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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANA PAULA BEZERRA CAVALCANTE SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS: UMA ANÁLISE SOBRE OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA PELOS PARTICIPANTES DO GRUPO DE DIREITOS SOCIAIS DO CAPS GERAL SER III HUWC/UFC FORTALEZA 2014.1

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · 2015-03-12 · centro de ensino superior do cearÁ faculdade cearense – fac curso de serviÇo social ana paula bezerra cavalcante

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE – FaC

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANA PAULA BEZERRA CAVALCANTE

SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS: UMA ANÁLISE SOBRE OS

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO

CONTINUADA PELOS PARTICIPANTES DO GRUPO DE DIREITOS

SOCIAIS DO CAPS GERAL SER III HUWC/UFC

FORTALEZA – 2014.1

ANA PAULA BEZERRA CAVALCANTE

SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS: UMA ANÁLISE SOBRE OS

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

PELOS PARTICIPANTES DO GRUPO DE DIREITOS SOCIAIS DO CAPS GERAL

SER III HUWC/UFC

Monografia submetida à aprovação do Curso de

Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense

– FaC, como requisito parcial para obtenção de título de

Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes

FORTALEZA 2014.1

ANA PAULA BEZERRA CAVALCANTE

SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS: UMA ANÁLISE SOBRE OS

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

PELOS PARTICIPANTES DO GRUPO DE DIREITOS SOCIAIS DO CAPS GERAL

SER III HUWC/UFC

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas professores.

Data de aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes

(Orientadora)

___________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Mayra Rachel da Silva

___________________________________________________________________

Profª. Esp. Verbena Paula Sandy

Dedico este trabalho ao meu esposo Claudio Sérgio por todo o incentivo, companheirismo e palavras encorajadoras e ao meu filho João Victor por todo amor, carinho e compreensão.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que sempre esteve comigo me

iluminando em todo o meu caminho, fazendo esse sonho se tornar possível.

Agradeço ao meu esposo por ter me incentivado sempre em meus

estudos, sacrificando-se para me proporcionar a conquista dessa graduação.

Obrigada pela paciência, companheirismo e compreensão, durante todo o processo

de construção desse trabalho.

Ao meu filho querido, por todo amor, amizade e compreensão, estando

sempre ao meu lado em todos os momentos.

À minha orientadora Profª Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes, que me

mostrou os caminhos para a construção deste trabalho. Meus agradecimentos pelas

orientações, por toda a paciência e dedicação.

Agradeço a todos os profissionais do CAPS, em especial minha

supervisora de campo: a Assistente Social Ms. Ana Karla Batista Bezerra Zanella

pelo o exemplo de profissional, pela a força e por todo incentivo.

Aos meus pais, que são pessoas muito importante para mim, muito

obrigada pelas palavras de incentivo, e aos meus irmãos, que sempre acreditaram

na minha capacidade de vencer.

Às minhas amigas de sala, que me acompanharam em toda a minha

trajetória acadêmica. Em especial a Tamar Pacheco, Renata Medeiros, Priscila

Soares, Renata Vivian, Suyanne Xavier e Ana Jessica. Pela companhia e amizade,

muito obrigada.

Às professoras Verbena Paula Sandy e Mayra Rachel da Silva por terem

aceitado o convite de participarem desse momento tão importante.

A todos os meus professores, que me ensinaram a ter outra percepção da

vida, ampliando o meu olhar crítico sobre a realidade. Por toda dedicação, muito

obrigada.

“Os que desprezam os pequenos

acontecimentos nunca farão grandes

descobertas. Pequenos momentos mudam

grandes rotas.”

Augusto Cury

RESUMO

Os direitos das pessoas com transtornos mentais foram sendo conquistados ao longo dos anos com muita luta e esforço de familiares, usuários e profissionais que atuam com este segmento social, e dentre estes direitos destacamos o Benefício de Prestação Continuada, um direito previsto na Constituição Brasileira de 1988, e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social em 1993, mas que somente foi implementado em 1996. O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar o significado atribuído ao Benefício de Prestação Continuada pelos participantes do Grupo de Direitos Sociais do CAPS Geral Ser III – HUWC/UFC. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujo percurso metodológico envolveu pesquisa bibliográfica, consulta a fontes documentais e pesquisa de campo. Na pesquisa de campo utilizamos um roteiro de entrevistas semi-estruturado com perguntas direcionadas tanto aos participantes do Grupo de Direitos Sociais já contemplados com o benefício, como os que ainda estavam em processo de aquisição. Os resultados da pesquisa mostraram que a noção de direito associada à lógica do favor ainda é algo bastante marcante na realidade pesquisada, o que significa um retrocesso para a consolidação de direitos. Constatamos que a garantia do benefício é de grande importância para a vida de seus beneficiários e suas famílias, respondendo principalmente as questões essenciais necessárias a reprodução da vida humana.

Palavras-chave: Assistência Social; Benefício de Prestação Continuada; Direitos Sociais; Saúde Mental.

ABSTRACT

The rights of people with mental disorders were being won over the years with much struggle and effort of family members, users and professionals working with this social segment, and among these rights include the Continuous Cash Benefit a right referred to in Brazilian Constitution 1988 and regulated by the Organic Law of Social assistance in 1993, but that was only implemented in 1996. This course conclusion work aims to analyze the meaning attributed to the Continuous Cash Benefit by group participants CAPS General Social Rights being III - HUWC / UFC. This is a qualitative study, which used methodology involved literature review, consultation of documentary sources and field research. In the field research we used a semi-structured questionnaire directed participants to both the Group of Social Rights has awarded the money, as they were still in the process of acquisition of interviews. The results showed that the notion of logic associated with the right support is still something quite remarkable about the researched, which means a throwback to the consolidation of rights. We note that the guarantee of benefit is of great importance to the lives of their beneficiaries and their families, especially answering the key questions necessary for reproduction of human life.

Keywords: Social Assistance; Continued Benefit; Social Rights; Mental Health.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CAPS I – Centro de Atenção Psicossocial Infantil

CAPS ad – Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas

CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

CID – Classificação Internacional das Doenças

COOPCAPS – Cooperativa do Centro de Atenção Psicossocial

CSF – Centros de Saúde da Família

EJA – Educação de Jovens e Adultos

HUWC– Hospital Universitário Walter Cantídio

IAPs- Instituto de Aposentadorias e Pensões

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

LOS – Lei Orgânica da Saúde

M.S – Ministério da Saúde

MDS – Ministério de Desenvolvimento Social

MTSM – Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS – Núcleos de Atenção Psicossocial

ONU – Organização das Nações Unidas

PBF – Programa Bolsa Família

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

SUS – Sistema Único de Saúde

SUMÁRIO

INTRODUÇÂO .......................................................................................................... 11

1. TECENDO UMA REFLEXÃO SOBRE SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS.................................................................................................................... 16

1.1 Considerações acerca da loucura e a antiga estrutura da internação psiquiátrica ............................................................................................................. 16

1.2 As bases sócio-históricas de construção do modelo antimanicomial em saúde mental no Brasil ..................................................................................................... 20

1.3 Lei Paulo Delgado: uma esperança para a liberdade .................................... 27

1.4 Direitos Sociais no Brasil na perspectiva da Seguridade Social .................... 30

2. SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO .............................. 36

2.1 Os Centros de Atenção Psicossocial no Brasil .............................................. 36

2.2 Conhecendo o CAPS Geral Ser III Professor Frota Pinto .............................. 41

2.2.1 O Serviço Social na Instituição ............................................................... 45

2.3 O Grupo de Direitos Sociais e os direitos da pessoa com transtorno mental 46

2.4 O BPC no contexto da Política Nacional de Assistência Social ..................... 49

3. OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BPC PELOS INTEGRANTES DO GRUPO DE DIREITOS SOCIAIS DO CAPS ............................................................ 54

3.1 Conhecendo os sujeitos da pesquisa ............................................................. 54

3.2 A compreensão dos sujeitos entrevistados sobre o BPC ............................... 63

3.3 A importância do BPC na vida dos entrevistados .......................................... 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 77

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80

APÊNDICES ............................................................................................................. 84

ANEXOS ................................................................................................................... 89

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INTRODUÇÂO

A Constituição Federal de 1988, juntamente, com a Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS – Lei 8.742/93 estabeleceram a redefinição histórica da

assistência social no Brasil. Dessa forma, a assistência social, no país, ganhou

amparo legal e, além disso, passou a integrar o tripé de Seguridade Social,

juntamente, com a previdência social e a saúde. Logo, a Política Nacional de

Assistência Social – PNAS se constitui como uma política não contributiva, que deve

ser desenvolvida com o intuito de prevenir às diversas formas de exclusão social.

Sendo assim, o Benefício de Prestação Continuada – BPC é um direito próprio da

política de assistência social, que aliado às demais políticas contribui com a

proteção social para idosos e pessoas com deficiência, dentre elas as pessoas com

transtornos mentais.

Neste trabalho trato1 sobre o significado do BPC, a partir do ponto de vista

dos participantes do Grupo de Direitos Sociais, desenvolvido no CAPS Geral Ser III

– Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará –

HUWC/UFC. Analisando, assim, a compreensão que os eles possuem sobre o

benefício e a importância que esse direito representa na vida deles.

A problemática discutida neste trabalho foi identificada a partir de minha

vivência de estágio supervisionado em Serviço Social, no Centro de Atenção

Psicossocial – CAPS Geral da Secretaria Executiva da Regional III (SERIII),

localizado na Rua Francisco Pedro, 1269 - Rodolfo Teófilo, no qual realizei

participação em grupos desenvolvidos na instituição, visitas domiciliares, bem como

observei a atuação profissional do assistente social. Foi através dessa vivência,

principalmente, quanto à participação no Grupo de Direitos Sociais, que despertei o

interesse em pesquisar qual o significado, que os participantes do grupo atribuíam,

ao Benefício de Prestação Continuada - BPC.

1 Expresso-me em primeira pessoa para enfatizar a minha trajetória enquanto pesquisadora,

destacando, inicialmente, as motivações que me levaram a pesquisar o tema, bem como descrever todo o percurso metodológico da pesquisa. Nos capítulos subsequentes, quando apresento os resultados da pesquisa, utilizo o verbo na terceira pessoa do plural.

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Para mim, a participação no grupo de Direitos Sociais foi de grande

importância, pois, além de ter tido a oportunidade de participar de uma atividade

privativa do Serviço Social na instituição, o ótimo acompanhamento de minha

supervisora de campo, levou-me a associar a teoria aprendida na academia com a

prática propriamente dita. Deparei-me com as contradições, que permeiam a

realidade dos direitos sociais e a falta de informação dos usuários, como também,

pude aprender a prática profissional na intervenção dessa realidade.

Em um ano e meio de vivências no grupo, pude perceber que, dentre os

direitos das pessoas com transtornos mentais, o BPC era o mais solicitado pelas

pessoas na busca por informações e orientações. As dúvidas eram recorrentes com

relação ao benefício e, na maioria das vezes, confundiam como uma aposentadoria.

Isso foi o que me motivou a pesquisar como essas pessoas compreendiam o

benefício.

Durante os atendimentos semanais do grupo, atendemos um familiar de

usuário do CAPS, um senhor de aproximadamente sessenta anos. Esse senhor que,

inclusive é participante desta pesquisa, é o cuidador do filho. Em 2012, esse senhor

sofreu um acidente vascular cerebral, que acabou comprometendo um pouco os

seus movimentos do braço e de uma perna. Mesmo assim, é ele quem se

responsabiliza pelo o filho para trazê-lo às consultas e às outras atividades no

serviço. Além disso, o pai acompanha o filho em um processo judicial, haja vista que

seu filho em um momento de crise psicótica acabou se envolvendo em uma

confusão. O contexto de vulnerabilidade social, específica dessa família, instigou-me

a entender qual a importância do beneficio, não somente para a vida das pessoas

com transtornos mentais, mas também para a família, que acompanha todo o

processo de aquisição do benefício.

Cabe destacar que para a realização da pesquisa de campo, foi

necessária a submissão do projeto de pesquisa na Plataforma Brasil2, o qual foi

avaliado pelo o Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Escola Assis

Chateaubriand. O projeto também foi avaliado pelo Sistema Saúde Escola da

2 A Plataforma Brasil é um sistema eletrônico criado pelo Governo Federal para sistematizar o

recebimento dos projetos de pesquisa que envolvem seres humanos nos Comitês de Ética em todo o país.

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Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza e autorizado pela Secretaria Executiva

Regional III.

Para adquirirmos um melhor resultado com a pesquisa, optei pela

abordagem qualitativa, pois entendo que essa abordagem possibilita uma melhor

compreensão dos significados e interpretações atribuídos pelos sujeitos ao objeto

pesquisado. Segundo o pensamento de Martinelli (1999, p.21):

[...] essa pesquisa tem por objetivo trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a respeito.

Enfatizo que para o alcance dos objetivos, utilizei fontes bibliográficas,

que segundo Lakatos e Marconi (1996), referem-se ao levantamento de documentos

já publicados sobre o assunto, que estão sendo pesquisados em livros, jornais,

revistas, monografias, dentre outros, com o objetivo de fundamentar teoricamente a

pesquisa ou para justificar seus limites e contribuições.

Para a realização da pesquisa também recorri a fontes documentais como

os formulários de avaliação socioeconômica do Grupo de Direitos Sociais do CAPS

e prontuários, com a finalidade de buscar informações relevantes quanto ao perfil

social dos participantes da pesquisa, bem como, também, identificar a classificação

da doença que perpassa a vida dos usuários. De acordo com Bertucci (2012, p.57),

“a pesquisa documental consiste na realização do trabalho monográfico tendo como

referência a leitura, a análise e a interpretação de documentos existentes acerca de

um determinado fenômeno”.

Ressalto, ainda, que a pesquisa obedeceu ao método de amostragem por

saturação dos dados. De acordo com Fontanella (2008), entendemos que:

O fechamento amostral por saturação teórica é operacionalmente definido como a suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados

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obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, uma certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados. (FONTANELLA, 2008, p.17)

Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados entrevistas

semiestruturadas, gravadas de acordo com o consentimento dos participantes,

mediante esclarecimentos do Termo de Compromisso Livre Esclarecido, que foi

assinado em duas vias, uma para o participante e outra para a pesquisadora,

(disponível nos apêndices, pág.84 -85), bem como as observações registradas nos

diários de campo.

Destaco que o método utilizado na aplicação da pesquisa e análise dos

dados será o materialismo histórico dialético que segundo Netto (2009), consiste no

método de pesquisa que leva em consideração o movimento dialético e a

historicidade do objeto pesquisado, no qual parte da realidade imediata, porém, visa

a compreender o objeto na sua essência, na sua totalidade.

O universo da pesquisa foi representado por todos os participantes já

atendidos pelo referido grupo até fevereiro do presente ano, e, como amostra,

destacamos que, a priori, objetivava entrevistar 8 pessoas, contudo, devido às

dificuldades de localizar algumas pessoas via telefone, optei entrevistar 6 pessoas,

que contribuíram amplamente com a pesquisa.

Inicialmente, lancei-me em campo para coletar informações quanto aos

nomes e telefones das pessoas, que participaram do grupo, selecionando, assim,

um número considerável de pessoas que pudessem participar da pesquisa. Logo,

comuniquei-me com algumas dessas pessoas, informando os objetivos da pesquisa

e agendei a data e o horário para a realização das entrevistas.

A pesquisa foi realizada em uma sala disponível na própria instituição, no

horário e no dia sugerido pelos participantes da pesquisa, sendo que cada entrevista

teve duração aproximada de 30 a 40 minutos. Vale ressaltar que, a maioria das

entrevistas, foi realizada com familiares, pois, na maioria das vezes, são os

familiares que participam do grupo na busca de informações sobre os direitos de

seus parentes. Além disso, considero que a família assume um papel importante

acompanhando todo o processo de aquisição do benefício.

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Este trabalho encontra-se dividido em três capítulos, no qual o primeiro

está dividido em quatro tópicos. Nesse capítulo, tratamos acerca de algumas

considerações sobre a loucura, dando ênfase ao modo como as pessoas com

transtornos mentais eram tratados na antiga estrutura de internação psiquiátrica,

enfatizando todo o processo brasileiro sobre o desenrolar da Reforma Psiquiátrica

no país, que caminhava ao lado da Reforma Sanitária na luta pelo direito à saúde e

pelos direitos das pessoas com transtornos mentais. Nesse capítulo, também,

abordamos, brevemente, a trajetória histórica dos direitos sociais no mundo e no

contexto brasileiro, revelando as conquistas, contradições e desafios que permeiam

esses direitos na atualidade.

O segundo capítulo, que está estruturado em quatro tópicos, aborda a

saúde mental no contexto contemporâneo, tratando inicialmente sobre o surgimento

dos CAPS no país, como equipamentos substitutivos ao modelo hospitalocêntrico,

com destaque na criação do primeiro CAPS do Brasil no ano de 1987. Realizamos

um critica embasada nos autores sobre como esses equipamentos devem assumir e

realizar seu papel na sociedade. No segundo tópico discorremos sobre o CAPS

onde foi realizada a pesquisa, com destaque na criação da instituição, na sua

missão com a sociedade, bem como, explicitando as atividades que são

desenvolvidas no serviço, que visam sempre o bem estar mental e a garantia dos

direitos das pessoas com transtornos mentais. Nesse capítulo, também

apresentamos o Grupo de Direitos Sociais desenvolvido no serviço como um espaço

que contribui para a socialização de informações referentes aos direitos das pessoas

com transtornos mentais, destacando o BPC como o direito de enfoque da pesquisa.

Nos três tópicos do terceiro capítulo, apresentamos a análise sobre o

significado social do BPC, a partir da visão dos participantes da pesquisa,

destacando sobre o perfil social dos entrevistados, a compreensão que eles

possuem acerca do benefício e a importância do benefício para a vida dos

beneficiários e de suas famílias.

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1. TECENDO UMA REFLEXÃO SOBRE SAÚDE MENTAL E DIREITOS SOCIAIS

1.1 Considerações acerca da loucura e a antiga estrutura da internação

psiquiátrica

A história revela várias concepções sobre a loucura, as quais foram se

configurando desde a Idade Clássica 3até os tempos contemporâneos. Dessa forma,

para compreendermos a saúde mental na contemporaneidade, faz-se necessária a

realização desse resgate histórico.

A elaboração teórica de Foucault (2010) desvela a história da loucura,

afirmando que, na idade média, período compreendido entre os séculos V e XV, a

discriminação social contra as pessoas que possuíam alguma “anormalidade” era

presente naquele contexto. O autor destaca que nesse período, as pessoas

acometidas pela lepra foram, por muito tempo, vítimas de discriminação e exclusão

social, visto que por ter sido considerada uma doença incurável e contagiosa, essas

pessoas eram excluídas do meio da sociedade e destinadas a viverem isoladas em

leprosários, lugar destinado aos indivíduos leprosos.

É somente no final da Idade Média que ocorre uma certa desmistificação

da lepra. Contudo, Foucault (2010) ressalta que, o arcabouço de exclusão social

perdurou nos séculos subsequentes através dos espaços utilizados para isolar as

pessoas tidas como loucas pela sociedade.

Desaparecida a lepra, apagado (ou quase) o leproso da memória, essas estruturas permanecerão. Frequentemente (sic) nos mesmos locais, os jogos da exclusão social serão retomados estranhamente semelhantes aos primeiros, dois ou três séculos mais tarde. Pobres, vagabundos, presidiários e “cabeças alienadas” assumirão o papel abandonado o pelo lazarento, e veremos que salvação espera dessa exclusão para eles e para aqueles que os exclui. (FOUCAULT, 2010, p.10)

Dessa forma, a lepra deixa de ser o alvo principal de discriminação e

preconceito, sendo, portanto, atribuído à loucura o sinônimo de exclusão social, mas

3 A Idade Clássica compreende ao período entre os séculos VII e VIII a.c, até o início da Idade Média 476 anos

d.c.

17

não somente os loucos, também as pessoas pobres, os presidiários e os flagelados

viveriam a experiência da exclusão.

Vale acrescentar que o fenômeno da loucura, em diferentes períodos

históricos, passou por diversas concepções até o seu estreito relacionamento com a

saúde mental no contexto contemporâneo. De acordo com Bisneto (2011, p.173), a

loucura era compreendida como:

[...] castigo dos deuses, como experiência trágica da vida, como pocessão de demônios, como poderes sobrenaturais. Era considerado como experiência diferente da vida, ora apreciada, ora combativa, dependendo da sociedade em que se expressava, ou de como se manifestava nos diferentes contextos.

Sendo assim, percebemos que foi atribuído à loucura um sentido

espiritual, no qual a expressão loucura foi por muito tempo entendida como obra do

demônio, como um castigo.

Conforme ressaltamos anteriormente, Foucault (2010) destaca que a

loucura em sua fase inicial era compreendida como fenômeno natural. Todavia, a

partir de meados do século XVII, a concepção de loucura atravessou uma notável

transformação, em que os protagonistas do cenário de exclusão social passariam a

serem os loucos.

Dessa forma, foi-se expandindo, rapidamente, a criação de casas de

internamento, lugares servidos para confinamento de loucos, pobres e

desempregados. Conforme o autor supracitado, o internamento foi o modelo mais

perceptível da experiência clássica da loucura. Ele faz referência ao ano de 1656

como memorável a esse momento da loucura, tendo em vista que, foi no referido

ano. que foi criado, na cidade de Paris, o Hospital Geral, uma das principais

instituições de internamento da época. Vale ressaltar que esses locais não

objetivavam tratamentos médicos e terapêuticos, mas sim o isolamento e a

repressão de seus internos.

De acordo com Cavalcanti (2010), ao analisar a história da loucura no

Brasil, o autor afirma que os primeiros asilos, equipamentos construídos para se

18

conter a loucura, surgem ainda no período colonial com a vinda da família real

portuguesa em 1808. O autor revela que nessa época foi criado o Hospício D.Pedro

II, como o primeiro a internar e a isolar os doentes mentais do convívio social.

Foi nesta época que foram construídos os primeiros asilos que funcionavam como depósitos de doentes, mendigos, delinqüentes e criminosos, removendo-os da sociedade, com o objetivo de colocar ordem na urbanização, disciplinando a sociedade e sendo, dessa forma, compatível ao desenvolvimento mercantil e as novas políticas do século XIX. (CAVALCANTI, 2010, p.3)

Nesse sentido, verificamos na história, que as pessoas excluídas da

sociedade portuguesa eram trazidas para o Brasil na tentativa de esconder as

mazelas da realidade portuguesa, ou seja, as pessoas consideradas loucas,

criminosos, pobres dentre outros, eram retiradas do seu convívio social e destinadas

ao isolamento social, haja vista que Portugal era um país que vinha se sobressaindo

economicamente.

Conforme o pensamento de Foucault (2010, p.61), esses espaços,

criados para conter a loucura, possuem um significado que está para além do ato de

aprisionar. O gesto de aprisionamento ou isolamento social possui “significações

políticas, sociais, religiosas, econômicas, morais”. A prática de isolar alguém está

muitas vezes relacionada a essas questões, que permeiam a sociedade e que

expressam os interesses de uns sobre outros. Trata-se, por exemplo, de isolar a

loucura e esconder a pobreza para higienizar a sociedade de suas mazelas.

Como uma forma de demonstrar as implicações da loucura sobre os

aspectos sociais e econômicos, o autor relaciona a questão do internamento à crise

econômica vivenciada na Europa do século XVII. Essa crise propiciou o aumento do

desemprego e da pobreza e a melhor forma encontrada para intervir neste cenário

foi a repressão. Dessa forma, assim como a pobreza, a loucura passou a ser

entendida como questão de polícia, pois se entendia que os indivíduos que

perturbassem a ordem social deveriam ser contidos da sociedade.

Outro viés destacado por Foucault (2010) refere-se à apreensão da

loucura ainda no século XVII. Nesse período, a questão da loucura e o crime se

19

tornou algo intrínseco, ou seja, essas duas concepções possuíam a mesma

natureza e tinham como destino as casas de internamento ou as instituições

hospitalares.

Em especial, no transpor da segunda metade do século XVII, esses

espaços passaram por uma reformulação, haja vista que a associação da loucura

com o crime destinou a compreensão de loucura ao fato de esta ser uma ameaça

para a sociedade. Nesse sentido, a loucura foi ainda mais isolada, com o objetivo de

“reduzir a contaminação, destruindo as impurezas e vapores, diminuindo todas

essas fermentações, impedir que o mal e os males viciem o ar espalhando seu

contagio pela atmosfera das cidades”. (FOUCAULT, 2010, p.393)

Em decorrência da associação da loucura com o crime, novos asilos

específicos foram criados para emoldamento da loucura. Foucault (2010) destaca

que tais asilos, mantendo suas funções primordiais, eram organizados de forma que

os indivíduos, que ali entrassem, não saíssem a fim de não contaminar a sociedade:

“[...] asilo onde o desatino seria inteiramente contido e oferecido em espetáculo, sem

perigo para os espectadores, [...] asilo restituído a sua verdade de jaula”

(FOUCAULT, 2010, p.393).

