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Vera Lúcia do Amaral Psicologia da Educação DISCIPLINA Como se aprende: o papel do cérebro Autora aula 07

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Vera Lúcia do Amaral

Psicologia da EducaçãoD I S C I P L I N A

Como se aprende: o papel do cérebro

Autora

aula

07

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Aula 07  Psicologia da EducaçãoCopyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJânio Gustavo BarbosaThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisora TipográficaNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto HarleyCarolina Costa

Diagramadores

Bruno de Souza MeloDimetrius de Carvalho Ferreira

Ivana LimaJohann Jean Evangelista de Melo

Adaptação para Módulo MatemáticoAndré Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

Thaísa Maria Simplício Lemos

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

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Apresentação

Nesta aula, vamos começar a discutir um tema fundamental para os futuros professores: como o indivíduo aprende. É a partir do entendimento desse fenômeno que poderemos planejar nossas estratégias de ensino, as atividades para os nossos

alunos e fazermos uma apreciação de suas novas aprendizagens.

Na primeira parte dessa discussão, vamos começar por compreender qual o papel e a importância do nosso cérebro na aquisição do conhecimento.

ObjetivosCompreender como se organiza biologicamente nosso equipamento cerebral para as funções da aprendizagem.

Entender o papel da memória, dos afetos e da motivação no processo de aprendizagem.

Relacionar o papel das estruturas nervosas com a aprendizagem.

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Introdução

Compreender o homem é também compreender o que ele sabe. Bem mais do que isso, trata-se de compreender o que significa esse saber, como se deu a sua apropriação e quais os seus efeitos nas ações do sujeito. O modo como o sujeito se apropria de um

saber significa dizer como ele aprende.

Aprender é uma ação que desenvolvemos desde o início de nossa vida. Ainda muito cedo, aprendemos a andar, a falar; aprendemos a nos relacionar com a família, com amigos, com pessoas estranhas; aprendemos a respeitar pessoas e instituições; aprendemos a nos comportar de acordo com as circunstâncias. E aprendemos de maneira formal na escola. Outros comportamentos e atitudes, entretanto, não precisamos aprender. É como se já nascêssemos sabendo. Por exemplo, não precisamos aprender a comer ou ninguém nunca nos ensinou que nosso corpo precisa de descanso. Há, ainda, um conjunto de conhecimentos dos quais não temos muita idéia de como, quando ou onde aprendemos. Por exemplo, quando olhamos para o céu e vemos nuvens escuras e pesadas, logo inferimos que irá chover. Quando aprendemos isso?

Forme três grupos contendo:

a) coisas que aprendi e sei com quem.

b) coisas que sei, mas ninguém me ensinou.

c) coisas que aprendi, mas não sei com quem.

No seu entender, para qual dos três grupos se aplica o conceito de aprendizagem? Por quê?

Costuma-se separar os conhecimentos em conhecimentos científicos e conhecimentos da tradição. Relacione esses conceitos com dois dos grupos de coisas que você aprendeu (listados anteriormente). E o terceiro grupo, como você chamaria?

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Quantas vezes já ouvimos dizer que “depois de velho não se aprende mais nada”. Essa afirmação é fruto da idéia de que nosso cérebro nasce pronto e com o passar do tempo só temos a perder. Ora, se perdemos neurônios à proporção que envelhecemos, como podemos aprender?

Nada mais equivocado. As atuais pesquisas na área das Neurociências mostram que novos neurônios estão nascendo a cada dia em nossos cérebros. E o que é mais interessante: esses novos neurônios nascem justamente em áreas responsáveis pela aprendizagem, o que significa dizer que temos condições neurológicas de estarmos sempre aprendendo.

Mas, como isso ocorre? Que áreas são essas? O que o cérebro tem a ver com o que aprendo? Vamos discutir isso de uma maneira mais detalhada.

