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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIÇO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
FORTALEZA 2014
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIÇO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Monografia submetida à aprovação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense - FaC, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: Ms. Lara Denise Oliveira Silva.
FORTALEZA
2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
L437s Leandro, Chayanee de Souza
Serviço Social e acolhimento institucional: relato de
experiência de estágio / Chayanee de Souza Leandro. Fortaleza -
2014
74f. Il.
Orientador: Prof.ª Ms. Lara Denise Oliveira Silva.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Institucionalização. 2. Acolhimento institucional. 3.
Adolescência – Serviço Social. I. Silva, Lara Denise Oliveira. II.
Título
CDU 364
CHAYANEE DE SOUZA LEANDRO
SERVIÇO SOCIAL E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
Monografia apresentada como pré-requisito
para obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social, outorgado pela Faculdade Cearense –
FaC, tendo sido aprovada pela banca
examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: ____/ ____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Professora Ms. Lara Denise Oliveira Silva
(orientadora)
____________________________________________________________
Professora Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos
(1ª examinadora)
____________________________________________________________
Professora Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos
(2ª examinador)
Dedico este trabalho a minha família e amigos, os quais ao longo dessa caminhada me apoiaram e me ajudaram como puderam.
AGRADECIMENTOS
Confesso que em alguns momentos pensei que não iria conseguir, pois no decorrer dessa caminhada de “monografar” me deparei com alguns problemas pessoais. Portanto quero agradecer a Deus e a Nossa Senhora de Fátima por nunca me deixarem perder a esperança. Aos meus pais, em especial minha mãe Francisca Vanda, no qual sempre me apoiou e ajudou como pode ao longo desses quatros anos. Aos meus familiares sempre na torcida por essa conquista, em especial minha tia-madrinha Zita no qual custeou meus estudos, além do incentivo e apoio que deu durante essa jornada, deixo então registrada minha gratidão.
Como já mencionado, em alguns momentos passei por algumas dificuldades, portanto agradeço a todos os amigos que deram força, ajudaram, apoiaram de alguma forma para eu não desistir. Em especial, Kelma Souza, Luciana Furtado. As companheiras de turma, no qual se tornaram amigas especiais, Juliane Menezes que é um anjo na minha vida, Catarina Braga, Juliana Cândido. Aos participantes dessa pesquisa e a Instituição de Acolhimento Nova Vida que permitiu a elaboração deste estudo. Obrigada a todos. A todos os professores que fizeram parte da minha vida durante esses quatro anos. A minha orientadora Lara Silva, pela paciência e dedicação. As professoras Emmanuele Alves e Talitta Albuquerque que aceitaram compor minha banca de defesa. Portanto agradeço a todos que contribuíram de alguma maneira, cada um com seu para a realização dessa conquista.
RESUMO
Sendo assegurados pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), medidas de proteção são tomadas quando qualquer criança ou adolescente tenham seus direitos básicos violados. Atitude provisória e excepcional, utilizada como forma de reintegração familiar, o acolhimento institucional visa garantir os direitos das crianças e adolescentes. Durante o processo da medida, o Serviço Social desempenha o papel de acompanhar as crianças e adolescentes a fim de zelar e garantir os direitos dos mesmos. Com a duração de cinco meses este estudo teve como foco analisar e compreender, de acordo com a visão das adolescentes que se encontram na Unidade de Acolhimento Nova Vida, o que elas entendem pelo papel do assistente social e como ocorre a relação entre elas e este profissional.Assim busco apresentar o que as meninas entendem do trabalho do serviço social, identificar qual a relação existente e avaliar qual imagem as acolhidas tem desse profissional.A natureza da pesquisa é qualitativa, para a construção do presente trabalho, utilizou-se como procedimentos metodológicos a aplicação de questionário com a assistente social que trabalha na unidade, observação direta, pesquisa de campo, entrevistas com as adolescentes, análise de dados documentais, além de pesquisas bibliográficas. O trabalho é composto por três capítulos o primeiro: Adolescentes em uma realidade de institucionalização, o segundo: Unidade de Acolhimento Nova Vida e o terceiro: Resultados da pesquisa. A pesquisa revelou que existe uma relação boa entre as meninas acolhidas e a assistente social da unidade, justificado pelo fato de as meninas viverem em situação de acolhimento e pela proximidade que tem diariamente com a profissional. Por essa razão, as adolescentes demonstraram ter, minimamente, ideia do papel desempenhado pela assistente social.
Palavras-chave: Institucionalização. Acolhimento institucional. Adolescência.Serviço Social.
ABSTRACT
Being provided by the Child and Adolescent (ECA), protective measures are taken when any child or teen to have their basic rights violated. Provisional and exceptional attitude, used as a form of family reintegration, institutional care aims to ensure the rights of children and adolescents. During the measurement process, the Social Service plays the role of monitor children and adolescents in order to ensure and guarantee the rights of same. This study focused on analyzing and understanding, according to the view of teenagers who are on the Unit Home New Life, which they understand the role of the social worker and as the relationship between them and this occurs professional. So I try to present the girls understand the work of social services, which identify the relationship and evaluate what the image has welcomed this professional. To conduct the survey , we used as instruments to a questionnaire with the social worker who works in the unit , field observations , interviews with the teenagers , analysis of documents , and literature searches . The work consists of three chapters the first: Teens in a reality of institutionalization, the second Unit of Hospitality New Life and the third: Search Results. The research revealed that there is a good relationship between the social worker and the girls welcomed the unit, justified by the fact that girls living in the host state and the proximity that has daily and professional. Therefore, adolescents have demonstrated minimally idea of the role played by the social worker. . Keywords: Institutionalization, Institutional care, Adolescence, Social Service.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAPS Centro de Atenção Psicossocial
CF Constituição Federal
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social
CRESS Conselho Regional de Serviço Social
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FUNABEM Fundação Nacional do Bem - Estar do Menor
IAPS Instituto de Apoio e Proteção Social
LOAS Lei Orgânica de Assistência
PNBM Política Nacional do Bem - Estar Social
SAM Serviço de Assistência ao Menor
STDS Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social
ONG Organização Não Governamental
PNCFC Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária
UECE Universidade Estadual do Ceará
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................10
1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADE
DE INSTITUCIONALIZAÇÃO..........................................................................19
1.1 Contexto histórico da institucionalização de crianças e
adolescentes no Brasil.....................................................................................19
1.2 O que define adolescência.........................................................................28
1.3 Adolescentes em situação de acolhimento institucional e o serviço social
nesse contexto.................................................................................................32
2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA................................................41
2.1 A unidade e seus marcos legais.................................................................41
2.2 Localização e espaço físico........................................................................47
2.3 Perfil das usuárias.......................................................................................51
2.4 O papel do serviço social dentro da unidade..............................................53
3. PERCEPÇÕES E RELAÇÕES ENTRE AS ADOLESCENTES
E A ASSISTENTE SOCIAL...............................................................................56
3.1 Relação entre as adolescentes e a assistente social..................................56
3.2 Percepções das adolescentes a respeito da profissional do
serviço social.....................................................................................................58
3.3 Cotidiano e fortalecimento de vínculos........................................................63
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................70
APÊNDICE.........................................................................................................74
10
INTRODUÇÃO
A institucionalização de crianças e adolescentes abandonadas está presente
no Brasil há muito tempo. Sendo possível, segundo Siqueira (2006), constatar que a
institucionalização dos mesmos é uma prática que está arraigada na cultura
brasileira no que tange ao cuidado a este segmento da população. A prática do
acolhimento institucional de crianças e adolescentes é uma medida aplicada como
forma de proteção desses sujeitos que tiveram seus direitos ameaçados ou violados
de algum modo.
O Estatuto da Criança e Adolescente – ECA veio para romper com as
amarras históricas onde os mesmos não tinham seus direitos garantidos, colocando
a proteção integral como direito a ser assegurado. Discutir a questão do adolescente
em situação de acolhimento institucional é de fundamental importância, pois a
integração das políticas públicas e articulação com o poder judiciário contribuem
para obter melhores resultados frente a essa demanda.
O artigo n. 98 do ECA estabelece que as medidas de proteção devem ser
aplicadas com o intuito principal de proteger a criança e o adolescente de qualquer
violação ou ameaça em quaisquer dos direitos, seja por ação ou omissão do Estado,
falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis, seja por razão da própria
conduta. As medidas de proteção referem-se à:
I. encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II. orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III. matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV. inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança
e ao adolescente;
V. requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
11
VII. abrigo em entidade;
VIII. colocação em família substituta.
No que se refere à medida sete, foco deste estudo, o parágrafo único diz:
Parágrafo único – O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como
forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando em
privação de liberdade. Ou seja, o acolhimento institucional é uma medida de
proteção às crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados e necessitam
se afastar temporariamente do âmbito familiar, sendo um recurso que precisa ser
aplicado quando outras formas de proteção são esgotadas.
Todas as entidades que oferecem acolhimento institucional independente da
modalidade de atendimento, devem atender aos pressupostos do ECA. Tais
serviços devem estar localizados em áreas residenciais, sem distanciar-se
excessivamente do ponto de vista geográfico da realidade de origem das crianças e
adolescentes acolhidos; promover a preservação do vínculo e do contato da criança
e adolescente com a sua família de origem, salvo determinação judicial em contrário;
manter permanente comunicação com a Justiça da Infância e da Juventude,
informando à autoridade judiciária sobre a situação das crianças e adolescentes
atendidos e de sua família; trabalhar pela organização de um ambiente favorável ao
desenvolvimento da criança e do adolescente. (BRASIL, 2009)
Assim, devem ser oferecidos serviços de assistência integral à criança e ao
adolescente. Para isso o Estado fica responsável por prover órgãos de apoio como
as instituições de acolhimento para as quais são encaminhadas crianças e
adolescentes que estão expostos a vários tipos de abuso, negligência, exploração,
vulnerabilidade e outras formas de violência.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como a Lei Orgânica de
Assistência Social (LOAS), foram resultado de um processo de movimentos sociais,
onde o Serviço Social, por meio de seus profissionais e entidades representativas,
como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e o Conselho Regional de
Serviço Social (CRESS), atuou junto aos setores da sociedade civil e do Poder
12
Público, na luta pela implementação da política de proteção a infância e
adolescência (CFESS, 2010).
As entidades de acolhimento sejam do âmbito governamental ou não são
responsáveis por zelar pela integridade física e emocional de crianças e
adolescentes que necessita temporariamente se afastar do convívio familiar. É neste
contexto que atua o assistente social, profissional esse que tem um caráter
interventivo frente ao acolher e acompanhar constantemente as crianças e
adolescentes acolhidos e suas famílias.
Os (as) assistentes sociais brasileiros vêm lutando em diferentes frentes e de
diversas formas para defender e reafirmar direitos no campo das políticas sociais.
Inseridos em um projeto societário mais amplo, buscam condições econômicas,
sociais e políticas para construir as vias de equidade, num processo que não se
esgota na garantia da cidadania. O projeto ético político do serviço social é bem
claro quanto aos seus compromissos. Ele:
tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central - a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero. (NETTO, 1999, p.104-5)
O Serviço Social vem se legitimando como uma prática necessária no
contexto das políticas de proteção a infância e adolescência. O assistente social nas
entidades de acolhimento tem um compromisso em assegurar os direitos
fundamentais das crianças e adolescentes e suas famílias. Ou seja, o serviço social
deve instrumentalizar uma prática institucional que compreenda a criança e o
adolescente como sujeitos de direitos.
O objeto aqui é a questão social. É ela em suas múltiplas expressões, que provoca a necessidade da ação profissional, junto com a criança e adolescente [...] Essas expressões da questão social são a matéria prima ou o objeto do trabalho profissional do Serviço Social. (IAMAMOTO, 2009, p.62)
13
Portanto, o assistente social deve atuar para favorecer a autonomia, o
fortalecimento dos vínculos familiares, promover uma articulação entre as políticas
de acesso existente ao adolescente em nossa legislação para com o usuário.
Segundo Faleiros (2007), os (as) assistentes sociais possuem o compromisso
com a qualidade dos serviços prestados, posicionamento em favor da universalidade
do acesso aos bens e serviços, relativos aos programas e políticas sociais públicas,
em defesa da gestão democrática e na luta pela garantia e ampliação dos direitos
sociais relativos à criança e ao adolescente.
O cotidiano em uma unidade de acolhimento é permeado por histórias,
acontecimentos, sentimentos, desejos, solicitações que fazem com que todos os
sujeitos que ali vivem lidem com sensações que podem ser agradáveis ou não.
Dessa forma é quase impossível não ser criado umarelação entre os que
estão acolhidos e os assistentes sociais. Com base nisso, estabeleci como pergunta
principal a ser respondida por este estudo como é realmente a relação da assistente
social com as adolescentes que vivem em situação de acolhimento?
Entretanto, busco a resposta através das percepções das adolescentes. O
estudo apresentado teve como objetivo buscar compreender, de acordo com as
adolescentes abrigadas na Unidade de Acolhimento Nova Vida, como elas
enxergam a assistente social e a relação existente entre as partes, já que este
profissional exerce um trabalho diário com essas meninas, ou seja, existe um
vínculo que é construído cotidianamente.
Além do interesse que sempre tive com o assunto, a escolha de trabalhar com
o tema adolescente em situação de acolhimento institucional foi motivado por conta
da minha experiência de estágio curricular do curso de Serviço Social da Faculdade
Cearense (FAC).
Meu estágio aconteceu na Unidade de Acolhimento Nova Vida, instituição
essa que acolhe adolescentes do sexo feminino na faixa de 12 a 18 anos, tendo
inicio em março de 2012 e fim em agosto de 2013. Considerando que o estágio
14
supervisionado compreende uma atividade educativa de aproximação com a
realidade profissional e apreensão dos conhecimentos teóricos-metodológicos, as
vivências do estágio me possibilitaram uma reflexão sobre a realidade da instituição
no qual estava inserida, acompanhar a realização dos trabalhos exercidos pela
assistente social, onde enquadra-se construção de relatórios, visitas domiciliares,
atendimentos individuais, fortalecimento dos vínculos familiares para que as
adolescentes possam voltar para o seio familiar e quando não possível, a colocação
em uma família substituta etc.
No momento das ações exercidas pelo profissional, no qual estava presente
sempre me atentava ao comportamento das meninas com relação a assistente
social, portanto o despertar para o interesse da pesquisa.
Ao final do período do estágio, inicieiminhas atividades como pesquisadora na
Unidade, passando então a visitá-la uma vez por semana em dias aleatórios, por
exemplo, em uma semana a visita ocorria em uma segunda-feira na próxima já seria
uma terça. Dessa forma poderia conhecer como eram todos os dias da semana na
unidade. Gil (1999, p.45), conceitua pesquisa como:
procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. (...) A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimento científicos (...) ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados. (GIL, 1999, p.45).
Para desenvolver a investigação, optei por uma metodologia de natureza
qualitativa, na busca de melhor detalhar as informações coletadas. Assim, me detive
no “universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes” (MINAYO, 2011, p.21).
Para o conhecimento e análise dos resultados, utilizei de várias técnicas.
Iniciei realizando uma pesquisa bibliográfica, utilizada para destrinchar a história da
institucionalização das crianças e adolescentes no Brasil e para levantar todo o
aporte teórico-metodológico. Dessa forma, trabalhei com livros, teses e artigos
publicados. Boa parte da bibliografia,mencionados no decorrer deste trabalho, é
15
compostas por textos produzidos por escritores que aprofundam a história da
proteção à infância e adolescência e as demais categorias, tais como: Serviço
Social, Institucionalização, Acolhimento Institucional e adolescente.
