0
FACULDADE CEARENSE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
FRANCISCA KAYNA AZEVEDO HONORATO ABREU
O ADOLESCENTE PITAGUARY: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE COMO SUJEITO INDÍGENA
Maracanaú – CE 2013
1
FRANCISCA KAYNA AZEVEDO HONORATO ABREU
O ADOLESCENTE PITAGUARY: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE COMO
SUJEITO INDÍGENA
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requesito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Ms. Maria Elia dos Santos Vieira.
Maracanaú – CE 2013
2
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
A162a Abreu, Francisca Kayna Azevedo Honorato
O adolescente Pitaguary: a construção da identidade como
sujeito indígena / Francisca Kayna Azevedo Honorato Abreu.
Maracanaú - 2013
88f. Il.
Orientador: Prof.ª Ms. Maria Elia dos Santos Vieira.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.
1. Identidade adolescente. 2. Indígena. 3. Estigma. I. Vieira,
Maria Elia dos Santos. II. Título
CDU 364
3
FRANCISCA KAYNA AZEVEDO HONORATO ABREU
O ADOLESCENTE PITAGUARY: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE COMO
SUJEITO INDÍGENA
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requesito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Data de aprovação: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Profa. Ms. Maria Elia dos Santos Vieira.
_________________________________________________
Profa. Ms. Valney Rocha Maciel
___________________________________________ Prof. Ms. Daniel Rogers de Sousa Ferreira
4
AGRADECIMENTOS
Como de costume, mas não pelo costume, agradeço primeiramente a DEUS,
por me dar sabedoria, por me iluminar e abençoar minha trajetória, me conduzindo à
vitória.
Agradeço aos meus pais, Antonio Honorato e Maria Minergilda, pelo apoio e
por tudo que sempre fizeram por mim, pela simplicidade, exemplo, amizade e
carinho, fundamentais na construção do meu caráter. Além da ajuda incansável dos
dois para ajudar nos cuidados com minha filha.
À minha irmã, Nara Klivia, a amo infinitamente, sempre foi meu exemplo de
determinação.
À minha pequena, gigante filha, Maryna Honorato, que compreendeu todos os
meus dias de ausência e falta de atenção. Filha me orgulho todos os dias ter você
ao meu lado pela sua inteligência e capacidade de me ajudar na construção de
alguns trabalhos acadêmicos.
Ao meu amado esposo e porto seguro, Mario Junior, que nunca pensou duas
vezes em me incentivar e investir no meu futuro. Homem que me orgulho em ter ao
lado, pois todas as vezes que me peguei pensando que não conseguiria, me fez
acreditar que eu era capaz, só dependeria do meu esforço.
Às minhas amigas e companheiras dessa jornada acadêmica, Ana Thalita
Almeida e Ilana Portela, seres que tive oportunidade de ganhar em minha vida,
durante todos esses anos compartilhamos juntas os mesmos sonhos. Obrigada
meninas pela força que deram nos meus momentos de insegurança e dificuldade.
Ao André Fernandes, coordenador do CRAS Indígena em Maracanaú, pessoa
que tive oportunidade de conhecer, enquanto estagiária do local. Homem que tenho
uma admiração e gratidão enorme enquanto pessoa e profissional. Propiciou-me
ensinamentos que levarei para minha futura vida profissional.
5
À minha orientadora Maria Elia dos Santos Vieira, pela paciência, apoio e
confiança, por ter dedicado seu precioso tempo, se disponibilizando a me orientar,
visto que o tema que escolhi foi motivo de dificuldade em encontrar orientação.
Obrigado a todos que, mesmo não citados aqui, tanto contribuíram para a
conclusão dessa etapa e para a Kayna Honorato que sou hoje.
6
Dedico este trabalho às pessoas mais
importantes da minha vida: meus pais,
Honorato e Minergilda, a minha irmã
Klivia, minha filha Maryna e meu esposo
Mario Junior, que confiaram no meu
potencial para esta conquista. Não
conquistaria nada se não estivessem ao
meu lado. Obrigada, por estarem sempre
presentes em todos os momentos, me
dando carinho, apoio, incentivo,
determinação, fé e, principalmente, pelo
amor de vocês.
7
Somente quando for cortada a última
árvore, pescado o último peixe, poluído o
ultimo rio, que as pessoas vão perceber
que não podem comer dinheiro.
(Provérbio Indígena)
8
RESUMO
A sociedade estabelece um modelo de conduta e relaciona as pessoas de acordo
com as características consideradas comuns e adequadas aos membros de
determinadas categorias. Assim, pode-se dizer que a sociedade determina um
padrão externo que presume ao indivíduo a classe e os predicados, a identidade
social e as relações com o meio em que este deve estar inserido. Aquele que é
julgado como diferente dos padrões impostos pela sociedade é comumente
excluído, estigmatizado, havendo uma tendência deste indivíduo a esconder sua
diferença ou mesmo não aceitá-la, é o que acontece com muitos índios,
principalmente, enquanto adolescentes que tendem a negar sua etnia em prol de
serem aceitos na sociedade. Nesta monografia foi feito um estudo acerca da
identidade de adolescentes indígenas, tomando-se como base uma pesquisa
realizada junto a índios da tribo Pitaguary. Para que se pudesse verificar melhor a
respeito do assunto, o seguinte questionamento foi levantado para direcionamento
do estudo: Como se dá a construção identitária do adolescente Pitaguary enquanto
sujeito indígena? Como objetivo geral tem-se analisar a identidade do adolescente
da tribo Pitaguary no que se refere à afirmação identitária enquanto sujeito indígena.
No que diz respeito à metodologia utilizou-se de uma pesquisa de campo junto aos
adolescentes Pitaguary, aplicando-se questionários e realizando entrevistas a fim de
chegar ao objetivo traçado e responder ao problema de pesquisa, foi realizado um
estudo de natureza descritiva com abordagem qualitativa. Ao final, pode-se
constatar que os adolescentes se dividem em relação ao autoconhecimento como
indígena, onde a maioria afirma se reconhecer como indígena, mas suas ações o
contradizem, demonstrando as dificuldades de afirmação identitária enquanto
indígena. Identificou-se que o reconhecimento como indígena é um fator que
acontece sempre que influenciados, devendo partir da família, primeiramente, que
deve buscar o resgate de sua cultura e da própria comunidade.
Palavras-Chave: Identidade. Adolescente. Indígena. Estigma.
9
ABSTRACT
Thus, it can be said that society determines an external standard that assumes the
individual class and predicates, social identity and relationship with the environment
in which it must is inserted. Whoever is judged as different standards imposed by
society is commonly excluded , stigmatized , there is a tendency in this individual to
hide his difference or not even accept it, is what happens to many Indians , especially
as teenagers tend to deny their ethnicity for the sake of being accepted in society.
This monograph was a study done about the identity of indigenous adolescents,
taking as a basis a survey carried out among the Indians Pitaguary tribe. Society
establishes a model of conduct and lists the people according to the characteristics
considered common and appropriate members of certain categories. So that it could
better check on the subject, the following question was raised as to direct the study:
How does the adolescent identity construction as subject Pitaguary indigenous. As a
general objective has been to analyze the identity of the teenager Pitaguary tribe in
regard to identity as indigenous subject statement. With regard to the methodology
we used a field research with adolescents Pitaguary, applying questionnaires and
conducting interviews in order to reach the goal trace and respond to the research
question, a study of descriptive qualitative approach was performed with. At the end,
it can be seen that teenagers fall in relation to self-recognition as indigenous, where
most states recognize themselves as indigenous, but their actions contradict,
demonstrating the difficulties of identity as indigenous peoples claim. It was identified
that recognition as indigenous is a factor that influenced happens whenever, from the
family should first, you should seek the redemption of their culture and community.
Keywords: Identity. Teenager. Indigenous. Stigma.
10
LISTA DE SIGLAS/ ABREVIATURAS
AMIPY – Articulação das Mulheres Indígenas Pitaguary
APIPY – Associação dos Produtores Indígenas Pitaguary
CAINPY – Conselho de Articulação Indígena Pitaguary
CDPDH - Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de
Fortaleza
CF/88 – Constituição Federal de 1988
COIPY – Conselho Indígena Pitaguary
COIPYM – Conselho Indígena Pitaguary de Monguba
COPIPY – Conselho dos Professores Indígenas Pitaguary
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
DSEI – Divisão Especial de Saúde Indígena
EETIP – Estudo Etnoecológico Terra Indígena Pitaguary
EPACE – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
FUNDEB – Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação
GT – Grupo de Trabalho
INEC – Instituto Nordeste Cidadania
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MEC – Ministério da Educação e Cultura
MSMC – Movimento Saúde Mental Comunitária
NAL – Núcleo de Apoio Local
NOB-SUAS – Normas Operacionais Básicas do Sistema Único da Assistência Social
11
ONG – Organização Não Governamental
PAIF – Programa de Atenção Integral as Famílias
PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola
PM-CE – Polícia Militar do Ceará
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SEDUC – Secretaria de Educação do Estado do Ceará
SPAECE – Sistema Permanente de Avaliação do Ensino do Ceará
SPI – Serviço de Proteção aos Índios
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
UFC – Universidade Federal do Ceará
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – CRAS Indígena Pitaguary.............................................................. 45
Figura 2 – Localização da Terra Indígena Pitaguary..................................... 49
Figura 3 – Mapa das terras Pitaguary............................................................. 49
Figura 4 – Ritual Toré....................................................................................... 53
Figura 5 – Manifestação Dia do Índio em Maracanaú................................... 56
Figura 6 - Escola indígena Itá-ara................................................................... 57
Figura 7 - Professores Indígenas da Escola Indígena – Itá-ara................... 59
Figura 8 – Entrevista com o Cacique Pitaguary............................................ 74
Figura 9 – Entrevista adolescentes indígenas.............................................. 75
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Quantitativo dos índios no Estado do Ceará................................ 38
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Perfil dos adolescentes indígenas............................................... 65
Tabela 2 – Nível de instrução.......................................................................... 66
Tabela 3 – Categoria de perguntas voltadas para os objetivos da
pesquisa.............................................................................................................
68
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16
1 ADOLESCÊNCIA E IDENTIDADE......................................................................... 21
1.1 Adolescência .................................................................................................... 21
1.2 Estigma e Identidade ....................................................................................... 24
1.3 A formação da identidade do adolescente ....................................................... 27
2 CONTEXTUALIZANDO OS ÍNDIOS ...................................................................... 30
2.1 Um breve retorno ao passado .......................................................................... 30
2.1.1 Os índios nos dias de hoje...................................................................... 32
2.2 Índios no Ceará ................................................................................................ 35
2.2.1 A Educação Indígena no Ceará .............................................................. 39
2.2.2 A Saúde Indígena no Ceará..................................................................... 41
2.2.3 CRAS – Centro de Referência de Assistência Social ........................... 42
3 ETNIA INDÍGENA PITAGUARY ............................................................................ 46
3.1 Trajeto histórico ................................................................................................ 46
3.1.1 População ................................................................................................. 49
3.1.2 Estruturação e organização política ...................................................... 50
3.2 Tradição, crença e cotidiano ............................................................................ 52
3.3 Um novo espaço na sociedade: conquistas e garantias .................................. 55
3.3.1 Escola Diferenciada – Educação do Povo Pitaguary ............................ 56
3.3.2 Os índios e as políticas públicas de saúde ........................................... 59
4 ADOLESCENTES PITAGUARY: RELATOS ......................................................... 61
4.1 Procedimentos metodológicos ......................................................................... 61
4.2 Coleta de dados ............................................................................................... 63
4.3 População/Amostra .......................................................................................... 64
4.3 A autoidentificação como índio ........................................................................ 65
5.2 Afirmação étnica: relatos .................................................................................. 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 77
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79
APÊNDICES...............................................................................................................83
16
INTRODUÇÃO
A sociedade estabelece um modelo de conduta e relaciona as pessoas de
acordo com as características consideradas comuns e adequadas aos membros de
determinadas categorias. Assim, pode-se dizer que a sociedade determina um
padrão externo que presume ao indivíduo a classe e os predicados, a identidade
social e as relações com o meio em que este deve está inserido. A diversidade,
mistura de cultura ao mesmo tempo em que destaca as diferenças étnicas e
culturais de cada povo, provoca a falta de homogeneidade.
Para os estigmatizados, as oportunidades e os valores são reduzidos, a
sociedade impõe a essas pessoas a perda da identidade social e, ainda, origina uma
imagem deteriorada, de acordo com o padrão imposto pela sociedade. Dessa forma,
a sociedade anula todos os que rompem com o modelo estabelecido por ela.
Um indivíduo com uma identidade social estigmatizada tem seus atributos e
qualidades destruídos, a sociedade desempenha o poder de influência das suas
ações e reforça a degradação da sua identidade social, destacando as
irregularidades e ocultando a atitude ideológica dos estigmas.
Em consequência ao estigma sofrido, o individuo muitas vezes passa a não
aceitar a si mesmo, sentem-se sem espaço e sem função dentro da sociedade. A
visibilidade do estigma compõe um fator categórico e, aqueles que possuem uma
convivência com o indivíduo, podem influenciar na preocupação da sua identidade
social.
Abordar a temática sobre os indígenas, em especial os índios Pitaguary, é um
desafio para a autora desta monografia, considerando que se vive hoje em uma
sociedade onde a grande maioria dos sujeitos usa do discurso que os povos
indígenas hoje existentes não são autênticos. Neste estudo, o destaque é dado para
os adolescentes indígenas, considerando que a adolescência trata-se de uma fase
complexa, onde a construção da identidade atinge seu auge.
17
No que diz respeito à adolescência, pode-se dizer que é permeada de uma
multiplicidade de comportamentos, desde aquele adolescente mais calmo, ao mais
agitado, o tímido e o popular. É nessa fase que toda a formação do indivíduo é
processada, as atitudes, os valores e as características são modelados, sendo
diretamente relacionados aos aspectos internos e externos da estrutura psicológica,
fisiológica e social. É nessa fase da vida que o indivíduo passa pelo processo de
autoafirmação do ser, esta que é construída com base no coletivo e na sua
confrontação com a realidade. Com os adolescentes indígenas essa fase não é
diferente, a construção de sua identidade é um fator que merece atenção.
Quando o assunto diz respeito a adolescentes indígenas, a formação da
identidade é ainda mais complexa, visto que são constantemente estigmatizados por
sua etnia, é comum associar um programa chato a um programa de índio, uma
roupa com mais adereços aos índios. Enfim, muitas vezes, a identidade indígena é
depreciada pelos demais indivíduos da sociedade, por esse motivo muitos se negam
como indígenas, julgando-se como mestiços.
Assim, sabendo-se das dificuldades enfrentadas pelos adolescentes das mais
diversas etnias em relação à construção de sua identidade, levantou-se o interesse
em verificar a formação identitária de adolescentes indígenas.
A luta das etnias indígenas em busca da (re) construção identitária é longa e
diante de uma vasta trajetória da busca incansável desse povo por seu
reconhecimento, o objetivo do presente trabalho consiste em analisar a identidade
do adolescente da tribo Pitaguary no que se refere à afirmação identitária enquanto
sujeito indígena. Neste sentido os objetivos específicos consistem em: verificar os
fatores que dificultam a autoimagem dos adolescentes indígenas da tribo Pitaguary;
investigar de que forma a cultura indígena tem sido repassada para os adolescentes
da tribo; analisar a forma que é trabalhada a questão do fortalecimento da cultura.
Dessa forma, para direcionamento deste estudo, o seguinte questionamento
foi levantado: Como se dá a construção identitária do adolescente Pitaguary
enquanto sujeito indígena?
A relevância do tema está na possibilidade de promover o debate acerca da
afirmação da etnia indígena, sobre a qual não se pode fechar os olhos para sua
18
existência e presença. Descrever o modo que se construiu a identidade do povo
brasileiro é realizar um resgate histórico cultural, afinal, formação identitária é tema
recorrente nas literaturas de países colonizados, como o Brasil e toda a América
Latina, um continente que, desde o descobrimento, vive uma busca incessante pela
afirmação identitária. Tal busca se torna complexa, pois o povo resulta de diversas
contribuições culturais de indivíduos que tiveram suas vidas entrelaçadas por
diferentes razões. Segundo Fausto (2008, p 38) “é difícil analisar a sociedade e os
costumes indígenas, porque se lida com povos de culturas muito diferentes da nossa
e sobre a qual existiriam e ainda existem fortes preconceitos”.
Quem quer que conheça um pouco de história, sabe que sempre existiram
preconceitos nefastos e que mesmo quando alguns deles chegam a ser superados,
outros tantos surgem quase que imediatamente. No entanto, a mestiçagem1 revela
um lado sombrio que está fincado em nossa história, fazendo parte o preconceito. A
lei igualitária, conhecida constitucionalmente como Isonomia, porém na realidade,
nunca foi para todos.
O despertar da discussão deste tema, ocorreu através da experiência
vivenciada enquanto estagiária do Centro de Referência de Assistência Social –
CRAS INDÍGENA, no Município de Maracanaú, de agosto de 2010 a agosto de
2012. Durante o período da prática do estágio, não remunerado, supervisionado, foi
possível acompanhar e realizar atendimentos iniciais do dia a dia dos usuários,
sendo possível perceber em alguns adolescentes Pitaguary suas insatisfações e
inquietações, ao se identificarem indígenas.
Contudo, a pesquisa foi desenvolvida na Comunidade Indígena Pitaguary,
junto aos adolescentes participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV), que acontece no Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) que fica localizado dentro da aldeia, no município de Maracanaú - CE, bairro
Santo Antônio.
Metodologicamente, a pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa. Neste
sentido, considerando que a abordagem qualitativa é a que permite maior
aprofundamento das relações sociais, permitiu, também, uma maior apreensão da 1 Pessoas que descendem de duas ou mais raças humanas diferentes, possuindo características de
cada uma das "raças" de que descendem.
19
realidade proposta como estudo, uma realidade social, que possibilita analisar o
homem e suas múltiplas relações.
A coleta de dados foi realizada em dois momentos, sendo aplicado
inicialmente um questionário com 46 adolescentes do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que acontece no Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) que fica localizado dentro da aldeia, no município de
Maracanaú - CE, bairro Santo Antônio. Os adolescentes aqui em estudo foram
escolhidos pela facilidade de acesso ao CRAS do município de Maracanaú, tendo,
portanto, maior proximidade com os sujeitos da pesquisa. O questionário foi aplicado
inicialmente a fim de identificar aqueles que não se reconheciam como índios. Após
aplicação do questionário foi realizada uma entrevista com uma amostra menor
desses adolescentes, um total de 05, bem como com uma das lideranças da
comunidade e o cacique da tribo, o intuito era de aprofundar o conhecimento acerca
da construção da identidade dos adolescentes indígenas.
