16
Aldo Dantas Tásia Hortêncio de Lima Medeiros Introdução à Ciência Geográfica DISCIPLINA A institucionalização da Geografia Autores aula 07

D I S C I P L I N A - ead.uepb.edu.br · Em se tratando especificamente da institucionalização do conhecimento geográfico moderno, que é o nosso caso, podemos dizer que quatro

  • Upload
    vucong

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Aldo Dantas

Tásia Hortêncio de Lima Medeiros

Introdução à Ciência GeográficaD I S C I P L I N A

A institucionalização da Geografia

Autores

aula

07

Aula 07  Introdução à Ciência GeográficaCopyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Dantas, Aldo.

Introdução à ciência geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio de Lima Medeiros. –

Natal, RN : EDUFRN, 2008.

176 p.

1. Geografia – Brasil. 2. Geografia - teoria. 3. Geografia científica – Brasil. 4. Sociedade.

5. Prática pedagógica. I. Medeiros, Tásia Hortência de Lima. II. Título.

CDD 910RN/UF/BCZM 2008/35 CDU 918.1

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica �

2

3

4

Copyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Apresentação A Geografia moderna surge na Alemanha, a então Prússia, no século XIX, marcada

pelas particularidades desse país. Mostrar isso é um dos intuitos desta aula. Mostraremos também que o contexto cultural, político e filosófico devem estar relacionadas quando se trata de entender o desenvolvimento de qualquer ciência.

Você verá ainda como se dá o processo de sistematização e institucionalização da Geografia, quais foram os pressupostos materiais e históricos que deram sustentação a essa sistematização e quais os pressupostos imateriais/subjetivos. Esta aula tenta responder às seguintes questões: por que a geografia, um conhecimento de longa data, vai se transformar em um saber sistematizado e científico apenas no século XIX e por que é na Alemanha que isso acontece? Quais as relações entre o contexto da modernidade e o surgimento dessa ciência?

Para bem compreender a discussão apresentada nesta aula, será fundamental que você releia a aula 3 (A Geografia na Antiguidade).

ObjetivosCompreender como as transformações ocorridas na modernidade influenciaram o processo de desenvolvimento das ciências em geral e da Geografia em particular.

Identificar as mudanças ocorridas nesse período que influenciaram, especificamente, o pensamento geográfico.

Relacionar os processos históricos, sociais, econômicos e políticos com o desenvolvimento e sistematização do conhecimento geográfico.

Articular a especificidade da Alemanha no século XIX com o surgimento da Geografia moderna.

Modernidade

Estilo e costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que vai, paulatinamente, influenciando todo o mundo.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica2 Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Contexto geral

C omo você viu na aula 3 (A Geografia na Antiguidade), as primeiras indagações geográficas sobre a localização e distribuição dos fenômenos remontam às origens da humanidade. Entretanto, de forma mais rigorosa, a Geografia como conhecimento

mais sistematizado nasce na Grécia, onde Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.) constrói o primeiro “mapa do mundo” e Hecateu de Mileto (560-480 a.C.) constrói o segundo. Por outro lado, a Geografia enquanto ciência autônoma e sua institucionalização ocorrerão somente no século XIX.

Perceba que desde o início o conhecimento geográfico apresentou-se polarizado entre duas tendências opostas e complementares. De um lado, os geômetras (versados em Geometria) e os astrônomos, com uma visão mais geral; de outro, os desbravadores, os aventureiros e curiosos, os historiadores, os filósofos e os políticos que, preocupados com os aspectos diferenciados da superfície terrestre, das diversas formas de produção, dos povos e de seus costumes, refletem sobre as relações entre os diferentes territórios e as várias sociedades humanas.

Vimos também que no decorrer da história da humanidade os périplos e conquistas se multiplicam, os contatos com os povos “bárbaros” vão pari passu (simultaneamente) alargando o horizonte geográfico.