Mais tarde, a experiência do internamento passaria a ser rediscutida.

Devido à crise econômica no final do século XVIII, foi necessário rever o isolamento

de pessoas que pudessem ser úteis para a economia, haja vista que, quanto maior

se tornasse a população, mais barata seria a mão de obra para a indústria. Dessa

forma, os indivíduos que estivessem nos manicômios, casas de internamento

deveriam ser liberados e incorporados pela produção econômica.

Foi, portanto, a partir da promulgação da Declaração Universal dos

Direitos do Homem e do Cidadão4, em 1789, que as ideias acerca do internamento

tomaram forma. Essa declaração representou a possibilidade das pessoas, que

fossem aptas para a vida em sociedade, voltassem ao convívio social, restringindo,

assim, o internamento aos criminosos e aos loucos considerados inaptos para a vida

em sociedade. 4 A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada em agosto de 1789,

pela burguesia revolucionária francesa. Representou parte de um processo revolucionário, que objetivava a luta da burguesia para transformar o direito natural em direito social e político, com a criação de normas e leis que viabilizassem o direito na lógica capitalista.

20

Nesse contexto, a loucura começa a ter uma relação de proximidade com

a medicina a partir do final do século XIX, passando a ser encarada como doença. A

avaliação médica, portanto, passou a ser requisito essencial para a entrada de

pessoas nos asilos. No entanto, apesar dessa aproximação entre medicina e

loucura, as características essenciais do internamento foram mantidas até a

segunda metade do século XX.

Conforme Foucault (2010), a prática de julgar e punir e a ausência de um

modelo de atenção voltada ao cuidado e ao tratamento somente foram interpelados

com a ascensão do Movimento de Reforma Psiquiátrica em meados de 1970, que

imprimiu uma nova ótica para a loucura, relacionada ao direito e a um tratamento

humanizado em saúde mental. Ou seja, um modelo antimanicomial que fosse contra

a qualquer tipo de privação do convívio social e familiar e compreendesse as

pessoas com transtornos mentais como sujeitos de direitos.

1.2 As bases sócio-históricas de construção do modelo antimanicomial em

saúde mental no Brasil

A saúde no Brasil nem sempre foi compreendida na perspectiva do

direito. Segundo Paim (2009), havia em nosso país uma espécie de não sistema de

saúde, pois ele não consistia em um elemento fundamental para a dignidade da

pessoa humana. Não havia na Constituição Brasileira a garantia de uma saúde

pública gratuita e de qualidade para todos os cidadãos.

Ainda conforme Paim (2009), na época da República Velha, o Estado

liberal entendia que qualquer intervenção por parte do Estado na saúde, só deveria

acontecer em situações específicas em que o indivíduo sozinho e a iniciativa privada

não pudessem responder, ou seja, o Estado não era obrigado a intervir na saúde

haja vista que a saúde não era compreendida sob a ótica do direito.

O país vivenciava, nesse período, uma série de transformações de ordem

econômica e política. A economia agroexportadora se viu ameaçada por surtos de

epidemias e o Estado oligárquico liberal foi requisitado a realizar ações de combate

21

às endemias nos portos e nas cidades, instituindo a vacinação de caráter

obrigatório.

Segundo Paim (2009), a saúde não era compreendida como questão

social de responsabilidade do Estado e as ações sanitárias eram executadas de

forma coercitiva, sendo que a sociedade se via obrigada a aceitar as formas que o

Estado encontrava para controlar os surtos de epidemias da época. Paim (2009,

p.29) destaca que, “a realização de campanhas lembrava uma operação militar, e

muitas das ações realizadas inspiravam-se no que se denomina polícia sanitária”.

A saúde pública da época era caracterizada por ações de campanhas

sanitaristas. Tais ações eram realizadas, episodicamente, e eram voltadas ao

combate de doenças específicas como, por exemplo, a febre amarela, tuberculose,

hanseníase e varíola. Ainda conforme o autor (Paim, 2009), as pessoas eram

coagidas, muitas vezes, com violência a tomarem as vacinas para controle dessas

doenças. Contudo, cabe ressaltar que a principal intenção do Estado em promover

essas campanhas, era que essas doenças fossem controladas, a fim de não

atrapalhar, nem interferir nos rumos econômicos do país. Destaca-se, ainda, que

não havia assistência médica para todos, pois somente as pessoas inseridas no

mercado de trabalho, ou seja, aquelas que contribuíam, tinham direito a alguma

assistência.

Ainda de acordo com Paim (2009), a saúde também era caracterizada

como medicina liberal, na qual os médicos atendiam seus pacientes em seus

domicílios ou no seu consultório. Nesse caso, também só tinha acesso à assistência

médica aqueles que detinham alto poder aquisitivo. Aos poucos, com a evolução da

ciência e a criação de equipamentos importantes para o diagnóstico e para o

tratamento das doenças, esse tipo de assistência médica foi se extinguindo.

[...] a medicina liberal, caracterizada por uma ampla autonomia do profissional. Neste caso, o médico definia o preço da consulta, estabelecia o horário e as condições de atendimento no seu consultório particular e tinha a propriedade e a posse dos instrumentos de trabalho. Todavia, com a ampliação da utilização de equipamentos e de meios de diagnóstico e tratamento, inclusive o aumento exponencial dos custos da assistência, o médico viu reduzida a sua autonomia, seja por se tornar empregado de organizações estatais ou privadas, seja por atender, mesmo em seus

22

consultórios particulares, pacientes de convênios ou planos de saúde com regras estabelecidas (PAIM, 2009, p.35).

Dessa forma, percebemos que a assistência médica era restrita às

pessoas que podiam pagar pelos serviços de saúde, sendo que aos pobres e aos

desempregados restava-lhes o infortúnio da exclusão.

Mota (2009) também faz questão de caracterizar a saúde no país. A

autora afirma que a saúde no país se resumia em dois subsetores: saúde pública e

medicina previdenciária.

O subsetor de saúde pública correspondia à realização de campanhas

sanitárias no combate a endemias no meio urbano, mas, principalmente, no meio

rural. Porém, no que concerne à medicina previdenciária, a assistência médica era

destinada aos contribuintes previdenciários, por meio do Instituto Nacional de

Assistência Médica da Previdência (Inamps).

Nesse contexto, é apenas no início do século XX que a saúde passa a ser

reconhecida como expressão da questão social. Após a aprovação da Lei Elói

Chaves, em 1923, foi iniciada no país a experiência da saúde atrelada à previdência

social, por meio das Caps – Caixas de Aposentadorias e Pensões, denominada por

Paim (2009), como medicina previdenciária. Dessa forma, os trabalhadores

contribuintes passaram a usufruir de algum tipo de assistência médica. Por volta dos

anos 1933 a 1938, essas Caps seriam unificadas e substituídas pelos IAPs- Instituto

de Aposentadoria e Pensões, nas quais as contribuições eram divididas por

categoria profissional.

De acordo com Paim (2009, p.34), no transpor da década de 1940 para

1950 ocorre à expansão da assistência médico hospitalar e a ampliação dos

serviços dos IAPs e aos poucos “o exercício liberal da medicina foi sendo substituído

por vínculos empregatícios dos médicos com o poder publico e com as empresas”.

Segundo Cohn (2003), essa política de previdência social cresceu

rapidamente no país e significou um meio voraz de arrecadação do dinheiro dos

trabalhadores, com investimentos que, segundo a autora, escapava ao seu controle.

23

Em 1964, época de vivência do regime militar, a política de saúde no país

foi ampliada na perspectiva previdenciária, ficando a saúde pública em segundo

plano por meio de ações assistencialistas e não universalizantes.

Assim, a história da saúde pública do país revela a exclusão de milhões

de pessoas do acesso aos serviços de saúde, assistência médica, tendo em vista

que com o incentivo à industrialização, vivenciado no Brasil, e a substituição do

trabalho humano pela maquinaria, aumentou o índice de desemprego e o número de

pessoas vivendo na linha da miséria extrema.

Em meados dos anos de 1970, ascende no país um movimento popular

conhecido como Movimento de Reforma Sanitária. Esse movimento surge com o

objetivo de democratizar o acesso aos serviços de saúde, haja vista que as políticas

de saúde não atendiam as demandas da sociedade.

Foi na década de 1980 com o fim do período ditatorial, que o movimento

sanitário ganhou força e conseguiu incluir a saúde no debate político. O movimento

contou com o apoio de diversos agentes sociais, dentre eles os profissionais de

saúde e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), que ampliou o debate

em torno da saúde em congressos para a discussão da política no setor.

As principais propostas debatidas (...) foram à universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema Unificado de Saúde, visando (...) um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização (...), o financiamento efetivo e a democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão – Os Conselhos de Saúde. (MOTA, 2009, p.96)

Isso demonstrou a grande insatisfação popular acerca da forma como era

tratada a saúde pública no país e a tentativa de ampliação e atribuição de um

caráter universalizante à política de saúde.

Conforme Mota (2009), um dos eventos mais marcantes e de grande

contribuição para o movimento foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu

em março de 1986 em Brasília. Esse evento inseriu a discussão da saúde na

sociedade como um todo, fortalecendo ainda mais o movimento e seus objetivos,

24

que era a criação e consolidação do Sistema Único de Saúde – SUS, um sistema de

saúde digno para todos os cidadãos.

Concomitante a essas mudanças pertinentes ao direito à saúde, também

surge o Movimento de Reforma Psiquiátrica no Brasil, ainda no final da década de

1970. Segundo Cavalcanti (2010), o movimento de reforma psiquiátrica representa

um momento de luta pelos direitos da pessoa com transtorno mental. Subsidia-se na

crítica ao modo como os pacientes psiquiátricos eram tratados, de forma isolada do

convívio sociofamiliar, combatendo, assim, o modelo hospitalocêntrico, que não se

preocupava com a cura dos pacientes, mas sim, com o isolamento e a

institucionalização da loucura.

A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios. (BRASIL, 2005, p.6 acesso em: 07 de set.2013 as 16:06)

Nesse sentido, podemos afirmar que essa reforma representou, na

verdade, uma revolução, um momento de mudanças e transformações do imaginário

social, um novo olhar da sociedade como um todo, acerca do modo como as

pessoas com transtornos mentais deveriam ser tratadas.

Esse pensamento humanizado sobre a saúde mental no Brasil foi

influenciado pela experência internacional, através do trabalho realizado pelo o

médico psiquiatra Franco Baságlia, que por volta do ano de 1961, assume a direção

do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, na Itália, e passa a assumir uma postura crítica

com relação à psiquiatria clássica hospitalar.

Destacamos que o movimento de reforma psiquiátrica no Brasil surge

num contexto de denúncias, quanto à política de saúde mental desenvolvida no país,

principalmente, com relação à política de privatização da assistência psiquiátrica

25

pela previdência social, como também pelas condições de atendimento psiquiátrico

à população na esfera pública e privada.

A reforma psiquiátrica contou com a importante contribuição do

Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) em 1978, no tocante à

viabilização e à socialização dos objetivos da reforma:

O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas, surge neste ano. É sobretudo este Movimento, através de variados campos de luta, que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente

uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na

assistência às pessoas com transtornos mentais. (BRASIL, 2005, p.7)

Desta forma, percebemos que dentro desse contexto, a reforma

psiquiátrica estava, diretamente, atrelada à reforma sanitária, haja vista os dois

movimentos lutarem pela causa de uma única bandeira: o direito no âmbito da

saúde.

Nesse contexto, podemos afirmar que a década de 1980 foi marcada por

grandes eventos históricos de relevância para a conquista de direitos. No ano de

1987, ocorreu no país a I Conferência Nacional de Saúde Mental, na qual foi

recomendada a prioridade dos investimentos nos serviços extra-hospitalares,

contrapondo-se à tendência hospitalocêntrica. No final do mesmo ano, foi realizado

II Congresso Nacional de Saúde Mental, em Bauru, no Estado de São Paulo, com o

lema “por uma sociedade sem manicômios”, momento esse que segundo Amarantes

(1995), amplia-se o sentido político e o conceito do que seria o antimanicomial.

Enfim, a nova etapa (...) consolidada no Congresso de Bauru, repercutiu em muitos âmbitos: no modelo assistencial, na ação cultural e na ação jurídica-política. No âmbito do modelo assistencial, esta trajetória é marcada pelo surgimento de novas modalidades de atenção, que passavam a representar uma alternativa real ao modelo psiquiátrico tradicional... (AMARANTES,1995,p.82)

26

Neste sentido, consideramos que esse congresso representou a

disseminação político-conceitual, acerca do entendimento sobre o modelo

antimanicomial, como sendo um novo modelo de atenção em saúde mental,

representando uma alternativa à substituição do modelo psiquiátrico tradicional.

Com a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, a saúde

foi determinada como direito constitucional, universal e gratuito, lançando as bases

para a criação do Sistema Único de Saúde – SUS, regulamentado através da Lei

8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde - LOS), que dispõe sobre as condições para a

promoção, proteção e recuperação da saúde, organização, gestão e funcionamento

dos serviços.

Segundo Paim (2009), falar sobre promoção em saúde não significa o

mesmo que falar em promoção do comércio. Para o autor, promover saúde significa

“fomentar, cultivar, estimular por intermédio de medidas gerais e inespecíficas a

saúde e a qualidade de vida das pessoas e das comunidades.” Dessa forma,

verifica-se que o conceito ampliado de saúde reconhece que saúde não significa

apenas ausência de doenças. Paim (2009) destaca que este conceito ampliado de

saúde reconhece os determinantes sociais como fator influente nas condições de

vida da população.

No caso da promoção da saúde, importam boas condições de vida, educação, atividade física lazer, paz, alimentação, arte, cultura, diversão, entretenimento e ambiente saudável, entre outras. Supõe atuar sobre a “causa das causas”, ou seja, os determinantes sócio ambientais, cultivando o bem estar e a qualidade de vida” (PAIM 2009, p.45-46).

Este conceito ampliado de saúde representou uma grande conquista, que

acabou por repercutir de forma positiva sobre o movimento de reforma psiquiátrica,

uma vez que a Constituição de 1988 estabeleceu diretrizes relevantes para a saúde

mental, tais como o atendimento integral aos indivíduos, a prioridade dada às ações

preventivas, juntamente, com serviços assistenciais, bem como a participação da

comunidade de forma mais direta sobre as atividades e serviços de saúde.

Um ano depois da criação do Sistema Único de Saúde – SUS foi dada

entrada no Congresso Nacional em 1989, o Projeto de Lei do deputado Paulo

27

Delgado propondo a regulamentação dos direitos da pessoa com transtorno mental

bem como, o estabelecimento de um tratamento de base comunitária. Contudo, foi

somente depois de 12 anos de tramitação no congresso que a Lei Paulo Delgado foi

aprovada.

1.3 Lei Paulo Delgado: uma esperança para a liberdade

A Lei federal 10.216/01 dispõe sobre os direitos da pessoa com transtorno

mental e redireciona o atendimento em saúde mental, enfatizando a preferência do

tratamento de base comunitária, incluindo a disposição de atendimento dos

indivíduos em leitos de todos os hospitais.

Conforme Delgado (2010), a Lei 10.216 representa o marco legal de um

processo social e político que remodelou a atenção em saúde mental no Brasil de

um modelo de assistência restrita e fechada aos hospitais psiquiátricos, para uma

assistência que privilegia espaços abertos próximos a comunidade. Sendo assim, a

internação em hospitais seria realizada apenas em situações de risco e de maior

gravidade, haja vista a existência de uma rede de serviços em saúde mental, que

acompanha os diversos momentos das necessidades das pessoas com transtornos

mentais.

A criação desta lei não representou apenas um novo olhar sobre a

atenção à saúde mental, mas também uma nova forma de olhar e perceber as

pessoas com transtornos mentais como sujeitos de direito, como pessoas com

possibilidades para gerir sua vida cotidiana. Além disso, a Lei 10.216 significou a

substituição de uma legislação (Decreto 24.559, de 1934), que em nome da defesa

da sociedade dava plenos poderes a qualquer pessoa para requerer a internação

involuntária de alguém, bastando apenas que o requerente tivesse tido um contato

recente com a pessoa com transtorno mental. Essa antiga legislação, também

entendia que a pessoa internada, por mais de 90 dias, era considerada

definitivamente incapaz.

Ainda de acordo com Delgado (2010), a conhecida Lei da Reforma

Psiquiátrica, significou a construção de um novo paradigma, no tocante à forma de

28

tratamento que deveria ser oferecido às pessoas com transtornos mentais, em

espaços abertos, garantindo a supremacia do direito a liberdade dessas pessoas.

Além de garantir que a internação involuntária somente poderá ser feita por um

médico, por meio de acompanhamento do Ministério Público. O sentido ideológico

da lei não está mais sob a ótica de defesa da sociedade, mas no sentido de inclusão

social, de reinserir no meio da sociedade pessoas que por muito tempo foram

excluídas com base em leis ultrapassadas.

Segundo Cavalcanti (2010), embora a lei não tenha mostrado clareza,

quanto à extinção gradativa dos manicômios, significou um novo impulso para a

Reforma Psiquiátrica no Brasil, pois mesmo antes de ser aprovada já apresentava

resultados visíveis como a criação de Serviços Residenciais Terapêuticos e o

Programa “De Volta pra Casa5”.

A luta antimanicomial, portanto, possibilitou o desenvolvimento de

mecanismos de atendimento em saúde mental por todo o país, espaços estes

importantes para o desinstitucionalização da loucura, através de um tratamento

humanizado em saúde mental, tais como os Serviços de Atendimento Extra-

Hospitalares.

É importante destacarmos que a Lei Paulo Delgado foi bastante criticada,

principalmente, por donos de hospitais e clínicas privadas conveniadas ao SUS, haja

vista que eram nesses espaços onde se concentrava a maior parte dos leitos.

5 O Programa de Volta pra Casa foi instituído pelo Presidente Lula, por meio da assinatura da Lei

Federal 1.708 de 31 de julho de 2013 e dispõe sobre a regulamentação do auxílio reabilitação psicossocial a pacientes que têm permanecido por longas internações psiquiátricas. O objetivo desse programa é contribuir, efetivamente, para o processo de inserção social dessas pessoas, incentivando a organização de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados facilitadora do convívio social; capaz de assegurar o bem estar global e estimular o exercício de seus direitos civis, políticos e da cidadania. Além disso, o de volta pra casa atende o disposto na Lei 1.216 e determina que os pacientes, longamente, internados ou para os quais se caracteriza a situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica planejada e reabilitação psicossocial assistida. Em parceria com a Caixa Econômica Federal, o programa conta hoje com mais de 2.600 beneficiários, em todo o território nacional, os quais recebem mensalmente em suas próprias contas bancárias o valor de R$ 240,00. Em conjunto com o programa de redução de leitos hospitalares de longa permanência e os serviços residenciais terapêuticos, o Programa de Volta pra Casa forma o tripé essencial para o efetivo processo de desinstitucionalização e resgate da cidadania das pessoas com transtornos mentais, submetidas à privação da liberdade dos hospitais psiquiátricos brasileiros. O auxílio reabilitação psicossocial, instituído pelo Programa de Volta pra Casa, também tem um caráter indenizatório àqueles que por falta de alternativas, foram submetidos a tratamentos aviltantes e privados de seus direitos básicos a cidadania. ( http://www.ccs.saude.gov.br/VPC/programa.html - Acessado em 03/04/2014 as 16:48)

29

É imprescindível enfatizarmos que a Reforma Psiquiátrica no país, ainda

hoje, é motivo de luta e mobilização social. Analisando a Lei 10.216 percebemos que

ela não se efetivou na prática tal como se estabelece. O artigo 2º inciso I, da referida

lei, destaca que é direito das pessoas com transtorno mental o acesso ao melhor

tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades, contudo, na

prática não é bem assim que acontece. O Estado neoliberal, vigente no país, tem

demonstrado, por meio de suas ações e de sua forma de governo, que a questão da

saúde não é o seu interesse principal. A falta de investimento no setor da saúde

compromete o que está disposto na lei “o acesso ao melhor tratamento do sistema

de saúde”.

Mediante as observações de campo no CAPS GERAL - SER III –

HUWC/UFC, no qual tive a experiência de estágio obrigatório por um ano e meio, foi

claro perceber as deficiências da ação estatal na garantia dos direitos das pessoas

com transtornos mentais. Atualmente, os CAPS do município de Fortaleza têm

enfrentado um cenário de retrocesso, que vai desde a falta de médicos e a falta de

alimentação para aqueles que necessitam de um tratamento intensivo, até a falta de

vales transportes para os usuários. Essa ausência do Estado com relação aos

investimentos no setor tem sido uma afronta aos direitos dos cidadãos e à sociedade

como um todo. O artigo 3º da Lei Federal 10.216 dispõe que:

É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. (BRASIL, 2001).

Nesse sentido, o Estado, o grande responsável por implementar a política

de saúde mental, acaba por se ausentar de sua responsabilidade para com o direito

a saúde. Segundo Silva (2010, p.8) “o Estado aporta-se numa suposta escassez de

recursos fazendo-o retirar sua responsabilidade em relação às respostas que devem

ser dadas à questão social”.

Enfim, embora tenham sido muitos os avanços e conquistas no âmbito da

saúde mental, podemos inferir que a Reforma Psiquiátrica continua. A luta pelos

30

direitos das pessoas com transtornos mentais deve ser uma constante para que a

efetivação dos direitos conquistados seja uma realidade.

1.4 Direitos Sociais no Brasil na perspectiva da Seguridade Social

É possível afirmarmos que a discussão sobre o reconhecimento e a

legalidade dos direitos sociais no Brasil são bastante recente. De acordo com

Simões (2011), somente com a promulgação da Constituição Federal Brasileira de

1988, os direitos sociais realmente ganharam respaldo no plano jurídico e passaram

a ser reconhecidos como política pública de direitos humanos.

É importante pontuarmos que o pensamento acerca dos direitos sociais

surgiu, inicialmente, em decorrência da forma desumana em que viviam a classe

operária, em seu relacionamento com os capitalistas no período da Revolução

Industrial no século XVIII, na Inglaterra. Dessa forma, iniciou-se uma luta pelo

reconhecimento acerca da importância dos direitos sociais para uma vida cidadã e

digna. Mais tarde, esses direitos seriam reconhecidos como direitos direcionados

não somente à classe trabalhadora, mas às minorias excluídas.

Conforme Trindade (2012), a Constituição Mexicana de 1917, foi o

primeiro marco histórico significativo de reconhecimento dos direitos humanos. Ela

instituiu diversos direitos, principalmente, os direitos sociais dos trabalhadores.

Ressalta-se também na Alemanha a Constituição de Weimar de 1919, que, apesar

de ter tido vida curta, amparou os direitos sociais em seu texto, o que serviu de

inspiração para diversas Constituições de vários países capitalistas.

Outro marco histórico importante, com relação aos direitos sociais e

humanos, foi a Declaração Universal de Direitos Humanos, adotada pela Assembleia

Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948. Essa declaração é decorrente do

período pós Segunda Guerra Mundial, momento de grandes violações e atrocidades

praticadas contra toda a humanidade. Conforme Trindade (2012), embora não tenha

conseguido atribuir obrigatoriedade jurídica aos Estados, com relação aos direitos

humanos, significou a tentativa de reconstruir e fortalecer esses direitos.

31

Na tentativa de atribuir obrigatoriedade jurídica aos Estados com relação

aos direitos enunciados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a

Organização das Nações Unidas, em 1966, propôs aos Estados, em uma

Assembleia Geral, a elaboração de um pacto que contemplasse as questões acerca

dos direitos civis políticos, sociais, econômicos e culturais. Todavia, devido às

divergências ideológicas entre os Estados membros da ONU, não foi possível a

permanência de um único pacto. Sendo assim, foram criados dois pactos: O Pacto

Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos

Sociais, Econômicos e Culturais.

De acordo com Trindade (2012), isso contribuiu para a aceitação e

positivação por parte dos Estados acerca dos direitos de primeira geração,

propostos no primeiro pacto (os direitos civis e políticos). Contudo, com relação aos

direitos de segunda geração (sociais, econômicos e culturais), foi atribuído o caráter

de direitos não exigíveis, ou seja, os Estados não se comprometeram em adotar os

direitos sociais.

Conforme Marmelstein (2008, p.51), os direitos civis e políticos não

demandam um agir presente do Estado, porém com relação aos direitos sociais o

autor afirma que esses “[...] impõem diretrizes, deveres e tarefas a serem realizadas

pelo Estado, no intuito de possibilitar aos seres humanos melhor qualidade de vida e

um nível razoável de dignidade como pressuposto do próprio exercício de liberdade”.

