O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ILIANE ILICE BREITENBACH DOS SANTOS
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL SUBSEQUENTE E A REALIDADE ESCOLAR: ANÁLISE DO ACESSO,
PERMANÊNCIA E CONCLUSÃO
LONDRINA2011
ILIANE ILICE BREITENBACH DOS SANTOS
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL SUBSEQUENTE E A REALIDADE ESCOLAR: ANÁLISE DO ACESSO,
PERMANÊNCIA E CONCLUSÃO
Artigo – produção didáticopedagógico apresentado ao Núcleo Regional de Educação de Londrina e Secretaria de Estado da Educação do Paraná, como requisito obrigatório dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e respectiva conclusão do curso.
Orientadora: Profª. Eliane Cleide da S. Czernisz
LONDRINA2011
RESUMO
O tema abordado neste artigo é a Educação Profissional Subseqüente e tem
como foco o estudo a “Educação Profissional Subsequente e a realidade escolar:
análise do acesso, permanência e conclusão”. O objetivo deste artigo é refletir sobre
as ações realizadas no Projeto de Intervenção Pedagógica realizado no segundo
semestre do ano letivo de 2010, juntamente com a direção, equipe pedagógica,
coordenação de curso e professores do Curso Técnico em Contabilidade –
Subsequente, do Colégio Estadual São José Ensino Fundamental, Médio e
Profissional, do município de Londrina. Destacamos a valorização da formação
continuada do professor, no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que
entendemos ser um programa multiplicador de conhecimentos, idealizado e
desenvolvido pelo Governo do Estado do Paraná em parceria com as Secretarias de
Estado da Educação – SEED e Instituições de Ensino Superior – IES. As ações
realizadas na Escola através de estudos propostos tiveram como apoio um material
didático versando sobre a legislação aplicável a Educação Profissional
Subsequente, especificamente ao Curso Técnico em Contabilidade. Nesse trabalho
foi dada ênfase aos direitos e deveres inerentes a todos os envolvidos no processo
de ensinoaprendizagem, bem como, apresentado os instrumentos legais e
constitucionais do Brasil e do Paraná. Os resultados apontam contradições
existentes no processo de permanência e conclusão como o baixo número de
concluintes e o alto número de evadidos. Também destacamos as condições de
trabalho de professores que possuem uma jornada de trabalho extenso
comprometendo o fazer docente. Entendemos que tais resultados constituem
desafios que reforçam a necessidade de estudo por parte dos professores que
buscam uma escola de qualidade.
INTRODUÇÃO
Escrever sobre a realização de um projeto de intervenção requer apresentar
alguns dados que nos permitam ilustrar, tanto o programa que dá origem ao projeto
de intervenção, quanto a escola. Esta opção favorece o esclarecimento sobre o
acesso e a permanência do aluno na escola.
A Lei Complementar nº 130, regulamenta o Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, que foi instituído pela Lei Complementar nº 103/2004, e tem
como objetivo oferecer Formação Continuada para o Professor da Rede Pública de
Ensino do Paraná.
Este Programa de Formação Continuada, implantado como uma política
educacional de caráter permanente no ano de 2009, teve o ingresso de 2.400
professores da Rede Pública Estadual de Ensino, que durante 2 (dois) anos, teriam,
a partir de seus trabalhos, a meta de melhoria do processo de ensino e
aprendizagem nas escolas públicas estaduais de Educação Básica.
As áreas de estudos do PDE correspondem às áreas como: Currículo da
Educação Básica, Gestão Escolar, Pedagogia, Educação Especial e Profissional,
sendo neste caso, nas disciplinas técnicas, especificamente na Educação
Profissional Subseqüente, área da qual deriva a discussão do presente artigo.
O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola foi desenvolvido no
segundo semestre do ano letivo de 2010, no Colégio Estadual São José – Ensino
Fundamental, Médio e Profissional.
O Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental, Médio e Profissional,
está situado na Rua dos Eucaliptos, nº 215, Jardim Leonor, no Município de
Londrina, Estado do Paraná e, constituise num espaço de 43 anos de conquistas e
contribuições para a educação do município, em especial com o bairro no qual está
localizado.
Segundo dados obtidos da Proposta Pedagógica (2010) o colégio oferta a
modalidade do Ensino Fundamental, no período matutino e vespertino, com 329
alunos matriculados, a modalidade do Ensino Médio no período matutino e noturno
com 142 alunos matriculados e a modalidade de Educação Profissional,
predominantemente, no período noturno, com 100 alunos matriculados. Estão
cursando o Centro de Estudos de Línguas Estrangeiras Modernas CELEM, 42
alunos.
Consta na Proposta Pedagógica que os recursos financeiros necessários a
manutenção da escola são enviados pelo Ministério da Educação e Cultura MEC,
pelo Fundo Rotativo da Secretaria de Estado da Educação SEED, via Fundação
Educacional do Paraná FUNDEPAR. Observamos, ainda, que há captação de
recursos através da Associação de Pais, Mestres e Funcionários APMF, na
captação legal da cantina da APMF e de campanhas junto à comunidade e cantina
da escola.
Na Proposta Pedagógica há a descrição da estrutura física do colégio que
se compõe de três pavimentos: no 1º Pavimento estão localizadas dez salas de aula;
um salão de eventos; uma área coberta, destinada para o lazer e para o refeitório e
uma sala de artes. No 2º Pavimento está localizada a ala administrativa composta
por: uma sala de professores, uma sala das coordenações, uma sala da equipe
pedagógica, uma sala de informática, uma sala de mecanografia, uma cozinha, uma
cantina, uma secretaria, dois banheiros para professores e funcionários, bem como,
um banheiro para os alunos. No 3º Pavimento estão localizadas sete salas de aula,
uma sala de aula adaptada para biblioteca, uma sala de leitura, uma Laboratório de
Matemática, um Laboratório de Física, Química e Biologia e Laboratório de
Informática. Além, destes espaços, o colégio conta com duas quadras poliesportivas
e um refeitório com mesas e bancos. Possui, ainda, os seguintes recursos
pedagógicos: retroprojetores, tela para retroprojetor, televisores, videocassetes,
aparelhos de som, rádios gravadores, copiadoras, projetor de slides, spinlight,
pirógrafo, DVDs, datashow, computadores, calculadoras e câmera fotográfica digital.
A Proposta Pedagógica (2010) traz o histórico do colégio:
“fundado em 11 de fevereiro de 1967, pelo padre Mário Briatori, com o nome de Casa Escolar São José. A escola foi construída num terreno de 815m², que fora destinado à residência do vigário, que generosamente, doouo para edificação da tão necessária e desejada escola para os filhos do Jardim Leonor. O colégio iniciou suas atividades, com 362 alunos matriculados, nos três períodos”.
De acordo com a Proposta Pedagógica o colégio, além de ofertar o Ensino
Fundamental e Médio, oferece também os cursos profissionalizantes: Técnico em
Administração, Técnico em Contabilidade, Técnico em Recursos Humanos e
Técnico em Transações Imobiliárias. Ainda, oferta o Centro de Estudos de Línguas
Estrangeiras Modernas CELEM, que desenvolve cursos de língua e cultura
Espanhola, oportunizando aos interessados a oportunidade de estudar e conhecer
outra cultura.
Na distribuição de turmas, conforme Proposta Pedagógica, o colégio busca
atender a demanda da comunidade escolar e orientações dadas pela SEED.
O público escolar descrito na caracterização da comunidade da proposta
pedagógica é constituído basicamente por alunos que moram no bairro, muitos sem
residência própria, com renda familiar entre 1 a 3 salários mínimos. Percebemos que
o colégio atende uma comunidade carente, com vários problemas socioeconômicos
como: o desemprego, a violência, os lares desajustados, as drogas, entre outros que
dificultam a permanência de alunos na escola. Apesar destas dificuldades, vem para
o colégio atraídos pelo espaço físico e pelos projetos desenvolvidos..