A neurobiologia da aprendizagem

De uma maneira geral, a anatomia dos cérebros humanos é extremamente semelhante: nascemos praticamente com a quantidade de neurônios já completa. Até pouco tempo atrás, além de se ter conhecimento desse fato, também imaginava-se que as perdas

e degenerações de neurônio que viessem a ocorrer ao longo da vida eram irremediáveis. Estudos recentes, no entanto, indicam que algo mais ocorre na intimidade de nosso sistema nervoso: células que até então eram vistas como tendo apenas função de nutrição e sustentação para os neurônios – os gliócitos –, hoje se tornam o foco das atenções pela

Instinto, um dos mecanismos mentais que não precisamos aprender

“Instinto é uma palavra usada para descrever disposições inatas em relação a ações particulares. Instintos geralmente são padrões herdados de respostas ou reações a certos tipos de situações ou características de determinadas espécies. Em humanos, eles são mais facilmente observados em respostas a emoções. Instintos geralmente servem para pôr em funcionamento mecanismos que evocam um organismo para agir. As ações particulares executadas podem ser influenciadas pelo aprendizado, ambientes e princípios naturais. Geralmente, instinto não é usado para descrever uma condição existente ou status quo.”

Extraído de: <Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Instinto>.

Gliócitos

Gliócitos ou células da glia compõem, juntamente com os neurônios, as células do

Sistema Nervoso.

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possibilidade de serem, na verdade, células que se transforma em neurônios em casos de urgência e necessidade, sobretudo nas áreas cerebrais relacionadas com a memória.

NEURÔNIO - é a célula do Sistema Nervoso responsável pela condução do impulso nervoso. Há cerca de 100 bilhões de neurônios no sistema nervoso humano. A membrana exterior de um neurônio toma a forma de vários ramos extensos chamados dendritos, que recebem sinais elétricos de outros neurônios, e de uma estrutura chamada de um axônio, que envia sinais elétricos a outros neurônios. O espaço entre o dendrito de um neurônio e o axônio de outro é o que se chama uma sinapse: os sinais são transportados através das sinapses por uma variedade de substâncias químicas chamadas neurotransmissores. O córtex cerebral é um tecido fino composto essencialmente por uma rede de neurônios densamente interligados de forma que nenhum neurônio está mais do que algumas sinapses de distância de qualquer outro neurônio.

Outra descoberta interessante é que, além da possibilidade de transformação dos gliócitos, ocorre o “nascimento” de novos neurônios em cérebros adultos. O que chama a atenção nesse caso é que tais “nascimentos” se dão exclusivamente – pelo menos que se sabe hoje – no bulbo olfatório, que recebe sinais do nariz, e em uma região do cérebro chamada hipocampo (Figura 2), justamente uma região de extrema importância para a formação de novas memórias. Como os neurocientistas relacionam a memória com a aprendizagem, como veremos a seguir, essa descoberta talvez venha explicar a inesgotável capacidade humana de aprender coisas novas.

Figura 1 – Representação de um neurônio, com os componentes de sua estrutura.

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Figura 2 – Representação do cérebro com indicação do bulbo olfatório e hipocampo

Como se sabe, os experimentos em ratos são muito importantes para se entender o funcionamento de determinadas estruturas, os quais não são possíveis de realizar em humanos. Uma experiência interessante foi a colocação de ratos adultos em gaiolas cheias de brinquedinhos que deveriam ser explorados (diferentemente das gaiolas tradicionais, nas quais só existem serragem, comida e água), o que possibilitou um aumento no número de novos neurônios gerados no hipocampo. Entretanto, quando esses ratos eram submetidos a situações de estresse, que atrapalham a aprendizagem, o surgimento de novos neurônios diminuiu.

Antes mesmo do nascimento, ainda na fase de embrião, os neurônios desenvolvem longos filamentos, prolongamentos que partem de seu corpo central, chamados axônios. É através deles que um neurônio estabelece ligação com outros neurônios, formado sinapses que vão se constituir nos circuitos neurais. Essas conexões originais vão permitir a regulação de funções autonômicas, que são aquelas que ocorrem sem nosso controle voluntário, como a respiração, os batimentos cardíacos, a mobilidade intestinal. No entanto, durante toda a vida, os circuitos neurais vão continuar a se desenvolver. Os neurônios estão sempre testando novas conexões: as que funcionam permanecem, as que não funcionam se desfazem. E o que faz uma conexão ser mantida? O seu uso. Se usamos repetidamente uma conexão, ela tende a se tornar permanente. Ao nascer, o cérebro humano tem somente uma pequena proporção dos trilhões de sinapses que provavelmente terá.

