Os radiojornalistas
PAULO MARCOS
Os radiojornalistasO pensamento e o perfil dos produtores de
notícias da Região Sisaleira da Bahia
UNEB - Universidade do Estado da Bahia
(CC) 2009 Paulo Marcos
Pesquisa, textos e edição: Paulo MarcosDesing gráfico (capa e capítulos): Márcio MendesSupevisão para editoração: Kleuber CedrazEditoração: Paulo MarcosImpressão: Nossa Gráfica EditoraFormato: 14 X 21Papel: 75 g.Capa: Papel Cochê 230Orelha: Sim
Ficha Catalográfica - Bibliotecário Roberto Freitas
BPJCA - Biblioteca Professor José Carlos dos Anjos (UNEB)
S237 Santos, Paulo Marcos Queiroz dos
Os radiojornalistas: O pensamento e o perfil dos produtores denotícias da Região Sisaleira da Bahia. / Paulo Marcos Queiroz dosSantos. Conceição do Coité: o próprio, 2009.
160p. il.
Jornalismo-Entrevistas. 2. Reportagens. 3. Título
CDD 070.449
Agradecimentos
Meu professor/orientador é um cara tranquilo. Ele
chega cedo com livros, novas ideias e um bom papo. Senta-
se numa das cadeiras da biblioteca que está sempre movi-
mentada. Preocupado com o andamento do trabalho faz logo
aquela boa pergunta:
- E aí rapaz, como vão os textos?
- A semana foi muito boa. Muitas novidades - res-
pondi.
Quem circula pelo Departamento de Educação do
Campus XIV da UNEB - Universidade do Estado da Bahia já
conhece o professor Jorge Soares, anda sorridente, disposto
a uma boa conversa, um conselho e fazer novas amizades.
Durante a pesquisa se empenhou bastante no acompanha-
mento semanal dos trabalhos e é parte integrante do resulta-
do;
Também sou grato ao antropólogo Márcio
Mascarenhas, pois gentilmente fez uma leitura mais atenta
dos textos, fez boas críticas e sempre me apoiou ao longo de
minha vida profissional;
Ao bibliotecário Roberto Freitas que também teve
importante papel neste trabalho ao sugerir e orientar na
formatação técnica;
À professora Carolina Ruiz, que tanto contribuiu na
elaboração do projeto de pesquisa e fez várias sugestões no
texto final;
Ao professor Tiago Sampaio, que assim como Jorge
e Carolina, também compôs à banca de avaliação e contri-
buiu com o resultado deste livro;
Ao professor Francisco de Assis, que ao longo dos
quatro anos foi grande apoiador dos meus trabalhos;
Agradeço também a kleuber Cedraz, Gilmara Portu-
gal, Meire Nunes, Adalício Ramos, Maria Dalva, Bruna San-
tos, Maria Queiroz (D. Lia), Del Feliz, Delma Nunes, aos ami-
gos, colegas, professores e parentes pelo incentivo e cola-
boração. Por fim, aos radialistas, funcionários e dirigentes
das rádios que facilitaram o acesso às informações e estarão
presentes em cada uma das páginas seguintes.
Muito obrigado!
“Pelo direito à palavra e apaixonado por rádio igual a
todo brasileiro”, Paulo Marcos
Para Odenice Queiroz dos Santos (Dene)
In memorian
Apresentação, 9
Introdução, 15
Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo, 18Região: o que é isso?, 23O rádio: popular e sempre, 20Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados, 26
CAPÍTULO 1Chegada do rádio na Região Sisaleira, 29
Difusora AM: a primeira rádio da região, 34Morena FM: 22 anos sem jornalismo, 35Regional AM: a menina dos olhos de Lomes, 36Sisal AM: o trono da família Rios, 38Jacuípe AM: muda de dono, mas não de objetivo, 41Rádios Comunitárias: a voz de quem só ouvia, 43Valente FM: não desiste nunca, 45Santa Luz FM: uma rádio premiada, 46Curso de Rádio e TV: a formação profissional, 49
CAPÍTULO 2Fazendo jornal pelo rádio, 53
Radiojornalismo: perfil e características na Região Sisaleira, 55
CAPÍTULO 3Tocando ética, 69
Profissão: a legislação e a prática, 71Terceirização: a falsa liberdade comprada, 79
CAPÍTULO 4Os radiojornalistas sisaleiros, 83
O radiojornalista poeta, 86
SUMÁRIO
Uma mulher em movimento, 92
Do sisal ao rádio: uma trajetória de sucesso, 96
Deus, Ferraz e o povo!, 100
O radialista professor: meio século de rádio, 106
Genivaldo: seu sobrenome é criatividade, 109
“O Bola de Ouro do rádio”, 113
Feliz é esporte nas ondas do rádio, 120
Da Capital Federal ao Sertão da Bahia, 125
Filho de radialista, radialista é, 130
Valdemi de Assis: do rádio para a Internet, 135
Ícone do rádio comunitário no Sertão, 139
CONCLUSÃO, 145
Cronologia histórica apresentada no livro, 151
Lista de imagens e créditos, 154
Referências Bibliográficas, 155
APRESENTAÇÃO
Este é o resultado de uma pesquisa fundamentada e
planejada para analisar o perfil e pensamento dos
radiojornalistas e não apenas a confecção de um livro sobre
a história de cada entrevistado. Esta é uma oportunidade,
em forma de reportagem, para entender como anda o
radiojornalismo neste pedaço de chão do Sertão baiano. O
projeto surge das ideias temáticas para a pesquisa de con-
clusão do meu Curso de Comunicação Social com habilita-
ção em Rádio e TV no Campus XIV da Universidade do Esta-
do da Bahia, mas principalmente das minhas inquietações
sobre o radiojornalismo da região a partir das várias experi-
ências que desenvolvi. Em 1997, comecei fazendo locução
na Rádio Comunitária Barreiros FM e no Serviço de Comuni-
cação “Voz da Sociedade Barreirense” do Distrito de Barreiros,
em Riachão do Jacuípe-BA, onde nasci, em 1982. Depois
atuei no Projeto Comunicação Juvenil e no Programa de Co-
municação do Movimento de Organização Comunitária entre
2002 e 2007. Atuei também nas rádios Barreiros FM, Arcos
FM, Sabiá FM, Sisal AM, Difusora AM, Regional AM e Jacuípe
AM, onde basicamente trabalhei com jornalismo.
Durante o curso de Rádio e TV, que iniciei em 2006,
identifiquei que não há estudos sobre a atuação dos
radiojornalistas na Região Sisaleira da Bahia, principalmente
10
sobre a produção de notícias para o rádio: e este é um dos
fatores importantes para entender como se dá o desenvolvi-
mento da comunicação na região. O radialista é um persona-
gem importante no estudo do rádio, mas ainda pouco valori-
zado nas pesquisas.
A proposta da pesquisa orientada pelo professor Jor-
ge Soares é avaliar, através da atuação e experiência dos
profissionais, se o radiojornalismo da região possui caracte-
rísticas que o diferencie da atividade de produção e divulga-
ção de notícias radiofônicas que se propõe nos manuais de
radiojornalismo; apresentar as características técnicas e hu-
manas dos radiojornalistas das principais emissoras de rádio
da região; analisar a relação dos comunicadores com a dire-
ção das emissoras; identificar as principais fontes e critérios
noticiosos dos radialistas; e observar como se dá o cumpri-
mento da legislação e dos tratados como Código de Ética e
Manual do Radialista dentro dos programas por eles produzi-
dos e/ou apresentados.
No primeiro capítulo Chegada do Rádio na Região
Sisaleira, há uma breve história, o perfil e elementos do fun-
cionamento de sete emissoras. São três FMs e quatro AMs:
Morena FM (Serrinha), Valente FM (Valente) e Santa Luz FM
(Santa Luz); Sisal AM (C. do Coité), Continental AM (Serrinha),
Jacuípe AM (R. do Jacuípe) e Regional AM (Serrinha).
No segundo capítulo do livro, Fazendo jornal pelo
rádio, mostro qual é o perfil dos programas jornalísticos da
região, através do olhar dos próprios radialistas, e as pers-
pectivas a partir de análises da prática de cada um.
11
No terceiro capítulo, Tocando ética, levanto uma dis-
cussão sobre os princípios éticos da atuação dos
radiojornalistas. Faço um breve relato e análise sobre os
Códigos, Leis, Manifestos e Convenções sobre o tema.
Penso que um estudo sobre a atuação dos profissio-
nais desta área poderá contribuir também com a formação
de novos radialistas servindo de fonte de pesquisas e para a
comunidade como meio de entender o outro lado do rádio,
que é a produção. É exatamente este o enfoque do quarto e
último capítulo deste livro. Estão presentes os principais per-
sonagens do rádio sisaleiro que atuam diretamente com o
jornalismo e o jornalismo-esportivo e que sem eles não acon-
teceria esta publicação.
Outra reflexão me direciona para a importância da
formação de profissionais da comunicação com consciência
crítica de sua área de atuação. Acredito que é conhecendo a
realidade em que se vive que o profissional poderá desenvol-
ver práticas cidadãs, se engajar nos processos de consolida-
ção da democracia e buscar a superação dos problemas eco-
nômicos, sociais e éticos dos quais tanto padece a popula-
ção da Região Sisaleira e do Brasil como um todo.
Boa leitura!
O autor.
Conceição do Coité-Bahia, dezembro de 2009.
13
Introdução
É hora de começar. Este é o momento de esclarecer
um pouco mais sobre o que estamos debatendo. Antes de
ligar o microfone e entrarmos direto no ar é preciso apresen-
tar o porquê de um livro-reportagem. Algumas pessoas po-
dem perguntar: por que não fazer uma monografia, um vídeo
ou um sítio na Internet? O fato é que o livro-reportagem me
chamou mais atenção, me aproximou mais do que eu sem-
pre quis. E como diz Belo (2006) é mais uma experiência na
faculdade.
Produzir um livro-reportagem não exige anos de re-
portagem em jornalismo. Tanto que muitas escolas superio-
res facultam a seus alunos essa opção de trabalho de con-
clusão de curso. Bem orientada essa é uma atividade que
garante ao formando um preparo extraordinário quanto a al-
guns dos principais aspectos da prática profissional, como
apuração, texto e edição. (BELO, 2006, P. 69)
O livro-reportagem dá mais liberdade de pensamen-
to e criatividade. Além disso, é preto no branco. Transformar
notícias, opiniões, comentários, informarções e notícias numa
grande reportagem.
Quando falei sobre notícia eu mesmo me perguntei:
– O que é notícia?
Com essa dúvida, surge o momento certo de chamar
quem entende. Na faculdade a gente chama de “voz autori-
17
zada”, pesquisadores, especialistas, acadêmicos, seja lá o
que for: é quem já tem experiência própria, já pesquisou a
área em questão.
É aí que surge Nilson Lage. O escritor tem uma obra
prima sobre o assunto. No livro A Reportagem: teoria e pes-
quisa jornalística, ele define que:
a notícia ganhou sua forma moderna, copiandoo relato oral dos fatos singulares, que, desdesempre, baseou-se, não na narrativa em seqüên-cia temporal, mas na valorização do aspectomais importante de um evento. (LAGE, 2006, P.18)
Sendo assim, vamos lá. Resolvi então, neste livro,
reportar relatos orais sobre o surgimento, desenvolvimento e
perspectivas do radiojornalismo na Região Sisaleira. É aí que
surge uma nova dúvida: o que é um livro-reportagem? Fui
buscar nas obras de Edivaldo Pereira Lima e Eduardo Belo
as respostas para essa dificuldade.
Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo
O livro-reportagem, segundo Belo (2006), tem dife-
renças do jornalismo praticado atualmente nas redações da
imprensa no Brasil, mas:
é apenas uma reportagem, passível de empre-gar exatamente o mesmo padrão técnico e deconduta, como se fosse publicada em qualqueroutro meio de informação. (BELO, 2006, P. 41)
18
Perfil e Retrato, estes são os modelos de livro-repor-
tagem propostos no projeto da pesquisa. O primeiro, segun-
do os estudos de Edivaldo Pereira Lima (1993), tem como
objetivo evidenciar o lado humano de uma personalidade
pública ou de uma personagem anônima (que por algum
motivo, torna-se de interesse). Ainda segundo Lima, seme-
lhante ao livro-reportagem-perfil, diferindo no objeto de análi-
se: ao invés de uma figura humana, o livro-reportagem-retra-
to focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade,
um segmento da atividade econômica e procura traçar o re-
trato do objeto em questão (elucidando seus mecanismos de
funcionamento, seus problemas, sua complexidade).
Basicamente é para isto que serve o livro-reporta-
gem – para estender o papel do jornalismo contemporâneo.
Este produto do jornalismo ultrapassa também as concep-
ções do jornalismo atual:
Tem potencial para assumir posturas experimen-tais. Tem pique suficiente, se trabalhado de for-ma adequada, para fazer nascer a vanguardade um jornalismo realmente afinado com as ten-dências mais avançadas do conhecimento hu-mano contemporâneo. (LIMA, 1993, P. 16)
E neste sentido, este livro-reportagem apresenta his-
tórias de vida, conceitos e experiências de profissionais que
atuam no rádio sisaleiro sob o enfoque da produção de notí-
cias. Logo, faz um retrato da profissão de radialismo na re-
gião, mas enfocando as práticas dos profissionais envolvidos
na pesquisa.
19
REGIÃO: o que é isso?
O conceito de Região Sisaleira aqui adotado englo-
ba dois Territórios Rurais de Identidade*, que foram definidos
pelo Governo Federal, entre 2003 e 2004: o Território do Sisal**
e o Território da Bacia do Jacuípe***. Antes de nos
aprofundarmos neste debate precisamos entender um pou-
co mais o que aqui é denominado de região. Para isso bus-
quei os conceitos de Durval Muniz de Albuquerque Júnior,
que no livro A Invenção do Nordeste diz:
ela [região] remete a uma visão estratégica doespaço, ao seu esquadrinhamento, ao seu re-corte e à sua análise, que produz saber. Ela éuma noção que nos envia a um espaço sob do-mínio, comandado. Ela remete, em última ins-tância, a regio (rei). Ela nos põe diante de umapolítica de saber, de um recorte espacial dasrelações de poder. Pode-se dizer que ela é umponto de concentração de relações que procu-ram traçar uma linha divisória entre elas e o vastocampo do diagrama de forças operantes numdado espaço. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2001,P. 25-26).
* Para saber mais sobre o processo de revelação dos territórios de identidade na Bahiaver o livro DIAS, Wilson José Vasconcelos. Territórios de Identidade: um novo caminhopara o desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Feira de Santana: Gráfica Modelo,2006.** Composto por Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité,Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia,Santa Luz, Serrinha, São Domingos, Teofilândia, Tucano e Valente (GOVERNO DA BAHIA,2009). Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15de Outubro 2009.*** Composto por Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ipirá, Mairí, Nova Fátima,Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São José do Jacuípe, SerraPreta, Vázea da Roça e Vázea do Poço. (GOVERNO DA BAHIA, 2009). Disponível emhttp://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009.
20
A professora Vilbégina Monteiro dos Santos, que tem
pesquisas em andamento, sobre o Território do Sisal, aponta
que:
A constituição do Território do sisal se faz a par-tir de uma comunidade imaginada, na qual suapopulação é chamada a valorizar as caracterís-ticas do clima, vegetação e do povo sisaleiro,positivando os estigmas a eles imputados. Essacomunidade é conclamada a partilhar os valo-res de luta e resistência promovidos pela socie-dade civil, tomando posições de sujeitos na histó-ria. Ao construir e pensar essa identidade comoestratégia política e cultural, esse território temconseguido reverter suas demandas emimplementação de políticas públicas que aten-dam aos interesses do lugar. (SANTOS, 2009,P. 20).
Ao longo dos anos nem sempre foi esse o discurso
empreendido no interior do Nordeste brasileiro como todo.
Na maioria das vezes, o Território do Sisal foi tratado apenas
como um lugar pobre e atrasado.
Nesta entrevista* Albuquerque Júnior disse que este
fator também teve o incentivo do rádio que, ao invés de con-
tribuir em debater as condições de desenvolvimento que o
lugar pode oferecer, acaba repetindo o discurso de
”pobrezinho” criado pelas elites dominantes:
* A entrevista aconteceu no dia 13 de outubro de 2009, no Centro Cultural deConceição do Coité, durante a participação do professor Durval Muniz deAlbuquerque Júnior no Seminário Diálogos Possíveis realizado pela UNEB.
21
P.M.: Professor, o rádio ajuda a manter esse discur-
so regionalista do Nordeste?
Albuquerque Jr.: O rádio em grande medida repro-
duz essas mesmas falas, esses mesmos enunciados sobre
a região, esse discurso da pobreza, esse discurso da
vitimização, esse discurso da discriminação, esse discurso
de que somos vítimas do Sul, somos vítimas do Estado, e
esse próprio discurso da homogeneização, ou seja, tratar a
região como se ela fosse homogênea, como se ela tivesse
os mesmos problemas, como se não tivesse divisões de clas-
ses no seu interior, como se não tivesse uma parte da popu-
lação que é rica; você fala da pobreza da região como se
todo mundo fosse pobre, quer dizer você fala da miséria como
se a miséria fosse uma realidade de todas as áreas e de
todos os grupos sociais da região, então, o rádio veicula mui-
to isso, né? Como veicula essa própria ideia da discrimina-
ção, de que o Nordeste é discriminado, quer dizer esse dis-
curso de vítima ele é o tempo todo reproduzido, né?
P.M.: Como mudar isso a partir das universidades que
acabam muitas vezes reproduzindo também este discurso?
Albuquerque Jr.: Exatamente fazendo uma crítica a
essas imagens, a esses discursos. Você fazer as pesquisas
que mostrem justamente essa diversidade da região, essa
realidade diversa, essa realidade que é em grande medida
desigual, mas que é uma realidade que está em desacordo
com essas falas, com esses discursos, com esses estereóti-
pos.
22
O rádio: popular e sempre
Dia de sol na Fazenda Morrinhos. Quase às 5h30 da
manhã e o rádio já está ligado. No meio do curral o vaqueiro
Hamilton “Grande” ouve as primeiras notícias do dia enquan-
to tira leite fresquinho para o café da manhã. Na cidade tam-
bém não é diferente. Logo cedo já tem gente de rádio ligado.
O fazendeiro Paulo “Velho” acorda cedo. Liga o carro, depois
o rádio e segue em direção à fazenda. Embora com atenção
marginal à transmissão, tanto o vaqueiro como o fazendeiro,
podem realizar atividades paralelas enquanto ouvem rádio
com certa facilidade e baixo custo. Para captar as emissões,
basta um simples receptor transistorizado que pode ser ad-
quirido por menos de R$ 5,00, em qualquer esquina de uma
cidade, onde tenha um camelô. Nessa facilidade toda teria
que ter algo para dificultar.
No Brasil tanto rádio como televisão depende de ou-
torga do governo federal, que tem o poder concedente*. No
caso das rádios comunitárias um processo pode levar até
dez anos, como é o caso da Santa Luz FM. Outra vantagem
que o rádio tem é que, em geral, a programação volta-se ao
município sede da emissora e sua região. Um exemplo disso
é a Morena FM, que embora esteja em mais de 100 municípi-
os, tem uma programação voltada para Serrinha e, no máxi-
mo, cinco ou seis municípios vizinhos.
* Constituição Federal, Capítulo V, da Comunicação Social, diz no Artigo 223,que “compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão eautorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observa-do o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”.
23
O advento das redes de rádio via satélite altera um
pouco esta realidade. As grandes cadeias de emissora têm
sede, na maioria dos casos, em São Paulo, com casos isola-
dos em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Na região, a Rádio 96.5 FM, de Riachão do Jacuípe,
repete a programação de rede com uma emissora de Salva-
dor, que começa a desenvolver a experiência na Bahia; as
demais emissoras geram seus próprios programas.
A versatilidade e agilidade do rádio fazem acontecer
transmissões diversas ao vivo, dependendo, geralmente, de
uma linha telefônica fixa ou móvel. Essa facilidade concede
ao rádio a capacidade de noticiar rapidamente o fato, poden-
do narrá-lo em paralelo à sua ocorrência e com baixo custo.
O radialista Milton Jung (2005; P. 62) defende que é preciso
entender o rádio como uma linguagem. Devido à sua
abrangência e pelas características que possui, o discurso
radiofônico deve ser: claro, preciso, conciso e usar com o
máximo de propriedade o repertório de seu público prioritário.
“Ser simples, claro e objetivo é usar linguagem coloquial, sem
vulgaridade. É falar e escrever de forma que o ouvinte enten-
da de imediato”, explica Jung.
Nos seus mais de 90 anos no Brasil, o veículo é o
meio de comunicação mais popular que existe. Ao longo da
história revelou talentos para a TV, foi palanque eleitoral e
ajudou a vender música. Neste sentido, a figura do radialista
tem um papel estratégico.
– O que me deixa triste – desabafa o radialista
Genivaldo Silva –, é ver que em nossa região esse veículo
24
não se expande, não valoriza o profissional e tão pouco ofe-
rece a ele as dignas condições de exercer esta função tão
prestigiada pela nossa gente.
– O trabalho do comunicador é super importante –
explica o radialista Tony Brasília –, temos que parar de olhar
ele como alguém que só está ali para ganhar dinheiro. É al-
guém que também ajuda as pessoas. Agora o que precisa
mesmo são os radialistas se valorizarem, se unirem. Se o
sindicato chegar aqui vai fechar as portas porque está tudo
irregular. Falta união, um exemplo é que no dia do radialista
ninguém nem lembrou.
– Para ser um bom comunicador – comentei com
ele –, é preciso também saber usar os recursos de redação e
de sonoplastia, cuidar e usar bem a voz, além de desenvol-
ver e respeitar as regras para a elaboração de textos e a
produção de programas.
Não existem estudos sobre audiência, mas em pou-
co tempo de convívio na região é possível notar a popularida-
de do veículo como meio de comunicação de massa. Mesmo
com problemas enfrentados pelos radialistas ou mesmo pe-
las rádios, mesmo com a influência política no conteúdo das
emissoras, o que se percebe facilmente é que o sertanejo
não vive sem rádio, seja na fazenda onde mora o vaqueiro ou
mesmo na cidade em que vive o fazendeiro. Com este deba-
te sobre o radiojornalismo acredito que será possível contri-
buir para a construção de conhecimento na academia e nas
comunidades dos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe.
25
Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados
Nesta pesquisa busquei entrevistar radialistas que
atuam na atividade de produção do rádio nos setores de dire-
ção, criação, interpretação e locução. Todos os radialistas
foram entrevistados, especificamente com o objetivo de con-
tarem suas histórias e opinarem sobre o desenvolvimento da
profissão de radiojornalista na região. Os perfilados são:
Aluízio Farias, Cival Anjos, Edisvânio Nascimento, Genivaldo
Silva, Gilberto Oliveira, José Ferraz, José Ribeiro, Nilton Fe-
liz, Tony Brasília, Tony Sampaio, Valdemi de Assis e Vilmara
de Assis*. Os entrevistados receberam contatos antes pes-
soalmente ou por telefone para entender a proposta do pro-
jeto e marcar o dia da conversa “em profundidade”.
