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Curso POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Disciplina ELEMENTOS DA ECOLOGIA

Curso POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......Ecológico e a própria Ecologia não apenas em seu sentido clássico – ciência que estuda as relações dos seres vivos entre

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Curso

POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Disciplina

ELEMENTOS DA ECOLOGIA

Curso POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Disciplina

ELEMENTOS DA ECOLOGIA

Celso SANCHEZ Cezar PIRES

Francisco CARRERA Luciana RIBEIRO

Vilson CARVALHO

www.avm.edu.br

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CELSO SANCHEZ PEREIRA

Doutor em Educação Brasileira (PUC-RJ) mestre em

psicossociologia de comunidades e ecologia social (UFRJ).

Biólogo licenciado pela UFRJ, especialista em ciências ambientais

pela UNESA especialista em antropologia a arqueologia pelo

Museu Nacional UFRJ. Professor, consultor ambiental e

presidente da ONG Bioética

Mestre pela COPPE-UFRJ em Engenharia Civil – Recursos Hídricos.

Especialista em Ensino Superior pela Universidade Veiga de

Almeida-UVA. Engenheiro Civil pela UVA. Coordenador Acadêmico

do Curso de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental

da Universidade Veiga de Almeida. Coordenador do Curso

Tecnólogo em Gestão Ambiental na UVA. Professor da

Universidade Veiga de Almeida-UVA. Professor convidado da

União das Faculdades de Alagoas-UNIFAL, Faculdade de Artes do

Paraná, da FIOCRUZ, da COPPE/UFRJ, das Universidades Cândido

Mendes, Estácio de Sá, Gama Filho e CEFET e do Instituto

Ecológico Aqualung.

Francisco Carrera é bacharel em Direito pela Universidade Santa

Úrsula, Mestre em Direito pela UERJ, pós-graduado em auditoria e

periciais ambientais. Atualmente atua como professor de direito

ambiental da EMERJ, coordenador de diversos cursos de Pós

Graduação em Direito Ambiental inclusive do Curso de Pós

Graduação em Direito Ambiental do Instituto A Vez do Mestre –

UCAM. É membro da Comissão de Direito Ambiental do IAB, sócio

Titular da Carrera Advogados S/C, e assessor I da Secretaria de

Promoção e Defesa dos Animais da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Carrera possui ainda diversas obras publicadas sobre Direito

Ambiental.

Possui graduação em ciências biológicas pela Universidade

Estadual Paulista (1995), mestrado em educação brasileira pela

PUC - Pontifícia Universidade Católica (2003) e Doutorado em

educação brasileira (2008) também pela PUC-Rio. Atualmente é

docente da UDC e da UTIC. Foi docente de especializações em

Educação Ambiental pelas universidades PUC-Rio e Cândido

Mendes, no Rio de Janeiro. É ainda professora-tutora da Fundação

Getúlio Vargas, na área ambiental, no programa de educação

corporativa à distância, nível Especialização. Tem experiência na

área socioambiental, tanto no ensino e pesquisa, como em

projetos e atividades comunitárias, sobretudo em termos de

metodologias e representações sociais. Sua frente principal de

trabalho é a EDUCAÇÃO AMBIENTAL, especialmente na formação

continuada de professores e outros profissionais.

Eu me chamo VILSON SÉRGIO DE CARVALHO e atuo no Instituto

AVM desde 1996, dando aulas nos cursos presenciais de pós-

graduação e como membro da equipe pedagógica de seus cursos

na modalidade a distância. Me formei em Psicologia pela UFRJ,

universidade onde conclui meu bacharelado, licenciatura e

mestrado em psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social,

onde tive a oportunidade de estudar a Educação Ambiental e suas

múltiplas relações com o desenvolvimento de comunidades.

Recentemente conclui meu doutoramento em Ecologia Social

também pela UFRJ. Atuo também na área de consultoria

ambiental em comunidades e instituições sensíveis ao tema,

integrando equipes interdisciplinares.

Su

mário

07 Apresentação

09 Aula 1

Introdução à ecologia: conceitos preliminares

53 Aula 2

Estudo de ecossistema

95 Aula 3

Biomas brasileiros

159 Aula 4

Recursos hídricos

187 Aula 5

Problemática ambiental urbana

259 AV1

Estudo dirigido da disciplina

262 AV2

Trabalho acadêmico de aprofundamento

264 Referências bibliográficas

Elementos da Ecologia

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ão

Não dá para trabalharmos com Educação Ambiental sem conhecer

nosso objeto de estudo e defesa – o meio ambiente – em

profundidade. Nesse sentido, poucas disciplinas podem oferecer

mais elementos para a compreensão da dinâmica sócio-ambiental

do que a Ecologia. Esse é o objetivo deste conjunto de aulas:

permitir o conhecimento aprofundado de diferentes conceitos e

temáticas da ciência ecológica essenciais ao trabalho de qualquer

profissional que se proponha a atuar na área ambiental. É

evidente que não é necessário ser biólogo para ser educador

ambiental, mas o bom educador ambiental sabe e reconhece que

sem o estudo aprofundado de temáticas ambientais corremos o

risco de errar por nos aventurarmos em uma dinâmica ecológica

cuja base natural desconhecemos. Esperamos que o estudo dos

diferentes temas abordados, como ecossistemas, biomas,

comunidades, espécies, impactos ambientais e outros, possam

servir à capacitação e a um processo de educação continuada de

nossos alunos. Aproveite, portanto, este caderno não apenas

agora, mas futuramente, sempre que você precisar tirar alguma

dúvida no âmbito da Ecologia. Depois dessa apresentação só nos

resta recomendar a todos um excelente estudo!

Ob

jeti

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Este caderno de estudos tem como objetivos:

Examinar a importância da Ecologia para a compreensão das

diferentes dinâmicas ambientais do planeta, bem como da crise

ambiental vigente;

Analisar conceitos essenciais da área de Ecologia que servem

de base para os mais diferentes debates e discussões

abordadas neste curso;

Compreender melhor quais seriam os principais recursos

hídricos do planeta, os impactos sócio-ambientais que estes

sofreram no decorrer do processo civilizatório e as medidas

tomadas em diferentes âmbitos para conter tais impactos;

Entender melhor o espaço urbano como um ecossistema rico e

complexo que problemas sócio-ambientais específicos e

Finalmente conscientizar a todos, a partir de uma ótica

ecológica, sobre como os desafios ambientais atuais são

complexos e como a solução destes demanda o trabalho

conjunto de profissionais dos mais diferentes setores.

Introdução à Ecologia: Conceitos

Preliminares

Celso Sanchez

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ão

O título desta aula introdutória já é bastante elucidativo no que diz

respeito a temática central que esta aborda, ou seja, o estudo de

conceitos básicos que permitem ao aluno adentrar no mundo da

Ecologia tais como: Ecossistema, Cadeia Alimentar, Pirâmides

Ecológicas, Fotossíntese, Espécie, População, Comunidades, Nicho

Ecológico e a própria Ecologia não apenas em seu sentido clássico

– ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e destes

com o meio ambiente – mas a partir da ótica de Felix Guatarri.

Trata-se assim de uma aula importante que servirá de base para

reflexões mais aprofundadas sobre a temática que serão vistas

nas aulas seguintes. De forma clara e didática o professor foi

desenvolvendo essa introdução à Ecologia de modo que você não

apenas aprenda bastante sobre o tema, mas se sinta motivado a

buscar aprender mais.

Ob

jeti

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s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Compreender o que seja Ecologia e a importância desta no

quadro geral das ciências humanas e naturais; Refletir sobre alguns dos principais conceitos na área de

Ecologia que servem de base para os mais diferentes debates e

discussões abordadas neste curso; Favorecer o entendimento da história da Ecologia desde a

invenção do termo por Ernest Haeckel em 1869 até os atuais

debates que são objetos da mesma; Analisar algumas questões atuais que perpassam a temática da

Ecologia tendo em vista a crise ambiental vigente.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 10

Introdução

Cabe ressaltar que, para início de conversa, este

módulo possui a intenção de fazer como um convite à

sua reflexão, à sua crítica. Esperamos que você, leitor/

leitora, aproveite as idéias que serão expostas aqui,

inserindo-as dentro do possível, no seu dia-a-dia,

vislumbrando, através da vivência pessoal, a dimensão

da ecologia para entender que nós, seres humanos,

somos cada um elos de uma corrente de inter-relações

que todos os seres vivos possuem entre si e com seu

meio ambiente. Foi a partir da observação destas inter-

relações que surgiu a Ecologia.

Poluição, desastres ambientais, chuva ácida,

efeito estufa e o aquecimento global, são assuntos cada

vez mais freqüentes em nosso conturbado cotidiano. A

qualidade de vida das grandes cidades cai

vertiginosamente em todos os países do mundo. A cada

novo dia há noticiários dramáticos de graves acidentes

ambientais que acabam por comprometer a

subsistência de um sem número de famílias e

trabalhadores que vivem da convivência, muitas vezes

milenar, com a natureza. São os “flagelados dos

desastres ecológicos”.

Em alguns lugares a poluição do ar já é tão

intensa que obriga governos a se sensibilizarem para a

temática ambiental e a tomarem atitudes extremas

para conter danos e prejuízos maiores. Um exemplo

próximo pode ser constatado na cidade de São Paulo,

onde já é necessário o rodízio de automóveis para

evitar que o nível de poluição atmosférica seja

insuportável à vida humana. Cidades como México,

Londres, Detroit, Bangkok, são outros exemplos de

territórios que possuem seus cotidianos alterados e

extremamente sensíveis a pequenas variações nas

condições ambientais.

Dica do professor

Desastres ecológicos: Vale destacar que este termo se refere tanto aos acidentes ambientais originados de ações antrópicas (ações do homem sobre a vegetação natural), quanto aos acidentes no ambiente originados de causas naturais como os terremotos e os recentes tsunamis.

Introdução 10 Histórico e definição 12 Fundamentos básicos de ecologia 18 As pirâmides ecológicas 21 Produtividade primária 26 Conceitos básicos 34

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 11

Mas esta história é de certa forma recente. Foi

apenas a partir da segunda metade do século XX, que a

humanidade começou a verificar os prejuízos causados

por uma mentalidade, uma ideologia fortemente

aderida a uma lógica desenvolvimentista que não

poupou a natureza em detrimento de seus interesses

puramente econômicos.

Fruto de uma mentalidade reforçada pela

revolução industrial e tecno-científica, essa lógica de

funcionamento foi de tal maneira forjada que justificou

um estilo de pensamento da relação sociedade /

natureza, onde se via unicamente, os privilégios e os

benefícios que poderiam ser alcançados através da

exploração aviltante da natureza e seus recursos. A

natureza era deslumbrante não por sua beleza, pureza

ou importância no equilíbrio da vida, mas pelo que

poderia ser retirado dela, das riquezas que poderiam

ser construídas a partir de sua destruição.

Essa maneira de ver a natureza foi adotada por

grande parte dos países ocidentais, reivindicou o direito

à exploração dos recursos da natureza a qualquer

preço, em nome de um “desenvolvimento” basicamente

voltado para obtenção de lucros a curto prazo, sem

quaisquer preocupações com a sustentabilidade do uso

destes recursos, sem se preocupar com o seu

esgotamento, ou sequer garantindo a utilização dos

mesmos pelas gerações futuras.

Começamos nosso diálogo neste primeiro

módulo com este alerta. Julgamos assim necessário

porque todas as questões propostas têm a ver com o

assunto que iremos abordar aqui em seguida: a

Ecologia.

Como ciência, surgida em meados do século

XIX, a ecologia não tinha a pretensão de atingir a

Você sabia?

Sobre o Rodízio de Veículos em São Paulo: A CET começou a fiscalização do rodízio municipal de veículos no centro expandido em outubro de 1997, quando a frota total da capital paulista registrada no Detran era de 4,7 milhões, já incluídas as 293.289 motocicletas. A frota circulante -estimativa de veículos que rodam diariamente, descontados os que ficam parados nas garagens, por exemplo- estava próxima de 3 milhões. Ou seja, os técnicos esperavam

retirar 600 mil veículos de circulação de segunda a sexta.

Importante

Modelos alternativos de desenvolvimento: Frente a esse modelo economicista de desenvolvimento onde a natureza é pensada como

mercadoria. Existem outros modelos como já foram analisados em outros módulos que tentam harmonizar progresso econômico e sustentabilidade ambiental como: - O desenvolvimento endógeno; - O desenvolvimento sustentável; - O ecodesenvolvi-mento.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 12

importância social, política e diária que ocupa hoje. É

impossível referir-se ao tema ecologia sem citar

questões sérias que todos atravessamos

cotidianamente. Assim, de um despretensioso ramo da

biologia até a dimensão ecopolítica e até espiritual, a

ecologia atravessou um denso caminho impregnado por

debates intensos.

Trataremos aqui desta trajetória e destes

desdobramentos, para entendermos as dimensões da

ecologia hoje e seu alcance, suas tendências vertentes

e caminhos, no futuro. Neste primeiro momento,

portanto, iremos trazer alguns conceitos básicos e uma

primeira argumentação sobre a diversidade das áreas

de aplicação e extensão da ecologia, e do pensamento

ecológico em nossa sociedade.

Histórico e definição

O termo Ecologia suscita uma idéia que sempre

esteve presente na humanidade desde muito cedo em

sua trajetória. No campo da ciência pode-se dizer que

foi usado pela primeira vez em 1869, pelo biólogo

alemão Ernest Haeckel, um dos grandes nomes da

biologia do século XIX. Haeckel estudava a fisiologia

dos animais e vegetais, quando percebeu que havia

uma estreita relação entre a morfologia da planta ou do

animal que estudava e seu meio ambiente. Seus

estudos representam um trabalho de mais de 40 anos

dedicados a experimentação científica, mas seu nome

entrou definitivamente para a história da ciência na

obra intitulada “Morfologia Geral dos Organismos”,

onde tenta mostrar que a morfologia das espécies varia

de acordo com o meio ambiente onde estas vivem.

Num testemunho de que as espécies possuíam

correlações e interações estritas e importantes com o

meio. Em seu extenso trabalho, Haeckel propunha

modestamente a criação de uma nova disciplina

Quer saber mais?

Haeckel definiu Ecologia como “...o conjunto de conhecimentos relacionados com a economia da natureza - a investigação de todas as relações entre o animal e seu ambiente orgânico e inorgânico, incluindo suas relações, amistosas ou não, com as plantas e animais que tenham com ele contato direto ou indireto - numa palavra, ecologia é o estudo das complexas inter-relações, chamadas por Darwin de condições da luta pela vida”. Vê-se que, na sua primeira definição, a Ecologia já incorpora a Economia.

Vide outros detalhes no site: http://arruda.rits.or

g.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=108&textCode=11083

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 13

científica, que seria um dos ramos da biologia, a qual

estaria preocupada em estudar as relações entre as

espécies animais e vegetais e o seu meio orgânico e

inorgânico.

Para denominar este novo campo de estudos

Haeckel utilizou a palavra Ecologia, apropriando-se da

palavra “OIKOS” que em grego significa “CASA”, assim

surgiu a “ciência da casa”.

Um dado marcante é que a mesma palavra já

havia sido usada para “Economia” que significa

“ordenação, manejo da casa”. Ambas as ciências,

portanto, possuem desde suas origens relações

estreitas como veremos mais adiante, pois ambas

ocupam hoje, lugar de destaque em nossas vidas

diárias.

A modesta proposta inicial de Ernest Haeckel, no

entanto, encontra ressonância tão profunda que de um

subtítulo da biologia, passou como diz o filósofo e

teólogo Leonardo Boff a ser atualmente:

Um discurso universal, quiçá o de

maior força mobilizadora do futuro

milênio.

Já desde muito cedo na história da humanidade,

o conhecimento sobre a ecologia, das relações dos

seres vivos, incluindo-nos aí, com seu meio ambiente e

entre si, foi fundamental para a sobrevivência da

condição humana.

Para sobreviver nas sociedades primitivas, (ou

seja, as mais antigas, não inferiores ou menos

evoluídas), era extremamente importante conhecer

muito bem seu meio ambiente, quer dizer, as condições

e variantes ambientais e os animais e vegetais que

viviam ao redor delas. Saberes tais como, quando vai

Dica do

professor

Procure investigar outras definições de Ecologia em outras obras e a partir

daquilo que já vimos nas aulas anteriores.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 14

chover, qual terra é mais fértil e adequada ao plantio,

que tipo de refúgios e lugares podem ser encontrados

determinados tipos de animais que poderiam servir de

caça etc. Estes foram todos conhecimentos que

exigiram extensa observação sobre a ecologia geral dos

ambientes e seres que ali viviam. Esta ecologia

primitiva e fruto da observação e experimentação

humanas, nos acompanha desde os primórdios.

Este conhecimento ecológico de sociedades

deste tipo pode ser facilmente compreendido através

do estudo do relacionamento destas sociedades, ou das

que ainda sobrevivem hoje, como é o caso de nossos

povos tradicionais, com seu meio ambiente, chegando

ao ponto de estabelecerem elos tão estreitos com seu

meio que, por vezes, era impossível uma dissociação.

Um exemplo do que estamos falando é o caso

dos índios Kaiapó, da região central do Brasil. Esta

nação desenvolveu-se de maneira tão intrinsecamente

relacionada a seu meio que chega ao ponto de serem,

estes índios, responsáveis pela manutenção da

biodiversidade de diferentes espécies de feijões

selvagens. A este campo da ecologia, preocupada com

a relação de seres humanos com seu meio chama-se

ecologia humana. Esta tem se mostrado um campo de

estudos bastante profícuo, e o Brasil possui grandes

especialistas de renome internacional com destaque

para um dos mais importantes centros de pesquisa no

mundo o Museu Nacional da Universidade Federal do

Rio de Janeiro.

Nas últimas duas décadas, o setor madeireiro tem

se mostrado especialmente predatório na região

amazônica, principalmente no sul do Pará, habitada pe

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 15

Como toda ciência, a Ecologia teve um

desenvolvimento irregular e em sobressaltos. Desde os

gregos, já havia menções a questões ecológicas. Vários

filósofos importantes, tais como Aristóteles e

Hipócrates, fazem referência, incitam debates e tecem

considerações de reflexões filosóficas relativas aos

temas ecológicos, levantando questões que hoje

poderiam ser classificadas dentro do campo da

ecologia.

Na Roma antiga, desde Rômulo e Remo,

podemos encontrar referências sobre alguns cuidados

ambientais indispensáveis para se evitar o esgotamento

de recursos naturais. Mais ou menos no mesmo

período, nas Américas, os Toltecas reivindicavam junto

aos governantes Maias, posições adequadas de manejo

de solos e de cultivo de milho para se evitar que se

exaurissem os solos. Há historiadores que defendem a

idéia de que um dos motivos da decadência do povo

Maia ocorreu por razões ecológicas. Enfim, é possível

contar milhares de histórias sobre a estreita relação e

importância que a ecologia ocuparem nossas vidas.

los índios Kaiapó. As terras dessas comunidades

vêm sendo sistematicamente invadidas e

degradadas, em alguns casos com a anuência dos

próprios líderes indígenas. Esse modelo predatório

nem sempre garante retorno financeiro justo para as

comunidades e a falta de preocupação com a

proteção ambiental põe em risco a sobrevivência

futura destes povos.

Para reverter essa situação e escapar do modelo

predatório que se impõe na região, os Xikrin-Kaiapó

criaram em 1995, a Associação Bep-Nói de Defesa

do Povo Xikrin do Cateté. A associação estabeleceu

parceria com o Instituto Socioambiental,

organização não-governamental sem fins lucrativos

e, com o apoio financeiro da Companhia Vale do Rio

Doce e do ProManejo (Programa Piloto para Proteção

de Florestas Tropicais do Brasil – MMA e IBAMA). Os

Xikrin começaram a desenvolver o seu próprio

projeto de manejo florestal.

Veja mais detalhes em:

http://www.partes.com.br/socio_ambiental08.html

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 16

Como definição clássica, a ecologia pode ser

entendida como a ciência que estuda a relação dos

seres vivos entre si e destes com seu meio ambiente. A

partir daí, pode-se entender que o objeto da ecologia

não são os seres vivos (campo da biologia, por

exemplo), nem o meio ambiente per si (campo da

química, geologia, física, geografia etc.), mas sim a

relação entre o que se pode chamar fatores bióticos e

abióticos (bio = vida). Entendendo-se que o objeto da

ecologia trata do campo das relações ou interações, a

ecologia em si ganha uma amplitude dimensional

superior, ou seja, ela pressupõe que, em todo fato

ecológico, existem pelo menos dois atores envolvidos,

sendo assim, há intrinsecamente a necessidade de se

pensar num sistema ativo, onde há troca de elementos

entre as partes.

QUEM ERAM OS TOLTECAS?

Tolteca significa em nahuatl, “mestres construtores”.

Os Toltecas foram um povo pré-colombiano, nativo

do México que emigrou do norte do chamado agora

México, em torno do ano 700 d.C. a grande cidade

de Teotihuacán, e estabeleceram sua base militar

em Tula no estado de Hidalgo, a 64 km ao norte da

moderna Cidade do México, no século X d.C,

permanecendo até o século XII d.C.. Pensa-se que

sua chegada marcou o militarismo na Mesoamérica,

já que o exército tolteca empregou sua força militar

para dominar os povos vizinhos. Suas conquistas

abrangeram uma área que compreende o sudoeste

dos Estados Unidos até a América Central. O povo

Tolteca tinha uma cultura refinada, que incluía

conhecimentos sobre a fundição do metal, o

trabalho em pedra, a destilação, escrita e a

astronomia. Sua arquitetura e arte refletiam

influências de Teotihuacán e da cultura Olmeca.

A História nos narra que a civilização Tolteca decaiu

no ano 1.300 d.C. quando os Chichimecas, junto

com outros povos indígenas, invadiram o Vale de

Anáhuac e saquearam Tula. Os Toltecas

sobreviventes fugiram para o sul e foram absorvidos

pelos Mayas, povo que eles haviam conquistado

anteriormente.

Se você deseja saber mais sobre os Toltecas acesse

o seguinte site:

http://www.xamanismo.com/mensagens.asp?c=35

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 17

Neste ponto, podemos já chamar a atenção para

o principal conceito que circula na ciência ecologia, o

ECOSSISTEMA, que pode ser interpretado como uma

unidade ecológica básica. Adiante em nosso curso,

veremos mais detalhadamente o conceito. Neste

sistema, há um fluxo constante de trocas entre matéria

e energia entre as partes compondo, desta forma, um

dos mais intricados processos biológicos.

Em virtude da amplitude da definição e da ampla

gama de aplicação do conceito, a ecologia alçou vôos

muito maiores do que a sua despretensiosa intenção

científica. A ecologia viu ressonâncias dos

conhecimentos que gerava em tão variados campos de

conhecimento que foi quase impossível atê-la apenas

as margens da ciência. Em outras palavras, tratar a

ecologia como unicamente um conceito científico,

significa reduzir seu entendimento e aniquilar uma

visão de mundo baseada no respeito às relações entre

os seres vivos. O olhar que a ecologia, enquanto

ciência, propõe para os processos de interação que a

vida estabelece, lança férteis possibilidades de

entendimento do conceito que vão desde o campo da

ideologia, política, espiritualidade até uma nova visão

ética.

Para explicar melhor este processo de

disseminação do conceito “ecologia”, para a sociedade

como um todo e os desdobramentos do termo é preciso

verificar um pouco da história recente da ciência. Em

meados dos anos 1960, com a revolução contracultural

e os avanços tecno-científicos, o conhecimento gerado

em ecologia provocou grande influência social e o

termo passou a ser amplamente empregado passando

a significar muitas vezes uma ideologia, ou uma linha

de pensamento político e às vezes até espiritual. Um

dos motivos desta comoção que levou a movimentos

mundiais de criação de partidos políticos com bandeiras

Para pensar

O que você destacaria? Dentre os conceitos em Ecologia que nós já vimos no decorrer dos módulos estudados. Quais você destacaria como sendo os mais importantes?

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 18

ecológicas, religiões e seitas que pregavam posturas

ecológicas, teses de doutorado em ecologia e leis

ambientais foi o fato dos conhecimentos científicos

possuírem aplicabilidade prática na vida das pessoas.

Foi a partir da credibilidade da ciência que este termo

pode ser amplamente disseminado.

Fundamentos básicos de ecologia

ECOSSISTEMA

Define-se como ecossistema, todo o complexo

de organismos e o ambiente físico em que eles

habitam. É também uma gigantesca máquina

termodinâmica que continuamente dissipa energia em

forma de calor. Esta energia inicialmente entra no

domínio biológico do ecossistema via fotossíntese e

produção vegetal, que, por sua vez, proporciona

energia aos animais e microrganismos não-

fotossintéticos.

O estudo energético do ecossistema dominou a

ecologia durante as décadas de 1950 e 1960, devido à

larga influência de Eugene P. Odum, que defendeu a

idéia da energia como uma moeda comum para

descrever a estrutura e o funcionamento de

ecossistema.

FUNCIONAMENTO DO ECOSSISTEMA

O fluxo químico e de energia sustentam a

organização do ecossistema e são os responsáveis pela

individualidade de cada ecossistema. Em cada um deles

existe um grupo de organismos que interagem,

transformam e transmitem energia e compostos

químicos.

A fonte energética inicial para todos os

Dica do

professor

O Conceito de ecossitema foi bastante revolucionário se

comparado com os conceitos anteriores para o entendimento dos processos ecológicos. Trata-se de um conceito amplo que se refere a uma unidade ecológica composta por uma fração viva, denominada biocenose, e uma fração não viva, o ambiente propriamente dito, denominada biótopo. Campos, praias, manguezais, costões rochosos, cavernas, regiões abissais, rios, lagos, estuários, bosques, florestas, desertos, recifes de coral e pântanos, são alguns exemplos de ecossistemas.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 19

ecossistemas é o sol: certos fótons de luz solar podem

ser utilizados na produção de substâncias ricas em

energia, mediante o processo da fotossíntese.

Os produtores primários são os organismos que

atuam na entrada da energia nos ecossistemas,

transformando a energia radiante em energia química.

São representados pelos vegetais verdes (ainda que

certas bactérias possam também fazer esta

transformação, mas de maneira insignificante). Todos

os demais níveis de organismos (consumidores e

decompositores) são mantidos por esta transformação.

NÍVEIS TRÓFICOS

Numa observação simplificada, a energia

química armazenada durante a fotossíntese pode viajar

por uma série de compartimentos antes que se dissipe

por completo.

Uma planta pode ser consumida por um

gafanhoto, este por sua vez pode ser comido por um

pássaro e este por um gato.

Planta Gafanhoto Pássaro Gato

Esquema 1: Cadeia Alimentar

Dependendo da eficiência da digestão, grande

parte da energia alimentar pode retornar ao ambiente

como energia não digerida (excrementos) e disponível

para outros organismos.

Todo organismo utiliza parte da energia do

alimento no processo da respiração. Os restantes de

energia disponíveis são armazenados para utilizá-la

como fonte de energia para o próprio organismo

(gordura, p.e.), para seus descendentes, para os

predadores que se alimentam dele ou quando morrem

por outra causa.

Quer saber mais?

É muito difícil determinarmos as dimensões de um ecossistema específico. Por isso, um menor ou o menor ecossistema seria aquele que se enquadrasse dentro das definições de ecossistema, e tendo as menores dimensões possíveis. Para exemplificar: uma gota d'água contendo uma comunidade de microorganismos poderia ser se não o menor, com certeza um dos menores ecossistemas estando é claro esta gota sujeita as interações biológicas entre os microorganismos e entre estes e o meio físico, tal como

luminosidade, temperatura etc.

Para pesquisar

Pesquise outras cadeias alimentares que você conheça e compare-as, procurando identificar seus componentes.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 20

A caracterização linear do fluxo químico e de

energia através dos organismos se denomina cadeia

trófica ou alimentar. Cada organismo está situado em

um nível alimentar ou trófico que representa a sua

posição em relação à entrada inicial de energia.

No caso de uma cadeia alimentar que começa

por vegetais vivos é possível distinguir as diversas

categorias seguintes:

Os Produtores - São os vegetais clorofilianos,

isto e, os organismos capazes de fabricar e

acumular energia potencial sob forma de

energia química presente nas matérias

orgânicas sintetizadas (açúcares, gorduras e

proteínas). São representados pelas plantas

verdes e algas.

Os Consumidores Primários - São

representados geralmente pelos herbívoros e

mais raramente pelos parasitos animais e

vegetais das plantas verdes, que exploram

seu hospedeiro sem matá-lo.

Os Consumidores Secundários - sobrevivem à

custa dos herbívoros, sendo, portanto

carnívoros ou onívoros. E são encontrados em

grupos muito variados.

Os Consumidores Terciários - São os

carnívoros propriamente ditos. Podem ser

predadores, que capturam as presas,

matando-as antes de devorá-las, ou então

parasitas, ou ainda comedores de cadáveres.

Os Decompositores ou Bio-Redutores -

formam o termo final da cadeia alimentar.

São principalmente microrganismos que atacam

os cadáveres e os excrementos decompondo.

Dica do professor

Procure exemplificar cada um dos componentes citados considerando uma cadeia alimentar qualquer. Produtores:

Consumidores de

1ª. Ordem ou Primários:

Consumidores de 2ª. Ordem ou Secundários:

Consumidores de 3ª. Ordem ou Terciários:

Decompositores ou Bio-redutores:

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 21

Os pouco a pouco, assegurando assim o

retorno progressivo ao mundo mineral dos

elementos contidos na matéria orgânica.

As pirâmides ecológicas

A estrutura trófica de um ecossistema ou de

uma cadeia alimentar pode ser descrita em termos de

indivíduos, de biomassas ou de energia. Pode-se

igualmente figurar graficamente esta estrutura por

meio de pirâmides ecológicas.

PIRÂMIDE DOS NÚMEROS

Numa cadeia de predadores se fizermos a

superposição de retângulos horizontais de mesma

altura, tendo o comprimento proporcional ao número

de indivíduos presentes em cada nível trófico,

obteremos uma figura chamada pirâmide dos

números, tanto mais alta quanto maior for o número

de níveis tróficos de cadeia.

Foi estabelecida partindo de dois fatos

observados na grande maioria dos casos.

Em um ecossistema os animais de pequeno

tamanho são mais numerosos que os de tama-

Produtor Consumidor Consumidor

Decompositor

Esquema 2: Níveis Tróficos

Terciário Secundário

Consumidor

Primário

Quer saber mais?

O que é biomassa? A abundante vida vegetal do nosso planeta é armazenadora da energia solar e de substâncias químicas, sendo um recurso renovável que chamamos de biomassa. Assim, todos os organismos biológicos são aproveitados como

fontes de energia e são chamados de biomassa: a cana-de-açúcar, o eucalipto, a beterraba (dos quais se extrai álcool), o biogás (produzido pela biodegradação anaeróbica existente no lixo e dejetos orgânicos), lenha e carvão vegetal, alguns óleos vegetais (amendoim, soja, dendê) etc.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 22

nho maior e reproduzem-se mais depressa;

Para todo animal carnívoro há um limite

inferior e um limite superior do tamanho das

presas que pode comer.

A pirâmide dos números não tem grande valor

descritivo porque dão a mesma importância a todos os

indivíduos, quaisquer que sejam seu tamanho e peso.

Por isto este modo de representação está abandonado,

o que não significa evidentemente que não haja

interesse em conhecer o número de organismos de um

ecossistema.

Figura 1: Piramide dos Números

PIRÂMIDE DAS BIOMASSAS

Indica para cada nível trófico a biomassa dos

organismos correspondentes. Em uma cadeia de

predadores a biomassa dos organismos tem geralmente

a forma de um triângulo com a ponta para cima. Mas

há exceções encontradas em certos ecossistemas

aquáticos, onde o fitoplancton (algas) tem uma

biomassa inferior à do zooplancton (animais

microscópicos), mas uma velocidade de renovação

muito rápida (Pirâmide invertida).

Figura 2: Pirâmide de Biomassa

Nº de Gaviões

Nº de Pássaros

Nº de Insetos

Kg de Gaviões

Kg de Pássaros

Kg de Insetos

Importante

A massa de matéria orgânica contida em um ser vivo é chamada de biomassa, sendo

esta proporcional a quantidade de energia nela contida.

Importante

Pirâmide das Energias: É representada de forma que cada nível trófico tem sua energia acumulada. A base corresponde ao nível trófico dos produtores, e na seqüência são representados os níveis dos consumidores. A largura de cada nível corresponde à quantidade de energia ou de matéria orgânica disponível para o nível trófico seguinte. Este tipo de pirâmide serve para indicar a produtividade de um determinado ecossistema, pois considera o fator tempo.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 23

Figura 3: Pirâmide de Biomassa Invertida

PIRÂMIDE DAS ENERGIAS

É o modo de representação mais satisfatório

porque retrata fielmente as transferências de um nível

para o outro, mas faltam muitas vezes os dados para

construí-la.

Cada nível trófico é representado por um

retângulo cujo comprimento é proporcional à

quantidade de energia acumulada por unidade de

tempo e por unidade de superfície (ou volume) nesse

nível. A pirâmide das energias tem sempre a forma de

um triângulo com a ponta voltada para cima por motivo

das perdas de energia que tem lugar de um nível

trófico a outro, o que é conseqüência das leis da

termodinâmica.

Obs.: As leis da termodinâmica são duas:

Primeira Lei: Trata da transmissão e

transformação de energia e é definida pela

formula:

Q= E + W

Q é à entrada de energia;

E é a troca de energia no sistema;

W é o trabalho realizado.

Os ecólogos expressam a primeira lei na

seguinte forma:

Zooplacton

Fitoplancton

Para navegar

Em qualquer processo natural a ENTROPIA do universo sempre aumenta. A entropia de um macroestado é proporcional ao número de microestados nesse macroestado. E sabemos que a probabilidade de um macroestado ocorrer é dada pelo número de microestados que ele contém. Existe um interessante site dedicado inteiramente ao conceito de entropia. Vale a pena consultá-lo: http://www.fisica.ufc.br/entropia/entropia7.htm

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 24

Pb = Pn + R

Pb é a taxa de energia que entra no

ecossistema;

Pn é a taxa de acumulação de energia no

ecossistema;

R é a respiração ou taxa de conversão de

energia em trabalho no ecossistema.

Segunda Lei: A Entropia de um sistema

isolado sempre aumenta. A entropia é uma

medida da aleatoriedade, desordem ou caos

em um sistema. Ou seja, a tendência de um

sistema é a desordem.

O meio de se diminuir a entropia é realimentar o

sistema com energia.

A relação entre entropia e a energia estabelece-

se da seguinte forma:

S = ∆ C - ∆ L

T Donde:

∆ S é a troca de entropia no processo

∆ C é o calor da reação

∆ L é a troca de energia livre do processo

T é a temperatura absoluta

Como um Ecossistema não é um sistema

isolado, ele refaz a sua energia através de energia

solar.

Diferenças entre as Pirâmides

Importante

Qualquer

ecossistema, e conseqüentemente o maior deles que é a Terra, está sujeito constantemente a desarranjos perturbando os mesmos. Estas perturbações, de acordo com a intensidade, podem ser “absorvidas” pelo ecossistema sem que haja grandes danos para o mesmo. A esta constância dentro de um ecossistema, mantida por forças internas denomina-se equilíbrio ecológico. As forças internas são resultantes das complexas relações entre organismos e meio físico. Já a capacidade de resposta de um ecossistema a perturbações é chamada resiliência.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 25

Veja abaixo um exemplo comparativo da

Pirâmide das energias com as demais pirâmides

retirado de Odum, E.P.

Figura 4: Pirâmide dos Números (A), das

biomassas (B) e das energias(C)

REDE ALIMENTAR

Chama-se de Rede Alimentar quando existe um

relacionamento mais complexo entre os níveis tróficos.

Em certas situações, torna-se muito difícil detectar os

diferentes níveis. Vejamos um exemplo de como é

complexo analisar suas diferentes tramas:

Criança 1

Bezerro 4,5

2 bilhões

A)

Pés de Alfafa

Criança 48 Kg

Bezerro 1035 Kg

6211 Kg

B)

Alfafa

Tecido humano 8 mil e trezentas cal

Bezerro 1, milhões cal

14,9 milhões cal

C)

Alfafa

Energia solar

recebida 6,3 bilhões de cal

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 26

Esquema 3: Rede Alimentar (adaptado de Dajoz,

R.).

Plecopteros (Perla, Dinocras, Protonemura),

Trichopteros (Rhyacophila, Hydropsyche, Philotamus),

Efemérida (Baetis), Dípteros (Simulum, Chironomus).

Produtividade primária

CONCEITO DE PRODUTIVIDADE

Define-se a produtividade primária de um

sistema ecológico, de uma comunidade ou de qualquer

parte deles, como a taxa na qual a energia radiante é

convertida, pela atividade fotossintética e

quimiossintética de organismos produtores (na maior

parte, plantas verdes), em substâncias orgânicas. É

importante distinguir as quatro etapas sucessivas no

processo produtivo, como fazemos a seguir:

Consumidores Secundários

Nível Intermediário

Consumidores Primários

Produtores

Matéria

Orgânica Importada

Perla sp

Hydropsyche sp

Protonemura sp

Algas Verdes

Fragmentos de folhas

Baetis sp

Leuctra sp

Simulum SP Chironomus sp

Rhyacophila sp

Dinocras sp

Philopotamus sp

Diatomáceas

Detritos

Quer saber mais?

Produtividade Primária Líquida e Produtividade Primária Bruta: A Produtividade Primária Líquida - PPL: é toda a energia que os produtores armazenam a partir da fotossíntese (PPB) menos o que eles gastam na respiração (R), assim a PPL é o que o consumidor primário vai ter disponível do produtor. Fórmula: A PPL = PPB-R

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 27

Produtividade primária bruta é a taxa de

fotossíntese, incluindo a matéria orgânica

usada na respiração durante o período de

medição. Também se chama fotossíntese

total ou assimilação total;

Produtividade primária líquida é a taxa de

armazenamento de matéria orgânica nos

tecidos vegetais, em excesso relativamente

ao uso respiratório das plantas durante o

período de medição. Também se chama

fotossíntese aparente ou assimilação líquida.

Na prática, a quantidade de respiração

geralmente é acrescentada às medidas de

fotossíntese aparente como correção para

estimar a produção bruta;

FONTE: AMABIS E MARTHO – LIVRO BIOLOGIA 3., 2004.

Produtividade líquida da comunidade é a taxa

de armazenamento de matéria orgânica não

utilizada pelos consumidores (ou seja, a

produção primária menos o consumo

heterotrófico) durante o período em

consideração, geralmente a estação de

crescimento ou um ano;

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 28

Finalmente as taxas de armazenamento

energético em níveis de consumidores são

denominadas produtividade secundária.

A produção primária é medida por uma ou mais

combinações de diversos métodos: coleta, troca gasosa

(CO2 em ambientes terrestres e O2 em ambientes

aquáticos), e assimilação de carbono radioativo.

Devido às plantas perderem água na proporção

direta da quantidade de CO2 assimilado, a produção

das plantas em ambientes secos varia na proporção

direta e é limitada pela disponibilidade de água.

A produção em ambos os ambientes terrestres e

aquáticos pode ser aumentada pela aplicação de vários

nutrientes (Esq. 4), especialmente nitratos e fosfatos,

os quais indicam que nutrientes disponíveis limitam a

produção. Este efeito é mais forte nos oceanos abertos

e nos lagos profundos.

O movimento da energia e matéria através da

cadeia alimentar é caracterizado pela eficiência de

assimilação (a razão entre assimilação e a digestão) e a

eficiência de produção liquida (razão entre produção e

assimilação).

EFICIÊNCIA DA FOTOSSÍNTESE

Conhecendo as fontes de entrada e saída de

energia no sistema, podem-se realizar estimativas

sobre a produção máxima possível na Terra a partir da

eficiência máxima potencial da fotossíntese.

A incidência máxima de energia solar sobre a

superfície do globo é calculado em torno de 7000 kcal

/m2 dia. A maioria das folhas verdes absorve a grande

parte da energia (cerca de 90%) na parte visível do

Para pesquisar

Procure pesquisar mais sobre a temática da produção em comunidades. Temos certeza de que você encontrará matérias bem interessantes.

Dica do professor

Para entender o valor da fotossíntese: A fotossíntese significa etimologicamente síntese pela luz. Excetuando as formas de energia nuclear, todas as outras formas de energia utilizadas pelo homem moderno provêem do sol. A fotossíntese pode ser considerada como um dos processos biológicos mais importantes na terra. Por liberar oxigênio e consumir dióxido de carbono, a fotossíntese transformou o mundo no ambiente habitável que conhecemos hoje. Para outras informações consulte o site: Http://www.iq.ufrj.br/~almenara/fotossintese.htm

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 29

espectro, além disso, reflete e transmite a maior parte

da luz na seção ultravioleta e infravermelho. Das 7000

kcal iniciais, cerca de 2.755 kcal podem reverter-se

potencialmente no processo da fotossíntese. Cerca de

30% desta energia se dissipa, sendo que os 70%

restantes são utilizados para a formação dos produtos

fotoquímicos que transferem sua energia para a

fotossíntese. Da energia radiante total, somente 28% é

absorvida para formar a energia do ecossistema.

Entretanto, além de Luz, certos fatores

limitantes podem influenciar na eficiência da

fotossíntese, tais como:

Água, temperatura, nutriente e os herbívoros

terrestres.

Transparência da água, temperatura,

nutrientes e herbívoros aquáticos.

ESQUEMA 2: RELAÇÃO ALGAS / NUTRIENTES

0

20000

40000

60000

80000

1 00000

1 20000

1 40000

Manhã Tar de Noite

Ind

ivíd

uo

s

0

50

1 00

1 50

200

250

300

350

400

450

To

nela

das

A lgas

NO2/NO3

Importante

A pesquisa científica da fotossíntese possui uma importância vital. Se pudermos entender e controlar o processo fotossintético, nós saberemos como

aumentar a produtividade de alimentos, fibras, madeira e combustível, além de aproveitar melhor as áreas cultiváveis. Os segredos da coleta de energia pelas plantas são adaptados aos sistemas humanos para fornecer modos eficientes de aproveitamento da energia solar. Essas mesmas tecnologias nos auxiliam a desenvolver novos computadores mais rápidos e compactos, ou ainda, a desenvolver novos medicamentos. Uma vez que a fotossíntese afeta a composição atmosférica, o seu entendimento é essencial para compreendermos como o ciclo do CO2 e outros gases, que causam o efeito estufa, afetam o clima global do planeta.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 30

ESQUEMA 3: RELAÇÃO LUZ/GASES LIBERADOS NA

FOTOSSÍNTESE

AS ECOLOGIAS

A seguir veremos algumas das diferentes facetas

e tendências da ecologia para entendermos a amplitude

de ação e a repercussão de seu discurso pelos

diferentes setores da sociedade e do conhecimento

humano.

ECOLOGIA AMBIENTAL

Esta primeira vertente ocupa-se do meio

ambiente, baseia-se nos conhecimentos tecno-

científicos, está interessada na descrição de processos

ecológicos, elabora modelos matemáticos para

entendê-los e pauta-se em exemplos encontrados na

natureza. Preocupa-se, sobretudo com a preservação

das espécies, com a biodiversidade e o equilíbrio do

planeta, pauta-se sobre uma plataforma de

pensamento científico e procura novas tecnologias,

chamadas de tecnologias “limpas”, ou seja

preocupadam-se com a garantia da qualidade de vida

do ser humano. Esta vertente é a que nos norteará

para estudarmos a ecologia em nosso curso. Como

exemplo desta face temos ciências como ecologia

7:00 às

10:00

10:00

às

14:00

14:00

às

17:00

17:00

às

18:00

18:00

às 5:00

5:00 às

7:00

Qu

an

tid

ad

e

O2

CO2

Luz

Dica do professor

Quantas ecologias você conhece? A partir de agora não falemos mais em Ecologia, mas em Ecologias. Aqui destacamos

algumas: - A Ecologia Ambiental; - A Ecologia Social; - A Ecologia Mental ou Profunda; - A Ecologia Política ou Ecologismo.

Quer saber mais?

Vale acessar o artigo de Carlos Guimarães entitulado: “Ecologia Profunda, Ecologia Social e Eco-Ética” disponibilizado no site: http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/ecologia.html

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 31

marinha, de águas doces e continentais, ecologia

animal, ecologia vegetal, ecotoxicologia etc.

ECOLOGIA SOCIAL

A Ecologia Social baseia-se no entendimento das

relações das sociedades com seu meio ambiente,

procura: entender os tipos de trocas e as diferentes

formas de interpretar e lidar com o meio ambiente: e

entender como e o que as diferentes sociedades ou

grupos sociais interpretam, entendem e conhecem

como meio ambiente e quais as relações que podem

possuir com este e com outros grupos através deste

entendimento. Nesta vertente podemos encontrar

trabalhos sociais, movimentos políticos e estudos

científicos. É uma plataforma de pensamento ampla e

que permite diferentes aplicações que vão desde o

embelezamento das cidades, cuidados estéticos sobre o

ambiente que influenciam a qualidade de vida das

pessoas, até questões mais ligadas ao saneamento

básico, educação, saúde, violência urbana, justiça

social, as relações entre homens e mulheres. Enfim, é

destes interesses que advêm o forte apelo político

desta tendência. Para Boff (2000):

Segundo essa compreensão, a

injustiça se mostra, portanto, como

injustiça ecológica contra o todo

natural-cultural humano. A ecologia

social propugna por um

desenvolvimento sustentável. É aquele

que atende às carências básicas dos

seres humanos de hoje sem sacrificar

o capital natural da Terra, tomando em

consideração também as necessidades

das gerações de amanhã, pois elas têm

o direito à sua satisfação e a herdar

uma Terra habitável, com relações

humanas minimamente decentes.

(p.27)

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 32

ECOLOGIA MENTAL OU ECOLOGIA PROFUNDA

Este estilo de ecologia é uma das vertentes em

maior expansão principalmente nos países do norte

onde há uma profunda crise de identidade. A

plataforma de pensamento da Ecologia Mental ou

Profunda é baseada em dados científicos e reflete-se

numa ética e numa espiritualidade peculiares.

Importantes biólogos e cientistas contemporâneos,

inclusive alguns prêmios Nobel, fazem parte desta

corrente de pensamento. Para Boff (2000), a ecologia

profunda:

Sustenta que as causas do déficit da

Terra não se encontram apenas no tipo

de sociedade que atualmente temos,

mas também no tipo de mentalidade

que vigora, cujas raízes remontam a

épocas anteriores à nossa história

moderna, incluindo a profundidade da

vida psíquica humana consciente e

inconsciente, pessoal e arquetípica.

Sendo assim, a ecologia profunda é uma

corrente de pensamento que propõe uma nova

cosmologia, onde todos os objetos, elementos da

natureza estão interligados por uma ordem superior e

pregam a idéia de um universo auto-consciente.

Seguindo este raciocínio é praticamente automática a

elaboração de uma proposta ética para a humanidade.

Esta ética proposta pela ecologia profunda tem

base em diversos autores, sendo um de seus pilares o

filósofo francês Edgar Morin, que propõe a constituição

e consolidação de uma solidariedade planetária,

baseando-se na idéia de que possuímos todos nós uma

identidade planetária com a Terra e que, portanto, esta

é a nossa pátria universal, sendo assim, ele elabora

uma ética da cidadania planetária, o ser humano deve

ser responsável pelo seu próximo, sendo a natureza

entendida como “o outro”, ou seja, seu próximo. Além

Quer saber mais?

Sobre Boff e a ecologia social A ecologia social é o campo de estudos ao qual Boff tem se dedicado desde que, pressionado pelo

vaticano por conta de suas posições progressistas, rompeu oficialmente com a estrutura formal da igreja católica em março de 1992. Ex-frade franciscano e um dos fundadores e principais nomes da polêmica teologia da libertação, que nos anos 70 propôs uma fusão de marxismo e cristianismo, Boff dava fim naquele momento a vinte anos de batalha pública por seu direito a um pensamento teológico livre das amarras dogmáticas da igreja, que chegou a lhe impor um voto de silêncio de onze meses nos anos 80.

Para navegar

Para acessar na internet sobre Morin Existem diferentes sites sobre Morin na internet, mas vale a pena consultar o site do SESC sobre esse autor que é um dos filósofos mais importantes da complexidade. Vale a pena acessar e navegar com calma nas diferentes páginas que compõem esse site: http://edgarmorin.sescsp.org.br/

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 33

do mais, esta lógica de pensamento, pressupõe um

“contrato geracional” (Boff, 2000), que prega que todos

nós devemos ter um compromisso com as gerações

futuras de forma que elas possam ter direito a um ar

minimamente puro, uma água minimamente potável e

condições mínimas para subsistência e qualidade de

vida.

Algumas importantes missões assumidas por

esta linha de pensamento se pautam em trabalhar no

sentido da elaboração de uma política da solidariedade

universal e de uma pedagogia da compreensão de

nosso papel responsável na Terra, ou seja, uma

educação ambiental, voltada para a constituição de

uma sociedade onde os valores ético-ecológicos

prevaleçam.

ECOLOGIA POLÍTICA OU ECOLOGISMO

A ecologia política é uma vertente que possui

várias manifestações distintas. Pode-se entendê-la

como a apropriação do discurso ecológico ambientalista

pelas diferentes formas e concepções ideológico-

políticas, daí a justificativa do uso do termo ecologismo,

ou seja, uma ideologia política baseada em concepções

ecológicas. Em outras palavras, esta tendência, baseia-

se numa plataforma de conhecimento tecno-científico

que embase atitudes e ideologias para fins políticos.

Entendemos a “política”, aqui, como forma de conduzir,

administrar e gerenciar o funcionamento social.

ECOLOGIA POLÍTICA

Na ótica de Sérgio Boeira a ecologia política vai além

da política ambiental na medida em que concebe esta

como transetorial, ou seja, como política que interliga

as diversas políticas setoriais tomando como

denominador comum a proposta de

ecodesenvolvimento. Esta inclui as diversas leituras

dominantes sobre desenvolvimento sustentável, mas

redefinindo-as com o objetivo de harmonizá-las. Não

se trata apenas de corrigir os desvios do mercado ou combater a poluição, mas de planejar de forma parti-

Importante

Pensamento Holístico: De tradições epistemológicas diferentes, vários autores apontam para essa questão mais holística de ser humano. Emanuel (2004) elenca vários deles. O já citado filósofo Jacques

Derrida (2001) fala de “solidariedade dos seres vivos”. Edgar Morin (2000) a denomina de “solidariedade planetária”. Leonardo Boff (1998) a ela se refere como “civilização planetária”. O termo não importa. O que importa é o que sustenta cada um deles: a idéia de que urge pensar o global, sem desconsiderar o local, para além das questões econômicas.

Importante

Atenção aos temos utilizados. Eles precisam estar claros para que você possa continuar sua leitura. Dê uma parada e anote os conceitos num caderno e faça uma revisão.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 34

Assim há de acordo com a base de pensamento

político formas diferentes de ecologismo. Pode-se falar

que após as fronteiras entre o socialismo e o

capitalismo terem sido desbotadas, com a queda do

muro de Berlim, o ecologismo despontou como uma

nova e importante bandeira política, encontrando

alicerce em ambas as linhas ideológicas de pensamento

político. Há o ecologismo adequado a correntes

socialistas e o ecologismo aplicado ao capitalismo.

Vistas então, as diferentes tendências e

possibilidades da Ecologia, seguiremos agora, para um

estudo mais apurado dos conceitos elaborados pela

ciência ecologia, a fim de nos situarmos dentro do

contexto dos debates que ela incita.

Conceitos básicos

OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DE ORGANIZAÇÃO DA

VIDA

Partindo para uma observação mais detalhada

da Ecologia, podemos destacar que os seres vivos

fazem parte de sistemas complexos que os abrigam. A

vida se organiza em níveis hierárquicos de

complexidade, guiando-se por uma lógica, cujo tom é

dado pela complexidade de organização de cada

sistema. Cada nível hierárquico possui autonomia e é

interdependente dos demais.

Importante

Lembre-se de que o ser humano também integra e modifica estes sistemas interferindo em sua organização complexa.

cipativa a economia humana em contextos

ecossociais. Faz parte do ecodesenvolvimento uma

abordagem da teoria dos sistemas pela qual busca-se

a inter e a transdisciplinaridade no diagnóstico de

impactos ambientais negativos e no uso racional dos

ecossistemas. Neste sentido a ecologia política avança

no sentido da transmodernidade e do paradigma da

complexidade.

Para mais informações consulte o site:

http://revistaturismo.cidadeinternet.com.br/noticias/n

ot72.htm

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 35

Para entendermos este processo observe o

quadro abaixo:

Cada nível pode ser chamado também de hólon.

Palavra de origem grega (holos = tudo), que designa a

totalidade de complexidade e autonomia de cada esfera

de organização. Assim, podemos dizer que a vida segue

uma organização holoárquica, que se estende

infinitamente (sistema solar, via láctea etc.)