SINAPSE - As sinapses ocorrem no “contato” das terminações nervosas (axônios) com os dendritos. O contato físico não existe realmente, pois mesmo estando próximas, há um espaço entre ambas estruturas (fenda sináptica). Dos axônios são liberadas substâncias (neurotransmissores), que atravessam a fenda e estimulam receptores nos dendritos e assim transmitem o impulso nervoso de um neurônio para o outro.

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Por que ao nascer temos tão poucas conexões? Qual a relação desse aumento de conexões que adquirimos ao longo da vida com a aprendizagem?

Algumas evidências estabelecidas são particularmente surpreendentes: a) os neurônios começam a se degenerar a partir da infância; b) uma vez que muitos neurônios morrem, existe, em relação ao cérebro infantil, menor quantidade deles no cérebro adulto, o qual é, por outro lado, muito mais maduro e de maior tamanho; c) o número total de conexões no cérebro infantil é maior que no cérebro adulto. Dessa forma, em relação ao cérebro infantil, o cérebro adulto é maior em tamanho, mas é menor em número de neurônios e em conexões sinápticas. Como explicar, então, que seja mais maduro?

As sinapses são estabelecidas basicamente de duas maneiras as quais descreveremos a seguir. A primeira é por superprodução e perda seletiva, ocorrendo durante os períodos mais precoces do desenvolvimento. O Sistema Nervoso estabelece um número muito grande de conexões e, através de experiências de vida, seleciona aquelas que se mostraram mais apropriadas, removendo as demais. O que permanece é a forma final que constitui o sensório e a base dos processos cognitivos. Os neurocientistas comparam esse processo ao dos artistas escultores, os quais, a partir de um bloco de mármore, fazem surgir o objeto artístico pela eliminação de porções desnecessárias do mármore.

A segunda maneira de formação de sinapses é através da adição de novas sinapses. Ao contrário do processo anterior, que se produz nos primeiros meses de vida, esse método opera durante a vida inteira dos homens; é especialmente importante na vida adulta. Esse processo é completamente dirigido pela experiência e está na base de praticamente todas as formas de memória. Várias pesquisas evidenciam que as atividades associadas com experiências de aprendizagem levam as células nervosas a criarem novas conexões. Portanto, a qualidade de informações às quais o indivíduo é exposto e a quantidade de informações que adquire vai se refletir durante toda sua vida na estrutura do cérebro.

O aumento do cérebro deve-se, então, por um lado, ao desenvolvimento de células de sustentação, sem função transmissora (os já citados gliócitos), e, por outro lado, ao contínuo crescimento dos axônios, para estabelecer conexões com outros neurônios. Conforme mencionamos, é a experiência que terá papel fundamental no estabelecimento dessas conexões. Mas, como isso ocorre?

Já foi visto que a maior parte das conexões estabelecidas no desenvolvimento do cérebro não é permanente: são as chamadas conexões lábeis, as quais somente vão se tornar estáveis como resultado do uso freqüente. Dessa forma, conexões que são usadas freqüentemente contribuem para estabelecerem-se como caminhos úteis, enquanto as que resultam em vias não úteis se degeneram ou regridem.

Enquanto as conexões originais, aquelas que asseguram as funções vitais, são condicionadas geneticamente, essas conexões posteriores constituem-se em um fenômeno epigenético e são, muitas vezes, verdadeiras “obras do acaso”. Acontece que, embora um neurônio tenha como “alvo” outro determinado neurônio, aleatoriamente, pode estabelecer

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conexão com um outro, distinto, cujos dendritos estejam próximos. Se essa conexão casual demonstrar-se útil e voltar a ser utilizada, ela torna-se estável. Portanto, mesmo que o cérebro infantil tenha muitas sinapses, não necessariamente elas são utilizadas ou indicam conhecimento, mas somente um vasto potencial.