Reforçando esse debate, Trindade (2012) afirma que é importante

destacar acerca da complementaridade dos direitos. Embora haja uma diversificação

de direitos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais), não existe uma hierarquia

entre eles. Esses direitos se complementam e possuem igual importância para a

dignidade da pessoa humana.

Nesse sentido, observando a historicidade dos direitos sociais, vemos que

esses direitos foram conquistando espaço e reconhecimento, sendo assunto

discutido em Conferências e conteúdos de Declarações muito importantes. Contudo,

Trindade (2012), revela que ainda na década de 1980 do século XX, os direitos

econômico-sociais dos trabalhadores vivenciaram uma etapa de estagnação e

32

retrocesso, haja vista a expansão do capitalismo com o incremento da ciência e da

tecnologia.

Vale ressaltar que a década de 1980 no Brasil é marcada por um

processo social e político de lutas, movimentos e manifestações, que demonstraram

a grande insatisfação popular acerca de como os direitos eram tratados no país.

Este momento da história brasileira resultou na criação e promulgação da

Constituição Federal Brasileira de 1988, uma das constituições mais abrangentes

com relação aos direitos como um todo.

Todavia, embora no contexto contemporâneo os direitos sociais estejam

previstos na Constituição de 1988, eles sempre encontraram dificuldades para

serem efetivados. Isso se deve ao contexto econômico social e político dos anos

1980, período em que o país vivenciava uma grande instabilidade econômica,

juntamente, com a introdução de um novo modelo de Estado, baseado no

neoliberalismo no início dos anos 1990. Com efeito, dessa realidade os direitos

sociais constitucionais foram impedidos de serem materializados, tal qual como o

previsto na referida Constituição.

Conforme Guerra (2010) existe um grande descompasso entre o que

seria “Brasil real e Brasil legal”, entre o que seria direitos do ponto de vista jurídico e

a efetivação deles. Enfatiza-se que esta problemática nada mais é do que a

consequência de uma sociedade desigual centrada na apropriação da riqueza,

socialmente produzida. Sendo assim, torna-se desafiante garantir igualdade de

direitos, assim como está prevista na Constituição Brasileira de 1988 no artigo 5°,

em que todas são iguais perante a lei.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 1988, p.15)

Dessa forma, observando e comparando os direitos, do ponto de vista

teórico e prático, verificamos a existência de um abismo entre o que seria uma

igualdade formal no campo jurídico e a desigualdade real no campo

33

socioeconômico, ou seja, é improvável que em uma sociedade baseada em valores

capitalistas exista igualdade social.

De acordo com Guerra (2010), a sociedade capitalista, juntamente, com a

ofensiva neoliberal, que propõe a presença um de Estado que atue minimamente

para com as expressões da questão social, acabam por afetar, de forma negativa,

os direitos sociais, atribuindo-lhes a lógica da privatização, mercantilização e

refilantropização.

Nesse sentido, percebemos que a política neoliberal de ajuste econômico

não tem conformidade com a política social ampla, universal, gratuita e de qualidade

expressa na Constituição Brasileira de 1988, haja vista que essa política nega os

direitos básicos para a reprodução da vida social.

Assim, consideramos que embora do ponto de vista jurídico os direitos

estejam sendo garantidos. Guerra (2010) enfatiza o crescimento da tendência

ideológica neoconservadora no país que tem desvirtuado o sentido dos direitos

sociais por considerá-los como privilégios e de percebê-los em seu conteúdo de

classe, o que interfere de maneira negativa sobre a concepção de direitos sociais na

perspectiva constitucional.

A esse respeito, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo

6°, declara que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, a moradia,

o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados. Dentre tais direitos destacam-se três: saúde,

previdência e assistência social, que foram reconhecidos como direitos essenciais

para a reprodução da vida humana e social, formando o tripé da Seguridade Social

no Brasil no contexto atual, contudo nem sempre a seguridade social foi entendida

nessa perspectiva.

Nesse contexto, o conceito de seguridade social no Brasil passou por

diversas compreensões em seus textos constitucionais. Observamos que na

Constituição Federal de 1934, a seguridade social era entendida como seguro

social, mediante a política trabalhista getulista, na qual os trabalhadores passaram a

ter acesso a certos direitos sociais e trabalhistas através de contribuições mensais.

Esse modelo de seguridade foi utilizado e aperfeiçoado pela Constituição vigente.

34

Nessa perspectiva, conforme Simões (2011), a Constituição de 1988

assimilou o conceito de seguridade social através de ações de saúde, previdência e

assistência social, ficando restrito o conceito de seguro social à previdência social.

Temos que concordar com o autor quando refere que a saúde, a previdência e

assistência social são direitos que se complementam para a garantia da cidadania.

Vale destacar, ainda, que na Constituição de 1988, os direitos sociais

referentes à saúde e a assistência social deixam de estar vinculados às relações

formais de trabalho e passam a assumir uma concepção universalizante. Simões

(2011) enfatiza, por outro lado, que embora a referida constituição no inciso três do

artigo 3° explicite que um dos objetivos desta é erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais o Estado não propicia

a erradicação de tais mazelas sociais, mas somente atua de forma a reduzi-las ou

minimizá-las por meio de políticas sociais públicas.

Também é importante destacarmos que com o reconhecimento da

Assistência Social na formação do tripé da Seguridade Social, os direitos sociais,

como parte da política de assistência social, obtiveram maior respaldo como direitos

de responsabilidade estatal, embora a ideologia neoliberal enfatize sempre a

questão da solidariedade social como uma forma de se eximir de sua

responsabilidade. Conforme Simões (2011), entendemos por seguridade social:

[...] uma instituição política estatal, com a participação das entidades da sociedade civil, por meio de convênios ou consórcios administrativos com o Poder Público, com o objetivo da ação social que, na saúde, na previdência, e na assistência social, assegure a população os denominados mínimos sociais [...] (SIMÕES, 2011, p.105)

Nesse sentido, os direitos sociais, da perspectiva da seguridade social,

acabam por enfrentar dentro da conjuntura neoliberal ameaças na forma de sua

devida compreensão e até mesmo efetivação, haja vista que a ideologia neoliberal

imprimi o entendimento de direitos como mínimos sociais, ou seja, direitos que o

Estado garante de forma mínima. Sendo assim, o Estado promove políticas públicas

focalistas e seletivas, com o intuito de reduzir gastos com a garantia de direitos

sociais essenciais.

35

É importante considerarmos que o antagonismo existente entre os

interesses de classe, na qual se expressam as desigualdades sociais, e, além disso,

os aspectos culturais de comodismo social e a forma ideológica de como os direitos

são disseminados na sociedade capitalista, muitas vezes os direitos sociais

conquistados são ameaçados e sofrem retrocessos. Dessa forma, é importante que

a sociedade civil esteja sempre atenta e presente nas discussões acerca dos

direitos. No âmbito da saúde mental, por exemplo, é interessante que os usuários do

serviço estejam atentos aos seus direitos e sejam participativos nas reuniões do

Conselho de Saúde Local, como também nas Assembleias dos usuários, espaços

estes que promovem a discussão dos direitos e amplia a visão dos usuários na

perspectiva de luta, efetivação e consolidação dos seus direitos.

O assistente social, no âmbito da saúde mental, atua de forma a mediar o

acesso dos usuários aos direitos e serviços correspondentes as necessidades dos

usuários. Sendo assim, um dos direitos previstos, diretamente, na Constituição

Federal e posteriormente na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS é o

Benefício de Prestação Continuada – BPC, no qual trataremos melhor no capítulo a

seguir. Contudo, adiantamos que o BPC é um direito importante na vida das

pessoas com transtornos mentais, com as quais o assistente social realiza

atendimentos, tendo em vista a encaminhar e direcionar as pessoas no acesso aos

seus direitos. Desse modo, constitui também como objetivo deste trabalho analisar

os significados que os participantes do Grupo de Direitos Sociais atribuem ao

Benefício de Prestação Continuada e compreender a importância do benefício na

vida dos usuários.

Portanto, objetivando conhecer melhor o espaço profissional do assistente

social no campo da saúde mental, faz-se necessária a compreensão de como se

deu a expansão desses espaços pelo país, pelo o qual configurou a ampliação dos

direitos das pessoas com transtornos mentais.

36

2. SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

2.1 Os Centros de Atenção Psicossocial no Brasil

De acordo com Campos (2006), os CAPS surgiram no contexto brasileiro

na segunda metade da década de 1980, com o advento de transformações

importantes no campo da saúde mental. As Conferências Nacionais de Saúde

Mental ocorridas em 1987 e 1992, aliadas às propostas do Movimento de Reforma

Sanitária (1986) e à Constituição Federal Brasileira de 1988, expressaram o

sentimento da sociedade brasileira na luta pela construção de uma sociedade

democrática e um novo olhar sobre a saúde pública.

Nesse sentido, os CAPS se apresentam como uma estratégia de combate

ao modelo hospitalocêntrico, sendo, portanto, o modelo utilizado no tratamento das

pessoas com transtornos mentais, como parte do projeto de lei 2657/89 proposto

pelo Deputado Federal Paulo Delgado, por meio da I Conferência Nacional de

Saúde Mental, que objetivava a substituição dos manicômios por outro equipamento

no tratamento às pessoas com transtornos mentai,s através da criação de políticas

públicas direcionadas à saúde mental.

Segundo Amarantes (2001), um importante evento promovido por

profissionais articulados e advindos de todo país foi o II Congresso Nacional de

trabalhadores de Saúde Mental, ocorrido em dezembro de 1987, com o lema “Por

uma sociedade sem manicômios”. O evento promoveu discussões acerca de novas

experiências dos profissionais em suas intervenções junto à loucura e ao sofrimento

psíquico. Destaca-se como uma dessas experiências a criação do primeiro CAPS do

Brasil na cidade de São Paulo, em março de 1987, e do primeiro Núcleo de Atenção

Psicossocial (NAPS) em Santos.

O primeiro CAPS, Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da

Rocha Cerqueira, representou uma conquista das manifestações populares, que

negavam toda e qualquer forma de tratamento que provocasse maus tratos contra

as pessoas, bem como o seu isolamento institucional. Dessa forma, foi esse serviço

que teve a oportunidade de vivenciar as mais novas experiências do modelo

antimanicomial, sendo, portanto, considerado como referência e inspiração para o

37

desenvolvimento de pesquisas no âmbito da saúde mental, bem como para a

construção de novos equipamentos substitutivos.

De acordo com Amarante (2001), o primeiro CAPS do país surge num

contexto de grandes mudanças e transformações sociais e políticas; demarcado

pela reforma sanitária e a inversão da política nacional de saúde, orientada pela

ideologia privatista, para a lógica estatizante e a implementação de serviços extra-

hospitalares. Cabe ressaltar, que o processo brasileiro de “desinstitucionalização”,

foi influenciado pela experiência italiana no sentido de reconfigurar o modelo

assistencial em saúde mental numa perspectiva humanitária e digna.

O autor destaca, com base na análise do projeto original do primeiro

CAPS brasileiro, que a clientela prioritária proposta por aquele serviço foi o

atendimento às pessoas com patologias crônicas de maior complexidade, pessoas

com limitações sociais e grandes dificuldades de relacionamento e reinserção social.

Dessa forma, Amarante (2001, p.29), define este CAPS como uma

“estrutura intermediária” entre o hospital e a comunidade, que oferece às pessoas

“um espaço institucional que buscasse entendê-las e instrumentalizá-las para o

exercício da vida civil”. Neste sentido, é interessante que a rede assistencial em

saúde mental seja um serviço não burocratizante e esteja, diretamente, ligada à

comunidade.

O projeto originário do primeiro CAPS do Brasil enfatiza que a equipe

multiprofissional deveria, necessariamente, realizar um trabalho que estimulasse o

exercício da vida em sociedade, compactuando com o respeito e levando em

consideração a singularidade dos sujeitos, e que, através da reflexão e da discussão

de suas práticas profissionais, fosse possível organizar o modo como seria realizada

a assistência, além de transmitir suas experiências a outros profissionais.

Com relação à assistência psicossocial, esta se dava de forma

personalizada, ou seja, planejada e executada em equipe, tendo em vista as

necessidades específicas de cada sujeito, por meio da realização de atividades

psicoterapêuticas, contemplando inclusive a arte e a terapia ocupacional num

enfoque multidisciplinar.

Além da construção do primeiro CAPS do país, surge em 1989 na cidade

de Santos, outro equipamento substitutivo de saúde mental importante para

desinstitucionalização da loucura, os NAPS – Núcleo de Atenção Psicossocial.

38

Sendo assim, os NAPS se constituíam como serviços substitutivos ao modelo

hospitalocêntrico, que tinham funcionamento integral, ou seja, 24 horas durante os

sete dias da semana, oferecendo atendimento aos casos de emergências, num

momento de crise do paciente. Conforme Campos (2006) foram os NAPS que

obtiveram melhor resultado na superação do modelo hospitalocêntrico.

[...] serão os NAPS santistas que, através do funcionamento territorializado, 24 horas/dia, com leitos destinados a pacientes em crise e operando em rede com outros serviços, que efetivarão o mais significativo avanço na superação do modelo centrado nos hospitais psiquiátricos, ambulatórios e urgências psiquiátricas, efetivando verdadeira ruptura paradigmática em relação ao modelo anterior. (BRASIL, M.S, 2006 p.1055).

Conforme Amarante (2001), nos anos de 1991 e 1992 o Ministério da

Saúde, por meio das portarias 189/91 e 224/92, instituíram e regulamentaram os

CAPS e os NAPS como novos serviços intermediários em saúde mental, o que

significou a expansão de novos serviços por todo o país.

Nesse sentido, consideramos que a implementação desses serviços

foram essenciais para o fortalecimento e para a consolidação da Reforma

Psiquiátrica. Um incentivo para a construção de outros equipamentos semelhantes a

esses nos outros Estados brasileiros, pois demonstrou a possibilidade real de que a

proposta de oferecer um tratamento em espaços abertos, comunitários, foi uma

tentativa possível e contribuiu para a desmistificação da forma tradicional de

tratamento psiquiátrico. Sendo assim, o Ministério da Saúde (2005), compreende os

CAPS como:

(...) espaços abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário as pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, através do acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas por meio do trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e o fortalecimento de vínculos familiares. (BRASIL, M.S, 2005)

O Ministério da Saúde estabeleceu por meio da Portaria n°336/02 a

definição das modalidades dos CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i II e CAPS ad II.

Conforme a referida portaria, os CAPS possuem exatamente a mesma função no

atendimento ao público em saúde mental, diferenciando- se apenas por algumas

características. Os CAPS I se constituem como serviço de atenção psicossocial com

39

capacidade operacional para atendimento em municípios com população entre

20.000 e 70.000 habitantes. Já os CAPS II possuem capacidade para atender entre

70.000 e 200.000 habitantes. Os CAPS III são serviços que oferecem atendimento

ao público 24 horas, inclusive em finais de semana e feriados, com capacidade para

atendimento a população acima de 200.000 habitantes. Os CAPS i II oferecem

atendimento a crianças e adolescentes, tendo como base a capacidade de

atendimento de até 200.000 habitantes. Com referência aos CAPS ad, são serviços

de atenção psicossocial para pessoas com algum transtorno advindo do uso

permanente de álcool e/ou outras drogas, oferecendo atendimento à população

acima de 70.000 habitantes.

Segundo o Ministério da Saúde (2005), os CAPS são compostos por

equipes multiprofissionais e contam com a presença de psiquiatras, enfermeiros,

psicólogos e assistentes sociais aos quais se somam a outros profissionais do

campo da saúde. Destaca, ainda, acerca da estrutura física dos CAPS, afirmando

que deve ser compatível e adequada para o acolhimento e o desenvolvimento das

atividades coletivas e individuais, oficinas, dentre outras.

Vale ressaltarmos que cada CAPS possui um plano terapêutico específico

e considera as particularidades de cada região, desenvolvendo atendimentos

grupais e/ou individuais através de um trabalho interdisciplinar entre as profissões,

na qual cada profissional desempenha suas atribuições no processo de reabilitação

da pessoa com transtorno mental no espaço institucional.

É importante destacarmos que com a implementação e regulamentação

do primeiro CAPS do Brasil, muitos outros serviços foram se expandido pelas

regiões de todo o país, contudo, consideramos que os serviços existentes ainda não

contemplam as necessidades sociais de forma confortável, haja vista a demanda

crescente pelos serviços e o pouco investimento na saúde pública.

O quadro, a seguir, expressa os resultados de uma pesquisa realizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2010, sobre o número

de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por tipo e UF e Indicador

CAPS/100.000 habitantes. Segundo essa pesquisa a região mais assistida em

número de CAPS foi a Região Nordeste com o número de 597 Centros de Atenção

Psicossocial, com destaque o estado da Bahia com mais de 14.000.000 habitantes e

possuindo 170 serviços.

40

Observando o quadro verificamos que a região com menor cobertura dos

CAPS foi à Região Norte, pois, embora o número populacional seja um dos menores

do país, o número total de serviços CAPS na região se resume a 87 serviços

distribuídos por toda a região. Os estados com situação mais crítica são os estados

do Acre com apenas um CAPS II e um CAPS ad e Roraima com apenas um CAPS I

e um CAPS ad.

Número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por tipo e UF e

Indicador CAPS/100.000 habitantes

Brasil – dezembro de 2010

Região Número

Populacional

CAPS

I

CAPS

II

CAPS

III

CAPS

i

CAPS

ad

Total

de

CAPS

Norte 15.865.678 46 24 2 3 12 87

Nordeste 53.078.137 348 125 17 34 73 597

Centro­Oeste 14.050.340 44 24 1 6 15 90

Sudeste 80.353.724 180 168 31 57 102 538

Sul 27.384.815 143 77 4 28 56 308

*Fontes: Área Técnica de Saúde Mental/DAPES/SAS/MS e Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística/IBGE – Censo 2010.

Dessa forma, embora se tenha avançado com relação à perspectiva

antimanicomial, ainda há muito para ser ampliado e melhorado, haja vista que

muitos desafios cercam essa realidade. A sociedade capitalista com seus princípios

devastadores como o individualismo e o consumismo, problemas decorrentes da

precarização do trabalho; do desemprego, o aguçamento das desigualdades sociais,

acabam por ser responsáveis por grande parte do adoecimento social, além de que

o Estado neoliberal, o grande responsável pelo direito à saúde, acaba por se

desresponsabilizar com as questões de saúde pública, haja vista sua preocupação

central ser destinada à economia e não com as questões que permeiam a realidade

social.

41

Segundo Amarante (2001), ainda existe um desafio que marca a luta pela

causa antimanicomial. Conforme o autor ,é imprescindível que se construa um novo

paradigma em saúde mental e não apenas estabelecer novas roupagens, mas que

realmente venha a romper com as práticas tradicionais da psiquiatria.

O objetivo dos novos serviços, caso procurem inscrever-se no processo de rupturas – aqui entendidas no sentido epistemológico ou arqueológico, de rompimento radical com determinado paradigma, ou de construção de um novo paradigma – com o modelo anterior, é o de produzir estruturas ou recursos que efetivamente não reproduzam as bases teórico-práticas do modelo psiquiátrico clássico, que fundou a noção de doença mental como sinônimo de desrazão e patologia, que fundou o manicômio como lugar de cura e que fundou a cura como ortopedia e normalização. (AMARANTE, 2001, p.33)

Sendo assim, é imprescindível que o Estado, o maior responsável pelo

direito à saúde, atue de forma a proporcionar as condições necessárias para o

desenvolvimento de políticas sociais públicas que fortaleçam esse novo olhar sobre

a saúde mental. Ademais, é importante que os profissionais atuantes no âmbito da

saúde mental reflitam, criticamente, acerca da realidade em si, como também sobre

suas práticas para que a cada dia se construa, realmente, o novo em saúde mental

e não apenas reformas, atualizações da psiquiatria.

2.2 Conhecendo o CAPS Geral Ser III Professor Frota Pinto

O Centro de Atenção Psicossocial -CAPS GERAL SER III - HUWC/UFC,

constitui-se como um Serviço Especializado em Saúde Mental de Nível Secundário,

que está localizado na Rua Francisco Pedro, 1269, Rodolfo Teófilo, Fortaleza –

Ceará.

Conforme registros institucionais, esse Serviço surgiu da iniciativa de um

grupo de profissionais do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade

Federal do Ceará, que, engajados na luta da Reforma Psiquiátrica, deram início a

um trabalho que resultaria na implantação do primeiro serviço substitutivo de saúde

mental do município de Fortaleza. Dessa forma, o CAPS foi fruto de um convênio

42

estabelecido entre a Prefeitura Municipal de Fortaleza e a Universidade Federal do

Ceará, tendo sido inaugurado 28 de setembro de 1998.

A área de abrangência do serviço compõe 17 bairros, que fazem parte da

Secretaria Executiva Regional III do município de Fortaleza6, tendo como público

alvo os portadores de transtorno mental grave e recorrente.

Geralmente, os pacientes que têm acesso ao serviço são referenciados

da rede de saúde pública (Hospitais Psiquiátricos, Centros de Saúde da Família –

CSF, Hospitais Gerais) e demais Serviços de Políticas Intersetoriais, bem como de

demanda espontânea.

A missão da Instituição consiste em realizar um atendimento

especializado de Saúde Mental dentro da perspectiva do direito, oferecendo

atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o

acompanhamento clínico, bem como promovendo a socialização ou ressocialização

dos usuários, através do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários,

garantindo o exercício dos direitos civis, tendo em vista que esse serviço foi criado

de acordo com os princípios e com as diretrizes da reforma psiquiátrica, como um

modelo substitutivo as internações em hospitais psiquiátricos.

Dessa forma, apresenta como objetivo prestar assistência à pessoa

portadora de transtorno mental severo e persistente, bem como executar atividades

no âmbito acadêmico contemplando ensino, pesquisa e extensão; funcionando como

um espaço de difusão científica em saúde mental.

Portanto, a política desenvolvida na instituição, segue as diretrizes

propostas pela Reforma Psiquiátrica com a aprovação da Lei Paulo Delgado nº

10.216, procurando desenvolver uma atenção especializada ao perfil de sua

demanda, respondendo como modelo substitutivo dos hospitais psiquiátricos na

tentativa de promover para os cidadãos a garantia dos direitos civis constitucionais

como: a liberdade e a igualdade, propiciando, assim, a sua cidadania.

No âmbito do serviço são desenvolvidas várias atividades como:

acolhimento, triagem, psicoterapia individual, atendimentos sociais, consultas

6 O município de Fortaleza está divido em seis regionais. Cada regional é responsável pelos bairros de sua área

de abrangência, ofertando serviços sociais no correspondente a saúde, assistência social, dentre outros.

43

psiquiátricas, consultas de enfermagem, visitas domiciliares, visitas institucionais,

bem como grupos psicoterapêuticos. De acordo com registros institucionais, o

Acolhimento corresponde a uma escuta qualificada a todos os usuários já

cadastrados ou externos, que procuram o serviço, para obter algum tipo de

atendimento psicossocial, informações diversas sobre o serviço, reavaliações,

demandas sócio familiares, medicamentosas, dentre outros.

A Triagem é um tipo de atendimento no qual é realizada uma anamnése

com o usuário na tentativa de compreender aspectos importantes da vida do dele. É

uma espécie de investigação, por meio de um questionário de perguntas que pode

ser feito por qualquer profissional da equipe multidisciplinar.

A psicoterapia Individual é realizada por um Psicólogo. Essa atividade é

realizada quando é identificado que o usuário não tem perfil para ser trabalhado em

grupo, ou, ainda, se o usuário preferir não se expor dentro de um grupo. Nessa

atividade é realizada uma conversa com o usuário, de acordo com o tema escolhido

por ele ou pelo profissional. Geralmente, os temas são as próprias dificuldades do

dia a dia do usuário.

O Atendimento Social refere-se à realização de abordagens individuais

ou grupais com os usuários do serviço, com o intuito de identificar demandas

sociais, frutos das expressões da questões sociais aqui particularizadas e viabilizar

orientações, bem como acesso aos Direitos Sociais de Cidadania.

As consultas psiquiátricas são atendimentos feitos pelo um médico

psiquiatra. Essas consultas deveriam acontecer mensalmente, para acompanhar

qualitativamente o progresso do estado de saúde de cada usuário. No momento,

esse tipo de atendimento está precaríssimo, não somente no referido serviço, mas

em toda a rede de saúde mental no município de Fortaleza; haja vista a pouca

quantidade de profissionais para atender a demanda. Já as consultas de

enfermagem acontecem, principalmente, no atendimento àqueles pacientes

intensivos que precisam ser medicados no serviço, dentre outras.

