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Rua: Quinze de Novembro 7-75, Centro CEP: 17015-041 Bauru SP Fone: 14-3313-7383 [email protected] 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE BAURU - SP. Interdito Proibitório Proc. nº 2086/2009 ROQUE JOSÉ FERREIRA, brasileiro, casado, professor e vereador, com endereço para comunicações processuais na Praça Dom Pedro II, nº 1-50, Centro, Bauru-SP, regularmente inscrito no Registro Geral da Secretaria de Segurança Pública sob número 9.656.049 e, no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda, sob nº 708.646.168-72, por seu advogado que esta subscreve, com endereço profissional indicado no instrumento de mandato, CONTESTAR a ação proposta, interdito proibitório, proposto por CENTROVIAS SISTEMAS RODOVIÁRIOS S/A, devidamente qualificada em fls., na inicial, pelos fatos e fundamentos adiante expostos:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

CÍVEL DA COMARCA DE BAURU - SP.

Interdito Proibitório

Proc. nº 2086/2009

ROQUE JOSÉ FERREIRA, brasileiro,

casado, professor e vereador, com endereço para comunicações

processuais na Praça Dom Pedro II, nº 1-50, Centro, Bauru-SP,

regularmente inscrito no Registro Geral da Secretaria de

Segurança Pública sob número 9.656.049 e, no Cadastro de

Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda, sob nº 708.646.168-72,

por seu advogado que esta subscreve, com endereço profissional

indicado no instrumento de mandato, CONTESTAR a ação proposta,

interdito proibitório, proposto por CENTROVIAS – SISTEMAS

RODOVIÁRIOS S/A, devidamente qualificada em fls., na inicial, pelos

fatos e fundamentos adiante expostos:

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QUANTO A TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE DEFESA

O TJSP suspendeu os prazos processuais,

através do provimento nº 1713/2009, cuja redação é a seguinte:

Suspensão dos Prazos Processuais - TJSP - Provimento

nº 1713/2009

TJ-SP SUSPENDE PRAZOS PROCESSUAIS NO FINAL DO ANO

Provimento nº. 1.713/2009 O CONSELHO SUPERIOR DA

MAGISTRATURA, no uso de suas atribuições regimentais,

CONSIDERANDO a necessidade de manter o atendimento à

população e a continuidade da prestação jurisdicional,

nos termos do artigo 93, XII, da Constituição Federal;

CONSIDERANDO o disposto na Resolução nº. 8 do

Conselho Nacional de Justiça, a respeito do expediente

forense no período natalino, RESOLVE: Artigo 1º - Ficam

suspensos os prazos processuais no período

compreendido entre 21 de dezembro de 2009 e 06 de

janeiro de 2010. Parágrafo único - A suspensão não obsta

a prática de ato processual de natureza urgente e

necessário à preservação de direitos. Artigo 2º - Nesse

período é vedada a publicação de acórdãos, sentenças,

decisões e despachos, bem como a intimação de partes ou

advogados, na Primeira e Segunda Instâncias, exceto com

relação às medidas consideradas urgentes e aos processos

penais envolvendo réus presos, nos processos

correspondentes. Artigo 3º - Este Provimento entrará em

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vigor na data de sua publicação. São Paulo, 10 de

novembro de 2009. (a)ROBERTO ANTONIO VALLIM

BELLOCCHI Presidente do Tribunal de Justiça (a)JOSÉ

GERALDO BARRETO FONSECA Vice-Presidente do Tribunal

de Justiça em exercício (a)ANTONIO LUIZ REIS KUNTZ

Corregedor Geral da Justiça (a)ANTONIO AUGUSTO

CORRÊA VIANNA Decano do Tribunal de Justiça em

exercício (a)ANTONIO CARLOS VIANA SANTOS Presidente

da Seção de Direito Público (a)LUIZ ANTONIO RODRIGUES

DA SILVA Presidente da Seção de Direito Privado

(a)EDUARDO PEREIRA SANTOS Presidente da Seção

Criminal

Assim tendo sido comunicado da ordem no

curso do lapso temporal constante do provimento, o prazo para

apresentação de defesa apenas iniciou-se em 07/01/2010, razão pela

qual a presente é tempestiva.

SÍNTESE DOS FATOS DESCRITOS NA INICIAL

A Requerente, sustentando sua condição de

concessionário de serviço público, ajuizou INTERDITO PROIBITÓRIO

em relação ao Requerido, narrando em sua exordial que este está

anunciando publicamente a realização de invasão das praças de

pedágio administradas pela Autora, consoante faz prova, segundo

sustenta, uma matéria jornalística datada de 16 de dezembro de

2009, onde é difícil identificar o veículo de informação, com o que

sustenta satisfatório a provar o alegado, qual seja o justo receio que

existiria data não conhecida para invasão.

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Esse R.Juízo entendeu suficiente a prova

apresentada e, com ela, deferiu medida liminar para que o requerido

abstenha-se de causar tumultos nos bens administrados pela autora,

com qualquer ocupação e/ou bloqueio das rodovias integrantes do

Sistema Rodoviário, das praças de pedágio, acostamentos, faixas de

domínio, acessos, refúgios, postos de atendimento, balanças, demais

instalações, etc. Descrevendo as advertências de estilo, fixou a multa

cominatória, sanção civil que se realiza no caso de descumprimento

da ordem exarada.

O Juízo considerou, portanto, que o Requerido

teria de fato proposto e assumido a tarefa de organizar a ocupação da

rodovia em questão, bem como, que estaria realmente criando

embaraços para a posse da Requerente. Na defesa serão abordados os

tópicos da inicial que, de forma cristalina conduzirão o Juízo a outra

reflexão acerca dos fatos aqui discutidos.

