gases, líquidos ou sólidos) para a
atmosfera, solo ou corpos d'água, incêndios
florestais ou em instalações industriais.
Em situações de acidentes ambientais é necessária a
coleta de amostras para a avaliação do dano
ambiental, possibilitando o desenvolvimento de
ações para a recuperação ambiental e
responsabilização dos causadores do acidente.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 195
1965 - Japão - Baía de Niigata -
contaminação com mercúrio;
1976 – Itália - Seveso localidade densamente
povoada afetada – rompimento de uma
válvula na indústria de cosméticos Hoffmann-
Roche. Vazaram cerca de 2 kg de um gás
extremamente tóxico, provocando danos
permanentes em centenas de pessoas,
obrigando o sacrifício de mais de 75.000
animais e contaminando o solo. Na região,
aumentou o número de más-formações em
recém nascidos;
1980 - EUA - Usina Nuclear de Three Miles
Island – risco de grave acidente ocasionado
por uma pane;
1984 - Índia – cidade de Bhopal -
escapamento de gás tóxico em indústria
química;
1986 - URSS - Usina Nuclear de Chernobyl –
acidente nuclear na ex-união soviética,
contaminação radioativa;
Brasil – rio Subaé (BA) – contaminação com
chumbo e cádmio despejados pela Cia
Brasileira de Chumbo (multinacional francesa)
e rio Gaíba (RS) despejos industriais de sais
de sódio e lignina. Além de altos índices de
poluição da cidade de Cubatão (SP), do rio
Tietê (SP), da baía de Guanabara (RJ) etc.
O crescimento da produção industrial e o
crescimento e concentração populacional nas cidades
começam a trazer a tona os problemas ambientais que
podem ser resumidos como:
Para pesquisar
Que outros acidentes ecológicos você conhece que não foram citados aqui? Em relação ao seu bairro que impacto ambiental possui mais gravidade? Justifique sua resposta.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 196
Escassez de recurso naturais
(solo/ar/água/animais/vegetais...);
Poluição;
Acidentes ecológicos.
Poluição
A palavra POLUIÇÃO vem do latim POLURE, que
significa sujar. As atividades humanas, principalmente
nas sociedades industrializadas modernas têm gerado
diversos tipos de poluentes: esgotos, resíduos
industriais, gases tóxicos etc. A poluição afeta
diretamente a saúde humana, além de prejudicar o
equilíbrio dos ecossistemas naturais. Ao poluir o
ambiente, a espécie humana põe em risco sua saúde e
a própria sobrevivência.
UM POUCO DE LEGISLAÇÃO
O Decreto N° 76.389, de 03 de outubro de 1975
refere-se especificamente a prevenção e o controle
da poluição industrial.
Segundo afirma o art. I deste decreto considera-se
poluição industrial:
“qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas ou biológicas do meio-ambiente, causadas
por qualquer forma de energia ou de substâncias
sólida, líquida ou gasosa, ou combinação de
elementos despejados pelas indústrias, em níveis
capazes, direta ou indiretamente, de:
I - Prejudicar a saúde, a segurança e o bem-
estar da população;
II - Criar condições adversas às atividades
sociais e econômicas;
III - Ocasionar danos relevantes à flora, à
fauna e a outros recursos naturais”.
Confira o decreto na íntegra através do site:
http://www.lei.adv.br/76389-75.htm
SOBRE A POLUIÇÃO
A Poluição pode ser definida como a introdução no
meio ambiente de qualquer matéria ou energia que
venha a alterar as propriedades físicas ou químicas ou
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 197
Poluição do ar
O ser humano ao interagir com o meio em que
vive produz resíduos dos quais uma parte deles causam
problemas de poluição do ar. Tais problemas resultam
das chamadas fontes de poluição, as quais podem ser
classificadas em específicas e múltiplas (Derisio, 1992).
As fontes específicas são aquelas que
normalmente ocupam na comunidade uma área
relativamente limitada, sendo quase todas de natureza
industrial e possibilitam a avaliação na base da fonte
por fonte. Tais fontes também são chamadas de fixas
ou estacionárias (Derisio, 1992).
As fontes múltiplas geralmente se encontram
dispersas pela comunidade e a avaliação das mesmas
através do esquema fonte por fonte é inviável. Tais
fontes podem ser fixas ou móveis. Neste conjunto estão
incluídas aquelas fontes que queimam combustíveis
(lavanderias, veículos, hospitais etc.), evaporam
produtos de petróleo, queimam resíduos sólidos, além
de atividades que produzem odores (restaurantes,
aviários etc.) (Derisio, 1992).
As fontes fixas têm nas indústrias suas fontes
mais significativas ou de maior potencial poluidor deste
ou biológicas desse meio, afetando, ou podendo
afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou
vegetais que dependem ou tenham contato com ele,
ou que nele venham a provocar modificações físico-
químicas nas espécies minerais presentes.
Tomando como base a espécie humana, tal
definição, aplicada às ações praticadas pela espécie
humana, levaria à conclusão de que todos os atos
oriundos desta espécie são atos poluidores; o
simples ato de respirar, por exemplo.
Veja outros dados no site:
http://www.gpca.com.br/poluicao.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 198
tipo. Uma usina termoelétrica, que usa carvão ou óleo
combustível, representa uma fonte fixa de grande
potencial poluidor.
Cada fonte industrial (metalúrgica, mecânica,
têxtil, bebidas, químicas etc.) de poluição atmosférica
apresenta um problema específico de poluição, pois as
emissões são resultantes das características do
processo de fabricação. A seguir algumas categorias
são apresentadas através da natureza das atividades,
tipos de poluentes emitidos e estimativas de emissão a
partir da classificação de Derisio (1992).
INDUSTRIAL DE MINERAIS NÃO METÁLICOS
Incluem principalmente as indústrias que
fabricam produtos de material cerâmico e refratário,
cimento, cimento-amianto, vidro, concreto, produtos de
gesso e produtos abrasivos.
Tipo de poluentes:
Poeiras – principalmente provenientes das
operações de redução de tamanho;
Fumaça e fumos – principalmente dos
processos de combustão e de secagem e
cozimento em fornos.
INDÚSTRIAS METALÚRGICAS – FUNDIÇÕES E
PRODUTOS.
Incluem as fundições primárias que se referem
àquelas que produzem o metal do minério, e as
fundições secundárias que incluem as que recuperam o
metal de sucatas e que produzem ligas e lingotes. No
Brasil, as siderúrgicas têm grande importância entre as
fundições primárias. Envolvem também as indústrias
Quer saber mais?
Poluição do ar (atmosférica) Pode ser definida como a introdução na atmosfera de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades dessa atmosfera, afetando, ou podendo afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou vegetais que
dependem ou tenham contato com essa atmosfera, ou mesmo que venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais que tenham contato com ela (Gil Portugal, ANO???). As fontes de poluição atmosférica são inúmeras e inúmeras são também as formas de impedir ou de aliviar a poluição. A legislação ambiental é rica em detalhes que começam por dois grandes ramos: o controle das emissões e a qualidade do ar, ambos regulamentados pelo CONAMA.. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao1.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 199
que produzem peças forjadas, laminadas, trefiladas e
extrudadas.
Tipos de Poluentes:
Fumos de óxido metálicos, poeira e produtos
de combustão da operação de fusão,
dependendo da volatilidade e impurezas dos
metais, sucata ou minério; e dióxido de
enxofre, dependendo do conteúdo do enxofre
no minério, no carvão e no combustível
utilizado.
INDÚSTRIA DE MADEIRA E MOBILIÁRIO
Incluem as indústrias de desdobramento,
compensação e produção de chapas de madeira
prensada, de fabricação de peças e estruturas de
madeira aparelhada, fabricação de artigos de cortiça e
de artigos diversos de madeira e produtos afins, e
fabricação de móveis e artigos de colchoaria.
Tipos de Poluentes:
Material particulado, gotículas de tinta,
solvente e fumaça de equipamento que
queimam resíduos.
FUMOS METÁLICOS
Alguns metais em forma de ions podem ser muito
agressivos. O tetróxido de ósmio (OsO4), conhecido
também como ácido ósmico, é um irritante bem
conhecido, produtor de laringotraqueítes, sendo
muito utilizado como catalisador, oxidante e, nos
laboratórios de histologia e anatomia patológica,
como fixador e corante. Também fumos metálicos
provenientes de fusão de metais, especialmente os
de cádmio, manganês e zinco são irritantes.
Veja outros dados no site:
http://www.medicina.ufmg.br/dmps/doencas_respir
atorias_trabalho.doc
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 200
INDÚSTRIAS QUÍMICAS E FARMACÊUTICAS
Incluem a fabricação de ilimitada variedade de
produtos: elementos químicos e produtos químicos
inorgânicos e orgânicos; matérias plásticas básicas e
fios artificiais; pólvoras e explosivos, óleos brutos,
essências vegetais e matérias graxas, animais
preparados para limpeza e polimento; desinfetantes,
inseticidas, germicidas e fungicidas; tintas, esmaltes,
lacas, vernizes, impermeabilizantes e solventes;
produtos derivados de petróleo, produtos derivados da
destilação de carvão de pedra e da madeira, produtos
farmacêuticas e medicinais; e produtos de perfumaria,
sabões e velas.
Tipos de poluentes: a tecnologia química produz
todas as formas de poluição do ar.
Fontes Móveis - os veículos automotores
constituem, juntamente com trens, aviões embarcações
marinhas, as chamadas fontes móveis de poluição do
SOBRE A POLUIÇÃO QUÍMICA
Segundo o Programa Internacional de Segurança
Química há mais de 750.000 substâncias conhecidas
no meio ambiente, sendo de origem natural ou
resultado da atividade humana (IPCS, 1992). Cerca
de 70.000 são quotidianamente utilizadas pelo
homem, sendo que aproximadamente 40.000 em
significativas quantidades comerciais (IPCS and
IRPTC, 1992). Desse total, calcula-se que apenas
cerca de 6.000 substâncias possuam uma avaliação,
considerada como minimamente adequada, sobre os
riscos para a saúde do homem e o meio ambiente.
Acrescente-se a esse quadro a capacidade de
inovação tecnológica no ramo químico, que não só
vem se complexificando os sistemas tecnológicos de
produção, como colocando à disposição do mercado,
a cada ano, entre 1.000 e 2.000 novas substâncias.
Veja mais informações no artigo de Freitas et al.
(2001) da Revista Bahia Anaálise de Dados
disponível no site:
http://www.sei.ba.gov.br/publicacoes/bahia_analise
/analise_dados/pdf/popambient_2/pag_260.pdf
Dica de leitura
O livro de PORTIN, J. e MASSARO, S. aborda a poluição causada por agentes químicos presentes no ar, na água e na terra. Sua leitura o ajudará a ficar alerta para diferenciar o que é conseqüência de uma forma de poluição daquilo que, de fato, é poluição. Vale a pena conhecê-lo.
Sua publicação é feita pela editora brasiliense. Coleção Primeiros Passos, nº 267.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 201
ar. Os veículos podem ser divididos em leves, os quais
usam gasolina e álcool como combustível, e pesados
que utilizam o óleo diesel. Tanto os veículos movidos a
diesel, como aqueles movidos a gasolina ou álcool,
produzem gases, vapores e material particulado, a
diferença reside nas quantidades que cada um deles
emite para atmosfera.
Os principais gases tóxicos são o monóxido de
carbono (CO), os compostos orgânicos usualmente
chamados de hidrocarbonetos (HC), os óxidos de
nitrogênio (NOx), os aldeídos e o material particulado
que é constituído por partículas de dimensões
diminutas, da ordem de milésimo de milímetros,
identificáveis como fuligem ou poeiras.
As emissões do sistema de exaustão dos
veículos leves são as mais significativas em relação às
demais no processo de degradação da qualidade do ar.
Os poluentes emitidos em maiores proporções são o
monóxido de carbono, os hidrocarbonetos, óxido de
nitrogênio e aldeídos.
Aqueles que usam como combustíveis o óleo
diesel e são representados pelos ônibus e caminhões
têm como principais poluentes: os óxidos de nitrogênio,
hidrocarbonetos, material particulado e odor.
POLUIÇÃO DA ÁGUA
A poluição da água ocorre com a adição de
substâncias estranhas à água, eliminando ou
diminuindo a sua aptidão para usos específicos. Para
que se possa avaliar a qualidade da água é importante
o conhecimento e a quantificação dos parâmetros de
qualidade de água.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 202
POTENCIAL HIDROGENIÔNICO
PH - é a relação numérica que expressa o
equilíbrio entre íons (H+) e íons (OH-). Sua faixa de
variação é de 0 a 14, sendo 7 o valor considerado como
neutro, isto é as concentrações de íons (H+) e (OH-)
são iguais. Águas ácidas, com pH menor que 7, têm
predominância de íons (H+) e águas básicas têm pH
maior que 7, com predominância de íons (OH-).
Alterações bruscas do pH podem prejudicar a
vida aquática, principalmente a dos peixes, que em
geral são adaptados às condições de neutralidade.
Quanto mais matéria orgânica houver a ser
decomposta, mais ácidas são as águas. É fator variável
em função do local e do momento de medição.
As maiores alterações deste indicador são, em
geral, provocadas por despejos industriais.