A técnica de análise documental foi utilizada para verificar nos prontuários das
adolescentes, especificamente, as guias com a ordem de acolhimento e os relatórios
que acompanham as mesmas. Esses documentos foram de extrema importância
para confrontar algumas informações relatadas pelas adolescentes durante a
entrevista.
Oliveira (2007) faz uma importante distinção entre essas modalidades de
pesquisa. Para essa autora, a pesquisa bibliográfica é uma modalidade de estudo e
análise de documentos de domínio científico tais como livros, periódicos,
enciclopédias, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos. Como característica
diferenciadora ela pontua que é um tipo de “estudo direto em fontes científicas, sem
precisar recorrer diretamente aos fatos/fenômenos da realidade empírica” (p. 69).
Argumenta a autora que a principal finalidade da pesquisa bibliográfica é
proporcionar aos pesquisadores e pesquisadoras o contato direto com obras, artigos
ou documentos que tratem do tema em estudo: “o mais importante para quem faz
opção pela pesquisa bibliográfica é ter a certeza de que as fontes a serem
pesquisadas já são reconhecidamente do domínio científico” (p. 69). Ela se
posiciona sobre a pesquisa documental:
“a documental caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação” (OLIVEIRA, 2007, p. 69).
Por saber a importância do olhar durante uma pesquisa, outra técnica
trabalhada foi a de observação de campo. Chizzotti (1991, p.90) aponta a seguir as
características e cuidados necessários para a realização da técnica de observação
direta:
A observação direta ou participante é obtida por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural. O observador participa em interação constante em todas as situações, espontâneas e formais, acompanhando as ações
16
cotidianas e habituais, as circunstâncias e sentido dessas ações, e interrogando sobre as razões e significados dos seus atos. Essa observação exige, porém cuidados e um registro adequado para garantir a fiabilidade e pertinência dos dados e para eliminar impressões meramente emotivas, deformações subjetivas e interpretações fluidas, sem dados comprobatórios.(CHIZZOTTI, 1991, p.90).
Para coleta dos dados, as técnicas utilizadas foram questionários e
entrevistas semi-estruturadas. O questionário segundo Gil, (1999, p.28) pode ser
definido:
como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito à pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc. (GIL, 1999, p.28).
Essa técnica foi utilizada para entrevistar a assistente social da unidade a fim
de confrontar as informações expostas pela profissional com a das adolescentes,
sujeito central do estudo. Não ocorreu critério de escolha nesse caso, já que na
unidade só existe uma assistente social. Optei por entregar a folha com as
perguntas para a assistente social, pois pelas atribuições que a profissional tem na
unidade ela preferiu responder pela forma de questionário, tanto é que ela levou as
perguntas para casa e posteriormente me mandou por e-mail.
Também utilizei a técnica de entrevista semi-estruturada pois a mesma
fornece dados objetivos e subjetivos referentes a comportamentos, crenças, idéias,
opiniões, dentre outros os quais possibilitam mais liberdade para captar conteúdos
do pensamento que serão posteriormente interpretados. Essa técnica foi utilizada
para “entrevistar” as adolescentes, o critério de escolha das meninas foram seis
meninas de 12 a 18 anos que estivessem acolhidas na unidade há seis meses ou
mais, pois com esse tempo imagina-se que as adolescentes já tenham algo a mais
para falar. Entretanto, as mais novas da unidade não queriam participar ou
brincavam e não respondiam as perguntas que eram realizadas, ressalto esse
momento como uma dificuldade encontrada. Diante disso, resolvo então mudar a
idade das entrevistadas, passando a serem meninas de 14 a 18 anos.
Ribeiro, (2008, p.141) trata a entrevista como:
17
A técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a
respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos
e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir
além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a
interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores.
Para Gil (1999), a entrevista é seguramente a mais flexível de todas as
técnicas de coleta de dados de que dispõem as ciências sociais. A entrevista
realizada na pesquisa em questão aconteceu em dois dias, pois decidi dividir as seis
adolescentes para as mesmas não se apressarem em responder, ou seja, que elas
não se preocupassem com o tempo e também foi a maneira encontrada para desviar
dos imprevistos encontrados na unidade, pois em algumas vezes acontecia de
marcar e no dia ocorrer de ter passeio ou as adolescentes terem que sair. Portanto,
em conversa com a coordenadora ficaram três meninas para cada dia. As
entrevistas foram individuais, chamava uma a uma, explicava o motivo daquelas
perguntas, dizia que ia ser gravado, caso concordassem então iniciava.
As adolescentes que participaram da entrevista, se mostraram inicialmente
preocupadas em relatar as suas situações de vida. Para preservar suas identidades
não apresentarei seus nomes, usarei nomes fictícios. Assim ficou: Flor, Bela, Estrela,
Lys, Mel, Sol.
Como as entrevistas foram gravadas, após a transcrição das falas das
adolescentes, realizei leituras do material, buscando destacar os pontos ligados ao
objetivo central de análise desta pesquisa.
No primeiro capítulo, faço uma contextualização sobre adolescentes em uma
realidade de institucionalização a partir de três itens: no primeiro destaco o contexto
histórico, procuro destrinchar a história da institucionalização de crianças e
adolescentes no Brasil até o modelo atual, dessa forma é possível entender como
surgiu, a interferência da religião, as leis que foram criadas, ou seja, a intenção
desse percurso histórico é verificar as mudanças ocorridas no tema. Nesse tópico,
os estudos importantes como os de Rizzini e Rizzini (2004), Marcilio (1997), dentre
outros são citados. No segundo item apresento a definição de adolescência com a
qual trabalhei, uma vez quesujeitos da pesquisa são adolescentes. Procurei dialogar
18
com os autores que discutem essa categoria, tais como: Tiba (1986), Becker (1994),
Georges (2008) etc. No último item falo sobre adolescentes em situação de
acolhimento propriamente dito e o papel do serviço social nessa realidade, onde cito
Goffman (2007), Rizzini e Rizzini (2004), ECA (1990), Martinelli (1999) dentre outros.
Apresento o segundo capítulo através de quatro tópicos. Inicio falando sobre
a unidade e seus marcos legais, descrevendo no segundo tópico sobre a localização
e espaço físico, o surgimento, e seu quadro de funcionários. No terceiro tópico falo
sobre o perfil das meninas eno último o sobre o trabalho do serviço social na
unidade, expondo como atua a assistente social na instituição. Ou seja, nesse
capítulo o objetivo é que o leitor conheça as características da unidade pesquisada.
No terceiro capítulo trato dos resultados da pesquisa, inicio demonstrando o
perfil das adolescentes entrevistadas. No segundo tópico, mostro a visão das
adolescentes entrevistadas sobre o papel do serviço social, ou seja, o que elas
acham que o assistente social faz, continuo apresentando as informações obtidas
pelo questionário que foi aplicado a profissional da unidade e no ultimo tópico
exponho o resultado da entrevista realizada com as adolescentes onde o objetivo da
pesquisa é relatado.
19
1. ADOLESCENTES EM UMA REALIDADE DE INSTITUCIONALIZAÇÃO
Por não ser um assunto recente e ter sofrido várias mudanças como mostrarei
a seguir, a problemática da institucionalização na infância e na adolescência
representa uma dimensão importante de estudo na atualidade, por estar presente na
realidade de muitas famílias que encontram-se em condições socioeconômicas
desfavorecidas o que dificulta que cumpram seus pais de guardiãs da infância e da
adolescência.
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NO BRASIL
O Brasil possui uma longa tradição de internação de crianças e jovens em
instituições. Desde o período colonial, foram sendo criados no país colégios
internos, seminários, asilos, escolas de aprendizes de artificies, educandários,
reformatórios, dentre outras modalidades institucionais surgidas ao sabor das
tendências educacionais de cada época (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.22).
Essa tradição teve inicio em 1549, com a Congregação Religiosa Companhia
de Jesus, no qual investiu todo o seu trabalho apostólico em território brasileiro na
conversão dos nativos. O otimismo do começo das atividades se transformou em
desafio, já que os padres foram percebendo a dificuldade na evangelização dos
nativos adultos. Diante disso a prioridade passou a ser o ensino das crianças.
Consolidava-se a convicção de que os meninos índios não somente se convertiam
mais facilmente, como também seriam o grande meio para a conversão dos adultos.
“Outras ordens como a dos Frades Menores, se ocuparam da conversão no século
XVI, e também do ensino dos portugueses” (CHAMBOULEYRON, 2004, p.56).
Entretanto, os jesuítas ocuparam um papel central nesse processo.
Azzi (1992, p.11) retrata que “Os jesuítas criaram colégios nas principais vilas
e cidades dos primeiros tempos da colonização: Salvador, Porto Seguro, Vitória, São
Vicente, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, e, no século XVII, Recife, São Luís do
Maranhão e Belém do Grão-Pará”, constituindo-se assim os principais agentes
educacionais no Brasil, até serem expulsos pelo Marquês de Pombal, em 1759.
20
Em 1550 e 1553, para auxiliar nesse processo de conversão, foram criadas
as Casas dos Muchachos, custeadas pela Coroa portuguesa, onde abrigavam os
“curumins” ou “meninos da terra” e se constituíam em “um posto avançado de
transmissão e inculcação dos valores do invasor aos invadidos no processo de
colonização portuguesa” (Janice Theodora da SILVA 1984 apud SPOSATI, 1988,
p.62).
De acordo com Arruda (2006), posteriormente estas casas foram também
ocupadas por órfãos e enjeitados de Portugal:
Os castigos eram frequentes nas Casas, principalmente àqueles que fugiam delas. Entretanto, os padres não tinham o costume de aplicar pessoalmente os castigos delegando a alguém de fora da Companhia essa tarefa, (p.20).
Isso ocorreu devido aos problemas com os meninos que chegavam à
puberdade, como a própria dificuldade na evangelização dos adultos, levaram os
padres a utilizar o temor e a sujeição para converter, estruturando, assim, um
sistema rígido de disciplina, vigilância e castigos corporais, salienta a autora.
Na época da escravidão, em tempos de grandes desembarques dos negros
que vinham da África, as crianças representavam apenas dois entre dez adultos
(homens e mulheres) não havia um mercado propriamente dito de crianças cativas:
“As transações se faziam com frequência nas etapas finais da infância” (Arruda,
2006, p.22). Ou seja, o principal objetivo de investimento senhorial eram as mães e
não seus filhos. Segundo Góes e Florentino (2004, p.177), “As crianças que as
fazendas compravam não eram o principal objeto de investimento senhorial, mas
sim as suas mães, que com eles se agregavam aos cafezais, plantações de cana de
açúcar e demais”.
Considerando as condições precárias vivenciadas nessa época, essas
crianças que escapavam da morte, muito cedo perdiam seus pais, seja por morte,
mudança de local de trabalho ou pela sua doação. Entretanto, existia uma rede de
relações escravas, em especifico as de tipo parental. Os pais quase sempre
providenciavam um padrinho ou madrinha logo ao nascimento da criança, para a
21
mesma não correr o risco de abandono. De acordo com Rizzini e Rizzini (2004,
p.28),
não se descobriu até hoje a existência de qualquer instituição que tenha atendido exclusivamente a filhos de escravas ou ingênuos. Estes estavam submetidos ao domínio dos senhores. Os proprietários eram responsáveis por alimentar, vestir, preparar para o trabalho e disciplinar os escravos e também os ingênuos, se assim o preferissem, pois a Lei do Ventre Livre (1871) permitia aos senhores manterem seus ingênuos até os 21, com o compromisso de educa-los.
No século XVIII, surgem as primeiras instituições exclusivas para proteção à
criança desvalida no Brasil. Foram elas as Rodas dos Expostos e os Recolhimentos
para Menores Pobres. Relatado por Arruda (2006), a roda dos expostos tinha por
finalidade dar proteção aos bebês abandonados. Criado na Europa medieval
procurava manter o anonimato dos expositores, desta forma defendiam a honra das
famílias cujas filhas engravidaram antes do casamento.
Realizado pela Santa Casa de Misericórdia, a roda tinha uma forma cilíndrica,
dividida ao meio por uma divisória, e era fixada no muro ou na janela de uma
instituição. Esses cilindros rotatórios de madeira originaram-se nos monteiros e
conventos medievais, no qual eram utilizados como meios para receber objetos,
alimentos e mensagens para os residentes, ainda ressalta a autora.
De acordo com Arruda (2006), no Brasil, a Roda do Expostos foi uma das
instituições de maior duração: “na Colônia, perpassou e multiplicou-se no período
imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente na
recente década de 1950!”.
A roda evitou que centenas de crianças fossem abandonadas nas ruas,
porém sua existência trazia consigo uma forma de incentivo ao abandono devido à
facilidade em deixar a criança para que esta fosse cuidada pela instituição. Este
modelo de atendimento perdurou no Brasil até o período da República quando
houve a organização da assistência à infância no país e também com a interferência
da ação normativa do Estado. (RIZZINI, 1993).
22
Entretanto, como era impossível dar conta de todas as crianças
abandonadas, pois o trabalho era uma tarefa pesada, demorada e difícil, muitas
destas crianças acabavam por perambular pelas ruas, prostituindo-se ou vivendo de
esmolas e pequenos furtos. Pois as Santas Casas de Misericórdia que eram
responsáveis não tinham mais condições de cuidá-las.
Em 1700, um rico comerciante deixou toda sua herança para a Santa Casa de
Misericórdia da Bahia, para a fundação do primeiro Recolhimento destinado ao
amparo das meninas pobres. Sobre recolhimentos de menores, relata Arruda (2006),
estes seriam complementares a roda, tendo como objetivo principal proteger a honra
das meninas, oferecer instrução, treinamento pessoal e fornecer um dote para o seu
futuro casamento.
Marcilio (1998, p.164) aponta que o termo recolhimento, “era usado para
identificar instituições femininas de reclusão, erguido com fins devocionais,
caritativos ou educacionais”. O segundo Recolhimento para meninas foi criado em
1739 no Rio de Janeiro. Porém era possível verificar divisores raciais dentro dos
recolhimentos. Desta forma para “órfãs brancas” era oferecida a formação religiosa,
moral e prática de boas empregadas domésticas e donas-de-casa, para as “meninas
de cor” era oferecida a formação de empregadas domésticas e semelhantes (Irma
RIZZINI 1993 apud RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.27).
Em 1825 foi criado o Seminário da Gloria, recolhimento para meninas em São
Paulo. Em tais abrigos, exercia-se um intenso controle sobre a sexualidade. Birolli
(2000, p. 170) afirma que:
Havia uma seleção para saber para onde as meninas deveriam ser encaminhadas: quando virgens poderiam ir, para os mais diversos recolhimentos, caso contrário, eram enviadas ao Asilo Bom Pastor que foi criado 1985, e era a única instituição que se propunha ao trabalho de recuperar as meninas “perdidas”. Neste asilo havia uma seção “especial” onde as meninas que eram ali recolhidas vinham mandadas pelos tutores e até pelos próprios pais, quer seja para castiga-las, quer seja por vergonha diante da perda da virgindade das filhas.
Com relação aos meninos, se tornava mais problemático, devido ao fato de
não haver uma preocupação com honra e virtude. Informa Marcilio (1998, p.178)
23
“Como eles não eram alvo das mesmas preocupações com a honra e virtude, como
no caso das meninas, raras foram as instituições criadas para protegê-los, antes
meados do século XIX”. Ainda menciona o autor, a primeira instituição para cuidar
dos meninos abandonados foi a Casa Pia e o Seminário de São Joaquim, na cidade
de Salvador. A segunda foi criada em São Paulo em 1824, seminário de Santana.