Numa criança que nasça com uma lesão cerebral decorrente, por exemplo, de um parto difícil, como você imagina que se desenvolverá sua aprendizagem?

Se as conexões que permanecem são as que são mais utilizadas, que relação você pode fazer desse fato com o processo de aprendizagem?

Entendendo, então, como o cérebro se organiza, vamos agora à análise de como é compreendida a aprendizagem.

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A importância da memória

Para os neurocientistas, o conceito de aprendizagem está fortemente vinculado ao de memória. Entendendo aprendizagem como “[...] o processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória [...] através do qual nos tornamos

capazes de orientar o comportamento e o pensamento” (LENT, 2001, p.594), esse autor deixa claro que a memória é o processo de arquivamento seletivo dessas informações, de modo que ela pode ser considerada como o conjunto de processos neurológicos e psicológicos que possibilitam a aprendizagem.

Se com a aprendizagem “se adquire conhecimento sobre o mundo” (Kandell, 2000, p.1227), a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado, armazenado e posteriormente evocado. Portanto, a aprendizagem teria estreita ligação com a memória.

De que capacidades necessito para adquirir esse “conhecimento sobre o mundo”, segundo Kandell? Conhecer o mundo implica a necessidade de: desenvolver habilidades motoras que permitam o domínio físico do ambiente; e desenvolver linguagens que possibilitem a comunicação e transmissão da cultura. Teríamos, assim, basicamente, dois tipos de aprendizagem: a) aprendizagem de habilidades motoras; b) aprendizagem de linguagens.

Tais desdobramentos da aprendizagem encontram correspondência direta com os tipos da chamada memória de “longa duração”, ou seja, aquela que já se encontra codificada e armazenada, e pode ser evocada através de um esforço consciente (memória explícita ou declarativa) ou de forma involuntária (memória implícita ou não-declarativa). A memória explícita ou declarativa pode ser episódica – diz respeito ao conhecimento de pessoas, lugares, fatos – e semântica – trata do significado dos fatos, envolve conceitos atemporais.

Figura 3 – Esquema dos tipos de memória

Input

Input é o termo que denota uma entrada ou mudanças que são introduzidas em um sistema e que ativam/modificam um processo.

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Figura � – Imagem do cérebro dentro do crânio

De uma maneira geral, pode-se dizer que no conhecimento explícito (fruto da memória explícita), seja semântico, seja episódico, ocorrem quatro propriedades: 1. não há um armazenamento único; 2. alguns itens têm múltipla representação no cérebro, cada uma das quais correspondendo a diferentes significados e podendo ser acessadas independentemente; 3. é o resultado de, no mínimo, quatro processos: codificação, consolidação, armazenamento e recuperação; 4. a recuperação é mais efetiva, quando ocorre no mesmo contexto no qual a informação foi adquirida e na presença dos mesmos indicativos que estavam disponíveis naquele momento.

É importante salientar que se trata de um processo construtivo, no sentido de que o indivíduo interpreta o ambiente externo a partir de sua própria história. Uma

Uma informação complexa como a de uma paisagem, por exemplo, nos chega através de input visual, olfativo, auditivo, somático, afetivo. Essas informações são sintetizadas de modo a formarem uma imagem única em áreas do cérebro chamadas “córtex de associação”. Daí elas são transferidas para outra região, o hipocampo, que facilita a armazenagem, modulando outras conexões que facilitem a fixação desta, fazendo conexão com outras informações. Em seguida, a informação é devolvida ao córtex de associação, no qual ocorre o armazenamento definitivo. Diferentes representações de um objeto são armazenadas separadamente no córtex de associação. Cada vez que um conhecimento é requerido, a evocação é construída por distintos pedaços de informação, cada um dos quais armazenados em áreas específicas da memória.

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vez armazenadas, as lembranças não são uma cópia exata da informação original. As experiências anteriores são usadas no presente como “pistas” para o cérebro reconstituir um evento atual e dar-lhe sentido.