E, para realizar esses esclarecimentos, a pesquisa está dividida em quatro
capítulos que estão conectados, cada um com suas especificidades. No primeiro
capítulo é feita uma abordagem acerca dos adolescentes e identidade, inicialmente,
tem-se os conceitos pertinentes ao assunto, fazendo-se uma abordagem sobre a
adolescência, logo após, aborda-se os conceitos de identidade e estigma, por fim, o
capítulo é finalizado com um estudo acerca da formação da identidade do
adolescente.
No segundo capítulo é realizado um breve retorno ao passado, relatando a
história dos índios. Este se fez necessário para se observar os impactos gerados
desde a chegada dos portugueses ao Brasil até o destino da população Ameríndia2.
Entretanto, ainda neste capítulo, contextualiza-se os índios no Ceará, trazendo para
o texto, o processo de luta e resistência, destacando Leis e instrumentos normativos
de defesa ao índio.
O terceiro capítulo traz a etnia Pitaguary, seu trajeto histórico, fazendo
menção a um novo espaço na sociedade a partir da visibilidade de politização
adquirida por estes no processo de conquistas e garantias de direitos para
2 Ameríndio, designação dada aos índios do continente americano.
20
comunidade. Ressalta-se também uma referência aos costumes, tradições e
cotidiano.
O quarto capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados para
desenvolvimento desta pesquisa, métodos utilizados, procedimento de coleta de
dados e instrumentos utilizados, bem como cenário e sujeitos da pesquisa. Ainda
neste capítulo, os questionários aplicados são analisados e descritos os resultados,
comparando-se aos autores estudados. Para finalizar, foram utilizadas as entrevistas
obtidas no trabalho de campo, analisando as falas dos entrevistados, adolescentes,
liderança da comunidade e o cacique da tribo, relatando os seus anseios de
reconhecimento como cidadãos brasileiros e como indígenas. O trabalho de campo
foi fundamental, pois possibilitou ouvi-los pessoalmente, ouvir suas histórias como
foco no regaste à identidade e à cultura.
21
1 ADOLESCÊNCIA E IDENTIDADE
1.1 Adolescência
A adolescência, de acordo com Fonte (2008), inicia-se aos 12 anos de idade,
e consiste em um período no qual o indivíduo esta buscando consolidar suas
relações fora do contexto familiar, privilegiando os aspectos sociais de sua vida,
observando tudo que o rodeia, a tomada de posições e definindo os valores
próprios, passando a defender muito afincadamente as crenças e tudo aquilo em
que o grupo que integra acredita.
Para Gesell (2002), comportamento é um termo adequado para todas as
reações da criança, à medida que seu sistema nervoso sofre diferenciações ligadas
ao crescimento, as formas de seu comportamento também se diferenciam. Dessa
forma, pode-se dizer que comportamento é o termo empregado para indicar a forma
que as crianças se apresentam, é a reação do indivíduo ao ambiente.
Entre os 13 e os 15 anos de idade, de acordo com Piaget (1984), a criança
encontra-se no período de operações formais, com início aos 11 anos de idade,
durante esse período a criança realiza raciocínios abstratos, não recorrendo ao
contato com a realidade. A criança deixa o domínio do concreto para passar às
representações abstratas. É nessa fase que a criança desenvolve a sua própria
identidade, podendo haver, neste período problemas existências e dúvidas entre o
certo e o errado. Assim, pode-se dizer que o adolescente que se encontra neste
período merece bastante atenção, para que possa seguir nesta fase da melhor
maneira possível.
Dos 13 aos 15 anos, as crianças encontram-se dispostas a realizar todas as
atividades, principalmente as que fogem de sua realidade. Nesse período é
essencial que as crianças conheçam bem o mundo em que vivem. Fagali (2007)
acredita que o conhecimento adequado do desenvolvimento do comportamento da
22
criança é essencial para condução do processo de aquisição e desenvolvimento das
mais variadas habilidades.
O período dos 13 aos 15 anos caracteriza-se pela adolescência. De acordo
com De Lamare (1973), aos 13 anos existe uma tendência de retração sobre si
mesmo e de afastamento do círculo familiar. O temperamento varia de indivíduo
para indivíduo, alguns são mais sociáveis. Aos 14 anos, o indivíduo passa do
retraimento para comunicabilidade, é justamente um momento oportuno para
descobrir e cultivar o talento. Tem paixão por conversa, suas amizades são
escolhidas por simpatias, as vezes sem nenhuma razão positiva. Sua vida é ativa e
feliz. Os 15 anos é uma idade difícil, ainda não possui equilíbrio e controle, está
sempre em busca de independência e liberdade. Possui uma progressiva
sensibilidade e irritabilidade, apresenta-se fatigado, desatencioso, dando impressão
de apatia.
Trata-se de uma fase onde o indivíduo passa por conflitos de identidade, onde
a família, a escola, a cultura e o grupo de pares em que está inserido são essenciais
para o seu desenvolvimento. No âmbito da família, Fonte (2008, p. 5) elucida que:
O desenvolvimento da personalidade da criança depende em grande parte dos estilos ou práticas educativas parentais utilizadas, tal como das características de personalidade dos próprios pais e familiares intimamente ligados a criança, do nível de interação entre ambos e entre o próprio casal e ainda de variáveis sócio-demográficas como a idade e o sexo dos pais ou filhos, como também da classe social e cultural. Todos estes fatores farão a diferença na forma como cada família permitirá com maior ou menor sucesso a qualidade das interações familiares e como se conseguirá adaptar mediante cada fase de vida e de desenvolvimento da criança.
Vale ressaltar, que de acordo com Cardoso (2007), no período da
adolescência são os amigos que influenciam na formação do indivíduo, são eles que
possibilitam aos jovens a enfrentar as modificações em seu corpo e em seus
sentimentos, assim, eles assumem papel fundamental. Os adolescentes passam a
fazer parte de grupos, os quais, seus integrantes possuem as mesmas
características, os mesmos interesses, estando dispostos a enfrentar os mesmos
desafios. Ressalta-se que a opinião do grupo em que estão inseridos importa, na
maioria das vezes, mais do que a dos pais.
23
Já no âmbito da escola, Fonte (2008, p. 6) acredita que:
A escola tem responsabilidade significativa no desenvolvimento do adolescente, uma vez que o seu papel de educadora não se restringe apenas aos aspectos relacionados com a transmissão de conhecimento científico organizado culturalmente. Vai além disso, pois é neste contexto que os adolescentes vivenciam processos de socialização, se reconhecem enquanto seres individuais, passam a treinar habilidades para participar em situações sociais, a capacidade de comunicar, “sofrem” os papéis sexuais impostos socialmente e também adquirem conceitos relevantes para a construção da sua identidade pessoal – confiança, autonomia e iniciativa.
Já no que concerne à cultura de cada indivíduo, e ao grupo de pares, Fonte
(2008), destaca que ele se desenvolve a partir da interação com o meio, passando a
defender tudo que seu grupo acredita. O grupo de pares para a autora funciona
como um substituto da família, o indivíduo passa a interagir com amigos em outros
meios, como barzinhos, respondendo à sua necessidade de liberdade, passará a
interagir entre iguais e complementará essa interação com os adultos, sendo esta de
suma importância na adaptação sócio-emocional, considerando que vai estimular o
desenvolvimento de competências sociais.
A adolescência trata-se de uma fase onde o indivíduo está passando por
modificações corporais, por conflitos de identidade, assim, pode muitas vezes sentir-
se como se não fizesse parte do mundo em que vive, passando a se sentir solitário.
De acordo com Vargem (2010, p. 1):
A solidão pode ser sentida em vários contextos, mesmo os mais inesperados, ela pode acontecer até mesmo numa festa na qual nos encontremos rodeados de amigos, no trabalho, em casa com a própria família, isso pode ocorrer por vários motivos, nomeadamente por existir um certo medo da intimidade, medo de se dar a conhecer, de ser rejeitado, enfim, medo de mostrar o seu “próprio eu”.
Para Ozella (2002) a adolescência consiste em etapa especial do
desenvolvimento humano, onde ocorre uma confusão de papeis, e ainda,
dificuldades na construção de sua identidade.
Durante a adolescência, o comportamento muda rapidamente, assim o
indivíduo sente-se desprovido de equilíbrio, alternando o sentimento de temor e de
esperança, com tendência a exagerar os problemas e a não se sentir seguro. Há
24
uma confusão de papeis, sua identidade está sendo construída, e em decorrência
disso, o adolescente procura tendência grupais para preencher o vazio, e os
conflitos que sente interiormente, pois para pesquisadores como Stanley Hall,
consideram a adolescência como um novo nascimento, um período dramático
marcado por conflitos e tensões. Sentem-se muitas vezes incompreendidos pelos
pais, e com isso, procuram os grupos que se assemelham com eles para se
sentirem aceitos. (OZELLA, 2002).
Em decorrência do desejo de independência, o adolescente quebra os
vínculos familiares, e, assim não pode recorrer a eles em busca de ajuda, nem
contar com eles como o fazia quando era criança dependente da sua família. Nesta
fase o indivíduo sente necessidade de compreender o seu comportamento, ter
conhecimento de si mesmo para que consiga o domínio de si próprio. Necessita de
apoio para estabilizar a sua personalidade e para adequá-la a realidade externa e
interna.
1.2 Estigma e Identidade
Atualmente, os direitos humanos é um dos assuntos mais abordados na
sociedade. Assim, estudar sobre o estigma e os estigmatizados tendo em vista
conhecer os preconceitos, pode ser de grande valia para a modificação da
sociedade frente aos seus preconceitos, vale ressaltar que este é um dos problemas
mais antigos que assolam a sociedade.
As relações sociais atribuem aos indivíduos, de forma depreciativa,
constituindo-se em estigmas. Goffman (1982, p. 13) define o estigma como “um tipo
especial de relação entre atributo e estereótipo, sendo compreendido no contexto
das relações humanas e não substantivado. Um atributo que estigmatiza alguém
pode confirmar a normalidade de outrem”.
Antigamente, o estigma estava relacionado a uma marca da graça divina que
se manifestava através da pele, era considerado também como um identificador
médico, concebendo perturbações físicas, porém, foi generalizada a característica
25
negativa do termo. De acordo com Rodrigues (2000, p. 21) estigma significa cicatriz,
marca ou sinal ou um preconceito sem fundamento.
Nessa época, a pessoa estigmatizada possuía uma marca no corpo, seja um
corte ou uma queimadura, que representavam algo ruim para a sociedade.
Simbolizava que pertenciam ao grupo dos escravos ou que eram criminosos, ou que
faziam parte de ritual de desonra, entre outros. Assim, o estigma era um sinal que
advertia para evitar o contato social, seja no contexto particular ou, principalmente,
nas relações institucionais de caráter público.
A pessoa estigmatizada aprende e incorpora o ponto de vista dos normais, adquirindo, portanto, as crenças da sociedade mais ampla em relação à identidade e uma ideia geral do que significa possuir um estigma particular. (GOFFMAN, 1988, p. 41)
Estigma significa algo de ruim, que deve ser evitado, como uma advertência
ao convívio social, ou seja, uma identidade arruinada por um ato social. As pessoas
tendem a julgar as que apresentam alguma diferença, excluindo-as de seu convívio,
assim, a relação existente entre estigmatizados e os ditos normais é dolorosa e
complexa. Deve-se também levar em conta as reações da pessoa estigmatizada,
muitas se deprimem, outras buscam correção para sua deficiência, e na maioria das
vezes perdem a motivação para vier em sociedade. Conforme Goffman (1988, p.
115) “os indivíduos que têm um estigma, podem precisar aprender a estrutura da
interação para conhecer as linhas ao longo das quais devem reconstruir a sua
conduta se desejam minimizar a intromissão de seu estigma”.
A sociedade estabelece um modelo de conduta e relaciona as pessoas de
acordo com as características consideradas comuns e adequadas aos membros de
determinadas categorias. Assim, pode-se dizer que a sociedade determina um
padrão externo que presume ao indivíduo a classe e os predicados, a identidade
social e as relações com o meio em que este deve está inserido.
Pode-se dizer que a identidade é estabelecida na relação social com o outro,
é um fenômeno concreto, social, histórico e político. De acordo com Ciampa (1998)
a identidade se apresenta em forma de personagens, interpretados pelos indivíduos
no âmbito social.
26
A identidade é concreta; a identidade é o movimento de concretização de si, que se dá necessariamente, porque é o desenvolvimento do concreto e, contingencialmente, porque é a síntese de múltiplas e distintas determinações. O homem como ser temporal, é ser-no-mundo, é formação material. (..) Como ser histórico, como ser social, o homem é um horizonte de possibilidades (...) Na práxis, que é a unidade da subjetividade e da objetividade, o homem se produz a si mesmo. Concretiza sua identidade. (CIAMPA, 1998, p. 201)
A sociedade cria um modelo padrão a ser seguido que nem sempre
corresponde à realidade, mas ao que Goffman (1988) designa de uma identidade
social virtual. O que chama de atributos da identidade social real, são, de fato, o que
pode confirmar a que classe o indivíduo pertence. Assim, pode-se dizer que a
identidade social virtual é aquela importa pela sociedade, e a identidade social real
são as características que o indivíduo possui na realidade. Quando uma pessoa
possui características incomuns ou diferentes é pouco aceita pelo grupo social, este
que na maioria das vezes não consegue lidar com a diferença existente na pessoa,
é este fato que indica um sujeito estigmatizado socialmente.
Ciampa (1998) discorre sobre uma identidade pressuposta, que é
interiorizada pelo indivíduo e que esse personagem é incorporado na sua
objetividade social, no caso de não haver essa pressuposição, a construção da
identidade passa a ser problemática. Assim, o deficiente possui sua identidade
pressuposta baseada na sua não identificação com a normalidade social.
A identidade pressuposta é construída através de relações concretas
vivenciadas no âmbito social. Ciampa (1998) ressalta ainda que a identidade
pressuposta não é como a identidade metamorfose, que é construída em um
processo social, histórico e contínuo de construção, ela é considerada dada.
Conforme Goffman (1988), à medida que a sociedade estabelece métodos
para categorizar as pessoas quanto aos seus atributos, está contribuindo para a
construção da identidade. Conforme o autor, o estigma situa uma relação impessoal
com o outro, ou seja, o sujeito não nasce como uma personalidade empírica, mas
como aspecto circunstancial de determinadas características peculiares à categoria
do estigma, com deliberações e marcas internas que podem sinalizar um desvio, e
também uma diferença de identidade social.
27
Para os estigmatizados, as oportunidades e os valores são reduzidos, a
sociedade impõe a essas pessoas a perda da identidade social e ainda origina uma
imagem deteriorada, de acordo com o padrão imposto pela sociedade. Desta forma,
a sociedade anula todos os que rompem com o modelo estabelecido por ela.
Goffman (1988) enfatiza que, quanto mais divergente for a diferença, mais
acentuado o estigma, quanto mais aparente a diferença entre o real e as
características determinantes do social, maior será a problemática do individuo
conduzido pela força do controle social, esse indivíduo assumirá uma atitude isolada
da sociedade ou de si mesmo, passando a ser uma pessoa desacreditada.
Em consequência ao estigma sofrido, o individuo muitas vezes passa a não
aceitar a si mesmo, sentem-se sem espaço e sem função dentro da sociedade. A
visibilidade do estigma compõe um fator categórico e aqueles que possuem uma
convivência com o indivíduo podem influenciar na preocupação da sua identidade
social. Quando o individuo possui um estigma muito visível, o simples contato com o
outro deixará perceptível o estigma. A informação que os outros têm do
estigmatizado pode ser fundamentado nos rumores ou nas relações anteriores.
Outro aspecto a considerar em uma circunstância do indivíduo estigmatizado é até
que ponto isso interfere em suas interações com o meio social.
Um indivíduo com uma identidade social estigmatizada tem seus atributos e
qualidades destruídos, a sociedade desempenha o poder de influência das suas
ações e reforça a degradação da sua identidade social, destacando as
irregularidades e ocultando a atitude ideológica dos estigmas. O estigma é
ocasionado por falta de informação e preconceito ocasionando em exclusão social e
fortes consequências para as pessoas que são estigmatizadas.
1.3 A formação da identidade do adolescente
No senso comum, o termo adolescente é ligeiramente relacionado pelas
pessoas à crise, à rebeldia, drogas, álcool, sexo, violência, delinquência, enfim, ao
se falar de adolescentes logo se tem a ideia de problemas e conflitos, estando os
28
mesmos permeados por uma infinidade de questões atuais e complexas. Inúmeras
são as teorias que buscam definir o fenômeno da adolescência, utilizando-se de
diversas reflexões que acabam por encontrar controvérsias, que tornam o assunto
com inúmeras possibilidades de debates e interessantes questionamentos, como faz
o texto de Ozella (2002).
Ozella (2002) menciona a identificação da adolescência de Stanley Hall que
dizia que esse período era marcado por tormentos e conturbações que estavam
vinculados à emergência da sexualidade. Trata-se do período de mudanças, no
corpo, na mente, nos sentimentos, que traz perturbações em decorrência de tais
mudanças.
A adolescência, assim, é marcada por mudanças claras que caracterizam a
transição entre a infância e a fase adulta. Erikson (1976) em seu texto define a
adolescência como uma fase com confusão de papeis e dificuldades de estabelecer
uma identidade própria, e como um período que passou a “ser quase um modo de
vida entre a infância e idade adulta”. Já Aberastury citado por Ozella (2002) em seu
texto, a define como um período de contradições, confuso e doloroso, sendo este o
momento mais difícil da vida do homem. O autor coloca essas características citadas
pelos autores como algo que o incomoda, por trazer características inerentes, quase
que universalizadas, pressupondo uma crise preexistente no adolescente. Para ele,
essas características predeterminadas possuem raízes em uma visão naturalista,
onde a infância e a adolescência são vistas como um estado e não como uma
condição social. Ozella (2002) acredita que a adolescência trata-se mais de uma
fase inerente ao desenvolvimento do homem do que como um processo que se
constrói historicamente.
Para Ozella (2002), a adolescência é moldada pelas características da
sociedade em que está inserida, bem como pelas condições sociais. Refere-se ao
período de latência social constituída a partir da sociedade capitalista, questões
sociais e históricas que vão constituindo uma fase de afastamento do trabalho e de
preparo para a vida adulta. Entendendo-se, desta forma, a adolescência como
constituída socialmente por meio de necessidades sociais e econômicas e de
características que vão se constituindo no processo.