Posteriormente surgiram as Companhias de Aprendizes Marinheiros e as
Companhias de Aprendizes do Arsenal da Guerra, onde os meninos podiam
permanecer por nove anos ou até atingir a maioridade. Após aprenderem o oficio,
eram encaminhados aos navios de guerra, conforme Nascimento (1999, p.75) “as
Companhias de Aprendizes Marinheiros, por exemplo, forneceram, entre 1840 e
1888, 8.589 meninos aptos para o serviço nos navios de guerra, contra 6.271
homens recrutados à força e 460 voluntários”.
Nos últimos anos do Império, foram criadas várias instituições para atender os
imigrantes, considerando o grande fluxo migratório naquele período. Como exemplo,
aparece o Orfanato Cristóvão Colombo, em 1895, que estava voltado ao amparo e
educação de filhos de imigrantes italianos.
Ainda segundo Arruda (2006), devido à necessidade de desenvolver novos
hábitos produtivos em substituição à mão-de-obra escrava liberta, surgiram novas
formas assistenciais em São Paulo.
Galvão (2005) ressalta que a infância desponta como parte da questão social
no final do século XIX, a partir da adoção do modelo republicano, marcado “pela
industrialização e pelo crescimento de duas grandes cidades, Rio de Janeiro e São
Paulo, pela abolição da escravatura, pela criação da força de trabalho livre urbana e
forte onda de imigração do estrangeiro” (p.10). Completa Sposati (1988, p.103),
entre o século XIX e o inicio do século XX varias instituições foram criadas. Tendo
como consequência um novo olhar sobre a assistência à infância no Brasil.
Se a grande questão do Império brasileiro repousou na ilustração do povo, sob a perspectiva da formação da força do trabalho, da colonização do país e da contenção das massas desvalidas, no período republicano a tônica centrou-se na identificação e no estudo das categorias necessitadas de
24
proteção e reforma, visando ao melhor aparelhamento institucional capaz de “salvar” a infância brasileira no século XX. (RIZZINI, 2004, p.28).
Desta forma, afirma Arruda (2006), tanto o processo de industrialização, bem
como o crescimento demográfico, a concentração urbana das populações e o
aumento dos índices de pobreza colocaram em evidência a criança e o adolescente
abandonado e/ou infrator. Isto levou a uma exigência de respostas do Estado à
questão que vinha se configurando, pois as instituições filantrópicas já existentes
que atendiam adolescentes, não queriam acolher jovens “incriminados
judicialmente”.
Salienta a autora, diante de tantas pressões, o Estado cria várias instituições
de regime prisional para o atendimento destes “menores” no Brasil. Em 1902 surge o
Instituto Disciplinar de São Paulo, posteriormente chamado de Reformatório Modelo,
esse instituto se deu em regime prisional com o objetivo de recuperar o jovem
infrator.
O movimento para elaboração de leis que protegessem e assistissem a
infância culmina no Rio de Janeiro, com a criação do primeiro Juízo de Menores do
país, na época como foi chamado e na aprovação do Código de Menores, em 1927,
idealizado por Mello Mattos, que foi o primeiro juiz de menores do Brasil.
O referido Código baseava-se no direito do juiz em tutelar o menor em situação irregular, configurando-se como objeto de medidas [...] o controle social dos menores em situação irregular quase sempre era estabelecido através do internato provisório, medida aplicada pelo juiz justificada pela incapacidade dos pais em mantê-los financeiramente o que não tivesse tempo e condições de fazê-lo [...] (AZEVEDO, 2004, p.98).
Segundo Galvão (2005), decorrente a criação do primeiro Código de
Menores, crianças e adolescentes passam a ser foco de políticas públicas, deixando
de ser objetos de caridade. O Código trazia o ideário higienista, propondo-se a
difundir “as noções elementares de higiene infantil entre as famílias pobres,
destacando-se a necessidade de vacinação e de proteção às crianças, aos doentes
e aos moralmente abandonados” (Vieira, 2003 apud Galvão, 2005, p.09).
25
Rizzini e Rizzini (2004) retratam o teor preconceituoso acerca do modo como
eram rotulados “os menores”:
“A produção discursiva de todo o período da forte presença do Estado no
internamento de menores é fascinante, pelo grau de certeza científica com
que as famílias populares e seus filhos eram rotulados de incapazes,
insensíveis, e uma infinidade de rótulos”. (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p.31)
Assim, a preocupação com a infância pobre era de que a mesma futuramente
constitui-se uma “classe perigosa”.
Ressalta Arruda (2006), em 1941, no Rio de Janeiro, é implantado pelo
governo de Getúlio Vargas o Serviço de Assistência ao Menor (SAM). Neste
período, era preciso intervir junto ao menor em nome da defesa nacional. Segundo a
autora, o SAM criou fama de “fabricar criminosos”. A passagem pelo SAM tornava o
jovem temido e rotulado. Eram feitas várias denúncias em relação a esse serviço.
Em São Paulo, a partir da década de 40, a situação dos menores institucionalizados
tornou-se foco de discussões, principalmente devido à violência nos internatos.
Através destas discussões, o Juizado de Menores de São Paulo instituiu,
através da Lei de Colocação Familiar, o Serviço de Colocação Familiar, em 1949.
Tinha por objetivo evitar a internação dos jovens, garantindo-lhes “o direito a um
ambiente familiar e com recursos materiais possibilitadores de atendimento às suas
necessidades naturais de crescimento e desenvolvimento” (Arruda, 2006, p.30).
Essa lei permitia então, além da ação de colocação em lar substituto, o atendimento
do menor em seu próprio meio familiar.
A famílialevanta a autora, passa a ser defendida como valor universal e única
solução para atingir o bem-estar do menor. Portanto, recai sobre a família a
responsabilidade pelo abandono e “delinquência”. Assim, punia-se com a perda do
poder familiar os pais que não tivessem possibilidade de prover as necessidades
básicas das crianças e adolescentes.
26
Em 1964, ocorre com o golpe Militar, desponta um governo marcado pela
restrição de direitos. É instituída, neste regime, a Política Nacional do Bem – Estar
do Menor (PNBM) e, como agente executora desta política, surge a Fundação
Nacional do Bem – Estar do Menor (FUNABEM). Desta forma, a questão do menor é
inserida nos aspectos psicossociais da política de segurança, uma vez que
problemas sociais tais como o abandono e corrupção de menores poderiam
desencadear uma desestabilização da ordem vigente (GALVÃO, 2005).
Entretanto, segundo Arruda (2006), apesar da tônica de não internação, a
censura e o silêncio auxiliavam poderosamente os oficiais a manterem a política de
internação “nas piores condições que fossem, longe dos olhos e ouvidos da
população” (p.31).
Rizzini e Rizzini (2004) informam que:
“De 1967 a 1972, havia-se ‘recolhido’ das ruas, na cidade do Rio de Janeiro, cerca de 53 mil crianças. Em são Paulo, eram 33 mil internos, valorizando assim, a ação institucional pela demonstração da gravidade do problema dos menores’”. (RIZZINI E RIZZINI 2004, p.37)
Na cidade de São Paulo, era comum enviar crianças para internatos no
interior. Assim, afastava-se a criança da família, realizando uma “limpeza” nas ruas
da cidade. As crianças eram internadas onde houvesse vagas, independente do
local da moradia da família.
De acordo com Azevedo (2004), Em 1979 foi instaurado o Novo Código de
Menores. Nele o Estado é isento da responsabilidade de manter a subsistência de
crianças e adolescentes, sendo esta repassada aos pais. Dessa maneira, a lei não
levava em consideração as condições de vida precárias de grande parte das famílias
brasileiras. Os pais que não cumprissem seu “dever” eram punidos, podendo até
perder os filhos. Dessa forma:
[...]O menor passou a ser definido como em situação irregular quando privado, ainda que temporariamente, de condições essenciais a sua subsistência, saúde e instrução. Essa nova lógica continuava atribuindo aos pais ou responsáveis o encargo pelas privações da menoridade (SANTOS, 2004, p.122).
27
Somando todas essas ações em favor da criança e do adolescente, a partir
da década de 1980, a historia da institucionalização de crianças e adolescentes
toma outros caminhos. Outras questões também começavam a mobilizar mudanças:
o fortalecimento da cultura democrática; a pressão dos movimentos sociais; vários
estudos que demonstravam os prejuízos da institucionalização para o
desenvolvimento das crianças e adolescentes (RIZZINI e RIZZINI, 2004, P.64). Em
1987 ocorre a instalação do SOS Criança, que agiu como uma central de triagem e
encaminhamento de crianças e adolescentes para um abrigamento.
Já em 1990, levanta Arruda (2006), é incluído o artigo 227 na Constituição
Federal:
Art.227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão. (Brasil – Constituição da República Federativa do Brasil; 2001: 135,136).
A Constituição Cidadã reafirmou os direitos já garantidos pela Declaração
Universal dos Direitos do Homem e pela Declaração dos Direitos da Criança, ambas
elaboradas pela ONU e também ressaltou a importância do direito de crianças e
adolescentes à convivência familiar e comunitária.
Ainda no mesmo ano, é instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). Trata-se de um marco para os direitos da população infanto-juvenil brasileira.
Desta forma, instala-se o paradigma de direitos e proteção integral à criança e ao
adolescente. Portanto, é determinada uma nova forma de gestão participativa entre
Estado e Sociedade. A partir do ECA, afirma Galvão (2005), passa-se a exigir um
novo padrão de atuação do Poder Público. Houve uma descentralização, uma
ampliação das responsabilidades do poder local, assim como um desenvolvimento
da política social. Criando assim, os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacionais
da Criança e Adolescente. Em relação à sociedade civil, foi conferido o direito de
participação na definição de diretrizes e acompanhamento do programa através do
Conselho de Direitos e Conselho Tutelar.
28
O Estatuto reforça a proposta da desinstitucionalização, que já vinha
ganhando força através dos movimentos sociais da época buscando romper com as
antigas práticas de institucionalização. Portanto o ECA traz em seu conteúdo um
capítulo exclusivamente voltado para o direito à convivência familiar e comunitária e
ressalta em seu artigo 19 que “toda criança ou adolescente tem direito a ser criado
no seio de sua família”. (Brasil, 1990) O Estatuto prioriza o direito à convivência
familiar e comunitária, entendendo que a família é a estrutura vital para o
desenvolvimento das pessoas e a base social do Estado. A partir deste
entendimento prevê que o acolhimento institucional e/ou a internação devem ser
utilizados em última instância, quando todas as alternativas possíveis forem
esgotadas.
Concomitante a criação do ECA, ocorre também a aprovação da Lei Orgânica
da Assistência Social em 07 de dezembro de 1993, com a finalidade de reforçar a
necessidade de se continuar avançando na estruturação de serviços de qualidade
na área da infância e da adolescência em situação de abandono, encontrando-se
em vigor até os dias atuais.
Assim, conclui-se que as mudanças constitucionais que dizem respeito a
proteção de criança e adolescentes, permitiu que as mesmas fossem reconhecidas
como pessoas em peculiar estágio de desenvolvimento necessitando assim de
proteção integral e especial da família, da sociedade e do Estado, sendo este último
responsável pela criação e execução de políticas públicas específicas para a
garantia dos direitos fundamentais deste grupo.
1.2 O QUE DEFINE ADOLESCÊNCIA
Sendo os sujeitos da pesquisa adolescentes em situação de acolhimento
institucional, se torna necessário entender como se define essa fase, conceituar
adolescência se torna um desafio visto que é um termo repleto de análises. O
período da adolescência é a fase de vida do ser humano em que o sistema biológico
de transição sai da infância e entra na vida adulta. De acordo com a psicanalista
argentina Aberastury (1981, p.89). “[...] a criança, queira ou não, vê-se obrigada a
29
entrar no mundo adulto”, essa expressão resume notoriamente este momento
singular, pelo qual todo sujeito vivencia.
Uma palavra com dupla origem etimológica caracteriza muito bem as
peculiaridades desta etapa da vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olecer (crescer),
significando a condição de processo de crescimento. Em resumo, o individuo apto
para crescer. A adolescência também deriva do adolescer, origem da palavra
adoecer, temos assim, nesta dupla origem etimológica, um elemento para pensar
esta etapa da vida: aptidão para crescer não apenas no sentido físico mais também
psíquico e para adoecer em termos de sofrimento emocional, com a s
transformações biológicas e mentais que operam nesta faixa da vida (OUTEIRAL,
1994 P.06).
De acordo com Tiba (1986), a palavra adolescência vem do latim “adolescer”
e seu significado é crescer, tornar-se maior, desenvolver-se e por fim atingir a
maioridade. Sendo que, a adolescência é um processo em que o ser humano passa
por um desenvolvimento, uma fase importantíssima na vida de qualquer individuo,
fase ativa que ocorre ás mudanças biológicas e psicológicas para formação da
identidade, estando também relacionadas aos fatores socioeconômicos, histórico e
cultural existente no meio familiar, na sociedade etc., ou seja, no meio em que vive.
Para Becker (1994), adolescência é esta numa fase conflituosa de mudança
de identidade e da personalidade sendo o adolescente encarado pelos adultos como
um ser em desenvolvimento e conflito. Fase ocorrida depois da infância, a
adolescência é vista como uma pedra no caminho para a entrada na vida social,
havendo uma separação escolar devido á pressa em chegar a vida adulta como
explica o autor:
Com ascensão da burguesia como classe dominante, houve mudanças na
estrutura escolar, surgindo á formação primária e secundária. Assim, a idade, classe escolar e adolescência passou a ser melhor distinguida” (Becker, 1994, p.58).
Assim, sendo a adolescência um período em que o sujeito se vê a frente há
muitos desafios, descobertas, frustações e conquistas. É um momento de
transformações biopsicossociais que fazem parte do referido período. Cada vez
30
mais os adolescentes procuram sua autonomia e independência, principalmente a
financeira, em relação aos pais ou aos adultos em geral. Procuram se diferenciar
dos moldes já existentes e buscam novas formas de construir sua identidade.
Segundo o ECA no seu art. 2°, adolescente é aquela pessoa que tem entre 12
anos completos e 18 anos incompletos de idade, mas em casos expressos em lei,
aplica-se excepcionalmente este Estatuto as pessoas entre dezoito e vinte e um
anos de idade. Reconhecendo que o adolescente para o pleno e harmonioso
desenvolvimento de sua personalidade, em virtude da sua ausência de maturidade,
necessita de proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal, tanto
antes quanto após o nascimento. (ECA, 1990).
Para Georges (2008), a adolescência é um processo de crescimento e
transformação que leva o jovem a chegar até a maioridade, tornando-se adulto, ou
seja, a adolescência sucede na passagem da fase da criança para a adulta, sendo o
momento em que a pessoa sofre modificações e transformações no comportamento,
portanto podemos afirmar que adolescente é aquele individuo em transformação.
É durante a adolescência que se observa, com mais nitidez, a relação entre
as necessidades biológicas e as necessidades culturais, que Vygotsky (1996),
descreve por interesses. Assim, com o amadurecimento e aparição de novas
atrações e necessidades internas: o que antes não despertava interesse pode se
converter em objeto fundamental.
Portanto, para Vygotsky (1996), é possível dizer sobre as etapas da
adolescência como um processo na formação da personalidade, onde há um
movimento dinâmico, com diferentes fases e etapas distintas de desenvolvimento de
novos interesses. Estas etapas coincidem com o ritmo de amadurecimento biológico.
Para o autor russo, são precisamente descritas três fases da adolescência: o
crescimento (processo de desenvolvimento do organismo); a crise (processos
críticos e novos de mudanças violentas); e amadurecimento (processos que vão
configurar os elementos internos do adulto). Estas fases determinarão
fundamentalmente o estado de amadurecimento sexual, caracterizado através de
31
um novo sistema de atrações orgânicas, onde aparecem novas necessidades e
impulsos, que constituirão a base de todo o sistema de interesse do adolescente.