OXIGÊNIO DISSOLVIDO
Representa a quantidade de oxigênio em
dissolução na água. A quantidade de oxigênio dissolvido
é função direta da temperatura da água e da pressão
atmosférica. Além da atmosfera, a fotossíntese é,
também, uma fonte de oxigênio para os seres vivos.
É expresso em geral em mg/l, sendo de
importância vital, pois a maioria dos seres aquáticos
são aeróbicos, isto é, necessitam deste elemento para a
respiração.
O despejo de esgotos ou a retirada de areia do
fundo, com o conseqüente aumento de decomposição
da matéria orgânica depositada, diminui a quantidade
de oxigênio disponível na água em decorrência da
demanda microbiana.
Quer saber mais?
Poluição da água (hídrica) Pode ser definida como a introdução num corpo d’água de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades dessa água, afetando, ou podendo afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou vegetais que dependem dessas águas ou com elas tenham contato, ou mesmo que venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais
contatadas (Gil Portugal). Os efluentes líquidos industriais, dependendo de como foi utilizada a água, demandarão tratamentos com tecnologias as mais variadas. A própria água de chuva pode transformar um escoamento pluvial em poluidor. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao2.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 203
DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO - DBO
Entendido como a quantidade de oxigênio,
expressa em mg/l, necessário para a oxidação da
matéria orgânica, através da ação de bactérias
aeróbias. A oxidação é um processo de simplificação
(decomposição) da matéria orgânica, neste caso feita
pelos microorganismos, em substâncias mais simples
tais como NH3 (amônio), CO2 (gás carbônico), H2O
(água) e sais minerais.
O teste padrão chama-se DBO5,20 e procura
retratar em laboratório o fenômeno a se realizado no
corpo d'água, a temperatura constante de 20ºC e
durante um período de incubação de 5 dias.
Aumentos de DBO num corpo d'água são
provocados por despejos de origem
SAIBA MAIS
A estabilização ou decomposição biológica da
matéria orgânica lançada ou presente na água
envolve o consumo de oxigênio (molecular)
dissolvido na água, nos processos metabólicos
desses organismos biológicos aeróbicos.
Em função do citado anteriormente, a redução da
taxa de oxigênio dissolvido em um recurso hídrico
pode indicar atividade bacteriana decompondo
matéria orgânica.
Logo, surge o conceito da demanda de oxigênio em
relação à matéria orgânica, sendo muito utilizada as
demandas bioquímicas de oxigênio (DBO) e a
química de oxigênio (DQO); entende-se por DBO a
quantidade de oxigênio molecular necessária à
estabilização da matéria orgânica carbonada
decomposta aerobicamente por via biológica e DQO,
a quantidade de oxigênio molecular necessária à
estabilização da matéria orgânica por via química.
Fonte:
http://www.tratamentodeesgoto.com.br/ensaio_anal
itico/index.php?cp=ind&chave=20
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 204
predominantemente orgânica, sendo, portanto um
indicador clássico deste poluente.
DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO - DQO
Como a DBO é um indicador da presença de
matéria orgânica, podendo ser definida como a
quantidade de oxigênio necessária para oxidação da
matéria orgânica através de um agente químico,
enquanto na DBO a oxidação é realizada por bactérias
aeróbias.
Em geral a DQO tem concentrações, em mg/l,
maiores que a DBO e como sua análise é realizada em
tempo menor, serve como orientação para o teste
DBO5,20. O aumento da DQO em um corpo d'água se
deve principalmente a despejos industriais.
DUREZA
É devido principalmente aos sais de cálcio e
magnésio existentes na água. Estes compostos reagem
com sabão impedindo a formação de espuma.
NITROGÊNIO AMONIACAL
É um dos elementos mais importantes para a
vida, mas é escasso nas águas. No estudo das águas
interiores (limnologia), a concentração de amônia
refere-se, em geral, às concentrações de nitrogênio
amoniacal (mg/l) em suas duas formas (NH3 e NH4+).
O íon NH4+ é muito importante para os organismos
vivos, uma vez que, sua absorção é mais viável que a
do nitrato, também encontrado na água.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 205
Em altas concentrações, este íon diminui a
quantidade de oxigênio dissolvido e indica a existência
de muita matéria orgânica em decomposição. Em meios
alcalinos, pH alto, o íon transforma-se em gás amônia
(NH3 livre), tóxico para peixes em altas concentrações.
Resulta da decomposição do nitrogênio
proveniente do ar por assimilação de algumas algas, de
adubos e de matéria orgânica em decomposição.
NITRATOS
Expresso mg/l, mede o nitrogênio
completamente mineralizado e quando em abundância
indica, em geral, contaminação remota. Depósitos de
esterco de gado têm sido a causa da presença
acentuada de nitratos em poços rasos de água. Águas
com teores elevados de nitrato, utilizadas no preparo
de alimentos, são responsáveis pela incidência da
cianose ou metamoglobinemia como também é
conhecida, na população infantil. Para efeito de
prevenção da doença, que provoca descoloração da
pele em conseqüência de alterações no sangue, as
SOBRE O NITROGÊNIO AMONIACAL
O nitrogênio é escasso nas águas e pode ser
retirado do ar por algumas algas. Alguns adubos
utilizados na agricultura possuem nitrogênio como
principal nutriente dada a sua importância e
escassez no solo; mas também está presente nas
matérias orgânicas em decomposição. Nos animais e
vegetais o nitrogênio se encontra na forma orgânica,
mas em contato com a água, rapidamente
transforma-se em nitrogênio amoniacal. A presença
de nitrogênio amoniacal na água significa matéria
orgânica em decomposição e que o ambiente está
pobre em oxigênio. Nitrogênio Amoniacal =
presença de esgotos
Fonte:
http://www.rededasaguas.org.br/observando/qualid
ade_agua2.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 206
águas para bebida não devem ter nitratos além de 45
mg/l.
METAIS
Medido em mg/l, ocorrem nos corpos d'água
devido a despejos decorrente principalmente de
processos industriais e de minerações e garimpos. Os
principais metais analisados são listados
resumidamente abaixo.
Alumínio: são encontrados naturalmente nas
águas. Suas fontes principais são as
indústrias e estações de tratamento de água
que utilizam substâncias químicas a base de
alumínio.
Bário: é recomendado nas águas naturais,
porém em pequena quantidade, o que
decorre, sobretudo da baixa solubilidade do
sulfato de bário, forma sob a qual normalmente
se apresenta. Em certas águas minerais, o bário
SOBRE OS NITRATOS
O nitrogênio ocorre exclusivamente na forma de
ânions complexos NO3- e NH4
+, e na forma de gás na
atmosfera. Os nitratos constituem sais formados
pelo ácido nítrico HNO3, são facilmente solúveis em
água e estão confinados quase que exclusivamente
em formações geológicas relativamente recentes,
geradas em desertos continentais quentes. Eles são
formados por reações de oxidação normalmente
associada à ação de nitrobactérias em solos,
podendo-se formar ainda pela ação de descargas
elétricas, especialmente em platôs elevados. Os
nitratos mais importantes são de Na e K, sendo de
menor importância os nitratos dos alcalinos terrosos
Ca, Mg e Ba. Em ambientes desérticos sobre
depósitos de cobre, às vezes, ocorrem complexos
nitratos de cobre. Minerais complexos compostos
por nitratos e outros ânions complexos e hidratos
são conhecidos.
Fonte:
http://ns.rc.unesp.br/museudpm/banco/nitratos/nitr
atos.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 207
é também encontrado como carbonato. O
bário pode atuar sobre os sistemas nervoso e
circulatório, razão pela qual sua presença na
água não deve ultrapassar 1 mg/l.
Cádmio: encontrado nas águas naturais em
concentração bastante baixas, este metal tem
elevado potencial tóxico. Estudos realizados
mostram que o cádmio é cumulativo nos
organismos. A poluição decorre do contato da
água com a superfície interna de recipientes e
canalizações em que o metal esteja presente.
A água poluída por despejos das indústrias de
Galvanoplastia também pode apresentar teor
elevado de cádmio, que, por ser tóxico,
geralmente é limitado em águas potáveis em
0,01 mg/l.
Chumbo: é perigoso para saúde. Mesmo em
pequenas doses, é capaz de provocar doenças
e até a morte, desde que seja prolongada a
sua ação. Ingerido em pequenas quantidades,
porém continuamente, torna-se veneno
cumulativo. A intoxicação crônica que causa é
conhecida por saturnismo. Nas condições
naturais apenas traços do metal são
encontrados na água, excetuando-se nas
regiões ricas em galena, onde as concentrações
podem atingir até 0,8 mg/l. Na maioria das
vezes, a presença de chumbo na água
decorre da poluição desta por certos despejos
industriais, ou de seu contato com o metal
nos encanamentos. Além da água, o ar e a
fumaça de tabaco podem servir de veículo de
penetração do chumbo no organismo. Embora
os padrões de potabilidade limitem de 0,5 a
0,10 mg/l o teor de chumbo na água, o certo
seria o estabelecimento de um limite ou limites
Quer saber mais?
Sobre o cádmio Cádmio é um metal mole, branco acinzentado, bom condutor de calor e eletricidade. Foi descoberto por Friedrich Stroemeyer em 1817 (alemanha). O nome originou-se do termo latino cadmia que significa calamine (carbonato de zinco, znco3), ou da palavra grega kadmeia com o mesmo significado. É um metal macio, maleável e branco azulado. Embaça ao ar, é solúvel em ácidos e insolúvel em álcalis. O cádmio fervente libera um vapor venenoso de cor amarela. O cádmio pode causar uma variedade de
problema com a saúde inclusive falha renal e pressão alta. A exposição crônica ao cádmio, até mesmo a concentrações relativamente baixas, pode resultar em dano permanente do rim e pulmão, pode danificar o fígado, pode causar anemia, perda de olfato e risco de aumento de câncer do pulmão e da próstata. Fonte: Http://ns.rc.unesp.br/museudpm/banco/nitratos/nitratos.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 208
com vistas às diversas vias de acesso ao
organismo.
Cobre: é geralmente encontrado na águas
naturais de regiões onde o metal é explorado.
Seu teor, todavia, é bem menor que o capaz
de tornar a água tóxica, facilmente rejeitável
por seu gosto repugnante. Quando supera 1,0
mg/l, o cobre já pode provocar gosto na
água, razão pela qual esse é o valor limite
dos padrões norte-americanos de
potabilidade.
Cromo: sua ocorrência natural nas águas é
rara e pode ser encontrado na forma
hexavalente e na forma trivalente, sendo a
primeira mais tóxica apesar de não tem poder
cumulativo. Com 0,5 mg/l de bicromato de
potássio já tem ação tóxica no homem. Os
padrões de potabilidade limitam em 0,5 mg/l.
Sua presença se deve principalmente a
despejos industriais como galvanoplastias,
processo químico e eletrolítico de
revestimento de superfícies metálicas.
Ferro: do mesmo modo que o cobre, o ferro
só torna a água tóxica em teor bastante
elevado, água essa que seria refugada para
bebida pelo sabor assaz desagradável limite
de 0,30mg/l estabelecido para o ferro, nos
padrões de potabilidade, decorre
exclusivamente do sabor que o metal confere
a água e das manchas que este pode produzir
nas roupas brancas e louças sanitárias. A
presença do metal na água é capaz de
comprometer o gosto do chá e do café.
Quer saber mais?
Sobre o cromo Alguns cientistas catalogaram o cromo como "o milagre médico dos anos 90", o uso de suplementos diários desse mineral previne diabetes, queima gordura e acelera a perda de
peso. Ele ajuda o organismo a utilizar de forma mais eficaz a insulina e a manter os níveis normais de açúcar (glicose) no sangue. A suplementação de cromo pode impedir a ocorrência de diabete tipo 2 em pessoas com resistência à insulina. O cromo auxilia o organismo a utilizar a insulina, um hormônio que transfere o açúcar do sangue (glicose) para as células onde é usado como combustível. Quando existe cromo suficiente, o corpo humano utiliza a insulina de forma eficiente e mantém níveis sanguíneos normais de glicose. Além disso, o cromo ajuda no processamento de proteínas para o aumento de massa muscular e na perda de peso como queimador de gorduras. Fonte: Http://www.vitabrasilnet.com.br/cromo.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 209
Magnésio: este metal tem sua concentração
limitada porque alguns de seus sais podem
conferir à água dureza, como o carbonato de
magnésio, ou ação purgativa, como sulfato de
magnésio. Enquanto os padrões brasileiros de
potabilidade limitam o magnésio em função
do valor máximo tolerado para dureza, que é
de 200 mg/l, os padrões norte-americanos
fixam o teor máximo do metal em 125 mg/l.
Manganês: sua presença além de certos
limites pode causar cor e gosto na água, bem
como estimular nesta o desenvolvimento de
microrganismos indesejáveis. Com o ferro, ao
qual geralmente se associa na água, é capaz
de provocar manchas nas roupas e sabor
desagradável no chá e café. Em doses
elevadas pode ser tóxico. No Japão, por
exemplo, houve certa feita casos de
intoxicação alguns culminando em óbitos, em
decorrência da poluição de poços por
quantidade elevada do metal. Em certas
regiões da Mantechuria existe uma rara
doença endêmica atribuída por alguns ao
excesso de manganês ingerido, cuja
concentração máxima na água potável deve ser
de 0,05 mg/l, segundo os padrões norte-
americanos.