Alguns estudos mostram que, quando se pede a sujeitos que evoquem uma história recentemente lida, a história evocada é mais curta e mais coerente que a original. Os sujeitos não se dão conta de que a haviam editado e têm mais certeza da veracidade da história editada do que da original. Isso faz pensar que a memória não é uma repetição factual, mas uma construção, em que as informações são agrupadas de acordo com critérios exclusivamente pessoais.

Por sua vez, a memória implícita é um tipo de memória que se constrói lentamente, pela repetição, sendo expressa em atos e não em palavras, como por exemplo, as habilidades motoras, a aprendizagem de procedimentos e atitudes. Aqui também se observa uma grande variedade de localização cerebral, a depender das diferentes habilidades aprendidas. Uma das formas mais conhecidas e divulgadas da aprendizagem que utiliza a memória implícita é aquela fornecida pelas experiências de condicionamento clássico ou operante, descritas pelo behaviorismo: a chamada aprendizagem associativa.

Por muito tempo, acreditou-se que um tipo de aprendizagem poderia ser induzido quando se expunha o organismo a dois estímulos contíguos, de modo que o indivíduo pudesse fazer a associação de que sua intervenção no meio havia produzido a resposta que satisfazia a sua necessidade. O exemplo mais clássico da aprendizagem associativa é aquele em que um rato, colocado em uma caixa de experimentos, “descobre” que, se tocar em uma determinada barra, recebe alimento, passando, então, a tocá-la sempre que sente fome (vamos explorar melhor esse tema na aula seguinte, quando discutiremos o Behaviorismo).

Na verdade, esse tipo de aprendizagem está submetido a importantes fatores biológicos. O animal aprende a associar estímulos que sejam relevantes para sua sobrevivência. O cérebro está capacitado a perceber alguns estímulos e não outros, ou seja, é capaz de discriminar algumas relações dentro do ambiente. Por isso, nem todos os reforços são igualmente efetivos para todos os estímulos ou respostas. Por outro lado, a aprendizagem associativa pode envolver também memória explícita, de modo que a resposta aprendida pode estar mediada, pelo menos em parte, por processos conscientes. O sujeito não aprende simplesmente a aplicar (dar) uma resposta fixa a um estímulo, mas adquire informações que o cérebro usa para configurar uma resposta apropriada a uma nova situação.

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Escolha um evento (uma festa, um show, um filme) ao qual você tenha ido com outros(as) colegas. Peça a cada um deles para descrever o que lembram do referido evento.

Que resultado você encontrou? E o que você conclui disso em função do que foi visto até agora sobre a organização da memória?

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Afetos e motivação

Concentrar-se, ou seja, focalizar a atenção em algo, é, no nível biológico, o esforço despendido na busca de uma conexão neural, dentre os múltiplos circuitos, de um que “faça sentido”. Por outro lado, esse esforço de concentração, em alguns momentos,

mostra-se difícil, enquanto em outros é, praticamente automático. O que dirige nossa atenção? Que fatores influenciam nessa concentração? O que seria assim tão motivador? Um desses fatores é a resposta afetiva que o estímulo nos desperta.

Na região central do cérebro, em cada um dos hemisférios, há um conjunto de estruturas anatômicas que está em ligação com as demais: o Sistema Límbico, responsável pelos estados emocionais. Apesar de existirem emoções primárias, geneticamente determinadas, algumas se desenvolvem como um componente consciente, fruto da experiência: os sentimentos. Estudos mostram que existem estreitas conexões entre o Sistema Límbico (Figura 4) e estruturas corticais localizadas na região pré-frontal, as quais são responsáveis pela referência cognitiva dos sentimentos. É o córtex pré-frontal que organiza e escolhe, dentre vários impulsos que lhe chegam, a maneira como vamos reagir afetivamente; e o faz de acordo com experiências prévias, que ficaram marcadas como experiências agradáveis ou desagradáveis. Assim, a nossa maior ou menor capacidade de nos concentrarmos vai depender tanto das experiências anteriores que tivemos ao entrar em contato com o objeto de nossa concentração, quanto das emoções e sentimentos que esse objeto nos desperta.

Talvez isso explique por que nos dedicamos com tanta facilidade a atividades das quais gostamos e tenhamos tanta dificuldade em prendermos nossa atenção, por exemplo, em um tema que nos pareça tedioso e irritante.