Nas visitas domiciliares e institucionais é realizada uma abordagem

familiar ou institucional no intuito de conhecer a realidade vivenciada pelo usuário

em locu, com objetivo de identificar elementos que possam melhor analisar esta

44

mesma realidade, tais como aspectos sociais, econômicos, de comportamento e

sociabilidade, dentre outros. Essa atividade pode ser feita por qualquer profissional

liberal da equipe, principalmente, pelo o assistente social.

Desenvolvem, ainda, atividades grupais Psicoterapêuticas tais como

Grupos de Arte terapia, Oficinas terapêuticas, Biodança. São desenvolvidas,

também, os grupos de inserção comunitária e economia solidária com os

COOPCAPS, Grupo Primeiro Emprego, Terapias Complementares (Terapia

comunitária, resgate da autoestima e massoterapia), bem como atividades

socioculturais, como os passeios socioeducativos e culturais e eventos

comemorativos. Cabe ressaltar, que no contexto atual de precarização do direito à

saúde, boa parte dessas atividades encontram-se suspensas por falta de condições

de trabalho dos profissionais.

É importante enfatizarmos que desde a sua inauguração, em 1998, a

unidade possui cadastro de mais de dez mil usuários, entre ativos e inativos, e

poucos profissionais para atender a demanda. Atualmente, a estrutura

organizacional da unidade conta com o trabalho de uma equipe interdisciplinar

composta por uma coordenação que está a cargo de uma assistente social, apenas

1 médico psiquiatra; 08 assistentes sociais; 3 psicólogas; 3 terapeutas ocupacionais;

4 enfermeiras; 3 auxiliares e 2 técnicos de enfermagem; 1 farmacêutico. Como

profissionais de apoio possui 4 recepcionistas; 2 auxiliares de escritório, 1 artista, 1

cozinheira, 2 serviços gerais, 3 auxiliares administrativos e 2 guardas. Vale ressaltar

que apenas 10 desses funcionários são servidores públicos, o restante são

profissionais de seleção pública e terceirizados.

A política implementada na instituição está abalizada na Lei 10/216-01,

que propõe a atenção de qualidade à saúde mental dos usuários, desenvolvendo

atendimentos clínico, psicológico, social e terapêutico por acreditar que somente a

perspectiva medicamentosa não seja suficiente para a realização do tratamento em

saúde mental. Os profissionais que compõe essa equipe, inclusive os profissionais

de Serviço Social, discutem entre si as formas de tratamento que cada usuário

precisa para sua recuperação. No tópico a seguir veremos com maiores detalhes a

contribuição do Serviço Social na Instituição.

45

2.2.1 O Serviço Social na Instituição

O Serviço Social na instituição inicia-se, juntamente, com a criação do

CAPS Geral-Ser III, dentro desse contexto de conquista de direitos da pessoa com

transtorno mental, haja vista que essa profissão entende os sujeitos como cidadãos

detentores de direitos e atua de modo a proporcionar a garantia e a efetivação de

direitos.

Conforme Mota (2006), o assistente social atua mediante às expressões

da questão social que permeiam a vida dos sujeitos, entendendo que tais

expressões como: desemprego, exploração do trabalho, as condições

socioeconômicas dos usuários, familiares, convívio social, bem como a perda ou

ausência dos direitos básicos para a reprodução da vida humana, dentre outras,

perpassam a vida dos sujeitos de forma articulada, tornando a realidade de vida um

cenário complexo. Sendo assim, compreendemos que tais expressões acabam por

refletir na saúde mental dos indivíduos, necessitando, assim, da presença de um

profissional capaz de perceber essas nuances, que acabam por interferir no

tratamento e na qualidade de vida dessas pessoas.

Dentro da instituição, os assistentes sociais desenvolvem alguns projetos,

juntamente, com outros profissionais como: Grupo de Familiares; Grupo de Direitos

Sociais; Grupo de Bipolares; Grupo de Arte Terapia e apoio matricial.

Para o desenvolvimento do seu trabalho o assistente social utiliza alguns

recursos humanos, materiais e financeiros como: prontuário para evolução e

relatório dos casos; bloco para encaminhamentos; formulários de participação nos

grupos; contatos; reuniões de gestão; computador; internet; agendas; telefones,

transporte. Material para atividades em grupo como: caneta, papel, tesoura, cola,

DVD, televisão, vídeos, computador e mobiliário.

Nesse sentido, o assistente social, juntamente, com a equipe

interdisciplinar, desenvolve algumas atividades numa perspectiva psicossocial, na

tentativa de conhecer os sujeitos e perceber a melhor forma de acompanhá-los. O

acolhimento, por exemplo, é uma dessas atividades e consiste em realizar uma

escuta qualificada de todos os usuários, já cadastrados ou externos, que procuram o

serviço para obter algum tipo de atendimento psicossocial: informações diversas

46

sobre o serviço, reavaliações, demandas sócio familiares, medicamentosas, dentre

outros. O atendimento social refere-se à realização de abordagens individuais ou

grupais nos usuários do serviço com o intuito de identificar demandas sociais, frutos

das expressões da questão social, aqui particularizadas e viabilizar orientações, bem

como acesso aos Direitos Sociais de Cidadania.

O Grupo de Família é outra atividade, que visa, primordialmente, dar um

apoio psicossocial aos familiares e prestar orientações socioeducativas sobre os

cuidados, estado de saúde e direitos dos usuários. Outras atividades são

desenvolvidas na instituição, tais como ações socioeducativas na sala de espera;

Visita Domiciliar com a realização de abordagens familiar ou institucional, no intuito

de conhecer a realidade vivenciada pelo usuário em locu; com o objetivo de

identificar elementos que possam melhor analisar esta mesma realidade, tais como

aspectos sociais, econômicos, de comportamento e sociabilidade dentre outros.

Participação na Roda de Gestão com o objetivo de discutir semanalmente sobre os

serviços prestados pela equipe interdisciplinar, visando a um melhor atendimento;

planejar estratégias de ação, bem como noticiar informes diversos. O Conselho

Local de saúde que é formado por assistentes sociais e pelos próprios usuários que

se reúnem, mensalmente, esse espaço é imprescindível ao trabalho do assistente

social na instituição, haja vista que se constitui como um momento para reflexão,

discussão e até deliberação das questões atuais que permeiam o cotidiano da

instituição, problemas como falta de médicos, medicamentos, vale transporte e

alimentação dos usuários intensivos. Destacamos que trataremos sobre o Grupo de

Direitos Sociais com maiores detalhes no próximo tópico.

2.3 O Grupo de Direitos Sociais e os direitos da pessoa com transtorno

mental

O Grupo de Direitos Sociais desenvolvido no CAPS Geral Professor Frota

Pinto iniciou seus trabalhos no ano de 2010 e passou a ser melhor sistematizado no

segundo semestre do referido ano, conforme informações da Assistente Social que

conduz o grupo. De acordo com registros institucionais do grupo, o primeiro

47

atendimento formal, ocorreu no dia 30 de agosto de 2010, contudo, destacamos que,

anteriormente, já eram realizados atendimentos.

Ainda conforme registros institucionais, a ideia de criação do grupo partiu

da equipe de assistentes sociais da instituição, principalmente, a assistente social

Ana Karla Batista Bezerra Zanella, que observou que havia muitas demandas de

solicitação de expedição de atestados médicos sem nenhum tipo de orientação

social. Nesse sentido, a criação do grupo foi uma tentativa, bem sucedida, de

qualificar a intervenção profissional do assistente social e garantir o espaço

profissional no ambiente institucional, haja vista essa ser uma atribuição privativa do

assistente social.

Segundo informações do projeto do grupo, este apresenta como objetivo

geral a realização de encaminhamentos e orientações sobre o acesso dos usuários

aos direitos sociais, tais como: benefícios, aposentadorias, auxílio-doença, passe-

livre, De volta pra casa, dentre outros. Como objetivos específicos vislumbra-se a

redução das solicitações espontâneas de atestados médicos; a diminuição da busca

de usuários (as) e familiares por serviços privados de orientação e

encaminhamentos aos direitos sociais e a Ampliação do acesso dos (as) usuários

(as) aos direitos sociais. Os recursos necessários para os atendimentos são os

instrumentais técnico operativos do Serviço Social/ INSS;Prontuário do (a) usuário

(a); Informativos e folders.

O grupo realiza atendimentos semanalmente, sendo os atendimentos de

primeira vez feitos todas as quintas-feiras no horário de 13:00h às 17:00h e os

atendimentos de retorno todas as terças-feiras no mesmo horário. Os atendimentos

de retorno acontecem quando no primeiro atendimento ficou alguma pendência na

questão da documentação necessária para a aquisição dos direitos, como também o

participante do grupo requer ainda mais informações sobre seus direitos.

A metodologia do grupo acontece da seguinte forma: os participantes,

durante a semana, marcam os atendimentos na agenda do Grupo de Diretos

Sociais. Geralmente, são marcados apenas de quatro a cinco participantes de

primeira vez, tendo em vista a qualificação da intervenção.

Inicialmente, é realizada uma roda de conversa com duração de 30

48

minutos entre os participantes e a assistente social, que expõe os direitos

fundamentais, diretos políticos, direitos sociais, direitos previdenciários e direitos da

assistência social. Os participantes são instigados a todo o momento a participarem

colocando o que pensam acerca dos direitos, dando exemplo de direitos sociais, etc.

Após esse atendimento coletivo, as famílias são convidadas a serem retiradas da

sala para o início de um atendimento individualizado, conforme horário de chegada.

A preferência pelo atendimento individualizado com cada família é

realizada de modo a preservar as informações de cada família, prever situações

constrangedoras e preservar, de maneira ética, a intimidade e a história da família.

Nesse atendimento individualizado, é preenchido um formulário de atendimento no

qual contém informações sociais e econômicas, bem como informações sobre o

quadro clínico do usuário. Como já foi destacado, os prontuários fazem parte do

cenário do grupo como uma forma de se obter informações importantes acerca da

história social e clínica do usuário, a classificação da doença, o histórico de

internações, se o usuário vem ou não participando das atividades dispostas a ele na

instituição, dentre outras. Ressalta-se que, no fim dos atendimentos, todos os

prontuários são evoluídos para que toda a equipe do serviço tenha conhecimento

das intervenções.

Depois de identificar a realidade de cada família são feitos os

encaminhamentos devidos, a fim de tentar promover o acesso destes aos seus

direitos. No caso do BPC e do auxílio-doença, o agendamento da perícia no INSS é

feito, quando possível, no próprio serviço ou, no caso da falta de alguma

documentação necessária, o usuário é orientado a ele mesmo fazer o agendamento

através do número 135.

Conforme a análise dos registros de atendimentos, desde a formalização

do grupo foram contabilizados mais de 30 encaminhamentos para auxílio-doença, 64

encaminhamentos ao BPC, mais de 50 agendamentos de pericia junto ao INSS,

mais de 10 encaminhamentos para passe-livre, 3 deferimentos de pericias para o

Programa De Volta pra Casa, mais de 10 encaminhamentos para aposentadorias,

mais de 20 encaminhamentos para Núcleos de Práticas Jurídicas, incluindo

Defensoria Publica, mais de 60 solicitações de atestados médicos e mais de 50

emissões de Declarações Sociais para fins de pericias, bem como mais de 40

encaminhamentos para outros programas. Enfatizamos que, nesses dados, não

49

estão inclusos os atendimentos feitos antes da formalização do grupo, nem mesmo

os atendimentos de retorno ou ainda aqueles que não se encaixaram no perfil para

aquisição de algum direito, mas que foram feitas orientações e esclarecimentos.

Analisando os formulários de atendimentos do grupo foi perceptível que,

no tocante ao BPC, grande parte dos usuários, que não se encaixaram nos critérios

de renda, composição familiar e gravidade da doença, quiseram, mesmo assim,

marcar a perícia para aquisição do benefício no INSS por uma questão de direito. Já

com relação à solicitação de atestados necessários para a perícia, muitos foram

inviáveis devido à precarização do serviço com a falta de médicos para atender a

demanda, sendo, portanto reagendados.

Portanto, dependendo da gravidade do transtorno mental na vida do

sujeito, que o impossibilite o exercício do trabalho, assim como, os critérios de renda

e composição familiar, o BPC torna-se um direito desse segmento social. Dessa

forma, compreendemos que se faz necessário o aprofundamento da discussão do

benefício no contexto da Política Nacional de Assistência Social- PNAS.

2.4 O BPC no contexto da Política Nacional de Assistência Social

Muito anterior ao reconhecimento e a regulamentação da Política

Nacional de Assistência Social no Brasil - PNAS, as ações de assistência social

eram compreendidas e exercidas sob a ótica caritativa de cunho religioso sendo

desenvolvidas, basicamente, pela a igreja católica como ajuda aos mais pobres e

necessitados.

Segundo Viccari (2008), assim como, a exemplo da saúde e da

previdência social, a assistência social também, num contexto de mobilizações

sociais, buscou a desconfiguração da lógica caritativa e a desvinculação de práticas

clientelistas e eleitoreiras com o objetivo de elevar a assistência social ao patamar

de política pública de direito e de responsabilidade do Estado.

Dessa forma, para que fosse desconstruída a lógica de caridade atribuída

à assistência social, desde os primórdios, e essa fosse transformada em uma

política pública, foram realizados vários estudos de pesquisas, através de duas

grandes universidades, particularmente, a Universidade Nacional de Brasília e a

50

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tais pesquisas foram voltadas,

principalmente, para o público mais pobre de vários países centrais e da periferia e,

especialmente, perceber como esses países desenvolviam a proteção social na

tentativa de conceituar a política de assistência social no Brasil. Sendo assim, a

construção desse novo saber ganhou espaço no cenário brasileiro e, ao longo dos

anos, passou a ser tema de discussão em nível nacional.

Sendo assim, foi somente com a promulgação da Constituição Federal de

1988, que a assistência social foi reconhecida como política pública de dever do

Estado, sem a necessidade de contribuição, destinada a todo cidadão que dela

necessitar. No artigo 203 da referida constituição é disposto que:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993, 2013).

Esse reconhecimento foi essencial para iniciar a construção da PNAS, no

que se refere à conquista de direitos da assistência social e para a contínua

superação do caráter filantrópico. Esse reconhecimento resultou ainda na inclusão

da assistência social no tripé da Seguridade Social. Foi também, por meio dessa

referida constituição, que foi criado o BPC, como uma forma de inclusão dos menos

desfavorecidos da sociedade.

Ainda, em meio a esses avanços, foi criada a Lei Orgânica da Assistência

Social – LOAS, Lei 8.742/93, que dispõe sobre a organização da assistência e dá

outras providências. Conforme Sposati (2011), o processo de construção dessa lei

ocorreu de forma gradativa, contudo destaca ter sido um processo de lutas e

dificuldades, pois não era um direito considerado necessário por todos os grupos

sociais.

Nesse sentido, a LOAS, com base no texto constitucional, define sobre os

objetivos e diretrizes dessa política; trata da organização e da gestão, bem como

também destaca como princípios:

51

A supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; a universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; o respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; a igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; a divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. (BRASIL, 1993, Lei 8.742)

Com base nesses princípios, a LOAS regulamentou, em 1993, o Benefício

de Prestação Continuada- BPC, no qual já havia sido criado pela CF de 1988. A

implantação desse benefício só foi realizada em 1996, três anos após sua

regulamentação. Esse benefício é caracterizado como uma transferência de renda

de caráter não contributivo, com o valor de um salário mínimo, para pessoas idosas

ou com alguma deficiência seja física ou mental, que não possuem recursos para

prover sua própria subsistência e que comprovem a existência de uma renda per

capta inferior a um quarto do salário mínimo.

A transferência de renda ocorre por meio do sistema bancário e,

diferentemente, da aposentadoria esse benefício não é vitalício, ou seja, após a

morte do beneficiário o benefício cessa. É intransferível e não necessita de

contribuições prévias para o sistema de seguridade social, além do que não pode

ser acumulado a outros benefícios da seguridade social, exceto de assistência

médica e de pensão especial de natureza indenizatória.

Além disso, os beneficiários passam por revisão de perícia a cada dois

anos, com os profissionais da área médica e social do Instituto Nacional de

Seguridade Social - INSS, que avaliam a situação de renda, moradia e

vulnerabilidade social e, nos casos de BPC por deficiência mental, é analisada

também a questão da gravidade da doença por meio da comprovação de

internamentos, análises de atestados médicos e avaliação clínica.

No início de sua implementação, o BPC recebeu forte influência da

Previdência Social, o que acabou por imprimir uma imagem equivocada de um

benefício previdenciário. Somente por meio da criação do Sistema Único de

52

Assistência Social – SUAS, no ano de 2005, que é feita a tentativa de restauração

da sua identidade, como um benefício da política de assistência social destinado à

proteção de idosos e de deficientes em situação de vulnerabilidade social.

Dessa forma, o BPC é um benefício de competência do Ministério de

Desenvolvimento Social – MDS que, através da Secretaria Nacional de Assistência

Social – SNAS, é responsável pela implementação, financiamento, coordenação

geral, monitoramento e avaliação da prestação do benefício, cabendo a sua

operacionalização ao INSS.

Para a concessão do benefício, os usuários passam por três fases. No

CAPS, por exemplo, é feito, inicialmente, aos interessados orientações quanto à

documentação necessária é também na instituição que são feitos os

encaminhamentos e agendadas as outras duas fases do processo: as perícias social

e médica em qualquer agência da Previdência Social.

Quantos aos critérios para a aquisição do benefício é disposto que:

§ 1º Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o conjunto de pessoas elencadas no art.16 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto. (nova redação dada pela Lei nº. 9.720/98). § 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo. § 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência média. § 5º A situação de internado não prejudica o direito do Idoso ou do portador de deficiência ao benefício. § 6º A concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. (nova redação dada pela Lei nº. 9.720/98).

Observamos que dentro dos critérios citados, o critério de composição

familiar ainda precisa ser revisto, tendo em vista a concepção de família ampliada.

Muitos interessados pelo BPC, muitas vezes, não conseguem o benefício por não se

53

encaixar nesse quesito, pois não são contados alguns tipos de parentesco, como por

exemplo, primos e sobrinhos, embora estejam morando sob o mesmo teto.

Conforme Gomes (2011), o BPC é um direito social que deveria ser

compreendido como um direito atrelado ao princípio de universalidade, assim como

está disposto na LOAS. No entanto, o que percebemos, na realidade, é que o BPC

acaba por não ser um direito de todos que necessitam dele, mas um direito de uma

minoria selecionada. Vale destacar que o BPC foi durante muito tempo o maior

benefício de transferência de renda do país e, atualmente, é menor apenas que o

Programa Bolsa Família- PBF. Ressaltamos, ainda, que o BPC não é o único direito

voltado para as pessoas com deficiência, existe, ainda, a aposentadoria por

invalidez de caráter contributivo da Previdência Social.

Dessa forma, acreditamos que o BPC representa um direito que,

articulado às demais políticas, contribui para o enfrentamento da pobreza e

promoção da cidadania, como uma forma de garantir a proteção social de idosos e

deficientes, contribuindo com a inclusão social de milhões de beneficiários no Brasil.

Tendo em vista o significado social do BPC e seus impactos na sociedade, iremos

analisar no próximo capítulo o significado social do BPC, a partir da compreensão e

da importância que os participantes do Grupo de Direitos Sociais do CAPS Geral Ser

III atribuem ao benefício.

54

3. OS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO BPC PELOS INTEGRANTES DO GRUPO DE DIREITOS SOCIAIS DO CAPS

3.1 Conhecendo os sujeitos da pesquisa

Para efeito de maior compreensão, acerca dos dados empíricos coletados

em campo, sentimos a necessidade de iniciar com informações sobre o perfil das

pessoas entrevistadas, tendo em vista ser essa uma informação importante e

primordial na compreensão do significado social do BPC para essas pessoas.

Destacamos, primeiramente, que na metodologia da pesquisa, havia a

princípio, sido definido como critério da amostra os participantes do Grupo de

Direitos Sociais desenvolvido no CAPS Geral Ser III- HUWC/UFC, que já eram

beneficiários do BPC ou aqueles que ainda estavam em processo de aquisição do

benefício. A seleção das pessoas entrevistadas foi realizada com base nas

informações dos formulários de atendimento do Grupo. Dessa forma, coletamos

algumas informações importantes como: nomes e telefones e se a pessoa já era ou

não beneficiária do BPC. Assim, todas as pessoas que participaram da pesquisa

foram convidadas, através de contato telefônico.

O previsto na metodologia era a realização de 8 entrevistas, contudo,

devido à desatualização do número de telefone, de algumas pessoas, não foi

possível o contato com parte das pessoas que foram selecionadas. Dessa forma, a

pesquisa contemplou os dados qualitativos de 6 entrevistados, que contribuíram,

enormemente, com a pesquisa. Acrescentamos que os nomes dos entrevistados

presentes neste trabalho são fictícios e foram escolhidos pelos próprios

participantes.

A maioria dos participantes do grupo é familiar dos usuários do CAPS,

que buscam orientações acerca dos direitos de seus familiares e participam de todo

o processo de aquisição do benefício, dessa forma, esclarecemos que a maior parte

das entrevistas foi feita com os familiares.

Salientamos que, devido ao comprometimento cognitivo de alguns

beneficiários, a família assume um papel muito importante para melhoria da

55

qualidade de vida de seus parentes, na medida em que é ela que, na maior parte

das vezes, sente-se responsável em colaborar na viabilização dos direitos de seus

parentes. A Política Nacional da Assistência Social (2004, p.29) identifica que:

[...] são funções básicas da família: prover a proteção e a socialização de seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado.

No caso do BPC, na especificidade da saúde mental, é a família que

acompanha todo o processo de concessão do benefício, haja vista que, dependendo

da gravidade do transtorno mental, muitas dessas pessoas encontrariam

dificuldades para conseguir o benefício sem o apoio da família. Durante minhas

participações no grupo, presenciei muitos casos em que a assistente social

agendava e encaminhava o usuário para a perícia no INSS, e este, muitas vezes,

devido à falta de compreensão, negava- se a comparecer no dia marcado. Dessa

forma, compreendemos que a participação da família tem real importância na

efetivação dos direitos de seus familiares, desde as primeiras orientações realizadas

no grupo, até na providência dos documentos necessários e nas idas e vindas das

perícias ao INSS. Apresentamos a seguir o perfil dos sujeitos da pesquisa:

A Sra. Vicência, 80 anos, foi a entrevistada numero 1. Ela é mãe da

beneficiária que recebe o BPC há mais de um ano. Cursou apenas até a 3ª série do

ensino fundamental. Referiu morar, há muitos anos, em uma residência própria

situada em um bairro periférico no município de Fortaleza, sendo este um dos

bairros que compõe a área de abrangência da regional III. Quanto à religião, disse

professar a religião Católica, desde a sua infância. A família é composta de quatro

integrantes, sendo a entrevistada, um filho homem e duas filhas que fazem

tratamento no CAPS e apenas uma das filhas é beneficiária do BPC. Quando

indagada sobre a renda familiar, ela expôs que a renda da família se resume a dois

salários mínimos, um da pensão de seu falecido marido e outro do benefício de sua

filha.

56

De acordo com informações do prontuário, a beneficiária possui o

diagnóstico de CID107 F20 - Esquizofrenia8 e é acompanhada pelo CAPS desde o

ano de 2001, no qual participa de grupos terapêuticos semanalmente.

Manoela, 34 anos, foi a entrevistada número 2, essa foi a única pessoa

entrevistada que ainda estava em processo de aquisição do benefício. É o pai da

entrevistada quem realmente tenta acessar o BPC, sendo sua filha Manoela uma

peça muito importante nesse processo. Segundo informações obtidas no prontuário,

o pai de Manoela começou a ser acompanhado pelo CAPS em 2013, sendo

diagnosticado com o CID 10 F33 – Transtorno Depressivo Recorrente9.

Conforme os dados coletados na entrevista, quanto ao perfil dos

entrevistados, Manoela afirma ter conseguido concluir o ensino médio. A família que

professa a religião Evangélica é composta de 5 pessoas: a entrevistada, seu

esposo, seu pai e duas filhas. Moram de casa própria, na qual Manoela referiu ter

construído com a ajuda do esposo em cima da casa de sua sogra. Apenas Manoela

e seu esposo trabalham e, juntos, conseguem obter uma renda aproximada de dois

salários mínimos

O entrevistado número 3 sugeriu o nome Evanildo para ser exposto na

pesquisa. Quando foi feito o contato com ele, este se disponibilizou a participar da

pesquisa e afirmou o dia e horário que estaria disponível para a entrevista, contudo,

não foi possível que o Sr. Evanildo, 63 anos, comparecesse no dia marcado, pois

7 LISTA CID-10 - A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde

(também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID 10) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. A CID 10 fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código CID 10. (http://www.medicinanet.com.br/cid10.htm. Acesso em 08/05/2014) 8 Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções fundamentais e

características do pensamento e da percepção e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente, mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual, embora certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. 9Transtorno caracterizado pela ocorrência repetida de episódios depressivos correspondentes à

descrição de um episódio depressivo (F32.-) na ausência de todo antecedente de episódios independentes de exaltação de humor e de aumento de energia (mania).