Assim, pretende a requerente o deferimento

da tutela possessória na espécie.

Na realidade os fatos e fundamentos são

distintos como se verá a seguir:

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

da impossibilidade jurídica do pedido

As sanções presentes no ordenamento

jurídico podem ser de natureza civil ou penal, como se sabe.

Ao se manejar um instrumento de tutela

possessória tem-se por objetivo a fixação de uma sanção civil para o

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caso de descumprimento. Eventualmente essa sanção pode se

colocar, também, na esfera penal.

O próprio processo, quando ao fim chega,

contém sanções civis, posto que as custas e honorários representam

ônus à parte.

É assim que o artigo 20 do CPC adotou

ordinariamente o critério da "sucumbência" para a atribuição da

obrigação pelo encargo definitivo do processo e pelos honorários

advocatícios. A premissa vem de Chiovenda: o processo deve

propiciar a quem teve a razão reconhecida em juízo a mesma situação

econômica que a parte obteria se as obrigações discutidas tivessem

sido respeitadas sem a instauração de processo algum. Vale dizer: a

vitória deixa de ser integral se a quem venceu for permitido suportar

gastos para vencer. O princípio da restitutio in integrum é visível

neste ponto.

É incontroverso que o Requerido discursou

sobre o descalabro praticado pela Requerente, que comprometeu

seriamente o Parque Zoológico de Bauru, cartão de visitas da cidade

que goza de reconhecimento nacional e internacional, bem como, o

pouco que resta de mata de cerrado na região. Nessa oportunidade,

manifestou seu apoio ao diretor daquela instituição, o zootecnista

Luis Pires, figura de renome igual ou superior a instituição que dirige,

que, antes, e isso é de extrema relevância, descreveu um calvário de

iniciativas frustradas para que a Requerente corrigisse os danos

causados, se é que isso é possível. Nessa manifestação, o Diretor do

Zoológico relatou, inclusive, autuação por parte dos órgãos

ambientais.

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Foi essa apresentação, feita na Sessão 46ª de

2009, cuja transmissão em áudio e vídeo encontra-se em anexo a

presente defesa, que motivou o Requerido, na mesma Sessão e da

Tribuna da Câmara, no exercício de suas funções como vereador,

proferir manifestação de solidariedade em relação ao Diretor do

Zoológico e crítica a conduta irresponsável, na perspectiva jurídico-

social, da Requerente.

Na manifestação de solidariedade resta claro e

cristalino que não há nenhuma pretensão de apossamento nem

mesmo perturbação da posse. Se os órgãos de imprensa, ainda que

sempre respeitáveis, divulgaram a afirmação em outro contexto, bem,

a isso não se pode atribuir ao Requerido nenhuma responsabilidade.

Mas ainda que tivesse assim se manifestado,

não se pode desconsiderar alguns aspectos, inclusive o

constitucional. O Poder Constituinte forneceu aos Vereadores, no

exercício de suas atividades, imunidade parlamentar em sentido

material, consoante previsão inserta no artigo 29, VIII, da

Constituição Federal.

O Supremo Tribunal Federal1, apreciando a

matéria assim se posiciona acerca do instituto:

“A Constituição da República, ao dispor sobre o estatuto

político-jurídico dos Vereadores, atribuiu-lhes a

prerrogativa da imunidade parlamentar em sentido

material, assegurando a esses legisladores locais a

garantia indisponível da inviolabilidade, „por suas

1 http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp, acesso em 11.01.2010.

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opiniões, palavras e votos, no exercício do mandato e na

circunscrição do Município‟. Essa garantia

constitucional qualifica-se como condição e instrumento

de independência do Poder Legislativo local, eis que

projeta, no plano do Direito Penal, um círculo de

proteção destinado a tutelar a atuação institucional dos

membros integrantes da Câmara Municipal. A proteção

constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política

estende-se – observados os limites da circunscrição

territorial do Município – aos atos do Vereador

praticados ratione offici, qualquer que tenha sido o

local de sua manifestação (dentro ou fora do recinto da

Câmara Municipal).” (HC 74.201, Rel. Min. Celso de

Mello, julgamento em 12-11-06, 1ª Turma, DJ de 13-12-

96). No mesmo sentido: AI 698.921-AgR, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, julgamento em 23-6-09, 1ª Turma, DJE de

14-8-09.

“O texto da atual Constituição, relativamente aos

Vereadores, refere à inviolabilidade no exercício do

mandato e na circunscrição do Município. Há

necessidade, portanto, de se verificar a existência do

nexo entre o mandato e as manifestações que ele faça

na Câmara Municipal, ou fora dela, observados os

limites do Município. No caso, esses requisitos foram

atendidos. As manifestações do paciente visavam

proteger o mandato parlamentar e a sua própria honra.

Utilizou-se, para tanto, de instrumentos condizentes

com o tipo de acusação e denunciação que lhe foram

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feitas pelo Delegado de Polícia. Ficou evidenciado que as

referidas acusações e ameaças só ocorreram porque o

paciente é Vereador. A nota por ele publicada no jornal,

bem como a manifestação através do rádio, estão

absolutamente ligadas ao exercício parlamentar.

Caracterizado o nexo entre o exercício do mandato e as

manifestações do paciente Vereador, prepondera a

inviolabilidade. Habeas deferido.” (HC 81.730, Rel. Min.

Nelson Jobim, julgamento em 18-6-02, DJ de 1º-8-03)

De outro lado, a doutrina discute o instituto

da seguinte forma:

“ A imunidade material dos membros do Poder

Legislativo abrange a responsabilidade penal, civil,

disciplinar e política, pois trata-se de cláusula de

irresponsabilidade geral de Direito Constituiconal

material.