A adolescência é caracterizada por uma gama de sentimentos diversos,
indescritíveis e inexplicáveis. Os desejos e as ações dos jovens são imprevisíveis, o
que é bom hoje, pode não ser amanhã.
Uma das tarefas essenciais da adolescência é a estruturação da identidade. Embora comece a ser “construída” desde o inicio da vida do indivíduo, é na adolescência que ela se define se encaminha para um perfil tornando esta experiência um dos elementos principais do processo adolescente (OUTEIRAL, 1994, p.71).
Para Groppo (2000, p. 12), a importância do aprofundamento dessa categoria
social se dá “para o entendimento de diversas características das sociedades
modernas, o funcionamento delas e suas transformações”. Para a maior parte dos
estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente é viver um período de
mudanças físicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traçar o perfil da
população.
A adolescência é, portanto, o período situado entre a infância e a vida adulta e vai se configurar basicamente numa série de mudanças em todos os níveis dos ser, adicionada da experimentação de das essas novidades físicas, hormonais, intelectuais, culturais, emocionais, familiares, sociais, morais, etc. (PIGOZZI, 2002, p. 26).
Ressalta Teixeira (2003), que a adolescência adquiriu diferentes
configurações na história das civilizações. Até o sec. XVIII, o indivíduo passava da
infância para a fase adulta, onde ele convivia e aprendia com os adultos sobre a vida
e como deveria se comportar socialmente. Somente no século XIX, que a
adolescência passou a ser definida com características específicas, que
diferenciavam-na da infância e da idade adulta. Dessa forma a adolescência e a
juventude, provavelmente, diferem-se pelo fato da primeira estar mais próxima à
infância e a segunda à vida adulta, à maturidade.
Na etapa da adolescência, o jovem depara com grandes mudanças, adquire
novas habilidades e enfrenta diversos desafios (Steinberg, 1999). A realidade da
institucionalização pode ser uma destas grandes mudanças.
32
1.3 ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E
O SERVIÇO SOCIAL NESSE CONEXTO
Goffman (2007, p.11), em suas pesquisas sobre modelos institucionais,
priorizou as chamadas “instituições totais”. Caracterizando instituição total como um
local de residência e trabalho onde um determinado número de indivíduos com
situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período
de tempo levam uma vida fechada e administrada. Destacando que todas as
instituições têm tendências ao fechamento:
Quando resenhamos as diferentes instituições de nossa sociedade ocidental, verificamos que algumas são muito mais fechadas do que outras. Seu “fechamento” ou seu caráter total é simbolizado pela barreira em relação com o mundo externo e por proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico [...]. A tais estabelecimentos dou o nome de instituições totais [...]. (GOFFMAN, 2007, p.16).
Nesse contexto o autor as elenca em cinco tipos de instituições totais:
1. Para cuidar de pessoas incapazes e inofensivas (órfãos, indigentes).
2. Para cuidar de pessoas incapazes de cuidar de si e que ameaçam a sociedade,
embora não
intencionalmente (doentes mentais, leprosos, tuberculosos).
3. Proteger a comunidade de perigos intencionais (cadeias, penitenciarias).
4. Realizar de modo mais adequado uma tarefa de trabalho (quartéis, internatos,
colônias)
5. Refugiar-se do mundo, locais de instrução religiosos (conventos, mosteiros).
Segundo Rizzini e Rizzini (2004), a institucionalização faz parte de uma longa
realidade histórica do país. Por isso o fato continua eminente e provocando debates
com objetivo de alternativas urgentes para essa situação. As autoras também
ressaltam que na atualidade o tema apresenta maior conscientização da
necessidade de focar a atenção para as causas dos problemas que têm levado a
abrigagem, termo como era utilizado antigamente a questão do acolhimento de
crianças e adolescentes e a eminência de buscar formas de apoiar e possibilitar a
permanência dos mesmos junto às suas famílias e comunidades.
33
Segundo Ferreira (1995), abrigo no contexto de institucionalização é definido
como: 1- lugar que abriga; refúgio; moradia; abrigada; abrigadouro. 2- cobertura,
teto. 3. casa de assistência social onde se recolhem pobres, velhos, órfãos ou
desamparados.4- local que oferece proteção contra os rigores do sol, da chuva, do
mar ou do vento. 5- túnel, caverna ou construção subterrânea usada como refúgio e
para proteção durante ataques aéreos. 6- agasalho, em geral, impermeável, usado
em ocasião de mau tempo. 7- asilo, amparo, socorro, proteção.
O termo “abrigo” nasceu com a discussão do ECA, na década de 80. De
acordo com a história, eram instituições que tinham como objetivo separar do
espaço público aquilo que provocava desordem social e ia contra a dignidade
humana, neste caso o abandono e maus-tratos de crianças. Durante séculos, essa
opinião influenciou a formulação de políticas de proteção aos pobres, órfãos e
abandonados. Colaborou para conservar a ideia de que o acolhimento de crianças
em instituições é a medida social mais ajustada em situações de risco.
O acolhimento institucional é um atendimento voltado às crianças e
adolescentes que, de alguma maneira, tiveram seus direitos ameaçados ou violados,
por isso necessitaram ser afastados do convívio familiar de modo temporário. Essa
medida está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que o termo
“abrigamento”, que antes definia a situação, foi substituído (com a Lei 12.010/09 –
“Lei da adoção”) pela terminologia “acolhimentoinstitucional”.
O desenvolvimento dos abrigos surge primeiramente com objetivos
higienistas e correcionais. Após a promulgação da Constituição Brasileira de 1988 e
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os abrigos passam a figurar como
uma medida de proteção provisória. Artigo (92 e 100) do estatuto: “a
excepcionalidade e a brevidade do programa de Acolhimento Institucional, obrigando
que se assegure a preservação dos vínculos familiares e a integração em família
substituta quando esgotados todos os recursos de manutenção na família de
origem”
O ECA estabelece que o abrigo “deve ser uma medida protetiva, excepcional
e provisória, que visa, em um primeiro momento, retirar a criança ou o adolescente
34
da situação de risco em que se encontra” (ABAID 2008, p.50) .Desta forma, tem por
função atender as necessidades diversas do individuo em desenvolvimento.
Entretanto, tal medida deverá ser temporária até que a família biológica esteja
preparada para receber a criança ou o adolescente novamente ou aconteça a
inserção destas em outro lar autorizado judicialmente.
A medida é aplicada a qualquer criança e adolescente, violados ou
ameaçados em seus direitos básicos, pela ação ou omissão do Estado, omissão ou
abuso dos responsáveis, ou também em razão de sua própria conduta, quando
considerada inadequada (FERNANDES, SANTOS, e GOTIJO, 2007).
De acordo com Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007), a separação
involuntária dos pais, bem como a exposição à exploração, violência e abuso, tanto
dentro do próprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa
permanência de crianças e adolescentes em instituições abertas ou fechadas, como
abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquiátricas.
Azevedo e Guerra (2000) descrevem que nos abrigos pode ser encontrado
um perfil de crianças e jovens que incluirá: as mal amadas, que sofrem as mais
variadas formas de abusos afetivos; as mártires, que acabam sucumbindo às várias
formas de violência; as abandonadas, que foram atingidas pela negligência e
desamparo; as comercializadas, que foram transformadas em mercadorias na rede
de prostituição e crime organizado; as trabalhadoras, que se tornaram
mantenedoras da própria família; e as marginais, que encontraram no furto uma
forma de subsistência.
No interior de um quadro de extrema pobreza vivida pela família, muitas crianças acabam indo para um abrigo, são abandonadas ou entregues em adoção. São crianças que têm a violência social como cenário de circulação mesmo antes do seu nascimento, período em que as mães não tiveram acesso a serviços apropriados para o atendimento pré e perinatal [...] (FÁVERO, 2007, p. 16).
As medidas de proteção como o abrigamento são consideradas necessárias
quando, de acordo com Siqueira e Dell’Aglio (2006), a família não desempenha o
seu papel de apoio e proteção, tornando-se um fator de risco tanto para o
desenvolvimento como bem-estar de crianças e adolescentes.
35
As autoras Rizzini, Rizzini, Naif e Baptista (2006), referem como principais
causas do afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias, situações
classificadas como violações de direitos da criança e do adolescente (ECA, 1990),
caso da violência intra-familiar, como abuso físico, negligência, abuso sexual, entre
outros. As autoras salientam ainda que quando há possibilidades de superação
desses problemas, a situação de pobreza, que se mantém, acaba sendo outro
obstáculo, por essa condição poder refletir em ameaças aos direitos da criança e
adolescentes.
Segundo Azevedo e Guerra (2000), as crianças institucionalizas são aquelas
que na maioria foram vítimas de uma violência marcada pela dominação de classes
e desigualdade social, que requerem a proteção do Estado. Uma violência dita como
estrutural, característica do sistema econômico e político que atinge principalmente
as camadas menos favorecidas. De acordo com as autoras, estas crianças e
adolescentes são consideradas de alto-risco, pois foram violados seus direitos
humanos mais elementares, como a vida, alimentação, saúde, educação,
segurança, lazer, moradia etc.
De acordo com Cavalcante, Magalhães e Pontes (2007), a separação
involuntária dos pais, bem como a exposição à exploração, violência e abuso, tanto
dentro do próprio lar como externamente, servem como justificativas para a longa
permanência de crianças e adolescentes em instituições abertas ou fechadas, como
abrigos, orfanatos, internatos, hospitais e unidades psiquiátricas.
Como já mencionado, no ECA o acolhimento é definido como uma medida de
proteção. Desse modo, as unidades de acolhimento são como uma moradia
alternativa, onde os acolhidos ali permanecem até o retorno para sua família ou a
colocação em família substituta, no qual é um novo lar, um novo ambiente no qual o
adolescente em questão será encaminhado.Historicamente, crianças e adolescentes
recebiam o mesmo tipo de atendimento, independente da situação em que se
encontrassem. A legislação já não permite mais essa prática, visto que, dividiu as
formas de proteção em modalidades diversas. Ocorre assim a distinção entre
medida protetiva e medida socioeducativa.
36
As medidas socioeducativas não são aplicáveis às crianças, mas apenas aos
adolescentes, ou seja, aqueles entre doze e dezoito anos de idade. Para aqueles
que possuem idade inferior, apenas as medidas de proteção lhe são encaminhadas,
qualquer que seja sua ação.
“[...] a criança também pratica ato infracional, mas a ela não são aplicáveis medidas socioeducativas, apenas medidas de proteção [...] ao adolescente, podem ser aplicadas medidas sócio-educativas ou medidas de proteção” (BARROS, 2010, p. 143).
A aplicação dessas medidas são modos de responsabilizar o adolescente
“infrator”, sendo que as características da infração são consideradas, assim como a
situação do delito e a capacidade do adolescente em cumprir a medida.
Ao contrario das medidas socioeducativas, as de proteção abrangem crianças
e adolescentes. Seu foco é a proteção dos sujeitos que tiveram ameaçados ou
violados seus direitos (por ação ou omissão do estado; por falta, omissão ou abuso
dos pais ou responsável; ou em razão de sua conduta – artigo 98 do ECA) previstos
na legislação protetiva, tais como vida, saúde, educação, lazer, entre outros, e,
desse modo, precisam afastar-se da convivência com a família. As medidas
socioeducativas também são para proteção, entretanto são aplicadas devido ao
comportamento do adolescente, mas em termos legais não são vistas como
punição.
Para a realização do acolhimento, o mesmo é realizado através de Guia de
Acolhimento onde esta solicitação é feita por decisão da Justiça da Infância e da
Juventude ou Conselho Tutelar, Defensoria Pública e CREAS. De acordo com o 3º
parágrafo do artigo 101, no Guia de Acolhimento deve conter identificação dos pais
ou responsáveis; o endereço com ponto de referência; os nomes de parentes ou
terceiros interessados em ter a guarda do abrigado e, por fim, os motivos para a
retirada ou não reintegração ao convívio familiar.
Cada criança e adolescente, possui suas peculiaridades, por isso o trabalho
dos abrigos e juizados volta-se para conhecer cada caso em suas particularidades,
agindo assim nas causas do acolhimento. Devido a essas questões o Estatuto prevê
a necessidade de existir um plano individual de atendimento.
37
Assim que a criança ou adolescente chegar ao serviço de acolhimento, a equipe técnica do serviço, que, onde houver, poderá contar com a contribuição da equipe responsável pela supervisão dos serviços de acolhimento (ligada ao órgão gestor da Assistência Social) para elaborar um Plano de Atendimento Individual e Familiar, no qual constem objetivos, estratégias e ações a serem desenvolvidos tendo em vista a superação dos motivos que levaram ao afastamento do convívio e o atendimento das necessidades específicas de cada situação [...]. Tal Plano deverá partir das situações identificadas no estudo diagnóstico inicial que embasou o afastamento do convívio familiar (BRASIL, 2009, p. 33).
Ao falar de acolhimento institucional fica inviável não fazer referência ao
Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária – PNCFC (2006). Este plano
visa romper com a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e
fortalecer a concepção de proteção integral e preservação dos vínculos familiares e
comunitários preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O documento
ressalta que:
A importância da convivência familiar e comunitária para a criança e o adolescente está reconhecida na Constituição Federal e no ECA, bem como em outras legislações e normativas nacionais e internacionais. Subjacente a este reconhecimento está a ideia de que a convivência familiar e comunitária é fundamental para o desenvolvimento da criança e do adolescente, os quais não podem ser concebidos de modo dissociado de sua família, do contexto sócio-cultural e de todo o seu contexto de vida (BRASIL, 2006, p. 29).
Para Simões (2006) a família constitui a instância básica, na qual o
sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e,
também transmitidos os valores e condutas pessoais. Gradualmente Sarti (2004)
nos afirma que ao se pensar e trabalhar com a família é imprescindível que se
compreenda que não estudamos os indivíduos em si, mas enfocamos todas as
relações que envolvem o contexto familiar.
Desta forma, não é possível falar da atuação dos abrigos sem destacar que a
família é peça fundamental no trabalho de proteção integral a crianças e
adolescentes. Quando há necessidade de afastamento do lar, os esforços voltam-se
para que a reintegração se dê no menor tempo possível e, especialmente, para que
as referências familiares não sejam perdidas. Para isso, buscar o fortalecimento e a
manutenção dos vínculos afetivos entre os educandos e suas famílias é essencial
38
nesse contexto. Somente quando não é possível, ocorre a reinserção em família
substituta.
Outro fator importante é discutir o trabalho da rede social no enfrentamento da
questão do Acolhimento Institucional de Adolescentes. A rede de que se fala é
aquela que articula diferentes políticas sociais básicas em especial a saúde,
assistência social e a educação, e ainda do envolvimento de políticas como
habitação, lazer, trabalho, esporte e cultura; programas executores de proteção e de
auxílio, orientação e promoção da família e aos recursos da comunidade que
contribuem pra oferecer um rápido e eficaz atendimento às crianças e adolescentes.
Para Rizzini (2004) os trabalhos em rede são:
[...] linhas de ações ou trabalhos conjuntos para melhor atender às necessidades da vida social, cultural, material e afetiva. As redes são formações dinâmicas e flexíveis, com continuada renovação dos participantes, o que requer certos cuidados para a sua continuidade. As redes devem estar atentas ao movimento dos grupos e das organizações
sociais (RIZZINI, 2004,p. 112).