Dos 14 radialistas previstos apenas dois não foram
entrevistados: o primeiro foi presidente e fundador da Rádio
Comunitária Barreiros FM, Manoel Missias, que atua na co-
municação no Distrito de Barreiros, no município de Riachão
do Jacuípe, desde a década de 1980, com o Serviço de Alto-
falante A Voz da Sociedade Barreirense, onde tive meu pri-
meiro contato com o microfone; e o segundo foi o radialista
Tony Sena, que é comunicador da Rádio Jacuípe AM. Tony já
está no ramo desde 1987 e atualmente apresenta o Notícias
da Hora, informativo no qual também fui produtor e apresen-
tador, em 2008, na mesma emissora. O noticiário tem dura-
ção de dois a cinco minutos e vai ao ar a cada hora dentro da
programação. As entrevistas foram canceladas por incompa-
tibilidade de agenda de ambos os lados.
26
Os Territórios do Sisal e da Bacia do Jacuípe, que
demarcam o foco deste trabalho, possuem outras emissoras
comerciais e comunitárias, que ficaram de fora por não per-
tencerem ao recorte de municípios priorizados para a pesqui-
sa (Conceição do Coité, Riachão, Serrinha, Valente e Santa
Luz). Neste locais além de existirem estudantes do Curso de
Rádio e TV, as emissoras de rádio possuem estrutura e his-
tórico de radiojornalismo reconhecidos pela comunidade a
mais de 10 anos.
* A presença de apenas uma mulher neste time de radialista mostra quanto àprofissão é centrada nos homens. São poucas as mulheres âncoras de noticiári-os e com experiência em radiojornalismo nestas emissoras. No decorrer da pes-quisa conheci outras três mulheres que estão iniciando em comentários, reporta-gens e apresentações de noticiários.
27
Chegada do rádio na RegiãoSisaleira
No Sertão da Bahia, o pequeno rádio de pilhas colo-
ridas é usado constantemente para ouvir o principal veículo
de comunicação de massa com produção local, que vence
distâncias e aproxima as pessoas.
Quase um milhão de habitantes estão espalhados em
mais de 30 municípios dos Territórios do Sisal e da Bacia do
Jacuípe e são alvo de pelo menos vinte emissoras de rádios
entre comerciais, educativas e comunitárias. Na maioria das
vezes, as rádios pertencem e são chefiadas por grupos polí-
ticos, que também comandam as Prefeituras, Câmaras de
Vereadores e as poucas empresas que existem.
– Eles só querem as rádios para fins políticos, nin-
guém pode negar isso – informa o radialista Nilton Feliz que
atua no rádio desde o final dos anos 90.
– Aqui em Serrinha mesmo – conta o radialista José
Ferraz –, todas as rádios são políticas.
No sentido específico da palavra, Ferraz quer dizer
que as rádios são formas de poder com forte influência na
administração das cidades e diz que os donos estão filiados
a algum partido ou tem relação direta com os dirigentes
partidários e os gestores públicos:
– É complicado – analisa Ferraz –, se você falar mal
31
de um que é aliado a Lomes ele lhe tira do ar. Ou então, lhe
chama e lhe fala “não vai falar nada porque esse cara é alia-
do da gente”. Por mais que o cara erre, o cara desvia dinhei-
ro público, é usurpador de dinheiro público e você não pode
falar. O ouvinte é quem fica sem ter a informação. A mesma
coisa é na rádio de Plínio. Lá você não pode falar da sobrinha
dele que é vereadora. É tudo assim.
O radialista José Ferraz também não esquece as pro-
postas que recebeu para retornar para a Continental.
– Quando eu já estava na Jacuípe a diretoria da
Continental tornou a me convidar com um salário melhor e
eu não aceitei porque lá é trabalho teleguiado e aqui [na
Jacuípe] não, tem dois nomes que eu não posso falar, mas
Zevaldo não interfere no meu programa, concluiu Ferraz.
– Todas as rádios são lideradas por políticos – afir-
ma José Ribeiro, que tem 30 anos de rádio –, o Grupo Lomes,
o Grupo da Universal, enfim todas as emissoras estão subor-
dinadas a administrações de políticos ou igrejas. Se você não
faz aquilo que o patrão quer... e dentro da moralidade você
tem mais é que fazer, porque se não fizer vai para o olho da
rua e tem muita gente esperando você sair para entrar e fa-
zer o trabalho que você não quis fazer.
Na história do rádio o envolvimento político e as con-
trovérsias estão desde o início. No Brasil, a primeira emisso-
ra de rádio data de 1919, que é a Rádio Clube de Recife, em
Pernambuco. Mas, os pesquisadores registram que a primei-
ra operação de rádio no país foi no Rio de Janeiro, em 7 de
setembro de 1922, para transmitir o discurso do Presidente
32
Epitácio Pessoa, durante a comemoração do centenário da
Independência do Brasil e que somente em 20 de abril do
ano seguinte, o Brasil conhecia “oficialmente” a sua primeira
emissora: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por
Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. Enquanto aqui
engatinhavam as primeiras tentativas para transmissão de
rádio, nos EUA, no final de 1922, os americanos contavam
com 382 emissoras. No início eram emissoras coletivas,
elitizadas e chamadas de “sociedade” ou de rádio “clube”. Os
ouvintes mantinham as emissoras com mensalidades, pois
não havia os reclames, que só surgiram a partir de 1932 atra-
vés de Decreto de Getúlio Vargas – o presidente brasileiro
que melhor soube utilizar o rádio para pretensões políticas. A
entrada da publicidade também marcou na mudança de com-
portamento das emissoras, como registra Gisela Ortriwano:
Com o advento da publicidade, as emissoras tra-taram de se organizar como empresas para dis-putar o mercado. A competição teve, original-mente, três facetas: desenvolvimento técnico,status da emissora e sua popularidade. A preo-cupação educativa foi sendo deixada de lado e,em seu lugar, começaram a se impor os inte-resses mercantis. (ORTRIWANO, 1985, P. 15)
De acordo com o IBGE, em 1937, o Brasil tinha 59
emissoras de rádio transmitindo óperas, músicas e textos ins-
trutivos. Destas, 55 eram particulares e 04 dos governos fe-
deral e estaduais.
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DIFUSORA AM: a primeira rádio da região
A primeira emissora da Região Sisaleira surgiu qua-
se 50 anos depois da primeira transmissão de rádio no Bra-
sil. A Rádio Difusora AM de Serrinha entrou no ar em 1969* e
seus fundadores, segundo narram integrantes da emissora,
foram José Barradas Neto, Plínio Carneiro, Luiz Viana Neto,
dentre outros. Quem primeiro assumiu a função de radialista
da emissora foi José Malta e, em 1983, o sindicalista Carlos
Miranda Lima** assumiu os destinos administrativos da rádio
por 20 anos.
– Eu vim para Serrinha na década de 1970 – lembra
Aluízio Farias – porque era a única cidade da região que ti-
nha rádio. Eu trabalhava como funcionário de uma cerveja-
ria, onde atuei até 1998, e nos finais de semana fazia jogos
pela Difusora.
* Neste ano já existiam 31 emissoras de rádio na Bahia e 959 no Brasil, segundodados do IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm>. Situação Cultural de 1969, apud Ser-viço de Estatística da Educação e Cultura. Tabela extraída de: Anuário estatísticodo Brasil 1969. Rio de Janeiro: IBGE, v. 30, 1969. Acesso em 13 de outubro de2009.
** Carlos Miranda postou o seguinte comentário no site www.paulomarcos.com.“Sempre que falar sobre início dos trabalhos radiofônicos na Região Sisaleiranão deve esquecer que a Rádio Difusora de Serrinha, a ZYC 36 em 1330 KHZ éa DECANA, sempre deu oportunidade a todos com o seu espírito liberal por mimimplantado, fomos a primeira a transmitir ao vivo de várias cidades. Tudo come-çou em 1969”. Disponível em http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/livro-mos-trara-o-lado-de-dentro-do-radio-na-regiao-sisaleira.
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Da decadência vivida nos últimos anos da adminis-
tração de Miranda, a primeira rádio da região se transformou
em Continental AM. Foi em 23 de abril de 2004 que aconte-
ceu sua re-inauguração. Além de ganhar nova diretoria, tam-
bém passou para novo endereço com equipamentos moder-
nos e outra programação. Daí em diante também com trans-
missão ao vivo na Internet.
– A “morte” da Rádio Difusora – comentou Cival
Anjos –, e o surgimento da Continental foi um marco na valo-
rização do profissional. Foi essa nova rádio que ajudou a mu-
dar um pouco a postura das emissoras na região com a
contratação de profissionais.
MORENA FM: 22 anos sem radiojornalismo
Na Praça Luiz Nogueira, em Serrinha, é fácil encon-
trar um parque infantil, onde meninos e meninas brincam;
árvores históricas, que sombreiam os jardins enfeitados de
esculturas e flores; no mesmo lugar é fácil de visualizar – de
todos os ângulos – o prédio do Grupo Lomes de Radiodifu-
são.
O portão eletrônico está fechado. Antes quem che-
gava entrava sem se identificar, subia a escada de madeira
que leva ao primeiro andar, onde ficam os estúdios de duas
emissoras de rádio. Neste dia depois de me identificar tive
acesso pela terceira vez naquele mês ao estúdio da segunda
rádio de Serrinha, fundada em 1986, por Antônio Lomes do
Nascimento. Denominada no Ministério das Comunicações
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como Serrinha FM, opera em 97.9 Mhz no ar 24 horas e é
basicamente musical. Com o slogan “A dona do primeiro lu-
gar” a emissora é a mais potente da região e recebe muitas
críticas por oferecer uma programação pouco variada, com
muita propaganda e apenas músicas de “mercado”.
– O pessoal da Morena não sabe o que é música
não – diz José Ribeiro, que coordena o programa jornalístico
da rádio e é um dos entrevistados desta pesquisa.
Diversidade musical não é mesmo o forte da emisso-
ra, mas é disso que sobrevive. O único programa de notícias
da Morena FM é o “Pauta Livre”, que está no ar desde o início
de abril de 2008, das 12 às 13 horas de segunda a sexta-
feira. O programa demonstra de fato que é um espaço livre
sem grandes produções, ou seja, vai acontecendo tudo ao
vivo e na base dos comentários, porém sem participação
popular.
O proprietário impõe seu poder de influência usando
o veículo para expressar suas preferências políticas, assim
como faz com mais ênfase na Regional AM, a terceira emis-
sora de Serrinha.
REGIONAL AM: a menina dos olhos de Lomes
Foi também em 1986, quando Antônio Carlos Maga-
lhães era Ministro das Comunicações, que o Grupo Lomes
de Radiodifusão conseguiu outra outorga de funcionamento
de rádio. A Rádio Regional AM 790 Khz é uma emissora bem
popular com programação basicamente informativa, mas tam-
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bém com programas de entretenimento.
O estúdio é bem climatizado, ainda no estilo antigo
com cabine de locução separada da mesa de áudio. Segun-
do informações da própria emissora, sua abrangência pode
chegar a mais de 120 municípios da Bahia e Sergipe. O pro-
prietário Antônio Lomes é um empresário da radiodifusão com
várias emissoras de rádio AM e FM espalhadas na Bahia e
em outros Estado*, mas prefere esta emissora para falar to-
dos os dias por telefone. Ele tem fortes vinculações políticas
com partidos de Serrinha e usa a rádio para expor sua posi-
ção que acaba sendo também a visão dos comunicadores.
Lomes foi Superintendente de Desporto do Estado da Bahia
(Sudesb) e diretor da Empresa de Produtos Farmacêuticos
da Bahia (Bahiafarma) em governos do PFL, atual DEM. Atra-
vés do rádio, e em especial da Regional, Lomes mantém con-
tato direto com a população serrinhense e expõe suas opini-
ões políticas. Mesmo com todo aparato de rádios, em 2008,
perdeu a eleição municipal. A esposa do empresário foi
candidata a re-eleição para o cargo de prefeita, mas foi der-
rotada.
* Ver estudo do FNDC que aponta a existência de 65 emissoras na Bahia perten-centes a políticos em exercício ou seus parentes com base em um levantamentofeito por Katherine Funke [DRT 2266/BA], para reportagem publicada no jornal ATarde, de Salvador, em 26/12/2005. Foram considerados os levantamentos feitospor Venício de Lima [UnB], para deputados federais, e James Görgen [FNDC],para senadores. Disponível em http://www.fndc.org.br/arquivos/Politicos-emisso-ras-BA.pdf . Acessado em 03 de novembro de 2009.
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SISAL AM: o trono da família Rios
“O símbolo de maior riqueza da nossa região” este é
um dos primeiros slogans da Rádio Sisal, que foi gravado
numa antiga vinheta na voz de Lucival Lopes um de seus
maiores comunicadores. Depois de se destacar na emissora,
Lucival com sua voz grave, foi para Feira de Santana, onde
comanda programas jornalísticos de grande repercussão.
A Sisal não vive mais na “Era de Ouro” dos anos 90,
porém está no ar diariamente já com sistema digitalizado e
pode ser sintonizada em 900 Khz AM em aproximadamente
30 municípios do Sertão baiano e pelo sítio que mantém na
Internet. Situada na Rua Wercelêncio Calixto da Mota, 81, no
centro da cidade de Conceição do Coité, ganhou o nome em
20 de dezembro de 1986, durante sua inauguração numa
homenagem dos proprietários ao Sisal, a planta que por dé-
cadas foi a principal base econômica da região.
Segundo a diretoria da rádio, os primeiros documen-
tos da iniciativa datam de março de 1979 e os seus fundado-
res foram Tiago Ferreira de Carvalho – segundo o sítio Do-
nos da Mídia* também é proprietário de outra emissora em
Euclides da Cunha –; Gilberto Mota, Roberto Pinto Lopes e
Edvaldo de Carvalho Santiago. Em maio de 1982, ingressa-
ram os sócios Hamilton Rios de Araújo e João Carvalho.
* Ver site http://www.donosdamidia.com - Acesso em 10 de outubro de 2009.
38
Por falta de capital suficiente para adquirir os equipa-
mentos os sócios resolveram, em dezembro de 1985,
transformá-la em sociedade anônima composta por 31 acio-
nistas. Hamilton Rios de Araújo tem grande poder de decisão
na emissora. HR, como o chamam na rádio, tornou-se a mai-
or liderança política de Coité da década de 1970, se manten-
do no poder até os dias de hoje, porém em decadência polí-
tica.
– Seus interesses sempre se refletiram no perfil e
na programação da rádio –, relata Valdemi de Assis, que por
quase 20 anos foi o principal radiojornalista da emissora.
A Sisal tem uma programação direcionada ao pú-
blico rural e não arrisca colocar ouvinte no ar dentro do jorna-
lismo como acontece em outras rádios. Mantém no ar o Jor-
nal da Sisal pela manhã e o programa Sisal Esportes e Notí-
cias ao meio dia, que se constituem nos espaços de maior
dedicação ao radiojornalismo. No final de semana, a rádio
transmite jogos de futebol amador e se mantém, desde 1992,
como referência neste setor na região.
– Em vez de fiscalizar se estamos seguindo a linha
da rádio eles deveriam corrigir e ajudar a gente. Seria bom
para a Rádio e para a gente também –, reclama Nilton Feliz,
que coordena o esporte na rádio.
– Você fala também em termos de corrigir para me-
lhorar a qualidade dos programas? –, pergunto.
– Exato. E também assim, aqui na Sisal, hoje não,
mas antes já teve momento de ninguém da direção ouvir e a
rádio sair do ar e o locutor continuar fazendo o programa sem
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saber – concluiu Nilton Feliz.
Com a nova estrutura talvez isso não aconteça mais.
A Sisal comemorou seus 23 anos de cara nova. Foram inves-
tidos mais de R$ 200 mil em equipamentos de última gera-
ção para operação e transmissão, além de novos estúdios
climatizados, com paredes coloridas e quadros bonitos.
Ainda é preciso ir mais fundo numa pesquisa que
aponte a Rádio Sisal e as demais não apenas como um bra-
ço direito das prefeituras ou dos gestores públicos, mas que
possa investigar como de fato o rádio contribui na manuten-
ção de cargos públicos, por exemplo, eleições e derrotas de
vereadores, prefeitos e deputados da região.
O comunicador Valdemi de Assis sabe bem o que é
isso. Ele foi vereador e radialista ao mesmo tempo na déca-
da de 1980. Em 2006, candidatou-se a deputado contra a
vontade do grupo político que comanda a Sisal e foi expulso:
– O rádio aqui é usado também como forma de ma-
nutenção do poder político – explica Valdemi –, por influenci-
ar diretamente na opinião pública. É através dele que as
mensagens dos políticos chegam diariamente ao povo seja
no período eleitoral ou fora dele. Por seus proprietários man-
terem ligações diretas com os partidos acabam fornecendo
as emissoras como instrumento de manipulação da opinião
pública a partir do fechamento que há na programação. Não
pode ter a participação do povo. Só se for para elogiar eles.
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JACUÍPE AM: muda de dono, mas não muda de ob-
jetivo
A emissora é comercial e é propriedade do ex-prefei-
to de Serrinha Josevaldo Lima, que deixou o cargo em 2004,
ano que adquiriu a rádio e disputou a re-eleição (sem suces-
so) assim como na eleição seguinte, em 2006, quando dispu-
tou a eleição de deputado.
O radialista José Ferraz, que trabalha na rádio há
mais de dois anos, sustenta que a emissora ajudou na última
eleição do prefeito de Serrinha, em 2008, quando o filho do
político disputou a eleição como vice-prefeito na chapa de
Osni Cardoso:
– A rádio foi multada em R$ 22 mil na política passa-
da – exemplifica Ferraz –, a coligação de Tânia entrou na
Justiça alegando que estávamos beneficiando Osni do PT e
realmente ele foi eleito com o apoio da rádio Jacuípe porque
aqui todas as rádios eram contra ele.
Antes a emissora já era comandada por político. O
presidente anterior era ex-prefeito de Riachão do Jacuípe,
Valfredo Matos, que faleceu logo após o final do segundo
mandato, em janeiro de 2005. A mudança de propriedade
não mudou a concepção, utilidade e nem mesmo o conteúdo
do veículo.
Hoje, melhor equipada, ainda sofre as mesmas difi-
culdades de emissoras comunitárias, como a falta de investi-
mento financeiro. Seus radialistas dizem que são reconheci-
dos pela população, mas pouco valorizados profissionalmente
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como na maioria das rádios. Na maior parte do tempo a rádio
está a serviço dos governos ou dos políticos que estão fora
da estrutura administrativa dos municípios. Serve como apên-
dice das campanhas políticas e é usada para garimpar votos
e prestígio*. Percebe-se também que a emissora presta rele-
vante serviço para a comunidade e é o principal meio de co-
municação do lugar.
Outro momento marcante na emissora foi o atentado
contra o radialista Gilberto Oliveira, em 1999, que foi espan-
cado no meio da rua por pessoas até hoje não identificadas.
O radialista disse que não tem suspeita e prefere não ligar o
fato à questão política:
– Existem aqueles radialistas que ficam subordina-
do a políticos – denuncia Gilberto –, chantageando, receben-
do propina pra divulgar isso ou aquilo ou não divulgar•c e eu
desafio no meu caso. Tem gente até que me chama de bobo
que eu levanto muita gente, mas eu não quero nada dos ou-
tros. Não faço isso. Tenho minha consciência tranquila.
Situada na Rua Padre Argemiro Guimarães, 32, no
centro de Riachão, a Rádio Jacuípe foi criada em 1987 e,
segundo dados do sítio do Ministério das Comunicações, os
primeiros sócios-proprietários foram José Aloir Carneiro Ara-
újo e Valfredo Carneiro de Matos.
* Para saber mais sobre este comportamento da emissora ver SILVA, Gladston.Riachão Recente. Riachão do Jacuípe: Clip Gráfica e Editora, 2003.
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A ideia deste e outros estudos que precisam ser fei-
tos é trazer para o debate problemas antigos e ao mesmo
tempo bem atuais envolvendo o rádio na região: controle po-
lítico partidário sobre o conteúdo; falta de planejamento es-
tratégico; pouco financiamento para produção; ausência de
qualificação profissional; dentre outras questões que interfe-
rem diretamente no radiojornalismo como, por exemplo, o
surgimento das rádios comunitárias que pode ser considera-
do um divisor de águas na comunicação.
RÁDIOS COMUNITÁRIAS: a voz de quem só ouvia
A implantação das rádios comunitárias no final da
década de 1990 foi uma das maiores transformações no se-
tor e que gerou duas significantes situações: primeiro a pró-
pria população passou a produzir o rádio com seus conheci-
mentos e necessidades de pautas; segundo é que as rádios
comerciais sentiram-se ameaçadas por perceber que a po-
pulação estava ouvindo e aceitando cada vez mais as novas
emissoras, como explica Edisvânio Nascimento da Rádio
Comunitária Santa Luz FM e diretor da Abraço Sisal - Associ-
ação de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal:
– Você pode apontar alguma característica do
radiojornalismo proposto pelas rádios comunitárias?
– Sim. – respondeu Edisvânio –, fazemos o
contraponto aos veículos de massa. Eles trabalham para aten-
der a interesses particulares e nós não. Buscamos o compro-
misso com a sociedade. Não fazemos sensacionalismo com
43
a notícia nem com a miséria do povo.
A associação das rádios comunitárias foi criada, em
2004, para manter o movimento articulado em torno das ques-
tões de democratização da comunicação na região, princi-
palmente visando atender os interesses das emissoras co-
munitárias*.
Uma pesquisa que tive o prazer de ser colaborador,
em 2005, intitulada Rádios Comunitárias da Região Sisaleira
da Bahia: memória, conjuntura e perspectivas**, e realizada
pelo professor Doutor Antônio Dias Nascimento, mostra o
papel do rádio como um meio eficaz de fazer valer os anseios
de justiça e de melhores condições de vida e trabalho para
as populações que são agregadas e organizadas pelos movi-
mentos sociais locais, em torno das emissoras comunitárias.
Por isso resolvi investir também nesta pesquisa em duas
emissoras comunitárias que mais se destacam nestes muni-
cípios que fiz o recorte.
– A gente dá nossa opinião também – diz Tony
Sampaio da Rádio Valente FM –, mas sempre deixa o cami-
nho aberto para a interpretação do ouvinte, inclusive recebemos
* Rádios que compõem a Abraço Sisal: Água Fria FM, Barreiros FM, Estrela FMde Retirolândia; Cultura FM de Araci, Cruzeiro FM de Tucano; Independente FMde Ichú; Nordestina FM; Santa Luz FM; Valente FM, São Domingos FM, Juá FMde Juazeirinho - Conceição do Coité, Quijingue FM, Mairí FM, Contorno FM deCapim Grosso e Quixabeira FM.
** NASCIMENTO, A. D. Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da Bahia: Me-mória, conjuntura e perspectivas. Relatório de Pesquisa. MOC/UNICEF, Salva-dor - Bahia, 2005. Disponível em www.moc.org.br. Acesso em 10 de Agosto de2009.