Dessa forma, em conclusão são requisitos

constitucionais exigíveis para a caracterização da

inviolabilidade do vereador:

Manifestação de vontade, através de

opiniões, palavras e votos;

Relação de causalidade entre a

manifestação de vontade e o exercício do

mandato, entendida globalmente dentro da

função legislativa e fiscalizatória do Poder

Legislativo e independentemente do local;

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Abrangência na circunscrição do

Município.2

Certamente que a manifestação do Requerido

preenche as três condições, é manifestação de uma opinião, qual seja

aquela que se materializa na necessidade de exposição pública da

Concessionária pelos movimentos sociais que tenham como

finalidade a defesa ambiental; existe uma relação de causalidade

entre essa manifestação e o exercício do mandato, consubstanciada

na defesa do patrimônio ambiental da cidade; atividade fiscalizatória

do parlamentar e a abrangência municipal frente ao prejuízo causado

ao zoológico local. Ou seja estão caracterizadas as condições para

que se verifique a imunidade parlamentar. Tudo na remota hipótese

de que essa manifestação represente uma incitação pública a atos

atentatórios ao ordenamento jurídico.

Ou seja, mesmo que Roque tivesse proposto

de forma expressa a ocupação, marcando dia e hora para tanto, não

seria pertinente a tutela possessória, com fixação de sanções civis,

principalmente com condenação em custas e honorários, se o

vereador extrapola suas funções caberia, isto sim, a instauração de

processo de cassação do mandato pelo próprio Legislativo.

Contrariamente a essa conclusão, encontramos a impossibilidade

jurídica do pedido, posto a observância da independência e harmonia

entre poderes, fundamento da ordem constitucional.

A possibilidade jurídica do pedido é a

possibilidade do direito, em tese, ser acolhido. Propor ação contra

manifestação proferida contra vereador por manifestação na Tribuna

2 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19ª Ed. – São Paulo: Atlas, 2006. p.262/263.

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da Câmara que lhe resulte em sanção civil é juridicamente impossível

frente a imunidade descrita no texto constitucional. Frise-se que se a

imunidade atinge a esfera penal, onde se tutelam bens de muito

maior valoração social, certamente que atinge o menos, quais sejam

os bens e direitos tutelados pelo direito privado.

Mais, também fere a liberdade de

manifestação do pensamento, tal qual passada no artigo 5º, quarto

inciso, da Constituição Federal. Neste sentido3

Ora, a livre manifestação do pensamento implica, à

evidência, o direito de expor as próprias convicções,

mesmo que de possível contestação pelos que pensam

diferente. Assim, na medida em que estas convicções são

levadas àqueles que são favoráveis a elas como forma

de fortalecê-las, não há por que os que delas não

comungam outorgarem-se o direito de silenciá-las, visto

que não lhes são dirigidas.

O autor do parecer acima ainda transcreve em

nota de rodapé de seu texto que “o Superior Tribunal de Justiça

afastou, com base nos referidos dispositivos, parte da lei de imprensa,

que proíbe a livre manifestação do pensamento: “Constitucional e

processual penal. Lei de Imprensa. Ação penal. Trancamento. 1. A

Constituição considera livre a manifestação do pensamento, proíbe o

3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO - INTELIGÊNCIA DOS INCISOS IV, VI, VII E IX DO ARTIGO 5º

DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - A CORRETA EXEGESE DE REPÚDIO AO “DISCURSO DO

ÓDIO” - PARECER (Publicada no Juris Síntese nº 78 - JUL/AGO de 2009) Ives Gandra da Silva

Martins Professor Emérito da Universidade Mackenzie em cuja Faculdade de Direito foi Titular

de Direito Econômico e Constitucional.

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anonimato, e assegura o direito de resposta, a inviolabilidade da

intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, o que

derroga a chamada Lei de Imprensa, a qual continua em vigor naquilo

em que não contraria a Carta Magna. 2. Ordem indeferida de

trancamento de diversas ações penais, que se mantém” (STJ, RHC

3296/SC, 5ª T., Rel. Min. Jesus Costa Lima, Decisão: 15.12.1993, DJ I

21.02.1994, p. 2180).

O que o requerido fez foi manifestar uma

opinião, na qual a única forma de fazer com que a requerente

deixasse de praticar seus atos de negligência ambiental era a

ocupação das praças de pedágio. Isso é manifestação do pensamento

e mais, proferida da Tribuna da Câmara. Insiste-se, se a imprensa

dimensionou de outra forma, tal fato não enseja a proteção

possessória invocada.

Neste sentido manifestação do Supremo

Tribunal Federal em sentido similar:

"(...) o simples fato de a paciente participar de

programa televisivo, discorrendo sobre o quadro

empírico do crime de latrocínio a que foi condenada,

não tem a força de justificar a respectiva segregação

cautelar. Pelo que tenho como inidôneo o fato

superveniente, apontado pelo Juízo-processante da

causa para a decretação da custódia provisória. Ainda

mais – repito – quando esse fato não passou de uma

entrevista concedida a emissora de televisão, ocasião

em que a paciente simplesmente manifestou a sua

própria versão sobre os fatos delituosos.

Autodefendendo-se, portanto. Com efeito, entendo que

as palavras proferidas pela paciente em entrevista

jornalística se traduziram no exercício do direito

constitucional à „livre manifestação do pensamento‟ (...)

e de autodefesa, a mais natural das dimensões das

garantias constitucionais do contraditório e da ampla

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defesa (...). A significar, então, que o legítimo exercício

do direito subjetivo à exteriorização do pensamento,

conjugado com as garantias constitucionais do

contraditório e da ampla defesa (...), não pode

justificar, isoladamente, a decretação da custódia

preventiva." (HC 95.116, voto do Rel. Min. Carlos Britto,

julgamento em 3-2-09, 1ª Turma, DJE de 6-3-09)

É, sem dúvida, pedido juridicamente

impossível que, contrariando ao menos três dispositivos

constitucionais, merece ser desconsiderado e a ação extinta sem

julgamento de mérito.