57

ele não se encontrava bem de saúde. Sendo assim, em outro dia, ao concluirmos a

entrevista de numero 2, observei o Sr. Evanildo nas imediações do CAPS e foi

possível a realização da entrevista. É importante colocar que o Sr. Evanildo é pai do

beneficiário e um dos participantes do grupo que mais foi encaminhado e

reencaminhado às perícias no INSS, sendo, portanto, um dos que mais necessitou

de acompanhamento, até mesmo pelo fato de ser idoso e ter sofrido, recentemente,

um acidente vascular cerebral, que comprometeu seus movimentos do lado direito

do corpo, fazendo com que o paciente tenha dificuldade para se locomover.

O Sr. Evanildo possui escolaridade até a 6ª série do ensino fundamental,

reside em casa própria, juntamente, com dois filhos e a esposa. A família, que

professa a fé Evangélica, não possui renda nenhuma e segundo o Sr. Evanildo a

família sobrevive de esmolas. Conforme informação do prontuário, seu filho é

acompanhado pelo CAPS desde 2010 e apresenta o diagnóstico Transtorno Afetivo

Bipolar– CID10 F31.10

É importante destacar que na ficha de acompanhamento do grupo, o

referido estava inserido na relação de pessoas que estavam em processo de

aquisição do benefício, contudo, ao finalizarmos a entrevista, o Sr. Evanildo

apresentou a carta do INSS com o resultado de deferimento do benefício, e

atualmente, Evanildo participa do grupo para orientações, quanto ao pedido de

curatela do filho, tendo em vista que devido ao transtorno mental ele não tem

condições de gerir o benefício.

Roberta, 39 anos, foi a entrevistada número 4. Essa foi a única pessoa

dos entrevistados que era a própria beneficiária. Roberta é acompanhada pelo

CAPS desde 2002, sendo, portanto, uma das pessoas mais antigas do Serviço. É

beneficiária do BPC há dois anos e reside em uma casa alugada, juntamente, com

seu companheiro e sua sogra e, devido aos transtornos mentais, diagnosticados

como Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático não Especificado – CID10 F09 e

10

Transtorno caracterizado por dois ou mais episódios nos quais o humor e o nível de atividade do

sujeito estão, profundamente, perturbados, sendo que esse distúrbio consiste, em algumas ocasiões, em uma elevação do humor e no aumento da energia e da atividade (hipomania ou mania) e em outras, em um rebaixamento do humor e na redução de energia e da atividade (depressão).

58

Transtorno Afetivo Bipolar não Especificado- CID10 F31.9; Roberta mantém, por

recomendação médica, um tratamento regular no CAPS, participando de grupos

terapêuticos de artes e de música. Além disso, refere gostar muito de participar do

Conselho de Saúde local.

Quanto à escolaridade de Roberta ela afirmou que “eu terminei o 1º ano

do segundo grau, aí eu tô (sic) começando do zero de novo, tô (sic) estudando no

EJA11, to (sic) fazendo a 4ª e a 5ª”. Na fala de Roberta é perceptível que ela não

consegue explicar ao certo a sua escolaridade. A verdade é que Roberta possui

certa limitação cognitiva, mas que não limita sua inteligência, pois Roberta é

bastante inteligente, gosta de resolver seus próprios problemas e não precisa dos

familiares para ir e vir as suas consultas ou aos grupos no CAPS. Católica, afirmou

que ninguém trabalha na família e que a renda familiar são dois salários mínimos.

Um do beneficio que recebe e outro da aposentadoria de sua sogra. É importante

destacar que Roberta tem uma casa própria na qual residia com a sua mãe, porém

após o falecimento desta, preferiu morar com a família de seu companheiro numa

casa alugada.

Maria, 43 anos, foi a entrevistada número 5. Maria é casada com o

beneficiário e foi ela que acompanhou o marido no processo de requerimento do

beneficio. Segundo a entrevistada, seu cônjuge não gosta de sair de casa, devido

aos medicamentos que toma, pois sente muitas tonturas. Além disso, Maria referiu

que antes do marido adoecer, ele trabalhava como vendedor de algodão doce, até

que há cinco, a irmã dele, que tinha uma casa alugada na mesma, pediu que o

beneficiário a ajudasse a retirar os locatários que resistiam em não sair de sua casa,

foi, a partir daí, que Maria disse que seu esposo ficou com medo de sair de casa e

começou apresentar os primeiros problemas.

11

Educação de Jovens e Adultos: trata-se de um projeto voltado para jovens e adultos que não puderam concluir seus estudos na idade própria. (http://www.sesisp.org.br/educacao/educacao-de-jovens-e-adultos/o-que-e-eja. Acesso em 07/05/2014)

59

Segundo as informações colhidas no prontuário, o esposo de Maria

iniciou acompanhamento no CAPS em 2011 e apresenta diagnóstico de CID10

F32.3 – Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos12.

Atualmente, Maria trabalha como manicure em casa e, as sextas e

sábados, em um salão de beleza. Reside apenas na companhia de seu esposo.

Segundo Maria, a renda familiar totaliza o valor de 1 ½ salário mínimo, um salário

referente ao valor do benefício e o restante pelo trabalho informal de Maria.

No tocante a escolaridade, a entrevistada informou que conseguiu

concluir o ensino médio e que seu esposo estudou apenas até a 3ª série do ensino

fundamental e quanto à religião, o casal é Evangélico e faz parte da Igreja dos

Testemunhas de Jeová.

Ana, 49 anos, foi a entrevistada número 6, ela é irmã adotiva da

beneficiária e é quem a acompanha sempre nas suas necessidades. Segundo Ana,

ambas cresceram juntas e, desde o falecimento de sua mãe, a irmã, que sempre

apresentou limitação na sua saúde mental, passou a morar com ela. Segundo Ana,

com o passar dos anos passou a enfrentar sérios conflitos dentro de sua casa, pois

suas filhas e seu marido tinham certo receio de conviver com sua irmã. Esse receio

surgiu quando um dia sua irmã puxou uma faca 13dentro de casa, e a partir daí, Ana

passou a ser pressionada por sua família a resolver a situação. Sendo assim, Ana

conseguiu alugar um apartamento próximo para que sua irmã pudesse morar.

Conforme Ana, a ideia de morar sozinha e ter sua independência e autonomia

sempre foi um desejo da irmã.

Ana possui graduação em fisioterapia e segundo ela, sua irmã nunca

desenvolveu os estudos, “a idade mental dela nunca acompanhou a cronológica. Ela

frequentava o colégio, mas ela nunca acompanhava, assim, por exemplo, já adulta

12

Episódio depressivo correspondente à descrição de um episodio depressivo grave (F32.2) e acompanhado de alucinações, ideias delirantes, de uma lentidão psicomotora ou de estupor, uma gravidade tal que todas as atividades sociais normais tornam-se impossíveis; pode existir o risco de morrer por suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As alucinações e os delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio afetivo. 13

Expressão tipicamente nordestina.

60

ela fazia a terceira série mesmo com muita dificuldade, era mais a ocupação mesmo,

sabe” (sic).

A entrevistada afirma que a irmã reside sozinha e que sempre a

acompanha e monitora no que for necessário. Sua irmã sobrevive apenas do

benefício que serve para pagar seu aluguel e sua alimentação. É acompanhada pelo

CAPS desde 2012 e apresenta o diagnóstico de CID10 F71- Retardo Mental

Moderado14 e F20.0 – Esquizofrenia Paranóide.

O quadro, a seguir, explicita de forma, sistematizada, os dados coletados

em campo referentes ao perfil dos entrevistados.

QUADRO I

Resumo do Perfil dos Entrevistados

Entrevistados

Idade

Religião

Escolaridade

Moradia

Composição

Famíliar

Renda

Vicença

80 Católica Ensino

Fundamental

Própria 4 2 SM

Manoela

34 Evangélica Analfabeto Própria 5 1 ½ SM

Evanildo

63 Evangélica Ensino Fundamental

Própria 4 Sem Renda

Roberta

39 Católica Ensino Fundamental

Alugada 3 2 SM

Maria 43 Evangélica Ensino médio Própria 2 1 ½ SM

Ana 49

Católica

Ensino

Superior

Alugada 1 1SM

*Pesquisa de Campo, abril de 2014.

Analisando coletivamente a sistematização dos dados colhidos em

campo, observamos que 50% dos entrevistados professam a religião Católica e os

14

Retardo mental moderado, comprometimento significativo do comportamento requerendo vigilância ou tratamento.

61

demais 50% dizem abraçar a fé Evangélica, constatando, assim, certo equilíbrio

neste aspecto cultural.

No tocante à escolaridade, conferimos que, a maior parte dos

entrevistados, não concluiu nem mesmo o ensino fundamental, sendo ainda que um

deles não possui grau de instrução e apenas assina seu nome. Somente dois

entrevistados afirmam ter concluído o ensino médio, sendo que um deles possui

nível superior. Esse índice pode explicitar o grau de desinformação sobre o

benefício, como trataremos mais adiante.

Com relação à moradia, a maioria dos entrevistados afirmam residir em

casa própria e 2 em moradia alugada, no entanto, são casas com poucos cômodos,

localizadas nas periferias ou em áreas invadidas.

Observando os aspectos de composição e renda familiar de cada

entrevistado, conferimos que são compatíveis com os critérios determinados para a

concessão do benefício. Contudo, cabe-nos enfatizar que, conforme o pensamento

de Rocha (2002), o critério de renda pode resultar em implicações negativas às

famílias beneficiárias, afirmando que a exigência de comprovação da renda familiar

coloca não somente o indivíduo, mas toda a sua família na ‘armadilha da pobreza’,

pois para que o benefício seja realmente continuado, a família precisa manter-se

dentro dos padrões de renda estabelecidos. Dessa forma, Garcia (2011) salienta

que:

Famílias, com medo de perder o benefício, acabam construindo barreiras enormes em relação à escolaridade e empregabilidade de seus membros com deficiência. O BPC é uma estratégia de proteção social e não pode implicar, em momento algum, um afastamento da vida e das possibilidades de crescimento do indivíduo. (GARCIA, 2011, p.5)

Nesse sentido, concordamos que os critérios de elegibilidade do benefício

podem realmente deturpar o real significado que esse direito deve representar na

vida dos sujeitos beneficiados.

Como já dito anteriormente, o Benefício de Prestação Continuada foi

reconhecido pela Constituição Federal de 1988, como um direito de seguridade

social, representando, assim, um grande avanço para garantir a proteção social das

62

pessoas que não possuem condições de se inserir no mercado de trabalho. O artigo

203 da Constituição de 1988 dispõe que:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988, p.56).

É importante enfatizarmos que a Constituição é muito clara quando afirma

que “a Assistência Social será prestada a quem dela necessitar”, todavia, com a

regulamentação do Benefício pela LOAS, não foram considerados os preceitos de

acesso ao benefício. Conforme a Constituição, o BPC consiste na garantia de um

salário mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não

possuir capacidade de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua

família. Entretanto, a partir da LOAS, o acesso ao benefício, pelas pessoas com

deficiência, passa a ser restrito à incapacidade para a vida independente e para o

trabalho.

Esse novo critério de elegibilidade força os requerentes a comprovarem,

por meio de atestados médicos, que realmente são incapazes de garantir a sua

subsistência. Isso demonstra a ameaça neoliberal aos direitos sociais que

transformam o sentido de inclusão social do benefício, atribuindo-lhe um caráter

seletivo. Sendo assim, essa imensa seletividade para o acesso ao BPC acaba por

colocar o indivíduo na condição de necessitado. É nesses moldes que Sposati

(2004) compreende essa realidade:

[...] trata­se de uma verdadeira armadilha da pobreza, dado o conjunto de critérios a que submete o candidato, sem grau de seletividade e cobertura, abrangendo situações de vulnerabilidades praticamente irreversíveis, bem como sua condição de direito solitário, desgarrado da assistência social e das demais políticas de proteção social (SPOSATI, 2004, p.216).

63

No caso do BPC, destinado às pessoas com deficiência mental, as

informações observadas pelos médicos peritos do INSS avaliam, inicialmente, se o

sujeito realmente é inapto para o exercício do trabalho. Essa análise é feita pelo

médico psiquiatra observando o requerente no momento da perícia e,

principalmente, avaliando o (CID) diagnosticado pelo médico psiquiatra que

acompanha o sujeito.

Em conjunto com a perícia médica também é feita uma perícia social.

Conforme o Ministério de Desenvolvimento Social – MDS, essa perícia é realizada

por uma assistente social, que por meio de uma avaliação, procura “identificar

fatores que impedem ou dificultam o acesso de pessoas com deficiência e idosos a

uma condição de vida com qualidade, colocando-os numa situação de dependência

e vulnerabilidade social”.

Embora, muitas vezes, os sujeitos estejam munidos de todos os

documentos necessários, inclusive laudos e atestados médicos declarando a

incapacidade do requerente ao exercício do trabalho, e, além disso, estarem em

situação de vulnerabilidade social e atenderem às condicionalidades de renda,

composição familiar, em grande parte das vezes o resultado da pericia é indeferido,

necessitando, assim, que os sujeitos requerentes enfrentem outras e outras perícias,

e, muitas vezes, tenham que recorrer da decisão pela via do Ministério Público.

Diante de tal realidade entendemos que seja importante que os sujeitos

compreendam sobre o que se trata o benefício, bem como as limitações para seu

acesso.

3.2 A compreensão dos sujeitos entrevistados sobre o BPC

Conforme Silva (2003), apesar de o BPC ter sido previsto na Constituição

de 1988 e a LOAS ter sido criada em 1993, o BPC só foi implementado em 1996,

oito anos depois da referida constituição e três anos após a LOAS. Isso demonstra o

tamanho desinteresse de tratar desse direito como parte de uma política pública.

Essa realidade de desinteresse se torna evidente quando verificamos que, ainda

64

hoje, após dezoito anos de implantação do BPC, é alto o nível de desinformação

acerca do benefício.

Quando indagamos aos entrevistados sobre o nome do benefício que eles

recebiam, a resposta foi unânime, “não sei” (sic). Nenhum dos entrevistados soube

afirmar o que significava a sigla (BPC), que dá nome ao benefício. A maioria dos

entrevistados afirma que ouviu falar sobre o benefício na sala de espera do CAPS,

enquanto aguarda seus familiares nas suas consultas e conversa com as demais

pessoas que aguardavam atendimento. Elas ouviam falar do Grupo de Direitos

Sociais e se interessavam em participar para se informar sobre o assunto.

Analisando coletivamente os dados coletados, verificamos que a maior

parte dos entrevistados, considera difícil o acesso ao BPC, tanto pela falta de

informações, quanto pelas exigências da LOAS. Apesar de os entrevistados terem

comprovado a impossibilidade dos beneficiários exercerem alguma atividade laboral,

e se encaixarem nos critérios de renda e composição familiar, o acesso ao benefício

não foi concedido facilmente.

“[...] aí ela fez a perícia, aí depois ela fez outra perícia em outubro, aí na segunda deu certo, aí quando foi em maio de 2013 foi a Dra. Aline lá do INSS na minha casa fotografou minha casa todinha aí pediu que eu aguardasse, aí quando foi no dia 10 de junho de 2013 chegou a carta pra mim(sic) ir lá no banco Santander pra mim (sic) receber o beneficio, aí o bancário disse que tinha uma atrasada, mas essa atrasada nunca apareceu” (Vicença)

“O acesso é difícil, porque tem as exigências dos profissionais do INSS. Então pra gente obter esse benefício à gente tem que ter os requisitos merecedor (sic) que alcance a extensão da compreensão do INSS”. (Evanildo)

O depoimento de Evanildo confirma as dificuldades de acesso ao

benefício, porém não esclarece. Ele demonstrou, em sua fala, que os critérios de

aquisição do benefício correspondem a exigência dos profissionais do INSS, não

entendendo que esses critérios são definidos por lei.

“Pra mim ta sendo difícil, pra gente ta sendo difícil, porque eu já tentei já fui no INSS, fui em tanto lugar já e até agora só não, não e não. Quando ele tá controlado ele fica desse jeito ai quieto, ai eles diz não num tem problema nenhum, dá pra trabalhar, só que se ele passar meia hora ali no sol ele começa a ficar se batendo todim (sic) com dor de cabeça, doendo e tudo, ele não pode ficar no meio do sol , no meio de muita gente, ele começa a

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ficar aperreado, ele não consegue e lá eles dizem: ‘não, pode trabalhar normal’”.(Manoela)

O depoimento de Manoela expressa as dificuldades com relação à

perícia. Muitas vezes, a visão do perito não contempla as questões globais, que

permeiam a vida dos sujeitos e não leva em consideração o transtorno mental,

afirmando que eles possuem capacidade para o trabalho. Nessa fala observamos,

claramente, que o usuário trabalhava em alguma atividade exposta ao sol, como o

trabalho de um pedreiro ou um servente e, devido ao transtorno mental, ele se sentiu

impossibilitado de trabalhar, além disso, o médico que o acompanha no CAPS

destacou no atestado médico do usuário a incapacidade para o trabalho, contudo,

essa informação, muitas vezes, é desconsiderada.

“Foi difícil porque eu lutei. Lutei porque meus irmão (sic) ia comigo fazer a perícia ai elas lá diziam que eu tinha casa própria que eu tinha condições aí a outra vez a minha irmã mentiu dizendo que eu morava em favela”. (Roberta) “Eu acho que é difícil né, eu não sei se é porque eu o passei por tudo isso aí né, ele já recebe há um ano né, mas passamos um ano e meio no processo, eu ía sempre pras perícias com ele. A agência da Parquelândia foi a pior que eu encontrei porque eles só negavam , negavam, só que aí eu saí de lá fui pra Jacarecanga, foram várias, várias pericias mesmo, umas cinco, tem um monte de papel lá em casa guardado, sempre na mesma agência, e eles nunca explicavam, os atendente dizia: minha senhora desista porque é muito difícil. Ai tinha aquela parte de entrar com recurso né, também eles não me explicava (sic), eu já tava desistindo, mas eu não sabia daqui né, que era mais fácil através do CAPS, eu fui por conta própria , aí depois que foi mais fácil mas eu acho que se eu tivesse tido mais informações antes talvez teria né, se eu tivesse conhecimento mais né do assunto talvez eu não sei, talvez eu deveria ter conseguido, mas é um processo que demora mesmo né também na situação dele num é só ele tem outros , tem outros antes dele né também que precisa ser avaliado porque eles precisam saber se a pessoa realmente precisa né”. (Maria)

Esses depoimentos demonstram que, diante de tantas dificuldades para

acessar o benefício, muitas vezes, os usuários se utilizam de estratégias que os

ajudem a ter um resultado positivo nas perícias. Em nossas participações no grupo,

sempre ouvíamos pessoas relatando algumas dessas estratégias. Alguns afirmavam

que para acessar o beneficio iam morar sozinhos para que a renda de sua família

não fosse contada. Alguns iam moram na casa de parentes com uma composição

66

familiar maior ou com parentes que trabalham na informalidade. Outros até

buscavam ajuda de advogados amigos da família para auxiliar nesse processo.

No caso de Maria, verificamos que, somente após o usuário ser

encaminhado pelo o CAPS, o acesso ao BPC foi facilitado, tendo em vista que, além

de comprovar o quadro clínico, o usuário teve como comprovar que realiza um

acompanhamento psicossocial, há vários anos no serviço, o que pode ter

contribuído para a concessão do benefício.

Refletindo, ainda, sobre as dificuldades de acesso ao BPC, verificamos

que o depoente a seguir declarou não achar dificuldades para acessar o benefício.

“Foi a primeira vez que tentou e já deu tudo certo. Pra mim eu achei que num foi difícil não, foi não, só o tempo, né assim, porque se fosse mais rápido de uma perícia pra outra, porque foram dois meses, mas assim eu num achei difícil, não porque eu pensava que ainda ía pra outra perícia”. (Ana)

Esse depoimento foi o único a não considerar difícil o acesso ao BPC, o

que nos leva a pensar sobre a importância de alguns peritos terem maior

sensibilidade para avaliar os requerentes, buscando compreender todas as nuances

que permeiam a vida dessas pessoas, isto é o que acreditamos ter acontecido, no

caso de Ana.

Os dados empíricos coletados nas entrevistas demonstraram que a

maioria dos entrevistados expressou entender o BPC como sinônimo de ajuda do

Governo Federal. Ao mesmo tempo, eles salientam que o acesso ao benefício

significou melhoras nas suas condições de vida.

“Eu entendo que ele vai receber o beneficio se passar que ele vai ter uma ajuda do governo né, pra que ele se mantenha enquanto ele viver, uma ajuda do governo pra que ele tenha uma vida social mais razoável.” (Manoela)

“As pessoas desempregadas, doentes, sem renda, menos favorecida e financeiramente essas pessoas merece esse benefício beneficamente (sic) do governo federal, que é uma sobrevivência pra melhorar a vidas das pessoas que vivem necessitando desse beneficio, ele é muito importante pra todas essas pessoas, que não tem, que se encontram ou com pequena renda ou sem renda com assim, no meu caso sem renda esse beneficio era muito importante pra que eu pudesse me (sic) usufruir dele e agradecer ao governo federal por ele proporcionar esse benefício pra todas aquelas pessoas que necessita bastante desse beneficio”. (Evanildo)

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“Eu acho que é algo pra poder beneficiar, ajudar as pessoas que tão no momento precisando né, é uma forma do governo contribuir com as pessoas que estão necessitadas”. (Maria)

“Eu entendo assim uma ajuda, né, assim mesmo pra vida dela, tá entendendo? Até mesmo em relação à alimentação, à moradia, entendeu? Porque isso aí ajuda completamente a ela, né, sem esse benefício não sei como seria como é que ela estaria vivendo agora, sinceramente, acho que com a ajuda de um e de outro de um de outro e pedindo né, porque hoje todo mundo tem as suas dificuldades, né”. (Ana)

Nas falas acima observamos que a compreensão da maior parte dos

entrevistados, assemelha o BPC a uma ajuda e não sob a ótica do direito. Segundo

Martinelli (2009), “historicamente a realização da prática assistencial esteve bastante

distanciada das relações sociais, associando-se mais à noção de caridade”, haja

vista que a prática de assistência social era realizada pela igreja Católica.

Ao longo do tempo, inúmeros foram os caminhos trilhados pela assistência, assim como as formas operacionais adotadas para concretizá-la, porém um elemento se manteve sempre a ela vinculado, constituindo um verdadeiro sinal indicativo de sua prática: a caridade para com os pobres. (MARTINELLI, 2009, p.97)

Embora não possamos estabelecer conclusões definitivas, consideramos

que esse fator histórico enraizado, culturalmente, à prática da assistência, atrelado à

desinformação, são fatores que comprometem o entendimento da assistência social

como um direito. Ademais, entendemos que o fato de ter que se comprovar uma

renda tão baixa para conseguir o benefício, reforça a ideia de o direito ser entendido

como ajuda no imaginário social.

Os dados da pesquisa colaboram com os estudos de Garcia (2011),

quando enfatiza que embora a Constituição de 1988 tenha colocado a assistência

social como dever do Estado e direito do cidadão, a lógica do “favor”, da filantropia e

da caridade ainda está sendo superada num processo muito lento que, até agora

não terminou.

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O depoimento de Roberta revela outra nuance acerca do entendimento

social do BPC. Para ela, a contemplação do benefício significou uma forma de

inserir-se no mundo do consumo.

“Eu compreendo porque serve pra muita coisa, serve pra mim (sic) pagar minhas dívidas, porque se não fosse ele como que ia pagar minhas dívidas? Antes era muito ruim pedir esmola e tudo, aí agora não peço mais. Quando recebo, pago minhas dívidas, compro minhas coisas, já agora tô com dois celular (sic) eu comprei um celular da oi e comprei um pra ser o da claro”. (Roberta)

Dentro de um contexto de miséria extrema, verificamos que antes da

entrevistada conseguir o benefício, ela vivia nas ruas, pedindo esmolas para sua

sobrevivência. Levando em consideração o grau de necessidade da beneficiária, e o

contexto social em que vivia, percebemos que o recebimento do benefício significou

um impacto positivo na vida dela, possibilitou a superação da sua antiga condição

promovendo, assim, sua autonomia. Nesse sentido, de acordo com Silva (2003,

p.236):

O BPC, assim como os demais programas sociais no Brasil, especialmente o programas de transferência de renda, cujo beneficio tem valor monetário inferior ao que se poderia considerar um mínimo social capaz de incluir os pobres no patamar de uma dignidade humana civilizatória, mesmo assim, quase sempre, tem um significado muito relevante para aqueles que conseguem acessá-lo.