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mos ligações contrárias a nossas colocações, mas sempre
procuramos ouvir o máximo de opiniões. E nunca esquece-
mos os fatos de um dia para o outro, se for preciso voltamos
ao tema anterior, refazemos matérias, fazemos novas entre-
vistas.
Em relação às emissoras AM, além de transmitirem
em FM com melhor qualidade, as novas rádios, ainda prome-
tem uma programação diversificada com prioridade para os
assuntos da própria comunidade, a prestação de serviço, a
notícia e a cultura local.
VALENTE FM: não desiste nunca
Fundada em fevereiro de 1998, a Rádio Valente FM
foi uma das primeiras comunitárias da Região Sisaleira e por
isso sempre foi referência dentro do movimento de radiodifu-
são comunitária. A emissora já teve características de uma
transmissão regionalizada podendo ser sintonizada em vári-
os municípios como Serrinha, Conceição do Coité, Santa Luz,
Riachão do Jacuípe, dentre outros. Na época da inaugura-
ção a rádio chegou a alcançar um raio de quase 100 km, com
boa qualidade. Hoje atua apenas no município de Valente
com um transmissor de 25 Kws e em 104.9 Mhz.
O jornalismo na Valente FM começou em abril de 1998
e foi planejado para ter notícias locais, regionais, estaduais e
nacionais, mas principalmente locais. Enquanto o processo
de outorga era travado no Ministério das Comunicações, a
Anatel - Agência Nacional das Telecomunicações e a Polícia
45
Federal cuidavam de calar a rádio.
– O jornalismo da emissora foi se tornando mais
crítico e fiscalizador, virando cada vez mais alvo da repres-
são. Por diversas vezes a rádio foi lacrada e teve equipa-
mentos confiscados –, denuncia Tony Sampaio.
Quando foi criada, o país vivia um grande movimento
pela democratização da comunicação com a aprovação da
Lei 9.612/1998 que institui a modalidade de rádio comunitá-
ria. Algumas entidades da sociedade civil, como a APAEB -
Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da
Região Sisaleira, as igrejas e o Sindicato de Trabalhadores
Rurais de Valente discutiam esse projeto desde meados dos
anos 90.
A Valente FM somente conseguiu a outorga depois
de quase cinco anos de luta. Dirigentes da emissora foram
processados por operarem sem a autorização e até hoje,
mesmo depois que a rádio obteve a outorga, os processos
não foram extintos.
SANTA LUZ FM: uma rádio premiada
A Santa Luz FM opera 24 horas modulando em 104.9
Mhz e é uma emissora referência na radiodifusão comunitá-
ria no Brasil. A rádio tem uma associação comunitária que é
gerenciada pela própria comunidade através de seus repre-
sentantes, que são jovens comunicadores, dirigentes de en-
tidades sociais de bairros e de classes e estudantes. As deci-
sões da rádio são tomadas através de reuniões com os mem-
46
bros da diretoria, locutores e entidades que compõem o Con-
selho Comunitário e que garantem uma atuação apartidária
da emissora.
– O negativo que me marcou – relata Edisvânio Nas-
cimento –, foi ter participado de uma capacitação do UNICEF
durante três dias, em Salvador, e quando cheguei aqui, em
Santa Luz, a Polícia Federal já estava me esperando na por-
ta do ônibus pra me pegar. Então, essa pra mim desabou... –
na fala uma pausa, emoção e choro.
– Você ter trabalhado numa perspectiva de constru-
ção cidadã – tentando refazer a voz, ele continua –, buscar
aprendizado para incentivar a sociedade do que nossas cri-
anças precisam e você chegar e ser tratado como bandido
foi isso que eu senti. Ser obrigado a sentar num carro de
polícia com armas aos seus pés é muita humilhação.
A Santa Luz FM, ao longo de dez anos, quando a
Polícia Federal deixava, apresentou um conjunto de reporta-
gens que contribuíram para a discussão de políticas públicas
dirigidas à população infanto-juvenil na Região Sisaleira e,
assim, se tornou referência no assunto. A prática da rádio
demonstra, através das escutas que realizei que atua com
responsabilidade social enquanto formadora de opinião e
contribui para a construção de novos valores, buscando uma
mudança de comportamento em seu público no que diz res-
peito aos direitos e deveres da população; e estimula a parti-
cipação de adolescentes e jovens em sua programação.
Desde dezembro de 2008, a Santa Luz FM está no
ar com outorga – depois de dez anos de luta – e sem inter-
47
rupções. Agora também disponível na Internet através de seu
blogue: santaluzfm.blogspot.com.
O maior problema enfrentado pelas rádios Valente
FM e Santa Luz FM foi a burocracia para a liberação da ou-
torga, que levou a estas e ainda leva outras emissoras a fun-
cionarem sem concessão. Sobre essa questão de rádio fun-
cionar sem autorização são diversas as opiniões:
– A Região do Sisal tem que criar um sindicato –
defende José Ferraz –, para combater rádio pirata que dá
prejuízo as rádios comerciais e também para combater os
radialistas clandestinos, todo mundo hoje é locutor.
– Elas estão ocupando um espaço – sinalizou Nilton
Feliz –, que as comerciais estão deixando por questões polí-
ticas. A Sisal comandou a região por uma década e meia e
agora as comunitárias por terem baixo custo e serem mais
abertas para a comunidade conseguiram atrair ouvintes e
anunciantes•... a rádio aqui [Sisal] tem que investir em qua-
lidade para superar isso.
As rádios criadas pelos movimentos comunitários em
vários municípios apesar de muitas vezes passarem pelos
mesmos problemas das emissoras comerciais no tocante a
controle político ou mesmo não desempenharem o papel so-
cial do rádio, tiveram e têm o papel de aproximar as pessoas
do veículo e ao mesmo tempo oferecer o acesso ao direito
humano de se comunicarem via a mídia. É também um espa-
ço onde surgem novos comunicadores, que depois de algu-
ma experiência migram para outras emissoras.
48
CURSO DE RÁDIO E TV: a formação profissional
Jota Sampaio, Paulo Catu, Rodrigo Carneiro, Marce-
lo Felipe e eu eramos inseparáveis na faculdade. Juntos, em
2008, criamos o Na Cangaia. O projeto de comunicação via
rádio e Internet serviu como experiência para integração dos
estudantes de Rádio e TV e cinco emissoras de rádios co-
munitárias* da região.
– Foi via o Programa Na Cangaia – informou Jota
Sampaio –, que trocamos ideias, reportagens e diversos pro-
dutos radiofônicos como músicas, vinhetas, spots, rádio-no-
velas, dentre outros.
– O Na Cangaia também foi bacana porque tivemos
um espaço de experimentação do que estávamos discutindo
no curso – comentei.
– Foi um período onde ousamos, criamos e recria-
mos personagens – lembrou Sampaio –, como Dona Zumira,
Val Queiroz e tantos outros que estão registrados em nossa
memória. Sem esquecer dos músicos regionais que passa-
ram pelo programa como Dó Nascimento, A Banda No Name,
Caé, Chaonda, Ninho Santana e muito mais.
O curso que surgiu, em 2006, pretende formar profis-
sionais conscientes da realidade em que vivem e aptos a
dominarem as linguagens audiovisuais.
* Os primeiros quatro programas foram apresentados ao vivo na Rádio EducativaSabiá. A emissora pertence à Fundação Bailon Lopes Carneiro e está no ar des-de 2005. A rádio apenas toca músicas através e uma programação automáticade computado. Durante mais de um ano vários estudantes do curso se dedica-ram voluntariamente à produção de notícias na emissora.
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A proposta de implantação da graduação surgiu no
movimento de radiodifusão comunitária, em 2004, na criação
do Plano de Comunicação do Território do Sisal, como apon-
ta Giovandro Ferreira e Gislene Moreira:
A chegada de um curso de comunicação no Ter-ritório do Sisal foi reflexo da efervescência des-te sistema comunicativo, principalmente, no quese refere à mobilização da sociedade organiza-da local e seu amplo aparato comunicacionalcomunitário. Sua instalação pode ser conside-rada como o primeiro produto efetivo do Planode Comunicação do CODES, o qual contribuiudecisivamente para o re-direcionamento da atu-ação acadêmica no território, viabilizando inclu-sive destinação orçamentária para o início deseu funcionamento. (FERREIRA e MOREIRA,2008, P. 10)
Com o curso, jovens e experientes comunicadores
de diversas cidades da Bahia obtiveram a profissionalização,
realizaram laboratórios de pesquisas na área de comunica-
ção e iniciaram a construção de um novo processo de comu-
nicação no já desenvolvido e habitado Sertão baiano. Quase
a totalidade dos formandos da primeira turma do curso é dos
municípios de Conceição do Coité, Riachão do Jacuípe,
Serrinha e Valente.
O Departamento de Educação do Campus XIV con-
ta com professores – mestres e doutores – com formação,
principalmente, em Língua Portuguesa, Literatura, Linguística,
História, Jornalismo e Rádio e TV aptos a ministrarem as dis-
ciplinas que envolvem Domínio das Linguagens; Domínio dos
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Fundamentos da Comunicação; Domínio da Formação Só-
cio-Cultural e Humanística; e Domínio da Formação Especí-
fica. A proposta do currículo é que o radialista formado seja
voltado à percepção, à interpretação e à recriação da realida-
de social, cultural e com ambientes naturais, através de som
e imagem. Além disso, tenha condições de desenvolver as
atividades de criação, produção, formação, direção e progra-
mação requeridas para as elaborações audiovisuais.
Com o término da formação da primeira turma já são
muitos os ensinamentos e desafios para os alunos e profes-
sores envolvidos na proposta pedagógica. A estrutura de todo
o curso foi aprimorada ao longo dos semestres, a partir do
envolvimento dos estudantes e da chegada de cada novo
professor selecionado pela instituição. A matriz curricular em
experimentação ainda deve passar por adaptações à reali-
dade, os estudantes não conseguiram implantar um movi-
mento estudantil pró-ativo e as pesquisas de campo ainda
precisam ser melhor exploradas para contribuir com o de-
senvolvimento do radiojornalismo na região.
51
Fazendo jornal pelo rádio
Radiojornalismo: perfil e características na Região
Sisaleira
“O ouvinte da região gosta de um trabalho bemfeito, bem mastigado, bem explicado e nem sem-pre isso acontece”
O depoimento é de Genivaldo Silva, um dos rema-
nescentes da Agência Calila e hoje apresentador do Jornal
da Sisal. A declaração mostra que é dia de debate no rádio.
Pensadores e experientes radialistas vão conversar agora
sobre o radiojornalismo na Região Sisaleira. Para chegar neste
momento passamos pela Era de Ouro do Rádio – década de
1940 –, quando surgiu o Jornal Falado, que deu origem ao
que chamamos atualmente de radiojornalismo. Dentre os for-
matos, que estão presentes neste gênero, o de maior desta-
que, neste livro, é o “Jornal de Rádio”, que é um modelo de-
senvolvido em todas as rádios pesquisadas. São programas
diários com duração média de 60 minutos, quadros fixos como
esporte, política, polícia, tempo, dentre outros. Barbosa Filho
(2003; P. 89) explica que o gênero jornalístico ”é o instrumen-
to de que dispõe o rádio para atualizar seu público por meio
da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos”.
Edisvânio Nascimento é um jovem atualizado e aten-
to às discussões sobre a comunicação. Ele é sempre otimis-55
ta e gosta de desafios:
– Não existe jornalismo imparcial – contesta o radi-
alista –, existe jornalismo sério, que trabalha com transpa-
rência e busca envolver a sociedade, por exemplo, não faze-
mos perseguição a ninguém. Atendemos as necessidades
do povo.
– E o que é notícia prioritária na Santa Luz FM? –
pergunto.
– A notícia prioritária pra nós é a que aponta pers-
pectivas para a sociedade, que realmente vai gerar frutos e
tem relevância para a sociedade.
– Você tem um exemplo?
– Se tiver um assassinato – diz ele –, e uma reunião
de professores é claro que a reunião pra nós precisa de um
destaque maior.
Geralmente os programas jornalísticos das emisso-
ras sisaleiras são apresentados por homens que usam do
estereótipo da masculinidade para falar forte, fazer comentá-
rios duros e bater na mesa assim como o Varella da Rádio
Sociedade da Bahia.
– Quando eu comecei no rádio – denuncia Vilmara
de Assis –, era muito preconceito com a presença da mulher
neste ambiente. Sofri muito com isso.
Vilmara é uma das poucas mulheres presente há mais
de 10 anos no radiojornalismo da região – média dos entre-
vistados deste debate. De 1992 a 2007, Vilmara de Assis tra-
balhou na produção de programas jornalísticos da Agência
Calila. Do surgimento até 2006 os programas eram apresen-
56
tados na Rádio Sisal AM e depois durante dois anos na Rá-
dio Regional. O maior sucesso do grupo que terceirizou os
horários destas rádios foi o Jornal das Oito, um noticiário que
se destacava por estar presente nos principais acontecimen-
tos políticos, sociais e econômicos da região:
– Tudo aconteceu naturalmente – informou Valdemi
de Assis, que é irmão de Vilmara –, não teve planejamento
não. A gente ia fazendo, gostando e fazendo de novo. A co-
bertura policial mesmo eu fui criando um estilo próprio que
virou referência.
– O jornalismo produzido pela Equipe da Agência
Calila – comemora Vilmara –, era sempre de primeira e com
boa produção. Não tinha essa de ir para o ar sem planejar.
Para mim o fim do programa Jornal das Oito foi um divisor de
águas no jornalismo da região.
O veterano Aluízio Farias aponta para a necessidade
de planejamento para os programas de notícias da região:
– Nós temos bons radialistas, mas está faltando
mais profissionalismo. As pessoas fazem programas de uma
hora só com manchetes e comentários, sem redigir nada.
– Eu não trabalho com pautas – salienta José Ribei-
ro –, eu não faço o programa lendo nada, aquele negócio
preestabelecido. Eu conheço muita gente que teve uma edu-
cação milhões de vezes melhor que a minha e quando chega
aqui na Regional se treme todinho diante de mim e não tem
condições de ter um raciocínio rápido sem ler nada.
Ao contrário do que diz Ribeiro, um elemento em
destaque da Rádio Valente FM é a estrutura proposta no jor-
57
nalismo. Os programas são roteirizados, com pautas e pla-
nejamento para cada edição. Além de avaliações constan-
tes, como narra Tony Sampaio:
– Não existe esse negócio de experiência fazer jor-
nalismo, não há mágica•c você tem que ter informação•c
você tem que trabalhar com responsabilidade e não deve fi-
car fazendo julgamentos.
Tony explica que no dia-a-dia faz contato com as fon-
tes, busca a notícia com responsabilidade e tem a certeza do
que vai trabalhar sem prejudicar terceiros, sem inventar ou
estar a serviço de políticos. Para ele a falta de planejamento
dos programas é coisa de radialista preguiçoso ou a fim de
manipular.
– Claro que um experiente terá melhor possibilidade
de fazer um comentário, por exemplo – reconhece Sampaio
–, mas é preciso trabalhar bem, ouvir os diversos lados para
conseguir, inclusive, formar uma opinião.
Para o radiojornalismo de uma emissora funcionar
bem, Maria Elisa Porchat, no Manual de Radiojornalismo da
Jovem Pan (1993; P. 47), diz que é preciso ter reuniões de
pauta em vários momentos do dia. Segundo ela, as reuniões
são responsáveis, em grande parte, pelo desempenho positi-
vo da Rádio Jovem Pan. •”As matérias já feitas são comen-
tadas, considerando-se a conveniência de prosseguir com
os assuntos”, defende Porchat.
O radialista Edisvânio Nascimento volta a argumen-
tar que o radiojornalismo na Região Sisaleira é comprometi-
do com um lado só:
58
– É o lado que paga – diz ele –, temos que melhorar
muito esse comprometimento. Outra coisa é que estamos
muito voltados para as fontes ditas oficiais como os registros
dos livros de ocorrência da polícia.
Já Nilton Feliz entende que depende muito do radia-
lista e das circunstâncias:
– Por não concordar com algumas situações eu me
exponho muito – argumenta Nilton –, pago um preço por isso
e sou perseguido, às vezes punido, ameaçado... na verdade
eu não tenho paz, mas é meu estilo, né? De coragem, na
verdade. Claro que a gente sabe de nossas limitações por
várias circunstâncias. Quebro alguns tabus. Muita gente tem
medo de falar de assuntos que envolvem polícia, que é um
caso muito complicado. É meu estilo de coragem.
José Ribeiro também contra argumenta a visão de
Edisvânio:
– Eu não sou um sujeito dado a abrir espaço para
que as pessoas digam o que é que eu tenho que fazer –
explica Ribeiro –, aqui na Rádio Regional, por exemplo, já fui
demitido cinco vezes. Estou aqui a mais de vinte anos e sou
o segundo mais velho daqui (...) Fui demitido por não concor-
dar com algumas situações, comentários, por alguém querer
impor.
– E você é feliz fazendo radiojornalismo? – pergun-
to.
– Não – responde Ribeiro –, você tem que ter dois
corações... eu já cheguei a tomar remédio controlado para
conseguir desempenhar minha função. Se eu começasse hoje
59
no rádio eu não faria jornalismo.
Pelo fato de alguns radiojornalistas ouvidos nesta
pesquisa atuarem no esporte ou também no esporte, talvez
seja mais fácil argumentar a ideia de liberdade como explica
o comunicador Tony Brasília:
– A diferença é que no esporte você é mais livre e no
jornalismo não, você tem que se policiar (...) pessoas que
são seus parceiros, seus amigos, com uma “criticazinha” fi-
cam seus inimigos.
A ausência de uma produção qualificada pode ser
explicada pela falta de recursos para investir em boas repor-
tagens. Nilton Feliz informou que os repórteres e comentaris-
tas de seu programa esportivo, por exemplo, na maioria das
vezes são voluntários e nem sempre estão disponíveis para
debates, reportagens especiais e divulgar outros esportes,
além do futebol.
Segundo Tony Sampaio, a Valente FM é referência
na troca de notícias com diversas rádios de Coité, Feira de
Santana e outras cidades. Para ele um diferencial da emis-
sora é apostar no ouvinte:
– Existe um perfil criado por vocês aqui em Valente?
– Temos um perfil do radiojornalismo que é desde o
início da rádio ... eu não sei se foi copiado de outro lugar, mas
é diferente dos outros da região porque é uma programação
aberta para a participação da população e sempre traz temas
importantes para o debate. O Rádio Comunidade hoje é uma
referência nisso.
Volto a falar com o radialista Nilton Feliz para tentar
60
entender um pouco mais aquele argumento sobre a sensa-
ção de liberdade dos radialistas na região.
– Qual a sua avaliação sobre a relação dos dirigen-
tes da rádio e os radiojornalistas?
– Péssima – responde Nilton demonstrando infelici-
dade –, eles impõem, eles querem que você siga uma linha
que não é a sua e nós somos forçados a obedecer. Ou obe-
dece ou cai fora. Então isso não é bom. Para o rádio isso é
péssimo. E talvez as rádios comunitárias, que eu apoio e
admiro também, estão surgindo e crescendo por isso, por-
que elas têm essa liberdade (...) o certo é falar, mas ... eles
não vão deixar que digam as verdades que precisam ser di-
tas contra políticos do seu grupo.
Isso parece ser uma unanimidade mesmo. Tony
Sampaio defende que as rádios comunitárias crescem mais
rápido pela liberdade de contestar, por ouvir mais opiniões e
talvez por não ter o xerife, o dono:
– Você fazer um programa com prazer e sem pres-
são é muito bom – comemora Tony –, aqui [na Valente FM]
não há pressão de não poder ou ter que falar de político a ou
b ... sem maquiagem, sem tapeação ... todas as comerciais
não, mas a maioria é ligada a político e os radialistas não têm
essa liberdade.
Em Riachão do Jacuípe a situação para Gilberto Oli-
veira melhorou nos últimos anos:
– Como é a pressão política da direção da rádio no
conteúdo do programa?
– Quando a rádio é direcionada a um político – ex-
61
plica Gilberto –, você tem que fazer o que ele quer. Tive difi-
culdades no início, mas agora o dono é de Serrinha e meu
trabalho direcionado a Riachão. No início a minha ideia de
fazer algo independente era complicada.
– E a receita qual é? – pergunto.
– No Jornal da Manhã eu procuro sempre fazer com
independência e sem lado político. Falar para todos. Sempre
de forma transparente e imparcialidade. Todos os partidos
falam. Agora eu sempre procuro falar a eles que lá não é o
lugar de tratar de assuntos pessoais. – argumentou Gilberto
Oliveira.
Em Serrinha, pergunto a José Ribeiro:
– Por que você está insatisfeito com o que vive no
dia-a-dia?
– O rádio de Serrinha é provinciano. Meu irmão, o
jornalista Valdomiro Silva, costuma dizer o seguinte: “você é
fim de carreira”, porque ele encara o rádio de Serrinha assim
muito tendencioso; e é realmente – afirmou –, eu não enten-
do o radiojornalismo de Serrinha bem feito, mas pode melho-
rar.
Para Tony Brasília a perseguição nem sempre é de
dentro da rádio:
– No rádio de Serrinha todo dia tem um político pre-
ocupado em processar radialista. Agora mesmo na Câmara
tem um político dizendo que vai fazer um dossiê sobre minha
vida. O rádio é a quarta força e é político. E a gente enfrenta
os políticos porque a gente é o olho do cidadão.
A melhor saída, segundo Vilmara de Assis, é mudar
62
o foco jornalístico.
– Eu defendo que coisa boa também é notícia. Só
que a maioria só quer trabalhar com violência e política, 80%
do que você ouve nos programas jornalísticos na região é
política. Isso é muito ruim.
O problema no pensamento de Aluízio Farias está no
próprio radialista:
– Como assim no radialista? – Pergunto.
– Uma mistura conturbada – comentou ele –, o ra-
dialista acaba transformando a notícia em atrito entre os po-
líticos e isso é muito ruim, mas a relação com as diretorias
das rádios eu tenho tirado isso de letra. Nunca fui chamado a
atenção por nenhum dono de rádio ou mesmo nunca teve
nenhum que chegou pra mim pra dizer o que falar ou não
falar. Eles conhecem meu conceito e conhecem minha ma-
neira.
O debate até aqui centrou-se em pelo menos duas
questões que estão intrinsecamente ligadas: as rádios co-
merciais de Serrinha, Coité e Riachão são concentradas nas
mãos de políticos; e as experiências das rádios comunitárias
Valente FM e Santa Luz levam a crer que, sem o envolvimento
de políticos na gestão da emissora, o debate é ampliado nas
redações e nos programas. Mas este argumento de Aluízio
aponta para o que disseram Gilberto Oliveira, Nilton Feliz e
José Ribeiro: a profundidade, o foco e a narrativa do jornalis-
mo nas rádios também dependem do profissional:
– Como você pode explicar isso Gilberto?
– Eu não crio polêmicas para chamar audiência do
63
povo. Eu sou simples e tudo é natural. Não tem isso de
polemizar para ter audiência. Eu trabalho com a verdade, com
sinceridade, com respeito a todos. – provoca o radialista.