29
Na obra de Armstrong (2011), o autor faz uma relação entre adolescência
com o fenômeno chamado lusco-fusco. Em sentido literal o lusco fusco consiste na
transição entre o dia e a noite, configurando-se naquele anoitecer, durando em
média 5 ou 7 minutos, algumas pessoas até dizem que esse pequeno período é de
suma importância, inclusive, as formigas mudam o curso de seu trabalho nesse
momento, retornando ao descanso.
Armstrong (2011) em seu livro utiliza o termo lusco-fusco como uma metáfora
para a adolescência, considerando que os adolescentes encontram-se nesse
período de transição, sendo o dia a infância e a noite a fase adulta, e então, nesse
pequeno período de tempo, de suma importância eles se preparam para a nova
fase. Para o autor a adolescência, apesar de representar apenas um período curto
da vida, é onde se encontra uma fase de suma importância, haja vista que eles
passam por conflitos de identidade e mudanças biológicas responsáveis por formá-lo
como indivíduo adulto.
Assim, é possível afirmar com base no autor, que o adolescente encontra-se
num período lusco-fusco dentro de sua própria consciência, dentro de seu próprio
corpo, sem ter certeza do que são, ou mesmo do que serão e atormentam-se,
portanto, sendo neste momento que enfrentam os conflitos de identidade. O
adolescente vive constantemente em busca de equilíbrio, devendo conviver com os
valores adquiridos na infância e as responsabilidades quês estão chegando da fase
adulta.
30
2 CONTEXTUALIZANDO OS ÍNDIOS
2.1 Um breve retorno ao passado
Diante das dificuldades econômicas enfrentadas pelos portugueses, em pleno
século XV, houve uma necessidade imediata dos lusitanos em aventurar-se de
Atlântico adentro. A princípio, foram organizadas esquadras que navegariam ao
longo da costa africana com objetivo de chegar as Índias (centro comercial do
mundo naquela época), em uma destas viagens os navios desviaram-se da costa a
ponto de cruzar todo o oceano e chegar ao Brasil. Os recém-chegados encontraram
povos nativos de características diferentes, estes foram denominados de índios, pois
os portugueses acreditavam estar nas índias. Segundo Fausto (2008, p.42):
De inicio o nosso Brasil não foi um entusiasmo para exploração. Durante anos pensou-se num lugar apenas de atrações exóticas, índios, papagaios, araras. Sendo assim, veio a receber vários nomes dentre estes, Vera Cruz, Santa Cruz, só em 1503 ele recebeu o nome Brasil, associado ao sua riqueza maior, o pau-brasil.
Dessa forma, o Brasil era considerado como um achado, os índios eram
ignorados como seres humanos, eram tratados como mais um recurso da natureza,
portugueses trocavam objetos sem valor pelas riquezas das terras brasileiras.
Conforme Andrade (2007), os nativos brasileiros, na chegada dos portugueses,
desenvolviam atividades de subsistência, através da caça, da pesca, coleta de
frutos, dentre outros, a fartura existia durante todo o ano.
Devido ao seu “genuíno” modo de viver e, por estarem totalmente fora dos
padrões Europeus, os habitantes aqui encontrados foram vistos como selvagens,
sendo facilmente ludibriados com pequenas especiarias submetendo-se ao trabalho
escravo e sendo dominantemente explorados, assumindo o papel de subalternos.
31
No tempo da colonização, a etnia indígena foi escravizada, muitos deles
morreram por doenças, fome e exploração, as terras foram tomadas e seus meios
de sobrevivência foram destruídos. Ribeiro (1995, p. 144) disserta que:
Conforme se vê, a população original do Brasil foi drasticamente reduzida por um genocídio de projeções espantosas, que se deu através da guerra de extermínio, do desgaste no trabalho escravo e da virulência das novas enfermidades que os achacaram. A ele se seguiu um etnocídio igualmente dizimador, que atuou através da desmoralização pela catequese; da pressão dos fazendeiros que iam se apropriando de suas terras; do fracasso de suas próprias tentativas de encontrar um lugar e um papel no mundo dos “brancos”. Ao genocídio e ao etnocídio se somam guerras de extermínio autorizadas pela Coroa contra os índios considerados hostis.
Os índios ainda foram forçados a crenças religiosas, os conquistadores, por
serem católicos trataram logo de os denominarem como seres pagãos e, assim, os
Padres Jesuítas realizaram o processo de catequização dos índios, que,
consequentemente, foram perdendo sua identidade.
Com finalidade de proteger os indígenas dos ataques colonos e,
paralelamente, defendendo seus interesses específicos, os padres organizaram-se
em aldeamentos, fator que causou a mistura de muitas etnias, começando, então, o
processo de miscigenação.
Para Ribeiro (1995), houve uma intensa mestiçagem entre os povos, trazendo
a diversidade étnica, diz ainda que a população brasileira seja resultado de pelo
menos 500 anos de história, em que aconteceu a mistura de basicamente três
grupos populacionais, são eles: os índios (povos nativos), brancos (sobretudo
Europeus) e os negros (escravos). A partir da mistura das raças citadas, formaram-
se um povo composto por brancos, negros, indígenas, pardos, mulatos, caboclos e
cafuzos. Desse modo, esses são grupos identificados na população do país. Para
Fausto (2008, p. 40):
Os índios que se submeteram ou foram submetidos sofreram a violência cultural, a epidemias e mortes. Do contato com o europeu resultou uma população mestiça, que mostra, até hoje, sua presença silenciosa na formação da sociedade Brasileira.
Quinhentos anos se passaram e a história continua com novas roupagens, ou
seja, as terras continuam sendo tomadas, a violência, o preconceito contra os
32
indígenas perduram em nome de um progresso no qual destrói tudo que impeça a
expansão. A sociedade brasileira não toma conhecimento de que tem uma herança
cultural riquíssima e que já passou da hora de desfazer antigos estereótipos, de que
o índio é preguiçoso e inferior, pois estes, já mostraram que, mesmo após cinco
séculos, ainda resistem na luta histórica em busca do direito aos seus territórios,
afirmação da cultura, vida e identidade.
2.1.1 Os índios nos dias de hoje
Diversos historiadores afirmam que na época do descobrimento do Brasil, em
1500, havia cinco milhões de índios. De acordo com o IBGE (2012), último senso, a
população indígena é de 700 mil, distribuídos em 220 tribos que se comunicam
através de 180 línguas e dialetos diferentes, além do português.
A redução drástica da população indígena deve-se a diversos fatores, entre
eles as epidemias e mortes causadas em guerras travadas contra os brancos em
disputas de terras e, ainda, nas batalhas ocorridas entre os próprios índios de etnias
diferentes incentivadas pelos colonizadores.
Freyre (2003, p. 156-157), ratificando o despovoamento ressalta:
A causa de muito despovoamento foram, ainda, as guerras de repressão ou de castigo levadas a efeito pelos portugueses contra os índios, com evidente superioridade técnica. Superioridade que os triunfadores não raras vezes ostentaram contra os vencidos, mandando amarrá-los à boca de peças de artilharia que, disparando, semeavam as grandes distâncias os membros dilacerados; ou infligindo-lhes suplícios adaptados dos clássicos às condições agrestes da América.
Teixeira (2000) destaca que, além das violências físicas, os índios também
sofriam violência cultural sem precedentes, pois os colonizadores ignoravam a visão
de mundo que os índios tinham, obrigando-os a falar o português, a acreditar no seu
Deus e a abandonar hábitos culturais que eles cultivavam há milênios.
33
Pelos motivos acima citados, ocorrem até os dias atuais conflitos na relação
entre os povos indígenas e a sociedade. Penna (1984) destaca que a pouca
habilidade administrativa do Estado nacional com relação ao assunto e diz:
“paranoias à parte, temos a impressão que realmente a política oficial, entra em
sintonia com aqueles para quem o índio é empecilho ao desenvolvimento“. O autor
refere-se ao “decreto-lei presidencial, como inconstitucional, pois permite a entrada
de mineradoras em terras indígenas, para pesquisa e lavra”, e alerta sobre os
“efeitos genocidas” que certamente advirão, pois ”Como vai mexer em baixo da
terra, sem mexer com quem vive em cima dela?”.
Observa-se diante dos fatos mencionados que historicamente as pessoas
tiveram uma ideia desvirtuada sobre os índios, numa visão homogênea (todos são
iguais) e preconceituosa. Para muitos, o povo indígena ainda é selvagem, sem
cultura, incapaz, selvagem, preguiçoso, traiçoeiro e de difícil civilização. Porém, para
outras, o índio é um eterno protetor da natureza e é símbolo de pureza.
Vale ressaltar que o povo não indígena ver essa raça como somente um
povo, onde todos são iguais. Nesse sentido as diversidades etnias e culturais não
são consideradas. Penna (1984, p. 34): “historicamente os índios têm sido objeto de
múltiplas imagens e conceituações por parte dos não índios e, em consequência,
dos próprios índios, marcados profundamente por preconceitos e ignorância”. Nesse
sentido o autor complementa dizendo: “a história da colonização do território
brasileiro é uma história de diferença entre os homens, marcada desde o início por
concepções racistas de superioridade e de inferioridade” (PENNA, 1984 p. 28).
De acordo com os autores Borges, Medeiros e d’Adesky (2002) os indígenas
por apresentarem aspectos físicos e cor da pela avermelhada, diferente dos
europeus, eles os consideravam como seres de “raças infestadas”. A imagem
preconcebida, ou seja, estereotipada, ainda persiste no Brasil como sendo
infelizmente uma herança da época colonial.
Para Arruda (2001) os índios possuem uma única identidade. O autor faz
críticas àqueles que os veem como uma liberdade natural e, ao mesmo tempo, como
a ser superado, considerando como atraso. Stuart Hall (2003) compara as
identidades do indígena com a do homem moderno e diz que a do homem moderno
34
está em constante transformação devido à correria dos grandes centros que assim
exigem.
Para Arruda (2001) a estereotipada que se tem do índio constitui em fator que
contribui para a negação da sua identidade e para silenciar muitos povos, fazendo
com que a questão indígena fique em segundo plano, ou sem importância,
submetendo-se a outros vetores dinâmicos, políticos e econômicos, tais como a
questão agrária, questões estratégicas de fronteiras, desenvolvimento econômico,
questões ecológicas etc.
Entende-se, assim, que as questões importantes dos índios passam a ser
planos secundários e dependentes de outros temas, que por ventura venham ser
motivo de debates ou discussões.
Nesse sentido, devido ao pouco caso das questões do índio como destaca
Arruda (2001) ressalta que uma parte da sociedade brasileira acredita que as
sociedades indígenas só terão perspectivas de futuro, tornando-se mais
semelhantes aos não índios.
Para Barros (2009), o preconceito está lado a lado da intolerância. Muitos não
índios taxam o índio como preguiçoso demonstrando sua intolerância para com a
raça. Para o autor, esse estereótipo é o resultado de uma visão etnocêntrica e
estereotipada, devido ao estilo despojado de vida do índio. É muito raro a mídia
divulgar que existem diversos profissionais indígenas portadores de diplomas de
ensino superior e que há uma grande luta para que a educação nas aldeias respeite
os costumes indígenas e que os professores devem ser da raça indígena.
Ao contrário do que muitos imaginam, o povo indígena preserva sua
identidade através da valorização da sua cultura e resguardando a sua língua, sem
abrirem mão dos benefícios que a tecnologia oferece. Conforme destaca Guerra
(2010, p. 45) “estereotipados como selvagens, a história tem mostrado que eles são
assassinados, explorados e perseguidos. Trata-se de uma violência que esconde o
preconceito de um País que não assume sua plurietnicidade”. É difícil de acreditar,
mas muita gente ainda acredita que o povo indígena ainda vive da caça e da pesca
e moram em ocas e são selvagens. A verdade é que o índio é marcado pelo
preconceito.
35
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, publicada em 1948, é um
demonstrativo das tentativas de superação das ideias ultrapassadas que se tem do
povo indígena e acabar com o preconceito e o racismo que persistem até os dias de
hoje. A Declaração Universal dos Direitos do Homem era ao mesmo tempo universal
e individual que tinha como objetivo a proteção de cada indivíduo, sem nenhuma
distinção étnica, linguística, cultural, nacional, racial, geográfica ou outra.
(BORGES, MEDEIROS e d’ADESKY, 2002). Muitos índios, na tentativa de minimizar
os preconceitos, chegam a negar sua identidade, principalmente os adolescentes na
escola. Porém, quando o estigma prevalece, afirmam que são descendentes. Apesar
disso, sentem-se deslocados de sua comunidade e do restante da sociedade à qual
é um estranho. Esta negação deixa clara a ideia de que o preconceito muitas vezes
começa no próprio ser.
Percebe-se que a escola na qual fazem parte índios e não índios é um palco
de discursos preconceituosos. Porém, esta tem a missão de mudar essa visão que
deve ser feita através do material didático oferecido, o qual é fundamental para estas
transformações. Diante do assunto enfocado, no qual é dado ênfase ao preconceito
contra a raça indígena, conclui-se que a escola torna-se o lugar propício para
adequar ou minimizar essa condição. Para tanto é preciso que sejam desenvolvidos
pela instituição de ensino trabalhos que ressaltem a contrariedade da diversidade
cultural e trabalhar de forma crítica as contribuições dos diversos grupos
pertencentes à sociedade brasileira. É na aceitação das diferenças que os
indivíduos buscam conhecer melhor os demais integrantes da sociedade,
diminuindo, assim, o preconceito.
2.2 Índios no Ceará
Com a ocupação3 da capitania no Ceará, os índios que eram donos de suas
terras tornaram-se invasores, ocupação esta, que tem como elementos constitutivos
a violência. Souza (2007, p.35) comenta que: “Os termos usados para designar a 3 A ocupação da capitania do Ceará estava consolidada na década de 1720 e representou o primeiro
momento de expropriação dos territórios indígenas, marcado pelo genocídio como também pelo etnocídio.
36
resistência indígena são os mais pejorativos, as ribeiras estavam “infestadas”, os
povos indígenas são tratados como “gentio” e “bárbaro””. E mais, a violência é
neutralizada ao ponto de o missionário afirmar que os bandeirantes se retiraram por
faltar o essencial, “bala” e “pólvora”.
Segundo a antropóloga Pinheiro (1999), o Ceará foi à primeira província a
negar a existência da presença indígena em seu território, ainda no século XIX.
Como resultado dessa medida, extensas faixas de terra tornaram-se disponíveis, o
que beneficiou de forma direta a pecuária extensiva. Nesse contexto, a autora
esclarece que povoados originados pela expansão dessa atividade foram
transformados em vilas e o Estado passou a exercer controle crescente sobre a mão
de obra local, formada por índios submetidos ao regime de trabalho forçado.
Mais tarde, com a destruição das bases da vida social indígena, a negação de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam em suas redes e se deixavam morrer, como só eles têm o poder de fazer. Morriam de tristeza, certos de que todo o futuro possível seria a negação mais horrível do passado, uma vida indigna de ser vivida por gente verdadeira. (RIBEIRO,1995, p.43)
Camuflar sua identidade étnica foi à estratégia encontrada por este povo
como forma de proteger-se das perseguições e descriminações sofridas. Para
Souza (2007, p.20) a imposição do modo de vida Europeu levou ao extermínio
milhões de povos nativos da América. Tal imposição atentava contra o modo de vida
desses povos ao buscar negar sua cultura e sua expressão religiosa. Viver conforme
os costumes impostos pelos colonizadores os levariam ao abando do seu modo de
vida. Para estes, as terras tem significados diferentes, não é apenas um meio de
produção, mas sim, um símbolo que define a sua identidade.
A afirmação e a negação fazem parte de um processo contraditório, pois o
Estado que há tempos negou a presença desse povo, tem o seu nome fortemente
ligado aos indígenas, “Siará” ou “Ciará”, cujo significado é “canto da Jandaia”.
Desde o início da colonização do Brasil até os dias de hoje, o povo indígena
lutava e, ainda, lutam até hoje contra a escravidão, degradação de sua terra e em
defesa da sua cultura. De acordo com Darcy Ribeiro (1995) os colonizadores
expulsaram os índios de sua terra e muitos morreram em guerras, epidemias e fome.
37
Outros fugiram para terras mais afastadas como uma maneira de resistirem à
escravidão imposta pelos brancos. Praticamente foram extintos, pois no ano de
1500, conforme historiadores, existiam 5 milhões de índios e, hoje, de acordo com o
IBGE (2012), a população indígena no Brasil está em torno de 700 mil. Os que
restaram, lutam por uma demarcação justa pela terra que os pertence de direito.
No Nordeste, as etnias indígenas foram dividas em aldeias, isso para
enfraquecer a estrutura sociocultural e não se sabe ao certo a quantidade de grupos
indígenas existentes no Brasil e nem no Ceará naquela época. Farias (2007) relata
que Pero Coelho ao chegar à Serra de Ibiapaba-Ceará, em 1603, lá encontrou 70
aldeias indígenas com 60 mil índios aproximadamente. Já Martim Soares Moreno
encontrou nas proximidades do Forte de São Sebastião 22 nações de tapuias, com
diferentes dialetos e com população estimada em 150 mil nativos.
A “Guerra dos Bárbaros” é um exemplo de resistência do povo indígena
contra o processo de colonização. De acordo com Farias (2007), a Guerra dos
Bárbaros durou 50 anos e ocorreu no final do século XVII e término no início do
século seguinte (XVIII). Para se tornarem mais fortes para poderem enfrentar os
invasores europeus, foi feita uma aliança entre os povos indígenas dos Estados do
Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí e, por pouco, não
conseguiram seus objetivos.
Com a Proclamação da República em 1888, o país passou a ser administrado
através de departamentos estaduais e alguns voltados para o acompanhamento da
vida do povo indígena, que tinham o objetivo de proteger e assegurar uma melhor
distribuição da terra. Para tanto foi o Serviço de Proteção aos Índios (SPI). O SPI
veio por fim quebrar a hegemonia da igreja no que se refere à assistência do índio e
estabeleceu uma nova visão política para as questões dos índios. Em 1967 por força
da Lei nº. 5.371, foi criada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que substituiu o
SPI e logo extinto. Os objetivos da FUNAI conforme determina a Lei são de,
estabelecer políticas públicas e, ao mesmo tempo, fiscalizar essas políticas de
amparo ao índio.