Assim, embora a beneficiária tenha referido esse ponto positivo do

benefício para sua vida, devemos considerar que a garantia de um salário mínimo é

insuficiente para promover uma vida realmente digna e cidadã, haja vista que na

grande maioria das vezes esse benefício não se constitui como renda apenas do

beneficiário, mas de toda a família.

É importante destacarmos que, de acordo com os dados coletados com a

pesquisa, verificamos outro aspecto relevante no que condiz ao entendimento sobre

o BPC, haja vista que Vicença expressou entender o benefício como um auxílio

doença: “Eu entendia que fosse auxílio - doença crônica né, é isso que eu entendia”.

Assim, analisando a fala acima, entendemos que, talvez pelo o fato do

BPC ser operacionalizado pelo INSS, a entrevistada tenha assemelhado o benefício

a um direito previdenciário. Contudo, destacamos que o BPC é caracterizado como

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um direito inserido no campo da política de assistência social, a qual não necessita

de contribuição prévia para sua concessão, diferente do auxílio - doença que se

constitui como um direito previdenciário que necessita de contribuição prévia,

destinado aos trabalhadores que por algum motivo de saúde precisam acessá-lo. De

acordo com Aguiar (2012):

Nos primeiros anos, a implementação e gestão do BPC esteve sob forte influência da Previdência Social, percorrendo uma trajetória distanciada da assistência social e implicando a identificação equivocada como benefício previdenciário. (AGUIAR, 2012, p.36)

Dessa forma, percebemos que a identidade do BPC nas suas origens,

caminhou distante da assistência social implicando, assim, na identificação

equivocada do benefício como previdenciário. Ainda conforme Aguiar (2012),

somente com a criação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, é que

ocorre a tentativa de restaurar a identidade do BPC como um benefício da política

de assistência social.

Um dado relevante constatado com a pesquisa foi o fato de que, embora

cada entrevistado não tenham apontado todas as diferenças entre o BPC e uma

aposentadoria, a maior parte dos entrevistados demonstra ter conhecimento de

alguma diferença. Isso demonstra que os entrevistados não são tão mal informados.

“A diferença é que quem é aposentado é quem trabalha, meu marido é aposentado por invalidez, mas porque trabalhou, eu recebo a minha pensão porque ele morreu em 2011, e a bichinha recebe por causa do problema dela” (Vicença)

“Sim explicar exatamente eu não sei, mas assim, o benefício pode ser cortado a qualquer minuto, a qualquer momento, e o outro seria mais garantido porque ele vai ficar pro resto da vida sem nenhum problema né, uma aposentadoria é diferenciada”. (Manoela)

“Tem diferença, a aposentadoria é o décimo né, a diferença é que é uma coisa que é certa né, já o benefício não, é só sem o décimo, mas é uma coisa que também você sabe que tem todo mês, e é dele pra ele mesmo né quando ele falecer não fica pra mim”. (Maria)

Observando os depoimentos de Evanildo e Roberta, verificamos que eles

não identificaram nenhuma diferença entre o benefício e uma aposentadoria. Já

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Ana, embora estando um pouco insegura e não demonstrasse tanta certeza,

conseguiu apontar algumas diferenças importantes entre os dois.

“Não, não consigo ver não, eu assim no meu ponto de vista, eu acho que seja a mesma coisa né, eu acho que uma aposentadoria é porque realmente é determinado pro resto da vida né, e esse daí eu acho que vai ter certas avaliações, certos acompanhamentos médicos pra ver se realmente ela não teve nenhuma mudança no estado mental dela né, eu acho que é assim, a pensão né, a aposentadoria é definitiva entendeu, e eu acho que um auxílio desse, um beneficio desse tem que ser assim acompanhado com os médicos e tudo, eu penso que seja né, não tenho certeza se é assim”. (Ana)

Pelo o fato de ser um benefício continuado com o valor de um salário

mínimo, muitas pessoas confundem o BPC como uma aposentadoria. É importante

destacarmos que o BPC é um direito social inserido na política de assistência social,

e conforme o MDS integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de

assistência Social – SUAS. Sendo assim, como já dito, anteriormente, não necessita

de contribuição prévia à Previdência Social. A aposentadoria se difere muito do

BPC, inicialmente, porque é um direito previdenciário, ou seja, um direito dos

trabalhadores formais ou informais que contribuíram mensalmente com a

previdência social. Outra diferença é que uma aposentadoria dá direito ao décimo

terceiro salário e após a morte do aposentado, o valor recebido pode ser repassado

para um parente próximo, como a viúva (o) ou um filho (a) menor de idade.

O tópico a seguir irá analisar o significado do BPC na vida dos

entrevistados a partir da importância que esse benefício representa na vida dos

mesmos.

3.3 A importância do BPC na vida dos entrevistados

Conforme já destacamos, o Benefício de Prestação Continuada é um

direito social, criado com o objetivo de promover a proteção social a idosos e aos

deficientes que não possuem meios de prover sua própria subsistência, nem como

tê-la provida por sua família. No que se refere aos deficientes, o MDS compreende

como sendo a pessoa que, independente de idade, apresenta impedimentos

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de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em

interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na

sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Sendo assim, no

âmbito da saúde mental, o BPC se constitui como um direito das pessoas com

transtornos mentais de grande importância para a vida dos beneficiários.

Analisando os dados coletados em campo, constatamos que o BPC se

constitui um benefício de grande importância na vida dos entrevistados e seus

familiares, pois contribuiu para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.

“Ajudou bastante, triste de mim se num fosse esse beneficio, porque eu recebo o meu, mas tem elas duas pra comer, pagar água e luz, ai com o benefício dela a minha casa tava já pra cair em cima de nós, porque ela é muito velha, eu to com 60 anos que eu moro lá na mesma casa no Henrique Jorge, ai o telhado da casa a madeira tava todo comido, se tivesse havido um bom inverno no ano passado ela tinha caído, só num caiu por isso, mas a madeira tava toda comida toda, toda, toda, ai graças a Deus com essa ajuda, a minha filha me deu a coberta a coberta do meu quarto ai depois eu fiz o da sala ai fiz o quarto delas o quarto delas era que tava ruim , num sei como num já tinha caído e matado todas duas, ai eu troquei tudim as madeiras e as telha da casa graças a Deus, com a ajuda desse benefício, porque com o meu eu juntando de poquim em poquim eu fiz a sala, mas o resto foi com o dela e agora se deus quiser ela ta com os dente tudo preto e vamo resolver isso”. (Vicença)

Ia mudar muito porque ele, as necessidades dele, porque assim como eu tenho três filhas, tenho que comprar roupa, comida, é muita coisa pra mim entendeu, pra mim e o meu esposo. Ia mudar muito na alimentação dele ele gosta muito de fruta, ele não gosta de pouca, banana ele gosta muito de banana se for na geladeira ele come as banana que tem tudim, come as laranjas quem tem tudim, ele não gosta de, assim, ele não tem o controle de devolver uma entendeu o destino dele é comer, ele come bem. (Manoela)

Observando os depoimentos acima, verificamos que o benefício tem sido

importante para proporcionar necessidades básicas para as famílias entrevistadas,

principalmente, a alimentação, pagarem contas de água e luz, como também,

oportunizar uma boa moradia para eles. Nesse sentido, o benefício se constitui

como um direito essencial para a reprodução da vida das pessoas com transtornos

mentais.

É oportuno destacarmos que a pobreza é uma expressão da questão

social que perpassa a vida de muitas pessoas em todo o país. Conforme

informações do IBGE (2011), o Brasil possui 16,2 milhões de pessoas que

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sobrevivem com uma renda per capta com valor estimado em R$ 70,00 sendo,

portanto, pessoas que vivem em situação de miséria extrema e sobrevivem com

uma renda insuficiente para suprir as necessidades básicas. Algo que nos chamou a

atenção foi o depoimento de Evanildo, pois para ele assim como para tantos outros,

o benefício significa a sobrevivência.

“Pra nós como a gente não tem renda nenhuma, é a sobrevivência, a melhoria de vida e a sobrevivência porque quem não tem uma renda tem que recorrer a ajuda dos familiares e quando os familiares não tem condições de ajudar, como muitos não tem, a gente tem que pedir esmola tem que pedir ajuda, e vamo (sic) logo direito pro povão vamo (sic) pedir a esmola, me dá (sic) eu tô necessitado eu tô precisando, me dá (sic) um arroz, me dá (sic) um macarrão, me dá (sic) um feijão e me dá (sic) uma ajuda pra mim (sic) pagar minha água , minha luz,é a única coisa que a gente pode recorrer, porque a gente é trabalhador e fica sem condições de trabalhar e a gente tem que recorrer os nosso irmãos (sic) mesmo e pedir me dá(sic), porque a gente não vai tomar de ninguém a gente não vai roubar porque a gente não tem esse costume é pedir.Um dá, outro dá, tem muitas pessoas do coração bom , tem muitas pessoas solidária(sic), se um não dá, você insiste pede o outro, o outro dá, tem muitas pessoas que tem o coração bom muitas pessoas que agradam a seu irmão tem solidariedade do seu irmão também, e, assim, a gente consegue é ficar até esperando até a gente alcançar o benefício da gente que a gente também tá na espera quando completar a idade. Eu peguei um AVC tô com o lado esquerdo dormente, um esquecimento, tô com umas tontura, tem dia que a estrada roda, as casa roda (sic) e nesse dia, eu num saio nem pra pedir ajuda pro povo porque não tenho nem condição aí eu fico em casa e continua a necessidade batendo muito na gente acabando com a existência da gente, e com esse benefício a gente recebendo, a gente já tem alguma coisa pra se alimentar vai sobrevivendo até o dia que Deus permitir que a gente viva nessa terra que Deus nos deu”. (Evanildo)

Assim, levando em consideração o grau de necessidade das pessoas

entrevistadas, entendemos que o benefício tenha contribuído com a melhoria da

qualidade de vida das pessoas, contudo, destacamos que os benefícios de

transferência de renda não produzem grandes impactos na vida de seus

beneficiários, pois não possibilita uma transformação efetiva de vida, apenas deixam

de ser, extremamente, pobres para serem pobres. Além disso, embora o BPC tenha

um significado positivo na vida das pessoas que o acessam, esse benefício se

constitui como uma estratégia de incluir as pessoas na lógica do consumo.

O depoimento de Roberta revela que ela ,assim como Evanildo, viveu no

contexto da mendicância e, ao ser questionada, sobre a contribuição do benefício

em sua vida, ela expressou que o BPC contribuía para pagar suas dívidas: “Ajudou,

porque se não fosse como que pagava minhas dividas?” (Roberta).

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Nesse caso, entendemos que o BPC tenha contribuído para que a

beneficiária pudesse consumir algo que por muito tempo lhe foi restrito,

possibilitando, assim, o acesso a objetos que nunca tinha conseguido usufruir.

Analisando a fala, também percebemos que o BPC contribuiu em parte com a

promoção da autonomia da beneficiária, haja vista a paciente poder comprar algo

que ela própria escolhe.

Contemplando a mesma linha de raciocínio, também verificamos no

depoimento de Ana, que o BPC contribui para o exercício da autonomia de sua irmã,

a real beneficiária.

“Ajudou porque ela queria muito morar só, entendeu? Ela achava que eu era muito culpada porque ela morava comigo e precisava às vezes me ajudar em casa, então ela sempre queria ter a vida dela, a individualidade dela, porque ela achava que sempre viveu a vida toda em função dos outros, então isso aí ajudou, porque ela queria muito ter o canto dela, então isso aí eu acho que ajudou muito, porque ela queria ter realmente a liberdade dela, a individualidade dela, apesar dela não ter esse amadurecimento de saber o que é realmente que um adulto ver como liberdade né, porque liberdade não é só você sair, é você também ter maturidade pra encara suas responsabilidades né, é tanto que é todo tempo eu ali toda semana tô presente, tem uma senhora quem tem uma casa do lado a gente tá sempre se comunicando”. (Ana)

A autonomia das pessoas com transtornos mentais é uma conquista de

grande relevância, pois essas pessoas que, ainda hoje, sofrem com o preconceito,

são muitas vezes vistas como incapazes de gerir a sua própria vida. Nesse sentido,

em alguns casos, o benefício representa uma oportunidade desses indivíduos

protagonizarem suas próprias experiências de vida e exercerem de fato o direito a

igualdade.

No caso de Maria, conferimos que a principal contribuição do BPC

referido pela entrevistada tenha sido no aspecto do bem estar do beneficiário, tendo

em vista que o recebimento do beneficio contribuiu, positivamente, para o tratamento

dele.

“Ajudou, ajudou muito, ele tinha uma preocupação grande porque não tava mais conseguindo trabalhar, e ele via que só eu né que tava trabalhando e ele se preocupava bastante né ele, e não ajudava isso não ajudava no tratamento dele, aí com o benefício não, ele tá melhor se sente melhor tô tentando ver agora é alguma coisa, uma atividade física pra ele porque a atividade melhora, porque todo mundo fala que faz bem e o que tá em jogo é a saúde né. A parte financeira ajudou bastante, ta ajudando porque

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mesmo, por exemplo, semana passada eu adoeci, e se eu não for eu não ganho, eu trabalho por conta própria e se você não atender não ganha nada aí não vou me preocupar, porque eu sei que o dele tá lá todo mês, é um dinheiro extra”. (Maria)

Ainda analisando a fala acima, constatamos outro aspecto relevante a ser

tratado que é a questão do trabalho informal. Sabemos que conseguir um trabalho

formal, hoje em dia, tem se tornado cada vez mais desafiador, além disso, muitas

vezes, os familiares das pessoas com transtornos mentais anulam suas próprias

vidas para cuidar de seus parentes. Nesse sentido, buscam um trabalho informal

que possibilite o melhor acompanhamento de seus familiares.

Por outro lado, percebemos que o critério de renda para a concessão do

benefício com valor per capto de ¼ do salário mínimo, acaba muitas vezes por

impedir os familiares dos beneficiários a se manterem na condição de trabalho

informal, para que o benefício não seja cortado. Estudando por esse lado,

compreendemos que a condicionalidade de renda pode interferir, negativamente, na

promoção da cidadania dos indivíduos, na medida em que esse critério pode

impossibilitar a superação da pobreza.

Todavia, diante de todas as restrições impostas para a concessão do

benefício, devemos assinalar ser inegável a importância do BPC na vida das

pessoas. Com a realização da pesquisa, foi possível compreender a importância

singular que cada entrevistado atribuiu ao benefício, sendo que, a maior parte dos

depoimentos colhidos destaca a importância do BPC com relação à alimentação.

“Aí assim esse beneficio ia fazer muito a diferença porque ia ajudar bastante pra nós, pra ele pra manter as necessidades dele manter a alimentação dele boa, porque como é só sou eu (sic) e meu esposo que trabalha a gente tem as necessidades de casa e tem que dividir tirar um pouco pra ele pra alimentação dele entendeu? Assim é mais mesmo a parte da alimentação e pra trazer ele pro médico, trazer ele pra cá, ele tem acompanhamento aqui todas as segundas-feiras, às vezes ele não vem porque tem que pagar a passagem dele e a minha, porque ele não sabe ir nem na esquina sozinho, se ele for na esquina sozinho, quando ele ver ele passa da casa sozinho e vai simbora” (Manoela)

“É muito importante porque eu não teria condições de arcar essa despesa com ela, eu não teria, então como era que ela ia ter esse aluguel, talvez ela ia ter uma moradia inferior demais ao que ela tem né, ao que ela tá podendo compartilhar agora né. A prioridade é a moradia, alimentação e medicamento, única e exclusivamente pra ela, né, a higiene pessoal, foi de

75

fundamental importância , ave Maria, se não fosse esse beneficio pra ela não sei como estaria sendo não”. (Ana)

Segundo informações do Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos Socioeconômicos – DIEESE, o valor da cesta básica na cidade de Fortaleza

está entre as mais caras da região Nordeste. Segundo uma pesquisa realizada em

março de 2014, o valor da cesta básica na cidade se encontra por volta de R$

286,41, enquanto na cidade de Natal a cesta básica tem valor aproximado de

R$271,31. Esses dados representam o alto custo de vida na cidade, principalmente,

quando nos referimos a pessoas que vivem apenas de um salário mínimo e que

possuem famílias bastante numerosas, pois além de comprometerem sua renda com

alimentação, elas precisam ter acesso a outros fatores importantes para uma vida

digna.

Diante dos dados coletados, podemos compreender que a importância do

benefício na vida dessas pessoas está, primordialmente, em atender a provisão da

alimentação, medicamentos e moradia. Sendo pessoas com baixo poder aquisitivo,

e desprovidas de uma vida digna, eles acabam por considerar a pouca renda do

benefício como a “salvação” das suas vidas, sem a qual seria muito mais difícil

sobreviver, de tão baixa a perspectiva de vida dessas pessoas.

“Seria muito importante porque a gente num tem dinheiro pra nada, vivo de esmola, então seria muito importante pra nossa sobrevivência, principalmente a alimentação”. (Evanildo)

“Porque se não fosse ele como é que eu vivia? Eu compro alimentação ajudo em casa, se não fosse ele como é que eu vivia?” (Roberta)

“Ave Maria, se não fosse esse benefício pra ela não sei como estaria sendo não”. (Ana)

“A importância desse beneficio, eu fui atrás, minha filha, porque eu tenho a pensão e quando eu morrer elas vão viver de quê? Porque quando eu morrer a pensão vai, mas eu num fica pra ninguém. Aí quando eu não tiver mais aqui, que eu já tô com 80 anos, aí fica a bichinha recebendo com o benefício dela já dar pra pagar água , luz. Porque a casa tem né pra morar, com o suor pingando, mas ele fez”. (Vicença)

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“Porque melhorou né, melhorou bastante a qualidade de vida da gente, como eu disse ele tá bem melhor, melhor assim né, ele não tá mais ansioso, preocupado com o que venha acontecer amanhã ou mais a frente, eu só penso assim como eles dizem né, que é dele pra ele mesmo, mas eu sou uma pessoa que eu sempre trabalhei, eu não tenho receio do que venha acontecer não, na frente né, eu sempre trabalhei a maioria das vezes por conta própria, né, mas sempre eu fazendo uma coisa e outra, agora que eu tô na parte de manicure no salão, mas é um ramo muito bom”. (Maria)

As pessoas com transtornos mentais possuem um histórico social

marcado pelo o preconceito e exclusão social. Nesse sentido, podemos inferir que

em meio a uma sociedade excludente, ainda mais quando nos referimos a pessoas

com transtornos mentais, o BPC se torna a única forma de prover as necessidades

básicas de seus beneficiários. Assim, compreendemos que esse direito, socialmente

conquistado, tem grande importância na vida de seus beneficiários, na medida em

que lhes proporciona a possibilidade de sobrevivência. Embora muitas pessoas não

considerem a garantia de um salário mínimo suficiente para atender suas

necessidades, para essas pessoas o BPC possui um significado social importante,

contribuindo para a melhoria da qualidade de suas vidas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao adotarmos como temática de pesquisa o Benefício de Prestação

Continuada – BPC, especificamente, o significado social atribuído a esse benefício

pelas pessoas entrevistadas, nossa intenção era verificar a compreensão que essas

pessoas tinham sobre esse benefício e qual a importância desse direito para a vida

das pessoas com transtornos mentais.

Sabemos que esse benefício refere-se a um direito social da Política

Nacional de Assistência Social, que pela primeira vez garante a renda de um salário

mínimo sem a aplicação de uma relação contratual, ou seja, para a aquisição do

benefício não é exigida nenhuma espécie de contribuição prévia ao sistema

previdenciário, sendo, portanto, um benefício reconhecido como um direito.

Algo que nos chamou atenção, durante a pesquisa foi o fato de que ao

nos inserir em campo, fomos com a ideia pré-concebida de que todas as pessoas

iriam assemelhar o BPC a uma aposentadoria, o que não aconteceu. Embora

tenham expressado, timidamente, a maioria das pessoas entrevistadas conseguiu

apontar alguma diferença entre o que seria o BPC e uma aposentadoria,

demonstrando que o nível de desinformação dessas pessoas não é tão elevado.

Apesar de atualmente o BPC ser um direito da assistência social, em

1996, no início de sua implementação, esse direito esteve fortemente vinculado à

previdência social e até hoje podemos afirmar a existência de algum vínculo, haja

vista o benefício ser operacionalizado apenas pelo o INSS e não por equipamentos

próprios da assistência social como os Centros de Referência de Assistência Social

– CRAS. Observando por este viés, compreendemos que esse fator contribui para

que algumas pessoas assemelhem esse beneficio a um direito previdenciário, dado

constatado em nossa pesquisa.

Assim, ao indagarmos sobre o que eles compreendiam acerca do BPC a

maioria das pessoas entrevistadas destacou, em suas falas, que compreendiam o

BPC como uma ajuda do governo. Com relação à coleta desse dado, constatamos

que, ainda nos dias atuais, a lógica do favor é muito presente, quando falamos de

direitos da política de assistência social. Nesse sentido, verificamos que a luta pela a

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desconstrução desses paradigmas no imaginário social, deve ser contínua, haja

vista que o contexto capitalista e neoliberal contribui fortemente no reforço a ideia do

direito como um favor.

Outro aspecto relevante encontrado nos dados, acerca compreensão do

benefício, refere-se à possibilidade que o benefício oferece às pessoas com

transtornos mentais de serem incluídas no mundo do consumo. Embora esse

benefício corresponda apenas a renda de um salário mínimo, devemos considerar

que essas pessoas, que trazem consigo as marcas do preconceito e da exclusão

social, são muitas vezes desprovidas de quase tudo. Sendo assim, compreendemos

que para essas pessoas o benefício consiste em oportunizar algo no qual nunca

conseguiam alcançar.

Acreditamos também que as condicionalidades de acesso ao BPC

necessitam ser revistas, principalmente, no que concerne a questão da renda per

capta da família, pois famílias, com medo de perder o beneficio, acabam preferindo

manter a baixa renda familiar, para que o benefício não cesse, dificultando até que

outros integrantes da família procurem um trabalho formal. Portanto, consideramos

que o BPC é uma estratégia de proteção social que não pode significar em momento

algum um distanciamento das possibilidades de crescimento e autonomia dos

indivíduos.

Constatamos que com relação à importância do benefício para vida dos

entrevistados, percebemos que o BPC significa uma renda que contribui para

responder às questões essenciais como alimentação, significando, muitas vezes, o

único meio de sobrevivência. Alguns entrevistados afirmaram que o BPC teve papel

fundamental não somente com relação à alimentação, mas também na melhoria da

qualidade de vida dos beneficiários.

Embora saibamos que o BPC seja um benefício que não gera décimo

terceiro salário, nem mesmo outras vantagens de uma aposentadoria, observamos

que, mesmo sabendo que o benefício cessa após a morte do beneficiário, foi

perceptível em algumas falas a importância do benefício como uma garantia de

futuro. Essas falas representam esta constatação: “ele não tá mais ansioso

preocupado com o que venha acontecer amanhã ou mais a frente” (Maria); “Eu fui

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atrás minha filha porque eu tenho a pensão e quando eu morrer elas vão viver de

que?” (Vicença).

Enfim, considerando todo o contexto social das pessoas participantes da

pesquisa, reconhecemos a importância do BPC para a vida dos beneficiários e suas

famílias como um direito essencial e importante para a vida das pessoas que dele

necessitam, principalmente, na vida das pessoas com transtornos mentais. O

Benefício de Prestação Continuada se constitui como um direito social, sendo

entendido pela LOAS como um amparo social, como uma estratégia de proteção

social para idosos e deficientes, pessoas que no mundo capitalista tendem a ser

excluídas do mercado e do meio social. Dessa forma, enfatizamos que a garantia de

um salário mínimo contribui para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas,

contudo, apenas esse direito social é insuficiente para a integral promoção da

cidadania de seus beneficiários, sendo necessária a articulação do benefício com as

demais políticas e programas de proteção social para oferecer a essas pessoas o

acesso a direitos básicos como saúde, saneamento básico, educação, dentre outros,

contribuindo assim para a real autonomia das pessoas com transtornos mentais.