SOBRE O MANGANÊS
O manganês é um metal cinza brilhante, duro e é
oxidado superficialmente em contato com o ar,
perdendo o brilho. É um metal de transição e
pertence ao grupo 7 da Tabela Periódica.
O elemento foi identificado por C. W. Scheele e T.
Bergman e isolado por J. G. Gahn em 1774, pela
redução do dióxido de manganês (MnO2) com carbono
(C).
O manganês é um metal abundante que ocorre na
forma de minerais. É considerado um elemento
estratégico na economia mundial, pois tem amplo uso
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 210
Prata: excepcionalmente é encontrada nas
águas naturais, tanto por ser rara como pela
baixa solubilidade de seus sais. Certos
despejos industriais podem carrear para a
água traços do metal, cuja ação nociva é
discutível. Por ser também utilizada como
desinfetante, estabelecem-se limites de
concentração para seu uso, porque depois de
ingerida, dificilmente é eliminada pelo
organismo.
Zinco: encontra-se em algumas águas
naturais, particularmente nas regiões onde é
explorado. Sua presença em águas tratadas é
controlada porque quando ultrapassa certos
teores, definidos em 15 mg/l nos padrões
brasileiros e em 5 mg/l nos padrões dos
estados unidos, torna a água de sabor
desagradável. Como o ferro e o cobre, o zinco
pode torna-se tóxico em dose elevada,
propiciando, todavia, imediata rejeição da
água pelo sabor que provoca.
comercial e distribuição geográfica desigual. É
também, um importante elemento para vida animal
e vegetal.
Aços especiais;
Na fabricação de cofres;
Ligas com alumínio (Al) e antimônio (Sb);
O dióxido de manganês é um descolorizador de
vidro com impurezas de ferro;
Colocação de vidros na cor da ametista (violeta),
ele é responsável pela cor da ametista
verdadeira;
Os permanganatos são agentes oxidantes fortes e
são usados em análise quantitativa e em
medicina.
O seu dióxido é usado no preparo químico de
oxigênio, cloro e na secagem de tintas pretas.
Fonte:
http://www.christus.com.br/infochristus/tabperiodic
a/elementos/manganes/manganes.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 211
PRAGUICIDAS
Podem ser chamados de inseticidas, herbicidas,
fungicidas, carrapaticidas, raticidas etc. Os praguicidas
podem ser divididos em orgânicos e inorgânicos. Os
orgânicos sintéticos são os mais utilizados, destacando-
se os organoclorados, que são mais usados devido a
fatores técnico-econômicos e os organofosforados,
preferíveis do ponto de vista ambiental por serem
menos tóxicos. São expressos em mg/l.
Os peixes e organismos aquáticos são muito
mais sensíveis a sua toxidade que outros animais,
incluindo o próprio homem.
A contaminação dos corpos d'água pelos
pesticidas se dá mais pelo seu uso agrícola do que pela
sua fabricação.
ATENÇÃO
Existe uma farta bibliografia sobre os praguicidas e
seus efeitos. Não deixe de consultar na internet
também vários efeitos sobre esse tema como o de
Mônica Nunes e Heloisa Tajara em relação aos
efeitos tardios de praguicidas organoclorados no
homem disponibilizado no site abaixo. Ainda assim
leia antes um pequeno resumo deste artigo
imperdível:
Os compostos organoclorados são os praguicidas
mais persistentes já fabricados. Embora sejam
geralmente eficientes no controle das pragas, são
importantes poluentes ambientais e potenciais
causas de problemas de saúde para o homem, tendo
sido proibidos ou controlados na maioria dos países.
Com poucas exceções, os efeitos tardios desses
compostos sobre a saúde humana são difíceis de
detectar, em função de dificuldades metodológicas e
da extrapolação dos resultados. A genotoxicidade
está entre os mais sérios dos possíveis danos
causados por esses compostos e merece atenção
especial, devido à natureza irreversível do processo.
Consulte já o mesmo na íntegra.
http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v32n4/a2411.pdf
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 212
NUTRIENTES
São compostos principalmente a base de
nitrogênio e fósforo. Estes dois compostos ocorrem na
natureza em pequenas concentrações medidas em
mg/l.
Em determinadas condições possibilitam o
aparecimento e a proliferação de organismos aquáticos
e conseqüentemente a eutrofisação de corpos d'água
dormentes. A eutrofisação é um fenômeno que
caracteriza-se pelo aumento na presença de algas e
plantas aquáticas. Este processo pode causar um
desequilíbrio do ecosistema causando prejuízos
principalmente ao abastecimento público, a navegação,
a geração de energia, a recreação etc. Suas fontes
principais são os esgotos domésticos e fertilizantes
agrícolas.
ÓLEOS E GRAXAS
São encontrados devido principalmente a
indústrias alimentícias e postos de combustível e
expressos em mg/l.
COMPOSTOS FENÓLICOS
Os padrões de potabilidade limitam geralmente
os sólidos totais em 1000 mg/l, porque daí para cima
podem provocar reações fisiológicas. É comum
encontrarem-se águas naturais com teores bem mais
elevados, que, no entanto, podem ser removidos por
tratamento. Tem como fontes principais a siderurgia e
a indústria de tintas e solventes.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 213
CLORETOS
A maioria das águas naturais possui cloretos em
solução. Nas águas tidas como doces, a presença de
cloretos ocorre naturalmente ou decorre de poluição
por parte da água do mar, esgotos sanitários ou
despejos industriais. Os padrões de potabilidade
geralmente limitam os cloretos 250 mg/l porque
quando ultrapassam este valor causam sabor
acentuado na água para bebida. Para uso doméstico há
quem recomende o teor máximo de 100 mg/l. Os
cloretos provocam reações fisiológicas somente quando
ingeridos em grande quantidade, através de águas que
os contêm em alto grau, como o do mar. Podem
funcionar também como indicadores de poluição por
parte de esgotos sanitários, desde que a água
normalmente os possua em pequena quantidade. Em
teores elevados podem também aumentar a
corrosividade da água.
SULFATOS
Águas com elevadas concentrações destes sais,
como as que mantêm contato prolongado com
SOBRE COMPOSTOS FENÓLICOS
Os compostos fenólicos estão presentes em todos os
vegetais e compreendem um grupo heterogêneo de
substâncias, umas com estruturas químicas
relativamente simples e outras complexas, como
taninos e ligninas. No café, esses compostos
contribuem de maneira altamente significativa para
o sabor e o aroma do produto final.
Os compostos fenólicos possuem em comum um
anel aromático rodeado por um ou mais grupos
hidroxila. A maioria é solúvel em água e ocorrem na
forma de glicosídeos. Eles são originados a partir da
via do ácido chiquímico e acumulam-se nos vacúolos
das células vegetais.
Fonte:
http://geocities.yahoo.com.br/plantastoxicas/fenolic
os.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 214
depósitos naturais de sulfatos de magnésio ou de
sulfato de sódio podem funcionar como laxativo, razão
pela qual seu teor é limitado em 250 mg/l pelos
padrões de potabilidade.
ARSÊNIO
Raramente é encontrado nas águas naturais.
Sua presença é causada por despejos industriais,
atividades de mineração ou pelo uso de inseticidas ou
herbicidas. Além de sua ação tóxica, o arsênico pode
provocar câncer de pele quando existe na água em
dose elevada. Casos desta moléstia foram registrados
na África do Sul e em Córdoba, argentina, atribuídos à
água com 12 mg/l de arsênico. Os padrões de
potabilidade norte-americanos limitam em 0,05 mg/l o
teor de arsênico. No Brasil, ainda tolera-se 0,10 mg/l e,
na Inglaterra, 0,2 mg/l.
PARA SABER MAIS
Os sulfatos anidros mais importantes e mais comuns
são os membros do grupo da barita, com grandes
cátions bivalentes coordenados com os íons sulfato.
A estrutura relativamente simples conduz à simetria
ortorrômbica, com clivagem perfeita {001} e {110}.
O sulfato de cálcio (anidrita), por causa do tamanho
menor do íon Ca, tem estrutura ligeiramente
diferente, possuindo três clivagens pinacoidais. As
propriedades físicas são em geral conferidas pelo
cátion dominante, sendo a densidade diretamente
proporcional ao peso atômico do cátion. Entre os
sulfatos hidratados, o gipso é o mais importante e
abundante e a sua estrutura, como sugerido pela
sua clivagem perfeita {010}, é em folhas,
consistindo em camadas de íons Ca e sulfato,
separadas por moléculas de água. A perda destas
moléculas de água faz com que a estrutura entre em
colapso, tomando a configuração da anidrita, com
grande diminuição de volume e perda da perfeição
da clivagem. Veja uma lista detalhada dos principais
sulfatos no site:
http://www.rc.unesp.br/museudpm/banco/sulfatos/s
ulfatos.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 215
SELÊNIO
Raramente é encontrado nas águas naturais. A
maior concentração registrada foi em água subterrânea
com o valor de 1.600 mg/l. Além de tóxico concorre
para incidência de cárie dentária nas crianças. Por outro
lado, a sua ausência total é prejudicial à nutrição. Os
padrões americanos atuais estabelecem o limite de
0,01 mg/l.
CIANETOS
São muito tóxicos e sua presença nas águas
naturais é causada pelos despejos industriais. Uma
única dose de 50mg/l pode ser fatal. Os padrões norte-
americanos recomendam o limite de 0,01 mg/l e
rejeitam a água com 0,2 mg/l.
PERIGOS DOS CIANETOS
Inalação:
É corrosivo ao trato respiratório. A substância inibe
a respiração celular e pode causar alterações no
sangue, sistema nervoso central e tireóide. Pode
causar dores de cabeça, fraqueza, tontura, náuseas,
respiração difícil e vômito, os que podem ser
seguidos por batimentos cardíacos fracos e
irregulares, perda da consciência, convulsões, coma
e morte.
Ingestão:
Extremamente tóxico! Corrosivo para o trato
gastrointestinal com queimaduras na boca e
esôfago, e dor abdominal. Doses maiores podem
provocar rápida perda da consciência e morte súbita
por parada respiratória. Doses menores, porém
ainda letais, podem prolongar a doença por uma ou
mais horas. Cheiro de amêndoas amargas pode ser
notado na respiração ou no vômito. Outros sintomas
podem ser semelhantes aos descritos, para o caso
de inalação. Contato com a pele:
Corrosivo. Pode causar dor severa e queima da pele.
Soluções são corrosivas para a pele e olhos, e
podem causar dor intensa e queimaduras na pele,
além de úlceras profundas que demoram para sarar.
Fonte:
http://www.qca.ibilce.unesp.br/prevencao/produtos/
cianeto.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 216
CLORO
O cloro livre dissolvido não é encontrado nas
águas naturais e sim nas de suprimento público após
tratamento, quando é utilizado como desinfetante.
Neste caso, é desejável um residual de 0,1 a 0,2 mg/l
para manter a água desinfetada até o consumidor final.
Porém tais concentrações já conferem à água um leve
sabor desagradável.
BORO
Não causa nenhum distúrbio no organismo
quando existe abaixo de 30 mg/l, como ocorre nas
águas naturais. Sabe-se, todavia, que o boro pode ser
prejudicial a certas plantas. Para as cítricas, a água
com mais de 1,0 mg/l já é considerada prejudicial.
GÁS SULFÍDRICO
Decorrente da decomposição de matéria
orgânica, este gás confere à água gosto de ovo podre,
razão pela qual sua presença, já percebida dentro das
concentrações de 0,1 a 1,0 mg/l, é indesejável.
SÍLICA
É encontrada nas águas naturais até 110 mg/l,
concentração em que não chega a molestar o
organismo.
FLUORETOS
As águas mais ricas em fluoretos são as
subterrâneas, que podem possuí-los até 50 mg/l. Nos
mananciais de superfície raramente o teor de 1 mg/l é
ultrapassado. Quando a concentração de fluoreto na
água supera 1,5 mg/l, já podem surgir os primeiros
Quer saber mais?
Sobre os fluoretos
Os fluoretos são muito utilizados também na área odontologia. Nos casos que a doença dentária se encontra em estágios iniciais, isto é, lesões brancas sem cavitação, se faz necessária a terapia com fluoretos em alta concentração, com o objetivo de remineralizar as manchas brancas, tornando-as mais resistentes aos ataques de cárie. A mancha branca é a manifestação inicial da doença cárie, significando que o paciente está doente e precisa de cuidados e orientação profissional para reverter a atividade, não permitindo a progressão destas e o aparecimento de outras novas.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 217
sintomas da fluorose dentária. Ao atingir 4 mg/l toda a
população já é vítima da doença e ultrapassando 8 mg/l
ocorrem alterações ósseas. Os padrões de potabilidade
norte-americanos limitam em 1 mg/l o teor do fluoreto.
Por outro lado, a presença de flúor na água é desejável
em doses inferiores ao limite por ser benéfico na
prevenção da cárie dentária, sobretudo nas crianças.
COLIFORMES
Parâmetro que permite avaliar de forma indireta
o potencial de contaminação da água por
microorganismos patogênicos de origem fecal.