Na Continental Tony Brasília atua por outra lógica:
– A notícia para o programa é aquela que causa
impacto de positivo ou negativo. Você não consegue manter
audiência só com coisas boas. Se você fala que um
motoqueiro atropelou e levou a criança para o hospital as
pessoas vão dizer “não fez mais que a obrigação”, mas se
ele fugir e você disser isso... é isso que vai dar audiência –
ele continua acreditando que o velho grito e tapa na mesa
para chamar a atenção é o que aumenta a audiência –, as
pessoas querem ouvir as coisas ruins. Deveria ser diferente,
mas só coisa boa as pessoas não querem.
– É esse o retorno das pessoas que ouvem o seu
programa? –, insisto.
– Em Serrinha não tem pauta – relata Brasília –,
aqui não tem padrão, ao contrário da capital. Se eu faço a
pauta antecipadamente o povo não quer isso e muda tudo. O
povo liga e dita as regras do programa querendo ridicularizar
o prefeito, o vereador... o povo liga para trazer problemas. A
cada 100 ligações 99 é de coisa ruim.
Sobre a definição de notícia pergunto a Tony Sampaio
se o Jornal Rádio Comunidade da Valente FM, tem alguma
prioridade e ele responde:
– Principalmente aquelas informações que possam
causar um senso crítico nas pessoas – diz ele com facilidade
–, as coisas boas que acontecem, as reclamações popula-
64
res, os acontecimentos do dia-a-dia, a falta de segurança e
diversos temas como a luta pelos direitos trabalhistas das
pessoas da comunidade.
A rádio Valente FM aparentemente sempre separa o
joio do trigo. Tony contou que se um radialista prestar servi-
ços em campanhas eleitorais tem que se afastar da emissora
durante todo o período:
– Eu mesmo me afastei para trabalhar numa cidade
vizinha e depois passei um tempo fora da rádio, demorou um
pouco para voltar porque depende sempre de uma avaliação
sobre o meu comportamento no trabalho que fiz. Isso sem-
pre acontece aqui e está correto.
Vilmara de Assis acredita que o envolvimento político
partidário dos donos das emissoras impede as rádios de fa-
zerem um jornalismo mais plural e muitas pautas de interes-
se público ficam de fora dos programas. E outro problema
que ela já passou ao longo de seus 17 anos de profissão é
que essa relação dos proprietários com a política também
expõe o radialista.
– Que tipo de exposição? - pergunto a Vilmara.
– Antigamente a minha voz ia também para os car-
ros de som das campanhas políticas do dono da rádio – con-
ta Vilmara com ar de arrependimento –, e hoje não faço isso
mais –, argumenta demonstrando alívio.
Cival Anjos entende que o contraponto não é apre-
sentado pelos radialistas por falta de formação profissional:
– Os radialistas precisam entender que, por exem-
plo, em vez de ficar cobrando que a polícia mate bandidos
65
devem abrir o espaço para cobrar dos governantes ações,
melhorias, geração de emprego e renda, qualificação no en-
sino, enfim, a saída para a situação de violência, devemos
exaltar o que é bom para também dar o exemplo.
– E o que impede que isso aconteça?
– Falta qualificação – acredita Cival –, sem qualifi-
cação diminui essa possibilidade de atuação. Eu penso que
pra mim é fácil dizer isso depois de cursar uma faculdade e
ter participado do movimento social, que me deram esta pos-
sibilidade de visualizar isso.
Para entender este comportamento da imprensa fiz
uma entrevista* com a professora e pesquisadora da USP -
Universidade do Estado de São Paulo, Cremilda Medina, num
seminário sobre jornalismo cultural. Ela disse que o jornalista
tem o hábito de procurar uma causa só para tudo, “mas não
é por aí”, alertou. Ela defende que é preciso entrar num pro-
cesso chamado de multicausalidade, ou seja, não buscar
apenas uma causa para os problemas.
– Essa visão de um jornalismo centrado em busca
de um culpado é algo que se concentra mais no interior?
– Não, é geral – respondeu Medina –, É uma ques-
tão que a gente precisa se debruçar.
– Como é possível mudar este comportamento?
– Só existe uma forma de enfrentar esse problema
que é criar laboratório de pesquisa – afirmou Medina.
* Entrevista realizada durante a II Conferência Estadual de Cultura, realizada de26 a 28 de outubro de 2007, em Feira de Santana.
66
Ela defende que as faculdades preparem os estu-
dantes mais para a pesquisa do que para o mercado de tra-
balho, como acontece hoje em dia. Essa talvez seja uma hi-
pótese interessante para se abordar quando o jornalismo
comunitário revela-se mais pretensioso e muitas vezes apre-
senta melhores resultados.
Organizações comunitárias como a Abraço Sisal e o
MOC - Movimento de Organização Comunitária na Região
Sisaleira investem na capacitação dos comunicadores das
rádios comunitárias visando um jornalismo que pesquise a
realidade local antes de qualquer julgamento, avaliação e
outras condutas assumidas pelo jornalismo no dia-a-dia.
Na comparação entre o jornalismo das rádios comu-
nitárias e o das comerciais foram encontrados diversos pon-
tos que são extremos, mas dentro do próprio setor das co-
mercias, lideradas por políticos, não há um mesmo perfil. Em
Conceição do Coité, por exemplo, a Sisal AM tem um perfil
de rádio que apenas promove os políticos de seu grupo e
pouco ataca os adversários, na maioria das vezes os ignora,
ao contrário das rádios de Serrinha. Cival Anjos pensa que a
Rádio Sisal não é concentrada na política porque a emissora
é ligada a administração pública local e, portanto, faz um jor-
nalismo sem polêmicas. Pensamento que é corroborado por
José Ferraz, da Rádio Jacuípe:
– Coité é diferente de Serrinha porque lá só tem
uma rádio e só fala o que o prefeito quer. Então isso dificulta
e a rádio fica ludibriando o povo. Aqui [em Serrinha] tem três,
é diferente.
67
– Eu sempre me exponho – novamente contesta
Nilton Feliz –, porque faço cobranças de ações públicas no ar
e às vezes tenho atritos com algumas prefeituras que inclusi-
ve nos patrocinam, como a de Coité.
Como o debate sobre o tema deve continuar em ou-
tros programas, livros e pesquisas eu resolvi ouvir a opinião
de Cival Anjos para concluir esta etapa e abrir o microfone
para novas discussões:
– Só sei que a forma de fazer rádio na região tem
que ser passada a limpo de verdade, como dizia aqui o nome
de um programa da Continental – afirmou o radialista.
68
Tocando Ética
PROFISSÃO: a legislação e a prática
“É quase impossível, mas o ideal é a liberdade.Que todos pudessem falar. É um sonho… temque surgir uma rádio que ofereça isso”.
A denúncia do radialista Valdemi de Assis refere-se
aos proprietários das emissoras, que na maioria das vezes
colocam seus interesses diante do bem comum. Para o radi-
alista isso se reproduz em todas as emissoras:
– Aqui na região não tem como você cumprir a legis-
lação – comenta Valdemi –, você faz o que determina o pa-
trão. Acúmulo de função, muitas horas no ar, pouca estrutu-
ra, não pode falar o que realmente tem que falar.
O cumprimento do Código de Ética do Jornalismo não
está presente de forma explícita no rádio da Região Sisaleira.
É possível ouvir constantemente radiojornalistas fazendo de
conta que está ao vivo num determinado local, quando de
fato está no estúdio e solta uma gravação. Isso é feito para
conquistar prestígio e dizer que é “boca quente”, mas no rá-
dio, que é um veículo íntimo, deve prevalecer a verdade para
conseguir conquistar o ouvinte. Quem quer ouvir aquele ou
este conteúdo não desliga o rádio porque não é ao vivo. En-71
tão por que mentir? Para que esconder que a entrevista é
gravada? Qual o problema disso?
Mas esse não é o único problema. Ao longo dos meus
estudos fui entendendo que o comunicador deveria tomar
como base para suas ações pelo menos os seguintes docu-
mentos: Código de Ética dos Radialistas, Código de Ética
dos Jornalistas e a Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos, que completou 61 anos em 2009, além, é claro, da Cons-
tituição Federal de 1988, que é a Carta Magna de todos os
brasileiros. Muitos dos radialistas que entrevistei nunca le-
ram nada sobre o assunto. Alguns que, por exemplo, já leram
o Código dizem que é impraticável.
A Lei dos Radialistas foi criada na década de 1970, e
está valendo desde 16 de dezembro de 1978 com o número
6.615. Nesta legislação, admite-se como radialistas aqueles
que comprovem a atuação no rádio anterior a esta data. Era
o chamado “direito adquirido”. Depois de 1978, somente po-
dem trabalhar como profissionais em empresas de radiodifu-
são quem tiver a carteira da DRT, que é o Registro na Dele-
gacia Regional do Trabalho.
Em 1979, surge o Código, com o Decreto 84.134, de
30 de outubro 1979, que trata de regulamentar as funções e
setores de atuação do profissional de rádio.
Diz o Código:
Art. 7 - Para registro do Radialista é necessáriaa apresentação de: I - diploma de curso superi-or, quando existente, para as funções em quese desdobram as atividades de Radialista, for-
72
necido por escola reconhecida na forma da lei;ou II - diploma ou certificado correspondente àshabilitações profissionais ou básicas de segun-do grau, quando existente, para as funções emque se desdobram as atividades de Radialista,fornecido por escola reconhecida na forma dalei ou III - atestado de capacitação profissional.(Código do Radialista, 1979)
Alguns radialistas concordam com a obrigatoriedade
da DRT, mas nem sempre do diploma de nível superior. É o
caso do Radialista Gilberto Oliveira:
– Toda formação é boa – acredita Oliveira –, mas
não adianta você ir para a faculdade fazer um curso e dizer
que agora vai narrar futebol. Tudo é dom.
Com a criação do Curso de Rádio e TV na UNEB, em
Conceição do Coité, muitos radialistas discursam preocupa-
dos com os formandos. Entendem que simplesmente chegar
com o diploma na mão não significa ser um radialista. A
comunicadora Vilmara de Assis defende a necessidade da
faculdade de comunicação para quem quer trabalhar no rá-
dio, mas faz um alerta:
– Agora um detalhe, a gente respeita muito quem
está chegando e essas pessoas devem respeitar a gente tam-
bém, pois a experiência é válida – aconselha Vilmara.
Um dos princípios fundamentais do jornalismo pre-
sente no Código é “ouvir sempre, antes da divulgação dos
fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas
em uma cobertura”. O Artigo 12 do Código de Ética dos Jor-
nalistas define que o profissional deve:
73
I - ressalvadas as especificidades da assesso-ria de imprensa, ouvir sempre, antes da divul-gação dos fatos, o maior número de pessoas einstituições envolvidas em uma coberturajornalística, principalmente aquelas que são ob-jeto de acusações não suficientemente demons-tradas ou verificadas;
II - buscar provas que fundamentem as infor-mações de interesse público;
III - tratar com respeito todas as pessoas men-cionadas nas informações que divulgar;
IV - informar claramente à sociedade quandosuas matérias tiverem caráter publicitário oudecorrerem de patrocínios ou promoções;
V - rejeitar alterações nas imagens captadas quedeturpem a realidade, sempre informando aopúblico o eventual uso de recursos defotomontagem, edição de imagem,reconstituição de áudio ou quaisquer outrasmanipulações;
VI - promover a retificação das informações quese revelem falsas ou inexatas e defender o di-reito de resposta às pessoas ou organizaçõesenvolvidas ou mencionadas em matérias de suaautoria ou por cuja publicação foi o responsá-vel;
VII - defender a soberania nacional em seus as-pectos político, econômico, social e cultural;
VIII - preservar a língua e a cultura do Brasil,respeitando a diversidade e as identidades cul-turais;
74
IX - manter relações de respeito e solidariedadeno ambiente de trabalho;
X - prestar solidariedade aos colegas que so-frem perseguição ou agressão em conseqüên-cia de sua atividade profissional. (FENAJ, Códi-go de Ética dos Jornalistas, 2007)
– Da forma que eu aprendo eu procuro colocar em
prática – explica Cival Anjos –, mas essa questão de ética na
prática quase não funciona aqui na região.
– E o que pode ser feito para mudar esta realidade?
– pergunto.
– Nós deveríamos fazer nossa própria censura e
definir que algumas coisas não deveriam ir ao ar, devería-
mos ler e cumprir os manuais e código de ética; principal-
mente os radialistas mais velhos que não ligam pra isso.
– Tem outra coisa – alerta Aluízio Farias –, nada de
piadinha no ar. Não coloco informações que a pessoa me
pede segredo no ar e tem muita coisa no rádio que não deve-
ria ir ao ar e não deve ir para o rádio a desavença familiar que
está escrita nos registros da polícia, por exemplo, isso eu
vejo muita gente fazendo e não deveria ser colocado no ar de
jeito nenhum. Não vai resolver nada.
– Os processos que muitos enfrentam referem-se
diretamente com ao descumprimento do Código de Ética? -
pergunto a Farias.
– Sim – respondeu demonstrando experiência no
assunto –, ética tem que existir em todos os sentidos. E a
75
ética profissional deve funcionar. Por isso eu nunca sofri ne-
nhuma agressão nem física nem verbalmente – ele lembrou-
se de um amigo que criticava seu estilo moderado de ser no
rádio –, sempre me comportei bem em rádio e eu tinha um
companheiro que dizia que eu gostava muito de ensebar, ou
seja, defender as pessoas. Mas é melhor defender do que
ridicularizar. E lá na frente quando se precisar fazer uma crí-
tica você faz.
Gilberto Oliveira também entrou no debate:
– Não tenho problema nenhum na justiça e penso
que isso é por causa da responsabilidade. Procuro sempre
cumprir as leis. Faço rádio com responsabilidade.
De volta a Serrinha, é hora de ouvir o experiente José
Ribeiro que tem 30 anos de rádio.
– Zé como se dá a prática dos princípios éticos nos
seus programas? – pergunto.
– Eu nunca respondi a nenhum processo por ter
feito qualquer coisa que vá de encontro à ética ou que diz
respeito a minha vida profissional ou que está escrito na Lei
de Imprensa.
– E como você se comporta?
– Eu sempre me pautei pela seriedade, embora eu
brinque muito no rádio, mas quando é pra falar sério eu falo
mesmo. Nunca fui ao Fórum pra responder processo e posso
ser o maior mentiroso de Serrinha e da Bahia, mas sou inca-
paz de mentir nos microfones.
Depois disso Ribeiro lembrou-se que, em 2000,
descumpriu a Lei Eleitoral ao divulgar uma pesquisa sem re-
76
gistro. Segundo ele, o programa ficou fora do ar por 30 dias:
– Foi um comentário infeliz que eu fiz com o Juiz de
Serrinha. Ele veio na emissora, pediu para falar, explicou tudo
aos ouvintes e mandou suspender imediatamente eu e o pro-
grama por 30 dias. Por pouco não tirou a rádio também.
Ele também se envolveu noutra polêmica, em 2009,
quando o vereador Jorge Gonçalves (PT) lhe denunciou por
tentativa de extorsão. José Ribeiro esclareceu que tudo não
passou de um mal entendido:
– É o caso do vereador Jorge foi que ... eu ofereci a
ele um espaço para um comercial na Rádio Regional e ele
não quis. No outro dia fiz um comentário sobre outro assunto
também na rádio e ele não entendeu e deu uma polêmica,
mas isso nós já esclarecemos.
Segundo ele, muitos confundem também o seu tra-
balho na internet com o trabalho no rádio. “Para aparecer no
meu blogue tem que pagar mesmo porque tem um custo pra
isso”, comunicou.
– Aqui no interior ética funciona assim – comentou
Tony Brasília –, se você for aliado o cara lhe trata bem e vice-
versa. Se você não for aliado por mais que você o trate bem,
ele não quer saber se você tem ética ou se você não tem, ele
quer é mandar ver. E se você suportar segura como a gente
está segurando até hoje.
Na Rádio Valente FM o princípio da ética é um dos
mais fundamentais da emissora, segundo informou Tony
Sampaio. O âncora do jornalismo disse que já recebeu pres-
são para divulgar nomes de pessoas que foram ao seu pro-
77
grama anonimamente fazer alguma denúncia:
– Recebemos também ligações com ameaças por
estarmos tocando em algum assunto que alguém não queria,
mas nunca abrimos mão desse dever de proteger nossas
fontes e a maior agressão que sofremos aqui foi mesmo da
Polícia Federal.
– A formação influencia no comportamento do radi-
alista? – perguntei.
– Não sou formado em jornalismo, mas aprendi em
muitos cursos que fiz como se comportar no radiojornalismo
– informou Tony Sampaio – , aprendi que não devo me apro-
veitar da notícia pra fazer autopromoção, sensacionalismo,
mexer com vida pessoal das pessoas, misturar o trabalho no
rádio com as conversas na rua e aqui estamos sempre cum-
prindo os princípios éticos do jornalismo com base nessas
capacitações. Agora eu tenho vontade de fazer o curso de
rádio.
Independente de ser rádio comunitária o tratamento
desta questão de ética e prática deve ser levado à risca. Ser
comunitária como a Valente FM não nos dá garantia de emis-
sora ética. A mesma coisa se a rádio for comandada por po-
lítico ou não. Ser político e dono de rádio não significa ter um
jornalismo antiético. Para a maioria dos entrevistados a ques-
tão também é individual de cada profissional e não depende
apenas da formação de nível superior. Outra questão que
tem ligação direta com o cumprimento das leis e tratados da
profissão é a terceirização de horários no rádio.
78
TERCEIRIZAÇÃO: a falsa liberdade comprada
Desde os tempos do Estado Novo que o uso dos
meios de comunicação e as estratégias de quem não tinha
os veículos a seu favor são feitos na base da compra de es-
paço publicitário ou mesmo com a criação de meios alterna-
tivos. Segundo Skidmore (1982) Vargas também enfrentava
os meios de comunicação de massas com caminhões equi-
pados com alto-falantes e volantes impressos. Na Região
Sisaleira os políticos financiam horários e pagam matérias: e
se aproveitam dos radialistas que precisam de grana para
“pagar a rádio”. Isso mesmo. Rádio não paga a ninguém.
Quem quiser ser radialista tem que pagar a rádio:
– Para sobreviver no rádio aqui na região tem que
fazer jabá – abre o jogo José Ferraz, que disse não ter língua
presa –, eu nunca gostei porque perde a credibilidade, mas
tem radialista aqui que quando o prefeito não paga ele bate
no ar. Eu trabalho na rádio e sou servidor público pra sobrevi-
ver porque notícia paga é ruim, isso é péssimo no rádio. Em
2004, uma revista e um jornal disseram que Zevaldo ganha-
va a eleição e ele perdeu. Não posso dizer que foi matéria
paga, mas dá pra desconfiar.
Ferraz criticou a postura das emissoras que em nome
do dinheiro aceitam qualquer pessoa fazer programa:
– Tem gente que pensa que Jornalismo e Radialismo
é a mesma coisa. Com esse negócio de queda do diploma
todo mundo quer ser radialista. Esse negócio de horário
terceirizado é ruim. Tem rádio aí que todo mundo que quiser
79
comprar um horário compra.
Tony Brasília, que trabalha neste sistema, afirma que
realmente é assim que funciona:
– O programa terceirizado é ruim porque você fica
escravo para pagar a rádio e tem um custo muito alto, inclusi-
ve a sua liberdade de expressão. Você depende de políticos,
o comércio não banca isso sozinho. Às vezes quer dar ape-
nas uma ajuda.
Nos seus quase 50 anos de rádio como “colabora-
dor”, como ele mesmo diz, Aluízio Farias verifica que a
terceirização do rádio faz com que haja um desempenho maior
de seus profissionais:
– E foi uma forma que as rádios encontraram para
diminuir os gastos – considera Farias –, mas eu não sou a
favor. Radiojornalista não tem que vender comerciais, mas
acredito que o jabá também foi quem ajudou nesse processo
da terceirização. Uma coisa é a gratificação que tem desde o
início do rádio. Mas esse esquema de jabá antigamente não
tinha. Eu condeno essa prática.
Também na Regional, onde atua Aluízio Farias, há
opiniões divergentes.
– Esse negócio de jabá foram os donos de rádio
que criaram. Eu não vejo esse negócio de jabá. Quando um
ouvinte ou um comerciante lhe dá uma ajuda é problema do
locutor ... Já me chamaram de “jabazeiro”, descontaram do
meu salário, mas eu já desafiei a encontrarem alguma coisa
contra mim - comenta José Ribeiro.
Sobre a terceirização ele disse que já quis terceirizar,
80
mas o dono da rádio não aceitou.
– Como eu sou muito polêmico – argumenta Ribeiro
–, e iria faturar muito, então eles não deixaram.
Para ele a terceirização é boa para o radialista e
para o dono do rádio.
– Só não é boa para o ouvinte, mas todas as emis-
soras do mundo estão fazendo isso e não tem pra onde fugir
– explica o radialista –, mas a qualidade do jornalismo fica
duvidosa. A pessoa paga por um produto seja ele ruim ou
não.
Tony Sampaio é contra a terceirização no rádio, prin-
cipalmente no jornalismo e no esporte. Para ele “o bom é a
rádio dar condições de trabalho para o comunicador. Pelo o
lado do radialista pode até ser bom para ganhar dinheiro,
mas para o rádio não é bom”, defende.
– Terceirização do rádio é um jogo perigoso – consi-
dera Edisvânio Nascimento da Santa Luz FM –, muitos
radiojornalistas da região são bancados por políticos e isso é
muito ruim. Por mais vontade que você tenha de fazer a coi-
sa certa você sabe que depende do dinheiro para se manter.
Os radiojornalistas Nilton Feliz e Gilberto Oliveira eram
contratados da rádio, mas agora pagam para falar:
– Sempre trabalhei para a rádio – disse Gilberto –, e
hoje estou terceirizado. Essa é uma questão que requer um
pouco de estudo. Você pode ter certa liberdade, mas ao mes-
mo tempo poderá somente divulgar o que é pago. Isso é ruim.
A mudança não interferiu neste sentido na minha postura
antes e depois, mas nem sempre é assim.
81
– Sendo funcionário eu tinha meus direitos de profis-
sional respeitados – lembra Nilton –, férias, décimo terceiro,
FGTS eram pagos pela rádio agora nada e eu acredito que
enquanto funcionário certamente eu tava agradando. E de-
pois, eu estou no rádio porque eu pago. Por eles gostarem ou
não do trabalho eles não levam isso em conta, querem é rece-
ber, querem é o dinheiro para manter a rádio. Esse é o motivo.
Para finalizar este debate vamos conhecer mais um
importante Artigo do Código de Ética do Jornalismo:
Artigo 11. O jornalista não pode divulgar infor-mações:
I - visando o interesse pessoal ou buscando van-tagem econômica;
II - de caráter mórbido, sensacionalista ou con-trário aos valores humanos, especialmente emcobertura de crimes e acidentes;
III - obtidas de maneira inadequada, por exem-plo, com o uso de identidades falsas, câmerasescondidas ou microfones ocultos, salvo emcasos de incontestável interesse público e quan-do esgotadas todas as outras possibilidades deapuração; (FENAJ, Código de Ética dos Jorna-listas, 2007)
Ainda segundo o Código de Ética dos Jornalistas, quem
descumprir o que está previsto será sujeito “às penalidades de
observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro so-
cial do sindicato e à publicação da decisão da comissão de
ética em veículo de ampla circulação”, diz o Artigo 17.
