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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA
CÍVEL DA COMARCA DE BAURU - SP.
Interdito Proibitório
Proc. nº 2086/2009
ROQUE JOSÉ FERREIRA, brasileiro,
casado, professor e vereador, com endereço para comunicações
processuais na Praça Dom Pedro II, nº 1-50, Centro, Bauru-SP,
regularmente inscrito no Registro Geral da Secretaria de
Segurança Pública sob número 9.656.049 e, no Cadastro de
Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda, sob nº 708.646.168-72,
por seu advogado que esta subscreve, com endereço profissional
indicado no instrumento de mandato, CONTESTAR a ação proposta,
interdito proibitório, proposto por CENTROVIAS – SISTEMAS
RODOVIÁRIOS S/A, devidamente qualificada em fls., na inicial, pelos
fatos e fundamentos adiante expostos:
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2
QUANTO A TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE DEFESA
O TJSP suspendeu os prazos processuais,
através do provimento nº 1713/2009, cuja redação é a seguinte:
Suspensão dos Prazos Processuais - TJSP - Provimento
nº 1713/2009
TJ-SP SUSPENDE PRAZOS PROCESSUAIS NO FINAL DO ANO
Provimento nº. 1.713/2009 O CONSELHO SUPERIOR DA
MAGISTRATURA, no uso de suas atribuições regimentais,
CONSIDERANDO a necessidade de manter o atendimento à
população e a continuidade da prestação jurisdicional,
nos termos do artigo 93, XII, da Constituição Federal;
CONSIDERANDO o disposto na Resolução nº. 8 do
Conselho Nacional de Justiça, a respeito do expediente
forense no período natalino, RESOLVE: Artigo 1º - Ficam
suspensos os prazos processuais no período
compreendido entre 21 de dezembro de 2009 e 06 de
janeiro de 2010. Parágrafo único - A suspensão não obsta
a prática de ato processual de natureza urgente e
necessário à preservação de direitos. Artigo 2º - Nesse
período é vedada a publicação de acórdãos, sentenças,
decisões e despachos, bem como a intimação de partes ou
advogados, na Primeira e Segunda Instâncias, exceto com
relação às medidas consideradas urgentes e aos processos
penais envolvendo réus presos, nos processos
correspondentes. Artigo 3º - Este Provimento entrará em
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vigor na data de sua publicação. São Paulo, 10 de
novembro de 2009. (a)ROBERTO ANTONIO VALLIM
BELLOCCHI Presidente do Tribunal de Justiça (a)JOSÉ
GERALDO BARRETO FONSECA Vice-Presidente do Tribunal
de Justiça em exercício (a)ANTONIO LUIZ REIS KUNTZ
Corregedor Geral da Justiça (a)ANTONIO AUGUSTO
CORRÊA VIANNA Decano do Tribunal de Justiça em
exercício (a)ANTONIO CARLOS VIANA SANTOS Presidente
da Seção de Direito Público (a)LUIZ ANTONIO RODRIGUES
DA SILVA Presidente da Seção de Direito Privado
(a)EDUARDO PEREIRA SANTOS Presidente da Seção
Criminal
Assim tendo sido comunicado da ordem no
curso do lapso temporal constante do provimento, o prazo para
apresentação de defesa apenas iniciou-se em 07/01/2010, razão pela
qual a presente é tempestiva.
SÍNTESE DOS FATOS DESCRITOS NA INICIAL
A Requerente, sustentando sua condição de
concessionário de serviço público, ajuizou INTERDITO PROIBITÓRIO
em relação ao Requerido, narrando em sua exordial que este está
anunciando publicamente a realização de invasão das praças de
pedágio administradas pela Autora, consoante faz prova, segundo
sustenta, uma matéria jornalística datada de 16 de dezembro de
2009, onde é difícil identificar o veículo de informação, com o que
sustenta satisfatório a provar o alegado, qual seja o justo receio que
existiria data não conhecida para invasão.
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4
Esse R.Juízo entendeu suficiente a prova
apresentada e, com ela, deferiu medida liminar para que o requerido
abstenha-se de causar tumultos nos bens administrados pela autora,
com qualquer ocupação e/ou bloqueio das rodovias integrantes do
Sistema Rodoviário, das praças de pedágio, acostamentos, faixas de
domínio, acessos, refúgios, postos de atendimento, balanças, demais
instalações, etc. Descrevendo as advertências de estilo, fixou a multa
cominatória, sanção civil que se realiza no caso de descumprimento
da ordem exarada.
O Juízo considerou, portanto, que o Requerido
teria de fato proposto e assumido a tarefa de organizar a ocupação da
rodovia em questão, bem como, que estaria realmente criando
embaraços para a posse da Requerente. Na defesa serão abordados os
tópicos da inicial que, de forma cristalina conduzirão o Juízo a outra
reflexão acerca dos fatos aqui discutidos.
Assim, pretende a requerente o deferimento
da tutela possessória na espécie.
Na realidade os fatos e fundamentos são
distintos como se verá a seguir:
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
da impossibilidade jurídica do pedido
As sanções presentes no ordenamento
jurídico podem ser de natureza civil ou penal, como se sabe.
Ao se manejar um instrumento de tutela
possessória tem-se por objetivo a fixação de uma sanção civil para o
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caso de descumprimento. Eventualmente essa sanção pode se
colocar, também, na esfera penal.
O próprio processo, quando ao fim chega,
contém sanções civis, posto que as custas e honorários representam
ônus à parte.