A Lei n º 6.001/73 que ficou conhecida como “Estatuto do Índio” estabelece
procedimento a serem tomados pela FUNAI como a demarcação, apropriação e
38
regulamentação da propriedade sobre a terra. A FUNAI reconheceu até o ano de
2010, 45 povos indígenas no Nordeste brasileiro com uma população aproximada
em 14.160 índios. A população indígena do Ceará é composta por cerca de 22 mil
índios, divididos em 14 etnias, distribuídos conforme quadro abaixo:
Quadro 1 - Quantitativo dos índios no Estado do Ceará.
POVOS POPULAÇÃO ÁREA MUNICÍPIO
Tapeba 5.500 4.658 Caucaia
Tremembé de Almofala 1.700 4.900 Almofala,Patos e Itarema
Tremembé Córrego João Pereira 350 3.140 Itarema e Acaraú
Tremembé de São José/Buriti 1.000 4.800 Itapipoca
Tremembé de Queimadas 300 - Acaraú
Jenipapo/Kanindé 260 1.640 Aquiraz
Pitaguary 1700 1.735 Maracanaú e Pacatuba
Kanindé 1.000 750 Aratuba e Canindé
Kalabaça 720 - Crateus,Poranga e Ipaporanga
Potiguara 670 - Crateús e Monsenhor Tabosa
Tupinambá - - Crateús e Monsenhor Tabosa
Kariri - - Crateús e Monsenhor Tabosa
Tabajara 960 - Crateús, Poranga e Monsenhor Tabosa
Fonte: FUNAI-2007.
Vale ressaltar que a população Pitaguary, segundo dados atuais da FUNAI, já
são 4.185 pessoas vivendo dentro da terra indígena e, aproximadamente, 650 nos
arredores, na mesma quantidade de hectares. A FUNAI/CE através dos seus
representantes aponta melhorias na saúde e na Educação das tribos indígenas do
estado. Porém, a luta dessa raça, ainda, continua sendo pela regularização do seu
território de direito em todo o País.
No Ceará, essa luta é vivida a cada dia, pois suas terras são tomadas para
construção de grandes empreendimentos, conforme confirma Weibe Tapeba -
assistente técnico da Coordenação Regional da FUNAI e coordenador da
Organização dos Professores Indígenas do Ceará:
A maior parte dos povos indígenas do nosso Estado ainda não conseguiu efetivar o direito do acesso e posse aos territórios indígenas. São objetos de especulação imobiliária de interesse de grandes empreendimentos, desde complexo hoteleiro a campo de golfe, até empreendimentos do próprio governo brasileiro, através da passagem de linhas de transmissões,
39
gasoduto, ferrovias, rodovias estaduais e federais, então as terras indígenas hoje são muito impactadas por conta desses empreendimentos (BERLAMINO, 2012, p. 1).
Assim, os territórios indígenas ainda são um dos maiores focos de suas lutas
por seus direitos. Nos tópicos a seguir aborda-se acerca da educação, saúde e
assistência social para os índios no Ceará.
2.2.1 A Educação Indígena no Ceará
O povo indígena tem recebido assistência da Secretaria de Educação do
Estado do Ceará (SEDUC) desde os anos 1990 desenvolvendo ações com base nos
fundamentos legais e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação que concedeu ao
índio direito a educação diferenciada.
A SEDUC com apoio da Associação Missão Tremembé viabiliza a atuação de
professores indígenas, ratificando assim a educação diferenciada. O Departamento
de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), com o apoio da FUNAI -
Fundação Nacional de Amparo ao Índio, implementou um noivo modelo de escola
que objetiva atender as demandas culturais e sociais dos povos indígenas do Ceará,
priorizando dessa forma a garantia dos direitos desse povo. (GRUPIONI, 2001).
A SEDUC por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento da existem
atualmente no Estado do Ceará, 38 escolas direcionadas aos indígenas, sendo que
259 professores são índios e 5.047 dos alunos pertencem a diferentes etnias
indígenas.
O Governo do Estado através da SEDUC como forma de reconhecimento e
apoio à cultura e, ainda, visando atender as reivindicações das comunidades
indígenas implanta escolas e garantem a permanência de alunos índios que se
formaram a se profissionalizarem como professores, dando aulas nas comunidades
indígenas, possibilitando, assim, a continuidade do vínculo cultural. Para que se
tenha uma ideia, no ano de 2004, foram diplomados no Estado, 170 professores do
40
Curso Magistério Indígena e foram certificadas 20 lideranças relativas à educação
indígena. (CEARÁ, 2006).
Valorizando as exigências do povo indígena e, ainda, visando dar
consistência à educação, a SEDUC juntamente com diversas associações
indígenas, em 2003 instituiu o Núcleo Escolar Indígena do Ceará, o qual é composto
de diretor, coordenador pedagógico e secretário, escolhidos pela própria
comunidade indígena. Nesse mesmo ano, também foi instituída a Comissão
Interinstitucional de Educação Escolar Indígena. (CEARÁ, 2006).
A partir de 2007, o Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, através de seus
recursos financeiros, possibilitou o financiamento diferenciado da educação
indígena. Naquele ano 2,6 mil alunos pertencentes à rede estadual, com uma quota
de R$ 1.110,00 por aluno/ano. Em 2008 foram investidos R$ 1.365,00 por aluno/ano,
abrangendo um total de 6,1 mil alunos no Estado, sendo 3,5 mil estudando em
escolas do Governo do Estado. (GRUPIONI, 2001).
De acordo com o último Censo educacional, cerca de 80% dos alunos
estudam em escolas mantidas pelo Governo do Estado e 73% cursam séries do
Ensino Fundamental. O Censo ainda aponta que a população escolar em terras
indígenas se encontra em 16 municípios, e que apenas quatro municípios
concentram 70% dos alunos. (INEP, 2012).
Diante dos dados acima, conclui-se que o ensino indígena vem crescendo
nos últimos anos no Ceará, principalmente no ensino fundamental e nas escolas
estaduais, graças ao trabalho desenvolvido pela Secretaria de Educação do Ceará,
que vem acompanhando o desenvolvimento de todas as escolas cearenses e com
ênfase maior nas localizadas em território indígena.
A SEDUC desenvolve esse trabalho a partir do Sistema Permanente de
Avaliação do Ensino do Ceará – SPAECE quando é feita aplicação de exames de
proficiência que através destes é possível dispor de indicadores de desempenho das
escolas e ainda obter informações fundamentais para o acompanhamento das
atividades escolares e correções de rumo.
41
2.2.2 A Saúde Indígena no Ceará
A falta de uma política pública voltada para a saúde do povo indígena
comprometia o exercício da cidadania e a garantia das diretrizes estabelecidas na
Constituição Federal, no que diz respeito ao atendimento diferenciado de saúde aos
índios. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, através da Fundação Nacional de
Saúde - FUNASA, a partir de agosto de 1999, se propôs a estruturar o Subsistema
de Atenção à Saúde Indígena, em convênio com o Sistema Único de Saúde - SUS.
A proposta foi amplamente discutida pelas organizações e lideranças Indígenas,
Universidades, ONG, Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, entre outras
instituições ligadas ao tema.
A atual política foi aperfeiçoada após 16 seminários e todos com a
participação dos povos indígenas. A FUNASA/CE em atendimento a Lei Federal é
responsável pela atenção básica à saúde dos povos indígenas e mantém programa
de atenção à saúde dos povos indígenas no Estado e implantou distritos sanitários
especiais indígenas.
.A FUNASA em um trabalho conjunto com O SUS e o Governo Estadual
realiza ações de atenção básica à saúde indígena com recursos do Governo Federal
que conta com equipes multidisciplinares de saúde indígena como médicos,
dentistas, auxiliares de enfermagem, agentes indígenas de saúde e agentes
indígenas de saneamento que recebem treinamento prévio para saber lidar e melhor
conhecer as especificidades dos povos indígenas nas áreas onde irão atuar.
(CARVALHO, 2009).
A Divisão Especial de Saúde Indígena – DSEI, órgão ligado à FUNASA – CE,
tem a responsabilidade de promover campanhas de vacinação. A vacinação é
realizada em postos de saúde situados em aldeias e cobrem vacinas contra paralisia
infantil, febre amarela, BCG, varicela (catapora), hepatite, pneumonia,
difteria/tétano/coqueluche, hemófilos e rubéola/caxumba e sarampo. (CARVALHO,
2009).
42
Ainda nos postos de saúde são realizados exames de prevenção contra o
câncer de colo uterino para as mulheres indígenas na faixa etária de 15 a 40 anos
além de tratamento odontológico e de saúde mental. (CARVALHO, 2009).
Diversos territórios indígenas foram urbanizados, como é o exemplo da tribo
Tapeba, principalmente após a construção da ponte sobre o rio Ceará em 1997.
Esse é um dos motivos que justifica a elevada taxa de urbanização que hoje, mais
de 95% da população indígena está vivendo em zonas urbanas do estado do Ceará.
(CARVALHO, 2009).
2.2.3 CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
O CRAS consiste em uma unidade pública estatal descentralizada da Política
Nacional de Assistência Social, esta que, conforme debates e estudos já
amplamente difundidos4, avança do patamar de benemerência, assistencialismo
para uma nova institucionalidade. Tal institucionalidade é manifesta na Constituição
Federal do Brasil em 1988 (CF/88) – onde a Assistência Social compõe o Tripé da
Seguridade Social e em seguida pela Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS em
1993 e mais recentemente pela Política Nacional de Assistência Social/PNAS (2004)
e Normas Operacionais Básicas do Sistema Único da Assistência Social (NOB-
SUAS 2005 e NOB-RHSUAS 2006), bem como a Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais em 2009. Mais recente, porém, é no atual Governo Dilma
Roussef, a sanção do Sistema Único da Assistência Social5 em lei, marco
representativo de mais um avanço em torno da Política de Assistência Social.
Nesse sentido, faz-se necessário compreender que tipo de mudança
institucional e de lógica de atendimento via benefícios, serviços, programas e
4 Apenas alguns trabalhos
4 dentro do Serviço Social mesmo voltados para outros objetos,
contemplaram algumas características histórico-estruturais do período pré 30 e da dinâmica da intervenção assistencial no mesmo. Assim, a ação assistencial tanto nos finais do Império como durante a 1ª Republica foi fundamentalmente estudada pelas áreas e pesquisadores ligados aos estudos acerca da infância e menoridade (Rizzini, 2004), da historia da medicina e saúde mental (Costa, 1989; Fernandes, 1999; Machado et al.,1978) e mesmo da gênese dos sistemas jurídicos no país. (QUIROGA, 2008) 5 Sancionada em 06/07/2011. Lei 12.435/2011 que altera dispositivos da Lei Orgânica da Assistência
Social. Conclamada como Lei do SUAS.
43
projetos são trazidas pelo SUAS e seus impactos nas condições das pessoas com
deficiência - a saber os cidadãos usuários, alvos da Política de Assistência Social.
Isto porque ao construir a arquitetura de uma nova PNAS (Política Nacional de Assistência Social) no país, o que se verifica é o renascimento de matrizes políticas e lógicas de atuação institucional extremamente arcaicas, cuja compreensão exigiria o “retorno” ou o reexame de questões aparentemente “há muito tempo superadas”. Referimo-nos, entre outros aspectos: à presença e importância da(s) religião (ões) e da lógica filantrópica nos sistemas assistenciais; das concepções acerca da necessidade de vigilância e enquadramento das classes populares face à “sua tendência à desordem e abusos no uso dos recursos públicos”; o racismo e outros critérios excludentes presentes sob teorias e indicadores de produtividade das políticas sociais; a convocação das mulheres e da família popular na implementação das políticas assistenciais como metamorfose de sua convocação à “moralização” da sociedade, de tempos passados. (QUIROGA,2008: 3)
Assim, o CRAS - Centro de Referência de Assistência Social é uma unidade
pública da política de assistência social, administrada pelo Governo Municipal e
integra o Sistema Único de Assistência Social – SUAS. O CRAS foi instituído pelo
Governo Federal com objetivo de prestar serviços e programas socioassistenciais de
proteção básica às famílias e indivíduos que apresentam vulnerabilidade e
problemas sociais.
O CRAS presta serviço tanto internamente como é o caso Programa de
Atenção Integral as Famílias (PAIF), como fora do prédio, porém dentro da área de
abrangência de atendimento, dando assistência à população que se encontra em
situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação ou ausência de
renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos, com vínculos familiares e
comunitários fragilizados e vivenciam situações de discriminação etária, étnica, de
gênero ou por deficiências, entre outros. As unidades do CRAS possuem equipe de
trabalhadores da política de assistência social responsáveis pela execução do PAIF,
de serviços e projetos de proteção básica, com orientação do gestor municipal.
O CRAS indígena segue os mesmos princípios dos demais centros que
atendem a população dos não indígenas. A unidade indígena objetiva o
fortalecimento de vínculos, a formação de parcerias com a saúde, educação e outros
setores, a busca ativa, os grupos de atividades, a inclusão de famílias no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal e no Bolsa Família, entre outros.
44
A diferença existente entre o CRAS indígena e o não indígena está no
trabalho desenvolvido junto às famílias, pois para isso o assistente social primeiro se
aproxima dos líderes e faz uma espécie de negociação, respeitando os valores
culturais étnicos. Vale ressaltar que esse trabalho é feito pelas equipes volantes do
CRAS.
O assistente social tem o apoio de um antropólogo, que tem a função de
orientá-lo no que se refere a alguns costumes locais, e como deve intervir em certas
situações para garantir direitos sem desrespeitar os valores do povo indígena. Outra
dificuldade encontrada pela equipe do CRAS em algumas aldeias foi quanto à
barreira linguística. Para melhorar a comunicação, o CRAS tem entre seus
atendentes pessoas da própria comunidade. Um dos trabalhos desenvolvidos pelas
equipes do CRAS em benefício para a comunidade é a questão que envolve
problemas ambientais e sustentabilidade. O Objetivo do CRAS é resgatar o perfil
agricultor das famílias.
Os programas sociais do Governo federal nos últimos dois anos como a
expansão do Programa Bolsa Família e as ações do Plano Brasil Sem Miséria, entre
elas a do Brasil Carinhoso, melhoraram a renda de muitas famílias. Com a
informatização dos cadastros das famílias na aldeia, deu mais qualidade no
processo de busca das famílias da aldeia que ainda estão fora do Cadastro Único,
estimado em 10%. (BRASIL, 2013).
De acordo com a Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social, o
Ceará tinha há 2 anos, aproximadamente, 8 mil famílias indígenas cadastradas no
“Cadastro Único”. Em 2013, mais de 15 mil famílias já estão cadastradas. Das 15 mil
cadastradas, pouco mais de 11 mil têm o perfil do Plano Brasil Sem Miséria, com
renda per capita de até R$ 150,00 mensais. Em março de 2013, no Brasil, as
famílias indígenas somavam 117,3 mil no cadastro único, sendo que destas 88,3 mil
têm o perfil de extrema pobreza e 86 mil recebem Bolsa Família. (BRASIL, 2013).
De acordo com o Censo 2012 do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), 472 CRAS atendem as populações indígenas no Brasil. Desses, 19 estão
instalados dentro de aldeias. No Ceará destaca-se o CRAS indígena Pitaguary, o
qual fica localizado no município de Maracanaú, que será palco desta pesquisa.
45
Cabe destacar aqui que, no ano de 2006, a Prefeitura Municipal de
Maracanaú construiu um CRAS - Centro de Referência da Assistência Social na
localidade de Santo Antônio dos Pitaguary especificamente para o atendimento do
povo indígena. Melhor estruturado, o CRAS presta serviços de atenção básica a
famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade com atendimentos de
psicólogos e assistentes sociais; oferece cursos de alfabetização de adultos, de
aperfeiçoamento do artesanato indígena, de geração de emprego e renda, além de
fazer o controle dos benefícios advindos de políticas assistenciais do Governo
Federal dentro da área indígena.
Figura 1 – CRAS Indígena Pitaguary
Fonte: Prefeitura de Maracanaú (2009).
O CRAS de Maracanaú que atende especificamente os índios se apresenta
em formato de uma oca. O espaço físico conta com recepção, salas de
atendimentos individuais e coletivos, banheiros, copa e um amplo salão para
reuniões com as famílias, trabalhos e oficinas socioeducativas. Importante ressaltar
que no município de Maracanaú, além do CRAS indígena, estão em pleno
funcionamento os CRAS de Antônio Justa, Alto Alegre, Acaracuzinho, Boa
Esperança, Jereissati, Mucunã, Piratininga, São João e Pajuçara, que prestam
serviços sociais para os não-índios.
46
3 ETNIA INDÍGENA PITAGUARY
3.1 Trajeto histórico
De acordo com Sousa (2009), o nome Pitaguary significa em Tupi Guarany,
lugares nas serras altas, visíveis do mar. No início do século XVII, os índios
Potiguaras nativos do Rio Grande do Norte, em grande parte foram trazidos por Pero
Coelho para o Ceará com objetivo de combater os holandeses. Morais (2004) afirma
que os índios, no ano de 1722, receberam do capitão-mor do Ceará, Manuel
Francez, duas sesmarias6 de terras, sendo uma na Serra de Pitaguary, na Aldeia
Nova e a outra no Serrote Ypioca.
De acordo com a Noleto (2004), a atual terra indígena Pitaguary se deu a
partir do registro da posse coletiva do Terreno de nome de Santo Antônio de
Pitaguary. A solicitação de posse foi feita em 1854, pelo então cacique, Marcos de
Souza Cahaíba Arco Verde Camarão e 21 indígenas.
O historiador Morais (2005) complementa afirmando que a solicitação de
posse foi feita ao Vigário Pedro Antunes de Alencar Rodovalho, após a retomada
das terras doadas aos índios em Vila Viçosa, Maranguape, Aratanha e Monte-mor-
velho no ano de 1850 por não atenderem as exigências do Governo português em
torná-las produtivas (Lei das Sesmarias). Apesar do ganho das terras, em 1863, os
índios enviaram ofício ao Ministério do Império e depois ao então Presidente da
Província, José Bento da Cunha Figueiredo, reclamando de maus tratos e da
perseguição dos invasores.
Em contrapartida, as autoridades não atenderam as reivindicações e, ainda,
dá por extinta população indígena no Ceará. O autor conta ainda que a construção
da estrada de ferro em 1875, pela Companhia Cearense Via Férrea Baturité e o
cultivo de café, contribuíram para que os índios continuassem a perder suas terras.
Os Pitaguary viviam basicamente da plantação de mandioca, milho, feijão, coleta de
6 Concessão de terras no Brasil pelo Governo Português com objetivo do desenvolvimento
agropecuário e outros.