Em levantamento que caracteriza o perfil dos funcionários, foi constatado
que a maioria tem Ensino Médio completo. Praticamente todos têm mais do que 2
anos de tempo de serviço. A quase totalidade dos funcionários considera o local de
trabalho seguro. Quanto à participação, a maioria se dispõe a comparecer nas
reuniões da escola e tem representação ativa no Conselho Escolar, mas não é
engajada a nível sindical (Proposta Pedagógica, 2010).
Com relação ao corpo docente o levantamento aponta como características
que é composto por professores cuja grande maioria cursou especialização e
possuem mais de 20 anos de atuação profissional. Buscam avançar no domínio dos
recursos tecnológicos, para programar suas aulas, mas muitos consideram que há
necessidade de maior acessoria e formação neste sentido. Quanto à metodologia
consideram que a atividade extraclasse pode completar o trabalho de sala de aula, e
participam de projetos sempre que viáveis. Pretendem ficar na profissão até se
aposentarem e apontam as condições de trabalho como os fatores mais importantes
na profissão (seguidos por salários, trabalho da equipe pedagógica e trabalho
interdisciplinar). Com relação à escola, a grande maioria alega ter escolhido o
colégio por opção própria e aponta como maiores problemas a indisciplina dos
alunos, a invasão de pessoas da comunidade na escola, e problemas com drogas.
Apesar das dificuldades, são otimistas em afirmar que acreditam que a escola
pública pode melhorar (Proposta Pedagógica, 2010).
Para entender o processo de ensino aprendizagem na educação profissional
é necessário primeiro saber qual legislação vem respaldando o trabalho pedagógico
na escola.
O presente trabalho procurou abordar a legislação que fundamenta a
Educação Profissional Subsequente, especificamente, para o Curso Técnico em
Contabilidade.
O estudo da legislação, sobretudo com relação a Educação Profissional, na
modalidade Subsequente, fezse necessário a partir do pressuposto de que esta
modalidade de ensino tem atendido de forma prioritária, jovens e adultos que já
estão inseridos no mercado de trabalho ou, ainda, predispostos a pleitear uma
colocação. Daí a necessidade de se questionar o tipo de cidadão e trabalhador que
essa escola tem formado para atuar na sociedade. Portanto, este trabalho sugere
uma análise reflexiva à cerca da proposta legal, para esta modalidade de ensino e, o
que na prática vem sendo executado, ou seja, a distância entre o ensino oficial e a
realidade observável.
AS BASES LEGAIS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
A legislação que rege a educação profissional toma por base a Constituição
Federal Brasileira. A Constituição Federal no Título VIII “Da Ordem Social”, Capítulo
III “Da Educação, da Cultura e do Desporto”, Seção I “Da Educação”, em seus
artigos 205 a 214, aborda o tema relacionado à educação do Estado brasileiro. Já a
Constituição do Estado do Paraná reservou o Título IV “Da Ordem Social”, Capítulo
II “Da Educação, da Cultura e do Desporto”, Seção I “Da Educação”, em seus arts.
177 a 189, para tratar do tema relacionado à educação no Estado paranaense. Os
arts. 205 da CF e o art. 177 da CE, assim dispõem:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2001, pág. 121 e PARANÀ, 2001, pág. 73,).
Para se refletir sobre as condições de acesso, permanência e conclusão de
alunos do Curso Técnico em Contabilidade, na modalidade Subsequente, é
necessário buscar o seu amparo legal. Neste sentido, tanto a Constituição Federal
quanto a Constituição do Estado do Paraná apresentam normas que asseguram o
acesso de todos a educação e, em contrapartida, definem como sendo dever do
Estado em oferecêlo e, ainda, buscam assegurar a preparação do educando como
cidadão e a sua qualificação para o mercado de trabalho.