Destacamos assim nesse contexto, a intervenção do(a) assistente social, pois
esse profissional tem um importante papel no processo de constituição de uma rede
social articulada e na gestão da mesma para que seja capaz de fazer o
enfrentamento das situações de vulnerabilidade e riscos sociais a que essas famílias
estão submetidas e neste sentido atuar para o fortalecimento social dos membros.
É a intervenção que dá forma, caracteriza e determina o modo do fazer profissional, desvelando a especificidade do Serviço Social no campo das ciências sociais aplicadas. [...] desenvolve-se por um conjunto de ações com o usuário, com a equipe, nas diversas instâncias institucionais e locais, espaços em que se manifestam as relações objetivas e subjetivas. Neste sentido é através da intervenção que se operam os significados, os rumos, as mediações, a intencionalidade da ação profissional, revelando, assim, os valores morais, éticos e políticos. (RODRIGUES, 1999, p. 15).
O trabalho profissional do Serviço Social sempre foi uma das dimensões
exaustivamente discutidas pela profissão, seja em espaços de formação acadêmica
ou de organização da categoria. Essa discussão está ligada ao fato de que a
profissão historicamente tem sido chamada a intervenção na realidade. De acordo
com Iamamoto e Carvalho (2011), o Serviço Social nasceu no bojo da sociedade
capitalista, na década de 1930, expressando o controle do Estado interventor com
39
as reinvindicações da classe trabalhadora por melhores condições de trabalho e de
vida. Nesse sentido, o Serviço Social volta suas ações para o enfrentamento das
expressões latentes da questão social que afetam a sociedade até os dias atuais.
As ações profissionais do Serviço Social não podem ser reduzidas a
intervenções pontuais na realidade, mesmo que essas sejam necessárias, a
construção teórica da realidade não pode estar desvinculada do trabalho
profissional. O espaço de trabalho para o assistente social atualmente contempla a
execução de medidas socioeducativas, seja no âmbito municipal, como a liberdade
assistida e a prestação de serviços à comunidade, seja no estadual, como a
semiliberdade e internação.
O profissional de Serviço Social deve sempre ter claro que o compromisso
fundamental é com a população atendida, Martinelli destaca:
Não obstante estejamos trabalhando em profissões que são eminentemente sociais, nem sempre percebemos exatamente quem é esse outro com o qual trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito é esse. Em quantos momentos esse outro é visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o centro de referência da prática fosse o profissional que a realiza e não o sujeito que a constrói conosco. [...] Há então uma inversão total de valores. As instituições existem para responder as demandas da população. (MARTINELLI, 1999, P.13)
O CFESS propõe algumas “normativas” acerca das atribuições do assistente
social na perspectiva da política de atendimento dos direitos da criança e
adolescente (CFESS, 2010).
- Lutar pela ampliação dos espaços de participação política do Serviço Social
com a finalidade de qualificar as discussões e o controle da efetivação dos direitos
da criança e do adolescente;
- Garantir subsídios à categoria profissional e à sociedade por meio de
pareceres, notas e manifestações referentes a temas e assuntos, inclusive matérias
legislativas, que impliquem diretamente na garantia de direitos e/ou violação de
direitos de crianças e adolescentes (redução maioridade penal, ato infracional e
redução do tempo de internação, trabalho infantil, abuso e exploração sexual,
metodologia de inquirição, entre outros);
40
- Promover debates que fomentem reflexões críticas e posicionamento das/os
assistentes sociais em nome da garantia da prioridade absoluta e da proteção
integral de crianças e adolescentes;
- articula-se com entidades e movimentos sociais e populares em defesa de
uma política integral, contrariando o caráter das intervenções e medidas focalistas,
seletivas e desconectadas das demais políticas públicas e sociais;
Portanto o profissional de Serviço Social nas unidades de acolhimento precisa
comprometer-se com a efetividade do atendimento realmente socioeducativo,
situando seu trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Logo após a entrada do
adolescente em unidades de acolhimento, faz-se necessário, elaborar os objetivos
da intervenção junto ao mesmo, já que é preciso considerar a particularidade de
cada um. Trata-se do Plano Individual de Atendimento (PIA). A partir desse
momento, podemos observar o trabalho do assistente social em três dimensões que
possuem interlocução entre si: atendimento ao adolescente, à família, por
participação na unidade de acolhimento.
Ao adolescente, pois a perspectiva deve ser a atenção integral do mesmo,
busca-se nesses espaços de acolhimento orientar em relação a seus projetos de
vida, à necessidade de profissionalização, escolarização. Procura-se ainda nestes
atendimentos trabalhar questões familiares, questões relacionadas ao dia a dia na
unidade, sempre respeitando a disposição do mesmo para o diálogo. À família por
ser considerada alvo da intervenção, já que também são participantes no processo
socioeducativo, visto que o meio familiar é, em geral, para onde o adolescente volta
após o acolhimento.
Percebe-se que o acolhimento institucional é o recurso recorrido em última
instância no caso de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade
social, usado quando as outras opções foram esgotadas ou mostram-se ineficientes.
A convivência familiar é priorizada assim como um atendimento individualizado em
cada caso. A partir então da peculiaridade de cada família, o profissional de
desenvolver junto ao adolescente, estratégias para o fortalecimento dos vínculos.
Participação na unidade de acolhimento, pelo fato do conhecimento da rotina da
41
unidade, da realidade institucional são fundamentais para que se alcance o que está
sendo proposto.
2. UNIDADE DE ACOLHIMENTO NOVA VIDA
Segundo o ECA, acolhimento institucional é uma medida de proteção, ou
seja, tem como foco a proteção dos sujeitos que tiveram ameaçados ou violados
seus direitos por ação ou omissão do estado; por falta, omissão ou abuso dos pais
ou responsável; ou em razão de sua conduta – artigo 98 do ECA previstos na
legislação protetiva, tais como vida, saúde, educação, lazer, entre outros, e, desse
modo, precisam afastar-se da convivência com a família. (ECA, 1990).
2.1 A UNIDADE E SEUS MARCOS LEGAIS
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Complementar n° 8069,
de 13 de Julho de 1990, juntamente com a Constituição Brasileira de 1988 são
enfáticos ao exigirem prioridade absoluta por parte da família, da sociedade e do
Estado às necessidades das crianças e adolescentes. Pela Constituição Brasileira,
meninos e meninas deixaram de ser propriedades de seus pais, passando a
condições de sujeitos de direitos ou portadores de direitos especiais que precisam
ser protegidos por causa de sua condição de pessoa humana em desenvolvimento
físico, moral e psicológico.
Mello e Silva (2004) reforçam a responsabilidade do poder público no
atendimento aos direitos da criança e do adolescente:
Isso demonstra que as entidades não governamentais são atores relevantes na implementação das políticas de proteção especial à infância e à adolescência. A predominância desse tipo de entidade na prestação de serviços de abrigo reforça ainda mais a responsabilidade do poder público – federal, estadual e municipal – no cumprimento de seu papel de coordenar um sistema, com vistas à efetiva implementação de uma politica de proteção especial conforme prevista no ECA [...]. (MELLO E SILVA, 2004, P.75).
Nesse sentido, as políticas servem para concretizar aquilo que é assegurado
em lei, compreendendo que no âmbito de acolhimento institucional de crianças e
adolescentes, o Estado e os demais órgãos responsáveis poderJudiciario, Ministerio
42
Público, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e adolescente e Conselho
Tutelar devem exigir tal cumprimento e o direcionamento da politica de atendimento
no âmbito da garantia de direitos às crianças e aos adolescentes, como preconiza a
lei. Outro fator importante a mencionar é da contribuição do setor privado que é
justificada no sentido de também agente responsável pelo desenvolvimento dessa
questão.
A Unidade de Acolhimento Nova Vida, espaço deste estudo, atua no
acolhimento de adolescentes do sexo feminino que são encaminhadas pelas
comarcas do Estado do Ceará. De acordo com a coordenadora da casa, existia o
Moacir Bezerra, um abrigo misto que na época trabalhava com meninos e meninas.
O mesmo fechou e em consequência ocorreu a redistribuição de seus internos que
foram encaminhados para outros locais de acolhimento. O Instituto de Assistência e
Proteção Social (IAPS) ficou responsável pelas meninas que faziam parte do abrigo
Moacir Bezerra, surgindo, dessa forma, a Unidade de Acolhimento Nova Vida,
inaugurada no dia 17 de Junho de 2006.
A Unidade é gerenciada e mantida pelo IAPS uma ONG que tem gestão
compartilhada com a Secretaria do Trabalho e desenvolvimento Social (STDS) do
Governo do Estado, o local também conta com colaboradores são eles: Aço
Cearense, empresa destinada a comercializar ferro para construção e derivados,
realiza doações em dinheiro para a casa, Projeto Vira Vida, um programa criado pelo
SESI para dar oportunidade para adolescentes iniciarem sua carreira profissional,
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com palestras e ações fornecidas pelos alunos
do curso de medicina, enfermagem, dentre outros, Igreja do Aviamento, localizada
próximo da casa que disponibiliza de um espaço de lazer com piscina, cedido todas
as quintas a instituição para o entretenimento das adolescentes.
A Unidade de Acolhimento Nova Vida, trabalha com o acolhimento de
adolescentes do sexo feminino, com faixa etária de 12 a 18 anos, em situação de
negligência familiar, maus tratos, abandono dentre outros motivoscomo preceitua o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). São meninas encaminhadas pelas
Comarcas do Estado do Ceará, a maioria das adolescentes acolhidas é de
comarcas com até mais de 400 km de distância da capital.
43
A Unidade tem como objetivo geral prestar atendimento excepcional e
transitório para adolescentes do sexo feminino que se encontram em situação de
risco pessoal e social com famílias temporariamente impossibilitadas de cumprir sua
função de proteção. Como objetivos específicos, a unidade trabalha no sentido de
levantar o máximo de informações dos familiares das adolescentes, manter ações
destinadas ao não rompimento familiar e promover intervenções consistentes para
que as relações da família para com as adolescentes, quando possível, sejam
melhoradas. A cidadania e a autonomia das adolescentes também são trabalhadas
pela instituição que procura preencher o tempo delas com atividades pedagógicas,
cursos profissionalizantes e oficinas.
Estando a criança e o adolescente em instituições de acolhimento, os artigos
92° e 94° do ECA determinam:
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de abrigo deverão adotar
os seguintes princípios:
I – preservação dos vínculos familiares;
II- integração em família substituta, quando esgotados os recursos de
manutenção na família de origem;
III- atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV- desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
V- não desmembramento do grupo de irmãos;
VI- evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de
crianças e adolescentes abrigados;
VII- participação na vida da comunidade local;
VIII- preparação gradativa para o desligamento;
IX- participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
Parágrafo único. O dirigente de entidade de abrigo é equiparado ao guardião,
para todos os efeitos de direito.
O artigo 94°, também é de fundamental importância no que diz respeito ao
trabalho em abrigo, em especifico:
IV- preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao
adolescente;
V- diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos
familiares;
44
XVIII- manter programas destinados ao apoio e acompanhamento dos
egressos.
Vale lembrar que o acolhimento é uma medida provisória, então as ações
com os adolescentes devem visar ao “desacolhimento”, ou seja, todas as ações
realizadas visam o retorno das adolescentes para o seio família. Nesse sentido o
direito à convivência familiar e comunitária realizada pelas unidades de acolhimento
é considerado peça chave nesse processo. Portanto, são várias as adequações que
as instituições devem implementar, para atender as exigências do Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária (PNCFC). Mencionado no capítulo anterior. Segundo o
PNCFC (BRASIL, 2006), as adequações devem ser feitas na:
- infra-estrutura adequada ao atendimento de pequenos grupos e semelhante
a uma residência normal;
- localização em áreas residenciais e não afastadas da comunidade e da
realidade de origem das crianças e adolescentes;
- preservação dos vínculos com a família de origem quando não impedida por
ordem judicial;
- articulação e contato com o Poder Judiciário;
- condições adequadas ao pleno desenvolvimento das crianças e
adolescentes acolhidos, oferecendo o estabelecimento de relações de afeto e
cuidado;
- condições, espaços e objetos pessoais que respeitem a individualidade e o
espaço privado de cada criança e adolescente;
- atendimento integrado e adequado às crianças e aos adolescentes com
deficiência;
- acolhimento de ambos os sexos e diferentes idades, preservando assim os
vínculos entre os grupos de irmãos;
- respeito às normas e orientação para as equipes de trabalho, oferecendo a
devida capacitação para o trabalho;
- estabelecimento e articulação com a rede social de apoio;
- promoção da convivência comunitária utilizando os serviços disponíveis na
rede de atendimento a evitar o isolamento social;
45
- preparação da criança e do adolescente para o processo de desligamento,
respeitando assim o caráter excepcional e provisório do regime de abrigo;
- fortalecimento e desenvolvimento da autonomia e a inclusão de
adolescentes na comunidade visando a sua inserção no mercado de trabalho,
possibilitando-lhes, ainda, as condições de sobrevivência fora da instituição de
acolhimento.
Na unidade de acolhimento onde desenvolvi esta pesquisa foi possível
verificar ao confrontar a realidade com a lei, diante dos artigos 92 e 94° expostos
acima, que na instituição alguns pontos do Art. 92° não ocorrem como previstos tais
como: Inciso II- integração em família substituta, quando esgotados os recursos de
manutenção na família de origem, pude observar que existe meninas com mais de
dois anos que estão acolhidas na unidade, estão na fila de adoção por não existir
mais a possibilidade de retorno para a família de origem. Entretanto, o processo de
adoção destas meninas é dificultado em razão de as famílias cadastradas nos
programas de adoção, preferem na maioria das vezes crianças ou recém nascidos,
o que dificulta a inserção das adolescentes em famílias substitutas.
Quanto ao inciso V- não desmembramento do grupo de irmãos, pelo fato da
unidade em questão ser um abrigo para adolescentes do sexo feminino, acaba
ocorrendo o desmembramento dos irmãos do sexo masculino, ou se do mesmo sexo
quando o perfil não se enquadra com o da unidade. Inciso VI- evitar, sempre que
possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes
abrigados. O Nova Vida segue um perfil, quando ocorre algo no qual a adolescente
fuja do perfil da unidade, ocorre a transferência, acompanhei o caso de uma
adolescente, que pouco tempo depois da sua chegada, foi descoberto que estava
gravida, ou seja, nesse caso ocorreu a transferência, pois a unidade não aceita
adolescentes grávidas.
Sobre o Art. 94° que diz respeito ao trabalho em abrigo, a unidade cumpre tal
como previsto. Em relação ao Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC),
não foi possível visualizar a possibilidade do atendimento integrado e adequado às
crianças e aos adolescentes com deficiência, já que onde a unidade funciona é um
duplex no qual uma adolescente portadora de deficiência física que necessite de
46
cadeira de rodas não teria facilidade de acesso à parte superior da casa. Outro
ponto que não observei foi o acolhimento de ambos os sexos e diferentes idades,
preservando assim os vínculos entre os grupos de irmãos, isso ocorre por conta do
perfil que a unidade segue, a saber, meninas do sexo feminino, entre 12 a 18 anos,
que tenham tido seus direitos violados. Dessa forma, quando ocorre a separação
dos irmãos, as instituições mantém um constate contato entre si, para que o vinculo
não seja quebrado. Os outros pontos abordados pelo plano a unidade consegue
cumprir.
Entretanto, o diferencial da Unidade de Acolhimento Nova Vida é ser um
abrigo que acolhe adolescentes de outras comarcas, atualmente 80% das vagas
estão sendo preenchidas por meninas do interior do Ceará. A unidade procura
favorecer, orientar estas adolescentes em vivências de ações pautadas pelo respeito
a si próprio e aos outros, fundamentadas em princípios éticos de justiça e cidadania.