É assim que o artigo 20 do CPC adotou
ordinariamente o critério da "sucumbência" para a atribuição da
obrigação pelo encargo definitivo do processo e pelos honorários
advocatícios. A premissa vem de Chiovenda: o processo deve
propiciar a quem teve a razão reconhecida em juízo a mesma situação
econômica que a parte obteria se as obrigações discutidas tivessem
sido respeitadas sem a instauração de processo algum. Vale dizer: a
vitória deixa de ser integral se a quem venceu for permitido suportar
gastos para vencer. O princípio da restitutio in integrum é visível
neste ponto.
É incontroverso que o Requerido discursou
sobre o descalabro praticado pela Requerente, que comprometeu
seriamente o Parque Zoológico de Bauru, cartão de visitas da cidade
que goza de reconhecimento nacional e internacional, bem como, o
pouco que resta de mata de cerrado na região. Nessa oportunidade,
manifestou seu apoio ao diretor daquela instituição, o zootecnista
Luis Pires, figura de renome igual ou superior a instituição que dirige,
que, antes, e isso é de extrema relevância, descreveu um calvário de
iniciativas frustradas para que a Requerente corrigisse os danos
causados, se é que isso é possível. Nessa manifestação, o Diretor do
Zoológico relatou, inclusive, autuação por parte dos órgãos
ambientais.
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Foi essa apresentação, feita na Sessão 46ª de
2009, cuja transmissão em áudio e vídeo encontra-se em anexo a
presente defesa, que motivou o Requerido, na mesma Sessão e da
Tribuna da Câmara, no exercício de suas funções como vereador,
proferir manifestação de solidariedade em relação ao Diretor do
Zoológico e crítica a conduta irresponsável, na perspectiva jurídico-
social, da Requerente.
Na manifestação de solidariedade resta claro e
cristalino que não há nenhuma pretensão de apossamento nem
mesmo perturbação da posse. Se os órgãos de imprensa, ainda que
sempre respeitáveis, divulgaram a afirmação em outro contexto, bem,
a isso não se pode atribuir ao Requerido nenhuma responsabilidade.
Mas ainda que tivesse assim se manifestado,
não se pode desconsiderar alguns aspectos, inclusive o
constitucional. O Poder Constituinte forneceu aos Vereadores, no
exercício de suas atividades, imunidade parlamentar em sentido
material, consoante previsão inserta no artigo 29, VIII, da
Constituição Federal.
O Supremo Tribunal Federal1, apreciando a
matéria assim se posiciona acerca do instituto:
“A Constituição da República, ao dispor sobre o estatuto
político-jurídico dos Vereadores, atribuiu-lhes a
prerrogativa da imunidade parlamentar em sentido
material, assegurando a esses legisladores locais a
garantia indisponível da inviolabilidade, „por suas
1 http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp, acesso em 11.01.2010.
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opiniões, palavras e votos, no exercício do mandato e na
circunscrição do Município‟. Essa garantia
constitucional qualifica-se como condição e instrumento
de independência do Poder Legislativo local, eis que
projeta, no plano do Direito Penal, um círculo de
proteção destinado a tutelar a atuação institucional dos
membros integrantes da Câmara Municipal. A proteção
constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política
estende-se – observados os limites da circunscrição
territorial do Município – aos atos do Vereador
praticados ratione offici, qualquer que tenha sido o
local de sua manifestação (dentro ou fora do recinto da
Câmara Municipal).” (HC 74.201, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 12-11-06, 1ª Turma, DJ de 13-12-
96). No mesmo sentido: AI 698.921-AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 23-6-09, 1ª Turma, DJE de
14-8-09.
“O texto da atual Constituição, relativamente aos
Vereadores, refere à inviolabilidade no exercício do
mandato e na circunscrição do Município. Há
necessidade, portanto, de se verificar a existência do
nexo entre o mandato e as manifestações que ele faça
na Câmara Municipal, ou fora dela, observados os
limites do Município. No caso, esses requisitos foram
atendidos. As manifestações do paciente visavam
proteger o mandato parlamentar e a sua própria honra.
Utilizou-se, para tanto, de instrumentos condizentes
com o tipo de acusação e denunciação que lhe foram
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feitas pelo Delegado de Polícia. Ficou evidenciado que as
referidas acusações e ameaças só ocorreram porque o
paciente é Vereador. A nota por ele publicada no jornal,
bem como a manifestação através do rádio, estão
absolutamente ligadas ao exercício parlamentar.
Caracterizado o nexo entre o exercício do mandato e as
manifestações do paciente Vereador, prepondera a
inviolabilidade. Habeas deferido.” (HC 81.730, Rel. Min.
Nelson Jobim, julgamento em 18-6-02, DJ de 1º-8-03)
De outro lado, a doutrina discute o instituto
da seguinte forma:
“ A imunidade material dos membros do Poder
Legislativo abrange a responsabilidade penal, civil,
disciplinar e política, pois trata-se de cláusula de
irresponsabilidade geral de Direito Constituiconal
material.
Dessa forma, em conclusão são requisitos
constitucionais exigíveis para a caracterização da
inviolabilidade do vereador:
Manifestação de vontade, através de
opiniões, palavras e votos;
Relação de causalidade entre a
manifestação de vontade e o exercício do
mandato, entendida globalmente dentro da
função legislativa e fiscalizatória do Poder
Legislativo e independentemente do local;
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Abrangência na circunscrição do
Município.2
Certamente que a manifestação do Requerido
preenche as três condições, é manifestação de uma opinião, qual seja
aquela que se materializa na necessidade de exposição pública da
Concessionária pelos movimentos sociais que tenham como
finalidade a defesa ambiental; existe uma relação de causalidade
entre essa manifestação e o exercício do mandato, consubstanciada
na defesa do patrimônio ambiental da cidade; atividade fiscalizatória
do parlamentar e a abrangência municipal frente ao prejuízo causado
ao zoológico local. Ou seja estão caracterizadas as condições para
que se verifique a imunidade parlamentar. Tudo na remota hipótese
de que essa manifestação represente uma incitação pública a atos
atentatórios ao ordenamento jurídico.
