Sandra Kelly de Araújo
Instrumentação para o Ensino de Geografi a II
Formações vegetais – a Caatinga
Autora
aula
03
D I S C I P L I N A
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Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 1
Apresentação
Esta aula integra uma série de aulas sobre a promoção do ensino de vegetação do
ensino fundamental e médio. Nessa série, os recursos e metodologias sugeridos foram
organizados em dois grupos: a indicação de fontes de referência para o desenvolvimento
do tema vegetação e o desenvolvimento de atividades práticas para a promoção do tema.
Na aula passada, tratamos da composição inicial de um levantamento fi togeográfi co
e a indicação do relatório “Situação das fl orestas no mundo” como uma importante fonte
acerca do estado em que se encontram as fl orestas na atualidade sob a perspectiva da FAO
(Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Nesta aula, apresentaremos
o desenvolvimento da segunda fase de nosso levantamento fi togeográfi co com a identifi cação
das características dessa vegetação e indicaremos o Manual Técnico da Vegetação Brasileira
produzido pelo IBGE como fonte de referência para estudo/ensino da vegetação brasileira. Esta
será uma boa oportunidade de trabalho multidisciplinar com Ciências, em nível fundamental,
e com Biologia, em nível médio. Boa aula!
Objetivo
Utilizar atividades apresentadas nesta aula na promoção do tema
vegetação no ensino de geografi a.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 2
As características da Vegetação
Podemos considerar o tema vegetação no ensino de geografi a em duas perspectivas
metodológicas: como generalidade e como especifi cidade.
Como generalidade, nos interessa a distribuição espacial da vegetação, sua relação com
outros elementos naturais (notadamente o clima), as formações paisagísticas daí resultantes, a
conversão das fl orestas em recurso econômico, o impacto da agricultura, pecuária, crescimento
populacional e urbano sobre essas e as respostas que a sociedade e as instituições levam a
cabo para minimizar ou superar tais problemas. Como especifi cidade, temos a promoção do
tema vegetação ou fl oresta como componente do espaço local, seus usos culturais e a relação
das comunidades locais com esse elemento natural em escala local ou microespacial.
Nesse ponto da disciplina Instrumentação para o ensino de geografi a II, propomos
atividades que possibilitem a aproximação dessas duas perspectivas para o ensino de
vegetação: generalidade (global) e especifi cidade (local).
Vejamos:
Na aula passada, iniciamos um levantamento fi togeográfi co tomando como ponto de
partida a elaboração de um quadro em que listamos algumas espécies nativas de nossa cidade
ou região, seus usos e local em que ocorrem. Desta vez, vamos avançar sobre as características
que são comuns a essas espécies de modo a permitir generalizações.
Nossa intenção é complementar o exercício realizado na aula passada, ampliando os
objetivos, os temas pesquisados e os conteúdos produzidos. Vamos lá?!
Microespacial
Podemos citar como
exemplo a pesquisa sobre
os usos da vegetação
pela comunidade rural
de Laginhas/RN realizada
por Alan de Araújo
Roque, graduado em
Geografi a pela UFRN,
durante o mestrado em
Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA).
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II
Caatinga
0 1.500750375Km
3
Levantamento fi togeográfi co – Fase 2:
Observando características da vegetação
É bastante provável que você resida ou trabalhe nos domínios da Caatinga. Esse importante
bioma brasileiro sedia a maior concentração populacional do mundo em região semiárida.
Daí decorre problemas ambientais diversos, entre eles, a desertifi cação, cuja abordagem
pedagógica foi desenvolvida na aula 5 da disciplina Instrumentação para o ensino de geografi a I.
Aula passada
Esta é uma boa
oportunidade para
realizar um trabalho
multidisciplinar em
colaboração com os
colegas de Ciências e
Biologia.
Figura 1 – Abrangência espacial da Caatinga
Fonte: <www.wwf.org.br/infomacoes/questoes_ambientais/biomas/bioma_caatinga/mapa_caatinga>. Acesso em: 12 nov. 2009.
Na aula passada, produzimos uma pequena lista de espécies nativas de sua região.
Agora, vamos avançar na defi nição de características comuns dessas espécies objetivando
descrição da formação vegetal ou do bioma em que estão associadas. Para isso, nossa proposta
é promover a observação das espécies identifi cadas anteriormente (folhas, galhos, tronco,
raízes, fl ores) e o local onde ocorrem de modo a identifi car pontos em comum, afi nal são as
características comuns entre as espécies que nos permitem agrupá-las em formações vegetais.