Normalmente não são bactérias patogênicas, mas por
serem resistentes e numerosos no intestino humano,
sua presença permite detectar a existência de fezes na
água, as quais muitas vezes, estão associadas à
presença de bactérias patogênica. Sendo a investigação
direta dos seres patogênicos inviável na prática, os
coliformes têm se mostrado até então como os
melhores indicadores da possível presença de seres
patogênicos.
POLUIÇÃO DO SOLO
As fontes de poluição do solo podem ser de
origem natural, associadas às catástrofes como
terremotos, vendavais, erupções vulcânicas e
enxurradas e inundações ou derivadas da atividade
humana, a saber:
Poluição devida aos resíduos de sólidos
domésticos, hospitalares e industriais;
Poluição devida aos resíduos líquidos
sanitários e industriais;
Poluição devida à urbanização e ocupação do
solo;
Poluição devida às atividades agropastoris
Para navegar
Vale a pena consultar esse portal de prevenção a sílica e a silicose do Ministério do Trabalho e Emprego do governo federal. http://www.fundacentro.gov.br/start/default.asp?D=SES
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 218
Poluição devida às atividades extrativas e de
mineração;
Poluição acidental devida ao transporte de
cargas.
Os resíduos são, via de regra, dispostos
diretamente sobre o solo, seja na forma de aterros,
seja por infiltração ou pela simples acumulação sobre o
solo.
Os resíduos sólidos domésticos são aqueles
gerados pelas residências e outras edificações urbanas
como as ligadas ao comércio. Sua composição varia em
função do nível sócio-econômico da comunidade. A
tabela abaixo apresenta a composição média do lixo da
cidade de São Paulo.
Tipo de Material %
Papel e papelão 24,0
Madeira 1,0
Trapos 1,0
Restos de alimentos 41,0
Metais ferrosos e não ferrosos 6,0
Vidro 8,0
Terra e similares 9,0
Outros 2,0
Os resíduos hospitalares, que inclui também
resíduos gerados por farmácias e laboratórios de
análise, são aqueles que por suas características podem
apresentar materiais contaminados com
microorganismos patogênicos.
Os resíduos industriais são de composição muito
variável dependendo da tipologia industrial. A título de
ilustração a tabela abaixo apresenta dados resumidos
dos resíduos sólidos gerados na indústria metalúrgica.
Quer saber mais?
Poluição do solo A disposição sobre o solo de materiais
orgânicos e/ou inorgânicos, bem como a passagem sobre esse solo de massa fluida, que provoque alterações na constituição básica desse solo, modificando suas propriedades originais benéficas ao uso das espécies que dele dependem ou com ele se contactem, inclusive influenciando a qualidade das águas sob esse solo, caracteriza a poluição deste solo (Gil Portugal, ANO???). Geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e que não guardam interesse imediato pelo gerador que deseja, de alguma forma, se desfazer deles. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao3.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 219
Tipo de Material %
Resíduo geral da fábrica 25,0
Escória de fundição 26,0
Areia de fundição 20,0
Sucatas metálicas 5,0
Resíduos de refratários e minerais não metálicos 5,0
Lodos de sistemas de tratamento de águas
residuárias
4,0
Resíduos contendo cianetos 0,1
Outros resíduos 14,9
Os resíduos sólidos de uma forma geral são
classificados de acordo com sua periculosidade e
características em:
Classe 1 - perigoso todo o resíduo sólido ou
mistura de resíduos sólidos que, em função de suas
características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem
apresentar risco à saúde pública, provocando ou
contribuindo para um aumento de mortalidade ou
incidência de doenças, e/ou apresentam efeitos
adversos ao meio ambiente quando manuseados ou
dispostos de forma inadequada;
Classe 2 - não inerte todo resíduo sólido ou
mistura de resíduos sólidos que, não se enquadram na
classe 1 ou 3. Nesta classificação incluem-se os
resíduos sólidos domiciliares;
Classe 3 - inerte todo resíduo sólido ou mistura
de resíduos sólidos que, submetidos a um teste de
solubilidade, não tiverem nenhum de seus constituintes
solubilizados em concentrações superiores aos padrões
de potabilidade de água.
Os resíduos líquidos são em geral oriundos de
sistemas de fossas e sumidouros ou valas de infiltração
ou devido às águas pluviais que após lavar aterros
Dica do professor
Agora é com você:
Compare as tabelas e compare-as com as estatísticas de sua cidade.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 220
sanitários e outras localidades poluídas, se infiltram no
solo.
POLUIÇÃO SONORA
O som, vencendo qualquer tentativa de
privacidade, transformou-se num invasor comunitário
em todas as camadas sociais. As indústrias vêm sendo
instaladas junto às residências, com todas as
implicações do impacto ecológico, num crescimento
desordenado e gerador de muitos incômodos, gerando
problemas de trânsito. Com isto, há um violento
acréscimo dos níveis de ruídos ambientais, que já não
são mais localizados como no caso das indústrias, mas
sim afetam toda a comunidade.
As fontes de ruído podem ser divididas em
estacionárias e móveis. As fontes estacionárias são
aquelas que se encontram fixadas em um determinado
local, como por exemplo: os processos e operações
industriais, as construções e o comércio (casas
noturnas).
As fontes móveis são aquelas que se
movimentam de um local para outro. Como principais
fontes destacam-se os veículos automotores, as
aeronaves e os trens.
POLUIÇÃO SONORA
Poluição Sonora é qualquer alteração das
propriedades físicas do meio ambiente causada por
puro ou conjugação de sons, admissíveis ou não,
que direta ou indiretamente seja nociva a saúde,
segurança e ao bem.
Há cerca de 2500 anos a humanidade conhece os
efeitos prejudiciais do ruído à saúde. Existem textos
relatando a surdez dos moradores que viviam
próximos às cataratas do Rio Nilo, no antigo Egito. O
desenvolvimento da indústria e o surgimento dos
grandes centros urbanos acabou com o silêncio de
boa parte do planeta. O primeiro decreto que se
conhece para a proteção humana contra o ruído no
Brasil, é de 6 de maio de1824, no qual se proíba o “ruí
Quer saber mais?
Resíduos sólidos A disposição sobre o solo de materiais orgânicos e/ou inorgânicos, bem como a passagem sobre esse solo de massa fluida, que provoque alterações na constituição básica desse solo, modificando suas propriedades originais benéficas
ao uso das espécies que dele dependem ou com ele se contatem, inclusive influenciando a qualidade das águas sob esse solo, caracteriza a poluição deste solo (gil portugal). Geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e que não guardam interesse imediato pelo gerador que deseja, de alguma forma, se desfazer deles. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao3.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 221
POLUIÇÃO RADIOATIVA
Para que se fale em poluição radioativa, deve-se
primeiramente definir radiação. Radiação é o efeito
químico proveniente de ondas de energia calorífica,
luminosa etc. Existem três tipos de radiação:
Raios alfa e raios beta, que têm a absorção
mais fácil, e
Raios gama, que são muito mais penetrantes
que os primeiros, já que se tratam de ondas
eletromagnéticas.
O contato contínuo à radiação causa danos aos
tecidos vivos, tendo como principais efeitos a leucemia,
tumores, queda de cabelo, diminuição da expectativa
de vida, mutações genéticas, lesões a vários órgãos
etc. Assim, a poluição radioativa é o aumento dos
níveis naturais de radiação por meio da utilização de
substâncias radioativas naturais ou artificiais.
A poluição radioativa tem como fontes:
Substâncias radioativas naturais: são as
substâncias que se encontram no subsolo, e
que acompanham alguns materiais de
interesse econômico, como petróleo e carvão,
que são trazidas para a superfície e
espalhadas no meio ambiente por meio de
atividades mineradoras;
do permanente e abusivo da chiadeira dos carros
dentro da cidade", estabelecendo multas que iam de
8 mil réis a 10 dias de cadeia, que se
transformavam em 50 açoites, quando o infrator era
escravo.
Fonte:
http://geocities.yahoo.com.br/poluicaosonora/poluic
aosonora.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 222
Substâncias radioativas artificiais: substâncias
que não são radioativas, mas que nos
reatores ou aceleradores de partículas são
“provocadas”.
POLUIÇÃO VISUAL
Paredes pichadas, ruas cheias de placas de
propaganda, "camadas" de cartazes, umas por cima
das outras, faixas nos postes são responsáveis pela
poluição visual. Essa forma de poluição não causa
problemas de saúde, mas enfeia o ambiente, deixando-
o sujo e bem menos repousante.
Um tipo particular de poluição visual é a
luminosa. À primeira vista não parece, mas ela existe
e, em excesso, causa diversos prejuízos. A iluminação
dos grandes centros urbanos é feita de qualquer
maneira e com desperdício de energia, esse tipo de
iluminação diminui a transparência da atmosfera,
prejudicando a visão do céu noturno e atrapalhando o
sono das pessoas que moram em frente dos luminosos.
Macroefeitos dos impactos ambientais
CHUVA ÁCIDA
A chuva será considerada ácida quando tiver um
pH inferior a 5,0, ocorrendo não apenas sob a forma de
chuva, mas também como neve, geada ou neblina.
Decorre da queimada de combustíveis fósseis,
produzindo gás carbônico, formas oxidadas de carbono,
nitrogênio e enxofre. Esses gases, quando liberados
para a atmosfera, podem ser tóxicos para os
organismos.
Quer saber mais?
Poluição visual Poluição visual pode ser definida como qualquer tipo de "agressão" aos olhos da população. Isso engloba lixo espalhado pelas ruas, pichações em muros (o que é muito diferente da arte grafite), o excesso de outdoors, placas publicitárias e fios elétricos. A foto (????) acima é um exemplo de pichação que ilustra a poluição visual. Veja a diferença da mesma para a foto abaixo (?????) que se refere ao grafite, uma arte de rua que ao contrário da
pichação não agride os olhos.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 223
O dióxido de enxofre provoca a chuva ácida
quando se combina com a água presente na atmosfera,
sob a forma de vapor. As gotículas de ácido sulfúrico
resultantes dessa combinação geram sérios danos às
áreas atingidas. Além dos sérios danos ao meio
ambiente natural, as chuvas ácidas também constituem
séria ameaça ao patrimônio cultural da humanidade,
corroendo as obras talhadas em mármore, que por ser
uma rocha calcária, dissolve-se sob a ação de
substâncias ácidas.
EFEITO ESTUFA
Fenômeno de elevação da temperatura média da
Terra, que ocorre pelo aumento considerável na
concentração de gás carbônico na atmosfera,
provocado principalmente pela queima de combustíveis
fósseis e desmatamentos, formando assim uma espécie
CHUVA ÁCIDA
Tanto o gás carbônico como outros óxidos ácidos,
por exemplo, SO2 e NOx, são encontrados na
atmosfera e as suas quantidades crescentes são um
fator de preocupação para os seres humanos, pois
causam, entre outras coisas, as chuvas ácidas.
O termo chuva ácida foi usado pela primeira vez por
Robert Angus Smith, químico e climatologista inglês.
Ele usou a expressão para descrever a precipitação
ácida que ocorreu sobre a cidade de Manchester no
início da Revolução Industrial. Com o
desenvolvimento e avanço industrial, os problemas
inerentes às chuvas ácidas têm se tornado cada vez
mais sérios.
Um dos problemas das chuvas ácidas é o fato destas
poderem ser transportadas através de grandes
distâncias, podendo vir a cair em locais onde não há
queima de combustíveis.
Veja mais informações nos sites:
http://www2.uol.com.br/joanaprado/joana_natureza
/natureza_poluicaovisual.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 224
de “coberta” sobre a Terra que impede a expansão do
calor.
O crescente aumento do teor do gás carbônico
na atmosfera faz com que a temperatura da Terra
esteja aumentando, o que pode ocasionar grandes
distúrbios climáticos, como por exemplo:
Aumento da mortalidade relacionada ao calor
(internação, desidratação);
Elevação do potencial de epidemias por
microorganismos (enchentes, transmissão de
vetores);
Evaporação da água transformando grandes
massas em desertos;
Derretimento das calotas polares elevando o
nível do mar e ameaçando as cidades
costeiras.
EFEITO ESTUFA
O Efeito Estufa é a forma que a Terra tem para
manter sua temperatura constante. A atmosfera é
altamente transparente à luz solar, porém cerca de
35% da radiação que recebemos vai ser refletida de
novo para o espaço, ficando os outros 65% retidos
na Terra. Isto se deve principalmente ao efeito
sobre os raios infravermelhos de gases como o
Dióxido de Carbono, Metano, Óxidos de Azoto e
Ozônio presentes na atmosfera (totalizando menos
de 1% desta), que vão reter esta radiação na Terra,
permitindo-nos assistir ao efeito calorífico dos
mesmos.
Nos últimos anos, a concentração de dióxido de
carbono na atmosfera tem aumentado cerca de
0,4% anualmente; este aumento se deve à
utilização de petróleo, gás e carvão e à destruição
das florestas tropicais. A concentração de outros
gases que contribuem para o Efeito de Estufa, tais
como o metano e os clorofluorcarbonetos também
aumentaram rapidamente. O efeito conjunto de tais
substâncias pode vir a causar um aumento da
temperatura global (Aquecimento Global) estimado
entre 2 e 6 ºC nos próximos 100 anos. Um
aquecimento desta ordem de grandeza não só irá
alterar os climas em nível mundial como também irá
aumentar o nível médio das águas do mar em, pelo
menos, 30 cm, o que poderá interferir na vida de mi-
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 225
Fonte: Bortholin e Guedes (2003).
DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO
O ozônio está presente na troposfera, que é a
camada da atmosfera em que vivemos, e também em
zonas mais altas da estratosfera, entre 12 e 50 km de
altitude, tendo como função proteger o planeta da
incidência direta de grande parte dos raios ultravioleta,
que é um dos componentes da radiação solar.
Uma das grandes causas da diminuição da
camada de ozônio tem sido a liberação de compostos
químicos industriais na atmosfera, denominados de CFC
(cloroflúorcarbono), que é um gás não tóxico, inodoro,
e quimicamente inerte. É usado em grande escala como
agente refrigerador de geladeiras e aparelhos de ar
condicionado, na manufatura de espumas de plástico e
principalmente como propelente de aerossóis
enlatados. Sua inércia química torna-o capaz de atingir
milhões de pessoas habitando as áreas costeiras
mais baixas.
Fonte:
http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Efeito_
Estufa.html
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 226
grandes altitudes sem se modificar, até alcançar a
estratosfera, onde a radiação ultravioleta provinda do
Sol provoca a sua quebra. O cloro é liberado, reagindo
com o ozônio, e desmembrando-o em uma molécula e
um átomo de oxigênio.
Outras substâncias que também são agressivas
a camada de ozônio: dióxido de nitrogênio e óxido
nitroso liberados pelas indústrias em geral; halogêneos
presentes em extintores de incêndio e o gás metano
produzido na agropecuária e na indústria de mineração.
Com a diminuição dessa camada de ozônio, os
raios ultravioleta atingem a Terra de forma mais
brusca, provocando graves doenças no ser humano,
como câncer de pele, distúrbios cardíacos e
pulmonares, queimaduras, problemas de visão -
catarata etc. Suspeita-se também que prejudique a
imunidade celular e sistêmica.
O ambiente também é diretamente atingido
pelas modificações provocadas cadeia alimentar, visto
que certas espécies de animais e plantas são
extremamente sensíveis a essa radiação, como os
CAMADA DE OZÔNIO
O ozônio é um gás atmosférico azul-escuro, que se
concentra na chamada estratosfera, uma região
situada entre 20 e 40 km de altitude. A diferença
entre o ozônio e o oxigênio dá a impressão de ser
muito pequena, pois se resume a um átomo:
enquanto uma molécula de oxigênio possui dois
átomos, uma molécula de ozônio possui três.
Essa pequena diferença, no entanto, é fundamental
para a manutenção de todas as formas de vida na
Terra, pois o ozônio tem a função de proteger o
planeta da radiação ultravioleta do Sol. Sem essa
proteção, a vida na Terra seria quase que
completamente extinta.
Consulte na internet uma pesquisa completa sobre o
tema no site abaixo:
http://www.msantunes.com.br/juizo/acamada.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 227
anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas). A radiação
UVB penetra vários metros abaixo da superfície do mar
prejudicando o fitoplâncton que prolifera nestas
camadas e é extremamente sensível à essa radiação.
Os fitoplâncton são as formas de vida do início da
cadeia alimentar. Além disso, a destruição desta
camada de ozônio pode contribuir com o derretimento
de parte do gelo da calota polar, causando o
superaquecimento do planeta.
QUEIMADAS E DESMATAMENTOS
Queimadas e desmatamentos deixaram de ser
um problema restrito às fronteiras agrícolas e ao Arco
do Desmatamento e passaram a atingir todos os
Estados. Esta é uma das principais conclusões da
pesquisa divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) que investiga o meio
ambiente nos 5.560 municípios brasileiros.
SITES SOBRE O DESMATAMENTO EM
FLORESTAS TROPICAIS
A taxa exata na razão da qual as florestas estão
atualmente sendo destruídas no mundo não são
conhecidas, uma vez que não tem sido feito um
censo global desde 1990. Naquela época, uma área
de aproximadamente 150.000 km2 de floresta
tropical, equivalente ao tamanho do estado de São
Paulo, tem sido destruída a cada ano. Também uma
área semelhante de florestas tem sido destruída ou
degradada anualmente. Na média, a taxa de
destruição aumentou durante os últimos anos em
função de desmatamento irregular e clandestino no
Brasil e na Indonésia.
Os sites a seguir contêm informações gerais sobre a
destruição das florestas tropicais. Informações
adicionais podem ser encontradas em sites da
Floresta Tropical e Organizações de ajuda listados
abaixo.
http://www.ran.org/
http://www.wwf.org.br/amazonia/default.htm
http://www.mma.gov.br/
http://www.greenpeace.org/
http://www.unilivre.org.br/
http://www.tree4life.com/desmata.htm
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 228
Estudos do IBGE (2002), concluíram que,
embora as queimadas e os desmatamentos sejam mais
freqüentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, elas se
tornaram um problema generalizado: prefeituras de
todas as unidades da federação informaram a
ocorrência deste tipo de agressão ao meio ambiente.
Os desmatamentos vêm provocando sérios
impactos no meio ambiente, com destaque para as
alterações climáticas, a diminuição da biodiversidade, a
degradação do solo e o comprometimento da rede
hidrográfica.
Alterações climáticas – O clima do mundo é
afetado com a destruição das florestas porque elas
regulam a temperatura, o regime de ventos e de
chuvas. As precipitações provêm, além de outros
fatores, da evaporação da água por meio da
transpiração das plantas. A redução drástica da camada
vegetal leva à diminuição das chuvas e, paralelamente,
ao aquecimento da terra, já que a energia solar antes
utilizada na evapotranspiração é devolvida para a
atmosfera. Os cientistas também acreditam que o
aquecimento da terra observado nos últimos anos seja
decorrente da concentração de gases a base de
carbono na atmosfera, lançados pelas indústrias e pelas
queimadas de extensas áreas de mata tropical.
Segundo pesquisa recente do IBGE, o Arco do
Desmatamento compreende a área ao sul e ao leste da
Amazônia, abrangendo municípios do sudeste do Acre,
de Rondônia, do norte de Mato Grosso, sul e leste do
Pará e oeste do Maranhão.
SOBRE AS QUEIMADAS
A dimensão das queimadas na região tropical tem
provocado preocupação e polêmica em âmbito
nacional e internacional. Elas estão em geral
associadas ao desmatamento e a incêndios
florestais, e, no caso do Brasil, onde ocorrem mais
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 229
A pesquisa mostra uma correlação entre
queimadas e desmatamento. Entre os 1.009 municípios
que apontaram desmatamentos alterando as condições
de vida da população, 68% apontaram a ocorrência de
queimadas. Entre os 948 municípios que indicaram a
existência de queimadas, 72% apontaram também a
ocorrência de desmatamento.
A reação tardia: o movimento ecológico
É na década de 60, culturalmente efervescente e
marcada de movimentos e modificações sociais, que a
questão ecológica começa a tomar corpo. Grupos
distintos provenientes inicialmente dos movimentos:
“hippie”, da contracultura, pacifistas, feministas,
espirituais e posteriormente dos movimentos
socialistas, passam a levantar a bandeira ambiental
dando origem a um movimento ecológico amplo e
heterogêneo (ecologismo), às associações não-
governamentais - ONG's, aos partidos verdes, a
políticas e a instituições públicas ligadas ao meio
ambiente.
de 200 mil por ano, as pesquisas indicam que as
queimadas são, na maioria das vezes, uma prática
agrícola generalizada. Aproximadamente 30% delas
ocorrem na Amazônia, principalmente no sul e
sudeste da região.
O Brasil é um dos únicos países do mundo a dispor
de um sistema orbital de monitoramento de
queimadas absolutamente operacional. Dezenas de
mapas de localização são gerados por semana,
durante o inverno, e, neste trabalho, são
apresentados dados quantitativos do monitoramento
orbital das queimadas ocorridas na Amazônia. O
monitoramento é fruto de uma colaboração científica
multiinstitucional, envolvendo o Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), o Núcleo de
Monitoramento Ambiental - NMA/EMBRAPA, a
Ecoforça - Pesquisa e Desenvolvimento e a Agência
Estado (AE). Administration.
Fonte:
http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port
/meioamb/ecossist/queimada/
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 230
Apesar de encontrarmos raciocínios ecológicos
em diversos pensadores em épocas anteriores, é a
partir desta época que acadêmicos e intelectuais
também aderem ao movimento e começam a produção
teórica sobre o assunto.
Diegues (2001) ilustra bem a questão. “Nos
anos 60, portanto, marcaram o aparecimento de um
novo ecologismo em contraposição à antiga “proteção
da natureza”, cujas instituições provinham do século
XIX (sociedades de proteção da natureza, da vida
selvagem, dos animais etc.). Esse novo ecologismo
provinha de um movimento de ativistas que partiam de
uma crítica da sociedade tecnológico-industrial (tanto
capitalista quanto socialista), cerceadora das liberdades
individuais, homogeneizadoras das culturas e,
VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO
PLANO INTERNACIONAL
1964 - Criação da primeira legislação nacional de
gestão e combate à poluição dos de recursos
hídricos na França;
1968 - Clube de Roma - reunião em Roma com
cientistas dos países desenvolvidos para se discutir
o consumo e as reservas de recursos naturais não
renováveis e o crescimento da população mundial
até meados do século XVI. Gerou o relatório técnico
Limites do Crescimento, elaborado pelo
Massachusetts Institute of Technology, que alinhava
inúmeros dados sobre o esgotamento de reservas
minerais, aumento de poluição, crescimento
populacional,..., demonstrando a inviabilidade da
continuação futura do atual modelo de crescimento
ilimitado urbano-industrial. Foi o primeiro estudo
que passou de uma visão qualitativa para
quantificação em nível planetário;
1969 - NEPA (EUA) - Nacional Environmental Policy
Act: primeira legislação federal contendo objetivos e
princípios da política ambiental. Qualquer proposta
que afastasse a qualidade ambiental deveria conter:
os impactos/efeitos ambientais que poderiam ser
evitados; alternativas de ação; etc. No ano seguinte
o Canadá e a Comunidade Européia também criam
legislações semelhantes;
1971 - Estudos sobre a crise da humanidade e o
crescimento zero do Prof. Dennis Meadows,
intitulado O Limite do Crescimento.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 231
sobretudo, destruidora da natureza. A preocupação
fundamental da maioria desses movimentos, tanto nos
Estados Unidos quanto na Europa, não era a proteção
de uma única espécie de animal ou de um parque
nacional isoladamente”.
Os modelos socialistas também eram alvos de
criticas da nova visão ambiental. Lago e Pádua (1989)
analisam a questão.
Os regimes socialistas não eram
considerados como uma alternativa
pelos ecologistas, pois não mudaram
substancialmente os padrões do
crescimento ilimitado do Capitalismo.
A meta do crescimento acelerado
continuou a motivar a economia, com
resultados ecológicos igualmente
desastrados. Se por um lado a
estatização da produção reduziu a
ganância (monopólios estatais não
sujeitos a concorrência de mercado), a
falta de interesse pelas questões
ambientais, aliada a ineficiência do
estado não favoreceram o meio
ambiente. Com o agravante da
ausência de liberdade de expressão
que restringiu o espaço da denúncia
dos crimes ecológicos.
(Lago e Pádua, 1989)
Diegues (2001) novamente, “As questões
ecológicas passaram a ser uma das bandeiras de luta,
ao lado do antimilitarismo/pacifismo, direitos das
minorias etc.”
VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO
PLANO INTERNACIONAL (CONT.)
1971 - A organização não-governamental
Greenpeace é fundada para protestar contra testes
nucleares no Alasca;
1971 - Painel de peritos em meio ambiente, em
Foneux na Suíça;
1972 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente – Estocolmo - Suécia – marco histórico
que oficializou o surgimento da preocupação
internacional com o meio ambiente e a emergência
de políticas públicas em muitos países, inclusive o
Brasil. Na conferência criou-se o Programa das Nações
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 232
PARADIGMA MECANICISTA
O paradigma mecanicista já não
conseguia mais dar resposta aos novos
problemas, caracterizados pela
complexidade e interdisciplinaridade,
no contexto de uma racionalidade
meramente instrumental e de uma
ética antropocêntrica. Em resposta a
esse estado de coisas eclodiram vários
movimentos questionadores do estilo
de vida e relações sócio-econômicas
no mundo, entre eles o movimento
ambientalista.
(Lago e Pádua,1989)
A crítica ambiental cresce em todo o mundo.
Não é possível uma economia de crescimento ilimitado
num planeta finito e de recursos e capacidades
limitados. Colocando os EUA como modelo de
desenvolvimento que outros países devem seguir,
simplesmente não existem recursos no planeta para
sustentar a expansão do nível de consumo material
como o do americano para o resto do mundo (cada
criança americana consome em média o equivalente a
50 crianças indianas). Além disso, nós não somos a
última geração a utilizar os recursos naturais do
planeta.
Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA e o Programa
de Observação da Terra. Surge também o conceito
de ecodesenvolvimento ou desenvolvimento
sustentável;
1983 - Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento com o objetivo de preparar uma
agenda global;
1986 - Auditorias ambientais voluntárias nos EUA;
1987 - Apresentado pela ONU a publicação Nosso
Futuro Comum, que realizava um grande estudo
ambiental em escala mundial;
1989 - Criação da Comissão Latino-Americana de
Desenvolvimento e Meio Ambiente e a publicação da
Nossa Própria Agenda no ano seguinte;
1991 - Estabelecimento do Grupo de Ação
Estratégica sobre o Meio Ambiente criando normas
ambientais internacionais - SAGE - TC207.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 233
O modelo capitalista da sociedade urbano
industrial é definido então como não sustentável e não
distributivo. Desta forma o movimento ambientalista
cresce e ganha força, se espalhando pelo mundo. Como
um movimento heterogêneo, aparecem diversas linhas
de ação e de pensamentos que veremos a seguir.
DESENVOLVIMENTO ECOLOGICAMENTE
SUSTENTÁVEL – ECODESENVOLVIMENTO
Definição – “Desenvolvimento Sustentável:
atender às necessidades do presente sem comprometer
a possibilidade de as futuras gerações satisfazerem
suas próprias necessidades.” – Relatório Brundtland -
ONU – 1987.
VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO
PLANO INTERNACIONAL (CONT.)
1992 - 2a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente - ECO92 - Rio de Janeiro. Denominada de
Conferência de Cúpula da Terra, reuniu 103 chefes
de estado em um total de 182 países. O Fórum
Global realizado na Conferência aprovou
documentos tais como:
Carta da Terra;
Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento;
Declaração sobre as florestas;
Convenção sobre a diversidade biológica;
Convenção-quadro sobre as mudanças climáticas;
Agenda 21 - declaração de intenções na forma de
documento que estabelece as ações a serem
seguidas no século XXI, rumo ao desenvolvimento
sustentável.
1993 - auditoria ambiental voluntária na União
Européia;
1996 - Normas ISO série 14000;
1997 - 3o Conferência sobre Alteração Climáticas
dos Estados-Membros das Nações Unidas em Kioto
no Japão;
1997 - I Fórum Mundial de Água, em Marrakech,
Morocco;
2000 - II Fórum Mundial da Água, em Haia,
Holanda.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 234
O conceito é importante como referência de um
novo caminho a seguir, porém na prática é um conceito
vago. Pode-se questionar quais são as necessidades do
presente, dado que dependendo do nível financeiro o
homem tem necessidades diferentes. Por exemplo, as
necessidades de um suíço ou de um californiano não
são as mesmas das de um africano ou um favelado
carioca.
Não temos ainda bem claro uma definição
operacional de Desenvolvimento Sustentável, o que
temos são linhas de pensamento expostas abaixo.
MARCOS EVOLUTIVOS DO PENSAMENTO
AMBIENTAL NO BRASIL
1934 - Código de Águas - considerado avançado
para sua época, já dispunha sobre assuntos
considerados nos modelos de gestão de recursos
hídricos atuais. Ainda em vigor no que não é
mencionado na Lei no 9.433/97 - Política Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
1934 - Conferência Brasileira de Proteção à
Natureza (Conservacionismo). Possibilitou, em 1937,
a criação do 1o Parque Nacional Brasileiro, em
Itatiaia – RJ, seguidos dos Parques Nacionais da
Floresta da Tijuca e de Foz do Iguaçu, também nos
anos 30;
1965 - Lei no 4.771/65 - institui o Código Florestal.
É uma das leis ambientais mais antigas do país.
Prevê, entre outros aspectos, a proteção das
florestas nativas brasileiras e os corpos d'água
contidos nas bacias hidrográficas.
1973 - criação da SEMA - Secretaria Especial de
Meio Ambiente, influenciada pela Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente de 1972; 1981
- criação da Política Nacional de Meia Ambiente- PNMA
e do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA
- início de uma política ambiental mais efetiva com o
objetivo de garantir “a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar no país condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 235
LINHAS DE PENSAMENTO
Pessimista – controle biológico populacional.
Escassez, poluição, cataclisma, extinção. Linha Neo-
Malthusiana.
Otimista – premissa da intelectualidade humana.
Visão antropocêntrica.
Inserção da dimensão ambiental no modelo
capitalista. Mantém-se o modelo capitalista
com sua lógica econômica de lucro individual
de curto prazo, a partir da concorrência de
mercado. Permanece a idéia da satisfação
pelo consumo e acúmulo material a partir de
uma consciência egóica materialista. Os
custos ambientais passarão a ser
internalizados com o uso de tecnologias mais
limpas e corretivas, visando aumento de
produtividade e com diminuição de impactos
ambientais. Permanece a cultura de domínio
do meio natural pelo homem. Atividades
centralizadas.
Sociedade Ecológica. A lógica é sócio-
ambiental, incluindo a econômica, porém de
foco econômico é mais coletivo e de longo
prazo. Ao invés da concorrência a lógica
coletiva leva à cooperação. Satisfação do
homem não vem somente pelo consumo
material, mas principalmente pelo imaterial.
Consciência transpessoal com a preocupação
social e ambiental. Uso de tecnologia
alternativa, sistêmica (holística), compatível
com os sistemas naturais. Adequação /
integração dos processos produtivos humanos
ao meio natural ao invés de dominação.
Descentralização.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 236
Lago e Pádua (1989) ilustram melhor este tipo
de sociedade:
procuram cooperar com os
mecanismos do sistema natural, ao
invés de tentar dominá-los pela
agressão.
Abaixo temos algumas características desta
sociedade ecológica:
Descentralização da economia, do poder e do
espaço social de forma a tornar mais fácil o
controle da sociedade. A concentração do
poder em grandes estruturas sócio-
econômicas, complexas e burocratizadas,
facilitam o controle hegemônico sobre os rumos
da produção e seus impactos sobre a
sociedade e o meio ambiente. O indivíduo
passa a não opinar, ficando a mercê das
decisões dos grandes produtores, para quem
as taxas de lucros pesa bem mais do que
considerações sobre a qualidade de vida
humana;
MARCOS EVOLUTIVOS DO PENSAMENTO
AMBIENTAL NO BRASIL (CONT.)
1981 - Cria-se o CONAMA (Conselho Nacional de
Meio Ambiente), órgão consultivo e deliberativo,
com a composição de diversos Ministérios, órgãos
ambientais federais, estaduais e municipais etc.;
1986/87 - Estudos de Impactos Ambientais e
Licenciamento Ambiental;
1989 - Criação do IBAMA – Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
1997 - Institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, regulamentando o inciso XIX
do art. 21 da Constituição Federal de 1988;
1998 - Lei de Crimes Ambientais - Lei no 9605/98;
2000 - Lei no 9.984/00 - dispõe sobre a criação da
Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal
de implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e da coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências da vida humana.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 237
Ao invés de grandes indústrias localizadas nas
metrópoles e periferias, indústrias de
pequeno e médio porte, espalhadas em
pequenas cidades e no campo, adaptando-se
a paisagem ecológica e social;
Ao invés de grandes latifúndios com
monoculturas, uma agricultura diversificada
em equilíbrio com os ecossistemas nativos
(sem a necessidade de fertilizantes artificiais
e defensivos). Esse processo só seria viável
se combinado com uma reforma agrária e
educação ambiental;
A articulação orgânica das pequenas e médias
cidades com o campo em sua volta,
atenuando o antagonismo cidade/campo,
aproximando os camponeses dos benefícios
das cidades e os citadinos do contato com a
natureza e a cultura rural. Facilitando
também o abastecimento direto das cidades
com os produtos rurais produzidos na região
reduzindo custos de transporte, estocagem,
intermediários e viabilizando o uso de
técnicas agrícolas menos impactantes;
Opções por fontes descentralizadas de
energia renováveis, não poluentes e de
pequeno impacto ambiental, como estações
coletoras individuais de energia solar; de
ventos; dos mares, biodigestores, pequenas
centrais hidroelétricas etc.;
Uso de tecnologias leves e alternativas na
produção ao invés das tecnologias
impactantes tradicionais chamadas duras. Por
exemplo, no combate a uma praga em uma
plantação pode-se usar:
Dica de leitura
O livro de Isabel Carvalho aborda as questões referentes as duas linhas de pensamento aqui tratadas (otimista e pessimista) destacando a dinâmica de relacional entre homem e meio. Fruto de sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação de Educação da UFRGS, defendida em fevereiro de 2000, o livro busca compreender o jogo da produção de sentidos sobre o ambiental na sociedade contemporânea, abordando as diferentes dimensões da preocupação com o meio ambiente.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 238
Tecnologia dura - uso de praguicida químico
(DDT, BHC etc.). Destroem não apenas a
praga, mas também muitos outros
organismos necessários ao equilíbrio daquele
ecossistema agrícola. Além disso, sendo o
produto altamente tóxico poderá prejudicar a
saúde dos futuros consumidores da colheita,
do meio ambiente e principalmente a saúde
dos lavradores que trabalham na plantação;
Tecnologia leve - parte da premissa que a
plantação é um ecossistema complexo que
está desequilibrado (aparecimento da praga)
por algum motivo. Solução: descobrir as
causas do desequilíbrio e atacá-las. Por
exemplo, pode-se disseminar na plantação
algum organismo que se alimente da praga,
ou o uso de inseticidas naturais,
biodegradáveis. São alguns exemplos de
tecnologias leves:
Processos industriais mais racionais e menos
poluentes, utilizando aparelhos anti-poluição;
filtros etc.;
Processos de reciclagem como a reutilização
da água, a reciclagem do lixo e dos materiais
usados como o vidro, papel, metais etc.
Procurando fechar o ciclo da atividade
produtiva;
Controle da poluição gerada por esgotos
urbanos, com a difusão de estações de
tratamento de esgotos (etes), lagoas de
estabilização, etc. Além da reciclagem dos
esgotos, transformando-os em adubos e
alimentos para fauna aquática, biogás, água
etc.;
Para navegar
Sobre a temática das tecnologias leves – Vale a pena ler o artigo de José Ayres
intitulado “Cuidado: Tecnologia ou Sabedoria Prática?” disponível na internet através do site: http://www.interface.org.br/revista6/debates2.pdf
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 239
Agricultura orgânica, sem defensivos e em
equilíbrio com os ecossistemas;
Opção por transportes não-poluentes (ex.:
bicicleta) e o transporte coletivo com ênfase
no transporte metroviário e ferroviário;
Desenvolvimento de novas tecnologias, mais
ecológicas, nas áreas industriais, agrícolas,
urbanas, de transporte, energia, etc., através
dos meios acadêmicos, contribuindo para
gerar empregos e para a independência
tecnológica do país;
Ecoarquitetura, ecovilas etc.;
Economia que estimule o respeito aos limites
físicos dos ecossistemas naturais e não ao
consumo desenfreado socialmente definido.
Mudança no modelo econômico atual de
crescimento ilimitado, introduzindo a
dimensão ecológica (economia do meio
ambiente), como, por exemplo, a valoração
econômica dos bens livres, como a água; o
princípio poluidor-pagador, usuário-pagador;
Fortalecimento da democracia e do sistema
federativo, com aumento da autonomia
política municipal e regional;
Maior participação da sociedade civil
organizada em associações de moradores, de
consumidores, de trabalhadores, de defesa do
meio ambiente e direito de minorias, de
partidos políticos, comitês de bacias
hidrográficas (grupos de usuários de recursos
hídricos de uma bacia que discutem e financiam
melhoramentos na bacia), etc. Desta forma indi
Quer saber mais?
De acordo com a definição mais popular, uma ecovila é um assentamento completo, de proporções humanamente manejáveis, que integre as atividades humanas no ambiente natural sem degradação, e que sustente o desenvolvimento humano saudável de forma contínua e permanente. Podemos utilizar esta definição como
uma meta, ou um guia para que as comunidades continuem se aperfeiçoando e adaptando.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 240
víduos e setores da sociedade devem ter voz
ativa nas tomadas de decisão exigindo diretos
e debates populares. O processo deve vir de
baixo para cima;
Democratização dos meios de comunicação;
Políticas ambientais de governo envolvendo
uma série de medidas e instrumentos, tais
como:
Racionalização do uso das reservas naturais
em processo de esgotamento;
Projetos de reflorestamentos, com distinção
entre o reflorestamento com espécies nativas
e o “reflorestamento” para a indústria
madeireira. Esta última deve obedecer a um
zoneamento prévio para não termos grandes
monoculturas de árvores;
Reprodução de espécies animais ameaçadas
de extinção;
Controle de qualidade dos produtos, que
devem ser duráveis, reutilizáveis e de fácil
reparo, com pequeno uso de energia e
recurso natural em sua fabricação;
Melhoria do ambiente das grandes cidades,
com a jardinização do espaço urbano, a
construção de ciclovias, hortas coletivas,
áreas de lazer comunitárias etc.;
Redução do tempo de trabalho, como forma
de combater o desemprego e para que todos
tenham mais tempo de participar politicamente
e ter mais tempo a cultura e ao lazer etc.