Analisando um por um destes elos de

complexidade, observamos que, no primeiro nível, o

genético, encontramos um sistema informacional

densamente complexo, onde há uma ordem de

funcionamento e gerenciamento da passagem de

informação genética, hereditária e de síntese protéica

que ocorre na célula. É um sistema funcional

autônomo, auto-regulado e auto-reprodutivo. Ao

mesmo tempo é completamente interdependente da

célula, pois não funciona sozinho e se não estiver

interligado com os demais níveis.

Já no nível seqüente, o sistema celular,

encontramos uma elevação organizacional. Estão

presentes organelas celulares que atuam no

metabolismo. As células são as unidades funcionais dos

seres vivos. Em organismos pluri e multicelulares,

observamos um aumento de complexidade, este

aumento é proporcional ao grão de interação e

comunicação celular. Desta forma, quanto maior for o

grau de complexidade do organismo, mais complexa é

também a sua rede de comunicações e interações entre

as células. Outro dado interessante é que quanto mais

complexo o ser vivo, maior é o número de células

diferentes e de gens, e interações entre estes

Gene célula órgãos Organismo populações

comunidades ecossistemas biomas biosfera

Para pesquisar

Procure pesquisar em outras fontes o conceito de organização holoárquica, explorando suas diferentes abordagens e utilizações na Ecologia. Anote em seu caderno e reveja sempre que quiser.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 36

diferentes conforme podemos observar no quadro

abaixo que expressa esta correlação (adaptado de

Capra, 1996 p. 168).

Já o nível de população, designa o conjunto de

indivíduos da mesma espécie que habitam numa

mesma área. Comunidades o conjunto de diferentes

populações habitando uma mesma região. Adiante nos

deteremos um pouco mais profundamente nestes dois

conceitos. O ecossistema de forma sucinta trata-se da

principal unidade ecológica e é nele que as

comunidades de seres vivos se desenvolvem e se

articulam ecologicamente trocando matéria e energia

entre si de forma constante.

Os biomas correspondem aos ambientes que

abrigam diferentes ecossistemas. Para exemplificar este

conceito, podemos citar alguns dos principais biomas

brasileiros, a saber: a floresta amazônica, a mata

atlântica, o cerrado, caatinga, recifes de coral etc. A

totalidade dos biomas do planeta Terra, correspondem

a biosfera, camada da Terra que possui vida. É uma

camada tão expandida que é quase impossível separá-

la do próprio planeta. Segundo alguns autores, a

conceituação da biosfera é tão ampla quanto seus

limites. Podemos encontrar esporos de fungos e

algumas bactérias resistentes na atmosfera, como

também encontramos organismos nas fossas abissais

dos oceanos. Até mesmos em camadas interiores dos

solos, às vezes extremamente profundas, pode-se

encontrar formas resistentes de organismos vivos.

Este fato é um dos motivos que leva a

elaboração da hipótese Gaia que estudaremos em outro

módulo mais adiante em nosso curso. Segundo esta

hipótese, defendido por sérios cientistas de renome

internacional, estamos vivendo sobre um super-

organismo vivo, ou seja o planeta Terra seria um

Importante

Muitas vezes, o termo bioma é utilizado como sinônimo de ecossistema, no entanto ao contrário do segundo que implica nas inter-relações entre

fatores bióticos e abióticos, o primeiro significa uma grande área de vida formada por um complexo de habitats e comunidades, ou seja, apenas o meio físico (área) sem as interações.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 37

grande ser vivo e nós apenas outros seres vivendo

alojados em seu interior, tal qual algumas bactérias que

vivem em nossos intestinos.

ESPÉCIE, POPULAÇÃO E COMUNIDADES

Estes três conceitos são fundamentais para

entendermos os ecossistemas e seu funcionamento.

Correspondem inicialmente, a forma como os

organismos estão organizados holoarquicamente na

natureza. A parte que contêm vida em um ecossistema

é chamada de componente biótica e a parte composta

de elementos físico-químicos, ambientais, é chamada

de componente abiótica. (bio = vida).

O conceito de espécie, a princípio, corresponde

àqueles indivíduos descendentes de uma mesma

linhagem genética que possuem a capacidade de

reproduzir-se e produzirem uma descendência fértil. Ou

seja, possuem a mesma linhagem de gens e são

geneticamente compatíveis. No entanto este conceito

não é tão simples como aparenta, é complexo, e às

vezes, de difícil interpretação. Sobretudo recentemente

com técnicas modernas de manipulação genética e

transgênica, o conceito de espécie está passando por

uma séria revisão conceitual.

Uma conceituação de caráter taxonômico de

espécie, ou seja, aquela relacionada ao sistema de

classificação dos organismos é tomada como sendo um

conjunto de indivíduos semelhantes morfológica e

comportamentalmente que podem reproduzir-se e

gerar prole fértil.

Sabemos, no entanto, que este conceito não

pode ser puramente taxonômico, pois cada espécie de

organismo também é, a bem dizer, uma unidade

evolutiva, pois se os membros que a compõem são

Dica do professor

Espécie - dois ou mais organismos são considerados da mesma espécie, quando podem se reproduzir, originando descendentes férteis. Populações - são formadas por organismos da mesma espécie, isto é, um conjunto de organismos que podem se reproduzir produzindo descendentes

férteis. Comunidades - um conjunto de todas as populações, sejam elas de microorganismos, animais ou vegetais, existentes em uma determinada área, constituindo uma comunidade. Também podemos utilizar o conceito de comunidade para designar grupos com maior afinidade separadamente, como por exemplo, comunidade vegetal, animal, etc. Veja outros detalhes no site: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 38

capazes de se inter-cruzar e originar descendentes,

todos eles apresentam características em comum. Um

dado importante, inicialmente observado por Darwin, é

que uma espécie pode sofrer alterações e modificações

originando outras espécies através de processos

evolutivos, como por exemplo, a seleção natural.

O conceito de Biodiversidade é estreitamente

correlacionado ao de espécie e significa o número

diferente de espécies que podem ser encontradas num

determinado ecossistema, ou seja, quanto maior a

diversidade de espécies existentes num determinado

ecossitema maior a sua biodiversidade. Há vários

estudos que explicam e comprovam que quanto maior

a biodiversidade maior o grau de complexidade dos

ecossistemas e maior a estabilidade deste também em

termos ambientais. Entende-se esta estabilidade como

um grau de resistência a variações ambientais. Tal

fenômeno é diretamente proporcional ao número e grau

SOBRE DARWIN

Nasceu no dia 12 de fevereiro de 1809, na cidade

de Shrewsburry, Inglaterra.

Durante a viagem do Beagle, Darwin observou que,

à medida que passava de uma região para outra, o

mesmo animal apresentava características distintas.

Notou ainda que, entre as espécies extintas e as

atuais existiam traços comuns, embora bastante

diferenciados. Tais fatos levaram-no a supor que os

seres vivos não são imutáveis, mas que se

transformam uns nos outros.

Na base de sua teoria evolucionista, Darwin colocou

a luta pela vida, segundo a qual em cada espécie

animal existe uma permanente concorrência entre os

indivíduos. Somente os mais fortes e os mais aptos

conseguem sobreviver e a própria natureza se

incumbe de proceder a essa seleção natural. Darwin

observou que os espécimes botânicos cultivados são

bem mais aprimorados do que os que nascem nas

matas; observou ainda que os fazendeiros criam

reprodutores que apresentam características

consideradas mais vantajosas, que se transmitem

por hereditariedade. Essa seleção artificial visa,

pois, transmitir a cada nova geração da espécie

uma soma de características que permitam, melhor

adequação ao ambiente.

DARWIN

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 39

de complexidade das interações existentes entre seres

vivos em um determinado ambiente.

Sabe-se que quanto maior a biodiversidade,

mais complexos também são as redes de interações

entre os seres vivos, que muitas vezes apresentam

características co–evolutivas. Isto significa dizer que as

espécies estão de tal forma relacionadas e interligadas

que passam a evoluir biologicamente em conjunto

umas com as outras promovendo um equilíbrio

extremamente delicado no ecossistema, chamado de

homeostase, palavra que vêm do grego e quer dizer

equilíbrio em transformação ou dinâmico.

Podemos dizer, portanto, que existe uma

correlação direta entre os fatores abaixo:

Biodiversidade grau de complexidade das

espécies grau de complexidade das interações entre

espécies estabilidade dos ecossistemas

homeostase dos ecossistemas co-evolução das

espécies Clímax do ecossitema.

Esta correlação ocorre de forma diretamente

proporcional, ou seja, quanto maior a biodiversidade,

maior o número de espécies que co-evoluem e maior o

grau de complexidade e homeostase dos ecossistemas,

atingindo o que se denomina ecossistema em Clímax.

Ao mesmo tempo quanto menor a

biodiversidade, mais instáveis são os ecossistemas, há

menos interações entre espécies, menos homeostase e,

portanto, o ecossistema tende ao desequilíbrio

e,portanto, a extinção.

Atualmente as discussões que giram em torno

do debate sobre a preservação da biodiversidade,

possuem como um importante argumento, o fato de

::Biotecnologia:

Biotecnologia é a aplicação dos princípios científicos e da Engenharia ao processamento de

materiais, através de agentes biológicos, para prover bens e assegurar serviços. Fonte: revista Biotecnologia. http://www.biotecnologia.com.br/

Quer saber mais?

O que é biodiversidade? Biodiversidade é um conceito recentemente introduzido dentro da ecologia, com a crescente preocupação ambiental atingida nos últimos anos. Significa diversidade, ou seja, o número de espécies diferentes sejam elas animais, plantas e/ou microorganismos que compõe um determinado ecossistema ou mesmo o próprio planeta. Desta forma, toda a variedade de vida que compõe um determinado local, ou mesmo o próprio planeta pode ser

chamada de biodiversidade.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 40

que quanto maior a biodiversidade maior também é o

patrimônio genético do ecossistema. Isto significa que

onde há mais espécies, há também mais gens

diferentes.

Nos dias de hoje, onde a biotecnologia e a

engenharia genética vem assumindo papéis

importantes na sociedade, este argumento se

apresenta como fundamental, pois uma área de rica

biodiversidade pode ser vista como o que se chama

”banco de gens” ou “banco genético”, estando ali a cura

para doenças ou princípios ativos que são usados pela

indústria, como por exemplo a farmacêutica.

Cabe ressaltar ainda que numa mesma

população, o fato de os membros de uma espécie

apresentarem caracteres semelhantes não quer dizer

que todos sejam exatamente iguais. Dentro de uma

espécie podem ocorrer diferenças individuais,

representadas por características particulares

ostentadas pelos seus componentes. Cada indivíduo é

único e singular.

Estas características são transmissíveis de pais

para filhos e, portanto, são chamadas de hereditárias e

significam a transmissão de características genéticas,

como aspectos da morfologia, fisiologia e

comportamentos instintivos. As características também

são o resultado da ação do ambiente sobre o indivíduo

e, portanto, não transmissíveis de uma geração à

outra, são chamadas de características adquiridas e

correspondem às modificações sofridas ao longo da

vida e do processo de aprendizagem.

Sob a ótica da ecologia podemos ter as

chamadas espécies ecológicas, assim estas serão

unidades ecológicas. Cada espécie é caracterizada por

seu nicho ecológico, ou seja, sua função e a maneira

Quer saber mais?

O que é Nicho? Um nicho é a posição de um ser vivo dentro de um ecossistema, incluindo o lugar que habita, o que ele absorve ou come, como se comporta como está relacionado com outros seres vivos. O nicho tem sido chamado de

"ocupação"de uma espécie. O que é Habitat? O habitat é o lar natural de um grupo de plantas e animais. Esse grupo de seres vivos é chamado de comunidade. O habitat é, às vezes apontado como "endereço" das espécies. Contém diversos nichos. As árvores são um exemplo de habitat.

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 41

que a desempenha no seu ecossistema. Esta função é

caracterizada pelo conjunto de inter-relações que a

espécie mantém com as outras e com o ambiente

abiótico. O lugar específico que a espécie ocupa no

ecossistema é denominado habitat.

Para exemplificar o conceito de nicho, vejamos o

caso da onça pintada (Phantera uncia) e da cutia

(Dasyprocta spp.). A cutia é um roedor herbívoro,

ocupando o nicho de consumidor primário, pois se

alimenta de vegetais (produtores), já a onça, ocupa o

lugar de consumidor secundário, pois se alimenta de

cutias, por exemplo.

Outro importante conceito associado ao de

espécie é o conceito de população, que corresponde ao

conjunto de indivíduos de uma mesma espécie

convivendo numa mesma área geográfica.

Podemos dizer que todas as espécies estão

estruturadas em unidades populacionais, como por

exemplo, as seringueiras da Amazônia, os jacarés do

pantanal, as algas de uma lagoa ou os seres humanos

de uma cidade. Individualmente os membros de uma

dada população podem migrar, imigrar, morrer, mas

coletivamente a população persiste. Assim, populações

vizinhas podem cruzar-se, fundir-se, fragmentar-se em

populações menores.

ECOSSISTEMA

Ecossistema é definido como um sistema aberto que

inclui, em certa área, todos os fatores físicos e

biológicos (elemento biótipos e abióticos) do

ambiente e suas interações o que resulta em uma

diversidade biótica com estrutura trófica claramente

definida e na troca de energia e matéria entre esses

fatores. Segundo Tansley (1935) "A biocenose e seu

biotopo constituem dois elementos inseparáveis que

reagem um sobre o outro para produzir um sistema

mais ou menos estáveis que recebe o nome de

ecossistema”. Já segundo Dajoz (1973) “O ecossistema é a unidade funcional de base em ecolo-

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 42

Ao conjunto de populações encontradas em um

dado ecossistema, dá-se o nome de comunidade,

alguns ecólogos ainda preferem ao nome biocenose

para designar a teia de interações entre populações

distintas, ou seja, a comunidade representa a

totalidade das distintas espécies que convivem numa

determinada área.

A comunidade biótica é formada por várias

espécies de organismos, agrupados em pequenas ou

grandes populações, assim uma comunidade estável e

equilibrada é, na realidade, um produto final da

intricada teia de relações e das variadas modificações

ocorridas ao longo dos anos com as espécies que ali co-

existem.

gia, porque inclui, ao mesmo tempo, os seres vivos

e o meio onde vivem, com todas as interações

recíprocas entre o meio e os organismo”. E, por fim

segundo Ehrlich& Ehrlich (1974), "Os vegetais,

animais e microorganismo que vivem numa região e

constituem uma comunidade biológica estão ligados

entre si por uma intrincada rede de relações que

inclui o ambiente físico em que existem estes

organismo. Estes componentes físicos e biológicos

interdependentes formam o que os biológicos

designam com o nome de ecossistema".(Ehrlich &

Ehrlich, 1974).

http://www.rio.rj.gov.br/multirio/cime/CE09/CE09_010.html

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 43

EXERCÍCIO 1

A ecologia pode ser entendida como:

( A ) Uma ciência que possui várias tendências;

( B ) Apenas uma mentalidade ético-espiritual;

( C ) Uma proposta ética e política baseada em

princípios científicos;

( D ) Uma linha de pensamento político baseada em

princípios éticos;

( E ) Uma forma de espiritualidade ancestral.

EXERCÍCIO 2

A relação do homem com o ambiente não é exatamente

igual à dos outros animais com o ambiente porque:

( A ) O homem tem grande capacidade de

deslocamento e, por isso, só é encontrado nas

regiões propícias à vida;

( B ) O homem se adapta facilmente a qualquer meio;

( C ) O homem ou se adapta ou cria condições de

transformar o meio que habita;

( D ) O homem vive independentemente do meio

ambiente;

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 44

EXERCÍCIO 3

Diferencie a Ecologia Social da Ecologia mental ou

Profunda?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4 O que é Ecologismo?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Foi apenas a partir da segunda metade do

século XX, que a humanidade começou a dar-

se conta dos prejuízos causados por uma

ideologia marcada por uma lógica

desenvolvimentista que não poupou a

natureza em detrimento de interesses

puramente econômicos;

Essa maneira de ver a natureza foi adotada

por grande parte dos países ocidentais e

reivindicou o direito à exploração dos

recursos da natureza a qualquer preço, em

nome de um “desenvolvimento” basicamente

voltado para obtenção de lucros em curto

prazo;

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 45

No campo da ciência o termo Ecologia foi

usado pela primeira vez em 1869, pelo

biólogo alemão Ernest Haeckel, um dos

grandes nomes da biologia do século XIX em

sua obra “Morfologia Geral dos Organismos”

onde ele propôs a criação de uma nova

ciência que seria um dos ramos da Biologia;

A modesta proposta inicial de Ernest Haeckel

encontra hoje uma ressonância tão profunda

que de um subtítulo da biologia, passou como

diz Leonardo Boff a ser atualmente “um

discurso universal, quiçá o de maior força

mobilizadora do futuro milênio”;

Já desde muito cedo na história da

humanidade, o conhecimento sobre a

ecologia, sobre as relações dos seres vivos,

incluindo-nos aí, com seu meio ambiente e

entre si, foi fundamental para a sobrevivência

da condição humana.

Campo da ecologia, preocupada com a

relação de seres humanos com seu meio

chama-se ecologia humana;

A ecologia é entendida como a ciência que

estuda a relação dos seres vivos entre si e

destes com seu meio ambiente. A partir daí,

entende-se que o objeto da Ecologia não são

os seres vivos (campo da biologia, por

exemplo), nem o meio ambiente per si

(campo da química, geologia, física, geografia

etc.), mas a relação entre o que chamamos

fatores bióticos e abióticos (bio = vida);

Em meados dos anos 1960, com a revolução

contracultural e os avanços tecno-científicos, o

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 46

conhecimento gerado em ecologia provocou

grande influência social e o termo foi

amplamente empregado passando a significar

muitas vezes uma ideologia, ou uma linha de

pensamento político e às vezes até espiritual;

Define-se como ecossistema, como todo o

complexo de organismos e o ambiente físico

que eles habitam. Trata-se de um conceito

amplo que se refere a uma unidade ecológica

composta por uma fração viva, denominada

biocenose, e uma fração não viva, o ambiente

propriamente dito, denominada biótopo;

Trata-se da unidade funcional de base em

ecologia, porque inclui, ao mesmo tempo, os

seres vivos e o meio onde vivem, com todas

as interações recíprocas entre o meio e os

organismos.

O fluxo químico e de energia sustentam a

organização do ecossistema e são os

responsáveis pela individualidade de cada

ecossistema. Em cada um deles existe um

grupo de organismos que interagem,

transformam e transmitem energia e

compostos químicos;

A caracterização linear do fluxo químico e de

energia através dos organismos se denomina

cadeia trófica ou alimentar. Cada organismo

está situado em um nível alimentar ou trófico

que representa a sua posição em relação à

entrada inicial de energia.

Os Produtores - organismos capazes de

fabricar e acumular energia potencial sob

forma de energia química presente nas

matérias orgânicas sintetizadas Ex: plantas

verdes e algas;

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 47

Os Consumidores Primários - Representados

geralmente pelos herbívoros e mais

raramente pelos parasitas animais e vegetais

das plantas verdes, que exploram seu

hospedeiro sem matá-lo.

Os Consumidores Secundários - sobrevivem à

custa dos herbívoros, sendo, portanto

carnívoros ou onívoros. São encontrados em

grupos muito variados.

Os Consumidores Terciários - São os

carnívoros propriamente ditos. Podem ser

predadores, que capturam as presas,

matando-as antes de devorá-las, ou então

parasitas, ou ainda comedores de cadáveres.

Os Decompositores ou Bio-Redutores - forma

o termo final de a cadeia alimentar. São

principalmente microrganismos que atacam os

cadáveres e os excrementos decompondo-os

pouco a pouco, assegurando assim o retorno

progressivo ao mundo mineral dos elementos

contidos na matéria orgânica.

A estrutura trófica de um ecossistema ou de

uma cadeia alimentar é descrita em termos

de indivíduos, de biomassas ou de energia.

Pode-se igualmente figurar graficamente esta

estrutura por meio de pirâmides ecológicas.

A abundante vida vegetal do nosso planeta é

armazenadora da energia solar e de

substâncias químicas, sendo um recurso

renovável que chamamos de BIOMASSA.

Assim, todos os organismos biológicos que

podem ser aproveitados como fontes de

energia. A Pirâmide das biomassas indica para

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 48

cada nível trófico a biomassa dos organismos

correspondentes;

A Pirâmide das energias é o modo de

representação que retrata fielmente as

transferências de um nível para o outro, mas

faltam muitas vezes os dados para construí-

la;

As leis da termodinâmica são duas: Primeira

Lei: Trata da transmissão e transformação de

energia e é definida pela fórmula: Q= E +

W; Segunda Lei: A Entropia de um sistema

isolado sempre aumenta. A entropia é uma

medida da aleatoriedade, desordem ou caos

em um sistema. Ou seja, a tendência de um

sistema é a desordem.

Como um Ecossistema não é um sistema

isolado, ele refaz a sua energia através de

energia solar;

Define-se a produtividade primária de um

sistema ecológico, de uma comunidade ou de

qualquer parte deles, como a taxa na qual a

energia radiante é convertida, pela atividade

fotossintética e quimiossintética de

organismos produtores (na maior parte,

plantas verdes), em substâncias orgânicas;

A fotossíntese significa etimologicamente

síntese pela luz. Excetuando as formas de

energia nuclear, todas as outras formas de

energia utilizadas pelo homem moderno

provêem do sol. A fotossíntese é considerada

como um dos processos biológicos mais

importantes na Terra. Por liberar oxigênio e

consumir dióxido de carbono, a fotossíntese

transformou o mundo no ambiente habitável

que conhecemos hoje;

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 49

Conhecendo as fontes de entrada e saída de

energia no sistema, realizam-se estimativas

sobre a produção máxima possível na Terra a

partir da eficiência máxima potencial da

fotossíntese;

Existem quatro principais vertentes

ecológicas: a ECOLOGIA AMBIENTAL; a

ECOLOGIA MENTAL OU PROFUNDA, a

ECOLOGIA SOCIAL e a ECOLOGIA POLÍTICA

OU ECOLOGISMO;

A Ecologia Social é a vertente que se ocupa

do meio ambiente, baseia-se nos

conhecimentos tecno-científicos, está

interessada na descrição de processos

ecológicos, elabora modelos matemáticos

para entendê-los e pauta-se em exemplos

que podem ser encontrados na natureza.

Preocupa-se, sobretudo com a preservação das

espécies, com a biodiversidade e o equilíbrio

do planeta;

A Ecologia Social baseia-se no entendimento

das relações das sociedades com seu meio

ambiente, procura entender os tipos de trocas

e as diferentes formas de interpretar e lidar

com o meio ambiente, entender como e o que

as diferentes sociedades ou grupos sociais

interpretam, compreendem e conhecem o seu

meio ambiente e quais as relações que

podem estabelecer com este e com outros

grupos através de tal conhecimento;

A ecologia profunda é uma corrente de

pensamento que propõe uma nova

cosmologia, onde todos os objetos, elementos

da natureza, estão interligados por uma ordem

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 50

superior e como pregam a idéia de um

universo auto-consciente. Seguindo este

raciocínio é praticamente automática a

elaboração de uma proposta ética para a

humanidade;

A ecologia política é uma vertente que possui

várias manifestações distintas. Pode-se

entendê-la como a apropriação do discurso

ecológico ambientalista pelas diferentes

formas e concepções ideológico-políticas, daí

a justificativa do uso do termo ecologismo, ou

seja, uma ideologia política baseada em

concepções ecológicas;

A vida se organiza em níveis hierárquicos de

complexidade, guiando-se por uma lógica,

cujo tom é dado pela complexidade de

organização de cada sistema. Cada nível

hierárquico possui autonomia e é

interdependente dos demais. Cada nível pode

ser chamado também de hólon. Palavra de

origem grega (holos = tudo), que designa a

totalidade de complexidade e autonomia de

cada esfera de organização;

Segundo a hipótese de Gaia estamos vivendo

sobre um superorganismo vivo, ou seja o

planeta Terra seria um grande ser vivo e nós

apenas outros seres vivendo alojados em seu

interior, tal qual algumas bactérias que vivem

em nossos intestinos;

O conceito de espécie, a princípio,

corresponde àqueles indivíduos descendentes

de uma mesma linhagem genética que

possuem a capacidade de reproduzir-se e

produzirem uma descendência fértil. Ou seja,

possuem a mesma linhagem de gens e são ge

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 51

neticamente compatíveis. Considerando

caráter taxonômico de espécie, esta é

definida como sendo um conjunto de

indivíduos semelhantes morfológica e

comportamentalmente e podem reproduzir-se

e gerar prole fértil;

O conceito de Biodiversidade é estreitamente

correlacionado ao de espécie e significa o

número diferente de espécies encontradas

num determinado ecossistema, ou seja,

quanto maior a diversidade de espécies

existentes num determinado ecossistema

maior a sua biodiversidade;

Biodiversidade é um conceito recentemente

que significa diversidade, ou seja, o número

de espécies diferentes sejam elas animais,

plantas e/ou microorganismos que compõe

um determinado ecossistema ou mesmo o

próprio planeta;

Biotecnologia é a aplicação dos princípios

científicos e da Engenharia ao processamento

de materiais, através de agentes biológicos,

para prover bens e assegurar serviços.

Cada espécie é caracterizada por seu nicho

ecológico, ou seja, sua função e a maneira

que a desempenha no seu ecossistema. Esta

função é caracterizada pelo conjunto de inter-

relações que a espécie mantém com as outras

e com o ambiente abiótico. O lugar específico

que a espécie ocupa no ecossistema é

denominado habitat.

Ao conjunto de populações encontradas em

um dado ecossistema, dá-se o nome de

comunidade, alguns ecólogos ainda preferem ao

Aula 1 | Introdução à ecologia: conceitos preliminares 52

nome biocenose para designar a teia de

interações entre populações distintas, ou

seja, a comunidade representa a totalidade

das distintas espécies que convivem numa

determinada área.

Estudo de

Ecossistema

Luciana Ribeiro

AU

LA

2

Ap

res

en

taç

ão

Apesar do nome dessa aula sugerir um estudo apenas dos

ecossistemas (o que seria perfeitamente pertinente), seu

conteúdo é bem mais rico porque engloba o estudo de outras

temáticas igualmente caras ao estudo da Ecologia como os

conceitos de sistema, comunidade, população, espécie, ciclos,

biodiversidade, cadeia alimentar e outros, além de aprofundar

diferentes tipos de inter-relações entre os diferentes seres vivos

como: cooperação, competição, parasitismo, predação,

mutualismo, epifitismo e outros. Uma aula, portanto, imperdível e

que merece uma leitura mais atenta quanto aos fenômenos

ambientais que a Educação Ambiental luta para conservar,

aperfeiçoar e recuperar.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Compreender com maior clareza alguns dos conceitos

essenciais da ciência Ecológica de modo a facilitar o

entendimento de diferentes processos ambientais;

Analisar melhor a crise ambiental vigente a partir da

compreensão de conceitos-chave da dinâmica ambiental

oriundos da Ecologia;

Entender como se processam os diferentes tipos de inter-

relações entre os seres vivos;

Refletir sobre o papel da humanidade e os impactos causados

por esta em um ecossistema;

Conhecer algumas estratégias de ocupação ambiental através

do estudo de histórias de vida e sucessão ecológica.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 54

Recordando idéias fundamentais

ECOSSISTEMA – A UNIDADE BÁSICA DO

AMBIENTE

Você já viu na aula anterior alguns fundamentos

de Ecologia. Vamos aqui relembrar alguns aspectos

importantes antes de prosseguirmos.

Ecossistema é uma palavra da moda. Jornalistas

a utilizam como se fosse uma idéia óbvia e qualquer

pessoa que tenha passado pela escola pelo menos já

ouviu falar dela. Mas será que você já parou para

pensar no que significa?

Se você leu a origem da palavra Ecologia já sabe

que vem do grego: OIKOS (casa), significando a ciência

ou o estudo da casa, que é, afinal, o planeta onde

vivemos. Pois então. Partindo do mesmo raciocínio

Ecossistema seria literalmente o sistema da casa. Mas o

que isso quer dizer?

De acordo com o dicionário, a palavra sistema

também tem origem no grego [systema, 'reunião',

'grupo', pelo latim tardio systema.]

Na interpretação do dicionário Aurélio (1996, p.

1594) podemos traduzir sistema como:

(1) Conjunto de elementos, materiais

ou ideais, entre os quais se possa

encontrar ou definir alguma relação .

(2) Disposição das partes ou dos

elementos de um todo, coordenados

entre si, e que funcionam como

estrutura organizada. (...) (3) Reunião

de elementos naturais da mesma

espécie, que constituem um conjunto

intimamente relacionado.

Ora, se sistema tem a ver com uma organização

coordenada dos elementos de um grupo, logo a idéia-

Para pesquisar

Procure outras definições de sistema aplicada à diferentes áreas e

compare as mesmas.

Recordando idéias fundamentais 54 Os indivíduos dos ecossistemas 79

Aula 2 | Estudo de ecossistema 55

mãe de ecossistema é a relação existente num todo

organizado, que é a vida, e os elementos que lhe dão

suporte. Por isso, faz sentido quando Aurélio inclui na

sua definição de ecossistema os relacionamentos

mútuos entre flora, fauna, microorganismos e fatores

de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e

biológico.

EXERCÍCIO 1

Cite pelo menos dois exemplos de ecossistema:

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Esse conceito ainda se encontra em discussão na

comunidade científica. Mas genericamente podemos

dizer que se trata do conjunto formado por todos os

seres vivos de uma certa região e todos os fatores

abióticos (luz, vento, água, solo e outros elementos

não-vivos) com os quais esses seres interagem.

Seres vivos, elementos abióticos e relações – é

tudo que se precisa para compor a unidade básica do

ambiente. Parece simples. E é! No entanto, quando

qualquer desses fatores se altera demais o equilíbrio

que sustenta a vida pode se romper. Entender como

essas relações se mantêm dinamicamente equilibradas

ainda é um desafio por vencer. Já se sabem algumas

coisas, mas há muito trabalho a ser feito.

Relações possíveis:

Há várias relações possíveis num ecossistema.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 56

As mais conhecidas são o comensalismo, o parasitismo,

a competição, o mutualismo, a cooperação... Vejamos

alguns exemplos:

Comensalismo: Associação em que um

indivíduo aproveita restos de alimentares do outro, sem

prejudicá-lo. Há um exemplo clássico – o da rêmora

com o tubarão. A rêmora é um peixe que acopla-se ao

tubarão, sem causar-lhe dano, e come os restos do que

ele se alimenta.

Parasitismo: fácil de entender, é aquela relação

em que só um dos organismos leva vantagem e o faz

explorando o outro. Exemplo famoso: a lombriga ou

qualquer outro verme. Vive às custas da energia e da

saúde de outro organismo, prejudicando-o.

Competição: relação em que um organismo

ganha energia e outro perde. Por exemplo, pode existir

competição por alimento (quem não come fica mais

fraco ou até morre), por espaço, pela fêmea, pelo

melhor abrigo... No caso das plantas, há competição

pela luz (quem cresce mais consegue mais luz,

elemento importante para a fotossíntese), por

nutrientes do solo, pela água, entre outras

possibilidades.

Mutualismo: aqui temos um perfil ganha-

ganha. Um organismo auxilia o outro. É o que ocorre

com algumas espécies de bactérias que vivem em

nosso sistema digestivo. Sem elas nossa digestão não

seria tão eficiente.

Cooperação: é uma relação que pode ou não

ocorrer, isto é, ela não é indispensável para a

sobrevivência dos envolvidos, mas torna a vida melhor.

Neste caso todos os organismos envolvidos na relação

têm um ganho. Você já ouviu falar dos líquens? São

Para navegar

Conheça melhor cada um dos tipos de relações possíveis em um ecossistema e ainda outros consultando os sites como, por exemplo: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/associa.html

Dica do professor

Mutualismo: Outro exemplo seria o dos cupins e dos protozoários que vivem em seu intestino. Ao comerem madeira, os cupins obtêm grandes quantidades de celulose, mas não conseguem produzir a celulase, enzima capaz de digerir a celulose. Este trabalho é feito pelos protozoários que se beneficiam com o alimento através dos cupins e os auxiliam mutuamente.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 57

aquelas manchas esverdeadas, às vezes,

esbranquiçadas ou até avermelhadas que ocorrem em

troncos de árvores e em rochas. Pois é, o líquen é uma

combinação de fungo com alga. Nesta parceria o fungo

entra com o esqueleto (o suporte, a casa) e a alga com

a umidade (água que ela retém do ar) e ambos

satisfazem a necessidade de um abrigo fresquinho.

Epifitismo: situação em que um vegetal vive

sobre outro, mas sem retirar nutrientes, utilizando-o

apenas como apoio. É diferente do parasitismo, pois

embora somente um ganhe não há prejuízo para

ninguém. Um exemplo fácil de avistar são as orquídeas

e algumas bromélias.

Predação: esta forma de relacionar-se é a mais

conhecida. Trata-se do caso em que uma espécie se

alimenta de outra. É com base nesta relação que se

estruturam as cadeias alimentares.

Nem sempre encontramos essas relações de

modo exclusivo. Um mesmo organismo pode

estabelecer um tipo de relação com uma espécie e

outro tipo com outra espécie.

Às vezes julgamos essas relações

equivocadamente, atribuindo-lhes o valor de “boas” ou

“más”. Elas não são nem uma coisa nem outra. São

apenas estratégias de sobrevivência que funcionam.

Para entender a dinâmica dos ecossistemas, ou seja, da

vida, precisamos abrir mão de julgar e passar à adoção

de um olhar mais observador e analítico: o que será

isso? Como funciona? Que função tem para a

manutenção da vida?

Será que são os tipos de relações que

determinam se um ecossistema se encaixa numa

classificação ou em outra?

Quer saber mais?

Conheça mais sobre o epifitismo Popularmente conhecidas como orquídeas, bromélias, samambaias,

avencas, peixinhos, etc. As epífitas possuem alto valor ornamental pela sua beleza, formas e cores exóticas, além da indiscutível importância ecológica. Fonte: Http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./snuc/index.html&conteudo=./snuc/artigos/saltomorato.html

Importante

Vale destacar este ponto. Mesmo as relações predadoras entre os seres vivos tidos como más, são na verdade estratégias utilizadas por muitos seres vivos, inclusive o homem, para sobreviver.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 58

Convenções:

Na verdade, a classificação em diferentes

ecossistemas (como igapós e igarapés na floresta

amazônica, por exemplo) é uma convenção elaborada

pelos cientistas para facilitar o estudo da paisagem e

relações que nela se estabelecem. Podemos falar dos

grandes ecossistemas, como mares e florestas por

exemplo, ou dos micro-ecossistemas, como um tronco

de árvore apodrecendo, repleto de fungos, bactérias,

pequenos vermes, outras plantas etc. Você já se deu

conta de que seu próprio corpo abriga uma série de

ecossistemas? Pense em alguns exemplos.

Os fatores presentes em cada região influenciam

a dinâmica de funcionamento do ecossistema. No caso

dos ecossistemas terrestres por exemplo, a quantidade

de chuva, a variação da temperatura, o tipo de solo ou

a ocorrência de ventos formam condições ecológicas

que favorecem algumas formas de viver e

desfavorecem outras, e se compararmos com outros

ecossistemas, também terrestres, essas condições

variam muito.

São comuns ainda os ecossistemas de água doce

e de água salgada. E há ecossistemas dentro de

ecossistemas, como as poças d’água, a serrapilheira1 e

os dosséis2.

Faça um exercício: saia para dar uma volta no

quarteirão de onde você mora ou estuda e observe.

Quantos micro-ecossistemas estão espalhados neste

trecho e você ainda nem tinha notado? Onde eles

estão? Que organismos fazem parte e que relações

você observou entre eles?

1 Serrapilheira: termo da Biologia para se referir à camada de folhas, galhos e sementes misturadas com

terra que cobre o solo da mata. Em Botânica também designa as pequenas raízes que surgem à flor da

terra. 2 Dossel: conjunto formado pela copa da vegetação. Há pássaros, insetos e pequenos animais que vivem

exclusivamente nos dosséis.

Para pensar

Você já se deu conta de que seu próprio corpo abriga uma série de ecossistemas? Pense em alguns exemplos.

Dica da professora

No caso dos ecossistemas sociais alguns fatores seriam: a violência, o regime de governo, as condições culturais; a realidade do sistema de saúde e outros.

Dica da professora

Dê uma parada na leitura e dê uma caminhada em seu quarteirão com o

olhar de pesquisador. Faça anotações sobre os ecossistemas que você conseguiu distinguir.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 59

Muito bem. Memória refrescada. Você já

lembrou o que são ecossistemas. Mas como é que eles

funcionam mesmo? Podemos resumir essa história em

seis princípios organizadores.

Princípios:

Interdependência: todos dependem de todos

para existir. Como exemplo citamos a decomposição

orgânica de seres que já morreram contribuindo para a

formação do húmus3, que alimentará a terra e,

portanto, os vegetais – e consequentemente os animais

que deles dependam.

Equilíbrio dinâmico: a organização do

ecossistema é produto de um processo de evolução4

contínua e permanente. Ocorrem mudanças físicas (por

exemplo, de temperatura, umidade, acidez do solo...) e

biológicas (extinções, surgimento de novas espécies,

mutações...), transformando seguidamente o sistema,

por isso o nome de equilíbrio dinâmico. Cada etapa de

mudança é uma fase da sucessão ecológica, assunto

sobre o qual falaremos daqui a pouco.

Homeostase: é o mesmo que auto-regulação,

isto é, cada vez que ocorre um problema, novos

equilíbrios são produzidos a partir da capacidade de

adaptação, considerados os limites do ambiente e sua

capacidade-suporte5 (também chamada K);

Quanto maior a diversidade maior a

estabilidade: a diversidade possibilita ao ambiente

diferentes respostas a possíveis alterações. Se só

3 Húmus: o produto da decomposição parcial dos restos vegetais que se acumulam no chão florestal, aos

quais se juntam restos animais em menor escala. Em razão de suas propriedades coloidais, tem grande

importância na constituição do solo, onde é a fonte de matéria orgânica para a nutrição vegetal. Favorece

a estrutura do solo e retém água energicamente. (Aurélio Eletrônico Século XXI) 4 Evolução: trata-se do processo de formação de novas espécies de seres vivos, por meios naturais, a partir

de espécies preexistentes. Existem vários modos de isso ocorrer, como mutações, isolamento geográfico

etc. 5 Capacidade suporte é o tanto de alterações que um ecossistema agüenta sem sofrer prejuízos

incontornáveis.

::Homeostase:

A Homeostase está ligada diretamente a idéia de equilíbrio dinâmico. Ela está relacionada igualmente a capacidade de adaptação que um ser vivo apresenta no intuito de manter o seu organismo equilibrado em relação às variações ambientais.

Quer saber mais?

Interdependência e equilíbrio: Estes são as duas principais características de um ecossistema, sem os mesmos podemos estar falando de um agrupamento qualquer, mas nunca de um ecossistema.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 60

houver uns poucos tipos de organismo e ocorrer uma

mudança climática drástica, por exemplo,

provavelmente as populações não sobreviverão. Ao

contrário, havendo diferentes espécies, e portanto,

variadas possibilidades de comportamento, resistência

e adaptação, há maior possibilidade de alguma reação

funcionar e garantir a sobrevivência de algumas

populações. Digamos que a alteração do clima tenha

extinguido alguns vegetais. Os animais que se

alimentavam destes vegetais têm pelo menos duas

alternativas de sobrevivência: adaptar-se a comer

outra coisa ou então migrar para áreas que atendam

suas necessidades. As espécies que têm uma

alimentação variada, aquelas dotadas de alta

resistência a longos períodos sem alimento e as que

são capazes de longas viagens terão mais chances de

sobreviver. Se a maior parte delas morrer, a forma de

funcionar do ecossistema mudará, podendo ou não

continuar existindo dependendo da intensidade com

que foi afetado.

A diversidade pode ser medida por dois fatores

principais:

a) Riqueza do número de espécies:

aqui há sete espécies

b) equitabilidade:

aqui há sete espécies

1 5 3 4 2 7 1 6 3

5 4 6 1 3 7 2 5

7 2 3 5 4 6 1 4 3 1

2 4 7 6 5 3 1 4 7

1 7 1 2 7 1 7 7

3 4 6 7 7 7 7 7 7

5 7 7 5 7 5 7 7 7 2 7 7 7 7 7 5 7 7 7

Dica da professora

Os conceitos trabalhados aqui têm o objetivo apenas de ilustrar como a biodiversidade de um local se complexifica em função de sua dificuldade de previsão. Existem cálculos estatísticos bastante elaborados para estimativas do gênero que evidentemente não serão trabalhadas aqui para não fugir ao foco de nosso curso.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 61

Quanto maior a dificuldade de previsão do que

se vê numa região, maior a diversidade. Um ambiente

diverso é aquele que apresenta alto número de

espécies, distribuídas uniformemente

(proporcionalmente) em relação ao número de

indivíduos de cada uma destas espécies.

As florestas temperadas (que ocorrem no

hemifério Norte do planeta) tendem a ser homogêneas,

isto é, possuem grande quantidade de seres vivos, mas

pequena variedade de espécies. As florestas tropicais

por outro lado, possuem pequena quantidade de

espécimes, mas grande variedade de espécies.

OBS: espécime: um exemplar ou indivíduo de

uma dada espécie.

Fluxo constante de matéria e energia -

cadeia alimentar:

A energia não é criada, nem destruída. É

transformada. E podemos medi-la na natureza por

calorias, analisando a passagem da energia de um nível

da cadeia alimentar a outro. Na transformação de nível

para nível sempre há uma perda de 90% de energia.

Ex: para 1.000Kg de planta 100kg de carnívoros

10kg de outros carnívoros. Algumas cadeias têm como

base os vegetais, que chamamos de produtores, pois

produzem energia a partir de seu metabolismo, sem

depender de outros seres vivos. Os produtores são

comidos diretamente pelos animais herbívoros,

chamados de consumidores primários. Os carnívoros

são os secundários. E assim por diante. Cada ser vivo

que morre entra em decomposição através da ação de

microorganismos que entram em cada etapa da cadeia.

A produção de energia pode ser não apenas de

origem fotossintética, mas também quimiossintética,

Quer saber mais?

Sobre a Cadeia Alimentar: Todas as atividades do Planeta estão inter-relacionadas tentando manter um equilíbrio. Cadeia alimentar é a transferência de matéria e energia de um indivíduo

para outro, sendo considerada uma das atividades mais significativas no ambiente. Ela é um dos mecanismos que regula o número de indivíduos de uma dada população e, caso ocorra um desarranjo em qualquer um de seus elos, o sistema entra em desequilíbrio.

Importante

A Variabilidade das Espécimes: Nesse item vale ressaltar a diferença entre quantidade e variabilidade. O exemplo das florestas tropicais com uma pequena quantidade de espécimes, mas uma grande variedade dos mesmos é um claro exemplo dessa diferenciação.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 62

como é comum nas profundezas abissais oceânicas.

Isto porque a luz chega no máximo a 100m de

profundidade, o que torna a produtividade primária

muito pequena. A fenda da Cordilheira Meso-oceânica

emite magma continuamente, gerando metano. Com

esse gás, as bactérias, que constituem a base do

ecossistema, fazem quimiossíntese.

Reciclagem permanente - ciclos

biogeoquímicos. Os elementos químicos (conhecidos

por nutrientes) circulam pela biosfera. Em alguns

momentos estão incluídos na matéria orgânica (fase

BIO), em outros na inorgânica (fase GEO). Nas

palavras do Aurélio, os ciclos biogeoquímicos podem

ser definidos como: “O conjunto dos processos físicos,

químicos e biológicos, considerados como um ciclo, que

descreve o intercâmbio de um elemento químico, entre

organismos vivos e o ambiente abiótico”.

Carbono, nitrogênio, água e fósforo – são os

elementos que formam os principais ciclos.

Sem este princípio o planeta rapidamente se

esgotaria, pois uma vez usado determinado elemento

(digamos, potássio) ele acabaria e outros organismos

não mais poderiam utilizá-lo.

É importante compreender a idéia de ciclo.

Significa que há sempre transformações que deslocam

os elementos de lugar e mudam sua forma, mas de

maneira a que eles passem pelos mesmos estágios

num certo ritmo de repetições. Com isso, pode-se

evitar vários enganos. Um engano muito comum, a

respeito da poluição atmosférica de gás carbônico, por

exemplo, é achar que hoje há mais carbono do que

havia antigamente. Isso não é verdade. O que acontece

é que antes este carbono estava debaixo da terra,

Aula 2 | Estudo de ecossistema 63

preso a outros elementos, na forma de petróleo6.

Quando extraímos o petróleo e fazemos

combustível para automóveis, a queima deste

combustível libera o carbono na atmosfera. Assim, o

mesmo carbono que um dia esteve na estrutura de

uma árvore tornou-se petróleo, sendo depois liberado

para o ar.

Então, o que muda NÃO é a quantidade de cada

elemento no planeta, mas sua situação. O problema é

que dependendo da mudança de localização destes

elementos podem haver danos às relações

estabelecidas. Outro problema é a criação de milhares

de novas substâncias químicas, que não fazem parte de

nenhum ciclo biogeoquímico e por isso, “sobram” no

ambiente. Tornam-se poluição. Os elementos circulam

no planeta a partir dos ecossistemas:

Os ciclos biogeoquímicos são tão importantes

que vale a pena aprofundarmos um pouquinho.

INTERFERINDO NOS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Muitos compostos químicos existem em

quantidades muito baixas na natureza, porém são

essenciais para a vida.

As atividades das sociedades acumulativas têm

promovido um aumento exagerado da concentração

dessas substâncias, gerando um desequilíbrio

conhecido como bioacumulação, ou seja, a acumulação

de substâncias nos organismos vivos. Em geral, os

consumidores de último nível da cadeia alimentar são os

mais afetados.

Ecossistemas biomas ecosfera

Dica da professora

Vimos resumidamente os princípios que regem o funcionamento dos ecossistemas. São eles: - Interdependência; - Equilíbrio dinâmico; - Homeostase; - Quanto maior a

diversidade, maior a diversidade; - Fluxo constante de matéria e energia; - Reciclagem permanente

Quer saber mais?

1 O petróleo

originou-se com o soterramento de grandes massas florestais, que mantidas sob pressão no subsolo por milhares de anos,

decompuseram-se, tornando-se sua matéria orgânica (basicamente composta por carbono) o que conhecemos por petróleo.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 64

PARA SER UM ECOSSISTEMA

Há algumas características e condições para que

possamos realmente classificar um ambiente como

ecossistema. Uma primeira confusão comum a se

desfazer é a idéia de que sociedade e ecossistema são

o mesmo: uma sociedade, em Ecologia, é formada pelo

agrupamento de seres da mesma espécie que se inter-

relacionam. Há espécies que não vivem em sociedade.

Já o ecossistema é constituído por espécies que

interagem entre si, influenciando-se mutuamente.

Um conjunto de ecossistemas que compõem

uma paisagem semelhante é geralmente chamado de

bioma. Vejamos, então, algumas das características e

condições citadas.

Homogeneidade: um ecossistema apresenta

homogeneidade quanto à topografia, ao clima, à

botânica, zoologia, pedologia (solos), hidrologia (águas)

e geoquimicamente.

Ocorrem trocas de energia entre seus

constituintes e estas trocas são bem mais intensas do

que as trocas que há entre constituintes do ecossistema

e constituintes de fora dele. Em qualquer ecossistema

há entrada e saída de elementos. Entram elementos no

ecossistema através da energia solar, dos elementos

minerais, atmosféricos e aquáticos. Para o meio

externo o ecossistema libera calor, oxigênio (O2), gás

carbônico (CO2) e outros gases diversos, além de

compostos húmicos e substâncias carregadas pela

água.

Um ecossistema completo possui substâncias

abióticas e organismos vivos, ciclo energia e tem uma

entropia baixa.

Para pesquisar

Procure analisar as características de um ecossistema comparando-as com as características de um sistema qualquer. Que semelhanças e que diferenças você percebe nestas definições? Porque podemos dizer que todo ecossistema é antes de mais nada um sistema?

Aula 2 | Estudo de ecossistema 65

Esta idéia é importante para não confundirmos

as cidades com ecossistemas, como tanta gente faz.

Claro que a cidade faz parte do ambiente, assim como

nós. No entanto, não se trata de um ecossistema. Veja

a diferença:

Ecossistema:

Luz calor (baixa entropia)

ciclagem

Cidade:

Luz + alimentos + água biomassa LIXO

(alta entropia)

ciclagem insignificante

As cidades recebem energia luminosa,

alimentos, água, ou seja importam toda a energia de

que necessitam. Não há equilíbrio, pois ciclam muito

pouco e exportam resíduos. Você se lembra que o

equilíbrio depende da ciclagem, não é? Não há sobras,

tudo retorna transformado, recomeçando o ciclo.

Conceitualmente a cidade não é um ecossistema.

Interfere enormemente nos ecossistemas vizinhos e é

totalmente dependente destes. Assim, dizemos que não

existe ecossistema urbano, mas estrutura urbana. Isso

significa que em vez de falar em ecologia urbana a

discussão deve recair sobre qualidade ambiental.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 66

EXERCÍCIO 2

A partir desta declaração sobre o ambiente construído,

como poderíamos entender o ecossistema urbano? Sua

homeostase seria preservada? Ou somente em alguns

casos?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Manutenção da vida: a vida requer captação,

transformação, armazenamento e consumo da energia.

Por exemplo, um mico transforma uma parte da

energia química (potencial) dos alimentos em energia

cinética (seus movimentos) e dispersa outra parte

como calor. Sempre que há uma transformação de

energia potencial em outro tipo de energia uma parcela

se perde como calor. De maneira que não há

transformação 100% eficiente de energia. Essa parcela

de perda é conhecida por entropia.

Produtividade: os ecossistemas se mantêm

pela entrada de energia. Simplificadamente dizemos

que a fonte primária (ou seja, primeira) de energia são

os raios solares, que ao ser captados pela clorofila das

plantas são armazenados como energia em substâncias

orgânicas com potencial energético. Isto é: usando

água e gás carbônico a planta monta cadeias químicas

complexas por meio da energia luminosa, que é

transformada em ligações químicas potencialmente

energéticas. Nesse processo a planta libera oxigênio

para o meio externo, como resíduo. É a conhecida

fotossíntese, assim esquematizada:

Importante

Para que um ecossistema exista faz-se necessário: Homogeneidade; Trocas de

energia internas e externas;

Entrada e saída de elementos.

O ecossistema completo possui substâncias abióticas e organismos vivos, cicla energia e tem uma entropia baixa.

A chave da vida: captação, transformação, armazenamento e consumo da energia. Produtividade: A energia que não for consumida será acumulada. Isto é a produtividade. Podemos verificá-la analisando as cadeias alimentares.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 67

Animais não conseguem utilizar a energia

luminosa como fonte. Sua energia é conseguida com a

quebra de moléculas complexas de grande energia

potencial, diretamente relacionada com a respiração –

que assimila O2 e elimina o excesso de CO2.

Plantas e animais respiram, liberando assim

energia para seus processos vitais, mas geralmente os

vegetais consomem menos do que produzem. Por isso

é que as plantas podem ser a base de uma cadeia

alimentar inteira. Vejamos: Essa energia será utilizada

para o crescimento e para as atividades do

metabolismo. A energia que for acumulada na

biomassa da planta é que poderá ser transferida ao

animal que comê-la. Este animal também utilizará a

energia para construir sua biomassa e para o

metabolismo. Parte da energia será perdida como calor.

Como você deve se lembrar, essa transferência da

energia através das plantas e animais é conhecida

como cadeia trófica ou cadeia alimentar. As

cadeias mostram a estrutura alimentar de um

ecossistema (um lago, uma floresta ou outro qualquer).

Podemos medi-la sob a forma de pirâmides de três

tipos, conforme o que se pretende estudar: de número;

de biomassa; e de energia. Você pode recordar esse

aspecto relendo a aula anterior.

FALANDO DE BIODIVERSIDADE

Bio, radical que vem do grego, significa VIDA.

Diversidade indica variedade, coisas diferentes num

conjunto. Que conjunto? Neste caso, o da vida.

Resumindo, trata-se da variedade de manifestações da

vida.

H2O + CO2 + energia luminosa (CH2O) +O2 +

calor.

Para refletir

Que outros

exemplos você poderia citar para ilustrar essa interdependência ecossistêmica? Para auxiliar sua resposta, considere o ecossistema no qual você se encontra.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 68

Esta variedade pode se referir à quantidade de

espécies. Mas não é só isso. Tão importante quanto a

quantidade de espécies – ou de indivíduos em cada

espécie – é a interação com o ambiente em que vivem.

As relações que cada ser vivo mantém e faz existir na

natureza. Cada um tem papel único, exclusivo. Sua

atuação no ambiente se reflete na vida de outros seres

vivos.