Ou seja, trabalha-se para que as acolhidas tenham oportunidades de superar
padrões violadores de relacionamento, para que possam construir projetos pessoais
e sociais e desenvolverem sua autoestima. As adolescentes são ouvidas para
expressar necessidades e interesses, assim como podem avaliar as atenções
recebidas, expor opiniões e reinvindicações.
O trabalho da Unidade é também para o cumprimento do art.101 § 1 ECA, no
qual diz que o acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas
provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração
familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não
implicando privação de liberdade. Porém, pude observar dentro da unidade que o
cumprimento do artigo por vezes é prejudicado pela deficiência nos prazos
processuais por determinadas varas da Comarca do Interior, deixando a adolescente
abrigada na unidade além do prazo determinado no próprio estatuto, sem que haja
sentença no processo para que a Unidade possa trabalhar o retorno à família ou a
adoção. Além disso, a maioria das Comarcas não trabalha com famílias substitutas,
nem apresentam outras formas de reintegração familiar, em consequência ocorre à
permanência da adolescente por mais de dois anos no abrigo, dificultando sua
reinserção familiar.
47
Nesse aspecto, achei interessante o posicionamento de Szymanski (2002)
acerca das relações familiares, segundo a autora a família é um conjunto de
pessoas que vivem juntas tanto por laços sanguíneos, como por questões afetivas e
que concordam em cuidar uns dos outros. Os membros de uma família fazem parte
de uma totalidade que além do cuidado mútuo, tomam decisões juntos, já que em
muitos casos a manutenção e o desenvolvimento de alguns membros dependem
dessa cooperação. Dessa forma pode ser observado que o trabalho da unidade no
qual pesquiso é voltado para a reestruturação familiar, para o fortalecimento do
vinculo para que a adolescente possa voltar para o seio familiar e quando não
possível esse retorno a colocação em uma família substituta.
As adolescentes acolhidas possuem um convívio comunitário, pois estudam
em Escolas do bairro, são atendidas pelo Posto de Saúde da comunidade. Todo o
trabalho é realizado em pequenos grupos e sempre procurando favorecer o convívio
familiar e comunitário, como é estabelecido no ECA. Uma vez ao mês as meninas
participam de passeios como: praia, teatro, cinema, o transporte é disponibilizado
pela STDS. O contato das mesmas com terceiros, assim como a saída da Unidade
na companhia de familiares ou terceiros, só é realizada após autorização judiciária.
2.1 LOCALIZAÇÃO E ESPAÇO FÍSICO
Os serviços de acolhimento devem estar localizados em áreas residenciais,
sem distanciar-se excessivamente, do ponto de vista geográfico e sócio-econômico,
do contexto de origem das crianças e adolescentes. Na unidade, apesar da maioria
das adolescentes serem de comarcas do interior cada uma com sua realidade
própria, a unidade trabalha para que o ambiente para essas adolescentes seja o
mais parecido com um lar.
48
FIGURA 1: Unidade de Acolhimento Nova Vida
Desta forma, a Unidade de Acolhimento Nova Vida, está localizada na Rua
Aiko Maria, n° 39, no bairro Luciano Cavalcante, Fortaleza – Ceará. Permanece
então nesse endereço desde o seu surgimento em 2006. Próximo a instituição
encontra-se um posto de saúde, colégio público, fórum Clóvis Beviláqua, onde as
situações das próprias adolescentes da casa são avaliados, igreja evangélica e
católica, UNIFOR, supermercado também fica próximo da unidade. A escolha pelo
local, contrato do aluguel, manutenção qualquer reforma, necessidade da casa e das
adolescentes é de responsabilidade do IAPS.
FIGURA 2: Rua onde está localizada a unidade
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A Unidade conta com uma equipe técnica de 01 Assistente Social, 01
Pedagoga, 01 Advogada e 01 Coordenadora. Para o acompanhamento das
atividades de rotina das adolescentes, 10 educadores sociais, sendo 2 homens e 8
mulheres, 1 serviços gerais, 2 cozinheiras e 2 vigias.
De acordo com Rizzini (2006), o abrigo é um lugar que deve oferecer
proteção, sendo uma moradia provisória, com atendimento em pequenas unidades,
com características de um lar, para um grupo de crianças ou adolescentes. Mesmo
como medida excepcional e provisória o Acolhimento Institucional deve ser um
ambiente que tenha um perfil residencial e proporcione a participação desses atores
na vida social da comunidade. O Acolhimento Institucional adequado pode significar
muito na vida de quem se encontra nessa situação, pois dependendo da causa,
ocorre das adolescentes se sentirem mais protegidas na unidade do que na própria
família. Já que, nestes espaços as crianças e adolescentes são alimentadas, tem
local para dormir, ou seja, tem uma moradia, diferente da situação de algumas
adolescentes que tive acesso no decorrer da pesquisa, que pela precariedade em
que viviam no seio familiar, não sabiam o que era ter um local apropriado para
dormir e refeições ao longo do dia.
A unidade em questão tem capacidade para 15 meninas. Esse limite é
respeitado e a coordenadora relata que luta para que isso não venha a mudar, já
que o principal objetivo da casa é o bem-estar das adolescentes. A casa não possui
nenhuma identificação institucional, a casa é de andar (duplex), ao entrarmos, é
possível observar uma grande área que também pode ser utilizada como garagem
com jarros, plantas que enfeitam o local. Nesse espaço a cor das paredes é verde,
ao lado esquerdo o espaço pedagógico com a parede na cor laranja, utilizado para
realização de atividades coletivas e comunitárias tais como: aulas de reforço, curso
de biscuit, curso de dança, palestras. Essas ações por muitas vezes ministradas por
pessoas voluntárias que se interessam pelo trabalho da unidade.
No interior da casa, na parte inferior as paredes são na cor branca. Nossa
primeira visão é da imagem de Nossa Senhora de Fátima. A instituição responsável
pela unidade segue a religião católica, mas a coordenadora da casa deixa claro que
cada uma das adolescentes tem a liberdade de seguir a religião da sua preferência
50
independente de qual for, algumas adolescentes participam de grupos de jovens na
igreja evangélica, localizada próximo a unidade. Encontramos também um ambiente
físico com espaços destinados ao acolhimento com sala de estar, contendo TV,
DVD, sala de atendimento individualizado com privacidade, nesse ambiente as
adolescentes tem o contato direto com a assistente social, há a sala administrativa,
onde trabalha a coordenadora da casa, dois banheiros, cozinha com acesso para
área de serviço e quintal onde as roupas são estendidas, ambiente onde são
realizadas as refeições e espaços para atividades de convivência, lazer como a
lanhouse, onde as meninas tem acesso a internet nos finais de semana, de acordo
com o horário que é definido coordenação da unidade. Na parte superior, há três
quartos cada um com seu respectivo banheiro, contendo a capacidade de acomodar
cinco meninas, cada uma com cama própria e seu espaço no guarda-roupa com
suas respectivas coisas, nomeados de quarto um, dois e três.
Em resumo, apesar da distância a unidade favorece os vínculos familiares e
comunitários como o Estatuto da Criança e Adolescente estabelece, a busca pelo
vínculo familiar é constante, e no caso específico das adolescentes que as famílias
estão em comarcas do interior, acontece ligações quinzenalmente para que as
adolescentes possam falar com seus familiares, algumas recebem ligações de
mães, tias, primos, etc. Visitas domiciliares também são realizadas. Para tanto, é
feito o pedido do transporte à Secretária do Trabalho e Desenvolvimento Social
(STDS) para que a assistente social juntamente com a advogada veja a situação da
família, a possibilidade de volta, ou a princípio quando possível visita das
adolescentes para passar finais de semana, uma semana etc., em seus lares de
origem.
A unidade é limpa, pois é perceptível a preocupação com a limpeza da casa,
não encontramos casa ou paredes sujas, papel no chão, ou seja, é possível notar
que a casa está em bom estado e que manutenções como pintura, reparo
necessários são realizados pela unidade Também ocorre a preocupação do zelo e
cuidado com o ambiente. Entretanto, no quarto das adolescentes, vez ou outra
aparece algum problema, como gaveta do guarda-roupa quebrada, no qual logo que
percebido a coordenação da unidade toma as devidas providências para realizar
consertos.
51
2.3 PERFIL DAS USUÁRIAS
Como justificativa ideológica, o recolhimento de crianças que perambulavam
ou viviam nas ruas, passou a ser denominado de prevenção – por preservar o menor
do “perigo que representa para si e para a sociedade” pelo seu “estado de carência
afetiva e material” (RIZZINI e RIZZINI, 2004, p. 69). Mas atualmente os motivos que
levam à institucionalização de crianças e adolescentes são os mais diversos e
repletos de subjetividades, pois não se limitam apenas ao fato da negligência sofrida
ou da situação de pobreza, casos de acolhimento acontecem até mesmo por conta
da necessidade dos responsáveis em trabalhar e os filhos ficarem sem amparo e
acabarem indo as ruas em busca de atenção, ou seja, a falta de responsabilidade
dos pais também faz com que estas adolescentes que estão acolhidas passem um
período maior que o esperado.
De acordo com a assistente social da unidade, os principais motivos de
acolhimento são em sua maioria, violações de direitos por ocorrência de:
- Carência de recursos materiais da família/responsável
- Abandono pelos pais ou responsáveis
- Violência domestica (maus-tratos físicos e/ou psicológicos praticados pelos
pais ou responsáveis)
- Pais ou responsáveis dependentes químicos/alcoólicos
- Vivência de rua/mendicância
- Orfandade (morte dos pais ou responsáveis)
- Pais ou responsáveis detidos (presidiários)
- Abuso sexual praticado pelos pais ou responsáveis
- problemas de comportamento da criança e/ou do adolescente
Na Unidade de Acolhimento Nova Vida abriga adolescentes do sexo feminino
com faixa etária de 12 a 18 anos, e os motivos de acolhimento não foge dos pontos
acima citados. São meninas que a família procura ajuda por conta de mau
comportamento, que vivem mais tempo na rua do que na própria casa, que sofreram
abuso sexual praticado pelos pais ou responsáveis, parentes próximos. Em
especifico existe um caso, que o autor do abuso foi o padrinho e vizinho da
adolescente e em consequência a família, sob ordem judicial perdeu o poder sobre a
52
menina e a mesma encaminhada para o acolhimento. Orfandade, pais ou
responsáveis que são dependentes químicos/alcoólicos, carência de recursos
materiais da família/responsável que em alguns casos acarretam uma vivência de
rua/mendicância das adolescentes, abandono pelos pais ou responsáveis são os
casos encontrados na unidade de acolhimento em questão.
As percepções obtidas logo que cheguei à unidade é que a maioria das
adolescentes que estão acolhidas é proveniente de famílias pobres. São 15
personalidades diferentes no qual encontramos: meninas tímidas, extrovertidas, que
não entendem o porquê vive naquela situação e querem voltar para a casa, outras
ao contrário que preferem ficar na unidade ao voltar para a família, organizadas e
não, estudiosas outras nem tanto, as que reclamam por tudo, as mais emotivas etc.
Mas independente do jeito, do pensamento de cada uma, o que existe comum em
todas é a questão do demonstrar o que sentem. Quando se identificam com alguém,
se comportam de forma carinhosa, dão abraços, não querem se afastar, fazem
desenho para entregar, o inverso também é perceptível, quando elas não gostam,
elas não falam, evitam contato, tratam mal. Ou seja, elas expõem o que sentem ao
extremo, confesso que isso me chamou bastante atenção.
Meu contato com as adolescentes aconteceu de forma tranquila, fui bem
recebida, talvez pelo fato de ser meninas, a questão da minha idade, e por ser uma
novidade na casa, já que até então a unidade não tinha tido estagiarias de Serviço
Social, acredito que esses fatores contribuíram para o bom relacionamento que
estabeleci com as meninas abrigadas. Entretanto, uma adolescente expressou não
ter gostado da minha presença na unidade, se queixava para outras meninas que
vinham me contar, evitava ao máximo falar comigo, quando perguntava algo, por
muitas vezes ficava sem resposta, no momento do atendimento realizado pela
assistente social, no qual como estagiaria estava presente, ela pedia para eu sair.
Essa situação permaneceu por uns três meses, após esse período a adolescente
começa demostrar sinais de aproximação, pois ela passou a responder meu “bom
dia”, não se afastava dos locais da casa quando eu chegava, a partir daí fui
começando a puxar conversa, ela ganhando confiança, e o problema
consequentemente resolvido.
53
2.4 O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL DENTRO DA UNIDADE
Tão logo a criança ou o adolescente seja encaminhado para um serviço de
acolhimento, deve ser iniciado um estudo psicossocial para a elaboração de um
plano de atendimento, com vistas à promoção da reintegração familiar.
O Estatuto da Criança e do Adolescente vai estabelecer que todas as
entidades que desenvolvem programa de abrigo devem prestar plena assistência à
criança e ao adolescente, ofertando-lhes cuidado e espaço para socialização e
desenvolvimento. E é dentro dessa normativa que se direciona o trabalho dos
profissionais que atuam com demandas de Acolhimento Institucional, dentre eles
está o profissional de Serviço Social. Este profissional possui um importante papel
de articular açõesno intuito de estabelecer perspectivas que contribuam com as
condições de vida, garantias de direito da criança e adolescente e como acessá-los.
A articulação em rede consiste em estratégias de intervenção social, realizada
através de parcerias visando atingir os objetivos ou obter maior eficácia no
atendimento efetuado por entidades.
Desta forma, o serviço de acolhimento no qual o assistente social está
inserido, deve manter permanente articulação com os demais atores envolvidos no
acompanhamento das famílias tais como, o setor da saúde, CAPS, CRAS, CREAS,
Conselho Tutelar, Justiça da Infância e da Juventude etc., planejando intervenções
conjuntamente e discutindo o desenvolvimento do processo. No dia a dia, o
assistente social enfrenta alguns desafios, pois nem sempre o retorno dessa
articulação é satisfatório, na maioria das vezes ocorre por conta da burocratização e
demora nos processos dos órgãos que foram citados.
De acordo com o Código de Ética do Serviço Social, verifica-se
direcionamentos fundamentais e atuais para a atuação profissional, tais como:
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;
Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade
de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem
como sua gestão bem como sua gestão democrática; Compromisso com a
54
qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual,
na perspectiva da competência profissional.
Outro ponto destacado no código é sobre o exercício do assistente social não
ser descriminado/a, nem discriminar por questões de classe social, gênero, etnia,
religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição
física. Esta indicação relaciona-se com o fato de o exercício do assistente social
ocorre dentro dos mais diferentes espaços sociais.
Minha inserção na Unidade de Acolhimento Nova Vida, teve inicio em 2012,
através do estágio curricular, na época eu estava com 22 anos. Permaneci como
estagiária no período de março de 2012 até junho de 2013, voltando em agosto para
a realização da pesquisa da monografia. O horário de trabalho do assistente social
na casa ocorre de segunda a sexta no horário de 08:00 as 14:00, nos finais de
semana esse profissional não vai a unidade, mas fica com o celular ligado caso
ocorra algo de emergência com as adolescentes, tais como: brigas entre as meninas
etc. Meu horário eram duas vezes na semana de 08:00 as 13:00. Durante o período
que passei como estagiaria acompanhei ativamente do dia a dia o exercício
profissional do Serviço Social na Unidade.