Essa discussão sobre a formação para o trabalho é enfatizada desde os
anos de 1940 com a criação do SENAI e SENAC e com a promulgação das Leis
Orgânicas de Ensino, como podemos analisar em Romanelli (1993). Tornouse
realidade com a Lei 5692/71 que trouxe a profissionalização compulsória nos cursos
chamados “cursos de segundo grau”.
Nos dias atuais, para que os cursos técnicos em nível médio possam atingir
os seus objetivos, ou seja, preparar os seus educandos como cidadãos e, ainda,
qualificandoos para o mercado de trabalho são necessários que sejam assegurados
alguns princípios básicos. Estes princípios estão definidos no artigo 206 da
Constituição Federal:
I igualdade de condição para acesso e permanência na escola, vedada qualquer forma de discriminação e segregação;II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;III pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas e religiosas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;IV gratuidade de ensino em estabelecimentos mantidos pelo Poder Público, com isenção de taxas e contribuições de qualquer natureza;V valorização dos profissionais do ensino, garantindose, na forma da lei, planos de carreira para todos os cargos do magistério público, piso salarial de acordo com o grau de formação profissional e ingresso, exclusivamente por concurso de provas e títulos, realizado periodicamente, sob o regime jurídico adotado pelo Estado;VI gestão democrática do ensino público, na forma da lei;VII garantia de padrão de qualidade.
Para que a educação seja considerada um direito de todos é necessário que
haja a previsão legal do montante de recursos que nela serão investidos. Vale a
pena lembrar que a mesma pode ser ofertada pela rede pública ou particular.
Quando ofertada pela rede pública, a Constituição Federal, em seu artigo 212,
determina a percentagem mínima da receita com impostos que deverá ser aplicada
na mesma e qual a participação de cada ente federativo, no sentido de se garantir o
acesso, a permanência e a equidade nos pontos de chegada.
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 2001, pág. 123)
A aplicação de recursos financeiros na educação é o que permite cumprir
com o princípio do direito universal à educação para todos, está presente na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi aprovada em 20 de dezembro de
1996, sendo sancionada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso.
A LDBEN em questão separou a Educação Profissional do Ensino Médio,
rompendo com o caráter de compulsoriedade dos anos de 1970. Porem esta mesma
legislação deixou a possibilidade da integração. No Título V “Dos Níveis e das
Modalidades de Educação e Ensino”, Capítulo III “Da Educação Profissional” e, nos
art. 39 a 42, contempla a Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
Art. 39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional. Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. Parágrafo único. Os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando registrados terão validade nacional. Art. 42. As escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. (BRASIL, 1997, pág. 61).
A Educação Profissional Técnica em Nível Médio poderá ser ofertada na
forma articulada ao ensino médio e na forma subseqüente. A forma articulada ao
ensino médio é aquela destinada àqueles que concluíram o ensino fundamental e na
forma subseqüente, é aquela destinada àqueles que já concluíram o ensino médio.
O Curso Técnico em Contabilidade, na modalidade subseqüente é o objeto de
estudo deste trabalho e deve, além de preparar para a cidadania e para o mercado
de trabalho, também, certificar para o prosseguimento de estudos.
O Parecer nº 16/99 regulamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional de Nível Técnico e, dentre os temas abordados encontramse
os princípios da Educação Profissional Técnica de Nível Médio que dividemse em
princípios gerais e comuns com a educação básica e os princípios específicos da
educação profissional.
Dentre os princípios gerais e comuns da Educação Profissional Técnica de
Nivel Médio podemos destacar o principio da articulação da educação profissional
técnico com o ensino médio, que se refere aos valores estéticos, políticos e éticos.
Com relação à essa base valorativa podemos ressaltar que o principio da
estética “estimula a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, a
afetividade” e, como tal, facilita “a constituição de identidades capazes de suportar a
inquietação, conviverem com o incerto, o imprevisível e o diferente” (TROJAN, 2004,
p. 427).
Por sua vez o princípio político “abarca a política da igualdade, visa a
constituição de identidades que reconheçam e respeitem os direitos humanos, o
bem comum e aos princípios do Estado Democrático de Direito; e combatem a todas
as formas discriminatórias” (Boletim OPA nº 25, 2006, p. 01).