80

REFERÊNCIAS

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84

APÊNDICES

85

APÊNDICE 1

Roteiro de Entrevista

Perfil dos Entrevistados

1. Sexo: ( ) feminino ( ) masculino

2. Qual a sua idade?

3. Qual a sua religião?

4. Qual a sua escolaridade?

5. Alguém trabalha na família?

6. Casa própria ou alugada

7. Quanto é a renda familiar?

8. Quantas pessoas no contexto familiar?

Compreensão sobre o BPC

1. Você sabe o que significa a sigla BPC?

2. Você é beneficiário do BPC ou está em processo de aquisição do beneficio?

3. O que você entende por esse benefício?

4. Você consegue perceber alguma diferença entre o BPC e uma

aposentadoria?

5. Você considera que o acesso ao BPC seja fácil ou difícil? Por quê?

86

Importância do BPC na vida dos entrevistados

1. Esse benefício o ajudou a melhorar sua qualidade de vida?

2. Você utiliza o beneficio para a compra de medicamentos?

3. Alguém mais depende desse beneficio?

4. Se ainda esta em processo de aquisição, no que você acha que o benefício

poderia contribuir na sua vida?

5. Qual a importância desse benefício para você?

87

APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (ENTREVISTA)

Convidamos você para participar da Pesquisa “Saúde Mental e Direitos Sociais: Uma análise sobre os

significados que os participantes do Grupo de Direitos Sociais do Caps Geral Professor Frota Pinto atribuem ao

Benefício de Prestação Continuada”, sob execução das pesquisadoras Virzângela Paula Sandy Mendes (responsável) e

Ana Paula Bezerra Cavalcante (participante), a qual pretende compreender como os usuários participantes do Grupo de

Direitos Sociais vivenciam o processo de acesso ao Benefício de Prestação Continuada.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que consiste em respostas a perguntas

apresentadas a você pelo pesquisador. A entrevista será realizada na sala onde é desenvolvido o Grupo de Direitos

Sociais, com duração aproximada de 30 minutos, no dia previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os

depoimentos desta entrevista serão gravados com seu consentimento.

Não há riscos decorrentes da sua participação e você possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer

momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem

ao seu atendimento na Instituição.

Se você aceitar participar, estará contribuindo para uma maior compreensão acerca da importância do

benefício para a vida dos sujeitos.

Ressaltamos que tem o direito de ser mantida atualizada sobre os resultados parciais da pesquisa.

Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será comunicado dos resultados finais.Não há despesas pessoais para o

participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se

existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.

Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa. Os

resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em

sigilo. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o

consentimento de utilização dos dados coletados com a entrevista: Virzângela Paula Sandy Mendes – Orientadora, fone:

9969-3517e Ana Paula Bezerra Cavalcante - Orientanda pelo fone: 8726-5128. Ressaltamos que este documento será

emitido em duas vias, sendo uma para o participante da pesquisa e outro para o pesquisador.

Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também pode entrar em contato com o

Centro de Atenção Psicossocial Ser III, situado na Rua Francisco Pedro, 1269 - Rodolfo Teófilo - Telefone: 3105-3451

ou o Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Escola Assis Chateaubriand – (CEP/MEAC/UFC), endereço: Rua

Coronel Nunes de Melo, S/N – Rodolfo Teófilo, Telefone: 3366-8502/8569.

88

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador

quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto,

sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão

ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.

________________________________________ Data: ___/ ____/ ____

Assinatura do Participante

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

89

ANEXOS

90

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.

Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta

Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou

responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a

assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos

extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

91

§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu

meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência

integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com

características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não

assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave

dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado

que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar,

no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente

registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser

comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou

responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz

competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

92

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113

o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Jose Gregori José Serra Roberto Brant

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.4.2001

93

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO Nº 6.214, DE 26 DE SETEMBRO DE 2007.

(Vide Lei nº 10.741, de 2003)

Regulamenta o benefício de prestação continuada

da assistência social devido à pessoa com

deficiência e ao idoso de que trata a Lei no 8.742,

de 7 de dezembro de 1993, e a Lei no 10.741, de

1o de outubro de 2003, acresce parágrafo ao art.

162 do Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999, e

dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da

Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e no

art. 34 da Lei no 10.741, de 1

o de outubro de 2003,

DECRETA:

Art. 1o Fica aprovado, na forma do Anexo deste Decreto, o Regulamento do Benefício de

Prestação Continuada instituído pelo art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

Art. 2o O art. 162 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n

o 3.048, de 6

de maio de 1999, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo:

“Parágrafo único. O período a que se refere o caput poderá ser prorrogado por iguais períodos, desde

que comprovado o andamento regular do processo legal de tutela ou curatela.” (NR)

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4o Ficam revogados os Decretos n

os 1.744, de 8 de dezembro de 1995, e 4.712, de 29 de

maio de 2003.

Brasília, 26 de setembro de 2007; 186o da Independência e 189

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Marinho Patrus Ananias

Este texto não substitui o publicado no DOU de 28.9.2007

ANEXO

REGULAMENTO DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

CAPÍTULO I

DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E DO BENEFICIÁRIO

94

Art. 1o O Benefício de Prestação Continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de

dezembro de 1993, é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso,

com idade de sessenta e cinco anos ou mais, que comprovem não possuir meios para prover a

própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.

§ 1o O Benefício de Prestação Continuada integra a proteção social básica no âmbito do Sistema

Único de Assistência Social - SUAS, instituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome, em consonância com o estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social - PNAS.

§ 2o O Benefício de Prestação Continuada é constitutivo da PNAS e integrado às demais

políticas setoriais, e visa ao enfrentamento da pobreza, à garantia da proteção social, ao provimento

de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais, nos moldes

definidos no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.742, de 1993.

§ 3o A plena atenção à pessoa com deficiência e ao idoso beneficiário do Benefício de

Prestação Continuada exige que os gestores da assistência social mantenham ação integrada às

demais ações das políticas setoriais nacional, estaduais, municipais e do Distrito Federal,

principalmente no campo da saúde, segurança alimentar, habitação e educação.

Art. 2o Compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por intermédio da

Secretaria Nacional de Assistência Social, a implementação, a coordenação-geral, a regulação,

financiamento, o monitoramento e a avaliação da prestação do beneficio, sem prejuízo das iniciativas

compartilhadas com Estados, Distrito Federal e Municípios, em consonância com as diretrizes do

SUAS e da descentralização político-administrativa, prevista no inciso I do art. 204 da Constituição e

no inciso I do art. 5º da Lei nº 8.742, de 1993.

Art. 3o O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS é o responsável pela operacionalização do

Benefício de Prestação Continuada, nos termos deste Regulamento.

Art. 4o Para os fins do reconhecimento do direito ao benefício, considera-se:

I - idoso: aquele com idade de sessenta e cinco anos ou mais;

II - pessoa com deficiência: aquela cuja deficiência a incapacita para a vida independente e para

o trabalho;

II - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,

intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação

plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas; (Redação dada pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

III - incapacidade: fenômeno multidimensional que abrange limitação do desempenho de

atividade e restrição da participação, com redução efetiva e acentuada da capacidade de inclusão

social, em correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e seu ambiente físico e social;

IV - família incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou do idoso: aquela cuja

renda mensal bruta familiar dividida pelo número de seus integrantes seja inferior a um quarto do

salário mínimo;

V - família para cálculo da renda per capita, conforme disposto no § 1º do art. 20 da Lei nº 8.742,

de 1993: conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo teto, assim entendido, o requerente, o cônjuge, a

95

companheira, o companheiro, o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou

inválido, os pais, e o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido; e

V - família para cálculo da renda per capita: conjunto de pessoas composto pelo requerente, o

cônjuge, o companheiro, a companheira, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o

padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam

sob o mesmo teto; e (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

VI - renda mensal bruta familiar: a soma dos rendimentos brutos auferidos mensalmente pelos

membros da família composta por salários, proventos, pensões, pensões alimentícias, benefícios de

previdência pública ou privada, comissões,pró-labore, outros rendimentos do trabalho não

assalariado, rendimentos do mercado informal ou autônomo, rendimentos auferidos do patrimônio,

Renda Mensal Vitalícia e Benefício de Prestação Continuada, ressalvado o disposto no parágrafo

único do art. 19.

VI - renda mensal bruta familiar: a soma dos rendimentos brutos auferidos mensalmente pelos

membros da família composta por salários, proventos, pensões, pensões alimentícias, benefícios de

previdência pública ou privada, seguro-desemprego, comissões, pro-labore, outros rendimentos do

trabalho não assalariado, rendimentos do mercado informal ou autônomo, rendimentos auferidos do

patrimônio, Renda Mensal Vitalícia e Benefício de Prestação Continuada, ressalvado o disposto no

parágrafo único do art. 19. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 1o Para fins do disposto no inciso V, o enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho

mediante comprovação de dependência econômica e desde que não possuam bens suficientes para

o próprio sustento e educação.

§ 1o Para fins de reconhecimento do direito ao Benefício de Prestação Continuada às crianças e

adolescentes menores de dezesseis anos de idade, deve ser avaliada a existência da deficiência e o

seu impacto na limitação do desempenho de atividade e restrição da participação social, compatível

com a idade. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 2o Para fins de reconhecimento do direito ao Benefício de Prestação Continuada de crianças e

adolescentes até dezesseis anos de idade, deve ser avaliada a existência da deficiência e o seu

impacto na limitação do desempenho de atividade e restrição da participação social, compatível com

a idade, sendo dispensável proceder à avaliação da incapacidade para o trabalho.

§ 2o Para fins de reconhecimento do direito ao Benefício de Prestação Continuada às crianças e

adolescentes menores de dezesseis anos de idade, deve ser avaliada a existência da deficiência e o

seu impacto na limitação do desempenho de atividade e restrição da participação social, compatível

com a idade, sendo dispensável proceder à avaliação da incapacidade para o trabalho. (Redação

dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

§ 2o Para fins do disposto no inciso VI do caput, não serão computados como renda mensal

bruta familiar: (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

I - benefícios e auxílios assistenciais de natureza eventual e temporária; (Incluído pelo Decreto

nº 7.617, de 2011)

II - valores oriundos de programas sociais de transferência de renda; (Incluído pelo Decreto nº

7.617, de 2011)

96

III - bolsas de estágio curricular; (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

IV - pensão especial de natureza indenizatória e benefícios de assistência médica, conforme

disposto no art. 5o; (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

V - rendas de natureza eventual ou sazonal, a serem regulamentadas em ato conjunto do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do INSS; e (Incluído pelo Decreto nº 7.617,

de 2011)

VI - remuneração da pessoa com deficiência na condição de aprendiz. (Incluído pelo Decreto nº

7.617, de 2011)

§ 3o Para fins do disposto no inciso V, o filho ou o irmão inválido do requerente que não esteja

em gozo de benefício previdenciário ou do Benefício de Prestação Continuada, em razão de invalidez

ou deficiência, deve passar por avaliação médico pericial para comprovação da invalidez. (Incluído

pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

§ 3o Considera-se impedimento de longo prazo aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo

de dois anos. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 5o O beneficiário não pode acumular o Benefício de Prestação Continuada com qualquer outro

benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o da assistência médica.

Art. 5o O beneficiário não pode acumular o Benefício de Prestação Continuada com qualquer

outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o da assistência médica e

no caso de recebimento de pensão especial de natureza indenizatória, observado o disposto no

inciso VI do art. 4o. (Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

Art. 5o O beneficiário não pode acumular o Benefício de Prestação Continuada com qualquer

outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o seguro-desemprego,

ressalvados o de assistência médica e a pensão especial de natureza indenizatória, bem como a

remuneração advinda de contrato de aprendizagem no caso da pessoa com deficiência, observado o

disposto no inciso VI do caput e no § 2o do art. 4

o. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Parágrafo único. A acumulação do benefício com a remuneração advinda do contrato de

aprendizagem pela pessoa com deficiência está limitada ao prazo máximo de dois anos. (Incluído pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 6o A condição de internado advém de internamento em hospital, abrigo ou instituição

congênere e não prejudica o direito da pessoa com deficiência ou do idoso ao Benefício de Prestação Continuada.

Art. 6o A condição de acolhimento em instituições de longa permanência, como abrigo, hospital

ou instituição congênere não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com deficiência ao Benefício de Prestação Continuada. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 7o O brasileiro naturalizado, domiciliado no Brasil, idoso ou com deficiência, observados os

critérios estabelecidos neste Regulamento, que não perceba qualquer outro benefício no âmbito da

Seguridade Social ou de outro regime, nacional ou estrangeiro, salvo o da assistência médica, é

também beneficiário do Benefício de Prestação Continuada.

97

Art. 7o O brasileiro naturalizado, domiciliado no Brasil, idoso ou com deficiência, observados os

critérios estabelecidos neste Regulamento, que não perceba qualquer outro benefício no âmbito da

Seguridade Social ou de outro regime, nacional ou estrangeiro, salvo o da assistência médica e no

caso de recebimento de pensão especial de natureza indenizatória, observado o disposto no inciso VI

do art. 4o, é também beneficiário do Benefício de Prestação Continuada.(Redação dada pelo Decreto

nº 6.564, de 2008)

Art. 7o É devido o Benefício de Prestação Continuada ao brasileiro, naturalizado ou nato, que

comprove domicílio e residência no Brasil e atenda a todos os demais critérios estabelecidos neste

Regulamento. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

CAPÍTULO II

DA HABILITAÇÃO, DA CONCESSÃO, DA MANUTENÇÃO, DA

REPRESENTAÇÃO E DO INDEFERIMENTO

Seção I

Da Habilitação e da Concessão

Art. 8o Para fazer jus ao Benefício de Prestação Continuada, o idoso deverá comprovar:

I - contar com sessenta e cinco anos de idade ou mais;

II - renda mensal bruta familiar, dividida pelo número de seus integrantes, inferior a um quarto do

salário mínimo; e

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o de

assistência médica.

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o de

assistência médica e no caso de recebimento de pensão especial de natureza indenizatória,

observado o disposto no inciso VI do art. 4o.(Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o

seguro-desemprego, salvo o de assistência médica e a pensão especial de natureza indenizatória,

observado o disposto no inciso VI do capute no § 2o do art. 4

o. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617,

de 2011)

Parágrafo único. A comprovação da condição prevista no inciso III poderá ser feita mediante declaração do idoso ou, no caso de sua incapacidade para os atos da vida civil, do seu curador.

Art. 9o Para fazer jus ao Benefício de Prestação Continuada, a pessoa com deficiência deverá

comprovar:

I - ser incapaz para a vida independente e para o trabalho, observado o disposto no § 2o do art.

4o;

I - a existência de impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, obstruam sua participação plena e efetiva

98

na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, na forma prevista neste

Regulamento; (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

II - renda mensal bruta familiar do requerente, dividida pelo número de seus integrantes, inferior

a um quarto do salário mínimo; e

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o de

assistência médica.

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, salvo o de

assistência médica e no caso de recebimento de pensão especial de natureza indenizatória,

observado o disposto no inciso VI do art. 4o.Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

III - não possuir outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o

seguro-desemprego, salvo o de assistência médica e a pensão especial de natureza indenizatória,

bem como a remuneração advinda de contrato de aprendizagem, observado o disposto no inciso VI

do caput e no § 2o do art. 4

o. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Parágrafo único. A comprovação da condição prevista no inciso III poderá ser feita mediante declaração da pessoa com deficiência ou, no caso de sua incapacidade para os atos da vida civil, do seu curador ou tutor.

Art. 10. Para fins de identificação da pessoa com deficiência e do idoso e de comprovação da idade do idoso, deverá o requerente apresentar um dos seguintes documentos:

I - certidão de nascimento;

II - certidão de casamento;

III - certificado de reservista;

IV - carteira de identidade; ou

V - carteira de trabalho e previdência social.

Art. 11. Para fins de identificação da pessoa com deficiência e do idoso e de comprovação da

idade do idoso, no caso de brasileiro naturalizado, deverão ser apresentados os seguintes

documentos:

I - título declaratório de nacionalidade brasileira; e

II - carteira de identidade ou carteira de trabalho e previdência social.

Art. 12. O Cadastro de Pessoa Física deverá ser apresentado no ato do requerimento do

benefício.

Parágrafo único. A não inscrição do requerente no Cadastro de Pessoa Física no ato do

requerimento não prejudicará a análise do processo administrativo, mas será condição para a

concessão do benefício.

99

§ 1o A não inscrição do requerente no Cadastro de Pessoa Física - CPF, no ato do requerimento

do Benefício de Prestação Continuada, não prejudicará a análise do correspondente processo

administrativo nem a concessão do benefício. (Incluído pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

§ 2o Os prazos relativos à apresentação do CPF em face da situação prevista no § 1o serão

disciplinados em atos específicos do INSS, ouvido o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome. (Incluído pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

Art. 12. A inscrição no Cadastro de Pessoa Física é condição para a concessão do benefício,

mas não para o requerimento e análise do processo administrativo. (Redação dada pelo Decreto nº

7.617, de 2011)

Art. 13. A comprovação da renda familiar mensal per capita será feita mediante Declaração da

Composição e Renda Familiar, em formulário instituído para este fim, assinada pelo requerente ou

seu representante legal, confrontada com os documentos pertinentes, ficando o declarante sujeito às

penas previstas em lei no caso de omissão de informação ou declaração falsa.

§ 1o Os rendimentos dos componentes da família do requerente deverão ser comprovados

mediante a apresentação de um dos seguintes documentos:

I - carteira de trabalho e previdência social com as devidas atualizações;

II - contracheque de pagamento ou documento expedido pelo empregador;

III - guia da Previdência Social - GPS, no caso de Contribuinte Individual; ou

IV - extrato de pagamento de benefício ou declaração fornecida por outro regime de previdência

social público ou previdência social privada.

§ 2o O membro da família sem atividade remunerada ou que esteja impossibilitado de

comprovar sua renda terá sua situação de rendimento informada na Declaração da Composição e Renda Familiar.

§ 3o O INSS verificará, mediante consulta a cadastro específico, a existência de registro de

benefício previdenciário, de emprego e renda do requerente ou beneficiário e dos integrantes da

família.

§ 4o Compete ao INSS e aos órgãos autorizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, quando necessário, verificar junto a outras instituições, inclusive de previdência, a

existência de benefício ou de renda em nome do requerente ou beneficiário e dos integrantes da

família.

§ 5o Havendo dúvida fundada quanto à veracidade das informações prestadas, o INSS ou

órgãos responsáveis pelo recebimento do requerimento do benefício deverão elucidá-la, adotando as

providências pertinentes.

§ 6o Quando o requerente for pessoa em situação de rua deve ser adotado, como referência, o

endereço do serviço da rede sócioassistencial pelo qual esteja sendo acompanhado, ou, na falta

deste, de pessoas com as quais mantém relação de proximidade.

100

§ 7o Será considerado família do requerente em situação de rua as pessoas elencadas no inciso

V do art. 4o, desde que convivam com o requerente na mesma situação, devendo, neste caso, ser

relacionadas na Declaração da Composição e Renda Familiar.

§ 8o Entende-se por relação de proximidade, para fins do disposto no § 6

o, aquela que se

estabelece entre o requerente em situação de rua e as pessoas indicadas pelo próprio requerente

como pertencentes ao seu ciclo de convívio que podem facilmente localizá-lo.(Incluído pelo Decreto

nº 6.564, de 2008)

Art. 14. O Benefício de Prestação Continuada deverá ser requerido junto às agências da

Previdência Social ou aos órgãos autorizados para este fim.

Parágrafo único. Os formulários utilizados para o requerimento do benefício serão

disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, INSS, órgãos

autorizados ou diretamente em meios eletrônicos oficiais, sempre de forma acessível, nos termos do

Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004.

Art. 15. A habilitação ao benefício dependerá da apresentação de requerimento,

preferencialmente pelo requerente, juntamente com os documentos necessários.

§ 1o O requerimento será feito em formulário próprio, devendo ser assinado pelo requerente ou

procurador, tutor ou curador.

§ 2o Na hipótese de não ser o requerente alfabetizado ou de estar impossibilitado para assinar o

pedido, será admitida a aposição da impressão digital na presença de funcionário do órgão recebedor

do requerimento.

§ 3o A existência de formulário próprio não impedirá que seja aceito qualquer requerimento

pleiteando o beneficio, desde que nele constem os dados imprescindíveis ao seu processamento.

§ 4o A apresentação de documentação incompleta não constitui motivo de recusa liminar do

requerimento do benefício.

Art. 16. A concessão do benefício à pessoa com deficiência ficará sujeita à avaliação da

deficiência e do grau de incapacidade, com base nos princípios da Classificação Internacional de

Funcionalidades, Incapacidade e Saúde - CIF, estabelecida pela Resolução da Organização Mundial

da Saúde no 54.21, aprovada pela 54

a Assembléia Mundial da Saúde, em 22 de maio de 2001.

§ 1o A avaliação da deficiência e do grau de incapacidade será composta de avaliação médica e

social.

§ 2o A avaliação médica da deficiência e do grau de incapacidade considerará as deficiências

nas funções e nas estruturas do corpo, e a avaliação social considerará os fatores ambientais, sociais

e pessoais, e ambas considerarão a limitação do desempenho de atividades e a restrição da

participação social, segundo suas especificidades.

§ 3o As avaliações de que trata o § 1

o serão realizadas, respectivamente, pela perícia médica e

pelo serviço social do INSS.

§ 3o As avaliações de que trata o § 1

o deste artigo serão realizadas, respectivamente, pela

perícia médica e pelo serviço social do INSS, por meio de instrumentos desenvolvidos

especificamente para este fim. (Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

101

§ 4o O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o INSS implantarão as

condições necessárias para a realização da avaliação social e a sua integração à avaliação médica.

Art. 16. A concessão do benefício à pessoa com deficiência ficará sujeita à avaliação da deficiência

e do grau de impedimento, com base nos princípios da Classificação Internacional de Funcionalidades,

Incapacidade e Saúde - CIF, estabelecida pela Resolução da Organização Mundial da Saúde no 54.21,

aprovada pela 54a Assembleia Mundial da Saúde, em 22 de maio de 2001. (Redação dada pelo Decreto

nº 7.617, de 2011)

§ 1o A avaliação da deficiência e do grau de impedimento será realizada por meio de avaliação

social e avaliação médica. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 2o A avaliação social considerará os fatores ambientais, sociais e pessoais, a avaliação

médica considerará as deficiências nas funções e nas estruturas do corpo, e ambas considerarão a

limitação do desempenho de atividades e a restrição da participação social, segundo suas

especificidades. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 3o As avaliações de que trata o § 1

o serão realizadas, respectivamente, pelo serviço social e

pela perícia médica do INSS, por meio de instrumentos desenvolvidos especificamente para este fim,

instituídos por ato conjunto do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do INSS.

(Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 4o O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o INSS garantirão as

condições necessárias para a realização da avaliação social e da avaliação médica para fins de

acesso ao Benefício de Prestação Continuada. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 5o A avaliação da deficiência e do grau de impedimento tem por objetivo: (Incluído pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

I - comprovar a existência de impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,

intelectual ou sensorial; e (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

II - aferir o grau de restrição para a participação plena e efetiva da pessoa com deficiência na

sociedade, decorrente da interação dos impedimentos a que se refere o inciso I com barreiras

diversas. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 6o O benefício poderá ser concedido nos casos em que não seja possível prever a duração

dos impedimentos a que se refere o inciso I do § 5o, mas exista a possibilidade de que se estendam

por longo prazo. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 7o Na hipótese prevista no § 6

o, os beneficiários deverão ser prioritariamente submetidos a

novas avaliações social e médica, a cada dois anos. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 17. Na hipótese de não existirem serviços pertinentes para avaliação da deficiência e do grau de incapacidade no município de residência do requerente ou beneficiário, fica assegurado o seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com tal estrutura, devendo o INSS realizar o pagamento das despesas de transporte e diária, com recursos oriundos do Fundo Nacional de Assistência Social.

Art. 17. Na hipótese de não existirem serviços pertinentes para avaliação da deficiência e do grau de impedimento no município de residência do requerente ou beneficiário, fica assegurado o seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com tal estrutura, devendo o INSS realizar o

102

pagamento das despesas de transporte e diárias com recursos oriundos do Fundo Nacional de Assistência Social. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 1o Caso o requerente ou beneficiário necessite de acompanhante, a viagem deste deverá ser

autorizada pelo INSS, aplicando-se o disposto no caput.

§ 2o O valor da diária paga ao requerente ou beneficiário e seu acompanhante será igual ao

valor da diária concedida aos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social.

§ 3o Caso o requerente ou beneficiário esteja impossibilitado de apresentar-se ao local de

realização da avaliação da incapacidade a que se refere o caput, os profissionais deverão deslocar-

se até o interessado.

§ 3o Caso o requerente ou beneficiário esteja impossibilitado de se apresentar no local de

realização da avaliação da deficiência e do grau de impedimento a que se refere o caput, os

profissionais deverão deslocar-se até o interessado.(Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 18. A concessão do Benefício de Prestação Continuada independe da interdição judicial do

idoso ou da pessoa com deficiência.

