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Importância do Exame de Medula Óssea na Leucemia Linfoblástica Aguda Aleucemica Em

Cão: Relato De Caso*

Paulo Daniel Sant’Anna Leal1 Bruna Vidal Moreno2 Carlos Wilson Gomes Lopes3

1Médico-veterinário, DSc, MSc DScV Pós Doutorando Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), E-mail: [email protected] / 2Médica-veterinária. Centro de Terapia

Intensiva e Emergência Veterinária. / 3Médico-veterinário. PhD, LD. Departamento em Parasitologia Animal, Instituto de

Veterinária, UFRRJ. BR 465 km 7. Seropédica, 23.890-000, RJ.

INTRODUÇÃO

Leucemia é definida como uma proliferação de

células neoplásicas na medula óssea, com duas

formas principais de leucemia linfoide: leucemia

linfoblástica aguda e leucemia linfocítica crônica.

Ambas são relativamente raras em cães, contudo

podem ser responsáveis por até um terço das

neoplasias linfoides1. As leucemias linfóides agudas,

representando aproximadamente um quarto dos

casos das leucemias agudas2, a linfoblastica aguda

(LLA) é uma proliferação anormal de linfoblastos

morfologicamente imaturos na medula óssea e se

restrita a medula óssea se denomina aleucêmica

(LLA), essa forma de leucemia é rapidamente

progressiva e responde mal a terapia1,3.

Cerca de metade dos pacientes com LLA manifestam

anemia e um quarto deles são trombocitopênicos, o

diagnóstico é a constatação de linfócitos atípicos na

medula óssea ou no sangue periférico e a presença

de 30% ou mais de linfócitos atípicos na medula

óssea confirmam o diagnóstico1,4.

O objetivo do presente trabalho é referendar a

punção de medula óssea no diagnóstico da leucemia

linfoblástica aguda aleucêmica (LLAA).

MATERIAL E MÉTODOS

Foi atendida no Centro de Terapia Intensiva e

Emergência Veterinária (CTI-Vet) para atendimento

um cão, Parte superior do formulário

raça Border Collie, 24 kg de peso vivo, foi

encaminhado para diagnóstico devido à prostração.

Com o intuito de diagnóstico, foram coletadas amostra

de sangue para hemograma completo (leucograma,

eritrograma, plaquetometria e proteína total) e

concentrado de leucócitos e plaquetas (capa

leucocitária), determinação da albumina (g/dL) e

proteínas totais (g/dL), no soro sanguíneo.

Com base no histórico apresentado e resultados

observados foi indicada a necessidade de análise de

material medular com o objetivo de diagnóstico. Para

punção e aspiração do material intraósseo da medula

foram através de agulha de Steiss com auxílio de

seringa de 20 mL contendo anticoagulante (EDTA) e a

necessidade de contenção química (anestésica e

analgésica) do paciente e para estabilização

hemodinâmica a transfusão com sangue total fresco

após classificação sanguínea através do

reconhecimento dos antígenos eritrocitários e provas

de compatibilidade12,13,14.

RESULTADOS

Os resultados os exames hematológicos foram:

classificação do antígeno eritrocitário positivo para o

grupo 1.1 (DEA 1.1), anemia (VG=15%) normocítica

normocrômica arregenerativa, trombocitopenia

(94/mm3), leucopenia (1000/mm3) com monocitopenia

(0%) e neutropenia (44%), desvio nuclear de

neutrófilos a esquerda (4%) eosinopenia (0%),

linfocitose relativa (44%), porém com linfopenia

absoluta, proteina plasmática acima do limite

máximo (7,8 g/dL), com albumina 2.2 g/dL e

globulinas 5,1 g/dL, na citoscopia foi observado:

12% de eritroblastos, intensa policromasia com

macrocitose, anisocitose plaquetaria com

macroplaquetas e moderada presença de

plaquetas gigantes e intensa presença de

linfócitos reativos. Na avaliação medular foi

observado celularidade de cerca de 80%, com a

série megacariocítica intensamente hipoplásica,

séries mielóide e eritróide encontram-se

intensamente hipoplásicas, série linfóide

hiperplásica, presença de linfócitos atípicos

apresentando anisocitose, anisocariose,

basofilia citoplasmática e nucléolos evidentes

com predomínio de linfoblastos e poucos

linfócitos maduros, presença de corpúsculos

linfoglandulares e manchas de Grümprecht,

caracterizando Leucemia Linfoblástica Aguda

Aleucêmica (LLAA) (Figura 1).

DISCUSSÃO

A pancitopenia observadas neste caso deve-se

a infiltração de células neoplásicas na medula

óssea assim como a destruição destas por

doença imunomediada presente5,6,7,8. A

trombocitopenia e anemia observada no atual

estudo é observada com frequência em

distúrbios mieloproliferativos1,4,5,9,10,11,

comprometendo mais de 50% da medula óssea5

o que necessitou de correção através da

transfusão sanguínea12,13,14, assim como a

hiperproteinemia com hiperglobulinemia são

consequência da reação inflamatória estimulada

pela leucemia com elevação de anticorpos6,8. A

linfopenia se deve principalmente ao fato da

doença ser restrita a medula óssea contrário ao

observado e comum nas doenças linfoides que

cursam com linfocitose1,6,7,8,11 e não estar

relacionado a tumor sólido o que é mais

comum5. A maior parte dos pacientes apresenta

leucocitose absoluta, com linfócitos anormais

circulantes; 10% exibem leucemia aleucêmica,

envolvimento da medula óssea sem alteração

no sangue periférico, como no caso presente1,

mostrando a importância da avaliação da

medula óssea no diagnóstico1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,15.

Na citoscopia foi observado 12% de

eritroblastos, intensa policromasia com

macrocitose, anisocitose plaquetaria com

macroplaquetas e moderada presença de

plaquetas gigantes e intensa presença de

linfócitos reativos conforme já relatado em

outros estudos8. Na avaliação medular, foi

observado celularidade de cerca de 80%, sendo

considerada aumentada para a espécie e faixa etária

do animal, série linfóide hiperplásica com presença de

linfócitos atípicos caracterizando LLAA4,5,7,8,10,11,15.

CONCLUSÃO

O exame da medula óssea com avaliação celular

é imprescindível no diagnóstico da LLAA em cães.

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20(4):955-961.Figura 1. Estiraço de medula óssea. Composição celular caracterizada por linfoblastos

( ) e corpúsculos linfoglandulares ( ). Panoptic. Obj. 100X.

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