Ainda, o princípio ético pautase na “ética da identidade para constituir
identidades sensíveis e igualitárias frente à realidade de seu tempo, além de orientar
o educando em suas diversas esferas – profissional, civil, social e pessoal – a agir
com solidariedade, responsabilidade” (Boletim OPA nº 25, 2006, p. 01).
Esses princípios são importantes na educação profissional pela
possibilidade da constituição de características que vem sendo solicitadas ao
homem e trabalhador contemporâneo. Já, dentre os princípios específicos
encontramse os que definem:
“a sua identidade e especificidade, e se referem ao desenvolvimento de competências para a laborabilidade, à flexibilidade, à interdisciplinaridade e à contextualização na organização curricular, à identidade dos perfis profissionais de conclusão, à atualização permanente dos cursos e seus currículos, e à autonomia da escola em seu projeto pedagógico” (BRASIL, 1999, pág. 24).
Tanto a Constituição Federal quanto a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional asseguram os princípios a serem adotados na educação,
princípios legais que garantem o direito do cidadão ao acesso e permanência à
educação e que devem, portanto, ser adotado na Educação Profissional Técnica de
Nível Médio.
“Assim, os princípios da igualdade de condições para o acesso e da permanência na escola, a liberdade de aprender e ensinar, a valorização dos profissionais da educação e os demais princípios consagrados pelo artigo 3.º da LDB devem estar contemplados na formulação e no desenvolvimento dos projetos pedagógicos das escolas e demais instituições de educação profissional” (Brasil, 1999, pág. 24).
O Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná regulamenta a
Educação Profissional Técnica de Nível Médio através das Deliberações e
Pareceres, ainda, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná legisla sobre a
matéria em suas Resoluções e Instruções. A partir de tais normas e
encaminhamentos legais é que são elaborados os documentos da escola como, por
exemplo, a Proposta Pedagógica e o Regimento Escolar.
ESTRATÉGIAS PARA PROMOÇÃO DO ACESSO E PERMANÊNCIA DOS
ALUNOS NA ESCOLA.
A análise dos pressupostos legais proposta para estudo com professores e
equipe pedagógica foi uma etapa que contou também com um levantamento sobre
as estratégias que possibilitem além do acesso, também a permanência do aluno da
educação profissional na escola.
Após a realização desta etapa foram analisados e discutidos os seguintes
aspectos:
1. a expansão da educação profissional e a criação do Curso Técnico em
Contabilidade – Subsequente, do Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental,
Médio e Profissional.
2. as formas de implantação do Curso Técnico em Contabilidade –
Subsequente, do Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental, Médio e
Profissional.
3. as formas de ingresso no Curso Técnico em Contabilidade –
Subsequente, do Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental, Médio e
Profissional.
4. os problemas relacionados à permanência e conclusão no Curso Técnico
em Contabilidade – Subsequente, do Colégio Estadual São José – Ensino
Fundamental, Médio e Profissional.
5. o índice de concluintes do Curso Técnico em Contabilidade –
Subsequente, do Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental, Médio e
Profissional.
A culminância da discussão foi concretizada com a avaliação dos resultados
obtidos junto a todos os envolvidos – professores e equipe pedagógica Em termos
legais as formas de ingresso e permanência nos cursos de Educação Profissional
Subsequente para o Curso Técnico em Contabilidade são asseguradas na
Constituição Federal e Estadual, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDBEN, Normas Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Profissional Técnica de Nível Médio e de Especialização Técnica de Nível
Médio Deliberação n.º 009/06 e na Orientação sobre a Matrícula nos
Estabelecimentos de Ensino da Rede Estadual de Educação Básica para o Ano
Letivo de 2010 Instrução Normativa Nº 04/09, conforme podese ver na
fundamentação teórica.