E como os seres vivos estão todos interligados é

importantíssimo que as condições que mantêm essas

relações sejam preservadas. De nada adianta preservar

apenas a espécie X ou Y. Os organismos só conseguem

se manter vivos se suas relações tiverem como se

desenvolver. Um exemplo dessa situação, em que se

pensa preservar uma espécie cuidando apenas dela

ocorreu com as castanheiras do Pará. Na década de

1980, em meio ao grande desmatamento paraense,

resolveu-se preservar a castanheira, já que ela rendia

frutos (nos dois sentidos) à economia. Mas qual não foi

a surpresa dos fazendeiros e desmatadores ao perceber

que suas imponentes castanheiras estavam morrendo...

A razão descobriu-se depois: a polinização desta árvore

ocorria graças a um minúsculo inseto, que vivia na

serrapilheira da floresta! Retirando a mata, acabou a

serrapilheira. Logo, de nada adiantava deixar as

árvores eleitas – elas dependiam do ecossistema como

um todo.

NÍVEIS E NÍVEIS

Agora você já pode pensar em outro nível de

diversidade. Se antes pensava que diversidade se

referisse somente às espécies, após a leitura deste

caderno, você pode repensar reflexivamente sobre a

questão. Se são as condições que precisam ser

mantidas, então começamos a pensar nestas condições

e veremos que elas dependem essencialmente do

Dica da professora

Então vejamos: a paisagem inclui a aparência reunindo diferentes ecossistemas. Trata-se, portanto, de uma questão visível. Enquanto que o ecossistema trata das relações, que nem sempre são perceptíveis.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 69

ecossistema em que são produzidas.

Chegamos então à idéia de diversidade de

ecossistemas. E dela passaremos a outras diversidades.

Na verdade podemos falar de diferentes níveis de

biodiversidade. Os principais deles são a diversidade

genética, que ainda é praticamente desconhecida no

planeta; a diversidade de espécies, que se traduz no

conjunto de populações capazes de manter o

intercruzamento e originar descendentes férteis; a

diversidade de ecossistemas, de que falamos há pouco

e, a diversidade de paisagem.

Paisagem e ecossistema são distintos, pois

paisagem inclui apenas a aparência do ambiente (como

por exemplo, floresta tropical úmida. Ela pode

representar ecossistemas bastante diferentes na

Austrália, na América e na África, embora a aparência

seja muito semelhante). Já o ecossistema compreende

também e principalmente as relações e as condições

que possibilitam e mantém essas relações.

O que mais define o funcionamento do

ecossistema, em termos físicos, é o solo e o sistema

hidrológico (forma como a água entra e sai do

ecossistema). Se atentarmos para os processos de

degradação que atingem o ambiente perceberemos que

geralmente são esses dois fatores os que mais impacto

recebem.

Em relação aos impactos e à recuperação

ambiental uma dúvida pode surgir: basta deixar em paz

o ambiente danificado para que ele se recupere? Nem

sempre um ecossistema é capaz de regenerar-se

sozinho porque fatores externos podem interferir e

organismos que participavam daquele ecossistema

originariamente podem depender de fatores que não

mais existem ou estão presentes. Mais adiante, em um

Quer saber mais?

- O que define o funcionamento de um ecossistema qualquer em termos físicos é o solo e a água. - Nem sempre um ecossistema é capaz de se regenerar sozinho.

Importante

Podemos dizer então que a biodiversidade são os organismos vivos do planeta, no seu conjunto e nas suas relações.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 70

próximo caderno de estudos, veremos como surge a

biodiversidade. Então, você entenderá melhor as

dificuldades em preservá-la.

PROPORÇÕES EXTRAORDINÁRIAS E ESPECULAÇÕES

Calcula-se que cerca de um milhão de espécies

já tenham sido descritas até hoje. Entretanto este um

milhão seria, por estes cálculos, menos de 10% do

total. Isto quer dizer que haveria aproximadamente

113 milhões de espécies no planeta. Mas as espécies

atuais equivalem a 0,1% do que já houve no mundo.

É claro que processos de extinção e especiação

(processo de surgimento de novas espécies) são

naturais. Mas estima-se que atualmente estejamos

num período de extinção maior que todos os que já

existiram...

Novas espécies sempre podem surgir, o que

NÃO significa que vão vingar. Ao eliminar, por exemplo

um mosaico de floresta diminui-se o componente de

diversidade que poderia ser fator de isolamento.

Isolamento?! É que um dos mecanismos mais eficientes

de especiação é a barreira geográfica ou isolamento

geográfico.

Paulo Barata, pesquisador da FIOCRUZ, ofereceu

certa vez um exemplo simples e cotidiano de situação

que pode provocar tanto especiação como extinção e

até mesmo ambos. Acompanhe:

Imagine um petroleiro que vá deixar sua carga

no Canadá. Para sair do porto reiniciando viagem

precisa se carregar de água do mar para reequilibrar-

se. Suponhamos que este navio vá em seguida para o

Mediterrâneo, onde descarregará esta água – com toda

a vida que nela há.

Dica do professor

O que isso quer dizer? Em outros termos isso significa que a biodiversidade de um determinado local é bem mais rica do que imaginamos ou podemos calcular, pois além da estimativa oficial, é preciso levar em conta as espécies que nem chegaram a ser computadas, mas que indubitavelmente existiram.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 71

Provavelmente estas espécies que ali chegaram,

de carona, competirão com as espécies locais, que por

não terem antes convivido com estas estrangeiras,

provavelmente não têm defesas nem condições para

competir.

Dentro de algum tempo, as espécies visitantes

podem provocar a extinção algumas das residentes

originais devido a essa competição por espaço e

comida, ou obrigá-las a migrarem em busca de outros

locais para viver – o que por sua vez pode provocar o

deslocamento de outras espécies. Este é o caso de

certo mexilhão europeu que está entupindo os canos de

captação de água americanos.

INTRODUÇÕES INDEVIDAS

Ocorrem tanto situações incidentais, por

descuido e ignorância como no exemplo do petroleiro,

como também situações em que se introduz uma

espécie exótica (exótica, para a biologia, quer dizer

estrangeira e não diferente, como muitos pensam)

deliberadamente, sem o devido estudo. Esta situação,

recorrente na história, é inclusive caso brasileiro,

ocorrido no Mato Grosso, onde introduziu-se a carpa. A

carpa é um peixe muito voraz, muito competitivo e de

pouquíssimos predadores. Lá não havia nenhum, o que

possibilitou sua rápida expansão e reprodução,

chegando a causar sérios prejuízos em boa parte dos

rios.

Outro exemplo, que teve, porém um desfecho

mais cauteloso foi publicado na revista Terra de

julho/98. Os interessados podem procurar na página

11. Talvez você se lembre da moda do mini-crustáceo

pré-histórico conhecido por camarão dinossauro (o

Triops longicaudatus). Tendo feito sucesso no exterior,

ele foi trazido para o Brasil em março com a finalidade

Dica da professora

O que aprendemos com isso? Que a vida continua como um fluxo contínuo. Os ecossistemas vitais estão sempre em transformação, uma vez que sempre haverá o surgimento de espécies novas e desaparecimento de outras.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 72

de ser um brinquedo vivo. Era vendido como ovinhos

que ganham vida ao entrar em contato com a água e

tinha o hábito de comer os colegas de aquário. Ao

descobrir essas características o IBAMA achou melhor

proibir sua entrada no país. Caso chegasse a algum rio

o camarão-dinossauro se alimentaria de ovos de rãs e

pequenos peixes, reproduzindo-se de forma

incontrolável, uma vez que no Brasil não existem

predadores para ele.

Por fim, um exemplo mais clássico de

desequilíbrio ecológico causado por uma introdução

indevida de animal exótico é o conhecido caso

australiano. No século passado a Austrália recebeu

alguns coelhos, que por procriarem-se rapidamente e

comerem de tudo ganharam em pouco tempo o status

de praga nacional. O governo chegou a autorizar e

recompensar sua caçada, tal o ponto a que chegavam

os prejuízos da lavoura.

A introdução de espécies alienígenas ao local é

um procedimento que tem acompanhado a história da

dispersão humana pelo planeta. No caso da última

grande expansão, que se deu a partir das navegações

dos séculos XV e XVI, o maior fator de sucesso na

conquista de terras novas foi o que Crosby denominou

de “biota portátil”. Ou seja, os colonizadores, mesmo

sem perceber, acabaram levando organismos de sua

terra natal ao Novo Mundo, incluindo bactérias, vírus,

fungos, plantas (na forma de sementes e esporos) e

até mesmo animais. Evidentemente, havia alguns

animais e plantas que eram levados na viagem a fim de

servir como alimento. Mas havia também uma série

deles carregados sem que os navegantes tivessem

consciência disso. E até com relação àqueles destinados

a servir para a alimentação não se sabia que

alcançariam tanto sucesso ao se multiplicarem e se

espalharem continente afora.

Dica da professora

Considere cada exemplo: A partir da página anterior temos uma série de exemplos interessantes que ilustram com clareza como o desequilíbrio ecológico pode ser causado pela

introdução de uma espécie indevida em um determinado ecossistema. Analise cada caso, destacando o tipo de desequilíbrio que poderia ser gerado a partir de diferentes situações.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 73

Os efeitos dessa introdução foram geralmente

de alcance fantástico. Os organismos invasores

ocuparam o espaço dos nativos, competindo por luz,

nutrientes, espaço etc. Não havia predadores para eles,

de modo que os recém chegados estavam em grande

vantagem.

Pensando na questão ambiental um erro comum

é acreditar que a destruição dos ecossistemas só ocorre

a partir das mãos e obras humanas. Por mais que o ser

humano queira crer nessa afirmação e possa sentir-se

ora lisonjeado, ora culpado com isso, um pouco de

pesquisa demonstra que esta degradação é obra

conjunta da co-evolução entre humanos e a tal biota

portátil. Isso quer dizer que uma série de organismos

(plantas, animais, fungos, vírus e bactérias) evoluiu em

estreita convivência com parcelas da humanidade. De

modo que tanto uns como outros tiraram algum

proveito desta relação. O grupo humano que por mais

tempo conviveu com uma maior variedade de outros

seres vivos foi o dos europeus. Assim, quando estes se

espalharam por outras partes do globo, levaram junto

consigo esta biota portátil, desconhecida e principal

razão de seu sucesso colonizador fora da Europa, fosse

por enfraquecer imunologicamente os povos com que

se defrontavam, fosse por garantir a sobrevivência dos

europeus a partir dos alimentos que já conheciam.

Especialmente porque, como dissemos, garantir os

alimentos conhecidos significou ocupar espaços

ecológicos antes ocupados pelas plantas e animais

locais, afins aos povos com quem conviviam. Ao

desalojar a biota local, os europeus, sem o saber,

foram tirando as condições de vida dos povos

conquistados e garantindo as suas próprias. Em suma,

foram “europeizando” os novos territórios. Vejamos

uma ilustração:

A usurpação da biota nativa do pampa

já devia ter começado no fim do século

XVI, quando animais da Europa chega-

Importante

É vital entender que a destruição dos ecossistemas não se dá apenas por intermédio da ação humana mais pela relação que estabelece de forma desequilibrada entre os seres vivos, dentre os quais o homem se inclui e a biota.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 74

ram, vicejaram e se propagaram em

enormes rebanhos. Seus hábitos de

alimentação, seus cascos

atropeladores, seus excrementos e as

sementes das plantas que carregavam

com eles, tão estrangeiras na América

quanto eles mesmos, alteraram para

sempre o solo e a flora do pampa. (...)

Onde quer que o europeu ou o pioneiro

mestiço construíssem sua pequena

habitação, surgiam malvas, cardos e

outras plantas, mesmo que não

houvesse tais espécies num raio de

trinta léguas. E era suficiente que o

homem da fronteira freqüentasse uma

estrada, mesmo sozinho com seu

cavalo, para que essas plantas

passassem a aparecer à beira do

caminho.

(Crosby, 1993: 145)

Esse processo e outros semelhantes significaram

a rápida extinção da maioria das plantas locais, além de

alimento para os animais recém-chegados da Europa,

como cavalos, bois, ovelhas, porcos, cabras e abelhas

de mel. Esses animais, por sua vez, expulsaram os

animais nativos e, diante da abundância de alimento e

da falta de predadores, multiplicaram-se de tal modo

que chegavam a novas fronteiras anos antes dos

colonos, garantindo-lhes comida farta e um solo aberto

a cascos para o florescimento das plantas vindas com

os europeus. E o ciclo se perpetuava continente

adentro. A extinção dos animais locais freqüentemente

provocou a diminuição dos povos nativos que deles

dependiam, a exemplo de indígenas norte-americanos e

seus búfalos. Sem contar que as defesas imunológicas

dos moradores originais das terras conquistadas não

estavam em guarda contra os patógenos do Velho

Mundo. Assim, vários desastres sucederam-se minando

as populações locais. Os exemplos mais expressivos

são a varíola nas Américas e a sífilis na Nova Zelândia.

De acordo com Crosby, a varíola chegou à Ilha de

Hispaniola por volta de 1519, tendo um efeito tão

devastador como a pólvora nos séculos seguintes.

Importante

Extinção: Esta página trás uma série de exemplos interessantes que ilustram com clareza como o desequilíbrio ecológico pode ser causado pela introdução de uma espécie indevida em um determinado ecossistema. Analise cada caso, destacando o tipo de desequilíbrio que poderia ser gerado a partir de diferentes situações.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 75

A História é uma rica fonte de

informações para quem quer entender

os efeitos da desestabilização das

relações interdependentes dos

organismos.

Um dos fatores mais importantes do

sucesso da biota portátil é tão simples

que se torna difícil relegá-lo: os seus

membros não atuaram isoladamente,

mas em equipe. (...) Às vezes a ajuda

mútua é óbvia, como quando os

europeus importaram abelhas para

polinizar suas plantações; outras vezes

é obscura, como nas Grandes

Planícies, quando os brancos e seus

mercenários dizimaram quase todos os

búfalos – propiciando assim o

alastramento de patógenos venéreos,

alguns dos quais eram certamente

imigrantes. Um médico que cuidava

dos sioux em Fort Peck no final do

século passado estimou que a tragédia

das infecções venéreas entre as

mulheres não era apenas uma

conseqüência da imoralidade, e sim o

resultado de uma mudança mais geral:

‘Elas eram castas até o

desaparecimento dos búfalos.

(Crosby, 1993: p.254)

Isso pode parecer estranho, mas a questão é

entender o que significavam os búfalos naquela

sociedade ameríndia. Esses animais eram o elemento

central da vida dos sioux. Sem eles desapareceu a

capacidade dos ameríndios de viverem

independentemente. Fuzileiros do pós-guerra civil

americana foram os responsáveis pela extinção dos

búfalos. Sem encontrar resistência indígena, rancheiros

e fazendeiros do Velho Mundo e seus bovinos e ovinos

avançaram então pelas planícies.

Algumas mulheres sioux, vendo seu

modo de vida destroçado como um

pote de barro sucumbiram à

prostituição. As bactérias venéreas

aproveitaram a oportunidade e

reduziram drasticamente a taxa de

natalidade dos sioux, tornando a terra

mais segura para os estrangeiros.

Brancos, negros, bois, vacas, porcos, ca

Quer saber mais?

Para saber mais sobre a extinção de búfalos: Em 1889, restavam apenas 551 búfalos nos EUA. Dizimados pelos colonizadores europeus, esses animais tinham grande importância na cultura indígena. Nesta mesma época, o governo implantou leis mais rígidas de caça, medida que evitou a completa extinção da espécie no país.

Para pensar

Você já havia pensado no quanto o capim foi importante para a sobrevivência humana.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 76

valos, trigo e ervas prosperaram, e em

torno das casas, celeiros e poços

d’água prosperaram também os

camundongos, ratos, capins e arbustos

do Velho Mundo.

(Crosby, 1993: p.256)

E nosso historiador prossegue demonstrando

como na biota portátil o comportamento é geralmente

de ajuda mútua. Descreve o desenvolvimento conjunto

das principais espécies de capim com os animais de

criação, sendo ambos vitais para a sobrevivência das

sociedades humanas. Porém, atenção, leitor: não eram

os organismos do Velho Mundo que eram superiores.

Ocorre que eles foram favorecidos pela contínua

perturbação (e, neste caso, contínua é mais importante

que perturbação) a que se sujeitaram os ambientes das

terras conquistadas, por meio do arado, derrubada de

florestas, queimadas, cidades em expansão e

pastagens exauridas, e através do brusco contato em

que foram colocados seres humanos, plantas, animais e

microorganismos que haviam evoluído separadamente

por milhares de anos.

No caso português, a ampliação das áreas

coloniais dependia da vinda de espécies exóticas (não-

autóctones), como o trigo e a galinha. A difusão destas,

contudo, implicava na concorrência com as espécies

locais e freqüentemente no extermínio destas últimas.

Isto não era visto como problema. Afinal, os obstáculos

à colonização haviam de ser superados e raros eram as

plantas e animais nativos de valor comercial para a

metrópole. A visão de natureza dos portugueses como

recurso ilimitado e à disposição condicionava, portanto,

a forma de conduzir as políticas, cuidados e

investimentos em terras brasileiras.

É preciso lembrar que o estabelecimento e a

consolidação das colônias neo-européias propagaram

um modo de vida totalmente diferente do tribal,

Aula 2 | Estudo de ecossistema 77

generalizado em boa parte do mundo de até então. Em

poucos séculos, as repercussões deste fato se

ampliaram exponencialmente, ocasionando progressiva

perda de informação sobre o funcionamento da

natureza local à medida que desapareciam os

habitantes originais e sua cultura – devido ao grande

crescimento populacional das colônias e a consolidação

de uma maneira de viver em que a dimensão das

conseqüências da interação era cada vez menos

considerada.

O crescimento desta repercussão e sua maior

percepção foram alguns dos principais mobilizadores

dos países para tratar da questão ambiental tal como a

conhecemos no século XX e início do século XXI.

MENOS CALAMIDADES, MAIS SERVIÇOS

Depois de tantos exemplos calamitosos vejamos

agora alguns dos muitos "serviços" que a natureza

presta aos seres vivos e dos quais usufruímos

gratuitamente:

Alimentos,

Polinização de plantações,

Medicamentos, reciclagem de nutrientes,

Filtragem de poluentes,

Geração e preservação do solo,

Assimilação de dejetos,

Controle de enchentes,

Matéria-prima para vestuário e outros

recursos,

Moderação do clima,

Manutenção da composição gasosa da

atmosfera,

Fotossíntese,

Operação do ciclo hidrológico.

Para pesquisar

Evidentemente que estes são apenas alguns dos muitos serviços que a

natureza pode nos prestar. Muitos outros devem ser incluídos como o bem estar que o contato com a natureza proporciona. Pesquisa outras vantagens e enriqueça essa lista:

Aula 2 | Estudo de ecossistema 78

E muitos outros. Uma alteração mínima num

desses processos interfere muitas vezes decisiva e

imprevisivelmente. Um bom exemplo é a elevação da

temperatura global. Se ela se elevasse 1°C a

fotossíntese de todo o planeta se alteraria, assim como

o micro-clima, o volume dos oceanos e

conseqüentemente a porcentagem de terra

descoberta... Daí toda a polêmica atual em torno do

protocolo de Kioto.

QUALIDADE DE VIDA E BIODIVERSIDADE

Com isso você já pode concluir quais são

algumas das perdas que aparecem com a diminuição da

biodiversidade: além da perda de "serviços" da

natureza, a qualidade de vida decai e conhecimentos

importantes são perdidos – inclusive alguns que podem

ter relação direta com o ser humano, como a

descoberta de princípios ativos para graves doenças

tais como o câncer ou a AIDS.

Isso sem falar que todo organismo tem direito à

vida. Se valorizarmos apenas o aspecto econômico, isto

é, o que podemos explorar do ambiente – e daí veio o

nome de recursos naturais – ficamos com uma visão

simplista.

Reduzir a complexidade genética e biológica ao

meramente econômico faz reduzir a diversidade social.

Por quê? Por enquadrar toda a existência e a

manifestação do ser humano ao aspecto de ser

produtor/ consumidor. Reduz-se toda a riqueza de seu

comportamento aos limitados padrões do mercado.

Com isso perdemos identidade. Nossa real identidade,

que vai muito além do espaço do mercado,

incorporando outras dimensões, como o direito, a

filosofia, a estética, a psicologia, a sociologia.

Importante

O Direito à Vida: Preservar o direito à vida de todo ser vivente é uma das premissas mais básicas de qualquer projeto/trabalho na área de Educação

Ambiental.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 79

Os indivíduos dos ecossistemas

Você teve até agora uma visão geral acerca de

fatores importantes para o funcionamento dos

ecossistemas. Vamos agora aproximar a nossa lente e

dar uma olhada em alguns detalhes que permitem que

a vida se arranje em ecossistemas. Vejamos alguns

aspectos que afetam seus habitantes.

O QUE É PRECISO PARA VIVER NUM

ECOSSISTEMA?

Em Biologia chamamos cada ser vivo de um

indivíduo. Em geral, o indivíduo passa por processos

como crescimento, sobrevivência e reprodução. É o que

permite que a população a qual ele pertence seja

viável, perpetue-se. Cada população apresenta um

conjunto genético que a caracteriza, específico e

exclusivo dela. A passagem dos genes aos

descendentes se dá através da reprodução – que pode

ser sexuada ou não, conforme a espécie. Desta forma,

cada indivíduo contribui para com a geração seguinte.

Nesta lógica, o indivíduo que deixar mais descendentes

estará contribuindo mais, e é, portanto, considerado

mais apto. Por isso dizemos que a performance do

indivíduo é o quanto ele pode crescer, se desenvolver e

reproduzir. A aptidão depende de uma série de fatores

inerentes à espécie e ao próprio organismo:

Genética do indivíduo

História passada mais remota

De ancestrais mais recentes

História atual do próprio indivíduo, influenciado

pelas condições7 e recursos

8 de seu ambiente.

7 Condições: é qualquer fator ambiental abiótico, como pH, salinidade, velocidade da correnteza,

umidade, temperatura etc., que varia no tempo e no espaço e para os quais os organismos respondem

diferencialmente. Tomemos o exemplo da temperatura: nas zonas temperadas ela varia sazonalmente.

Com isso, há uma heterogeneidade ambiental, ou seja, o ambiente varia muito em função das condições.

Cada estação oferecerá situações específicas e marcantes daquele período. Como as plantas são imóveis,

respondem a isso com mudanças no seu modo de relacionar-se com o restante do ambiente. 8 Os recursos são usados por um indivíduo de cada vez (espaço, nutrientes, radiação...), ao passo que o

que caracteriza as condições é sua partilha (por exemplo, a luz).

Dica de leitura

Aí vão duas dicas de leituras para aprofundar alguns dos conceitos dessa

página como população, indivíduo e ecossistema. DAJOZ, Roger. Ecologia geral. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1978. MOLEN, Yara Fleury van der. Ecologia. São Paulo: EPU, 1981.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 80

Ao relacionarmos as condições ambientais à

performance da espécie, vemos que a intensidade de

ambas favorece os processos de reprodução (r),

crescimento (c) e sobrevivência (s).

O conjunto de características e de traços

relacionados aos processos de desenvolvimento,

fecundação e sobrevivência é denominado “histórias

de vida”. Quando temos uma população de grande

tamanho sua distribuição geográfica é maior.

ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO AMBIENTE:

HISTÓRIAS DE VIDA E SUCESSÃO ECOLÓGICA

Em qualquer comunidade9 vegetal cada espécie

participa segundo a sua expressão da história de vida.

Isso quer dizer que uma comunidade campestre tem

um padrão de história de vida diferente do de uma

comunidade florestal, e serão ambos diferentes do

padrão das algas unicelulares. Uma diferença fácil de

ver e que é dada pelo padrão da história de vida é o

modo de produção das sementes: uma única vez no

ciclo todo ou, em outro padrão, várias vezes durante o

ciclo vital.

9 Comunidade: conjunto de populações de espécies diferentes.

Dica da professora

Histórias de Vida: Vale lembrar que uma das melhores formas de preservar a vida de uma espécie qualquer é valorizar e preservar sua história. Isso serve tanto para seres abióticos quanto comunidades de seres humanos.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 81

Como, então, se definem os diferentes padrões?

Basicamente através das diferentes combinações das

características abaixo, que também definem estrutura e

dinâmica da população, abundância e distribuição

geográfica dos indivíduos componentes.

Sistemas de reprodução: que indica o número

de descendentes possível através de um

determinado indivíduo e a distribuição do

indivíduo;

Sistemas de dispersão;

Prevalência da reprodução vegetativa;

Número e tamanho das sementes produzidas;

Tipo e grau de dormência apresentado pelas

sementes.

Cada comunidade apresenta um padrão de

história de vida que predomina. Numa comunidade

florestal, por exemplo, predomina o padrão arbóreo. Os

vários tipos de ambiente oferecem diferentes pressões

seletivas (de seleção natural). As características que

tornam indivíduos aptos no ambiente estável são

diferentes no ambiente instável. A pressão seletiva de

cada ambiente vai definir a melhor história de vida

(roteiro) para os organismos. Pode ocorrer variação

ambiental em função de diversos fatores. Veja alguns:

freqüência de queimadas, seca, inundações, grau de

sombreamento no globo, disponibilidade de nutrientes,

poluentes, acidez do solo, metais pesados, salinidade,

vento, pisoteio (em locais com grandes mamíferos ou

em campos com pastagens), temperatura, existência

de inimigos naturais, injúrias (quebra de galhos,

herbivoria10

, queda de um galho abrindo espaço para a

entrada de sol...).

Há basicamente três teorias para explicar a

formação dos padrões de história de vida: a) seleção

10

Ataques de herbívoros a plantas, quebrando galhos e/ou arrancando folhas para alimentar-se.

::Dormência:

Dormência é o estado de latência pelo qual as sementes de algumas espécies passam. Significa que a semente tem potencial para germinar, mas é como se estivesse hibernando. Precisa de algum elemento externo que a faça sair do estado de dormência. Tal elemento é variável

conforme a espécie. Pode ser a água, pode ser fogo, pode também ser o suco gástrico de algum animal e inúmeros outros fatores.

Importante

Se a variação destes elementos for pequena temos um ambiente previsível, estável. Caso contrário, o ambiente será instável e imprevisível.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 82

tipo R e tipo K, b) intensidade de estresse, e, c)

alocação de recursos ambientais.

No caso da seleção R e K entende-se que a

população vegetal cresce em fases. Numa comunidade

de uma única espécie inicialmente não há limitações de

recursos e condições indispensáveis, o que leva a

população a um crescimento ilimitado (exponencial, até

alcançar a capacidade suporte do habitat). Esta

primeira é a fase de explosão, também chamada R. A

alta população leva proteção a futuras expansões. Esta

fase, de densidade populacional, chama-se K e

apresenta maior competição. Há ambientes que

favorecem a fase R e outros que favorecem a fase K.

Organizamos uma tabela comparativa para você

se localizar melhor:

Variáveis

SELEÇÃO “R”

SELEÇÃO “K”

Clima Variável, imprevisível,

maior incerteza

Previsível, maior

certeza

Mortalidade Catastrófica Disciplinada, depende

da densidade

Tamanho da

população

Variável no tempo,

muito abaixo da

capacidade suporte,

forma comunidades

insaturadas, havendo

recolonização (mudança

de lugar) a cada ano

Mais constante e

próxima da capacidade

de suporte, forma

comunidades

saturadas, não havendo

recolonização anual.

Competição

intra e

interespecífica

Frouxa, muito variável Intensa, forte

EM SÍNTESE:

Ambientes com recursos em abundância:

favoráveis à seleção R, pouca competição.

Ambientes com recursos limitantes: favoráveis à seleção K, muita competição.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 83

Características

do organismo

Rápido crescimento, reprodução precoce

11 e

tamanho reduzido,

uma única reprodução

com muitos

descendentes pequenos

Crescimento lento,

reprodução tardia,

grande tamanho,

múltiplas reproduções

com poucos e grandes

descendentes

Longevidade Baixa (menos de um

ano)

Alta (de um ano a

séculos)

Resultado Produtividade alta

(quanto vai produzir e

como vai dispersar),

medida pelo número de

descendentes

Eficiência do indivíduo

(maior habilidade

competitiva, indicada

pelo tamanho das

plantas)

Estágio de

sucessão

Fases iniciais Fases finais, clímax

Estratégia Espécies r-estrategistas

(plantas herbáceas e

anuais, as invasoras e

“daninhas”)

Espécies k-estrategistas

(árvores)

Esses diferentes tipos de seleção interferem

diretamente na formação dos ecossistemas. O processo

de surgimento de um novo ecossistema tem sido

chamado de sucessão ecológica. A qualquer momento

pode ter início uma nova sucessão, seja micro ou

macro, pois ela se inicia a partir de perturbações no

ambiente. As perturbações podem desencadear uma

sucessão primária ou secundária, que tem por agentes

perturbadores queimadas, geadas, a derrubada de uma

grande árvore (abrindo uma clareira na mata), a

chegada de um novo organismo, só para citar alguns

exemplos. Na sucessão primária o fator de distúrbio é

maior: vulcanismo, terremoto, exposição da rocha-

mãe... Resiliência é a capacidade de voltar ao estado

original, sendo mais forte para vegetações campestres

do que para florestas.

Nas fases iniciais, quando há abundância de

recursos, aparecem as plantas r-estrategistas, menos

exigentes em termos de condições ambientais,

suportam bem o calor e se espalham rápido e

abundantemente. Quanto mais r-estrategista for a

11

Pois não se sabe se amanhã continuarão existindo os recursos de hoje.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 84

planta, maior sua capacidade de dispersão (população

itinerante de geração para geração). Um ambiente

onde se inicia um processo sucessional costuma ser

mutável, mas isso não afeta nossas colonizadoras. Elas

concentram sua energia em alocar recursos para a

reprodução, dedicando poucos à manutenção dos

adultos.

À medida que as invasoras (ou pioneiras, ou

colonizadoras, ou r-estrategistas) ocupam o ambiente,

o solo vai se tornando mais fértil e sombreado, devido

ao arejamento produzido por suas raízes e à sua morte

(a decomposição proporciona a devolução de nutrientes

e matéria orgânica ao solo). Isso possibilita o

surgimento de espécies de plantas que necessitam de

menor incidência de luz direta e mais nutrientes. São

os arbustos. Sucessivamente o ambiente vai recebendo

espécies cada vez mais exigentes e que se aproveitam

das condições deixadas pelas anteriores – maior

umidade, menores temperaturas, solo fértil etc. Aos

poucos, vai se compondo um cenário mais florestal,

onde predominam as k-estrategistas. Estas plantas

dedicam poucos recursos para a reprodução, mas

muitos para a manutenção dos adultos. Nesta fase, o

ambiente já se encontra mais estável, embora haja

maior limitação de recursos (já estão sendo consumidos

No caso dos animais se chama migração. Quando se

trata de plantas a dispersão é conhecida por

disseminação e pode ocorrer através de sementes,

frutos, rizomas, estolões. As plantas que utilizam

reprodução sexuada levam vantagem, pois vai além

da reprodução vegetativa, havendo potencial para

diferenças genéticas. A dispersão pode ocorrer

mediante agentes bióticos ou abióticos, mas

também pela ação da própria planta, como acontece

com a maria-sem-vergonha.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 85

por muitas espécies).

Há sucessões que se desenvolvem dentro de um

ecossistema estabelecido, que, porém foi perturbado

em algum ponto, desencadeando a formação de um

micro-ecossistema (tronco podre ou clareira, por

exemplo). Outras vezes, a região onde se inicia uma

sucessão é árida e o processo demora mais. Acontece

em rochedos, por exemplo. A pedra nua vai sendo

desgastada em alguns lugares pelo vento, ajudado pela

alternância de sol, chuva e frio. A erosão faz com que

alguns pedaços da rocha se tornem mais arenosos. O

vento, pássaros e insetos podem depositar terra,

pequenos galhos e folhas secas, tornando o ambiente

um pouco mais fresco e nutritivo. É o suficiente para

que musgos se instalem, formando um ambiente um

pouco mais úmido, que poderá abrigar uma erva. Foi

dada a partida. À medida que as r-estrategistas

chegam, animais e fungos também são atraídos pela

oferta de alimento e abrigo.

Falta, agora, dar uma espiada nas outras duas

teorias para formação dos diferentes padrões de

histórias de vida.

Segundo a teoria da intensidade de estresse, há

três padrões predominantes de histórias de vida

(estratégias de sobrevivência). Neste caso, classifica-se

o ambiente de acordo com o nível dos distúrbios

(intensidade, tipo e freqüência) ou segundo o estresse

que promova no organismo. Mas o que se considera

estresse em termos biológicos?

Vamos examinar novamente uma tabela para

melhor visualizar as possíveis estratégias de vida:

Importante

É importante entender este processo porque ele é a base de um trabalho bem feito de regeneração ou recuperação ambiental, último assunto que veremos nesta apostila.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 86

Intensidade de estresse

Intensidade

de distúrbio

Baixa Alta

Baixa Arbóreas

Competidoras

k-estrategistas

Características

intermediárias

Tolerantes

t-estrategistas

Alta Ruderais

Herbáceas

r-estrategistas

Sem estratégia viável;

Não permite o

estabelecimento de vida

Já para a teoria de alocação dos recursos

ambientais a finitude dos recursos leva a crescimento e

diferenciação (fecundação) distintos. Quando o

crescimento é favorecido, temos uma predominância de

espécies arbóreas, que priorizam a manutenção dos

adultos. Quando a fecundação é favorecida, temos

outro padrão de história de vida, em que predominam

as herbáceas, altamente produtivas.

Há algumas características que podem se

combinar, como:

Ciclo de vida (anual ou perene);

Morfologia da planta (inclui as formas de

crescimento da copa, das folhas etc.);

Permanência das sementes no ambiente;

Fotossíntese e absorção de nutrientes.

Conhecer os padrões de histórias de vida e seu

processo de formação criou a possibilidade de efetuar

reflorestamentos. Sem conhecer o padrão não se

consegue combinar a percentagem de r e k-

estrategistas de tal maneira que a floresta não acabe.

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

A predominância de uma estratégia ecológica (r

ou k) depende das circunstâncias. Por existirem

diferentes graus de competitividade existem também

diversos tipos de organismos ocupando o ambiente, o

Quer saber mais?

Tais características fazem com que os processos fisiológicos internos (intercepção da luz, balanço do calor, regulação da temperatura, balanço hídrico, difusão do oxigênio) ao combinarem-se, capacitem o organismo a completar seu ciclo de vida dentro de

comunidades peculiares, isto é, determinam sua aptidão.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 87

que significa que estes organismos ocupam lugares

diferentes dos que ocupariam se estivessem sozinhos.

Uma vegetação mista gera potencial para maximizar o

uso das características ambientais. Já uma vegetação

uniforme (vizinhos da mesma espécie) utiliza as

mesmas condições ambientais.

É importante frisar que não há processo de

recuperação ambiental que traga de volta um

ecossistema tal como ele era antes. A recuperação é

mais das condições e recursos. Trata da história do

desmatamento da floresta atlântica.

Ao pensar um processo de recuperação é

importante ter em mente que os estágios de sucessão

estão sempre se renovando e que, mesmo em

populações clímax não há exclusividade de k-

estrategistas. Há sempre um percentual variável de

cada perfil, caso contrário a tendência seria o

desaparecimento do ecossistema. Daí a importância

desse entendimento.

Darmos início a uma nova sucessão, pensando

em recuperação ambiental, requer incluir espécies de

cada fase da sucessão misturadamente. Se plantarmos

apenas espécies de madeira nobre porque são clímax,

por exemplo, a tendência será o desaparecimento

(como citado no exemplo da castanheira). As pioneiras

defendem outras árvores ao abrigarem insetos e

pequenos predadores, que se alimentarão

freqüentemente de predadores das árvores clímax. Elas

são os soldados da floresta.

Outros cuidados na regeneração, geralmente

ignorados por pessoas bem intencionadas, porém

desinformadas, são a observância das condições

ambientais e da origem das espécies que serão

plantadas. Uma dada espécie pode ser de mata

atlântica e você quer justamente recuperar uma área

Para navegar

Experiências interessantes e bem sucedidas de recuperação

ambiental têm sido desenvolvidas pela ONG REBRAF (Rede Brasileira Agroflorestal). Você pode conhecê-la no site: www.rebraf.org.br.

Dica de leitura

Um bom livro para entender melhor essa questão no Brasil é:

DEAN, Warren. A ferro e fogo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 88

originalmente de mata atlântica. É necessário, então,

verificar se aquela planta ocorria naquela altitude,

como ela se distribuía. Sabendo que o ecossistema

jamais será como já foi, o que pode ser feito é uma

aproximação, considerando as espécies nativas daquele

trecho em questão. É fundamental trabalhar com a

idéia de mosaico. O ambiente natural, sobretudo nos

trópicos, é uma grande mistura. Plantar somente

clímax leva à morte prematura do ecossistema. E usar

pioneiras apenas leva à insatisfações freqüentes, pois a

sucessão é lenta e as plantas podem ser retiradas por

pessoas ignorantes ou mal-intencionadas.

Se a sucessão está sempre ocorrendo, por que

falamos em primária e secundária? Por considerar-se

que, no momento de maior estabilização do ambiente,

a presença maior é de r ou de k-estrategistas.

EXERCÍCIO 3

Que elementos são necessários para classificar um

ambiente como um ecossistema?

( A ) Que este seja um sinônimo de sociedade;

( B ) Ele deve ser homogêneo, trocar energia,

permitir a entrada e saída de elementos, ter uma baixa

entropia, possuir substâncias abióticas e organismos

vivos;

( C ) Deve haver heterogeneidade no ambiente, a fim

de permitir a biodiversidade;

( D ) Não é preciso que toda a energia do ambiente

seja reciclada, a maior parte pode ser perdida;

( E ) Deve se assemelhar ao contexto ecossocial urbano.

Para navegar

Para conhecer um projeto recente de reflorestamento, com nativas, e suas dificuldades, visite o site: www.nasce.org.br e agenda sua participação ao vivo.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 89

EXERCÍCIO 4

Para viver num ecossistema é necessário:

( A ) Que os indivíduos estejam aptos a viver nele:

cresçam e deixem muitos descendentes;

( B ) Desenvolver uma história de vida adequada ao

local. Todos os organismos de um local utilizam a

mesma estratégia de sobrevivência ou história de

vida;

( C ) No caso das plantas, o desenvolvimento de uma

história de vida adequada está ligado à

combinação de fatores, como: tamanho,

quantidade e dispersão das sementes, distribuição

dos indivíduos, capacidade de competir por luz,

tamanho da raiz, presença de flores;

( D ) Superar as pressões, convertendo o ambiente

num lugar estável;

( E ) Conhecer as três teorias que explicam a

construção dos padrões de histórias de vida:

seleção tipo r e tipo k, intensidade de estresse e

alocação de recursos ambientais.

EXERCÍCIO 5

O que é e quais são as principais características de um

ecossitema?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Aula 2 | Estudo de ecossistema 90

EXERCÍCIO 6

Explique com suas palavras o que é cadeia alimentar e

qual a sua importância?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

O ecosssistema pode ser compreendido como

o conjunto formado por todos os seres vivos

de uma certa região e todos os fatores

abióticos (luz, vento, água, solo e outros

elementos não-vivos) com os quais esses

seres interagem.

Há várias relações possíveis num

ecossistema. As mais conhecidas são o

comensalismo, o parasitismo, a competição, o

mutualismo, a cooperação.

Comensalismo: Associação em que um

indivíduo aproveita restos de alimentares do

outro, sem prejudicá-lo. Ex.: Tubarão e

Rêmoras;

Parasitismo: Associação entre duas espécies

onde uma (a parasita), vive às custas da

outra (o hospedeiro), prejudicando a sua

vida;

Competição: É a luta entre dois ou mais

seres vivos por um elemento da natureza. A lu-

Aula 2 | Estudo de ecossistema 91

ta por alimento é muito comum. Ocorrem

confrontos entre os animais. A competição

pode ser entre dois seres da mesma espécie

ou de espécie diferente, que são

respectivamente denominados de intra-

específica e interespecífica;

Mutualismo: é o agrupamento ou junção

entre dois seres vivos de espécies diferentes

que mantêm uma relação de cooperação

mútua. Isso quer dizer que um é depende do

outro oferecendo de alguma forma algo

necessário a manutenção da vida.

Protocooperação ou cooperação: É a

associação entre indivíduos de espécies

diferentes em que ambos se beneficiam, mas

cuja coexistência não é obrigatória.

Predatismo ou Predação - é a interação

desarmônica na qual um indivíduo (predador)

ataca, mata e devora outro (presa) de

espécie diferente.

Epifitismo: situação em que um vegetal vive

sobre outro, mas sem retirar nutrientes,

utilizando-o apenas como apoio. É diferente

do parasitismo, pois embora somente um

ganhe não há prejuízo para ninguém;

Os principais princípios dos ecossistemas são:

interdependência, equilíbrio dinâmico, e

homeostase (auto-regulação).

Quanto maior a diversidade maior a

estabilidade uma vez que a diversidade

possibilita ao ambiente diferentes respostas a

possíveis alterações.

Aula 2 | Estudo de ecossistema 92

A energia não é criada, nem destruída. É

transformada. E podemos medi-la na

natureza por calorias, analisando a passagem

da energia de um nível da cadeia alimentar a

outro;

A produção de energia pode ser não apenas

de origem fotossintética, mas também

quimiossintética, como é comum nas

profundezas abissais oceânicas;

Os elementos químicos (conhecidos por

nutrientes) circulam pela biosfera. Em alguns

momentos estão incluídos na matéria

orgânica (fase BIO), em outros na inorgânica

(fase GEO);

os ciclos biogeoquímicos podem ser definidos

como: “O conjunto dos processos físicos,

químicos e biológicos, considerados como um

ciclo, que descreve o intercâmbio de um

elemento químico, entre organismos vivos e o

ambiente abiótico“.

O que muda NÃO É a quantidade de cada

elemento no planeta, mas sua situação. O

problema é que dependendo da mudança de

localização destes elementos podem haver

danos às relações estabelecidas. Outro

problema é a criação de milhares de novas

substâncias químicas, que não fazem parte de

nenhum ciclo biogeoquímico e por isso,

“sobram” no ambiente;

Um ecossistema apresenta homogeneidade

quanto à topografia, ao clima, à botânica,

zoologia, pedologia (solos), hidrologia (águas)

e geoquimicamente;

Aula 2 | Estudo de ecossistema 93

Um ecossistema completo possui substâncias

abióticas e organismos vivos, cicla energia e

tem uma entropia baixa. Esta idéia é

importante para não confundirmos as cidades

com ecossistemas. As cidades recebem

energia luminosa, alimentos, água, ou seja

importam toda a energia de que necessitam.

Não há equilíbrio, pois ciclam muito pouco e

exportam resíduos;

Não há transformação 100% eficiente de

energia. Essa parcela de perda é conhecida

por entropia.

Os ecossistemas se mantêm pela entrada de

energia. Simplificadamente dizemos que a

fonte primária (ou seja, primeira) de energia

são os raios solares, que ao ser captados pela

clorofila das plantas são armazenados como

energia em substâncias orgânicas com

potencial energético;

Podemos falar de diferentes níveis de

biodiversidade. Os principais deles são a

diversidade genética, que ainda é

praticamente desconhecida no planeta; a

diversidade de espécies, que se traduz no

conjunto de populações capazes de manter o

intercruzamento e originar descendentes

férteis; a diversidade de ecossistemas, de que

falamos há pouco e, a diversidade de

paisagem;

Paisagem e ecossistema são distintos, pois

paisagem inclui apenas a aparência do

ambiente podendo representar ecossistemas

bastante diferentes. Já o ecossistema

compreende também e principalmente as rela-

Aula 2 | Estudo de ecossistema 94

ções e as condições que possibilitam e mantém

essas relações.

Biomas Brasileiros

Luciana Ribeiro

AU

LA

3

Ap

res

en

taç

ão

Muita gente confunde Bioma com Ecossistema, se você tem

dúvidas quanto a essa distinção não se preocupe você está na

aula certa para saná-las. Neste terceiro encontro você terá a

oportunidade compreender melhor a relação entre o visual

paisagístico de uma localidade e o Bioma, os diferentes e ricos

Biomas Brasileiros a partir de suas especificidades tais como: a

Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Pantanal, as Florestas de

Araucária, os pampas, a Zona Costeira, os Recifes de Coral e os

Manguezais. Com essa variedade temática só nos falta perguntar:

Dá para perder essa aula? Claro que não. Então venha e mergulhe

nos estudos sobre os Biomas de nosso país. Não há formas de

amar e lutar por algo que não conhecemos, então eis aí a sua

oportunidade.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Entender com clareza o conceito de Bioma e sua distinção em

relação a outros temos como ecossistema e comunidade;

Conhecer os principais biomas brasileiros compreendendo suas

características e importância para o equilíbrio ambiental local e

global;

Analisar a relação entre as variações climáticas e a

continuidade dos biomas analisados;

Refletir sobre os principais problemas e conflitos ambientais

nos diferentes biomas estudados e formas de trabalhar a

Educação Ambiental nos mesmos.

Aula 3 | Biomas brasileiros 96

A constituição dos biomas

O QUE SÃO

Agora que você já estudou um pouco sobre a

Ecologia e principalmente sobre o funcionamento básico

dos ecossistemas, vamos avançar para um novo

conceito – o de bioma. Inicialmente, vamos aproveitar

para deixar claro: biomas e ecossistemas não são a

mesma coisa. Muita gente costuma confundir uma coisa

com a outra.

Pelo visto, a chave para entendermos a idéia de

bioma está em seu tipo de vegetação. Mas o que

poderia fazer uma determinada vegetação predominar?

Um dado interessante e a primeira pista para você,

leitor, é que as zonas vegetacionais coincidem com as

zonas climáticas.

EXERCÍCIO 1

Se é assim, parece que um bom caminho será

investigarmos de que modo se compõe essas zonas

climáticas. Liste aqui os elementos que você julga

comporem o clima:

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

De maneira resumida a fórmula do clima resulta

de:

Fenômenos meteorológicos (atmosféricos)

+ alterações provocadas por fatores modificadores

Dica da professora

Convém sempre começar o estudo de um novo tema pelo dicionário. E o Aurélio Eletrônico nos diz que bioma é uma grande comunidade, ou conjunto de comunidades, distribuída numa grande área geográfica, caracterizada por um tipo de vegetação dominante.

A constituição dos biomas 96 Os ecossistemas dos biomas brasileiros 102

Aula 3 | Biomas brasileiros 97

Vejamos. Classificamos como elementos

meteorológicos a água, a luz, o vento, a temperatura, a

umidade relativa etc. E entendemos por fatores

modificadores a latitude, a altitude, a sazonalidade, a

continentalidade, entre outros.

A cada 100 metros de altitude há uma redução

de 0,6o C. O ar quente retém água, e a água retém

calor.

Ar frio

Ar árido

Retenção de vapor d´água

Circulação de calor

CONCEITOS A SABER. ANOTE!

Segundo o Aurélio:

Latitude: Na esfera terrestre, ângulo que faz com o

plano do equador terrestre o raio que passa por

determinado observador ou determinada localidade;

arco do meridiano compreendido entre determinado

observador ou determinada localidade e o equador

terrestre; latitude terrestre.

Altitude: Altura em relação ao nível do mar.

Sazonal: Próprio de, ou que se fica em uma sazão

ou estação. Portanto, sazonalidade seria como dizer

“estacionalidade”, ou seja, o tanto que a mudança

das estações interfere no clima. É interessante

lembrar que esta mudança ocorre em função do

movimento terrestre de translação (volta em redor

do Sol).

Continentalidade: pode ser traduzida como quanto

de terra envolve uma região ou então quanto um

determinado ponto se encontra distante do mar.

Uma região situada no centro do continente

certamente está sujeita a temperaturas e umidade

bastante diversas daquelas que ocorrem à beira-mar.

Aula 3 | Biomas brasileiros 98

O fator altitude pode sobrepujar o fator latitude.

Por exemplo: uma montanha de 5000 metros no

Equador teria floresta tropical na base e tundra no

ápice. Quanto maior a altitude menor o porte das

plantas, pois elas estarão mais sujeitas ao vento, ao sol

e a uma menor umidade.

Devido à forma elíptica da Terra gera-se um

aquecimento diferencial que por sua vez influi na

formação de um gradiente de pressão. Com o

encontro de ar frio e quente as massas de ar se

movimentam horizontalmente (fenômeno denominado

de advecção). Mas existe também a circulação

vertical. Se considerarmos a situação do Equador, o ar

quente tende a subir (movimento vertical) e dirigir-se

aos pólos (movimento horizontal). À medida que se

desloca, a capacidade da massa de ar de retenção de

vapor d´água diminui, até que há uma condensação e

chove no caminho, esfriando, então, o ar.

Assim, o planeta tem suas zonas de vegetação

distribuídas conforme as condições climáticas,

sobretudo a latitude. Na região de latitudes

intermediárias entre florestas e desertos encontramos

desde savanas até formações campestres. As células de

circulação de ar decorrem principalmente da latitude. À

medida que nos dirigimos para os extremos, luz, calor e

umidade diminuem.

Uma curiosidade com relação aos ventos é que

sua produção também depende do movimento de

rotação da Terra. São justamente as correntes

oceânicas as principais responsáveis pela distribuição

do calor absorvido pelos Trópicos e também por levar o

frio polar para as regiões tropicais, fazendo assim um

balanceamento da temperatura planetária. A mudança

das correntes de ar alterando as correntes oceânicas

acarretariam, por exemplo, fortes tempestades

tropicais e furacões que atingiriam hoje o Caribe se

Você sabia?

Os ventos se formam a partir das diferenças de pressão e temperatura entre as camadas do ar. Se uma massa de ar de alta pressão ou de baixa temperatura se dirigir rumo a uma região de baixa pressão, formam-se ventos verticais. Mas esse tipo de vento também se forma quando a camada de ar quente próxima ao solo sobe (é mais leve), sendo substituída por outra mais fria, que desce. A formação dos ventos horizontais

se dá de forma semelhante: o ar quente sobe e em seu lugar entram as massas de ar frio. A diferença para os ventos verticais é que o ar frio vem de massas vizinhas e não de cima. (Superinteressante, nov/01)

Aula 3 | Biomas brasileiros 99

mudassem seu destino para o Marrocos, Portugal e

Espanha, pois os ventos do Atlântico Norte soprariam

para leste. A região do Saara receberia muita chuva,

carregada pelos ventos úmidos e quentes do Atlântico.

E como você sabe, as plantas e animais vivem em

lugares aos quais se adaptaram, onde o clima, o

alimento e o abrigo estão de acordo com suas

necessidades.

No tocante à continentalidade, quanto mais

vamos para o interior do continente, menos vapor

d´água encontramos, pois o solo se aquece e perde

calor mais rapidamente que o líquido. Então:

O resultado desse movimento de calor é a

formação de uma célula de circulação de ar.

Considerando as características que citamos até

agora, podemos verificar como se associam vegetação

e zonas climáticas:

Equatorial úmida com variações diurnas.

Outras variações podem existir, como por exemplo a

sazonalidade, mais atuante em regiões distantes da

faixa equatorial. Essas variações estacionais são bem

mais rígidas devido a sua permanência. Isto significa

que as regiões com variações diurnas são mais

estáveis. A vegetação típica é a floresta pluvial tropical

sempre-verde. O Brasil localiza-se na região equatorial

e possui clima e vegetação equatorial também. A zona

equatorial fica dentro da tropical, no entretanto, é

interessante separar a vegetação equatorial da tropical

e da subtropical (sul do país). A zona equatorial pode

ser caracterizada por ter mais que 2000 mm de chuva

ao ano. Sua seca dura de 2 a 3 meses, mas não altera

a média de precipitação (chuva). A temperatura média

é de 25o e a amplitude térmica é de mais ou menos 5o.

No sul esta alternância chuva/seca deixa de existir. A

Você sabia?

De dia: continente (terra) é mais quente que água (mar). De noite: o mar é mais quente que a terra.

Aula 3 | Biomas brasileiros 100

região é permanentemente úmida, devido à

combinação dos fatores latitude-altitude.

EXERCÍCIO 2

Você conhece as características de uma floresta

temperada? E de uma tropical? Procure investigar por

que dizemos que a floresta tropical é dotada de uma

diversidade biológica muito maior do que a floresta

temperada. De fato, isso ocorre. Agora pesquise e

explique por quê.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Tropical úmida - árida: savanas (chuva e seca

alternadas). No Brasil não há savanas, devido à

altitude.

Árida - subtropical: deserto. Os desertos

ocorrem nas regiões próximas aos 30o de latitude.

Árida - úmida: floresta temperada.

Úmida temperada quente: floresta

temperada.

Temperada típica: floresta temperada.

Árida temperada: deserto frio.

Temperada fria: taiga (florestas de coníferas).