47
mangas, uma pequena criação de animais, que se transformou em fonte de
alimentação e renda.
Não existia na verdade uma vida sociável entre os índios e os fazendeiros. Os
índios que eram os verdadeiros donos das terras passaram a trabalhar como
escravos para os fazendeiros. Devido às grandes secas, os açudes sem água, não
tinha caça e nem pesca e, por isso, começaram a sair das suas próprias aldeias,
abandonando seus costumes à procura de cidades mais próximas onde havia água
e melhor condição de sobrevivência. Atualmente, de acordo com Sousa (2009), os
índios realizam trabalhos voltados para a plantação ou obras de construção civil,
abrindo estradas braçalmente.
Com a escravidão, vivendo em cativeiro, também perderam a liberdade de
produzir e se reproduzir. Os índios formaram aldeias em cima das serras, onde eram
os locais mais escondidos para não serem vistos e expulsos das terras. Os
potiguaras constituíram famílias com outras etnias e hoje são chamados de
Pitaguary, descendentes, portanto, dos Potiguaras, que se encontram instalados
entre os municípios de Maracanaú e Pacatuba.
Rocha (2005) elucida que cinco aldeias formam a tribo Pitaguary: Aldeia
Nova, Aldeia Central, Santo Antônio, Olho D’água (Horto) e Monguba. As três
primeiras são as maiores estando localizadas no município de Maracanaú, assim
como a aldeia Olho D’água. Apenas a Monguba está localizada fora do município
citado, situando-se no município de Pacatuba. Fazem parte da família linguística do
Tupi-guarani, mas hoje falam somente o português.
O mapa a seguir foi produzido em 2005 atendendo uma exigência ambiental
que hoje está relacionada a qualquer processo de licenciamento que envolva terras
indígenas, facilita a visualização da terra de acordo com a visão do Povo Pitaguary.
O mapa oficializa a localização das terras da aldeia, sendo que além dessa
ferramenta, a área dos Pitaguary também consta no Estudo Etnoecológico Terra
Indígena Pitaguary (EETIP) (ROCHA, 2005).
48
Figura 2 – Localização da Terra Indígena Pitaguary
Fonte: Sousa (2009).
A terra dos Pitaguary foi parte tomada pelos fazendeiros ricos inicialmente e,
mais tarde, pelo Estado, onde foram instaladas instituições como a Secretaria de
Agricultura do Estado do Ceará, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará e
pela Polícia Militar do Ceará. Os índios Pitaguary, durante o século XX, foram
submetidos a um regime de subordinação em suas próprias terras. A Polícia Militar
do Ceará foi retirada das terras Pitaguary após mobilizações intensas desse povo no
início deste século XXI. A partir da saída da PM-CE das terras Pitaguary, outras
medidas foram tomadas pelos índios como o fechamento do portão que dá acesso à
localidade de Santo Antônio e ao açude de mesmo nome desse povo. Na figura a
seguir expõe-se o mapa das terras Pitaguary após a saída da PM-CE, este que foi
confeccionado pelos próprios índios. (SOUSA, 2009).
49
Figura 3 – Mapa das terras Pitaguary
Fonte: Sousa (2009).
A figura 2 demonstra as impressões e visão do povo indígena Pitaguary, o
qual foi elaborado pelos próprios índios no ano de 2005, em atendimento ao EETIP -
Estudo Etnoedológico Terra Indígena Pitaguary.
3.1.1 População
De acordo com a FUNAI (2012), a população atual dos índios Pitaguary é de
4.185 índios distribuídos em 1.735, além de, aproximadamente, 680 deles vivendo
nos centros urbanos. Apesar de originários da língua Tupi-Guarani, os índios
Pitaguary não falam outra língua e nem outro dialeto, senão o português.
Contrariando a ideia de extinção dos Índios no Ceará, o número de Pitaguary
é crescente conforme informa a FUNAI, pois em 2004 existiam em torno de 1.700
índios. Os Pitaguary na verdade não abandonam suas terras, apenas estão sempre
mudando de casa, de um terreno para outro e até mesmo procuram outros centros
próximos, o que os caracteriza como seminômades. Outra característica desse povo
são os “casamentos” que permitem a diversificação de famílias, que passa de
geração em geração predominado sobrenomes de famílias como “Ferreira da Silva”,
50
“Marcolino”, “Targino”, “Alves”, “Feitosa” e outros. Nesse sentido, predomina-se a
auto-identificação indígena baseada nos laços de parentesco e, que, muitas vezes,
utiliza como recurso a invocação da memória dos antepassados.
3.1.2 Estruturação e organização política
A demarcação das terras Pitaguary, de acordo com a Noleto (2004), se deu
com base no Estudo Etnicoecológico Terra Indígena (EETIP) publicado em 2005,
especificando uma extensão territorial de 1.735 hectares de superfície e 21 km de
perímetro, todavia, vale destacar que a homologação ainda não foi feita pelo
Ministério da Justiça. (SOUSA, 2009). Quanto às limitações do território Pitaguary,
tem-se, de acordo com Rocha (2005) o Açude dos Pratas (Sunguelo ou Novo), a
mata do Olho D’Água com o Açudinho, o roçado familiar do Horto que faz limite com
o Sítio Furna da Onça, Dr. Aécio de Borba e o Quartel da Policia Militar do Ceará. A
região do Santo Antônio esta dividida entre: Aldeia Central ou Estado, Aldeia Santo
Antônio e Aldeia Nova, constituindo-se na área Indígena Pitaguary (ROCHA, 2005).
Morais (2005) relata que em 2001 foi registrado um confronto dos índios
Pitaguary com invasores de suas terras. Os indígenas Pitaguary com ajuda de
outras etnias realizaram protestos contra um posseiro que construiu uma
churrascaria à beira da estrada dentro da Aldeia Santo Antônio, causando diversos
danos como, poluição sonora, ambiental, insegurança na região, além de impedir os
índios ao acesso do Açude da localidade.
Apesar de vários comunicados feitos pelos índios às autoridades, nenhuma
providência foi tomada. Por esse motivo os índios agiram por conta própria
bloqueando a estrada, fechando o portão que dá acesso às terras do Santo Antônio
e ao açude, impedindo a entrada de pessoas estranhas na área, sob a vigilância de
dezenas de índios. Apesar disso o impasse não foi resolvido até chegar ao ponto
dos índios incendiaram a churrascaria, a pista de dança e todas as palhoças, além
da casa do invasor. Os Pitaguary receberam o apoio do início ao fim das tribos
Tapeba, Tremembé e Jenipapo-Kanindé.
51
Hoje, devido a esse confronto, os Pitaguary mantém suas terras em constante
vigilância. Para visitar a Aldeia Pitaguary é obrigatório que informe antecipadamente
a finalidade. De acordo Sousa (2009), os índios Pitaguary possuem, atualmente,
como principal fonte de renda a agricultura, o artesanato, trabalhos em fabricas e
casas de famílias para complementação da renda e sustento da família.
A partir dos movimentos de demarcação de terras e da política de reafirmação
de identidade, buscando seus direitos, algumas famílias Pitaguary foram expulsas
do território, passando a residir em bairros da zona urbana de Maracanaú,
próximos às suas terras. Os Pitaguary que permaneceram na aldeia tiveram que ser
submetidos a maus tratos dos fazendeiros. Passaram à condição de moradores
desses fazendeiros, sendo obrigados a pagar para eles parte do que produziam na
agricultura. (SOUSA, 2009).
Os Pitaguary sabedores dos seus direitos conforme lhes garante a
Constituição Federal, o cacique Daniel Araujo, líder da aldeia, passou a se reunir
com várias famílias criando no início dos anos 1990, o COIPY - Conselho Indígena
Pitaguary. Os índios foram se organizando cada vez mais e melhor e passaram a
fazer reuniões quinzenais em um galpão no centro da localidade de Santo Antônio,
onde anteriormente funcionava parte da Empresa de Pesquisa Agropecuária do
Ceará – EPACE. Vale ressaltar que as reuniões aconteciam numa palhoça
improvisada construída ao lodo da casa do cacique Daniel, o qual também era
presidente do Conselho. A partir da criação do COIPY, com o engajamento de mais
pessoas na luta a favor dos índios, foram criados outros órgãos como o Conselho de
Articulação Indígena Pitaguary – CAINPY, o Conselho Indígena Pitaguary de
Monguba – COIPYM, a Associação dos Produtores Indígenas Pitaguary – APIPY, a
AMIPY- Articulação das Mulheres Indígenas Pitaguary e o COPIPY- Conselho dos
Professores Indígenas Pitaguary. (SOUSA, 2009). Além dos órgãos citados, existe
ainda o Conselho Local de Saúde, com representantes das comunidades de Santo
Antônio quanto a do Horto/Olho D’Água e Monguba.
Vale ressaltar que os Conselhos são compostos por um presidente, um vice-
presidente, um tesoureiro e outros representantes eleitos em reuniões. Atualmente,
as lideranças indígenas organizadas lidam com problemas que envolvem um cenário
nacional, participando da vida política do país, principalmente quando envolvem
52
políticas públicas de interesse da raça. As lideranças indígenas o que antes era visto
somente na figura do cacique e do pajé, hoje são representadas também pelas
denominadas “jovens lideranças” que geralmente adquiriram conhecimentos e
experiência da educação formal.
A luta incansável desse povo é agraciada pouco a pouco, como se ver em
diversas conquistas, como na Aldeia Monguba, em Pacatuba, por exemplo. Já
existe uma Casa de Apoio local, que é utilizada para reuniões, encontros e
realização de atividades culturais.
Outro exemplo de vitória pode ser citado o Projeto de Lei da Câmara
Municipal de Maracanaú, quando em 1993, ainda no início da mobilização pela
demarcação da Terra Indígena, os Pitaguary foram contemplados com a retomada
dos 107 hectares de terra que eram ocupados pela Polícia Militar do Ceará,
permitindo assim que as várias famílias que haviam deixado sua terra pudessem
voltar. Os 107 hectares de terra foram fixados a partir de 1997 na localidade de
Aldeia Nova dos Pitaguary.
A FUNAI em 1997 formou um Grupo de Trabalho (GT) com objetivo de iniciar
trabalhos de identificação e delimitação da tribo indígena Potiguary. Os trabalhos
foram concluídos e por fim a FUNAI, juntamente com representantes dos Conselhos
Pitaguary, demarcou a área daquele povo em 1.735,60 hectares. Atualmente, o povo
Pitaguary vive em 700 hectares do total da sua Terra. A luta permanece não só pela
retomada do restante de suas terras, como também na constante preservação da
sua identidade, com liberdade para viverem sua cultura e tradição.
3.2 Tradição, crença e cotidiano
Os Pitaguary através das suas manifestações, lugares, danças e crenças
demonstram para os não índios e para as suas novas gerações a essência da sua
cultura. Os lugares, danças e crenças compõem a cultura do povo Pitaguary, as
quais são representadas pela Mangueira Sagrada, a dança do Toré, a Cafua, o
Buraco de Santo Antônio, Açude Santo Antônio e a Sauna Sagrada. Para que se
53
possa conhecer um pouco dessa maravilhosa cultura, faz-se necessário a exposição
de conceitos e relatos daquele povo (FILISMINO apud PINHEIRO, 2002).
A Mangueira Sagrada representa o símbolo de resistência do índio por sua
terra, sua crença e cultura. Ela é encontrada na entrada da aldeia de Santo Antônio.
Trata-se de uma mangueira milenária onde os índios foram torturados e mortos pelo
homem branco.
Os Pitaguary todo ano, no dia 12 de junho realizam um ritual em torno da
mangueira, como a dança do Toré, como forma de celebração da vida, relembrando
seus antepassados. (SOUSA, 2009). Além disso, o ritual faz uma alusão ao espírito
guerreiro de luta. A história da mangueira sagrada é relatada por antigo pajé
chamado Filismino, que centrado relata:
Debaixo da mangueira chove. Quando nós estamos lá debaixo, brincando o Toré, a mangueira chora. E o clamor é muito grande lá debaixo. É muito grande. O padre vem celebrar essa missa, por aqueles que morreram para nós assistirmos a tudo, tem que assistir! Nós vivemos por aqui, rolando devagarzinho. Agora, chegou o tempo de nós ganharmos o nosso pedacinho de terra. (SOUSA, 2009 p. 25)
Destacando-se acerca do Toré, Morais (2004) afirma que se trata de uma
dança tradicional, um símbolo espiritual para os índios, sendo realizada por eles,
geralmente, em noite de festas, reuniões ou assembleias. Para o autor, o Toré
também é um ritual de afirmação de identidade.
Figura 4 – Ritual Toré
Fonte: Povos Indígenas no Brasil (2003)
O Toré é um ritual político, que é dançado sempre que se faz necessário
demarcar as fronteiras entre índios e brancos, que permite exibir a todos os atores
54
presentes nessa situação interétnica. Oliveira (2008) relata que a dança do Toré é
repassada para as novas gerações por meio dos rituais e apresentações públicas,
para que essa dança tradicional não seja esquecida.
Os Pitaguary consideram a Cafua, o Buraco de Santo Antônio e o Açude
Santo Antônio lugares sagrados e que são marcos da sua história. De acordo com
Moraes (2005) a Cafua para os Pitaguary é um símbolo de resistência à escravidão.
A cafua é um quarto pequeno e escuro feito de alvenaria construído pelo próprio
índio. Na cafua era onde o homem branco colocava o índio que se revoltavam com a
escravidão. Lá ficavam dias sem água e sem comida e muitos morriam. (SOUSA,
2009).
O Buraco de Santo Antônio trata-se de uma pequena abertura localizada na
parede do açude Santo Antônio. Para os Pitaguary, o lugar é milagroso, pois
segundo eles era nesse local que o Santo Antônio aparecia quando desaparecia da
capela. Segundo os índios essas aparições ocorreram por três vezes o que levou
muitos devotos do Santo em peregrinação para o local. (SOUSA, 2009)
Construído pelos índios escravos, o açude Santo Antônio foi construído para
armazenar água, que hoje os Pitaguary usam o açude para pesca, e banho, elem de
lavar roupas.
A Sauna Sagrada trata-se de um ritual de purificação, muito praticada pelos
índios Lakota. Existe uma tenda que representa o útero da mãe terra, e que os
índios adentram. A sauna sagrada funciona da seguinte forma: existe um buraco no
meio da tenda onde são colocadas pedras quentes. Quando a tenda é fechada,
joga-se a água sobre as pedras provocando a vaporização. O vapor faz com que as
pessoas transpirem e purifiquem o corpo e mente. Durante todo o ritual as pessoas
dentro da tenda, inclusive as crianças, cantam músicas de reverência à cultura
indígena, e á mãe natureza. Vale ressaltar que a Sauna Sagrada foi repassada pelo
padre italiano Ottorino Bonvini e depois, no ano de 2009, por um índio Lakota,
chamado Adam Little Elk que esteve no Brasil naquele ano e, em visita a Aldeia
Pitaguary, participou do ritual. (SOUSA, 2009).
55
3.3 Um novo espaço na sociedade: conquistas e garantias
No dia 22 de março de 2013, a CE 060 próximo ao município Maracanaú foi
interditada pelos indígenas Pitaguary, apoiados pelas tribos Tapeba, Genipapo-
Canindé, Gavião, Anacés, Kanindé, Potiguara, Tabajara e Calabaça e outros órgãos
defensores da causa indígena, como o MSMC – Movimento Saúde Mental
Comunitária, o Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da
Arquidiocese de Fortaleza (CDPDH) e o Instituto Nordeste Cidadania (INEC). De
acordo com Claudino (2013), o protesto aconteceu contra a reativação de uma
pedreira que estava localizada dentro das terras declaradas indígenas pela
Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Todavia, a questão não foi solucionada a partir
do manifesto, visto que segundo Claudino (2013), a partir de informações dos
advogados da pedreira, a demarcação da terra foi realizada com auxílio da própria
FUNAI, portanto, a empresa estava legalizada.
Considerando que muitas manifestações realizadas pelos índios são
realizadas no dia instituído como seu dia, antes de iniciar esse tema é importante
esclarecer que o dia do índio comemorado em vários países no dia 19 de abril, foi
institucionalizado no Brasil através do Decreto Lei nº 5.540 assinado pelo então
presidente Getúlio Vargas.
A data de 19 de abril foi escolhida para homenagear a raça indígena, porque
nesse dia do de 1940, diversas lideranças indígenas do continente se reuniram no
México, quando na oportunidade realizaram o Primeiro Congresso Indigenista
Interamericano.
O dia do Índio tem como função relatar os direitos indígenas e faz com que
sejam reconhecidos seus direitos e sua importância na formação da história do
Brasil. Em 2013, no Ceará, essa data foi comemorada pelos índios Pitaguary com
uma caminhada pelas ruas do centro do município de Maracanaú como forma de
conscientizar aos não índios de que ainda existe o preconceito étnico e o
fortalecimento da identidade indígena.
56
Durante a passeata foram exibidas faixas como: “Índio Pitaguary, Brasileiro
como Você”, que foi o tema da semana do índio. Os líderes indígenas como Pajé
Barbosa e o cacique Daniel, o coordenador do CRAS indígena, André Fernandes e
demais componentes da tribo, dançaram o Toré.
Figura 5 – Manifestação Dia do Índio em Maracanaú
Fonte: FUNAI-CE (2011).
Os eventos que ocorreram durante toda a semana, culminada com a
passeata, foi organizada pelo CRAS Indígena, em parceria com lideranças,
instituições e Prefeitura de Maracanaú, que teve como objetivo a conscientização da
população de Maracanaú para valorizar e conhecer o povo indígena e sua cultura,
enraizada há séculos naquele município e assim minimizar os preconceitos.
3.3.1 Escola Diferenciada – Educação do Povo Pitaguary
Em 1998, o cacique Daniel da tribo Pitaguary lamentava o fato de não existir
na aldeia uma escola indígena, com professores também índios, para ensinar as
crianças, os adolescentes e adultos da tribo.
57
Nesse sentido, as lideranças locais viram a necessidade de se equipar uma
escola que pudesse funcionar como espaço de construção de um saber
especializado na cultura local. Logo foi desenvolvido um plano educacional que
reconhecesse o modo de vida, a história e a memória do povo Pitaguary.
Com uma pequena doação feita por uma ONG estrangeira e sem mais
nenhum recurso financeiro, no de 1999 foi edificada a primeira escola indígena
Pitaguary, construída na Aldeia Nova, com o nome de “Cuaba”. Porém, mais tarde
foi demolida por apresentar riscos de desabamento.