Inépcia Da Inicial – Ausência De Caracterização Da

Área

Ao examinarmos os termos em que se

encontra redigida a petição inicial, constatamos, com relativa

facilidade, a inexistência de uma descrição física completa da faixa de

terreno que o autor entende ser possuidor e qual pretende tutelar.

Neste sentido:

AÇÕES REAIS. Reintegração de posse. Reivindicatória.

Caracterização do bem litigioso.

Tanto nas possessórias como nas petitórias é

indispensável descrever com precisão na petição inicial

a área litigiosa, sob pena de invibializar o processo por

imprecisão do objeto.

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“Nas ações reais ou reipersecutórias, como acontece

tanto nas reivindicatórias como nas reintegratórias, a

individuação do bem litigioso é indispensável, sob pena

de tornar-se inexeqüível a sentença que,

eventualmente, venha a acolher o pedido do autor.

Nessa ordem de idéias, tem-se decidido que “nos

interditos possessórios é indispensável descrever a

área onde se mantinha a posse exclusiva, pois a

contenda gira em torno do poder de fato, que se

reveste na exteriorização da propriedade” (TAMG, Ac.

In “Julgados”, 7/240; no mesmo sentido: TJSC, in “RT”,

548/215).

E são, igualmente, reiterados os acórdãos que

proclamam não ser possível reivindicar-se “área indeterminada”(“RT”

492/69), pelo que “na ação reivindicatória, a individuação arbitrária

do imóvel e a insuficiência dos títulos de domínio, por si só,

autorizam a improcedência do pedido”(TJRS in “Rev. Forense”,

224/167).

No caso dos autos, o autor não apresenta a

área exata na qual se funda sua pretensão, sem identificar

convenientemente as áreas que o Requerido estaria ameaçando!

O prosseguimento da ação, a partir de petição

inepta, é de fato inviável, por falta de pressuposto processual” (sem

grifos no original) (Ac un da 2ª Turma do Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais Apelação nº 64.369 Relator-Desembargador

Humberto Theodoro Júnior, julgado em 28.06.1984)

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POSSESSÓRIA. Petição inicial. Caracterização do imóvel.

Nas ações possessórias não basta descrever apenas as

confrontações, mediante nomeação dos proprietários

dos terrenos confinantes, mas é evidente a necessidade

de individuar precisamente a coisa.

“No entanto, a inicial não descreve qual a área

invadida, nem tampouco mostra onde deveria ser

colocada, com propriedade, a questionada cerca

divisória.

Ora, para pretender-se a reintegração urge individuar,

com precisão, a gleba espoliada, pois, do contrário, o

pedido é inepto e a eventual sentença que o acolhesse

seria inexeqüível.

Parece-me lógico que não se conhecendo as divisas

exatas da própria posse, não há como determiná-las

num mero interdito possessório, cujo requisito

fundamental é justamente a certeza da posse do

promovente.

Exata, portanto, a lição de Lopes da Costa, lembrada no

memorial dos apelados, segundo a qual nas ações

possessórias não basta descrever apenas o que se

chama confrontações, indicação dos proprietários dos

terrenos confinantes, mas é evidente a necessidade de

individuar precisamente a cousa, de modo a tornar

possível a verificação da posse (Jurisprudência Mineira

4/383).

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Imperativa a completa descrição da área. Sem

ela a petição é inepta e o feito deve ser extinto sem julgamento de

mérito

Também no mérito a ação improcede.

NO MÉRITO

Inicialmente, reiteram-se todos os argumentos

e fundamentos acima que, caso Vossa Excelência entenda

transpostos, também podem justificar a extinção do processo com

julgamento de mérito de forma favorável ao Requerido.

Assim, encontra-se imune o Vereador por suas

manifestações na Tribuna do Legislativo, seja na esfera penal, civil ou

mesmo disciplinar se profere manifestação no exercício de suas

atribuições enquanto edil; a tutela jurisdicional invocada nesse marco

ofende a independência e harmonia entre poderes e, o Requerido

apenas estava no pleno exercício de mais de um direito fundamental.

Nesse diapasão, ao solidarizar-se com o

Diretor do Parque Zoológico Municipal que, fazendo uso da Tribuna

da Câmara, como se verifica nas imagens anexadas, as quais desde já

se requer a degravação por perito judicial, comentou informações e

discutia os atos praticados pela Requerente. Todos de pouca atenção,

e porque não dizer, com quase indiferença, para com a dimensão do

problema, destruição de vegetação de cerrado e comprometimento

das atividades do Parque, reconhecido internacionalmente, e que é

um dos grandes cartões de visita do Município, o Vereador proferiu

discurso de critica a conduta da concessionária e a ausência de sua

responsabilidade ambiental.

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Assim, manifestou o que, no seu ponto de

vista e também na Tribuna da Câmara, deveria se materializar

enquanto reação da sociedade para que preservasse um bem de valor

inestimável dos cidadãos bauruenses e de difícil reparação.