Polar: tundra (líquens, algas e plantas de ciclo

muito rápido, pois a água sólida – gelo – desfavorece o

desenvolvimento da vegetação).

Aula 3 | Biomas brasileiros 101

Genericamente, dizemos que a aparência da

vegetação, o visual paisagístico composto por ela,

recebe o nome de bioma. É provável que agora você já

tenha deduzido que cada bioma pode abrigar diversos

ecossistemas. Não? Então observe os exemplos a

seguir:

Floresta paludosa: possui o solo alagado

periodicamente (mata de várzea) ou

permanentemente (igapó). Pode ocorrer em

regiões marítimas, revelando-se ao modo de

um manguezal. Quando situada na região

austral do país fica próxima a rios. E nas

zonas litorâneas abriga plantas arenosas de

mata pantanosa. Só aqui já foram citados 4

exemplos de ecossistemas num mesmo

bioma.

Floresta pluvial: compreende diversas

matas com diferentes características, mas

que possuem em comum alto índice de

pluviosidade. Exs.: floresta de tabuleiros,

floresta baixo-montana, Floresta Atlântica,

floresta de araucárias, capões, ripárias, ticket

esclerófilo amazônico.

Floresta estacional: é pobre e caducifólia (isto

é, suas plantas perdem as folhas na estação seca ou no

inverno). Também pode ser perenifólia (folhas perenes,

ou seja, que não caem antes das novas terem se

desenvolvido) decídua e semidecídua. Como

exemplos temos: a) a floresta de ticket, composta por

arbustos e árvores pequenas sobre solo raso, situada

em morros baixos próximos ao oceano, tal como no

caso da restinga (tipo esclerófilo litorâneo) e do sertão

(tipo lenhoso, espinhoso, caducifólio); b) savana (que é a

interface entre campo e floresta), formada por

gramíneas e arbustos pequenos, tendo no Brasil seu

Quer saber mais?

A denominação decídua e semidecídua se refere ao tempo de queda das folhas. A decídua é precoce.

Aula 3 | Biomas brasileiros 102

correspondente no Cerrado; c) campo, que é composto

por uma vegetação rala e pouca água – é o caso do

gramado, do pampa, do potreiro.

Apesar destes exemplos é bom ficar atento: o

tipo de folha (perene ou caduca) pode indicar a região,

mas não defini-la, já que a regulação pode ser de

ordem morfológica mas também pode ser fisiológica.

A umidade é um fator de grande importância

nas formações vegetais. Se houver um saldo positivo

de água a vegetação torna-se de maior porte. Se não,

a evolução da comunidade não caminha para as formas

finais da sucessão ecológica, podendo estacionar.

Portanto, uma lembrança importante é que nenhum

bioma e nenhum ecossistema tem sempre a mesma

“cara”. Conforme ocorrem alterações no clima, no solo,

nas relações a fisionomia dos biomas vai mudando. É

um engano achar que a vegetação tem de ser como um

quadro e ter sempre a mesma aparência. A vida das

pessoas é muito mais curta que o tempo de

desenvolvimento de um bioma. Por isso, podemos ter a

impressão de que as coisas devem permanecer sempre

do mesmo jeito.

Os ecossistemas dos biomas brasileiros

Você vai conhecer agora os principais biomas

brasileiros e dentro deles, os ecossistemas mais

significativos. Começando pela região Norte, temos a

Floresta Amazônica, seguida pela Mata Atlântica na

costa, Cerrado, Caatinga e Pantanal no interior,

Florestas de Araucária e Pampas no Sul, além da zona

costeira e das regiões de transição.

Dica da professora

Este assunto de que tratamos está na aula de Estudos de Ecossistemas. Se precisar, reveja o conceito.

Aula 3 | Biomas brasileiros 103

A FLORESTA AMAZÔNICA

Esta região é composta por diversos setores:

Ocidental ou andino

Meridional ou Brasileiro

Setentrional ou Guianense

Oriental ou Meio-Norte

As águas pretas ocorrem onde crescem as matas

de igapó. E as águas brancas, nas matas de várzea.

A vegetação amazônica se divide em: a)

florestal, que inclui a mata-de-terra-firme, a mata de

igapós e a mata de várzea; e b) campestre, que abarca

os campos de terra firme e os campos de áreas

inundadas (várzeas). A localização das matas está

extremamente vinculada ao leito de um rio. Ou seja, na

parte alta, as terras nunca sofrem inundações. Já na

porção baixa há uma permamente inundação, enquanto

que a várzea é inundada apenas temporariamente

(cheias) e depende de outros fatores, como a época e a

temperatura.

Os riachos afluentes recebem o nome de

igarapés (são o equivalente do coricho pantaneiro).

As matas de terra firme podem ser sempre-

verdes (têm folhas perenes), semidecíduas. As

campinas amazônicas possuem folhas pequenas,

revolutas (margens enroladas para a face inferior) e

coriáceas (endurecidas como couro), em função da falta

de minerais do solo, constantemente lixiviado pela

chuva. A proteção das folhas contra a lixiviação, por

estranho que possa parecer, vem dos fungos, algas e

outros organismos que crescem sobre elas.

Você sabia?

De acordo com a classificação da organização não-governamental Conservation International, a Amazônia está entre as maiores regiões naturais em área florestal, atrás apenas das imensas florestas boreais da Rússia, Canadá e Alasca, que se estendem por dois continentes.

Aula 3 | Biomas brasileiros 104

Mas se o solo amazônico é tão pobre, como

pode sustentar uma floresta de proporções tão

gigantescas?

Quando as estradas bloqueiam os igarapés

(riachos, lembra?), as árvores que não têm estrutura

adaptada a inundações permanentes morrem. Pode

ocorrer, então, um novo processo de sucessão

ecológica, alimentado por estas águas ricas

organicamente, devido ao apodrecimento das árvores.

A maior parte das plantas se estabelecem no

solo arenoso, de modo que os nutrientes ficam na

superfície do solo, na parte aérea da planta (copa e

galhos) e em seu corpo. Quando as árvores se

encontram distantes uma das outras, o solo permanece

arenoso. Portanto, a retirada brusca da mata não

promoveria uma “desertificação” da Amazônia. O

problema é a freqüência do distúrbio. O solo, apesar de

arenoso e sujeito à lixiviação, conta com o transporte

de nutrientes pela chuva e fumaça, com um grande

banco de sementes e com a alta taxa de chuva.

Se olharmos do alto as copas da floresta,

chamadas tecnicamente de dossel, certamente

imaginaremos troncos muito largos, pois a exuberância

é enorme. No entanto, a pouca luminosidade e a falta

de minerais do solo produzem troncos

proporcionalmente finos em relação às copas. Em

outras palavras, num primeiro momento ocorre um

aumento de nutrientes, mas em seguida, numa

progressão geométrica, a lixiviação aumenta.

Os ecológos costumam estudar as florestas a

partir de uma divisão didática em camadas que vão do

solo ao dossel. Em cada uma dessas camadas, ou

estratos, encontram-se presentes diferentes espécies.

Dica da professora

Se você se fez esta pergunta, muito bem! Sinal de que está atento(a). E a resposta é interessante: a solução veio das formigas. Das formigas?! Pois é. Associadas às plantas, que lhes dão abrigo (ninho nos pecíolos e raízes), as formigas conseguem manter um certo nível mineral e de solo nas plantas, ao mesmo tempo em que as protegem de serem comidas por outros animais.

Dica de leitura

Um livro clássico para quem deseja conhecer mais sobre os ecossistemas amazônicos e seu funcionamento é o de FERNANDES, A. G. e BEZERRA, P. Fortaleza: Stylus comunicações, 1990.

Aula 3 | Biomas brasileiros 105

Os insetos, animais conhecidos por estarem

entre os mais adaptáveis do planeta, ocupam todos os

estratos da floresta. Os animais rastejadores que não

conseguem subir locais íngremes, os anfíbios e também

aqueles com capacidade para subir em locais íngremes

exploram os níveis baixos e médios. Os locais mais

altos são explorados por beija-flores, araras, papagaios

e periquitos à procura de frutas, brotos e castanhas. Os

tucanos, voadores de curta distância, exploram as

árvores altas. O nível intermediário é habitado por

jacus, gaviões, corujas e centenas de pequenas aves.

No extrato terrestre estão os jabutis, cotias, pacas,

antas etc. Os mamíferos aproveitam a produtividade

sazonal dos alimentos, como os frutos caídos das

árvores. Esses animais, por sua vez, servem de

alimentos para grandes felinos e cobras de grande

porte.

Mais do que uma floresta, a Amazônia é também

o mundo das águas onde os cursos d’água se

comunicam e sazonalmente sofrem a ação das marés.

A bacia amazônica - a maior bacia hidrográfica do

mundo com 1.100 afluentes - cobre uma extensão

aproximada de 6 milhões de km2. Seu principal rio, o

Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano

Atlântico, lançando no mar, a cada segundo, cerca de

175 milhões de litros de água. Só para dar uma idéia, a

vazão do Amazonas corresponde a 20% da vazão

conjunta de todos os rios da Terra.

Com relação aos animais da região, o maior

deles é o peixe-boi, cujo peso pode alcançar meia

tonelada, com seus 3 metros de comprimento. Tudo na

Amazônia é magno: a sucuri chega a medir 10 metros

de comprimento; o pirarucu (maior peixe de água

doce) dois metros e meio e 250 quilos. Conforme a

ONG Conservation International, existem pelo menos

45.000 espécies de plantas, 1.800 espécies de

Quer saber mais?

De acordo com a organização não-governamental (ONG) internacional WWF, a vida e a reprodução de mais de um terço das espécies existentes no planeta dependem da Amazônia. Porém, como você viu há pouco, apesar dessa riqueza, os ecossistemas locais são frágeis, pois a floresta vive do seu próprio material orgânico, em meio a um ambiente úmido, com chuvas abundantes. Seu equilíbrio pode ser facil e gravemente afetado.

Aula 3 | Biomas brasileiros 106

borboletas, 3.000 espécies de abelhas, 1.300 espécies

de peixes de água doce, 163 espécies de anfíbios, 14

espécies de quelônios, 4 espécies de jacarés, 89

espécies de lagartos, 305 espécies de serpentes, 1.000

espécies de aves e 311 de mamíferos. A maioria das

espécies não está amplamente distribuída na região. Ao

contrário, elas se concentram em algumas áreas. O

quer dizer que, quando alguém compara duas ou mais

localidades dentro da região, encontra espécies

diferentes. As mais ameaçadas são a onça e o mogno.

Nesta rica floresta, encontram-se 2.500 espécies

de árvores (o que significa um terço da madeira tropical

do globo) e 30 mil das 100 mil espécies de plantas

existentes em toda a América Latina. A vitória-régia,

um dos símbolos amazônicos, é a maior flor do mundo,

podendo chegar a 2 metros de diâmetro.

Assim, o uso dos recursos florestais tem sido

visto estrategicamente para o desenvolvimento da

região. Como afirma a ONG WWF, as estimativas de

estoque indicam um valor de não menos que 60 bilhões

de metros cúbicos de madeira em tora de valor

comercial, ou seja, a maior reserva de madeira tropical

do mundo. Além dos grandes estoques de madeira, a

região também é privilegiada em termos de borracha,

castanha, peixe, minérios e outros. Tem uma baixa

densidade demográfica (2 habitantes por km2) e sua

urbanização é crescente.

Uma das maiores contribuições de sua

população é a riqueza cultural, que inclui o

conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de

explorar esses recursos sem esgotá-los nem destruir o

habitat natural. Mas os baixíssimos índices sócio-

econômicos, os obstáculos geográficos, a falta de infra-

estrutura e tecnologia elevam o custo da exploração.

Quer saber mais?

Em termos de problemas, a atividade agrícola não-sustentável, com queimadas, desmatamento e assentamentos em áreas preservadas, e a extração madeireira, além de obras viárias e outras de grande porte, como barragens e usinas, continuam sendo

campeãs, sobretudo porque os estoques asiáticos de madeira começam a se esgotar.

Aula 3 | Biomas brasileiros 107

No caso da agricultura, inúmeros imigrantes

chegaram à região, principalmente a partir dos

incentivos governamentais da década de 1940,

trazendo métodos inadequados de cultivo às

características regionais. A retirada de cobertura

florestal do solo pobre leva a uma drástica diminuição

da produtividade após dois ou três anos de plantio, o

que faz com que pequenos agricultores se mudem para

outras áreas de colonização mais para o interior da

mata, repetindo o ciclo de desmatamento, queima e

cultivo, bem como a degradação do solo, tal como

antes aconteceu com a Mata Atlântica. Esse tipo de

ocupação já promoveu a eliminação de

aproximadamente 550 mil km2 de floresta.

Segundo o WWF, o Governo, em relatório

elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos -

ligada à Presidência da República - reconhece que 80%

da produção madeireira da Amazônia provêm da

exploração ilegal. Existem 22 conhecidas madeireiras

estrangeiras em operação local e pouco se fiscaliza sua

produção e área explorada. O desperdício da madeira,

que gira entre 60% e 70%, agrava ainda mais a

situação – sendo que apenas trabalhando com o

manejo florestal a perda se reduziria em quase 50%.

Apesar de nossa moderna legislação ambiental,

a insuficiência de pessoal dedicado à fiscalização, as

dificuldades em monitorar grandes áreas de difícil

acesso, a fraca administração das áreas protegidas e a

falta de envolvimento das populações locais contribuem

para a degradação da floresta.

Pesquisas e a prática demonstraram que a

exploração sustentável da floresta na Amazônia é muito

mais rentável e geradora de empregos do que outras

atividades que têm sido priorizadas pelos sucessivos

governos, como a agropecuária. É um problema em

parte devido ao tratamento setorial dispensado à

Importante

Outro problema bastante conhecido é a atividade mineradora, cujas graves

conseqüências incluem a erosão do solo, a contaminação dos rios com mercúrio e o decorrente envenenamento das cadeias alimentares, em cujo topo freqüentemente encontra-se o próprio ser humano.

Aula 3 | Biomas brasileiros 108

Amazônia, que sequer considera a informação gerada

pelos próprios técnicos governamentais.

A tradição governamental de desenvolver

megaprojetos de infra-estrutura na Amazônia

incrementa a degradação ambiental, com o agravante

de sequer beneficiar os habitantes. Um exemplo disso

são as grandes usinas hidrelétricas, como Balbina, ao

norte de Manaus, que demonstrou sua inviabilidade

econômica e ecológica em todo o mundo.

Segundo cálculos da WWF, mais de 12% da área

original da Floresta Amazônica já foram destruídos

devido a políticas governamentais inadequadas,

modelos inapropriados de ocupação do solo, ocupação

desorganizada e uso não-sustentável dos recursos

naturais. Pelas estimativas oficiais, até 2020 a

Amazônia terá perdido 25% de sua cobertura nativa.

Apesar de todos os problemas, em comparação

com os demais biomas brasileiros, a Amazônia é o que

detém o maior número de áreas de proteção integral

(26) e o maior percentual de florestas oficialmente

protegidas (3,2% da área total do bioma). Falta, no

entanto, a proteção sair do papel, pois apenas 0,38%

da área dos parques e reservas está minimamente

protegida de fato.

MATA ATLÂNTICA

A origem da Mata Atlântica é curiosa. O que se

sabe hoje é que houve uma separação entre ela e a

mata amazônica, mas há intensa correlação entre as

espécies – o que sugere uma ligação anterior entre as

duas florestas. A Floresta Atlântica é considerada

relíquia paleobotânica, uma representante de épocas

pré-históricas, resultante de um tempo geológico em

que as araucárias predominavam no Brasil, um período

Para navegar

No site da Conservation International http://www.conservation.org.br/onde/amazonia/index.php você poderá encontrar informações sobre as áreas protegidas da Amazônia e sobre os corredores do Amapá, Central, Sul-Amazônico e Ecótones Sul-Amazônicos.

Aula 3 | Biomas brasileiros 109

em que aqui fazia muito frio. Hoje as araucárias se

encontram no sul do país. Muitos cientistas propõem

que elas sejam um elemento de transição num

processo de sucessão ainda não terminado.

O bioma atlântico tem muitas epífitas (aquelas

plantas que crescem em cima de outras sem prejudicá-

las, como as orquídeas e bromélias) e cipós, o que não

existe na Amazônia. Se considerarmos a quantidade

absoluta (total) de espécies a floresta amazônica é

mais rica do que a Mata Atlântica. Contudo, quando se

observam manchas endêmicas ou se considera por

área, a Mata Atlântica ganha. A Amazônia possui

apenas dois terços do que a Mata Atlântica tem em

diversidade. Por quê?

Uma curiosidade que ilustra a grande

biodiversidade do bioma e sua riqueza pontual resulta

do estudo de 1993, realizado por técnicos do Jardim

Botânico de Nova Iorque, segundo o qual a região da

Reserva Biológica de Una, no sul da Bahia, possui a

maior diversidade de árvores do mundo, com 454

espécies diferentes num só hectare de floresta. Outro

recorde em uma amostra de mesmo tamanho fica com

o estado de Espírito Santo: 476 espécies na região

serrana. Para a Conservação Internacional, há

indicadores de que o bioma possui cerca de 20 mil

espécies vegetais, metade delas endêmicas. Além

disso, mais de 2/3 dos primatas também são espécies

endêmicas e ameaçadas de extinção.

A proximidade do oceano exerce influência

decisiva nas características da Mata Atlântica. Existe

uma variação fisionômica muito grande, devido ao seu

relevo diversificado (planície, planalto, serra...).

Partículas arenosas e ventos úmidos intensos são

comuns nesta mata. Até 700m a Floresta Atlântica

pode ser classificada de baixo-montana e de lá até

1600m recebe o nome de alto-montana. Quanto mais

Quer saber mais?

Neste momento de nosso estudo, verificamos que um dos fatores importantes é o clima, pois o gradiente latitudinal é muito maior ao

longo da Floresta Atlântica, já que ela se estende por toda a costa do país. Outro fator é o relevo. Na Mata Atlântica há uma variação de 0 a 1600 metros, enquanto que a Amazônia é uma grande planície.

Para navegar

Para saber mais informações sobre a Mata Atlântica, inclusive acessando um atlas brasileiro da mesma, vale a pena consultar o site da ONG SOS Mata Atlântica. http://www.sosmatatlantica.org.br/

Aula 3 | Biomas brasileiros 110

alto, mais seco e com solo mais pobre. Mesmo havendo

locais mais altos do que 1600m já não há floresta

densa mais. Só campos e algumas poucas plantas.

Mas onde fica essa mata? Ela abrange a faixa

litorânea e o sistema topográfico altitudinal, formando

duas subprovíncias – a litorânea ou costeira e a serrana

ou driádica. Na região serrana a mata se divide em

Cordilheira Marítima e Planalto Meridional. Em

esquema:

Em cada setor destes, o bioma se comporta de

modo diferente, devido às condições locais. Abriga

distintos ecossistemas e sistemas de transição. Nas

encostas o clima está sujeito às frequentes chuvas

orográficas, enquanto no interior o clima vai ficando

mais seco, podendo até ocorrer temporadas de seca.

Numa mesma encosta podemos encontrar matas

decíduas e semidecíduas. A altitude promove a

formação de vários andares de vegetação, sendo que

nos mais altos encontramos os campos rupestres

(plantas anãs sobre rochas ou em solo raso e pobre) e,

nos mais baixos, as matas de transição. Nesta situação

a altitude se sobrepõe à latitude quanto à influência. Na

porção mais baixa estão as matas pluviais.

No Planalto Meridional podem ser encontradas

matas de araucária, florestas e matas subtropicais. A

mata de araucária é uma mata de borda, uma fase de

transição da Mata Atlântica, como dissemos. Imagina-

se que a Mata Atlântica chegou ao sul do país graças às

araucárias. “Mas como assim?”, você deve estar se

Mata Atlântica

Cordilheira Marítima Planalto Meridional

Faixa litorânea (subprovíncia litorânea)

Sistema topográfico de altitude (subprovíncia serrana)

Aula 3 | Biomas brasileiros 111

perguntando. Supõe-se que a gralha azul tenha

disseminado pinhões (as “sementes” das araucárias)

pelo campo, onde a Mata Atlântica não conseguia

avançar. Como a araucária necessita de muita luz

cresceu abundantemente. À medida que a floresta

amadureceu ampliou o sombreamento e isso permitiu o

crescimento de um sub-bosque, que por sua vez,

possibilitou o desenvolvimento da Floresta Atlântica.

Inversamente, a floresta de araucária foi

desaparecendo conforme a Mata Atlântica se instalava.

Vale a pena recordar o processo de sucessão vegetal

para entender melhor isso.

Na Planície Litorânea pode-se ver a restinga, que

é uma vegetação arbórea mais baixa e espaçada, com

ar de seca, devido ao solo, que é arenoso e salino. A

restinga não chega a ser um ecossistema. Ela é um

ecótone (sistema de transição) de Mata Atlântica,

resistente às áreas secas devido à proximidade do mar.

O sal torna o ambiente árido. Pode-se perceber um

gradiente de desaparecimento de vegetação,

começando pelas espécies mais sensíveis à dessecação.

No encontro das águas dos rios com as do mar

podemos observar, no terreno plano que antecede o

acontecimento, uma grande floculação, que acaba por

formar um solo lodoso (manguezal) em que se

desenvolvem gramíneas e rizóforas.

Manchas de Cerrado avançam para a Mata

Atlântica na região sul e sudeste, apesar de serem

quase que insignificantes. As florestas interiores

também podem ser classificadas conforme o grau de

inundação (matas brejosas, ripárias etc).

Considerando que a maior parte da população

brasileira vive na costa litorânea e que historicamente a

agricultura regeu a economia do interior do país, não é

de se admirar que este tenha sido um dos mais

::rizóforas:

Raízes que crescem horizontalmente com geotropismo negativo, possibilitando as trocas gasosas e servindo de suporte a colônias de algas marinhas. Próximo às plantas-mãe desenvolvem-se as sementes que germinam na raiz da mãe, caindo em seguida no solo.

Dica da professora

Consulte as aulas anteriores e lembre-se que as plantas mais resistentes e de vida mais curta costumam ocupar um novo espaço primeiro. Em seguida, os nutrientes que elas deixam no solo e a sombra que proporcionam favorecem a chegada de outras plantas, menos resistentes, porém mais duradouras.

Aula 3 | Biomas brasileiros 112

degradados biomas brasileiros. Só para dar uma idéia,

o estado do Rio possuía, em 1995, Mata Atlântica em

21% de seu território. Até 1998, passou a 16,7%12

(Jornal do CRBio-1, nov.1998).

A velocidade de recuperação da Mata Atlântica é

bem maior do que a de outros biomas porque o solo é

melhor (gnaisse, rochas cristalinas). Mas muitas

espécies já se extinguiram e o solo está em processo

acelerado de erosão. Imponentes árvores são vistas no

que ainda resta deste bioma, como o jequitibá-rosa,

que pode chegar a impressionantes 40 metros de altura

e 4 metros de diâmetro. Outras espécies vegetais

famosas deste bioma são o pinheiro-do-paraná (ou

araucária), o cedro, as figueiras, os ipês, a braúna e o

pau-brasil, entre outras. Mas a fauna costuma ser o

que mais impressiona na região. De acordo com o

WWF, a maior parte das espécies de animais brasileiros

ameaçados de extinção são originários da Mata

Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-

pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Mas

há outros animais que vivem na região, como gambás,

tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, quatis,

diversas espécies de serpentes e de peixes que habitam

os pequenos riachos que permeiam as áreas

florestadas. Muitos deles orientam-se pela visão para

localizar alimento ou parceiros reprodutivos, sendo

incapazes de sobreviver em águas turvas ou claras,

sujeitas à forte luminosidade de corrente da remoção

da floresta. Da mesma forma a retirada da floresta

rompe com a imprescindível manutenção de

temperaturas amenas nos riachos e no solo.

Conforme Elizabeth Höfling

(http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/mei

oamb/arprot/tombadas/pnacion), além dos tapetes de

12

Dados divulgados pela SOS Mata Atlântica, que vem acompanhando há cerca de 15 anos a degradação

ambiental em 17 estados. O estudo foi feito com fotos de satélite fornecidas pelo INPE (Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais).

Quer saber mais?

A seguir, destacamos alguns Parques Nacionais que você encontrará Mata Atlântica: Pq. Nac. de Aparados da Serra Pq. Nac. do Caparaó Pq. Nac. de São Joaquim Pq. Nac. da Serra da Bocaina Pq. Nac. da Serra Geral Pq. Nac. do Iguaçu Pq. Nac. da Serra do Cipó Pq. Nac. do Superagui

Aula 3 | Biomas brasileiros 113

musgos e inúmeros fungos, a Floresta Atlântica

também é muito rica em lianas e epífitas, sendo que as

folhas dispostas em roseta das bromélias retêm sempre

certa quantidade de água, formando um habitat

propício ao desenvolvimento de uma fauna particular,

como por exemplo a de larvas e adultos de várias

espécies de artrópodes e de sapos. Para a autora citada

a fauna nesta floresta é predominantemente ombrófila,

isto é, adaptada à sombra e pouco tolerante às

variações de umidade, temperatura e insolação. O que

significa que a derrubada das matas atinge em cheio

muitas espécies.

A Mata Atlântica, Patrimônio Nacional de acordo

com a Constituição, cobria originalmente mais de 1,3

milhão de quilômetros quadrados do território

brasileiro. Um número tão imenso como este

apresenta dificuldade até para imaginarmos o que

significa. Por isso, a ONG Conservação Internacional fez

os cálculos em termos de áreas de países: o tamanho

original deste bioma corresponderia a uma extensão de

duas vezes o tamanho da França e mais de três vezes o

território da Alemanha. Consulte um mapa, vale a

pena!

Importante

Além da riqueza em vertebrados, há também uma presença marcante de invertebrados, principalmente artrópodes. Muitas espécies, porém, são ainda desconhecidas pela ciência. A julgar pela velocidade da degradação correm o risco de sequer serem descobertas e estudadas. Hoje, o pau-brasil e o mico-leão dourado são consideradas as espécies mais

ameaçadas.

Aula 3 | Biomas brasileiros 114

Na época do descobrimento e nos séculos que se

seguiram sua exuberância marcou profundamente a

imaginação dos europeus, assim como dos colonos, que

a tinham na conta de algo inesgotável. Esta visão, que

ainda sobrevive nos dias de hoje, contribuiu para sua

destruição.

A mata se estendia total ou parcialmente por

dezessete estados, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande

do Norte, originalmente com uma largura variável, que

atravessava as atuais fronteiras com Argentina e

Paraguai.

Hoje, cerca de 92% de sua área original foi

desmatada, restando menos de 8% – distribuídos em

áreas dispersas e fragmentadas. Este fato é o que

acarreta o maior problema, pois a recuperação torna-se

muito mais difícil com a fragmentação. Tanto assim,

que um investimento freqüente e considerado

prioritário atualmente é a formação de corredores

ecológicos e corredores de biodiversidade.

Além de ser um dos biomas mais ricos do

mundo em biodiversidade, esta floresta é fundamental

para os mais de 120 milhões de brasileiros que vivem

em seu domínio. De acordo, com o boletim da

Universidade Livre da Mata Atlântica

(http://www.wwiuma.org.br), na área de abrangência

da floresta é gerado mais de 70% do Produto Interno

Bruto (PIB). Além disso, a Mata Atlântica presta

inestimáveis serviços ambientais, principalmente

relacionados à conservação da água. Abrange as bacias

dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul, Doce,

Jequitinhonha e São Francisco. Algumas de suas bacias

hidrográficas abastecem a maior parte da população

brasileira.

Importante

Este é um alerta para os educadores ambientais. Ao trabalhar com a sensibilização,

informação e mesmo com a educação ambiental propriamente dita convém investigar qual a percepção ambiental das pessoas envolvidas no trabalho. Mais do que a informação, é a percepção dos sujeitos que move suas ações.

Para navegar

Você pode consultar mais detalhes sobre isso nos sites da Conservação Internacional e da Associação Mico-Leão Dourado: http://www.conservation.org.br/onde/mata_atlantica/index.php www.micoleao.org.br

Aula 3 | Biomas brasileiros 115

O impacto sofrido pela Floresta Atlântica foi

favorecido por sua localização, que facilitou a

exploração sucessiva através dos diversos ciclos

econômicos brasileiros – pau-brasil, cana-de-açúcar,

ouro, café, extração de madeira. Além de abrigar a

maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a

área originalmente coberta pela floresta concentra os

grandes pólos industriais, petroleiros e portuários do

país.

Diversas instituições, entre ONGs, universidades

e governo, têm trabalhado pela conservação e

recuperação da Mata Atlântica, enfrentando duas

dificuldades básicas: a) a forte pressão das atividades

econômicas; e b) o fato de ainda conhecermos pouco

sobre a biodiversidade do bioma.

Várias estratégias e ações prioritárias para

conservar a Mata Atlântica já foram criadas. É preciso

mobilizar os vários setores da sociedade

para efetivamente alcançarmos este objetivo. Uma das

fontes de referência para o estado do bioma é o atlas

dos remanescentes florestais da Mata Atlântica, criado

pela Fundação SOS Mata Atlântica juntamente com o

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Desde

1989, ambos vêm mapeando e monitorando os

remanescentes florestais e ecossistemas associados do

bioma, utilizando recursos e tecnologias da área da

informação, sensoreamento remoto e

geoprocessamento para produção de informações

permanentemente atualizadas. O primeiro

mapeamento, em 1990, contou com a participação do

IBAMA e tornou-se referência para pesquisas

relacionadas ao tema.

O CERRADO E A CAATINGA

A extensa região central do Brasil compõe-se de

Aula 3 | Biomas brasileiros 116

um mosaico de tipos de vegetação, solo, clima e

topografia bastante heterogêneos.

O bioma aparenta uma “savana tropical”,

coexistindo sua vegetação herbácea com mais de 420

espécies de árvores e arbustos esparsos. Já a Caatinga,

que em tupi quer dizer Mata Branca (em referência à

vegetação sem folhas que predomina durante a época

de seca), ocupa quase 10% do território nacional, com

736.833 km², abrangendo os estados do Ceará, Rio

Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe,

Alagoas, Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas

Gerais.

O Cerrado caracteriza-se por suas diferentes

paisagens, que vão desde o cerradão (com árvores

altas, densidade maior e composição distinta),

passando pelo cerrado mais comum no Brasil central

(com árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado,

campo sujo e campo limpo (com progressiva redução

da densidade arbórea).

O Cerrado, denominação genérica do bioma,

forma-se (no sentido da sucessão ecológica) a partir do

campo limpo, que evolui para campo sujo, torna-se

cerrado senso estrito e finalmente cerradão (formação

mais florestal). Cada etapa destas pode se desenvolver

ou não, de acordo com as condições do solo e as

perturbações (fogo, corte) que ocorram. O bioma como

um todo compreende todas estas variadas formas de

apresentação, sendo que o formato savânico dos

campos sujos e cerrado senso estrito constituem

ecossistemas de transição (ecótones) entre os

extremos do campo limpo (onde só econtramos

vegetação herbácea) e da formação florestal do

cerradão.

O cerrado propriamente dito se diferencia do

campo limpo por sofrer queimadas e outros distúrbios e

Quer saber mais?

Neste cenário, o cerrado, enquanto formação vegetal brasileira, ocupa o segundo lugar em tamanho de área, somente superado pela Floresta Amazônica. São 2 milhões de km2 espalhados ao longo de 10 estados, aproximadamente 23% do território brasileiro.

Quer saber mais?

É deste modo que se formam as chapadas. Com a laterização há o impedimento do processo erosivo prosseguir na camada superior. No entremeio das chapadas, onde os terrenos continuaram sendo erodidos, situam-se os rios, entre eles os principais rios das bacias Amazônica, da Prata e do São Francisco.

Aula 3 | Biomas brasileiros 117

por possuir um solo sujeito à ação físico-química tóxica

do alumínio e do ferro. A profundidade do solo

relaciona-se ao local onde se situa o terreno, à

exposição maior ou menor aos ventos e à antiguidade

desta exposição. Ferro e alumínio só aparecem após

larga exposição à erosão, e, assim, formam-se como

que tijolos (as lateritas) cimentando o solo (areia, ferro

e alumínio), em uma situação irreversível.

Das cabeceiras até as proximidades do mar, os

rios com nascente na região da Caatinga permanecem

secos por cinco a sete meses do ano, exceto o canal

principal do São Francisco, que mantém seu fluxo

através dos sertões, com águas trazidas de outras

regiões. Quando chove, no início do ano, a paisagem

muda muito rapidamente: árvores revestem-se de

folhas, no solo pequenas plantas germinam, a fauna

volta a engordar. São quase 20 milhões de brasileiros

vivendo nos cerca de 800 mil km2 de área da Caatinga.

Quando não chove, os sertanejos precisam caminhar

quilômetros em busca da água dos açudes. A

irregularidade climática é um dos fatores que mais

interferem na vida destas pessoas. Mesmo quando há

chuva, o solo pedregoso não armazena a água, logo

evaporada pela alta temperatura local. Na estação seca

a temperatura do solo pode chegar a 60ºC.

A característica vegetação pequena e retorcida

do cerrado não se deve à falta de água, mas à pobreza

mineral do solo, ocasionada pelo tipo de erosão, tempo

de sujeição a ela, lixiviação e também pela presença

dos semi-óxidos já citados (ferro e alumínio). É o

oposto do que ocorre na caatinga, cujo solo é rico,

contudo sofre pela falta d´água. A caatinga é região de

clima semi-árido e solo raso e pedregoso, embora

relativamente fértil. Como o cerrado é rica em recursos

genéticos, devido a sua alta biodiversidade e apresenta

três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5

Importante

As lateritas trazem um agravante à pobreza do solo do Cerrado: indisponibilizam os outros elementos para a planta, como fósforo, enxofre e principalmente nitrogênio, implicando diretamente numa menor altura da vegetação. Com isso, a formação não se desenvolve para florestas.

Aula 3 | Biomas brasileiros 118

metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros).

As plantas do cerrado possuem raízes muito

profundas, de maneira que a diminuição do lençol

freático nas épocas secas não constitui problema,

exceto para as herbáceas. Com essa grande

disponibilidade de luz e água a taxa de fotossíntese

mantém-se num alto nível. De modo que pode haver

problema de crescimento primário, mas não secundário

– o acúmulo de carbono forma uma casca grossa e

espinhos. Quando retiradas desse ambiente diversas

espécies se desenvolvem diferentemente, apresentando

cascas lisas, delgadas, maior altura, o que revela que

possuem um potencial para mais do que podem

expressar nestas condições de restrição ambiental. Isso

significa que há plantas que são obrigatoriamente do

Cerrado, mas há outras que são facultativas.

Na Caatinga, ao longo de milhares de anos de

processo evolutivo, houve uma perda do formato

convencional das folhas. As plantas adotaram uma

versão mais econômica para se proteger da aridez, que

permite economizar água, sem perder a capacidade de

fazer fotossíntese: formatos finos ou de espinhos. Esse

aspecto agressivo da vegetação contrasta com o

colorido diversificado das flores que surgem no período

das chuvas. Algumas armazenam água, como os

cactos. Estas costumam ser plantadas para armazenar

água e alimentar o gado. Outras se caracterizam por

terem raízes praticamente na superfície do solo para

absorver a chuva ao máximo.

Mas apesar da aridez e de seus rios serem

temporários (exceto o São Francisco), a caatinga

surpreende com seus brejos, que rompem com o

cenário uniforme dos sertões. Nessas ilhas é possível

produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares

aos trópicos do mundo. Geralmente, são áreas

Quer saber mais?

Também são encontrados no cerrado elementos de solo recentes, que foram transportados pelo vento ou pela chuva. São as regiões de cerradões.

Aula 3 | Biomas brasileiros 119

localizadas próximo às serras, onde as chuvas são mais

generosas.

O cerrado de campo aberto tem este formato

por ter sofrido intensos distúrbios, como fogo. A

queimada pode até contribuir para liberar nutrientes

presos em folhas e caules podres, além de transportar

outros pela fumaça. Também pode prestar serviços

como a quebra de dormência de certas sementes e a

liberação de hormônios vegetais. Os troncos costumam

ser fortes e resistentes ao fogo, sendo comum a

rebrota pelas gêmulas. Existem gemas apicais (no topo

da planta) e gemas laterais. Sempre que a gema lateral

é atingida (por corte, fogo ou outro revés qualquer) a

gema apical entra em ação e a planta passa a crescer

mais por ali. O mesmo se passa quando a gema apical

é afetada. As laterais passam a funcionar a todo vapor

e neste caso a planta cresce mais para os lados. Com

as queimadas e com a herbivoria, ora uma é atingida,

ora outra. De modo que a planta acaba tendo um

crescimento irregular e torto.

É preciso cuidado quando se faz uma queimada

intencionalmente no Cerrado, verificando aspectos

como: período adequado, tipo de vegetação, proteção

aos tecidos vegetais nobres (como os meristemas). No

final do período de seca a planta se prepara para a

chuva (ou seja, as gemas começam a crescer). Uma

queimada neste momento é prejudicial.

Ao longo dos rios do Cerrado há fisionomias

florestais, conhecidas como florestas de galeria ou

matas ciliares. A heterogeneidade proporciona o

aparecimento de muitas comunidades de mamíferos e

de invertebrados. Mas na região a relevância maior fica

para a diversidade de microorganismos, tais como

fungos associados às plantas da região.

Quer saber mais?

Dormência é o processo semelhante a uma hibernação, que ocorre com sementes. Neste período a semente não consome quase nada de nutrientes e água. Para sair da letargia e iniciar o crescimento a semente precisa passar por um choque que varia conforme a espécie: fogo, ação de sucos digestivos, pancadas entre outros.

Aula 3 | Biomas brasileiros 120

De acordo com a Conservação Internacional, por

fazer fronteira com outros importantes biomas, (a

Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a

sudoeste e a Mata Atlântica a sudeste) a fauna e flora

do Cerrado são extremamente ricas. Como aponta o

WWF, o Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado

por três das maiores bacias hidrográficas da América do

Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), o que favorece

uma biodiversidade surpreendente: 10 mil espécies de

plantas (muitas usadas na produção de cortiça, fibras,

óleos, artesanato, além do uso medicinal e alimentício),

180 espécies de répteis, 195 de mamíferos, incluindo

30 espécies de morcegos já catalogados na área. Sem

falar nas 759 espécies de aves que se reproduzem na

região. Os insetos são marcantes: considerando apenas

a área do Distrito Federal podemos encontrar 90

espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500

tipos diferentes de abelhas e vespas, segundo cálculos

do WWF. Espécies ameaçadas como a onça-pintada, o

tatu-canastra, o lobo-guará, a águia-cinzenta e o

cachorro-do-mato-vinagre, entre muitas outras, ainda

têm populações significativas no Cerrado. Existe uma

grande quantidade de bichos que só aparecem nas

lagoas temporárias. Deixam seus ovos e quando a

lagoa aparece de novo os ovos eclodem. Há sapos que

permanecem enterrados até que chova. Como há muito

calcário existem inúmeras cavernas, quase sempre com

rios subterrâneos.

No caso da Caatinga, são erros comuns referir-

se à sua biodiversidade enquanto homogênea, pobre

em espécies e em endemismo. O bioma inclui pelo

menos uma centena de diferentes tipos de paisagens

únicas. Algumas das espécies mais comuns da região,

conforme as pesquisas do WWF, são a amburana,

aroeira, umbu, baraúna, maniçoba, macambira,

mandacaru e juazeiro. Em termos de fauna podemos

citar o sapo-cururu, asa-branca, cotia, gambá, preá,

Quer saber mais?

Cerrado é o nome regional dado às savanas brasileiras. Cerca de 85% do grande platô que ocupa o Brasil Central era originalmente dominado pela paisagem do cerrado, representando cerca de 1,5 a 2 milhões de km2, ou aproximadamente 20% da superfície do País. O clima típico da região dos cerrados é quente, semi-úmido e notadamente sazonal, com verão chuvoso e inverno seco. A pluviosidade anual fica em torno de 800 a 1600 mm.

Os solos são geralmente muito antigos, quimicamente pobres e profundos. Para outras informações consulte o site: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/ecossist/cerrado/apresent.htm

Aula 3 | Biomas brasileiros 121

veado-catingueiro, tatu-peba e o sagüi-do-nordeste,

entre outros. Cerca de 327 espécies animais são

endêmicas (exclusivas) da Caatinga. Uma área mais

conservada pode abrigar até 200 espécies de formigas,

enquanto nas mais degradadas há de 30 a 40.

Em ambos os biomas há uma grande quantidade

de cactáceas e mata secundária, além de muito lagedo.

As árvores são espinhosas e de flores murchas de vida

noturna. A reprodução da flora no Cerrado é

predominantemente vegetativa, recebendo o auxílio de

cupinzeiros, que mantém as sementes úmidas.

Com a intensa evaporação da água, resta sal

nas plantas, lambido pelos animais. A irrigação em

lugares desse tipo traz uma grande salinização do solo

porque a água evapora logo. Alternativas seriam a

utilização de menos água, a combinação com a

drenagem ou a lavagem do solo (processo mais caro).

Geologicamente, num tempo futuro, o Cerrado

poderá dar lugar a uma formação florestal mais densa

(por substituição), porque com o adensamento da

vegetação gera-se uma serrapilheira (mesmo que

pequena), húmus, sombra e, portanto, um microclina

adequado para a instalação de sementes de locais mais

sombreados ou úmidos.

O solo do Cerrado no Planalto Central tem sido

freqüentemente utilizada para a agricultura, por ser

plano e ter uma vegetação mais aberta que a da

floresta, o que a torna facilmente derrubável. Além da

agricultura, outra atividade econômica nos Cerrados é a

coleta de flores.

No site da Conservação Internacional (CI) há um

alerta sobre a ameaça ao ambiente de Cerrado, uma

das maiores do mundo. De acordo com especialistas da

Quer saber mais?

A caatinga ocupa uma área de 734.478 km2 e é o único bioma exclusivamente brasileiro. Isto significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é encontrada em outro lugar do mundo além de no Nordeste do Brasil. A caatinga ocupa

cerca de 7% do território brasileiro. Estende-se pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais. A área total é de aproximadamente 1.100.000 km². Para outras informações consulte o site: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./natural/biomas/caatinga.html

Aula 3 | Biomas brasileiros 122

CI, dos mais de 2 milhões de hectares de vegetação

nativa restam apenas 20%, pressionados pela

expansão crescente da atividade agropecuária. Seus

estudos indicam que o Cerrado corre o risco de

desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares

originais, 57% já foram completamente destruídos,

estando metade das áreas remanescentes bastante

alteradas, de modo que talvez não mais possam

manter a biodiversidade original. A taxa de

desmatamento do Cerrado é altíssima, chegando a

1,5% ou três milhões de hectares/ano (ou 2,6 campos

de futebol/minuto).

Considera-se a caatinga como único bioma

exclusivamente brasileiro. Ou seja, seu patrimônio

biológico só é encontrado no nordeste brasileiro.

Mesmo assim, o bioma não tem recebido atenção ao se

discutir políticas para o estudo e conservação da

biodiversidade brasileira. Trata-se de um equívoco

atribuir-lhe um estado de pouca alteração. Na verdade,

a Caatinga é o ambiente mais alterado de que se tem

notícia. Foi muito ocupada anteriormente por índios.

Cerca de metade da paisagem de Caatinga,

conforme dados do WWF, já foi deteriorada pela

sociedade atual. De 15% a 20% do bioma estão em

alto grau de degradação. Vive na Caatinga, nos

arredores de Canudos (BA), a segunda ave mais

ameaçada do país, a arara-azul-de-lear

(Anodorhynchus leari), com uma população menor que

150 exemplares, um décimo do ideal no caso de aves

como estas, que demoram a se reproduzir. Algumas

diferenças podem ser evidenciadas entre Cerrado e

Caatinga:

Para navegar

Não deixe de consultar na internet o site da Conservação Internacional. Site: http://www.conservation.org.br/onde/Cerrado

Aula 3 | Biomas brasileiros 123

Cerrado Caatinga

Estação seca longa Grande período seco

Estação chuvosa marcada

(março/abril)

Chuva irregular e muito

concentrada num espaço

de tempo curto

Solo muito poroso e

lixiviado, rico somente a

partir dos 2m de

profundidade – daí as

raízes longas da vegetação

Solo curto,

comproximidade da rocha

matriz

Lençol freático mais raso Lençol freático mais

profundo

Erosão intensa e antiga Rocha pouco erodida

O PANTANAL

O Pantanal detém o título de maior planície

continental inundável do mundo (aproximadamente

210 mil km2 espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai).

Esta área equivale aos países Bélgica, Suíça, Portugal e

Holanda juntos. O bioma abriga uma das maiores

concentrações de vida silvestre do planeta, destacando-

se pela riqueza de sua fauna.

No Brasil, os 140 mil km2 do pantanal

distribuem-se pelos estados de Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul, que concentram cerca de 70% do

bioma. O restante espraia-se em região internacional

onde recebe o nome de Gran Chaco. Com altitudes

variando entre 100 e 200m a planície inundável do

pantanal é circundada no Brasil pelo planalto cristalino

coberto de Cerrado na chamada “depressão paraguaia”.

Chuvas fortes são comuns, contribuindo com o

alagamento peródico proporcionado pelos inúmeros

córregos permanentes (corixos) e temporários

(vazantes) entremeados de lagoas e leques aluviais.

Nas partes mais baixas do terreno as águas são

contínuas, chegando a 3m de profundidade. Nas cheias

estes corpos d´água comunicam-se e mesclam-se com

Você sabia?

De modo geral, as chuvas são mais freqüentes nas cabeceiras dos rios, que depois

deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro), sobe o nível de água do Rio Paraguai, provocando as inundações. Paralelamente, o processo de repete com os afluentes, que atravessam 700 km de território brasileiro. Sem encontrar uma saída, as águas se espalham e cobrem vastas extensões (2/3 do pantanal), até despejarem-se, centenas de quilômetros adiante, no encontro entre o rio e o Oceano Atlântico, já fora do território brasileiro. Nesse enorme mar de água doce crescem milhares de peixes, os pequenos servindo de alimento a espécies maiores ou a aves e mamíferos.

Aula 3 | Biomas brasileiros 124

as águas do Rio Paraguai, renovando e fertilizando a

região. Já nas regiões distantes dos rios as inundações

só atingem os trechos de depressão – baías – que

podem variar de centenas de metros a 10 km de

diâmetro (os chamados largos). As elevações do

terreno, chamadas localmente de “cordilheiras”,

separam as baías. As grandes lagoas que se formam

podem ser salgadas (salinas). Na vazante, grande

quantidade de peixes fica retida nestas lagoas ou baías,

servindo abundantes refeições, durante meses, para

aves e animais carnívoros (jacarés, ariranhas e outros).

Com a vinda da estiagem, secam e tornam-se

barreiros.

Chuva e seca alternam-se no clima tropical do

lugar, cabendo às chuvas o período de novembro a

abril, tal como no cerrado. O equilíbrio do bioma

depende, fundamentalmente, do fluxo de entrada e

saída de enchentes ocasionadas de acordo com o

regime pluvial.

As cheias anuais dos rios da região atingem

cerca de 80% do Pantanal, afastando parte da

população rural que migra temporariamente para as

cidades ou vilas.

Com a vazante, as águas começam a baixar

lentamente. Aos poucos, nas lagoas, já bem rasas,

peixes como o dourado, pacu e traíra podem ser

apanhados com as mãos. O solo, por ser muito

permeável, permite o desaparecimento dos rios em

secas prolongadas. Mas quando o terreno volta a secar

permanece, sobre sua superfície, uma fina camada de

lama humífera (mistura de areia, restos de animais e

vegetais, sementes e húmus) propiciando grande

fertilidade ao solo.

Em função desta localização geográfica

privilegiada, que une características do cerrado, da

Aula 3 | Biomas brasileiros 125

Floresta Amazônica e dos terrenos alagadiços do Chaco

paraguaio, enorme variedade de espécies animais e

vegetais povoa o pantanal. Pelas contas de algumas

organizações internacionais, no bioma pantaneiro

convivem cerca de 3.500 espécies de plantas, a

absurda quantidade de 1.132 espécies de borboletas,

656 de aves (enquanto em toda América do Norte

existem cerca de 500), 124 de mamíferos, 177 de

répteis e 41 de anfíbios. Já foram registradas 325

espécies de peixes de água doce, mas novas espécies

regularmente têm sido descobertas.

E junto com os peixes vêm os pescadores. A

cada ano o Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas,

65% dos quais são pescadores.

Aproximadamente 80% do Pantanal está bem

conservado, abrigando numerosas populações de

grandes mamíferos, aves, peixes e répteis. A adoção da

forma extensiva de pecuária no início do século XIX é

uma das principais razões desta conservação. Outros

fatores que contribuem são a dificuldade de acesso por

estradas e o grande tamanho das propriedades,

associados à baixa taxa de ocupação local e à pouca

atividade de caça.

Mesmo encontrando-se razoavelmente bem

conservado, o Pantanal sofre constantes ameaças,

geralmente relacionadas com a degradação do vizinho

Cerrado (pela intensa produção agrícola), nas chapadas

do qual nascem os principais rios do Pantanal. Caso a

ocupação e a atividade pecuária no Pantanal se

ampliem também representam ameaças pelo

desmatamento e conversão de florestas em pastagens.

A pesca sem controle é outro grande problema.

Agricultura, mineração e ocupação desordenada, em

geral concentradas nas áreas mais altas que circundam

Dica da professora

Para entender o que isso representa em termos de concentração de biodiversidade basta lembrar que em todo o continente europeu o número de espécies de peixes fluviais não passa de 263.

Dica da professora

A vegetação, bem variada, compõe de um mosaico de comunidades de flora mista (boliviano-paraguaias, centro-brasileiras, silvestres do Brasil oriental e da Amazônia), em que há grande diversidade e

descontinuidade.

Aula 3 | Biomas brasileiros 126

o Pantanal, onde nascem os rios, deixam seus detritos

(como os agrotóxicos) e afetam o volume dos rios que

correm para a planície, devido à erosão e

assoreamento. A ONG WWF alerta para as

conseqüências já visíveis: áreas que antes ficavam

alagadas nas cheias e completamente secas quando as

chuvas paravam, agora ficam permanentemente sob as

águas. A situação começou a se agravar nos últimos 20

anos, sobretudo pela introdução de pastagens artificiais

e pela exploração das áreas de mata. As

transformações têm sido lentas, mas significativas, nas

últimas décadas. A instituição aponta ainda para o

problema da construção de hidrelétricas, do turismo

desorganizado e da caça, empreendida principalmente

por ex-peões que, sem trabalho, formam quadrilhas de

caçadores de couro.

Nos anos 1990 uma grande ameaça foi o projeto

de construção de uma hidrovia de mais de 3.400 km

nos rios Paraguai (o principal curso de água do

Pantanal) e Paraná - ligando Cáceres, no Mato Grosso,

a Nova Palmira, no Uruguai. A obra drenaria e mudaria

de curso o Rio Paraguai, a fim de que grandes navios

pudessem atravessar o Pantanal. Apesar do abandono

da idéia de alterar com diques e dragagens o percurso

do Rio Paraguai, a navegação atual ainda apresenta

riscos, pois vem degradando matas ciliares, barrancos,

meandros e o próprio leito do rio. São necessárias

medidas imediatas de recuperação e regulamentação

das embarcações e de controle de tráfego.

O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000,

pela UNESCO, enquanto Reserva da Biosfera. Tal título

representa instrumento de gestão e manejo sustentável

integrado, que permanece sob a jurisdição dos países

nos quais se localizam as reservas.

Dica de leitura

Para aqueles que desejam saber mais sobre o pantanal sugerimos o livro da bióloga Nicia Wendel de Magalhães, da ECO-Associação, uma instituição bastante tradicional em São Paulo. Anote o título: Conheça o pantanal.

Aula 3 | Biomas brasileiros 127

AS FLORESTAS DE ARAUCÁRIA

A mata das araucárias ou pinheiros-do-paraná

(Araucária angustifólia), tecnicamente chamada de

floresta ombrófila mista, ocupava uma grande área,

indo desde o sul de Minas Gerais e São Paulo até o Rio

Grande do Sul, passando pelo noroeste do Rio de

Janeiro e formando cerca de 100.000 km2 de matas de

pinhais. Originalmente, alcançava a Província de

Missiones, na Argentina. A zona de vegetação ocupada

pela Araucária situa-se entre o paralelo 29º 30' sul, no

Rio Grande do Sul (a partir de 400 m de altitude), e o

paralelo 20º sul, em Minas Gerais (altitudes superiores

a 1000 m).

De porte alto, na sua sombra cresciam espécies

como a imbuia, o cedro, a canela e outras. Hoje quase

nada resta das imponentes araucárias. Por mais de 100

anos a mata dos pinhais alimentou a indústria

madeireira do sul. O pinho, madeira bastante popular

na região, foi muito usado na construção de casas e

móveis.