Ou seja, mesmo que Roque tivesse proposto
de forma expressa a ocupação, marcando dia e hora para tanto, não
seria pertinente a tutela possessória, com fixação de sanções civis,
principalmente com condenação em custas e honorários, se o
vereador extrapola suas funções caberia, isto sim, a instauração de
processo de cassação do mandato pelo próprio Legislativo.
Contrariamente a essa conclusão, encontramos a impossibilidade
jurídica do pedido, posto a observância da independência e harmonia
entre poderes, fundamento da ordem constitucional.
A possibilidade jurídica do pedido é a
possibilidade do direito, em tese, ser acolhido. Propor ação contra
manifestação proferida contra vereador por manifestação na Tribuna
2 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19ª Ed. – São Paulo: Atlas, 2006. p.262/263.
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da Câmara que lhe resulte em sanção civil é juridicamente impossível
frente a imunidade descrita no texto constitucional. Frise-se que se a
imunidade atinge a esfera penal, onde se tutelam bens de muito
maior valoração social, certamente que atinge o menos, quais sejam
os bens e direitos tutelados pelo direito privado.
Mais, também fere a liberdade de
manifestação do pensamento, tal qual passada no artigo 5º, quarto
inciso, da Constituição Federal. Neste sentido3
Ora, a livre manifestação do pensamento implica, à
evidência, o direito de expor as próprias convicções,
mesmo que de possível contestação pelos que pensam
diferente. Assim, na medida em que estas convicções são
levadas àqueles que são favoráveis a elas como forma
de fortalecê-las, não há por que os que delas não
comungam outorgarem-se o direito de silenciá-las, visto
que não lhes são dirigidas.
O autor do parecer acima ainda transcreve em
nota de rodapé de seu texto que “o Superior Tribunal de Justiça
afastou, com base nos referidos dispositivos, parte da lei de imprensa,
que proíbe a livre manifestação do pensamento: “Constitucional e
processual penal. Lei de Imprensa. Ação penal. Trancamento. 1. A
Constituição considera livre a manifestação do pensamento, proíbe o
3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO - INTELIGÊNCIA DOS INCISOS IV, VI, VII E IX DO ARTIGO 5º
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - A CORRETA EXEGESE DE REPÚDIO AO “DISCURSO DO
ÓDIO” - PARECER (Publicada no Juris Síntese nº 78 - JUL/AGO de 2009) Ives Gandra da Silva
Martins Professor Emérito da Universidade Mackenzie em cuja Faculdade de Direito foi Titular
de Direito Econômico e Constitucional.
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anonimato, e assegura o direito de resposta, a inviolabilidade da
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, o que
derroga a chamada Lei de Imprensa, a qual continua em vigor naquilo
em que não contraria a Carta Magna. 2. Ordem indeferida de
trancamento de diversas ações penais, que se mantém” (STJ, RHC
3296/SC, 5ª T., Rel. Min. Jesus Costa Lima, Decisão: 15.12.1993, DJ I
21.02.1994, p. 2180).
O que o requerido fez foi manifestar uma
opinião, na qual a única forma de fazer com que a requerente
deixasse de praticar seus atos de negligência ambiental era a
ocupação das praças de pedágio. Isso é manifestação do pensamento
e mais, proferida da Tribuna da Câmara. Insiste-se, se a imprensa
dimensionou de outra forma, tal fato não enseja a proteção
possessória invocada.
Neste sentido manifestação do Supremo
Tribunal Federal em sentido similar:
"(...) o simples fato de a paciente participar de
programa televisivo, discorrendo sobre o quadro
empírico do crime de latrocínio a que foi condenada,
não tem a força de justificar a respectiva segregação
cautelar. Pelo que tenho como inidôneo o fato
superveniente, apontado pelo Juízo-processante da
causa para a decretação da custódia provisória. Ainda
mais – repito – quando esse fato não passou de uma
entrevista concedida a emissora de televisão, ocasião
em que a paciente simplesmente manifestou a sua
própria versão sobre os fatos delituosos.
Autodefendendo-se, portanto. Com efeito, entendo que
as palavras proferidas pela paciente em entrevista
jornalística se traduziram no exercício do direito
constitucional à „livre manifestação do pensamento‟ (...)
e de autodefesa, a mais natural das dimensões das
garantias constitucionais do contraditório e da ampla
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defesa (...). A significar, então, que o legítimo exercício
do direito subjetivo à exteriorização do pensamento,
conjugado com as garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa (...), não pode
justificar, isoladamente, a decretação da custódia
preventiva." (HC 95.116, voto do Rel. Min. Carlos Britto,
julgamento em 3-2-09, 1ª Turma, DJE de 6-3-09)
É, sem dúvida, pedido juridicamente
impossível que, contrariando ao menos três dispositivos
constitucionais, merece ser desconsiderado e a ação extinta sem
julgamento de mérito.
Inépcia Da Inicial – Ausência De Caracterização Da
Área
Ao examinarmos os termos em que se
encontra redigida a petição inicial, constatamos, com relativa
facilidade, a inexistência de uma descrição física completa da faixa de
terreno que o autor entende ser possuidor e qual pretende tutelar.