Assim fazendo proferiu discurso que pode ser

analisado na degravação, onde em linhas gerais, e efetivas, disse:

“...parabenizar o Luis Pires pela exposição que fez aqui

em relação ao nosso zooloógico municipal ... solidarizar

com a indignação dele...existe insensibilidade da

centrovias em atender a reinvindicação..e fazer aquilo

que e sua obrigação de fazer... que forma poderíamos

pressionar a centrovias... e se a população de Bauru e

região tiver consciência do Parque Zoológico... quem

sabe a gente possa discutir e organizar a ocupação das

praças de pedágios... para que mexendo no bolso da

Centrovias... pode mexer nacionalmente com a imagem

da Centrovias discutir com você e outros atores sociais

Note-se, não deduziu proposição de ocupar ou

invadir, disse que, hipoteticamente, a violência da concessionária

poderia ser rebatida com ação social contrária que iria expor a

imagem dela enquanto responsável por gigantesca violação ao

patrimônio ambiental do município. Critica que esta medida judicial

pretende, em verdade, calar.

Não disse que iria fazer, utilizou a expressão,

“quem sabe”? ou seja, apenas discorreu acerca de uma possibilidade

hipotética, onde entendia que os atores sociais, preocupados e

envolvidos diretamente nessa temática, poderiam se utilizar

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enquanto tática de exposição nacional e internacional dos atos

praticados pela Concessionária que, de forma visível, vem

comprometendo o Meio Ambiente local com incontáveis danos sem

que as autoridades e em particular o poder concedente tomem outra

atitude que não a celebre postura de fazer “ouvidos de mercador”.

A mera hipótese não autoriza um interdito,

sob pena de banalização do instituto. É apenas uma suposição,

antecedida devidamente da locução “quem sabe”.

Ou seja, não há que se falar em perturbação

ao direito do possuidor, ou mesmo, tutela possessória, posto que não

foram essas as assertivas lançadas pelo Requerido. Tratava ele isto

sim, do livre exercício do direito de crítica, sem pretender a turbação

possessória.

Além disso a requerente é detentora da posse

da área física da planta, bem como sobre os bens nela adicionados. A

moderna teoria possessória interessa-se por identificar o fim sócio

econômico da destinação dos bens4

, ultrapassando as concepções

primitivistas, pelas quais se debatiam objetivistas e subjetivistas,

visualizando a posse como mera exteriorização da propriedade.

Assim, ao identificar-se o fim socioeconômico

da destinação dos bens, indubitavelmente, constata-se que a

Requerente detém, em última análise, capital, voltado para a

exploração econômica da rodovia. Tratando-se desse processo, a

utilização do bem em questão se dá pelos usuários que em última

análise são os reais possuidores da rodovia. É desse fundamento que

se alimenta o nosso sistema republicano, quando constitucionalmente

4 FIGUEIRA JR., Joel Dias, in Liminares nas ações possessórias, 2ª ED., Editora RT:

São Paulo, p. 64.

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se indica, entre outros, os direitos fundamentais de manifestação do

pensamento.

- Passados mais de duzentos anos desde a

Revolução Francesa, a exclusividade do ideal individualista liberal

construído pela contra-revolução burguesa já conheceu seu Waterloo

em quase todo o mundo. O que acontece com o nosso direito? Pôr que

a relutância em absorver a viragem evolutiva? Neste século a iniciar,

soa no mínimo desconfortável ignorar os avanços conquistados pelos

movimentos sociais, em âmbito mundial, cristalizados hodiernamente

nas regras de nosso texto constitucional democrático. Mesmo que se

organizasse uma manifestação no local, e diga-se por uma causa mais

que justa e reconhecida internacionalmente, que risco correria a

posse das praças de pedágios? Em nenhum momento se cogita que o

Requerente fosse lá permanecer, para o que?

Aliás, patente o verdadeiro propósito que

pretende a Requerente alcançar, com a contribuição do Judiciário,

trata-se da derrota de um movimento local de resistência contra a sua

irresponsabilidade ambiental.

Resta evidente o sofisma, parte-se da premissa

que a manifestação contrária aos atos da Requerente em

comprometer o meio ambiente local é um abuso de direitos, não o

exercício de um.

O que motiva a atitude empresarial é, na

verdade, a tentativa de impedir a mobilização social contra o

teratológico dano justamente no momento que ele se torna público

através da Câmara Municipal. É ai que se coloca a tentativa, até aqui

bem sucedida, de utilização do Poder Judiciário para este propósito.

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Os limites das ações possessórias, também,

foram ultrapassados, pois se estendeu a posse a logradouros

públicos e pessoas.

Note-se, o Requerido é parlamentar que teve

votação expressiva, representante popular devidamente autorizado. A

forma policial com que está sendo tratado denota uma

incompreensão deste papel e atribuições do parlamentar.

- A ação não merece prosperar porque não

existem indícios de perturbação da posse na documentação encartada

pelo requerente, contrariando dessa forma o disposto no artigo 927

do CPC, nesse sentido confira-se a lição da jurisprudência:

PROCESSO CIVIL – POSSESSÓRIA – Liminar de

manutenção deferida sem audiência da parte

contrária e sem prova suficiente de posse

anterior - Sacrifício dos princípios constitucionais

do contraditório e da ampla defesa - Alegação

fundada em suposta elasticidade de título

dominial sobre imóvel contíguo - Inexistência de

prova quanto à turbação ou quanto ao esbulho -

Situação fática merecedora de esclarecimento

mais profundo - Efeito suspensivo confirmado -

agravo provido. (TAPR – AI 0276032-1 – (231174) –

Maringá – 10ª C.Civ. – Rel. Juiz Paulo Roberto

Hapner – DJPR 18.03.2005)

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INTERDITO PROIBITÓRIO

AGRAVO DE INSTRUMENTO 20518 - Reg. 295

- 2ª C. - Rel. Juiz MIGUEL PACHA - J. 04.12.1980)

PRESSUPOSTOS.