O sonho de uma escola indígena, com professores indígenas, seria para a
raça uma forma de amenizar os preconceitos dos não índios da escola comum.
Assim as crianças e adolescentes indígenas passariam a ser valorizadas e não
marginalizadas (MONSERRAT,1993).
Em 1999 foi inaugurada a Escola Diferenciada na Aldeia do Santo Antonio,
sendo a mais estruturada das aldeias indígenas, apesar de precisar de melhorias.
(SOUSA, 2009). A escola recebe benefícios do Ministério da Educação e Cultura –
(MEC) e do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). A verba é destinada para a
compra de material didático.
A expectativa da escola foi abalada com a desativação e demolição da escola
“Cuaba”, porém, não acabado. A Universidade Federal do Ceará – UFC em parceria
com a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, no ano de 2001, promoveu o Curso de
Magistério Indígena Diferenciado, com a participação de diversos povos indígenas
do Ceará. Devido à participação de diversas etnias, o curso foi diretamente
responsável por um processo de interação contínua entre jovens de diversos povos
indígenas no Ceará.
Em 2001 foi inaugurada a escola indígena com o nome de “Chuí” localizada
na aldeia do Horto. Logo em 2002 Foi. Em 2002, mesmo fora da comunidade
indígena, a escola “Itá-ara” foi reconhecida como Escola Diferenciada, ou seja,
escola indígena.
58
Figura 6 - Escola indígena Itá-ara
Fonte: http://itaaraescola.blogspot.com.br/ (2012).
Ainda em 2002, os professores Pitaguary se mobilizaram e transformaram a
escola que pertencia ao município na localidade de Santo Antônio, em Escola
Municipal Indígena do Povo Pitaguary. A escola recebe aluno da educação infantil
até o ensino fundamental e promove esforços para promover a educação de jovens
e adultos. (SOUSA, 2009).
O Estado e o Município assinaram um convênio para garantir o
funcionamento da Escola Municipal Indígena do Povo Pitaguary. Nesse convênio, o
Estado ficou responsável pelo pagamento dos professores. Já o município, ficou
responsável pelos demais funcionários.
A prefeitura de Maracanaú através da Secretaria de Educação Municipal
realizou uma parceria com a Secretaria de Educação do Estado (SEDUC) e
transformou a Escola Municipal que já existia em uma Escola Diferenciada de
acordo com o padrão proposto pelo Ministério da Educação (MEC).
Rocha (2005) relata que segundo o Estudo Etnoecológico Terra Indígena
Pitaguary (EETIP), atualmente estudam na escola diferenciada da aldeia de Santo
Antônio, aproximadamente 200 alunos que compreende a Educação Infantil até o
Supletivo do Ensino Médio, nos três turnos. A escola conta ainda com 14
professores indígenas, sendo boa parte com nível superior completo ou com o
magistério indígena.
Conforme relata Morais (2004), a conquista da Escola Diferenciada foi feita
com muita luta junto aos órgãos de Governo e entidades, além de enfrentarem
conflitos com posseiros que eram contrários e até tentaram impedir a realização das
59
aulas na Escola Pitaguary. Vale ressaltar que o professor de uma Escola
Diferenciada para poder ensinar é obrigatório que participe do curso de Magistério
Indígena, pois além de ensinarem sobre as tradições indígenas, danças e costumes,
ensinam as disciplinas regulares do currículo formal.
Figura 7 - Professores Indígenas da Escola Indígena – Itá-ara
Fonte: http://itaaraescola.blogspot.com.br/ (2012).
Os cursos são promovidos no Ceará com o objetivo de qualificar profissionais
para atuar nas Escolas Diferenciadas do Estado. Os cursos são oferecidos pela
SEDUC, com índios reconhecidos e não reconhecidos, e ainda pela Universidade
Federal do Ceará/UFC em parceria com a FUNAI e o Ministério da Educação –
MEC.
3.3.2 Os índios e as políticas públicas de saúde
O crescimento populacional do povo Pitaguary está em contraste com o
atendimento de suas necessidades básicas, merecendo destaque a questão da
saúde desse povo, assegurado pela Constituição Federal de 1988.
60
Em 2005, quando a população Pitaguary passava um pouco mais de 2.000
pessoas, existia somente o polo base de saúde do Olho D’Água que funcionava em
condições precárias, que em nada melhorava a saúde do povo e ainda colocava em
risco a saúde dos profissionais, tendo em vista as infecções e contaminação.
Diante desse cenário, providências obrigatoriamente teriam que ser tomadas.
Para amenizar a situação caótica que se passava no polo de Olho D’água, um novo
foi construído dentro da área de Santo Antônio dos Pitaguary. Porém, não demorou
muito o polo foi desativado pelo “vergonhoso” fato de haverem divergências políticas
e administrativas da região.
A situação caótica do posto de saúde da localidade de Olho D’água deve ao
fato de que atende tanto a população indígena como não indígena, não havendo
dessa forma estrutura física nem de pessoal para atender com dignidade a
população. Durante seis anos os Pitaguary contaram coma dedicação de um médico
e uma enfermeira que era sua esposa, que desenvolveram uma relação de empatia
e confiança.
A rotatividade dos profissionais de saúde sempre foi muito grande e com isso
ocorre a descontinuidade no tratamento da saúde, constituindo-se assim um grande
desafio para o povo Pitaguary.
Percebe-se que a deficiência do Núcleo de Apoio Local - NAL deve-se à
ausência da FUNAI da área Pitaguary. Recentemente, a prefeitura de Pacatuba se
utilizou da presença indígena Pitaguary para justificar ajuda financeira destinada à
construção de um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS em seu
município. Porém os indígenas Pitaguary relatam que o Centro de Referência nunca
atendeu suas necessidades.
61
4 ADOLESCENTES PITAGUARY: RELATOS
4.1 Procedimentos metodológicos
Este estudo se respaldou por uma pesquisa empírica, tendo como objetivo
descrever os fatos observados em campo. Segundo Demo (2000), pesquisa
empírica é a pesquisa dedicada ao tratamento da “face empírica e fatual da
realidade; produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico
e fatual”.
A valorização desse tipo de pesquisa, de acordo com Demo (1994, p. 37) é
pela:
Possibilidade que oferece de maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base fatual. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática.
Assim, esse tipo de pesquisa possibilita confirmar ou contrariar a teoria
mencionada pelos autores a partir do discurso dos adolescentes indígenas aqui em
estudo. A pesquisa segundo Minayo (1993, p. 23) é considerada como uma:
Atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.
Desse modo, buscou-se relacionar as perspectivas desta monografia com a
realidade em que se encontra o objeto em análise, para uma melhor compreensão
da identidade do adolescente da tribo Pitaguary no que se refere à afirmação
identitária enquanto sujeito indígena, sendo este fundamentado por leituras
62
pertinentes a temática e através de outros documentos legais relacionados ao
assunto.
A pesquisa de campo foi realizada com adolescentes participantes do Serviço
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que acontece no Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) que fica localizado dentro da aldeia, no
município de Maracanaú - CE, bairro Santo Antônio.
A metodologia utilizada teve como base a abordagem qualitativa e
quantitativa. A abordagem qualitativa pode ser entendida “[...] como sendo um
processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e
técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico
e/ou segundo sua estruturação”. (OLIVEIRA, 2007, p.37).
A análise quantitativa trata-se de uma pesquisa expressa com medidas
numéricas, apreendendo questões com conteúdos subjetivos informados pelos
participantes da pesquisa. Conforme Chizzotti (2000), a natureza quantitativa prevê
a mensuração de variáveis pré-estabelecidas para explicar sua influência sobre
outras, mediante a análise da frequência e correlações estatísticas. Marconi e
Lakatos (2006, p. 21) complementam, afirmando que na pesquisa quantitativa:
O pesquisador deve ser paciente e não ter pressa, pois as descobertas significativas resultam de procedimentos cuidadosos e não apressados. Não deve fazer juízo de valor, mas deixar que os dados e a lógica levem à solução real, verdadeira.
É caracterizada por ser uma pesquisa subjetiva, expressa em números, as
técnicas de coleta de dados são variadas como um questionário estruturado,
observações, entre outros.
A pesquisa bibliográfica também fez parte deste estudo, onde foram feitas
leituras de autores referenciais a essa temática, através de teses, dissertações,
artigos, livros, revistas e sites da internet; e, as pesquisas documentais, tendo como
fonte os documentos e relatórios produzidos pelo Setor do Serviço Social, permitindo
comparar teoria e prática.
Segundo Gil (2007, p.44, 45) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir
de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos; já
63
a pesquisa documental assemelha-se muito a pesquisa bibliográfica, a diferença
essencial entre elas esta na natureza das fontes, a pesquisa documental vale-se de
materiais que não recebem ainda um tratamento analítico. Assim, utilizando-se dos
procedimentos metodológicos aqui relatados desenvolveu-se a coleta de dados e
análise dos resultados.
4.2 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no CRAS Indígena Pitaguary localizado no
município de Maracanaú-CE, passando por dois momentos: aplicação de
questionários e realização de entrevistas.
No primeiro momento foram escolhidos de forma aleatória os adolescentes
que iriam compor este estudo, aplicando-se um questionário com os mesmos, com o
intuito de averiguar a construção de sua identidade como indígenas. Gil (2002)
define questionário como a técnica de investigação composta de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de suas
opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas,
dentre outras situações. Os questionários foram entregues aos participantes desta
pesquisa pessoalmente, explicando o mesmo e sanando as dúvidas referentes às
perguntas, sendo também recebidos pessoalmente. Após recebimento dos
questionários, os mesmos foram averiguados questão por questão com o intuito de
identificar inconsistência em alguma questão. Em seguida procedeu-se com a
análise dos resultados.
A entrevista semiestruturada levantou questões destinadas aos entrevistados
apoiando-se em teorias e hipóteses relacionadas ao tema da pesquisa. Esse tipo de
entrevista “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também
sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença
consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações
(TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
64
Neste caso, a entrevista foi utilizada como um instrumento facilitador, onde
foram priorizadas questões que interrogavam sobre a identidade de adolescentes
indígenas. Para que as entrevistas fossem concretizadas, os adolescentes indígenas
foram convidados a responder a pesquisa. Antes do início das entrevistas, entregou-
se o Termo de Consentimento, para leitura e assinatura. Os participantes foram
advertidos de que a entrevista seria gravada em gravador para, posteriormente, ser
transcrita na sua íntegra.
As entrevistas foram registradas por um gravador e com anotações pessoais,
logo após foram transcritas e revisadas para análise do conteúdo. Além disso, a
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido garante que será
resguardado o sigilo da pesquisa, tornando o pesquisado anônimo.
Para observar o discurso, em primeiro lugar, iniciou-se à transcrição das
gravações feitas. Esta tarefa não foi fácil, uma vez que as falas tiveram que ser
ouvidas por repetidas vezes e isto é trabalho ao mesmo tempo em que
enriquecedor, bastante cansativo. Em seguida, foram realizadas várias leituras de
cada uma das entrevistas realizadas, para que fosse constituído o corpo do estudo,
que conteria as informações representativas do universo que se almejou analisar.
Em seguida, iniciou-se o processo de identificação das categorias empíricas a serem
analisadas.
4.3 População/Amostra
A pesquisa foi realizada junto a adolescente que frequentam o Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que acontece no Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) que fica localizado dentro da aldeia, no
município de Maracanaú - CE, bairro Santo Antônio. No total, 90 adolescentes
participam do serviço supracitado, utilizando-se como amostra para o primeiro
momento da pesquisa utilizou-se de 51% desse total, ou seja, 46 adolescentes
indígenas compuseram o primeiro momento deste estudo. A escolha foi aleatória,
optando-se por aqueles que aceitavam participar da pesquisa espontaneamente.
65
Após análise dos questionários foi realizada entrevista com cinco
adolescentes, tendo como foco os objetivos desta pesquisa. Um cacique dos índios
Pitaguary e uma liderança da comunidade também foi sujeito desta pesquisa,
participando deste segundo momento com a realização de uma entrevista.
4.3 A autoidentificação como índio
Analisa-se aqui os questionários aplicados aos índios Pitaguary adolescentes,
que teve como objetivo traçar de forma breve seu perfil e identificar aqueles que se
identificam como índios. A tabela a seguir demonstra o perfil dos participantes desta
pesquisa:
Tabela 1 – Perfil dos adolescentes indígenas
IDADE QTDE. % SEXO N. % NATURALIDADE QTDE. ALDEIA N.
13
ANOS
1 2,17 MASC. 33 71,7 MARACANAÚ 32 HORTO 35
14
ANOS
15 32,6 FEM. 13 28,3 FORTALEZA 5 OLHO D'ÁGUA 3
15
ANOS
11 23,9 MARANGUAPE 2 CENTRAL 3
16
ANOS
9 19,6 PAJUSSARA 3 ALDEIA NOVA 3
17
ANOS
7 15,2 S/INDICAÇÃO 4 STO ANTONIO 2
18
ANOS
2 4,35
13
ANOS
1 2,17
Fonte: Dados primários da pesquisa
Do total de entrevistados, 71,74% pertencem ao sexo masculino, contra
28,26% do sexo feminino. A maioria, quase 70%, nasceu no municio de Maracanaú,
66
local onde estão localizados os Índios Pitaguary, foco desta pesquisa. Percebe-se,
ainda, que entre os entrevistados não há nenhum natural do município da Pacatuba,
onde também existem aldeias dessa etnia. Dos 46 alunos entrevistados 76%, ou
seja, 35 deles residem na aldeia do Horto Florestal, portanto a maioria.
Quanto ao nível de instrução dos adolescentes indígenas que participaram
deste estudo, expõe os resultados na tabela a seguir:
Tabela 2 – Nível de instrução
SÓ
ESTUDA N. %
SÓ
TRAB.
N. %
NÃO
ESTUDA/
NÃO
TRABALHA
N. %
ESTUDA E
TRABALHA
N. %
41 89 2
4,35
2
4,35
1
2,17
1º GRAU 32 70
2º GRAU 14 30
Fonte: Dados primários da pesquisa
Dos 46 indígenas Pitaguary entrevistados, 41 deles são estudantes, o que
representa 89%. Desse total, 27 estão cursando o 1º grau com idades
compreendidas entre 14 e 15 anos e 14 estão cursando o 2º grau. Estes na faixa
etária de 15, 16 e 17 anos de idade. Para melhor enfatizar, 4 tem 15 anos, 5 tem 16
e 5 também com 17 anos.
Na análise dos dados conforme questionários, conclui-se que 02
entrevistados somente trabalham e têm 18 anos de idade, porém não informam o
grau de instrução e nem a área em que trabalham. Nesse caso de alguma forma
ocorreu a evasão escolar.
Também foi constatado que 02 dos entrevistados não trabalham e nem
estudam. Um deles com 18 anos de idade concluiu o 2º grau. O segundo com 17
anos não indicou o seu grau de instrução.
67
Importante ressaltar que apenas 01 dos 46 alunos indígenas entrevistados
estuda e trabalha. Esse aluno é do sexo masculino, tem 17 anos de idade e está
cursando a 7ª série. O mesmo trabalha com reciclagem. No caso desse aluno é
visível a necessidade de forma renda para o seu sustento ou até para ajudar
financeiramente em casa.
Diante dos questionários utilizados como fonte de pesquisa, conclui-se que a
maioria dos entrevistados está dentro da faixa etária, tanto que dos 7 alunos com
idade de 17 anos, 5 estão cursando o 3º ano do 2º grau, assim como a maioria com
15 e 16 anos de idade estão no 9º ano do 1º grau e os que têm 14 anos, que
representam 32,6%, estão cursando o 7º e 8º ano. O MEC em seus estudos
realizados em 2005 sobre o aproveitamento escolar indígena constatou que no
Ceará o índice de deficiência escolar revelou-se negativo. O número de indígenas
que apresentaram déficit escolar é muito grande, chegando a atingir 27% dos
regularmente matriculados.
Como forma de combate e melhoria no ensino indígena a nível nacional, o
MEC criou a Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas e, para assessorar
essa instância, instituiu o Comitê de Educação Escolar Indígena, composto por
indígenas, antropólogos, linguistas e técnicos de diversos órgãos do governo. Esse
Comitê, que assessorou o MEC na definição da política nacional de educação
escolar indígena, foi substituído por uma Comissão Nacional de Professores
Indígenas, formando, assim, o primeiro órgão composto por índios para o
assessoramento da União.
Nesse sentido, o Ministério da Educação e Cultura - MEC passou a ampliar a
possibilidade do cumprimento da legislação que garante aos povos indígenas o
direito de uma educação específica e diferenciada, rompendo com o modelo que,
por décadas, procurou catequizar e integrar os índios aos modelos nacionais, ou
seja, comum a todos. Nesse sentido com base na qualidade do ensino oferecido aos
indígenas, pelo menos dessa tribo e através do material obtido que a continuidade
dos estudos em uma faculdade pública fica muito remota face ao concurso. Também
fica muito difícil em uma particular devido aos custos.
68
Averiguando-se junto aos adolescentes os objetivos desta pesquisa foram
feitas perguntas relacionadas à sua identidade e cultura:
Tabela 3 – Categoria de perguntas voltadas para os objetivos da pesquisa
PERGUNTA SIM % NÃO % Ñ SABE %
Você se reconhece índio? 42 91,3 4 8,7 0 0
Você acha que seus colegas têm medo ou vergonha de se
identificar como índio? 28 60,9 18 39,1 0 0
Existe algum grupo na comunidade que trabalhe o
fortalecimento da identidade e cultura? 42 91,3 4 8,7 0 0
Você participa desses grupos? 28 60,9 18 39,1 0 0
Você acha que é importante ser repassado histórias e
culturas de pai para filho? 44 95,7 2 4,35 0 0
Você acha que existe preconceito contra a etnia indígena? 41 89,1 2 4,35 3 6,52
Você já sofreu preconceito por ser índio? 10 21,7 34 73,9 2 4,35
Você conhece seus direitos enquanto sujeito indígena? 24 52,2 19 41,3 3 6,52
Existe diferença entre ser índio e ser “branco” para você? 18 39,1 28 60,9 0 0
Fonte: Dados primários da pesquisa
Diante da quantificação das respostas contidas na enquête com 46 índios da
Aldeia Pitaguary, observa-se que praticamente todos eles, 91%, reconhecem sua
identidade. O restante, quase 10% desse total não se reconhecem como etnia
indígena, pelas razões da situação conjugal do pai ou da mãe. Importante que se
reflita a questão temporal, a questão cultural e a questão genealógica.