Assim, vamos acrescentar mais uma coluna ao Quadro que utilizamos na aula passada – a coluna das características comuns das espécies. E, não esqueça: nosso propósito é que
esta atividade seja desenvolvida por você em conjunto com seus alunos.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II
Atividade 1
4
Transcreva para o quadro abaixo as informações que você coletou na aula passada sobre
as plantas nativas de seu município. A seguir, descreva que características são comuns a essas
espécies, concluindo o quadro.
Nome vulgar Local em que ocorre Usos Características comuns
1. Juazeiro* Mata ciliar Medicinal
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Para auxiliá-lo na identifi cação de características comuns entre as espécies listadas,
vamos tomar como base o conceito de Caatinga apresentado a seguir:
A vegetação é heterogênea quanto aos aspectos fi sionômicos e fl orísticos e apresenta
alta resistência à seca, em virtude de possuir diferentes mecanismos que minimizam
os efeitos da falta de chuvas na região. Essa resistência é proporcionada pela presença
de adaptações adquiridas pelas plantas do semiárido ao longo do tempo, tais como:
xilopódios, raízes tuberosas e superfi ciais, caules suculentos e clorofi lados, folhas
modifi cadas em espinhos, cutículas espessas, folhas pequenas e caducas, ciclo vital
curto e sementes dormentes (MAIA, 2004 apud ROQUE, 2009, p. 11-12).
Há alguns termos desconhecidos por nós que são objeto da Biologia. Para melhor
conhecê-los, vamos ilustrar algumas das características de adaptação da vegetação ao clima
semiárido mencionadas. O uso de fotografi as, desenhos ou ilustrações é uma estratégia que
sempre podemos lançar mão no ensino.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 5
Vegetação heterogênea
Com Roque (2008, p. 12), vamos entender que a Caatinga é plural, heterogênea e
diversifi cada:
Considerando outras fl orestas secas do mundo nas mesmas condições ambientais,
a Caatinga possui um patrimônio biológico bastante diversifi cado, com ocorrência de
espécies endêmicas e uma riqueza inestimável de espécies vegetais e animais. Destaca-
se por se o único bioma exclusivamente brasileiro (MMA 2002) e abranger uma área
relativamente extensa, apresentando várias fi sionomias de acordo com as características
ambientais locais, assumindo ora a fi sionomia de uma fl oresta arbórea, ora de estrato
arbustivo-herbáceo. Na tentativa de enquadrar as fl orestas brasileiras no modelo de
categorias mundiais de fl orestas, o IBGE (1992) reconheceu 12 tipologias de Caatinga,
as quais foram denominadas de “Savana”, sempre associada a alguma característica
particular (como por exemplo Savana-Estépica Arborizada, Savana Gramíneo-Lenhosa,
Savana-Estépica Florestada, entre outras).
Figura 2 – Aspecto fi sionômico da Caatinga, serra da Formiga/RN
Presença de xilopódios,
raízes tuberosas e superfi ciais
As plantas da Caatinga possuem raízes, folhas e caules adaptados ausência de água e
nutrientes durante a longa estação seca. É o caso das raízes superfi ciais e tuberosas ou em
forma de xilopódios, como as raízes do imbuzeiro ou umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda):
Foto
: S
andra
Kel
ly d
e A
raújo
.
Xilopódios
Intumescências redondas
que armazenam água e
sais minerais garantindo a
sobrevivência das plantas
durante o período de
estiagem.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 6
Figura 3 – Xilopódios do imbuzeiro
Caules suculentos e clorofi lados
Com a perda das folhas durante o período de ausência de chuvas, o caule e o tronco das
árvores realizam a fotossíntese pela presença da clorofi la, como podemos observar na fi gura
a seguir:
Fonte
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Acess
o e
m:
12 n
ov.
2009.
Figura 4 – Caule de Mulungu
Fonte: Foto de Alan de Araújo Roque.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 7
Folhas modifi cadas em espinhos
Também na Caatinga, algumas plantas possuem as folhas modifi cadas em espinhos para
economizar água ou diminuir a perda de água.
Figura 5 – Xique-xique
Cutículas espessas
Segundo o Glossário Ilustrado de Botânica, trata-se de camada de material de natureza
cerosa (cutina) pouco permeável à água, revestindo a parede externa das células epidérmicas.
A carnaúba e a oiticica, por exemplo, possuem folhas revestidas de cera impedindo ou
minimizando a transpiração para economizar água.
Fonte
: Fo
to d
e A
lan d
e A
raújo
Roque.