Neste sentido:
AÇÕES REAIS. Reintegração de posse. Reivindicatória.
Caracterização do bem litigioso.
Tanto nas possessórias como nas petitórias é
indispensável descrever com precisão na petição inicial
a área litigiosa, sob pena de invibializar o processo por
imprecisão do objeto.
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“Nas ações reais ou reipersecutórias, como acontece
tanto nas reivindicatórias como nas reintegratórias, a
individuação do bem litigioso é indispensável, sob pena
de tornar-se inexeqüível a sentença que,
eventualmente, venha a acolher o pedido do autor.
Nessa ordem de idéias, tem-se decidido que “nos
interditos possessórios é indispensável descrever a
área onde se mantinha a posse exclusiva, pois a
contenda gira em torno do poder de fato, que se
reveste na exteriorização da propriedade” (TAMG, Ac.
In “Julgados”, 7/240; no mesmo sentido: TJSC, in “RT”,
548/215).
E são, igualmente, reiterados os acórdãos que
proclamam não ser possível reivindicar-se “área indeterminada”(“RT”
492/69), pelo que “na ação reivindicatória, a individuação arbitrária
do imóvel e a insuficiência dos títulos de domínio, por si só,
autorizam a improcedência do pedido”(TJRS in “Rev. Forense”,
224/167).
No caso dos autos, o autor não apresenta a
área exata na qual se funda sua pretensão, sem identificar
convenientemente as áreas que o Requerido estaria ameaçando!
O prosseguimento da ação, a partir de petição
inepta, é de fato inviável, por falta de pressuposto processual” (sem
grifos no original) (Ac un da 2ª Turma do Tribunal de Justiça do
Estado de Minas Gerais Apelação nº 64.369 Relator-Desembargador
Humberto Theodoro Júnior, julgado em 28.06.1984)
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POSSESSÓRIA. Petição inicial. Caracterização do imóvel.
Nas ações possessórias não basta descrever apenas as
confrontações, mediante nomeação dos proprietários
dos terrenos confinantes, mas é evidente a necessidade
de individuar precisamente a coisa.
“No entanto, a inicial não descreve qual a área
invadida, nem tampouco mostra onde deveria ser
colocada, com propriedade, a questionada cerca
divisória.
Ora, para pretender-se a reintegração urge individuar,
com precisão, a gleba espoliada, pois, do contrário, o
pedido é inepto e a eventual sentença que o acolhesse
seria inexeqüível.
Parece-me lógico que não se conhecendo as divisas
exatas da própria posse, não há como determiná-las
num mero interdito possessório, cujo requisito
fundamental é justamente a certeza da posse do
promovente.
Exata, portanto, a lição de Lopes da Costa, lembrada no
memorial dos apelados, segundo a qual nas ações
possessórias não basta descrever apenas o que se
chama confrontações, indicação dos proprietários dos
terrenos confinantes, mas é evidente a necessidade de
individuar precisamente a cousa, de modo a tornar
possível a verificação da posse (Jurisprudência Mineira
4/383).
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Imperativa a completa descrição da área. Sem
ela a petição é inepta e o feito deve ser extinto sem julgamento de
mérito
Também no mérito a ação improcede.
NO MÉRITO
Inicialmente, reiteram-se todos os argumentos
e fundamentos acima que, caso Vossa Excelência entenda
transpostos, também podem justificar a extinção do processo com
julgamento de mérito de forma favorável ao Requerido.
Assim, encontra-se imune o Vereador por suas
manifestações na Tribuna do Legislativo, seja na esfera penal, civil ou
mesmo disciplinar se profere manifestação no exercício de suas
atribuições enquanto edil; a tutela jurisdicional invocada nesse marco
ofende a independência e harmonia entre poderes e, o Requerido
apenas estava no pleno exercício de mais de um direito fundamental.
Nesse diapasão, ao solidarizar-se com o
Diretor do Parque Zoológico Municipal que, fazendo uso da Tribuna
da Câmara, como se verifica nas imagens anexadas, as quais desde já
se requer a degravação por perito judicial, comentou informações e
discutia os atos praticados pela Requerente. Todos de pouca atenção,
e porque não dizer, com quase indiferença, para com a dimensão do
problema, destruição de vegetação de cerrado e comprometimento
das atividades do Parque, reconhecido internacionalmente, e que é
um dos grandes cartões de visita do Município, o Vereador proferiu
discurso de critica a conduta da concessionária e a ausência de sua
responsabilidade ambiental.
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Assim, manifestou o que, no seu ponto de
vista e também na Tribuna da Câmara, deveria se materializar
enquanto reação da sociedade para que preservasse um bem de valor
inestimável dos cidadãos bauruenses e de difícil reparação.
Assim fazendo proferiu discurso que pode ser
analisado na degravação, onde em linhas gerais, e efetivas, disse:
“...parabenizar o Luis Pires pela exposição que fez aqui
em relação ao nosso zooloógico municipal ... solidarizar
com a indignação dele...existe insensibilidade da
centrovias em atender a reinvindicação..e fazer aquilo
que e sua obrigação de fazer... que forma poderíamos
pressionar a centrovias... e se a população de Bauru e
região tiver consciência do Parque Zoológico... quem
sabe a gente possa discutir e organizar a ocupação das
praças de pedágios... para que mexendo no bolso da
Centrovias... pode mexer nacionalmente com a imagem
da Centrovias discutir com você e outros atores sociais
Note-se, não deduziu proposição de ocupar ou
invadir, disse que, hipoteticamente, a violência da concessionária
poderia ser rebatida com ação social contrária que iria expor a
imagem dela enquanto responsável por gigantesca violação ao
patrimônio ambiental do município. Critica que esta medida judicial
pretende, em verdade, calar.