Apesar da grande maioria se identificar como índios, 60%, ou seja, 28 dos 46
entrevistados afirmam que seus semelhantes não se apresentam ou identificam
como índios, justificando nos questionários, como forma de amenizar preconceito e
a discriminação imposta contra a raça. Os demais que responderam não ter
vergonha, dizem sentir orgulho de serem índios, porque são fortes, determinados e
lutam por seus direitos.
69
Em relação a esse assunto, constata-se que historicamente os índios têm
sido objeto de múltiplas imagens e conceituações por parte dos não índios e, em
consequência, dos próprios índios, marcados profundamente por preconceitos e
ignorância.
Para que se tenha uma ideia da preservação da cultura indígena, sai história
e sua identidade, existem vários grupos que se reúnem com esses objetivos, como
por exemplos, o grupo PROJOVEM e o grupo Convivência, ambos pertencentes à
etnia Pitaguary. Esses grupos são compostos por muitos indígenas jovens que são
fortalecidos pelos mais velhos que lhes repassam e fortalecem a história e a cultura
do seu povo. De acordo com os questionários, pouco mais da metade dos jovens
indígenas adolescentes participam desses grupos.
Alencar (1993) relata que os índios Pitaguary motivados pelo conhecimento
de sua historicidade, manifestaram um processo de reconhecimento de sua etnia e,
a partir dessa compreensão, se envolveram no resgate de tradições culturais
esquecidas e que passaram a fazer parte de seus eventos sociais.
De acordo com Santos (1988) com a retomada das tradições culturais dos
Pitaguary, um novo ânimo se estabeleceu na aldeia na luta pela terra e pela
preservação de suas tradições. O autor afirma ainda que para os Pitaguary, a
questão da cultura é relevante no sentido em que os índios estão resgatando, pouco
a pouco, as tradições mais antigas, a partir dos relatos dos mais velhos e ainda
através de manifestações artísticas (danças, como o Toré e artesanatos), religiosas
(rituais ligados às festas, como a dos guerreiros) e políticas (reuniões sobre a
questão da sua territorialidade).
É Importante destacar que apesar de nem todos participarem dos grupos que
discutem os problemas, traçam trajetórias e planos, preservam a história e a cultura
indígena, praticamente todos, ou seja, 44 dos 46 entrevistados apoiam e validam
que esse patrimônio seja passado de geração em geração para que jamais sejam
esquecidas.
90% dos questionários apresentados confirmam que existe o preconceito
contra a raça indígena. Muito descrevem e lamentam o fato do desconhecimento da
história do índio e acreditam ser essa a causa principal para que ocorram as
70
discriminações. A maioria afirma que nunca tiveram nenhum tipo de preconceito,
mas os já vitimados, foram taxados de selvagens e até de canibais.
Bueno (2006) refere-se ao preconceito dizendo que a imagem construída pela
sociedade brasileira não índia em relação aos índios em muitos casos, percebe-se
que condiz com a realidade, pois constroem-se simulacros negativos. O índio é
representado como um ser preguiçoso, incapaz ou violento. Desse modo, difundem-
se muitas atitudes preconceituosas, mesmo dentro das escolas. O índio passa a ser
visto como um atraso ou como um ser que precisa abandonar todos os seus
costumes, sua cultura, sua identidade e assumir os modos de viver da sociedade
não indígena para ser aceito.
Devido a esse desconhecimento por parte da sociedade brasileira a respeito
de quem são os povos indígenas, como vivem e o que pensam, percebe-se que os
indígenas foram e ainda são vítimas de várias situações de preconceito e
intolerância. São obrigados a, muitas vezes, para se protegerem, negarem a sua
própria identidade.
O Brasil, através dos vários órgãos de defesa e proteção ao índio, com a
FUNAI, considerando-se os Direitos Humanos, trata a raça indígena no que diz
respeito aos seus direitos como à saúde, segurança, educação, a terra, entre outros,
com os mesmos direitos reservados de igualdade às demais raças. Porém, apenas
52% dos entrevistados reconhecem esses direitos, enquanto o restante afirma que
ainda tem que brigar por seus direitos que são do conhecimento dos Governos, mas
que por muitas vezes não são reconhecidos. Daí é vem à tona as mais recentes
manifestações divulgadas pela mídia.
Perguntado aos entrevistados se existem diferenças entre SER índio e SER
branco, 60% responderam que a diferença está na aparência física e que todos são
seres humanos que devem compartilhar da mesma natureza, respeitando seus
direitos e fazendo cumprir suas obrigações perante a lei. O restante acredita que
existem diferenças se referindo aos direitos que muitas vezes são desrespeitados. A
maioria revela que o índio venera a mãe natureza e dela tira sua sobrevivência,
enquanto o homem branco mata e se mata em busca de riquezas destruindo a
natureza.
71
Importante salientar o fato de que foram aplicados, como já foi mencionado,
46 questionários, sendo que a metade foi perguntado em determinada questão “o
que é ser adolescente“ e para outra metade foi perguntado também em uma
determinada questão “o que é ser índio”. A questão do adolescente foi levantada
como fator importante que se saiba a formação da identidade indígena com foco nos
adolescentes, que conforme material de pesquisa, esses adolescentes apresentam-
se na faixa dos 13 aos 18 anos de idade.
Muitos desses adolescentes se referiram à adolescência como um momento
para curtir, de se divertir. Poucos abordaram a fase em que se desperta para a vida,
seus ideias, dúvidas, desejos e anseios. Não relataram valores em relação à
formação do cidadão responsável, obediente às leis e preocupação com o seu povo.
A maioria não demonstrou preocupação com os estudos e nem com o futuro
profissional. Vale ressaltar que muitos negam sua identidade dizendo-se serem
descendentes de índios, não índios. Alguns alegam que essa afirmação é para
minimizar o preconceito e a discriminação sofrida por parte dos não índios.
Nota-se em muita respostas a afirmação de serem guerreiros, fortes e lutarem
bravamente pelos seus direitos e ressaltam o orgulho de ser índio. A veneração pela
natureza, o respeito e a adoração, fazem se autoconceituarem como defensores da
mãe natureza. Os índios ressaltam sua história, sua raízes, sua cultura que nunca
serão apagadas, pois estarão sempre vivos na memória dos mais velhos para que
sejam repassadas para os mais jovens, passando de geração em geração para que
sejam lembrados com orgulho.
As deficiências e dificuldades no aprendizado escolar pela maioria dos índios,
que especificamente se percebe entre os Pitaguary, precisam ser estudadas,
analisadas e resolvidas, pois apesar do direito à educação específica e diferenciada,
bem como o direito ao uso das línguas maternas serem regulamentados e
garantidos aos povos indígenas, na Constituição Federal de 1988, na LDB de 1996,
o RCNEI, no Parecer n° 14, na Resolução n° 3, é comum encontrar, nas escolas
indígenas, conteúdos das disciplinas ministradas da mesma forma que é ensinado
aos não índios, muitas vezes, seguindo o mesmo currículo e livros didáticos das
escolas do entorno. Os professores e dirigentes, em sua grande maioria, não são
72
índios, não falam e não entendem a língua materna, são colocados e retirados,
conforme critérios políticos locais.
Conclui-se ainda que o orgulho de ser índio é constitui-se como uma tentativa
de se passado de geração em geração, de pai para filho. Porém percebe-se que
pelas respostas da pergunta que faz referência ao medo ou vergonha de se
identificar como índio, onde praticamente todos responderam que “sim” que existe
esse medo, essa vergonha, faz com que essa tradição seja a cada dia se
transformada em um esforço maior.
5.2 Afirmação étnica: relatos
Inicialmente, destacam-se os relatos das lideranças, que em entrevista
destacaram os problemas existentes na comunidade e a importância do CRAS para
a mesma, destacando-se os adolescentes. O CRAS é destacado pelas lideranças
como fundamental para comunidade, com pontos positivos, sendo destacado que os
cursos disponibilizados são fundamentais para os adolescentes, resgatando a
cultura indígena, que segundo as lideranças são sempre ressaltadas na
comunidade, para que não se apaguem as raízes Pitaguary. Além do resgate à
cultura é destacado o fato de tirar o adolescente das ruas, não dando espaço para
entrada no mundo das drogas e da criminalidade. De acordo com as lideranças7:
[...] E essas formas ai de... do CRAS Indígena e a Escola Indígena, tudo isso envolvendo esses adolescentes aí, é uma forma deles ta ocupado, ta entendendo?! Deles num tá pensando em outras coisas, pelo menos nesses momentos aí, depois aí num sabe, né?! Mas, aí, fazer o possível e o impossível para ocupar eles em alguma coisa que faça... que pelo menos fortaleça a cultura que é de conhecimento, de... dá continuação... É... pra ele aprender a gostar e se engajar mais... a gente faz o possível, a gente faz... (LIDERANÇA DA COMUNIDADE 1).
No CRAS também tem essas atividades com os adolescentes né?! Esse curso tem no CRAS é um curso que as mães agradece muito, porque é um curso que os fi ta fazendo alguma atividade, NE?! Não ta no meio da rua fazendo alguma coisa ruim, né?! Ta fazendo alguma atividade. (LIDERANÇA DA COMUNIDADE 2).
7 Os relatos dos participantes desta pesquisa foram mantidos tal qual pronunciados pelos mesmos.
73
A pesquisadora, por sua vez, destaca a importância do resgate à cultura
indígena, da busca por instigar o adolescente a conhecer sua identidade, suas lutas,
do fortalecimento de sua cultura, de se autoidentificarem como indígenas.
Em resposta, as lideranças afirmam que é muito difícil alcançar esse objetivo,
visto que os adolescentes atuam na comunidade por interesse, não havendo
interesse por parte deles em suas lutas e culturas, dificilmente eles veem
adolescentes envolvidos com as lutas e interesses Pitaguary, isso só acontece
quando recompensas são prometidas, ganhos ao final de uma conquista.
Destaca-se, ainda, que eles informam que a exaltação de sua cultura não é
apenas para mostrar para a sociedade, mas para ganhos financeiros, informando
que vendem sua cultura, sua apresentação. Em suas palavras:
Fala de interesse, mas é isso mesmo, é de interesse. Eles praticam, pra poder conseguir, porque não adianta você passar o Toré e tudo e esse Toré ficar de graça pra todo mundo, a vida toda. Os índios, desde o passado, que todos nós vivemo a vida sofrendo demais e tudo de conhecimento nós damo para os outro. Todo o conhecimento... desde a medicina, a espiritualidade, o ritual do Toré e tudo... Quer dizer, quando ficar com a cultura fortalecida, beneficiando os outros e nós sempre sem nada? Quer dizer que num é... o interesse... não é questão de interesse, é questão de sobrevivência. A cultura é meio de sobrevivência, cultura não é só mostrar pra ninguém, a cultura é um meio de sobrevivência. Índio sobrevive através da cultura. Através da cultura dele, que o governo ver ele, que a Constituição dá o direito a ele, o governo dá o direito a ele, constrói uma escola diferenciada para ele, forma professores dentro dessa cultura para ensinar esses índio. Então tudo só vai pra frente se tiver interesse mesmo. Num é você dizer assim: eu só faço isso, se tiver isso, não. Não é assim. Eu posso muito bem chegar para uma pessoa acolá... Chegar e dizer assim: é uma escola do município, é uma escola carente e essas criança são doida pra ver o Toré e tudo e não tem como dar ajuda nenhuma a esse grupo, a pessoa pode chegar aqui e dizer a verdade pra gente, que a gente vai com todo prazer e alegria fazer isso pra essas criança, fazer o Toré para essas criança, não é só porque... pra ganhar não. Agora dizer que a pessoa vai perder seu tempo a vida toda fazendo Toré pro outro, pros outro achar bonito, aplaudir e não He dá nada em troca, isso não existe, né?! Não existe isso. Então tudo que nós fazemo hoje é você, por exemplo, eu vou cobrar apresentação, então lá eu num vou receber nada, mas eu sei que chegando lá, eu levo meu material de venda e de repente eu vendo meu material, eu apuro R$ 50,00 ou R$ 100,00 ou R$ 200,00 reais, seja lá quanto for que der pra apurar, pronto já eu me beneficiei com o meu material, ninguém me deu [...] Eu to sendo reconhecido, respeitado e to ganhando meu dinheiro, às minhas custas do meu material, mas se eu num tivesse ido, eu também não tinha vendido nada. (LIDERANÇA DA COMUNIDADE 1).
[...] Se tiver uma representação para ganhar isso, eu vou, ai se junta um bocado de adolescentes e vão. Mas na hora do arregaço, da luta que nós tamo ali, num vem quase nenhum adolescente. Se tem umas, outro não.
74
[...]. Agora tem uma dança com o Toré, ai o pessoal recada8 alguma coisa
né pra gente, material, essas coisa, recada, aí nós dança o Toré, representa nossa dança, mas também nós ganha, nós não saimo perdendo. (LIDERANÇA DA COMUNIDADE 2).
Notou-se aqui que não há uma preocupação por parte das lideranças em
relação à formação da identidade dos adolescentes, não se percebeu um interesse
por parte deles, que exaltou a todo o momento a dificuldade em lidar com
adolescente. Nesse momento a pesquisadora menciona a importância da identidade
indígena por parte dos adolescentes, o seu reconhecimento, destacando o fato dele
se identificar, estudar e vir a se tornar um profissional capaz de interferir nas
questões indígenas, auxiliando aos seus pares.
Entrevistando o cacique perguntou-se inicialmente como ele, como figura de
liderança e respeito, via os adolescentes da tribo. O Cacique, baseando-se na figura
do mundo de hoje, afirma que os adolescentes Pitaguary são tranquilos, com
responsabilidade, destacando-se a busca de ensinar nas escolas a cultura indígena
e a importância da liderança indígena dentro das escolas. Afirma que eles têm
conhecimento da cultura indígena, sempre fazendo o Toré. Nas palavras do
Cacique:
Eu vejo os adolescentes da tribo, até... baseado no mundo que estamos vivendo hoje, vejo eles até tranquilos né?! Com alguma responsabilidade, porque é... a gente sempre participou na escola ensinando a eles a cultura indígena, né?! O passo da educação indígena é a participação da liderança na escola, então hoje, esses adolescentes, eles sabem o ritual do Toré, sabem tudo do Toré, assim, que eu ensinei a eles, pra eles praticarem, não só escrever ou ouvir eu cantar e eu ficava assim na escola só fazendo Toré, não, e to fazendo Toré pra vocês amanhã fazerem. Não pra eu continuar fazendo, eu to fazendo esse Toré, passando a cultura indígena aqui na escola pra continuar com os professores e vocês. É tanto que tai hoje, já ocorre o Toré entre a professora e os alunos, vendo a criança, o adolescente, o mais... né?! Que não me chamam mais pra fazer o Toré lá. Eles, graças a Deus, já se encarregaram, se responsabilizaram por essa parte da cultura. (CACIQUE PITAGUARY)
Dando continuidade, perguntou-se ao Cacique se ele acreditava que os
adolescentes realmente, no geral, sabem da importância de ser indígena, da
importância do Pajé e do Cacique dentro da aldeia. Segundo o Cacique:
Uma boa parte sim. A situação da religião é uma coisa muito séria, porque quando o pai, a mãe, no caso tem uma religião de crente
9, então muitas
crianças vão pra escola já com aquela forma que o pai e a mãe não
8 Refere-se a arrecadas.
9 Referiu-se à religião Evangélica.
75
participa da cultura indígena, não participa do ritual, porque são crentes, aí acham que aquilo é problema sério, o pastor vai brigar, né?! Por conta disso, muitos alunos fogem... alguns fogem, né?! Do ritual do Toré e num dá... o meu entendimento é por conta disso, da religião que interfere na cultura indígena. (CACIQUE PITAGUARY)
Assim, o Cacique afirma que boa parte conhece essa importância, todavia,
destaca as questões de religiosidade, partindo dos próprios pais, que se
encaminham para outras religiões, interferindo na cultura indígena.
Figura 8 – Entrevista com o Cacique Pitaguary
Fonte: Dados primários da pesquisa.
Passando a análise da entrevista realizada com os adolescentes perguntando
se eles se reconhecem como indígenas e o que é ser índio em sua opinião, como a
cultura vem sendo passada por sua família, se os adolescentes da comunidade em
geral se reconhecem como índio, questões de preconceito e direitos. Por fim,
perguntou-se se eles acreditavam haver diferença em ser adolescente indígena,
bem como enquanto não trajados como indígenas como eram identificados. Na
pesquisa é instigada a todo o momento as respostas, perguntando sobre a família,
amigos e cultura. A seguir relatos dos adolescentes:
Eu me reconheço. Ser índio pra mim é ter respeito,é mostrar a nossa cultura pros outros. Vem. Participa
10. Tem uns que se reconhecem e tem outros
que não se reconhecem11
. [...] Sinto preconceito, assim por causa da cor, quando é branca, loira, ficam dizendo: “ah tu num é índia não, que tu é loira”. Eu já parei por isso, eu viajei assim né?! Pro Juazeiro, aí perguntaram se eu era índia, aí eu disse que eu era, aí: “mas índia loira, num sei que...” eu acho que isso é um preconceito né?! (ADOLESCENTE 1)
10 Em resposta à pesquisadora, que perguntou sobre a participação da família na cultura indígena. 11 Em resposta ao reconhecimento de colegas como indígenas.
76
Também tem gente que tem preconceito porque diz que índio não tem direito como as outras pessoas, não tem direito a ter uma moradia boa e a vestimenta assim, como as outras pessoas né?! Que mesmo a gente sendo índio ou não tem direito a tudo, porque todo mundo é ser humano né?! (ADOLESCENTE 2)
Assim, tipo ser adolescente, mas tipo... Na frente das pessoas que mostram ter preconceito a gente mostra ser adulto, mostrando os direitos que a gente tem e reforçando o conhecimento né?! Porque desde pequena a gente se reconhece assim adolescente, adulto e idosa, assim, dentro da gente já sabe muita coisa sobre isso, né?! Então a gente quer repassar as coisas que a gente sabe, porque não adianta a pessoa ter preconceito se na hora bate palma faz essas coisas. (ADOLESCENTE 3)
Quando a gente não ta trajado, as pessoas diz: “ai não é índio”, porque índio anda nu, essas coisas, mas a gente mostra que pra ser índio não adianta andar nu, não precisa está de cocá, o importante é você ter a imagem que vem de dentro pra fora né?! Como no índio. (ADOLESCENTE 4)
Os adolescentes informaram que se reconhecem como indígena, informando
que ser índio é mostrar para os outros sua cultura, respeitar sua cultura. Segundo
eles os pais passam a sua cultura e desde crianças participam dos festejos e
manifestos indígenas, bem como de suas tradições. Afirmam sofrer preconceito por
ser indígena, principalmente, quando pintam o cabelo, recebendo relatos constantes
que não são indígenas por serem loiras. Os adolescentes relatam não haver
diferença em ser adolescente indígena ou de outra etnia. Informaram que
dificilmente são identificados nas ruas como indígenas, caso ainda não estejam
trajados como tal, todavia, informam que a importância está em se autoidentificar
como indígena e não os que as demais pessoas pensavam a respeito.