Figura 6 – Carnaúba
Fonte
: S
andra
Kel
ly d
e A
raújo
.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 8
Folhas pequenas e caducas
As folhas pequenas e caducas auxiliam duplamente a economia d’água: quanto menor
a folha, menor é a superfície exposta ao Sol. E, sendo caducas, caem na estação seca
economizando água.
Figura 7 – Angico
Ciclo vital curto
Alguns meses - esse é o tempo que necessitam para nascer, reproduzir e morrer. Essas
plantas, tais como as conhecidas Jitirana e a Maria-cai-cai, dão um espetáculo de beleza
efêmera as Caatingas.
Figura 8 – Maria-cai-cai
Fonte
: Fo
to d
e A
lan d
e A
raújo
Roque.
Fonte
: Fo
to d
e S
andra
Kel
ly d
e A
raújo
.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 9
Sementes dormentes
Solos rasos, clima semiárido, produzem espécies com sementes adaptadas em igual
medida para suportar altas temperaturas e baixa umidade. “Dormem” durante dias, meses ou
anos até que as condições ambientais forem favoráveis a germinação. A dormência é, portanto,
um mecanismo de resistência aos fatores adversos do meio, como ocorre com a semente de
Jitirana apresentada na fi gura a seguir.
Figura 9 – Jitirana
Usando fontes de referências –
Manual Técnico da Vegetação Brasileira
O Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) publicou, em 1992, o Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Esse estudo representa o esforço de classifi cação
da vegetação brasileira segundo padrões internacionais. Assim, o Manual constitui
uma importante fonte para o estudo/ensino de vegetação, particularmente dirigida ao ensino
médio ou superior.
Ainda, o estudante/professor interessado em aprofundar seus conhecimentos sobre a
vegetação, encontrará no Manual informações sobre:
Fonte
: Fo
to d
e A
lan d
e A
raújo
Roque.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II
Atividade 2
10
Sistema fi togeográfi co.
Sistema de classifi cação fi togeográfi ca.
Inventário das formações fl orestais e campestres.
Técnicas de manejo de coleções botânicas.
Procedimentos para mapeamento.
Consulte o Esquema de classifi cação da vegetação brasileira (página 13 do Manual) e
faça uma análise dos critérios de caracterização da vegetação brasileira utilizados pelo IBGE.
Leitura complementar
NEPSTAD, Daniel G.; MOREIRA, Adriana G.; ALENCAR, Ane A. Florestas em chamas: origens,
impactos e prevenção do fogo na Amazônia. Brasília: Programa Piloto para a Proteção das
Florestas Tropicais do Brasil, 1999. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/19477820/
fl orestaemchamas>. Acesso em: 12 nov. 2009.
O livro apresenta uma análise do fogo na Amazônia com a fi nalidade de identifi car os
meios pelos quais seus efeitos negativos podem ser reduzidos.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II
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11
Resumo
Nesta aula, avançamos na elaboração de nosso levantamento fi togeográfi co.
Dessa vez, com a identifi cação de características comuns entre as espécies de
plantas nativas de seu município ou região. Para isso, apresentamos o conceito
de Caatinga e ilustramos suas características. A metodologia serve de exemplo
a ser reaplicado em suas aulas de geografi a. Também indicamos os estudos
realizados pelo programa IBGE – Manual técnico da vegetação brasileira, como
uma importante fonte de referência ao estudo/ensino do tema vegetação brasileira.
Autoavaliação
Avalie em que medida sua visão sobre a promoção do ensino de vegetação se
modifi cou com essa aula. Relate aqui suas considerações.
A partir do que você estudou nesta aula, elabore um plano de aula, usando as
características das vegetações que trouxemos aqui e indique como trabalhar este
tema com seus alunos. Relate passo a passo que estratégias você utilizaria.
Referências
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística. Manual técnico da vegetação brasileira.
Rio de Janeiro: IBGE, 1992.
FERRI, Mário Guimarães et al. Glossário ilustrado de botânica. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1978.
MAIA, Gerda Nickel. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo: D & Z
Computação Gráfi ca e Editora, 2004.
Aula 03 Instrumentação para o Ensino de Geografi a II 12
ROMARIZ, Dora de Amarante. Aspectos da vegetação do Brasil. 2. ed. São Paulo: Edição da
autora, 1996.
ROQUE, Alan de Araújo. Diversidade fl orística do Seridó potiguar. In: FREIRE, Eliza M. Xavier
(Org.). Recursos naturais das caatingas: uma visão multidisciplinar. Natal: EDUFRN, 2009.
TROPPMAIR, Helmut. Metodologias simples para pesquisar o meio ambiente. Rio Claro:
UNESP, 1988.
Anotações