82
Os radiojornalistas sisaleiros
Todo mundo já mostrou seus pensamentos em cada
debate aqui promovido, mas agora é o momento de conhe-
cermos a história e as perspectivas profissionais de cada um
dos radiojornalistas entrevistados. As entrevistas no ponto de
vista dos objetivos são do tipo “em profundidade”.
Segundo Lage (2006), o objetivo deste tipo de entre-
vista não é explorar um tema em particular ou um aconteci-
mento específico. Ele aponta que a ideia deste tipo de entre-
vista é ter como foco:
[...] a figura do entrevistado, a representação demundo que ele constrói, uma atividade que de-senvolve ou um viés de sua maneira de ser,geralmente relacionada com outros aspectos desua vida. Procura-se construir uma novela ouum ensaio sobre o personagem, a partir de seuspróprios depoimentos e impressões. (LAGE,2006, P. 75)
E quanto às circunstâncias de realização, segundo
Lage (2006; P-77), as entrevistas são “dialogais”, ou seja, é a
entrevista por excelência e é marcada com antecedência com
fins de aprofundamento e detalhamento dos pontos aborda-
dos.
Os entrevistados formam um conjunto plural e repre-
sentativo dos profissionais que atuam na produção de notíci-
as para o rádio nesta região. O objetivo, portanto é conhecê-
los mais de perto.
85
O radiojornalista poeta
Sempre na defesa dos direitos da criança e do ado-
lescente, o radialista Edisvânio do Nascimento Pereira, é uma
das referências do rádio comunitário no Brasil. Escolhido pela
ANDI - Agência Nacional dos Direitos da Infância como Jor-
nalista Amigo da Criança, em 2007, o comunicador baiano
faz da deficiência visual uma fortaleza para enxergar o mun-
do com o coração. Emocionado e com lágrimas no rosto ele
contou cada momento da sua difícil trajetória de poeta a co-
ordenador executivo da Rádio Santa Luz FM, uma das princi-
pais emissoras comunitárias do país.
Foto 1 - Edisvânio Nascimento. Rádio Santa Luz FM - 02.11.2009
86
O radialista de cabelos amarelados e já um pouco
calvo é poeta e nasceu na pequena fazenda Boa Vista, em
Quijingue-BA, no mês de julho de 1978, numa pequena casa
da zona rural. Foi lá que começou a escrever as primeiras
linhas da arte literária, usando lápis e caderno. Os pais semi-
analfabetos e sempre trabalhando duro no roçado. Edisvânio
não trabalhava como os irmãos porque era portador de defi-
ciência visual e tinha problemas de saúde, apenas se dedi-
cava a seus escritos.
A dor de ser pobre, semi-analfabeto e da zona rural
de um dos municípios de menor IDH* do Brasil lhe fizeram
escrever os sentimentos através da poesia. Encontrou-se na
literatura de cordel e aprendeu a fazer sonetos e prosas so-
bre amor, natureza e o cotidiano sertanejo. Autor de O fim
dos tempos e A luta de Zé Luiz pelo amor de Rosinha tem
vários outros livros sem publicar, dentre eles o Evangelho de
São Matheus em poesia e Joãozinho o menino que venceu.
Quando fala sobre os livros se emociona e desabafa que lhe
faltam recursos, patrocínio e até mesmo reconhecimento para
colocar suas ideias disponíveis ao público.
O desafio de vencer os problemas da vida começou
logo cedo, mas foi em meados da década de 1990 que teve
os primeiros contatos com os microfones de rádio. Aquele
contato na Rádio Sisal AM, através de um programa de Nelcy
Lima da Cruz, “o poeta de Santa Luz”, mudaria para sempre
os destinos do jovem poeta. De lá partiu para o Serviço de
Alto-falante de Santa Luz coordenado por Manoel de Léia.
Meio tímido, dava hora e lia alguns textos, inclusive às poesi-
87
as que fazia. A repercussão do bom trabalho do poeta correu
pela cidade luzense, que adotou como morada. Quando sur-
giu o movimento de criação da Santa Luz FM, em 1998,
Edisvânio foi convidado a participar por Manoel, que já era
parceiro no alto-falante.
Atualmente ele está na programação em dois horári-
os: o primeiro das 8h às 10h da manhã, com um programa de
variedades, e o segundo ao meio dia, com o jornalismo.
Edisvânio Nascimento entra no ar na hora do almoço, ao lado
de jovens comunicadores que estão iniciando na profissão.
Ele é uma espécie de referência para os garotos e ao mesmo
tempo um colega de trabalho. No ar, recebe ligações de di-
versas pessoas que sentem no poeta uma companhia agra-
dável. Com uma fala sempre segura, porém suave, e boa
leitura ele narra os fatos e faz comentários interpretativos das
notícias.
Quando o assunto é a luta pela democratização da
comunicação aí ele não perdoa e, como se diz no popular,
ele “desce a madeira”. Não tem medo das grandes redes de
comunicação e nunca se entregou nas horas mais difíceis.
Edisvânio já andou até em camburão da Polícia Federal por
fazer rádio sem concessão até 2008.
O comunicador conta que participou de diversos cur-
sos sobre comunicação realizados por ONGs e pelo UNICEF,
também fez o Curso de Radialista para “tirar” a DRT** ofere-
cido pelo sindicato da categoria e a UEFS - Universidade Es-
tadual de Feira de Santana, em 2005. Responsável pelos
rumos da emissora onde trabalha, também coordena proje-
88
tos de formação de novos comunicadores visando aprimorar
os conhecimentos dos mesmos. Começou a estudar no Cur-
so de Letras na UNEB, em Coité, mas acabou desistindo e
disse que pretende fazer faculdade de comunicação.
A história da Rádio Favela de Belo Horizonte-MG
mostrada no filme Uma onda no ar (2002), também se refle-
tiu na Santa Luz. Em 2007, o UNICEF e o Estado brasileiro
bateram cabeça e perderam a rima da poesia. Um homena-
geava e o outro o repreendia.
– Este foi o momento que mais te marcou?
– Exato – respondeu Edisvânio –, a rádio estava
fechada pela Polícia Federal e a Anatel e ao mesmo tempo
eu recebia a notícia de ter sido escolhido Jornalista Amigo da
Criança, sendo que eu era apenas um radialista sem rádio e
no Sertão da Bahia, aliás, somente dois da Bahia foram pre-
miados. O outro era um jornalista do A Tarde... depois de
minha participação na cerimônia de premiação, em Brasília,
o Governo Federal levou um “tapa” na cara e logo depois
desarquivou o processo da rádio. A outorga foi liberada no
ano seguinte.
Mais emoção e uma sensação de vencedor já esta-
vam no ar, misturada com as lágrimas que ainda desciam.
Alívio e gratidão: parecem que foram estes os sentimentos
demonstrados pelo radialista quando contava a história. O
alívio da perseguição que sofria quando não tinha a outorga
de funcionamento, mas precisava fazer as campanhas con-
tra o trabalho infantil e em defesa do ECA - Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente que lhe deram o prêmio, e a gratidão
89
pelo próprio prêmio oferecido pela ANDI e o UNICEF, que
serviu também como pressão internacional. De certa forma a
certificação repercutiu nos destinos da emissora e do
comunicador, que depois do título nacional recebeu convites
de outras rádios, mas “preferi continuar em Santa Luz para
batalhar na luta pela liberdade e autonomia”, acrescenta.
Edisvânio ajudou a criar a Agência Mandacaru de
Comunicação e Cultura, um projeto desenvolvido pelo MOC
- Movimento de Organização Comunitária. Na entidade, for-
mada por jovens de vários municípios, ele produziu diversas
reportagens especiais. Foi premiado com a série “As pedrei-
ras de Santa Luz”, em que denunciou os maus tratos que
vivem os trabalhadores da pedra no município. Os mutilados
sem auxílio e as pessoas que continuam trabalhando sem
segurança foram o ponto forte da investida do comunicador,
além deste, teve vários outros produtos publicados em sítios
na Internet e divulgados em emissoras da região. Em 2004,
ele ajudou a criar e ainda é diretor da Abraço Sisal - Associa-
ção de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal.
No final da entrevista que realizei com Edisvânio na
sala de reuniões da rádio, no dia 28 de setembro de 2009,
ele fez um pedido:
– Paulo não me faça chorar mais não, viu? (risos)
Um dia eu lhe pego, – prometeu.
Apenas sorri e agradeci outra vez, mas fiquei com
vontade de dizer que aquela tarde para mim foi mais uma
lição de como se segurar para não perder o controle da en-
trevista em momentos de muita emoção como foram aqueles
90
50 minutos de conversa “em profundidade”.
* Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil. Atlas do Desenvolvi-mento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)(2000). Página acessada em 17 de outubro de 2009. Quijingue tem IDH - Índicede Desenvolvimento Humano em 0.526. É o segundo pior da Bahia e um dospiores do Brasil.
** Art. 6° do Código do Radialista - O exercício da profissão de Radialista requerprévio registro na Delegada Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho oqual terá validade em todo o território nacional. Não é obrigatório para quem atuaem Rádios Comunitárias.
91
Uma mulher em movimento
Em pleno meio dia de domingo (23 de janeiro de1972), eu estava chegando... Nasci em casa(parto natural) e já cheguei toda pintadinha! Éque a minha mãe teve catapora na gestação eeu acabei pegando a doença antes mesmo denascer. Foi tudo tranquilo, isso porque o meupai conseguiu um médico, na época recém-for-mado, que estava na cidade a passeio e que fezo parto. (VIDA PESSOAL,www.vilmaradeassis.com.br).
A tímida menina da infância e adolescência se tor-
nou, aos 20 anos de idade, uma das primeiras apresentado-
Foto 2 - Vilmara de Assis. Rádio Regional AM - 29.10.2009
92
ras de jornal de rádio da Região Sisaleira. “No início foi difícil
porque havia muito preconceito com as mulheres por parte
das pessoas que estavam fora e dentro do rádio, mas eu
conquistei meu espaço e o respeito dos colegas”, argumen-
tou.
O nome verdadeiro não “emplacou” como se diz na
gíria. Batizada de Vilmara Maria Silva ela teve novo nome no
rádio, em 1992, quando apresentava o quadro de Cartas do
Ouvinte no Programa Alô Sertão. “Logo o povo começou a
me chamar de Vilmara de Assis por causa de meu irmão
Valdemi de Assis que era apresentador do programa e já bas-
tante conhecido na região”, explica a comunicadora.
Apresentadora - De posse do sobrenome do irmão
ela começou a criar o estilo próprio de se comunicar com o
público. Quando veio o programa Jornal das Oito entrou para
apresentação se tornando, ao lado de Genivaldo Silva, ânco-
ra do noticiário. O jornal que ficou no ar na Rádio Sisal por
mais de 10 anos e era líder em audiência. “A equipe era mui-
to unida e todo o trabalho feito no coletivo”, lembra.
A base do jornal era notícia da região com política e
noticiário policial. Ela sentia falta de outros temas em debate
na rádio e foi aí que criou o Mulher em Movimento. “A minha
realização no rádio é esse programa. Com ele eu trato de
temas que não abordava nos programas jornalísticos e tenho
mais contato com o público”, declara. O programa ainda está
no ar nas manhãs de segunda a sexta pela Rádio Regional
de Serrinha. E o Jornal das Oito ficou no ar durante dois anos
também na Regional, depois de sair da Sisal, em 2006. Ela
93
contou que foi demitida da Sisal e até hoje não recebeu ne-
nhuma explicação sobre o motivo. No mesmo ano foi contra-
tada pela Rádio Regional AM de Serrinha onde apresenta
um programa de entretenimento dedicado ao público femini-
no.
No Grupo Lomes, Vilmara também atuou com outros
programas jornalísticos na Regional e ajudou a criar e foi
apresentadora do Pauta Livre da Rádio Morena FM, porém
não conseguiu o sucesso que esperava nestas experiências.
“O estilo do radiojornalismo de Serrinha é diferente”, argu-
menta. Para ela, na Rádio Sisal tudo era organizado para
acontecer. “A gente trabalhava muito porque tínhamos pou-
cos recursos tecnológicos, mas a equipe era grande. Em
Serrinha não. Com toda estrutura disponível faltam profissio-
nais. A gente hoje no rádio faz tudo sozinha”, compara. Se-
gundo ela a principal diferença é que em Coité se preparava
antes, tinha equipe e tudo que ia para o ar era planejado e
em Serrinha a base dos programas são os comentários dos
apresentadores/comentaristas.
Boa entrevistadora que é, se lembrou também de uma
entrevista com Antônio Carlos Magalhães (ACM), em 2001,
na época do grampo do Senado. “Ele entrou ao vivo no Mu-
lher em Movimento por telefone e no outro dia a entrevista foi
publicada na íntegra no Correio da Bahia (risos). Nesta en-
trevista ele falou da renúncia do mandato. Isso foi muito
marcante pra mim, pois foi um furo de reportagem que todo
mundo queria”, comemorou.
Durante o bate-papo com Vilmara duas paradas para
94
um diálogo com Gabi. A garota que é filha da radialista é a
sua principal companhia quando está em casa. Orgulhosa
por ser mãe, falou que a experiência vivida nestes 10 últimos
anos também ajudou no desenvolvimento do programa. “A
minha experiência como mãe facilitou muito para que eu pu-
desse discutir vários temas ligados à gravidez e aos filhos
com minhas ouvintes”, considerou.
“Eu procuro usar a comunicação não apenas como
fonte de realização e sobrevivência, mas como forma de pro-
porcionar aos meus ouvintes conhecimento, alegria e paz in-
terior”. Falando com tranquilidade e com uma boa dicção,
sempre alegre e muito sorridente foi assim que Vilmara de
Assis se comportou na entrevista que realizei na residência
da própria comunicadora numa tarde de terça-feira, 15 de
setembro de 2009.
Nas mais de duas horas de conversa, ela contou
muitas histórias e experiências, mostrou seus pensamentos
sobre o rádio e a profissão de radialista. Sonhou com uma
rádio democrática e declarou que nasceu pra ser o que é.
Perguntei o que seria se não fosse comunicadora de rádio e
ela não soube explicar. “Eu não sou locutora, eu sou uma
radialista. Comecei fazendo a locução de um comercial a
pedido de meu irmão e hoje sou apaixonada pelo que faço.
Eu faço de tudo um pouco, mas o que gosto mesmo é da
produção e apresentação de programas, em especial o Mu-
lher em Movimento”, afirma.
– Muito obrigado pela a atenção nesta entrevista.
– Eu que agradeço a você e desejo sucesso em sua
caminhada.
95
Do sisal ao rádio: uma trajetória desucesso
Trabalhou na roça quando criança. Viveu com as tias
durante a infância no povoado de Bandiaçu, em Conceição
do Coité, e recorda que “antes de nove anos eu já trabalhava
no motor de sisal, mas foi com nove anos que recebi meu
primeiro pagamento de cem cruzeiros”, conta Lucivaldo dos
Anjos Oliveira.
“Estudava e trabalhava, mas depois parei na 4ª sé-
Foto 3 - Cival Anjos. Rádio Continental AM - 11.11.2009
96
rie. Voltei a estudar já aqui em Serrinha, quando meu pai
resolveu me tirar da roça e me trouxe para a cidade, onde fiz
vários trabalhos e estudava”, relembra. “Não fiz curso para
rádio, mas tenho DRT por ter comprovado experiência”.
Cival foi o primeiro radialista de Serrinha a frequentar
o Curso de Rádio e TV da UNEB e disse que não pretende
parar os estudos após a formatura.
O radialista faz operação de áudio, participa como
repórter esportivo num programa jornalístico e apresenta o
programa de esportes e a Revista Continental. A trajetória de
Cival desde aquele 15 de abril de 1967, quando nasceu, ao
momento desta entrevista, em 23 de setembro de 2009, foi
marcada com muita perseverança e vontade de vencer. Tam-
bém de vitórias. Os olhos brilham, a voz demonstra seguran-
ça e algumas pausas nas frases. Ele pensava e falava com
atenção a cada pergunta.
Conversamos ali mesmo no ambiente de trabalho:
Rádio Continental de Serrinha, a antiga Difusora. O prédio
tem paredes brancas e alguns detalhes em azul, existem sa-
las de produção, estúdios, sala de visita, banheiros e uma
varanda. Conversamos na varanda, que tem vista para a Praça
Luiz Nogueira, onde quase tudo acontece naquela cidade.
Na mesma praça tem uma igreja, a prefeitura e outras duas
rádios. O calor era grande e a história também.
No dia-a-dia ele é amigo de todo mundo tanto no rá-
dio, na Faculdade como na rua. Mas antes era muito mais
difícil. Desde os tempos do motor de sisal à profissão de vigi-
lante que exerceu de 1987 a 1999. Na época Lucivaldo virou
97
delegado sindical da categoria. Se tornou conhecido na cida-
de e, em 1995, começou na comunicação falando a hora cer-
ta no Serviço de Alto-falante Vagão Som, por incentivo do
comunicador Luis Antônio. De lá, em 1998, seguiu para a
Rádio Comunitária Serrinha FM, que foi fechada dias depois
por não ter outorga. Em 2000, teve a primeira oportunidade
no radiojornalismo apresentando o Jornal Falado da Rádio
Difusora AM. Foi substituir o radialista Maurílio Souza que
era candidato a vereador. Depois comprou horários e foi ocu-
pando outros espaços.
Na mesma época, começou a participar de transmis-
sões esportivas ainda pela Difusora e, insatisfeito com a pos-
tura do diretor da rádio, resolveu ir para a Regional, em 2001.
“Eu não dormi direito quando Reinaldo Lima disse que eu iria
estrear no final de semana transmitindo jogo da Copa Bahia
com o “professor” Aluízio Farias direto de Ipiaú, mas depois
deu tudo certo. O jogo foi bom apesar do aperto que passa-
mos lá. Muita chuva, pingueira na gabine e sem retorno de
áudio”, lembrou.
Na mesma época fez reportagens de rua para o pro-
grama A voz do Povo, de José Ribeiro. “O garoto dos bairros
foi o que mais me marcou. Eu pude através do rádio, na épo-
ca na Regional, ajudar muita gente. Um exemplo é o asfalto
de algumas ruas de Serrinha que foram cobranças que reali-
zamos na rádio”, comemora.
Já em 2003, Cival Anjos, como é conhecido, partici-
pou da experiência de uma TV do Governo de Josevaldo Lima,
em Serrinha. A emissora não durou muito, pois também não
98
tinha concessão para funcionamento.
Depois de um período fora do ar, em 10 de janeiro de
2005, com programa terceirizado, retornou para a Continen-
tal AM. Em 2008, foi contratado como funcionário da emisso-
ra com Carteira de Trabalho assinada.
Experiente na vida, casado e pai. “Meu filho de 9 anos
diz que quer ser radialista e isso é muito bom. Eu gosto muito
de rádio e futebol e muitas pessoas que estão próximas de
mim também aprenderam isso”, fala emocionado. Experien-
te no rádio e na vida, Cival considera que trabalhou, conquis-
tou e venceu. ”Sou um apaixonado pelo que faço”, concluiu.
99
Deus, Ferraz e o povo!
“Êta rapaz! Hoje o pau tá comendo na rádio Conti-
nental”, comentou minha vizinha logo cedo. Liguei o rádio e
pude conferir que realmente era um dia agitado, apesar da
data. Era feriado municipal em Serrinha e também em Coité,
pois o 23 de setembro é Dia do Evangélico nas duas cidades.
Tomei um banho, comi uma maçã e desci a ladeira da Rua
Carijé em direção ao centro da cidade. Não dava tempo para
Foto 4 - José Ferraz. Estúdio da Rádio Jacuípe AM, em Serrinha - 29.10.2009
100
mais nada. Já passava das 7h30 da manhã. Peguei um fa-
moso “carro bomba” e fui para Serrinha. Esperar um ônibus
do transporte “oficial” não era um bom negócio naquele mo-
mento.
Um dos meus entrevistados daquela manhã sairia do
ar às 8 horas e esse era o momento ideal para a conversa.
Afinal hoje é feriado. Tarde demais. Quando cheguei para a
minha primeira visita ao estúdio da Rádio Jacuípe AM na “Prin-
cesa os Tabuleiros” já eram 8h20 da manhã. “Ele já foi”, res-
pondeu o vigilante.
– E agora como faço para falar com ele?
– Ligue pra o celular. Aqui o número.
– Tá legal. Obrigado!
– Liguei e logo ele atendeu.
– Oi Ferraz! Como vai? É Paulo Marcos.
– Diga rapaz! Isso é hora? Esperei aí e você não
chegou então eu vim aqui em casa. Espere aí que daqui a
pouco eu volto.
– Valeu! Estarei aqui.
Passaram vinte minutos e ele chegou todo apressa-
do.
– E aí rapaz! Como vai?
– Tudo em paz.
– Você não quer ser correspondente do meu pro-
grama lá em Coité, não? – perguntou ele pela segunda vez. A
primeira tinha sido no primeiro contato que fiz para marcar a
entrevista.
– Opa! Gostaria sim, mas vamos conversar mais
101
sobre isso. – respondi.
– Diga aí o que você quer?
Então fui direto ao ponto. E não imaginava o que se-
riam aqueles 40 minutos de conversa. Comecei brincando
um pouco para descontrair.
– Seu nome completo?
– José Ferraz Lima.
– Parente de Josevaldo Lima, dono da rádio?
– Não. Zevaldo é rico e eu sou pobre. – respondeu
ele em tom de brincadeira.
Nascido em 14 de maio de 1957, teve o primeiro con-
tato com o microfone em 1977, no serviço de Alto-falante Novo
Horizonte, de João Ramos no Bairro Cidade Nova. Antes era
cobrador e narrava jogo sozinho dentro do ônibus. Certo dia
“Sargento Dadá, amigo meu e já falecido, me levou pra a
Rádio Sociedade da Bahia e me apresentou a Marco Aurélio,
coordenador de esportes da emissora. Eu fiquei pouco lá,
apenas uns dois meses, pois para ficar ali tinha que ser fera”,
relembra.
Em 1984, foi convidado por Nelson Lopes para fazer
reportagens de polícia para o Programa Difusora Sem Hora e
Sem Medo. “Eu entrava ao vivo do telefone da delegacia fa-
lando o que aconteceu no plantão das últimas 24 horas e
fiquei fazendo isso anos e anos... e ao mesmo tempo tam-
bém transmitia jogos de futebol, inclusive, a final de Serrinha
no Intermunicipal contra Itajuípe, em 1988. Daí fiquei fora de
Rádio uns dois anos. Carlos Miranda [coordenador da Rádio]
era um cara complicado de se trabalhar”.