Figura 9 – Entrevista adolescentes indígenas
Fonte: Dados primários da pesquisa.
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta monografia enfocou-se um estudo acerca da afirmação identitária em
adolescentes indígenas, visando-se verificar como se dá o processo de formação de
sua identidade e o autorreconhecimento como índios.
A identidade se constitui ao longo da vida de cada indivíduo, em sua
singularidade que se diferencia e se identifica em relação a si mesmo, e se distancia
ou se aproxima de outros indivíduos em momentos diferentes ou iguais. Desta
forma, a identidade social de cada indivíduo se configura a partir de suas próprias
relações sociais, como ele próprio observa os papéis sociais, como os assume, e
obtêm a confirmação de seu exercício através de outros indivíduos significativos.
Com base no estudo aqui realizado, pode-se dizer que o adolescente vive
constantemente em busca de equilíbrio, devendo conviver com os valores adquiridos
na infância e as responsabilidades quês estão chegando da fase adulta. Assim,
vivem buscando constantemente sua identidade. Assim, faz-se necessário olhar
para os jovens como um sujeito social, ou seja, capaz de interpretar e dá sentido ao
seu mundo e às relações que mantém, sendo capaz de refletir, de ter suas próprias
posições e ações, configurando-se como uma aprendizagem que exige
autorreflexão, distanciamento e autocrítica.
A adolescência, apesar de representar apenas um período curto da vida, é
onde se encontra uma fase de suma importância, haja vista que eles passam por
conflitos de identidade e mudanças biológicas responsáveis por formá-lo como
indivíduo adulto. Quando o assunto volta-se para adolescentes indígenas, o assunto
é ainda mais delicado, considerando que muitas questões sociais são envolvidas.
Resgate de cultura, preconceitos, estigmas, descaso da sociedade e de seus
governantes, enfim, fatores que dificultam que o adolescente se orgulhe de ser
indígena e se autorreconheça como tal.
Vale destacar que não sentiu-se segurança no que foi informado pelas
adolescentes, as respostas foram vagas, o intuito era de que a entrevista fosse
realizada com aqueles que não se identificavam como indígenas, visto que se
78
recusaram. O reconhecimento indígena por parte dos adolescentes não é tarefa
fácil, faz-se de suma importância que a comunidade Pitaguary desenvolva ações e
projetos voltados para o resgate da cultura e a importância da identidade indígena,
motivando a esses adolescentes a se reconhecerem como tal, tendo orgulho de sua
etnia e cultura.
O autorreconhecimento como indígena por parte dos adolescentes Pitaguary
é uma questão bastante complexa, apesar de afirmarem se autorreconhecer como
indígena existem contradições em suas respostas, como falta de segurança em suas
palavras, bem como a informação dada pelo Cacique em entrevista, que informou
que uma das adolescentes entrevistadas possuía problemas relacionados à
religiosidade, onde os pais, que eram evangélicos, não permitiam sua participação
em danças tradicionais como o Toré, visto a religião proibir, fatores como este
provoca interferências na formação identitária dos adolescentes. Os preconceitos
sofridos são constantemente relatados pelos participantes deste estudo, bem como
descaso da sociedade e de seus governantes.
Ao final, pode-se constatar que os adolescentes se dividem em relação ao
autorreconhecimento como indígena, onde a maioria afirma se reconhecer como
indígena, mas suas ações o contradizem, demonstrando as dificuldades de
afirmação identitária enquanto indígena. Identificou-se que o reconhecimento como
indígena é um fator que acontece sempre que influenciados, devendo partir da
família primeiramente, que deve buscar o resgate de sua cultura e da própria
comunidade.
Vale destacar que este estudo não possui como intenção encerrar as
discussões em torno do assunto aqui tratado, mas sim ampliá-las, deixando-se como
sugestão para futuras pesquisas entrevistas com jovens que não se identificam
como indígenas, já que não foi possível realizar nesta pesquisa, por recusa dos
próprios.
79
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro:
Agir, 2007. ARMSTRONG, Thomas. Capítulo 7 – Adolescência: Aventuras na Hora Lusco-fusco. In: ARMSTRONG, Thomas. A Odisseia do Desenvolvimento Humano. Ed. 1,
Artmed, 2011. ARRUDA, Rinaldo Sérgio Vieira. Imagens do índio: signos da intolerância. In GRUPIONI, Luís D. B; VIDAL, Lux Boelitz; FISCHMANN, Roseli (Orgs.). Povos indígenas e tolerância: construindo praticas de respeito e solidariedade. São Paulo: Edusp, 2002. BARROS, Diana Luz Pessoa de. Esta é uma outra mesma história: os índios nos livros didáticos de História do Brasil. In: BARROS, Diana Luz Pessoa de (org.). Os discursos do descobrimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo;
FAPESP, 2009. p. 131-156. BERLAMINO, Felipe. População indígena no Ceará tem 22 mil índios que ainda lutam por território. Jornal Diário do Nordeste. 2012. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=333686&modulo=971 Acesso em: novembro/2013. BORGES, Edson, MEDEIROS, Carlos Alberto & D’ADESKY, Jacques. Racismo, preconceito e intolerância. São Paulo: Atual, 2002. (Espaço e Debate).
BUENO, Alexandre Marcelo. Intolerância linguística e imigração. Dissertação
(Mestrado em Semiótica e Linguística Geral). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
______. Programa Parâmetros em Ação de Educação Escolar Indígena.
Ministério da Educação. 2001. ______. Lei 5.371 de 5 de dezembro de 1967. Brasília, 1967. ______. Lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973. Brasília, 1973. ______. Ministério do Desenvolvimento Social. Cadastro Único garante acesso a programas sociais do Governo Federal, 2013. Disponível em:
http://www.mds.gov.br/falha.html Acesso em: novembro/2013. ______. Decreto-Lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943. Considera "Dia do Índio" a data de 19 de abril. Brasília, 1943.
CARDOSO, M. R. (Org.) Adolescentes. São Paulo: Editora Escuta, 2006.
80
CARVALHO, Eveline. Marco Referencial dos Povos Indígenas do Estado do Ceará. Governo do Estado do Ceará / IPECE, 2009. CEARÁ, Proposta de Educação escolar Indígena. Comissão Interinstituicional de Educação Escolar indígena. Governo do Estado Ceará. 2006.
CIAMPA, Antonio. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1998.
COSTA, J.F., Psicanálise e Contexto Cultural. Imaginário Psicanalítico,Grupos e
Psicoterapias. 2. ed., Rio de Janeiro: Campus, 1989. FAGALI, Eloísa Quadros. Fundamentos da Psicanálise: Desenvolvimento do Raciocínio. São Paulo: Interação - Núcleo Psicopedagógico, 2007. 2 v.
FARIAS, José Airton de. História do Ceará. 2 ed. Fortaleza: Edições Livro
Técnico, 2007.
DE LAMARE, Rinaldo. A vida de nossos filho: de 2 a 16 anos. Editora Bloch, 7ª Edição, 1973.
DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica
no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994. ________. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000. ERIKSON, E. H. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1976. FAUSTO, Boris. História do Brasil: História do Brasil cobre um período de mais de
quinhentos anos, desde as raízes da colonização portuguesa até nossos dias. CACCTO, 2008.
FERNANDES, M. C. T. et al. Serviço Social: programas e projetos para
organizações empresariais. Campinas: GASERC, 1999. FONTE, Liliana. A influência das novas formas de comunicação no desenvolvimento sócio-emocional das crianças. Trabalho final de Pós-
Graduação, IPAF – Porto Alegre, Portal dos Psicólogos, 2008. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0405.pdf Acesso em: novembro/2013. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Lisboa: Livros do Brasil, 2003.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. NÚCLEO DE APOIO LOCAL DO CEARÁ. Plano de aplicação Etnia Pitaguary – Exercício 2012. Fortaleza, 2012. GALDINO, Lúcio Keury Almeida. Os caminhos da territorialidade da etnia Pitaguary: O caso da aldeia de Monguba no município de Pacatuba no Ceará. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Ceará, 2007.
81
GESELL, Arnold. Diagnóstico do desenvolvimento: avaliação e tratamento do desenvolvimento neuropsicológico no lactente e na criança pequena, o normal e o patológico. Editores: Hilda Knobloch e Benjamin Passamanick. 3. Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007. ______. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro, LTC, 1988. ______. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro, LTC, 1982.
GRUPIONI, Luís Donisete. (org.) As Leis e a Educação Escolar Indígena:
Programa Parâmetros em Ação de Educação Escolar Indígena, Ministério da Educação. 2001. GUERRA, Vânia Maria Lescano. O indígena de Mato Grosso do Sul: práticas identitárias e culturais. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo Escolar. 2012. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo Acesso em: novembro/2013. MACHADO, R. et al. Danação da norma: medicina social e constituição da
Psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento científico: pesquisa qualitativa em saúde. 2a edição. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 1993.
MORAIS, Kelanny Oliveira de. A organização indígena no Ceará e o trabalho do CDPDH: a experiência com os índios Pitaguary. João Pessoa, UFPB, 2004. 75p. Monografia de especialização. Universidade Federal da Paraíba, 2004. MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e História no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Annablume, 2005. NOLETO, Juliana et al. Estudo Etno-Ecológico Pitaguary. FUNAI, 2004. OLIVEIRA, Paulo Celso de. Gestão territorial indígena: perspectivas e alcances. In: ATHIAS, Renato; PINTO, Regina Pahim (Orgs.). Estudos indígenas: comparações,
interpretações e políticas, Série Justiça e Desenvolvimento, SP: Contexto, 2008. p. 175-191. OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2007.
82
OZELLA, S. Adolescência: Uma perspectiva crítica. In: CONTINI, M.; KOLLER, S.
H.; BARROS, M. (Orgs.). Adolescência e psicologia: concepções, práticas e
reflexões críticas. Brasília: CRP, 2002. p. 16-24.
PENNA, Túlio Carlos de França. Por que demografia indígena brasileira? 1984.
Disponível em:
http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/1984/T84V03A16.pdf, Acesso em:
novembro/2013.
PIAGET, Jean. Para Onde Vai a Educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
PINHEIRO, Joceny de Deus. História, Memória e Identidade entre os Índios
Pitaguary. In: Luiz Sávio de Almeida; Marcos Galindo. (Org.). Índios do Nordeste:
Temas e Problemas. 1 ed. Maceió: EDUFAL, 2002, v. III, p. 229-271.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
QUIROGA, Horacio. A galinha degolada e outros contos. Porto Alegre: L&PM,
2008.
RIZZINI, I. A institucionalização de crianças no Brasil: Percurso histórico e
desafios do presente. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; São Paulo: loyola, 2004.
ROCHA, Francisco das Chagas. Et al. Estudo etnoecológico Terra Indígena
Pitaguary (EETIP). Consultoria e Planejamento LTDA. Fortaleza, 2005.
RODRIGUES, D. O paradigma da educação inclusiva: reflexões sobre uma
agenda possível. Inclusão, 2000.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
SOUSA, Hariádina Salveano. A abordagem da questão indígena no jornal impresso:etnia Pitaguary no Jornal O Povo. Faculdade Cearense, Bacharelado em Jornalismo, 2009.
TEIXEIRA, Raquel. As línguas indígenas no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes e GRUPIONI, Luis Donisete Benzi (org). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. 3 ed. São Paulo: Global; Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 2000.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. - Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. São
Paulo, Atlas, 1987.
VARGEM, Inês. Isolamento social na adolescência: Contributo das TIC e Redes
Sociais. 2010. Disponível em: http://inesvargem.blogs.sapo.pt/1474.html Acesso em:
novembro/2013.
83
APÊNDICES
APÊNDICES I: Roteiro de entrevistas com adolescentes Indígenas.
Pesquisa de TCC: O adolescente Pitaguary: A afirmação de sua identidade
como sujeito Indígena.
Pesquisadores: Francisca Kayna Azevedo Honorato Abreu; Maria Elia dos
Santos Vieira (Orientadora).
QUESTIONÁRIO-DADOS REFERENTE AO PERFIL DO ENTREVISTADO
Data:____/____/____
1- Nome do adolescente entrevistado: _________________________________
2- Idade:______Naturalidade: ______________Sexo:( )Masculino ( )Feminino
3- Qual aldeia pertence?____________________________________________
4- Endereço?_____________________________________________________
5- Estuda?_______Serie?______Trabalha?____Estagia?____onde?
6- ROTEIRO DE ENTREVISTA – PERGUNTAS AOS ADOLESCENTES
QUANTO AO OBJETIVO DA PESQUISA
1- Você se reconhece índio? Sim ( ) Não ( )
2- Para você o que é ser índio?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3- Você acha que seus colegas tem medo, ou vergonha de se identificar como
índio?
Sim( ) Não( ) por quê? __________________________________________
84
4- Existe algum grupo na comunidade que trabalhe o fortalecimento da
identidade e cultura?
Sim ( ) Qual?______________________ Não ( )
5- Você participa desses grupos? Sim ( ) Não ( )
6- Você acha importante ser repassadas histórias e culturas de pai para filho?
Sim ( ) Não( ) Por quê?______________________________________
7- Você acha que existe preconceito contra a etnia Indígena? Qual?
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
8- Você já sofreu algum preconceito?
Sim ( ) Não( )
9- Você reconhece seus direitos enquanto indígena?
Sim ( ) Não( )
10- Existe diferença entre ser índio e ser “branco” para você? Justifique.
Sim ( ) Não( )
______________________________________________________________
______________________________________________________________
11-Para você o que é ser adolescente? _________________________________
______________________________________________________________
85
APÊNDICES II: Roteiro de entrevistas com liderança Indígena.
Pesquisa de TCC: O adolescente Pitaguary: A afirmação de sua identidade
como sujeito Indígena.
Pesquisadores: Francisca Kayna Azevedo Honorato Abreu; Maria Elia dos
Santos Vieira (Orientadora).
DADOS REFERENTE AO PERFIL DO ENTREVISTADO
Entrevista nº _____Data: ____/____/____
1- Nome do entrevistado:________________________________________
2- Função na aldeia:__________Idade:_____Naturalidade: ____________
3- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
4- Qual aldeia pertence?_________Endereço:_______________________
ROTEIRO DE ENTREVISTA – PERGUNTAS AS LIDERANÇAS DA TRIBO
QUANTO AO OBJETIVO DA PESQUISA
1- Você enquanto figura de liderança e respeito, como vê os adolescentes da tribo?
2- Você acha sabem e reconhecem a importância do Cacique e do Pajé na
aldeia?
3- Existe algum grupo que trabalha o resgate cultural e o fortalecimento da identidade como os adolescentes da tribo? Qual? De que forma é trabalhado?
4- Os Índios foram atingidos por diversas formas de violência físicas, culturais e ameaças de dissoluções, como o senhor acha que os adolescentes encaram estas questões?
5- Você acha que os adolescentes têm resistência em se auto afirmarem
Indígenas? Por quê?
6- No dia a dia, a comunidade mantém as tradições?
86
7- Sabemos que as historias e experiências são passadas de gerações para
gerações, vocês valorizam essa prática?
8- Em sua opinião, por quem? E o quê? Poderia ser feito para promover o resgate cultural e a afirmação da identidade Indígena de forma mais efetiva e eficaz?
87
APÊNDICES III
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu Francisca Kayna Azevedo Honorato Abreu, estou dando início a uma
pesquisa do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense que
visa analisar, o adolescente Pitaguary: A afirmação de sua identidade como
sujeito indígena. Para realizar esta pesquisa dentro do território Pitaguary, solicito a
autorização do Senhor Daniel Araújo da Silva, como cacique deste povo.
A pesquisa busca investigar de que forma a cultura indígena tem sido
fortalecida junto aos/as adolecentes, como se dá a participação dos/as adolescentes
nos diversos espaços do território, compreender os fatores que dificultam a
autoidentificação dos/as adolecentes quanto a sua identidade indígena.
Trabalharemos com observação direta no território Pitaguary, entrevistas semi
– estruturada aplicada à liderança e aos adolescentes aplicaremos um questionário .
Deste trabalho de campo, produzirei um trabalho escrito que será divulgado junto ao
povo da etnia.
Eu declaro que li cuidadosamente este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
e que, após sua leitura, tive oportunidade de fazer perguntas sobre o conteúdo do
mesmo, como também sobre a pesquisa e recebi explicações que responderam por
completo minhas dúvidas. E declaro ainda estar recebendo uma cópia assinada
deste Termo.
Maracanaú, _____ de _______________de _______.
___________________________________
Cacique Daniel Araújo da Silva
____________________________________
Francisca Kayna Azevedo Honorato Abreu
Pesquisadora (85) 87605104
88
APÊNDICES IIII
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr(a) para participar da Pesquisa com o título o
adolescente Pitaguary: A afirmação de sua identidade como sujeito indígena,
que tem como finalidade, investigar de que forma a cultura indígena tem sido
fortalecida junto aos adolecentes, como se dá a participação dos/as adolescentes
nos diversos espaços do território, compreender os fatores que dificultam a
autoidentificação dos/as adolecentes quanto a sua identidade indígena.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de um questionário, que
consiste em respostas as perguntas apresentadas no mesmo pelo pesquisador. As
informações deste questionário serão relatadas com seu consentimento.
Aceitando participar, estará contribuindo para a pesquisa no Curso de
Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense. Desde então
assumimos o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa.
Se necessário, o Senhor(a) poderá entrar em contato com, Francisca Kayna
Azevedo Honorato Abreu (pesquisadora), nos telefones (85) 87605104, e com a
orientadora do estudo, Maria Elia Santos Vieira, no telefone (85) 99479453.
Eu declaro que li cuidadosamente este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
e que, após sua leitura, tive oportunidade de fazer perguntas sobre o conteúdo do
mesmo, como também sobre a pesquisa e recebi explicações que responderam por
completo minhas dúvidas.
Maracanaú, ___ de ___________________ de _______.
________________________________ ___________________________
Entrevistado Pesquisadora