Em ações concretas o Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental,
Médio e Educação Profissional, tem o sentido de assegurar a permanência dos
alunos na escola, temse articulado para a implantação de ações que
complementam o curso Técnico em Contabilidade como destacamos a seguir:
Horaatividade contribui para a organização da prática pedagógica do
professor, possibilitando ao mesmo, tempo para troca de idéias e experiências, bem
como para reflexão, planejamento e avaliação da prática pedagógica, correção de
provas e trabalhos, atendimento a pais e alunos. Tratase de um momento
importante em que o professor pode se organizar para pensar o ensino, para
redimensionar as formas de mediação pedagógica com o aluno.
A escola também se preocupa com a Inclusão e busca realizar ações que
vislumbram assegurar a educação de qualidade para todos os alunos com
necessidades especiais, em todas as etapas e modalidades da Educação Básica.
A escola, ainda, oferece diversos projetos e atividades em parceria com
outras instituições, colaboradoras no processo de socialização e relacionamento
interpessoal.
Entre estes destacamos o Programa Atitude, da Secretaria de Estado da
Criança e da Juventude, do Governo do Estado, que chega às comunidades
paranaenses com uma proposta inédita de participação social na busca pela
superação das violências que envolvem as crianças, os adolescentes e suas
famílias. Suas ações são dirigidas a crianças e jovens com seus direitos violados e
suas famílias que vivem em comunidades que concentram indicadores de exposição
às situações de violência.
E também o Programa mais Educação do Governo Federal que incentiva a
permanência do aluno no período integral dentro da escola. Para os alunos que
participam deste programa é oferecido um lanche no meio da manhã e almoço.
Mesmo com esforços para realização de tais ações, segundo a secretaria da
escola os dados dos alunos do Curso Técnico em Contabilidade – Subseqüente
mostram que no primeiro semestre do ano letivo de 2010, na turma do 1º semestre,
formam matriculados 32 alunos, sendo aprovados 10. Os demais foram transferidos,
desistiram ou foram reprovados.
No segundo semestre do ano letivo de 2010, na turma do 1º semestre,
formam matriculados 37 alunos, sendo aprovados 13. Os demais foram transferidos,
desistiram ou foram reprovados. Na turma do 2º semestre foram matriculados 10
alunos, sendo aprovados 08. Os demais foram transferidos, desistiram ou foram
reprovados.
Verificamos a partir destes dados que para além do acesso, devemos nos
centrar na permanência e conclusão, pois uma margem pequena de alunos conclui o
curso. Há que ser ressaltado que muitos alunos do curso subseqüente são alunos
de maior idade, muitos já trabalham e optaram por retornar e buscar novos
conhecimentos.
Outro aspecto a ser mencionado nessa discussão e que consideramos
importante são os docentes. A tabela abaixo demonstra dados dos docentes como:
o nome, a função, a habilitação, o vínculo e a carga horária semanal dos professores
que trabalham no Curso Técnico em Contabilidade Subsequente.
Nome Completo Função Graduação Vínculo HorasProfessor A Docente Ciências Contábeis QPM 60Professor B Docente Letras QPM 20Professor C Docente Administração PSS 60Professor D Docente Ciências Contábeis QPM 60Professor E Docente Tec. em Proc. de Dados PSS 40
Professor FCoordenador
e Docente
Técnico em Contabilidade
Esquema I
QPM 20
Professor GDocente Ciências Contábeis, Direito
Esquema I
QPM 60
Fonte: Proposta Pedagógica – 2º semestre/2010
A partir da análise da tabela acima, podemos vislumbrar que os docentes do
curso são, em sua maioria, concursados e habilitados na área de sua atuação.
Sabese que grande parte dos docentes trabalha durante o dia em atividades
vinculadas a sua área de formação e à noite trabalham como professores, o que
possibilita uma interação entre o fazer específico do profissional da área e a
discussão específica do curso. Já, por outro lado, a maioria dos professores possui
uma carga horária excessiva, alguns até superior a 40 horas, o que, muitas vezes,
traz prejuízos quanto a uma dedicação maior as atividades didáticopedagógicas.