Art. 19. O Benefício de Prestação Continuada será devido a mais de um membro da mesma

família enquanto atendidos os requisitos exigidos neste Regulamento.

Parágrafo único. O valor do Benefício de Prestação Continuada concedido a idoso não será

computado no cálculo da renda mensal bruta familiar a que se refere o inciso VI do art. 4o, para fins

de concessão do Benefício de Prestação Continuada a outro idoso da mesma família.

Art. 20. O Benefício de Prestação Continuada será devido com o cumprimento de todos os

requisitos legais e regulamentares exigidos para a sua concessão, devendo o seu pagamento ser

efetuado em até quarenta e cinco dias após cumpridas as exigências.

Parágrafo único. No caso de o primeiro pagamento ser feito após o prazo previsto no caput,

aplicar-se-á na sua atualização o mesmo critério adotado pela legislação previdenciária quanto à

atualização do primeiro pagamento de benefício previdenciário em atraso.

Parágrafo único. Para fins de atualização dos valores pagos em atraso, serão aplicados os

mesmos critérios adotados pela legislação previdenciária. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de

2011)

Art. 21. Fica o INSS obrigado a emitir e enviar ao requerente o aviso de concessão ou de indeferimento do benefício, e, neste caso, com indicação do motivo.

Seção II

Da manutenção e da representação

Art. 22. O Benefício de Prestação Continuada não está sujeito a desconto de qualquer contribuição e não gera direito ao pagamento de abono anual.

Art. 23. O Benefício de Prestação Continuada é intransferível, não gerando direito à pensão por

morte aos herdeiros ou sucessores.

103

Parágrafo único. O valor do resíduo não recebido em vida pelo beneficiário será pago aos seus

herdeiros ou sucessores, na forma da lei civil.

Art. 24. O desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a realização

de atividades não remuneradas de habilitação e reabilitação, dentre outras, não constituem motivo

de suspensão ou cessação do benefício da pessoa com deficiência.

Art. 25. A cessação do Benefício de Prestação Continuada concedido à pessoa com deficiência,

inclusive em razão do seu ingresso no mercado de trabalho, não impede nova concessão do

benefício desde que atendidos os requisitos exigidos neste Decreto.

Art. 26. O benefício será pago pela rede bancária autorizada e, nas localidades onde não

houver estabelecimento bancário, o pagamento será efetuado por órgãos autorizados pelo INSS.

Art. 27. Em nenhuma hipótese o pagamento do Benefício de Prestação Continuada será

antecipado.

Art. 27. O pagamento do Benefício de Prestação Continuada poderá ser antecipado

excepcionalmente, na hipótese prevista no § 1o do art. 169 do Decreto n

o 3.048, de 6 de maio de

1999. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 28. O benefício será pago diretamente ao beneficiário ou ao procurador, tutor ou curador.

§ 1o O instrumento de procuração poderá ser outorgado em formulário próprio do INSS,

mediante comprovação do motivo da ausência do beneficiário, e sua validade deverá ser renovada a

cada doze meses.

§ 2o O procurador, tutor ou curador do beneficiário deverá firmar, perante o INSS ou outros

órgãos autorizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome termo de

responsabilidade mediante o qual se comprometa a comunicar qualquer evento que possa anular a

procuração, tutela ou curatela, principalmente o óbito do outorgante, sob pena de incorrer nas

sanções criminais e civis cabíveis.

Art. 29. Havendo indícios de inidoneidade acerca do instrumento de procuração apresentado

para o recebimento do Benefício de Prestação Continuada ou do procurador, tanto o INSS como

qualquer um dos órgãos autorizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,

poderão recusá-los, sem prejuízo das providências que se fizerem necessárias para a apuração da

responsabilidade e aplicação das sanções criminais e civis cabíveis.

Art. 30. Somente será aceita a constituição de procurador com mais de um instrumento de

procuração ou instrumento de procuração coletiva, nos casos de beneficiários representados por

dirigentes de instituições nas quais se encontrem internados.

Art. 30. Para fins de recebimento do Benefício de Prestação Continuada, é aceita a constituição

de procurador com mais de um instrumento de procuração, nos casos de beneficiários representados

por parentes de primeiro grau e nos casos de beneficiários representados por dirigentes de

instituições nas quais se encontrem acolhidos, sendo admitido também, neste último caso, o

instrumento de procuração coletiva. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 31. Não poderão ser procuradores:

104

I - o servidor público civil e o militar em atividade, salvo se parentes do beneficiário até o

segundo grau; e

II - o incapaz para os atos da vida civil, ressalvado o disposto no art. 666 do Código Civil.

Parágrafo único. Nas demais disposições relativas à procuração observar-se-á, subsidiariamente, o Código Civil.

Art. 32. No caso de transferência do beneficiário de uma localidade para outra, o procurador fica

obrigado a apresentar novo instrumento de mandato na localidade de destino.

Art. 33. A procuração perderá a validade ou eficácia nos seguintes casos:

I - quando o outorgante passar a receber pessoalmente o benefício, declarando, por escrito que cancela a procuração existente;

II - quando for constituído novo procurador;

III - pela expiração do prazo fixado ou pelo cumprimento ou extinção da finalidade outorgada;

IV - por morte do outorgante ou do procurador;

V - por interdição de uma das partes; ou

VI - por renúncia do procurador, desde que por escrito.

Art. 34. Não podem outorgar procuração o menor de dezoito anos, exceto se assistido ou emancipado após os dezesseis anos, e o incapaz para os atos da vida civil que deverá ser representado por seu representante legal, tutor ou curador.

Art. 35. O beneficio devido ao beneficiário incapaz será pago ao cônjuge, pai, mãe, tutor ou

curador, admitindo-se, na sua falta, e por período não superior a seis meses, o pagamento a herdeiro

necessário, mediante termo de compromisso firmado no ato do recebimento.

§ 1o O período a que se refere o caput poderá ser prorrogado por iguais períodos, desde que

comprovado o andamento do processo legal de tutela ou curatela.

§ 2o O tutor ou curador poderá outorgar procuração a terceiro com poderes para receber o

benefício e, nesta hipótese, obrigatoriamente, a procuração será outorgada mediante instrumento

público.

§ 3o A procuração não isenta o tutor ou curador da condição original de mandatário titular da

tutela ou curatela.

Art. 35-A. O beneficiário, ou seu representante legal, deve informar ao INSS alterações dos dados

cadastrais correspondentes à mudança de nome, endereço e estado civil, a fruição de qualquer benefício

no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, a sua admissão em emprego ou a percepção de

renda de qualquer natureza elencada no inciso VI do caput do art. 4o. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de

2011)

Seção III

Do Indeferimento

105

Art. 36. O não atendimento das exigências contidas neste Regulamento pelo requerente ensejará o indeferimento do benefício.

§ 1o Do indeferimento do benefício caberá recurso à Junta de Recursos do Conselho de

Recursos da Previdência Social, no prazo de trinta dias, a contar do recebimento da comunicação.

§ 2o A situação prevista no art. 24 também não constitui motivo para o indeferimento do

benefício.

CAPÍTULO III

DA GESTÃO

Art. 37. Constituem garantias do SUAS o acompanhamento do beneficiário e de sua família, e a

inserção destes à rede de serviços socioassistenciais e de outras políticas setoriais.

§ 1o O acompanhamento do beneficiário e de sua família visa a favorecer-lhes a obtenção de

aquisições materiais, sociais, socieducativas, socioculturais para suprir as necessidades de

subsistência, desenvolver capacidades e talentos para a convivência familiar e comunitária, o

protagonismo e a autonomia.

§ 2o Para fins de cumprimento do disposto no caput, o acompanhamento deverá abranger as

pessoas que vivem sob o mesmo teto com o beneficiário e que com este mantém vínculo parental,

conjugal, genético ou de afinidade.

§ 3o Para o cumprimento do disposto no caput, bem como para subsidiar o processo de

reavaliação bienal do benefício, os beneficiários e suas famílias deverão ser cadastrados no Cadastro

Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico, previsto no Decreto no 6.135, de 26

de junho de 2007, observada a legislação aplicável. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 38. Compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por intermédio

da Secretaria Nacional da Assistência Social, sem prejuízo do previsto no art. 2o deste Regulamento:

I - acompanhar os beneficiários do Benefício de Prestação Continuada no âmbito do SUAS, em

articulação com o Distrito Federal, Municípios e, no que couber, com os Estados, visando a inseri-los

nos programas e serviços da assistência social e demais políticas, em conformidade com o art. 11 da

Lei nº 8.742, de 1993;

II - considerar a participação dos órgãos gestores de assistência social nas ações de

monitoramento e avaliação do Benefício de Prestação Continuada, bem como de acompanhamento

de seus beneficiários, como critério de habilitação dos municípios e Distrito Federal a um nível de

gestão mais elevado no âmbito do SUAS;

III - manter e coordenar o Programa Nacional de Monitoramento e Avaliação do Benefício de

Prestação Continuada, instituído na forma do art. 41, com produção de dados e análise de resultados

do impacto do Benefício de Prestação Continuada na vida dos beneficiários, em conformidade com o

disposto no art. 24 da Lei nº 8.742, de 1993;

IV - destinar recursos do Fundo Nacional de Assistência Social para pagamento,

operacionalização, gestão, informatização, pesquisa, monitoramento e avaliação do Benefício de

Prestação Continuada;

106

V - descentralizar recursos do orçamento do Fundo Nacional de Assistência Social ao INSS para

as despesas de pagamento, operacionalização, sistemas de informação, monitoramento e avaliação

do Benefício de Prestação Continuada;

VI - fornecer subsídios para a formação de profissionais envolvidos nos processos de

concessão, manutenção e revisão dos benefícios, e no acompanhamento de seus beneficiários,

visando à facilidade de acesso e bem-estar dos usuários desses serviços.

VII - articular políticas intersetoriais, intergovernamentais e interinstitucionais que afiancem a

completude de atenção às pessoas com deficiência e aos idosos, atendendo ao disposto no § 2º do

art. 24 da Lei nº 8.742, de 1993; e

VIII - atuar junto a outros órgãos, nas três esferas de governo, com vistas ao aperfeiçoamento da

gestão do Benefício de Prestação Continuada.

Art. 39. Compete ao INSS, na operacionalização do Benefício de Prestação Continuada:

I - receber os requerimentos, conceder, manter, revisar, suspender ou fazer cessar o benefício,

atuar nas contestações, desenvolver ações necessárias ao ressarcimento do benefício e participar de

seu monitoramento e avaliação;

II - verificar o registro de benefícios previdenciários e de emprego e renda em nome do

requerente ou beneficiário e dos integrantes do grupo familiar, em consonância com a definição

estabelecida no inciso VI do art. 4o;

III - realizar a avaliação médica e social da pessoa com deficiência, de acordo com as normas a

serem disciplinadas em atos específicos;

IV - realizar o pagamento de transporte e diária do requerente ou beneficiários e seu

acompanhante, com recursos oriundos do FNAS, nos casos previstos no art. 17.

V - realizar comunicações sobre marcação de perícia médica, concessão, indeferimento,

suspensão, cessação, ressarcimento e revisão do beneficio;

VI - analisar defesas, receber recursos pelo indeferimento e suspensão do benefício, instruir e

encaminhar os processos à Junta de Recursos;

VII - efetuar o repasse de recursos para pagamento do benefício junto à rede bancária

autorizada ou entidade conveniada;

VIII - participar juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome da

instituição de sistema de informação e alimentação de bancos de dados sobre a concessão,

indeferimento, manutenção, suspensão, cessação, ressarcimento e revisão do Benefício de

Prestação Continuada, gerando relatórios gerenciais e subsidiando a atuação dos demais órgãos no

acompanhamento do beneficiário e na defesa de seus direitos;

IX - submeter à apreciação prévia do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

quaisquer atos em matéria de regulação e procedimentos técnicos e administrativos que repercutam

no reconhecimento do direito ao acesso, manutenção e pagamento do Benefício de Prestação

Continuada;

107

X - instituir, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,

formulários e modelos de documentos necessários à operacionalização do Benefício de Prestação

Continuada; e

XI - apresentar ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome relatórios periódicos

das atividades desenvolvidas na operacionalização do Benefício de Prestação Continuada e na

execução orçamentária e financeira dos recursos descentralizados.

Art. 40. Compete aos órgãos gestores da assistência social dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios, de acordo com o disposto no § 2º do art. 24 da Lei nº 8.742, de 1993, promover

ações que assegurem a articulação do Benefício de Prestação Continuada com os programas

voltados ao idoso e à inclusão da pessoa com deficiência.

CAPÍTULO IV

DO MONITORAMENTO E DA AVALIAÇÃO

Art. 41. Fica instituído o Programa Nacional de Monitoramento e Avaliação do Benefício de

Prestação Continuada da Assistência Social, que será mantido e coordenado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência

Social, em parceria com o Instituto Nacional do Seguro Social, Estados, Distrito Federal e Municípios,

como parte da dinâmica do SUAS.

§ 1o O Programa Nacional de Monitoramento e Avaliação do Benefício de Prestação

Continuada, baseado em um conjunto de indicadores e de seus respectivos índices, compreende:

I - o monitoramento da incidência dos beneficiários e dos requerentes por município brasileiro e

no Distrito Federal;

II - o tratamento do conjunto dos beneficiários como uma população com graus de risco e

vulnerabilidade social variados, estratificada a partir das características do ciclo de vida do

requerente, sua família e da região onde vive;

III - o desenvolvimento de estudos intersetoriais que caracterizem comportamentos da

população beneficiária por análises geo-demográficas, índices de mortalidade, morbidade, entre

outros, nos quais se inclui a tipologia das famílias dos beneficiários e das instituições em que

eventualmente viva ou conviva;

IV - a instituição e manutenção de banco de dados sobre os processos desenvolvidos pelos

gestores dos estados, do Distrito Federal e dos municípios para inclusão do beneficiário ao SUAS e

demais políticas setoriais;

V - a promoção de estudos e pesquisas sobre os critérios de acesso, implementação do Benefício de

Prestação Continuada e impacto do benefício na redução da pobreza e das desigualdades sociais;

VI - a organização e manutenção de um sistema de informações sobre o Benefício de Prestação

Continuada, com vistas ao planejamento, desenvolvimento e avaliação das ações; e

VII - a realização de estudos longitudinais dos beneficiários do Benefício de Prestação

Continuada.

108

§ 2o As despesas decorrentes da implementação do Programa a que se refere o caput correrão

à conta das dotações orçamentárias consignadas anualmente ao Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome.

Art. 42. O Benefício de Prestação Continuada deverá ser revisto a cada dois anos, para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem, conforme dispõe o art. 21 da Lei nº 8.742, de 1993, passando o processo de reavaliação a integrar o Programa Nacional de Monitoramento e Avaliação do Benefício de Prestação Continuada.

Parágrafo único. A reavaliação do benefício de que trata o caput será feita na forma

disciplinada em ato conjunto específico do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

e do Ministério da Previdência Social, ouvido o INSS.

CAPÍTULO V

DA DEFESA DOS DIREITOS E DO CONTROLE SOCIAL

Art. 43. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome deverá articular os

Conselhos de Assistência Social, do Idoso, da Pessoa com Deficiência, da Criança e do Adolescente

e da Saúde para que desenvolvam o controle e a defesa dos direitos dos beneficiários do Benefício

de Prestação Continuada.

Art. 44. Qualquer pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, especialmente os

Conselhos de Direitos, os Conselhos de Assistência Social e as Organizações Representativas de

pessoas com deficiência e de idosos, é parte legítima para provocar a iniciativa das autoridades do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Ministério da Previdência Social, do

INSS, do Ministério Público e órgãos de controle social, fornecendo-lhes informações sobre

irregularidades na aplicação deste Regulamento, quando for o caso.

Art. 45. Qualquer cidadão que observar irregularidade ou falha na prestação de serviço

referente ao Benefício de Prestação Continuada poderá comunicá-las às Ouvidorias do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Ministério da Previdência Social, observadas as

atribuições de cada órgão e em conformidade com as disposições específicas de cada Pasta.

Parágrafo único. Eventual restrição ao usufruto do Benefício de Prestação Continuada mediante

retenção de cartão magnético ou qualquer outra medida congênere praticada por terceiro será objeto

das medidas cabíveis.

Art. 46. Constatada a prática de infração penal decorrente da concessão ou da manutenção do

Benefício de Prestação Continuada, o INSS aplicará os procedimentos cabíveis, independentemente

de outras penalidades legais.

CAPÍTULO VI

DA SUSPENSÃO E DA CESSAÇÃO

Art. 47. O Benefício de Prestação Continuada será suspenso se comprovada qualquer irregularidade na concessão ou manutenção, ou se verificada a não continuidade das condições que deram origem ao benefício.

Art. 47. O Benefício de Prestação Continuada será suspenso se identificada qualquer irregularidade na sua concessão ou manutenção, ou se verificada a não continuidade das condições que deram origem ao benefício. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

109

§ 1o Ocorrendo as situações previstas no caput será concedido ao interessado o prazo de dez

dias, mediante notificação por via postal com aviso de recebimento, para oferecer defesa, provas ou

documentos de que dispuser.

§ 2o Esgotado o prazo de que trata o § 1

o sem manifestação da parte ou não sendo a defesa

acolhida, será suspenso o pagamento do benefício e, notificado o beneficiário, será aberto o prazo de

trinta dias para interposição de recurso à Junta de Recurso do Conselho de Recursos da Previdência

Social.

§ 2o Na impossibilidade de notificação do beneficiário por via postal com aviso de recebimento,

deverá ser efetuada notificação por edital e concedido o prazo de quinze dias, contado a partir do

primeiro dia útil seguinte ao dia da publicação, para apresentação de defesa, provas ou documentos

pelo interessado. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 3o Decorrido o prazo concedido para interposição de recurso sem manifestação do

beneficiário, ou, caso não seja o recurso provido, o benefício será cessado, comunicando-se a

decisão ao interessado.

§ 3o O edital a que se refere o § 2

o deverá ser publicado em jornal de grande circulação na

localidade do domicílio do beneficiário. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 4o Na impossibilidade de notificação do beneficiário para os fins do disposto no § 1

o, por

motivo de sua não localização, o pagamento será suspenso até o seu comparecimento e

regularização das condições necessárias à manutenção do benefício.

§ 4o Esgotados os prazos de que tratam os §§ 1

o e 2

o sem manifestação do interessado ou

não sendo a defesa acolhida, será suspenso o pagamento do benefício e, notificado o beneficiário,

será aberto o prazo de trinta dias para interposição de recurso à Junta de Recursos do Conselho de

Recursos da Previdência Social. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 5o Decorrido o prazo concedido para interposição de recurso sem manifestação do

beneficiário, ou caso não seja o recurso provido, o benefício será cessado, comunicando-se a

decisão ao interessado. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 47-A. O Benefício de Prestação Continuada será suspenso em caráter especial quando a

pessoa com deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na condição de microempreendedor

individual, mediante comprovação da relação trabalhista ou da atividade empreendedora. (Incluído

pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 1o O pagamento do benefício suspenso na forma do caput será restabelecido mediante

requerimento do interessado que comprove a extinção da relação trabalhista ou da atividade

empreendedora, e, quando for o caso, o encerramento do prazo de pagamento do seguro-

desemprego, sem que tenha o beneficiário adquirido direito a qualquer benefício no âmbito da

Previdência Social. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 2o O benefício será restabelecido: (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

I - a partir do dia imediatamente posterior, conforme o caso, da cessação do contrato de

trabalho, da última competência de contribuição previdenciária recolhida como contribuinte individual

ou do encerramento do prazo de pagamento do seguro-desemprego; ou (Incluído pelo Decreto nº

7.617, de 2011)

110

II - a partir da data do protocolo do requerimento, quando requerido após noventa dias,

conforme o caso, da cessação do contrato de trabalho, da última competência de contribuição

previdenciária recolhida como contribuinte individual ou do encerramento do prazo de pagamento do

seguro-desemprego. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 3o Na hipótese prevista no caput, o prazo para a reavaliação bienal do benefício prevista no

art. 42 será suspenso, voltando a correr, se for o caso, a partir do restabelecimento do pagamento do

benefício. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 4o O restabelecimento do pagamento do benefício prescinde de nova avaliação da

deficiência e do grau de impedimento, respeitado o prazo para a reavaliação bienal. (Incluído pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 5o A pessoa com deficiência contratada na condição de aprendiz terá seu benefício

suspenso somente após o período de dois anos de recebimento concomitante da remuneração e do

benefício, nos termos do § 2º do art. 21-A da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. (Incluído pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 48. O pagamento do benefício cessa:

I - no momento em que forem superadas as condições que lhe deram origem; II - em caso de morte do beneficiário; e

III - em caso de morte presumida ou de ausência do beneficiário, declarada em Juízo.

I - no momento em que forem superadas as condições que lhe deram origem; (Redação dada

pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

II - em caso de morte do beneficiário; (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

III - em caso de morte presumida ou de ausência do beneficiário, declarada em juízo;

ou (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

IV - em caso de constatação de irregularidade na sua concessão ou manutenção. (Incluído pelo

Decreto nº 7.617, de 2011)

Parágrafo único. O beneficiário ou seus familiares são obrigados a informar ao INSS a

ocorrência das situações descritas nos incisos I a III do caput. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de

2011)

Art. 48-A. Ato conjunto do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do INSS

disporá sobre a operacionalização da suspensão e cessação do Benefício de Prestação

Continuada. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

Art. 49. A falta de comunicação de fato que implique a cessação do Benefício de Prestação

Continuada e a prática, pelo beneficiário ou terceiros, de ato com dolo, fraude ou má-fé, obrigará a

tomada das medidas jurídicas necessárias pelo INSS visando à restituição das importâncias

recebidas indevidamente, independentemente de outras penalidades legais.

§ 1o O pagamento do valor indevido será atualizado pelo mesmo índice utilizado para o

reajustamento dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social e deverá ser restituído,

111

observado o disposto no § 2o, no prazo de até noventa dias contados da data da notificação, sob

pena de inscrição em Dívida Ativa.

Art. 49. Cabe ao INSS, sem prejuízo da aplicação de outras medidas legais, adotar as providências necessárias à restituição do valor do benefício pago indevidamente, em caso de falta de comunicação dos fatos arrolados nos incisos I a III do caput do art. 48, ou em caso de prática, pelo beneficiário ou terceiros, de ato com dolo, fraude ou má-fé. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 1o O montante indevidamente pago será corrigido pelo mesmo índice utilizado para a

atualização mensal dos salários de contribuição utilizados para apuração dos benefícios do Regime

Geral de Previdência Social, e deverá ser restituído, sob pena de inscrição em Dívida Ativa e

cobrança judicial. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

§ 2o Na hipótese de o beneficiário permanecer com direito ao recebimento do Benefício de

Prestação Continuada ou estar em usufruto de outro benefício previdenciário regularmente concedido

pelo INSS, poderá devolver o valor indevido de forma parcelada, atualizado nos moldes do § 1o, em

tantas parcelas quantas forem necessárias à liquidação do débito de valor equivalente a trinta por

cento do valor do benefício em manutenção.

§ 3o A restituição do valor devido poderá ser feita de uma única vez ou em até três parcelas,

desde que a liquidação total se realize no prazo a que se refere o § 1o, ressalvado o pagamento em

consignação previsto no § 2o.

§ 3o A restituição do valor devido deverá ser feita em única parcela, no prazo de sessenta dias

contados da data da notificação, ou mediante acordo de parcelamento, em até sessenta meses, na

forma do art. 244 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 1999,

ressalvado o pagamento em consignação previsto no § 2o. (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de

2011)

§ 4o Vencido o prazo a que se refere o § 3

o, o INSS tomará providências para inclusão do débito

em Dívida Ativa.

§ 5o O valor ressarcido será repassado pelo INSS ao Fundo Nacional de Assistência Social.

§ 6o Em nenhuma hipótese serão consignados débitos originários de benefícios previdenciários

em Benefícios de Prestação Continuada. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011)

CAPÍTULOVII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 50. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o INSS terão o prazo até 31 de julho 2008 para implementar a avaliação da deficiência e do grau de incapacidade prevista no art. 16. Parágrafo único. A avaliação da deficiência e da incapacidade, até que se cumpra o disposto no § 4

o do art. 16, ficará restrita à avaliação médica.

Art. 50. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e o INSS terão prazo até 31

de maio de 2009 para implementar a avaliação da deficiência e do grau de incapacidade prevista no

art. 16. (Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

112

Parágrafo único. A avaliação da deficiência e da incapacidade, até que se cumpra o disposto no §

4o do art. 16, ficará restrita ao exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia

médica do INSS Redação dada pelo Decreto nº 6.564, de 2008)

*