Presente no planeta desde a última glaciação -

que começou há mais de um milhão e quinhentos mil

anos, a Araucaria angustifolia já ocupou área

equivalente a 200 mil km² no Brasil, predominando nos

territórios do Paraná (80.000 km²), Santa Catarina

(62.000 km²) e Rio Grande do Sul (50.000 km²), com

manchas esparsas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de

Janeiro, que juntas, não ultrapassam 4% dessa área

originalmente ocupada.

No Brasil, o limite sul da ocorrência natural

desta conífera situa-se nos bordos da Serra Geral, no

RS. Uma linha leste-oeste, de Torres a Santa Maria,

beirando os contrafortes da serra referida, separa a

Floresta Subtropical da encosta da Floresta de

Araucária. Para conhecer a distribuição da floresta em

Aula 3 | Biomas brasileiros 128

detalhes consulte o apêndice 2.

Alguns estudos indicam que o isolamento de

exemplares tem efeito devastador sobre as araucárias:

implicam na perda de 50% da biodiversidade.

Segundo o professor João de Deus Medeiros13

a mata

de araucária é emblemática por ser a única floresta de

coníferas do mundo dominada por uma única espécie.

O prof. Miguel Guerra, por outro lado, aponta para o

potencial produtivo da espécie, em biomassa, que seria

semelhante ao do pinus, se realizados melhoramentos

genéticos.

Pesquisadores da Universidade Federal do

Paraná analisaram o comportamento do setor florestal

paranaense, quanto à legislação florestal e ambiental

vigente, tendo a Região das Florestas de Araucária

como base produtora. O foco do trabalho foi o processo

de desmatamento das florestas paranaenses, a

evolução fundiária (isto é, da ocupação territorial por

fazendas e demais propriedades) e a situação

socioeconômica do Bioma Florestal com Araucária no

Estado do Paraná, desde o processo de colonização até

a atualidade.

De acordo com a pesquisa, maior eficiência de

preservação poderia ser conseguida mediante a

agregação de novos instrumentos legais e de políticas

públicas, como a criação de novos espaços naturais

protegidos, instituição de incentivos fiscais e a oferta de

linhas especiais de crédito. A tese propõe a criação e

desenho de um programa de gestão florestal, que

contemple a conservação e a recuperação dos

remanescentes florestais de Araucária no Estado, sem

onerar excessivamente a região de influência, nem

refrear o crescimento econômico do setor agroflorestal

regional.

13

http://www.an.com.br/anverde/especial7/pg03.htm

Dica de leitura

PIRES, Paulo de Tarso de Lara. Instrumentos Jurídicos para a gestão das Florestas de Araucárias no Estado do Paraná (tese). Instituto de Pesquisas Florestais. UFPR. Contato: [email protected]

Aula 3 | Biomas brasileiros 129

Sustenta que um uso controlado dos recursos

madeireiros e não madeireiros nas unidades de

conservação de uso sustentável possibilitaria a

autogestão dos espaços naturais protegidos, o controle

dos estoques de madeira na região e,

conseqüentemente, diminuiria a pressão sobre os

remanescentes florestais locais.

O autor sugere algumas leituras aos

interessados em melhor conhecer as florestas de

araucárias. Leia com atenção as dicas de leitura ao

lado.

OS PAMPAS

No sul do país, a vegetação é composta por

campos limpos, as chamadas estepes úmidas. Campo

Limpo é uma expressão para indicar que sua aparência

é bastante uniforme, com o solo coberto de gramíneas

e pequenos arbustos. Situado entre o Rio Grande do

Sul e Santa Catarina, os Campos se estendem por uma

região de mais de 200 mil km2. Na região da

Campanha, no Rio Grande do Sul, são conhecidos por

Pampas. Já no Planalto Gaúcho e Catarinense recebem

o nome de Campos-de-Cima-da-Serra. Nas encostas,

tornam-se mais densos e ricos, entremeando-se com

muita mata. Nestes locais, as chuvas distribuem-se

regularmente pelo ano todo e as baixas temperaturas

fazem diminuir a evaporação, favorecendo o

crescimento de árvores.

A vegetação aberta e de pequeno porte dos

Pampas inicia-se no Rio Grande do Sul mas ultrapassa

as fronteiras com a Argentina e o Uruguai. Tal como os

outros, este bioma também guarda diversos

ecossistemas. Ao descer ao litoral do Rio Grande do Sul

encontramos um dos mais marcantes, os banhados –

alagados com densa vegetação de juncos, gravatás e

Para navegar

Visite o site: www.sosmataatlantica.org.br buscar o Atlas do Remanescente da Mata Atlântica, da Fundação SOS Mata Atlântica e do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Dica de leitura

Livros: Araucária: a Floresta do Brasil Meridional, de Zig Koch, Curitiba, Editora Oi Brasileiro, 2002. Pinheiro do Paraná: Lendas e Realidades, de Carlos Roberto Sanquetta, Curitiba, Editora da UFPR, 1999. Manual de Direito Ambiental, de Edson Luiz Peters e Paulo

de Tarso Lara Pires, Curitiba, Juruá Editora, 2002.

Aula 3 | Biomas brasileiros 130

aguapés. Habitat ideal para uma série de animais como

garças, marrecos, veados, onças-pintadas, lontras e

capivaras.

Tendo a seu favor o clima ameno dos pampas e

a fertilidade do solo, colonos europeus e japoneses

obtiverem alta produtividade na região durante o último

século. No entanto, como ocorreu na Mata Atlântica, as

áreas cultivadas se expandiram rapidamente sem um

sistema adequado de preparo, resultando em erosão e

outros problemas que se agravam progressivamente.

Ainda hoje os campos, que já representaram 2,4% da

cobertura vegetal do país, são amplamente utilizados

para a produção de arroz, milho, trigo e soja. Gado e

ovelhas também são parte da cultura local, por vezes

associados às plantações. Tanto o cultivo como o

pastoreio não têm tido cuidados de proteção ao solo,

levando trechos do Rio Grande so Sul à desertificação.

Quando as pastagens secam, a mesma quantidade de

animais disputa áreas menores. A falta de pasto faz

aumentar a pressão sobre o solo, que se abre. E então

basta esperar as chuvas para dar início à erosão. Como

se não bastasse, a situação torna-se ainda mais

agravada pelas queimadas, utilizadas para eliminar

restos de pastagens secas.

No intuito de expandir as plantações para além

dos Pampas, colonos alemães e italianos iniciaram a

devastação das matas de araucárias durante os

primeiros cinquenta anos do século XX, conseguindo

reduzi-la aos atuais 2% restantes em Unidades de

Conservação.

As terras sulinas também são férteis em lendas.

Vale destacar que examinar a cultura oral é uma das

formas de conhecermos a relação entre as pessoas e o

meio em que vivem.

Dica de leitura

Outra sugestão de leitura é o trabalho de José Maria Cardoso da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco, intitulado Análise de Representatividade das Unidades de Conservação Federais de Uso Indireto na Floresta Atlântica e Campos Sulinos. Realizado em parceria com Alexandre Dinnouti, da organização não governamental Conservation International (http://www.aliancamataatlantica.org.br/uc.htm).

Quer saber mais?

De acordo com o WWF, o banhado do Taim destaca-se pela riqueza do solo. Por diversas vezes até 1979 houve tentativas de drená-lo para uso agrícola, quando finalmente a área foi transformada em Estação Ecológica. Ainda assim, há caçadores e fazendeiros que insistem em ameaçar o local com suas ações irregulares.

Aula 3 | Biomas brasileiros 131

A ZONA COSTEIRA

A extensa e variada costa do Brasil tem mais de

8 mil quilômetros contínuos de extensão, uma das

maiores do mundo. Nesta faixa litorânea sucedem-se

cenas de grande diversidade. São mangues, dunas,

ilhas, bancos de corais, recifes, costões rochosos,

baías, estuários, brejos e falésias. Há regiões em que a

paisagem muda totalmente em poucos quilômetros.

Se pensou no fator climático e geológico, ponto

pra você!

O bioma de zona costeira não é propriamente

um bioma, pois seus ecossistemas se encontram

geralmente associados ao bioma da Mata Atlântica. No

entanto, optamos por separar o tema por julgá-lo

merecedor de destaque, afinal a maior parte de nossa

população vive na costa. Feito este alerta, e

aproveitando informações do WWF, vamos examinar a

costa brasileira desde o litoral amazônico:

Da foz do Rio Oiapoque ao Rio Parnaíba: é

lamacento e chega a apresentar trechos com

mais de 100 km de largura. Possui uma

grande extensão de manguezais e matas de

várzeas de marés. Jacarés, guarás, diversas

espécies de aves e de crustáceos são comuns

no litoral amazônico.

Litoral nordestino: vai da foz do Rio Parnaíba

até o Recôncavo Baiano. Sua marca são os

recifes calcáreos e arenitos. Outra

característica forte da região são as dunas. Ao

contrário do que se pensa elas não são

móveis. Mas tornam-se móveis pela ação do

vento quando perdem a cobertura vegetal.

Você deve lembrar que as raízes seguram o so

Dica da professora

Observe a influência da convivência com os Pampas na história.

Para pensar

E mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral – as praias, restingas,

lagunas e manguezais – têm plantas e animais diferentes. Nesta altura do nosso texto você já sabe explicar o porquê.

Aula 3 | Biomas brasileiros 132

lo, tanto que o plantio de vegetais que

tenham raízes longas ou espalhadas e

resistentes é a primeira providência a ser

tomada quando se trata de solo erodido. As

praias nordestinas também possuem

manguezais, restingas e matas. Vivem nas

suas águas as tartarugas e o peixe-boi

marinho, ambos ameaçados de extinção.

Litoral sudeste: segue do Recôncavo Baiano

até São Paulo. São características as falésias,

recifes, arenitos e praias de areias

monazíticas (mineral de cor marrom escura).

Predominam na paisagem a Serra do Mar, as

várias baías e pequenas enseadas do litoral

recortado. Matas de restinga, ainda pouco

valorizadas, agora começam a ser estudadas

e já são consideradas o ecossistema mais

importante dessa região. Podem ser vistas a

preguiça-de-coleira e o mico-sauá, dois

animais ameaçados de extinção. Para

entender a situação delicada do litoral

sudeste basta lembrar que esta é a área mais

densamente povoada e industrializada do

país.

Litoral sul: tem início no Paraná e termina no

Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Aqui são

muito presentes os banhados e manguezais,

riquíssimos em aves, mas onde também

podem ser encontrados o ratão-do-banhado,

lontras, capivaras etc.

Resta ainda muita pesquisa a ser feita quanto à

dinâmica ecológica do litoral brasileiro e seus

complexos ecossistemas, que viabilizam o crescimento

e reprodução de inúmeras espécies de flora e fauna,

além de contribuírem para a economia e cultura

humanas.

Para navegar

Um dos maiores especialistas brasileiros em populações tradicionais e áreas pesqueiras, Carlos Diegues, analisa os principais problemas relativos à pesca, no Brasil e no mundo, apontando caminhos para que esta atividade contribua na erradicação da fome e melhore a

qualidade de vida das comunidades que dela tiram seu principal sustento. Fonte: http://www.senac.br/informativo/educambiental/EA_012004/entrevista.pdf

Aula 3 | Biomas brasileiros 133

RECIFES DE CORAL

São eles os responsáveis por abrigar a maior

diversidade de espécies dentre todos os ecossistemas

marinhos e costeiros do mundo! Como apontado pelo

WWF, em termos de biodiversidade, os recifes de coral

estão para o mar assim como as florestas tropicais

úmidas estão para o ambiente terrestre. Neles vivem

inúmeros organismos: cnidários, algas, esponjas

(poríferos), vermes poliquetos (anelídeos), moluscos,

crustáceos, equinodermos e peixes.

Há corais em todo o mundo e hoje esses recifes

sofrem com a poluição e lixo lançados no oceano.

Parece que a humanidade ainda não entendeu algo

simples: no planeta não existe fora. Tudo é cíclico

(pense no ciclos biogeoquímicos, por exemplo) e por

isso todas as ações geram conseqüências que atingem

a vida como um todo. E ao atingir outros organismos

muitas vezes acabam afetando os seres humanos

também, já que costuma ser topo de várias cadeias

alimentares.

Dissemos que os corais estão presentes ao redor

do globo. Confira: são comuns na costa leste da África,

no oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico,

especialmente na costa das Filipinas, Papua Nova

Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e nas ilhas do

leste australiano até o Havaí. E no Brasil? São mais

comuns no trecho entre o estado do Maranhão e a

região nordeste. Seu limite sul está no Banco dos

Abrolhos, extremo sul da Bahia. Em Abrolhos, a ONG

Conservação Internacional (CI) identifica a maior

biodiversidade marinha do Atlântico Sul, lembrando sua

importância enquanto fonte de subsistência das

comunidades costeiras que a margeiam. Há muito

tempo práticas inadequadas e impactantes de

exploração vem afetando Abrolhos, atingindo não só os

Dica da professora

Entre os ecossistemas da costa, destacaremos dois pela sua relevância e pela falta de compreensão que costuma reinar sobre sua importância. Conheça um pouco melhor os recifes de coral e os manguezais.

Aula 3 | Biomas brasileiros 134

ricos e frágeis ecossistemas locais, mas também as

comunidades locais que dependem diretamente da

tradicional atividade pesqueira para sobreviver.

O Terceiro Setor, a Universidade e as

Secretarias de Meio Ambiente tem sido muito

importantes na denúncia, na geração de alternativas de

manejo e recuperação ambiental e na proposição de

políticas ambientais no país. A CI cultiva parcerias ao

longo da costa brasileira, estimulando instituições

consagradas na conservação marinha e desenvolvendo

um sistema de rede de áreas marinhas protegidas.

MANGUEZAIS

Situam-se perto do mar, em geral recebendo

tanto água salgada, através das marés, como água

doce dos rios que ali desembocam. É uma região de

transição entre os ambientes terrestres e marinhos,

característica de regiões costeiras tropicais e

subtropicais, e por estabelecer-se nas zonas entre

marés (estuários, lagoas, baías e deltas) está sujeita ao

regime das marés. No Brasil, encontram-se associados

ao bioma da Mata Atlântica, como as restingas, os

campos de altitude e a própria Floresta Atlântica. Os

manguezais recebem um importante fluxo de água

doce, sedimentos e nutrientes do ambiente terrestre e

exportam água e matéria orgânica para o mar ou águas

estuarinas. Ou seja: é um ecossistema transformador

de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens

de serviços.

Em relação à distribuição no território brasileiro,

de acordo com pesquisa divulgada no site ComCiência,

80% dos manguezais se concentram nas regiões Norte

e Nordeste, especialmente nos estados do Amapá, Pará

e Maranhão. Este último possui cerca de 500 mil

hectares de mangue. As grandes marés do Maranhão,

Quer saber mais?

O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo: eram originalmente 25 mil km2 desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina. Hoje, apesar de ainda terem extensão relativamente grande no país e serem protegidas desde 1993 pelo Decreto Federal nº 750, as áreas de manguezal brasileiras sofreram redução de aproximadamente 46,4% num período de catorze anos. Os 25 mil km2 de manguezais existentes em 1983 passaram a 13,4 mil km2 em 1997, segundo fotos de satélites.

Aula 3 | Biomas brasileiros 135

de até 8 metros de altura, penetram generosamente no

continente, contribuindo para a perpetuação dos

manguezais.

Muita gente confunde os termos mangue e

manguezal. Tratemos de clarear isso já: "mangue" é

uma palavra que se origina do vocábulo malaio

"Manggimanggi" e do inglês mangrove, servindo para

descrever as árvores que vivem no manguezal. O termo

"manguezal" é utilizado para descrever uma variedade

de comunidades costeiras tropicais dominadas por

espécies vegetais, arbóreas ou arbustivas, que

conseguem crescer em solos com alto teor de sal, ou

seja, um terreno cheio de mangue. Em resumo,

mangue se refere à vegetação e manguezal ao

ecossistema.

A vegetação lenhosa e arbórea do manguezal

coloniza solos lodosos e encontra-se adaptada às

condições específicas deste ambiente. No lodo salgado

e pouco arejado, rico em matéria orgânica e com baixo

teor de oxigênio, desenvolvem-se plantas cujas raízes

permitem a fixação nesse tipo de solo, mesmo mole, ou

que se estendem para fora da água, a fim de absorver

o oxigênio do ar.

As chuvas e a temperatura influenciam o

desenvolvimento do manguezal, sendo que em

condições ideais as temperaturas médias devem ser

acima de 20º C e as mínimas, não devem ser menores

que 15º C. É adequado que as chuvas permaneçam

acima de 1500 mm/ano, sem períodos prolongados de

seca. Embora seja um ecossistema tropical, pode

ocorrer em climas temperados.

A salinidade do solo é uma condição que

também interfere, por exemplo, na altura das árvores e

na quantidade das suas folhas. Não são muitas as

Quer saber mais?

Os manguezais são ecossistemas de grande importância no equilíbrio ecológico, sendo um berçário favorável para o desenvolvimento de muitas espécies de animais e plantas. É muito valioso o estudo do manguezal, principalmente para a preservação deste meio. Sua área pode ser utilizada para turismo ecológico, educação ambiental, apicultura, piscicultura e criação de outras espécies marinhas, além de sua principal função que é o de ser berçário de várias espécies vegetais e animais.

Para pesquisar

Procure saber mais sobre os efeitos da salinidade do solo sobre a vida animal

e vegetal. Temos certeza de que essa será uma pesquisa interessante e esclarecedora.

Aula 3 | Biomas brasileiros 136

plantas capazes de sobreviver num local como este:

inundado pela água do mar, com pouco oxigênio e alta

salinidade. Algumas adaptaram-se para eliminar o

excesso de sal, através de glândulas presentes nas

folhas.

Além da vegetação, há uma grande variedade de

espécies de microorganismos, macro-algas, crustáceos

e moluscos, que vivem nos manguezais, adaptados às

constantes variações de salinidade e fluxo das marés.

As espécies que compõem os manguezais

correspondem a um número limitado de famílias (cerca

de 13), compreendendo de 18 a 20 gêneros, sendo que

cada gênero pode estar representado por uma ou por

várias espécies. As espécies variam latitudinalmente,

em decorrência do clima e índices pluviométricos. O

que muitos não sabem é que neste local muitos animais

se alimentam, reproduzem e desovam. O manguezal é

considerado um verdadeiro berçário de espécies.

Além da alta produção da matéria orgânica que

alimenta as espécies abrigadas no ecossistema, a

estrutura das raízes de mangue, forma emaranhados,

protegendo várias espécies da fauna marinha durante

os primeiros estágios de vida, contra seus predadores.

Trata-se de um refúgio para diversas espécies animais

ameaçadas de extinção, principalmente aves marinhas

que neles encontram uma das poucas áreas costeiras

em que há menor atividade urbana.

De acordo com a revista virtual ComCiência,

uma árvore de manguezal chega à adultidade e se

reproduz em apenas cinco anos, podendo atingir cerca

de vinte metros de altura. Apesar de possuírem apenas

sete espécies de árvores, os manguezais apresentam

uma enorme biodiversidade.

Para navegar

Acesse os sites abaixo e conheça mais detalhes sobre esse bioma legitimamente nacional: http://www.geofiscal.eng.br/manguezais.htm www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/ web/port/meioamb/ecossist/mangue

Aula 3 | Biomas brasileiros 137

Além de bromélias e orquídeas, há uma grande

abundância de algas microscópicas. Segundo um

estudo de pesquisadores da Universidade Federal Rural

de Pernambuco (UFRPE), coordenado por Enide Leça,

um centímetro quadrado de manguezal pode abrigar

aproximadamente 200 mil microalgas, que, estando na

base da cadeia alimentar, garantem a sobrevivência de

uma grande quantidade de seres vivos, direta e

indiretamente. A ostra, o mexilhão, as larvas de

camarão e o sururu são espécies filtradoras, que ao

engolir a água do estuário, retêm as microalgas.

Algumas espécies de peixe, como a tainha, a agulha e a

carapeba, também se alimentam de algas

microscópicas. A diversidade de animais trazidos pelas

marés altas para esse ecossistema atrai muitas

espécies de aves, como a andorinha azul e a garça

vaqueira, que fazem seus ninhos nas árvores do

manguezal e, nas marés baixas, se alimentam de

peixes e invertebrados marinhos, como crustáceos,

moluscos, insetos e vermes aquáticos.

Mas na história do planeta, como se formaram

os manguezais? Primeiro é preciso lembrar que o

mundo tal como o conhecemos, com os continentes

neste formato, nem sempre foi assim. Houve um tempo

em que tudo estava agregado num só grande

continente, a Pangéia. A separação em vários pedaços

ocorreu muito lentamente e suas formas mudaram

inúmeras vezes antes de assumir a aparência e

localização atual. O processo de separação e

afastamento dos blocos de terra levou milhões de anos.

Para se aprofundar neste assunto estude a teoria da

deriva continental. Pois então. Várias espécies de

árvores de mangue parecem ter se originado nas

regiões do Indo-Pacífico. Pesquisas sugerem que

quando os continentes encontravam-se mais próximos

uns dos outros, correntes marítimas dispersaram

propágulos de mangue (sementes germinadas) pelo

Para pensar

Você já deve ter ouvido falar em mangue branco e mangue vermelho. Manguezal seco e manguezal lamacento. Qual a diferença entre eles?

Aula 3 | Biomas brasileiros 138

mundo, inclusive para a costa do Brasil.

A riqueza biológica dos manguezais atrai aves

que ali vão se alimentar. Mas esse ecossistema

também é fonte de alimento para um outro tipo de

bicho, o bicho-homem. Famílias inteiras sobrevivem da

pesca, da coleta de caranguejos, de ostras e outros

moluscos. Do manguezal provém boa parte das

proteínas (mariscos e peixes) tão essenciais para a

subsistência. Visitando o manguezal, você verá muitas

vezes, durante as marés baixas, a operação de coleta

de mariscos submersos na lama e de ostras que ficam

presas às raízes do mangue. Enquanto a coleta

acontece de modo artesanal não há problemas para o

ecossistema, pois a quantidade extraída não é muito

grande. Porém, em diversos lugares os manguezais

têm sofrido com a sobrecoleta (uma superdosagem). A

invenção de instrumentos que coletam vários

crustáceos de uma só vez é problemática, não só pela

quantidade de animais coletados, mas sobretudo

porque não se tem respeitado a época reprodutiva.

Assim, fêmeas em período de acasalamento, ou com

ovas ou ainda com filhotes são caçadas pela facilidade

de captura neste período. Resultado: diminui-se a

fauna local sem que haja condição de renovar-se a

população. Considere ainda o fato de que há espécies

que levam mais de dez anos para chegar à adultidade e

você terá uma idéia do impacto sofrido por algumas

espécies. O desaparecimento ou mesmo diminuição de

algumas delas provoca desequilíbrios em toda a cadeia

alimentar, comprometendo as populações de outros

animais, como peixes e aves.

Esse problema vem crescendo à medida que as

novas gerações não mais têm interesse pela ocupação

de seus pais. Enquanto não arranjam outro trabalho os

jovens fazem a coleta como “bico”, sem se importar

com a manutenção do ecossistema, já que não

Dica da professora

Visitando um manguezal você encontrará aves, mamíferos, répteis, peixes e invertebrados, além de alguns tipos de vegetais. Faça uma lista das espécies mais comuns e explique seu papel no ecossistema.

Aula 3 | Biomas brasileiros 139

pretendem depender dele, nem criaram relações mais

estreitas com este ambiente e os hábitos dos

ancestrais.

Os manguezais também sofrem outras ameaças,

pois a zona costeira é a mais densamente urbanizada

(mais da metade da população brasileira vive na faixa

litorânea) e ocupada por atividades agrícolas e

industriais. É muito comum as cidades utilizarem as

regiões de mangue como depósito de lixo do município,

pois julga-se que o manguezal é um lugar sujo e feio,

cheio de lama e mau cheiro, que não serve para nada.

Esta percepção equivocada do ecossistema, aliada a

interesses econômicos imediatistas ocasionam o mau

uso destas áreas, inclusive para a especulação

imobiliária sem planejamento, reforçada pelo enorme

fluxo de turistas. O preconceito com relação ao

manguezal não é de hoje. No Brasil Colonial e início da

República eles foram considerados insalubres.

Entendidos como foco de doenças e mosquitos só

restava eliminá-los. Com a ocupação predatória e

devastação das vegetações nativas, tornou-se comum a

movimentação de dunas e até o desabamento de

morros.

O despejo de lixo nos manguezais coloca em

perigo espécies animais e vegetais, além de destruir

um importante "filtro" das impurezas lançadas na água.

As raízes parcialmente submersas das árvores do

mangue espalham-se sob a água retendo sedimentos e

evitando que eles escoem para o mar.

Tão sério quanto os problemas citados

anteriormente é o lançamento de esgoto no mar, sem

qualquer tratamento. Sem contar as operações de

terminais marítimos que têm provocado, com

frequência, derramamentos de petróleo.

Para pesquisar

Faça uma pesquisa e descubra o papel das bactérias aeróbias e anaeróbias na filtragem desempenhada pelo manguezal.

Aula 3 | Biomas brasileiros 140

Mas se você pensa que os manguezais vem

sendo utilizados apenas recentemente está enganado.

Do ponto de vista de utilidades diretas para o ser

humano vários produtos podem ser obtidos dos

manguezais: remédios, álcool, adoçantes, óleos,

tanino, etc. Curandeiras empregam diferentes produtos

vegetais aproveitando suas propriedades bactericidas e

adstringentes na cura de várias moléstias comuns ao

ambiente. O tanino, produto obtido da casca das

árvores, serve para proteger redes e velas das

embarcações. Desde a antiguidade esses usos se

perpetuaram, além do espaço para plantações. Durante

o período em que as cidades começaram a se expandir,

as árvores foram a fonte das construções, das caldeiras

de locomotivas e usinas de cana-de-açúcar. Depósitos

de conchas e mariscos serviram para fabricar cal. Tais

depósitos se formaram em função das comunidades

indígenas que ali viveram anteriormente e que se

alimentavam de moluscos. As conchas, que eram

deixadas em local próximo ao ponto de coleta, foram

configurando grandes depósitos – os sambaquis. Para

os arqueólogos e antropólogos são importante fonte de

informação a respeito da vida desses grupos indígenas.

Junto às conchas ainda são encontrados objetos de

cerâmica, ferramentas e outros restos.

Mais recentemente, também tem sido comum o

uso de sua área para turismo ecológico, educação

ambiental, apicultura, piscicultura e criação de outras

espécies marinhas.

Os manguezais produzem vários serviços

indiretos, que muitas vezes passam despercebidos

pelas pessoas: a) protegem a linha de costa e as

margens dos estuários contra erosão, sendo utilizados

em alguns países para proteger hidrovias e zonas

urbanas litorâneas; b) protegem as áreas ribeirinhas

contra as enchentes, diminuindo a força das águas; c)

Dica da professora

Visite e conheça um sambaqui. No município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, há um museu dedicado especialmente a isso.

Quer saber mais?

Economicamente, o manguezal tem sustentado a pesca do camarão, artesanal ou industrial, além da exploração de outros invertebrados, como Iphigenia brasiliensis, Lucina pectinata, Anomalocardia brasiliana, Mytella falcata, Crassostrea brasiliana, Tagelus plebeius, Ucides cordatus, Cardisoma guanhumi e Callinectes danae. (Fonte: http://www.geofiscal.eng.br/manguezais.htm) Pelo menos dois terços das espécies de peixes explorada economicamente dependem desse ecossistema para a sua existência. O manguezal é responsável pela manutenção de muitos dos recursos naturais da zona costeira.

Aula 3 | Biomas brasileiros 141

são importantes retentores de metais pesados e

grandes seqüestradores de carbono. Além disso, esse

ambiente possui vegetais microscópicos, a base da

cadeia alimentar de uma série de animais do litoral e

microorganismos, que podem recuperar parcialmente o

solo e a água de regiões afetadas por acidentes

envolvendo derramamento de petróleo no oceano.

Porém, de acordo com a pesquisadora Tânia Brazil da

UFBA, apesar da vegetação de mangue assimilar uma

quantidade razoável de contaminantes e várias de suas

bactérias conseguirem degradar parcialmente o óleo

derramado em acidentes no mar, deve-se estabelecer

limites de proteção, especialmente quanto ao óleo e

substâncias tóxicas.

A grande quantidade de detrito vegetal gerada

(conhecida por serrapilheira), como folhas, galhos e

frutos das árvores, constitui alimento energético rico

em proteínas para diversos componentes da fauna

estuarina e marinha, já que durante a decomposição

são colonizados por microorganismos. Ou seja, formam

a base para diversas cadeias alimentares. Parte dessa

produção é levada pela maré às águas costeiras

adjacentes, tornando-se, no meio marinho, recurso

para manutenção de várias organismos, como siri,

peixes e camarões. A decomposição da serrapilheira

torna a matéria orgânica disponível aos organismos

consumidores. Em algumas regiões costeiras a

produção das espécies de mangue é muito maior que a

do fitoplâncton e do fitobento.

Você já deve ter entendido que os vários

ecossistemas de todos os biomas encontram-se muitas

vezes sob impacto. Mas como podemos definir impacto?

Tanto fenômenos naturais como atividades derivadas

da ordem social da atualidade podem resultar na ação

de fatores que causem alterações nas propriedades

físicas, químicas e biológicas do ambiente, no qual

Dica da professora

De maneira geral pode-se concluir que grande parte da produtividade dos manguezais se transforma em tecido de peixes e de outros organismos marinhos, muitas vezes capturados depois pelas frotas pesqueiras.

Aula 3 | Biomas brasileiros 142

também são incluídas as relações sócio-econômicas. Os

impactos ambientais são essas alterações ou efeitos

ecológicos. O grau do impacto é determinado pela

intensidade e duração dos fatores de tensão. Podem ser

agudos, quando intensos e curtos. E são crônicos

quando a perturbação é de longa duração.

Além disso, no tocante ao manguezal, cada tipo

se adaptou diferentemente às condições ambientais

condicionando sua sensibilidade a tipos particulares de

fatores causadores de impacto.

Há impactos agudos ocasionados por fenômenos

naturais que afetam os manguezais, sendo quase

sempre possível o restabelecimento da qualidade

ambiental anterior. Alguns exemplos são: ventos

fortes; inundações; represamento da área; marés

extremas; frentes atmosféricas.

Por outro lado, alguns eventos induzidos pela

organização urbana atuam como tensores crônicos

perpetuando sua ação e seus impactos em longo prazo,

podendo inclusive provocar a morte do manguezal. Já

vimos alguns exemplos anteriormente. Além do

extrativismo vegetal e animal, da poluição industrial,

dos aterros sanitários e lixões, das invasões urbanas e

industriais, do lançamento de esgoto e dos acidentes de

contaminação por vazamentos de petróleo ou de

produtos tóxicos, também podemos falar da mineração;

oleodutos e gasodutos; salinas; barragens;

desmatamentos e aterro de manguezais para dar lugar

a portos; estradas; agricultura; carcinocultura

estuarina; agrotóxicos; entre outros.

Também existem impactos indiretos como, por

exemplo, os ocasionados pela necessidade de energia

elétrica e de grandes volumes de água potável para as

regiões urbanas costeiras, que levou à construção de

Para navegar

Se você gostou do tema e quer se aprofundar, procure em: www.cdcc.sc.usp.br

Dica de leitura

ALVES, J.R.P. (Org.) Manguezais: educar para proteger. Sec. Est. De Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Fundação de Estudos do Mar. RJ: 2001. RIZZINI, c.t.

Tratado de Fitogeografia do Brasil. Vol.1. Ed. HUCITEC, USP. SP: 1979. VANNUCCI, M. Os manguezais e nós: uma síntese de percepções. EDUSP. SP: 1999.

Aula 3 | Biomas brasileiros 143

inúmeras barragens em rios e acabam sendo uma

armadilha para os sedimentos, que seriam, de outra

forma, transportados para os estuários e deltas

dominados por manguezais. Como resultado, muitas

áreas costeiras tornaram-se erosivas.

Retirar uma fonte poluidora de um local não

implica necessariamente na interrupção imediata de

seus impactos. Há impactos que podem desencadear

outros ao longo do tempo, ao modo do que ocorre com

o acúmulo de substâncias tóxicas do ambiente, cujos

efeitos se multiplicam com o tempo.

EXERCÍCIO 3

O conceito de bioma significa:

( A ) O mesmo que ecossistema;

( B ) Um grupo de comunidades, caracterizada por sua

fauna;

( C ) Uma denominação que coincide com a divisão em

áreas geográficas do mapa;

( D ) O conjunto de comunidades de uma área,

caracterizadas por sua vegetação, a aparência da

vegetação de uma área geográfica;

( E ) Uma invenção para melhor entendermos o clima.

Dica da professora

Agora leia os textos a seguir!

Aula 3 | Biomas brasileiros 144

EXERCÍCIO 4

Sobre a floresta de araucárias, pode-se afirmar com

certeza que:

( A ) É um bioma recente no planeta, que foi

devastado muito rapidamente pela agricultura;

( B ) Ocupava apenas uma área restrita, dentro do rio

grande do sul;

( C ) Pode apresentar uma produtividade de

biomassa muito baixa, bastante inferior ao pinus;

( D ) Ainda se encontra em bom estado de

conservação, não sendo preciso criar parques ou outras

unidades para protegê-la;

( E ) Sofre uma perda de mais de 50% em sua

biodiversidade quando exemplares são isolados.

EXERCÍCIO 5

O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo. Defina

este bioma a partir de suas características principais e

explique qual seria a importância deste para a

natureza?

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____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Aula 3 | Biomas brasileiros 145

EXERCÍCIO 6

O Pantanal é considerado a maior planície continental

inundável do mundo (aproximadamente 210 mil km2

espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai). Defina este

bioma a partir de suas características principais?

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____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

A chave para entendermos a idéia de bioma

está nas zonas vegetacionais que, por sua

vez, coincidem com as zonas climáticas;

O planeta tem suas zonas de vegetação

distribuídas conforme as condições climáticas,

sobretudo a latitude;

O clima resulta da fórmula: Fenômenos

meteorológicos (atmosféricos) + alterações

provocadas por fatores modificadores;

Sazonal: Próprio de, ou que se fica em uma

sazão ou estação. Refere-se assim a chamada

“estacionalidade”, ou seja, o tanto que a

mudança das estações interfere no clima. É

interessante lembrar que esta mudança

ocorre em função do movimento terrestre de

translação (volta em redor do Sol);

Aula 3 | Biomas brasileiros 146

A produção dos ventos depende do

movimento de rotação da Terra. E como os

ventos influenciam a direção das correntes

oceânicas, se a Terra girasse ao contrário

todo o clima seria alterado;

São as correntes oceânicas as principais

responsáveis pela distribuição do calor

absorvido pelos Trópicos e também por levar

o frio polar às regiões tropicais, fazendo

assim um balanceamento da temperatura

planetária;

No tocante à continentalidade (quanto de

terra envolve uma região ou então quanto um

determinado ponto se encontra distante do

mar), quanto mais vamos para o interior do

continente, menos vapor d´água

encontramos, pois o solo se aquece e perde

calor mais rapidamente que o líquido;

Principais tipos de vegetação e suas relações

com o clima: Equatorial Úmida (variações

diurnas); Tropical úmida - árida: savanas

(chuva e seca alternadas). No Brasil não há

savanas, devido à altitude; Árida -

subtropical: deserto. Os desertos ocorrem nas

regiões próximas aos 30o de latitude; Árida -

úmida: floresta temperada; Úmida temperada

quente: floresta temperada;Temperada

típica: floresta temperada; Árida temperada:

deserto frio; Temperada fria: taiga (florestas

de coníferas); Polar: tundra caracterizada

pela presença de líquens, algas e plantas de

ciclo muito rápido, pois a água sólida – gelo –

desfavorece o desenvolvimento da vegetação;

Aula 3 | Biomas brasileiros 147

O visual paisagístico composto pela vegetação

recebe o nome de bioma. Cada bioma pode

abrigar diversos ecossistemas. Ex: Floresta

paludosa: possui o solo alagado periódica

(mata de várzea) ou permanentemente

(igapó). Pode ocorrer em regiões marítimas,

revelando-se ao modo de um manguezal;

Floresta pluvial: compreende diversas matas

com diferentes características, mas que

possuem em comum o alto índice de

pluviosidade. Exs: Floresta Atlântica e floresta

de araucárias; Floresta estacional: é pobre e

caducifólia (isto é, suas plantas perdem as

folhas na estação seca ou no inverno). Ex:

Savana e o Cerrado;

A umidade é um fator de grande importância

nas formações vegetais. Se houver um saldo

positivo de água a vegetação torna-se de

maior porte. Se não, a evolução da

comunidade não caminha para as formas

finais da sucessão ecológica;

Os principais ecossistemas Brasileiros são:

Floresta Amazônica, seguida pela Mata

Atlântica na costa, Cerrado, Caatinga e

Pantanal no interior, Florestas de Araucária e

Pampas no Sul, além da zona costeira e das

regiões de transição.

A vegetação amazônica se divide em a)

florestal, que inclui a mata-de-terra-firme, a

mata de igapós e a mata de várzea e b)

campestre, que abarca os campos de terra

firme e os campos de áreas inundadas

(várzeas);

Aula 3 | Biomas brasileiros 148

As campinas amazônicas possuem folhas

pequenas, revolutas (margens enroladas para

a face inferior) e coriáceas (endurecidas como

couro), em função da falta de minerais do

solo, constantemente lixiviado pela chuva;

Mais do que uma floresta, a Amazônia é

também o mundo das águas onde os cursos

d’água se comunicam e sazonalmente sofrem

a ação das marés. A bacia amazônica - a

maior bacia hidrográfica do mundo com 1.100

afluentes;

Nesta rica floresta, encontram-se 2.500

espécies de árvores (o que significa um terço

da madeira tropical do globo) e 30 mil das

100 mil espécies de plantas existentes em

toda a América Latina;

Uma das maiores contribuições de sua

população é a riqueza cultural, que inclui o

conhecimento tradicional sobre os usos e a

forma de explorar esses recursos sem esgotá-

los nem destruir o habitat natural;

Pesquisas e a prática demonstraram que a

exploração sustentável da floresta na

Amazônia é muito mais rentável e geradora

de empregos do que outras atividades que

têm sido priorizadas pelos sucessivos

governos, como a agropecuária;

Segundo cálculos da WWF, mais de 12% da

área original da Floresta Amazônica já foram

destruídos devido a políticas governamentais

inadequadas, modelos inapropriados de

ocupação do solo, ocupação desorganizada e

uso não-sustentável dos recursos naturais;

Aula 3 | Biomas brasileiros 149

A origem da Mata Atlântica é curiosa. O que

se sabe hoje é que houve uma separação

entre ela e a mata amazônica, mas há intensa

correlação entre as espécies;

A Amazônia possui apenas dois terços do que

a Mata Atlântica tem em diversidade;

Nnas características da Mata Atlântica existe

uma variação fisionômica muito grande,

devido ao seu relevo diversificado (planície,

planalto, serra...). Partículas arenosas e

ventos úmidos intensos são comuns nesta

mata. Até 700m a Floresta Atlântica pode ser

classificada de baixo-montana e de lá até

1600m recebe o nome de alto-montana;

No Planalto Meridional podem ser encontradas

matas de araucária, florestas e matas

subtropicais;

Na Planície Litorânea pode-se ver a restinga,

que é uma vegetação arbórea mais baixa e

espaçada, com ar de seca, devido ao solo,

que é arenoso e salino. A restinga não chega

a ser um ecossistema. Ela é um ecótone

(sistema de transição) de Mata Atlântica,

resistente às áreas secas devido à

proximidade do mar;

Considerando que a maior parte da população

brasileira vive na costa litorânea e que

historicamente a agricultura regeu a

economia do interior do país, não é de se

admirar que este tenha sido um dos mais

degradados biomas brasileiros. Só para dar

uma idéia, o estado do Rio possuía, em 1995,

Mata Atlântica em 21% de seu território. Até

1998, passou a 16,7%. A Mata Atlântica, de a-

Aula 3 | Biomas brasileiros 150

cordo com a Constituição, cobria originalmente

mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados

do território brasileiro;

Embora a velocidade de recuperação da Mata

Atlântica é bem maior do que a de outros

biomas porque o solo é melhor (gnaisse,

rochas cristalinas), muitas espécies já se

extinguiram e o solo está em processo

acelerado de erosão;

O impacto sofrido pela Floresta Atlântica foi

favorecido por sua localização, que facilitou a

exploração sucessiva através dos diversos

ciclos econômicos brasileiros – pau-brasil,

cana-de-açúcar, ouro, café, extração de

madeira. Além de abrigar a maioria das

cidades e regiões metropolitanas do país, a

área originalmente coberta pela floresta

concentra os grandes pólos industriais,

petroleiros e portuários do país;

A Caatinga, que em tupi quer dizer Mata

Branca (em referência à vegetação sem

folhas que predomina durante a época de

seca), ocupa quase 10% do território

nacional, com 736.833 km², abrangendo os

estados do Ceará, Rio Grande do Norte,

Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,

Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas

Gerais;

Considera-se a caatinga como único bioma

exclusivamente brasileiro. Ou seja, seu

patrimônio biológico só é encontrado no

nordeste brasileiro. Mesmo assim, o bioma

não tem recebido atenção ao se discutir

políticas para o estudo e conservação da

biodiversidade brasileira;

Aula 3 | Biomas brasileiros 151

O Cerrado caracteriza-se por suas diferentes

paisagens, que vão desde o cerradão (com

árvores altas, densidade maior e composição

distinta), passando pelo cerrado mais comum

no Brasil central (com árvores baixas e

esparsas), até o campo cerrado, campo sujo

e campo limpo (com progressiva redução da

densidade arbórea);

Das cabeceiras até as proximidades do mar,

os rios com nascente na região da Caatinga

permanecem secos por cinco a sete meses do

ano. Exceto o canal principal do São

Francisco, que mantém seu fluxo através dos

sertões, com águas trazidas de outras

regiões;

A característica vegetação pequena e

retorcida do cerrado não se deve à falta de

água, mas à pobreza mineral do solo,

ocasionada pelo tipo de erosão, tempo de

sujeição a ela, lixiviação e também pela

presença dos semi-óxidos já citados (ferro e

alumínio). É o oposto do que ocorre na

caatinga, cujo solo é rico, contudo sofre pela

falta d´água;

As plantas do cerrado possuem raízes muito

profundas, de maneira que a diminuição do

lençol freático nas épocas secas não constitui

problema, exceto para as herbáceas. Com

essa grande disponibilidade de luz e água a

taxa de fotossíntese mantém-se num alto

nível;

Mas apesar da aridez e de seus rios serem

temporários (exceto o São Francisco), a

caatinga surpreende com seus brejos, que rom

Aula 3 | Biomas brasileiros 152

pem com o cenário uniforme dos sertões;

O cerrado de campo aberto tem este formato

por ter sofrido intensos distúrbios, como fogo.

A queimada pode até contribuir para liberar

nutrientes presos em folhas e caules podres,

além de transportar outros pela fumaça.

Também pode prestar serviços como a

quebra de dormência de certas sementes e a

liberação de hormônios vegetais;

No caso da Caatinga, são erros comuns

referir-se à sua biodiversidade enquanto

homogênea, pobre em espécies e em

endemismo. O bioma inclui pelo menos uma

centena de diferentes tipos de paisagens

únicas;

O solo do Cerrado no Planalto Central tem

sido freqüentemente utilizada para a

agricultura, por ser plano e ter uma

vegetação mais aberta que a da floresta, o

que a torna facilmente derrubável. Além da

agricultura, outra atividade econômicanos

Cerrados é a coleta de flores;

A taxa de desmatamento do Cerrado é

altíssima, chegando a 1,5% ou três milhões

de hectares/ano (ou 2,6 campos de

futebol/minuto);

O Pantanal detém o título de maior planície

continental inundável do mundo

(aproximadamente 210 mil km2 espalhados

por Brasil, Bolívia e Paraguai). Esta área

equivale aos países Bélgica, Suíça, Portugal e

Holanda juntos. O bioma abriga uma das

maiores concentrações de vida silvestre do pla

Aula 3 | Biomas brasileiros 153

neta, destacando-se pela riqueza de sua

fauna;

No Brasil, os 140 mil km2 do pantanal

distribuem-se pelos estados de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul, que concentram cerca de

70% do bioma. O restante espraia-se em

região internacional onde recebe o nome de

Gran Chaco;

Chuva e seca alternam-se no clima tropical do

lugar, cabendo às chuvas o período de

novembro a abril, tal como no cerrado. O

equilíbrio do bioma depende,

fundamentalmente, do fluxo de entrada e

saída de enchentes ocasionadas de acordo

com o regime pluvial;.

As cheias anuais dos rios da região atingem

cerca de 80% do Pantanal, afastando parte

da população rural que migra

temporariamente para as cidades ou vilas;

Com a vazante, as águas começam a baixar

lentamente. O solo, por ser muito permeável,

permite o desaparecimento dos rios em secas

prolongadas. Mas quando o terreno volta a

secar permanece, sobre sua superfície, uma

fina camada de lama humífera (mistura de

areia, restos de animais e vegetais, sementes

e húmus) propiciando grande fertilidade ao

solo;

Aproximadamente 80% do Pantanal está bem

conservado, abrigando numerosas populações

de grandes mamíferos, aves, peixes e répteis.

A adoção da forma extensiva de pecuária no

início do século XIX é uma das principais razões

Aula 3 | Biomas brasileiros 154

desta conservação;

Mesmo encontrando-se razoavelmente bem

conservado, o Pantanal sofre constantes

ameaças, geralmente relacionadas com a

degradação do vizinho Cerrado (pela intensa

produção agrícola), nas chapadas do qual

nascem os principais rios do Pantanal;

A pesca sem controle é outro grande

problema. Agricultura, mineração e ocupação

desordenada, em geral concentradas nas

áreas mais altas que circundam o Pantanal,

onde nascem os rios, deixam seus detritos

(como os agrotóxicos) e afetam o volume dos

rios que correm para a planície, devido à

erosão e assoreamento;

O bioma do Pantanal foi reconhecido em

2000, pela UNESCO, enquanto Reserva da

Biosfera;

A mata das araucárias ou pinheiros-do-

paraná (Araucária angustifólia), tecnicamente

chamada de floresta ombrófila mista, ocupava

uma grande área, indo desde o sul de Minas

Gerais e São Paulo até o Rio Grande do Sul,

passando pelo noroeste do Rio de Janeiro e

formando cerca de 100.000 km2 de matas de

pinhais;

Mata de araucária é emblemática ser a única

floresta de coníferas do mundo dominada por

uma única espécie;

No sul do país, a vegetação é composta por

campos limpos, as chamadas estepes úmidas.

Situado entre o Rio Grande do Sul e Santa Ca-

Aula 3 | Biomas brasileiros 155

tarina, os Campos se estendem por uma

região de mais de 200 mil km2. Na região da

Campanha, no Rio Grande do Sul, são

conhecidos por Pampas;

A vegetação aberta e de pequeno porte dos

Pampas inicia-se no Rio Grande do Sul mas

ultrapassa as fronteiras com a Argentina e o

Uruguai. Tal como os outros, este bioma

também guarda diversos ecossistemas;

Como ocorreu na Mata Atlântica, as áreas

cultivadas se expandiram rapidamente sem

um sistema adequado de preparo, resultando

em erosão e outros problemas que se

agravam progressivamente. Ainda hoje os

campos, que já representaram 2,4% da

cobertura vegetal do país, são amplamente

utilizados para a produção de arroz, milho,

trigo e soja;

Tanto o cultivo como o pastoreio não têm tido

cuidados de proteção ao solo, levando trechos

do Rio Grande so Sul à desertificação;

Extensa e variada costa do Brasil tem mais de

8 mil quilômetros contínuos de extensão, uma

das maiores do mundo. Nesta faixa litorânea

sucedem-se cenas de grande diversidade.

São mangues, dunas, ilhas, bancos de corais,

recifes, costões rochosos, baías, estuários,

brejos e falésias. Há regiões em que a

paisagem muda totalmente em poucos

quilômetros;

O bioma de zona costeira não é propriamente

um bioma, pois seus ecossistemas se

encontram geralmente associados ao bioma

da Mata Atlântica;

Aula 3 | Biomas brasileiros 156

Os recifes de coral são os responsáveis por

abrigar a maior diversidade de espécies

dentre todos os ecossistemas marinhos e

costeiros do mundo;

Há corais em todo o mundo e hoje esses

recifes sofrem com a poluição e lixo lançados

no oceano;

São comuns na costa leste da África, no

oceano Índico, no Atlântico e no Pacífico,

especialmente na costa das Filipinas, Papua

Nova Guiné, Polinésia, nordeste da Austrália e

nas ilhas do leste australiano até o Havaí. No

Brasil concentram-se no trecho entre o estado

do Maranhão e a região nordeste. Seu limite

sul está no Banco dos Abrolhos, extremo sul

da Bahia;

Os manguezais situam-se perto do mar, em

geral recebendo tanto água salgada, através

das marés, como água doce dos rios que ali

desembocam. É uma região de transição

entre os ambientes terrestres e marinhos,

característica de regiões costeiras tropicais e

subtropicais, e por estabelecer-se nas zonas

entre marés;

Recebem um importante fluxo de água doce,

sedimentos e nutrientes do ambiente

terrestre e exportam água e matéria orgânica

para o mar ou águas estuarinas. Ou seja: é

um ecossistema transformador de nutrientes

em matéria orgânica e gerador de bens de

serviços;

O Brasil possui 12% dos manguezais do

mundo: eram originalmente 25 mil km2 desde

Aula 3 | Biomas brasileiros 157

o Cabo Orange, no Amapá, até o município de

Laguna, em Santa Catarina;

Mangue se refere à vegetação e manguezal

ao ecossistema;

Além da vegetação, há uma grande variedade

de espécies de microorganismos, macro-

algas, crustáceos e moluscos, que vivem nos

manguezais, adaptados às constantes

variações de salinidade e fluxo das marés;

Apesar de possuírem apenas sete espécies de

árvores, os manguezais apresentam uma

enorme biodiversidade. Além de bromélias e

orquídeas, há uma grande abundância de

algas microscópicas;

Os manguezais também sofrem outras

ameaças, pois a zona costeira é a mais

densamente urbanizada (mais da metade da

população brasileira vive na faixa litorânea) e

ocupada por atividades agrícolas e

industriais;

Julga-se que o manguezal é um lugar sujo e

feio, cheio de lama e mau cheiro, que não

serve para nada. Esta percepção equivocada

do ecossistema, aliada a interesses

econômicos imediatistas ocasionam o mau

uso destas áreas, inclusive para a

especulação imobiliária sem planejamento,

reforçada pelo enorme fluxo de turistas;

O despejo de lixo nos manguezais coloca em

perigo espécies animais e vegetais, além de

destruir um importante "filtro" das impurezas

lançadas na água. As raízes parcialmente sub-

Aula 3 | Biomas brasileiros 158

mersas das árvores do mangue espalham-se

sob a água retendo sedimentos e evitando

que eles escoem para o mar;

Os manguezais produzem vários serviços

indiretos, que muitas vezes passam

despercebidos pelas pessoas: a) protegem a

linha de costa e as margens dos estuários

contra erosão, sendo utilizados em alguns

países para proteger hidrovias e zonas

urbanas litorâneas; b) protegem as áreas

ribeirinhas contra as enchentes, diminuindo a

força das águas; c) são importantes

retentores de metais pesados e grandes

seqüestradores de carbono.

Recursos Hídricos

Francisco Carrera

AU

LA

4

Ap

res

en

taç

ão

Não há como negar a vida no planeta depende quase que

exclusivamente da água. Mantida em nosso planeta por influência

de vários ciclos naturais sua preservação enquanto um recurso

finito deve ser promovida e defendida a todo custo. Nesta aula

aprenderemos mais sobre os chamados recursos hídricos do

planeta e dos impactos sócio-ambientais sobre os mesmos no

decorrer da história, bem como as diferentes medidas tomadas

para conter os mesmos. Teremos ainda a oportunidade de

conhecer melhor como a legislação ambiental atual defende o uso

da água não mais como um bem público de uso privado, mas sim

um bem público de uso comum através da lei 9433/97 a chamada

Lei das águas, bem como sobre as principais agências reguladoras

do uso dos recursos hídricos – a ANA (Agência Nacional das

Águas). Aproveite ao máximo e bom estudo!

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Entender a importância da água como elemento essencial a

continuidade da vida no planeta; Compreender melhor quais seriam os principais recursos

hídricos do planeta e os impactos sócio-ambientais que estes

sofreram no decorrer do processo civilizatório; Analisar as diferentes medidas utilizadas para conter os

impactos sócio-ambientais sobre os recursos hídricos do ponto

de vista político-social e particularmente do ponto de vista legal

através da análise da Lei 9433/97 (A Lei das Águas); Conhecer algumas peculiaridades do Sistema Nacional de

Recursos Hídricos.