102
Ele lembra que chegou a atuar na equipe esportiva
da Rádio Sisal AM com Lelo Pereira e Nilton Feliz. Em 1993
foi convidado por José Ribeiro, também para fazer reporta-
gens de polícia na Rádio Regional. “Depois Manelito e um
rapaz chamado Zé Coco vieram falar comigo para ir para a
Difusora, aí eu disse que era pra esperar que eu fosse con-
versar com Zé Ribeiro e com Willian Jatobá, o gerente da
rádio, para dar uma satisfação”.
Isso já era em 2005, e a Rádio Difusora já estava sob
nova direção. Ferraz acabou indo apresentar o Programa
Serrinha Hoje. Na segunda-feira seguinte, após o convite,
chegou cedo e animado com o novo trabalho: “O programa
era eu e Aluízio Bahia com Pedro Santos na técnica. A rádio
não tinha nada. Aí logo deu uma chuva e molhou tudo. Eu
disse ‘que diacho vim fazer aqui? Deixei uma rádio
arrumadinha para vir pra isso aqui’. Foi quando Plínio mudou
o nome da rádio para Continental, levou a rádio pra praça e
botou tudo novo... na época tinha um quadro chamado ‘Pátio
do Povo’, que foi a maior realização da minha vida no rádio.
Eu ajudei muita gente que eu não sei nem quem é”, contou.
Segundo Ferraz, o programa era líder de audiência e
anos depois teve que abandonar. “Então, Plínio negociou a
Rádio com o empresário Vardinho Serra e eu disse que não
trabalhava com ele”, comenta. Ele conta que, em 2007, so-
freu um atentado e os boatos que corriam na rua é que foi a
mando de Vardinho. “O povo comentava que tinha sido ‘o
homem do boi’, mas eu não tinha prova como não tenho até
hoje”, concluiu.
103
– Como foi isso?
– Dois elementos me pegaram e colocaram o revól-
ver em minha cabeça, me disseram que era para eu deixar
os nomes de Vardinho e Ferreirinha e falaram que vieram pra
me matar, mas não ia matar não. Daí foi quando quebraram
todo meu rosto e fiquei internado cinco dias, em Feira de
Santana, fui submetido a uma cirurgia no nariz e no outro dia
mesmo enfaixado falei com toda imprensa o que aconteceu.
Todas as rádios de Feira mandaram repórter e eu falei ao
vivo, menos a Rádio Povo, que queria gravar eu não aceitei...
acho que era ciúmes do jornalista Valdomiro Silva, irmão de
Zé Ribeiro, porque eu deixei o programa do irmão dele na
Regional e criei o meu próprio programa. Ele até comentou
que ‘fazer jornalismo é uma coisa e falar da vida dos outros é
outra coisa’, e eu fiquei chateado com ele. Eu não estava
falando mal da vida dos outros.
– Então você resolveu sair da rádio Continental e
fez o que depois?
– É eu não aceitei trabalhar desconfiado com
Vardinho. Então Zevaldo mandou me chamar e eu fui con-
versar com ele ... queria que eu comandasse dois programas
na Jacuípe AM e ele mesmo deu o nome “Ferraz e o Povo”;
aí acertei o salário e coloquei o nome do Programa ”Deus,
Ferraz e o Povo”. E a tarde é o “Tribuna Popular”.
Ferraz já tem dois anos e meio de Rádio Jacuípe,
nos dois horários. “Pela manhã o programa é dedicado a
Serrinha e a tarde é mais regionalizado. Nos dois eu falo a
língua do povo da classe média baixa. Quem ouve a gente é
104
o povão e eu falo pro povão entender. Eu rasgo o verbo ‘esse
cara é um bandido violento, é um ladrão’ eu divulgo o que
está errado, as mazelas da cidade, um rico não ouve meu
programa”.
Ferraz fez uma lista de radialistas que “passaram na
minha mão e me traíram” e disse que a segunda maior de-
cepção é que as rádios da região são de políticos.
– Um sonho no rádio.
– A Jacuípe aumentar a potência – disse ele – O
dono da rádio investir aqui em novos equipamentos para pe-
gar na região toda e a gente ganhar dinheiro... e tenho sem-
pre o esporte na cabeça, queria trabalhar no esporte.
Terminei a entrevista agradecendo a disputada aten-
ção daquele dia. No feriado ele pretendia ir a uma chácara
com a esposa que lhe esperava no pátio da emissora. Du-
rante a conversa recebeu quatro ligações no celular. Aparen-
tava ser um dia tranquilo, mas para radialista não tem feria-
do.
– Obrigado pela entrevista.
– Tá bom. Me ligue de lá com umas notícia, viu?
105
O radialista professor: meio séculode rádio
Casado, tem cinco filhos e seis netos. Vivendo no
segundo casamento, aos 65 anos de idade, Aluízio Otoni de
Farias disse que é muito feliz e vive bem. Essa juventude que
sente na terceira idade afeta diretamente a sua atuação no
rádio. “A pessoa com boa convivência familiar facilita a har-
monia no trabalho. Aos meus filhos e netos sempre procuro
mostrar que a gente deve viver em paz, em harmonia com as
pessoas. E assim também eu faço no rádio. Sempre estou
Foto 5 - Aluízio Farias. Rádio Regional AM - 29.10.2009
106
aprendendo com isso”, explicou Aluízio.
Num calor de 30 graus na primavera/verão do Sertão
baiano, em pleno 23 de setembro de 2009, Aluízio não teve
dificuldades de lembrar cada momento importante que viveu
durante seus quase 50 anos de rádio. A entrevista foi logo
após o programa esportivo que apresenta na Rádio Regional
AM de Serrinha, sempre ao meio-dia. Foi ali mesmo na Pra-
ça Luiz Nogueira, onde fica a rádio, que conversamos naque-
la quarta-feira de feriado na cidade e com pouco movimento.
Farias entrou na comunicação em 1961, aos 16 anos
de idade, na rádio de poste da cidade de Gravatá, em
Pernambuco, onde nasceu em 02 de janeiro de 1945. Lem-
bra-se que foi substituir o locutor da emissora que há dois
dias não fazia programa reivindicando aumento salarial.
“Lulinha, como eu era conhecido, fui incentivado a falar a
hora certa pelo presidente da associação que mantinha o alto-
falante e daí em diante não parei mais”. No mesmo ano Fari-
as entrou no quadro de locutores da Rádio Cultura de Caruaru
participando de programas esportivos e depois foi para a
Difusora, onde começou a fazer plantão esportivo e narrar
jogos de futebol. Lá ele teve a Carteira de Trabalho assinada
pela primeira e única vez no rádio. Foi demitido na época por
excesso de radialista na emissora. Foi também na Difusora
que viveu a experiência de radioteatro.
Em 1969, passou num concurso de uma cervejaria e
veio morar em Feira de Santana-BA. Nos finais de semana
continuou atuando em rádio como colaborador. Ingressou na
Sociedade AM de Feira, onde fez jogos da Seleção Brasilei-
ra, Campeonato Baiano e Brasileiro. Começou como repór-107
ter esportivo e depois foi para a narração. Na época o narradortitular da emissora era Edmundo de Carvalho. Ficou na emis-sora até 1974, onde também apresentava o Programa En-
quanto o tempo não passa.Quando deixou Feira de Santana, Farias foi morar
em Serrinha. Logo no início atuou na Difusora AM e ele serecorda que transmitiu uma final de Campeonato Brasileirodireto do Mineirão, em Belo Horizonte-MG, acompanhado dofalecido radialista Vivaldo de Lima.
Depois que saiu da cervejaria, em 1998, foi tambémassessor de prefeitos e ouvidor geral da prefeitura de Serrinha.Fez programas e transmissões esportivas em várias emisso-ras de rádio da Bahia, dentre elas na Sisal e Jacuípe.
Aluízio reconhece que no rádio sisaleiro faltaprofissionalização. Informou que, desde a sua saída daDifusora de Caruaru, nunca mais quis fazer rádio profissio-
nalmente, e o faz por amor. “Não preciso disso para sobrevi-ver”, comentou. Na Rádio Regional, onde está atualmente, élocutor e apresentador esportivo. Atua na Junta Comercial dacidade e diz “faço rádio como um quebra-galho”. Mesmo sendotitular de equipes esportivas também fez programas musi-cais e jornalísticos ao longo da carreira.
Formado em contabilidade e nível superior em Admi-nistração, Aluízio Farias nunca deu aulas, mas é considera-do um “professor” de quase 50 anos de carreira. Ele finalizaexplicando como surgiu essa marca. “Gosto muito de cola-borar com os colegas e é por isso que todos me chamam de
professor. Por não gostar de gírias eu comecei a chamar as
pessoas assim e elas retribuem também”, concluiu Farias.
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Genivaldo: seu sobrenome écriatividade
Todas as manhãs, logo cedo, Genivaldo Oliveira da
Silva vai para o estúdio de produção da Rádio Sisal AM para
fechar a pauta do dia e produzir o roteiro do Jornal da Sisal,
que ele apresenta de segunda a sexta, às 7h. Depois do pro-
grama é hora do café da manhã. São 8h15 do dia 22 de se-
tembro de 2009. No quintal da casa do radialista tem uma
área de serviço e uma parte coberta onde fica uma mesa de
madeira não muito grande, forrada com uma toalha e com
Foto 6 - Genivaldo Silva. Rádio Sisal AM - 29.10.2009
109
algumas cadeiras ao redor. Foi lá que ele me recebeu com
café, leite, pão e beiju. Começamos a falar sobre a produção
do radiojornalismo da região e nem percebi quando termina-
mos o café.
O comunicador contou suas vivências, sonhos e de-
cepções. Disse que vive do rádio, mas não faz somente isso.
Atua numa fundação do bairro Terra Nova, onde mora desde
20 de maio de 1965 (data em que nasceu). Faz o Almanaque
Nordestino uma vez por ano e participa como animador de
eventos na região.
No início foi tudo mais difícil. Inclusive entrar na Rá-
dio Sisal, em 1986. “Fizeram um teste e eu não tinha uma
voz boa igual à de Lucival Lopes. Para público e eventos eu
fazia bem, mas não tinha aquela voz bonita. Foi aí que eu me
denominei de ‘peão do rádio’ e depois Valdemi [de Assis] in-
sistiu junto à direção e eu fui chamado para fazer operação
de áudio no programa de Lucival. Uma semana depois preci-
saram de um locutor para um programa romântico e eu enca-
rei”.
Aos poucos Genivaldo foi conquistando espaço e
assumiu o Sisal em Notícias, no final da década de 1980. O
informativo que foi apresentado ao vivo durante um bom tempo
passou a ser gravado e ficou no ar até 2007. O programa
tinha um patrocinador forte e durava em média cinco minutos
com notícias locais e nacionais a cada hora. Segundo o
comunicador, o informe acabou por falta de tempo na grade
de programação. “Era uma produção que me tomava quase
que o dia inteiro de trabalho e foi reduzindo cada vez mais o
110
tempo de apresentação. A rádio decidiu cortar para colocar
mais comerciais no horário”, comenta.
Antes da Sisal, Genivaldo Silva foi sindicalista e, no
início dos anos 80, ele fez um programa do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Conceição do Coité, junto com
Valdemi de Assis e Jorge Teles, na Rádio Difusora de Serrinha
e logo depois começou no serviço de alto falante de Coité*.
Além da Sisal, também trabalhou por nove meses,
em 2006, na Rádio Regional AM de Serrinha, onde apresen-
tou o Jornal das Oito, o programa de maior audiência da Rá-
dio Sisal, que era de responsabilidade da Agência Calila.
Depois Genivaldo acabou voltando para a Sisal na condição
de coordenador de programação e jornalismo. Na Sisal tam-
bém mantém o programa Forrobodó desde 1996, com o “Véi
do Forrobodó”, uma personagem que criou no início dos anos
90. Diversificado com músicas, causos, piadas e manifesta-
ções da cultura popular da região, o programa, segundo
Genivaldo, foi apontado por uma pesquisa realizada em 2008,
pela própria emissora em parceria com a CDL - Câmara de
Dirigentes Lojistas, como um dos três mais ouvidos da rádio.
Ele também se recorda do programa Panorama Ge-
nial, uma produção que ia ao ar às 10h da manhã. Naquele
período, década de 1990, ele lembra que fez diversas apre-
sentações em circos, cantando músicas sertanejas em diver-
sos lugares da região.
– Era neste programa que você tomava bênção pelo
rádio?
– Era sim, confirmou Genivaldo –, eu dizia assim
111
Bahia querida, meu amor bom dia, minha Santa mãezinha lá
em Terra Nova minha bênção e meu beijo em seu coração, a
você Amado [nome do pai] ouvinte meu abraço.
Foi no rádio que aprendeu a gostar de futebol. Além
de bater uma bolinha com o time da rádio ou mesmo da co-
munidade ele também se divertia narrando jogos ao vivo para
a emissora coiteense. O criativo Genivaldo narrou diversos
jogos dos Campeonatos Brasileiro, Baiano, Intermunicipal,
dentre outros. Parou de narrar depois que apresentou pro-
blemas na garganta e não podia forçar a voz. Sofreu muito
com o cigarro e hoje é um testemunho vivo da união equivo-
cada do fumo com o uso da voz. “Depois que parei de fumar
tenho mais força e uma voz mais limpa e hoje eu sonho em
voltar a narrar [uma pausa, emoção], é uma paixão!”, decla-
ra.
– E por que peão do rádio?
– Sou peão do rádio porque já topei fazer de tudo
pela sobrevivência: de sonoplasta, narrador esportivo, comen-
tarista, repórter, apresentador a produtor etc. já passei desde
a mordomia da Fonte Nova com ar condicionado a narrar
jogo no chão na zona rural.
Simples e ao mesmo tempo dinâmico. Esse é mais
um Silva que também tem criatividade no sobrenome e faz
parte da história do rádio nesta região.
* No sítio Esporte Sisal.com surgiu, em 2009, uma coluna somente para entrevis-tas com radialistas e Genivaldo Silva conta num texto perfil, que foi para o Altofalante Jota Ramos Publicidades a convite de Deda e incentivado por Teó, seuirmão. •”Até hoje tenho orgulho de ter sido um aluno do mestre Deda Ramos quefoi sem dúvidas o melhor comunicador daquela época”.
112
“O Bola de Ouro do rádio”
Para realizar a entrevista que resultou neste perfil
esperei aproximadamente duas horas. Quando cheguei na
Rádio Jacuípe eram 9 horas e 15 minutos da manhã da quin-
ta-feira 24 de setembro. Naquele dia o Governador da Bahia,
Jaques Wagner, iria para o município de Pé de Serra e este
era um dos assuntos principais do programa Jornal da Ma-
nhã. Apenas observava um repórter no estúdio passando uma
entrevista, gravada no celular, direto para o ar sem nenhuma
edição. Nem me lembro direito o assunto, mas o fato de não
Foto 7 - Gilberto Oliveira. Rádio Jacuípe AM - 02.11.2009
113
colocar aquela produção no computador e editar para deixá-
la com mais qualidade me incomodou.
O apresentador era Gilberto Oliveira, que, depois da
matéria, voltou logo ao tema do dia: a vinda do Governador.
Muita gente no estúdio. Eram curiosos, visitantes e os dois
repórteres do programa. “Silêncio” – a luz vermelha indicava
para ninguém conversar no pequeno estúdio climatizado (num
dia de calor) e de visita do Governador ao município vizinho.
Gilberto entra no ar e anuncia:
“Provavelmente não haverá a tão esperada inaugu-
ração no dia de hoje. O governador cancelou a agenda da
tarde por motivos pessoais. Esta informação ainda não está
confirmada”.
Saí do estúdio e fiquei na recepção da emissora
aguardando o término do programa. Vi pessoas entrando e
saindo, movimentação de repórteres, telefonemas a todo ins-
tante e ouvintes no ar comentando algum assunto. Terminou
o programa e eu fiquei ansioso pela confirmação da notícia
sobre o Governador, o que só aconteceu minutos depois, já
no programa seguinte. Gilberto voltou ao ar as 9h35 e disse:
“A visita do Governador realmente foi cancelada.
Conversei agora por telefone com o prefeito de Pé de Serra.
Ele pediu desculpas aos convidados e informou que anunci-
ará em breve a nova data da inauguração da estrada e de
outras obras que o Governador entregaria neste dia”.
Missão cumprida. O radialista contribuiu para que os
moradores da microrregião de Pé de Serra soubessem o que
estava acontecendo. Agora é minha vez de contar como esse
114
dia-a-dia do radialista acontece. Mas demorou um pouco mais.
Cheio de atribuições lá se foi Gilberto resolver outras
coisas mais urgentes e eu fiquei ali, lendo A Cabana, um livro
que ganhei de presente de uma pessoa muito especial. O
livro que fala da importância da vida, da crença e do respeito
às pessoas era meu companheiro nestes momentos ao lon-
go da pesquisa. Passado um tempo, fomos de moto até a
sede da Liga Jacuipense de Futebol, onde poderíamos con-
versar mais tranquilos.
Na Liga, mais um atendimento a ser feito e depois foi
minha vez. Já de olho no relógio eram 11h10 da manhã. Fo-
ram exatos 40 minutos de conversa e Gilberto falava baixo e
com muita tranquilidade; nem parecia que ao meio-dia ele
tinha mais um programa para apresentar. Ao longo da entre-
vista fomos interrompidos com dois telefonemas. No celular
ele orientava dirigentes de times de futebol.
O início – “A notícia, a prestação de serviço e trans-
mitir esporte pelo rádio é o que eu mais gosto”, conta Gilberto
de Oliveira Matos, que nasceu na zona rural de Riachão do
Jacuípe, em 17 de outubro de 1970. Por influência do primo
Moreira, o jovem, aos vinte e um anos, resolveu ir até a Rá-
dio Jacuípe AM para fazer um teste. “Desde pequeno eu tínha
essa vocação. Fiz o teste e passei”. Desde o dia 26 de janei-
ro de 1991 ele é o principal âncora do jornalismo e do esporte
na emissora, que fica situada no município de Riachão do
Jacuípe, no Território Bacia do Jacuípe. Começou participan-
do do Jacuípe Esportivo aos sábados e em novembro do
mesmo ano criou o Bola na Rede, um programa diário.
115
No esporte além de cronista também é dirigente.
Depois do envolvimento com o rádio esportivo resolveu atuar
para fazer o esporte amador de Riachão acontecer na práti-
ca. Foi eleito diretor da Liga Jacuipense de Futebol e conti-
nua no cargo desde 1997. “Eu sempre coloquei o cargo a
disposição em cada eleição, mas nunca apareceu ninguém
para concorrer. Os times pedem que eu continue. Eles dizem
‘se está dando certo para que mudar?’”
No rádio, ao meio dia pontualmente o ouvinte já está
acostumado com o jingle provavelmente mais antigo do rádio
esportivo da região. Desde o surgimento do Bola na Rede na
Jacuípe ele mantém a mesma abertura:
“A nossa equipe vai entrar no ar,
Vibrando, curtindo a emoção.
Bola na Rede é sensacional,
Tocamos a bola, driblamos com o pé, damos olé...
Oléééé!!
O futebol é a nossa paixão,
Pelos gramados vivemos da emoção.
Timbaladas da cidade,
O futebol que faz a festa do povão!
Gilberto Oliveira”.
Na hora do gol, a vinheta com muito entusiasmo anun-
cia: “Bola na rede é gol legal!” e ainda tem “Gilberto Oliveira –
o bola de ouro do rádio” todas essas são marcas registradas
na história do rádio sisaleiro. Ainda adolescente eu era ou-
166
vinte de todas as edições do programa e quando morava no
Distrito de Barreiros, no município de Riachão, cheguei a
participar do programa como repórter entre 1998 e 2001.
O radialista também foi responsável pela entrada de
muita gente na Rádio Jacuípe, a exemplo do narrador Maurí-
cio Oliveira, que trabalhava comigo na Barreiros FM e teve
várias oportunidades de atuar lá. A experiência e o carisma
de narrador também renderam a Gilberto reconhecimento de
outras emissoras da região.
Mesmo atuando na AM 1500 Khz sempre faz jogos
em outros lugares. “Há três anos faço um trabalho de narra-
ção de jogos para a Rádio Pombal de Ribeira do Pombal.
Além de várias transmissões para a Rádio Sisal e outras
emissoras que sempre me chamam para este serviço. As vi-
agens me fizeram conhecer muitos lugares, fazer jogos do
Intermunicipal em vários lugares, jogos da Seleção Brasileira
em Salvador e muito mais”.
Em 1997, começou a apresentar o Programa Jornal
da Manhã, principal programa de notícias da emissora. “Tra-
balho com uma equipe pequena de três repórteres da cida-
de, mais uma correspondente de Brasília e também as maté-
rias da Radioweb... eu ouço muito rádio, gosto de ler jornais
antes de entrar no ar, leio também na internet, ouço as pes-
soas na rua”, explicou Gilberto.
Em 1999, ele sofreu um atentado. A notícia espalhou-
se rápida e facilmente e pode ser encontrada nas páginas de
internet que denunciam a violência contra radialistas e jorna-
listas*. Na época a situação política de Riachão estava “quen-
117
te . Gilberto não faz ligação das denúncias realizadas pela
emissora naquela época com o caso e também prefere não
falar sobre o assunto. “Eu não tenho inimigos, chego a hora
que quero em casa, frequento qualquer ambiente... isso só
depende de mim, até divulgo no rádio para onde vou e infeliz-
mente sofri uma tentativa... fui bruscamente agredido, fiquei
um tempo desacordado, mas venci. Não quero atribuir a nin-
guém nem quero pensar neste fato, acho que o mais impor-
tante é que estou vivo e continuo realmente buscando ajudar
as pessoas. Esse foi o único fato negativo que vivi no rádio”,
relembrou.
O prefeito da cidade era Herval Lima Campos e o ex-
prefeito, Valfredo Matos, era o dono da Rádio Jacuípe. Aque-
les quatro anos (1997-2000) foi o único período que Valfredo
não esteve no comando da prefeitura desde a abertura políti-
ca. Eleito em 1988, governou até 1992, quando elegeu um
sucessor. Em 2000, voltou para a prefeitura e morreu em ja-
neiro de 2005, três dias depois de passar o cargo ao novo
gestor eleito em outubro de 2004. Antes da sua morte havia
“vendido” a concessão da rádio para um grupo político de
Serrinha. Depois da fama e do sucesso nos 18 anos de rádio
ele conta que a vida não mudou. “Continuo fazendo as coi-
sas que fazia antes. Tem gente que diz ‘já trabalhei na roça,
fiz isso e fiz aquilo’, eu não. Continuo tirando leite todos os
dias, se tiver que dar ração a gado eu dou, cortar palma eu
vou... isso me faz bem. Não preciso fazer isso, eu vivo do
rádio, mas gosto de fazer”, explica.
Ele conclui a conversa dizendo que gosta de ajudar
118
as pessoas e sempre leva “mensagens de paz e de Deus a
cada coração”.
– Gilberto a quê você atribui esta estabilidade aqui
na Rádio Jacuípe desde 1991, no mesmo horário? – pergun-
to.
– Dedicação e amor acima de tudo. Seriedade e
buscar sempre agradar ao máximo os ouvintes. Sempre com
objetividade e humildade. Trabalho com seriedade.