Veja no box a seguir o que nos diz Antônio Carlos Robert de Moraes, em seu famoso Geografia – Pequena História Crítica, sobre esse período do pensamento geográfico.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica 3

O rótulo Geografia é bastante antigo, sua origem remonta à Antigüidade Clássica, especificamente ao pensamento grego. Entretanto, apesar da difusão do uso deste termo, o conteúdo a ele referido era demais variado. Ficando apenas ao nível do pensamento grego, aí já se delineiam algumas perspectivas distintas de Geografia: uma de Tales e Anaximandro, privilegia a medição do espaço e a discussão da forma da Terra, englobando um conteúdo hoje definido como Geodésia; outra, com Heródoto, se preocupa com a descrição dos lugares, numa perspectiva regional. Isto para não falar daquelas discussões, hoje tidas como geográficas, mas que não apareciam sob esta designação, como a relação entre o homem e o meio, presente em Hipócrates, cuja principal obra se intitula Dos ares, dos mares e dos lugares [...].

Desta forma, pode-se dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso. Por um lado, as matérias apresentadas com essa designação eram bastante diversificadas, sem um conteúdo unitário. Por outro lado, muito do que hoje se entende por Geografia, não era apresentado com este rótulo. Este quadro vai permanecer inalterado até o final do século XVIII (MORAES, 1983, p.32-33).

A gênese da Geografia modernaA constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado e institucionalizado

é fruto de um processo lento que tem por base fatores diversos no que se refere aos fenômenos históricos e estruturais relacionados a determinado grau de desenvolvimento material das sociedades e às idéias a eles vinculadas, ou seja, o desenvolvimento da Geografia (assim como de todas as outras ciências) prescinde do desenvolvimento da vida material e do pensamento filosófico-científico.

Dessa forma, a Geografia moderna, em seu nascedouro, necessitou de uma série de condições históricas para poder se tornar realidade.

Essas condições históricas a que nos referimos dizem respeito ao processo de transição do Feudalismo para o Capitalismo, assunto já visto nas aulas 5 (Os tempos modernos) e 6 (Espaço e modernidade)

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica4 Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Podemos dizer que a grande revolução para o conhecimento geográfico começa a ser preparada a partir da extraordinária expansão do espaço conhecido, do domínio da configuração da Terra e do desprezo às idéias e crenças a respeito da superfície terrestre que vem com a Idade Moderna. Mas, para que a Geografia desponte como um saber autônomo, particular, faz-se necessárias ainda certas condições que só estarão suficientemente amadurecidas no século XIX.

Pressupostos para o surgimento da Geografia moderna

Como vimos anteriormente, a institucionalização da Geografia dependeu tanto de fatores externos quanto de fatores de ordem interna à lógica do conhecimento científico em geral. Vimos também que o desenvolvimento dessa lógica está intimamente ligada ao processo mais amplo de desenvolvimento histórico da humanidade.

Em se tratando especificamente da institucionalização do conhecimento geográfico moderno, que é o nosso caso, podemos dizer que quatro ordens de fatores ou pressupostos fundamentais contribuíram para a erupção da sistematização da Geografia como ciência:

a) o efetivo conhecimento do planeta (alargamento do horizonte geográfico, ampliação do ecúmeno – áreas da Terra habitadas pelo homem);

b) acúmulo de informações sobre os diferentes lugares;

c) aperfeiçoamento das técnicas cartográficas;

d) desenvolvimento do conhecimento científico-filosófico.

O conhecimento do planetaO conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto fundamental

para a emergência da Geografia moderna e as condições materiais para a realização de tal conhecimento encontram-se na expansão européia que se concretiza através das grandes navegações e descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.

A consciência da magnitude real da superfície terrestre (em termos de sua forma, dimensão, subdivisões e limites) representava o patamar mínimo para o afloramento da reflexão sistematizada sobre esse espaço concreto. Tal apreensão mais elaborada sobre a Terra requeria conhecimento factual considerável estabelecido e a possibilidade de aferição empírica de uma visão de conjunto do globo (MORAES, 2002, p. 17).

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica �

No século XIX, a constituição de um espaço mundial já é uma realidade efetiva e consolida definitivamente aquele processo que se inicia com as primeiras evidencias de decadência do sistema feudal, ou seja, no século XIX, com a Revolução Industrial, o Capitalismo está consolidado. Essa consolidação atua de forma decisiva no processo de reafirmação das relações mercantis de produção que, ao se articular em escala planetária, estende a influência das sociedades européias em todo o globo.

Preste atenção, também, ao fato de que a constituição de uma economia mundial desembocou numa exploração colonial, pois esse processo de expansão econômica exigiu uma necessária apropriação e submissão de novos territórios e sua incorporação ao sistema produtivo.