Aula 4 | Recursos hídricos 160

Introdução: água sinônimo de vida

Há tempos a vida no Planeta Terra depende da

convivência harmônica entre os recursos hídricos e os

demais seres vivos. A vida no planeta depende quase

que exclusivamente da água. A água é o sinônimo

perfeito para a vida. Ao longo dos tempos, desde o

primeiro sinal de vida em nosso planeta a água está

presente, acompanhando dia-a-dia os fluxos e contra-

fluxos da essência da vida.

A água é mantida em nosso planeta por

influência de vários ciclos naturais. Estes efetivam o

ciclo fundamental à vida no planeta, constituído pela

água. Ao bebermos um copo d’água certamente

estaremos bebendo um corpo líquido que já pode ter

percorrido inúmeros lugares no Planeta, sob os mais

diversos estados da matéria, sólido, líquido ou gasoso.

Esta mesma água já pode ter sido vapor, geleira,

iceberg, já pode ter passado por diversos mananciais

terrenos, já pode ter percorrido oceanos e até mesmo

cruzado a estratosfera. Esta é a peculiaridade que o

recurso hídrico possui. Apesar de ser infinito, o acesso

dos Homens ao recurso hídrico a cada dia que passa

fica mais limitado, principalmente pelo fato de que a

gestão e o uso racional destes recursos não está sendo

regularmente fomentada. O Homem a cada dia que

passa utiliza a água doce do planeta de maneira

totalmente irracional. A falsa sensação de que a água é

um recurso inesgotável faz com que os seres humanos

não atentem para a utilização racional deste precioso

bem. Realmente a água do planeta é inesgotável, pois

pertence a um ciclo cuja variação de forma e volume

depende de diversas condições climáticas e externas.

Por outro lado o acesso à água potável vem diminuindo

a cada dia, fruto de uma inescrupulosa política mundial

que não atenta para a necessidade de gestão e

regramento do uso destes recursos.

Quer saber mais?

Dentre todos os recursos considerados indispensáveis a vida a água é, indubitavelmente, um dos mais importantes e essenciais. Uma das crises que mais tem assustado a comunidade

ambiental é o risco do desaparecimento desse bem tão precioso.

Introdução: água sinônimo de vida 160 Histórico: o valor da água 162 A nova política nacional 168 O sistema nacional de recursos hídricos 176 A classificação da água 177 Peculiaridades do sistema nacional de recursos hídricos 178 Gestão descentralizada 179

Aula 4 | Recursos hídricos 161

Vários fatores valem hoje como exemplos não

muito promissores da avassaladora ação do Homem em

relação aos sistemas naturais protetores dos recursos

hídricos de nosso Planeta. As florestas, talvez sejam os

ecossistemas que mais estejam diretamente associados

à manutenção deste precioso recurso. Não há exemplo

maior de instrumento natural com potencial de fixação

e conservação de mananciais, do que a formação

florestal. As matas ciliares e, sobretudo as formações

florestais das encostas, certamente são áreas de

extrema importância para a conservação dos recursos

hídricos. De nada adianta construirmos barragens e

reservatórios de água, se a cada dia que passa,

promovemos a destruição das florestas. O ciclo da água

necessita da floresta para se concretizar. A formação

florestal é essencial para a fixação dos recursos hídricos

e abastecimento dos mananciais. As florestas captam

as águas pluviais e as conduzem até os mananciais,

auxiliando na formação de nascentes, fontes, rios e

olhos d’água. Desta forma, na medida em que

suprimimos as matas ciliares e a vegetação das

encostas, estamos também suprimindo uma parte do

ciclo da água. O resultado negativo desta ação, consiste

no carreamento pelas águas pluviais de matéria

orgânica e mineral para os rios, que caminham

aceleradamente até o mar. Desta forma, ao invés da

água percorrer o seu ciclo normal e ingressar nos

mananciais, ela literalmente corre diretamente para os

rios, sem passar pelos mananciais, e é conduzida para

o mar. Durante o percurso, argila, areia e muita

matéria orgânica, carregada pela força das

enchurradas, são levadas até os rios, que terminam por

ficarem totalmente assoreados, sem espaço para fluxo

de navegações e ainda sem potencial para a geração de

energia. Este resultado, ao invés de ser atribuído à

falta de chuva, na verdade deve ser atribuído à falta de

gestão racional dos componentes naturais do ciclo da

água. (vide figura abaixo). Quanto mais houver

Para navegar

Um site interessante sobre o tema que vale a pena ser visitado é o da

universidade da água reunindo várias informações interessantes sobre a legislação dos recursos hídricos, qualidade das águas do planeta, curiosidades e outras estão disponíveis para consulta.

Aula 4 | Recursos hídricos 162

remoção de área florestada, maior será a chance de

aumento de áreas desérticas, sem mananciais

suficientes o bastante para irrigar a região.

FONTE: HEAT, R. HIDROLOGIA BÁSICA DE ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS. UNITED STATES GEOLOGICAL SURVEY WATER

SUPPLY PAPER 2220

Histórico: o valor da água

Aristóteles (384-322 a.C.) possuía certa noção

da correlação entre a chuva e as água subterrânea,

pois segundo ele os rios se originavam em parte da

água da chuva. Esta contribuição. todavia seria muito

pequena a seu ver, sendo o processo com maior

responsabilidade pelo surgimento de água nos

RESUMO – CICLO DA ÁGUA (HIDROLÓGICO)

A água dos lagos, rios e mares encontra-se no

estado líqüido.

O sol aquece a água, ela sobe para a atmosfera,

transforma-se em gotas de água que se juntam e

formam as nuvens.

Quando as nuvens ficam muito pesadas, caem

sobre a Terra em forma de chuva. A água da

chuva vai ser aquecida pelo sol e assim o ciclo da

água continua.

Para pesquisar

Pesquise mais sobre o índice de pluviosidade anual de sua localidade e sugira idéias sobre como está água poderia ser melhor aproveitada.

Aula 4 | Recursos hídricos 163

continentes, a condensação da umidade do ar em

profundas cavernas subterrâneas. Uma dupla analogia

com os processos de condensação atmosférica e com

as cavernas calcáreas do litoral do Mediterrâneo, com

as quais os gregos estavam familiarizados.

A transformação das aldeias neolíticas em

cidades mais populosas, com divisão do trabalho, com

comércio e artesanato, foi possível com a reserva de

alimentos quando os homens já possuíam maiores

conhecimentos técnicos, tais como: utilização da força

de tração animal e dos ventos, técnicas agrícolas, o

carro a rodas, a fundição do cobre, o barco a vela, o

desenvolvimento de um calendário, etc. A produção

excedente e a diversidade de produtos fizeram a troca

necessária e possível. Esse intercâmbio foi o precursor

do comércio e foi pré-condição da Revolução Urbana,

que levou ao uso urbano da água (Mumford, 1965).

No decorrer dos séculos, a utilização dos

recursos hídricos pelo Homem foi se aperfeiçoando,

porém, em virtude até mesmo do crescimento

urbanístico das metrópoles, a ausência de uma gestão

regular dos mesmos, fez com que a água se

transformasse em um potencial meio para a

transmissão de doenças humanas.

A variação sazonal das vazões dos rios e a

ausência de rios perenes dentro dos muros das cidades,

construídas por motivos estratégicos em encostas,

levaram os helenos a utilizarem edificações, como

templos, teatros, pátios e telhados das casas, para a

coleta e a preservação de águas pluviais. Chamava

atenção que, nas cidades gregas construídas sobre

colinas, as grandes superfícies dos templos sempre se

inclinavam na direção de calhas, de forma que as

chuvas que caíam nesses terraços e seus átrios de

alvenaria escoavam por gravidade para calhas e daí

Para pensar

Como você acha que o processo de urbanização acelerada afetou o uso dos recursos hídricos?

Aula 4 | Recursos hídricos 164

para cisternas construídas mais abaixo. Existia uma

cisterna maior e dentro dela várias outras menores,

onde eram postas camadas de areia do mar com

objetivo de filtragem. É interessante observar que

como havia várias cisternas menores, não era

necessário interromper o fornecimento de água,

quando na ocorrência de operações de limpeza. Das

cisternas, um sistema de encanamentos feitos de barro

levava a água na direção dos bairros da cidade,

situados em níveis mais baixos. Este sistema de

abastecimento pode ser visto ainda hoje partindo das

ruínas do templo de Apolo de Camiros, em Rodes.

Também nessa cidade grega foram encontrados canos

de água feitos de pedra, posteriormente também

usados pelos romanos e filtros de areia. Foi na Grécia

que se iniciou o desenvolvimento de tecnologia para

captação e distribuição de água por longas distâncias

(Liebmann, 1.979).

Nos fins do século XV constata-se a importância

das fontes e chafarizes na paisagem européia, projetos

inspirados no humanismo clássico, que exigia dos

arquitetos da época grande o conhecimento de uma

nova tecnologia hidráulica ornamental.

No Vaticano um programa de reformas iniciou-se

nesta época. Construíram-se chafarizes, novos

encanamentos, banhos públicos, mecanismos para

despejos, cubas para lavagens de lã etc. Os chafarizes

desempenhavam um papel de destaque também para a

Igreja, originando uma "Nova Hidráulica Sacra" que

utilizava a concepção mística e cristianizada da Fonte

da Criação (Silva, 1.999).

As preocupações iam além da estética

renascentista presente nos parques e jardins. Em Paris,

no final do século XV, controlava-se a distribuição de

água através de canalizações e uma dezena de fontes,

Para pensar

Como você percebe esse uso ornamental da água em sua cidade? Além do valor estético, qual seria a importância da mesma?

Quer saber mais?

Sobre a ANA

A agência responsável pelo uso da água dos rios e lagos de domínio da união, assegurando quantidade e

qualidade para usos múltiplos; além de regular a implementação do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos com a participação de governos municipais, estaduais e sociedade civil é a ANA – Agência Nacional de Águas. Para consultar outros detalhes consulte seu site http://www.ana.gov.br.

Aula 4 | Recursos hídricos 165

sob a vigilância da municipalidade. Já em Londres

ocorreram importantes transformações a partir da

construção de grandes obras de ampliação da vazão de

água para abastecimento. Nesta época foi implantada a

"vigilância das águas", serviço realizado por oficiais do

rei, que tornava obrigatório o pagamento de

concessões para consumo, demonstrando já haver

conflitos em torno o uso e da apropriação do recurso

hídrico (Silva, 1999).

O período moderno foi marcado por grandes

transformações técnicas. (Azevedo Netto, 1984),

destacamos alguns desses avanços tecnológicos tais

como: o aumento do rendimento das bombas de água

na França, que captando diretamente nos rios obrigou o

governo a melhorar o controle do uso das águas de

domínio público e privado; a fabricação de tubulações

em ferro fundido em 1.664 que associada a evolução

das bombas possibilitaram posteriormente um

considerável aumento na distribuição de água

canalizada como o sistema introduzido em Londres em

1746; o uso do sulfato de alumínio para o tratamento

de água - Inglaterra, 1767; a descoberta do cloro na

Suécia em 1774; a primeira grande estação de

tratamento de água em Paris, 1800; a construção do

primeiro filtro lento - Escócia, 1804; a aplicação do

cloro para oxidação da matéria orgânica, 1.830 dentre

outras.

No Brasil, algumas dessas tecnologias foram

incorporadas um pouco depois, como a construção da

estação de tratamento de água na cidade de Campos -

RJ em 1880 e o uso de filtros lentos em Campinas em

1891 (Azevedo Netto, 1984).

O desenvolvimento da indústria têxtil,

dependente de água em abundância e a revolução

termodinâmica originada com a máquina a vapor em

Quer saber mais?

Conheça mais detalhes As variações sazonais de vazão dos rios, decorrentes das condições climáticas muitas vezes desfavoráveis, obrigavam alguns povos a armazenar água. Por outro lado, por motivos estratégicos, as cidades eram construídas normalmente em encostas e, raramente,

possuíam fontes perenes dentro de seus muros. Por isso, a água de chuva era Acumulada em cisternas para o abastecimento em períodos de carência. Para saber mais sobre a importância da variação sazonal dos rios, veja no site da ANA – Agência Nacional das Águas um exemplo de sua funcionalidade aplicada ao rio são Francisco. Http://www.ana.gov.br/gestaorechidricos/fiscalizacao/acoes_campanhasf2.asp

Aula 4 | Recursos hídricos 166

1764, causaram um forte impacto sócio-econômico e

ambiental. A Inglaterra introduziu a máquina a vapor

como força motriz para o bombeamento de água para

as cidades, tornando necessária a utilização de

equipamentos mais sofisticados e onerosos.

Já no limiar do século XX, a utilização dos

recursos hídricos no Brasil torna-se quase que um

fundamental instrumento a guarnecer os auspícios

desenvolvimentistas. Grandes projetos industriais são

incentivados pelo Poder Público, grandes hidrelétricas,

hidrovias e indústrias que dependem da água para a

realização de suas atividades foram criadas e

desenvolvidas; e o País sofreu uma modificação de

considerável destaque no desenvolvimento de seu

parque industrial, rumo ao tão almejado

desenvolvimento.

Ocorre que naquela época, principalmente

durante as décadas de 60-70, os objetivos do homem

ainda estavam moldados pela ânsia de desenvolver a

qualquer custo, esquecendo-se, porém dos recursos

naturais que valiam de instrumento propulsor ao

CURIOSIDADE

No governo de Henrique IV, ocorreram importantes

transformações a partir da construção de grandes

obras, garantindo-se uma maior vazão de água para

abastecimento. Na época, foi implantada a vigilância

das águas por oficiais do rei, sendo obrigatório o

pagamento das concessões para consumo,

demonstrando já haver conflitos de poder em torno

da apropriação dos recursos hídricos.

Durante vários séculos, a água esteve no centro das

preocupações arquitetônicas e mecânicas, seguindo

o modelo vitruviano. Schama (1996) explica que, a

partir do nascimento da hidrologia moderna, houve

um reencontro deste antigo modelo, a partir da

tradução dos ‘Dez livros de Arquitetura de Vitrúvio’,

em 1673, com os trabalhos de Pierre Perrault, de

1674, que deu origem ao clássico Tratado intitulado

‘Da Origem das Fontes.

Quer saber mais?

Para saber mais No que concerne à ‘arte’ hidráulica, conhecida através da literatura fluvial De fins do século xv e início do xvi, constata-se a importância das fontes (chafarizes) que Eram projetadas pelos artistas clássicos, inspirando-se em diversas mitologias hídricas como por exemplo, as do rio nilo e as da origem da criação grega. O movimento de retorno aos mitos da antigüidade era útil como forma de representar a origem definitiva da vida tal como um manancial. A partir do começo do século xvii, essa iluminação esotérica foi Concretizada sob a forma de chafarizes e repuxos dos jardins e parques das vilas Renascentistas.

Schama (1996) diz que: “isso exigia dos arquitetos não só grande familiaridade com a gramática da hidromitologia como toda uma nova tecnologia hidráulica ornamental.” (p.281). Schama, s., paisagem e memória. São paulo: companhia das letras, 1996

Aula 4 | Recursos hídricos 167

almejado desenvolvimento. Por outro lado, com o

Advento da Conferência de Estocolmo em 1972, o

conceito de desenvolvimento sofre uma modificação

inovadora. Pela primeira vez um documento

internacional contempla o Homem como parte

integrante do Meio Ambiente, e passa a levar em

consideração uma série de fatores que até então eram

tratados como meros bens de natureza servível. Após

a criação do conceito de desenvolvimento sustentável,

uma nova roupagem política institucional toma a

dianteira do desenvolvimento no Brasil, e,

principalmente após a vigência da Lei n.6938/81, que

criou a Política Nacional do Meio Ambiente, o Brasil

passa a tratar os seus recursos naturais de maneira

diferenciada. O Homem passa a integrar o rol de bens

que certamente estariam tutelados pelas leis de

proteção ao meio ambiente. O próprio meio ambiente

artificial e cultural passam a fazer parte integrante

desta tutela. Esta modificação em relação ao modus

operandi da política ambiental brasileira, não foi o

bastante frear a corrida para o desenvolvimento.

PARA SABER

A idéia, que a grande maioria das pessoas possui

com relação à água, é a de que ela é infinitamente

abundante e sua renovação, natural. No entanto,

ocupando 71% da superfície do planeta, 97% deste

total se constituem águas salgadas, 2,07% são

águas doces em geleiras e calotas polares (água em

estado sólido) e apenas 0,63% restam de água doce

não totalmente aproveitados por questões de

inviabilidade técnica, econômica e financeira, e de

sustentabilidade ambiental (Maia Neto, 1997).

Confira os gráficos:

Aula 4 | Recursos hídricos 168

Mais uma vez a questão dos recursos hídricos

ficou de fora, não havendo qualquer tipo de proteção

legal neste sentido. Já no final da década de 90, o

Brasil, por intermédio da lei 9433/97, ganha um

importante instrumento de ordem legal que vem a

promover uma radical modificação no tratamento

jurídico dado a água em nosso País.

Nos precisos termos do Art. 225 da CF, a água

deixa de ser um bem público de uso privado, e passa a

ser um bem público de uso comum. Ou seja, o recurso

hídrico deixou de pertencer à esfera de dominialidade

tanto do particular, como também do poder público.

Atualmente, o poder público é apenas o gestor da água,

e não o proprietário. Assim, após o advento da Lei

9433/97, que criou o Sistema Nacional de Recursos

Hídricos no Brasil, a água já não mais pertence ao

particular, mas sim a todos nós.

A nova política nacional

A Política Nacional para os Recursos Hídricos,

veio à baila mediante a publicação da Lei 9433/97, que

definitivamente estabeleceu uma nova roupagem ao

uso dos recursos hídricos no Brasil.

Veja outros dados em:

http://www.pivotvalley.com.br/valley/mestre/AGUA-

um_recurso_limitado-vpspaz.php

Quer saber mais?

Problemas e desafios O documento final da conferência internacional sobre água e desenvolvimento sustentável, ocorrido em Paris, em 1998, demonstrou que quarta parte da população mundial não tem acesso a água potável, mais da metade da população mundial carece de um saneamento

adequado, a baixa qualidade da água e a falta de higiene figuram entre as principais causas de enfermidade e morte, as inundações e as secas, a pobreza, a contaminação, o tratamento inadequado dos rejeitos e a insuficiência de infra- estrutura representam sérias ameaças ao desenvolvimento econômico e social, à saúde humana, à segurança alimentar mundial e ao meio ambiente. O acesso limitado à água, em termos de quantidade e qualidade, poderá frear o desenvolvimento sustentável.

Aula 4 | Recursos hídricos 169

Novos princípios foram criados e a política

nacional passou a ser executada de forma

descentralizada.

HISTÓRICO LEGAL

A Política Nacional para os Recursos Hídricos

tem como lei fundamental a Lei 9433/97, porém, antes

mesmo da publicação do referido dispositivo legal,

vários dispositivos normativos tentaram regrar as

modalidades de disposição da água em nosso país,

porém o diploma legal mais efetivo, que reuniu

princípios e sistematizou as ações, foi a Lei 9433/97.

Destacamos abaixo, um resumo deste histórico:

1934:

Decreto no 23.777/34 - regulariza o lançamento

de resíduo industrial das usinas açucareiras nas águas

fluviais;

Decreto no 24.643/34 - decreta o Código de

Águas.

1938:

Decreto-Lei no 852/38 - mantém, com

modificações, o Decreto no 24.643/34 (Código de

Águas), e dá outras providências.

1940:

Decreto-Lei no 2.848/40 - Código Penal, que

prevê detenção para usurpação de águas.

1945:

Decreto-Lei no 7.841/45 - Código de Águas

Minerais.

Para navegar

Conheça o Relatório Geral do Gerenciamento de Água no Brasil (2000-2025) preparado pela SAMTAC (South America Tecnhical Advise Comitee) do GWP (Global Water Parternership). Basta fazer o download do mesmo através do site: http://www.unesco.org.uy/phi/vision2025/Brasil.pdf

Aula 4 | Recursos hídricos 170

1960:

Lei no 3.824/60 - torna obrigatória a destoca e

conseqüente limpeza por parte dos proprietários rurais,

das bacias hidráulicas dos açudes, represas ou lagos

artificiais.

1965:

Lei no 4.771/65 - institui o Código Florestal,

abordando também os recursos hídricos.

1967:

Lei no 5.318/67 - institui a Política Nacional de

Saneamento e cria o Conselho Nacional de

Saneamento.

1968:

Decreto no 63.951/68 - transforma o DNAEE

criado pela Lei no 4.904/65 em Departamento Nacional

de Águas e Energia Elétrica.

1969:

Decreto-Lei no 689/69 - extingue o Conselho

Nacional de Águas e Energia Elétrica, do Ministério das

Minas e Energia passando suas competências ao

DNAEE, e dá outras providências.

1973:

Decreto no 73.030/73 - cria a SEMA - Secretaria

Especial de Meio Ambiente.

1978:

Portaria Interministerial no 090/78 - do

Ministério das Minas e Energia -, cria o Comitê Especial

de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas -

CEEIBH;

Portaria no 323/78 - do Ministério do Interior,

atendendo a Secretária Especial de Meio Ambiente -

Quer saber mais?

Disponibilidade hídrica Em termos de disponibilidade hídrica, o Brasil é considerado um país privilegiado. De acordo com Maia Neto (1997), o volume armazenado de água subterrânea é da ordem 58.000 km3 e cerca de 257.790 m3/s escoam pelos rios, correspondendo a 18% do potencial de água doce de superfície do planeta. Cerca de 89% das águas superficiais do país estão concentradas nas regiões norte e centro-oeste. Os 11% restantes localizam-se nas outras três regiões. Veja outras informações em: Maia Neto, R. F., 1997. A água para o desenvolvimento sustentável. A água em revista: Revista técnica e informativa da CPM. 9: 21-32. Nov.

Aula 4 | Recursos hídricos 171

SEMA, dispõe sobre os efeitos danosos do vinhoto,

produzido pelas usinas de álcool, no abastecimento de

água e meio ambiente;

Portaria no 468/78 - do Ministério das Minas e

Energia, dispõe sobre o uso das águas fluviais;

Portaria no 1.832/78 - do Ministério das Minas e

Energia - dispõe sobre pedidos de concessão para

derivar águas públicas pelo Departamento Nacional de

Águas e Energia Elétrica - DNAEE.

1979:

Lei no 6.662/79 - dispõe sobre a Política

Nacional de Irrigação, e dá outras providências quanto

ao uso da água, do solo, entre outras.

1980:

Portaria no 124/80 - do Ministério do Interior,

atendendo a Secretária Especial de Meio Ambiente -

SEMA, dispõe sobre poluição acidental em corpos

d'água.

1981:

Lei no 6.938/81 - dispõe sobre a Política Nacional

do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação e sobre o Sistema Nacional de

Meio Ambiente (SISNAMA). Início de uma política

ambiental mais efetiva.

1982:

Decreto no 87.561/82 - dispõe sobre medidas de

recuperação e proteção ambiental da bacia hidrográfica

do rio Paraíba do Sul, e dá outras providências.

Dica de leitura

O manual "Conservação e reuso de água", lançado pela FIESP e ANA - orienta o setor industrial na implantação de programas de conservação e reutilização de água, insumo básico de produção. O guia visa orientar empresários, sindicalistas, técnicos do setor de recursos hídricos e funcionários de áreas técnicas de diversas indústrias favorecendo a obtenção de informações úteis na identificação, avaliação e implantação de procedimentos e/ou tecnologias adequadas para otimização do uso

do mais precioso dos líquidos na indústria.

Aula 4 | Recursos hídricos 172

1984:

Decreto no 89.336/84 - institui o Programa

Nacional de Microbacias Hidrográficas, e dá outras

providências.

1985:

Resolução CONAMA no 3/85 - cria Comissão

Especial para propor o zoneamento da Bacia Hidrológica

do Rio Paraguai.

1986:

Resolução CONAMA no 20/86 - estabelece

classificação das águas doces, salobras e salinas do

território nacional.

1987:

Resolução CONAMA no 06/87 - edita regras

gerais para o licenciamento ambiental de obras de

grande porte, especialmente aquelas nas quais a União

tenha interesse relevante, como geração de energia

hidroelétrica.

1988:

Constituição Federal de 1988 - eleva os

recursos hídricos a uma condição de especial cuidado

conforme se pode depreender do número de artigos

que abordam o tema:

Vejamos alguns de seus artigos mais

importantes:

Art. 20o, parágrafo 1o:

São bens da União:

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água

em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de

um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se

Aula 4 | Recursos hídricos 173

estendam a território estrangeiro ou dele provenham,

bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

VI - o mar territorial;

VIII - os potenciais de energia hidráulica;

IX - os recursos minerais, inclusive os do

subsolo;

§1o. É assegurada, nos termos da lei, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem

como a órgãos da administração direta da União,

participação no resultado da exploração de petróleo ou

gás natural, de recursos hídricos para fins de geração

de energia elétrica e de outros recursos minerais no

respectivo território, plataforma continental, mar

territorial ou zona econômica exclusiva, ou

compensação financeira por essa exploração.

Art. 21o. Compete à União:

XII - explorar, diretamente ou mediante

autorização, concessão ou permissão:

b) os serviços de instalações de energia elétrica

e o aproveitamento energético dos cursos d'água, em

articulação com os Estados onde se situam os

potenciais hidroenergéticos;

XIX - instituir sistema nacional de

gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de

outorga de direitos de seu uso;

Art. 22o. Compete privativamente à União

legislar sobre:

IV - águas, energia, informática,

telecomunicações e radiodifusão;

Parágrafo único. Lei complementar poderá

autorizar os Estados a legislar sobre questões

específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Dica do professor

Declaração anual do uso de recursos hídricos

A partir de agora, os usuários de recursos hídricos para indústria, irrigação ou saneamento terão que declarar os volumes de água captados a cada mês durante o ano. A declaração anual de uso de recursos hídricos estabelece critérios para medição de volume de água captada em corpos de água de domínio da união. Para saber mais acesse ao site:

Http://www.ana.gov.br/destaque/destaque202.asp

Aula 4 | Recursos hídricos 174

Art. 23o. É competência comum da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as

concessões de direitos de pesquisa e exploração de

recursos hídricos e minerais em seus territórios;

Art. 26o. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas,

fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste

caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da

União;

Art. 49o. É da competência exclusiva do

Congresso Nacional:

XVI - autorizar, em terras indígenas, a

exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a

pesquisa e lavra de riquezas minerais;

§ 3o. O aproveitamento dos recursos hídricos,

incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra

das riquezas minerais em terras indígenas só podem

ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,

ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes

assegurada participação nos resultados da lavra, na

forma da lei.

1989:

Lei no 7.754/89 - estabelece medidas para

proteção das florestas existentes nas nascentes dos

rios, e dá outras providências.

1990:

Lei no 8.028/90 - Ministério do Meio Ambiente,

Recursos Hídricos e Amazônia Legal - MMARHAL.

Portaria no 36/90 - do Ministério da Saúde,

estabelece padrões de potabilidade para água destinada

a consumo humano.

Para pensar

Considerando o percurso histórico do desenvolvimento das leis relativas à água, destaque as que você entende como mais importantes e justifique tal escolha.

Aula 4 | Recursos hídricos 175

1996:

Decreto Federal no 1.842/96 - cria o Comitê para

a Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do

Sul - CEIVAP.

1997:

Lei no 9.433/97 - institui a Política Nacional de

Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamentando o

inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal de 1988;

Mensagem no 26/97 - comunica as razões de

alguns vetos feitos pelo Presidente da República na Lei

no 9.433/97.

2000:

Lei no 9.984/00 - dispõe sobre a criação da

Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de

implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos e da coordenação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras

providências.

2001:

Resolução ANA no 06 – institui o Programa

Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas com

objetivo de reduzir os níveis críticos de poluição hídrica

das bacias hidrográficas brasileiras e induzir a

implantação do Sistema de Gerenciamento de Recursos

Hídricos conforme previsto na Lei 9.433/97. A

Resolução trata do pagamento pelo esgoto tratado feito

pela ANA aos prestadores de serviços que investirem na

implantação de Estações de Esgotos Sanitários em

bacias hidrográficas com elevado grau de poluição

hídrica.

Para navegar

Para entender melhor esta legislação é de fundamental importância que você compreenda os pontos principais do Plano Nacional de Recursos Hídricos.

Se você desejar o mesmo encontra-se disponível no site:

http://www.ana.gov.br/pnrh_novo/Tela_Apresentacao.htm

Aula 4 | Recursos hídricos 176

Em função de sua importância solicitamos que

você leia com calma e atenção a Lei 9.433/97 em sua

integralidade procurando destacar:

Pontos principais;

Avanços e retrocessos;

Pontos claros e obscuros;

Sintonia com a constituição;

Possibilidade de fiscalização da mesma;

Participação da população.

O sistema nacional de recursos hídricos

A partir da publicação da Lei acima referida, a

água passa a ter valor em nosso ordenamento jurídico,

e todas as modalidades de uso do recurso hídrico

passam a ser taxadas, de maneira que o potencial a ser

utilizado do recurso possa ser objeto de uma cobrança

por parte do Poder Público.

Desta forma, as águas privadas ou particulares

não mais existem e o uso dos recursos hídricos passa a

ser regrado e fiscalizado.

A água não pertence mais nem ao Poder Público

e nem ao particular. Ela é um bem de USO COMUM, ou

seja, de todos nós, sem distinção. Ninguém pode mais

hoje alegar ser proprietário de recurso hídrico.

As normas do sistema nacional dos recursos

hídricos possuem características particulares que as

diferem dos demais sistemas legais brasileiros.

O primeiro fator de grande importância no

sistema está na INDEPENDÊNCIA e na AUTONOMIA de

suas normas, como podemos verificar nas leis nº

9.433/97 e 9.984/2000. Os órgãos do Sistema

Nacional dos Recursos Hídricos são autônomos e

Quer saber mais?

Plano nacional de recursos hídricos O plano nacional de

recursos hídricos é essencialmente um instrumento de planejamento estratégico que deve ser elaborado a partir das definições, princípios e diretrizes consagradas na constituição federal, na lei nº 9.433, de 1997 e nas diretrizes aprovadas pelo conselho nacional de recursos hídricos (CNRH). O CNRH não pode confundir-se com os planos estaduais de recursos hídricos ou planos diretores de bacias hidrográficas, nem com um somatório daqueles planos, e menos ainda alcançar o seu grau de detalhamento. Veja outros dados em:

Http://www.mma.gov.br/port/srh/politica/pnrh.html

Aula 4 | Recursos hídricos 177

promovem a gestão dos recursos de maneira integrada,

de forma que todas as questões debatidas são

resolvidas mediante processos transdisciplinares,

opinião pluripartidária e decisões que acolhem

interesses difusos diversos.

A própria existência do CONSELHO NACIONAL

DOS RECURSOS HÍDRICOS – CNRH, faz com que todas

as questões que venham a tomar como fundamento o

recurso hídrico, possam ser resolvidas e debatidas em

conjunto com representantes da sociedade, em virtude

da natureza difusa deste patrimônio ambiental global.

A classificação das águas

As classes de água no Brasil são estabelecidas

mediante resolução do Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA. A Resolução nº 20/86, estabelece

09 classes de água, das quais 05 são doces. Esta

mesma resolução está sendo objeto de reavaliação pelo

CONAMA, e alguns conceitos serão modificados.

Destacamos adiante o texto atual da referida

Resolução:

CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS

Vejamos como tal classificação se processa tomando

como exemplo as águas denominadas minerais:

• Águas Minerais: São aquelas provenientes de

fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas

que possuam composição química ou propriedades

físicas ou físico-químicas distintas das águas

comuns, com características que lhes confiram uma

ação medicamentosa. • Águas Potáveis de Mesa: são as águas de

composição normal, provenientes de fontes naturais

ou de fontes artificialmente captadas que

preencham tão somente as condições de

potabilidade para a região. • Águas Purificadas Adicionadas de Sais:

Aquelas preparadas artificialmente a partir de

qualquer captação, tratamento e adicionada de sais

de uso permitido, podendo ser gaseificada com

dióxido de carbono de padrão alimentício. Código de

Águas Minerais usa o termo soluções salinas

artificiais.

Dica do professor

Siga o mesmo esquema de análise que usou para examinar a lei anterior:

Procure analisar calmamente cada item da lei acima

citada destacando:

- pontos principais; avanços e retrocessos;

- pontos claros e obscuros e sintonia com a Constituição;

- possibilidade de fiscalização da mesma.

Aula 4 | Recursos hídricos 178

Para melhor entendimento da legislação acesse

e leia com atenção a Resolução CONAMA nº 20, de 18

de junho de 1986.

Peculiaridades do sistema nacional de

recursos hídricos

Após a classificação acima apontada, o sistema

Nacional dos Recursos Hídricos ainda possui

determinadas particularidades que merecem algum

destaque.

De acordo com o Art. 19 da lei 9.433/97, a água

é um recurso natural limitado, e um bem econômico

RESOLUÇÃO nº 274 de 29 DE NOVEMBRO de

2000

Segundo essa resolução a classificação de águas

segue o critério:

Águas doces: águas com salinidade igual ou

inferior a 0,50º/00;

Águas salobras: águas com salinidade

compreendida entre 0,50º/00 e 30º/00;

Águas salinas: águas com salinidade igual ou

superior a 30º/00;

Art. 2º As águas doces, salobras e salinas

destinadas à balneabilidade (recreação de contato

primário) terão sua condição avaliada nas categorias

própria e imprópria.

§ 1º As águas consideradas próprias poderão ser

subdivididas nas seguintes categorias:

Excelente;

Muito Boa;

Satisfatória.

Para consultar a lei na íntegra confira o site:

http://www.acqualan.com.br/legislacao/conama274.

pdf

Para consultar mais informações não deixe de

acessar o site:

http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?

base=./agua/mineral/index.html&conteudo=./agua/

mineral/classificacao.html

Aula 4 | Recursos hídricos 179

por excelência, sendo o preço da conservação, da

melhor distribuição e o da recuperação, variáveis

necessárias ao arbitramento do valor a ser cobrado

pela utilização do recurso hídrico.

O uso múltiplo é fundamental para o exercício

da política nacional dos Recursos Hídricos,

considerando-se, inclusive o uso prioritário

(dessedentação de animais e uso doméstico) e ainda o

uso múltiplo (abastecimento público, lançamento de

esgotos, potencial hidrelétrico, transporte aquaviário).

Gestão descentralizada

A gestão e administração dos Recursos hídricos

em nosso país, de acordo com o disposto no Art. 1º, VI

da lei 9.433/97, é descentralizada e envolve a

participação tanto do Poder Público quanto da iniciativa

privada.

Os comitês de bacias hidrográficas são

elementos que comprovam claramente o exercício do

princípio da participação e publicidade do Sistema

Nacional dos Recursos Hídricos, demonstrando, assim,

a gestão descentralizada do recurso hídrico.

SOBRE OS COMITÊS DE BACIAS

HIDROGRÁFICAS

Os Comitês de Bacia constituem-se na base do

Sistema de Gerenciamento. Nestes fóruns são

promovidos os debates sobre as questões

relacionadas à gestão dos recursos hídricos sendo,

por esta razão, chamado por muitos de Parlamento

das Águas, dadas as suas atribuições normativas,

consultivas e deliberativas.Estes Comitês são

constituídos por representantes dos poderes

públicos, dos usuários das águas e das organizações

civis com ações desenvolvidas para a recuperação e

conservação do meio ambiente e dos recursos

hídricos em uma determinada Bacia hidrográfica.

Sua criação formal depende de autorização do

Conselho Nacional de Recursos Hídricos que editou a Resolução nº 5/2000 que estabelece as diretrizes ge-

Aula 4 | Recursos hídricos 180

EXERCÍCIO 1

Um dos fundamentos da política nacional dos recursos

hídricos é:

( A ) Uso moderado da água;

( B ) Disponibilidade de água;

( C ) Controle absoluto do sistema hídrico;

( D ) Gestão dos mananciais;

( E ) A gestão dos recursos hídricos deve sempre

proporcionar o uso múltiplo e sustentável das águas.

EXERCÍCIO 2

A água, de acordo com o disposto na lei 9.433/97, pode

ser considerada um recurso:

( A ) Natural limitado;

( B ) Econômico;

( C ) Irrestrito;

( D ) De valor inestimável;

( E ) Mineral.

rais para a sua formação e o seu funcionamento, e

de decreto da Presidência da República.

Para saber mais detalhes sobre os Comitês e sua

importância para o gerenciamento de recursos

hídricos, acesse o site do Ministério do Meio

Ambiente:

http://www.mma.gov.br/port/srh/sistema/comitfed.

html

Ou o site da ANA:

http://www.ana.gov.br/GestaoRecHidricos/Articulac

aoInstitucional/comites2.asp

Aula 4 | Recursos hídricos 181

EXERCÍCIO 3

Consulte RESOLUÇÃO CONAMA Nº 20, DE 18 DE JUNHO

DE 1986 e responda qual seria a diferença entre águas

salinas e águas salobras?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Segundo a Lei 9.433/97 quais seriam as organizações

civis de recursos hídricos?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

A vida no planeta depende quase que

exclusivamente da água. A água é o sinônimo

perfeito para a vida;

A água é mantida em nosso planeta por

influência de vários ciclos naturais, que

efetivamente culminam no ciclo fundamental

à vida no planeta, constituído pela água;

Aula 4 | Recursos hídricos 182

O Homem a cada dia que passa utiliza a água

doce do planeta de maneira totalmente

irracional. A falsa sensação de que a água é

um recurso inesgotável faz com que os seres

humanos não atentem para a utilização

racional deste precioso bem;

Não há exemplo maior de instrumento natural

com potencial de fixação e conservação de

mananciais, do que a formação florestal. As

matas ciliares e, sobretudo as formações

florestais das encostas, certamente são áreas de

extrema importância para a conservação dos

recursos hídricos;

A formação florestal é essencial para a

fixação dos recursos hídricos e abastecimento

dos mananciais. As florestas captam as águas

pluviais e as conduzem até os mananciais,

auxiliando na formação de nascentes, fontes,

rios e olhos d’água;

No decorrer dos séculos, a utilização dos

recursos hídricos pelo Homem foi se

aperfeiçoando, porém, em virtude até mesmo

do crescimento urbanístico das metrópoles, a

ausência de uma gestão regular dos mesmos,

fez com que a água se transformasse em um

potencial meio para a transmissão de doenças

humanas;

A Agência responsável pelo uso da água dos

rios e lagos de domínio da União,

assegurando quantidade e qualidade para

usos múltiplos; além de regular a

implementação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos com a

participação de governos municipais,

estaduais e sociedade civil é a ANA;

Aula 4 | Recursos hídricos 183

O período moderno foi marcado por grandes

transformações técnicas. Azevedo Netto,

(1984), destaca alguns desses avanços

tecnológicos tais como: o aumento do

rendimento das bombas de água na França,

que captando diretamente nos rios obrigou o

governo a melhorar o controle do uso das

águas de domínio público e privado;

O desenvolvimento da indústria têxtil,

dependente de água em abundância e a

revolução termodinâmica originada com a

máquina a vapor em 1764, causaram um

forte impacto sócio-econômico e ambiental. A

Inglaterra introduziu a máquina a vapor como

força motriz para o bombeamento de água

para as cidades;

Após a criação do conceito de

desenvolvimento sustentável, uma nova

roupagem política institucional toma a

dianteira do desenvolvimento no Brasil, e,

principalmente após a vigência da Lei nº

6.938/81, que criou a Política Nacional do

Meio Ambiente, o Brasil passa a tratar os seus

recursos naturais de maneira diferenciada;

No final da década de 90, o Brasil, por

intermédio da lei nº 9.433/97, ganha um

importante instrumento de ordem legal que

vem a promover uma radical modificação no

tratamento jurídico dado a água no Brasil;

Nos precisos termos do Art. 225 da CF, a

água deixa de ser um bem público de uso

privado, e passa a ser um bem público de uso

comum. Ou seja, o recurso hídrico deixou de

pertencer à esfera de dominialidade tanto do par

Aula 4 | Recursos hídricos 184

ticular, como também do poder público;

A Política Nacional para os Recursos Hídricos

tem como lei fundamental a Lei 9.433/97,

embora seja influenciada por toda uma

legislação anterior, por exemplo: a Resolução

CONAMA no 20/86 - estabelece classificação

das águas doces, salobras e salinas do

território nacional; a Lei no 8.028/90 –

Ministério do Meio Ambiente, Recursos

Hídricos e Amazônia Legal e a própria CF de

1988;

A partir da publicação da Lei acima referida, a

água passa a ter valor em nosso

ordenamento jurídico, e todas as modalidades

de uso do recurso hídrico passam a ser

taxadas, de maneira que o potencial a ser

utilizado do recurso possa ser objeto de uma

cobrança por parte do Poder Público;

O primeiro fator de grande importância no

sistema está na INDEPENDÊNCIA e na

AUTONOMIA de suas normas, como podemos

verificar nas leis nº 9.433/97 e 9.984/2000.

Os órgãos do Sistema Nacional dos Recursos

Hídricos são autônomos e promovem a gestão

dos recursos de maneira integrada, de forma

que todas as questões debatidas são

resolvidas mediante processos

transdisciplinares, opinião pluripartidária e

decisões que acolhem interesses difusos

diversos;

A própria existência do CONSELHO NACIONAL

DOS RECURSOS HÍDRICOS – CNRH, faz com

que todas as questões que venham a tomar

como fundamento o recurso hídrico, possam ser

Aula 4 | Recursos hídricos 185

resolvidas e debatidas em conjunto com

representantes da sociedade, em virtude da

natureza difusa deste patrimônio ambiental

global;

A Resolução nº 20/86, estabelece 09 (classes

de água, das quais 05 são doces. Esta mesma

resolução está sendo objeto de reavaliação

pelo CONAMA, e alguns conceitos serão

modificados. Destacamos adiante o texto

atual da referida Resolução;

De acordo com o Art. 19 da lei 9.433/97, a

água é um recurso natural limitado, e um

bem econômico por excelência, sendo o preço

da conservação, da melhor distribuição e o da

recuperação, variáveis necessárias ao

arbitramento do valor a ser cobrado pela

utilização do recurso hídrico;

A gestão e administração dos Recursos

hídricos em nosso país, de acordo com o

disposto no Art. 1º, VI da lei 9.433/97, é

descentralizada e envolve a participação tanto

do Poder Público quanto da iniciativa privada;

Os comitês de bacias hidrográficas são

elementos que comprovam claramente o

exercício do princípio da participação e

publicidade do Sistema Nacional dos Recursos

Hídricos, demonstrando, assim, a gestão

descentralizada do recurso hídrico.

Aula 4 | Recursos hídricos 186

Problemática

Ambiental Urbana

Cezar L. F. Pires

AU

LA

5

Ap

res

en

taç

ão

Durante muito tempo quando se falava em meio ambiente a idéia

de cidade não era associada a este e sim a dos ambientes naturais

como os parques, as praias, as matas e outros. Hoje em dia não

há quem duvide que o espaço urbano, ou espaço construído é

uma realidade ambiental diferenciada que merece toda a atenção.

Desde de 2004 a população urbana mundial superou a rural

demonstrando que o homem escolheu, de fato, a cidade como

local de moradia. Assim sendo, estudar esse lugar, os impactos-

ambientais que este vem sofrendo de forma continuada no

decorrer da história como o problema do lixo e da poluição e o

futuro desse ecossistema particular é o objetivo maior desta aula

que pretende também mostrar as reações contrárias aos impactos

ambientais urbanos através dos movimentos ecológicos e da

criação de dispositivos legais.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Entender o espaço urbano como um ecossistema rico e

complexo que problemas sócio-ambientais específicos; Conhecer alguns dos principais desafios sócio-ambientais como

a poluição, o lixo e o crescimento desordenado;

Ter consciência dos efeitos gerados pela sociedade urbano-

industrial na crise ambiental vigente;

Aprender mais sobre das principais reações contrárias aos

impactos ambientais urbanos através do surgimento e

fortalecimento dos movimentos ecológicos além da criação de

dispositivos legais específicos;

Refletir sobre o futuro das cidades e seus desafios.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 188

Introdução

Neste módulo iremos tratar a questão dos

impactos ambientais em diferentes ecossistemas rurais

e urbanos. Este entendimento é fundamental para a

compreensão da problemática ambiental atual e a

reflexão de temas inerentes a mesma. A avaliação de

impacto ambiental (AIA) é hoje um dos instrumentos

mais importantes para auxiliar ao planejamento e

concepção de projetos na área ambiental.

Existem diferentes tipos de impacto ambiental,

tanto os de ordem fiscal quanto cultural e psicológica.

Aproveite este módulo no sentido de conhecer alguns

dos principais problemas na área ambiental e seus

impactos em diferentes âmbitos. Evidentemente que

nem todos os problemas ambientais serão aqui

tratados. Nesse módulo estaremos pensando apenas

em alguns dos principais problemas ambientais com os

quais temos defrontado, mas isso não implica que você

não faça suas pesquisas sobre problemas ambientais

específicos de sua reflexão.

Impactos ambientais

A definição de impacto ambiental e essencial

para o entendimento da problemática ambiental

contemporânea. De maneira resumida entende-se por

impacto ambiental, qualquer alteração significativa no

meio ambiente – em um ou mais de seus componentes

– provocada por uma ação humana.

Definições mais formais podem ser encontradas

abaixo, como a da Resolução CONAMA:

Qualquer alteração das propriedades

físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma

de matéria ou energia resultante das ati

Dica do professor

O que você entende por impacto ambiental? Procure pesquisar

mais sobre o mesmo.

Introdução 188 Impactos ambientais 188 A sociedade urbano-industrial – a sociedade de consumo 189 Intensificação da sociedade urbano industrial 192 Críticas ambientais modernas à sociedade urbano industrial 193 Poluição 196 Poluição do ar 197 Macroefeitos dos impactos ambientais 222 A reação tardia: o movimento ecológico 229

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 189

vidades humanas que, direta ou

indiretamente, afetem:

A saúde, a segurança e o bem-

estar da população;

As atividades sociais e

econômicos;

A biota;

As condições estéticas e sanitárias

do meio ambiente;

A qualidade dos recursos

ambientais.

(Resolução CONAMA no 001 de

23/01/1986)

E a de Canter (1977):

Qualquer alteração no sistema

ambiental físico, químico ou biológico,

cultural e sócio-econômico que possa

ser atribuído à atividades humanas

relativas às alternativas em estudo

para satisfazer as necessidades de um

projeto.

A sociedade urbano-industrial – a

sociedade de consumo

Os impactos ambientais existem desde que a

espécie humana aparece no planeta. Mas é a partir da

revolução industrial que os impactos sobre o meio

ambiente tornam-se relevantes.

Para entendermos melhor essa questão é

fundamental, portanto que entendamos o que é a

sociedade urbana industrial oriunda da revolução

industrial.

Uma economia requer quatro tipos de capital

para funcionar adequadamente:

Capital humano – na forma de trabalho e

inteligência, cultura e organização;

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 190

Capital financeiro – consiste em dinheiro,

investimentos e instrumentos monetários;

Capital manufaturado – inclui a infra-

estrutura, as máquinas, as ferramentas e as

fábricas;

Capital natural – constituído de recursos

(matéria e energia), sistemas vivos e os

serviços dos ecossistemas.

Pode-se sintetizar a mentalidade do

sistema capitalista contemporâneo das

seguintes maneiras:

O progresso econômico tem

melhores condições de ocorrer em

sistemas de produção e distribuição de

mercado livre em que os lucros

reinvestidos tornam o trabalho e o

capital cada vez mais produtivos;

Obtêm-se vantagens competitivas

quando fábricas maiores e mais

eficientes produzem mais produtos

para a venda no mercado em

expansão;

O crescimento da produção total

(PIB) maximiza o bem-estar humano;

Todo advento de escassez de

recursos estimula o desenvolvimento

de substitutos;

As preocupações com a saúde do

meio ambiente são importantes, mas

devem equilibrar-se com as exigências

do crescimento econômico se se quiser

manter um alto nível de vida;

As empresas e as forças de

mercado livres alocarão pessoas e

recursos para o seu uso superior e

melhor.

(Hawken, Lovins e Lovins, 1999)

CRESCIMENTO ILIMITADO

Ideologia Vigente - ideologia do

crescimento ilimitado. O crescimento

acelerado e sem limites da produção

material não é só possível como

necessário e define o nível de

progresso de um país. É aceita por

todos os regimes de governos, de

esquerda ou de direita.

(Lago e Pádua, 1989)

Para pensar

Existem algumas correntes ecológicas, como o Ecossocialismo, que entendem que o verdadeiro vilão do meio ambiente é o capital nas suas mais diferentes expressões. O que você pensa sobre isto?

Dica do professor

É bom lembrar: Independente do sistema político-econômico vigente, o meio ambiente será sempre afetado. O importante é que, independente do sistema vigente, que os governantes em parceria com a sociedade civil busquem respeitar alguns princípios básicos de sustentabilidade ambiental tais como o uso responsável, a reciclagem, a preservação de espécies e etc.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 191

Com a competição de mercado do capitalismo,

uma empresa necessita de lucros crescentes para poder

financiar os gastos com a sua expansão e renovação

técnica, que lhes vão garantir sua posição no mercado.

Tem por base o acúmulo de capital obtido com a

produção, que será reinvestido no crescimento da

própria produção. Cria-se um círculo vicioso, baseado

sempre na expansão da produção.

O modelo de crescimento ilimitado,

não cresce em função das

necessidades humanas e sim de sua

própria dinâmica interna, pois o

crescimento é para ele um fim e não

um meio.

(Lago e Pádua, 1989)

Em decorrência deste modelo econômico

decorrem problemas ambientais contemporâneos

podem ser resumidos em dois tipos:

Escassez dos Recursos Naturais, incluindo os

chamados recursos naturais renováveis, que

também podem escassear ou mesmo se

extinguir, caso a demanda seja maior que a

capacidade da natureza de renová-los.

Poluição: A escassez dos recursos naturais e

a poluição não são problemas excludentes,

pelo contrário, uma é conseqüência e

influencia a outra. Por exemplo, a poluição de

um corpo hídrico leva a escassez deste recurso,

que não pode ser usado, pois se encontra degra

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 192

dado e imprestável para a maioria dos usos da

água.

Intensificação da sociedade urbano

industrial

Na década de 30 – o Fordismo traz a

massificação da produção industrial.

Pós 2º Guerra Mundial - Expansão e

intensificação do sistema. O modelo de sociedade

urbano industrial, nascido da Inglaterra e inicialmente

expandiu-se apenas para Europa e Estados Unidos

depois alcançou fortemente inúmeros países como o

Japão e os tigres asiáticos, além dos chamados países

emergentes como o Brasil, Venezuela, Chile, Argentina,

México, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia... Mais

recentemente Rússia e o leste europeu, a Índia e a

China também assumiram este modelo.

Para acumular capital (para reinvestir na

produção) e aumentar os lucros, o modelo econômico

em questão projeta-se em duas direções:

Importante

Depois da expansão urbana É importante salientar que após a expansão urbana associada, como já vimos, ao desenvolvimento econômico e crescimento populacional, gerou-se uma intensa intervenção em ambientes naturais acentuando-se o impacto da ação antrópica com a erosão e o desmatamento. O Planejamento urbano, assim como outras ferramentas de sustentabilidade urbana são meios de tentar freiar tal impacto e lutar pela qualidade de vida

nas cidades.

Importante:

PRODUTO MANUFATURADO

AMBOS IMPACTAM O MEIO AMBIENTE

Por conta da mídia o consumo de produtos se elevou a ponto de estimular o

consumo independente da necessidade do consumidor

PRODUÇÃO ------------------ CONSUMO (Ontem) PRODUÇÃO ------------------ MÍDIA ------------------------ CONSUMISMO (Hoje)

MATÉRIA PRIMA (NEM SEMPRE

EXPLORADA DE FORMA

SUSTENTÁVEL)

ENERGIA PARA (NEM SEMPRE A

PRODUÇÃO RENOVÁVEL)

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 193

Aumentar a quantidade e a diversidade da

produção. Tem como obstáculo a menor taxa

de crescimento do mercado consumidor;

Aumentar o preço dos produtos. O obstáculo

é a capacidade aquisitiva limitada dos

consumidores.

Algumas estratégias clássicas são utilizadas para

vencer tais obstáculos.

“Obsolescência planejada” – diminuição

proposital do tempo útil (durabilidade) dos

produtos (diminuição do preço do produto

com aumento da produção), forçando a

renovação de seu consumo, criando um fluxo

mercantil esbanjador e lucrativo. É o processo

de descartalização dos produtos. Ex.:

eletrodomésticos, produtos descartáveis.

“Obsolescência cultural” – a mudança de

costumes (moda), fabricada pelos veículos de

propaganda, mídia, que renovam o mercado

consumidor.