– Obrigado e corra que o programa vai começar.
São 11h50.
– Muito obrigado e estou sempre a disposição.
119
Feliz é esporte nas ondas do rádio
Pelo nome a gente conhece o homem. Gente boa e
de qualidade, mas de “pavio curto” como se diz aqui no Ser-
tão. “Eu falo a verdade doa em quem doer. Às vezes eu igno-
ro algumas leis e sei que estou ferindo, mas tem hora que
não aguento. Fui processado uma vez porque denunciei o
presidente da Liga Coiteense de Futebol e não dei direito de
resposta e outra vez por questões políticas envolvendo as
eleições de Santa Luz”, explicou o radialista.
A entrevista aconteceu no dia 26 de setembro de
Foto 8 - Nilton Feliz. Rádio Sisal AM - 16.11.2009
120
2009, e começou, logo cedo, num sábado de sol. José Nilton
Nunes Mascarenhas, que nasceu em 14 de abril de 1961,
ganhou novo nome em 1988, quando iniciou na Rádio Regi-
onal de Serrinha. Ele me recebeu na própria casa com um
café da manhã regado a mugunzá, cuscuz e pão. O negócio
estava bom e o papo também. Ele contou cada momento da
carreira, inclusive o surgimento do nome:
– Como foi essa escolha do nome artístico?
– As esposas de Aluízio Farias e Aldroaldo de Ma-
tos, lá em Serrinha disseram “esse menino só anda rindo, é
muito feliz. Vamos botar um nome nele” e daí em diante co-
meçaram a me chamar de Nilton Feliz e pegou.
Antes da entrevista ele estava meio desconfiado e
mesmo já sabendo do objetivo da pesquisa perguntou:
– Tu vai colocar tudo que eu falar mesmo?
– Tem coisas que você quer falar e não é para publi-
car? – respondi com uma pergunta e completei com uma in-
formação – Eu não sei se publicarei tudo, mas pretendo ser
fiel ao que disser.
Superado o momento da incerteza fomos navegan-
do pela história, experiência e pensamentos de um dos mai-
ores incentivadores do esporte amador da região. “O futebol
é prioridade porque é de onde tiro meu sustento, principal-
mente, o amador”, explica. Quando começou na Regional fez
o que mais tem desejo no rádio: o plantão esportivo. Ele re-
corda que na época trabalhou ao lado de Floriano Dutra, que
já estava no setor há algum tempo.
Em 1989, a equipe de Aluízio saiu da Regional e foi
121
para a Sisal AM de Conceição do Coité. O surgimento de
uma nova cervejaria ligada ao dono da rádio impediu o su-
cesso da equipe na nova cidade. No final de 1991, Aluízio
Farias deixou a Sisal porque o patrocínio principal do seu
programa era outra cervejaria. Na época Lelo Pereira, que já
estava na rádio há mais tempo e integrou-se ao time de Aluízio,
resolveu reclamar da postura da emissora e acabou saindo
também. Nilton Feliz resolveu permanecer na rádio e assu-
miu, em abril de 1992, os destinos do jornalismo esportivo da
emissora. “No início fui contratado pela emissora e treze anos
depois entrei no rol dos terceirizados. Hoje tenho que coor-
denar a equipe, apresentar programa, buscar notícias, ven-
der comercial, editar, operar e ainda ser pai. Tenho que cui-
dar da família de seis filhos”.
Antes de se tornar o principal repórter e apresenta-
dor esportivo da Sisal, Nilton já havia tentado entrar na emis-
sora, em 1986, mas não conseguiu. “Eu não tinha conheci-
mento político com o grupo que detinha a concessão da emis-
sora e isso dificultou”. Hoje ele mantém no ar de segunda a
sábado um programa ao meio-dia e, aos domingos, das 14
às 18 horas, a jornada esportiva com jogos ao vivo.
Em momentos memoráveis nestes anos transmitiu
duas grandes finais do futebol brasileiro. Em 1993, no
Morumbi, estádio lotado. Gente pra todo lado. Baianos x
paulistas. Rubro-negros x Alviverdes. E lá estava ele. Com
cabelos grandes, nervoso por fazer a primeira grande trans-
missão; naquele dia trabalhou ao lado de Manoel Messias de
Serrinha. Em campo, Palmeiras e Vitória. Era jogo decisivo
122
do Campeonato Brasileiro de Futebol: foi melhor para os
paulistas que venceram e conquistaram a competição. Em
2004, Estádio do Maracanã, palco de Copa do Mundo e sede
de grandes jogos. Nilton chegou cedo para dar tudo certo
como da outra vez – agora já não tinha mais a cabeleira de
dez anos a trás – mas carregava na mala a experiência ante-
rior e de tantos jogos que fez ao longo da década, inclusive
de Seleção Brasileira de Futebol, em Salvador. O jogo era a
decisão da Copa do Brasil entre Flamengo e Santo André.
Neste dia, trabalhou com o flamenguista Wilson Lima da ci-
dade de Valente. Lima é repórter da equipe esportiva da Sisal
desde 1994 e é um dos melhores amigos do radialista. “Ele
ficou nervoso e chorou pela derrota do Flamengo, mas deu
tudo certo”, comentou rindo.
Nilton também levou a Sisal para a primeira cobertu-
ra do Campeonato Intermunicipal de Futebol Amador, em
1992, e até hoje é uma das poucas rádios que transmite jo-
gos em todas as rodadas da competição. Ele também partici-
pou com a equipe da Agência Calila da cobertura das elei-
ções municipais e de micaretas de Coité durante muitos anos.
Dos entrevistados o eu que mais conhecia antes da
pesquisa era Nilton Feliz. Trabalhei com ele pela primeira vez
em março de 1999, quando eu tinha 16 anos, e ao longo
desses mais de dez anos sempre estivemos juntos fazendo
alguma transmissão esportiva para a Sisal. Hoje menos, mas
até 2007, quase todos os domingos. Antes de terminar aque-
la conversa, quando ele pensou que estava acabando, man-
dei mais uma pergunta:
123
– Você se acha chato, como alguns o rotulam?
– Não. Eu faço as coisas com consciência. Eu sou
amigo de todo mundo, reconheço quando erro•cpeço des-
culpas no ar, peço perdão quando erro... eu já errei por não
ouvir os dois lados... mas eu não me considero chato. Eu sou
sincero.
– E o que você faz pela audiência?
– Tenho coragem. Tem gente que diz ‘quando você
bate ou questiona alguma coisa tem mais audiência’, mas eu
não faço isso para ter audiência. Eu faço porque vejo que é o
momento.
Vivendo o segundo casamento, Nilton Feliz é pai de
seis filhos. Estudou até concluir o segundo grau e é daqueles
que respiram rádio. “Eu ligo o rádio o dia todo para ouvir in-
formação e agora estou com a proposta do jornalismo em
webradio”, expõe o comunicador. Para ele o futuro do rádio
na região é incerto e não há grandes perspectivas. A Internet
oferece mais liberdade e possibilidade de crescimento.
Encerrou a entrevista como sempre faz ao término
do programa na rádio:
– Desejo um mundo de amor e paz para todos nós.
124
Da Capital Federal ao Sertão daBahia
Antônio Carlos da Silva (ou simplesmente Carlos Sil-
va); quem sabe Carlos Brasília? E que tal Tony Brasília? No
Rádio Sisaleiro esses nomes são da mesma pessoa. Ele
nasceu no dia 05 de agosto de 1967, em Itaguatinga, cidade
satélite de Brasília no Distrito Federal. Brasília surgiu no nome
de Antônio Carlos depois de ter chegado ao rádio em 1987.
Ele lembra que foi uma tentativa de conseguir co-
mercial com uma prefeitura com um nome bonito que lhe
Foto 9 -Tony Brasília. Unidade Móvel da Rádio Continental AM - 29.10.2009
125
desse status. “Eu cheguei para morar numa cidade e liguei
para a prefeitura para pedir patrocínio e a moça que atendeu
disse ‘quem quer falar?’ aí eu disse Carlos Brasília. Então, eu
ouvi ela falar ‘é Carlos lá de Brasília’, aí num instante o pre-
feito me atendeu perguntando como estavam as coisas na
Capital e assim eu consegui o patrocínio, mas hoje não, se
você disser que é de Brasília as pessoas já pensam logo que
é ladrão” (risos) – brincou ele referindo-se aos escândalos
envolvendo os políticos na Capital Federal.
Encontrei-me com o radialista Tony Brasília na Rádio
Continental AM de Serrinha, na manhã do dia 25 de setem-
bro. Era dia de calor: parecia o verão naquele início de prima-
vera. Era a minha segunda conversa pessoalmente com ele.
A primeira foi em agosto, após uma transmissão esportiva
que realizamos em Santa Luz. Ele na Continental e eu na
Rádio Santa Luz FM.
Depois de explicar como surgiu o nome de “guerra”
ele começou a contar como entrou no rádio. O ano era 1987.
Já se passaram 22 anos, mas ele lembra de cada detalhe
dos momentos que viveu:
– Saí de minha cidade para buscar emprego em Juiz
de Fora-MG. Apesar do defeito físico eu sempre preferia não
pedir. Fiquei num albergue, depois comecei a vender bom-
bons para me manter e eu me vestia bem e num certo dia
entrei num restaurante, tomei um café grátis e sai espalitando
os dentes e repeti isso várias vezes. Outro dia um cidadão
chamado Carlos Eduardo me viu e falou comigo. Eu parei e
contei a verdade da história. Ele disse ”quer trabalhar em
126
rádio?” e eu disse quero. Ele me mandou para a Rádio Soci-
edade de Juiz de Fora para fazer um teste. Lá na rádio o cara
disse que só tinha para narrar jogo e eu topei, depois de um
bom tempo lá esperando fui chamado e ele me mandou co-
meçar no microfone, depois ele mandou eu parar e ir vender
laranja. Na saída da rádio encontrei Carlos Eduardo e ele
perguntou como foi o teste e eu respondi, já chorando. Ele
me deu um dinheiro e um cartão com os contatos dele. No
outro dia fui mais uma vez na Rádio Capital atrás de empre-
go e a moça foi logo dizendo “o senhor de novo?” (risos) Com
o cartão na mão a coisa mudou e eu consegui uma vaga. No
outro dia já entrei no ar lendo uma notícia sobre Fórmula 1. Li
tudo errado, mas eles me deram outra chance. Depois de um
tempo trabalhando no esporte descobriram que eu morava
num albergue e me mandaram embora. Foi assim que entrei
no rádio –, contou Antônio Carlos.
Em 1990, ele ligou para a Rádio Vanguarda de
Sorocaba-SP, e chegou a falar com o dono da emissora.
Brasília diz que quando chegou à rádio o dono estava viajan-
do, mesmo assim fez o teste. Lembra-se que leu notícias e
apresentou um programa, mas não agradou. No outro dia
conseguiu fazer outro teste de narrador na Rádio Cacique,
concorrente da Vanguarda. “Não sei se passei porque esta-
vam precisando de narrador ou eu fui bem”, conta sorrindo.
“Fiz o primeiro jogo no domingo e Dr. Salomão (dono da ou-
tra emissora) ouviu e me procurou. Contei o que aconteceu e
ele me mandou voltar no mesmo dia para a Rádio Sorocaba
lá ganhei um, depois dois programas e fiquei um bom tem-
127
po”, explica.
Dentre as várias rádios em que trabalhou depois de
sair de Sorocaba Tony Brasília lembra que em 1993 atuou na
Rádio Clube em Inhapim-MG e no mesmo ano passou pela
Rádio Globo de Brasília. Já em 1995 trabalhou na Rádio Lí-
der do Vale, integrante do Sistema Bandeirantes, em Santa
Catarina.
O namoro com a Bahia começou em 1997, quando
veio morar em Serrinha. Aqui trabalhou na Difusora AM por
um ano. No ano seguinte voltou para Brasília, onde passou
pela Rádio OK. Não demorou muito e retornou no final da
década para Feira de Santana, onde trabalhou na Rádio
Subaé AM, também neste período atuou em Santo Antônio
de Jesus. No retorno a Serrinha trabalhou nas Rádios More-
na FM e Regional AM do Grupo Lomes, em 2001. Depois
ficou um ano fora de rádio e desde 2005 está na Continental
AM, antiga Difusora. Hoje ele disse que está no auge da car-
reira. Faz o programa Jornal da Continental no início da tar-
de, reportagens para outros programas durante o dia e é
narrador esportivo no final de semana. Ele conta que o
radiojornalismo nunca foi seu forte. “Eu nunca gostei de jor-
nalismo, sempre fui apaixonado pelo esporte, mas coloca-
ram em minha cabeça que o jornalismo é que dá o dinheiro”,
falou Brasília.
Antônio Carlos Brasília tem segundo grau e estudou
contabilidade no ginásio. No primeiro estágio que encontrou
não conseguiu frequentar por causa de uma escada que ti-
nha no local e a deficiência física na perna não permitia. É a
128
favor da formação superior em Comunicação e diz que nun-
ca parou de ouvir e ler informações que alimentam seu co-
nhecimento. Conta que entrou no rádio por necessidade e já
fez e conquistou quase tudo que queria. O que falta segundo
ele é fazer um programa com coisas boas e transmitir uma
Copa do Mundo de Futebol.
Para encerrar mais uma frase de radialista, que ele
sempre usa no final de cada transmissão. “Deus me deu uma
cara pra eu não ter duas e enquanto eu conheço determina-
do tipo de pessoas eu prefiro amar os animais”, concluiu
Brasília.
129
Filho de radialista, radialista é
Ele nasceu numa sexta-feira dia 02 de janeiro de
1962, irmão de jornalista e filho de radialista. Então não tem
para onde correr: é radialista também. “Está no sangue”, afir-
ma José dos Santos Silva.
Com formação de nível médio, o comunicador tem
DRT desde 1981, mas disse que isso não credencia ninguém
a ter profissão. “Você nasce radialista, você nasce repórter...
Deus lhe deu isso. A faculdade não forma ninguém, você não
aprende no colégio a ser locutor, você assimila algumas coi-
Foto 10 - José Ribeiro. Rádio Morena FM - 11.11.2009
130
sas”, acredita Ribeiro.
Antes de começar na profissão “que Deus lhe deu”
foi camelô, comerciante, vendedor de doce, dentre outras
tentativas de ser o que não tinha nascido pra ser, como acre-
dita. Desempregado, em 1979 pediu emprego a Rubens Car-
neiro na Rádio Difusora de Serrinha, onde começou sendo
operador de som. “Eu já fiz de tudo no rádio, mas não sou
bom em nada. Gosto mais de musical, porque a responsabi-
lidade é grande, mas não é tanta. No jornalismo você bate de
frente com marginais, com fora da lei de todo tipo, com polí-
ticos ... então você tem que ser um cara consciente no que
diz para continuar na profissão”, comentou.
– E por que o nome Zé Ribeiro?
– O nome artístico eu coloquei em homenagem ao
meu pai “O Poeta Ribeirinho”, que aos 64 anos ainda atua no
rádio.
Funcionário do Grupo Lomes de Radiodifusão desde
1986, trabalha nas Rádios Regional AM e Morena FM, onde
me recebeu para uma entrevista no Dia do Rádio, em 25 de
setembro de 2009, no estúdio onde apresentava o Boa Tarde
Cidade pela emissora AM. Fazia calor lá fora como todos
aqueles dias que estive em Serrinha realizando a pesquisa.
No estúdio sempre climatizado, uma mesa de som, computa-
dores, microfones e no caso da Regional uma parede revestida
de madeira e espuma.
O dia-a-dia do radialista é corrido. É difícil encontrar
tempo para atividades como essa. No perfil do blogue pesso-
al ele exibe que é “correspondente do Jornal Tribuna Feirense,
131
repórter da CBN - Sistema Globo de Rádio e Grupo Lomes
de Rádio Difusão”. Foi a terceira tentativa que eu fazia para
conseguir 40 minutos de conversa sobre a profissão que exer-
ce.
Foi então, entre uma música e outra, que conversa-
mos naquela tarde de sexta-feira. Zé falou sobre as dificulda-
des, o que pensa sobre o radiojornalismo, contou suas expe-
riências e conquistas. Ao longo dos 30 anos de carreira já
atuou nas Rádios Sociedade, Povo e Subaé, em Feira de
Santana, mas ”lá eu não me adaptei”, explica-se e diz que
tem orgulho do que já fez na vida. “Eu conquistei tudo. Fui
escolhido melhor repórter do Estado, ganhei o prêmio máxi-
mo que foi de uma reportagem que fiz com um aidético. Na
época, em 1992, nenhum aidético tinha dado entrevista no
Estado da Bahia, com isso eu ganhei o prêmio reportagem
do ano, então eu vou me aposentar, mas com o dever cum-
prido mesmo”.
O telefone toca pela primeira e única vez naquele
programa. Ele ignora e liga a chave híbrida deixando a linha
telefônica ocupada para não interferir na gravação da entre-
vista. Faz a primeira parada para anunciar novas músicas,
mandar um alô e anunciar uma propaganda. Retorna para o
bate papo, baixa o retorno e diz:
– Que mais?
– Você vai se aposentar e sair do rádio? – pergunto.
– Eu criei uma radioweb e acho que no rádio já fiz a
minha parte. Eu vou continuar falando, mas não quero mais
ser funcionário, obedecer horário.
132
– E como será esse empreendidmento?
– Eu quero fazer uma coisa que me dê prazer e
quando eu quiser fazer. Eu pretendo fazer um jornalismo di-
ferente de tudo que é feito em Serrinha. Eu vou fazer uma
rádio com a linha editorial como a Istoé e a Veja, ou seja,
todos vão falar.
Depois de mais alguns minutos mais uma parada e
mais músicas a serem anunciadas. Ele brinca com um
comunicador da Morena FM e na volta fala sobre a progra-
mação musical das rádios que é imposta pelo o que ele cha-
ma de “sistema”. Ribeiro critica a programação da FM onde
apresenta o Pauta Livre e diz que sempre encerra o jornal
com uma música antiga para provocar os DJs da emissora.
“O pessoal da Morena não sabe o que é música não, mas
todas as emissoras fazem isso”, argumenta.
Zé produz e apresenta os programas Passando a Lim-
po, Pauta Livre, Arquivo Musical e o Boa Tarde Cidade. Se-
gundo ele este último é o mais antigo da emissora e o que
mais gosta de fazer.
Ao ser indagado sobre a brincadeira que fez com um
“colega” da Morena FM, ele respondeu pausadamente, que
era apenas para “os caras da rádio perceberem o que é música
boa” e fez questão de corrigir o que eu falei. “Eu não tenho
colega de profissão. Sou um cara solitário no rádio. Faço o
meu lado e também não ouço ninguém do rádio de Serrinha.
Se eu tiver que ouvir um colega não vai ser ninguém do meu
metiê. Aqui em Serrinha não é falta de coleguismo, é que eu
não considero ninguém colega. Eu tenho colegas em outros
133
lugares... se alguém me considera problema deles. Eu não
quero me misturar e faço meu trabalho sozinho. Eu sou con-
tra esse negócio de união, grupinho... Eu respeito e é isso
que está faltando aqui, em Serrinha. Está faltando respeito
entre os profissionais”.
Quando resolvi encerrar a entrevista já passava das
3h45 da tarde e ele sempre atento a cada momento, mesmo
com o programa no ar:
– O quê faltou perguntar?
– O que eu achei da entrevista – disse ele sorrindo –
Você deveria me perguntar isso.
– Então? Como fui nesta entrevista?
– Muito bem. Tem gente aqui na rádio que pergunta
e responde e não é direto nas questões. Você não perguntou
nada que eu não pudesse responder, nada que me deixasse
constrangido e nada de minha vida particular e isso é muito
bom para um repórter. Vá em frente no seu trabalho. E estou
aqui à disposição.
Agradeci e saí comemorando porque foi uma das mais
polêmicas entrevistas deste livro, como pode ser observado
nos textos.
134
Valdemi de Assis: do rádio para aInternet
Ele chegava cedo na rádio. Dava bom dia para co-
madres e compadres e junto com os pássaros fazia compa-
nhia para homens e mulheres do campo e da cidade. O
“Brasilzão de meu Deus” acordava para ouvir o radialista e
político Valdemi de Assis, ou simplesmente o “conhecido
Mitinho”. No Programa Alô Sertão tinha bois, vacas, cabras,
chocalhos, o bem-ti-vi e o Sabiá Laranjeira. Não podia faltar
Foto 11 - Valdemi de Assis. Calila Notícias.com - 18.11.2009
135
a moda de viola, a música caipira e sertaneja, os aboios dos
vaqueiros, samba de roda, batuque, reisado e notícias. Isso
mesmo. “Aqui você ouve as primeiras notícias do dia”, dizia
Mitinho.
Foi com o Alô Sertão que ele se consagrou na maior
audiência da Rádio Sisal, no início da década de 1990, mas
a sua entrada no rádio foi um pouco antes. ”Em 1980, eu era
assessor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Concei-
ção do Coité e criei o programa da entidade na Rádio Difusora
de Serrinha. Depois disso comprei um horário semanal para
fazer meu programa”, conta Valdemi. Em 1982 foi eleito ve-
reador pela primeira vez e re-eleito na eleição seguinte. Em
1986 assumiu parte da programação da Rádio Sisal AM. “Eu
fiz o Programa Alô Nordeste bem cedinho e no final da tarde
o Forró da Sisal e foi neste período que eu comecei esse
negócio de vender horário de rádio. Eu vendia parte do pro-
grama para os sindicatos”, relembra o radialista.
O espaço do Alô Sertão que surgiu no lugar do Alô
Nordeste começou a ficar pequeno com as investidas de
Mitinho. Ele estava presente em diversos eventos no Estado
e precisava de mais tempo no rádio. “Foi aí que criamos a
Agência Calila, veio o Jornal das Oito e outros programas
dentro da rádio”, lembrou.
No novo jornal ele era responsável pelas notícias
policiais. Fazia Coité e região parar para ouvir suas histórias
cheias de mistérios, depoimentos de acusados de crimes,
policiais e o dia-a-dia das delegacias da região. O horário
das oito horas era “sagrado” no rádio naquele período. “O
136
povo começou a gostar daquele estilo que eu criei. Quando
eu dizia assim “amigos e amigas boooomm diaaaa” e
•esangue de Jesus tem poder... as pessoas repetiam na rua
e sempre comentavam”, comemora.
Assassinatos, assaltos a banco e grandes tragédias,
lá estava ele com seu gravador. “Onde tinha notícia a nossa
equipe estava lá. É isso que hoje me angustia, porque a Rá-
dio Sisal fui eu que construí com todo o prazer, e por capricho
político dos donos fomos expulsos de lá e hoje até o site da
Calila é proibido ser acessado na emissora”, desabafa. Mitinho
acredita que a sua decisão de ser candidato a deputado, em
2006, motivou a sua saída da emissora. “O grupo político que
controla a rádio não aceita pião no poder”, denuncia o radia-
lista.
Ele nasceu em 12 de julho de 1961, em Conceição
do Coité, é locutor de palanque político, foi vereador e candi-
dato a deputado. Depois que saiu da Sisal, Valdemi passou
pelas rádios Regional (2006-2007), Jacuípe (2007-2008) e
Sabiá FM (2007-2008-2009).