Se você retomar a leitura da aula 2 (A ação humana), verá que esse processo se baseia, pelo menos, em dois elementos fundantes da Geografia: apropriação e exploração.

A apropriação desses novos territórios ocorre de forma lenta e vai, paulatinamente, fragmentando os modos de vida locais, promovendo novos ordenamentos e “ajustes espaciais”. Além disso, coloca o europeu expansionista em contato com realidades espaciais bastante diversas da sua. Para ter o conhecimento dessas novas realidades particulares e de suas localizações (lembre-se de que localização e nomeação dos lugares são elementos constitutivos do saber geográfico, veja aula 1), o levantamento de informações sobre esses lugares singulares torna-se imprescindível.

O acúmulo de informaçõesComo vimos, os grandes descobrimentos dão origem a um conhecimento cada vez

mais apurado da realidade do planeta, fator primordial para o surgimento de uma Geografia moderna. Junto a esse conhecimento, faz-se necessária a sistematização de informações sobre os diferentes pontos da Terra, ou seja, sobre os diferentes territórios que vão sendo incorporados às relações mercantis.

A descoberta de novas terras torna possível a expansão das relações capitalistas. A apropriação e incorporação de novos territórios exigem, como já foi dito, o conhecimento de realidades distintas entre si e distintas do quadro europeu de referência.

Assim, a exploração colonial demanda o levantamento constante de informações que vai sendo feito de forma criteriosa, dando origem a grande acervo de dados.

O acúmulo de informações é primordial nesse momento de expansão, uma vez que o “mundo”, tal qual o conhecemos hoje, está sendo descoberto e apropriado (dominado) e do qual se tem poucas informações. Além disso, conhecer e localizar detalhadamente os diferentes lugares é uma tarefa demandada pela própria necessidade de realização da expansão capitalista que, para aumentar seu domínio e fortalecer suas atividades nos territórios colônias, necessita de informação.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica� Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Basta pensar que das expedições exploradoras do século XV chega-se às expedições científicas do século XVIII, todas financiadas diretamente pelas coroas européias. Também a fundação das sociedades geográficas e dos escritórios coloniais atesta o interesse fundamental dos Estados por essa coleta de informações. Decorre desse interesse um revigoramento das descrições, que pela prática se vão aprimorando, fato que é extremamente relevante para irrupção da Geografia moderna. O acúmulo das descrições fornece base empírica para a comparação entre as áreas, núcleo germinador das indagações associadas na sistematização geográfica (MORAES, 2002, p.18-19).

A cartografiaO avanço e aprimoramento da cartografia (instrumento por excelência geográfico)

se constituem efetivamente num outro pressuposto da Geografia moderna. Esse avanço na linguagem cartográfica é uma demanda primária e uma exigência prática para o pleno desenvolvimento das relações comerciais que requer o estabelecimento preciso de rotas de navegação, assim como a localização exata dos lugares e portos.

O tráfego terrestre também se amplia em função da regularidade crescente das trocas e do atendimento de distâncias maiores a serem percorridas.

É a economia “global” que emerge, articulando regiões diferentes e distantes e demandando a confecção, cada vez mais detalhada, de mapas confiáveis que facilitem o deslocamento mais rápido e seguro dos meios de transporte, os quais também sofrem grande desenvolvimento nesse período. Mapas mais confiáveis propiciam ainda o conhecimento e a extensão real das colônias.

A técnica de impressão, recém-descoberta nesse período, populariza o instrumental cartográfico que vai se juntar às descrições dos viajantes naturalistas do século XVII, dando-lhes cunho mais geográfico.

Assim, dos relatos ocasionais e intuitivos dos exploradores e aventureiros passa-se, com a evolução da própria empresa colonial, às descrições ordenadas e imbuídas do espírito objetivo das ciências modernas nascentes. Pode-se dizer que tal situação, plenamente alcançada no século XVIII, é já o anteato imediato do processo de sistematização da Geografia (MORAES, 2002, p.19)

Evolução das idéiasO período que estamos chamando aqui de transição do Feudalismo para o

Capitalismo, que promove grandes transformações materiais, é também marcado por um clima de grande efervescência de idéias e de extraordinário alargamento do horizonte do pensamento humano.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica 7

Você deve estar se lembrando da aula 5, na qual falamos sobre a ordem feudal e sua interpretação teológica do mundo. Essa ordem tinha como base de legitimação e interpretação dos fenômenos a teleologia divina. Para se contrapor a essa visão, as idéias nascentes vão se firmar sobre uma concepção racionalista do mundo na qual a valorização e as possibilidades da razão humanas são privilegiadas em detrimento das explicações divinas. Os últimos anos do século XVIII e os primeiros do século XIX marcam de modo especial esse embate.