A atenção pode ser, também, estimulada por outro fator: a motivação, mais um conceito amplamente difundido nos estudos sobre aprendizagem. Utilizado, na maior parte das vezes, em um sentido amplo, referindo-se a uma variedade de fatores neuronais e fisiológicos que iniciam, sustentam e dirigem um comportamento, o conceito de motivação vincula-se, tradicionalmente, a aspectos não cognitivos do comportamento, refletindo não o que o indivíduo sabe, mas o que necessitaria organicamente.

Até bem recentemente, esses estudos estavam restritos às instâncias fisiológicas da motivação, chamadas “condições mobilizadoras”, que se caracterizam por expressar tensão ou desconforto, quando surgem necessidades fisiológicas. Assim, quando surgissem necessidades orgânicas, como a fome, por exemplo, ela se expressaria por sensações de desconforto, as quais motivaria o indivíduo na busca do alimento. Uma vez satisfeitas as necessidades, as “condições mobilizadoras” seriam superadas.

Reconhece-se hoje que tais “condições mobilizadoras” são apenas uma parte dos estados motivacionais que dirigem o comportamento; mesmo a função homeostática da motivação não necessariamente advém de necessidades orgânicas. Hábitos aprendidos e

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ResumoNesta aula, estudamos o papel do cérebro para a compreensão de como os indivíduos aprendem. Vimos, em primeiro lugar, como se organiza o nosso cérebro, observando as estruturas fundamentais no estudo da aprendizagem, com destaque para o hipocampo e seu papel no armazenamento da memória, o lobo frontal e o córtex de associação. Vimos, por fim, a importância dos afetos na capacidade de prender a atenção e a motivação, fatores importantes no aprendizado.

sentimentos subjetivos de prazer podem modular a direção dos nossos atos. Nesse sentido, Kandell (2000, p.1007) apresenta um exemplo: freqüentemente as pessoas, mesmo com fome, preferem não comer a ingerir um alimento que aprenderam a evitar.

Por outro lado, as aspirações pessoais ou sociais adquiridas pela experiência constituem, talvez, uma complexa inter-relação entre forças fisiológicas e sociais, entre processos mentais conscientes e inconscientes. Infelizmente, os estudos sobre esses aspectos são, ainda, muito incipientes, o que faz com que sua aplicação mais significativa às investigações sobre aprendizagem ainda não possa ter resultados observáveis.

De tudo que foi discutido nesta aula, podemos concluir que as Neurociências vieram trazer comprovações para alguns aspectos já entendidos e observados como importantes na aprendizagem, tais como:

1) a experiência do sujeito, o contato com o meio social em que vive, tem mostrado que é fundamental para o estabelecimento de conexões sinápticas estáveis. Na verdade, a experiência modifica mesmo a estrutura da organização cerebral, evidenciando a sua plasticidade. A importância desta aspecto foi apontada por Vygotsky;

2) a transformação de conexões “lábeis” em conexões estáveis entre os neurônios vai depender em grande parte de que elas “encontrem sentido”, ou seja, mostrem-se significativas e úteis. Tal busca de relações de sentido e significação já vinha sendo apontada por Ausubel;

3) uma vez estabelecida a conexão, com seu uso freqüente, ela torna-se estável, acomoda-se, equilibra-se. O conceito de acomodação e equilibração já estava colocado por Piaget;

4) as motivações e os afetos, como mecanismos básicos do ser humano, são modificados pela aprendizagem e são, também, impulsionadores desta, como já mostrava Kurt Lewin.

Na próxima aula, vamos conhecer melhor as teorias desses autores.

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Auto-avaliação

Faça uma síntese sobre a importância da memória para o aprendizado.

Por que aprendemos mais facilmente aquilo que nos interessa?

Comente a frase: “o estudo repetido leva à aprendizagem”.

ReferênciasBOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Editora Saraiva, 1999.

HOUZEL, S. H. O cérebro nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2002.

KANDELL, E. Principles of neural science. New York: McGraw-Hill/Appleton; Lange, 2000.

LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu, 2001.

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Anotações

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