Não disse que iria fazer, utilizou a expressão,
“quem sabe”? ou seja, apenas discorreu acerca de uma possibilidade
hipotética, onde entendia que os atores sociais, preocupados e
envolvidos diretamente nessa temática, poderiam se utilizar
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enquanto tática de exposição nacional e internacional dos atos
praticados pela Concessionária que, de forma visível, vem
comprometendo o Meio Ambiente local com incontáveis danos sem
que as autoridades e em particular o poder concedente tomem outra
atitude que não a celebre postura de fazer “ouvidos de mercador”.
A mera hipótese não autoriza um interdito,
sob pena de banalização do instituto. É apenas uma suposição,
antecedida devidamente da locução “quem sabe”.
Ou seja, não há que se falar em perturbação
ao direito do possuidor, ou mesmo, tutela possessória, posto que não
foram essas as assertivas lançadas pelo Requerido. Tratava ele isto
sim, do livre exercício do direito de crítica, sem pretender a turbação
possessória.
Além disso a requerente é detentora da posse
da área física da planta, bem como sobre os bens nela adicionados. A
moderna teoria possessória interessa-se por identificar o fim sócio
econômico da destinação dos bens4
, ultrapassando as concepções
primitivistas, pelas quais se debatiam objetivistas e subjetivistas,
visualizando a posse como mera exteriorização da propriedade.
Assim, ao identificar-se o fim socioeconômico
da destinação dos bens, indubitavelmente, constata-se que a
Requerente detém, em última análise, capital, voltado para a
exploração econômica da rodovia. Tratando-se desse processo, a
utilização do bem em questão se dá pelos usuários que em última
análise são os reais possuidores da rodovia. É desse fundamento que
se alimenta o nosso sistema republicano, quando constitucionalmente
4 FIGUEIRA JR., Joel Dias, in Liminares nas ações possessórias, 2ª ED., Editora RT:
São Paulo, p. 64.
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se indica, entre outros, os direitos fundamentais de manifestação do
pensamento.
- Passados mais de duzentos anos desde a
Revolução Francesa, a exclusividade do ideal individualista liberal
construído pela contra-revolução burguesa já conheceu seu Waterloo
em quase todo o mundo. O que acontece com o nosso direito? Pôr que
a relutância em absorver a viragem evolutiva? Neste século a iniciar,
soa no mínimo desconfortável ignorar os avanços conquistados pelos
movimentos sociais, em âmbito mundial, cristalizados hodiernamente
nas regras de nosso texto constitucional democrático. Mesmo que se
organizasse uma manifestação no local, e diga-se por uma causa mais
que justa e reconhecida internacionalmente, que risco correria a
posse das praças de pedágios? Em nenhum momento se cogita que o
Requerente fosse lá permanecer, para o que?
Aliás, patente o verdadeiro propósito que
pretende a Requerente alcançar, com a contribuição do Judiciário,
trata-se da derrota de um movimento local de resistência contra a sua
irresponsabilidade ambiental.
Resta evidente o sofisma, parte-se da premissa
que a manifestação contrária aos atos da Requerente em
comprometer o meio ambiente local é um abuso de direitos, não o
exercício de um.
O que motiva a atitude empresarial é, na
verdade, a tentativa de impedir a mobilização social contra o
teratológico dano justamente no momento que ele se torna público
através da Câmara Municipal. É ai que se coloca a tentativa, até aqui
bem sucedida, de utilização do Poder Judiciário para este propósito.
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Os limites das ações possessórias, também,
foram ultrapassados, pois se estendeu a posse a logradouros
públicos e pessoas.
Note-se, o Requerido é parlamentar que teve
votação expressiva, representante popular devidamente autorizado. A
forma policial com que está sendo tratado denota uma
incompreensão deste papel e atribuições do parlamentar.
- A ação não merece prosperar porque não
existem indícios de perturbação da posse na documentação encartada
pelo requerente, contrariando dessa forma o disposto no artigo 927
do CPC, nesse sentido confira-se a lição da jurisprudência:
PROCESSO CIVIL – POSSESSÓRIA – Liminar de
manutenção deferida sem audiência da parte
contrária e sem prova suficiente de posse
anterior - Sacrifício dos princípios constitucionais
do contraditório e da ampla defesa - Alegação
fundada em suposta elasticidade de título
dominial sobre imóvel contíguo - Inexistência de
prova quanto à turbação ou quanto ao esbulho -
Situação fática merecedora de esclarecimento
mais profundo - Efeito suspensivo confirmado -
agravo provido. (TAPR – AI 0276032-1 – (231174) –
Maringá – 10ª C.Civ. – Rel. Juiz Paulo Roberto
Hapner – DJPR 18.03.2005)
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INTERDITO PROIBITÓRIO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 20518 - Reg. 295
- 2ª C. - Rel. Juiz MIGUEL PACHA - J. 04.12.1980)
PRESSUPOSTOS.
No interdito proibitório o autor pleiteia uma
proibição. um veto. No mandado não há uma
ordem para que o réu faça alguma coisa, ou
preste algum fato, mas apenas uma proibição de
praticar violências ou atos turbativos da posse,
sob determinada pena. O possuidor que tenha
justo receio de ser molestado na posse, solicita ao
Juiz que o segure da violência. O pressuposto da
ação é o justo receio da ameaçada posse.