De explicações de fundo teológico, baseadas na crença da origem divina da ação dos eventos, passa-se para uma visão que defende a observação sistemática em busca de constâncias, ritmos e relações entre os fenômenos (MORAES, 2002, p.21).

Uma nova forma de saber se instala, configurando um novo sistema de conhecimento. Surge daí as ciências modernas.

Essas mudanças que começam já no século XV-XVI vão se consolidar com o projeto científico levado a cabo no século XIX. Esse projeto tem como pontos de apoio fundamentais a razão e uma fé generalizada no progresso.

Como já assinalamos, ao contrário da ordem feudal, que se embasava numa visão teocêntrica (Universo e homem são criaturas), a razão coloca o homem no centro do Universo, e a Terra e a natureza são vistas como submissas e passíveis de apropriação generalizada pelo homem.

A dessacralização da natureza vai permitir a intervenção humana na ordem natural e a constituição da ciência moderna, entre elas a Geografia. O pensamento científico passa a ter nessa concepção um papel fundamental. E é através da possibilidade de intervenção racional do homem sobre a natureza e da eficácia científica que o homem moderno cimenta sua fé no progresso.

Surge também nesse período, que começa com o Iluminismo, uma discussão fundamental para a Geografia moderna: as relações entre a sociedade e o meio. Montesquieu (1689-1755), por exemplo, em O espírito das leis, dedica um capítulo ao estudo das relações natureza-sociedade. Rousseau (1712-1778) dizia, por outro lado, que seis meses passados num lugar o instruía mais que cem livros.

Como se vê, essa mudança de mentalidade faz aflorar diversos temas pertinentes à Geografia (além do já destacado), tais como: a questão da relação da sociedade com o território; a influência do meio (especificamente do relevo e do clima) na organização social; e as formas de governo e a extensão do território, que são temas recorrentes entre os pensadores já referidos, como é o caso de Montesquieu e Rousseau.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica� Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Alemanha: berço da institucionalização da Geografia moderna

Na Alemanha, emergem questões da prática social e da sua particularidade histórica que irão estimular a sistematização e institucionalização da Geografia no seio da sociedade germânica.

O repertório geográfico e os interesses sociais e políticos engendrados na sociedade alemã formam um par indissociável para a discussão dos problemas colocados para os alemães e seu contexto histórico frente às mudanças e transformações por que passavam as diferentes sociedades européias.

Como você estudou na aula 6, um dos elementos fundamentais para a tessitura do “ajuste espacial”, demandado pelo processo de modernização, é a constituição do Estado. Enquanto outros países constituem seu Estado Nacional, a Alemanha encontra dificuldade para sua unificação frente à extrema diversidade entre as várias unidades germânicas, a ausência de relações mais duradouras entre elas e a falta de um centro organizador do espaço que faça convergir as relações econômicas e amenizem as disputas de fronteiras.

A Alemanha é, nesse período, um país em situação de atraso em relação às demais nações européias e tal situação parece ser um aspecto fundamental para fazer da discussão geográfica um tema da maior importância para a sociedade alemã.

Essas singularidades germânicas vão

marcar profundamente todos os planos da história da Alemanha, das relações econômicas, passando pela organização política, até as formas de pensamento. É nele inclusive que residem as determinações históricas específicas explicativas do afloramento pioneiro do processo de sistematização do pensamento geográfico nesse país (MORAES, 2002, p.26).

Como você deve estar percebendo, a maior parte dos temas colocados pelo processo de sistematização da Geografia constitui dificuldades vividas pela sociedade alemã ainda não unificada. A Geografia nasce nesse contexto específico da Alemanha para dar respostas a duas questões fundamentais: resolver uma questão territorial premente para a constituição de um Estado Nacional e a conquista de um lugar de destaque para a Alemanha no cenário apresentado pela realidade européia do século XIX.

Os acontecimentos históricos e as necessidades práticas da sociedade alemã são pontos importantes para a compreensão do surgimento da Geografia moderna, mas não são suficientes. O nascimento de uma ciência ou de uma idéia depende de fatores históricos, mas também de homens concretos. E em se tratando de Geografia alemã, esses homens são Humboldt e Ritter, que teremos oportunidade de conhecer na próxima aula.