No interdito proibitório o autor pleiteia uma

proibição. um veto. No mandado não há uma

ordem para que o réu faça alguma coisa, ou

preste algum fato, mas apenas uma proibição de

praticar violências ou atos turbativos da posse,

sob determinada pena. O possuidor que tenha

justo receio de ser molestado na posse, solicita ao

Juiz que o segure da violência. O pressuposto da

ação é o justo receio da ameaçada posse.

Presença dos pressupostos. Nega-se provimento

ao recurso.

(Ementário TACRJ 18/82 - Ementa 19351)

Onde ficaram demonstradas manifestações de

violência, pretensão de esbulhar ou turbar a posse, ou mesmo sinais

de tais atos? Certamente que não estão aqui presentes

Na realidade esse tipo de medida tornou-se útil para

aqueles que pretendem conter movimentos sociais desfavoráveis aos

seus interesses. É isso o que vem ocorrendo em movimentos grevistas

em empresas, aliás, o texto abaixo5

, ora transcrito, de autoria da

ANAMATRA(Associação Nacional da Magistratura Trabalhista) , indica

o seguinte:

5 http://www.amatra8.org.br/dg_proposta.asp. Acesso em 28/09/2005

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Para a Justiça do Trabalho a Greve dos Bancários é

legítima

A Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da

Justiça do Trabalho) manifestou nesta quarta-feira (29)

apoio à greve nacional dos bancários. O presidente da

entidade, Grijalbo Fernandes Coutinho, reuniu-se com o

presidente do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal,

Jaci Afonso, e com o advogado da CNB (Confederação

Nacional dos Bancários), José Eymar Louguercio, e deu

total apoio ao movimento da categoria. O diretor

Financeiro da Anamatra, Luciano Athayde, também

participou do encontro.

... " A Anamatra tem uma posição política de apoio à greve

dos bancários", disse Coutinho. O magistrado também

emitiu opinião sobre denúncia dos representantes dos

bancários de que a Justiça Comum estaria usando de

forma inadequada o instrumento do Interdito Proibitório

para tentar coibir a greve. "Não é a melhor maneira de se

resolver uma greve, sobretudo porque os interditos que

têm sido conferidos até agora acabam inviabilizando as

manifestações nas proximidades dos bancos e, muitas

vezes, são medidas apreciadas pelos juízes estaduais.

...O Interdito Proibitório é uma das grandes preocupações

que nós temos", disse Jaci Afonso. Logo após o encontro,

Grijalbo Coutinho divulgou nota pública a respeito da

greve dos bancários.

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A íntegra do documento é a seguinte

A Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da

Justiça do Trabalho), entidade que congrega mais de três

mil juízes, tendo em vista a greve nacional dos

trabalhadores em estabelecimentos bancários, vem a

público manifestar o seguinte: 1) Reconhece o direito de

greve dos bancários como o legítimo exercício de um

direito social fundamental, previsto na Constituição

Federal e próprio das sociedades democráticas, que não

deve sofrer, portanto, nenhuma ação capaz de limita-lo ou

inviabiliza-lo; 2) As deliberações dos congressos da

magistratura do trabalho (Conamats), reiteradamente, têm

propugnado pelo estabelecimento de uma maior

democracia nas relações entre o capital e o trabalho,

considerando como imprescindíveis, nesse cenário, a

regulamentação do artigo 7°, inciso I, da Constituição

Federal, capaz de proibir a dispensa arbitrária do

empregado, e o respeito ao direito de greve; 3) A

legitimidade do movimento ainda mais se revela quando

verificadas as perdas salariais da categoria nos últimos

anos, em contraste com a taxa crescente de lucratividade

dos bancos, que supera 1.000% nos últimos dez anos,

estampando o setor financeiro um lucro de quase R$ 15

bilhões somente no ano de 2003, segundo estimativas

recentemente publicadas; 4) Considera que o manejo de

ações de interdito proibitório pelos bancos não é, por sua

natureza possessória, o mecanismo judicial adequado

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para a solução de conflitos trabalhistas, sem desprezar o

fato de que compete à Justiça do Trabalho apreciar os

desdobramentos da paralisação, pois matéria afeta ao

conflito trabalhista e não ao direito de propriedade. Do

outro modo, entende que o movimento, em princípio, não

fere a Lei de Greve em vigor, na medida em que o

atendimento bancário no País está pulverizado em

milhares de correspondentes bancários, como lotéricas e

agências postais, além do que grande parte das

transações bancárias continua a ser normalmente

efetivadas pela internet e nas dezenas de milhares de

terminais eletrônicos; 5) Os Magistrados do Trabalho

esperam que as negociações sejam reabertas e que as

partes, de comum acordo, encontrem uma solução

negociada para atender às suas expectativas, bem assim

às de toda a sociedade brasileira. Brasília, 29 de setembro

de 2004. Grijalbo Fernandes Coutinho Presidente da

Anamatra.(grifos nossos)

O efeito do deferimento de interditos

proibitórios tem impedido o desenvolvimento do direito de greve e,

com isso, comprometido a posição reivindicatória de trabalhadores

em todo o País. Aqui se tem uma perigosa inovação, esta contraria a

manifestação de pensamento, direito de reunião, imunidade

parlamentar, dentre outros.

As análise do discurso do Vereador, insiste-se

não demonstra nenhum tipo de turbação ou risco de esbulho. Aliás,

nem conflito possessório está aqui presente. Ou se está

considerando que a manifestação, em si, assim se constitui? Só se

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poderia admitir tal caracterização para o caso de se considerar uma

abordagem absolutamente discriminatória com relação a alguns

direitos e preferencial e prontamente protetiva para outros.

Insiste-se, onde se evidencia a violência ou

ameaça a posse ? Note-se, tal evidência é da essência do interdito,

confira-se a lição de Carvalho Santos:

“O Código como se vê, restringe e

esclarece seu pensamento deixando patente que,

como justo receio só se entende aquele que se

refere à violência iminente.”