O dia desse profissional é iniciado todos os dias pela leitura do livro de
ocorrência, caracterizado por uma ata onde os educadores do horário noturno
relatam tudo que aconteceu na casa. Após a leitura, caso tenha reclamação ou
incidente ocorrido com algumas das adolescentes, as envolvidas são chamadas
para um atendimento individualizado. Caso não tenha ocorrido nenhum problema os
contatos individuais ocorrem de acordo com uma listagem montada sempre no inicio
de cada mês com o nome de cada menina e o dia, para que todas as adolescentes
tenham o mesmo número de atendimento, além da questão do controle do
atendimento individual que as adolescentes recebem mensalmente. Valendo
ressaltar que a listagem pode ser alterada, caso ocorra algo de mais urgência, como
relatado acima.
Durante o período de acolhimento são necessárias visitas domiciliares para
que as informações sejam obtidas e colocadas nos relatórios sociais, já que os
55
mesmos são encaminhados para a Justiça da Infância e da Juventude de modo a
subsidiar o acompanhamento da situação jurídico/familiar de cada adolescente e a
avaliação por parte da justiça da possibilidade de reintegração familiar ou
necessidade de encaminhamento para família substituta. Por essas ações serem
realizadas pela assistente social da unidade, participava da construção dos
relatórios e acompanhei duas visitas, que os familiares/residiam em Fortaleza, as
demais visitas como eram para as comarcas do interior, não pude ir.
Cada adolescente é acompanha pelo juiz, por isso a necessidade das visitas,
relatórios etc. Por esse motivo duas vezes na semana a advogada vai para a
unidade, onde é discutido cada caso, como está o andamento de cada adolescente
e às vezes as duas (advogada e assistente social) vão ao fórum para resolver
alguma pendência, tais como: entrega de algum documento ou relatório, buscar
autorização de saída da adolescente para visitar familiares ou responsáveis.
Além de visitas, relatórios já mencionados, o Serviço Social da Unidade de
Acolhimento Nova Vida atua com:
- Acolhida destas adolescentes; escuta; estudo social; diagnóstico
socioeconômico e psicossocial; orientação e acompanhamento as famílias e as
adolescentes;
- Orientações direcionadas para a promoção de direitos; preservação e
fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais; fortalecimento das
famílias e das adolescentes através da inserção destes na rede de atendimento
sociaassistenciais, nas diversas políticas públicas e com os órgãos de Garantia de
Direitos;
- Encaminhamento para a rede de serviços locais; construção de plano
individual de atendimento; atendimento psicossocial; orientação jurídico-social;
viabilizar o acesso à documentação pessoal; contribuir para restaurar e preservar a
integridade e a cidadania das adolescentes;
- Contribuir para romper com padrões violadores de direitos no interior da
família; prevenir a reincidência de violações de direitos; trabalhar interdisciplinar;
elaboração de relatórios sociais; estímulo ao convívio familiar, grupal e social;
mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio.
56
Dentre os citados, destaco o plano individual de atendimento (PIA), presente
em todas as unidades, cujo objetivo é orientar o trabalho de intervenção durante o
período de acolhimento visando a reintegração familiar, salvo determinação judicial
em contrario, quando, então, o plano visará à colocação em família substituta. O
plano individual de atendimento deve basear-se em um levantamento das
peculiaridades, potencialidades e necessidades especificas de cada caso e delinear
estratégias para seu atendimento e os relatórios sociais.
Diante disso, vejo que a presença do profissional do Serviço Social nesses
espaços é de fundamental importância, todo o trabalho realizado pelo assistente
social é voltado para a garantia de direito das adolescentes, ou seja, pode constituir-
se também na garantia de direitos das mesmas. A partir dai surgiu o interesse de
saber dessas meninas como elas visualizam esse profissional no seu cotidiano,
discussão que farei no capítulo a seguir.
3.PERCEPÇÕES E RELAÇÕES ENTRE AS ADOLESCENTES E A ASSISTENTE
SOCIAL
3.1 RELAÇÃO ENTRE AS ADOLESCENTES E A ASSISTENTE SOCIAL
Do total de quinze meninas que estão abrigadas na Unidade de Acolhimento
Nova Vida, tive a oportunidade de conversar com seis. As adolescentes que
participaram da entrevista foram: Flor, 17 anos; Bela, 16 anos; Estrela, 15 anos; Lys,
15 anos; Mel, 16 anos; Sol, 15 anos.
Flor, 17 anos, estuda e faz o primeiro ano do ensino fundamental, sobre a
escolaridade dos pais não sabia informar. Não lembrava quando tinha chegado à
unidade, mas fala que vai fazer quatro anos, o motivo do acolhimento foi problemas
de família, não quis entrar em detalhe. Antes da instituição morava com os pais,
após a separação dos mesmos a adolescente ficou morando só com a mãe e sete
irmãos, quando foi para o Nova Vida, os irmãos também foram para outros locais de
acolhimento, ficando somente três em casa. O cotidiano da adolescente na unidade
ela diz ser bom.
57
Bela, 16 anos, estuda faz o sétimo ano do fundamental, sobre a escolaridade
dos pais só a mãe tinha estudo, mas não sabia a série pois quando ela faleceu a
adolescente tinha apenas sete anos. Chegou à unidade em 14 de março de 2013, o
motivo do acolhimento foi por conta de maus tratos da família. Antes de chegar à
instituição morava em Acaraú, com a família: avós paternos, três irmãos, pai e duas
tias. Sobre O cotidiano da adolescente na casa a mesma disse: “Às vezes tem
confusão, mais é normal, não, normal não, porque não é minha casa mais é bom,
converso com as meninas, assisto televisão, vou pro colégio, quando é dia deu
ajudar em algo na casa ajudo, é assim tia”.
Estrela, 15 anos, não estuda pois brigou com a professora e foi expulsa, os
pais tem escolaridade mas não soube dizer a série. Chegou à casa em julho de
2012, o motivo do acolhimento foi por conta que bebia e presenciou um assassinato,
o CREAS então resguardou a adolescente e tomou as providências para a mesma
ser acolhida. Morava em Nova Olinda na casa dos pais adotivos, mas não parava
em casa, saia e bebia. Segundo a adolescente, na unidade seu dia a dia é
engraçado, tem dias que tem confusão, mas é bom, melhor do que a casa dela
porque onde residia não tinha carinho.
Lys, 15 anos, não estuda. Sua justificativa é de que na escola ninguém a
aguentava mais e acabou saindo. A escolaridade dos pais é até o segundo grau.
Chegou à unidade no dia 01/03/2011, o motivo a adolescente disse da seguinte
forma: “Por que eu tava me danando em casa, saindo, bebendo, fugindo, ai minha
tia foi atrás do conselho tutelar porque não tava me aguentando mais”. Antes
morava em Ipaporanga, perto de Crateús. O dia a dia na unidade considera bom
pois escuta música, vê filme, come, sai, brinca e passeia.
Mel, 16 anos, estuda, faz o primeiro ano do ensino médio, chegou à unidade
no dia 10/05/2013, sobre a escolaridade dos pais disse que a mãe tinha estudo, mas
não soube dizer até que série. Morava com a mãe, chegou à unidade no dia
10/05/2013, o motivo foi por não gostar de morar com a mãe adotiva então procurou
o Conselho Tutelar. Sobre o dia a dia na unidade: “É bem estressante, porque
algumas meninas aqui tem um temperamento muito forte, ai a gente não se gosta
muito é bem chato”.
58
Sol, 15 anos, estuda, faz o sexto ano do fundamental, sobre a escolaridade
dos pais disse que achava que não tinham, chegou à unidade em dezembro de
2011, o motivo foi problemas de família, não quis entrar em detalhe, morava em
Barroquinha com os pais, foi para outro abrigo, depois para o Nova Vida. Sobre seu
cotidiano na unidade, a adolescente limitou-se a descrever sua rotina: “De manhã
vou pra escola, chego tomo banho, almoço e vou dormir”.
Portanto percebe-se com o perfil apresentado acima, que a maioria com
exceção da Florsão de comarcas do interior, no qual vieram de famílias em situação
de pobreza, com baixa escolaridade, vínculos familiares fragilizados. Para elas o
cotidiano da unidade apesar dos contratempos, como algumas confusões,
discussões com as outras meninas é considerado bom, pois encontra na unidade o
conforto de um lar que por muitas vezes não encontravam em suas casas.
3.2 PERCEPÇÕES DAS ADOLESCENTES A RESPEITO DA PROFISSIONAL DO
SERVIÇO SOCIAL
Inicio esse tópico com o relato das seis adolescentes entrevistadas sobre a
seguinte pergunta: Você tem idéia do que uma assistente social faz?
“Não, só sei que ela procura coisa pra gente, carro pra levar nós pros coisa, e
visitar as famílias das meninas do interior também né” (Flor, 17 anos).
“Eu acho que ela tá aqui pra ajudar a gente, às vezes tem menina que chega aqui e não sabe nem da família e ela faz o máximo e encontra, ela ajuda, ela mesmo lá fora ela faz coisa pra tentar agradar a gente aqui, é isso ela sempre quis ajudar nós” (Bela, 16 anos).
“Ajudar pras adolescentes voltarem pra casa, quando a gente fica doente ela
que procura médico na minha opinião” (Estrela, 15 anos).
“Ajuda, faz ligação pra nossa família, ajuda a gente voltar pra família, eu vou
de vez agora em julho” (Lys, 15 anos).
59
“Assim, ao meu ver ajudar as adolescentes a criar um vinculo familiar quando
tá longe da família, procurar parentes pra mandar o adolescente pra casa, não
esperar ele fazer 18 anos aqui dentro, e eu vejo ela fazendo isso” (Mel, 16 anos).
“Ajuda a encontrar a família” (Sol, 15 anos).
De acordo com Guerra (1995), é no estágio monopolista do capitalismo,
dadas as características que lhe são peculiares, que a questão social vai se
tornando objeto de intervenção, sistemática e contínua do Estado. Com isso,
instaura-se um espaço determinado na divisão social e técnica do trabalho para o
Serviço Social, como também para outras profissões. O trabalho do serviço social na
unidade de Acolhimento Nova Vida, é realizado por uma assistente social, a mesma
formou-se em 2006 pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), é especialista em
psicopedagogia clínica e institucional, ingressou na instituição em 2008, através de
um convite da Presidenta da ONG (IAPS).
Como já mencionado para alcançar o objetivo da pesquisa, algumas técnicas
foram utilizadas dentre elas: questionário com a assistente social e entrevistas semi-
estruturadas com as adolescentes com a finalidade de comparar as respostas.
Para o Serviço Social da unidade o atendimento inicial é importante porque se
constitui no momento de acolhida do adolescente na instituição. É nesse momento
que o profissional irá fazer o primeiro esclarecimento ao adolescente quanto a seus
direitos e deveres, orientando-o acerca do dia a dia na unidade e buscando
informações como se as adolescentes já usaram uso de substâncias psicoativas, se
tem algum problema de relacionamento etc. Ou seja, informações que auxiliarão na
melhor inserção do adolescente na medida de acolhimento.
As entrevistas foram realizadas individualmente, mas ao perguntar para as
adolescentes como tinha sido o primeiro contato com a assistente social, as
respostas foram parecidas. “Ah, ela disse que não era pra mim, não se meter muito
com as meninas, não assim óh, brincando, assim ela disse que eu era pra ficar
quieta, pra eu me comportar” (Flor, 17 anos).
60
“Foi bom tia eu desabafei do que eu tinha pra contar a ela foi bom, ela falou
também como era aqui, foi bom” (Bela, 16 anos).
“Foi assim que cheguei aqui, foi bom, ela é atenciosa, ela é uma pessoa super legal e eu gosto muito dela. Ela falou das meninas que eu não era pra tirar brincadeira, que eu era pra me comportar, que eu podia até voltar pra casa, um monte de coisa” (Estrela, 15 anos).
“Ela me chamou, conversou, falou da vida dela pra mim eu falei da minha pra
ela, disse as regras” (Lys, 15 anos).
“Foi bom ela parece ser uma pessoa que entende a gente, conversou disse
que aqui era uma casa de acolhimento tinha normas essas coisas” (Mel, 16 anos).
“Normal, conversou, disse como era a aqui, disse que eu ia ficar aqui até que
o juiz determinasse, essas coisas tia” (Sol, 15 anos).
De acordo com a assistente social, o motivo da escolha do curso de serviço
social foi relativo, optou por esse, por se identificar bastante, dessa forma a escolha
não foi difícil, pois gosta de estar no meio das pessoas. Continua a profissional que
a carreira do assistente social é voltada para o amparo e orientação de parcelas da
população que se encontra em situação de fragilização social, ou seja, que precisam
de indicações de como superar dificuldades relativas a condições de saúde,
alimentação, de moradia, de educação, de segurança, entre outras necessidades. É
nessa direção que ela procura atuar, esclarecendo e indicando caminhos para a
superação de tais obstáculos.
Sobre suas experiências marcantes no período da faculdade a profissional
relata:
“As experiências marcantes que vivi na faculdade vieram por meio dos conhecimentos adquiridos durante o curso e as experiências durante o estágio. A cada conhecimento e experiência vivida, percebia que tinha um longo caminho pela frente e que este não seria só de flores, mas agora sei que os desafios me fizeram mais forte e mais propensa á conquista. Enfim, minha vida acadêmica começa e acredito que termine entre alegrias e incertezas, medos e conquistas, e, sobretudo entre conhecimentos, descobertas, experiências e uma grande formação social e cultural” (DARC, 2013).
61
Observando o que ela diz sobre a vida acadêmica, verifiquei durante a
pesquisa que acontece da mesma forma na vida profissional. Ao perguntar o que as
adolescentes acharam da assistente social todas as seis entrevistadas disseram que
ela era boa, legal, calma, muito paciente, ótima, que tratava todas da mesma forma,
não tinha preconceito, uma pessoa importante na casa porque que ajuda todas as
meninas. Entretanto, uma das meninas disse:“A daqui é legal, só que às vezes ela é
ignorante, eu gosto e não gosto dela, ela nunca foi ignorante comigo não, só uma
vez ou outra que vi sendo com as meninas por algum motivo que elas fizeram. Mas
me dou bem com ela” (T.F.S, 16 anos).
Entretanto, faço uma observação na fala da adolescente, em alguns
momentos na casa foi possível ver conflitos entre as meninas, discussões entre as
adolescentes. Então a assistente social as chamava para conversar, explicar como
deve ser a conduta na casa. Nesse momento era visível ver que algumas não
gostavam de terem sido chamadas atenção, algumas até não concordavam e
rebatiam a fala da profissional.
As vezes que presenciei essa situação, foi por conta de mau comportamento
das meninas, ai elas diziam que a assistente social era chata, que só gostava de
“fulana”, que não queria mais conversa e saiam da sala com raiva, tempo depois
vinham pediam desculpas e falavam que estavam brincando. E a harmonia da casa
volta a reinar.
Sobre a trajetória profissional, trabalhou no CRAS, CREAS, outras unidades
de acolhimento, é professora universitária e do PROJOVEM e também teve a
experiência de workshop (palestras). Atualmente é assistente social do Nova Vida,
Nossa Casa (outra unidade de acolhimento) e continua ministrando aulas. Sobre
esse ponto faço uma observação, em uma conversa informal que tive com a
profissional, a mesma disse que em alguns momentos durante a sua atuação, ela vê
como as experiências passadas contribui para seu exercício na unidade em questão.
Ao perguntar o que ela achava das experiências profissionais em relação ao que foi
visto na unidade, considerou ótimas.
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Quando perguntei sobre as experiências mais lhe marcaram no trabalho na
unidade, ela diz que foram as negativas, quando uma criança ou adolescente é
encaminhado a um serviço de acolhimento, se encontra em situação de risco e
foram esgotadas as outras possibilidades que permitiriam colocá-lo em segurança
na sua família.