Esse pode ser um fato que contribui para o desgaste da ação pedagógica na escola.
Lembramos que assim, como tanto aluno como professores passam por situações
difíceis. O aluno trabalha e estuda à noite. O professor trabalha durante o dia e à
noite. Há um desgaste nas condições que envolvem o aprender e o ensinar que
estão relacionadas às condições concretas de vida.
Na tabela a seguir podemos vislumbrar tais dados além dos motivos da
opção dos alunos pelo Curso Técnico em Contabilidade, na modalidade
subsequente.
Em discussão com os alunos sobre os motivos da escolha do ensino
noturno, foi comentado pela maioria que esta foi a melhor opção, pois trabalham
durante o dia.
Já, com relação à satisfação que possuem a respeito da escola, foi notório e
comum os elogios a cerca da organização administrativa e pedagógica da escola,
mas deixaram claro o que os incomoda de fato, é o pouco tempo que tem disponível
para estudar, já que a maioria trabalha durante o dia, para sustentarem a si próprios
e, muitas vezes, até as suas famílias.
É consenso, para a maioria dos alunos que sem estudar, sem obter
conhecimento, as condições de vida ficam mais precárias. Reconheceram a
importância da escola e associam o estudo à condição básica para ingressar no
mercado de trabalho, tão escasso de vagas.
O Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental. Médio e Profissional
segue toda a regulamentação da Secretaria de Estado da Educação – SEED e, tem
como eixo norteador da Educação Profissional o Trabalho como princípio educativo.
Deste modo a orientação pedagógica está centrada no preparo dos alunos
para o mundo do trabalho. O que se busca é um preparo e formação que leve o
aluno a aprender sem que isso tenha significado de adaptar ao mundo em que
vivemos. A proposta é de substituir o treinamento por aprendizagem na formação do
homem, cidadão e trabalhador.
Sintetizando, a SEED, através do Departamento de Educação Profissional, assumiu o compromisso com uma política de educação profissional em que o trabalho deve ser compreendido como princípio educativo no sentido da politecnia ou da educação tecnológica, sustentado pelos conceitos de trabalho, de cultura, de ciência e de tecnologia. O trabalho compreendido como fundamento unificador da educação como prática social; a ciência como disponibilizadora dos conhecimentos produzidos e legitimados socialmente e fundamento da técnica e da tecnologia; a cultura como categoria que sintetiza as diferentes formas de criação existentes na sociedade, através de seus símbolos, representações e significados (PARANÀ, p. 11).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A discussão até o momento empreendida demonstra que mesmo havendo
uma ampla base legal que sustenta a educação profissional garantindo o direito de
acesso à educação por parte do aluno, esta esbarra em condições concretas dos
alunos. Tratase de uma questão que merece ser ampliada mediante novos estudos.
Uma outra questão a ser ressaltada é que os professores também passam
por situações concretas que dificultam o exercício docente com qualidade como por
exemplo a tripla jornada de trabalho. Entendemos que condições de trabalho são
imprescindíveis para que possamos obter bons resultados. Da mesma maneira que
um aluno cansado não consegue aprender, um professor sobrecarregado também
não consegue ensinar.
É preciso lembrar que as condições concretas de vida de que falamos aqui
possuem uma face contraditória. Poderíamos, ao verificar que tratase de uma
situação difícil para ser resolvida, simplesmente nos acomodar a ela. De outro modo
percebemos que esta é a condição que deve nos mover para encaminhar a
profissionalização subseqüente de maneira diferente.
Como professora da educação profissional entendo que o estudo das bases
legais mostra o aspecto da cidadania legal, o que deveria ser o ideal e não o
concreto, o que diz respeito às condições de vida das pessoas. Por este motivo é
que devemos nos organizar como professores, estudando e buscando compreender
as formas, as possibilidades de mudança de nossa condição docente para que
possamos de fato proporcionar aos alunos a permanência na escola, uma escola de
qualidade.
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