Ainda que se admitisse a ocupação como uma

violência, onde se sinaliza para tal fato ? Seguramente não é o

discurso proferido na Câmara. Não existe razão para a tutela

pleiteada. Mais uma vez, confira-se a lição da jurisprudência:

“POSSESSÓRIA – Interdito proibitório – Bloqueio

de portão de entrada de empresa por possível

greve – ameaça não provada – Justo receio

infundado – Necessidade de prova induvidosa

para não ferir a garantia constitucional do direito

de greve – Liminar cassada.

Ementa oficial: Interdito Proibitório. Ameaça e

Justo Receio. Tanto a ameaça como o justo receio,

pressupostos necessários ao interdito proibitório,

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devem ser suficientes comprovados para

concessão de liminar. A inexistência de qualquer

prova a sustentar a alegação do requerente

importa na inexistência da ameaça e em o receio

ser subjetivo e não basear em dados anteriores.

Direito de greve. A alegada ameaça e justo receio

de turbação de posse no exercício do direito de

greve deve ser induvidosamente comprovada para

que, a título de interdito, não se obscureça o

direito de greve, garantia constitucional. Agravo

provido.”( RT617/98)

- Tudo, em se admitindo que, na hipótese dos

autos, estivesse presente a pretensão de impedir o fluxo de veículos

ou mesmo conturbar o direito de ir e vir das pessoas. Na realidade

isso apenas se afigura na mente de quem, sem nenhum pudor, destrói

o pouco que resta de ambiente natural preservado.

Manifestações, como a do Requerido, apenas

expressam indignação e revolta, evidenciando a existência, apenas e

tão somente, de um protesto. Nele, onde se demonstra o risco de

esbulho e a turbação ? Novamente, não há pretensão do Requerido à

posse, elemento subjetivo indispensável ao aqui pretendido pela

Requerente.

- Mas, de fato há um indício. O preconceito. Este

se encontra expresso na petição inicial. Afinal, é ai que se usam

expressões que assemelham o Vereador com marginais. É necessário

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que as instituições estatais brasileiras encarem uma nova realidade

mais democrática, onde a ação do Parlamentar local é de fundamental

importância para a concretização dos objetivos da República.

- Outrossim, a mera exortação à

manifestações ou paralisações, não se confunde com qualquer

modalidade de perturbação de direitos. Nesse particular, confira-

se o julgado abaixo:

“GREVE – CONFIGURAÇÃO E

EFEITOS – Não constitui abuso, a exortação do

empregado para que seus colegas entrem em greve,

pois não passa de simples exercício da liberdade de

pensamento e expressão, que não é tolhida pelo

contrato de trabalho.”(TRT 2ª R. – Ac. 02890012845

– 1ª T. – Rel. Juiz José Serson – DOESP 14.02.1989)

Ainda, é de se concluir que o exercício do

direito de crítica, liberdade de opinião, exortação à práticas políticas,

liberdade de expressão, não se afiguram como espécies de cerceio ao

direito possessório, e, muito menos como cerceio a qualquer direito,

representam, isto sim, o pleno exercício de direitos individuais, e, no

caso, também e principalmente, os coletivos, marcas indeléveis do

exercício da cidadania.

No mesmo sentido mencionam, Luiz Alberto

David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior :

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Os direitos fundamentais não são absolutos. Isso

quer dizer que, por vezes, dois direitos

fundamentais podem chocar-se, hipótese em que

o exercício de um implicará na invasão do âmbito

de proteção de outro. É o que, vezes a fio, ocorre

entre o direito de informação e o de privacidade,

ou entre o direito de opinião e o direito à honra.

Nestes casos, a convivência dos direitos em

colisão exige a cedência recíproca.6

(grifo nosso)

Cedência recíproca significa a máxima

observância dos direitos em conflito, possibilitando que ambos

coexistam na realidade fática.

A manutenção da decisão liminar e a admissão

de eventual procedência em sede de sentença, é permissão ao

arbítrio, é fazer letra morta da Constituição, é negar-se a reconhecer

liberdades duramente conquistadas. Assim, constata-se a violação de

direito do Requerido.

Quando muito versaria o pedido sobre direito

pessoal, não amparado pelos interditos, nesse sentido confira-se a

jurisprudência:

6 Curso de direito constitucional/ Luz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior. – 5 ed.

rev. e atual - São Paulo:Saraiva, 2001. P. 83 e 84

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INTERDITO PROIBITÓRIO

(TACRJ - AC 49909 - (Reg. 1940) - 5ª C. - Rel. Juiz

ANAUDIM FREITAS - J. 27.05.1980)

INADMISSIBILIDADE NA PROTEÇÃO DE DIREITOS

PESSOAIS. Interdito proibitório. Inadmissibilidade

da proteção possessória a direitos pessoais. Se

mandado de segurança concedeu a ordem no

sentido de cessar obstáculo para realização de

Assembléia Geral de Associação. a matéria se

tornou coisa julgada entre as partes.

(Ementário TACRJ 02/82 - Ementa 18604)

Assim, rechaça-se a absurda pretensão

lastreada na ameaça à posse.

DO PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO

DO DESPACHO LIMINAR

Requer-se a Vossa Excelência a reconsideração

do decidido liminarmente, à partir da ponderações acima descritas e

diante do risco de ineficácia de uma improcedência, afinal a liminar

impede a ação parlamentar.

Leve-se em consideração um outro

componente nessa reflexão. A constatação que o aplicador das leis

também cria direito. Ao decidir, o julgador escolhe entre alternativas,

e isso não é reconhecer o direito, é criá-lo.