Críticas ambientais modernas à

sociedade urbano industrial

Quando tudo parecia bem na sociedade urbano

industrial, começam a aparecer às primeiras

contradições ecológicas inerentes ao seu

funcionamento.

Porém até praticamente a metade do século XX

os problemas ambientais também não emergiram de

forma mais relevante, pois:

Os impactos do desenvolvimento industrial

ainda serem pequenos e localizados;

Para pesquisar

Procure conhecer mais sobre os diferentes tipos de obsolescência. É interessante atentar para o fato de que a obsolescência pode ser provocada por fatores diversos que vão desde a aceleração do desenvolvimento tecnológico às artimanhas da mídia e da política. De qualquer modo esperamos que a luta pela preservação ambiental nunca se torne obsolescente.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 194

As questões sociais da relação trabalhador

(capital humano) versus detentor dos bens de

produção (capital financeiro e capital

manufaturado) eram mais relevantes;

O otimismo do homem com sua capacidade

com a revolução industrial ofuscou as

incoerências do modelo urbano-industrial que

estava sendo implantado.

É a partir da 2a Guerra Mundial, que começam a

surgir os primeiros problemas mais graves,

principalmente os acidentes ecológicos que mobilizaram

a atenção da sociedade. Exemplos:

1945 - Japão - bombas atômicas;

1953 - Japão - Baía de Minamata – ingestão

de peixes e moluscos contaminados com sais

de mercúrio, provenientes de resíduos

industriais de fábricas de papel, causou

epidemia de graves distúrbios neurológicos;

1962 - EUA - problemas com DDT e pesticidas

agrícolas causaram a morte de pássaros. O

tema foi levantado pela bióloga Rachel Carlon

no livro “Primavera Silenciosa” camando a

atenção da opinião pública;

ACIDENTES AMBIENTAIS

Conceitua-se acidente ambiental como evento não

previsível, capaz de, direta ou indiretamente, causar

danos ao meio ambiente ou à saúde humana, como

vazamento ou lançamento inadequado de

substâncias (gases, líquidos ou sólidos) para a

atmosfera, solo ou corpos d'água, incêndios

florestais ou em instalações industriais.

Em situações de acidentes ambientais é necessária a

coleta de amostras para a avaliação do dano

ambiental, possibilitando o desenvolvimento de

ações para a recuperação ambiental e

responsabilização dos causadores do acidente.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 195

1965 - Japão - Baía de Niigata -

contaminação com mercúrio;

1976 – Itália - Seveso localidade densamente

povoada afetada – rompimento de uma

válvula na indústria de cosméticos Hoffmann-

Roche. Vazaram cerca de 2 kg de um gás

extremamente tóxico, provocando danos

permanentes em centenas de pessoas,

obrigando o sacrifício de mais de 75.000

animais e contaminando o solo. Na região,

aumentou o número de más-formações em

recém nascidos;

1980 - EUA - Usina Nuclear de Three Miles

Island – risco de grave acidente ocasionado

por uma pane;

1984 - Índia – cidade de Bhopal -

escapamento de gás tóxico em indústria

química;

1986 - URSS - Usina Nuclear de Chernobyl –

acidente nuclear na ex-união soviética,

contaminação radioativa;

Brasil – rio Subaé (BA) – contaminação com

chumbo e cádmio despejados pela Cia

Brasileira de Chumbo (multinacional francesa)

e rio Gaíba (RS) despejos industriais de sais

de sódio e lignina. Além de altos índices de

poluição da cidade de Cubatão (SP), do rio

Tietê (SP), da baía de Guanabara (RJ) etc.

O crescimento da produção industrial e o

crescimento e concentração populacional nas cidades

começam a trazer a tona os problemas ambientais que

podem ser resumidos como:

Para pesquisar

Que outros acidentes ecológicos você conhece que não foram citados aqui? Em relação ao seu bairro que impacto ambiental possui mais gravidade? Justifique sua resposta.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 196

Escassez de recurso naturais

(solo/ar/água/animais/vegetais...);

Poluição;

Acidentes ecológicos.

Poluição

A palavra POLUIÇÃO vem do latim POLURE, que

significa sujar. As atividades humanas, principalmente

nas sociedades industrializadas modernas têm gerado

diversos tipos de poluentes: esgotos, resíduos

industriais, gases tóxicos etc. A poluição afeta

diretamente a saúde humana, além de prejudicar o

equilíbrio dos ecossistemas naturais. Ao poluir o

ambiente, a espécie humana põe em risco sua saúde e

a própria sobrevivência.

UM POUCO DE LEGISLAÇÃO

O Decreto N° 76.389, de 03 de outubro de 1975

refere-se especificamente a prevenção e o controle

da poluição industrial.

Segundo afirma o art. I deste decreto considera-se

poluição industrial:

“qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas ou biológicas do meio-ambiente, causadas

por qualquer forma de energia ou de substâncias

sólida, líquida ou gasosa, ou combinação de

elementos despejados pelas indústrias, em níveis

capazes, direta ou indiretamente, de:

I - Prejudicar a saúde, a segurança e o bem-

estar da população;

II - Criar condições adversas às atividades

sociais e econômicas;

III - Ocasionar danos relevantes à flora, à

fauna e a outros recursos naturais”.

Confira o decreto na íntegra através do site:

http://www.lei.adv.br/76389-75.htm

SOBRE A POLUIÇÃO

A Poluição pode ser definida como a introdução no

meio ambiente de qualquer matéria ou energia que

venha a alterar as propriedades físicas ou químicas ou

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 197

Poluição do ar

O ser humano ao interagir com o meio em que

vive produz resíduos dos quais uma parte deles causam

problemas de poluição do ar. Tais problemas resultam

das chamadas fontes de poluição, as quais podem ser

classificadas em específicas e múltiplas (Derisio, 1992).

As fontes específicas são aquelas que

normalmente ocupam na comunidade uma área

relativamente limitada, sendo quase todas de natureza

industrial e possibilitam a avaliação na base da fonte

por fonte. Tais fontes também são chamadas de fixas

ou estacionárias (Derisio, 1992).

As fontes múltiplas geralmente se encontram

dispersas pela comunidade e a avaliação das mesmas

através do esquema fonte por fonte é inviável. Tais

fontes podem ser fixas ou móveis. Neste conjunto estão

incluídas aquelas fontes que queimam combustíveis

(lavanderias, veículos, hospitais etc.), evaporam

produtos de petróleo, queimam resíduos sólidos, além

de atividades que produzem odores (restaurantes,

aviários etc.) (Derisio, 1992).

As fontes fixas têm nas indústrias suas fontes

mais significativas ou de maior potencial poluidor deste

ou biológicas desse meio, afetando, ou podendo

afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou

vegetais que dependem ou tenham contato com ele,

ou que nele venham a provocar modificações físico-

químicas nas espécies minerais presentes.

Tomando como base a espécie humana, tal

definição, aplicada às ações praticadas pela espécie

humana, levaria à conclusão de que todos os atos

oriundos desta espécie são atos poluidores; o

simples ato de respirar, por exemplo.

Veja outros dados no site:

http://www.gpca.com.br/poluicao.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 198

tipo. Uma usina termoelétrica, que usa carvão ou óleo

combustível, representa uma fonte fixa de grande

potencial poluidor.

Cada fonte industrial (metalúrgica, mecânica,

têxtil, bebidas, químicas etc.) de poluição atmosférica

apresenta um problema específico de poluição, pois as

emissões são resultantes das características do

processo de fabricação. A seguir algumas categorias

são apresentadas através da natureza das atividades,

tipos de poluentes emitidos e estimativas de emissão a

partir da classificação de Derisio (1992).

INDUSTRIAL DE MINERAIS NÃO METÁLICOS

Incluem principalmente as indústrias que

fabricam produtos de material cerâmico e refratário,

cimento, cimento-amianto, vidro, concreto, produtos de

gesso e produtos abrasivos.

Tipo de poluentes:

Poeiras – principalmente provenientes das

operações de redução de tamanho;

Fumaça e fumos – principalmente dos

processos de combustão e de secagem e

cozimento em fornos.

INDÚSTRIAS METALÚRGICAS – FUNDIÇÕES E

PRODUTOS.

Incluem as fundições primárias que se referem

àquelas que produzem o metal do minério, e as

fundições secundárias que incluem as que recuperam o

metal de sucatas e que produzem ligas e lingotes. No

Brasil, as siderúrgicas têm grande importância entre as

fundições primárias. Envolvem também as indústrias

Quer saber mais?

Poluição do ar (atmosférica) Pode ser definida como a introdução na atmosfera de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades dessa atmosfera, afetando, ou podendo afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou vegetais que

dependem ou tenham contato com essa atmosfera, ou mesmo que venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais que tenham contato com ela (Gil Portugal, ANO???). As fontes de poluição atmosférica são inúmeras e inúmeras são também as formas de impedir ou de aliviar a poluição. A legislação ambiental é rica em detalhes que começam por dois grandes ramos: o controle das emissões e a qualidade do ar, ambos regulamentados pelo CONAMA.. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao1.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 199

que produzem peças forjadas, laminadas, trefiladas e

extrudadas.

Tipos de Poluentes:

Fumos de óxido metálicos, poeira e produtos

de combustão da operação de fusão,

dependendo da volatilidade e impurezas dos

metais, sucata ou minério; e dióxido de

enxofre, dependendo do conteúdo do enxofre

no minério, no carvão e no combustível

utilizado.

INDÚSTRIA DE MADEIRA E MOBILIÁRIO

Incluem as indústrias de desdobramento,

compensação e produção de chapas de madeira

prensada, de fabricação de peças e estruturas de

madeira aparelhada, fabricação de artigos de cortiça e

de artigos diversos de madeira e produtos afins, e

fabricação de móveis e artigos de colchoaria.

Tipos de Poluentes:

Material particulado, gotículas de tinta,

solvente e fumaça de equipamento que

queimam resíduos.

FUMOS METÁLICOS

Alguns metais em forma de ions podem ser muito

agressivos. O tetróxido de ósmio (OsO4), conhecido

também como ácido ósmico, é um irritante bem

conhecido, produtor de laringotraqueítes, sendo

muito utilizado como catalisador, oxidante e, nos

laboratórios de histologia e anatomia patológica,

como fixador e corante. Também fumos metálicos

provenientes de fusão de metais, especialmente os

de cádmio, manganês e zinco são irritantes.

Veja outros dados no site:

http://www.medicina.ufmg.br/dmps/doencas_respir

atorias_trabalho.doc

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 200

INDÚSTRIAS QUÍMICAS E FARMACÊUTICAS

Incluem a fabricação de ilimitada variedade de

produtos: elementos químicos e produtos químicos

inorgânicos e orgânicos; matérias plásticas básicas e

fios artificiais; pólvoras e explosivos, óleos brutos,

essências vegetais e matérias graxas, animais

preparados para limpeza e polimento; desinfetantes,

inseticidas, germicidas e fungicidas; tintas, esmaltes,

lacas, vernizes, impermeabilizantes e solventes;

produtos derivados de petróleo, produtos derivados da

destilação de carvão de pedra e da madeira, produtos

farmacêuticas e medicinais; e produtos de perfumaria,

sabões e velas.

Tipos de poluentes: a tecnologia química produz

todas as formas de poluição do ar.

Fontes Móveis - os veículos automotores

constituem, juntamente com trens, aviões embarcações

marinhas, as chamadas fontes móveis de poluição do

SOBRE A POLUIÇÃO QUÍMICA

Segundo o Programa Internacional de Segurança

Química há mais de 750.000 substâncias conhecidas

no meio ambiente, sendo de origem natural ou

resultado da atividade humana (IPCS, 1992). Cerca

de 70.000 são quotidianamente utilizadas pelo

homem, sendo que aproximadamente 40.000 em

significativas quantidades comerciais (IPCS and

IRPTC, 1992). Desse total, calcula-se que apenas

cerca de 6.000 substâncias possuam uma avaliação,

considerada como minimamente adequada, sobre os

riscos para a saúde do homem e o meio ambiente.

Acrescente-se a esse quadro a capacidade de

inovação tecnológica no ramo químico, que não só

vem se complexificando os sistemas tecnológicos de

produção, como colocando à disposição do mercado,

a cada ano, entre 1.000 e 2.000 novas substâncias.

Veja mais informações no artigo de Freitas et al.

(2001) da Revista Bahia Anaálise de Dados

disponível no site:

http://www.sei.ba.gov.br/publicacoes/bahia_analise

/analise_dados/pdf/popambient_2/pag_260.pdf

Dica de leitura

O livro de PORTIN, J. e MASSARO, S. aborda a poluição causada por agentes químicos presentes no ar, na água e na terra. Sua leitura o ajudará a ficar alerta para diferenciar o que é conseqüência de uma forma de poluição daquilo que, de fato, é poluição. Vale a pena conhecê-lo.

Sua publicação é feita pela editora brasiliense. Coleção Primeiros Passos, nº 267.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 201

ar. Os veículos podem ser divididos em leves, os quais

usam gasolina e álcool como combustível, e pesados

que utilizam o óleo diesel. Tanto os veículos movidos a

diesel, como aqueles movidos a gasolina ou álcool,

produzem gases, vapores e material particulado, a

diferença reside nas quantidades que cada um deles

emite para atmosfera.

Os principais gases tóxicos são o monóxido de

carbono (CO), os compostos orgânicos usualmente

chamados de hidrocarbonetos (HC), os óxidos de

nitrogênio (NOx), os aldeídos e o material particulado

que é constituído por partículas de dimensões

diminutas, da ordem de milésimo de milímetros,

identificáveis como fuligem ou poeiras.

As emissões do sistema de exaustão dos

veículos leves são as mais significativas em relação às

demais no processo de degradação da qualidade do ar.

Os poluentes emitidos em maiores proporções são o

monóxido de carbono, os hidrocarbonetos, óxido de

nitrogênio e aldeídos.

Aqueles que usam como combustíveis o óleo

diesel e são representados pelos ônibus e caminhões

têm como principais poluentes: os óxidos de nitrogênio,

hidrocarbonetos, material particulado e odor.

POLUIÇÃO DA ÁGUA

A poluição da água ocorre com a adição de

substâncias estranhas à água, eliminando ou

diminuindo a sua aptidão para usos específicos. Para

que se possa avaliar a qualidade da água é importante

o conhecimento e a quantificação dos parâmetros de

qualidade de água.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 202

POTENCIAL HIDROGENIÔNICO

PH - é a relação numérica que expressa o

equilíbrio entre íons (H+) e íons (OH-). Sua faixa de

variação é de 0 a 14, sendo 7 o valor considerado como

neutro, isto é as concentrações de íons (H+) e (OH-)

são iguais. Águas ácidas, com pH menor que 7, têm

predominância de íons (H+) e águas básicas têm pH

maior que 7, com predominância de íons (OH-).

Alterações bruscas do pH podem prejudicar a

vida aquática, principalmente a dos peixes, que em

geral são adaptados às condições de neutralidade.

Quanto mais matéria orgânica houver a ser

decomposta, mais ácidas são as águas. É fator variável

em função do local e do momento de medição.

As maiores alterações deste indicador são, em

geral, provocadas por despejos industriais.

OXIGÊNIO DISSOLVIDO

Representa a quantidade de oxigênio em

dissolução na água. A quantidade de oxigênio dissolvido

é função direta da temperatura da água e da pressão

atmosférica. Além da atmosfera, a fotossíntese é,

também, uma fonte de oxigênio para os seres vivos.

É expresso em geral em mg/l, sendo de

importância vital, pois a maioria dos seres aquáticos

são aeróbicos, isto é, necessitam deste elemento para a

respiração.

O despejo de esgotos ou a retirada de areia do

fundo, com o conseqüente aumento de decomposição

da matéria orgânica depositada, diminui a quantidade

de oxigênio disponível na água em decorrência da

demanda microbiana.

Quer saber mais?

Poluição da água (hídrica) Pode ser definida como a introdução num corpo d’água de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades dessa água, afetando, ou podendo afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou vegetais que dependem dessas águas ou com elas tenham contato, ou mesmo que venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais

contatadas (Gil Portugal). Os efluentes líquidos industriais, dependendo de como foi utilizada a água, demandarão tratamentos com tecnologias as mais variadas. A própria água de chuva pode transformar um escoamento pluvial em poluidor. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao2.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 203

DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO - DBO

Entendido como a quantidade de oxigênio,

expressa em mg/l, necessário para a oxidação da

matéria orgânica, através da ação de bactérias

aeróbias. A oxidação é um processo de simplificação

(decomposição) da matéria orgânica, neste caso feita

pelos microorganismos, em substâncias mais simples

tais como NH3 (amônio), CO2 (gás carbônico), H2O

(água) e sais minerais.

O teste padrão chama-se DBO5,20 e procura

retratar em laboratório o fenômeno a se realizado no

corpo d'água, a temperatura constante de 20ºC e

durante um período de incubação de 5 dias.

Aumentos de DBO num corpo d'água são

provocados por despejos de origem

SAIBA MAIS

A estabilização ou decomposição biológica da

matéria orgânica lançada ou presente na água

envolve o consumo de oxigênio (molecular)

dissolvido na água, nos processos metabólicos

desses organismos biológicos aeróbicos.

Em função do citado anteriormente, a redução da

taxa de oxigênio dissolvido em um recurso hídrico

pode indicar atividade bacteriana decompondo

matéria orgânica.

Logo, surge o conceito da demanda de oxigênio em

relação à matéria orgânica, sendo muito utilizada as

demandas bioquímicas de oxigênio (DBO) e a

química de oxigênio (DQO); entende-se por DBO a

quantidade de oxigênio molecular necessária à

estabilização da matéria orgânica carbonada

decomposta aerobicamente por via biológica e DQO,

a quantidade de oxigênio molecular necessária à

estabilização da matéria orgânica por via química.

Fonte:

http://www.tratamentodeesgoto.com.br/ensaio_anal

itico/index.php?cp=ind&chave=20

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 204

predominantemente orgânica, sendo, portanto um

indicador clássico deste poluente.

DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO - DQO

Como a DBO é um indicador da presença de

matéria orgânica, podendo ser definida como a

quantidade de oxigênio necessária para oxidação da

matéria orgânica através de um agente químico,

enquanto na DBO a oxidação é realizada por bactérias

aeróbias.

Em geral a DQO tem concentrações, em mg/l,

maiores que a DBO e como sua análise é realizada em

tempo menor, serve como orientação para o teste

DBO5,20. O aumento da DQO em um corpo d'água se

deve principalmente a despejos industriais.

DUREZA

É devido principalmente aos sais de cálcio e

magnésio existentes na água. Estes compostos reagem

com sabão impedindo a formação de espuma.

NITROGÊNIO AMONIACAL

É um dos elementos mais importantes para a

vida, mas é escasso nas águas. No estudo das águas

interiores (limnologia), a concentração de amônia

refere-se, em geral, às concentrações de nitrogênio

amoniacal (mg/l) em suas duas formas (NH3 e NH4+).

O íon NH4+ é muito importante para os organismos

vivos, uma vez que, sua absorção é mais viável que a

do nitrato, também encontrado na água.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 205

Em altas concentrações, este íon diminui a

quantidade de oxigênio dissolvido e indica a existência

de muita matéria orgânica em decomposição. Em meios

alcalinos, pH alto, o íon transforma-se em gás amônia

(NH3 livre), tóxico para peixes em altas concentrações.

Resulta da decomposição do nitrogênio

proveniente do ar por assimilação de algumas algas, de

adubos e de matéria orgânica em decomposição.

NITRATOS

Expresso mg/l, mede o nitrogênio

completamente mineralizado e quando em abundância

indica, em geral, contaminação remota. Depósitos de

esterco de gado têm sido a causa da presença

acentuada de nitratos em poços rasos de água. Águas

com teores elevados de nitrato, utilizadas no preparo

de alimentos, são responsáveis pela incidência da

cianose ou metamoglobinemia como também é

conhecida, na população infantil. Para efeito de

prevenção da doença, que provoca descoloração da

pele em conseqüência de alterações no sangue, as

SOBRE O NITROGÊNIO AMONIACAL

O nitrogênio é escasso nas águas e pode ser

retirado do ar por algumas algas. Alguns adubos

utilizados na agricultura possuem nitrogênio como

principal nutriente dada a sua importância e

escassez no solo; mas também está presente nas

matérias orgânicas em decomposição. Nos animais e

vegetais o nitrogênio se encontra na forma orgânica,

mas em contato com a água, rapidamente

transforma-se em nitrogênio amoniacal. A presença

de nitrogênio amoniacal na água significa matéria

orgânica em decomposição e que o ambiente está

pobre em oxigênio. Nitrogênio Amoniacal =

presença de esgotos

Fonte:

http://www.rededasaguas.org.br/observando/qualid

ade_agua2.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 206

águas para bebida não devem ter nitratos além de 45

mg/l.

METAIS

Medido em mg/l, ocorrem nos corpos d'água

devido a despejos decorrente principalmente de

processos industriais e de minerações e garimpos. Os

principais metais analisados são listados

resumidamente abaixo.

Alumínio: são encontrados naturalmente nas

águas. Suas fontes principais são as

indústrias e estações de tratamento de água

que utilizam substâncias químicas a base de

alumínio.

Bário: é recomendado nas águas naturais,

porém em pequena quantidade, o que

decorre, sobretudo da baixa solubilidade do

sulfato de bário, forma sob a qual normalmente

se apresenta. Em certas águas minerais, o bário

SOBRE OS NITRATOS

O nitrogênio ocorre exclusivamente na forma de

ânions complexos NO3- e NH4

+, e na forma de gás na

atmosfera. Os nitratos constituem sais formados

pelo ácido nítrico HNO3, são facilmente solúveis em

água e estão confinados quase que exclusivamente

em formações geológicas relativamente recentes,

geradas em desertos continentais quentes. Eles são

formados por reações de oxidação normalmente

associada à ação de nitrobactérias em solos,

podendo-se formar ainda pela ação de descargas

elétricas, especialmente em platôs elevados. Os

nitratos mais importantes são de Na e K, sendo de

menor importância os nitratos dos alcalinos terrosos

Ca, Mg e Ba. Em ambientes desérticos sobre

depósitos de cobre, às vezes, ocorrem complexos

nitratos de cobre. Minerais complexos compostos

por nitratos e outros ânions complexos e hidratos

são conhecidos.

Fonte:

http://ns.rc.unesp.br/museudpm/banco/nitratos/nitr

atos.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 207

é também encontrado como carbonato. O

bário pode atuar sobre os sistemas nervoso e

circulatório, razão pela qual sua presença na

água não deve ultrapassar 1 mg/l.

Cádmio: encontrado nas águas naturais em

concentração bastante baixas, este metal tem

elevado potencial tóxico. Estudos realizados

mostram que o cádmio é cumulativo nos

organismos. A poluição decorre do contato da

água com a superfície interna de recipientes e

canalizações em que o metal esteja presente.

A água poluída por despejos das indústrias de

Galvanoplastia também pode apresentar teor

elevado de cádmio, que, por ser tóxico,

geralmente é limitado em águas potáveis em

0,01 mg/l.

Chumbo: é perigoso para saúde. Mesmo em

pequenas doses, é capaz de provocar doenças

e até a morte, desde que seja prolongada a

sua ação. Ingerido em pequenas quantidades,

porém continuamente, torna-se veneno

cumulativo. A intoxicação crônica que causa é

conhecida por saturnismo. Nas condições

naturais apenas traços do metal são

encontrados na água, excetuando-se nas

regiões ricas em galena, onde as concentrações

podem atingir até 0,8 mg/l. Na maioria das

vezes, a presença de chumbo na água

decorre da poluição desta por certos despejos

industriais, ou de seu contato com o metal

nos encanamentos. Além da água, o ar e a

fumaça de tabaco podem servir de veículo de

penetração do chumbo no organismo. Embora

os padrões de potabilidade limitem de 0,5 a

0,10 mg/l o teor de chumbo na água, o certo

seria o estabelecimento de um limite ou limites

Quer saber mais?

Sobre o cádmio Cádmio é um metal mole, branco acinzentado, bom condutor de calor e eletricidade. Foi descoberto por Friedrich Stroemeyer em 1817 (alemanha). O nome originou-se do termo latino cadmia que significa calamine (carbonato de zinco, znco3), ou da palavra grega kadmeia com o mesmo significado. É um metal macio, maleável e branco azulado. Embaça ao ar, é solúvel em ácidos e insolúvel em álcalis. O cádmio fervente libera um vapor venenoso de cor amarela. O cádmio pode causar uma variedade de

problema com a saúde inclusive falha renal e pressão alta. A exposição crônica ao cádmio, até mesmo a concentrações relativamente baixas, pode resultar em dano permanente do rim e pulmão, pode danificar o fígado, pode causar anemia, perda de olfato e risco de aumento de câncer do pulmão e da próstata. Fonte: Http://ns.rc.unesp.br/museudpm/banco/nitratos/nitratos.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 208

com vistas às diversas vias de acesso ao

organismo.

Cobre: é geralmente encontrado na águas

naturais de regiões onde o metal é explorado.

Seu teor, todavia, é bem menor que o capaz

de tornar a água tóxica, facilmente rejeitável

por seu gosto repugnante. Quando supera 1,0

mg/l, o cobre já pode provocar gosto na

água, razão pela qual esse é o valor limite

dos padrões norte-americanos de

potabilidade.

Cromo: sua ocorrência natural nas águas é

rara e pode ser encontrado na forma

hexavalente e na forma trivalente, sendo a

primeira mais tóxica apesar de não tem poder

cumulativo. Com 0,5 mg/l de bicromato de

potássio já tem ação tóxica no homem. Os

padrões de potabilidade limitam em 0,5 mg/l.

Sua presença se deve principalmente a

despejos industriais como galvanoplastias,

processo químico e eletrolítico de

revestimento de superfícies metálicas.

Ferro: do mesmo modo que o cobre, o ferro

só torna a água tóxica em teor bastante

elevado, água essa que seria refugada para

bebida pelo sabor assaz desagradável limite

de 0,30mg/l estabelecido para o ferro, nos

padrões de potabilidade, decorre

exclusivamente do sabor que o metal confere

a água e das manchas que este pode produzir

nas roupas brancas e louças sanitárias. A

presença do metal na água é capaz de

comprometer o gosto do chá e do café.

Quer saber mais?

Sobre o cromo Alguns cientistas catalogaram o cromo como "o milagre médico dos anos 90", o uso de suplementos diários desse mineral previne diabetes, queima gordura e acelera a perda de

peso. Ele ajuda o organismo a utilizar de forma mais eficaz a insulina e a manter os níveis normais de açúcar (glicose) no sangue. A suplementação de cromo pode impedir a ocorrência de diabete tipo 2 em pessoas com resistência à insulina. O cromo auxilia o organismo a utilizar a insulina, um hormônio que transfere o açúcar do sangue (glicose) para as células onde é usado como combustível. Quando existe cromo suficiente, o corpo humano utiliza a insulina de forma eficiente e mantém níveis sanguíneos normais de glicose. Além disso, o cromo ajuda no processamento de proteínas para o aumento de massa muscular e na perda de peso como queimador de gorduras. Fonte: Http://www.vitabrasilnet.com.br/cromo.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 209

Magnésio: este metal tem sua concentração

limitada porque alguns de seus sais podem

conferir à água dureza, como o carbonato de

magnésio, ou ação purgativa, como sulfato de

magnésio. Enquanto os padrões brasileiros de

potabilidade limitam o magnésio em função

do valor máximo tolerado para dureza, que é

de 200 mg/l, os padrões norte-americanos

fixam o teor máximo do metal em 125 mg/l.

Manganês: sua presença além de certos

limites pode causar cor e gosto na água, bem

como estimular nesta o desenvolvimento de

microrganismos indesejáveis. Com o ferro, ao

qual geralmente se associa na água, é capaz

de provocar manchas nas roupas e sabor

desagradável no chá e café. Em doses

elevadas pode ser tóxico. No Japão, por

exemplo, houve certa feita casos de

intoxicação alguns culminando em óbitos, em

decorrência da poluição de poços por

quantidade elevada do metal. Em certas

regiões da Mantechuria existe uma rara

doença endêmica atribuída por alguns ao

excesso de manganês ingerido, cuja

concentração máxima na água potável deve ser

de 0,05 mg/l, segundo os padrões norte-

americanos.

SOBRE O MANGANÊS

O manganês é um metal cinza brilhante, duro e é

oxidado superficialmente em contato com o ar,

perdendo o brilho. É um metal de transição e

pertence ao grupo 7 da Tabela Periódica.

O elemento foi identificado por C. W. Scheele e T.

Bergman e isolado por J. G. Gahn em 1774, pela

redução do dióxido de manganês (MnO2) com carbono

(C).

O manganês é um metal abundante que ocorre na

forma de minerais. É considerado um elemento

estratégico na economia mundial, pois tem amplo uso

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 210

Prata: excepcionalmente é encontrada nas

águas naturais, tanto por ser rara como pela

baixa solubilidade de seus sais. Certos

despejos industriais podem carrear para a

água traços do metal, cuja ação nociva é

discutível. Por ser também utilizada como

desinfetante, estabelecem-se limites de

concentração para seu uso, porque depois de

ingerida, dificilmente é eliminada pelo

organismo.

Zinco: encontra-se em algumas águas

naturais, particularmente nas regiões onde é

explorado. Sua presença em águas tratadas é

controlada porque quando ultrapassa certos

teores, definidos em 15 mg/l nos padrões

brasileiros e em 5 mg/l nos padrões dos

estados unidos, torna a água de sabor

desagradável. Como o ferro e o cobre, o zinco

pode torna-se tóxico em dose elevada,

propiciando, todavia, imediata rejeição da

água pelo sabor que provoca.

comercial e distribuição geográfica desigual. É

também, um importante elemento para vida animal

e vegetal.

Aços especiais;

Na fabricação de cofres;

Ligas com alumínio (Al) e antimônio (Sb);

O dióxido de manganês é um descolorizador de

vidro com impurezas de ferro;

Colocação de vidros na cor da ametista (violeta),

ele é responsável pela cor da ametista

verdadeira;

Os permanganatos são agentes oxidantes fortes e

são usados em análise quantitativa e em

medicina.

O seu dióxido é usado no preparo químico de

oxigênio, cloro e na secagem de tintas pretas.

Fonte:

http://www.christus.com.br/infochristus/tabperiodic

a/elementos/manganes/manganes.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 211

PRAGUICIDAS

Podem ser chamados de inseticidas, herbicidas,

fungicidas, carrapaticidas, raticidas etc. Os praguicidas

podem ser divididos em orgânicos e inorgânicos. Os

orgânicos sintéticos são os mais utilizados, destacando-

se os organoclorados, que são mais usados devido a

fatores técnico-econômicos e os organofosforados,

preferíveis do ponto de vista ambiental por serem

menos tóxicos. São expressos em mg/l.

Os peixes e organismos aquáticos são muito

mais sensíveis a sua toxidade que outros animais,

incluindo o próprio homem.

A contaminação dos corpos d'água pelos

pesticidas se dá mais pelo seu uso agrícola do que pela

sua fabricação.

ATENÇÃO

Existe uma farta bibliografia sobre os praguicidas e

seus efeitos. Não deixe de consultar na internet

também vários efeitos sobre esse tema como o de

Mônica Nunes e Heloisa Tajara em relação aos

efeitos tardios de praguicidas organoclorados no

homem disponibilizado no site abaixo. Ainda assim

leia antes um pequeno resumo deste artigo

imperdível:

Os compostos organoclorados são os praguicidas

mais persistentes já fabricados. Embora sejam

geralmente eficientes no controle das pragas, são

importantes poluentes ambientais e potenciais

causas de problemas de saúde para o homem, tendo

sido proibidos ou controlados na maioria dos países.

Com poucas exceções, os efeitos tardios desses

compostos sobre a saúde humana são difíceis de

detectar, em função de dificuldades metodológicas e

da extrapolação dos resultados. A genotoxicidade

está entre os mais sérios dos possíveis danos

causados por esses compostos e merece atenção

especial, devido à natureza irreversível do processo.

Consulte já o mesmo na íntegra.

http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v32n4/a2411.pdf

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 212

NUTRIENTES

São compostos principalmente a base de

nitrogênio e fósforo. Estes dois compostos ocorrem na

natureza em pequenas concentrações medidas em

mg/l.

Em determinadas condições possibilitam o

aparecimento e a proliferação de organismos aquáticos

e conseqüentemente a eutrofisação de corpos d'água

dormentes. A eutrofisação é um fenômeno que

caracteriza-se pelo aumento na presença de algas e

plantas aquáticas. Este processo pode causar um

desequilíbrio do ecosistema causando prejuízos

principalmente ao abastecimento público, a navegação,

a geração de energia, a recreação etc. Suas fontes

principais são os esgotos domésticos e fertilizantes

agrícolas.

ÓLEOS E GRAXAS

São encontrados devido principalmente a

indústrias alimentícias e postos de combustível e

expressos em mg/l.

COMPOSTOS FENÓLICOS

Os padrões de potabilidade limitam geralmente

os sólidos totais em 1000 mg/l, porque daí para cima

podem provocar reações fisiológicas. É comum

encontrarem-se águas naturais com teores bem mais

elevados, que, no entanto, podem ser removidos por

tratamento. Tem como fontes principais a siderurgia e

a indústria de tintas e solventes.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 213

CLORETOS

A maioria das águas naturais possui cloretos em

solução. Nas águas tidas como doces, a presença de

cloretos ocorre naturalmente ou decorre de poluição

por parte da água do mar, esgotos sanitários ou

despejos industriais. Os padrões de potabilidade

geralmente limitam os cloretos 250 mg/l porque

quando ultrapassam este valor causam sabor

acentuado na água para bebida. Para uso doméstico há

quem recomende o teor máximo de 100 mg/l. Os

cloretos provocam reações fisiológicas somente quando

ingeridos em grande quantidade, através de águas que

os contêm em alto grau, como o do mar. Podem

funcionar também como indicadores de poluição por

parte de esgotos sanitários, desde que a água

normalmente os possua em pequena quantidade. Em

teores elevados podem também aumentar a

corrosividade da água.

SULFATOS

Águas com elevadas concentrações destes sais,

como as que mantêm contato prolongado com

SOBRE COMPOSTOS FENÓLICOS

Os compostos fenólicos estão presentes em todos os

vegetais e compreendem um grupo heterogêneo de

substâncias, umas com estruturas químicas

relativamente simples e outras complexas, como

taninos e ligninas. No café, esses compostos

contribuem de maneira altamente significativa para

o sabor e o aroma do produto final.

Os compostos fenólicos possuem em comum um

anel aromático rodeado por um ou mais grupos

hidroxila. A maioria é solúvel em água e ocorrem na

forma de glicosídeos. Eles são originados a partir da

via do ácido chiquímico e acumulam-se nos vacúolos

das células vegetais.

Fonte:

http://geocities.yahoo.com.br/plantastoxicas/fenolic

os.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 214

depósitos naturais de sulfatos de magnésio ou de

sulfato de sódio podem funcionar como laxativo, razão

pela qual seu teor é limitado em 250 mg/l pelos

padrões de potabilidade.

ARSÊNIO

Raramente é encontrado nas águas naturais.

Sua presença é causada por despejos industriais,

atividades de mineração ou pelo uso de inseticidas ou

herbicidas. Além de sua ação tóxica, o arsênico pode

provocar câncer de pele quando existe na água em

dose elevada. Casos desta moléstia foram registrados

na África do Sul e em Córdoba, argentina, atribuídos à

água com 12 mg/l de arsênico. Os padrões de

potabilidade norte-americanos limitam em 0,05 mg/l o

teor de arsênico. No Brasil, ainda tolera-se 0,10 mg/l e,

na Inglaterra, 0,2 mg/l.

PARA SABER MAIS

Os sulfatos anidros mais importantes e mais comuns

são os membros do grupo da barita, com grandes

cátions bivalentes coordenados com os íons sulfato.

A estrutura relativamente simples conduz à simetria

ortorrômbica, com clivagem perfeita {001} e {110}.

O sulfato de cálcio (anidrita), por causa do tamanho

menor do íon Ca, tem estrutura ligeiramente

diferente, possuindo três clivagens pinacoidais. As

propriedades físicas são em geral conferidas pelo

cátion dominante, sendo a densidade diretamente

proporcional ao peso atômico do cátion. Entre os

sulfatos hidratados, o gipso é o mais importante e

abundante e a sua estrutura, como sugerido pela

sua clivagem perfeita {010}, é em folhas,

consistindo em camadas de íons Ca e sulfato,

separadas por moléculas de água. A perda destas

moléculas de água faz com que a estrutura entre em

colapso, tomando a configuração da anidrita, com

grande diminuição de volume e perda da perfeição

da clivagem. Veja uma lista detalhada dos principais

sulfatos no site:

http://www.rc.unesp.br/museudpm/banco/sulfatos/s

ulfatos.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 215

SELÊNIO

Raramente é encontrado nas águas naturais. A

maior concentração registrada foi em água subterrânea

com o valor de 1.600 mg/l. Além de tóxico concorre

para incidência de cárie dentária nas crianças. Por outro

lado, a sua ausência total é prejudicial à nutrição. Os

padrões americanos atuais estabelecem o limite de

0,01 mg/l.

CIANETOS

São muito tóxicos e sua presença nas águas

naturais é causada pelos despejos industriais. Uma

única dose de 50mg/l pode ser fatal. Os padrões norte-

americanos recomendam o limite de 0,01 mg/l e

rejeitam a água com 0,2 mg/l.

PERIGOS DOS CIANETOS

Inalação:

É corrosivo ao trato respiratório. A substância inibe

a respiração celular e pode causar alterações no

sangue, sistema nervoso central e tireóide. Pode

causar dores de cabeça, fraqueza, tontura, náuseas,

respiração difícil e vômito, os que podem ser

seguidos por batimentos cardíacos fracos e

irregulares, perda da consciência, convulsões, coma

e morte.

Ingestão:

Extremamente tóxico! Corrosivo para o trato

gastrointestinal com queimaduras na boca e

esôfago, e dor abdominal. Doses maiores podem

provocar rápida perda da consciência e morte súbita

por parada respiratória. Doses menores, porém

ainda letais, podem prolongar a doença por uma ou

mais horas. Cheiro de amêndoas amargas pode ser

notado na respiração ou no vômito. Outros sintomas

podem ser semelhantes aos descritos, para o caso

de inalação. Contato com a pele:

Corrosivo. Pode causar dor severa e queima da pele.

Soluções são corrosivas para a pele e olhos, e

podem causar dor intensa e queimaduras na pele,

além de úlceras profundas que demoram para sarar.

Fonte:

http://www.qca.ibilce.unesp.br/prevencao/produtos/

cianeto.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 216

CLORO

O cloro livre dissolvido não é encontrado nas

águas naturais e sim nas de suprimento público após

tratamento, quando é utilizado como desinfetante.

Neste caso, é desejável um residual de 0,1 a 0,2 mg/l

para manter a água desinfetada até o consumidor final.

Porém tais concentrações já conferem à água um leve

sabor desagradável.

BORO

Não causa nenhum distúrbio no organismo

quando existe abaixo de 30 mg/l, como ocorre nas

águas naturais. Sabe-se, todavia, que o boro pode ser

prejudicial a certas plantas. Para as cítricas, a água

com mais de 1,0 mg/l já é considerada prejudicial.

GÁS SULFÍDRICO

Decorrente da decomposição de matéria

orgânica, este gás confere à água gosto de ovo podre,

razão pela qual sua presença, já percebida dentro das

concentrações de 0,1 a 1,0 mg/l, é indesejável.

SÍLICA

É encontrada nas águas naturais até 110 mg/l,

concentração em que não chega a molestar o

organismo.

FLUORETOS

As águas mais ricas em fluoretos são as

subterrâneas, que podem possuí-los até 50 mg/l. Nos

mananciais de superfície raramente o teor de 1 mg/l é

ultrapassado. Quando a concentração de fluoreto na

água supera 1,5 mg/l, já podem surgir os primeiros

Quer saber mais?

Sobre os fluoretos

Os fluoretos são muito utilizados também na área odontologia. Nos casos que a doença dentária se encontra em estágios iniciais, isto é, lesões brancas sem cavitação, se faz necessária a terapia com fluoretos em alta concentração, com o objetivo de remineralizar as manchas brancas, tornando-as mais resistentes aos ataques de cárie. A mancha branca é a manifestação inicial da doença cárie, significando que o paciente está doente e precisa de cuidados e orientação profissional para reverter a atividade, não permitindo a progressão destas e o aparecimento de outras novas.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 217

sintomas da fluorose dentária. Ao atingir 4 mg/l toda a

população já é vítima da doença e ultrapassando 8 mg/l

ocorrem alterações ósseas. Os padrões de potabilidade

norte-americanos limitam em 1 mg/l o teor do fluoreto.

Por outro lado, a presença de flúor na água é desejável

em doses inferiores ao limite por ser benéfico na

prevenção da cárie dentária, sobretudo nas crianças.

COLIFORMES

Parâmetro que permite avaliar de forma indireta

o potencial de contaminação da água por

microorganismos patogênicos de origem fecal.

Normalmente não são bactérias patogênicas, mas por

serem resistentes e numerosos no intestino humano,

sua presença permite detectar a existência de fezes na

água, as quais muitas vezes, estão associadas à

presença de bactérias patogênica. Sendo a investigação

direta dos seres patogênicos inviável na prática, os

coliformes têm se mostrado até então como os

melhores indicadores da possível presença de seres

patogênicos.

POLUIÇÃO DO SOLO

As fontes de poluição do solo podem ser de

origem natural, associadas às catástrofes como

terremotos, vendavais, erupções vulcânicas e

enxurradas e inundações ou derivadas da atividade

humana, a saber:

Poluição devida aos resíduos de sólidos

domésticos, hospitalares e industriais;

Poluição devida aos resíduos líquidos

sanitários e industriais;

Poluição devida à urbanização e ocupação do

solo;

Poluição devida às atividades agropastoris

Para navegar

Vale a pena consultar esse portal de prevenção a sílica e a silicose do Ministério do Trabalho e Emprego do governo federal. http://www.fundacentro.gov.br/start/default.asp?D=SES

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 218

Poluição devida às atividades extrativas e de

mineração;

Poluição acidental devida ao transporte de

cargas.

Os resíduos são, via de regra, dispostos

diretamente sobre o solo, seja na forma de aterros,

seja por infiltração ou pela simples acumulação sobre o

solo.

Os resíduos sólidos domésticos são aqueles

gerados pelas residências e outras edificações urbanas

como as ligadas ao comércio. Sua composição varia em

função do nível sócio-econômico da comunidade. A

tabela abaixo apresenta a composição média do lixo da

cidade de São Paulo.

Tipo de Material %

Papel e papelão 24,0

Madeira 1,0

Trapos 1,0

Restos de alimentos 41,0

Metais ferrosos e não ferrosos 6,0

Vidro 8,0

Terra e similares 9,0

Outros 2,0

Os resíduos hospitalares, que inclui também

resíduos gerados por farmácias e laboratórios de

análise, são aqueles que por suas características podem

apresentar materiais contaminados com

microorganismos patogênicos.

Os resíduos industriais são de composição muito

variável dependendo da tipologia industrial. A título de

ilustração a tabela abaixo apresenta dados resumidos

dos resíduos sólidos gerados na indústria metalúrgica.

Quer saber mais?

Poluição do solo A disposição sobre o solo de materiais

orgânicos e/ou inorgânicos, bem como a passagem sobre esse solo de massa fluida, que provoque alterações na constituição básica desse solo, modificando suas propriedades originais benéficas ao uso das espécies que dele dependem ou com ele se contactem, inclusive influenciando a qualidade das águas sob esse solo, caracteriza a poluição deste solo (Gil Portugal, ANO???). Geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e que não guardam interesse imediato pelo gerador que deseja, de alguma forma, se desfazer deles. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao3.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 219

Tipo de Material %

Resíduo geral da fábrica 25,0

Escória de fundição 26,0

Areia de fundição 20,0

Sucatas metálicas 5,0

Resíduos de refratários e minerais não metálicos 5,0

Lodos de sistemas de tratamento de águas

residuárias

4,0

Resíduos contendo cianetos 0,1

Outros resíduos 14,9

Os resíduos sólidos de uma forma geral são

classificados de acordo com sua periculosidade e

características em:

Classe 1 - perigoso todo o resíduo sólido ou

mistura de resíduos sólidos que, em função de suas

características de inflamabilidade, corrosividade,

reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem

apresentar risco à saúde pública, provocando ou

contribuindo para um aumento de mortalidade ou

incidência de doenças, e/ou apresentam efeitos

adversos ao meio ambiente quando manuseados ou

dispostos de forma inadequada;

Classe 2 - não inerte todo resíduo sólido ou

mistura de resíduos sólidos que, não se enquadram na

classe 1 ou 3. Nesta classificação incluem-se os

resíduos sólidos domiciliares;

Classe 3 - inerte todo resíduo sólido ou mistura

de resíduos sólidos que, submetidos a um teste de

solubilidade, não tiverem nenhum de seus constituintes

solubilizados em concentrações superiores aos padrões

de potabilidade de água.

Os resíduos líquidos são em geral oriundos de

sistemas de fossas e sumidouros ou valas de infiltração

ou devido às águas pluviais que após lavar aterros

Dica do professor

Agora é com você:

Compare as tabelas e compare-as com as estatísticas de sua cidade.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 220

sanitários e outras localidades poluídas, se infiltram no

solo.

POLUIÇÃO SONORA

O som, vencendo qualquer tentativa de

privacidade, transformou-se num invasor comunitário

em todas as camadas sociais. As indústrias vêm sendo

instaladas junto às residências, com todas as

implicações do impacto ecológico, num crescimento

desordenado e gerador de muitos incômodos, gerando

problemas de trânsito. Com isto, há um violento

acréscimo dos níveis de ruídos ambientais, que já não

são mais localizados como no caso das indústrias, mas

sim afetam toda a comunidade.

As fontes de ruído podem ser divididas em

estacionárias e móveis. As fontes estacionárias são

aquelas que se encontram fixadas em um determinado

local, como por exemplo: os processos e operações

industriais, as construções e o comércio (casas

noturnas).

As fontes móveis são aquelas que se

movimentam de um local para outro. Como principais

fontes destacam-se os veículos automotores, as

aeronaves e os trens.

POLUIÇÃO SONORA

Poluição Sonora é qualquer alteração das

propriedades físicas do meio ambiente causada por

puro ou conjugação de sons, admissíveis ou não,

que direta ou indiretamente seja nociva a saúde,

segurança e ao bem.

Há cerca de 2500 anos a humanidade conhece os

efeitos prejudiciais do ruído à saúde. Existem textos

relatando a surdez dos moradores que viviam

próximos às cataratas do Rio Nilo, no antigo Egito. O

desenvolvimento da indústria e o surgimento dos

grandes centros urbanos acabou com o silêncio de

boa parte do planeta. O primeiro decreto que se

conhece para a proteção humana contra o ruído no

Brasil, é de 6 de maio de1824, no qual se proíba o “ruí

Quer saber mais?

Resíduos sólidos A disposição sobre o solo de materiais orgânicos e/ou inorgânicos, bem como a passagem sobre esse solo de massa fluida, que provoque alterações na constituição básica desse solo, modificando suas propriedades originais benéficas

ao uso das espécies que dele dependem ou com ele se contatem, inclusive influenciando a qualidade das águas sob esse solo, caracteriza a poluição deste solo (gil portugal). Geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e que não guardam interesse imediato pelo gerador que deseja, de alguma forma, se desfazer deles. Fonte: Http://www.gpca.com.br/poluicao3.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 221

POLUIÇÃO RADIOATIVA

Para que se fale em poluição radioativa, deve-se

primeiramente definir radiação. Radiação é o efeito

químico proveniente de ondas de energia calorífica,

luminosa etc. Existem três tipos de radiação:

Raios alfa e raios beta, que têm a absorção

mais fácil, e

Raios gama, que são muito mais penetrantes

que os primeiros, já que se tratam de ondas

eletromagnéticas.

O contato contínuo à radiação causa danos aos

tecidos vivos, tendo como principais efeitos a leucemia,

tumores, queda de cabelo, diminuição da expectativa

de vida, mutações genéticas, lesões a vários órgãos

etc. Assim, a poluição radioativa é o aumento dos

níveis naturais de radiação por meio da utilização de

substâncias radioativas naturais ou artificiais.

A poluição radioativa tem como fontes:

Substâncias radioativas naturais: são as

substâncias que se encontram no subsolo, e

que acompanham alguns materiais de

interesse econômico, como petróleo e carvão,

que são trazidas para a superfície e

espalhadas no meio ambiente por meio de

atividades mineradoras;

do permanente e abusivo da chiadeira dos carros

dentro da cidade", estabelecendo multas que iam de

8 mil réis a 10 dias de cadeia, que se

transformavam em 50 açoites, quando o infrator era

escravo.

Fonte:

http://geocities.yahoo.com.br/poluicaosonora/poluic

aosonora.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 222

Substâncias radioativas artificiais: substâncias

que não são radioativas, mas que nos

reatores ou aceleradores de partículas são

“provocadas”.

POLUIÇÃO VISUAL

Paredes pichadas, ruas cheias de placas de

propaganda, "camadas" de cartazes, umas por cima

das outras, faixas nos postes são responsáveis pela

poluição visual. Essa forma de poluição não causa

problemas de saúde, mas enfeia o ambiente, deixando-

o sujo e bem menos repousante.

Um tipo particular de poluição visual é a

luminosa. À primeira vista não parece, mas ela existe

e, em excesso, causa diversos prejuízos. A iluminação

dos grandes centros urbanos é feita de qualquer

maneira e com desperdício de energia, esse tipo de

iluminação diminui a transparência da atmosfera,

prejudicando a visão do céu noturno e atrapalhando o

sono das pessoas que moram em frente dos luminosos.

Macroefeitos dos impactos ambientais

CHUVA ÁCIDA

A chuva será considerada ácida quando tiver um

pH inferior a 5,0, ocorrendo não apenas sob a forma de

chuva, mas também como neve, geada ou neblina.

Decorre da queimada de combustíveis fósseis,

produzindo gás carbônico, formas oxidadas de carbono,

nitrogênio e enxofre. Esses gases, quando liberados

para a atmosfera, podem ser tóxicos para os

organismos.

Quer saber mais?

Poluição visual Poluição visual pode ser definida como qualquer tipo de "agressão" aos olhos da população. Isso engloba lixo espalhado pelas ruas, pichações em muros (o que é muito diferente da arte grafite), o excesso de outdoors, placas publicitárias e fios elétricos. A foto (????) acima é um exemplo de pichação que ilustra a poluição visual. Veja a diferença da mesma para a foto abaixo (?????) que se refere ao grafite, uma arte de rua que ao contrário da

pichação não agride os olhos.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 223

O dióxido de enxofre provoca a chuva ácida

quando se combina com a água presente na atmosfera,

sob a forma de vapor. As gotículas de ácido sulfúrico

resultantes dessa combinação geram sérios danos às

áreas atingidas. Além dos sérios danos ao meio

ambiente natural, as chuvas ácidas também constituem

séria ameaça ao patrimônio cultural da humanidade,

corroendo as obras talhadas em mármore, que por ser

uma rocha calcária, dissolve-se sob a ação de

substâncias ácidas.

EFEITO ESTUFA

Fenômeno de elevação da temperatura média da

Terra, que ocorre pelo aumento considerável na

concentração de gás carbônico na atmosfera,

provocado principalmente pela queima de combustíveis

fósseis e desmatamentos, formando assim uma espécie

CHUVA ÁCIDA

Tanto o gás carbônico como outros óxidos ácidos,

por exemplo, SO2 e NOx, são encontrados na

atmosfera e as suas quantidades crescentes são um

fator de preocupação para os seres humanos, pois

causam, entre outras coisas, as chuvas ácidas.

O termo chuva ácida foi usado pela primeira vez por

Robert Angus Smith, químico e climatologista inglês.

Ele usou a expressão para descrever a precipitação

ácida que ocorreu sobre a cidade de Manchester no

início da Revolução Industrial. Com o

desenvolvimento e avanço industrial, os problemas

inerentes às chuvas ácidas têm se tornado cada vez

mais sérios.

Um dos problemas das chuvas ácidas é o fato destas

poderem ser transportadas através de grandes

distâncias, podendo vir a cair em locais onde não há

queima de combustíveis.

Veja mais informações nos sites:

http://www2.uol.com.br/joanaprado/joana_natureza

/natureza_poluicaovisual.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 224

de “coberta” sobre a Terra que impede a expansão do

calor.

O crescente aumento do teor do gás carbônico

na atmosfera faz com que a temperatura da Terra

esteja aumentando, o que pode ocasionar grandes

distúrbios climáticos, como por exemplo:

Aumento da mortalidade relacionada ao calor

(internação, desidratação);

Elevação do potencial de epidemias por

microorganismos (enchentes, transmissão de

vetores);

Evaporação da água transformando grandes

massas em desertos;

Derretimento das calotas polares elevando o

nível do mar e ameaçando as cidades

costeiras.