Para refletir
Tomando por base a realidade de sua região, quais seriam os maiores desafios a serem vencidos? Analise cada item antes de responder considerando as especificidades de sua localidade.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 241
Um conceito interessante nesta linha de
desenvolvimento sustentável aparece com a
Permacultura. A Permacultura surgiu na Austrália, no
início da década de 70, por meio das pesquisas de Bill
Mollison e David Holmgren. No início dos anos 90
chegou ao Brasil, se difundindo por institutos e
organizações.
Trata-se de um sistema para criação de
ambientes humanos sustentáveis (inicialmente
ambientes agrícolas) baseado na observação dos
sistemas naturais, procurando inserir os princípios dos
ecossistemas nos processos humanos.
Princípios da Permacultura segundo o
permaculturista Petter Webb.
Trabalhar com a natureza e não contra ela –
quando nós honramos todas as formas de vi-
O QUE É PERMACULTURA?
"Permanent Agriculture" em inglês - nasceu na
cabeça de Bill Mollison, ex-professor universitário
australiano, na década de 1970. Refugiado das
loucuras da sociedade de consumo, Mollison
percebeu que nem os cantos remotos do interior
australiano onde morava seria poupado do colapso
planetário iminente - a flora e a fauna estavam
diminuindo sensivelmente... "Resolvi", falou Mollison
na sua passagem pelo Brasil em junho de 1992,
"que, se voltasse para o mundo, voltaria com uma
coisa muito positiva". Foi assim que nasceu a idéia
de criar sistemas de florestas produtivas para
substituir as monoculturas de trigo e soja,
responsáveis pelo desmatamento mundial.
Observando e imitando as formas de florestas
naturais do lugar, revelou-se possível a criação de
sistemas altamente produtivos, estáveis e
recuperadores dos ecossistemas locais.
Veja outros dados sobre o tema no site do grupo de
Permacultura da UFSC:
http://www.cca.ufsc.br/permacultura/
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 242
da, podemos ver suas necessidades e
compreender como estamos todos ligados.
Diversidade proporciona estabilidade –
diversidade e apoio mútuo interagem para
formar resistência. Vivendo num ambiente
ecologicamente diverso (policultivo), as
instabilidades climáticas e econômicas podem
ter menos efeitos negativos em nossas vidas.
Cooperação ao invés de competição – temos
muito mais força na união do que na
separação, e devemos trabalhar para
reconhecer a conexão de todas as formas de
vida.
O problema é a solução – podemos
transformar nossos problemas em soluções se
trabalharmos com eles e não contra eles.
Planejamento multifuncional – Todo elemento
natural, vegetal, animal, microbiológico ou
estrutura física, deve ser localizado de modo
que sirva a pelo menos duas funções. Por
exemplo, o sistema de esgoto doméstico de
uma edificação pode ser também o sistema
de adubação de uma horta.
Resolver os problemas localmente.
Planejamento como previsão dos problemas.
Produzir mais energia que consumimos.
Fechar os ciclos.
Lago e Pádua (1989) resume bem a questão:
A essência de uma sociedade
ecologista seria a opção por menor
consumo de recursos naturais e energia
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 243
e maior consumo científico, cultural,
artístico, esportivo, religioso,... com
maior tempo para o lazer, convívio
familiar e humano. Enfim com maior
qualidade de vida em harmonia e
contato com a natureza.
(Lago e Pádua, 1989)
Também Hawken, Lovins e Lovins (1999):
Nós vivemos até agora na suposição
de que era bom para nós era bom para
o mundo. Fio um engano. Precisamos
alterar nossa existência de modo que
seja possível viver com a convicção
contrária, de que o que é bom para o
mundo há de ser bom para nós. E isso
exige que nos esforcemos para
conhecer o mundo e aprender o que é
bom para ele. Temos de aprender a
colaborar com seus processos e
compreender os seus limites. Porém, o
que é ainda mais importante, devemos
aprender a reconhecer que a criação é
cheia de mistérios; nunca a
entenderemos claramente. Devemos
abandonar a arrogância e respeitar.
Temos de recobrar o sentido da
majestade da criação e a capacidade
de honrar sua presença. Pois só nas
condições de humildade e reverência
perante o mundo é que a nossa
espécie será capaz de permanecer
nele.
(Hawken, Lovins e Lovins, 1999)
Trigueiro (2003) na mesma linha de pensamento
traz a dimensão sistêmica.
O que precisamos é de uma definição
operacional de sustentabilidade
ecológica. A chave para chegar a esta
definição operacional está em
reconhecer que não precisamos
inventar as comunidades humanas
sustentáveis a partir do zero, mas
podemos moldá-las de acordo com os
ecossistemas naturais, que são
comunidades sustentáveis de plantas,
animais e microrganismos.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 244
INSTRUMENTOS E AÇÕES AMBIENTAIS
Com a conscientização da não sutentabilidade e
não distributividade do modelo econômico vigente e
com o aparecimento do conceito de sustentabilidade
ecológica nos anos 60 e início dos anos 70, surgem
inúmeras ações e instrumentos de planejamento e
gestão ambiental.
EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS
Década de 60 – Educação Ambiental.
Instrumentos de Conservação/Preservação –
Código Florestal 1965.
Década de 70 - instrumentos de comando e
controle com ótica corretiva público /
regulatório.
Década de 80 - instrumentos de comando e
controle com ótica preventiva caracterizado
pela consolidação da Avaliação de Impactos
Ambientais – AIA (EIA/RIMA).
Década de 90 - instrumentos dentro de uma
ótica integradora, privados de motivação
econômica.
PRINCÍPIOS DA PERMACULTURA Um dos princípios fundamentais da permacultura é o
respeito pela sabedoria da natureza, que
desenvolveu um sistema perfeito para cada lugar.
Do princípio vem a estratégia (observar e copiar a
Natureza), da qual surgirão as inúmeras técnicas,
que podem ser copiadas de situações similares ou
criadas no local, para planejar a sustentabilidade de
quintais, sítios, fazendas ou comunidades (novas ou
já existentes), como ecovilas, bairros e
assentamentos.
No planejamento destas comunidades, além do
ambiente físico, é preciso considerar os aspectos:
social, econômico, cultural e espiritual como parte
imprescindível dos projetos porque, no novo
paradigma, reconhece-se que a felicidade não se
resume ao materialismo.
Veja mais detalhes no site do Instituto de
Permacultura da Bahia:
http://www.permacultura-Bahia.org.br/ conceito.asp
Dica do professor
Sem perder a esperança jamais É importante destacar que mesmo não sendo veiculados na mídia, muitas vitórias já formam alcançadas através desses instrumentos utilizados pela sociedade civil organizada nos mais diferentes setores. São ONGs, movimentos, grupos, ações governamentais e outros. È bem verdade que muito já foi destruído. Contudo também é verdade que se não fossem a criação de tais ferramentas e ação corajosa de pessoas que lutam por um ambiente melhor todos teríamos uma crise ambiental de proporções ainda mais drásticas.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 245
A ascensão das questões ambientais a partir dos
anos 60 foi rápida e crescente. Hoje sabemos que o
movimento ambiental é uma realidade em vários
setores de nossa sociedade e nossa ciência e esta
realidade veio para ficar.
EXERCÍCIO 1
Cite dois tipos de poluição e suas conseqüências para o
meio ambiente?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Defina através de exemplos o que é impacto ambiental?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 246
EXERCÍCIO 3
Em contraposição a antiga idéia de proteção a natureza
nos anos 50, surge na década posterior um novo
ecologismo. Assinale a única característica que não se
relaciona a este ecologismo.
( A ) Crítica a sociedade tecnológico-industrial;
( B ) Crítica a práticas destruidoras da natureza;
( C ) Crítica ao crescimento das liberdades individuais;
( D ) Crítica ao descompromisso com as questões
ambientais;
( E ) Crítica ao progresso urbano.
EXERCÍCIO 4
Os chamados instrumentos de comando e controle na
gestão ambiental são os de:
( A ) Público de perfil regulatório e corretivo que
surgem na década de 70 com as primeiras
agências ambientais;
( B ) Público de perfil regulatório e preventivo que
surgem na década de 80, com a consolidação da
legislação ambiental;
( C ) De ótica integradora, privados, de motivação
econômica, que surgem com a ascensão das
questões ambientais;
( D ) Públicos de perfil informativo e de conservação e
preservação;
( E ) Público privado sem interferência pública.
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 247
RESUMO
Vimos até agora:
Impacto ambiental pode ser entendido como
qualquer alteração no sistema ambiental
físico, químico ou biológico, cultural e sócio-
econômico que possa ser atribuído à
atividades humanos relativas às alternativas
em estudo para satisfazer as necessidades de
um projeto;
Os impactos ambientais existem desde que a
espécie humana aparece no planeta. Mas é a
partir da revolução industrial que os impactos
sobre o meio ambiente tornam-se relevantes;
Para uma economia funcionar adequadamente
esta necessita de 4 tipos de capitais:
humano, natural, manufaturado e financeiro;
A Ideologia vigente do crescimento ilimitado
que afirma que o crescimento acelerado e
sem limites da produção material não é só
possível como necessário e define o nível de
progresso de um país e é aceita por todos os
regimes de governos, de esquerda ou de
direita. Nesta, o crescimento não cresce em
função das necessidades humanas e sim de
sua própria dinâmica interna, pois o
crescimento é para ele um fim e não um
meio;
A escassez dos recursos naturais e a poluição
não são problemas excludentes, pelo
contrário, uma é conseqüência e influencia o
outro;
Para acumular capital (para reinvestir na
produção) e aumentar os lucros, modelo
econômico em questão vai em duas direções:
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 248
aumentar a quantidade e a diversidade da
produção e aumentar o preço dos produtos.
Para tal dois tipos de obsolescência foram
empregadas: a planejada e a cultural;
O otimismo do homem com sua capacidade
com a revolução industrial ofuscou as
incoerências do modelo urbano-industrial que
estava sendo implantado;
Acidente ambiental diz respeito a qualquer
evento não previsível, capaz de, direta ou
indiretamente, causar danos ao meio
ambiente ou a saúde humana, como
vazamento ou lançamento inadequado de
substâncias (gases, líquidos ou sólidos) para
a atmosfera, solo ou corpos d'água, incêndios
florestais ou em instalações industriais;
É a partir da 2a Guerra Mundial, que
começam a surgir os primeiros e graves
problemas ambientais, principalmente os
acidentes ecológicos que mobilizaram a
atenção da sociedade como, por exemplo. O
crescimento e concentração populacional nas
cidades que, por sua vez, começam a gerar
Escassez de recurso naturais
(solo/ar/água/animais/vegetais...); Poluição e
Acidentes ecológicos;
O ser humano, ao interagir com o meio em
que vive, produz resíduos dos quais uma
parte deles causam problemas de poluição do
ar. Tais problemas resultam das chamadas
fontes de poluição, as quais podem ser
classificadas em específicas e múltiplas. As
fontes múltiplas geralmente se encontram
dispersas pela comunidade e a avaliação das
mesmas através do esquema fonte por fonte é
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 249
inviável. Fontes Fixas - as indústrias são as
fontes mais significativas ou de maior
potencial poluidor deste tipo;
A Poluição atmosférica: Pode ser definida
como a introdução na atmosfera de qualquer
matéria ou energia que venha a alterar as
propriedades dessa atmosfera, afetando, ou
podendo afetar, por isso, a "saúde" das
espécies animais ou vegetais que dependem
ou tenham contato com essa atmosfera;
Segundo o Programa Internacional de
Segurança Química há mais de 750.000
substâncias conhecidas no meio ambiente,
sendo de origem natural ou resultado da
atividade humana (IPCS, 1992). Cerca de
70.000 são quotidianamente utilizadas pelo
homem, sendo que aproximadamente 40.000
em significativas quantidades comerciais
(IPCS and IRPTC, 1992);
A poluição da água ocorre com a adição de
substâncias estranhas à água, eliminando ou
diminuindo a sua aptidão para usos
específicos. Para que se possa avaliar a
qualidade da água é importante o
conhecimento e a quantificação dos
parâmetros de qualidade de água;
Quanto mais matéria orgânica houver a ser
decomposta, mais ácidas são as águas. É
fator variável em função do local e do
momento de medição;
A quantidade de oxigênio dissolvido em água
é função direta da temperatura da água e da
pressão atmosférica;
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 250
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é
entendida como a quantidade de oxigênio,
expressa em mg/l, necessário para a
oxidação da matéria orgânica, através da
ação de bactérias aeróbias. A oxidação é um
processo de simplificação (decomposição) da
matéria orgânica, neste caso feita pelos
microorganismos, em substâncias mais
simples tais como NH3 (amônio), CO2 (gás
carbônico), H2O (água) e sais minerais. Ela
funciona como um indicador de matéria
orgânica;
A Demanda Química Oxigênio – DBQ de
quantidade de oxigênio necessária para
oxidação da matéria orgânica através de um
agente químico, enquanto na DBO a oxidação
é realizada por bactérias aeróbias;
O Nitrogênio é um dos elementos mais
importantes para a vida, mas é escasso nas
águas podendo ser retirado do ar por
algumas algas;
Alguns adubos utilizados na agricultura
possuem nitrogênio como principal nutriente
dada a sua importância e escassez no solo;
O chamado nitrato mede o nitrogênio
completamente mineralizado e quando em
abundância indica, em geral, contaminação
remota. Depósitos de esterco de gado têm
sido a causa da presença acentuada de
nitratos em poços rasos de água;
A presença de metais nos corpos d'água
devido a despejos decorrente principalmente
de processos industriais e de minerações e
garimpos. Os principais metais analisados são:
Alumínio, Bário, Cadmio, Chumbo, Cobre e Cro-
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 251
mo, Ferro, Magnésio, Manganês, prata e
zinco;
Nutrientes: São compostos principalmente a
base de nitrogênio e fósforo. Estes dois
compostos ocorrem na natureza em pequenas
concentrações medidas em mg/l. Em
determinadas condições possibilitam o
aparecimento e a proliferação de organismos
aquáticos e conseqüentemente a eutrofisação
de corpos d'água dormentes;
A eutrofisação é um fenômeno que se
caracteriza pelo aumento na presença de
algas e plantas aquáticas. Este processo pode
causar um desequilíbrio do ecosistema
causando prejuízos principalmente ao
abastecimento público, a navegação, a geração
de energia, a recreação etc.;
Os compostos fenólicos estão presentes em
todos os vegetais e compreendem um grupo
heterogêneo de substâncias, umas com
estruturas químicas relativamente simples e
outras complexas, como taninos e ligninas.