Presença dos pressupostos. Nega-se provimento
ao recurso.
(Ementário TACRJ 18/82 - Ementa 19351)
Onde ficaram demonstradas manifestações de
violência, pretensão de esbulhar ou turbar a posse, ou mesmo sinais
de tais atos? Certamente que não estão aqui presentes
Na realidade esse tipo de medida tornou-se útil para
aqueles que pretendem conter movimentos sociais desfavoráveis aos
seus interesses. É isso o que vem ocorrendo em movimentos grevistas
em empresas, aliás, o texto abaixo5
, ora transcrito, de autoria da
ANAMATRA(Associação Nacional da Magistratura Trabalhista) , indica
o seguinte:
5 http://www.amatra8.org.br/dg_proposta.asp. Acesso em 28/09/2005
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Para a Justiça do Trabalho a Greve dos Bancários é
legítima
A Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho) manifestou nesta quarta-feira (29)
apoio à greve nacional dos bancários. O presidente da
entidade, Grijalbo Fernandes Coutinho, reuniu-se com o
presidente do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal,
Jaci Afonso, e com o advogado da CNB (Confederação
Nacional dos Bancários), José Eymar Louguercio, e deu
total apoio ao movimento da categoria. O diretor
Financeiro da Anamatra, Luciano Athayde, também
participou do encontro.
... " A Anamatra tem uma posição política de apoio à greve
dos bancários", disse Coutinho. O magistrado também
emitiu opinião sobre denúncia dos representantes dos
bancários de que a Justiça Comum estaria usando de
forma inadequada o instrumento do Interdito Proibitório
para tentar coibir a greve. "Não é a melhor maneira de se
resolver uma greve, sobretudo porque os interditos que
têm sido conferidos até agora acabam inviabilizando as
manifestações nas proximidades dos bancos e, muitas
vezes, são medidas apreciadas pelos juízes estaduais.
...O Interdito Proibitório é uma das grandes preocupações
que nós temos", disse Jaci Afonso. Logo após o encontro,
Grijalbo Coutinho divulgou nota pública a respeito da
greve dos bancários.
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A íntegra do documento é a seguinte
A Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho), entidade que congrega mais de três
mil juízes, tendo em vista a greve nacional dos
trabalhadores em estabelecimentos bancários, vem a
público manifestar o seguinte: 1) Reconhece o direito de
greve dos bancários como o legítimo exercício de um
direito social fundamental, previsto na Constituição
Federal e próprio das sociedades democráticas, que não
deve sofrer, portanto, nenhuma ação capaz de limita-lo ou
inviabiliza-lo; 2) As deliberações dos congressos da
magistratura do trabalho (Conamats), reiteradamente, têm
propugnado pelo estabelecimento de uma maior
democracia nas relações entre o capital e o trabalho,
considerando como imprescindíveis, nesse cenário, a
regulamentação do artigo 7°, inciso I, da Constituição
Federal, capaz de proibir a dispensa arbitrária do
empregado, e o respeito ao direito de greve; 3) A
legitimidade do movimento ainda mais se revela quando
verificadas as perdas salariais da categoria nos últimos
anos, em contraste com a taxa crescente de lucratividade
dos bancos, que supera 1.000% nos últimos dez anos,
estampando o setor financeiro um lucro de quase R$ 15
bilhões somente no ano de 2003, segundo estimativas
recentemente publicadas; 4) Considera que o manejo de
ações de interdito proibitório pelos bancos não é, por sua
natureza possessória, o mecanismo judicial adequado
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para a solução de conflitos trabalhistas, sem desprezar o
fato de que compete à Justiça do Trabalho apreciar os
desdobramentos da paralisação, pois matéria afeta ao
conflito trabalhista e não ao direito de propriedade. Do
outro modo, entende que o movimento, em princípio, não
fere a Lei de Greve em vigor, na medida em que o
atendimento bancário no País está pulverizado em
milhares de correspondentes bancários, como lotéricas e
agências postais, além do que grande parte das
transações bancárias continua a ser normalmente
efetivadas pela internet e nas dezenas de milhares de
terminais eletrônicos; 5) Os Magistrados do Trabalho
esperam que as negociações sejam reabertas e que as
partes, de comum acordo, encontrem uma solução
negociada para atender às suas expectativas, bem assim
às de toda a sociedade brasileira. Brasília, 29 de setembro
de 2004. Grijalbo Fernandes Coutinho Presidente da
Anamatra.(grifos nossos)
O efeito do deferimento de interditos
proibitórios tem impedido o desenvolvimento do direito de greve e,
com isso, comprometido a posição reivindicatória de trabalhadores
em todo o País. Aqui se tem uma perigosa inovação, esta contraria a
manifestação de pensamento, direito de reunião, imunidade
parlamentar, dentre outros.
As análise do discurso do Vereador, insiste-se
não demonstra nenhum tipo de turbação ou risco de esbulho. Aliás,
nem conflito possessório está aqui presente. Ou se está
considerando que a manifestação, em si, assim se constitui? Só se
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poderia admitir tal caracterização para o caso de se considerar uma
abordagem absolutamente discriminatória com relação a alguns
direitos e preferencial e prontamente protetiva para outros.
Insiste-se, onde se evidencia a violência ou
ameaça a posse ? Note-se, tal evidência é da essência do interdito,
confira-se a lição de Carvalho Santos:
“O Código como se vê, restringe e
esclarece seu pensamento deixando patente que,
como justo receio só se entende aquele que se
refere à violência iminente.”