Estado

Conjunto de instituições e de uma população

fixado e delimitado por um território. O Estado “monopoliza” a criação

das regras dentro do seu território

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica �

Atividade 1

2

A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX. E nem poderia ser de outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e domínio das relações capitalistas de produção. [...]

A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época em que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio de penetração das relações capitalistas nesse país. Na verdade, o país não existe enquanto tal, pois ainda não se constitui como Estado Nacional. A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos), cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexiste qualquer unidade econômica ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação nacional (MORAES, 1983, p. 34/44).

Leia os fragmentos a seguir e leia também, de Antônio Carlos Robert de Moraes, os capítulos 3 e 4 do livro Geografia: pequena história crítica.

Em seguida, assinale os aspectos fundamentais para compreender o processo de sistematização da Geografia.

Agora, responda as questões seguintes.

A partir da leitura dos textos, faça considerações pertinentes à afirmação: “O surgimento de uma ciência depende de fatores históricos materiais e imateriais, ou seja, de fatores objetivos e subjetivos”.

Em que medida esses fatores objetivos e subjetivos estão presentes na Alemanha para que a Geografia se institucionalize?

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica�0 Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Resumo

Leituras complementaresANDRADE, Manuel Correia. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006.

Livro já citado no qual o autor analisa a evolução do pensamento geográfico desde a Antigüidade até os dias atuais. É um livro de base para entender os fundamentos da Geografia e suas conexões com as ciências naturais e sociais; além de traçar os contextos nos quais se desenvolveram cada período de desenvolvimento da Geografia. Para esta aula, veja especialmente os capítulos 4 e 5.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

Leitura obrigatória para quem estuda Geografia. É uma síntese dos fundamentos e da história do pensamento geográfico moderno. Para esta aula, veja especialmente os capítulos 3 e 4.

MORAES, Antônio Carlos Robert. A gênese da geografia moderna. São Paulo: ANNABLUME/HUCITEC, 2002.

Se você quiser aprofundar os seus estudos sobre este período de desenvolvimento e gênese da Geografia moderna, essa obra trata especificamente do processo de institucionalização e gênese da Geografia moderna, analisando o contexto histórico específico da Alemanha e a sistematização dessa ciência, que ocorre através das elaborações de Alexandre von Humboldt e Karl Ritter.

Esta aula mostra a relação entre o desenvolvimento da ciência geográfica e o das condições materiais da vida social dentro do contexto histórico da modernidade. Analisa os pressupostos para a sistematização da Geografia e a especificidade da Alemanha no século XIX, país que primeiro fará a sistematização do conhecimento geográfico, dando-lhe estatuto científico e institucional.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica ��

Auto-avaliaçãoElabore um texto mostrando de que maneira as mudanças ocorridas na modernidade influenciaram no pensamento geográfico e de como isso culminou na sua sistematização como ciência.

Referências ANDRADE, Manuel Correia. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006.

MORAES, Antonio Carlos Robert. A gênese da geografia moderna. São Paulo: ANNABLUME/HUCITEC, 2002.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2007.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006.

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica�2

Anotações

Aula 07  Introdução à Ciência Geográfica

Ementa

n Aldo Dantas

n Tásia Hortêncio de Lima Medeiros

A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do pensamento geográfico. A relação sociedade/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu reflexo no ensino. A geografia brasileira. Atividades práticas voltadas para a aplicação no ensino.

Introdução à Ciência Geográfica – GEOGRAFIA

Autores

Aulas

�º S

emes

tre d

e 20

0�Im

pres

so p

or: T

exfo

rm G

ráfic

a

01 O saber geográfico

02 A ação humana

03 A Geografia na Antiguidade

04 A Geografia na Idade Média

05 Os tempos modernos

06 Espaço e modernidade

07 A institucionalização da Geografia

08 A Geografia de Humboldt e Ritter

09 A Geografia ratzeliana e seu contexto

10 A Geografia vidaliana e o seu contexto

11 A abordagem regional vidaliana

12 Os movimentos de renovação

13 A institucionalização da Geografia no Brasil

14 O nascimento da Geografia científica no Brasil

15 Milton Santos: o filósofo da técnica