– Você abandonou o rádio e agora mantém um site
de notícias no mesmo ritmo de produção de antes. Qual a
diferença entre os dois meios?
– Eu gosto muito de rádio – declara Mitinho –, mas
nunca mais irei conviver com esse meio tendo que falar e
fazer o que o dono pensa. Muitas vezes não tem a ordem,
mas só em saber que o dono não gosta disso ou daquilo a
gente não fala. Isso é muito ruim para o radiojonalismo. No
site Calila Notícias.com faço debate dos mais variados te-
137
mas com os leitores e ouvintes, e, o melhor é que eu tenho
independência.
Aparentemente o rádio não fez falta para o
comunicador. Ele continua sendo referência na cobertura
política e policial através do site e permanece fazendo o seu
estilo de radiojornalista mesmo utilizando-se de outra lingua-
gem.
138
Ícone do rádio comunitário no Sertão
Sábado de sol. Dia bom para tomar um banho de
piscina no Clube da APAEB - Associação de Desenvolvimen-
to Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, ou quem sabe
tomar uma cervejinha gelada, depois de uma semana inteira
de muito trabalho. Ainda mais que amanhã é domingo e não
é dia de descanso para o radialista que irei conversar agora.
Cheguei na Rádio Valente FM – na cidade de mesmo nome –
quase 10 horas da manhã.
Na Valente FM pra todo lado tem computador, são
Foto 12 - Tony Sampaio. Rádio Valente FM - 02.11.2009
139
quatro salas bem climatizadas e nas paredes, em vez de es-
pumas importadas, o revestimento para evitar a reverbera-
ção é feito da fibra do Sisal. A fábrica da APAEB é uma das
principais referências no país na exportação de tapetes e esta
iniciativa deixou o estúdio ainda mais aconchegante e com a
•gcara•h da região.
Meu entrevistado daquele dia já estava lá no estúdio
gravando e mixando áudio. O rapaz trabalha todos os dias e
está sempre de bem com a vida. Vamos chamá-lo por en-
quanto de “Meu filhôôô!”.
– E aí “Meu filhô!”? Beleza?
– Tranquilo! – respondeu ele e logo emendou a per-
gunta –, E você?
– Tudo em paz. Vamos ao serviço? – sugeri.
– Rapaz pra entrevistar é melhor, mas pra ser entre-
vistado é mais complicado, cara bota o outro no canto e o
cara se aperta. Mas vamos ver.
– Qual seu nome?
– Completo ou apelido? – perguntou ele com uma
boa gargalhada.
– Os dois – respondi.
– Antônio dos Santos Sampaio e meu apelido é o
seguinte, né? (risos). Lá na região todo mundo só me cha-
mava de Toinho e aqui na Valente FM o radialista Raimundo
Ruy, que trabalhou aqui no início, disse “Toinho só quem vai
chamar é sua mãe e irmãos agora seu nome é Tony: vamos
botar seu nome Tony Sampaio”. Mas tem muita gente que
me chama de Toinho ainda (risos).
140
Depois dessa descoberta resolvi voltar ainda mais no
tempo. Fui até o ano de 1972, mais precisamente um dia
depois da reza de Santo Antônio, ou seja, dia 14 de junho.
Dona Florildes ou simplesmente Florzinha, quando viu aque-
le moleque que acabou de nascer e chorar, gritou:
– Meu filhôô!
Eu acho que ele ouviu porque até hoje toda vez que
alguém faz um gooooolll ou mesmo em momento de muita
emoção no jogo de futebol, é hora dele soltar esse mesmo
grito que dona Florzinha (há 37 anos, lá na fazenda Lagoa do
Pinhão Doce, município de Gavião, que na época ainda era
território de Riachão do Jacuípe) fez ecoar pelo Sertão.
Pois bem. Toinho, o filho de dona Florzinha, cresceu
forte e saudável morando, trabalhando e estudando na roça.
“No início a escola era na casa da minha prima Clarice, que
dava aulas para as crianças da redondeza. Mas foi na comu-
nidade de Santo Antônio [interior de São Domingos], onde
tive os primeiros contatos com carro de som, isso já em 1993.
Alguns anos antes disso, ainda adolescente, depois de tra-
balhar duro no motor de Sisal, fui morar com meu pai, em
Feira de Santana”, recordou Tony.
No período que morou lá, trabalhou de ajudante de
pedreiro e não estudava “porque chegava cansado em casa”,
conta ele. Já havia parado os estudos na 4ª série, ainda quan-
do morava na fazenda Lagoa do Pinhão Doce e só retomou
aos estudos após voltar de Feira de Santana, e por incentivo
do primo Ylário, que também morava na roça e estudava em
Santo Antônio, onde tinha o colégio mais perto. “Naquele tem-
141
po a gente ia de bicicleta para a escola”, lembra Tony.
Depois de uma rápida experiência numa rádio em
Retirolândia, no ano de 1997, ele ganhou força para buscar
no ano seguinte um espaço na Valente FM. “O pessoal da
Igreja de Santo Antônio me incentivou. Falei com Raimundo
Ruy e ele me deu uma oportunidade de participar do progra-
ma matinal que era apresentado por Aluízio Lopes (Costinha
de São Domingos). Às vezes eu vinha até com ele e sempre
participava do programa e isso me ajudou muito a aprender,
foi muito bom pra mim... Depois surgiu uma vaga para apre-
sentar um programa à noite e eu assumi, foi aí que realmente
entrei na rádio Valente FM”, contou.
Daí foi um passo curto para entrar no Programa Bola
na Rede e nas transmissões esportivas ao vivo. A participa-
ção no programa de esportes lhe rendeu experiência, fama e
prestígio. Com a saída de Léo Santos para a rádio Andaiá
FM, de Santo Antônio de Jesus-BA, surgiu a vaga de apre-
sentador do Rádio Comunidade, o programa de maior audi-
ência da emissora. Em mais de dez anos de trabalho na Va-
lente FM, Tony foi quem mais apresentou o radiojornalismo.
“O bom aqui é que eu nunca fui pressionado, a gente tem
liberdade”, comemora o radialista.
Essa liberdade lhe custou caro ao apanhar da polí-
cia, em 20 de setembro de 2000, quando a emissora ainda
não tinha outorga para funcionar. Foram cinco anos sem a
liberação do Congresso Nacional e a rádio sofreu diversas
apreensões como lembra Tony Sampaio. “A que mais mar-
cou foi a invasão da Polícia Federal, que mesmo sem man-
142
dato de segurança entrou na rádio, quebrou equipamentos,
me bateu e me algemou. Depois disso pensei em desistir,
mas a comunidade se mobilizou, os estudantes nos apoia-
ram e foram às ruas, fizemos programas em carro de som•c
então a nossa luta e nosso ideal continuaram. Eu não imagi-
nava que iria ser agredido e algemado por estar numa emis-
sora de rádio ajudando a comunidade”, comentou emociona-
do.
Tony aponta que a sua maior realização foi ver a rá-
dio ajudar a resolver vários problemas da comunidade, até
mesmo situações complicadas de problemas de saúde de
muitas pessoas. “Ajudamos a mobilizar as pessoas ou enti-
dades para ajudar. Sempre fomos parceiros do povo, isso é o
que mais me marca”, comemora.
Hoje, além de ser o radiojornalista âncora da Valente
FM, também faz reportagens diariamente e é narrador espor-
tivo na Rádio Sisal AM, de Conceição do Coité. “Se fosse só
por dinheiro não estava no rádio, mas se eu não tivesse no
rádio talvez eu ainda fosse padeiro como antes de vir para a
rádio, ou mesmo ajudante de pedreiro ou trabalhando na roça,
como já fiz... mas no rádio eu faço muitas coisas e quero
voltar a estudar, ainda vou fazer uma faculdade de comuni-
cação”, finaliza o sonhador Tony Sampaio.
143
CONCLUSÃO
Depois de muitos debates, ideias já sinalizadas e
dúvidas novas surgidas, é hora de finalizar – para quem sabe
começar outra vez. No início deste trabalho a maior dúvida
era como um livro-reportagem poderia contribuir para que
estudantes, professores e pesquisadores da Região Sisaleira
pudessem tomar conhecimento do processo de produção de
notícias e as histórias de vida dos radialistas responsáveis
por essa produção.
Ao longo da pesquisa deu para entender um pouco
mais sobre o valor de um produto como o livro e ampliar mi-
nhas noções, experiências e vivências nesta área. Com esse
livro comecei a perceber o valor das escrituras para quem
tem uma boa história para contar, como os radiojornalistas
envolvidos na pesquisa. Eles se dedicaram a narrar suas tra-
jetórias, se expuseram ao emitir opiniões sobre diversos te-
mas polêmicos, inclusive sobre a relação com a diretoria de
suas rádios, e ao mesmo tempo valorizaram o direito à infor-
mação que nós cidadãos temos ao investigar, analisar ou
mesmo procurar entender assuntos do nosso cotidiano. Este
tema não está presente nos programas de rádio, nos jornais
e sites da região. O livro-reportagem foi o caminho que en-
contrei para dialogar com a sociedade sobre a função infor-
mativa, orientativa e formativa do radiojornalismo neste pe-
daço de chão onde nasci e quero tentar contribuir com o seu
147
desenvolvimento.
No texto me refiro ao debate como principal suporte
que utilizei neste livro. Aqui não é apenas a minha voz ou
minhas vivências. São diversas pessoas de realidades e cul-
turas diferentes. Penso que, enquanto estudante, pude, ao
longo do trabalho, analisar as informações, as provocações,
os comentários e os posicionamentos dos profissionais, cons-
truir canais de diálogo com eles os quais podem resultar em
novos trabalhos e quem sabe provocá-los para se inserirem
nos processos de formação profissional oferecidos pela
UNEB. Dos entrevistados apenas um está no Curso de Rá-
dio e TV, que é o meu colega Cival Anjos. Os demais, com
suas experiências, poderiam sim contribuir muito com a for-
mulação de conhecimentos sobre a Comunicação Social no
Sertão baiano, estando também na academia: e muitos ex-
puseram este desejo.
As emissoras de rádio precisam também migrar da
proposta atual de vender horários para qualquer um, como
foi apontado na pesquisa, e investir em contratar e contribuir
com a formação de bons profissionais, realizarem planeja-
mentos em longo prazo, modernizar suas estruturas e bus-
car novas formas de financiamentos, pois o rádio informa e
aproxima, mas também é uma mídia que se tornou uma das
principais formas de entretenimento e interação entre o cam-
po e a cidade. E para isso é preciso ter claro seu perfil e
conquistar as pessoas de forma decente e atraente, sem
apelar. Nesta conclusão, eu fico com a resposta de um dos
entrevistados que diz “se não mudar os donos de rádio, se os
148
filhos dos donos não tomarem conta e mudar o perfil das
rádios... a mudança é muito difícil. O radialista é feito pela
rádio”, acredita um dos radialistas.
Um campo que merece mais atenção em futuras pes-
quisas é o papel e a relação entre Jornalista e Radialista. O
Jornalista em rádio é o profissional que atua no processamento
noticioso dos fatos, como a redação de notícias, comentários
ou crônicas; a realização de entrevistas ou reportagens; e a
coleta de informações e a sua preparação para divulgação.
O Radialista, segundo a legislação, deve ocupar-se com as
questões mais técnicas da realização de um programa. No
meio disso surge o radiojornalista que assume as duas no-
menclaturas, mas que é algo ainda a ser pesquisado e me-
lhor definido na própria legislação. Seria necessário também
investir numa pesquisa qualitativa e na análise de conteúdo
destes veículos para saber quais as mudanças significativas
que eles promovem.
De alguma forma podemos, através deste trabalho,
avaliar a atuação e experiência dos profissionais e conhecer
as principais características do radiojornalismo da região, que
possui como diferente do tradicional proposto nos manuais
da profissão, a interferência dos dirigentes das emissoras,
que na maioria das vezes são políticos, exceto nas rádios
comunitárias pesquisadas, que demonstram maior indepen-
dência neste quesito. Foi possível também conhecer um pouco
da história dos principais radiojornalistas de sete emissoras
de rádio da região.
E, por fim, se observa que não há cumprimento do
149
Código de Ética do Jornalismo, com a falsa liberdade de ex-
pressão que vivem os radiojornalistas, porque pagam às rá-
dios para trabalhar – e precisam fazer do espaço que têm um
verdadeiro comércio de minutos jornalísticos – ou mesmo pela
falta de preparação efetiva para a função que exercem.
No geral também se pode identificar que com todas
as dificuldades que os profissionais enfrentam, eles são co-
rajosos, acreditam no que fazem, trabalham pela realização
de sonhos e não se entregam diante da difícil realidade. Nos
40 anos de rádio na Região Sisaleira, o radiojornalista é o
principal personagem desta história que foi narrada ao longo
deste livro e que também poderá ser registrada em novas
pesquisas provocadas a partir desta.
150
Cronologia histórica apresentada no livro
1919 – Criada a primeira emissora de rádio do Brasil: Rádio Clubede Recife, em Pernambuco.1922 – Em 7 de setembro acontece a primeira operação de rádiono país no Rio de Janeiro.1932 – A propaganda no rádio é autorizada através de Decreto deGetúlio Vargas.1937 – O Brasil tinha 59 emissoras de rádio.1945 – Nasce o radialista Aluízio Farias.1957 – Nasce o radialista José Ferraz.1961 – Aluízio Farias inicia sua carreira em alto-falantes ainda emPernambuco.1961 – Nascem os radialistas Nilton Feliz e Valdemi de Assis.1962 – Nasce o radialista José Ribeiro.1965 – Nasce o radialista Genivaldo Silva.1967 – Nascem os radialistas Cival Anjos e Tony Brasília.1969 – Fundação da Rádio Difusora AM. A primeira a operar naregião.1969 – Aluízio Farias vem para a Bahia e ingressa na Rádio Soci-edade de Feira.1970 – Nasce o radialista Gilberto Oliveira.1972 – Nascem os radialistas Vilmara de Assis e Tony Sampaio.1974 – Aluízio Farias sai da Sociedade e em seguida vai morar emSerrinha onde ingressa na Difusora.1977 – José Ferraz começa sua carreira em alto-falantes.1978 – Nasce o radialista Edisvânio Nascimento.1979 – Primeiros registros de documentos para a criação da RádioSisal.1979 – José Ribeiro ingressa na Rádio Difusora como operador desom.1980 – Valdemi de Assis cria o programa do Sindicato dos Traba-lhadores Rurais de Conceição do Coité na Rádio Difusora.1981 – José Ribeiro consegue o registro profissional (DRT).1982 – Valdemi de Assis elege-se vereador em Coité.1982 – Hamilton Rios entra como sócio da Rádio Sisal AM.1983 – Carlos Miranda assume a direção da Difusora AM.1984 – José Ferraz ingressa na Difusora AM.1985 – A Rádio Sisal vira sociedade anônima.1986 – Em 20 de dezembro entra no ar a Rádio Sisal AM e Valdemide Assis assume grande parte da programação da emissora.1986 – Genivaldo Silva começa sua carreira na Rádio Sisal.1986 – Fundadas as rádios Morena FM e Regional AM, e JoséRibeiro ingressa no Grupo Lomes.1987 – Fundada a Rádio Jacuípe AM.
151
1987 – Tony Brasília começa sua carreira na Rádio Capital de Juizde Fora-MG.1988 – O presidente da Rádio Jacuípe, Valfredo Matos, é eleitoprefeito de Riachão do Jacuípe.1988 – Nilton Feliz e Aluízio Farias ingressam na Regional AM e noano seguinte vão para a Rádio Sisal.1991 – Gilberto Oliveira assume o jornalismo da Rádio Jacuípe.1991 – Aluízio Farias sai da Sisal e retorna a Serrinha.1992 – Início das transmissões do Intermunicipal pela Rádio SisalAM.1992 – José Ribeiro entrevista um portador de AIDS para falar so-bre o assunto pela primeira vez no Estado da Bahia e ganha prê-mio.1992 – Vilmara de Assis inicia sua carreira na Rádio Sisal AM.1993 – José Ferraz ingressa na Regional AM.1993 – Tony Sampaio inicia sua carreira em carro de som.1993 – A Rádio Sisal faz sua primeira transmissão de final de Cam-peonato Brasileiro.1995 – Cival Anjos inicia sua carreira em alto-falantes.1996 – Começa o programa Forrobodó com Genivaldo Silva.1997 – Gilberto Oliveira cria o programa Jornal da Manhã naJacuípe.1997 – Tony Brasília vem para Serrinha e ingressa na Rádio DifusoraAM.1998 – Em fevereiro é regulamentado o serviço de Rádio Comuni-tária no Brasil e entra no ar ainda sem concessão a Rádio ValenteFM.1998 – Em abril começa o jornalismo da Valente FM.1998 – Entra no ar a Rádio Santa Luz FM.1999 – Gilberto Oliveira sofre atentado em Riachão do Jacuípe.1999 – Paulo Marcos ingressa na equipe esportiva da Rádio Sisal.2000 – Valfredo Matos, presidente da Rádio Jacuípe se elege pelasegunda vez como Prefeito de Riachão do Jacuípe.2000 – Tony Sampaio sofre agressões da Polícia Federal em Va-lente.2000 – Justiça eleitoral tira do ar programa apresentado por JoséRibeiro na Rádio Regional.2001 – Vilmara de Assis entrevista ACM ao vivo na Rádio Sisalsobre o Grampo no Senado.2003 – O Governo Federal adota o conceito de Territórios na suapolítica administrativa e o Território do Sisal é o primeiro a ser reco-nhecido.2003 – Cival Anjos participa da TV Serrinha uma emissora semconcessão que funcionou por pouco tempo durante o governo deJosevaldo Lima.2004 – A Rádio Jacuípe passa a ser presidida pelo Prefeito de
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Serrinha Josevaldo Lima e ganha estúdio na “Princesa dos Tabu-leiros”. O dono da rádio perdeu as duas eleições que disputou de-pois que adquiriu a emissora (em 2004 e em 2006).2004 – A Rádio Difusora muda o nome para Rádio Continental AM2004 – Fundada a Abraço Sisal - Associação de Rádio e TV Comu-nitárias do Território do Sisal.2004 – É criado o Plano de Comunicação do Território do Sisal.2005 – Antônio Dias Nascimento realiza a primeira pesquisa sobreRádio Comunitária na Região Sisaleira que se tem conhecimento.2005 – Morre Valfredo Matos, fundador da Rádio Jacuípe.2005 – Depois de atuarem na Difusora e Regional, Cival Anjos,Tony Brasília e José Ferraz ingressam na Continental AM.2006 – Valdemi de Assis se candidata a deputado e Rádio Sisal AMtira do ar todos os programas da Agência Calila.2006 – Equipe da Calila vai para a Rádio Regional AM onde ficapor dois anos. Genivaldo Silva se desliga da Calila e volta para aSisal depois de nove meses.2006 – Começa o Curso de Rádio e TV na UNEB, em Conceiçãodo Coité.2007 – Valdemi de Assis sai da Regional e vai para as rádios Sabiáe Jacuípe, onde permanece até as eleições de 2008, quando vol-tou a ser candidato a vereador.2007 – Edisvânio Nascimento ganha o Prêmio Jornalista Amigo daCriança.2007 – José Ferraz sofre atentado em Serrinha.2007 – É extinto na Rádio Sisal o informativo Sisal e Notícias cria-do no início da rádio por Lucival Lopes e apresentado por GenivaldoSilva durante quase 20 anos.2008 – A Rádio Santa Luz FM recebe outorga de funcionamento.2008 – Morena FM cria o programa Pauta Livre.2008 – Rádio Jacuípe cria o Notícias da Hora.2008 – Surge o Programa Na Cangaia, que fica no ar por 26 sema-nas em cinco rádios comunitárias e na Internet. O site recebeu 300mil acessos em seis meses.2009 – Depois de regressar à Rádio Sabiá por alguns meses oradialista Valdemi de Assis deixa o rádio e se dedica apenas ao siteCalila Notícias.2009 – A fundação da Rádio Difusora completa 40 anos.
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Lista de imagens e créditos
Foto 1 - Edisvânio Nascimento. Rádio Santa Luz FM. p. 86Foto 2 - Vilmara de Assis. Rádio Regional. p.92Foto 3 - Cival Anjos. Rádio Continental. p.96Foto 4 - José Ferraz. Rádio Jacuípe. p.100Foto 5 - Aluízio Farias. Rádio Regional. p.106Foto 6 - Genivaldo Silva. Rádio Sisal. p.109Foto 7 - Gilberto Oliveira. Rádio Jacuípe. p. 113Foto 8 - Nilton Feliz. Rádio Sisal. p.120Foto 9 - Tony Brasília. Rádio Continental. p.125Foto 10 - José Ribeiro. Rádios Regional e Morena FM. p.130Foto 11** - Valdemi de Assis. Calila Notícias. p.135Foto 12 - Tony Sampaio. Valente FM. p.139
* As fotos foram feitas por Paulo Marcos com câmera Canon EOS Digital RebelXSi, cedida pelo Laboratório de Imagens do Curso de Rádio e TV da UNEB e areprodução foi autorizada pelos radialistas.
** A Foto 11 é do fotógrafo Raimundo Mascarenhas que gentilmente fotografouValdemi de Assis especificamente para este trabalho.
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ENTREVISTA COM ALUÍZIO FARIAS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (60min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM CIVAL ANJOS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (65min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM CREMILDA MEDINA: depoimento [out. 2007].Entrevistador: Paulo Marcos. Feira de Santana, 2007. 1 gravadordigital (3 min), estéreo. Entrevista concedida ao sitewww.paulomarcos.com.
ENTREVISTA COM DURVAL MUNIZ DE ALBUQUERQUEJÚNIOR: depoimento [Out. 2009]. Entrevistador: Paulo Marcos.Conceição do Coité, 2009. 1 gravador digital (3 min), estéreo. En-trevista concedida ao Projeto Os radiojornalistas da Região Sisaleirada Bahia.
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ENTREVISTA COM EDISVÂNIO NASCIMENTO: depoimento [set.2009]. Entrevistador: Paulo Marcos. Santa Luz, 2009. 1 gravadordigital (50 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM GENIVALDO SILVA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (70 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM GILBERTO OLIVEIRA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Riachão do Jacuípe, 2009. 1 grava-dor digital (45 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM JOSÉ FERRAZ: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (40min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM JOSÉ RIBEIRO: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (55min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM NILTON FELIZ: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (64 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM TONY BRASÍLIA: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Serrinha, 2009. 1 gravador digital (55min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM TONY SAMPAIO: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Valente, 2009. 1 gravador digital (80min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Os radiojornalistasda Região Sisaleira da Bahia.
ENTREVISTA COM VALDEMI DE ASSIS: depoimento [out. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (40 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
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ENTREVISTA COM VILMARA DE ASSIS: depoimento [set. 2009].Entrevistador: Paulo Marcos. Conceição do Coité, 2009. 1 grava-dor digital (120 min), estéreo. Entrevista concedida ao Projeto Osradiojornalistas da Região Sisaleira da Bahia.
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