Ainda que se admitisse a ocupação como uma
violência, onde se sinaliza para tal fato ? Seguramente não é o
discurso proferido na Câmara. Não existe razão para a tutela
pleiteada. Mais uma vez, confira-se a lição da jurisprudência:
“POSSESSÓRIA – Interdito proibitório – Bloqueio
de portão de entrada de empresa por possível
greve – ameaça não provada – Justo receio
infundado – Necessidade de prova induvidosa
para não ferir a garantia constitucional do direito
de greve – Liminar cassada.
Ementa oficial: Interdito Proibitório. Ameaça e
Justo Receio. Tanto a ameaça como o justo receio,
pressupostos necessários ao interdito proibitório,
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devem ser suficientes comprovados para
concessão de liminar. A inexistência de qualquer
prova a sustentar a alegação do requerente
importa na inexistência da ameaça e em o receio
ser subjetivo e não basear em dados anteriores.
Direito de greve. A alegada ameaça e justo receio
de turbação de posse no exercício do direito de
greve deve ser induvidosamente comprovada para
que, a título de interdito, não se obscureça o
direito de greve, garantia constitucional. Agravo
provido.”( RT617/98)
- Tudo, em se admitindo que, na hipótese dos
autos, estivesse presente a pretensão de impedir o fluxo de veículos
ou mesmo conturbar o direito de ir e vir das pessoas. Na realidade
isso apenas se afigura na mente de quem, sem nenhum pudor, destrói
o pouco que resta de ambiente natural preservado.
Manifestações, como a do Requerido, apenas
expressam indignação e revolta, evidenciando a existência, apenas e
tão somente, de um protesto. Nele, onde se demonstra o risco de
esbulho e a turbação ? Novamente, não há pretensão do Requerido à
posse, elemento subjetivo indispensável ao aqui pretendido pela
Requerente.
- Mas, de fato há um indício. O preconceito. Este
se encontra expresso na petição inicial. Afinal, é ai que se usam
expressões que assemelham o Vereador com marginais. É necessário
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que as instituições estatais brasileiras encarem uma nova realidade
mais democrática, onde a ação do Parlamentar local é de fundamental
importância para a concretização dos objetivos da República.
- Outrossim, a mera exortação à
manifestações ou paralisações, não se confunde com qualquer
modalidade de perturbação de direitos. Nesse particular, confira-
se o julgado abaixo:
“GREVE – CONFIGURAÇÃO E
EFEITOS – Não constitui abuso, a exortação do
empregado para que seus colegas entrem em greve,
pois não passa de simples exercício da liberdade de
pensamento e expressão, que não é tolhida pelo
contrato de trabalho.”(TRT 2ª R. – Ac. 02890012845
– 1ª T. – Rel. Juiz José Serson – DOESP 14.02.1989)
Ainda, é de se concluir que o exercício do
direito de crítica, liberdade de opinião, exortação à práticas políticas,
liberdade de expressão, não se afiguram como espécies de cerceio ao
direito possessório, e, muito menos como cerceio a qualquer direito,
representam, isto sim, o pleno exercício de direitos individuais, e, no
caso, também e principalmente, os coletivos, marcas indeléveis do
exercício da cidadania.
No mesmo sentido mencionam, Luiz Alberto
David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior :
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Os direitos fundamentais não são absolutos. Isso
quer dizer que, por vezes, dois direitos
fundamentais podem chocar-se, hipótese em que
o exercício de um implicará na invasão do âmbito
de proteção de outro. É o que, vezes a fio, ocorre
entre o direito de informação e o de privacidade,
ou entre o direito de opinião e o direito à honra.
Nestes casos, a convivência dos direitos em
colisão exige a cedência recíproca.6
(grifo nosso)
Cedência recíproca significa a máxima
observância dos direitos em conflito, possibilitando que ambos
coexistam na realidade fática.
A manutenção da decisão liminar e a admissão
de eventual procedência em sede de sentença, é permissão ao
arbítrio, é fazer letra morta da Constituição, é negar-se a reconhecer
liberdades duramente conquistadas. Assim, constata-se a violação de
direito do Requerido.
Quando muito versaria o pedido sobre direito
pessoal, não amparado pelos interditos, nesse sentido confira-se a
jurisprudência:
6 Curso de direito constitucional/ Luz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior. – 5 ed.
rev. e atual - São Paulo:Saraiva, 2001. P. 83 e 84
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INTERDITO PROIBITÓRIO
(TACRJ - AC 49909 - (Reg. 1940) - 5ª C. - Rel. Juiz
ANAUDIM FREITAS - J. 27.05.1980)
INADMISSIBILIDADE NA PROTEÇÃO DE DIREITOS
PESSOAIS. Interdito proibitório. Inadmissibilidade
da proteção possessória a direitos pessoais. Se
mandado de segurança concedeu a ordem no
sentido de cessar obstáculo para realização de
Assembléia Geral de Associação. a matéria se
tornou coisa julgada entre as partes.
(Ementário TACRJ 02/82 - Ementa 18604)
Assim, rechaça-se a absurda pretensão
lastreada na ameaça à posse.
DO PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
DO DESPACHO LIMINAR
Requer-se a Vossa Excelência a reconsideração
do decidido liminarmente, à partir da ponderações acima descritas e
diante do risco de ineficácia de uma improcedência, afinal a liminar
impede a ação parlamentar.
Leve-se em consideração um outro
componente nessa reflexão. A constatação que o aplicador das leis
também cria direito. Ao decidir, o julgador escolhe entre alternativas,
e isso não é reconhecer o direito, é criá-lo.