No café, esses compostos contribuem de
maneira altamente significativa para o sabor
e o aroma do produto final;
A maioria das águas naturais possui cloretos
em solução. Nas águas tidas como doces, a
presença de cloretos ocorre naturalmente ou
decorre de poluição por parte da água do
mar, esgotos sanitários ou despejos
industriais;
Águas com elevadas concentrações destes
sais, como as que mantêm contato prolongado
com depósitos naturais de sulfatos de magnésio
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 252
ou de sulfato de sódio podem funcionar como
laxativo, razão pela qual seu teor é limitado
em 250 mg/l pelos padrões de portabilidade;
O Arsênio raramente é encontrado nas águas
naturais. Sua presença é causada por
despejos industriais, atividades de mineração
ou pelo uso de inseticidas ou herbicidas. Além
de sua ação tóxica, o arsênico pode provocar
câncer de pele quando existe na água em
dose elevada;
O selênio raramente é encontrado nas águas
naturais. A maior concentração registrada foi
em água subterrânea com o valor de 1.600
mg/l. Além de tóxico concorre para incidência
de cárie dentária na s crianças. Por outro lado,
a sua ausência total é prejudicial à nutrição;
Os cianetos são muito tóxicos e sua presença
nas águas naturais é causada pelos despejos
industriais. Uma única dose de 50mg/l pode
ser fatal. A substância inibe a respiração
celular e pode causar alterações no sangue,
sistemas nervoso central e tireóide;
Praguicidas: Podem ser chamados de
inseticidas, herbicidas, fungicidas,
carrapaticidas, raticidas etc. Os praguicidas
podem ser divididos em orgânicos e
inorgânicos. Os orgânicos sintéticos são os
mais utilizados, destacando-se os
organoclorados, que são mais usados devido
a fatores técnico-econômicos e os
organofosforados, preferíveis do ponto de
vista ambiental por serem menos tóxicos;
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 253
As águas mais ricas em fluoretos são as
subterrâneas, que podem possuí-los até 50
mg/l. Nos mananciais de superfície raramente
o teor de 1 mg/l é ultrapassado;
A quantidade de coliformes diz respeito ao
parâmetro que permite avaliar de forma
indireta o potencial de contaminação da água
por microorganismos patogênicos de origem
fecal. Normalmente não são bactérias
patogênicas, mas por serem resistentes e
numerosos no intestino humano, sua
presença permite detectar a existência de
fezes na água, as quais muitas vezes, estão
associadas à presença de bactérias
patogênica;
As fontes de poluição do solo podem ser de
origem natural, associadas às catástrofes
como terremotos, vendavais, erupções
vulcânicas e enxurradas e inundações ou
derivadas da atividade humana;
Os resíduos são, via de regra, dispostos
diretamente sobre o solo, seja na forma de
aterros, seja por infiltração ou pela simples
acumulação sobre o solo;
Os resíduos sólidos de uma forma geral são
classificados de acordo com sua
periculosidade e características em: Classe 1
- perigoso todo o resíduo sólido ou mistura de
resíduos sólidos que, em função de suas
características podem apresentar risco à
saúde pública, provocando ou contribuindo
para um aumento de mortalidade ou
incidência de doenças; Classe 2 - não inerte
todo resíduo sólido ou mistura de resíduos sóli-
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 254
dos que, não se enquadram na classe 1 ou 3.
Classe 3 - inerte todo resíduo sólido ou
mistura de resíduos sólidos que, submetidos a
um teste de solubilidade, não tiverem
nenhum de seus constituintes solubilizados
em concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água;
Poluição sonora: qualquer alteração das
propriedades físicas do meio ambiente
causada por puro ou conjugação de sons,
admissíveis ou não, que direta ou
indiretamente seja nociva a saúde, segurança
e ao bem;
Radiação é o efeito químico proveniente de
ondas de energia calorífica, luminosa etc.
Existem três tipos de radiação: raios alfa e
raios beta, que têm a absorção mais fácil e
raios gama, que são muito mais penetrantes
que os primeiros, já que se tratam de ondas
eletromagnéticas;
A poluição radioativa ocorre quando há o
aumento dos níveis naturais de radiação
através da utilização de elementos radioativos
naturais ou artificiais. O uso de radiação para
os mais diversos fins tem se intensificado nas
últimas décadas, uma vez que esta é uma
poderosa fonte de energia;
A chuva é considerada ácida quando tiver um
pH inferior a 5,0, ocorrendo não apenas sob a
forma de chuva, mas também como neve,
geada ou neblina. Decorre da queimada de
combustíveis fósseis, produzindo gás
carbônico, formas oxidadas de carbono,
nitrogênio e enxofre;
Fenômeno de elevação da temperatura média
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 255
da Terra, que ocorre pelo aumento
considerável na concentração de gás
carbônico na atmosfera, provocado
principalmente pela queima de combustíveis
fósseis e desmatamentos, formando assim
uma espécie de “coberta” sobre a Terra que
impede a expansão do calor;
O crescente aumento do teor do gás
carbônico na atmosfera faz com que a
temperatura da Terra esteja aumentando;
Uma das grandes causas da diminuição da
camada de ozônio tem sido a liberação de
compostos químicos industriais na atmosfera,
denominados de CFC (cloroflúorcarbono), que é
um gás não tóxico, inodoro, e quimicamente
inerte. É usado em grande escala como
agente refrigerador de geladeiras e aparelhos
de ar condicionado, na manufatura de
espumas de plástico e principalmente como
propelente de aerossóis enlatados;
Queimadas e desmatamentos deixaram de
ser um problema restrito às fronteiras
agrícolas e ao Arco do Desmatamento e
passaram a atingir todos os Estados. Estudos
do IBGE (2002), concluíram que, embora as
queimadas e os desmatamentos sejam mais
freqüentes no Norte, Nordeste e Centro-
Oeste, elas se tornaram um problema
generalizado;
A dimensão das queimadas na região tropical
tem provocado preocupação e polêmica em
âmbito nacional e internacional. Elas estão em
geral associadas ao desmatamento e a
incêndios florestais, e, no caso do Brasil, onde
ocorrem mais de 200 mil por ano, as pesquisas
indicam que as queimadas são, na maioria das
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 256
vezes, uma prática agrícola generalizada.
Aproximadamente 30% delas ocorrem na
Amazônia, principalmente no sul e sudeste da
região;
Os anos 60, portanto, marcaram o
aparecimento de um novo ecologismo em
contraposição à antiga “proteção da
natureza”, cujas instituições provinham do
século XIX (sociedades de proteção da
natureza, da vida selvagem, dos animais
etc.). Esse novo ecologismo provinha de um
movimento de ativistas que partiam de uma
crítica da sociedade tecnológico-industrial
(tanto capitalista quanto socialista), cerceadora
das liberdades individuais, homogeneizadoras
das culturas e, sobretudo, destruidora da
natureza;
O modelo capitalista da sociedade urbano
industrial é definido então como não
sustentável e não distributivo. Desta forma o
movimento ambientalista cresce e ganha
força, se espalhando pelo mundo lutando pela
construção de uma sociedade ecológica;
A sociedade ecológica que o movimento
lutava para construir pretendia dentre outras
ações: a descentralização da economia, do
poder e do espaço social; a substituição das
grandes indústrias por indústrias de pequeno
e médio porte, espalhadas em pequenas
cidades e no campo; a substituição dos
latifúndios com monoculturas, por uma
agricultura diversificada em equilíbrio com os
ecossistemas nativos; a articulação orgânica das
pequenas e médias cidades com o campo em
sua volta, atenuando o antagonismo
cidade/campo; o uso de tecnologias leves e al-
Aula 5 | Problemática ambiental urbana 257
ternativas na produção ao invés das
tecnologias duras; processos industriais mais
racionais e menos poluentes; processos de
reciclagem como a reutilização da água, a
reciclagem do lixo e de materiais; controle da
poluição gerada por esgotos urbanos, com a
difusão de estações de tratamento de esgotos
(etes); opção por transportes não-poluentes
(ex.: bicicleta) e o transporte coletivo com
ênfase no transporte metroviário e ferroviário
e desenvolvimento de novas tecnologias mais
ecológicas; fortalecimento da democracia e
do sistema federativo, com aumento da
autonomia política municipal e regional; e
valorização de maior participação da
sociedade civil organizada, dentre outros;
A Permacultura pode ser entendida como um
sistema para criação de ambientes humanos
sustentáveis (inicialmente ambientes
agrícolas) baseado na observação dos
sistemas naturais, procurando inserir os
princípios dos ecossistemas nos processos
humanos;
Com a conscientização da não
sustentabilidade e não distributividade do
modelo econômico vigente e com o
aparecimento do conceito de sustentabilidade
ecológica nos anos 60 e início dos anos 70,
surgem inúmeras ações e instrumentos de
planejamento e gestão ambiental como, por
exemplo os instrumentos de comando e
controle com ótica preventiva caracterizado
pela consolidação da Avaliação de Impactos
Abientais – AIA (EIA/RIMA).
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Políticas e Desenvolvimento Sustentável
DISCIPLINA: Elementos da Ecologia
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
QUESTÃO 1: Diferencie a Ecologia Social, Ecologia Mental ou Profunda e
Ecologismo
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 2: Você conhece as características de uma floresta temperada? E de
uma tropical? Procure investigar por que dizemos que a floresta tropical é dotada
de uma diversidade biológica muito maior do que a floresta temperada. De fato,
isso ocorre. Agora pesquise e explique por quê.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 3: O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo. Defina este bioma a
partir de suas características principais e explique qual seria a importância deste
para a natureza?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
QUESTÃO 4: O Pantanal é considerado a maior planície continental inundável do
mundo (aproximadamente 210 mil km2 espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai).
Defina este bioma a partir de suas características principais? Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:
Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:
endereço eletrônico) – OPCIONAL:
Resposta (com as suas palavras):
ATENÇÃO:
Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma
argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Políticas e Desenvolvimento Sustentável
DISCIPLINA: Elementos da Ecologia
ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA:
_____/_____/___________
Atividade Sugerida: Diagnóstico local
A partir dos assuntos estudados faça um levantamento dos principais aspectos
ambientais de seu município e/ou região, ou seja, levante pontos positivos e
negativos do meio ambiente. Com base nas informações, elabore um relatório
contendo:
1- Região: Aspectos ambientais e sociais identificados (ecossistemas locais,
parques, praias, lazer, áreas urbanas...); os pontos positivos e negativos e os
problemas ambientais,
2- Registro: Utilize-se de vídeos, fotos, desenhos, entrevista com moradores
antigos, enfim, use sua criatividade para elaborar o parecer final. Siga o modelo
abaixo.
Orientação: O relatório e parecer elaborados deverão ter, no máximo, duas
páginas.
RELATÓRIO – DIANÓSTICO LOCAL
1) REGIÃO:
a) CARACTERÍSTICAS LOCAIS:
- Aspectos ambientais:
- Aspectos sociais:
b) PONTOS POSITIVOS:
c) PONTOS NEGATIVOS:
2) PARECER FINAL (Atenção: você poderá basear-se em dados,
entrevistas, depoimentos e outras consultas realizadas, mas é
fundamental que você faça uma análise crítica, COM SUAS PRÓPRIAS
PALAVRAS, articulando e consolidando os aspectos apresentados
acima. Aqui, o que estará sendo avaliado é sua capacidade de
realizar uma leitura crítica da realidade socioambiental, tomando
como base os referenciais estudados no curso)
264
Refe
rên
cia
s b
iblio
gráfi
cas
AMABIS.; MARTHO. Fundamento de Biologia Moderna. Editora
Moderna, S. Paulo, Volume 3, 2004.
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DAJOZ, Roger. Princípios de ecologia. Porto Alegre: ARTMED,
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DIEGUES, A.C. Ecologia humana e planejamento costeiro. 2 ed.
NUPAUB, USP, 2001.
HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L. Hunter. Capitalismo
Natural: criando a próxima revolução industrial.. São Paulo:
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