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O monopólio legislativo não é tão preciso,

neste sentido a sempre pertinente observação de Antonio Carlos

Wolkmer7

quando discorre:

[...] na realidade, tais premissas mencionadas são

inteiramente falsas, pois o Juiz possui papel bem

maior do que lhe é atribuído, exercendo

ideologicamente uma extraordinária e dinâmica

atividade recriadora. O monopólio legislativo, em

matéria de elaboração e fixação do Direito, é pura

falácia; uma nova concepção que melhor valorize a

força das decisões judiciais deve dar lugar ao

dogmatismo do positivismo exegético. O Juiz é

soberano na esfera de ação em que atua, podendo,

por si mesmo, estabelecer as normas e as regras de

aplicação necessárias. A atitude do Juiz, em relação

à lei, não se caracteriza jamais pela passividade

nem tampouco será a lei considerada elemento

exclusivo na busca de soluções justas aos conflitos;

a lei consituti em um outro elemento, entre tantos

que intervêm no exercício da função

jurisprudencial.

O Judiciário constrói o direito também na

visão de Luis Fernando Coelho8

, assim como o jurista, confira-se:

7 Ideologia, Estado e direito. 4.ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2003, p. 186.

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[...] a produção normativa não é monopólio do

legislador, mas ocorre em todos os estratos da

atividade jurídica, aí incluído o plano jurisdicional,

ou seja, o direito é também criado pelo juiz, como

pelo jurista em seu trabalho hermenêutico.

Há, também, em sua opinião, uma decorrência

desse exercício, que é o segundo momento, acerca da:

[...] conscientização do papel do jurista na

sociedade; não o de zeloso defensor da ordem

social, nem intérprete e aplicador das normas que a

regulam. Mas o de construtor da sociedade, um

cientista, um técnico cuja obra se manifesta por

seus resultados, a sociedade9

.

Ainda sobre o direito enquanto construção

social, Luiz Fernando Coelho ressalta:

[...] o construído é aquilo que o jurista obtém em

razão de seu procedimento formal de elaboração de

conceitos, e não se confunde, no pensamento do

autor, com a técnica jurídica particular legislativa e

8 Teoria crítica do direito. 2.ed. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p. 111/112.

9 Luis Fernando Coelho. Teoria crítica do direito, p. 111/112.

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jurisdicional, por exemplo. Trata-se de uma técnica

geral, por meio da qual o jurista molda os dados de

maneira a fazê-los corresponder às necessidades

sociais10

.

Quanto ao papel desempenhado pelo direito

enquanto crítica social, aduz11

:

[...] trata-se em suma de reconhecer a função

política do direito, ou seja, desmistificar a

separação entre o saber jurídico e o político, pois

ambos se integram na mesma práxis, quando

vislumbrados do ponto de vista instrumental de um

princípio de construção do social e não da mera

descrição de suas relações juridicamente normadas.

Assim, no acesso à justiça substantiva, aquela

que permite o pleno exercício dos direitos fundamentais, ressalta-se a

importância do Judiciário, tanto em garanti-la, quanto em temível

obstáculo.

Assim, a tarefa das instituições estatais, em

particular o Judiciário em assegurar a dita cidadania, sendo esta a

tarefa de todas as instituições, que afinal integram o Estado,

garantindo o mínimo da existência, o patrimônio jurídico mínimo de

10

Ibid., mesma página.

11 Id. Ibid., p. 124.

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cada ser humano. Base para isso, a Constituição Federal forneceu,

resta, às instituições, romper com esse passado de abandono.

Assim, ao Judiciário cumpre importante papel

de efetivador/normatizador dos direitos fundamentais enquanto

outra forma de se assegurar o acesso à justiça. Portanto, insiste-se na

reconsideração da decisão que concedeu a liminar deferida, para que

se efetivem os direitos fundamentais a sua plenitude.

DO PEDIDO

Requer-se, antes de tudo, que Vossa Excelência

reconsidere a decisão concessiva da liminar, revogando-a, nos termos

da fundamentação acima desenvolvida e, após que seja a presente,

para requerer o acolhimento das preliminares suscitadas, para que

seja extinto o presente, sem a apreciação do mérito e, nele, que seja

declarada a improcedência da ação, nos termos da fundamentação

supra, condenando-se o requerente ao pagamento de custas,

honorários advocatícios e demais consectários legais.

Prequestiona-se, expressamente, a aplicação

dos artigos do texto Constitucional mencionados na defesa, bem

como, os demais dispositivos legais.

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33

Promove-se, também, a impugnação dos

documentos juntados pela empresa, com já descrito ao longo da

exordial.

Protesta provar o alegado por todos os meios

de prova em direito admitidos, em especial o depoimento pessoal do

representante legal do autor, sob pena de confesso, oitiva de

testemunhas a serem oportunamente arroladas, na forma do art. 931

do CPC, juntada de novos documentos, perícias, aqui em especial a

degravação do dvd anexo, com transcrição, em especial as

declarações do Diretor do Zoológico Municipal e do Requerido, sendo

que o discurso causador da polêmica encontra-se a 1h, 19min e 47

seg, enquanto o primeiro logo no inicio do vídeo, vistorias judiciais e

outras necessárias à devida elucidação dos fatos.

Pede também a concessão ao Requerido da

gratuidade da Justiça por manifestar, expressamente, através de seu

advogado que não possui condições de demandar sem prejuízo de

seu próprio sustento, sendo ferroviário e utilizando-se dos subsídios

parlamentares para o exercício do mandado.

Termos em que,

P. Deferimento.

Bauru, 20 de janeiro de 2010.

Sérgio Luiz Ribeiro

OAB/SP 100.474