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O monopólio legislativo não é tão preciso,
neste sentido a sempre pertinente observação de Antonio Carlos
Wolkmer7
quando discorre:
[...] na realidade, tais premissas mencionadas são
inteiramente falsas, pois o Juiz possui papel bem
maior do que lhe é atribuído, exercendo
ideologicamente uma extraordinária e dinâmica
atividade recriadora. O monopólio legislativo, em
matéria de elaboração e fixação do Direito, é pura
falácia; uma nova concepção que melhor valorize a
força das decisões judiciais deve dar lugar ao
dogmatismo do positivismo exegético. O Juiz é
soberano na esfera de ação em que atua, podendo,
por si mesmo, estabelecer as normas e as regras de
aplicação necessárias. A atitude do Juiz, em relação
à lei, não se caracteriza jamais pela passividade
nem tampouco será a lei considerada elemento
exclusivo na busca de soluções justas aos conflitos;
a lei consituti em um outro elemento, entre tantos
que intervêm no exercício da função
jurisprudencial.
O Judiciário constrói o direito também na
visão de Luis Fernando Coelho8
, assim como o jurista, confira-se:
7 Ideologia, Estado e direito. 4.ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p. 186.
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[...] a produção normativa não é monopólio do
legislador, mas ocorre em todos os estratos da
atividade jurídica, aí incluído o plano jurisdicional,
ou seja, o direito é também criado pelo juiz, como
pelo jurista em seu trabalho hermenêutico.
Há, também, em sua opinião, uma decorrência
desse exercício, que é o segundo momento, acerca da:
[...] conscientização do papel do jurista na
sociedade; não o de zeloso defensor da ordem
social, nem intérprete e aplicador das normas que a
regulam. Mas o de construtor da sociedade, um
cientista, um técnico cuja obra se manifesta por
seus resultados, a sociedade9
.
Ainda sobre o direito enquanto construção
social, Luiz Fernando Coelho ressalta:
[...] o construído é aquilo que o jurista obtém em
razão de seu procedimento formal de elaboração de
conceitos, e não se confunde, no pensamento do
autor, com a técnica jurídica particular legislativa e
8 Teoria crítica do direito. 2.ed. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p. 111/112.
9 Luis Fernando Coelho. Teoria crítica do direito, p. 111/112.
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jurisdicional, por exemplo. Trata-se de uma técnica
geral, por meio da qual o jurista molda os dados de
maneira a fazê-los corresponder às necessidades
sociais10
.
Quanto ao papel desempenhado pelo direito
enquanto crítica social, aduz11
:
[...] trata-se em suma de reconhecer a função
política do direito, ou seja, desmistificar a
separação entre o saber jurídico e o político, pois
ambos se integram na mesma práxis, quando
vislumbrados do ponto de vista instrumental de um
princípio de construção do social e não da mera
descrição de suas relações juridicamente normadas.
Assim, no acesso à justiça substantiva, aquela
que permite o pleno exercício dos direitos fundamentais, ressalta-se a
importância do Judiciário, tanto em garanti-la, quanto em temível
obstáculo.
Assim, a tarefa das instituições estatais, em
particular o Judiciário em assegurar a dita cidadania, sendo esta a
tarefa de todas as instituições, que afinal integram o Estado,
garantindo o mínimo da existência, o patrimônio jurídico mínimo de
10
Ibid., mesma página.
11 Id. Ibid., p. 124.
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cada ser humano. Base para isso, a Constituição Federal forneceu,
resta, às instituições, romper com esse passado de abandono.
Assim, ao Judiciário cumpre importante papel
de efetivador/normatizador dos direitos fundamentais enquanto
outra forma de se assegurar o acesso à justiça. Portanto, insiste-se na
reconsideração da decisão que concedeu a liminar deferida, para que
se efetivem os direitos fundamentais a sua plenitude.
DO PEDIDO
Requer-se, antes de tudo, que Vossa Excelência
reconsidere a decisão concessiva da liminar, revogando-a, nos termos
da fundamentação acima desenvolvida e, após que seja a presente,
para requerer o acolhimento das preliminares suscitadas, para que
seja extinto o presente, sem a apreciação do mérito e, nele, que seja
declarada a improcedência da ação, nos termos da fundamentação
supra, condenando-se o requerente ao pagamento de custas,
honorários advocatícios e demais consectários legais.
Prequestiona-se, expressamente, a aplicação
dos artigos do texto Constitucional mencionados na defesa, bem
como, os demais dispositivos legais.
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Promove-se, também, a impugnação dos
documentos juntados pela empresa, com já descrito ao longo da
exordial.
Protesta provar o alegado por todos os meios
de prova em direito admitidos, em especial o depoimento pessoal do
representante legal do autor, sob pena de confesso, oitiva de
testemunhas a serem oportunamente arroladas, na forma do art. 931
do CPC, juntada de novos documentos, perícias, aqui em especial a
degravação do dvd anexo, com transcrição, em especial as
declarações do Diretor do Zoológico Municipal e do Requerido, sendo
que o discurso causador da polêmica encontra-se a 1h, 19min e 47
seg, enquanto o primeiro logo no inicio do vídeo, vistorias judiciais e
outras necessárias à devida elucidação dos fatos.
Pede também a concessão ao Requerido da
gratuidade da Justiça por manifestar, expressamente, através de seu
advogado que não possui condições de demandar sem prejuízo de
seu próprio sustento, sendo ferroviário e utilizando-se dos subsídios
parlamentares para o exercício do mandado.
Termos em que,
P. Deferimento.
Bauru, 20 de janeiro de 2010.
Sérgio Luiz Ribeiro
OAB/SP 100.474