Sobre o que achava do trabalho do acolhimento institucional, fala a
profissional:
“Gratificante, pois, ao acompanhar a vida das adolescentes acolhidas, sua interação com a instituição, a comunidade e família sinto que estou garantindo o direito que delas foram violados ou rompidos. Nessa instituição as adolescentes são acolhidas como medida de proteção por terem seus direitos violados. Nosso trabalho é direcionado no fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, para um possível retorno. O trabalho no acolhimento institucional pode ser necessário como garantia de segurança no processo de reconstrução de redes de proteção que exigem quase sempre um investimento de todas as políticas sociais. Neste sentido, é importante que este se torne um serviço legítimo e competente para acolher e educar as adolescentes que dele necessitam” (DARC, 2013).
Diante do relato da mesma, acho interessante expor a Lei n° 8.662/93 que
regulamenta o exercício do assistente social, definindo explicitamente, como suas
atribuições, a responsabilidade de encaminhar providências e prestar orientação
social aos indivíduos, grupos e à população. Ou seja, é possível verificar que o
pensamento da profissional da unidade não foge do que propõe a lei.
Também perguntei o que ela achava de trabalhar na unidade, e a mesma
responde:
“Uma realização profissional, pois acredito que toda criança e adolescente tem direito a viver num ambiente que favoreça seu processo de desenvolvimento, que lhe ofereça segurança, apoio, proteção e cuidado, mesmo com seus direitos violados procuramos prestar cuidados de qualidades, condizentes com os direitos e as necessidades físicas, psicológicas e sociais das acolhidas” (DARC, 2013).
Como o intuito da pesquisa é saber a percepção das adolescentes,
confrontando com o que foi dito pela profissional. Indago as adolescentes se elas
gostavam do trabalho da profissional, no qual disseram:
“Gosto, porque ela é legal e ela faz tudo por nós” (Flor, 17 anos);
63
“Gosto tia, por que ela procura fazer as coisas por nós. Ela foi visitar meu pai, só que ele disse que não queria saber de mim e dos meus irmãos, ai a gente faz plano tia pra estudar, ser alguém na vida, mas depois disso ai, pensei em desistir de tudo, ai quando ela conversou comigo, ela me ajudou a não desistir” (Bela, 16 anos);
“Gosto, por que ela é paciente, diferente das outras assistentes sociais, por que quando fui pro CREAS, falei com uma assistente social também e eu não gostei dela, não sabe ter paciência com as pessoas, trata a gente ruim e a daqui não” (Estrela, 15 anos);
“Unhum, gosto, por que ela trabalha bem, ela é calma, ela tem paciência e faz
o trabalho dela super bem, liga pra minha família” (Lys, 17 anos); “Gosto, ela
trabalha bem” (Mel, 16 nos); “Gosto, por que ela ajudou ter contato de novo com a
minha família” (Sol, 15anos). Nesse momento é percebido, que as adolescentes
entendem que o serviço social na unidade trabalha em favor delas, enxergam esse
profissional como uma ajuda, tanto é que nos relatos algumas falam de suas
experiências com a profissional.
3.3 COTIDIANO E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS
No questionário realizado com a assistente social da unidade, pergunto
como ela vê o seu relacionamento com as adolescentes acolhidas da casa, como
resposta:
“É bastante harmonioso, pois nos vêem como soluções para seus problemas, pois sabem nos atendimentos individuais e nas entrevistas, que analisamos os documentos, realizamos visitas domiciliares, atendimentos com familiares e apresentamos relatórios sociais com suas interpretações para os juízes, promotores e defensores, que poderá definir seu futuro” (DARC, 2013).
Agnes Heller (2004 p.17) em seu livro O Cotidiano e a Historia destaca: “A
vida cotidiana é a vida de todo o homem”. Independente das funções exercidas, do
lugar ocupado na divisão social do trabalho, todos vivem a cotidianidade. Ninguém
tem como escapar do dia-a-dia. Enfatiza a autora:
A vida cotidiana é a vida do homem inteiro; ou seja, o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se “em funcionamento” todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias e ideologias. (HELLER, 2004, p.17).
64
Dessa forma, sigo o pensamento da autora acreditando que é no dia a dia
que opiniões são formadas ou destruídas etc. Portanto as questiono como é o
cotidiano delas com a assistente social da unidade:
“Bom, Ela trata nós bem, é engraçada, todo dia quando ela chega a gente pede pra ela conversar com nós, e ela conversa, nunca rejeitou nós não, ela é boa ela faz tudo por nós. Que eu me lembre nunca teve briga, que eu me lembre” (Flor, 17 anos).
“Ah! Ela é ótima, chega da bom dia, fala com a gente, brinca com a gente ela
é muito boa. Toda vida que quero conversar ela conversa” (Estrela, 15 anos)
“Assim ela não tem escolha, cada um com seu problema, mais eu vejo que do jeito que ela conversa comigo, ela conversa com todo mundo, ela entende todo mundo. Meu dia a dia com ela é bom, se não tivesse ela aqui, acho que seria muito difícil pra gente, porque ela que faz as coisas por nós” (Bela, 16 anos)
Percebi durante a realização da pesquisa que a quebra do vínculo familiar
dentre os outros fatores que levaram as adolescentes a situação de acolhimento
resultam nas meninas uma carência de carinho, de atenção, elas buscam por isso.
Veja a forma que elas falam sobre o comportamento da profissional.
“Assim ela não tem escolha, cada um com seu problema, mais eu vejo que do jeito que ela conversa comigo, ela conversa com todo mundo, ela entende todo mundo. Meu dia a dia com ela é bom, se não tivesse ela aqui, acho que seria muito difícil pra gente, porque ela que faz as coisas por nós” (Bela, 16 anos).
“Eu quase não falo com ela, porque ela fica lá dentro ajeitando umas coisas pra nós, ai eu quase não tenho contato com ela, mas quando ela chega de manha ela fala, quando preciso de algo e vou atrás dela sou bem recebida ela é maravilhosa”. (Lys, 15 anos)
“Trabalho foi até ela me inscreveu no primeiro passo, ai não tenho muito contato, porque quando saio de manhã ela ainda não tá aqui, chego meio dia só da tempo de tomar banho, comer e ir pro colégio, ai não tenho muito tempo de ver ela não. Mais as poucas vezes que estou com ela, as vezes levando carão as vezes não, meu relacionamento com é bom também” (Mel, 16 anos).
“Bom, só às vezes eu falo com ela só, não tenho atendimento com ela todo
dia não, mais todo dia ela fala quando chega, brinca, quando a gente procura, ela dá
atenção”. (Sol, 15 anos). As adolescentes da unidade são transparentes em relação
ao afeto, nos relatos acima podemos ver como elas se atentam na profissional ser
65
atenciosa, brincar com elas, dar “bom dia”. Ou seja, coisas simples que para elas
significam muito.
Nesse primeiro momento expus as entrevistas, no qual já foi possível notar
que a relação das adolescentes com a assistente social é boa, elas enxergam esse
profissional como uma ajuda. Como menciona a adolescente Flor: “Ela é uma
pessoa boa que ajuda nós”.
Entretanto, outro fator importante durante a pesquisa foi a observação, pois
só entrevistei seis meninas, e na casa estão acolhidas quinze, portanto a questão do
olhar foi de extrema importância para verificar aquelas que não foram entrevistadas.
Vygotsky (2001) concorda que as emoções atribuem o caráter complexivo e
diversificam o comportamento emocional de uma pessoa, a partir da observação
cotidiana que pode revelar a presença das emoções no agir do indivíduo. Para o
autor, o comportamento é um processo que se estabelece da interação entre o
organismo e o meio que está inserido.
Na Unidade de Acolhimento Nova Vida como já foi dito são adolescentes do
sexo feminino com a idade de 12 aos 18 anos. Mas no momento da técnica de
observação, percebi que as meninas mais novas, as que se enquadram na faixa
etária de 12, 13 anos são mais próximas da profissional. Quando a assistente social
chega a unidade, as adolescentes estão tomando o café da manhã. Entretanto,
quando avistam a chegada da profissional se levantam da mesa, correm em direção
da mesma, abraçam, beijam o rosto, umas se prontificam em levar a bolsa para a
sala. Outras já vão falando, ah! Hoje quero falar contigo viu. Verifiquei os prontuários
das adolescentes e um ponto me chamou atenção foi que as adolescentes mais
próximas da assistente social são as que foram adotadas, são órfãs. Dessa forma,
percebo que busca na assistente social um afeto que por vezes não tinham em
casa.
Segundo Silva (2002, p.27) “toda criança traz marcas de sua família, que
continua ‘vivendo nela’: são vivências únicas, que precisarão ser consideradas por
todos os responsáveis pelos serviços de acolhimento”. Assim, na complexidade do
66
dia a dia institucional, todos, mesmo que inconscientemente, lidam ou buscam
naquilo que já vivenciaram respostas para as mais diversas demandas
apresentadas. Essa “face a face” com essas experiências pode proporcionar
relações/reações agradáveis ou não.
67
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o referido estudo foi possível observar que o exercício profissionaldo
assistente social ocorre dentro dos mais diferentes espaços sócios ocupacionais.
Um dos ambientes em que a profissão se insere ocorre dentro das Unidades de
Acolhimento.
Também caracterizada poruma profissão interventiva, no qual possui todo o
embasamento teórico necessário para realizar a intervenção referente às refrações
da questão social e na defesa dos direitos humanos e incentivo ao acesso às
políticas públicas existentes.
Como visto no referido estudo, as instituições de acolhimento são espaços
que devem garantir o direito das crianças e adolescentes à convivência familiar e
comunitária.Dessa forma o assistente social exerce um papel de extrema
importância nessa realidade, já que esse profissional acompanha a criança ou o
adolescente desde a entrada na unidade até a reintegração dos mesmos na família
de origem e quando não possível o retorno, a inserção em uma família substituta.
As questões nas quais podemos trabalhar o tema adolescente em situação de
acolhimento são as mais diversas. Dessa forma,esteestudo retratou a visão das
adolescentes abrigadas na Unidade de Acolhimento Nova Vida. Durante o percurso
da pesquisa é visível que essas meninas são sujeitos que demandam políticas
públicas específicas em suas realidades e necessidades. Ou seja, precisam ser
escutadas e terem seus direitos preservados.
Levando em consideração a atual realidade do acolhimento de crianças e
adolescentes vêm se tornando cada vez mais comum, e a atuação do assistente
social que é tão importante nessecontexto, torna-se imprescindível à realização
deste estudo. Percebo também, como são necessárias mais pesquisas e estudos
nessa área, além de maior divulgação dos resultados para que se multiplique a
abrangência de estudos e temáticas referentes a percepção de crianças e
adolescentes que vivem em situação de acolhimento, já que são os sujeitos
principais de intervenção
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O objetivo principal deste trabalho foi pesquisar através dos elementos
alcançados da instituição referida através de observação, questionários, entrevistas
qual era a percepção das adolescentes que se encontravam em situação de
acolhimento sobre a assistente social e verificar qual era a relação existente entre as
partes. Assim, busquei observar o dia a dia da unidade, o comportamento das
meninas na hora da chegada da profissional, na hora do atendimento individual das
mesmas, ou seja, o cotidiano delas.
Assim apliquei um questionário com a assistente social, entrevistas com seis
adolescentes, me propus a relacionar as respostas das adolescentes com as
informações obtidas da profissional, isso foi interessante pelo fato de confrontar as
duas partes e verificar se as informações obtidas se coincidiam ou eram realidades
diversas. Para alcançar o objetivo da pesquisa, a técnica de observação também foi
muito útil já que nem todas as adolescentes foram entrevistadas, e precisa alcançar
o objetivo proposto analisando o todo.
Com a realização da pesquisa foi observado que no âmbito das instituições
de acolhimento, o assistente social atua com o atendimento de crianças e
adolescentes na perspectiva da garantia de direitos sociais. Pautado em análises,
estudos e intervenções práticas que visam concretizar os direitos da criança e
adolescentes em situação de acolhimento. Desse modo existe umcontato direto
entre os usuários dos serviços de acolhimento e o profissional de serviço social.
Diante da realidade pesquisada observei não só pelas falas no momento da
entrevista onde friso algumas novamente: Flor: “Ela é uma pessoa boa que ajuda
nós”, “se não tivesse ela aqui, acho que seria muito difícil pra gente, porque ela que
faz as coisas por nós” (Bela, 16 anos). Como também no momento em que estava
só como observadora e via quando a profissional chegava a unidade, algumas iam a
sua procura, abraçavam. Ou até mesmo nos momentos ruins que elas relatam que é
quando levam “carão”, ou seja,quando elas precisavam ser chamadas atenção por
algum ato, era perceptível que algumas não gostavam, até diziam não mais falar
com a assistente social, mas logo em seguida voltavam e pediam desculpas.
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De acordo com os dados obtidos, nota-se que são vários os fatores
evidenciados que possibilitou verificar uma “boa relação” entre as adolescentes com
a profissional. Tais como: a forma informal de falar da profissional quando chega:
“Bom dia meninas”, “Vocês estão bem mesmo”, “de um jeito engraçado, também
perguntava, não aprontaram nada não né depois que sai daqui ontem”. O jeito que
acolhem a profissional: “Oi tia, tá tudo com a Senhora”, se notam que a mesma está
diferente elas também perguntam: “O que foi tia, tu tá tão estranha”, como se
comportam durante seus acolhimentos individuais, no qual ficam bem a vontade
relatando suas coisas, como se tivesse contando para uma amiga.
Outro fator que evidenciou um bom relacionamento das partes, justifico pelo
fato que asmeninas do Nova Vida, vem de um histórico onde tiveram direitos
violados, onde por muitas vezes pela condição em que a família vive, essas
adolescentes não receberam em suas casas uma atenção necessária. Verifiquei que
são meninas que valorizam a questão do afeto, muitas demonstram e buscam
carinho. Durante as entrevistas o que mais escutei foi que a profissional era
atenciosa, se preocupava com elas.
Outro objetivo buscado na pesquisa era saber das meninas se elas entendiam
o que o assistente social fazia. Sabe-se que esse profissional trabalha para
proporcionar garantias de direitos para as adolescentes. Entretanto durante a
pesquisa percebi que as meninas observam o trabalho como ajuda. Ou seja, a
assistente social para elas é a “ajuda” para saírem daquela situação.
Acredito, portanto que alcancei o que buscava com a pesquisa verifiquei que
as adolescentes entendem o quão importante é a atuação da assistente social, mas
ainda o enxergam como ajuda e não como um profissional que está ali para garantir
seus direitos. E a relação acontece de uma forma boa por conta da atenção, do
respeito passado por esse profissional no qual as meninas tanto valorizam.
Ressaltando que em alguns momentos são chamadas pela assistente social por
algo que fizeram e acabam às vezes não gostando.
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APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas para as adolescentes
- Dados pessoais da entrevistada
- Porque foi para o Nova Vida?
- Como foi o primeiro contato com a assistente social?
- O que acha da assistente social?
- Gosta do trabalho da assistente social? Porque?
- Como é seu dia a dia na unidade?
- Como é seu dia a dia com a assistente social?
- O que você acha que o assistente social faz?
APÊNDICE B – Questionário para Assistente Social
- Em que ano e instituição se formou?
- Por que escolheu o curso de Serviço Social?
- Quais as experiências marcantes na faculdade?
- Descreva sua trajetória profissional?
- O que você achou das experiências profissionais em relação ao que foi visto na
faculdade?
- De que forma ingressou na unidade?
- Quando começou a trabalhar na unidade?
-Quais as experiênciasmais lhe marcaram no trabalho na unidade?
- O que acha do trabalho de acolhimento institucional e de trabalhar na unidade?
- Como você vê seu relacionamento com as acolhidas da unidade?