EFEITO ESTUFA

O Efeito Estufa é a forma que a Terra tem para

manter sua temperatura constante. A atmosfera é

altamente transparente à luz solar, porém cerca de

35% da radiação que recebemos vai ser refletida de

novo para o espaço, ficando os outros 65% retidos

na Terra. Isto se deve principalmente ao efeito

sobre os raios infravermelhos de gases como o

Dióxido de Carbono, Metano, Óxidos de Azoto e

Ozônio presentes na atmosfera (totalizando menos

de 1% desta), que vão reter esta radiação na Terra,

permitindo-nos assistir ao efeito calorífico dos

mesmos.

Nos últimos anos, a concentração de dióxido de

carbono na atmosfera tem aumentado cerca de

0,4% anualmente; este aumento se deve à

utilização de petróleo, gás e carvão e à destruição

das florestas tropicais. A concentração de outros

gases que contribuem para o Efeito de Estufa, tais

como o metano e os clorofluorcarbonetos também

aumentaram rapidamente. O efeito conjunto de tais

substâncias pode vir a causar um aumento da

temperatura global (Aquecimento Global) estimado

entre 2 e 6 ºC nos próximos 100 anos. Um

aquecimento desta ordem de grandeza não só irá

alterar os climas em nível mundial como também irá

aumentar o nível médio das águas do mar em, pelo

menos, 30 cm, o que poderá interferir na vida de mi-

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 225

Fonte: Bortholin e Guedes (2003).

DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO

O ozônio está presente na troposfera, que é a

camada da atmosfera em que vivemos, e também em

zonas mais altas da estratosfera, entre 12 e 50 km de

altitude, tendo como função proteger o planeta da

incidência direta de grande parte dos raios ultravioleta,

que é um dos componentes da radiação solar.

Uma das grandes causas da diminuição da

camada de ozônio tem sido a liberação de compostos

químicos industriais na atmosfera, denominados de CFC

(cloroflúorcarbono), que é um gás não tóxico, inodoro,

e quimicamente inerte. É usado em grande escala como

agente refrigerador de geladeiras e aparelhos de ar

condicionado, na manufatura de espumas de plástico e

principalmente como propelente de aerossóis

enlatados. Sua inércia química torna-o capaz de atingir

milhões de pessoas habitando as áreas costeiras

mais baixas.

Fonte:

http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Efeito_

Estufa.html

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 226

grandes altitudes sem se modificar, até alcançar a

estratosfera, onde a radiação ultravioleta provinda do

Sol provoca a sua quebra. O cloro é liberado, reagindo

com o ozônio, e desmembrando-o em uma molécula e

um átomo de oxigênio.

Outras substâncias que também são agressivas

a camada de ozônio: dióxido de nitrogênio e óxido

nitroso liberados pelas indústrias em geral; halogêneos

presentes em extintores de incêndio e o gás metano

produzido na agropecuária e na indústria de mineração.

Com a diminuição dessa camada de ozônio, os

raios ultravioleta atingem a Terra de forma mais

brusca, provocando graves doenças no ser humano,

como câncer de pele, distúrbios cardíacos e

pulmonares, queimaduras, problemas de visão -

catarata etc. Suspeita-se também que prejudique a

imunidade celular e sistêmica.

O ambiente também é diretamente atingido

pelas modificações provocadas cadeia alimentar, visto

que certas espécies de animais e plantas são

extremamente sensíveis a essa radiação, como os

CAMADA DE OZÔNIO

O ozônio é um gás atmosférico azul-escuro, que se

concentra na chamada estratosfera, uma região

situada entre 20 e 40 km de altitude. A diferença

entre o ozônio e o oxigênio dá a impressão de ser

muito pequena, pois se resume a um átomo:

enquanto uma molécula de oxigênio possui dois

átomos, uma molécula de ozônio possui três.

Essa pequena diferença, no entanto, é fundamental

para a manutenção de todas as formas de vida na

Terra, pois o ozônio tem a função de proteger o

planeta da radiação ultravioleta do Sol. Sem essa

proteção, a vida na Terra seria quase que

completamente extinta.

Consulte na internet uma pesquisa completa sobre o

tema no site abaixo:

http://www.msantunes.com.br/juizo/acamada.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 227

anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas). A radiação

UVB penetra vários metros abaixo da superfície do mar

prejudicando o fitoplâncton que prolifera nestas

camadas e é extremamente sensível à essa radiação.

Os fitoplâncton são as formas de vida do início da

cadeia alimentar. Além disso, a destruição desta

camada de ozônio pode contribuir com o derretimento

de parte do gelo da calota polar, causando o

superaquecimento do planeta.

QUEIMADAS E DESMATAMENTOS

Queimadas e desmatamentos deixaram de ser

um problema restrito às fronteiras agrícolas e ao Arco

do Desmatamento e passaram a atingir todos os

Estados. Esta é uma das principais conclusões da

pesquisa divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística) que investiga o meio

ambiente nos 5.560 municípios brasileiros.

SITES SOBRE O DESMATAMENTO EM

FLORESTAS TROPICAIS

A taxa exata na razão da qual as florestas estão

atualmente sendo destruídas no mundo não são

conhecidas, uma vez que não tem sido feito um

censo global desde 1990. Naquela época, uma área

de aproximadamente 150.000 km2 de floresta

tropical, equivalente ao tamanho do estado de São

Paulo, tem sido destruída a cada ano. Também uma

área semelhante de florestas tem sido destruída ou

degradada anualmente. Na média, a taxa de

destruição aumentou durante os últimos anos em

função de desmatamento irregular e clandestino no

Brasil e na Indonésia.

Os sites a seguir contêm informações gerais sobre a

destruição das florestas tropicais. Informações

adicionais podem ser encontradas em sites da

Floresta Tropical e Organizações de ajuda listados

abaixo.

http://www.ran.org/

http://www.wwf.org.br/amazonia/default.htm

http://www.mma.gov.br/

http://www.greenpeace.org/

http://www.unilivre.org.br/

http://www.tree4life.com/desmata.htm

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 228

Estudos do IBGE (2002), concluíram que,

embora as queimadas e os desmatamentos sejam mais

freqüentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, elas se

tornaram um problema generalizado: prefeituras de

todas as unidades da federação informaram a

ocorrência deste tipo de agressão ao meio ambiente.

Os desmatamentos vêm provocando sérios

impactos no meio ambiente, com destaque para as

alterações climáticas, a diminuição da biodiversidade, a

degradação do solo e o comprometimento da rede

hidrográfica.

Alterações climáticas – O clima do mundo é

afetado com a destruição das florestas porque elas

regulam a temperatura, o regime de ventos e de

chuvas. As precipitações provêm, além de outros

fatores, da evaporação da água por meio da

transpiração das plantas. A redução drástica da camada

vegetal leva à diminuição das chuvas e, paralelamente,

ao aquecimento da terra, já que a energia solar antes

utilizada na evapotranspiração é devolvida para a

atmosfera. Os cientistas também acreditam que o

aquecimento da terra observado nos últimos anos seja

decorrente da concentração de gases a base de

carbono na atmosfera, lançados pelas indústrias e pelas

queimadas de extensas áreas de mata tropical.

Segundo pesquisa recente do IBGE, o Arco do

Desmatamento compreende a área ao sul e ao leste da

Amazônia, abrangendo municípios do sudeste do Acre,

de Rondônia, do norte de Mato Grosso, sul e leste do

Pará e oeste do Maranhão.

SOBRE AS QUEIMADAS

A dimensão das queimadas na região tropical tem

provocado preocupação e polêmica em âmbito

nacional e internacional. Elas estão em geral

associadas ao desmatamento e a incêndios

florestais, e, no caso do Brasil, onde ocorrem mais

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 229

A pesquisa mostra uma correlação entre

queimadas e desmatamento. Entre os 1.009 municípios

que apontaram desmatamentos alterando as condições

de vida da população, 68% apontaram a ocorrência de

queimadas. Entre os 948 municípios que indicaram a

existência de queimadas, 72% apontaram também a

ocorrência de desmatamento.

A reação tardia: o movimento ecológico

É na década de 60, culturalmente efervescente e

marcada de movimentos e modificações sociais, que a

questão ecológica começa a tomar corpo. Grupos

distintos provenientes inicialmente dos movimentos:

“hippie”, da contracultura, pacifistas, feministas,

espirituais e posteriormente dos movimentos

socialistas, passam a levantar a bandeira ambiental

dando origem a um movimento ecológico amplo e

heterogêneo (ecologismo), às associações não-

governamentais - ONG's, aos partidos verdes, a

políticas e a instituições públicas ligadas ao meio

ambiente.

de 200 mil por ano, as pesquisas indicam que as

queimadas são, na maioria das vezes, uma prática

agrícola generalizada. Aproximadamente 30% delas

ocorrem na Amazônia, principalmente no sul e

sudeste da região.

O Brasil é um dos únicos países do mundo a dispor

de um sistema orbital de monitoramento de

queimadas absolutamente operacional. Dezenas de

mapas de localização são gerados por semana,

durante o inverno, e, neste trabalho, são

apresentados dados quantitativos do monitoramento

orbital das queimadas ocorridas na Amazônia. O

monitoramento é fruto de uma colaboração científica

multiinstitucional, envolvendo o Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais (INPE), o Núcleo de

Monitoramento Ambiental - NMA/EMBRAPA, a

Ecoforça - Pesquisa e Desenvolvimento e a Agência

Estado (AE). Administration.

Fonte:

http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port

/meioamb/ecossist/queimada/

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 230

Apesar de encontrarmos raciocínios ecológicos

em diversos pensadores em épocas anteriores, é a

partir desta época que acadêmicos e intelectuais

também aderem ao movimento e começam a produção

teórica sobre o assunto.

Diegues (2001) ilustra bem a questão. “Nos

anos 60, portanto, marcaram o aparecimento de um

novo ecologismo em contraposição à antiga “proteção

da natureza”, cujas instituições provinham do século

XIX (sociedades de proteção da natureza, da vida

selvagem, dos animais etc.). Esse novo ecologismo

provinha de um movimento de ativistas que partiam de

uma crítica da sociedade tecnológico-industrial (tanto

capitalista quanto socialista), cerceadora das liberdades

individuais, homogeneizadoras das culturas e,

VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO

PLANO INTERNACIONAL

1964 - Criação da primeira legislação nacional de

gestão e combate à poluição dos de recursos

hídricos na França;

1968 - Clube de Roma - reunião em Roma com

cientistas dos países desenvolvidos para se discutir

o consumo e as reservas de recursos naturais não

renováveis e o crescimento da população mundial

até meados do século XVI. Gerou o relatório técnico

Limites do Crescimento, elaborado pelo

Massachusetts Institute of Technology, que alinhava

inúmeros dados sobre o esgotamento de reservas

minerais, aumento de poluição, crescimento

populacional,..., demonstrando a inviabilidade da

continuação futura do atual modelo de crescimento

ilimitado urbano-industrial. Foi o primeiro estudo

que passou de uma visão qualitativa para

quantificação em nível planetário;

1969 - NEPA (EUA) - Nacional Environmental Policy

Act: primeira legislação federal contendo objetivos e

princípios da política ambiental. Qualquer proposta

que afastasse a qualidade ambiental deveria conter:

os impactos/efeitos ambientais que poderiam ser

evitados; alternativas de ação; etc. No ano seguinte

o Canadá e a Comunidade Européia também criam

legislações semelhantes;

1971 - Estudos sobre a crise da humanidade e o

crescimento zero do Prof. Dennis Meadows,

intitulado O Limite do Crescimento.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 231

sobretudo, destruidora da natureza. A preocupação

fundamental da maioria desses movimentos, tanto nos

Estados Unidos quanto na Europa, não era a proteção

de uma única espécie de animal ou de um parque

nacional isoladamente”.

Os modelos socialistas também eram alvos de

criticas da nova visão ambiental. Lago e Pádua (1989)

analisam a questão.

Os regimes socialistas não eram

considerados como uma alternativa

pelos ecologistas, pois não mudaram

substancialmente os padrões do

crescimento ilimitado do Capitalismo.

A meta do crescimento acelerado

continuou a motivar a economia, com

resultados ecológicos igualmente

desastrados. Se por um lado a

estatização da produção reduziu a

ganância (monopólios estatais não

sujeitos a concorrência de mercado), a

falta de interesse pelas questões

ambientais, aliada a ineficiência do

estado não favoreceram o meio

ambiente. Com o agravante da

ausência de liberdade de expressão

que restringiu o espaço da denúncia

dos crimes ecológicos.

(Lago e Pádua, 1989)

Diegues (2001) novamente, “As questões

ecológicas passaram a ser uma das bandeiras de luta,

ao lado do antimilitarismo/pacifismo, direitos das

minorias etc.”

VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO

PLANO INTERNACIONAL (CONT.)

1971 - A organização não-governamental

Greenpeace é fundada para protestar contra testes

nucleares no Alasca;

1971 - Painel de peritos em meio ambiente, em

Foneux na Suíça;

1972 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente – Estocolmo - Suécia – marco histórico

que oficializou o surgimento da preocupação

internacional com o meio ambiente e a emergência

de políticas públicas em muitos países, inclusive o

Brasil. Na conferência criou-se o Programa das Nações

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 232

PARADIGMA MECANICISTA

O paradigma mecanicista já não

conseguia mais dar resposta aos novos

problemas, caracterizados pela

complexidade e interdisciplinaridade,

no contexto de uma racionalidade

meramente instrumental e de uma

ética antropocêntrica. Em resposta a

esse estado de coisas eclodiram vários

movimentos questionadores do estilo

de vida e relações sócio-econômicas

no mundo, entre eles o movimento

ambientalista.

(Lago e Pádua,1989)

A crítica ambiental cresce em todo o mundo.

Não é possível uma economia de crescimento ilimitado

num planeta finito e de recursos e capacidades

limitados. Colocando os EUA como modelo de

desenvolvimento que outros países devem seguir,

simplesmente não existem recursos no planeta para

sustentar a expansão do nível de consumo material

como o do americano para o resto do mundo (cada

criança americana consome em média o equivalente a

50 crianças indianas). Além disso, nós não somos a

última geração a utilizar os recursos naturais do

planeta.

Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA e o Programa

de Observação da Terra. Surge também o conceito

de ecodesenvolvimento ou desenvolvimento

sustentável;

1983 - Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento com o objetivo de preparar uma

agenda global;

1986 - Auditorias ambientais voluntárias nos EUA;

1987 - Apresentado pela ONU a publicação Nosso

Futuro Comum, que realizava um grande estudo

ambiental em escala mundial;

1989 - Criação da Comissão Latino-Americana de

Desenvolvimento e Meio Ambiente e a publicação da

Nossa Própria Agenda no ano seguinte;

1991 - Estabelecimento do Grupo de Ação

Estratégica sobre o Meio Ambiente criando normas

ambientais internacionais - SAGE - TC207.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 233

O modelo capitalista da sociedade urbano

industrial é definido então como não sustentável e não

distributivo. Desta forma o movimento ambientalista

cresce e ganha força, se espalhando pelo mundo. Como

um movimento heterogêneo, aparecem diversas linhas

de ação e de pensamentos que veremos a seguir.

DESENVOLVIMENTO ECOLOGICAMENTE

SUSTENTÁVEL – ECODESENVOLVIMENTO

Definição – “Desenvolvimento Sustentável:

atender às necessidades do presente sem comprometer

a possibilidade de as futuras gerações satisfazerem

suas próprias necessidades.” – Relatório Brundtland -

ONU – 1987.

VITÓRIAS E CONQUISTAS AMBIENTAIS NO

PLANO INTERNACIONAL (CONT.)

1992 - 2a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente - ECO92 - Rio de Janeiro. Denominada de

Conferência de Cúpula da Terra, reuniu 103 chefes

de estado em um total de 182 países. O Fórum

Global realizado na Conferência aprovou

documentos tais como:

Carta da Terra;

Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento;

Declaração sobre as florestas;

Convenção sobre a diversidade biológica;

Convenção-quadro sobre as mudanças climáticas;

Agenda 21 - declaração de intenções na forma de

documento que estabelece as ações a serem

seguidas no século XXI, rumo ao desenvolvimento

sustentável.

1993 - auditoria ambiental voluntária na União

Européia;

1996 - Normas ISO série 14000;

1997 - 3o Conferência sobre Alteração Climáticas

dos Estados-Membros das Nações Unidas em Kioto

no Japão;

1997 - I Fórum Mundial de Água, em Marrakech,

Morocco;

2000 - II Fórum Mundial da Água, em Haia,

Holanda.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 234

O conceito é importante como referência de um

novo caminho a seguir, porém na prática é um conceito

vago. Pode-se questionar quais são as necessidades do

presente, dado que dependendo do nível financeiro o

homem tem necessidades diferentes. Por exemplo, as

necessidades de um suíço ou de um californiano não

são as mesmas das de um africano ou um favelado

carioca.

Não temos ainda bem claro uma definição

operacional de Desenvolvimento Sustentável, o que

temos são linhas de pensamento expostas abaixo.

MARCOS EVOLUTIVOS DO PENSAMENTO

AMBIENTAL NO BRASIL

1934 - Código de Águas - considerado avançado

para sua época, já dispunha sobre assuntos

considerados nos modelos de gestão de recursos

hídricos atuais. Ainda em vigor no que não é

mencionado na Lei no 9.433/97 - Política Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos;

1934 - Conferência Brasileira de Proteção à

Natureza (Conservacionismo). Possibilitou, em 1937,

a criação do 1o Parque Nacional Brasileiro, em

Itatiaia – RJ, seguidos dos Parques Nacionais da

Floresta da Tijuca e de Foz do Iguaçu, também nos

anos 30;

1965 - Lei no 4.771/65 - institui o Código Florestal.

É uma das leis ambientais mais antigas do país.

Prevê, entre outros aspectos, a proteção das

florestas nativas brasileiras e os corpos d'água

contidos nas bacias hidrográficas.

1973 - criação da SEMA - Secretaria Especial de

Meio Ambiente, influenciada pela Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente de 1972; 1981

- criação da Política Nacional de Meia Ambiente- PNMA

e do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA

- início de uma política ambiental mais efetiva com o

objetivo de garantir “a preservação, melhoria e

recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,

visando assegurar no país condições ao

desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da

segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 235

LINHAS DE PENSAMENTO

Pessimista – controle biológico populacional.

Escassez, poluição, cataclisma, extinção. Linha Neo-

Malthusiana.

Otimista – premissa da intelectualidade humana.

Visão antropocêntrica.

Inserção da dimensão ambiental no modelo

capitalista. Mantém-se o modelo capitalista

com sua lógica econômica de lucro individual

de curto prazo, a partir da concorrência de

mercado. Permanece a idéia da satisfação

pelo consumo e acúmulo material a partir de

uma consciência egóica materialista. Os

custos ambientais passarão a ser

internalizados com o uso de tecnologias mais

limpas e corretivas, visando aumento de

produtividade e com diminuição de impactos

ambientais. Permanece a cultura de domínio

do meio natural pelo homem. Atividades

centralizadas.

Sociedade Ecológica. A lógica é sócio-

ambiental, incluindo a econômica, porém de

foco econômico é mais coletivo e de longo

prazo. Ao invés da concorrência a lógica

coletiva leva à cooperação. Satisfação do

homem não vem somente pelo consumo

material, mas principalmente pelo imaterial.

Consciência transpessoal com a preocupação

social e ambiental. Uso de tecnologia

alternativa, sistêmica (holística), compatível

com os sistemas naturais. Adequação /

integração dos processos produtivos humanos

ao meio natural ao invés de dominação.

Descentralização.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 236

Lago e Pádua (1989) ilustram melhor este tipo

de sociedade:

procuram cooperar com os

mecanismos do sistema natural, ao

invés de tentar dominá-los pela

agressão.

Abaixo temos algumas características desta

sociedade ecológica:

Descentralização da economia, do poder e do

espaço social de forma a tornar mais fácil o

controle da sociedade. A concentração do

poder em grandes estruturas sócio-

econômicas, complexas e burocratizadas,

facilitam o controle hegemônico sobre os rumos

da produção e seus impactos sobre a

sociedade e o meio ambiente. O indivíduo

passa a não opinar, ficando a mercê das

decisões dos grandes produtores, para quem

as taxas de lucros pesa bem mais do que

considerações sobre a qualidade de vida

humana;

MARCOS EVOLUTIVOS DO PENSAMENTO

AMBIENTAL NO BRASIL (CONT.)

1981 - Cria-se o CONAMA (Conselho Nacional de

Meio Ambiente), órgão consultivo e deliberativo,

com a composição de diversos Ministérios, órgãos

ambientais federais, estaduais e municipais etc.;

1986/87 - Estudos de Impactos Ambientais e

Licenciamento Ambiental;

1989 - Criação do IBAMA – Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;

1997 - Institui a Política Nacional de Recursos

Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos, regulamentando o inciso XIX

do art. 21 da Constituição Federal de 1988;

1998 - Lei de Crimes Ambientais - Lei no 9605/98;

2000 - Lei no 9.984/00 - dispõe sobre a criação da

Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal

de implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos e da coordenação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências da vida humana.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 237

Ao invés de grandes indústrias localizadas nas

metrópoles e periferias, indústrias de

pequeno e médio porte, espalhadas em

pequenas cidades e no campo, adaptando-se

a paisagem ecológica e social;

Ao invés de grandes latifúndios com

monoculturas, uma agricultura diversificada

em equilíbrio com os ecossistemas nativos

(sem a necessidade de fertilizantes artificiais

e defensivos). Esse processo só seria viável

se combinado com uma reforma agrária e

educação ambiental;

A articulação orgânica das pequenas e médias

cidades com o campo em sua volta,

atenuando o antagonismo cidade/campo,

aproximando os camponeses dos benefícios

das cidades e os citadinos do contato com a

natureza e a cultura rural. Facilitando

também o abastecimento direto das cidades

com os produtos rurais produzidos na região

reduzindo custos de transporte, estocagem,

intermediários e viabilizando o uso de

técnicas agrícolas menos impactantes;

Opções por fontes descentralizadas de

energia renováveis, não poluentes e de

pequeno impacto ambiental, como estações

coletoras individuais de energia solar; de

ventos; dos mares, biodigestores, pequenas

centrais hidroelétricas etc.;

Uso de tecnologias leves e alternativas na

produção ao invés das tecnologias

impactantes tradicionais chamadas duras. Por

exemplo, no combate a uma praga em uma

plantação pode-se usar:

Dica de leitura

O livro de Isabel Carvalho aborda as questões referentes as duas linhas de pensamento aqui tratadas (otimista e pessimista) destacando a dinâmica de relacional entre homem e meio. Fruto de sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação de Educação da UFRGS, defendida em fevereiro de 2000, o livro busca compreender o jogo da produção de sentidos sobre o ambiental na sociedade contemporânea, abordando as diferentes dimensões da preocupação com o meio ambiente.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 238

Tecnologia dura - uso de praguicida químico

(DDT, BHC etc.). Destroem não apenas a

praga, mas também muitos outros

organismos necessários ao equilíbrio daquele

ecossistema agrícola. Além disso, sendo o

produto altamente tóxico poderá prejudicar a

saúde dos futuros consumidores da colheita,

do meio ambiente e principalmente a saúde

dos lavradores que trabalham na plantação;

Tecnologia leve - parte da premissa que a

plantação é um ecossistema complexo que

está desequilibrado (aparecimento da praga)

por algum motivo. Solução: descobrir as

causas do desequilíbrio e atacá-las. Por

exemplo, pode-se disseminar na plantação

algum organismo que se alimente da praga,

ou o uso de inseticidas naturais,

biodegradáveis. São alguns exemplos de

tecnologias leves:

Processos industriais mais racionais e menos

poluentes, utilizando aparelhos anti-poluição;

filtros etc.;

Processos de reciclagem como a reutilização

da água, a reciclagem do lixo e dos materiais

usados como o vidro, papel, metais etc.

Procurando fechar o ciclo da atividade

produtiva;

Controle da poluição gerada por esgotos

urbanos, com a difusão de estações de

tratamento de esgotos (etes), lagoas de

estabilização, etc. Além da reciclagem dos

esgotos, transformando-os em adubos e

alimentos para fauna aquática, biogás, água

etc.;

Para navegar

Sobre a temática das tecnologias leves – Vale a pena ler o artigo de José Ayres

intitulado “Cuidado: Tecnologia ou Sabedoria Prática?” disponível na internet através do site: http://www.interface.org.br/revista6/debates2.pdf

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 239

Agricultura orgânica, sem defensivos e em

equilíbrio com os ecossistemas;

Opção por transportes não-poluentes (ex.:

bicicleta) e o transporte coletivo com ênfase

no transporte metroviário e ferroviário;

Desenvolvimento de novas tecnologias, mais

ecológicas, nas áreas industriais, agrícolas,

urbanas, de transporte, energia, etc., através

dos meios acadêmicos, contribuindo para

gerar empregos e para a independência

tecnológica do país;

Ecoarquitetura, ecovilas etc.;

Economia que estimule o respeito aos limites

físicos dos ecossistemas naturais e não ao

consumo desenfreado socialmente definido.

Mudança no modelo econômico atual de

crescimento ilimitado, introduzindo a

dimensão ecológica (economia do meio

ambiente), como, por exemplo, a valoração

econômica dos bens livres, como a água; o

princípio poluidor-pagador, usuário-pagador;

Fortalecimento da democracia e do sistema

federativo, com aumento da autonomia

política municipal e regional;

Maior participação da sociedade civil

organizada em associações de moradores, de

consumidores, de trabalhadores, de defesa do

meio ambiente e direito de minorias, de

partidos políticos, comitês de bacias

hidrográficas (grupos de usuários de recursos

hídricos de uma bacia que discutem e financiam

melhoramentos na bacia), etc. Desta forma indi

Quer saber mais?

De acordo com a definição mais popular, uma ecovila é um assentamento completo, de proporções humanamente manejáveis, que integre as atividades humanas no ambiente natural sem degradação, e que sustente o desenvolvimento humano saudável de forma contínua e permanente. Podemos utilizar esta definição como

uma meta, ou um guia para que as comunidades continuem se aperfeiçoando e adaptando.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 240

víduos e setores da sociedade devem ter voz

ativa nas tomadas de decisão exigindo diretos

e debates populares. O processo deve vir de

baixo para cima;

Democratização dos meios de comunicação;

Políticas ambientais de governo envolvendo

uma série de medidas e instrumentos, tais

como:

Racionalização do uso das reservas naturais

em processo de esgotamento;

Projetos de reflorestamentos, com distinção

entre o reflorestamento com espécies nativas

e o “reflorestamento” para a indústria

madeireira. Esta última deve obedecer a um

zoneamento prévio para não termos grandes

monoculturas de árvores;

Reprodução de espécies animais ameaçadas

de extinção;

Controle de qualidade dos produtos, que

devem ser duráveis, reutilizáveis e de fácil

reparo, com pequeno uso de energia e

recurso natural em sua fabricação;

Melhoria do ambiente das grandes cidades,

com a jardinização do espaço urbano, a

construção de ciclovias, hortas coletivas,

áreas de lazer comunitárias etc.;

Redução do tempo de trabalho, como forma

de combater o desemprego e para que todos

tenham mais tempo de participar politicamente

e ter mais tempo a cultura e ao lazer etc.

Para refletir

Tomando por base a realidade de sua região, quais seriam os maiores desafios a serem vencidos? Analise cada item antes de responder considerando as especificidades de sua localidade.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 241

Um conceito interessante nesta linha de

desenvolvimento sustentável aparece com a

Permacultura. A Permacultura surgiu na Austrália, no

início da década de 70, por meio das pesquisas de Bill

Mollison e David Holmgren. No início dos anos 90

chegou ao Brasil, se difundindo por institutos e

organizações.

Trata-se de um sistema para criação de

ambientes humanos sustentáveis (inicialmente

ambientes agrícolas) baseado na observação dos

sistemas naturais, procurando inserir os princípios dos

ecossistemas nos processos humanos.

Princípios da Permacultura segundo o

permaculturista Petter Webb.

Trabalhar com a natureza e não contra ela –

quando nós honramos todas as formas de vi-

O QUE É PERMACULTURA?

"Permanent Agriculture" em inglês - nasceu na

cabeça de Bill Mollison, ex-professor universitário

australiano, na década de 1970. Refugiado das

loucuras da sociedade de consumo, Mollison

percebeu que nem os cantos remotos do interior

australiano onde morava seria poupado do colapso

planetário iminente - a flora e a fauna estavam

diminuindo sensivelmente... "Resolvi", falou Mollison

na sua passagem pelo Brasil em junho de 1992,

"que, se voltasse para o mundo, voltaria com uma

coisa muito positiva". Foi assim que nasceu a idéia

de criar sistemas de florestas produtivas para

substituir as monoculturas de trigo e soja,

responsáveis pelo desmatamento mundial.

Observando e imitando as formas de florestas

naturais do lugar, revelou-se possível a criação de

sistemas altamente produtivos, estáveis e

recuperadores dos ecossistemas locais.

Veja outros dados sobre o tema no site do grupo de

Permacultura da UFSC:

http://www.cca.ufsc.br/permacultura/

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 242

da, podemos ver suas necessidades e

compreender como estamos todos ligados.

Diversidade proporciona estabilidade –

diversidade e apoio mútuo interagem para

formar resistência. Vivendo num ambiente

ecologicamente diverso (policultivo), as

instabilidades climáticas e econômicas podem

ter menos efeitos negativos em nossas vidas.

Cooperação ao invés de competição – temos

muito mais força na união do que na

separação, e devemos trabalhar para

reconhecer a conexão de todas as formas de

vida.

O problema é a solução – podemos

transformar nossos problemas em soluções se

trabalharmos com eles e não contra eles.

Planejamento multifuncional – Todo elemento

natural, vegetal, animal, microbiológico ou

estrutura física, deve ser localizado de modo

que sirva a pelo menos duas funções. Por

exemplo, o sistema de esgoto doméstico de

uma edificação pode ser também o sistema

de adubação de uma horta.

Resolver os problemas localmente.

Planejamento como previsão dos problemas.

Produzir mais energia que consumimos.

Fechar os ciclos.

Lago e Pádua (1989) resume bem a questão:

A essência de uma sociedade

ecologista seria a opção por menor

consumo de recursos naturais e energia

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 243

e maior consumo científico, cultural,

artístico, esportivo, religioso,... com

maior tempo para o lazer, convívio

familiar e humano. Enfim com maior

qualidade de vida em harmonia e

contato com a natureza.

(Lago e Pádua, 1989)

Também Hawken, Lovins e Lovins (1999):

Nós vivemos até agora na suposição

de que era bom para nós era bom para

o mundo. Fio um engano. Precisamos

alterar nossa existência de modo que

seja possível viver com a convicção

contrária, de que o que é bom para o

mundo há de ser bom para nós. E isso

exige que nos esforcemos para

conhecer o mundo e aprender o que é

bom para ele. Temos de aprender a

colaborar com seus processos e

compreender os seus limites. Porém, o

que é ainda mais importante, devemos

aprender a reconhecer que a criação é

cheia de mistérios; nunca a

entenderemos claramente. Devemos

abandonar a arrogância e respeitar.

Temos de recobrar o sentido da

majestade da criação e a capacidade

de honrar sua presença. Pois só nas

condições de humildade e reverência

perante o mundo é que a nossa

espécie será capaz de permanecer

nele.

(Hawken, Lovins e Lovins, 1999)

Trigueiro (2003) na mesma linha de pensamento

traz a dimensão sistêmica.

O que precisamos é de uma definição

operacional de sustentabilidade

ecológica. A chave para chegar a esta

definição operacional está em

reconhecer que não precisamos

inventar as comunidades humanas

sustentáveis a partir do zero, mas

podemos moldá-las de acordo com os

ecossistemas naturais, que são

comunidades sustentáveis de plantas,

animais e microrganismos.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 244

INSTRUMENTOS E AÇÕES AMBIENTAIS

Com a conscientização da não sutentabilidade e

não distributividade do modelo econômico vigente e

com o aparecimento do conceito de sustentabilidade

ecológica nos anos 60 e início dos anos 70, surgem

inúmeras ações e instrumentos de planejamento e

gestão ambiental.

EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Década de 60 – Educação Ambiental.

Instrumentos de Conservação/Preservação –

Código Florestal 1965.

Década de 70 - instrumentos de comando e

controle com ótica corretiva público /

regulatório.

Década de 80 - instrumentos de comando e

controle com ótica preventiva caracterizado

pela consolidação da Avaliação de Impactos

Ambientais – AIA (EIA/RIMA).

Década de 90 - instrumentos dentro de uma

ótica integradora, privados de motivação

econômica.

PRINCÍPIOS DA PERMACULTURA Um dos princípios fundamentais da permacultura é o

respeito pela sabedoria da natureza, que

desenvolveu um sistema perfeito para cada lugar.

Do princípio vem a estratégia (observar e copiar a

Natureza), da qual surgirão as inúmeras técnicas,

que podem ser copiadas de situações similares ou

criadas no local, para planejar a sustentabilidade de

quintais, sítios, fazendas ou comunidades (novas ou

já existentes), como ecovilas, bairros e

assentamentos.

No planejamento destas comunidades, além do

ambiente físico, é preciso considerar os aspectos:

social, econômico, cultural e espiritual como parte

imprescindível dos projetos porque, no novo

paradigma, reconhece-se que a felicidade não se

resume ao materialismo.

Veja mais detalhes no site do Instituto de

Permacultura da Bahia:

http://www.permacultura-Bahia.org.br/ conceito.asp

Dica do professor

Sem perder a esperança jamais É importante destacar que mesmo não sendo veiculados na mídia, muitas vitórias já formam alcançadas através desses instrumentos utilizados pela sociedade civil organizada nos mais diferentes setores. São ONGs, movimentos, grupos, ações governamentais e outros. È bem verdade que muito já foi destruído. Contudo também é verdade que se não fossem a criação de tais ferramentas e ação corajosa de pessoas que lutam por um ambiente melhor todos teríamos uma crise ambiental de proporções ainda mais drásticas.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 245

A ascensão das questões ambientais a partir dos

anos 60 foi rápida e crescente. Hoje sabemos que o

movimento ambiental é uma realidade em vários

setores de nossa sociedade e nossa ciência e esta

realidade veio para ficar.

EXERCÍCIO 1

Cite dois tipos de poluição e suas conseqüências para o

meio ambiente?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 2

Defina através de exemplos o que é impacto ambiental?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 246

EXERCÍCIO 3

Em contraposição a antiga idéia de proteção a natureza

nos anos 50, surge na década posterior um novo

ecologismo. Assinale a única característica que não se

relaciona a este ecologismo.

( A ) Crítica a sociedade tecnológico-industrial;

( B ) Crítica a práticas destruidoras da natureza;

( C ) Crítica ao crescimento das liberdades individuais;

( D ) Crítica ao descompromisso com as questões

ambientais;

( E ) Crítica ao progresso urbano.

EXERCÍCIO 4

Os chamados instrumentos de comando e controle na

gestão ambiental são os de:

( A ) Público de perfil regulatório e corretivo que

surgem na década de 70 com as primeiras

agências ambientais;

( B ) Público de perfil regulatório e preventivo que

surgem na década de 80, com a consolidação da

legislação ambiental;

( C ) De ótica integradora, privados, de motivação

econômica, que surgem com a ascensão das

questões ambientais;

( D ) Públicos de perfil informativo e de conservação e

preservação;

( E ) Público privado sem interferência pública.

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 247

RESUMO

Vimos até agora:

Impacto ambiental pode ser entendido como

qualquer alteração no sistema ambiental

físico, químico ou biológico, cultural e sócio-

econômico que possa ser atribuído à

atividades humanos relativas às alternativas

em estudo para satisfazer as necessidades de

um projeto;

Os impactos ambientais existem desde que a

espécie humana aparece no planeta. Mas é a

partir da revolução industrial que os impactos

sobre o meio ambiente tornam-se relevantes;

Para uma economia funcionar adequadamente

esta necessita de 4 tipos de capitais:

humano, natural, manufaturado e financeiro;

A Ideologia vigente do crescimento ilimitado

que afirma que o crescimento acelerado e

sem limites da produção material não é só

possível como necessário e define o nível de

progresso de um país e é aceita por todos os

regimes de governos, de esquerda ou de

direita. Nesta, o crescimento não cresce em

função das necessidades humanas e sim de

sua própria dinâmica interna, pois o

crescimento é para ele um fim e não um

meio;

A escassez dos recursos naturais e a poluição

não são problemas excludentes, pelo

contrário, uma é conseqüência e influencia o

outro;

Para acumular capital (para reinvestir na

produção) e aumentar os lucros, modelo

econômico em questão vai em duas direções:

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 248

aumentar a quantidade e a diversidade da

produção e aumentar o preço dos produtos.

Para tal dois tipos de obsolescência foram

empregadas: a planejada e a cultural;

O otimismo do homem com sua capacidade

com a revolução industrial ofuscou as

incoerências do modelo urbano-industrial que

estava sendo implantado;

Acidente ambiental diz respeito a qualquer

evento não previsível, capaz de, direta ou

indiretamente, causar danos ao meio

ambiente ou a saúde humana, como

vazamento ou lançamento inadequado de

substâncias (gases, líquidos ou sólidos) para

a atmosfera, solo ou corpos d'água, incêndios

florestais ou em instalações industriais;

É a partir da 2a Guerra Mundial, que

começam a surgir os primeiros e graves

problemas ambientais, principalmente os

acidentes ecológicos que mobilizaram a

atenção da sociedade como, por exemplo. O

crescimento e concentração populacional nas

cidades que, por sua vez, começam a gerar

Escassez de recurso naturais

(solo/ar/água/animais/vegetais...); Poluição e

Acidentes ecológicos;

O ser humano, ao interagir com o meio em

que vive, produz resíduos dos quais uma

parte deles causam problemas de poluição do

ar. Tais problemas resultam das chamadas

fontes de poluição, as quais podem ser

classificadas em específicas e múltiplas. As

fontes múltiplas geralmente se encontram

dispersas pela comunidade e a avaliação das

mesmas através do esquema fonte por fonte é

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 249

inviável. Fontes Fixas - as indústrias são as

fontes mais significativas ou de maior

potencial poluidor deste tipo;

A Poluição atmosférica: Pode ser definida

como a introdução na atmosfera de qualquer

matéria ou energia que venha a alterar as

propriedades dessa atmosfera, afetando, ou

podendo afetar, por isso, a "saúde" das

espécies animais ou vegetais que dependem

ou tenham contato com essa atmosfera;

Segundo o Programa Internacional de

Segurança Química há mais de 750.000

substâncias conhecidas no meio ambiente,

sendo de origem natural ou resultado da

atividade humana (IPCS, 1992). Cerca de

70.000 são quotidianamente utilizadas pelo

homem, sendo que aproximadamente 40.000

em significativas quantidades comerciais

(IPCS and IRPTC, 1992);

A poluição da água ocorre com a adição de

substâncias estranhas à água, eliminando ou

diminuindo a sua aptidão para usos

específicos. Para que se possa avaliar a

qualidade da água é importante o

conhecimento e a quantificação dos

parâmetros de qualidade de água;

Quanto mais matéria orgânica houver a ser

decomposta, mais ácidas são as águas. É

fator variável em função do local e do

momento de medição;

A quantidade de oxigênio dissolvido em água

é função direta da temperatura da água e da

pressão atmosférica;

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 250

A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é

entendida como a quantidade de oxigênio,

expressa em mg/l, necessário para a

oxidação da matéria orgânica, através da

ação de bactérias aeróbias. A oxidação é um

processo de simplificação (decomposição) da

matéria orgânica, neste caso feita pelos

microorganismos, em substâncias mais

simples tais como NH3 (amônio), CO2 (gás

carbônico), H2O (água) e sais minerais. Ela

funciona como um indicador de matéria

orgânica;

A Demanda Química Oxigênio – DBQ de

quantidade de oxigênio necessária para

oxidação da matéria orgânica através de um

agente químico, enquanto na DBO a oxidação

é realizada por bactérias aeróbias;

O Nitrogênio é um dos elementos mais

importantes para a vida, mas é escasso nas

águas podendo ser retirado do ar por

algumas algas;

Alguns adubos utilizados na agricultura

possuem nitrogênio como principal nutriente

dada a sua importância e escassez no solo;

O chamado nitrato mede o nitrogênio

completamente mineralizado e quando em

abundância indica, em geral, contaminação

remota. Depósitos de esterco de gado têm

sido a causa da presença acentuada de

nitratos em poços rasos de água;

A presença de metais nos corpos d'água

devido a despejos decorrente principalmente

de processos industriais e de minerações e

garimpos. Os principais metais analisados são:

Alumínio, Bário, Cadmio, Chumbo, Cobre e Cro-

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 251

mo, Ferro, Magnésio, Manganês, prata e

zinco;

Nutrientes: São compostos principalmente a

base de nitrogênio e fósforo. Estes dois

compostos ocorrem na natureza em pequenas

concentrações medidas em mg/l. Em

determinadas condições possibilitam o

aparecimento e a proliferação de organismos

aquáticos e conseqüentemente a eutrofisação

de corpos d'água dormentes;

A eutrofisação é um fenômeno que se

caracteriza pelo aumento na presença de

algas e plantas aquáticas. Este processo pode

causar um desequilíbrio do ecosistema

causando prejuízos principalmente ao

abastecimento público, a navegação, a geração

de energia, a recreação etc.;

Os compostos fenólicos estão presentes em

todos os vegetais e compreendem um grupo

heterogêneo de substâncias, umas com

estruturas químicas relativamente simples e

outras complexas, como taninos e ligninas.

No café, esses compostos contribuem de

maneira altamente significativa para o sabor

e o aroma do produto final;

A maioria das águas naturais possui cloretos

em solução. Nas águas tidas como doces, a

presença de cloretos ocorre naturalmente ou

decorre de poluição por parte da água do

mar, esgotos sanitários ou despejos

industriais;

Águas com elevadas concentrações destes

sais, como as que mantêm contato prolongado

com depósitos naturais de sulfatos de magnésio

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 252

ou de sulfato de sódio podem funcionar como

laxativo, razão pela qual seu teor é limitado

em 250 mg/l pelos padrões de portabilidade;

O Arsênio raramente é encontrado nas águas

naturais. Sua presença é causada por

despejos industriais, atividades de mineração

ou pelo uso de inseticidas ou herbicidas. Além

de sua ação tóxica, o arsênico pode provocar

câncer de pele quando existe na água em

dose elevada;

O selênio raramente é encontrado nas águas

naturais. A maior concentração registrada foi

em água subterrânea com o valor de 1.600

mg/l. Além de tóxico concorre para incidência

de cárie dentária na s crianças. Por outro lado,

a sua ausência total é prejudicial à nutrição;

Os cianetos são muito tóxicos e sua presença

nas águas naturais é causada pelos despejos

industriais. Uma única dose de 50mg/l pode

ser fatal. A substância inibe a respiração

celular e pode causar alterações no sangue,

sistemas nervoso central e tireóide;

Praguicidas: Podem ser chamados de

inseticidas, herbicidas, fungicidas,

carrapaticidas, raticidas etc. Os praguicidas

podem ser divididos em orgânicos e

inorgânicos. Os orgânicos sintéticos são os

mais utilizados, destacando-se os

organoclorados, que são mais usados devido

a fatores técnico-econômicos e os

organofosforados, preferíveis do ponto de

vista ambiental por serem menos tóxicos;

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 253

As águas mais ricas em fluoretos são as

subterrâneas, que podem possuí-los até 50

mg/l. Nos mananciais de superfície raramente

o teor de 1 mg/l é ultrapassado;

A quantidade de coliformes diz respeito ao

parâmetro que permite avaliar de forma

indireta o potencial de contaminação da água

por microorganismos patogênicos de origem

fecal. Normalmente não são bactérias

patogênicas, mas por serem resistentes e

numerosos no intestino humano, sua

presença permite detectar a existência de

fezes na água, as quais muitas vezes, estão

associadas à presença de bactérias

patogênica;

As fontes de poluição do solo podem ser de

origem natural, associadas às catástrofes

como terremotos, vendavais, erupções

vulcânicas e enxurradas e inundações ou

derivadas da atividade humana;

Os resíduos são, via de regra, dispostos

diretamente sobre o solo, seja na forma de

aterros, seja por infiltração ou pela simples

acumulação sobre o solo;

Os resíduos sólidos de uma forma geral são

classificados de acordo com sua

periculosidade e características em: Classe 1

- perigoso todo o resíduo sólido ou mistura de

resíduos sólidos que, em função de suas

características podem apresentar risco à

saúde pública, provocando ou contribuindo

para um aumento de mortalidade ou

incidência de doenças; Classe 2 - não inerte

todo resíduo sólido ou mistura de resíduos sóli-

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 254

dos que, não se enquadram na classe 1 ou 3.

Classe 3 - inerte todo resíduo sólido ou

mistura de resíduos sólidos que, submetidos a

um teste de solubilidade, não tiverem

nenhum de seus constituintes solubilizados

em concentrações superiores aos padrões de

potabilidade de água;

Poluição sonora: qualquer alteração das

propriedades físicas do meio ambiente

causada por puro ou conjugação de sons,

admissíveis ou não, que direta ou

indiretamente seja nociva a saúde, segurança

e ao bem;

Radiação é o efeito químico proveniente de

ondas de energia calorífica, luminosa etc.

Existem três tipos de radiação: raios alfa e

raios beta, que têm a absorção mais fácil e

raios gama, que são muito mais penetrantes

que os primeiros, já que se tratam de ondas

eletromagnéticas;

A poluição radioativa ocorre quando há o

aumento dos níveis naturais de radiação

através da utilização de elementos radioativos

naturais ou artificiais. O uso de radiação para

os mais diversos fins tem se intensificado nas

últimas décadas, uma vez que esta é uma

poderosa fonte de energia;

A chuva é considerada ácida quando tiver um

pH inferior a 5,0, ocorrendo não apenas sob a

forma de chuva, mas também como neve,

geada ou neblina. Decorre da queimada de

combustíveis fósseis, produzindo gás

carbônico, formas oxidadas de carbono,

nitrogênio e enxofre;

Fenômeno de elevação da temperatura média

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 255

da Terra, que ocorre pelo aumento

considerável na concentração de gás

carbônico na atmosfera, provocado

principalmente pela queima de combustíveis

fósseis e desmatamentos, formando assim

uma espécie de “coberta” sobre a Terra que

impede a expansão do calor;

O crescente aumento do teor do gás

carbônico na atmosfera faz com que a

temperatura da Terra esteja aumentando;

Uma das grandes causas da diminuição da

camada de ozônio tem sido a liberação de

compostos químicos industriais na atmosfera,

denominados de CFC (cloroflúorcarbono), que é

um gás não tóxico, inodoro, e quimicamente

inerte. É usado em grande escala como

agente refrigerador de geladeiras e aparelhos

de ar condicionado, na manufatura de

espumas de plástico e principalmente como

propelente de aerossóis enlatados;

Queimadas e desmatamentos deixaram de

ser um problema restrito às fronteiras

agrícolas e ao Arco do Desmatamento e

passaram a atingir todos os Estados. Estudos

do IBGE (2002), concluíram que, embora as

queimadas e os desmatamentos sejam mais

freqüentes no Norte, Nordeste e Centro-

Oeste, elas se tornaram um problema

generalizado;

A dimensão das queimadas na região tropical

tem provocado preocupação e polêmica em

âmbito nacional e internacional. Elas estão em

geral associadas ao desmatamento e a

incêndios florestais, e, no caso do Brasil, onde

ocorrem mais de 200 mil por ano, as pesquisas

indicam que as queimadas são, na maioria das

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 256

vezes, uma prática agrícola generalizada.

Aproximadamente 30% delas ocorrem na

Amazônia, principalmente no sul e sudeste da

região;

Os anos 60, portanto, marcaram o

aparecimento de um novo ecologismo em

contraposição à antiga “proteção da

natureza”, cujas instituições provinham do

século XIX (sociedades de proteção da

natureza, da vida selvagem, dos animais

etc.). Esse novo ecologismo provinha de um

movimento de ativistas que partiam de uma

crítica da sociedade tecnológico-industrial

(tanto capitalista quanto socialista), cerceadora

das liberdades individuais, homogeneizadoras

das culturas e, sobretudo, destruidora da

natureza;

O modelo capitalista da sociedade urbano

industrial é definido então como não

sustentável e não distributivo. Desta forma o

movimento ambientalista cresce e ganha

força, se espalhando pelo mundo lutando pela

construção de uma sociedade ecológica;

A sociedade ecológica que o movimento

lutava para construir pretendia dentre outras

ações: a descentralização da economia, do

poder e do espaço social; a substituição das

grandes indústrias por indústrias de pequeno

e médio porte, espalhadas em pequenas

cidades e no campo; a substituição dos

latifúndios com monoculturas, por uma

agricultura diversificada em equilíbrio com os

ecossistemas nativos; a articulação orgânica das

pequenas e médias cidades com o campo em

sua volta, atenuando o antagonismo

cidade/campo; o uso de tecnologias leves e al-

Aula 5 | Problemática ambiental urbana 257

ternativas na produção ao invés das

tecnologias duras; processos industriais mais

racionais e menos poluentes; processos de

reciclagem como a reutilização da água, a

reciclagem do lixo e de materiais; controle da

poluição gerada por esgotos urbanos, com a

difusão de estações de tratamento de esgotos

(etes); opção por transportes não-poluentes

(ex.: bicicleta) e o transporte coletivo com

ênfase no transporte metroviário e ferroviário

e desenvolvimento de novas tecnologias mais

ecológicas; fortalecimento da democracia e

do sistema federativo, com aumento da

autonomia política municipal e regional; e

valorização de maior participação da

sociedade civil organizada, dentre outros;

A Permacultura pode ser entendida como um

sistema para criação de ambientes humanos

sustentáveis (inicialmente ambientes

agrícolas) baseado na observação dos

sistemas naturais, procurando inserir os

princípios dos ecossistemas nos processos

humanos;

Com a conscientização da não

sustentabilidade e não distributividade do

modelo econômico vigente e com o

aparecimento do conceito de sustentabilidade

ecológica nos anos 60 e início dos anos 70,

surgem inúmeras ações e instrumentos de

planejamento e gestão ambiental como, por

exemplo os instrumentos de comando e

controle com ótica preventiva caracterizado

pela consolidação da Avaliação de Impactos

Abientais – AIA (EIA/RIMA).

AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina

CURSO: Políticas e Desenvolvimento Sustentável

DISCIPLINA: Elementos da Ecologia

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

QUESTÃO 1: Diferencie a Ecologia Social, Ecologia Mental ou Profunda e

Ecologismo

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Você conhece as características de uma floresta temperada? E de

uma tropical? Procure investigar por que dizemos que a floresta tropical é dotada

de uma diversidade biológica muito maior do que a floresta temperada. De fato,

isso ocorre. Agora pesquise e explique por quê.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 3: O Brasil possui 12% dos manguezais do mundo. Defina este bioma a

partir de suas características principais e explique qual seria a importância deste

para a natureza?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: O Pantanal é considerado a maior planície continental inundável do

mundo (aproximadamente 210 mil km2 espalhados por Brasil, Bolívia e Paraguai).

Defina este bioma a partir de suas características principais? Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma

argumentação com suas próprias palavras.

Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender

aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é

fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem

outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas

(citações), quando este for o caso.

Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados

com freqüência para as respostas das avaliações.

Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas

e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.

AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO

SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.

AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento

CURSO: Políticas e Desenvolvimento Sustentável

DISCIPLINA: Elementos da Ecologia

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA:

_____/_____/___________

Atividade Sugerida: Diagnóstico local

A partir dos assuntos estudados faça um levantamento dos principais aspectos

ambientais de seu município e/ou região, ou seja, levante pontos positivos e

negativos do meio ambiente. Com base nas informações, elabore um relatório

contendo:

1- Região: Aspectos ambientais e sociais identificados (ecossistemas locais,

parques, praias, lazer, áreas urbanas...); os pontos positivos e negativos e os

problemas ambientais,

2- Registro: Utilize-se de vídeos, fotos, desenhos, entrevista com moradores

antigos, enfim, use sua criatividade para elaborar o parecer final. Siga o modelo

abaixo.

Orientação: O relatório e parecer elaborados deverão ter, no máximo, duas

páginas.

RELATÓRIO – DIANÓSTICO LOCAL

1) REGIÃO:

a) CARACTERÍSTICAS LOCAIS:

- Aspectos ambientais:

- Aspectos sociais:

b) PONTOS POSITIVOS:

c) PONTOS NEGATIVOS:

2) PARECER FINAL (Atenção: você poderá basear-se em dados,

entrevistas, depoimentos e outras consultas realizadas, mas é

fundamental que você faça uma análise crítica, COM SUAS PRÓPRIAS

PALAVRAS, articulando e consolidando os aspectos apresentados

acima. Aqui, o que estará sendo avaliado é sua capacidade de

realizar uma leitura crítica da realidade socioambiental, tomando

como base os referenciais estudados no curso)

264

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